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DOCUMENTO DE ANÁLISE EMISSÕES DE GEE DO SETOR AGROPECUÁRIO COORDENAÇÃO TÉCNICA REDAÇÃO E ORGANIZAÇÃO SETEMBRO 2016 IMAFLORA - INSTITUTO DE MANEJO E CERTIFICAÇÃO FLORESTAL E AGRÍCOLA Ciniro Costa Junior Marina Piatto REVISÃO Susian Christian Martins (FGV - Fundação Getúlio Vargas) Tasso Rezende de Azevedo

EMISSÕES DE GEE DO SETOR AGROPECUÁRIOseeg.eco.br/wp-content/uploads/2016/12/WIP-16-10-07-RelatoriosSEEG... · PLANO DE AGRICULTURA DE BAIXO CARBONO (PLANO ABC) 2.4. O ACORDO DE

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DOCUMENTO DE ANÁLISE

EMISSÕES DE GEE DO SETORAGROPECUÁRIO

COORDENAÇÃO TÉCNICA

REDAÇÃO E ORGANIZAÇÃO

SETEMBRO 2016IMAFLORA - INSTITUTO DE MANEJO E CERTIFICAÇÃO FLORESTAL E AGRÍCOLA

Ciniro Costa JuniorMarina Piatto

REVISÃOSusian Christian Martins(FGV - Fundação Getúlio Vargas)Tasso Rezende de Azevedo

SUMÁRIO

SUMÁRIO EXECUTIVO

1. INTRODUÇÃO

1.1. AS EMISSÕES DA AGROPECUÁRIA BRASILEIRA ENTRE 1970-2014

1.2. A CONTRIBUIÇÃO DOS ESTADOS NAS EMISSÕES DO SETOR AGROPECUÁRIO

1.3. O REBANHO BOVINO E AS EMISSÕES: DO MATO GROSSO À AMAZÔNIA

1.4. FERTILIZAÇÃO NITROGENADA, EMISSÃO E PRODUTIVIDADE

1.5. PROIBIÇÃO DA QUEIMA DA CANA REDUZIU EMISSÕES EM SÃO PAULO

1.6. TRATAMENTO DE DEJETOS ANIMAIS PODE REDUZIR EMISSÕES DO SUL E SUDESTE

1.7. O ARROZ IRRIGADO NO RIO GRANDE DO SUL E AS ESTRATÉGIAS DE MITIGAÇÃO

2. TRAJETÓRIA DE EMISSÕES METAS E COMPROMISSOS

2.1. PLANO NACIONAL SOBRE MUDANÇA DO CLIMA

2.2. POLÍTICA NACIONAL SOBRE MUDANÇA DO CLIMA (PNMC)

2.3. PLANO DE AGRICULTURA DE BAIXO CARBONO (PLANO ABC)

2.4. O ACORDO DE PARIS E AS METAS PARA AGROPECUÁRIA NA INDC BRASILEIRA

2.4.1. VIABILIDADE DO CUMPRIMENTO DA INDC AGROPECUÁRIA

2.5. A PROPOSTA DE META PARA 2030 DO OBSERVATÓRIO DO CLIMA

2.6. O INVENTÁRIO NACIONAL E AS ESTRATÉGIAS DE MITIGAÇÃO: O DESAFIO DA AGROPECUÁRIA

3. O FINANCIAMENTO AGRÍCOLA E SEU IMPACTO NO AQUECIMENTO GLOBAL

3.1. PROGRAMA ABC: CRÉDITO AGRÍCOLA

3.2. O PLANO SAFRA E O VOLUME DE CRÉDITO DESTINADO AO PROGRAMA ABC

3.3. PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR - PRONAF

3.4. PLANO MAIS PECUÁRIA

3.5. PAGAMENTOS POR SERVIÇOS AMBIENTAIS

3.6. PLANO NACIONAL DE DEFESA AGROPECUÁRIA (PDA) 2015-2020

3.7. RESUMO DOS OBJETIVOS, AÇÕES E METAS DE REDUÇÃO DE EMISSÕES DOS PLANOS E

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O SETOR AGROPECUÁRIO

4. RECOMENDAÇÕES PARA QUE OS PLANOS E AS POLÍTICAS SE TORNEM MAIS EFETIVOS NA

REDUÇÃO DAS EMISSÕES PELA AGROPECUÁRIA BRASILEIRA

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

6. LIMITAÇÕES E FUTURAS MELHORIAS PARA AS ESTIMATIVAS DO SEEG

7. REFERÊNCIAS

ANEXOS

04

08

10

15

19

23

28

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33

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40

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73

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78

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SUMÁRIO EXECUTIVO

Em 25 de setembro de 2015, os 193 membros das Nações Unidas adotaram a nova agenda de Desenvolvimento Sustentável para 2030. Esta agenda aponta 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) que deverão orientar a sociedade na busca por soluções para problemas globais. Cada país deverá ter suas prioridades nesta agenda, mas toda meta estabelecida será o resultado do balanço entre as necessidades humanas e o impacto nos ecossistemas naturais. Temas como a erradicação da pobreza e da fome, a promoção da paz e da equidade, o acesso à água e a educação, a conservação dos oceanos e a gestão das florestas são exemplos destes objetivos. Entre eles também estão o combate às mudanças climáticas e as parcerias globais para que estes objetivos sejam implementados.

Em dezembro de 2015, em Paris ocorreu a 21ª Convenção Quadro da ONU sobre as Mudança do Clima (UNFCCC) onde 195 países chegaram a um entendimento sobre os termos do Acordo. A Convenção reconheceu que as mudanças climáticas representam uma ameaça urgente e potencialmente irreversível para a sociedade e para o planeta e, portanto, requer uma cooperação internacional para acelerar a redução das emissões globais de gases de efeito estufa de forma eficaz. Um dos objetivos do Acordo é manter o aquecimento global “muito abaixo de 2ºC”, buscando ainda “esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5 ° C acima dos níveis pré-industriais”.

Em Paris, o governo brasileiro levou sua proposta de contribuição para redução de suas emissões nacionais para o período entre 2020 e 2030. Neste documento o Brasil assume o compromisso de reduzir emissões e aumentar o sequestro de carbono listando ações relacionadas à matriz energética (aumento da energia renovável), ao setor florestal (cumprimento do Código Florestal, redução do desmatamento e restauração das florestas) e as

áreas da indústria e transportes, onde promete novos padrões de tecnologias limpas.

No setor agropecuário o governo propõe fortalecer a agricultura de baixas emissões de carbono restaurando 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e implementando outros 5 milhões de hectares de sistemas integrados de produção até 2030. Metas de grande impacto para a manutenção do clima, porém desafiadoras para um setor carente de transferência de tecnologia devido à escassez de assistência técnica no Brasil.

Atualmente o setor agropecuário é responsável por cerca de 12% das emissões globais (WRI-CAIT, 2012), sendo que a Agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) aponta crescimentos entre 15% e 40% na demanda global por alimentos nas próximas décadas. Assim a agropecuária mundial deverá enfrentar o desafio de produzir mais e ao mesmo tempo reduzir suas emissões de GEE.

O Brasil é hoje um dos maiores produtores de alimentos do mundo, sendo também o país com maior capacidade de aumentar a sua produção e exportação agropecuária e atender a demanda futura por alimentos. No entanto, o Brasil projeta um aumento de sua produção agropecuária em torno de 30% em 2030 e já está entre os 10 maiores emissores globais de GEE. A agropecuária, com 423 Gt de equivalentes de CO2 emitidos por esse setor em 2014, representa quase um terço das emissões nacionais (SEEG, 2014).

Dessa forma, o aumento da produção agropecuária brasileira pode representar tanto um risco para o aquecimento global quanto uma oportunidade enorme de mitigação e sequestro de carbono. Esta trajetória vai depender de políticas públicas que viabilizem um planejamento ordenado da expansão agropecuária e um aumento na eficiência de produção através de transferência

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de tecnologias, financiamento agrícola e pagamentos por serviços ambientais (PSA).

Para conhecer as fontes de emissões de GEE na agropecuária brasileira e entender como as políticas nacionais estão influenciando essas emissões a Plataforma SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de GEE) disponibiliza estimativas de emissões de GEE para todos os estados brasileiros, cobrindo um período histórico de 1970 a 2014. Já o Relatório Analítico de Emissões de GEE interpreta estes dados, propõe medidas de mitigação e relaciona o impacto das políticas agrícolas nas emissões nacionais.

O resultado destas análises revela que em pouco mais de 40 anos as emissões de GEE do setor agropecuário aumentaram 165%. Durante as décadas de 70 a 90 as emissões eram predominantemente provenientes dos estados sul e sudeste do país. Entretanto, essas emissões se deslocaram para os estados do centro-oeste e, mais recentemente, para o norte, avançando rumo a Amazônia a medida que a fronteira agropecuária se expande nessa direção. No Brasil, a bovinocultura de corte é considerada uma das principais responsáveis pela expansão da fronteira agropecuária e também a principal fonte de emissão de GEE do setor. Contribui para isso a utilização apenas 33% da capacidade instaladas das pastagens e a baixa eficiência de produção (Strassburg et al., 2014). Entretanto, esta combinação de fatores posiciona a bovinocultura como o setor com a maior margem para a implementação de melhorias em seu sistema produtivo.

Por outro lado, casos de sucesso de aumento de produção e redução de emissões já foram constatados, como nos cultivos de cana-de-açúcar e arroz por exemplo. As emissões pela queima de resíduos da cana-de-açúcar em São Paulo reduziram em 70% devido ao Protocolo Agroambiental que determina a eliminação

da queima para colheita de forma gradativa até 2017. No Rio Grande do Sul, pesquisas e assistência técnica consolidaram práticas de cultivo do arroz irrigado que mantem a produtividade e promovem o uso eficiente da agua, refletindo na redução de 25% das emissões quando comparado a sistemas convencionais de cultivo.

Quanto às políticas públicas nacionais, com o lançamento do Plano ABC em 2010, destacou-se a importância de implementação e monitoramento de práticas de mitigação das emissões pela agropecuária nacional. Incorporado ao Plano Safra, a linha de crédito do Programa ABC financia a adoção de práticas de baixas emissões de carbono como a recuperação de pastagens degradadas e a integração lavoura-pecuária-floresta. Contudo, atualmente menos de 1,6% do orçamento do Plano Safra é destinado ao Programa ABC, mostrando um descompasso entre as metas brasileiras apresentadas em Paris e o real investimento em baixas emissões no setor.

Estas e outras análises são apresentadas ao longo deste relatório, evidenciando tanto as lacunas existentes nas cadeias produtivas quanto às oportunidades para reduzir as emissões e aumentar o sequestro de carbono. As ações de eficiência de produção e eliminação dos solos degradados são urgentes e precisam ser implementadas em curto prazo e larga escala para que o aquecimento global seja freado. Para viabilizar estas ações é fundamental que as políticas agropecuárias apoiem o setor produtivo a melhorar sua rentabilidade e reduzir sua pegada. Para isto, atributos de baixas emissões devem estar presentes em todo Plano Safra e a transferência de tecnologia precisa acontecer de forma massiva e acessível a todos os perfis de produtores rurais.

SUMÁRIO EXECUTIVO

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O Brasil já sofre os impactos das mudanças climáticas e atualmente é mais vulnerável a eventos naturais de maior intensidade. Essa foi uma das conclusões do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) em 2013, que relataram que o Brasil foi um dos países onde houve maior aumento da temperatura na região costeira (cerca de 2,5o) entre 1901 a 2012 (SAE, 2014).

De acordo com a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE), os efeitos do aquecimento global são um problema de agenda de desenvolvimento comum em decisões de investimento público e requerem uma estratégia de alocação de recursos em diferentes ações e compatível com as necessidades do momento.

Em 2015 o Observatório do Clima (OC) lançou a terceira versão da Plataforma SEEG que disponibiliza o resultado das estimativas de emissões de GEE brasileiras, baseada na metodologia utilizada no Inventário Brasileiro de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa e nas diretrizes do IPCC. Essas estimativas apresentam as emissões de GEE, calculadas a nível estadual, para o período entre 1970 a 2014 para cinco setores da economia: Agropecuária, Energia, Mudança de uso do solo, Indústria e Resíduos.

Essa abordagem possibilita visualizar a contribuição de cada um desses setores nas emissões de GEE brasileiras, suas tendências históricas e regionais e assim, pode orientar a elaboração e revisão de políticas públicas e planos setoriais específicos.

Os resultados dessa terceira versão da Plataforma SEEG mostram que o Brasil emitiu cerca de 1.5 bilhão de toneladas (1500 Mt) de CO2e em 2014, do qual apenas o setor da agropecuária contribuiu diretamente com cerca de 30% (423 MtCO2e)

(SEEG, 2014). As emissões causadas diretamente pela agropecuária especificamente, se referem a: produção animal e vegetal, uso de fertilizantes nitrogenados na agricultura, disposição de dejetos animais, decomposição de resíduos culturais e cultivo de organossolos.

Entretanto, a agricultura chega a ser responsável por quase 60% das emissões brasileiras quando as emissões relacionadas indiretamente com a produção agropecuária são contabilizadas são elas: emissões provenientes do desmatamento dos ecossistemas naturais para expansão agrícola, do uso de combustíveis fósseis na agricultura e do tratamento de efluentes industriais (SEEG, 2014).Por outro lado, a agropecuária brasileira apresenta grande potencial em reduzir suas emissões de GEE através de inúmeras opções de práticas de mitigação principalmente aquelas relacionadas ao aumento da eficiência de uso das pastagens no Brasil. Contudo, para que as tecnologias de mitigação e aumento do sequestro de carbono cheguem ao produtor é necessário que políticas públicas promovam a implementação dessas práticas em larga escala, conciliando a conservação dos recursos naturais ao aumento da eficiência da produção agrícola para suprir a demanda global por alimentos.

Nesse sentido, com intuito de subsidiar e aumentar a capacidade de tomada de decisão quanto a esse desafio e transformar o problema em oportunidade, o IMAFLORA analisou as emissões de gases de efeito estufa (GEE) no setor agropecuário brasileiro a partir das estimativas da Plataforma do Sistema de Estimativa de Emissões de GEE (SEEG), lançada em 2013, e fez uma análise do impacto das políticas públicas e dos planos setoriais nas emissões desse setor. Este trabalho também traz recomendações de ações governamentais para uma agropecuária de baixo carbono e de melhorias das estimativas de emissões de GEE.

1. INTRODUÇÃO

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1991

1992

1993

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Segundo as estimativas do SEEG, as emissões de GEE brasileiras vêm crescendo continuamente desde 1970 e totalizam cerca de 1500 Mt CO2e no ano de 2014, das quais a agropecuária foi responsável por cerca de 30% deste total (SEEG, 2014). Ao transformar as emissões desses GEE em uma unidade comum, o CO2 equivalente (CO2e), é possível notar que as emissões diretas do

Entretanto, é importante lembrar que existem emissões que são relacionadas indiretamente com a produção agropecuária e que estão contabilizadas em outros setores devido à metodologia do IPCC, sendo elas: emissões por desmatamento dos ecossistemas naturais para expansão agrícola (Mudança do Uso da Terra), emissões provenientes do uso de combustíveis fósseis na agricultura

setor agropecuário cresceram cerca de 160% desde 1970, alcançando 423 Mt CO2e em 2014 (Figura 1). Contudo, vale lembrar que nas últimas décadas esse aumento de emissões também foi acompanhado por um aumento de produção agropecuária maior que 150% (Sidra-IBGE).

(Energia) e emissões resultantes do tratamento de efluentes industriais (Resíduos) (Figura 2). Essas emissões indiretas não estão computadas nestes 30%, mas ao ser adicionadas, a agricultura chega a ser responsável por quase 60% das emissões brasileiras. Esses números potencialmente mantem o Brasil entre os 10 maiores países emissores de GEE (Figura 3) (SEEG, 2014).

1.1AS EMISSÕES DE GEE NA AGROPECUÁRIA BRASILEIRA ENTRE 1970-2014

Evolução das emissões brutas de CO2e pela Agropecuária no Brasil

Emissões diretas e indiretas provenientes da Agropecuária brasileira em 2014

Top 10 emissões de GEE do mundoFIGURA 1

FIGURA 2

FIGURA 3

Fonte: WRI - http://bit.ly/11SMpjA

161206

240 256287 317 328

392 406 423

46%

50%

2%

2%

Emissões Totaisda Agropecuária

924 Mt CO2e

Emissões Diretas423 Mt CO2e

Agricultura e Pecuária423 Mt CO2e

Mudança de Uso da Terra466 Mt CO2e

Energia na Agricultura19 Mt CO2e

Resíduos Agroindustriais16 Mt CO2e

Emissões Indiretas501 Mt CO2e

China Índia BrasilEUA Rússia JapãoUnião Européia

Indonésia Canadá México

Emissões de GEE totais excluindo MUT Emissões de GEE totais incluindo MUT

1110

Ranking das emissões de GEE mundiais pela agropecuária em 2011

Emissões de CO2e por subsetor da agropecuária brasileira

Emissões da agropecuária brasileira (423 Mt CO2e) por subsetores e fontes emissoras em 2014

FIGURA 6

FIGURA 4

FIGURA 5

Fonte: WRI - http://cait2.wri.org

Dentre os setores da agropecuária, as emissões por fermentação entérica do rebanho de ruminantes (predominantemente bovinos de corte) é a causa da maior fatia de emissões de GEE do setor. Em segundo lugar vêm as emissões resultantes das atividades em solos agrícolas (que inclui os fertilizantes sintéticos, o adubo de

Se as emissões forem divididas por subsetores da agricultura e pecuária, nota-se que 84% das emissões do setor são provenientes da produção animal (76% provenientes da bovinocultura de corte e leite), aproximadamente 7% da produção vegetal, 8% da aplicação de fertilizantes

origem animal, os dejetos animais depositados em pastagem, os cultivos de solos orgânicos e os restos de culturas agrícolas). Posteriormente vêm as emissões do manejo de dejetos de animais, as emissões provenientes do cultivo de arroz irrigado e da queima de resíduos agrícolas, como a cana-de-açúcar (Figura 4).

nitrogenados e os 2% restantes de outras fontes (Figura 5). Segundo o World Resources Institute (WRI), estes números levam o Brasil a ocupar o 2° lugar no ranking das emissões em atividades agropecuárias do mundo (Figura 6).

1970

1971

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Emis

são

de G

EE (M

t CO 2e

q)

450

375

300

225

150

75

0

Solos Agrícolas

Queima de Resíduos Agrícolas

Manejo de Dejetos Animais

Fermentação Entérica

Cultivo de Arroz

2o Brasil9,9%

4o EUA7,8%

3o UE8,2%

1o China11,7%

236MtCO2e

150MtCO2e

17MtCO2e

5MtCO2e

10MtCO2e

267MtCO2e

50MtCO2e

10MtCO2e

9MtCO2e

15MtCO2e

31MtCO2e

5MtCO2e

15MtCO2e

5MtCO2e

10MtCO2e

Bovinosde corte

FermentaçãoEntérica

SolosAgrícolas

Manejo deDejetos

Queima deResíduos

Cultivo deArroz

Bovinosde leite

Suínos

Aves

Outrosanimais

Fertilizantes

SolosOrgânicos

Resíduosagrícolas

Cana

Arroz

57% 64%

12%

2%

2%

4%

8%

1%

4%

1%

2%

36%

4%

1%

2%

1312

Historicamente as emissões de GEE pela agropecuária brasileira eram majoritariamente provenientes dos estados do Sudeste e Sul do país, em especial do estado de Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Entretanto, a expansão agrícola para a região Centro-Oeste a partir da década de 1970 gradativamente aumentou a contribuição dessa região nas emissões de GEE brasileiras, tornando o Mato Grosso o maior emissor nacional

em 2014. Assim, ao longo dos últimos 40 anos tem havido uma constante reconfiguração das principais regiões emissoras de GEE ao longo do território nacional, acompanhando a expansão da atividade agropecuária no Brasil. A fronteira agrícola caminha em direção ao Bioma Amazônico e os estados do norte do Brasil aumentam rapidamente sua participação nas emissões agropecuárias nos últimos anos.

Emissões totais na agropecuária (Mil t CO2e) e a evolução do rebanho bovino (Mil cabeças) e das principais culturas agrícolas (Mil t) entre 1970 e 2014.

FIGURA 7

A agropecuária brasileira emitiu entre 1970 e 2014 cerca de 13.395 MtCO2e (emissão acumulada). Somente os estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Goiás, São Paulo, Mato Grosso do Sul e

Mato Grosso respondem por cerca de 60% destas emissões durante o período. Essas emissões foram e têm sido predominantemente derivadas da pecuária de corte (Figura 8).

1.2A CONTRIBUIÇÃODOS ESTADOS NASEMISSÕES SETORAGROPECUÁRIO

Emissões históricas estaduais pela agropecuária brasileira (1970-2014) e a participação da pecuária de corteFIGURA 8

O crescimento das emissões na agropecuária nas ultimas décadas, principalmente no período entre 1990 e 2014 acompanha o aumento da produção agrícola, principalmente das principais commodities brasileiras: soja, milho e carne (Figura 7). Até a safra de 2024/25 as projeções do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2015) mostram

que o Brasil irá abastecer mais de 200 milhões de brasileiros e gerar excedentes exportáveis para algo em torno de 20 países. Se este avanço na produção não adotar técnicas de baixas emissões de GEE e alto sequestro de carbono, a tendência será a de aumentar as emissões nacionais e agravar o processo de mudanças no clima.

39+13+13+10+9+8+8Outros 39%

MG 13%RS 13%

GO 10%

SP 9%

MS 8%

MT 8%

62% Outros

Participação da Pecuáriade Corte

57% MG

52% RS

74% GO

54% SP

89% MS

86% MT

1970

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1979

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1981

1982

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1987

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1990

1991

1992

1993

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1995

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1997

1998

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2000

2001

2002

2003

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2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

400000

250000

100000

Emissões Totais (Mil t CO2e) Milho (Mil t) Algodão (Mil t)Bovino Total (Mil Cabeças) Mandioca (Mil t) Feijão (Mil t)Soja (Mil t) Arroz (Mil t)

1514

Assim, nota-se que a região Sudeste, uma das primeiras regiões agrícolas brasileiras, é o local que possui a maior emissão acumulada de GEE nacional (soma das emissões anuais de 1970 a 2014). Entretanto, é no Centro-Oeste que as emissões desses gases vêm aumentando. Atualmente o Mato

Em 2014 o Mato Grosso, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso do Sul, Pará e São Paulo foram os estados brasileiros que mais emitiram GEE pela produção agropecuária de forma direta, somando quase 70% das emissões nacionais desse setor. As principais fontes de emissão são a pecuária de corte e o uso de

Grosso lidera o ranking nacional devido ao extenso rebanho e produção de grãos, seguido por Minas Gerais com seu rebanho leiteiro e Rio Grande do Sul com arroz irrigado, com o segundo e terceiro lugares no ranking, respectivamente (Figura 9).

fertilizantes nitrogenados sintéticos em quase todos os estados, porém a produção de soja no Mato Grosso, o cultivo de arroz irrigado no Rio Grande do Sul, a pecuária de leite em Minas Gerais e a produção de cana-de-açúcar em São Paulo também contribuem significativamente em regiões específicas (Figura 10).

Ranking estadual das emissões de GEE pela agropecuária brasileira em 2014 (423 Mt de CO2e)

Participação dos Estados nas emissões diretas de GEE pela agropecuária no Brasil em 2014

FIGURA 9

FIGURA 10

12+11+11+9+8+7+7+6+5+5+3+16MT 12%

MG 11%

RS 11%

GO 9%

MS 8%PA 7%

SP 7%

PR 6%

BA 5%

RO 5%

SC 3%

Outros 16%

0.0-2.0 2.1-4.0 4.1-6.0 6.1-8.0

% na emissão de GEE total em 2014 (423 Mt CO2e)

8.1-10.0 >10

51+27+11+1180+9+4+7

26+45+11+18

Gado de Corte 51%

Outros 26%

Gado de Corte 45%

Gado de Leite 27%Gado de Corte 80%

Outros 9%

FertilizantesSintéticos

11%

Fertilizantes Sintéticos 11%

Resíduos da Soja 4%

Arroz 18%

Outros 11%

Fertilizantes Sintéticos 7%

45+19+10+9+17Gado de Corte 45%

Fertilizantes Sintéticos 19%

Gado de Leite 10%

Cana de Açucar 9%

Outros 17%

MT49 Mt CO2e

MS48 Mt CO2e

SP27 Mt CO2e

RS46 Mt CO2e

1716

É interessante notar que durante os últimos 40 anos os focos de emissão de GEE ao longo do território brasileiro acompanharam a expansão agrícola nacional. Nos anos 70, por exemplo, 60% das emissões de GEE brasileiras estavam concentradas nos estados do Sul e Sudeste, dominados pelas produções de carne e leite nos estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo. À medida que o Brasil expande sua fronteira agrícola, aproximadamente 30% das emissões nacionais foram deslocadas para a região Centro-Oeste, especialmente para o estado do Mato Grosso como mostram os mapas a seguir (Figura 11). Atualmente,

Adicionalmente, com o deslocamento da pecuária para os estados do Centro-Oeste e Norte, parte das pastagens dos estados do Sul e Sudeste deram lugar a culturas agrícolas, como a cana-de-açúcar e milho. Estas culturas aumentaram significativamente a demanda por fertilizantes sintéticos nitrogenados, outra importante fonte de emissão de GEE, que representa 8% das emissões totais brasileiras. Estes estados do Sul e Sudeste emitiram 65% do total das emissões provenientes de fertilizantes no Brasil em 2014.

esse estado é uma das principais fronteiras agrícolas do mundo, concentrando o maior rebanho bovino e a maior produção de soja nacional, produtos que são exportados principalmente para a Europa e Ásia. Mais recentemente, a pressão por novas áreas agrícolas além do Centro-Oeste levou a uma drástica mudança nos padrões de emissão de GEE nos estados do Norte, principalmente Pará, Acre e Rondônia. Nas décadas de 70, os estados da Amazônia contribuíam com menos de 2% das emissões nacionais e atualmente participam com cerca de 9% (Figura 11).

Participação Histórica Estadual na Emissão de GEE Total Brasileira FIGURA 11

As culturas agrícolas por sua vez, deram suporte ao aumento da criação de suínos e aves, principalmente na região Sul do país, o que elevou as emissões pelo manejo de dejetos desses animais em aproximadamente 90% desde 1970. Atualmente essa fonte representa por volta de 4% das emissões nacionais. Nesse mesmo sentido, se destaca o impacto das emissões de GEE pelo cultivo do arroz irrigado no Rio Grande do Sul, somente este estado gera 80% das emissões causadas pelo cultivo do arroz.

O rebanho da pecuária de corte no Brasil cresceu de 82 milhões cabeças em 1970 para 189 milhões em 2014 (IBGE, 2015), mantendo o país em segundo lugar no ranking de maior produtor de carne bovina do mundo e maior exportador mundial. Em 2015 o Valor Bruto da Produção (VBP) de carne foi de R$ 70,4 bilhões (preços médios de novembro de 2014 e janeiro de 2015), atrás apenas do complexo da soja (MAPA, 2015). Adicionalmente, estima-se que a cadeia produtiva da carne bovina movimente cerca de R$ 167,5

1.3O REBANHO BOVINOE AS EMISSÕES: DO MATO GROSSO À AMAZÔNIA

bilhões por ano e gere aproximadamente 7 milhões de empregos (Neves, 2012).

Os bovinos são herbívoros ruminantes que ao fazerem a digestão do alimento liberam grande quantidade de CH4 na atmosfera através de um processo chamado fermentação entérica (MCTI, 2014a). Esse processo, somado a elevada população de animais ruminantes no país, especialmente bovinos de corte, responde por 57% das emissões totais de GEE (CO2e) na agropecuária brasileira.

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Nos anos de 1970 o rebanho era concentrado predominantemente nos estados do Sul e Sudeste, os quais compreendiam cerca de 60% das emissões de GEE por essa fonte nesse período. Entretanto, a

Nos anos de 1990, o rebanho começou a se deslocar predominantemente para o recém-dividido estado do Mato Grosso (acompanhado de elevadas taxas de desmatamento) e, consequentemente, as emissões de GEE por essa fonte atingiram 7% do total emitido

expansão da fronteira agrícola rumo aos estados no bioma amazônico deslocou completamente as emissões de GEE brasileiras (Figura 12).

pelo Brasil. Nos anos 2000 esse padrão se acentuou e ainda houve o drástico aumento das emissões de GEE nos estados da Amazônia Legal, como: Rondônia, Tocantins e, mais intensamente, no Pará (Figura 12).

Participação Histórica das Emissões de GEE da Pecuária de Corte por Estado no Brasil

Crescimento do rebanho de bovino de corte nacional nos estados do Mato Grosso e da Amazônia Legal* (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) de 1970 a 2014.

FIGURA 12

FIGURA 13

As projeções do agronegócio apresentadas pelo MAPA mostram que nos anos de 2024/2025 a expectativa é de que a produção de carne bovina cresça em torno de 2% ao ano. Já as projeções do Outlook Fiesp preveem um aumento de 11% do rebanho em 2023. Desta forma, com os atuais níveis de produtividade, o Brasil alcançará mais de 200 milhões de cabeças de gado em 2025. Assim,

caso não ocorra um aumento na eficiência e na intensificação da produção em áreas já ocupadas por pecuária, a tendência é que o rebanho adicional seja alocado nos estados do Bioma Amazônico (Figura 13), o que pode acentuar o desmatamento nessa região assim como o crescimento das emissões nacionais, agravando ainda mais a contribuição do setor para as emissões brasileiras.

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Segundo relatórios do Observatório do ABC (http://www.observatorioabc.com.br), para se aumentar o rebanho brasileiro com uma perspectiva de baixas emissões de carbono é fundamental buscar maior eficiência no balanço final de GEE. A pecuária atualmente praticada no Brasil se dá de forma extensiva e com baixa adoção de tecnologias, o que leva em muitos casos a sistemas ineficientes, que favorecem a degradação das pastagens e conduzem ao abate dos animais tardiamente (cerca de 4 anos). Da mesma forma, a medida que a produtividade da pastagem se reduz há estímulo

ao desmatamento para abertura de novas áreas em busca de solos mais férteis e capazes de suportar o rebanho e seu crescimento.

Estima-se que atualmente são explorados apenas 33% da capacidade produtiva das pastagens brasileiras, mas se essa taxa subisse para 50%, haveria um aumento da produção de carne associado à liberação de áreas capazes de suportar a demanda de crescimento de outros sistemas produtivos agrícolas previstos até 2040 e, ainda, a manutenção das atuais áreas nativas (Strassburg et al., 2014).

É importante lembrar que os cálculos de emissões do SEEG seguem as metodologias do IPCC e dos Inventários Brasileiros, utilizando fatores de emissão específicos no caso da pecuária de corte e leite (Tier 2 para fermentação entérica e manejo de dejetos no solo, por exemplo). Contudo, a pecuária trata de um sistema de produção mais complexo, onde muitos dos fatores envolvidos no sistema não são sensíveis a metodologia atualmente utilizada pelo governo como, por exemplo, o sequestro de carbono pelo solo proporcionado por pastagens bem manejadas.

É necessário incluir nas metodologias oficiais todos os componentes que influenciam o sistema de produção calculando assim o balanço de carbono (sequestro-emissões), como por exemplo: o manejo da pastagem, a lotação, a genética animal, a idade de abate, o tipo e a qualidade do pasto, o carbono acumulado no solo, os sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta, entre outros. Isso traria maior precisão para as estimativas e para elaboração de estratégias de mitigação para as diferentes regiões brasileiras.

Tier é uma palavra que expressa a complexidade metodológica para se estimar as emissoes de GEE e é representada por três níveis: 1, 2 e 3. A complexidade e, consequentemente, a precisão do cálculo aumentam com o aumento do Tier. A metodologia Tier 1 permite calcular as emissões de GEE utilizando-se valores de fatores default (padrão) fornecidos pelo IPCC. Contudo, por serem default, esses fatores possuem elevadas incertezas, o que diminui a precisão dos resultados e dificulta o entendimento das emissões de GEE em planos de mitigação, mas permite que qualquer país faça um inventário de emissão a partir de seus dados censitários (ex. número de cabeças de bovinos de corte no país). A medida que o país avança em pesquisas e conhecimento dos processos de emissões de GEE de seus próprios sistemas produtivos, ele não depende mais de fatores default e assim, é considerado que essa país passe a utilizar os níveis metodológicos Tier 2 e 3. Evidentemente, o desenvolvimento de Tiers mais elevados demanda mais recursos temporal e financeiro, por outro lado, permite que o país avalie e planeje com maior clareza e precisão meios de reduzir suas emissões de GEE sem comprometer o sistema de produção.

EMISSÕES E SEQUESTRO: O BALAÇO DE CARBONO NO SISTEMA PRODUTIVO

O QUE É UM TIER?

Responsável por 8% das emissões de GEE na agropecuária em 2014, a contribuição dos fertilizantes nitrogenados sintéticos (como a ureia e o sulfato de amônio) para as mudanças climáticas vem crescendo rapidamente. A figura 14 mostra o consumo desses fertilizantes e as emissões resultantes de sua aplicação ao solo entre 1970 e 2014 no Brasil.

1.4FERTILIZAÇÃONITROGENADA, EMISSÃOE PRODUTIVIDADE

Os relatórios da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA, 1991; 2001; 2015) indicam que o consumo em 1990 era de 780 mil de toneladas de adubo nitrogenado, passando para quase 1,7 milhões em 2000 e chegando ao volume de 3,9 milhões de toneladas em 2014. Isto significa que a cada 10 anos a quantidade de nitrogênio utilizada na agricultura brasileira chega a dobrar,

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O IMAFLORA é parceiro do Programa Novo Campo, uma iniciativa que atua em fazendas de pecuária de corte na região amazônica do estado do Mato Grosso promovendo a gestão integrada da propriedade rural, com a adoção progressiva das Boas Práticas Agropecuárias (BPA) para Gado de Corte da Embrapa e do Guia de Indicadores de Pecuária Sustentável (GIPS) do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS).

Após 2 anos de melhorias nas práticas agropecuárias de propriedades com elevada taxa de degradação de pastagens e baixa capacidade de gestão, o IMAFLORA estima que esse programa proporcionou um aumento da produção de carne em quase 2,5 vezes e reduziu as emissões de GEE em 20% por hectare de pastagem e em 60% por kg de carcaça produzida nesses locais.

Esses resultados são consequência de uma estratégia que tem recuperado até o momento cerca de 10% da área de pastagem das propriedades participantes. Essa proporção representa aproximadamente 500 dos 3500 ha de pastagens degradadas cobertas pelo programa - dos quais 190 ha foram reformados com sistema de Integração Lavoura-Pecuária. Adicionalmente, essa estratégia introduz e aperfeiçoa práticas como o pastejo rotacionado das pastagens, suplementação animal, técnicas de sanidade e reprodução animal e sistemas de gestão para a sustentabilidade.

Pesquisas mostram que cerca da metade do adubo consumido é perdido desde o transporte até a aplicação no campo (Muller et al., 2014). Desta forma aumentando a eficiência do uso do adubo nitrogenado, é possível reduzir tanto os volumes comprados como a aplicação do produto na lavoura, além de manter a produtividade e reduzir as emissões. Algumas das práticas agrícolas que colaboram com a eficiência de aplicação são: uso de fertilizantes menos voláteis, fertilizantes organominerais, aumentar a precisão no momento da aplicação, realizar aplicações localizadas e parceladas, calcular o volume exato de fertilizante necessário para cada tipo de solo, cultura e produtividade esperada, etc.

O POTENCIAL DA PECUÁRIA DE CORTE NA REDUÇÃO DE EMISSÕES

É POSSÍVEL MANTER A PRODUÇÃO AGRÍCOLA E REDUZIR AS EMISSÕES?

Consumo e emissão de N2O de fertilizantes nitrogenados na agricultura brasileira entre 1970 e 2014.FIGURA 14

Emissões de N20 (CO2e) Consumo de Fertilizante Nitrogenado

32,1

3,9

assim como as emissões provocadas pela aplicação deste insumo.

Segundo o site da empresa Heringer, o Brasil está em 4º lugar no ranking dos maiores consumidores de fertilizantes sintéticos, consumindo cerca de 6% da produção mundial (atrás apenas da China, Índia e Estados Unidos). A demanda é tão elevada que a indústria nacional não consegue suprir, sendo necessária a importação desses insumos.

As culturas que mais consomem adubo nitrogenado no Brasil são milho, cana, café, arroz e trigo, sendo que a produtividade por hectare e as áreas de produção destas culturas não param de crescer. Em 1990, por exemplo, eram produzidas 21 milhões de toneladas de milho (cultura exigente em adubação), passando para 32 milhões em 2000 e para 80 milhões em 2014 segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Produção Agrícola Municipal. O estudo do

MAPA mostra que a produção de milho projetada para a safra de 2024/25 será de 93,6 milhões de toneladas, aumentando ainda mais a demanda por fertilizantes sintéticos.

A figura 15 ilustra a estreita relação entre a produção de algumas das principais culturas agrícolas brasileiras e as emissões totais por fertilizantes nitrogenados tanto nos estados tradicionalmente produtores, como o Paraná, quanto em estados localizados em fronteiras agrícolas, como o Mato Grosso, onde a cultura do milho, por exemplo, vem sendo amplamente introduzida em sucessão com a soja.

Apesar de grande parte das culturas agrícolas exigirem adubação nitrogenada, esta análise não pode ser resumida apenas na produção agrícola versus o total de adubo utilizado, pois o incremento em produtividade depende de tecnologias complementares ao fertilizante nitrogenado.

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Produção de milho, algodão e cana-de-açúcar e as emissões de GEE históricas pela aplicação de fertilizantes nitrogenados nos principais estados produtores brasileiros.

FIGURA 15

Nódulos formados nas raízes das leguminosas onde os rizóbios produzem a enzima nitrogenase que incorpora o nitrogênio atmosférico em compostos orgânicos que são utilizados pelas plantas

Fonte: Embrapa - http://www.cpac.embrapa.br/noticias/noticia_completa/357/

FIGURA 16

Outro método que reduz a aplicação de adubo nitrogenado sintético é a fixação biológica do nitrogênio (FBN). Neste caso a associação entre plantas e bactérias permite que o nitrogênio da atmosfera seja disponibilizado para utilização pelas plantas. Através de processos biológicos, a FBN é capaz de disponibilizar o nitrogênio contido no ar (78% da composição atmosférica) em formas assimiláveis as plantas leguminosas (soja e feijão, por exemplo) e gramíneas (como milho, trigo e arroz). Nas leguminosas a FBN ocorre por meio da formação de nódulos em suas raízes que, na maioria dos casos, fornecem todo o nitrogênio necessário ao seu desenvolvimento (Figura 16). Já nas gramíneas, esse processo se dá por bactérias que vivem próximas às suas raízes ou no interior dos tecidos do vegetal, fornecendo parte do nitrogênio que a planta precisa (MAPA, 2012). Estudos da EMBRAPA vêm sendo desenvolvidos sobre FBN em gramíneas, principalmente nas culturas de milho e cana-de-açúcar, o que poderá diminuir as aplicações de fertilizantes sintéticos nestas culturas ou mesmo aumentar suas produtividades sem o aumento do uso deste insumo.

O Plano ABC prevê viabilizar e aumentar a adesão do uso de inoculantes para fixação biológica de nitrogênio (FBN) em 5,5 milhões de hectares com culturas agricolas até 2020. Com isso calcula-se uma potencial redução de emissões de GEE de até 10 milhões de tCO2e devido a diminuição do uso de adubos nitrogenados sintéticos.

O Imaflora estima que se a FBN suprisse a necessidade de nitrogênio das plantações de milho no Brasil, poderia-se reduzir a emissão de 4,3 milhões de tCO2e ao ano, ou seja, 14% das emissões de GEE provenientes da aplicação de adubos nitrogenados sintéticos no Brasil (considerando uma adubação conservadora de apenas 50 kg desse fertilizante por hectare de milho plantado).

A FIXAÇÃO BIOLÓGICA DO NITROGÊNIO E O POTENCIAL DE MITIGAÇÃODAS EMISSÕES DE GEE

Produção de Cana-de-açúcar (Mt)

Emissão de GEE estadualvia festilizantes N (Mt CO2e)

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Produção de Milho (Mt)

Produção de Algodão (Mt)

Emissão de GEE estadualvia festilizantes N (Mt CO2e)

Mato Grosso

São Paulo

Práticas como o melhoramento genético dos cultivares, preparo de solo, adubação com macro e micro nutrientes, manejo integrado de pragas e doenças entre outras técnicas agronômicas são amplamente utilizadas para aumentar a

produtividade agrícola no Brasil. No caso do milho, por exemplo, este conjunto de tecnologias possibilitou passar de uma produtividade de 1.873 kg/ha em 1990 para 5.176 Kg/ ha em 2014 segundo dados do IBGE.

26

O fogo tem sido tradicionalmente utilizado na pré-colheita da cana-de-açúcar para melhorar o rendimento da colheita manual. A queima de resíduos agrícolas emite não somente GEE (CH4 e N2O), mas também precursores desses gases na atmosfera, como o monóxido de carbono (CO) e outros óxidos de nitrogênio (NOX).

Em 2014, essa prática contribuiu somente com 1.1% das emissões nacionais. Contudo, a emissão de GEE para se produzir uma tonelada de cana-de-açúcar era 80% maior a 20 anos atrás (Figura 17). Essa redução nas emissões se deve a proibição da prática de queima definida no Decreto Federal nº 2.661 de 08 de julho de 1998, que determina que a prática da queima da cana-de-açúcar seja eliminada em todo o Brasil até 2021 de forma gradativa em áreas passíveis de mecanização da colheita (cuja declividade seja inferior a 12%) e 2031 para áreas não mecanizáveis.

Entretanto, vale notar que essa tendência tem sido liderada pelo Estado de São Paulo que, em 2007 firmou o Protocolo Agroambiental do

1.5PROIBIÇÃO DA QUEIMADA CANA REDUZIUEMISSÕES EM SÃO PAULO

Estado de São Paulo. Esse acordo antecipou os prazos legais para a eliminação da prática da queima de 2021 para 2014 e de 2031 para 2017. O acordo é voluntário e mais de 170 unidades agroindustriais e 29 associações de fornecedores (que juntos representam mais de 90% da produção paulista) aderiram ao fim da queima.

Segundo dados da Secretaria de Meio Ambiente do Governo do Estado de São Paulo, com base em estudo liderado pela Agrosatélite, mais de 80% da área colhida de cana na safra de 2013/2014 no estado foi feita sem queima. Essa mesma porcentagem foi aplicada a safra 2014/2015. Como consequência, as emissões de GEE nesse estado foram de aproximadamente 1,9 mil t de CO2e por milhões de t de cana-de-açúcar produzida, 70% menor que a média nacional (Figura 17).

Recentemente, a legislação de controle e eliminação da queima de cana vem sendo adotada por outros estados, como por exemplo, Mato Grosso do Sul (Lei 3.367/2007), Minas Gerais (Portaria 147/2007), Goiás (Lei n°

Emissões de GEE provenientes da queima de cana-de-açúcar e a produção dessa cultura no Brasil e no Estado de São Paulo entre 1970 e 2014.

FIGURA 17

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Emissões de GEE - Queima da Palhada - Estado de São Paulo

Emissões de GEE - Queima da Palhada - Brasil

Produção de cana-de-açúcar - Estado de São Paulo

Produção de cana-de-açúcar - Brasil

15.834, 23/11/2006), e em fase de discussão no estado do Paraná e Rio de Janeiro.

As projeções do MAPA indicam que os maiores aumentos de produção de cana-de-açúcar devem ocorrer no Estado de Goiás, embora este ainda seja um estado com produção inferior a São Paulo e Paraná. Entretanto, as emissões provenientes desta atividade tendem a ser eliminadas até 2021, sendo assim possível notar o progresso contínuo da mecanização da colheita de cana verde na maioria dos estados

do Brasil. O decreto que determina o fim da queima e as legislações e acordos estaduais como o Protocolo Agroambiental são exemplos de iniciativas que podem colaborar diretamente com a redução de emissões na agricultura sem afetar o crescimento do agronegócio brasileiro.

Contudo, importantes regiões produtoras como o Nordeste, responsável por aproximadamente 10% da produção brasileira, ainda não tem previsão de elaborar legislações estaduais para regularizar o fim da queima da cana. Nessa

2928

A produção animal gera grande quantidade de dejetos. Um bovino de leite, por exemplo, produz aproximadamente 3,5 kg de dejetos (matéria seca de estrume) por dia, ao passo que um suíno, cerca de 1 kg diariamente. O Imaflora estima que no Brasil haja geração de cerca de 850 kg de dejetos de animais por segundo que podem ser recolhidos para tratamento.

Animais criados de forma confinada tem seus dejetos acumulados em lagoas, charcos e tanques de tratamento que, ao ser decomposto por bactérias metanogênicas sob condições

1.6TRATAMENTO DE DEJETOS ANIMAIS PODE REDUZIR EMISSÕES DO SULE SUDESTE

anaeróbicas, produz grandes quantidades de CH4. Adicionalmente, por conter nitrogênio, esse dejeto ao ser depositado diretamente no solo libera N2O para a atmosfera, também contribuindo para as mudanças climáticas.

Todas as emissões oriundas do manejo de dejetos animais no Brasil representam atualmente cerca de 4% das emissões do setor agropecuário. Entretanto, quando somadas as emissões de GEE pela aplicação desses dejetos ao solo como adubo a contribuição por essa fonte se eleva para 15%.

Na Figura 18 é possível notar que apenas o manejo de dejetos de suínos, bovinos de corte e aves foram responsáveis por quase 90% das emissões deste subsetor no ano de 2014, as

quais estão concentradas nos estados do Sul e Sudeste, os maiores produtores de aves e suínos do país (Figura 18 e 19).

Emissões de GEE (Mt CO2e) provenientes de dejetos animais em 2014

Participação dos principais estados produtores de suínos e aves nas emissões totais de GEE (centro) pelo manejo de dejetos desses animais no Brasil em 2014

FIGURA 18

FIGURA 19

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Suínos 5.0 Mt 28%

Gado de Corte 5.2 Mt 30%

Gado de Leite 1.4 Mt 8%

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RS 17%

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PR 23%

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Dejetos de AvesDejetos de Suínos

região, apenas 30% da área produzida é plana suficiente para adotar a colheita mecanizada (declividade menor que 12%) e assim, segundo a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a mecanização

aumentaria fortemente as taxas de desemprego nessa região, que absorve cerca de 30% de toda mão de obra ocupada por essa produção no Brasil.

3130

De acordo com dados do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação - MCTI (2014a;b), a maioria dos dejetos animais são manejados em esterqueiras e em currais (drylots), sistemas que possuem um dos maiores potenciais em emitir GEE (IPCC, 2006). Sem tratamento adequado, esta concentração de carga orgânica promove um ambiente favorável para que microorganismos decompositores desencadeiem reações que levam à emissão de GEE, principalmente N2O e CH4 em sistemas de manejo de dejetos sólidos e líquidos, respectivamente (Li et al., 2012).

Além disso, vale lembrar que essas técnicas ainda agregam valor agronômico e econômico aos dejetos por torná-los materiais capazes de aumentar a disponibilidade de nutrientes no solo para cultivos agrícolas e, ainda, gerar energia elétrica através do biogás quando adotados biodigestores, colaborando assim com a minimização dos efeitos da crise hídrica.

Apenas uma pequena parcela dos dejetos de animais no Brasil são manejados sob sistemas capazes de mitigar essas emissões, como a compostagem, a separação de sólidos e/ou a biodigestão anaeróbia (Figura 20). Estudos mostram que esses sistemas emitem cerca de 40% a menos GEE que sistemas que apenas estocam os dejetos em montes ou esterqueiras antes de serem adicionados ao campo (Costa Junior et al., 2015; Amon et al., 2006; Hou et al., 2014).

De acordo com dados do MCTI (2014a,b), é possível notar que pouco esforço tem sido feito na adoção desses sistemas ao longo dos últimos anos. Estima-se que pelo menos 40% dos animais mantidos de forma confinada no Brasil poderiam ser incluídos em projetos de manejos de dejetos que levem a mitigação das emissões de GEE (Figura 20), os quais teriam potencial de reduzir pela metade as emissões atuais por esse subsetor da agropecuária.

Sistema de manejo de dejetos das principais categorias animais no Brasil e o número de animais com potencial de inclusão em projetos de mitigação de GEE via manejo de dejetos

FIGURA 20

Fonte: Costa Junior et al., 2013; Costa Junior, 2015; MCTI, 2014a,b

No Brasil o arroz é produzido em áreas inundadas (arroz irrigado) e em áreas secas (arroz de sequeiro), sendo que a maior parte da produção ocorre no Rio Grande do Sul, onde predomina o arroz irrigado e concentra cerca de 70% da produção atual. Outros estados com produção expressiva e sua participação relativa na produção nacional são Santa Catarina (9%), Maranhão (5%), Tocantins (5%) e Mato Grosso (4%). O arroz

1.7O ARROZ IRRIGADONO RIO GRANDE DO SULE AS ESTRATÉGIAS DE MITIGAÇÃO

cultivado em campos inundados ou em áreas de várzea emite CH4 devido à decomposição anaeróbia de matéria orgânica presente na água. Atualmente, esse cultivo compreende 2,3% das emissões de GEE nacionais (10,0 MtCO2e). A figura 21 mostra a concentração das emissões pelo cultivo do arroz irrigado nas principais regiões brasileiras em 2014.

88+12 14+1+21+3+3+5820+1+7+7251+33+7+9

Lagoa Anaeróbica

0,3%

Outros51%

Pastagem88,1%

Esterqueira33%

Vacas23 milhões

Suínos37 milhões

Animais com potencial de reduziras emissões de GEE

Vacas1.3 milhão

Suínos21.5 milhões

Aves1.1 bilhão

Bovinos3 milhões

Bovinos* 37 milhões

*Bovino de Corte - Confinamento

Aves1.2 bilhões

Biodigestor0,1%

LagoaAnaeróbia

7%

Outros11,5%

Dry Lot58%

Esterqueira14%

Biodigestor1%

Outros21%

Pastagem3%

Compostagem20%

Biodigestor1%

Deixado no Curral7%

Montes72%

Lagoa Anaeróbica3%

Biodigestor9%

3332

A produção de carne de frango, bovina e suína no Brasil tem um crescimento projetado que varia de 1,9 a 3,9% ao ano, o que significa que a produção total de carnes passará de mais de 26,5 milhões de toneladas em 2013 para cerca de 40 milhões em 2025 (MAPA, 2015). Estas projeções podem levar ao aumento proporcional de emissões se o metano e óxido nitroso emitido pelos dejetos desses animais não for utilizado. Atualmente existem tecnologias acessíveis ao produtor como biodigestores e composteiras, por exemplo.

Os biodigestores são construídos junto a estrutura de confinamento dos animais para armazenar os dejetos e produzir biogás a partir da fermentação destes dejetos. O biodigestor pode ser ligado a um gerador e/ou “queimador”, produzindo assim energia elétrica e calor. Assim, por impedir que os dejetos se decomponham ao ar livre as emissões de GEE são evitadas. Além disso, o processo tem como subproduto o biofertilizante, que pode ser utilizado como adubo nas pastagens e lavouras. Dependendo da quantidade de dejetos gerada, o empreendimento rural pode se tornar autossustentável em energia e adubo.

No Brasil já foram desenvolvidos 38 projetos de MDL (mecanismos de desenvolvimento limpo) para suinocultura. Estes projetos promovem a redução de emissões de GEE pela adoção de biodigestores e assim geram créditos de carbono que podem ser vendidos.

Apesar dos benefícios, cerca de 1% dos bovinos de corte (sob confinamento), de leite e suínos e 6% das aves no Brasil possuem seus dejetos tratados por biodigestores. A falta de assistência técnica, alto investimento de implementação e o baixo retorno financeiro (devido ao valor da eletricidade em propriedades rurais ser baixo) apresentam-se como uma das principais barreiras para adoção dessa tecnologia. Uma alternativa para minimização dos custos de implementação seria a criação de grupos de produtores para formar “condomínios de agroenergia”. Isto facilita a manutenção destes centros de tratamento de dejetos e promove a produção contínua de gás.

Uma alternativa ao biodigestor é a composteira mecanizada onde o tratamento do dejeto deixa de ser líquido e o espaço necessário para sua construção chega a ser ¼ do necessário para a instalação do sistema de biodigestor. Esse processo, além de ser uma vantagem para os produtores, por gerar um material organicamente estabilizado e de alto valor agronômico que pode reduzir em cerca de 40% as emissões de GEE pelos dejetos (Hou et al., 2014; Amon, et al., 2006).

POTENCIAL DE MITIGAÇÃO NO USO DE DEJETOS ANIMAIS -BIODIGESTORES E COMPOSTEIRAS

(continua na próxima página)

Emissões de GEE (Mt) do cultivo de arroz irrigado nas cindo regiões brasileiras e no Estado do Rio Grande do Sul (RS) em 2014.

FIGURA 21

Apesar de maior emissor, é interessante notar que o Estado do Rio Grande do Sul tem mostrado esforços em entender melhor o impacto de seus sistemas nessas emissões e já conta com fatores de emissão (FE) específicos (MCTI, 2014c). Os demais estados ainda precisam utilizar fatores de emissão fornecidos pelo IPCC, os quais foram obtidos a partir de pesquisas desenvolvidas em outros países e possivelmente não são adequados as condições nacionais.

Os FE específicos desenvolvidos para o cultivo de arroz irrigado no Rio Grande do Sul dizem respeito aos sistemas de preparo do solo convencional e antecipado. Os FE para esses preparos do solo são 39% e 6% maiores que os fornecidos pelo IPCC (2006), respectivamente. Entretanto, tem-se maior precisão na definição das mudanças necessárias nos sistemas de manejo para reduzir as emissões. Além disso, esses dados sugerem que os FE fornecidos pelo IPCC (2006) podem estar subestimando as emissões de CH4 por esse cultivo em outros estados no Brasil.

O preparo do solo antecipado é uma estratégia recomendada basicamente para se evitar atrasos no plantio e diminuir riscos de perda de produtividade. Dessa maneira, assim que se termina de colher uma safra, os produtores iniciam a preparação do solo pra a safra seguinte, sendo mais um exemplo de mudança de prática que combinou redução das emissões com aumento de produtividade. Contudo, é importante notar que esse cenário só foi atingido devido ao trabalho e coordenação entre pesquisas e assistência técnica ao produtor rural e que, portanto, serve de exemplo a ser replicado em todo o Brasil.

O preparo do solo convencional, que emite cerca de 30% mais CH4 por metro quadrado de várzea que o preparo antecipado, compreendia mais da metade das áreas de produção entre as décadas de 1970 e 2000 (Figura 22). Entretanto, o sistema de preparo antecipado vem sendo mais amplamente adotado e atualmente representa cerca de 70% das áreas de produção do Rio Grande do Sul.

1+2+6+1+79+11RS 7.7 Mt 79%

Sul 8.8 Mt 90% Sudeste 0.1 Mt 1%

Nordeste 0.2 Mt 2%

Centro-Oeste 0.6 Mt 6%

Norte 0.1 Mt 1%

35

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

30,0

31,7

41,7

POTENCIAL DE MITIGAÇÃO NO USO DE DEJETOS ANIMAIS -BIODIGESTORES E COMPOSTEIRAS

CULTIVO DE ARROZ IRRIGADO: CONVENCIONAL OU ANTECIPADO?

Nesse sentido, o Plano ABC (Mapa, 2010) possui um sobprograma que se refere ao tratamento de dejetos animais, que estimula à adoção destas tecnologias interligadas a produção animal. Entretanto, a obtenção de crédito para esse fim é a mais baixo dentre as linhas contempladas pelo Plano (Observatório do ABC, 2013). Assim, com o atraso na implementação de tais tecnologias o Brasil tem perdido a chance de reduzir as emissões de GEE pelo uso dos dejetos de animais nos biodigestores, na substituição da dubação sintética pela orgânica e na produção de energia através do biogás.

A contribuição do arroz irrigado para as emissões na agropecuária brasileira é de apenas 2%, porém o MAPA projeta um decréscimo na área dessa cultura. Apesar de este volume representar apenas 0,2% no aumento das emissões totais do setor agropecuário brasileiro em 2014, muita atenção deve ser dada para as áreas de cultivo no Brasil para que respeitem áreas de Preservação Permanente (APPs) como várzeas ou áreas alagadas naturalmente.

Quase todos os anos o arroz é um dos principais produtos agrícolas importados pelo Brasil, principalmente do Paraguai, Uruguai e da Argentina. As importações brasileiras são resultantes de um excesso de demanda doméstica pelo cereal. Segundo o site da Embrapa - Clima Temperado, o Brasil atualmente encontra-se entre os dez maiores importadores de arroz, absorvendo cerca de 5% do volume das exportações mundiais. Para atender a esta demanda nacional e ao mesmo tempo produzir dentro dos princípios da agricultura de baixo carbono, devem ser priorizadas áreas de sequeiro ou adotando boas praticas na produção irrigada como o cultivo antecipado praticado no Rio Grande do Sul.

(continuação do texto da página anterior)

Tipos de preparo do solo para cultivo do arroz irrigado e seus respectivos fatores de emissão de CH4 para o estado do Rio Grande do Sul

FIGURA 22

Apesar da substituição gradativa, o estado do Rio Grande do Sul ainda tem potencial para reduzir as emissões nacionais por essa fonte em cerca de 20% caso todo o estado venha a adotar o sistema de cultivo antecipado na

área que ainda está sob preparo convencional (Figura 22). Portanto o estímulo a adoção de tal sistema deve favorecer não só os produtores no Rio Grande do Sul mas todo o território nacional.

82+14+444+43+13

82+14+468+25+7

1970

2000

1990

2014

82%

43% 25%

13% 7%

44% 68%

82%

14% 14%

4% 4%

Preparo Convencional

Preparo Antecipado

Outros

Outros (IPCC)

Emissão de CH4 por m2 de cultivo de arroz em várzea no RS

Preparo Antecipado

Preparo Convencional

37

Através do SEEG é possível entender como as emissões de GEE da agropecuária se comportaram em cada estado brasileiro desde 1970 até 2014. Essas informações históricas somadas às análises feitas neste relatório auxiliam na compreensão da trajetória das emissões futuras, ajudam a estimar o potencial de mitigação e sua relação com as políticas agrícolas e mostram o alcance das metas e compromissos assumidos pelo Brasil.

Para entender com maior precisão esta trajetória das emissões brasileiras no setor agropecuário,

foram analisadas as principais políticas e planos agrícolas que impactam diretamente no desenvolvimento do setor e consequentemente nas emissões, sendo elas:

• Plano Nacional sobre Mudança do Clima

• Política Nacional sobre Mudança do Clima

• Plano de Agricultura de Baixo Carbono

• Acordo de Paris e Contribuição Nacionalmente Determinada Brasileira (INDC)

2. TRAJETÓRIA, METASE COMPROMISSOS

Durante a 15ª COP, o governo brasileiro oficializou um compromisso junto à Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima de reduzir suas emissões de GEE entre 36,1% e 38,9% das emissões projetadas até 2020 (3.236 milhões t CO2eq) em relação ao ano base de 1990. Este compromisso é a base para o Plano Nacional sobre Mudança do Clima ou Plano Clima, o qual tem por objetivo incentivar o desenvolvimento e aprimorar ações de mitigação no Brasil, colaborando com o esforço mundial de redução das emissões de GEE,

2.1PLANO NACIONAL SOBRE MUDANÇA DO CLIMA(PLANO CLIMA)

bem como preparar o país para adaptar-se aos impactos das mudanças climáticas.

Vale ressaltar que esse compromisso é voluntário, uma vez que o Brasil não faz parte dos países do Anexo I do Protocolo de Kyoto (os quais são países desenvolvidos e que ratificaram o protocolo tendo o compromisso de diminuir suas emissões de GEE até 2012 numa média de 5,2% em relação aos níveis que emitiam em 1990).

39

O Plano Clima é interministerial e conta com a contribuição dos estados e municípios para ser executado, sendo estruturado em quatro frentes de ação: oportunidades de mitigação; impactos, vulnerabilidades e adaptação; pesquisa e desenvolvimento; e educação, capacitação e comunicação (Brasil, 2008). Para alcançar suas metas, o Plano Clima estabelece os seguintes objetivos específicos:

I. Identificar, planejar e coordenar as ações para mitigar as emissões de gases de efeito estufa geradas no Brasil, bem como àquelas necessárias à adaptação da sociedade aos impactos que ocorram devido à mudança do clima;

II. Fomentar aumentos de eficiência no desempenho dos setores da economia na busca constante do alcance das melhores práticas;

III. Buscar manter elevada a participação de energia renovável na matriz elétrica, preservando posição de destaque que o Brasil sempre ocupou no cenário internacional;

IV. Fomentar o aumento sustentável da participação de biocombustíveis na matriz de transportes nacional e, ainda, atuar com vistas à estruturação de um mercado internacional de biocombustíveis sustentáveis;

V. Buscar a redução sustentada das taxas de desmatamento, em sua média quinquenal, em todos os biomas brasileiros, até que se atinja o desmatamento ilegal zero;

VI. Eliminar a perda líquida da área de cobertura florestal no Brasil, até 2015;

VII. Fortalecer ações intersetoriais voltadas para redução das vulnerabilidades das populações;

VIII. Procurar identificar os impactos ambientais decorrentes da mudança do clima e fomentar o desenvolvimento de pesquisas científicas para que se possa traçar uma estratégia que minimize os custos sócio-econômicos de adaptação do País.

O Decreto nº 7.390/2010 também prevê a elaboração de Planos Setoriais com a inclusão de ações, indicadores e metas específicas de redução de emissões e mecanismos para a verificação do seu cumprimento para guiar cada setor: Agropecuária, Energia, Processos Industriais, Tratamento de Residuos e Uso da Terra e Florestas. Estes Planos Setorias são chamados de NAMAs (Ações de Mitigação Nacionalmente Apropriadas) e foram definidos para colocar em prática as metas de mitigação e adaptação de cada setor.

Especificamente para agropecuária foi elaborado o Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC) que define ações de mitigação e adaptação para o setor até o ano de 2020.

Em 2009 foi instituída a Política Nacional sobre Mudança do Clima – PNMC que oficializa o compromisso voluntário assumido pelo Brasil e o Decreto nº 7.390 que regulamenta a PNMC. A

2.2POLÍTICA NACIONAL SOBRE MUDANÇA DO CLIMA (PNMC)

tabela a seguir descreve as ações de mitigação relacionadas aos setores da agropecuária e mudança de uso do solo e as metas de redução de emissões definidas no decreto (Brasil, 2010).

Adicionalmente, de acordo com o decreto nº 7390/2010, as revisões do Plano Clima e dos planos setoriais deveriam ocorrer previamente à elaboração dos Planos Plurianuais (instrumento de planejamento governamental de médio prazo, previsto no artigo 165 da Constituição Federal) em períodos regulares não superiores a dois anos. Entretanto, o Plano Clima de 2008 nunca foi revisado, sofrendo apenas um processo de atualização em 2013 (MMA, 2013). De forma geral, nota-se o atraso nas revisões e atualizações dos planos, refletindo o baixo interesse do governo relativo ao tema. No que se refere à atualização do Plano ABC, também não foi observado nenhum avanço na revisão das metas, nas práticas de mitigação ou nas questões de monitoramento.

Ações mitigação descritas no Decreto nº 7.390 da PNMCTABELA 1

O BRASIL IRÁ ATINGIR A META DA PNMC?

As metas de redução das emissões de GEE da PNMC deverão ser atingidas até 2020, portanto em um curto espaço de tempo. Conforme a tabela 1 acima se pode notar que 80% do total da meta brasileira de redução (mais de 1.000 Gt de CO2

eq) são de responsabilidade dos setores florestal e agropecuário. Para atingir esta meta, os Planos Setoriais de Mitigação e Adaptação deverão acelerar a implementação de suas ações, além de integrar a redução do desmatamento em todos os biomas com a intensificação da agropecuária em áreas já abertas.

Reduzir em 80% a taxa de desmatamentona Amazônia Legal e em 40% no Cerrado

Adotar intensivamente práticas sustentáveisna agricultura

Ampliar a eficiência energética

Total de redução nacional previsto que envolvedireta ou indiretamente a Agropecuária

669 milhões

Entre 133 e 166 milhões

Entre 174 e 217 milhões

Entre 976 e 1.052 milhões

Ações de Mitigação relacionadasà agricultura e floresta

Amplitude da redução de emissõesde GEE para 2020 em tCO2e

4140

O objetivo geral do Plano ABC é incentivar a melhor utilização de áreas já desmatadas em bases sustentáveis, aumentando a produtividade e diminuindo as pressões sobre florestas remanescentes (MAPA, 2012).

Esse plano contempla inovações tecnológicas no manejo de pastagens, em sistemas agroflorestais, na recuperação de áreas degradadas e no aumento da fixação de carbono no solo, entre outros. Sua abrangência é nacional e o período de vigência é de 2010 a 2020. Estima-se que serão necessários quase R$ 200 bilhões para que suas ações sejam implementadas até 2020.

Segundo o decreto regulamentador da PNMC (Brasil, 2009), as projeções indicam que as emissões de GEE do setor de Agropecuária serão de aproximadamente 730 milhões de tCO2e sob um crescimento do PIB de 5% ao ano. Esse mesmo decreto indica que apenas a agricultura e a pecuária teriam a capacidade de reduzir suas emissões entre 144 e 173 milhões de tCO2e caso as metas estipuladas pelos sete subprogramas do Plano ABC sejam seguidas (Tabela 2).

2.3PLANO DE AGRICULTURADE BAIXO CARBONO(PLANO ABC)

Apesar dessas projeções provavelmente não se concretizarem em função do PIB do país não ter seguido o ritmo assumido (IBGE, 2015), a magnitude de mitigação do Plano ABC ainda é relevante. Estimativas realizadas pelo IMAFLORA que consideram a nova conjuntura econômica do país indicam que as emissões de GEE da agropecuária brasileira serão de 460 milhões de tCO2e em 2020 (40% menor do que o estimado pela PNMC), o que resulta, na verdade, em um maior potencial de mitigação do Plano ABC. Assim, frente as atuais condições econômicas do Brasil, as projeções elaboradas pelo governo brasileiro deveriam ser revistas e atualizadas.

Além dos subprogramas, o Plano ABC define uma série de estratégias de mitigação que deverão ser realizadas para que as metas previstas sejam atingidas, são elas: assistência técnica; capacitação de produtores e técnicos; campanhas de divulgação, pesquisa e desenvolvimento tecnológico; disponibilização de insumos básicos e inoculantes; fomento a viveiros e redes de coletas de sementes; regularização fundiária e ambiental; e ações junto aos segmentos de insumos,

Subprogramas do Plano ABC e potencial de mitigação por redução de emissão de GEE (MAPA, 2010).TABELA 2

* Este total inclui o potencial de captura resultante da implantação de florestas. O plantio de florestas e a recuperação de áreas degradadas (ecossistemas naturais) alteram o total de redução prevista devido ao crescimento vegetativo e capturando, portanto carbono.

produtos e serviços. Além dessas estratégias, o Plano ABC prevê ações de adaptação às mudanças climáticas que ainda estão em aberto e deverão ser estabelecidas. Estão previstos também crédito agrícola específicos para essa tecnologias (Programa ABC), os mecanismos para o monitoramento do plano, as ações transversais e as necessidades de fontes de financiamento.

Adicionalmente, o Plano ABC considera a interação com os demais planos setoriais para otimizar os custos de implementação e evitar a dupla contabilização da redução das emissões de GEE. Com relação à redução do desmatamento, o Plano ABC prevê ações que contribuirão

com a redução do desmatamento através da intensificação agropecuária, da recuperação de pastagens degradadas e da adoção de sistemas de ILPF e SAFs. O aumento da produção agrícola proposto no Plano ABC não deverá comprometer o desmatamento de ecossistemas naturais e assim se manter alinhado a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) e Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado (PPCerrado).

Além disso, o Plano ABC também prevê a interface com outras ações do governo federal como, por exemplo, o Programa Mais Ambiente, a Operação

Recuperação de pastagens degradadas. Subsídios para manejo e adubação. Base de cálculo foi de 3,79 Mg de CO2e ha-1ano-1.

40 milhões de ha 15 milhões de ha83 a 104 milhões

de t CO2 eq

18 a 22 milhões de t CO2 eq

16 a 20 milhões de t CO2 eq

10 milhões det CO2 eq

10 milhões det CO2 eq

(POTENCIAL DE CAPTURA)

6,9 milhões det CO2 eq

Integração Lavoura-pecuária-floresta (ILPF) Adoção de sistemas pecuários integrados com agricultura e/ou floresta, incluindo sistemas agroflorestais (SAFs). Base de cálculo foi de 3,79 Mg de CO2e ha-1ano-1.

2 milhões de ha 4 milhões de ha

Sistema Plantio Direto (SPD) Implementação de SPD. Base de cálculo foi de 1,83 Mg de CO2e ha-1ano-1.

25 milhões de ha 8 milhões de ha

Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) Adoção de sistemas com plantio de leguminosas.Base de cálculo foi de 1,83 Mg de CO2e ha-1ano-1.

11 milhões de ha 5,5 milhões de ha

Florestas Plantadas Plantio comercial de árvores. Não está computado o compromisso brasileiro relativo ao setor da siderurgia; e, não foi contabilizado o potencial de mitigação de emissão de GEE.

6 milhões de ha 3 milhões de ha

4,4 milhões de ha

Ainda não foram estabelecidas as ações de adaptação.

Tratamento de dejetos animais Produção de biogás e fertilizante orgânico.Base de cálculo foi de 1,56 Mg de CO2 e m-3.

Adaptação às Mudanças Climáticas

Total de redução prevista até 2020

Subprograma Área atual 2010 Expansão entre2010 e 2020

Redução de emissão de GEE 2010/2020

4342

A vigésima primeira Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP21), realizada em novembro de 2015 em Paris, reuniu 195 países e a União Européia e culminou na elaboração do Acordo de Paris. O IMAFLORA esteve em Paris durante a COP-21 e testemunhou a construção desse acordo, que tem objetivo conter o aumento da temperatura média global em menos do que 2ºC acima dos níveis pré-industriais e

envidar esforços para limitar esse o aumento a 1,5ºC, reconhecendo que isso reduziria de maneira significativa os riscos e os impactos da mudança climática.

Essa meta deverá ser atingida por meio da soma de esforços dos 195 países signatários, incluindo o Brasil, através de suas INDCs ou Pretendidas Contribuições Nacionalmente Determinadas (termo em português). A INDC

2.4O ACORDO DE PARISE AS METAS PARAAGROPECUÁRIANA INDC BRASILEIRA

Arco Verde (OAV), o Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), o Programa Terra Legal Amazônia, entre outros. Por outro lado, existe uma falta de sinergia com outros componentes da agropecuária brasileira com elevado potencial de redução das emissões de GEE nacionais, como é o caso da produção energética e biocombustíveis.

Entretanto, vale ressaltar que a implementação e a interação entre o Plano ABC e as outras ações do governo federal estão além do escopo desse relatório e, portanto, não foram analisadas. Contudo, acredita-se que as interações destacadas estejam realmente acontecendo na prática, o que evidencia a necessidade de realização de estudos específicos no futuro.

é o documento apresentado por cada país ao Secretariado da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) que contém as ações pretendidas de cada governo para que as metas de redução das suas emissões de GEE sejam atingidas.

A INDC anunciada pelo Brasil em setembro de 2015, tem como meta reduzir as emissões do país em 37% abaixo dos níveis de 2005 em 2025 e 43% em 2030 (Brasil, 2015 a,b) (Tabela 3). As emissões em 2030 seriam de no máximo 1,2 GtCO2e em 2030 de acordo com a nota explicativa que acompanha a INDC.

A meta nacional foi construída tendo como base o dados do 2o inventário convertidos para GWP-AR5 (fatores de conversão presentes do 5o Relatório do IPCC. Em abril de 2016 o MMA publicou um documento intitulado “Fundamentos para a elaboração da Pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada (iNDC) do Brasil no contexto do Acordo de Paris” que identifica a composição das emissões projetadas para 2025 e 203 conforme a tabela abaixo.

Detalhamento da meta da INDC BrasileiraTABELA 3

Fonte: tabela página 7 do documento “Fundamentos para a elaboração da Pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada (iNDC) do Brasil no contexto do Acordo de Paris”(MMA, 2016)

Energia

Agropecuária

Florestas e MUT

Processos Industriais

Tratamento de Resíduos

Total

Redução em relação a 2005

332

484

598

470

688

489

13982111187

392274118

143274-131

77

54

2133

98

61

1346

37%

99

63

1208

43%

Emissão

RemoçãoLíquido

METAS INDC 2005 2025 2030

4544

2.4.1 VIABILIDADE DO CUMPRIMENTO DA INDC AGROPECUÁRIA

Em 2016 foi publicado o 3o inventário brasileiro de emissões e remoções que apresentam uma série de correções nos valores das emissões. Para o caso da Agropecuária em vez de 484 MtCO2e as emissões foram corrigidas para 460 MtCO2e.

Esta diferença é explicada essencialmente por dois fatores:

• Ao aprimoramento de alguns dados primários de cálculo e fatores de emissão de GEE implementados no 3º Inventário (i.e. emissão de N2O pela aplicação ao solo de fertilizantes sintéticos nitrogenados e vinhaça e área cultivada de solos orgânicos).

• A correção das emissões de GEE pelos suínos, que estavam superestimadas no 2º Inventário.

Para entender o impacto de ajustar a projeção da INDC com os dados do terceiro inventario a equipe do SEEG procurou compreender como teriam sido feitas as projeções para os anos de 2025 e 2030

No que se refere ao setor agropecuário, a INDC Brasileira menciona sobre o fortalecimento do Plano ABC por meio da:

• Restauração adicional de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e;

• Incremento de 5 milhões de hectares de sistemas de integração lavoura-pecuária-florestas (iLPF) até 2030.

De acordo com o documento da INDC, essas ações permitirão que as emissões de GEE pela agropecuária em 2030 cheguem ao mesmo patamar que as emissões desse setor em 2005 (Tabela 3), mas suportando um crescimento de produção ao redor de 30% (MAPA, 2015).

A principal hipótese assumida para se montar um cenário em que o aumento de produção é associado à manutenção das emissões é que a remoções de carbono no solo compensaria boa

parte das emissões de GEE originárias do aumento do rebanho e das áreas agrícolas necessárias para suprir a demanda por produtos agropecuários em 2030. Essas ações que gerariam este efeito seriam principalmente a recuperação de 15 milhões de ha de pastagens degradadas e expansão da adoção de sistemas integrados de produção em 5 milhões de ha (ILPF).

A limitação aqui é que nenhum dos inventários ou estimativas oficiais de emissões do Brasil calcula emissões e remoções de carbono de solos agrícolas. Sem incluir esta conta não será possível nem monitorar e nem atingir a meta proposta.

Os documentos publicados sobre a INDC, incluindo o documento “Fundamentos para a elaboração da Pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada (iNDC) do Brasil no contexto do Acordo de Paris”(MMA, 2016) não esclarecem como foram feitas as projeções para o setor agropecuário.

No item 3 desse documento (Quantificação da INDC) é apontado estudos e instituições que subsidiaram informações para a elaboração dos números dessa INDC. Entretanto, o governo não indica especificamente quais estudos foram utilizados para a elaboração das metas de redução de GEE para o setor de agropecuária e nem mesmo da uma dica de como as projeções foram feitas como acontece para outros setores como o da energia.

A equipe do SEEG procurou então avaliar se as ações propostas poderiam levar as emissões aos patamares sugeridos em 2030. Foi realizado um

O IPCC determina os valores GWP a serem utilizados e os atualiza de acordo com o avanço das pesquisas científicas nessa área. Até o momento três diferentes valores GWP já foram publicados nos relatórios de avaliação (Assessment Report) do IPCC: AR2, AR3 e AR5 (IPCC, 1995; 2007; 2013).

A tendência é que os valores mais recentes sejam utilizados globalmente. Contudo, o 3º Inventário Nacional Brasileiro ainda foi publicado utilizando os valores GWP reportados no AR2. O SEEG disponibiliza seus resultados utilizando o AR2 e o AR5. Enquanto a INDC foi construída utilizando os valores GWP do AR5. Assim, antes de serem comparados com segurança, é preciso checar se estudos e projeções de emissão de GEE assumem as mesmas unidades e conversões.

POTENCIAL DE AQUECIMENTO GLOBAL (GWP)

O Potencial de Aquecimento Global (Global Warming Potential em inglês ou GWP) é uma estimativa que uniformiza a contribuição dos diferentes gases de efeito estufa (GEE) em relação ao volume de CO2. Essa estimativa é necessária uma vez que diferentes GEE têm diferentes potenciais de aquecer a Terra quando na atmosfera.

CO2

CH4

N2O

1

21

310

1

25

298

1

28

265

Gás AR4Relatório do IPCC (Assessment Reports)

AR2 AR5

47

exercício que avalia os impactos nas emissões das ações propostas para o setor: recuperação de 15 milhões de ha de pastagens degradadas e expansão de 5 milhões de ha de sistemas de produção integrados (detalhes são encontrados no Anexo 2). Esse exercício foi feito baseando-se nas seguintes informações:

1. Valores de emissão de GEE publicadas no 3º Inventário Nacional (MCTI, 2016a);

2. Dados de atividades agropecuárias fornecidas pela base do SIDRA-IBGE (área agrícola, número de animais e suas respectivas produções);

3. Projeções de demanda por produtos agropecuários feitas pelo MAPA (2015);

4. Fatores de remoções (via sequestro de carbono no solo) encontrados na literatura científica.

Os resultados desse exercício (figura 23) indicam que com a implantação das metas da INDC para o setor agropecuário as emissões desse setor podem chegar a aproximadamente 470 Mt CO2e (GWP-AR5) em 2030. Esse valor não é o mesmo, porém, é similar ao publicado na INDC como meta para o setor agropecuário (489 MtCO2e GWP-AR5).

Assim, esse exercício indica que é possível alcançar a meta assumida na INDC a partir das ações propostas num contexto de produção agropecuária projetado pelo MAPA para as próximas décadas.

Estimativa das emissões de GEE para o setor de agropecuária em 2030 (CO2e GWP AR5)FIGURA 23

§Projeções para 2030 baseadas pela correlação entre os dados de produção e área agrícola publicadas no SIDRA-IBGE com as projeções de produção agropecuária 2015/25 feitas pelo MAPA (2015) aplicadas a década de 2020/30;*Fatores de emissão de GEE deduzidos das emissões publicadas no 3o Inventário Nacional (MCTI, 2016) dividindo-se o dado de atividade pela emissão de GEE total correspondente e, ainda, convertidos para GWP-AR5 (IPCC, 2014);**Fatores de sequestro de carbono no solo de pastagens bem manejadas e sistemas integrados de produção baseados em Bustamante et al.(2006) e Carvalho et al. (2010), respectivamente. Considerou-se que a recuperação de 15 mi ha de pastagens e a adoção de 5 mi ha de sistemas integrados ILPF são linearmente adotados de 2017 a 2030 (ver anexo).

Em 2015 o Observatório do Clima elaborou uma proposta de INDC brasileira com a meta de chegar em 2030 emitindo 1000 Mt CO2e, sendo que a contribuição agropecuária estava limitada em 280 Mt CO2e.

Como esses cálculos tiveram como base fatores publicados 2º relatório do IPCC (GWP-AR2; IPCC, 2007), foi necessário realizar uma revisão para considerar os fatores atualizados do mais novo relatório do IPCC (GWP-AR5; IPCC, 2013), assim como atuais projeções de produção agropecuária. Como comentado acima, esses fatores se referem à conversão de GEE (CH4 e N2) para CO2e.

Aplicando esses novos fatores aos cálculos da meta proposta pelo Observatório do Clima, foi constatado que as emissões do setor em 2030 seriam de 270 MtCO2e. Como esse valor é pouco menor que o inicialmente calculado, se conclui que a meta de emissões do Observatório do Clima para a agropecuária pode ser mantida (figura 24).

Essa proposta do Observatório do Clima apresenta emissões de GEE menores que a meta do governo para esse setor em 2030 por

2.5A PROPOSTA DE METAPARA 2030 DOOBSERVATÓRIO DO CLIMA

incluir estratégias adicionais a INDC nacional. Para o Imaflora e o Observatório do Clima, além das ações de recuperar pastagens e expandir o uso de sistemas integrados, é possível utilizar toda área excedente de pastagens degradadas para expansão agropecuária, eliminando assim as emissões por solos degradados em toda extensão do território brasileiro (tabela 5). As tabelas abaixo detalham essa proposta e seu impacto nas emissões de GEE do setor em 2030 (mais detalhes são encontrados no Anexo 3).

Assim, os resultados dessa proposta sugerem que a INDC brasileira pode ser mais ambiciosa para o setor agropecuário. Com planejamento do uso do solo que vise à utilização das áreas de pastagem degradadas para expansão agrícola e intensificação sustentável da pecuária, pode-se atender à demanda por produtos agropecuários e ao mesmo tempo reduzir aproximadamente 50% das emissões do setor em 2030, comparado as emissões do ano de 2005 (ano base da INDC), sem a necessidade de novos desmatamentos.

Emissões Líquidas do Setor Agropecuário

em 2030

Emissões de GEE em 2030

-=

Remoções de Carbono no Solo em 2030

470 Mt CO2e 580 Mt CO2e 110 Mt CO2e

fermentação entérica = 370 Mt CO2emanejo de dejetos = 30 Mt CO2e

queima de resíduos = 10 Mt CO2ecultivo de arroz = 10 Mt CO2e

solos agrícolas = 160 Mt CO2e

15 milhões de ha de pastagens recuperadas = 80 Mt CO2e5 milhões de ha de sistemas

integrados pecuária lavoura floresta implantados = 30 Mt CO2e

4948

Estimativa das emissões de GEE para o setor de agropecuária em 2030, incluindo estimativas de emissão e remoção dos solos agropecuários, utilizando valores GWP AR5 (IPCC, 2013).

FIGURA 24

§Projeções para 2030 baseadas pela correlação entre os dados de produção e área agrícola publicadas no SIDRA-IBGE com as projeções de produção agropecuária 2015/25 feitas pelo MAPA (2015) aplicadas a década de 2020/30;*Fatores de emissão de GEE deduzidos das emissões publicadas no 3o Inventário Nacional (MCTI, 2016) dividindo-se o dado de atividade pela emissão de GEE total correspondente e, ainda, convertidos para GWP-AR5 (IPCC, 2014);**Fatores de sequestro de carbono no solo de pastagens bem manejadas, sistemas integrados de produção, solos de florestas plantadas, sistemas de plantio convencional (baseados na aração e gradagem do solo) e sistema plantio direto foram baseados em Bustamante et al.(2006), Carvalho et al. (2010), Lima et al. (2006), Costa Junior et al. (2013) e Bayer et al. (2006), respectivamente.§§Estimativas feitas com consultas a especialistas.

Metas de redução de emissões de GEE do Observatório do Clima para o Setor Agropecuário em 2030TABELA 5

AGROPECUÁRIA INTELIGENTE EVITA O AQUECIMENTO GLOBALUMA VISÃO DE ESPECIALISTAS EM “CLIMATE SMART AGRICULTURE”

O mundo tem apenas 15 anos de safras agrícolas para alcançar as metas pretendidas na COP21. O alerta partiu de Alain Vidal, diretor de parcerias estratégicas do Consultative Group for International Agricultural Research (CGIAR), um consórcio de instituições internacionais de pesquisa em agropecuária e desenvolvimento rural, durante o seminário “Sequestro de Carbono e Agricultura”.

Esse seminário ocorreu em paralelo à reunião de chefes de estado durante a COP-21 em Paris e reuniu especialistas em agricultura e clima onde foi destacada a importância desse setor no caminho das reduções das emissões de gases de efeito estufa.

Na mesma semana, representantes de 40 países assinaram a “Iniciativa 4 por 1000”, cujo o foco é promover a segurança alimentar e o combate às mudanças climáticas. “4 por 1000” é uma referência ao aumento dos volumes de carbono no solo (matéria orgânica) promovido por boas práticas agropecuárias, que são fundamentais para aumentar sua fertilizadade, contribuir com a redução das emissões de GEE e limitar o aquecimento da terra em 1,5°C.

Dannis Garrity, embaixador da Convenção de Combate à Desertificação das Nações Unidas e ex-diretor do World Agroforestry Center, destacou a necessidade de repensar a abordagem de produção no campo que se repete há 50 anos. A “Iniciativa 4 por 1000” está baseada na chamada Climate Smart Agriculture e deve contemplar três eixos principais para garantir a produção de alimentos para mais de 9 bilhões de pessoas em 2050: mitigação, adaptação e segurança alimentar.

Nas plenárias oficiais, 195 países apresentaram intenções de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa (as chamadas INDCs). Metade desses, incluindo o Brasil, cita e reconhece a agropecuária como um dos principais setores para mitigar as consequências do aquecimento global. A adaptação às mudanças climáticas, também entrou como uma importante pauta nos debates, por afetar a segurança alimentar global.

(continua na próxima página)

Emissões Líquidas do Setor Agropecuário em

2030 (INDC)

270 Mt CO2e 580 Mt CO2e 40 Mt CO2e 350 Mt CO2e

Emissões de GEEem 2030

Emissões de GEEem 2030 pelo solo

Sequestro de Carbono no Solo em 2030

fermentação entérica = 370 Mt CO2e

manejo de dejetos = 30 Mt CO2e

queima de resíduos = 10 Mt CO2e

cultivo de arroz = 10 Mt CO2esolos agrícolas = 160 Mt CO2e

pastagens degradadas = zero

e áreas agrícolas sob sistemas de plantio

convencional (~25 mi ha)= 40 Mt CO2e

Agricultura de Baixas Emissões e Alto Sequestro

de C : pastagens melhoradas, sistemas

integrados de produção, florestas plantadas

e agricultura utilizando sistema plantio direto

(~110 mi ha)=350 Mt CO2e

-+=

A projeção das emissões de GEE para 2030 foi estimada com base na demanda por produtos agropecuários.

Projeções de demanda de produtos agropecuários desenvolvidas pelo MAPA (2015)

Toda a expansão projetada de área agrícola e de florestas plantadas foi alocada em áreas de pastagens degradadas, considerando o desmatamento zero de ecossistemas naturais.

Cálculo da demanda de áreas agrícolas é baseado em projeções do MAPA (2015) e entrevistas com especialistas.

Foram consideradas: 1) as emissões de CO2 pelos solos em degradação e;2) o sequestro de carbono no solo: 2.1) pela recuperação de áreas degradadas e;2.2) por áreas manejadas sob sistema plantio direto, florestas plantadas, sistemas integrados lavoura-pecuária-floresta e pastagens em ótimas condições

Para estimar o tamanho dessas áreas, foram realizadas entrevistas com especialistas. Fatores de emissão de GEE e sequestro de carbono no solo foram obtidos com base na literatura científica.

Proposta do Observatório do Clima Referência / Método

50

Os Inventários Nacionais de todos os países do mundo devem seguir as diretrizes do IPCC para calcularem suas emissões e posteriormente compará-las. Entretanto, essas diretrizes não contabilizam as emissões e remoções de CO2 do solo quando, por exemplo, um pasto ou cultivo agrícola é degradado e bem manejado, respectivamente.

Ao incorporar as emissões e remoções de C do solo no inventário nacional, o IMAFLORA estima que as emissões pelo setor da Agropecuária sejam na verdade 20% maiores que as reportadas atualmente, o que impactaria em emissões de GEE nacionais em cerca de 5%. Para se ter uma idéia, essas emissões pelos solos degradados são similares aos níveis emitidos pela fermentação entérica dos animais ruminantes. Dessa forma, caso fossem contabilizadas, as emissões pelos solos seriam a segunda maior fonte de emissão de GEE do setor de agropecuária do Brasil.

Assim, nota-se que o solo utilizado pela agricultura e pecuária no Brasil tende a se comportar como fonte de emissão de GEE sob as condições atuais de manejo. Essa situação se deve principalmente pela extensa área coberta com pastagens degradadas, estimada em 60 milhões de hectares, ou cerca de 30% da área agropecuária brasileira. O Plano ABC e a INDC brasileira propõem uma redução das emissões de quase 300 milhões de t de CO2e até 2030. No entanto, a contabilização dessa redução ainda é desafiadora em função das ferramentas de não estarem completamente desenvolvidas e em funcionamento e pelo fato do Inventário Nacional não contabilizar as emissões pela degradação e o carbono sequestrado pelas práticas propostas nos planos citados (Figura 25).

2.6O INVENTÁRIO NACIONALE AS ESTRATÉGIAS DEMITIGAÇÃO: O DESAFIODA AGROPECUÁRIA

No entanto, as ações relacionadas ao setor, propostas pelos representantes oficiais, ainda estão sendo construídas, mas devem focar em estratégias que possibilitem dar escala aos impactos. Outra demanda levantada foi à construção de um sistema de monitoramento da implementação destas práticas e a contabilização dos resultados nos inventários nacionais.

As ações apontadas para massificar a Climate Smart Agriculture (Agropecuária inteligente) foram:

A. Expandir a assistência técnica aos produtores rurais

B. Focar esforços na agropecuária de baixas emissões de carbono e no financiamento agrícola

C. Garantir segurança financeira ao produtor que adota e produz por meio de boas práticas

D. Aumentar a inclusão de pequenos produtores nas políticas agrícolas

E. Avaliar custos e benefícios socioambientais de boas práticas agropecuáriasGarrity também falou sobre a importância de sistemas diversificados para a conciliação da produção e conservação. De acordo com o pesquisador, uma alterativa de estocar carbono é incluir plantas perenes no sistema. Ao descrever a importância do uso das espécies arbóreas, alertou: “Precisamos perenizar nossa agricultura”.

Nesse sentido, o Brasil caminha na direção certa ao propor em sua INDC (metas brasileiras de redução de emissões e adaptação) a expansão de 5 milhões de hectares de sistemas de produção integrados de lavoura-pecuária-floresta até 2030 e ainda a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas. Entretanto, o governo Brasileiro pode ser ainda mais ambicioso em sua contribuição para reduzir as mudanças climáticas, uma vez que existem mais de 60 milhões de pastagens degradadas no Brasil que poderiam ser incluídas em projetos de Climate Smart Agriculture.

(continuação do texto da página anterior)

52

Emissões de remoções de gases de efeito estufa em sistemas agropecuáriosFIGURA 25

Esse exercício feito pelo IMAFLORA destaca a importância de se analisar o Balanço de Carbono da Agropecuária Brasileira para que as políticas climáticas sejam ainda mais robustas e fortaleçam sua credibilidade.

Este desalinhamento de metodologias pode vir a ser um desafio para o Brasil ao reportar o cumprimento das metas brasileiras em

ENERGIA, AGRICULTURA E EMISSÕES: SINERGIAS E OPORTUNIDADES

A agricultura possui um papel importante para a produção de energia renovável e de baixa emissão de GEE na matriz energética brasileira, tanto para combustíveis como para eletricidade (mais informações no relatório do setor de energia). A contribuição de biocombustíveis se dá na produção de biodiesel, álcool hidratado (etanol) e álcool anidro (com teor entre 25% e 27% na gasolina), substituindo integral ou parcialmente o uso de combustíveis fósseis, que são altamente emissores de GEE. Como já discutido nesse relatório, os resíduos da produção de animais (principalmente bovinos, aves e suínos) também podem ser convertidos em eletricidade pelo uso de biodigestores, mitigando as emissões de GEE.

O mesmo pode ser feito com a conversão de biomassa para a produção de eletricidade. O principal exemplo é a queima do bagaço da cana-de-açúcar em caldeiras para a produção de eletricidade. Segundo a UNICA, de 2010 a 2014 a energia gerada a partir da biomassa da cana-de-açúcar dobrou em volume, tendo chegado a 20.815 GWh, o equivalente a 4% da energia produzida no País no ano e 52% da energia a ser produzida por Belomonte a partir de 2019. A produção de 2014 teria resultado na economia de 14% da água dos reservatórios da região Sudeste. Ainda segundo a UNICA, o potencial de produção de eletricidade somente pelo setor canavieiro pode chegar a 20 mil MW médios até 2023, o que corresponderia à energia produzida por duas usinas de Itaipu.

Atualmente as políticas agrícolas, energética, climáticas e ambientais não se integram, nem se complementam, deixando de aproveitar um movimento virtuoso que resulte numa sinergia positiva agricultura-energia-água-emissões, que pode ser altamente positiva para todos os setores. O Brasil é um dos poucos países com a possibilidade de aumentar a produção energética e agropecuária e ainda reduzir as emissões de GEE e não tem articulado políticas que aproveitem esta oportunidade.

negociações internacionais. Para este problema ser equalizado, a metodologia do IPCC deverá ser revisada e incluir o balanço de carbono na agropecuária (sequestro-emissão), tornando o calculo mais preciso e incorporando todo o potencial do setor em reduzir suas emissões de GEE.

54

3. O FINANCIAMENTO AGRÍCOLA NO BRASIL

E SEU IMPACTO NOAQUECIMENTO GLOBAL

O MAPA desenvolveu o Programa ABC - Agricultura de Baixa Emissão de Carbono como uma linha de crédito específica para a implementação do Plano ABC, sendo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco do Brasil seus principais repassadores do recurso.

O Programa abrange todos os subprogramas do Plano ABC (Tabela 2) com exceção às ações de adaptação. Os beneficiários são produtores rurais, pessoas físicas ou jurídicas, e suas cooperativas, com limite de crédito por beneficiário de R$ 2

milhões e prazo de 15 anos para o pagamento, três anos de carência e juros de 7,5% a 8% ao ano. As condições de financiamento são distintas para cada tecnologia implementada.

Desde a safra 2010/2011 até junho de 2015 foram investidos cerca de R$ 14 bilhões através do Plano ABC na agricultura brasileira. Apesar de ter mostrado sinais de melhora nos últimos anos, esses dados sugerem que o ritmo de contratação de financiamentos aos produtores tem sido lento (Tabela 6).

3.1PROGRAMA ABC:CRÉDITO AGRÍCOLA

Crédito disponibilizado e desembolso do Programa ABC no Plano Agrícola e Pecuário brasileiro.TABELA 6

Fonte: Observatório do ABC e Banco Central*

2010/2011

2011/2012

2012/2013

2013/2014

2014/2015

2015/2016

Total

R$ 2 bilhões

R$ 3,2 bilhões

R$ 3,4 bilhões

R$ 4,5 bilhões

R$ 4,5 bilhões

R$ 3 bilhões

R$ 20,1 bilhões

20%

50%

88%

67%

82%

66% (de Julho/2015 a Junho/2016)*

R$ 9,4 bilhões

Plano Agrícola e PecuárioCrédito disponibilizado

ao Programa ABCDesembolso/repasse

do Programa ABC

57

Segundo o Banco Central do Brasil (Brasil, 2016), entre julho de 2015 e junho de 2016 haviam sido realizados 6041 contratos, totalizando um desembolso de quase R$ 2 bilhões o que corresponde a cerca de 70% do recurso disponível na safra de 2015/2016. Desses contratos e montante desembolsado, pouco mais da metade foi destinado a recuperação de pastos degradados.

Na safra de 2014/2015, a região Centro-Oeste foi a que mais utilizou recursos do plano (R$ 1,3 bilhões), seguido das regiões Sudeste (R$ 1,2 bilhões), Nordeste (R$ 0,5 bilhões), Sul (R$ 0,4 bilhões) e Norte (R$ 0,3 bilhões). Entretanto na safra 2015/2016 o Nordeste se apresenta na segunda colocação com relação a tomada de recursos desse plano até o momento, com o Centro-Oeste ainda na liderança. Nota-se que aproximadamente 60% desses recursos estão concentrados no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Goiás e Minas Gerais. A maioria desses recursos foi destinado a recuperação de pastagem degradadas (Brasil, 2016).

Por um lado, essas contratações são positivas por estarem sendo realizadas nos estados que concentram a maior parte das emissões nacionais. Por outro, ainda existe um baixo numero de contratos realizados em estados que vivenciam forte pressão da fronteira agrícola, como Pará e Rondônia. As hipóteses levantadas pelos agentes bancários relacionadas ao baixo desembolso do Programa ABC estão relacionadas à dificuldade dos produtores rurais em providenciar toda a documentação exigida e a existência de outras linhas de crédito que oferecem juros similares aos do Programa ABC. Para contornar essa situação, tem sido realizados cursos de capacitação pelo Bando do Brasil e BNDES com cartilhas específicas sobre as finalidades de investimento do ABC. Porém, o conhecimento do funcionamento dessa linha de crédito por agentes bancários deve ser ampliado, pois a curva de emissões sobe a cada ano.

Para aumentar a aderência ao programa e garantir a adoção das práticas do Plano ABC no campo, o programa deve melhorar a comunicação das práticas aos produtores, engajando associações e sindicatos rurais em uma ampla divulgação. Além disso, deve haver também a desburocratização das contratações e um maior esclarecimento aos produtores rurais dos impactos positivos da produção agropecuária sob condições de baixas emissões de GEE.

Nesse sentido, o estabelecimento da precifição do carbono e criação de mecanismos para a comercialização de créditos pode ser mais um estímulo ao produtor para adoção de práticas de mitigação. Segundo atualização do Plano Clima (MAPA, 2013) esse assunto foi discutido em 2012 pelo Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) sobre Mercado de Carbono. Esse GTI identificou que o desenvolvimento de um mercado nacional de carbono viabilizaria a implementação das medidas previstas na PNMC, tendo em vista o compromisso brasileiro de reduzir suas emissões de GEE até 2020. Entretanto, esse item não avançou nas agendas oficiais e uma análise de possíveis instrumentos de precificação ainda precisa ser desenvolvida com a participação de diferentes atores e projetos de cooperação, incluindo organizações nacionais e internacionais.

Para que os avanços na agropecuária de baixas emissões ocorram em escala também é necessário colocar em prática o monitoramento das ações previstas no Plano ABC. Em março de 2016, a Plataforma Multi-institucional de Monitoramento das Reduções de Emissões de Gases de Efeito Estufa foi inaugurada pela EMBRAPA.

É importante destacar que, a fim de garantir, contabilizar e comprovar o potencial de redução de emissões, bem como as metas assumidas no Plano ABC, deve haver a comprovação dos resultados obtidos ao final do período de compromisso. Para tanto, o Plano ABC deverá apresentar estratégias de MRV (Monitoramento, Reporte e Verificação),

O Plano Safra (Plano Agrícola e Pecuário) é desenvolvido pelo MAPA e é composto por políticas de apoio financeiro e técnico ao setor agropecuário brasileiro. É um instrumento que assegura recursos para o custeio da produção, comercialização e investimento agropecuário. Todos os anos, por volta do mês de abril/maio é lançado o Plano do ano agrícola seguinte.

O financiamento total proposto para a safra 2015/2016 foi de R$ 187,7 bilhões, o que corresponde um aumento de 17% em relação à safra 2014/2015. A tabela 4 mostra os recursos do Plano Safra distribuídos entre as diferentes linhas de crédito disponibilizadas aos produtores rurais. Dentre essas linhas nota-se que apenas o Programa ABC se refere a questões de mitigação de emissões GEE e de adaptação às mudanças

3.2O PLANO SAFRA E O VOLUME DE CRÉDITO DESTINADO AO PROGRAMA ABC

climáticas. Mesmo com tal relevância, esse programa corresponde a apenas 1,6% do valor de todo o financiamento do setor agropecuário (R$ 3 de R$ 187,7 bilhões) (Figura 25). Houve, portanto uma redução de 33% do volume de recurso destinado à agricultura de baixo carbono em relação ao ano anterior, e as taxas de juros passaram de 4,5 a 5% para 7,5 a 8% neste último plano.

De acordo com dados do Banco Central, os produtores rurais brasileiros contrataram de julho de 2015 a julho de 2016 pouco mais de R$ 166 bilhões dos quase R$ 190 bilhões destinados ao Plano Safra 2015/2016 (cerca de 88%). No mesmo período entretanto, o Programa ABC, que permite limite de crédito por beneficiário de R$ 2 milhões, apresentava contratação de

de forma a assegurar a integridade das reduções e possibilitar futuras verificações internacionais.

No entanto, deve-se ressaltar que, inicialmente, o Plano ABC estimou que as ações de monitoramento das reduções das emissões deveriam ser iniciadas a partir de 2013, o que não ocorreu até o momento,

prejudicando o monitoramento das emissões evitadas pelo uso das técnicas do Plano ABC (Observatório ABC, 2015). Assim, espera-se que em breve o impacto dos desembolsos possa ser efetivamente verificado e a redução das emissões monitoradas e reportadas de forma precisa.

5958

Plano Safra 2015/2016: recursos programados para custeio e investimentoTABELA 7

(I) Observadas as políticas do BNDES (II) 10,5% ao ano para financiamento de comercialização às agroindústrias e cerealistas (III) Limite de crédito coletivo: R$ 6 milhões (IV) Limite para plantio comercial de florestas: produtores com até 15 módulos fiscais: R$ 3 milhões. Acima de 15 módulos: R$ 5 milhões (V) Produtores do Pronamp (VI) Demais produtores (VII) RBA: Renda Bruta Anual (VIII) Limite para crédito coletivo: R$ 2,4 milhões (IX) Inclui recursos livresFonte: MAPA (http://www.agricultura.gov.br/pap)

Participação do Programa ABC no total dos recursos destinados ao financiamento da agropecuária brasileira (Plano Safra – 187,7 R$ bilhões)

FIGURA 26

Anualmente, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) lança o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), com vigência de julho a junho do ano seguinte. Os recursos são

3.3PROGRAMA NACIONALDE FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR - PRONAF

liberados pelo MDA e em 12 anos, o credito ofertado por esse plano cresceu mais de dez vezes, de R$ 2,3 bilhões (Safra 2002/2003) para R$ 30,0 bilhões (Safra 2016/2017). Nesse período, a renda da agricultura

apenas R$ 1,95 bilhão até março de 2016 (cerca de 66% do total disponibilizado). Enquanto o Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp), destinado ao médio produtor rural, que permite o financiamento de R$ 660 mil (custeio) e R$ 400 mil (investimentos) por beneficiário, havia chegado no mesmo período a R$ 20,2 bilhões em contratações, quantia quase 10 vezes maior que o contratado no Plano ABC. A redução dos recursos destinados

ao Plano ABC para a Safra 2015/2016 pode ser um reflexo da baixa contratação desta linha de crédito observada nos anos anteriores (Tabela 6). Esse baixo investimento do governo federal no Programa ABC demonstra que os investimentos realizados atualmente para a produção agrícola nacional são majoritariamente desconectados de pré-requisitos climáticos, justamente em um ano onde novos acordos internacionais foram firmados em Paris na COP 21. 10+2+88Outras linhas

de crédito88%

Pronamp10%

ABC2%

Custeio

TOTAL (R$ bilhões) (IX)

Investimento

Pronamp

Pronamp

Estocagem de álcool (I)

ABC

Outros

Procap-Agro

Inovagro

Moderagro

Moderinfra (Agricultura Irrigada)

Moderinfra (Modernização e reforma de armazéns)

ProRenova (Rural e Industrial)

Procap-Agro (Integralização de Quotas Partes)

Procap-Agro (Capital de Giro)

PCA

Moderfrota

PSI (Cerealistas)

PSI (Rural)

13,6

5,29

2,0

3,0

80,9

0,34

1,4

0,4

0,29

0,29

1,5

187,7

0,34

1,65

2

10

0,4

10,0

0,71

0,385

Não tem

2,0 (IV)

1,2

50,0

1,0

0,8 (VIII)

2 (III)

2

Não tem (I)

50,0

Até 20.000 / de 20.000 à 60.000

7,0 até 90 milhões de RBA e 9,5% acima de R$90 milhões de RBA

Não tem

7,5 até 90 milhões de RBA e 9,0% acima de R$90 milhões de RBA

Não tem

2

12

270 dias

15

2

6

10

10

12

12

6

6

2

15

8

15

10

Não tem

2

Não tem

3

Não tem

2

3

3

3

3

1,5

2

0,5

3

2

3

3

7,75

7,5

TJLP + 2,7

7,5 (V) / 8,0 (VI)

8,75 (II)

7,5

7,5

8,75

8,75

7,5

TJLP + 2,7%

7,5

8,75 / 10,5

7,5

7,5 até 90 milhões de RBA e 9,0 acima de 90

milhões de RBA (VII)

9,0 até 90 milhões de RBA e 10,0 acima de 90

milhões de RBA

7,0 até 90 milhões de RBA e 9,5 acima de 90

milhões de RBA

Programa CarênciaRecursos

Programados(R$ Bilhões)

PrazoMáximo(Anos)

Limite de Crédito /Beneficiário(R$ milhões)

Taxa de Juros(%)

6160

3.4PLANO MAIS PECUÁRIA

familiar cresceu mais de 50%, o que permitiu que cerca de 4 milhões de pessoas ascendessem para a classe média segundo o próprio MDA.

Do montante liberado na Safra 2015/2016, R$ 16,8 bilhões ou 58% já haviam sido financiados até março de 2016 em 1,3 milhões de contratos, segundo o MDA. Desses, R$ 7,8 bilhões foram destinados para operações de investimento, como aquisição de maquinário, sistema de irrigação e recuperação de pastagens. Os R$ 8,9 bilhões restantes foram para operações de custeio, as quais compreendem a compra de insumos e fertilizantes, produção de

O MAPA lançou em fevereiro de 2014 o Plano Mais Pecuária com o objetivo de aumentar de forma sustentável a produtividade e a competitividade da pecuária bovina de leite e de corte (http://www.agricultura.gov.br/mais-pecuaria). O Plano será executado através de dois programas: o Mais Leite e o Mais Carne, sendo que cada programa está organizado em quatro eixos: melhoramento genético, ampliação de mercados, incorporação de tecnologias e segurança e qualidade dos produtos. A proposta tem prazo de até 10 anos, portanto suas metas deverão ser atingidas até 2024 e um comitê gestor discutirá os projetos prioritários para o setor. A principal meta é de aumentar a produção brasileira de leite em 40% nos próximos 10 anos e a produção

mudas, aquisição de sementes e beneficiamento e/ou industrialização do produto gerado pelo financiamento contratado.

Assim como o Pronamp, é evidente que as ações contempladas pelo Pronaf poderiam ser somadas aos esforços de redução das emissões de GEE ou de sequestro de carbono. Contudo, não há menção nesses planos de assessoramento da agricultura familiar à implementação de tais práticas, principalmente no que se refere a utilização de fertilizantes nitrogenados e na recuperação de pastagens.

e a produtividade de carne em 40 e 100% respectivamente. De acordo com a proposta, a taxa de lotação passaria dos atuais 1,3 para 2,6 animais/ha sem a necessidade de expansão da fronteira agrícola. A intensificação poderá liberar 46,2 milhões de hectares para outras atividades, segundo o MAPA.

PRONAF NÃO INCLUI REDUÇÃO DE EMISSÕES EM SUAS METAS

MAIS EFICIÊNCIA NA PRODUÇÃO, MENOS EMISSÃO DE GEE

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar tem o objetivo de aumentar a renda do agricultor familiar, promover inovação e tecnologia e estimular à produção de alimentos. Porém, o Plano não demostra esforços relacionados a ações de mitigação de emissões de GEE ou de processos de adaptação dos produtores familiares às mudanças climáticas, deixando assim uma lacuna de oportunidade de mobilizar grande fatia da sociedade na transição para uma nova agricultura de baixas emissões.

Segundo o Censo Agropecuário de 2006, o Brasil possui mais de 4,5 milhões de propriedades familiares, o que representa 84% dos estabelecimentos rurais do país, ocupando cerca de 105 milhões de hectares. Estes produtores são responsáveis por 33% do Produto Interno Bruto (PIB) e empregam 74% da mão de obra no campo.

O Plano Mais Pecuária não menciona metas ou objetivos explicitamente relacionados à redução de emissões de GEE, porém a proposta de intensificação da produção tenderá a um aumento de produtividade e possivelmente a redução de emissões de GEE por animal por hectare. O aumento da produção afetará diretamente o aumento de emissões de GEE, porém se a eficiência do rebanho aumentar, as emissões por animal/hectare ou por quilo de carne ou leite tenderão a diminuir. Assim, seria importante que as propriedades contempladas pelo Mais Carne fossem assistidas com sistemas de monitoramento das emissões de GEE.

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3.5PAGAMENTOS POR SERVIÇOS AMBIENTAISOutra política que pode estimular práticas de mitigação das emissões de GEE pelo setor agropecuário são os Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA). Os PSA são mecanismos voluntários que atribuem valor e remuneram quem gera benefícios ambientais adicionais, os chamados serviços ambientais. Esses benefícios podem estar relacionados, por exemplo, a sistemas que além de produzirem alimento ou materiais de consumo, reduzam suas emissões de GEE, promovam a conservação do solo, da água e/ou da biodiversidade, dando escala a sustentabilidade em paisagens antropizadas.

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO-ONU), em um relatório publicado em 2008, indica que o PSA é uma das principais maneiras de se evitar a perda da vegetação nativa pela expansão da agropecuária. Nesta mesma lógica, o sequestro de carbono no solo e a redução das emissões de GEE são serviços ambientais com grande potencial a ser desenvolvido no Brasil.

Todas as propostas de PSA vinculadas ao recebimento de recursos públicos no Brasil são avaliadas pelo governo. Assim, as iniciativas privadas que não se enquadram nos modelos públicos preestabelecidos não são elegíveis

para o PSA. Segundo a publicação “Sistemas Estaduais de Pagamento por Serviços Ambientais – Relatórios Estaduais” (Instituto O Direito por um Planeta Verde, 2014), seis estados brasileiros já possuíam legislação sobre PSA aprovada no ano de 2010 e que, desde então, vem trabalhando em suas implementações, são eles: Amazonas, Acre, São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais e Paraná.

As políticas de PSA desenvolvidas por esses estados tem focado, de maneira geral, na conservação e recuperação da cobertura florestal e dos recursos hídricos, principalmente em Áreas de Preservação Permanente (APPs). Essa preferência é explicada pelo fato da recomposição da APP se constituir em uma exigência legal ao mesmo tempo em que promove inúmeros benefícios para a sociedade, dentre os quais destacam-se: a preservação dos recursos hídricos, da paisagem, da estabilidade geológica e da biodiversidade, a reconstituição de habitat para a vida selvagem, a facilitação do fluxo gênico de fauna e flora, a proteção do solo e o sequestro de carbono.

No estado de São Paulo, por exemplo, o Programa Remanescentes Florestais contempla atividades específicas, como: sistemas agroflorestais e silvopastoris e processos que contribuem para a redução de assoreamento de rios e erosão de solos.

CÓDIGO FLORESTAL, INCENTIVOS ECONÔMICOS E EMISSÕES DE GEE

O novo Código Florestal, publicado em maio de 2012 (Lei Federal 12.651), trata explicitamente de incentivos para o balanço de carbono na agropecuária. O Artigo 41 define que o Poder Executivo Federal deveria instituir um “programa de apoio e incentivo à conservação do meio ambiente, bem como para adoção de tecnologias e boas práticas que conciliem a produtividade agropecuária e florestal, com redução dos impactos ambientais, como forma de promoção do desenvolvimento ecologicamente sustentável [...]”. O Inciso I desse Artigo especifica o “pagamento ou incentivo a serviços ambientais como retribuição, monetária ou não, às atividades de conservação e melhoria dos ecossistemas e que gerem serviços ambientais”; incluindo o “sequestro, a conservação, a manutenção e o aumento do estoque e a diminuição do fluxo de carbono”; entre outros serviços ambientais possíveis de reconhecimento pela Lei.

Entretanto, até o momento os incentivos econômicos não foram definidos e nem regulamentados pelo governo federal e pelos governos estaduais. Esta tem sido uma lacuna muito importante para a implementação do Código Florestal, que continua contando somente com a abordagem de comando e controle para o seu cumprimento. Os incentivos econômicos são fundamentais para os avanços no Código Florestal, que se inicia pelo registro de todos os imóveis rurais do país no CAR (Cadastro Ambiental Rural) até maio de 2017 (o prazo inicial de maio de 2014 foi prorrogado por três vezes consecutivas), devendo ser seguido da adesão das propriedades irregulares ao PRA (Programa de Regularização Ambiental).

Somente após a implementação dos PRAs é que o Código Florestal irá de fato promover o sequestro de carbono por ações de restauração florestal, apresentando consequências diretas para o balanço de emissões de uso da terra e da agropecuária. Adicionalmente, a proteção da vegetação nativa existente em áreas legalmente protegidas pelo Código Florestal (APPs, Reservas Legais, Unidades de Conservação, Terras Indígenas etc) também possui consequências importantes para a redução das emissões nacionais. Portanto, o cumprimento do Código Florestal pode ser considerado uma ação fundamental para o atendimento das metas brasileiras de redução das emissões de GEE, sendo que o desenvolvimento e a regulamentação de incentivos econômicos constituem-se em peças-chave nesse processo.

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A nível nacional, a Agência Nacional de Águas (ANA), vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, tem desde 2014 suportado o Programa Produtor de Água (PPA). Esse programa consiste basicamente na apresentação de propostas para a proteção de mananciais e a implantação de PSAs em todo o país. Até 2015, 38 projetos foram aprovados pelo programa e vêem sendo executados desde então, abrangendo uma área de 400 mil hectares, dos quais mais de 45 mil hectares já foram recuperados. Estima-se que 1,2 mil produtores são remunerados financeiramente pela geração de serviços ambientais pelo Programa Produtor de Águas, impactando positivamente a vida de 35 milhões de pessoas (ANA, 2015).

Contudo, pouco enfoque ainda tem sido dado à redução das emissões de GEE na produção agropecuária especificamente. Assim, devido ao enorme potencial de redução de GEE pela agropecuária brasileira (Tabela 2), PSA pode ser um importante mecanismo de estímulo à adoção de práticas que reduzam as emissões de GEE desse setor, conjuntamente a conservação do solo, da água e de áreas de vegetação nativa. Para isso, é evidente que projetos de PSA ligados à produção agropecuária deveriam ter maior inserção nas pautas de gestão estaduais e serem conectadas aos programas federais de financiamento agropecuários, como o Programa ABC.

3.6PLANO NACIONAL DEDEFESA AGROPECUÁRIA(PDA) 2015-2020 Em junho de 2015 a então ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu, entregou à presidência o Plano de Defesa Agropecuária (PDA) para o período de 2015-2020.

O PDA é o plano que define as estratégias para evitar e combater pragas e doenças nas lavouras e nos rebanhos brasileiros e tem por objetivo promover o desenvolvimento sustentável do agronegócio,

no sentido de garantir a preservação da vida e da saúde da população, além de promover a segurança alimentar e o acesso a novos mercados.

De acordo com o MAPA, o PDA fortalecerá ações conjuntas em nível federal, estadual e municipal, focando na atualização de normas sanitárias, adaptação de procedimentos e capacitação de técnicos para tomarem decisões na área sanitária.

Para isso o PDA apresenta seis pontos estruturantes:

1. Modernização e desburocratização: informatizar e simplificar processos a fim de agilizar a tomada de decisões e reduzir em 70% o tempo entre a solicitação de um registro e sua análise final.

2. Marco regulatório: atualizar a legislação vigente e padronizar diretrizes que atualmente estão contrapostas nas diversas esferas federativas. Criar condições necessárias para a instituição de um Código de Defesa Agropecuário.

3. Suporte estratégico: com apoio das universidades, desenvolver a técnica de análise de risco para pragas e doenças. Assim, reduzir em 30% os custos da defesa agropecuária.

4. Sustentabilidade econômica: levantar o custo da defesa agropecuária a fim de projetar os valores reais necessários para a área. Disponibilizar recursos para convênios com as 27 unidades da federação e regulamentar o Fundo Federal Agropecuário.

5. Metas de qualidade: modernizar o parque de equipamentos tecnológicos e ampliar programas de

controle e erradicação de pragas e doenças, como febre aftosa, influenza aviária, peste suína clássica, mosca das frutas, brucelose e tuberculose, entre outras.6. Avaliação e monitoramento do PDA: secretarias estaduais e municipais, órgãos da agricultura e o Mapa acompanharão o cumprimento das cinco metas. Para isso, serão criados comitês regionais e canais de comunicação com Fiscais de Defesa Agropecuária.

O PDA sem duvida apresentará grande capilaridade nacional, uma vez que estrutura os eixos federal, estadual e municipal. Contudo, nenhum enfoque tem sido dado à mitigação das emissões de GEE na produção agropecuária. Principalmente no que se refere à produção pecuária, a maior fonte de emissão de GEE nacional.

Esta estrutura que está sendo desenvolvida no PDA para ampliar as práticas sanitárias e treinar os técnicos extensionistas poderia ser aproveitada para disseminar práticas agropecuárias de baixas emissões e alto sequestro de carbono e assim ajudar nos esforços para o cumprimento das metas climáticas e no combate ao aquecimento global.

PRODUZINDO ÁGUA E REMOVENDO CARBONOOs projetos aprovados pelo Programa Produtor de Água abrangem uma área de 400 mil hectares de mananciais em todo o país, dos quais mais de 10% já foram recuperados (ANA, 2015). Utilizando a ferramenta EX-ACT da FAO (Bernoux et al., 2011), o IMAFLORA estima que essa área recuperada (45 milhões de ha) sequestre por volta de 3 milhões de t de CO2e até 2020, o que representa aproximadamente 2% da meta do Plano ABC de redução de GEE.

Entretanto, caso toda a área abrangida por esse programa fosse recuperada (400.000 ha), o sequestro de carbono seria de aproximadamente 30 milhões de t de CO2e até 2020, ou seja, aproximadamente 3% da atual meta brasileira de redução das emissoes de GEE pelo PNMC (~1200 milhões de t de CO2e até 2020). Dessa forma, fica evidente que esse projeto tem gerado uma significativa situação de ganha-ganha entre sociedade e meio ambiente, produzindo água e removendo carbono da atmosfera e, portanto, deve não somente ser apoiado, mas replicado e expandido nacionalmente.

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3.7RESUMO DOS OBJETIVOS, AÇÕES E METAS DE REDUÇÃO DE EMISSÕES DOS PLANOS E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O SETOR AGROPECUÁRIO

Plano Clima e PNMC

Plano ABC

INDC*

Plano Safra Agrícolae Pecuário

Plano Mais Pecuária

Pagamentos porServiços Ambientais

Pronaf

Plano de DefesaAgropecuária

Ações relacionadas à agropecuária e mudança de uso do solo: Reduzir em 80% a taxa de desmatamento na Amazônia e em 40% no Cerrado. Adotar intensivamente práticas sustentáveis na agricultura. Ampliar a eficiência energética

Recuperação de pastagens degradadas. Integração Lavoura-pecuária-floresta. Sistema Plantio DiretoFixação Biológica do Nitrogênio. Florestas Plantadas Tratamento de dejetos animais .Adaptação às Mudanças Climáticas

Recuperação de pastagens degradadasIntegração Lavoura-pecuária-floresta.

Objetivos relacionados à redução de emissões de GEE: Incentivar as boas práticas agrícolas e pecuáriasIncentivar a agricultura de baixo carbono, reforçando o apoio às práticas agronômicas que assegurem a mitigação dos gases causadores de efeito estufaFortalecer a produção de biocombustíveis.

O objetivo é de aumentar de forma sustentável a produtividade e a competitividade da pecuária bovina de leite e de corte. A principal meta é aumentar a produção em 40% e a produtividade em 100%. Este plano não menciona metas relacionadas à redução de emissões, porém a proposta de intensificação da produção tenderá a um aumento de produtividade e possivelmente a redução das emissões de GEE por leite e carne produzida.

Mecanismos voluntários que atribuem valor e remuneram quem gera benefícios ambientais adicionais. Podem estar relacionados, por exemplo, a sistemas produtivos que reduzam suas emissões de GEE e conservam os solos, a água e a biodiversidade - dando escala a sustentabilidade em paisagens antropizadas.

O objetivo é aumentar a renda do agricultor familiar, inovação e tecnologia e estímulo à produção de alimentos. O Plano não demostra esforços relacionados a ações de mitigação de emissões de GEE ou de processos de adaptação.

Define estratégias e ações para evitar e combater a pragas nas lavouras e doenças nos rebanhos brasileiros.

Entre 1.168 e 1.259 milhões de t CO2eq

Entre 144 e 173 milhões de t CO2eq

Entre 144 e 173 milhões de t CO2eq

Não existem metas específicas de redução de emissões de GEE. No entanto, algumas dessas linhas de crédito possuem sinergia com o ABC, porém seus impactos não são contabilizados.

Plano ou Política Objetivos e ações Meta de reduçãode emissões

*ainda necessita regulamentação

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4. RECOMENDAÇÕES

PLANO CLIMA E POLÍTICA NACIONAL SOBRE MUDANÇA DO CLIMA

PLANO E PROGRAMA ABC

• Revisão periódica do Plano Clima, conforme disposto no decreto da Política Nacional sobre Mudanças no Clima;

• Acelerar a implementação de um sistema de precificação do carbono no Brasil;

• Fortalecer a integração das políticas e planos setoriais (PNMC, Plano ABC, Plano Safra, Plano da Agricultura Familiar, PPCDAm, PPCerrado, Energia etc);

• Integrar o setor da agropecuária com a geração de energia;

• Revisar as metas de redução de emissões e os investimentos financeiros que serão destinados a cada setor para que o compromisso nacional seja alcançado até 2020.

• Revisão do Plano ABC conforme previsto do decreto regulamentador da PNMC;

• Ampliar o ABC para além da propriedade rural para abranger um escopo de gestão territorial;

• Monitorar se os financiamentos concedidos no âmbito do Programa ABC estão realmente promovendo a redução das emissões;

• Garantir que o financiamento chegue ao campo, reduzindo a burocracia necessária para os produtores acessarem o crédito;

• O diferencial de juros para o Programa ABC em relação aos outros programas de crédito agrícola deve ser baixo para estimular o produtor a fazer esta opção;

• Aumentar o montante de recursos do programa²;

• Aperfeiçoar os subprogramas existentes, principalmente aqueles relacionados ao melhoramento das práticas agronômicas para intensificação da pecuária extensiva de corte;

• Ampliar a oferta de projetos amparados pelo programa relacionados ao ganho de produtividade na pecuária de corte como, por exemplo: melhoramento genético, controle de doenças, novas tecnologias reprodutivas (FIV, Inseminação em Tempo Fixo – IATF), entre outros;

• Promover o uso eficiente de fertilizantes nitrogenados com o objetivo de reduzir o volume utilizado sem perda de produtividade;

• Incluir nos itens financiáveis a mecanização da colheita de cana-de-açúcar²;

• Fortalecer as ações de capacitação de produtores e assistência técnica;

• Aumentar as campanhas de disseminação do programa, principalmente na região Norte do país;

• Definir as ações relacionadas à adaptação para o setor Agropecuário;

• Revisar a metodologia do IPCC utilizada o inventario nacional para incluir o balanço de carbono na agropecuária (sequestro-emissão), tornando o calculo mais preciso e incorporando todo o potencial do setor em reduzir as emissões de GEE.

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PLANO SAFRA

PLANO SAFRA DA AGRICULTURA FAMILIAR

PLANO MAIS PECUÁRIA

PAGAMENTOS POR SERVIÇOS AMBIENTAIS

• Todos os programas de crédito rural do Plano Safra deveriam incorporar e priorizar ações de baixo carbono na agricultura e não somente o Plano ABC;

• Ampliar o financiamento e as pesquisas para a produção eficiente de arroz sequeiro, evitando o aumento da produção de arroz irrigado; • Avaliar o uso eficiente de adubação nitrogenada ao financiar culturas altamente dependentes deste insumo;

• Incentivar financiamentos para construção de compostagem, separadores de sólidos e biodigestores em sistemas de manejo de dejetos em áreas agrícolas;

• Incentivar financiamentos para integração envolvendo lavoura, pecuaria e floresta.

• Incluir, em seus objetivos, ações que promovam a redução de emissões de GEE, principalmente as ações contempladas no Plano ABC e as boas práticas de manejo de gado de corte e leite e uso eficiente de fertilizantes nitrogenados;

• Incorporar efetivamente a INDC Brasileira – Agropecuária ao Plano ABC ou ao Plano Safra de forma geral

• Garantir que a expansão agropecuária seja feita em áreas de pastagens degradadas e o fim do desmatamento de ecossistemas naturais.

• Incentivar a produção de arroz sequeiro e desestimular o crescimento da área de arroz irrigado sob manejo do solo convencional.

• Promover técnicas de ganho de eficiência na produção de carne e leite;

• O monitoramento do plano deve incluir indicadores de redução ou aumento de emissões para garantir que o aumento de produção e produtividade auxilie na redução de emissões de GEE contribuindo assim com a meta nacional.

• Fundamentar no uso da política de Pagamento por Serviços Ambientais a adoção de boas práticas agropecuárias voltadas à redução das emissões de GEE.

• Desenvolver e implementar incentivos econômicos para cumprimento do código florestal.

5. CONSIDERAÇÕESFINAIS

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Através da análise dos resultados do SEEG é possível verificar que o Brasil é atualmente um dos principais emissores de GEE do mundo, ocupando a segunda posição quando se trata das emissões pelo setor da agropecuária.

No Brasil o setor agropecuário ocupa a terceira colocação entre as fontes emissões, atrás dos setores de Uso da Terra e Energia, entretanto, essas emissões tem crescido significativamente nos últimos 40 anos, passando de 161 MtCO2e em 1970 para 423 MtCO2e em 2014, um aumento de aproximadamente 165%.

As principais fontes de emissão pela agropecuária brasileira são a fermentação entérica (majoritariamente pelos bovinos de corte – aproximadamente 60% das emissões totais), seguido dos solos agrícolas, do cultivo do arroz irrigado e da queima de resíduos agrícolas.

Geograficamente, essas emissões eram concentradas nos estados do Sudeste e Sul do país, entretanto, foram avançando rumo a Amazônia à medida que a fronteira agrícola avança nessa direção. Esse fato pode ser evidenciado pelo perfil das emissões de GEE estaduais onde no começo dos anos 1970 o Rio Grande do Sul era o principal emissor e a atualmente o Mato Grosso ocupa essa posição, emitindo 13% do total. E estados como Pará e Rondônia, que antes ocupavam as últimas posições, hoje contribuem conjuntamente com mais de 10% das emissões nacionais.

Entre 2008 e 2010 o governo Brasileiro estabeleceu politicas nacionais relevantes para tratar a questão climática nacional, como o Plano Clima e a Politica Nacional de Mudanças Climáticas. Essas ações políticas, basicamente culminaram na elaboraram de metas de redução a serem cumpridas até 2020 (de 36% das emissões projetadas até 2020) e de planos setoriais como meios para atingir esse objetivo.

No caso da agropecuária foi elaborado o Plano ABC que conta com práticas de manejo que vão desde a recuperação de pastagem, passando pelo uso de inoculantes em culturas agrícolas para fixar nitrogênio no solo, integração lavoura pecuária e floresta, florestas plantadas e a adoção de sistema de plantio direto para cultivo do solo e de tecnologias para tratamento de dejetos animais.

O Plano ABC é apoiado pelo Programa ABC como meio de financiamento de suas práticas, o qual foi inserido no Plano Safra. Contudo, apenas 1,6% do orçamento do Plano Safra 2015/2016 é destinado ao Programa ABC, dificultando o cumprimento das metas brasileiras de redução de emissões. O programa também sofre com baixo conhecimento pelos agentes bancários, alta burocracia para obtenção do crédito e juros não atrativos comparados a outras linhas de financiamento disponíveis. Esses fatores têm comprometido a aderência desse plano entre os produtores e sua adoção em larga escala.

Adicionalmente, com o Acordo de Paris, o Brasil se comprometeu em reduzir suas emissões em 43% até 2030, através do fortalecimento do Plano ABC em adicionalmente recuperar pastagens degradadas e expandir as áreas de integração lavoura-pecuária-floresta.

Contudo, poucos esforços têm sido feitos para monitorar o efeito dos recursos investidos na redução das emissões nacionais de GEE, com lançamento do laboratório de monitoramento em abril de 2016, seis anos após o lançamento do plano. Conjuntamente a esse atraso no monitoramento, o governo brasileiro também tem atrasado a revisão do Plano Clima, o qual deveria ser feito bianualmente e desde 2008 teve apenas uma atualização.

Avançar na coordenação entre os setores produtivos e alinhar todas as políticas públicas agropecuárias às metas de redução de emissões de GEE permitiriam que o Brasil cumprisse não apenas com os compromissos climáticos firmados, mas também incorporasse um modelo de crescimento e gestão baseado em baixas emissões de GEE.

O CAMINHO PARA A AGROPECUÁRIA BRASILEIRA:MAIOR PRODUÇÃO COM MENOS EMISSÕES

Para atender à demanda por produtos agropecuários até 2030, estima-se que o Brasil precisará aumentar sua produção ao redor de 30% (MAPA, 2015). Com planejamento do uso do solo e a adoção de práticas de baixas emissões e alto sequestro de carbono será possível mitigar 50% das emissões do setor agropecuário nos próximos 15 anos sem a necessidade de novos desmatamentos. Atualmente existem mais de 60 milhões de ha de pastagens degradadas que se utilizadas para expansão agrícola e intensificação sustentável da pecuária, podem atender à demanda produtiva e ao mesmo tempo reduzir as emissões de GEE. Nesse sentido, as recomendações para maior produção com menos emissões são:

• A expansão agropecuária deve ocorrer em áreas de pastagens degradadas, evitando a perda de carbono do solo e a conversão de ecossistemas naturais;

• As práticas de baixas emissões de carbono deverão ser adotadas em grande escala, as medidas prioritárias são: a intensificação moderada da bovinocultura de corte, a ampliação de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta, a adoção sistemas de plantio direto e o uso de cultivares que realizam a fixação biológica do nitrogênio;

• É necessário que o Plano Safra e o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) adotem critérios de baixas emissões e alto sequestro de carbono para que o impacto positivo da agropecuária na mitigação das mudanças climáticas ganhe escala;

• Parcerias público-privadas devem fortalecer a extensão rural e a capacitação de produtores para que as tecnologias de baixas emissões de GEE cheguem ao campo.

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6. LIMITAÇÕES E FUTURAS MELHORIAS PARA AS

ESTIMATIVAS DO SEEG

O calculo das emissões pela agropecuária desenvolvido pelo SEEG é baseado no 3º Inventario Nacional de Emissao e Remocao de GEE, o qual, por sua vez, é baseado na metodologia do IPCC (IPCC, 1996). Para efetuar esses cálculos, necessita-se basicamente de dois tipos de informações: dados de atividade (ex. área produzida e numero de cabeças de animais) e fatores de emissão (quantidade de GEE emitida pela atividade agropecuária). Entretanto, como o SEEG utiliza apenas dados públicos para efetuar sua estimativa, a ausência de algumas informações detalhadas no Inventário Brasileiro e de alguns dados de atividade, certas estimativas foram relativamente difíceis de serem replicadas. São elas:

• Emissões decorrentes do uso de fertilizantes nitrogenados, por unidade da Federação, foram calculadas com base em dados da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (ANDA). Como esses dados não são públicos e os relatórios são comercializados, eles foram obtidos na biblioteca da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) e no site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

• Emissões por solos orgânicos ainda não levam em conta a área efetivamente cultivada desses solos, assumindo-se um percentual fixo, não importando a unidade da federação ou região onde esses solos estão localizados. Esses aspectos podem estar levando a estimativas superestimadas por esse subsetor da agropecuária.

Recomendações para melhorar as informações:

• Apesar do 3o Inventário Brasileiro já contar com FEs específicos para o Brasil, necessita-se ampliar a o desenvolvimento de FE específicos para os demais subsetores da agropecuária como os relacionados às emissoes pela fertilização nitrogenada; uma vez que os fatores fornecidos pelo IPCC não são adequados às condições

nacionais. Como consequência, esses valores podem não estar resultando em estimativas precisas e atrasando a elaboração de meios capazes de reduzir essas emissoes.

• Pesquisas deverão ser ampliadas para elaborar metodologias mais robustas para que as práticas de baixo carbono possam ser consideradas na estimativa, como é o caso da remocao de CO2 da atmosfera e acúmulo de carbono no solo causado pela prática do sistema plantio direto e manejo de pastagens, ainda não contabilizado.

• Os relatórios de referência do Inventário Brasileiro devem ser disponibilizados de forma integral e detalhados para assim facilitar a replicabilidade da metodologia utilizada.

• Avaliar meios de colaboração entre a sociedade civil, o governo e as instituições que possuem dados fundamentais para o cálculo das emissões do setor, tornando assim a estimativa mais precisa e transparente.

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7. REFERÊNCIAS

Associação Brasileira das Industrias Exportadoras de Carne (ABIEC):http://www.abiec.com.br/3_rebanho.asp

Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA):http://www.anda.org.br/index.php?mpg=03.00.00

ANDA - Associação Nacional para Difusão de Adubos, Anuário Estatístico do Setor de Fertilizantes. Biodiesel Brasil:

http://www.biodieselbr.com/energia/biogas/dejetos-suinos-biogas.htm

Biodigestores-Itaipu Binacional:http://www.itaipu.gov.br/sala-de-imprensa/itaipunamidia/itaipu-transformara-poluicao-em-renda

Pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada (INDC) Brasileira apresentada ao Secretariado da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC)Brasil (2015a) - http://www.itamaraty.gov.br/images/ed_desenvsust/BRASIL-iNDC-portugues.pdf

Pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada (INDC) Brasileira apresentada ao Secretariado da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) – Fundamentos para Fundamentos para a Elaboração da Pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada (iNDC) do Brasil no contexto do Acordo de Paris

Brasil (2015b) - http://www.mma.gov.br/quem-%C3%A9-quem/item/10710-fundamentos-para-a-elabora%C3%A7%C3%A3o-da-pretendida-contribui%C3%A7%C3%A3o-nacionalmente-determinada-indc-do-brasil-no-contexto-do-acordo-de-paris

Centro De Estudos Avançados Em Economia Aplicada - Esalq/Usp (Cepea):http://www.cepea.esalq.usp.br/comunicacao/Cepea_PIB_BR_dez12.pdf

Governo do Estado de São Paulo:http://www.ambiente.sp.gov.br/etanolverde/files/2011/10/protocoloAgroindustriais.pdf http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=13463 http://www.ambiente.sp.gov.br/etanolverde/files/2014/05/Resultados-safra-2013_2014-Etanol-Verde.pdf

Fertilizantes Heringer:http://www.heringer.com.br/heringer/web/conteudo_pt.asp?idioma=0&conta=28&tipo=2265

IBGE:IBGE - Produção Agrícola Municipal (1990-2015)http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=1612&z=p&o=11&i=P

Instituto Direito por um Plante Verde (2014):Sistemas Estaduais de Pagamento por Serviços Ambientais. Relatórios Estaduais./Paula Lavratti, Guillermo Tejeiro e Marcia Stanton, organizadores. São Paulo: Instituto O Direito por um Planeta Verde, 2014 (Direito e Mudanças

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Climáticas;7). 309p. http://www.planetaverde.org/arquivos/biblioteca/arquivo_20140803211247_8261.pdfMinistério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI):

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Plano ABC - Banco do Brasil: h t t p : / / w w w . b b . c o m . b r / p o r t a l b b / p a g e 1 0 0 , 8 6 2 3 , 8 6 5 3 , 0 , 0 , 1 , 1 .bb?codigoNoticia=30750&codigoMenu=11720&codigoRet=11766&bread=2_1

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Plano de Defesa Agropecuário 2015/2020:http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/PDA2015_2020.pdf

Plano Mais Pecuária:http://www.agricultura.gov.br/mais-pecuaria

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8180

Projeções do Agronegócio Brasil 2014/15 a 2024/25- MAPA:http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/projecoes%20-%20versao%20atualizada.pdf

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Valor Bruto da Produção (VBP) - MAPA:http://www.agricultura.gov.br/ministerio/gestao-estrategica/valor-bruto-da-producao

Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE)http://www.sae.gov.br/site/?p=23465http://www.pecuariasustentavel.org.br/gtps/SAE-Sergio_Margulis.pdf

SEEG - Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufahttp://seeg.observatoriodoclima.eco.br/

WRI-CAITClimate Data Explorer. http://cait.wri.org/

Demais Literaturas Consultadas:

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Bonfante, T. M. 2010. Análise da viabilidade econômica de projetos que visam à instalação de biodigestores para o tratamento de resíduos da suinocultura sob as ópticas do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e da geração de energia. Dissertação de Mestrado – Faculdade de Administracao e Economia da Universidade de São Paulo. 175p.

Bustamante, M.M.C., Corbeels, M., Scopel,E., Roscoe, R. Soil carbon and sequestration potential in the Cerrado Region of Brazil. In: Lal, R., Cerri,C.C., Bernoux, M., Etchevers, J., Cerri, C.E.P. Carbon sequestration in soils of Latin America. New York, Haworth, 2006. P. 285-304.

Carvalho, J.L.N., Raucci, G.S., Cerri, C.E.P., Bernoux, M., Feigl, B.J., Wruck, F.J., Cerri, C.C. Impact of pasture, agriculture and crop-livestock systems on soil C stocks in Brazil. Soil and Tillage Research, 110, 175-186, 2010.

Costa Junior, C., Cerri, C. E. P., Pires, A. V., Cerri, C. C. Net greenhouse gas emissions from manure management using anaerobic digestion technology in a beef cattle feedlot in Brazil. Science of the Total Environment, v. 505, p. 1018-1025, 2015.

Costa, Jr., C., Corbeels, M., Bernoux, M., Piccolo, M.C., Neto, M.S., Feigl, B.J., Cerri, C.E.P., Cerri, C.C., Scopel, E., Lal, R. Assessing soil carbon storage rates under no-tillage: Comparing the synchronic and diachronic approaches. Soil and Tillage Research, 134, 207-212, 2013.

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Lima, A.M.N., Silva, I.R., Neves, J.C.L., Novais, R.F.,Barros, N.F., Mendonça, E.S., Smyth, T.J.,Moreira, M.S. & Leite, F.P. Soil organic carbondynamics following afforestation of degraded pastureswith eucalyptus in southeastern Brazil. Forest Ecology and Management, 235, 219-231, 2006.

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8382

ANEXOS

Emissões de GEE no Setor de Agropecuária 1970-2014 (MtCO2e)ANEXO 1

85

Cultivo de Arroz ArrozFermentação Entérica Asínio Bubalino Caprino Equino Gado de Corte Gado de Leite Muar Ovino SuínosManejo de Dejetos Animais Asinino Aves Bubalino Caprino Equino Gado de Corte Gado de Leite Muar Ovino SuínosQueima de Resíduos Agrícolas Algodão Cana de AçúcarSolos Agrícolas Arroz Asinino Aves Bubalino Cana de Açúcar Caprino Equino Feijão Fertilizantes Sintéticos Gado de Corte Gado de Leite Mandioca Milho Muar Outras Culturas Ovino Soja Solos Orgânicos Suínos VinhaçaTOTAL

8,18,1

93,40,30,10,61,8

75,612,1

0,31,90,78,20,01,00,00,00,22,10,60,00,14,20,90,20,8

50,30,20,80,80,10,10,72,70,22,3

22,67,50,50,60,90,52,20,14,13,40,0

160,9

11,111,1

139,70,30,60,91,9

111,421,80,31,90,7

10,90,02,00,00,00,23,11,00,00,14,51,80,21,7

76,70,30,81,50,30,21,12,80,27,5

33,513,50,81,20,90,52,31,14,33,70,2

240,3

9,19,1

172,70,31,61,22,3

138,825,20,42,10,7

12,00,02,40,10,10,33,81,10,10,14,13,10,13,0

90,10,30,81,90,80,31,53,40,26,5

42,415,70,81,11,10,52,51,54,43,60,7

287,0

9,49,4

196,30,31,31,02,2

164,424,70,31,60,7

13,60,03,60,00,00,24,41,10,00,14,13,0

-3,0

105,60,40,72,60,60,61,23,30,3

13,850,614,60,81,60,80,51,92,54,63,40,8

328,0

9,89,8

234,30,21,41,02,1

196,929,90,31,80,8

17,40,05,10,00,00,25,21,40,00,15,25,4

-5,4

139,60,40,63,70,71,71,23,10,3

23,762,318,70,82,80,71,02,25,24,84,21,6

406,5

10,010,0

237,10,21,50,92,1

199,430,20,31,80,8

18,60,06,40,10,00,25,21,40,00,15,24,5

-4,5

153,00,40,54,60,72,11,13,10,4

32,163,218,60,84,00,71,22,26,64,94,11,7

423,2

Fonte de Emissão 1970 1980 1990 2000 2010 2014

Emissões Diretas e Indiretas (CH4 e N2O)

Animais (Milhões de Cabeças)

Bovinos de Corte

Bovinos de Leite

Suínos

Aves

Outros

Uso de Fertilizantesnitrogenados (Mi t)

Arroz Irrigado (Mi ha)

Queima de Resíduos Agrícolas (% da área de cana com queima)

Outras Emissões

Emissões Totais (Mt CO2e)

220

29

50

2604

29

6

0,9

37

-

1,7

2,6

0,3

0,0

0,4

7,2

9,1

-

383

75

14

18

13

43

8

6

21

582

Fonte de Emissãoe Remoção de GEE

Fatores de Emissão* e Remoção** de GEE

tCO2e / milhõesde cabeças, ha, t e m3

Dados de Atividade Emissão de GEE

20306 2030

Dados de atividade agropecuária e seus respetivos fatores de emissão e remoção de GEE, utilizados para o exercício de reproduzir a meta de emissões da INDC brasileira para o setor em 2005, 2025 e 2030.

ANEXO 2

§Projeções para 2030 baseadas pela correlação entre os dados de produção e área agrícola publicadas no SIDRA-IBGE com as projeções de produção agropecuária 2015/25 feitas pelo MAPA (2015) aplicadas a década de 2020/30; *Fatores de emissão de GEE deduzidos das emissões publicadas no 3o Inventário Nacional (MCTI, 2016) dividindo-se o dado de atividade pela emissão de GEE total correspondente e, ainda, convertidos para GWP-AR5 (IPCC, 2014); **Fatores de sequestro de carbono no solo de pastagens bem manejadas e sistemas integrados de produção baseados em Bustamante et al.(2006) e Carvalho et al. (2010), respectivamente. Considerou-se que a recuperação de 15 mi ha de pastagens e a adoção de 5 mi ha de sistemas integrados ILPF são linearmente adotados de 2017 a 2030 (ver anexo).

Dados de atividade agropecuária e seus respetivos fatores de emissão e remoção de GEE, utilizados para a construção da proposta de INDC do Observatório do Clima para o setor em 2030.

ANEXO 3 PT.I

§Projeções para 2030 baseadas pela correlação entre os dados de produção e área agrícola publicadas no SIDRA-IBGE com as projeções de produção agropecuária 2015/25 feitas pelo MAPA (2015) aplicadas a década de 2020/30; *Fatores de emissão de GEE deduzidos das emissões publicadas no 3o Inventário Nacional (MCTI, 2016) dividindo-se o dado de atividade pela emissão de GEE total correspondente e, ainda, convertidos para GWP-AR5 (IPCC, 2014); **Fatores de sequestro de carbono no solo de pastagens bem manejadas e sistemas integrados de produção baseados em Bustamante et al.(2006) e Carvalho et al. (2010), respectivamente. Considerou-se que a recuperação de 15 mi ha de pastagens e a adoção de 5 mi ha de sistemas integrados ILPF são linearmente adotados de 2017 a 2030 (ver anexo).

8786

Emissões Diretas e Indiretas (CH4 e N2O)

Animais (Milhões de Cabeças)

Bovinos de Corte

Bovinos de Leite

Suínos

Aves

Outros

Uso de Fertilizantesnitrogenados (Mi t)

Arroz Irrigado (Mi ha)

Queima de Resíduos Agrícolas (% da área de cana com queima)

Outras Emissões

Emissões Totais (Mt CO2e)

Remoções de CO2 - via Carbonono Solo

Pastagens Recuperadas (Mi ha)Sistemas Integrados

Lavoura-Pecuária-Floresta (Mi ha)

Remoções Totais (MtCO2e)

Emissão Líquida de GEE (MtCO2e)

187

21

34

1006

36

2

1,4

85

-

211

27

46

2284

32

5

1,1

41

9

3,1

220

29

50

2604

29

6

0,9

37

-

15

5

1,7

2,6

0,3

0,0

0,4

7,2

9,1

-

-5,5

-6,2

325

54

10

7

16

16

13

5

16

460

460

367

71

13

16

14

39

10

6

18

553

-50,8

-19,2

-70,0

483

383

75

14

18

13

43

8

6

21

582

-82,5

-31,2

-113,7

468

Fonte de Emissãoe Remoção de GEE

Fatores de Emissão* e Remoção** de GEE

tCO2e / milhõesde cabeças, ha, t e m3

Dados de Atividade Emissão de GEE

2005 2025 20306 2005 2025 2030

Fonte de Emissãoe Remoção de GEE

Fatores de Emissão* e Remoção** de GEE

tCO2e / milhõesde cabeças, ha, t e m3

Dados de Atividade Emissão de GEE

20306 2030

Dados de atividade agropecuária e seus respetivos fatores de emissão e remoção de GEE, utilizados para a construção da proposta de INDC do Observatório do Clima para o setor em 2030.

ANEXO 3 PT.II

§Projeções para 2030 baseadas pela correlação entre os dados de produção e área agrícola publicadas no SIDRA-IBGE com as projeções de produção agropecuária 2015/25 feitas pelo MAPA (2015) aplicadas a década de 2020/30 e consulta a especialistas; *Fatores de emissão de GEE deduzidos das emissões publicadas no 3o Inventário Nacional (MCTI, 2016) dividindo-se o dado de atividade pela emissão de GEE total correspondente e, ainda, convertidos para GWP-AR5 (IPCC, 2014); **Fatores de sequestro de carbono no solo de pastagens bem manejadas, sistemas integrados de produção (ILPF), solos de florestas plantadas, sistemas de plantio convencional (baseados na aração e gradagem do solo) e sistema plantio direto foram baseados em Bustamante et al.(2006), Carvalho et al. (2010), Lima et al. (2006), Costa Junior et al. (2013) e Bayer et al. (2006), respectivamente.§§Assume que em 2015 havia 19 mi ha de pastagens em ótimas condições, 60 mi ha de pastagens degradadas, 1,5 mi ha de sistemas integrados de produção (ILPF), 8 mi ha de florestas plantadas e 65 mi ha de áreas agrícolas (32,5 mi ha cultivados sob sistema plantio direto e convencional cada). Toda a expansão de área priorizou o uso de pastagens degradadas. #Sobra de área de pastagem degradada devido ao atendimento da demanda por produtos agropecuários com as ações propostas nessa INDC, a qual poderia ser adotada para restauração florestal

8988

Emissões e Remoções de CO2

- via Carbono no Solo

Pastagens (Milhões de ha)

Condição Estável

Degradada

Ótimas Condições

Integração Lavoura/Pecuária-Floresta

Florestas Plantadas

Lavouras (Milhões de ha)

Sistema Plantio Convencional

Sistema Plantio Direto

Florestas e Outros Ecossistemas Naturais (Milhões de ha) #

Remoções Totais (MtCO2e)

Emissão Líquida de GEE (MtCO2e)

145

111

0

34

6,5

15

84

25

59

14

0,0

4,0

-5,5

-6,2

-0,8

1,5

-1,8

0

0

-187

-41

-12

0

37

-108

-311

271

O SEEG e o OC contam com apoio de: