97

ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

  • Upload
    others

  • View
    7

  • Download
    1

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS
Page 2: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE COMENTADO 2007 Nutrição

Page 3: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ChancelerDom Dadeus GringsReitorJoaquim ClotetVice-ReitorEvilázio Teixeira

Conselho EditorialAna Maria Lisboa de MelloElaine Turk FariaÉrico João HammesGilberto Keller de AndradeHelenita Rosa FrancoJane Rita Caetano da SilveiraJerônimo Carlos Santos BragaJorge Campos da CostaJorge Luis Nicolas Audy – PresidenteJosé Antônio Poli de FigueiredoJurandir MalerbaLauro Kopper FilhoLuciano KlöcknerMaria Lúcia Tiellet NunesMarília Costa MorosiniMarlise Araújo dos SantosRenato Tetelbom SteinRené Ernaini GertzRuth Maria Chittó Gauer

EDIPUCRSJerônimo Carlos Santos Braga – DiretorJorge Campos da Costa – Editor-chefe

Page 4: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

Ana Maria Pandolfo Feoli

Alessandra Campani Pizzato

Raquel El Kik Milani

Raquel da Luz Dias

(Organizadoras)

ENADE COMENTADO 2007

Nutrição

Porto Alegre 2010

Page 5: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

© EDIPUCRS, 2010

CAPA Vinícius de Almeida XavierDIAGRAMAÇÃO Rodrigo VallsREVISÃO Rafael Saraiva

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Ficha Catalográfica elaborada pelo Setor de Tratamento da Informação da BC-PUCRS.

EDIPUCRS – Editora Universitária da PUCRSAv. Ipiranga, 6681 – Prédio 33Caixa Postal 1429 – CEP 90619-900 Porto Alegre – RS – BrasilFone/fax: (51) 3320 3711e-mail: [email protected] - www.pucrs.br/edipucrs

E56 ENADE comentado 2007 : nutrição [recurso eletrônico] / organizadoras, Ana Maria Pandolfo Feoli ... [et al.]. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : EDIPUCRS, 2010. 96 p.

Sistema requerido: Adobe Acrobat Reader Modo de Acesso: <http://www.pucrs.br/edipucrs/enade/nutricao2007.pdf> ISBN 978-85-7430-985-9 (on-line)

1. Ensino Superior – Brasil – Avaliação. 2. Exame Nacional de Desempenho de Estudantes. 3. Nutrição – Ensino Superior. I. Feoli, Ana Maria Pandolfo.

CDD 378.81

Questões retiradas da prova do ENADE 2007 da área de Nutrição

Page 6: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ..................................................................................................... 7

COMPONENTE ESPECÍFICO QUESTÃO 11 ........................................................................................................... 10

Alessandra Campani Pizzato e Ana Maria Feoli

QUESTÃO 12 ........................................................................................................... 13Maria Rita Macedo Cuervo

QUESTÃO 13 ........................................................................................................... 15Maria Rita Macedo Cuervo

QUESTÃO 14 ........................................................................................................... 17Raquel da Luz Dias

QUESTÃO 15 ........................................................................................................... 20Luciana Dias de Oliveira

QUESTÃO 16 ........................................................................................................... 23Luísa Castro

QUESTÃO 17 ........................................................................................................... 26Luciana Dias de Oliveira

QUESTÃO 18 ........................................................................................................... 29Luísa Castro

QUESTÃO 19 - ANULADA ....................................................................................... 31 QUESTÃO 20 ........................................................................................................... 32

Luísa Castro

QUESTÃO 21 ........................................................................................................... 35Maria Rita Cuervo e Ana Maria Feoli

QUESTÃO 22 ........................................................................................................... 39Sônia Alscher

QUESTÃO 23 ........................................................................................................... 41Denise Zaffari

QUESTÃO 24 ........................................................................................................... 45Sônia Alscher

Page 7: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

QUESTÃO 25 ........................................................................................................... 48Alessandra Campani Pizzato e Vanuska Lima da Silva

QUESTÃO 26 ........................................................................................................... 51Raquel Milani El Kik

QUESTÃO 27 ........................................................................................................... 53Raquel da Luz Dias

QUESTÃO 28 ........................................................................................................... 55Denise Zaffari e Sônia Alscher

QUESTÃO 29 ........................................................................................................... 59Sônia Alscher

QUESTÃO 30 ........................................................................................................... 61Ana Maria Feoli e Raquel da Luz Dias

QUESTÃO 31 ........................................................................................................... 64Raquel Dias e Sônia Alscher

QUESTÃO 32 ........................................................................................................... 67Raquel Dias e Sônia Alscher

QUESTÃO 33 ........................................................................................................... 69Vanuska Lima da Silva

QUESTÃO 34 ........................................................................................................... 72Vanuska Lima da Silva

QUESTÃO 35 ........................................................................................................... 75Denise Zaffari

QUESTÃO 36 ........................................................................................................... 78Luísa Castro

QUESTÃO 37 – DISCURSIVA ................................................................................. 80Raquel Milani El Kik

QUESTÃO 38 – DISCURSIVA ................................................................................. 83Luísa Castro

QUESTÃO 39 – DISCURSIVA ................................................................................. 88Raquel Milani El Kik

QUESTÃO 40 – DISCURSIVA ................................................................................. 91Luciana Oliveira e Luísa Castro

LISTA DE CONTRIBUINTES ................................................................................... 95

Page 8: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 7

APRESENTAÇÃO

A formação dos(as) profissionais da Saúde, em nível de Graduação, está

amparada pela Lei nº 9.394/1996, Lei de Diretrizes e Bases, que fundamenta a

Educação Superior no Brasil, e nas Políticas de Saúde vigentes. Considerando os

desafios de formar profissionais/cidadãos com competências e habilidades para dar

conta da complexa realidade da saúde, nacional e mundial, a criação do Sistema

Nacional de Avaliação da Educação Superior – SINAES, Lei nº 10.861/2004 propõe

parâmetros essenciais para a avaliação da Educação Superior. O SINAES preconiza

uma formação que atenda a princípios de qualidade e relevância voltados para as

necessidades de desenvolvimento do país. Assim, a avaliação permanente de todos

os processos formativos precisa estar incorporada no cotidiano das instituições de

ensino, aproximando-a da realidade social de cada área.

O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes – ENADE – constitui-se

em uma das etapas de avaliação do SINAES. Seu propósito é avaliar o desempenho

dos estudantes, identificando se as condições de ensino, o conhecimento, as

competências e as habilidades pretendidas e a metodologia utilizada estão em

conformidade com os princípios e orientações das Diretrizes Curriculares do Curso

em avaliação. As Diretrizes Curriculares da Área da Saúde orientam para a

formação de um novo profissional/cidadão, alinhando-a aos princípios do Sistema

Único de Saúde – SUS, para atender às demandas da saúde, na sociedade

contemporânea. Para isso, e também conforme as referidas diretrizes, é necessária

a formação generalista com o desenvolvimento de competências comuns às

profissões, bem como as específicas de cada uma delas para que a saúde seja

atendida de maneira integral. Portanto, a premissa da interdisciplinaridade como

forma de ser, de fazer, de conhecer e de conviver, precisa estar incorporada na

concepção dos profissionais, a qual também está subjacente na avaliação da

qualidade dos cursos nessa área.

O ENADE Comentado, do Curso de Graduação em Nutrição, da Faculdade

de Enfermagem, Nutrição e Fisioterapia – FAENFI – tem como propósito discutir,

com a comunidade acadêmica da Faculdade, as questões que compuseram o

ENADE 2007, promovendo e ampliando debates relativos às práticas e ao cenário

Page 9: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

8 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

da Saúde no qual se insere a Nutrição. Ao mesmo tempo como instrumento de

avaliação, oportuniza reflexões acerca do processo pedagógico desenvolvido ao

longo do Curso.

A prova do ENADE/2007 do Curso de Nutrição é composta por 40 questões

assim constituídas: 10 questões de formação geral, 30 questões de conteúdo

específico, sendo 26 com respostas objetivas e 4 questões discursivas. Também

integra a Prova do ENADE um questionário no qual o estudante refere sua

percepção acerca do curso e estrutura do mesmo, no contexto da Universidade.

Nesta publicação são apresentadas e discutidas as 30 questões específicas

da área da Nutrição do ENADE 2007. As discussões estão fundamentadas em

publicações e nas políticas de saúde vigentes, devidamente referenciadas para que

o leitor possa ampliar a reflexão acerca das temáticas abordadas pelas questões. As

referências foram inseridas conforme as orientações de Vancouver, comumente

utilizadas na documentação em Saúde.

Ressaltamos que a realização deste e-book só foi possível pelo envolvimento

do corpo docente do Curso de Nutrição. Agradecemos de maneira muito especial a

toda equipe da FAENFI que assumiu com responsabilidade e competência a

elaboração do presente e-book.

Nosso agradecimento à Prof.ª Dr. Solange Medina Ketzer, Pró-Reitora de

Graduação/PUCRS, extensivo à sua equipe pelo apoio e estímulos permanentes.

Esta publicação eletrônica – ENADE Comentado 2007: Nutrição – FAENFI –

insere-se na coleção da EDIPUCRS. Almejamos que o referido material possa ser

um instrumento de consulta para estudantes, docentes e profissionais de saúde,

bem como de revisão e reformulação de metodologias de ensino e de

aprendizagem.

Beatriz Sebben Ojeda

Diretora da Faculdade de Enfermagem, Nutrição e Fisioterapia – FAENFI

Page 10: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

COMPONENTE ESPECÍFICO

Page 11: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

10 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

QUESTÃO 11

Considere que tenha sido solicitado a um grupo de alunos de nutrição, como

trabalho de uma disciplina do último semestre de uma faculdade, o desenvolvimento

de um projeto de pesquisa cujo objetivo seja realizar uma avaliação antropométrica

de crianças de 0 a 6 anos de idade atendidas em uma creche pública. Nessa

situação e com relação a projetos de pesquisa dessa natureza, é correto afirmar

que:

(A) a submissão do referido projeto a um comitê de ética em pesquisa é opcional, uma vez que a antropometria é considerada procedimento não-invasivo e o projeto de pesquisa tem cunho acadêmico.

(B) o professor da disciplina deverá assumir a autoria principal da pesquisa, pelo fato de que projeto desse tipo deve ser desenvolvido sob a responsabilidade de profissional formado na área de nutrição.

(C) a produção de conhecimento sobre alimentação e nutrição e a busca de aperfeiçoamento técnico-científico estão previstas no Código de Ética do nutricionista, o que poderia justificar o treinamento de alunos de nutrição em atividades de pesquisa.

(D) informações obtidas nesse tipo de projeto devem ser confidenciais, o que justifica o impedimento do acesso a essas informações por parte dos pais dos alunos e dos responsáveis pela creche.

(E) é necessário, para a realização da pesquisa, termo de consentimento livre e esclarecido, que, no caso em questão, deve ser assinado pelo responsável pela creche ou por seu diretor.

Gabarito: C

Autores: Alessandra Campani Pizzato e Ana Maria Feoli

Comentário: A resposta baseia-se na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde1

(CNS) e no Código de Ética do Nutricionista – Resolução CFN N° 334/20042, com

alteração do parágrafo único na Resolução 399/20073.

A alternativa A está errada porque a submissão de projetos de pesquisa a um

Comitê de Ética é obrigatória conforme a Resolução 196/96 do CNS, independente

de procedimentos invasivos ou de cunho acadêmico.

A alternativa B está incorreta, uma vez que, apesar da necessidade de ter um

profissional como pesquisador responsável, não exige que este seja um profissional

da área de nutrição. Além disso, o professor da disciplina deverá ser o pesquisador

Page 12: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 11

responsável pelo projeto de pesquisa, mas não necessariamente o autor principal

nas publicações do estudo.

A alternativa C é a correta. Conforme o Art. 2° do Código de Ética do

Nutricionista Resolução CFN N° 334/2004: ao nutricionista cabe a produção do

conhecimento sobre a Alimentação e a Nutrição nas diversas áreas de atuação

profissional, buscando continuamente o aperfeiçoamento técnico-científico,

pautando-se nos princípios éticos que regem a prática científica e a profissão.

Porém, salienta-se que o cumprimento de questões legais e bioéticas devem ser

garantidos. Além disso, conforme o Art.3º, do mesmo documento, o nutricionista tem

compromisso de conhecer e pautar a sua atuação nos princípios da bioética, nos

princípios universais dos direitos humanos, na Constituição do Brasil e nos preceitos

éticos contidos nesse Código. Assim, o projeto de pesquisa citado na questão

deveria ser aprovado por um Comitê de Ética.

A alternativa D está errada. Conforme a Resolução 196/96 do CNS, a

pesquisa deve dar garantia de sigilo que assegure a privacidade dos sujeitos quanto

aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa. Entretanto, os dados das crianças

deverão estar disponíveis para seus pais, que assinarão o termo de consentimento

livre e esclarecido para a participação da criança sob sua responsabilidade. Todavia,

num projeto de pesquisa, os autores devem declarar que os resultados da pesquisa

serão tornados públicos, sejam eles favoráveis ou não.

Além disso, a pesquisa deve:

• garantir que as pesquisas em comunidades, sempre que possível,

traduzam em benefícios cujos efeitos continuem a se fazer sentir após

sua conclusão.

• garantir o retorno dos benefícios obtidos através das pesquisas para as

pessoas e as comunidades nas quais as mesmas forem realizadas.

Quando, no interesse da comunidade, houver benefício real em incentivar

ou estimular mudanças de costumes ou comportamentos, o protocolo de

pesquisa deve incluir, sempre que possível, disposições para comunicar

tal benefício às pessoas e/ou comunidades;

• assegurar aos sujeitos da pesquisa os benefícios resultantes do projeto,

seja em termos de retorno social, acesso aos procedimentos, produtos ou

agentes da pesquisa;

Page 13: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

12 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

• assegurar aos sujeitos da pesquisa as condições de acompanhamento,

tratamento ou de orientação, conforme o caso, nas pesquisas de

rastreamento; demonstrar a preponderância de benefícios sobre riscos e

custos.

Assim, o acesso às informações e resultados obtidos na pesquisa deve estar

disponível aos sujeitos de pesquisa ou seus representantes legais.

A alternativa E está errada, pois a Resolução 196/96 preconiza que a

pesquisa deve garantir a anuência do sujeito da pesquisa e/ou de seu representante legal, nesse caso dos pais das crianças, após explicação completa e

pormenorizada sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios

previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa acarretar, formulada em

um termo de consentimento, autorizando sua participação voluntária na pesquisa.

Referências 1. Brasil. Conselho Nacional de Saúde. RESOLUÇÃO Nº 196 DE 10 DE OUTUBRO DE 1996. Disponível em: www.conselho.saude.gov.br/docs/Reso196.doc. Acesso em 16/10/2009. 2. Conselho Federal de Nutricionistas. RESOLUÇÃO CFN N° 334/2004. Disponível em: http://www.cfn.org.br/novosite/pdf/res/2000_2004/res334.pdf. Acesso em 16/10/2009. 3. Conselho Federal de Nutricionistas. RESOLUÇÃO CFN N° 399/2007. Disponível em: http://www.cfn.org.br/novosite/pdf/res/2007/res399.pdf. Acesso em 16/10/2009.

Page 14: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 13

QUESTÃO 12

Texto I Já nas primeiras horas de vida, o mundo entra pela boca. Junto com o leite, o bebê

recebe o calor, o toque e o cheiro de quem o alimenta. Sente, ainda que de forma

sutil, a presença — ou a falta — do afeto. E, depois das primeiras mamadas, a fome

jamais será apenas de alimento. Ao longo da existência, as relações continuam

permeadas pelos significados simbólicos que a comida assume na vida de cada um,

seja na recusa do anoréxico, seja na voracidade do bulímico, seja na relação de

amor e ódio dos obesos com os alimentos. LEAL, Gláucia. In: Mente e cérebro. Edição especial n.º 11, p. 41 (com adaptações).

Texto II Combinação tipicamente nacional, a dupla feijão e arroz foi citada, mas não o

suficiente para integrar a lista dos 15 alimentos que deveriam estar no cardápio do

brasileiro pelo menos uma vez por semana. A seleção foi o resultado de pesquisa

realizada com especialistas — médicos, nutricionistas e nutrólogos. MANTOVANI, Flávia e DÁVILA, Marcos. In: Folha de S. Paulo, 13/10/2005 (com adaptações).

Considerando os textos I e II acima, assinale a opção correta.

(A) Ao afirmar que, “depois das primeiras mamadas, a fome jamais será apenas de alimento”, o texto I se refere a aspectos das dimensões sociais e antropológicas que influenciam a alimentação.

(B) A ingestão do leite pelo bebê, referida no texto I, constitui comportamento não- automático relacionado à vida e que envolve respiração, digestão e alimentação.

(C) A busca pela modernidade alimentar, que se traduz pela praticidade e rapidez de refeições compostas de alimentos prontos e pela garantia de alimentação saudável e variada, justifica, com relação ao feijão e ao arroz, o resultado da pesquisa referida no texto II.

(D) Especialistas apresentam preocupação com as quantidades de arroz e feijão consumidas pelos brasileiros, como pode ser inferido do texto II.

(E) O resultado da pesquisa mencionado no texto II é conseqüência do que se denomina atualmente prática reconstruída e confirma a idéia de que um bom almoço se compõe de arroz, feijão, carne e salada.

Gabarito: A Autora: Maria Rita Macedo Cuervo

Page 15: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

14 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

Comentário: A questão correta é a alternativa “A”, porque a alimentação além de uma

necessidade biológica é um complexo sistema simbólico de significados sociais,

sexuais, políticos, religiosos, éticos entre outros. Os significados são construídos

através das relações sociais e culturais.1,2

A alimentação é a primeira aprendizagem social do ser humano. O

comportamento alimentar da criança é submetido a determinantes fisiológicos,

alternância entre a sensação de fome e saciedade. A sensação de fome gera

comportamentos como choro e gritos, e depois a mãe busca regular esses

comportamentos com ritmos sociais (dia e noite, trabalho, repouso). Depois com

introdução dos alimentos complementares, a criança desenvolve seu gosto,

aprendendo a gostar daquilo que é bom na sua cultura.3

Referências 1. Maciel ME. Identidade Cultural e alimentação. In: Antropologia e nutrição: um diálogo possível. Canesqui AM. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2005. 2. Carneiro H. Comida e Sociedade: uma história da alimentação. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. 3. Paulin JP, Proença RPC. O espaço social alimentar: um instrumento para os estudos de modelos alimentares. Rev. Nutr., Campinas, 16(3): 245-256, jul./set., 2003.

Page 16: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 15

QUESTÃO 13

Muitos foram os avanços no campo da segurança alimentar e nutricional no Brasil,

em decorrência da Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Com relação a esse

tema, julgue os itens seguintes.

I O Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN) foi criado com o objetivo de assegurar o direito humano à alimentação adequada (DHAA).

II De acordo com a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional, são deveres do poder público a promoção, o monitoramento e a avaliação do DHAA.

III Participam do SISAN, entre outros, os conselhos de segurança alimentar e nutricional, nas três esferas de governo: federal, estadual e municipal.

Assinale a opção correta.

(A) Apenas um item está certo. (B) Apenas os itens I e II estão certos. (C) Apenas os itens I e III estão certos. (D) Apenas os itens II e III estão certos. (E) Todos os itens estão certos. Gabarito: E Autora: Maria Rita Macedo Cuervo

Comentário: A participação do governo brasileiro na Cúpula Mundial de Alimentação, em

Roma em 1994, já mostra o compromisso com a questão da Segurança Alimentar e

Nutricional, quando em seu relatório afirma:

“... O acesso à alimentação é um direito humano em si mesmo, na medida em

que a alimentação constitui-se no próprio direito à vida... negar este direito é, antes

de mais nada, negar a primeira condição para a cidadania, que é a própria vida.” 1

A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), aprovada em 1999,

compõe o conjunto de políticas do governo voltadas à concretização do direito

universal humano à alimentação e nutrição adequadas. O propósito da PNAN é a

garantia da qualidade dos alimentos colocados para consumo no País, a

Page 17: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

16 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

promoção de práticas alimentares saudáveis e a prevenção e o controle dos distúrbios nutricionais, bem como o estímulo às ações intersetoriais que propiciem o acesso universal aos alimentos1.

As diretrizes da PNAN têm como fio condutor o direito humano à alimentação

e a Segurança Alimentar e Nutricional.1

A lei 11.346 de 2006 cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e

Nutricional – SISAN.

O art. 1o estabelece as definições, princípios, diretrizes, objetivos e

composição do SISAN, por meio do qual o poder público, com a participação da

sociedade civil organizada, formula e implementa políticas, planos, programas e

ações, visando assegurar o direito humano à alimentação adequada.2

Segundo o art. 11o, integram o SISAN os órgãos e entidades de segurança

alimentar e nutricional da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,

entre outros.2

No 2o parágrafo do art. 2o , consta que é dever do poder público respeitar,

proteger, promover, prover, informar, monitorar, fiscalizar e avaliar a realização do

direito humano à alimentação adequada, bem como garantir os mecanismos para

sua exigibilidade.2

Assim, todos os itens I, II e III estão corretos.

Referências 1. Brasil. Ministério da Saúde. Política nacional de alimentação e nutrição. 2o ed. rev. Brasília: 2003. 2. Brasil. Lei 11.346. 15 de setembro de 2006. Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN com vistas em assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá outras providências. Diário Oficial da União em 18/9/2006.

Page 18: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 17

QUESTÃO 14

Com relação à ocorrência de inapetência na fase pré-escolar, analise as asserções

a seguir.

Na fase pré-escolar, é freqüente a ocorrência da inapetência, que pode ser

classificada como orgânica ou comportamental, sem que seja descartada sua

ocorrência simultânea

porque é comum que o pré-escolar se alimente preferencialmente de alimentos, tais como

batata e legumes, na forma de sopas liquidificadas, o que dificulta o estímulo do

paladar.

Acerca dessas asserções, assinale a opção correta.

(A) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira.

(B) As duas asserções são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa correta da primeira.

(C) Tanto a primeira quanto a segunda asserções são proposições falsas. (D) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda é uma

proposição falsa. (E) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda é uma proposição

verdadeira. Gabarito: D

Autora: Raquel da Luz Dias

Comentário: A inapetência é uma característica da fase pré-escolar e pode estar

relacionada a aspectos orgânicos e comportamentais. É importante considerar que a

criança, nessa fase da vida, apresenta um ritmo de crescimento menor, quando

comparado com a velocidade de crescimento e ganho de peso no primeiro ano de

vida. Até 1 ano de idade, o lactente triplica seu peso e praticamente dobra seu

comprimento. A partir dos 2 anos de idade, esse ritmo de crescimento sofre uma

Page 19: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

18 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

desaceleração e o pré-escolar ganha cerca de 1/3 do peso que ganhou no primeiro

ano. Essa mudança no padrão de crescimento reflete diretamente na necessidade

calórica e por consequência, no apetite da criança. Pré-escolares necessitam de

menos energia por unidade de peso para cobrir seus requerimentos diários.1,2

Nesse período, o apetite é irregular e o consumo de alimentos durante as

refeições pode ser prejudicado em função do maior interesse da criança por outros

objetos e pelo mundo que a cerca. Esses fatores, quando somados a outros

aspectos podem refletir numa perda de apetite significativa, que pode, inclusive,

impactar negativamente no crescimento e desenvolvimento da criança. A

inapetência comportamental geralmente tem origem na dinâmica familiar e sua base

é psicogênica. Como uma forma de chamar a atenção, deixa de alimentar-se ou de

ingerir determinados alimentos, fato que gera enorme preocupação por parte dos

pais, que temem que a criança nunca mais se alimente de maneira adequada e

venha adoecer por isto. Isso desencadeia um segundo comportamento: pelo grande

temor de que a criança não se alimente, os pais, na tentativa de nutrir o filho que

nada come, incluem da dieta do pré-escolar apenas os alimentos preferidos ou

compensa as refeições não realizadas com mamadeiras. Para o manejo adequado

desse tipo de inapetência é fundamental que esse ciclo vicioso se quebre. Para isso,

é necessário o estabelecimento de rotinas alimentares e a presença de alimentos

saudáveis nas refeições.

A inapetência orgânica tem sua origem na deficiência de alguns

micronutrientes, em especial a deficiência de ferro. Outro micronutriente que possui

uma relação direta com o apetite, principalmente para refeições salgadas é o zinco.

Como nessa faixa etária essas deficiências são comuns, é fundamental que seja

realizado um acompanhamento do perfil desses micronutrientes na dieta do pré-

-escolar. A falta de apetite que causa maior preocupação é aquela que é

acompanhada por ingestão alimentar insuficiente para cobrir as necessidades

nutricionais, refletindo em baixo ganho de peso e diminuição do ritmo de

crescimento. Por esses motivos é provável que a criança apresente os dois tipos de

inapetência: a comportamental e a orgânica. Assim, a primeira asserção é

verdadeira.3

A segunda asserção é falsa e não justifica a primeira, pois não reflete as

preferências alimentares de crianças em idade pré-escolar. Segundo Skinner e cols.

Page 20: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 19

(2002), crianças com idade entre 2 e 3 anos tem preferência por refrigerantes,

pipoca bolinhos, bolachas salgadas, batata chips e chocolates. Os alimentos menos

apreciados são os vegetais.4 Parte da explicação para esse padrão alimentar pode

estar no comportamento neofóbico da criança em idade pré-escolar, em

experimentar alimentos novos. A neofobia é mínima até o primeiro ano de vida, mas

intensifica-se a partir dos 2 anos, idade em que a criança começa a explorar o

ambiente e alimentar-se sozinha. Esse comportamento pode ser um mecanismo de

proteção contra alimentos possivelmente tóxicos. Além disso, o paladar infantil é

mais sensível a alimentos que tenham sabores pronunciados, como doces e

salgados.5

Referências 1. Lacerda EMA, Accioly E. Alimentação do Pré-escolar e escolar. In: Nutrição em obstetrícia e Pediatria. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2003. 2. Lucas BL. Nutrição na Infância. In: Mahan LK, Escott-Stump S. Krause: Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 11ª ed, São Paulo: Roca, 2005. 3. Vítolo MR. Práticas alimentares na infância. In: Vítolo MR. Nutrição: da gestação ao envelhecimento. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2008. 4. Skinner JD, Ziegler P, Ponza M. Transitions infants and toodlers beverage patterns. J Am Diet Assoc, v. 104 (suppl 1), p. S45-S50, 2004. 5. Feldens CA, Vítolo MR. Hábitos alimentares e saúde bucal na infância. In: Vítolo MR. Nutrição: da gestação ao envelhecimento. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2008.

Page 21: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

20 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

QUESTÃO 15

Reflexo da produção e da descida do leite

O aleitamento materno, processo que envolve fatores fisiológicos, ambientais e

emocionais, é cercado de mitos e crenças que podem provocar práticas

equivocadas e desmame precoce. Além disso, muitas mães não acreditam que são

capazes de amamentar ou duvidam da qualidade do seu leite. A figura acima ilustra

a fisiologia da lactação, identificando estímulos cerebrais (setas , e ) e

respostas hormonais (seta ) correspondentes aos reflexos da produção e da

descida do leite materno.

A partir dessas informações, assinale a opção correta acerca da lactação.

(A) O estímulo gerado pela sucção, indicada por , é prescindível para uma

lactação bem-sucedida, uma vez que são os hormônios prolactina e ocitocina, indicados por , os responsáveis, respectivamente, pela produção e pela descida do leite materno.

(B) Estímulos auditivos e visuais, indicados, respectivamente, por e , assim como sentimentos maternos de ansiedade, dor ou dúvidas, podem interferir no reflexo da descida do leite, diminuindo a produção de ocitocina.

(C) O esquema apresentado corresponde ao início do período de lactação, quando é produzido o colostro, pois, para a produção do leite maduro, há queda significativa da concentração dos hormônios envolvidos na lactação.

(D) O leite materno produzido pela lactante adolescente apresenta teor protéico mais baixo que o de uma lactante adulta, devido, principalmente, a diferenças na produção de hormônios, indicada por .

(E) Do ponto de vista fisiológico, é aconselhável que a mãe amamente seu filho em intervalos regulares, para potencializar os estímulos indicados pelas setas e e manter uma boa produção de leite materno.

Page 22: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 21

Gabarito: B

Autora: Luciana Dias de Oliveira

Comentário: A alternativa “A” está incorreta já que o estímulo gerado pela sucção é

imprescindível para uma lactação bem sucedida, pois a produção de prolactina e de

ocitocina se dá quando as terminações nervosas do mamilo e da aréola são

estimuladas pela sucção do bebê. Quando o bebê suga, há o contato com

terminações nervosas na derme do mamilo e aréola e a produção de estímulos que

percorrem as fibras nervosas, alcançam a medula espinhal e se conectam com o

hipotálamo, estimulando a hipófise anterior a produzir a prolactina e hipófise

posterior a produzir a ocitocina para, então, iniciar a produção e descida do leite.1,2

Sobre o item “B”, que é a alternativa correta, pode-se afirmar que além do

estímulo gerado pela sucção do bebê no mamilo e aréola, o contato entre a mãe e o

bebê influencia de maneira positiva a produção de ocitocina. A mãe estimulada por

seu bebê (olhando para ele, ouvindo seu choro, sentindo seu cheiro) apresenta

alterações neuroendócrinas positivas e há o condicionamento do reflexo de descida

do leite. Como o hipotálamo participa, tanto do controle das emoções quanto da

amamentação, entende-se que estímulos emocionais negativos como frustração,

estresse, dor, medo, ansiedade ou raiva podem inibir a liberação de ocitocina,

impedindo o reflexo de ejeção do leite.1,2

A alternativa “C” está incorreta considerando-se que a produção de leite

ocorre em três etapas: Lactogênese I: dá-se a partir da vigésima semana de

gestação quando é produzido o pré-colostro em pequena quantidade, pois a

presença da placenta e, consequentemente de progesterona, inibe a prolactina,

hormônio responsável pela produção de leite. Lactogênese II – após o parto, com a

saída da placenta, cai o nível sanguíneo de progesterona e ocorre uma rápida

elevação na concentração de prolactina no sangue que induz o começo da síntese

de leite (colostro). Entre 24 e 48 horas a mama fica cheia por causa da grande

migração de água, atraída pela força hiperosmolar da lactose com dilatação dos

ductos e alvéolos e ocorre a descida do leite (apojadura). A partir de então, a

regulação passa a se dar em função da demanda e é diretamente proporcional ao

número de mamadas. Lactogênese III – é a manutenção da secreção de leite

Page 23: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

22 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

através do eixo hipotalâmico-pituitário que regula os níveis de prolactina e ocitocina

que requer estímulo frequente. Falta de estímulo de sucção significa falta de

liberação de prolactina.1

Tendo em vista a descrição desses processos pode-se afirmar que, tanto para

a produção de colostro quanto para a produção de leite maduro os hormônios

prolactina e ocitocina estão presentes em grandes quantidades e sua liberação em

quantidade maior ou menor se dá em função do estímulo que a mãe recebe.1

A afirmação descrita no item “D” está incorreta, pois a produção e liberação

dos hormônios prolactina e ocitocina agem na produção e descida do leite e não em

sua composição química. A variação de concentração de macro e micronutrientes

pode ocorrer em função de fatores como estado nutricional e dieta da mãe, dentre

outros.2

A alternativa “E” também está incorreta já que do ponto de vista fisiológico, é

aconselhável que a mãe amamente o bebê em livre demanda, pois a produção e

descida do leite estão diretamente relacionadas ao estímulo de sucção na mama, ou

seja, quanto mais o bebê mama, maior o estímulo nervoso, maior a produção e

liberação de prolactina e ocitocina e consequentemente, maior é a produção de

leite.1,2

Referências 1. Rego JD. Anatomia da mama e fisiologia da lactação. In: Aleitamento Materno. 1ª ed. São Paulo: Atheneu, 2006. 2. Carvalho MR, Tamez RN. Anatomia e fisiologia da lactação. In: Amamentação: bases científicas para a prática profissional. 1ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

Page 24: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 23

QUESTÃO 16

A figura acima apresenta o leiaute de uma unidade de alimentação e nutrição (UAN)

que oferece dificuldades para o estabelecimento de um fluxo de alimentos correto

durante o período de preparo de refeições. Assinale a opção que apresenta

alteração nesse leiaute que permite melhorar o referido fluxo de produção.

(A) Deslocar a seleção de grãos para o refeitório. (B) Trocar a posição da antecâmara com a da câmara de vegetais. (C) Aproximar o setor de refrigeração do setor de cocção de vegetais. (D) Deslocar o ambiente de pré-preparo de carnes e vegetais para local mais

próximo das câmaras frigoríficas. (E) Deslocar o setor de preparo de sobremesa para local mais próximo do

ambiente de cocção de carnes e de distribuição. Gabarito: D

Autora: Luísa Castro

Comentário: Conforme o fluxograma da Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN), que

descreve a sequência racional das áreas para a execução do processo de produção

de refeições, e que tem como objetivo evitar cruzamentos indesejáveis e

desastrosos, deve-se seguir a seguinte ordenação:

1) área de recebimento de gêneros, que deve ser feito em uma área externa

ao serviço de alimentação e serve para pesagem e conferência das mercadorias

solicitadas ao fornecedor;

Page 25: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

24 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

2) áreas de estocagem, que estão divididas em três (3) subáreas:

2.1 despensa, que armazena gêneros não perecíveis;

2.2 câmaras frigoríficas, que armazenam gêneros perecíveis e as

antecâmaras, local para a armazenagem provisória desses gêneros e que serão

utilizados naquele dia;

3) áreas de pré-preparo, nas quais os alimentos, depois de retirados do

estoque, sofrerão as operações prévias de preparo: selecionar, descascar, fatiar,

amassar, cortar, bater, picar. Conforme a quantidade de pré-preparos e o tamanho

da estrutura física da UAN é possível que existam diversas áreas para esta etapa:

para os vegetais, carnes, cereais, sobremesas, entre outras.

4) áreas de preparo, que também podem ser chamadas de “áreas de cocção”.

Este local serve para a preparação final dos alimentos, e está dividido em cozinha

geral, cozinha dietética e setor de preparo de sondas, nesse caso, quando

relacionadas aos serviços de nutrição e dietética dos hospitais. Nessa fase, os

alimentos são submetidos às diversas técnicas de preparo: assados, cozidos,

grelhados.

5) distribuição dos alimentos, etapa destinada ao porcionamento e entrega

das refeições aos comensais.

6) área de higienização, onde louças, carrinhos e demais utensílios são

lavados e guardados.

7) áreas das instalações anexas, que compreendem o depósito de lixo, o

depósito de material de limpeza, a caixotaria e a sala da chefia.1

Sendo assim, a alternativa “A” não está correta, pois não é possível deslocar

uma área de pré-preparo (seleção de grãos) para o refeitório, esse que é o local de

distribuição dos alimentos e onde o usuário (comensal) realiza suas refeições. A

alternativa “B” também não está correta, pois a troca da posição da antecâmara pela

câmara dos vegetais bloquearia a função da antecâmara, que é de armazenar

provisoriamente os gêneros retirados das câmaras frigoríficas, além de prejudicar o

acesso às outras câmaras. A alternativa “C” não está correta, pois não segue o

fluxograma adequado da UAN e submete continuamente, o manipulador de

alimentos, à temperaturas opostas: o calor da cocção e o frio da refrigeração, o que

proporciona variações bruscas da temperatura corporal, com possíveis afastamentos

do trabalho. O mesmo aconteceria caso o setor de preparo de sobremesa fosse

Page 26: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 25

deslocado mais próximo ao ambiente de cocção de carnes e de distribuição,

conforme descrição da alternativa “E”, que também está incorreta. Nas áreas de

preparo de sobremesas estão localizados congeladores e geladeiras, e na área de

cocção de carnes encontram-se fogões, fornos, chapas e fritadeiras. Dessa forma,

sujeitos à essas variações de temperaturas. Também deve ser considerada a

contaminação cruzada pela proximidade do preparo de carnes com a elaboração

das sobremesas.2

A alternativa correta, nesse caso, é a opção “D”, que propõe o deslocamento

da área de pré-preparo de carnes e vegetais para perto das câmaras frigoríficas,

seguindo a ordenação do fluxograma da UAN (estoque → pré -preparo), o que

tornaria muito mais acessível e viável o trajeto dos gêneros e do funcionário,

evitando cruzamentos e acidentes dentro da cozinha.

Referências 1. Mezomo IFB. Os serviços de alimentação: planejamento e administração, Barueri: Manole, c2002. 2. Silva Junior EA. Manual de controle higiênico-sanitário em alimentos. 5ª ed. São Paulo: Varela, 2002.

Page 27: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

26 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

QUESTÃO 17

A gelatinização do amido é a reação química que caracteriza alguns atributos do

arroz cozido, como a maciez e a textura. A maciez é inversamente relacionada ao

teor de amilose. A textura, que é a resistência do grão cozido ao mastigamento, é

afetada, entre outros fatores, pelas condições de cozimento — tempo e temperatura.

O arroz do tipo agulhinha, com 15% a 17% de amilose, requer uma proporção de 1

parte de arroz para 2 partes de água, para que esses atributos sejam obtidos de

forma ideal. Para esse tipo de arroz, a gelatinização ocorre em um intervalo de

temperatura entre 55 ºC e 60 ºC. Após o cozimento, os grãos se apresentam soltos

e macios.

Considerando as informações apresentadas no texto acima, assinale a opção

correta.

(A) Variedades de grãos de arroz com elevado teor de amilose, de 25% a 30%, por exemplo, quando cozidas, devem absorver menor quantidade de água que a variedade de arroz do tipo agulhinha, e a cremosidade obtida é resultado da lixiviação de frações de amido para o meio de cocção.

(B) A hidratação prévia do arroz pelo remolho tem a vantagem de diminuir o seu tempo de cocção sem alterar a sua maciez e textura, independentemente do teor de amilose.

(C) Na preparação de um arroz com reduzido teor de amilose, entre 10% e 12%, por exemplo, a razão entre as quantidades de arroz e de água a serem utilizadas deverá ser menor que uma parte de arroz para duas partes de água na obtenção dos referidos atributos, de forma ideal.

(D) Para quaisquer variedades de grãos de arroz, a água a ser adicionada à preparação deve ser quente, para reduzir o fenômeno da retrogradação.

(E) O processo de obtenção do arroz integral consiste na retirada da casca do grão, o que lhe confere maior teor de amido e, conseqüentemente, de amilose, o que requer maior tempo de cocção, para a obtenção dos referidos atributos, de forma ideal.

Gabarito: C

Autora: Luciana Dias de Oliveira

Comentário: A alternativa “A” está incorreta, pois a maciez do arroz cozido é inversamente

correlacionada com o teor de amilose: quanto menor o teor de amilose, maior a

Page 28: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 27

maciez. Sendo assim, para um arroz com maior teor de amilose há a necessidade

de um processo de cocção mais longo com maior quantidade de água para que

ocorra o rompimento das ligações de hidrogênio entre as cadeias de amilose e

amilopectina, resultando no fenômeno da gelatinização (quando se completa a

cocção).1,2

A alternativa “B” também está incorreta, já que a hidratação prévia do arroz

pelo remolho promove um menor tempo de cocção; mas, também, uma maior

absorção de água, promovendo uma textura de aspecto pegajoso (desejável em

algumas preparações como sushi, por exemplo). O índice de absorção de água

varia de acordo com as características do grão em 1,5 a 2,5 e uma maior

absorção (entre 2,5 a 5), promovida pelo remolho, além de conferir aspecto

desagradável, ainda pode diminuir a concentração de nutrientes na preparação

final.1,2

A alternativa “C” está correta, tendo em vista que um arroz com menor teor de

amilose apresenta maior maciez, necessitando de uma menor quantidade de água

para que ocorra o intumescimento dos grãos e o consequente aumento da

viscosidade e gelatinização, completando o processo de cozimento.1,2

Já a alternativa “D” também pode ser considerada incorreta, pois a água

quente deve ser adicionada ao arroz para acelerar o processo de cocção, chegando

rapidamente ao ponto de gelatinização, resultando em um grão mais inteiro e solto.

A água quente é mais indicada para o arroz com reduzido teor de amilose, podendo

melhorar as características esperadas para o arroz cozido de mesa, por exemplo. O

processo de retrogradação é o retorno à insolubilidade do amido que se contrai,

expelindo para fora a maior parte da água absorvida que ocorre quando a

preparação fica em repouso em temperatura fria.1,2

Sobre o item E, o processo de obtenção do arroz integral consiste apenas da

retirada da casca, sendo o mesmo composto por germe, farelo e endosperma.

Contém praticamente a mesma quantidade de amido do arroz polido e

consequentemente de amilose (o teor é levemente menor). Esse tipo de arroz requer

maior tempo de cocção e maior quantidade de água (de 2 a 3 vezes mais) devido ao

conteúdo de fibras.1

Page 29: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

28 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

Referências 1. Araújo MCW, Montebello NP, Botelho RBA, Borgo LA. Transformação dos alimentos: cereais e leguminosas. In: Alquimia dos Alimentos. 1ª ed. São Paulo: SENAC, 2007. 2. Coultate TP. Polissacarídeos: amido. In: Alimentos: a química de seus componentes. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.

Page 30: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 29

QUESTÃO 18

Uma UAN utiliza o sistema de auto-serviço no processo de distribuição das

refeições. O cardápio oferece diversos molhos que podem ser acrescentados a

pratos frios e quentes. Esperando garantir a qualidade higiênico-sanitária dos

molhos, o nutricionista dessa UAN optou por usar recipientes de menor dimensão,

de modo a se fazer a reposição contínua dos alimentos durante o período de

distribuição.

Considerando que, além da referida medida adotada pelo nutricionista, outros

procedimentos retardam o crescimento microbiano em preparações durante a

distribuição de refeições em UANs, assinale a opção correta acerca desses

procedimentos.

(A) O emprego da temperatura adequada na fase de preparo dos molhos quentes

impede o crescimento microbiano durante a fase de distribuição. (B) A disposição dos molhos nas mesas do refeitório garante a qualidade desses

molhos durante o período de distribuição. (C) Durante a distribuição, é adequado que os molhos frios sejam mantidos em

balcões refrigerados, com temperatura abaixo de 10 ºC. (D) Durante a distribuição, os molhos quentes devem ser mantidos em balcões

térmicos em temperatura acima de 90 ºC. (E) Durante o período de distribuição, o reabastecimento dos molhos frios por um

mesmo copeiro evita a contaminação cruzada. Gabarito: C

Autora: Luísa Castro

Comentário: Cuidados na distribuição dos alimentos são descritos na literatura, tais como:

manter o alimento em temperatura inferior a 70C ou superior a 600C antes e durante

a distribuição; as temperaturas recomendadas para os balcões de distribuição

refrigerados e quentes são de 80/100C e 600C, respectivamente; deve-se também

procurar diminuir ao máximo o tempo intermediário entre a preparação e a

distribuição; evitar falar, gritar, tossir ou espirrar em cima ou na direção dos

alimentos prontos ou em preparação; colocar nos balcões térmicos quantidades

suficientes de alimentos para cada turno de distribuição; conservar as cubas

Page 31: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

30 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

tampadas no transporte e reposição de alimentos nos balcões; atentar para o fato de

que alimentos colocados nos balcões térmicos e não distribuídos, não devem ser

reaproveitados; atentar também para o fato de que molhos não utilizados ou que

estejam sobrando nas cubas nunca poderão ser reaproveitados, em função do

tempo de exposição à temperatura ambiente e retirar os alimentos dos balcões tão

logo termine a distribuição.1,2,3

Sendo assim, a alternativa “A” não está correta, pois se não forem mantidas

as temperaturas adequadas entre um processo e outro (preparo e distribuição,

nesse caso), não se pode afirmar que o emprego de uma temperatura ideal numa

etapa vá impedir o crescimento bacteriano na outra. É preciso estar sempre atento

as boas práticas em cada fase da produção das preparações, a fim de se manter a

temperatura recomendada. A alternativa “B” também não está correta, pois a

disposição dos molhos em quaisquer que sejam os locais, não impedirá a

contaminação desse complemento do cardápio. Nesse caso, é necessário saber se

a temperatura nesses pontos está adequada ou não para esse tipo de preparação. A

alternativa “D” também não está correta, pois preparações quentes podem estar

acima de 600 C nos balcões térmicos, não precisando chegar a 900 C.2,3 Conforme

alternativa “E”, não se pode afirmar que somente o manipulador possa provocar a

contaminação cruzada desses molhos, já que outras práticas mal aplicadas

determinam tal situação. Como exemplos, destacam-se o uso de utensílios e tábuas

entre alimentos crus e cozidos e o armazenamento inadequado dos alimentos nas

câmaras frigoríficas. Já a alternativa “C” confere com os cuidados de manutenção de

temperaturas, que nesse caso, descreve o acondicionamento de molhos frios em

balcões térmicos com temperaturas abaixo de 100 C. Portanto, a letra “C” é a

alternativa correta.

Referências 1. Silva Junior EA. Manual de controle higiênico-sanitário em alimentos. 5ª ed. São Paulo: Varela, 2002. 2. Trigo VC. Manual prático de higiene e sanidade nas unidades de alimentação e nutrição. São Paulo: Varela, 1999. 3. Riedel G. Controle sanitário dos alimentos. 3ª ed. São Paulo: Atheneu, 2005.

Page 32: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 31

QUESTÃO 19

A preparação de alimentos para fins especiais requer a adequada seleção de

matérias-primas e ingredientes e a escolha adequada do método e da técnica de

cocção. Nesse sentido e considerando o preparo de uma dieta para cardiopatas,

assinale a opção correta.

(A) Recomenda-se a cocção pelo calor úmido para quase todos os alimentos, pois o volume de água adicionado contribui para a dissolução de substâncias lipossolúveis no meio de cocção.

(B) Para o preparo de carnes bovinas, recomenda-se o uso de cortes dianteiros, como o acém, uma vez que esses cortes apresentam baixo teor de gordura insaturada.

(C) O sal de potássio (light), indicado para a dieta de cardiopatas, tem o mesmo poder de condimentação que o sal tradicional (NaCR).

(D) Grelhar, método de cocção de calor seco, por meio do qual selam-se os poros superficiais e retém-se o suco do alimento, é forma recomendada para o preparo de dieta para cardiopatas, por não requerer o uso de óleo.

(E) O azeite de oliva extravirgem é indicado tanto para os métodos de cocção ao calor seco como para os métodos de calor úmido, devido a sua estabilidade em altas temperaturas.

Page 33: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

32 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

QUESTÃO 20

Descrição: pizza de calabresa, muçarela e champignon, 460 g.

Ingredientes: farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido

fólico, calabresa, queijo muçarela, polpa de tomate,

champignon, azeitonas pretas, gordura vegetal hidrogenada,

fermento biológico, sal, açúcar, azeite de oliva e orégano.

Contém glúten.

informação nutricional

(porção de 77g – 1 fatia) quantidade por porção %VD*

valor calórico 156,0 kcal 8 carboidratos 17,0 g 6 proteínas 9,0 g 12 gorduras totais 5,6 g 10 gorduras saturadas 1,8 g 8 gorduras trans 0,0 g ** colesterol 8,3 g 3 fibra alimentar 0,8 g 3 sódio 756,0 mg 32 (*) valores diários de referência com base em uma dieta de 2.000 calorias (**) valor não-estabelecido

As informações acima foram retiradas do rótulo de um produto semipronto para o

consumo, comercializado no mercado de alimentação. A partir dessas informações e

considerando as funções nutricionais atribuídas aos ingredientes do produto, julgue

os itens a seguir.

I O consumo de glúten, proteína de alta digestibilidade encontrada na farinha de

trigo, é recomendado para dieta de indivíduos portadores de doença celíaca. II A farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico atende à regulamentação

brasileira que visa ao combate à anemia. III A gordura vegetal hidrogenada presente nos ingredientes indica que esse

produto possui gordura trans, considerada fator de risco para doença coronariana.

IV O consumo de uma porção do referido produto representa 8% das necessidades energéticas diárias de um indivíduo adulto, portanto, trata-se de alimento de baixa densidade energética.

V Esse produto contém elevada densidade de sódio, nutriente de fácil absorção pelo organismo e deve ser consumido com moderação.

Page 34: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 33

Estão certos apenas os itens

(A) I, II e III. (B) I, II e IV. (C) I, IV e V. (D) II, III e V. (E) III, IV e V. Gabarito: D

Autora: Luísa Castro

Comentário: I) Alternativa errada. A doença celíaca está caracterizada pela intolerância ao

glúten, proteína encontrada no trigo, aveia, centeio e cevada. Portanto, todos os

alimentos com a presença de glúten (através da utilização destes 4 ingredientes)

estão proibidos da dieta dos pacientes portadores da doença celíaca.1

II) Alternativa correta. A Resolução RDC nº 344, de 13 de dezembro de 2002,

aprova o Regulamento Técnico para a Fortificação das Farinhas de Trigo e das

Farinhas de Milho com Ferro e Ácido Fólico, que, entre outras justificativas,

considera que a anemia ferropriva representa um problema nutricional importante no

Brasil, com severas consequências econômicas e sociais.2

III) Alternativa correta. As gorduras trans são formadas a partir de ácidos

graxos insaturados por um processo de hidrogenação natural (ocorrido no rúmen de

animais) ou industrial. A gordura vegetal hidrogenada é um tipo específico de

gordura trans obtida através da hidrogenação industrial de óleos vegetais, formando

uma gordura de consistência mais firme. A alta ingestão de gordura trans favorece a

acúmulo de gordura na região abdominal, importante fator de risco para síndrome

metabólica, diabetes tipo II e doença arterial coronariana.3

IV) Alternativa errada. As necessidades energéticas diárias estão baseadas

na composição total do alimento, ou seja, com a presença de todos os nutrientes

(macro e micronutrientes). Portanto, devemos levar em consideração que, mesmo

que esse alimento represente apenas 8% do valor calórico total, devemos analisar

sua composição, esta rica em gorduras saturadas, trans e colesterol.1

V) Alternativa correta. Os produtos industrializados, tais como, molhos e

condimentos processados; os embutidos (calabresa, salsichas, linguiças) e queijos,

Page 35: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

34 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

como a mussarela, são produtos fontes de sódio. Esse micronutriente quando

ingerido em grandes quantidades provoca o aumento da pressão arterial e por isso

deve ser consumido com moderação.1

Referências 1. Mahan LK, Escott-Stump, S. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 12ª ed. Elsevier. 2010. 2. BRASIL. Resolução RDC nº 344, de 13 de dezembro de 2002. Regulamento Técnico para a Fortificação das Farinhas de Trigo e das Farinhas de Milho com Ferro e Ácido Fólico. Diário Oficial da União; Poder Executivo, de 18 de dezembro de 2002. 3. ASTRUP A. et al. Nutrition transition and its relationship to the development of obesity and related chronic diseases. Obes. Rev., v.9, p.48–52, 2008.

Page 36: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 35

QUESTÃO 21

Um nutricionista lotado em uma unidade de saúde de média complexidade, ao

atender uma menina de 14 meses de idade, com peso de 11,4 kg (percentil 90) e 82

cm (percentil 97), identificou, por meio da história alimentar relatada pela mãe,

hábitos alimentares sugestivos de uma inadequada ingestão de micronutrientes pela

criança.

Para essa situação hipotética, uma orientação dietética eficiente deverá contemplar

I o consumo de leite e derivados, para garantir-se a ingestão de cálcio, de forma a promover a adequada formação dos ossos e dentes.

II o estímulo ao consumo de alimentos-fonte de vitamina A, uma vez que, na deficiência dessa vitamina, verifica-se menor mobilização dos estoques de cobre, o que compromete o sistema digestivo.

III a ingestão adequada de proteína animal, que, além de ser fonte de aminoácidos essenciais, aumenta a biodisponibilidade do zinco, micronutriente indispensável para o crescimento celular.

IV a inclusão de alimentos-fonte de ferro heme e de ferro não-heme, associando a este último o consumo de alimentos ricos em ácido ascórbico, em uma mesma refeição.

Estão certos apenas os itens

(A) I e II. (B) I e IV. (C) II e III. (D) I, III e IV. (E) II, III e IV. Gabarito: D

Autores: Maria Rita Cuervo e Ana Maria Feoli

Comentário: De acordo com recente publicação do Ministério da Saúde, o Caderno de

Atenção Básica do Ministério da Saúde, no23 Saúde da Criança: nutrição infantil,

traz as orientações para uma alimentação, para crianças após o 1o ano, recomenda-

Page 37: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

36 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

se variar ao máximo a alimentação para que receba todos nutrientes que necessita.

Um fator que pode limitar a ingestão de uma dieta variada é o consumo de dietas

altamente calóricas, saciando rapidamente a criança, o que impede a ingestão de

outros alimentos.1

Em relação ao grupo de leite e derivados, para crianças menores de 2 anos, o

leite materno pode ser o único alimento desse grupo. Para crianças maiores de 4

meses totalmente desmamadas, não se recomenda a oferta de leite de vaca (ou

outro) na forma pura, e sim adicionado a cereais, tubérculos e frutas. Esse grupo é

básico para crianças menores de 1 ano e complementar para crianças maiores de 1

ano. Fornece cálcio e proteína. O cálcio é fundamental para o desenvolvimento

ósseo e dos dentes da criança.2,3,4

Recomenda-se para crianças menores de 2 anos, o consumo diário de

alimentos do grupo de frutas, verduras e legumes. Alimentos ricos em vitaminas,

minerais e fibras. Devem ser variados, pois existem diferentes fontes de vitaminas

nesse mesmo grupo. Os alimentos de coloração alaranjada são fonte de

betacaroteno (pró-vitamina A). As folhas verde-escuras possuem, além de

betacaroteno, ferro não heme, que é mais absorvido quando oferecido junto com

alimentos com fonte de vitamina C.2

O estímulo ao consumo de alimentos-fonte de vitamina A deve ser

contemplado na orientação dietética. A deficiência dessa vitamina é considerada

uma das mais importantes deficiências nutricionais nos países em desenvolvimento,

e é responsável por uma série de problemas de saúde, como: cegueira noturna,

ressecamento da conjuntiva, ressecamento da córnea, lesão da córnea e cegueira

irreversível. A deficiência de vitamina A no organismo, pode ainda, aumentar o risco

de morbidade por diarreia e infecções respiratórias e mortalidade, principalmente

nos grupos de risco. O Brasil conta com o Programa Nacional de Suplementação de

Vitamina A – Vitamina A Mais – que é um programa do Ministério da Saúde que

busca reduzir e controlar a deficiência nutricional de vitamina A em crianças de 6 a

59 meses de idade e mulheres no pós-parto imediato (antes da alta hospitalar),

residentes em regiões consideradas de risco.5,6 No Brasil, são consideradas áreas

de risco a região Nordeste, o Estado de Minas Gerais (região Norte, Vale do

Jequitinhonha e Vale do Mucurici) e o Vale do Ribeira, em São Paulo. Entre as

medidas de prevenção da deficiência de vitamina A, destacam-se6:

Page 38: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 37

Promoção do aleitamento materno exclusivo até o 6º mês e complementar até

2 anos de idade, pelo menos;

Garantia da suplementação periódica e regular das crianças de 6 a 59 meses

de idade, com doses maciças de vitamina A distribuídas pelo Ministério da

Saúde;

Garantia da suplementação com megadoses de vitamina A para puérperas no

pós-parto imediato, antes da alta hospitalar;

Promoção da alimentação saudável, assegurando informações para

incentivar o consumo de alimentos ricos em vitamina A pela população,

como: alimentos de origem animal (leite integral, fígado), frutas e legumes de

cor amarelo-alaranjada (manga, mamão, cenoura, abóbora), verduras verde-

escuras, além de óleos e frutas oleaginosas que possuem substâncias

transformadas em vitamina A no organismo humano.

Porém, a questão II está incorreta quando relaciona a deficiência de

vitamina A com a mobilização dos estoques de cobre e o comprometimento do

sistema digestivo.

O metabolismo do cobre está relacionado com a manutenção de ossos e

dentes, no sistema imunológico e na prevenção de doenças cardiovasculares.

Participa como componente da enzima antioxidante superóxidos dismutase; da lisil

oxidase para a formação de colágeno e elastina; da citocromo–c oxidase, proteína

componente da cadeia de transporte de elétrons, ou seja, fundamental para a

produção de energia mitocondrial e componente das enzimas dopamina β-

hidroxilase e ceruloplasmina.4,7

Do grupo das carnes, miúdos e ovos, fonte de proteína de origem animal (carne

e ovos). As carnes possuem ferro de alta biodisponibilidade e, portanto, previnem a

anemia. A oferta desses alimentos deve fazer parte das refeições principais oferecidas

para a criança. Os miúdos contêm grande quantidade de ferro e devem ser

recomendados para consumo no mínimo uma vez por semana. Não existem restrições

para carnes e ovos a partir dos 6 meses de idade.2 Outro fator importante é que a

proteína de origem animal aumenta a biodisponibilidade de zinco, uma explicação

provável é de que o efeito da proteína sobre a absorção do zinco seria a formação de

um complexo com zinco, prevenindo a precipitação, ou de que os aminoácidos

facilitariam a absorção do zinco no nível da borda em escova (mucosa).3,4

Page 39: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

38 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

Outra fonte de proteínas são as leguminosas, que além de oferecerem

quantidades importantes de ferro não heme e de carboidratos, quando combinados

com o cereal, como, por exemplo, o arroz, e um alimento rico em vitamina C, podem

ser comparáveis ao valor proteico das carnes.2 A vitamina C aumenta a

biodisponibilidade do ferro não heme, interações na camada de água permitem a

troca contínua de elétrons e consequentemente mudança do estado de oxidação do

ferro de íon férrico (solubilizado pelo ácido gástrico) para íon ferroso, forma em que

é absorvido.3

Referências 1. Ministério da Saúde (Brasil). Guia alimentar para crianças menores de dois anos. Brasília: Ministério da saúde, 2002. 2. Ministério da Saúde (Brasil). Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 3. Cozzolino SMF. Biodisponibilidade de nutrientes. 2ª ed. Baueri, SP: Manole, 2007. 4. Mahan LK, Escott-Stump S. Krause: alimentos, nutrição & dietoterapia. São Paulo: Roca, 2005. 5. Ministério da Saúde (Brasil). Unicef. Cadernos de Atenção Básica: Carências de Micronutrientes / Ministério da Saúde, Unicef; Bethsáida de Abreu Soares Schmitz. - Brasília: Ministério da Saúde, 2007. 60 p. - (Série A. Normas e Manuais Técnicos). 6. Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Vitamina A Mais: Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A: Condutas Gerais / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004. Disponível em http://nutricao.saude.gov.br/documentos/vita/manual_vita.pdf. Acessado em 13 de setembro de 2009. 7. NRC (National Academic Press). Dietary Reference intakes: applications in dietary assessment. Washington DC, National Academic Press, 2001.

Page 40: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 39

QUESTÃO 22

O método usual para a medição do gasto energético em indivíduos é a calorimetria

indireta. Entre as técnicas de calorimetria indireta, a mais aplicada é a da câmara

metabólica. Atualmente, a técnica da água duplamente marcada (ADM) também é

utilizada. Entre as vantagens da ADM inclui-se

I a medição com o indivíduo exercendo suas atividades cotidianas. II o cálculo preciso da produção de CO2. III a obtenção de acurácia superior à da câmara metabólica. IV a aplicação em estudos epidemiológicos. V o desenvolvimento de estudos de baixo custo.

Estão certos apenas os itens

(A) I, II e III. (B) I, II e IV. (C) I, III e V. (D) II, IV e V. (E) III, IV e V. Gabarito: A

Autora: Sônia Alscher

Comentário: O método da água duplamente marcada (ADM), em conjunto com a

calorimetria indireta, pode ser usado para medir a energia gasta em atividade física.

Foi aplicado pela primeira vez em 1992, servindo como base para o

desenvolvimento das recomendações de energia do IOM (Institute of Medicine).1 O

seu princípio se alicerça na premissa de que a produção de dióxido de carbono pode

ser estimada a partir das diferenças de eliminação de hidrogênio e oxigênio do

corpo. Após a administração de uma dose de carga oral de água marcada com óxido

de deutério e oxigênio 18 (isótopos desses elementos químicos), o deutério é

eliminado do corpo como água e o oxigênio 18 como água e dióxido de carbono. As

taxas de eliminação dos dois isótopos são medidas durante um período de tempo de

Page 41: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

40 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

10 a 14 dias por amostragem periódica da água corporal através da urina, saliva ou

plasma. A diferença entre as duas taxas de eliminação é uma medida da produção

de dióxido de carbono. A ADM é considerada o método ideal para medir o gasto

energético total do indivíduo, pois a produção medida do CO2 produzido permite o

uso das técnicas de calorimetria indireta padrão para o cálculo do gasto de energia e

permite que o indivíduo realize suas atividades diárias normais. Sendo assim, sua

acurácia é maior que a da câmara metabólica (calorimetria direta), pois essa não

permite a simulação de um ambiente real, porque o indivíduo fica confinado dentro

da câmara, impossibilitado de exercer suas atividades diárias normais.

Entretanto, o método é aplicado apenas em estabelecimentos de pesquisa,

pois é muito dispendioso em termos de recursos materiais e humanos, sendo

inviável seu uso na prática clínica.2

Referências 1. Institute of Medicine/ Food and Nutrition Board. Dietary reference intakes for energy, carbohydrate, fiber, fat, fatty acids, cholesteril, protein and aminoacids (macronutrients). Washington: National Academic Press, 2002. p.697–736. 2. Frary CD, Johnson RK. Energia. In: Mahan LK, Escott-Stump S. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 11ª. Ed. São Paulo: Roca; 2005. p. 20-34.

Page 42: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 41

QUESTÃO 23

O estado nutricional de um indivíduo depende, entre outros fatores, da energia e do

consumo de nutrientes, analisados segundo a ingestão dietética de referência (IDR).

Considerando a figura abaixo, analise as asserções apresentadas a seguir.

Dietary Reference Intake (IOM, 2000) (com adaptações).

O nutricionista, ao avaliar se um indivíduo ingere quantidades adequadas de um

nutriente, deve comparar os dados de consumo com a cota diária recomendada

(RDA) do nutriente, exceto para a ingestão de energia

porque a avaliação da necessidade de energia deve ser embasada na necessidade média

estimada (EAR), pois a ingestão de energia embasada na RDA pode ser excessiva e

resultar no ganho de peso corpóreo.

Com referência a essas asserções, assinale a opção correta.

(A) As duas asserções são verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta para a primeira.

(B) As duas asserções são verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa correta para a primeira.

(C) Tanto a primeira quanto a segunda asserções são proposições falsas. (D) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda é uma

proposição falsa. (E) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda é uma proposição

verdadeira. Gabarito: C

Autora: Denise Zaffari

Page 43: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

42 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

Comentário: A figura mostra que a EAR (estimated average requirement) é o nível de

ingestão cujo risco de inadequação é de 0,5 (50%). A RDA (recommended dietary

allowance) é o nível de ingestão cujo risco de inadequação é muito pequeno (2 –

3%). Os riscos de inadequação ou excesso se aproximam de zero quando o nível de

ingestão se situa entre a RDA e a UL (tolerable upper intake level). Quanto mais o

consumo ultrapassar a UL, maior será o risco de efeitos adversos. A AI (adequate

intake) pode não ter uma relação consistente com a EAR ou com a RDA, uma vez

que é estabelecida quando não se conhece a necessidade de um nutriente. É

estimado que o seu valor esteja próximo ou acima da RDA.1

A EAR é a necessidade média estimada que representa o valor de ingestão

de um nutriente, estimado para cobrir as necessidades de 50% dos indivíduos

saudáveis de determinada faixa etária, estado fisiológico e sexo. A EAR foi

determinada através de estudos populacionais, sendo baseada na mediana de

consumo de uma população. A EAR é utilizada como base para estabelecer as

RDAs, pois ao valor da EAR de cada nutriente é adicionado 2 desvios padrão. A

RDA é o nível de ingestão dietética suficiente para cobrir as necessidades de quase

todos os indivíduos saudáveis (97 – 98%) em determinada faixa etária, estado

fisiológico e sexo.1,2

A melhor estimativa da ingestão dietética de um indivíduo é dada pela EAR, já que não se conhece a necessidade verdadeira do indivíduo que está sendo

avaliado. Obviamente existe uma variação da necessidade entre as pessoas,

mesmo sendo estas pertencentes ao mesmo estágio de vida e gênero. Outro ponto

a ser observado é a dificuldade de se obter, de forma correta, a real ingestão dos

indivíduos uma vez que existe uma variação diária no consumo dietético (variação

intraindividual). Em função disso, a média observada da ingestão do indivíduo,

obtida através de inquéritos alimentares, melhora a estimativa da ingestão habitual.3

O EAR é utilizado para verificar a possibilidade de inadequação do consumo alimentar. Importante salientar também que para a avaliação da

inadequação do consumo é necessária uma investigação mais precisa do estado

nutricional, além da análise de indicadores bioquímicos, clínicos e antropométricos. De forma simplificada, pode-se concluir que a ingestão de um nutriente,

provavelmente está inadequada, quando essa for menor que a EAR ou quando

Page 44: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 43

estiver entre a EAR e a RDA. Já a ingestão provavelmente está adequada quando,

na avaliação de vários dias, a média for igual ou superior a RDA ou quando, na

avaliação de poucos dias, a ingestão for muito superior a RDA.4

A RDA é um critério generoso para avaliar a adequação de nutrientes, pois,

por definição, a RDA excede as necessidades. Portanto, muitos indivíduos que estão

abaixo da RDA podem ainda estar acima das suas necessidades. Os valores da RDA ou de AI devem ser usados como meta a ser alcançada na elaboração de planos alimentares para indivíduos, enquanto que, na avaliação da adequação da ingestão de nutrientes, os valores de EAR e de UL devem ser empregados.4

Em relação aos requerimentos energéticos, os mesmos são avaliados e

determinados pela EER (estimated energy requeriments), definida como a

quantidade de energia contida nos alimentos para a manutenção do balanço

energético em um indivíduo com determinada idade, gênero, peso, estatura e nível

de atividade física, de modo a manter boa saúde. As recomendações de ingestão de

energia diferem das recomendações de ingestão de nutrientes. Relembrando que as

recomendações de ingestão de nutrientes se baseiam na média das necessidades

somada a 2 desvios padrão, se esse conceito for aplicado para as recomendações

de energia, parte da população irá ingerir mais do que a sua real necessidade, o que

levará a um balanço energético positivo e, consequentemente, a um aumento de

peso.5,6,7

Referências 1. Franceschini SCC, Priore SE, Euclydes MP. Necessidades e recomendações de nutrientes. In: Cuppari L. Nutrição Clínica no Adulto. 2aed. São Paulo: Manole; 2005. p.3-32. 2. Vítolo MR. Avaliação e planejamento de dietas. In: Vítolo MR. Nutrição da Gestação ao Envelhecimento. 1a ed. São Paulo: Rubio; 2008. p.13-15. 3. Amâncio OMS, Fisberg RM, Maschioni DML. Recomendações nutricionais In: Silva SMC, Mura JDP. Tratado de Alimentação, Nutrição e Dietoterapia. 1a ed. São Paulo: Roca; p.157-170. 4. International Life Sciences Institute. São Paulo: International Life Sciences Institute Brasil. 2001 CD-ROM - Usos e Aplicações das 'Dietary Reference Intake' (DRI). Disponível em http://brasil.ilsi.org/publications/gp/DRI.htm Acesso em 1º/9/2009. 5. Avesani CM, Santos NSJ, Cuppari L. Necessidades e recomendações de energia. In: Cuppari L. Nutrição Clínica no Adulto. 2aed. São Paulo: Manole; 2005. p. 474-450.

Page 45: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

44 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

6. Fisberg RM, Marchioni DML, Villar BS. Planejamento e avaliação da ingestão de energia e nutrientes para indivíduos. In: Cuppari L. Nutrição Clínica no Adulto. 2aed. São Paulo: Manole; 2005. p.51-62. 7. Vítolo MR. Conceitos e parâmetros das recomendações de ingestão dietética (DRI). In: Vítolo MR. Nutrição da Gestação ao Envelhecimento. 1aed. São Paulo: Rubio; 2008. p.3-12.

Page 46: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 45

QUESTÃO 24

Dietary Reference Intake (IOM, 2000).

A tabela acima indica a IDR de folato, por estágio de vida. A partir dessas

informações e com relação à IDR de folato, assinale a opção correta.

(A) Durante a gravidez, as necessidades de folato variam de acordo com a idade

da gestante. (B) A partir de 19 anos de idade, deve-se consumir, em média, mais de 1.000 µg

de folato, por dia. (C) Para uma mulher de 68 anos de idade, recomenda-se a ingestão média de

folato de 400 µg/dia. (D) Durante a idade reprodutiva, a necessidade de folato é maior para a mulher

que para o homem. (E) Os valores de EAR e de RDA da tabela correspondem às necessidades de

folato estabelecidas a partir de uma curva de regressão da UL. Gabarito: C

Autora: Sônia Alscher

Comentário: O simples exame da tabela já demonstra que esta alternativa está incorreta.

As recomendações de folato aumentam na gestação, pois esse nutriente é

fundamental em uma série de processos metabólicos responsáveis pela síntese de

nucleotídeos, para novas moléculas de DNA, síntese de novas proteínas e divisão

celular. A quota recomendada refere-se ao uso prioritário de suplementos ou

alimentos enriquecidos, além do fornecido por uma alimentação variada e

equilibrada, pois tal valor é difícil de ser alcançado pela alimentação básica.1

Page 47: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

46 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

A alternativa está incorreta, pois recomenda para essa faixa etária uma quota

de 1.000 mg, acima da UL (Tolerable Upper Intake Level), a qual não é uma

recomendação de ingestão, mas um limite de ingestão diária de nutrientes, isento de

risco de eventos adversos à saúde para quase todos os indivíduos de uma

população.2 O estabelecimento da UL refere-se ao cuidado com o uso

indiscriminado e inadequado de suplementos nutricionais, e seu valor não deve ser

utilizado como referência ou recomendação.3 Nesse caso, a recomendação correta

seria a de 400mcg/dia, que corresponde à RDA (Recommended Dietary Intake).

Esta é a alternativa correta. Esse valor recomendado visa manter as

concentrações adequadas de folato e homocisteína sanguíneos; o aumento dos

níveis de homocisteína no sangue está relacionado ao processo aterosclerótico na

deficiência de folato.1

Alternativa incorreta, pois as recomendações são iguais para ambos os

sexos, como observado na tabela.

O valor de EAR (necessidade média estimada) de ingestão de um nutriente

corresponde à quantidade para cobrir as necessidades de 50% dos indivíduos de

determinada faixa etária e sexo, sendo que a RDA (ingestão dietética recomendada)

é derivada desse valor, suficiente para cobrir as necessidades de quase todos os

indivíduos saudáveis (97 a 98%) da mesma categoria.2

A UL (nível máximo de ingestão tolerável) não gera tais valores, como

proposto por esta alternativa.

Observação: essa questão poderia ser reformulada em relação a dois aspectos:

1. O termo IDR está incorretamente utilizado. Segundo Phillipi (2008), “as DRIs, recomendações nutricionais para americanos e canadenses, são valores numéricos estimados para o consumo de nutrientes, sendo utilizados como parâmetros para o planejamento e a avaliação de dietas para indivíduos saudáveis. A sigla DRI não deve ser traduzida para IDR (Ingestões Dietéticas de Referência). As IDRs, observadas nos rótulos de alimentos industrializados, foram estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) exclusivamente com a finalidade de elaborar informação nutricional, como percentual do valor diário atendido na ingestão da porção do alimento industrializado.”

Page 48: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 47

2. Na alternativa C, considerada correta, o termo “ingestão média” de folato confunde o respondente, pois o valor de 400mcg corresponde à recomendação de ingestão (RDA), dois desvios-padrão acima da ingestão média (EAR) Referências 1. Vítolo MR. Nutrição da Gestação ao Envelhecimento. Rio de Janeiro: Rubio; 2008. p. 3-12. 2. Franceschini SC, Priore SE, Euclydes MP. Necessidades e Recomendações de Nutrientes. In: Cuppari L. Nutrição Clínica no Adulto. 2ª. Ed. Barueri: Manole; 2005. p.3-32. 3. Phillipi ST. Pirâmide dos Alimentos: Fundamentos Básicos da Nutrição. Barueri: Manole; 2008. p. 1-30.

Page 49: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

48 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

QUESTÃO 25

Em estudo realizado com o objetivo de analisar a

quantidade e a qualidade de produtos alimentícios

veiculados por três redes de canal aberto da televisão

brasileira, observou-se que, dos 5.338 anúncios

transmitidos no período de acompanhamento, 1.395

(26%) eram anúncios de produtos alimentícios. A

figura ao lado mostra o percentual desses 1.395

anúncios correspondente a cada grupo de alimentos.

S. S. Almeida et al. Revista de Saúde Pública, 2002, 36(3):353-5 (com adaptações). Tendo as informações apresentadas no texto acima e no gráfico ao lado apenas

como referência inicial e considerando os fatores determinantes para a formação de

hábitos alimentares, julgue os itens a seguir.

I Existe correlação entre exposição à propaganda de alimentos veiculada na

mídia televisiva e formação de hábitos alimentares. II Os resultados do estudo representam uma pirâmide alimentar invertida com

relação à sua base, fenômeno típico de transição nutricional. III No Brasil, a inexistência de regulamentação de estratégias de propaganda e

marketing de alimentos prejudica a promoção de hábitos alimentares saudáveis.

IV Raízes, tubérculos e legumes pertencem ao mesmo grupo alimentar que responde, de acordo com a pesquisa, por 21,2% dos anúncios de produtos alimentícios transmitidos pelas três redes de canal aberto de televisão estudadas.

V O fenômeno da globalização, bem como a variedade e a disponibilidade de produtos alimentícios são fatores que influenciam a formação do padrão alimentar contemporâneo.

Estão certos apenas os itens:

(A) I, II e III. (B) I, II e V. (C) I, III e IV. (D) II, IV e V. (E) III, IV e V.

Page 50: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 49

Gabarito: B

Autores: Alessandra Campani Pizzato e Vanuska Lima da Silva

Comentário: A resposta baseia-se na regulamentação de estratégias de propaganda e

marketing de alimentos no Brasil e na pirâmide alimentar adaptada para a população

brasileira.

A afirmativa I está correta, uma vez que a mensagem veiculada é

unidirecionada para o interlocutor, não há via dialógica e sim impositiva. O cotidiano

é cada vez mais influenciado por valores externos à nossa cultura, importados dos

países economicamente dominantes. O imediatismo das transformações,

consequente da diminuição das distâncias ocasionada pela revolução dos meios de

comunicação, causa diferentes modificações na vida cotidiana.1

A afirmativa II também está correta porque os resultados do estudo descrito

estão de acordo com a proposta da pirâmide alimentar adaptada. Essa descreve

que, no topo de sua estrutura, estão previstos alimentos referentes ao grupo das

gorduras, óleos, açúcares e doces, que devem ser consumidos em menores

quantidades pelos indivíduos. Conforme apontado pelo estudo, o maior percentual

dos anúncios está justamente relacionado a esses grupos, por isso representa uma

pirâmide invertida.2

A afirmativa III está incorreta porque existe regulamentação de estratégias de

propaganda e marketing de alimentos no Brasil. De acordo com a regulamentação da

publicidade de alimentos destaca-se como uma das estratégias a serem adotadas no

combate à obesidade e outras doenças crônicas não transmissíveis a divulgação de

alimentos com quantidades elevadas de açúcar, de gordura saturada, de gordura

trans, de sódio e de bebidas com baixo teor nutricional, quaisquer que sejam as

formas e meios de sua veiculação, sem prejuízo do que particularmente se estabeleça

para determinados tipos de alimentos por meio de legislação específica, sendo

baseado nas seguintes premissas: perfil inadequado da publicidade de alimentos no

Brasil, vulnerabilidade do público infantil, saúde como um direito de todos e dever do

Estado, obesidade como um problema de saúde pública no Brasil, ética e bioética3.

O Brasil possui leis federais que regulamentam o assunto, tais como as Leis

nº. 8.078/904 (dispõe sobre a proteção do consumidor), 6.437/775 (configura

Page 51: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

50 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

infrações a legislação sanitária federal), 9.782/996 (define o Sistema Nacional de

Vigilância Sanitária) e o Decreto-Lei nº. 986/ 697 (institui normas básicas sobre

alimentos), mas, no entanto, não possui ainda um regulamento que trate

especificamente da publicidade de alimentos direcionada ao público infantil. A

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) propôs um regulamento que se

aplica à oferta, propaganda, publicidade, informação e a outras práticas correlatas

cujo objeto seja a divulgação ou promoção de alimentos com quantidades elevadas

de açúcar, de gordura saturada, de gordura trans, de sódio e de bebidas com baixo

teor nutricional, quaisquer que sejam as formas e meios de sua veiculação, sem

prejuízo do que particularmente se estabeleça para determinados tipos de alimentos

por meio de legislação específica.

A afirmativa IV está incorreta, uma vez que não foram identificados no estudo

dos anúncios alimentícios transmitidos pelas redes televisivas de canal aberto,

dados relacionados ao consumo de raízes, tubérculos e legumes.

A afirmativa V está correta porque a globalização, bem como a diversidade de

produtos alimentícios, são fatores que influenciam a formação do padrão alimentar

contemporâneo, conforme descrito na questão I.1

Referências 1. Andrade A, Bosi MLM. Mídia e subjetividade: impacto no comportamento alimentar feminino. Rev. Nutr. 2003; 16(1): 117-125. 2. Phillipi S. Pirâmide Alimentar Adaptada: Guia para Escolha dos Alimentos. Rev. Nutr. 1999; 12(1): 65-80. 3. Fagundes MJD. Regulamentação da propaganda de alimentos no Brasil. CERES. 2008; 3(1); 47-52. 4. CDC. Código de defesa do consumidor. Lei 8.078 de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor. Diário Oficial da União. Brasília (12 de setembro de 1990). 5. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Lei 6.437 de 20 de agosto de 1977. Dispõe sobre infrações a legislação sanitária federal. Diário Oficial da União. Brasília (24 de agosto de 1977 ). 6. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Lei 9.782 de 26 de janeiro de 1999. Dispõe sobre o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária. Diário Oficial da União. Brasília (27 de janeiro de 1999). 7. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Decreto-Lei nº. 986/ 69 de 21 de outubro de 1969. Dispõe sobre normas básicas de alimentos. Diário Oficial da União. Brasília (21 de outubro de 1969).

Page 52: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 51

QUESTÃO 26

Com relação aos instrumentos utilizados na avaliação do consumo alimentar das

pessoas, julgue os itens a seguir.

I O questionário de freqüência alimentar é um método retrospectivo de avaliação da ingestão de alimentos em determinado período.

II O recordatório de 24 horas é um método de avaliação de consumo alimentar que permite inferir acerca do grau de adequação do consumo de macronutrientes.

III A importância da avaliação do consumo alimentar em crianças reside no fato de que deficiências quantitativas e(ou) qualitativas do consumo acarretam, no curto prazo, atrasos pôndero-estaturais.

IV A relação cintura-quadril é um indicador que possibilita uma estimativa do consumo de gordura total a partir dos 10 anos de idade.

(A) I e II. (B) I e IV. (C) II e III. (D) I, III e IV. (E) II, III e IV. Gabarito: A Autora: Raquel Milani El Kik

Comentário: A alternativa A está correta. O questionário de frequência alimentar é

considerado o mais prático e informativo método de avaliação da ingestão dietética

habitual, útil em estudos epidemiológicos que relacionam a dieta com a ocorrência

de doenças crônicas não transmissíveis. A unidade de tempo mais utilizada para

estimar a frequência de consumo de alimentos é o ano precedente.1 Portanto, é um

método retrospectivo de avaliação do consumo alimentar. Já o recordatório de 24h

consiste em definir e quantificar todos os alimentos e bebidas ingeridos no dia

anterior à entrevista. Avalia a dieta atual e estima valores absolutos ou relativos da

ingestão de energia e nutrientes consumidos.1 Significa que inclui a avaliação dos

macronutrientes da dieta.

Page 53: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

52 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

Portanto, os demais itens estão incorretos:

É importante avaliar o consumo alimentar de crianças, pois o peso corporal

pode sofrer modificações em curtos intervalos de tempo e seu monitoramento

permite o diagnóstico precoce da desnutrição. Já a estatura, é um indicador do seu

crescimento linear e suas variações são mais lentas. O crescimento é estável e

gradativo durante os anos pré-escolares e de idade escolar.2 Déficits na estatura

refletem agravos nutricionais a longo prazo.3

A relação cintura-quadril é um índice antropométrico, definido a partir da

divisão da circunferência da cintura pela circunferência do quadril aferidos em

centímetros e é o indicador mais utilizado para avaliar a caracterização da

distribuição da gordura corporal.1 Reflete a proporção de gordura intrabdominal e é

utilizado para indicar o risco de doenças cardiovasculares.4 Portanto, não possibilita

a estimativa do consumo de gordura na dieta.

Referências 1. Fisberg RM, Martini LA, Slater B. Métodos de Inquéritos Alimentares. In: Fisberg, RM, Martini LA, Slater B, Marchioni DML, Martini LA. Inquéritos Alimentares: métodos e bases científicos. 1ª ed. São Paulo: Manole, 2005. p. 1-29. 2. Lucas BL. Nutrição na Infância In: Mahan LK, Escott-Stump S. Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 11ª ed. São Paulo: ROCA, 2005. p.246-269. 3. Accioly E, Padilha PC. Semiologia Nutricional em Pediatria In: Duarte ACG. Avaliação Nutricional: aspectos clínicos e laboratoriais. 1ª ed. São Paulo: Atheneu, 2007. p. 114-136. 4. Fontanive R, Paula TP, Peres WAF. Avaliação da Composição Corporal em Adultos. In: Duarte ACG. Avaliação Nutricional: aspectos clínicos e laboratoriais. 1ª ed. São Paulo: Atheneu, 2007. p. 41-63.

Page 54: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 53

QUESTÃO 27

Duas mulheres, uma sedentária e a outra maratonista, com mesma idade e mesmo

peso corporal, consultaram um nutricionista em busca de orientação alimentar e

para estabelecer um plano alimentar. O nutricionista calculou, para cada uma, o

gasto energético diário (GED), a partir da avaliação do gasto energético de repouso

(GER), do efeito térmico dos alimentos (ETA) consumidos e do efeito térmico do

exercício (ETE).

Com relação a essa situação hipotética e sabendo que GED = GER + ETA + ETE,

assinale a opção correta.

(A) As duas mulheres devem apresentar o mesmo ETA, pois ambas têm a mesma idade e peso.

(B) Na maratonista, o GER deve corresponder ao maior percentual do GED. (C) Na maratonista, o valor de GER + ETE deve corresponder a menos de 50% do

valor do GED. (D) Na mulher sedentária, o GER deve corresponder ao maior percentual do GED. (E) Na mulher sedentária, o valor de ETA + ETE deve corresponder a mais de 50%

do valor do GED. Gabarito: D Autora: Raquel da Luz Dias

Comentário: Os três componentes que compõem o gasto energético diário (GED), efeito

térmico do alimento (ETA) e o efeito térmico do alimento (ETE).1

O Efeito térmico dos alimentos consiste no aumento do gasto energético

observado após a ingestão de alimentos. Ele representa a energia necessária para

que os processos de digestão e absorção dos alimentos e nutrientes possam ocorrer

normalmente. O ETA tem uma grande variação entre os indivíduos e pode

compreender entre 5 a 10% do GED. Os fatores que interferem nessa variabilidade

são: a composição de nutrientes da refeição; a ativação simpática induzida oscila

refeição; a idade; o nível de condicionamento físico e a composição corporal do

individuo. Assim sendo, a afirmação correspondente a letra A não é verdadeira, já

Page 55: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

54 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

que a mulher sedentária e a atleta com certeza tem diferentes níveis de

condicionamento físico, composição corporal distinta e ainda, o volume e frequência

das refeições realizadas por elas diferem em relação as necessidade calóricas

diárias.2

Em indivíduos fisicamente ativos, o componente do GED que possui maior

variabilidade é o ETE, que, num indivíduo sedentário é de cerca de 30% do GED,

mas num atleta pode atingir valores até 3 vezes maiores. Indivíduos bem treinados

conseguem gerar taxas metabólicas impostas pelo exercício até 10 vezes maiores

quando comparadas com o repouso. Isso demonstra que esta afirmação B não está

correta, já que o principal componente do GED na maratonista é o ETE.2

Tendo em vista que o ETA corresponde a, no máximo 10% do GED e que em

atletas o ETE é o maior componente do gasto energético, a questão C não pode

estar correta, pois não haveria outro componente para completar o GED.

A resposta D é a resposta correta, pois em indivíduos sedentários o GER

corresponde entre 60 a 75% do GED. Essa energia é necessária para a manutenção

das atividades metabólicas das células, manterem os processos de circulação,

respiração e as atividades dos sistemas nervoso, gastrintestinal e renal. Em

indivíduos sedentários, o componente relativo ao exercício físico pode representar

apenas 30% do GED.

A última afirmação também não é verdadeira, pois, o maior componente do

GED em sedentários é o GER, correspondendo a 60 e 75% do GED. Além disso,

como já visto anteriormente, o ETA corresponde, no máximo, a 10% do GED e o

ETE, em sedentários, a no máximo 30% do GED, não sendo possível esse

percentual.

Referências 1. Frary CD, Johnson RK. Energia. In: Mahan LK, Escott-Stump S. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 11ª ed, São Paulo: Roca, 2005. 2. Angelis RC, Tirapegui, J. Fisiologia da Nutrição Humana: aspectos básicos, aplicados e funcionais. São Paulo: Atheneu, 2007.

Page 56: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 55

QUESTÃO 28

Resultados de avaliação nutricional em pacientes internados com câncer mostram

que grande parte deles apresentam-se desnutridos ou em risco nutricional. Acerca

da relação entre desnutrição e câncer, analise as asserções a seguir.

Fatores anoréticos do tumor ou hospedeiro, dor, depressão, obstruções

gastrointestinais e agressões terapêuticas provocam a diminuição da ingestão

alimentar realizada por pacientes oncológicos

porque os pacientes com câncer em estágio avançado costumam apresentar intolerância à

glicose, balanço nitrogrenado negativo e aumento da lipólise.

Assinale a opção correta a respeito dessas asserções.

(A) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma

justificativa correta da primeira. (B) As duas asserções são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma

justificativa correta da primeira. (C) Tanto a primeira quanto a segunda asserções são proposições falsas. (D) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda é uma

proposição falsa. (E) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda é uma proposição

verdadeira. Gabarito: B

Autores: Denise Zaffari e Sônia Alscher

Comentário: A desnutrição no câncer apresenta uma incidência entre 30 e 50% dos casos.

A origem dessa desnutrição é multifatorial, advinda de anorexia decorrente de

fatores anoréticos provocados pelo tumor ou hospedeiro, dor, depressão, obstruções

intestinais, terapêutica anticancerígena (cirurgia, quimioterapia (QT), radioterapia

(RT)). Os efeitos colaterais da RT geralmente aparecem após a primeira semana de

tratamento e, dependendo da área irradiada, podem se manifestar na forma de

Page 57: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

56 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

anorexia, xerostomia, odinofagia, mucosite, disfagia e alterações no paladar (região

da cabeça e pescoço) ou diarreia, lesão intestinal, má absorção, náuseas, vômitos,

estenose (região pélvica). Os efeitos colaterais mais frequentes na QT incluem

náuseas, vômitos, anorexia, diarreia, obstipação e mucosite.1

Geralmente existe um balanço energético negativo, que resulta de uma

diminuição da ingestão energética devido à anorexia e/ou hipofagia e um gasto

energético que está algumas vezes aumentado no seu valor absoluto e sempre falha

na adaptação à condição de semi-inanição, com uma queda fisiológica progressiva.

O aumento no gasto energético, embora geralmente pequeno, pode causar uma

perda de gordura corporal que atinge de 0,5 a 1 Kg/mês ou de massa muscular que

pode chegar a 1 a 2,3 Kg/mês, se não for compensado por um aumento na ingestão

de nutrientes.2

Anormalidades importantes no metabolismo dos carboidratos têm sido

documentadas em portadores de câncer. Embora as células cancerosas utilizem,

preferencialmente, a glicose como substrato energético, (10 a 50 vezes mais em

relação às células normais), há um aumento na gliconeogênese hepática, a partir de

substratos, como os aminoácidos musculares e o lactato. A intolerância à glicose,

resultante do aumento da resistência à insulina, tanto a insulina exógena quanto a

endógena, e da liberação inadequada de insulina, tem sido frequentemente

observada nos pacientes oncológicos. A intolerância à glicose é ocasionada pela

diminuição da sensibilidade dos receptores das células beta, enquanto a resistência

à ação da insulina é ocasionada por redução da sensibilidade dos tecidos

periféricos. Esses desajustes metabólicos têm sido observados em etapas

avançadas do processo neoplásico, como na disseminação metastática extensa.3,4,5

No indivíduo saudável, 90% das reservas energéticas correspondem à

gordura. Na caquexia do câncer, a perda de gordura é responsável pela maior parte

da perda de peso observada. Essa perda de gordura corporal está relacionada ao

aumento da lipólise, associada à diminuição da lipogênese, em consequência à

queda da lipase lipoproteica e liberação de fatores tumorais lipolíticos e, ainda,

aumento da lipase hormônio sensível.5,6,7

As taxas de turnover orgânico total de proteínas, as taxas de síntese e de

catabolismo proteico muscular são as alterações metabólicas comumente

observadas na caquexia do câncer. As depleções proteicas manifestam-se com

Page 58: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 57

atrofia do músculo esquelético, atrofia de órgãos viscerais, miopatia e

hipoalbuminemia. O catabolismo muscular está aumentado para fornecer ao

organismo aminoácidos para a gliconeogênese, com subsequente depleção da

massa muscular esquelética. A redução na síntese proteica também concorre para

esse quadro. A diminuição da síntese proteica pode ser resultante da diminuição da

concentração plasmática de insulina e da sensibilidade do músculo esquelético à

insulina, ou de reduções dos níveis de formação proteica por suplementação de

aminoácidos requeridos para a síntese proteica. A perda de atividade física nos

pacientes caquéticos pode ser outro fator significante na supressão da síntese

protéica.5,8

Importante salientar o papel fundamental das citocinas como mediadores das

anormalidades metabólicas. Além disso, pacientes em processo de caquexia

excretam na urina o fator mobilizador de lipídios (Lipid Mobilizing Factor - LMF), que

age diretamente no tecido adiposo, hidrolisando os triglicerídios a ácidos graxos

livres e glicerol, por meio do aumento intracelular do AMPc, de modo análogo aos

hormônios lipolíticos, com consequente mobilização e utilização dos lipídios. Em

relação ao catabolismo proteico, esse também está diretamente associado ao

aumento do nível sérico do fator indutor de proteólise (Proteolysis Inducing Factor -

PIF), capaz de induzir, tanto a degradação como inibir a síntese proteica na

musculatura esquelética. O PIF está presente na urina de pacientes com caquexia e

portadores de tumores que afetam o trato gastrointestinal e tem como expressão a

perda de peso marcante.5,7,9

Assim, a intolerância à glicose, o balanço nitrogenado negativo e o aumento da lipólise são, na verdade, consequências da anorexia apresentada pelos pacientes com câncer. Referências 1. Dias MCG. Câncer. In: Cuppari L. Nutrição Clínica no Adulto. 2a ed. São Paulo: Manole; 2005. p.243-56. 2. Bozzetti F, Von, Meyenfeldt MF. Terapia nutricional no câncer. In: Sobotka, L, Allison SP, Fürst P, Meier, R, Pertkiewicz M, Soeters P. Bases da Nutrição Clínica. 3a ed. Rio de Janeiro: Rubio; 2008. p.353-361. 3. Matias JEF, Campos ACL. Terapia nutricional no câncer. In: Campos ACL. Nutrição em Cirurgia. São Paulo: Atheneu;2002.p.281-295.

Page 59: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

58 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

4. Guppy M, Leedman P, Zu X, Russel V. Contribution by different fuels and metabolic pathways to the total ATP turnover of proliferating MCF-7 breast cancer cells. Biochem J. 2002;364:09. 5. Silva MPN. Síndrome da anorexia-caquexia em portadores de câncer. Rev. Brasileira de Cancerologia 2006;52(1):59-77. 6. Argilés JM, Moore-Carrasco R, Fuster G, Busquets S, Lopez- Soriano FJ. Cancer cachexia: the molecular mechanisms. Int J Biochem Cell Biol. 2003;35(4):405-9. 7. Tisdale MJ. The cancer chachetic factor. Support Care Cancer. 2003;11(2):73-8. 8. Shils ME, Shike M. Suporte nutricional do paciente com câncer. In: Shils ME, Olson JÁ, Shike M, Ross AC. Tratado de nutrição moderna na saúde e na doença. 9ª ed. São Paulo: Manole; 2003.p.1.385-1.416. 9. Rubin H. Cancer cachexia: its correlations and causes. Proc Natl Acad Sci USA. 2003; 100(9):5.384-5.389.

Page 60: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 59

QUESTÃO 29

No caso de uma gestante de 35 anos de idade, na 26ª semana de gestação, com

diabetes gestacional, sem uso de medicação hipoglicemiante e que foi encaminhada

ao ambulatório de nutrição, entre as opções a seguir, a melhor orientação a ser

estabelecida pelo nutricionista é dieta

(A) hipoenergética, utilizando-se a técnica de contagem de carboidratos e permitindo-se ganho ponderal máximo de 100 g/semana.

(B) hipoenergética, com alimentos de baixo índice glicêmico, para evitar a microangiopatia fetal e a cetonúria pós-prandial.

(C) normoenergética, com o máximo de 30% de carboidratos totais e consumo preferencial de proteínas de alto valor biológico.

(D) balanceada, que permita ganho ponderal de 300 g/semana a 400 g/semana e fracionamento das refeições, para obter melhor controle da glicemia de jejum e pós-prandial.

(E) balanceada, isenta de carboidrato simples e com pelo menos 4 porções de frutas e 4 de hortaliças por dia.

Gabarito: D Autora: Sônia Alscher

Comentário: A alternativa A está incorreta em relação à recomendação de energia e ao

ganho ponderal indicado. A perda de peso na gestação não é recomendada em

mulheres obesas com Diabetes Melito Gestacional. Restrições leves de não menos

de 1700 a 1800 calorias diárias podem ser prescritas em alguns casos, com

cautela.1 Quanto ao ganho ponderal, a alimentação deve proporcionar um acréscimo

de 300 a 400g de peso corporal por semana.2 Além disso, a questão não explicitou

se a gestante apresentava sobrepeso ou obesidade.

A alternativa B está errada. Além da não recomendação de restrição energética

na gravidez, como explicitado da questão anterior, o baixo índice glicêmico irá

contribuir no controle glicêmico da mãe, não influenciando diretamente no feto.

A alternativa C também está incorreta porque a proporção indicada para

carboidratos na dieta está inadequada. A distribuição preconizada deste nutriente é

de 40 a 50% do valor energético total.3

Page 61: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

60 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

A alternativa D é a correta, uma vez que todas as características da

orientação nutricional à gestante com DMG estão corretas. A dieta deve ser

equilibrada, permitindo o ganho ponderal semanal adequado para uma gestação

bem sucedida em mulheres com peso adequado. Um número de 6 refeições diárias

(três principais e dois pequenos lanches) é orientado a fim de obter um bom controle

glicêmico.3

A alternativa E também está incorreta, pois a dieta deve restringir os

carboidratos simples (10 a 15% do total da dieta), e não excluí-los. Ainda em função

do alto teor de açucares, aconselha-se limitar o consumo de duas frutas ao dia,

desaconselhando o consumo rotineiro de sucos de frutas.4

Observação: O enunciado desta questão poderia ser modificado em relação ao uso de hipoglicemiante oral pela gestante em foco. As diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabete e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia desaconselham o uso de hipoglicemiantes orais durante a gestação, pois não existem evidências ou justificativas que embasem o seu uso. A orientação é de usar insulina, após uma semana de adoção de medidas dietéticas sem sucesso na redução da glicemia abaixo dos limites superiores.2,3 Referências 1. Franz, MJ. Terapia Nutricional Clínica para Diabetes Melito e Hipoglicemia de Origem não Diabética. In: Mahan, LK; Escott-Stump. Krause, Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 12ª. Ed. Elsevier: Rio de Janeiro, 2010. p.789. 2. Guedes, EP; Valério, CM; Benchimol, AK. Tratamento e Acompanhamento do Diabetes mellitus: Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes. Itapevi: Araújo Silva Farmacêutica, 2007. p49. 3. Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Matabologia. Projeto Diretrizes: Diabete Mellitus Gestacional. Junho/ 2006. p.8. 4. Vitolo, MR. Estratégias de Intervenção Nutricional. In: Nutrição da Gestação ao Envelhecimento. Rio de Janeiro: Rubio; 2008. p 101.

Page 62: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 61

QUESTÃO 30 Atualmente, no Brasil, o

ganho de peso e a obesidade

representam uma ameaça

crescente à saúde,

constituindo um desafio para

os profissionais da área.

Para a prevenção e o controle

desse problema, necessita-se

de uma abordagem integrada

que contemple os vários

fatores envolvidos na gênese da obesidade. O diagrama ao lado explicita os

diferentes níveis de determinação da obesidade. Tendo-se como base esse

diagrama, é correto inferir que

(A) a forma hierárquica é a que permite melhor avaliar os fatores relacionados a prevenção e controle do ganho de peso e da obesidade.

(B) existe uma rede de fatores que expressam as múltiplas interações entre saúde, mercado global de alimentos, mídia, processos de urbanização, perfil de educação e acesso aos transportes e ao lazer.

(C) é preciso interromper o processo de globalização para que seja possível controlar a epidemia da obesidade.

(D) abordagens de prevenção e controle da obesidade bem-sucedidas, tanto no âmbito individual quanto no coletivo, devem ser focalizadas em estratégias comportamentais.

(E) o consumo de alimentos com elevada densidade energética representa, segundo o diagrama, o principal fator relacionado à obesidade na população.

Gabarito: B Autores: Ana Maria Feoli e Raquel da Luz Dias

Comentário: A questão requer do respondente a habilidade de interpretar corretamente o

enunciado e relacioná-lo com a figura apresentada. A alternativa correta – letra B – é

aquela que aborda os múltiplos fatores que influenciam a epidemia da obesidade.

Cadernos de atenção básica – obesidade, p. 18 (com adaptações).

Page 63: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

62 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

Considerando que a obesidade é um agravo de caráter multifatorial que

envolve questões biológicas, históricas, ambientais, ecológicas, sociais, culturais e

políticas, a prevenção e o controle dessa condição devem prever uma abordagem

integrada que contemple os vários fatores envolvidos na sua gênese.1

O peso corpóreo é regulado primariamente por uma série de processos

biológicos, mas também é influenciado por fatores sociais e cognitivos externos. Isso

significa que, num primeiro momento, a obesidade é tratada com uma condição

biológica individual, na qual os principais fatores envolvidos estão relacionados com

o desequilíbrio do balanço energético entre o que é consumido e o que é gasto.2

Porém, o problema da obesidade como uma epidemia deve ser visto como uma

consequência dos múltiplos fatores citados acima. A compreensão dessa etiologia

multifatorial é fundamental para a determinação do tratamento e acompanhamento

nutricional no usuário com excesso de peso, que deve objetivar a integralidade do

ser humano, proporcionando práticas que correlacionem questões sociais,

psicológicas, genéticas, clínicas e alimentares no sobrepeso/obesidade. Assim

sendo, os fatores determinantes e também os relacionados a prevenção e

tratamento da obesidade, além de sofrerem influência de variáveis biológicas, como

o consumo de alimentos e o nível de atividade física, também sofrem influência de

toda constelação de significados ligados ao comer, ao corpo e ao viver, aspectos

estes que permeiam outras instâncias (social, psicológica) na vida desses

indivíduos.1, 3

Referências 1. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Cadernos de atenção Básica: obesidade. Brasília, 2006. 2. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Obesidade: prevenindo e controlando a epidemia global. São Paulo: Roca, 2004. 3. Stenzel LM. Obesidade: o peso da exclusão. 2ª ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.

Page 64: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 63

Texto para as questões 31 e 32 Um jovem de 17 anos de idade foi encaminhado para internação no serviço de

emergência de um hospital, com diagnóstico de crise aguda de doença inflamatória

intestinal (DII). O paciente tem história recente de distensão e dores abdominais,

fezes líquidas e receio de alimentar-se, em função do quadro álgico. O jovem

encontra-se visivelmente emagrecido. O nutricionista responsável prescreveu dieta

por via oral, com característica constipante.

Page 65: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

64 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

QUESTÃO 31

A tabela ao lado apresenta

resultados referentes a

exames bioquímicos do

paciente cujo quadro

clínico está descrito no

texto. Com relação às

informações apresentadas, assinale a opção correta.

(A) A proteína total é um indicador bioquímico sensível do estado nutricional, estando o seu nível sanguíneo comprometido no paciente, provavelmente devido a baixa ingestão alimentar e má absorção de nutrientes.

(B) A albumina sérica, apesar de ser indicador muito utilizado na prática clínica, se altera na DII devido a menor síntese realizada pelos enterócitos, sendo, portanto, pouco útil como parâmetro nutricional do referido paciente.

(C) O valor de leucócitos observado deve-se, provavelmente, ao processo inflamatório ativo, característico da fase aguda da doença, e configura-se como parâmetro que indica desnutrição aguda do tipo evolutiva.

(D) A contagem linfocitária total nesse paciente é indicador impreciso do seu estado nutricional, pois a mesma deve estar mascarada pelos valores de leucócitos aumentados.

(E) O resultado da PCR é compatível com o estado de DII agudizada, sendo que a melhora desse parâmetro é sugestivo de remissão da fase aguda e de anabolismo do paciente.

Gabarito: E Autoras: Raquel Dias e Sônia Alscher

Comentário: A. As proteínas totais no sangue podem ser utilizadas como teste para uma

série de condições clínicas, como rastreamento ou diagnóstico de reações de fase

aguda, inflamação crônica, hepatite autoimune, cirrose e outras, além da

desnutrição.1 As modificações plasmáticas das proteínas não devem ser

interpretadas pelo seu valor absoluto, pois existem duas classes de proteínas: as

relacionadas diretamente com o estado nutricional e com relação inversa ao

estresse e à inflamação, e as proteínas relacionadas diretamente com a inflamação,

proteína total 6,2 g/dL (normalidade: 6,4 g/dL a 8,3 g/dL)

albumina 3,0 g/dL (normalidade: 3,5 g/dL a 5,5 g/dL)

leucócitos 13.000/:L (normalidade: 4.500/:L a 11.000/:L)

contagem total de linfócitos

2.000/:L (depleção leve: 1.200/:L a 3.600/:L)

proteína C reativa (PCR) 1,00 mg/L (normalidade: < 0,16 mg/L)

Page 66: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 65

denominadas de proteínas de fase aguda, como, por exemplo, fibronectina,

somatomedina C e proteína C reativa.2

B. A albumina é uma proteína sintetizada pelos hepatócitos e não pelos

enterócitos. É responsável pela pressão oncótica do plasma e pelo transporte de

uma variedade de moléculas no sangue, como fármacos, nutrientes e hormônios.

Embora a hipoalbuminemia esteja presente na desnutrição, não é um marcador

sensível, pois é uma proteína de meia vida longa (18 a 20 dias), podendo estar

alterada em situações não necessariamente de desnutrição. Em situações de

enfermidades graves durante sua fase aguda, ocorre um desvio na síntese de

albumina em função do aumento na produção hepática de proteínas de fase aguda,

como, por exemplo, a proteína C reativa. Entretanto, pelo seu baixo custo e pela

validade como indicador de prognóstico nutricional e risco para complicações

durante a internação, é amplamente utilizado na prática clínica.3

C. A leucocitose, isto é, o aumento do número de leucócitos, é uma das

manifestações clínicas que aparecem no paciente portador de doença inflamatória

intestinal4,5; está aumentada em virtude do processo inflamatório em si, não tendo

relação direta com a desnutrição.1

D. A contagem total de linfócitos mede as reservas imunológicas

momentâneas5 e não é um indicador absoluto do estado nutricional4, podendo ser

influenciada por infecções, estresse agudo1, cirrose hepática, queimaduras e alguns

medicamentos2. Portanto, essa afirmativa está incorreta.

E. Correto. A PCR (Proteína C Reativa) é uma das principais proteínas de

fase aguda de processos inflamatórios1, aumentando rapidamente nos estágios

iniciais do estresse agudo. Em contrapartida, as proteínas plasmáticas (indicadores

de balanço proteico visceral) diminuem, em virtude da reorientação da síntese

hepática mediada por citocinas pró inflamatórias características dessa fase

(interleucinas- 1 e 6 e fator de necrose tumoral). Quando o paciente entra no período

anabólico da resposta inflamatória, a síntese hepática de albumina e das demais

proteínas plasmáticas novamente retorna ao normal, e a síntese de PCR diminui,

devido ao decréscimo do estímulo mediado pelas citocinas.7

Referências 1. Xavier RM, Albuquerque GC, Barros E. Laboratório na Prática Clínica: Consulta Rápida. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 567-693.

Page 67: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

66 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

2. Lameu E. Parâmetros Laboratoriais. In: Lameu E. Clínica Nutricional. Rio de Janeiro: Revinter, 2005. p. 231-246. 3. Sampaio ARD, Mannarino IC. Medidas Bioquímicas de Avaliação do Estado Nutricional. In: Duarte, A. C. G. Avaliação nutricional: aspectos clínicos e laboratoriais. São Paulo: Atheneu, 2007. p 69-76. 4. Silvia MLT. Doença de Crohn. In: Lameu E. Clínica Nutricional. Rio de Janeiro: Revinter, 2005. p. 725-744. 5. Duarte ACG, Duarte AM. Semiologia Nutricional Inflamatória. In: Duarte AC G. Avaliação nutricional: aspectos clínicos e laboratoriais. São Paulo: Atheneu, 2007. p. 77-99. 6. Kamimura MA, et al. Avaliação Nutricional. In: Cuppari L. Nutrição Clínica no Adulto. 2ª.ed. Barueri: Manole, 2005. p. 87-90. 7. Carlson TH. Dados Laboratoriais na Avaliação Nutricional. In: Mahan LK, Escott-Stump S. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 11ª. ed. São Paulo: Roca, 2005. p.419-436.

Page 68: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 67

QUESTÃO 32

Com relação às características que a dieta mencionada no texto deve apresentar

para se adequar ao estado do referido paciente, julgue os itens que se seguem.

I Na ocorrência de esteatorréia, a dieta deverá conter alimentos-fonte de ácidos graxos de cadeia média, que têm absorção facilitada, mesmo na deficiência de lípase pancreática.

II A dieta deve ser isenta de lactose, para prevenir quadro de diarréia osmótica propiciado pela situação de má absorção e pelo achatamento das vilosidades.

III A dieta de consistência líquida é inadequada, devido ao seu baixo teor de fibras solúveis e densidade energética insuficiente para satisfazer as necessidades do paciente.

IV A suplementação de glutamina é indicada para esse paciente, por ser fonte energética preferencial dos enterócitos e imunomodulador, o que auxilia na recuperação da mucosa intestinal.

Estão certos apenas os itens

(A) I e II. (B) II e III. (C) III e IV. (D) I, II e IV. (E) I, III e IV. Gabarito: D Autoras: Raquel Dias e Sônia Alscher

Comentário: I – Esta afirmação foi considerada correta, embora o termo “conter alimentos-

-fonte de ácidos graxos de cadeia média” não seja adequado. Esses lipídeos são

dificilmente encontrados nos alimentos, sendo utilizados em nutrição clínica como

módulo industrializado em terapia nutricional (TCM). Nos casos de provável má

absorção de gordura, a suplementação de alimentos preparados com a adição de

TCM pode ser valiosa para adição de calorias e servir como veículo para nutrientes

lipossolúveis.1

Page 69: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

68 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

II – Uma dieta de resíduo mínimo, que limite açúcares (lactose e sacarose),

cafeína e fibra em excesso pouco absorvidos ou hiperosmolares poderia ser usada,

inicialmente para reduzir a diarreia, podendo ser utilizadas em pacientes com DII.1

III – Esta afirmação está incorreta. A dieta líquida completa, se

apropriadamente planejada, pode ser adequada para as necessidades de

manutenção, exceto pelas fibras. Está apropriada para o caso; se for adaptada em

nível calórico e sem lactose, pode ser útil por ser constipante.2 IV – Embora Beyer1 cite a glutamina, juntamente com os ácidos graxos

ômega-3, os pró e pré-bióticos como estratégias de suplementação para esses

pacientes, outros autores relatam que, em relação à glutamina, os estudos são

inconclusivos. O respondente que utilizasse outras fontes bibliográficas poderia

requerer revisão da questão com tal argumento. Segundo Flora e Dichi3, há relatos

de piora da atividade da doença e de aumento da permeabilidade intestinal em

pacientes com doença de Crohn em uso de glutamina, não sendo indicada nessa

patologia. Lochs4 também refere que “nenhum benefício foi observado com a adição

de glutamina” na Doença de Crohn. Portanto, a suplementação com glutamina é

uma questão controversa e em pleno estudo, que não deveria constar de maneira

indicativa como nesta afirmativa.

Referências 1. Beyer P. Terapia Nutricional para Distúrbios do Trato Intestinal Inferior. 693 In: Mahan LK, Escott-Stump S. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 11ª ed. São Paulo: Roca; 2005. p. 672-703. 2. Brylynsky CM. Processo do Cuidado Nutricional. In: Mahan LK, Escott-STUMPtump S. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 11ª. ed. São Paulo: Roca; 2005. p.475-496. 3. Flora APL, Dichi, I. Aspectos atuais na terapia nutricional da doença inflamatória intestinal. Rev Bras Nutr Clin 2006; 21(2):131-137. 4. Lochs H. Terapia Nutricional em Doença Inflamatória Intestinal. In: Sobotka L. Bases da Nutrição Clínica. 3ª. ed. Rio de Janeiro: Rubio; 2008. p.285-290.

Page 70: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 69

QUESTÃO 33

Em uma unidade básica de saúde (UBS), foi realizado um levantamento com o

objetivo de fornecer informações para a elaboração de um projeto de educação

alimentar e nutricional para meninas adolescentes. O diagnóstico com as

adolescentes mostrou a seguinte situação: 80% relatam já ter feito pelo menos em

uma ocasião dieta para redução de peso; 50% delas não ingerem leite ou derivados,

apesar de o considerarem um alimento bastante nutritivo; quanto ao desjejum, 40%

delas não tomavam café da manhã. Considerando o resultado desse diagnóstico, é

correto afirmar que

(A) as adolescentes têm boa percepção quanto ao seu peso corporal, refletindo em sucessivas experiências de dieta.

(B) a condição socioeconômica da clientela avaliada sugere a adoção da teoria tecnicista de educação nutricional, como modelo de projeto a ser adotado na referida UBS.

(C) o comportamento alimentar identificado é característico de adolescentes, os quais são resistentes a mudanças, o que sugere o emprego de estratégia de negociação nas ações educativas.

(D) o projeto a ser elaborado na referida UBS é uma iniciativa experimental na área de educação e foge do modelo de assistência previsto no Sistema Único de Saúde.

(E) o diagnóstico identifica que as adolescentes se encontram no estágio de ação, segundo o modelo transteórico de mudança de comportamento.

Gabarito: C

Autora: Vanuska Lima da Silva

Comentário: A. O corpo perfeito vem sendo preconizado pela nossa sociedade e veiculado

pela mídia, fato que leva as mulheres, sobretudo, adolescentes, a uma insatisfação

constante, fazendo com que sejam adotadas dietas restritivas.1

B. A teoria tecnicista está baseada na organização racional dos meios,

inspirada no aprender a fazer. Para ela a essência das coisas é alcançada pela

razão técnico-científica. Assim, o que vale é a decisão técnica dos que detêm o

conhecimento.

Page 71: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

70 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

C. O consumo alimentar adotado por adolescentes é influenciado pelo estilo

de vida, bem como pelo convívio familiar, amigos, mídia e pressão social, e este

frequentemente não proporciona meios para o suprimento adequado das

necessidades nutricionais. Uma das maiores barreiras para a prática de mudanças

na dieta do adolescente é a crença de que não há necessidade de alteração dos

hábitos alimentares, decorrente, na maioria das vezes, de uma interpretação errada

do próprio consumo ou até mesmo da falta de programas de educação nutricional

direcionados à população adolescente.2

D. O modelo assistencial do SUS na atenção básica, entre outras coisas,

combina o uso de técnicas e tecnologias para resolver problemas e atender

necessidades de saúde individuais e coletivas.3 Nesse contexto, propõe uma nova

dinâmica para a estruturação dos serviços de saúde, promovendo uma relação dos

profissionais mais próximos do seu objeto de trabalho, ou seja, mais próximos das

pessoas, famílias e comunidades, assumindo compromisso de prestar assistência

integral e resolutiva a toda população, a qual tem seu acesso garantido através de

uma equipe multiprofissional e interdisciplinar que presta assistência de acordo com

as reais necessidades dessa população, identificando os fatores de risco aos quais

ela está exposta e neles intervindo de forma apropriada, visando a qualidade de vida

da comunidade.4

E. O modelo transteórico, também conhecido como modelo de estágios de

mudança de comportamento, descreve o processo no qual os indivíduos avançam,

através de uma série de fases discretas ou estágios de mudança. As alterações no

comportamento relacionado à saúde ocorrem por meio de cinco estágios distintos:

pré–contemplação, contemplação, decisão, ação e manutenção. Cada estágio

representa a dimensão temporal da mudança do comportamento.2,5,6

Referências 1. Andrade A, Bosi MLM. Mídia e subjetividade: impacto no comportamento alimentar feminino. Rev. Nutr. 2003; 16(1): 117-125. 2. Toral N, Slater B, Cintra IP, Fisberg M. Comportamento alimentar de adolescentes em relação ao consumo de frutas e verduras. Rev. Nutr. 2006; 19(3): 331-340. 3. Paim JS. Vigilância a Saúde: dos modelos assistenciais para a promoção da saúde. In: Czeresnia D, Freitas CM, (orgs). Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p.161-171.

Page 72: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 71

4. Rosa W, Labate R. Programa de Saúde da Família. Rev Latino-americana de Enfermagem 2005; 13(6): 1.027-1.034. 5. Assis MAA, Nahas MV. Aspectos motivacionais em programas de mudança de comportamento alimentar. Rev. Nutr. 1999 Apr; 12(1): 33-41. 6. Toral N, Slater B. Abordagem do modelo transteórico no comportamento alimentar. Ciênc. saúde coletiva. 2007 Dec; 12(6): 1.641-1.650.

Page 73: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

72 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

QUESTÃO 34

1.º depoimento:

“Quanto mais falam pra eu emagrecer, daí eu como mais. Meu pai falava tem que

emagrecer. Aquilo dava um desespero, eu comia mais.”

2.º depoimento:

“Às vezes uma conversa é melhor que algo escrito no papel. Se a gente tá pensando

no assunto, pode mudar.”

3.º depoimento:

“Dizem pra eu não ficar nervoso por ser gordo, que Deus me fez assim.”

Érika M. Rodrigues e Maria Cristina F. Boog. In: Cad. Saúde Pública, maio/2006, p. 923-31 (com adaptações).

As falas apresentadas acima foram obtidas em um estudo de educação nutricional

realizado com adolescentes obesos e em que foi adotado o método da

problematização. Nessa pesquisa, a fala dos adolescentes emergiu trazendo

temáticas que nem sempre estão contempladas em intervenções educativas

nutricionais. Nesse contexto, assinale a opção que apresenta associação correta

entre depoimento e temática.

(A) 1.º – estigma social; 2.º – religiosidade; 3.º – práticas alimentares (B) 1.º – contexto familiar; 2.º – práticas alimentares; 3.º – religiosidade (C) 1.º – práticas alimentares; 2.º – profissionais de saúde; 3.º – contexto familiar (D) 1.º – contexto familiar; 2.º – profissionais de saúde; 3.º – religiosidade (E) 1.º – religiosidade; 2.º – contexto familiar; 3.º – estigma social Gabarito: D Autora: Vanuska Lima da Silva

Page 74: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 73

Comentário: A sociedade limita e delimita a capacidade de ação de um sujeito

estigmatizado. O estigma social anula a individualidade e determina o modelo que

interessa para manter o padrão de poder, anulando todos os que rompem ou tentam

romper com esse modelo.1

A religiosidade é definida como adesão a crenças e a práticas relativas a uma

igreja ou instituição religiosa organizada. É vista como parte de um processo de

solução de problemas.2

A educação nutricional pode promover o desenvolvimento da capacidade de

compreender práticas e comportamentos, e os conhecimentos ou as aptidões

resultantes desse processo contribuem para a integração do adolescente com o

meio social, proporcionando ao indivíduo condições para que possa tomar decisões

para resolução de problemas mediante fatos percebidos.3

A dinâmica familiar assume papel considerável na mudança de práticas

alimentares para controle ou tratamento da obesidade, porém, muitas vezes, a

família atribui todo o dever de mudança de hábito alimentar aos filhos, negando

assim sua parcela de responsabilidade.3

O mundo das famílias é bastante complexo, e seu processo de viver é único,

singular, contudo, também partilhado com outras famílias e grupos. A família volta-

-se, no seu interior, a atender às necessidades particulares de cada um de seus

membros e para solidificar-se como um conjunto. A família, enquanto sujeito de

atenção em saúde, possui certas características que se constituem em um desafio,

pois se apresenta como uma rede de poder e de decisão sobre seus atos.4

A saúde se faz com pessoas e entre pessoas, com a mediação das

tecnologias geradas pela ciência e pelo conhecimento popular. Trata-se, antes de

tudo, de uma relação humana, entre sujeitos, com suas potencialidades, limites e

saberes. As partes envolvidas, profissionais e usuários, têm poderes e saberes

próprios e devem utilizar diferentes recursos, sendo necessária uma boa

comunicação, diálogo, respeito pelo outro, aceitação das diferenças, de modo a ir

conformando uma relação de confiança mútua.5

Referências 1. Melo ZM. Os estigmas: a deterioração da identidade social. Disponível em: http://www.sociedadeinclusiva.pucminas.br/anaispdf/estigmas.pdf. Acesso em: 21/9/2009.

Page 75: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

74 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

2. Faria JB, Seidl EMF. Religiosidade e enfrentamento em contextos de saúde e doença: revisão da literatura. Psicol. Reflex. Crit. 2005; 18(3): 381-389. 3. Rodrigues EM, Boog MCF. Problematização como estratégia de educação nutricional com adolescentes obesos. Cad. Saúde Pública. 2006; 22(5): 923-931. 4. Cecagno S, Souza MD, Jardim VMR. Compreendendo o contexto familiar no processo saúde-doença. Acta Scientiarum. Health Sciences. 2004; 26(1): 107-112. 5. Inojosa R. Acolhimento: a qualificação do encontro entre profissionais de saúde e usuários. X Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública; 2005, 18 - 21 out., Santiago, Chile: 2005.

Page 76: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 75

QUESTÃO 35

A figura abaixo indica a evolução do perfil antropométrico-nutricional da população

adulta brasileira, comparando-se estimativas da Pesquisa de Orçamentos Familiares

(POF) de 2002-2003 com a Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN) de 1989

e o Estudo Nacional de Despesa Familiar (ENDEF) de 1974-1975.

Com relação aos dados apresentados na figura e às possíveis inferências a partir

deles, assinale a opção correta.

(A) Observa-se que, nos anos avaliados na pesquisa, tanto para homens quanto para mulheres, houve aumento no excesso de peso, como conseqüência, provavelmente, da implantação de programas sociais de transferência de renda.

(B) De acordo com as pesquisas, entre os anos avaliados, houve declínio dos déficits ponderais, tanto para homens quanto para mulheres.

(C) Independentemente de os homens apresentarem mais fatores obesogênicos, no período avaliado, as mulheres apresentaram maior crescimento relativo, tanto do excesso de peso quanto da obesidade.

(D) O aumento do excesso de peso e da obesidade observado entre as mulheres é distinto nos dois períodos demarcados pelas três pesquisas, sendo maior entre as décadas de 70 e 80 em virtude das maiores reduções de deficit de peso nesse mesmo período.

(E) A comparação entre os dados obtidos nos três estudos fica comprometida pelo fato de apenas o ENDEF e a PNSN serem estudos de representatividade nacional.

Page 77: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

76 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

Gabarito: B Autora: Denise Zaffari

Comentário: Os dados do gráfico apresentam o resultado de estudos brasileiros de base

populacional, com enfoque nos problemas nutricionais. Esses estudos foram muito

importantes uma vez que, além de possibilitarem avaliar a magnitude dos agravos

nutricionais mais relevantes e alguns de seus determinantes, permitiram estudar a

tendência dos problemas nutricionais.

O Estudo Nacional de Despesa Familiar (ENDEF) realizou-se ao longo de 12

meses entre os anos de 1974-1975 e compreendeu 55 mil domicílios. Nesse

inquérito, além da avaliação do estado nutricional foi também priorizada a

caracterização do consumo alimentar e da despesa familiar. A Pesquisa Nacional

sobre Saúde e Nutrição (PNSN) realizada em 1989 caracterizou-se como um estudo

do tipo transversal, de base domiciliar, com uma amostra do tipo estratificada e

probabilística de aproximadamente 63 milhões de brasileiros, abrangendo 14.445

domicílios. O estudo teve como objetivo central a avaliação do estado nutricional da

população e, ainda, consolidou informações sobre condições de saúde, domicílio,

renda, ocupação e participação nos programas governamentais de alimentação e

nutrição. A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), 2002-2003, teve por objetivo

fornecer informações sobre a composição dos orçamentos domésticos, a partir da

investigação dos hábitos de consumo, da alocação de gastos e da distribuição dos

rendimentos, segundo as características dos domicílios e das pessoas. A POF

investigou também a autopercepção das condições de vida da população

brasileira.1,2,3

Importante salientar que, esses estudos, quando bem analisados, se

constituem na base de grande parte da discussão sobre transição nutricional feita no

Brasil até os dias de hoje. Entende-se por transição nutricional, o fenômeno no qual

ocorre uma inversão nos padrões de distribuição dos problemas nutricionais de uma

dada população no tempo, ou seja, uma mudança na magnitude e no risco atribuível

de agravos associados ao padrão de determinação de doenças atribuídas ao atraso

e à modernidade, sendo em geral, uma passagem da desnutrição para a

obesidade.4

Page 78: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 77

A ocorrência da obesidade e do sobrepeso vem aumentando no mundo inteiro

e também no Brasil. A análise comparativa entre esses três estudos populacionais

apresentados evidenciam a tendência de elevação do sobrepeso e da obesidade na

população e o declínio do déficit ponderal na população adulta brasileira.

Referências 1. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Rio de Janeiro. Pesquisa de Orçamentos Familiares. Brasil. Disponível em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pof/2003medidas/pof2003medidas.pdf. Acesso em 1º/9/2009. 2. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Rio de Janeiro. Estudo Nacional de Despesa Familiar. Brasil. Disponível em http://dtr2004.saude.gov.br/nutricao/documentos/EstudoNacionalDespesaFamiliar. pdf. Acesso em 1º/9/2009. 3. Filho MB, Rissin A. A transição nutricional no Brasil: tendências regionais e temporais. Cad Saúde Pública 2003;19 (Suppl 1):S181-S191. 4. Gustavo GK, Meléndez V. A transição nutricional e a epidemiologia da obesidade na América Latina. Cad. Saúde Pública 2003;19 (Suppl 1):S4-S5.

Page 79: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

78 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

QUESTÃO 36

Avalie as asserções a seguir.

A análise microbiológica de alimentos realizada em UANs tem, isoladamente,

eficácia limitada para a garantia da qualidade do alimento

porque a segurança dos alimentos é garantida principalmente pelo controle de sua origem e

de seu processo e pela aplicação de boas práticas de higiene durante a produção, o

processamento, a manipulação, a distribuição, o armazenamento, a

comercialização, a preparação e o uso, em combinação com a aplicação do sistema

de análise de perigos e pontos críticos de controle (APPCC).

A respeito dessas assertivas, assinale a opção correta.

(A) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira.

(B) As duas asserções são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa correta da primeira.

(C) Tanto a primeira quanto a segunda asserções são proposições falsas. (D) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda é uma

proposição falsa. (E) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda é uma proposição

verdadeira. Gabarito: A Autora: Luísa Castro

Comentário: A opção correta é a letra “A”, pois a análise microbiológica tem realmente

eficácia limitada, já que depende de todas as ações descritas na segunda asserção.

É necessário saber e controlar a origem desse alimento, quem é o fornecedor e

como ele garante a segurança microbiológica do produto, desde sua aquisição até a

entrega às Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN). A partir daí, precisa-se

Page 80: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 79

controlar todo o processo de produção dessas refeições, obedecendo e aplicando as

Boas Práticas de Fabricação (BPF), conforme são descritas pela Agência Nacional

de Vigilância Sanitária (ANVISA) do Ministério da Saúde.1 Ao mesmo tempo, é

possível utilizar outros sistemas de qualidade, a fim de garantir toda a eficácia do

processo. Através da elaboração de fluxogramas, que descrevem passo a passo as

etapas de uma rotina, pode-se implantar o APPCC (Análise de Perigos e Pontos

Críticos de Controle). Essa análise consiste em minimizar ou reduzir os erros

durante cada fase do procedimento, através da identificação dos pontos críticos e

aplicação de ações corretivas.2

A letra “B” não está correta, já que a segunda asserção é uma justificativa

correta da primeira.

A letra “C” não está correta, pois as asserções são verdadeiras.

A letra “D” não está correta, pois a segunda asserção está correta.

A letra “E” não está correta, já que a primeira asserção está correta.

Referências 1. BRASIL. Ministério da Saúde. ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004. Dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação. 2. Silva Junior EA. Manual de controle higiênico-sanitário em alimentos. 5ª ed. São Paulo: Varela, 2002.

Page 81: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

80 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

QUESTÃO 37 – DISCURSIVA

Refletir sobre o idoso é pensar acerca do preconceito em relação às pessoas da

terceira idade. Temos de analisar o sentimento que alimentamos pelos mais velhos,

de forma determinada e corajosa, sem tapar o Sol com a peneira. Trata-se de tarefa

importante.

Existe um adesivo de carro que quem ainda não viu deveria ter visto. Ele tem uma

frase forte, irônica e de uma inteligência a toda prova. Diz o seguinte: “Velho é o seu

preconceito”. E não é verdade? Existe coisa mais fora de propósito, mais cheirando

a mofo do que isso? Internet: <www.ibge.gov.br/ibgeteen> (com adaptações).

O envelhecimento da população brasileira é fenômeno observado há algumas

décadas. Esse cenário traz novas e desafiadoras demandas, entre elas as

relacionadas à alimentação e à nutrição. Acerca do tema abordado no texto acima,

responda as seguintes perguntas.

a) Considerando-se a composição corporal do idoso, por que o nutricionista deve

sugerir ao idoso ingestão adequada de água? Justifique sua resposta.

(valor = 6,0 pontos) b) Que medidas dietéticas você, na condição de nutricionista, sugeriria para

elevar o consumo de água de um idoso?

(valor = 4,0 pontos) Padrão de resposta: Item a)

Espera-se que o estudante mencione que, com o envelhecimento, há uma

mudança na composição corporal, com diminuição da massa magra.

São possibilidades válidas de resposta:

• a reposição da água (ou o estado de hidratação regular) manterá a

homeostase do organismo do idoso, mais vulnerável à desidratação;

• há diminuição da proporção de água corporal;

• há diminuição do conteúdo de água corporal;

• há desidratação;

Page 82: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 81

• o consumo de água adequado não interfere na composição corporal do

idoso.

Critérios de pontuação considerados:

0 = Resposta errada / sem resposta

1 = Se o estudante escreve um texto correto no que se refere ao atendimento

ao idoso, mas não aborda os pontos-chaves esperados na resposta à questão

(desidratação e modificação da composição corporal).

2 = Se o estudante cita um ponto-chave: desidratação (ou desequilíbrio

hídrico, maior necessidade de água devida à perda, necessidade de hidratação

adequada) ou modificação da composição corporal (considerar também redução na

proporção de água corporal);

3 = Se o estudante cita os pontos-chaves esperados, conforme explicitado na

resposta padrão.

Item b) Espera-se que o estudante mencione alimentos/preparações que possuam

alto teor de água, além do consumo diário de água, e que identifique, pelo menos,

dois alimentos/preparações, como leite, refrescos, sucos, chá, sopas, frutas.

Critérios de pontuação considerados:

0 = Resposta errada /sem resposta

1 = Se o estudante apresenta noções corretas, porém sem especificação de

medidas dietéticas.

2 = Se o estudante apresenta noções corretas, porém cita apenas uma

medida dietética.

3 = Se o estudante apresenta resposta adequada, conforme padrão.

Autora: Raquel Milani El Kik

Comentário item a: O envelhecimento cursa com redução da massa magra corporal, que

decresce 1-2% anualmente, a partir dos 30 anos, pela diminuição do volume

muscular esquelético. Ao contrário, o tecido adiposo aumenta de 0,5-1,5%,

anualmente, a partir deste período.1

Page 83: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

82 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

A água representa aproximadamente 60% do peso corporal dos adultos

jovens e varia de acordo com a quantidade de gordura corporal. Conforme o

percentual de gordura aumenta, a quantidade de água corporal diminui.2 No idoso, a

água é responsável por aproximadamente 50% do peso corporal. A redução está

relacionada à alteração na composição corporal que cursa com o consequente

decréscimo na massa corporal magra.3

Em idosos a regulação hídrica torna-se menos eficiente e ocorre uma

diminuição da resposta à sede o que ocasiona risco aumentado de desidratação.2,3

Comentário item b: Os idosos devem ser estimulados quanto à ingestão de líquidos, mesmo sem

sentir sede, para evitar a hipertermia e a desidratação.1

O nutricionista deve desenvolver estratégias individualizadas junto ao idoso,

que permitam lembrá-lo de ingerir água periodicamente ao longo do dia. Por

exemplo, pode-se sugerir que seja ingerido um copo de água sempre pela manhã ao

levantar-se. Também, quando for ingerir algum medicamento, que aproveite para

tomar um copo inteiro de água. Outra alternativa inclui ter sempre por perto uma

garrafa de água de 500ml estabelecendo a meta de consumi-la até o final de cada

turno, totalizando 1.500ml de água por dia. É importante cuidar para não ingerir

muito líquido antes de deitar-se à noite para não prejudicar o sono. Além da água,

outros fluidos podem ser ingeridos para auxiliar na hidratação como sucos naturais,

chás e chimarrão, porém a orientação deve ser individualizada, pois contêm

nutrientes e substâncias que podem ser restritas em algumas situações.

Referências 1. Pereira CA. Avaliação Nutricional na Terceira Idade In: Magnoni D, Cukier C, Oliveira PA. Nutrição na Terceira Idade. 1ª ed. São Paulo: Sarvier, 2005. p. 20-36. 2. Thomas DR, Morley JE. Water Metabolism. In: Thomas DR, Morley JE. Geriatric Nutrition. 1ª ed. New York: CRC Press, 2007. p. 131-136. 3. Harris NG. Nutrição no Envelhecimento. In: Mahan LK, Escott-Stump S. Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 11ª ed. São Paulo: ROCA, 2005. p. 304-323.

Page 84: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 83

QUESTÃO 38 – DISCURSIVA

Uma fábrica de peças eletrônicas possui uma UAN que serve diariamente almoço

com cardápio de padrão médio para os seus 100 empregados. O serviço de

alimentação é de gestão própria, cujo responsável é também o chefe de cozinha,

com larga experiência em restaurante comercial. Entretanto, em recente auditoria,

verificou-se que a UAN apresentava custo elevado.

Para sanar essa situação, contratou-se nutricionista para, entre outras tarefas,

elaborar a lista de compras de gêneros alimentícios necessários ao funcionamento

dessa UAN. Na elaboração dessa lista, vários fatores devem ser considerados, tais

como o consumo per capita de cada alimento pronto (PC), o peso líquido (PL) e o

peso bruto (PB) dos alimentos, o fator de correção (FC) e o fator de conversão ou

índice de cocção (IC), para o cálculo da quantidade de cada gênero alimentício a ser

adquirido, visando a uma melhor relação entre custo e benefício.

A partir dessas informações e na condição de nutricionista contratado para trabalhar

na referida UAN, faça o que se pede a seguir.

a) A partir de PC, PL e PB, defina FC e IC e explique a importância e a utilidade

desses fatores no planejamento do cardápio de uma UAN.

(valor = 6,0 pontos) b) Considere que a referida UAN, da qual você é nutricionista, sirva, uma vez por

semana, a preparação de bife de alcatra na chapa, com FC = 1,1, IC = 0,7 e

PC = 100 g. Nesse caso, determine, em quilogramas, a quantidade de alcatra

a ser adquirida para quatro semanas de funcionamento da UAN. Apresente,

necessariamente, o passo a passo para a determinação da quantidade

solicitada e apresente o seu resultado na forma de inteiro, arredondando para

cima o valor encontrado.

(valor = 4,0 pontos)

Page 85: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

84 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

Padrão de resposta:

Item a)

Espera-se que o estudante conceitue ou apresente as fórmulas que definem

FC (PB/PL) e IC (PC/PL). Quanto à importância e utilidade de FC e IC, espera-se

que o estudante mencione que FC evita desperdício ou compra insuficiente,

principalmente de produtos que possuem aparas, além dos que possuem diferença

de peso líquido e peso preparado, o que influencia no rendimento das preparações

(IC).

São possibilidades válidas de respostas:

• FC = corrige a variação de peso no alimento que ocorre na fase de pré-

preparo;

• IC = corrige a variação de peso que ocorre na fase de preparo;

• opção de fórmula IC = PL/PC.

Item b)

Espera-se que o aluno seja capaz de aplicar a fórmula apresentada no item

anterior, mostrando os passos do cálculo que levará a um resultado de 63 kg.

Cálculo referente à quantidade de alcatra a ser adquirida PL = 100g/IC, assim PL = 100/0,7, portanto PL = 142g

PB = PL × FC, assim PB = 142 × 1,1, portanto PB = 157g

Quantidade de alcatra a ser adquirida por mês = 157g × 4 vezes(semana) × 100 comensais

= 62,8 kg

≅ 63kg

Será considerado correto o cálculo que utilize a fórmula IC = PL/PC,

desde que o raciocínio esteja correto;

Será considerado correto o cálculo que estime acréscimo de 10% (63 kg =

6,3 kg = 69,3 kg). Critérios de pontuação considerados:

Item a: subitens 1 e 2

0 = Resposta errada / sem resposta

1 = Se o estudante descreve parcialmente a definição de FC ou de IC.

2 = Se o estudante utiliza os termos-chave (PB, PL, PC) para descrever FC e

IC, porém a conceituação é incompleta ou a fórmula apresentada está errada.

Page 86: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 85

3 = Se o estudante conceitua corretamente FC ou IC ou apresenta a fórmula

correta.

Item a: subitem 3

0 = Resposta errada/ sem resposta

1 = Se o estudante explica genericamente a importância dos fatores (FC e IC)

para o planejamento da UAN.

2 = Se o estudante menciona um dos termos-chave (“evitar a falta ou o

excesso”, "desperdício").

3 = Se o estudante menciona os termos-chave (“evitar a falta e o excesso”,

"desperdício").

Item b:

0 = Resposta errada /sem resposta

1 = Se o estudante aplica parte da fórmula, seguindo um raciocínio correto.

2 = Se o estudante aplica corretamente a fórmula, mas comete erro no cálculo

matemático.

3 = Se o estudante apresenta resposta adequada, conforme padrão.

Autora: Luísa Castro

Comentário item a: Fator de correção (FC) é um dos índices para acompanhamento do

desperdício de alimentos, também conhecido como indicador de parte comestível ou

fator de perda. Para calcular esse índice, deve-se saber o Peso Bruto (PB) e o Peso

Líquido (PL) do alimento. O PB do alimento é o peso total (integral) desse, conforme

é adquirido: com cascas, ossos, aparas, talos, etc. Já o PL, é a quantidade desse

alimento depois de limpo. Sendo assim, para descobrir o FC divide-se o peso bruto

pelo peso líquido (PB/PL).

Índice de Cocção (IC) ou indicador de conversão é definido como a relação

entre a quantidade de alimento cozido (pronto) e a quantidade de alimento cru, já

higienizado (PL total), usado na preparação. Esse índice define o rendimento do

alimento, podendo ser chamado de fator de rendimento.1 É muito importante utilizar esses valores no planejamento, pois auxiliarão na

elaboração das quantidades a serem adquiridas, junto ao fornecedor. Por exemplo,

Page 87: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

86 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

para servir 100g per capita (PC) de carne limpa, é necessário saber o quanto pode

ser retirado durante a limpeza dessa carne, na retirada das aparas. Assim como o

fator de cocção, que indica o rendimento dessa preparação. No caso das carnes,

esse índice demonstrará a perda através da retração das fibras e da perda de água.

Em outros grupos de alimentos, como alguns tipos de vegetais e cereais, pode-se

observar um rendimento positivo, ao ganharem volume e quantidade maior no peso

final da preparação.

Comentário item b: Para calcular a quantidade a ser adquirida (4 etapas):

1. Primeiramente, calcula-se o valor total a ser adquirido, para todos os

comensais da unidade = total para 100 pessoas;

2. Em seguida, aplica-se o Índice de Cocção (IC) nesse valor total, para

descobrir o peso líquido necessário a ser servido. O IC ou fator de cocção é definido

como a relação entre a quantidade de alimento cozido e a quantidade de alimento

cru higienizado, usado na preparação; define também o rendimento das

preparações1;

3. Após o cálculo do IC, aplica-se também o Fator de Correção (FC), a fim de

identificar o valor bruto do alimento a ser adquirido, junto ao fornecedor. O FC é fator

de perda, um índice para acompanhamento de desperdício de alimentos. É uma

margem de segurança; serve para identificar a quantidade eliminada do alimento no

momento de retirada de cascas, ossos, aparas e talos.1,2

4. Ao final do cálculo, multiplica-se por 4, para determinar a quantidade que

deverá ser utilizada nas semanas exigidas no problema. Como essa quantidade final

não é um número inteiro, arredonda-se para cima esse valor.

Descrição do cálculo:

1) 100g (PC) x 100 pessoas = 10 kg

2) 10 kg/0,7 (IC) = 14,28 kg

3) 14,28 kg x 1,1 (FC) = 15,71 kg

4) 15,71kg x 4 semanas = 62,83kg = 63kg

A quantidade total solicitada será de 63kg, para as 4 semanas.

Page 88: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 87

Referências 1. Montebello NP, Araújo WMC, Botelho RBA. Alquimia dos alimentos. Brasília (DF): SENAC/SP, 2008. 2. Ornellas LH. Técnica dietética: seleção e preparo de alimentos. 8ª ed. rev. ampl. São Paulo: Atheneu, 2007.

Page 89: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

88 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

QUESTÃO 39 – DISCURSIVA

Um homem de 50 anos de idade e portador de megaesôfago chagásico encontra-se

internado em um hospital público de sua cidade. Na admissão, referiu ao médico

dificuldade para engolir alimentos sólidos, pastosos e líquidos, o que caracterizou

um quadro de disfagia grave. De acordo com o risco avaliado, a equipe

multiprofissional decidiu por cirurgia e pela terapia nutricional por sonda

nasogástrica, durante o período que precedesse a cirurgia no esôfago do paciente.

Com relação ao caso hipotético descrito acima, responda as perguntas

apresentadas a seguir.

a) Quais as vantagens da adoção da terapia nutricional enteral em relação à

terapia nutricional parenteral no que se refere a segurança e custo?

(valor = 4,0 pontos) b) Com relação à formulação da sonda nasogástrica, você optaria por uma

formulação polimérica, oligomérica ou monomérica? Justifique sua resposta.

(valor = 6,0 pontos) Padrão de resposta:

Item a) A terapia nutricional enteral é eficaz para suprir as necessidades nutricionais

do paciente: melhora o seu estado nutricional, com menor custo e menor

probabilidade de complicações e/ou riscos, além de manter o funcionamento do trato

gastrointestinal / gastrintestinal / digestório ou digestivo.

Item b) Opção pela formulação polimérica, pois não foi mencionada nenhuma doença

que comprometesse a capacidade digestiva ou absortiva do paciente. O problema é

dificuldade de deglutição, ou disfagia.

Critérios de pontuação considerados:

Item a: 0 = Resposta errada / sem resposta

Page 90: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 89

1 = Se o estudante menciona que a nutrição enteral tem menor custo, mas

não relaciona a vantagem em relação à segurança desse tipo de terapia; ou

2 = Se o estudante não menciona o menor custo da dieta enteral em relação à

parenteral, mas informa, com um texto elaborado, que esse tipo de terapia oferece

maior segurança;

não

menciona nada acerca do custo e trata da segurança da dieta enteral em relação à

parenteral, mas com argumentação incompleta.

ou

3 = Se o estudante apresenta uma resposta elaborada, incluindo os pontos-

chave esperados, conforme a resposta padrão.

menciona o custo menor da dieta enteral, mas, quando trata da

segurança da dieta enteral, justifica-a de forma incompleta.

Item b:

0 = Resposta errada /sem resposta

1 = Se o estudante responde que a opção é pela dieta polimérica, mas não

apresenta nenhuma justificativa ou apresenta uma justificativa incorreta.

2 = Se o estudante responde que a opção é pela dieta polimérica, mas

apresenta justificativa parcialmente correta.

3 = Se o estudante apresenta resposta completa, conforme padrão.

Autora: Raquel Milani El Kik

Comentário item a: A oferta de nutrientes pela via gastrintestinal na terapia nutricional enteral é

mais fisiológica, mantém a microflora intestinal normal e reforça a barreira mucosa

intestinal, promovendo redução das complicações infecciosas, quando comparada à

terapia nutricional parenteral. Também está associada a uma incidência

significativamente menor de complicações infecciosas em pacientes cirúrgicos,

sendo considerada mais segura.

Os custos globais integrados são menores quando se compara a terapia

nutricional enteral à parenteral.1

Comentário item b:

As dietas enterais poliméricas são aquelas em que os macronutrientes, em

especial a proteína, apresentam-se na sua forma intacta como polipeptídio. A via

Page 91: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

90 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

nasogástrica e a integridade do trato gastrintestinal do paciente permitem a

absorção de nutrientes intactos e tem como indicação a utilização da formulação

polimérica.2

Referências 1. Waitzberg DL, Fadul RA, Van Aanholt DP, Popler, RM. Indicações e Técnicas de Ministração em Nutrição Enteral In: Waitzberg DL. Nutrição Oral, Enteral e Parenteral na Prática Clínica. 3ª ed. São Paulo: Atheneu, 2002. p. 561-572. 2. Baxter YC, Waitzberg DL, Rodrigues JJG, Pinotti HW. Critérios de Decisão na Seleção de Dietas Enterais. In: Waitzberg DL. Nutrição Oral, Enteral e Parenteral na Prática Clínica. 3ª ed. São Paulo: Atheneu, 2002. p. 659-676.

Page 92: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 91

QUESTÃO 40 – DISCURSIVA

Estou escrevendo, pra vocês, de Brasília.

Vim participar de um simpósio sobre a epidemia

da obesidade, que ameaça nossa população.

Assim, este texto deixa de ser uma crônica e

passa para a categoria de reportagem (...) Mas

voltando ao tema, vocês poderiam perguntar o

que está fazendo um desenhista de histórias em quadrinhos num encontro de

médicos e cientistas que estudam o aumento do peso, da gordura e das

conseqüentes moléstias cardiovasculares ou diabetes? E eu explico, com satisfação,

que podemos colaborar para a conscientização do problema. E, mesmo, sugerir

alternativas para que se evitem as causas da obesidade.

Como? Utilizando a força, o carisma, a simpatia dos nossos personagens em

mensagens, dirigidas principalmente às crianças, para que dediquem mais do seu

tempo ao exercício físico e para que se afastem de alimentos inadequados.

Naturalmente, temos um personagem ótimo para esse tipo de mensagem: a

comilona Magali, que, a partir da orientação de médicos e especialistas em

alimentação, pode passar a buscar qualidade e não, quantidade, às muitas refeições

que tem ao dia. Mas, se ela não resistir, que venha, também, a quantidade... com

qualidade...

Brasília, 11/10/2001.

O texto acima apresenta uma resposta do desenhista Maurício de Souza à situação

epidemiológica vivenciada pela população brasileira. A leitura desse texto e a sua

transposição para a prática do nutricionista no ambiente escolar permitem que sejam

elaboradas propostas de ações, em consonância com a Portaria Interministerial n.º

1.010/2006, que recomenda estratégias para a promoção da alimentação saudável

nas escolas. Essas propostas devem ter como meta a mudança de atitudes para a

prevenção do quadro apresentado. Nessa perspectiva, identifique duas ações

primordiais para atuação do nutricionista no contexto da criança na escola e

justifique a importância de cada uma dessas ações.

Page 93: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

92 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

Padrão de resposta:

Espera-se que o estudante seja capaz de identificar duas ações e, ao

mencioná-las, apresente possíveis impactos dessas ações na saúde do escolar. Na

avaliação da questão, será considerada a importância da argumentação em relação

à proposta.

Ações definidas pela Portaria Interministerial n.° 1.010, de 2006: I. Definir estratégias, em conjunto com a comunidade escolar, para

favorecer escolhas saudáveis;

II. Sensibilizar e capacitar os profissionais envolvidos com alimentação na

escola para produzir e oferecer alimentos mais saudáveis;

III. Desenvolver estratégias de informação às famílias, enfatizando sua co-

responsabilidade e a importância de sua participação neste processo;

IV. Conhecer, fomentar e criar condições para a adequação dos locais de

produção e fornecimento de refeições às boas práticas para serviços

de alimentação, considerando a importância do uso da água potável

para consumo;

V. Restringir a oferta e a venda de alimentos com alto teor de gordura,

gordura saturada, gordura trans, açúcar livre e sal e desenvolver

opções de alimentos e refeições saudáveis na escola;

VI. Aumentar a oferta e promover o consumo de frutas, legumes e

verduras;

VII. Estimular e auxiliar os serviços de alimentação da escola na divulgação

de opções saudáveis e no desenvolvimento de estratégias que

possibilitem essas escolhas;

VIII. Divulgar a experiência da alimentação saudável para outras escolas,

trocando informações e vivências;

IX. Desenvolver um programa contínuo de promoção de hábitos

alimentares saudáveis, considerando o monitoramento do estado

nutricional das crianças, com ênfase no desenvolvimento de ações de

prevenção e controle dos distúrbios nutricionais e educação nutricional;

Page 94: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 93

X. Incorporar o tema alimentação saudável no projeto político pedagógico

da escola, perpassando todas as áreas de estudo e propiciando

experiências no cotidiano das atividades escolares; e

Promover educação alimentar na escola, incluindo oficinas de culinária.

Critérios de pontuação considerados:

Referentes à ação:

0 = Resposta errada / sem resposta

1 = Se o estudante cita, de forma incompleta, apenas uma ação.

2 = Se o estudante cita uma ação de forma completa ou cita duas ações de

forma incompleta.

3 = Se o estudante cita, de forma completa, duas ações.

Referentes à importância de cada ação:

0 = Resposta errada /sem resposta

1 = Se o estudante cita, de forma incompleta, apenas uma importância.

2 = Se o estudante cita uma importância de forma completa ou cita duas

importâncias de forma incompleta.

3 = Se o estudante cita, de forma completa, duas importâncias e a coerência

destas ações.

Autores: Luciana Oliveira e Luísa Castro

Comentário: Conforme Portaria Interministerial nº 1.010 de 8 de maio de 2006, que institui

as diretrizes para a Promoção da Alimentação Saudável nas Escolas de educação

infantil, fundamental e nível médio das redes públicas e privadas, em âmbito

nacional1:

art. 5º: Para alcançar uma alimentação saudável no ambiente escolar, devem-

se implementar as seguintes ações:

I - definir estratégias, em conjunto com a comunidade escolar, para favorecer

escolhas saudáveis.

Estratégia: construção de uma horta escolar, em conjunto com a comunidade.

Trabalhar diretamente com a educação nutricional na comunidade e dentro da

Page 95: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

94 Ana Maria Pandolfo Feoli et al. (Orgs.)

escola, ressaltando a importância dos alimentos de origem vegetal e in natura, sem

falar no aprimoramento do cardápio, com mais opções de vegetais frescos. Além

disso, fatores como a redução do custo, eliminando o transporte desses alimentos,

podem ser considerados também.

IV - conhecer, fomentar e criar condições para a adequação dos locais de

produção e fornecimento de refeições às boas práticas para serviços de

alimentação, considerando a importância do uso da água potável para consumo.

Estratégia: elaboração de projeto de treinamento com a equipe sobre higiene

na produção de refeições, abordando a higiene dos alimentos, do manipulador, do

ambiente e qualidade da água. Os encontros do treinamento podem ser semanais,

com a supervisão e orientação do profissional nutricionista. Através das Boas

Práticas de Fabricação (BPF)2 pode-se planejar e acompanhar as atividades

relacionadas à produção das refeições, tanto em escolas como em outros

estabelecimentos que comercializam alimentos, para que se possa oferecer

segurança higiênico-sanitária para o usuário.

Referências 1. Brasil. Ministério da Saúde e Ministério da Educação. Portaria Interministerial Nº 1.010 8 de maio de 2006. Disponível em: http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2006/GM/GM-1010.htm. Acesso em 30/9/2009. 2. Brasil. Ministério da Saúde. ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004. Dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação.

Page 96: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Nutrição 95

LISTA DE CONTRIBUINTES

Alessandra Campani Pizzato

Ana Maria Pandolfo Feoli

Denise Zaffari

Luciana Dias de Oliveira

Luísa Castro

Maria Rita Macedo Cuervo

Raquel da Luz Dias

Raquel Milani El Kik

Sônia Alscher

Vanuska Lima da Silva

Page 97: ENADE COMENTADO 2007 - PUCRS