149
P01 Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais Atas Proceedings ISBN 978-989-8550-19-4

Empreendimentos econômicos e população local · para a produção de celulose (sobre área de floresta alta), pecuária e ainda uma mineradora para a extração de bauxita refratária

  • Upload
    lamdan

  • View
    218

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

P01 Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais

Atas Proceedings

ISBN 978-989-8550-19-4

2472 | ESADR 2013

P01 · Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais

CoordenadoresGilberto de Souza Marques (UFPA) [email protected] Cavalcante da Rocha Marques (SEED-AP) [email protected]ádia Socorro Fialho Nascimento (UFPA) [email protected] Lins Leal (UFPA) [email protected]

A Amazônia distribui-se por 8 países sulamericanos. Em 1966 a ditadura militar brasileira pas-sou a apoiar a agropecuária na Amazônia e nos anos 1970 iniciou a implantação de grandes projetos energético-minerais (ferro, alumínio, hidrelétricas, etc.). A agricultura familiar foi se-cundarizada. Políticas similares foram conduzidas por outros países amazônicos. Atualmente há grande produção mineral e do agronegócio, conduzidas por empresas nacionais e mul-tinacionais. Em paralelo, ocorre urbanização desordenada, conflitos fundiários e problemas socioambientais, envolvendo grandes empreendimentos econômicos e a população local (índios, caboclos, seringueiros, etc). Objetivamos analisar este quadro na Amazônia e em out-ras regiões de florestas tropicais.

Atas Proceedings | 2473

1

GRANDE MINERAÇÃO E POPULAÇÃO LOCAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA1

Gilberto Marques – UFPA, [email protected] Indira Rocha Marques, [email protected]

Resumo: A Amazônia, desde a chegada dos portugueses ao Brasil, se constituiu como uma economia primária, sustentada no extrativismo de seus recursos naturais. No final dos anos 1970 esse perfil foi aprofundado, definindo à sua porção oriental a função de região exportadora mineral. O papel desempenhado pelo Estado brasileiro foi fundamental no sentido estabelecer as bases necessárias para tal. Tem-se conformado uma sociedade com fortes características de colônia mineral, presenciando modernas técnicas de extração das riquezas naturais com uma realidade caótica do ponto de vista ambiental e social. Palavras-chave: Amazônia, acumulação capitalista, Estado, colônia energético-mineral

Introdução Este trabalho tem como objetivo analisar a trajetória da Amazônia a partir de sua conformação como uma

economia primária e extrativista. Destacamos o processo de apropriação dos recursos naturais regionais e

o papel desenvolvido pelo Estado brasileiro na associação entre capital estatal e grande capital privado

nacional e internacional. Concluí-se que a região vem sendo constituída como uma moderna colônia

energético-mineral. Colônia porque sua produção está submissa à lógica da reprodução ampliada de

capital na escala nacional e mundial. Moderna pelo fato dos projetos-enclaves de exploração mineral

utilizarem técnicas avançadas de apropriação intensiva da natureza. A grande questão que fica é pensar

criticamente o lado nada moderno da degradação ambiental e social imposta pelo capital.

Para alcançar nossos objetivos, reconstituímos brevemente a economia regional desde a colonização

portuguesa e a produção da borracha até a fase dos grandes projetos minerais, procedendo uma análise

evolutiva desde a decisão de implantá-los até o momento atual, onde o Estado se apresenta

secundariamente na produção - ainda que criando as condições necessárias (infraestruturais, institucionais

e financeiras) para a operação dos mesmos.

A formação de uma economia primária e extrativista A colonização portuguesa da Amazônia brasileira ocorreu sustentada na conformação de um modelo

extrativista, produzindo um verdadeiro genocídio indígena e a uma economia primário-exportadora, com

baixa agregação de valor e apropriação bruta da natureza (sem grande incorporação tecnológica). Este

modelo refletia as nobreza e burguesia portuguesas, relativamente mais atrasadas, se comparadas as de

outros países europeus, particularmente a da Inglaterra.

Esta configuração imposta pelos portugueses foi mantida mesmo quando o Brasil declarou sua

independência da metrópole luzitana. Nas últimas décadas do século XIX o aumento da demanda 1 Este trabalho teve o título numa Amazônia: uma moderna colônia energético-mineral? numa versão preliminar do mesmo.

2474 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

2

industrial pelo látex (matéria prima da borracha) fez as atenções internacionais se voltarem para a

Amazônia pelo fato de que a hevea brasiliensis (seringueira amazônica) ser a espécie vegetal que melhor

respondia às necessidades da indústria.

Um grande fluxo de renda se formou na Amazônia. Em sua base estava o trabalhador direto, o

seringueiro, que se embrenhava na mata, colhendo o látex que era comercializado por uma cadeia de

atravessadores. Como não dispunha de recursos mínimos para realizar a produção, o seringueiro

endividava-se junto ao seringalista (controlador do seringal) comprando mercadorias “fiadas” para poder

extrair o produto. Os preços eram muito elevados. Por outro lado, era o seringalista que comprava o látex,

estabelecendo um preço bastante rebaixado. Resultado: o trabalhador direto era preso numa cadeia de

endividamento. Produzia riquezas, alimentando as camadas sociais superiores (seringalistas,

comerciantes, exportadores, banqueiros), mas ficava na miséria (MARQUES, 2007; LOUREIRO, 2004).

A massa de mais-valia produzida era enorme.

Essa forma de organização da produção, o aviamento, foi o meio encontrado pela dinâmica capitalista

para gerar, a baixo custo, um montante significativo de riquezas, em grande parte fluindo para a Europa e

EUA. A expansão da produção dependia do aumento da força de trabalho, conseguida principalmente

através da imigração nordestina (SANTOS, 1980). A massa de capital imobilizada na produção era

pequena quando comparada ao volume da força de trabalho, conformando uma pequena composição

orgânica de capital (relação entre capital constante e capital variável). Do ponto de vista do capital

constante (matérias primas, insumos, máquinas, instalações, equipamentos etc.) sua parcela fixa

(máquinas, equipamentos e instalações) era bastante resumida, limitando-se ao barracão (espaço de

comercialização dentro do seringal) e similares. Outras partes do capital fixo (como facas, cuias e os

demais equipamentos da extração) eram pagas pelo próprio trabalhador. Também não havia processo de

industrialização. O látex tinha um beneficiamento mínimo. As bolas de látex eram feitas artesanalmente

pelo seringueiro a partir da defumação do produto ainda na mata.

Essa produção era dominada pelo capital comercial. Este se remunera na esfera da circulação (compra e

venda de mercadorias), de modo que não estimulava o investimento em outros processos. Interessava a

apropriação e comercialização primária da natureza local. Esses elementos que interligam a realidade

regional à dinâmica da acumulação capitalista no mundo ajudam a explicar o reduzido processo de

industrialização amazônica e a permanência de uma economia sustentada no extrativismo tradicional.

Quando os preços do látex caíram no mercado internacional2 a partir de 1911 a economia amazônica

entrou em profunda crise, prolongada nas décadas seguintes. Essa realidade sofreria alteração no decorrer

dos anos 1950 e particularmente com o estabelecimento da ditadura militar em 1964. No final da década

2 Em decorrência da disputa interimperialista que levou a Inglaterra a comandar o plantio da seringueira amazônica em larga

escala no Sudeste Asiático.

Atas Proceedings | 2475

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

3

de 1950 o governo federal iniciou a construção da rodovia Belém-Brasília, que, além de abrir novo

mercado de terras e atrair outros proprietários, tinha como objetivo integrar a região à economia nacional

como consumidora de produtos indústrias do Sudeste brasileiro e ao mesmo tempo lhe fornecer matérias-

primas.3

A dinâmica do capitalismo internacional também estabeleceria relações com a economia amazônica.

Após a Segunda Guerra Mundial consolidou-se uma nova divisão internacional do trabalho (DIT) onde

alguns países do 3º mundo, que, em industrialização, passavam a receber filiais de multinacionais. Estas

buscavam explorar uma força de trabalho barata e com baixo grau de organização. Aproveitavam-se ainda

da proximidade com as fontes de matérias-primas e dos favores distribuídos pelos governos locais. Com

isso, garantiam o controle dos mercados destes países e se apropriavam de significativa massa de mais-

valia, em grande parte enviada aos seus países de origem por meio da remessa de lucro às matrizes. No

caso do Brasil esse novo papel na DIT seria cumprido inicial e principalmente pelo Sudeste. A Amazônia

só consolidaria uma função destacada, e com especificidades, no decorrer dos anos 1970, com os grandes

projetos minerais.

A ditadura militar brasileira impulsionou na Amazônia projetos para a exploração mineral em escala

industrial, voltados para o exterior. Mas a primeira experiência deste tipo de extração ocorreu no Amapá.

Em 1945, na Serra do Navio, foram descobertas as reservas de manganês, mineral usado na indústria

siderúrgica. O minério foi explorado pela mineradora Icomi, que na prática representava os interesses da

multinacional norteamericana Bethlehem Steel (LEAL, 2011; MARQUES, 2009).

As reservas minerais foram estimadas para exploração por 50 anos, tempo de concessão da mina. A

primeira exportação ocorreu em 1957 e no final dos anos 1970 o manganês de alto teor já havia se

esgotado. A exploração do manganês ainda permaneceu nos anos 1980, mas em ritmo descendente, sendo

encerrada na década seguinte. Deixando um dano ambiental e social de enormes proporções.

A Icomi formalmente pertencia ao Grupo Caemi, do empresário Azevedo Antunes, um dos empresários

envolvidos nas articulações com os militares golpistas de 1964. Isso lhe rendeu diversos frutos, entre os

quais a propriedade do projeto Jari (como sócio majoritário), quando este foi nacionalizado.

A atuação da ditadura militar

3 Esse sentido expresso na construção rodovia nos ajuda a entender o insucesso da política proposta pela SPVEA (Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia), criada em 1953, que se propôs a implementar uma política de industrialização regional por meio da substituição de importações, incluindo os produtos do Sudeste brasileiro. Essa última era o pólo dinâmico da economia brasileira. Mas apesar de sua força, o processo de acumulação de capital no país não estava tão sedimentado a ponto de impulsionar, apoiar ou aceitar a industrialização em outras regiões. Naquele momento, a dinâmica capitalista exigia o contrário: concentrar e centralizar capital no núcleo central da produção burguesa do Brasil.

2476 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

4

O estadunidense Daniel Ludwig adquiriu grandes extensões de terra (3,7 milhões de hectares, segundo

suas próprias informações) na fronteira entre os estados do Pará e Amapá (rio Jari), nas quais dispunha de

controle absoluto, numa área de terras devolutas na União. O empresário com o apoio do presidente-

ditador Castelo Branco e dos incentivos governamentais montou uma grande plantação de arroz, pinus

para a produção de celulose (sobre área de floresta alta), pecuária e ainda uma mineradora para a extração

de bauxita refratária. Logo depois, o complexo Jari passou a explorar caulim.

O projeto Jari encontrou muitas dificuldades financeiras e o questionamento de um setor dos militares

devido à concentração de poder e extensa área de terras em mãos estrangeiras. O governo militar

nacionalizou o empreendimento, assumiu as dívidas pendentes e ainda injetou US$ 180 milhões,

entregando o complexo a um consórcio de empresários, cujo comando ficou a cargo de Azevedo Antunes,

sócio de Ludwig em outros empreendimentos. A atuação de Antunes e Ludwig na Amazônia deixam

claro que importantes interesses estavam em jogo e a ditadura militar brasileira se submetia a eles.4

Em 1966 o governo Castelo Branco lançou a Operação Amazônia, um conjunto de instituições e

legislação criada para redefinir a atuação do governo federal na região. A SPVEA foi substituída pela

SUDAM (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia) e fundou-se o BASA (Banco da

Amazônia) e a Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus). Os incentivos fiscais foram

expandidos, incorporando-se fortemente a agropecuária. Outras mudanças, de cunho nacional, também

tiveram forte impacto sobre o espaço regional, foi o caso do Estatuto da Terra e do novo Código de

Mineração, consolidando a separação entre a propriedade da terra e do subsolo - além de abrir o setor

mineral a exploração direta das empresas multinacionais. As mudanças em curso sedimentavam um papel

que a região cumpriria particularmente a partir da segunda metade dos anos 1970 no processo de

acumulação de capital no Brasil e na divisão internacional do trabalho: ser exportadora de produtos

minerais. Uma das definições que subsidiaram a redefinição do papel do Estado na Amazônia sob a

ditadura militar era a compreensão de que a região representava um imenso “espaço vazio” que deveria

ser ocupado para que o Brasil não sofresse questionamento quanto à sua soberania sobre a mesma.

Mas a interpretação do espaço vazio servia aos interesses do grande capital (nacional e internacional) que

se associava ao Estado brasileiro para explorar as riquezas naturais amazônicas. Assim, a ocupação dos

espaços vazios significava antes de tudo a ocupação das possibilidades de transformar a natureza em

mercadoria, e, como tal, obter lucro. Isso ficou evidente durante o seminário de lançamento da Operação

Amazônia, realizado a bordo do navio Rosa da Fonseca no trajeto entre Belém e Manaus, sobre o rio

4 Gaspari (2002) fez uma reconstrução da ditadura onde em alguns momentos parece que várias lideranças golpistas não

queriam ou não arquitetaram o golpe. Diferentemente, Alves (2005) afirma que a tomada do poder estatal foi precedida de um bem orquestrado movimento de desestabilização do governo Goulart, impulsionado pela Escola Superior de Guerra (ESG) e sustentado no Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) e no Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES), envolvendo corporações multinacionais, capital brasileiro associado-dependente, governo estadunidense e militares brasileiros. Para Silva (2003), a ESG cumpriu papel central na construção da Doutrina de Segurança Nacional, base necessária para o estabelecimento da ditadura.

Atas Proceedings | 2477

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

5

Amazonas. Sérgio Cardoso de Almeida, empresário, latifundiário e deputado paulista, foi claro nos

objetivos da burguesia nacional em relação à Amazônia: “ao empresário interessa saber onde pode

aplicar o seu dinheiro para ganhar mais dinheiro, pois essa é a maneira de atender à patriótica convocação

de ocupação brasileira na Amazônia” (FOLHA DE SÃO PAULO, 16/04/1967). O Estado brasileiro

respondeu com enormes somas de dinheiro (grosso modo a fundo perdido) e infraestrutura, distribuindo

recursos públicos (e se endividando) que se transformavam gratuitamente em capital privado. Assim,

consolidava-se a associação entre Estado e capital privado para a “ocupação” da Amazônia.

Produção mineral em larga escala: os grandes projetos

Essa associação se aprofundaria com as descobertas minerais. Desde o golpe militar de 1964 haviam sido

intensificadas das pesquisas geológicas na Amazônia, especialmente na sua porção oriental.5 Importantes

reservas minerais foram localizadas. Em 1966, a Codim, subsidiária da Union Carbide, descobriu reservas

de manganês na serra do Sereno (Marabá) e em 1967 a United States Steel, através da sua subsidiária

brasileira, a Companhia Meridional de Mineração, detectou as reservas de ferro da serra Arqueada

(Carajás, com 18 bilhões de toneladas) e de manganês em Buritama. Desde 1968 a região de Carajás

vinha sendo estudada pela CVRD (Companhia Vale do Rio Doce). Em 1970, os estudos passaram a ser

efetuados pela Amza (Amazônia Mineração S/A), formada pela CVRD (50,9% das ações) e pela United

States Steel (com 49,1% das ações). Em 1969 foram descobertas as reservas de bauxita (matéria-prima do

alumínio) em Oriximiná, com 1,1 bilhão de toneladas6 (BENTES, 1992; MARQUES, 2007;

MONTEIRO, 2005).

A Constituição de 1967 estabeleceu que as jazidas, minas e demais recursos minerais e os potenciais de

energia hidráulica constituíam propriedade distinta do solo quando se tratasse de exploração ou

aproveitamento industrial. Com isso, possibilitou-se a aprovação do novo Código de Minas (1967), que

implantou o regime res nullius, em que o subsolo não teria dono. Esta medida foi acompanhada de outras

que criaram a figura da empresa de mineração (sociedade organizada no país, independente da origem do

capital) e garantiram o predomínio do setor privado, deixando o Estado com papel suplementar. O

governo golpista, ainda que sob um discurso de segurança nacional, colocava descaradamente os recursos

minerais brasileiros à disposição dos capitais internacionais.7

No caso da Amazônia, a mudança na legislação mineral se somaria a outras medidas, como o Estatuto da

Terra e o estabelecimento dos incentivos fiscais, para sedimentar as bases de um novo e importante papel

5 Amazônia oriental: Pará, Amapá, Mato Grosso, Tocantins e parte do Maranhão. 6 Em Carajás as estimativas iniciais giravam entre 14 e 18 bilhões de tonelada de ferro. Nestes projetos minerais a exploração

ou demonstrou que as reservas eram maiores ou levou (e ainda leva) a descobertas de novas minas. 7 Vale registrar que em 1965 o presidente-ditador Castelo Branco autorizou que parte do levantamento aerofotogramético do

país, fosse feito, sem concorrência pública, pela força aérea dos EUA (USAF), de modo que o Bureau of Mines de Washington teve acesso privilegiado das jazidas minerais brasileiras (OLIVEIRA, 1988).

2478 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

6

que a região cumpriria na acumulação capitalista brasileira, em sua dinâmica de capital em nível mundial:

ser fornecedora de produtos naturais, particularmente minerais e/ou intensivos em energia.

As descobertas minerais exigiam o controle direto da região por parte do Executivo federal. Não se

aceitariam contestações. Era exatamente isso que se propunha a fazer um grupo de guerrilheiros que no

final dos anos 1960 passou a se instalar no vale do Araguaia-Tocantins. Mas essa era a área de descoberta

das principais jazidas minerais e também do mais importante fluxo de entrada dos novos grandes

proprietários na Amazônia.8 A ditadura resolveu dizimá-los e aproveitar o fato para “limpar” a região

para o capital (mineral e agropecuário) que se propunha instalar na região.

No plano internacional, o início da década de 1970 foi marcado pelo choque do petróleo e a crise da

economia internacional. Neste cenário, o governo brasileiro elaborou II PND (II Plano Nacional de

Desenvolvimento). O plano partia da constatação de que a industrialização pesada almejada pelo governo

Juscelino Kubitschek não atingira plenamente seu objetivo. A indústria produtora de maquinário e

matérias-primas pesadas fora apenas parcialmente implementada. Buscava-se agora implantar este núcleo

mais pesado do setor I da economia, aquele que produz meios de produção, segundo a definição de Marx

(2005).

Quando eclodiu a crise nos anos 1970 o governo militar decidiu que não seguiria uma política econômica

ortodoxa, cortando gastos e adotando medidas recessivas. O objetivo seria completar o ciclo da

industrialização pesada, na definição de Mello (1998), iniciada nos anos 1950. Com isso, impunha-se uma

marcha forçada à economia nacional (CASTRO, 1985). Essa intenção era reforçada e dificultada pelo fato

dos principais governos do capitalismo central buscarem transferir o peso da crise para as demais nações.

No final da década de 1970 os EUA adotaram políticas de proteção de sua economia e do dólar, elevando

as taxas de juros, e provocando uma subida em cascata das taxas de juros no mercado internacional. O

Resultado foi a explosão do endividamento dos países que, como o Brasil, haviam tomado empréstimos

para tocar em frente a industrialização retardatária. Pagava-se um preço elevado pela valorização artificial

do capital ao nível mundial. Uma parte significativa do capital não percorria o ciclo D-M-D’, aquele que

produz mercadoria, mas D-D’, onde dinheiro produz artificialmente mais dinheiro.

A intensificação do endividamento externo brasileiro gerava maiores problemas à economia nacional,

provocando um estrangulamento cambial. O governo militar buscava então estimular a exportação de

mercadorias de modo a obter saldos positivos na balança comercial e com isso pagar as parcelas que

venciam da dívida externa.9

A opção por impulsionar o setor produtor de meios de produção pesados, substituindo importações,

redefiniu o papel que a região deveria cumprir na reprodução capitalista brasileira. Determinou-se que a

8 Incluindo aqui o Mato Grosso, também cruzado pelo mesmo vale. 9 Uma análise interessante do endividamento externo brasileiro e de sua estatização pode ser encontrada em Cruz (1984; 1995).

Atas Proceedings | 2479

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

7

Amazônia (em particular a porção oriental) a função de ser exportadora de produtos minerais. Assim, o II

PND assumiu de fato e definitivamente a região como “fronteira de recursos naturais”, destacadamente

minerais, ou seja, território fornecedor de matéria-prima bruta aos países já industrializados. Essa

mudança já esboçada desde meados dos anos 1960, agora ganhava mais importância e concretude.10

Um programa referência dessa nova postura foi o Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da

Amazônia, o Polamazônia (1974), destinado a ocupar os “espaços vazios e à utilização dos eixos viários

articulando-se aos projetos de desenvolvimento setorial nas áreas preferenciais” (SUDAM, 1976, p. 46).

Entre estes pólos, o de Carajás (em torno das reservas de ferro da Serra dos Carajás, Sudeste do Pará) foi

o que recebeu mais atenção do governo federal, o que significou concentração de investimentos e,

posteriormente, uma vida própria, conformando o Programa Grande Carajás.

Os grandes investimentos do II PDA/II PND se concentravam em transportes, mineração e energia. Os

recursos para mineração se localizavam principalmente na exploração do ferro de Carajás e,

secundariamente, na bauxita de Trombetas (município de Oriximiná-PA). Somente o investimento em

Carajás era equivalente ao montante que o plano havia programado para todo o programa de indústria e

serviço. Os investimentos em energia priorizavam a hidrelétrica de Tucuruí. Esta concentração de

recursos respondia aos “interesses nacionais” na Amazônia, particularmente à busca de divisas

internacionais via exploração de seus recursos naturais.11

Além da crise econômica brasileira, diversos fatores externos pesaram na definição do papel mineral da

Amazônia, destacadamente a disputa interimperialista. A corrida pelo controle de novas reservas

minerais; o aumento da pressão ambiental nos países industrializados, fazendo com que plantas

industriais muito poluentes passassem a ser transferidas para regiões onde a legislação de proteção ao

meio ambiente fosse mais branda; a crise econômica mundial e a subida dos preços do petróleo,

encarecendo os custos da geração de energia elétrica, levando alguns países monopolistas a voltarem suas

atenções para as regiões com enorme potencial energético e mineral; a subida dos juros internacionais e

do endividamento dos países desenvolvimentistas, estimulando atividades exportadoras nestes países. O

II PND refletiu esta situação, buscou substituir importações e abrir novas frentes de exportação

(MARQUES, 2007).

Delineou-se assim um processo de ocupação na Amazônia por meio de grandes projetos governamentais

e privados: empreendimentos de porte considerável, tecnologia avançada e implementados por complexos

empresariais entre Estado12 e capital privado nacional e estrangeiro. Com os grandes projetos energético-

10 A adequação regional ao II PND foi feita pelo II PDA (II Plano de Desenvolvimento da Amazônia, 1974-1979). A autonomia da SUDAM e das demais instituições locais para elaborar políticas a partir dos reclames regionais ficava definitivamente comprometida. Tratava-se somente de adequar regionalmente as linhas gerais do plano nacional. 11Afora isso, ainda permaneceu elevado o montante destinado à agropecuária, mas localizado em áreas selecionadas (com destaque aos grandes empreendimentos do Sul/Sudeste do Pará) que totalizaram Cr$ 5 bilhões. 12 O governo federal atuou diretamente na condução de atividades de levantamento e prospecção. Em 1970 fundou-se a

2480 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

8

minerais a região foi efetivamente inserida na estratégia econômica do capitalismo dominante a nível

mundial.13

Assim, em meados dos anos de 1970 vários projetos de grande dimensão começaram a ser implantados na

Amazônia Oriental, tais como: projeto Ferro-Carajás e projetos de alumínio (Trombetas e

Albrás/Alunorte). Naquele momento o mercado mundial de alumínio estava sob o controle de um cartel

formado por 6 empresas: Alcoa (USA), Alcan (Canadá), Alusuisse (Suíça), Kaiser Aluminium (USA),

Pechiney (França) e Reynolds (USA). Algumas dessas empresas haviam começado a promover pesquisas

na Amazônia no final dos anos 1950. Logo após a descoberta de bauxita no rio Trombetas (município de

Oriximiná/PA), a Alcan criou uma subsidiária: a Mineração Rio do Norte (MRN). Nesse mesmo ano

(1969) foi iniciado o Projeto Trombetas. Esse empreendimento teve um refluxo em 1972, retomando o

nível de produção em 1976/77. Nesse intervalo de tempo, mas precisamente em 1973/74, essa empresa

foi reorganizada a partir de um acordo entre Alcan/CVRD, o que levou à incorporação de várias empresas

como acionistas - sendo que apenas três eram nacionais, as demais eram estrangeiras. O Ferro-Carajás

ficou sob a responsabilidade exclusiva da CVRD a partir de 1977 quando essa empresa adquiriu as ações

da US Steel, com “apoio” do Banco Mundial e do Tesouro Nacional (LOBO, 1996; MARQUES, 2007;

LEAL, 2010).

No caso da Albrás/Alunorte, o projeto foi fruto de um acordo firmado em 1976 entre empresários

japoneses do ramo da indústria de alumínio e os governos do Pará e do Brasil, resultando na criação do

Complexo Industrial de Barcarena/PA. O governo brasileiro encarregou-se de oferecer a infra-estrutura

necessária ao projeto, ficando o governo do Japão responsável pela tecnologia e parcela do

financiamento. Esse projeto foi empreendido por um consórcio formado pela CVRD, através de sua

subsidiária Valenorte, e a NAAC (Nippon Alumínio Company Ltda.) que era uma associação de 33

entidades, onde o maior acionista era o OECEF (Overseas Economic Fund), órgão do governo japonês

(BENTES, 1992). Para o funcionamento das duas fábricas era necessário um grande volume de energia

elétrica. Isso levou o governo militar a construir uma mega-hidrelétrica, a de Tucuruí (fundando a estatal

Eletronorte para tal), assumindo os custos para si e fornecendo a energia ao empreendimento com uma

tarifa subsidiada (também fornecida para a Alumar no Maranhão) que retirava dos cofres públicos até

US$ 200 milhões anuais.

Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) a fim de produzir conhecimento mineralógico e colocá-lo à disposição das empresas mineradoras. Entre os programas criados, destacamos o Radam (Radar da Amazônia), para fazer o levantamento aeroradarmétrico de 1,5 milhões de quilômetros quadrados da região, visando a ocorrência de minérios.

13 O interesse primeiro do capitalismo monopolista em entrar em projetos como os que foram implantados na Amazônia não é necessariamente a lucratividade dos mesmos, mas sim o controle da produção de matérias-primas vendidas a preços baixos às multinacionais, favorecendo a acumulação de capital na sede dessas empresas. Pode-se obter lucro reduzido ou mesmo prejuízo no local da extração mineral desde que isso signifique a elevação dos lucros na indústria sediada no país imperialista.

Atas Proceedings | 2481

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

9

O projeto Albrás (alumínio primário) iniciou sua produção em 1985. Naquele período sua plena

capacidade de produção era esperada para a ordem de 320mil t/ano no ano de 1989. Já a Alunorte

(alumina) teve postergada a conclusão da sua construção em função de disputas entre a ALCAN

(canadenses), ALCOA e japoneses. Afora isso, a implantação do empreendimento interessava muito mais

à CVRD do que à NAAC (japoneses), já que esta última objetivava centralmente a produção do alumínio

primário. Isto foi evidenciado, na prática, com a saída da NAAC do projeto Alunorte em janeiro de

1987.14 Paralelo a isso, a ALCOA, junto à SHELL e à construtora Camargo Corrêa montaram uma planta

industrial (Alumar) para produzir aquilo que a Alunorte produziria. O capital que a construtora

incorporou na empreeitada foi exatamente o lucro que ela obtivera na construção da hidrelétrica de

Tucuruí – US$ 2 bilhões, segundo Leal (2011).

O aprofundamento da crise econômica brasileira no final dos anos 1970 reforçou mais ainda os propósitos

do governo federal para a Amazônia, culminando na criação do Programa Grande Carajás (PGC) em 24

de novembro de 1980. O Programa instituiu um regime especial de incentivos tributários e financeiros

para empreendimentos localizados na sua área de atuação. Sua direção administrativa coube a um

conselho interministerial. A área de influência direta do PGC alcançou 10,6% do território brasileiro e

mais de 240 municípios do Maranhão, Pará e Tocantins. A província mineral de Carajás e outras áreas do

PGC registram grande incidência de ferro, bauxita, ouro, níquel, cobre, manganês, cassiterita e minerais

não-metálicos (COTA, 2007; LÔBO, 1996).

Segundo Hall (1991), o PGC originalmente estava estimado em US$ 62 bilhões e tinha como eixo de suas

atividades a mineração. O complexo da mina de Carajás (CVRD) formava a espinha dorsal do PGC. No

início da década de 1990 o PGC já tinha obtido empréstimo estrangeiro de aproximadamente 1,8 bilhões

de dólares do investimento inicial de US$ 4,9 bilhões de dólares até 1990. Loureiro (2004) afirma que o

governo brasileiro aceitou a imposição do Banco Mundial e assumiu os grandes volumes do

financiamento, de modo que 68% dos investimentos foram decorrentes de recursos diretos do governo ou

de suas instituições financeiras. Como retorno aos empréstimos tomados no exterior, o governo brasileiro

ofereceu aos “empresários” estrangeiros os investimentos na implantação da infraestrutura: estrada de

ferro, barragens, etc.

O PGC representou não apenas a perda de controle sobre a área por parte dos governos estaduais da

Amazônia, mas também a redução do poder de intervenção das instituições tradicionais. SUDAM,

SUFRAMA e BASA não tinham poder de decisão sobre o Programa, nem sobre os projetos minerais

especificamente. Esta forma de ocupação, com a grande produção mineral, foi característica da ocupação

14 A retomada da implantação da Alunorte em 1993 foi comandada pela CVRD sob um esquema de financiamento e

facilidades fiscais concedidos pelo governo paraense. Montou-se uma nova estrutura acionária, composta pela CVRD com 44,8%, MRN com 24,6%, NAAC com 16,1%, CBA com 5,7% e outros participantes. O projeto teve sua capacidade ampliada para 1,1 milhão tpa de alumina, das quais 700 mil tpa foram destinadas a Albrás. O total dos investimentos foi estimado em torno de US$ 875,6 milhões.

2482 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

10

do capital monopolista internacional, tornada possível por conta dos interesses comuns entre a burguesia

brasileira e a estrangeira com aval e estimulo do Estado brasileiro.

Os projetos em torno da grande mineração envolviam interesses e capitais que extrapolavam em muito a

capacidade de intervenção da burguesia regional amazônica e tinham como objetivo pilhar os recursos

naturais. Podemos perceber que a partir dos anos 1950, mas particularmente no decorrer da década de

1970, desde a rodovia Transamazônica até os Grandes Projetos, ocorre uma significativa ampliação do

papel do governo federal na região amazônica. Para isso, usou-se de diversos instrumentos como, por

exemplo, os meandros do combate à guerrilha do Araguaia e o GETAT (Grupo Executivo de Terras do

Araguaia-Tocantins), criado em 1980, reprimindo movimentos sociais e recolhendo terras. Não é demais

constatar a coincidência da área de atuação do GETAT (Sudeste do Pará) com a área de incidência

mineral do Programa Grande Carajás e com a área de maior procura por latifundiários do Sul e Sudeste

do país. Também neste período a internacionalização econômica da região ganhou novo impulso,

colocando seus recursos naturais no mercado internacional, aceitando a “colaboração” dos capitais

multinacionais.

Do ponto de vista da economia regional, com os grandes projetos ocorreu uma reconfiguração produtiva e

relação com o exterior, mas confirmando sua condição de região semi-colonial. Excluindo a produção do

manganês amapaense, que entrara em comercialização em 1957, a pauta de exportação amazônica até os

anos 1960 sustentava-se em produtos extrativos tradicionais: pescado, castanha-do-Pará, madeira, óleos,

etc. No decorrer dos anos 1980 de forma efetiva isso mudou radicalmente, consolidando uma divisão de

papéis delineada desde a ditadura militar. A Amazônia ocidental15 teve sua economia hegemonizada pela

produção da Zona Franca de Manaus – com componentes importados, montando mercadorias eletro-

eletrônicas voltadas para o mercado interno brasileiro. Na Amazônia oriental a pauta de exportação foi

dominada pelos produtos minerais. Em comum a ambas estavam as atividades agropecuárias.

Visualizando a forma de capital predominante na Amazônia, podemos destacar que até os anos 1950 pelo

menos o capital mercantil/comercial foi a face que se sobressaiu – e pouco exigiu em investimento na

produção. A economia regional centrava-se em produtos extrativos tradicionais. A partir desta década

ganha mais visibilidade, consolidando-se posteriormente com os grandes projetos, o capital

industrial/financeiro impulsionado pelo Estado - o que exige um montante de investimento produtivo

bastante significativo (seja em infraestrutura ou em montagens de unidades produtivas). Para essa nova

fase, a presença estatal foi decisiva e extrapolou em muito as fronteiras da SUDAM. Aqui entendemos a

tomada de grandes extensões de terras pelo Governo Federal (processo de federalização das terras), até

então sob o controle dos governos estaduais.

15 Amazonas, Roraima, Acre e Rondônia.

Atas Proceedings | 2483

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

11

É possível perceber que tanto a burguesia regional quanto a burocracia, ficaram marginais na definição da

nova fase de desenvolvimento da Amazônia. Não é que a classe dominante local deixasse de compor o

bloco no poder (POULANTZAS, 2000), particularmente quanto à composição dos governos estaduais,

mas, relativamente, ela perdeu parte do espaço de poder que dispunha. A decisão de ter como centro a

mineração (baseada principalmente em Tucuruí-Albrás-Carajás) e alguns poucos produtos exportáveis foi

tomada fora da região e levando em consideração os interesses dos grandes capitais, incluindo

acentuadamente os interesses multinacionais.16

Apesar dos numerosos e significativos projetos agropecuários aprovados pela SUDAM, o interesse maior

do governo federal para a Amazônia não tomava como centro a agropecuária, mas a mineração. Isso

poderia até não estar tão claro no final da década de 1960, apesar das indicações já presentes, mas ficou

no decorrer dos anos 1970. Contraditoriamente, a fase da mineração, que passa a atrair mais atenção e

investimentos do Governo Federal e entra em produção na década de 1980, enfraquece relativamente o

principal órgão federal de desenvolvimento regional: há um esvaziamento político e econômico-

financeiro da SUDAM17.

Nos anos 1970, aparentemente no auge da SUDAM, gestou-se um projeto no qual a Amazônia integrou-

se de forma decisiva no processo de acumulação capitalista brasileira (em suas associações com a divisão

internacional do trabalho) como fornecedora de produtos naturais, principalmente minerais.18 Constituiu-

se um projeto impulsionado pelo Estado brasileiro onde a Superintendência (e mesmo a SUFRAMA)

seria coadjuvante, de modo que o projeto teria que permanecer vivo e fortalecido, mas ela não

necessariamente.

Ao mobilizar recursos para a “integração” da Amazônia, o Estado garantiu a inserção de capitais nesta

região. Mais que isso: proporcionou a acumulação ampliada para uma fração do capital, respondendo aos

interesses da burguesia nacional e multinacional. A própria burguesia regional aceitou um papel

subordinado nessa nova fase contente com as terras recebidas e os resíduos (não pequenos se comparados

ao capital regional) dos incentivos fiscais.

16 Bentes afirma que o Programa Grande Carajás foi gestado no exterior via estudos da Amza e, sobretudo, da JICA (Japan International Cooperation Agency).

17 Isso também coincide no decorrer dos anos 1980 com a diminuição dos incentivos fiscais para a agropecuária, levando muitos pesquisadores a equivocadamente localizar a crise da SUDAM e do desenvolvimento regional amazônico nos anos 1980 e na redução dos incentivos fiscais. Cometem esse erro por compreenderem a realidade regional dissociada da lógica de reprodução ampliada do grande capital nacional e multinacional – nesse último, impulsionada pela estratégia de seus respectivos imperialismos.

18 Evidentemente estamos nos referindo particularmente à Amazônia oriental, objeto por excelência destas políticas e da atuação da Superintendência.

2484 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

12

Intensificação da apropriação privada dos recursos naturais

Nos Planos de Desenvolvimento da Amazônia (PDA’s) a região foi entendida como “fonte de recursos

naturais” e a natureza restringiu-se, de um lado, à matéria-prima e, de outro, à mercadoria na forma de

terras para comercialização e acumulação. Seguindo a concepção estritamente economicista e que entende

a natureza como um obstáculo ao progresso, documentos e discursos oficiais chamaram a se lutar para

vencer as forças da natureza e conquistar dos “espaços vazios” amazônicos; “homens de negócio,

vitoriosos em outras partes do Brasil, [...] estais, outrossim, como brasileiros, motivados pelo dever de

criar riquezas numa região que hoje representa para todos nós desafio de proporções colossais” (SUDAM

apud NAHUM, 1999, p. 37)19.

A natureza amazônica, artificialmente separada do homem e compreendida como a-histórica,

transformou-se tão somente em fonte de recursos naturais, fator de produção (destacando apenas sua

dimensão física) - daí a grande preocupação em desenvolver pesquisas para mensurar o tamanho dos

“estoques de matérias-primas” a serem explorados, “ocupação dos espaços vazios” e “avanço da

fronteira”. Isso traria consequências terríveis para o(s) ecossistema(s) amazônico(s). Para ocupar áreas

mais rapidamente chegou-se, inclusive, a utilizar o “agente laranja” (produto químico usado pelos EUA

na Guerra do Vietnam) para desflorestar a mata. O discurso governamental e empresarial pressupunha (ou

se procurava fazer crer) que não havia ninguém. E o índio e o caboclo que lá habitavam? Estes, não por

acaso, desapareceram no discurso e planos oficiais.20

Após os anos 1980 abriu-se um período de forte aplicação das políticas neoliberais no Brasil. Collor de

Mello sofreu o impeachment a partir das imensas mobilizações populares que desestabilizaram as bases

de sustentação de seu governo. Seu vice, Itamar Franco, assumiu a Presidência do país, e constituiu as

condições necessárias à eleição de Fernando Henrique Cardoso. Em coincidência com Collor estava a

adoção do neoliberalismo, que tinha como uma de suas diretrizes principais a privatização das empresas

estatais e a abertura da economia brasileira ao capital multinacional.

Dentre as “reformas” que a bancada parlamentar do governo aprovou, e que aprofundaram o saque sobre

a Amazônia, estavam o fim do monopólio brasileiro sobre o subsolo (e suas riquezas), sobre as

telecomunicações e a aprovação da lei de patentes, através da qual o Brasil se comprometeu a pagar pela

utilização de uma tecnologia ou procedimento que tenha sido patenteado por uma empresa em outro país.

Com isso, se um laboratório multinacional patentear a substância ativa de uma planta amazônica, teremos

que pagar para usá-las. Alguns desses laboratórios mantêm ONGs e “pesquisadores” na Amazônia que

19 Essa compreensão já estava presente desde a colonização portuguesa, passando pelo discurso de Getúlio Vargas no

Amazonas, mas foi com a ditadura militar que ele foi materializado mais a fundo. 20 A Amazônia carregava assim a noção de atraso, o que expressava uma determinada concepção de progresso como modernidade e industrialização. A integração seria a forma de romper com o que se concebia como atrasado. Essa esperança foi carregada pela própria burguesia regional em relação ao capital nacional.

Atas Proceedings | 2485

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

13

usam o conhecimento das comunidades locais para saber a utilização de determinada planta e depois

patentear. É uma das formas da chamada biopirataria.21

A Companhia Vale do Rio Doce foi privatizada em 1997, pelo preço de R$ 3,3 bilhões. Somente em

reservas de ferro em Minas Gerais e na Serra dos Carajás a empresa contava com 12,9 bilhões de

toneladas. Dispunha ainda de R$ 700 milhões em caixa e já dava um lucro anual superior a R$ 500

milhões – valor que cresceria exponencialmente em decorrência do enorme investimento que havia sido

feito na companhia pouco antes da privatização. Em condições normais, o preço pago pela empresa

representa atualmente pouco mais que o lucro de um mês da mesma.

A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva no final de 2001, diferente do que se poderia esperar, manteve as

linhas gerais da política econômica anterior. Ademais, as privatizações não foram questionadas e ainda se

abriu sucessivas linhas de crédito do BNDES à Vale para que ela ampliasse sua produção e também

adquirisse outras empresas no exterior.

A privatização da Vale é o marco de um novo momento na grande mineração na Amazônia. A ação do

Estado, que se apresentava como produtor passa a se localizar na constituição das condições

institucionais, legais, infraestruturais e financeiras à exploração do empreendimentos privados.22 Parte do

Estado brasileiro ainda permanece em diversos empreendimentos, por meio da posse direta ou indireta de

ações dos mesmos, mas o que tem de significativo é que a grande mineração não mais é conduzida

formalmente por uma estatal, mas por diversas multinacionais.

Deste modo, o novo século assistiu a entrada e generalização de inúmeras empresas minerais explorando

produtos diversos no território amazônico. O Pará é um estado que representa bem esse processo. Daqui

decorre uma segunda característica da atual produção mineral em solo paraense. Nas primeiras décadas, a

produção era extremamente concentrada e facilmente localiza. Era principalmente (1) o ferro e a bauxita,

em Parauapebas (Sudeste do Pará) e (2) o corredor do alumínio com a MRN (Oriximiná/rio Trombetas,

no Oeste do Pará) e Albrás-Alunorte (Barcarena) – para o qual contavam com a energia de Tucuruí. É

verdade que havia outras empresas e minérios em extração, como o caulim do Jari e a bauxita do também

Jari e de Paragominas, mas eles não se comparavam em termos de valor aos dois casos citados.

Atualmente há uma relativa pulverização de investimentos minerais no território paraense. Falamos em

pulverização não em termos de redução do investimento por empreendimento, mas de surgimento de

diversos novos projetos de extração mineral, conduzidos pelo grande capital.

21 Fernando Henrique também contratou a Raytheon Company (EUA), por R$ 1,4 bilhão, para montar um Serviço de

Vigilância da Amazônia (SIVAM). Usando satélites, aeronaves e outros recursos, a empresa faz o levantamento de nossas riquezas. O governo ainda impôs a chamada Lei Kandir, que exonera do ICMS a exportação de produtos minerais, barateando o preço e com isso aumentando a competitividade artificialmente, mas sangrando ainda mais a arrecadação pública e os recursos.

22 Ações que ele já fazia anteriormente, mas também atuando diretamente na produção.

2486 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

14

A bauxita de Juruti é um dos casos desta fase atual da mineração na Amazônia. O município de Juruti fica

na fronteira com o Amazonas. No ano 2000 a Alcoa iniciou a prospecção nos platôs de Juruti Velho

(interior do município), sobre uma área de comunidades ribeirinhas. Em 2005, ela obteve a licença prévia

para a instalação do empreendimento extrativista mineral. Em 2006, o projeto estava em instalação, o que

inclui porto às margens do rio Amazonas, ferrovia, entre outras. A mina tem uma estimativa de 700

milhões de toneladas métricas de bauxita de alto teor, um dos maiores depósitos do mundo -

possibilitando a expansão da refinaria da Alumar no Maranhão, também de propriedade da Alcoa.

A mina de Juruti tem um planejamento de produção de 2,6 milhões de toneladas métricas anuais. A partir

de Juruti a Alcoa já estendeu suas pesquisas para outras áreas da região, como o Lago Grande (que

incorpora vários municípios do Oeste do Pará), mapeando a potencialidade mineral e entrando com

pedido de lavra junto ao governo brasileiro.

Além do fato ser um projeto relativamente novo, o caso da Alcoa/Juruti apresenta uma outra

especificidade. A comunidade local se organizou para enfrentar a multinacional. Reunidas em torno da

Associação das Comunidades de Juruti Velho (Acorjuve), a população local conseguiu que o INCRA

criasse em 2005 o Projeto de Assentamento Agroextrativista de Juruti Velho (PAE Juruti Velho), criando

uma institucionalidade que possibilita alguma proteção à comunidade local. Com a intermediação do

INCRA, Ministério Público Federal e Ministério Público Estadual a empresa teve que sentar à mesa com

a população para discutir o pagamento pela lavra mineral na área da comunidade e a compensação pelos

danos causados. As negociações prolongam-se até os dias atuais, mas a Acorjuve já tem recebido um

repasse financeiro da multinacional.

Apesar de toda a diversidade mineral da Amazônia, sua pauta de exportação sustenta-se basicamente em

cinco minerais, tendo um amplo predomínio do ferro sobre os demais. A China tornou-se o principal

consumidor do minério amazônico, seguida por Japão, EUA e países europeus.

Principais produtos exportados pela indústria extrativa mineral da Amazônia Legal, 2008/2009

FONTE: MDIC/SECEX – IBRAM (2010)

Atas Proceedings | 2487

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

15

Com o apoio governamental, que se mantém no governo Dilma Rousseff, ampliou-se a apropriação das

riquezas minerais, sociais e biogenéticas. Grandes mineradoras multinacionais estão instaladas em

diversos pontos da região. É destacadamente o caso do Pará, mas isso ocorre em toda a Amazônia como,

por exemplo, o Amapá, de onde se extrai ouro, ferro e diversos outros minerais, inclusive urânio

(comercializado ilegalmente no mercado internacional).

O interesse das mineradoras é a extração mineral simples, ou seja, sem beneficiamento, confirmando o

papel da região como uma colônia bio-energético-mineral.23 É o caso do ferro de Carajás, que é extraído

lavado e colocado nos trens que o levam ao porto no Maranhão para ser embarcado nos navios para o

exterior. Essa é a função da Amazônia na atual DIT imposta pela acumulação de capital na lógica da

globalização do saque, ditada pelas multinacionais, incluída a Vale. A possibilidade de alguma

transformação mineral depende da oferta pública de energia barata, por isso a pressão pela construção de

hidrelétricas pelo governos24

Previsão de investimentos pela indústria mineral no Pará até 2015

FONTE: SINMINERAL, 2011. 23 Apesar de não aprofundarmos a temática, incluímos no “bio” a produção do agronegócio (soja, gado, dendê, celulose, etc.),

que se apropria da natureza via derruba da floresta e exploração do solo, mas também da exploração descontrolada da biodiversidade amazônica. Ademais, além da extração madeireira ilegal, a biopirataria permanece na impunidade: plantas, animais e recursos hídricos contrabandeados em grande escala. Chega-se ao extremo de haver denúncias de contrabando de água. Grandes navios cargueiros internacionais que transportam mercadorias para a região estariam voltando a seus países carregados com água captada na bacia amazônica.

24 Para estimular a produção mineral (e outros setores em outras regiões do país), o governo federal tem planejado a construção de dezenas de mega-hidrelétricas nos rios amazônicos, algumas já em implementação como é o caso das localizadas no rio Madeira (Jirau e Santo Antonio - Rondônia) e a hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu, no Pará (cujas estimativas de custo da construção chegam a R$ 30 bilhões – é a farra das construtoras)

2488 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

16

Projetava-se até 2014 um investimento na Amazônia Legal de US$ 25,67 bilhões para aumentar a

extração mineral e US$ 6,77 bilhões para fazer transformação mineral (beneficiamento). Diante dos

incentivos públicos e construção da infraestrutura de apoio pelo governo, a projeção dos investimentos no

beneficiamento foi expandida - o que não significa necessariamente que estas promessas sejam

concretizadas pelas multinacionais.

Assim, pelos levantamentos feitos no início de 2011, os investimentos previstos até 2015 somente no

estado do Pará totalizam US$ 27,031 bilhões na extração mineral. A esse montante se somam US$ 2,704

bilhões em infraestrutura e transporte que significam inversão em portos e na Estrada de Ferro de Carajás,

respondendo aos interesses imediatos da apropriação bruta de nossas riquezas naturais. A transformação

mineral soma US$ 11,356 bilhões previstos. Os investimentos na extração mineral e em infraestrutura

totalizam-se 71% do que se planeja até 20015. O minério extraído in natura da Amazônia se transforma

em geração de mais riqueza e emprego nos países para onde se exporta.

Proporção dos investimentos minerais planejados no Pará até 2015

FONTE: SINMINERAL (2011), elaboração do autor.

Ainda que em 2009 a economia regional tivesse sofrido forte redução nos preços dos minérios

(reduzindo conjunturalmente sua participação relativa na economia regional), a pauta de

exportação da região manteve a produção mineral como principal setor, com 41% do total

exportado.

Atas Proceedings | 2489

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

17

Participação da indústria mineral no total da exportação da Amazônia Legal em 2009.

FONTE: MDIC/SECEX – IBRAM (2010), elaboração do autor.

No caso do Pará, essa proporção é muito maior. Em 2010, de tudo que este estado exportou 86% decorreu

da produção mineral. Toda essa massa de riqueza produzida poderia ser muito maior se tivesse outra

destinação, social, e não apenas o lucro e interesse das multinacionais monopolistas. Como não é assim,

ela reforça gritantemente a contradição que opõe riqueza para poucos e miséria para muitos.

Participação da indústria mineral no total da exportação do Pará em 2010.

FONTE: SINMINERAL (2011), elaboração do autor.

Além dos interesses eleitorais imediatos da oligarquia local e de outros setores, como os latifundiários, a

proposta de divisão territorial do Pará, criando outros dois estados (Carajás e Tapajós), interessa

diretamente às grandes mineradoras (assim como às multinacionais dos grãos), que terão controle mais

imediato e amplo das riquezas naturais, negociando com uma burguesia regional ainda mais frágil e

vendida.

Considerações finais As políticas estatais tomaram o progresso como decorrência do capital. Modernizar era capitalizar a

região, romper o seu “atraso”, integrá-la ao restante do país. Aos setores oprimidos não coube perguntar

2490 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

18

qual o sentido do progresso lhes interessava. Mais que isso: não se acreditou, ou não se quis fazer crer,

que eles tivessem a capacidade de contribuir efetivamente para a construção de um projeto de

desenvolvimento regional. Eles deveriam ser passivos em um duplo sentido: primeiro, recebendo e

assimilando as políticas elaboradas por outros; segundo, não reagindo frente a elas, mesmo quando se

chocassem com seus interesses.

Neste cenário, a Amazônia, que historicamente se constituiu como uma economia primária e extrativista,

ganhou novos contornos na segunda metade da década de 1970, tornando-se um centro exportador de

minérios. Para tal foi introduzida uma moderna tecnologia de extração, mas desvinculada dos interesses

da população local que tanto almeja um verdadeiro desenvolvimento. A tecnologia dos grandes projetos

minerais respondeu e continua a responder os interesses do grande capital nacional e internacional. A

outra face da moeda é a permanência e aceleração da degradação ambiental e social.

A ação do Estado brasileiro foi fundamental da conformação do novo papel que a Amazônia passou a

cumprir na reprodução capitalista nacional. A partir da década de 1990, cujo destaque foi a privatização

da CVRD, a apropriação dos recursos minerais amazônicos foi intensificada. A diferença em relação aos

anos 1970 e 1980 é que nestas décadas o Estado brasileiro, ainda que servindo aos interesses do grande

capital, se apresentava como produtor. Atualmente, a participação estatal é secundária na exploração dos

recursos naturais regionais, deixando nossas riquezas diretamente, e sem intermediários, nas mãos das

grandes multinacionais, ainda que pintadas de verde e amarelo, como é o caso da Vale.

Ainda que a realidade amazônica possa nos levar a certo pessimismo, não podemos deixar de ver que os

movimentos sociais, apesar de todas as limitações, nunca deixaram de se mostrar presentes e em muitos

casos passaram a ter mais visibilidade. Ademais: estamos diante do desafio histórico de mudar o rumo

das políticas públicas sociais e econômicas e construir um projeto alternativo que atribua ao

desenvolvimento um sentido social e diametralmente oposto do que foi presenciado até aqui. Isso

pressupõe lutar contra a dominação do capital.

Referências

ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e oposição no Brasil (1964-1984). Bauru, SP: Edusc, 2005.

BENTES, Rosineide. Um novo estilo de ocupação econômica da Amazônia: os grandes projetos. In: Estudos e problemas amazônicos: história social e econômica e temas especiais. Belém: Secretaria de Estado de Educação/CEJUP, p. 89-114, 1992.

CASTRO, Antonio de Barros. Ajustamento x transformação. A economia Brasileira de 1974 a 1984. In: CASTRO, Antonio B. e SOUZA, Francisco E. P. A economia brasileira em marcha forçada. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.

COTA, Raimundo G. Carajás: a invasão desarmada. Cametá-PA: Novo Tempo, 2007.

Atas Proceedings | 2491

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

19

CRUZ, Paulo R. D. Dívida externa e política econômica: a experiência brasileira nos anos setenta. São Paulo: Brasiliense, 1984.

______. Endividamento externo e transferência de recursos reais ao exterior: os setores público e privado na crise dos anos oitenta. Nova Economia, v. 5, n. 1. Belo Horizonte: UFMG, 1995.

FOLHA DE SÃO PAULO, 16/04/1967.

GASPARI, Elio. A ditadura envergonhada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

HALL, Anthony. O programa Grande Carajás – gênese e evolução. In: Jean Hebette (org). O cerco está se fechando. Petróplis: Vozes, 1991.

INSTITUTO BRASILEIRO DE MINERAÇÃO - IBRAM. Balança comercial mineral da Amazônia Legal 2009. Belém: IBRAM, 2010.

LEAL, Aluizio. Sinopse histórica da Amazônia: uma visão política. In: Belém: IDESP, 2010.

_______. Grandes projetos amazônicos II: o caso ICOMI. Belém, 2011 (inédito).

LÔBO, Marco Aurélio Arbage. Estado e capital transnacional na Amazônia: o caso da ALBRÁS-ALUNORTE. Belém: NAEA, 1996.

LOUREIRO, Violeta R. Amazônia: Estado, homem, natureza. Belém: Cejup, 2004.

MARQUES, Gilberto. Estado e desenvolvimento na Amazônia: a inclusão amazônica na reprodução capitalista brasileira. Rio de Janeiro: UFRRJ/CPDA, 2007 (Tese de Doutorado).

MARQUES, Indira. Território Federal e mineração de manganês: gênese do Estado do Amapá. Rio de Janeiro: UFRJ, 2009 (Tese de Doutorado).

MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Centauro, 2005.

MELLO, João Manuel Cardoso. O Capitalismo Tardio. São Paulo: Brasiliense, 1998.

MONTEIRO, Maurílio. Mineração industrial na Amazônia e suas implicações para o desenvolvimento regional. Novos Cadernos do NAEA, v. 8, n. 1, jun 2005. Belém: UFPA/NAEA, 2005.

NAHUM, João S. A Amazônia dos PDAs: uma palavra mágica? Belém: UFPA/NAEA, 1999 (Dissertação de Mestrado).

OLIVEIRA, Ariovaldo U. Integrar para (não) entregar: políticas públicas e Amazônia. Campinas-SP: Papirus, 1988.

POULANTZAS, Nicos. O Estado, o poder, o socialismo. Rio de Janeiro: Graal/Paz e Terra, 2000.

SANTOS, Roberto. Histórica Econômica da Amazônia (1800-1920). São Paulo: Queiroz, 1980.

SILVA, Francisco C. T. Crise da ditadura militar e o processo de abertura política no Brasil, 1974-1985. In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucília de A. N. (org.). O Brasil republicano, vol. 4 – O tempo da ditadura: regime militar e movimentos sociais em fins do século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

SINMINERAL - Sindicato das Indústrias Minerais do Estado do Pará. Balanço mineral do Estado do Pará 2010. Belém: SINMINERAL, 2011.

SUDAM. II Plano de Desenvolvimento da Amazônia (1975-1979). Belém: SUDAM, 1976.

2492 | ESADR 2013

Atas Proceedings | 2493

1

POLÍTICAS PÚBLICAS E CONFLITOS FUNDIÁRIOS NA AMAZÔNIA

BRASILEIRA1

Indira Rocha Marques, SEED=AP, Brasil, [email protected]

Gilberto Marques, UFPA, Brasil, [email protected]

Resumo Com a ditadura militar (1964), as políticas públicas na Amazônia e no Pará apoiaram principalmente a grande propriedade agropecuária e mineral industrial. Concentrou-se a propriedade fundiária e se presenciou a entrada de grandes proprietários vindos de outras regiões. Diferente do que se afirmava, o espaço amazônico não se mostrou vazio, mas repleto de conflitos. O pequeno produtor sofreu as consequências e a repressão do latifúndio - que tinha ao seu lado o Estado brasileiro. Palavras-chave: Estado, políticas públicas, conflitos agrários. Introdução

Esse trabalho tem como objetivo analisar a ação do Estado brasileiro na Amazônia

durante a segunda metade do século XX e, particularmente, suas implicações sobre a

configuração agrária local. Abordamos as decisões políticas do governo federal e suas

consequências sobre a região, entre as quais o apoio estatal à grande propriedade em

detrimento dos pequenos produtores.

A anti-reforma agrária na Amazônia

Com a ditadura militar no Brasil, iniciada em 1964, desenvolve-se o processo de

modernização conservadora da agricultura brasileira, modernizou-se o processo técnico de

produção, mas mantendo a mesma estrutura concentradora da propriedade fundiária. Ainda

que a “modernização” não tenha alcançado a Amazônia tal qual ocorreu no Sul e Sudeste

do país, suas consequências (diretas ou indiretas) se fizeram presentes. Palmeira e Leite

(1998) afirmam que o lugar estratégico destinado à especulação financeira e à exportação

agropecuária e agro-industrial, como fonte de divisas no modelo de desenvolvimento da

ditadura militar, foi decisivo para a “escolha da via da modernização conservadora”. A

intervenção estatal nesse processo passou, então, por três instrumentos básicos: 1)

principalmente pelos créditos subsidiados, que foram concentrados em um pequeno

número de “grandes tomadores”; 2) incentivos fiscais às atividades agropecuárias e

correlatas, particularmente na Amazônia e Nordeste; 3) política de terras com enorme 1 Este trabalho tem uma versão preliminar sob o título Políticas estatais na configuração agrária da Amazônia brasileira.

2494 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

2

transferência de terras públicas a particulares, principalmente na Amazônia Legal.2 Além

desses elementos, outras políticas também atingiram o setor agrícola/agrário como a

construção de grandes obras públicas (hidrelétricas, açudes e estradas, por exemplo),

estimulando a especulação fundiária. Dessa forma a “modernização” beneficiou não

apenas os latifundiários tradicionais, mas atraiu outros setores e capitais (de origens

diversas) para investimentos e especulação. Produziu-se uma associação e coincidência de

interesses (“incrustadas” na própria máquina estatal) em torno dos negócios que envolviam

a terra.

Em 1966 o governo militar lançou a “Operação Amazônia”3. Com ela os créditos

governamentais ao setor privado passavam a alcançar até 75% dos recursos necessários à

implantação dos projetos. Além da ação da SUDAM, foram desenvolvidos projetos

nacionais com impactos regionais como o Programa de Integração Nacional (PIN,

responsável pela construção da rodovia Transamazônica), o Programa de Redistribuição de

Terras (Proterra) e o próprio I Plano Nacional de Desenvolvimento (IPND). Os incentivos

fiscais inicialmente restritos à indústria, logo migraram acentuadamente para a pecuária,

provocando intensa busca por terras para a conformação de fazendas. Para isso, os grandes

proprietários recorreram aos mais variados métodos, legais ou não.

Parte componente da Operação Amazônia, a Lei nº 5.174/66 colocou a

agropecuária, na prática, como setor privilegiado na distribuição dos incentivos fiscais na

Amazônia oriental brasileira.4 Segundo os dados do ministro do interior daquele período

(LIMA, 1971), já em 1967 a agricultura/agropecuária abocanhou 73% dos recursos

provenientes dos incentivos fiscais. Isso não representou uma simples compensação à

oligarquia regional, mas o movimento de configuração de um novo projeto para a região,

onde mesmo na agropecuária os setores regionais teriam que conviver com setores de

outras regiões. Esta mudança radical, da indústria à agropecuária, que em si já negava a

tese da substituição regional de importações, implicou, na análise de Loureiro (2004), em

sérias conseqüências para a região: corrida por grandes extensões de terra,5 impulsionando

os conflitos, pois quanto maior a terra, maior seria o montante de incentivos fiscais;

desaceleração da industrialização; significativos danos ambientais; substituição do projeto

2 A Amazônia Legal corresponde a aproximadamente 60% do território brasileiro e compreende os estados do Amazonas, Roraima, Acre, Rondônia, Pará, Amapá, Tocantins, Mato Grosso e parte do Maranhão. Os sete primeiros estados formam a região Norte do Brasil. 3 Conjunto de leis e instrumentos institucionais que, entre outros, redefiniram a política de incentivos fiscais para a Amazônia e criaram a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), o Banco da Amazônia (Basa) e a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). 4 Que corresponde aos estados do Amapá, Pará, Mato Grosso, Tocantins e parte do Maranhão. 5 Processo no qual os grandes proprietários recorreram aos mais variados métodos, legais ou não.

Atas Proceedings | 2495

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

3

(ou da expectativa) desenvolvimentista regional por um projeto inicialmente alheio à

burguesia regional e à região.

Ao incluir a produção madeireira e agropecuária entre os setores incentiváveis e ao

reconhecer o valor das terras como recursos próprios dos que viessem a pleitear a ajuda

financeira, o Estado estabeleceu íntima relação entre incentivos fiscais e grande

propriedade da terra. Por conseguinte, podemos supor como natural que os setores

regionais (detentores de baixa capitalização) fossem estimulados a requisitar os incentivos

fiscais por meio de projetos agropecuários, pois eles podiam supervalorizar artificialmente

seus imóveis (apresentados como contrapartida financeira), alguns dos quais conseguidos

por meio de grilagem. A concentração crescente de terras que se observa para exploração

agropecuária, madeireira e mineral passou a conflitar com a procura dos pequenos

produtores, principalmente imigrantes.

Já no governo Costa e Silva (1967-1969) a questão da terra, particularmente em

relação à região amazônica, havia sido transformada num problema militar. Para o ministro

do interior, general Albuquerque de Lima, ligado à Escola Superior de Guerra (ESG), a

integração da Amazônia se tornava um problema nacional e responderia à pressão

fundiária no Nordeste, com ocupação dos “espaços vazios” - para o qual a presença dos

militares seria fundamental.

Marcado pela repressão à guerrilha do Araguaia, o governo Médici (1969-1974)

retirou ministérios importantes das mãos de militares favoráveis a medidas de reforma

agrária e os repassou a pessoas contrários a ela e defensoras somente do estabelecimento

da grande empresa agropecuária. Isso tinha implicações sobre a Amazônia. O Instituto

Brasileiro da Reforma Agrária (IBRA) foi substituído pelo Instituto Nacional de

Colonização e Reforma Agrária (INCRA), mas enquanto o primeiro era subordinado à

Presidência da República o segundo se tornava uma autarquia do Ministério da

Agricultura, demonstrando que, apesar do PIN e do Proterra, a questão agrária ficava em

segundo plano.6 Destitui-se, assim, progressivamente a base institucional necessária à

reforma agrária e a Amazônia, diferentemente do discurso oficial, deixava de ser a

“solução” para o problema agrário brasileiro.

Em meio às redefinições provocadas pela crise econômica nacional, no período do

Presidente Geisel (1974-1979) a Amazônia deixou de ser concebida formalmente como

6 Com isso, não apenas se priorizava a empresa agrícola como se reorientavam os fluxos migratórios “para fora do campo e não para o campo, abrindo um espaço maior e sem conflitos para a instalação e expansão da grande empresa capitalista no setor agropecuário, especialmente nas novas regiões” (MARTINS, 1984, p. 45).

2496 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

4

uma região-problema (definição que cabia agora tão somente ao Nordeste) para ser tomada

como uma fronteira de recursos. Além disso, no decorrer desse governo, muito em função

dos problemas da economia, a agricultura passou a ser vista não do ponto de vista do

abastecimento do mercado interno, mas da necessidade de geração de divisas.

Por outro lado, a região Norte até então fora concebida como a solução dos

problemas agrários do país: a terra sem homens receberia os homens sem terra. A partir de

meados dos anos 1970 consolidou-se a negação dessa política, de modo que a terra sem

homens deveria receber os homens do capital (e que por conta das facilidades dos

incentivos nem precisariam necessariamente estar com grandes volumes financeiros).7

Ocorre, então, uma concentração de terras até mesmo na região da rodovia

Transamazônica, que havia sido tomada como a área de localização de pequenos

produtores, via colonização. Inicialmente o governo distribuiu lotes de 100 hectares, mas,

em seguida, alegando não ter procura suficiente, passou a vender lotes de 500 hectares a

comerciantes, empresários e madeireiros locais e de outros estados. Esses lotes ficavam

atrás daqueles de 100 hectares (localizados diretamente ao lado da rodovia). O Incra

facilitou aos novos proprietários a compra dos lotes de 100 hectares (na frente), sob a

alegação de serem lotes de apoio. Os pequenos assentados, sem apoio público, viram-se na

situação de vender suas terras para os proprietários de renda mais elevada, produzindo

reconcentração da terra.8

Desse modo, a conclusão que se chegou foi que a política de assentamento de

trabalhadores rurais na Amazônia respondeu à necessidade de se “distribuir alguma terra

para não distribuir as terras, esse acabou sendo o lema de fato da política governamental de

colonização dirigida” (IANNI, 1979, p. 81). Mais do que isso: na prática, os pequenos

produtores rurais, em muitos casos, cumpriram a função de abrir a mata em regiões de

difícil acesso, para os médios e grandes proprietários que viriam depois.9

7 O resultado pode ser visto nos dados levantados por Martins (1995) quanto às terras das zonas pioneiras do país - que não se limitavam à Amazônia, mas eram concentradas particularmente nela. Nesses dados, constatamos que entre 1950 e 1960, 84,6% das terras dessas zonas foram ocupadas por propriedade de até 100 hectares. Na década 1960 aprovaram-se o Estatuto da Terra, os incentivos fiscais e o governo transitou do populismo à ditadura e de uma postura que concebia certa reforma agrária a uma posição anti-reforma. Nesse intervalo (1960-1970), 64,7% das terras foram incorporadas por estabelecimentos superiores a 100 hectares. Em 1975 das novas terras “distribuídas” apenas 0,2% destinaram-se às propriedades com menos de 100 hectares e 99,8% foram entregues a estabelecimentos com área superior a 100 hectares – sendo que desse total 75% concentraram-se em propriedades superiores a 1.000 hectares. 8 Loureiro (2004) constatou que em 1986, nos trechos Altamira-Itaituba e Altamira-Marabá (Projeto de Colonização Altamira), onde as terras haviam sido desapropriadas para a reforma agrária, 40% das mesmas estavam nas mãos de médios e grandes proprietários. 9 Recebiam alguma porção de terra, enfrentavam as dificuldades em áreas de difícil acesso e quando “amansavam” a mesma, diversos processos lhes pressionavam a repassá-las a outros proprietários.

Atas Proceedings | 2497

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

5

O PIN havia se proposto a assentar 100 mil famílias somente em seu primeiro ano

(1971) e um milhão até o final dos anos 1970, mas, de acordo com Loureiro (2004), em

1983 o Incra registrou o assentamento de tão somente 66 mil famílias em toda a Amazônia,

demonstrando o distanciamento da política de distribuição de terras a pequenos produtores

por parte do governo.

A distribuição das terras priorizou o grande proprietário. O repasse dos incentivos

também se destinou às grandes propriedades, sem a necessidade de capital na mesma

proporção. Segundo Martins (1995), até julho de 1977 a SUDAM havia aprovado 336

projetos agropecuários, num total de Cr$ 7 bilhões, sendo que deste valor Cr$ 2 bilhões

seriam recursos próprios das empresas. Pouco em relação ao total? Sim, mas ainda assim

um valor superestimado na medida em que, como já afirmamos, a Superintendência

aceitava o valor declarado das terras como componente do valor que as empresas deveriam

apresentar. Estas recebiam terras do governo, compravam a preços irrisórios ou mesmo as

grilavam e depois inflavam seu valor para obter grandes somas de incentivos do governo.10

O apoio à grande propriedade e outras políticas correlatas reconfiguraram o próprio

espaço regional amazônico. Na década de 1950 e no ano de 1960 a região tinha uma forma

de ocupação, onde a distribuição populacional ocorria ao longo de seus rios principais,

destacadamente o Amazonas. A ocupação econômica também seguia este movimento.

Com as políticas implementadas a partir dos anos 1950 (Rodovia Belém-Brasília) e 1960

(Operação Amazônia, apoio à agropecuária e grande propriedade fundiária e abertura de

novas estradas) ocorreu a reconfiguração espacial regional, passando-se a ocupar não

apenas as margens dos rios, mas outras áreas de acordo com a disposição das rodovias e

concentração dos projetos econômicos.

A doutrina de “defesa” da Amazônia por meio da ocupação de seus “espaços

vazios” mostrava sua face: o “esvaziamento dos espaços ocupados, porque é uma doutrina

de expulsão do homem para a colocação do boi, ou seja, é preciso ocupar dessa forma, e

não de outra, para defender” (MARTINS, 1995, p. 122).

O aumento da organização dos trabalhadores e do número de conflitos no Vale do

Araguaia-Tocantins levou, segundo Martins (1984) e Loureiro (2004), à criação do Grupo

Executivo de Terras do Araguaia-Tocantins (Getat), subordinado ao Conselho de

Segurança Nacional – uma verdadeira intervenção militar no Incra.11 Isso respondeu à

10 A Superintendência financiou inúmeros projetos que estavam em áreas conflituosas, pois não exigia nenhuma comprovação da ausência de conflito nas mesmas – bastava o solicitante dos incentivos declarar que não havia litígio na área. 11 Criado em fevereiro de 1980, o Getat tinha jurisdição, segundo Emmi (1999), sobre uma área de 200.000 km², envolvendo o sudeste do Pará, norte de Goiás (hoje Tocantins) e o oeste do Maranhão.

2498 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

6

necessidade de proteger os interesses dos grandes proprietários e de grandes empresas,

buscando evitar “perda” de terras ou mesmo de fazendas para os trabalhadores.

Assim, se com o Getat o governo federal se regionalizava era porque devia dar

respostas aos conflitos agrários na região (ou dar garantias à política de terras em curso) e

também manter um ambiente favorável ao estabelecimento do Programa Grande Carajás

(PGC)12 e outros empreendimentos correlatos.

O governo federal ampliou seu controle sobre as terras amazônicas. O processo de

federalização das mesmas já havia sido impulsionado no início dos anos 197013 com a

imposição do fato de que 100 km de cada lado das rodovias federais localizadas na região

passariam para as mãos do governo federal de acordo com as determinações do Conselho

de Segurança Nacional (Decreto 1.164/71), seguindo o processo de centralização política

no Executivo federal. Segundo Loureiro (2004), apenas 29,7% das terras paraenses ficaram

sob jurisdição do Governo do Estado/Iterpa, o restante passou para a órbita do governo

federal.

A federalização das terras da Amazônia era condição necessária à geopolítica da centralização. Era impossível sobrepor o poder federal ao poder local e regional sem confiscar a sua principal base de sustentação, que é a terra, e o controle dos mecanismos de distribuição de terras entre os membros das oligarquias. O combate à oligarquia implicava em expropriá-la do seu principal meio de poder, que é a terra (MARTINS, 1984, p. 50).

Paulatinamente intensificou-se a concentração de poder no Executivo federal em

detrimento da autonomia dos estados brasileiros. A federalização e militarização da

questão fundiária e a criação do Ministério Extraordinário para Assuntos Fundiários (1982)

e do Getat centralizaram no novo Ministro as decisões concernentes à questão fundiária.

Mas o deslocamento espontâneo e crescente de grandes massas de imigrantes

colocava em xeque a política do governo militar e o lema do Presidente Geisel de

segurança com desenvolvimento, pois os posseiros passavam a se enfrentar com grileiros e

empresas beneficiadas pelos incentivos fiscais.

12 Programa criado pelo governo para explorar grandes reservas minerais na Amazônia, particularmente o ferro da província mineral de Carajás (Sudeste do Pará). 13 Não podemos esquecer que a existência dos territórios federais na região Norte (Amapá, Roraima e Rondônia) já colocava parcela mais que considerável do espaço amazônico sob a órbita direta do governo federal – que era quem dispunha da autoridade política, administrativa e financeira sobre os mesmo, nomeando, inclusive, governadores e prefeitos.

Atas Proceedings | 2499

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

7

Resultados da política de ocupação sustentada na grande propriedade agropecuária

O Getat foi extinto em 05 de maio de 1987 por meio do Decreto-Lei nº 2.328/87

que transferiu o seu patrimônio e responsabilidades fundiárias ao Incra. Também em 1987

(25 de novembro) o Decreto-Lei 1.164 foi extinto, depois de 16 anos em vigor e de ter

confiscado 100 km laterais das terras estaduais que ficassem às margens das rodovias

federais construídas ou planejadas na Amazônia. As terras foram devolvidas à jurisdição

dos estados, mas “já estavam irremediavelmente comprometidas” (LOUREIRO, 2004, p.

142). Afora isso, as áreas que compunham o PGC (confiscada posteriormente ao decreto)

não foram devolvidas.

Qual o resultado final desse processo? “A terra estava dividida desigualmente,

favorecendo as diversas frações do capital (transnacional, nacional e regional) e

pressionada pelos posseiros que se comprimiam nos interstícios e mesmo no interior da

grande propriedade rural” (LOUREIRO, 2004, p. 151).

A propriedade se mostrou extremamente concentrada e a pequena propriedade

secundarizada. Os conflitos foram uma constante durante todo esse período. De 1964 a

1997 o Pará liderou as estatísticas da violência no campo brasileiro com 694 mortos.

Somente 18,59% destes foram investigados (CPT, 2000).14

A tabela a seguir apresenta a evolução da estrutura da propriedade fundiária no

Estado do Pará no intervalo entre 1960 e 1995.

TABELA 1: PROPORÇÃO DO Nº E DA ÁREA DOS ESTABELECIMENTOS, PARÁ 1960-1995

ÁREA TOTAL – PARÁ – 1960-1980 Grupos de área (hectares)

1960 1970 1980 1995

nº de estabe-lecimentos

área Nº de estabe-lecimentos

área nº de estabe-lecimentos

área nº de estabe-lecimentos

Área

Menos de 10 41,8% 2,5% 47,6% 2,1% 36,2% 1,6% 31,4% 0,9%

10 a (-) de 100 46,9% 23,1% 45,7% 19,0% 51,3% 19,1% 50,7% 18,3%

100 a (-) de 1000 7,0% 28,0% 4,7% 14,6% 11,2% 21,8% 16,8% 29,9%

1000 a (-) de 10000 0,7% 28,3% 0,7% 29,2% 0,7% 21,8% 1,1% 27,1%

10000 e mais 0,04% 18,1% 0,06% 35,0% 0,09% 35,7% 0,0% 23,8%

Não declarados 3,6% - 1,2% - 0,2% - - -

Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: IBGE, Censos Agropecuários, Censo Agrícola do Pará (1960).

14 Se levarmos em consideração que as estatísticas oficiais, e mesmo as da Comissão Pastoral da Terra (CPT), são subestimadas pelo fato de muitos crimes não terem chegado ao conhecimento público, concluiremos que estes números são bem maiores.

2500 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

8

Pelo que se percebe em 1960 o total de pequenos proprietários (aqueles com menos

de 100 hectares) representavam 88,7% do total de propriedades e concentravam em suas

mãos 25,6% da área do Estado paraense, enquanto que os proprietários com mais de um

mil hectares (apenas 581 propriedades) dispunham de 46,4% da área. Em 1970 um total de

93,3% das propriedades estava nas mãos de pequenos produtores, mas eles dispunham tão

somente de 21,1% da área do Estado (reduzindo sua participação em relação a 1960),

enquanto os grandes proprietários (com mais de um mil hectares) acumulavam 64,2% das

terras.

Em 1980 as propriedades com menos de 100 ha (195.816 imóveis) dispunham de

20,7% da área paraense enquanto que os proprietários com mais de um mil hectares

concentravam 57,5% das terras, menos que em 1970, mas entre estes apenas 199

propriedades dispunham de 35,7% da área total do Pará, demonstrando que houve uma

concentração ainda mais acentuada nas grandes propriedades. Em 1995 do conjunto de

proprietários existente no Estado paraense 82,1% podiam ser classificados como pequenos,

mas somente 19,2% da área estavam em suas mãos. Os donos dos grandes

estabelecimentos rurais correspondiam a apenas 1,1% do conjunto de proprietários, porém

dispunham de 50,9% do território estadual.

Analisemos apenas os extremos. Os mini-proprietários (aqueles com menos de 10

hectares) dispunham de 2,5% das terras do Pará em 1960, 2,1% em 1970 e 1,6% em 1980.

Se no início já se apropriavam de uma área proporcionalmente pequena, progressivamente

foram perdendo ainda mais espaço no cenário regional. De outro lado, as propriedades com

10.000 hectares ou mais ocupavam 18,1% da área em 1960, chegaram a 35,7% em 1980 e

reduziram a 23,8% em 1995, ano em que o total de propriedades não atingia 0,1% do

número de estabelecimentos rurais. Nesse mesmo ano os mini-proprietários correspondiam

a 31,4% do total de proprietários, mas acumulavam somente 0,9% da área total. Esses

números da concentração fundiária no Pará são superiores aos índices nacionais.

Do ponto de vista da configuração da economia, salvo alguns produtos com

crescimento satisfatório, a agricultura não apresentou o dinamismo esperado, de modo que

ainda hoje o Pará é um importador de alimentos. Por outro lado, o investimento estatal

possibilitou o desenvolvimento de um significativo rebanho de gado bovino no Estado

paraense. A tabela seguinte apresenta a evolução recente do mesmo no Pará e nos estados

da Amazônia Legal. Até o início dos anos 1990 a evolução da bovinocultura esteve

diretamente vinculada à concessão dos incentivos fiscais, via SUDAM e Basa

Atas Proceedings | 2501

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

9

principalmente. Com a forte redução dos mesmos, a grande produção agropecuária buscou

outras fontes de financiamento, mas em grande medida ainda estatais.

Tabela 2: Rebanho bovino dos Estados da Amazônia Legal (cabeças), 2001-2007 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Brasil 176.388.726 185.348.838 195.551.576 204.512.737 207.156.696 205.886.244 199.752.014 Acre 1.672.598 1.817.467 1.874.804 2.062.690 2.313.185 2.452.915 2.315.798 Amapá 87.197 83.901 81.674 82.243 96.599 109.081 103.170 Amazonas 863.736 894.856 1.121.009 1.156.723 1.197.171 1.243.358 1.208.652 Maranhão 4.483.209 4.776.278 5.514.167 5.928.131 6.448.948 6.613.270 6.609.438 Mato Grosso 19.921.615 22.183.695 24.613.718 25.918.998 26.651.500 26.064.332 25.683.031 Pará 11.046.992 12.190.597 13.376.606 17.430.496 18.063.669 17.501.678 15.353.989 Rondônia 6.605.034 8.039.890 9.392.354 10.671.440 11.349.452 11.484.162 11.007.613 Roraima 438.000 423.000 423.400 459.000 507.000 508.600 481.100 Tocantins 6.570.653 6.979.102 7.659.743 7.924.546 7.961.926 7.760.590 7.395.450 Amazônia Legal 51.689.034 57.388.786 64.057.475 71.634.267 74.589.450 73.737.986 70.158.241 Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal, efetivo em 31/12.

O Pará é o maior produtor da região Norte do Brasil e o segundo principal da

Amazônia Legal – o Mato Grosso lidera o rebanho nessa região. Em 2001 havia

11.046.992 cabeças de bovinos no Pará e 51.689.034 na Amazônia Legal. O efetivo

paraense atingiu 18.063.669 animais em 2005 e nos dois anos seguintes, acompanhando

um movimento conjuntural do país, caiu até o montante de 15.353.989 cabeças em 2007.

Pelos dados da Agência de Defesa Agropecuária do governo do Pará em maio de 2009 o

rebanho já havia se expandido para 17.649.151 animais.

A política governamental de estímulo à produção bovina foi acompanhada não

apenas da expansão do rebanho, mas, também da área aberta para pastagens e da própria

degradação ambiental. Em 1975 o Pará dispunha de pouco mais de 3 milhões de hectares

de terras ocupadas por pastagens – na Amazônia Legal eram 20,3 milhões de hectares. Em

2006 a parcela ocupada com essa atividade no território paraense saltara para 13,2 milhões

de hectares, correspondendo a 21,38% da área de pastagens da região.

2502 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

10

Tabela 3: Área ocupada por pastagens* nos estados da Amazônia Legal, em há Estado 1975 1985 1996 2006 Amazônia

Legal (%) Acre 124.100 326.030 614.210 1.032.430 1,68% Amapá 350.020 478.890 244.980 432.030 0,70% Amazonas 192.380 476.130 528.910 1.834.530 2,98% Pará 3.037.190 6.596.390 7.455.730 13.167.860 21,38% Maranhão 3.808.830 5.446.560 5.310.550 6.162.690 10,00% Mato Grosso 11.243.470 16.404.370 21.452.060 22.809.020 37,03% Rondônia 224.570 1.100.880 2.922.070 5.064.260 8,22% Roraima 1.353.170 1.247.210 1.542.570 806.560 1,31% Tocantins - 10.650.900 11.078.150 10.290.860 16,71% Amazônia Legal

20.333.730 42.727.360 51.149.230 61.602.240 100,00%

Brasil 165.652.250 179.188.430 177.700.470 172.333.070 - FONTE: IBGE, Resultados Preliminares do Censo Agropecuário 2006.

* Pastagens naturais e plantadas (degradadas e em boas condições)

Por outro lado, a área de lavoura plantada com arroz, feijão, mandioca, milho,

cacau e pimenta-do-reino (as primeiras são culturas de subsistência e de abastecimento do

mercado local) caiu de 810,6 mil hectares em 1985 para 602,8 hectares em 1995-1996.

Essas culturas tiveram redução em seus rendimentos, demonstrando a baixa inovação

tecnológica: em 1995 apenas 1,7% do total de estabelecimentos tinham tratores, somente

3,8% recorreram à assistência técnica e menos da metade destes a conseguiram por fontes

governamentais (IBGE, 1996).

A política aplicada pelo governo trouxe à região os fortes graus de concentração

dos setores urbanos da economia nacional, o que ficou evidenciado em uma amostra de

211 projetos, em 1985, onde apenas 7,5% destes abocanharam 41,5% dos investimentos

fiscais (COSTA, 2000); a pecuária concentrou o grosso dos projetos, 87,8% dos recursos

aprovados até 1980 destinavam-se a este setor.15

Em outra amostra, também reunida por Costa, com 106 projetos constata-se que as

empresas gigantes (banco Bradesco S/A, por exemplo), representando apenas 19% destes,

estabeleceram projetos onde o valor total equivalia a 47,2% do total geral de investimento

da amostra (investimento e incentivos fiscais). Seguindo esses, encontramos os grupos

familiares forâneos (famílias Lunardelli, Do Val e outras - São Paulo e Minas Gerais,

principalmente) com 22,4% dos investimentos, alcançando 75% de incentivos para seus

investimentos. Os grupos oligárquicos locais totalizaram 21,5% dos investimentos.

15 As informações dos projetos incentivados pela SUDAM, levantados por Loureiro (2004), dão conta de que até 1985 foram aprovados 1.418 projetos em toda a Amazônia, dos quais 61% foram para a agropecuária, sendo que destes 40% concentraram-se no Mato Grosso e 35% no Pará, ou seja, ¾ dos projetos aprovados restringiram-se a dois estados apenas. Do total de projetos aprovados (1.418) apenas 459, segundo as informações da própria Superintendência, poderiam ser considerados como estando em operação.

Atas Proceedings | 2503

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

11

Finalmente, um grupo de empresas de menor expressão (o que não deve ser entendido

como pequenas) obteve 8,9% dos investimentos (COSTA, 2000). Constatamos que a

oligarquia local teve que aceitar a entrada de novos proprietários por conta da possibilidade

de acessar algum recurso dos incentivos fiscais governamentais. Como extensão também

aceitou a entrada do grande capital para a exploração dos projetos minerais.

Existe correlação entre os números de concentração dos incentivos com o aumento

da violência? O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) fez um

levantamento dos assassinatos de trabalhadores rurais no Pará entre 1966 e 1986. Costa

(2000) cruzou esses dados com a distribuição espacial dos incentivos fiscais e chegou à

conclusão de que a aceleração da violência no campo amazônico guardou estreita relação

com os grandes projetos agropecuários.

A região Sul/Sudeste paraense,16 concentradora de incentivos fiscais, tem o maior

rebanho bovino do Estado. Ela também concentrou a ocorrência dos conflitos agrários.

Dados gerais sobre a violência no campo, Sul e Sudeste do Pará 1996-1999 Ano Ocupações Nº de

famílias Mortos Presos Trabalho

escravo Ameaças de morte

Famílias despejadas

1996 29 3.902 34 45 674 12 - 1997 20 4.874 11 19 473 12 209 1998 34 4.200 10 34 254 14 211 1999 32 4.619 03 64 506 10 655 Total 115 17.595 58 162 1907 48 1075 Fonte: Comissão Pastoral da Terra

Em 1996 ocorreu o massacre de Eldorado dos Carajás, onde a polícia militar

assassinou 19 trabalhadores rurais que participavam de uma marcha pela rodovia PA-150

reivindicando terra para cultivar. Naquele ano 3.902 famílias foram envolvidas em

conflitos. De 1996 a 1999 foram 17.595 famílias envolvidas em conflitos na região, 58

mortos, 1.907 casos de trabalho escravo e 1.075 famílias despejadas.

A estrutura da década de 1980 foi importante na configuração da década seguinte.

Se nos detivermos sobre a estrutura agrária/agrícola do Estado em 1995 verificaremos a

importância da unidade camponesa,17 onde na estrutura relativa da força de trabalho

16 Comumente se refere ao Sul do Pará como a região que compreende a porção leste do sul do Estado, de modo que seria mais preciso chamá-la como Sudeste. 17 Unidade de produção camponesa: a família caracteriza-se como seu parâmetro. Grande latifúndio empresarial: estabelecimento rural onde o uso ou não da terra e dos recursos naturais decorrem de critérios empresariais e capitalistas. Fazenda é a estrutura em que o titular personifica uma “racionalidade mais próxima do capital mercantil”, objetivando o lucro por meio de fórmulas de maximização que mantêm o seu patrimônio, terra e gado, assim como uma espécie de “consumo de luxo”. Correlacionando esta definição para os números do IBGE sobre o Pará em 1985, pode-se afirmar que as parcelas de terra entre 0 e 200 ha “estão decisivamente influenciados pelas unidades camponesas ali presentes”. Da mesma forma pode-se

2504 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

12

89,75% provinham dessas unidades (sendo que desse percentual 81,34% eram membros

não remunerados da família), seguidos 8,95% de fazendas e 1,30% dos latifúndios

empresariais. Isso significa que os camponeses respondiam por 90% do total de pessoal

ocupado na produção animal e vegetal do Estado. As fazendas representavam 9% e os

latifúndios empresariais 1% das ocupações.

Em 1985 do total de terras em utilização no setor agropecuário 67% eram ocupados

pela pecuária e 32% pela agricultura. Dez anos após, 84% das terras eram utilizadas como

pastagens e apenas 14,8% estavam com a agricultura (das quais 3% eram de lavouras

permanentes). Os dados em si demonstram o quanto a agropecuária avançou sobre a

plantação. Esse processo foi mais intenso entre fazendeiros e latifúndios empresariais que

apresentaram, em 1995, aproximadamente 93% de suas áreas em utilização comprometidas

com pastagens (IBGE, 1996). Porém, mesmo os pequenos produtores não ficaram isentos

do mesmo.

Do valor total da produção animal e vegetal em 1995, segundo os dados do IBGE

(1996) e Costa (2000), os camponeses contribuíram com 64,4%, seguidos de 27,1% das

fazendas e 8,5% dos latifúndios empresariais. A agricultura foi fundamentalmente uma

atividade camponesa, de onde se constatou que 86,2% do valor total desse subsetor

decorreram dessas unidades produtivas, seguido de 11,5% das fazendas e 2,3% dos

latifúndios empresariais. A grande propriedade se assentou majoritariamente sobre a

pecuária de grande porte, do qual 46,9% do valor produzido decorreram de fazendas e

18,3% de latifúndios empresariais. Mesmo aqui os camponeses participaram com 34,8%.

No Sudeste do Pará, 75,72% da produção das fazendas se concentraram nesta atividade.

Para os latifúndios empresariais o número subiu para 84,24%.

Oligarquia regional e reorganização do espaço rural paraense

A história da sucessão governamental no Pará desde o final do século XIX, pelo

menos, até os anos 1960 foi marcada por grandes enfrentamentos entre os diversos setores

da oligarquia regional. No pré-golpe de 1964 a fração liderada por Magalhães Barata18

havia assumido o governo do Estado. Com o golpe militar, o governador Aurélio do Carmo

foi destituído do cargo, fechando o ciclo baratista na política paraense.

enquadrar as propriedades entre 200 e 5.000 ha como fazendas e as propriedades superiores a isso como latifúndios empresariais (COSTA, 2000b, p. 1 e 2). 18 Militar e chefe político local que governou o Pará. Barata morreu em 1959, mas já havia conseguido eleger seu sucessor, mantendo ativa suas posições populistas e clientelistas.

Atas Proceedings | 2505

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

13

Durante os governos militares a oligarquia regional não se viu significativamente

atacada em suas propriedades. As políticas federais e estaduais mantiveram (com

contradições é verdade) a presença oligárquica em detrimento de pequenos produtores, mas

com um elemento novo: a incorporação de novos atores a esta elite. Aproveitando-se dos

incentivos fiscais, da facilidade de acesso a terra e outros atrativos do Estado, empresários

e latifundiários de outras regiões passaram a se localizar na Amazônia dividindo espaço

com antigos proprietários e se enfrentando com ribeirinhos, caboclos e pequenos

produtores que haviam chegado por meio da imigração.

Para Fernandes (1999), os novos grupos que se caminharam para o Pará eram

descendentes de famílias tradicionais paulistas, plantadoras de café, que nos anos 1940 e

1950 já haviam adquirido terras no Paraná, Norte de Minas e sul de Goiás. Localizaram-se

inicialmente na região dos rios Gurupi, Capim (Paragominas) e no Vale do Araguaia

(Conceição do Araguaia).19

Nos anos 1960 e 1970, os incentivos fiscais para projetos agropecuários no Pará

concentraram-se principal e “coincidentemente” nas regiões de Paragominas e do

Araguaia-Tocantins (Sudeste paraense), área de entrada dos proprietários que vinham de

outras regiões. Na prática, os incentivos para a agropecuária destinavam-se

prioritariamente para os que vinham de fora.20

Evidentemente, a burguesia agrária regional se movimentava para participar da

partilha dos mesmos, mas mudanças significativas nesse sentido foram sentidas nos anos

1980. Pelos dados da SUDAM (1991) até 1987, pelo menos, a região do Marajó,

tradicional produtora de gado, teve 24 projetos aprovados pela Superintendência. Desses

apenas um foi antes de 1980. Assim, a partir dos anos 1980 os incentivos para a

agropecuária (gerenciados pela SUDAM) alcançaram outras regiões paraenses. Isso

coincidiu com a ascensão do PMDB ao governo estadual. Mas desconcentração espacial

19 O fazendeiro paulista Lanari do Val se apropriou imediatamente de 768 mil hectares (160 mil alqueires), vendendo metade logo em seguida. Outra grande família a se instalar na região foi a Lunardelli. A família Malzoni em associação com outras pessoas, chegou à região em 1961 ocupando também 160 mil alqueires e também vendendo parte logo em seguida. O restante deu origem a três fazendas (constituídas como empresas S/A) que individualmente se beneficiaram dos incentivos fiscais no período de 1966 a 1971. Posteriormente, elas foram fundidas originando uma nova empresa que recebeu incentivo do governo. Anos depois recorreu a uma atualização financeira do projeto recebendo mais financiamento. Assim, podia-se receber três ou até mais financiamentos para o mesmo empreendimento. 20 A aparente fertilidade do solo, as estradas, as riquezas florestais e minerais atraíam aqueles que queriam formar grandes propriedades e empresas agropecuárias. Os próprios incentivos também atuavam nesse sentido na medida em que a aprovação de um projeto pela SUDAM valorizava as terras ao seu redor e atraía outros interessados. Incentivos e concentração de terras caminharam juntos, se estimularam mutuamente e foram mais intensos na região em questão.

2506 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

14

dos incentivos fiscais para a agropecuária ocorreu ao mesmo tempo em que se presenciava

a forte redução dos mesmos e o enfraquecimento da SUDAM.

Ainda que apresentassem interesses comuns (a defesa da propriedade contra o

posseiro, por exemplo), os latifundiários “paraenses” tinham diferenças com os novos

latifundiários que aqui chegavam. Isso ficou demonstrado nas suas formas de associação.

Os “pioneiros” paraenses já se organizavam em associações rurais patronais. Com as

mudanças impostas pela ditadura, a sua federação de associações passou a se chamar

Federação da Agricultura do Pará – FAEPA, reunindo os sindicatos de grandes produtores

rurais. Esta federação representava os antigos proprietários locais e, segundo Fernandes

(1999), se restringia às microrregiões do Salgado, Bragantina e Marabá.

Já os “novos” proprietários fundaram em 1968, no Sul do Pará, a Associação de

Empresários Agropecuários da Amazônia (AEA), cuja sede ficava em São Paulo, local

onde residiam os negócios prioritários e os proprietários filiados à nova entidade. “Foi no

sentido de eficientizar em seu favor o acesso aos benefícios disponíveis para o

'desenvolvimento regional' que os 'novos' donos de terras fundaram [a AEA]”

(FERNANDES, 1999, p. 92).

Oligarquia e propriedade de terras sempre mantiveram relações umbilicais, a tal

ponto que mudanças na segunda implicaram redefinições na primeira. Durante a ditadura

de Getúlio Vargas (1937-1945), através do decreto-lei nº 5.878/43, criou-se Fundação

Brasil Central (FBC) para, através da distribuição de grandes extensões de terra,

interiorizar a região Central do país, principalmente as áreas entre os rios Araguaia e Xingu

e o Brasil Central e Ocidental. Posteriormente, com o anúncio da construção da rodovia

Belém-Brasília (1958) houve uma corrida pelas terras amazônicas e uma grande

transferência de terras públicas para a propriedade privada. Pelos dados de Santos

(LOUREIRO, 2004) entre 1959 e 1963 foram concedidos 5.646.375 hectares de terras

devolutas do Estado do Pará, no ano seguinte mais 834.668 hectares. A procura pelos

empresários do Centro-Sul por terras que ficariam às margens da nova rodovia levou a

oligarquia regional requerer e conseguir a propriedade dos castanhais do Sul do Estado.

Os proprietários passaram, simultaneamente, a “gozar de grande poder político e a

exercerem um controle social rígido sobre os trabalhadores da castanha, em decorrência da

apropriação privada da terra e de sua cobertura florestal” (LOUREIRO, 2004, p. 50).

Contudo, não foi somente a oligarquia local que se beneficiou do poder político decorrente

da propriedade da terra. Os proprietários de fora também passaram a disputá-lo,

intensificando a busca por controlar novas áreas. Fernandes (1999) cita que no curto

Atas Proceedings | 2507

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

15

intervalo entre 1959 e 1963 o Estado do Pará emitiu 1.575 títulos, quase que o dobro do

que fora emitido em 34 anos (1924-1958) que foi de 840 títulos. Somente na região do

Araguaia, em apenas 3 anos (1961-1964) foram emitidos 759 títulos que significaram

3.306.204 hectares.

O processo de privatização de grandes parcelas de terras amazônicas ocorreu desde

os anos 1950, pelo menos, mas foi com a ditadura militar e a extensão dos incentivos

fiscais que isso se aprofundou. Economia, sociedade e o modo de vida sustentados no

caboclo, na roça e no extrativismo foram profundamente alterados. Também ocorreram

mudanças nas relações de poder. Em muitos casos, como os novos proprietários não

residiam na região, seus representantes diretos, os gerentes das fazendas, passaram a

controlar parcela do poder dominante local - em alguns momentos chegaram a dirigir

algumas prefeituras. Isso levou a um enfraquecimento relativo da oligarquia local (as

famílias tradicionais).

No caso de Marabá, na década de 1970 presenciou-se a chegada de outros

concorrentes: de um domínio absoluto a burguesia local tradicional teve que aceitar a

entrada e convivência com o capital financeiro. Nos anos 1980, principalmente, se

consolidou uma situação em que Marabá não era mais somente a terra da oligarquia da

castanha, de camponeses e de índios, passando a ser, também, de bancos, pecuaristas,

grileiros, colonização, militares e mineradoras privadas e estatais. Isso quer dizer que os

novos grandes proprietários negavam de conjunto a antiga oligarquia? Não. A sua

estratégia de sustentação os levava a estabelecer relações e alianças locais, “em sua feição

local se associa a políticos da região no afã de se popularizar, usando expedientes de

paternalismo, no que lembram os velhos coronéis” (EMMI, 1999, p. 18).

A oligarquia local perdeu o monopólio da terra ao mesmo tempo em que presenciou

uma transformação do significado da propriedade fundiária.

A terra torna-se mercadoria da mesma forma como qualquer outra. De base e expressão maior do poder, numa economia extrativista não-especificamente capitalista, ela passa a ter uma expressão, em certo sentido secundário, numa economia fundamentada no capital industrial-financeiro. Isto ficou patente com os novos latifúndios apropriados pelos grandes bancos como o Bamerindus21 em Marabá (54.597 hectares) ou o Bradesco em Conceição do Araguaia (61.036 hectares) ou ainda pelas indústrias multinacionais como a Volkswagen (139.392 hectares) em Santana do Araguaia (EMMI, 1999, p. 110).

21 Em 1980 o banco Bamerindus possuía 14 castanhais.

2508 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

16

Essa quebra do monopólio fundiário das oligarquias locais se confirma nos dados

do Incra e Iterpa apresentados por Emmi: “de 44% da área total declarada em 1972, as

grandes antigas famílias tradicionais caem para 33% em 1976 e apenas 14% em 1981.

Processa-se uma diluição de seu domínio num universo substancialmente ampliado e

bastante diversificado” (EMMI, 1999, p. 116-117). Para isso, muito contribuiu também a

repressão à guerrilha do Araguaia e os investimentos em torno do Projeto Carajás. Esses

investimentos e o apelo ao financiamento externo para sua efetivação exigiam “garantias

de tranqüilidade pública que só o poder central podia oferecer: o município de Marabá

passa para a área de Segurança Nacional. [...] Em nível administrativo oficial, o poder-

centralizador do Estado nacional esmaga o poder local” (EMMI, 1999, p. 117-118).

A oligarquia local reagiu tentando se rearticular, também usando a força e até

mesmo questionando a atuação dos órgãos federais na região. Não foi suficiente. Ela

poderia até continuar no bloco de poder, mas não mais como fração dominante.

Os colonos sem terra e trabalhadores extrativistas também passaram a reivindicar as

terras de castanhais e isso aprofundou os conflitos agrários. Novamente a oligarquia

tradicional reagiu, e mais forte ainda. Para Emmi (1999), essa reação não foi apenas uma

defesa de sua propriedade, mas, uma tentativa de manter a estrutura de dominação política

que se enfraquecia na medida em que os trabalhadores se organizavam e a questionavam.

Analisando o processo brasileiro, Martins concluiu que a tentativa de esvaziar

politicamente o campo22 acabou por trazer contradições para a própria política da ditadura

militar. A federalização de enormes parcelas do território nacional retirou da oligarquia

regional a base de seu instrumento de poder, a terra, destruindo ou comprometendo o poder

tradicional de coronéis e chefes políticos locais. “Numa certa medida, o confisco territorial

acompanha o banimento da burguesia regional, dos fazendeiros, dos comerciantes, dos

benefícios da ocupação dos novos territórios” (MARTINS, 1984, p. 57). Contudo, são

justamente esses que sustentavam localmente o governo que apresentava essa política. A

contradição assim foi construída, mas, ainda que com conflitos, algumas mediações e

processos de convivência mútua foram desenvolvidos.

Ainda segundo Martins (1984), a política dos incentivos fiscais desarticulou as

relações de poder na Amazônia. Acreditamos que é mais correto falar em uma

rearticulação do poder, na medida em que entraram em cena outros atores para disputar o

poder local com a burguesia/oligarquia regional, mas que, do ponto de vista do pequeno

produtor e do trabalhador sem-terra, na prática, cumpriu o mesmo papel: concentração 22 Buscou-se, entre outros, impedir o surgimento de uma força política no campo que conduzisse a luta camponesa.

Atas Proceedings | 2509

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

17

terra e oposição à luta política pela reforma agrária. É preciso ver que para consolidar a

política no campo amazônico o governo federal não se propôs a destituir a oligarquia local,

mas impô-la sua autoridade e os novos proprietários que ele estimulava a migrar para a

região. Assim, mesmo com contradições, é possível pensar numa aliança entre governo

federal autoritário e burguesia/oligarquia regional. As grandes políticas “nacionais”

definidas para a Amazônia, grosso modo, foram bem recebidas pelas classes dominantes

amazônicas,23 que se encontravam, desde há muito tempo, marcadas por fragilidade

econômica e miopia política.

Considerações finais

A partir dos anos 1950, mas particularmente no decorrer da década de 1970, desde

a Transamazônica até os grandes projetos minerais, ocorreu uma significativa ampliação

do papel do governo federal na região amazônica. Para isso usou-se de diversos

instrumentos como, por exemplo, os meandros do combate à guerrilha do Araguaia e o

Getat (Grupo Executivo de Terras do Araguaia-Tocantins). Não é demais constatar a

coincidência da área de atuação do Getat com a região de incidência mineral do Programa

Grande Carajás e com a área de maior procura por latifundiários do Sul e Sudeste do país.

Também nesse período a internacionalização da região ganhou novo impulso, não no

sentido que denunciavam os nacionalistas quanto à perda de soberania (pelo menos

formal), mas na colocação de seus recursos naturais (principalmente minerais) no mercado

internacional a preços inferiores a seu valor real, aceitando para isso a “colaboração” dos

capitais multinacionais.

Para Martins (1984) a ampliação dos conflitos agrários na Amazônia decorreu,

primeiro, da reprodução aqui (uma “região pioneira”) da estrutura fundiária existente nas

velhas regiões; segundo, do fato de que nas regiões pioneiras mais remotas a ordem

pública se subordinou, grosso modo, ao poder privado. Mas não foram apenas os conflitos

agrários de que fala Martins que passaram a compor a realidade regional. Os modernos

complexos dos grandes projetos passaram a conviver (porque acabaram produzindo-as)

com o atraso das cidades-favela, a exemplo de Parauapebas, constituída a partir do portão

de entrada do chamado cinturão verde da CVRD. Miséria, fome, desemprego e prostituição

são algumas das características dessas cidades.

23 No período do lançamento da Operação Amazônia e do Encontro de Investidores (1966) em torno da mesma o jornal O Liberal, representante de grandes interesses da burguesia/oligarquia local, assim se expressou: “reina geral expectativa em torno da reunião de investidores sulinos que despertam para as nossas riquezas naturais, dando ao povo da Amazônia a esperança de que para ela, desponte um novo horizonte de prosperidade e progresso” (O LIBERAL apud LOUREIRO, 2004, p. 73).

2510 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

18

A ação do Estado na Amazônia caminhou no sentido da estatização, mas permeada

pelo interesses privados: federalizou as terras para controlá-las e repassá-las aos grandes

latifundiários, negando a possibilidade de reforma agrária verdadeira ou de um modelo de

desenvolvimento sustentado na pequena propriedade; estatizou a produção mineral

assumindo para si os custos da implantação dos grandes projetos mineral-energéticos, mas

repassando essa produção ao capital privado por um preço muito inferior ao seu valor

efetivo.24 Em síntese: o Estado estatizou para privatizar, colocou o público a serviço do

privado em detrimento do social.

As políticas estatais tomaram o progresso como decorrência do capital. Modernizar

era capitalizar a região, romper o seu “atraso”, integrá-la ao restante do país. Aos setores

oprimidos não coube perguntar qual o sentido do progresso lhes interessava. Mais que isso:

não se acreditou, ou não se quis fazer crer, que eles tivessem a capacidade de contribuir

efetivamente para a construção de um projeto de desenvolvimento regional. Eles deveriam

ser passivos em um duplo sentido: primeiro, recebendo e assimilando as políticas

elaboradas por outros; segundo, não reagindo frente a elas, mesmo quando se chocassem

com seus interesses.

Ainda que isso possa nos levar a certo pessimismo, não podemos deixar de ver que

os movimentos sociais, apesar de todas as limitações, nunca deixaram de se mostrar

presentes e em muitos casos passaram a ter mais visibilidade. Mais que isso: estamos

diante do desafio histórico de mudar o rumo das políticas públicas sociais e econômicas e

construir um projeto alternativo que atribua sentido social ao desenvolvimento.

Referências bibliográficas COMISSÃO PATORAL DA TERRA. Violência no Campo: A Luta pela Terra no Sul e Sudeste do Pará no Ano de 1999. Marabá, 2000.

COSTA, Francisco. Formação agropecuária da Amazônia: os desafios do desenvolvimento sustentável. Belém: UFPA/NAEA, 2000.

EMMI, Marília. A oligarquia do Tocantins e o domínio dos castanhais. Belém: NAEA/UFPA, 1999.

FERNANDES, Marcionila. Donos de terras: trajetórias da União Democrática Ruralista – UDR. Belém: NAEA/UFPA, 1999.

GARRIDO FILHA, Irene. O projeto Jari e os capitais estrangeiros na Amazônia. Petrópolis-RJ: Vozes, 1980.

IANNI, Otávio. Colonização e contra-reforma agrária na Amazônia. Petrópolis-RJ: Vozes, 1979.

24 Posteriormente, no decorrer dos anos 1990, quando reuniu condições, repassou essas empresas estatais diretamente para o capital privado nacional e internacional em processos no mínimo questionáveis quanto à sua real mensuração de valor e isenção de corrupção.

Atas Proceedings | 2511

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

19

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Agrícola – Pará, 1960. Rio de Janeiro: IBGE, 1961.

_________. Censo Agropecuário 1995-1996. Rio de Janeiro: IBGE, 1996.

_________. Resultados preliminares do Censo Agropecuário 2006. Rio de Janeiro: IBGE, 2008.

_________. Pesquisa Pecuária Municipal. Rio de Janeiro: IBGE, 2009.

LOUREIRO, Violeta R. Amazônia: Estado, homem, natureza. Belém: Cejup, 2004.

MARQUES, Gilberto. Estado e desenvolvimento na Amazônia: a inclusão amazônica na reprodução capitalista brasileira. Rio de Janeiro: UFRRJ, 2007 (tese de doutorado).

MARTINS, José de S. A militarização da questão agrária no Brasil. Petrópolis-RJ: Vozes, 1984.

_________. Os camponeses e a política no Brasil. Petrópolis-RJ: Vozes, 1995.

NAHUM, João S. A Amazônia dos PDAs: uma palavra mágica? Belém: UFPA/NAEA, 1999 (dissertação de mestrado).

OLIVEIRA, Ariovaldo U. Integrar para (não) entregar – políticas públicas e Amazônia. Campinas-SP: Papirus, 1988.

SUDAM. Cenários da Amazônia. Ciência Hoje, Volume especial: Amazônia, 1991.

________. I Plano de Desenvolvimento da Amazônia (1972-1974). Belém: SUDAM, 1971.

________. II Plano de Desenvolvimento da Amazônia (1975-1978). Belém: SUDAM, 1976.

VALVERDE, Orlando. O problema florestal da Amazônia Brasileira. Petrópolis-RJ: Vozes, 1980.

2512 | ESADR 2013

Atas Proceedings | 2513

A COMERCIALIZAÇÃO DO AÇAÍ E SEUS EFEITOS PARA A ECONOMIA DOMUNICÍPIO DE BELÉM/PA: UM ESTUDO SOB A ÓTICA DO PRONAF

Iran Farias Mendes; Graduado em Administração e Especialista em Economia Regional e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Pará - UFPA.E-mail: [email protected]

Cácio Ribeiro de Carvalho; Graduado em Administração e Especialista em Finanças pela Faculdade Ideal - FACI. E-mail: [email protected]

Edson Ugulino Lima; Graduado em Administração e Pós-Graduado em Logística Empresarial pela Universidade da Amazônia - UNAMA; Especialista em Economia Regional e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Pará - UFPA.E-mail: [email protected]

Rossicléa Ferreira do Nascimento; Graduada em Administração e Direito pela Universidade da Amazônia - UNAMA e Especialista em Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas - FGV. E-mail: [email protected]

RESUMO: O artigo discute a comercialização do açaí no município de Belém/PA destacando a dinâmica da atividade desde o beneficiamento do fruto até a mesa. Evidenciando quais os efeitos dessa atividade para a economia local. A pesquisa tem como principal objetivo analisar a comercialização do açaíno município de Belém sob a ótica das linhas de Crédito Rural do Programa Nacional para oFortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF disponibilizadas pelo Banco da Amazônia. Alogística, o processamento e o consumo do açaí movimentam as feiras livres de Belém, empregam mão-de-obra local, geram oportunidades de negócios para o segmento às voltas com o renitente desequilíbriosocial. A natureza da pesquisa é qualitativa apresentada sob a estratégia descritiva e exploratória, tendocomo finalidade precípua a descrição do fenômeno que no caso é a comercialização do açaí sem interferir na ocorrência do processo. Os dados foram trabalhados conforme a análise de conteúdo através dashipóteses seja ela explícito e/ou latente. Por fim, a pesquisa destaca o apoio do poder público através daspolíticas de crédito rural, dentre elas, o PRONAF, que vem contribuindo para o desenvolvimento local. Oestudo destaca a importância da atividade em relação às questões ambientais, como também o fato de quea maioria dos comerciantes tem na atividade, a única fonte de renda para o sustento de suas famílias evendem o produto tanto no mercado interno quanto ao mercado externo. O segmento passa por profundas mudanças tornando-se um produto muito utilizado pelas indústrias/agroindústrias na fabricaçãode seus subprodutos, e pela possibilidade de consumi-lo de diferentes formas sem comprometer suas propriedades originais, tendo como conseqüência a mudança de comportamento tanto cultural pelapopulação local, como também do mercado da atividade em função da elevação de seu preçoinfluenciando outros setores da economia.Palavras-chave: açaí; comercialização; PRONAF; Belém-Pa.

ABSTRACT - The article discusses the açaí in the city of Belém / PA highlighting the dynamics of theactivity from the processing of the fruit to the table. Showing what the effects of this activity to the localeconomy. The research has as main objective to analyze the açaí in the city of Bethlehem from the perspective lines of the National Rural Credit for Strengthening Family Agriculture - PRONAFprovided by Banco da Amazônia. The logistics, processing and consumption of acai move the fairs ofBethlehem, employ labor, local labor, generate business opportunities for the segment dealing with thestubborn social imbalance. The nature of qualitative research is presented in a descriptive and exploratorystrategy, having as main purpose the description of the phenomenon that is the case the açaí without interfering with the occurrence of the process. The data were processed according to the content analysis through either explicit hypotheses and / or latent. Finally, the survey highlights the governmentsupport through policies of rural credit, among them, PRONAF, which has contributed to localdevelopment. The study highlights the importance of the activity in relation to environmental issues, aswell as the fact that most traders have in the activity, the only source of income to support their familiesand sell the product both in the domestic and foreign markets . The segment undergoes profound changesbecoming a product widely used by industries / agribusinesses in the manufacture of its products, and theability to consume it in different ways without compromising their unique properties, with the consequentchange in behavior by both cultural population site, as well as market activity due to the increase of its price influencing other sectors of the economy..Keywords: acai; marketing; PRONAF; Belém-Pa..

2514 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

1 INTRODUÇÃO O açaizeiro (Euterpe Olerácea Mart.) é uma palmeira nativa da floresta Amazônica

encontrada nas áreas das matas de terra firme, várzeas e igapós, sendo que seus frutos originam o “vinho de açaí”, uma bebida muito apreciada e utilizada na alimentação popular (CALZAVARA, 1972). O termo “vinho de açaí” foi utilizado pelos antigos colonizadores da região, devido à cor do açaí ser parecida com a do vinho. Em alguns lugares esse termo ainda é empregado pela população, mas comumente a bebida é chamada de açaí. Mera coincidência, o açaí é rico em antioxidantes naturais, a exemplo, as antocianinas, e possui 33 vezes mais antocianinas (substância que dá coloração ao fruto) que o vinho tinto.

Com a descoberta das funcionalidades do fruto, o açaí vem tomando proporções cada vez maiores na mídia nacional e internacional como fonte de saúde, sendo utilizado na indústria de produtos fitoterápicos, e ainda proporcionando um leque de opções para o público em geral desde a gastronomia até a produção de cosméticos, de forma que o açaí deixou de ser um produto meramente popular e passou a fazer parte também, das classes que possuem maior poder aquisitivo.

A explosão do fruto nos principais mercados do Brasil, em função da industrialização e congelamento da polpa, ocasionou um aumento exorbitante da demanda “estima-se que no Estado do Rio de Janeiro sejam consumidas cerca de 500 toneladas mensalmente, 150 toneladas em São Paulo e outras 200 toneladas nos demais estados brasileiros” (SILVA, 2010). A procura pelo “vinho” se deve em razão dos vários atributos que o açaí possui e pela possibilidade de consumí-lo de diferentes formas, tais como: com granola, suco de laranja, suco de acerola, açaí em barra, açaí com banana, açaí com morango etc.; atendendo aos hábitos e costumes de consumidores de outras regiões do país, sem comprometer as suas propriedades originais.

Dada a importância social e econômica do produto para as populações nativas no âmbito local, o açaí é responsável em grande parte pela redução do êxodo rural, pela geração de receitas, pela manutenção da cultura que depende do sistema de produção desenvolvido. É um produto marcado por uma crescente demanda dos mercados interno e externo, fomentando e estimulando os elos da cadeia produtiva, suprindo o fornecimento de insumos para as agroindústrias. Neste sentido, Lopes (2003, p. 19) em seus registros destaca que:

A exploração racional do açaí é de fundamental importância para a economia rural paraense, dado que responde pela sustentação econômica das populações ribeirinhas, por se constituir na principal fonte de matéria prima para a agroindústria do palmito e de produção do vinho de açaí, produto bastante demandado.

No Estado do Pará, o açaí é a base alimentar de muitas famílias de baixa renda além de ser consumido por todas as classes sociais. Com as novas descobertas da ciência (altos valores nutricionais), houve um aumento da demanda pelo fruto no mercado nacional, o que elevou significativamente o preço do produto no mercado local. Existem também, alguns comerciantes que processam o fruto para atender a demanda local e destinam parte do açaí na forma pasteurizado para o mercado exportador.

No âmbito econômico, a região de Belém é o epicentro da economia do açaí, a considerar que a procura pelo “vinho” tornou-se um negócio rentável para quem o comercializa. Sob o ponto de vista social, o setor é responsável por cerca de 25 mil empregos diretos e gera anualmente mais de R$ 40 milhões em receitas através das atividades de extração, transporte, comercialização e industrialização dos frutos na região (SILVA, 2010). Boisier (1996, apud DALLABRIDA; BECKER, 2008, p.181) em seus estudos assinala que construir uma região sobre o aspecto social significa:

Atas Proceedings | 2515

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

[...] potencializar sua capacidade de auto-gestão, transformando a sociedade mais [...], organizada, coesa, consciente da identidade sociedade-região, capaz de mobilizar-se por projetos políticos coletivos, isto é, capaz de transformar-se em sujeito de seu próprio desenvolvimento.

Nesse aspecto, a capacidade da região de promover o seu próprio desenvolvimento, viabiliza novos negócios e agrega valor aos empreendimentos já existentes. A compreensão dos efeitos da dinâmica do açaí para a economia local do município do Belém está diretamente ligada ao elevado potencial de mercado que o fruto possui, ao relacionamento do segmento com diversos setores da economia impulsionando outras atividades produtivas ligadas ao açaí, estimulando o fluxo de produtos e serviços, tornando a região de Belém e o seu entorno num celeiro de oportunidades. Fruto do extrativismo da Amazônia, o açaí aqui comercializado atende também, a questão ambiental, a exemplo, o mercado consumidor do E.U.A, exige que o açaí seja um produto baseado na produção orgânica. E as solicitações deste mercado específico são a rigor atendidas. Existem localidades em que a produção é baseada sem o uso de agrotóxicos e conservantes, onde são verificados os aspectos desde manejo de plantas, de solo e biodiversidade e ainda o produto possui certificação, para efeito de rastreabilidade da cadeia produtiva, se for o caso. Na verdade, o açaí é um produto que atende de maneira geral a mudança de comportamento dos mercados do universo globalizado conquistando novos espaços e consumidores. 2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Analisar a comercialização do açaí no município de Belém sob a ótica das linhas de Crédito Rural do PRONAF;

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Discutir a dinâmica do fruto no cenário econômico; Identificar e dar visibilidade as Linhas de Crédito Rural do PRONAF voltadas para o

setor; Refletir sobre a questão ambiental da atividade para a região;

3 METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa de caráter descritivo, exploratório quanto aos fins, qualitativo quanto à natureza e, bibliográfico quanto aos meios, com fundamentação em Vergara (2004), Lakatos e Marconi (2010). Descritivo considerando que tem como finalidade precípua a descrição do fenômeno no caso à comercialização do açaí sem interferir na ocorrência do processo. Exploratório, haja vista, abordagem do tema com um “olhar” do PRONAF. Qualitativa quanto a natureza, considerando análise e interpretação dos dados, cujo propósito do estudo é emitir ao setor produtivo, informações acerca da importância da cultura do açaí para a economia local, com agregação de valor do fruto no comércio do município de Belém.

2516 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

Bibliográfico, porque na construção da fundamentação teórico-metodológica do trabalho utilizou-se como base, dados secundários, através dos conhecimentos teóricos e literatura especializada desenvolvidos a respeito do tema sob análise, na qual o estudo remete a comercialização do açaí e seus efeitos para a economia do município de Belém (PA), destacando pontos relevantes para a elaboração deste artigo.

Os dados foram trabalhados conforme enfatiza Minayo (2003, p. 74) “a análise de conteúdo visa verificar hipóteses ou descobrir o que está por trás de cada conteúdo manifesto. [....] o que está escrito, falado, mapeado, figurativamente desenhado e/ou simbolicamente explicitado sempre será o ponto de partida para a identificação do conteúdo manifesto (seja ele explícito e/ou latente).

Neste sentido Vergara (2004) corrobora quando registra que analise de conteúdo é uma técnica de tratamento de dados cuja finalidade é identificar o que está sendo dito a respeito de determinado tema. 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Na seqüência, serão discutidos como ocorre à comercialização do açaí no município

de Belém, analisando a dinâmica do fruto no cenário econômico, as linhas de crédito rural do PRONAF para o financiamento da cultura e a importância da atividade para o setor em relação à questão ambiental.

4.1 A DINÂMICA DO AÇAÍ A dinâmica do mercado faz com que ocorram mudanças no ambiente de negócios e

com a explosão do açaí no Sudeste do país (eixo Rio - São Paulo) e ainda, E.U.A, Europa e Ásia, o consumo do “vinho” de açaí passou a fazer parte do cardápio das famílias com maior poder aquisitivo (SANTANA apud SILVA; SILVA, 2006).

O açaí se constitui o alimento básico de grande parcela da população no Estado do Pará, principalmente dos povos ribeirinhos que o consomem na safra, em todas as refeições do dia, e o exploram em sua quase totalidade na forma extrativa, sendo de vital importância na sustentação econômica dos ribeirinhos, bem como na dieta alimentar da população urbana.

A cultura do açaí faz parte da identidade regional da população paraense. No Estado encontram-se 17 dos 20 maiores municípios produtores de frutos de açaizeiros nativos do País.

São eles: Limoeiro do Ajuru, Ponta de Pedras, São Sebastião da Boa Vista, Muaná, Oeiras do Pará, Igarapé-Miri, Mocajuba, Afuá, São Miguel do Guamá, Inhangapi, Magalhães Barata, Barcarena, Cachoeira do Arari, São Domingos do Capim, Marapanim, Irituia e Santa Luzia do Pará. No Maranhão, onde se encontram outros importantes centros produtores, os destaques são os Municípios de Luís Domingues, Carutapera e Amapá do Maranhão.

Os frutos quando maduros são conhecidos popularmente em duas variedades: o açaí roxo ou preto e o açaí branco. O roxo apresenta frutos na cor azul tendendo para violácea, e o branco na cor verde escuro. Essas variedades são comumente encontradas nas feiras livres de Belém na forma “in natura” ou transformada em “vinho” e consumido a qualquer hora do dia.

Existem também, outros tipos de açaí, a exemplo, o açaí Parol ou Paral que ocorre quando o fruto não está totalmente maduro e possui manchas esverdeadas, o açaí Tuíra é aquele bastante maduro e que fica com uma tonalidade acinzentada, o açaí Tinga é quando os frutos já estão maduros, mas que não empreta ou escurece, entre outros.

Atas Proceedings | 2517

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

Além do suco do açaí passaram a ser fabricados, vinhos, produtos energéticos, produtos de estética e beleza, etc..; Essa nova tendência trouxe investimentos para o setor de gastronomia e turismo de negócios formando capital complementar nessas áreas, além de outras atividades indutoras para a região, a exemplo, a instalação de agroindústrias.

De acordo com a literatura de Souza, (2005, apud HIRSCHMAN, 2009, p.34), os investimentos e as atividades indutoras dispõem do seguinte papel:

atuam como agentes indutores do crescimento econômico [...] encadeamentos para trás no processo de produção (verticais) que tem origem da compra de insumos, e encadeamentos para frente (horizontais) em função da venda dos insumos. [...] Uma atividade qualquer será considerada atividade chave, quando seus efeitos de encadeamento sobre a produção da economia são superiores a média do conjunto dos setores, tanto para trás, como para frente no processo produtivo.

São essas atividades que estimulam o crescimento econômico por meio dos encadeamentos para trás e para frente dos elos da cadeia produtiva do açaí, no que se refere à compra e venda entre os setores, a fim de atender a demanda local e outros mercados do Brasil e do exterior.

O açaí transformou o Estado do Pará no principal produtor do planeta como o correspondente a 700 mil toneladas por ano e em torno de US$ 1 bilhão arrecadados somente com a exportação, sendo que o Estado também é o maior produtor e consumidor de “vinho” (O LIBERAL, 2011). Isso se deve em razão de que na Amazônia, é onde existe a maior incidência botânica do fruto o açaí, e ainda é uma cultura altamente exigente de mão de obra local e responsável pela sustentação econômica de muitas famílias.

Estima-se que na cidade de Belém haja aproximadamente 4.000 pontos de venda do açaí período da safra (julho a dezembro) e 1.500 pontos na entressafra (janeiro a junho), e o consumo diário de açaí gire em torno de 200 mil litros por dia (O LIBERAL, 2010), sendo que a produção para o mercado local é uma atividade de baixo custo e de boa rentabilidade econômica para as populações nativas.

A venda de polpa de açaí congelada, que segue para outros mercados e estados brasileiros, têm gerado muitas divisas para o Estado do Pará. É essa exportação o motivo principal da escassez do produto e da elevação dos preços no mercado interno em grande parte do ano, principalmente no período de entressafra (janeiro a junho). 4.1.1 A Logística e a Comercialização

O açaí consumido em Belém no período da safra (julho a dezembro) vem

principalmente das regiões das ilhas e do Arquipélago do Marajó. Na entressafra, com a escassez do fruto no mercado de Belém, o Estado do Maranhão é quem acaba abastecendo o mercado paraense, uma vez que, o período da safra do açaí maranhense, coincide com os meses da entressafra do açaí no Estado do Pará.

A logística da atividade ocorre através das rodovias e também, das hidrovias que transportam o açaí por meio de barcos em condições precárias de médio e pequeno porte, muito característico na nossa região.

Considerando o fato do açaí possuir caráter perecível e após a colheita sofrer oxidação, diferentes agentes sociais participam no transporte da atividade para que o açaí chegue em boas condições até o consumidor final. Dentre os agentes estão: ribeirinhos, produtores rurais, atravessadores, comerciantes, associações e cooperativas que de alguma forma acabam participando dos elos da cadeia produtiva da atividade, fortalecendo ainda mais o potencial APL do açaí. Neste sentido Costa (2010, p.128) assevera que:

2518 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

É importante ter em mente que um APL pode englobar uma cadeia produtiva estruturada localmente ou concentrar-se em um ou alguns elos de uma cadeia produtiva de maior abrangência espacial, regional, nacional ou mesmo internacional.

Isso acaba permitindo que a atividade se torne flexível, eficiente e dinâmica, aumentando a capacidade potencial do APL, tornando a cadeia produtiva do açaí altamente competitiva.

Ao chegar em Belém, a comercialização do fruto ocorre nas primeiras horas do dia na Feira do Açaí (Ver-o-Peso), Porto da Palha, Porto do Sal, Vila da Barca, Icoaraci e Estrada Nova, onde os ribeirinhos e atravessadores negociam o preço dos paneiros ou rasas1. Os frutos são comercializados em rasas de 28 kg e alcançam preços variáveis durante o ano que variam de R$ 30,00 no período da safra e pode chegar até R$ 160,00 no período da entressafra.

As transações comerciais do açaí na feira do Ver-o-Peso, principal ponto atacadista do fruto ocorrem ainda de madrugada e a instabilidade dos preços da rasa de açaí ocorre de acordo com o passar das horas, em função da oxidação que o fruto sofre, do tipo de açaí e da sua localidade de origem. Essas negociações ocorrem tanto no período da safra quanto da entressafra.

Em virtude de apresentar caráter perecível, o açaí deve ser comercializado e consumido nas primeiras horas após a colheita. A comercialização do “vinho” na forma “in natura” no mercado de Belém é bastante diversificada, a mistura do açaí com produtos protéicos é feita com peixe (predominante no meio rural), charque (produto de grande preferência, mas limitado pelo poder de compra), camarão, carne e com a própria refeição.

De acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), os preços praticados no ano de 2012 em 25 locais no comércio do açaí em Belém/PA (feiras livres, pontos de venda e supermercados) sofreram variação de 2,22%, 7,49% e 8,57% grosso, médio e papa respectivamente no período de janeiro à dezembro conforme tabela abaixo. Essa variação se justifica em parte, pela escassez do produto no período da entressafra (janeiro à julho), o que ocasiona a alta dos preços do açaí no bolso do consumidor e reflete a necessidade do setor em se estruturar melhor em relação a estocagem do açaí após o beneficiamento, transporte e a própria produção com vistas a manter a sazonalidade do produto durante todo o ano.

Tabela – 1 Preços de Açaí Comercializados em Belém

Produto Preço Médio (R$) Preço Médio (R$) Preço Médio (R$) variação em 2012

Açaí dez.12 jan.12 dez.11 jan-dez % PAPA 17,6 16,22 16,21 8,57 GROSSO 15,18 15,02 15,02 2,22 MÉDIO 11,05 10,3 10,3 7,49 Fonte: Conab, jan. 2013

A perspectiva é que a falta de oferta do produto no período da entressafra seja

solucionada, a fim de que esse mercado atenda a demanda das outras regiões do país, uma vez que, o estuário amazônico possui potencial produtivo para isso e abriga um estoque significativo da espécie. O aumento da procura pelo fruto ocorre em função de suas propriedades nutricionais e anti-oxidantes e vem propiciando um novo segmento no mercado de alimentos e cosméticos, tendo em vista que consumo do “vinho” ter se constituído numa espécie de modismo no sudeste brasileiro e em outras regiões do país.

1 Os paneiros de açaí ou rasas constituem a medida local que corresponde à 02 latas de 20 litros, aproximadamente 28 kilos.

Atas Proceedings | 2519

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

4.1.2 O Processamento e o Consumo O “vinho” do açaí é obtido por meio do processamento manual ou mecânico. O

processo de maceração ocorre quando os frutos são amassados de forma manual em um crivo especial após terem permanecido em água quente durante 10 a 15 minutos, sendo que o suco é recolhido em um alguidar de barro.

A outra forma de obter o suco se dá através de máquinas despolpadoras, com adição de água durante o processamento de onde se obtém um suco de consistência pastosa de cor violácea, dependendo da quantidade de água utilizada no seu processamento, este é classificado em grosso ou especial, médio ou regular e fino ou popular.

A qualidade do “vinho” depende exclusivamente da procedência dos frutos, do processamento e dos materiais utilizados no despolpamento, os equipamentos e utensílios utilizados devem ser em aço inoxidável para não acumular sujeira e possibilitar a proliferação de fungos e contaminação de outros vetores. O fruto deve passar por quatro lavagens. A 1ª com água corrente, para a retirada de impurezas e insetos provenientes do campo e do transporte. Na 2ª os frutos, permanecem de molho em uma solução contendo hipoclorito, ocasião em que são feitos vários revolvimentos nos frutos, e também, a catação com um crivo ou uma peneira das partículas em suspensão.

A 3º lavagem é para retirar o excesso de cloro da água e na 4ª, o fruto fica de molho antes de ser processado de fato. O local onde ocorre o processamento deve possuir possui higienização adequada, como também, as pessoas que manipulam o fruto, utilizam uniformes e protetores adequados.

Na região Norte, o “vinho” é consumido como suco com ou sem açúcar, acompanhado de farinha de mandioca ou tapioca e peixe entre outras iguarias, alimentação típica das populações nativas, sendo a principal refeição do dia.

Nas outras regiões do Brasil e no mercado internacional, o suco é consumido acompanhado de frutas, com guaraná e cereal. A lógica do mercado é atender aos desejos e necessidades dos clientes, propiciando aos consumidores diferentes combinações de açaí, seja industrializado e pasteurizado, com xarope de guaraná, em pó, com doce de leite, geléia e licor de açaí.

No Estado do Pará, o açaí é a base alimentar de muitas famílias de baixa renda. O fruto enquanto produto final atende principalmente o mercado local há aproximadamente dois séculos.

A considerar que o “vinho” é uma bebida encorpada, que possui alto teor nutritivo e energético. Nos últimos anos, com a descoberta das funcionalidades do fruto, houve uma procura maior pelo suco, que é o alimento básico diário das refeições da população local, principalmente da população de baixa renda. Atualmente, esse produto vem sendo cobiçado e tem conquistado outros segmentos. Neste sentido, Rogez (2000, apud LOPES 2003) enfatiza que.

Vale a pena destacar que os consumidores do meio rural, ingerem o suco do açaí três vezes ao dia, nas principais refeições, durante o ano todo, enquanto que os consumidores urbanos consomem uma única vez ao dia, no almoço ou ocasionalmente como sobremesa com açúcar.

O registro evidência que na atual conjuntura do mercado globalizado e altamente competitivo, o homem está “voltando as suas raízes” e valorizando o que a natureza lhe proporciona de melhor e saúde e qualidade de vida.

2520 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

4.2 AS LINHAS DE CRÉDITO DO PROGRAMA NACIONAL PARA O FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR (PRONAF) PARA O SETOR

Hoje, o papel dos Bancos regionais é fomentar as regiões mais atrasadas do país e destinar financiamentos através dos Fundos Constitucionais de Financiamento do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste (FNO, FNE e FCO), capazes de aumentar a capacidade produtiva da região.

No caso da Amazônia é o Fundo Constitucional de Financiamento do Norte - FNO exclusivo do Banco da Amazônia, onde os agricultores podem acessar através do FNO-Amazônia Sustentável (para médios e grandes produtores) e do PRONAF (para pequenos e mini-produtores) créditos disponíveis para a cultura do açaí à uma taxa de juros bastante atrativa, estimulando a produção no meio rural, de forma que a renda gerada por essas atividades sejam utilizadas em favor da modernização da estrutura produtiva, da diversificação da produção e das necessidades sociais da região.

O crédito destinado para a cultura do açaí, através do PRONAF é voltado exclusivamente para as atividades de plantio, extração, transporte, comercialização e industrialização dos frutos.

No atual Plano Safra 2012/2013, os recursos disponíveis do PRONAF para o financiamento do açaí são para Grupo A e A/C (agricultores assentados da Reforma Agrária ou do Plano Nacional para o Crédito Fundiário – PNCF); o Grupo B e a Linha Mais Alimentos - MA; e ainda através das linhas especiais, Pronaf AGROECOLOGIA, Pronaf FLORESTA, Pronaf AGROINDÚSTRIA e Custeio ISOLADO;

Para acessarem o crédito, os beneficiários terão que obter a DAP (Declaração de Aptidão do PRONAF), que tem validade de 06 anos, e é um documento gratuito fornecido pelas Empresas Oficiais de Assistência Técnica e Extensão Rural de todo país, com a anuência do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA.

Na DAP consta a base de cálculo da renda bruta anual da unidade familiar para efeito de enquadramento no Grupo ou Linha do Programa, como também, o tamanho da terra que não pode ser superior a 04 módulos fiscais e 50% da renda obtida pela família do agricultor ter que ser oriunda das atividades desenvolvidas na unidade familiar. Só é permitido a propriedade ter no máximo até dois empregados, o agricultor tem que morar no estabelecimento rural ou em local próximo e a gestão do empreendimento tem que ser familiar.

A partir dessas informações, serão elaborados pela Assistência Técnica pública ou privada, projetos específicos com análise técnica, econômica e financeira da proposta e de acordo com o perfil dos agricultores e a linha de crédito ou grupo ao qual serão enquadrados.

Nestes termos, dependendo do Grupo ou da Linha de financiamento em que o proponente foi enquadrado, o teto operacional das operações variam de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) para operações de custeio podendo chegar até R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) para operações de Investimento com custeio associado, a uma taxa de juros que varia de 0,5% podendo chegar a 4,0%, sendo que o prazo máximo para o reembolso da operação varia de 02 anos podendo chegar até 20 anos e a carência dos empreendimentos varia de 02 anos até 12 anos. Em algumas operações há ainda, o bônus de adimplência de 25% para os beneficiários do Pronaf B ou de 40% de desconto para os mutuários do Pronaf A para quem liquidar a operação dentro do prazo previsto (BANCO DA AMAZÔNIA, 2013).

Nesse contexto, a agricultura familiar tornou-se um importante segmento da produção agrícola do país, sendo grande geradora de emprego no campo e responsável pela maior parte da produção que abastece o mercado interno, ou seja, cerca de 70% dos alimentos consumidos que chegam à mesa dos brasileiros.

Atas Proceedings | 2521

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

Esses produtores familiares respondem ainda por cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, desempenhando papel importante na economia de um grande número de municípios, o que a torna indispensável para o desenvolvimento do país.

4.3 O AÇAÍ SOB A ÓTICA AMBIENTAL Cada vez mais aumenta o interesse público por questões ambientais e a condução de

uma política voltada para a utilização dos recursos naturais de forma ordenada e racional se tornou prioridade nos setores ligados aos processos produtivos do açaí. A contar que os açaizais nativos estavam em extinção porque eram explorados para a extração do palmito, cuja produção depende exclusivamente do corte integral da árvore. Com o aumento da demanda pelo “vinho” de açaí em outras regiões e países tornou-se mais rentável manter os açaizais nativos para a extração do fruto, contribuindo decisivamente para sua preservação. Houve a necessidade de produzi-lo de forma sustentável. Rogez (2000) ressalta que:

Os frutos do açaizeiro que eram voltados, principalmente, para o autoconsumo, passa a ocupar uma posição preponderante na renda familiar. O aumento da demanda pelo vinho de açaí está provocando a passagem progressiva de um produto naturalmente “extraído” para outro “manejado” racionalmente explorado e enriquecido.

Assim, os usos de técnicas que auxiliam no manejo racional do açaí, foram sendo incorporadas na atividade como forma de explorá-lo sem comprometer o meio ambiente. Haja vista, o açaí contribui para a expansão da economia da região, cujo desafio conforme enfatiza Cota (apud TEISSERENC et al 2008, p.102) é conciliar “desenvolvimento sustentável, desenvolvimento e proteção ambiental”.

O sistema de produção do açaí proporciona a recomposição de áreas desmatadas, o enriquecimento do solo através das folhas, galhos e sementes que caem da palmeira e que naturalmente acabam fazendo a ciclagem de nutrientes, serve de sombra para outras espécies nativas, mantém o equilíbrio do ecossistema da região e gera renda para a família do agricultor.

Nessas circunstâncias, a atividade acaba integrando famílias, aproveitando a mão de obra existente, evita o êxodo rural, agrega outras atividades produtivas de subsistência e aprimora cada vez mais a produção de açaí e de outros produtos agroflorestais, fortalecendo a agricultura familiar e fomentando o comércio dessa iguaria na região.

Existe também, no Estado do Pará, o cultivo do açaí baseado na produção orgânica que atende a um mercado específico (E.U.A), que exige uma produção mais saudável. A cultura do açaí proporciona uma exploração de forma sustentável. Do fruto é extraído o “vinho” para o consumo alimentar, a borra é utilizada na fabricação de produtos de estética e beleza, as fibras para a produção de vassouras e na fabricação de móveis e utensílios e na indústria de automóveis, as folhas e o tronco são utilizados na cobertura e na construção de casas, a semente “caroço” pode ser utilizado na indústria de torrefação de café, de móveis, na extração de óleo comestível, como ração animal, carvão vegetal e adubo orgânico (TINOCO, 2005, apud PEROTES; LEMOS, 2008). E ainda, o “caroço” é utilizado na fabricação de artesanato regional, a exemplo, as biojóias. Além de se aproveitar tudo da palmeira, a cultura estimulou o desenvolvimento de subprodutos, o que resultou na instalação de indústrias e agroindústrias na região. Registros confirmam tais informações vejam:

2522 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

O desenvolvimento da agroindústria contribui, não somente para o aproveitamento dos recursos, como também para a diminuição de perdas agregando um valor à produção e ainda, para a valorização e a fixação do homem do campo em seu meio, com a geração de empregos em todos os níveis, aumento de renda regional, diminuição das tensões sociais e aumento das exportações [...] (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ, 1996, p.28).

Ao lado de outros produtos de enorme valor comercial, a comercialização do açaí garante uma renda permanente para quem o comercializa, o produto conquistou o mercado de Belém que tornou-se um celeiro de pontos que comercializam o açaí sob todas as formas e ainda, as agroindústrias instaladas na região metropolitana da cidade, exportam o produto durante o ano todo para o centro-sul do país, considerando que existe uma demanda crescente pelo fruto e ainda possibilidades de expansão para o mercado internacional.

5 CO NC LU SÃ O

O açaí é uma atividade que vem se destacando na economia brasileira, a comercialização do fruto gera emprego e renda, movimenta o comércio do fruto, atrai investimentos para a região, estimula o desenvolvimento da produção, dos vetores de sua distribuição, via ocupações produtivas e ainda atende uma demanda crescente do mercado externo.

O apoio do poder público através das políticas de crédito rural voltadas para o financiamento da cultura contribui também para o desenvolvimento local.

Em que pese à necessidade do setor se tornar cada vez mais dinâmico, existe a preocupação por parte dos comerciantes em negociarem o fruto em condições ideais para o consumo, tendo em vista que o açaí sofre oxidação e é altamente perecível. Nestas condições, o fruto oriundo de diferentes localidades chega ao mercado de Belém ainda de madrugada para ser comercializado.

A comercialização da matéria prima possibilita além do suco, a fabricação de subprodutos tais como doces, geléias, sorvetes, bombons, licores, energéticos, na preparação de mix (composto de yogurte, guaraná, banana e acerola) etc., pelas indústrias e agroindústrias instaladas no entorno de Belém que atendem o mercado local e exportam boa parte do que produzem para o mercado externo (principalmente ao Centro-Sul do país).

É interessante pontuar que o sistema de produção da cultura atende a lógica do desenvolvimento por meio do manejo racional sem comprometer o meio ambiente. Isso ocasiona a expansão da economia no município de Belém, tornando a atividade altamente monetizada. Nas feiras livres da capital paraense é possível consumir o açaí de diferentes formas e ao sabor do mercado, com carne, peixe, pirarucu frito, camarão, farinha de mandioca, farinha de tapioca, etc., e ao gosto do cliente.

As transações comerciais com o açaí geram renda e parte dessa renda é utilizada para modernizar os pontos onde o fruto é comercializado. No mercado informal, existem muitos comerciantes que trabalham nesse ramo de forma autônoma na periferia da cidade, sem muitas condições, sendo a única fonte de renda para o sustento de suas famílias.

O comércio do açaí é uma atividade economicamente rentável, a exemplo, o litro do açaí médio custa entre R$ 10,00 (dez) à R$ 12,00 (doze) reais no período da safra (julho á dezembro). Na entressafra (janeiro à junho) o preço do litro do tipo papa ou grosso varia de R$ 15,00 (quinze reais) podendo chegar até R$ 18,00 (dezoito reais) no centro da cidade e dependendo do local de compra esse preço pode até aumentar ou baixar. Existem supermercados em Belém que chegam a cobrar até R$ 28,00 (vinte e oito reais) num litro do açaí grosso na entressafra. Considerando que os preços praticados no mercado são regulados

Atas Proceedings | 2523

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

de acordo com a oferta e a demanda do produto, mesmo assim, o açaí com os preços exorbitantes ou não, tem um mercado promissor muito disputado para quem sobrevive da atividade. A comercialização do açaí via agroindústrias com vistas a atender o mercado externo é mais exigente e o beneficiamento do produto inclui despolpadeiras industriais, pasteurizador, seladora pneumática (empacotamento) e datador pneumático (registra e enumera os lotes) e por fim a câmara frigorífica para manter o produto em temperatura adequada até o seu destino final. Esses procedimentos adotados são necessários para que o açaí chegue em ótimas condições de consumo até os consumidores. Essas transações comerciais, contribuem para a entrada de divisas no Estado, projetando ainda mais o segmento. Enfim, o consumo do açaí em Belém passa por profundas alterações. De um produto tipicamente regional e componente da alimentação cotidiana da população, tem se tornado um produto para a população de maior poder aquisitivo dada sua elevação de preço. Isso pode ser um indutor de maior industrialização e desenvolvimento de outros produtos derivados deste fruto. Persistindo este movimento a médio e longo prazo, pode ocorrer uma mudança não simplesmente econômica ou alimentar, mas de cunho cultural na medida em que ele se tornará menos presente na alimentação cotidiana da maioria da população regional. Por outro lado, o aumento da demanda extrarregional, eleva os preços, estimula a ampliação da área plantada. Dependendo do cruzamento destas dinâmicas teremos determinadas configurações do mercado regional e do consumo local, e consequentemente a mudança de comportamento do mercado do açaí na economia do município de Belém.

REFERÊNCIAS

ABAETÉ se mobiliza contra os barbeiros. O Liberal, Belém, 30 out. 2011. Saúde, caderno Atualidades, p. 15. BANCO DA AMAZÔNIA. Financiamento Pronaf. Disponível em: <http:// www.bancoamazonia.com.br/> Acesso em: 20 mar. 2013. COSTA, Eduardo J. M. da. Arranjos produtivos locais, políticas públicas e desenvolvimento regional. Brasília: Ministério da Integração Nacional, Governo do Estado do Pará, Mais Gráfica Editora, 2010. 404p. CALZAVARA, B. B. G. As possibilidades do açaizeiro no estuário amazônico. Belém, Faculdade de Ciências Agrárias do Pará. Boletim da Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, n. 5, 1972. 103p. COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Conjuntura Mensal. Açaí (fruto). Tabela de preços de açaí comercializados em Belém. Disponível em: <http:// ww.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/13_01_28_17_27_29_conjuntura_acai_28_jan.pdf) /> Acesso em: 02 abr. 2013. DALLABRIDA, Valdir R.; BECKER, Dinizar F. Dinâmica territorial do desenvolvimento. In: BECKER, D. F.; WITTMANN, M. L. Desenvolvimento regional: abordagens interdisciplinares. 2. ed. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2008. ENRÍQUEZ, Gonzalo; SILVA, Maria Amélia da; CABRAL, Eugênia. Biodiversidade da Amazônia: usos e potencialidades dos mais importantes produtos naturais do Pará. Belém: NUMA/UFPA, 2003. 179 p.

2524 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

LAKATOS, Eva M.; MARCONI, Marina de A. Metodologia do trabalho científico. 6. ed.São Paulo: Atlas 2010. p 41 LOPES, Maria Lúcia Bahia. Distribuição dos retornos sociais do manejo do açaí no Estado do Pará. In: GRAÇA, Hélio (Org.). O meio amazônico em desenvolvimento: exemplo de alternativas econômicas. Belém: Banco da Amazônia, Gerin, 2003. p.19 – 46. MINAYO, M. C. de S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 22. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2003. OLIVEIRA, Maria do Socorro Padilha de; FARIAS NETO, João Tomé de; PENA, Rosinelson da Silva. Açaí: técnicas de cultivo e processamento. In: SEMANA DA FRUTICULTURA, FLORICULTURA E AGROINDÚSTRIA FLOR PARÁ, 7., 20 a 23 junho de 2007. Belém – Pará: HANGAR - Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, 2007. PEROTES, Kleber Farias; LEMOS, José Carivaldo Filgueira de. Técnicas de manejo de açaizais nativos. In: SEMANA DA FRUTICULTURA, FLORICULTURA E AGROINDÚSTRIA FLOR PARÁ, 7., 26 a 29 de junho de 2008. Belém-Pará: Hangar- Centro de Convenções e feiras da Amazônia, 2008. ROGEZ, H. Açaí: preparo composição e melhoramento da conservação. Belém: EDUFPA, 2000. 313p. SANTANA, Antônio Cordeiro de; CARVALHO, David Ferreira; MENDES, Fernando Antônio Teixeira. Análise sistêmica da fruticultura paraense: organização, mercado e competitividade empresarial. Belém: Banco Amazônia, 2008. SILVA, Ismael Matos da; SILVA, Francilene Maciel da. Perfil do consumidor domiciliar de açaí na região metropolitana de Belém – Pa. In: CONGRESSO SOBER, 64., 23 a 27, Fortaleza, 2006. Questões agrarias, educação no campo e desenvolvimento... Fortaleza, 2006 SILVA, Joana. Pesquisador elabora guia para análise da polpa de açaí. 2010. Disponível em: <http://www.embrapa.gov.br/imprensa/noticias/2009/agosto/4a-semana/pesquisador-elabora-guia-para-analise-da-polpa-de-acai/?searchterm=a%C3%A7a%C3%AD>. Acesso em: 12 jun. 2010. TEISSERENC, Pierre et al. Coletividades locais e desenvolvimento territorial na Amazônia. Belém: Núcleo de Meio Ambiente, 2008. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ - UFPA. Em busca do desenvolvimento sustentável. Marabá: CEPASP, 1996. VERGARA Sylvia. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 2. ed. Atlas, 2004. p. 48. VIGILÂNCIA faz alerta sobre açaí impróprio. O Liberal, Belém, 03 set. 2010. Cidades, Caderno Atualidades, p.7.

Atas Proceedings | 2525

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

1

BENEFÍCIOS SOCIOECONÔMICOS PARA O ESTADO DO PARÁ

DA PRODUÇÃO DO AÇAÍ ORGANIZADA EM ARRANJO

PRODUTIVO LOCAL (APL)1

ALEX MATOS MENDES; Mestre em Economia pela Universidade Federal do Pará - UFPA. E-mail: [email protected].

MARIA LÚCIA BAHIA LOPES; Drª em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa - UFV; Professora do Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia (UNAMA). E-mail: [email protected] LINDAURA AROUCK FALESI; Drª em Ciências Agrárias pela Universidade Federal

Rural da Amazônia - UFRA; Professora do Programa de Mestrado em Economia da Universidade Federal do Pará - UFPA. E-mail: [email protected];

GISALDA CARVALHO FILGUEIRAS; Drª em Ciências Agrárias pela Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA; Professora do Programa de Mestrado em Economia da Universidade Federal do Pará - UFPA. E-mail: [email protected]

RESUMO

O açaizeiro (Euterpe Oleracea Mart.) é nativo da Amazônia brasileira, mas, é no estado do Pará que ocorre maior incidência natural dessa palmácea. As maiores concentrações ocorrem em solo de várzeas e igapós, compondo ecossistema de floresta natural ou em forma de maciços conhecidos como açaizais. Com a expansão do mercado consumidor e limitação da oferta extrativa do recurso forçou uma mudança de exploração nos extratores que passaram a buscar alternativas de exploração sustentável da palmeira. Desde 2002 iniciou-se mudanças no padrão agrícola da cultura do açaí no Pará, decorrente de tecnologia de manejo do açaí de várzea e seu plantio em terra firme, onde parte da produção passou para uma base de cultivo. O açaí tem sua importância na alimentação da população de baixa renda, na inclusão social pela geração de emprego e renda e melhoria na qualidade de vida da população ribeirinha do Estado. Por tudo isto, o objetivo desta pesquisa foi o de analisar os benefícios gerados pela produção do açaí, averiguar os desafios para os produtores em acompanhar a expansão da demanda e visualizar sua organização em arranjos produtivos locais (APLs). Para o dimensionamento dos benefícios aos consumidores e produtores aplicou-se o modelo do Excedente do Produtor e do Consumidor. Os resultados quanto à formação do excedente, comprovou-se que houve melhoria com aumento da produção e da renda, gerando excedente para o consumidor e produtor, sendo maior para este último. Quanto à formação de APLs, ainda é fraco com relação à atividade, entretanto, vislumbra-se como de grande potencial para ajuste na produção agroindustrial, valorização e aprimoramento de habilidades produtivas. Palavras-chaves: Açaí, Excedentes do consumidor e do produtor, Pará, Arranjos produtivos locais (APL). 1 Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor.

2526 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

2

1 INTRODUÇÃO

O açaizeiro (Euterpe Oleracea Mart.) é nativo da Amazônia brasileira e o

estado do Pará é o principal centro de concentração natural dessa palmácea. É na região

do estuário do Rio Amazonas que se encontram as maiores e mais densas populações

naturais de palmeiras do açaí, adaptadas às condições elevadas de temperatura,

precipitação pluviométrica e umidade relativa do ar. Essas concentrações ocorrem em

solo de várzeas e igapós, compondo ecossistema de floresta natural ou em forma de

maciços conhecidos como açaizais, com área estimada em um milhão de hectares

(Nogueira et al, 2005).

Até meados de 2000, grande parte da produção ainda era extrativa, porém, o

processo de industrialização de frutas mudou o cenário, estimulando a evolução para os

plantios racionais em área de terra firme. Com o aumento da demanda interna e externa,

a mudança do padrão agrícola de uma base produtiva extrativa para uma de cultivo

reflete o interesse dos produtores em aumentar a oferta com a finalidade de atrair

agroindústrias de processamento de polpa de frutas. Em 2012, cerca de 96% da

produção de frutos originou-se no extrativismo, enquanto os 4% restantes eram

provenientes dos açaizais manejados e cultivados em várzea e terra firme.

Para Silva et al (2006), a utilização de novas tecnologias de manejo e de

cultivo racional tem sido de fundamental importância para a exploração sustentável da

cultura do açaí, contribuindo para atenuar o déficit de oferta, em face do aumento da

demanda de mercado, visto que tem permitido ganhos expressivos em produtividade,

garantindo renda para produtores e agroextrativistas, além de assegurar, mesmo a preços

mais elevados, o consumo de açaí no estado do Pará.

Neste contexto, a exploração racional do açaí é de fundamental importância

para a economia rural paraense, dado que responde pela sustentação econômica das

populações ribeirinhas, por se constituir na principal fonte de matéria-prima para a

agroindústria de palmito e de produção do vinho de açaí, produto bastante demandado

atualmente. Assim, os frutos do açaizeiro, que até pouco tempo eram destinados,

principalmente, para o autoconsumo, passa a ocupar uma posição preponderante na

renda familiar, representando até 80%, da renda dos caboclos (Lopes, 2001).

Diante do exposto, o objetivo deste artigo foi analisar a distribuição dos

retornos socioeconômicos do manejo do açaí para produção de fruto entre consumidores

Atas Proceedings | 2527

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

3

e produtores no estado do Pará decorrente de sua produção organizada em arranjos

produtivos locais (APLs). Para tanto, organizou-se este artigo em quatro seções, além

desta pequena introdução. Na seção dois, discute a base teórica, na terceira, descreve-se

a metodologia. Na quarta seção tem-se a discussão dos resultados e na quinta, procede-

se com a conclusão.

2 ASPECTOS TEÓRICOS

Para a avaliação dos benefícios socioeconômicos decorrentes da dinâmica da

produção do açaí, foram utilizadas a Teoria do Desenvolvimento Endógeno, com

enfoque nos estudos relacionados ao desenvolvimento regional e local e análise de

Excedente Econômico.

2.1 TEORIA DO DESENVOLVIMENTO ENDÓGENO

As décadas de 1980 e 1990 marcaram uma evolução na teoria do

desenvolvimento econômico, em especial pela falência do modelo fordista de produção

em massa, a qual abre caminho para as discussões em torno das estratégias de

desenvolvimento local, com foco nas aglomerações de empresas em determinado

espaço geográfico.

A globalização e a abertura econômica, verificadas com muita intensidade nos

anos de 1990, impuseram às empresas e regiões um desafio sem precedente no campo

da competitividade. Como forma de adaptação, muitas empresas têm procurado desfazer

e não criar raízes territoriais, visando à busca constante de competitividade através da

procura de subsídios, mão de obra barata e facilidades de mercado (Amaral Filho,

1998).

Podem-se identificar pelo menos cinco fontes estruturais dessa grande

transformação, conforme ainda Amaral Filho (1998): Crise do planejamento e da

intervenção regionais centralizadores; Reestruturação do mercado;

Megametropolização; Globalização e abertura dos mercados; e Utilização da tecnologia

da informação e das telecomunicações.

Crise do planejamento e da intervenção regionais centralizadores:

descentralização político-administrativa, verificado desde o início dos anos de 1980,

implicando a descentralização dos papéis dos atores regionais, das decisões e dos

investimentos. Esse processo gerou maior valorização do território e do poder local em

2528 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

4

detrimento do poder central. Reestruturação do mercado: a oferta passou a ser orientada

pela redução de custos fixos e pela flexibilidade nas decisões, nas ações e nas formas de

produzir. Como consequência, essas transformações têm demonstrado certo

favorecimento em relação às pequenas e médias empresas. Megametropolização: os

problemas sociais inerentes às grandes metrópoles e à necessidade de ampliação da

oferta de serviços e equipamentos públicos, em escala gigantesca, têm causado crises

financeiras para as administrações públicas. Isso tem estimulado o deslocamento

espacial dos investimentos, geralmente para regiões pouco afastadas dos territórios

metropolitanos e desenvolvidos.

Globalização e abertura dos mercados: o processo de deslocamento de

investimentos e de plantas industriais à procura de fatores de produção competitivos

revela apenas o lado funcional das empresas. Além disso, ocorre o deslocamento da

referência Estado-Nação para a referência território, ou melhor, territórios, processo

esse facilitado pela diluição relativa das fronteiras nacionais. A valorização da

referência território, e de seus respectivos atores, aparece como resposta ou

contrapartida ao processo de globalização e abertura dos mercados nacionais, visto que

as medidas desreguladoras são tomadas em nível macro, mas suas repercussões (boas ou

ruins) se manifestam em nível micro, ou territorial. Por fim, utilização da tecnologia da

informação e das telecomunicações: o uso intensivo de tecnologia da informação e da

telecomunicação implicou a formação de redes de transmissão de dados, imagens e

informações, de tal forma que se passou a relativizar a importância da chamada

distância espacial, fazendo assim emergir um novo conceito, o da proximidade

organizacional, proporcionada pela inserção do indivíduo, empresa ou região nas redes

de comunicação. O impacto disso foi a autonomização de certos tipos de atividades, ou

de certas tarefas empresariais, em relação ao espaço geográfico que abriga a matriz do

grupo ou da empresa em questão.

Durante muito tempo, as políticas de desenvolvimento econômico,

especialmente em países periféricos, caracterizavam-se pelo perfil concentrador,

baseado na grande empresa e nos investimentos estrangeiros diretos, características

estas que guardavam aderências com o modelo de produção fordista. A crise econômica,

que se inicia nos países centrais na década de 1970, e o novo padrão técnico e

Atas Proceedings | 2529

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

5

econômico motivaram o esgotamento desse modelo de produção, que se apoiava

fortemente em grandes empresas verticalizadas.

É nesse contexto que se retoma a reflexão sobre as experiências de

desenvolvimento local como forma diferenciada de ajuste produtivo no espaço

territorial. Assim, políticas públicas, voltadas para ampliação da competitividade de

certas regiões, passaram a desenhar ações horizontais tendo como foco, não apenas a

empresa individual, mas também as relações entre as firmas e as demais instituições

situadas em um espaço geográfico delimitado ou em um dado APL, que são

aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um

conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que

incipientes.

As políticas de desenvolvimento local, sobretudo as voltadas para a promoção

dos APLs, constituem, uma resposta necessária e imperativa aos principais desafios

impostos pelo novo padrão social e tecnológico de produção e pelas novas estratégias de

desenvolvimento regional endógeno. De fato, em uma economia, cujo principal

elemento de competitividade é a inovação, políticas que estimulem a cooperação, o

aprendizado e o intercâmbio de conhecimento tornam-se significativas para o processo

inovativo e uma resposta lógica às novas necessidades imprimidas pelo padrão de

produção pós-fordista.

Tanto assim que, a definição de Sistema de Inovação - SI está relacionada ao

reconhecimento de que a inovação é um processo interativo e não restrito apenas a

pesquisa e desenvolvimento (P & D). O conceito de SI dá destaque às estruturas

políticas, culturais e institucionais e busca analisar os diversos componentes do sistema

econômico que contribuem para o desenvolvimento de competências voltadas para a

inovação, como, por exemplo, as redes formadas por agentes econômicos (Johnson &

Lundvall, 2005).

No Brasil, essa agenda, especialmente a pautada pelo enfoque neo-

schumpeteriano, que privilegia o caráter local da inovação e a importância da interação

e cooperação para que o processo de geração e difusão de inovações se intensifique,

desenvolveu o conceito de Arranjos Produtivos Locais como uma extensão do conceito

evolucionista de SI desenvolvido por Freeman em 1988 (Góes & Guerra, 2007).

2530 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

6

2.2 EXCEDENTE DO PRODUTOR E DO CONSUMIDOR

De acordo com Nogueira (2011), a análise microeconômica se faz necessária

quando se deseja estimar os benefícios socioeconômicos resultantes do progresso

tecnológico na agricultura. Assim, o presente estudo é baseado na teoria marshaliana de

excedente econômico, na qual são importantes os conceitos de demanda e oferta,

excedentes do consumidor e do produtor e elasticidades da demanda e da oferta,

constituindo-se como ferramentas importantes no dimensionamento de benefício total

proporcionado por um determinado bem aos consumidores e produtores.

O excedente econômico (EE) é a medida que agrega o excedente do

consumidor (EC) e do produtor (EP). Esse é calculado através do somatório desses

excedentes conforme a fórmula: EE = EC + EP, onde, em termos conceituais, tem-se

(Pindyck & Rubinfeld, 2002):

a) Excedente do Consumidor (EC): mede o benefício total que os consumidores

recebem além daquilo que pagam pela mercadoria, ou seja, é a diferença entre o

que o consumidor deseja pagar e o que efetivamente paga ao adquirir

determinado bem; e

b) Excedente do Produtor (EP): é a soma das diferenças entre o preço de mercado e

o custo marginal de produção relativo a todas as unidades produzidas pela

empresa.

O equilíbrio da quantidade e do preço maximiza o bem estar econômico

agregado aos produtores e consumidores. E a soma de satisfação obtida com a venda e

compra de um bem gera o conceito de excedente econômico, que para Santana (2005)

nada mais é do que a soma do excedente do consumidor e produtor, que para um

mercado em concorrência pura, representa a eficiência econômica (Nogueira, 2011).

Assim, o excedente econômico é representado no Gráfico 1 como área compreendida

entre as linhas descendentes e ascendentes que representam, respectivamente, a

demanda e oferta de mercado.

Atas Proceedings | 2531

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

7

P0

D

C

Q/t Q0 O’

F

S1

S0

D'

BSB

O Q1 QF

P

P1

EP B

A

Gráfico 1: Representação do Excedente Econômico (produtor e consumidor)

Fonte: Adaptado de (Pindyck & Rubinfeld, 2002).

No Gráfico 1, o excedente do consumidor é a área entre a curva de demanda e

a linha do preço de mercado (P0D’C). Já o excedente do produtor é a área acima da

curva de oferta até a linha do preço de mercado (O’P0C) antes do deslocamento da

curva de oferta, ou seja, ele representa o benefício de que os produtores com baixo custo

desfrutam ao vender o produto pelo preço de mercado. A área O’P1BA representa o

excedente do produtor após a curva de oferta se deslocar. O Benefício Social Bruto

(BSB), ou benefício total, resultante da adoção de tecnologias para o cultivo de açaí é

dado por O’CBA, conforme Lopes (2001) citada por Silva et al (2006).

Quando combinado o excedente do consumidor com o lucro agregado obtido

pelos produtores, pode-se avaliar os custos e os benefícios de estruturas de mercado

alternativas e de políticas governamentais capazes de alterar o comportamento dos

consumidores e empresas em tais mercados (Pindyck & Rubinfeld, 2002).

A utilização de novas tecnologias de manejo e de cultivo racional tem sido de

fundamental importância para a exploração sustentável da cultura do açaí, contribuindo

2532 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

8

para atenuar o déficit de oferta, em face do aumento da demanda de mercado, visto que

tem permitido ganhos expressivos em produtividade, garantindo renda para produtores e

agroextrativistas, além de assegurar, mesmo a preços mais elevados, o consumo de açaí

no estado do Pará (Silva et al, 2006).

Por outro lado, a organização da produção do açaí em arranjos locais

proporciona ganhos a comunidade local pelo aumento da oferta e da qualidade do

emprego, agrega ainda com a realização de treinamento da mão de obra, com a melhoria

do nível salarial, com a atração de capital humano qualificado para a região e com a

melhoria da infraestrutura regional e urbana; e o Estado também ganha com a promoção

do desenvolvimento econômico local e regional com o aumento da receita com

exportações, com a diminuição da informalidade, com o incremento da receita tributária

e com o estreitamento de canais diretos com os agentes empresariais e com a

comunidade local (Costa, 2010; IDESP, 2010).

3 METODOLOGIA

3.1 ÁREA DE ESTUDO

A produção de açaí é realizada no Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Tocantins,

e, ainda, em países da América do Sul (Venezuela, Colômbia, Equador, Suriname e

Guiana) e da América Central (Panamá), mas ocorre, predominantemente, no estado do

Pará, onde também apresenta as maiores níveis de consumo.

O Mapa 1 mostra a concentração do açaí extrativo do Pará, onde observa-se

que esta se dá, principalmente, na mesorregião do Marajó e Nordeste do estado.

Mapa 1: Concentração da produção extrativa do açaí, no estado do Pará, 2010

Fonte: confeccionado a partir dos dados do IBGE (2012).

Atas Proceedings | 2533

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

9

A produção de frutos, que provinha quase que exclusivamente do extrativismo,

a partir da década de 1990, passou a ser obtida, também, de açaizais nativos manejados

e de cultivos implantados em áreas de várzea e de terra firme, localizadas em regiões

com maior precipitação pluviométrica, em sistemas solteiros e consorciados, com e sem

irrigação. A maior parte do cultivo está concentrada em dois municípios do nordeste

paraense, Igarapé Miri e Abaetetuba com 49% da produção.

3.2 DADOS UTILIZADOS

Os dados da produção extrativa foram coletados do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE) e os da produção cultivada da Secretaria de Agricultura

do Estado do Pará (SAGRI). Os preços do açaí foram pesquisados na Companhia

Nacional de Abastecimento (CONAB). As informações sobre salário rural são oriundas

da revista Conjuntura Econômica da Fundação Getúlio Vargas. Os dados da produção

de outras frutas e a renda estadual per capita foram extraídos da tese de doutorado de

Falesi (2008). O modelo de cálculo dos retornos socioeconômicos está baseado na

dissertação de mestrado de Lopes (2001).

A base temporal das informações (produção, área colhida e plantada, preço,

rendimento, etc.) utilizadas sobre o açaí para efeito de estimativa abrange o período de

1990 a 2010.

Demais disso, a questão da produção concentrada que indica a possibilidade de

APLs é verificada neste artigo mediante a análise da produção dos municípios, assim

como outras variáveis ligadas a governança (assistência técnica, crédito, pesquisa, etc),

que indicam fortemente a operação de agentes econômicos operando conjuntamente e

aumentando o valor bruto da produção de açaí, assim como a questão da expansão da

área plantada.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A incorporação do plantio de açaizeiros em Sistemas Agroflorestais (SAFs)

localizados em áreas de terra firme constitui grande inovação no processo produtivo. A

partir da década de 1990, açaizeiros e cupuaçuzeiros foram combinados com outras

culturas perenes, em especial cacaueiro, castanheira-do-Pará, bacurizeiro, uxizeiro e

pequiazeiro, visando, sobretudo, mercados em ascensão e futuros.

2534 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

10

Os arranjos de cultivos mistos de açaizeiro, quando duas ou mais espécies

compõem o sistema agroflorestal, possibilitam situações mais vantajosas que na

monocultura, notadamente quanto à diversificação e distribuição da produção,

racionalização do uso de mão de obra e maior equilíbrio ambiental (Homma et al,

2006).

4.1 AVALIAÇÃO DO BENEFÍCIO SOCIOECONÔMICO DA PRODUÇÃO DO

AÇAÍ NO ESTADO DO PARÁ

A estimativa do deslocador de oferta K, utilizado para o cálculo dos benefícios

sociais, foi de 8,1732 para o ano base de 2000, e foi obtido através da equação K=[(1 –

Q0/QF)/Ɛo], em que Q0 foi estimado a partir dos valores de produção extrativa do IBGE,

que no referido ano foi de 112.676 t.

O valor de QF, que representa o nível de produção do açaí manejado e/ou

cultivado em 2000, foi igual a 156.046 t, e o coeficiente de elasticidade-preço da oferta

de 0,034. Para efeito de análise dos benefícios gerados com a adoção de tecnologias na

produção de açaí frutos, adotou-se como valores iniciais Q0 e P0, a quantidade e o preço

do açaí no ano de 2000. A Tabela 1 apresenta os resultados estimados dos benefícios do

cultivo tecnificado do açaí e sua distribuição entre os consumidores e produtores do

estado do Pará. Tabela 1: Estimação dos benefícios sociais da adoção de tecnologia no cultivo de açaí no estado do

Pará Valores em RS 1,00

Ano Excedente do

Consumidor

Excedente do

Produtor

Benefício Total

2000 405.068 780.608.765 781.013.833

2001 516.781 995.892.422 996.409.203

2002 486.222 937.002.134 937.488.357

2003 386.628 745.072.821 745.459.449

2004 254.200 489.870.764 490.124.964

2005 274.081 528.183.087 528.457.168

2006 317.736 612.312.035 612.629.772

2007 361.419 696.493.772 696.855.191

2008 430.838 830.271.550 830.702.389

2009 409.702 789.540.320 789.950.023

2010 549.485 1.058.915.461 1.059.464.945

Fonte: dados da pesquisa.

Atas Proceedings | 2535

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

11

Os resultados da Tabela 1 mostram que os incrementos tecnológicos na

produção de açaí apresentaram relações, diretamente, proporcionais aos aumentos nos

retornos para a sociedade. No ano de 2000, incrementos na produtividade resultaram em

um benefício social da ordem de R$781 milhões. Já no ano de 2010, em que a produção

foi da ordem de 724,5 mil toneladas, o retorno bruto para a sociedade foi de mais de um

bilhão de reais.

Observou-se ainda que, comparativamente ao resultado obtido por Lopes

(2001), os retornos para os produtores têm superado o retorno dos consumidores,

contrariando aqueles resultados. Isto se deve em função da mudança na inclinação nas

curvas de demanda e de oferta de açaí, visto que pelas estimativas mais recentes a

demanda apresentou comportamento elástico e a oferta tornou-se mais inelástica a preço

e, nestas condições, tem-se um cenário mais favorável aos produtores que aos

consumidores.

Cabe ressaltar, ainda, que houve uma mudança estrutural da oferta de açaí a

qual, até o ano de 2000, tinha cerca de 95% da produção de açaí do estado do Pará

oriunda do extrativismo e, em 2004, a situação se reverteu com 80% da produção

decorrente do manejo e/ou cultivo (Santana et al, 2008). Já em 2010, essa proporção

passou para 85% de uma produção total de 724,5 mil toneladas.

Desse modo, observou-se que a adoção da tecnologia (manejo de açaizais

nativos e cultivo de açaí em terra firme com utilização de técnicas agronômicas)

aumentou o nível de bem estar da população paraense, tanto para consumidores, quanto

para produtores. Isso decorre da maior oferta do fruto, proporcionada pelo aumento da

produção nos últimos anos, que por sua vez, contribui para aumento da ocupação de

mão de obra no campo e para melhoria na renda dos produtores rurais que trabalham

com a cultura do açaí (Nogueira, 2011).

Vale ressaltar que este cenário é propício para o desenvolvimento de arranjos

produtivos locais através de incentivos por parte dos governos municipais e estadual às

empresas agroindustriais que demandem açaí em fruto como insumo ou mesmo àqueles

produtores rurais e empresas que tenham como atividade o cultivo de açaí em terra

firme, buscando mitigar a defasagem da oferta do fruto em relação à demanda local,

2536 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

12

nacional e internacional, bem como manter a vantagem competitiva do Pará como líder

na produção do fruto através do incentivo à pesquisa, inovação e desenvolvimento.

O estado do Pará apresenta potencial na formação de aglomerações produtivas

de empresas envolvendo elos das cadeias produtivas de produtos agrícolas (destaque

para os grãos e fruticultura), produtos de madeira e mobiliário, pecuária de corte e leite,

pesca (artesanal e industrial) e turismo ecológico, bem como as agroindústrias de

processamento de produtos vegetal, madeira, animal e couro.

A atividade agroindustrial tem por fundamento a estruturação das cadeias

produtivas em dados locais no estado do Pará, em função da disponibilidade de matéria-

prima, infraestrutura instalada, disponibilidade de capital humano, organização social,

ação institucional e acesso à tecnologia e aos mercados consumidores.

A identificação dos municípios, onde tais atividades se adensam, torna-se em

ponto de observação para estudos de maior aprofundamento e operação de políticas para

o desenvolvimento local sustentável com base na aglomeração de micro, pequenas e

médias unidades produtivas nos elos de cadeias produtivas com potencial para se

transformar em Arranjos Produtivos Locais (Santana et al, 2010).

4.2 CARACTERIZAÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO DO AÇAÍ NO ESTADO DO

PARÁ

O Gráfico 2 mostra a evolução da produção de açaí extrativo, no período de

1990 a 2010. Ao longo desse período, é possível observar o comportamento a produção

com tendência ligeiramente estável. Entretanto, a taxa de crescimento apresentou

decréscimo a partir de 2002.

Gráfico 2: Evolução da produção do açaí extrativo entre 1990 a 2010.

Atas Proceedings | 2537

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

13

-

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

120.000

140.000

160.000

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Fonte: elaborado a partir dos dados do IBGE (2012)

Em 2010, a produção extrativa de açaí do Pará representava 85,65% da

brasileira concentrando-se na mesorregião do Marajó, principalmente nos municípios de

Ponta de Pedras, Muaná, São Sebastião da Boa Vista, Curralinho, Breves, Anajás e

Afuá (IBGE, 2012). Entretanto, o município de Limoeiro do Ajuru, no nordeste

paraense, apareceu com a maior produção extrativa, cerca de 20% do total, o

equivalente a 20.231 ton. Ponta de Pedras surge na segunda posição com 12% e Oeiras

do Para e Muaná na terceira com 8% cada (Gráfico 3).

Gráfico 3: Participação dos municípios paraenses na produção extrativa de açaí,

2010.

Mocajuba 5%

São Miguel do Guamá 4%

Afuá 4%

Inhangapi 4%

Cachoeira do Arari 3%

Magalhães Barata 3%

Barcarena 2%

São Domingos do Capim

2%

Igarapé-Miri 5%

São Sebastião da Boa Vista 7%

Muaná 8%

Limoeiro do Ajuru 20%

Oeiras do Pará 8%

Ponta de Pedras 12%

Outros13%

Fonte: IBGE, 2012.

2538 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

14

Do ponto de vista da área cultivada, a Tabela 2 e a aponta os 10 maiores municípios

produtores do açaí fruto em área de terra firme:

Tabela 2: Os 10 Municípios de Destaque na Produção de Açaí no Pará, 2008

Município Produção

Igarapé-Miri 153.000

Abaetetuba 131.250

Cametá 40.544

Acará 39.600

Limoeiro do Ajuru 35.040

Bujaru 30.955

Tomé Açu 24.000

Concórdia do Pará 21.384

Ponta de Pedras 14.991

Oeiras do Pará 14.000

Fonte: SAGRI.,2010.

4.2.1 Crédito

As instituições financeiras oficiais disponibilizam várias linhas de crédito para

atender a atividade produtiva, extrativismo, comercialização e a industrialização da

produção. Os prazos e taxas são compatíveis com a atividade e porte do beneficiário,

além de apresentar carência para iniciar o pagamento do crédito.

O Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), por exemplo,

prover recursos para atividades que agreguem renda à produção e aos serviços

desenvolvidos pelos seus beneficiários. Dentre as finalidades, o programa inclui

investimentos em infraestrutura, que visem o beneficiamento, o processamento e a

comercialização da produção agrícola, de produtos do extrativismo, implantação de

pequenas e médias agroindústrias, isoladas ou em forma de rede, aquisição de

equipamentos e de programa de informática voltados para melhoria da gestão das

unidades agroindustriais, capital de giro associado ao investimento, entre outras. As

taxas variam entre 1% e 2% ao ano com prazo de até 20 anos, beneficiando agricultores

e produtores rurais, bem como suas associações e cooperativas.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) possui

linhas, no âmbito do FINAME Agrícola e BNDES Automático, que podem ser

utilizadas para aquisição de máquinas e equipamentos com taxas de juros atrativas e

Atas Proceedings | 2539

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

15

prazo para reembolso do crédito a médio e longo prazo. São recursos públicos a baixo

custo para fomentar a atividade econômica, em especial a industrialização do processo

de produção.

O Plano de Aplicação dos recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do

Norte (FNO), cuja gestão cabe ao Banco da Amazônia, incentiva a fruticultura

organizada em arranjos produtivos locais, priorizando as micro e pequenas empresas.

Dos R$24,9 milhões aplicados em 2010 na atividade produtiva envolvendo a produção

do fruto e derivados do açaí, o estado do Pará representa em torno de 80%, destacando-

se os Igarapé-Miri, Alenquer, Barcarena, Abaetetuba e Cametá, reforçando a

participação majoritária da mesorregião Nordeste Paraense nos investimentos na

atividade.

4.2.2 Assistência técnica

A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do estado do Pará

(EMATER) é o órgão responsável em prestar o apoio técnico e especializado na área

rural. Contribui com soluções para agricultura familiar relacionadas à pesquisa,

assistência técnica e extensão rural, estando presente em todo o estado do Pará.

A assistência técnica aos agricultores ribeirinhos mostra-se incipiente em muitos

dos municípios paraenses. Há uma dificuldade conjuntural de oferecer o serviço público

devido ao seu alto custo de manutenção, quando comparado à assistência técnica de

outras regiões. Isto se deve a diversos fatores, tal como a necessidade de meios de

transporte caros para o deslocamento (barcos ou veículos traçados); maior custo de

transporte devido às longas distâncias entre as propriedades; resistência dos técnicos em

trabalhar em condições adversas e pouco confortáveis e limitação dos recursos

financeiros municipais.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Amazônia Oriental

tem pesquisado os sistemas de produção do açaí e promovido seu melhoramento. A

Empresa desenvolveu um conjunto de técnicas para o manejo do açaí nativo,

reconhecidas e aceitas para aplicação em áreas de proteção ambiental. Fez seleção

massal e lançou uma variedade de açaí para cultivo em terra firme, tanto em regime de

produção solteira quanto em consórcios.

O Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Pará (SEBRAE-PA) atua

na divulgação do Programa Alimentos Seguros (PAS-Açaí), orientando os batedores

2540 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

16

artesanais de açaí a controlar e evitar a contaminação na cadeia de produção através da

adoção de boas práticas com instruções que afetam desde o produtor até batedores e

indústrias. Tem o intuito ainda de tirar da informalidade os trabalhadores artesanais

através do incentivo à conversão dos mesmos em empreendedores individuais. A

atuação do SEBRAE-PA é importante para orientar os agentes da cadeia a se adequarem

às regras para manipulação artesanal do açaí impostas pelo governo do estado do Pará

através do Decreto nº 326 de 20/01/2012, que visa melhorar as condições de higiênico-

sanitárias das unidades processadoras, oferecendo aos consumidores um produto seguro

e com padronização de processamento.

4.2.3 Programas de incentivo e organização da atividade

A instalação de indústrias de processamento no Estado provocou um aumento

dos preços do açaí, o que prejudicou, em certa medida, o consumidor local. Por outro

lado, a maior liquidez do produto e os preços mais altos são positivos para os

agricultores. O mercado é, no geral, dominado por intermediários, com alto nível de

apropriação do lucro e exploração do produtor. As relações entre os agricultores e os

proprietários das terras (de titularidade duvidosa) são assimétricas e têm, no seu centro,

a questão agrária permeando as relações de poder, sobremaneira no arquipélago do

Marajó.

O estado do Pará possui área equivalente a 16% do território nacional. Cerca de

metade desse percentual recebe a influência de marés – são, portanto, áreas do

patrimônio da União, totalizando 8,5 milhões de hectares de áreas de várzeas e ilhas,

dentre elas o Arquipélago do Marajó. Para fazer frente a esta realidade, foi criado o

Programa de Regularização Fundiária de Áreas de Várzeas Rurais. O programa tem a

coordenação da Secretaria de Patrimônio da União – SPU, por meio da Gerência da

Secretaria do Patrimônio da União do Estado do Pará (GRPU/PA). Ao entregar o Termo

de Utilização de Uso às famílias de comunidades ribeirinhas, a União reconhece o

direito à ocupação e possibilita a exploração sustentável das áreas de várzeas. Além

disso, o instrumento representa para a família beneficiada um comprovante oficial de

residência e uma garantia de acesso à aposentadoria, a recursos do Programa Nacional

de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e a outros programas sociais do

Governo Federal.

Atas Proceedings | 2541

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

17

O Plano Nacional da Sociobiodiversidade, sob a coordenação dos Ministérios do

Meio Ambiente, do Desenvolvimento Agrário e do Desenvolvimento Social, lançado

em julho de 2009, tem por objetivo principal desenvolver ações integradas para a

promoção e fortalecimento das cadeias de produtos da sociobiodiversidade, com

agregação de valor e consolidação de mercados sustentáveis. O Programa tem quatro

eixos de atuação:

Promoção e apoio à produção e ao extrativismo sustentável;

Estruturação e fortalecimento dos processos industriais;

Estruturação e fortalecimento de mercados; e

Fortalecimento da organização social e produtiva.

O açaí é uma das cadeias produtivas priorizadas no referido Plano, cujas ações

são convergentes com a proposta aqui apresentada. No escopo das ações do Plano

Nacional da Sociobiodiversidade, o açaí foi incluído na Política de Garantia de Preços

Mínimos – PGPM, um instrumento de sustentação de preço sob a tutela do Ministério

da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e operacionalizado pela Companhia

Nacional de Abastecimento (Conab). O preço mínimo foi estabelecido em R$0,61/kg do

fruto, com base nos mercados de Igarapé-Miri-PA, Ponta de Pedras-PA e Codajás-AM.

Este preço equivale a R$8,54 por lata de 14 kg.

A aplicabilidade da Política de Garantia de Preços Mínimos – PGPM deverá

encontrar dificuldade face ao alto nível de desorganização do produtor de açaí e ao

baixo acesso a informações. Na medida em que convergirem esforços dos operadores do

Plano Nacional da Sociobiodiversidade e das potenciais instituições parceiras,

aumentam as possibilidades da PGPM beneficiar os agricultores ribeirinhos.

O açaí é uma fruta perecível cujo consumo ou processamento necessita ocorrer

dentro de 24h após a colheita. No Pará e, em especial, nos municípios do arquipélago do

Marajó, as distâncias entre a produção e os principais mercados compradores (Belém e

Igarapé-Miri) são muito grandes. O longo tempo de transporte em embarcações

inapropriadas, sem refrigeração, faz com que o açaí perca em qualidade. Por

consequência, a valorização do produto pelo comprador é inversamente proporcional à

distância. Nas localidades mais remotas do arquipélago é frequente que o produto

apodreça por falta de comprador. Nas ilhas próximas a Belém, ao contrário, o açaí é

muito valorizado. O frete mais barato o torna ainda mais competitivo. A dificuldade de

2542 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

18

transporte é mais um facilitador para o intermediário que, no caso do açaí, é o dono das

embarcações.

O açaí é um produto sazonal. Na entressafra ocorre desabastecimento ao ponto

de algumas lojas de batedores de açaí, em Belém, fechar temporariamente suas portas. É

um período em que o preço sobe muito e o agricultor poderia ter bons lucros. Mas não

tem o produto. O abastecimento para o mercado de Belém se dá pela produção nas

localidades mais próximas ao Amapá e Maranhão, que têm a safra invertida.

Pelo exposto, não há uma fonte consistente de informações na cadeia produtiva

do açaí. Como o produto não é uma commodity, não há formação de preço em nível

nacional. A CONAB utilizou pesquisa não estatística de três mercados para calcular o

preço mínimo do açaí para adotar na Política de Garantia de Preços Mínimos – PGPM.

Somado a isto, os agricultores e suas (poucas) organizações não têm quaisquer

informações de preço e mercado, ficando à mercê dos intermediários que lhes chegam à

porta. Os técnicos envolvidos não têm meios (tempo, recurso e apoio) para fazer

pesquisas de mercado. As universidades e centros de pesquisa não se dedicam

sistematicamente a esta atividade, tal como ocorre em outras cadeias produtivas.

5 CONCLUSÃO

O consumo de frutas no Pará ainda não é priorizado como gênero de primeira

necessidade, assim, se o bem é inferior ou normal, depende da curva de indiferença

analisada e do nível de renda da população consumidora de frutas.

Dessa forma, é preciso que sejam promovidos programas com o intuito de incentivar

uma reação positiva na demanda e oferta de frutas no estado através de políticas

incrementais, estímulo ao maior consumo de frutas e derivados, despertando o interesse

nas unidades processadoras de frutas em produzir, seja via redução de impostos seja

através da criação de subsídios que estimulem a produção, o beneficiamento e

adequação do processo de comercialização nos vários níveis.

A produção de açaí fruto, até o final da década de 1990, dependia totalmente do

extrativismo, sobretudo em áreas de várzea. O aumento da demanda estimulou a

produção em açaizais nativos manejados e cultivados em áreas de terra firme a partir de

2001, principalmente, em decorrência do consumo em camadas da população de renda

mais elevada tanto no mercado local quanto no nacional e internacional.

Atas Proceedings | 2543

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

19

Os benefícios socioeconômicos totais gerados através da adoção de tecnologia na

produção de açaí demonstraram que tanto os consumidores quanto os produtores

agregaram excedentes positivos. Entretanto, tais benefícios foram maiores para os

produtores comparativamente àqueles gerados para os consumidores. Isso decorre da

mudança de comportamento da demanda que passou a ser elástica enquanto a oferta

mais inelástica a preço. Além disso, outro fator que contribuiu para tal resultado foi a

insuficiência da oferta, embora crescente no período, frente à expansão da demanda

nacional e internacional.

Sendo assim, os incrementos na oferta com a adoção de tecnologia no sistema de

produção de açaí decorreram pela instalação de agroindústrias em localidades próximas

aos maiores centros consumidores e produtores no estado Pará, o que contribuiu para a

melhoria do bem estar social e econômico da população, em total aderência aos

postulados da teoria de desenvolvimento local, onde a organização do processo

produtivo em arranjos locais proporciona a superação da produção em base familiar,

prover aprendizado e conhecimento.

De tal modo, este resultado sugere que são necessárias políticas como incentivo à

inovação, pesquisa e desenvolvimento relacionadas à produção de açaí e á identificação

de áreas potenciais para a constituição de arranjos locais; realizações de parcerias entre

Instituições como EMBRAPA e SEBRAE orientadas para o desenvolvimento local

sustentável, com base na aglomeração de micro, pequenas e médias empresas com

potencial para se transformarem em APL’s.

REFERÊNCIAS

AMARAL FILHO, J. do. “A Endogeneização no desenvolvimento econômico Regional”. Encontro Nacional de Economia 27, Associação Nacional dos Centros de Pós- graduação em Economia (ANPEC). Belém-PA, 1998. COSTA, Eduardo J. Monteiro da. Arranjos Produtivos Locais, Políticas Públicas e Desenvolvimento Regional. Mais Gráfica Editora. Brasília, 2010. FALESI, Lindaura Arouck. A Dinâmica do Mercado de Frutas Tropicais no estado do Pará: uma abordagem econométrica. Tese de Doutorado em Ciências Agrárias. Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). Belém-Pará, 2008.

2544 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

20

GÓES, T. R.; GUERRA, O. Desenvolvimento endógeno e teoria evolucionista como fundamentação para políticas públicas em arranjos produtivos locais. Artigo apresentado no III Encontro de Economia Baiana. Setembro-2007. HOMMA, A.K.O.; NOGUEIRA, O.L.; MENEZES, A.J.E.A. de; CARVALHO, J.E.U. de; NICOLI, C.M.L.; MATOS, G.B. de. Açaí: novos desafios e tendências. In: AMAZÔNIA: Ciência & Desenvolvimento. Banco da Amazônia. v. 1, n. 2 (jan./jun., 2006). Belém-Pará, 2006. IDESP, Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará. Estudo das Cadeias de Comercialização de Produtos Florestais Não-madeireiros no Estado do Pará. Relatório Técnico 2008-2009. Belém-Pará, 2010. JOHNSON, B., LUNDVALL, B.. Promovendo sistemas de inovação como resposta à economia do aprendizado crescentemente globalizada. In: LASTRES, H., CASSIOLATO, E., J., ARROIO, A. (Org). Conhecimento, Sistemas de inovação e desenvolvimento. Rio de Janeiro: UFRJ/Contraponto, 2005. p. 83 – 130. LOPES, Maria Lúcia Bahia. Mercado e Distribuição dos Retornos Sociais do Manejo do Açaí no estado do Pará. Dissertação de Mestrado em Economia. Universidade da Amazônia (UNAMA). Belém-Pará, 2001. NOGUEIRA, A. K. M. As Tecnologias Utilizadas na Produção de Açaí e seus Benefícios Socioeconômicos no estado do Pará. Dissertação de Mestrado em Ciências Florestais. Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). Belém-Pará, 2011. NOGUEIRA, O.L.; FIGUEIREDO, F.J.C.; MÜLLER, A.A. Sistema de Produção 4: Açaí. Editores Técnicos. Embrapa Amazônia Oriental. Belém-Pará, Novembro-2005. PINDYCK, Robert S.; RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. 5ª Edição. Prentice Hall. São Paulo, 2002. SANTANA, A.C. de; CARVALHO, D.F.; MENDES, F.A.T. Análise Sistêmica da Fruticultura Paraense: organização, mercado e competitividade empresarial. Banco da Amazônia. Belém-Pará, 2008. SANTANA, A.C. de (Coord.); CARVALHO, D.F.; MENDES, F.A.T; FILGUEIRAS, G.C.; BOTELHO, M.N.; KITABAYASHI, R.T. Identificação e Caracterização de Arranjos Produtivos Locais nos Estados do Pará e Amapá, no período 2000 a 2005: orientação para políticas de desenvolvimento. Editora Universidade da Amazônia. Belém-Pará, 2010. SILVA, I. M. da; SANTANA, A. C. de; REIS, M. S. Análise dos retornos sociais oriundos de adoção de tecnologia na cultura do açaí no estado do Pará. In: AMAZÔNIA: Ciência & Desenvolvimento. Banco da Amazônia. v. 2, n. 3 (jul./dez., 2006). Belém-Pará, 2006.

Atas Proceedings | 2545

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

1

Usina Hidrelétrica de Belo Monte: autoritarismo revisitado sob a ditadura do capital.

Rhoberta Santana de Araújo1

Gilberto de Souza Marques2

Resumo

A ideologia desenvolvimentista disseminada no país a partir da década de 1930, pautadas no discurso modernizador, expresso na defesa do crescimento econômico do país via processo de industrialização demarca um período de transformações significativas na configuração da aliança da burguesia nacional, internacional e o Estado. O crescimento econômico é objeto de racionalização por meio dos planos, programas e projetos implantados notadamente a partir da década de 1960. A Amazônia nesse contexto é inserida na dinâmica do capitalismo nacional e internacional transformada em fronteira de recursos naturais. Uma das dimensões desse processo se constituiu no aproveitamento energético das bacias hidrográficas da região por meio da instalação de Usinas Hidrelétricas. A mais recente obra, objeto de intensas disputas no campo politico, econômico, ambiental e ideológico é a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, cuja obra civil iniciou em junho de 2011. O artigo apresentará alguns elementos históricos do discurso e da politica desenvolvimentista no Brasil, alicerçado na aliança associada e dependente do capital externo. No segundo momento será apresentado o histórico de implantação da UHE de Belo Monte. O debate em torno da implantação do empreendimento é antigo e marcado por embates entre governo, empresariado, movimentos sociais e populações tradicionais.

Palavras chaves: Desenvolvimentismo, Amazônia, UHE de Belo Monte.

1. A geopolítica dependente do Brasil alicerçada do discurso desenvolvimentista

As profundas alterações na configuração da geopolítica mundial do pós-

guerra impuseram desafios à organização sociopolítica dos países periféricos.

O avançado processo de industrialização experimentado pelos países centrais

reforçava uma posição hegemônica no cenário mundial dos países centrais e

1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPA. Integrante do Grupo de

Pesquisa de Políticas do Ensino Superior – GEPES.

2 Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Pará.

2546 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

2

em larga medida contribuía para influenciar a condução da política econômica

dos países em desenvolvimento dentre eles o Brasil.

Esse período coincide com o fortalecimento do capitalismo na sua fase

monopolista, expressa na formação de corporações e oligopólios e com forte

predomínio do capital financeiro. Observa-se um intenso processo de

movimentação das empresas multinacionais, em busca de novos mercados e

condições mais atraentes de ampliação e concentração do capital.

Florestan Fernandes (2009) analisa de forma precisa na obra Capitalismo

Dependente e Classes Sociais na América Latina como ocorre o processo de

dominação externa nos países latinos. A incorporação desses países ao

espaço econômico, cultural e político dos países hegemônicos que o autor

denomina de “imperialismo total” ocorre por meio da dominação externa a partir

de dentro:

O traço específico do imperialismo total consiste no fato de que ele organiza a dominação externa a partir de dentro e em todos os níveis da ordem social, desde o controle da natalidade, a comunicação de massa e o consumo de massa, até a educação, a transplantação maciça de tecnologia ou de instituições sociais, os expedientes financeiros ou do capital, o eixo vital da política nacional etc. (FERNANDES, 2009, p.27)

Os estudos do referido autor constituem uma referência importante para

compreensão dos limites impostos e aceitos pelos países periféricos que

amargam desde o período de colonização espanhola e portuguesa condições

penosas para superação das crises advindas das distintas fases de

organização capitalista. A integração das economias latino-americanas ocorre

de forma heterônoma, transformadas em fontes de excedentes econômicos e

de acumulação de capital para os países centrais (FERNANDES, 2009)

Os países que conseguiram a partir do século XX implementar ações

sistemáticas que visavam o crescimento econômico, por meio de incentivo da

industrialização e produção de bens de consumo e bens de capital optaram por

uma associação dependente ao capital estrangeiro, quer por meio

empréstimos, quer por meio de transferência de tecnologia. Neste período

ocorre abertura das fronteiras nacionais para instalação de empresas

Atas Proceedings | 2547

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

3

multinacionais, arregimentadas pela ação do Estado. Ressalte-se que as

políticas nacional-desenvolvimentistas adotadas a partir de 1930 até inicio da

década de 1980 incentivaram a industrialização no país por empresas

nacionais e multinacionais, uma clara aliança da burguesia interna e externa.

Neste período, inaugurado particularmente pelo governo de Getúlio

Vargas a Ideologia Desenvolvimentista é objeto de forte apelo político e

ideológico. A revolução de 1930 expressa a vitória da burguesia industrial,

apoiada por frações da oligarquia agrária. O período demarca o início

alterações estruturais na reprodução do capital capitaneadas por ações

incisivas do Estado na condução do projeto “modernizador” do país.

Os governos que sucederam Vargas se assemelham na política

desenvolvimentista, supostamente orientada para o desenvolvimento do pais,

expressos em melhores oportunidades de trabalho, distribuição de renda, em

suma, na melhoria das condições de vida da população. A disseminação de

valores nacionalistas via o chamamento dos trabalhadores a cooperar com

superação do atrasado e do arcaico é uma marca emblemática desse período

histórico.

Os planos de desenvolvimento econômico, notadamente a partir da

década de 1950 são utilizados como instrumentos de ação orientada do Estado

para condução do processo de industrialização do país. A visão do

planejamento, enquanto estratégia de racionalização das ações do Estado com

vistas ao desenvolvimento se apresenta como algo inovador. Mais um

instrumento a serviço da ampliação e reprodução do capital, como ficou

evidente no transcurso histórico.

Os Planos Nacionais de Desenvolvimentos (I, II e II) lançados entre

1970 e 1979 e os desdobramentos regionais para Amazônia (Plano de

Desenvolvimento da Amazônia) cumpriam o claro objetivo de consolidação da

burguesia nacional e internacional enquanto classe hegemônica. No caso

particular da Amazônia fica evidente o papel reservado na composição do

capitalismo mundial, constituindo em reserva de recursos naturais (minerais,

agroflorestais e hídricos). Ocorre neste contexto redefinição na estrutura da

divisão internacional do trabalho, com o deslocamento das multinacionais dos

2548 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

4

países centrais para os países periféricos em busca de vantagens no processo

de produção, abundância nos recursos naturais, mão de obra barata,

fragilidade nas medidas de proteção ambiental e particularmente fragilidade no

tecido social regional que pudesse representar resistência a imposição do novo

modelo.

No âmbito interno representou a possibilidade de ampliação do capital

excedente no sul-sudeste, que demandava novos campos de atuação. Como

no país o processo de industrialização é caracterizado pela concentração dos

polos de produção nos estados do sul e sudeste a incorporação da Amazônia à

dinâmica nacional representou uma nova etapa na história econômica da

burguesia brasileira.

Dessa forma, o projeto de inserção amazônica na dinâmica capitalista

mundial, arregimentada pelo Estado a partir dos planos de desenvolvimento

atendia a propósitos políticos, ideológicos e notadamente econômicos. A

instalação de grandes empreendimentos no campo da agropecuária, da

extração mineral e de produção energética, por meio de incentivos e isenção

fiscais atenderia no plano do discurso a necessidade de modernização e

desenvolvimento regional, entretanto representaram mais uma estratégia de

reprodução, ampliação e concentração do capital, numa clara aliança entre a

burguesia nacional, internacional e o Estado.

A escolha da Amazônia para realizar a expansão capitalista não pode fugir dos princípios que o sistema lhe concebe. A região amazônica, dentro do processo histórico, tornou-se gradativamente espaço de capitais nacionais e internacionais. Foi a estratégia política e militar do discurso nacionalista que proclamava a integração – “integração para não entregar” – internacionalizando a Amazônia. Esses espaços passaram a fazer parte do mercado mundial, dentro das perspectivas capitalistas de reprodução para acumulação. (PICOLI, 2006, p.51)

A política de incentivo se materializou ainda por meio da construção de

infraestrutura, a exemplo da abertura de estradas, construção de portos,

aeroportos, hidrelétricas. Além da infraestrutura, a concessão de empréstimos

por meio de agências de fomento, a exemplo do Banco da Amazônia e do

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico subsidiaram a instalação dos

Atas Proceedings | 2549

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

5

empreendimentos econômicos na Amazônia e no estado do Pará. Além da

criação da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia, em

substituição a extinta SPEVEA, mais uma estrutura ligada a tecnocracia estatal

para contribuir com o desenvolvimento e que acabou sendo palco de abusos e

denúncias de corrupção.

Na contramão do discurso político e ideológico que defendia a instalação

do grande capital na Amazônia, como estratégia para modernização e a

geração de riqueza para a região. Loureiro (2001, p. 61) ressalta que:

Os abusos, as exorbitâncias e o arbítrio desse novo capital na região são incontáveis: a criação e a recriação do trabalho escravo, a expulsão e a morte de posseiros, trabalhadores rurais em geral e de índios; a grilagem de terras; as queimadas; a poluição de rios e lagos e outros. Contudo, sob a nova ótica desenvolvimentista, eles deveriam ser entendidos como fenômenos característicos de uma fase do desenvolvimento amazônico, cuja tendência seria a de desaparecem, a longo prazo, quando o processo de ocupação/desenvolvimento tivesse sido completado!

Ao cabo desse processo o estado do Pará arregimenta a instalação e

consolidação de empreendimentos econômicos em messoregiões. Os municípios de

Marabá, Barcena, Tucuruí3, Oriximiná, Paragominas Parauapebas, Canaã dos Carajás

e mais recentemente Altamira4 são sedes de instalação de grandes empresas5. A

instalação dos empreendimentos capitaneados por conglomerados de empresas

constituídas por capital nacional e internacional é cercada de tensões e conflitos,

ações judiciais do ministério público federal e estadual e intensa mobilização de

movimentos e organizações sociais que contestam o modelo desenvolvimentista

3 A Usina Hidrelétrica de Tucuruí foi construída para atender a expressiva demanda por energia elétrica da indústria de exploração e transformação de minérios do estado do Pará

4 As obras de construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte iniciaram no primeiro semestre de 2011, após muita polêmica e batalhas judiciais travadas entre o Ministério Público Federal e a União, que divergem quanto a viabilidade técnica, socioambiental e a observância dos procedimentos definidos em lei para construção da obra. A previsão de investimentos na obra é de 40 bilhões de reais.

5 A empresa Vale antiga Companhia Vale do Rio Doce, privatizada em 1996, detêm o capital majoritário das principais empresas que exploram a extração e produção dos recursos minerais no Estado do Pará, com atuação nos municípios de Marabá, Parauapebas, Paragominas, Canaã dos Carajás, Ourilândia do Norte e Oriximiná e até 2010 detinha o capital majoritário da Albrás/Alunorte, complexo industrial localizado na Vila do Conde, município de Barcarena, vendida para uma multinacional norueguesa.

2550 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

6

imposto e os expressivos impactos socioambientais causados às comunidades.

Adiante, uma obra em particular, será objeto de análise, a construção da UHE de Belo

Monte.

2. Altamira: tensões, conflitos e resistências sob o marco de instalação da UHE de Belo Monte

O Município de Altamira, fundado em novembro de 1911, está localizado

na Mesorregião do Xingu, com população de aproximadamente 99 mil

habitantes, conforme dados do IBGE, de 2010. As estimativas de crescimento

populacional do referido instituto apresentam uma população estimada de

102.343 mil habitantes em 2012. A extensão territorial é de 161.445, 9 Km². As

dimensões territoriais do Município o colocam na posição de maior município

do Brasil e segundo maior do mundo, ultrapassando países como Portugal e

Suíça.

Altamira guarda especificidades, no processo de ocupação territorial,

que tem no Projeto de Integração Nacional (Decreto-lei n°1.106/1970), lançado

na década de 1970, pelo então Presidente Emílio Garrastazu Médici, seu

marco de institucionalidade. O lema que orientava o projeto – “terra sem

homens para homens sem terra e integrar para não entregar” – expressava o

discurso governamental da necessidade de integração da Amazônia ao

território nacional e à política de desenvolvimento econômico defendida na

época. O início da abertura da Transamazônica – BR 230, em 10 de outubro de

1970, marcou um período emblemático, na história do Município. Além da

integração da região por via terrestre, o programa previa colonização e

reforma agrária por meio da destinação de 10k de faixa de terra ao longo da

rodovia recém aberta e que mais tarde seria ampliada.

Apesar da baixa densidade demográfica, as terras do Município eram

ocupadas por índios, seringueiros, missionários católicos, fazendeiros e

pequenos comerciantes. O ciclo da borracha, que se intensificou no início do

século XX, atraiu milhares de migrantes, particularmente nordestinos, para

Atas Proceedings | 2551

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

7

atividade de extração de borracha nos seringais. Durante algumas décadas, a

extração da borracha foi atividade econômica importante para o Município.

A economia se baseava em agricultura familiar, pesca, extrativismo, e no

comércio. O Projeto de Integração Nacional demarcou um período de intenso

fluxo migratório, de famílias oriundas de distintas regiões do país, notadamente

das regiões Nordeste e Sul. O processo de ocupação foi marcado por tensões,

conflitos e muita violência, cometida principalmente contra a população

indígena, que resistia contra a ocupação das terras pelos migrantes.

A propalada política de integração aliada a desenvolvimento econômico

representou, na prática, mais um discurso inconsistente do governo militar de

então. As famílias migrantes se submeteram a condições de extrema penúria e

adversidades de toda ordem. A abertura da Transamazônica e o intento

colonizador foram concebidos no cenário de mão de obra excedente do

nordeste e do centro-sul. Dessa forma, a concessão de terras, ao longo da

Rodovia Transamazônica, aos migrantes, atenderia a dois objetivos, conforme

discurso governista: desafogar regiões brasileiras com excedente de mão de

obra e promover a ocupação das terras amazônicas, diante do manifestado

interesse de empresas estrangeiras, notadamente, norte-americanas, na

exploração de recursos naturais dessa região.

A localização geográfica do Município de Altamira, dadas as dimensões

continentais do Estado do Pará e a distância de aproximadamente 800 km em

relação a Belém, associada ao abandono do poder público, impuseram

limitações estruturais intensas ao Município. Serviços básicos, a exemplo de

saúde, saneamento, habitação e educação, foram demandas apresentadas

pela maioria da população que aqui residia e pelos migrantes que chegaram

com a abertura da Rodovia BR-230, e a cujos benefícios não tiveram acesso,

porque não atendidas. Diante desse cenário, os movimentos sociais

começaram a mobilizar-se, notadamente, no final da década de 1980. Nesse

contexto, o Movimento pela Sobrevivência da Transamazônica e Xingu, com

importante contribuição da Igreja Católica e agricultores, inicia um período de

mobilização política junto ao poder público. A pauta reivindicatória do

Movimento se direcionou à implementação de políticas nos campos social,

2552 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

8

econômico e ambiental, que promovessem a melhoria da qualidade de vida da

população.

Os conflitos agrários, com assassinatos de sindicalistas e agricultores, a

exploração desordenada dos recursos naturais, o desrespeito aos direitos

humanos, a violência contra crianças e adolescentes, como os casos das

crianças emasculadas e da rede de pedofilia, são exemplos do cenário de

violência que se instaurou nesse Município e que expressa a cultura da

impunidade que se instalou nessa região, alimentada pela inoperância do

poder público e pela formação de grupos que, pelo abuso do poderio

econômico e político e pelo uso da força, defendiam a manutenção dos seus

interesses.

Importante destacar que, ainda hoje, a ocupação das terras, ao longo da

Transamazônica, tem sido objeto de disputas e embates, nos campos social,

político e ideológico. Os conflitos agrários são ocorrências frequentes.

Pequenos agricultores e extrativistas travam constantes batalhas para ter

garantida a posse de propriedades, diante da investida de posseiros e grileiros,

que utilizam a intimidação e violência na disputa das terras, usadas,

geralmente, para extração ilegal de madeira.

Modelos de desenvolvimento estão em permanente disputa. De um lado,

o modelo que favorece o grande capital, expresso na ampliação da exploração

dos recursos naturais e de mão de obra barata, a despeito dos prejuízos

socioambientais e do agravamento das condições de vida da maioria da

população. De outro, o modelo que defende o desenvolvimento referenciado na

preservação dos recursos naturais, bem como na inserção socioeconômica da

população do campo e da cidade.

Nesse cenário, a construção da Hidrelétrica de Belo Monte reforça os

campos em disputa. As discussões acerca do empreendimento iniciaram, no

final da década de 1970, originadas da conclusão, em dezembro de 1979, dos

Estudos de Inventário da Bacia Hidrográfica do Xingu. Naquela época, a

proporção de impacto da obra, que alagaria uma expressiva área da cidade de

Altamira e aldeias indígenas da região, indicava limitações na viabilidade

Atas Proceedings | 2553

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

9

socioeconômica do projeto. O projeto foi engavetado pelo governo federal. No

final da década de 1980, as discussões foram, novamente, retomadas.

O Relatório Final dos Estudos de Inventário Hidrelétrico da Bacia

Hidrográfica do Rio Xingu é aprovado pelo Departamento Nacional de Águas e

Energia Elétrica (DNAEE) em 1988. No ano seguinte aconteceu em Altamira o

histórico encontro dos povos indígenas (I Encontro dos Povos Indígenas do

Xingu), com a presença de várias etnias, movimentos sociais, parlamentares e

representantes do poder público. Na ocasião ocorre o episódio que irá marcar

de modo emblemático a resistência contra a instalação do empreendimento na

bacia do Xingu. A índia Tuíra encosta a lâmina do seu facão no rosto do então

Presidente da Eletronorte José Antônio Muniz Lopes. A cena foi amplamente

divulgada na mídia nacional e internacional. (Instituto Socioambiental, 2013)

No início de 2000, novos estudos de viabilidade técnica, econômica e

ambiental foram realizados e subsidiou a elaboração de novo projeto que,

segundo o governo federal, apresentava menor impacto socioambiental, em

razão da redução da área de inundação. Em 2005, as discussões foram

intensificadas, pois a obra foi incluída no Plano de Aceleração de Crescimento

(PAC), do Governo Lula da Silva, e passa a ser considerada obra prioritária do

Ministério de Minas e Energia, dirigido pela então Ministra Dilma Rousseff. No

mesmo ano, no mês de julho o Congresso Nacional autorizou a construção da

Hidrelétrica é aprovado na Câmara dos Deputados. Desde então, batalhas

judiciais vêm sendo travadas entre o Ministério Público Federal (MPF) e a

Advocacia Geral da União (AGU). O MPF ressalta os impactos que a obra trará

para as populações, particularmente indígena, aponta falhas na condução dos

estudos de impacto ambiental e inobservância dos procedimentos previstos em

lei. Por seu turno, a AGU defende a viabilidade do empreendimento e o

cumprimento dos requisitos legais.

O painel de especialistas integrado por professores/pesquisadores de

renomadas instituições de ensino e pesquisa nacionais e internacionais produziram

em 2009 o Documento “Análise Crítica do Estudo de Impactos Ambientais do

Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte”, resultado da análise detalhada e

confrontação de dados apresentados no Estudo de Impactos Ambientais produzidos

pela Eletrobrás, requisito para obtenção do licenciamento da obra junto ao IBAMA. O

2554 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

10

documento elaborado pelos especialistas aponta falhas e inconsistências nos

seguintes aspectos: a) Dados sociais, econômicos e culturais; b) Impactos às

populações indígenas; c) Saúde, educação e segurança; d) Hidrologia da Bacia do

Xingu; e) Viabilidade técnica e econômica não demonstrada; f) ameaças à fauna

aquática; g) ameaças à biodiversidade. (MAGALHÃES; HERNANDEZ, 2009.)

A despeito dos vários problemas apontados por pesquisadores, MPF e

movimentos sociais quanto a viabilidade técnica, econômica e socioambiental

da UHE de Belo Monte, o leilão da obra foi realizado, em 20 abril de 2010, e o

orçamento inicialmente previsto estava na ordem de 19 bilhões de reais,

conforme anunciado pelo governo federal. Entretanto, a iniciativa privada

estima que o custo da obra ultrapasse 28,6 bilhões de reais. A maior parcela do

recurso (80%) será financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES). Isto é, fundos públicos financiando um

empreendimento executado pela iniciativa privada.

Os movimentos sociais e populares contrários à obra acreditam que os

impactos socioambientais terão um efeito nefasto para a população alcançada.

Ribeirinhos, indígenas e camponeses serão atingidos pela inundação das suas

terras e sumariamente remanejados. A população urbana das cidades das

áreas diretamente afetada e as áreas de influência vêm sendo afetadas pelo

intenso fluxo migratório. O aumento populacional têm criado bolsões de miséria

e pressionando a ampliação da oferta de serviços de interesse público (saúde,

educação, saneamento básico, transporte), além do surto inflacionário

observado nos setores do comércio e dos serviços.

Entretanto, a Norte Energia SA6 demonstra otimismo na condução do

processo. No website mantido pela empresa são apresentados dados

quantitativos sobre o empreendimento. O pico da obra deve acontecer em 2013

com a contratação de 23 mil trabalhadores. Esses números segundo a

empresa revelam a contribuição do empreendimento para a promoção do

desenvolvimento social da região.

6 A Norte Energia SA é composta por empresas estatais e privadas do setor elétrico, fundos de

pensão e investimentos e empresas autoprodutoras e obteve a concessão para construção de UHE de Belo Monte, com outorga de concessão por 35 anos. (NORTE ENERGIA SA, 2012)

Atas Proceedings | 2555

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

11

Os benefícios do projeto Belo Monte transcendem à implantação de uma fonte de geração renovável e econômica para suprir necessidades do Estado do Pará, da região Norte e do Brasil. A exemplo de outros aproveitamentos hidrelétricos, existem benefícios associados à preservação ambiental de áreas na bacia hidrográfica, além do aumento dos indicadores de desenvolvimento humano nos municípios abrangidos. A inserção regional do projeto UHE Belo Monte vai alavancar o desenvolvimento na região. (NORTE ENERGIA, 2012). Disponível em: http://norteenergiasa.com.br/site/portugues/norte-energia-s-a/ Acesso em 12.03.2012

Entretanto, o clima de tensão é frequente nos canteiros da obra. Desde

o início da construção várias greves foram deflagradas pelos operários, que

reivindicam melhoria nas condições de trabalho e nos salários. A força nacional

se mantém presente nesses episódios, com o claro objetivo de intimidação e

uso da força para conter a resistência. Importante ressaltar a política adotada

pelo Consórcio Construtor de Belo Monte no que se refere à divulgação das

informações à comunidade. Muitos dos episódios ocorridos nos canteiros não

são divulgados pelos meios de comunicação local. As informações acabam

sendo disseminadas por redes sociais e por operários com residência no

município de Altamira.

Demissões sumárias, greves, o silêncio da mídia, o uso da força policial,

acusações de má aplicação dos recursos na obra são alguns elementos que

compõe o atual cenário de construção do maior empreendimento do Programa

de Aceleração do Crescimento do autodenominado governo popular. O mais

recente episódio envolveu a denúncia de tráfico de mulheres, próximo a sítio

Pimental. Um grupo de mulheres, incluindo uma adolescente foi libertado de

uma casa que funcionava como boate. O caso veio a público após a

adolescente conseguir fugir do local e denunciar ao Conselho Tutelar de

Altamira às condições de exploração na qual eram submetidas.

Os graves episódios de violação dos direitos humanos e ambientais são

minimizados pelo discurso governamental para justificar a necessidade da

ampliação da capacidade energética do país, pautado na ideia do “bem

público” e do “progresso” que não podem ser comprometidos por interesses de

grupos minoritários (indígenas, ribeirinhos, camponeses). O desenvolvimento

2556 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

12

do país, neste sentido, estaria diretamente condicionado à ampliação das

reservas energéticas.

Na definição de políticas para o setor elétrico e na tomada da decisão sobre obras a serem executadas, há que considerar todo um contexto ideológico dominante no Brasil, que sintetizamos na frase consensual: “energia é progresso”. A tradição cartesiana tanto de nossas escolas de engenharia, como as de formação de militares, é outro ponto relevante. Na prática, essa visão ideológica tem servido como fundamento para múltiplas decisões. Decisões que não necessitariam de justificações mais amplas, nem tampouco da aprovação do Congresso Nacional. (SANTOS; NACKE, 1991, p.49)

Neste sentido, apesar da arquitetura da inserção amazônica na

dinâmica da produção do capitalismo nacional e internacional ter ocorrido de

modo sistemático e planejado nos governos autoritários dos militares, marcado

pelo esvaziamento das estruturas jurídicas e políticas, o reestabelecimento

democrático não expressou alterações no modus operandi quando se trata da

instalação de grandes empreendimentos, a exemplo da Usina Hidrelétrica de

Belo Monte:

Os processos de decisão relativos a obras de infraestrutura, que se caracterizam como estruturas de acumulação em si, colocam em evidência e provocam a discussão sobre as condições nas quais as sociedades democráticas enfrentam pelo menos quatro desafios interligados: o primeiro diz respeito à utilização das ciências e das técnicas e da interrelação entre ciência e poder – experts e governo; o segundo diz respeito à redefinição e/ou construção de um espaço público, constituído não apenas de técnicos, mas também de homens e mulheres; grupos sociais, comunidades e povos com histórias e conhecimentos diversos; o terceiro de confrontar-se com o aparato legal que rege a tomada de decisão; e, por último, especialmente no caso brasileiro, o desafio de se interrogar sobre a fidelidade dos governantes aos princípios democráticos e os mecanismos que a sociedade dispõe de fiscalização e controle. (MAGALHÃES; HERNANDEZ, 2009.)

O governo federal manteve posição única em relação ao caloroso

debate acerca da UHE de Belo Monte: a construção iria acontecer! Pautado

sob o argumento da necessidade de energia para conduzir o processo de

desenvolvimento nacional. Bermann (2012) chama atenção que o

planejamento energético no Brasil é pautado na oferta, sem um

Atas Proceedings | 2557

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

13

questionamento necessário das previsões das demandas futuras. Neste

cenário determinados setores industriais são favorecidos (cimento, ferro-gusa e

aço (siderurgia), ferro-ligas, não ferrosos (alumínio), química, papel e celulose)

Por este desenvolvimento histórico, criou-se um emaranhado de interesses que não nos permite afirmar que possa existir uma capacidade previsível de planejamento. Pelo contrário, apenas um atendimento de cargas futuras, multiplicando o cenário presente para o futuro muito incerto, diante da complexidade do arranjo de interesses que estão em jogo. Dentro deste campo estão empreiteiras, indústrias de equipamentos, geradoras, comercializadoras, agências reguladoras, grupos políticos e econômicos que conflitam entre si, e disputam com governos a utilização do discurso da energia para angariar votos.(BERMANN, 2012, p.16)

Por outro lado, cabe indagar o papel desempenhado pelas

instituições de ensino e pesquisa do país sob o marco da instalação dos

grandes empreendimentos econômicos. Caberia à Universidade tão somente a

função instrumental de formação de profissionais para ocupação dos postos de

trabalho, e desse modo mais uma peça na engrenagem de (re) produção do capital?

Esses empreendimentos repercutem na expansão e no financiamento das atividades

da Universidade? É resguardado a autonomia científica na produção de conhecimento

demandada nos projetos desenvolvidos em parceria com as empresas executoras

desses grandes projetos?

O ideário de desenvolvimento econômico propugnado pelo capitalismo

dissemina o discurso da educação como um importante fator para competitividade e

para o desenvolvimento das economias globais. As alterações nas bases técnicas de

produção, alicerçada na acumulação flexível, na desregulamentação econômica e na

divisão internacional do trabalho difundem um novo perfil do trabalhador, coadunado

com os interesses corporativos e empresariais. Nesta perspectiva, um novo modelo de

educação deve ser incorporado às políticas educacionais como estratégia para

superação dos obstáculos impostos ao crescimento econômico. Neste, contexto,

educação e conhecimento assumem centralidade, como aponta Oliveira (2009, pp.

239-240):

Essa centralidade se dá porque educação e conhecimento passam a ser, do ponto de vista do capitalismo globalizado, força motriz e eixos da transformação produtiva e do desenvolvimento econômico. São, portanto, bens econômicos necessários à transformação da produção, ao aumento do potencial científico-tecnológico e ao aumento do lucro e

2558 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

14

do poder de competição num mercado concorrencial que ser quer livre e globalizado pelos defensores do neoliberalismo. Torna-se clara a conexão estabelecida entre educação-conhecimento e desenvolvimento-desempenho econômico. A educação é um problema econômico na visão neoliberal, já que ela é elemento central desse novo padrão de desenvolvimento.

O discurso desenvolvimentista disseminado na atual fase de organização

capitalista nacional, alicerçado em grandes empreendimentos econômicos, com

financiamento advindo em grande medida de recursos públicos impõe um viés

utilitarista e economicista às universidades públicas, coadunado com o processo de

reforma em curso. Assim, pesquisas científicas que se proponham investigar as

mediações e determinações desse fenômeno na configuração universitária são

relevantes. As questões apresentadas demandam a continuidade e aprofundamentos

dos estudos O discurso desenvolvimentista disseminado na atual fase de

organização capitalista nacional e internacional, alicerçado em grandes

empreendimentos econômicos, com financiamento advindo em grande medida de

recursos públicos impõe um viés utilitarista e economicista às universidades públicas,

coadunado com o processo de reforma em curso. Assim, pesquisas científicas que se

proponham investigar as mediações e determinações desse fenômeno na

configuração universitária são relevantes.

CONSIDERAÇÕES

A construção do Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte, a despeito da

polêmica criada, em âmbito nacional e internacional, e das disputas criadas em torno

da obra, é apresentada pelo governo federal como prioritária para o desenvolvimento

do país. Entretanto, as evidências sinalizam que o maior interessado na obra é do

grande capital, representado pelas empreiteiras e os empresários do comércio de

produtos e serviços.

A despeito da constituição de um efetivo debate público, envolvendo as

populações atingidas e a diminuição dos impactos da obra, o que tem se observado é

a constituição de uma superestrutura estatal para blindar a construção da obra,

incluindo o uso da força policial. Além de informações não publicizadas pela empresa

responsável pela construção do empreendimento, criminalização dos movimentos

sociais contrários ao empreendimento e os frequentes episódios de conflito/tensão nos

Atas Proceedings | 2559

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

15

canteiros da obra. Outra dimensão, não menos importante, são os impactos

socioambientais que ainda não podem ser adequadamente dimensionados

considerando o curso do processo.

A Amazônia permanece na condição de subalternidade diante da dinâmica de

ampliação, reprodução e concentração do capital, constituindo em fronteira de

recursos naturais, necessários para o capital industrial e financeiro. Neste sentido

cabe investigar o papel da ciência/saber no atual ordenamento, a forma como as

universidades públicas vem se relacionamento com a instalação dos grandes

empreendimentos na Amazônia e se ocorre alterações na configuração universitária

(autonomia, financiamento).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERMANN. Célio, O projeto da Usina Hidrelétrica Belo Monte: a autocracia energética como paradigma. Novos Cadernos NAEA, Belém-PA, v. 15, n. 1,

p. 5-23, jun. 2012.

FERNANDES. Florestan, Capitalismo Dependente e classes sociais na América Latina. São Paulo: Global, 2009.

INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Especial Belo Monte – Cronologia do Projeto. Disponível em: http://www.socioambiental.org/esp/bm/hist.asp. Acesso em 02.03.2013

LOUREIRO, Violeta Refkalefsky. Pressupostos do Modelo de Integração da Amazônia Brasileira aos Mercados Nacional e Internacional em Vigência nas Últimas Décadas: a modernização às avessas. In: COSTA, Maria José Jackson (Org.). Sociologia na Amazônia. Debates teóricos e experiências de pesquisa. Belém: EDUFPA, 2001.

OLIVEIRA, João Ferreira de. A função social da educação e da escola pública: tensões, desafios e perspectivas. In.: FERREIRA, Eliza Bertolozzi. OLIVEIRA, Dalila Andrade (Orgs.). Crise da escola e políticas educativas. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009.

2560 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

16

PICOLI, Fiorelo. O capital e a devastação na Amazônia. São Paulo: Expressão popular, 2006.

MAGALHÃES, S. B.; HERNÁNDES, F. M. (Orgs.). Painel de Especialistas: análise crítica do Estudo de Impacto Ambiental do Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte. Belém: [s.n.], 2009.

NORTE ENERGIA SA. Notícias. Belo Monte avança e 2013 representará o pico da obra. Disponível em :

http://norteenergiasa.com.br/site/2012/12/28/belo-monte-avanca-e-2013-

representara-o-pico-da-obra/ Acesso em 10.03.2013

SANTOS, S. C.; NACKE, A. A Eletronorte e os projetos hidrelétricos. In:

HÉBETTE, J (org). O circo está se fechando. Petrópolis: Vozes; Rio de

Janeiro: Fase; Belém: NAEA-UFPA, 1991.

Atas Proceedings | 2561

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

1

COMERCIALIZAÇÃO DA CASTANHA-DO-BRASIL NAS RUAS E FEIRAS LIVRES DE BELÉM (PARÁ), BRASIL.

KEPPLER JOÃO ASSIS DA MOTA JUNIOR, economista pela Universidade Federal do Pará, [email protected];

GISALDA CARVALHO FILGUEIRAS, engenheira agrônoma e doutora em Ciências Agrárias, professora da Universidade Federal do Pará, [email protected];

ANTÔNIO JOSÉ ELIAS AMORIM DE MENEZES, engenheiro agrônomo e doutor em sistemas de produção agrícola familiar, analista da Embrapa Amazônia Oriental,

[email protected]; ALFREDO KINGO OYAMA HOMMA, engenheiro agrônomo e doutor em economia aplicada, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, [email protected];

FRANCIDÉLIA CRUZ RAMOS, economista e mestranda em economia pela Universidade Federal do Pará, [email protected]

Resumo

Este trabalho teve como objetivo analisar as condições de venda da castanha-do-brasil ou também popularmente conhecida como castanha-do-pará nas ruas e feiras livres de Belém. A castanha é um dos principais produtos extrativos da região Amazônica, a qual desempenha importante papel socioeconômico, por ser geradora de renda a milhares de famílias, no campo ou na cidade. No âmbito da cidade, o trabalho demonstra a dinâmica da comercialização e os retornos econômicos que esta castanha está oferecendo tanto aos vendedores de rua quanto aos feirantes do município de Belém, Pará. Para tanto, aplicou-se 30 questionários com perguntas semiestruturadas para traçar o perfil destes vendedores em nível socioeconômico. Os principais resultados mostraram que a maior parte (76,7%) dos entrevistados migraram do interior para a cidade com perspectivas de melhora de vida, porém, sem as qualificações necessárias, indicada pela baixa escolaridade (média de 5,63 anos de estudo), refugiaram-se em trabalhos informais como a venda de diversos produtos, incluindo a castanha, em feiras e ruas. Sobre a comercialização do produto, o valor médio de compra foi de R$ 3,17/quilo, enquanto que o valor de venda da castanha beneficiada (sem casca) ficou em média R$ 28,00/quilo, o que influenciou na renda média obtida com a venda do produto (R$ 1.314,82/mês) que foi quase duas vezes superior ao salário mínimo brasileiro vigente (R$ 670,00), demonstrando, portanto, que a venda de castanha é importante para a reprodução familiar destes vendedores.

Palavras-chave: castanha-do-brasil; comercialização; feiras livres.

Abstract

This study aimed to analyze the conditions of sale of the brazil-nut or also popularly known as pará-nut in the streets and markets of Belém. This nut is a major forest products in the Amazon region, which plays an important socioeconomic role, because it generates income for thousands of families in the countryside or in the city. Within the city, the work demonstrates the dynamics of the market and the economic returns that brown is offering both to street vendors as the fairground in Belém, Pará. Therefore, we applied 30 questionnaires with semi-structured questions to profiling

2562 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

2

these sellers socioeconomic status. The results showed that the majority (76.7%) of respondents migrated from the countryside to the city with prospects of improvement of life, but without the necessary qualifications, indicated by low education (average of 5.63 years of schooling) , took refuge in informal jobs such as selling various products, including the brazil-nut, in fairs and streets. On the marketing of the product, the average purchase price was R$ 3.17 / kilo, while the value of sales benefited nut (shelled) was on average R$ 28.00 / kilo, which influenced the income average from the sale of the product (R$ 1,314.82 / month) which was almost twice the Brazilian minimum wage rate (R$ 670.00), showing therefore that the sale chestnut is important for family reproduction these sellers.

Key words: Brazil-nut; marketing; fairs

1. INTRODUÇÃO

O extrativismo vegetal desempenha importante papel socioeconômico na região

amazônica, pois é responsável pela segurança alimentar e geração de renda a milhares

de famílias que tem na exploração da floresta uma forma de reprodução familiar.

De acordo com a pesquisa Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura

(PEVS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o extrativismo vegetal

compreende a coleta ou apanha, de forma racional, de produtos como madeira, látex,

sementes, fibras, frutos e raízes que permitem a obtenção de produções sustentadas ao

longo do tempo. Ainda de acordo com a PEVS, em 2011, a participação de produtos

não madeireiros na extração vegetal foi 18,8%, totalizando R$ 935,9 milhões.

Na região Norte do país, destaca-se entre os diversos produtos da extração

vegetal a produção de castanha-do-brasil. De acordo com a Organização Não

Governamental World Wild Fund – WWF (2013), a árvore da castanha, mais conhecida

como castanheira, pode ser encontrada nos nove países que constituem a PanAmazônia,

mas, segundo Tonini (2007), a maior parte está distribuída entre Brasil, Colômbia e

Peru que respondem por, aproximadamente, 96% da área plantada. Apesar de também

ser conhecida como castanha-do-brasil, atualmente, a Bolívia é o maior produtor à nível

mundial que suplantou o Brasil a partir dos primeiros anos da década de 2000.

A decadência na produção de castanha começou a partir da década de 1970 com

o projeto de integração nacional adotado pelo Governo da época. Homma (2000: 44)

Atas Proceedings | 2563

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

3

considera que nos anos seguintes, a abertura de estradas e, conseqüentemente, a

expansão da fronteira agropecuária levam estas atividades a ocupar as áreas de

castanhais no sudeste paraense, até então o maior produtor nacional.

Atualmente, o estado do Amazonas é o maior produtor do país respondendo por

35% do total produzido á nível nacional, seguido por Acre (33,3%) e Pará (17,1%).

Essa produção está apoiada em grande parte por castanhais extrativos, a despeito da

existência de um plantio pioneiro de 3.000 hectares com 300 mil pés de castanhas

plantados na década de 1980 no estado do Amazonas (HOMMA, 2012).

De acordo com o IBGE, do total de 42.152 toneladas de castanha-do-brasil

produzidas em 2011, o estado do Pará contou com uma produção de 7.192 toneladas. Os

maiores produtores no estado foram: Oriximiná (1.680 ton.), Óbidos (1.225 ton.), Acará

(720 ton.) e Alenquer (710 ton.) que configuraram na lista dos 20 maiores produtores do

Brasil.

Grande parte da produção estadual da castanha-do-brasil segue para a

exportação, outra grande parte segue para as feiras livres das grandes cidades. Deste

modo, este trabalho pretende demonstrar a dinâmica da comercialização e os retornos

econômicos que este produto está oferecendo tanto aos vendedores de rua quanto aos

feirantes do município de Belém, Pará.

De tal modo, este artigo está estruturado em quatro seções, além desta

introdução. Na segunda seção, discute-se a metodologia; na terceira, faz-se uma breve

descrição do mercado de castanha-do-brasil; na quarta, discute-se os resultados obtidos

com a aplicação dos questionários, relativo aos vendedores de castanha e, por fim, tem-

se as considerações finais.

2. METODOLOGIA

2.1 Área de estudo

O município de Belém possui uma área de 1.059,40 km2 e está situado na região

nordeste do estado do Pará. Conta com uma população de 1.393.399 habitantes (IBGE,

2010), chegando a 2.100.000 habitantes em sua região metropolitana sendo, portanto,

2564 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

4

um local estratégico para onde se escoa grande parte da produção de alimentos do

estado que vão parar em supermercados, feiras ou nas bancas de ruas.

De acordo com dados da Secretaria de Economia do município de Belém

(SECON) em Medeiros (2010), a cidade possui 34 feiras livres legalizadas que contam

com, aproximadamente, 5.000 feirantes, sendo 71,2% desse total cadastrados perante o

órgão. A principal feira da cidade é do Complexo do Ver-o-Peso que concentra 17,5%

dos feirantes da cidade, além de ser considerada uma das maiores feiras livres do Brasil.

Em seguida, aparecem a feira do Barreiro, 25 de Setembro, Parque União e

Entrocamento.

2.2 Fonte e coleta de dados

Coleta de dados foi realizada com vendedores de castanha-do-brasil em feiras e

ruas da cidade de Belém (ver Tabela 1) no mês de janeiro de 2013. Foram aplicados 30

questionários do tipo semiestruturado abordando questões sobre adequabilidade do

local, comercialização da castanha (local de compra, quantidade vendida, procedência

do produto, forma de pagamento e armazenamento, perfil do comprador, período de

safra-entressafra, perdas e preço) além de benefícios financeiros que a castanha está

oferecendo aos vendedores (renda auferida, produtos comprados com o dinheiro do

produto e outras rendas recebidas). As questões foram tabuladas de acordo com as

frequências de respostas, na qual se fez uma análise estatística descritiva.

Dados de origem secundária como quantidade produzida e Valor Bruto da

Produção (VBP) da castanha-do-brasil foram obtidos juntos ao Sistema IBGE de

Recuperação Automática (SIDRA-IBGE) e os valores foram deflacionados e

atualizados pelo IGP-DI, base 2011=100.

Atas Proceedings | 2565

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

5

Tabela 1: Quantidade de vendedores de castanha entrevistados por feira livre e

logradouro.

Feira Livre Quantidade de vendedores

entrevistados % (Total)

Ver-o-Peso 13 43

25 de Setembro 7 23

Entroncamento 5 17

Guamá 2 7

Vendedores de Rua

(Logradouro)

Quantidade de vendedores

entrevistados % (Total)

Av. Presidente Vargas 1 3

Rua Aristides Lobo com Av.

Presidente Vargas 1 3

Rua João Alfredo 1 3

TOTAL 30 100

Fonte: dados de pesquisa, 2013.

3. MERCADO NACIONAL DE CASTANHA-DO-BRASIL

A quantidade produzida de castanha-do-brasil, em 2011, foi de 42.152 toneladas,

representando um aumento de 4,4% em relação a 2010. Quando comparado ao ano de

1990 que registrou uma produção de 51.195 toneladas a queda foi de 21,5%. Ao longo

do período a produção apresentou média de 31.563 toneladas, desvio padrão de 7.555,6

toneladas e coeficiente de variação de 24%, o que indica alta variabilidade na

quantidade produzida no período.

É possível verificar no Gráfico 1 que, no período analisado, a maior produção se

deu no ano de 1990 com suas 51.195 toneladas e a menor em 1996 com apenas 21.469

toneladas. A partir do ano 2000, a produção comportou-se por volta das 31.852

toneladas (média) e com menor dispersão em relação a esta, indicada pelo seu

coeficiente de variação de 17%. A partir de 2007, verifica-se que a produção tem

crescido ano a ano, especialmente, pelo aumento na quantidade produzida no estado do

Amazonas.

2566 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

6

Gráfico 1: Evolução da quantidade produzida, em toneladas, de castanha-do-brasil no

país de 1990 a 2011.

-

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.00019

9019

9119

9219

9319

9419

9519

9619

9719

9819

9920

0020

0120

0220

0320

0420

0520

0620

0720

0820

0920

1020

11

Qua

ntid

ade

Prod

uzid

a (to

n.)

Fonte: a partir de dados do SIDRA-IBGE, 2013.

Enquanto a quantidade produzida experimenta ciclos de altos e baixos, o Valor

Bruto da Produção (VBP) tem crescido bastante, ainda que tenha experimentado leves

quedas nos anos de 1994, 2003 e 2006 (Gráfico 2). Na comparação do último com o

primeiro ano da série histórica a alta foi expressiva, isso porque, quando deflacionados e

atualizados os valores monetários pré-1994, os números obtidos não são significativos

pelo fato de o real ser mais valorizado que seus antecessores e pela corrosão pela

inflação no período. Sendo assim, vejamos os valores a partir do ano 2000.

Neste caso, tem-se que, em 2000, o VBP da castanha-do-brasil foi de R$ 7.504

mil, enquanto que em 2011 de R$ 69.404 mil, um valor nove vezes maior. O

crescimento do VBP muito acima do observado na quantidade produzida (26%) no

período indica que houve um aumento na procura pelo bem sem que fosse

acompanhado pelo aumento proporcional na sua oferta. Esse descompasso entre oferta e

demanda gerou forte aumento de preços passando o custo médio da tonelada de R$

224,46 em 2000 para R$ 1.646,52 em 2011.

Atas Proceedings | 2567

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

7

Gráfico 2: Evolução do Valor Bruto da Produção, em mil reais, da castanha-do-brasil

no país de 1990 a 2011.

-

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

80.000

Valo

r B

ruto

da

Prod

ução

(m

il re

ais)

Fonte: a partir de dados do SIDRA-IBGE, 2013.

* Valores deflacionados pelo IGP-DI, base 2011=100.

Apenas sete estados produzem a castanha-do-Brasil (ver Tabela 2) no país, todos

concentrados na Amazônia Legal. Apesar da queda no último ano da série, o maior

produtor continua sendo o estado do Amazonas (ver Gráfico 3) com uma produção de

14.661 toneladas (2011), o que representa 34,8% do total produzido no país. Em

seguida aparecem Acre (14.035 ton.) e Pará (7.192 ton.) com 33,3% e 17,1% de

participação, respectivamente.

2568 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

8

Gráfico 3: Evolução da quantidade produzida, em toneladas, pelos três principais

produtores de castanha-do-brasil no país de 1990 a 2011.

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

16000

18000

20000

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

Qua

ntid

ade

Prod

uzid

a (to

n.)

AcreAmazonasPará

Fonte: a partir de dados do SIDRA-IBGE, 2013.

Em termos de produção acumulada entre 1990 e 2011, a produção do Acre e

Amazonas se equivalem (em torno de 60.000 toneladas), o mesmo quanto a média no

período (em torno de 12.000 toneladas). O Pará, que até os anos 1980 foi o maior

produtor nacional, vem registrando crescentes perdas na produção nas duas últimas

décadas e precisa investir em novos plantios, de modo a continuar a ter este produto,

essencial tanto na alimentação local, dado suas propriedades, como para a geração de

divisas, principalmente, através da exportação. Outros estados da região (Amapá, Mato

Grosso, Rondônia e Roraima) pouco contribuem para o total produzido, respondendo

por 15% da produção no ano de 2011. Dentre estes, Rondônia é o único que tem

obrsevado uma média de 3.000 toneladas de castanha nos últimos anos, enquanto que o

restante raramente tem ultrapassado as 1.000 toneladas anuais.

Atas Proceedings | 2569

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

9

4. RESULTADO E DISCUSSÃO

As feiras livres desempenham um importante papel no processo de produção

urbano uma vez que proporcionam parte do abastecimento alimentar destas populações

urbanas. Na cidade de Belém, a maior parte das feiras existe há menos de trinta anos e

estão basicamente localizadas nos bairros periféricos (MEDEIROS, 2010). Essa

dinâmica é resultado do processo de êxodo-rural que o país experimentou nas últimas

décadas e que levou milhões de pessoas do campo para as cidades em busca de

melhores condições de vida. Porém, ao chegar à cidade o migrante sem as qualificações

necessárias e, consequentemente, sem emprego necessita de uma atividade que viabilize

sua reprodução familiar. Neste caso, muitas vezes, pela tradição no campo, a venda de

produtos (hortifrútis, extrativos e outros) na feira pode ser uma opção.

Com relação a isso, verificou-se que 76,7% dos entrevistados nasceram em

cidades que não da Região Metropolitana de Belém, grande parte destes são do interior

do estado do Pará e apenas um é de outro estado (Ceará). A escolaridade média dos

vendedores de castanha nas ruas e feiras livres de Belém foi de 5,63 anos, ou seja, a

maioria não possui o ensino fundamental completo (Gráfico 4). Nos dados

desagregados os vendedores de rua ficaram com média de 3,3 anos e os feirantes de 5,9

anos, o que significa dizer, conforme Gomes et al. (2013) que, de um modo em geral, a

comercialização de produtos em feiras livres é uma atividade pouco exigente quanto à

escolaridade ou qualificação de seus agentes.

Gráfico 4: Anos de estudo dos vendedores de castanha-do-brasil nas ruas e feiras livres de Belém.

Fonte: dados de pesquisa, 2013.

2570 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

10

A maioria (43,3%) começou a trabalhar na feira por necessidade, 30% para

ajudar alguém da família, 10% por opção e 16,7% por outros motivos. A média de anos

de trabalho foi de 13 anos, sendo que 43,3% se ocupam com a venda de castanha (e,

muitas vezes, outros produtos) há menos de dez anos, ao passo que 40% trabalham entre

dez anos e 30 anos e 10% levam mais de 30 anos dedicando seu tempo à venda de

castanha, outros 6,7% não quiseram informar a quantidade de anos de trabalho com o

produto.

Quanto às condições do estabelecimento para a venda do produto, todos os

feirantes informaram que a banca é própria, ainda que tenham que pagar uma taxa à

Prefeitura que, em alguns casos é anual (Feira da 25 de Setembro) e outros mensal (Ver-

o-Peso). Outra questão quanto ao estabelecimento foi a adequabilidade do local para a

venda da castanha. Como o Gráfico 5 mostra, 67% dos entrevistados informaram que o

local era adequado para a venda do produto, outros 23% em parte (que inclui os três

vendedores de rua) e 10% disseram que o local não era adequado. Dos que disseram que

não era adequado, um feirante do Ver-o-Peso manifestou que a venda de castanha

deveria ser em local exclusivo como ocorre com outros produtos na mesma feira, isso

porque, a cada ano que se passa cada vez mais vendedores de outros produtos ao redor

migram para a venda da castanha por ser mais rentável disse o feirante. Os outros dois

que responderam negativamente à pergunta foram da Feira do Entroncamento. Para

eles, o local não é adequado por não existir uma estrutura fixa para a venda de seus

produtos, inclusive, a castanha. Constatou-se que, nesta feira (Entroncamento) a

comercialização de todo tipo de produto é feita em bancas de madeira móveis ou outros

materiais improvisados no meio da rua e sem qualquer separação por tipo de alimento

vendido.

Atas Proceedings | 2571

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

11

Gráfico 5: Adequabilidade do local de venda de castanha-do-brasil, segundo os

entrevistados.

Fonte: dados de pesquisa, 2013.

A falta de uma boa estrutura para a comercialização da castanha gera outro

problema, uma possível contaminação por fungos que, em certas condições, são

altamente perigosos ao ser humano. Para Castrillón & Purchio (1988), rachaduras nas

cascas de castanha por ocasião de [inadequado] transporte [e armazenagem], agregado

ao clima e grau pluviométrico são fatores que favorecem a penetração de insetos,

parasitas e microrganismos, que aliado a umidade pode trazer sérios riscos à saúde

humana. De acordo com Alvares et al. (2012), a umidade das castanhas é um fator que

pode favorecer a proliferação de fungos, produzindo toxinas como, mais comumente, as

aflatoxinas que, epidemiologicamente, são associadas à alta incidência de câncer

hepático (CIB, 2004 apud ALVARES et al., 2012). No caso dos feirantes pesquisados,

86,67% praticavam a venda de castanhas frescas acondicionadas em pequenos sacos

plásticos, retendo bastante umidade. Outro fator que chamou a atenção foi a falta de

procedimentos higiênicos, como o uso de luvas no manuseio das castanhas descascadas,

aumentando o risco de contaminação do produto.

Apesar de 33% não considerar que a feira ou local de rua ser totalmente

adequado para a venda da castanha, 96,7% disseram gostar de trabalhar na feira ou na

rua vendendo o produto, enquanto que apenas 3,3% responderam que gostam, em parte.

Ainda, 63,3% disseram que vendem castanha desde que iniciaram as vendas nas ruas ou

feiras de Belém, outros 36,7% começaram vendendo outros produtos, principalmente,

2572 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

12

frutas, segmento preferido por 33% dos frequentadores de feiras da cidade (SECON,

2013).

A maioria dos entrevistados (60%) disse ter bons conhecimentos acerca da

árvore e do fruto da castanheira, pois muitos vieram do interior do estado onde tiveram

algum tipo de contato com a castanha, inclusive, alguns chegaram a dar orientações

sobre os benefícios que o ouriço, a casca da árvore e o “umbigo” da castanha para

doenças como hepatite, anemia entre outras.

Sobre a comercialização, 93,3% disseram comprar a castanha em sacos de 50 kg

(86,7%) e 60 kg (13,3%), outros 3,3% em fardo de 20 kg e 3,3% não souberam

informar. O valor médio de compra do quilo foi de R$ 3,17 (com casca). O valor médio

de venda foi de R$ 5,00 o quilo com casca e de R$ 28,00 sem casca. Neste quesito, as

feiras/ruas levam vantagem frente aos grandes mercados, pois conseguem oferecer o

mesmo produto por um preço menor. As frequentes promoções também são uma forma

de baratear o preço dos produtos a fim de livrar-se de grandes estoques, pois a falta de

infraestrutura e equipamentos nestes locais não permite o armazenamento de produtos

perecíveis por prazo maior de tempo, como nos supermercados. Em relação aos preços

nota-se uma diferença de, aproximadamente, 55% quando comparado o preço médio na

feira/rua (R$ 28,00) com o dos supermercados locais que costumam vender pacotes de

150 gramas por R$ 6,50 em média, perfazendo um total de 43,33 reais o quilo.

A maior parte (86,7%) disse comprar a castanha diretamente na feira, 10% em

outros locais (fábrica, interior, porto), outros 3,3% não quiseram informar. A

procedência da castanha é, em grande parte, proveniente do estado do Pará sendo mais

citados os municípios de Acará, Cametá, Moju e São Miguel do Guamá, como também

os estado do Acre e Amazonas como fonte das castanhas que abastecem a cidade de

Belém ainda que, segundo os próprios entrevistados, as melhores castanhas são

provenientes do estado do Pará, enquanto que as maiores do estado do Amazonas. É

interessante notar que apesar da distância de alguns pontos de produção, como Acre e

Amazonas, a castanha chega a Belém a um preço bastante competitivo, mostrando que

os agentes envolvidos no processo de extração da castanha devem ser pouco

remunerados, já que até chegar à feira a castanha passa, geralmente, por atravessadores.

Atas Proceedings | 2573

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

13

O período entre compras mais comum foi de 15 em 15 dias (56,7%), ainda que

houvesse quem compre de no máximo oito em oito dias (30%) e de mês em mês

(6,67%), outros 6,63% não quiseram informar. Já a forma de pagamento mais comum

foi à vista (70%), seguido pelo prazo de até sete dias para pagamento (23,4%), até 15

dias (3,3%) e até 30 dias (3,3%). Os meses de maior compra são entre janeiro e junho,

ainda que haja grandes compras nos meses de outubro (Círio de Nazaré) e dezembro

(Festas de Fim de Ano). O primeiro semestre de cada ano, época da safra, é onde se

compra, na maioria das vezes, a quantidade necessária para o restante do ano. Neste

caso, para manter a castanha em bom estado, o feirante/vendedor as conserva dentro do

ouriço, molhando-os toda a semana para que as mesmas não sequem ou estraguem.

O tipo de castanha-do-brasil mais vendido pelos feirantes são ambas (com casca

e sem casca), ainda que 10% deles vendam somente com casca e outro mesmo

percentual sem casca. É mais usual a venda em quilo e litro para 46,7% dos

pesquisados, mas 23,4% além da venda em quilo e litro também vendem em saco (50 ou

60 kg), 20% vendem somente em quilo, 3,3% somente em litro, 3,3% em pacotes de

200g e 400g e 3,3% não quiseram responder. De acordo com os vendedores, do público

que compra 50% é proveniente da população local, 40% de turistas e para 10% dos

entrevistados a quantidade comprada é igual entre população local e turistas.

(a) à direita observa-se uma típica banca de venda de castanha na Feira do Ver-o-Peso. (b) à esquerda a

castanha acondicionada em sacos (geralmente utilizados para a venda de farinha de mandioca) com seus

respectivos preços que variam de acordo com a qualidade e o tamanho.

2574 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

14

Dos que descascam a castanha para vender 88,5% utilizam faca/terçado e apenas

11,5% utilizam descascador. Ainda, 73% deste não aproveitam as cascas da castanha e

vão direto para o lixo, outros 27% sabem da importância que elas tem e as utilizam

como adubo ou para fazer fogo.

Gráfico 6: Renda obtida com a venda da castanha-do-brasil.

Fonte: dados de pesquisa, 2013.

*Considerando o salário mínimo brasileiro em 2013: R$ 670,00.

A renda média mensal obtida com a venda de castanha foi de R$ 1.314,82 por

mês, a maior parte dos entrevistados (64%) obtém de um a três salários mínimos com a

comercialização da castanha, 13% até um salário mínimo e 13% mais de três salários

mínimos, sem resposta somaram 10% (Gráfico 6). 97% disseram, também, que a

castanha é sua única fonte de renda e somente 3% disseram ter outras rendas como

aposentadoria. As grandes dificuldades encontradas pelos feirantes foi a crescente

concorrência, inclusive, com vendedores ilegais, já para os vendedores de rua, a maior

dificuldade é a ilegalidade, pois, vivem trocando de ponto de venda a fim de despistar a

fiscalização pela Secretaria de Economia do município que quando os flagra, confisca

toda a mercadoria que possuem.

Atas Proceedings | 2575

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

15

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A castanha-do-brasil, de fato, é um importante produto da cadeia produtiva

extrativa na Amazônia, pois envolve vários agentes que dependem quase que

exclusivamente de sua produção para a própria sobrevivência. Encaixam-se neste caso o

produtor (ribeirinho e demais homens da floresta), o atravessador e, por fim, o feirante

ou vendedor de rua.

A produção brasileira de castanha-do-brasil se manteve por volta das 30.000

toneladas até o ano de 2008, observando a partir de 2009 um salto para em torno das

40.000 toneladas anuais, apesar disso, a produção nos três principais estados produtores

(Amazonas, Acre e Pará) segue em constante mudança com algumas bruscas variações

no montante ofertado de um ano para o outro, o que se deve ao fato de o produto

extrativo ser totalmente dependente das condições da natureza para ser produzido.

Em relação à venda do produto nas feiras e ruas da cidade de Belém, os

principais pontos positivos foram: o preço, que nos locais pesquisados chega a ser 55%

mais barato do que outros estabelecimentos, como os supermercados e a renda média

mensal (R$ 1.314,82) obtida com a venda da castanha, mostrando que a atividade é

importante para a reprodução familiar destes agentes.

Já o principal ponto negativo foi a falta de estrutura na maioria dos locais

(apesar de a maioria dos entrevistados ter considerado o local adequado) que pode gerar

um impacto negativo ao cliente, além de sérios riscos à saúde que podem ser causados

pela contaminação da castanha quando do indevido manuseio do produto. Problemas

estes que mostram a falta de políticas públicas para o segmento e evidenciam uma

rápida tomada de decisão por parte dos agentes públicos.

2576 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

16

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Alvares, V. S.; Castro, I. M.; Costa, D. A.; Lima, A. C.; Madruga, A. L .S. (2012).

Qualidade da castanha-do-brasil do comércio de Rio Branco, Acre. Acta Amazonica.

Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/aa/v42n2/v42n2a13.pdf >. (acesso em: junho

de 2013).

Castrillón, A. L.; Purchio, A. (1988). Fungos contaminantes e produtores de aflatoxinas

em castanha-do-pará (Bertholletia excelsa HUMB. & BONPL 1808). Acta Amazonica.

Disponível em: < http://acta.inpa.gov.br/fasciculos/18-4/PDF/v18n4a12.pdf>. (acesso

em: junho de 2013)

Gomes, A. F.; Silva, J. S. F.; Santos, A. A.; Santana, W. G. P.; Santos, J. A. G. (2013).

Perfil socioeconômico de mulheres feirantes: um estudo no interior baiano. Disponível

em: <http://www.uesb.br/eventos/encontroadministracaopolitica/artigos/EAP052.pdf>.

(acesso em: julho de 2013).

Homma, A. K. O. (2012). Extrativismo vegetal ou plantio: qual opção para a

Amazônia?. Estudos Avançados. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/ea/v26n74/a12v26n74.pdf> (acesso em: março de 2013).

Homma, A. K. O. (2000). Cronologia da ocupação e destruição dos castanhais no

sudeste paraense, Embrapa Amazônia Oriental, Belém.

Medeiros, J. F. S. (2010). As feiras livres em Belém (PA): dimensão geográfica e

existência cotidiana. Dissertação de Mestrado em Geografia, Belém, Universidade

Federal do Pará.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2013). Produção da Extração

Vegetal e Silvicultura. Disponível em:

<ftp://ftp.ibge.gov.br/Producao_Agricola/Producao_da_Extracao_Vegetal_e_da_Silvicu

ltura_[anual]/2011/pevs2011.pdf> (acesso em: março de 2013).

Atas Proceedings | 2577

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

17

Secretaria Municipal de Economia – SECON (2013). Perfil do público consumidor de

feiras e mercados de Belém. Disponível em:

<http://ww3.belem.pa.gov.br/www/?p=8382> (acesso em: julho de 2013)

Tonini, H. (2007). Castanheira-do-brasil: uma espécie chave na promoção do

desenvolvimento com conservação, Embrapa Roraima, Boa Vista.

World Wildlife Fund – WWF (2013). Castanheira-do-Brasil: grandiosa e ameaçada.

Disponível em:

<http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/especiais/biodiversidade/especie_do_mes/f

evereiro_castanheira_do_brasil.cfm>. (acesso em: março de 2013).

2578 | ESADR 2013

Atas Proceedings | 2579 1

CRESCIMENTO ECONÔMICO E AS TRANSFORMAÇÕES

SOCIOESPACIAIS NA ÁREA DO CARAJÁS (AMAZÔNIA

BRASILEIRA)1

Profa. Dra. Ana Maria Aquino dos Anjos Ottati

Departamento de Economia Rural – Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) – Maranhão - Brasil

[email protected]

Prof. Dr. Benjamin Alvino de Mesquita Departamento de Economia – Universidade Federal do Maranhão (MA)-Maranhão -

Brasil. [email protected]

RESUMO: O artigo apresenta uma análise sobre o desenvolvimento/crescimento econômico da região do Projeto Grande Carajás (PGC) nos Estados do Maranhão e do Pará, com destaque aos municípios de Açailândia e Imperatriz (MA) e Marabá (PA). Buscou-se verificar as mudanças socioeconômicas que os “grandes projetos” voltados à extração mineral têm ocasionado nestas regiões, assim como, detectar a dinâmica dos diferentes setores e atividades econômicas existentes a partir da implantação destes projetos, com suas implicações socioeconômicas para o desenvolvimento local. Os resultados mostraram que a industrialização decorrente dos projetos derivados do Projeto Grande Carajás proporcionou um dinamismo econômico nas regiões analisadas, mas, por outro lado, pouco contribuiu para a geração de empregos, distribuição de renda e pela melhoria nas condições de vida da população, sendo que os resultados positivos foram concentrados e pontuais. Palavras-Chave: Crescimento Econômico; Transformação Socioespacial; Amazônia; Economia Local. ABSTRACT The study presents an analysis on the economical development of the Projeto Grande Carajás (PGC) in the States of Pará and Maranhão-Brazil, mainly in the Municipalities of Açailândia and Imperatriz in Maranhão, and Marabá in Pará. The aim of the study was to verify the social-economical impacts caused by the so-called mining extraction “large projects” in the region since its implementation, as well as to detect the dynamics of the different sectors and existing economical activities with their social-economical implications on the local development. The results showed that the industrialization brought about by the Projeto Grande Carajás provide an economic dynamism in the analyzed regions in the one hand, but contributed little in the other, for the creation of jobs, income distribution, and for improving the population life condition, whereas positive results were punctual and concentrated. Keywords: Economical Growth. Social-spatial Changes. Amazonia. Local Economy

1 O artigo baseia-se em resultados preliminares de um projeto financiado pela Fundação de Amparo a

Pesquisa do Maranhão (FAPEMA), realizado no âmbito da Universidade Federal do Maranhão (UFMA)/CNPq com o objetivo de acompanhar as consequências do avanço de grandes empreendimentos na Amazônia sobre a economia local.

2580 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

2

1 INTRODUÇÃO

Com a crise econômica generalizada dos anos trinta do século passado, o

padrão de acumulação capitalista baseado no liberalismo econômico e nas forças de

mercado que ditavam as regras e os rumos do crescimento econômico, perde fôlego e

seus alicerces sustentados na ortodoxia econômica desmoronam. Instala-se assim a mais

importante e conhecida crise do capital deste período recente e, com ela, a busca de

alternativa para salvar o capitalismo. A saída, como se sabe, passou pela intervenção do

Estado sob a forma de política econômica anticíclica ou como agente empreendedor de

grandes obras e do planejamento econômico, até então desqualificado e restrito à União

Soviética, porém, ganha relevância nos paraísos do capitalismo (America e Europa) e,

mais tarde, no período pós-guerra, se espalha aos países periféricos como panacéia aos

males do atraso, do subdesenvolvimento e persiste até no mundo inteiro até os anos de

1970, mas com a crise do petróleo, a inflação e o desemprego crescente nesta década,

este padrão dá sinais de esgotamento e o núcleo dinâmico do capitalismo se encarrega

de substituí-lo por outro mais flexível e compatível com o período de instabilidade,

registra-se então nos anos de 1980 a volta das forças de mercado e da presença do

Estado na economia, surgindo assim a política neoliberal, ou seja, saem o Estado ativo e

o planejamento econômico de longo prazo e entram o mercado, a política econômica

ortodoxa de curto prazo e todo o receituário dos organismos internacionais.

No Brasil, o modelo econômico de desenvolvimento segue um padrão comum

às áreas periféricas, ou seja, o de substituição de importação, onde a presença do Estado

assume uma relevância marcante e a industrialização torna-se o elemento dinamizador

e, o planejamento econômico, o principal instrumento de operacionalização desta

política. A intervenção do Estado entre 1930 e 1970 e a ação do capital, privilegiando

determinadas regiões (Sudeste) e setores (indústria) ocasionou mudanças importantes na

estrutura produtiva do país e gerou distorções ainda maiores entre as regiões periféricas

(Norte, Nordeste e Centro Oeste) e Sudeste. Uma vez revelada nos anos de 1970 esse

aprofundamento socioespacial, este mesmo Estado passa adotar uma política de

desenvolvimento regional pró-ativo no sentido de reverter esse quadro, assim, planos de

governo foram concebidos e implementados em nível nacional e regional para enfrentar

essa situação. O mais importante de todos eles é o II Plano Nacional de

Desenvolvimento (II PND) implementado entre 1976-1979, mas também se destacaram

Atas Proceedings | 2581

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

3

outras iniciativas ligadas às Superintendências do Desenvolvimento do Nordeste

(SUDENE) e da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM). No

Nordeste, o resultado mais importante desta atuação do Estado desenvolvimentista foi a

instalação de “grandes projetos”, com destaque ao Pólo de Camaçari na Bahia e na

Amazônia, o Projeto Grande Carajás.

Cabe ressaltar que quando se fala de “grandes projetos” de investimento na

Amazônia, estamos nos referindo a uma mega estrutura produtiva, poderosa política e

financeiramente, voltada à atividades extrativas, com concessões publicas e/ou

manufatureiras e que se caracterizam pela escala geométrica de produção, com

abrangência de atuação e controle de mercado onde se inseri, assim como, pela

barganha política /financeira que fazem na aquisição de concessão de direitos a longo

prazo sobre o território a ser explorado e de benesses fiscais para sua instalação . Aqui

também se ressalta que a lógica econômica é gerar excedentes exportáveis e obter

divisas, embora outras estejam articuladas a ela, como a de desenvolvimento local, de

integração nacional e a questão demográfica.

Neste sentido, a área do Projeto Grande Carajás (900 mil quilometro quadrado)

que engloba parte do Estado do Pará e do Maranhão, assume um papel estratégico para

a falida economia brasileira dos anos oitenta. Baseada em uma economia de enclave,

composta por medias e gigantescas unidades de produção instaladas a princípio nos

municípios de São Luis, Açailandia, Santa Inês (Maranhão), Barcarena, Marabá e

Parauperas (no Pará), transformou esses locais em verdadeira base de exportação de

recursos naturais. Estas áreas, nestes 30 anos de funcionamento do complexo mínero-

extrativo, passaram por inúmeras mudanças econômicas, sociais, demográficas e

ambientais importantes, porém, muito aquém daquilo que se esperava e o governo

prometia em termos de um desenvolvimento inclusivo, socialmente justo e

ambientalmente responsável. Naturalmente alguns aspectos chamam mais atenção do

que outros, como é o caso da crise urbana e ambiental que galga novos patamares não

só nos locais de intervenção direta, mas também nas suas cercanias, revelando assim, a

falta de compromisso com o desenvolvimento local destas grandes corporações que

lideram esse processo no Pará e Maranhão.

2582 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

4

2 AS TEORIAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO E AS DESIGUALDADES

REGIONAIS

Várias teorias contribuíram para a formação da base da análise regional.

Segundo Fochezatto (2010), as teorias de desenvolvimento regional mudaram ao longo

do tempo acompanhando as transformações estruturais da economia, e sua evolução

pode ser dividida em três períodos, formando três grupos bem distintos: o primeiro

grupo é composto pela teoria clássica da localização, o segundo grupo teve início na

década de 1950 e se estendeu até a década de 1980 e, o terceiro grupo de teorias é

formado pela produção mais recente em Economia Regional.

A teoria da localização evoluiu desde a publicação do trabalho de Von Thünen

em 1826 até o trabalho de Walter Isard em 1956 e segue a Teoria da Produção,

totalmente dentro da abordagem neoclássica da microeconomia, apresentava como

questão principal a localização das atividades produtivas dentro do espaço regional. Sua

base teórica traz elementos dos estudos que tentavam explicar a localização da empresa

com base na análise da distância, do custo de transporte e da localização do mercado,

mas tinha como principal base de análise para determinar a localização ótima da firma

os custos de transporte, já que não se preocupava com a demanda, pois considerava que

toda a produção seria vendida a preço de mercado.

Os esforços para combater a pobreza e as desigualdades regionais que minaram

e eram crescentes no mundo após a Segunda Guerra Mundial levaram à criação na

década de 1950 de várias outras teorias que procuravam explicar as causas e os

principais meios que seriam capazes de desencadear o desenvolvimento regional, assim

como pregavam a necessidade da intervenção do Estado para promover o

desenvolvimento. Neste grupo se destacaram: i) François Perroux (1955) com a Teoria

dos Pólos de Crescimento, onde traz a idéia de que o pólo de crescimento surge com

uma grande indústria motriz (ou propulsora), dita moderna da qual vão surgir outras

indústrias, formando um complexo industrial e, consequentemente, o desenvolvimento

da região; ii) Douglass C. North (1955), com a Teoria da Base de Exportação. Nesta

teoria, à medida que as regiões cresciam em torno de uma base de exportação, as

economias externas se desenvolviam e melhoravam a competitividade de seus produtos

exportáveis, assim como, surgimento automático das indústrias secundárias e terciárias,

Atas Proceedings | 2583

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

5

consequentemente, ocorreram o desenvolvimento de organizações especializadas de

comercialização, melhorias no crédito, nas instalações de transportes e na mão de obra.

iii) Gunnar Myrdal (1957), com a Teoria da Causação Circular Cumulativa. O autor

parte da existência das desigualdades entre países, assim como das desigualdades entre

as regiões de um mesmo país. O também defende a existência do “círculo vicioso” que

se manifesta na inter-relação causal e circular nos fatores ligados à questão do

desenvolvimento (pobreza, alimentação, saúde e capacidade de trabalho), ou seja,

menos pobreza, mais alimento, melhor saúde, mais alta capacidade de trabalho etc. (vice

versa) e; iv) Albert Hirschman (1958) com a Teoria do Desenvolvimento como uma

Cadeia de Desequilíbrio. Para este autor o desenvolvimento é um processo extenso,

durante o qual ocorrem encadeamentos para trás, para frente e em volta de uma empresa

provocando sequências e repercussões por muitas décadas, criando, assim, uma espécie

de “efeito completivo”, assim, esta teoria defende que o desenvolvimento é gerado a

partir de atividades com alto potencial de gerar encadeamentos, como por exemplo,

grandes projetos como hidrelétricas e siderúrgicas (Hirschman, 1961).

As produções mais recentes em Economia Regional utilizam as economias

externas de escalas para explicar a localização industrial. Os autores desse grupo foram

influenciados pelos dois grupos de teorias anteriores e nas suas abordagens buscam

alcançar o bem estar econômico, social e cultural da comunidade, dando ênfase às

potencialidades locais, à participação dos atores locais e à cooperação na comunidade

(Vázquez Barquero, 2001 & Cavalcante, 2002). Neste grupo ainda não existe um único

quadro teórico e nem de modelos de desenvolvimento, por isso, muitas vezes as

abordagens apresentam sobreposições de idéias.

3 O PROGRAMA GRANDE CARAJÁS, CRESCIMENTO ECONÔMICO E AS

MUDANÇAS SETORIAIS NA AMAZÔNIA.

O Programa Grande Carajás foi um grandioso projeto de investimento

concebido no Governo Geisel e, como outros do período (Itaipu, Jarí, Tucuruí e

Transamazônica), tinha o selo da megalomania. Sua operacionalização só ocorre em

2584 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

6

19802 com a implantação do Conselho Interministerial do Programa ligado diretamente

à Presidência da Republica, portanto já no governo Figueiredo. O Programa é fruto do

Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia (Polamazônia) criado

em 1974 com o objetivo de incentivar a implantação de projetos exportadores e

desenvolver a região Amazônica através da implantação de alguns pólos de

desenvolvimento, com maior destaque para a produção mineral, tanto que entre os pólos

estavam o de Carajás, Trombetas e Amapá (Monteiro, 2005). Assim, o PGC teve início

no final dos anos de 1970 e visava, através de incentivos fiscais e de investimento

diretos da estatal Vale do Rio Doce, atrair e implantar um conjunto de projetos de

grande escala e em diferentes atividades, como a mineração e a agropecuária, visando

industrializar a região e transformá-la numa base de exportação de commotidies

minerais. O montante original previsto para o projeto era de 62 bilhões de dólares que

viria de diferentes fontes internas e externas com formatos diferenciados na forma de

ajuda e empréstimo do governo, do Banco Mundial, bancos privados e de associações

intercapitalistas.

Inicialmente, o PGC abrangia três grandes linhas: a) serviços de infraestrutura,

com prioridades para a construção da Ferrovia Serra dos Carajás e instalação ou

implementação do sistema portuário e hidrelétrico; b) implantação de projetos nas as

áreas de pesquisa, prospecção, extração e beneficiamento do minério, agropecuária,

pesca, agroindústria, reflorestamento e beneficiamento e industrialização da madeira e

aproveitamento de fontes energéticas e; c) implantação de outros projetos econômicos

visando o desenvolvimento da região. Boa parte das propostas ficou no papel,

principalmente, as relacionadas ao setor agropecuário, entretanto, as do complexo

mínero-metalurgico decolaram rapidamente, estes foram de pronto atacados no Pará e

no Maranhão, tanto que ao PGC foi delegada a função de coordenar e executar as ações

de outros projetos já existentes na área, como o de Ferro Carajás, Albrás, Alunorte,

Alumar e a Usina de Tucuruí. No Maranhão, a Vale é responsável por dois

2 Apesar de o PGC ser realmente implantado na década de 1980, desde a década anterior o Brasil já realizava ações visando a exploração mineral no país. Uma dessas ações foi denominada de Projeto Radam Brasil (Radar da Amazônia), que tinha como objetivo mapear a Amazônia, principalmente realizar um levantamento dos recursos minerais e de aptidão dos solos. Desde a década de 1960, pesquisas mostraram a riqueza mineral da Serra dos Carajás, na qual existem jazidas de minério de ferro, ouro, estanho, bauxita (nome dado ao minério de alumínio), manganês, níquel e cobre.

Atas Proceedings | 2585

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

7

empreendimentos gigantescos, a Estrada de Ferro Carajás3 e o Porto de Ponta da

Madeira em São Luís, ambos servem para escoar a produção de minério vinda do Pará.

No Pará, a Vale é responsável pela mina de extração de minério na Serra dos Carajás,

município de Parauapebas e, em Barcarena, em consorcio com um grupo de empresas

multinacionais, implanta a Albras-Alunorte. Em 1985, com a inauguração da Estrada de

Ferro Carajás, inúmeros pequenos e médios projetos voltados à produção de ferro gusa,

de ferroligas e de silício metálico vão aparecendo no Pará (Marabá) e Maranhão (Santa

Inês, Açailandia, Itinga e Bacabeira).

Apesar dos mais de 30 anos do PGC e do o crescimento do PIB acima da media

nacional, a economia da Amazônia continua modesta e passando por profundas

mudanças. Atualmente, se destaca como área exportadora de commodities agrícolas, de

minerais, de produtos do extrativismo e de eletroeletrônica da Zona Franca de Manaus.

Quase todos esses setores sob o domínio de oligopólios que tiveram e, continuam tendo,

financiamento estatal para se instalarem e gerarem excedentes exportáveis.

Analisando os dados das contas regionais dos Estados da região Norte

apresentados na Tabela 1, observamos que há uma preponderância da participação da

economia do Pará e do Amazonas, assim como, percebe-se que ao longo dos anos

ocorrem pequenas diferenças para mais ou para menos dos percentuais dos setores

desses Estados, porém ocorrem grandes variações percentuais entre os setores e os

diferentes Estados, como, por exemplo, o setor industrial. Observando os valores

médios dos três setores nos anos demonstrados, se percebe também que as variações

foram pequenas, o que nos faz considerar certa estagnação de todos os setores e em

todos os Estados, apesar da maior inserção da economia ao comercio internacional.

Também observando os valores médios dos três setores, constatamos que o setor de

serviços é o mais representativo, seguido pela indústria e pela agricultura, essa tem

perdido sistematicamente posição na região, diferente do que ocorre no Brasil pelo fato 3 A Estrada de Ferro Carajás foi inaugurada em 1985 e é operada pela Companhia Vale. Sua extensão é de 892 km e liga a Serra dos Carajás/PA até o Porto de Ponta da Madeira/MA. Além de minério de ferro e manganês, os trens transportam madeira, cimento, bebidas, veículos, fertilizantes, combustíveis, produtos siderúrgicos e agrícolas, com destaque para a soja produzida no Sul do Maranhão, Piauí, Pará e Mato Grosso. Como ação social, a EFC serve também para o transporte de passageiros através do “Trem da Vale”, como é conhecido, ou Trem de Passageiros, destacando-se como um dos importantes meios de transporte entre as 25 localidades por onde passa dentro dos estados do Pará e do Maranhão, sendo 21 no Maranhão (12 municípios e 9 povoados) e quatro no Pará (3 municípios e 1 povoa do) .Municípios maranhenses: São Luís, Santa Rita, Miranda do Norte, Arari, Vitória do Mearim, Santa Inês, Alto Alegre do Pindaré, Buriticupu, Bom Jesus da Selva, Açailândia, Cidelândia e São Pedro da Água Branca. Municípios paraenses: Marabá, Parauapebas e Canaã dos Carajás.

2586 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

8

da mesma chegar até aumentar sua participação na economia. Na Amazônia isso parece

contraditório à medida que as atividades ligadas ao agronegócio têm aqui seu principal

palco de reprodução desde o final do século XX, além de ser também, um dos maiores

fornecedores de bens originários de recursos naturais de todo país. Assim, apesar do

poder político e econômico destes empreendimentos expressos pelo controle crescente

de imensas áreas na Amazônia, esses investimentos não foram suficientes para alterar

significativamente os setores onde atuam, seus efeitos são pontuais e residuais.

Tabela 1 – Valores percentuais da contribuição dos setores da economia nos Estados da região Norte do Brasil

SETOR ANO ESTADOS Valores

Médios/Ano (%)

AC (%)

AM (%)

AP (%)

PA (%)

RR (%)

RO (%)

TO (%)

Agropecuário 1995 19,0 3,5 5,3 15,0 8,0 16,0 30,0 13,8 2000 14,0 3,4 3,7 11,0 10,0 19,0 22,0 11,9 2005 20,0 5,0 3,2 9,0 8,0 21,0 22,0 12,6 2009 17,0 5,1 3,2 13,0 6,0 27,0 21,0 13,2

Indústria 1995 10,0 42,0 17,3 31,0 18,0 11,0 4,0 19,0 2000 9,3 40,0 13,0 28,0 10,0 12,0 13,0 17,9 2005 11,5 46,0 11,4 33,0 11,0 14,0 28,0 22,1 2009 12,7 41,5 9,2 29,0 13,0 12,0 23,0 20,0

Serviços 1995 71,0 55,0 77,0 55,0 74,0 74,0 66,0 67,4 2000 77,0 57,0 83,0 61,0 80,0 70,0 66,0 70,6 2005 68,5 50,0 85,0 58,0 81,0 66,0 51,0 65,7 2009 70,0 53,4 87,5 64,0 81,6 64,0 57,0 68,2

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2009).

No setor industrial, seja ele qual for à atividade examinada, a extrativa ou a

manufatura, o quadro não é nada alentador. Alguns Estados perdem posição ou estão

estagnados, ou seja, essa maior integração da Amazônia traduzida em exportações, não

aparece neste indicador de participação. O próprio impulso ocorrido nas monoculturas

do dendê e eucalipto, soja e na produção de carvão vegetal (matéria prima da produção

de ferro-gusa), também não alterou a tendência histórica da queda de participação do

setor agrícola no PIB regional, com exceção de Rondônia onde essa participação tem

aumentado. Nos demais Estados, a tendência é de declínio, apesar do propalado esforço

exportador do agronegócio.

Atas Proceedings | 2587

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

9

4 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O PERFIL SOCIOECONÔMICO NO

EIXO PRINCIPAL DA ESTRADA DE FERRO CARAJÁS

Os dados do Censo Demográfico de 2010 do Maranhão e do Pará mostram

como tem evoluído a população da área do Carajás neste período recente. De acordo

com a Tabela 2, o Maranhão com 6,5 milhões de habitante detém 3% da população

brasileira e 12% da nordestina. Observa-se que entre os anos de 1991, 2000 e 2010, o

crescimento absoluto da população do Estado e das áreas analisadas do Carajás foi

modesto e até decrescente, como no caso de Imperatriz. No caso do Pará, o ritmo é

outro, embora em 1991 tivesse população parecida com a do Maranhão, no intervalo de

20 anos, o Pará ganhou um milhão de pessoas a mais do que o Maranhão e, a

mesorregião analisada, ganhou três pontos percentuais neste intervalo. Com 7.581.051

habitantes, O Pará detém 4% da população brasileira e 48% da região Norte (IBGE,

2012a).

Tabela 2 – População estadual, da mesorregião e municípios. Maranhão e Pará. 1991, 2000 e 2010.

Estado, Mesorregião, Microrregião e

Município

1991 2000 2010 População Total População Total População Total

Absoluta Relativa (%) Absoluta Relativa

(%) Absoluta Relativa (%)

Maranhão 4.929.676 - 5.657.552 - 6.574.789 - Mesorregião Oeste

Maranhense 1.080.061 22 1.241.181 22 1.409.940 21

Microrregião de Imperatriz 456.193 9 510.196 9 566.866 9

Município de Açailândia 83.820 2 88.320 2 104.047 2

Município de Imperatriz 276.501 6 230.566 4 247.505 4

Pará 4.949.222 6.195.965 7.581.051 Mesorregião Sudeste

Paraense 889.413 18 1.192.640 19 1.647.514 22

Microrregião de Marabá 155.382 3 215.280 3 284.746 4

Município de Marabá 123.668 2 168.020 3 233.669 3 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2012).

Esses dados populacionais indicam que nas últimas décadas, a dinâmica

demográfica e econômica do Estado estão ligados com a presença dos complexos

minero-metalúrgicos que há nesta região. Em Marabá, a industria de ferro-gusa se

2588 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

10

somam a outras atividades que se estende entre os municípios de Canaã dos Carajás,

Ourilândia do Norte, Parauapebas e São Félix do Xingu, assim como também, da

presença de outros projetos de exploração mineral, tais como Projeto Rio Doce

Manganês, Projeto Igarapé-Bahia, Projeto Salobo, Projeto Serra-Sul e Projeto Serra do

Sossego, fato que nao se constat no entorno de açailandia.

Dados do PIB 2010 mostraram que 47,2% do PIB maranhense vêm dos

municípios de São Luís, Imperatriz e Açailândia, sendo que a contribuição individual

por município é de 39,6%, 4,7% e 2,9%, respectivamente. Estes dados comprovam que

a grande contribuição para a formação do PIB maranhense vem mesmo do município de

São Luís. Nas ultimas décadas a taxa de crescimento do PIB do Maranhão supera do

Brasil e também do Nordeste, mas em termos de PIB per capita o crescimento é

modesto, o que coloca o Estado entre os mais pobres da federação. Somando-se a isso,

os indicadores socioeconômicos mais recentes, como por exemplo, o IDH, são baixos, o

que coloca o Estado na última ou penúltima posição no ranking nacional.

Por outro lado, ao observar a Tabela 3 que mostra os valores percentuais das

contas municipais (PIB) por setor dos municípios mais impactados pelo PGC no

Maranhão (Imperatriz e Açailândia) e do Pará (Marabá), percebemos a pouca

representatividade econômica dos dois municípios maranhenses em 2010, apenas 7,6%

do PIB do Estado. Observa-se que a participação do PIB de Açailandia cresce até 2007,

quando atinge seu pico, depois decresce e em 2010 sua participação é inferior a 1999. O

município de Imperatriz manteve sua participação em torno de 5% com poucas

oscilações, já Marabá teve uma participação crescente, atinge um pico em 2007 (6,2%)

e em 2010 fica em 4,6% bem superior ao período inicial da serie 1999 (3,2%).

Setorialmente, nota-se que o setor de serviços é importante nos três municípios, mas

principalmente em Imperatriz, onde representa 2/3 do PIB de sua economia, mas em

Marabá e Açailandia a presença do setor industrial é marcante, cerca de 30% do PIB

municipal.

Além destes aspectos já apontados acima, o município de Açailandia, ao

contrario de Imperatriz e Marabá, tem um setor agropecuário bastante dinâmico

sustentado pela silvicultura e pela pecuária. Neste município, o crescimento deste setor

foi contínuo, saiu de 5,3% em 1999 para 11,9% em 2010, mas se considerarmos o ano

de 2007 a 2010, os valores apresentaram decréscimo, pois neste primeiro ano chegou a

Atas Proceedings | 2589

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

11

representar quase ¼ do seu PIB. Este setor tem se constituído no contraponto positivo

da economia local em função da queda de seis pontos percentuais do setor industrial nos

últimos quatro anos, porém devemos citar também a importância econômica da

produção de carvão vegetal de mata nativa para este município. Imperatriz embora seja

a cidade pólo do eixo Carajás, sua indústria é modesta e diversificada, não apresentando

nenhuma empresa ligada diretamente ao complexo minero-metalúrgico, as quais se

concentram no pólo siderúrgico de Pequiá em Açailandia e no município de Santa Inês,

também no Maranhão. O setor agropecuário também perdeu relevância, embora a

perspectiva com instalação da fábrica e celulose no seu municípios traga investimentos

massivos para a silvicultura, atividade que já foi importante no passado (década de 90)

devido as atividades da VALE nesta área. Imperatriz sempre foi o principal entreposto

comercial da região, a qual envolve municípios do Maranhão, Pará e Tocantins. No

cenário atual (sec. XXI), tornou um centro de serviço qualificado desta região e deverá

ampliar-se por contra deste mega empreendimento da fabrica de celulose da Suzano que

já se encontra em avançado estagio de instalação.

Tabela 3 – Participação percentual do PIB agropecuário, da indústria e dos serviços do município de Açailândia, Imperatriz e Marabá no PIB total do Estado

do Maranhão e do Pará. 1999 a 2010.

Ano

Açailândia Imperatriz Marabá

M/E1

(%)

Agro.

(%)

Ind.

(%)

Serv.

(%)

M/E1

(%)

Agro.

(%)

Ind.

(%)

Serv.

(%)

M/E1

(%)

Agro.

(%)

Ind.

(%)

Serv.

(%)

1999 3,5 5,3 30,7 54,7 5,0 1,1 14,5 74,9 3,2 3,6 23,6 63,1

2000 3,7 5,4 30,6 54,0 5,2 1,1 13,0 75,5 3,0 3,3 26,1 61,3

2001 3,9 6,9 30,9 51,1 5,1 1,2 12,9 74,1 3,7 2,9 21,1 63,3

2002 4,4 8,4 32,8 48,4 5,2 1,0 12,9 74,4 3,3 3,8 20,9 63,0

2003 4,7 8,4 38,5 43,8 5,0 1,4 14,2 73,0 4,0 3,4 23,0 59,8

2004 4,5 9,6 35,5 45,3 4,8 1,6 13,4 74,0 5,1 2,9 36,7 49,9

2005 4,5 10,7 33,2 46,1 5,1 2,0 12,9 74,6 5,3 3,3 34,3 50,0

2006 4,9 13,3 35,4 41,0 4,7 2,0 14,5 72,7 5,9 3,1 37,4 47,3

2007 5,7 24,1 29,5 37,2 4,9 6,4 14,9 68,1 6,2 2,3 32,4 52,1

2008 4,6 20,5 31,6 38,5 4,5 4,3 15,3 69,5 6,1 1,9 33,7 50,0

2009 3,3 13,5 24,2 51,9 5,0 2,1 13,4 73,9 5,3 1,9 26,0 56,7

2010 2,9 11,9 23,5 52,5 4,7 2,8 12,8 73,4 4,6 2,1 27,7 54,1

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2013a). 1 Participação percentual do PIB total do município no PIB estadual.

2590 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

12

Além destes aspectos já apontados acima, o município de Açailandia, ao

contrário de Imperatriz e Marabá, tem um setor agropecuário bastante dinâmico

sustentado pela silvicultura e pela pecuária. Neste município, o crescimento deste setor

foi contínuo, saiu de 5,3% em 1999 para 11,9% em 2010, mas se considerarmos o ano

de 2007 a 2010, os valores apresentaram decréscimo, pois neste primeiro ano chegou a

representar quase ¼ do seu PIB. Este setor tem se constituído no contraponto positivo

da economia local em função da queda de seis pontos percentuais do setor industrial nos

últimos quatro anos, porém devemos citar também a importância econômica da

produção de carvão vegetal de mata nativa para este município. Imperatriz embora seja

a cidade pólo do eixo Carajás, sua indústria é modesta e diversificada, não apresentando

nenhuma empresa ligada diretamente ao complexo mínero-metalúrgico, as quais se

concentram no pólo siderúrgico de Pequiá, em Açailandia, e no município de Santa

Inês, também no Maranhão. O setor agropecuário também perdeu relevância, embora a

perspectiva com instalação da fábrica e celulose no seu municípios traga investimentos

massivos para a silvicultura, atividade que já foi importante no passado (década de 90)

devido as atividades da VALE nesta área. Imperatriz sempre foi o principal entreposto

comercial da região, a qual envolve municípios do Maranhão, Pará e Tocantins. No

cenário atual (Sec. XXI), tornou um centro de serviço qualificado desta região e deverá

ampliar-se por contra deste mega empreendimento da fabrica de celulose da Suzano que

já se encontra em avançado estagio de instalação.

O PIB do Pará de forma semelhante a do Maranhão, nas ultimas década

cresceu acima da média regional, graça ao boom das exportações de commodities no

qual o Estado, junto com o Estado de Minas Gerais, tem participação majoritária. Na

estrutura econômica do município de Marabá, três fatos chamam a atenção: o declínio

da agropecuária enquanto setor, a grande representatividade do setor industrial e a

estagnação/decréscimo do setor serviço em termos de média regional.

Portanto, chamam a atenção os valores de dois indicadores importantes

relacionados ao crescimento econômico dos três municípios analisados: a concentração

de empreendimentos industriais, que no ano de 2010, ficaram acima da média de seus

respectivos Estados e, o valor do PIB per capita, que no mesmo ano foi de R$

12.517,81em Açailândia e de R$ 8.562,28 em Imperatriz, embora inferior ao anterior,

mostra-se superior ao do Maranhão que foi de R$ 68830,25. Já no município de

Atas Proceedings | 2591

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

13

Marabá, o PIB per capita era de R$ 15.427,12, mais que o dobro da média do Estado do

Pará que era de R$ 6.795,73 (IBGE, 2013a). Estes dados nos mostraram uma assimetria

na distribuição dos valores desta variável entre os municípios do Estado do Maranhão e

do Pará, fato que comprovou a grande variabilidade existente nos valores do PIB per

capita entre os municípios desses dois Estados brasileiros. Estes valores também

confirmaram a superioridade do PIB per capita dos municípios que apresentam uma

maior atividade industrial. Diante dos dados do PIB total e do PIB per capita dos

municípios analisados, pode-se afirmar que a introdução dos projetos de

desenvolvimento trouxe um maior dinamismo econômico para os municípios, fato que,

em parte, se adéqua às teorias de desenvolvimento que defendiam a industrialização e a

existência de uma base de exportação para promover o crescimento econômico de uma

região.

Outro fator econômico importante para análise dessas regiões é o

comportamento das exportações. Com o boom das commodities, decorrentes da

demanda chinesa, as exportações brasileiras têm dado saltos importantes,

particularmente no item de bens não elaborados, aqueles derivados da mera exploração

de recursos naturais, grãos e minérios, tendo a Amazônia assumido um papel relevante

neste sentido, com destaque para o Pará e Maranhão, onde a indústria extrativa e de

transformação desempenham funções cada vez mais importantes em suas balanças

comerciais. Os principais produtos não elaborados desta pauta são o minério de ferro, o

cobre, o manganês e os grãos de soja. Já os produtos ditos elaborados são representados

pelo ferro gusa, pelo alumínio e pela alumina.

Observando a pauta de exportação do Maranhão e do Pará, nota-se uma

extrema concentração da pauta e de destino, o que deixa tais economias numa situação

vulnerável e de alerta. Um exemplo foi o que aconteceu nos primeiros sinais da crise

econômica mundial de 2008 em que os compradores externos adiaram suas compras de

minério de ferro e gusa, cujo reflexo nos dois Estados se deu através da demissão de

dezenas de funcionários da VALE e das guseiras de Açailandia e de Marabá e, ainda,

ameaças de fechamento das portas caso os Governos não lhes dessem regalias fiscais.

Analisando ainda a economia dos Estados, destacamos o Cadastro Central de

Empresas publicado pelo IBGE para o ano de 2011 que se encontra na Tabela 4. A

análise comprovou o baixo número de empresas sediadas no Maranhão em relação ao

2592 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

14

total existente no país, apenas 1,3% (Tabela 3). Este número sobe para 8,1% se for

considerado o total de empresas sediadas no Nordeste. Se for observada a participação

do Maranhão no total do país por tipo de empresa, a situação ainda era pior, pois o

Estado representava somente 0,6% das empresas ligadas à agricultura, pecuária,

produção florestal, pesca e aquicultura; 0,8% das indústrias extrativas e 0,7% das

indústrias de transformação (IBGE, 2013b).

Tabela 4 – Caracterização dos tipos de empresas no Brasil, no Maranhão e nos

municípios de Açailândia e Imperatriz. 2011.

Tipo de Empresas

Total de Empresas no Brasil

Total de Empresas

no Maranhão

Empresas sediadas

no Maranhão em relação ao Brasil

(%)

Empresas Maranhenses

por Atividades

(%)

Empresas sediadas

no Município

de Açailândia

Empresas sediadas

no Município

de Imperatriz

Total 5.567.933 70.627 1,3 - 1.365 (1,9%)

6.077 (8,6%)

Agricultura, pecuária, produção

florestal, pesca e aqüicultura

130.265 831 0,6 1,2 72 (5,3)

66 (1,1%)

Indústrias extrativas 13.330 106 0,8 0,2 - 3

(0,05%) Indústrias de

transformação 463.568 3.206 0,7 4,5 109 (8,0)

383 (6,3%)

Outras Empresas 4.960.770 66.483 1,34 94,1 1.184

(86,4%) 5.625

92,5%) Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2013b).

Ao analisar as atividades das empresas sediadas no Estado do Maranhão,

observou-se que apenas 5,9% das empresas estavam no ramo da agropecuária, da

indústria extrativa e da indústria de transformação, ou seja, 1,2% das empresas estavam

ligadas à agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura; 0,2% eram

indústrias extrativas e 4,5% eram indústrias de transformação, assim, nada menos que

94,1% das empresas sediadas desempenhavam outras atividades4. Estes dados do

Maranhão confirmaram a incipiência das atividades ligadas à indústria na economia do

Estado.

Das empresas sediadas no Maranhão, 1,9% estão sediadas no município de

Açailândia e 8,6% estão no município de Imperatriz. Das empresas sediadas no

4 Outras atividades: infraestrutura, atividades administrativas e de serviços, artes, cultura organismos

internacionais e outras instituições extraterritoriais.

Atas Proceedings | 2593

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

15

município de Açailândia, 72 empresas (5,3%) estavam ligadas à agricultura, pecuária,

produção florestal, pesca e aquicultura e 109 (8,0%) estavam às indústrias de

transformação. Não foi registrado nenhuma empresa ligada às indústrias extrativas e, as

empresas que realizavam outras atividades, registraram um percentual de 86,4% do total

do município. No município de Imperatriz, os dados registraram 66 empresas (1,1%)

estavam ligadas à agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aqüicultura, apenas 3

empresa (0.05%) estavam ligadas às indústrias extrativas, todas concentram suas

atividades na extração de minérios não-metálicos e, 383 (6,3%) estavam ligadas às

indústrias de transformação. Outras atividades eram realizadas por 92,5% das empresas

registradas no município. Das 51 empresas de metalurgia existentes no Maranhão, 9

estão sediadas em açailândia e uma em Imperatriz.

Fazendo a mesma análise sobre o Cadastro Central de Empresas para o Estado

do Pará e para o município de Marabá, comprovou o baixo número de empresas

sediadas neste Estado em relação ao total existente no país, apenas 1,4%, praticamente

igual ao valor encontrado para o Maranhão (Tabela 5). Este número sobe para 38,5% se

for considerado o total de empresas sediadas na região Norte, comprovando a

importância econômica deste Estado para esta região. Também observando a

participação do Pará no total das empresas do país por tipo de empresa, a situação

apresenta-se melhor do que a participação do Maranhão, mas também é muito baixa, no

total das empresas 0,9% estão ligadas à agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e

aquicultura; 1,7% estão ligadas às indústrias extrativas e 1,1% estão ligadas às

indústrias de transformação.

Ao analisar as atividades das empresas sediadas no Estado do Pará, observou-

se que 1,6% das empresas estavam ligadas à agricultura, pecuária, produção florestal,

pesca e aquicultura; 0,3% eram indústrias extrativas e 6,7% eram indústrias de

transformação, juntas, a agropecuária, a indústria extrativa e a indústria de

transformação somavam 8,6% das empresas, portanto, as outras atividades somavam

91,4% do total das empresas. Das empresas sediadas no Pará, 4,7% estão no município

de Marabá. Destas, 30 empresas (0,8%) estavam ligadas à agricultura, pecuária,

produção florestal, pesca e aquicultura; 17 (0,5%) eram indústrias extrativas, sendo que

oito destas estavam ligadas à extração de minerais metálicos e, as indústrias de

transformação somavam 239 (6,6%), destas, 17 estavam ligadas à siderurgia.

2594 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

16

Tabela 5 – Caracterização dos tipos de empresas no Brasil, no Pará e no município de Marabá. 2011.

Tipo de Empresas

Total de Empresas no Brasil

Total de Empresas no Pará

Empresas sediadas no Pará

em relação ao Brasil

(%)

Empresas Paraenses

por Atividades

(%)

Empresas sediadas

no Município de Marabá

(%) Total 5.567.933 76.909 1,4 - 3.640

Agricultura, pecuária, produção

florestal, pesca e aqüicultura

130.265 1.196 0,9 1,6 30 (0,8%)

Indústrias extrativas 13.330 227 1,7 0,3 17

(0,5%) Indústrias de

transformação 463.568 5.187 1,1 6,7 239 (6,6%)

Outras Empresas 4.960.770 70.299 1,42 91,4 3.354

(92,1) Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2013b).

Ao Observar os dados sobre as empresas maranhenses ligadas às atividades da

agropecuária, indústria extrativa e indústria de transformação e dos valores do PIB,

constatou-se a superioridade dos municípios de São Luís, Açailândia e Imperatriz, assim

como a importância do município de Marabá para a economia paraense, o que nos fez

admitir que em se tratando de dinamismo econômico, sem sombra de dúvida, as

atividades ligadas ao Programa Grande Carajás teve sua relevância. Segundo Mesquita

(2008), houve uma mudança no perfil produtivo do Maranhão a partir da chegada do

Projeto Carajás através da substituição da sua base industrial, até então fundamentada

na produção de alimentos, bebidas, higiene e limpeza de caráter familiar voltada ao

consumo interno e pouca qualificação de mão de obra, por uma indústria caracterizada

por empresas de médio e grande porte, fundamentada, principalmente, na produção de

ferro, manganês e alumínio voltada para o mercado externo e com uso intensivo de

capital.

Porém, considerando também o reduzido número de empresas presentes no

Maranhão e no Pará, cabe também destacar que nem o minério de ferro e nem o

alumínio, apesar de contribuírem para o crescimento econômico dos dois Estados, não

atraíram outros elos da cadeia de produção. Poucas foram as empresas que surgiram a

partir da implantação dos grandes projetos nestas áreas, a mais importantes delas no

Maranhão, foram as ligadas à produção de ferro gusa concentradas no município de

Atas Proceedings | 2595

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

17

Açailândia, provocando sérios problemas ambientais e sociais na região. A

transformação provocada pelas commodities ainda é muito pequena diante da produção

existente. Dessa forma, o que fica de bônus nos municípios e nos Estados são os

problemas sociais e ambientais, já que os incentivos fiscais fizeram parte do jogo de

atração das empresas para essas regiões e os empregos gerados foram bem menores do

que os prometidos. Reafirmando parte das conclusões acima, Mesquita (2011) em seu

estudo sobre a economia maranhense, colocou que a década de 1980 representou um

marco na economia do Maranhão, pois rompeu com um padrão de desenvolvimento

baseado nas atividades primárias e entra num padrão com base em grandes empresas

capitalistas impulsionadas pelo Programa Grande Carajás. Contudo, o resultado nos dias

atuais mostra uma economia modesta e insignificante e que continua ser um Estado

mero exportador de matéria-prima, antes o arroz, hoje, a soja e minérios.

Para comprovar ainda mais o fraco efeito propulsor do Projeto Carajás no que

se refere ao crescimento no número de empregos e geração de renda, basta comparar os

dados do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal calculados para o ano de 2000 e

2010 para os Estados do Maranhão e do Pará. Os dados comprovam que o índice

consolidado para os dois Estados, assim como, o índice nas áreas de desenvolvimento

ligadas à saúde e à educação, apresentaram melhorias no seu desenvolvimento neste

intervalo de dez anos, passando de um desenvolvimento regular (0,4 a 0,6) para o

desenvolvimento moderado (0,6 a 0,8) ou, no caso da saúde no Pará, permaneceu com

um desenvolvimento moderado. Mas analisando a área de emprego e renda, observou-se

que esta apresentou um desenvolvimento regular para os dois anos, o que comprova que

os investimentos dos Estados em grandes projetos desenvolvimento não resultaram na

criação e melhoria no número de empregos e na geração de renda capazes de mudar a

realidade dos Estados como um todo por este meio, o que nos leva a afirmar que a

melhoria registrada nas outras áreas está ligada a outros fatores, possivelmente a

programas do Governo Federal nas referidas áreas. Reafirmando a constatação anterior,

a pior situação é encontrada quando se analisa a área de emprego e renda dos

municípios de Açailândia e Imperatriz onde encontram-se grandes investimentos que

fazem parte do Programa Carajás. Neste intervalo de dez anos nada mudou nesta área,

ambos permaneceram com o desenvolvimento regular. Já o município de Marabá

2596 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

18

apresentou melhorias nesta área. Passou de um desenvolvimento regular em 2000 para

um desenvolvimento moderado em 2010 (IFDM, 2008 & IFDM, 2012).

Por fim, é importante analisar o índice de pobreza dos Estados e dos

municípios foco do trabalho. Em 2003, a incidência de pobreza do Maranhão era de

56,4% e do Pará era de 43,1%. Nos municípios de Açailândia, Imperatriz e Marabá era

de 58,7%, 55,3% e 42,7%, respectivamente (IBGE, 2003). Em 2009, 108 municípios

(49,8%) no Maranhão e 16 municípios (11,2%) no Pará vivem abaixo da linha de

pobreza. Nos municípios de Açailândia, Imperatriz e Marabá a população que vive nesta

mesma condição é de 31,9%, 34,4 e 29,7%, respectivamente (BREMAEKER, 2010).

Constataram-se os decréscimos nos percentuais de pobreza nos Estados e nos

municípios, mas, mesmo assim, ainda permanecem altos, o que comprova mais uma vez

que ocorreu uma concentração muito grande da riqueza gerada pelos “grandes projetos”

de desenvolvimento existentes nestes dois Estados

5 Considerações Finais

Diante do exposto, cabe buscar se há uma relação das estratégias implantadas

no Oeste do Maranhão e no Sudeste do Pará para promover o desenvolvimento através

do Projeto Grande Carajás e as teorias que ao longo dos anos foram sendo elaboradas e

utilizadas para promover e explicar o desenvolvimento.

A análise evidenciou que a industrialização decorrente dos projetos derivados

do Projeto Grande Carajás, baseado em economia de enclave, tais como as existentes

nos Estados e, mais especificamente, nos municípios analisados, pouco fez pela geração

de emprego, distribuição de renda e pela melhoria nas condições de vida da maioria da

população. Portanto, podemos concluir que tais resultados ocorreram porque os efeitos a

montante e a jusante destes projetos não aconteceram como a teoria de concepção de

tais projetos advogava, pois ao longo dos anos criou-se uma expectativa de que as

atividades mínero-metalúrgicas fossem impulsionadoras de desenvolvimento

local/regional através do aparecimento de uma vasta rede de relações sociais, mercantis

e não-mercantis. Para Monteiro (2005), as dificuldades não se encontram somente na

limitada capacidade de estabelecer encadeamentos produtivos, mas, sobretudo, na

Atas Proceedings | 2597

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

19

dependência externa de tecnologias, de inovação e de organização que as empresas têm

das dinâmicas extraregionais. A confirmação deste fato pode ser feita pela cadeia da

indústria de mineração e siderurgia formada no município de Açailândia, que envolve o

surgimento de gusarias para a produção do ferro gusa movidas pelo carvão vegetal, que

por sua vez, incentivou a ocupação de grandes áreas na região pelo plantio do eucalipto.

Várias análises realizadas no município, comprovam que essas atividades têm

promovido mais problemas ambientais e sociais na região que o desenvolvimento.

Portanto, não se pode enquadrar o Maranhão e o Pará nos pressupostos da

teoria idealizada por Perroux (1955), Hischman (1961) e North (1955), as quais

defendiam que o desenvolvimento seria alcançado através da implantação da indústria

motriz, de grandes empresas com alta capacidade de gerar encadeamentos como, por

exemplo, uma siderúrgica e da base de exportação. A única teoria que poderia se

encaixar à realidade maranhense e paraense é a da Causação Circular e Acumulativa de

Myrdal (1957), pois nesses Estados existem um círculo formado pela pobreza,

subnutrição, carência na educação e na saúde, baixa qualificação da mão de obra,

desemprego/subemprego e baixa renda, dessa forma, retornando-se à pobreza. Estes

Estados ao longo dos anos não atacaram seus principais gargalos para alcançar o

desenvolvimento dos seus municípios, pois continua mascarando a pobreza, a educação,

a saúde, a baixa renda per capita, o desemprego etc. com a promessa de um

desenvolvimento que chegará com a implantação de grandes projetos, cujo resultado foi

o agravamento e a permanência da grande maioria da população à margem do

desenvolvimento.

O certo é que a atividade minero-metalúrgica em todos os estudos realizados

na Amazônia mostram a relação conflitante entre Estado, empresas e a população

nativa. De modo geral, os resultados econômicos, sociais e ambientais são iguais aos

descritos nesta análise, mas que sinteticamente foi tão bem colocado por Wanderley

(200-, p. 20) quando ele diz que “o modelo capitalista explorador legou às populações

amazônicas o ônus do progresso, o subdesenvolvimento, a submissão, a pobreza e a

exploração do trabalho”.

2598 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

20

6 Referências Bibliográficas

BREMAEKER, François E. J. de. (2007). A pobreza em nível municipal. Estudo Técnico 99. (documento online http://www.oim.tmunicipal.org.br/abre_documento.cfm?arquivo=_repositorio/_oim/_documentos/F597E448-92A3-E540-C16935B3135811B522022010091237.pdf&i=970). CAVALCANTE, Luiz Ricardo M. Teixeira. (2002). Produção teórica em economia regional: uma proposta de sistematização. (documento online http://www.desenbahia.ba.gov.br/uploads/0906201115360781_Producao_Teorica_.pdf) FOCHEZATTO, Adelar. (2010). Desenvolvimento regional: novas abordagens para novos paradigmas produtivos. (documento online http://www.fee.tche.br/3-decadas/downloads/volume1/5/adelar-fochezatto.pdf). HIRSCHMAN, Albert O. (1961) Estratégia do desenvolvimento econômico, Rio de Janeiro, Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2003). Mapa da pobreza e desigualdade – municípios brasileiros. (documento online http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=ma&tema=mapapobreza2003). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2009). Contas regionais. (documento online http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/contasregionais/2009/defaultrepond_zip.shtm). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2012) Censo Demográfico 2010. (documento online http://www.sidra.ibge.gov.br/cd/cd2010universo.asp?o=5&i=P). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2013a). PIB dos municípios. (documento online http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/pibmunicipios/2010/default_base.shtm). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2013b). Cadastro Central das Empresas ano 2011. (documento online http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/pibmunicipios/2010/default_base.shtm Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal: ano base 2000 e 2010. (2013). (documento online http://www.firjan.org.br/ifdm/). MESQUITA, Benjamin Alvino de. (2008). Desenvolvimento recente do Maranhão: uma análise do crescimento do PIB e perspectivas. (documento online http://www.imesc.ma.gov.br/index.php).

Atas Proceedings | 2599

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

21

MESQUITA, Benjamin Alvino de. (2011). Notas sobre a dinâmica econômica recente em área periférica: as mudanças na estrutura produtiva do Maranhão. (documento online http://www.ipea.gov.br/code/chamada2011/pdf/area4/area4-artigo33.pdf). MONTEIRO, Maurílio de Abreu. (2005). Meio século de mineração industrial na Amazônia e suas implicações para o desenvolvimento regional. Estudos Avançado, 19 (53), 187-207. MYRDAL, Gunnar. (1972). Teoria econômica e regiões subdesenvolvidas, Rio de Janeiro, Brasil. NORTH, Douglass. (1955). Location theory and regional economic growth. Journal of Political Economy, 63 (3), 243-58. PERROUX, François. (1977). O conceito de pólo de crescimento. In: SCHWARTZMAN, Jacques (Org.). Economia regional: textos escolhidos. CEDEPLAR/CETREDE – MINTER, Belo Horizonte, 145-156. VÁZQUEZ BARQUERO, Antonio. (2001). Desenvolvimento endógeno em tempos de globalização, Porto Alegre, Brasil. WANDERLEY, Luiz Jardim de Moraes. (200-). O grande projeto minerador e seus impactos territoriais de localização: o caso da MRN em Oriximiná-PA. (documento online http://www.idesp.pa.gov.br/pdf/cachoeiraPorteira/OCasoMRN.pdf).

2600 | ESADR 2013

Atas Proceedings | 2601

11

NNOOVVAASS DDIINNÂÂMMIICCAASS PPRROODDUUTTIIVVAASS NNOO EESSTTAADDOO DDOO PPAARRÁÁ EE

PPRROODDUUÇÇÃÃOO DDEE DDEESSIIGGUUAALLDDAADDEESS SSOOCCIIAAIISS:: NNOOTTAASS PPAARRAA OO

DDEEBBAATTEE

AUTORES:

ALUÍZIO LINS LEAL. Profissão: Economista Vínculo Institucional:Professor da Faculdade de Ciências Econômicas/FACECOM/UFPA. Título Acadêmico: Doutor. Endereço: Av. Gentil Bittencourt, 1450, Bloco A, Apto 401, Bairro: Nazaré, Belém/Pa. Telefone: (91) 9991-9111 E.Mail: [email protected]

MARIA ELVIRA ROCHA DE SÁ. Profissão: Assistente Social. Vínculo Institucional: Professora Associada III da Faculdade de Serviço Social/FASS/UFPA e do Programa de Pós Graduação em Serviço Social/PPGSS/UFPA. Título Acadêmico: Doutora em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Endereço: Travessa Alenquer, 131 – Cidade Velha – Belém/PA – CEP 66020-020 Telefone: (91)3223-0336 res.; (91)8139-4283 e (91)3201-8568 (UFPA) E.Mail: [email protected]; [email protected]

NÁDIA SOCORRO FIALHO NASCIMENTO. Profissão: Assistente Social. Vínculo Institucional: Professora da Faculdade de Serviço Social/FASS/UFPA e do Programa de Pós Graduação em Serviço Social/PPGSS/UFPA. Título Acadêmico: Doutora. Endereço: Avenida Dezesseis de Novembro, 528/105, Edifício Victor IV, Bairro: Cidade Velha, Belém/Pará, CEP: 66.023-220. Telefone: (91) 3201-7716 e (91) 9977-3152. E.Mail: [email protected] e [email protected].

WELSON DE SOUSA CARDOSO. Profissão: Estatístico. Vínculo Institucional: Professor do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas/ICSA/UFPA. Título Acadêmico: Mestre em Serviço Social pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Endereço: Rua Ferreira Pena, 42 bairro Umarizal, Belém/Pará, CEP: 66.050-140 Telefone: (91) 3225-5151, (91) 8146-9098, (91)3201-8568 (UFPA) EE..MMaaiill:: CCaarrddoossoo@@uuffppaa..bbrr ee ccaarrddoossooww55@@ggmmaaiill..ccoomm

2602 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

22

RREESSUUMMOO:: EEssttee ttrraabbaallhhoo aabboorrddaa aa iinntteennssiiffiiccaaççããoo ddaa eexxpplloorraaççããoo ddoo ccaappiittaall ssoobbrree aa AAmmaazzôônniiaa bbrraassiilleeiirraa eemm ffuunnççããoo ddaa pprreesseennççaa nneellaa ddee rreeccuurrssooss nnaattuurraaiiss iimmpprreesscciinnddíívveeiiss aaoo pprroocceessssoo pprroodduuttiivvoo ccaappiittaalliissttaa.. OObbjjeettiivvaa ddeemmoonnssttrraarr ccoommoo aa pprroodduuççããoo ddee rriiqquueezzaa –– ppeellaa vviiaa ddaa iimmppllaannttaaççããoo ddee ggrraannddeess pprroojjeettooss eeccoonnôômmiiccooss nnaa rreeggiiããoo --,, tteemm pprroodduuzziiddoo ddeessiigguuaallddaaddeess ssoocciiaaiiss aa ppaarrttiirr ddaa eexxpprroopprriiaaççããoo ddoo hhoommeemm ee ddaa eexxpplloorraaççããoo ddaa nnaattuurreezzaa.. BBuussccaa aaiinnddaa ddiissccuuttiirr ccoommoo aass eessttrraattééggiiaass ddee ccoonntteennççããoo ddaa ccrriissee ccaappiittaalliissttaa iimmppaaccttaamm ddee ddiiffeerreenntteess ffoorrmmaass ooss ppaaíísseess ddee ccaappiittaalliissmmoo cceennttrraall ee aaqquueelleess ddee ccaappiittaalliissmmoo ppeerriifféérriiccoo.. AAooss rreessuullttaaddooss hhiissttóórriiccooss ddaa pprreesseennççaa ddoo ggrraannddee ccaappiittaall nnaa AAmmaazzôônniiaa bbrraassiilleeiirraa,, jjuunnttaamm--ssee aaggoorraa nnoovvooss pprroocceessssooss eemm ffuunnççããoo ddee nnoovvaass ddiinnââmmiiccaass pprroodduuttiivvaass qquuee iinnvvaaddiirraamm oo eessppaaççoo aammaazzôônniiccoo,, eessppeecciiaallmmeennttee aa ccuullttuurraa ddaa ssoojjaa.. OO eessttuuddoo ttoommoouu ccoommoo llóóccuuss pprriivviilleeggiiaaddoo oo eessttaaddoo ddoo PPaarráá –– llooccaalliizzaaddoo nnaa rreeggiiããoo aammaazzôônniiccaa --,, qquuee ppaassssoouu aa sseeddiiaarr,, eessppeecciiaallmmeennttee aa ppaarrttiirr ddaa ddééccaaddaa ddee 11997700,, ggrraannddeess eemmpprreeeennddiimmeennttooss eeccoonnôômmiiccooss,, pprroodduuzziinnddoo pprrooffuunnddaass aalltteerraaççõõeess eemm sseeuuss aassppeeccttooss aammbbiieennttaaiiss,, eeccoonnôômmiiccooss,, ssoocciiaaiiss ee ccuullttuurraaiiss.. AAlléémm ddaa PPeessqquuiissaa BBiibblliiooggrrááffiiccaa,, ffooii uuttiilliizzaaddaa PPeessqquuiissaa DDooccuummeennttaall eemm óórrggããooss ppúúbblliiccooss ee pprriivvaaddooss,, aa qquuaall iinnddiiccoouu qquuee àà pprroodduuççããoo ddee rriiqquueezzaa nnaa rreeggiiããoo,, eexxpprreessssaa nnoo ccrreesscciimmeennttoo ddoo PPIIBB ppaarraaeennssee,, tteemm ccoorrrreessppoonnddiiddoo bbaaiixxooss iinnddiiccaaddoorreess ssoocciiaaiiss,, ccoommoo aaqquueelleess iinnddiiccaaddooss ppeelloo IIDDHH..

PPaallaavvrraass--CChhaavvee:: AAmmaazzôônniiaa,, GGrraannddeess EEmmpprreeeennddiimmeennttooss EEccoonnôômmiiccooss,, NNoovvaass DDiinnââmmiiccaass PPrroodduuttiivvaass,, IInnddiiccaaddoorreess SSoocciiaaiiss,, DDeessiigguuaallddaaddeess SSoocciiaaiiss..

Atas Proceedings | 2603

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

33

IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO

OO hhiissttóórriiccoo pprriivviilleeggiiaammeennttoo ddoo ccrreesscciimmeennttoo eeccoonnôômmiiccoo eemm ddeettrriimmeennttoo ddee

uumm ““ddeesseennvvoollvviimmeennttoo ssoocciiaall”” tteemm ggeerraaddoo uumm ppeerrmmaanneennttee qquuaaddrroo ddee ddeessiigguuaallddaaddeess

ssoocciiaaiiss qquuee aattiinnggee,, ccoomm mmaaiioorr iinntteennssiiddaaddee,, ooss ppaaíísseess ddee ccaappiittaalliissmmoo ppeerriifféérriiccoo.. PPaaíísseess

ccoommoo oo BBrraassiill,, hhiissttoorriiccaammeennttee ssuubboorrddiinnaaddooss aaoo mmeerrccaaddoo mmuunnddiiaall,, ttêêmm mmaannttiiddoo eelleevvaaddooss

íínnddiicceess ddee ddeessiigguuaallddaaddeess ssoocciiaaiiss -- ccuujjaa rraaiizz ssee eennccoonnttrraa nnaa aapprroopprriiaaççããoo pprriivvaaddaa ddaass

rriiqquueezzaass pprroodduuzziiddaass ssoocciiaallmmeennttee --,, ee ssee eexxpprreessssaamm aattrraavvééss ddee iinnúúmmeerraass ddeemmaannddaass ppoorr

ssaaúúddee,, eedduuccaaççããoo,, ttrraabbaallhhoo,, ssaanneeaammeennttoo,, hhaabbiittaaççããoo,, eettcc..

AAppeessaarr ddoo BBrraassiill ffaazzeerr ppaarrttee hhoojjee ddee uumm rreessttrriittoo ggrruuppoo ddee ppaaíísseess ccoomm

ggrraannddeess ppeerrssppeeccttiivvaass ddee ccrreesscciimmeennttoo eeccoonnôômmiiccoo11,, éé ffaattoo qquuee oo ppaaííss nnããoo ffooii eeffiiccaazz nnaa

iimmpplleemmeennttaaççããoo ddee mmeeccaanniissmmooss rreeddiissttrriibbuuttiivvooss.. OOss ddaaddooss ddaa PPeessqquuiissaa NNaacciioonnaall ppoorr

AAmmoossttrraa ddee DDoommiiccíílliioo//PPNNAADD ((22000099)),, rreeffeerreenntteess àà ccllaassssee ddee rreennddiimmeennttooss iinnddiiccaamm qquuee

qquuaannttoo mmeennoorr oo rreennddiimmeennttoo mmééddiioo,, mmeennoorr oo nnúúmmeerroo ddee ddoommiiccíílliiooss qquuee ppoossssuueemm

ccoonnddiiççõõeess aaddeeqquuaaddaass ddee ssaanneeaammeennttoo,, qquuee iinnddiiccaamm uummaa mmoorraaddiiaa ddiiggnnaa.. AAssssiimm éé qquuee nnaa

ccllaassssee ddee rreennddiimmeennttooss mmééddiiooss ddee aattéé ½½ ssaalláárriioo mmíínniimmoo ppeerr ccaappiittaa,, aappeennaass 4411,,33%% ppoossssuuii

sseerrvviiççooss ddee ssaanneeaammeennttoo aaddeeqquuaaddooss,, eennqquuaannttoo nnaa ccllaassssee ddee rreennddiimmeennttooss aacciimmaa ddee 22

ssaalláárriiooss mmíínniimmooss ppeerr ccaappiittaa,, eessssee nnúúmmeerroo ssoobbee ppaarraa 7777,,55%% ddooss ddoommiiccíílliiooss..

AAss eessttrraattééggiiaass ddee ccoonntteennççããoo ddaa mmaaiiss rreecceennttee ccrriissee ccaappiittaalliissttaa –– jjáá nnoo iinníícciioo

ddoo ssééccuulloo XXXXII --,, iinntteennssiiffiiccaarraamm aa eexxpplloorraaççããoo ddaa ffoorrççaa ddee ttrraabbaallhhoo ee ddooss rreeccuurrssooss ddaa

nnaattuurreezzaa,, eelleemmeennttooss eesssseenncciiaaiiss aaoo pprroocceessssoo pprroodduuttiivvoo.. EEnnqquuaannttoo nnoo pprriimmeeiirroo ccaassoo tteemm--

ssee oo aaggrraavvaammeennttoo ddaass ccoonnddiiççõõeess ddee ttrraabbaallhhoo ddaa ccllaassssee ttrraabbaallhhaaddoorraa –– ccoomm aacceennttuuaaddoo

pprroocceessssoo ddee pprreeccaarriizzaaççããoo,, ddeesseemmpprreeggoo eessttrruuttuurraall ee fflleexxiibbiilliizzaaççããoo ddaass rreellaaççõõeess

ttrraabbaallhhiissttaass --,, nnoo sseegguunnddoo ccaassoo tteemm--ssee oo aaggrraavvaammeennttoo ddaa ddeessttrruuiiççããoo ddaa nnaattuurreezzaa,,

eessppeecciiaallmmeennttee nnooss ppaaíísseess ee//oouu rreeggiiõõeess oonnddee eellaa éé mmaaiiss rriiccaa ee aabbuunnddaannttee..

EEssssee éé oo ccaassoo ddoo BBrraassiill ee nneellee,, ccoommoo eessppaaççoo pprriivviilleeggiiaaddoo ddee eexxpplloorraaççããoo ddaa

nnaattuurreezzaa,, tteemm--ssee aa rreeggiiããoo aammaazzôônniiccaa,, oonnddee oo EEssttaaddoo ccaappiittaalliissttaa tteemm ggaarraannttiiddoo ooss mmeeiiooss

nneecceessssáárriiooss ttaannttoo àà rreepprroodduuççããoo ddoo ccaappiittaall qquuaannttoo ddaa ffoorrççaa ddee ttrraabbaallhhoo aassssaallaarriiaaddaa.. AA

iinntteerrvveennççããoo ddoo EEssttaaddoo tteemm sseegguuiiddoo oo mmooddeelloo ddee ooccuuppaaççããoo ddaa AAmmaazzôônniiaa aa ppaarrttiirr ddoo uussoo

ddoo tteerrrriittóórriioo ccoommoo bbaassee ee iinnssttrruummeennttoo ddee ddeesseennvvoollvviimmeennttoo rreeggiioonnaall,, aa ppaarrttiirr ddooss pprroojjeettooss

eeccoonnôômmiiccooss iimmppllaannttaaddooss.. 11 EEssttuuddooss ddoo BBaannccoo AAssiiááttiiccoo ddee DDeesseennvvoollvviimmeennttoo,, ppuubblliiccaaddooss nnoo jjoorrnnaall AA FFoollhhaa ddee SSããoo PPaauulloo,, ccoollooccaamm oo BBrraassiill eennttrree ooss 1100 ((ddeezz)) ppaaíísseess eemmeerrggeenntteess ccoomm mmaaiioorr ccaappaacciiddaaddee ddee aacceelleerraarr sseeuu rriittmmoo ddee ccrreesscciimmeennttoo ee ssee ddeesseennvvoollvveerr,, ffiiccaannddoo aattrrááss aappeennaass ddaa CChhiinnaa,, ÍÍnnddiiaa,, PPoollôônniiaa,, TTaaiillâânnddiiaa ee MMééxxiiccoo..

2604 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

44

NNoo tteerrrriittóórriioo aammaazzôônniiccoo ddeessttaaccaa--ssee oo eessttaaddoo ddoo PPaarráá,, ccoommoo llooccuuss ddaa

iimmppllaannttaaççããoo ddee eemmpprreeeennddiimmeennttoo ddiivveerrssooss ccoommoo ggrraannddeess pprroojjeettooss ((eessppeecciiaallmmeennttee ooss

mmíínneerroo--mmeettaallúúrrggiiccooss)),, ggrraannddeess iinntteerrvveennççõõeess ddoo ppooddeerr ppúúbblliiccoo ((ccoommoo hhiiddrrooeellééttrriiccaass,,

rrooddoovviiaass ee eessttrraaddaass ffeeddeerraaiiss ee eessttaadduuaaiiss)),, ggrraannddeess pprroojjeettooss aaggrrooeexxppoorrttaaddoorreess ((ccoommoo aa

mmoonnooccuullttuurraa ddaa ssoojjaa,, ddoo ddeennddêê)) eettcc.. DDeennttrree eesssseess eemmpprreeeennddiimmeennttooss ddeessttaaccaa--ssee aa

iimmppllaannttaaççããoo ddee ggrraannddeess pprroojjeettoossii ddee eexxpplloorraaççããoo mmiinneerraall qquuee tteemm ccoonnttrriibbuuííddoo ppaarraa aa

rreepprroodduuççããoo ddaass ddeessiigguuaallddaaddeess ssoocciiaaiiss nnoo eessttaaddoo aa ppaarrttiirr ddaa eexxpprroopprriiaaççããoo ddoo hhoommeemm

nnaattiivvoo.. IIssssoo ppoorrqquuee aa ooccuuppaaççããoo ddoo eessppaaççoo aammaazzôônniiccoo aa ppaarrttiirr ddaa llóóggiiccaa ddee iimmppllaannttaaççããoo

ddee pprroojjeettooss ddee ddeesseennvvoollvviimmeennttoo tteemm,, ccoonnttrraaddiittoorriiaammeennttee àà pprroodduuççããoo ddee rriiqquueezzaa,,

aapprrooffuunnddaaddoo oo pprroocceessssoo ddee ppaauuppeerriizzaaççããoo ddaa ppooppuullaaççããoo..

CCoonntteexxttuuaalliizzaannddoo aa aaccuummuullaaççããoo ccaappiittaalliissttaa nnaa AAmmaazzôônniiaa bbrraassiilleeiirraa –– ccoomm

ddeessttaaqquuee ppaarraa oo pprroocceessssoo nnoo eessttaaddoo ddoo PPaarráá --,, eessssee aarrttiiggoo qquueerr ccoonnttrriibbuuiirr nnaa rreefflleexxããoo

ssoobbrree oo pprroocceessssoo ccoonnttrraaddiittóórriioo qquuee ooppõõee rriiqquueezzaa ee ppoobbrreezzaa ee ((rree)) pprroodduuzz oo qquuaaddrroo ddee

ddeessiigguuaallddaaddeess ssoocciiaaiiss nnaa rreeggiiããoo aa ppaarrttiirr ddaa iimmppllaannttaaççããoo ddee ggrraannddeess pprroojjeettooss ddee

eexxpplloorraaççããoo mmiinneerraall..

11 OO PPRROOCCEESSSSOO DDEE OOCCUUPPAAÇÇÃÃOO DDAA AAMMAAZZÔÔNNIIAA BBRRAASSIILLEEIIRRAA AA PPAARRTTIIRR DDEE GGRRAANNDDEESS PPRROOJJEETTOOSS NNOO PPÓÓSS 11996644

SSeegguuiinnddoo ooss pprriinnccííppiiooss ddaa DDoouuttrriinnaa ddaa SSeegguurraannççaa NNaacciioonnaall,, ooss ggoovveerrnnooss

mmiilliittaarreess nnoo BBrraassiill ((11996644--11998855)) rreeffoorrççaarraamm aa ttrraannssffoorrmmaaççããoo ddaa rreeggiiããoo aammaazzôônniiccaa eemm

eessppaaççoo ddee eexxppaannssããoo ddaass rreellaaççõõeess ccaappiittaalliissttaass ddee pprroodduuççããoo.. SSeegguuiinnddoo aaqquueelleess pprriinnccííppiiooss aa

ddiittaadduurraa mmiilliittaarr eemmpprreeeennddeeuu aa cchhaammaaddaa ““ooccuuppaaççããoo ddaa AAmmaazzôônniiaa””,, oo qquuee ssee ffeezz ccoomm oo

uussoo ddoo aappeelloo mmiiddiiááttiiccoo ddee ““tteerrrraa sseemm hhoommeennss,, ppaarraa hhoommeennss sseemm tteerrrraa””.. EEsstteess hhoommeennss

sseemm tteerrrraa eerraamm aaqquueelleess ddeessaalloojjaaddooss ppeellaa eexxppaannssããoo ddoo ccaappiittaall nnoo ssuuddeessttee,, cceennttrroo--ssuull ee

nnoorrddeessttee bbrraassiilleeiirroo,, ccuujjaa mmiiggrraaççããoo ppaarraa aass cciiddaaddeess ppooddeerriiaa rreepprreesseennttaarr uumm ffooccoo ppootteenncciiaall

ddee pprroobblleemmaass ssoocciiaaiiss.. EEssssaa eessttrraattééggiiaa ppoollííttiiccaa aatteennddiiaa aaoo dduupplloo iinntteerreessssee ddee pprreevveennççããoo ddee

pprroobblleemmaass ppoollííttiiccooss nneessttaass rreeggiiõõeess ddoo ppaaííss ee ddaa aammeeaaççaa ddee eexxppaannssããoo ddoo ssoocciiaalliissmmoo,, nnuumm

ccoonntteexxttoo iinntteerrnnaacciioonnaall mmaarrccaaddoo ppeellaa GGuueerrrraa FFrriiaa22.. CCoomm eessssaa ssuusstteennttaaççããoo iiddeeoollóóggiiccaa ffooii

22 SSeegguunnddoo HHoobbssbbaawwmm ((11999977,, pp.. 222233--222244)),, ““ooss 4455 aannooss qquuee vvããoo ddoo llaannççaammeennttoo ddaass bboommbbaass aattôômmiiccaass aattéé oo ffiimm ddaa UUnniiããoo SSoovviiééttiiccaa nnããoo ffoorrmmaamm uumm ppeerrííooddoo hhoommooggêênneeoo úúnniiccoo nnaa hhiissttóórriiaa ddoo mmuunnddoo.. [[......]] AAppeessaarr ddiissssoo,, aa hhiissttóórriiaa ddeessssee ppeerrííooddoo ffooii rreeuunniiddaa ssoobb uumm ppaaddrrããoo úúnniiccoo ppeellaa ssiittuuaaççããoo iinntteerrnnaacciioonnaall ppeeccuulliiaarr qquuee oo ddoommiinnoouu aattéé aa qquueeddaa ddaa UURRSSSS:: oo ccoonnssttaannttee ccoonnffrroonnttoo ddaass dduuaass ssuuppeerrppoottêênncciiaass qquuee eemmeerrggiirraamm ddaa SSeegguunn ddaa GGuueerrrraa MMuunnddiiaall nnaa cchhaammaaddaa ““GGuueerrrraa FFrriiaa..””

Atas Proceedings | 2605

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

55

vviiaabbiilliizzaaddaa aa eessttrraattééggiiaa eeccoonnôômmiiccaa ddee aabbeerrttuurraa ddaass ffoonntteess ddee rreeccuurrssooss nnaattuurraaiiss àà

eexxpplloorraaççããoo ccaappiittaalliissttaa,, ddee vviittaall iimmppoorrttâânncciiaa ppaarraa aa nnoovvaa eettaappaa ddaa aaccuummuullaaççããoo iinniicciiaaddaa nnoo

ppeerrííooddoo ppóóss--11994455,, tteennddoo iinníícciioo oo vveerrddaaddeeiirroo pprroocceessssoo qquuee ccuullmmiinnoouu ccoomm aa ooccuuppaaççããoo

pprreeddaattóórriiaa ddaa AAmmaazzôônniiaa..

AA ppaarrttiirr ddaa cchhaammaaddaa ““OOppeerraaççããoo AAmmaazzôônniiaa”” ((11996655--11996677)),, iinnaauugguurroouu--ssee uummaa

nnoovvaa ffaassee ppaarraa aa AAmmaazzôônniiaa,, ccoomm aa oouuttoorrggaa ddee uummaa nnoovvaa CCoonnssttiittuuiiççããoo ((11996677)) ee

ssiiggnniiffiiccaattiivvaass mmuuddaannççaass nnoo aarrccaabboouuççoo lleeggaall,, ccoommoo oo EEssttaattuuttoo ddaa TTeerrrraa ((11996644)) ee aa

RReevviissããoo ddoo CCóóddiiggoo ddee MMiinnaass ((11996677)),, ee aaiinnddaa aa rreeeessttrruuttuurraaççããoo ddee óórrggããooss eennccaarrrreeggaaddooss ddaa

ppoollííttiiccaa ddeesseennvvoollvviimmeennttiissttaa ppaarraa aa rreeggiiããoo,, ccoomm ddeessttaaqquuee ppaarraa aa ttrraannssffoorrmmaaççããoo ddaa

SSuuppeerriinntteennddêênncciiaa ddoo DDeesseennvvoollvviimmeennttoo ddaa AAmmaazzôônniiaa ((SSPPVVEEAA)) eemm SSUUDDAAMM..33

MMeerreeccee ddeessttaaqquuee nneessssee ppeerrííooddoo oo eessttaabbeelleecciimmeennttoo ddaa PPoollííttiiccaa ddee IInncceennttiivvooss

FFiissccaaiiss ((11996666)) qquuee,, sseegguunnddoo PPaannddoollffoo ((11999944)),, aaccaabboouu ppoorr pprroodduuzziirr ggrraavveess ddiissttoorrççõõeess,,

ccoommoo oo pprreeddoommíínniioo ddee iinncceennttiivvooss ffiissccaaiiss ppaarraa eemmpprreeeennddiimmeennttooss qquuee nnããoo ttrroouuxxeerraamm ooss

ttããoo pprrooppaallaaddooss rreettoorrnnooss àà rreeggiiããoo.. TTaammbbéémm nnoo ccaassoo ddaa aaggrriiccuullttuurraa,, aass eemmpprreessaass

ccaappiittaalliissttaass qquuee iinnvveessttiiaamm nnoo sseettoorr,, aapprroovveeiittaannddoo--ssee ddoo ““aauummeennttoo ddee pprreeççooss ddooss

pprroodduuttooss aaggrrííccoollaass nnoo ppeerrííooddoo 11997722--11997744,, oouu ddaa ccaarrnnee,, ddeessddee ooss aannooss [[1199]]6600””

((FFOOLLAADDOORRII,, 22000011,, pp.. 118866)),, ee aaiinnddaa ddooss pprroojjeettooss ddee ddeesseennvvoollvviimmeennttoo ddoo ggoovveerrnnoo

ffeeddeerraall,, rreeaalliizzaarraamm aavvaannççooss ssoobbrree aass cchhaammaaddaass ffrroonntteeiirraass aaggrrííccoollaass,, ccuujjaa áárreeaa mmaaiiss

ssiiggnniiffiiccaattiivvaa eerraa ((ee aaiinnddaa éé)) aa AAmmaazzôônniiaa,, ccoonnttrriibbuuiinnddoo ppaarraa oo aacciirrrraammeennttoo ddee ccoonnfflliittooss

aaggrráárriiooss.. SSeegguunnddoo TTrreeccccaannii ((22000011,, pp.. 224455)),, ““aa pprrooccuurraa ddee tteerrrraass nnaa AAmmaazzôônniiaa nnoo ggeerraall,, ee

nnoo PPaarráá eemm ppaarrttiiccuullaarr,, aauummeennttoouu ccoonnssiiddeerraavveellmmeennttee:: tteerrrraa ee iinncceennttiivvooss ffiissccaaiiss ffoorrmmaarraamm

uumm bbiinnôômmiioo ccoobbiiççaaddoo ppoorr eemmpprreessáárriiooss nnaacciioonnaaiiss ee eessttrraannggeeiirrooss””..

AA ccoonnssttrruuççããoo ddee eessttrraaddaass nnaa AAmmaazzôônniiaa,, nnaa ddééccaaddaa ddee 11997700,, ssee iinnssccrreevvee nnoo

ccoonnjjuunnttoo ddee mmeeddiiddaass aaddoottaaddaass ppeellooss ggoovveerrnnooss mmiilliittaarreess ppaarraa ddoottaarr aa rreeggiiããoo ddee

iinnffrraaeessttrruuttuurraa bbáássiiccaa ddee aappooiioo aaooss pprroojjeettooss ddee ddeesseennvvoollvviimmeennttoo ccoommaannddaaddooss ppeelloo ggrraannddee

ccaappiittaall.. OO pprrooggrraammaa ddee iinntteeggrraaççããoo ddooss mmiilliittaarreess pprreevviiaa aa ccoonnssttrruuççããoo,, aalléémm ddaa

TTrraannssaammaazzôônniiccaa ((BBRR 223300)),, ddaass eessttrraaddaass PPeerriimmeettrraall NNoorrttee ((BBRR 221100)),, SSaannttaarréémm--CCuuiiaabbáá

((BBRR 116633)) ee MMaannaauuss--PPoorrttoo VVeellhhoo ((BBRR 331199)),, qquuee ssee ssoommaarriiaamm àà rrooddoovviiaa BBeelléémm--BBrraassíílliiaa

((BBRR 001100)),, ccoonnssttrruuííddaa nnoo ggoovveerrnnoo ddee KKuubbiittsscchheecckk.. OOss pprrooggrraammaass ddee ccoolloonniizzaaççããoo

33 AA SSUUDDAAMM,, ccrriiaaddaa eemm 11996666 nnooss mmoollddeess ddaa SSuuppeerriinntteennddêênncciiaa ddoo DDeesseennvvoollvviimmeennttoo ddoo NNoorrddeessttee ((SSUUDDEENNEE)) ffooii eexxttiinnttaa ee ssuubbssttiittuuííddaa,, nnoo ggoovveerrnnoo ddee FFeerrnnaannddoo HHeennrriiqquuee CCaarrddoossoo ((11999955--22000022)) ,, ppeellaa AAggêênncciiaa ddee DDeesseennvvoollvviimmeennttoo ddaa AAmmaazzôônniiaa ((AADDAA)) ee rreeccrriiaaddaa ccoommoo SSUUDDAAMM,, eemm 22000066,, nnoo pprriimmeeiirroo ggoovveerrnnoo ddee LLuuííss IInnáácciioo LLuullaa ddaa SSiillvvaa ((22000033--22000066))..

2606 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

66

aassssoocciiaaddooss àà ccoonnssttrruuççããoo ddeessttaass rrooddoovviiaass rreessuullttaarraamm nnuumm rrááppiiddoo ee ddeevvaassttaaddoorr pprroocceessssoo

ddee ooccuuppaaççããoo ddaa rreeggiiããoo..

UUmmaa ddaass mmeeddiiddaass ddee iimmppaaccttoo ddooss ggoovveerrnnooss mmiilliittaarreess,, aa rreevviissããoo ddoo CCóóddiiggoo ddee

MMiinnaass,, ppoossssiibbiilliittoouu aa ppeessqquuiissaa ddee rreeccuurrssooss nnaattuurraaiiss ppeelloo ccaappiittaall eessttrraannggeeiirroo,, oo qquuee ssee ddeeuu

ppoorr mmeeiioo ddoo PPrroojjeettoo RRaaddaarr ddaa AAmmaazzôônniiaa ((RRAADDAAMM)),, mmaappeeaannddoo ooss rreeccuurrssooss nnaattuurraaiiss ddee

ttooddaass aass oorrddeennss ee aammpplliiaannddoo aa uumm ggrraauu eexxttrreemmaammeennttee pprreecciissoo aa pprroossppeeccççããoo ddaass rreesseerrvvaass

mmiinneerraaiiss bbrraassiilleeiirraass.. EEsstteess lleevvaannttaammeennttooss aattrraaíírraamm oo ccaappiittaall eessttrraannggeeiirroo ee ccoonnttrriibbuuíírraamm

ppaarraa aa iimmppllaannttaaççããoo ddee ggrraannddeess pprroojjeettooss iinndduussttrriiaaiiss,, qquuee ddeemmaarrccaarraamm uumm nnoovvoo mmoommeennttoo

nnaa ooccuuppaaççããoo ddaa AAmmaazzôônniiaa.. SSeegguunnddoo LLeeaall ((11999966,, pp.. 1100)),, ““OO tteerrmmoo ggrraannddee pprroojjeettoo ssuurrggiiuu

nnaa AAmmaazzôônniiaa ddaa ddééccaaddaa ddee 11997700 ppaarraa ddeessiiggnnaarr ooss eemmpprreeeennddiimmeennttooss--eennccllaavveess qquuee

ooppeerraamm rreettiirraannddoo rreeccuurrssooss nnaattuurraaiiss eemm ggrraannddee qquuaannttiiddaaddee,, mmaannddaannddoo--ooss ppaarraa ffoorraa””..

SSeennddoo pprreeccuurrssoorreess oo PPrroojjeettoo FFOORRDD,, nnoo eessttaaddoo ddoo PPaarráá,, ee oo PPrroojjeettoo IICCOOMMII,, nnoo

eessttaaddoo ddoo AAmmaappáá.. EEssttee úúllttiimmoo llooggrroouu pprroodduuzziirr uummaa ddeessccaappiittaalliizzaaççããoo eeccoollóóggiiccaa

iirrrreevveerrssíívveell,, tteennddoo cchheeggaaddoo aa eexxaauurriirr uummaa ddaass mmaaiiss rriiccaass jjaazziiddaass ddee mmaannggaannêêss ddoo

ppllaanneettaa.. EEmm qquuee ppeessee oo ddeesseennvvoollvviimmeennttoo pprroommeettiiddoo ppeellaa IICCOOMMII aaoo eessttaaddoo ddoo AAmmaappáá,, oo

qquuee rreessttoouu ddee ccoonnccrreettoo ffooii uummaa eennoorrmmee ccrraatteerraa ee aa cciiddaaddee ddee SSaannttaannaa,, ssuurrggiiddaa aa ppaarrttiirr ddaa

ccoonnssttrruuççããoo ddoo ppoorrttoo ppaarraa oo eemmbbaarrqquuee ddoo mmiinnéérriioo.. OO ddeessttaaqquuee ddaaddoo ppeelloo aauuttoorr aa eesssseess

ddooiiss ggrraannddeess pprroojjeettooss ssee ddeevvee,, eennttrree oouuttrrooss,, aaoo ffaattoo ddee eelleess tteerreemm iinniicciiaaddoo,, ppoorr ssuuaass

ccaarraacctteerrííssttiiccaass ppeeccuulliiaarreess,, uummaa nnoovvaa ffaassee ddee eexxttrraaççããoo ddee mmaattéérriiaass--pprriimmaass nnaa AAmmaazzôônniiaa..

AA eesstteess ssee sseegguuiirraamm oouuttrrooss eemmpprreeeennddiimmeennttooss ddee ccaarráátteerr ppoollííttiiccoo--aaddmmiinniissttrraattiivvoo ee

eeccoonnôômmiiccoo nnaa rreeggiiããoo,, oo qquuee lleevvoouu MMaaggaallhhããeess FFiillhhoo ((11998877)) aa aassssiinnaallaarr qquuee sseerriiaa mmaaiiss

aapprroopprriiaaddoo uuttiilliizzaarr oo tteerrmmoo ““ggrraannddeess iinntteerrvveennççõõeess”” eemm vveezz ddee ““ggrraannddeess pprroojjeettooss””,,

ccllaassssiiffiiccaannddoo--ooss ccoommoo:: 11)) GGrraannddeess PPrroojjeettooss ddee DDeesseennvvoollvviimmeennttoo RReeggiioonnaall EExxppllíícciittoo,,

ddeessttaaccaannddoo:: aa)) IInncceennttiivvooss FFiissccaaiiss aaddmmiinniissttrraaddooss ppeellaa SSUUDDAAMM ((aappooiioo aa pprroojjeettooss ddoo sseettoorr

pprriivvaaddoo));; bb)) IInncceennttiivvooss FFiissccaaiiss aaddmmiinniissttrraaddooss ppeellaa SSUUFFRRAAMMAA ((aappooiioo aa pprroojjeettooss ddoo

sseettoorr pprriivvaaddoo));; cc)) PPrrooggrraammaa ddee PPoollooss AAggrrooppeeccuuáárriiooss ee AAggrroo--mmiinneerraaiiss ddaa AAmmaazzôônniiaa

((PPOOLLAAMMAAZZÔÔNNIIAA));; dd)) PPrrooggrraammaa ddee DDeesseennvvoollvviimmeennttoo ddoo CCeennttrroo--OOeessttee

((PPOOLLOONNOORROOEESSTTEE));; ee)) PPrroojjeettooss ddee DDeesseennvvoollvviimmeennttoo RRuurraall IInntteeggrraaddoo ddoo AAmmaazzoonnaass

((PPDDRRII AAmmaazzoonnaass));; ee 22)) GGrraannddeess PPrroojjeettooss SSeettoorriiaaiiss//NNaacciioonnaaiiss,, ddeessttaaccaannddoo:: aa)) PPrrooggrraammaa

GGrraannddee CCaarraajjááss ((CCaarraajjááss –– FFeerrrroo;; AAllbbrrááss//AAlluunnoorrttee –– AAlluummiinnaa ee AAlluummíínniioo;;

HHiiddrrooeellééttrriiccaa ddee TTuuccuurruuíí;; EEssttrraaddaa ddee FFeerrrroo CCaarraajjááss ((EEFFCC)) lliiggaannddoo PPaarraauuaappeebbaass//PPAA aa

Atas Proceedings | 2607

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

77

SSããoo LLuuííss//MMAA;; PPoorrttoo ddee VViillaa ddoo CCoonnddee eemm BBaarrccaarreennaa//PPAA));; bb)) PPrroojjeettoo JJaarrii;; cc)) PPrrooggrraammaa

ddaa BBoorrrraacchhaa ((PPRROOBBOORR));; dd)) PPrroojjeettoo TTrroommbbeettaass ((mmiinneerraaççããoo ddee bbaauuxxiittaa))..

DDeennttrree eesstteess eemmpprreeeennddiimmeennttooss ddeessttaaccaa--ssee,, ppeellooss eeffeeiittooss eexxttrraaeeccoonnôômmiiccooss

qquuee pprroodduuzziiuu aa iimmppllaannttaaççããoo,, nnoo aannoo ddee 11998800,, oo cchhaammaaddoo PPrrooggrraammaa GGrraannddee CCaarraajjááss

((PPGGCC)).. OO PPGGCC ssee ccoonnssttiittuuiiuu,, sseegguunnddoo AAllmmeeiiddaa ((11999955)),, ::

NNuumm aammpplloo tteeaattrroo ddee ooppeerraaççõõeess [[......]],, ssoobbrreettuuddoo ooss ddee eexxpplloorraaççããoo mmiinneerraall,, ee ddee uummaa ddiivveerrssiiddaaddee ddee ggrruuppooss eemmpprreessaarriiaaiiss ((mmaaddeeiirreeiirrooss,, mmiinneerraaddoorraass,, gguuzzeeiirrooss,, aaggrrooppeeccuuaarriissttaass,, ssoojjiiccuullttoorreess,, eemmpprreeiitteeiirrooss ddaa ccoonnssttrruuççããoo cciivviill,, ffaabbrriiccaanntteess ddee óólleeooss vveeggeett aaiiss,, ddee ppaappeell ee cceelluulloossee ee ddee pprroodduuttooss ffaarrmmaaccêêuuttiiccooss)),, qquuee rreeaalliizzaamm,, nnoo mmoommeennttoo aattuuaall,, ccooaadduunnaaddooss ccoomm aaggêênncciiaass mmuullttiillaatteerraaiiss,, aa mmaaiiss ccoommpplleexxaa ccooaalliizzããoo ddee iinntteerreesssseess iinndduussttrriiaaiiss ee ffiinnaanncceeiirrooss hhoojjee rreeggii ssttrraaddaa nnaa AAmmaazzôônniiaa.. ((AALLMMEEIIDDAA,, 11999955,, pp.. 3399--4400))..

OO eessppaaççoo ddee ooppeerraaççõõeess ddoo PPGGCC eenngglloobbaavvaa ppaarrtteess ddooss eessttaaddooss ddoo MMaarraannhhããoo,, PPaarráá

ee TTooccaannttiinnss,, ccoorrrreessppoonnddeennddoo aa 1111%% ddoo tteerrrriittóórriioo nnaacciioonnaall,, ccoomm ssuuaass jjaazziiddaass ddee ffeerrrroo

sseennddoo eexxpplloorraaddaass ccoomm eexxcclluussiivviiddaaddee ppeellaa CCoommppaannhhiiaa VVaallee ddoo RRiioo DDooccee ((CCVVRRDD,, hhoojjee

VVaallee)).. AA CCVVRRDD,, ccrriiaaddaa aaiinnddaa eemm 11994422 nnoo ggoovveerrnnoo ddee GGeettúúlliioo VVaarrggaass ee pprriivvaattiizzaaddaa eemm

11999977,, nnoo ggoovveerrnnoo ddee FFeerrnnaannddoo HHeennrriiqquuee CCaarrddoossoo,, ccoomm ffiinnaanncciiaammeennttoo ssuubbssiiddiiaaddoo ee

ddiissppoonniibbiilliizzaaddoo aaooss ccoommpprraaddoorreess ppeelloo BBaannccoo NNaacciioonnaall ddee DDeesseennvvoollvviimmeennttoo EEccoonnôômmiiccoo

ee SSoocciiaall ((BBNNDDEESS)),, ccoonnssttiittuuii--ssee,, nnaa aattuuaalliiddaaddee,, nnuummaa ddaass mmaaiioorreess eemmpprreessaass ddee

mmiinneerraaççããoo ddee ffeerrrroo eemm ffuunncciioonnaammeennttoo nnoo mmuunnddoo..

ÀÀ ggrraannddiioossiiddaaddee ddee CCaarraajjááss ccoorrrreessppoonnddee uumm ggiiggaanntteessccoo ee ccoommpplleexxoo ccoonnjjuunnttoo ddee

ccoonnsseeqquuêênncciiaass ssoocciiooaammbbiieennttaaiiss ssoobbrree aa rreeggiiããoo oonnddee eellee ffooii ddeeccrreettaaddoo,, aaffeettaannddoo

ddiiffeerreenntteess ggrruuppooss hhuummaannooss ee áárreeaass ccoomm ddiiffeerreenntteess uussooss nnooss eessttaaddooss ddoo PPaarráá,, MMaarraannhhããoo ee

TTooccaannttiinnss.. AAllmmeeiiddaa ((11999955)) ddeessttaaccaa aass sseegguuiinntteess áárreeaass:: uunniiddaaddeess ddee ccoonnsseerrvvaaççããoo

aammbbiieennttaall;; rreesseerrvvaass eexxttrraattiivviissttaass;; tteerrrraass iinnddííggeennaass;; áárreeaass ddeessaapprroopprriiaaddaass,, aaddqquuiirriiddaass ee

pprroojjeettooss ddee aasssseennttaammeennttoo;; rreesseerrvvaass ggaarriimmppeeiirraass ee pprroovvíínncciiaass aauurrííffeerraass;; áárreeaass ddee

bbaabbaaççuuaaiiss;; ppoollííggoonnoo ddee ccaassttaannhhaaiiss;; tteerrrraass ddee qquuiilloommbboollaass;; tteerrrraass ddee ssaannttoo;; tteerrrraass ddaa

IIggrreejjaa;; ccooooppeerraattiivvaass ddee ppeeqquueennooss pprroodduuttoorreess aaggrrooeexxttrraattiivviissttaass;; uussiinnaass ddee ffeerrrroo gguussaa,, ddee

ffeerrrroo lliiggaass ee ccaarrvvooaarriiaass,, llaattiiffúúnnddiiooss ppoorr ddiimmeennssããoo ee iimmóóvveeiiss rruurraaiiss ccoomm áárreeaa iigguuaall oouu

ssuuppeerriioorr aa 1100..000000 hheeccttaarreess..

EEnnttrree ooss mmuuiittooss eeffeeiittooss ddoo PPGGCC qquuee ddiizzeemm rreessppeeiittoo àà aapprroopprriiaaççããoo pprriivvaaddaa ddaa

tteerrrraa,, ddeessttaaccaamm--ssee aaqquueelleess qquuee rreellaacciioonnaamm ddiiaalleettiiccaammeennttee áárreeaass uurrbbaannaass ee áárreeaass rruurraaiiss,,

aammbbaass aaffeettaaddaass ppeelloo mmoovviimmeennttoo iinndduussttrriiaalliizzaaddoorr qquuee ggeerraa,, sseegguunnddoo ((AAllmmeeiiddaa 11999955,, pp..

2608 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

88

4444)),, ““UUmmaa uurrbbaanniizzaaççããoo ffoorrççaaddaa,, iinntteerrppeenneettrraannddoo iinnssttaallaaççõõeess iinndduussttrriiaaiiss ppoolluuiiddoorraass,,

iinncclluuiinnddoo--ssee ccaarrvvooaarriiaass ee gguusseeiirraass,, ccoomm aagglloommeerraaddooss uurrbbaannooss,, nnoottaaddaammeennttee eemm

AAççaaiillâânnddiiaa ((MMAA)) ee RRoonnddoonn ddoo PPaarráá ((PPAA))””..

OOss eeffeeiittooss ssoocciiooeeccoonnôômmiiccooss ddaa ppoollííttiiccaa ddee ddeesseennvvoollvviimmeennttoo ppaarraa aa

AAmmaazzôônniiaa,, ppeellaa vviiaa ddooss ggrraannddeess pprroojjeettooss ddee eexxpplloorraaççããoo mmiinneerraall,, aabbrraannggeemm ddiiffeerreenntteess

ggrruuppooss hhuummaannooss ee ddiiffeerreenntteess áárreeaass ggeeooggrrááffiiccaass,, ddaaíí ddeeccoorrrreennddoo aa ssuuaa ccoommpplleexxiiddaaddee..

EEnnttrree ooss mmuuiittooss eeffeeiittooss ddeessttaaccaamm--ssee aaqquueelleess qquuee rreellaacciioonnaamm ddiiaalleettiiccaammeennttee áárreeaass

uurrbbaannaass ee áárreeaass rruurraaiiss,, aammbbaass aaffeettaaddaass ppeelloo mmoovviimmeennttoo iinndduussttrriiaalliizzaaddoorr qquuee ggeerraa uummaa uurrbbaanniizzaaççããoo ffoorrççaaddaa iinntteerrppeenneettrraannddoo iinnssttaallaaççõõeess iinndduussttrriiaaiiss ppoolluuiiddoorraass,, iinncclluuiinnddoo--ssee ccaarrvvooaarriiaass ee gguuzzeeiirraass,, ccoomm aagglloommeerraaddooss uurrbbaannooss,, nnoottaaddaammeennttee eemm AAççaaiillâânnddiiaa ((MMAA)) ee RRoonnddoonn ddoo PPaarráá ((PPAA)).. DDeessccrreevveemm mmaaiiss uumm ccaappííttuulloo ddaa ““gguueerrrraa eeccoollóóggiiccaa””,, ssuubblliinnhhaaddaa ppoorr YYvveess LLaaccoossttee,, aaoo ddeetteerriioorraarreemm aa qquuaalliiddaaddee ddee vviiddaa nneessttaass cciiddaaddeess,, aaoo aaffeettaarreemm ggrraavveemmeennttee aa ssaaúúddee ddooss ttrraabbaallhhaaddoorreess.. HHáá uummaa ppeerrcceeppççããoo vviivvaa ddeesstteess eeffeeiittooss ccaaóóttiiccooss ddaa iinndduussttrriiaalliizzaaççããoo eemm ccuurrssoo ((AALLMMEEIIDDAA,, 11999955,, pp.. 4444))..

NNoo ccaammppoo ffuunnddiiáárriioo ttêêmm--ssee oo aaggrraavvaammeennttoo ddoo ccaaooss aaggrráárriioo,, eessppeecciiaallmmeennttee

nnaass áárreeaass ddee iinnfflluuêênncciiaa ddoo PPGGCC,, ccoomm ttooddoo ttiippoo ddee vviioollêênncciiaass ee aarrbbiittrraarriieeddaaddeess qquuee,, nnããoo

rraarroo,, ccuullmmiinnaamm eemm aassssaassssiinnaattooss nnoo ccaammppoo ee ffaazzeemm ppaarrttee ddaa rreeaalliiddaaddee ddaa rreeggiiããoo.. AA mmaaiioorr

cchhaacciinnaa ccoonnttrraa ttrraabbaallhhaaddoorreess sseemm tteerrrraa ddee qquuee ssee tteemm nnoottíícciiaa ssee vveerriiffiiccoouu jjuussttaammeennttee

nnuumm ddooss mmuunniiccííppiiooss ddee iinnfflluuêênncciiaa ddoo PPGGCC –– EEllddoorraaddoo ddee CCaarraajjááss ––,, oonnddee ttrraabbaallhhaaddoorreess

rruurraaiiss ffoorraamm aassssaassssiinnaaddooss,, eemm aabbrriill ddee 11999966,, ppeellaa ppoollíícciiaa mmiilliittaarr ddoo eessttaaddoo ddoo PPaarráá..

AAlléémm ddooss ccoonnfflliittooss ppeellaa tteerrrraa,, rreessuullttaanntteess ddaa iinnssttaallaaççããoo ddee ssuubb--

eemmpprreeeennddiimmeennttooss nnaa áárreeaa ddoo PPGGCC –– ccoomm ddeessttaaqquuee ppaarraa aa aaqquueelleess ppeerrtteenncceenntteess àà VVAALLEE

––,, ddeessttaaccaamm--ssee aaiinnddaa oouuttrrooss ccoonnfflliittooss eennvvoollvveennddoo ggrruuppaammeennttooss hhuummaannooss ddiissttiinnttooss qquuee

hhaabbiittaamm aa rreeggiiããoo,, ccoommoo éé oo ccaassoo ddooss ggrruuppooss iinnddííggeennaass,, aallvvooss ddee ccoonnssttaanntteess vviioollêênncciiaass,,

sseejjaamm eellaass ffííssiiccaass,, ppssiiccoollóóggiiccaass,, ccuullttuurraaiiss oouu ssoocciiaaiiss.. SSeegguunnddoo AAllmmeeiiddaa ((11999955)),,

aassssaassssiinnaattooss,, aaggrreessssõõeess ffííssiiccaass,, aammeeaaççaass ddee mmoorrttee,, ssuurrttooss ddee ddooeennççaass ee ccaassooss ddee iinnttrruussaammeennttoo pprraattiiccaaddoo ppoorr ggaarriimmppeeiirrooss,, eemmpprreessaass ddee mmiinneerraaççããoo,, eemmpprreessaass mmaaddeeiirreeiirraass,, pprroojjeettooss aaggrrooppeeccuuáárriiooss,, ““ffaazzeennddeeiirrooss”” ee ppeeqquueennooss pprroodduuttoorreess aaggrrííccoollaass ccoonnssttiittuueemm aass ooccoorrrrêênncciiaass rreeggiissttrraaddaass nnaass tteerrrraass iinnddííggeennaass qquuee eessttããoo nnooss lliimmiitteess ddoo PPGGCC ((pp.. 9933))..

22.. AA EEXXPPLLOORRAAÇÇÃÃOO MMIINNEERRAALL NNOO EESSTTAADDOO DDOO PPAARRÁÁ

OO eessttaaddoo ddoo PPaarráá ssee ddeessttaaccaa ppeellooss iinntteennssooss pprroocceessssooss ddeesseennccaaddeeaaddooss ssoobbrree aa

rreeggiiããoo,, aa ppaarrttiirr ddaa iimmppllaannttaaççããoo,, nnaa ddééccaaddaa ddee 11997700,, ddee ggrraannddeess eemmpprreeeennddiimmeennttooss ––

Atas Proceedings | 2609

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

99

ppúúbblliiccooss ee pprriivvaaddooss ––,, qquuee pprroodduuzziirraamm pprrooffuunnddaass aalltteerraaççõõeess eemm sseeuuss aassppeeccttooss

aammbbiieennttaaiiss,, eeccoonnôômmiiccooss,, ssoocciiaaiiss ee ccuullttuurraaiiss.. NNoo ccaassoo ddooss eemmpprreeeennddiimmeennttooss mmíínneerroo--

mmeettaallúúrrggiiccooss iinnssttaallaaddooss nnoo eessttaaddoo,, eelleess ssããoo rreessuullttaaddoo ddaa ccrriissee eeccoonnôômmiiccaa ddee 11997700iiii,, qquuee

ffeezz ccoomm qquuee oo ccaappiittaall bbuussccaassssee ssaaííddaass eessttrraattééggiiccaass qquuee iinncclluuíírraamm,, nnaa eessffeerraa ddaa pprroodduuççããoo,,

aa bbuussccaa ddee nnoovvaass áárreeaass ppaarraa aa iinnssttaallaaççããoo ddee nnoovvaass iinnddúússttrriiaass,, aalléémm ddaa oobbtteennççããoo ddee

rreeccuurrssooss nnaattuurraaiiss ee ffoorrççaa ddee ttrraabbaallhhoo aabbuunnddaanntteess.. IIssssoo ppoorrqquuee,, ccoommoo iinnddiiccaaddoo ppoorr MMaarrxx

((11999988)),, oo ssiisstteemmaa ccaappiittaalliissttaa ““ssóó ssee ddeettéémm ddiiaannttee ddooss lliimmiitteess iimmppoossttooss ppeellaa mmaattéérriiaa

pprriimmaa”” ((pp.. 551177)).. SSwweezzzzyy ((11998855)) rreeffoorrççaa aaffiirrmmaannddoo qquuee oo bbaarraatteeaammeennttoo ddoo ccaappiittaall

ccoonnssttaannttee ((mmááqquuiinnaass ee mmaattéérriiaa pprriimmaa)) éé ffuunnddaammeennttaall uummaa vveezz qquuee aa ““pprrooppoorrççããoo eennttrree

ccaappiittaall ccoonnssttaannttee ee ttrraabbaallhhoo éé uummaa rreellaaççããoo ddee vvaalloorr ee,, àà mmeeddiiddaa qquuee aa mmááqquuiinnaa ee aass

mmaattéérriiaass--pprriimmaass ssee ttoorrnnaamm mmaaiiss bbaarraattaass,, aa qquueeddaa ddaa ttaaxxaa ddee lluuccrrooss éé rreettaarrddaaddaa”” ((pp.. 223300))..

AAlléémm ddee ssuuaa eexxtteennssããoo tteerrrriittoorriiaall,, oo eessttaaddoo ddoo PPaarráá ssee ddeessttaaccaa ppoorr sseerr oo

sseegguunnddoo eessttaaddoo mmiinneerraaddoorr ddoo BBrraassiill ee oo pprriimmeeiirroo eemm ccoonncceennttrraaççããoo mmiinneerraalliiiiii.. DDooss 114444

((cceennttoo ee qquuaarreennttaa ee qquuaattrroo)) mmuunniiccííppiiooss ppaarraaeennsseess,, 2233 ((vviinnttee ee ttrrêêss)) ppoossssuueemm mmiinnaass eemm

ooppeerraaççããoo,, tteennddoo aauummeennttaaddoo ddee 3344 ((ttrriinnttaa ee qquuaattrroo)),, eemm 22000011,, ppaarraa 4466 ((qquuaarreennttaa ee sseeiiss)),,

eemm 22000066,, oo nnúúmmeerroo ddee mmiinnaass eemm aattiivviiddaaddee.. AA pprroodduuççããoo mmiinneerraall ppaarraaeennssee cceennttrraa--ssee eemm

0044 ((qquuaattrroo)) pprriinncciippaaiiss mmiinnéérriiooss:: ffeerrrroo,, ccoobbrree,, bbaauuxxiittaa ee mmaannggaannêêss,, qquuee ccoorrrreessppoonnddeemm aa

9933%% ddaa pprroodduuççããoo mmiinneerraall ddoo eessttaaddoo.. EEmm ffuunnççããoo ddaa ggrraannddee pprroodduuççããoo mmiinneerraall –– cceennttrraaddaa

nnoo sseettoorr pprriimmáárriioo ccoomm ddeessttaaqquuee ppaarraa aa áárreeaa pprriimmáárriioo//iinndduussttrriiaall ––,, oo PPIIBB ppaarraaeennssee éé

eelleevvaaddoo ee eessttáá cceennttrraaddoo eemm aappeennaass 0055 ((cciinnccoo)) mmuunniiccííppiiooss ppaarraaeennsseess aa ssaabbeerr:: BBeelléémm--

ccaappiittaall MMeettrrooppoolliittaannaa,, ppoorr ssuuaa vvooccaaççããoo nnoo sseettoorr ddaa CCoonnssttrruuççããoo CCiivviill,, ddee CCoomméérrcciioo ee

SSeerrvviiççooss;; BBaarrccaarreennaa,, oonnddee eessttáá llooccaalliizzaaddoo oo ppóólloo aalluummiinnííffeerroo;; PPaarraauuaappeebbaass,, qquuee aabbrriiggaa oo

ppoolloo mmiinneerraall ddee CCaarraajjááss;; AAnnaanniinnddeeuuaa,, oonnddee ssee eennccoonnttrraamm iinnssttaallaaddaass aass iinnddúússttrriiaass ddaa áárreeaa

mmeettrrooppoolliittaannaa ddee BBeelléémm;; ee MMaarraabbáá,, ccoomm oo sseeuu ppoolloo ssiiddeerrúúrrggiiccoo ddeeccoorrrreennttee ddoo

aapprroovveeiittaammeennttoo ddee ppaarrttee ddooss mmiinnéérriiooss ddee CCaarraajjááss ((SSEEPPOOFF//IIDDEESSPP//IIBBGGEE,, 22001100))..

CCoomm uummaa ppooppuullaaççããoo ddee mmaaiiss ddee sseettee mmiillhhõõeess ooiittoocceennttooss ee sseetteennttaa ee ooiittoo mmiill

hhaabbiittaanntteess,, oo eessttaaddoo ddoo PPaarráá ppoossssuuii,, ssóó nnaa RReeggiiããoo MMeettrrooppoolliittaannaa ddee BBeelléémm//RRMMBB,, mmaaiiss

ddee ddooiiss mmiillhhõõeess ddee hhaabbiittaanntteess.. CCoonnttrraaddiittoorriiaammeennttee,, aappeennaass 66,,99%% ddaa ppooppuullaaççããoo ppaarraaeennssee

ttêêmm aacceessssoo ssiimmuullttâânneeoo aa sseerrvviiççooss ppúúbblliiccooss ee bbeennss dduurráávveeiiss ee aa mmaaiioorr ppaarrttee ddooss

ddoommiiccíílliiooss aaiinnddaa nnããoo ddiissppõõee ddee sseerrvviiççooss ppúúbblliiccooss bbáássiiccooss,, ccoommoo eessggoottoo ssaanniittáárriioo,, ccoolleettaa

ddee lliixxoo ee aabbaasstteecciimmeennttoo ddee áágguuaa.. OO PPaarráá ppoossssuuii ssoozziinnhhoo mmaaiiss ddaa mmeettaaddee ddaa PPooppuullaaççããoo

EEccoonnoommiiccaammeennttee AAttiivvaa//PPEEAA rreeggiioonnaall,, ccoomm qquuaattrroo mmiillhhõõeess ooiittoocceennttooss ee vviinnttee ddooiiss mmiill

2610 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

1100

hhaabbiittaanntteess,, mmaass aappeennaass mmeettaaddee ddeessttaa PPEEAA eennccoonnttrraa--ssee ooccuuppaaddaa,, oo qquuee ccoorrrreessppoonnddee aa uumm

mmiillhhããoo ooiittoocceennttooss ee ooiitteennttaa ee sseettee mmiill ttrraabbaallhhaaddoorreess..

CCoommoo eexxppoorrttaaddoorr ddee rreeccuurrssooss nnaattuurraaiiss,, eessppeecciiaallmmeennttee mmiinneerraaiiss,, aa eeccoonnoommiiaa

ppaarraaeennssee éé eexxeemmpplloo aaccaabbaaddoo ddaa tteennddêênncciiaa ddee rreepprriimmaarriizzaaççããoo nnaa AAmméérriiccaa LLaattiinnaa.. SSuuaa

eexxppoorrttaaççõõeess ddeessttiinnaamm--ssee ppaarraa aa ÁÁssiiaa ((3388,,2233%%)),, UUnniiããoo EEuurrooppeeiiaa ((2255,,7788%%)),, EEssttaaddooss

UUnniiddooss ((88,,5566%%)),, AAssssoocciiaaççããoo EEuurrooppeeiiaa ddee LLiivvrree CCoomméérrcciioo ((88,,0088%%)) ee AALLAADDII//MMeerrccoossuull

((66,,9955%%)).. DDeennttrree sseeuuss pprriinncciippaaiiss pprroodduuttooss ddeessttaaccaamm--ssee mmiinnéérriiooss ddee ffeerrrroo nnããoo

aagglloommeerraaddooss ((4455,,6699%%)),, aalluummiinnaa ccaallcciinnaaddaa ((1144,,0066%%)) ee aalluummíínniioo nnããoo lliiggaaddoo eemm ffoorrmmaa

bbrruuttaa ((88,,5544)) ((SSEEDDEECCTT,, 22001100)).. NNoo aannoo ddee 22000088 aa pprroodduuççããoo mmiinneerraall ppaarraaeennssee aallccaannççoouu oo

vvaalloorr ddee 1111 bbiillhhõõeess,, ““oo qquuee ssiiggnniiffiiccoouu uumm aauummeennttoo ddee 3333%% eemm rreellaaççããoo aaoo aannoo aanntteerriioorr””

((ZZEEEE,, 22001100,, pp.. 118899)).. EEmm rraazzããoo ddoo ddeessttaaqquuee ddaaddoo ppeelloo aauummeennttoo ddaa eexxttrraaççããoo ddee mmiinnéérriiooss

nnoo eessttaaddoo,, oo PPIIBB ppaarraaeennssee ppaassssoouu ddoo 1144ºº lluuggaarr nnoo aannoo ddee 11999966,, ppaarraa oo 1111ºº lluuggaarr eemm 22000033

ee vveemm mmaanntteennddoo oo 1133°° lluuggaarr ddeessddee 22000099 ((IIBBGGEE,, CCoonnttaass RReeggiioonnaaiiss ddoo BBrraassiill 22000055--22000099,,

22001111))..

AA TTaabbeellaa 11 aabbaaiixxoo mmoossttrraa aa eevvoolluuççããoo ddoo PPIIBB ddoo eessttaaddoo ddoo PPaarráá eennttrree 22000022 ee

22001100 ee aa ppaarrttiicciippaaççããoo nnoo PPIIBB bbrraassiilleeiirroo..

TTAABBEELLAA 11:: EEVVOOLLUUÇÇÃÃOO DDOO PPIIBB DDOO PPAARRÁÁ EE PPAARRTTIICCIIPPAAÇÇÃÃOO NNOO PPIIBB BBRRAASSIILLEEIIRROO 22000022//22001100

AANNOO PPIIBB ((mmiillhhõõeess)) PPaarrttiicciippaaççããoo %% nnoo PPIIBB

nnaacciioonnaall

22000022

22000033

22000044

22000055

2255,,77

2299,,77

3355,,66

3399,,11

11,,77

11,,88

11,,88

11,,88

22000066 4444,,33 11,,99

22000077 4499,,55 11,,99

22000088 5588,,55 11,,99

22000099

22001100

5588,,44

7777,,88

11,,88

22,,11

FFoonnttee:: IIBBGGEE,, CCoonnttaass RReeggiioonnaaiiss ddoo BBrraassiill 22000055--22001100,, 22001133 ((eellaabboorraaççããoo pprróópprriiaa))

Atas Proceedings | 2611

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

1111

A Região Norte obteve o melhor desempenho em termos de participação, com

ganho de 0,3 ponto percentual no período de 2009 a 2010, conforme análise do relatório

Contas Regionais do Brasil 2010 do IBGE. Nenhum estado da região perdeu nesse

quesito, mas o resultado positivo ficou por conta dos dois maiores, Amazonas e Pará,

que cresceram suas participações, de 0,1 e 0,3 pontos percentuais para 1,6% e 2,1%,

respectivamente, nesse período. No caso paraense, a recuperação dos preços mundiais

do minério de ferro explica seu desempenho, já que é um estado especializado nesta

commodity.

MMeessmmoo eemm ffaaccee aaoo ccrreesscciimmeennttoo ooccoorrrriiddoo aaoo lloonnggoo ddoo ppeerrííooddoo 22000022 aa 22001100,,

aa pprroodduuççããoo ddeessttaa rriiqquueezzaa nnããoo ssee rreefflleettee eemm mmeellhhoorriiaa ddaass ccoonnddiiççõõeess ddee vviiddaa ddaa ppooppuullaaççããoo

mmeennooss ffaavvoorreecciiddaa,, uummaa vveezz qquuee,, nnoo ttoottaall ddee 11..448833..000000 ddoommiiccíílliiooss uurrbbaannooss nnoo EEssttaaddoo,,

aappeennaass 1155,,66%% ddeesstteess ttêêmm aacceessssoo ssiimmuullttâânneeoo ee ppoossssee ddee bbeennss dduurráávveeiiss,, iilluummiinnaaççããoo

eellééttrriiccaa,, ccoommppuuttaaddoorr,, TTVV eemm ccoorreess ee mmááqquuiinnaa ddee llaavvaarr.. AAlléémm ddee sseerr mmuuiittoo eelleevvaaddaa aa

ttaaxxaa ddooss DDoommiiccíílliiooss ppaarrttiiccuullaarreess ppeerrmmaanneenntteess uurrbbaannooss ccoomm rreennddiimmeennttoo mmééddiioo mmeennssaall

ddoommiicciilliiaarr ppeerr ccaappiittaa ddee aattéé 11//22 ssaalláárriioo mmíínniimmoo,, sseemm ccoommppuuttaaddoorr oouu aacceessssoo aa iinntteerrnneett eemm

rreellaaççããoo aaoo ttoottaall ddee ddoommiiccíílliiooss sseemm aacceessssoo ssiimmuullttâânneeoo aaoo sseerrvviiççoo ddee iilluummiinnaaççããoo eellééttrriiccaa,,

ccoommppuuttaaddoorr,, iinntteerrnneett,, aappaarreellhhoo ddee DDVVDD,, TTVV eemm ccoorreess ee mmááqquuiinnaa ddee llaavvaarr,, iissttoo éé,, 9977,,77%%..

QQuuaannttoo aaoo ppaaddrrããoo ddee vviiddaa ee ddiissttrriibbuuiiççããoo ddee rreennddaa,, oo RReennddiimmeennttoo mmééddiioo

mmeennssaall ffaammiilliiaarr ppeerr ccaappiittaa ddaass ffaammíílliiaass ccoomm rreennddiimmeennttoo –– eemm rreeaaiiss -- 2200%% mmaaiiss ppoobbrreess éé

ddee RR$$ 110011,,0099 ((cceennttoo ee uumm rreeaaiiss ee nnoovvee cceennttaavvooss)) ee nnoo oouuttrroo llaaddoo ddaa ppiirrââmmiiddee tteemmooss qquuee

oo RReennddiimmeennttoo mmééddiioo mmeennssaall ffaammiilliiaarr ppeerr ccaappiittaa ddaass ffaammíílliiaass ccoomm rreennddiimmeennttoo –– eemm rreeaaiiss

-- 2200%% mmaaiiss rriiccooss éé ddee RR$$ 11..775533,, 3322 ((uumm mmiill sseetteecceennttooss ee cciinnqquueennttaa ee ttrrêêss rreeaaiiss ee ttrriinnttaa ee

ddooiiss cceennttaavvooss)),, iissttoo éé,, 1177,,3344 vveezzeess mmaaiioorr,, sseennddoo aa RReellaaççããoo eennttrree ooss rreennddiimmeennttooss mmééddiiooss

ddooss 2200%% mmaaiiss rriiccooss ee ddooss 2200%% mmaaiiss ppoobbrreess,, uumm iinnddiiccaaddoorr qquuee rreevveellaa ddee mmooddoo

ccoonnttuunnddeennttee aass ddeessiigguuaallddaaddeess ssoocciiaaiiss ppoorr mmeeiioo ddaa ccoonncceennttrraaççããoo ddee rreennddaa ttaannttoo nnaa rreeggiiããoo

ccoommoo nnoo ppaaííss ttooddoo..

OOss pprroocceessssooss ssoocciiaaiiss,, eeccoonnôômmiiccooss ee aammbbiieennttaaiiss ddeesseennccaaddeeaaddooss ssoobbrree oo

eessttaaddoo ddoo PPaarráá aa ppaarrttiirr ddaa iimmppllaannttaaççããoo,, eessppeecciiaallmmeennttee,, ddee ggrraannddeess pprroojjeettooss mmíínneerroo--

mmeettaallúúrrggiiccooss ttêêmm ccoonnttrriibbuuííddoo ppaarraa ddeetteerriioorraarr aass ccoonnddiiççõõeess ddee vviiddaa ee ttrraabbaallhhoo ddaass

ppooppuullaaççõõeess eexxpprroopprriiaaddaass ddooss sseeuuss mmeeiiooss ddee ssoobbrreevviivvêênncciiaa.. IIssssoo ssee ttoorrnnaa ppaarrttiiccuullaarrmmeennttee

vviissíívveell eemm 0033 ((ttrrêêss)) mmuunniiccííppiiooss ppaarraaeennsseess qquuee ssããoo llóóccuuss ddee aattiivviiddaaddeess mmíínneerroo--

mmeettaallúúrrggiiccaass.. EExxcceettuuaannddoo--ssee oo mmuunniiccííppiioo ddee MMaarraabbáá,, 0022 ((ddooiiss)) ddeesssseess mmuunniiccííppiiooss

2612 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

1122

ssiittuuaamm--ssee nnaa áárreeaa ddee aabbrraannggêênncciiaa ddoo PPrrooggrraammaa GGrraannddee CCaarraajjááss:: MMaarraabbáá ee PPaarraauuaappeebbaass

qquuee ssããoo eexxeemmppllooss ddee uummaa mmiisséérriiaa ssoocciiaall sseemm pprreecceeddeenntteess.. AA ppooppuullaaççããoo ddeesstteess

mmuunniiccííppiiooss,, aaoo sseerr eexxppuullssaa ddaa tteerrrraa eemm ffuunnççããoo ddoo PPGGCC,, ccoonnvveerrtteeuu--ssee nnuummaa ppooppuullaaççããoo

fflluuttuuaannttee,, aaoo ssaabboorr ddaass ccoonnddiiççõõeess vviiggeenntteess llooccaallmmeennttee.. UUmmaa ppaarrcceellaa eexxpprreessssiivvaa ddeessssee

ccoonnttiinnggeennttee hhuummaannoo vviivvee nnoo eennttoorrnnoo ddee MMaarraabbáá,, ssoobbrreevviivveennddoo ddee ffaazzeerr ccaarrvvããoo,,

ddeessttrruuiinnddoo aassssiimm aa ccoobbeerrttuurraa vveeggeettaall llooccaall ccoommoo,, ee pprriinncciippaallmmeennttee,, aa ssaaúúddee ddeessttaa

ppooppuullaaççããoo.. EEssssee ccaarrvvããoo éé vveennddiiddoo ppaarraa aass gguusseeiirraass –– ffáábbrriiccaass qquuee ssuurrggiirraamm nnaa áárreeaa aa

ppaarrttiirr ddaa ddiissppoonniibbiilliiddaaddee ddee ffeerrrroo –– ttrraannssffoorrmmaannddoo MMaarraabbáá nnoo mmaaiioorr pprroodduuttoorr ddee ffeerrrroo--

gguussaa ddoo ppaaííss.. OO ccaarrvvããoo éé uumm iinnssuummoo ffuunnddaammeennttaall nnaa ccaaddeeiiaa pprroodduuttiivvaa ddoo aaççoo.. NNaa AAmmaazzôônniiaa,, mmaaiiss ddee 9900%% ddaa pprroodduuççããoo vvaaii ppaarraa aass iinnddúússttrriiaass iinnssttaallaaddaass nnoo ppoolloo ssiiddeerrúúrrggiiccoo ddee CCaarraajjááss.. LLáá,, oo ccaarrvvããoo vveeggeettaall tteemm dduuaass uuttiilliiddaaddeess.. OO pprriimmeeiirroo uussoo éé ccoommoo ccoommbbuussttíívveell ppaarraa ffaazzeerr ffuunncciioonnaarr ooss aauuttooffoorrnnooss.. OO sseegguunnddoo éé ccoommoo aaggeennttee qquuíímmiiccoo ppaarraa rreettiirraarr oo ooxxiiggêênniioo dduurraannttee oo pprroocceessssoo,, qquuaannddoo oo ccaarrvvããoo éé mmiissttuurraaddoo aaoo mmiinnéérriioo ddee ffeerrrroo.. NNoo aauuttooffoorrnnoo,, ccaarrvvããoo ee mmiinnéérriioo ddee ffeerrrroo rreessuullttaamm eemm ffeerrrroo--gguussaa qquuee,, ppoosstteerriioorrmmeennttee,, éé uunniiddoo aa oouuttrraass lliiggaass ee ggeerraa oo aaççoo ((IINNSSTTIITTUUTTOO OOBBSSEERRVVAATTÓÓRRIIOO SSOOCCIIAALL,, 22001111,, pp.. 1111))..

AAlléémm ddooss pprroobblleemmaass aammbbiieennttaaiiss ddeeccoorrrreenntteess ddeessssee pprroocceessssoo,, qquuee iinncclluuii

aaiinnddaa aa iilleeggaalliiddaaddee nnaa rreettiirraaddaa ddaa mmaaddeeiirraa ppaarraa pprroodduuççããoo ddoo ccaarrvvããoo ee aa pprrááttiiccaa ddoo

ttrraabbaallhhoo eessccrraavvoo nnaa rreeggiiããoo,, aa iimmppllaannttaaççããoo ddee CCaarraajjááss pprroodduuzziiuu uummaa iinnffiinnddáávveell ssuucceessssããoo

ddee pprroobblleemmaass ssoocciiaaiiss,, qquuee aaffeettaamm nnããoo ssoommeennttee aass cciiddaaddeess ddoo eennttoorrnnoo ddooss pprroojjeettooss

eeccoonnôômmiiccooss ee iinnffrraaeessttrruuttuurraaiiss,, ccoommoo ttaammbbéémm ooss ggrraannddeess cceennttrrooss uurrbbaannooss.. IIssssoo ppooddee sseerr

oobbsseerrvvaaddoo eemm BBeelléémm,, ccaappiittaall ddoo eessttaaddoo ddoo PPaarráá,, cciiddaaddee mmaarrccaaddaa ppoorr pprroocceessssooss ddee

ooccuuppaaççõõeess eessppoonnttâânneeaass ddee tteerrrraass qquuee ssããoo,, ttaammbbéémm,, rreefflleexxoo ddaass ddiissttoorrççõõeess nnaa eessttrruuttuurraa aaggrráárriiaa,, [[qquuee]] ttêêmm pprroovvooccaaddoo ddeessllooccaammeennttooss ddee vváárriiooss sseeggmmeennttooss ddaa ppooppuullaaççããoo rruurraall ppaarraa aass mmeettrróóppoolleess rreeggiioonnaaiiss.. NNoo iinníícciioo ddee 11999944,, aa CCoommiissssããoo ddooss BBaaiirrrrooss ddee BBeelléémm ((PPAA)) rreellaacciioonnoouu 440000 mmiill ffaammíílliiaass ddeesspprr oovviiddaass ddee ccaassaa ppaarraa mmoorraarr.. FFoorraamm ccoonnttaabbiilliizzaaddaass 119900 ““iinnvvaassõõeess”” nnaa áárreeaa uurrbbaannaa.. EEssttee ttoottaall ssuuppeerraa ooss nnúúmmeerrooss lleevvaannttaaddooss ppeelloo ““mmaappaa ddaa mmiisséérriiaa bbrraassiilleeiirraa””,, ddoo IIBBGGEE,, qquuee eessttiimmaa eemm 2277 oo nnúúmmeerroo ddee ffaavveellaass eemm BBeelléémm,, ccoomm 4422..009955 ddoommiiccíílliiooss.. EEmm SSããoo LLuuííss ((MMAA)),, ooss mmoovviimmeennttooss ppooppuullaarreess eessttiimmaamm eemm 220000 mmiill aass ffaammíílliiaass rreessiiddeenntteess eemm ooccuuppaaççõõeess,, qquuee nnããoo ddiissppõõeemm ddee nneennhhuummaa iinnffrraaeessttrruuttuurraa bbáássiiccaa,, pprriinncciippaallmmeennttee ddee ssaanneeaammeennttoo.. EEssttee ttoottaall ssuuppllaannttaa aaqquueellee ddoo lleevvaannttaammeennttoo ddoo IIBBGGEE,, qquuee eessttiimmaa ppaarraa oo MMaarraannhhããoo,, eemm 11999944,, ddeezzeennoovvee ffaavveellaass ccoomm 1122..994488 ddoommiiccíílliiooss ((AALLMMEEIIDDAA,, 11999955,, pp.. 4466))..

NNaa TTaabbeellaa 22 aabbaaiixxoo,, ssããoo aapprreesseennttaaddooss ddaaddooss qquuee rreevveellaamm oo nníívveell ddee rriiqquueezzaa

ggeerraaddaa ppeellaa pprroodduuççããoo mmiinneerraall ddooss 0033 ((ttrrêêss)) mmuunniiccííppiiooss,, ccoomm ddeessttaaqquuee ppaarraa aa

ddiissttrriibbuuiiççããoo ddeessssaa rriiqquueezzaa ppoorr mmeeiioo ddoo PPIIBB ppeerr ccaappiittaa..

Atas Proceedings | 2613

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

1133

TTAABBEELLAA 22:: MMUUNNIICCÍÍPPIIOOSS MMIINNEERRAADDOORREESS,, SSEEGGUUNNDDOO PPOOPPUULLAAÇÇÃÃOO,, PPIIBB EE PPIIBB PPEERR CCAAPPIITTAA ((22001100))

MMUUNNIICCÍÍPPIIOO PPOOPPUULLAAÇÇÃÃOO PPIIBB ((mmiill rreeaaiiss)) PPIIBB//PPeerrccaappiittaa

BBAARRCCAARREENNAA 9999..885599 33..555500..223333 3355..557733,,4488

PPAARRAAUUAAPPEEBBAASS 115533..990088 1155..991188..221166 110033..440033,,9999

MMAARRAABBÁÁ 223333..666699 33..660011..664477 1155..442277,,1122

FFoonnttee:: IIBBGGEE,, CCeennssoo 22001100,, IIDDEESSPP 22001100 ((eellaabboorraaççããoo pprróópprriiaa))

OObbsseerrvvaa--ssee qquuee PPaarraauuaappeebbaass lliiddeerraa ccoomm oo mmaaiioorr PPIIBB,, ccoomm mmaaiiss ddee RR$$ 1155,,99 bbiillhhõõeess

ddee rreeaaiiss,, eennqquuaannttoo sseeuu PPIIBB ppeerr ccaappiittaa éé ddee RR$$ 110033..440033,,9999 ((cceennttoo ee ttrrêêss mmiill qquuaattrroocceennttooss ee ttrrêêss

rreeaaiiss ee nnoovveennttaa ee nnoovvee cceennttaavvooss));; eemm sseegguuiiddaa tteemmooss BBaarrccaarreennaa,, ccoomm uumm PPIIBB ddee RR$$ 33,,55 bbiillhhõõeess

ddee rreeaaiiss,, qquuee rreepprreesseennttaa 2222,,33%% ddoo PPIIBB ddee PPaarraauuaappeebbaass.. AAppeessaarr ddee uumm PPIIBB mmaaiioorr,, aa ppooppuullaaççããoo ddee

PPaarraauuaappeebbaass éé bbeemm mmaaiioorr qquuee aa ddee BBaarrccaarreennaa,, oo qquuee ccoonnffeerree aa eessttaa úúllttiimmaa uumm PPIIBB ppeerr ccaappiittaa ddee

RR$$ 3355..557733,,4488 ((ttrriinnttaa ee cciinnccoo mmiill,, qquuiinnhheennttooss ee sseetteennttaa ee ttrrêêss rreeaaiiss ee qquuaarreennttaa ee ooiittoo cceennttaavvooss)),,

ttrrêêss vveezzeess mmeennoorr qquuee oo PPIIBB ppeerr ccaappiittaa ddee PPaarraauuaappeebbaass.. NNoo ccaassoo ddoo MMuunniiccííppiioo ddee MMaarraabbáá,, oo PPIIBB

éé ddee RR$$ 33,,66 bbiillhhõõeess ddee rreeaaiiss,, ccoomm uummaa ppooppuullaaççããoo qquuee uullttrraappaassssaa BBaarrccaarreennaa ee PPaarraauuaappeebbaass ee ssee

ccoonnssttiittuuii nnaa qquuaarrttaa mmaaiioorr ppooppuullaaççããoo ddoo eessttaaddoo ddoo PPaarráá.. EEmm ffuunnççããoo ddiissssoo,, sseeuu PPIIBB ppeerr ccaappiittaa éé oo

mmeennoorr RR$$ 1155..442277,,1122 ((qquuiinnzzee mmiill ee qquuaattrroocceennttooss ee vviinnttee ee sseettee rreeaaiiss ee ddoozzee cceennttaavvooss)),, aaiinnddaa

aassssiimm eexxpprreessssiivvoo..

NNããoo oobbssttaannttee aa ttaabbeellaa 22 ddeemmoonnssttrraarr aa rriiqquueezzaa ddooss mmuunniiccííppiiooss mmiinneerraaddoorreess

ddoo eessttaaddoo ddoo PPaarráá eexxpprreessssooss ppeelloo PPIIBB ee aa ddiissttrriibbuuiiççããoo ddeessttaa rriiqquueezzaa ppeelloo PPIIBB ppeerr ccaappiittaa,,

aa aannáálliissee ddaa ddiissttrriibbuuiiççããoo ddaa ppooppuullaaççããoo ddooss mmuunniiccííppiiooss mmiinneerraaddoorreess sseelleecciioonnaaddooss,,

sseegguunnddoo aass ccllaasssseess ddee rreennddaa iinnddiivviidduuaall mmeennssaall,, ppeerrmmiittee uummaa iinntteerrpprreettaaççããoo mmaaiiss pprróóxxiimmaa

ddaa rreeaalliiddaaddee.. AA TTaabbeellaa 33 –– ppooppuullaaççããoo sseegguunnddoo ccllaasssseess ddee rreennddaa iinnddiivviidduuaall nnoommiinnaall

mmeennssaall –– ee aa TTaabbeellaa 44 –– vvaalloorr ddoo rreennddiimmeennttoo mmééddiioo ee mmeeddiiaannoo mmeennssaall ddoommiicciilliiaarr ppeerr

ccaappiittaa ––,, ddeemmoonnssttrraamm qquuee,, eeffeettiivvaammeennttee,, aa ppooppuullaaççããoo nnããoo aauuffeerree ddaa rriiqquueezzaa ggeerraaddaa nnooss

mmuunniiccííppiiooss eemm aannáálliissee..

TTAABBEELLAA 33:: PPOOPPUULLAAÇÇÃÃOO DDOOSS MMUUNNIICCÍÍPPIIOOSS MMIINNEERRAADDOORREESS SSEELLEECCIIOONNAADDOOSS,, SSEEGGUUNNDDOO AASS CCLLAASSSSEESS DDEE RREENNDDAA IINNDDIIVVIIDDUUAALL

NNOOMMIINNAALL MMEENNSSAALL Classes de renda Barcarena % Parauapebas % Marabá % Sem declaração 1 0,0 0 0,0 13 0,0 Sem rendimento 37.845 47,7 54.359 44,5 86.031 46,5 Até 1/2 salário mínimo

8.518 10,7 4.822 4,0 10.404 5,6

2614 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

1144

Mais de 1/2 a 1 salário mínimo

15.641 19,7 21.675 17,8 39.607 21,4

Mais de 1 a 2 salários mínimos

9.778 12,3 21.011 17,2 27.502 14,9

Mais de 2 a 5 salários mínimos

5.975 7,5 15.481 12,7 15.577 8,4

Mais de 5 a 10 salários mínimos

1.287 1,6 3.513 2,9 4.547 2,5

Mais de 10 a 20 salários mínimos

232 0,3 913 0,7 1.039 0,6

Mais de 20 salários mínimos

67 0,1 268 0,2 318 0,2

Total 79344 100,0 122042 100,0 185038 100,0 Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 2010

NNaa TTaabbeellaa 33 oobbsseerrvvaa--ssee qquuee eennttrree 8800 ee 9900%% ddaa ppooppuullaaççããoo ddooss mmuunniiccííppiiooss

sseelleecciioonnaaddooss rreecceebbeemm eennttrree zzeerroo ee ddooiiss ssaalláárriiooss mmíínniimmooss.. NNoo ccaassoo ddee BBaarrccaarreennaa,, 9900,,55%%

ddaa ppooppuullaaççããoo ppoossssuuii rreennddaa iinnddiivviidduuaall mmeennssaall ddee zzeerroo aa ddooiiss ssaalláárriiooss mmíínniimmooss;; nneessttaa

mmeessmmaa ffaaiixxaa ddee rreennddaa eessttããoo 8833,,55%% ddaa ppooppuullaaççããoo ddoo mmuunniiccííppiioo ddee PPaarraauuaappeebbaass;; ee 8888,,44%%

ddaa ppooppuullaaççããoo ddee MMaarraabbáá.. AA ssiittuuaaççããoo ssee aaggrraavvaa qquuaannddoo ssee oobbsseerrvvaa mmaaiiss ddee 5500%% ddaa

ppooppuullaaççããoo ddee BBaarrccaarreennaa ee MMaarraabbáá aauuffeerreemm rreennddaa ddee aattéé mmeeiioo ssaalláárriioo mmíínniimmoo –– 5588,,44%% ee

5522,,11%% rreessppeeccttiivvaammeennttee ––,, eennqquuaannttoo eessttee ppeerrcceennttuuaall cchheeggaa aa 4488%% ddaa ppooppuullaaççããoo ddee

PPaarraauuaappeebbaass.. ÉÉ iimmppoorrttaannttee rreessssaallttaarr qquuee oo rreennddiimmeennttoo mmééddiioo mmeennssaall iinnddiivviidduuaall ddoo

ppaarraaeennssee éé ddee RR$$ 999922,,0000 ((nnoovveecceennttooss ee nnoovveennttaa ee ddooiiss rreeaaiiss)) sseegguunnddoo aa PPeessqquuiissaa

NNaacciioonnaall ppoorr AAmmoossttrraa ddee DDoommiiccíílliiooss 22001111 –– PPNNAADD 22001111..

NNaa TTaabbeellaa 44 ssee ffaazz uumm iimmppoorrttaannttee ccoonnttrraappoonnttoo eennttrree oo rreennddiimmeennttoo mmééddiioo

mmeennssaall ddoommiicciilliiaarr ee oo PPIIBB ppeerr ccaappiittaa,, uummaa vveezz qquuee eessttee úúllttiimmoo mmeeddee aa ddiissttrriibbuuiiççããoo ddaa

rriiqquueezzaa ggeerraaddaa nnoo mmuunniiccííppiioo ppeelloo nnúúmmeerroo ttoottaall ddaa ppooppuullaaççããoo ee oo pprriimmeeiirroo mmeeddee oo vvaalloorr

mmééddiioo ddaa rreennddaa ddoommiicciilliiaarr aauuffeerriiddaa ppoorr ccaaddaa mmoorraaddoorr ddoo ddoommiiccíílliioo,, mmoossttrraa--ssee aaiinnddaa,, oo

ÍÍnnddiiccee ddee DDeesseennvvoollvviimmeennttoo HHuummaannoo MMuunniicciippaall –– IIDDHHMM.. ..

TTAABBEELLAA 44:: VALOR DO RENDIMENTO MÉDIO E MEDIANO MENSAL DOMICILIAR PER CAPITA (urbano)

Município Rendimento médio Rendimento mediano IDHM 2010

Barcarena R$ 1.633,98 R$ 300,00 0,662 Parauapebas R$ 2.189,52 R$ 433,33 0,715 Marabá R$ 2.299,24 R$ 375,00 0,668

Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 2010

Atas Proceedings | 2615

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

1155

OOss ddaaddooss iinnddiiccaamm qquuee BBaarrccaarreennaa,, ccoomm uumm PPIIBB ppeerr ccaappiittaa ddee RR$$ 3355..557733,,4488

((ttrriinnttaa ee cciinnccoo mmiill,, qquuiinnhheennttooss ee sseetteennttaa ee ttrrêêss rreeaaiiss ee qquuaarreennttaa ee ooiittoo cceennttaavvooss)),, ppoossssuuii

uumm rreennddiimmeennttoo mmééddiioo mmeennssaall ddoommiicciilliiaarr ppeerr ccaappiittaa ddee RR$$ 11..663333,,9988 ((uumm mmiill sseeiisscceennttooss ee

ttrriinnttaa ee ttrrêêss ee nnoovveennttaa ee ooiittoo cceennttaavvooss));; PPaarraauuaappeebbaass,, ccoomm uumm PPIIBB ppeerr ccaappiittaa ddee RR$$

110033..440033,,9999 ((cceennttoo ee ttrrêêss mmiill qquuaattrroocceennttooss ee ttrrêêss rreeaaiiss ee nnoovveennttaa ee nnoovvee cceennttaavvooss)),, ppoossssuuii

uumm rreennddiimmeennttoo mmééddiioo mmeennssaall ddoommiicciilliiaarr ppeerr ccaappiittaa ddee RR$$ 22..118899,,5522 ((ddooiiss mmiill cceennttoo ee

ooiitteennttaa ee nnoovvee rreeaaiiss ee cciinnqquueennttaa ee ddooiiss cceennttaavvooss)),, eennqquuaannttoo MMaarraabbáá,, ccoomm uumm PPIIBB ppeerr

ccaappiittaa ddee RR$$ 1155..442277,,1122 ((qquuiinnzzee mmiill,, qquuaattrroocceennttooss ee vviinnttee sseettee mmiill ee ddoozzee cceennttaavvooss)),,

ppoossssuuii uumm rreennddiimmeennttoo mmééddiioo mmeennssaall ddoommiicciilliiaarr ppeerr ccaappiittaa ddee RR$$ 22..229999,,2244 ((ddooiiss mmiill

dduuzzeennttooss ee nnoovveennttaa ee nnoovvee rreeaaiiss ee vviinnttee ee qquuaattrroo cceennttaavvooss))..

AAoo ssee aannaalliissaarr oo rreennddiimmeennttoo mmeeddiiaannoo mmeennssaall ddoommiicciilliiaarr ppeerr ccaappiittaa ddaass

ppooppuullaaççõõeess ddooss mmuunniiccííppiiooss eemm eessttuuddoo rreevveellaa--ssee aa aagguuddeezzaa ddaass ddeessiigguuaallddaaddeess ssoocciiaaiiss nnoo

qquuee ttaannggee aa ddiissttrriibbuuiiççããoo ddee rreennddaa nneesstteess mmuunniiccííppiiooss.. IIssssoo ppoorrqquuee aa mmeeddiiaannaa éé uummaa

mmeeddiiddaa eessttaattííssttiiccaa qquuee sseeppaarraa uummaa ppooppuullaaççããoo nnaa mmeettaaddee,, iissttoo éé,, 5500%% ((cciinnqquueennttaa ppoorr

cceennttoo)) ddoo ccoonnjjuunnttoo ffiiccaa aabbaaiixxoo ddaa mmeeddiiaannaa ee oouuttrrooss 5500%% aacciimmaa ddeessttaa,, llooggoo,, mmeettaaddee ddaa

ppooppuullaaççããoo ddee BBaarrccaarreennaa,, MMaarraabbáá ee PPaarraauuaappeebbaass aauuffeerree rreennddaa iinnffeerriioorr aa RR$$ 330000,,0000

((ttrreezzeennttooss rreeaaiiss)),, RR$$ 443333,,3333 ((qquuaattrroocceennttooss ee ttrriinnttaa ttrrêêss rreeaaiiss ee ttrriinnttaa ee ttrrêêss cceennttaavvooss)) ee RR$$

337755,,0000 ((ttrreezzeennttooss ee sseetteennttaa ee cciinnccoo rreeaaiiss)),, rreessppeeccttiivvaammeennttee..

OObbsseerrvvaa--ssee qquuee,, eemm ssiinnttoonniiaa ccoomm aa llóóggiiccaa ddee eexxpplloorraaççããoo ddooss rreeccuurrssooss ddaass rreeggiiõõeess

rriiccaass eemm nnaattuurreezzaa,, ccoommoo éé oo ccaassoo ddoo eessttaaddoo ddoo PPaarráá,, ooss iinnddiiccaaddoorreess eeccoonnôômmiiccooss ee ooss

iinnddiiccaaddoorreess ssoocciiaaiiss aapprreesseennttaamm mmoovviimmeennttooss ssiimmuullttâânneeooss eemm sseennttiiddooss ooppoossttooss.. QQuuaannddoo

ccoommppaarraaddooss oo vvoolluummee ddaa pprroodduuççããoo mmiinneerraall ddooss mmuunniiccííppiiooss sseelleecciioonnaaddooss,, eemm ggrraannddee

mmeeddiiddaa rreessppoonnssáávveeiiss ppeelloo eelleevvaaddoo PPIIBB ddoo eessttaaddoo ddoo PPaarráá,, ccoomm ooss ddaaddooss ddee ppooppuullaaççããoo ee

rreennddaa,, oobbsseerrvvaamm--ssee rreessuullttaaddooss qquuee ddeemmoonnssttrraamm aass rreeaaiiss ccoonnddiiççõõeess ddee vviiddaa ddaa ssuuaa

ppooppuullaaççããoo..

CCOONNCCLLUUSSÃÃOO

NNaa ccoonnttrraammããoo ddooss ddaaddooss ssoobbrree aa rriiqquueezzaa eexxttrraaííddaa ee eexxppoorrttaaddaa ddoo eessttaaddoo ddoo PPaarráá,,

eennccoonnttrraa--ssee uummaa ppooppuullaaççããoo eemmppoobbrreecciiddaa,, ccuujjaass ddeemmaannddaass ppoorr ssaaúúddee,, eedduuccaaççããoo,, rreennddaa,,

ssaanneeaammeennttoo,, hhaabbiittaaççããoo eettcc,, cchheeggaamm aa ddiivveerrssooss pprrooffiissssiioonnaaiiss,, ccoommoo ooss ddee SSeerrvviiççoo SSoocciiaall,,

nnoo sseeuu ccoottiiddiiaannoo pprrooffiissssiioonnaall.. EEssttaass ddeemmaannddaass ddeemmoonnssttrraamm oo aaggrraavvaammeennttoo ddaass

2616 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

1166

eexxpprreessssõõeess ddaa ““qquueessttããoo ssoocciiaall””,, nnuumm ccoonntteexxttoo mmaarrccaaddoo ppeellaa pprreeccaarriieeddaaddee ee//oouu

iinneexxiissttêênncciiaa ddee ppoollííttiiccaass ppúúbblliiccaass qquuee aatteennddaamm aass nneecceessssiiddaaddeess ddee rreepprroodduuççããoo ddaa vviiddaa

ssoocciiaall..

NNoo eessttaaddoo ddoo PPaarráá,, ooss pprroocceessssooss ddeeccoorrrreenntteess ddaa eexxpplloorraaççããoo ddee ssuuaass rriiqquueezzaass

mmiinneerraaiiss ttêêmm ccoonnttrriibbuuííddoo,, eennttrree oouuttrrooss,, ppaarraa uumm pprroocceessssoo ddee ppaauuppeerriizzaaççããoo ddaa ppooppuullaaççããoo

ppaarraaeennssee.. IIssssoo ssee ddáá ppeellaa vviiaa ddaa iimmppllaannttaaççããoo ddee eemmpprreessaass mmuullttiinnaacciioonnaaiiss –– ooss cchhaammaaddooss

ggrraannddeess pprroojjeettooss ––,, qquuee ooppeerraamm ccoommoo eennccllaavveess ee qquuee,, jjuussttaammeennttee ppoorr eessssaa ccoonnddiiççããoo,, nnããoo

llooggrraamm ddiisssseemmiinnaarr eeffeeiittooss ppoossiittiivvooss qquuee rreevveerrttaamm aa ccoonnddiiççããoo pprreevvaalleennttee ddee ppaauuppeerriizzaaççããoo

ee ddeeggrraaddaaççããoo ddaass áárreeaass//nnaaççõõeess oonnddee eesstteess ssee iinnssttaallaamm.. ÀÀss ddiinnââmmiiccaass pprroodduuttiivvaass jjáá

sseeddiimmeennttaaddaass,, eessppeecciiaallmmeennttee aa eexxpplloorraaççããoo mmiinneerraall,, ppeellaa vviiaa ddooss ggrraannddeess pprroojjeettooss,,

ssoommaamm--ssee nnoovvaass aattiivviiddaaddeess -- ccoommoo éé oo ccaassoo ddaa ccuullttuurraa ddaa ssoojjaa --,, qquuee tteemm pprroommoovviiddoo

uummaa ooccuuppaaççããoo ddeevvaassttaaddoorraa ddaa rreeggiiããoo ssuull ddoo eessttaaddoo ddoo PPaarráá.. MMiillhhõõeess ddee hheeccttaarreess ddee

fflloorreessttaa nnaattiivvaa jjáá ffoorraamm ddeerrrruubbaaddaass ppaarraa ddaarr lluuggaarr aa eessssaa mmoonnooccuullttuurraa,, aalltteerraannddoo

iinncclluussiivvee aa ppaaiissaaggeemm nnaattuurraall ddaa rreeggiiããoo.. NNoo eessppaaççoo oonnddee eessssaa ccuullttuurraa aavvaannççaaiivv rreessiiddee uummaa

ssiiggnniiffiiccaattiivvaa ppaarrcceellaa ddee hhaabbiittaanntteess qquuee aa ooccuuppaamm hháá iinnccoonnttáávveeiiss ggeerraaççõõeess –– ggrruuppooss

iinnddííggeennaass,, ppeeqquueennooss ttrraabbaallhhaaddoorreess rruurraaiiss,, rriibbeeiirriinnhhooss eettcc.. ––,, qquuee jjáá ccoommeeççaarraamm aa sseerr

eexxpprroopprriiaaddooss ppeellooss ssoojjeeiirrooss,, mmaajjoorriittaarriiaammeennttee ““ffaazzeennddeeiirrooss”” ddoo SSuull ee SSuuddeessttee ddoo ppaaííss,,

aattrraaííddooss ppeellaa ffaacciilliiddaaddee nnoo aacceessssoo àà tteerrrraa,, ppeellaa ffaacciilliiddaaddee eemm pprreessssiioonnaarr sseeuuss ooccuuppaanntteess

llooccaaiiss ee ppeellaass ffaacciilliiddaaddeess ggeenneerroossaammeennttee ooffeerreecciiddaass ppeelloo EEssttaaddoo ((FFIIAALLHHOO

NNAASSCCIIMMEENNTTOO,, 22000066))..

AAlliiaaddoo aa eesssseess pprroocceessssooss ttêêmm--ssee aass aaççõõeess ddoo EEssttaaddoo nneeoolliibbeerraall,, qquuee ddeessttrrooeemm

eessttrruuttuurraass ddee pprrootteeççããoo ssoocciiaall jjáá ccoonnqquuiissttaaddaass,, aaoo mmeessmmoo tteemmppoo eemm qquuee eennssaaiiaa ppoollííttiiccaass

ppúúbblliiccaass qquuee nnããoo rreevveerrtteemm oo qquuaaddrroo ddee ddeessiigguuaallddaaddeess ssoocciiaaiiss pprreesseenntteess nnoo ppaaííss..

CCoonncclluuíímmooss ppoorr aaffiirrmmaarr qquuee oo ccrreesscciimmeennttoo eeccoonnôômmiiccoo,, ttaall ccoommoo eenntteennddee aa

llóóggiiccaa ccaappiittaalliissttaa –– cceennttrraaddoo nnooss rreessuullttaaddooss ddee iinnddiiccaaddoorreess ccoommoo oo PPIIBB ––,, nnããoo tteemm

rreessuullttaaddoo nnuumm iigguuaall ccrreesscciimmeennttoo ddooss iinnvveessttiimmeennttooss ssoocciiaaiiss,, oo qquuee ppooddeerriiaa rreevveerrtteerr nnaa

mmeellhhoorriiaa,, nnuunnccaa nnaa pplleennaa ssaattiissffaaççããoo ddaass nneecceessssiiddaaddeess ssoocciiaaiiss ddaa ppooppuullaaççããoo ddoo eessttaaddoo ddoo

PPaarráá.. EE iissssoo ppoorrqquuee oo PPaarráá éé eexxeemmpplloo,, aaccaabbaaddoo,, ddaa ddoommiinnaaççããoo ccaappiittaalliissttaa,, nnoo qquuee ssee

ccoonnffiirrmmaa aa mmááxxiimmaa ddee qquuee àà pprroodduuççããoo ddaa rriiqquueezzaa –– nneessssee ttiippoo ddee ssoocciieeddaaddee ––,,

ccoorrrreessppoonnddee uummaa iigguuaall pprroodduuççããoo ddaa mmiisséérriiaa.. RReeaaffiirrmmaa--ssee,, aassssiimm,, ttaammbbéémm aa mmááxxiimmaa ddee

qquuee aa pplleennaa eemmaanncciippaaççããoo ddoo hhoommeemm ddaass ccoonnddiiççõõeess ddee eexxpplloorraaççããoo,, aa ssoocciiaalliizzaaççããoo ddooss

bbeennss pprroodduuzziiddooss ccoolleettiivvaammeennttee ee aa ssaattiissffaaççããoo ddaass nneecceessssiiddaaddeess ssoocciiaaiiss ddoo hhoommeemm,, ssóó

Atas Proceedings | 2617

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

1177

ppooddee sseerr rreeaalliizzaaddaa ppeellaa eexxttiinnççããoo ddoo ffuunnddaammeennttoo oonnttoollóóggiiccoo ddaa eexxpplloorraaççããoo ddoo ttrraabbaallhhoo

ppeelloo ccaappiittaall..

RREEFFEERRÊÊNNCCIIAASS BBIIBBLLIIOOGGRRÁÁFFIICCAASS

AALLMMEEIIDDAA,, AAllffrreeddoo WWaaggnneerr BBeerrnnoo ddee.. CCaarraajjááss:: aa gguueerrrraa ddooss mmaappaass.. BBeelléémm:: SSeemmiinnáárriioo CCoonnssuullttaa,, 11999955.. CCAARRDDOOSSOO,, MMaarriiaa ddaa PPaazz AArraaúújjoo eett aall.. MMaaggiissttéérriioo ddee 11ªª aa 44ªª sséérriiee nnuummaa áárreeaa ddee rruuppttuurraa ddaass rreellaaççõõeess ssoocciiaaiiss ttrraaddiicciioonnaaiiss:: aa qquueessttããoo ddaa ffoorrmmaaççããoo pprrooffiissssiioonnaall.. BBeelléémm:: IINNEEPP//FFAADDEESSPP//UUFFPPAA,, 11998866.. CCAATTTTAANNII,, AAnnttoonniioo CCaarrllooss ((oorrgg..)).. RRiiqquueezzaa ee DDeessiigguuaallddaaddeess SSoocciiaaiiss nnaa AAmméérriiccaa LLaattiinnaa.. TTrraadduuççããoo ddee EErrnnaannii SSssóó.. PPoorrttoo AAlleeggrree//RRSS:: ZZoouukk,, 22001100.. CCOOMMIISSSSÃÃOO EECCOONNÔÔMMIICCAA PPAARRAA AA AAMMÉÉRRIICCAA LLAATTIINNAA EE CCAARRIIBBEE//CCEEPPAALL.. PPaannoorraammaa SSoocciiaall ddaa AAmméérriiccaa LLaattiinnaa.. SSaannttiiaaggoo,, CChhiillee,, 22001100.. DDEEPPAARRTTAAMMEENNTTOO NNAACCIIOONNAALL DDEE PPRROODDUUÇÇÃÃOO MMIINNEERRAALL//DDNNPPMM,, AAnnuuáárriioo MMiinneerraall BBrraassiilleeiirroo 22001100,, BBrraassíílliiaa,, 22001100.. EEMMPPRREESSAA BBRRAASSIILLEEIIRRAA DDEE PPEESSQQUUIISSAA AAGGRROOPPEECCUUÁÁRRIIAA//EEMMBBRRAAPPAA.. AAttllaass ddoo MMeeiioo AAmmbbiieennttee ddoo BBrraassiill.. BBrraassíílliiaa:: EEMMBBRRAAPPAA –– SSPPII//TTeerrrraa VViivvaa,, 11999966.. FFIIAALLHHOO NNAASSCCIIMMEENNTTOO,, NNááddiiaa SSooccoorrrroo.. AAmmaazzôônniiaa ee ddeesseennvvoollvviimmeennttoo ccaappiittaalliissttaa:: eelleemmeennttooss ppaarraa uummaa ccoommpprreeeennssããoo ddaa ““qquueessttããoo ssoocciiaall”” nnaa rreeggiiããoo.. 22000066.. TTeessee ((DDoouuttoorraaddoo eemm SSeerrvviiççoo SSoocciiaall)) –– UUFFRRJJ,, RRiioo ddee JJaanneeiirroo,, 22000066.. FFRRAAGGAA,, ÉÉrriiccaa.. BBrraassiill éé 66ºº eemm ppootteenncciiaall ddee ccrreesscciimmeennttoo.. FFoollhhaa ddee SSããoo PPaauulloo.. CCaaddeerrnnoo MMeerrccaaddoo.. 0088//0099//22001100,, SSããoo PPaauulloo//SSPP.. IINNSSTTIITTUUTTOO BBRRAASSIILLEEIIRROO DDEE GGEEOOGGRRAAFFIIAA EE EESSTTAATTÍÍSSTTCCAA//IIBBGGEE.. SSíínntteessee ddee IInnddiiccaaddoorreess SSoocciiaaiiss:: uummaa aannáálliissee ddaass ccoonnddiiççõõeess ddee vviiddaa ddaa ppooppuullaaççããoo bbrraassiilleeiirraa.. RRiioo ddee JJaanneeiirroo,, 22001111.. ____________.. SSíínntteessee ddee IInnddiiccaaddoorreess SSoocciiaaiiss:: uummaa aannáálliissee ddaass ccoonnddiiççõõeess ddee vviiddaa ddaa ppooppuullaaççããoo bbrraassiilleeiirraa.. RRiioo ddee JJaanneeiirroo,, 22001111.. ____________.. CCeennssoo 22001100 -- PPrriimmeeiirrooss RReessuullttaaddooss.. DDiissppoonníívveell eemm hhttttpp::////wwwwww..iibbggee..oorrgg..bbrr ____________.. CCoonnttaass RReeggiioonnaaiiss ddoo BBrraassiill 22000055 -- 22000099.. RRiioo ddee JJaanneeiirroo,, 22001111.. ____________.. PPeessqquuiissaa NNaacciioonnaall ppoorr AAmmoossttrraa ddee DDoommiiccíílliiooss –– PPNNAADD 22001122.. RRiioo ddee JJaanneeiirroo,, 22001122..

2618 | ESADR 2013

VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural

1188

IINNSSTTIITTUUTTOO DDEE DDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOO EECCOONNÔÔMMIICCOO EE SSOOCCIIAALL DDOO PPAARRÁÁ.. RReeppeerrccuussssõõeess ssóócciioo--aammbbiieennttaaiiss ddoo ccoommpplleexxoo iinndduussttrriiaall AAllbbrraass//AAlluunnoorrttee eemm áárreeaa ddee iinnfflluuêênncciiaa iimmeeddiiaattaa.. BBeelléémm:: IIDDEESSPP,, 11999911.. IINNSSTTIITTUUTTOO OOBBSSEERRVVAATTÓÓRRIIOO SSOOCCIIAALL.. OO aaççoo ddaa ddeevvaassttaaççããoo –– ccrriimmeess aammbbiieennttaaiiss ee ttrraabbaallhhiissttaass nnaa ccaaddeeiiaa pprroodduuttiivvaa ddaa iinnddúússttrriiaa ssiiddeerrúúrrggiiccaa iinnssttaallaaddaa nnaa AAmmaazzôônniiaa.. EEddiiççããoo EEssppeecciiaall.. SSããoo PPaauulloo,, JJuunnhhoo ddee 22001111.. IINNSSTTIITTUUTTOO DDEE PPEESSQQUUIISSAASS EECCOONNÔÔMMIICCAASS AAPPLLIICCAADDAASS//IIPPEEAA.. RReellaattóórriioo ddee aaggêênncciiaass ddaass NNaaççõõeess UUnniiddaass.. DDiissppoonníívveell eemm hhttttpp::////wwwwww..iippeeaa..ggoovv..bbrr// ccoomm aacceessssoo eemm 0088//1100//22001100.. LLEEAALL,, AAlluuíízziioo LLiinnss.. AA iimmppoorrttâânncciiaa ddaa AAmmaazzôônniiaa ppaarraa oo AALLCCAA.. IInn:: CCaammppaannhhaa JJuubbiilleeuu SSuull//BBrraassiill ((oorrgg..)).. LLiivvrree CCoomméérrcciioo:: oo qquuee eessttáá eemm jjooggoo?? SSããoo PPaauulloo:: PPaauulliinnaass,, 22000044.. ((CCoolleeççããoo MMuunnddoo PPoossssíívveell)).. ____________.. GGrraannddeess PPrroojjeettooss AAmmaazzôônniiccooss:: ddooiiss ccaassooss pprreeccuurrssoorreess.. 11999966.. TTeessee ((DDoouuttoorraaddoo eemm HHiissttóórriiaa EEccoonnôômmiiccaa)) –– UUSSPP,, SSããoo PPaauulloo,, 11999966.. ____________.. AAmmaazzôônniiaa:: oo aassppeeccttoo ppoollííttiiccoo ddaa qquueessttããoo mmiinneerraall.. ((DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo eemm PPllaanneejjaammeennttoo RReeggiioonnaall)).. PPLLAADDEESS//NNAAEEAA//UUFFPPAA,, 11998888.. ____________.. OOss pprriimmeeiirrooss iimmppaaccttooss ssoocciiaaiiss ddee uumm ppoolloo mmeettaallúúrrggiiccoo nnaa AAmmaazzôônniiaa:: oo ccaassoo AALLBBRRAASS//AALLUUNNOORRTTEE.. RReevviissttaa CCiiêênncciiaass ddaa TTeerrrraa,, nn.. 55,, jjuull..//aaggoo..,, 11998822.. MMAANNDDEELL,, EErrnneesstt.. OO CCaappiittaalliissmmoo TTaarrddiioo.. TTrraadduuççããoo ddee CCaarrllooss EEdduuaarrddoo SSiillvveeiirraa.. SSããoo PPaauulloo:: NNoovvaa CCuullttuurraall,, 11998855.. ((OOss EEccoonnoommiissttaass)).. MMAARRXX,, KKaarrll.. OO CCaappiittaall:: ccrrííttiiccaa ddaa eeccoonnoommiiaa ppoollííttiiccaa.. RRiioo ddee JJaanneeiirroo:: CCiivviilliizzaaççããoo BBrraassiilleeiirraa,, 11999988.. PPNNUUDD –– PPrrooggrraammaass ddaass NNaaççõõeess UUnniiddaass ppaarraa oo DDeesseennvvoollvviimmeennttoo.. DDiissppoonníívveell eemm hhttttpp::////wwwwww..ppnnuudd..ggoovv..bbrr//iiddhh ccoomm aacceessssoo eemm 2299//0011//22000066.. ____________.. AAttllaass ddoo DDeesseennvvoollvviimmeennttoo HHuummaannoo 22001133.. DDiissppoonníívveell eemm hhttttpp::////wwwwww..ppnnuudd..ggoovv..bbrr//iiddhh ccoomm aacceessssoo eemm 1144//0088//22001133.. RRIIBBEEIIRROO,, NNeellssoonn ddee FFiigguueeiirreeddoo.. PPoollíítt iiccaass ppúúbblliiccaass ppaarraa oo ddeesseennvvoollvviimmeennttoo ssuusstteennttáávveell ddaa AAmmaazzôônniiaa.. BBeelléémm:: SSEEIICCOOMM,, 11999900.. SSEECCRREETTAARRIIAA DDEE EESSTTAADDOO,, DDEE DDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOO,, CCIIÊÊNNCCIIAA EE TTEECCNNOOLLOOGGIIAA –– SSEEDDEECCTT.. PPrrooggrraammaa ee aaççõõeess ddoo nnoovvoo mmooddeelloo ddee ddeesseennvvoollvviimmeennttoo.. DDiissppoonníívveell eemm hhttttpp::////wwwwww..sseeddeecctt..ppaa..ggoovv..bbrr ccoomm aacceessssoo eemm 1111//0066//22001100.. SSUUPPEERRIINNTTEENNDDÊÊNNCCIIAA DDOO DDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOO DDAA AAMMAAZZÔÔNNIIAA;; UUFFPPAA//FFAADDEESSPP.. MMiinneerraaççããoo nnaa AAmmaazzôônniiaa LLeeggaall:: iimmppoorrttâânncciiaa ssóócciioo--eeccoonnôômmiiccaa ee ppeerrssppeeccttiivvaass.. BBeelléémm,, 11999977 ((VVeerrssããoo PPrreelliimmiinnaarr))..

Atas Proceedings | 2619

Empreendimentos econômicos e população local em regiões de florestas tropicais P01

1199

SSWWEEEEZZYY,, PPaauull MM.. TTeeoorriiaa ddoo ddeesseennvvoollvviimmeennttoo ccaappiittaalliissttaa -- PPrriinnccííppiiooss ddee eeccoonnoommiiaa ppoollííttiiccaa mmaarrxxiissttaa.. TTrraadduuççããoo ddee WWaalltteennssiirr DDuuttrraa.. RRiioo ddee JJaanneeiirroo:: ZZaahhaarr,, 11998855.. ZZOONNEEAAMMEENNTTOO EECCOOLLÓÓGGIICCOO--EECCOONNÔÔMMIICCOO//ZZEEEE ddaass ZZoonnaass LLeessttee ee CCaallhhaa NNoorrttee ddoo EEssttaaddoo ddoo PPaarráá.. CCaarrmmeemm RRoosseellii CCaallddaass MMeenneezzeess,, MMaarrccíílliioo ddee AAbbrreeuu MMoonntteeiirroo ee IIggoorr MMaauurríícciioo FFrreeiittaass GGaallvvããoo ((CCoooorrdd..)).. BBeelléémm,, PPAA:: NNúúcclleeoo ddee GGeerreenncciiaammeennttoo ddoo PPrrooggrraammaa PPaarráá RRuurraall,, 22001100.. 33vv..

NNOOTTAASS::

ii DDiivveerrssooss aauuttoorreess eennffooccaarraamm oo ccaarráátteerr ddee eennccllaavvee ddoo ggrraannddee pprroojjeettoo ee RRiibbeeiirroo ((11999900)) ccoonnssiiddeerraa qquuee eelleess,, eessppeecciiaallmmeennttee ooss mmíínneerroo--mmeettaallúúrrggiiccooss,, ttoorrnnaamm--ssee ““eennccllaavveess nnaa rreeggiiããoo,, sseemm pprroovvooccaarr mmaaiioorreess eeffeeiittooss bbeennééffiiccooss,, aa nníívveell eeccoonnôômmiiccoo oouu ssoocciiaall,, jjáá qquuee ssããoo eemmpprreeeennddiimmeennttooss vvoollttaaddooss eexxcclluussiivvaammeennttee ppaarraa oo mmeerrccaaddoo eexxtteerrnnoo”” ((pp.. 1111--22)).. PPaarraa LLeeaall ((11999966)),, ““oo tteerrmmoo ggrraannddee pprroojjeettoo ssuurrggiiuu nnaa AAmmaazzôônniiaa ddaa ddééccaaddaa ddee 11997700 ppaarraa ddeessiiggnnaarr ooss eemmpprreeeennddiimmeennttooss--eennccllaavveess qquuee ooppeerraamm rreettiirraannddoo rreeccuurrssooss nnaattuurraaiiss eemm ggrraannddee qquuaannttiiddaaddee,, mmaannddaannddoo--ooss ppaarraa ffoorraa ((pp..1100)).. iiii OOss ddooiiss cchhooqquueess nnooss pprreeççooss ddoo ppeettrróólleeoo aattiinnggiirraamm dduurraammeennttee ooss ppaaíísseess ddee ccaappiittaalliissmmoo aavvaannççaaddoo,, ddeennttrree eelleess oo JJaappããoo.. EEssttee ppaaííss,, qquuee iinniicciiaarraa uumm mmoovviimmeennttoo ddee ccoonnccoorrrrêênncciiaa nnoo mmeerrccaaddoo mmuunnddiiaall ccoomm ooss EEssttaaddooss UUnniiddooss,, tteevvee aaffeettaaddaa aa ssuuaa ccaappaacciiddaaddee pprroodduuttiivvaa,, eessppeecciiaallmmeennttee nnoo rraammoo ddaa iinnddúússttrriiaa ddee aalluummíínniioo pprriimmáárriioo.. ““OO aalluummíínniioo pprriimmáárriioo éé uumm pprroodduuttoo mmeettáálliiccoo ccoomm aammppllaa uuttiilliizzaaççããoo ddoo [[ssiicc]] mmuunnddoo mmooddeerrnnoo.. QQuuaannddoo ttrraannssffoorrmmaaddoo eemm cchhaappaass,, ffoollhhaass,, eexxttrruuddaaddooss,, ffiiooss,, ccaabbooss,, vveerrggaallhhõõeess,, lliiggaass ee ppaassttaass,, sseerrvveemm ddee iinnssuummoo ppaarraa ddiivveerrssooss pprroodduuttooss iinndduussttrriiaaiiss ((......)).. OO pprroocceessssoo ddee pprroodduuççããoo ddoo aalluummíínniioo pprriimmáárriioo ddáá--ssee aa ppaarrttiirr ddee dduuaass ffaasseess bbáássiiccaass:: aa ddee ttrraannssffoorrmmaaççããoo ddaa bbaauuxxiittaa eemm aalluummiinnaa ee aa ddeessttaa eemm aalluummíínniioo pprriimmáárriioo aattrraavvééss ddaa eelleettrróólliissee””.. ((IIDDEESSPP,, 11999911,, pp.. 1111)).. iiiiii ““CCeerrccaa ddee uumm tteerrççoo ddoo oouurroo pprroodduuzziiddoo nnoo BBrraassiill vveemm ddoo PPaarráá.. NNoo ssuubbssoolloo ppaarraaeennssee eennccoonnttrraamm--ssee aaiinnddaa 7766%% ddaass rreesseerrvvaass bbrraassiilleeiirraass ddee bbaauuxxiittaa,, 7733%% ddee ccoobbrree,, 4466%% ddoo mmiinnéérriioo ddee ffeerrrroo ee 2277%% ddoo mmaannggaannêêss.. EEnnttrree ooss mmiinneerraaiiss nnããoo--mmeettáálliiccooss eessttããoo 6622%% ddaa ggiippssiittaa,, 5533%% ddoo qquuaarrttzzoo ee 4499%% ddoo ccaauulliimm.. AA mmaaiioorr pprroovvíínncciiaa mmiinneerraall ddoo ppllaanneettaa ttaammbbéémm eessttáá nnoo PPaarráá,, nnaa rreeggiiããoo ddaa SSeerrrraa ddooss CCaarraajjááss”” ((EEMMBBRRAAPPAA,, 11999966,, pp.. 55)).. iiiiii AA ppaarrttiirr ddaass dduuaass úúllttiimmaass ddééccaaddaass ddoo ssééccuulloo XXXX,, ddeessttaaccoouu--ssee oo ccrreesscciimmeennttoo ssiiggnniiffiiccaattiivvoo ddee oouuttrraass eexxpprreessssõõeess pprroodduuttiivvaass nnaa rreeggiiããoo aammaazzôônniiccaa.. EEssttee éé oo ccaassoo ddoo aaggrroonneeggóócciioo -- qquuee eenngglloobbaa aa aaggrriiccuullttuurraa ee aa ppeeccuuáárriiaa --,, ee nnoo qquuaall ssee ttêêmm ddeessttaaccaaddoo aass ccuullttuurraass aaggrrííccoollaass ddee eexxppoorrttaaççããoo,, ccoommoo éé oo ccaassoo ddaa ssoojjaa,, aasssseennttaaddaa aaoo llaaddoo ddaass vviiaass ddee ccoommuunniiccaaççããoo qquuee lliiggaamm aa AAmmaazzôônniiaa aaoo cceennttrroo--ssuull:: aass rrooddoovviiaass CCuuiiaabbáá--PPoorrttoo VVeellhhoo ((BBrr 115588)) ee aa CCuuiiaabbáá--SSaannttaarréémm ((BBRR 116633)).. OO ccuullttiivvoo ddaa ssoojjaa nnoo BBrraassiill tteevvee iinníícciioo nnaa RReeggiiããoo SSuull,, mmaaiiss pprreecciissaammeennttee nnooss eessttaaddooss ddoo PPaarraannáá ee RRiioo GGrraannddee ddoo SSuull,, ddee oonnddee rruummoouu ppaarraa aa zzoonnaa ddoo cceerrrraaddoo,, cchheeggaannddoo aattéé oo MMaarraannhhããoo ee,, ddaaíí,, sseegguuiinnddoo ppeellaa rrooddoovviiaa CCuuiiaabbáá--SSaannttaarréémm,, ppeenneettrroouu nnaa rreeggiiããoo ddoo BBaaiixxoo AAmmaazzoonnaass ppaarraaeennssee.. LLeeaall ((22000044)) ddeessttaaccaa qquuee oo ccrreesscciimmeennttoo ddeessssaa ccuullttuurraa eessttáá rreellaacciioonnaaddoo àà ddeemmaannddaa ppoorr ssuupprriimmeennttooss aalliimmeennttaarreess ppaarraa aa pprroodduuççããoo ddee ccaarrnnee ddee ffrraannggoo,, bbooii ee ppoorrccoo,, eemm rreeggiimmee ddee ccoonnffiinnaammeennttoo nnooss ppaaíísseess ddaa EEuurrooppaa ee nnooss EEssttaaddooss UUnniiddooss..