Upload
builien
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
EM BUSCA DE DIRETRIZES CURRICULARES
PARA A A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE ENSINO RELIGIOSO:
UM ESTUDO ANALÍTICO-PROPOSITIVO
X SEMINÁRIO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O ER
Remí Klein
Marlon Schock
Considerações preliminares
Ensino Religioso (ER) assegurado pela Constituição Federal (1988)
como componente curricular no ensino fundamental (Art. 210, § 1º)
Por algumas constituições estaduais e leis orgânicas municipais, a oferta
fica assegurada também no ensino médio.
A LDB (Lei Nº 9394/96) assegura o ER no ensino fundamental (Artigo
33, com nova redação dada ao referido artigo pela Lei Nº 9475/97).
O CNE, pelo Parecer CEB Nº 04/98 e pela Resolução CEB Nº 02/98, ao
estabelecer as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para o ensino
fundamental, define a Educação Religiosa como área de conhecimento.
Gradativamente, abrem-se espaços em estados e municípios para
concursos e para a criação de cargo específico de professor de ER.
Há amparo legal para o componente curricular, mas a implementação
ainda nem sempre acontece nos sistemas de ensino e nas escolas, mediante
inclusão nas propostas curriculares (Projeto Político-Pedagógico e Planos
de Estudo) e prática no cotidiano da sala de aula.
Há definição de proposta curricular em diferentes níveis, com
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) elaborados pelo FONAPER
(1997).
Há referenciais curriculares para o ER em diversos sistemas estaduais e
municipais de ensino, propostas de planos de estudos de Conselhos de ER
de diversos Estados e materiais didáticos de diferentes editoras.
Um terceiro pilar é fundamental e imprescindível para que o ER se
concretize conforme proposta assegurada em lei com a nova redação dada
ao Artigo 33 da LDB pela Lei Nº 9475/97:
� O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte
integrante da formação básica do cidadão, constitui
disciplina dos horários normais das escolas públicas de
ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade
cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas
de proselitismo.
Assegurar formação específica nesta área aos professores nos diferentes
níveis.
� A formação de professores para atuar na educação
básica far-se-á em nível superior, em curso de
licenciatura, de graduação plena, em universidades e
institutos superiores de educação, admitida, como
formação mínima para o exercício do magistério na
educação infantil e nas quatro primeiras séries do
ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na
modalidade Normal.
Observar o que estabelece a própria LDB no seu Artigo 62 no tocante à
formação de professores:
A LDB coloca a ênfase na formação como professor, em curso na
modalidade Normal ou em curso de licenciatura, mas não determina nem
impede que seja oferecido curso específico para formação de professores
de ER.
Qualquer oferta de curso de formação para professores de ER deve
observar o embasamento legal dado pelas Constituições, pela LDB e por
pareceres e resoluções dos sistemas de ensino, seja do CNE ou dos
Conselhos Estaduais e/ou Municipais de Educação, de acordo com o
sistema a que está vinculado o estabelecimento de ensino.
A nova redação dada ao Artigo 33 da LDB pela Lei Nº 9475/97
normatiza que os sistemas de ensino “regulamentarão os procedimentos
para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as
normas para a habilitação dos professores”.
Em busca de Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para a formação de professores de Ensino Religioso
Num estudo acerca das DCN para a formação de professores da
educação básica, encontramos vários pareceres e resoluções do CNE/CP,
datados de 2001 (Pareceres 9 e 28) e de 2002 (Resoluções 01 e 02), que
legislam acerca da oferta de cursos de licenciatura em geral, havendo
pareceres e resoluções para cada curso em específico.
Não existe nenhuma referência a cursos de graduação em Teologia,
Ciências da Religião ou Ensino Religioso em termos de definição de DCN
por parte do CNE, apesar de uma década de proposições e de mobilizações
por parte do FONAPER.
Para assegurar esta área de conhecimento e este componente curricular
na formação básica do cidadão, é imprescindível uma formação específica
de professores, o que requer a elaboração e a aprovação de DCN.
� [...] não lhe compete autorizar, nem reconhecer, nem
avaliar cursos de licenciatura em ensino religioso, cujos
diplomas tenham validade nacional [...], competindo
aos Estados e municípios organizarem os conteúdos do
ensino religioso nos seus sistemas de ensino e as
normas para a habilitação e admissão dos professores.
Diante dos avanços reconhecidos e assegurados em relação ao ER pelas
Constituições, pela LDB e pelas regulamentações do CNE em relação a
DCN para os diferentes cursos de formação docente, causou estranheza
quando, em 1999, o CNE, ao se ocupar com o assunto da formação de
professores para o ER, aprovou o Parecer 97/99, concluindo que
O referido Parecer tomou como argumentos a separação entre Igreja e
Estado e o preceito constitucional da liberdade e da pluralidade religiosa,
conforme o Artigo 19 da Constituição Federal. Outrossim, com base na Lei
Nº 9475/97 que, em seu § 1º, determina que “[...] os sistemas de ensino
regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos e
estabelecerão as normas para a habilitação e admissão de professores”, o
Parecer remeteu a competência e a responsabilidade aos sistemas estaduais
e municipais de ensino, gerando impactos e impasses para a formação
específica de professores de ER por meio de cursos de licenciatura, com
resoluções e pareceres distintos nos diferentes sistemas de ensino com
vistas à formação docente nesta área específica.
Legislações estaduais sobre formação docente em Ensino Religioso
Diante do impasse criado a partir do Parecer 97/99 do CNE,
acompanhamos as tramitações feitas e as alternativas encontradas em
diferentes Estados no tocante a esta questão da legislação quanto à
formação de professores de ER.
No Rio Grande do Sul, em resposta a uma consulta de duas IES (EST e
UNILASALLE) referente à autorização de curso de licenciatura de ER, o
CEED/RS expediu em 2000 o Parecer Nº 290/2000 e a Resolução Nº
256/2000, regulamentando a habilitação de professores de ER e os
procedimentos para a definição dos conteúdos desse componente
curricular:
Art. 1º: São habilitados a lecionar Ensino Religioso em escolas integrantes do Sistema Estadual de Ensino os professores:I – titulados em nível médio ou superior para a docência na educação infantil e/ou nos quatro anos iniciais do ensino fundamental, para atuar nesses níveis de escolarização;II – os licenciados em qualquer área do currículo que tenham realizado curso ou cursos de preparação para lecionar o componente curricular Ensino Religioso, para atuar nos quatro níveis finais do ensino fundamental e no ensino médio.§ 1º: O curso, ou a soma da carga horária dos cursos [...] deverá totalizar, no mínimo, quatrocentas horas. Art. 2º: A comprovação da titulação referida no artigo anterior e seus parágrafos é suficiente para a contratação ou admissão a concurso para provimento de vagas decorrentes da oferta do Ensino Religioso em escolas públicas.
Diante desse impasse para a formação de professores de ER em curso de
licenciatura, diferentes IES no RS, assim como em outros Estados,
começaram ou continuaram a se articular e a se empenhar na oferta de
alternativas de formação inicial e continuada para professores de ER, com
cursos de extensão, com ênfase de ER em curso de Pedagogia e com
cursos de especialização, de 400 horas.
Considerando que a normatização nacional e a estadual do RS não
prevêem formação específica em ER para atuação docente na educação
infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, desenvolvemos projeto
de pesquisa investigando a capacitação que estudantes recebem em sua
formação docente nos cursos de licenciatura em Pedagogia e o quanto a
disciplina de Metodologia de ER pode constituir-se em espaço mínimo e
básico de formação.
Em outros Estados, foram encontradas diferentes alternativas no tocante
a esta questão da legislação quanto à habilitação e à admissão de
professores de ER, desencadeando iniciativas pioneiras de cursos
específicos de formação docente em nível de licenciatura.
Até o momento, apenas em poucos Estados (Santa Catarina, Pará, Rio
Grande do Norte, Maranhão e Minas Gerais) existem cursos de licenciatura
em Ciências da Religião com habilitação em ER ou outros cursos afins.
Em muitos Estados, encontramos cursos de extensão ou de
especialização em ER para complementar a formação de professores
habilitados em outras áreas.
Somente a graduação com licenciatura, de fato, habilita o docente para
atuar na educação básica.
Os Cursos de Ciências da Religião - Licenciatura de Graduação Plena
em Ensino Religioso do Estado de Santa Catarina: FURB/Blumenau,
UNIVILLE/Joinville e UNISUL/Laguna, com início em 1997, são
pioneiros nesta área da habilitação docente específica, além de outras
iniciativas semelhantes em outras IES de SC, com base em amparo em
legislação estadual:
[...] Art. 3º - A habilitação dos professores de Ensino Religioso será obtida mediante curso de graduação de Licenciatura Plena em Ensino Religioso oferecido pelas universidades. Art. 4º - Os professores de Ensino Religioso integram o corpo docente para todos os fins e efeitos, tendo em vista a eficiência no cumprimento dos objetivos do Ensino Religioso estabelecidos nos Parâmetros Nacionais do Ensino Religioso e na Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina. Art. 5º -Compete à Secretaria de Estado da Educação, Ciência e Tecnologia a qualificação, atualização, aperfeiçoamento didático-pedagógico e formação continuada dos professores de Ensino Religioso [...]. Art. 10 - Enquanto não houver todos os professores graduados em Cursos de Licenciatura Plena em Ensino Religioso, a admissão em caráter temporário dar-se-á na forma do art. 5º da Lei nº8391, de 13 de novembro de 1991 [...]. (CEED/SC. Decreto Nº 3.882, Florianópolis/SC, 28 de dezembro de 2005).
No decorrer dos anos, outros estados da federação, também
apresentando experiências históricas de longa data, similares às de Santa
Catarina, foram encaminhando seus Cursos de Licenciatura em ER e/ou
buscando o reconhecimento de seus cursos já em andamento como, por
exemplo, Pará, Maranhão e Paraíba, mediante adequações à legislação em
vigor.
Propostas e proposições do FONAPER: uma década de articulações em prol de Diretrizes Curriculares para o ER (1998-2008)
Como todo o processo relacionado ao ER, a mobilização do FONAPER
em relação à elaboração e à proposição de diretrizes curriculares para a
formação específica de professores para o ER situa-se “entre conquistas e
concessões”, parafraseando Lurdes CARON ao estudar a questão do ER
em Santa Catarina.
Também em relação aos Parâmetros Curriculares Nacionais para o ER o
processo foi de iniciativa do FONAPER, que elaborou a proposta e a
entregou ao MEC, sendo protocolada, sem, contudo, ser incluída e
disponibilizada junto com a edição oficial feita para os demais
componentes curriculares, culminando numa edição avulsa.
De igual forma o FONAPER vem procedendo em relação às DCN.
Revendo o histórico de articulações, encontramos na resenha do 5º
Seminário de Capacitação Profissional do ER, do FONAPER, no Piauí, em
1999, o registro de que o Fórum enviou ao MEC uma proposta de
Diretrizes Curriculares para Capacitação Docente. O documento visa
explicitar uma proposta de formação específica para professores na área do
ER. Traz uma visão geral sobre Diretrizes Curriculares dos Cursos
Superiores na área do ER, explicitando as áreas do conhecimento a serem
abordadas nesta formação docente, a justificativa da necessidade social de
graduação em ER, o perfil do egresso, a duração dos cursos, entre outros
aspectos inerentes a um projeto pedagógico. Procura detalhar a proposta de
um curso licenciatura em ER, com a carga horária total de 164 créditos,
perfazendo 2460 horas/aula, bem como uma proposta para um curso de
especialização lato sensu de 360 horas e para um curso de extensão de 120
horas.
Esse documento foi de grande significado para o início de uma
discussão sobre a proposta de um curso específico de habilitação docente
nesta área do conhecimento, sobre suas ementas e, em especial, sobre os
referenciais teórico-bibliográficos para orientar a formação. Posteriormente
a esta publicação, ocorreram alterações em nível nacional quanto à
legislação específica sobre a formação de professores para a educação
básica. Novas pesquisas sobre o ER igualmente conduziram a um
amadurecimento de diferentes aspectos nos campos epistemológico e
pedagógico, sem mencionar que, nesta década (1998-2008), uma vasta
bibliografia foi produzida e publicada na área, especialmente a partir de
grupos de pesquisas e de eventos acadêmicos realizados.
Em 2004, o FONAPER reelaborou o documento, adequando-o do
ponto de vista legal e reapresentando-o como dossier a representantes do
MEC e do CNE. No referido documento lemos:
O enunciado da presente proposta decorre do conjunto de reflexões, estudos, ações e pesquisas desenvolvidos na última década, considerando:- Discussões, estudos e reflexões nacionais envolvendo questões pertinentes à formação de professores [...];- Histórico de estudos e reflexões envolvendo a formação de professores para o ER como área de conhecimento [...];- Seminários Nacionais para Capacitação de Docentes para o ER como área de conhecimento nas IES [...];- Proposta para as Diretrizes Curriculares dos Cursos Superiores na área do ER encaminhadas ao MEC em 1998;- Projetos de Curso de Licenciatura de Graduação Plena em ER (autorizados e/ou reconhecidos) oriundos dos diferentes Estados da Federação;
- DCN para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena instituídas pela Resolução CNE/CP N° 1 de 18/02/2002;- Duração e carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de formação de professores da Educação Básica em nível superior definidas pela Resolução CNE/CP n° 2, de 19/02/2002;- Pesquisa sobre o ER desenvolvida pelo FONAPER em Estados brasileiros em 2001 e 2002;- Reunião Nacional das IES envolvidas com cursos para formação de professores de ER com o FONAPER e o Presidente em Exercício do CNE, Prof. Cordão, em 2004, em São Paulo.[...] não se percebe enquanto algo pronto e acabado, mas, sim, como uma proposta a mobilizar reflexões, discussões e urgentes encaminhamentos em relação à formação inicial – licenciatura – para a área de conhecimento de ER. (DOSSIER, 2004, p. 45-46)
Passados dez anos, surge a necessidade de um novo olhar sobre estes
documentos, que é o tema do nosso X Seminário Nacional de Formação de
Professores para o ER: Diretrizes Curriculares de Formação para
Professores de ER: uma década.
� Fazer memória dos dez anos da elaboração das
Diretrizes Curriculares de Formação Docente para
Professores do ER significa analisar, discutir e avaliar o
processo desenvolvido, assim como buscar e propor
novos planos de ação diante dos desafios que se
apresentam na atualidade.
No folder de divulgação do nosso Seminário consta:
Eis o objetivo do nosso X Seminário e a proposta para os Grupos de
Trabalho: discutir, analisar, avaliar e encaminhar as Diretrizes Curriculares
para a Formação de Professores de ER no Brasil.
Uma tarefa enorme, mas urgente com vistas a assegurar aos professores
de ER uma igualdade de condições com as demais áreas de conhecimento,
o que certamente reverterá em prol de um ER nos termos do que preconiza
o Artigo 33 da LDB pela sua nova redação dada pela Lei Nº 9475/97.
Pró-vocações finais
Algumas considerações finais e reivindicações em termos de
encaminhamentos urgentes de serem tomados para reverter estes impasses
na formação específica de professores de ER, no sentido latino do termo
pró-vocare, que significa ”chamar para a frente”, parafraseando termo de
autoria do saudoso Hugo Assmann.
Todos os caminhos e todas as alternativas de formação inicial e
continuada de professores de ER são legítimos, importantes, válidos e
necessários, mas o único caminho que, de fato, habilita para o ER é a
licenciatura. Isto queremos e precisamos reivindicar junto aos sistemas de
ensino para assegurar aos professores de ER uma igualdade de condições
com as demais áreas de conhecimento. E este é certamente o assunto
central a reivindicar junto ao CNE em termos de definição de DCN.