97
I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS 17 a 20 de novembro de 2020 Goiânia/GO

EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS

17 a 20 de novembro de 2020 Goiânia/GO

Page 2: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

SUMÁRIO CONFERÊNCIAS A crise dos acervos: curadoria arqueológica como pesquisa Michael Heckenberger 2

Arqueologia histórica, colonialismo e capitalismo Marcos André Torres de Souza 4

Por arqueologias vivas Bruna Cigaran da Rocha 5

SIMPÓSIO TEMÁTICO 1 - MATERIALIDADES, MUSEUS E PATRIMÔNIOS A crise dos acervos: curadoria arqueológica como pesquisa Daiane Pereira 7

Mas afinal, o que é descarte? Marjori Pacheco Dias & Vagner Carvalheiro Porto 8

O museu ciberarqueológico e a visibilização de um elemento da cultura material do povo Guarani na Terra Indígena Porto Lindo/Jakarey,Japorã/MS Thaiane Coral Fernandes Lima & Beatriz dos Santos Landa 9

Entre Coleções, Lugares e Instituições: Primeiros apontamentos sobre uma Cartografia do Patrimônio Arqueológico e Indígena no Estado de Goiás Camila Azevedo de Moraes Wichers & Michiel Wichers 11

Page 3: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

Museu Histórico de Jataí Francisco Honório de Campos: uma instituição de guarda em construção Weylla Bento de Oliveira 13

Repatriamento e ressignificação das “coisas dos antepassados” como identificação e resistência cultural Patrícia Hackbart 15

SIMPÓSIO TEMÁTICO 2 – ARQUEOLOGIA HISTÓRICA Arqueologia da paisagem no sítio histórico Mercado Municipal da Cidade de Goiás Marcelo Iury de Oliveira 18

Uma nova metodologia para o estudo dos vidros reciclados Anna Flora Noronha Moni e Marcos André Torres de Souza 19

Uma arqueologia da paisagem dos prostíbulos novecentistas da cidade de Pelotas (RS) Vanessa Avila Costa & Louise Prado Alfonso 20

Túmulos de crianças do século XIX no cemitério São Miguel da Cidade de Goiás: representações sociais e significados simbólicos Natália Silva Fé & Ludimília Justino de Melo Vaz 22

Os remediados da Rua “Nova São Bento” Marie-Chantal Hernández 24

Cemitério São Miguel da Cidade de Goiás: interpretações da cultura material da segunda metade do século XIX Ludimília Justino de Melo Vaz 25

Page 4: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

Arqueologia da Diáspora Africana no Brasil Central: Entre Lugares, Coisas e Enquadramentos da Memória Luciana Bozzo Alves & Genilson Nolasco 27

Arqueologia urbana em Mato Grosso do Sul: explorando potencialidades. Rafael Lemos de Souza, Luan Sancho Ouverney e Marcos André Torres de Souza

29

SIMPÓSIO TEMÁTICO 3 – ETNOARQUEOLOGIA E PRÁTICAS COLABORATIVAS As tradições tecnológicas ceramistas na Terra Indígena Lalima, Miranda/MS, Pantanal. Eduardo Bespalez 31

Depósitos tecnogênicos construídos na comunidade Ikpeng, no Parque Indígena do Xingu. Damiane Santos Cerqueira e Julio Cezar Rubin de Rubin 33

Etnoarqueologia com os Karajá/Iny da Ilha do Bananal: aproximações iniciais. Diego Teixeira Mendes 35

Arqueologia, povos indígenas e mudanças climáticas no estado de Mato Grosso: desafios e perspectivas. Luciano Pereira da Silva 36

Etnoarqueologia de dois aterros na Terra Indígena Baía dos Guató, região do Pantanal Mato-Grossense. Jorge Eremites de Oliveira e Rafael Guedes Milheira 38

Page 5: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

Grafismos e Inter-Historicidades Rosiclér Theodoro da Silva e Kamariwé Waurá 40

Dinâmica fluvial e o “conhecimento empírico” na aldeia Waura no Parque Nacional do Xingu. Leonardo Tomé de Souza 41

O licenciamento arqueológico em territórios indígenas: Patrimônio arqueológico ou despojos de guerra? Francisco Forte Stuchi 42

Arqueologia Social Inclusiva e conservação da arte rupestre dos sítios Barro I e Templo dos Pilares – Alcinópolis – MS. Maria Conceição Soares Meneses Lage, Benedito Batista Farias Filho e Igor Linhares de Araújo

43

Trajetórias Negras: etnoarqueologia e colaboração em Vila Bela e seus quilombos. Patrícia Marinho de Carvalho 45

SIMPÓSIO TEMÁTICO 4 – ARQUEOLOGIA PRÉ-COLONIAL A coleção arqueológica do Sítio Cachoeirinha: alguns aspectos tecnológicos. Edilson Teixeira de Souza 48

O enfoque tecno-genético aplicado à classificação de núcleos: possibilidades, estado atual e limites para a arqueologia brasileira. Marcos Paulo de Melo Ramos e Antonio Pérez Balarezo 50

Curadoria Lítica: diagnose do material lítico do sítio GO-JA-01 (níveis 13 a 15, setor 16H), Holoceno Antigo Andréia Walker da Silva Melo 52

Page 6: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

Explorando os planos de escavação do corte 4 do sítio GO-CP-16, resultados preliminares José Lucas Otero da F. C. Couto 54

Arqueologia em Palestina de Goiás: o trabalho para que o sutil se manifeste. Sibeli Aparecida Viana 56

Prospecção arqueológica com GPR no sítio arqueológico GO-JA-02: Serranópolis, Goiás Eloah Vargas Ribeiro, Julio Cezar Rubin de Rubin e Welitom Rodrigues Borges

58

Os grafismos no Abrigo do Índio em Palestina de Goiás: visibilidade e comunicação. Grazieli Pacelli Procópio 60

Análise arqueométrica de pigmentos rupestres dos sítios arqueológicos Barro Branco I e Templo dos Pilares (Alcinópolis – MS) Benedito Batista Farias Filho, Welington Lage e Danyel Douglas Miranda de Almeida

62

Registros de sambaquis no território do Brasil Jasiel Neves e Rita Scheel-Ybert 64

Arqueologia no Distrito Federal e a importância das pesquisas de arqueologia preventiva Edilson Teixeira de Souza e Rosângela Azevedo Corrêa 66

O sítio VAU 1 e suas possíveis correlações com as aldeias Aratu com enterramentos da região Centro-Oeste. Janine Resende 68

Page 7: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

Hook, line, or sinker? Um caso de diálogo pan-americano em uma interpretação de artefato. John Gabriel O’Donnell 70

Panorama quantitativo dos sítios arqueológicos pré-coloniais do estado de Mato Grosso Elisa Maria da Silva 71

Perspectiva geoarqueológica na implantação da PCH Rio Claro, MT, Brasil. Jordana Batista Barbosa, Márcio Antônio Telles e Joanne Ester Ribeiro Freitas

72

Estudo de caso de Anthrosoils no Vale do rio Araguaia, Goiás. Jordana Batista Barbosa 74

As ocupações pré-coloniais na Cidade de Pedra durante o Holoceno Recente: diversidade cultural, sucessões temporais e possíveis trocas Juliana de Resende Machado 76

Pesquisa arqueológica no Parque Nacional Chapada dos Guimarães/MT: resultados iniciais. Levy Figuti, Caroline Bachelet e Veronica Wesolowski Aguiar 78 Arqueologia ao longo da linha de transmissão 500 kV Paranaíta-Ribeirãozinho. Renato Kipnis, Solange Calderelli e Patrícia Hackbart 80

SIMPÓSIO TEMÁTICO 5 – NOVAS PERSPECTIVAS PARA A ARQUEOLOGIA Olhando para trás, caminhando para frente: apresentando estratégias diferentes para o fazer arqueológico através da Arqueopoesia. Lara de Paula Passos 82

Page 8: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

Entre o nômade e o ancestral: perspectivas arqueopoéticas de liberdade de escrita Matheus Mota e Lara de Paula Passos 83

A virada espacial na arqueologia. Danielle Gomes Samia 84

Prospecta Empresa Júnior e a importância da vivência empreendedora na graduação de Arqueologia. Beatriz Araújo Medeiros, Juliane Carla Guedes Lima da Silva e Pétala Quaresma Zeferino Nascimento

85

Quem somos nós? Perfis da comunidade profissional arqueológica no Centro-Oeste. Camila Azevedo de Moraes Wichers, Meliam Viganó Gaspar e Kelly Brandão

87

Page 9: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

1

Page 10: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

2

ARQUEOLOGIA DE ESPERANÇA

Prof. Dr. Michael Heckenberger University of Florida

[email protected]

Nesta apresentação eu reflito sobre três décadas de trabalhos arqueológicos e história indígena no Xingu, em Mato Grosso, e outras áreas da Amazônia. Tento explicar, primeiro, por que eu acredito que a floresta tropical permeia uma relação tanto com a cultura – história – quanto com a natureza. E, então, discuto o porquê em algumas regiões, como no Centro-Oeste do Brasil, humanos eram o principal condutor de mudanças na floresta às vésperas do período colonial, e porque sugiro que a biodiversidade funcional nestas regiões, como o Alto Xingu, foi uma criação dos povos ancestrais de grupos indígenas atuais. Ao final, considero também que a melhor maneira de “salvar a Amazônia” – até o ponto possível neste momento único – é a inclusão de grupos indígenas, quilombolas e de outras minorias culturais diretamente na pesquisa, do início ao fim. No Centro-Oeste, em particular, as poucas ilhas de floresta correspondem às terras indígenas, que já não são mais capazes de absorver os efeitos das mudanças climáticas. Não mais um “tipping point”, mas um “tipping event”. A mesma conflagração que ameaça a vida cotidiana tradicional, com a ocorrência de pandemias, incêndios e mais, ameaça também os sítios arqueológicos e suas histórias, e o conhecimento indígena. Ameaça ainda os vestígios de estratégias e práticas ancestrais de grande escala, uma erosão tanto de tecnologias e oportunidades urbanas como força centrípetas de desenvolvimento urbano da sociedade nacional moderna, um conhecimento que representa válidas alternativas à coexistência de humanos com as florestas e as águas Amazônicas. É necessário usar-se disso para manter e revitalizar o conhecimento indígena, uma vez que o passado oferece caminhos para o presente. Entender e preservar a sabedoria destes grupos indígenas, em conjunto com a

Page 11: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

3

parceria com grupos de locais diversos oferecem a melhor e, talvez, a última esperança para o futuro da floresta Amazônica e seus habitantes originais.

Page 12: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

4

ARQUEOLOGIA HISTÓRICA, COLONIALISMO E CAPITALISMO

Prof. Dr. Marcos André Torres de Souza Universidade Federal do Rio de Janeiro

[email protected] A Arqueologia histórica tem condições de operar por meio de uma perspectiva multiescalar de altíssima amplitude, contemplado, ao mesmo tempo, o nível do local, que inclui a dimensão do sítio, da comunidade e das atividades cotidianas, e o nível do global, que se refere de modo mais amplo ao contexto atlântico, compreendendo no seu cerne fenômenos de grande alcance, como o colonialismo, capitalismo, modernidade, movimentos diaspóricos, entre outros. A análise dessas injunções – cujas configurações foram ao mesmo tempo diversas e heterogêneas – dá a arqueologia histórica condições de contribuir de modo relevante para a compreensão de fenômenos que deram forma à constituição moderna e suas inúmeras variantes, expressas em nível local e regional. Tendo essa percepção como pano de fundo, o objetivo dessa apresentação é identificar alguns elementos teóricos e analíticos que podem contribuir para novos olhares envolvendo o Centro-Oeste brasileiro a partir da arqueologia histórica. Para iluminar essas discussões, utilizarei exemplos de pesquisas por mim desenvolvidas em sítios urbanos e rurais da região e que contemplam uma grande diversidade de sujeitos, incluindo euro-descendentes, escravizados e indígenas.

Page 13: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

5

POR ARQUEOLOGIAS VIVAS

Profa. Dra. Bruna Cigaran da Rocha Universidade Federal do Oeste do Pará

[email protected] Com um leque de ferramentas cada vez mais diversificado, a arqueologia possui o potencial ímpar de trazer à tona a história de povos indígenas e comunidades tradicionais e de seus territórios. Pode, ainda, revelar fios de continuidade significativos entre o passado e o presente, mostrando como, longe de estarmos diante de patrimônios estáticos e estanques, o passado materializado em artefatos, lugares e plantas segue pulsando hoje. Esta fala buscará refletir sobre os nossos papéis e responsabilidades como “especialistas do passado” diante de crescentes e urgentes demandas, em um contexto de emergência climática e de erosão do Estado Democrático de Direito".

Page 14: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

6

MATERIALIDADES, MUSEUS E PATRIMÔNIO

Page 15: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

7

A CRISE DOS ACERVOS: CURADORIA ARQUEOLÓGICA COMO PESQUISA

Daiane Pereira

UFMG e IEPA [email protected]

Profissionais da arqueologia estão enfrentando a crise dos acervos, movimento mundial, resultante do desequilíbrio entre a geração irrefletida e contínua de coleções arqueológicas e o escasso investimento e incentivo à gestão e pesquisa das coleções. A situação é agravada pela desvalorização da curadoria arqueológica como uma linha de pesquisa da arqueologia, consequência de cisões epistêmicas ainda mal resolvidas dentro da própria disciplina. Os sintomas cada vez mais latentes dessa crise, juntamente com as exigências da legislação patrimonial, tem despertado o interesse dos arqueólogos brasileiros pelo tema da curadoria arqueológica, mas ainda de um modo bastante instrumental. Nesta comunicação, proponho realizar uma discussão sobre a crise dos acervos no contexto brasileiro, ao indicar suas origens e permanências, e problematizar possibilidades de superação da crise através do reordenamento conceitual das epistemologias arqueológicas, em que os processos curatoriais são reconhecidos como fontes de conhecimento sobre a cultura material e sua ampla rede relacional. Palavras-chave: Curadoria Arqueológica. Crise dos Acervos. Coleções.

Page 16: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

8

MAS AFINAL, O QUE É DESCARTE?

Marjori Pacheco Dias Universidade de São Paulo

[email protected]

Vagner Carvalheiro Porto Universidade de São Paulo

[email protected] Este trabalho tem por objetivo apresentar as reflexões iniciais do projeto de doutorado em Arqueologia intitulado “Política de Descarte em Pauta: desafios para a Arqueologia Pública no Brasil” que visa, dentre outras coisas, contribuir para a recente discussão sobre política de descarte em instituições que salvaguardam acervos arqueológicos, um tema que vem se projetando com urgência dado o crescimento do quantitativo de acervos e a consequente saturação das reservas técnicas, que muitas vezes não dispõem de recursos e infraestrutura adequada para oferecer as condições necessárias de guarda, acelerando, assim, os processos de degradação das peças. Neste sentido, acredita-se aqui que é chegado o momento das Instituições de Guarda e Pesquisa incluírem em suas políticas de acervos também uma política de descarte, buscando uma interlocução com o IPHAN e o IBRAM, adotando um posicionamento que efetivamente o discuta: porque se tornou necessário, em quais situações ele é pertinente e quais os caminhos para executá-lo. Pretende-se nessa apresentação, portanto, fomentar o debate sobre o conceito de descarte, suas diferentes definições ao redor do mundo e implicações do seu uso, e também instigar, o quanto possível, a comunidade que trata desta importante parcela do patrimônio cultural do país a pensar e executar um planejamento voltado para uma política de descarte ética, acadêmica e compromissada com o meio social. Palavras-chave: Política de descarte. Acervos arqueológicos. Instituições de Guarda e Pesquisa.

Page 17: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

9

O MUSEU CIBERARQUEOLÓGICO E A VISIBILIZAÇÃO DE UM ELEMENTO DA CULTURA MATERIAL DO POVO GUARANI NA TERRA

INDÍGENA PORTO LINDO/JAKAREY, JAPORÃ/MS

Thaiane Coral Fernandes Lima Universidade de São Paulo [email protected]

Beatriz dos Santos Landa

Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul [email protected]

A cultura material dos povos indígenas contemporâneos apresenta uma grande variedade e está relacionada às construções sociais, cosmológicas, ambientais e culturais de cada etnia, que no Brasil são 305 pelos dados do IBGE de 2010. Os povos Guarani e Kaiowá do Mato Grosso do Sul desenvolveram ao longo do tempo objetos para uso no processamento de alimentação, e entre eles destaca-se o pilão. Os pilões são encontrados nas habitações familiares destes povos e são utilizados pelas mulheres no processamento de alimentos para moer, triturar ou amassar produtos como milho, arroz, mandioca, permitindo uma ampliação no repertório alimentar por resultarem em farinhas e grãos de variados tamanhos. Também são maceradas folhas, sementes, frutos e outras partes de plantas medicinais para utilização para o tratamento de sintomas e doenças variadas. Visando divulgar este item da cultura material foi criado um museu ciberarqueológico por meio de modelagem 3D e com interatividade em tempo real, em que este elemento é um dos destaques, e os pilões encontrados no cibermuseu foram identificados nos trabalhos de campo realizados entre os anos de 2002 a 2004 entre o povo Guarani que habita a Terra Indígena Porto Lindo/Jakarey. Esta aldeia possui uma população atual de mais de 5000 pessoas, e está localizada no município de Japorã, situado ao sul do estado de Mato Grosso do Sul. Os pilões apresentam formatos, tamanhos, profundidades bastante diferenciadas, e foram

Page 18: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

10

produzidos a partir de árvores nativas do local. Este cibermuseu objetiva dar visibilidade a segmentos que em geral estão pouco presentes na produção arqueológica compartilhando com o maior número de pessoas elementos pouco conhecidos como os pilões, e que por meio do 3D podem ser visualizados de diversos ângulos, além de possibilitar que sua descrição seja apresentada como se o visitante estivesse próximo de cada objeto. Com tecnologias cada vez mais inovadoras, a criação de um museu ciberarqueológico reafirma a importância em colocar em evidência elementos do cotidiano de povos indígenas que foram subalternizados durante seu contato com a população não indígena. Visa-se uma compreensão tanto do passado quanto da atualidade ao relacionar organização social, distribuição de tarefas, aspectos culturais, questões ambientais e o desenvolvimento das tecnologias. Palavras-chave: Guarani. Kaiowá. Pilão. Ciberarqueologia. Museu.

Page 19: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

11

ENTRE COLEÇÕES, LUGARES E INSTITUIÇÕES: PRIMEIROS APONTAMENTOS SOBRE UMA CARTOGRAFIA DO PATRIMÔNIO

ARQUEOLÓGICO E INDÍGENA NO ESTADO DE GOIÁS

Camila A. de Moraes Wichers Universidade Federal de Goiás

[email protected]

Michiel Wichers Universidade Federal de Alfenas

[email protected]

Este trabalho sumariza os primeiros resultados do levantamento de coleções, museus, sítios arqueológicos, entre outros elementos do que está sendo provisoriamente denominado como patrimônio arqueológico e indígena no estado de Goiás. Pelo menos duas ressalvas devem ser mencionadas. Primeiramente, o fato de que o estado de Goiás é uma invenção recente, sendo utilizado apenas como referência aproximativa da região cartografada. Em segundo lugar, o próprio conceito de patrimônio é uma marca da colonialidade. Dessa feita, sua utilização é inspirada na ideia de patrimônio cultural indígena, enquanto categoria que, mesmo sendo estranha às culturas indígenas, afirma a autoria e o pertencimento dessas coleções a esses povos (VAN VELTHEM et al., 2017). Assume-se, assim, a ligação entre sítios e objetos arqueológicos, recorrentemente classificados como pré-coloniais ou de contato, a uma história indígena de longa duração (WUST, 2001). Especial atenção tem sido dada às fronteiras fluídas entre o que se convencionou chamar de coleção arqueológica e de coleção etnográfica. Assim, cerca de 20 instituições que salvaguardam objetos arqueológicos e etnográficos foram mapeadas no estado. Por sua vez, o levantamento efetuado evidencia cerca de 1400 sítios arqueológicos, bem como a realização de mais de 500 pesquisas nos últimos 28 anos. O noroeste goiano tem o maior número de sítios, devido ao licenciamento de empreendimentos como a UHE Serra da Mesa. Municípios com

Page 20: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

12

empreendimentos minerários, como Alto Horizonte, no norte goiano, também se sobressaem. A associação entre patrimônio arqueológico cadastrado e empreendimentos expõe os fios da colonialidade, que não cessa de operar, afetando os povos indígenas e demais comunidades tradicionais. Por sua vez, no sudoeste goiano, na região de Caiapônia e Palestina de Goiás, pesquisas acadêmicas de longo termo têm somado um patrimônio significativo. Outra camada analítica tem sido a integração das informações acerca de coleções e sítios com mapas históricos, como por exemplo, o Mapa geral da Capitania de Goiás, de 1753, que indica pelo menos uma dezena de aldeamentos nesse território (DIAS, 2017). O mesmo mapa assinala a presença de indígenas “Xavante”, “Caiapó”, “Acroá”, “Aricá” e “Curumaré”, (COSTA; RATTS 2014). Regiões como a do Aldeamento São José de Mossâmedes, por exemplo, possuem informações arqueológicas – Fase Mossâmedes – e etnohistóricas que estabelecem um cenário profícuo para as discussões propostas. Essas informações arqueológicas, históricas e etnográficas estão sendo integradas num banco de dados e em mapas em ambiente SIG - Sistema de Informações Geográficas, resultando em uma cartografia etnoarqueológica preliminar para o estado de Goiás. Palavras-chave: Coleções. Etnologia. Arqueologia. Análise Espacial. Patrimônio cultural indígena.

Page 21: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

13

MUSEU HISTÓRICO DE JATAÍ FRANCISCO HONÓRIO DE CAMPOS: UMA INSTITUIÇÃO DE GUARDA EM CONSTRUÇÃO

Weylla Bento de Oliveira

Museu Histórico de Jataí Francisco Honório de Campos [email protected]

O Museu Histórico de Jataí Francisco Honório de Campos (MHJ) é uma instituição sem fins lucrativos, caracterizada como museu histórico. Ocupa um sobrado construído em 1883. No contexto histórico, em 1927, Francisco Honório de Campos adquiriu o sobrado que, após sua morte, foi doado por sua viúva, Dona Mariquinha, para a construção de um centro educacional. Em 1970, a escola passou a ser gerida pela prefeitura da cidade e, após 10 anos fechado em razão do processo de desapropriação e restauração, em 1994 foi oficialmente inaugurado como museu. No Museu encontra-se resguardado um significativo acervo arqueológico da região Centro-Oeste, identificado na Serra do Cafezal, no município de Serranópolis/GO. Esse acervo resulta de estudos realizados a partir de 1996 pelos pesquisadores Altair Sales Barbosa e Pedro Ignácio Schmitz. Foi a partir de 2013 que o MHJ iniciou seu processo como instituição de guarda. Primeiramente consultaram o IPHAN, e a partir das tratativas entre uma empresa de arqueologia e a Secretaria de Cultura do município, deram andamento às recomendações do órgão fiscalizador. E graças às parcerias estabelecidas entre o MHJ e os grupos interessados para que o mesmo emitisse endossos institucionais, a instituição vem se consolidando desde então sob gestão da AAMuHJ – Associação de Amigos do Museu Histórico de Jatai. Essa atividade tem gerado um crescimento significativo de demandas ao MHJ pelos setores que atuam em áreas que exigem os estudos arqueológicos. Assim em 2015, a partir da contratação de arqueólogos, adequação de um espaço para reserva técnica, organização do acervo já existente, instalação do laboratório e, com anuência do IPHAN, a instituição passou a colaborar

Page 22: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

14

ativamente na preservação do patrimônio arqueológico, emitindo endossos institucionais. O caminho ainda é longo, tendo sido iniciado em um espaço de 13,58 m² utilizado como reserva técnica a qual em 2019 foi reinstalada em um espaço mais amplo, com 31,12 m², abrigando aproximadamente 96.000 testemunhos arqueológicos de diferentes municípios goianos. Os primeiros resultados foram focados na gestão da guarda do acervo, mini cursos, oficinas, bem como ações de extroversão com a revitalização da exposição de arqueologia permanente e novas exposições de curta duração. É nesse contexto que o museu está sempre em construção, em busca de qualificação, ensino, pesquisa e extensão. A sua atuação perpassa pelos diferentes atores dos campos da museologia, arqueologia, antropologia, pedagogia, história, geografia, entre outros que juntos buscam não só preservar, mas divulgar e despertar o interesse da sociedade pelo patrimônio cultural. Palavras-chave: Museu. Arqueologia. Curadoria. Guarda. Extroversão.

Page 23: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

15

REPATRIAMENTO E RESSIGNIFICAÇÃO DAS “COISAS DOS ANTEPASSADOS” COMO IDENTIFICAÇÃO E RESISTÊNCIA CULTURAL

Patrícia Hackbart

Scientia Consultoria Científica [email protected]

A pesquisa teve como objetivo o entendimento sobre o significado de uma solicitação de repatriamento de material arqueológico, exumado no contexto de licenciamento ambiental para a construção da AHE Dardanelos (Aproveitamento Hidrelétrico de Dardanelos), pelas comunidades indígenas Cinta Larga e Arara do Rio Branco, projetos desenvolvidos pela Scientia Consultoria Cientifica e, também, a concepção de um Centro de Memória a ser criado no município de Aripuanã, noroeste do estado do Mato Grosso. A solicitação deste Centro, feita pelos órgãos FUNAI e IPHAN para atender as reivindicações dessas comunidades indígenas e não indígena que tomou conhecimento sobre as pesquisas a partir do Programa de Educação Patrimonial do Projeto Dardanelos. Assim, a pesquisa também teve a pretensão de realizar um experimento de inclusão social dos estudos realizados, viabilizando o pedido de repatriação dos vestígios arqueológicos. Inserido neste contexto o estudo apresenta questões das ciências sociais e humanas, sobre concepções de herança, patrimônio e patrimonialização de bens culturais, suas ressignificações e suas agências, bem como políticas de gestão do patrimônio arqueológico e musealização da arqueologia. Possibilita uma revisão sobre o papel das pesquisas desenvolvidas no âmbito dos licenciamentos ambientais e em contextos de comunidades indígenas e tradicionais com histórico de conflitos e que, atualmente, envolvem as questões patrimoniais em suas agendas. Os processos de patrimonialização e necessidades de comprovações forenses direcionam as atuações dos profissionais no âmbito destas pesquisas.

Page 24: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

16

A partir do que foi possível observar e investigar, por meio de entrevistas, realização de oficinas, vivência entre os grupos e pesquisas em publicações, entende-se que o retorno dos vestígios arqueológicos dos sítios Dardanelos – as coisas dos antepassados - para Aripuanã significa para Cintas Larga e Araras, acima de tudo, valorização e reconhecimento. Significa legitimar a história da vida dessas comunidades a partir do seu ponto de vista, a partir da sua interpretação e vivência dos acontecimentos. Significa visibilidade e respeito frente à comunidade não indígena próxima a eles (e não tão próxima). Também elucida sobre a agência do patrimônio como objeto, com suas teias vitais entrelaçadas e, sujeito (ente) de luta política: os objetos dos antigos estariam auxiliando as gerações atuais na relação com outras gerações e com outros “entes” mito-históricos, favorecendo o resgate cultural. O pedido de repatriamento também exemplifica como uma Arqueologia pode se tornar Pública, fora da disciplina, sendo reivindicada pelos públicos exigindo a responsabilidade dos arqueólogos para a socialização do seu objeto de estudo e de seus resultados. Palavras-chave: Repatriamento. Gestão do Patrimônio. Arara. Cinta Larga.

Page 25: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

17

ARQUEOLOGIA HISTÓRICA

Page 26: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

18

ARQUEOLOGIA DA PAISAGEM NO SÍTIO HISTÓRICO MERCADO MUNICIPAL DA CIDADE DE GOIÁS

Marcelo Iury de Oliveira

Ambientec Soluções Sustentáveis [email protected]

Este trabalho apresenta algumas reflexões competentes às transformações paisagísticas ocorridas no Mercado Municipal da Cidade de Goiás ao longo dos séculos XIX e XX. Assim, além dos contextos históricos conferidos à sua implantação no plano urbanístico, destacam-se as análises que se concentraram sobre os registros arqueológicos e estratigráficos, documentos textuais, iconografias e informações orais. Por meio deste conjunto de fontes e a partir de inferências teórico-metodológicas interdisciplinares, especialmente no plano da arqueologia, geoarqueologia, antropologia e história, pôde-se compreender como as transformações ocorridas no Mercado Municipal estiveram associadas às dinâmicas do Rio Vermelho, bem como às ações transcorridas pelos vilaboenses. Entremeio a essas articulações, que contribuíram para a formação da paisagem do lugar social-mercadológico, tais ações estiveram concatenadas à formação do registro arqueológico, ou seja, aos testemunhos materiais que representam as mudanças no decorrer do tempo histórico-social, e, consequentemente, às configurações dos depósitos sedimentares que foram arquitetados para elevação do piso de ocupação, como se observa a partir dos dados obtidos e discorridos neste trabalho. Palavras-chave: Mercado Municipal da Cidade de Goiás. Arqueologia Histórica. Arqueologia da Paisagem.

Page 27: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

19

UMA NOVA METODOLOGIA PARA O ESTUDO DOS VIDROS RECICLADOS

Anna Flora Noronha Moni

Universidade Federal do Rio de Janeiro [email protected]

Marcos André Torres de Souza

Universidade Federal do Rio de Janeiro [email protected]

Objetos de vidro estão entre os mais estudados na arqueologia histórica, possuindo um claro potencial interpretativo. A partir desse tipo de materialidade torna-se possível o entendimento de importantes aspectos sociais, culturais e econômicos ligados aos grupos do passado. No conjunto desses estudos estão aqueles voltados ao exame dos vidros reciclados e que foram utilizados pela população escravizada para os mais diversos fins. Embora possuam um grande potencial informativo, são ainda poucos explorados na disciplina. O que pretendemos com essa comunicação é apresentar uma metodologia que foi desenvolvida para a análise desse tipo de artefato e que está sendo aplicada para o estudo de sítios históricos de diferentes regiões brasileiras. Além de apresentá-la, pretendemos também identificar algumas possibilidades analíticas e interpretativas que existem no estudo dos vidros reciclados, tomando como exemplo casos de sítios históricos goianos. Palavras-chave: Arqueologia Histórica. Vidros Reciclados. Diáspora Africana.

Page 28: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

20

UMA ARQUEOLOGIA DA PAISAGEM DOS PROSTÍBULOS NOVECENTISTAS DA CIDADE DE PELOTAS (RS)

Vanessa Avila Costa

Universidade Federal de Pelotas (UFPel) [email protected]

Louise Prado Alfonso

Universidade Federal de Pelotas (UFPel) [email protected]

Este trabalho busca trazer alguns dos resultados da minha dissertação de mestrado intitulada “As Manifestações das Paisagens Ocultadas: Arqueologia da Pelotas de Trabalhadoras Sexuais”, onde investigo as estratégias de resistência das trabalhadoras sexuais da cidade de Pelotas (RS) aos processos de exclusão no passado, fazendo reflexões sobre o trabalho sexual no contemporâneo. Para isso, estudei a paisagem em que os prostíbulos destinados à classe trabalhadora do começo do século XX – mais precisamente entre os anos de 1914 e 1917 – estavam situados, seguindo a abordagem da Arqueologia da Paisagem. Os prostíbulos novecentistas foram encontrados nas notícias policiais do jornal O Rebate, que circulou na cidade entre os anos de 1914 e 1923. Estas notícias constituíram-se enquanto fontes fundamentais de acesso indireto à materialidade, uma vez que as casas de prostituição não foram preservadas. Além disso, as narrativas de pessoas moradoras da cidade também contribuíram para o mapeamento dos prostíbulos do século XX. A pesquisa mostrou que a maioria dos prostíbulos se situava, durante o recorte temporal estabelecido, na área mais central da cidade. Estes concentravam-se, principalmente, na rua Tiradentes, entre as ruas Padre Anchieta e Quinze de Novembro, nas proximidades do Mercado Público, que era retratada nos jornais, tendo como base o discurso médico-sanitário, como “Bairro Sujo”, por conta da presença marcante de prostíbulos e de trabalhadoras sexuais. Apesar das constantes denúncias aos prostíbulos da

Page 29: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

21

Tiradentes feitas pela elite local que morava nas proximidades do que chamavam de “antros de imoralidade e desordem”, ancoradas pelo jornal, e também da repressão policial, a quadra seguiu sendo um local importante para a execução do trabalho sexual até meados do final do século XX e início do XXI, antes da revitalização do Mercado Público. Assim, entendo que este constituía um ponto estratégico para as trabalhadoras sexuais por conta da localização próxima ao mercado, local com uma constante presença de comerciantes que procuravam seus serviços. Com a sua revitalização e reabertura em 2012, trabalhadoras sexuais passaram por processos de remoções da rua Tiradentes. O banheiro do mercado, local de trabalho de muitas trabalhadoras sexuais, foi fechado. Entretanto, algumas insistem em permanecer na quadra. Nesse sentido, pude compreender, através da pesquisa, os processos de exclusão de trabalhadoras sexuais a partir das políticas higienistas, que causaram suas remoções para outros pontos da cidade, bem como suas resistências frente a estes processos, voltando para o local que outrora se configurava enquanto uma área onde ocorria o trabalho sexual. Palavras-chave: Arqueologia da Paisagem. Prostíbulos. Trabalhadoras Sexuais. Pelotas.

Page 30: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

22

Túmulos de crianças do século XIX no cemitério São Miguel da Cidade de Goiás: representações sociais e significados simbólicos

Natália Silva Fé

Pontifícia Universidade Católica de Goiás [email protected]

Ludimília Justino de Melo Vaz

Pontifícia Universidade Católica de Goiás [email protected]

A proposta dessa pesquisa é compreender como a cultura material

do cemitério reflete as representações sociais e os significados simbólicos dos túmulos de crianças no século XIX. Por meio dos métodos da arqueologia os túmulos de crianças foram registrados. As formas tumulares, as inscrições textuais das lápides, imagens e iconografias são elementos da cultura material que veiculam os significados culturais relacionados a seu tempo histórico. No século XIX, as condições da saúde pública eram bastante deficitárias, as doenças e a disseminação da mesma, atingia diferentes faixa da sociedade. A necessidade de melhorar a estrutura sanitária dos centros urbanos era uma preocupação médica, que caminha ao lado do discurso higienista. Estas informações foram fundamentais para a compreensão das representações simbólicas que foram identificadas nos túmulos de crianças, contribuindo para a proposta de interpretação da cultura material em sua materialidade e imaterialidade. Assim, o objetivou da pesquisa foi identificar as representações sociais e os significados simbólicos que estão por trás das relações com a morte das crianças e suas causas. Para alcançar os objetivos propostos foi realizada pesquisa arqueológica de campo, levantamento em fontes secundárias para contextualização histórica da área e análise dos dados. Inicialmente foi realizada pesquisa de campo para identificação dos túmulos de crianças do século XIX no cemitério. A metodologia de campo abarca duas etapas, uma de reconhecimento geral da área e outra de levantamento dos

Page 31: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

23

túmulos de criança do século XIX. As fontes históricas relativas ao cemitério estão fundadas em pesquisas anteriormente feitas por historiadores com base em fontes primárias sobre o cemitério, a morte e a saúde na cidade de Goiás no século XIX. O levantamento histórico apontou problemas sanitários e de saúde que atingiam as crianças e elevavam as taxas de mortalidade infantil na segunda metade do século XIX. Doenças como diarreias e infecções que na atualidade são tratáveis, podiam levar à morte. Quanto as representações simbólicas dos túmulos, as inscrições das lápides e a forma dos túmulos demonstraram afetividades, lembranças e ausência das pessoas que se foram. Palavras-chave: Cultura material. Cemitério. Crianças. Representações. Significados simbólicos.

Page 32: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

24

OS REMEDIADOS DA RUA “NOVA SÃO BENTO”

Marie-Chantal Hernández Universidade Federal do Rio de Janeiro

[email protected] A presente comunicação abordará um resultado parcial de uma pesquisa em andamento, referente ao contexto doméstico urbano na cidade do Rio de Janeiro, dos tempos da Colônia. O objeto de estudo são as faianças do sítio São Bento, localizado entre as ruas Dom Gerardo e São Bento, área próxima ao mosteiro dos beneditinos. Este sítio foi registrado por ocasião de uma construção de um prédio comercial, em 2011, onde havia antigos sobrados. Tanto as edificações antigas e a atual são propriedades dos religiosos beneditinos. Porém, os religiosos serão os personagens secundários desta comunicação, porque a intenção da pesquisa será apresentar o “gosto” e a ressignificação cultural revelados nos fragmentos de faianças, pertencentes aos moradores das antigas “Cazas” de aluguéis beneditinas, justamente daqueles sobrados demolidos. Para conhecer o universo cotidiano dos antigos inquilinos, propõe-se uma interpretação arqueológica dos artefatos pela perspectiva da micro-história, uma contribuição do pensamento de Carlo Ginzburg, e um ensaio da aplicação da Teoria do Gosto de Bourdieu ao consumo das faianças de olaria e fabril, identificadas e correlacionadas às produções portuguesas do século XVIII. Tal interpretação foi possível a partir da análise e registro fotográfico de 600 fragmentos de faianças. Até o momento, a pesquisa constatou alguns fragmentos que corroboram com o perfil dos moradores, oriundos de um grupo intermediário da sociedade escravagista da época. Documentos revelaram personagens pouco explorados na arqueologia histórica, sobretudo, no Rio de Janeiro, como a figura de negros forros convivendo no mesmo espaço de pessoas livres e brancas. Uma abordagem que permite novas discussões sobre o tema faianças na arqueologia carioca. Palavras-chave: Faianças. Cotidiano. Inquilinos. Arqueologia Histórica.

Page 33: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

25

CEMITÉRIO SÃO MIGUEL DA CIDADE DE GOIÁS: INTERPRETAÇÕES DA CULTURA MATERIAL DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX

Ludimília Justino de Melo Vaz

Pontifícia Universidade Católica de Goiás [email protected]

Esta comunicação apresenta resultados preliminares do projeto Cemitério São Miguel da cidade de Goiás da segunda metade do século XIX: Delimitação espacial e categoria social a partir dos testemunhos funerários, que está vinculado à Pró-reitora de Pesquisa da PUC Goiás. A análise desenvolvida nesse trabalho está focada na cultura material do cemitério fundado em 1858, e que apesar de muitas alterações, tem sepulturas remanescentes da segunda metade do século XIX. Para o momento, buscamos realizar uma leitura da cultura material, que abrange túmulos edificados, lápides, símbolos, estatuário, adornos tumulares. Partimos da expectativa de que um cemitério do século XIX que se mantém em uso, refletiria as mudanças de sentido que são construídas histórica e socialmente. A edificação das estruturas tumulares muitas vezes composta por uma torre que sustentava a cruz, era o repertório recorrente desse período, não havendo grandes e suntuosos mausoléus familiares, as características locais reportam a um contexto histórico-cultural moldado pela marcante presença da Igreja, a falência econômica decorrente do declínio do ouro, o distanciamento geográfico, já amplamente analisados por historiadores. Sendo possível identificar no cemitério mudanças em período posterior, marcado pelo fim do Império e início da República, com a emergência de uma elite social e política no início do século XX. Estes e outros desenvolvimentos foram observados nas estruturas tumulares com alteração nas formas edificadas e nos adornos adicionados. Para o desenvolvimento da pesquisa partimos de observações empíricas para refletir critérios socialmente estabelecidos, os quais demonstram a

Page 34: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

26

predominância da religiosidade, especialmente se comparada à cultura material do século XX, neste mesmo cemitério. Palavras-chave: Cultura material. Cemitério. Singularidade cultural.

Page 35: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

27

ARQUEOLOGIA DA DIÁSPORA AFRICANA NO BRASIL CENTRAL: ENTRE LUGARES, COISAS E ENQUADRAMENTOS DA MEMÓRIA

Luciana Bozzo Alves

Universidade de São Paulo [email protected]

Genilson Rosa Severino Nolasco

Universidade Federal de Goiás [email protected]

O Brasil se utilizou da mão de obra africana por mais de três séculos, e evidências da presença histórica e cultural africana encontram-se espalhadas por todo o território. A Arqueologia da diáspora africana se preocupa com o estudo dos vestígios identificados no interior das senzalas e de suas áreas de descartes nos limites de fazendas, com os antigos quilombos, comunidade quilombolas contemporâneas, locais de trabalho escravo e de negras/os livres, além de locais de práticas religiosas (Alves, 2016). O Brasil Central tem sido alvo de estudos arqueológicos voltados a essa temática, como exemplo, citamos os trabalhos de Souza (2000, 2007, 2011), Souza e Symanski (2009), Symanski (2007, 2010) e Melo (2010). A dissertação de mestrado de Souza (2000), buscou compreender como se estruturaram as relações sociais no contexto minerador do século XVIII, tomando como estudo o arraial de Ouro Fino. Symanski, por sua vez, abordou os engenhos da Chapada dos Guimarães sob a mesma ótica da Arqueologia da diáspora africana. Assim, a Arqueologia voltada às materialidades de pessoas africanas em diáspora já identificou caminhos profícuos de pesquisa no Brasil Central, como é o caso também da Chapada dos Negros, que será mais detalhada nessa apresentação. Buscamos com esse trabalho, integrar a discussão de lugares da memória (Pollak, 1989; Nora, 1993) de africanas/os escravizados/as (Mattos et al, 2013) com os lugares arqueológicos, visando também apresentar uma reflexão da possível associação entre construção da memória e ativação da memória. Diversos locais de memória de pessoas africanas escravizadas têm sido mapeados no Brasil a fim de identificar as marcas de sua presença e intervenção (Mattos et al, 2013). Um exemplo desse mapeamento é o Inventário dos Lugares de memória do tráfico atlântico de escravos e da História dos africanos

Page 36: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

28

escravizados no Brasil (LABHOI/UFF) em parceria com o Projeto da UNESCO “Rota do Escravo: Resistência, Herança e Liberdade”. Entre os 100 locais indicados no inventário estão as ruínas da Chapada dos Negros, localizadas no município de Arraias, atual sudeste tocantinense, um complexo de estruturas de mineração do século XVIII. Este local está cadastrado como sítio arqueológico, e apenas uma das ruínas (casa do feitor) é reconhecida como bem patrimonial no âmbito estadual, envolvendo processos complexos de enquadramento, silenciamento e ativação de memórias. Dessa forma, essa apresentação visa discutir o potencial dos lugares estudados pela Arqueologia enquanto lugares de memórias da diáspora africana, enfatizando os desafios e as potencialidades a partir de uma perspectiva afrocentrada.

Palavras-chave: Arqueologia da Diáspora Africana. Memória. Chapada dos Negros. Enquadramento da Memória. Silenciamentos.

Page 37: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

29

ARQUEOLOGIA URBANA EM MATO GROSSO DO SUL: EXPLORANDO POTENCIALIDADES

Rafael Lemos de Souza

Universidade Federal de Goiás [email protected]

Luan Sancho Ouverney

Universidade Federal do Rio de Janeiro [email protected]

Marcos André Torres de Souza

Universidade Federal do Rio de Janeiro [email protected]

A arqueologia urbana é um campo que tem oferecido contribuições relevantes à disciplina em diferentes partes do mundo. Na Arqueologia histórica ela tem tido importância central, sobretudo porque o fenômeno da urbanização estabeleceu-se, desde sua origem, como um componente relevante da constituição moderna. Todavia, e a despeito da sua importância, a arqueologia urbana segue subaproveitada em algumas regiões brasileiras. Esse é o caso de Mato Grosso do Sul, onde são ainda poucos os estudos em arqueologia histórica e, mais especialmente, envolvendo fenômenos urbanos. O objetivo desta comunicação é, então, chamar a atenção para a contribuição potencial da Arqueologia urbana para a compreensão da trajetória histórica de Mato Grosso do Sul. Com o objetivo de ilustrar nosso argumento, usaremos como estudo de caso o Porto Geral da cidade de Corumbá (MS), que foi investigado por uma equipe de arqueologia no âmbito do Projeto Monumenta. Palavras-chave: Arqueologia histórica. Arqueologia Urbana. Porto Geral de Corumbá de MS.

Page 38: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

30

ETNOARQUEOLOGIA E PRÁTICAS COLABORATIVAS

Page 39: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

31

AS TRADIÇÕES TECNOLÓGICAS CERAMISTAS NA TERRA INDÍGENA LALIMA, MIRANDA/MS, PANTANAL

Eduardo Bespalez

Universidade Federal de Rondônia [email protected]

A Terra Indígena Lalima, mais conhecida como Aldeia Lalima, situa-se na margem direita do rio Miranda, município de Miranda, estado de Mato Grosso do Sul. A área está inserida no contexto histórico-cultural e ecológico do Pantanal, o qual, ao seu turno, integra a região do Gran Chaco, localizado no centro das terras baixas da América do Sul, entre Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina. Atualmente, a Aldeia é constituída, sobretudo, por indígenas Guaikuru, Terena, Kinikinao e Layana. Os primeiros, historicamente conhecidos como Cavaleiros, da família linguística Mbaya-Guaikuru, e os Terena, Kinikinao e Laiana, igualmente referidos como Guaná, de língua Chané, da família Arawak, se estabeleceram na região entre os séculos XVII e XVIII. Até então, a área era ocupada por índios Itatim, falantes de línguas Guarani, da família linguística Tupi-Guarani, e por povos denominados genericamente como Gualachos, principalmente Gualachos-Labradores. As pesquisas arqueológicas na TI Lalima – efetuadas por meio de atividades de levantamento arqueológico, busca de informações etnográficas de caráter etno-histórico, coleta de materiais arqueológicos em superfície e subsuperfície, datações radiocarbônicas e análises dos materiais cerâmicos e líticos – resultaram na identificação de quatro tradições tecnológicas ceramistas distintas, classificadas como Jacadigo, Guarani, Guaikuru e Terena, interpretadas como registros da dinâmica histórica e cultural de longa duração da ocupação indígena regional. Por sua vez, a provável relação entre as fontes históricas e etnográficas, de um lado, e os dados arqueológicos, de outro, levou à compreensão da Aldeia como um palimpsesto da história cultural dos índios na região.

Page 40: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

32

Palavras-chave: Arqueologia. Tecnologias Ceramistas. Terra Indígena Lalima; Miranda/MS. Pantanal.

Page 41: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

33

DEPÓSITOS TECNOGÊNICOS CONSTRUÍDOS NA COMUNIDADE IKPENG NO PARQUE INDÍGENA DO XINGU: AMBIENTE E SAÚDE

Damiane Santos Cerqueira

Pontifícia Universidade Católica de Goiás [email protected]

Julio Cezar Rubin de Rubin

Pontifícia Universidade Católica de Goiás [email protected]

No Brasil, os povos indígenas representam 0,4% da população nacional, apresentando indicadores de saúde duas a três vezes piores quando comparados aqueles da sociedade brasileira, com altas taxas de doenças endêmicas, carência de assistência médica e doenças crônicas (IBGE, 2010). A pesquisa analisou cinco Depósitos Tecnogênicos Construídos (DT) na comunidade indígena Ikpeng, localizada no Parque Indígena do Xingu (PIX), nordeste Estado do Mato Grosso, Brasil e que apresenta uma área de 2.797.491 hectares, onde vivem 6.301 indígenas de 16 etnias em 90 aldeias. Os depósitos foram caracterizados quanto ao comprimento, largura e altura, sendo que os constituintes foram identificados por amostragem. Foram realizadas coletas de amostras de solos para análises químicas e microbiológicas. Os resultados obtidos indicam que os DT são formados principalmente por resíduos resultante do estilo de vida da comunidade, destacando-se pilhas, embalagens de plástico, vidro e metal. Destaca-se também a rotatividade em relação a distribuição espacial dos DT, que pode estar associada ao modo de vida dos indígenas, sempre se deslocando e pelo fato de que as crianças também manipulam esses resíduos. Os resultados das análises microbiológicas do solo não evidenciaram a presença de nematoides. Porém, no que se refere a análise da microbiota de vida livre presente no solo, o DT1 apresentou a maior quantidade desses organismos. As análises químicas mostraram que os nutrientes: potássio,

Page 42: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

34

fósforo e zinco estão acima da média em todas as amostras. A variação dos teores de zinco nas amostras se destaca pela associação com áreas de descarte de pilhas e baterias, sendo identificado também a presença de elementos como chumbo, cádmio, cromo e níquel. Os DT também são vetores de doenças como dengue, zika virus e chikungunya, servindo também de atrativo para escorpiões e cobras, o que pode se agravar, uma vez que ainda que não existe uma logística reversa ou estratégia para a destinação dos resíduos. A curto prazo, é necessário monitorar os teores dos metais mencionados nos solos próximos aos DT e no lençol freático, visando a saúde da comunidade indígena Ikpeng, bem como sua cultura. Palavras-chave: Resíduos sólidos; Terras indígenas; Saúde humana; Gestão Ambiental.

Page 43: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

35

ETNOARQUEOLOGIA COM OS KARAJÁ/INỸ DA ILHA DO BANANAL: APROXIMAÇÕES INICIAIS

Diego Teixeira Mendes

Universidade Federal de Goiás [email protected]

O presente trabalho visa apresentar e discutir os dados iniciais da pesquisa Uma proposta de Arqueologia Colaborativa com o povo Inỹ/Karajá da Ilha do Bananal, Tocantins/Brasil, iniciada em 2019. As observações abordadas derivam de duas etapas de campo realizadas na Aldeia Hawalò (Santa Isabel do Morro), em 2019 e 2020, e em quatro sítios arqueológicos e lugares significativos. A partir dos dados e do levantamento da literatura buscarei discutir a possibilidade de construção de modelos etnoarqueológicos para a interpretação da materialidade da Ilha do Bananal. Ainda mais, iniciar um diálogo com o ponto de vista karajá sobre essas “materialidades”. Palavras-chave: Etnoarqueologia. Karajá/Inỹ. Ilha do Bananal. Colaboração. Modelos.

Page 44: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

36

ARQUEOLOGIA, POVOS INDÍGENAS E MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO ESTADO DE MATO GROSSO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Luciano Pereira da Silva

Universidade do Estado de Mato Grosso [email protected]

As fontes deste trabalho são conhecimentos produzidos por professores/estudantes universitários indígenas da Faculdade Indígena Intercultural da Universidade do Estado de Mato Grosso. Os dados em forma de textos, desenhos e tabelas procedem de dois cursos, Arqueologia e Habitação Indígena e Arqueologia em janeiro e julho de 2006 que totalizaram 120 horas. As turmas foram compostas por 100 professores indígenas de 22 etnias de Mato Grosso, pertencentes a aproximadamente 70 aldeias. Os cursos dialogaram sobre relações sociais da cultura material pretérita e presente, ecofatos e biofatos e organização espacial. Resultados de pesquisa anteriore mostrou ação social, cultural e intelectual do ser humano na transformação do mundo, que fundamentam processos adaptativos e formação de sítios arqueológicos. Professores indígenas pesquisaram também em suas aldeias e produziram. Em 2014, com outra turma, foi realizado na Faculdade Indígena o curso “Patrimônio cultural e criança indígena”, em síntese se inventariou processos intergeracionais de formação do conhecimento e produziram-se materiais. O objetivo dessa pesquisa em andamento é identificar impactos das mudanças climáticas no patrimônio cultural; sistematizar conhecimentos indígenas; mapear agências; informar e subsidiar o movimento indígena; constituir uma governança científica. Metodologicamente o estudo se dispõe em seis etapas: a) classificação e sistematização do não humano; b) identificação do patrimônio cultural, manejo ambiental e composição de paisagens híbridas; c) inventario de lugares de memória e cosmológicos, sítios arqueológicos, matérias-primas, manejo e usos de objetos; d) levantamento dos processos de (des)territorialização, reprodução cultural, continuidades

Page 45: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

37

e descontinuidades, processos intergeracionais; e) acompanhar os pedidos da sociedade civil em espaços de regulamentação e consultivos para elaboração de um Plano de Gestão de Riscos de Desastres referente ao patrimônio cultural; f) apresentar os dados para o movimento indígena. A pesquisa tem como referenciais três documentos internacionais do ICOMOS, Outline of Climate Change and Cultural Heritage; Guidance on Impact Assessments for World Heritage Properties e o Patrimonio Cultural en la planificación sobre Cambio Climático. Tais protocolos foram revisados em 2019 e 2020, com a contribuição do Comitê Científico sobre Mudanças Climáticas e Patrimônio Cultural do ICOMOS-BR. A expectativa é que a pesquisa auxilie para um método; paute políticas públicas, fortaleça e fundamente a necessária e urgente presença de povos indígenas em estruturas de governança. Resultados preliminares analisam as pautas da sociedade civil de patrimônio cultural material e imaterial em conselhos de regulamentação, comitês e comissões desde 2018 e as articulações científicas empreendidas. Palavras-chave: Protagonismo Indígena. Decolonial. Movimento Indígena. Políticas Públicas.

Page 46: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

38

ETNOARQUEOLOGIA DE DOIS ATERROS NA TERRA INDÍGENA BAÍA DOS GUATÓ, REGIÃO DO PANTANAL MATO-GROSSENSE

Jorge Eremites de Oliveira

Universidade Federal de Pelotas [email protected]

Rafael Guedes Milheira

Universidade Federal de Pelotas [email protected]

Neste trabalho são apresentados os resultados das pesquisas etnoarqueológicas realizadas em 2017 sobre dois aterros, aterrados, aterradinhos ou marabohó existentes na Terra Indígena Baía dos Guató, localizada na região do Pantanal, município de Barão de Melgaço, estado de Mato Grosso: Aterradinho do Bananal, o mais antigo, de origem anterior ao contato com os invasores europeus, e Aterro da Sandra, o mais recente, construído a partir da década de 2000, ambos situados na margem esquerda do rio Cuiabá. De um modo geral, o nome dado aos aterros acompanha o do morador mais conhecido ou mesmo de algo ou algum evento que marca a localidade. No caso do Aterradinho do Bananal, o nome é associado a quantidade de bananeiras ali plantadas e conhecidas desde a primeira metade do século XVIII, quando os bandeirantes paulistas intensificaram a exploração de ouro na região de Cuiabá . O Aterro do Sandra, por sua vez, erguido recentemente, leva o nome de uma liderança e matriarca de uma parentela da comunidade. Nos dois aterros foram observadas e analisadas estruturas negativas adjacentes, áreas de atividade, uso do solo e estruturas arquitetônicas, bem como registrados elementos da memória social a respeito dos assentamentos e seus moradores. Diversos locais observados in loco foram identificados, medidos, descritos e analisados com auxílio de trena, bússola, GPS de navegação, fotografias digitais, cadernos de campo e fotografias aéreas obtidas por drone. Também foram feitas fotografias e a gravação de

Page 47: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

39

dezenas de entrevistas, todas autorizadas pelos interlocutores para fins de divulgação. A observação direta sobre antigos e recentes assentamentos, associada as narrativas de indígenas sobre os lugares, permitiu compreender o significado social e funcional das estruturas arqueológicas. Constatou-se que os Guató percebem os montículos como herança cultural e dão continuidade a tradição milenar de construir e ocupar os famosos marabohó. Palavras-chave: Aterros. Arqueologia do Pantanal. Arqueologia Indígena. Etnoarqueologia. Índios Guató.

Page 48: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

40

DINÂMICA FLUVIAL E O “CONHECIMENTO EMPÍRICO” NA ALDEIA WAURA NO PARQUE NACIONAL DO XINGU

Rosiclér Theodoro da Silva

Pontifícia Universidade Católica de Goiás [email protected]

Kamariwé Waurá

Ex-acadêmico do curso de arqueologia PUC Goiás

O presente trabalho é resultado das informações orais transmitidas pelo ex-acadêmico do curso de Arqueologia da PUC Goiás Kamariwé Waurá da Aldeia Waura do Parque Indígena do Xingu, durante as Disciplinas de Geoarqueologia e Pré-História Brasileira II. De acordo com relatos, no ano de 2000 a aldeia teve que se desmembrar devido ao esgotamento dos recursos em relação ao número de integrantes. Com base no conhecimento da área, incluindo o rio Xingu, foi escolhido um novo e seguro local. Porém, em 2010, uma enchente destruiu a Aldeia. Este fato coloca frente a frente o conhecimento empírico e os saberes tradicionais do grupo com a dinâmica dos sistemas fluviais, podendo ser incluído neste contexto o “desconhecimento” dos períodos de recorrência das cheias dos rios da região, ou mesmo de eventos relacionados ao “El Ninõ”. Contudo, a escolha do local para a nova seguiu os conhecimentos empíricos e os saberes tradicionais de moradores mais antigos, mas o resultado adverso foi interpretado como uma vingança em decorrência de desavenças no grupo. Palavras-chave: Geoarqueologia. Waurá. Parque Indígena do Xingu.

Page 49: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

41

GRAFISMOS E INTER-HISTORICIDADES

Leonardo Tomé de Souza Universidade Federal de Goiás

[email protected]

O fenômeno gráfico no território Akwê possui referências únicas, que perpassam por diferentes suportes, ou seja: paisagens, rochas, memórias, troncos, artefatos e corpos. Nesse ponto, compreender as relações entre o povo Akwê, suas materialidades gráficas, e os fenômenos entendidos enquanto patrimônios arqueológicos e suas materialidades, pode ampliar o entendimento desta expressão material, sob diferentes aspectos. Palavras-chave: Grafismos. Povo Akwê. Inter-Historicidade.

Page 50: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

42

O LICENCIAMENTO AMBIENTAL EM TERRITÓRIOS INDÍGENAS NO ESTADO DE MATO GROSSO: PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO OU

DESPOJOS DE GUERRA?

Francisco Forte Stuchi Universidade de São Paulo

[email protected] É cada vez mais evidente que desde cinco séculos atrás até o presente, e considerando o processo de formação da sociedade nacional, as relações entre colonizadores e povos nativos das Américas foram marcadas por genocídios, esbulhos de territórios e outras formas de violência. A trajetória histórica do Brasil foi marcada por inúmeras perdas humanas, ambientais e pela resistência e agência indígena. Tais eventos e conjunturas desencadearam pressões sociais e políticas que resultaram, entre meados do século XX e início do XXI, na criação de um conjunto de leis voltadas às questões socioculturais e ambientais. Contudo, conflitos envolvendo tais temas persistem até os dias de hoje, apresentando-se em diferentes formas e mecanismos para continuar atendendo os interesses colonialistas. Dentro desse contexto, este projeto tem como objetivo analisar quanti-qualitativamente processos de licenciamento ambiental com ênfase no componente arqueológico em territórios indígenas no Estado de Mato Grosso; e a partir de diferentes estudos de caso examinar nos procedimentos administrativos e na legislação elementos colonialistas que subsidiem a leitura da noção de Patrimônio Arqueológico enquanto despojos de guerra contemporâneos. Palavras-chave: Licenciamento ambiental. Territórios indígenas. Patrimônio arqueológico. Despojos de guerra.

Page 51: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

43

ARQUEOLOGIA SOCIAL INCLUSIVA E CONSERVAÇÃO DA ARTE RUPESTRE DOS SÍTIOS BARRO BRANCO I E TEMPLO DOS PILARES –

ALCINÓPOLIS – MS

Maria Conceição Soares Meneses Lage Universidade Federal do Piauí

[email protected]

Benedito Batista Farias Filho Universidade Federal do Piauí

[email protected]

Igor Linhares de Araújo Universidade Federal do Piauí

[email protected]

Os sítios de arte rupestre são obras de arte expostas ao tempo, sujeitas a ações naturais e/ou antrópicas, e por isso precisam ser estudadas a fim de preservá-los (JACQUES BRUNET, 1996). É recomendável que se efetue periodicamente avaliação sobre o estado geral de conservação dos sítios, buscando desacelerar a degradação. O ideal é efetuar trabalhos envolvendo o poder público local e a população atual a fim de garantir melhores resultados. Tais ações devem acontecer nas diferentes etapas da investigação, desde a apresentação da proposta, sua realização, apresentação dos resultados obtidos e das ações futuras. Foi com esse propósito que o IPHAN do Mato Grosso do Sul apresentou um edital e fomos selecionados para executá-lo, o que aconteceu no período de novembro de 2019 à fevereiro de 2020. O trabalho teve o objetivo de realizar um diagnóstico técnico sobre o estado geral de conservação dos sítios Barro Branco I e Templo dos Pilares, por meio de exames e análises arqueoquímicas dos pigmentos, depósitos de alteração e do suporte rochoso; efetuar intervenção de conservação a fim de eliminar ou minimizar o efeito dos problemas identificados, principalmente as pichações;

Page 52: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

44

apresentar uma proposta de monitoramento para os sítios buscando evitar a reincidência dos problemas e treinar uma equipe local para dar continuidade à manutenção e limpeza no entorno dos sítios. Por meio do arqueólogo do IPHAN-MS, a Prefeitura Municipal de Alcinópolis foi acionada e participou ativamente do projeto, por meio da Secretaria de Desenvolvimento, Agricultura, Pecuária, Turismo e Meio Ambiente (SEMUDES), em especial da sua Secretária e equipe. Foram realizados vários momentos com a comunidade, um apresentando o projeto, pesquisadores e equipamentos utilizados para elaboração do diagnóstico técnico: instrumentos usados para medidas de temperatura da rocha e do ambiente, umidade relativa do ar, velocidade do vento, luminosidade, identificação colorimétrica segundo Código Munsel, exames microscópicos, análises arqueométricas de Fluorescência X portátil dos pigmentos rupestres, depósitos de alteração e suporte rochoso. Os pigmentos vermelhos são óxido de ferro na forma de hematita, o preto é óxido de manganês e o amarelo é goetita. Os depósitos de alteração são à base de alumino silicatos. Outros momentos aconteceram nos sítios, quando membros da comunidade e da SEMUDES participaram das intervenções e discussões sobre as ações futuras. Uma equipe desta Secretaria foi treinada e encontra-se apta a executar os trabalhos básicos de manutenção.

Palavras-chave: Conservação de arte rupestre. Arqueometria. Sítio arqueológico Barro Branco I. Sítio arqueológico Templo dos Pilares. Alcinópolis-MS.

Page 53: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

45

TRAJETORIAS NEGRAS: ETNOARQUEOLOGIA E COLABORAÇÃO EM VILA BELA E SEUS QUILOMBOS

Patrícia Marinho de Carvalho

Negrarqueo – Rede de Arqueologia Negra [email protected]

Durante 10 anos desenvolvi estudos em comunidades quilombolas de Vila Bela da Santíssima Trindade/MT. Em 2008, cheguei em Vila Bela com a proposta de realizar pesquisa de doutorado afim de observar a relação das pessoas do quilombo com a paisagem, em especial aqueles aspectos simbólicos atribuídos às plantas. O objetivo era verificar quais arranjos socioculturais foram promovidos na diáspora africana e como esses arranjos podem ser percebidos através da materialidade. Entendendo esses arranjos como estratégias de sobrevivência física e cultural diante das adversidades impostas às populações africanas e afrodescendentes. Os saberes ancestrais também se manifestam simbolicamente na relação das pessoas com a paisagem, compondo a materialidade afrodiaspórica e as árvores, por seus atributos mnemônicos, foram o foco do estudo. A pesquisa teve continuidade no doutoramento, já partindo das relações estabelecidas com a comunidade, pudemos realizar um projeto colaborativo. Ao retornar à comunidade para a apresentação do projeto de pesquisa em 2015, as famílias de Lino e de seu irmão Ádio Frazão de Almeida, haviam abandonado as antigas casas tradicionais de pau-a-pique pois finalmente haviam conseguido construir suas casas de alvenaria. As casas tradicionais abandonadas rapidamente se deterioravam sem a manutenção necessária, como a troca da cobertura de palmas de babaçu, ou o barreamento das paredes. A comunidade concordou com o desenvolvimento da pesquisa e através dos pressupostos da arqueologia do abandono investigamos a formação do registro arqueológico e aspectos da materialidade quilombola. O estudo foi realizado em três contextos distintos, sendo, o sítio arqueológico Porto Boqueirão, antigo assentamento

Page 54: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

46

quilombola dos ancestrais da família Frazão de Almeida, os sítios de abandono recente, das antigas casas de pau-a-pique e os sítios onde foram construídas as casas de alvenaria, habitados pelas famílias de Lino e Ádio. Esses três contextos são representativos de pelo menos duas gerações do território quilombola e ao longo desses dez anos de pesquisa os registros fotográficos, possibilitaram além de material para entender a transformação da paisagem e a formação do registro arqueológico da comunidade, também são um registro da história da comunidade, em momentos de trabalho, de diversão, de alegrias e de tristeza. Os registros fotográficos reunidos na tese, também ter por objetivo proporcionais que qualquer morador da comunidade, que se reconhecer e reconhecer o território e as transformações pelas quais ambos passaram. Palavras-chave: Etnoarqueologia. Arqueologia do abandono. Remanescente de quilombo. Diáspora Africana.

Page 55: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

47

ARQUEOLOGIA PRÉ-COLONIAL

Page 56: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

48

A COLEÇÃO ARQUEOLÓGICA DO SÍTIO CACHOEIRINHA: ALGUNS ASPECTOS TECNOLÓGICOS

Edilson Teixeira de Souza

AL Consultoria em Arqueologia [email protected]

O sítio arqueológico Cachoeirinha, localizado no Distrito Federal, representa um importante Complexo Arqueológico, formado por diferentes áreas de captação de recursos líticos e oficinas de lascamento. A coleção arqueológica recuperada durante as escavações desse sítio é composta por uma diversidade de categorias que remetem à exploração da matéria-prima local, por meio da produção, manutenção dos artefatos e até mesmo seu possível uso no local. Composta por núcleos, lascas, instrumentos lascados, percutores e outros detritos de lascamento, a coleção arqueológica estava associada aos afloramentos rochosos que ocorrem no local e que também foram utilizados recentemente para a obtenção de matéria-prima para a construção civil. Como poucos outros no Distrito Federal, esse sítio apresenta horizonte arqueológico em condições tafonômicas favoráveis ao estudo dos registros, o que possibilitou obter informações sobre sua espacialidade, com cronologia relativa e absoluta. Esse advento contribui para o enriquecimento das pesquisas arqueológicas no Distrito Federal, inclusive promovendo a primeira datação absoluta de sítio arqueológico para a região. Entre os objetivos da pesquisa, foi possível caracterizar a distribuição espacial do sítio, cruzando essas informações com a presença de afloramentos rochosos, identificar distintos momentos de ocupação/presença humana nessa área. A análise da coleção ainda possibilitou observar padrões ou diversidade tecnológica nos processos envolvidos na aquisição, produção e funcionalidade da coleção. Os vestígios foram analisados sob a perspectiva da análise tecnológica, buscando compreender a coleção dentro de um contexto sistêmico, onde os aspectos tecnológicos e naturais estariam relacionados. Para isso, foram levantados atributos associados à tecnologia e técnica empregadas nos processos de lascamento, assim como aspectos naturais que pudessem estar associados à predeterminação de ações de lascamento ou mesmo o aproveitamento de fragmentos ou superfícies naturais. A análise da coleção demonstrou quais foram os métodos e técnicas utilizadas na manufatura da

Page 57: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

49

matéria-prima, inclusive apontando para a distinta utilização dos afloramentos na sua espacialidade. A datação absoluta obtida a partir de restos orgânicos representa apenas um horizonte arqueológico dos registros. As demais áreas dentro do Complexo Arqueológico, apesar de ainda não apresentarem datações absolutas, carregam elementos tecnológicos distintos, sugerindo que área foi objeto de inúmeras incursões para a captação de recursos em tempos pretéritos. No sítio observa-se um complexo mosaico, formado por vestígios pré-coloniais (vestígios líticos) e detritos resultantes da exploração recente dos afloramentos rochosos no local. O implemento da análise tecnológica na coleção possibilitou identificar os diferentes produtos gerados pela exploração e transformação dos afloramentos em distintos períodos. Palavras-chave: Complexo Arqueológico Cachoeirinha. Tecnologia Lítica. Arqueologia do Distrito Federal.

Page 58: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

50

O ENFOQUE TECNO-GENÉTICO APLICADO À CLASSIFICAÇÃO DE NÚCLEOS: POSSIBILIDADES, ESTADO ATUAL E LIMITES PARA A

ARQUEOLOGIA BRASILEIRA

Marcos Paulo de Melo Ramos Museu Nacional/UFRJ

[email protected]

Antonio Pérez Balarezo Université Paris Nanterre

[email protected] O enfoque tecno-genético foi desenvolvido no contexto da abordagem tecno-funcional que, por sua vez, deriva da introdução das investigações sobre o modo de existência dos objetos técnicos ao escopo da subdisciplina tecnologia lítica. O enfoque tecno-genético postula a existência de seis conceitos para os sistemas de debitagem: A, B, C, D, E e F.Esses conceitos são a expressão geral de estruturações particulares no processo de obtenção dos critérios técnicos julgados suficientes e necessários no âmbito de uma cultura técnica cronogeograficamente identificável. Os critérios técnicos poderiam ser buscados tanto sobre os volumes úteis a ser debitados (composição de ao menos um plano de percussão e uma superfície de debitagem) quanto sobre as lascas-ferramenta e/ou lascas-suporte objetivadas ao final da debitagem. A estrutura geral de um conceito de debitagem se desdobra em uma ampla gama de métodos particulares (de pré-configuração e/ou inicialização dos volumes úteis), hierarquicamente submetidos ao espectro de possibilidades de um conceito específico. Considera-se que a individualização dos objetos técnicos se cumpre no desdobramento de sistemas abstratos (A, B, C, D) – nos quais não há uma necessária identidade entre volume útil e totalidade do volume do bloco – em direção aos sistemas concretos (E e F) – nos quais o volume útil se confunde com o volume total do bloco. A consideração da gênese das linhagens técnicas

Page 59: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

51

através dos sistemas de debitagem nos permite avaliar o poder heurístico que este enfoque possui para fornecer meios classificatórios propriamente tecnológicos para as indústrias líticas. Nesta comunicação vamos discutir a pertinência deste enfoque e realizar um levantamento não exaustivo do estado da arte a partir de indústrias líticas nas quais tenham sido identificados os conceitos de debitagem (e métodos relativos) para o território brasileiro nos últimos quinze anos. Iremos tecer algumas considerações sobre os cenários tecnográficos que começam a emergir. Palavras-chave: Tecnologia Lítica. Debitagem. Abordagem Tecno-Funcional. Enfoque Tecno-Genético.

Page 60: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

52

CURADORIA LÍTICA: DIAGNOSE DO MATERIAL LÍTICO DO SÍTIO GO-JA-01 (NIVEIS 13 A 15, SETOR 16H), HOLOCENO ANTIGO

Andréia Walker da Silva Melo

Pontifícia Universidade Católica de Goiás [email protected]

A seguinte comunicação refere-se aos resultados obtidos durante o trabalho de pesquisa desenvolvido no programa de Iniciação Científica da PUC Goiás, com orientação da professora Sibeli A. Viana. O plano tem por objetivo entender as variabilidades tecnológicas dos objetos líticos presentes na transição do Holoceno Antigo para o Holoceno Médio do sítio GO-JA-01. Serão apresentados os procedimentos e resultados de curadoria do material lítico (lascas, instrumentos, núcleos e outros), provenientes do sítio arqueológico GO-JA-01, localizado na região sudoeste de Goiás e específico aos níveis estratigráficos 13, 14 e 15 do setor 16 H. Os materiais líticos em estudo estão situados em camadas arqueológicas datadas do período Holoceno Antigo de, aproximadamente, 11.000 até 8.500 anos atrás. A curadoria das peças efetivou-se na numeração e diagnóstico de um total de 1.618 objetos, quando foi realizado um diagnostico individual acerca do estado de preservação dos materiais arqueológicos, o seu quantitativo e as categorias líticas identificadas (lascas, instrumentos, núcleos, cassons. Para contextualizar os materiais em estudo, referente aos níveis 13 a 15 do setor H, foi realizada a quantificação e avaliação geral acerca dos objetos líticos dos demais setores do sítio GO-JA-01 (12H, 14H, 16H, 18H, 14I, 16I e 20I), referente ao Holoceno antigo. Essa atividade se baseou na obra de Schmitz et al. (2004). As atividades realizadas tem possibilitado a continuidade dos trabalhos, ressaltando que o processo de curadoria de material arqueológico consiste numa das principais fases da pesquisa pois ela facilitará a identificação e procedência dos materiais nos arquivos e, para além disso, representa o primeiro reconhecimento do/a arqueólogo/a com seu objeto de pesquisa onde impressões subjetivas são construídas e serão

Page 61: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

53

fundamentais para o desenvolvido da investigação científica. Esse trabalho está integrado as atividades do plano de pesquisa em fase de desenvolvimento e intitulado, Tecnologia lítica: as variabilidades tecnológicas presente na transição do Holoceno Antigo para o Holoceno Médio no sítio arqueológico GO-JA-01, níveis 14 e 15, corte 16 H, com a orientação da professora Sibeli A. Viana. Palavras-chave: Serranópolis. Tecnologia lítica. Curadoria.

Page 62: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

54

EXPLORANDO OS PLANOS DE ESCAVAÇÃO DO CORTE 4 DO SÍTIO GO-CP-16, RESULTADOS PRELIMINARES

José Lucas Otero da F. C. Couto

Pontifícia Universidade Federal de Goiás [email protected]

O projeto “Patrimônio Arqueológico de Palestina de Goiás” tem como objetivo principal retomar as escavações arqueológicas na região de palestina de goiás e as análises dos materiais arqueológicos, utilizando metodologia e concepções teóricas atualizadas. Neste contexto, meu plano de trabalho de iniciação científica desenvolvido na PUC-Goiás, sob orientação da professora Sibeli Viana está voltado à continuidade das análises tecnológicas dos objetos líticos do sítio GO-CP-16, corte 4 e, à contextualização do material arqueológico analisado aos planos de escavação (croquis). Nesse sentido, a apresentação consistirá na leitura vertical dos registros arqueológicos do referido sítio (corte 4) dispostos a partir das diferentes decapagens, com o intuito de subsidiar uma leitura espacial, onde se inclui o lugar do sítio e o território, espaço mais amplo onde se dão as condições locais e os registros sedimentares da região e suas consequentes ligações com os depósitos de matérias-primas disponíveis para a produção de ferramentas, assim como espaço ocupado por diferentes grupos culturais ao longo do tempo. Também se inclui o ambiente vivenciado pelas pessoas, lugares onde elas teriam estabelecido relações sociais e experienciando comportamentos simbólicos, presentes em práticas culturais da cotidianidade ou de eventos ocasionais presentes entre grupos humanos pretéritos. A metodologia empregada parte da análise dos planos de escavação (croquis) e da disposição horizontal dos registros arqueológicos, que se baseou em técnicas de escavação controlada a partir de decapagens definidas partindo da ocorrência dos materiais in situ. Os planos originais produzidos em campo foram digitalizados e atualizados, de acordo com o andamento das análises dos

Page 63: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

55

materiais, facilitando a sistematização e a análise dos dados. A apresentação se baseará na análise de 32 decapagens, inseridas em três camadas estratigráficas cada uma com concentrações diferentes de objetos arqueológicos, principalmente objetos líticos que notavelmente se tornam mais presentes nas decapagens mais profundas. O corte 4 do GO-CP-16 é composto de 40 decapagens das quais até agora 32 passaram pelo processo de análise do material e digitalização dos croquis, mas que já nos possibilita obter um insight sob a leitura vertical do corte e suas correlações com elementos espaciais presentes no território. Palavras-chave: Palestina de goiás. Lítico. Croquis. Leitura vertical.

Page 64: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

56

ARQUEOLOGIA EM PALESTINA DE GOIÁS: O TRABALHO PARA QUE O SUTIL SE MANIFESTE

Sibeli A. Viana

Pontifícia Universidade Católica de Goiás [email protected]

Esta comunicação apresentará resultados parciais de análises arqueológicas desenvolvidas em Palestina de Goiás. Ao longo dos últimos dez anos, as pesquisas realizadas na região estiveram voltadas à formação dos sítios e do registro arqueológico, assim como à inter-relação entre eles e entre suas paisagens. Também se destaca as investigações em torno das variabilidades na tecnologia lítica e da arte rupestre, materialidades dominantes nos mais de 40 sítios da região. Tais materialidades ora se exibem abertamente, “se deixam ver” com maior facilidade, ora se revelam apenas à percepção arqueologicamente treinada. Esse registro sutil se faz apreensível por meio do aparato teórico metodológico com o qual trabalhamos, cultivado através da dedicação de pesquisadores e discentes/estagiários que sistematicamente vêm trabalhando comigo no Laboratório de Arqueologia da PUC Goiás/IGPA. Por registro sutil, estou me referindo a materialidades que, no caso de certos instrumentos líticos, são melhor reconhecíveis não somente pelos seus esquemas técnicos de confecção (ações técnicas de modificação por remoção através da percussão), mas pela dimensão antropológica da eleição e seleção sobre as características topológicas da matéria-prima (volume, qualidade para o lascamento, ordenamento das superfícies etc). Diferentemente das ações de modificação por remoção, essas ações se dão pela integração de elementos naturalmente presentes sobre a topologia dos materiais disponíveis à totalidade do objeto. Essa descoberta se dá sempre sob o crivo de uma tecnicidade particular. Esses elementos naturalmente presentes farão sentido no momento da utilização do instrumento (afordância). Nessa mesma direção, outro esquema técnico de registro sutil

Page 65: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

57

está representado por instrumentos de baixa volumetria e cujos suportes, via de regra, vêm do momento da debitagem. Seus gumes são discretos, com rara presença de ações técnicas de reafiamento. Os registros sutis aqui em questão não se esgotam nas vertentes apontadas, destaco, ainda, o caso de certas pinturas rupestres, cujo reconhecimento e sentido não estão unicamente nas figuras em si e nas suas formas de representação, mas, também, em sua disposição espacial e integração ao paredão rupestre. A variabilidade insuspeita de tais materialidades tem sido considerada como expressão de alteridades culturais pretéritas importantes para compreender aspectos das tecnicidades presentes na região, entendidas a partir das relações estabelecidas entre pessoas, técnicas e espaços. Palavras-chave: Palestina de Goiás. Registro arqueológico sutil. Tecnologia Lítica.

Page 66: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

58

PROSPECÇÃO ARQUEOLÓGICA COM GPR NO SÍTIO ARQUEOLÓGICO GO-JA-02: SERRANÓPOLIS, GOIÁS

Eloah Vargas Ribeiro

PUC-Goiás [email protected]

Julio Cezar Rubin de Rubin

PUC-Goiás [email protected]

Welitom Rodrigues Borges

UnB [email protected]

No Sítio arqueológico GO-JA-02 há um pacote de sedimentos de aproximadamente 2,5 metros de espessura com registro de diferentes momentos de ocupação iniciando-se com caçadores-coletores da fase Paranaíba (Schmitz et al, 1980). Neste trabalho prevê-se o uso do método do radar de penetração no solo (GPR) no Sítio para direcionar as escavações dentro de uma área de 25 m2. Na etapa de geofísica prevê-se o uso de um sistema de GPR com antenas blindadas de 900MHz e de 400MHz. As aquisições ocorrerão no modo constant offset com o registro de seções de GPR a cada 10 cm. O conjunto de dados possibilitará a elaboração de volumes da resposta do GPR em seções 2D e em cortes em profundidade. Estas informações subsidiarão as escavações arqueológicas na busca de estruturas de combustão, vasilhames de cerâmica e enterramentos, por exemplo, além de informações sobre a estratigrafia e as camadas de ocupação. Nas primeiras etapas arqueológicas realizadas em 2019, analisaram-se as áreas externa e interna do sítio, constatando-se que elas possuem plenas condições de aplicação do GPR. Entretanto, por questões de logística, a parte externa, escavada por Schmitz et al (1980), é a mais indicada em decorrência da luminosidade natural. Nessas etapas também foi discutida a possibilidade de utilizar, associado com o GPR, o pH do solo, priorizando aqueles da baixa acidez em decorrência da possibilidade de maior preservação de restos orgânicos e as áreas com menor impacto nas camadas superficiais pelo pisoteio

Page 67: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

59

do gado. O objetivo desse trabalho é discutir algumas questões relacionadas com a aplicação do GPR no sítio, uma vez que acordo como as pesquisas pioneiras, extrapoladas para o GO-JA-01, distante cerca de 500 metros, existem blocos de rochas a partir de 1 metro de profundidade, os quais podem interferir na interpretação das informações produzidas pelo GPR, bem como as duas técnicas complementares mencionadas. Os resultados de GPR possibilitarão uma correlação com as camadas identificadas nas escavações de Schmitz et al (1980) e servirá de base para os demais sítios de Serranópolis que apresentam características similares. Palavras-chave: Geoarqueologia. GPR. Prospecção.

Page 68: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

60

OS GRAFISMOS NO ABRIGO DO ÍNDIO EM PALESTINA DE GOIÁS: VISIBILIDADE E COMUNICAÇÃO

Grazieli Pacelli Procópio

[email protected]

O grafismo rupestre ou como alguns preferem, a arte rupestre sempre foi estudada por diferentes perspectivas e disciplinas, entre elas a arqueologia. No Brasil, desde os anos de 1960, as imagens representadas em sítios arqueológicos receberam diversos enfoques, principalmente pela escola francesa que abordou problemáticas relacionadas a suas tradições. A partir da década de 1990, influenciado por correntes teóricas advindas do pós-processualismo, pesquisadores/as passam a ter uma nova concepção que tais imagens se tratavam antes de tudo, de linguagens visuais, composta de signos estabelecidos entre o grupo, com o intuito de comunicar suas ideias, crenças e pensamentos, como forma de demarcar seus espaços, construindo assim uma paisagem cultural (LINKE & ISNARDIS, 2010. Acredita-se que, tais espaços não teriam sidos escolhidos aleatoriamente (ISNARDIS,2009), mas planejados para que fossem destacados ou não na paisagem (RIBEIRO, 2008), a partir das preferências de suportes rochosos, temáticas e da disposição das imagens no abrigo. Sob essa perspectiva, e tendo o Abrigo do Índio como um afloramento rochoso de alta visibilidade e monumentalidade na região do Rio Bonito em Palestina de Goiás, o presente trabalho vem apresentar os resultados obtidos na verificação da distribuição espacial dos grafismos nos paredões, tetos e blocos do sítio. Buscou-se identificar escolhas culturais e possíveis cronologias por meio da análise dos painéis e figuras em campo e das imagens fotográficas em laboratório que foram destacadas pelo software DStrech e vetorizadas no CorelDraw. Mediante o exame foi possível subsidiar as inferências de que, os grupos sociais pretéritos que ocuparam o abrigo, tiveram preferências por temas, suportes e localização para representar seus símbolos culturais, com o intuito de destacar ou não as

Page 69: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

61

pinturas em diferentes níveis de visibilidade. Sendo assim, tornar visível ou não os grafismos rupestres, diante da semiótica (NETTO, 2013), estejam relacionados com a forma que essas pessoas estruturavam suas mensagens por meio dos signos e como, segundo Ribeiro (2008), estariam pensando no público que os acessaria. Palavras-chaves: Grafismos rupestres; Palestina de Goiás; Visibilidade; Comunicação.

Page 70: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

62

ANÁLISE ARQUEOMÉTRICA DE PIGMENTOS RUPESTRES DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS BARRO BRANCO I E TEMPLO DOS PILARES

(ALCINÓPOLIS – MS)

Benedito Batista Farias Filho Universidade Federal do Piauí

[email protected]

Welington Lage WLage Arqueologia

[email protected]

Danyel Douglas Miranda de Almeida Universidade Federal do Piauí

[email protected] As pesquisas arqueométricas utilizam metodologia das ciências da natureza e para o estudo da arte rupestre empregam as análises físico-químicas que auxiliam no diagnóstico prévio sobre o nível de deterioração e direcionar as etapas interventivas de conservação. Atualmente a utilização de técnicas analíticas não-destrutivas, não invasivas e portáteis são as mais indicadas nas análises arqueoquímicas pois fornecem resultados em tempo real e não agridem o patrimônio material. Dentre elas, destaca-se a espectrometria de Fluorescência de Raios X (pFRX), que devido a sua portabilidade permite a análise in situ para tomada de decisão em campo, além de suas características intrínsecas multielementar. Assim, o presente trabalho teve como objetivo realizar a análise química elementar dos pigmentos de arte rupestre dos sítios arqueológicos Morro Branco I e Templo dos Pilares (Alcinopólis/MS) usando a técnica de Fluorescência de Raios X portátil. O Sítio Barro Branco I está situado na Serra do Barro Branco e se trata de um grande abrigo sob-rocha arenítica contendo predominantemente pinturas em sua maioria zoomorfas associadas a representações não figurativas nas cores vermelhas (em diversas

Page 71: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

63

tonalidades), além das amarelas, bem como algumas representações gravadas. O Sítio Templo dos Pilares (considerado como um dos mais importantes sítios do estado do Mato Grosso do Sul) está localizado no Parque Natural Municipal Templo dos Pilares é um grande abrigo arenítico cujo teto é sustentado por enormes colunas naturais formando um monumento de grande beleza. Possui diversos grafismos pintados e/ou gravados, em diferentes representações rupestres e em variadas cores (vermelha, amarela, preta), além de problemas de diferentes problemas de conservação. Em ambos os sítios estudados as camadas pictóricas das amostras apresentam qualitativamente o ferro, que faz parte do material pictórico que dá cor à arte rupestre; o manganês que também é o responsável pela coloração preta; Elementos como cálcio, potássio, alumínio, fósforo, silício, cloro e enxofre em sua maioria compõe o suporte rochoso e depósitos de alteração; alguns outros elementos também foram detectados que podem ser associados a depósitos de alteração como as eflorescências salinas, liquens ou manchas diversas, inclusive as de natureza orgânica. A identificação da composição químico-mineralógica dos pigmentos pré-coloniais, em sua quase totalidade, indicou a possibilidade de utilização de substâncias orgânicas para controlar o avanço dos liquens sobre os painéis rupestres e em outros aspectos a realização de intervenções mecânicas nas eflorescências salinas pois possuem composição química similar da arte rupestre o que impede o uso de solventes orgânicos como solubilizante. Palavras-chaves: Pigmentos Pré-Históricos. Conservação de Arte Rupestre. Fluorescência de Raios X. Arqueometria.

Page 72: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

64

REGISTROS DE SAMBAQUIS NO TERRITÓRIO DO BRASIL

Jasiel Neves Museu Nacional/UFRJ

[email protected]

Rita Scheel-Ybert Museu Nacional/UFRJ [email protected]

Os sítios arqueológicos tipo sambaqui estão entre os mais representativos em número de ocorrências no território brasileiro. Embora muitas pesquisas tenham descrito os possíveis padrões e a dispersão desses sítios, tanto no litoral quanto no interior do país, existe a necessidade de aprofundamento e revisão dos registros quanto à situação, à morfologia e o conteúdo dos sambaquis no Brasil. No sentido de contribuirmos com o refinamento e a síntese dos dados já estudados por outros autores nesse contexto arqueológico, estamos efetuando um mapeamento das ocorrências desses sítios materializadas através de registros geográficos, com o objetivo de apurar a acurácia e a precisão da geografia dos mesmos com vistas ao seu conhecimento, interpretação e preservação. Através de ampla revisão da literatura foram selecionadas as publicações que tiveram os sambaquis como tema de estudo e que faziam referência ao posicionamento geográfico desses sítios, seja através de mapas, croquis de localização ou citação de coordenadas geográficas. A partir desses registros, os sítios identificados foram inseridos em um sistema de informação geográfica (SIG) e adicionados a um banco de dados. Informações sobre a morfologia e a constituição dos sambaquis também foram utilizadas visando à comparação estratigráfica e da cultura material dos sítios, além da reunião de informações cronológicas buscando comparar a estrutura e o padrão dos sambaquis analisados. A partir dos resultados obtidos nessas análises buscamos efetuar uma associação ou enquadramento dos sítios nas tradições e fases arqueológicas brasileiras presentes na bibliografia geral

Page 73: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

65

relativa ao tema e, principalmente, no âmbito do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA) e do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas na Bacia Amazônica (PRONAPABA). Foram reunidos registros de ocorrências de sambaquis nos estados do Rio Grande do Sul; Santa Catarina; Paraná; São Paulo; Rio de Janeiro; Espírito Santo; Bahia; Alagoas; Rio Grande do Norte; Maranhão; Pará, Rondônia e Mato Grosso do Sul. Organizamos o registro das ocorrências dos sambaquis de acordo com sua situação em relação ao atual nível relativo do mar, sendo: insulares; marinhos, lagunares, fluviais e continentais. Avaliamos que a base dos registros de sambaquis está alicerçada em algumas regiões do país, como no Sul e Sudeste; possui algumas áreas de destaque, como nos estados do Pará, Maranhão, Bahia e Rondônia; e ainda há dúvidas ou necessidade de discussão e estudos em outros locais do litoral nordestino influenciados por ambientes de dunas, principalmente nos estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte; e no interior do Brasil. Palavras-chave: Arqueologia. Pré-colonial. Contexto arqueológico. Sítio arqueológico. Análise espacial.

Page 74: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

66

ARQUEOLOGIA NO DISTRITO FEDERAL E A IMPORTÂNCIA DAS PESQUISAS DE ARQUEOLOGIA PREVENTIVA

Edilson Teixeira de Souza

AL Consultoria em Arqueologia [email protected]

Rosângela Azevedo Corrêa

Universidade de Brasília/Museu do Cerrado [email protected]

Brasília é conhecida por ser o Patrimônio Cultural da Humanidade, mas a grande maioria da população desconhece o patrimônio arqueológico do Distrito Federal que evidencia a ocupação milenar do território. Os artefatos em pedra lascada dos caçadores e coletores da Tradição Itaparica, fabricados há mais de 8,4 mil anos, usados na caça e processamento de animais e os fragmentos cerâmicos identificados no atual território da Capital Federal, são evidências da presença de grupos nômades de caçadores-coletores, num momento mais recuado, e de ocupações sedentárias de horticultores-ceramistas que ocuparam posteriormente a região. Peças cerâmicas foram coletadas em pesquisas arqueológicas realizadas na região entre 1992 e 1995 pelos arqueólogos Eurico T. Miller e Paulo Jobim: “Vim para um trabalho de assentamentos no Distrito Federal e aí se desenhou toda a história. Aqui existem sítios de todos os tipos. Quando encontramos pontas de flecha de quartzo nas escavações, era um sinal de que o Cerrado era um ótimo lugar para se viver na antiguidade” (Eurico Miller 2017). Miller tinha razão, o cerrado e as matas, proviam, em diversos períodos do ano, aos grupos pré-históricos produtos naturais como o pequi, a guariroba, o babaçu etc. Quanto os artefatos líticos (pedras) destacam-se as pesquisas realizadas pelo arqueólogo Edilson Teixeira ao longo dos últimos 12 anos no Distrito Federal no âmbito da Arqueologia Preventiva, vinculadas ao licenciamento ambiental de inúmeros empreendimentos ligados a diferentes setores. Por representarem a possibilidade de impacto sobre o

Page 75: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

67

patrimônio arqueológico, a implantação desses empreendimentos foram precedidas por pesquisas arqueológicas que resultaram na identificação e registro de inúmeros sítios arqueológicos, localizados em diferentes Regiões Administrativas. Esses sítios estão associados ao período de ocupação pré-colonial e colonial. As pesquisas arqueológicas promovidas na região, por meio da Arqueologia Preventiva, contribuíram com o conhecimento arqueológico dos registros de ocupações para a região, permitindo traçar um panorama da Arqueologia regional, inclusive logrando a primeira datação radiocarbônica para um sítio arqueológico pré-colonial no DF, mesmo diante das condições não favoráveis para a preservação e conservação de componentes orgânicos, utilizados nesse tipo de datação. Para dar a conhecer os resultados dessas pesquisas temos o Museu do Cerrado que é um museu virtual que promove o conhecimento arqueológico na região. Palavras-chave: Arqueologia preventiva. Arqueologia no Distrito Federal. Museu do Cerrado.

Page 76: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

68

O SÍTIO VAU 1 E SUAS POSSÍVEIS CORRELAÇÕES COM AS ALDEIAS ARATU COM ENTERRAMENTOS DA REGIÃO CENTRO OESTE

Janine Resende

Pontifícia Universidade Católica de Goiás [email protected]

Na região sudoeste do estado da Bahia, município de Santa Maria da Vitória foi encontrado em 1996, em contexto de salvamento, um complexo de sítios arqueológicos denominados de sítio VAU 1, VAU 2 e Paredão do Meio, distantes entre si a não mais que 2 km. Os materiais arqueológicos dos dois primeiros sítios são caracterizados principalmente por enterramentos humanos e fragmentos cerâmicos, líticos e material zooarqueológico. O sítio Paredão do Meio ocorre em abrigo com pinturas rupestres. Os sítios possuem um acervo documental escasso e incompleto. No sítio VAU 1, objeto de interesse dessa apresentação, foram resgatados mais de uma dezena de enterramentos. Situação distinta ocorre no sítio VAU 2 onde a quantidade de enterramentos humanos resgatados é menor. Análises preliminares indicaram que pertencem a tradição Aratu. Diagnoses de curadoria realizada em 2019 constataram a presença de indivíduos em diferentes faixas etárias e de gênero e, ossos em estados diferenciados de preservação. Destaca-se ainda a presença de marcas de queima e de corte em alguns fragmentos, ainda em processo de análise para verificar a intencionalidade. Sítios Aratu com enterramentos humanos são característicos na região nordeste. Visto que o sítio VAU 1 encontra-se próximo à área que abrange o Centro-Oeste, espera-se que as pesquisas dessa região colaborem na compreensão das aldeias Aratu com enterramentos, como o sítio Vale dos Sonhos, localizado na região central de Goiás. O contexto de proximidade dos sítios VAU 1, VAU 2 e Paredão do Meio também incita a investigar possíveis correlações entre eles, para isso nos inspiramos no modelo de assentamento proposto por Wüst, também na região central de Goiás. Cientes dos limites quantitativo dos sítios, assim

Page 77: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

69

como das análises que encontram-se em processamento e da ausência de datações, apresentamos num primeiro ensaio, algumas hipóteses inter-relacionais entre esses sítios: (1) a possibilidade dos três sítios terem pertencido a um momento de ocupação na região e, com isso estarem integrados entre si, nesse contexto considerando as características do VAU 1, este teria tido um papel específico em relação aos demais; e (2) os três sítios representarem reocupações sucessivas no território, o que representaria uma área de especial interesse às ocupações pretéritas. Tais hipóteses ainda que iniciais objetivam correlacionar os sítios Aratu da Bahia com os de Goiás, além de direcionar e consubstanciar as problemáticas do atual projeto “Práticas Funerárias: interpretações do sítio arqueológico VAU 1 no Município Sta. Maria da Vitória, BA”. Palavras-chave: Grupos ceramistas. Tradição Arqueológica Aratu. Arqueologia.

Page 78: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

70

HOOK, LINE OR SINKER? UM CASO DE DIÁLOGO PAN-AMERICANO EM UMA INTERPRETAÇÃO DE ARTEFATO

John Gabriel O’Donnell

PUC-RS [email protected]

Por décadas, uma classe de objetos de pedra bicônica alongados e exclusivos foi classificada na literatura arqueológica sul-americana como algum tipo de equipamento de pesca. A utilidade exata dos objetos tem sido consistentemente variada o suficiente para apresentar sérias incertezas. O Dr. Klaus e o Sr. O'Donnell, do laboratório de arqueologia da PUCRS, desenvolveram uma explicação totalmente nova para o propósito e valor pretendidos do objeto no registro arqueológico. Usando percepções de vozes bem fora da academia para chegar a essas novas conclusões, bem como algumas pistas reveladoras deixadas nos primeiros registros arqueológicos, este estudo de caso é um ótimo exemplo dos usos da multivocidade em ação e da necessidade de expandir o pensamento arqueológico além da comunidade insular de praticantes profissionais. A nova localização desta família de artefatos também levanta questões sobre o desenvolvimento histórico das tecnologias atlatl e de lançamento de lança e sua intercontinentalidade, que o projeto apresenta como objetos tentadores de investigação que precisam de pesquisas futuras. Palavras-chave: Análise de artefato. Multivocidade. Cultura material.

Page 79: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

71

PANORAMA QUANTITATIVO DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS PRÉ-COLONIAIS DO ESTADO DE MATO GROSSO

Elisa Maria da Silva

Pontifícia Universidade Católica de Goiás [email protected]

Eu irei apresentar um panorama quantitativo, subsidiado por algumas informações qualitativas, acerca dos sítios arqueológicos pré-coloniais presentes em Mato Grosso. Esse trabalho se justifica pelo fato dos levantamentos de dados arqueológicos de natureza quantitativa e qualitativa contribuírem para diagnósticos e direcionamentos de investigações científicas futuras ou em fase de desenvolvimento. O processo de busca foi realizado no primeiro semestre de 2020, a partir da consulta do Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos, no site do IPHAN e o processamento das informações foi realizado em planilhas do Programa Excel. Foi registrada a presença de mais de mil sítios arqueológicos pré-coloniais em 51 municípios de Mato Grosso. A pesquisa quantitativa buscou não somente a totalidade de sítios por município como também foi avaliado: 1) o contexto de exposição do sítio, se em abrigos ou a céu aberto e 2) as tipologias de cultura material presentes nos sítios, a saber: lítico, cerâmico, ósseo e arte rupestre, representada na forma de gravura e/ou pintura. Essa atividade faz parte do desenvolvimento do plano de trabalho de Iniciação Científica denominado “Análise tecnológica das lascas referentes à produção de instrumentos líticos do sítio GO-CP-16”, sob a orientação da professora Sibeli A. Viana; a pesquisa numa perspectiva mais ampla, busca também a compreensão das ocupações humanas em tempos pretéritos na região de Palestina de Goiás e em suas interfaces regionais. Palavras-chave: Sítios arqueológicos pré-coloniais. Mato Grosso. Análise quantitativa.

Page 80: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

72

PERSPECTIVA GEOARQUEOLOGIA NA IMPLANTAÇÃO DA PCH RIO CLARO – MT – BRASIL

Jordana Batista Barbosa, Arqueóloga

Griphus Consultoria [email protected]

Márcio Antônio Telles

Griphus Consultoria [email protected]

Joanne Ester Ribeiro Freitas

Griphus Consultoria [email protected]

Foi a partir de um upgrade dentro das pesquisas arqueológicas brasileiras que conceitos geoarqueológicos tem sido cada vez mais utilizada dentro dos programas de pesquisa acadêmica e licenciamento ambiental. A implantação da PCH – Rio Claro – MT/ Brasil, traz um importante quadro de como será a investigação arqueológica perfazendo o uso de métodos e técnicas de última geração, para monitoramento dos fatores naturais e antrópicos identificado, nos sítios arqueológicos, visando a proteção e salvaguarda do patrimônio cultural. A PCH – Rio Claro, será implantada na bacia hidrográfica do Rio Claro na região Centro-Oeste do Brasil, no estado do Mato Grosso, sendo afluente do rio Arinos pela margem esquerda. Está área formou-se a partir de rochas sedimentares Mesozoicas da Bacia Sedimentar dos Parecis, nela encontra-se arenitos das Formações Utiariti, Coberturas Detritos-Lateríticas Ferruginosas e Depósitos Aluvionares. Visto que as compartimentações geomorfológicas se caracterizam pela Planície Fluvial e o Planalto do Parecis, formado basicamente por rochas areníticas, dado que esta rocha apresenta elevada capacidade de infiltração, fica claro a necessidade de um estudo e monitoramento geoarqueológico nos sítios identificados na área do empreendimento. Foram identificados na área do empreendimento o Complexo arqueológico Rabisco da Caia envolve sete sítios em áreas de abrigo. Os abrigos possuem dimensões diversas e altitude média de 340m em relação ao nível do mar com presença de gravuras rupestres em suas

Page 81: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

73

paredes. Os sítios em rocha arenítica, com presença de blocos afloram em uma área de transição de cerrado e mata, o relevo apresenta leve declinação, com solo arenoso. Esta pesquisa geoarqueológica visa analisar o contexto ambiental junto ao contexto cultural, uma vez que variáveis como geologia, geomorfologia, tipos e ocupação dos solos, cobertura vegetal e dinâmica superficial para avaliação e monitoramento futuro do intemperismo físico desde a fragilidade da rocha atuando principalmente sobre a litologia e mineralogia, grau de faturamento, além da identificação da temperatura e leitura pluviométrica. Todas estas análises juntas apresentam dados substâncias para desaceleração dos processos atuantes nos sítios arqueológicos e difusão cientifica além de gerar conhecimento sobre os povos Pré-coloniais nesta região. Palavras-chave: Licenciamento ambiental. Geoarqueologia. Ocupação Pré-colonial.

Page 82: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

74

ESTUDO DE CASO DE ANTHROSOILS NO VALE DO RIO ARAGUAIA, GOIÁS

Jordana Batista Barbosa

[email protected] Os solos antrópicos formados a partir de atividade humana de forma intencional ou não tem levado vários pesquisadores a refletir sobre como estas atividades se materializam no registro arqueológico. Por certo, os vestígios cerâmicos, líticos, faunísticos e botânicos, Mas o que acontece, quando estes vestígios não estão presentes, ou em escala macro? como identifica-se áreas de ocupação humana? Relatos de viajantes e fontes etnohistóricas dos séculos XVIII e XIX registraram vários aldeamentos indígenas às margens do rio Araguaia e seus afluentes. Pesquisas arqueológicas desenvolvidas registraram aldeias de agricultores cujos materiais cerâmicos destacam-se por estar predominantemente em superfície junto à presença de solos enegrecidos. À vista disso, foram realizadas pesquisas nos sítios arqueológicos Cangas I e Lago Rico (Goiás) utilizando as técnicas da geoquímica, arqueometria e micromorfologia de solos, com o objetivo de identificar os solos antrópicos em aldeias pré-coloniais. O uso da micromorfologia de solos, pioneiro nesta pesquisa para o bioma Cerrado, se tornou indispensável para a interpretação das leituras químicas, respondendo a questões como tempo de ocupação e atividades desenvolvidas nos assentamentos, o que possibilitou novas discussões sobre as formas e funções das aldeias ceramistas Uru na Bacia do rio Araguaia. Os resultados obtidos a partir do uso destas técnicas analíticas comprovam que o sítio Cangas I se trata de uma ladeia mais antiga com características de ocupação fixa, sendo identificado pelos depósitos antrópicos, como presença de fragmentos ósseos e estruturas de fogueira, enquanto o sítio Lago Rico estaria sendo ocupado ao mesmo tempo como um acampamento de mobilidade sazonal. Os dados etnográficos sugerem que estes assentamentos estavam sendo ocupados por grupos indígenas

Page 83: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

75

Karajá, Bororo e Kayapó. Assim, a diversidade dos padrões arqueológicos encontrados nesse período, considerado o mais recente dos assentamentos de agricultores, sugere fluxos de migração com rotas e comportamentos culturais diversos. Percebe-se também um processo de diversificação constante das estratégias adaptativas, no que diz respeito à transformação abrupta da paisagem ao longo das duas estações que se tem para áreas de Cerrado, o que está intimamente relacionado à disponibilidade dos nutrientes no solo, assim como às possíveis áreas de ocupação ou atividades específicas. Palavras-chave: Planalto Central Brasileiro; Ocupações Ceramistas; Geoarqueologia.

Page 84: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

76

AS OCUPAÇÕES PRÉ-COLONIAIS NA CIDADE DE PEDRA DURANTE O HOLOCENO RECENTE: DIVERSIDADE CULTURAL, SUCESSÕES

TEMPORAIS E POSSÍVEIS TROCAS

Juliana de Resende Machado Université Paris Nanterre – Pretech

[email protected] Inseridos numa área de grande diversidade cultural no Estado do Mato Grosso, os sítios arqueológicos da Cidade de Pedra são marcados por tipos de cerâmicas variados e uma produção lítica bem diversa, elaborada com matérias-primas locais. A mistura de tipos, as vezes num único estrato, oculta diferentes situações socioculturais de interação entre as culturas arqueológicas. Nosso interesse é reconstituir a história dessas ocupações, desde a aparição da cerâmica nos abrigos, em 1.900 ± 40 BP, até aproximadamente 205 ± 40 BP, quando cerâmicas policrômicas Tupiguarani se manifestam nas camadas mais superficiais dos abrigos. Buscaremos, além disso, evidenciar as particularidades tecno-culturais dos diferentes grupos e as relações socioculturais que eles eventualmente estabeleceram entre si ou com grupos vizinhos. O método empregado é a análise tecnológica de vestígios líticos e cerâmicos originados de cinco sítios arqueológicos sob abrigo – Ferraz Egreja, Antiqueira, Arqueiros, Pacífico e Cipó – focalizando nas técnicas e nos métodos empregados ao longo das cadeias operatórias de produção. Identificou-se dois intervalos gerais de ocupação. O mais antigo foi marcado por uma cerâmica cujas paredes foram façonadas por roletes, por instrumentos diversos sobre lascas de arenito adquiridas por métodos distintos, por duas cadeias operatórias de lâminas de machado polido, pela obtenção de pigmento vermelho e pela produção de adornos, ambos a partir de plaquetas de siltito ferruginoso. No intervalo mais recente, que ocorreu por volta de 1.060 ± 40 BP, outro grupo se estabeleceu nos abrigos, portando uma cerâmica cujas paredes são façonadas por uma técnica mista - sobre massa de argila e

Page 85: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

77

por roletes. A produção de lâminas de machado e a utilização de plaquetas persistiu, mas o lascamento do arenito diminuiu drasticamente e os poucos adornos presentes evidenciaram a instalação de dispositivos de suspensão diferentes. A retomada de objetos foi uma constante. Além das indústrias, o espaço dos abrigos foi usado de outra forma. Ao mesmo tempo, a circulação de objetos tornou-se mais clara, com adornos líticos provenientes do alto Paraguai e do nordeste do estado, já em domínios Amazônicos. A cerâmica antiga ainda persistiu em alguns sítios, o que sugere o compartilhamento do território durante certo período. O Holoceno recente da Cidade de Pedra fica assim marcado pela sucessão gradual de diferentes grupos culturais, que não partilhavam as mesmas tradições técnicas cerâmicas, e uma etapa final cuja interação com grupos vizinhos fica mais evidente. Palavras-chave: Holoceno recente. Abordagem tecno-cultural. Tecnologia lítica. Tecnologia cerâmica. História pré-colonial.

Page 86: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

78

PESQUISA ARQUEOLÓGICA NO PARQUE NACIONAL CHAPADA DOS GUIMARÃES/MT. RESULTADOS INICIAIS

Levy Figuti

MAE/USP [email protected]

Caroline Bachelet

MN/UFRJ [email protected]

Veronica Wesolowski Aguiar

MAE/USP [email protected]

Entre 2017 e 2018 as pesquisas no Mato Grosso da Missão Franco Brasileira passaram a se desenvolver na área da Chapada dos Guimarães. Nesta nova área de atuação foram estudados 9 abrigos com arte rupestre, e vem sendo escavados 2 abrigos e um sítio a céu aberto. A arte rupestre da região mostra uma grande variedade temática que inclui figurativos e geométricos; e ampla diversidade técnica que engloba pinturas e gravuras. Nesta pesquisa foram utilizados os métodos tradicionais de estudo e de documentação sistemática de sítios de arte rupestre, utilizando os protocolos desenvolvidos por D. Vialou e P. Paillet e aplicados no projeto "L'homme fossile e ses paléoambientes no bassin do Parana - Brésil". Também foram aplicados novos modos de registro e de análise como a cobertura fotogramétrica dos sítios, a utilização sistemática do Dstretch (programa de manejo de cores de imagens que auxilia na leitura de pinturas e desenhos vestigiais), e o GIS. Os abrigos escavados foram os Capoeira do Monjolo I e II, apenas a 100m de distância um do outro. Nas áreas entre e diante dos abrigos foram efetuadas tradagens sistemáticas que mostraram a presença de um sítio a céu aberto a 100 metros a leste do CMII, tendo sítio sido designado Capoeira do Monjolo III. O material

Page 87: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

79

cerâmico está presente nos 3 sítios, mas somam pouco menos que uma dezena de fragmentos. O material lítico é abundante e diversificado, com predominância de arenitos silicificados e a presença importante de sílex, quartzos e rochas verdes. Artefatos incluem raspadores, lesmas, machados polidos e batedores. CM I foi datado entre 1300 a 1000 anos AP e em um pequeno depósito arenoso sob o abrigo; CMII tem datações de 1900 anos AP junto a superfície, 2700 anos AP acerca de 1 m da superfície, 4800 anos AP a 2,10 m de profundidade, sendo que as sondagens chegaram a 3,4m ainda encontrando material arqueológico e sem chegar a base rochosa. Palavras-chave: Arqueologia Pré-Histórica. Mato Grosso. Chapada dos Guimarães.

Page 88: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

80

ARQUEOLOGIA AO LONGO DA LINHA DE TRANSMISSÃO 500 KV PARANAÍTA – RIBEIRÃOZINHO

Renato Kipnis

Scientia Consultoria Científica [email protected]

Solange B. Caldarelli

Scientia Consultoria Científica [email protected]

Patrícia Hackbart

Scientia Consultoria Científica [email protected]

Apresentamos aqui o resultado da pesquisa arqueológica realizada no âmbito do licenciamento ambiental da Linha de Transmissão 500 kV Paranaíta – Ribeirãozinho e Instalações Associadas. A LT, com 1.011 km de extensão, atravessa o bioma Cerrado e sua transição para o bioma de Floresta Amazônica. Em grande parte, o empreendimento atravessa áreas já bastante alteradas com monocultura e criação de gado. Poucos foram os locais investigados que ainda apresentavam vegetação de mata/floresta. Empreendimentos de grandes extensões são excelentes oportunidades para prospecção arqueológica amostral. Não são amostragens aleatórias, uma vez que, ao definir o traçado de uma determinada linha, leva-se em conta variáveis como topografia, uso do solo, questões fundiárias, etc. No entanto, estes empreendimentos acabam atravessando significativa variabilidade de ambientes, o que; somado ao fato de que a localização de todas as praças de torres ao longo de uma determinada linha de transmissão perfaz uma estratégia de amostragem sistemática regular, a prospecção sistemática das estruturas torna-se uma ótima estratégia amostral. Ao longo da prospecção arqueológica da LT 500 kV Paranaíta – Ribeirãozinho, dos acessos, subestações e canteiro de obras,

Page 89: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

81

foram identificados 23 sítios arqueológicos e 12 ocorrências arqueológicas únicas. Dentre os sítios arqueológicos, dois encontram-se na Área de Influência Direta (AID) e fora da Área Diretamente Afetada (ADA) do empreendimento, 8 em acessos, e 13 em futuras áreas de torre. Para 10 sítios, não foi possível encontrar alternativas locacionais das estruturas da LT, o que; portanto, levou à necessidade de resgate dos mesmos. Todos os 10 sítios pesquisados apresentaram vestígios associados a ocupações horticultoras ceramistas, sendo que a maioria deles apresentou número reduzido de peças líticas. Em um dos sítios pesquisados (Teles Pires 9/Mané), a variabilidade de tipos de decoração plástica identificada, bem como de formatos de vasilhas, permitiu a inferência de uma forte ligação com a cultura Tupiguarani; porém, faltam elementos para entendimento desta ocupação cultural, visto não haver nenhum registro de sítio Tupi na região que pudesse fortalecer tal vínculo; há apenas referências de contatos ínfimos de transição e trocas comerciais. No sítio Aldeia Velha III, o material cerâmico apresenta características de decoração similares à cerâmica “Capão do Canga”, identificada, até o momento, numa região significativamente distante da bacia do Teles Pires. Ambos os sítios se tornam bastante significativos para estudos futuros sobre a ocupação meridional (ou sudoeste) da Amazônia, área de transição de biomas e, quiçá, de experimentos de novas frentes ocupacionais de pioneiros de distintos grupos culturais. Palavras-chave: Licenciamento ambiental. Prospecção arqueológica. Cerâmica Tupi-guarani. Cerâmica Capão do Canga.

Page 90: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

82

OLHANDO PARA TRÁS, CAMINHANDO PARA FRENTE: APRESENTANDO ESTRATÉGIAS DIFERENTES PARA O FAZER

ARQUEOLÓGICO ATRAVÉS DA ARQUEOPOESIA

Lara de Paula Passos Universidade Federal de Minas Gerais

[email protected] O objetivo deste trabalho é divulgar os resultados da pesquisa de dissertação “ARQUEOPOESIA: uma proposta feminista afrocentrada para o universo arqueológico”. Defendida em 2019, onde foi apresentada uma perspectiva crítica da produção de conhecimento em arqueologia e, em conjunto, proposto uma outra forma de fazer e de falar sobre arqueologia, a Arqueopoesia. Esta noção diz respeito à incorporação consciente da linguagem poética ao texto arqueológico, o que funciona simultaneamente como recurso metodológico e didático, oferecendo um contraponto às práticas discursivas modernas e coloniais que caracterizam a arqueologia hegemônica – as quais pregam uma oposição irreconciliável entre razão e emoção, entre sujeito e corpo e entre objetividade e situacionalidade. O intuito é contribuir com as provocações à comunidade acadêmica para uma revolução interna, a quebra da inércia para fazer diferente, calcada em saberes e fazeres ancestrais. Contribuir para mudar o ensino da arqueologia, o aprendizado da arqueologia e arqueologia em si. Isso sem perder a mim e nem quem anda comigo no caminho. Enquanto mulher negra e feminista, faço uma Arqueopoesia crítica, afrocentrada, feminista e contra-hegemônica. Palavras-chave: Arqueologia. Arqueopoesia. Crítica Feminista. Descolonialidade. Afrocentricidade.

Page 91: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

83

ENTRE O NÔMADE E O ANCESTRAL: PERSPECTIVAS ARQUEOPOÉTICAS DE LIBERDADE DE ESCRITA

Matheus Mota

Universidade de São Paulo [email protected]

Lara de Paula Passos

Universidade Federal de Minas Gerais [email protected]

O trabalho propõe reflexões acerca das importâncias de enraizar e transitar de maneira errática, por meio dos espaços, dos tempos, das referências teóricas e das bagagens extra-acadêmicas por meio de movimentos escolhas conscientes que buscam recombinar de maneiras inovadoras o material base. A partir de um exercício conjunto de percepção de nossos lugares no mundo arqueológico e externo, buscamos propor uma abordagem que conversa entre nossos trabalhos individuais (de uma metodologia nômade e uma Arqueopoesia). Estas propostas se convergem dentro de um fazer científico que não se constrói filiado a uma corrente teórica engessada, mas flui em consonância com a percepção de que é necessário beber de várias fontes para produzir um curso d’água diferente e múltiplo em seus afluentes, utilizando-se inclusive de linguagens poéticas, no intuito de produzir discursos mais plurais e inclusivos dentro da disciplina, que conversem com pessoas e universos extra-acadêmicos e permitam uma maior vazão à produção de conhecimento. Palavras-chave: Teoria Arqueológica. Arqueopoesia. Nomadismo teórico. Crítica da ciência.

Page 92: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

84

A VIRADA ESPACIAL NA ARQUEOLOGIA

Danielle Gomes Samia Universidade Federal do Piauí

[email protected] A construção epistemológica e ontológica dos sistemas de informação geográfica (SIG) e a percepção da incapacidade de um SIG positivista para atender às necessidades dos humanistas e da arqueologia há muito vem sendo questionadas. A crítica teórica social do SIG na bibliografia discute as maneiras pelas quais um SIG reducionista representava a natureza e a sociedade. A ciência da informação geográfica não é uma panaceia para a arqueologia, mas o foco principal no espacial contribuiu para a falta de engajamento com outros aspectos importantes da arqueologia, como o local. Compromissos conceituais e metodológicos recentes nas humanidades espaciais têm procurado VIRAR o SIG para as necessidades plurais das humanidades. A Virada Espacial está relacionada com o conceito de espaço, ou seja, o abandono do conceito de espaço absoluto, ou cartesiano, e a afirmação de um conceito relativo que leve em conta outros processos e fenômenos, e em particular interações de escala. Apesar do imbricamento da arqueologia com as geotecnologias, o surgimento das humanidades espaciais adveio desapercebido entre os arqueólogos inclusive os usuários dos Sistemas de Informação Geográfica. Tiffany Earley Spadoni (2017) alerta sobre a falta de consciência, de tempo e apoio institucional, para a colaboração dos arqueólogos diante das possibilidades das humanidades digitais. Assim, apresento a gama de possibilidades com a introdução da HD nas pesquisas arqueológicas. O objetivo desta comunicação é apresentar os desdobramentos da Virada Espacial, conjugados com as definições das Humanidades Digitais e Geohumanidades e assim explorar dentro deste universo uma nova maneira de interagir com as tecnologias.

Palavras-chave: Arqueologia. Virada Espacial. SIG.

Page 93: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

85

PROSPECTA EMPRESA JÚNIOR E A IMPORTÂNCIA DA VIVÊNCIA EMPREENDEDORA NA GRADUAÇÃO DE ARQUEOLOGIA

Beatriz Araújo Medeiros

Universidade Federal de Pernambuco [email protected]

Juliane Carla Guedes Lima da Silva

Universidade Federal de Pernambuco [email protected]

Pétala Quaresma Zeferino Nascimento

Universidade Federal de Pernambuco [email protected]

Visando a necessidade de vivenciar experiências profissionalizantes no contexto do mercado de trabalho da Arqueologia ainda durante a graduação, em 2019 surgiu a iniciativa da Prospecta - Projetos, Pesquisas e Consultoria Arqueológica, atuante no mercado do licenciamento ambiental, desenvolvimento e apoio à projetos, capacitação, profissionalização, e mediação à educação patrimonial para empresas, academia e sociedade. Para que sua fundação fosse possível, necessitou-se seguir direcionamentos jurídico-administrativos indicados pela instituição regulamentadora de empresas juniores no país, a Brasil Júnior, aliados às diretrizes específicas da Universidade Federal de Pernambuco e de órgãos regionais, tendo como principais obrigatoriedades a formação exclusiva de graduandos dos cursos descritos e devidamente justificados, o regime de voluntariado e o apoio através de docente coordenador. Pretendeu-se, com a criação da empresa, atingir os objetivos de: capacitar graduandos para compreenderem e aplicarem processos referentes aos serviços de consultoria, projetos e pesquisas do mercado de Arqueologia; torná-los capazes de auxiliarem e desenvolverem cursos, monitorias e apoios a projetos, viabilizando uma capacitação mútua; induzir maiores

Page 94: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

86

conhecimentos e responsabilidades acadêmicas e profissionais através da gestão, coordenação, liderança, experiência de campo e contato com o mercado de trabalho; e sensibilizar na prática questões que concernem ao retorno científico e as relações com comunidades. Para atingir tais missões é essencial que a equipe se alinhe com os valores da empresa, através do respeito, igualdade e equidade, compromisso com a democratização da Arqueologia, cooperação no crescimento profissional e pessoal da equipe, responsabilidade com a promoção do sentido de pertencimento ao patrimônio, seriedade e comprometimento com a qualidade dos serviços prestados. Nesse sentido, a criação da Prospecta foi um dos marcos essenciais no contexto do departamento em que se insere por promover a autonomia, desenvolvimento e aprendizado aplicado de estudantes que constroem e buscam experiências ainda durante a graduação, capazes de se posicionarem no mercado, mesmo que diante de um cenário escasso em oportunidades de profissionalização para pessoas ainda não formadas. E com os resultados encontrados, após cerca de um ano e meio de atividades, conclui-se que a experiência de participar ativamente da estruturação e prestação de serviços de uma empresa júnior de Arqueologia prepara constantemente a graduação para situações de crises e conflitos, bem como desenvolve a criatividade para propor e aplicar resoluções nesses contextos, sendo uma importante forma de ampliação dos horizontes técnicos, acadêmicos e profissionais dos que verão os frutos do seu trabalho ainda durante a graduação e, claramente, nas suas carreiras. Palavras-chaves: Prospecta Jr.. Empresa júnior. Vivência empreendedora. Graduação.

Page 95: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

87

QUEM SOMOS NÓS? PERFIS DA COMUNIDADE PROFISSIONAL ARQUEOLÓGICA NO CENTRO-OESTE

Camila Azevedo de Moraes Wichers

Universidade Federal de Goiás [email protected]

Meliam Viganó Gaspar

Museu da Amazônia [email protected]

Kelly Brandão

Universiade de São Paulo [email protected]

Conhecer diferentes perfis das pessoas atuante na Arqueologia no país é um dos caminhos para compreender os desafios de inclusão e representatividade na profissão, além da influência desses perfis nas abordagens e temas de pesquisas desenvolvidos ao longo do tempo. Com esse intuito, o projeto “Quem somos nós? Ou Perfis da comunidade profissional arqueológica no Brasil” realizou um levantamento inicial sobre o perfil profissional na arqueologia brasileira, estimando o universo populacional profissional da Arqueologia no país e utilizando dados públicos e oficiais dos programas de graduação e pós-graduação de universidades, do banco de portarias de autorização de pesquisas arqueológicas disponibilizado pelo IPHAN, e, por fim, dos currículos cadastrados na plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os dados levantados na primeira etapa deste projeto incluem informações sobre a trajetória de formação, gênero, nacionalidade e temas de pesquisa de pessoas arqueólogas. Nesta apresentação, comparamos alguns dados do âmbito nacional com os dados específicos da região Centro-Oeste. Cabe

Page 96: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

I CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA DO CENTRO-OESTE

88

lembrar que esses dados percentuais não explicam motivações e nem o porquê das desigualdades observadas, por isso indicamos os próximos passos do projeto para aprofundar os perfis demográficos da Arqueologia no Brasil. Palavras-chave: Arqueologia brasileira; Arqueologia Centro-Oeste; Profissionais; Representatividade; Censo.

Page 97: EM TEMPOS DE CRISES E INCERTEZAS - sabnet.org

Comissão Organizadora Diego Teixeira Mendes (Museu Antropológico/UFG)

Francisco Forte Stuchi (IPHAN/MT) Luciano Pereira da Silva (UNEMAT)

Rafael Lemos de Souza (Museu Antropológico/UFG) Rossana Klippel de Souza José (Museu Antropológico/UFG)

Sergia Meire da Silva (MRS Estudos Ambientais) Zafenathy Carvalho de Paiva (IPHAN/MS)

Comissão Científica

Prof. Dr. Jorge Eremites de Oliveira (UFPel) Prof. Dr. José Luís dos Santos Peixoto (UFMS)

Profa. Dr. Júlio Cezar Rubin de Rubin (PUC-Goiás) Prof. Dr. Luís Cláudio Pereira Symanski (UFGM) Profa. Dra. Patrícia Marinho de Carvalho (UFPel) Profa. Dra. Sibeli Aparecida Viana (PUC-Goiás)

Me. Diego Teixeira Mendes (Museu Antropológico/UFG) Me. Francisco Forte Stuchi (IPHAN/MT)

Prof. Me. Luciano Pereira da Silva (UNEMAT) Me. Rafael Lemos de Souza (Museu Antropológico/UFG)

Esp. Sergia Meire da Silva (MRS Estudos Ambientais) Me. Zafenathy Carvalho de Paiva (IPHAN/MS)

Apoio

Tatyana Beltrão de Oliveira (Museu Antropológico/UFG) Secretaria de Comunicação/UFG