Em Movimento JACA No 04

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Publicação do trabalho do JACA, sediado em Belo Horzonte, no ano de 2014

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  • ja.ca quarto ano

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  • em movimento ja.ca quarto ano

    in movement ja.ca fourth year

    Em Movimento JA.CA Quarto Ano Organizao de Francisca Caporali

    Belo Horizonte: JA.CA, 2014.

    256 p.:il, color.; 24 cm.

    Texto em portugus e ingls.

    ISBN 978-85-64194-09-0

    1. Arte brasileira. 2. Arte moderna Sc.XXI

    I. Caporali, Francisca.

    CDD 700

  • 6 7

    JA.CA - Centro de Arte e Tecnologia atua como uma plataforma para o aprendizado e o intercmbio de experincias. O Centro busca incentivar projetos artsticos que utilizem abordagens e tecnologias variadas para atuar especificamente frente realidade local, seja atravs de estmulos educacionais ou ativamentos de prticas colaborativas.

    O projeto foi concebido como uma expanso de uma trajetria artstica e do interesse de seus fundadores que, por alguns anos que antecederam inaugurao do espao fsico, se ocuparam por investigar questes que lhes pareciam essenciais: dinmicas da arte no espao urbano e possveis estratgias para colaboraes.

    no ano de 2010 o ja.ca iniciou suas atividades e desde ento, artistas brasileiros e artistas internacionais tiveram a oportunidade de trabalhar lado-a-lado nos atlis do centro, localizado no bairro jardim canad.

  • 8 9

    estavam guardadas em um local

    mais distante. Com a ajuda dos

    bolsistas do Deseja.ca (programa

    de extenso universitria da

    Escola de Arquitetura e Design da

    UFMG realizado em parceria com o

    JA.CA), conseguimos nos instalar

    em pouqussimo tempo, e no

    primeiro dia de abril recebamos

    os primeiros residentes. O projeto

    Re:USO inaugurou o novo espao e

    reforou o entendimento de que o

    bairro o nosso laboratrio de

    trabalho.

    O Re:USO foi concebido quando

    estvamos em meio s mudanas,

    num processo de entender o Jardim

    Canad sob um novo olhar. Alm

    disso, nos intrigavam como as

    cidades brasileiras respondiam s

    transformaes pr Copa do Mundo

    de Futebol. Propusemos Funarte

    uma residncia itinerante, vivida

    em trs momentos: o primeiro

    no Jardim Canad, o segundo em

    Salvador e o terceiro em Belm.

    Selecionamos seis propostas

    que dialogaram, cada uma sua

    maneira, com o universo em torno

    do descarte e do reaproveitamento

    dos resduos produzidos nestas

    localidades, tpicos das bordas

    destes densos plos urbanos,

    atravessados pelas j referida

    especulao imobiliria. Durante

    a primeira etapa da residncia

    conseguimos uma integrao entre

    o programa Deseja.ca e os artistas

    residentes, onde os 14 bolsistas

    do programa alimentaram a resi-

    dncia com a pesquisa e a produo

    geradas nos seus dois anos de

    existncia.

    Durante a parceria entre o JA.CA

    e a EA/UFMG vivemos um processo

    intenso de produo, com diversos

    mapeamentos do bairro, participa-

    o crescente de bolsistas e maior

    densidade das propostas, projetos

    e pesquisas realizados.

    O ano de 2013 foi um perodo de

    grandes expectativas para

    o programa, j que uma vez

    contemplado por um projeto do MEC-

    SESU de financiamento para aes

    extensionistas, teramos recursos

    financeiros para sua consolidao.

    Espervamos ansiosos pela chegada

    de uma infinidade de materiais que

    solidificariam trs oficinas:

    MAR.CA a marcenaria que j exis-

    tia, mas receberia um aporte de

    maquinrio e materiais de consumo

    que at ento no possuamos; um

    completssimo ateli de serigrafia

    para o ESTAM.CA (estamparia) e

    equipamentos para o TE.CA que pos-

    sibilitaria desenvolver projetos

    de tecelagem. O financiamento do

    MEC tambm serviria para pagar

    os trs tcnicos, um para cada

    oficina, alm de cobrir gastos

    com alimentao e transporte

    para todas as atividades. Por

    vrias questes internas prprias

    de uma Universidade pblica na

    dimenso da UFMG, o Deseja.ca,

    at dezembro de 2013, no havia

    recebido o material solicitado e

    nenhuma verba para pagamento dos

    tcnicos. Mesmo com todos esses

    imprevistos a equipe buscava

    maneiras de desenvolver atividades

    no bairro, envolvendo uma rede j

    ampliada de parceiros contata-

    dos nos anos anteriores. Lindas

    intervenes foram feitas, como:

    a horta comunitria, as oficinas

    de carrinho de rolim, a pintura

    no muro da Escola Estadual Maria

    Josefina Sales Wardi e o mapeamento

    de bordado com as senhoras do

    CRAS (Centro de Referncia de

    Assistncia Social). Todas elas

    realizadas com grande precarieda-

    de material, mas equilibradas pela

    enorme colaborao dos parceiros,

    formando uma rede solidria muito

    importante pra ns. Infelizmente

    os diversos problemas enfrentados

    nesse ano e o desgaste por eles

    deixado, impediram a continuao

    da parceria, deciso difcil, mas

    realizada em comum acordo.

    A conexo com os alunos da EAD/

    UFMG permanece com sua participa-

    o nas atividades do JA.CA, bem

    como a colaborao mtua entre

    professores e pesquisadores que

    compartilham muitos desejos e

    inquietaes. A experincia do

    Deseja.ca deixa a certeza de que

    o JA.CA deseja contribuir com a

    melhoria da qualidade de vida das

    pessoas que vivem o cotidiano do

    bairro e que a investigao sobre

    as diversas formas de reaproveita-

    mento de resduos tem lugar certo

    em projetos futuros. Percebemos

    hoje com maior clareza as possibi-

    lidades de incidir politicamente

    na realidade das comunidades,

    comeando pelo Jardim Canad.

    Estivemos presentes em reunies

    da associao do bairro, acompa-

    nhamos de perto os debates para

    alterao do Plano Diretor de Nova

    Lima e participamos da elaborao

    do plano municipal de cultura de

    Nova Lima. Em 2013, passamos a

    integrar a rede do PDEOS (Programa

    de Desenvolvimento de Empresas e

    Organizaes Sociais), promovido

    pela Fundao Dom Cabral. Sob

    sua orientao, formulamos nossa

    misso, que sintetiza o sentido da

    existncia do JA.CA e norteia nos-

    sas proposies: queremos contri-

    buir para a democratizao da arte

    e cultura realizando aes que as

    integrem ao cotidiano de pessoas

    e comunidades onde atuamos. Esse

    texto est claro nos objetivos de

    nosso estatuto social sim, em

    2013, o JA.CA formaliza-se como

    uma associao sem fins lucrativos,

    com CNPJ prprio, embora ainda em

    Nossa escolha em viver no Jardim

    Canad constantemente atuali-

    zada pelas questes singulares de

    um territrio de fronteira, beira

    de estrada, passagem ou elo entre

    o lugar do trabalho e moradia

    de muitos moradores da regio

    metropolitana de Belo Horizon-

    te. O bairro parece pertencer a

    outro lugar, distante da sede do

    municpio, ilhado pela minerao.

    Ocupado ordenada e desordenada-

    mente, o Jardim Canad contem-

    porneo a seu tempo, pelo menos

    no que diz respeito a especulao

    imobiliria de seu territrio.

    Ns, que aqui vivemos, no estamos

    protegidos da voracidade do

    processo de gentrificao que toma

    o bairro.

    Com a impossibilidade de permane-

    cer no primeiro galpo onde

    o JA.CA abriu as portas em 2010,

    uma vez que o proprietrio props

    quadriplicar (sim, multiplicar

    por quatro) o valor do aluguel,

    decidimos guardar todos os per-

    tences acolhidos generosamente

    pelo patrocinador deste projeto e

    esperar que a temporada das chuvas

    passasse para ento alugarmos

    outra sede.

    A poca de chuva, de novembro a

    maro (e agora, com as mudanas

    climticas, se espaando at

    finais de abril, adentrando o ms

    de maio), sempre trouxe eventos

    memorveis para a equipe do JA.CA:

    alagamentos, goteiras, curtos

    eltricos e mofo, muito mofo. Con-

    dies climticas que nos fizeram

    adiar a entrada em novo espao.

    O perodo sem sede representou um

    tempo mais dilatado que resultou

    em reflexes sobre os caminhos do

    JA.CA, j que com um espao em

    funcionamento, grande parte do

    nosso tempo fica consumido com a

    manuteno diria do local e de

    sua programao.

    No ter tido uma sede por cinco

    meses nos fez desapegar da estru-

    tura fsica e nos forou a projetar

    e a realizar atividades fora do

    JA.CA. Foi o tempo de reforar,

    para a equipe, a importncia do

    territrio para o qual o JA.CA

    foi planejado: o Jardim Canad,

    e entender que a cada ano, vaga-

    rosamente, estabelecamos mais

    vnculos com esse entorno e que a

    permanncia do Centro ali ainda

    de fato importante. O territrio

    retoma sua questo central para

    o projeto, tornando-se campo de

    nossas principais aes.

    Em maro de 2013, enquanto esper-

    vamos pelo interminvel processo

    de aprovao dos crditos dos

    fiadores para alugar um galpo na

    Rua Hudson, um encontro fortuito

    nos corredores de um supermer-

    cado do bairro nos levou outra

    estrutura, localizada mesma

    Avenida Canad, j desruborizada

    pela cobertura de asfalto. O

    asfalto que tapou a terra vermelha

    sugeriu um progresso to descabido

    e uma especulao to surreal que

    fez com que nosso antigo locador

    acreditasse no aumento fabuloso do

    valor do aluguel.

    No ms seguinte, o JA.CA atraves-

    sou a rua e se instalou em frente

    ao antigo galpo, de onde se podia

    observar as placas de vende-se

    e aluga-se que se amontoaram

    sobre a sua fachada por todo o

    ano de 2013, comprovando que no

    estvamos loucos por recusar pro-

    posta to disparatada. Obviamente

    nossa mudana foi um tanto mais

    complexa que um simples atravessar

    da avenida, uma vez que as dezenas

    de caixas pertencentes ao Centro

    Em Moviento ja.ca Quarto ano

    In movement ja.ca fourth year on page 212

    O territrio retoma sua questo central para o projeto e passa a ser reforado o uso deste como o lugar principal para as aes do JA.CA.

    francisca caporali,

    joana meniconi e mateus mesquita

  • 10

    A pedido dos que moravam aqui, ajeitamos novos quartos e conseguimos acomodar todo o grupo. Individualmente, cada um pesquisava o bairro sob a tica do percurso, do caminho, tensionando o ato de planejar vivncia da realidade, que marcada pelos encontros e pelos desvios. Porm, no a relao entre os processos que marca a passagem desses artistas pelo JA.CA, mas sim a relao de amizade e de cumplicidade que eles estabeleceram entre eles, conosco, com o bairro e, especialmente, com o JA.CA. esse trato afetuoso que marcou o nosso ano, que confirma a relao de confiana e liberdade estabelecida entre os que aqui frequentam e o entendimento que o JA.CA um espao e uma experincia a ser construda coletivamente.

    endereo provisrio.

    A participao no PDEOS tambm

    foi importante para o JA.CA in-

    tensificar articulaes com outras

    organizaes sociais e pequenas

    e mdias empresas que atuam na

    regio. No fim do ano, por meio de

    uma parceria com Escola de Design

    da UEMG e o Espao Transformar

    recebemos a oficina do Studio

    Superfluo, um coletivo de jovens

    designers de Roma. Por dois meses,

    a marcenaria do JA.CA serviu como

    espao de criao colaborativa

    de design entre o coletivo e um

    grupo de adolescentes do Jardim

    Canad que vivem em situao de

    vulnerabilidade social. O grupo,

    formado quase exclusivamente por

    garotas, construiu quatro objetos

    de madeira, participando desde

    a criao em esboos no papel

    a confeco propriamente dita,

    servindo-se da madeira de pallets

    descartados pela indstria local.

    A oficina serve como piloto para

    desdobramentos futuros envolvendo

    as jovens do bairro e abre novos

    caminhos para a apropriao do

    Centro pela comunidade.

    Depois de um ano de muitas trans-

    formaes gratificante perceber

    o reconhecimento do nosso

    trabalho, que parece ultrapassar

    os muros do espao fsico que

    ocupamos, seja ele qual for. Mais

    fludo, mais lquido, mais imerso

    nas questes locais. Independente

    da estrutura fsica que ocuparmos

    j somos reconhecidos como um

    lugar de trocas, de convivncia

    e de criao de elos afetivos

    entre os mais diversos pblicos.

    Entre outubro e dezembro, reali-

    zamos um ciclo de residncias no

    qual recebemos quatro artistas

    brasileiros dois de Belo Horizon-

    te e dois de fora.

  • 12 13

    Escola de Arquitetura UFMG/ Fundao Dom Cabral (Programa de Desenvolvimento de Empresas e Organizaes Sociais do Jardim Canad e Regio)/ Espao Social TransformarEscola de Design UEMG (Comunidades Criativas das Geraes)/ Studio Superfluo/ E.E. Maria Josefina Sales Wardi/ CRAS Jardim Canad (Centro de Referncia de Assistncia Social)/ Instituto Primus/ Arca Amaserra/ Instituto Cresce/ CAC Jardim Canad (Centro de Apoio Comunitrio)/ Fundao Clvis SalgadoGontijo (So Geraldo)/ Prodomo/ Mharmaros/ Nigara/ AVG Sider/ Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais 9 Edio

    Obrigado!

  • 14 15

  • 16

    reuso yuri barros rafael rg gabriel nast andr hauck & camila otto ricardo villa c.l. salvaro

    Exposio

    contra escambrosdeseja.ca horta comunitaria muro da escola

    studio superfluoresidencia 2013 beto shwafaty estandelau roberto freitas raquel schembri daniel toledo & marina camara

    exposio

    biografiasenglish

    pg.

    20

    24

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    36

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  • yuri barros

    rafael rg

    gabriel nast

    andr hauck & camila otto

    ricardo villa

    c.l. salvaro

    re:uso

  • 20 21re:uso

    Os artistas Andr Hauck e Camila Otto fizeram uma arqueologia do cotidiano local, colecionando

    pertences descartados pelo bairro;

    objetos ordinrios que foram

    catalogados de maneira cientifi-cista, como se estudadas por uma

    comunidade estranha aos seus usos.

    A cor vermelha do minrio conduz

    a uma unidade destes objetos

    e conecta, esteticamente, os

    diversos elementos coletados cor

    do solo local, que impregna todos

    os sapatos, vestes e corpos dos

    que transitam pelo bairro, assim

    como as construes, vegetao e

    espaos do Jardim Canad.

    A contaminao pela cor vermelha

    foi tambm tratada no trabalho

    do artista Ricardo Villa, que in-corporou o minrio sua produo

    de diamantes concretos, alterando

    o tom acinzentado deste ltimo

    material. Os diamantes do projeto

    Distopia buscam uma reflexo

    sobre a ressignificao do valor

    do imvel, dando forma preciosa

    a restos de construes.

    mdulo 2 / salvador

    No bairro Santo Antnio em

    Salvador estivemos imersos em

    discusses sobre a gentrificao,

    patrimnio histrico e especulao

    imobiliria. Em resposta a estas

    questes o artista Gabriel Nast criou uma serigrafia que identifica-va os muitos imveis desocupados

    no bairro, responsveis pelo

    aumento artificial e exponencial

    dos preos locais.

    O artista Ricardo Villa ocupou-se em criar peas que utilizam o

    material mais recorrente das cons-trues brasileiras: o concreto;

    para que as pessoas pudessem

    ocupar as estreitas caladas

    do bairro histrico, ele criou

    bancos enformados em baldes de

    construo, com pernas compostas

    de madeiras descartadas.

    Camila Otto e Andr Hauck seguiram com suas pesquisas fotogrficas,

    e recorreram aos produtos da

    Feira de So Joaquim, tradicional

    mercado popular, confrontado a

    muitas adversidades decorrentes

    das transformaes na cidade de

    Salvador, insistente em manter-se

    em funcionamento.

    mdulo 3 / belm

    Em Belm nos instalamos em um dos

    edifcios mais tradicionais da ci-dade, o Manoel Pinto, que oferece

    uma vista privilegiada, demarcada,

    em grande extenso, pelos largos

    rios Guam e Guajar. O artista

    Rafael RG buscou vivenciar as di-ferentes reas urbanas, estudando

    as maneiras locais de comunicao:

    faixas com anncio, cartazes e a

    rdio nos postes. Conectou-se com

    algumas comunidades que sobre-vivem marginalmente s expanses

    urbanas. No Puta Dei, evento que

    chama a ateno para as condies

    de trabalho das prostitutas de

    Belm, participou como DJ e ganhou

    a Corrida de Calcinha. Ofereceu o

    workshop El Futuro del Amor que

    incitava reflexes sobre as rela-es afetivas no mbito das redes

    sociais e o ato de projetar,

    a partir de autores como

    Jonathan Franzen, Borys Groys

    e Michel Focault.

    C. L. Salvaro e Yuri de Barros trabalharam em conjunto,

    acompanhados pelos participantes

    do workshop oferecido no SESC

    Boulevard. O grupo ocupou-se em

    derivas pelo centro histrico de

    Belm, alm de construir, com

    materiais encontrados no campus

    da Universidade do Par, uma

    jangada para aproveitar o ltimo

    dia da estadia nos rios que

    rodeiam a cidade.

    mdulo 1 / jardim canad / mg

    No Jardim Canad, os 6 artistas

    produziram obras em uma dinmica

    de workshops, com a participao

    de estudantes e interessados,

    discutiram questes particulares

    da realidade do bairro.

    Yuri Barros, junto a um grupo de estudantes de arquitetura,

    instalou um letreiro feito de

    materiais descartados, projeto

    que inicialmente propunha inserir

    a palavra QUANDO paisagem do

    Jardim Canad foi, devido s

    motivaes dos estudantes e das

    dinmicas do bairro, alterado para

    QUANTO, e colocada sob a estrutura

    de uma casa inacabada que estava

    venda.

    Rafael RG, inspirado no maior meio de comunicao do bairro, o carro

    com auto-falantes, levou ao bairro

    um trio eltrico e promoveu um

    manifestacao mvel, instigado pela

    impactante atuao da mina Capo

    Xavier, localizada nas imediaes

    do bairro. Os participantes do

    workshop, bem como os moradores

    e circulantes usaram a estrutura

    do caminho para protestar,

    manifestando-se sobre temas caros

    ao bairro. O artista props, entre

    outras questes, uma mudana no

    nome do bairro: de Jardim Canad

    para Jardim Xavier, desligando as-sim, o Canad da identidade local,

    identificado por uma pesquisa do

    artista como um pas conhecido por

    suas permissivas legislaes de

    explorao mineral.

    O artista C. L. Salvaro, a partir da adoo de um lote que dispunha

    de uma precria estrutura inicial,

    criou interferncias paisagsti-cas, avanando na construo de um

    pequeno barraco: instalou telha-do, porta, piso, deck, pintou as

    paredes, trouxe mudas de jardins

    vizinhos e criou um compostrio.

    Aps o trmino da residncia, o

    artista seguiu cultivando este

    espao, at encontr-lo comple-tamente destrudo. Paredes foram

    derrubadas, telhado, porta e

    todas as madeiras incorporadas

    construo queimadas, e as plantas

    arrancadas. As reaes truculentas

    s ocupaes de propriedades

    privadas parecem apontar o destino

    da interveno devastada em um

    trmino radical, mas esteticamente

    potente.

    Gabriel Nast criou um mural nas paredes externas de um grande lote

    em construo, usando o prprio

    material que descamava do muro

    como suporte para suas pinturas,

    o artista criou uma instalao que

    parecia derreter-se sobre o solo

    vermelho da regio, de forma que

    o resduo usado para construir

    o trabalho, no final, parecia

    ter sido disposto cuidadosamente

    pelo artista.

    re:uso on page 218

    Atravs do projeto Re:Uso, o JA.CA deseja estimular a pesquisa em torno do aproveitamento de material descartado para a criao de intervenes em vizinhanas que, assim como o Jardim Ca-nad, so frutos das recentes expanses metropolitanas. Interessa ao projeto pesqui-sar as bordas desses densos plos urbanos, entender suas dinmicas e como elas se transformam neste momento de intensa especulao imobiliria.

    O JA.CA Centro de Arte e Tecnologia selecionou entre os artistas inscritos atravs de convocatria aberta, projetos inditos em diversas mdias a serem realizados durante a residncia. O pri-meiro momento, com durao de 15 dias, aconteceu na sede do projeto, no bairro Jardim Canad em Nova Lima/MG, e reuniu todos os 06 artistas selecionados.

    francisca caporali

    e mateus mesquita

  • jardim canad

  • 24 25re:uso jardim canad

    yuri barros on page 218

    O quando horizonte precrio

    encantador no qual no posso

    tocar me atinge a vista. Ativa

    a conscincia. A inconscincia.

    O racional e o delrio. Linhas

    de fuga diversas convergem e

    divergem nos rascunhos da memria.

    Atravessam a imaginao. Desguam

    no futuro. No futuro que no

    chega. Refm de um tempo que no

    passa nunca porque passa sempre.

    O quando nunca chega. a repre-sentao de um horizonte decadente

    do qual a humanidade retrgrada

    no consegue se desprender para

    viver o agora. E agora? Jos. No!

    Elton. Yuri. Eu. Seguirei falando

    at quando no mais poder. At

    aquele momento no qual estarei

    mudo e mais nada. Quando a crtica

    de arte abdicar de sua enorme pre-tenso e prepotncia, h de pousar

    sobre ns a leveza das bacantes.

    Afogaremos o mau humor na suave

    embriagez dionsica, e talvez,

    quem sabe, absorveremos a crtica

    como um complemento que no fecha

    estrutura alguma, mas adiciona,

    na formula deleuziana do e... e...

    e... onde cada ponto de vista cria

    apenas mais um desdobramento

    possvel. Todos os desdobramentos

    so vlidos, desde que sejam

    verdadeiros, comprometidos com a

    verdade, ou com a mentira, se for

    este o caso. A mentira acreditar

    que esperar pelo quando acertar

    o passo ao paraso! A verdade a

    relao esttica com o mundo, e

    para alm disso, todas os contor-nos so incertos e ao mesmo tempo

    legtimos. Todas as falas so

    vlidas. O que arte o que no

    pouco importa. Quando a humanida-de abdicar da pretensiosa tarefa

    de descobrir e disseminar a verda-de na cabea dos homens, teremos

    dado um passo para o fim das es-truturas hierarquizadas de poder.

    A arte tem esse poder destrutivo

    justamente por ser inapreensvel.

    Por inventar o modo de fazer no

    prprio processo de feitura, por

    ser a obra uma mensagem esttica,

    portanto aberta, de reverberaes

    singulares em cada individuo-ml-tiplo. Como cientifizar isso? Como

    extrair uma verdade de uma relao

    desse tipo? A nica verdade a

    matria decadente, a apropriao

    de materiais residuais, como se

    de alguma maneira os que falam

    atravs do quando antecipassem o

    apocalipse para o qual caminhamos

    de mos dadas, ou melhor, atadas,

    comprando, vendendo, competindo,

    destruindo e gozando, com objetos

    fetichizados cujo valor extrado

    ao longo de um processo predat-rio, ambiental e humano. Como se

    os que falam atravs do quando,

    soubessem que no futuro no

    muito distante as sucatas sero

    os objetos de fetiche. De fetiche

    ou de necessidade, caso o fetiche

    tenha desaparecido desse plano

    restando apenas a sobrevivncia.

    Esse quando precrio projetado ao

    mesmo tempo sobre os meus olhos e

    imaginao me eleva, me suspende

    para outro tempo. Tempo esttico.

    Durao. Pessoal. Indivisvel.

    Qualitativa. Esse quando que

    interfere no espao vago, de uma

    instituio fraca e morna, que

    repele o prprio pensar, tem um

    pouco do que toda arte deveria

    ter: terrorismo. Confronto!

    Esperar o rumo mudar, no tempo.Esperar o rumo mudar, no tempo da vida,Quando as escolhas no podem ser feitas, o tempo que expira.Espera impaciente do mudar,no tempo que leva nossa vida,Quando as escolhas j foram feitas, o tempo que, rubro, expira.Espera do que, na mote, muda, no tempo que transforma a vida.Quando as escolhas, agora, feitas, o tempo, sinto muito, expirou.

    hugo nascimento

  • 26 27re:uso jardim canad

  • 28 29re:uso jardim canad

    Rafael RG on page 218

    El futuro Del Amor: A oficina aconteceu a partir da leitura de autores como Jonathan Franzen, Borys Groys e Michel Foucault, onde os partici-pantes foram estimulados a criar frases, imagens, entre outras manifestaes, para a elaborao de materiais que foram expostos na regio.

    Bibliografia

    Michel Foucault. De outros espaos (1967), Heterotopias.

    http://analobocrispi.files.wordpress.com/2009/05/ michelfoucaultheterot_carmela.pdf

    Jonathan Franzen, Como ficar sozinho. Capitulo 1 : A dor no nos matar.

    www.companhiadasletras.com.br/trechos/13289.pdf

    Borys Groys. A solido do Projeto

    http://projetosnatemporada.org/eventos/ arte-projeto/groys/solidao-do-projeto/

  • 30 31re:uso jardim canad

  • 32 33re:uso jardim canad

    Gabriel nast on page 220

    Durante a Semana Aberta do RE:USO, Nast envolveu os alunos da Escola Kabum! na criao de um dos seus murais que se utilzam de camadas descascadas de tapumes de construes. Posteriormente os pedaos foram reinseridos ao local de onde o material foi retirado. A precariedade e o improviso com que estes muros so levantados, passam a compor esteticamente o trabalho do artista.Para este trabalho o artista mapeou, com a ajuda dos alunos, as inmeras constru-es do Jardim Canad.

  • 34 35re:uso jardim canad

  • 36 37re:uso jardim canad

    Andr Hauck & Camila Otto on page 220

    inventariar

    O coletivo, durante a residn-cia no bairro Jardim Canad e na cidade de Salvador, rea-lizou uma pesquisa artstica atravs de vis arqueolgico e antropolgico. Partindo do convvio com as pessoas e os espaos, coletaram objetos em uso e desuso, respectivamente em Salvador e no Jardim Canad, mas independente de seu valor de uso, ambos apresentavam-se intimamente relacionados com sua origem. Todo o material coletado foi fotografado, clas-sificado, ordenado, exibido e ressignificado pelo casal. O procedimento foi inspirado em mtodos de catalogao museolgicos, seguindo um raciocnio taxonmico, tam-bm influenciado por aspectos subjetivos e visuais.

  • 38 39re:uso jardim canad

  • 40 41re:uso jardim canad

    Ricardo villa on page 220

    distopia

    consiste na produo de esculturas em concreto no formato de pequenos diamantes.Utilizando-se de restos de casas em vias de demolio, Villa coleta os resqucios de paredes que conformavam espaos antes ocupados por afetos e os transforma em diamantes de concreto. Diamante, permanente, eterno. Tambm o concreto seria permanente e estvel. Mas estruturas de concreto so desmoronadas pela especulao.Diamante, riqueza, capital.Concreto, real, distpico.Objeto esttico com potncia utilitria, que penetra vid-raas e que abre espao para a multido que vem marchando.

  • 42 43re:uso jardim canad

  • 44 45re:uso jardim canad

    C.L. Salvaro on page 220

    Percursos pelo Jardim Canad ofereceram a Salvaro uma frente de ocupao, estendendo suas pesquisas e intervenes neste campo de trabalho. O encontro com um lote abandonado, tomado por uma vigorosa vegetao e recortado por um precrio par de paredes sobreviven-tes, forneceu terreno para um ensaio de moradia. Em mutiro, um grupo de estu-dantes colaborou na capina, plantio, construo de te-lhado, piso, pintura e demais intervenes para tornar o lote habitvel. Valendo-se de uma rede, Salvaro pernoitou na ocupao, atropelando qualquer reduo esttica de sua construo. Poderosa como sua experincia foi a reao annima de destruir todos as aes realizadas no territrio, trazendo-o de volta a um lugar de mero terreno, agora sem o par de paredes que traziam a memria da moradia.

  • 46 47re:uso jardim canad

  • 48 49re:uso jardim canad

  • salvador

  • 54 55re:uso

  • 56 57re:uso salvador

    Gabriel nast on page 221

    Em Salvador, intrigado com as dinmicas do mer-cado imobilirio no bairro de Santo Antnio, Nast instalou gravuras com a ilustrao de uma chave em cada porta que fechava edifcios vazios, sem cuidados dirios e deixados runa. Casa centen-rias em uma vizinhana bomia foram compradas e trancadas, espera de uma valorizao da rea para ento serem revendidas.

  • 58 59re:uso salvador

    Ricardo villa on page 221

    Seguindo com as experimentaes em esculturas/estruturas de concreto, Villa apresenta Firma Ponto, tamborete construdo com sobras de madeira, referenciado na sincrtica cultura religiosa baiana.

  • 60 61re:uso salvador

    Andr Hauck & Camila Otto on page 221

    Durante caminhadas por Salvador Hauck e Otto, ainda se valendo de pro-cedimentos taxnomicos, seguiram na busca por ob-jetos cotidianos deslocados de suas funes originais, desgastados pelo tempo e modificados por esses usos alternativos.Aqui o inventrio se faz por meio do registro fotogrfico dos objetos no local, incorporados a arquitetura, resultando em uma coleo de composies e inter-venes acidentais.

  • belm

  • 68 69re:uso belm

    Rafael RG on page 221

    Algumas pessoas dizem quetudo isso no passou de umWorkshop, outras dizem quefoi uma carta que me trouxeaqui. Outras porm, acredi-tam que esse tempo todo,no foi nada alm de um finalde tarde numa mesa do Bardo Parque acompanhado demuitas Cerpas e de pessoasque passaram na minha vidaquando eu estava vivendo elfuturo del Amor.

    O projeto El futuro del Amor tinha como premissa ampliar, atravs de manifestaes artsticas pblicas, toda a gama de sentimentos envolvi-dos no encontro afetivo entre os artistas Welligton Romrio (PA) e Rafael RG. A inscrio do projeto junto ao JA.CA tinha como objetivo principal promover o reencontro entre os artistas na cidade de Belm do Par.

  • 70 71re:uso belm

    Pag. 70Poema realizado por Rafael RG para integrar o trabalho de con-cluso de curso (tcc) de Welligton Romrio. (Alguns meses depois do RE:USO)

    Pag. 71 Carta enviada a Rafael RG por Welligton Romrio publicada no projeto 3.178km em 645 horas. (Alguns meses antes do RE:USO)

  • 72 73re:uso belm

    C.L. Salvaro & Yurri Barros on page 221

    C.L. Salvaro e Yuri Barross derivas em Belm embarcaram em uma jangada no rio Guam. De sobras da construo na UFPA e materiais encontrados no centro da cidade, a jangada foi lanada ao rio.

  • 74 75re:uso

    re:uso exposio & publicao

    Exhibition & publication on page 221

    No dia 01 de Agosto, com a parti-cipao dos artistas residentes

    e a presena de Rafael RG, C.L.

    Salvaro, Gabriel Nast, Andr Hauck

    e Camila Otto, a publicao RE:USO

    foi lanada na Galeria da Escola

    Guignard, em Belo Horizonte.

    Os artistas expuseram desdobra-mentos das pesquisas iniciadas

    alguns meses antes na residncia

    itinerante.

  • exposio contra escambos

    mara berrios

    sasha huber

    runo lagomarsino

    gilda mantilla & raimond chaves

    pedro marighella

    pedro neves marques

    santiago garcia navarro

    leandro nerefuh

    beto shwafaty

    paulo tavares

  • 78 79exposio contra escambros

  • 80 81exposio contra escambros

    A matriz colonial desse termo

    remete a uma histria de trocas

    surreais espelho por pau tinta,

    papagaio por ferro cortante,

    sino por farinha de mandioca,

    tecido por gente. O escambo gesto

    inaugural das relaes coloniais

    implicou o enfrentamento de

    sistemas-mundo estranhos uns aos

    outros, mas que logo se reinven-

    taram em paralelos, coincidncias

    e misturas, estabelecendo assim

    uma economia de apropriao e vio-

    lncia que envolveu a todos: seja

    pedra seja planta seja bicho seja

    humano. Ser que los espaoles

    vencieran a los ndios con ayuda

    de los signos? El problema del

    otro. Joguemos o jogo do artista

    como arquelogo dos tempos.

    A Amrica h trinta mil anos

    atrs: todos os amerndios compar-

    tilham de um velho fundo cultural

    comum, onde se radica o perspec-

    tivismo. Em seguida, preciso

    recordar que o tecido sociocultu-

    ral das Amricas pr-colombianas

    era denso e contnuo: os povos

    indgenas estavam em interao

    constante, intensa e de longo

    alcance: ideias viajavam, objetos

    mudavam de mos entre pontos

    muito distantes, as populaes se

    deslocavam em todas as direes.

    Tempos depois, com os sucessos

    arqueolgicos e etnolgicos e a

    voga do primitivismo, da banana

    e da arte africana, no comeo

    do sculo XX, era natural que a

    metfora do canibalismo entrasse

    para a semntica dos vanguardistas

    europeus. Mas o canibal no

    passou de uma fantasia a mais

    DADA que procurava assustar as

    mentes burguesas da europa.

    J a ideologia antropofgica

    pindorama a de consumir o

    consumo num counterstrike consum

    se desenvolveu bem no meio e s

    margens do salve-se-quem-puder

    modernoso, que causou uma

    tremenda ressaca internacional

    de arte moderna. Mesmo a negresse

    ou negromania das vanguardas

    europeias continuou relatada

    como sendo uma histria alva.

    Se, assim como o canibalismo, o

    escambo serve de metfora (do tipo

    histrico-antropolgico-especula-

    tiva), Contra Escambos apresenta

    uma tentativa pequena de manipular

    as relaes de poder simblico das

    coisas e suas mutaes de valor na

    troca, nesse sculo XX (bis) e XXI.

    Contra Escambos proposta como

    uma maneira gestual, simblica,

    performtica de lidar com narra-

    tivas culturais, vetores polticos

    e matrizes econmicas do nosso

    passado colonial-moderno, que

    ainda persistem e se manifestam no

    presente. Trabalhamos com a ideia

    de que modernismo e colonialismo

    sempre foram duas faces de uma

    mesma moeda de troca. Trabalhamos

    com a ideia de que enclaves de

    primitividade serviram como os

    melhores laboratrios de moder-

    nidade. Trabalhamos com a ideia

    de que certos objetos de troca

    signos smbolos commodities so

    carregados de um certo poder de

    colonialidade. A colonialidade do

    poder foi e continua sendo uma

    estratgia da modernidade, desde o

    momento da expanso da cristanda-

    de para alm do Mediterrneo hacia

    Amrica-sia, que contribuiu para

    a auto-definio da Europa e foi

    parte indissocivel do capitalis-

    mo, desde o sculo XVI. A histria

    do capitalismo muitas vezes apare-

    ce como um fenmeno europeu e no

    planetrio, do qual todo o mundo

    partcipe, mas com distintas

    posies de poder. Um caso curio-

    so: a Itlia, quando colonizou a

    Somlia, levou a banana para l.

    escambo: transao de bens e servios entre duas ou mais partes.

    Contra EscambrosExperincias Imaginativas nos Trpicos imaginative experiences in the tropics On pAgE 222

  • 82 83exposio contra escambros

    Um lugar que no tinha banana

    mas que passou a ter, por uma

    associao que os italianos faziam

    da fruta com aquele territrio. A

    colonialidade do poder um eixo

    que organiza a diferena colonial

    e coloca a periferia como natureza

    e a natureza como periferia. E

    um outro eixo Amaznico-Andino

    tenta resistir ao aplastamiento

    total. Enquanto homens primitivos

    escreviam com seus pauzinhos na

    caverna, a deusa branca Umbelina

    Valeria reproduzia a selva em sua

    exuberncia vulvnica. Quem, eu?

    Tem culpa eu?

    Cada vez mais projetos de

    arte tratam de interferir e/

    ou processar os grandes fluxos

    econmicos e socioculturais que

    atravessam todas as esferas da

    sociedade. Investigamos a ideia de

    arte global. E como essa chamada

    arte global lida com realidades

    e materialidades locais frente a

    discursos globais. nosso roteiro

    contra escambado cruza narrativas

    globalizantes e outras aes que

    ficam margem disso, e encontra

    seu foco em histrias e rumores,

    legados coloniais e contra-ata-

    ques, e remediaes do espao

    urbano. A proposta de intercmbio

    interregional Redes Funarte

    da qual esse projeto recebeu

    um dinheirinho gubernamental

    encontra seu paralelo num

    histrico de escambo, referente

    colonial de relaes de troca

    de objetos entre povos objetos

    esses que so sempre impregnados

    de um complexo significado cultu-

    ral, social e econmico.

    Configurado como uma mostra-encon-

    tro itinerante, Contra Escambos

    articula uma seleo de obras

    de arte, material de arquivo e

    pesquisas visuais como ponto de

    partida para o debate aberto e

    a realizao de desdobramentos

    prticos em cada lugar que se

    apresenta. por enquanto, Belo Ho-

    rizonte e Recife. Assim esperamos

    traar conexes entre determi-

    nados impasses locais e os temas

    abordados na mostra.

  • 84 85exposio contra escambros

  • 86 87exposio contra escambros

  • 88 89exposio contra escambrosCO

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    Distribuio gratuita, proibida a venda. Impresso por Meli-Melo press.

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  • mar.ca / te.ca / estam.ca / graf.ca

    horta comunitria

    muro da escola

    oficinas deseja.ca

  • 92 93oficinas deseja.ca

    O programa DESEJA.CA nasceu de uma pareceria com a Escola de

    Arquitetura e Design da Univer-sidade Federal de Minas Gerais,

    com o objetivo comum de propor

    aes que modifiquem a relao dos

    moradores locais com a comunidade

    em que vivem. Localizado na regio

    metropolitana de Belo Horizonte, o

    bairro Jardim Canad encontra-se

    ilhado entre as margens de um

    parque natural, uma minerao,

    condomnios de luxo e uma impor-tante rodovia federal. A relao

    entre esses vizinhos imediatos e

    a comunidade local formada por

    habitantes, que em sua maioria so

    imigrantes recentes, se explicita

    em paradoxos recorrentes numa

    mescla entre condies de vida

    dspares. No bairro, a rede de

    servios direcionada para atender

    os moradores dos condomnios

    de luxo (que vo desde oficinas

    especializadas em automveis

    importados a um supermercado com

    artigos de luxo), bem como a que

    atende as mineradoras, maior que

    a disponvel para os moradores

    locais. Nesse cenrio, o volume

    de lixo produzido no bairro

    uma sria questo ambiental,

    j que na regio no h coleta

    seletiva, aterros sanitrios ou

    alternativas para um destino mais

    responsvel. O problema tornou-se

    uma oportunidade para ns na

    medida que identificamos que uma

    parte considervel do lixo das

    micro e pequenas empresas pode ser

    reaproveitada, especialmente

    a madeira dos pallets, encontrados

    em profuso. A inteno do pro-grama DESEJA.CA atuar junto ao

    desenvolvimento local. Aps dois

    anos de pesquisas, experimenta-es e intervenes no bairro,

    o que era um projeto tornou-se um

    programa de extenso universitria

    com objetivos mais ousados de

    intervenes comunitrias.

    Uma das mais importantes ativida-

    des programada props a formao

    de grupos de beneficirios de

    projetos da prefeitura de Nova

    Lima com foco no empreendedorismo

    social e na incluso produtiva

    via economia criativa. O programa

    de extenso comps-se de projetos

    integrados, inspirados em ofcios

    tradicionais: ESTAM.CA (estampa-ria), MAR.CA (marcenaria) e TE.CA

    (tecelagem). Todos voltados para

    a criao e produo de objetos

    manufaturados com resduos cole-tados no prprio bairro. Um quarto

    projeto (GRAF.CA) propunha desen-volver material grfico para todo o

    programa: identidade visual, mate-rial didtico, publicaes, sites

    e blogs, flyers de divulgao,

    alm de oficinas de encadernao e

    papelaria artesanal.

    Conseguimos realizar algumas

    aes muito interessantes, com

    a participao crianas, jovens

    e adultos do bairro, alm de uma

    rede de parceiros, mas a falta

    de recursos do programa impediu

    a sua continuidade.

    introduo deseja.caIntroduction DEseja.ca ON pAGE 226

  • 94 95oficinas deseja.ca

    CARTOGRAFIAS ECLTICAS DO BAIRRO JARDIM CANADECLECTIC MAPS OF JARDIM CANAD on page 226

    Stefano BOERI (2010: 183) levanta

    a possibilidade da realizao

    de atlas eclticos, que seriam

    modos de representao do espao e

    do cotidiano da cidade atual, no

    somente como uma estratificao de

    nveis de realidade, mas tambm

    como um modo coletivo de se pensar

    o espao. Seriam representaes

    com mltiplos pontos de vista

    e que fazem um contraponto ao

    paradigma dominante, atacando-o

    lateralmente. Seriam formas de ob-servao dos territrios habitados

    em busca de cdigos individuais,

    locais e mltiplos que aproximam o

    observador do observado.

    Desde 2011, quando se iniciou

    o programa DESEJA.CA, vrias

    incurses na tentativa de produo

    de outras cartografias do Bairro

    Jardim Canad, isto , de levanta-mentos cuidadosos e atentos re-alidade local na sua pluralidade,

    tem sido realizadas. A primeira

    iniciativa de cartografar o bairro

    se deu por meio do Workshop Atlas

    da Diversidade, com o arquiteto e

    designer colombiano Antonio Yemail

    do escritrio Oficina Informal,

    realizado em maio de 2011, durante

    as atividades da Mostra de Design

    de Belo Horizonte (articulado

    ao Seminrio Internacional de

    Design e poltica).

    Durante uma intensa semana,

    os participantes do workshop

    experimentaram novos processos e

    metodologias de diagnstico local

    e coleta de dados, com o intuito

    de possibilitar a criao de redes

    subjetivas em um percurso composto

    por diferentes atuaes, que no

    se reconhecem atravs de uma

    escala homognea ou de um formato

    pr-determinado, mas sim, pelo

    interesse em trabalhar com a ener-

    As aes do programa de

    Extenso DESEJA.CA pretendem-se

    territoriais, isto , nutrem-se

    e retornam s singularidades

    desta localidade. O objetivo de

    empoderamento de uma comunidade

    e promoo da qualidade de vida

    das pessoas envolvidas implica,

    para alm de uma perspectiva

    econmica, a valorizao da iden-tidade cultural de grupos locais,

    potencializando a construo de

    imaginrios compatveis com o ter-ritrio em que vivem. para tanto,

    necessrio entender o territrio

    como lugar de troca e configurao

    de uma rede produtiva e solidria

    e, ao mesmo tempo, agregar

    valor aos produtos desenvolvidos

    coletivamente atravs da coleta de

    informaes que possam potenciali-zar uma esttica que incorpora aos

    produtos, a localidade e a cultura

    de comunidades especficas.

    Assim, existe uma enorme

    necessidade de desenvolvimento

    de parmetros tericos aliados

    investigao e experimenta-o por novas metodologias de

    cartografia capazes de compreender

    e representar a complexidade

    da natureza deste urbano to

    singular daquilo que local

    atravessado por foras globais

    que possam, ento, nortear as

    aes extensionistas. Os mtodos

    tradicionais de representao

    do territrio, mesmo aqueles que

    se pretendem qualitativos, so

    insuficientes para compreender

    a frico entre a produo do

    espao e os modos de re-produo

    social (relao espao-socieda-de). Como forma alternativa de

    se observar e se aproximar dos

    eventos urbanos contemporneos,

    gia disponvel e trazer vnculos

    entre diversas formas de vida. Os

    mapeamentos foram realizados por

    meio de pesquisas histricas e de

    campo, tentativas de compreender

    dinmicas distintas do lugar,

    suas origens histricas e tnicas,

    a formao de uma identidade

    local, as atividades econmicas

    e culturais, os fluxos de

    deslocamento, as tipologias de

    construes, e as inteligncias

    coletivas aplicadas resoluo

    de problemas cotidianos.

    paralelamente ao workshop de

    Antonio Yemail, foram desen-volvido outros dois: de vdeo

    documentrio, com o vdeo-artista

    colombiano Alejandro Araque, e

    de narrativas, edio e publicao

    com o artista argentino Javier

    Barilaro (do grupo ELOISA

    CARTONERA). Sob a orientao dos

    artistas latino-americanos, os

    diferentes grupos trabalharam em

    coletivo colaborando na coleta de

    informaes e narrativas do bairro

    e criando uma gama de experincias

    visuais em linguagens e formatos

    diversos.

    Seguindo a lgica dos atlas

    eclticos de Boeri, a proposta do

    Oficina Informal para o Workshop da

    Mostra de Design 2011 adotou qua-tro eixos conceituais norteadores:

    1) cartografia de coleta (reconhe-cimento do bairro para a gesto de

    material local); 2) baixa resolu-o e imperfeio (estabelecer um

    marco de restries assumindo-as

    como um dado mais trabalhar); 3)

    inteligncia coletiva (reaplicao

    de tcnicas de solues constru-tivas populares); 4) urbanismo dos

    acontecimentos (aes reversveis

    no espao pblico). O Atlas seguiu

    as diretrizes da construo cole-

    juliana torres e natacha rena

  • 96 97oficinas deseja.ca

    tiva de um modelo analtico para a

    visualizao da complexidade das

    quais se extraram as oportunida-des de desenho, entendendo-se os

    mapeamentos como resultantes sin-tticos de uma realidade hetero-gnea: Mapeamento da Diversidade;

    Mapemaneto da Diversidade Material

    e das Inteligncias Coletivas; Ma-peamento da Diversidade produtiva

    e dos Ofcios Emergentes; Mape-amento da Diversidade Cultural e

    dos Acontecimentos; dentre outros

    inmeros mapas que compuseram

    o ATLAS DA DIVERSIDADE DO BAIRRO

    JARDIM CANAD.

    Nas disciplinas UNI009, ofertadas

    entre 2011 e 2012, experimentou-

    se estratgias de mapeamento que

    explorassem novas tecnologias

    digitais para representao e

    compartilhamento de informaes

    e estratgias de mapeamento

    coletivas e participativas. Em

    2012, foram produzidos srie de

    mapas temticos sobre o bairro que

    tinham em comum a experimentao

    de metodologias participativas.

    Assim foram produzidos mapas

    com os jardineiros locais, na

    tentativa de cartografar saberes

    populares sobre jardinagem, alm

    da compreenso dos processos

    econmicos e culturais presentes

    no bairro e relacionados a esta

    atividade que fortemente pre-

    sente e representativa das

    foras que ligam o territrio

    local ao global.

    Outro interessante mapa produzido

    no mbito da disciplina da gradua-o foi o mapa de desejos e sonhos

    de jovens do bairro, realizados

    com alunos de escola municipal

    local. Neste mapa, esto revelados

    sobre o territrio desejos sobre

    o prprio bairro, entrecruzados

    com planos de vida. No mapeamento

    de restaurantes e bares do Jardim

    Canad, embora no tenha logrado

    uma metodologia colaborativa,

    procurou-se revelar, atravs da

    visualizao sobre o territrio

    de informaes inusitadas como

    sobre o cardpio de lugares rela-cionados com alimentao e lazer

    , a complexidade das relaes

    de mistura de classes que ocorre

    no bairro. Ao fim da disciplina,

    um grande mapa foi produzido

    com a participao de pessoas do

    bairro em um evento organizado

    em localidade estratgica. Este

    mapa colheu informaes de vrias

    ordens e permitiu o cruzamento de

    questes aparentemente desconexas

    e invisveis que atuam sobre o

    territrio.

    Na pesquisa Novos processos de

    projeto, tem-se produzido, dentro

    da vertente emprica, mapeamentos

    que tem o intuito de traar uma

    compreenso da dinmica urbana do

    bairro Jardim Canad, considerando

    referencial terico sobre proces-sos de reproduo da metrpole

    contempornea, nas escalas macro

    urbana e micro regional e suas

    especificidades nos pases perif-ricos. Abordagens metodolgicas

    tradicionais tem se mostrado

    insuficientes para a compreenso

    crtica dos atuais processos e

    dinmicas scio-espaciais, e

    grande parte desta dificuldade

    decorre exatamente do fato de que

    tais processos so muitas vezes

    mutveis, instveis e transit-rios. Interessam as metodologias

    capazes no s de apreender e

    compreender os movimentos da di-nmica urbana contempornea, mas

    tambm os princpios e processos

    que a originam. Da mesma maneira,

    interessa uma abordagem crtica

    que considera que a realidade no

    se resume ao que est dado empiri-camente, devendo necessariamente

    compreender tambm tudo aquilo

    que, no sendo dado, merece ser

    construdo.

    para tanto, a pesquisa segue uma

    abordagem experimental, no sentido

    de experimentao como vivncia,

    como experincia. Neste sentido

    o que convencionalmente se define

    e separa como pesquisa terica

    e como pesquisa emprica estaro

    aqui indissoluvelmente imbricados:

    nem a pesquisa terica e sua busca

    de referenciais e balizamentos

    conceituais podem ser compreen-didos independente das situaes

    concretas que a fazem nascer,

    nem a pesquisa emprica exclui a

    elaborao terica e aprofundada

    das questes abordadas. Uma e

    outra se alimentam mutuamente.

    Somente nessa relao dinmica,

    pode-se considerar o mapeamento

    dos processos de produo e trans-formao scio-espacial do bairro

    Jardim Canad na inter-relao

    entre as escalas macro-urbana e

    micro-local. procura-se articular

    mapeamentos que apontam a relao

    entre os processos sociais,

    fsicos, produtivos e ambientais.

    para tanto, alm de se buscar pela

    investigao de informaes no

    convencionalmente consideradas

    em cartografias tradicionais,

    interessa uma experimentao de

    formas de representar graficamente

    o encontro de dados qualitativos

    e quantitativos, de maneira a

    revelar relaes entre os planos

    visveis do territrio e as foras

    invisveis que o perpassa, tanto

    as locais quanto as globais. Como

    as verticalidades e heterotopias

    da macro-economia interagem com o

    caldo cultural e econmico previa-

    mente existente no Jardim Canad?

    Os mapas pretendem confrontar,

    por exemplo, dados demogrficos

    com indcios dos modos de vida

    dos vrios estratos sociais que

    compem o bairro, principalmente

    na maneira como se apropriam dos

    espaos pblicos e coletivos. pro-cura-se mapear os atores sociais

    importantes para o processo de

    implantao de polticas pblicas

    e processos de projeto partici-pativos. procura-se reconhecer a

    relao entre a conformao da

    forma urbana com os espaos da

    vida cotidiana, destacando, por um

    lado, os mecanismos espaciais da

    desigualdade social e, por outro

    lado, as tticas de sobrevivncia

    que revelem saberes populares na

    produo e apropriao do espao

    cotidiano.

    por fim, importante destacar que

    as pesquisas por mapeamentos,

    dentro do programa DESEJA.CA, no

    se constituem atividades tericas

    puras, de observao externa,

    neutra e cientfica. Entende-se a

    cartografia como uma co-pesquisa,

    como uma prxis que no s busca

    compreender o territrio, mas

    atuar sobre ele e transformar os

    atores envolvidos neste processo:

    moradores, artistas, estudantes,

    professores e profissionais.

    Referncias:

    BOERI, S. Atlas eclcticos. In: WALKER, E. (ed.). Lo ordinario. Barcelona: Gustavo Gili, 2010. pg.177-204.

    OLIVEIRA, B.; RENA, N. S. A. Territrios aglomerados: design e extenso universitria. In: Natacha Rena. (Org.). Territrios aglomerados. 1 ed. Belo Horizonte: Universidade FUMEC, 2010, v. 1000, pg. 12-23.

  • 98 99oficinas deseja.ca

    jan. fev. mar. abr. mai. jun.

    Vrias oficinas foram realizadas durante o ano, repassando para a comunidade conhecimentos sobre tcnicas diversas para pbli-cos de diferentes faixas etrias.

    chegada de Novos bolsistas e voluntrios para o deseja.ca

    --Aberta seleo para novos bolsistas e voluntrios para os projetos oficinas do DeseJA.CA

    --Apresentao s pessoas assistidas pelo CRAS e para a Coordenao de Qualificao Profissional do Programa Vida Nova--Apresentao do projeto a um grupo de atividades para senhoras da 3 idade--Encontro com jovens cadastrados no ProJovem na sede do CRAS

    mudana

    Reunio de Apresentao aos Programas parceiros

    Seminrio O DIREITO A CIDADE: O QUE TEMOS EMCOMUM no sesc palladium

    --Visita de capacitao dos bolsistas casa da tcnica de tecelagem Vera

    --Oficina TE.CA:Aula de Tear de Prego--Oficina TE.CA:Aula de Croch

    Oficina ESTAM.CA: Carimbos

    semana aberta re:uso

    Oficina de Criatividade: Mapas Contempo-rneos

    Oficina de Criatividade: bordado da memria

    Oficina de Criatividade: MAR.CA

    on page 230

  • 100 101oficinas deseja.ca

    workshop carrinho de rolim

    Pr-Workshop Horta Comunitria: Reunio e Visita ao Lote

    Workshop Horta Comunitria

    Visita ao Complexo Paraopeba Mina Mutuca

    Passeio orientado: estudo da palavrA COMO IMAGEM

    --Chamada para o Workshop Horta Comunitria divulgada

    --Mutiro de construo e produo de plaquinhas para o Workshop Horta Comunitria

    jul. ago. set.

    Workshop Horta Comunitria

    Mapeamento de Relacio-namentos no Jardim Canad

    Produo de Bolsas para o Grupo da Terceira Idade do CRAS

    --Pintura dos muros da horta e produo de elementos construtivos--Preparao das estruturas para o porto de acesso da Horta Comuntria

    --5 Encontro TE.CA e Grupo da Terceira Idade do CRAS--Workshop Muro da Escola:Orientado por artistas residentes do JA.CA

    Oficina de Pintura do Muro do JA.CA

    out. nov. dec.

  • 102 103oficinas deseja.ca

    horta comunitaria

  • 104 105oficinas deseja.ca

    A horta foi um projeto do

    DESEJA.CA com o CRAS Centro de

    Referncia e Assistncia Social

    da prefeitura de Nova Lima.

    Atravs de mobilizao de uma

    rede de parceiros conseguimos:

    terreno cedido por 2 anos,

    oficinas para aprendizado de

    tcnicas de plantio orgnico,

    material para plantio (terra,

    insumo, mudas) e uma cerca de

    proteo para as plantas.

    Realizada atravs de multires

    que envolveram os bolsitas do

    JA.CA, organizaes sociais

    da regio (Instituto primus,

    Arca Amaserra, CRESCE, CAC),

    pessoas da comunidade, estu-dantes e o Coletivo ppc.

    A horta para uso livre e

    administrada pela comunidade

    desde sua abertura.

    Horta comunitriacommunity garden on page 234

    horta comunitria

    HORTA COlETIVA

    MuTIR

    O COM MORADORES E INTERESSADOS WORkSHOPS AbERTOS ACORDOS E PlANEJAM

    ENTOS

    INSuMOS INVENTOS TCNICAS DE PlANTIO

    CONST

    RuO DA HORTA PlANEJAMENTO DA HORTA ADEQuAO DO ESPAO CONCESSO DOS lOTES

    GR

    uPO DE TRAbAlHO INTERSETORIAl DA REGIONAl NOROESTE NOVA lIM

    A COMuNIDADE VOluN

    TRIOS E TCNICOS

  • 106 107oficinas deseja.ca

    GRAF.CA produziu a identidade visual e o material grfico para o workshop. A con-vocatria aberta reuniu moradores, instituies p-blicas municipais e organizaes sociais do bairro Jardim Canad e regio.

    utilizando os pallets des-cartados como matria prima, MAR.CA produziu cercas, e placas de identificao em oficinas com a participao da comunidade.

    Intervenes no muro da Horta Comunitria. Ca-rimbos artesanais e mscaras de estncil foram utilizadas na oficina do ESTAM.CA para ornar o espao e identifi-car as plantas.

    horta comunitria

  • 108 109oficinas deseja.ca horta comunitria

  • 110 111oficinas deseja.ca horta comunitria

  • 112 113oficinas deseja.ca

    muro da escola

  • 114 115oficinas deseja.ca

    A pintura do muro, resultou

    de uma parceria com a Escola

    Estadual Maria Josefina Sales

    Wardi. Os artistas residentes

    do JA.CA Raquel Schembri e

    Estandelau, em colaborao com

    as bolsistas do ncleo de estam-paria do DESEJA.CA e alunos do 9

    ano do turno da tarde, conduziram

    uma oficina que teve durao de

    oito encontros. A oficina contou

    com a apresentao dos trabalhos

    dos artistas residentes, aulas de

    criatividade e de metodologia de

    trabalho colaborativo. Algumas

    dinmicas foram realizadas em

    sala de aula antes que a oficina

    enfim fosse transposta para a rea

    externa da escola. O mtodo de

    pintura foi elaborado a partir de

    exerccios realizados em sala de

    aula, e proposto por um dos alunos

    que criou uma malha de pontos que

    poderia ser conectado por linhas

    gerando diversas formas.

    muro da escolaSchool wall on page 234

    muro da escola

  • 116 117oficinas deseja.ca

    A oficina realizada para pintar o muro da escola passou por algumas eta-pas, constitudas de experimen-tos criativos e colaborativos que resultaram em um extenso mural multicolorido.

    muro da escola

  • 118 119oficinas deseja.ca muro da escola

  • 120 121oficinas deseja.ca muro da escola

  • studio superfluo

  • 126 127studio superfluo

    A partir de uma rede colaborativa

    estabelecida entre o JA.CA, o pro-grama Comunidades Criativas das

    Geraes (ao de extenso da Escola

    de Design da UEMG), o coletivo

    Studio Superfluo Ecodesign (formado

    por alunos em fase final de gradu-ao do Instituto Politcnico de

    Torino-Itlia) e o Espao Social

    Transformar (associao que atua

    junto a crianas e adolescentes em

    situao de vulnerabilidade social

    no Jardim Canad), foi realizada

    a oficina de criao e desenvolvi-mento de produtos confeccionados

    a partir do reaproveitamento de

    madeiras de pallets.

    Entre os dias 18 de novembro e

    11 de dezembro, ao longo de oito

    encontros, sob a orientao e com

    o apoio tcnico das entidades par-ceiras, o grupo de 10 adolescentes

    moradores do bairro (garotas

    em sua maioria) serviu-se da

    marcenaria do JA.CA para projetar

    e executar quatro propostas um

    banquinho infantil em formato de

    urso, um pequeno ba, uma poltrona

    e uma casinha de cachorro.

    Os encontros envolveram um momento

    inicial para a definio e criao

    colaborativa dos projetos a

    serem desenvolvidos e atividades

    prticas na marcenaria, em que

    os jovens aprenderam princpios

    bsicos relacionados execuo

    do projeto, desde a escolha,

    desmontagem e preparao das

    madeiras dos pallets ao corte,

    montagem, lixamento e acabamento

    dos produtos piloto.

    studio Superfluo on page 223

  • 128 129residncia 2013

    beto shwafaty

    estandelau

    roberto freitas

    raquel schembri

    daniel toledo & marina camara

    residencia 2013

  • 130 131residncia 2013

  • 134 135residncia 2013

    Residncia 2013Residency 2013 on page 238

    O programa de residncias arts-ticas realizado em 2013 apresentou

    novidades em relao s edies

    anteriores. Pela primeira vez,

    foi aberta uma vaga destinada

    a pesquisadores, crticos ou

    curadores para a realizao de um

    projeto de investigao artstica.

    O estabelecimento de prticas

    colaborativas entre os residentes

    e o desenvolvimento de projetos

    que partem de processos criativos

    mais reflexivos e abertos

    participao de outros pblicos

    sempre foram preceitos claros nas

    residncias promovidas pelo JA.CA.

    No campo artstico, as fronteiras

    entre reflexo e prtica esto cada

    vez mais tnues e no podem ser

    confinadas a lugares especficos,

    como a Academia ou a galeria. Ao

    instaurar o convvio e a troca de

    experincias entre pesquisadores

    e artistas em uma residncia, o

    JA.CA parte do entendimento de que

    projetos de pesquisa e de prtica

    artstica no so categorias

    estanques e apresentam movimentos

    e traos semelhantes. Possibilitar

    que artistas e pesquisadores

    em arte trabalhem lado a lado

    contribui para a criao de redes

    de trabalho e, em especial, para

    a quebra de vises preconcebidas

    e idealistas que costumam colocar

    em oposio a atuao do artista

    e a do crtico de arte. A outra

    particularidade da Residncia 2013

    foi a participao exclusiva de

    residentes brasileiros.

    A convocatria que foi aberta em

    agosto anunciava a participao

    de um artista estrangeiro, contu-do, durante o processo de avalia-o das propostas e contato prvio

    com os artistas pr-selecionados o

    candidato estrangeiro selecionado,

    Alejandro Haiek (Venezuela), comu-nicou comisso que, em razo de

    compromissos assumidos com outros

    trabalhos, no poderia permanecer

    no Brasil durante os meses de

    outubro e novembro.

    No processo de seleo, o jri,

    composto por Brigida Campbell

    (artista, professora da EBA-UFMG

    e co-fundadora do EXA), Samantha

    Moreira (artista e fundadora

    do Ateli Aberto, Campinas)

    e Francisca Caporali (artista,

    professora da Escola Guignard

    e co-fundadora do JA.CA),

    priorizou propostas que suscep-tveis a colaboraes entre o

    grupo e que fossem provocativas

    para o contexto da residncia.

    Nesse sentido, dentre os projetos

    inscritos, seria mais proveitoso

    para a iniciativa substituir

    a vaga do artista estrangeiro

    pela participao de outros dois

    artistas brasileiros.

    Em meados de setembro, foi

    anunciado o grupo final dos

    participantes da Residncia 2013,

    realizada entre 15 de outubro

    e 7 de dezembro de 2013: os artis-tas Beto Shwafaty (Campinas-SP),

    Estandelau (Ibirit-MG), Roberto

    Freitas (Florianpolis-SC) e Ra-quel Schembri (Belo Horizonte-MG);

    e os pesquisadores Marina Cmara e

    Daniel Toledo (Belo Horizonte-MG).

    foram priorizados projetos que se mostraram mais suscetveis possveis colaboraes originadas no processo de compartilhamento de um espao de moradia e trabalho. Os projetos selecionados estabelecem dilogos e abordam questes, cada um sua maneira, que estreitam as fronteiras entre arte, arquitetura e entre a pesquisa e prtica artstica.

    francisca caporali, joana meniconi

    e mateus mesquita

  • 136 137residncia 2013

    Beto Shwafaty

    beto shwafaty

  • 138 139residncia 2013

    As imagens que seguem integram um projeto em desenvolvimento, que parte de uma reviso e interesse crtico sobre certos episdios do modernismo brasileiro. Por meio de produes fotogrficas documentais, peas textuais e elementos escultricos, certos sistemas estticos e padres de valor j estabelecidos so explora-dos. Ao mesmo tempo que h um encanto pelas promessas e utopias no cumpridas do passado e ao arcabouo de conhecimentos ali gerados h tambm a desiluso que advm da percepo de que estes parecem estar, ainda, em estgio de letargia, de hibernao.

    Tudo comea com as curvas: da mu-lher, das montanhas e das ondas do

    mar. Em seguida, surge um povo que

    necessita de um novo imaginrio

    para suportar as exploraes do

    passado. H tambm a necessidade

    de um lder e de seus agentes,

    construindo novos caminhos,

    imagens e lugares Dizem que vis-lumbrar aquilo que ainda no foi

    ao mesmo tempo em que se percebe

    tanto as conquistas como tambm os

    fracassos, algo imprescindvel a

    qualquer projeto.

    Mas h tambm um certo efeito o

    qual parece ter se instaurado no

    imaginrio cultural local que

    exercido por uma paisagem cur-vilnea resultante das curvas de

    nvel das escavaes e das picadas

    sinuosas que escoavam a minerao.

    A partir dessas paisagens, temos

    pistas que nos permitem ler certa

    parte (aquela dita oficial) da

    Arquitetura Moderna Nacional, como

    uma possvel inverso complementar

    aos vazios deixados pelos ciclos

    de minerao do passado, ou seja,

    ligada a certos valores arcaicos

    oriundos da explorao. Construo

    e escavao, um negativo e posi-tivo do outro, sincronizados e em

    constante movimento, alimentando

    ciclos de explorao e progresso.

    Para artistas, arquitetos e outros

    hbridos (que seriam depois chama-dos designers, mas tambm podemos

    incluir certos tipos de adminis-tradores, poetas e governantes),

    o Modernismo significava uma nova

    perspectiva, ainda que de difcil

    aceitao. Ele pretendia chocar,

    revirar os costumes e gostos

    burgueses, dar forma a uma nova

    ideologia poltica que construsse

    uma nova sociedade ao instaurar

    novos regimes sociais de produo

    beto shwafatyrumores e continuidade de um certo barroco moderno. Notas sobre um projeto em progresso

    rumours and continuities of a certain modern Baroque. Notes on a project in progress on page 240

    material e subjetiva de vida.

    Se o Modernismo europeu propunha

    uma limpeza dos ornamentos e

    outros penduricalhos como forma

    radical e austera de romper com

    valores opressivos do passa-do; o Barroco, por oposio ao

    Renascimento, era assumido como

    anti-clssico, arte bastarda e

    radical. Teramos, assim, em ambos

    uma atitude de oposio s regras

    vigentes. Tal fato permitiria

    estabelecer certas comparaes

    funcionais entre estas manifes-taes, porm muitas das obras

    cones de nossa Arquitetura Mo-derna parecem existir numa lgica

    oposta a tal diretriz. Deste modo,

    podemos indagar: e se o Modernismo

    no passou, em nosso territrio,

    de apenas uma releitura, de uma

    atualizao de certos valores

    do passado ligados a uma forma

    peculiar e local de Barroco? Que

    resultados poderamos identificar

    nessa hiptese?

    Para alm dos discursos progres-sistas e promessas polticas de

    modernizao, nossa raiz artstica

    reside no Barroco. Ele nossa

    antiguidade, defendia Lucio Costa.

    Mas, o estilo adquiriu tal perva-sividade em nosso territrio, que

    se tornou mais do que forma ar-tstica: da profuso de detalhes,

    ornamentos e arabescos destinados

    a ocupar todo o espao da repre-sentao, ele se transformou em

    modo de vida, forma de agir e de

    saber, num paralelo s dinmicas

    de colonizao (cuja ordem era

    ocupar, ainda que desordenadamen-te). Ele se prestou a manifestar

    o gosto do poder absoluto, da

    aristocracia rural, da burguesia

    mercante e do poder catequizante.

    No toa que a riqueza do ouro

    e da minerao tenham embasado a

    beto shwafaty

    implantao do estilo como lin-guagem visual do Imprio Colonial,

    infiltrando-se consequentemente

    na formao da subjetividade e do

    imaginrio social.

    O discurso em defesa de uma

    origem barroca criado por Costa

    exemplar, pois afirma que nossa

    antiguidade poderia situar-se

    numa vertente barroco-jesuta,

    vista por muitos como pobre e des-provida de excessos, austera como

    deveria ser a Arquitetura Moderna

    e ao mesmo tempo nica, pelo modo

    singular com que o Barroco fora

    implantado originalmente pelas

    misses catequizantes. H tambm

    os impasses envolvidos na constru-o do Grande Hotel em Ouro Preto,

    cujo projeto arquitetnico-moderno

    de Niemeyer, defendido por Costa,

    gerou enorme controvrsia sobre

    o modo (por vezes arbitrrio)

    pelo qual a Histria encarada e

    intervenes em seus patrimnios

    realizadas. a partir destas

    linhas que podemos observar a

    recuperao e permanncia do

    Barroco, no como estilo mas como

    lgica que influenciou o modo

    pelo qual a Arquitetura Moderna

    Nacional se construiu, a reboque

    dos novos poderes nacionais.

    Ento, o principal programa desse

    Modernismo, cuja antigidade

    reside no Barroco, serve cons-truo (ou melhor, ao remake)

    de um imaginrio de poder. So

    imagens, formas e esquemas de

    representao, ligados a um tipo

    de atuao que no se encara como

    colonial mas que, contraditoria-mente, se ancora nesta condio

    passada. Um Barroco Moderno, cujo

    corpo de ideias gera um projeto

    esttico pautado numa constante

    de variaes formais atravs do

    tempo, que revelam no ruptura mas

    continuidade. Continuidade esta

    que extrapola a esfera formal e

    ao final, revela propsitos hist-ricos, econmicos e ideolgicos

    similares.

    Esta contradio no era to clara

    na primeira metade do sculo XX,

    quando houve certa coincidn-cia entre os planos estticos

    de vanguarda e as ideologias

    polticas progressistas, as quais

    despontavam como promessas de

    desenvolvimento tanto econmico

    quanto social. Mas se lembrarmos,

    por exemplo, do passado do lago da

    Pampulha como rea de minerao

    e seu complexo arquitetnico-

    moderno como marcos de uma nova

    paisagem imobiliria em expanso,

    podemos entend-los como faces

    de uma mesma moeda: explorao e

    progresso. E tais movimentos ainda

    ecoam nos modos em que certas

    esferas atuais do poder fazem

    uso de um vocabulrio estti-co-arquitetnico-moderno para

    materializar sua presena pblica

    atravs de edifcios suntuosos,

    brancos, de concreto, envidraados

    e com azulejos (nestes h algo de

    tecnolgico e abstrato, de simples

    e icnico). So certamente cons-trues despidas da excessiva or-namentao e detalhes do Barroco,

    porm, ao tomarmos certa distncia

    parecem eles mesmos ornamen-tao em escalas monumentais,

    encravadas em nossa paisagem. H

    nesses atos monumentais, nesta

    vontade construtiva, um potencial

    destrutivo sobre certas ordens

    naturais. H, nesses edifcios,

    muita forma e pouca funo. Faltam

    ateno aos detalhes, ao que

    diminuto, escala humana. So

    construdos, quase sempre, numa

    situao provisria e apartada que

    se faz permanente.

    Entre uma raiz Barroca-festiva e

    uma vontade de ordenao Moderna-

    construtiva, os equipamentos

    utilizados pelo poder assumem,

    ento, um status pseudo-moderno.

    Parecem algo inerente paisagem,

    um elemento local. Mas tal

    entonao mascara sua alienao

    contextual. So trompe loil, ilu-so e deformao, como no Barroco.

    So dispositivos que encarnam, ao

    final, a toada de antigos regimes,

    atravessados por plos opostos

    que anulam a possibilidade de

    construir uma outra paisagem,

    histrica e social. A nossa

    Arquitetura Moderna, curvilnea

    e sensual, tambm Barroca,

    colonial e mineral.

    E partir destes episdios

    histricos que podemos encontrar

    as origens de certas controvrsias

    atuais, como por exemplo das pos-sveis relaes entre a explorao

    do minrio nibio e os recursos

    utilizados na construo da nova

    Cidade Administrativa do Estado de

    Minas Gerais, num caso cercado de

    rumores sobre envolvimentos entre

    esquemas de corrupo, desvio

    de recursos pblicos e at mesmo

    contrabando desse minrio. Assim,

    do ouro ao nibio, do colonial

    Barroco ao Moderno sensual, das

    Minas Gerais ao Rio de Janeiro,

    do interior explorado ao porto-

    -capital o Barroco Moderno parece

    nunca ser infra-estrutural, mas

    composto de rumores e episdios

    que se constituem como belas

    e raras excesses.

    A seduo pelas formas ainda

    beto shwafaty

  • 140 141residncia 2013

    persiste. No h mais metais

    preciosos para embas-la e sim

    novas terras raras, gerando re-cursos para a construo de palcos

    do poder, porm de uma velha

    histria. Triste fim para esse

    Modernismo, que no se deglutiu e

    virou tradio, no pior sentido.

    Perdeu-se pela falta de ruptura

    com uma ideologia manca e colo-nial. Estaramos, assim, fadados

    a ser eternamente Barrocos? Mas a

    realidade que, talvez, ainda no

    tenhamos sido de fato Modernos.

    beto shwafaty

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    estandelau

  • 150 151residncia 2013

    [...] Quem comanda a narrativa no

    a voz e sim os ouvidos [...].

    Com esta frase, Estandelau apre-senta um dos desenhos que compem

    o projeto que realizou durante

    a residncia do JA.CA, Atributo

    dos figurantes. Neste trabalho o

    artista constri, para algumas das

    famlias, brases cujas imagens

    so criadas por eles prprios

    atravs de parmetros estabele-cidos por uma entrevista escrita

    e filmada. Atravs da construo

    destes brases, Estandelau busca

    conhecer esse territrio domi-nado, se esquivando, assim, de

    discursos previamente construdos

    a seu respeito.

    Os brases podem ser descri-tos como jogos de composies

    realizadas a partir de elementos

    que fazem sentido para o sujeito

    a quem se refere. Uma espcie de

    decupagem da realidade por ele

    vivenciada. A maior dificuldade

    enfrentada por Estandelau foi,

    no entanto, encontrar aqueles que

    deste jogo quisessem participar,

    tarefa que realizou ainda que se

    deparando com resistncias ou

    mesmo negativas, como o artista

    se refere no disponibilidade

    de alguns abordados. Felizmente,

    outras famlias foram, por fim,

    receptivas, fazendo com que

    Estandelau criasse por exemplo,

    para Dona Aurinha, um braso

    cujo smbolo central foi Nenego,

    o passarinho que a faxineira,

    original de Macei, diz ser como

    ela, mantendo-o em uma gaiola.

    Mas os brases executados por

    Estandelau so mesmo simples

    representaes daqueles para

    quem so feitos? Ou, ao invs de

    afirmar algo sobre eles, colocam

    perguntas a ns e a eles

    prprios sobre seus contextos

    de vida, seus valores e seus

    smbolos?

    Nos parece que o que faz o artista

    neste trabalho se aproxima mais da

    subverso das relaes semiticas

    em que um smbolo assume o

    lugar de algo ou de algum ,

    fazendo com que se opere a no

    uma simples representao, uma

    relao direta e causal uma

    narrativa linear , mas sim algo

    que nos remete chamada nova

    ficcionalidade1, termo usado pelo

    filsofo Jacques Rancire para

    dizer sobre um determinado arranjo

    dos signos da linguagem que indis-tingue razo e fico. Indistinguir

    razo e fico tomado aqui como

    a reivindicao da liberdade de

    fazer, declaradamente, aquilo que

    toda Histria faz: escrever his-trias. No queremos dizer que os

    elementos que compem os brases,

    ainda que indicados um a um pela

    famlia, desde as cores at os

    objetos, configuram uma narrativa

    ficcional. Mas sim que, por meio da

    interveno de Estandelau, esta

    ordenao de signos acaba por

    criar uma fenda no prprio sentido

    de brasonar, levando-o muito alm

    de uma simples relao indicial

    sobre aqueles que representa e

    propondo, por fim, outras possibi-lidades de pensar suas histrias,

    j que, como bem disse Rancire,

    o real precisa ser ficcionado para

    ser pensado2.

    No fortuito, portanto, que

    Estandelau atribua, como dito, o

    comando da narrativa a quem ouve,

    e no a quem narra. Subvertendo a

    hierarquia entre quem fala e quem

    escuta, este modo outro como o

    artista narra sem narrar o torna

    parte daquilo de que ele tenta,

    atravs de seu trabalho, conhecer.

    Ouvindo, ou seja, se deixando

    estandelauQuem comanda a narrativa no a voz e sim os ouvidos

    He who commands the narrative is not the voice, but rather the ears on page 242

    marina cmaraadentrar pela voz do outro e no

    narrando ele cumpre aquilo que

    havia proposto para si desde o

    momento em que projetou este jogo:

    compartilhar o ttulo recebido

    expresso usada por ele para dizer

    sobre ter sido selecionado como

    artista residente.

    Em outro momento Estandelau escre-ve: Minha rota no Jardim Canad

    havia de fato se iniciado. Mais

    uma vez eu voltava minha cruz.

    Esta misso da qual ele parece

    nunca se destacar nos leva a

    pensar sobre o extremo compromis-so imposto a si para compartilhar,

    construir e dar a ver as formas

    de inteligibilidade.

    estandelau

    1. RANCIRE, Jacques. 2005, pg. 55.

    2. Ibidem, pg. 58.

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    roberto freitas

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    1. Digamos que a instalao pbli- ca que Roberto Freitas apresentou

    como resultado do perodo de

    residncia no JA.CA, em Minas

    Gerais, seja exatamente o oposto

    de uma instalao pblica. Pri-meiro porque a instalao no pos-sui qualquer carter monumental,

    como acontece com grande parte

    das obras pblicas, embora no

    todas, naturalmente. Mais do que

    isso, trata-se de uma instalao

    invisvel, ou melhor, camuflada,

    escondida na paisagem, fazendo

    do prprio desaparecimento um

    de seus principais assuntos. De

    resto, a instalao foi concebida

    no para causar qualquer tipo de

    prazer e nem sequer reflexo, e

    sim estranhamento e quem sabe at

    mesmo algum dano psicolgico.

    2. Desde que passei a acompanhar a trajetria de Freitas, creio

    que por volta de 2006, o artista

    j fazia espcies de mquinas

    improdutivas, a partir de certa

    compreenso do pensamento de

    Duchamp, que poderia ser resumido

    da seguinte maneira: o artista no

    realiza obras, mas inventa procedi-mentos para que as obras possam ser

    realizadas sozinhas. Por um lado,

    as mquinas de Freitas podem ter

    formas, dimenses e mesmo efeitos

    bastante variados, gerando sons,

    imagens e/ou movimentos geralmente

    repetitivos, sempre inexpressivos,

    enfim; por outro, elas no possuem

    qualquer funo til. Lembro de

    uma instalao que, ao usar aprox-imadamente 2 mil metros de fiao

    eltrica, e ocupando duas salas

    inteiras de um Museu, era capaz de

    produzir apenas uma imagem embaa-da em um pequeno monitor voltado,

    alis, para a parede.

    3. De l pra c, em sua pesquisa, o artista descobriu novos mecanis-mos, sendo que o principal deles

    consiste na possibilidade de que

    estas mquinas, atravs de certos

    dispositivos de percepo, possam

    se relacionar com outras mqui-nas ou mesmo com pessoas. Para

    isso, o artista teve que estudar

    novos algoritmos e aperfeioar al-guns conhecimentos em programao

    de computadores. Suas mquinas

    mais recentes, diferente das

    anteriores, no apenas so capazes

    de notar aproximaes, mas tambm

    produzem aes elas prprias.

    Dessa maneira, duas mquinas

    podem trocar golpes entre elas,

    e inclusive se defender, como

    o caso de Cedro vs Caxeta, assim

    como s mostram do que so capazes

    caso o espectador se comporte

    adequadamente, a exemplo de Trs,

    instalao realizada recentemente

    no SESC Pompia.

    4. A mquina realizada para o

    JA.CA, Fantasmatogrfico, tambm

    possui tais aptides, com a nica

    diferena de que foi concebida

    para o espao pblico, ou seja,

    em algum lugar do bairro. A

    instalao, nesse caso, funciona

    apenas das 23h s 2h (por assim

    dizer, seu horrio de visitao)

    e consiste em um objeto cintico

    que, com a condio de que algum

    caminhe pela regio, projeta

    imagens e sons (no caso, um co

    ladrando) prximo ao infeliz. De

    dia, inclusive pra no dar muito

    na vista, o dispositivo recarrega

    as baterias atravs de energia

    solar. Como os fantasmas, o equi-pamento se esconde muito bem no

    topo de uma rvore, protegido por

    uma estrutura que tem a aparncia

    de um coco e, portanto, no corre

    o risco de ser nem mesmo destrudo

    victor da rosaRoberto freitasO fantasma do Jardim Canad

    The ghost of Jardim Canad on page 244

    pela natureza. O objetivo de

    funcionar em tal horrio, por

    sua vez, bastante claro.

    5. Em todo caso, se tudo der

    certo, o fantasma projetado pela

    instalao vem se confundir a

    outros fantasmas que, segundo

    pesquisa realizada pelo artista,

    povoam o imaginrio do bairro.

    Assim como vem nos lembrar,

    atravs tambm da citao aos

    primeiros cinematgrafos, de uma

    intrnseca relao entre imagem

    e morte, arte e apario. Seja

    como for, assim como a arte, os

    fantasmas sero sempre estranhos,

    salvo engano, e por isso seguiro

    nos ensinando que o nico jeito

    de saber que estamos vivos

    atravs da nossa capacidade de

    surpresa, pasmo e susto com o

    mundo seja com o mundo da arte

    ou o mundo dos fantasmas.

    roberto freitas

  • 160 161residncia 2013 roberto freitas

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    Chegar em Belo Horizonte

    dramtico, j do avio se pode

    perceber a particularidade da

    paisagem. Um mar de montanhas

    cerca a cidade e em meio, grandes

    feridas abertas pelas mineradoras.

    Entre a serra do Rola Moa, o

    Retiro das pedras e uma gigantesca

    extrao de minrio de ferro, o

    Jardim Canad um repetido mar e

    particularidades. Uma periferia

    onde a pobreza evidente compartil-ha espao com galpes industriais

    e lojas de produtos para ricos,

    como quadriciclos e obras de

    arte. O resto parece to normal

    no contexto das desigualdades

    vertiginosas em que vivemos.

    O Primeiro problema que me in-trigou foi o da mina em atividade

    localizada a trezentos metros

    do meu novo espao de trabalho.

    possvel avistar a mina

    praticamente de todo o bairro com

    exceo dos lugares mais baixos

    sua presena se faz sentir pelas

    detonaes, que ocorrem nas teras

    e quintas feiras.

    Uma minerao o exerccio de

    subtrair uma paisagem, desmont-la

    com explosivos e coloc-la aos

    poucos em grandes caminhes, que

    parecem minsculos quando dentro

    da mina. O segundo exerccio

    o de transferir a montanha

    desses caminhes para trens

    ainda maiores. Os trens vo para

    o litoral e a montanha ruma nos

    pores de navios at a China; esse

    o terceiro exerccio.

    Enfim a atividade econmica mais

    importante do Jardim Canad

    enviar sua paisagem para China

    que, em troca, paga pouco mais de

    13 centavos de dlar o quilograma.

    Parece um grande modelo de

    negcio, muito lucrativo. Mas o

    Jardim Canad pobre, e sua popu-lao, que j tem pouco, vai sendo

    destituda da prpria referncia

    geogrfica. Me pareceu inelutvel

    que os buracos na paisagem se

    transformem em somticos buracos

    no corpo de quem foi dest