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Em Aberto Ead 2006

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  • SUMARIO

    enfoque: Qual a questo? EDUCAO A DISTNCIA: problemas da incorporao de tecnologias educacionais modernas nos pases em desenvolvimento.

    Pedro Paulo Poppovic (Seed/MEC) 5

    pontos de vista: O que pensam outros especialistas? PANORAMA INTERNACIONAL DA EDUCAO A DISTNCIA

    Eda Coutinho B. Machado de Sousa (UnB) 9

    EDUCAO A DISTNCIA NO BRASIL: lies da histria

    Terezinha Saraiva (Senai-RJ) 1 7

    A CONTRIBUIO DO CONSRCIO INTERUNIVERSITRIO DE EDUCAO CONTINUADA E A DISTNCIA - BRASILEAD - PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAO NACIONAL

    Paulo Vicente Guimares (UnB) 28 O DESAFIO CONTEMPORNEO DA EDUCAO A DISTNCIA

    Carmen Moreira de Castro Neves (Seed/MEC) 34

    EDUCAO A DISTNCIA VIA RDIOS E TVs EDUCATIVAS: questionamentos e inquietaes Marlene M.Blois (UFRJ) 42

    MAIS PERTO DA EDUCAO A DISTNCIA Arnaldo Niskier(CNE) 51

    O PARADIGMA EDUCACIONAL EMERGENTE: implicaes na formao do professor e nas prticas pedaggicas

    Maria Cndida Moraes (PUC-SP) 57

    Em Aberto, Braslia, ano 16, n.70, abr./jun. 1996 ISSN 0104-1037

  • O USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS NA EDUCAO A DISTANCIA E A APRENDIZAGEM CONSTRUTIVA

    David Jonassen (Pennsylvania State University) 70 A EDUCAO A DISTNCIA E O MEIO AMBIENTE EMERGENTE DE APRENDIZAGEM

    Gary E. Miller (Pennsylvania State University) 89 REFLEXIONES ACERCA DEL USO RECIENTE DE LA EDUCACIN ADISTNCIA EN LA LATINOAMRICA

    Armando Villaroel (Cread) 93 EDUCAO A DISTNCIA NA AMRICA LATINA: o desafio da criao de urna tecnologia da esperana

    Henry C. Johson (Pennsylvania State University) 100

    espao aberto: Manifestaes rpidas, entrevistas, propostas, experincias, tradues, etc MULTIRIO: o trabalho de atualizao em servio com os professores municipais do Rio de Janeiro

    Regina de Assis (Fundao Roberto Marinho) 107

    A ESCOLA DO FUTURO - USP E A CAPACITAO DE PROFESSORES EM PROJETOS TELEMTICOS

    Iolanda B. C. Cortelazzo (USP) 112

    EDUCAO A DISTNCIA NO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN) Arnon A. M. de Andrade 116

    Em Aberto, Braslia, ano 16, n.70, abr./jun. 1996

    O PROJETO DE EDUCAO A DISTANCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO (UFMT): aspectos definidores de sua identidade

    Ktia Morosov Alonso (UFMT) Maria Lcia Cavalli Neder (UFMT 120

  • A UnB E A EDUCAO A DISTNCIA Eda Coutinho B. Machado de Sousa - Org. (UnB) 125

    EDUCAO A DISTNCIA USANDO TECNOLOGIA WWW Dietrich Schiel (UFSCar) Mnica Giacomassi de M. Magalhes (UFSCar) 1 30

    EDUCAO A DISTNCIA EM CINCIA E TECNOLOGIA: O projeto EducaDi/CNPQ-1997 Lea da Cruz Fagundes (UFRGS) 134

    UNIVERSIDADE VIRTUAL: a experincia da UFSC cm programas de requalificao, capacitao, treinamento c formao a distncia de mo-de-obra no cenrio da economia globalizada

    Ricardo Miranda Barcia (UFSC) Joo Vianney (UFSC) Dulce Maria Cruz (Universidade de Blumenau-SC) Regina Bolzan Rosngela Schwarz Rodrigues 141

    EDUCAO CONTINUADA NA ESCOLA POLITCNICA DA USP: dois momentos Antonio Hlio Guerra Vieira (Epusp) Pedro Luiz de Oliveira Costa Neto (Epusp) 147

    EDUCAO A DISTNCIA NO SENAI-SP: um pouco das reflexes ao longo da histria Consuelo Teresa Fernandez (Senai-SP) Lea Desprebiteris (Senai-SP) 150

    JONES EDUCATION COMPANY Andy Holdgate (Jones Education Company) 155

    painel: APRESENTAO

    Em Aberto, Braslia, ano 16, n.70, abr./jun. 1996

  • ENFOQUE: Qual a questo?

    EDUCAO A DISTNCIA: problemas da incorporao de tecnologias educacionais modernas nos pases em desenvolvimento*

    Pedro Paulo Poppovic**

    Opinio largamente difundida atribui tecnologia educacional a possibilidade de atalhos, para que pases em desenvolvimento atinjam mais rapidamente o caminho da modernidade. Outro conceito muito comum de que a tecnologia aplicada ao processo de ensino-aprendizagem diminuir as diferenas sociais. Parte-se do pressuposto de que a tecnologia educacional reduzir as disparidades entre regies desenvolvidas e as em desenvolvimento. Redes de computadores, por exemplo, permitiro que regies atrasadas tenham acesso a todo o vasto mundo, e que metodologias de ensino ultramodernas estariam ao alcance de todos. Os trabalhos de equipe, a construo independente do conhecimento, a educao permanente, a Internet, o conjunto, enfim, dos requisitos de um mundo que se transforma muito rapidamente, estariam disponveis aos estudantes pela introduo de equipamentos educacionais modernos, tais como televisores, gravadores, computadores etc.

    Algumas dessas afirmaes evidentemente so verdadeiras. No entanto, grande parte dos planejadores educacionais detm-se muito mais na aquisio de equipamentos do que nas mudanas de mentalidade necessrias, que so pr-requisitos para o xito na utilizao da tecnologia moderna em educao. Tambm o tempo necessrio para que estas mudanas ocorram extraordinariamente subestimado. Mais ainda, se a

    *Conferncia pronunciada no King's College da Universidade de Londres, em 24/09/96. * *Secretrio de Educao a Distncia (Seed/MEC).

    introduo de tecnologias educacionais se constituir in ic ia t iva governamental, a necessidade poltica de se garantir o xito inicial conduzir, provavelmente, ao aprofundamento das diferenas sociais, ao invs de reduzi-las. Nesse caso, a opo de instalao do equipamento privilegiar locais onde as chances de fracasso forem reduzidas ao mnimo, partindo-se da premissa de que o xito inicial importante para induzir cada vez mais professores ao uso de novas tecnologias. Obviamente, o sucesso ser sempre mais garantido em regies avanadas que j tenham passado por processos de tecnificao.

    Pesquisas tm indicado que a atitude dos professores em relao a novas tecnologias educacionais distribui-se numa curva normal. A direita, h cerca de 7% a 10% de professores altamente motivados para a incorporao da tecnologia. Destes, boa parte possui um computador em casa; todos so favorveis ao "novo". esquerda da curva, verifica-se que cerca de 15% so "fbicos" no que se refere tecnologia. Eles "odeiam" computadores e racionalizam seu medo de inovaes usando toda sorte de argumentos. Entre esses plos, a grande maioria dos professores est num continuum. Representam aproximadamente 75% do professorado.

    xito ou fracasso, um projeto de introduo de tecnologias educacionais no processo de ensino/aprendizagem, numa escola, depender da "converso" desses 75% ao novo processo. Os "missionrios" sero os professores predispostos ao uso da tecnologia. Foi verificado que o treinamento interpares o que apresenta melhores resultados. A "maioria silenciosa" vai aderir somente se estiver convencida de que tem algo a ganhar, ou seja, que proveitoso abrir mo de mtodos aprovados e tradicionais de ensino, em favor de novas formas que exigem grandes esforos de adaptao, mas que ajudaro a melhorar sua prtica docente.

    Em Aberto. Braslia, ano 16, n.70. abr./jun. 1996

  • Planejadores educacionais chegaram concluso de que o custo inicial do equipamento no o maior problema. A mudana de mentalidade necessria, para que professores sintam-se vontade com computadores, leva por volta de seis a sete anos. O processo de treinamento fundamental e representa cerca de 45% dos custos totais. A compra dos equipamentos no uma operao nica. Elevaes permanentes de nvel (upgrading) so necessrias, por conta da turbulncia tecnolgica e crescente domnio do novo processo de ensino por parte de professores e alunos. Manuteno dos equipamentos e assistncia tcnica so imprescindveis: as escolas devem ter seu espao fsico adaptado para receber os equipamentos, e assim por diante.

    Isto posto, vou expor como estamos enfrentando estes problemas no Brasil, um pas onde regies desenvolvidas e atrasadas coexistem. Direi que, apesar de nosso desejo na direo oposta, estamos sendo forados a exacerbar as diferenas sociais ao invs de reduzi-las, pelo menos no comeo do processo.

    Nosso primeiro grande esforo no campo da educao a distncia foi um programa de televiso destinado ao aperfeioamento e capacitao de professores do ensino fundamental. Para que se garantisse um tratamento justo e eqitativo, determinamos um critrio rigorosamente quantitativo, que possibilitasse a todas as escolas pblicas (at a 8a srie do 1o grau), com mais de 100 alunos, o recebimento de recursos para a compra de uma antena parablica, um televisor e um videocassete, alm de dez fitas VHS iniciais, que permitem a recepo c gravao dos programas transmitidos via satlite por nossa rede. A programao de trs horas, repetida quatro vezes por dia. Ao invs de centralizar a compra dos equipamentos, preferimos transferir os recursos com a recomendao das especificaes do equipamento a ser adquirido. Dentro dessa perspectiva, 52 mil escolas cadastraram-se e receberam recursos financeiros do ministrio, alm de

    instrues pela prpria televiso, pela revista bimestral que publicamos para provocar interesse em nossa programao e por vrias orientaes enviadas por mala direta.

    Televisores c videocassetes so largamente usados no Brasil e, portanto, alunos c professores esto acostumados com esse meio. Apesar disso, somente 32 mil escolas esto efetivamente usando o equipamento, segundo o resultado de nossa ltima pesquisa.

    A utilizao de vdeos na escola, para treinar professores ou para introduzir, fixar, provocar e ilustrar conceitos em sala de aula, uma tecnologia nova. Pede mudanas nos mtodos de ensino, por menores que sejam. Eis porque, a despeito da simplicidade das adaptaes nova metodologia por parte dos professores, apenas cerca de 60% das escolas realmente usam nossa programao, embora estejam com seu equipamento instalado, pronto para ser ativado.

    Outro importante projeto do ministrio substancialmente mais ambicioso. Inicialmente, avaliamos as possibilidades de instalar laboratrios de computadores em todas as escolas (de 5a a 8a srie e de 2o grau) com mais de 250 alunos. Outra vez, um critrio puramente quantitativo e eqitativo, o mesmo usado para os equipamentos de televiso, que se justificaria pela limitao dos fundos disponveis. Isto nos daria um total de 16.500 escolas. Levando em conta as estaes de trabalho, servidores e a necessidade de mais de um laboratrio por escola de grande porte, chegamos a um total de 300 mil computadores.

    A entrega dos computadores seria precedida de um vasto programa de treinamento de, pelo menos, trs professores por escola, que se constituiriam os pioneiros encarregados da incorporao ao sistema da

    Em Aberto, Braslia, ano 16, n.7(), abr./jun. 1996

  • maioria do professorado. Sempre com a meta de distribuio justa c eqitativa, a idia era dar a todas as escolas, modernas ou atrasadas, do sul ao norte do pas, desde que satisfeito o critrio quantitativo, exatamente os mesmos recursos. A contrapartida dos estados seria prover instalaes fsicas adequadas, linhas telefnicas, corrente eltrica estabilizada e, pelo menos, trs professores devidamente capacitados por escola.

    Partiu-se do princpio de que o primeiro passo seria possibilitar a "alfabetizao" em informtica, para que, em seguida, a iniciativa e criatividade de alunos e professores promovessem a integrao gradual dessa nova tecnologia ao sistema de ensino.

    No entanto, tivemos que mudar nossa estratgia. Primeiro, pela nossa experincia com a televiso c tambm pelo que aprendemos da experincia de outros pases. Equipar escolas com computadores no o suficiente para que se mude a mentalidade de seus professores. Pelo contrrio, em vrias instncias, a mera presena dos computadores, to temidos pelos professores, provocou imediata rejeio. Freqentemente, computadores novos em folha acabaram armazenados, sem serem usados, nos banheiros das escolas. Nestes exemplos, o efeito produzido foi altamente negativo e prejudicou a aceitao da nova tecnologia como instrumento vlido para o ensino.

    A despeito do atrativo de se implementar um programa de alto impacto de um s golpe, optamos por uma abordagem mais cautelosa e gradual, apesar dos mandatos governamentais no coincidirem com o perodo de maturao do projeto, cuja continuidade deve ser assegurada.

    Em vez de se implementar a mesma soluo para todas as escolas, num movimento de cima para baixo, decidimos pedir aos governos dos estados

    que nos enviassem projetos para a incorporao de tecnologias, baseados em projetos especficos de escolas individuais. Os projetos estaduais foram avaliados por ns e, aprovados, geraram solues especficas em funo das necessidades e preferncias de cada estado.

    A primeira fase do programa foi reduzida a 1 00 mil computadores, distribudos de acordo com o nmero de escolas e alunos de cada estado. Isto garante a eqidade no que se refere distribuio territorial. Porm, como o nmero de escolas e a quantidade de alunos refletem o grau de desenvolvimento dos estados, o critrio adotado redunda na manuteno das diferenas regionais e no seu aprofundamento. Polticas de distribuio "compensatria" provavelmente colocariam cm cheque todo o programa.

    Estabeleceremos 200 centros de treinamento e demonstrao em todo o pas (100 na primeira fase), proporcionalmente ao nmero de escolas c alunos em cada estado. Esses centros sero os ncleos aos quais as escolas estaro ligadas para o treinamento de seus professores e assistncia permanente. Eventualmente, funcionaro como provedores de acesso para a rede Internet. Usaremos as Escolas Tcnicas como sementes desses centros. Em dois anos, planejamos capacitar mil multiplicadores para os centros de demonstrao, 25 mil professores para as escolas e 6 mil tcnicos, cujo trabalho ser o de estar permanentemente nas escolas equipadas, para promover assistncia e ajuda aos professores na soluo dos problemas que iro surgindo.

    Tambm tomaremos providncias para que a formao curricular do professor inclua cursos cm computao, assim como cursos que promovam a reflexo sobre a questo da tecnologia no processo ensino/aprendizagem. Finalmente, estimularemos as universidades a incrementar seus cursos de tecnologia educacional e a desenvolver c adaptar softwares educacionais que respondam s necessidades brasileiras.

    Em Aberto, Braslia, ano 16, n.70, abr./jun.1996

  • Como podem ver, esse um programa a ser desenvolvido por vrios anos. De fato, um programa contnuo, sem ponto final. A incorporao de tecnologias educacionais no cotidiano da escola no , definitivamente, algo que ocorra do dia para a noite.

    A primeira fase do programa acima descrito atinge aproximadamente 6 mil escolas e 11 milhes de estudantes. Considerando que no Brasil existem cerca de 200 mil escolas, trata-se de uma gota d'gua no oceano.

    Podemos agora voltar ao nosso ponto de partida. Como no h equipamento para todos, j que os recursos disponveis so limitados, os estados devero decidir quais escolas sero equipadas. Se os objetivos de justia, eqidade e necessidade devessem prevalecer sobre todos os outros, evidente que equipar somente 6 mil escolas com computadores no seria a prioridade escolhida. Ter-se-ia que optar por outras aes, como construir telhados cm escolas situadas cm regies remotas, equip-las com carteiras,

    quadros-negros, luz eltrica, banheiros e tantas outras coisas (muitas escolas ainda no possuem essas instalaes). J que no podemos resolver todos os problemas, temos que fazer um esforo para que muitas aes sejam empreendidas concomitantemente, se bem que parcialmente. No podemos ficar margem da era da informao, da economia globalizada.

    Assim, encontramo-nos numa situao onde, apesar da compreensvel oposio de regies menos desenvolvidas, temos que investir em escolas que se encontram em regies mais adiantadas (no pas e dentro de cada estado). E j que, devido ao expressivo volume de recursos envolvidos -caso o programa falhe, as crticas sero ferozes e justificveis -, razovel que concentremos nossos esforos para minimizar os riscos.

    Desta forma, nosso investimento inicialmente aumentar as diferenas. Nossa escolha entre igualdade no atraso ou iniqidade com progresso parcial. Uma escolha dura e difcil.

    Em Aberto, Braslia, ano 16, n.70, abr./jun.1996

  • PONTOS DE VISTA: O que pensam outros especialistas?

    PANORAMA INTERNACIONAL DA EDUCAO A DISTANCIA

    Eda Coutinho B. Machado de Sousa*

    Problemas e barreiras da Educao a Distncia (EAD) no mundo

    Embora o crescimento e o desenvolvimento da educao a distncia no mundo tenha acontecido principalmente nas duas ltimas dcadas, foi somente a partir de 1990 que ela teve um grande impulso. Foi o surgimento das megauniversidades, em geral seguindo o modelo da Universidade Aberta (Open University) do Reino Unido, criada em 1969, que, de repente, despertou a ateno dos governos de todo o mundo para a importncia da educao a distncia como soluo para o enfrentamento da grande presso social por maior acesso ao ensino superior. E quando a Internet invadiu a economia, tornando quase instantneas as transaes comerciais de um pas para o outro, seu impacto se fez sentir nas universidades do mundo inteiro. Termos como "e-mail", "hipertexto", "World Wide-Web", "CD-ROM", "superhighway", "televiso interativa", "navegar" e outros passaram a fazer parte da linguagem de professores e alunos.

    Enquanto os governos, por toda a parte, tentam reduzir os dficits fiscais atravs de redues da despesa, inclusive em educao, instituies de ensino superior publicas e privadas buscam as tecnologias de comunicao como forma de promover cursos para um nmero maior de estudantes, com um custo mais baixo. Nesta luta por um melhor desempenho, as empresas de telecomunicaes passam a ser parceiras das universidades e buscam junto ao governo procedimentos que permitam sua atuao na "superhighway" da informao.

    * Professora da Faculdade de Educao da Universidade de Braslia (UnB) e coordenadora da Ctedra Unesco de Educao a Distncia.

    Embora a educao a distncia no possa ser vista como a soluo para os problemas educacionais do mundo contemporneo, ela, com certeza, vem sendo recomendada como forma de atendimento a um grande nmero de alunos e por um custo muito mais razovel do que o ensino presencial.

    Especialistas como Michael Moore, da Universidade Estadual da Pensilvnia, sugerem que grandes mudanas sero feitas na entrada do prximo milnio; entretanto, a principal delas ser a nova concepo de educao como um processo cuja nfase estar na aprendizagem. Os professores no sero substitudos pelas novas tecnologias, mas tero funes diferentes das que tm hoje em dia. Os currculos sero centrados nas necessidades dos alunos, e as atividades de ensino sero desenvolvidas para atender a essas necessidades. Este final de sculo est aumentando a crena dos administradores da educao no fato de que o intercmbio e a cooperao, nacional e internacional, so fundamentais para o sucesso dos cursos, projetos e programas, e de que a troca de materiais instrucionais e de experincias, entre os diferentes pases e instituies, em muito colaborar para diminuir os custos dos mesmos.

    No limiar do terceiro milnio, os pases esto vivendo momentos dramticos em relao s suas possibilidades de oferecer educao de qualidade para sua populao, e a aprendizagem independente ser a grande estratgia da educao. Daqui para frente muitos aprendero atravs de cursos por correspondncia, muitos sero os que aprendero atravs do computador, e as teleconferncias sero um veculo excelente para trazer os melhores especialistas do mundo nossa sala de aula. Outros recursos surgiro e sero utilizados para mediatizar tecnologicamente a educao.

    Henry Jonhson, da Universidade Estadual da Pensilvnia, ao falar sobre este assunto, questiona alguns aspectos da educao a distncia. De acordo com Jonhson, a tecnologia como a encontramos hoje aumenta as

    Em Aberto, Braslia, ano 16, n.70, abr./jun. 1996

  • disparidades econmicas, a distino de classes e a distncia social, em vez de promover a integrao. Diz ele: "Seria uma piada cruel se a educao a distncia se transformasse em educao em favor da distncia ao invs de a distncia". Esse autor adverte que imprios tecnolgicos esto se tornando cada vez mais centralizados e difusores de uma monocultura. A pergunta que devemos fazer, segundo Jonhson, a seguinte: poderemos ter uma cultura "planetria", reforada por uma universidade "mundial" que no seja uma monocultura, cujo princpio normativo a ganncia e o resultado o poder para poucos?

    Para escapar da utopia tecnolgica c do abuso do conceito de educao a distncia para todos, Jonhson sugere um processo de planejamento participativo e colaborativo, que inclua problemas de todas as reas, em todos os nveis, e no apenas tecnologia. Ele cita, tambm, o fato de que a participao na autovia da informao nos Estados Unidos custa US$120 por ms (fora os equipamentos necessrios). Em muitos pases do mundo a renda familiar inferior a esse valor; conseqentemente, a participao desses indivduos ou de suas famlias impensvel no momento. Ele lembra que, nos Estados Unidos, cerca de 50% dos equipamentos sofisticados necessrios para uma tima participao na autovia da informao pertencem as famlias corn US$70 mil ou mais de renda anual. Famlias com menos de US$ 15 mil de renda por ano tm apenas 5% do equipamento. As dificuldades para os pases do Terceiro Mundo tornam-se bvias.

    Em primeiro lugar, porque o investimento necessrio para ingressar na revoluo tecnolgica em relao ao investimento em instalaes fsicas convencionais, muito mais baixo, continuar sendo um obstculo. Em geral, os governos preferem investimentos iniciais mais baixos, esquecendo que o que importa a mdio e longo prazos o custo mdio por aluno, muito mais baixo quando se utilizam as novas tecnologias capazes de atender a um nmero muito maior de educandos.

    E por isso que a adoo de sistemas de ensino a distancia com alto grau de sofisticao tecnolgica envolve, necessariamente, uma deciso de poltica educacional, com forte engajamento governamental. claro que instituies individuais podem adotar o caminho da educao a distncia por sua prpria conta. Ocorre que, a menos que muitas instituies decidam faz-lo, como o caso nos Estados Unidos, por exemplo, no se ter uma soluo nacional. As alternativas seriam ou a criao de uma megauniversidade nacional, patrocinada pelo governo, ou um programa governamental de apoio a muitas instituies individuais, preferentemente de universidades convencionais, isoladamente ou cm consrcio, com competncia para aluar no ensino a distncia.

    A aquisio dessa competncia , talvez, o maior dos desafios para os pases que queiram adotar extensivamente o ensino a distncia. O aparato tecnolgico necessrio, ainda que de alto custo, pode ser adquirido. A utilizao eficaz desse aparato que apresenta barreiras, sobretudo porque ser necessrio superar comportamentos e procedimentos tradicionais de ensino muito arraigados. O uso das tecnologias de ensino a distncia implica uma mudana radical: do ensino centrado no professor, para o ensino centrado no aluno, o que, para muitos, parece uma diminuio do papel do professor, que passaria a ser mero facilitador do processo de aprendizagem. Enfim, o velho receio de que o professor seja substitudo pelos meios, pela mquina.

    Nas experincias bem-sucedidas no isso o que ocorre. Ao contrrio, o papel do professor , provavelmente, mais enfatizado do que no ensino convencional. Uma vez que tm que se tornar mais atentos aos interesse e ao desempenho individual de cada aluno, os professores passam a se preocupar mais com a eficincia do "seu" mtodo de ensino, passam a atuar mais como "treinadores" (como num time de esportes), mentores e guias dos seus alunos. Portanto, em segundo lugar, um esforo muito

    Em Aberto, Braslia, ano 16, n.70, abr./jun. 1996

  • grande de treinamento dos professores no uso adequado das tecnologias disponveis ter que ser desenvolvido.

    Em terceiro lugar, coloca-se a questo extremamente delicada do acesso com eqidade, isto , quais alunos, de quais escolas, tero acesso aos sistemas tecnolgicos mais avanados ? Esta definio que ir indicar os contornos bsicos da poltica governamental e das instituies e, conseqentemente, as caractersticas da infra-estrutura a ser instalada e o volume de investimentos que da resulta. A natureza c a dimenso da clientela tambm so fatores decisivos para a escolha de alternativas de contedo e de softwares.

    Hoje, em quase todas as sociedades, uma proporo minoritria das famlias j so "tecnologicamente alfabetizadas" c, destas, muitas j dispem de meios tecnolgicos de acesso a qualquer forma de transmisso da informao, inclusive de acesso a redes mundiais. Da mesma forma, em comunidades mais ricas, muitas escolas e universidades tambm j dispem desses meios, com maior ou menor sofisticao, algumas j interligadas por redes prprias.

    Esta no , certamente, uma clientela preferencial para um programa de educao a distncia que pretenda democratizar o acesso aos meios de aprendizagem, de qualquer nvel ou modalidade. Jovens e adultos que no tiveram acesso ou no puderam completar estudos no ensino regular, em todos os nveis; crianas e adolescentes submetidos a procedimentos obsoletos de ensino-aprendizagem nas periferias das cidades e no meio rural; indivduos carentes de uma requalificao profissional para melhor se inserirem no mercado de trabalho so os clientes potenciais mais importantes para um sistema eqitativo de educao a distncia.

    Para alcanar esta clientela, no entanto, o investimento em infra-estrutura de comunicao e em hardware para a recepo so, em geral, muito elevados. Por isso, tem-se observado que a deciso poltica e o apoio governamental, embora fundamentais, no so suficientes, se no houver uma participao efetiva dos sistemas locais de educao, com uma forte colaborao do setor privado, especialmente de empresas, tanto as produtoras quanto as usurias de tecnologias de informao e de comunicao. So as parcerias, com uma comunidade fortemente motivada, que tm promovido o sucesso da maioria das iniciativas governamentais de democratizao do uso das tecnologias da aprendizagem a distncia.

    O alto volume de investimentos sugere, desde logo, uma discusso dos meios, ou seja, da tecnologia a ser utilizada: meios impressos, udio e videoteipes, CD-ROM, TV a cabo ou via satlite e redes de informtica. Na realidade, a natureza da clientela e os objetivos de cada programa que determinaro o meio mais adequado, geralmente uma combinao deles.

    As megauniversidades

    Consideram-se megauniversidades as instituies de ensino a distncia que atendem a mais de 100 mil alunos. Pelos dados disponveis, em 1995, havia dez megauniversidades no mundo: China TV University System, China, criada em 1979, com 530 mil alunos; Centre Nationale de Enseignement a Distance, Frana, criado em 1939, com 184 mil alunos; Indira Ghandi National Open University, India, criada em 1985, com 242 mil alunos; Universitas Terbuka, Indonsia, criada em 1984, com 353 mil alunos;

    Em Aberto, Braslia, ano 16. n.70, abr./jun. 1996

  • Korea National Open University, Coria, criada em 1982, com 196 mil alunos; University of South Africa, frica do Sul, criada em 1973, com 130 mil alunos; Universidad Nacional de Educacin a Distancia, Espanha, criada em 1972, com 110 mil alunos; Sukhothai Thamnathirat Open University, Tailndia, criada em 1972, com 300 mil alunos; Anadolu University, Turquia, criada em 1982, com 567 mil alunos; The Open University, Reino Unido da Gr-Bretanha, criada em 1969, com 200 mil alunos.

    Essas megauniversidades produziram uma revoluo no ensino nos seus respectivos pases. Ao serem criadas pelos governos, tinham, alm da misso de aumentar o acesso ao ensino superior, algumas misses especficas, conforme a orientao poltica do governo, no momento. Esse envolvimento das megauniversidades com as polticas nacionais pode ser uma restrio, mas, ao mesmo tempo, pode representar uma possibilidade de influenciar essas mesmas polticas.

    importante notar que a maioria das megauniversidades tem acesso privilegiado s facilidades de comunicao em seus pases, desde o uso do correio at o acesso a canais exclusivos de satlite. A parceria entre a Open University, do Reino Unido, e a British Broadcasting Corporation (BBC) um exemplo conhecido.

    A Open University do Reino Unido (OU)

    Com aproximadamente 200 mil alunos, espalhados pelo Reino Unido e por outros pases europeus, a Open University (OU) tem um forte apoio

    financeiro do governo e uma instituio consolidada e respeitada pela qualidade e produtividade dos seus cursos. Hoje, a OU atua no apenas no Reino Unido, mas tambm em pases da ex-Unio Sovitica e da sia, como Singapura e a provncia de Hong-Kong. Embora os cursos sejam ministrados em ingls, a OU fez arranjos para que os alunos da Rssia, da Hungria e da Tchecoslovquia estudem na sua prpria lngua.

    O oramento anual da OU de 200 milhes de libras, e sua fonte principal o governo central, com recursos adicionais provenientes do pagamento das taxas dos alunos, alm de financiamentos pblicos e privados. Dos 200 mil alunos da OU, 132 mil fazem cursos de graduao e 10 mil esto matriculados em cursos de ps-graduao. Os demais esto matriculados cm cursos de educao continuada. A OU j concedeu diplomas de graduao (BA/BSc) para 57 mil alunos, aproximadamente.

    Alm da idade mnima de 18 anos e da exigncia para residir em qualquer pas da Unio Europia ou em outro pas que tenha entrado em entendimento com a universidade, nenhum diploma ou outra qualificao exigida para a admisso aos cursos de graduao da OU. Quanto ps-graduao, as exigncias mnimas so idnticas quelas que as universidades convencionais do Reino Unido estabelecem como necessrias. Nos cursos de educao continuada so feitas as mesmas exigncias para os cursos de graduao.

    Todos os cursos da OU tm como principal meio de aprendizagem o material impresso, que pode ser suplementado por udio ou videocassetes, slides, kits experimentais, conferncias por computador e comunicao por rdio ou televiso. Alm disso, a OU oferece 290 centros de tutoria e aconselhamento no Reino Unido, que envolvem o trabalho de cerca de 7 mil tutores em tempo parcial. Os prprios alunos organizam uma srie de encontros e atividades de estudos, que possibilitam o encontro presencial e estabelecem uma forte comunicao entre eles.

    Em Aberto, Braslia, ano 16, n.7, abr./jun. 1996

  • Considerado por muitos como o mais bem sucedido sistema de EAD, o modelo da Open University tem sido reproduzido em quase todas as demais megauniversidades, com pequenas variaes quanto aos meios e s modalidades de cursos oferecidos.

    A Universidade Central de Rdio e TV da China (CCRTVU)

    Pela dimenso do alunado - mais de 500 mil estudantes em programas de graduao e outros 350 mil em programas de educao continuada - e pela dimenso continental do pas, o sistema de EAD da China apresenta caractersticas tpicas. Devido heterogeneidade regional e diversidade da clientela, a CCRTVU oferece cursos de nvel mdio, de graduao e de educao continuada, inclusive para professores, tcnicos e pessoal administrativo.

    Os cursos so produzidos pela prpria universidade, que tambm define os exames e os padres de desempenho a serem atingidos pelos estudantes. Este formato importante, porque a CCRTVU , na realidade, apenas uma unidade central de uma rede de 44 TVs provinciais, s quais esto ligados 575 colgios regionais, 1.550 centros locais, muitos localizados nas prprias empresas, e uma rede de cerca de 30 mil grupos de tutoria.

    O sistema apresenta altas taxas de promoo e de graduao. Isto se deve em grande parte ao fato de que a maioria dos estudantes paga para estudar em tempo integral. Isto permite que a China utilize o sistema de classes remotas, o nico entre as dez megauniversidades. Nessas classes, geralmente localizadas nas empresas, os alunos recebem, alm das aulas por TV emitidas centralmente de Pequim, a orientao presencial de tutores, apoiada pelo material impresso. No entanto, a nfase dada a este sistema

    de tutoria presencial , ao mesmo tempo, criticada por muitos analistas chineses e estrangeiros, que o consideram um desvio dos conceitos de educao a distncia: no haveria muita diferena entre essa tutoria presencial intensiva - com alunos de tempo integral - e uma sala de aula tradicional.

    Modelos alternativos

    Muitos pases onde a educao a distncia j se apresenta como alternativa vlida ao ensino convencional adotam formas organizacionais diferentes das megauniversidades. Nesses casos, instituies individuais, geralmente universidades convencionais, tomam a iniciativa e organizam -isoladamente ou em consrcio - programas prprios de EAD.

    A Austrlia oferece um exemplo interessante. Agncias independentes oferecem o apoio estratgico e tecnolgico. Sem serem propriamente responsveis pelos programas educativos, que so de responsabilidade das universidades, essas agncias atuam para facilit-los e viabiliz-los tecnicamente.

    No Canad, as empresas e as grandes corporaes tm forte participao no estmulo e apoio s iniciativas de EAD, especialmente aquelas que se utilizam de tecnologias muito avanadas.

    O Instituto de Tecnologia de Monterrey, no Mxico, utiliza um sistema interativo de transmisso via satlite, atravs do qual envia programas educativos para os seus campi localizados em 25 cidades. A peculiaridade do sistema que as aulas so transmitidas ao vivo, no de um estdio de TV, mas das salas de aula normais do Instituto. Uma rede de computadores on-line permite a interao imediata entre os estudantes a distncia e os

    Em Aberto, Braslia, ano 16, n.70, abr./jun. 1996

  • participantes na sala de onde a transmisso originada. E claro que a aula tem que ser adequadamente preparada, substituindo-se, por exemplo, o quadro negro pelo uso de material escrito (quadros, tabelas, grficos) que podem ser filmados pela cmera de TV ou transmitidos pelo computador.

    Muitos outros exemplos poderiam ser dados de modelos alternativos de EAD. O que importa, no entanto, que o uso das diferentes tcnicas e modelos est se disseminando pelo mundo, independentemente do grau de desenvolvimento econmico dos pases. A anlise da experincia internacional mostra que as tecnologias de informao e comunicao podem ser usadas, com vantagens, nas mais diversas situaes e com diferentes finalidades.

    A EAD no Brasil diante da nova legislao educacional

    Desde os anos 60 diversas tentativas, por iniciativa governamental ou de instituies individuais, foram feitas para implantar diferentes programas de educao a distncia no Brasil. Salvo, mais recentemente, a experincia de redes comerciais de televiso, nenhuma das iniciativas anteriores logrou xito como um programa de cobertura nacional.

    Hoje, com a infra-estrutura de telecomunicaes disponvel c com o avano alcanado na interconexo por redes de informtica, o pas j domina toda a tecnologia necessria. Por outro lado, a vontade poltica do governo est claramente expressa, quando o Ministrio da Educao e do Desporto cria, no nvel mais elevado de sua hierarquia organizacional, uma Secretaria de Educao a Distncia. Esta, numa primeira iniciativa, lana a TV Escola, uma rede de comunicao por canal exclusivo de satlite, que j atinge cerca de 40 mil unidades escolares em todo o territrio nacional, com doze horas de transmisso diria.

    Paralelamente, iniciativas de sistemas estaduais, assim como de instituies individuais, utilizando desde o ensino por correspondncia at a televiso e as tecnologias de informtica, comeam a consolidar uma experincia importante no pas, especialmente no que se refere ao treinamento de recursos humanos, tanto na seleo de meios e contedos, como na produo de materiais instrucionais.

    Por outro lado, j comeam a chegar ao pas programas originados e emitidos por outros pases. Na ausncia de qualquer regulamentao, ainda no se sabe como os eventuais certificados ou ttulos conferidos por esses programas podero ser validados no Brasil.

    A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB), Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996, em suas Disposies Gerais, Art. 80, atribui ao Poder Pblico o papel de "incentivar o desenvolvimento de programas de ensino a distncia, em todos os nveis e modalidades, c de educao continuada". Embora ainda pendente de regulamentao, a Lei desde logo determina diferentes - e, aparentemente, conflitantes - papis para a Unio e para os sistemas de ensino. Assim, caber Unio credenciar as instituies que ofeream os programas, assim como definir "os requisitos para a realizao de exames e o registro dos diplomas relativos a cursos de educao a distncia". Mas caber aos sistemas de ensino - federal e estaduais -,"podendo haver cooperao entre eles", a definio das normas para a "produo, controle e avaliao de programas, assim como a "autorizao para sua implementao".

    Dificilmente a regulamentao da Lei conseguir contornar o conflito latente: instituies credenciadas pela Unio que no podero disseminar seus programas em unidades da federao que no autorizem sua implementao. Alm disso, a Lei requer a realizao de exames e o registro dos diplomas, minimizando, portanto, os mtodos de avaliao no processo.

    Em Aberto. Braslia, ano 16, n.70, abr./jun. 1996

  • Assim sendo, algumas experincias j em andamento, como as da Universidade de Braslia (UnB), atravs da Ctedra Unesco de Educao a Distncia, ou da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no curso de mestrado em Engenharia, podem ser invalidadas, se no se submeterem s exigncias da Lei.

    A fixao, pela Unio, de requisitos para o credenciamento das instituies que atuaro no ensino a distncia parece razovel, uma vez que, em princpio, um programa de ensino a distncia tem o potencial de abranger todo o territrio nacional. Mas parece incoerente que as normas de controle e avaliao, assim como a autorizao para a implantao dos programas, fiquem a critrio dos sistemas de ensino. Qual ser o sistema competente? A mesma LDB vincula as instituies de ensino aos diferentes sistemas -federal, estadual ou municipal - ,conforme seja a sua natureza jurdica, pblica ou privada, e o nvel de ensino em que atua. Assim, no ensino superior, as instituies mantidas pela Unio e as da iniciativa privada vinculam-se ao sistema federal de ensino, enquanto que as mantidas pelos estados vinculam-se ao respectivo sistema estadual. J em relao ao ensino mdio, o sistema federal s tem jurisdio sobre as suas prprias escolas; todas as demais esto vinculadas aos sistemas de cada estado e do Distrito Federal.

    O que acontecer se uma universidade federal decidir implementar um programa de ensino mdio a distncia? Uma vez credenciada pela Unio, provavelmente aps aprovao pelo Conselho Nacional de Educao, a universidade ter que solicitar a autorizao de cada unidade da federao para atuar no respectivo territrio, observando as normas daquela unidade, inclusive quanto produo dos programas!

    A regulamentao da Lei dever buscar maneiras de compatibilizar as normas da Unio com as dos sistemas de ensino, ou de evitar que estas possam conflitar entre si, dificultando ainda mais a utilizao do potencial j disponvel no pas para a realizao de programas de educao a distncia. Caso contrrio, iniciativas promissoras j em curso podero ser tolhidas, se no abortadas.

    Concluso

    No resta dvida de que o Brasil j poderia ter avanado muito no uso das mais modernas tecnologias para levar a educao, de todos os nveis e modalidades, aos mais diversos pontos do territrio e para qualquer tipo de clientela. Ainda que os sistemas de telecomunicaes estejam a exigir novos investimentos para sua expanso e modernizao, o que j temos disponvel suficiente para um salto significativo no uso dos processos de aprendizagem a distncia.

    Aparentemente, dois fatores tm freado o desenvolvimento da EAD no pas. De um lado, os estmulos governamentais tm sido espasmdicos, sem continuidade no tempo, nas orientaes polticas e nas formas e mecanismos de estmulo. Por outro lado, faltam recursos humanos habilitados para o uso das modernas tcnicas de produo e utilizao dos meios de ensino.

    O resumo que apresentamos de alguns aspectos do panorama internacional mostra que existem diferentes solues para enfrentar o desafio e todas elas, em maior ou menor grau, apresentam resultados positivos, no sentido de que beneficiaram e vm beneficiando parcelas muito significativas da

    Em Aberto, Braslia, ano 16, n.70, abr./jun.1996

  • populao em seus pases, a um custo perfeitamente aceitvel. Nada do que se venha a fazer no Brasil ser completamente diferente, mas tambm no precisa ser "cpia" deste ou daquele modelo. As melhores

    perspectivas residem nas parcerias entre as instituies pblicas e privadas, entre instituies de ensino e empresas. A experincia internacional precisa e deve ser aproveitada, permitindo queimar etapas e, talvez, recuperar o tempo perdido.

    Em Aberto, Braslia, ano 16, n.70, abr./jun. 1996

  • EDUCAO A DISTNCIA NO BRASIL: lies da histria

    Terezinha Saraiva*

    Introduo

    A prtica da educao a distncia (EAD) tem sido concretamente uma prtica educativa, isto , de interao pedaggica, cujos objetivos, contedos e resultados obtidos se identificam com aqueles que constituem, nos diversos tempos e espaos, a educao como projeto e processo humanos, histrica e politicamente definidos na cultura das diferentes sociedades.

    Embora a educao implique comunicao de informaes e conhecimentos, estmulo ao desenvolvimento de habilidades e atitudes, que constituem o que denominamos ensino, implica tambm e necessariamente a apropriao, por parte dos sujeitos, das informaes e conhecimentos comunicados, das habilidades e atitudes estimuladas, apropriao denominada aprendizagem. Alm disto, a educao implica processos pessoais e sociais de relao entre o ensinado e aprendido e a realidade vivida, no contexto cultural situado, produzindo - pessoal e coletivamente - a existncia social e individual.

    Mesmo quando se fala da educao institucionalizada, a prtica tem demonstrado a impossibilidade de xito de abordagens limitadas fora do contexto da prtica social, da educao como puro processo de transmisso

    *Consultora do Servio Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) do Rio de Janeiro. Participou da elaborao do Programa de EAD e do Projeto Logos, desenvolvidos por essa instituio.

    e ensino, da educao como aprendizagem de contedos sem relao com a apropriao transformadora da realidade.

    So estas vises reducionistas que levam a concepes tambm distorcidas da educao a distncia, aceitando que projetos limitados veiculao de informaes por diferentes e mais ou menos sofisticados meios de comunicao sejam denominados como de ensino/educao a distncia.

    A educao distncia s se realiza quando um processo de utilizao garante uma verdadeira comunicao bilateral nitidamente educativa. Uma proposta de ensino/educao distncia necessariamente ultrapassa o simples colocar materiais instrucionais a disposio do aluno distante. Exige atendimento pedaggico, superador da distncia e que promova a essencial relao professor-aluno, por meios e estratgias institucionalmente garantidos.

    A utilizao pedaggica deve ocupar lugar central no processo de planejamento da educao a distncia. Respondendo a necessidades educacionais a serem atendidas, as alternativas de efetivao da relao pedaggica so o critrio que deve presidir a escolha dos meios, o modo de produzir materiais, a organizao da veiculao e dos canais de comunicao distncia entre professores e alunos durante todo o processo.

    Do material impresso e da correspondncia, do rdio e da televiso, at as mais recentes tecnologias da comunicao, a variedade dos meios passveis de adoo isolada ou combinadamente, em sistemas de multimeios, impe critrios de seleo. Certamente a escolha deve basear-se na soluo da questo de promoo da efetiva ; iterao pedaggica que, obviamente, passa por critrios de viabilidade, convenincia e custo-benefcio.

    Em Aberto, Braslia, ano 16, n.70, abr./jun. 1996

  • Itinerrio de uma estratgia

    A comunicao educativa com o objetivo de provocar a aprendizagem em discpulos fisicamente distantes encontra suas origens no intercmbio de mensagens escritas, desde a Antigidade.

    Inicialmente na Grcia e, depois, em Roma, existia uma rede de comunicao que permitia o desenvolvimento significativo da correspondncia. s cartas comunicando informaes sobre o quotidiano pessoal e coletivo juntam-se as que transmitiam informaes cientficas e aquelas que, intencional e deliberadamente, destinavam-se instruo.

    Esse epistolrio greco-romano vai se manifestar no Cristianismo nascente e, atravessando os sculos, adquire especial desenvolvimento nos perodos do Humanismo e do Iluminismo.

    De pesquisa realizada pelo professor Francisco Jos Silveira Lobo Neto, retiro algumas informaes para traar esse itinerrio: um primeiro marco da educao a distncia foi o anncio publicado na Gazeta de Boston, no dia 20 de maro de 1728, pelo professor de taquigrafia Cauleb Phillips: "Toda pessoa da regio, desejosa de aprender esta arte, pode receber em sua casa vrias lies semanalmente e ser perfeitamente instruda, como as pessoas que vivem em Boston."

    Em 1833, um anncio publicado na Sucia j se referia ao ensino por correspondncia e, na Inglaterra, em 1840, Isaac Pitman sintetiza os princpios da taquigrafia em cartes postais que trocava com seus alunos.

    Mas o desenvolvimento de uma ao institucionalizada de educao a distncia tem incio a partir da metade do sculo XIX.

    Em 1856, em Berlim, por iniciativa de Charles Toussaint e Gustav Langenscheidt, criada a primeira escola de lnguas por correspondncia. Posteriormente, em 1873, em Boston, Anna Eliot Ticknor funda a Society to Encourage Study at Home. Em 1891, Thomas J. Foster, em Scamton (Pennsylvania), inicia, com um curso sobre medidas de segurana no trabalho de minerao, o Internacional Correspondence Institute.

    Em 1891, a administrao da Universidade de Wisconsin aprova proposta apresentada pelos professores de organizao de cursos por correspondncia nos servios de extenso universitria.

    Um ano depois, em 1892, foi criada uma Diviso de Ensino por Correspondncia, no Departamento de Extenso da Universidade de Chicago, por iniciativa do Reitor William R. Harper, que j havia experimentado a utilizao da correspondncia para preparar docentes de escolas dominicais.

    Em 1894, 1895, em Oxford, por iniciativa de Joseph W. Knipe, que atravs de correspondncia preparou seis e depois 30 estudantes para o Certificated Teachers Examination, iniciam-se os cursos de Wolsey Hall.

    Em 1898, em Malmoe (Sucia), Hans Hermod, diretor de uma escola que ministrava cursos de lnguas e cursos comerciais, publicou o primeiro curso por correspondncia, dando incio ao famoso Instituto Hermod.

    Adentrando o sculo XX, observa-se movimento contnuo de consolidao e expanso da educao a distncia, confirmando, de certo modo, as palavras de William Harper, escritas em 1886: "Chegar o dia em que o volume da instruo recebida por correspondncia ser maior do que o transmitido nas aulas de nossas academias e escolas; em que o nmero dos estudantes por correspondncia ultrapassar o dos presenciais;..."

    Em Aberto. Braslia, ano 16, n.70, abr./jun.1996

  • O aperfeioamento dos servios de correio, a agilizao dos meios de transporte e, sobretudo, o desenvolvimento tecnolgico aplicado ao campo da comunicao e da informao influram decisivamente nos destinos da educao a distncia.

    Observa-se um notvel crescimento quantitativo. Aumenta 0 nmero de pases, de instituies, de cursos, de alunos, de estudos. Em segundo lugar, h uma significativa alterao qualitativa: novas metodologias e tcnicas so incorporadas, novas e mais complexos cursos so desenvolvidos, novos horizontes abrem-se para a utilizao da educao a distncia.

    Sobretudo a partir das dcadas de 60 e 70, a teleducao, embora mantendo os materiais escritos como sua base, passa a incorporar, articulada e integradamente, o udio e o videocassete, as transmisses de rdio e televiso, o videotexto, o videodisco, o computador e, mais recentemente, a tecnologia de multimeios, que combina textos, sons, imagens, mecanismos de gerao de caminhos alternativos de aprendizagem (hipertextos, diferentes linguagens), instrumentos de uma fixao de aprendizagem com feedback imediato, programas tutoriais informatizados etc.

    Assim que o International Council for Correspondence Education, criado em 1938 no Canad, passou a denominar-se, em 1982, International Council for Distance Educative. Muito mais do que uma simples mudana de nome, a se reflete o reconhecimento de um processo histrico que, apesar da enorme e marcante influncia da correspondncia, absorveu as contribuies da tecnologia, produzindo uma modalidade de educao capaz de contribuir para a universalizao e a democratizao do acesso ao saber, do contnuo aperfeioamento do fazer, da ampliao da capacidade de transformar e criar - uma modalidade que pode ajudar a resolver as questes de demanda, tempo, espao, qualidade, eficincia, eficcia.

    A educao a distncia no Brasil

    Sua evoluo histrica, no Brasil como no mundo, marcada pelo surgimento e disseminao dos meios de comunicao.

    Vivemos a etapa do ensino por correspondncia; passamos pela transmisso radiofnica e, depois, televisiva; utilizamos a informtica at os atuais processos de utilizao conjugada de meios - a telemtica e a multimdia.

    A utilizao de novas tecnologias propicia a ampliao e a diversificao dos programas, permitindo a interao quase presencial entre professores e alunos.

    Mas seja qual for a tecnologia adotada, a EAD ter que ter, sempre, uma finalidade educativa.

    Considera-se como marco inicial a criao, por Roquete-Pinto, entre 1922 e 1925, da Rdio Sociedade do Rio de Janeiro e de um plano sistemtico de utilizao educacional da radiodifuso como forma de ampliar o acesso educao.

    Algumas aes foram desenvolvidas ministrando aulas pelo rdio.

    A partir da dcada de 60 que se encontram registros, alguns sem avaliao, de programas de EAD. Foi criado, inclusive, na estrutura do Ministrio da Educao e Cultura, o Programa Nacional de Teleducao (Prontel), a quem competia coordenar e apoiar a teleducao no Brasil. Este rgo foi substitudo, anos depois, pela Secretaria de Aplicao Tecnolgica (Seat), que foi extinta.

    Em Aberto, Braslia, ano 16. n.7. abr./jun. 1996

  • Em 1992 foi criada a Coordenadoria Nacional de Educao a Distncia na estrutura do MEC e, a partir de 1995, a Secretaria de Educao a Distncia.

    Entre muitos projetos, alguns lamentavelmente sem registro, selecionei alguns que pontuam a trajetria da teleducao no Brasil:

    A Marinha utiliza ensino por correspondncia desde 1939.

    O Exrcito oferece cursos por correspondncia, para preparao de oficiais para admisso Escola de Comando do Estado Maior, e o Centro de Estudos de Pessoal (CEP) desenvolve cursos de atualizao, utilizando material impresso e, alguns, multimdia.

    O Instituto Universal Brasileiro, sediado em So Paulo com filiais no Rio de Janeiro e Braslia, como entidade de ensino livre, oferece cursos por correspondncia. Foi fundado em outubro de 1941 e pode ser considerado como um dos primeiros em nosso pas.

    O Informaes Objetivas Publicaes Jurdicas (IOB), com sede em So Paulo, desenvolve em todo o pas, atravs do ensino por correspondncia, desde a dcada de 70, um programa destinado a pessoas que esto na fora de trabalho, com predominncia em ocupaes da rea terciria e de servios.

    O Projeto Minerva, transmitido pela Rdio MEC, com apoio de material impresso, permitiu a milhares de pessoas realizarem seus estudos bsicos.

    - O Sistema Avanado de Comunicaes Interdisciplinares (Projeto Saci) foi concebido e operacionalizado, em carter experimental, de 1967 a 1974, por iniciativa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Tinha como objetivo estabelecer um sistema nacional de teleducao com o uso do satlite.

    O Experimento Educacional do Rio Grande do Norte (Exern) constitua-se de dois projetos: um destinado a alunos das trs primeiras sries do ensino fundamental e o outro direcionado para o treinamento de professores. Utilizavam rdio e/ou televiso. Outro produto importante derivado do Saci foi a implementao de um curso de mestrado em Tecnologia Educacional.

    O objetivo maior do Projeto Saci - um satlite domstico para uso educacional - foi abandonado. Em sua primeira verso, de 1968, o projeto discutia as vantagens de um satlite de alta potncia que alocaria trs canais de TV para fins educativos. Isto permitiria atingir escolas em todo o pas, com programas de rdio e televiso e material impresso.

    A programao seria voltada para as quatro primeiras sries do ensino primrio e para a habilitao de leigos.

    Alm da idia de usar rdio e televiso atravs do satlite, o projeto oferecia a utilizao de mecanismos constantes de feedback dos alunos, atravs de textos de instruo programada e um sistema de correo de testes por computador.

    O projeto propunha-se desenvolver um experimento de utilizao ampla dos meios de comunicao de massa para fins educativos.

    Em Aberto, Braslia, ano 16, n.70, abr./jun. 1996

  • A partir de 1975, o Inpe retirou-se e o projeto foi absorvido pelo Estado do Rio Grande do Norte.

    Em 1976, o projeto piloto foi encerrado, tendo como saldo: 35 minutos de comunicao via satlite, em 1975; 1.241 programas de rdio e igual nmero para televiso; instalao de recepo em 510 escolas de 71 municpios do Rio Grande do Norte, das quais 10 receberam o sinal diretamente do satlite e cerca de 200 receberam via estao de superfcie, retransmitindo o sinal do satlite prximo a elas.

    O sistema de Televiso Educativa (TVE) do Maranho teve incio em 1969 e at hoje oferece, em recepo organizada, com o apoio de orientadores de aprendizagem, estudos de 5* a 8 sries do ensino fundamental, utilizando programas de televiso e material impresso, que permitem aprofundar os contedos trabalhados e realizar pesquisas.

    A recepo organizada ocorre em escolas da rede oficial e administrado pelo Centro Regional de Televiso Educativa do Nordeste.

    Em 1995 foram atendidos 41.573 alunos, em 1.104 telessalas, na capital e em mais 32 municpios do Maranho.

    A TVE do Cear teve incio em 1974. Desenvolve o programa Tele-Ensino para alunos de 5a a 8a srie, principalmente no interior do estado. A TVE do Cear presta servios s Secretarias Estadual e Municipais de Educao, mediante convnio. Produz e veicula os programas de televiso e elabora o material impresso. Compete s Secretarias a cesso das salas de aula, os professores, os equipamentos e a respectiva manuteno, a reproduo e distribuio do material impresso, a superviso. Enfim, todos os aspectos administrativos, logsticos e pedaggicos da utilizao.

    Em 1995, o sistema de televiso educativa do Cear atendeu 195.559 alunos de 5a a 8a srie, em 7.322 telessalas, localizadas em 161 municpios.

    A Telescola da Fundao Padre Anchieta, de So Paulo, produziu e veiculou, durante muitos anos, programas de apoio a alunos e professores das ltimas sries do ensino de 1o grau.

    O Centro Brasileiro de Televiso Educativa Gilson Amado, a partir de 1990 denominado Fundao Roquete-Pinto, teve papel de destaque na histria da EAD no Brasil. Seu criador, Gilson Amado, foi um pioneiro na utilizao da televiso no processo educativo.

    As sries Joo da Silva e Conquista, em formato de novela didtica, o primeiro destinado a jovens e adultos das primeiras sries e, o segundo, a jovens e adultos das sries finais do ensino fundamental, foram concebidas e produzidas pelo Centro Brasileiro de Televiso Educativa (Sinred). Alm dos programas televisivos, os alunos eram apoiados por materiais impressos.

    Essas duas sries, a primeira premiada no Japo, foram precursoras de muitas outras por ele concebidas, produzidas e veiculadas pela TVE, Canal 2, do Rio de Janeiro. Muitos desses programas integraram a grade de programao de vrias televises educativas que compem o Sinred.

    A Rdio MEC, da Fundao Roquete-Pinto, tem uma histria de dcadas de apoio educao, atravs de inmeros programas por ela concebidos, produzidos e veiculados.

    Em Aberto, Braslia, ano 16, n.70, abr./jun. 1996

  • O Servio Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) iniciou suas atividades em EAD em 1976, com a criao de um Sistema Nacional de Teleducao. De 1976 a 1988 foram oferecidos cerca de 40 cursos, utilizando material instrucional. Em 1991 o Senac, aps avaliao, promoveu uma reestruturao geral do seu programa de EAD. O gerenciamento do sistema, que era centralizado em seis estados, passou a ser realizado atravs de Unidades Operacionais de EAD, em cada Administrao Regional. No Departamento Nacional, foi criado, cm 1995, o Centro Nacional de Ensino a Distncia. Em 1995, o Senac atendeu cerca de 2 milhes de alunos atravs da EAD.

    A Associao Brasileira de Tecnologia Educacional (ABT), desde o incio da dcada de 80, oferece cursos direcionados ao aperfeioamento de recursos humanos utilizando material instrucional, que permite acompanhamento personalizado, com tutoria. Passaram, at agora, pelos cursos da ABT, cerca de 30 mil pessoas.

    A Universidade de Braslia (UnB) tem uma experincia de mais de quinze anos em EAD atravs de cursos de extenso, iniciada em 1979, oferecendo mais de 20 cursos, seis dos quais traduzidos da Open University. Esses cursos foram utilizados por pessoas de todos os estados. Muitos deles tiveram, alm dos alunos regularmente inscritos, um nmero muito grande de participantes, uma vez que alguns fascculos foram veiculados por jornais de vrias capitais e pela revista editada pela UnB.

    Mais de 50 mil pessoas inscreveram-se formalmente nos cursos a distncia da UnB.

    O Programa de Ensino a Distncia da UnB transformou-se na Coordenadoria de Educao a Distncia, em 1985, ligada ao Decanato de Extenso, e, mais tarde, em 1989, no Centro de Educao Aberta Continuada a Distncia (Cead). No primeiro perodo, foram produzidos quatro cursos, entre os quais o primeiro volume da srie O Direito achado na ma, que j caminha para a 5a edio, com cerca de 12 mil exemplares vendidos. Em breve esta srie contar com o terceiro volume, intitulado Introduo crtica ao Direito Agrrio.

    No perodo do Cead, foram produzidos dez cursos, entre eles, a primeira experincia em software, em 1992. Hoje, o Cead conta com um grupo de especialistas nessa rea, que j utilizam recursos de multimdia e esto produzindo cursos apresentados em CD-ROM.

    O Cead tem se destacado com aes que visam consolidao da educao a distncia no Brasil. Em 1989, por iniciativa do Cead, representantes de vrias universidades pblicas, reunidas cm Braslia, lanaram a Rede Brasileira de Educao Superior a Distncia. Em 1994, em parceria com a Unesco e o Instituto Nacional de Educao a Distncia (Ined), criaram o Frum de Educao a Distncia do Distrito Federal e, nesse mesmo ano, ainda com o Ined, lanaram a revista Educao a Distncia - INED. Em 1995, organizaram a 1a Conferncia Interamericana de Educao a Distncia (Cread), em 1995, no Distrito Federal.

    A Fundao Padre Landell de Moura (RS) desenvolveu expressiva programao educativa utilizando rdio e televiso, interiorizando as oportunidades educacionais.

    O Instituto de Radiodifuso Educativa da Bahia (Irdeb) ocupa lugar de destaque na histria da teleducao brasileira. Concebeu, produziu e veiculou inmeros programas de rdio e televiso educativos.

    Em Aberto, Braslia, ano 16, n.70, abr./jun. 1996

  • Vrias rdios e televises universitrias tm produzido e veiculado programas educativos.

    A Fundao Roberto Marinho (FRM) vem desenvolvendo vrios programas. Inicialmente, o Telecurso do 2 Grau e o Supletivo do 1o Grau (televiso e material impresso adquirido em bancas de jornal) prepararam milhares de alunos para os exames supletivos. Os programas eram transmitidos em recepo livre.

    Nos ltimos anos, a FRM produziu vrias sries educativas. Menino, quem foi teu mestre?, Educao para o trnsito e Educao para a sade so alguns exemplos. Esses programas foram transmitidos pela TV Globo c pela TVE, Canal 2, do Rio de Janeiro, o que permitiu que integrassem a rede de programao de vrias emissoras brasileiras de televiso educativa.

    Ultimamente, a FRM concebeu e produziu a srie Telecurso 2000, para 1o e 2 graus, em convnio com a Federao das Indstrias do Estado de So Paulo (Fiesp), Senai e Sesi de So Paulo. Esta srie, alm da parte de educao geral, oferece cursos profissionalizantes. O primeiro curso oferecido foi o de Mecnica.

    O Telecurso 2000 composto de 1.140 programas televisivos. Como apoio s atividades de estudo individual ou em grupo, os alunos tm sua disposio, nas bancas de jornais e revistas, os livros das disciplinas de 1 e 2 graus e do curso de Mecnica. Outros cursos profissionalizantes sero produzidos pela FRM.

    Tal como foi idealizado, o Telecurso 2000 pode ser acompanhado individualmente, com o auxlio dos programas de televiso e dos livros, ou em recepo organizada em telessalas, onde grupos de alunos se renem para assistir s aulas pela televiso ou com auxlio do videocassete, com o apoio de orientadores de aprendizagem.

    Os departamentos regionais do Servio Nacional de Aprendizagem Indus-trial (Senai) e Servio Nacional da Indstria (Sesi), os sindicatos, as empresas e associaes comunitrias esto participando da fase de utilizao, cedendo espao para a organizao das telessalas. O Telecurso 2000 est atendendo a milhares de jovens e adultos.

    A FRM desenvolve ainda um projeto com as Secretarias de Educao para formao de videotecas, com apoio da Fundao Banco do Brasil.

    O Centro Educacional de Niteri iniciou suas atividades utilizando a EAD em 1979. Oferece vrios cursos, utilizando mdulos instrucionais com tutoria e momentos presenciais, atravs de convnios com Secretarias de Educao e empresas. Em 1995, atendeu cerca de 20 mil pessoas, abrangendo: cursos de 1 e 2 graus, para jovens c adultos; qualificao de tcnicos em transaes imobilirias; o Projeto Crescer, de complementao pedaggica e atualizao de professores do 1o grau. Outros cursos nas reas de secretariado, contabilidade e da segurana de trabalho esto sendo produzidos.

    O Colgio Anglo-Americano, com sede no Rio de Janeiro, vem desenvolvendo desde o final da dcada de 70, em 28 pases, cursos por correspondncia, com tutoria, em nvel de 1o e 2 graus, para brasileiros que residem, temporariamente, fora do pas.

    O Centro Federal de Educao Tecnolgica (Cefet) do Rio de Janeiro est desenvolvendo, numa iniciativa conjunta com a Secretaria de Educao Mdia e Tecnolgica do MEC, um curso de especializao didtica aplicada educao tecnolgica. Utilizando a modalidade de EAD, atravs de estudo individualizado, possibilita ao professor cursista o acesso a alguns referenciais terico-prticos indispensveis fundamentao do repensar de sua prtica docente diante dos avanos cientfico-tecnolgicos. A tutoria centralizada no Cefet do Rio de Janeiro.

    Em Aberto, Braslia, ano 16, n.70, abr./jun. 1996

  • O objetivo contribuir para a melhoria da qualidade do ensino tcnico nas escolas tcnicas federais e Cefets e para a ampliao da oferta de cursos de ps-graduao latu sensu.

    O Senai do Rio de Janeiro, a partir de 1993, criou o Centro de Educao a Distncia. Utilizando material impresso com alguns momentos presenciais, deu incio s suas atividades com os cursos de Noes Bsicas de Qualidade Total e Elaborao de Material Didtico Impresso, atendendo, at agora, mais de 16 mil pessoas.

    Outros projetos esto em fase de produo de material: Higiene e Segurana do Trabalho e Qualidade de Vida; Portugus, Conservao de Energia. O Senai do Rio de Janeiro atende a inmeras empresas localizadas em quase todos os estados, ministrando os dois cursos a distncia. A partir de junho de 1997, ministrar cursos a distncia para empresas, na Argentina e Venezuela.

    A Multirio, empresa de multimeios da Prefeitura do Rio de Janeiro, embora tenha iniciado suas atividades em 1995, j faz parte da histria da EAD no Brasil, pelo trabalho que vem realizando, dirigido a alunos e professores de 5a a 8a srie do sistema municipal de ensino. Alm dos programas televisivos que concebe e produz, elabora material impresso de apoio. A utilizao pedaggica nas escolas da rede da responsabilidade da Secretaria Mu nicipal do Rio de Janeiro.

    A Aeronutica est implantando a Universidade da Fora Area, utilizando programa de EAD para atualizao de oficiais.

    Para encerrar esse breve histrico da EAD, merecem destaque dois programas que, a meu ver, constituem-se em conquistas institucionais e marcos referenciais na nossa histria de educao a distncia. So eles: Um salto para o futuro e TV Escola.

    Um salto para o futuro um programa concebido, produzido e veiculado pela Fundao Roquete-Pinto, destinado atualizao de professores. E utilizado, ainda, como apoio aos cursos de formao de professores que iro atuar nas primeiras sries do ensino fundamental. O programa utiliza multimeios (material impresso, rdio, televiso, fax e telefone). Ao programa televisivo, com durao de uma hora, integra-se um boletim impresso, que tem o objetivo de aprofundar os contedos trabalhados no programa.

    Por sua estrutura e pela utilizao do satlite, o programa tem momentos interativos que permitem aos professores cursistas, reunidos em telepostos, formular questes ou apresentar suas experincias, ao vivo ou via telefone e fax, equipe de professores - especialistas presentes nos estdios da TVE do Rio de Janeiro-, que as respondem ou comentam.

    O programa ao vivo utilizado pelas unidades federadas, em recepo organizada. Aps a veiculao do programa televisivo, ao vivo, os cursistas permanecem nos telepostos por mais uma hora, aprofundando os contedos abordados no programa, apoiando-se para isto, no boletim impresso que recebem e nos orientadores de aprendizagem presentes em cada telessala. Durante esta hora, os cursistas continuam formulando perguntas aos professores especialistas, por fax, rdio ou telefone, recebendo imediatamente as respostas.

    Desde sua fase inicial, realizada no periodo de agosto a dezembro de 1991, o programa permanentemente avaliado em nvel nacional. A partir de setembro de 1995, passou a integrar a grade de programao da TV Escola.

    Em Aberto. Braslia, ano 16, n.70, abr./jun. 1996

  • Pode-se dizer que esse programa representa um marco importante na histria da EAD e da televiso educativa brasileira, pela abrangncia nacional da utilizao, pela concepo e formato do programa, que permite a interatividade, pela ao integrada e coordenada de vrios rgos, alm de se constituir um instrumento eficaz para o atingimento de uma das metas da poltica educacional - a educao continuada dos professores do ensino fundamental, com vista sua permanente atualizao, melhoria da produtividade do sistema escolar e garantia da qualidade da educao.

    Alm disto, Um salto para o futuro, por sua importncia, abrangncia e resultados, foi estimulador de mudana de mentalidade e de desenvolvimento de aes concretas, que abriram novas perspectivas para a EAD no pas.

    No primeiro caso, oportunizou a milhares de professores a intimidade com o processo educativo superador de distncias e com a diversidade de solues de uso pedaggico das tecnologias de comunicao. E foi a partir de sua abrangncia nacional e dos resultados alcanados que se abriram novas perspectivas para a EAD no Brasil.

    O governo brasileiro, atravs do MEC e do Ministrio das Comunicaes (MC), tomou, a partir de 1993, as primeiras medidas concretas para a formulao de uma poltica nacional de EAD, para a criao, atravs do Decreto n 1.237, de 6/9/94, do Sistema Nacional de Educao a Distncia, alm de muitas outras:

    Protocolo de Cooperao n 3/93, assinado entre o MEC e o MC, com a participao do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (Crub), do Conselho de Secretrios de Educao (Consed) e da Unio Nacional de Dirigentes Municipais de Educao (Undime), visando ao desenvolvimento de um sistema nacional de EAD;

    Convnio n 6/93 - MEC/MC/Embratel, com a participao do Ministrio da Cincia e Tecnologia (MCT), do Ministrio da Indstria e Comrcio (MinC), Crub, Consed e Undime, para garantir a viabilizao do EAD;

    Acordo de Cooperao Tcnica 4/93 - MEC/UnB, para a coordenao, pela UnB, de um Consrcio Interuniversitrio, com a finalidade de dar suporte cientfico e tcnico para a educao bsica, utilizando os recursos da Educao Continuada e da Educao a Distncia.

    Decreto criando a Televia para a Educao, assinado pelo presidente da Repblica e ministros da Educao e das Comunicaes, com deduo do valor de tarifas para programas de EAD;

    Criao da Coordenadoria Nacional de EAD, no mbito do MEC. Alm dessas medidas, em nvel federal, Um salto para o futuro oportunizou a criao, cm cada unidade federada, de uma Coordenadoria de Educao a Distncia vinculada respectiva Secretaria Estadual de Educao, encarregada da utilizao de programas de EAD.

    A partir de 1993, multiplicaram-se os congressos e seminrios sbre EAD, atraindo grande nmero de pessoas, e o assunto passou a ser item obrigatrio da agenda dos educadores.

    Em Aberto, Braslia, ano 16, n.70, abr./jun. 1996

  • Inmeras instituies mostram-se interessadas em utilizar essa modalidade educativa. Em 1995, o governo federal cria uma Subsecretaria de EAD, no mbito da Secretaria de Comunicao da Presidncia da Repblica. responsvel pelo Programa Nacional de EAD.

    Em 1996 foi criada, na estrutura do MEC, a Secretaria de Educao a Distncia, assumindo as atribuies da Subsecretaria que foi extinta.

    O ano de 1995 marca, tambm, o lanamento da TV Escola, programa concebido e coordenado pelo MEC, em mbito nacional. Seu objetivo o aperfeioamento e a valorizao dos professores da rede pblica e a melhoria da qualidade do ensino, por meio de um canal de televiso dedicado exclusivamente educao.

    A TV Escola funciona em circuito aberto, sem codificao, via satlite, com recepo por antena parablica. A programao transmitida a todo o pas, atravs do satlite Brasilsat, e gravada cm fita de videocassete para posterior utilizao pelos professores, diretores e alunos.

    A produo orientada por eixos temticos comuns aos currculos. Sries nacionais e internacionais compem a programao: sries didticas, paradidticas, documentrios etc. Completa a grade o programa Um salto para o futuro.

    O programa foi lanado, em carter experimental, em 4 de setembro de 1995, operando definitivamente a partir de 4 de maro de 1996.

    A TV Escola gera trs horas de programao diria, repetida quatro vezes ao dia, permitindo que as escolas gravem os programas para utilizao por professores e administradores educacionais, bem como os vdeos pedaggicos c culturais veiculados, para enriquecer a prtica pedaggica.

    Complementam os programas materiais impressos: a revista TV Escola, os Cadernos do Professor, a Revista Especial com o Guia de Programas, os cartazes com a grade de programao bimestral e o catlogo da TV Escola.

    O MEC vem repassando recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao (FNDE) s Secretarias de Educao para aquisio de kits, compostos de televiso, videocassete, antena parablica, receptor de sinais de satlite e fitas VHS.

    A Resoluo n 15, de 6 de junho de 1995, criou o Programa de Apoio Tecnolgico Escola, que consiste no repasse de R$ 1.500,00 por escola de ensino fundamental com mais de 100 alunos, para aquisio do kit. Mais de 46 mil escolas foram beneficiadas cm 1996.

    Em 19 de maro de 1996, a Resoluo n 26 criou o Plano de Complementao e Expanso do Programa de Apoio Tecnolgico Escola, contemplando com equipamento adicional as escolas localizadas nas Regies Norte, Nordeste e Centro-Oeste, exceto o Distrito Federal, e nos municpios onde no existe escola municipal ou estadual com mais de 100 alunos.

    Em 28 de novembro de 1996, foi criado o Comit Nacional de Apoio TV Escola, constituindo-se uma instncia de intermediao entre o planejamento e a execuo.

    Concluso

    Este trabalho no teve a pretenso de esgotar a relao de experincias e trabalhos em desenvolvimento no pas, na modalidade de EAD. Procurou pontuar, com algumas citaes, a trajetria dessa histrica inovao educacional no Brasil.

    Em Aberto, Braslia, ano 16, n.7, abr./jun, 1996

  • Na passagem para o terceiro milnio, que abre o pano com o sculo XXI, o mundo est presenciando uma demanda sem precedentes por educao inicial e continuada, que, ao mesmo tempo, fascina e desafia os sistemas educacionais.

    Nesse cenrio, a EAD desponta como modalidade do futuro, provavelmente vivendo novas etapas, com nfase na integrao de meios, em busca da melhor e maior interatividade.

    As tecnologias da informao aplicadas EAD proporcionam maior flexibilidade e acessibilidade oferta educativa, fazendo-as avanar na direo de redes de distribuio de conhecimentos e de mtodos de aprendizagem inovadores, revolucionando conceitos tradicionais e contribuindo para a criao dos sistemas educacionais do futuro.

    Sero alcanados, em escala e com qualidade, novas geraes de estudantes e os jovens e adultos trabalhadores, em seus domiclios e locais de trabalho, beneficiando todos quantos precisam combinar trabalho e estudo ao longo de suas vidas.

    Nesse contexto, um grande esforo cooperativo se far necessrio para abolir todas as barreiras ao acesso s oportunidades de educao e trabalho. paradoxal, mas a EAD tender a abolir as distncias educacionais, pois a conjugao das conquistas das tecnologias de informao e telecomunicao com as da pedagogia permitir humanidade construir a escola sem fronteiras.

    Este sistema j vem sendo progressivamente configurado, medida que as tecnologias apoiam a EAD, tornando disponveis novas e ampliadas oportunidades de acesso educao, cultura, ao desenvolvimento profissional e pessoal.

    Desde a dcada de 20, o Brasil vem construindo sua histria de EAD. A partir da dcada de 70 ampliou-se a oferta de programas de teleducao e, no final do sculo, estamos assistindo ao consenso de que um pas com a dimenso e as caractersticas do nosso tem que romper as amarras do sistema convencional de ensino e buscar formas alternativas para garantir que a educao inicial e continuada seja direito de todos.

    Seguramente, a EAD uma das alternativas. Novos programas sero concebidos. Novas tecnologias sero utilizadas. Novos resultados sero alcanados, enriquecendo a histria da EAD no Brasil, que este artigo tentou registrar.

    Em Aberto, Braslia. ano 16, n.70. abr./jun. 1996

  • A CONTRIBUIO DO CONSRCIO INTERUNIVERSITRIO DE EDUCAO CONTINUADA E A DISTNCIA - BRASILEAD-PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAO NACIONAL

    Paulo Vicente Guimares*

    As origens e a organizao do Consrcio

    Em 1993, por proposta da Universidade de Braslia, os reitores das universidades pblicas brasileiras, reunidos na sede do Crub, cm Braslia, resolveram assinar entre si um Convnio para implantar o Consrcio Interuniversitrio de Educao Continuada e a Distncia que, entre outros objetivos, visa colaborar com os governos federal, estaduais e municipais no aumento e diversificao da oferta das oportunidades educacionais do pas, atravs da criao do Sistema Nacional de Educao a Distncia, sob o comando do Ministrio da Educao e do Desporto.1

    Coube aos diretores das faculdades de Educao ou de instituies equivalentes das universidades pblicas, em estreita cooperao entre os diretores das outras reas do conhecimento intra-universidade, a implantao do Brasilead, hoje constitudo por 54 instituies pblicas de ensino superior e organizado por um Conselho Diretor, com presidncia colegiada, composta por um presidente e cinco vice-presidentes regionais, eleitos pelos membros do Conselho Diretor. Este Conselho assessorado por um Comit de Educao Continuada e a Distncia, por um Conselho

    'Doutor em Educao pela Universidade de Paris. Professor adjunto da Universidade de Braslia (UnB) e diretor da Faculdade de Educao dessa universidade. Convnio assinado entre os reitores das universidades brasileiras em setembro de 1993, p.l e 2.

    Consultivo Comunitrio e por uma Secretaria Executiva, com sede em Braslia.2

    Aps a concepo do Brasilead, os ministros de Estado das Comunicaes, Cultura, Cincia e Tecnologia, Educao e do Desporto e os presidentes do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (Crub), da Empresa Brasileira de Telecomunicaes (Embratel), do Conselho de Secretrios de Educao (Consede) e da Unio Nacional de Dirigentes Municipais (Undime) assinaram Convnio de Cooperao mtua entre as partes com vistas a "conceber, desenvolver e implantar e expandir a infra-estrutura de informaes do Sistema Nacional de Educao a Distncia, representada por uma rede informacional de educao, e ampliar as disponibilidades de satlite para fins educacionais".1 Coube Universidade de Braslia, em convnio com o Ministrio da Educao e do Desporto, "sediar, como plo experimental, no seu espao fsico, o Consrcio Interuniversitrio de Educao e Formao Continuada, via satlite, visando a desenvolver programas de educao a distncia, incluindo educao continuada em nvel avanado e intermedirio, educao tecnolgica, capacitao de professores nos trs nveis, bem como pesquisa e desenvolvimento no uso das novas tecnologias no processo ensino-aprendizagem, com a cooperao de universidades e organismos nacionais e internacionais."4

    Estes convnios encontram-se desativados, e a recm-criada Secretaria de Educao a Distncia do Ministrio da Educao e do Desporto est retomando as iniciativas governamentais com vistas formulao da Poltica Nacional de Educao Continuada e a Distncia.

    Regimento Interno do Brasilead, artigos 7 e 8, p.4 e 5. Convnio de Cooperao Tcnica n 6, assinado em 8/12/93, p.2. 4Acordo de Cooperao Tcnica n 4. assinado entre a FUB e o MEC, em 3/9/93, p.2, letra a.

    Em Aberto, Braslia, ano 16, n.70. abr./jun. 1996

  • O pano de fundo da criao do Consrcio

    A iniciativa brasileira de criao do Brasilead refletiu a sinalizao mundial dos pases desenvolvidos, nas trs ltimas dcadas deste final de sculo, tendo em vista a impossibilidade dos respectivos sistemas educacionais presenciais de responder s demandas dos sistemas produtivos, sociais, polticos, culturais e cientfico-tecnolgicas reclamadas pela globalizao das atividades do mundo contemporneo. Esta iniciativa espelhou, de modo especial, o divrcio entre o extraordinrio desenvolvimento dos conhecimentos do mundo contemporneo, base da promoo da cidadania e do desenvolvimento, enquanto categoria global, e as limitadas oportunidades de acesso e capacidades de assimilao a essa produo intelectual mundial, pelo mais rico potencial humano do Pas, a inteligncia da criana, do jovem e do adulto brasileiros.

    A partir de 1970, particularmente, a instabilidade e mutao dos mercados de trabalho comearam a retirar dos trabalhadores, mesmo os mais qualificados, a segurana do emprego. Esta tendncia vem agravar-se com a mundializao do comrcio e da produo industrial, dando origem a estratgias de outsourcing, de downsizing e de re-ingeneering, destinadas a reduzir ao mnimo as necessidades de mo-de-obra e passando a exigir-lhe maior qualificao. Acresce, ainda mais, que as economias centralizadas no Estado comearam a abandonar as estratgias poltico-industriais de planejamento da produo, levando sua liberalizao e, conseqentemente, deixando a populao economicamente ativa sem o amparo do Estado. Com efeito, preciso constatar que a sobrevivncia econmica das naes e o aumento da justia social passa pela capacidade que tm as sociedades de assegurar o pleno emprego assalariado de toda populao economicamente ativa, independente da mobilidade da mo-de-obra por diferentes empregos ou ocupaes profissionais. Mesmo abandonando, hoje, o conceito de Estado do Bem-Estar Social, mais oneroso para a sociedade sustentar desempregados do que criar novas oportunidades de emprego.

    Numa situao clara de instabilidade e de mutabilidade de emprego, o capital mais valioso para o trabalhador a sua qualificao profissional e a capacidade de adaptar-se a novas exigncias do perfil profissional reclamado pelo mundo do trabalho.

    Por outro lado, a prpria competitividade das empresas passa pela sua permanente flexibilidade e capacidade de adaptao a novas exigncias de mercado, novas metodologias e tecnologias de produo e de comercializao de produtos e servios o que possvel somente com a qualificao da mo-de-obra e muita educao para a mudana.

    Desenham-se, assim, neste final de sculo, novas estratgias de polticas educacionais que exigem da parte dos governos e das sociedades a sua formulao concreta e implementao imediata. neste contexto que, a partir dos anos 70, surgiram os grandes sistemas nacionais de educao superior a distncia, primeiramente na Europa e, em seguida, no Canad, nos Estados Unidos e na Austrlia. Mais recentemente, a partir de meados da dcada de 80, todos os pases desenvolvidos criaram os seus sistemas nacionais de educao a distncia, o que foi igualmente feito por pases em processo de desenvolvimento rpido como os da bacia do Pacfico e muitos outros pases de menores recursos.

    As diferenas entre os sistemas de ensino presencial e os sistemas de ensino a distncia

    O rpido desenvolvimento dos sistemas nacionais de ensino a distncia nos dias atuais fez sobressaltar trs ordens de diferenas em relao ao ensino presencial.

    A primeira diz respeito metodologia do ensino. O ensino a distncia baseia-se no princpio de que qualquer pessoa capaz de aprender por si s (auto-aprendizagem) desde que tenha acesso a materiais de instruo

    Em Aberto, Braslia, ano 16, n.70, abr./jun. 1996

  • de alta qualidade pedaggica e suficientemente compreensveis e atrativos. Estes materiais podem ser escritos, mas complementados por programas de rdio e televiso, fitas gravadas, udio e vdeo, disquete ou CD e por programas para microcomputadores etc. O estudante pode utilizar estes materiais educativos, em ritmo prprio de aprendizagem, em locais como sua casa, ambiente comunitrio prprio, num centro de formao da empresa, no salo paroquial da igreja, na sede de seu clube ou de seu sindicato etc. Pode haver centros de apoio ao sistema de ensino a distncia, descentralizado, onde o estudante pode ocasionalmente obter apoio cientfico e pedaggico atravs de monitores ou pode obter o mesmo tipo de apoio por via postal, fax ou telefone. A avaliao da aprendizagem necessariamente formal, presencial e em condies controladas.

    A segunda ordem de diferena organizacional. O sistema de ensino a distncia supe necessariamente um ou mais centros de produo de materiais de instruo mediatizados; a saber: editorial, estdio de produo de vdeo e udio, centro de produo de software educacional, tambm denominado courseware. E importante que existam as redes organizadas de distribuio destes materiais (postal, emissoras de rdio e TV, rede de microcomputadores). O pessoal administrativo deve ser previamente treinado e tem importncia fundamental no sucesso do ensino a distncia. Toda interao com os estudantes feita a distncia: registro e inscrio, publicao de resultados acadmicos, pagamentos, informaes como notas ou calendrio de trabalhos/provas etc.

    A informatizao admin i s t r a t iva absolutamente indispensvel, principalmente quando se trata de grande nmero de alunos.

    O pessoal docente bastante reduzido em relao ao ensino presencial. Neste, uma sala de aula considerada ideal com 25 alunos por professor, chegando at, em casos especiais, relao de 15 alunos por professor. No

    ensino a distncia, a relao de 100 alunos por um professor, tendo em vista que a comunicao entre aluno e professor no sistemtica, mas ocasional.

    A terceira e ltima diferena de ordem econmica. Podemos considerar que um sistema de ensino a distncia um empreendimento de "capital intensivo", enquanto os sistemas educativos convencionais so de "mo-de-obra" intensiva. Isto significa que o uso de tecnologias de produo e difuso de informao - que exigem investimento de capital - permitem reduzir as necessidades de pessoal docente. Conseqentemente, as despesas com pessoal e de funcionamento do sistema de ensino convencional comparadas s do sistema de ensino a distncia so substancialmente diferentes. No primeiro sistema, as despesas com pessoal variam entre 80% a 85% dos gastos globais, enquanto que os gastos com o funcionamento se situam entre 15% a 20%. No sistema de ensino a distncia, os encargos com pessoal variam de 55% a 65% e os de funcionamento se situam entre 35% a 45%. Esta diferena da estrutura de encargos devida principalmente terceirizao dos servios: contratos de cedncia de copyright com autores dos cursos, direitos de emisso de rdio e TV, ocupao de redes telefnicas e de informtica e manuteno de centros de apoio didtico-cientfico regionais etc. Nesta perspectiva, os indicadores de pessoal docente e tcnico-administrativo, tpicos de Universidades Abertas consideradas de dimenso pequena a mdia, isto , de 10 mil a 30 mil estudantes, so tambm bastante reduzidos. Para este tamanho de universidade, a experincia administrativo-educacional tem demonstrado que so necessrios aproximadamente 200 professores - 50 com o ttulo de doutor e 150 com o ttulo de mestre - e, na rea tcnico-administrativa, a demanda de 300 pessoas, sendo 150 tcnicos e 150 administrativos, todos trabalhando em tempo integral.5

    5Os dados aqui citados foram fornecidos ao autor deste artigo pelo presidente do International Council for Distance Education. Prof. Armando Rocha Trindade, em conferncia na Faculdade de Educao da Universidade de Braslia, em fevereiro de 1997.

    Em Aberto, Braslia, ano 16, n.70, abr./jun. 1996

  • Por outro lado, os custos de concepo e produo de materiais de aprendizagem (livros, audio, vdeo, software e outros multimdias) so elevados e variam de pas para pas. Neste particular, estima-se em US$ 300 mil o custo de uma disciplina/curso anual; mesmo considerando a matrcula superior a 2 mil alunos por curso, os custos de funcionamento desta universidade so substancialmente inferiores ao do ensino superior convencional.

    As perspectivas do Consrcio, a poltica educacional governamental e os modelos de instituies de educao a distncia

    Sem dvida, a inicativa e o apoio dos reitores das universidades brasileiras, em 1993, para a criao e a implementao do Brasilead, representaram urna consciente e corajosa afirmao poltica dos nossos dirigentes universitrios, no sentido de inserir o Brasil na parceria do estratgico movimento internacional dos pases desenvolvidos e em rpido processo de desenvolvimento, com vistas criao do Sistema Nacional de Educao a Distncia. A proposta de organizao do Brasilead veio, ambiciosamente, favorecer o estabelecimento de mecanismos de cooperao entre as universidade pblicas de forma a permitir o desenvolvimento de programas de educao e de formao continuada a distncia a serem realizados de forma consorciada, seja pelas prprias universidades, ou em parceria com centros de pesquisa, centros de educao tecnolgica, centros de treinamento, centros de informtica, televises educativas, empresas etc, buscando o mais amplo apoio e cooperao internacionais.

    Portanto, o modelo de organizao e funcionamento do Consrcio no pretende e nem pode substituir a oferta de cursos a distncia pelas instituies de ensino superior, seja de forma isolada ou consorciada.

    O modelo do Brasilead que est em prtica vem apoiando, integrando e facilitando o desenvolvimento das aes educativas nacionais, regionais e locais das instituies consorciadas. Embora sofrendo os reflexos da falta de recursos financeiros das universidades pblicas, do limitado status da educao a distncia no Pas e do reduzido nmero de professores especializados nesta rea, as aes do Brasilead tm sido de apoiar a concepo e implantao de cursos, elaborar projetos destinados s agencias governamentais e no-governamentais que apoiam o financiamento a cursos e pesquisas; estimular e promover o intercmbio e a troca de experincias referentes oferta de cursos, gerenciamento de programas e desenvolvimento de pesquisa nas dimenses nacional e internacional; implantar o banco de dados sobre educao a distncia no Brasil e no exterior, e, finalmente, o desenvolvimento de programas de formao de recursos humanos. Estas aes vm sendo apoiadas, em parte, tcnica c financeiramente pelos governos francs e espanhol, alm de outros apoios e intercmbio com Universidades Abertas ou programas de educao a distncia da Alemanha, Venezuela, Espanha, Inglaterra, Canad, Portugal, Frana, Estados Unidos e o apoio direto que sempre recebemos do International Council for Distance Education.

    Por outro lado, a continuao do sucesso da experincia brasileira de organizao, funcionamento e gerenciamento da poltica nacional de educao a distncia colocada em prtica, desde 1993, pelos reitores e diretores de faculdades de Educao das universidades pblicas brasileiras, atravs do Brasilead e com o apoio do Ministrio da Educao e do Desporto, est condicionada a algumas cautelas do governo Fernando Henrique Cardoso e das universidades brasileiras. A primeira cautela governamental c o Ministrio da Educao e do Desporto defin