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SEDE DO OBSERVATÓRIO SOCIAL Av. Luiz Boiteux Piazza, 4810 Ponta das Canas - Ilha de Santa Catarina Florianópolis SC - CEP88.056-000 Fone (048) 261.4093 • Fax (048) 261.4060 . E-mail: [email protected] ESTUDO SOCIOECONÔMICO DAS EMPRESAS NORUEGUESAS NO BRASIL EMPRESAS NORUEGUESAS NO BRASIL

EMPRESAS NORUEGUESAS · A crescente presença de empresas estrangeiras no Brasil é um dos elementos que melhor traduz a inserção do país na globalização, ainda em curso. Em

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SEDE DO OBSERVATÓRIO SOCIALAv. Luiz Boiteux Piazza, 4810Ponta das Canas - Ilha de Santa CatarinaFlorianópolis SC - CEP88.056-000Fone (048) 261.4093 • Fax (048) 261.4060 . E-mail:[email protected]

ESTUDO SOCIOECONÔMICODAS EMPRESASNORUEGUESAS NO BRASIL

EMPRESASNORUEGUESAS

NO BRASIL

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Observatório Social – Relatório Geral de Observação

SIGLAS

Acro - Hydro Alumínio Acro S.A.Albrás - Alumínio Brasileiro S.A.Alcan - Alcan Alumínio do Brasil S.A.Alcoa - Alcoa Alumínio S.A.Alunorte - Alunorte Alumina do Norte do Brasil S.A.Aluvale - Vale do Rio Doce Alumínio S.A.Bilinton - Bilinton Metais S.A.CBA - Companhia Brasileira de AlumínioMRN - Mineração Rio do Norte S.A.Norsk HydroTrevo - Adubos Trevo S.A.Valesul - Valesul Alumínio S.A.PCS - Personal Communications ServiceSME - Serviço Móvel Especializado, também conhecido como trunkingCDMA - Code Division Multiple AccessTDMA - Time Division Multiple AccessPaging ou pager - Serviço de radiochamadaGSM - Global System for Mobile CommunicationsGAN - Global Area NetworkPPB - Processo Produtivo BásicoIPI - Imposto Sobre Produtos IndustrializadosGeSI - Projeto Global e-Sustainability InitiativeBACEN - Banco CentralCIPA - Comissão Interna de Prevenção de AcidentesDESEP – Departamento de Estudos Socioeconômicos e Políticos da CUTCEDEC - Centro de Estudos de Cultura ContemporâneaCUT - Central Única dos TrabalhadoresDIEESE - Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos SocioeconômicosFINEP - Financiadora de Estudos e ProjetosIBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e EstatísticaOCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento EconômicoOIT - Organização Internacional do TrabalhoOS - Observatório SocialSA 8000 - Social Accountability 8000Unitrabalho – Rede Interuniversitária de Estudos e Pesquisa sobre o Trabalho

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Observatório Social – Relatório Geral de Observação

ÍNDICESIGLAS___________________________________________________________________________________2ÍNDICE ___________________________________________________________________________________3I - APRESENTAÇÃO ________________________________________________________________________5II. INTRODUÇÃO ___________________________________________________________________________6

O NOVO DESAFIO DO SINDICALISMO INTERNACIONAL: A GLOBALIZAÇÃO DE DIREITOS _________6III - PANORAMA DOS INVESTIMENTOS NORUEGUESES NO BRASIL _______________________________8

3.1. INVESTIMENTOS NORUEGUESES NO BRASIL____________________________________________8GRÁFICO 1 - FLUXOS LÍQUIDOS DE IDE PARA O BRASIL (US$ BILHÕES) – 1988-1993 E 1994-2000. 8TABELA 1 - FLUXOS DE INVESTIMENTO DIRETO NORUEGUÊS SEGUNDO ATIVIDADESECONÔMICAS – (US$ MILHÕES E %) _____________________________________________________81998-2000 ____________________________________________________________________________8

3.2. COMÉRCIO BILATERAL BRASIL - NORUEGA_____________________________________________9TABELA 2 - COMÉRCIO BILATERAL BRASIL-NORUEGA – (PAUTA E %) 2000 ____________________9TABELA 3 – QUADRO DAS EMPRESAS NORUEGUESAS EM ATIVIDADE NO BRASIL SELECIONADASPARA ESTUDO – 2000 ___________________________________ ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

IV - DIAGNÓSTICO ECONÔMICO E SOCIAL DOS PRINCIPAIS GRUPOS EMPRESARIAIS NORUEGUESESNO BRASIL ______________________________________________________________________________11

4.1. INTRODUÇÃO ______________________________________________________________________114.2. GRUPO A: EXTRAÇÃO E REFINO DE ALUMÍNIO/ADUBOS/ FERTILIZANTES (NORSKHYDRO/KVAERNER) ____________________________________________________________________12

4.2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO SETORIAL - REFINO DE ALUMINA E PRODUÇÃO DE ARTEFATOS DEALUMÍNIO - CONTEXTO SETORIAL E INSERÇÃO DA HYDRO LIGTH METALS NO BRASIL ________12TABELA 4 - PRODUÇÃO DE ALUMINA NO BRASIL SEGUNDO EMPRESAS – (MI T. E %) – 1997-2000124.2.2. ESTRUTURAÇÃO EMPRESARIAL DO GRUPO HYDRO_________________________________124.2.2.1. NÍVEL MUNDIAL _______________________________________________________________13TABELA 5 - RESULTADO OPERACIONAL1 DAS DIVISÕES AGRÍCOLAS E DE METAIS LEVAS DANORSK HYDRO – (US$ MILHÕES) – 1999 E 2000 __________________________________________144.2.2.2. NO BRASIL ___________________________________________________________________144.2.2.2.1. HYDRO ALUMÍNIO ACRO S. A. _________________________________________________14TABELA 6 - INDICADORES CONTÁBEIS DA HYDRO ALUMÍNIO ACRO S.A. – 2000 – (US$ MIL)_____154.2.2.2 - ALUNORTE - ALUMINA NORTE DO BRASIL S. A. ___________________________________15TABELA 7- INDICADORES CONTÁBEIS DA ALUNORTE ALUMINA DO NORTE DO BRASIL S.A. – 2000– (US$ MIL)__________________________________________________________________________16TABELA 8 - COMPOSIÇÃO ACIONÁRIA DA ALUNORTE ALUMINA DO NORTE DO BRASIL S.A. 2002 –(%)_________________________________________________________________________________164.2.2.3. HYDRO FERTILIZANTES LTDA ___________________________________________________174.2.2.4. ADUBOS TREVO S. A. __________________________________________________________17TABELA 9 - INDICADORES CONTÁBEIS DA ADUBOS TREVO – 2000 – (US$ MIL) ________________17TABELA 10 - DETALHAMENTO DO NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS DA HYDRO ALUMÍNIO ACRO S.A.174.2.4. ESTRUTURAÇÃO EMPRESARIAL DO GRUPO KVAERNER _____________________________184.2.4.1. KVAERNER NO BRASIL _________________________________________________________19TABELA 11 - INDICADORES CONTÁBEIS KVAERNER BRASIL LTDA – (US$ MIL) – 2000 __________194.2.5. RELAÇÕES LABORAIS NA KVAERNER______________________________________________19

4.3. GRUPO B: QUÍMICA E MINERAÇÃO (ELKEM ASA DA NORUEGA) __________________________194.3.1. ATUAÇÃO NO BRASIL ___________________________________________________________214.3.2. CONTEXTUALIZAÇÃO SETORIAL DO SEGMENTO QUÍMICO____________________________21TABELA 12 – FLUXO DE PRODUTOS QUÍMICOS ENTRE BRASIL E MERCOSUL – 1990/1995 – (EMUS$ MILHÕES FOB) __________________________________________________________________214.3.3. ESTRUTURAÇÃO EMPRESARIAL DO GRUPO ELKEM NO SEGMENTO QUÍMICO___________224.3.3.1. ELKEM PARTICIPAÇÕES IND. E COM. LTDA. (CARBOINDUSTRIAL S.A.) ________________22TABELA 13 – INDICADORES CONTÁBEIS DA CARBOINDUSTRIAL S.A. 2000 – (US$ MIL)________224.3.3.2. CARBODERIVADOS S.A. ________________________________________________________22TABELA 14 – COMPOSIÇÃO ACIONÁRIA DA CARBODERIVADOS S.A._________________________23JULHO 99 – (%) ______________________________________________________________________23

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TABELA 15 – INDICADORES CONTÁBEIS DA CARBODERIVADOS S.A. 2000 – (US$ MIL) ________234.3.3.3. MICROSILICA TECNOLOGIA IND. E COM. LTDA_____________________________________234.3.4. CONTEXTUALIZAÇÃO SETORIAL DO SEGMENTO MINERAL____________________________24TABELA 16 - RESERVA DAS PRINCIPAIS SUBSTÂNCIAS MINERAIS –1993 – (MIL T) ____________244.3.5. ESTRUTURAÇÃO EMPRESARIAL DO GRUPO ELKEM NO SEGMENTO QUÍMICO___________254.3.5.1. MINERAÇÃO VILA NOVA ________________________________________________________254.3.5.1.1. OBJETIVOS E ESTRATÉGIAS DA EMPRESA ______________________________________25

4.3.6. RELAÇÕES LABORAIS _____________________________________________________________264.3.6.1. ELKEM PARTICIPAÇÕES IND. E COM. LTDA (CARBOINDUSTRIAL S.A.)_________________26TABELA 17 – DETALHAMENTO DO NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS DA ELKEN PARTICIPAÇÕES IND. ECOM. LTDA. (CARBOINDUSTRIAL) ______________________________________________________26TABELA 18 – SALÁRIO MÉDIO DOS TRABALHADORES DA ELKEM PARTICIPAÇÕES IND. E COM.LTDA. (CARBOINDUSTRIAL) ___________________________________________________________27TABELA 19 – BENEFÍCIOS ASSEGURADOS AOS EMPREGADOS DA EMPRESA ________________274.3.6.2. CARBODERIVADOS S.A ________________________________________________________28TABELA 20 – DETALHAMENTO DO NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS DA CARBODERIVADOS S.A.____28TABELA 21 – SALÁRIO MÉDIO DOS TRABALHADORES DA CARBODERIVADOS S.A. ____________29

4.4. GRUPO C: PAPEL E CELULOSE – NORSKE SKOG (NORSKE SKOG KLABIN E PISA PAPEL DEIMPRENSA) E LORENTZEN (ARACRUZ CELULOSE) _________________________________________29

4.4.1.CONTEXTUALIZAÇÃO SETORIAL___________________________________________________294.4.1.1. NÍVEL MUNDIAL _______________________________________________________________294.4.1.2. NO BRASIL ___________________________________________________________________304.4.2. O GRUPO NORSKE SKOG ________________________________________________________304.4.2.1. A ORGANIZAÇÃO DO GRUPO E SUA ATUAÇÃO GLOBAL_____________________________304.4.2.2. A ATUAÇÃO DA NORSKE SKOG NO BRASIL _______________________________________314.4.3. A PISA PAPEL DE IMPRENSA _____________________________________________________324.4.3.1. RELAÇÕES LABORAIS NA PISA PAPEL DE IMPRENSA_______________________________324.4.4. A NORSKE SKOG KLABIN ________________________________________________________344.4.4.1. RELAÇÕES LABORAIS NA NORSKE SKOG KLABIN PAPEIS PARANÁ ___________________344.4.5. A ATUAÇÃO DO GRUPO LORENTZEN NO BRASIL____________________________________364.4.6. A ARACRUZ CELULOSE __________________________________________________________364.4.6.1 RELAÇÕES LABORAIS NA ARACRUZ CELULOSE____________________________________38

4.5. GRUPO D: EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS DE COMUNICAÇÃO MÓVEL (TELENOR BROADBANDSERVICES E NERA AMÉRICA LATINA LTDA) _______________________________________________40

4.5.1. CONTEXTUALIZAÇÃO SETORIAL: AS COMUNICAÇÕES MÓVEIS NO BRASIL______________404.5.1.1. A COMUNICAÇÃO VIA SATÉLITE NO BRASIL _______________________________________414.5.2 ESTRUTURAÇÃO EMPRESARIAL___________________________________________________414.5.2.1 GRUPO TELENOR______________________________________________________________414.5.2.1.1 TELENOR BROADBAND SERVICES: ATUAÇÃO NO BRASIL __________________________424.5.2.2. GRUPO NERA ASA_____________________________________________________________424.5.2.2.1. NERA AMÉRICA LATINA LTDA: ATUAÇÃO NO BRASIL ______________________________43TABELA 22 – INDICADORES DE DESEMPENHO DA NERA AMÉRICA LATINA LTDA ______________434.5.3 RELAÇÕES LABORAIS____________________________________________________________444.5.3.1 TELENOR BROADBAND SERVICES _______________________________________________444.5.3.2 NERA AMÉRICA LATINA LTDA____________________________________________________44

V. RECOMENDAÇÕES PARA O APROFUNDAMENTO DO ESTUDO E PARA A ATUAÇÃO SINDICAL ____455.1. ASPECTOS GERAIS _________________________________________________________________455.2. GRUPO A: EXTRAÇÃO E REFINO DE ALUMÍNIO/ADUBOS/ FERTILIZANTES (NORSKHYDRO/KVAERNER) ____________________________________________________________________475.3. GRUPO B: QUÍMICO E MINERAÇÃO (ELKEM ASA DA NORUEGA) __________________________485.4. GRUPO C: PAPEL E CELULOSE (ARACRUZ-LORENTZEN/NORSKE SKOG) __________________485.5. GRUPO D: EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS DE COMUNICAÇÃO MÓVEL (TELENOR BROADBANDSERVICES E NERA AMÉRICA LATINA LTDA) _______________________________________________49

EXPEDIENTE _____________________________________________________________________________51

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I - APRESENTAÇÃO

Este estudo apresenta os resultados do projeto de pesquisa demandado pela Central SindicalNorueguesa, Landesorganisasjoven i Norge, coordenado no Brasil pelo Observatório Social edesenvolvido em parceria com o Departamento de Estudos Socioeconômicos e Políticos daCentral Única dos Trabalhadores (Desep/CUT).

O referido estudo traz um panorama do capital norueguês no Brasil, focalizando a atuação dasprincipais empresas em atividade no país e registrando um quadro preliminar da situação dasrelações trabalhistas em cada uma delas.

O texto divide-se em cinco capítulos, incluindo esta apresentação. No capítulo introdutório,pontuamos os aspectos mais importantes da realidade econômico e social do Brasil,ressaltando os principais problemas e dificuldades enfrentados pelos trabalhadores brasileirosno atual contexto. No segundo capítulo, traçamos um panorama dos investimentos e trocascomerciais noruegueses no Brasil.

O terceiro capítulo trata da atuação das principais empresas e/ou grupos norueguesesinstalados e em atividade no país, focalizando aspectos relativos ao: (a) contexto setorial noqual se insere cada empresa e/ou grupo; (b) a estruturação de cada empresa e/ou grupo emnível mundial e no Brasil, incluindo aspectos da estratégia empresarial predominante; e (c) asituação das relações de trabalho em cada unidade produtiva e/ou prestadora de serviços.

Finalizando o texto, no quarto capítulo retomamos os principais aspectos observados notópico relativo às relações de trabalho e fazemos um breve mapeamento dos principaiscampos para a atuação sindical, bem como áreas nas quais este estudo poderia tercontinuidade.

Adicionalmente, num documento à parte, elaboramos uma listagem contendo um cadastro detodas as empresas de capital norueguês em atividade no país (informações como endereço,telefone, entre outras) e uma outra, também de caráter cadastral, dos sindicatos querepresentam os trabalhadores das principais empresas norueguesas no Brasil.

Cabe ressaltar que os resultados apresentados são fruto de um enorme esforço realizado entreos dias 7 de novembro de 2001 e 12 de janeiro de 2002, período tradicionalmente difícil noBrasil para estudos ou pesquisas. Em razão da exigüidade do prazo para sua elaboração, opresente estudo objetivou desde sua origem ser apenas um primeiro levantamento deinformações e questões e não um documento consolidado prevendo recomendações e açõesconcretas de denúncias vinculadas a direitos fundamentais nas áreas trabalhista, ambiental esindical, referenciados na Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Por fim, gostaríamos de expressar o nosso agradecimento a todos que colaboraram, direta ouindiretamente, para a realização deste estudo, e em particular aos representantes das empresas,dos sindicatos, da Embaixada Real da Noruega e da Câmara de Comércio Brasil-Noruega.

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II. INTRODUÇÃO

O NOVO DESAFIO DO SINDICALISMO INTERNACIONAL: AGLOBALIZAÇÃO DE DIREITOS

O processo de globalização econômica tem como principal característica a expansão dosfluxos comerciais e acordos comerciais entre países ou regiões, dos investimentosestrangeiros diretos e das transações financeiras internacionais, bem como o crescimento dopoder das empresas multinacionais. No Brasil, a globalização econômica se fortaleceu,progressivamente, com a abertura comercial no princípio dos anos 1990 e por meio da forteexpansão do ingresso de capitais financeiros, com a participação ativa do país nos acordos deintegração regional como o Mercosul e nas negociações com a União Européia e, maisrecentemente, na Alca (Área de Livre Comércio das Américas).

A crescente presença de empresas estrangeiras no Brasil é um dos elementos que melhortraduz a inserção do país na globalização, ainda em curso. Em vários setores da indústria edos serviços é notável a velocidade e a magnitude do avanço do capital estrangeiro. Apresença multinacional ou transnacional é marcante no sistema financeiro, na indústriaautomobilística, no setor de bens de capital e informática, no complexo químico, na indústriada alimentação, nas telecomunicações e energia, entre outros setores. É difícil identificar umsetor de atividade econômica no qual as empresas multinacionais não estejam expandindosuas operações.

De fato, os investimentos estrangeiros diretos no Brasil saltaram de US$ 3,5 bilhões em 1994para mais de US$ 32 bilhões em 2000 (Bacen). Embora, em alguns casos, a realização deinvestimentos produtivos possa significar a geração de novos empregos, a aquisição deempresas locais ou a expansão dos investimentos em filiais já instaladas no Brasil vêmacompanhadas de processos tecnológicos, organizacionais e gerenciais cujos reflexos para omundo do trabalho são a emergência do chamado desemprego estrutural, característico dospaíses do Hemisfério Norte.

Dada a posição de liderança que normalmente assumem nos setores e nas cadeias produtivas,tais práticas difundem-se para o conjunto da economia. Muitas vezes, direitos trabalhistas esociais são ameaçados ou transformam-se em instrumentos de barganha das empresas, sejajunto aos trabalhadores dos países de origem delas ou junto aos trabalhadores do país receptordo investimento. Até mesmo os governos são envolvidos nesse processo de barganha global.

A emergência desse poder transnacional tem chamado a atenção do movimento sindical,devido à tendência de redução dos direitos trabalhistas e sociais e à conseqüente deterioraçãodas condições de vida dos trabalhadores. Em busca de vantagens fiscais, financeiras ou deinfraestrutura, transferem-se para áreas onde esses custos são menores, ou usam essapossibilidade como instrumento de pressão. Os trabalhadores são imediatamente atingidos,através da desregulamentação e flexibilização do mercado de trabalho.

Frente à globalização das decisões sobre investimentos ou encerramento de operações locais,a luta dos trabalhadores restrita às fronteiras nacionais perde cada vez mais capacidade deproteger empregos e direitos sociais e sindicais. É crucial, portanto, que as relaçõesinternacionais ganhem nova dimensão na vida das organizações sindicais. O conhecimentosobre as operações das empresas transnacionais e o acompanhamento das práticas trabalhistas

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e ambientais dessas empresas devem transformar-se em prioridade política das organizaçõesque pretendem influenciar na determinação do emprego, salário, direitos sociais e sindicais.

Diante desse desafio, a CUT criou o Observatório Social, com apoio de parceirosinternacionais e nacionais e com o objetivo de promover estudos e pesquisas capazes desubsidiar ações concretas pela globalização de direitos e a proteção ambiental em âmbitonacional e internacional. A referência principal de sua ação são os Direitos Fundamentais noTrabalho, materializados em normas internacionais da Organização Internacional doTrabalho (OIT).

Nesse estudo, o Observatório Social contou com a execução e cooperação do Departamentode Estudos Socioeconômicos e Políticos da CUT (DESEP), órgão de estudos e assessoria daCUT que, além de integrar a equipe e o Conselho Diretor do Observatório Social, há váriosanos desenvolve pesquisas vinculadas aos desafios impostos pelo processo de globalizaçãoeconômica à negociação coletiva e ação sindicais em setores industriais e de serviçosrepresentativos da estrutura econômica e social do Brasil.

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III - PANORAMA DOS INVESTIMENTOS NORUEGUESES NOBRASIL

3.1. INVESTIMENTOS NORUEGUESES NO BRASIL

A inserção da economia brasileira no processo de globalização produtiva pode ser apreendidapor meio dos fluxos de Investimento Direto Estrangeiro (IDE). Assim, a partir de 1996,observa-se uma clara tendência de ampliação da entrada desses recursos na economiabrasileira (Gráfico 1). Uma das explicações para tais ingressos é o processo de privatizações,no qual cerca de 50% do valor privatizado foi adquirido por capital estrangeiro. Além disso,as expectativas relativas ao crescimento da economia brasileira e ao potencial de sua demandaefetiva colaboram para a manutenção do Brasil entre os dez países que mais captam IDE apartir de 1998.

GRÁFICO 1 - FLUXOS LÍQUIDOS DE IDE PARA O BRASIL (US$BILHÕES) – 1988-1993 E 1994-2000.

Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração: Desep/CUT

TABELA 1 - FLUXOS DE INVESTIMENTO DIRETO NORUEGUÊSSEGUNDO ATIVIDADES ECONÔMICAS – (US$ MILHÕES E %)1998-2000

1998 1999 2000 Total 1998-2000

Atividade Econômica Valor (US$Milhões)

% IDETotal

Valor (US$Milhões)

% IDETotal

Valor(US$

Milhões)

% IDETotal

Valor (US$Milhões)

% IDETotal

Fabr. Celul., papel eprodutos de papel

0,0 0,0 0,0 0,0 10,3 0,0 10,3 0,0

Fabr. de produtosquímicos

0,0 0,0 15,6 0,0 0,0 0,0 15,6 0,0

Metalurgia básica 0,0 0,0 0,0 0,0 88,5 0,3 88,5 0,1

Total Noruega 0,0 0,0 15,6 0,0 98,8 0,3 114,4 0,1

Total IDE Geral 28.480,0 0,0 31.235,0 0,0 33.331,0 0,0 93.046,0 0,0

Fonte: Banco Central do BrasilElaboração: Desep/CUT

05

101520253035

1988-93 1.994 1.995 1.996 1.997 1.998 1.999 2.000

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Do ponto de vista do investimento direto norueguês, tem-se que sua participação no total dosfluxos recebidos pelo Brasil entre 1998 e 2000 é bastante reduzida, cerca de 0,12% do total.Ao contrário de outros países, o fluxo de origem norueguesa para o Brasil é recente. Apesardisso, mostrou crescimento de 533% entre 1999 e 2000. Por meio da Tabela 1 é possívelaferir que os recursos noruegueses direcionaram-se para o setor industrial, em especial para aprodução de papel e celulose, produtos químicos e metalurgia. Os fluxos acumulados de IDEnorueguês até setembro de 2001 montam a US$ 81 milhões, cerca de 0,5% do total captadopelo Brasil.

A presença norueguesa na economia brasileira traduz-se na existência de pouco mais de 50empresas cuja propriedade é de cidadãos noruegueses listadas nos cadastros adicionais. Olevantamento preliminar possibilitou identificar determinadas informações contábeis dealgumas dessas empresas. Estes resultados preliminares estão sumariados na Tabela 3 aseguir, onde alinhamos as principais empresas norueguesas em operação no Brasil. A tabelaapresenta os setores de atuação das empresas, sua localização geográfica, o Ativo Total, aReceita Líquida e a Receita Líquida por funcionário e o número de funcionários em 31 dedezembro de 2000.

3.2. COMÉRCIO BILATERAL BRASIL - NORUEGA

O Brasil é o principal parceiro comercial da Noruega na América Latina. O comércio bilateralem 2000 chegou a US$ 427 milhões, representando aumento de 93% sobre o valor de 1994.

A pauta de comércio bilateral está centrada, do ponto de vista das exportações norueguesaspara o Brasil, em pescado salgado e seco, máquinas, aparelhos de telecomunicações, papel epapelão e ferro e aço. As vendas do Brasil para a Noruega, por sua vez, concentram-se noóxido de alumínio, soja, café, cacau, alumínio e suco de laranja (Tabela 2).

TABELA 2 - COMÉRCIO BILATERAL BRASIL-NORUEGA – (PAUTA E %) 2000Exportações daNoruega para o Brasil

Distribuição percentualda pauta

Exportações do Brasilpara a Noruega

Distribuição percentualda pauta

Pescado 61,4 Óxido de alumínio(alumina) 34,1

Máquinas 10,5 Soja em grãos 31,0

Aparelhos detelecomunicações 8,2 Café, cacau, chá e

condimentos 9,4

Papel e papelão 3,7 Alumínio 6,3

Ferro e aço 3,7 Suco de laranja 5,0

Fonte: Embaixada Real da Noruega. Elaboração: Desep/CUT

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IV - DIAGNÓSTICO ECONÔMICO E SOCIAL DOS PRINCIPAISGRUPOS EMPRESARIAIS NORUEGUESES NO BRASIL

4.1. INTRODUÇÃO

Nesta parte do trabalho, focalizamos as 15 empresas selecionadas para um estudo mais detido,debruçando-nos sobre aspectos relativos à atuação empresarial, destacando informações sobre aestruturação, operação e estratégias dessas empresas e de seus grupos de origem em nível mundial eno Brasil.

Além disso, elencamos algumas considerações preliminares a respeito das relações trabalhistasdessas empresas em nosso país. Uma vez que um maior aprofundamento dessas consideraçõesdepende de uma pesquisa de campo mais detalhada e dada a exigüidade do prazo para a consecuçãoda pesquisa, tais considerações devem ser consideradas preliminares. Entretanto, não deixam deoferecer um importante indicador sobre novos prolongamentos da presente pesquisa.

Como vimos na tabela 3, agrupamos as 15 empresas selecionadas em quatro grandes grupossetoriais e empresariais, como segue:

• Grupo A: Metalurgia e Adubos/Fertizantes.

Grupos empresariais: Norsk Hydro e Kvaerner

• Grupo B: Químico, Petroquímico e Mineração

Grupo empresarial: Elkem

• Grupo C: Papel e Celulose

Grupos empresariais: Aracruz-Lorentzen/Norske Skog

• Grupo D: Equipamentos e Serviços de Comunicação Móvel

Grupos empresariais: Telenor Bradband Services e Nera América Latina Ltda.

Esse agrupamento justifica-se pela aproximação setorial predominante das empresas, ou seja, pelaconcentração de suas operações em famílias de produtos, matérias-primas ou bens intermediários,característicos de setores produtivos. Além disso, como veremos mais adiante, em muitos casosuma empresa atua como fornecedora de outra, refletindo não só parcerias locais, mas tambémalianças globais dos grupos de capital norueguês, com atuação complementar no mercado mundial.Do mesmo modo, há participação dos grupos estudados em empresas nos mais distintos setores noBrasil, revelando, em grande medida, a diversificação econômica dos grupos noruegueses.

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4.2. GRUPO A: EXTRAÇÃO E REFINO DE ALUMÍNIO/ADUBOS/FERTILIZANTES (NORSK HYDRO/KVAERNER)

4.2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO SETORIAL - REFINO DE ALUMINA EPRODUÇÃO DE ARTEFATOS DE ALUMÍNIO - CONTEXTO SETORIAL EINSERÇÃO DA HYDRO LIGTH METALS NO BRASIL

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de bauxita, tendo concentrado cerca de 11% dos 132milhões de toneladas produzidas em 2000. O maior produtor de bauxita é a Austrália, com 38%daquele total.

Em relação à produção de alumina, o Brasil ocupou, em 2000, a quinta posição no ranking mundial,concentrando 8% das 44 milhões de toneladas produzidas naquele ano. Os EUA respondem por17% da produção mundial da alumina e são o maior produtor mundial.

A produção de alumínio primário chegou a 24,5 milhões de toneladas em 2000, sendo que os EUAdetiveram 16% dessa produção e o Brasil foi responsável por 5% desse total, o que lhe garantiu aposição de sexto maior produtor de alumínio primário em 2000.

No Brasil, a produção e extração de bauxita estão fortemente concentradas. Assim, a maiormineradora é a Mineração Rio do Norte S.A., que respondeu, em 2000, por cerca de 80% daprodução nacional de 13,2 milhões de toneladas. Em segundo lugar vem a Companhia Brasileira deAlumínio S.A., com 9,7%, seguida pela Alcoa Alumínio S.A.,com 4,2%.

A produção de alumina chegou a 3,7 milhões de toneladas em 2000. Desse total, 43% referem-se àplanta da Alunorte Alumina Norte do Brasil S.A. A Alcoa Alumínio S.A. deteve 25% do totalproduzido. A Tabela 4 a seguir detalha as principais empresas refinadoras de alumina no Brasil.

TABELA 4 - PRODUÇÃO DE ALUMINA NO BRASIL SEGUNDO EMPRESAS – (MI T. E%) – 1997-2000

Empresas 1997 1998 1999 2000

Mi t. % Mi t. % Mi t. % Mi t. %

Alcan 234 7,6 232 7,0 250 7,1 241 7,1

Alcoa 837 27,1 841 25,3 875 24,9 950 24,9

Alunorte 1.197 38,8 1.430 43,0 1.527 43,4 1.628 43,4

Bilinton 381 12,3 379 11,4 407 11,6 445 11,6

CBA 439 14,2 440 13,2 457 13,0 487 13,0

Total 3.088 100,0 3.322 100,0 3.515 100,0 3.754 100,0

Fonte: Andrade, M. L. A.; Cunha, L. M. S. e Gandra, G. T. (2001)

4.2.2. ESTRUTURAÇÃO EMPRESARIAL DO GRUPO HYDRO

Abaixo, apresentamos um organograma do grupo especificado.

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O grupo norueguês Norsk Hydro divide suas operações em três grupos de atividades:

• Óleo e Energia (Oil and Energy)

• Agricultura (Hydro Agri)

• Metais Leves (Hydro Ligth Metals)

4.2.2.1. NÍVEL MUNDIAL

O grupo opera em todos os continentes por meio de plantas próprias ou por meio de joint-venturesnas três áreas citadas. A Norsk Hydro é terceira maior produtora mundial de alumínio.Recentemente, adquiriu um grupo concorrente, o VAW Aluminium, por cerca de US$ 2,8 bilhões,constituindo-se na maior operação já realizada por um grupo de capital norueguês no mundo. Pormeio dessa aquisição, o grupo Norsk Hydro procura reforçar sua posição no mercado, respondendoàs aquisições realizadas no ano passado pelos grupos rivais Alcoa e Alcan (Gazeta Mercantil,

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2002). No Brasil, a Nosrk Hydro opera plantas vinculadas às áreas de Agricultura e de MetaisLeves.

O núcleo de Agricultura subdivide-se em:

• Nutrição Vegetal (Hydro Plant Nutrition)

• Gás e Química (Hydro Gas and Chemicals)

O Núcleo de Metais Leves subdivide-se em:

• Produtos Metálicos de Alumínio

• Extração de Alumínio

• Produtos Axiais de Alumínio

• Estruturas Automotivas

• Magnésio

A Tabela 5 a seguir mostra o resultado operacional dessas duas divisões do grupo Norsk Hydro para1999 e 2000, convertidos de coroas norueguesas para reais pela taxa de 3 de dezembro de 2001.

TABELA 5 - RESULTADO OPERACIONAL1 DAS DIVISÕES AGRÍCOLAS E DE METAISLEVAS DA NORSK HYDRO – (US$ MILHÕES) – 1999 E 2000

Subdivisões 1999 2000

Agricultura (192,2)1 149,9

Metais Leves 250,7 387,8

Fonte: www.hydro.com.no e Banco Central do Brasil

Elaboração: Desep/CUT1 Valores entre parênteses indicam prejuízo

4.2.2.2. NO BRASIL

No Brasil o Grupo Norsk Hydro atua na extração de bauxita por meio do controle acionário parcialda Mineração Rio do Norte, no refino de alumina por meio do controle acionário parcial daAlunorte, na extração e composição de produtos derivados do alumínio por meio da detenção totaldo controle acionário da Hydro Alumínio Acro S A. No que tange às operações relativas à produçãode fertilizantes o Grupo atua no Brasil por meio do controle acionário da Adubos Trevo S A e daHydro Fertilizantes LTDA.

A estratégia da Norsk Hydro assenta-se em parte na ampliação da oferta da alumina para suasindústrias produtoras de alumínio primário, uma vez que o grupo norueguês adquiriu 25% das açõesordinárias da Alunorte em janeiro de 2000 e, posteriormente, em setembro de 2001, ampliou suaparticipação acionária, ao deter 34%. A outra empresa que controla a Alunorte é a Vale do RioDoce Alumínio S.A. (Aluvale), que, por sua vez, é controlada pela Companhia Vale do Rio Doce(CVRD).

4.2.2.2.1. HYDRO ALUMÍNIO ACRO S. A.

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A divisão de Metais Leves opera no Brasil na sub-área de Extração de Alumínio por meio da HydroAlumínio Acro S. A., localizada no Km 59 da Rodovia SP-79, em Itu (SP). Nessa planta, cujapropriedade acionária é maioritariamente detida pela Hydro Light Metals, por meio da ExtursionDivision Holding in South America, operam cerca de 230 funcionários que geraram uma receitalíquida de R$ 28 milhões em 2000. A empresa possui cerca de 40 empregados terceirizados,segundo o questionário aplicado junto ao Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas,Mecânicas, de Materiais Elétricos, Eletroeletrônicos fundidos e afins de Itu, Porto Feliz, Boituva eCabreuva. Desses 40, 35 operam nos transportes e cinco na cozinha.

Ainda segundo o sindicato, o salário médio dos metalúrgicos era de R$ 355,00 (US$ 146,00) emoutubro de 2001, enquanto que o piso salarial era de R$ 361,001 (US$ 149,00) em novembro de2001.

Na Tabela 6 abaixo, detalhamos alguns indicadores contábeis da Hydro Alumínio Acro S.A.

TABELA 6 - INDICADORES CONTÁBEIS DA HYDRO ALUMÍNIO ACRO S.A. – 2000 –(US$ MIL)

Receita Líquida Ativo Total Receita Líquida por Funcionário Número total de Funcionários

27.771 24.781 121,74 230*

Fonte: Gazeta Mercantil. Balanço Anual 2001

*Segundo o questionário respondido junto ao Sindicato dos Trabalhadores, o número defuncionários ativos na base e associados chega a 336, sendo 240 ativos na base e 96 ativosassociados.

A planta da Hydro Alumínio Acro S.A. atua dentro de duas sub-áreas da Extração de Alumínio: ade Transferência de Calor (Heat Transfer) e a de Sistemas de Construção (Building Systems). Aprimeira sub-área produz condutores térmicos que inserem-se em equipamentos decondicionamento de ar em automóveis. A segunda sub-área oferta desings para janelas, portas,muros e estruturas para a construção civil. A Hydro Alumínio Acro S.A. está classificada comoprodutora de alumínio e de artefatos de alumínio e ocupa a nona posição dentro dessa classificação.Dentre as principais concorrentes da Hydro Alumínio Acro S.A. podemos numerar:

• Alcoa - Alcoa Alumínio S.A. (origem do capital: Canadá)

• Albrás - Albrás Alumínio Brasileiro S.A.

• CBA - Cia Brasileira de Alumínio S.A. (origem do capital: Brasil)

• Bilinton - Bilinton Metais S.A. (origem do capital: EUA)

• Valesul - Valesul Alumínio S.A.

Importa atentar que a Albrás e a Valesul são subsidiárias da Aluvale - Vale do Rio Doce AlumínioS.A. A Aluvale detinha, em 2000, 51% das ações ordinárias da Albrás e 55% das ações ordináriasda Valesul. Os outros 45% são detidos pela Bilinton. A CBA é controlada pelo Grupo Votorantim.

4.2.2.2 - ALUNORTE - ALUMINA NORTE DO BRASIL S. A.

1 Há incompatibilidade entre esses valores, pois a média não pode ser inferior ao valor mínimo de qualquer um dos seustermos componentes. Neste caso, recomendamos verificar novamente os dados. Pode-se tratar dos valores referentesaos pisos salariais dos não terceirizados (US$ 149,00) e dos terceirizados (US$ 146,00).

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Entretanto, é na extração de alumina (matéria-prima necessária para a produção de alumínioprimário) que a Hydro Lihgt Metals opera sua estratégia empresarial para a América Latina deforma mais contundente. Exemplificam essa preocupação estratégica as palavras do vice-presidenteexecutivo da Hydro Light Metals e presidente mundial da Divisão de Extração de Alumínio, JonHarald Nilsen: “Nosso envolvimento com a Alunorte no Brasil aumenta a viabilidade para aaquisição de alumina. Isso tem sido um objetivo prioritário há alguns anos”.

A Alunorte está localizada na margem sul do rio Pará, distante 40 quilômetros de Belém, no estadodo Pará. A Alunorte é uma refinaria de alumina, o óxido de alumínio (Al2O3), matéria-prima para aprodução de alumínio primário. Juntamente com a Albrás e a Mineração Rio do Norte, a Alunorteconsolida a cadeia produtiva de alumínio primário no estado do Pará. Tanto a Hydro quanto aAluvale são acionárias da Mineração Rio do Norte que, como vimos, é responsável por parcelasignificativa da produção de bauxita no Brasil. A Tabela 7 evidencia alguns indicadores contábeisda Alunorte.

TABELA 7- INDICADORES CONTÁBEIS DA ALUNORTE ALUMINA DO NORTE DOBRASIL S.A. – 2000 – (US$ MIL)

Receita Líquida Ativo Total Receita Líquida porFuncionário

Número total de Funcionários

251.029 625.946 548,01 458

Fonte: Gazeta Mercantil. Balanço Anual 2001

A composição acionária que evidencia a participação da Hydro Light Metals e da Vale do Rio DoceAlumínio S.A. – Aluvale, que detêm cerca de 85% das ações ordinárias da Alunorte, pode ser vistana Tabela 8 a seguir.

TABELA 8 - COMPOSIÇÃO ACIONÁRIA DA ALUNORTE ALUMINA DO NORTE DOBRASIL S.A. 2002 – (%)

Acionista Capital Ordinário

Aluvale 50

Hydro 34

MRN 9

CBA 2

NAAC 4

JAIC 1

Total 100

Fonte: Gazeta Mercantil Elaboração: Desep/CUT

A estratégia da Hydro Light Metals ao adquirir as ações da Alunorte é ampliar a capacidadeprodutiva em 53%, elevando a produção anual de alumina de 1,5 milhão de toneladas para 2,3milhões de toneladas nos próximos dois anos. Dessa forma, um dos maiores grupos produtores dealumínio primário e de artefatos de alumínio assegura uma importante fonte de matéria-prima(alumina) para suas operações na Europa. Além disso, a escolha pela Alunorte repousa no fato deque essa refinaria apresenta um dos menores custos de produção de alumina no mundo. No Brasil, aalumina, juntamente com a bauxita, correspondem a 38% do custo de uma tonelada de alumínioprimário, enquanto nos EUA essas duas matérias-primas correspondem a 60% do custo. Ainda nosEUA, 12% dos custos referem-se à mão-de-obra, enquanto no Brasil esse percentual chega a 11%.

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4.2.2.3. HYDRO FERTILIZANTES LTDA

A Hydro Agri, subdivisão do Grupo Norsk Hydro, é a maior produtora mundial de amônia, aprincipal matéria-prima para a elaboração de adubos minerais destinados à fixação de nitrogênio. Étambém a maior produtora mundial de nitratos, além de atuar nos cinco continentes por meio deplantas próprias ou de escritórios de comercialização. É relevante ressaltar que o grupo NorskHydro deve sua fundação, em fins do século XIX, à apropriação da tecnologia necessária para aretirada de nitrogênio do ar e sua fixação em vegetais.

No Brasil, a Norsk Hydro, por meio da Hydro Agri, opera plantas vinculadas à sub-área de NutriçãoVegetal (Hydro Plant Nutrition), por meio da produção de fertilizantes minerais. O grupo ofertafertilizantes minerais em dois mercados específicos e por meio de duas empresas distintas:fertilizantes para commodities, por meio da Adubos Trevo S.A., e fertilizantes específicos, queresultam da mistura de produtos importados, por meio da Hydro Fertilizantes Ltda.

A Hydro Fertilizantes possui uma planta para a mistura das matérias-primas importadas em Barueri(SP). Por tratar-se de uma empresa de capital fechado, não foi possível levantar indicadorescontábeis.

4.2.2.4. ADUBOS TREVO S. A.

A Adubos Trevo, fundada em fins do século XIX, foi adquirida pela Norsk Hydro, por meio daHydro Agri, em janeiro de 2000. Em abril de 2001, a Hydro Agri era a maior acionista da AdubosTrevo, detendo 21% das ações da empresa.

A principal planta de produção (síntese de nitrogênio) da Adubos Trevo localiza-se em Rio Grande(RS), onde a empresa possui um porto próprio. Além do Rio Grande do Sul, a Adubos Trevo templantas em Cubatão (SP), Candeias (RS), Guaxupé (RS), Olinda (PE), Porto Alegre (RS), Curitiba(PR), Vitória (ES) e Paulínia (SP).

A Tabela 9a seguir mostra os principais indicadores contábeis da Adubos Trevo:

TABELA 9 - INDICADORES CONTÁBEIS DA ADUBOS TREVO – 2000 – (US$ MIL)ReceitaLíquida

Ativo Total Receita Líquida porFuncionário

Número total deFuncionários

128.194 100.451 85,46 1.500

Fonte: Gazeta Mercantil. Balanço Anual 2001

Segundo as informações coletadas pelo questionário aplicado ao Sindicato dos Trabalhadores nasIndústrias Metalúrgicas, Mecânicas, de Materiais Elétricos, Eletroeletrônicos fundidos e afins deItu, Porto Feliz, Boituva e Cabreuva, a empresa conta com 336 trabalhadores na sua plantaindustrial. Desses, 240 são trabalhadores ativos na base e 96 são trabalhadores ativos associadose/ou sindicalizados (Tabela 10).

TABELA 10 - DETALHAMENTO DO NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS DA HYDROALUMÍNIO ACRO S.A.

Detalhamento Homens Mulheres Total

Trabalhadores ativos na base 200 40 240

Trabalhadores ativosassociados/sindicalizados 92 04 96

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Trabalhadores aposentados/sindicalizados 0 0 236

Fonte: Questionário Elaboração: Desep/CUT

A taxa de sindicalização dos metalúrgicos da empresa é de 28,6%. A entidade sindical, já referida, éfiliada à CUT. Como já apresentado anteriormente, o salário médio dos metalúrgicos da empresa éde R$ 355,00 (US$ 146,00) em outubro de 2001. O piso salarial, em novembro de 2001, é de R$361,00 (US$ 149,00) (ver nota n.º 5).

Embora as relações trabalhistas estejam pautadas num dissídio, o sindicato aponta fortesdificuldades nas relações entre as partes. O sindicato alega que as reuniões são pouco produtivas eque "(...) Muitas vezes falta respeito para com os negociadores do sindicato."

Outra importante reclamação do sindicato é o descumprimento do acordo de compensação de horase de cumprimento do horário das refeições. Além disso, a empresa não pagou horas aostrabalhadores (trinta minutos diários) relativas ao período de janeiro de 1999 a agosto de 2001.Trata-se do fato de os trabalhadores terem trabalhado por trinta minutos no horário da refeiçãodurante o período especificado. O valor devido pela empresa chega aos R$ 153 mil para o total detrabalhadores.

Outras importantes informações relativas à liberdade sindical dão conta de que não há dirigentessindicais empregados na empresa. Os dirigentes do sindicato têm acesso à empresa apenas por meiode autorização prévia e a empresa nunca disponibiliza documentos relevantes para a negociação.

Apesar disso, o sindicato não tem nenhuma queixa formal ou informal em relação a atitudes anti-sindicais da empresa. Além disso, nos últimos três anos não houve qualquer movimento grevista naempresa.

Outros três pontos relevantes são:

• ausência de discussão sobre PLR (Participação nos Lucros e Resultados) na empresa;

• intimação da empresa para que os trabalhadores façam hora-extra aos domingos;

• ausência de qualquer posicionamento da empresa em relação ao pagamento das horas não pagasacima mencionadas.

4.2.4. ESTRUTURAÇÃO EMPRESARIAL DO GRUPO KVAERNER

A Kvaerner é um grupo anglo-norueguês de engenharia e construção. A organização estáestruturada da seguinte maneira:

a) Engenharia e Construção – Química e Polímeros, Processos Tecnológicos, Transportes,Farmacêutica, Energia e Meio Ambiente, Indústria de Construção

b) Óleo e Gás – Desenvolvimento de campos de extração e exploração , Modificações,Manutenção e Operação, Sistemas Processuais, Produtos Químicos.

c) Outras Atividades – Indústria Naval, Manufatura Mecânica, Papel e Celulose (Fibras, Potência,Plantas e Sistemas Industriais e Reciclagem).

A receita líquida do grupo, em todas as suas operações mundiais, chegou a US$ 6 bilhões em 2000.Além disso, o grupo emprega cerca de 35 mil pessoas em suas operações em 35 países na Europa,África, Ásia e América. De acordo com informações divulgadas na imprensa brasileira, a Kvaernerpassa por dificuldades financeiras, o que obrigou os acionistas a aprovarem um plano derefinanciamento e uma fusão, no setor de tecnologia petrolífera, com a norueguesa Aker Maritime.

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4.2.4.1. KVAERNER NO BRASIL

O grupo Kvaerner opera no Brasil desde 1978, em Curitiba, Paraná, por meio da divisão de Papel eCelulose. Posteriormente à divisão de Óleo e Gás, inseriu-se na economia brasileira. As empresasda Kvaerner subordinadas à área de papel e celulose atuantes no Brasil são:

• Kvaerner Pulping Ltda

• Kvaerner Chemetics Brazil A empresa vinculada à área de Óleo e Construção é a Kvaerner Oilfield Products Brazil, tambémsediada em Curitiba, Paraná.

A Tabela 11 a seguir mostra alguns indicadores contábeis para o grupo Kvaerner no Brasil. Osdados referem-se à consolidação do grupo e incluem a Kvaerner Pulping Ltda, a KvaernerChemetics Brazil e a Kvaerner Oilfield Productis Brazil.

TABELA 11 - INDICADORES CONTÁBEIS KVAERNER BRASIL LTDA – (US$ MIL) –2000Ativo Total Receita Líquida Receita Líquida por

FuncionárioNúmero de Funcionários

99.834 23.767 62,48 380*

Fonte: Gazeta Mercantil Elaboração: Desep/CUT* O número é corroborado pela entrevista feita junto ao presidente da divisão de Óleo e Gás no Brasil

A Kvaerner Pulping Ltda e a Kvaerner Chemetics Brazil operam no Brasil desde 1978 e ofertamdesign, estruturas, máquinas e equipamentos, processos tecnológicos e produtivos para aconsolidação e/ou ampliação de plantas produtivas da indústria de papel e celulose. Além do Brasil,a divisão de papel e celulose da Kvaerner opera na Suécia, Finlândia, Noruega, Estados Unidos,Canadá e Japão.

Em termos de estratégia empresarial, a Kvaerner vê o Brasil e o Chile como mercados-alvo para omédio prazo. Essa expectativa implica a atenção em relação a novos contratos da Kvaerner junto àsindústrias de papel e celulose, já que os grupos internacionais ou nacionais desse setor programamelevados investimentos nos próximos anos.

No que diz respeito à Kvaerner Óleo e Gás, tem-se a expectativa da consolidação de uminvestimento da ordem de US$ 1 milhão a US$ 2 milhões em Macaé, no estado do Rio de Janeiro,que auxiliará na oferta de máquinas e equipamentos para a extração de petróleo em basessubmarinas.

4.2.5. RELAÇÕES LABORAIS NA KVAERNER

Os sindicatos de trabalhadores vinculados à atuação no Grupo Kvaerner não responderam aosquestionários.

4.3. GRUPO B: QUÍMICA E MINERAÇÃO (ELKEM ASA DANORUEGA)

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A multinacional Elkem Materiais da Noruega é a maior produtora mundial de microsílica. Acapacidade de produção da Elkem ASA é de mais de 15 mil toneladas anuais. Seus principaisprodutos são metal de silicone, alumínio, carbono e microsílica. Portanto, atua nas áreas deminerais, metais, hidroenergia e petroquímica. As empresas ligadas ao grupo Elkem ASA fornecembens intermediários para fabricação de produtos químicos, indústrias eletrônicas e para indústrias dealumínio.

A empresa está presente na Noruega, Estados Unidos, Canadá, Europa, China, Arábia Saudita,Suécia, Dinamarca, Alemanha, Inglaterra, Japão e Brasil. É importante observar que o controleacionário da Elkem ASA é dividido entre o grupo Alcoa Inc, com cerca de 40%, e pelo grupo OrklaASA, que detém 32% das ações ordinárias. Esses dois grupos estão disputando o controle acionárioda Elkem. Recentemente, a Alcoa (Canadá), maior fabricante mundial de alumínio, fez uma ofertade US$ 520 milhões pelos 60% restantes do grupo. Apesar da recusa do grupo Orkla ASA, queconsiderou a proposta muito baixa, a Alcoa revelou interesse em uma aquisição hostil. Sendo assim,o controle acionário do grupo é instável (Gazeta Mercantil, 2002).

FIGURA 1 - ORGANIZAÇÃO E DIVISÃO DA ELKEM ASA.

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O grupo é dividido em produção de silicone, produção de alumínio, laminado e produção deenergia. A divisão da América do Norte é responsável pela produção de metal de silicone,microsílica e produtos de carbono. Suas unidades de negócios e escritórios administrativos estãoorganizados e divididos de acordo com a Figura 1.

4.3.1. ATUAÇÃO NO BRASIL

No Brasil, o Grupo controlador Elkem Participações possui duas empresas na área carboquímica: aCarboindustrial e a Carboderivados. A Microsílica Tecnologia Indústria e Comércio Ltda respondepela produção de microsílica – de acordo com as normas brasileiras, Sílica Ativa. Atua, também, naárea de minério com a Mineração Vila Nova.

Em fevereiro deste ano, havia negociações de aquisição da Camargo Corrêa Metais – CCM doAmapá – pela Elkem ASA da Noruega. Segundo informações adquiridas na própria CCM –produtora de silício metálico usado em ligas de alumínio, semicondutores e aços especiais – aElkem ASA recuou na transação, alegando o quadro econômico brasileiro e a crise do setorenergético.

4.3.2. CONTEXTUALIZAÇÃO SETORIAL DO SEGMENTO QUÍMICO

O complexo químico abrange os setores de química de base, petroquímica, química fina efertilizante, ou seja, segmentos que mantêm forte grau de interdependência, interagindo-seconstantemente.

A análise do complexo químico deve ser tomada apenas como uma referência para o segmento daCarboquímica, apesar da elevada participação relativa do gênero relacionado à química nocomplexo.

O ramo químico mostra saldo negativo em sua balança comercial durante todo o período da décadade 1980, excetuando-se o inexpressivo saldo de 1989. Embora não tenhamos dados ilustrativos,seguiu-se uma tendência ascendente do comércio exterior a partir dos anos 1990. Em 1996, o déficitalcançou cerca de US$ 5,9 bilhões.

O fluxo de comércio entre o Brasil e os países que compõem o Mercosul ocupa papel destacado nasestratégias dos grupos que atuam no segmento da carboquímica. A América do Sul foi responsávelpor cerca de 46% do total exportado no primeiro semestre de 1997, ressaltando a maior participaçãoda Argentina como país importador de produtos químicos brasileiros.

TABELA 12 – FLUXO DE PRODUTOS QUÍMICOS ENTRE BRASILE MERCOSUL – 1990/1995 – (EM US$ MILHÕES FOB)

1990 1991 1992 1993 1994 1995

Exportações do Brasil para o Mercosul 319 463 627 882 1043 1254

Importações do Brasil para oMercosul

284 260 252 263 331 580

Fonte: Abiquim

Na década de 1990, a indústria química viveu forte processo de reestruturação, em função dasinovações tecnológicas, bem como das estratégias adotadas no cenário internacional. De certaforma, isso provocou transformações nas empresas brasileiras. Assim, o fenômeno da globalizaçãointensificou a pressão de grandes companhias atuantes no comércio mundial, levando as empresasnacionais ou internacionais instaladas no Brasil a um novo posicionamento no mercado mundial.

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4.3.3. ESTRUTURAÇÃO EMPRESARIAL DO GRUPO ELKEM NOSEGMENTO QUÍMICO

Este tópico tratará das informações econômicas estruturais das unidades empresariais brasileirasligadas a Elkem ASA da Noruega no setor químico. Estudaremos a Elkem Participações Ind. e Com.Ltda (Carboindustrial S.A.), a Carboderivados S.A. e a Microsilica Tecnologia Ind. e Com. Ltda.

4.3.3.1. ELKEM PARTICIPAÇÕES IND. E COM. LTDA.(CARBOINDUSTRIAL S.A.)

A empresa é responsável por quatro esferas de produção no ramo carboquímico. A CarboindustrialS.A. é a principal produtora da América Latina de pastas Soderberg, utilizadas na formação deeletrodos em fornos de reprodução de ferroligas.

Além disso, a empresa produz antracito eletricamente calcinado – utilizado na produção dealumínio primário. O carvão antracito é de alta pureza e constitui a principal matéria-prima utilizadana produção. Produz também eletrodos de carbono amorfo – utilizado na produção de silício (Si)metálico –, bem como pastas especiais de carbono para revestimento de fornos eletrometalúrgicos.

A indústria carboquímica, inaugurada em 1976 na Grande Vitória, no estado do Espírito Santo, édenominada atualmente Elkem Participações Indústria e Comércio Ltda. O controle acionário daempresa conta com participação minoritária do Grupo Lorentzen, também norueguês, com fortepresença no setor de papel e celulose, como poderá ser observado no Capítulo IV. O Grupo ElkemASA da Noruega atua no ramo químico, ofertando bens intermediários para a indústria siderúrgica emetalúrgica.

A Carboindustrial (antiga denominação), é muito competitiva, especialmente com relação a custos.Sua integração com o grupo da Elkem ASA, maior produtor de pastas eletródicas Soderberg eprodutos de carbono do mundo, estabelecendo uma complementaridade das suas operações, devepotencializar ainda mais suas vantagens competitivas e perspectivas de crescimento para ospróximos anos.

Com uma participação de pouco mais de 75% do mercado latino-americano, as pastas eletródicasproduzidas pela Carboindustrial, divisão de carbono da Elkem, respondem por 80% da produçãoanual da empresa. A Carboindustrial obteve um faturamento de US$ 25 milhões em 2000, com umtotal de ativos de cerca de US$ 16 milhões. A tabela 13 mostra alguns dados contábeis daCarboindustrial S.A.

TABELA 13 – INDICADORES CONTÁBEIS DA CARBOINDUSTRIAL S.A.2000 – (US$ MIL)

Receita Líquida Ativo Total Receita Líquida porFuncionário

Número total deFuncionários

17.814 16.172 154,91 115

Fonte: Elaboração Desep/CUT a partir de dados do Balanço Anual 2001/Gazeta Mercantil

O principal objetivo da filial no Brasil é exportar os produtos de carbono (pastas Soderberg e pastaspara revestimentos de fornos elétricos), atuando de modo global no mercado de carbono.

4.3.3.2. CARBODERIVADOS S.A.

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A Carboderivados S.A., voltada ao setor carboquímico, dedica-se exclusivamente ao mercado defracionamento de alcatrão de hulha. Sua produção compreende tanto piche eletrodo como óleos dealcatrão, que atendem à indústria de alumínio primário. Por meio da produção de eletrodos, atendediversos segmentos da indústria química, tais como fabricação de aço e ferroligas e a indústria deprodutos de carbono. A Carboderivados S.A. é a primeira empresa privada de porte no Brasil queatua exclusivamente nesse tipo de mercado.

A Tabela 14 possibilita visualizar a composição acionária da Carboderivados. O controle acionárioé detido pela Carbopar – associação da Lorentzen Empreendimentos S.A. e a Elkem S.A. –respondendo por quase 70% do capital volante da empresa. A Norquisa responde por cerca de 30%da Carboderivados S.A. e participa das ações de 40 empresas com interesses na área de química epetroquímica.

TABELA 14 – COMPOSIÇÃO ACIONÁRIA DA CARBODERIVADOS S.A.JULHO 99 – (%)

CapitalPreferencialCapital

VotantePref. A Pref. B

CapitalTotalAcionista

% % % %

Carbopar 69,85 57,54 5,06 62,34

Norquisa 30,15 24,89 0,53 26,76

Tarco 17,57 2,07

Diversos 94,41 8,83

Fonte: Elaboração Desep/CUT a partir do site www.carboderivados.com.br /index1.htm

Os investimentos realizados pela Carboderivados S.A. são de cerca de US$ 20 milhões por ano. Oquadro de funcionários da empresa é composto de 45 trabalhadores, produzindo uma receita líquidaindividual por funcionário de US$ 343,80 mil. Já a receita líquida somou mais de R$ 15.471milhões (Tabela 15).

TABELA 15 – INDICADORES CONTÁBEIS DA CARBODERIVADOS S.A. 2000 – (US$ MIL)Receita Líquida Ativo Total Receita Líquida por

funcionárioNúmero total defuncionários

15.471 13.296 343,80 45

Fonte: Elaboração Desep/CUT a partir de dados do Balanço Anual 2001/Gazeta Mercantil

A localização geográfica da empresa é um passo estratégico para o setor em que atua, visto que oestado do Espírito Santo, mais especificamente a Grande Vitória, dispõe de boa estrutura portuária.Desse modo, torna a Carboderivados importante fornecedora de vários segmentos industriais quenecessitam de produtos carboquímicos.

4.3.3.3. MICROSILICA TECNOLOGIA IND. E COM. LTDA

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A Microsilica Tecnologia Indústria e Comércio Ltda. está presente no Brasil e América do Suldesde 1984. Produz microsílica, nome fantasia do resíduo de produção de ferroliga coletado nosfiltros manga. A Microsilica é um intermediário na produção de concreto e argamassas.

Atua na área de tecnologia e aplicação da microsílica, bem como de outras matérias-primas paraconstrução civil e refratários. No Brasil, como já especificado anteriormente, a gama de produtos daMicrosilica é identificada pelas normas brasileiras como Sílica Ativa, mas também é conhecidacomo fumos de sílica, sílica condensada, sílica VS e sílica volatilizada.

Por sua importância no mercado internacional e devido à boa presença no Brasil e na América doSul, a empresa Microsilica possui ligações diretas com o acervo tecnológico do conglomeradoElkem, o que possibilita um intercâmbio tecnológico.

A produção de microsílica é utilizada em concretos e argamassas de alto desempenho. Por essemotivo, à empresa fornece toda uma tecnologia de utilização, bem como a microsílica maisadequada para a aplicação específica, seja de origem nacional ou importada.

4.3.4. CONTEXTUALIZAÇÃO SETORIAL DO SEGMENTO MINERAL

Em nível mundial, os principais países que atuam no segmento de exploração mineral são EUA,Reino Unido, Canadá, Austrália e África do Sul. A Noruega não se relaciona entre os principais,embora tenha importância no segmento. As grandes empresas dirigem seus investimentos emmineração para países com boa base geológica e detentores de leis ambientais e políticas mineraisclaras.

O Brasil situa-se em oitavo lugar no mundo entre os países mais atrativos para investimentos naárea mineral. Dos US$ 540 milhões investidos na área mineral na América Latina, o Brasil detevecerca de US$ 65 milhões (A evolução do setor mineral no Brasil e no mundo – uma visão geral,Relatório Setorial do BNDES, número 3, março/1996).

Assim como outros setores da economia, o setor mineral passa por uma nova onda de fusões eaquisições, resultando na criação de empresas mais fortes e estruturadas para a atuação no mercadoglobal. Não obstante, as empresas brasileiras vêm se fortalecendo para enfrentar a acirradaconcorrência internacional no setor, contando com o interesse de grande parte das mineradorasmultinacionais de investir no Brasil em face de seu promissor potencial mineral.

A atividade mineral no Brasil, segundo o relatório do Bndes (2001), responde por cerca de 2,4% doPIB, US$ 14,3 bilhões em 2000. Se considerarmos as etapas de transformação do bem mineral, essevalor atinge US$ 166 bilhões, 28% do PIB. Ainda segundo o relatório do Bndes (2001), a mão-de-obra empregada diretamente na atividade mineral é de 115 mil pessoas. Outras 530 mil pessoasestão ligadas ao trabalho informal.

TABELA 16 - RESERVA DAS PRINCIPAIS SUBSTÂNCIAS MINERAIS –1993 – (MIL T)Brasil Mundo Part. (%) Ranking

Metálicos

Alumínio (bauxita) 2.800.000 22.995.000 12,2 3

Cobre(1) 11.916 587.016 2,0 11

Estanho(1) 619 8.219 7,5 6

Ferro 19.000.000 230.000.000 8,3 5

Manganês 80.000 4.725.000 1,6 4

Níquel 6.050 116.060 5,2 8

Nióbio(1) (t) 4.559 5.158 88,3 1

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Observatório Social – Relatório Geral de Observação

Ouro (t) 800 42.000 1,9 7

Não-metálicos

Amianto 3.014 58.014 5,2 3

Caulim 1.697.909 12.000.000 14,1 2

Fluorita 36.000 319.000 11,3 8

Magnesita(2) 180.000 3.510.000 5,1 5

Potássio (K2O) 308.576 16.233.334 1,9 8

Fonte: Sumário Mineral 1994(1) Dados em metal contido(2) Dados em Mg contido

4.3.5. ESTRUTURAÇÃO EMPRESARIAL DO GRUPO ELKEM NOSEGMENTO QUÍMICO

A seguir, passamos a analisar a estrutura econômica da Mineração Vila Nova – outra unidadeempresarial sob tutela da Elkem ASA da Noruega no Brasil. Este empreendimento atua no setormineral de nossa economia.

4.3.5.1. MINERAÇÃO VILA NOVA

Por ser um empreendimento de pequeno porte da Elkem ASA no Brasil, há pouca informação abertaao público. A Mineração Vila Nova atua no segmento de mercado de mineração a céu aberto,extraindo minério de cromo denominado de cromita. O produto semi-elaborado auferido pelamineração é um concentrado de cromita, composta basicamente de Óxido de Cromo e Óxido deFerro, onde o teor médio de Óxido de Cromo é de, respectivamente, 49% e 18%.

Com suas minas instaladas no estado do Amapá, mais precisamente no município de Mazagão – a200 quilômetros da cidade de Macapá, na localidade denominada Vila Nova – sua capacidade deprodução é de 200 mil toneladas de concentrado de cromita por ano. Em 1999, a mineraçãoproduziu algo em torno de 182 mil toneladas de concentrado de cromita, o que corresponde a 60 miltoneladas de cromo metálico.

O quadro de funcionários da Mineração Vila Nova possui 11 trabalhadores diretamente ligados àempresa. Este número é basicamente o mesmo de 2000, visto que a mineração trabalha sob oregime de terceirização. Todas as atividades de lavra, beneficiamento e infra-estrutura foramterceirizadas.

É importante ressaltar que atualmente a mineradora não está explorando suas minas no Amapá, jáque todas as atividades de lavra de minério estão paralisadas desde setembro de 2001. Segundoinformações prestadas pela empresa, as atividades foram paralisadas temporariamente, devido àretração do mercado internacional.

4.3.5.1.1. OBJETIVOS E ESTRATÉGIAS DA EMPRESA

É importante observar que as operações do grupo Elkem ASA no Brasil estão vinculados à suaestratégia de garantir a formação de reservas e extração de minério para alimentar sua produção deligas de ferro-cromo na Noruega e na Suécia.

Analistas do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) do Amapá consideraram ointeresse do capital estrangeiro em investir na cromita extraída do Estado como produto daassociação entre reserva disponível e alto teor de óxido concentrado. Relatam, ainda que, com a

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exaustão das minas cubanas, o Brasil se tornou o único país nas Américas com reservas descobertasde cromo. Atualmente, somam seis milhões de toneladas – 63% delas estão na Bahia, 32% noAmapá e os outros 5% em Minas Gerais e Goiás.

Antes de ser adquirida pela Elkem ASA da Noruega, a Mineração Vila Nova pertencia a umaholding chamada Companhia Auxiliar de Empreendimentos de Mineração S.A. (Caemi), que setornou acionista majoritária de empresas como Companhia Ferroliga do Amapá (CFA), MineraçãoBrasileira Reunidas (MBR), Amapá Celulose (Amcel), Brumasa, Codepa e Cadam.

A Icomi/Caemi explorou o território do Amapá por cerca de 44 anos sem nenhuma consideraçãocom o meio ambiente. A venda da Mineração Vila Nova para a Elkem consistiu num passoestratégico visando à eliminação dos problemas ambientais causados pela Icomi/Caemi. Ao permitiro vazamento de cianeto de sódio e ácido clorídrico para o sistema hidrográfico da região demineração, bem como manifestar desleixo no armazenamento destes produtos, a Mineração VilaNova compromete, a partir da aquisição, a Elkem S.A

4.3.6. RELAÇÕES LABORAIS2

4.3.6.1. ELKEM PARTICIPAÇÕES IND. E COM. LTDA(CARBOINDUSTRIAL S.A.)

É muito difícil esboçar um diagnóstico conclusivo das relações trabalhistas na empresa, já que oúnico questionário aplicado envolve a presidência do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias deProdutos Químicos para Fins Industriais (Sindicarbo), no município de Serra, no Espírito Santo. Emrazão disso, a única fonte que utilizamos para esse trabalho foi o Relatório Empresas com capitalnorueguês no Brasil e respectivos sindicatos de trabalhadores, fechado em 15 de dezembro de2001e desenvolvido pela equipe de pesquisa. Este sindicato não é filiado a nenhuma centralsindical.

TABELA 17 – DETALHAMENTO DO NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS DA ELKENPARTICIPAÇÕES IND. E COM. LTDA. (CARBOINDUSTRIAL)Detalhamento Homens Mulheres Total

Trabalhadores ativos na empresa 102 15 117

Trabalhadores ativos associados/sindicalizados 85 13 98

Trabalhadores ativos aposentados 4 0 4

Fonte: Elaboração Desep/CUT a partir do Questionário

Os terceirizados somam mais ou menos 65 trabalhadores, 55,5% do total de empregados, nos ramosde jardinagem, refeitório, serviços de transporte, de manutenção eletro-mecânica e serviços gerais.

Quanto ao salário médio mensal dos trabalhadores, nos defrontamos com uma diferença salarialenorme entre as categorias de trabalhadores da empresa. A discrepância salarial é muito elevada. Ostrabalhadores não-tercerizados ganham quase cinco vezes mais que os terceirizados. Enquanto ostrabalhadores não-tercerizados ganham quase sete salários mínimos por mês, os trabalhadoresterceirizados não recebem mais do que dois salários mínimos mensais. O piso salarial entre ostrabalhadores terceirizados é de R$ 246,00 (US$ 104,68) em novembro de 2001, enquanto que ostrabalhadores não-tercerizados contam com um piso salarial equivalente à R$ 800,00 (US$ 340,43)(Tabela 18).

2 Todas as informações tratadas a respeito da Elkem Participações Ind. e Com. Ltda (Carboindustrial) referem-se também, àCarboderivados, exceto o quadro de funcionários, salário médio mensal dos trabalhadores e piso salarial, que difere uma da outra.

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TABELA 18 – SALÁRIO MÉDIO DOS TRABALHADORES DA ELKEMPARTICIPAÇÕES IND. E COM. LTDA. (CARBOINDUSTRIAL)Categoria Salário médio (US$) Piso salarial (US$) Mês – Salário informado

Químicos 510,64 340,43 Nov/2001

Terceirizados 104,68 104,68 Nov/2001

Fonte: Elaboração Desep/CUT a partir do Questionário

Entre os funcionários da empresa, não foi detectada a presença de adolescentes com idade inferior a16 anos, bem como adolescentes com menos de 18 anos de idade, para atuar em atividadesconsideradas perigosas ou penosas.

As relações da empresa com o sindicato estão fundadas em negociações permanentes e união deesforços para a harmonia das relações de trabalho.

O sindicato não apontou possíveis problemas, sejam eles de caráter ambientais ou jurídicos. Não háreclamações de atitudes anti-sindicais da empresa, até mesmo com os próprios dirigentes sindicaisque atuam no interior da empresa.

Segundo informações prestadas pelo sindicato, a relação que há entre os trabalhadores e a empresapode ser visualizada na tabela 19. A maioria dos benefícios é concedida aos trabalhadores por meiode Acordo e Convenção coletivos de trabalho. Não há nenhum benefício estabelecido por meio deSentença Normativa de Dissídio julgado pela Justiça do Trabalho, o que traduz uma boacomunicação entre ambas as partes. Além do mais, a empresa fornece acesso aos trabalhadores, porliberalidade, a alguns benefícios como empréstimos, auxílio educação, seguro de vida e auxílio-doença acidentário complementar.

TABELA 19 – BENEFÍCIOS ASSEGURADOS AOS EMPREGADOS DA EMPRESABenefícios Não possui ACT ou CC SN EMSAAssistência médica (consulta médica e exames) ACTAssistência médica para dependentes ACTInternação hospitalar integral ACTInternação hospitalar para dependentes ACTAssistência odontológica ACTAssistência odontológica para dependentes ACTAposentadoria complementar XEmpréstimo XAuxilio-educação XAuxílio-creche ACTAuxílio-alimentação (bônus, tíquete ou outros) XCesta básica ACTAuxilio-transporte ACTAuxilio-moradia XAuxilio-filho excepcional XClube recreativo/colônia de férias *Fundo de pensão XParticipação nos lucros ACTGratificação de férias (além do 1/3 da CF) XSeguro de vida XAuxilio-doença acidentária complementar X

ACT ou CC: Estabelecido por Acordo Coletivo ou Convenção ColetivaSN: Estabelecido por Sentença Normativa de Dissídio julgado pela Justiça do TrabalhoEMSA: Estabelecido por liberalidade da empresa (sem negociação ou sentença)*Dos próprios empregadosFonte: Elaboração Desep/CUT a partir do Questionário

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Como já esclarecido anteriormente, o sindicato não faz menção a qualquer tipo de reclamação deproblemas identificados pela entidade. Porém, sugere que a empresa promova melhorias na áreasocial, tomando como exemplo a aposentadoria complementar, benefício que os trabalhadores aindanão possuem. Este tema começa a ser mais discutido entre as lideranças sindicais. Luiz Alberto deCarvalho, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Papel de Serra (ES), reivindica “um planode aposentadoria, uma complementação da aposentadoria. Hoje em dia, infelizmente, a que oGoverno Federal nos dá não garante nem a um funcionário, nem a um trabalhador, viverdignamente. Então, a sugestão que daríamos à empresa é um complemento de aposentadoria,porque de resto acho que estamos bem servidos. (...) Depois de onze anos, temos um convívio bemaberto com a empresa, um respeito mútuo. Sempre que precisamos de alguma coisa, mesmo queseja para um funcionário em particular ou para o conjunto da categoria, temos a porta aberta. Elanos garante em primeiro lugar trabalho, um bom ambiente de trabalho, respeita a legislaçãotrabalhista que rege nosso país e é a empresa que, em situações de dúvida, claro que tem suaassessoria jurídica, as, sempre procura o sindicato, e nós a ajudamos.”

Ressalta ainda que a Carboindustrial é vista pelo Sindicato como “empresa modelo”, dada suapreocupação com a comunidade e meio ambiente. “A Carboindustrial tem uma certificação ISO9000 – qualidade total – e no ano de 2000 recebeu o certificado ISO 14000 – meio ambiente”, diz osindiclaista.

Segundo as informações prestadas pelo sindicato, a tabela 16 mostra que, do total de 117trabalhadores na planta da empresa, 102 são do sexo masculino e apenas 15 do sexo feminino.Cerca de 98 trabalhadores são ativos associados ou sindicalizados e apenas quatro são trabalhadoresaposentados sindicalizados. Além disso, segundo o presidente do sindicato, a taxa de sindicalizaçãodos trabalhadores da empresa é de 83,8%.

Apesar de a avaliação do presidente ser muito positiva quanto às relações de trabalho da empresa,particularmente da empresa com o sindicato, é importante observar que a tercerização da mão-de-obra é utilizada em larga escala. Identificamos uma enorme diferença salarial entre as categorias detrabalhadores da empresa. Do mesmo modo, é difícil imaginar que por tratar-se de uma empresapetroquímica não ocorram problemas de saúde profissional e ambientais.

4.3.6.2. CARBODERIVADOS S.A

Quanto à Carboderivados S.A., seu quadro de funcionários está exposto na tabela 20. Em númerosrelativos, os percentuais de mulheres e homens que trabalham na empresa, bem como ossindicalizados, são semelhantes, se comparados.

TABELA 20 – DETALHAMENTO DO NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS DACARBODERIVADOS S.A.Detalhamento Homens Mulheres Total

Trabalhadores ativos na empresa 42 5 47

Trabalhadores ativos associados/sindicalizados 34 1 35

Trabalhadores ativos aposentados NI* NI* NI*

Fonte: Elaboração Desep/CUT a partir do Questionário

O salário médio dos funcionários da empresa Carboderivados, bem como o dos trabalhadoresterceirizados, mantém-se acima do piso salarial. Embora o quadro de funcionários seja bastantereduzido com relação à Carboindustrial, o salário médio mensal dos funcionários daCarboderivados é superior (Tabela 21).

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TABELA 21 – SALÁRIO MÉDIO DOS TRABALHADORES DA CARBODERIVADOS S.A.Categoria Salário médio (US$) Piso salarial (US$) Mês – Salário informado

Químicos 680,85 510,64 Nov/2001

Terceirizados 119,15 119,15 Nov/2001

Fonte: Elaboração Desep/CUT a partir do Questionário

4.4. GRUPO C: PAPEL E CELULOSE – NORSKE SKOG(NORSKE SKOG KLABIN E PISA PAPEL DE IMPRENSA)E LORENTZEN (ARACRUZ CELULOSE)

4.4.1.CONTEXTUALIZAÇÃO SETORIAL

4.4.1.1. NÍVEL MUNDIAL

O setor de papel e celulose vem passando por um processo global de reestruturação, com um ciclode fusões e aquisições e de reposicionamento dos investimentos. A liberalização do mercadomundial, vinculada à formação dos grandes mercados regionais, mas especialmente à crescentepressão das legislações ambientais nos países do Hemisfério Norte e, ao mesmo tempo, aocrescimento mais acelerado do consumo mundial nos países do Hemisfério Sul, motivaram o tardioprocesso de internacionalização do setor, especialmente nos países em desenvolvimento.

Os processos de fusões e aquisições dos grupos Stora/Enso, Internacional Paper/Union Camp eWeyerhauser/MacMillan Boedel mudaram o perfil de concentração do mercado mundial de papel ecelulose, impulsionando ainda mais a concorrência internacional e o aumento das escalas mínimasde produção das plantas industriais e dos principais grupos econômicos do setor (Bndes, 1999).Esse movimento das empresas de papel e celulose vem acompanhado também por fusões eaquisições em setores afins, como o de fornecedores de equipamentos (ABB e Alstom, Rauma eValmet) e da indústria gráfica (editoras Bertelsmar e Random House).

Assim, no final dos anos 1990, as dez maiores empresas concentram mais de 27% da oferta mundialde papel e celulose. Nos segmentos por tipo de papel, a concentração é muito mais elevada,especialmente naqueles do tipo SC (Super Calandrado), LWC, Tissue e Imprensa. Neste último,principal segmento de atuação global do grupo Norske Skog, a concentração da produção nos dezmaiores grupos é superior a 55%, enquanto que no segmento de celulose de mercado no qualconcentra-se a Aracruz (Lorentzen), o grau de concentração é pouco superior a 34% (PPI/Bracelpa,2000).

Os esforços competitivos desenvolvidos pelas grandes empresas dos países desenvolvidos nos anos1990, além das fusões entre grupos do Hemisfério Norte, envolveram o fechamento de plantasindustriais mais antigas e a ampliação da escala mínima de produção de suas plantas maismodernas.

E neste aspecto os países que obtiveram maior êxito foram a Finlândia, com tamanho médio de suasunidades de papel alcançando aproximadamente 300 mil toneladas/ano, e o Canadá, com cerca de480 mil toneladas/ano para a produção de celulose. Em ambos, busca-se contornar suasdesvantagens quanto ao elevado custo da madeira. Entre os dez países que concentram, em média,as maiores plantas de produção de papel e celulose, o Brasil ocupa a nona posição mundial.

O fechamento de plantas mais antigas e a ampliação da escala mínima de produção de papel ecelulose vêm acompanhadas de estratégias de focalização dos negócios por segmento de produtosnos quais as empresas já detêm forte participação no mercado mundial, na agregação de valor à

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produção de papéis e no aumento de aquisições de empresas do Hemisfério Sul, particularmente naÁsia e Brasil.

4.4.1.2. NO BRASIL

O Brasil é um dos principais produtores mundiais de papel e celulose, dispondo de condiçõesclimáticas e extensão territorial favoráveis à produção de papel e celulose e tecnologia florestalavançada. Essas vantagens competitivas permitiram ao país ocupar relativa posição de destaque nomercado mundial no final dos anos 1980. No entanto, a competitividade externa da indústriabrasileira revelou-se mais nítida no segmento de celulose, ocupando a sétima posição entre osmaiores produtores mundiais. No período de janeiro a novembro de 2001, a produção nacional decelulose correspondeu a pouco mais de 6,74 milhões de toneladas, cerca de 1,4% inferior ao mesmoperíodo do ano anterior (Bracelpa, 2001).

A oferta brasileira de celulose concentra-se em seis empresas, responsáveis por mais de 90% dacelulose de mercado, sendo a maioria empresas integradas, ou seja, produzem a celulose e o papel(Bndes, 2001).

Além disso, o Brasil é o maior produtor e exportador mundial de celulose de eucalipto. Asexportações brasileiras dessa categoria de celulose respondem por cerca de 43% do mercadomundial e por pouco mais de 13% da demanda por todas as categorias de celulose (Bracelpa, 2001).Os principais mercados das exportações brasileiras são a Europa e a Ásia. Já as importações detêmuma participação pouco expressiva no atendimento do mercado interno, mas concentram-se nosegmento de fibras longas branqueadas, utilizadas para a produção de papel para escritório e gráficaem geral.

Quanto ao segmento de papel, o Brasil já não goza da mesma posição competitiva, se comparado aosegmento de celulose, ocupando a décima-segunda posição mundial (Bndes, 2001). No período dejaneiro a novembro de 2001, a produção nacional de papel foi equivalente a 6,73 milhões detoneladas, cerca de 2,4% superior ao mesmo período do ano anterior (Bracelpa, 2001).

As exportações brasileiras de papel respondem por aproximadamente 40% da produção local, comrelativa concentração no segmento de papel para imprimir e escrever, revelando que neste tipo depapel as empresas com produção local são dotadas de competitividade externa. Já as importaçõessão equivalentes a pouco mais de 11,5%, concentrando-se no papel tipo LWC (papel revestido àbase de pasta), no papel tipo couché e de imprensa. Neste último caso, a produção local respondepor apenas 40% do mercado interno, sendo que as importações são provenientes do Canadá e paísesnórdicos, especialmente da Finlândia e Noruega (IPEA, 2001).

4.4.2. O GRUPO NORSKE SKOG

4.4.2.1. A ORGANIZAÇÃO DO GRUPO E SUA ATUAÇÃO GLOBAL

O grupo Norske Skorg, cuja origem é norueguesa, coloca-se entre os maiores produtores globais depapel, destacando-se nos segmentos de papel de imprensa e revista e, em menor escala, na produçãode papel para impressão de listas telefônicas. Suas unidades fabris, de empresas controladas oucoligadas, estão presentes em quase todos os continentes, especialmente na Europa (Noruega,República Tcheca, França e Áustria), América (Canadá, Brasil e Chile), Oceania (Austrália e NovaZelândia), Sudeste da Ásia (Coréia do Sul, Taiwan, China, Tailândia e Malásia) e Sul da Ásia(Bangladesh e Índia). As fábricas nesses países totalizam 27 unidades (http://www.norske-skog.com).

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O impulso às operações globais da Norske Skog é recente. De 1989 a 2001, adquiriu o controleacionário da Saugbrus na Noruega, Bruck na Áustria, Steti na República Tcheca. Adquiriu aindaduas fábricas na Tailândia e Coréia do Sul, formou a Pan Ásia Paper Company, com quatro fábricasna Coréia do Sul, China e Tailândia, formou a joint-venture com a Klabin no Brasil no segmento depapel de imprensa e de gráfica em geral e comprou também a Pacífica do Canadá. Por último,comprou um dos maiores grupos de papel de imprensa do mundo (Fletcher Challenge Paper) comfábricas na Nova Zelândia, Austrália, Malásia, Canadá, Chile e Brasil. Somente nessa aquisição, ogrupo Norske Skog investiu cerca de US$ 800 milhões. A empresa brasileira adquirida nesseoperação envolveu a participação da Fletcher na Pisa Papel de Imprensa no Brasil.

A estrutura organizacional do grupo divide-se em áreas gerenciais (presidência, estratégiacorporativa, finanças, otimização global e recursos humanos) e por áreas de atuação geográfica(Norske Skog Europa, Norske Skog Austrália, Norske Skog da América do Sul) e uma divisão queaglutina as operações com coligadas (Pan Ásia Paper, Malasyan Newsprint Ind., Norske SkogCanadá Ltd e outras atividades). O controle acionário do grupo tem a seguinte distribuição: ChaseManhattan Bank NA/GBR (10,1%), Viken Skogeierforening, Honefoss (9,5%), Folketrygdfondet,Oslo (6,2%) e Agder-Telemark Skogeierferening Skien (4,9%) (Minifaz/SAE, 2001).

O faturamento global do grupo Norske Skog em 2000 somou pouco mais de US$ 2,9 bilhões,revelando um crescimento de mais de 75%, se comparado ao realizado em 1998. Isso reflete,parcialmente, o fantástico processo de aquisições do grupo no período (www.Norske-skog.com). Eo mais importante a ser observado é que o balanço de 2001 deve exibir um crescimento aindamaior, pois as operações de aquisições e associações mais importantes foram concluídas somente nofinal de 2000. A participação do grupo no mercado mundial de papel de imprensa superou a marcade 14,8% em 2000, alçando, desse modo, a segunda posição entre os principais produtoresmundiais. Além disso, com as aquisições e joint-ventures realizadas ao longo dos últimos anos,adquiriu posição mais destacada na produção global de papel de revista, superando a InternacionalPaper na terceira posição (Minifaz/SAE, 2001).

De acordo com o balanço social do grupo Norske Skog de 2000, a produção mundial de papel dogrupo atingiu quatro milhões de toneladas e cerca de 740 mil toneladas de celulose. A distribuiçãoregional desta produção ocorreu da seguinte forma: a Europa concentra cerca de 2,67 milhões detoneladas de papel, a América do Norte, 390 mil toneladas, a América do Sul, 170 mil toneladas, aAustrália, 355 mil toneladas, e a Ásia produziu cerca de 480 mil toneladas. A produção de celuloseestá dividida em ordem decrescente entre a Europa, América do Norte e Austrália.

4.4.2.2. A ATUAÇÃO DA NORSKE SKOG NO BRASIL

A aquisição da Pisa, a posterior formação da joint-venture com a Klabin, somadas à aquisição daBio Bio no Chile, resulta de uma estratégia do grupo Norske Skog em deter a oferta da produção depapel de imprensa na América do Sul. É importante observar que essas três empresas são as únicascom atuação na produção de papel de imprensa, revelando um monopólio privado de fabricaçãodeste produto na região. A capacidade instalada das operações da Norske Skog nessas empresassoma cerca de 430 mil toneladas, podendo atender pouco mais de 33% do consumo aparente daAmérica Latina. O restante do consumo é coberto por exportações promovidas pelas grandesempresas da América do Norte ou mesmo por empresas controladas ou coligadas pelo grupo NorskeSkog, centralizadas pela divisão do grupo responsável pela América Latina (http://www.norske-skog.com).

No Brasil, o grupo Norske Skog atua através das seguintes subsidiárias: Norske Skog do Brasil Ltda(holding sem atividades operacionais), Norske Skog Klabin Comércio e Indústria Ltda (joint-venture com a Klabin na produção de papel de imprensa), Fletcher Challenge Produtos FlorestaisLtda (holding sem atividades operacionais), Pisa Papel de Imprensa S.A. (produção de papel deimprensa e de imprimir e escrever), Pisa Florestal (produção de blocos de madeira, gerenciamento,

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Observatório Social – Relatório Geral de Observação

plantação e corte de florestas de pinus). Desse modo, as empresas do grupo que têm funçõesoperacionais são a Norske Skog Klabin Ltda. e a Pisa Papel de Imprensa S.A, concentrando-se naprodução de papel para imprensa e de madeira (Minifaz/SAE, 2001).

4.4.3. A PISA PAPEL DE IMPRENSA

A Pisa Papel de Imprensa foi fundada em 1979 pelas empresas O Estado de São Paulo (OESP) eJornal do Brasil, através de uma holding denominada Companhia Paranaprint de EmpreendimentosFlorestais. Na época, o objetivo comum dos jornais era garantir uma fonte de suprimento domésticode papel de imprensa, reduzindo a dependência do produto importado, já que havia apenas umaempresa com produção local.

A unidade fabril está instalada no município de Jaguariaíva, no estado do Paraná. A atualcapacidade instalada para a produção de papel de imprensa e, secundariamente, papel para imprimire escrever, corresponde a pouco mais de 185 mil toneladas ao ano. Em 1988, a empresa passou acontar com a participação no controle acionário do grupo Fletcher. No final de 2000, a Fletcher foivendida à Norske Skog e, desse modo, passou a deter 92% das ações ordinárias da Pisa Papel deImprensa, ações antes controladas pelo grupo Estado e Bndespar. O valor da transação somoupouco mais de US$ 57 milhões (Gazeta Mercantil, Agência Estado e outros, 2000).

O mercado de papel de imprensa tem características bastante específicas no contexto da indústria depapel brasileira em decorrência da isenção do imposto de importação que vigora desde aConstituição do Império no Brasil. Em decorrência desta política fiscal para esse tipo de papel,poucos grupos empresariais revelam interesse na fabricação do papel de imprensa, já que aprodução local concorre diretamente com as importações, tanto em relação aos preços quanto emrelação à quantidade do produto.

O papel de imprensa, devido às suas características, especialmente quanto ao pequeno valor que éadicionado na sua fabricação, requer grande economia de escala para que a atividade seja rentável.Essa característica deverá exigir uma contínua expansão das operações do grupo no Brasil e regiãocom o objetivo de ampliar sua participação no consumo, substituindo as importações.

O consumo aparente de papel de imprensa em 2000 foi de aproximadamente 620 mil toneladas. Aprodução nacional alcançou pouco mais de 260 mil toneladas, sendo a Pisa responsável por 57,4%,seguida pela Norske Skog Klabin com 42,6%. Apesar do monopólio do grupo na produção local, osvolumes de produção da Pisa e da Norske Skog Klabin responderam, respectivamente, por 24,4% e18% do consumo aparente de papel de imprensa, enquanto que as importações somaram, no mesmoperíodo, cerca de 373 mil toneladas, correspondentes a 57,6% do mercado interno. No segmentodos demais papéis à base de pastas não revestidas, a Pisa detém cerca de 70% do mercado interno(http://www.infoinvest.com.br, Bracelpa, 2001).

A produção de papel em 2000, equivalente a 179 mil toneladas, mantém-se estagnada desde 1998.Os reflexos disso se fizeram sentir na relativa estagnação das receitas líquidas, no mesmo período,em cerca de US$ 105 milhões ao ano. De todo modo, o lucro líquido da empresa saltou, entre 1998e 2000, de pouco mais de US$ 1,3 milhão para pouco mais de US$ 32 milhões.

4.4.3.1. RELAÇÕES LABORAIS NA PISA PAPEL DE IMPRENSA

O sindicato que representa os trabalhadores da Pisa Papel de Imprensa e Pisa Florestal é o Sindicatodos Trabalhadores na Indústria de Papel, Papelão e Cortiça de Jaguariaíva (PR). A abrangênciadesse sindicato é municipal. É filiado à Federação dos Trabalhadores na Indústria do Estado doParaná, à Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI), sendo que ambas fazem

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parte da estrutura sindical oficial brasileira, e à Central Sindical Confederação Geral dosTrabalhadores (CGT).

As operações da Pisa dividem-se nas áreas de produção, expedição, administração e florestal. Hátrabalhadores terceirizados na área florestal e no setor de manutenção. Os sindicatos representativosdesses trabalhadores são, respectivamente, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Jaguariaíva e oSindicato dos Metalúrgicos de Ponta Grossa (PR).

Na Pisa Papel de Imprensa e na Pisa Florestal há 376 trabalhadores ativos na base, sendo 355homens e 21 mulheres. Desse total, 315 trabalhadores ativos são associados ao sindicato, sendo 302homens e 13 mulheres. Os aposentados associados ao sindicato somam 35 homens. Além dessecontingente de trabalhadores, a empresa ainda conta com 636 trabalhadores terceirizados,totalizando quase o dobro de trabalhadores ativos, vinculados à categoria de papel e celulose.

De acordo com o Questionário Sindical, o salário médio dos trabalhadores alocados na fábrica deprodução de papel é de R$ 1.258,20 (cerca US$ 544,00), com jornada de trabalho semanal de 36horas. No setor administrativo, o salário médio também é de R$ 1.258,20 (cerca de US$ 544,00)com jornada semanal de 40 horas. As informações referem-se ao mês de outubro de 2001 e nãoabrangem os trabalhadores terceirizados. O piso salarial no setor de produção e na extração florestalé de R$ 501,26 (cerca de US$ 218,00) e refere-se ao mês de novembro de 2001.

Segundo o sindicato, não há registro de emprego de pessoas com menos de 16 anos e nemcontratação de pessoas com menos de 18 anos trabalhando em atividades consideradas perigosas oupenosas. Além disso, o sindicato afirma não haver qualquer queixa, reclamação ou ação judicialmovida pelos trabalhadores contra a empresa vinculadas à discriminação de pessoas pelo sexo, corou raça ou outro atributo pessoal.

Não há, também, registro de acidentes de trabalho ou de manifestação de doenças relacionadas àsatividades levadas a cabo na Pisa. Além disso, a entidade sindical não tem registro de danosambientais ocasionados pela atuação da empresa.

O principal instrumento jurídico que regula as relações de trabalho na empresa é o Acordo Coletivo,celebrado diretamente entre o sindicato e a empresa. O sindicato não tem nenhuma denúncia quantoao descumprimento de cláusulas do Acordo Coletivo. Quanto ao clima das relações de trabalho, osindicato declarou que as reuniões de negociações com a empresa costumam ser muito produtivas.O tratamento entre partes é de respeito mútuo e ainda reconhece os esforços da empresa em atingirresultados nas negociações coletivas que sejam aceitáveis por ambas as partes.

Em relação aos benefícios, é importante observar que a grande maioria está prevista no AcordoColetivo ou foi decidida isoladamente pela empresa. Na Acordo Coletivo, os trabalhadores têmassegurado assistência odontológica para ativos e dependentes, empréstimos, auxílio-educação,auxílio-transporte, auxílio-alimentação, cesta básica, participação nos lucros (em discussão) egratificação de férias. Por decisão isolada da empresa, os trabalhadores recebem assistência médicapara ativos e para dependentes, internação hospitalar (cerca de 80%), clube recreativo, fundo depensão e seguro de vida. Entre os benefícios, os trabalhadores não têm aposentadoriacomplementar, auxílio-creche e auxílio a filhos excepcionais.

Quanto à presença de representações sindicais ou de outra natureza no local de trabalho, éimportante observar que a CIPA é a única constituída na empresa. Não existe outros instrumentosde representação dos trabalhadores no local de trabalho, como, por exemplo, comissão de fábrica ouformas de representação da organização sindical da empresa. Não se pode, contudo, inferir que aausência desses mecanismos de representação no local de trabalho é de responsabilidade daempresa. Em muitas situações, ainda que se possa admitir resistências empresariais, o própriosindicato não tem política sindical dirigida a lutar pela conquista dessas representações.

Apesar da ausência da representação sindical no local de trabalho, a empresa conta com uma fortepresença de dirigentes sindicais. Há dois dirigentes sindicais liberados integralmente para o trabalhosindical e mais 18 dirigentes que não são liberados para a atividade sindical

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Segundo o Questionário Sindical, os dirigentes sindicais têm livre acesso às instalações da empresa,sem a necessidade de autorização prévia. Além disso, o sindicato tem acesso aos documentos daempresa. Tampouco há registro no sindicato de afastamento de trabalhadores por fazerem parte daCIPA ou por serem militantes sindicais. Nos últimos três anos, não houve mobilizações, greves ouparalisações dos trabalhadores. Sendo assim, o sindicato não tem nenhuma queixa contra a empresareferente a atitudes anti-sindicais.

Por último, quanto aos principais problemas enfrentados pelo sindicato, os dirigentes consideramque a terceirização coloca-se como o seu maior desafio, mas avaliam que as condições para mudaressa situação só podem vir por meio da aplicação de uma lei que venha proibi-la

4.4.4. A NORSKE SKOG KLABIN

A empresa Norske Skog Klabin foi fundada em fevereiro de 2000, fruto da formação de uma joint-venture do grupo Norske Skog com o grupo Klabin, maior empresa integrada de produção de papele celulose América Latina. O contrato deve vigorar até o final de 2003. Cada empresa detém 50%das ações.

Após esse ano, a Klabin não deve renovar o contrato e as máquinas serão reconvertidas paraproduzir embalagens. A joint-venture resulta de fato no arrendamento das instalações para aprodução de papel de imprensa da Klabin Papéis Paraná, localizada no município de TelêmacoBorba, no estado do Paraná. A Klabin Papéis Paraná começou a produzir papel de imprensa em1947.

A capacidade instalada da empresa para a produção de papel de imprensa em 2000 soma cerca de130 mil toneladas ao ano, enquanto que nos demais segmentos de papel o grupo Klabin possui umacapacidade instalada de 1,6 milhão de toneladas ao ano. Desse modo, o papel de imprensa ocupauma posição secundária na estratégia do grupo Klabin, respondendo por apenas 7,5% da suacapacidade instalada ou cerca de 9% das receitas líquidas auferidas pelo grupo em 2000(http://www.klabin.com.br).

Assim, a formação da joint-venture com a Norske Skog, reflete sua estratégia da Klabin deconcentrar suas operações nos segmentos que já têm competitividade no mercado interno e externo,especialmente nos segmentos de papéis descartáveis, embalagens e caixas de papelão onduladas.

Para o Grupo Norske Skog, a joint-venture resulta de suas necessidades imediatas em ampliar suacapacidade instalada com vistas a responder ao elevado volume exigido de escalas mínimas dessetipo de papel, como já foi salientado e, ao mesmo tempo, responder ao elevado volume deimportações que respondem por quase 60% do consumo aparente no mercado interno. As receitaslíquidas da Norske Skog Klabin em 2000 foram pouco superiores a US$ 55 milhões, resultando emcrescimento de mais de 140%, se comparado ao ano anterior.

As exigências por ampliação de escala de produção colocadas ao grupo Norske Skog fizeram comque a empresa viesse a anunciar planos de investimentos ambiciosos para os próximos anos, sobreos quais uma empresa de consultoria internacional, a Jaakko Poyry, lançou dúvidas. De todo modo,o grupo declarou que pretende instalar uma nova fábrica no Brasil, dimensionada para produzircerca de 350 mil toneladas ao ano, somando pouco mais de US$ 500 milhões. Essa nova plantaprodutiva seria inaugurada em 2004 e já estaria operando a plena capacidade a partir de 2005. Seesses investimentos se confirmarem, a capacidade instalada do grupo Norske Skog para a fabricaçãode papel de imprensa deve somar cerca de 665 mil toneladas no Brasil, se adicionada a capacidadede produção da Pisa Papel de Imprensa.

4.4.4.1. RELAÇÕES LABORAIS NA NORSKE SKOG KLABIN PAPEISPARANÁ

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O sindicato representativo dos trabalhadores da Klabin é o Sindicato dos Trabalhadores na Indústriade Papel e Papelão de Telêmaco Borba, no estado do Paraná. A base de representação do sindicato émunicipal. O sindicato é filiado à Federação Eclética dos Trabalhadores da Indústria do Estado doParaná e não é filiado a nenhuma central sindical.

O sindicato tem 1.760 trabalhadores ativos na base, 599 ativos sindicalizados e 40 aposentadossindicalizados. A única categoria profissional representada pelo sindicato é a dos papeleiros. Atotalidade dos trabalhadores na base do sindicato são da Klabin Papéis Paraná, contando com 1.760trabalhadores ativos, sendo 860 sindicalizados ativos e 840 aposentados. Isso implica uma taxa desindicalização na Klabin de 49%. Além disso, cerca de mil trabalhadores da empresa sãotercerizados, atuando nas áreas de expedição, transporte, embalagem e construção civil.

O salário médio mensal dos papeleiros é de R$ 1.057,00 (cerca de US$ 460,00) por uma jornada de41 a 48 horas semanais, de acordo com os turnos (dados para outubro de 2001). O piso salarial dospapeleiros varia de R$ 396,00 (US$ 172,00) a R$ 410,00 (US$ 178,00). Há negociações emandamento sobre a unificação do piso salarial em R$ 455,40 (US$ 198,00).

A empresa emprega diretamente adolescentes com idade inferior à 16 anos. O sindicalista não têmconhecimento sobre a contratação de menores de 18 anos para atuação em atividades de perigo.Apesar do emprego direto de jovens com idade inferior a 16 anos, o sindicato não tem nenhumareclamação ou moveu qualquer ação judicial contra a empresa.

Os registros de acidentes de trabalho medidos pela Taxa de Freqüência Geral caíram de 51% em1998 para 3,9%, em 2001. O dirigente sindical não soube esclarecer os critérios e medidas adotadospela empresa que servem de referência para a medição da Taxa de Freqüência.

Além disso, a entidade sindical desconhece danos ambientais eventualmente causados pela atuaçãoda empresa e também não tem conhecimento também de nenhuma queixa, reclamação ou açãojudicial contra a empresa por discriminação de pessoas pelo sexo, cor ou raça ou outro atributopessoal.

O instrumento jurídico que regulamenta as relações de trabalho é o Acordo Coletivo. Segundo osindicato, as relações entre o sindicato e a empresa são produtivas e regidas por respeito mútuo einteresse da empresa em fechar as negociações rapidamente. Além disso, o sindicato não temqualquer queixa em relação a empresa por descumprimento das cláusulas do Acordo Coletivo.

Apesar de o sindicato ter afirmado que o Acordo Coletivo é o principal instrumento que regula asrelações laborais com a empresa, a análise do quadro de benefícios sugere que a maioria dosbenefícios é concedida por liberalidade da empresa e, desse modo, não consta dos instrumentosjurídicos previstos, tal como o Acordo ou Convenção Coletiva.

Sendo assim, a empresa oferece aos trabalhadores de forma espontânea assistência médica eodontológica extensível aos dependentes, empréstimos, auxílio-educação, auxílio-alimentação,participação nos lucros (em discussão), seguro de vida e auxílio-doença e de acidentecomplementar. O Acordo Coletivo contempla somente a aposentadoria complementar e o auxílio-transporte.

Já quanto aos mecanismos de representação no local de trabalho, é importante ressaltar que a únicaorganização prevista é a CIPA. No mesmo sentido, a entidade sindical não participa de Comissão deConciliação Prévia.

O sindicato tem acesso irrestrito às instalações da empresa, sem necessidade de prévia autorização,contando com nove dirigentes sindicais vinculados à empresa. Apesar disso, a entidade sindicalnunca tem acesso a informações da empresa necessárias à preparação das negociações coletivas.

Já quanto às atitudes anti-sindicais, sindicato denunciou a suspensão por 30 dias de um dirigentesindical. A penalidade foi reduzida à metade após uma reunião com a empresa. Apesar disso, o

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sindicato também afirmou que não tem conhecimento de qualquer afastamento, transferência desetor de atividade ou de demissão de qualquer representante dos trabalhadores.

Em 2000, o sindicato forçou negociações com a empresa, após ameaçar a execução de uma greveou de um dissídio. As negociações acabaram por não trazer nenhum prejuízo para ambas as partes.O sindicato não aponta problemas em relação à empresa Klabin.

4.4.5. A ATUAÇÃO DO GRUPO LORENTZEN NO BRASIL

O grupo Lorentzen atua em diversos setores de atividade econômica, particularmente no transportee logística, química e petroquímica, papel e celulose e informática. As principais empresas de que ogrupo detém o controle acionário ou participação acionária são a Companhia de Navegação Norsul,Carboindustrial S.A., Carboderivados S.A., Vera Cruz Agroflorestal S.A., DSND Consub S.A.,Vertex Participações e a Lorentzen Empreendimentos S.A. Essa última empresa (holding não-operacional) participa do controle acionário da Aracruz Celulose.

O controle acionário do grupo Lorentzen é detido pela família Lorentzen, contando com cerca de62% das ações. O grupo ainda conta com a participação minoritária de 16% da Vertex ParticipaçõesS.A.

Quanto à origem do grupo, é importante observar que na listagem das empresas de capitalnorueguês cedida pela Embaixada da Noruega no Brasil, consta o grupo Lorentzen. De fato, devidoà nacionalidade do controlador, o grupo pode ser considerado de capital norueguês. No entanto, asede da razão social das holdings controladoras do grupo está localizada em São Luís (MA), talcomo consta no Balanço Anual da Gazeta Mercantil de 2001.

Cabe observar, entretanto, que uma das principais empresas do grupo, a DSND Consub S.A., é narealidade uma empresa controlada pelo grupo norueguês, DSND ASA, com sede em Grimstad,Noruega. O principal foco de atuação desse grupo é a manutenção de plataformas marítimas depetróleo e gás. Secundariamente, atua na construção marítima, com filiais no Brasil, Noruega eInglaterra. Essa informação reforça a posição da Embaixada Real da Noruega quanto à origem docapital do grupo Lorentzen.

A dúvida sobre a origem do capital do grupo e, por conseqüência, se o controle acionário daAracruz Celulose é compartilhado com um grupo norueguês, será tratada no capítulo final, asRecomendações. Além disso, deve-se ressaltar que, independentemente da dúvida sobre a origemdo capital do grupo, não foi possível identificar a vinculação do grupo na Noruega com empresasprodutores de papel e celulose.

4.4.6. A ARACRUZ CELULOSE

A Aracruz celulose foi fundada em 1972. Desde esse período, concentra-se na celulose de eucaliptobranqueada, matéria-prima utilizada para fabricar diversos tipos de papel, como papéis sanitários(tissue), de imprimir e escrever e papéis especiais.

O controle acionário da empresa é exercido pelos grupos Lorentzen, Votorantim e Safra, com 28%das ações ordinárias para cada grupo e pelo Bndespar, com 12,5%. As empresas controladas pelaAracruz Celulose são a Aracruz Trading S.A., a Aracruz Celulose (EUA) Inc., a Aracruz (Europe)S. A., responsáveis pela comercialização da celulose. A Aracruz Produtos de Madeira S.A. (Postoda Mata, Bahia) é a unidade de produção e comercialização de madeira. A empresa conta ainda commais duas empresas coligadas, a Portocel S.A. e a Veracel Celulose S.A., detendo,respectivamente, 51% e 45% das suas ações ordinárias.

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A Portocel é um porto localizado próximo à unidade de produção de celulose da Aracruz em Barrado Riacho, no município de Aracruz (ES). O porto é responsável pelo embarque das exportações decelulose da Aracruz. A Veracel Celulose, em que o controle acionário é compartilhado com o grupoStora (Suécia) e, secundariamente, com o grupo Odebrecht, por ora é responsável pelo projeto deexpansão da área florestal da empresa e pelo atendimento das necessidades da fábrica de produtosde madeira (Lyptus). Essa unidade localiza-se no município de Belmonte, no estado da Bahia.

A área florestal da empresa soma mais de 170 mil hectares, distribuídos em áreas próximas àfabrica de celulose em Aracruz (ES) e em Belmonte (BA), tornando a empresa auto-suficientequanto às suas necessidades de matéria-prima. Segundo estudos acadêmicos (NEIT/Unicamp,2000), a base da competitividade externa da Aracruz Celulose deve-se à sua tecnologia florestal naprodução do eucalipto. Nos últimos oito anos, a empresa conseguiu dobrar a produtividade,elevando a produção do eucalipto de 23 metros cúbicos por hectare/ano para pouco mais de 46metros cúbicos por hectare/ano, enquanto que na Finlândia, a bétula (árvore similar ao eucalipto)leva cerca de 50 anos para desenvolver-se, com uma produtividade de três a 4 metros cúbicos porhectare/ano. Na Espanha e Portugal, o eucalipto leva 15 anos para chegar a idade de corte, enquantoque no Brasil esse período corresponde a cerca de 7 anos.

Quanto à capacidade produtiva, a Aracruz pode produzir até 1,3 milhão de toneladas ao ano,contando para isso com duas linhas de produção. Entre 1998 e 2001, as receitas líquidas cresceramde US$ 443,4 milhões para pouco mais de 582 milhões, resultado do aumento do volume de vendasde 1,15 milhão de toneladas para cerca de 1,3 milhão. Em 1998, a empresa teve um prejuízo de US$59 milhões. Em 1999, exibiu um lucro líquido superior a US$ 230 milhões, e, no ano passado, frutoda desvalorização cambial, o lucro recuou para cerca de US$ 90 milhões.

A Aracruz é basicamente uma empresa exportadora. O mercado internacional absorve pouco maisde 90% das vendas da empresa, colocando-a na liderança mundial de produção e exportação decelulose de eucalipto. Em 2001, a América do Norte respondeu por 37% das exportações daempresa, a Europa absorveu 36% e a Ásia importou aproximadamente 22%. Se comparado ao anoanterior, a perda das exportações para a Europa foi compensada, especialmente pelo aumento dasvendas dirigidas à Ásia.

As expectativas da empresa no crescimento da demanda mundial por celulose de mercado e apressão exercida por ampliação das economias de escala levaram a empresa a implantar uma novalinha de produção de celulose na fábrica em Barra do Riacho, no município de Aracruz (ES),dimensionada para produzir até 700 mil toneladas adicionais ao ano. A nova linha de produção vaientrar em operação no segundo semestre desse ano. Essa decisão envolveu ainda a ampliação daárea florestal nos municípios próximos à fábrica e a aquisição de 45% da Veracel Celulose, emrazão também de sua área florestal no sul da Bahia. O total dos investimentos alcançou US$ 900milhões.

Além disso, no final do ano passado, o grupo Odebrecht abriu negociação com os principaiscontroladores da Veracel, visando vender sua participação de 10% no controle acionário. Especula-se que tal decisão está vinculada ao interesse da Stora/Enso e da Aracruz em implantar uma fábricade produção de celulose, com capacidade estimada de produção superior a 900 mil toneladas aoano, somando pouco mais de US$ 1 bilhão. Se essa decisão se confirmar, a Aracruz estaráconsolidando uma aliança global com a Stora/Enso. Esse grupo ocupa a quarta posição entre osprincipais produtores mundiais de celulose de mercado, sendo superado pela Weyerhaueser,Geórgia-Pacific e Internacional Paper (PPI-Pulp and Paper International, 2000).

Ainda quanto às iniciativas de expansão dos investimentos, a Aracruz Celulose está associando-seao grupo Suzano, de capital nacional, com operações da indústria petroquímica e de papel ecelulose, com o objetivo de adquirir o controle acionário da empresa Florestas Rio Doce, subsidiáriana Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). O interesse dessas empresas é ampliar suas áreasflorestais. A Suzano Papel e Celulose é líder no mercado interno na produção de papel de imprimire escrever, segunda colocada na produção de cartões e principal acionista da Bahia Sul que, por suavez, ocupa a terceira posição na produção de celulose de mercado (Gazeta Mercantil, 2002).

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Por último, a Aracruz Celulose está negociando também a compra de 25% das ações ordinárias daPortucel, de origem portuguesa, com operações concentradas na produção de celulose à base deeucalipto.

4.4.6.1 RELAÇÕES LABORAIS NA ARACRUZ CELULOSE

O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Celulose (Sinticel) é filiado à CUT, ao SindicatoNacional dos Papeleiros (Sinap) e à Confederação Nacional dos Químicos (CNQ). A base territorialdo sindicato abrange 77 municípios do Espírito Santo, exceto o município da Serra.

Na base territorial do sindicato constam pouco mais de 1.366 trabalhadores, sendo que 599 sãoassociados ao sindicato, revelando uma taxa de sindicalização de aproximadamente 44%. Aprincipal categoria profissional da base territorial do sindicato é a de papel e celulose, contando comaproximadamente 1.144 trabalhadores. A base do sindicato conta ainda com cerca de 218trabalhadores da categoria dos químicos. Segundo a empresa, o perfil desses trabalhadores é idademédia de cerca de 38 anos, em média há treze anos na empresa, 65% naturais do Espírito Santo,cerca de 92% são do sexo masculino e pouco mais de 65% com no mínimo o segundo graucompleto.

As principais empresas na base territorial do sindicato são Aracruz Celulose, Bragussa ProdutosQuímicos, Nexem Química do Brasil, Fertilizantes Heringer e Velas Ipanema, totalizando poucomais de 1.366 trabalhadores. Do total desses trabalhadores, cerca de 83% estão vinculados àAracruze Celulose, refletindo o elevado impacto econômico, social e trabalhista que essa empresarepresenta para a região e para o sindicato.

Segundo as informações prestadas pelo sindicato, é possível afirmar que a empresa abusa dautilização de mão-de-obra tercerizada. Esse contingente de trabalhadores representa cerca 80% dototal dos trabalhadores. Esses trabalhadores concentram-se nas áreas de instrumentação, elétrica,mecânica, construção civil e vigilância patrimonial. Os principais sindicatos que representam ostercerizados são os Metalúrgicos de Vitória e o da Construção Civil de Vitória.

O salário médio dos trabalhadores da Aracruz Celulose é de aproximadamente US$ 370,00. O pisosalarial corresponde a aproximadamente US$ 180,00. Quanto ao piso salarial dos tercerizados, aomenos dos rodoviários, corresponde a cerca de US$ 160,00, cerca de 10% inferior ao piso dostrabalhadores formais da empresa. Segundo a empresa, a sua política salarial está baseada narealização de pesquisas anuais em três diferentes mercados: celulose e papel, regional (EspíritoSanto e Bahia) e para executivo.

É possível inferir a partir desse critério a existência de diferenças salariais, na mesma função dalinha de produção, entre as empresas que produzem celulose nas regiões do Sul do país com aquelasque estão instaladas no Espírito Santo e, em particular, na Bahia.

Segundo o sindicato, a empresa não emprega diretamente, ou através de terceiras, adolescentes comidade inferior a 16 anos, ou mesmo com menos de 18 anos, em atividades consideradas perigosas oupenosas. Além disso, não existem queixas, reclamações ou ações judiciais contra a empresa pordiscriminação de pessoas pelo sexo, cor ou raça ou outro atributo pessoal.

De todo modo, a direção do sindicato apontou graves problemas vinculados à saúde e segurança notrabalho. Há ocorrências de problemas de LER, leocopenia, coluna, neurológicos e digestivos. Alémdisso, o sindicato denunciou problemas ambientais que podem ter sido provocados pela empresa,especialmente a poluição atmosférica e a contaminação da água.

O principal instrumento que regula as relações de trabalho é o Acordo Judicial de Trabalho,refletindo dificuldades para se estabelecer negociações coletivas diretamente entre sindicato eempresa. Segundo o sindicato, o processo de negociações coletivas é, em geral, moroso. A empresatem grande falta de consideração com o sindicato. Além disso, a empresa não cumpre cláusulas da

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convenção, dissídio ou acordo coletivo de trabalho, já que está descumprindo o Acordo de Turno eDesconto Assistencial. A empresa, ao contrário, declarou, por meio do questionário aplicado, quedesenvolve relações com os empregados baseadas na transparência, ética e justiça e que reúne-seperiodicamente com o sindicato para discutir assuntos de interesse de ambas as partes.

Quanto à jornada de trabalho, a empresa informou que os empregados administrativos trabalham desegunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas, com intervalo de uma hora para almoço. Os trabalhadoresdo campo (área florestal) trabalham em esquemas de revezamento quatro por dois, ou seja, a cadaquatro dias trabalhados há dois dias de descanso, em dois horários: das 6h06min às 15h18min e das15h18min às 24h30min, com uma hora de intervalo para refeição. Na fábrica de celulose, o trabalhoé ininterrupto, 24 horas por dia, sete dias por semana.

A organização do trabalho por turmas, segundo a empresa, funciona da seguinte forma: no campoflorestal, há três turmas de trabalho; na fábrica de celulose, como o trabalho é ininterrupto, há cincoturmas de revezamento. Ainda segundo a empresa, o Acordo Coletivo prevê que as horasextraordinárias de trabalho devem ser previamente autorizadas pela empresa. Os trabalhadores deturno ininterrupto podem trabalhar no máximo quatro horas-extras diárias, enquanto que nos demaiscasos o limite estabelecido é de duas horas-extras ao dia. A empresa informou ainda que não tembanco de horas.

Já quanto aos critérios para seleção e promoção dos trabalhadores, a empresa declarou que asnecessidades e exigências colocadas para a seleção são determinadas pelas habilidades requeridaspor cada vaga. Além disso, no processo de seleção, concede prioridade aos trabalhadores jácontratados pela empresa. Pode-se depreender, preliminarmente, das informações prestadas pelaempresa, que ela não tem uma política claramente definida para o processo de seleção dostrabalhadores e também de cargos e salários.

Quanto ao treinamento dos trabalhadores, a empresa informou que envolve todas as suas equipesem iniciativas de formação profissional. O plano de formação é realizado a partir de uma análisesobre as novas tecnologias necessárias para cada área da empresa, envolvendo aspectos vinculadosà necessidade de reciclagem de conhecimentos, além da avaliação individual sobre odesenvolvimento de cada integrante de cada equipe. A partir das competências básicas definidaspara o grupo, faz-se o levantamento das necessidades e o planejamento e execução das atividades deplanejamento. De todo modo, a empresa informou que não há carga horária pré-determinada para asatividades de formação profissional, pois o volume de horas utilizadas depende da função que otrabalhador ou sua equipe devem exercer, além das prioridades.

A maioria dos benefícios dos trabalhadores na Aracruz Celulose está prevista em Acordo Coletivode Trabalho. Neste instrumento, os trabalhadores têm assegurados os seguintes benefícios:assistência médica e odontológica, aposentadoria complementar, auxílio-creche, auxílio-alimentação, auxílio-transporte, auxílio a filhos excepcionais, fundo de pensão, participação noslucros e resultados e seguro de vida. Esse aspecto parece refletir-se, entre outros, na ausência deparalisações há mais de três anos na empresa.

Essas conquistas trabalhistas, entretanto, não são mediadas por representações nos locais detrabalho, o que pode vir a refletir resistências por parte da empresa em admitir a representaçãosindical no local de trabalho, apesar da existência e funcionamento da CIPA. Essa representação,entretanto, é mista, ou seja, uma parte dos seus membros são indicados pela empresa e a outra parteé eleita diretamente pelos trabalhadores. Além disso, sua única responsabilidade legal é tratar desaúde e segurança no trabalho.

Segundo a empresa, não há comissão formal constituída, tendo em vista o número expressivo dedirigentes sindicais vinculados à ela. Além disso, a empresa declarou que sempre que esse aspecto éabordado junto aos trabalhadores, eles declaram que os dirigentes sindicais são seus representantesem todos os fóruns internos. O Sinticel conta com um número expressivo de dirigentes sindicaisvinculados à Aracruz Celulose, segundo informações prestadas pelo próprio sindicato. Cerca de 25

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dirigentes sindicais são parcial ou integralmente liberados para a atividade sindical e cerca de 19dirigentes não têm liberação para a atividade sindical.

A empresa parece adotar práticas anti-sindicais, segundo as informações prestadas pelo sindicato. Oacesso à empresa é apenas parcial, pois os dirigentes sindicais necessitam da prévia autorizaçãopara ingressar nas suas instalações. Além disso, o sindicato afirma a ocorrência de perseguição dedirigentes sindicais por meio do uso de suspensões, advertências e processos cíveis.

Ao longo dos anos 1990, já foram demitidos cerca de 29 dirigentes sindicais por motivaçõespolíticas, sendo que o sindicato não conseguiu a reintegração, pois os dirigentes não gozavam deestabilidade sindical. Esse é o principal problema apontado pelos dirigentes sindicais nas relaçõeslaborais na empresa Aracruz Celulose.

4.5. GRUPO D: EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS DECOMUNICAÇÃO MÓVEL (TELENOR BROADBAND SERVICES ENERA AMÉRICA LATINA LTDA)3

4.5.1. CONTEXTUALIZAÇÃO SETORIAL: AS COMUNICAÇÕES MÓVEISNO BRASIL

O segmento de comunicação móvel engloba os serviços de telefonia móvel e de radiochamada(paging)4. A telefonia móvel subdivide-se em telefonia celular, serviço de comunicação pessoal(PCS) e SME ou trunking.

Com uma história de desenvolvimento bastante recente no Brasil, até 1998 a comunicação móvel noBrasil apresentava-se principalmente de duas maneiras:

a) telefonia celular (Banda A), com tecnologia analógica e limitações à sua própria expansão – masprematuramente saturadas nas grandes cidades. Plataforma tecnológica baseada no padrão norte-americano CDMA e TDMA, funcionando na freqüência de 1,9 GHz. Operada por empresas domonopólio estatal.

b) serviços de paging e de trunking, com tecnologia analógica e digital. Operados por empresasprivadas.

Em razão do atraso na outorga das concessões para a implantação da Banda B (tecnologia digital)esta acabou por efetivar-se no esteio do processo de privatização e digitalização da Banda A.

Em 2000, a adoção do padrão tecnológico europeu GSM – plataforma para as Bandas C (“segundageração de celulares”), D e E, e que opera na faixa de freqüência 1,8 GHz – repercutiupositivamente, atraindo a atenção de investidores da Noruega e Suécia. Segundo as Câmaras deComércio desses países, nos próximos três anos serão aplicados no Brasil cerca de US$ 80 milhõesem tecnologia da informação e telecomunicações. Note-se ainda que o padrão GSM figura comouma barreira à entrada nesse mercado das empresas norte-americanas.

O potencial do mercado brasileiro apresenta números tentadores: o país representa, sozinho, mais dametade do mercado de telefonia latino-americano; as projeções indicam que ao final de 2002 deverácontar com mais de 40 milhões de usuários; atualmente, o índice de penetração de celulares é de

3 As informações relativas a estes grupos e/ou empresas ainda são bastante incipientes, tendo em vista que:

- essas empresas não foram localizadas no rol de indicadores das fontes oficiais do país (Banco Central);- a maioria das informações disponíveis nos sítios brasileiros dessas empresas não disponibiliza dados contábeis

e/ou financeiros relativos à atuação no Brasil;- até a presente data, não recebemos os dados adicionais solicitados junto aos escritórios instalados no Brasil.

4 Popularmente conhecido no Brasil como pager.

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10%; tomando-se a América Latina esse percentual sobe para 36% - ainda assim consideradobaixo, se comparado à Noruega, onde mais de 80% da população possui o serviço.

Nesse cenário promissor, empresas de capital norueguês recentemente iniciaram sua instalação ouintensificaram suas atividades no país - a Telenor Broadband Services e a Nera América LatinaLtda.

4.5.1.1. A COMUNICAÇÃO VIA SATÉLITE NO BRASIL

Os serviços de telefonia via satélite configuram um extrato de mercado bastante específico.Voltados a um público mais restrito, onde a telefonia fixa e/ou móvel ainda não chegou, a liberaçãodesses serviços foi realizada em 1998 no Brasil, pela Embratel.

A Embratel operava a distribuição dos serviços e equipamentos ofertados pelas empresas TelenorBroadband Services e a Nera América Latina Ltda., mas a perspectiva de ampliação desse mercadoe até mesmo a possibilidade de maior abertura ao capital estrangeiro em outras áreas dastelecomunicações brasileiras têm levado à ampliação do cenário de atuação dessas empresas.

Em março de 2000, a Telenor Broadband Services e a Nera América Latina Ltda. uniram-se emuma parceria e trouxeram para o Brasil um sistema de comunicação pessoal que oferece mobilidadee cobertura global de transmissão de dados para lugares remotos via rede de satélites Inmarsat,garantindo uma cobertura de 98% da Terra, o GAN.

Trata-se de um nicho de mercado no rol da tecnologia de informação e telecomunicações bastanteespecífico, no qual essas empresas norueguesas possuem larga experiência, sendo referência emseus países e em mercados específicos da Europa. No Brasil, esse segmento ainda dá seus primeirospassos. Suas principais aplicações voltam-se às estruturas de telefonia desprovidas de recursos decomunicação, onde a comunicação convencional ainda não chegou, como plataformas deperfuração de petróleo, campos de mineração, fazendas, situações de emergência etc. O sistemapossibilita, além da transmissão de voz, o envio de dados e multimídia, com velocidade de 64Kbps5.

4.5.2 ESTRUTURAÇÃO EMPRESARIAL

4.5.2.1 GRUPO TELENOR

A empresa foi fundada em 1855, como prestadora de serviços de telegrafia (Norwegian TelegraphAdministration). A história da Telenor AS está ligada ao processo de desenvolvimento dastelecomunicações na Noruega. Com o advento da transmissão de dados via rede detelecomunicações, a empresa teve sua denominação alterada em 1969 para NorwegianTelecommunications Administration. Em 1994, estabeleceu-se como companhia de capital limitado,sob o controle do Ministério do Comércio e da Indústria e, em 1995, adotou o nome de Telenor AS.

Ao longo da década de 1990, durante o processo de desregulamentação da indústria detelecomunicações norueguesa, a Telenor AS adotou uma estratégia internacional mais ofensiva.Criando várias divisões de negócios, a empresa começou a expandir sua área de atuação e hoje estáem cerca de 29 países da Europa, América do Norte, África e Ásia.

5 Um dos principais mecanismos de divulgação dos produtos e serviços oferecidos por essas empresas é o patrocínio deesportes radicais. A equipe brasileira no Rally Paris Dakar 2001/2002 conta com o apoio da Nera América Latina Ltda(fornecimento de telefones via satélite) e da Telenor Broadband Services (serviços de comunicação e provedores paraconexão à internet).

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Em julho de 2000, o governo norueguês criou uma holding para o Grupo Telenor, a Telenor ASA, e,em novembro do mesmo ano, teve 21% de suas ações vendidas à iniciativa privada, ficando ogoverno norueguês com o restante. Em 2000, o grupo faturou US$ 1,14 bilhão.

Atualmente, a Telenor ASA divide-se em quatro áreas principais:

• Telenor Mobile, segmento de telefonia e internet móveis com atuação em 15 países;

• Telenor Business Solutions, segmento de telefonia e comunicação voltadas à área empresarial,inclusive comércio eletrônico, com atuação em 12 países;

• Telenor Plus, segmento de telefonia e comunicação voltadas à área residencial, inclusive internet;

• Telenor Networks Services, segmento de serviços de telecomunicações de rede fixa.

Inclui ainda outras duas áreas voltadas à comunicação via satélite:

• Telenor Satellite Networks

• Telenor Satellite Mobile

No Brasil, até o momento, o grupo Telenor ASA atua fundamentalmente nestas duas últimas áreas,de comunicação via satélite, representadas comercialmente pela Telenor Broadband Services.

4.5.2.1.1 TELENOR BROADBAND SERVICES: ATUAÇÃO NO BRASIL

A empresa atua no país desde 1995, mas somente em março de 2001 a Telenor ASA deu um passodecisivo em sua estratégia de disputar o promissor mercado brasileiro e da América Latina,conforme nos referimos anteriormente, instalando a Telenor Broadband Services no Rio deJaneiro.6 Essa decisão também deve estar ligada, como nos referimos anteriormente, à adoção em2000, pelo Brasil, do padrão tecnológico europeu GSM como plataforma para as Bandas C, D e Ede telefonia celular, além da perspectiva da segunda etapa do processo de desregulamentação dastelecomunicações no país prevista para 2003, que permitirá aos grupos atuarem simultaneamenteem qualquer um dos segmentos de telecomunicações. Por ora, a empresa concentra seus negóciosno segmento de distribuição de serviços de comunicação via satélite.7

4.5.2.2. GRUPO NERA ASA

O grupo Nera ASA atua na Noruega desde 1947. Atualmente, é uma empresa líder nodesenvolvimento e fabricação de produtos destinados à comunicação via satélite e comunicação deterra via rádio.

Os negócios do Grupo distribuem-se como segue:

• Nera SatCom AS, criada em 1998, fornecedora de equipamentos para comunicação via satélite.Subdivide-se em três unidades empresariais:

6 Segundo sua assessoria, a empresa ainda não está operando com sua capacidade máxima, pois encontra-se emprocesso de legalização para ampliar seu funcionamento no país, o que pode explicar, parcialmente, o fato de nãoconseguirmos obter dados sobre o desempenho econômico-financeiro da empresa no Brasil e tampouco referências aosdados sobre número de trabalhadores e relações laborais, mesmo da parte da Federação Interestadual dos Trabalhadoresem Telecomunicações, da Central Única dos Trabalhadores (Fittel/CUT).7 No contato estabelecido com a assessoria da empresa, fomos informados de que a direção se comprometeria a nosprestar maiores informações a partir da segunda quinzena de fevereiro deste ano.

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- Marine & Mobile;- Land Earth Stations;- Business Communication.

A Nera SatCom AS domina cerca de 45% do mercado mundial de telefonia via satélite. Em 1997,alcançou um faturamento mundial da ordem de US$ 500 milhões e de US$ 22 milhões na AméricaLatina.

O Grupo Nera ASA está sediado na Noruega e conta com empresas para desenvolvimento deprodutos e vendas nos Estados Unidos. Possui companhias operacionais no Brasil, Venezuela,México, Colômbia, China, Índia, Alemanha e Inglaterra. Há ainda escritórios na Polônia, RepúblicaTcheca, Espanha, Itália, Austrália, EUA, Argentina, Paquistão, Tailândia, África do Sul e Rússia.No total, o grupo atua em 26 países, empregando mais de 1.500 trabalhadores.8

4.5.2.2.1. NERA AMÉRICA LATINA LTDA: ATUAÇÃO NO BRASILA Nera América Latina Ltda (Nera) é uma empresa 100% subsidiária da Nera ASA e atua no Brasildesde 1995 como fornecedora de equipamentos para operadoras de telecomunicações e empresascorporativas (sistemas via satélite e de rádio).

Os negócios da empresa no Brasil dividem-se em duas grandes áreas:• Divisão Rádio, fornecimento de rádios microondas para redes de telecomunicações; e• Divisão SatCom, fornecimento de equipamentos para comunicação via satélite.Essas áreas são representadas, pela ordem, como segue:• Nera Rádio do Brasil; e• Nera SatCom Brasil.

Atualmente, a Nera fornece seus telequipamentos para a Americel, Embratel, Telefonica, Telemar,TCO, TIM, TESS, Portugal Telecom, EDS, General Motors, Basf, Unibanco, Kepler Weber,Compuline, Promon, Mobilcom, além da Polícia Federal, Marinha e Exército.

Em 2000, a empresa investiu US$ 5 milhões na instalação de um pólo produtivo no Brasil. Essadecisão de nacionalizar sua produção no Brasil – com a constituição do primeiro pólo produtivo daAmérica do Sul – possui um caráter estratégico, pois, a partir daí, a empresa teve seu processoprodutivo enquadrado no regime de PPB, isentando-a do Imposto Sobre Produtos Industrializados(IPI). Esse aspecto é importante para a empresa aumentar sua competitividade da empresa aoatender não somente o Brasil, mas todo o Mercosul.

A Tabela 22, abaixo, apresenta alguns dados contábeis da Nera no Brasil, obtidos na Revista InfoExame. A assessoria da empresa não havia confirmado, até o presente momento, se essasinformações englobam dados da unidade produtiva instalada em Barueri, São Paulo.

TABELA 22 – INDICADORES DE DESEMPENHO DA NERA AMÉRICA LATINA LTDADesempenho Resultados

Vendas (US$ mil) 10.207,0

Patrimônio líquido (US$ mil) 962,5

Lucro líquido (US$ mil) 1.213,2

Margem de lucro sobre as vendas (%) 11,9

Liquidez corrente 1,7

Endividamento geral 63,2

Endividamento financeiro (%) 41,3

Fonte: Revista Info Exame, Maiores e Melhores, 2000

8 Até o presente momento, não havíamos obtido uma confirmação desta informação.

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De acordo com a Revista Info Exame, em 2000 a Nera encontrava-se entre as 200 maiores empresasprivadas do país, tendo sido a sétima empresa que mais cresceu (receita operacional bruta) em 1999(+188,6%).

4.5.3 RELAÇÕES LABORAIS

4.5.3.1 TELENOR BROADBAND SERVICES

Apesar de não termos recebido as informações relativas ao atual quadro de funcionários daempresa, situação das relações de trabalho e das perspectivas de contratação de mão-de-obra para aampliação das operações da empresa – que conforme citado anteriormente estaria em processo de“legalização” – julgamos necessário elencar duas informações sobre as quais ainda não obtivemosconfirmação:

• detalhes sobre os possíveis rebatimentos à subsidiária da Telenor no Brasil quanto ao ProjetoGlobal GeSI, criado em junho de 2000, no qual as maiores empresas de tecnologia da informação ede telecomunicação do mundo comprometeram-se com o objetivo de proteger o meio ambienteglobal e apoiar o desenvolvimento sustentável através da promoção de negócios e de tecnologiasque minimizem o desperdício e economizem energia. Principais empresas signatárias: Telenor,European Telecommunications Network Operators Association, AT&T, Ericsson, LucentTechnologies, British Telecommunications, entre outras;

• detalhes sobre denúncia contra a empresa Telenor AS citada no sítio da Anistia Internacional.

4.5.3.2 NERA AMÉRICA LATINA LTDA

Segundo a Revista Info Exame, em 2000 a Nera América Latina possuía 17 trabalhadores, mas nãoconseguimos confirmação sobre se esse número engloba também a unidade produtiva. Acreditamosque não.

A fábrica da Nera no Brasil localiza-se em Alphavile, Barueri (SP), e tem seus trabalhadoresrepresentados por um sindicato da categoria metalúrgica filiado à central sindical Força Sindical,com o qual, até o momento, não conseguimos contato.

De acordo com o Secretário Geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba, que representa ostrabalhadores da empresa Flextronics do Brasil, e que é responsável pela montagem dosequipamentos de empresas de telefonia móvel, como Ericsson e Nokia, entre outras, a situação nãodeve ser diferente da vivida em sua base, caracterizada como bastante grave, inclusive comperseguição explícita da empresa contra os direitos à sindicalização. Vale lembrar que a Flextronicsdo Brasil também era empresa tercerizada da Nera, montando no Brasil seus telequipamentos.Embora a Nera tenha nacionalizado sua produção, não sabemos ainda se a relação entre as duasempresas ainda permanece, mesmo que parcialmente.

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V. RECOMENDAÇÕES PARA O APROFUNDAMENTO DOESTUDO E PARA A ATUAÇÃO SINDICAL

5.1. ASPECTOS GERAIS

O primeiro aspecto a ressaltar refere-se ao caráter preliminar deste estudo, em função, sobretudo, daexigüidade do prazo e do período para a execução, praticamente no final de ano. Em alguns casos,esse período coincidiu com as férias coletivas da categoria. Também é grande o volume deempresas envolvidas, aproximadamente 50, o que nos obrigou a selecionar um grupo mais reduzidode empresas, principalmente aquelas consideradas mais relevantes do ponto de vista econômico etrabalhista.

Se por um lado o acesso às informações das empresas de “capital aberto” (sociedade anônima), deum modo geral, foi mais fácil, o mesmo não aconteceu com as empresas de capital fechado(limitadas), o que provocou algumas lacunas no estudo. É o caso da Nera Telecomunicações Ltda,entre outras que serão citadas adiante. Parte das dificuldades, vinculadas especialmente às empresasde capital fechado, poderiam ser contornadas se os questionários aplicados às empresas fossemrespondidos por estas. Neste, caso, as únicas empresas que responderam ao questionário foram aAracruz Celulose, a Kvaerner e a Norske Skog, sendo que neste último caso não foi possívelincorporá-lo no relatório, dado o atraso do envio das informações pela empresa.

Assim, apesar de termos conseguido um nível de detalhamento consistente no que tange àsinformações econômicas sobre os grupos empresariais, os resultados aqui apresentados desde logocolocam-se como preliminares. Um estudo apropriado de cada um dos grupos selecionadosdemandaria um esforço de pesquisa e elaboração suplementar, especialmente quanto à dimensão eanálise das próprias empresas sobre as relações laborais, tendo como referencial o grau decumprimentos dos direitos fundamentais e o respeito ao meio ambiente. É importante observar queneste aspecto, apenas na Elkem, por meio de estudos já realizados anteriormente, e na AracruzCelulose, foi possível confrontar, em caráter preliminar, as informações prestadas pelas empresas epelos sindicatos.

Aliado a isso, e guardadas as especificidades de cada um dos grupos estudados, vimos que suapresença no país atende a uma estratégia de atuação não somente do mercado local, mas tambémobedece uma estratégia empresarial mais ampla, ou seja, diretrizes para a América Latina, Mercosule mercado mundial. Nesse sentido, em alguns casos o foco de análise deveria ser ampliado paracontemplar esse aspecto, contando com a ativa parceria da LO na análise e fornecimento deinformações sobre as operações globais desses grupos, particularmente de suas organizaçõesvinculadas especificamente aos setores nos quais concentram-se os grupos em estudo.

Faz-se necessário e, portanto, recomendamos no contexto da parceria da LO com a CUT, através doObservatório Social, a constituição de um sistema de intercâmbio de informações sobre osgrupos e as condições de trabalho e práticas trabalhistas e ambientais, com vistas a subsidiar acontinuidade desse estudo e, simultaneamente, as relações sindicais entre as organizaçõesdiretamente envolvidas.

A implementação dos direitos fundamentais previstos na OIT requer um longo trabalho de açãosindical. Requer também, para o seu pleno desenvolvimento, o estreitamento das relações entre ossindicatos representativos, a CUT e a LO, tendo como apoio técnico os estudos a serem realizadospelo Observatório Social.

Além disso, para a continuidade é importante considerar que os aspectos ambientais ocuparam umpapel secundário nesse estudo preliminar, dado que esta temática exige mais tempo e recursos de

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pesquisa. Ele foi abordado somente no questionário aplicado às empresas e aos sindicatos. No casodas empresas, não é hábito admitirem problemas ambientais vinculados à saúde e à segurança notrabalho, bem como danos provocados ao meio ambiente, muitas vezes com reflexos para a saúdeda comunidade.

Da parte dos sindicatos, embora existam honradas exceções, para a maioria, infelizmente, ainda nãoé um tema relevante na agenda imediata. Denúncias vinculadas ao meio ambiente requerem odesenvolvimento de uma relação de médio prazo, pois as empresas costumam desenvolveriniciativas comunitárias com o objetivo de conquistar o seu apoio. Diante de eventuais problemasambientais, as empresas utilizam-se inclusive de barganha junto à associações de bairro, moradorese administração pública, para evitar eventuais punições, multas e obrigações de instalação desistemas de prevenção, que podem gerar repercussões negativas sobre o emprego. Em muitassituações, essas ações das empresas resultam no isolamento dos sindicatos, caso venham aprotagonizar denúncias. É preciso, portanto, que a continuidade dos estudos seja acompanhada deiniciativas políticas capazes de protagonizar a formação de uma rede social mais ampla na áreaambiental.

No entanto, como a maioria dos setores econômicos vinculados aos grupos estudados são grandespoluidores do meio ambiente e responsáveis por graves problemas de saúde profissional, deve-sedar destaque a esse tema na continuidade, contando com a elaboração de pesquisas de campo edocumentais aplicadas em cooperação com ONGs ambientalistas e os órgãos públicos federais,estaduais e municipais que tratam do meio ambiente no Brasil.

Focalizando agora somente um dos pontos-chave do estudo, as relações laborais e ambientais nasempresas selecionadas, verificamos que estas figuraram como um dos aspectos de maior dificuldadena obtenção dos dados. Dependíamos em grande parte da colaboração dos Sindicatos deTrabalhadores e nem sempre obtivemos sucesso, levando em consideração o prazo de quedispúnhamos e o período de final de ano.

Ainda quanto ao recorte trabalhista, para a continuidade, é importante considerar que os processosde terceirização de mão-de-obra, concentrados especialmente nos setores mineral e de papel ecelulose, necessitam de um detalhamento rigoroso, já que, em geral, esses trabalhadores têmvínculos permanentes com as empresas e são desprovidos de direitos trabalhistas e sociais básicosprevistos na Constituição Federal. Além disso, a terceirização é utilizada também pelas empresascom o objetivo de prescindir do sindicato e da figura da convenção ou acordo coletivos de trabalho,resultando em contingente numeroso de trabalhadores desprovidos também das conquistas obtidaspor meio das negociações com os sindicatos dos trabalhadores. Neste caso, em particular,recomendamos o mapeamento das empresas terceirizadas nas empresas norueguesasobservadas.

Além disso, na maioria dos questionários respondidos pelos sindicatos, foi possível constatarlimitações ou constrangimentos quanto ao reconhecimento da organização sindical no local detrabalho, acesso a informações necessárias para as negociações coletivas ou até mesmo aperseguição de lideranças sindicais, com suspensão, advertência e até demissão.

Recomendamos ainda adicionar informações sobre os sindicatos que representam os trabalhadoresdos grupos estudados na Noruega como uma medida fundamental, inclusive, para embasar melhora atuação dos sindicatos no Brasil. Como medida prática, recomendamos a atualização e ampliaçãodo cadastro sindical. Pareceu-nos que as informações “frias” que estes possam possuir (quando apossuem) sobre as operações do grupo na Noruega e no resto do mundo tomam uma dimensãodiferente quando estas trazem também a experiência de seu colega trabalhador que está em outropaís. Esse intercâmbio de experiências surgiu como elemento importante para um estudo de carátermais consolidado.

Assim, é preciso que nas discussões sobre a continuidade se possa prever a realização de semináriocom o objetivo de confrontar os diretos trabalhistas, sociais e sindicais dos trabalhadores nasprincipais unidades de produção desses grupos na Noruega e de suas filiais no Brasil, ou

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envolvendo até unidades importantes no Mercosul ou América do Sul, já que as operações dessesgrupos não se limitam ao Brasil. É importante frisar também que os sindicatos e, principalmente, ostrabalhadores de base das empresas estudadas, jamais tiveram algum tipo de contato entre si, o quereforça a importância desta iniciativa.

Deve-se confrontar, inclusive, as práticas ambientais no país de origem e nas filiais. E esseseminário poderia inaugurar o compromisso das partes envolvidas na constituição do sistema deinformações e intercâmbio, bem como a próxima fase dos estudos e pesquisas, vislumbrando odesenvolvimento de ações sindicais e sociais concretas, referenciadas nos direitos fundamentais daOIT. Recomendamos também que para o seminário as empresas sejam convidadas a explicareventuais diferenças de práticas trabalhistas, sindicais e ambientais. Neste caso, é importantedestacar que os Direitos Fundamentais no Trabalho contidos na Declaração da OIT sãocompromissos assumidos pelos governos, empregadores e trabalhadores. Portanto, são obrigaçõesmínimas que devem ser respeitadas em qualquer país.

Passamos agora a considerações mais pontuais, tomando cada grupo em particular.

5.2. GRUPO A: EXTRAÇÃO E REFINO DE ALUMÍNIO/ADUBOS/FERTILIZANTES (NORSK HYDRO/KVAERNER)

No grupo Norsk Hydro, o único sindicato que respondeu ao questionário foi o Sindicato dosTrabalhadores Metalúrgicos de Itu (SP), filiado à CUT, que tem na base os trabalhadores daempresa Hydro Alumínio Acro S.A. Quanto ao quadro das relações laborais, o sindicato revelou,em síntese, que não tem graves problemas trabalhistas, sindicais e ambientais que possam motivaruma atuação sindical, de denúncias, no médio e longo prazos.

Não foram aplicados questionários nas outras empresas do Brasil em que o grupo tem expressivaparticipação acionária, como a Alunorte (produtora de alumina, localizada no Pará), Mineração Riodo Norte (maior produtora de bauxita, localizada também no Pará) e Adubos Trevo, com cerca denove plantas produtivas em vários estados do país.

Para a continuidade do estudo nesta empresa, há necessidade de envolver o sindicato na estratégiamais geral de cooperação, realizando um estudo mais aprofundado e rigoroso das relações laboraisna empresa. Além disso, recomenda-se investigar as relações laborais nas demais empresas dogrupo Hydro no Brasil (a Mineração Rio do Norte, Alunorte e Adubos Trevo), pois são maiores aschances de identificar problemas laborais e ambientais nessas empresas, devido à natureza de suasoperações e, assim, poder motivar ações sindicais concretas, no contexto da cooperação da CUTcom a LO. O estudo das relações laborais nessas empresas, vinculadas ao aprofundamento na HydroAlumínio Acro, pode, inclusive, oferecer motivações adicionais à participação ativa do Sindicatodos Metalúrgicos de Itú (SP) e, ao mesmo, tempo, vincular-se a própria estratégia do grupo noBrasil e no mundo, em que atua desde a extração da matéria-prima até a elaboração de produtosintermediários.

Já quanto ao Grupo Kvaerner, o Sindicato dos Metalúrgicos de Curitiba (PR), que não é filiado àCUT, não respondeu ao questionário. Apesar de ter informado que não é filiado a nenhuma centralsindical, sabe-se que tem estreita cooperação com a Força Sindical. Para continuidade do estudoneste grupo, se assim for entendido como necessário, recomendamos desenvolver uma estratégia deinterlocução própria com o sindicato.

De todo modo, é importante observar que a Kvaerner é uma das maiores produtoras mundiais deequipamentos e serviços para a indústria de papel e celulose, contando com parcerias e aliançasglobais com o grupo Lorentzen (Aracruz Celulose) e, especialmente, com o grupo Norske Skog.Desse modo, a continuidade do estudo desse grupo poderia concentrar-se no seu papel subsidiárioàs empresas de papel e celulose que contam com a presença do capital norueguês, caso não seconsiga envolver o sindicato da Kvaerner na continuidade.

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5.3. GRUPO B: QUÍMICO E MINERAÇÃO (ELKEM ASA DANORUEGA)

No grupo Elkem, foi aplicado o questionário no Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias deProdutos Químicos para Fins Industriais do Município de Serra, no Espírito Santo, que tem na suabase as plantas produtivas da Elkem Participações Indústria e Comércio (antiga Carboindustrial) eCarboderivados. Esse sindicato não é filiado à nenhuma central sindical

Entre as empresas do grupo Elkem que atuam no Brasil, destacamos a Mineração Vila Nova,localizada no estado Amapá, que apresenta um quadro extremamente grave, seja de degradaçãoambiental, seja quanto às condições sociais verificadas in loco.

Tendo em vista a pouca estrutura e a falta de recursos das entidades locais, sindicatos eorganizações sociais, é necessária a realização de um projeto amplo de apoio e de cooperação,visando à conscientização e à divulgação do quadro social dramático que apresenta, decorrente, emparte, da atuação desta empresa.

Recomendamos a necessidade de organizar uma grande frente política e social, impulsionada pelaCUT, CNTSM, Observatório Social, ONGs e entidades parceiras de âmbito internacional, paraenfrentar os danos já causados pela atuação irresponsável dessa empresa. É necessário ampliar oescopo da pesquisa do Observatório Social no setor mineral do Amapá.

A prioridade neste caso é objetiva, ou seja, deve-se desenvolver estudos e ações com vistas apropor a remoção dos rejeitos, recuperar o ambiente degradado, verificar a incidência dasenfermidades, tratar dos contaminados, exigir suas indenizações e punir os responsáveis.

Por último, é importante levar em consideração, para a continuidade, que a origem de capital dogrupo Elkem encontra-se em disputa entre o grupo Orkla ASA (Noruega) e a Alcoa (Canadá). Casono próximo período essa origem venha a ser alterada, isso vai requerer o envolvimento adicionaldas organizações sindicais canadenses e, desde já, recomendamos preventivamente realizar ummapa de empresa do grupo Alcoa, seja de suas operações mundiais, bem como no Brasil.

5.4. GRUPO C: PAPEL E CELULOSE (ARACRUZ-LORENTZEN/NORSKE SKOG)

No caso dos grupos Lorentzen e Norske Skog, as diretrizes de continuidade, além daquelas játratadas no item de aspectos gerais, requerem, ao menos no caso do primeiro grupo, que sejamesclarecidas dúvidas quanto à origem de capital do grupo Lorentzen.

A necessidade de aprofundar o estudo deve-se ao fato de que o grupo Lorentzen divide o controleacionário da Aracruz Celulose, em partes iguais, com dois grupos de capital nacional. Desse modo,a Aracruz Celulose, principal objeto da análise de atuação do grupo no Brasil, não é em realidadeuma empresa controlada por um grupo multinacional. Em outras palavras, não é uma filial do grupoLorentzen no Brasil.

Além disso, quanto ao perfil desse grupo, é importante considerar que a concentração setorial desuas principais atividades na Noruega não são coincidentes com suas operações no Brasil, ao menosno setor de papel e celulose. E isso o diferencia de todos os outros grupos estudados.

Neste caso, estariam comprometidas as recomendações gerais de desenvolvimento de um sistemade intercâmbio de informações e experiências dos trabalhadores com o objetivo de confrontarpráticas trabalhistas, sociais, sindicais e ambientais das principais unidades produtivas na Noruegacom as filiais no Brasil, caso venha a se privilegiar a produção de papel e celulose.

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No entanto, esse grupo ainda participa do controle acionário das empresas que atuam no segmentoda carboquímica do grupo Elkem. A Aracruz Celulose, na qual divide o controle acionário, trata-seda maior empresa de celulose de mercado do Brasil, com projetos de ampliação dos investimentosmuito agressivos, podendo tornar-se, nos próximos anos, na maior do mundo.

Além disso, a empresa encontra outros elementos muito importantes para uma eventualcontinuidade. Os problemas sociotrabalhistas mais graves e concretos, que obtivemos por meio doquestionário sindical, vieram exatamente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Celulosede Aracruz (ES) e região, com filiação à CUT.

Foram detectados problemas relativos às doenças profissionais, suspeitas de danos ambientais etrabalhistas. Estes, especialmente quanto às restrições colocadas pela empresa no acesso às suasinstalações, presença sindical no local de trabalho, justificada aí pela empresa devido à presença devários dirigentes do sindicato com vínculos trabalhistas com a Aracruz, e perseguição de liderançassindicais, até com a demissão, ao menos daqueles que não têm estabilidade no emprego.

Já quanto ao grupo Norske Skog/Pisa Papel, este é uma joint-venture com a Klabin para oarrendamento temporário de sua máquina de produção de papel de imprensa, principal foco deatuação do grupo no Brasil, mas também mundial. Além disso, a empresa decidiu ampliar suacapacidade de produção, em parceria ou não, com o grupo Klabin.

Isso significa que as operações deste grupo no Brasil são sólidas e que, de fato, pretende controlarnão só a produção na América do Sul de papel de imprensa, como também decidiu reduzir a forteparticipação das importações no atendimento ao mercado latino-americano.

Por isto, recomendamos a observação deste grupo pela sua importância econômica, lembrando queo grupo Norske Skog foi aquele que enviou o relatório mais completo sobre suas operações noBrasil, respondendo inclusive a todas as questões vinculadas às relações laborais.

Deve-se, adicionalmente, levar em consideração, no caso desta planta, e portanto, do seu universode trabalhadores, que o arrendamento da máquina de papel da Klabin será encerrado em 2003. AKlabin já declarou que vai reconverter tal máquina para a produção de embalagens e não estádefinido ainda o local da nova planta do grupo Norske Skog, com o objetivo de compensar suaperda produtiva.

5.5. GRUPO D: EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS DECOMUNICAÇÃO MÓVEL (TELENOR BROADBAND SERVICES ENERA AMÉRICA LATINA LTDA)

Mesmo levando em conta possíveis lacunas do estudo nestes grupos – derivadas da dificuldade naobtenção das informações em seu conjunto – mas considerando que o Brasil figura como paísestratégico para os negócios do grupo Telenor ASA e Nera ASA na América Latina, recomendamosaprofundar a obtenção de dados destas empresas.

No cenário próximo, temos pela frente a segunda etapa da desregulamentação do setor detelecomunicações, em 2003. Esta conjuntura abre espaço para as empresas atuarem em váriossegmentos simultaneamente, conseqüentemente, aumentando a demanda por tele-equipamentossobretudo para as empresas que já detêm a tecnologia, caso da Nera.

Recomendamos o aprofundamento do estudo para ambos os grupos, enfatizando, inclusive, oâmbito de negócios e atuação sindical tanto no Brasil quanto em países da América Latina. Valelembrar que as duas empresas já atuam em parceria no Brasil

A partir do aprofundamento desses estudos, recomendamos organizar um mapa sindical dasentidades representativas dos trabalhadores no Brasil e Noruega e, se possível, em países da

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América Latina onde estas empresas atuam, objetivando o intercâmbio e a cooperação entre asorganizações sindicais para a implementação dos direitos fundamentais no trabalho.

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EXPEDIENTE

OBSERVATÓRIO SOCIAL

O Observatório Social é uma iniciativa da CUT Brasil em parceria com Cedec, Dieese eUnitrabalho. Sua meta é gerar e organizar informações permanentes sobre o desempenho social etrabalhista de empresas no contexto da globalização econômica e financeira. A análise doObservatório trata dos seguintes direitos e temas: liberdade sindical, negociação coletiva, trabalhoinfantil, trabalho forçado, discriminação contra gênero e raça, meio ambiente, saúde e segurançaocupacional.

CONSELHO DIRETORCUT - SRI - Kjeld A. Jakobsen (Presidente)CUT - CNMT - Maria Ednalva B. de LimaCUT - OIT - José Olívio M. de OliveiraCUT - SNO - Rafael Freire NetoCUT - SPS - Pascoal CarneiroDieese - Mara Luzia FelterDesep - Lúcia Regina dos S. ReisUnitrabalho - Sidney LianzaCedec - Tullo VigevaniMembros da Coordenação Geral

COORDENAÇÃO GERALArthur Borges Filho _- Coordenador Administrativo-FinanceiroClemente Ganz Lúcio - Coordenador Técnico NacionalClóvis Scherer - Coordenador do Satélite SulJosé Olívio Miranda de Oliveira - Representante no Conselho de Administração da OIT;Kjeld A. Jakobsen - Secretário de Relações Internacionais da CUT Brasil e Presidente do

Conselho DiretorMaria José Coelho - Coordenadora de ComunicaçãoOdilon Luís Faccio - Coordenador de Desenvolvimento InstitucionalPieter Sijbrandij - Coordenador de ProjetosRogério Valle - Coordenador do Satélite RJRonaldo Baltar - Coordenador do Satélite SP

SEDE NACIONAL DO OBSERVATÓRIO SOCIALAv. Luiz Boiteux Piazza, 4.810Ponta das Canas - Ilha de Santa CatarinaFlorianópolis (SC) – CEP 88.056-000Fone: (48) 261-4093 – Fax: (48) 261-4060E-mail: [email protected]: www.observatoriosocial.org.br

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Desep é um órgão da CUT, subordinado à Direção Executiva Nacional. Seu objetivo é a elaboraçãode análises, estudos e pesquisas para subsidiar a atuação da CUT e para estimular o debate e acrítica sobre a evolução das lutas sindicais.

DIREÇÃO DO DESEP 2001/2003DIRETORIA EXECUTIVALúcia Regina dos Santos Reis – Diretora GeralLuzia de Oliveira Fati – Diretora de Programas e ProjetosJoão Vaccari Neto – Diretor Administrativo-FinanceiroJorge Luiz Martins – Diretor AdjuntoGilson Luís Reis – Diretor Adjunto

CONSELHO FISCALWanderley Antunes BezerraJosé Gerônimo BrumattiDirceu Travesso

COORDENAÇÃO TÉCNICACarlos Augusto S. Gonçalves Jr.

EQUIPEAdriana L. Lopes, Cleber de Melo Simões e Fernando Ribeiro

TEXTO: ESTUDO SOCIOECONÔMICO DAS EMPRESASNORUEGUESAS NO BRASIL

EQUIPE DE PESQUISA/ELABORAÇÃOAdriana L. Lopes, Carlos Augusto S. Gonçalves Jr., Cleber de Melo Simões, FernandoRibeiro

ENTREVISTASRoger Alexandre Oliveira da Rosa

COORDENAÇÃO DA PESQUISAAdriana L. Lopes, Desep/CUTOdilon Luís Faccio, Observatório Social