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Fls. 1 Documento assinado digitalmente em 03/01/2012 10:01:54 conforme MP nº 2.200-2/2001 de 24/06/2001. Signatário: VALTER DE OLIVEIRA:1010212 Número Verificador: 2000.8173.4420.1182.2000-0150620 Pág. 1 de 6 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIA Tribunal de Justiça Câmaras Criminais Reunidas Data de distribuição :04/08/2011 Data de julgamento :16/12/2011 0008173-44.2011.8.22.0000 Embargos Infringentes e de Nulidade Origem : 0003202-05-2010.8.22.0015 Tribunal de Justiça - Estado de Rondônia Embargante : Everton Viana dos Santos Defensor Público: Constantino Gorayeb Neto (OAB/RO 60) Embargado : Ministério Público do Estado de Rondônia Relator : Desembargador Valter de Oliveira Revisora : Desembargadora Zelite Andrade Carneiro EMENTA Embargos infringentes. Tráfico de drogas, Insuficiência de provas da autoria. Absolvição. No âmbito do Direito Penal, a condenação exige a produção de prova plena e segura da autoria e materialidade do crime, sendo que eventual dúvida, mínima que se apresente, deve levar à absolvição por insuficiência de provas. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os desembargadores das Câmaras Criminais Reunidas do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, na conformidade da ata de julgamentos e das notas taquigráficas, em, POR MAIORIA, DAR PROVIMENTO AOS EMBARGOS INFRINGENTES. VENCIDOS OS DESEMBARGADORES MIGUEL MONICO NETO E MARIALVA HENRIQUES DALDEGAN BUENO. Os desembargadores Zelite Andrade Carneiro, Ivanira Feitosa Borges e Daniel Ribeiro Lagos acompanharam o voto do relator. Porto Velho, 16 de dezembro de 2011. DESEMBARGADOR VALTER DE OLIVEIRA RELATOR

Embargos infringentes i

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Documento assinado digitalmente em 03/01/2012 10:01:54 conforme MP nº 2.200-2/2001 de 24/06/2001.Signatário: VALTER DE OLIVEIRA:1010212

Número Verificador: 2000.8173.4420.1182.2000-0150620

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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIATribunal de Justiça

Câmaras Criminais Reunidas

Data de distribuição :04/08/2011Data de julgamento :16/12/2011

0008173-44.2011.8.22.0000 Embargos Infringentes e de NulidadeOrigem : 0003202-05-2010.8.22.0015 Tribunal de Justiça - Estado de

RondôniaEmbargante : Everton Viana dos SantosDefensor Público: Constantino Gorayeb Neto (OAB/RO 60)Embargado : Ministério Público do Estado de RondôniaRelator : Desembargador Valter de OliveiraRevisora : Desembargadora Zelite Andrade Carneiro

EMENTA

Embargos infringentes. Tráfico de drogas, Insuficiência de provas da autoria. Absolvição.

No âmbito do Direito Penal, a condenação exige a produção de prova plena e segura da autoria e materialidade do crime, sendo que eventual dúvida, mínima que se apresente, deve levar à absolvição por insuficiência de provas.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os desembargadores das Câmaras Criminais Reunidas do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, na conformidade da ata de julgamentos e das notas taquigráficas, em, POR MAIORIA, DAR PROVIMENTO AOS EMBARGOS INFRINGENTES. VENCIDOS OS DESEMBARGADORES MIGUEL MONICO NETO E MARIALVA HENRIQUES DALDEGAN BUENO.

Os desembargadores Zelite Andrade Carneiro, Ivanira Feitosa Borges e Daniel Ribeiro Lagos acompanharam o voto do relator.

Porto Velho, 16 de dezembro de 2011.

DESEMBARGADOR VALTER DE OLIVEIRARELATOR

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Número Verificador: 2000.8173.4420.1182.2000-0150620

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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIATribunal de Justiça

Câmaras Criminais Reunidas

Data de distribuição :04/08/2011Data de julgamento :16/12/2011

0008173-44.2011.8.22.0000 Embargos Infringentes e de NulidadeOrigem : 0003202-05-2010.8.22.0015 Tribunal de Justiça - Estado de

RondôniaEmbargante : Everton Viana dos SantosDefensor Público: Constantino Gorayeb Neto (OAB/RO 60)Embargado : Ministério Público do Estado de RondôniaRelator : Desembargador Valter de OliveiraRevisora : Desembargadora Zelite Andrade Carneiro

RELATÓRIO

Everton Viana dos Santos, brasileiro, convivente, açougueiro, nascido aos 24/3/1987, natural de Nova Mamoré/RO, filho de Evaristo Nunes dos Santos e Rita Viana Marques, residente e domiciliado na avenida Manoel Fernandes dos Santos, n. 3503, centro, em Nova Mamoré/RO, foi denunciado e condenado como incurso no art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006.

Apelou sustentando que a droga pertencia ao corréu Givanildo Ferreira de Meireles, a quem deu uma carona na motocicleta que pilotava na ocasião. Negou a prática do crime e disse não saber do envolvimento de Givanildo com o tráfico de drogas.

A Segunda Câmara Criminal desta Corte, por maioria, negou provimento ao recurso, reconhecendo ser inadmissível a pretensão absolutória sustentada na fragilidade probatória, quando o conjunto probatório se afigura seguro, especialmente quando se verifica que os agentes, no calor dos acontecimentos, confessaram a prática do crime à autoridade policial, em versão que se coaduna com as declarações dos policiais que realizaram o flagrante.

A defesa opôs embargos infringentes, postulando a reforma do aresto, a fim de que prevaleça o voto vencido, da lavra do desembargador Daniel Ribeiro Lagos, que o absolveu nos termos do art. 386, VII, do CPP.

Contra-arrazoado o recurso, a eminente Procuradora de Justiça Vera Lúcia Pacheco Ferraz de Arruda manifestou-se por sua improcedência.

É o relatório.

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VOTO

DESEMBARGADOR VALTER DE OLIVEIRA

Admitidos os embargos, passo ao exame do mérito, cuja pretensão cinge-se à reforma do acórdão que manteve a condenação do embargante como incurso no art. 33 da Lei n. 11.343/2006 à pena de 6 anos de reclusão, a ser cumprida em regime inicial fechado.

A decisão está assim ementada:

Apelação criminal. Tráfico entorpecentes. Conjunto probatório harmônico e seguro. Sentença confirmada. Sendo o conjunto probatório seguro a evidenciar que os apelantes praticaram o crime pelo qual foram condenados, a tese defensiva de fragilidade probatória torna-se desarrazoada.

Pretende a defesa a reforma do aresto a fim de fazer prevalecer o voto minoritário, que deu provimento ao seu apelo, por entender que as provas coligidas não garantem o juízo de certeza necessário à condenação, decorrendo daí a sua absolvição nos termos do art. 386, VII, do CPP.

Desde logo, ressalto que o princípio do livre convencimento ganhou novos contornos após a reforma processual operada pela Lei n. 11.690/2008, exigindo que a condenação apresente fundamento concreto e embasado em prova chancelada pelo contraditório (CPP, art. 155).

Referido dispositivo restringiu o emprego exclusivo dos dados colhidos na fase indiciária, de forma que ficou vedada a formação de convicção fundada apenas nos elementos informativos colhidos na fase de investigação.

No caso, embora os autos exibam provas suficientes da materialidade delitiva, que restou convenientemente demonstrada nos autos - auto de apreensão e apresentação de fls. 12/13, laudo definitivo de substância química de fls. 65/68 -, o mesmo não se verifica em relação à autoria, que, apesar de não se referir exclusivamente às provas colhidas na fase inquisitória, decorre somente dos testemunhos prestados pelos policiais que atuaram na abordagem e prisão em flagrante do embargante e do corréu, os quais confirmaram em juízo os depoimentos prestados na fase policial.

Primeiramente, é preciso ter presente que o embargante se retratou da confissão feita na fase policial, alegando não ter nenhum vínculo com a droga apreendida nos autos, a qual pertencia exclusivamente ao corréu Givanildo, a quem conhecia de vista e aceitou dar uma carona. Asseverou não estar portando nenhuma bolsa, tampouco trazendo qualquer objeto em mãos, até porque estava na direção do veículo.

Disse que, no trajeto, uma viatura da polícia encostou e pediu-lhe que parasse, o que atendeu prontamente. No entanto, percebeu que Givanildo se

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livrou de um pacote, acreditando ser o entorpecente, que foi logo encontrado pelos policiais (fls. 93/94).

O mesmo contexto foi apresentado por Givanildo (fls. 95/96), que admitiu em juízo ter assumido com um boliviano que o ameaçava em razão de uma dívida não paga, a tarefa de transportar a droga até o entroncamento, onde ele próprio receberia a droga e levaria até Porto Velho. Disse que pediu carona e o primeiro veículo a parar foi a motocicleta pilotada por Everton, mas este disse que iria pernoitar na casa de uma tia, que fica nas proximidades do entroncamento, mesmo local onde precisava ir para a entrega da substância entorpecente. Afirmou que o embargante aceitou levá-lo gratuitamente até o citado local, mas enfatiza que ele desconhecia a existência da droga, a qual era levada dentro da camisa, e foi jogada no mato assim que os policiais deram ordem de parada.

Confirmando essa versão, o policial militar Hélio Garcia de Menezes declarou ter visto o exato momento em que o passageiro da moto jogou um volume à margem da rodovia, asseverando tratar-se de um pacote contendo cocaína (fl. 98), o que foi reafirmado por André Camargo da Silva (fl. 99), tendo ambos admitido que conheciam o embargante, que mora na cidade de Nova Mamoré e trabalha em um açougue, asseverando que não havia nenhuma notícia a respeito do seu envolvimento com o tráfico de drogas.

Já André Camargo e Itamar Barbosa Pereira (fl. 100) disseram ter apurado que a moto foi arrendada de um mototaxista de Nova Mamoré, circunstância que restou corroborada por Valdir Nunes dos Santos (fl. 102), que disse ser tio do embargante e que ele trabalha em sua companhia, sendo o responsável pelo abastecimento do açougue. Afirmou que, na data dos fatos, pediu ao sobrinho que negociasse mercadoria na Linha da Penha, local onde seu irmão possui um sítio e, como não poderia emprestar-lhe o veículo, o embargante disse que alugaria uma motocicleta.

Também Geilton Campos da Silva disse conhecer o embargante, conferindo-lhe os atributos de honesto e trabalhador, asseverando que trabalha no açougue do tio, exercendo a função de comprar gado para abastecer o estabelecimento (fl. 101).

De todo esse contexto é possível extrair a certeza de que a droga apreendida estava sendo transportada por um dos ocupantes da motocicleta, tendo sido apreendida no momento em que o transportador procurou dela se desfazer, quando da abordagem policial. Não se descuide, também, de que há sérias evidências de que a substância pertencia ao corréu Givanildo, que admitiu tê-la escondido até mesmo do embargante, a quem pediu uma carona.

Conquanto se constate que o embargante, na ocasião do flagrante, assumiu a propriedade da droga juntamente com o corréu, gerando, assim, uma suspeita da prática do crime, conforme alusão feita no voto vencido, essa suspeita não é suficiente para conduzir a um juízo de convicção, não se tendo elementos para concluir, estreme de dúvidas, pela sua concorrência para o ilícito.

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Denota-se que essa certeza poderia ser obtida, se houvesse confirmação de que a droga era por ele transportada, o que não foi atestado pelos policiais, que viram o passageiro (carona), e não o piloto, arremessar o invólucro à margem da rodovia.

Diante disso, não se tem nenhuma confirmação ou prova judicializada sobre a posse da droga pelo embargante, não se olvidando de que o só fato de ele estar conduzindo a motocicleta não é prova suficiente para atestar essa circunstância, daí a conclusão de que os elementos de prova são frágeis para firmar, com a necessária certeza, a autoria do crime que se procura atribuir ao embargante.

Como venho defendendo, o ônus da defesa não consiste em gerar certeza ou fazer prova inconteste da inocência do réu, mas de provocar uma dúvida fundada, o que se logrou obter nos autos, de tal ordem que exija do autor da ação penal a produção de prova bastante a excluir essa dúvida. E isso, não logrou a acusação produzir, portanto, persistindo a dúvida, o caminho a ser seguido é o da absolvição.

Acrescente-se a isso o fato de nenhuma prova ter valor absoluto, devendo a condenação ser sustentada pela soma de elementos que imprimam no julgador a certeza de que o réu é o autor do delito em apuração.

Tanto é assim que, na dúvida, julga-se a favor do réu.

E é exatamente essa incerteza que exsurge destes autos, pois, ao se fazer o cotejo das provas existentes, delas não se extrai a necessária e induvidosa participação do embargante no crime.

Para finalizar, cito o registro feito por Nelson Hungria de que “a dúvida é sinônimo de ausência de prova” (in, Prova Penal - RF 138/338), portanto, manter o decreto condenatório sem um juízo firme de certeza seria o mesmo que renegar ao embargante o consagrado princípio do in dubio pro reo.

Em face do exposto, por comungar com as conclusões do voto vencido, que concluiu pela fragilidade do conjunto probatório, dou provimento aos embargos infringentes opostos por Everton Viana dos Santos, brasileiro, convivente, açougueiro, nascido aos 24/3/1087, natural de Nova Mamoré/RO, filho de Evaristo Nunes dos Santos e Rita Viana Marques, residente e domiciliado na avenida Manoel Fernandes dos Santos, n. 3503, centro, em Nova Mamoré/RO, para absolvê-lo nos termos do art. 386, VII, do CPP.

Expeça-se alvará de soltura, se por outro motivo não estiver preso o embargante.

É como voto.

DESEMBARGADORA ZELITE ANDRADE CARNEIRODe acordo.

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DESEMBARGADORA IVANIRA FEITOSA BORGES De acordo.

DESEMBARGADOR MIGUEL MONICO Mantenho meu voto.

DESEMBARGADORA MARIALVA DALDEGAN BUENO Acompanho a divergência. Mantenho meu posicionamento.

JUIZ DANIEL LAGOSDe acordo.