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Trabalho da cadeira de Laboratório de Imagem Digital - 2014/1
GLITCHG L I T C HGLITCH
empório estético
experimental
Felipe Tauffer PergherJunho de 2014
Livro desenvolvido na disciplina de Laboratório de Imagem Digital, do curso de Artes Visuais da Universi-dade Federal do Rio Grande do Sul
Todas as imagens utilizadas no livro são de autoria própria.
Publicação para meio digital.
GLITCHG L I T C HGLITCH
empório estético
experimental
empórioem.pó.riosm (gr empórion) 1 Porto ou cidade aonde concorrem muitos estrangeiros para comerciar. 2 Centro de comércio ou de outras atividades. 3 Grande loja. 4 Loja de secos e mol-hados.
estéticaes.té.ti.casf (gr aisthetiké) 1 Estu-do que determina o caráter do belo nas produções naturais e artísticas. 2 Filosofia das belas-artes. 3 Harmonia das formas e coloridos.
experiênciaex.pe.ri.ên.ciasf (lat experientia) 1 Ato ou efeito de experimentar. 2 Conhecimento adquirido graças aos dados fornecidos pela própria vida. 3 Ensaio práti-co para descobrir ou determi-nar um fenômeno, um fato ou uma teoria; experimento, pro-va. 4 Conhecimento das coisas pela prática ou observação. 5 Uso cauteloso e provisório. 6 Tentativa. 7 Perícia, hab-ilidade que se adquirem pela prática.
Partindo da ideia de faha, desordem, este li-vro busca compilar alguns possíveis desdobramentos desta forma de arte, a ser observado e utilizado como uma possível refe-rência no assunto, como uma concentração do de-senvolvimento de algumas atividades.
Explora-se constan-temente, aliada à visão conceitual, a faceta es-tética da produção nele contida. Que mesmo base-ada na falha de progra-mas de computador, possui harmonias de formas e co-res a serem valorizadas.
Por fim, trata-se, assim como boa parte de tudo que é desenvolvido no campo artístico, es-tético, computacional, ou mesmo a própria arte ou computação em si, de um grande ensaio prático. Uma prática experimental que busca validar - ou pelo menos ilustrar - uma teoria. Uma tentativa de criação de um empório fi-gurativo.
Glitch, quando se fala sobre eletrônicos em geral, desde analógi-cos até os mais moder-nos periféricos digi-tais, costuma referir-se a uma falha. Pesquisan-do as origens desta pa-lavra, descobre-se que ela vem da língua iídiche (glitshn, literalmente “escorregar, deslizar”). Trata-se de um passo ines-perado do programa. Um deslize, um escorregão.
Quando se acompanha de perto o desenvolvi-mento eletrônico, é uma afirmação unânime: glit-ches são indesejados. São uma falha, uma desordem, dentro de um código que para que sua eficiência seja garantida precisa ser exato em mínimos de-talhes. Caso contrário, todo o funcionamento do sistema é posto em jogo.
Mas independente do quanto ele é desejado (ou não desejado), existe um consenso de que o glit-ch é uma realidade ele-trônica. Trata-se de um
recurso digital, mesmo não planejado. Referen-ciando Desmond Paul Hen-ry, com suas drawing ma-chines, pode-se associar o glitch, por mais vaga que pareça esta asso-ciação, como um desenho de autoria da máquina.
Antes de entrar a fundo no assunto, pre-cisa-se entender a natu-reza mais comum, digamos assim, do glitch de com-putador. Trata-se de uma falha de leitura ou in-terpretação do código de dados da imagem. Toda a imagem digital pode ser interpretada, assim como todos os tipos de ar-quivo deste meio, como uma forma crua de dados.
O glitch visual surge quando um programa gráfi-co falha em interpretar os dados apresentados a ele. Seja por algum erro próprio, seja por alguma corruptela nos dados da imagem apresentada. Des-te modo, a máquina apenas consegue decodificar par-te do que foi fornecido
como insumo, a parte que é compreensível para ela, e é isso que irá apre-sentar como resultado.
É fácil compreender, a partir disso, que uma imagem cujos dados são perfeitamente claros será compreendida de um jeito ideal (o mais fiel pos-sível) pela maioria dos softwares. Logicamente, uma imagem com dados mo-dificados, corrompidos, danificados, ou de qual-quer forma incertos, será de mais difícil compre-ensão, e talvez progra-mas diferentes entendam-na de jeitos diferentes.
O que gera imagens únicas e imprevisíveis não são dados imacula-dos, mas sim dados in-completos, corruptos. A metafórica incerteza na hora de gerar as imagens é que causa o glitch.
Se a associação an-tes era difícil, agora ela deve ser clara como a luz do dia. A máqui-na renderiza uma imagem
de acordo com os recur-sos que possui para ler e interpretar os insu-mos que lhe são forneci-dos. As particularidades de cada arquivo de ima-gem (insumo) e de cada software (meio) tornam essas renderizações úni-cas, diferentes entre si. Não constitui isso um processo de produção completo? Não podem as máquinas, por menos au-tônomas que sejam, criar?
A Vigília da Gárgula, 2014
O glitch não é produ-zido a partir do nada, como um desenho em papel branco, por exemplo. Ele surge de uma apropriação de uma ima-gem já existente. Conside-rando-o como processo, não como resultado, é interes-sante pensar sobre o sig-nificado destas imagens.
A partir de uma imagem já supostamente pronta, desdobra-se outra. E isso pode ser repetido infini-tamente, até que se atinja um ponto onde praticamen-te tudo nela é abstrato. Nesse ponto, pergunta-se o que passa a significar tal imagem. Aonde se pode chegar a partir dela. Qual sua relação com o ponto de partida. O que essa ima-gem, esse emaranhado de re-cortes da imagem original, já quase totalmente des-figurado, pode nos dizer.
Ou mesmo: Ela nos pre-cisa dizer alguma coisa?
I dessignificação
Gárgula, I/X 2014
Gárgula, II/X 2014
Gárgula, III/X2014
Gárgula, IV/X2014
Gárgula, V/X 2014
Gárgula, VI/X 2014
Gárgula, VII/X 2014
Gárgula, VIII/X 2014
Gárgula, IX/X2014
Gárgula, X/X2014
II estética
Se nesse ponto a ima-gem corrompida não tem um significado por si só, por que não se poderia, então, aplicá-la como um mero re-curso na edição de imagens?
Mesmo com a manipu-lação de um programa para intencionalmente gerar fa-lhas (databending) detur-pando o sentido de glitch como a representação esté-tica de uma falha, resul-tados interessantes podem ser atingidos valendo-se da visualidade de imagens corrompidas, junto com imagens não corrompidas.
A utilização do databending em imagens cria resulta-dos que provém de meios, de certa forma, opostos: a imagem original, o re-gistro fiel, juntada à sua corruptela. Cria-se uma espécie de colagem.
Abdução I 2014
Abdução II 2014
Abdução III 2014
Abdução IV 2014
Abdução V 2014
Abdução VI 2014
Paisagem I2014
Paisagem II2014
Paisagem III 2014
Paisagem IV 2014
III ressignificação
Torna-se praticamente impossível, depois de cer-to ponto , distinguir a imagem original do meio do emaranhado de pixels ao qual somos apresentados.
Se não nos for mostra-da a imagem antes de passar pelo processo de databend-ing, uma vez que enxergar-mos a imagem após tal pro-cesso podemos atribuir a ela o significado que mais convir com nosso olhar.
Assim como um soft-ware atribui à imagem um significado de acor-do com suas capaci-dades de interpretação.
(1) Foto aérea de uma cidade provincia-na, com ruas largas e lotes desocupados;
(2) Árvore em um lugar remoto e descam-pado; (3) Performance contemporânea de um gru-po de dança; (4) Casa de estilo colonial, em cuja ja-nela um gato aproveita o sol.
(1) Aglomerado de prédios no centro de uma concentração urbana;
(2) Abajur de estilo vitoriano;
(3) Gerador de uma subestação de energia elétrica ao lado de alguns postes;
(4) Diversos frascos de perfume sobre uma penteadeira.
(1) Acendimento das luzes da decoração natalina de um shopping center;
(2) Multidão de pessoas em uma procissão religiosa;
(3) Antena de telecomunicações, emoldu-rada por dois cipestres em primeiro pla-no;
(4) Bule e coador com café sendo passa-do.
(1) Vitórias Régias sobre as águas de uma lagoa iluminada pelo luar;
(2) Árvore frondosa com um cogumelo bro-tando em seu tronco;
(3) Cacho de bananas;
(4) Telescópio Hubble em plena órbita ao redor de um planeta brilhante;