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EMENDA CONSTITUCIONAL 45/2004 E COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA QUESTÕES QUE DECORRAM DO EXERCÍCIO DO DIREITO DE GREVE (E LOCAUTE) E QUESTÕES SINDICAIS* Jouberto de Quadros Pessoa Cavalcante Advogado Mestre em Direito político e econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie Mestrando em Integração da América Latina – USP Professor da Faculdade de Direito Mackenzie Francisco Ferreira Jorge Neto Mestre em Direito das Relações Sociais (Direito do Trabalho) pela PUC-SP Juiz Titular da 1ª Vara do Trabalho de São Caetano do Sul (SP) Professor convidado na pós-graduação lato sensu da Universidade Presbiteriana Mackenzie RESUMO Com a Emenda Constitucional nº 45, do final do ano de 2004, ocorreu o que se denominou “reforma do judiciário”. Dentre as alterações mais rele- vantes, houve a reformulação do artigo 114, CF, e a competência da Jus- tiça do Trabalho foi ampliada. Das matérias que passaram a ser de com- petência da Justiça do Trabalho, procurou-se traçar algumas considera- ções sobre as ações que envolvam o exercício do direito de greve (e locaute) e os dissídios sindicais. Palavras-chave: Emenda Constitucional nº 45; competência da Justiça do Trabalho; direito de greve; locaute; dissídios sindicais. (*) Artigo inédito. Nota da Editora: o Conselho Científico da Revista havia anteriormente aprovado outro artigo desta mesma dupla de autores, intitulado “Dissídio coletivo de trabalho no setor público”, mas tendo em vista as alterações feitas no texto constituci- onal pela EC nº 45/2004, os autores, ao invés de atualizá-lo, preferiram escrever este novo artigo, sobre tema diverso, exclusivamente para esta revista.

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EMENDA CONSTITUCIONAL 45/2004 ECOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO

PARA QUESTÕES QUE DECORRAM DOEXERCÍCIO DO DIREITO DE GREVE

(E LOCAUTE) E QUESTÕES SINDICAIS*

Jouberto de Quadros Pessoa CavalcanteAdvogado

Mestre em Direito político e econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

Mestrando em Integração da América Latina – USPProfessor da Faculdade de Direito Mackenzie

Francisco Ferreira Jorge NetoMestre em Direito das Relações Sociais (Direito do Trabalho) pela PUC-SP

Juiz Titular da 1ª Vara do Trabalho deSão Caetano do Sul (SP)

Professor convidado na pós-graduação lato sensu da Universidade Presbiteriana Mackenzie

RESUMO

Com a Emenda Constitucional nº 45, do final do ano de 2004, ocorreu oque se denominou “reforma do judiciário”. Dentre as alterações mais rele-vantes, houve a reformulação do artigo 114, CF, e a competência da Jus-tiça do Trabalho foi ampliada. Das matérias que passaram a ser de com-petência da Justiça do Trabalho, procurou-se traçar algumas considera-ções sobre as ações que envolvam o exercício do direito de greve (elocaute) e os dissídios sindicais.

Palavras-chave: Emenda Constitucional nº 45; competência da Justiça doTrabalho; direito de greve; locaute; dissídios sindicais.

(*) Artigo inédito. Nota da Editora: o Conselho Científico da Revista havia anteriormenteaprovado outro artigo desta mesma dupla de autores, intitulado “Dissídio coletivo detrabalho no setor público”, mas tendo em vista as alterações feitas no texto constituci-onal pela EC nº 45/2004, os autores, ao invés de atualizá-lo, preferiram escrever estenovo artigo, sobre tema diverso, exclusivamente para esta revista.

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ABSTRACT

At the end of the year 2004, with the Constitutional Amendment nº 45,occurred what called “the Justice Reform”. In between the changes morerelevants, there were the reformulation of the article 114, Constitution, andthe competence of Labor Justice was enlarged. In between the subjectswhat became to be of competence Labor Justice, looked for drawing someconsideration about the actions which involve the exercise of the right tostrike (and lockout) and the trade union dispute.

Keywords:Constitutional Amendment nº 45; competence of Labor Justice;right to strike; lockout; trade union dispute.

1 INTRODUÇÃO

Com a Emenda Constitucional (EC) 45, do final do ano de 2004,houve a reformulação do artigo 114 da Constituição Federal e a compe-tência da Justiça do Trabalho foi ampliada.

Dentre as matérias que passam a ser de competência da Justiça doTrabalho, traçaremos algumas considerações sobre as ações que envol-vam o exercício do direito de greve (e locaute) e os dissídios sindicais.

2 AÇÕES QUE ENVOLVAM O EXERCÍCIODO DIREITO DE GREVE E O LOCAUTE

Com a EC 45, o artigo 114, II, da CF, passou a prever a competênciada Justiça do Trabalho para “[...] as ações que envolvam exercício dodireito de greve” em todas as relações de trabalho (artigo 114, caput),como a greve de servidores públicos estatutários.

Contudo, em caráter liminar, o Ministro Nelson Jobim, do STF, sus-pendeu, ad referendum, toda e qualquer interpretação dada ao inciso I,artigo 114, da CF, na redação dada pela EC, que inclua, na competênciada Justiça do Trabalho, a

[...] apreciação [...] de causas que [...] sejam instauradas entre o PoderPúblico e seus servidores, a ele vinculados por típica relação de or-dem estatutária ou de caráter jurídico-administrativo. (STF – MC3.395-6. Ministro. Nelson Jobim – j. 27/1/2005).

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Mesmo no que tange às relações de emprego, a interpretação dodispositivo constitucional não pode ser restritiva, de modo que todas ascontrovérsias do direito de greve1 são de competência da Justiça do Tra-balho, não se limitando a aplicação da Lei 7.783/89 (a qual regulamentouo direito de greve previsto no artigo 9º, CF), como a legalidade ouabusividade2 (formal ou material)3 do movimento (greve típica), abrangen-do a atuação dos trabalhadores no que a doutrina denomina greve atípica(movimentos de não-colaboração)4, como greve rotativa (ou articulada oupor turno), greve-trombose (ou nevrálgica ou tampão), greve de solidarie-dade, greve de zelo, greve de rendimento e outras formas de paralisaçãoou não-colaboração dos trabalhadores, em que pesem as divergências

1 No ordenamento jurídico nacional, a greve é um direito reconhecido, decorrente da liberda-de do trabalho, porém não de cunho irrestrito, podendo haver a punição quanto aos exces-sos, além do que encontra restrições quanto aos serviços ou atividades essenciais. É umdireito social, de índole constitucional, mas não de forma absoluta (artigo 9º, CF).O artigo 2º da Lei 7.783/89 enuncia como sendo legítimo o exercício do direito de greve,quando ocorre a suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, da prestaçãopessoal de serviços a empregador.

2 OJ 1, SDC – Greve abusiva não gera efeitos. É incompatível com a declaração deabusividade de movimento grevista o estabelecimento de quaisquer vantagens ou ga-rantias a seus partícipes, que assumiram os riscos inerentes à utilização do instrumentode pressão máximo.OJ 11, SDC – Greve. Imprescindibilidade de tentativa direta e pacífica da solução doconflito. Etapa negocial prévia. É abusiva a greve levada a efeito sem que as parteshajam tentado, direta e pacificamente, solucionar o conflito que lhe constitui o objeto.OJ 12, SDC – Greve. Qualificação jurídica. Ilegitimidade ativa ad causam do sindicatoprofissional que deflagra o movimento. Não se legitima o sindicato profissional a requererjudicialmente a qualificação legal de movimento paredista que ele próprio fomentou.OJ 38, SDC – Greve. Serviços essenciais. Garantia das necessidades inadiáveis dapopulação usuária. Fator determinante da qualificação jurídica do movimento. É abusivaa greve que se realize em setores que a lei define como sendo essenciais à comunidade,se não é assegurado o atendimento básico das necessidades inadiáveis dos usuáriosdos serviços, na forma prevista na Lei 7.783/89.

3 O abuso pode ser formal ou material. É formal quando não se observam as formalidadesprevistas na lei de greve, como, por exemplo, a não-realização de assembléia, a inexistênciado aviso prévio – 48 horas (atividades comuns) e 72 horas (atividades ou serviços essen-ciais). É material, segundo Sérgio Pinto Martins, “[...] se a greve se realizasse em ativida-des proibidas.” (In: Direito do Trabalho. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 833).

4 “Desde logo é possível afirmar que há greves típicas e atípicas: as primeiras observandoos padrões clássicos e rotineiros, e as segundas distanciando-se desses mesmos padrões.As greves atípicas identificam-se com formas de não-colaboração dos trabalhadorescom o empregador, o que leva autores a admitirem greve sem paralisação de trabalho.”(NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 3. ed. São Paulo:LTr, 2003. p. 448).

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doutrinárias para se enquadrar essas formas de manifestações como exer-cício do direito de greve.5

A ocupação ou a ameaça de ocupação do local de trabalho pelosempregados como decorrência de movimento grevista se inserem na com-petência da Justiça Laboral (ações possessórias). As ações que envol-vam controvérsias sobre o locaute6, ainda que não previstas expressa-mente na Constituição, também são de competência da Justiça do Traba-lho, porque decorrem das relações coletivas de trabalho. Atualmente, olocaute é proibido (artigo 17, Lei 7.783/89), mas isso não afasta a compe-tência da Justiça Laboral, uma vez que o Estado tem que prestar a tutelajurisdicional, caso o fato venha ocorrer.

Registre-se que a competência da Justiça do Trabalho ainda se es-tende para garantir os direitos dos trabalhadores durante a greve (artigo 6º,Lei 7.783/89), como: a) emprego de todos os meios pacíficos para aliciamentodos trabalhadores; b) arrecadação de fundos; c) livre divulgação; d) sus-pensão do contrato de trabalho; e) impossibilidade de rescisão contratualpelo empregador; e restringir atos dos empregadores que possam: a) cons-tranger o empregado ao trabalho; b) frustrar a divulgação do movimento;c) rescindir o contrato de trabalho; d) contratar empregados substitutos.

Nessas situações, as ações envolvendo o direito de greve poderãoser individuais ou coletivas. As ações individuais, por exemplo, assim con-sideradas por envolver interesses individuais e os sujeitos da relaçãolaboral, podem ter como objeto, por exemplo, a nulidade da rescisão dealguns contratos de trabalho por parte do empregador durante a greve.Outra situação de ação individual será, v.g., a reparação de danos causa-dos pelo empregado ou empregador durante o movimento paredista oumesmo durante o locaute. Da mesma forma, poderá envolver a responsa-

5 “A questão jurídica que se apresenta com as greves atípicas resulta do seu atrito com oconceito de greve, que pressupõe a paralisação do trabalho, o que não ocorre no caso.Seria possível enquadrar essas omissões no conceito de greve? Em princípio, a impres-são que fica é negativa, porque greve e cessão do trabalho são dados que se comple-tam. Porém, é preciso ouvir que a não-colaboração é menos prejudicial do que a parali-sação total da produção. Não colaborando, os trabalhadores estariam sujeitos a puni-ções de desídia, ao passo que, abstendo-se totalmente do trabalho, nenhuma puniçãosofreriam. Estariam fazendo uma greve. Admita-se também que a conflitividade é maiorcom a greve-paralisação do que com a greve-não-colaboração. É melhor para a empre-sa manter uma produção reduzida do que nada produzir.” (Ibid., p. 452).

6 Locaute (lockout) é a paralisação das atividades, por iniciativa do empregador, com oobjetivo de frustrar negociação ou dificultar o atendimento de reivindicações dos respec-tivos empregados (artigo 17, Lei 7.783/89). Trata-se da paralisação patronal quanto àssuas atividades econômicas e é proibida pela lei. Durante a referida paralisação patronal,é assegurado ao trabalhador o direito aos salários (artigo 17, parágrafo único).

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bilidade civil do sindicato ou da empresa, pela prática de atos abusivos,porque os abusos cometidos durante a greve sujeitam os responsáveis àspenas da lei (artigo 9º, § 2º, CF), e a responsabilidade pelos atos pratica-dos, ilícitos ou crimes cometidos no curso da greve será apurada, confor-me o caso, segundo a legislação trabalhista, civil ou penal (artigo 15, Lei7.783/89). Essas ações indenizatórias, apesar de envolverem o direito degreve no sentido lato, são mencionadas expressamente pelo artigo 114,VI, CF, por terem como objeto a reparação de danos materiais e morais.

As ações individuais que envolvam o exercício do direito de greveou a prática de locaute são de competência do juiz do Trabalho, observan-do as regras de fixação de competência do artigo 651, CLT.

No campo do Direito Coletivo, além de prever os dissídios de natu-reza jurídica e econômica, o RITST prevê a existência dos dissídios origi-nários, de revisão e de declaração sobre a paralisação do trabalho decor-rente de greve dos trabalhadores (artigo 216, III a V)7. A CLT prevê o dissídiode extensão e de revisão (artigos 868 e 873).

A Justiça do Trabalho decidirá sobre a procedência, total ou parcial,ou improcedência das reivindicações (artigo 8º, Lei 7.783/89) e a abusividadeou não da greve (artigo 114, II, § 3º, CF, En. 189, TST). O sindicato dostrabalhadores que deu início ao movimento grevista não poderá ingressarcom o dissídio coletivo postulando declaração de sua legalidade (OJ 12,SDC). A mesma lei (artigo 4º, § 2º, e artigo 5º) confere à comissão de traba-lhadores legitimidade para participarem do dissídio coletivo em caso de gre-ve e desde que não haja entidade sindical da categoria.

Com a EC 45, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídiode greve, quando se tratar de atividade essencial, com possibilidade delesão do interesse público (artigo 114, § 3º).

No caso de greve conjunta da categoria predominante e da catego-ria diferenciada na mesma empresa, o caráter abusivo ou não do movi-mento será apreciado pelo tribunal separadamente, pois o movimento dequalquer das categorias, analisado isoladamente, pode estar respeitandoos limites da lei de greve8. Assim ocorre com os demais dissídios coleti-vos. A competência originária será do Tribunal Superior do Trabalho, se a

7 “Na verdade, a classificação não é homogênea, pois os dois primeiros tipos referem-seao prisma material e os três últimos ao prisma formal, podendo haver superposição deenquadramentos num mesmo dissídio. A classificação, ademais, exclui, como forma ul-trapassada, o dissídio de extensão, e revigora o originário, ampliando-o para os casosem que a última norma coletiva tenha sido convencional, ainda que a anterior possa tersido sentença coletiva.” (MARTINS FILHO, Ives Gandra. Processo coletivo do traba-lho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2003. p. 83).

8 “[...] será apreciado pelo Tribunal separadamente, uma vez que a categoria diferenciadapode ter paralisado os serviços respeitando os ditames da lei de greve e a categoriaprincipal não.” (MARTINS FILHO, Ives Gandra, op. cit., p. 85).

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base territorial sindical for superior à da jurisdição do Tribunal Regional doTrabalho; e do Tribunal Regional do Trabalho, quando o dissídio envolvercategorias profissionais sob sua jurisdição.

No Tribunal Superior do Trabalho, a competência para julgamento dosdissídios coletivos é da Seção de Dissídios Coletivos (artigo 2o, Lei 7.701/88).

Ives Gandra Martins Filho9 explica que se trata de competência hie-rárquica e não territorial, como possa parecer inicialmente, o que importa-rá no reconhecimento da incompetência pelo juiz ex officio e na remessados autos para o tribunal competente. Exceção a essa regra de compe-tência originária do Tribunal Superior do Trabalho é o Estado de São Pau-lo, o qual comporta os Tribunais Regionais do Trabalho da 2ª Região e da15ª Região. Nesse Estado da Federação, caso o dissídio envolva a juris-dição dos dois tribunais regionais, a competência será do Tribunal Regio-nal da 2ª Região (Lei 7.520, 15/7/1986, artigo 12, I, a qual instituiu o Tribu-nal da 15ª Região, com a redação dada pela Lei 9.254, 3/1/1996). Caso odissídio envolva apenas a jurisdição de um desses tribunais, a competên-cia será do tribunal regional.

Nos tribunais regionais em que não há turma especializada para a so-lução dos conflitos coletivos, a competência para examinar os dissídios cole-tivos é do Pleno. Conforme entendimento do Tribunal Superior do Trabalho, éde sua competência os dissídios coletivos de trabalhadores avulsos.10

3 DISSÍDIOS SINDICAIS

A partir da EC 45, a Justiça do Trabalho passou a ser competenteexpressamente para as ações de representação sindical, entre sindica-tos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores(artigo 114, III, CF).

No campo do Direito do Trabalho, esses conflitos são denominadospela doutrina conflitos impróprios e estão ao lado dos conflitos individuaise coletivos de trabalho (próprios), pois, apesar de não decorrerem direta-mente da relação de emprego, estão a ela relacionados (cuja origem emotivação margeiam as relações de emprego).

Mozart Russomano11, com base nas lições de Américo Plá Rodríguez,anota as principais formas de conflitos impróprios: a) conflitos intersindicais

9 Ibid., p. 143.10 TST – SDC – RO DC nº 2.141/90.0. Rel. Min. Wagner Pimenta – j. 6/12/1993. DJU, I,

p. 8.237-6, 15 abr. 1994.11 RUSSOMANO, Mozart Victor. Princípios gerais de direito sindical. 2. ed. Rio de Ja-

neiro: Forense, 2002. p. 234-5.

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coletivos; b) conflitos intersindicais não coletivos; c) conflitos intra-sindi-cais (conflitos internos); d) conflitos extra-sindicais; e) conflitos entre tra-balhadores.

Américo Plá Rodríguez12 considera como formas de conflitos impró-prios: a) conflitos intersindicais coletivos; b) conflitos intersindicais nãocoletivos; c) conflitos entre o sindicato e seus membros; d) conflitos entretrabalhadores.

Alfredo J. Ruprecht13 entende que os conflitos impróprios são:a) intersindicais coletivos; b) intersindicais não coletivos; c) entre os sindi-catos e seus respectivos membros; d) entre trabalhadores.

3.1 CONFLITOS INTERSINDICAIS COLETIVOS

Os dissídios intersindicais coletivos de representatividade envolvema discussão quanto à legitimação ou âmbito de representação das cate-gorias econômicas ou profissionais.

Anteriormente à EC 45, eram de competência da Justiça Comum.Nesse sentido, existe a OJ 4, da SDC do Tribunal Superior do Trabalho:

Disputa por titularidade de representação. Incompetência da Justiçado Trabalho. A disputa intersindical pela representatividade de certacategoria refoge ao âmbito da competência material da Justiça doTrabalho.

Atualmente, a OJ 4, da SDC, não tem razão de ser com a alteraçãodo Texto Constitucional.

Mesmo durante o período em que a competência era da JustiçaComum para as questões de representação sindical, defendia-se a possi-bilidade de a controvérsia ser resolvida de forma incidental pela JustiçaLaboral, porque se tratava de uma controvérsia surgida no curso do pro-cesso trabalhista individual e formava uma questão prejudicial14 que deve-ria ser resolvida pelo juiz. É importante lembrar que, de acordo com oartigo 469, III, do CPC, não faz coisa julgada a apreciação da questãoprejudicial, decidida incidentemente no processo. Portanto, quando arepresentatividade era matéria incidental, a Justiça do Trabalho poderia

12 PLÁ RODRÍGUEZ, Américo. Curso de derecho laboral: conflictos colectivos. Montevi-déu: IDEA, 2001. p. 17-8. Tomo 2, V. 2.

13 RUPRECHT, Alfredo J. Relações coletivas de trabalho. São Paulo: LTr, 1995. p. 687.14 Questão prejudicial é “[...] aquela cuja solução é imprescindível para a decisão de uma

outra, que é a principal.” (DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. São Paulo: Sarai-va, 1998. p. 15. V. 4.

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decidi-la, para que, na seqüência, pudesse apreciar o mérito da postulaçãoda demanda.

3.2 INTERSINDICAIS NÃO COLETIVOS

Os conflitos intersindicais não coletivos são os que têm como partesos sindicatos, mas com interesses próprios e não da categoria represen-tada. Exemplo disso, era o dissídio declaratório de vínculo jurídico-sindi-cal indicando a discussão de filiação ou não de uma entidade sindical auma federação. Como não se tratava de uma demanda decorrente dasrelações de trabalho, a ação era ajuizada perante a Justiça Comum. Coma EC 45, passou a ser de competência da Justiça do Trabalho.

3.3 CONFLITOS INTRA-SINDICATOS (OU INTERNOS)

Os conflitos intra-sindicais (ou internos) são os que surgem na ad-ministração da entidade sindical ou entre a entidade e seus associados.

A seguir, apresentam-se alguns casos de dissídios intra-sindicais.O trabalhador, na qualidade de dirigente sindical, tem seu contrato

individual de trabalho suspenso – licença não remunerada –, salvo sehouver ajuste em contrário com a empresa ou cláusula contratual (artigo543, § 2º, CLT). Pela suspensão contratual, a assembléia-geral do sindi-cato poderá fixar uma gratificação ao dirigente sindical (artigo 521, pará-grafo único).

Se houver anulação de eleição sindical e se a matéria do dissídioindividual intra-sindical estiver relacionada com a validade ou não de pro-cedimento de eleição sindical, a competência pertencerá ao Judiciário Tra-balhista. Contudo, mesmo antes da EC 45, tratava-se de questão incidentale caberia ao magistrado trabalhista decidir a matéria (artigo 469, III, CPC).

O terceiro caso refere-se à anulação de assembléia-geral sindicalpor violação de requisitos previstos no estatuto ou na lei.

3.4 CONFLITOS EXTRA-SINDICAIS

Os conflitos extra-sindicais são aqueles que surgem entre a entida-de sindical e terceiros. Isso ocorre, por exemplo,

[...] sempre que for rejeitado o pedido de inscrição do trabalhador oudo empresário no sindicato representativo de sua categoria.Nesse caso, o conflito se situa fora do sindicato, mas dentro da vidaintersindical do país, motivo porque os conflitos extra-sindicais po-

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dem ser denominados conflitos externos.15

3.5 CONFLITOS ENTRE TRABALHADORES

Por fim, os conflitos entre trabalhadores com motivo de trabalho emcomum, surgem, v.g., nos contratos por equipe.

Se os trabalhadores divergirem, entre si, no rateio da remuneraçãoglobal ajustada e regularmente paga pelo empregador, cria-se o con-flito. Esse conflito é trabalhista, embora os litigantes sejam apenastrabalhadores. 16

3.6 DISSÍDIOS INDIVIDUAIS SINDICAIS SOBRE CONTRIBUIÇÕES

Atualmente, existem quatro tipos de contribuições: sindical,confederativa, assistencial e dos associados.

A contribuição sindical destina-se a atender o custeio do sistemasindical (artigo 8º, IV, CF, e artigos 548, “a”, 578 e seguintes, CLT).

Anualmente, os integrantes da categoria profissional ou econômicadevem fazer o pagamento correspondente a um dia do salário. É apuradasobre o capital social das empresas e fixado um porcentual para os profis-sionais liberais. Refere-se ao antigo Imposto Sindical (Decreto-Lei 27/66).

A contribuição confederativa é uma fonte de receita criada com a Cons-tituição Federal de 1988 (artigo 8º, IV). Tem como finalidade custear o siste-ma confederativo (sindicato, federação e confederação). É fixada em as-sembléia e inserida em acordo coletivo ou convenção coletiva de trabalho.

A contribuição assistencial é conhecida como taxa assistencial, taxade reversão, contribuição de solidariedade ou desconto assistencial. Visaa cobrir os gastos do sindicato realizados por conta da participação emnegociação coletiva (artigo 513, “e”, CLT).

A contribuição dos associados (contribuição voluntária) é devida pelostrabalhadores que tomaram a decisão de se filiar a um sindicato, a fim departicipar de suas atividades e desfrutar os serviços por ele proporcionados(artigo 548, “b”, CLT). É obrigatória, nos termos do estatuto do sindicato.

A controvérsia jurídica sobre as contribuições sindicais é grande nostribunais superiores. A contribuição sindical destina-se a atender o custeiodo sistema sindical (artigo 8º, IV, CF, e artigos 548, “a”, 578 e seguintes da

15 RUSSOMANO, Mozart Victor, op. cit., p. 235.16 Id.

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CLT). Refere-se ao antigo Imposto Sindical e foi instituído, inicialmente,na Constituição de 1937. O imposto sindical na área rural foi estabelecidopela Lei 4.214, de 2/3/1964 (Estatuto do Trabalhador Rural).

O imposto sindical chegou a ser extinto pelas Medidas Provisórias236/90, 258/90 e 275/90, as quais não foram convertidas em lei pelo Con-gresso Nacional. O Projeto de Lei 58/90, do Congresso Nacional, extin-guindo a contribuição gradativamente no prazo de cinco anos, foi aprova-do, mas vetado pelo presidente da República.

A contribuição sindical é devida por todos aqueles que participaremde uma determinada categoria em favor do sindicato que a representar.Inexistindo o sindicato, a contribuição será creditada à federação corres-pondente à mesma categoria (artigos 579 e 591).

A contribuição sindical é anual e corresponde à importância de umdia de trabalho para os empregados. Para os agentes ou trabalhadoresautônomos e os profissionais liberais, importância equivalente a 30% domaior valor de referência (MVR) fixado pelo Poder Executivo, vigente àépoca em que é devida a contribuição sindical. Para os empregadores, éfixado um porcentual sobre o capital social da empresa (artigo 580).17

Um dia de salário para apuração da contribuição sindical equivale a:

a) uma jornada normal de trabalho, se o pagamento é feito por uni-dade de tempo;

b) 1/30 da quantia percebida no mês anterior, se a remuneração épaga por tarefa, empreitada ou comissão.

17 “No que diz respeito à extinção do índice utilizado para cálculo da contribuição sindical,Maior Valor de Referência – MVR, previsto no art. 580 da CLT, vale a pena lembrar ohistórico das sucessivas alterações legislativas que fixaram os critérios de conversão doMVR em Real.O Maior Valor de Referência – MVR, foi extinto pela Lei 8.177/91. Os critérios de conver-são foram estabelecidos pela Lei 8.178/91 que determinou para o mesmo o valor deCr$ 2.266,17 (dois mil, duzentos e sessenta e seis cruzeiros e dezessete centavos). Em30.12.91 foi promulgada a Lei 8.383, que instituiu a Unidade Fiscal de Referência –UFIR, como medida de valor e parâmetro de atualização monetária de tributos e devalores expressos em cruzeiros na legislação tributária federal. Fixou-se o valor de126,8621, como divisor, para se calcular o valor de uma UFIR, de forma que o MVR, aoser convertido, correspondia a 17,86 UFIR.Em 26 de outubro de 2000 foi extinta a UFIR pela Medida Provisória nº 1973, posterior-mente convertida na Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002. Este mesmo diploma legaldeterminou que os débitos expressos em UFIR deveriam ser convertidos em Real, uti-lizando-se, para tanto, o valor de R$ 1,0641, fixado para o ano 2000, pela Portaria nº 488/99.”(CAVALCANTE, Tereza Cristina Lins e. Contribuição sindical patronal. Disponível em:<http://www.mte.gov.br/Temas/RelacoesTrabalho/ContribuicaoSindical/Publicacoes/Conteudo/4409.asp>. Acesso em: 28 ago. 2004).

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O desconto dos empregados é no mês de março de cada ano. No casodos trabalhadores avulsos, o desconto é no mês de abril. Em relação aosagentes e trabalhadores autônomos e profissionais liberais, é em fevereiro.

O empregado que não estiver trabalhando no mês destinado aodesconto da contribuição sindical será descontado no primeiro subseqüenteao do reinício do trabalho (artigo 602).

Para os empregadores, a contribuição será proporcional ao capitalsocial da firma ou empresa, registrado na Junta Comercial ou órgão equi-valente (artigo 580). As entidades ou instituições que não estejam obriga-das ao registro do capital social considerarão, como capital para efeito docálculo, o porcentual de 40% sobre o movimento econômico registrado noexercício financeiro imediatamente anterior (artigo 580, § 5º). Estão exclu-ídas dessa regra as entidades ou instituições que comprovarem, median-te requerimento ao ministro do Trabalho, que não exercem atividade eco-nômica com finalidade lucrativa.

As empresas atribuirão parte do respectivo capital às sucursais, fili-ais ou agências, desde que localizadas fora da base territorial da entidadesindical representativa da atividade econômica do estabelecimento princi-pal, na proporção das correspondentes operações econômicas (artigo 581).

Quando a empresa realizar diversas atividades econômicas, semque nenhuma delas seja preponderante, cada uma das atividades seráincorporada à respectiva categoria econômica, sendo a contribuição sin-dical devida à entidade sindical representativa da mesma categoria. Pro-cede-se, se for o caso, da mesma forma em relação às correspondentessucursais, agências ou filiais (artigo 581, § 1º).

Entende-se por atividade preponderante a que caracterizar a unida-de de produto, operação ou objetivo final, para cuja obtenção todas asdemais atividades convirjam, exclusivamente, em regime de conexão fun-cional (artigo 581, § 2º). Tratando-se de grupo de empresas, cada umadelas recolherá a contribuição sindical, observando-se sua atividade pre-ponderante e não a preponderante do grupo.

O recolhimento da contribuição sindical do empregador é no mês dejaneiro ou, para os que venham a se estabelecer depois, na ocasião emque requeiram às repartições o registro ou a licença para o exercício daatividade. O recolhimento obedecerá ao sistema de guias, de acordo comas instruções expedidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

Considerando a previsão do artigo 217, I, e do artigo 3º, ambos doCTN, e ainda o artigo 149, CF, a natureza jurídica da contribuição sindicalé tributária.18

18 MARTINS, Sergio Pinto, op. cit., p. 711.

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Da importância arrecadada, seguindo as instruções do Ministério doTrabalho, a Caixa Econômica Federal fará os seguintes créditos: a) 5%para a confederação; b) 15% para a federação; c) 60% para o sindicato;d) 20% para a Conta Especial Emprego e Salário.

Inexistindo confederação, o porcentual que lhe era destinado cabe-rá à federação. Na falta da federação, o porcentual que lhe era destinadocaberá à confederação. Inexistindo confederação e federação, a parte quelhe cabia será destinada à Conta Especial Emprego e Salário. Não haven-do sindicato, a quantia a que teria direito será creditada à federação e àconfederação, e os valores que seriam destinados à federação não so-frem prejuízo dos 5% originalmente a ela atribuídos.

A contribuição sindical será aplicada pelo sindicato, conforme seusestatutos, observando-se o previsto no artigo 592, da CLT: assistênciajurídica, médica, dentária, hospitalar e farmacêutica, agências de coloca-ção de empregados, bibliotecas, creches, congressos, conferências, co-lônias de ferais, centros de recreação, etc.

Os sindicatos poderão destinar, em seus orçamentos anuais, 20%dos recursos da contribuição sindical para o custeio de suas atividadesadministrativas, independentemente de autorização ministerial.

As porcentagens atribuídas às entidades sindicais de grau superiorserão aplicadas de conformidade com o que dispuserem os respectivosconselhos de representantes (artigo 593).

O recolhimento da contribuição sindical fora do prazo legal, quandoespontâneo, será acrescido de 10%, nos 30 primeiros dias, com o adicio-nal de 2% por mês subseqüente, além de juros de mora de 1% ao mês ecorreção monetária que será revertida sucessivamente para o sindicato,para a federação (na ausência do sindicato), para a confederação(inexistindo a federação), para a Conta Emprego e Salário (na falta deentidades sindicais).

No ato de admissão de qualquer empregado, o empregador exigiráa apresentação da prova de quitação da contribuição sindical.

Em caso de não-pagamento, cabe às entidades sindicais promove-rem a cobrança judicial, mediante ação executiva, valendo como título dedívida a certidão expedida pelas autoridades regionais do Ministério doTrabalho (artigo 606). Para os fins da cobrança judicial da contribuiçãosindical, as entidades sindicais possuem os privilégios da Fazenda Públi-ca, como exceção do foro especial.

O comprovante do pagamento da contribuição sindical é essencialpara o comparecimento às concorrências públicas. As repartições públi-cas não concederão registro ou licença de funcionamento ou renovaçãoda atividade aos estabelecimentos, sem que sejam exibidas provas de

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quitação da contribuição sindical. Os profissionais liberais ficarão suspensosdo exercício da atividade até a quitação da contribuição sindical.

O Decreto-Lei 1.166, 15/4/1971, estabelece a contribuição sindicaldos empregadores e trabalhadores rurais, e caberá ao Instituto Nacional deColonização e Reforma Agrária (INCRA) proceder ao lançamento e cobran-ça da contribuição sindical devida pelos integrantes das categorias profissi-onais e econômicas da agricultura (artigo 4º, Decreto-Lei 1.166/71).

A contribuição sindical dos empregadores rurais organizados emempresas ou firmas será lançada e cobrada proporcionalmente ao capitalsocial. Para os não organizados dessa forma, entender-se-á como capitalo valor adotado para o lançamento do imposto territorial do imóvel explo-rado, fixado pelo INCRA, aplicando-se em ambos os casos as porcenta-gens previstas no artigo 580, da CLT.

A contribuição devida às entidades sindicais da categoria profissio-nal será lançada e cobrada dos empregadores rurais e por esses descon-tada dos respectivos salários, tomado-se por base um dia de salário míni-mo regional pelo número máximo de assalariados que trabalhem nas épo-cas de maior serviço, conforme declarado no cadastramento do imóvel.Em pagamento dos serviços e reembolso de despesas relativas aos en-cargos, caberão ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária(INCRA) 15% das importâncias arrecadadas. A contribuição sindical serápaga com o Imposto Territorial Rural (ITR) do imóvel.

O Supremo Tribunal Federal tem considerado obrigatória a contri-buição sindical a todos os integrantes da categoria.

Sindicato. Contribuição sindical da categoria. Recepção. A recepçãopela ordem constitucional vigente da contribuição sindical compulsó-ria, prevista no art. 578 CLT e exigível de todos os integrantes da cate-goria, independentemente de sua filiação ao sindicato resultar do art.8º, IV, in fine, da Constituição; não obsta à recepção, proclamação, nocaput do art. 8º, do princípio da liberdade sindical, que há de ser com-preendido a partir dos termos em que a Lei Fundamental a positivou,nos quais a unicidade (art. 8º, II) e a própria contribuição sindical denatureza tributária (art. 8º, IV) – marcas características do modelocorporativista resistente –, dão a medida da sua relatividade (cf. MI 144,Pertence, RTJ 147/858, 874); nem impede a recepção questionadaa falta da lei complementar prevista no art. 146, III, CF, à qual aludeo art. 149, à vista do disposto no art. 34, §§ 3º e 4º, das DisposiçõesTransitórias (cf. RE 146733, Moreira Alves, RTJ 146/694, 694). (STF –1a T. RE nº 180.745-8. Rel. Min. Sepúlveda Pertence – j. 24 mar. 1998.DJ, 8 maio 1998).

O Supremo Tribunal Federal entendeu que a contribuiçãoconfederativa não é de natureza tributária (STF – 2ª T. RE nº 198.092-3

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SP. Rel. Min. Carlos Mário Velloso – j. 27/8/96 – DJU, 16/10/96 –). Alémdisso, apesar de alguns defenderem o dispositivo constitucional que pre-vê a contribuição confederativa, não é auto-aplicável, dependendo de edi-ção de lei ordinária, para que se torne exigível (princípio da legalidade –artigo 5º, II, CF), a qual definirá todos os elementos de sua cobrança,como o quórum das deliberações para a fixação da contribuição, base decálculo, periodicidade e épocas de pagamento etc. O STF entendeu que acontribuição confederativa (artigo 8º, IV) é auto-aplicável (STF – 1ª T. REnº 191.022-4. Rel. Min. Ilmar Galvão. DJU, p. 1.989, 14/2/1997).

Considerando o princípio da liberdade sindical, o Supremo TribunalFederal tem considerado que a contribuição confederativa não é obrigató-ria para os não filiados à entidade sindical.

Constitucional. Sindicato. Contribuição instituída pela AssembléiaGeral. Caráter não tributário. Não compulsoriedade. Empregados nãosindicalizados. Impossibilidade do desconto. CF, art. 8º, IV. I. A contri-buição confederativa, instituída pela Assembléia Geral – CF, art. 8º,IV – distingue-se da contribuição sindical, assim compulsória. A pri-meira é compulsória apenas para os filiados do sindicato. II. RE nãoconhecido. (STF – 2ª T. RE nº 198092-3. Rel. Min. Carlos Velloso – j.27/8/96. DJ, 11 out. 1996).

Art. 8º, IV, da Constituição Federal. Contribuição para custeio do sis-tema confederativo da representação sindical de categoria profissio-nal. Norma cuja eficácia não depende de lei integrativa, havendoestabelecido, de pronto, a competência para fixação da contribuiçãoe destinação desta e a forma do respectivo recolhimento. Encargoque, por despido de caráter tributário, não sujeita senão os filiadosda entidade de representação profissional. Interpretação que, de resto,está em consonância com o princípio da liberdade sindical consa-grada na Carta da República. Recurso conhecido e provido, em par-te. (STF – 1a T. RE nº 17664-8. Rel. Min. Ilmar Galvão – j. 18/3/97.DJ, 22 ago. 1997).

Contribuição confederativa. Art. 8º, IV, da Constituição. Trata-se deencargo que, por despido de caráter tributário, não sujeita senão osfiliados da entidade de representação profissional. Interpretação que,de resto, está em consonância com o princípio da liberdade sindicalconsagrado na Carta da República. Recurso não conhecido. (STF –1ª T. RE nº 173869. Rel. Min. Ilmar Galvão – j. 22/4/97. DJ, p. 45.547,19 set. 1997).

Direito Constitucional, Processual Civil e Trabalhista. Recurso Ex-traordinário Trabalhista. Pressupostos de Admissibilidade. Agravo.1. Não conseguiu o agravante demonstrar o desacerto da decisãoque, na instância de origem, indeferiu o processamento do RecursoExtraordinário, nem o da que negou seguimento ao Agravo de Ins-

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trumento. 2. Com efeito, ambas as Turmas do Supremo Tribunal Fe-deral firmaram entendimento no sentido de que a contribuiçãoconfederativa, fixada por assembléia geral (art. 8º, IV, da CF), não seconfunde com a contribuição sindical, instituída por lei, que é com-pulsória. A primeira só pode ser exigida dos filiados ao sindicato.Precedentes. 3. No mais, o julgado examinou apenas questõesinfraconstitucionais. 4. Por fim, é pacífica a jurisprudência do Supre-mo Tribunal Federal, no sentido de não admitir, em R.E., alegaçãode ofensa indireta à Constituição Federal, por má interpretação ouaplicação e mesmo inobservância de normas infraconstitucionais. 5.Agravo improvido. (STF – 1ª T. AI nº 339060 AgR/RS. Rel. Min. Syd-ney Sanches – j. 18/6/2002. DJ, p. 85, 30 ago. 2002).

O Supremo Tribunal Federal editou a Súmula 666 sobre a matéria:“[...] a contribuição confederativa de que trata o art. 8º, IV, da Constituição,só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo.”

A contribuição assistencial, também conhecida como taxa assistencial,taxa de reversão, contribuição de solidariedade ou desconto assistencial,visa a cobrir os gastos do sindicato, realizados por conta da participação emnegociação coletiva (artigo 513, “e”, CLT), sendo definida em norma coleti-va de trabalho.

Controvérsias envolvendo a contribuição assistencial são de com-petência da Justiça do Trabalho (Lei 8.984/95), porém a Justiça do Traba-lho será incompetente para apreciar lide entre o sindicato patronal e arespectiva categoria econômica, objetivando cobrar a contribuiçãoassistencial (OJ 290, SDI-I). O Ministro Marco Aurélio, acompanhado pela2ª T. do STF, considerou que a contribuição confederativa é obrigatóriapara todos os trabalhadores integrantes da categoria.

Contribuição. Convenção coletiva. A contribuição prevista em con-venção coletiva, fruto do disposto no artigo 513, alínea e, da Cons-tituição Federal, é devida por todos os integrantes da categoria pro-fissional, não se confundindo com aquela versada na primeira par-te do inciso IV do artigo 8o da Carta da República. (STF – 2ª T. REnº 189960-3. Rel. Min. Marco Aurélio – j. 7/11/2000. DJ, 10 ago. 2001)

Em outros julgados, o STF não tem ingressado no mérito daobrigatoriedade ou não da contribuição assistencial, por entender que aquestão é de índole infraconstitucional.

Recurso Extraordinário. Agravo Regimental. Contribuições Destina-das Ao Custeio de Sindicatos. Exigibilidade. 1. A contribuiçãoassistencial visa a custear as atividades assistenciais dos sindica-tos, principalmente no curso de negociações coletivas. A contribui-ção confederativa destina-se ao financiamento do sistemaconfederativo de representação sindical patronal ou obreira. Destas,

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somente a segunda encontra previsão na Constituição Federal (art.8º, IV), que confere à assembléia geral a atribuição para criá-la. Estedispositivo constitucional garantiu a sobrevivência da contribuiçãosindical, prevista na CLT. 2. Questão pacificada nesta Corte, no sen-tido de que somente a contribuição sindical prevista na CLT, por tercaráter parafiscal, é exigível de toda a categoria independente defiliação. 3. Entendimento consolidado no sentido de que a discussãoacerca da necessidade de expressa manifestação do empregado emrelação ao desconto em folha da contribuição assistencial não temporte constitucional, e, por isso, é insuscetível de análise em sedede recurso extraordinário. 4. Agravo regimental improvido. (STF – 2ªT. RE nº 224885 AgR/RS. Rel. Min. Ellen Gracie – j. 8/6/2004. DJ, p.52, 6 ago. 2004).

Constitucional. Recurso Extraordinário. Trabalhista. ContribuiçãoAssistencial. Questão Constitucional Não Decidida. I. – Inocorrênciado contencioso constitucional autorizador do recurso extraordinário.II. – Contribuição assistencial é de natureza infraconstitucional. Pre-cedente. III. – Agravo não provido. (STF – 2ª T. AI nº 442177 AgR/ES.Rel. Min. Carlos Velloso – j. 4/11/2003. DJ, p. 29, 5 dez. 2003).

O trabalhador não associado ao sindicato tem admitido o direito deoposição ao desconto da contribuição assistencial ante a existência doprincípio da liberdade sindical. Existia o Precedente Normativo nº 74, can-celado pela Resolução 81/98. DJU, 20/8/98, in verbis:

Desconto Assistencial. Subordina-se o desconto assistencial sindi-cal à não-oposição do trabalhador, manifestada perante a empresaaté 10 dias antes do primeiro pagamento reajustado.Contribuição Assistencial. Ressalva de Oposição aos Descontos. Em-pregados Não-Filiados. 1. Caracteriza desrespeito ao princípio daliberdade de associação, consagrado nos artigos 5º, XX, e 8º, V, daConstituição Federal de 1988, que prevêem o princípio da liberdadesindical, cláusula na qual se estabelece a contribuição assistencial aser descontada dos salários de todos os empregados da categoria,indistintamente, ou seja, sem qualquer ressalva. À luz da defesa desteprincípio é que o artigo 545 da CLT condiciona a contribuição sindi-cal, em favor do Sindicato, à autorização expressa do trabalhador. 2.Recurso de revista conhecido e provido. (TST – 1ª T. RR nº 499154.Rel. Min. Emmanoel Pereira – j. 26/11/2003. DJ, 27 fev. 2004).

Recurso de Revista. Contribuição Assistencial. Desconto. Previsãoem Dissídio Coletivo. Oposição de Empregados. O desconto das con-tribuições assistenciais, a que se obriga a empresa via decisãohomologatória de dissídio coletivo, pode ser descumprido sob a ale-gação de oposição de parte dos empregados, em prestígio aos prin-cípios da liberdade sindical e da intangibilidade salarial. Recurso derevista conhecido e provido. (TST – 2ª T. RR nº 561199. Rel. JuizConvocado Saulo Emídio dos Santos – j. 8/10/2003. DJ 31 out. 2003).

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A Seção Especializada em Dissídios Coletivos do Tribunal Superiordo Trabalho entende que:

A Constituição da República, em seus arts. 5º, XX e 8º, V, assegurao direito de livre associação e sindicalização. É ofensiva a essa mo-dalidade de liberdade cláusula constante de acordo, convenção ousentença normativa estabelecendo contribuição em favor de entida-de sindical a título de taxa para custeio do sistema confederativo,assistencial, revigoramento ou fortalecimento sindical e outros damesma espécie, obrigando trabalhadores não sindicalizados. Sendonulas as estipulações que inobservem tal restrição, tornam-se passí-veis de devolução os valores irregularmente descontados. (Prece-dente Normativo 119, SDC).

Considerando: a) o estabelecido no artigo 8º, V, da ConstituiçãoFederal, que dispõe sobre a liberdade de filiação; b) o disposto no artigo513, “e”, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que dispõe sobre aprerrogativa do sindicato de impor contribuições a todos aqueles que par-ticipem das categorias econômicas ou profissionais, ou das profissõesliberais representadas; c) o disposto no artigo 8º, inciso IV, da Constitui-ção Federal, que autoriza a fixação de contribuição confederativa em as-sembléia-geral da categoria a ser descontada em folha de pagamento desalário; d) o disposto no artigo 545 da CLT, que condiciona o desconto emfolha de pagamento das contribuições devidas ao sindicato à prévia auto-rização do empregado, salvo quanto à contribuição sindical; e) o Enuncia-do da Súmula 666, do Supremo Tribunal Federal, que estabelece que acontribuição confederativa de que trata o artigo 8º, inciso IV, da Constitui-ção Federal, só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo; f) o Prece-dente Normativo 119, do Tribunal Superior do Trabalho, segundo o qual éofensivo ao direito de livre associação e sindicalização, previsto nos arti-gos 5º, inciso XX, e 8º, inciso V, da Constituição Federal, cláusula cons-tante de convenção, acordo coletivo ou sentença normativa, estabelecen-do contribuição em favor de entidade sindical a título de taxa para custeiodo sistema confederativo, assistencial, revigoramento ou fortalecimentosindical e outras da mesma espécie e obrigando trabalhadores não sindi-calizados; g) a necessidade de orientar empregadores, sindicatos e traba-lhadores acerca do procedimento para recolhimento das contribuições ins-tituídas pelas entidades sindicais.

O ministro do Trabalho e Emprego, Ricardo Berzoini, entendeu que:

a) as contribuições instituídas pelos sindicatos em assembléia-geralda categoria, em especial a confederativa e/ou as constantes deconvenção ou acordo coletivo e sentença normativa, em especial

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a contribuição assistencial, são obrigatórias apenas para os em-pregados sindicalizados (artigo 1º);

b) a contribuição assistencial, prevista na alínea “e”, do artigo 513,da CLT, e demais decorrentes do mesmo diploma legal, deverãoconstar de convenção ou acordo coletivo de trabalho, devidamen-te registrado no setor competente do órgão local do Ministério doTrabalho e Emprego, ou de sentença normativa, e tem por finali-dade custear as atividades assistenciais, melhorias e o cresci-mento sindical, além da participação da entidade nas negocia-ções por melhores condições de trabalho (artigo 1º, § 2º);

c) o empregador poderá efetuar o desconto, em folha de pagamentode salário, do valor correspondente às contribuições devidas pe-los empregados aos sindicatos respectivos e previstas em con-venção ou acordo coletivo de trabalho, registrados no Ministériodo Trabalho e Emprego, em sentença normativa ou em assem-bléia-geral sindical, quando notificado do valor das contribuições(artigo 2º);

d) Para os empregados não sindicalizados, o desconto em folha depagamento somente poderá ser efetuado mediante prévia e ex-pressa autorização do empregado (artigo 2º, § 1º), a qual terá vali-dade pelo período de vigência do instrumento coletivo e poderá serrevogada pelo empregado a qualquer tempo (artigo 2º, § 1º, II);

e) o desconto em folha de pagamento, efetuado sem a devida auto-rização do empregado não sindicalizado ou com base em instru-mento coletivo não registrado no TEM, sujeita o empregador àautuação administrativa pela fiscalização do trabalho (artigo 2º,§ 2º, Portaria MTE 160, 13/4/2004).

Dias depois, o ministro do Trabalho e Emprego suspendeu a eficáciado artigo 1º, e dos §§ 1º e 2º, do artigo 2º, da Portaria 160, até 31/4/2005(Portaria MTE 180, de 30/4/2004), considerando que: a) os argumentosapresentados pelas centrais sindicais, em reunião realizada em 22 de abrilde 2004, com representante do Ministério do Trabalho e Emprego (TEM),da impossibilidade momentânea dos sindicatos cumprirem as regrasestabelecidas no artigo 1º, e nos §§ 1º e 2º, do artigo 2º, da Portaria Minis-terial 160, de 13/4/2004; b) as centrais sindicais assumiram o compromis-so formal de, durante o período da suspensão da eficácia do artigo 1º, edos §§ 1º e 2º, do artigo 2º, da Portaria Ministerial 160, de 13/4/2004,orientar os sindicatos para observarem o princípio da razoabilidade aoestabelecer os valores correspondentes à contribuição confederativa e àcontribuição assistencial; c) as centrais sindicais assumiram o compro-

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misso de orientar os sindicatos, para que os valores cobrados tenhamcomo referência, a partir da publicação dessa portaria, os limites estabe-lecidos no Fórum Nacional do Trabalho para a futura contribuição negocial.

Por fim, existe a contribuição dos associados, conhecida como con-tribuição voluntária. É devida pelos trabalhadores que tomaram a decisãode se filiar a um sindicato, a fim de participar de suas atividades e desfru-tar dos serviços por eles proporcionados (artigo 548, “b”, CLT), e obrigató-ria, nos termos do estatuto da entidade sindical.

O Tribunal Superior do Trabalho, de acordo com o En. 334, entendiaque a Justiça do Trabalho era incompetente para julgar ação na qual osindicato, em nome próprio, pleiteia o recolhimento de desconto assistencialprevisto em convenção ou acordo coletivo de trabalho. O En. 334 foi can-celado pela Res. 59, de 20/6/1996.

A razão do cancelamento do En. 334 foi a promulgação da Lei 8.984/95,a qual em seu artigo 1o enuncia:

Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios quetenham origem no cumprimento de convenções coletivas de traba-lho ou acordo coletivos de trabalho mesmo quando ocorram entresindicatos ou entre sindicato de trabalhadores e empregador.

Com a Lei 8.984/95, a competência material da Justiça do Trabalhopassou a abranger todo e qualquer dissídio individual que envolva as con-tribuições sindicais decorrentes de acordo ou convenção coletiva de tra-balho, desde que sejam relacionadas com os trabalhadores.

O Tribunal Superior do Trabalho, antes da EC 45, considerava in-competente a Justiça do Trabalho para apreciar lide entre o sindicato pa-tronal e a respectiva categoria econômica, para cobrança da contribuiçãoassistencial (OJ 290, SDI-I).

Quanto à contribuição sindical, a qual é imposição legal (artigo 578 eseguintes, CLT), a competência pertencia à Justiça Comum (Súm. 222, STJ).

Em relação à mensalidade do associado do sindicato, OresteDalazen19 ensina:

O modo triangular por que se consuma o desconto da mensalidadesindical rende ensejo a três dissídios individuais diferentes no planosubjetivo, com reflexo na competência. Em primeiro lugar, a mensa-lidade sindical pode gerar um litígio entre empregado e empregador,de competência óbvia da Justiça do Trabalho (CF/88, art. 114, parteinicial). Em segundo lugar, a mensalidade sindical pode provocar umaespécie de dissídio intra-sindical: entre o sindicato e o associado,

19 DALAZEN, João Oreste. Competência material trabalhista. São Paulo: LTr, 1994. p. 186.

Jouberto de Quadros Pessoa Cavalcante e Francisco Ferreira Jorge Neto

R. Jurídica, Curitiba, n. 17, Temática n. 1, p. 157-77, 2004.

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por exemplo, porque o empregado não autorizou o desconto em fo-lha e não o quitou diretamente junto à entidade. Em terceiro lugar,pode haver lugar a um conflito entre o sindicato e o empregador,geralmente em virtude de este não proceder ao desconto da mensa-lidade em favor do sindicato. Nestes dois últimos casos, à semelhan-ça do que sucede com o desconto assistencial, a competência daJustiça do Trabalho dependerá do título em que se arrima o pedido.Efetivamente. Se o dissídio sobre a mensalidade entre sindicato eassociado, ou entre sindicato e empregador, não se apóia em qual-quer instrumento normativo, mas apenas em deliberação de assem-bléia geral da categoria, ou em disposição estatutária, é flagrante acompetência material do Judiciário Trabalhista, porquanto a situa-ção, notoriamente, não se amolda a qualquer dos casos previstos noart. 114, da CF/88 [...] Se, ao revés, o dissídio entre sindicato e asso-ciado, ou entre sindicato e empregador, referente à mensalidade,tem origem em cláusula de sentença normativa, ou de acordo homo-logado em dissídio coletivo, induvidosa é a competência da Justiçado Trabalho: o caso subsume-se ao art. 114, parte final, da CF/88.

Após a EC 45, todas as controvérsias surgidas da cobrança ou pa-gamento das contribuições sindicais dos membros da categoria ou dosassociados, decorrentes da lei ou norma coletiva de trabalho, entre ostrabalhadores e empregadores ou sindicato, ou, ainda, entre sindicatos,são de competência da Justiça do Trabalho.

4 CONCLUSÃO*

REFERÊNCIAS

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DALAZEN, João Oreste. Competência material trabalhista. São Paulo:LTr, 1994.

DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico. São Paulo: Saraiva, 1998.

(*) Nota da Editora: contatados para providenciar a conclusão, os autores informaram queoptaram “por não desenvolver um tópico conclusivo, considerando as inúmeras diver-gências sobre diversos pontos abordados” no artigo, frisando que “parte do tema énova e ainda carece de debates jurídicos”.

Emenda constitucional 45/2004 e competência da justiça do trabalho...

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Artigo recebido em 16/02/2005.Aprovado para publicação em 20/02/2005.*

(*) Nota da Editora: segundo informações dadas em nota de rodapé na primeira páginadeste artigo, outro havia sido o artigo destes autores recebido (em maio de 2004) eaprovado (em 02/09/04) pelo Conselho Científico da Revista. Deste modo, por ter setratado de substituição de texto é que as novas datas de recebimento e de aprovaçãodeste artigo são de 2005, embora a revista seja referente ao ano de 2004.

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