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Em tempo de catástrofe, um filme sobre a catástrofeleopardofilmes.com/pdf/paixao_dossier_imprensa.pdf · Sobre esta “ banalidade do Mal” se ergue a procura de uma linguagem

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Uma mulher a recuperar de uma tragédia pessoal aprisiona um homem que encontrou numa festa, fechando-o num quarto de um prédio em demolição. O luto dela passa a ser a luta entre os dois, num corpo a corpo verbal e na banalidade de um falso quotidiano “conjugal”. Ela prendeu-o. Mas será que ele consegue viver sem ela?

Em tempo de catástrofe, um filme sobre a catástrofe amorosa.

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COMENTÁRIO DA REALIZADORA

Este filme é um ponto onde culmina uma procura.

Até que profundezas se eleva uma relação amorosa que vai abolindo tudo à sua volta, todo o contexto, numa simbiose que se chama Paixão.

A vertigem para a destruição do Outro, como última forma de consolação. Um exercício de Poder absoluto que não é senão uma fantasia requintada, um jogo de grande violência verbal, um teatro onde se encenam os gestos de um quotidiano precário, como o prédio em demolição do filme.

Este filme segue uma trajectória talvez adversa e que vem de longe, do meu 1º filme,” Relação Fiel e Verdadeira”, tão fora do tom com que se quer fazer cantar a toda a gente a mesma canção.

Não estaremos também nós agora dentro de um prédio em demolição, enclausurados numa cadeia em que a violência é gerada por outra violência, a grande armadilha da vida que é tornar a vítima de hoje no algoz de amanhã.

Sobre esta “ banalidade do Mal” se ergue a procura de uma linguagem apurada, plástica e verbal, baseada na máxima concentração de meios.

Margarida Gil

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FILMOGRAFIA SELECCIONADA

1987

RELAÇÃO FIEL E VERDADEIRA (Festival de Veneza – Selecção Oficial) 1992

ROSA NEGRA (Festival de Locarno – Em Competição) 1999

O ANJO DA GUARDA (1º Prémio do Festival de Roma; 1º Prémio dos Encontros de Tourcoing [ex-Festival de Dunquerque]; Prémios nos Festivais de Cinema da Figueira da Foz e Fantasporto) 2005

ADRIANA (Estreia mundial no Festival de Roma – Prémio de Carreira no festival; IndieLisboa – Prémio de Melhor Filme Português; Festival Luso-Brasileiro de Stª Maria da Feira – Prémio Especial do Júri; Globo de Ouro para Melhor Actriz de Cinema) 2010

PERDIDA MENTE (Festival Internacional de Cinema e Vídeo Independente de Nova Iorque - Prémio de Melhor Argumento) 2011

PAIXÃO

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“PENSAR DÁ MUITA MAÇADA” “PAIXÃO” NAS PALAVRAS DE LUÍSA COSTA GOMES

Encontra-se uma ideia simples (uma mulher sequestra um rapaz muito bonito) e parte-se deste “what if” para construir um filme tenso, denso, complexo, vivido e profundo sobre a perda e o vazio que são a cama de todas as relações, incluindo as amorosas. E como dessa perda umas vezes se parte e outras vezes ela é ponto de chegada insubstituível e inultrapassável, que no filme se torna ponto de convergência dos caminhos dos dois protagonistas. Do ponto de vista dramatúrgico, a ideia do espaço fechado só pode ser produtiva: essa contenção faz com que cada novo plano tenha de ser absolutamente inventivo e absolutamente necessário. De facto, a clausura é o universo da paixão. Via sacra obsessiva e centrada em si mesma, é a analogia do sequestro a que bem define o que sente o apaixonado, roubado a si próprio e tão perdido num espaço confinado como no mundo exterior. Um homem à espera de ser apanhado do chão e uma mulher que perdeu tudo são candidatos ideais a um suicídio a dois. Mas esperamos contra toda a esperança

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que uma “relação” que começa de forma tão “ignóbil”, como diz a cantora lírica virada sequestradora, Salomé, tenha o seu quê de redentor.

Uma das frescuras do filme é ser todo ele inesperado. Desvia dos lugares comuns, de tudo o que é formato, de tudo o que nos possa enfim entediar. As personagens não são deitadas na cama de Procustes do naturalismo: o discurso está repartido em posição e repartée, entre o irónico e o jocoso. Os diálogos, da autoria de Maria Velho da Costa e de Margarida Gil, são frases atiradas às paredes. O vocabulário é universal, não se limita a si próprio, vai buscar os termos onde é preciso: à rua, ao cinema, à literatura, à vida, aos tempos. O efeito é quase sempre o de um alerta, em vez da monotonia opiácea do mainstream e do mainstream sundance e do mainstream off sundance. Aqui os diálogos não ilustram e não descrevem (é isso que a imagem lá está a fazer) e só em último caso informam. São uma benfeitoria que valoriza o acto artístico do cinema – contra a corrente dos tempos guionísticos, que querem diálogos redundantes e imbecilizantes.

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Com esta Paixão, Margarida Gil está na sua maturidade como artista – argumentista, pintora, dialoguista, melómana, cineasta. Ou melhor, e numa palavra, autora. O seu filme reúne bons actores, um bom argumento, uma fotografia de excepção, diálogos brilhantes. A música é outra paixão assumida. Também há canções e pianistas e violoncelistas. E na sua maturidade Margarida Gil corre todos os riscos - principalmente os que estão associados à singularidade, à qualidade artesanal e à irremediável autoria. “Pensar dá muita maçada”, diz o sequestrado a certa altura. Pois dá. Mas não era mesmo, nos humanismos d´outrora, o que nos distinguia das bestas?

Luísa Costa Gomes

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A PAIXÃO SEGUNDO MARGARIDA GIL TEXTO DE MANUEL GUSMÃO Quando o filme começa a viagem já começou. E dessa diferença ou diferimento começa por nascer o mistério ou a dificuldade de o nosso olhar entender o que vê acontecer. As imagens são a forma plástica das perguntas que se desencadeiam. Só tarde no filme, o espect6dor fica na posse de alguma informações que lhe permitem ordenar o material que lhe foi sendo servido.

O que se passa neste quarto fechado, nesta casa que nunca veremos toda, nesta casa, em ruínas ou em obras? O quarto fechado está para a visão incompleta da casa e para os fragmentos de rua, como o excesso de não saber, o excesso de ignorância que nos dá a ver a magnífica opacidade dos corpos. O quarto fechado desdobra-se em ecos e traduções: ele são portas e fechaduras e ruídos de chaves, rodando no interior delas e deslocando-as, accionando as pequenas

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línguas de ferro; e umas janelas ou janelos onde as mãos, que não se tocam, trocam os pratos cheios por vazios, de comida; e estes por aqueles.

À medida que o tempo passa, vais sabendo mais e, contudo, nunca saberás tudo: quem aprisiona quem? Quem fecha e quem abre o espaço do outro? Quem abre e fecha? Quem canta? Quem sofre e quem move a paixão? Quem traduz da ópera a canção?

Porque é que aquilo que o cinema inventa haveria de ser parecido com o que te parece o mundo e as suas populações que andam de trás para a frente e de frente para trás?

Triste invenção – A música, o teatro, a dança - se as suas figuras e obscuras passagens te permitissem apenas fazer caricaturas.

Por exemplo, como poderias tu des-conhecer os sinais da paixão que passam desta pintura de perdiz ou deste galgo deitado para o largo ritmo das ondas ou o seu alvoroço entre rochas. E, sem a literatura, como poderias alucinar imagens para o cinema da paixão?

Manuel Gusmão

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FICHA ARTÍSTICA Carloto Cotta - João Lucas Ana Brandão - Maria Salomé Sandra Faleiro – Ana Gonçalo Amorim - Nuno Alexey Shakitko - Evgeny Constança Villaverde – Menina da Trotinete

FICHA TÉCNICA

Argumento e Realização - Margarida Gil Diálogos - Margarida Gil e Maria Velho da Costa Director de Fotografia - Acácio de Almeida Som - António Pedro Figueiredo (Copi) Direcção de Arte - Nuno Esteves (Blue) Montagem - Paulo Mil Homens uma co-produção - Clap Filmes e Alfama Films com a participação - MC/ ICA, RTP e Câmara Municipal de Lisboa

Estreia - 9 de Fevereiro de 2012