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Em Defesa da Vida

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Diretoria da Abes-RS

Presidente: Geraldo Portanova Leal

Vice-presidente: Ellen Martha Pritsch

1a Secretária: Jussara Kalil Pires

2a Secretária: Jussara Neves

1a Tesoureira: Maria Lúcia Coelho Silva

2o Tesoureiro: Paulo Robinson da Silva Samuel

Diretores: Deisy Maria Batista, Maria de Lourdes da Cunha Wolff, Mariângela Corrêa Laydner, Sidnei Gusmão Agra

Conselho Consultivo: Ana Cecília Perroni Marinho, Marinho Emílio Graeff, Nanci Begnini Giugno, Paulo Renato Paim, Percy Soares, Sandro Adriani Camargo

Conselho Fiscal Estadual: António Domingues Benetti, Eduardo Mc Mannis Torres, Maria Mercedes Bendati,Maria Salete Cobalchini, Mário Saffer, Marta Regina Lopes Tocchetto

Representantes junto ao Conselho Diretor da Abes: Darci Campani, Isaac Zilberman

Av. Júlio de Castilhos, 440/42 – Porto Alegre – RSTelefone: (51) [email protected]

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Rodrigo Costa Barboza, CRB-10/1694

A849 Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e AmbientalEm defesa da vida: os 40 anos da ABES no Rio Grande do Sul / ABES, Associação

Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental. - Porto Alegre: ABES/RS, 2007.96 p. : il.

ISBN 978-85-61169-00-8

1. Engenharia Sanitária - Rio Grande do Sul - História 2. Associação Brasileirade Engenharia Sanitária e Ambiental, ABES - História 3. Saneamento Ambiental -Rio Grande do Sul 4. Sanitaristas I. Título.

CDU 628(816.5)

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5 Prefácio

6 Mensagem do presidente nacional da Abes

7 Mensagem do presidente da Abes-RS

8 Apresentação

11 Introdução

13 As instituições

17 A história

49 Os depoimentos

57 Os presidentes

73 Artigos

87 Diretorias da Abes-RS

Sumário

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Prefácio

ORio Grande do Sul tem uma longa e respeitável tradição de proteção ambiental.Uma tradição que, diga-se desde logo, nasceu de uma necessidade real e premente.

Como em outras regiões brasileiras, aqui a urbanização, a produção agrícola e a produçãoindustrial fizeram-se de forma não planejada, sem levar em conta os problemas para o meioambiente. Que sem demora se fizeram sentir, inclusive e principalmente na saúde humana.Quando comecei a trabalhar em saúde pública, na década de setenta, a principal causa demortalidade em crianças menores de um ano era a diarréia infantil, conseqüência da inges-tão de água e de alimentos contaminados, o que, por sua vez, resultava do precário abaste-cimento de água e de esgoto. Mas, e este foi o aspecto gratificante, pude também constatarcomo o esforço dos órgãos e dos técnicos da área contribuía para diminuir, às vezes de for-ma dramática, o problema.

Um dos primeiros trabalhos que fiz como médico sanitarista foi o estudo da correlaçãoentre mortalidade por febre tifóide (uma doença muito ligada à deficiência de saneamento)com a extensão da rede de esgoto em Porto Alegre. Pude demonstrar que, à medida queaumentava a rede de esgoto, diminuíam proporcionalmente os óbitos por febre tifóide. Éclaro que isto coincidiu com avanços no diagnóstico e no tratamento da doença, mas certa-mente o saneamento foi um fator importante. Trata-se, aliás, de uma constatação generali-zada, vinda desde os tempos em que os romanos construíam seus aquedutos. A primeiraimportante investigação epidemiológica, feita pelo médico inglês John Snow, mostrou a as-sociação entre cólera e água de abastecimento. Não é de estranhar, pois, o resultado de umaenquete promovida pelo respeitado British Medical Journal entre 11.341 médicos, pergun-tando qual havia sido o maior avanço na área de saúde desde 1840, data da fundação doperiódico. A maioria colocou em primeiro lugar o saneamento básico, na frente inclusivede vacinas e de medicamentos.

Podemos dizer, portanto, que o Rio Grande do Sul está integrado nesta tendência histó-rica de progresso. E, nela, a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental(Abes), através de sua seção gaúcha, desempenha um papel fundamental. Enfrentar os pro-blemas ecológicos é algo que só pode ser feito com o auxílio da engenharia sanitária e dasciências ambientais. A Abes, associada a prestigiosas instituições nacionais e internacionais,e graças ao talento, à competência e à dedicação dos técnicos que a integram tem sido van-guardista na área. Deste trabalho dá testemunho a presente publicação, comemorativa dos40 anos da Abes-RS. O que encontramos aqui não é apenas um relato, é um registro histó-rico da luta por melhores condições ambientais. Um estímulo para todos aqueles que fa-zem da saúde pública e da qualidade de vida da população um ideal a ser seguido.

Moacyr ScliarMédico, especialista em saúde pública, doutor em

Ciências da Saúde pela Escola Nacional de Saúde Pública e professor universitário. Escritor,

é autor de várias obras sobre saúde pública.

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Mensagem do presidente nacional da Abes

OBrasil é um país em que os fatos políticos, sociais e econômicos se sucedem com umavelocidade surpreendente. É como a nuvem de que falava o velho político mineiro

Benedito Valadares: a cada vez que se olha, está diferente. E a cada vez que está diferente, láse foram com o tempo uma parcela de seus homens, muitos dos seus fatos históricos e tam-bém algumas de suas instituições. Por isso, é reconfortante constatar que, no núcleo dessanuvem mutante, algo permanece, algo que é sólido, que não se desmancha no ar. A Abes éum exemplo disso. Mudam as pessoas, são novos os fatos, mas permanece um núcleo deidéias capazes de magnetizar a sociedade, de congregar os homens, de enlaçar o conjunto so-cial numa teia dinâmica que caminha a passos firmes em busca da concretização dos sonhos.

Assim é a Abes. Quanto mais passa o tempo, mais se solidifica, porque foi estruturadaem bases sólidas. Por isso permanece no tempo. É o caso da seção da Abes no Rio Grandedo Sul, que vejo com imensa alegria tornar-se quarentona, cada vez mais ativa, servindo deexemplo a suas congêneres espalhadas por todo o país.

Por ocasião da minha campanha para a presidência da Abes, deixei claro que trabalhariapelo fortalecimento das seções estaduais, porque não faria sentido a atuação a partir de umpólo central que desconhecesse o potencial de trabalho e a imensa capilaridade das seçõesestaduais. Desde então, vimos agindo neste sentido, o de fazer com que a inspiração donosso trabalho na cabeça da organização tenha sempre a visão regional, que, somada, con-fere à nossa atuação o suporte indispensável à luta que vimos empreendendo pela universa-lização dos serviços básicos de saneamento, parcela indissociável da luta social que leve aofim da miséria.

Nessa tarefa, trouxemos novamente à vida duas seções estaduais que estavam desativadas- Roraima e Sergipe - e estamos cuidando da reativação da seção do Amapá. Quanto maisagregamos em cada canto do país, mais nos fortalecemos. É este o grande exemplo daAbes-RS, pioneira da luta pela defesa dos recursos hídricos, vanguardeira das causas am-bientais, visionária dos sonhos da engenharia sanitária e ambiental e parâmetro de organi-zação e de luta em que nos espelhamos para combater o bom combate.

Meus parabéns a todos que construíram a glória da seção gaúcha nos seus 40 anos deluta e de bons exemplos de cidadania.

José Aurélio BorangaPresidente nacional da Abes

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Mensagem do presidente da Abes-RS

Aidéia de produzir um livro sobre os 40 anos de atuação da Abes no Rio Grande do Sulsurgiu da necessidade de documentar e registrar suas experiências e ações, no sentido

de capacitar profissionalmente seus associados e de promover o desenvolvimento de umaconsciência coletiva sobre a importância de preservar o ambiente. Mas é também uma opor-tunidade para apresentar aos nossos associados, aos nossos parceiros e à sociedade em geralum relato sucinto de como a Abes-RS vem sendo construída ao longo do tempo e de suaatuação em favor do saneamento ambiental no estado.

É notável a evolução que se observa na atuação da associação desde seus primórdios.Inicialmente, a Abes-RS, que teve origem na subseção da Aidis existente no estado desde1959, estava voltada ao saneamento básico, mais precisamente aos serviços de abastecimen-to de água e de esgotamento sanitário. Pouco a pouco, foi agregando outros temas, como adestinação dos resíduos sólidos e a gestão dos recursos hídricos, acolhendo, por fim, outrasquestões relativas ao ambiente. Ao mesmo tempo em que esses temas passavam efetiva-mente a fazer parte das preocupações da Abes-RS, profissionais de diversas áreas ligados aeles foram sendo admitidos no quadro de sócios, revitalizando a associação e levando-a aproduzir conhecimentos também nessas áreas.

Mas não bastava produzir conhecimentos, era preciso divulgar esses conhecimentos,levando-os à população. E a Abes-RS intensificou suas ações de mobilização e de comuni-cação social, ampliando o número de parceiros e reforçando a inserção na sociedade. Se écerto que muito já foi feito nesse sentido, temos consciência de que ainda há muito porfazer. Os primeiros 40 anos da Abes no Rio Grande do Sul significam apenas o cumpri-mento de uma etapa, pois a vida continua, e a missão da Abes no Rio Grande do Sul, tam-bém. E, nessa continuidade, é importante ter sempre em mente que é possível corrigir ru-mos e modificar situações. Seja formando técnicos, seja subsidiando as autoridades, sejapromovendo a mudança de hábitos da população em favor da preservação ambiental, oque felizmente já começa a acontecer.

Geraldo Portanova LealPresidente da Abes-RS

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Apresentação

Quarenta anos é tempo! Nas antigas tradições, é o período de uma geração. São os temposde semear, de germinar, de crescer, de florescer, de frutificar. É o momento de comemo-

rar, de rever, de fazer balanço, de registrar, justamente o propósito deste livro.Do atual ponto de chegada, a Abes-RS contempla o passado, regozija-se com os êxitos,

acerta as contas com os tropeços e perscruta o futuro, planejando o que será. Este livro querser a comemoração e o registro dessa trajetória: uma fixação dos eventos, das fases, dos per-sonagens que marcaram a história da Abes-RS e, ao mesmo tempo, o resultado dos teste-munhos vivos dos protagonistas.

A história de qualquer ente, individual ou coletivo, sempre apresenta suas ambigüida-des, seus altos e baixos, seus êxitos e seus fracassos. A Abes e sua seção gaúcha não fogem àregra. Sua criação, em 1966, acontece em um período, ao mesmo tempo e paradoxalmen-te, revolucionário e repressivo. De um lado é o auge de uma década em que o mundo viuuma aceleração das mudanças culturais, comportamentais e tecnológicas, desde a emergên-cia dos movimentos sociais, juvenis, feministas e as inovações nos relacionamentos indivi-duais e coletivos até os avanços científicos e técnicos na comunicação, na medicina e emtantas outras áreas, culminando com os primeiros passos da conquista espacial. De outraparte, a guerra fria, a corrida armamentista e, entre nós, o regime ditatorial. Nesse contexto,e com todas as contradições daí decorrentes, surge a Abes e, particularmente, a Abes-RS.

Ao longo desses quarenta anos, muda o mundo, transforma-se a sociedade, inovam-seos comportamentos e as tecnologias, e a Abes também vai evoluindo, mudando, crescendo,amadurecendo.

Na resenha histórica e nos testemunhos registrados neste livro, procura-se evidenciar o pa-pel desempenhado pela entidade nesse período. Vale destacar que, ao lado das limitações departicipação que eram impostas na sua primeira fase e a par de sua subordinação obrigatóriacomo coadjuvante de uma política nada democrática, a Abes e sua seção estadual consegui-ram afirmar o valor da associação de um setor com tantos compromissos sociais quanto é o

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do saneamento básico. Ao mesmo tempo, em um período em que o pensamento críticoera abafado, ao menos a entidade conseguiu investir na formação profissional, o que, deuma forma ou de outra também significa exercitar o pensamento e a atitude indepen-dente (além de ser um investimento valioso para o sempre esperado período de redemo-cratização que viria após).

Outro aspecto que parece importante fazer notar na concepção deste livro é o que se re-fere ao momento, nos anos 90, em que, após uma fase de anomia, surge, no seio da Abesdo Rio Grande do Sul, um núcleo que consegue promover a renovação e a dinamizaçãotanto na participação dos associados quanto nos projetos, iniciativas e atividades. A partirdaí, a Abes gaúcha ganha fisionomia própria, maturidade e autonomia institucional. Abre-se em diversas direções. Deixa de ser uma mera associação tecnicista e vai ao encontro detodos os saberes: passa a contar com profissionais das mais diversas áreas, sem nenhumadiscriminação e sem perder seu rumo. Aponta para o incentivo à mobilização social, parti-cipando e tendo a iniciativa de promoções e atividades que envolvem toda a sociedade.Capta o momento de descoberta e valorização da questão ambiental, passando a fazer par-te da liderança desse grande movimento. Acompanha e contribui para a reflexão sobre anecessidade de uma mudança dos paradigmas de um sistema socioeconômico que conside-rava os recursos naturais como inesgotáveis e que deve, de agora em diante, confrontar-setanto em sua dimensão global quanto no dia-a-dia com os desafios do crescimento econô-mico e da eqüidade social versus sustentabilidade ambiental.

Mas este livro não pretende ser um ensaio friamente objetivo da história da Abes-RS.Sem abandonar a contextualização, queremos priorizar o testemunho cálido de todos osque viveram essa trajetória, através de suas vozes e do eco de suas atuações.

A Abes-RS foi e tem sido todos seus associados e manifesta-se em todas as suas atividadese realizações. É o momento de relembrar o passado, sonhar o futuro e comemorar o presente.

Luiz Antonio Timm GrassiEngenheiro civil

Membro da comissão editorial

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Introdução

Esta não é exatamente uma história da Abes no Rio Grande do Sul no sentido comumdo termo. É, antes, uma reportagem sobre os 40 anos da seção gaúcha da Abes, ba-

seada em pesquisa e em entrevistas com pessoas que participaram de suas diretorias. Apesquisa foi feita pela estudante de história Gabrielle Werenicz Alves. Durante dois mesesela examinou cuidadosamente o acervo da Abes-RS, no quarto andar do prédio 440 daavenida Júlio de Castilhos, centro de Porto Alegre. As entrevistas foram feitas pelo jorna-lista Ademar Vargas de Freitas, entre julho de 2006 e julho de 2007. Em duas ocasiões, oentrevistador esteve acompanhado pela jornalista Maria de Lourdes da Cunha Wolff, dadiretoria da associação. A partir de uma espécie de linha mestra fornecida na primeira en-trevista com o engenheiro civil Luiz Antonio Timm Grassi, começou-se a buscar os prin-cipais fatos desta história. Acontecimentos importantes, lances decisivos, situações sur-preendentes vão saindo aos poucos das atas e da memória dos entrevistados, entre eles, oatual presidente da associação e todos os ex-presidentes que se encontram entre nós. Cer-tamente haverá alguma repetição, alguma divergência, alguma controvérsia, o que só de-verá servir para instigar a curiosidade e o interesse dos associados sobre os detalhes da his-tória da Abes no Rio Grande do Sul. O resultado é um relato ainda incompleto do idea-lismo, dedicação e coragem de engenheiros e outros profissionais ligados ao setor de sa-neamento no esforço para difundir o uso da tecnologia e de atitudes coletivas em favor dasaúde da população e da preservação do ambiente natural. Entre dados e informações im-portantes para se entender a trajetória da Abes no estado, há lugar para momentos deemoção e graça. Imagine, por exemplo, a doutora Alpha - decana da associação - ainda jo-vem, dentro de um caíque, colhendo amostras de água para medir o grau de poluição norio Gravataí numa época em que quase ninguém fazia isso. Ou surpreenda-se ao saber oque aconteceu quando, durante um congresso em Manaus, o Hotel Tropical resolveu ser-vir aos congressistas um almoço na floresta.

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As instituições

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O que é a Abes A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária (Abes), criada a 15 de junho de 1966, é

uma organização de caráter nacional, sem fins lucrativos, que visa a contribuir para a melho-ria da qualidade de vida da sociedade, desenvolvendo atividades baseadas na engenharia sani-tária e nas ciências ambientais. Em 1977, a Abes incorporou a defesa do meio ambiente a suasatribuições, passando a denominar-se Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambi-ental. Mas desde sua fundação, participa do debate das questões relacionadas ao quadro sani-tário do país e colabora para a formulação de políticas públicas em benefício do setor, tendocontribuído para a redação da Constituição de 1988. Atualmente, a associação mantém câ-maras técnicas especializadas nas diversas áreas do saneamento e o Programa de CapacitaçãoPermanente, que oferece cursos no âmbito dos resíduos sólidos, água e esgotos, gestão am-biental e dos recursos hídricos. Seu fundo editorial tem gráfica própria e publica livros e revis-tas técnicas, inclusive trabalhos produzidos nas universidades. A Abes tem representação nosprincipais órgãos e fóruns ligados a saneamento, como o Conselho Nacional de Meio Am-biente, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos, o Conselho das Cidades, o Conselho Na-cional da Área de Saneamento e a Frente Nacional de Saneamento. Mesmo sendo uma ongbrasileira, a Abes está inserida na Asociación Interamericana de Ingeniería Sanitaria y Am-biental (Aidis) com plenos direitos. Tanto que o próximo presidente da Aidis para 2008-2010será novamente um brasileiro, o engenheiro gaúcho Carlos Alberto Rosito. A Abes tem qua-tro mil associados distribuídos em 22 seções estaduais.

O que é a Abes-RSA seção gaúcha da Abes (Abes-RS) é uma das mais criativas e com maior inserção na so-

ciedade, tendo influenciado a criação da Lei das Águas do Rio Grande do Sul, que serviude modelo para a legislação nacional. A maior parte dos seus 250 associados é constituídapor engenheiros das duas principais empresas públicas de água e saneamento do estado, aCompanhia Riograndense de Saneamento Corsan (Corsan) e o Departamento Municipalde Água e Esgotos de Porto Alegre (Dmae). Mas seu quadro - que admite sócios indivi-duais e coletivos - reúne professores universitários, estudantes, técnicos do setor de sanea-mento ambiental e da saúde, firmas de consultoria, empresas construtoras, fabricantes demateriais e equipamentos, companhias estaduais de saneamento e controle ambiental, ser-viços municipais de água e esgoto, limpeza e drenagem, e até jornalistas. A Abes-RS tem re-presentação em diversos conselhos setoriais e em comitês de bacias hidrográficas, faz parce-rias ou dá apoio a projetos institucionais e governamentais de saneamento ambiental. Entresuas atividades principais estão cursos nas áreas de resíduos sólidos, água e esgotos, drena-gem, gestão ambiental, recursos hídricos e jornalismo ambiental, e a venda de livros técni-cos. Ela promove simpósios, congressos, palestras, debates na área de saneamento e meioambiente, em âmbito estadual, nacional e internacional; mantém câmaras técnicas de re-cursos hídricos, de resíduos sólidos e de saneamento básico; e produz eventos de mobiliza-ção social, como a Semana Interamericana da Água no Rio Grande do Sul e o Dia Intera-mericano de Limpeza e Cidadania (DiaDeSol).

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O que é a Aidis A Asociación Interamericana de Ingeniería Sanitaria y Ambiental foi criada em 1948

com o apoio da Organização Pan-americana da Saúde e está representada em todos os paí-ses das Américas, com um total de 10 mil associados. Suas funções, adotadas pela Abes,são: promover o desenvolvimento da engenharia sanitária e o intercâmbio de idéias e infor-mações técnicas e científicas relacionadas com o desenvolvimento da engenharia sanitária;estabelecer normas sanitárias; intensificar as atividades sanitárias como base para o desen-volvimento social e econômico de cada país; colaborar com as instituições públicas e parti-culares quanto à política sanitária a seguir; promover ou melhorar o entendimento entrepessoas e entidades que se dedicam a obras de saneamento. Desde 1989, a Aidis tem sedepermanente em São Paulo, onde funciona com um diretor-executivo e pequena equipe defuncionários. Embora tenha jurisdição sobre as três Américas, a Aidis congrega principal-mente os profissionais do setor de saneamento ambiental na América Latina. No Canadá enos Estados Unidos, países bem mais avançados nesse setor, sua presença é simbólica. A Ai-dis mantém acordos de cooperação com diversas entidades internacionais: OrganizaçãoMundial de Saúde, Organização Pan-americana de Saúde, American Water Workers Asso-ciation, Water Environmental Federation, International Water Association, Water SupplyCollaborative Council, Associação Portuguesa de Recursos Hídricos, Associação Portugue-sa para Estudos de Saneamento Básico (Apesb) e Associazione Nazionale di Ingegneria Sa-nitaria Ambientale (Andis, da Itália).

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A história

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Engenheiros resolvem criar uma associação brasileiraA idéia de criar uma associação eminentemente nacional para congregar os engenheiros do

setor de saneamento surgiu no inicio da década de 60, quando um grupo de engenheiros sa-nitaristas cariocas, apoiados por colegas de outros estados, começou a mobilizar-se, a partir doI Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária, realizado no Rio de Janeiro, em 1960, com opatrocínio da Aidis. Nessa época, a Aidis mantinha uma seção brasileira com subseções em di-versos estados. A subseção da Aidis no Rio Grande do Sul, que deu origem à Abes-RS, foifundada a 25 de setembro de 1959. No II Congresso, realizado em Porto Alegre, em 1963, omovimento se fortaleceu. E no III Congresso, em 1965, em Curitiba, foi finalmente aprova-da a criação da nova instituição e definida uma comissão para tratar do assunto, liderada pelopresidente da seção brasileira da Aidis, o engenheiro Airson Coutinho Serôa da Motta.

Assim, no dia 15 de junho de 1966, no Rio de Janeiro, diante de uma composição das as-sembléias gerais da seção brasileira da Aidis e da Associação Brasileira de Engenheiros Sanitá-rios, foi criada a Abes, que englobou também associações de funcionários de empresas privadasdo setor de saneamento. Já em dezembro, durante o X Congresso de Interamericano de Enge-nharia Sanitária, em El Salvador, a Aidis homologou a criação da Abes. O primeiro presidentefoi o engenheiro Enaldo Cravo Peixoto. E sua primeira resolução foi transformar em seções daAbes as subseções estaduais da Aidis em São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Bahia e RioGrande do Sul, além da subseção regional para os estados do Paraná e de Santa Catarina.

No Rio de Janeiro, a sede da Abes passou a ser uma sala da Comissão de Planejamentode Esgoto Sanitário da Superintendência de Saneamento (Sursan). Na década de 70,mudou-se para o prédio do Banco Nacional de Habitação (BNH), na avenida PresidenteWilson, onde permaneceu até 1984, quando o banco foi extinto. Desde então, está instaladana avenida Beira-mar, 216, 13o andar. Embora, tanto no Brasil quanto no Rio Grande doSul, a Abes tenha iniciado suas atividades em 1966, a seção gaúcha considera como data desua fundação o dia 28 de janeiro de 1967. Nesse dia, o presidente da subseção gaúcha da Ai-dis, Waldemar Cantergi, reuniu os associados em assembléia para ouvir a leitura da circularno 1, que comunicava a homologação da nova associação e a transformação das subseções daAidis em seções da Abes.

A Abes é contratada para fazer o que gosta Logo após sua formação, em 1966, a Abes começou a montar um programa de treina-

mento de pessoal em saneamento básico, que na época significava principalmente forneci-mento de água à população. Havia pouco investimento em esgotamento sanitário e menosainda em drenagem urbana, destinação de resíduos sólidos ou controle de vetores. Esseprograma foi ampliado, a partir de 1971, quando o governo militar colocou em operação oPlano Nacional de Saneamento (Planasa), financiado pelo Banco Nacional de Habitação(BNH) com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

A Abes e suas seccionais ficaram encarregadas de organizar programas de treinamentodestinados a atender as demandas que o BNH identificava nas companhias de saneamento.A idéia era que a associação e suas seccionais dessem respaldo técnico aos profissionais detodo o país e promovessem a troca de idéias e a exposição dos grandes projetos que come-çavam a ser traçados pelo governo. Com os recursos oferecidos pelo BNH e com o grandeinteresse que despertou entre os engenheiros, a Abes tornou-se um pólo de geração de ativi-

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Representação da Abes-RS no II Congresso de Engenharia Sanitária, em Porto Alegre, em 1963

Governador Ildo Meneghetti cumprimenta a engenheira química Alpha Teixeira, durante o II Congresso de Engenharia Sanitária

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Encontro comemorativo da instalação da subseção gaúcha da Aidis, no Restaurante Scherazade, em Porto Alegre, no dia 28 de setembro de 1959

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dades e de participação. Em seguida, a associação e suas seccionais começaram a formular egerenciar cursos, contratando professores e recebendo uma taxa por esse trabalho, o que re-sultou em movimentação financeira e gerou entusiasmo dentro da entidade.

A Abes assumiu a promoção dos congressos nacionais de engenharia sanitária, que anteseram promovidos pela Aidis. Esse desenvolvimento foi acompanhado pelas seccionais. AAbes-RS, por exemplo, desfrutava de grande prestígio em todo o Brasil por ser uma entida-de presidida por técnicos com critérios técnicos. E, embora ainda não tivesse sede, era capazde reunir centenas de pessoas num almoço formal. A Corsan e o Dmae, de onde provi-nham os técnicos admirados no Brasil, ganharam projeção e reconhecimento nacional pormanterem em seus quadros os melhores profissionais, que utilizavam as técnicas mais avan-çadas, resultado do contato com colegas de diversos países.

As três fases no Rio Grande do SulA história da Abes no Rio Grande do Sul apresenta três fases bem distintas: do surgi-

mento, em 1967, até o início da atuação do Plano Nacional de Saneamento, em 1971; daíaté o início da década de 90; e a partir de então até o momento atual.

Primeira fase: subseção da Aidis vira seção da AbesA primeira fase foi curta. Iniciou-se com a transformação da subseção da Aidis no Rio

Grande do Sul em seccional gaúcha da Abes nacional, em 1966/1967, e foi até 1971,quando começou a ser posto em prática o plano de saneamento criado dois anos antes pe-lo governo militar. Nesta fase, a Abes-RS teve três presidentes. O primeiro foi o químicoda Secretaria de Obras Públicas, Waldemar Pinheiro Cantergi, que presidia a subseção daAidis quando ela foi transformada em seccional da Abes. Ele permaneceu no posto por al-guns meses, até eleger seu sucessor.

Para presidir a Abes-RS no período 1967-1969, foi eleito o engenheiro José JoaquimAssumpção Neto, do Dmae, que não chegou a completar o mandato. Meses depois deassumir, mudou-se de Porto Alegre, sendo substituído na presidência pelo segundo-tesoureiro Nelson Torrano dos Santos, da Corsan. No período 1969-1971, a associaçãofoi presidida pelo engenheiro Drayton Inácio da Silva, do Dmae.

Segunda fase teve dois períodos distintos A segunda fase durou até o começo da década de 90, e nela a Abes-RS passou por

dois períodos. Primeiro, teve grande desenvolvimento técnico, o que elevou seu prestígiono Brasil inteiro, em função da excelência de seus associados - a maioria técnicos da Cor-san e do Dmae - sendo reconhecida como entidade de alta competência. Depois veio operíodo de declínio, que iniciou na época em que o BNH encerrou suas atividades, apósos militares deixarem o poder, em 1985. Nesta fase, houve pela primeira vez uma quebrada alternância Dmae-Corsan na presidência da Abes-RS. Até a quebra de alternância,presidiram a Abes-RS o engenheiro José Irany Frainer, originário da Corsan (1971-1973), o engenheiro Herculano Carneiro Pinto, do Dmae (1973-1975); o engenheiroAdolpho Cantergi, da Corsan, (1975-1977); o engenheiro Percy Antônio Pinto Soares,do Dmae (1977-1979); novamente o engenheiro Nelson Torrano dos Santos, da Corsan

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(1979-1981); o engenheiro László Böhm, do Dmae (1981-1983); e o engenheiro ÍtaloMasuero, da Corsan (1983-1985).

Em 1985, em eleições muito disputadas, saiu vencedor o engenheiro Vladimir Or-tiz da Silva, que não era nem do Dmae nem da Corsan e sim do DMA (Departamen-to do Meio Ambiente da Secretaria Estadual da Saúde e Meio Ambiente), que maistarde daria origem à Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental HenriqueLuiz Roessler). Mas em seguida, a dobradinha Corsan-Dmae foi retomada. Para o pe-ríodo 1987-1989, elegeu-se a naturalista Heloísa Helena Pinheiro Fiori, do Dmae, aprimeira mulher a presidir a Abes-RS. No período 1989-1991 quem presidiu a asso-ciação foi um representante da Corsan, o engenheiro Carlos Alberto dos Santos. Elefoi sucedido no período seguinte, 1991-1993, pelo economista Paulo Roberto deAguiar von Mengden, do Dmae.

Na terceira fase veio a recuperação do prestígioA terceira fase resultou de um movimento de recuperação e retomada do prestígio,

com participação estreita na sociedade. Essa fase está em pleno desenvolvimento e vemsendo marcada por eventos importantes: em 1994 foi instituída a Semana Interamerica-na da Água; em 1996, promoveu-se o I Simpósio Internacional de Qualidade Ambien-tal, que em 2008 terá sua sexta edição; e em 2000 foi realizado o XXVII Congresso Inte-ramericano de Engenharia Sanitária e Ambiental, em Porto Alegre, propiciando a aquisi-ção de sede própria.

Paulo Renato Paim, engenheiro civil com especialização em saneamento ambiental,funcionário da Metroplan desde 1979, presidiu a Abes-RS no período 1993-1995 e foi

Posse da diretoria eleita para o período

1977-1979, comandadapelo engenheiro

Percy Antônio Soares

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reeleito para 1995-1997. Na eleição seguinte, foi escolhido o engenheiro agrônomo e em-presário Alexandre Bugin, que desde 1993 participava das diretorias da Abes-RS. Ele foieleito presidente para o período 1997-1999 e reeleito para 1999-2001. A engenheiraquímica Maria Lúcia Coelho Silva, da Fepam, substituiu Bugin na presidência da Abespara o período 2001-2003 e foi reeleita para 2003-2005. O atual presidente da Abes-RS,Geraldo Portanova Leal, da Corsan, eleito para o período 2005-2007 e reeleito para2007-2009, é químico, como o primeiro presidente.

As faces do poder decisórioSegundo o engenheiro Isaac Zilberman, durante muito tempo o poder decisório dentro

da Abes esteve concentrado no Rio e em São Paulo. Os representantes da Sabesp e do Cedaedesconsideravam os técnicos das empresas de outras regiões do Brasil, mesmo que se destacas-sem por sua qualificação. E essa situação se reproduzia no Rio Grande do Sul. Ele conta queaté os técnicos do Semae, de São Leopoldo, serviço municipal que permaneceu após a criaçãodas companhias estaduais, eram discriminados por representantes da Corsan e do Dmae. Zil-berman chama atenção para outro fator decisivo relacionado ao poder na história da Abes-RS. “O prestígio adquirido através da qualificação técnica atraiu a ambição política sobreos cargos da diretoria. Assim, o objetivo da associação, que era o de promover a melhoriatécnica, passou a ser o de promover pessoas. Enquanto isso, a qualidade do serviço ofereci-do pelas companhias piorava e se gastava cada vez mais para tratar a água que era oferecidaà população.” De acordo com Zilberman, essa prática permeou várias diretorias, e levou aAbes-RS a perder prestígio como entidade técnica. “Chegou ao ponto de as pessoas ignora-rem sua existência. Era uma instituição técnica e, de repente, se transformou em uma pseu-do-instituição política.”

O engenheiro Luiz Antonio Timm Grassi complementa, referindo-se à fase seguinte:“Quando as atividades da Abes-RS começaram a ter êxito e repercussão na sociedade, é cla-

Alexandre Bugin fala aos participantes do I Simpósio Internacionalde Qualidade Ambiental

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ro que passaram a despertar o interesse geral em participar, tanto por parte de profissionaisquanto de políticos, o que é normal, é legítimo. Esse interesse explica, em parte, o sucessoda Abes-RS. Isso tem sido bem trabalhado dentro da associação. Não vejo que tenha havi-do busca de prestígio pessoal ou aproveitamento político excessivo ou não-aceitável porparte dessas pessoas que se aproximaram da Abes-RS.” Grassi destaca a tolerância e o res-peito ao pensamento do outro que existe dentro da Abes-RS em favor do interesse comum.Ele destaca uma solução apresentada pelo engenheiro Alexandre Bugin durante suas gestões(1997-1999 e 1999-2001): sempre que se apresentar uma idéia de evento ou promoção aser desenvolvida, quem a apresentar ficará encarregado da execução. E conclui: “Essa é umaforma muito boa de envolver de forma responsável os participantes da associação”.

O Planasa impõe normas rígidas Para a execução do Plano Nacional de Saneamento - que foi criado em 1969, mas só te-

ve início em 1971 - era necessário que os governos estaduais assumissem os serviços deabastecimento de água e de esgotamento sanitário. Portanto, os estados ficavam obrigados acriar suas próprias companhias de saneamento para habilitarem-se aos recursos oferecidosao setor pelo BNH. E para facilitar a arregimentação de profissionais e de entidades, essascompanhias deveriam obedecer a um modelo único. Na época, os governadores de estadoeram nomeados, enquanto os prefeitos municipais eram eleitos por voto popular, com ex-ceção dos prefeitos das capitais. No caso do Rio Grande do Sul, estado pioneiro, não foinecessário criar uma nova entidade: aqui já existia desde 1965 a Companhia Riograndensede Saneamento (Corsan), que foi obrigada a seguir, não sem discussão, o modelo imposto.

No entanto, seis dos mais populosos municípios gaúchos não aderiram à Corsan. PortoAlegre, São Leopoldo, Caxias do Sul, Santana do Livramento, Bagé e Pelotas preferirammanter suas próprias companhias de saneamento, por acreditarem que isso evitaria a eleva-ção da tarifa, que seria estabelecida de acordo com o número de habitantes. Entre as em-presas municipais que ficaram sem acesso aos recursos oferecidos ao setor de saneamentoestava o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) de Porto Alegre, criado a 15de dezembro de 1961. Mas essa si-tuação não se manteve por muitotempo. A solidez da instituição e aqualificação técnica do seu quadrofuncional não poderiam ser ignora-das simplesmente. E o Dmae pas-sou a dispor dos recursos do BNH.Em conseqüência, surgiu um “ten-sionamento institucional” entre in-tegrantes do Dmae e integrantes daCorsan, uma certa rivalidade queteve reflexos na Abes-RS, levando aum acordo de revezamento dos re-presentantes das duas companhiasna presidência da associação.

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Governador IldoMeneghetti no

ato de fundaçãoda Corsan em 1965

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Rivalidade: Corsan e Dmae se revezam na presidênciaEmbora em quase todas as diretorias predominem os engenheiros da Corsan e do

Dmae, a Abes-RS sempre teve técnicos de outras áreas na diretoria, arquitetos, biólogos,odontólogos, empresários. Teve até representantes do hoje extinto Departamento Nacionalde Obras e Saneamento (DNOS), que atuava no estado, principalmente na construçãode obras contra as cheias e de estações de saneamento, contando com o conhecimento detécnicos alemães.

Mas nas eleições realizadas a cada dois anos - mais por aclamação diante de chapa única- a presidência da Abes-RS era atribuída ora a um profissional oriundo do Dmae, ora a umda Corsan, geralmente um diretor ou superintendente. E, quando a presidência ia para umrepresentante da Corsan, a vice-presidência deveria ser de um representante do Dmae evice-versa. Mesmo assim, quando a Corsan estava na presidência, o Dmae ficavam em se-gundo plano, sem influência. No ano seguinte, invertia-se a ordem.

Houve muitas tentativas de amenizar essa rivalidade entre os representantes de empresasestaduais e de empresas municipais, que também se verificava em outros estados. Até parti-das de futebol eram promovidas, buscando deixar menos tensas as relações Dmae-Corsan,como lembra o engenheiro Percy Antônio Pinto Soares, que presidiu a Abes-RS no período1977-1979. Na gestão de Percy houve uma tentativa bem-sucedida de divulgar a associa-ção: foi criado o Prêmio Destaques Abes-RS.

Olimpíada promove aconfraternização entre funcionários doDmae e da Corsan, emdezembro de 1979

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Destaques Abes traz prestígio à associaçãoNo dia 8 de novembro de 1977,

em reunião conjunta da diretoria-ex-ecutiva e do conselho fiscal da Abes-RS, foi debatido e aprovado o regula-mento do Prêmio Destaques Abes-RS, que seria atribuído pela primeiravez no ano seguinte. O objetivo erareconhecer a excelência dos trabalhostécnicos produzidos pelos associados,mas também havia um destaque parauma personalidade, mesmo de fora daAbes-RS, que reconhecidamente ti-vesse tido atividades proeminentes noestado durante o período. Foi justa-mente esse destaque a um “homempúblico” que trouxe visibilidade eprestígio à associação. As demais cate-gorias eram: Pesquisa em saneamento ou proteção ambiental; Abastecimento de água;Resíduos líquidos; Proteção ao meio ambiente e resíduos sólidos; e Firmas construtorassócias da Abes-RS, por obras no Rio Grande do Sul.

De acordo com o calendário aprovado, a entrega dos prêmios seria anual e realizadana segunda quinzena de julho, em cerimônia pública e festiva. Mas, a partir de 1980,passou a ser de dois em dois anos, uma edição em cada gestão, e foram acrescentadas ascategorias Dedicação e Consultoria. Já na reunião do dia 3, discutiram-se as providênciasa serem tomadas para a efetivação do prêmio. A ata dessa reunião diz que ficou acertadoque “o lançamento será feito por ocasião de um cocktail, no dia 18 de novembro próxi-mo, com a participação da imprensa e convidados especiais, a fim de que obtenha gran-de divulgação”. Diz também que “o engenheiro Fagundes se encarregará do modelo ori-ginal do troféu, tratando o assunto junto ao Atelier Livre da Prefeitura ou com algumartista que queira apresentar uma idéia”. A indicação dos candidatos seria feita por reco-mendação circunstanciada, firmada por três sócios da Abes-RS.

O colegiado, formado pela diretoria e pelo conselho, nomearia uma comissão encarre-gada de examinar as indicações e encaminhá-las a consideração de uma assembléia geral es-pecificamente convocada. Eram admitidos até três candidatos na mesma categoria, e a as-sembléia decidiria por voto secreto. Na reunião do dia 17 de abril de 1978, foi compostauma comissão que faria a pré-seleção dos candidatos ao I Prêmio Destaques Abes-RS. De-cidiu-se também que seria feito ampla divulgação e chamamento aos sócios sobre oprêmio. E que isso fosse realizado tanto pela palavra do presidente Percy Soares nas pales-tras quinzenais, quanto por correspondência direta aos associados.

A última entrega do Prêmio Destaques Abes-RS foi feita na primeira gestão de PauloRenato Paim (1993-1995).

Os troféus, entregues emreconhecimento ao

trabalho técnico desenvolvido pelos

associados, eram também uma forma de inserir a

Abes-RS na sociedade

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Tempo de redemocratização e de meio ambiente traz entusiasmo à associação

A alternância Dmae-Corsan na presidência da Abes-RS só foi quebrada depois queos militares deixaram o poder, em 1985. Junto com a democratização veio a desagrega-ção do Sistema Nacional de Saneamento com a desativação do BNH, cujo conselhofoi incorporado à Caixa Econômica Federal. Isso afetou o processo de financiamentode obras de saneamento e teve reflexos na associação, provocando diversas mudanças.As eleições passaram a ser efetivamente disputadas, reativando o interesse e a participa-ção dos associados, e estimulando a renovação das diretorias. Para o período 1985-1987, foi escolhido presidente da Abes-RS o engenheiro Vladimir Ortiz da Silva, quenão era nem do Dmae nem da Corsan e sim do DMA (Departamento do Meio Am-biente da Secretaria Estadual da Saúde e Meio Ambiente), que mais tarde daria origemà Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler).

A eleição de um presidente oriundo da área ambiental trouxe ânimo à associação,ajudando a mobilizar os associados. O país estava se democratizando e isso se refletia naassociação: as decisões começaram a ser tiradas em consenso e passou a haver discussõestécnicas de assuntos específicos que, quando necessário, eram levados a uma reuniãoplenária. A Abes-RS participou da discussão de assuntos polêmicos da época, sendo fa-vorável à exigência do Receituário Agronômico, à criação da Lei dos Agrotóxicos e àfluoretação da água. E deu início às reuniões-almoço mensais, com palestra de figurasimportantes sobre assuntos relativos ao setor, entre elas, o senador Pedro Simon, entãogovernador do estado, e o ambientalista José Lutzenberger.

Governador Pedro Simonfala sobre a importânciado saneamento básico em reunião-almoço promovida pela Abes-RSna sede da Federasul em 1989

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Simpósio internacional debate o uso do flúor na água fornecida à população

Depois de Ortiz, a presidência voltou a ser revezada entre os representantes da Corsan edo Dmae. Para o biênio 1987-1989 foi eleita em chapa única a vice de Ortiz, a naturalistaHeloísa Helena Pinheiro Fiori, do Dmae, especializada no controle de qualidade da água.Simultaneamente, ela assumiria uma vaga no Conselho de Administração da Corsan.

Em sua gestão, realizou-se um importante encontro, com muitos convidados estrangei-ros, para discutir os riscos e os benefícios de acrescentar flúor à água servida à população. OI Simpósio Internacional de Flúor: Riscos e Benefícios foi realizado no Centro de Conven-ções do Hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre, num momento em que a questão vinhasendo amplamente discutida. Pouco antes tinha sido aprovada a lei estadual que obriga ascompanhias de saneamento a fluoretar a água fornecida à população. Cerca de 300 profis-sionais participaram do evento, cujos destaques foram dois especialistas brasileiros e oito es-trangeiros, com posicionamentos contra e a favor da fluoretação. A solenidade de aberturateve a presença do governador Pedro Simon.

Na eleição de 1989, quebrou-se a monotonia da chapa única: um grupo de associadosque se opunham a Heloísa resolveu concorrer. No confronto, venceu a oposição, mas He-loísa, alegando ter havido uma irregularidade, pediu a anulação da eleição. A comissão elei-toral da Abes-RS indeferiu o pedido, mas o Conselho Superior da Abes decidiu pela reali-zação de nova eleição. Em chapa de consenso, foi eleito para o período 1989-1991 o enge-nheiro Carlos Alberto dos Santos, da Corsan.

Especialistas estrangeirosparticiparam do encontro

realizado em Porto Alegre,que abordou um tema importante e polêmico

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Perigo de desertificação gerouencontro na Fronteira Oeste

No mandato do engenheiro Carlos Alberto dos Santos, iniciou-se uma ação que seestendeu à gestão seguinte e teve grande repercussão. O encontro realizado pela Abes-RS em Santiago para discutir o processo de desertificação na Fronteira Oeste mobili-zou a Universidade Federal de Santa Maria, que apresentou estudos sobre o tema, eteve a participação de agricultores da região e de autoridades no assunto.

A Abes-RS também influiu na criação de políticas de saneamento básico e teve partici-pação nos comitês das bacias do Rio dos Sinos e do Rio Gravataí, e no Projeto Rio Guaíba.Naquela época já havia a preocupação de induzir os hospitais instalados ao longo da Aveni-da Ipiranga, em Porto Alegre, a não despejarem dejetos in natura no Arroio Dilúvio. Se-gundo Santos, na época, o governo do estado tinha condições de contratar empréstimos.

Situação difícil: falta investimento financeiro, sobra discordância política

Quando o economista Paulo Roberto de Aguiar von Mengden assumiu a presi-dência da Abes-RS, o setor de saneamento sentia os efeitos da escassez de recursos or-çamentários provocada pelo fim do Planasa. E também os efeitos da disputa políticapropiciada pela redemocratização do país. Para começar, as companhias estaduais di-minuíram as atividades e isso refletiu economicamente na associação, que já vinhapassando por um período de baixa desde o episódio da eleição anulada. Alguns asso-ciados se desligaram e a participação em eventos baixou, como conta o ex-presidente.

“Na primeira tentativa de promover um encontro técnico, convidamos o entãopresidente da Associação dos Engenheiros da Corsan para fazer uma palestra sobredeterminado assunto dentro do processo de tratamento de água. Por telefone, confir-mamos a presença de 60 pessoas. No dia do evento, só comparecemos eu e opalestrante. Levou seis meses até que se tivesse ânimo para promover outro evento.”

Von Mengden enfrentou dificuldades também no relacionamento com as compa-nhias. Ele lembra que, já na gestão anterior, havia sido rompido o acordo que levava aadministração estadual e a administração municipal a enviarem técnicos como seusrepresentantes em congressos e encontros promovidos pela Abes. E tanto a Corsanquanto o Dmae passaram a ser representados nessas atividades por pessoas que não ti-nham relação com o setor de saneamento.

Mesmo assim, técnicos da Abes-RS desenvolveram um programa de qualificaçãopara quem estava entrando no setor e deram continuidade à ação relativa à desertifi-cação no estado. No auditório da Corsan, foram realizadas diversas jornadas de dis-cussões técnicas em que os associados com maior qualificação e experiência falavamsobre assuntos específicos, desde recuperação de redes de água até as novas visões so-bre saneamento e meio ambiente. Por essa época também houve parceria com a Asso-ciação Gaúcha de Empresas de Saneamento (Ageos), que não teve continuidade.

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Novos temas ajudaram a associaçãoa retomar o crescimento

As mudanças dentro da Abes-RS aceleraram-se com a atuação de técnicos preocu-pados em discutir temas como poluição da água, do ar, do solo, drenagem, desmata-mento, controle de vetores, gestão ambiental. No início de 1993, um grupo lideradopelos engenheiros Paulo Renato Paim (Metroplan), Ellen Pritsch, Márcio Freitas eZeno Simon (Corsan) resolveu concorrer às eleições.

O objetivo era “mexer na Abes-RS”, e isso foi feito. Paim, engenheiro civil com es-pecialização em saneamento ambiental, presidiu a associação de 1993 a 1995 e foi ree-leito para o período 1995-1997. Em sua gestão, a Abes-RS voltou a crescer, recuperousócios, atraiu as empresas de saneamento, criou novos cursos de treinamento e entrouna luta pela criação do Sistema Estadual de Recursos Hídricos. A Ufrgs sempre partici-pou da Abes-RS, através de professores e alunos. Muitos trabalhos eram apresentadosem conjunto durante congressos e simpósios, com a assinatura Ufrgs/Abes-RS.

Paulo Renato Paimdirigiu a Abes-RS por dois

períodos entre 1993 e1997, dando início

a uma etapa de discussãode grandes temas

ambientais

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Semana da Água, um marco da mobilizaçãoNa gestão de Paulo Renato Paim foi instituída a Semana Interamericana da Água no

Rio Grande do Sul, considerada como um dos mais importantes movimentos sociais emdefesa dos recursos hídricos. Atualmente, também se celebra a Semana da Água no Peru ena Suécia. Agora, na Espanha, está se desenvolvendo a Tribuna da Água. A Semana Intera-mericana da Água no Rio Grande do Sul foi apresentada no Fórum Mundial da Água co-mo uma experiência de comunidade. Ela teve origem num desafio.

Em 1993, a jornalista Cecy Oliveira, diretora da Abes-RS, assessorava Paim num en-contro sobre saneamento em Brasília, quando o engenheiro sanitarista argentino FelipeSolsona, então assessor de saneamento da Organização Pan-americana da Saúde, lhe per-guntou: “Por que não transformar a proposta do Dia Interamericano da Água em umevento popular no Rio Grande do Sul, que é um estado mobilizado na questão ambiental?”

A idéia foi recebida com entusiasmo pela diretoria da Abes-RS. “Aceitamos o desafioe fomos atrás de ongs, escolas, clubes de serviço, clubes náuticos etc., mobilizando a po-pulação com cartazes e outros materiais de apoio”, relata Cecy. Quando a programaçãocomeçou a ser preparada, surgiram muitas outras possibilidades de eventos na comuni-dade: acionar grupos folclóricos, convidar artistas plásticos a participar, promover umabraço ao Lago Guaíba, incentivar redações escolares e até fazer um mutirão de limpezano Rio dos Sinos.”

O evento, promovido pela Abes-RS, Prefeitura Municipal de Porto Alegre e Governodo Estado do Rio Grande do Sul, com apoio da Organização Pan-americana de Saúde epela Organização Mundial de Saúde, expandiu-se para as comunidades do interior gaúcho,através das unidades de saneamento da Corsan. Houve barqueata no rio Gravataí. E emUruguaiana, na fronteira com a Argentina, um dos eventos foi o Sarandeio das Águas, quereuniu CTGs da região e teve participação até da comunidade de Paso de los Libres.

A participação da Corsan foi decisiva. Alguns gerentes ficaram muito agradecidos àAbes-RS, porque a comunidade tinha sido mobilizada e passara a entender que o problemanão era só da companhia. “Foi uma experiência fascinante”, diz Cecy. “Desde o eventomais singelo até o mais grandioso, como o concerto da Orquestra Sinfônica de Porto Ale-gre (Ospa) na beira do cais, em 1997, só com músicas que se referiam à água.”

Temas da Semana da Água1994: Água e o meio ambiente.1995: Água, um patrimônio a preservar.1996: Água, valiosa como a vida! Proteja-a!1997: Qualidade da água potável e sua saúde.1998: Participemos para que todos disponham de água limpa.1999: O direito à água potável para todas as crianças. Vamos assumir este compromisso.2000: Água, cada gota conta. Usemos com sabedoria.2001: Água e saúde: um brinde à vida.2002: Não ao desperdício, não à escassez.2003: 10 Anos de mobilização pela água.2004: Água: gestão - responsabilidade de todos.2005: Água: cuidar para não secar.2006: Água: o desafio de hoje.2007: Água boa para todos e para sempre.

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Envolver a comunidade na defesa dos recursos hídricos é um dos principais objetivos da Semana da Água

A jornalista Maria de Lourdes da CunhaWolff, da Abes-RS, apresenta a experiência gaúcha no IV Fórum Mundial da Água, no México

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A Romaria das Águas é um ato que reúne valores sociais e culturais da sociedade gaúcha

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Melhorias técnicas, ajuste da legislação e propostade políticas públicas para o setor

O engenheiro agrônomo e empresário Alexandre Bugin, que desde 1993 participavadas diretorias da Abes-RS, foi eleito presidente para o período 1997-1999 e reeleito para1999-2001. Bugin diz que sua intenção como presidente foi retomar o papel de importân-cia do setor de saneamento e meio-ambiente.

“Desenvolvemos estratégias para participar e contribuir para a melhoria em questões no-vas, como recursos hídricos e de meio ambiente, integrando conselhos, comissões, grupos detrabalho que buscassem a formulação de políticas e legislação no setor. E participamos daformulação do Código Estadual do Meio Ambiente, que iniciou em 1995, teve trabalho in-tensivo em 1997 e foi lançado em 2000.”

Na gestão de Bugin, fortaleceu-se o programa de capacitação e começou-se a promovercongressos como instrumento para disseminar tecnologias e capacitar os profissionais dosetor. E a Semana da Água consolidou-se como um evento de grande expressão no paísquando o assunto é a mobilização social em defesa da água. Sua comissão organizadora foiampliada chegando a envolver nas ações 150 instituições públicas e privadas, e reunindoem torno de mil atividades no Rio Grande do Sul, o que tornou a Abes-RS uma referên-cia em saneamento ambiental.

Em 1998, a bes-RS realizou o II Simpósio Internacional de Qualidade Ambiental: ge-renciamento de resíduos e certificação ambiental. Mesmo assim, quando a sentiu-se emcondições de realizar um congresso nacional em Porto Alegre, foi preterida “por falta deimportância política”. O congresso realizou-se em Santa Catarina, e a Abes nacional ficouem dívida com sua seccional gaúcha. Isso revelou-se importante quando, em 1998, a Co-

lômbia se declarou sem condi-ções de realizar o CongressoInteramericano de Saneamen-to Ambiental, em 2000, aoqual se habilitara em 1996.

Como o congresso anteriorhavia sido na Argentina, a Ai-dis apelou para o Brasil, que,na emergência, lembrou daAbes-RS. Bugin aceitou o en-cargo e, imediatamente, comoera de praxe, assumiu por doisanos a vice-presidência daAidis. Ele, que já foi vice-presi-dente da Abes e vice-presidenteda Aidis, sendo atualmente di-retor da Regional Sul da Abes,costuma dizer: “A Abes não dádinheiro, só dá trabalho, masdepois que se começa a partici-par, ela passa para o sangue”.

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O engenheiro agrônomoe empresário AlexandreBugin comandou a Abes-RS de 1997 até 2001

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Em Porto Alegre, o maior congresso da Aidis O XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental, realizado em

Porto Alegre no ano 2000, com o tema “As Américas e a ação pelo meio ambiente no mi-lênio” deu grande projeção à Abes-RS. Foi o maior já feito até agora: reuniu três mil pes-soas e atraiu técnicos do mundo inteiro, dando retorno financeiro à associação. O enge-nheiro Isaac Zilberman que foi responsável pela organização temática do congresso diz queaté hoje o o XXVII Congresso continua sendo assunto entre os associados da Aidis, mes-mo depois da realização de outros três congressos interamericanos, em Cancún, no México(2002), em San Juan, Porto Rico (2004), e em Punta del Este, no Uruguai (2006).

Dentro das atividades do congresso, foi promovido o I Fórum Interamericano deJornalismo Ambiental, que teve a participação de 200 profissionais de comunicação.Também foi instituído pela Aidis o 1o Prêmio Interamericano de Jornalismo Ambien-tal. Ambas as idéias foram apresentadas pela jornalista Maria de Lourdes da CunhaWolff, que contou com o apoio do Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul, doSindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul, da Associação Riogran-dense de Imprensa (ARI) e da Faculdade dos Meios de Comunicação da PUCRS. Àfrente da Comissão de Divulgação, Maria de Lourdes planejou e executou a divulgaçãodo evento nos 36 países americanos onde há capítulos da Aidis. Pela primeira vez numcongresso dessa entidade, todo o material de divulgação foi elaborado em três idiomas:português, espanhol e inglês.

O evento do ano 2000 foium sucesso de público comrepercussão internacional.

Na oportunidade, foi instituído o PrêmioInteramericano de

Jornalismo Ambientalpara estimular a

produção jornalística no setor

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Da sede própria à mobilização socialA engenheira química Maria Lúcia Coelho Silva, da Fepam, substituiu Alexandre Bugin

na presidência da Abes no período 2001-2003 e foi reeleita para 2003-2005. Na primeiragestão dela, a Abes-RS conseguiu adquirir sede própria. Paim tinha desbravado o caminho,colocando a associação em contato com a sociedade, principalmente com a celebração anu-al da Semana da Água. E Bugin havia consolidado financeiramente a Associação, ao realizaro II Simpósio Internacional de Qualidade Ambiental (1998) e o XXVII Congresso Intera-mericano de Engenharia Ambiental (2000), possibilitando a compra.

Segundo Maria Lúcia foi uma decisão colegiada que trouxe grandes vantagens. Com a salano quarto andar do prédio de número 440 da Avenida Júlio de Castilhos, no centro de PortoAlegre, o patrimônio da Abes-RS pôde, finalmente, serabrigado em local definitivo. Assim, acabou o vaivémdas caixas com atas, documentos e recortes que a cadadois anos mudavam de lugar, de acordo com o local detrabalho do presidente. “No fechamento das contas de2001, vimos que os recursos permitiam a compra dasede, embora alguns associados achassem que era me-lhor aplicar esse dinheiro. Até a gestão de Bugin, aAbes-RS vivia mais da anuidade paga pelos associados.Hoje a anuidade representa de 10% a 15% da receita,a maior parte vem dos congressos, dos cursos de capa-citação, de convênios e da venda de livros.”

Na gestão de Maria Lúcia, a Abes-RS passou ater visibilidade não só para os sócios, mas também

Obra registrou o impacto dos 10 primeirosanos da Semana da Água no estado

Na gestão da engenheiraquímica Maria Lúcia

Coelho Silva, a Abes-RS adquiriu

sede própria

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para o meio acadêmico e para a sociedade. Foi criado o DiaDeSol (dedicado à limpeza e ci-dadania) e foram realizados outros eventos ligados à área de saúde e meio ambiente, comoo Congresso Interamericano de Qualidade do Ar, o Congresso Interamericano de ResíduosSólidos Industriais, o Congresso Interamericano de Saúde Ambiental.

Na celebração da X Semana da Água, em 2003, a Diretoria de Comunicação Social daAbes-RS publicou o livro Semana da Água no Rio Grande do Sul, uma experiência de Mobi-lização. No mesmo ano, participou ativamente do I Fórum Internacional das Águas, pro-movido pela Associação Riograndense de Imprensa (ARI). A Abes-RS também teve atua-ção importante através de sua Câmara Técnica de Recursos Hídricos na formalização dodecreto que instituiu 2004 como o Ano Estadual das Águas.

Em 2005, quando a discussão sobre mudanças climáticas estava recém iniciando e oBrasil tinha assinado o Tratado de Kyoto, a Abes-RS realizou a dupla jornada “Tratado deKyoto, MDL e Mudanças Climáticas”, que trouxe ao estado técnicos de ponta para falarsobre o assunto, ainda recente, trazendo experiências de casos, experiências pioneiras, quenão tinham sido relatadas ainda.

Também como forma de não se afastar de sua origem, a Abes-RS voltou a realizar seminá-rios sobre água e esgoto e continuou investindo no aperfeiçoamento profissional. Promoveucursos sobre tratamento de água e tratamento de esgoto; cursos de gestão de recursos hídricos ede gestão de resíduos sólidos. “Nos últimos quatro anos, tivemos na vice-presidência um técni-co da área de resíduos sólidos, o engenheiro-agrônomo Darci Campani. E nesse período os te-mas variaram, houve até cursos sobre meio ambiente para jornalistas, com o apoio do Núcleode Ecojornalistas. Agora voltamos a ter um dirigente de empresa de saneamento na presidên-cia. Com o Geraldo Portanova Leal, da Corsan, acontece um retorno, por gosto, ao saneamen-to básico. Com a diferença que ele tem boa relação com a área de recursos hídricos.”

O III Congresso Interamericano de Qualidade do Ar,

promovido pelaAbes-RS, ajudou a

alertar a sociedade paraessa questão ambiental

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Comitês de bacia, uma espécie de parlamento das águasO atual presidente da Abes-RS, Geraldo Portanova Leal, eleito para 2005-2007 e

reeleito para 2007-2009, é químico com especialização em saneamento e, ultimamen-te, vem estudando gestão, o que lhe dá muita intimidade com as questões da associ-ação. Ele recorda que a Abes-RS foi chamada a participar praticamente de todas as ins-tâncias que levaram a formular a política de saneamento e a legislação de Recursos Hí-dricos no Rio Grande do Sul. Atualmente, a Abes-RS participa do processo de gestãodos recursos hídricos no estado, mantendo representantes em vários dos comitês de ge-renciamento de bacia.

Geraldo, que foi vice-presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia do Rio Caí,considera que essas unidades regionais de influência direta de mananciais formadores degrandes rios constituem uma experiência muito rica, uma espécie de parlamento daságuas. E um dia criarão instrumentos para a cobrança pelo uso da água. “Os comitês debacia têm dois instrumentos práticos para a gestão: a outorga e a cobrança. Aqui no esta-do, a outorga ainda vem sendo feita, embora sem muita base tecnológica. Quanto à co-brança, estamos caminhando de adotar um princípio poluidor-pagador, ou seja, quempolui mais, paga mais, e quem investir, por exemplo, na instalação de uma estação detratamento pagará menos.”

Ele diz que essa cobrança terá o sentido de promover o equilíbrio no uso, seja para con-sumo humano e animal, irrigação de lavouras, mineração ou lazer. E quem vai decidir ascondições em que isso será feito são os representantes no comitê, 40% da população, 40%dos usuários e 20% do estado, que atua como regulador, embora o poder de decisão estejacom a população.

Geraldo percebe que a população já está começando a entender a importância política,econômica e social dos comitês. Por exemplo, se num comitê de bacia há pouca disponibi-lidade de recurso hídrico, certamente, o estado vai suspender a outorga aos agricultores, eos próprios integrantes do comitê vão começar a incentivar um uso econômico que não de-mande tanta água. “Os comitês de bacia são capazes de mudar o aspecto econômico deuma região. E isso tem um efeito político. Hoje há eleição aberta para os comitês, com aparticipação de todos os envolvidos, que são os usuários da água e os habitantes da área dabacia. E, pode parecer um tanto utópico, mas estamos muito perto do momento em queserá efetivada a gestão dos comitês de bacia.”

Recursos hídricos: sistema estadual contribui para criação do sistema nacional

Os primeiros movimentos em favor da criação do Sistema Estadual de Recursos Hídricosdo Rio Grande do Sul tiveram a presença da Abes-RS, que trabalhou muito por sua aprovação.A lei 10.350 foi aprovada no governo de Alceu Collares, a 30 de dezembro de 1994. No mes-mo ano havia sido instituída a Semana Interamericana da Água no Rio Grande do Sul. Trêsanos depois, o governo federal criava o Sistema Nacional de Recursos Hídricos.

O engenheiro civil Luiz Antonio Timm Grassi, que acompanhou a trajetória da associaçãocomo técnico da Corsan, participou dessa luta, juntamente com Paulo Renato Paim, Rogério

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Dewes, Verena Nygaard, Eugênio Miguel Canepa, Eduardo Lanna, Maria Lúcia Coelho Silva,Percy Soares, Zeno Simon, Nanci Giugno e Maria Salete Cobalchini.

Grassi recorda que em meados da década de 70, quando o Brasil começou a se preocu-par com seus recursos hídricos (rios, lagos, águas subterrâneas), o abastecimento de água vi-nha em primeiro lugar, seguido pelo esgotamento sanitário, vindo depois a destinação dosresíduos sólidos, a drenagem urbana e o controle de vetores. Mas, tanto o abastecimento deágua quanto o esgotamento sanitário dependem dos recursos hídricos. É dos mananciaisque vem a água que, depois de tratada, é distribuída à população. E nos mananciais sãodespejados os resíduos que a população produz, utilizando essa água como veículo. Era im-portante chamar a atenção da sociedade para a necessidade de criar-se uma política de pro-teção dos recursos hídricos e de recuperação dos mananciais poluídos.

“Nessa época, diziam-se coisas básicas sobre a água, que ainda hoje precisam ser divulga-das: a água é um recurso renovável, mas limitado no tempo e no espaço; tem distribuiçãodesigual e tem múltiplos usos, que nem sempre são compatíveis entre si; é um bem econô-mico, mas também é um bem público.” Essas questões passaram a ser tratadas tambémdentro da Abes-RS, que participou dos primeiros movimentos ocorridos no Rio Grandedo Sul no sentido de constituir um sistema de gestão das águas da natureza e para a consti-tuição de uma política pública de proteção desses recursos.

A Abes-RS integrou a comissão consultiva do Conselho Estadual dos Recursos Hí-dricos, criado por decreto em 1981 e, através de seus associados, esteve representadana criação dos primeiros Comitês de Gerenciamento de Bacias Hidrográficas no Bra-sil, o Comitê Sinos e o Comitê Gravataí. Pela participação nesses comitês de bacia, a

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A preocupação com osrecursos hídricos passou

a propor políticas depreservação da água que

incluíssem o lazer erecreação da população

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VI Seminário Nacional de Resíduos Sólidos, realizado no Centro de Eventos da Ufrgs, em Gramado, em setembro de 2002

Reciclagem dos resíduos sólidos é tema constante nos debates sobre o ambiente

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Abes-RS tornou-se conhecida em todo o estado, inclusive em locais em que nunca sehavia ouvido falar dela.

Nos anos 90, a Abes-RS começou a levar essa preocupação com os recursos hídricos pa-ra a Abes. Isso se refletiu nos textos da revista Bio, editada pela Abes, que passou a publicare discutir temas vinculados aos recursos hídricos, aos instrumentos de gestão e a iniciativasde estudo, como seminários e encontros. Na gestão da Maria Lúcia foi criada a CâmaraTécnica de Recursos Hídricos da Abes-RS, que passou a coordenar a ação dos representan-tes da associação nos comitês de bacia, reconhecida como de grande importância para ele-var o nível técnico das discussões.

Em comemoração aos dez anos da Lei Estadual das Águas, essa câmara técnica disse-minou e sustentou a idéia de que 2004 fosse declarado oficialmente como o Ano Esta-dual das Águas. Diversos eventos se incorporaram às comemorações, como o EncontroNacional de Comitês de Bacias, realizado no estado, e II Fórum Internacional da Água,promovido pela Associação Riograndense de Imprensa (ARI). Nesse ano, por coinci-dência, a água foi o tema da Campanha da Fraternidade, promovida pela ConfederaçãoNacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Resíduos sólidos: cada centavo investido traz retorno imediatoO Comitê de Resíduos Sólidos da Abes promove um seminário nacional a cada dois

anos, reunindo até 300 profissionais. E agora, devido à extensão territorial do país, passou apromover seminários regionais. Mas nem sempre é favorável às idéias apresentadas pelos par-lamentares. O engenheiro agrônomo Darci Barnech Campani - que integrou o comitê du-rante oito anos (1998-2006), nos últimos quatro, como coordenador - diz que as duas mi-nutas de projeto de lei elaboradas pelo Congresso Nacional sobre o assunto eram tão ruinsque o comitê teve que batalhar contra a aprovação delas.

Há três gestões, Campani representa a Abes na Diretoria de Resíduos Sólidos da Aidis(Dirsa) e foi vice-presidente da Abes-RS em duas diretorias (2003-2005 e 2005-2007). “Em2002, o comitê participou de audiência pública do Conselho Nacional do Meio Ambiente(Conama), quando foi aprovada uma terceira proposta, que em breve será enviada ao Con-gresso. O comitê mantém conversações com o Ministério do Meio Ambiente, que centralizaa discussão da política nacional nessa área.

Como técnico militante dessa área, o engenheiro acredita que o pouco que o governo (fe-deral, estadual e municipal) resolva investir, principalmente em capacitação e estruturação doserviço, terá retorno rápido. “Note que nem falei em obras: as obras são importantes, mas pre-cisam do apoio da capacitação e da estruturação. Na época áurea em que o BNDES financia-va usinas de tratamento de resíduos sólidos Brasil afora, foram construídas muitas usinas, queagora estão paradas.” Segundo Campani, até pouco tempo atrás, o Brasil se orgulhava de estarna frente de todo o mundo em termos de discussão sobre resíduos sólidos, mas hoje a situa-ção do setor no país apenas deixou de piorar.

“Considerando o número de municípios brasileiros, que são 5.500, a situação doBrasil, em se tratando da destinação dos resíduos sólidos, não melhorou, porque osmunicípios de pequeno porte não têm recebido apoio nesse sentido, devido à falta deuma política nacional. Mas se olharmos as grandes cidades, já podemos dizer que asituação está melhor, pois se nota que aí - justamente onde se produz o maior volume

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- os resíduos sólidos estão sendo enviados para aterros sanitários e não mais para li-xões, que são depósitos a céu aberto.”

No Rio Grande do Sul há duas leis nesse setor: a lei de resíduos sólidos em geral; e alei de resíduos de serviços de saúde, ambas da primeira metade da década de 90. Quan-do Campani foi diretor do DMLU pela primeira vez, em 1989, cada habitante de Por-to Alegre produzia 600 gramas diários de resíduos sólidos e hoje produz quase um qui-lo. Em 2000, quando dirigiu o DMLU pela segunda vez, mandou abrir um antigo li-xão da Zona Sul, interditado havia dez anos pela população. “Queríamos medir o graude decomposição e ficamos admirados: não havia garrafa pet (de plástico) no lixão. Cla-ro, há quase duas décadas, só se usava garrafa de vidro. Hoje a garrafa de plástico já che-ga a 10% dos resíduos sólidos.”

Campani acha que é preciso discutir a redução da produção desses resíduos. “Mudan-ças de atitude, mesmo que pareçam insignificantes, podem trazer grandes resultados. Afeira ecológica que funciona aos sábados na área do Brique da Redenção, em Porto Alegre,oferece brindes aos clientes que levam suas próprias sacolas de pano para carregar as com-pras, dispensando as sacolas de plástico, elemento poluidor pela grande quantidade que éjogada no meio ambiente.”

Drenagem urbana, o primo pobre do saneamento

Drenagem urbana é o sistema de escoamento da água da chuva que, ao cair sobrea cidade, não consegue se infiltrar no solo (impermeabilizado por construções, asfaltoe áreas lajeadas) e precisa ser encaminhada a seu destino, os cursos d'água, que for-mam a drenagem natural. Porto Alegre é um dos poucos municípios brasileiros comdepartamento específico de drenagem urbana, o Departamento de Esgoto Pluvial(DEP), que no momento coordena a construção do conduto-forçado Álvaro Chaves,obra de grande porte destinada a evitar alagamentos em área importante da cidade.

Mas, na maioria dos municípios gaúchos, a drenagem urbana não recebe a atençãoque merece: enquanto a Corsan administra os serviços de água e esgotamento sanitá-rio, e a prefeitura se encarrega da coleta e destinação de resíduos sólidos, a drenagemé preterida em favor de outras urgências. “A drenagem urbana é o primo pobre do sa-neamento”, conclui a engenheira civil Nanci Giugno, do conselho consultivo daAbes-RS, lembrando que esse papel já pertenceu aos resíduos sólidos, que eram joga-dos em depósitos a céu aberto até que o Ministério Público resolveu exercer seu po-der de fiscalização e pressão.

Nanci formou-se pela Ufrgs em 1975, mas freqüenta a associação desde 1971,quando entrou para a então recém-criada Metroplan, onde seu primeiro trabalho foium estudo sobre a região metropolitana de Porto Alegre. Esse estudo, patrocinadopela República Federal da Alemanha, revelou que, sem o gerenciamento dos resíduossólidos e da drenagem urbana, haveria problemas com o abastecimento de água devi-do à poluição dos recursos hídricos. Segundo a engenheira - que presidiu o ComitêLago Guaíba representando a Abes-RS no período 2002-2003 - existe um vazio insti-tucional tanto em relação à drenagem urbana quanto à macrodrenagem, que controla

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as inundações. “São sistemas interligados: temos que encaminhar para os rios a águaque cai sobre as cidades e não podemos deixar que a água dos rios invadam as zonas ur-banas.” Essa ameaça tem origem em épocas passadas, quando muitos núcleos urbanosinstalaram-se em áreas inundáveis, junto a cursos d'água, onde podia ocorrer um picode cheia. São Leopoldo e Porto Alegre são exemplos disso. Para evitar as inundações,que são periódicas, construíram-se diques, como o da freeway Porto Alegre-Osório,junto à margem do Rio Gravataí, e cortinas de contenção, como o chamado Muro daMauá, imprescindíveis para a proteção da área urbana.

Isso remete ao planejamento urbano e regional. Atualmente, por legislação federale estadual, não pode haver ocupação de áreas inundáveis. Mas invasões e ocupaçõesirregulares acontecem assim mesmo. E, muitas vezes, o que era para ser ocupado pelaságuas durantes determinadas épocas, está ocupado permanentemente por famílias po-bres. “Se não houver proteção, a água da cheia vai invadir ruas e casas. E, se houverproteção, a água vai tomar velocidade e invadir mais abaixo. Essa questão tem que servista sob o enfoque de toda a bacia hidrográfica.” Nanci Giugno considera que os pa-radigmas da drenagem também mudaram, antes ela se assentava na visão construtorado engenheiro, resultando em obras de grande porte - barragens, casas de bomba,enormes canalizações - no sentido de corrigir e mandar o pico de cheia para outro lu-gar. Na beira do Rio dos Sinos e do Gravataí, há obras de macrodrenagem não-con-cluídas, abandonadas desde que o DNOS foi extinto. Mas, a partir da visão ecológi-ca, introduzida pelo ambientalista José Lutzenberger na década de 70, houve mudan-ças, com a contribuição importante de outros profissionais da área.

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A ocupação de áreas derisco provoca alterações no

curso natural das águas,resultando em inundações

que geralmente flagelam as populações

de baixa renda

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“Os próprios engenheiros reformularam seu pensamento”, diz Nanci. “Em vez degrandes obras, medidas preventivas: não deixar ocupar áreas inundáveis, promovercampanhas de educação ambiental, reflorestar as margens dos rios, não lançar cargapoluidora, evitar a impermeabilização do solo. E está voltando a idéia de construircisternas para guardar a água da chuva. Não quer dizer que não deve haver obras, masque as obras e a atitude ambiental têm que estar juntas em favor da preservação danatureza e, conseqüentemente, da vida.” A engenheira sabe que há muito trabalhopela frente no sentido de difundir a importância da drenagem urbana: decodificar alinguagem técnica para os meios de comunicação; lançar uma semente entre os técni-cos das prefeituras; explicar para as crianças; esclarecer a população; incentivar a par-ceria entre instituições. Como exemplo de parceria, ela cita a distribuição, aos alunosdos cursos sobre drenagem urbana promovidos pela Abes-RS, do livro Os rios na cidade,editado pela Metroplan em 2001.

Este ano a Abes-RS vai promover seu terceiro curso, apresentando uma nova visãodessa área e difundindo uma atitude mais branda diante da natureza, que permita oescoamento natural das águas e proteja suas bacias de retenção. Diante disso, a enge-nheira Nanci Giugno se mostra cheia de esperança: “É por isso que, depois de traba-lhar tanto tempo, a gente ainda tem entusiasmo e acredita que as coisas podem me-lhorar, que existe uma saída.”

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A Abes e a ComunicaçãoOs sanitaristas sempre acreditaram na importância das publicações para divulgar suas

ações e pensamentos. A revista Engenharia Sanitária, por exemplo, foi lançada pela seçãobrasileira da Aidis em junho de 1962 para levar a informação técnica para aos profissionaisdo setor, além de publicar artigos técnicos e divulgar pesquisas e trabalhos que estavam sen-do produzidos no país. Seu fundador e primeiro diretor, o engenheiro César Drucker, con-sidera que a revista Engenharia Sanitária ajudou a fortalecer o grupo de engenheiros sanita-ristas que desejavam pertencer a uma associação brasileira de engenharia sanitária, contri-buindo efetivamente para a criação da Abes.

O engenheiro e professor Eurico Trindade Neves lembra que, naquela época, os artigosdas revistas do setor de saneamento tratavam principalmente de fórmulas para cálculo decanalizações, métodos de redes de distribuição de água, cálculos de estações de recalque. “Asquestões ambientais tinham pouco destaque, o que importava era resolver o problema deabastecimento de água.”

Com a criação da Abes, a revista Engenharia Sanitária passou a ser co-editada pela Abes,BNH, empresas estaduais de saneamento, órgãos federais e estaduais de defesa ambiental.A Abes também criou o informativo Vidativa, baseado em matérias publicadas em diferen-tes jornais e revistas nacionais, e outras publicações, como o jornal Abes, o Catálogo Brasilei-ro de Engenharia Sanitária e Ambiental (Cabes), enquanto a Aidis publicava a revista Inge-niería Sanitaria e o Informativo Aidis.

Mas, a partir de 1989, Engenharia Sanitária passou a ser uma publicação semestral, sócom artigos técnicos, dando lugar à revista Bios, publicação técnica com alguma matériajornalística, mas ainda muito voltada para dentro da Abes. Quando se deu a transição, ajornalista Cecy Oliveira fazia parte do conselho editorial. Ela conta que a idéia era que aBios fosse uma revista para o público externo, mas acabou sendo a revista da Abes. Cecy dizque os técnicos reconhecem que é fundamental que a população tome conhecimento dequestões como as mudanças climáticas e de que forma elas poderão afetar seu cotidiano. “Acomunicação tem que ser para fora, para a população, mas sempre que se pensa em editarum veículo de comunicação, se pensa num veículo para os associados.”

Publicações abordam questões

atuais da Abes

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Os depoimentos

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ALPHA TEIXEIRA

“Eu carreguei a Abes nas costas”A engenheira química Alpha Teixeira, 80 anos, vem acompanhando a história da Abes-

RS desde seu embrião, a subseção da Aidis no Rio Grande do Sul, fundada em 1959. Elaaté aparece na foto de fundação da entidade que sete anos depois daria origem à seccionalgaúcha da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária. E foi a primeira a primeira a seaventurar de barco pelos rios da região metropolitana para colher amostras de água paramedir a poluição. Alpha fez o curso de químico industrial na Ufrgs, que mais tarde foi ex-tinto, tendo a Universidade autorizado os formados a retornarem para fazer algumas cadei-ras e receber o diploma do curso de Engenharia Química. Começou a trabalhar como esta-giária na Secretaria de Obras do estado e sempre se envolveu em movimentos de classe. Eda mesma maneira que assumiu a primeira entidade, assumiu a segunda. Com paixão, semse importar por ser a única mulher no meio de tantos homens. “Me envolvi na Abes-RS,assumi diversos cargos, secretário, segundo secretário, carregava a Abes nas costas. Chegueia jurar que nunca mais ia me meter. No primeiro congresso, esperávamos 250 participantese vieram 500. Mesmo assim, foi uma coisa muito bonita e até editamos um jornalzinho,ilustrado pelo cartunista Sampaulo.”

Alpha considera indispensável a atuação da mídia para conscientizar a população sobre aimportância de respeitar o ambiente natural. E destaca o esforço que a Abes-RS tem feito nosentido de criar novos espaços nos meios de comunicação. “O trabalho realizado pela jorna-lista Maria de Lourdes da Cunha Wolff, que deu continuidade à promoção e divulgação daSemana da Água e das outras ações e promoções, contribuiu para tornar a Abes-RS uma re-ferência no setor. Quando se trata de água, saneamento ou meio-ambiente, a Abes-RS é aprimeira fonte a ser consultada.” Segundo a engenheira, a Abes-RS sempre foi um órgãomuito atuante porque foi administrada por grandes dirigentes de entidades da área de sanea-mento, com os quais ela conviveu. “Mesmo sem a estrutura de hoje, a associação sempre es-teve presente. Houve um tempo em que sua ação diminuiu, porque o pessoal começou abrigar pelo poder, e a associação foi mal administrada, mas depois ressurgiu.” Alpha convi-

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veu com todos os presidentes da fase maistécnica da Abes-RS e com quase todos os dafase seguinte, quando a disputa política porcargos se acirrou. Lembra de coisas en-graçadas. “Quando o Percy Soares era presi-dente e havia reunião, ele pegava o telefonee ficava chamando todo mundo. Ele gosta-va de telefone. Eu brigava com ele, e ele di-zia: 'Sou pelotense, e pelotense já nasce gru-dado no telefone'. Porque, em outros tem-pos, Pelotas teve sua própria companhiatelefônica.” Ela sempre se deu bem com oscompanheiros. Participava de todas as con-versas deles e era respeitada e tratada comoigual. “Sabe o que alguns diziam? 'A Alphaé homem'. Um dia, eu perguntei a um de-les: 'Mas, o senhor acha que eu tenho jeito de homem?' E ele respondeu bem depressa:'Nããão, nem se preocupe com isso!'”

Alpha também presenciou momentos de tensão. “Uma vez, na década de 80, houveuma eleição muito disputada, em que uma candidata, inconformada por não ter sido elei-ta, recorreu, alegando que tinha havido fraude. Eu sei que ela conseguiu anular a eleição.”Para finalizar, dá uma receita: “O importante é que se tenha pessoal técnico na área técnica.Na área do tratamento da água, é preciso formar técnicos de nível médio, porque eles for-mam a base do sistema, trabalham, sabem, detêm a tecnologia. A saúde pública está namão do técnico de nível médio, que tem que ter boa formação para poder tocar essas nor-mas”. Hoje, Alpha está aposentada, mas ainda não parou de se envolver. “Quando traba-lhava, me filiei ao Lions Club e me tornei assessora de meio ambiente no estado. Agora,sou assessora para os três estados do Sul, trabalho com nove assessores regionais e já estoufazendo com que ingressem nos comitês de bacias hidrográficas.”

A engenheira químicaAlpha Teixeira recebereconhecimento por todauma vida dedicada aosaneamento ambiental

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EURICO TRINDADE NEVES

“Eu estive presente na pré-história da Abes”O engenheiro civil e professor Eurico Trindade Neves, 88 anos, participou de eventos

que inspiraram a criação da Abes, cuja história, segundo ele, está muito ligada à evolução dosaneamento no Rio Grande do Sul. Ele recorda que, já ao tempo dos governos de Borges deMedeiros, Carlos Barbosa e Getúlio Vargas, haviam sido feitas diversas obras de saneamentobásico, contemplando cerca de 20 cidades com o serviço de abastecimento de água tratada ealgumas com o serviço de esgoto sanitário, a começar por Porto Alegre, que desde a décadade 1920 passou a ter o serviço modelar que mantém até hoje.

Mas o desenvolvimento do saneamento no estado começou mesmo foi com o Plano de Sa-neamento, no qual, a partir de 1945 começaram a ser investidos 120 milhões de cruzeiros como objetivo de levar água tratada a grande número de cidades. Na época, o Rio Grande do Sul ti-nha 92 municípios. O secretário de Obras Públicas era o dr. Walter Jobim, e o interventor fede-ral era o coronel Ernesto Dornelles, ambos, mais tarde, por eleição direta, foram governadoresdo estado. O Plano de Saneamento foi elaborado pelo engenheiro Antonio de Siqueira, exclusi-vamente em bases técnicas e estatísticas, sem qualquer interferência política ou governamental naescolha das cidades a serem atendidas. Este critério continuou inalterado em sucessivos governos.Políticos de destaque ocuparam o cargo de secretário de Obras, como Aníbal Di Primio Beck eLeonel Brizola. “Os engenheiros da Secretaria lidavam com vultosas quantias, mas nunca se ou-viu dizer que algum deles tivesse tocado num centavo sequer”, lembra o professor.

A partir de 1952, os municípios começaram a ter participação financeira na execução dasobras, dando-se prioridade, dentro da ordem estabelecida, aos que adquirissem apólices doestado em quantia equivalente a metade do respectivo custo. A execução do Plano pela entãoDiretoria de Saneamento e Urbanismo da Secretaria de Obras, dirigida por Siqueira, levou auma movimentação muito grande. Eurico - recém-formado pela Escola de Engenharia daUniversidade de Porto Alegre, hoje Ufrgs - tinha sido admitido como engenheiro de proje-tos um ano antes e trabalhou na criação de várias obras, sendo, mais tarde, convidado a le-cionar a disciplina de Hidráulica e Saneamento na universidade. Houve, então, no RioGrande do Sul, um grande desenvolvimento em saneamento básico, com prioridade para oabastecimento de água. O estado se credenciava no saneamento nacional por seu plano, pe-la qualidade dos projetos e pela execução de obras em ritmo acentuado. O surgimento da

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Abes ocorreu quando recém tinha termina-do a Segunda Guerra Mundial, e os EstadosUnidos, interessados em promover uma po-lítica de boa vizinhança, haviam lançado di-versos programas de cooperação técnica eeconômica, entre eles os da Usaid - UnitedStates Agency for International Develop-ment (Aliança para o Progresso). Parte dasatividades e dos financiamentos oferecidospor esses programas era dirigida a questõesligadas à engenharia sanitária. Em conse-qüência disso e da destacada atuação do en-genheiro Saturnino de Britto Filho - cujopai, Francisco Saturnino Rodrigues de Brit-to, é considerado o patrono da engenhariasanitária do Brasil - foi realizado em 1946,no Rio de Janeiro, o I Simpósio Interamericano de Engenharia Sanitária, que reuniu os paí-ses sul-americanos da costa do Oceano Atlântico mais a Bolívia.

Além de proporcionar o encontro de profissionais de todo o Brasil com os de outros paí-ses sul-americanos, o Simpósio promoveu a troca de informações e de conhecimentos cientí-ficos. “Entramos em contato com fórmulas que desconhecíamos ou não usávamos aqui noRio Grande, programas de logística, técnicas novas e coisas de muitíssimo interesse para nósnaquela época.” Depois, foi a vez dos países da costa do Pacífico realizarem seu simpósio. E,como resultado desses dois encontros, surgiu a idéia de criar-se uma associação que reunisseos profissionais da engenharia sanitária na América Latina. E criou-se a Associación Intera-mericana de Ingeniería Sanitária (Aidis), hoje Associación Interamericana de Ingeniería Sa-nitária y Ambiental, que passou a ter capítulos em diversos países latino-americanos.

Em 1960, o então diretor-presidente da Superintendência de Urbanismo e Saneamentodo Rio de Janeiro (Sursan), engenheiro Enaldo Cravo Peixoto, teve a iniciativa de realizar o ICongresso Brasileiro de Engenharia Sanitária, no Rio de Janeiro. “Foi um sucesso, e nessecongresso surgiu a idéia de criar-se a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária. Essa idéiafoi amadurecendo, até que se tornou realidade, em 1966. Enaldo foi o primeiro presidente.”

Eurico Trindade Neves(D) recebe homenagempor sua contribuição paraa construção da Abes

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CARLOS ALBERTO ROSITO

“Queremos desfraldar as grandes bandeiras da humanidade”O próximo presidente da Aidis, para o período 2008-2010, o engenheiro civil gaúcho

Carlos Alberto Rosito, tem um plano ambicioso: mobilizar os profissionais do setor de sa-neamento ambiental nas três Américas na luta por água para todos. Rosito foi eleito porunanimidade durante o XXX Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária Ambientalrealizado em 2006, em Punta del Este, no Uruguai, e tomará posse em 2008, no XXXICongresso, a realizar-se em Santiago do Chile. Seu projeto começou a ser estruturado combastante antecedência. Logo após ser indicado pela Abes, conversou com cada um dos presi-dentes de capítulos da Aidis, buscando subsídios. “Agora vou enfrentar esse desafio”, diz ele.Na presidência da Aidis, Rosito pretende rever as metas para 2025 e elaborar um plano demedidas bem concatenadas para chegar lá. Ele quer que todos os capítulos da Aidis - como aAbes, com suas seções estaduais - “desfraldem as grandes bandeiras da humanidade no setorde água, esgotos e resíduos sólidos”. Entre essas bandeiras, cita uma que teve grande efeitocatalisador: o lema “Água para todos, no mundo, até 2025”, lançado pelo Conselho Mun-dial da Água (WWC), ao promover o II Fórum Mundial da Água, em março de 2000, emHaia, na Holanda. E esclarece que, no caso, a palavra água não se refere apenas a água potá-vel, mas também a água adequada à coleta, tratamento e destinação final dos esgotos.

“Esse tem que ser o grande lema dos 10 mil associados da Aidis e de mais 30 mil cole-gas que podemos alcançar nas três Américas. Queremos colocar essa imagem na tela de to-dos os latino-americanos. Falo da América Latina porque Estados Unidos e o Canadá játêm isso. Vamos lutar para que, em cada país, em cada região, em cada cidade, se verifi-quem as necessidades existentes, e a partir daí se passe a buscar soluções até 2025.” Comoproposição intermediária, o futuro presidente da Aidis coloca as Dez Metas do Milênio es-tabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para a redução da pobreza nomundo até 2020. Uma delas é reduzir pela metade os déficits de água e esgotos verificadosna década de 90. Rosito reconhece que esse programa é ambicioso e diz que no Brasil o le-vantamento das necessidades já foi feito. Ele destaca a importância do Programa de Melho-

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ria do Setor de Saneamento (PMS) e dogrande estudo realizado em 2002-2003,que calculou o investimento necessário pa-ra que, até 2020, toda a população brasilei-ra (atualmente, 190 milhões de pessoas) ti-vesse acesso a água e esgoto. “Precisamos deaproximadamente 100 bilhões de dólares,o equivalente hoje a 200 bilhões de reais.”

Rosito afirma que o grande desafio é le-var água para os pobres. E lembra que estásendo feito outro estudo - com apoio doMinistério das Cidades e financiamento doBanco Mundial ao governo brasileiro - paraverificar a situação sócio-econômica dequem ainda não dispõe de água nem de es-goto. “Uma equipe de sanitaristas, sociólo-gos, economistas fará um diagnóstico sobre a situação desses brasileiros, propondo soluçõesno sentido de atingir a meta da universalização de água e esgoto no país. Por exemplo: co-mo melhorar o sistema de subsídios cruzados e de recursos não-reembolsáveis nos diversosorçamentos, federais, estaduais, municipais. Então, queremos água para todos até 2025,água, esgotos e destinação dos resíduos sólidos.” A comunicação também está no plano dopresidente eleito da Aidis. Rosito considera que a entidade e seus capítulos nacionais têmum grande papel a cumprir no sentido de disseminar informação. “É importante que osprofissionais que atuam na comunicação tenham cada vez mais informações precisas sobreo setor de saneamento ambiental e sobre o diagnóstico dos homens e mulheres que fazemdisso o seu dia-a-dia. Nosso plano decenal dará atenção especial à comunicação. E não ape-nas com publicações dirigidas aos associados, mas também na comunicação com o públicoem geral. Não só na mídia como também na sociedade organizada, nos três níveis de go-verno, nos três poderes da nação.”

Água para todos é ogrande desafio apontadopelo engenheiro CarlosAlberto Rosito, queassume a presidência daAidis para o período2008-2010.

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Os presidentes

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JOSÉ IRANY FRAINER

“No início, havia dúvidas quanto a aderir ao Planasa”Quando o engenheiro José Irany Frainer assumiu a presidência da Abes-RS, em

1971, o Planasa estava na fase inicial de instalação. Hoje, aos 80 anos de idade, aindana ativa como consultor em sua própria empresa de avaliações, ele lembra que naquelaépoca tudo era novidade e que alguns estados já haviam aderido ao plano apresentadopelo governo, enquanto outros ainda estavam estudando essa possibilidade. Sua vincu-lação com a Abes-RS foi curta. Quando foi eleito presidente, ele já havia saído da Cor-san, embora tenha ficado vinculado a ela até 1974. “Fui trabalhar na Secretaria deObras Públicas e também era professor da PUCRS, mas não na área de saneamento.Eu estava entrando na área de saneamento naquela época, e não como técnico, massim no setor administrativo. E depois que me desvinculei da Corsan acabei me desli-gando completamente dessa área.”

Durante sua gestão, Frainer participou de um encontro de dirigentes de órgãos desaneamento, em São Luiz do Maranhão, e do Congresso Pan-americano de Engenha-ria Sanitária, em Asunción, Paraguai. Quanto à rivalidade entre os representantes doDmae e da Corsan, citada por outros presidentes, ele acha que a situação dentro daAbes-RS não chegou a tanto. “Eram duas áreas bem distintas, o Dmae atuava em Por-to Alegre, e a Corsan, no interior. Havia era pessoas interessadas em criar coisas... Ago-ra, parece que alguns municípios estão querendo retomar os serviços de saneamento.Novo Hamburgo não retomou?” Sobre possíveis injunções políticas dentro da entida-de, ele prefere não opinar. “Confesso que não sei. Pode ser que tenha havido, mas nãosei.” Ao deixar o cargo, em 1973, José Irany Frainer falou sobre as metas estabelecidasno discurso de posse e sobre as dificuldades encontradas para cumpri-las. “No entanto,muitas dessas metas foram atingidas, como a participação da Abes-RS em comissõesda Assembléia Legislativa e da Secretaria da Saúde e a integração com a Abes nacional,no programa de treinamento.”

ADOLPHO CANTERGI e ÍTALO MASUERO

A Abes-RS não tinha sede, mas conseguia reunir 500 pessoas num jantar no Plaza

Numa sexta-feira, 13 de julho de 2007, num café da Rua da Praia, em Porto Alegre,dois ex-presidentes da Abes-RS lembram fatos da história da entidade.

Adolpho Cantergi (presidiu a Abes-RS no período 1975-1977) - A Abes levou aoreconhecimento nacional a profissão de engenheiro especializado em saneamento. Emcada congresso a gente reencontrava os colegas e as figuras de destaque do setor, comoo engenheiro Enaldo Cravo Peixoto, que dirigia a Cedae, companhia de água e esgotodo Rio de Janeiro, e foi o primeiro presidente da Abes. Esse tempo me agradou muitoe me traz saudades.

Ítalo Masuero (presidiu a Abes-RS no período 1983-1985) - A Abes cresceu porquetinha um contrato com o BNH, que financiava o Planasa, estando encarregada de fazero treinamento de pessoal e o desenvolvimento institucional das empresas. Com isso, ela

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propiciou o desenvolvimento tecnológico do saneamento e também dos que trabalha-ram na diretoria.

As metas do BNH para desenvolver o saneamento (água e esgoto) eram audaciosas: fo-ram criadas companhias de saneamento em todos os estados. Mas o pessoal não tinha umpreparo muito grande, e foi necessário esse treinamento intensivo, não só para técnicos,mas também para funcionários da área de administração, da área financeira.

SUCESSO DE VENDASCantergi - Nós conseguimos trazer a Porto Alegre as maiores autoridades em sanea-

mento básico do Brasil na época, como Azevedo Neto e Max Lothar Hess. Quando pre-sidi a Abes-RS, eu trabalhava na Corsan e era professor do Curso de Engenharia da PU-CRS, na cadeira de Saneamento Básico. E, como os temas trazidos pelos palestrantes fa-ziam parte do currículo dessa cadeira, os alunos eram convidados a participar. Duranteuma dessas palestras, no Centro Administrativo do Estado, fizemos o lançamento de li-vros técnicos, de uma série que a Abes tinha publicado no Rio de Janeiro. Foi num su-cesso de público e de vendas. Na minha gestão, a imprensa muito nos questionava sobrea poluição do Rio dos Sinos, que hoje está na sua crise máxima. Já naquela época, se di-zia que o Rio dos Sinos estava morrendo. A questão da fluoretação da água estava sendodiscutida no país inteiro como forma de ajudar na prevenção da cárie dentária. A primei-ra experiência de fluoretação da água foi feita na cidade de Taquara. Queriam ver se di-minuía mesmo o índice de cárie nas crianças. O curso de Odontologia da Ufrgs, que naépoca era ligado à Faculdade de Medicina, fez um cadastro e o levantamento da situação,mostrando os resultados favoráveis.

Masuero - Tinha programa de visitas para todos os associados. A gente locava umônibus e ia olhar as obras. Visitamos as obras do sistema de tratamento dos efluentes lí-quidos do Pólo Petroquímico, a obra de tratamento de esgoto de Santa Maria, a obrade implantação do sistema de abastecimento de água de Rio Grande (que exigiu a cons-trução de um canal adutor de 30 quilômetros, revestido com areia, ligando a cidade aoCanal de São Gonçalo). Visitamos minas de extração de carvão em Charqueadas, a es-tação de reciclagem de resíduos sólidos de Porto Alegre. A fábrica de Cimento Portlandtrouxe um pessoal do Rio de Janeiro para dar um curso sobre tecnologia do concretopara fins hidráulicos, que tem um sistema de proteção contra a corrosão. Reunimos 50técnicos por quatro dias no auditório da Corsan, debatendo só concreto. Eram técnicosdas universidades, técnicos das companhias de saneamento. Mandávamos convite paraos órgãos municipais de Porto Alegre, São Leopoldo, Pelotas, Caxias do Sul, Bagé eSantana do Livramento. E as firmas particulares também tinham interesse.

Mas isso quase nunca saía nos jornais. O que chamava a atenção da mídia eram oscongressos, porque apareciam políticos e a alta direção do BNH, que aproveitava essesencontros para divulgar suas metas. Os congressos brasileiros de engenharia sanitáriaque a Abes promovia não eram apenas nacionais, eram internacionais, e o mundo intei-ro reconhecia o plano social do BNH. E por que acabou o BNH? Por fraude e tambémpor uma série de desmandos que ocorreram. Com a extinção desse órgão, acabou tam-bém o Planasa. E a Abes deixou de fazer treinamento, perdendo prestígio por isso. Todosos contratos passaram para a Caixa Econômica Federal, que não tinha interesse em fi-nanciar saneamento. A habitação e as firmas particulares ofereciam retorno garantido.

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TODOS NA DIRETORIA Cantergi - Dentro da Abes-RS havia uma rivalidade, no bom sentido, entre Dmae e

Corsan. Isso começou porque o programa do BNH exigia que todas as empresas munici-pais passassem a estatal. O Dmae, que era municipal, reagiu. Então, ficou um pequenoatrito entre Dmae e Corsan nesta oportunidade. Mas, para ver como havia harmonia nonosso trabalho, digo que durante a minha gestão, recebi muito apoio do Percy Soares, queera do Dmae e foi meu sucessor (1977-1979).

Masuero - A alternância entre Corsan e Dmae nos cargos de presidente, primeiro-se-cretário e tesoureiro ocorreu porque essas duas empresas eram as que tinham o maior nú-mero de técnicos. Mas, nas diretorias, sempre havia um representante de cada órgão ou en-tidade que atuava no saneamento, como o DMLU, o DMA, a Metroplan, o DEP e até aCohab, que já existia na época. Firmas particulares - projetistas ou fornecedoras de material- também tinham representantes na diretoria da Abes-RS. Isso facilitava a comunicação en-tre a associação e os técnicos do setor.

Cantergi - As reuniões-almoço na sede da Sociedade de Engenharia, na Travessa Aceli-no Carvalho, no centro de Porto Alegre, reuniam os membros da diretoria - cerca de 18pessoas - de mês em mês ou de 20 em 20 dias. Mas duravam só do meio-dia às 13h30min,porque o pessoal tinha que voltar para suas repartições.

UM MACACO NO QUARTOCantergi - Participei de dez congressos e recebi um certificado por isso. O I Con-

gresso Brasileiro de Engenharia Sanitária foi realizado no Rio de Janeiro pela Aidis, em1960. O II Congresso foi realizado em 1963, em Porto Alegre, sob a presidência doWaldemar Pinheiro Cantergi, meu irmão. Para esse congresso, foi convidado o governa-dor do Rio de Janeiro (então Estado da Guanabara), sede da Abes. Só que o governa-dor, na época, era Carlos Lacerda, inimigo figadal do então governador do Rio Grandedo Sul, Leonel Brizola. A polícia teve que montar um esquema segurança para Lacerda,porque militantes do PTB, partido de Brizola, pretendiam promover uma reação contraa presença dele em Porto Alegre.

Masuero - A Abes tinha tanto prestígio que os congressistas e esposas eram recepcio-nados pelo governador, e o jantar de encerramento era formal. Ministros e secretáriostambém compareciam. No congresso de 1985, no Rio de Janeiro, o jantar de encerra-mento foi no Jockey Club.

Cantergi - Eu era da administração superior da Corsan e ia a quase todos os congressos.Em 1979 minha esposa e eu fomos ao congresso em Manaus. O Masuero também estavanessa. Foi uma coisa espetacular sobrevoar a floresta amazônica, ver aquela maravilha. Fica-mos hospedados no Hotel Tropical, que fica dentro da mata. Eu estava dirigindo uma sessão,quando a esposa de um participante gaúcho veio até a mesa para me contar que um macacotinha entrado pela janela do seu apartamento e tinha levado sua carteira de identidade.

Masuero - Nesse mesmo congresso, teve um passeio de barco para ver o encontro daságuas do Rio Amazonas com as águas do Rio Negro. O hotel mandou servir o almoço nomeio da floresta. Só que, na hora da sobremesa, abelhas invadiram o ambiente por causados potes de ambrosia. E quando chegou a hora de remar nos igarapés, eu e o Napoleãopegamos um barquinho daqueles e levamos nossas esposas, dispensando o remador. Passa-mos um sufoco, as mulheres ficaram preocupadas, mas no fim deu tudo certo.

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MOTIVANDO OS POLÍTICOS Masuero - No final da década de 80 houve um problema na Abes-RS. A presidente era

a Heloísa Fiori (1987-1989), e houve uma eleição muito disputada, porque havia interessesde firmas empreiteiras, interesses de um grupo em assumir a diretoria. A eleição foi realiza-da, mas acabou sendo impugnada pela Heloísa e seu grupo. Aí houve uma cisão dentro daAbes-RS. A Heloísa foi uma grande colaboradora da Abes-RS, era ela que organizava as fes-tas do Prêmio Destaques Abes, criado na época do Percy Soares. Esse era o grande evento,para o qual tínhamos que conseguir recursos. Ele foi muito importante para motivar os po-líticos a trabalhar pelo financiamento e desenvolvimento do saneamento.

Cada vez que havia mudança de governo, a Abes-RS fazia um plano para o saneamen-to básico e entregava ao novo governador. Como reunia todos os técnicos que atuavam naárea, tanto do município quanto do estado, a associação tinha condições de elaborar umplano geral. Como é que uma entidade que nem tinha sede conseguia promover uma so-lenidade que reunia o governador do estado, secretários, deputados, homens públicos?Como é que conseguia reunir 500 pessoas num jantar no Hotel Plaza São Rafael?

PERCY SOARES

“As questões do saneamento são maximizadas em termos políticos”

Na década de 70, participavam da Abes-RS funcionários das administrações municipaise estaduais, geralmente superintendentes ou diretores. Quando presidiu a Abes-RS, de1977 a 1979, com o objetivo de obter tecnologia de baixo custo, o engenheiro Percy Soaresera superintendente no Dmae. Mas também era vice-presidente da Sociedade de Engenha-ria do Rio Grande do Sul. Com isso, a sede da Senge, na Travessa Acelino de Carvalho,centro de Porto Alegre, serviu temporariamente de sede para a associação, que dispunha atéde uma mesa para tratar de seus assuntos. Percy se encanta com o contraste: “A Abes-RSnão tinha nem sede nem funcionários, mas tinha representatividade e recebia a considera-ção das entidades governamentais”.

Ele lembra que raramente havia duas chapas disputando as eleições da Abes-RS.Em geral, era chapa única, composta por representantes de empresas, que seguramenteouviam suas direções. E a presidência se alternava entre Dmae e Corsan, conformeacordo tácito. “Mas não havia animosidade entre os associados, apenas uma certa des-confiança entre as instituições”, conta Percy. Ele recorda que, em busca da integração,técnicos do Dmae, da Corsan, da Metroplan e do Semae de São Leopoldo foram con-vidados a desenvolver um relatório conjunto, “A Situação do Saneamento nas ÁreasCríticas do Rio Grande do Sul”. Também foi elaborado um plano diretor de água e es-goto para a região metropolitana de Porto Alegre. O próprio Percy participou da estru-turação de um convênio entre Dmae e Corsan sobre o Projeto Rio Guaíba, juntamen-te com o diretor da Corsan, Luiz Gonzaga Fagundes, que na época era também secre-tário de obras do estado.

A dissensão entre as duas instituições públicas chegou a provocar polêmica na Câ-mara Municipal de Porto Alegre: quem ficaria com os esgotos da cidade? Percy achavaaquilo um absurdo. “Eu fazia a imagem de um pedaço de esgoto de Porto Alegre, um

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coletor de esgoto que existe na Rua Riachuelo, no centro da cidade, implantado em1904. O que é esse coletor? É um cano de barro cheio de merda enterrado a quatrometros de profundidade. Pois, a propriedade desse bem quase se tornou uma questãode maior relevância.” A partir daí, Percy conclui que as questões do saneamento sãomaximizadas em termos políticos. “Existem aspectos políticos e existem aspectos eco-nômicos, as entidades de saneamento arrecadam bastante, têm grandes quadros defuncionários, mas a questão em si é prestar um bom serviço a um preço módico. Osorganismos institucionais e associativos têm suas funções específicas, mas devem man-ter o objetivo setorial acima disso.”

Hoje ele analisa: “Passaram mais de 20 anos, algumas coisas foram resolvidas, outrasnão. Talvez até a situação não tenha sido tão dramática quanto a gente pintava. O impor-tante foi que se conseguiu naquele momento uma ação coordenada entre os técnicos dasinstituições. Não era uma ação institucional, mas disso resultaram algumas ações institucio-nais desenvolveram-se convênios, consórcios, estudos e até iniciativas que resultaram emobras.” Segundo Percy, o saneamento envolve preponderantemente o setor público, e aAbes busca ser um elemento moderador. Tanto que, depois dela, criaram-se associações deserviços municipais, associações das companhias estaduais de saneamento. “A Abes se abriupara incorporar segmentos de meio ambiente, embora existam outras entidades que se ocu-pam desse setor, e teve posições importantes na Constituinte de 1988. É uma instituiçãoconsolidada e tem que se manter ativa.”

Na gestão de Percy Soares foi instituído o Prêmio Destaque Abes, que durante muitosanos serviu para mobilizar os associados, atrair a atenção das empresas públicas e privadas,seduzir os governantes e dar visibilidade à associação.

VLADIMIR ORTIZ DA SILVA

“O país se redemocratizava, e isso refletiu na associação”Com a democratização, veio a desagregação do Sistema Nacional de Saneamento e a

desativação do BNH, o que afetou o processo de financiamento de obras de saneamento eteve reflexos na associação. As eleições passaram a ser efetivamente disputadas, reativando ointeresse e a participação dos associados. Para o período 1985-1987, foi escolhido presiden-te da Abes-RS o engenheiro Vladimir Ortiz da Silva, do DMA (Departamento do MeioAmbiente da Secretaria Estadual da Saúde e Meio Ambiente).

A eleição de um presidente oriundo da área ambiental trouxe ânimo à associação.As decisões começaram a ser tiradas em consenso e havia discussões técnicas de assun-tos específicos que, quando necessário, eram levados a uma reunião plenária. A Abes-RS, então, passou a ter atuação mesmo em assuntos polêmicos na época, sendo favorá-vel à exigência do receituário agronômico, à criação da Lei dos Agrotóxicos e à fluore-tação da água, defendida principalmente pelo professor Flávio Luce, do Curso deOdontologia da Ufrgs.

Para movimentar os associados, foram instituídas as reuniões-almoço mensais, compalestra de figuras importantes sobre assuntos relativos ao setor. Essas reuniões ocorriamna sede da Fiergs (Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul), no centro da cidade.Algumas atraíram a atenção dos associados, como aquela em que o convidado foi o sena-

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dor Pedro Simon, ou a que trouxe a palavra do ambientalista José Lutzenberger, que naépoca estava no auge de sua pregação em favor da preservação da natureza.

Na administração de Ortiz, o Prêmio Destaques Abes, criado na gestão de Percy Soares,tornou-se uma promoção disputada até por empresas, que queriam patrocinar o evento. Or-tiz considera que, embora a Abes-RS tivesse representatividade, estava muito voltada para si.“Então, procuramos mostrá-la como uma entidade de representação e com participação po-lítica, o que até então ela não tinha.”

HELOÍSA FIORI

“Fiz a coisa mais dolorosa, pedi a anulação da eleição”Quando entrou para a Abes-RS, em meados da década de 70, a naturalista Heloísa

Helena Pinheiro Fiori era chefe do laboratório da Zona Norte do Dmae, especializada nocontrole de qualidade da água. Depois de ter sido vice-presidente, durante a gestão do en-genheiro Vladimir Ortiz, ela foi eleita presidente, em chapa única para o biênio 1987-1988. Ao mesmo tempo, assumiu uma vaga no conselho de administração da Corsan.

Em sua gestão, foi promovido um debate sobre os riscos e benefícios do uso de flúorna água fornecida à população. Uma lei estadual já obrigava as companhias de sanea-mento a fluoretar a água como forma de combater a cárie dentária. Heloísa delegou aoquímico Pedro Paulo Tomatis a tarefa de organizar e coordenar a comissão técnica. Fo-ram contatadas ongs de diversos países, garantindo a participação de dez conferencistasde renome, cinco pró e cinco contra o uso do flúor. “Os debates foram excelentes, masno final não se chegou exatamente a uma conclusão”, conta Heloísa.

Em 1979, houve eleições novamente e, segundo Heloísa, um grupo que não concor-dava com suas posições enquanto conselheira da Corsan quis trazer essa questão paradentro da Abes. “Isso, embora eu separasse bem a minha posição enquanto conselheirada Corsan da minha posição enquanto sanitarista e presidente da Abes-RS, e tivesse oapoio de toda a diretoria e do conselho administrativo”, explica ela. Heloísa diz que nãodesejava concorrer à reeleição, mas considerou que, caso o grupo rival lançasse candida-to, ela deveria concorrer, para não envolver seus amigos no que seria uma briga política.

Assim, antes de viajar para participar de um congresso na França, deixou procuraçãopara lançarem seu nome à reeleição, caso fosse necessário. “Ao retornar, dez dias depois,o grupo havia lançado chapa encabeçada por uma pessoa que eu admirava e respeitavamuito. Fizeram isso para me colocar em má situação, porque o doutor Alfredo Cestaritinha sido diretor do Dmae e havia me ajudado muito no início da minha carreira.”

Mas, as duas chapas já tinham sido registradas e foram para o enfrentamento, comvotação em urnas e por correspondência. A chapa de oposição venceu, mas a situaçãoconstatou que não havia carimbo do correio nos votos por correspondência, justamenteonde Heloísa levava desvantagem. “Então, tive que fazer a coisa mais dolorosa: pedir aanulação da eleição.” A comissão eleitoral da Abes-RS indeferiu o pedido, mas o casofoi encaminhado ao Conselho Superior da Abes nacional, que decidiu pela realização denova eleição. E, para deixar claro que não tinha a ambição de ser reeleita, Heloísa acei-tou o lançamento de um candidato de consenso. Foi eleito em chapa única para a ges-tão 1989-1991 o engenheiro Carlos Alberto Santos, da Corsan.

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Logo após esse episódio, houve um congresso em Belém do Pará, com dois mil partici-pantes, durante o qual foi distribuído um panfleto contra Heloísa. A coisa foi tão séria queum representante do Conselho da Abes chegou a pedir moção de desagravo. No entanto, is-so acabou refletindo em favor dela. “Fui convidada para compor a chapa que concorreu evenceu a eleição da Abes nacional. Como diretora, participei da missão brasileira que foi aIquitos, na selva peruana, durante a epidemia de cólera. Fiquei uma semana lá, e fizemos umtrabalho muito importante.” Heloísa também deu consultoria na Secretaria de Saúde de SãoPaulo e foi secretária do Fórum Nacional de Saneamento e Meio Ambiente. Atualmente éconsultora do Conselho Estadual de Saneamento.

CARLOS ALBERTO DOS SANTOS

“A Abes-RS precisa mostrar a cara”Ao assumir a presidência da Abes-RS para o período 1989-1991, o engenheiro Carlos

Alberto dos Santos herdou o acervo da entidade: um armário de madeira marrom com qua-tro portas contendo algumas caixas com documentos e fotos, recolhidos principalmente porAlfredo Cestari e Alpha Teixeira. Como professor da Ufrgs, Santos lecionou disciplinas rela-tivas ao saneamento. Dentro da Corsan, exerceu várias funções, tendo constituído o departa-mento de esgoto da própria empresa, em 1970. E, como técnico, foi superintendente do Pó-lo Petroquímico. Ele lembra que, dos anos 70 aos anos 90, graças ao Planasa, o setor de sa-neamento no Rio Grande do Sul teve grande crescimento, e a Abes-RS pôde reunir profis-sionais da melhor qualificação técnica. “Éramos uma ponte entre a técnica e a política, e onosso objetivo era impulsionar o desenvolvimento do setor de saneamento básico.”

Durante seu mandato, iniciou-se uma ação que se estendeu à gestão seguinte e foi co-mentada por vários anos. “Promovemos um encontro em Santiago para discutir o processode desertificação no Rio Grande do Sul. O pessoal da Universidade Federal de Santa Mariaapresentou estudos que havia feito, e os agricultores da região também participaram. Umdos cientistas mais renomados do Brasil, o Aziz Ab'Saber, foi convidado a visitar o local efez uma palestra excelente.” Além de cursos, encontros, congressos e trabalhos, a Abes-RSprocurava participar na política saneamento básico. “Na época, estava se formando o De-partamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), em substituição ao sistema de coletade lixo anterior, e apoiamos na Câmara Municipal a criação de uma taxa de recolhimentode lixo.” Ele conta que a Abes-RS teve participação intensa nas bacias do Rio dos Sinos edo Rio Gravataí, e atuou no Projeto Rio Guaíba. Outro trabalho intensivo realizado emsua gestão foi no sentido de induzir os hospitais existentes ao longo da Avenida Ipiranga -que eram 23 e hoje são mais - a não despejarem dejetos in natura no Arroio Dilúvio.

“Esse arroio vem lá de Viamão e desemboca no Guaíba, onde também desembocamos esgotos de boa parte da cidade. Quando lecionava na Engenharia da Ufrgs, eu dizia ameus alunos que a estação de tratamento de água do Dmae estava fazendo milagres, por-que captava esgoto para transformar em água potável.” Lembrando uma época em quehavia recursos, e o governo do estado tinha condições de contratar empréstimos, Santoslamenta que, hoje, o estado esteja pobre, e os municípios, carentes. “Essa deficiência aca-ba se concentrando na área da saúde, onde está o setor de saneamento, que antes eraefervescente e agora está sereno, virou política.”

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Segundo Santos, o cultivo de arroz junto aos banhados nas nascentes do Rio Gravataícontinua a poluir a água, e que todos os problemas constatados há mais de 15 anos numestudo hidrossanitário sobre o Rio dos Sinos continuam a existir hoje, só que em escalamaior. “ Em seu discurso de posse, Santos dizia que era preciso aproveitar os erros do passa-do e projetar o futuro com uma postura mais crítica, sob pena de perder o bonde dahistória. Hoje ele afirma que o bonde da história já passou. Em todo caso, antevê uma saí-da: “A Abes-RS precisa interessar quem trabalha no setor, montar seminários, incentivar a popu-lação, mostrar a cara. Se o governo se sentir pressionado, vai buscar recursos para o saneamento”.

PAULO ROBERTO AGUIAR VON MENGDEN

Entendendo os engenheiros e a questão do saneamentoO economista Paulo Roberto Aguiar Von Mengden sempre trabalhou na área de pla-

nejamento financeiro e orçamentário, mas como funcionário do Dmae esteve muitopróximo do pessoal da área de obras, em contato direto com os engenheiros. O que lhetrouxe um conhecimento importante: em se tratando se saneamento, atividades comoeconomia e administração ficam a serviço de um órgão de engenharia. Durante seumandato como presidente da Abes-RS (1991-1993), já se afirmava que cada real aplica-do em saneamento, após três anos, passava a poupar cinco reais em tratamento de saúdeda população. “Isso continua valendo, mas até agora nenhum governo - seja municipal,estadual ou federal, e de qualquer partido político - enxergou o saneamento como umfator de desenvolvimento social.” Von Mengden associou-se à Abes-RS no início os anos80, mas só começou a trabalhar intensamente como voluntário a partir de 1987, levadopelo entusiasmo. Naquele ano, na gestão de Heloísa Fiori, a Abes-RS reuniu em PortoAlegre alguns dos maiores especialistas em água do mundo para um seminário sobre ouso de flúor em águas de abastecimento público.

“Foi um encontro memorável e teve uma repercussão extraordinária. Creio que essefoi o grande envolvimento que a Abes-RS conseguiu aqui no estado em termos de visibi-lidade pública. Fiquei tão entusiasmado que, quando vi, já fazia parte do conselho fiscalnacional da Abes”. Por essa época, o setor de saneamento no Brasil já começava a sentiros efeitos de um processo desencadeado pelo declínio dos investimentos. Em conseqüên-cia, as companhias estaduais diminuíram suas atividades, deixando as empresas do setorum tanto desamparadas. A situação se refletiu na Abes e em suas seccionais, que sofreramintensa crise financeira. Além da crise, muita coisa havia passado na Abes-RS desde ocongresso sobre o uso do flúor. Oposições internas provocaram um impasse que levou àanulação da eleição disputada entre o engenheiro Alfredo Cestari e Heloísa Fiori, que secandidatara à reeleição. A saída foi a apresentação de uma chapa de consenso, lideradapelo engenheiro Carlos Alberto dos Santos, para o período 1989-1991.

Foi um período de baixa: alguns associados se desligaram, e muitas atividades deixa-ram de ser desenvolvidas. Assim, quando, ao final de seu mandato, o engenheiro Santospediu que o amigo organizasse uma chapa para sucedê-lo, Von Mengden, que é funcio-nário do Dmae desde 1969, teve dificuldade em atender. Ao assumir o cargo, em 1991,estava cedido à Corsan, como diretor administrativo. Sua gestão foi de muita dificuldadetambém no campo político. Na época, o governo do estado tinha passado do antigo

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PDS para o PDT, com Alceu Collares. E o PT estava na Prefeitura de Porto Alegre. VonMengden diz que a nova diretoria da Abes-RS recebeu o apoio do então presidente daCorsan, engenheiro Carlos Alberto Petersen, mas não houve a mesma disposição porparte da direção do Dmae, indicada pelo PT. “Na administração do município não haviaespaço para as associações técnicas. E eu, como funcionário municipal atuando numa as-sociação técnica, enfrentei dificuldades de toda ordem.”

Os congressos nacionais da Abes, que eram essencialmente técnicos - com apresenta-ção de trabalhos práticos e acadêmicos, e intensa troca de conhecimentos - sempre tive-ram o apoio da administração estadual e da administração municipal, que enviavam co-mo representantes seus técnicos mais qualificados. “Mas, na gestão do engenheiro San-tos e na minha, esse acordo foi rompido”, lamenta o economista. “Tanto a Corsanquanto o Dmae passaram a ser representados nas atividades da Abes por pessoas quenão tinham nada a ver com o setor. Então, a associação 'ficou na muda', até que as au-toridades se dessem conta de que a Abes não comportava participação político-par-tidária. A política da Abes é a política do saneamento.” Por essa época, começava a ha-ver uma abertura para o campo da engenharia ambiental. Até então, saneamento signi-ficava água, esgoto e alguma coisa de resíduos sólidos. Mas, o mundo inteiro mudava, ea Abes-RS começou a estender um pouco mais amplamente a questão da preservaçãodo meio ambiente e da recuperação ambiental.

Diante disso, os próprios técnicos criaram um programa de qualificação para quemestava entrando no setor. No auditório da Corsan, foram realizadas diversas jornadasde discussões técnicas em que os associados com maior qualificação e experiência fala-vam sobre assuntos específicos, desde recuperação de redes de água até as novas visõessobre saneamento e meio ambiente. “Sob esse aspecto, foi um ganho, mas as dificulda-des financeiras impediram a realização de muita coisa. Afora isso, houve pouca ativida-de”, conta Von Mengden. “A associação só se fazia representar em algumas solenidadesdo setor público, essencialmente aquelas vinculadas à Corsan ou de intercâmbio técni-co-cultural.” Terminado o seu período, Von Mengden afastou-se da Abes-RS, passou aser professor universitário e voltou a trabalhar na área de economia e de engenharia daprodução. Hoje, ele diz que talvez o caminho seja alertar a sociedade para a questão dosaneamento colocando nessa questão uma visão de meio ambiente. “Nas pesquisas quefiz para o mestrado em qualidade ambiental, verifiquei que as pessoas não ligam sanea-mento com meio ambiente. Para a maioria, o problema ambiental está vinculado ape-nas aos resíduos sólidos. Se a Abes puder demonstrar isso, conseguirá resgatar a impor-tância do próprio setor.”

PAULO RENATO PAIM

“A principal função do técnico é informar a sociedade”Num final de tarde do início de 1993, um grupo de engenheiros, reunido no Bar

Vassouras, na esquina da Cristóvão Colombo com a Câncio Gomes, em Porto Alegre,decidiu concorrer às eleições da Abes-RS, a realizarem-se naquele ano. Sentados à me-sa, estavam Paulo Renato Paim, da Metroplan, Márcio Freitas, Ellen Pritsch e ZenoSimon, da Corsan, que representavam um grupo maior de associados interessados em

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abrir a Abes-RS para a sociedade. Queriam romper o binômio água-esgoto, que con-centrava a atenção e os recursos do saneamento. Era preciso incluir os resíduos sóli-dos, a drenagem urbana e o controle da poluição no conceito de saneamento ambien-tal vigente entre os associados. O grupo também planejava entusiasmar e envolver asempresas do setor no sentido de colocar ao alcance da sociedade gaúcha as questõesrelativas ao saneamento. Não bastava produzir conhecimento, era preciso colocá-loao alcance da população. “Não podíamos continuar mostrando o conhecimento acu-mulado apenas para nós mesmos, nos encontros e congressos”, diz Paim. Como enge-nheiro, ele não tem dúvidas de que a função do técnico é informar a sociedade. “Adoutrina da legislação dos recursos hídricos no Brasil coloca o técnico num papel quea maioria dos meus colegas técnicos considera como sendo de 'mero informante dasociedade'. Mas que 'mero' é esse? Repassar o conhecimento adquirido é o grande pa-pel dos técnicos da área de saneamento ou de qualquer outra área.”

Paim foi eleito para a gestão 1993-1995 e reeleito para 1995-1997. Ele consideraque sua gestão foi claramente de rompimento da tradição e de abertura da Abes-RSpara a sociedade. “Expor essas coisas não significa desmerecer as diretorias anterio-res, o trabalho que elas realizaram foi importante, mas precisava ser modernizado.”Como exemplo dessa modernização, ele cita a criação da Semana da Água, idéia tra-zida em 1994 pela jornalista Cecy Oliveira, e que atualmente já produz mais de mileventos no início de outubro de cada ano, com a parceria de mais de 150 entidades.A atividade intensa agradou aos associados, criando um ambiente de camaradagementre os participantes: as reuniões-almoço passaram a ser realizadas de 15 em 15 diase eram, ao mesmo tempo, eficientes e divertidas. De um lado, tratavam de assuntossérios e eram produtivas, cheias de discussões e de propostas; de outro, havia muitaconfraternização.

O trabalho iniciado pelo grupo liderado por Paim teve continuidade com as admi-nistrações seguintes. Alexandre Bugin, também presidiu a Abes-RS por dois períodos(1997-1999 e 1999-2001). “Por ser empresário, ele conseguiu dar profissionalismo àentidade”, diz Paim. “Sem mexer no processo anterior, Bugin conseguiu qualificar aAbes-RS do ponto de vista de infra-estrutura e de consolidação de logística.” Maria Lú-cia Coelho Silva, que veio depois, completou esse trabalho. “Foi na gestão dela que aAbes adquiriu a sede própria e avançou na consolidação técnica. Nesses 12 anos, cum-primos um ciclo dentro da Abes-RS, que deve avançar agora na administração do Ge-raldo Portanova Leal.”

Paim diz que agora a entidade deve continuar discutindo os aspectos técnicos clás-sicos do saneamento ambiental, mas tem que avançar no sentido do uso das ferramen-tas de gestão com qualidade em todos os setores, não apenas água e esgoto. “Avançarpara a indústria, para a gestão de recursos hídricos, para o uso da água nas lavouras ir-rigadas. Trazer para cá o que existe de top, gerencial e tecnológico, no mundo.” Ele es-pera que esse avanço leve a Abes-RS a dar um salto que a leve a se transformar na enti-dade que vai capacitar a sociedade gaúcha em temas de sua natureza, ajudando a for-mar cidadãos. E quando se trata de mudar atitudes em relação ao ambiente natural,Paim considera importante haver também uma mudança de olhar: “Temos que deixarde ver o empresário como bandido, precisamos chamar a atenção dele como cidadãoque tem co-responsabilidade social”.

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ALEXANDRE BUGIN

“Nossas posições não são de radicalismo”O engenheiro agrônomo e empresário do setor de saneamento Alexandre Bugin presi-

diu a Abes-RS em dois períodos (1997-1999 e 1999-2001), trazendo sua visão de em-preendedor. Na gestão dele a associação começou a promover congressos que, além de seruma forma de partilhar tecnologias e capacitar os profissionais do setor, também servirampara arrecadar fundos. Um exemplo disso foi a realização do XXVII Congresso Interameri-cano de Engenharia Sanitária e Ambiental, que reuniu 3.000 pessoas em Porto Alegre sobo lema “As Américas e a ação pelo meio ambiente no milênio”. Um sucesso em prestígio:vieram especialistas do setor de saneamento ambiental do mundo inteiro. Um sucesso emarrecadação: na gestão seguinte a Abes-RS pôde comprar a sede.

Ao assumir a presidência pela primeira vez, em 1997, Bugin decidiu, estrategicamente, quea associação estaria presente em todos os comitês de bacia, grupos formados por organizaçõesda sociedade civil, com a participação do governo, para coordenar o gerenciamento dos recur-sos hídricos de determinada bacia hidrográfica. “Hoje não participamos de todos os comitês,mas praticamente temos representação em todos. E, quando se fala em Abes-RS em locais on-de se reúnem os conselhos de gerenciamento de bacias hidrográficas, as pessoas tratam com re-speito.” Segundo Bugin, isso se deve à seriedade com que a Abes vem realizando seu trabalho,às contribuições e sugestões que traz aos fóruns de discussão que abre internamente e às câma-ras técnicas que promove, com a participação de profissionais de outras áreas. Tanto que pes-quisadores fazem questão de publicar seus trabalhos dentro da entidade. Também é normalque numa reunião de determinada secretaria estadual haja diversos associados da Abes-RS.

Com Bugin, a Abes-RS participou e contribuiu em questões novas e promoveu eventosimportantes que impressionaram pela qualidade técnica: cursos, congressos, capacitação nosetor de saneamento no estado. “Discutimos questões como Resíduos Sólidos, celebramoso Dia Interamericano do Ar, criamos o Simpósio Internacional de Qualidade Ambiental.”E a associação passou a integrar conselhos, comissões e grupos de trabalho. “Fomos chama-dos para ajudar a formular a política de saneamento do estado e para elaborar o Sistema Es-tadual de Recursos Hídricos. E contribuímos para a formulação do Código Estadual doMeio Ambiente. Alexandre Bugin diz que a Abes é uma associação aberta, que participa detodas as reuniões a que é convidada. “Nossas posições não são de radicalismo. Procuramosaliar as questões de interesse da sociedade civil às melhorias técnicas do setor.”

Sobre a celebração da Semana da Água durante o governo Olívio Dutra, o empresáriodiz que administração estadual entendeu que deveria participar no mesmo nível de organi-zação e coordenação da Abes-RS, e que poderia desenvolver muitas das ações que estavamsendo repassadas à associação. “Naquele momento, decidiu-se que se poderia trabalhar des-sa forma. Até porque, para fazermos todo esse trabalho, necessitamos recursos do governodo estado. Mas a Abes-RS sempre participou dos momentos decisórios e nunca perdeu ocontrole do evento. Tanto é que não houve nenhuma mudança depois. E no período se-guinte algumas ações que o governo deveria executar acabaram voltando para a Abes-RS.”Bugin lembra que a Semana da Água, organizada pela Corsan, é independente da Corsan.“A Corsan só estrutura, e nós fazemos a articulação, adequando e centralizando o evento.O que houve, no período, foi uma divisão da responsabilização, com alguma coisa a maisde responsabilidade dos eventos do governo pelo próprio governo.”

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MARIA LÚCIA COELHO SILVA

“Temos consciência de que precisamos agir imediatamente” No começo da década de 80, quando a engenheira química Maria Lúcia Coelho

Silva entrou para a Abes-RS, a associação era mais forte em água e esgoto, mas prati-camente não existiam estações de tratamento de esgoto no estado. “Foram feitos mui-tos planos, mas pouco foi executado. A grande preocupação era com o abastecimentode água, ficando de lado o tratamento de esgoto e a destinação dos resíduos sólidos.”Nessa época, as questões relativas ao meio ambiente estavam ganhando visibilidade,embora se falasse nisso desde a Conferência de Estocolmo (1972). “Em Estocolmo, odiscurso brasileiro era de desenvolvimento a qualquer custo, mas na década de 80 jáestava sendo criado o Conselho Nacional de Meio Ambiente, definindo regras, elabo-rando uma política para o setor com a participação da sociedade.”

Dentro da Abes e de suas seções estaduais, recorda Maria Lúcia, havia um grandeesforço no sentido de que se passasse a atuar também na área ambiental, o que viria aacontecer oficialmente em 1987, quando a Abes passou a se chamar Associação Brasi-leira de Engenharia Sanitária e Ambiental. “Técnicos de órgãos ligados ao meio am-biente começaram a participar, como a engenheira Marisa Bertoncello, já falecida,que trabalhou muitos anos dentro da associação. E mesmo quando a associação seocupava principalmente de saneamento básico, profissionais de outras áreas passarampela diretoria, como Júlio Rubbo e Telmo Bins. Muitos professores universitáriostambém participaram, como Eurico Trindade Neves, Amadeu Rocha de Freitas e Jor-ge Ossanai, que era médico e foi o criador da Coordenadoria de Controle do Equilí-brio Ecológico, hoje, Fepam.”

Maria Lúcia diz que a briga interna que resultou na anulação da eleição em 1989enfraqueceu a associação. Até as atas, que vinham sendo guardadas com cuidado, so-freram com isso, e muitos registros se perderam. “No ciclo iniciado em 1993 com aeleição de Paulo Renato Paim, a Abes-RS voltou a se fortalecer e mostrou seu conheci-mento científico para a sociedade, promovendo eventos, como a Semana da Água, einfluenciando na criação da Lei de Recursos Hídricos do Estado do Rio Grande doSul.” Ela considera que, no geral, a situação do saneamento ambiental tem melhoradopouco. Com a diferença de que hoje se tem mais consciência de que perdemos muitasdécadas sem fazer nada e de que precisamos fazer alguma coisa imediatamente.

Nesse sentido, é imprescindível a comunicação com os associados e com a sociedade.Além dos cursos, dos eventos técnicos e da mobilização social que promove com regulari-dade, a Abes-RS mantém uma assessoria de comunicação atuante e um site com boletinsperiódicos na Internet. No entanto, a possibilidade de produzir um jornal impresso dirigi-do tanto ao público interno quanto ao público externo ainda está em estudo.

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GERALDO PORTANOVA LEAL

“Todos juntos ainda podemos reverter esta situação”O químico Geraldo Portanova Leal, da Corsan, recém-empossado para mais dois anos

na presidência da Abes-RS, diz que a caminhada da associação passou primeiro pela cons-trução de uma cultura própria em busca do bem-estar coletivo. No início, pensando no sa-neamento básico; depois, agregando a questão do ambiente. Mas, a ênfase que então foidada ao setor ambiental acabou fazendo com que se discutisse muito mais os temas relati-vos a resíduos sólidos e ao ar, deixando um pouco de lado as questões ligadas a água e esgo-tos, embora esse ainda seja o tema principal.

“O que fundamenta as ações da associação é a questão da capacitação profissional dosassociados e a construção de uma consciência coletiva em relação à importância de preser-var o ambiente natural. Passamos muito tempo sem nos preocupar com a questão da sus-tentabilidade em relação ao tempo em que estamos atuando para modificar essa situação. Eé muito mais difícil reconstruir do que conservar.” Em se tratando de resíduos sólidos, aquestão primeira é minimizar sua produção, visando a causar menos impacto no ambiente,afirma o químico. Ele diz que, embora se saiba que resultados plenos ainda vão demorar, jáse nota a diminuição da velocidade com que vinha sendo degradado o meio-ambiente. Eque isso se deve em parte a novas medidas e atitudes dos governos e dos cidadãos, mesmoque aparentemente inócuas ou pouco importantes.

Para exemplificar, ele cita a determinação do governo do estado de São Paulo de que80% da colheita da cana-de-açúcar estejam mecanizados até 2010, evitando as queimadaspré-colheita. E o fato de que, na Europa, já é comum as pessoas levarem suas próprias saco-las para trazer as compras do supermercado. “No ano passado fizemos uma pesquisa emque cerca de 80% dos entrevistados responderam que costumam fechar a torneira enquan-to escovam os dentes. Em contrapartida, 60% admitiram que ainda lavam o carro usandomangueira em vez de balde, o que economizaria água. Mas isso demonstra que as pessoasestão começando a mudar seus hábitos em favor do equilíbrio ecológico, e indica que deve-mos continuar trabalhando no sentido de mudar a cultura e conscientizar a população.”Com relação ao futuro, ele se mostra otimista. “Eu não prego a teoria do caos, embora emsituações extremas fique mais fácil conscientizar e unir as pessoas. Acho que cada um podeajudar, e todos juntos podemos reverter a situação. É uma luta diária, não apenas para con-vencer os outros a mudarem de atitude, mas também para convencermos a nós mesmos.”

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IN MEMORIAM

Seis ex-presidentes da Abes-RS já faleceram. Waldemar Pinheiro Cantergi,

José Joaquim de Assumpção Neto, Nelson Torrano dos Santos, Drayton Inácio da Silva,

Herculano Floriano Carneiro Pinto e László Böhm serão sempre lembrados por sua

dedicação à associação e por seu trabalho em defesa do saneamento ambiental no

Rio Grande do Sul. Este livro também é uma homenagem à memória deles.

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A gestão no setor de saneamentoEllen Pritsch, vice-presidente da Abes-RS

Ao longo de sua história, a Abes registrou significativas vitórias para o setor. Esteve pre-sente em todas as campanhas nacionais para melhorar o grave quadro sanitário do país. Acriação do Comitê Nacional de Qualidade da Abes (CNQA) e o seu principal instrumen-to, o Prêmio Nacional de Qualidade em Saneamento (PNQS), não podem ser vistos forado contexto em que o setor de saneamento esteve nos últimos anos.

Em 1985, com o fim do Planasa, uma nova polêmica tomou conta da agenda setorial:qual seria a melhor forma de fazer a prestação dos serviços de saneamento, por meio dasempresas concessionárias estaduais ou diretamente pelos entes municipais? Essa discussãotomou conta do setor no final dos anos 80. No início dos anos 90, um novo elemento foiintroduzido: a iniciativa privada deveria participar da gestão desses serviços? O que aconte-ceu na Abes, particularmente nesse momento, é que um grupo de técnicos e dirigentes dediversos estados do Brasil entenderam que essa discussão estava com o foco errado. A pautadeveria ser encontrar uma solução para ajudar o setor a trabalhar de forma mais eficiente,seja da iniciativa pública ou privada, operado por empresas estaduais ou órgãos municipais.

O Prêmio Nacional deQualidade em Saneamento possibilitou a qualificação de técnicos brasileirosno exterior

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Fruto dessa discussão, nasceu, em 1995, o CNQA, com o objetivo de promover e in-centivar a melhoria da gestão no setor. O grupo de profissionais e técnicos que formava oComitê entendia na época e continua entendendo que o principal problema do setor de sa-neamento não é o de escassez de recursos hídricos, financeiros ou tecnológicos, mas sim defalta de um gerenciamento adequado e eficiente. Este projeto objetiva estimular a busca e aaplicação de práticas de gestão “classe mundial” pelas organizações envolvidas com o setorde saneamento ambiental do país, reconhecer as organizações que se destacam pela utiliza-ção dessas práticas e que apresentam resultados superiores de desempenho, além de promo-ver eventos de capacitação gerencial para essas organizações.

O PNQS possibilita a mobilização contínua das equipes de trabalho, uma vez que in-centiva a elaboração de planos de ação gerencial para cumprir e superar as metas estabeleci-das pelos indicadores do Guia de Referência para Medição do Desempenho (GRMD). Acriação de um Guia de indicadores foi uma grande conquista para o setor, que tinha tantasdificuldades em comparar-se, pois não possuía um sistema de medição organizado epadronizado. Estes indicadores foram sendo aperfeiçoados desde a sua criação e servematualmente como um banco de dados para todo o setor de saneamento.

São atualmente oito os critérios de excelência do PNQS e que estão perfeitamente ali-nhados aos prêmios de gestão mundiais. Nestes oito critérios são examinados o sistema deliderança da organização e o comprometimento pessoal dos membros da direção no estabe-lecimento, disseminação e atualização de valores, e princípios organizacionais que promo-vam a cultura da excelência, considerando as necessidades de todas as partes interessadas.Também é visto como é implementada a governança, como é analisado o desempenho daorganização e como são executadas as práticas voltadas para assegurar a consolidação doaprendizado organizacional. O principal desafio do setor de saneamento é a universalizaçãodesses serviços. Para isso, se faz necessária a aplicação de investimentos suficientes e de for-ma contínua dos três níveis da Federação; a qualificação do gasto público, com a eficiênciana aplicação dos recursos do saneamento; e a criação de mecanismos para evitar que essesrecursos sejam desviados. Outro aspecto fundamental diz respeito à mudança na gestão, afim de aumentar a eficiência econômica e social da prestação dos serviços, que devem serconcebidos de forma a atender progressivamente a população que hoje não é atendida pe-los serviços públicos de saneamento básico. O desafio é fazer com que os serviços cheguemprioritariamente às populações de baixa renda, que não podem suportar integralmente oônus das tarifas, sejam as de comunidades isoladas, sejam as das periferias das grandescidades. Esse novo modelo de gestão do saneamento básico deve ter por base a construçãode uma política pública por meio da qual o poder público reconheça a sua responsabilida-de e garanta do direito à salubridade ambiental. A instituição do PNQS contribuiu nestesdez anos para o avanço das políticas e da gestão do saneamento no Brasil, pois a sua eficiên-cia é essencial e fundamental para a qualidade dos serviços públicos, no tocante, ao desafioda universalização do acesso ao saneamento.

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Desenvolvimento sustentável, tarefa de todos os cidadãos Isaac Zilberman, engenheiro, membro do conselho diretor da Abes e diretor da Dicsa/Aidis

A urbanização vem crescendo exageradamente desde o final da Segunda Guerra Mun-dial, e ainda não temos certeza de que o planeta conseguirá suportar esta tendência. Em1950, 30% da população mundial viviam em áreas urbanas; no ano 2000, essa cifra passoupara 47% do total, e estima-se que neste ano de 2007 os atuais 6,5 bilhões de habitantes daTerra se dividam igualmente entre o campo e cidade. Para 2015 a expectativa é que 60%da população já estejam vivendo nas cidades. Serão 7,8 bilhões de pessoas, aglomeradasprincipalmente em 33 megacidades, 27 das quais situadas em países em desenvolvimento.E uma das características dessas megacidades é a existência de relação inversa significativaentre o produto bruto per capita e a taxa de crescimento populacional. Ou seja: as cidadesgrandes dos países mais pobres crescem muito mais rapidamente que suas similares nomundo industrializado.

Os dados não são confiáveis, mas sabe-se que no início do século XXI , Tóquio era amaior aglomeração urbana (26,4 milhões). A seguir, vinham: Cidade do México (18,1 mi-lhões), Mumbai (18,1 milhões), São Paulo (17 milhões) e Nova York (16,6 milhões), en-quanto Buenos Aires, Caracas, Bogotá, Los Angeles e Houston estavam por alcançar cifrassimilares. Pois, em 2015, o ordenamento previsto para as megacidades deverá ser: Tóquio,Dacca, Mumbai, São Paulo, Nova Delhi, Shangai e Cidade do México, todas com mais de20 milhões de habitantes. As novas tecnologias buscam melhorar o nível de vida nas cida-des, integrando-as no ciclo ecológico, mas o aumento descontrolado da população traz sé-rias ameaças econômicas aos conglomerados urbanos, como o aumento da demanda deserviços, o aumento dos problemas de saúde relacionados com o ambiente, o risco de con-taminação em grande escala por meio de resíduos sólidos e líquidos.

Atualmente, os maiores problemas são a poluição atmosférica e hídrica, e a degradaçãodo solo, que provocam mudanças climáticas, buracos na camada de ozônio, desertificação ediminuição da biodiversidade. Esse desequilíbrio, criado e ampliado pelos humanos e suasatividades ao longo do tempo, necessita ser enfrentado e resolvido de maneira sustentável.Cabe aos técnicos alertar a sociedade, de maneira a criar uma consciência coletiva, pois essatarefa não é exclusiva dos governos, senão de todos os cidadãos.

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Resíduos sólidos, um desafio para os administradoresJussara Pires, socióloga, secretária da Abes-RS e membro do conselho diretorGeraldo Antônio Reichert, engenheiro

A gestão e o gerenciamento dos resíduos sólidos desafiam administradores, gerentes e técnicos deempresas privadas e instituições públicas neste terceiro milênio. Cresce, a cada dia, a geraçãoper capita de resíduos sólidos no Brasil, resultado de um modelo de produção e consumo calcado naprodução de bens e serviços descartáveis e uso excessivo de embalagens. Junte-se a isto os novos resí-duos, muitos deles perigosos, como eletrônicos, pilhas, baterias e lâmpadas fluorescentes. Os princí-pios da precaução e da responsabilidade do gerador, consagrados na legislação brasileira e gaúcha,orientam indústrias e serviços de saúde na busca da minimização da geração, manejo diferenciado etratamento adequado de seus resíduos sólidos. Nesta área, o Rio Grande do Sul apresentou boas ex-periências de melhora nos últimos anos.

Os resíduos sólidos urbanos continuam merecendo uma atenção especial em nosso estado. Cercada metade ainda não tem destino final adequado, e é muito baixo o índice de reciclagem, em particu-lar da fração orgânica. Destaque-se que o setor de limpeza urbana representa de 5% a 20% do orça-mento total dos municípios. Resíduos sólidos é um setor fundamental do saneamento básico. Combase nisto, a Abes-RS criou, em novembro de 1998, sua Câmara Técnica de Resíduos Sólidos(CTRS), caracterizada pela multiplicidade de formações e experiências profissionais de seus compo-nentes. Disto resultou uma atuação diversificada, integrada e transdisciplinar, com destaque para a qua-lificação de profissionais e gestores, apoio às associações de catadores e ações de educação ambiental.

Uma das grandes lacunas do setor foi, e continua sendo, a falta de profissionalização e de treina-mento dos recursos humanos. Em vista disto, mais de 30 cursos sobre o tema “resíduos sólidos” fo-ram promovidos ao longo destes nove anos, além do VI Seminário Nacional de Resíduos Sólidos,em 2002, e do I Congresso Interamericano de Resíduos Sólidos Industriais, em 2004. A questãodos catadores de materiais recicláveis também não passou despercebida. A CTRS promoveu discus-sões para tirar posições sobre o tema, aproximou-se das associações de catadores existentes no estado,apoiando a realização de programas de formação e buscando formas adequadas de inseri-los nos sis-temas municipais de limpeza urbana.

Fruto desta proximidade, a Abes-RS foi escolhida Secretaria Executiva do Fórum Estadual Lixoe Cidadania e parceira da Copesul para a implementação de projeto de responsabilidade social.Destacam-se como resultados desta parceria, a publicação do Guia das Associações de Recicladores doRio Grande do Sul 2005 e a implementação de melhorias nas associações de triagem. Em 2003, acei-tamos o desafio da Aidis e da Opas de promover o Dia Interamericano de Limpeza e Cidadania(DíaDeSol). Foi lançado o projeto “Um dia sem Lixo”, com o objetivo de mobilizar a sociedade emtorno da redução na geração de resíduos. Formaram-se diversas parcerias e, desde 2005, promove-sena celebração pela data a Feira de Atividades Educativas e o ciclo de palestras “Resíduos Sólidos: res-ponsabilidade de todos nós”.

A CTRS tem sido conselheira da Diretoria nas questões relativas aos resíduos sólidos, comprometi-da com os temas mais atuais e relevantes do setor. Neste momento, comemoramos os avanços obtidosnos 40 anos de Abes-RS, em especial nesta última década de atuação da CTRS. Entretanto, novos de-safios se colocam aos profissionais que compõem a associação, como a busca de modelos sustentáveisde geração de resíduos, baseados na minimização da geração e na maximização do reaproveitamento eda reciclagem, passando pelo consumo consciente e o projeto ecológico de novos produtos.

Associe-se a nós nesta causa. Afinal, somos todos filhos desta Terra!

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Comunicação: instrumento estratégico para o setor de saneamento ambiental Maria de Lourdes da Cunha Wolff, jornalista, diretora de comunicação social da Abes-RS

O avanço tecnológico no mundo da informação nos leva a uma reflexão sobre comoproceder para atingir o segmento da sociedade no qual estamos inseridos. Dentro de umainstituição, seja pública ou privada, a comunicação é instrumento estratégico na transmis-são da informação e do conhecimento ao público a que está vinculada. A comunicação éprimordial numa instituição como a Abes-RS, que tem como missão contribuir, através doconhecimento dos seus associados, para a melhoria da qualidade de vida da sociedade, con-gregando as empresas públicas e privadas e os profissionais que atuam na área de sanea-mento ambiental. Transmitir a informação e o conhecimento de forma precisa e rápida ecom linguagem acessível tem sido o grande desafio da comunicação. Esses elementos de-sempenham um papel importante na construção da cidadania e na mudança do cenárioambiental. Mas, para isso, é necessário traduzir a linguagem técnica utilizando todos os ins-trumentos dentro do universo da comunicação e otimizando os recursos disponíveis comvistas a plenitude do processo.

Diante a desse cenário, cada vez mais as instituições necessitam ter uma política de co-municação bem definida, com objetivo e metas claras que permeie por todos os segmentosde público no qual está inserida. Essa contribuição à difusão do conhecimento na área desaneamento ambiental é dirigida tanto ao quadro social quanto aos técnicos das instituiçõespúblicas e privadas, e também à sociedade. Hoje as organizações não-governamentais ocu-pam um espaço importante na formação da opinião pública. Por isso, cada vez mais tem si-do valorizada a interlocução entre essas organizações e a população. Nesse sentido, desdesua fundação, a Abes-RS sempre esteve na vanguarda, divulgando o conhecimento técnicoatravés da promoção de cursos, palestras, seminários, congressos e outros eventos que mo-bilizaram empresas públicas e privadas, produzindo impacto junto ao público.

Por outro lado, os profissionais da área de sanamento ambiental reconhecem a im-portância da comunicação como uma grande aliada na implementação de projetos eações vinculados ao setor, sendo uma ferramenta indispensável. A agilização do processode comunicação a partir do avanço da tecnologia estimula a participação da sociedade eoportuniza a transmissão do conhecimento técnico e científico. Outro fator importanteda comunicação é o poder de promover a mobilização social, despertando o interesse docidadão em participar de atividades, como as defendidas pela Abes-RS visando à susten-tabilidade e a qualidade de vida.

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Mobilização social para quê?Paulo Renato Paim, engenheiro civil, membro do conselho consultivo da Abes-RS

Ao longo desta última década e meia, é crescente a convicção da necessidade de mobili-zação e de participação social na construção de políticas públicas, particularmente na áreaambiental. No Rio Grande do Sul, a Abes tem um lugar privilegiado na inserção desse te-ma no meio técnico e se constituiu na primeira instituição da organização social do RioGrande a promover, não só o debate, mas muito especialmente ações práticas com o obje-tivo de romper o tecnicismo, a prepotência e a ineficácia das políticas pública estruturadasmuito ao largo dos atores envolvidos ou responsáveis por sua implantação no cotidiano davida brasileira. Bem, então estamos prontos! É consenso que “se eu não participo da mon-tagem de uma regra de comportamento, com ela não me identifico e, portanto, sinto-metentado a descumpri-la”.

Não! Ainda estamos muito longe desse consenso. Ainda não temos clareza dos motivosreais que nos levam a mobilizar a sociedade em torno de um tema. Ainda não sabemosquando e como mobilizar e muito menos qual o produto real desse processo. Ou seja, mo-bilizar para quê? Nós, técnicos de maneira geral e, no caso da Abes, técnicos da área do sa-neamento ambiental, ainda estamos, por um lado, muito cuidadosos em preservar nossosaber científico como forma de não perder o poder inerente a quem detém o saber, e poroutro, sem o conhecimento das técnicas e da melhores condições para transpor esse saber àsociedade e ao cidadão. Também não sabemos o que fazer e como considerar o saber social,o saber do cotidiano da sociedade, na formulação técnica das políticas públicas na área dagestão ambiental. Na prática muito se tem usado a mobilização social como instrumentopara reduzir a participação social a um ouvir a sociedade.

Ao longo desses últimos quinze anos, a Abes, principalmente através da Semana Intera-mericana da Água, tem promovido a mobilização social com o objetivo claro da participa-ção do cidadão e dos grupos sociais como atores sujeitos da própria história. Talvez esteja aía chave do processo de mobilização social na construção e na implantação de políticas pú-blicas ambientais. A palavra ambiente pressupõe as singularidades, as identidades e a diver-sidade cultural, condicionando a noção de pertencimento e territorialidade à convivênciaao mesmo tempo cidadã e coletiva num mesmo território geográfico. O processo de mobi-lização social com vistas à participação cidadã precisa investir na valorização dos circuitosinformais e cotidianos da construção do saber social. Ninguém nasce sujeito-cidadão, nostornamos cidadãos. Mobilizar para a participação no processo de gestão ambiental significafacilitar a construção coletiva de uma ecologia cultural baseada no debate coletivo em tornodas formas de revitalização de ambientes deteriorados e de conservação de ambientes equi-librados, sob a ótica da singularidade dos diferentes grupos sociais.

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Recursos hídricos, responsabilidade de todosSidnei Gumão Agra, engenheiro, diretor da Abes-RS e coordenador da câmara técnica de Recursos Hídricos

O domínio público para todas as águas do país determinado na Constituição Federal de1988 representa um importante marco legal para a gestão deste bem precioso e apresenta umgrande desafio: o da gestão compartilhada. A partir de 1988, Estados e União foram definindosuas políticas de recursos hídricos. A Lei Federal no 9.433, de 8 de janeiro de 1997, define tal po-lítica no âmbito brasileiro. No Rio Grande do Sul, a Constituição Estadual de 1989 e a Lei Esta-dual das Águas (Lei Estadual no 10.350, de 30 de dezembro de 1994) trazem o marco legal einstitucional para a gestão das águas sob o seu domínio. Ao analisarmos o arcabouço legal dispo-nível, mais dois desafios vêm à tona: a implementação dos conceitos legais, muito bem funda-mentados; e o compartilhamento da gestão ambiental com a gestão de recursos hídricos, quepressupõe uma estreita articulação entre órgãos ambientais e órgãos gestores de recursos hídricos.Os princípios legais que norteiam a gestão de recursos já estão bem inculturados no conhecimen-to relativo a gestão ambiental: gestão pública, bacia hidrográfica como unidade de planejamentoe gestão, gestão descentralizada e participativa, entre outros; porém há muito o que se avançar naconsolidação e implementação de tais práticas. A Abes tem muito a contribuir para este processo.Num primeiro momento, pode-se pensar na atuação da Abes, enquanto instituição, intervindodo processo participativo, firmando parcerias com os órgãos públicos, promovendo eventos dediscussão, formação e educação ambiental sobre o tema.

Outro papel importante tem o sócio da Abes-RS, pois a gestão é conduzida por pessoas, mes-mo que representando instituições. E muitos dos gestores públicos da área de recursos hídricos, as-sim como os da área ambiental e de saneamento, são sócios da Abes-RS. Também os profissionaisque atuam nos ramos privados deste setor (projetistas, consultores, empresários, professores, entreoutros) têm vinculação com a Abes, e no seu exercício profissional devem atuar de forma condi-zente com os princípios que defendem quando da atuação coletiva. A Abes-RS tem forte atuaçãono apoio à implantação do Sistema Estadual de Recursos Hídricos (SERH). Desde os primórdiosdo sistema, quando da formulação do artigo constitucional e da Lei Estadual, a Abes-RS, atravésde seus sócios, estava envolvida no processo. Belo exemplo desta atuação é a Câmara Técnica deRecursos Hídricos (CTRH) da Abes-RS, que coordena a ação da associação nas atividades relacio-nadas ao tema, sobretudo na promoção de debates quanto aos avanços necessários para o SERH.

A CTRH reúne todos os representantes da Abes-RS nos Comitês de Bacia no estado. Atual-mente a Abes tem representação em nove comitês: Gravataí, Sinos, Caí, Taquari-Antas, Pardo, La-go Guaíba, Vacacaí e Vacacaí-mirim, Camaquã e Tramandaí; sendo que já participou da direçãode seis deles: Tramandaí, Lago Guaíba, Sinos, Vacacaí e Vacacaí-mirim, Gravataí e Caí. A Abes-RSparticipa, ainda, do Grupo de Trabalho de Águas Subterrâneas da Câmara Técnica do Conselhode Recursos Hídricos do Rio Grande do Sul. Finalmente, seria impossível falar da atuação daAbes-RS em relação a recursos hídricos sem falar na Semana da Água, que vem sendo organizadano Rio Grande do Sul há quase 15 anos pela associação, sempre celebrada em outubro, junto como Dia Interamericano da Água. Em suas últimas edições, a Semana da Água tem reunido cerca de150 entidades em mais de mil eventos espalhados por todo estado. Tudo isso mostra o grau decomprometimento da Abes-RS com o SERH, destacando sua atuação constante na busca da im-plementação de seus instrumentos. Pois a Abes-RS acredita que assim será possível avançar na con-solidação deste importante sistema público de gestão de um bem fundamental à vida: a água.

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Diretorias da Abes-RS de 1967 a 2007No dia 2 de abril de 1967, o químico da Secretaria de Obras Waldemar Pinheiro Can-

tergi reuniu os associados da Abes-RS em assembléia-geral para a primeira eleição na novaentidade. Antes, porém, era preciso decidir que estrutura de diretoria adotar: a estrutura rí-gida sugerida pela Abes a suas seccionais (sete cargos na diretoria e três no conselho fiscal);ou um formato regional, mais elástico, que afinal prevaleceu. Para a eleição, apresentou-seapenas uma chapa, que foi eleita por aclamação, o que se tornaria comum dali em diante.

A maioria das 22 diretorias da Abes-RS nesses 40 anos é constituída por engenheiros e,por isso, na relação a seguir, não terão indicação profissional. Muitos vão aparecer com fre-qüência em diferentes cargos dentro da Abes-RS, muitos terão destaque no setor público,como dirigentes, professores ou em outras funções. Todos dedicaram parte de suas vidas aosetor de saneamento e ao meio ambiente.

1967-1969 José Joaquim de Assumpção Neto - Nelson Torrano dos SantosA primeira diretoria eleita era liderada por José Joaquim Assumpção Neto, tendo como

vice-presidentes Leopoldino Aguiar Borges e Nelson Torrano dos Santos. Os demais com-ponentes da chapa foram Paulo Giorgis Perez; Alberto Melchiona (químico), László GyozoBöhm, Geraldo Percher; Adolpho Cantergi, Alfredo Cestari, Oscar H. Feijó, WernerSchnardorf, Paulo Hiram de Oliveira e Paulo Chaves (cirurgião-dentista).

Em 1968, o presidente José Joaquim de Assumpção Neto foi transferido para outra ci-dade, deixando em seu lugar o segundo vice-presidente, José Torrano dos Santos, que foiaté o fim da gestão.

1969-1971 Drayton Ignácio da SilvaA 6 de maio de 1969, a assembléia da Abes-RS elegeu como presidente Drayton Igná-

cio da Silva. Seus companheiros de chapa eram: Carlos Alberto dos Santos, Paulo GiorgisPerez, Rubens Antonio Arona Bell, Nereu Burigo, Alceu Jerônimo Barbosa Lopes (arquite-to), Alfredo Cestari, Mozart Barcellos, Paulo Chaves (cirurgião-dentista), Werner Schnarn-dorf, László Gyozo Böhm, Paulo Hiram de Oliveira e Adilson Serôa da Motta.

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1971-1973 José Irany FrainerA diretoria eleita para o período 1971-1973 tomou posse no dia 7 de maio de 1971. Na

frente estava José Irany Frainer, seguido por Alcione Zíngano, Ítalo Masuero, Ênio JoãoDaudt (engenheiro-químico), Alvicto Farias, Mozart Barcellos, Nilton Salgado Pereira,Milton Costa, Ernesto Rebouças, Carlos Alberto Rosito, Álvaro Telles Hoffmann, Máriode Souza Gomes, Inácio Batista (engenheiro-químico) e Adilson Serôa da Motta.

1973-1975 Herculano Carneiro PintoA posse da diretoria eleita para o período foi a 13 de julho de 1973. E a nova diretoria,

liderada por Herculano Carneiro Pinto, tinha os seguintes nomes: Nelson Torrano dosSantos, Alpha da Rosa Teixeira (engenheira-química), Alberto Melchione (químico), PauloOtton, Tadeu Dall'Igna, Nilton Fernando da Silva e Sandra Pellin.

1975-1977 Adolpho CantergiA 7 de agosto de 1975, tomou posse a diretoria eleita para o período de 1975-1977. O

presidente Adolpho Cantergi estava acompanhado por Jacob Lerner; Paulo Viana Bopp(arquiteto), Percy Antônio Pinto Soares, Paulo Ardani Siqueira Otton, Tadeu Dall'Igna,Isaac Zilberman, Amadeu da Rocha Freitas, Adolpho Cantergi, Telmo Bins, João AntonioDib e Marcos Barth.

1977/1979 Percy Antônio Pinto SoaresA diretoria eleita para o período 1977-1979 tomou posse a 20 de julho de 1977. O pre-

sidente Percy Antônio Pinto Soares compôs sua chapa com Ítalo Masuero, Isaac Zilber-man, Luiz Gonzaga de Souza Fagundes, Napoleão Rodrigues de Freitas, Tadeu Dall´Igna,Paulo Ardani Siqueira Otton, Adejalmo Figueiredo Gazen, Adolpho Cantergi, Amadeu daRocha Freitas, Bento Roberto de Abreu. Porto, Eurico Trindade Neves, Lászlo GyozoBöhm, Milton Costa, Telmo José Bins e Paulo Viana Bopp.

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1979-1981 Nelson Torrano dos SantosA posse da diretoria eleita para o período 1979-1981 ocorreu no dia 13 de julho de 1979.

Nelson Torrano dos Santos retornou à presidência da entidade, na companhia de Alcione Jo-sé Zíngano, Vladimir Ortiz da Silva, Napoleão Rodrigues de Freitas, Paulo Ardani SiqueiraOtton, Rubens Antonio Arona Bell, Ítalo Masuero, Adejalmo Gazen. Enio João Daudt (quí-mico), Heloísa Helena Pinheiro Fiori (naturalista), Adolpho Cantergi, Alfredo Cestari, Ama-deu da Rocha Freitas, Dorivaldo Drimeyer, Eurico Trindade Neves, Isaac Zilberman, LászloGyozo Böhm, Marcos Barth, Percy Antonio Pinto Soares e o médico Jorge Ossanai.

1981-1983 László Gyozo BöhmNa reunião plenária do dia 13 de março de 1981, convocada especialmente para escolher

a nova diretoria foi eleito presidente Lászlo Gyozo Böhm. Seus companheiros eram Ítalo Ma-suero, Jaime Johnson, Oscar de Souza Trindade, Paulo Fernando Pizzá Teixeira, Miguel Nuc-ci Netto, Marcos Barth, Geraldo Pergher, Luiz Roberto Andrade Ponte, Ennio José Andreaz-za, Alberto Melchiona, Vânia Tereza Vieira dos Santos (farmacêutica), Helena Suzana Leser,Luiz Antonio Timm Grassi, Percy Antonio Pinto Soares, Nelson Torrano dos Santos, EdsonMolina Belo, Eurico Trindade Neves, Vladimir Ortiz da Silva e o arquiteto Júlio Rubbo.

1983/1985 Ítalo MasueroNa eleição seguinte, foi escolhido como presidente da Abes-RS para o período 1983-

1985, Ítalo Masuero, tendo como companheiros de chapa Alcione José Zingano, PauloFernando Pizzá Teixeira, Vladimir Ortiz da Silva, Marco Aurélio de Azambuja, AdolphoCantergi, Arcy Souza da Costa, Nanci Giugno, Nelson Gilberto Mazzotti (engenheiro quí-mico), Napoleão Rodrigues de Freitas, Lászlo Gyozo Böhm, Marcos Barth, Marc PierreBordas, Carlos Alberto dos Santos e Bento Porto.

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1985-1987 Vladimir Ortiz da SilvaCom a eleição para este período foi interrompido o revezamento Dmae-Corsan na pre-

sidência da Abes-RS. Em eleições muito disputadas, foi eleito presidente para o período1985-1987 o engenheiro Vladimir Ortiz da Silva, que não era nem do Dmae nem da Cor-san e sim do DMA (Departamento do Meio Ambiente da Secretaria Estadual da Saúde eMeio Ambiente). Mais tarde, o DMA daria origem à Fepam (Fundação Estadual de Prote-ção Ambiental Henrique Luiz Roessler).

A chapa liderada por Vladimir Ortiz da Silva continha os nomes de Braz AlbertoAmarilho, Adejalmo Gazen, Lídio Aníbal Lopes Nunes, Jair Sarmento da Silva, Pompi-lio Vieira Loguércio, Hamilton Rey Filho, Ellen Martha Pritsch Goettens, João IgnácioSica Gomes, Roberto Moreira Coimbra, José Luiz Dinis Barradas, Paulo Renato Paim,José Américo Macedo Gomes, Oscar de Souza Trindade, Heloísa Helena Pinheiro Fio-ri, Mirian Petersen Cani, Marlene Conceição Zini, Nestor Costa Borba, Nelson Gilber-to Mazzotti, Amadeu da Rocha Freitas, Napoleão Rodrigues de Freitas, Lourenço Mel-chiona e Paulo Fernando Teixeira.

1987/1989 Heloísa Helena Pinheiro FioriPara o biênio 1987-1989, elegeu-se a naturalista Heloísa Helena Pinheiro Fiori, do

Dmae, a primeira mulher a presidir a Abes-RS. Heloísa Fiori teve como companheiros Ri-cardo José Bohrer, Adejalmo Gazen, Jair Sarmento da Silva, José Luiz Diniz Barradas, Ta-deu Dall'Igna, Miriam Petersen Canini, Márcio Rosa Rodrigues de Freitas, Osmar Sá Bri-to, Lídio Aníbal Lopes Nunes, Affonso Barros, Carlos Alberto Barreto Viana Petersen, Flá-vio Adami de Ávila, Clarice Helena Costa Rohnelt, Hamilton Rey Filho, Pedro Paulo To-matis, Alexandre César Beck de Souza, Athos Roberto Albernaz Cordeiro, José Ivan Rodri-gues, Marlene Conceição Zini, Nereu Vieira e Paulo Roberto de Aguiar Von Mengden.

1989-1991 Carlos Alberto dos SantosPara o período 1989-1991, elegeu-se um representante da Corsan, o engenheiro Carlos

Alberto Santos. Em sua chapa estavam Maria Elizabeth Barros Falcão, Elizabeth Santos Sil-va, Sandra Pellin, Pedro Paulo Tomatis, Paulo Roberto de Aguiar von Mengden, ÁureaGiordani, Tadeu Dall'Igna, Pedro Henrique Perna Bronstrup, Atos Cordeiro, AdejalmoGazen e Cecy Glória de Oliveira Hirano.

1991-1993 Paulo Roberto de Aguiar von MengdenA diretoria composta pelo economista Paulo Roberto de Aguiar von Mengden, do

Dmae, reunia Nelson G. Mazotti, Alexandre César Beck de Souza, Geraldo PortanovaLeal, José Ivan Rodrigues, Paulo Pedro Tomatis, E. G. S. da Silva, Maria Elizabethe Falcão,Luiz A. Mombach, Tadeu Dall'Igna, Frederico Guilherme Kayser, Helena Suzana Leser,Miriam Petersen Canini, Nereu Vieira, Paulo M. Kesler, Sandra J. A. Pellin, J. A. da SilvaFonseca, José Ignácio Kaster, José Luiz Diniz Barradas, Luiz Correa Noronha, Sonia M. B.Petersen, W. Lubianca Júnior, Lauro Pilla Grossi, M. C. S. Ekmen, Carlos Alberto dosSantos e Paulo Ardani Siqueira Otton.

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1993-1995 e 1995-1997 Paulo Renato PaimPaulo Renato Paim, engenheiro civil com especialização em saneamento ambiental,

funcionário da Metroplan desde 1979, presidiu a Abes-RS de 1993 a 1995 e foi reeleitopara o período 1995-1997. Na primeira gestão, Paim estava acompanhado por PompílioVieira Loguércio, Edson Fernando Ferreira, Ellen Martha Pritch Goettems, Luís AntônioAbreu Lima da Rosa, Paulo PedroTomatis, Cecy Gloria Oliveira Hirano, Márcio Rodri-gues de Freitas, J. G. Weber, Mariângela Laydner, Carlos Roberto Cavalheiro, Luiz CorreaNoronha, Marco Aurélio Figueiredo, Adejalmo Figueiredo Gazen, Geraldo Portanova Leal,Nanci Begnini Giugno, Affonso Barros, E. Mardini, Maria Lúcia Coelho Silva, Zenon Si-mon e Tadeu Dall'Igna.

Na chapa apresentada para a reeleição, Paim tinha como companheiros Pedro Brons-trup, Cecy Gloria Oliveira Hirano, Emílio Roberto Wild, Frederico Kaiser, Luiz Antô-nio da Rosa, Márcio Rosa Rodrigues de Freitas, Alexandre Bugin, Osmar Sá Brito, IsaacZilberman, Nanci Giugno, Magda Freitas, João Guilherme Weber, Maria Lúcia CoelhoSilva, Pompílio Vieira Loguércio, Zeno Simon, Luiz Corrêa Noronha, Paulo FernandoFreire e Sérgio Luca.

1997-1999 e 1999-2001 Alexandre BuginNa eleição seguinte, foi escolhido o engenheiro e empresário Alexandre Bugin, que des-

de 1993 participava das diretorias da Abes-RS. Ele foi eleito presidente para o período1997-1999 e reeleito para 1999-2001. A chapa que Alexandre Bugin apresentou ao con-correr pela primeira vez trazia os nomes de Emílio Roberto Wild, Cecy Oliveira, EduardoB. Carvalho, João Guilherme Weber, Paulo F. da S. Freire, Paulo Renato Paim, Jussara Ma-ria Neves, Luiz Fernando Cybis, Isaac Zilberman, Eliane Duarte, Luiz Olinto Monteggia,Paulo Ardani Siqueira Otton, Paulo Robinson Samuel, Pedro Bronstrup, Suzana Maria deConto Mandelli, Guilherme Kayser, Márcio Rosa Rodrigues de Freitas, Maria do CarmoEkman, Darci Campani e Ellen Pritsch.

Ao concorrer à reeleição, Alexandre Bugin tinha como companheiros de chapa EmílioRoberto Wild, Margareth Vasata Marchi da Silva, Mariangela Laydner Chaves, Luiz Fer-nando Cybis, Paulo Robinson Samuel, Darci Campani, Paulo Renato Paim, Eduardo Fer-reira, Suzana Maria Mandell, Ellen Pristch, Jussara Maria Neves, Luiz Olinto Monteggia,Pedro Bronstrup, Marisa Notaria Bertoncello, Maria de Lourdes da Cunha Wolff, Alex Ne-ves Strey, Ana Cecília Vianna Perroni, Paulo Fernando da Silva Freire, Isaac Zilberman,Eduardo Carvalho, Maria Lúcia Coelho Silva, Luiz Antonio Timm Grassi, Paulo ArdaniSiqueira Otton, Márcio de Freitas e Nanci Giugno.

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2001-2003 e 2003-2005 Maria Lúcia Coelho SilvaA engenheira-química Maria Lúcia Coelho Silva, da Fepam, substituiu Bugin na presi-

dência da Abes para o período 2001-2003 e foi reeleita para 2003-2005. Maria Lúcia Coelho Silva liderava chapa com os seguintes nomes: Ellen Pritsch, Alexan-

dre Bugin, Adejalmo Gazen, Maria de Lourdes da Cunha Wolff, Paulo Fernando da SilvaFreire, Jussara Kalil Pires, Margareth Vasata Marchi da Silva, Paulo Robinson da Silva Sa-muel, Geraldo Antônio Reichert, Cecília Vianna Perroni, Alex Neves Strey, Luiz OlintoMonteggia, Márcio Rosa Rodrigues de Freitas, Nanci Giugno, Sandro Adriani Camargo,Emílio Roberto Wild, Jussara Maria Menezes Neves, Luiz Antônio Timm Grassi, MartaRegina Lopes Tocchetto, Maria Salete Cobalchini, Darci Campani, Isaac Zilberman e Ma-riângela Correa Laydner.

Ao ser reeleita, Maria Lúcia Coelho Silva tinha como companheiros de chapa DarciCampani, Jussara Kalil Pires, Margareth Vasata Macchi Silva, Geraldo Antônio Reichert,Deisy Maria Andrade Batista, Adejalmo Gazen, Paulo Renato Paim, Maria de Lourdesda Cunha Wolff, Mariângela Correa Laydner, Eduardo McMannis Torres, Isaac Zilber-man, Jussara Neves, Marta Regina Lopes Tochetto, Paulo Fernando da Silva Freire, San-dro Adriani Camargo, Alex Neves Strey, Ana Cecília Vianna Perroni, Luiz Olinto Mon-teggia, Marcio Rosa Rodrigues de Freitas, Moisés Waissman, Nanci Giugno, AlexandreBugin e Ellen Pritsch.

2005-2007 e 2007-2009 Geraldo Portanova LealO atual presidente da Abes-RS, Geraldo Portanova Leal, eleito para o período 2005-

2007 e reeleito para 2007-2009, é químico, como o primeiro presidente. A chapa queapresentou ao concorrer pela primeira vez era composta por: Darci Campani, Maria deLourdes da Cunha Wolff, Ana Cecília Vianna Perroni, Maria Lúcia Coelho Silva, DeisyMaria Andrade Baptista, Mariângela Laydner, Paulo Robinson da Silva Samuel, Jussara Ka-lil Pires, Marinho Emílio Graff, Eduardo Mc Mannis Torres, Luiz Fernando de Abreu Cy-bis, Marcos Aurélio Chedid, Nanci Giugno, Paulo Renato Paim, Sandro Adriani Camargo,Marta Regina Lopes Tocchetto, Maria Salete Cobalchini, Geraldo Antônio Reichert, Má-rio Saffer, Jussara Maria Menezes Neves, Maria Mercedes de Almeida Bendati, EllenPritsch, Isaac Zilberman e Emílio Roberto Wild.

Geraldo Portanova Leal foi reeleito para o período 2007-2009 com os seguintescompanheiros de chapa: Ellen Pritsch, Jussara Kalil Pires, Jussara Neves, Maria LúciaCoelho Silva, Paulo Robinson da Silva Samuel, Maria de Lourdes da Cunha Wolff,Deisy Maria Batista, Sidnei Gusmão Agra, Mariângela Corrêa Laydner, Eduardo McMannis Torres, Antonio Domingues Benetti, Maria Salete Cobalchini, Mario Saffer,Maria Mercedes Bendati, Marta Regina Lopes Tocchetto, Sandro Adriani Camargo,Paulo Renato Paim, Nanci Giugno, Percy Soares, Ana Cecília Perroni, Marinho EmílioGraeff, Darci Campani e Isaac Zilberman.

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Comissão Editorial da Abes-RSMaria de Lourdes da Cunha Wolff

Maria Lúcia Coelho SilvaLuiz Antonio Timm Grassi

Textos e RevisãoAdemar Vargas de Freitas

Organização EditorialCharles Soveral

PesquisaGabrielle Werenicz Alves

Projeto Gráfico Vinícius Kraskin

DiagramaçãoKraskin e A+ Serviços Editoriais Ltda.

ImagensAcervo Fotográfico do DMAE

Acervo de Comunicação da CorsanAcervo Aidis

Acervo Abes-RSAcervo Metroplan

Carlos SteinMauro Goulart

Luiz Antonio Timm Grassi

ImpressãoGraphoset Inteligência Gráfica

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Este livro foi impresso em Santa Cruz do Sul, RS,

em outubro de 2007, pela Graphoset Inteligência Gráfica

com tintas à base de óleos vegetais em papel Reciclato 150g e capa dura.

A tipologia utilizada foi AGaramond, corpos 12, 18 e 24.

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PROMOÇÃO

APOIO

PATROCÍNIO

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