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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” CURSO DE PSICOPEDAGOGIA “EMOÇÕES... Organizadoras ou Desorganizadoras do Comportamento no Processo de Aprendizagem”. Por: NILMA DA COSTA VALENTE. RIO DE JANEIRO AGOSTO 2003

“EMOÇÕES Organizadoras ou Desorganizadoras do ... DA COSTA VALENTE.pdf · Também são os sonhos e mitos, em que vagas ... percebe nos sonhos e fantasias, os mais profundos desejos

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” CURSO DE PSICOPEDAGOGIA

“EMOÇÕES... Organizadoras ou Desorganizadoras do Comportamento no Processo de Aprendizagem”.

Por: NILMA DA COSTA VALENTE.

RIO DE JANEIRO AGOSTO 2003

NILMA DA COSTA VALENTE

“EMOÇÕES... Organizadoras ou Desorganizadoras do Comportamento no Processo de Aprendizagem”.

Monografia apresentada por Nilma da Costa Valente à Universidade Cândido Mendes no curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”, como pré-requisito para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia.

ORIENTADORA: MARIA ESTHER DE ARAUJO OLIVEIRA

RIO DE JANEIRO AGOSTO 2003

NILMA DA COSTA VALENTE

“EMOÇÕES... Organizadoras ou Desorganizadoras do Comportamento no Processo de Aprendizagem”.

Aprovada em : _____ / _____ / ________.

BANCA EXAMINADORA

Profª Maria Esther de Araújo Oliveira

Aos Psicopedagogos do século XXI, que os estudos de pesquisas, observações e práticas pedagógicas sejam de utilidade, de viabilidade, de ética e contribua para o sucesso de todos que um dia me ouvirem como Psicopedagoga. Por extensão, dedico a todos os profissionais preocupados com a qualidade de vida que possuímos e quantidade de talentos que utilizamos para alcançar o sucesso.

AGRADECIMENTOS

Acima de tudo, a DEUS, por todos os dias de bênçãos e graças divinas que ELE me oportunizou para caminhar ao encontro das conquistas na trajetória da minha existência. Aos filhos Janaína, Rafael e Douglas, pelo estímulo, carinho e compreensão em todos os momentos. E meu sincero amor e meus agradecimentos aos colegas Marcos Antonio, Maria Neusa, Cláudia, Otília, Paulo, e aos professores do curso de Psicopedagogia 2002 / 2003.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................

CAPITULO I – Emoções ........................................................................................

1.1 – Identificação das Emoções .....................................................................

1.2 – Emoção Organiza ou Desorganiza o Comportamento ...........................

CAPITULO II – Desenvolvimento do Conceito de Inteligência Emocional ..........

2.1 – Aquisição da Inteligência Emocional .....................................................

2.2 – A Incorporação da Inteligência Emocional no Currículo Padrão ...........

CAPITULO III – Estruturas Neurobiológicas da Emoção .....................................

3.1 – A Evolução do Cérebro Humano ...........................................................

3.2 – Regiões do Sistema Nervoso Central para o Desenvolvimento

Emocional .............................................................................................

CAPITULO IV – Desenvolvimento Emocional para a Prática Educacional ..........

CAPITULO V – Especificidade da Emoção ...........................................................

CONCLUSÃO ........................................................................................................

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................

ANEXOS .................................................................................................................

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INTRODUÇÃO

Nesse trabalho “Emoções... Organizadoras ou Desorganizadoras do

Comportamento no Processo de Aprendizagem” é abordada a importância das

emoções e sentimentos ao longo da vida, objetivando ampliar o conceito da

emoção pela ótica da inteligência.

No contexto desse trabalho o termo Inteligência Emocional1 é definido

pela capacidade de perceber emoções, ter acesso a emoções e gera-las, de modo

a ajudar o pensamento a compreender as emoções e o conhecimento emocional

e a controlar as emoções de maneira reflexiva, para promover o crescimento

emocional e intelectual. Esta definição combina as idéias de que a emoção faz

pensar de maneira mais inteligente e de que as pessoas pensam de maneira

inteligente sobre suas emoções. Ambas relacionam inteligência com emoção.

O conceito de inteligência emocional tem recebido ultimamente

considerável atenção em muitos livros, revistas e publicações especializadas.

Entretanto, cada novo debate sobre o conceito parece empregar uma definição

diferente ou apresentar razões diferentes para sua importância. Esse interesse

veio a motivar, explorar nesse trabalho os dois componentes do termo,

inteligência e emoção e apresentar as possíveis aplicações da inteligência

emocional nas escolas.

1 Saloney Peter – Inteligência Emocional, p. 38.

Especialistas em psicologia e educação viram, durante muito tempo,

pensamento e sentimento como pólos opostos – razão de um lado e paixão do

outro.

Em alguns grupos sociais as emoções são abafadas, temidas, causando

uma série de transtornos aos sujeitos, inclusive impedindo o desejo e

prejudicando o desenvolvimento cognitivo ou potencial de aprendizagem. Na

teoria psicopedagógica as emoções se tornam fundamentais, pois é a partir do

abrir espaço e tempo para o desejo, do permitir-se simbolizar, do deixar fluir as

emoções, que o sujeito pode ressignificar-se, desimpedindo-se para a

aprendizagem e para a relação com o mundo.

O organismo transversalizado pela inteligência e pelo desejo, alimenta-se

e aprende, passando a constituir um corpo onde será mostrada a história do

alimentar-se, do aprender e do ensinar do sujeito.

CAPITULO I

EMOÇÕES

Durante horas em que permanecemos

acordados, nosso estado de ânimo segue um curso.

De tempo em tempo, entretanto, temos esse equilíbrio

abalado por uma experiência perturbadora. Tudo

está correndo de maneira tranqüila, quando

subitamente encontramos um obstáculo e nossa

serenidade é substituída pela exasperação ou raiva.

Um dia rotineiro torna-se um dia de regozijo,

quando recebemos palavras inesperadas de apreço

ou é realizado um desejo nosso. Ou podemos estar

caminhando, pensando sobre nossos assuntos

pessoais quando alguma coisa nos ameaça e somos

tomados pelo medo. Ouvimos a notícia da morte de

um amigo e mergulhamos na tristeza.

Inesperadamente, tornamo-nos apaixonados e nos

enamoramos de alguém. Ver a pessoa amada

flertando com um rival suscita nosso ciúme. Um

sabor que não apreciamos arruína uma refeição

agradável. Uma sucessão de fracassos nos leva ao

desânimo e a depressão.

Se começarmos a pensar sobre cada uma dessas

experiências emocionais, verificamos que todas

contêm três elementos. O mais proeminente deles

consiste em um intenso sentimento, como a própria

palavra emoção indica, trata-se de uma experiência

comovente. Esse sentimento pode ser de excitação ou

pesar. Se a emoção for suficientemente intensa,

alguns notam que o coração bate mais rápido, a

respiração se acelera, as palmas das mãos suam e os

músculos se tornam tensos. Isso é designado como o

componente de ativação de uma emoção.

O segundo elemento comum das emoções

consiste no rótulo que fixamos a estados particulares

de ativação – medo, raiva, alegria, tristeza ou amor.

A classificação das experiências emocionais pode

parecer auto-evidente, mas têm sido colocadas

algumas questões básicas sobre como se realiza essa

identificação.

Percebe-se que a emoção incita fortemente o

sujeito a fazer alguma coisa, a não ser que a emoção

seja tão traumática que o imobilize. Percebe-se uma

tendência automática a fugir quando se está

amedrontado, a atacar se irado, a dar saltos quando

muito alegre, e a abraçar e beijar se enamorado. Mas

a emoção também nos faz engajar em atividades a

longo prazo e mais complexas. A ira pode lançar uma

pessoa em uma grande campanha de vingança.

Disputas feudais sanguinárias podem continuar por

várias gerações. O medo pode motivar uma pessoa a

desenvolver elaboradas defesas para afastar os

perigos que parecem ameaçá-la. As propriedades de

motivação do amor, do ódio e ciúme constituem

temas bastante populares na literatura. As emoções

podem ser expressas, e comumente o fazem, através

da ação. Esse componente comportamental ou

motivacional é o terceiro elemento comum partilhado

pelas emoções.

1.1 – Identificação das Emoções

Existe um padrão único de mudanças corporais

para cada estado emocional, de modo que se possa,

apenas a partir dessas mudanças, dizer quais

emoções se está experimentando? A resposta é não.

Naturalmente, existem variações na intensidade das

reações fisiológicas ou manifestações corporais, mas

elas dão pouca indicação quanto à emoção específica.

Emoções agradáveis e desagradáveis mostram

algumas diferenças; ainda mais diferenças podem ser

vistas entre emoções excitantes e depressivas. E

algumas distinções sutis entre medo e raiva têm sido

encontradas. Não obstante, não se pode

ordinariamente dizer se uma pessoa está

experimentando raiva ou medo, ou alegria, com base

apenas nas mudanças corporais. Nem se pode estar

certo da emoção de uma pessoa a partir de suas

expressões faciais. Mesmo o choro não é uma boa

indicação de tristeza; as pessoas algumas vezes

choram de alegria ou de exasperação. Ou até

escamoteiam a verdadeira emoção através de outra

manifestação. O que, então leva a identificar um

estado de ativação como raiva, medo ou alegria?

Uma das respostas corrente é a de que a

identificação de uma emoção depende da

interpretação que a pessoa dê à situação que o tenha

ativado. Suponha que uma pessoa atravessando a rua

seja quase atropelada por um automóvel. Sua

resposta fisiológica e manifestação corporal

consistem no estado de ativação descrito

anteriormente. Se ela pensa que a ocorrência se

deveu a uma falha do motorista, sentirá raiva, mas se

ela julgar que a falha foi sua, experimentará medo.

Ou poderá sentir medo inicialmente e em seguida

ficar com raiva.

O medo freqüentemente se transforma em

alegria quando uma ameaça de perigo é removida, e

a alegria se transforma em raiva quando uma

atividade agradável é interrompida. O estado de

ativação permanece, mas a experiência e o

comportamento são diferentes.

Embora os estados de ativação evidentemente

sirvam para organizar e manifestar um

comportamento, um certo número de fatores

determina como uma pessoa em particular agirá sob

o domínio de uma emoção específica. Normas

culturais são um deles. Outro fator é a influencia

parental. Através de ensaio e erro, uma pessoa

aprende os métodos aprovados para a expressão de

suas emoções em diferentes situações e com

diferentes grupos de pessoas.

Supõe-se que diferentes expressões faciais

acompanham as diferentes emoções. A maioria das

pessoas acredita, por exemplo, que a expressão facial

na raiva é diferente de apresentada no medo, na

alegria ou na aversão. A evidência experimental

parece refutar essa crença; as pessoas não são muito

acuradas em julgar que expressão esteja sendo

expressa por alguém apenas a partir de sua face. Não

obstante, investigações realizadas mostram que três

dimensões da emoção podem ser julgadas bastante

apuradamente a partir das expressões faciais.

Expressões de agrado podem ser distinguidas das de

desagrado; emoções intensas podem ser distinguidas

das expressões desatentas e indiferentes.

Pela lógica da neurociência, se a ausência de um

circuito neural conduz a um déficit numa aptidão,

então a forca ou fraqueza relativas desse mesmo

circuito nas pessoas de cérebro intacto deve conduzir

a níveis compatíveis de competência nessa mesma

aptidão. Em termos do papel dos circuitos pré-

frontais na sintonização emocional, isso sugere que

por razões neurológicas algumas pessoas podem mais

facilmente detectar a sensação de medo ou prazer

que outras, e assim serem mais auto-conscientes de

suas emoções.

Talvez o talento para a introspecção psicológica

também sofra influência desses mesmos circuitos.

Algumas pessoas são naturalmente sintonizadas com

simbolismos mentais específicos: a metáfora e o

símile, juntamente com a poesia, a música e a fábula,

são todos baseados na “linguagem do coração”.

Também são os sonhos e mitos, em que vagas

associações determinam o fluxo da narrativa,

seguindo a lógica da mente emocional. Os que têm

uma sintonia natural com a voz de seu coração – a

linguagem da emoção – certamente são mais capazes

de articular as mensagens dele, quer seja responsável

por eles serem mais talentosos para expressar a

“sabedoria do inconsciente” – os significados que se

percebe nos sonhos e fantasias, os mais profundos

desejos.

A autoconsciência é fundamental para a intuição

psicológica, esta é a faculdade que a psicoterapia

privilegia, em vistas a seu fortalecimento. Como

Freud colocou, grande parte da vida emocional é

inconsciente, os sentimentos que agitam dentro do

ser humano nem sempre cruzam o limiar da

consciência. A verificação empírica desse axioma

psicológico vem, por exemplo, de experiências com

emoções inconscientes, como a notável descoberta de

que as pessoas tomam gosto definitivo por coisas que

nem têm consciência de terem visto antes. Qualquer

emoção pode ser – e muitas vezes é – inconsciente.

1.2 – Emoções Organizam ou Desorganizam o

Comportamento

A emoção pode tanto facilitar quanto

desorganizar o comportamento. O fato de uma

emoção ter efeitos diferenciados sobre o

comportamento depende de três fatores. O primeiro

fator é a intensidade. Todas as emoções começam a

desorganizar o comportamento quando excedem um

certo nível de intensidade. Esse nível ou limiar não é

uma constante para todas as pessoas, nem para uma

mesma pessoa em diferentes ocasiões. Quando o

limiar é ultrapassado, os centros superiores do

cérebro parecem perder o controle, como se fossem

inundados pelos impulsos dos centros inferiores,

impedindo a pessoa de pensar logicamente. Dizemos

que ela “perdeu a cabeça” ou “se fez em pedaços”.

Abaixo desse nível de intensidade, a emoção é

freqüentemente vantajosa para energizar e organizar

o comportamento. Um estado de estresse emocional

moderado torna o indivíduo mais alerta e eficaz. Por

exemplo, numerosos experimentos de laboratório

têm mostrado que pessoas com níveis moderados de

ansiedade podem aprender algumas tarefas mais

rapidamente do que aquelas com níveis baixos de

ansiedade.

O segundo fator é a expectativa. Uma pessoa que

súbita e inesperadamente se defronte com uma

situação extremamente provocada de emoção pode

ser completamente dominada por ela. É provável que

sua resposta seja confusa, e ela pode até entrar em

estado de choque. Sabe-se mesmo de pessoas que

morreram de susto. Mas se a pessoa pode prever a

estimulação emocional, é comumente capaz de se

preparar para ela ou se defender dela.

O terceiro fator que determina se uma emoção

será desorganizadora ou facilitadora é a natureza

das respostas que ela evoca. Se as respostas

interferem com o comportamento adaptativo, o efeito

será prejudicial. Todos nós já vimos quanta

perturbação pode provocar uma pessoa que se

comporte desajeitada e impropriamente em situações

sociais. Mas se as respostas são adaptativas, o efeito

da emoção será benéfico. Emoções fortes têm

capacitado muitas pessoas a realizar proezas de força

física que estariam além de suas capacidades em

circunstâncias normais.

Emoção e inteligência têm sido muitas vezes

vistas como adversárias, sendo as emoções

consideradas uma força intrinsecamente irracional e

desagregadora. Por exemplo, a idéia de que a mente é

“assaltada” por experiências emocionais intensas –

embora verdadeira em alguns casos – enfatiza como

as emoções desagregam o pensamento. Em muitas

circunstâncias, entretanto, reações emocionais

extremas promovem a inteligência ao interromper o

processo em andamento e voltar à atenção para o

que pode ser importante. Nesse sentido, elas

priorizam a cognição. As emoções de todo tipo

fornecem uma contribuição potencial para o

pensamento e não um elemento desorganizador dele,

segundo a teoria de inteligência emocional.

CAPITULO II

DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO DE

INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

A mente é composta em três partes: cognição (ou

pensamento), afeto (que inclui a emoção) e motivação

(ou conação)2. A esfera cognitiva engloba funções

como a memória, o raciocínio, o julgamento e o

pensamento abstrato humano. A inteligência é

2 Motivação (ou conação) – uma das três esferas tradicionais da atividade mental (ao longo do afeto e da cognição), que se refere às necessidades básicas – como fome e sede – e às atividades mais complexas com objetivos diretos, tais como a busca de amizade, realização ou poder. A divisão em três partes básicas para o conceito moderno de psicologia. Pesquisas Históricas podem ser encontradas em Hilgard (1980) e Mayer (1958); as origens do sistema datam de Mendelssohn (1775/1971);

geralmente usada para caracterizar com que eficiência

a esfera cognitiva funciona. Isso é, a inteligência tem a

ver com capacidades como o “poder de combinar e

separar” conceitos, de julgar e raciocinar e de se

envolver em pensamento abstrato3,4.

As emoções pertencem à segunda esfera de

funcionamento mental chamada de afetiva, que

inclui as emoções em si, humor, as apreciações e

outras sensações, inclusive fadiga ou energia.

Qualquer definição de inteligência emocional

relacionar emoções com inteligência preservando o

sentido dos dois termos. É preciso lembrar que a

motivação é uma terceira esfera da personalidade.

Refere-se a instintos biológicos ou a um

3 Wechsler (1958), por exemplo, definiu a inteligência como relacionada não somente com a cognição, mas também com a adaptação geral. Em Mayer e Salovey (1995), examinados a distinção entre adaptação e inteligência. Embora a adaptação esteja claramente envolvida com a inteligência, ela é insuficiente para, por si só, caracterizar inteligência. Muitos organismos, como as formigas, se adaptam bem sem serem necessariamente muito inteligentes, no sentido aqui empregado; 4 “O poder de combinar e separas” foi sugerido pelo filosofo São Tomás de Aquino, 1225 – 1274 (citado em Walsh e Betz, 1995); a importância do raciocínio e do julgamento ficou evidente nos primeiros testes, Binet (ver Sattler, 1982); Spearman (1927) enfatizava a importância do raciocínio abstrato.

comportamento de procura de um objetivo,

adquirido através do aprendizado.

Nem tudo o que relaciona cognição com emoção,

entretanto é inteligência emocional. Durante os

últimos vinte anos, aproximadamente, muitos

estudos têm sido dedicados à interação mútua de

sentimento e pensamento. Essa área geral da

pesquisa é chamada de cognição e afeto. Sabe-se que

a emoção altera o pensamento de muitas maneiras –

mas não necessariamente em maneiras que

tornariam uma pessoa mais inteligente.

Uma questão final torna-se importante para

definir a inteligência emocional: ela precisaria ser

diferenciada de traços característicos e talentos. Os

traços podem ser definidos como maneiras

características ou preferidas de comportamento (por

exemplo, extroversão, timidez); os talentos, como

capacidades não intelectuais (por exemplo,

habilidade para esporte). Certas inteligências

recentemente propostas se pareciam mais com traços

característicos e talentos valorizados do que com

inteligências propriamente ditas. O desempenho de

um talento, sem dúvida associado ao pensamento

inteligente alcançará um nível mais alto.

O conceito de inteligência emocional se

concentra basicamente na complexa e potencialmente

inteligente tapeçaria de raciocínio emocional na vida

cotidiana. Para maioria dos indivíduos saudáveis,

consideramos que as emoções transmitem

conhecimento sobre relacionamento de uma pessoa

com o mundo. O raciocínio emocional, portanto, se

estende a questões sobre relacionamentos. Uma

pessoa insultada pode sentir raiva; se estiver

insegura e não assertiva, pode sentir vergonha,

humilhação – ou reprimir raiva. Reconhecer essas

reações requer alguma forma de inteligência.

A inteligência emocional requer pelo menos

algumas respostas “corretas” quanto a sentimentos,

considerando cultura e subcultura.

Examinar manifestações mais complexas de

inteligência emocional (além daquela de simples

identificação de emoção) muitas vezes requer uma

compreensão da própria estrutura cultural do

indivíduo. Somente com o conhecimento dos padrões

da pessoa podem, certas reações e modelos

emocionais, serem avaliados de acordo com sua

consistência lógica e em conseqüência, sua

inteligência.

Em suma, a inteligência emocional envolve a

capacidade de perceber apuradamente, de avaliar e

de expressar emoções, a capacidade de perceber e/ou

gerar sentimentos quando eles facilitam o

pensamento, a capacidade de compreender a emoção

e o conhecimento emocional, e a capacidade de

controlar emoções para promover o crescimento

emocional e intelectual.

2.1 – Aquisição de Inteligência Emocional

A maioria das habilidades emocionais podem ser

aprimoradas por meio de educação, ou seja,

ensinando com o coração, sugere um professor sábio

que reconhece que aprender sempre envolve

sentimentos e que esses sentimentos são

experimentados na mesma medida pelo professor e

pelos alunos. E isso parece ser verdade para pelo

menos algumas das habilidades relacionadas com

inteligência emocional. As habilidades emocionais

começam em casa, com uma boa interação pais e

filhos. Os pais ajudam as crianças a identificar e

nomear suas emoções, a respeitar seus sentimentos e

a começar a integrá-los em situações sociais. Esse

processo pode acontecer em um grau maior ou

menor em cada lar. Os indivíduos os operam a partir

de diferentes pontos de partida emocionais. As

oportunidades para o aprendizado de habilidades

emocionais não são sempre iguais. O aprendizado

sempre ocorre, a sua qualidade é que varia. Os pais

podem sofrer limitações psicológicas tão severas que

se tornam incapazes de iniciar um processo de

aprendizado emocional-cognitivo interessante para a

ação futura de seus filhos. Como conseqüência, os

filhos às vezes desenvolvem distúrbios em que se

colocam distantes de seus sentimentos ou não os

compreendem. Em alguns casos é necessário um

terapeuta para trabalhar o problema. Os terapeutas

se preparam para ouvir, refletir ou sentir de maneira

empática e para buscar emoções perdidas que

precisam ser construídas, recuperadas ou

trabalhadas de maneira mais favorável. É também

possível que algum aprendizado terapêutico aconteça

nas escolas. Alguns dos mais importantes

aprendizados ocorrem nos relacionamentos

informais entre aluno e professor; os professores

muitas vezes fazem o papel de um modelo adulto e

potencialmente sábio.

2.2 – A Incorporação da Inteligência Emocional no

Currículo Padrão

Particularmente útil, é o ensinamento emocional

natural que acompanha muitas das ciências humanas

e também vários sistemas de valores. Nas aulas de

leitura que tratam de histórias envolventes, as

crianças começam a aprender sobre os sentimentos

das personagens. Alguns personagens apresentam

uma inevitável tendência a serem felizes, sentir medo,

ciúme e assim por diante, e as crianças podem

observar tanto o que leva as personagens a sentirem

da maneira como o fazem quanto como elas reagem a

esses sentimentos. O aprendizado prossegue ao longo

do sistema educacional e, à medida que as histórias

se tornam mais complexas, o mesmo acontece com o

aprendizado emocional. As maneiras pelas quais os

sentimentos das personagens motivam as ações que,

por sua vez, impulsionam o enredo, são uma lição de

percepção emocional tão importante para os jovens

quanto à de construção de enredo. De fato, não se

pode avaliar um enredo sem perguntar: “O que esta

personagem, com sua história e estilo pessoal, sente

nesta situação?”, e depois: “É razoável que alguém,

com esse tipo de sentimento, aja da mesma maneira

que esta personagem?” A literatura é provavelmente

a primeira moradia das inteligências emocionais,

mas também temos os programas de arte, música e o

teatro.

Também não se deve relegar a importância dos

valores, uma vez que eles determinam em parte o

conhecimento mais consciente das emoções. Os

valores são seguidamente discutidos e ensinados em

matérias de ciências humanas com história, conceitos

de cidadania e (com mais freqüência em escolas

particulares) religião. Deles aprende-se sobre os

sistemas de valores dentro dos quais a reação

emocional ocorre. Existem diferentes estilos de

emoções dentro de diferentes sistemas. Na cultura

ocidental valoriza-se teoricamente a vida individual,

a democracia e a igualdade entre as pessoas, ao passo

que rejeita a destruição da vida e da propriedade, a

discriminação e a ignorância.

Usar as emoções como base para o pensamento e

pensar com as próprias emoções pode estar

relacionado com competências sociais e

comportamentos facilitadores. Falar de emoções é

um começo. Falar dos sentimentos das personagens

de uma história é outro. Construir competências é o

objetivo.

Manter as habilidades emocionais divorciadas de

um senso moral não constitui competência

emocional. A competência emocional pressupõe

“fazer a coisa certa”.

CAPITULO III

ESTRUTURAS NEUROBIOLÓGICAS DA EMOÇÃO

Embora a psicologia do desenvolvimento tenha

uma historia relativamente longa de investigação do

desenvolvimento emocional nas crianças, só

recentemente os pesquisadores começaram a

considerar as estruturas neurobiológicas da emoção.

A emoção é importante em múltiplos aspectos do

desenvolvimento, incluindo o relacionamento pais e

filhos (afeição) e o relacionamento das pessoas com

os colegas. Além disso, muitos distúrbios fisiológicos

da infância podem ser vistos, em parte, como

fracassos nos processos de controle da emoção.

Progressos recentes nos procedimentos disponíveis

para o estudo do cérebro (por exemplo, técnicas de

neuroimagem, eletroencefalograma [EEG]), assim

como as características mutáveis de cada geração,

que concedem à emoção um papel mais central no

comportamento e no desenvolvimento, têm resultado

no aumento do interesse pela neurobiologia da

emoção.

A antiga noção no dualismo mente-corpo,

adotada por Descartes, contribuiu para a tradicional

separação entre emoção e cérebro. De acordo com

essa teoria, as emoções eram vistas como originarias

primeiramente do corpo, com o pensamento racional

sendo a primeira preocupação da “mente”. Isto é,

sente-se no íntimo e no coração e pensa-se no

cérebro. Gradualmente, essa visão tem se

modificado, e o cérebro é hoje visto como agente de

um papel primordial no processamento da emoção.

De fato, alguns estudiosos têm começado a enfatizar

a importância da emoção para o que tem

tradicionalmente sido visto como o domínio do

pensamento racional, por exemplo, para tomadas de

decisão eficazes. A integração de cognição e emoção

tem implicações importantes na educação.

Nos seres humanos, tanto o desenvolvimento

sócio-econômico quanto o cerebral passam por um

prolongado período de desenvolvimento, com muito

espaço para influencias externas. Um

desenvolvimento cerebral enorme ocorre após o

nascimento, e algumas áreas do cérebro (por

exemplo, os lobos frontais) não estão inteiramente

maduras até a adolescência. Opiniões correntes sobre

a neurobiologia do desenvolvimento emocional

enfatizam a influência recíproca que o

desenvolvimento social e o desenvolvimento cerebral

exercem um sobre o outro.

3.1 – A Evolução do Cérebro Humano

Para se compreender os trabalhos atuais sobre a

estrutura neurobiológica da emoção, é importante

considerar a evolução do cérebro e da emoção, bem

como a sua interação. O cérebro humano evoluiu ao

longo de milhões de anos, por meio de um processo

caracterizado principalmente pelo crescimento e pela

expansão das estruturas cerebrais superiores, a

partir das partes primárias. As partes primárias

consistem em estruturas, sobretudo no tronco

cerebral, que controlam as funções básicas de

sobrevivência (como a respiração e a fome). É

também a parte do cérebro que os seres humanos

têm em comum com a maioria dos outros animais.

No transcurso de milhões de anos, os sistemas do

cérebro emocional evoluíram a partir do tronco

cerebral, devido, em parte, ao aumento das

habilidades necessárias para a sobrevivência em

ambientes mais complexos.

A emoção tem um papel importante no

desenvolvimento de uma rápida avaliação do perigo

e, sobretudo, na determinação da escolha da vasta

gama de informações sensoriais recebidas tanto do

conhecimento externo quanto dos sinais internos do

corpo. Um dos primeiros estágios na evolução do

cérebro emocional começou com a evolução do bulbo

olfativo para perceber odores, uma capacidade

importante para detectar o perigo e também

parceiros em potencial. Para muitas espécies

inferiores na árvore filogenética, esta é ainda uma

estrutura primária do cérebro, envolvida no que

poderia ser considerado comportamento emocional

ou dirigido. Entretanto, à medida que acontecia a

evolução – a evolução dos mamíferos, em particular –

novos níveis de complexidade foram acrescentados

ao cérebro emocional. Nesse estágio, apareceu pela

primeira vez o “sistema límbico”, um conjunto de

estruturas cerebrais subcorticais envolvendo o tronco

cerebral. Os componentes do sistema límbico e suas

conexões com outras áreas do cérebro são,

hipoteticamente, fornecedores de muitas das

estruturas neurais para a emoção nos seres humanos.

Aproximadamente cem milhões de anos atrás,

ocorreu um desenvolvimento decisivo na evolução do

cérebro dos mamíferos. Naquela época, múltiplas

novas camadas foram acrescentadas ao córtex, a

camada mais externa do cérebro. O neocórtex

humano é muito maior do que o de qualquer outra

espécie e acredita-se que seja responsável pelo

desenvolvimento das funções cerebrais superiores,

que são consideradas unicamente humanas (isto é, o

pensamento racional, a capacidade de planejamento,

a inibição de impulsos). Embora o neocórtex tenha

tradicionalmente sido associado à razão e ao

intelecto, estudos recentes têm começado a se

concentrar também no envolvimento dessas áreas do

cérebro com as emoções.

O modelo cerebral trino que, grosseiramente,

corresponde à evolução, foi proposto por Maclean5

como modelo conceitual para a descrição de

diferentes sistemas cerebrais. O modelo de Maclean é

hierárquico e divide o cérebro em três seções, com

base nas suas funções: da sobrevivência, emocional e

racional. Embora esse modelo seja útil para delinear

as categorias globais da função cerebral de maneira

geral por área, modelos mais recentes de 5 Maclean, P. D. (1990) The Triune Brain in evolution: Role in paleoceral functions. New York: Plenein.

organizações neurais são muito mais complexos e se

voltam, em grande medida, para o papel das

interconexões entre diferentes sistemas neurais na

determinação do comportamento. Agora se sabe que

as atividades de sobrevivência e emocional ocorrem

em todos os níveis do cérebro e que o dualismo da

emoção e cognição racional é enganador.

3.2 – Regiões do Sistema Nervoso Central Para o

Desenvolvimento Emocional

Atualmente, existe controvérsia sobre a utilidade

desse termo global e sobre se as partes componentes

do sistema límbico de fato funcionam como um

sistema. Por exemplo, enquanto a amídala está

envolvida centralmente, outras estruturas “límbicas”

, como o hipocampo, estão envolvidas apenas

perifericamente. Além disso, importantes aspectos do

processamento da emoção utilizam outras partes do

cérebro, fora do sistema límbico desempenham um

importante papel no controle dos sentimentos. As

estruturas do sistema límbico estão envolvidas em

múltiplos aspectos da emoção, tendências e certos

atos e o armazenamento das lembranças emocionais.

O sistema límbico também é muito rico em

receptores peptídicos, que estão envolvidos em

comportamentos relacionados com impulsos, tais

como o de comer e o da atividade sexual, mais um

fato que o torna especialmente bem adequado para o

seu envolvimento com as emoções. As estruturas

límbicas estão também posicionadas para receber

sinais do corpo relacionados com o que a pessoa está

experimentando internamente, além da informação

sensória recebida do ambiente. Por meio de sua

avaliação inicial do significado emocional dessa

informação, juntamente com suas amplas conexões

com outros sistemas cerebrais, o sistema límbico

aciona reações a essa informação recebida.

A maior parte das definições do sistema límbico

inclui o seguinte conjunto de estruturas subcorticais

em torno do tronco cerebral: a amídala, o

hipocampo, o tálamo e o hipotálamo. O tálamo e o

hipotálamo podem ser considerados como estações

relé para recepção de informações. O tálamo recebe

informações sensoriais que chegam do ambiente

externo, ao passo que o hipotálamo recebe sinais do

corpo e está envolvido no controle da sexualidade e

do apetite. Ambas as estruturas fornecem

informações à amídala, a estrutura cerebral que tem

sido mencionada como a estrutura límbica

fundamental envolvida na neurobiologia da emoção.

A amídala é relativamente pequena, uma

estrutura em forma de amêndoa, com múltiplas

conexões com outras regiões do cérebro. A função

básica da amídala parece ser a de interpretar a

informação sensorial recebida dentro do contexto das

necessidades de sobrevivência e emoções do

indivíduo. Por meio dessas conexões com outras

áreas do cérebro, a amídala influencia a reação de

uma pessoa a essa informação recebida em múltiplos

níveis. Operacionalmente, a amídala pode ser ligada

ao “sistema de alarme” do corpo, isto é, usando a

informação sensória recebida, a amídala examina a

experiência, verificando cada mínima mudança no

contexto.

O hipocampo é outra estrutura do sistema

límbico envolvida com memória. O hipocampo e a

amídala parecem agir em equipe no processo de

armazenamento de lembranças, em que o hipocampo

fornece à lembrança o contexto ou os detalhes não-

emocionais e a amídala imprime a marca emocional

à lembrança.

Acredita-se que o hipocampo amadurece em

uma fase posterior do desenvolvimento (pós-

nascimento), isso pode explicar em parte o motivo

pelo qual as primeiras lembranças não estão

disponíveis para nós, isto é, elas foram armazenadas

na amídala, e não no hipocampo.

Os lobos frontais são outra área do cérebro

essencialmente envolvida no controle emocional. Os

lobos frontais são uma das regiões do cérebro que

compreendem o neocórtex, ou a mais externa e mais

recente camada do cérebro. Essa área também

recebe a maior projeção de informação sensorial do

tálamo e, por isso, é o local mais importante para a

análise de informações sensórias recebidas. Ao

examinar o papel desempenhado pelo lobo frontal na

emoção, é importante considerar as complexas e

interligadas conexões dessa região com o sistema

límbico. O córtex frontal (às vezes chamado de córtex

pré-frontal) tem uma conexão única com o sistema

límbico, porque é a única área neocortical em que é

representada a informação processada nesse sistema.

No neocórtex, uma série de circuitos em cascata

registra e analisa aquela informação, compreende-a

e, através do lobo pré-frontal, orquestra uma reação.

Se nesse processo é exigida uma reação emocional, os

lobos pré-frontais a impõem, trabalhando lado a lado

com a amídala e com outros circuitos no cérebro

emocional.

Essas conexões entre o lobo frontal e o sistema

límbico têm levado algumas pessoas a concluir que o

córtex frontal fornece a arena para a interação entre

cognição e emoção.

Uma inconsciência emocional se instala em

pacientes, quando ao se remover um tumor no

cérebro, retira-se junto a parte dos lobos pré-

frontais. Ao se cortar várias ligações entre os centros

inferiores do cérebro emocional, sobretudo a amídala

cortical e circuitos relacionados, e as capacidades de

pensar do neocórtex. O pensamento torna-se igual ao

de um computador, capaz de executar todas as

etapas para solucionar um problema, mais incapaz

de atribuir valores às diferentes possibilidades.

Pacientes com severos derrames que, para alívio

dos sintomas, tiveram a ligação entre o sistema

límbico e o neocórtex, sobretudo os centros verbais,

seccionada; tornam-se incapazes de falar sobre seus

sentimentos, e subitamente desprovidos de

capacidade de fantasiar.

Em suma, embora os circuitos do cérebro

emocional reajam com sentimentos, o neocórtex não

pode classificar esses sentimentos e acrescentar-lhes

a nuança da linguagem. E não ter palavras para os

sentimentos, significa não tomar posse desses

sentimentos.

CAPITULO IV

DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL PARA A

PRÁTICA EDUCACIONAL

Durante o desenvolvimento, a natureza das

interações sociais e educacionais desempenha um

papel ativo na forma de desenvolvimento do cérebro.

O desenvolvimento do cérebro é altamente maleável

e fortemente influenciável pela experiência. As

experiências vividas no decorrer da infância levam

ao fortalecimento e à integração ou à fragmentação

das redes neurais. De especial importância é a

maneira como a educação e a experiência social

criam saudáveis redes neurais entre os lobos frontais

e os centros subcorticais da emoção (especialmente a

amídala). Entretanto, deve ser ressaltado que não há

dados experimentais com seres humanos que

ilustrem como a experiência altera a estrutura do

cérebro.

O ensino deveria ser imaginado como um agente

facilitador do processo de integração neural, isto é, os

professores podem desempenhar um importante

papel no fortalecimento das vias que levam à

integração do afeto, da linguagem e da cognição.

Embora o conteúdo ou o assunto a ser ensinado seja

importante, a maneira como ele é transmitido requer

atenção adicional. De especial importância é a

maneira pela qual o professor, encoraja tomadas de

decisões e soluções de problemas cognitivos e

interpessoais na sala de aula.

O processo de aprendizagem acontece como

resultado da integração de um aprendente, um

ensinante, e o objetivo do conhecimento.

O conhecimento é um processo evolutivo e

acumulativo onde todas as experiências vividas pelo

indivíduo influem na sua construção.

A aprendizagem é um fator contínuo, e

simultâneo ao desenvolvimento desse conhecimento,

ou seja, o indivíduo vai necessitar internalizar o

mundo exterior, compreender sua linguagem, através

do pensamento, do raciocínio e das estruturas lógicas

para então realizar o processo de aprendizagem com

êxito.

A aprendizagem é adquirida através do

equilíbrio e da adaptação de dois fatores, a

assimilação e a acomodação. Quando o sujeito é

capaz de aplicar um esquema que já dispõe para

perceber a realidade sem modificação e também é

capaz de modificar o esquema de assimilação pela

necessidade apresentada pelo objeto.

Pela ótica da psicopedagoga Alicia Fernández “...

O operar intelectual, em seu aspecto dinâmico,

também é caracterizado por momentos de assimilação

e acomodação.

Todo ato de inteligência, por mais simples e

rudimentar que seja, supõe uma interpretação da

realidade externa, ou seja, uma assimilação do objeto

por conhecer a algum tipo de sistema de significados

existentes no sujeito. De modo equivalente todo ato de

inteligência, por mais elementar que seja, supõe um

enfrentamento com as características do objetivo, quer

dizer, uma acomodação às demandas ou aos anseios

que o mundo dos objetos impõe ao sujeito...”6.

6 Fernández, Alicia – Os idiomas da aprendente, p.70-71.

Pela assimilação o sujeito transforma a realidade

para integrá-la a seus esquemas de ação e pela

acomodação transforma e coordena seus próprios

esquemas para adequar-se à realidade do objetivo a

conhecer.

“... A analise da modalidade de inteligência, em

seu operar, permite-se chegar a certas conclusões a

cerca da modalidade de aprendizagem e a estabelecer

correlações com determinadas patologias. Desta

maneira, pode ser útil para realizar diagnósticos

diferenciais (sintoma – inibição – problema de

aprendizagem relativo – oligofrenia – oligotimia)...”7.

“... mas, como a inteligência é somente uma das

estruturas que intervém no processo de aprendizagem

e, de outra forma, não pode separar-se do desejo e da

corporeidade, na análise de um sujeito em particular,

7,8 Fernández, Alicia – Os idiomas do aprendente, p. 70-71.

prefere-se falar de modalidade de aprendizagem, e não

de modalidade de inteligência...”8.

Entre o verbo ensinar e o verbo aprender

situam-se diversas operações, muitas delas opostas

entre si: transmissão – herança – reprodução –

transformação – construção – mudança – repetição –

novidade – permanência – mutação.

Entre quem ensina e quem aprende abre-se um

campo de produção de diferenças, pois cada um de

nós tem uma modalidade de aprendizagem, um

idioma próprio para tomar do outro e fazê-lo seu,

para entregar – mostrar-lhe um pouco de nossa obra.

A modalidade de aprendizagem é como um

idioma que cada um de nós utiliza para entender os

outros e fazer-se entender por eles.

Quem ensina mostra um “signo” do que conhece.

Quem aprende toma, “agarra” esse signo para

construir os próprios. O que o ensinante entrega não

e o mesmo que o aprendente toma. Pois, cada sujeito

utiliza para aprender uma organização de aspectos

(conscientes, inconscientes e pré-conscientes) da

ordem da significação, da lógica, da simbólica, da

corporiedade e da estética.

Os termos ensinante e aprendente não são

equivalentes a aluno e professor. Estes últimos fazem

referência a lugares objetivos em um dispositivo

pedagógico, enquanto aqueles indicam um modo

subjetivo de situar-se. Esse posicionamento, embora

relacionado com as experiências que o meio provê ao

sujeito, não está determinado por elas. Podem ser

simultâneos e estão presentes em todo vínculo (pais –

filhos, amigo – amigo, aluno – professor...), assim

como não se poderia ser aluno e professor de seu

aluno ao mesmo tempo, ao contrário, só quem pode

se posiciona como ensinante poderá aprender e quem

se posiciona como aprendente poderá ensinar.

O objetivo da psicopedagogia não é, então, o

conteúdo ensinado ou o conteúdo aprendido ou não

aprendido; são os posicionamentos ensinantes e

aprendentes, e a intersecção problemática (nunca

harmônica), mas necessária, entre o conhecer e o

saber.

CAPITULO V

ESPECIFICIDADE DA EMOÇÃO

As definições de emoção são várias e muitas

vezes conflitantes. A controvérsia surge em parte

porque as emoções têm numerosas facetas. Ela inclui

pelo menos os seguintes quatro componentes: (1) um

componente expressivo ou motor, (2) um componente

experimental, (3) um componente controlador e (4)

um componente de percepção ou processamento.

Além disso, considera-se que cada um desses

componentes envolva processos neurais e cerebrais

específicos.

O primeiro componente é a capacidade de

manifestar emoção por meio da expressão facial, da

postura do corpo e do tom e significado da voz. Os

bebês já nascem equipados com expressões faciais e

corporais que se acredita refletirem sua experiência

emocional. Como acontece em muitos aspectos do

desenvolvimento, essas expressões se tornam mais

diferenciadas e refinadas com o tempo. Por exemplo,

as primeiras expressões de infelicidade são mais

tarde diferenciadas por expressões de tristeza e de

raiva.

Um segundo componente é o reconhecimento

consciente das emoções, o que muitas vezes

denomina-se de “sentimento”. “Estados de

sentimento” são o resultado da percepção dos

indícios que vêm do sistema nervoso central (por

exemplo, o ritmo cardíaco, mudanças neuroquímicas

do corpo, e assim por diante), do “feedback” das

expressões faciais, e de interpretação do que está

acontecendo tanto internamente quanto

externamente. Esses “estados de sentimento” são

normalmente manifestados após a aquisição da

linguagem, por meio da expressão verbal da própria

experiência. Entretanto, deve-se reconhecer que, por

pelo menos duas razões, há muitas vezes uma falta de

concordância entre o que o corpo está sentindo e a

capacidade de perceber isso. A primeira razão é que,

com freqüência, o processamento do contexto

emocional ocorre fora da percepção consciente

(processo inconsciente). Em segundo lugar, os

“estados de sentimento” são muitas vezes complexos

e, com freqüência, o individuo é impreciso ao

comunicar verbalmente o que está sentindo

conscientemente. O terceiro componente da emoção é

o controle da emoção. Certas tendências nos atos

praticados são o resultado direto da experiência de

emoções. Por exemplo, a alegria é traduzida por um

nível exuberante de emoções. Enquanto a raiva está

diretamente associada à tendência de atacar ou

atingir uma pessoa-alvo. Em nenhum outro lugar

isso é tão evidente quanto em um bebê, porque os

bebês expressam seus estados emocionais

diretamente. Quando crescem, e com a maturidade

cognitiva / neural, as crianças se tornam mais

capazes de controlar suas emoções e dominar a

tendência natural a certos atos, associada a uma

determinada emoção. Assim, quando uma criança de

sete anos é atingida por outra e sente raiva por

utilizar uma estratégia diferente. Entretanto, há

grandes diferenças individuais. Do mesmo modo,

uma criança de nove anos que esteja sendo

insistentemente incomodada por um colega pode

conseguir esconder essa emoção e reagir com humor,

para fazer parar ou neutralizar a perturbação.

O componente final da emoção é a capacidade de

reconhecer emoções nos outros, isto é, a capacidade

de reconhecer que emoção a outra pessoa está tendo,

mediante a análise de sua expressão facial, a postura

do corpo (incluindo os movimentos da cabeça e dos

olhos), o tom de voz e a velocidade da fala. Esta

capacidade se desenvolve enquanto a criança é bebê e

durante a primeira infância.

Sabe-se que a emoção é muito importante para o

processo educacional, porque impulsiona a atenção

que, por sua vez, impulsiona o aprendizado e a

memória. Entretanto, nunca se entendeu realmente a

emoção, e por isso não se sabe como controla-la na

escola – além de defini-la de maneira exagerada ou

insuficiente como um comportamento impróprio e

relega-la, quase sempre, às artes, ao recreio e aos

programas extracurriculares. Assim, a emoção é

incorporada inadequadamente aos currículos e às

salas de aula.

A maneira pela qual comportamento, emoções e

cognições se tornam integrados na primeira década

do desenvolvimento da pessoa tem importantes

implicações no funcionamento psicológico e

emocional durante o curso da vida. Implícito no

modelo de desenvolvimento está a idéia de que,

durante o processo de amadurecimento alguns

componentes do desenvolvimento emocional

precedem formas posteriores de cognição. Como

resultado, no inicio do desenvolvimento o afeto é um

importante precursor de outras maneiras de pensar

e, em conseqüência, deve ser integrado a outras

funções do desenvolvimento para o amadurecimento

ideal. Isso é apoiado por estudos neurobiológicos que

indicam que o sistema emocional / límbico está ativo

antes de se estabelecer a rede de informações

primárias necessárias para a cognição.

Durante os três primeiros anos de vida, todo o

repertório de sinais afetivos se desenvolve, e esses

sinais / manifestações se tornam subseqüentemente

disponíveis pelo resto da vida do indivíduo.

CONCLUSÃO

As emoções são importantes para racionalidade.

Na dança entre sentimentos e pensamento, a

faculdade emocional guia nossas decisões a cada

momento, trabalhando de mãos dadas com a mente

racional e capacitando – ou incapacitando – o

próprio pensamento. Do mesmo modo, o cérebro

pensante desempenha uma função de administrador

de nossas emoções – a não ser naqueles momentos em

que elas lhe escapam ao “controle”.

O que é controlar emoções?

A teoria da Inteligência Emocional se inspira no

ensaio de Thompson: “O controle da emoção consiste

nos processos extrínsecos e intrínsecos responsável

pelo monitoramento, pela avaliação e pela modificação

das reações emocionais, especialmente seus aspectos

intensivos e temporais, para que os objetivos de uma

pessoa sejam atingidos”.9

É questionável o conceito condutista de controle

das emoções, na visão psicopedagógica, já que invade

o modo de pensar e significar, priorizando o

resultado sem atender o processo. Sem atender ao

processo perde-se o autor e a autoria.

A medida de que a pessoa cresce e vai se

desenvolvendo cognitivamente, a cognição vai

interagindo com a emoção (processo concomitante).

Na culturalização vai havendo o processo

civilizatório de “controle” das emoções, regulando

ações (mas não impedindo a criatividade e o

desenvolvimento da própria inteligência).

9 Thompson (1944, pp. 27 – 28).

As emoções podem ser compreendidas

racionalmente ou elas ajudam ao sujeito a elaborar,

ou embota pensamentos.

Quando o sujeito renuncia à sua história ou é

impedido de ser autor dela, a primeira conseqüência

desse impedimento manifesta-se no enrijecimento de

sua modalidade de aprendizagem. Ele não apenas

deixa de transformar o mundo, mas abandona a

tarefa humana de transformar a si mesmo.

O cérebro permanece maleável durante toda a

vida, embora não na medida espetacular vista na

infância. Todo aprendizado implica alteração

cerebral, o fortalecimento de uma ligação sináptica.

Aprender a desenvolver um talento-chave para

contornar os impulsos, perceber e identificar

sentimentos, ações e escolher melhores decisões

emocionais, avaliando primeiro o impulso para agir,

depois identificando ações alternativas e suas

conseqüências antes de agir. São ingredientes da

inteligência emocional.

A emoção pode ter tanto efeitos organizadores

como desorganizadores sobre o comportamento.

Pode perturbar o comportamento corrente, mas pode

também gerar novas formas de comportamento, no

sentido do objetivo escolhido. Os níveis moderados

de emoção têm, de modo geral, propriedades

facilitadoras, mas a emoção extrema é mais

perturbadora.

Nesse trabalho a aposta é identificar e apropriar-

se de alguns ingredientes do conceito da Inteligência

Emocional, descartando o seu lado mecanicista, pois

alguns métodos reeducativos tentam uma “ortopedia

mental” como se fosse possível colocar “próteses

cognitivas”.

Somente podemos fechar os olhos ao que é

exterior, quando também os fechamos para o que é

interior. A criatividade surge do contato e da

elaboração da angústia.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Emocional da Criança. Tradução Flavia Beatriz

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VASCONCELOS, Celso dos Santos. A construção do

Conhecimento em Sala de Aula. São Paulo:

Caderno da Liberdad, 1993.

ANEXOS