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Encontro Espírita sobre Mediunidade 23 de junho de 2013

Encontro Espírita sobre Mediunidade · O que compreender na Lei de Deus? ... reconhecê-lo pelas suas palavras e pelos seus atos. ... como as páginas de um grande livro da vida,

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Encontro Espírita sobre

Mediunidade

23 de junho de 2013

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20o ENCONTRO ESPÍRITA SOBRE MEDIUNIDADE

Tema Central

“A Casa Espírita, o Médium e a Divulgação Doutrinária”

Tema 1 – Os ícones da divulgação da Lei de Deus: De Jesus a Denis, um caminho de base sólida.

Tema 2 – A natureza espiritual da Divulgação Doutriná-ria na Casa Espírita.

Tema 3 – Autodivulgação Doutrinária: O aproveitamento pessoal na construção do progresso coletivo.

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Informações Gerais:

Data: 23 de junho de 2013

Horário: 8h30min às 13h

8h às 8h30min – Chegada e recepção

8h30min às 9h – Abertura

9h às 10h20min – Estudo

10h20min às 11h30min – Período do lanche de acordo com polo/sala

11h30min às 12h50min – Estudo

13h – Encerramento

CENTROS PARTICIPANTES LOCAL Data da Realização

Centro Espírita Léon Denis Bento Ribeiro 23/jun

Centro Espírita Antonio de Aquino Magalhães Bastos 23/jun

Centro Espírita Irmão Clarêncio Vila da Penha 23/jun

Centro Espírita Maria de Nazaré Nilópolis 23/jun

Núcleo Espírita Antonio de Aquino Bangu 23/jun

Grupo Espírita Fraternidade e Amor Bangu 6/jul

Centro Espírita Léon Denis Cabo Frio 28/jul

União Kardecista Nilópolis 28/jul

Núcleo Espírita Rabi da Galileia Santa Cruz 28/jul

Núcleo Espírita Léon Denis Campo Grande 28/jul

Obra Social Balthazar – Casa da Esperança (à tarde, das 14h às 17h)

Nova Sepetiba 28/jul

Centro Espírita Ignácio Bittencourt Santa Cruz 28/jul

Centro Espírita Bezerra de Menezes Duque de Caxias 28/jul

Centro Espírita Casa do Caminho Taquara 28/jul

Grupo de Estudos Espíritas Maria de Nazaré

Madureira 28/jul

Centro Espírita Ismael Magalhães Bastos 28/jul

Centro Espírita Israel Barcelos Bento Ribeiro 4/ago

Grupo Espírita Allan Kardec Nilópolis 17/ago

Fraternidade Oficina do Amor Nova Iguaçu 25/ago

Centro Espírita Leopoldo Machado Nilópolis 24/nov

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Indica que uma leitura posterior deverá ser feita para aprofundamento da ideia.

Indica uma pausa para reflexão.

Indica que a mensagem está, na íntegra, em Anexos.

Indica que há uma conclusão sobre o Tema em estudo.

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A Casa Espírita, o Médium e a Divulgação

Doutrinária

Objetivos Geral e Específicos:

Objetivo Geral:

• Buscar a conscientização do médium em relação à tarefa da divulgação

doutrinária, reavivando a Lei de Deus, esquecida e desprezada junto à humanidade,

tendo por base o legado deixado por Jesus e seus continuadores.

Objetivos Específicos:

• Perceber a divulgação doutrinária como tarefa mediúnica.

• Identificar a divulgação doutrinária como um elemento integrante e

integrador das tarefas da Casa Espírita.

• Compreender a necessidade de buscar a fidelidade doutrinária, obede-

cendo às diretrizes espirituais superiores e tendo como modelo principal a liderança

de Jesus.

• Refletir sobre a autodivulgação doutrinária como elemento de educação e

progresso do espírito imortal, tanto quanto elemento de sustentação da Casa

Espírita.

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Introdução:

Em todos os tempos e em todos os meios, o lamento humano sobe para esse Espírito divino,

para essa Alma do Mundo que se honra sob nomes diversos, mas que, sob tantas denominações:

Providência, Grande Arquiteto, Ser Supremo, Pai Celeste, é sempre o Centro, a Lei, a Razão

Universal, em que o mundo se conhece, se possui, encontra sua consciência e seu eu.

E é assim que acima desse incessante fluxo e refluxo de elementos passageiros e

mutáveis, acima dessa variedade, dessa diversidade infinita dos seres e das coisas que constituem

o domínio da Natureza e da Vida, o pensamento encontra no Universo esse princípio fixo,

imutável, essa Unidade consciente, em que se unem a essência e a substância, fonte primeira de

todas as consciências e de todas as formas, visto que consciência e forma, essência e substância,

não podem existir uma sem a outra. Elas se unem para constituir essa Unidade Viva, esse Ser

absoluto e necessário, fonte de todos os seres, que nós chamamos Deus. (grifo nosso)

(Léon Denis. O Grande Enigma – Capítulo I)

Mesmo em civilizações antigas, onde o homem buscava a sobrevivência — a

caça, a pesca —, pôde-se perceber a inquietude diante da Obra. Quem seria o Criador? Qual a razão de tamanha beleza? Por que em algum momento a vida material cessa, se finda? Para onde se vai? Como se vai? Que força regula tudo o que está em volta? Buscaram-se muitas explicações — mesmo que de forma não intencional. Paralelo a esse processo, identificamos de forma patente, seja nos fenômenos da natureza, seja na figura dos missionários da Providência Divina, a Sua ação junto à humanidade para dar a todos os homens o conhecimento da Lei. É uma força irresistível. Eis que o Criador jamais abandonou sua criação. De forma estruturada, a Lei se fez presente em todos os tempos. Desta maneira, podemos ver que o homem sente a força de Deus, ou melhor, em dado momento, passa a pensar melhor em qual é o verdadeiro sentido da vida; o que o leva a refletir mais ainda em uma Lei que organiza sua vida moral. Passa a raciocinar nos comprometimentos que podem ocorrer quando se exime do que lhe cabe na obra da criação. O compromisso com a evolução e o progresso, agora, passa a ser uma busca consciente.

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O que é a Lei de Deus?

Como conhecê-la?

Como agiram os homens que tiveram a incumbência de nos revelar a Lei de Deus?

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TEMA 1: Os ícones da divulgação da Lei de Deus: De Jesus a Denis, um caminho de base sólida

Tendo os fariseus tomado conhecimento de que Jesus fizera os saduceus se calarem,

reuniram-se, e um deles, que era doutor da lei, veio fazer-lhe esta pergunta, para tentá-lo: “Mestre, qual é o maior mandamento da lei?”Jesus respondeu:“Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito, é o maior e o primeiro mandamento. E eis o segundo que é semelhante ao primeiro: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas estão encerrados nesses dois mandamentos”.

(Mateus, XXII:34 a 40) Objetivo Geral: � Reconhecer a ideia de Deus como a base sólida para a Divulgação

Doutrinária. Objetivos Específicos:

� Identificar, na trajetória dos ícones (Jesus, Paulo de Tarso, Allan Kardec e Léon Denis), os elementos e valores morais necessários para divulgar a Lei de Deus com fidelidade.

� Identificar o porquê e como divulgar a Lei de Deus, de forma a alcançar o objetivo, ou seja, a busca pelo progresso moral e pela perfeição espiritual.

Pensemos com os Bons Espíritos: eles abrem a porta a esse entendimento, quando respondem a Kardec, em O Livro dos Espíritos:

Q. 1 – Que é Deus? “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.” � O que é a Lei de Deus? Q. 614 – O que se deve entender por lei natural? “A lei natural é a lei de Deus; é a única verdadeira para a felicidade do homem;

indica-lhe o que deve fazer ou não fazer e ele só é infeliz porque dela se afasta.” (grifo nosso)

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� Como conhecer a Lei de Deus?

Q. 619 – A todos os homens facultou Deus os meios de conhecerem sua lei? “Todos podem conhecê-la, mas nem todos a compreendem. Os homens de

bem e os que se decidem a investigá-la são os que melhor a compreendem. Todos, entretanto, a compreenderão um dia, porquanto forçoso é que o progresso se efetue.”

� O que compreender na Lei de Deus?

Q. 617 – As leis divinas, que é o que compreendem no seu âmbito? Concernem a alguma outra coisa, que não somente ao procedimento moral?

“Todas as leis da Natureza são leis divinas, pois que Deus é o autor de tudo. O sábio estuda as leis da matéria, o homem de bem estuda e pratica as da alma.”

a) Dado é ao homem aprofundar umas e outras? “É, mas uma única existência não lhe basta para isso.”

Nota: Efetivamente, o que são alguns anos para adquirir tudo o que constitui o ser perfeito, se apenas se considerar a distância que separa o selvagem do homem civilizado? A existência mais longa possível seria insuficiente e, com mais forte razão o será, quando for abreviada, como acontece a um grande número de homens.

Dentre as leis divinas, umas regulam o movimento e as relações da matéria bruta: são as leis físicas; o estudo delas pertence ao domínio da Ciência.

As outras se referem especialmente ao homem em si mesmo, suas relações com Deus e com seus semelhantes. Elas compreendem as regras da vida do corpo, bem como as da vida da alma: são as leis morais.

� Onde ela se encontra? Q. 621 – Onde está escrita a lei de Deus? “Na consciência.”

a) Visto que o homem traz na sua consciência a lei de Deus, que necessidade havia de lhe ser ela revelada?

“Ele a tinha esquecido e desprezado; Deus quis que ela lhe fosse relembrada.” (grifo nosso)

� O que é preciso procurar? Q. 647 – A lei de Deus se acha contida toda no preceito do amor ao próximo,

ensinado por Jesus?

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“Certamente esse preceito encerra todos os deveres dos homens uns para com os outros. Cumpre, porém, se lhes mostre a aplicação que comporta, do contrário deixarão de cumpri-lo, como o fazem presentemente. Demais, a lei natural abrange todas as circunstâncias da vida e esse preceito compreende só uma parte da lei. Aos homens são necessárias regras precisas; os preceitos gerais e muito vagos deixam grande número de portas abertas à interpretação.”

� Quem poderia nos revelar?

Q. 622 – Deus deu a certos homens a missão de revelar sua lei? “Sim, certamente; em todos os tempos houve homens que receberam essa

missão. São espíritos superiores que encarnam com o objetivo de fazer a Humanidade progredir.”

Q. 624 – Qual o caráter do verdadeiro profeta? “O verdadeiro profeta é um homem de bem, inspirado por Deus. Podeis

reconhecê-lo pelas suas palavras e pelos seus atos. Impossível é que Deus se sirva da boca do mentiroso para ensinar a verdade.” (grifos nossos)

� A presença da Lei Divina junto à humanidade: notícias históricas.

Os homens de gênio, os santos, os profetas, os grandes poetas, sábios, artistas, inventores, todos quantos têm dilatado o domínio da alma, são enviados do Céu, executores dos desígnios de Deus em nosso mundo. Toda a filosofia da História aí se encerra. Haverá espetáculo mais belo que essa ininterrupta cadeia mediúnica que liga os séculos entre si, como as páginas de um grande livro da vida, e integra todos os acontecimentos, mesmo os mais aparentemente contraditórios, no plano harmônico de solene e majestosa unidade? A existência de um homem de gênio é como um capítulo vivo dessa grandiosa Bíblia. (...) (grifo nosso)

Surgem ao começo os grandes iniciados do mundo antigo, os próceres do pensamento, aqueles que viram o espírito fulgurar nos cimos ou se revelar nos santuários da iniciação sagrada: Orfeu, Hermes, Krishna, Pitágoras, Zoroastro, Platão, Moisés; os grandes profetas hebreus: Isaías, Ezequiel, Daniel.

Virão mais tarde João Batista, o Cristo e toda a plêiade apostólica, o vidente de Patmos, até a explosão mediúnica de Pentecostes, que vai iluminar o mundo segundo a palavra de Joel; e ainda Hipatia, a alexandrina, e Veleda, a druidesa.

(Léon Denis. No Invisível, Cap. XXVI)

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Em todos os tempos da Humanidade, em diversos cantos do mundo, existiram — e continua existindo — criaturas que, ao trazerem os ensinamentos morais da vida, não fugiram das ideias e dos ideais superiores no qual se faz o destino dos homens: o caminho da perfeição e, consequentemente, da verdadeira felicidade. A Doutrina Espírita, que recorda os ensinamentos de Jesus, o próprio Jesus, os iniciados, os sábios, os profetas, as religiões antigas — tirados os seus aspectos exteriores e seus rituais — todos esses trouxeram, em suas linhas de raciocínio, a divulgação da Lei de Deus, expressa nas palavras que ensinavam e nas ações que praticavam, trabalhando com fidelidade a Deus. (grifo nosso)

Amparados nessa linha de raciocínio, podemos identificar o dinamismo da Lei de Deus frente aos homens: o sustento, os canais de que essa mesma Lei se utilizou e utiliza para que não fiquemos apartados dela. Há seres que se dedicam imensamente a esse projeto. De nossa parte, cabe conhecê-los, nos aproximar de seus pensamentos, pois assim estaremos desvelando em nossa consciência a própria Lei Divina. São seres dispostos a esse mister em decorrência da consciência de Deus já construída em si mesmos.

Acompanhemos alguns deles:

Antes de pensarmos nas contribuições de cada um dos ícones acima, façamos uma pequena reflexão baseada na seguinte questão:

Qual a riqueza e a herança que eles nos deixaram, para que possamos dizer:

“Sou um espírito imortal em evolução, a caminho para o alto e para Deus?”

Se o Espiritismo deve, assim como foi anunciado, conduzir à transformação da Humanidade, isto só poderá se dar pelo melhoramento das massas, que apenas gradualmente, e pouco a pouco, se verificará pelo aperfeiçoamento dos indivíduos. (...) A bandeira que hasteamos, bem alto, é a do Espiritismo cristão e humanitário, em

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torno da qual estamos felizes de já ver tantos homens se unirem, em todos os pontos do globo, porque compreendem que aí está a âncora de salvação, a salvaguarda da ordem pública, o sinal de uma nova era para a Humanidade.

(O Livro dos Médiuns, Cap. XXIX, item 350, CELD)

Ao aproximarmo-nos do pensamento desses homens, pensamos nos valores que eles desenvolveram diante da Lei de Deus e o que representaram diante do Projeto Divino, diante da Obra que abraçaram, como também na relação que estabe-leceram com o ambiente e o grupo com o qual conviveram.

Que valores morais nós ressaltaríamos na figura desses representantes fiéis da

vontade de Deus, vendo o que eles produziram enquanto espíritos encarnados?

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*** JESUS: a materialização do

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* * * JESUS: A materialização do Amor nos corações dos homens

No início era o Verbo, e o Verbo estava voltado para Deus, e o Verbo era Deus. Tudo foi feito por meio dele; e sem ele nada se fez do que foi feito. O Verbo era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós e nós vimos a sua glória; glória

essa que, Filho único cheio de graça e de verdade, ele tem da parte do Pai.

(João, I:1,3, 9 e 14)

É preciso que pensemos nessas almas além da concep-

ção de valor como a entendemos, ou seja, ponto de

vista humano. Necessário pensarmos em valores do

espírito imortal.

(Ver O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, item

3 — O homem de bem; O Livro dos Espíritos, questões

112; 575; 918 e 969.)

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Não penseis que eu tenha vindo destruir a lei ou os profetas; eu não vim destruí-los, mas cumpri-los. Porquanto eu vos digo em verdade que o céu e a Terra não passarão sem que se cumpra perfeitamente tudo o que está na lei, até o último iota, o último ponto.

(Mateus, V:17 e 18)

O serviço aos filhos de Deus — o amor sublime. A Oração do Horto

Pai santo, eis que é chegada a minha hora! (...) Manifestei o teu nome aos amigos que me deste; eram teus e tu me confiaste, para que recebessem a tua palavra de sabedoria e de amor. Todos eles sabem agora que tudo quanto lhes dei provém de ti! Neste instante supremo, Pai, não rogo pelo mundo, que é obra tua e cuja perfeição se verificará algum dia, porque está nos teus desígnios insondáveis; mas peço-te particularmente por eles, pelos que me confiaste, tendo em vista o esforço a que os obrigará o Evangelho, que ficará no mundo sobre os seus ombros generosos. Eu já não sou da Terra, mas rogo-te que os meus discípulos amados sejam unidos uns aos outros, como eu sou um contigo! Dei-lhes a tua palavra para o trabalho santo da redenção das criaturas; que, pois, eles compreendam que, nessa tarefa grandiosa, o maior testemunho é o do nosso próprio sacrifício pela tua causa, compreendendo que estão neste mundo, sem pertencerem às suas ilusórias convenções, por perten-cerem só a ti, de cujo amor viemos todos para regressar à tua magnanimidade e sabedoria, quando houvermos edificado o bom trabalho e vencido na luta provei-tosa. Que os meus discípulos, Pai, não façam da minha presença pessoal o motivo de sua alegria imediata; que me sintam sinceramente em suas aspirações, a fim de expe-rimentarem o meu júbilo completo em si mesmos. Junto deles, outros trabalhadores do Evangelho despertarão para a tua verdade. O futuro estará cheio desses operá-rios dignos do salário celeste. Será, de algum modo, a posteridade do Evangelho do Reino que se perpetuará na Terra, para glorificar a tua revelação! Protege-os a todos, Pai! Que todos recebam a tua bênção, abrindo seus corações às claridades renovadoras! Pai justo, o mundo ainda não te conheceu; eu, porém, te conheci e lhes fiz conhecer o teu nome e a tua bondade infinita, para que o amor com que me tens amado esteja neles e eu neles esteja! (grifo nosso)

(Espírito Humberto de Campos. Boa Nova. Médium Francisco Cândido Xavier, FEB, 20a Edição)

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Com indiscutível acerto, Jesus é chamado o Divino Mestre. Não porque possuísse uma cátedra de ouro... Não porque fosse o dono da melhor biblioteca do mundo... Não porque simplesmente exaltasse a palavra correta e irrepreensível... Não porque subisse ao trono da superioridade cultural, ditando obrigações para os ouvintes... Mas sim porque alçou o próprio coração ao amor fraterno e, ensinando, converteu-se em benfeitor de quantos lhe recolhiam os sublimes ensinamentos. (grifo nosso)

(Emmanuel. Fonte Viva, lição 116 – Ir e Ensinar)

*** PAULO: A coragem da fé

Tanto sei estar humilhado, como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias já tenho experiência, tanto de fartura, como de fome; assim de abundância, como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece. (grifo nosso)

(Filipenses, IV:12, 13) Servindo ao Senhor com toda a humildade, e com muitas lágrimas e

tentações, que pelas ciladas dos judeus me sobrevieram. Como nada, que útil seja, deixei de vos anunciar e ensinar publicamente e pelas casas, testificando, tanto aos judeus como aos gregos, a conversão a Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo.

E agora eis que, ligado eu pelo espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que lá me há de acontecer. Senão o que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me revela, dizendo que me esperam prisões e tribulações. Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus. E agora, na verdade, sei que todos vós, por quem passei pregando o reino de Deus, não vereis mais o meu rosto. Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos.

Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus. (grifo nosso) (Atos, XX:19-27)

Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim;

e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim. (grifo nosso)

(Gálatas, II:20 e 21)

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Que fazer para adquirir a compreensão perfeita dos desígnios do Cristo? — Ama! — respondeu Abigail, espontaneamente. Mas como proceder de modo a enriquecermos na virtude divina? Jesus aconselha o

amor aos próprios inimigos. Entretanto, considerava quão difícil devia ser semelhante realiza-ção. Penoso testemunhar dedicação sem o real entendimento dos outros. Como fazer para que a alma alcançasse tão elevada expressão de esforço com Jesus Cristo? — Trabalha! — esclareceu a noiva amada, sorrindo bondosamente. Abigail tinha razão. Era necessário realizar a obra de aperfeiçoamento interior. Desejava ardentemente fazê-lo. Para isso insulara-se no deserto, por mais de mil dias consecutivos. (...) Que providências adotar contra o desânimo destruidor? — Espera! — disse ela ainda, num gesto de terna solicitude, como quem desejava esclarecer que a alma deve estar pronta a atender ao programa divino, em qualquer circunstância, extreme de caprichos pessoais. (...) Mas... os homens? Em toda parte medrava a confusão nos espíritos. Reconhecia que, de fato, a concordância geral em torno dos ensinamentos do Mestre Divino representava uma das realizações mais difíceis, no desdobramento do Evangelho; mas, além disso, as criaturas pareciam igualmente desinte-ressadas da verdade e da luz. (...) Onde a liberdade do Cristo? Onde as vastas esperanças que o seu amor trouxera à Humanidade inteira, sem exclusão dos filhos de outras raças? Concordavam em que se fazia indispensável amar, trabalhar, esperar; entretanto, como agir no âmbito de forças tão heterogêneas? Como conciliar as grandiosas lições do Evangelho com a indiferença dos homens? Abigail apertou-lhe as mãos com mais ternura, a indicar as despedidas, e acentuou docemente: — Perdoa!...

Guardaria o lema de Abigail para sempre. O amor, o trabalho, a esperança e o perdão seriam seus companheiros inseparáveis. Cheio de dedicação por todos os seres, aguardaria as oportunidades que Jesus lhe concedesse, abstendo-se de provocar situações, e, nesse passo, saberia tolerar a ignorância ou a fraqueza alheias (...). (grifo nosso)

(Emmanuel. Paulo e Estevão, 2a parte – Cap. III – Lutas e Humilhações, FEB – 12a Edição)

*** KARDEC: O educador de almas e o codificador da Doutrina

Espírita

Ensino espírita

Um curso regular de Espiritismo seria ministrado com o objetivo de desenvolver os princípios da Ciência e de propagar o gosto pelos estudos sérios. Este curso teria a vantagem de fundar a unidade de princípios, de fazer adeptos esclarecidos, capazes de espalhar as ideias espíritas, e de desenvolver um grande número de médiuns. Vejo este curso como podendo exercer uma influência capital sobre o futuro do Espiritismo e sobre suas consequências.

(Obras Póstumas – Projeto 1868 – Ensino Espírita)

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Após termos exposto em O Livro dos Espíritos a parte filosófica da ciência espírita, damos, nesta obra, a parte prática para uso daqueles que querem se ocupar com manifestações, quer pessoalmente, quer para tomar conhecimento dos fenôme-nos que poderão ter ocasião de observar. Aí verão os tropeços que podem ser en-contrados e terão, dessa forma, um meio de evitá-los.

Estas duas obras*, se bem a segunda constitua seguimento da primeira, são, até certo ponto, independentes uma da outra. Mas a quem quer que deseje tratar seriamente da matéria, diremos que primeiro leia O Livro dos Espíritos, porque contém princípios básicos, sem os quais algumas partes deste se tornariam, talvez, dificilmente compreensíveis. (grifo nosso)

(O Livro dos Médiuns – Introdução)

Testemunho de fé e humildade

Da renúncia ao nome Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804), cientista consagrado em solo francês, aos 53 anos de idade, renascendo sob o pseudônimo de Allan Kardec, com a publicação da primeira edição de O Livro dos Espíritos (1857), ao súbito óbito em 1869, Kardec deu testemunho de fé sendo fiel à Doutrina Espírita, cuja compilação e divulgação inicial lhe coube como tarefa precípua. A fidelidade de Kardec ao Cristo emergiu de toda sua vida de dedicação à causa do progresso e felicidade humana, inquestio-navelmente, de Yverdun a Paris (ver biografia de Allan Kardec em O que é o Espiritismo – Edição FEB – e Obras Póstumas – Edição CELD).

Senhor! Já que te dignaste a lançar os olhos sobre mim para

cumprimento dos teus desígnios, faça-se a tua vontade! A minha vida está nas tuas mãos, dispõe do teu servo...

Reconheço a minha fraqueza diante de tão grande tarefa; a minha boa vontade não desfalecerá, mas talvez as forças me traiam...

(Allan Kardec. Obras Póstumas – Segunda Parte: Minha Missão,

12.6.1856, CELD)

*

O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns.

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*** DENIS: O consolidador da Doutrina Espírita. A renúncia

Trabalho, coragem, esperança! — repetia-lhe Sorella —; eis qual deve ser tua divisa.

Amigo, é preciso consagrar todos os teus lazeres ao trabalho espírita, ao estudo; é preciso, principalmente, te habituares a defender e esclarecer nossa doutrina, não que devas, a partir de hoje, falar dessas coisas a todo instante; não. É preciso, porém, que sejas corajoso, que te prepares, em silêncio, para a hora solene que não te deve surpreender, mas te encontrar pronto.

(...) Consagrei esta existência ao serviço de uma grande causa: O Espiritismo ou

Espiritualismo Moderno, que será, certamente, a crença universal, a religião do futuro.

Consagrei à sua divulgação todas as minhas forças, toda a minha capaci-dade e todos os recursos de meu espírito e meu coração.

Tenho sido sempre, e poderosamente, sustentado por meus amigos invisí-veis, por aqueles a quem irei juntar-me, brevemente.

Pela causa do Espiritismo, renunciei a todas as satisfações materiais, mesmo as da vida familiar e da vida pública, aos títulos, às honrarias e funções, vagando pelo mundo, muitas vezes só e triste, porém, no fundo, feliz de assim pagar minha dívida do passado e de me aproximar dos que me aguardam, no Além, na Luz Divina. (grifo nosso)

(Léon Denis, O apóstolo do Espiritismo: Sua Vida, sua Obra, de Gaston Luce, CELD)

Os valores deixados por estes ícones aqui estudados, entre tantos outros, são os valores morais representados pelas metas estabelecidas por eles mesmos (O Livro dos Espíritos, questão 258, Escolha das Provas) ao reencarnarem na Terra com o objetivo de espiritualizar a humanidade; valores esses que foram exemplificados por todos eles e tomados como ensinamento moral integrante da Lei de Deus, do Evangelho de Jesus e dos conceitos fundamentais da Doutrina Espírita.

Destacamos: fé, fidelidade, amor ao próximo, renúncia de si mesmo, conheci-mento, determinação, vontade firme, perseverança, humildade, obediência e resigna-ção a Deus, entre tantos outros valores que podemos identificar ao conhecermos a história da vida desses espíritos tão valorosos.

Devemos, ainda, ressaltar que esses ícones exerceram suas tarefas, assessorados por espíritos de alto valor moral, envolvidos também com o progresso da humanidade, e que encontraram nesses homens as condições necessárias para se levar adiante tarefas tão árduas. Foram verdadeiros médiuns, servindo com fidelidade a Deus e a seus

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benfeitores espirituais, em prol da humanidade. E é Kardec que nos lembra: dada a hierarquia de Jesus na Terra, teria ele sido médium de Deus. (grifo nosso)

Nota: — Havia solicitado para mim uma comunicação sobre um assunto qualquer, e pedido que ela me fosse enviada ao meu retiro de Sainte-Adresse.

Quero falar-te de Paris, embora a utilidade disso não me pareça demons-trada, uma vez que minhas vozes íntimas se fazem ouvir em torno de ti, e que teu cérebro percebe nossas inspirações com uma facilidade com a qual nem tu mesmo suspeitas. Nossa ação, sobretudo a do Espírito de Verdade, é constante em torno de ti, e tal que não podes negar.

(Obras Póstumas – 2a parte – Imitação do Evangelho, CELD)

De que forma esses aspectos apresentados acima podem contribuir para nossa

tarefa como médiuns cristãos da Divulgação Espírita? Quais diretrizes eles seguiram? Conseguimos percebê-las nas ações de

Divulgação da Lei de Deus?

.........................................................................................................................................

.........................................................................................................................................

......................................................................................................................................... Vamos ao Tema 2? Nele encontraremos que diretrizes são essas e de que forma elas podem

ajudar o médium — consciente de seu papel frente à Divulgação Espírita — a realizar melhor o seu trabalho.

Para saber mais: ver livros Boa Nova, Paulo e Estevão, Obras

Póstumas, Léon Denis: O Apóstolo do Espiritismo, No Invisível, O

Grande Enigma.

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TEMA 2: A natureza espiritual da Divulgação Doutrinária na Casa Espírita Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que seu senhor faz; mas

vos chamo amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai vos dei a conhecer. (João, XV:15)

Objetivo Geral:

� Entender a importância de manter a fidelidade doutrinária, obedecendo às diretrizes espirituais superiores e tendo como modelo principal a liderança de Jesus.

Objetivo Específico:

� Identificar elementos que possam favorecer ou dificultar a divulgação da Doutrina Espírita.

Agora, após termos refletido juntos sobre o legado e a representatividade de

Jesus diante do Projeto Divino para a Humanidade, somado às contribuições dos continuadores como Paulo, Kardec e Denis, podemos identificar que, por meio dos seus valores morais e espirituais, esses ícones trabalharam a conscientização das almas em relação à Lei de Deus, proporcionando ao espírito humano extrair diretrizes para sua evolução.

A Casa Espírita não é somente um local onde se estuda Kardec, se trabalha com o Plano Espiritual e se procura praticar a Caridade. A Casa Espírita, sobretudo, é o local onde o Espírito imortal adquire vida e experiência; é onde todos esses aspectos: Estudo, Desenvolvimento Mediúnico e Trabalho no Bem são centralizados para o desenvolvimento desse espírito imortal em seu crescimento, no desenvolvimento das potencialidades latentes, muitas vezes inertes em seu espírito. (grifo nosso)

(Mensagem psicofônica, Médium Luis C. Dallarosa, pelo espírito Balthazar, 17/11/2010)

Diretriz: Orientação, rumo, guia; linha reguladora do traçado de uma estrada.

(Minidicionário Soares Amora da Língua Portuguesa – 17a Edição – Editora Saraiva)

Por que devemos manter a fidelidade doutrinária? Onde, de forma clara e organizada, poderemos encontrar essas diretrizes?

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Portanto, caros filhos, não nos esqueçamos de que a Casa Espírita é um ponto onde se reúnem almas e espíritos para se educar diante das Leis Divinas, diante do Evangelho de Jesus. Com Este à frente, com os corações abertos, com o sentimento e as percepções mais aguçados diante do sofrimento do próximo, aquele que deseja e pode ajudar o fará segundo as normas cristãs, assim estabelecendo um elo com os seus Benfeitores Espirituais e, principalmente, com Deus.

Não nos esqueçamos de que, acima de tudo, a Casa Espírita, o Trabalhador Espírita, o Médium Espírita, o Orador Espírita precisarão sempre estar dentro do trabalho, se direcionando segundo as Leis de Deus e segundo o Evangelho de Jesus.

A Educação, caros filhos, é o principal elemento com o qual este, que se propõe a fazer esse trabalho, precisa se dedicar a realizar. (grifo nosso)

(Mensagem de Dr. Hermann, Reunião pública de 29/6/2011, no CELD, RJ/ Psicofonia de Luís Carlos Dallarosa)

Considerando a Casa Espírita organizada como base de estudo da Doutrina

Espírita, é nela que encontramos os princípios básicos vivenciados pelos ícones já estudados no Tema 1.

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Vale lembrar aqui que a Doutrina Espírita, em seu aspecto filosófico-moral, vem mostrar aos homens a observância da Lei de Deus em plena concordância com o Cristianismo em sua origem; logo, identificamos a estreita e fiel relação com as máximas trazidas por Jesus.

Relembremos a Doutrina Espírita como o Cristianismo redivivo:

Existência de Deus:

Deus é eterno, imutável, imaterial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom. Criou o Universo que compreende todos os seres animados e inanimados, materiais e imateriais.

(O Livro dos Espíritos – Introdução, item VI)

Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem. (Lucas, XXIII:34)

Diz-lhe Jesus: “Maria!” Voltando-se, ela lhe diz em hebraico: “Rabbuni!”, que quer dizer: “Mestre!” Jesus lhe diz: “Não me toques, pois ainda não subi ao Pai. Vai, porém, a meus irmãos e dize-lhes: ‘Subo a meu Pai e vosso Pai; a meu Deus e vosso Deus’”. Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: “Vi o Senhor, e as coisas que ele lhe disse”.

(João, XX:16 a 18)

Reencarnação:

Só a reencarnação pode dizer ao homem de onde ele vem, para onde vai, porque se encontra sobre a Terra, e justificar todas as anormalidades e todas as injustiças aparentes que a vida apresenta.

Sem o princípio da preexistência da alma e da pluralidade das existências, a maioria das máximas do Evangelho são incompreensíveis; esse é o motivo por que elas têm recebido interpretações tão contraditórias. Esse princípio é a chave que lhes deve restituir o seu verdadeiro sentido.

(O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo IV, item 17)

Jesus lhe respondeu: “Em verdade, em verdade, digo-te: Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo”. “— Em verdade, em verdade, digo-te: Se um homem não renasce da água e do espírito, não pode entrar no reino de Deus.” “— O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do espírito é espírito.”

(João, III:3 a 5)

Para saber mais: ver livros O Evangelho Segundo o Espiritismo –

cap. I – item 7; Pão Nosso – lição Falsos Discursos.

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Imortalidade da Alma:

Há no homem três coisas: 1o) o corpo ou ser material, análogo aos animais e animado pelo mesmo princípio vital; 2o) a alma ou ser imaterial, espírito encarnado no corpo; 3o) o elo que une a alma e o corpo, princípio intermediário entre a matéria e o espírito.

O homem tem, assim, duas naturezas: por seu corpo, ele participa da natureza dos animais, dos quais possui os instintos; pela sua alma, ele participa da natureza dos espíritos.

(O Livro dos Espíritos – Introdução, item VI)

O bom ladrão – Um dos malfeitores suspensos à cruz o insultava, dizendo: “Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós”. Mas o outro, tomando a palavra, o repreendia: “Nem sequer temes a Deus, estando na condenação? Quanto a nós, é de justiça; pagamos por nossos atos; mas ele não fez nenhum mal”. E acrescentou: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino”. Ele respondeu: “Em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo no Paraíso”.

(Lucas, XXIII:39 a 43)

Disse-lhes Jesus: “Eu sou a ressurreição. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em mim jamais morrerá. Crês nisso?”

(João, XI:25 e 26)

Pluralidade dos Mundos:

A casa do Pai é o Universo; as diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito e oferecem aos espíritos encarnados locais apropriados ao seu adiantamento.

(O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. III, item 2)

Não se turbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, já eu vo-lo teria dito, pois me vou para vos preparar o lugar. Depois que me tenha ido e que vos houver preparado o lugar, voltarei e vos retirarei para mim, a fim de que onde eu estiver, também vós aí estejais.

(João, XIV:1 a 3)

Comunicabilidade dos Espíritos:

Os médiuns são os intérpretes dos espíritos; substituem os órgãos materiais que lhes faltam para nos transmitirem suas instruções; eis por que são dotados de faculdades para esse fim.

(O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XIX – item 10)

Nos últimos tempos, diz o Senhor, difundirei do meu espírito sobre toda carne; vossos filhos e filhas profetizarão; vossos jovens terão visões e vossos velhos, sonhos. Nesses dias, difundirei do meu espírito sobre os meus servidores e servidoras, e eles profetizarão.

(Atos, II:17 e 18)

Para saber mais: ver O Livro dos Espíritos – Introdução, item VI,

Pontos marcantes da Doutrina Espírita.

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Sendo o médium espírita um divulgador, devemos considerar que ele é um espírito imortal em processo de evolução (O Livro dos Espíritos, questão 100) e, neste processo, é fundamental romper com as dificuldades morais oriundas do orgulho e do egoísmo. Para tanto, é preciso querer conscientemente o Bem. Nos ícones até agora estudados, encontramos: fidelidade a Deus, certeza do futuro e amor ao próximo — tripé essencial que os mantiveram dentro de suas missões.

LM, 226-11a – Quais as condições necessárias para que a palavra dos Espíritos

superiores nos chegue isenta de qualquer alteração? “Querer o bem; repulsar o egoísmo e o orgulho. Ambos são necessários.”

(grifo nosso) LM, 228 – Todas as imperfeições morais são outras tantas portas abertas ao

acesso dos maus espíritos. A que, porém, eles exploram com mais habilidade é o orgulho, porque é a que a criatura menos confessa a si mesma. O orgulho tem perdido muitos médiuns dotados das mais belas faculdades e que, se não fora essa imperfeição, teriam podido tornar-se instrumentos notáveis e muito úteis, ao passo que, presas de espíritos mentirosos, suas faculdades, depois de se haverem pervertido, aniquilaram-se e mais de um se viu humilhado por amaríssimas decepções.

O orgulho, nos médiuns, traduz-se por sinais inequívocos, a cujo respeito tanto mais necessário é se insista, quanto constitui uma das causas mais fortes de suspeição, no tocante à veracidade de suas comunicações.

Resumo dos sinais inequívocos citados neste item de O Livro dos Médiuns:

• Confiança cega • Desdém por tudo o que não venha deles • Privilégio da verdade • Amor próprio • Recusa de conselho • Aborrecimento com as observações críticas • Insulamento • Falta de senso crítico • Exagerada importância dada aos grandes nomes • Crédito em suas aptidões • Julgar-se indispensável

Para saber mais: ver O Evangelho Segundo o Espiritismo,

cap. XIX, item 2.

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LE, 895 – Postos de lado os defeitos e os vícios acerca dos quais ninguém se pode equivocar, qual o sinal mais característico da imperfeição?

“O interesse pessoal. Frequentemente, as qualidades morais são como, num objeto de cobre, a douradura que não resiste à pedra de toque. Pode um homem possuir qualidades reais, que levem o mundo a considerá-lo homem de bem. Mas essas qualidades, conquanto assinalem um progresso, nem sempre suportam certas provas e às vezes basta que se fira a corda do interesse pessoal para que o fundo fique a descoberto. O verdadeiro desinteresse é coisa ainda tão rara na Terra que, quando se patenteia todos o admiram como se fora um fenômeno.

“O apego às coisas materiais constitui sinal notório de inferioridade, porque, quanto mais se aferrar aos bens deste mundo, tanto menos compreende o homem o seu destino.

Pelo desinteresse, ao contrário, demonstra que encara de um ponto mais elevado o futuro.” (grifo nosso)

LE, 629 – Que definição se pode dar da moral?

“A moral é a regra para bem se conduzir, isto é, para a distinção entre o bem e o mal. Ela está fundamentada na observância da lei de Deus. O homem procede bem quando faz tudo intencionalmente para o bem de todos, porque, então, cumpre a lei de Deus.”

Reconhecemos, através do estudo, a ideia superior. Aderimos ao trabalho e estamos no esforço de aplicar o que estudamos em nossas experiências pessoais, de acordo com as nossas possibilidades (desenvolvimento do senso moral). Realizado esse reconhecimento, é preciso nos vincularmos às diretrizes espirituais da Casa Espírita da qual fazemos parte.

O ideal será o trabalho em conjunto, isto é, pessoas fortes e pessoas brandas procurando chegar ao bom trabalho doutrinário, que é o desejo de todos, afinal de contas, considerando-se os objetivos espirituais da casa — porque o objetivo doutrinário todos já têm, mas o objetivo específico da casa quem dá são os espíritos. O trabalhador da Casa Espírita deverá modelar a própria personalidade dentro destes dois grandes padrões a serem seguidos: o doutrinário-espírita e os objetivos que os guias espirituais da Casa dão. (grifo nosso)

(Antonio de Aquino. Inspirações do Amor Único de Deus – volume 2, lição 16)

ESE, Cap. XVII item 4 — Os bons espíritas — Bem compreendido, mas sobretudo bem sentido, o Espiritismo leva aos resultados acima expostos (em referência aos caracteres do Homem de Bem), que caracterizam o verdadeiro espírita, como o cristão verdadeiro, pois que um o mesmo é que outro. O Espiritismo não institui nenhuma nova moral; apenas facilita aos homens a inteligência e a prática da do Cristo, facultando fé inabalável e esclarecida aos que duvidam ou vacilam.

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Vejamos um exemplo vivo de conscientização cristã:

Apresento-lhes agora nossa irmã Celina, devotada companheira de nosso ministério espiritual. Já atravessou meio século de existência física, conquistando significativas vitórias em suas batalhas morais. Viúva há quase vinte anos, dedicou-se aos filhos, com admirável denodo, varando estradas espinhosas e dias escuros de renunciação. Suportou heroicamente o assédio de compactas legiões de ignorância e miséria que lhe rodeavam o esposo, com quem se consorciara em tarefa de sacrifício. Conheceu, de perto, a perseguição de gênios infernais a que não se rendeu e, lutando, por muitos anos, para atender de modo irrepreensível às obrigações que o mundo lhe assinalava, acrisolou as faculdades medianímicas, aperfeiçoando-as nas chamas do sofrimento moral, como se aprimoram as peças de ferro sob a ação do fogo e da bigorna. Ela não é simples instrumento de fenômenos psíquicos. É abnegada servidora na construção de valores do espírito. A clarividência e a clariaudiência, a incorporação sonambúlica e o desdobramento da personalidade são estados em que ingressa, na mesma espontaneidade com que respira, guardando noção de suas responsabilidades e representando, por isso, valiosa colaboradora de nossas realizações. Diligente e humilde, encontrou na plantação do amor fraterno sua maior alegria e, repartindo o tempo entre as obrigações e os estudos edificantes, transformou-se num acumulador espiritual de energias benéficas, assimilando elevadas correntes mentais, com o que se faz menos acessível às forças da sombra.

Realmente, ao lado da irmã sob nossa vista, fruíamos deliciosa sensação de paz e reconforto. (grifo nosso)

(André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade – Francisco Cândido Xavier, Cap. 3: Equipagem Mediúnica)

Identificamos:

1. O local onde podemos fazer a adesão às ideias: a Casa Espírita. Aderimos às ideias devido aos estudos que lá fazemos e da convivência com os espíritos superiores, que dirigem e conduzem os trabalhos.

2. Que precisamos conhecer as ideias contidas no estudo da Doutrina Espírita e nos apropriarmos delas.

3. Que tudo isso posto, podemos e devemos apresentar, então, uma contribuição produtiva no trabalho da Divulgação Doutrinária, onde não poderão faltar: a alegria de servir, a abnegação (ESE, XX, item 5), a humildade (ESE, XXI, item 9) e o desinteresse pessoal (LE, questão 895).

4. Que o rendimento espiritual nas tarefas que abraçamos na Casa Espírita guarda relação com a tomada de consciência de dois grandes objetivos: o doutrinário-espírita e os objetivos da própria Casa.

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TEMA 3: Autodivulgação Doutrinária: O aproveitamento pessoal na construção do progresso coletivo

Por que vocês me chamam “Senhor, Senhor” e não fazem o que eu digo? Eu mostrarei com quem se compara aquele que vem a mim, ouve as minhas palavras e as pratica. É como um homem que, ao construir uma casa, cavou fundo e colocou os alicerces na rocha. Quando veio a inundação, a torrente deu contra aquela casa, mas não a conseguiu abalar, porque estava bem construída. Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as pratica é como um homem que construiu uma casa sobre o chão, sem alicerces. No momento em que a torrente deu contra aquela casa, ela caiu, e a sua destruição foi completa.

(Lucas, VI:46 a 48)

Objetivo Geral:

� Refletir sobre a autodivulgação doutrinária como elemento de educação e progresso do espírito imortal e também de sustentação da Casa Espírita.

Objetivo Específico:

� Buscar a aproximação com as ideias dos espíritos que reconhecemos a elevação espiritual e que vivenciaram sua crença.

� Identificar e empreender esforços para vivenciarmos a crença que propagamos, a exemplo dos ícones estudados.

� Identificar os recursos proporcionados pelas atividades desenvolvidas na Casa Espírita, para melhor vivenciá-los.

Vimos, no Tema 1, os valores imperecíveis de Jesus e seus continuadores na realização de suas missões; refletimos muito de perto sobre os aspectos que os levaram ao exercício de propagação da Boa-Nova com tamanha fidelidade. No Tema 2, iniciamos a compreensão das diretrizes que os espíritos ditaram para a divulgação do Espiritismo, ponto fundamental para que a Doutrina Espírita mantenha seu papel de conhecimento libertador de almas. Do início de nosso estudo até agora, buscamos a origem do Projeto Divino para a Terra, mas, para que nos tornemos instrumentos úteis e partícipes desse processo — Divulgação Doutrinária — cabe a seguinte compreensão:

Autodivulgação Doutrinária é aproveitamento pessoal. Auto, prefixo grego que significa em si próprio, ou seja, estudaremos, neste

tema, a divulgação doutrinária em nós mesmos, traduzindo em nosso comportamento o quanto já somos capazes de exemplificar os conceitos cristãos que divulgamos em nosso dia a dia.

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A espiritualidade apresenta aos médiuns os pontos doutrinários necessários para sua autoeducação, principalmente por meio de O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns. Esse é o roteiro seguro para o progresso do espírito imortal, vivenciando em sua trajetória as marcas do Cristo.

Com o Espírito Vinícius, em O Mestre na Educação, refletimos sobre a capacidade que todo espírito imortal possui de se transformar. A Doutrina Espírita, em seu aspecto educativo-moral, toca diretamente no atendimento a esse ponto. Um questionamento que não se deve esquecer é exatamente o sentido de aplicabilidade que estamos dando aos postulados espíritas em nossas vidas. É como estamos nos educando e autodivulgando o resultado desse processo vivo e atuante em cada um de nós. Não há neutralidade!

O papel que cabe ao mestre é educar. Entendemos por educação o desenvol-vimento dos poderes psíquicos ou anímicos que todos possuímos em estado latente, como herança havida daquele de quem todos nós procedemos.

Quando o homem nota e percebe em si mesmo, no seu interior, o influxo da força renovadora da evolução, começa a colaborar conscientemente com Deus na formação da sua própria individualidade. (grifo nosso)

(Vinícius. O Mestre na Educação – lição 2)

Por isso, a Espiritualidade Superior está sempre pronta a nos auxiliar.

Há médiuns a quem são dadas, espontaneamente e quase constantemente, comunicações sobre o mesmo assunto, sobre certas questões morais, por exemplo, sobre determinados defeitos; terá isto um objetivo?

Sim, e este objetivo é o de esclarecê-los sobre um assunto frequentemente repetido ou de corrigi-los de certos defeitos; é por isso que a um falarão, incessantemente, do orgulho, a um outro, da caridade; é que só a saciedade pode abrir-lhes, afinal, os olhos. Não há médium que faça mau uso de sua faculdade, por ambição ou interesse, ou comprometendo-a por um defeito capital, como o orgulho, o egoísmo, a leviandade, etc., que não receba, de tempos em tempos, algumas adver-tências da parte dos espíritos; o mal é que, a maior parte do tempo, eles não as tomam para si mesmos. (grifo nosso)

(O Livro dos Médiuns, cap. XX – item 226 – 4a)

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Com Léon Denis vemos que o médium precisa conscientizar-se de seu papel.

É preciso que, ao menos, o médium, compenetrado da utilidade e grandeza de sua função, se aplique a aumentar seus conhecimentos e procure espiritualizar-se o mais possível, que se reserve horas de recolhimento e tente então, pela visão interior, alçar-se até as coisas divinas, à eterna e perfeita beleza. Quanto mais desenvolvidos forem nele o saber, a inteligência, a moralidade, mais apto se tornará para servir de intermediário às grandes almas do Espaço. (grifo nosso)

(Léon Denis. No Invisível – Capítulo V: Educação e função dos médiuns)

Como fazer?

É bom viver em contato pelo pensamento com os escritores de gênio, com os autores verdadeiramente grandes de todos os tempos e países, lendo, meditando suas obras, impregnando todo o nosso ser da substância de sua alma. As radiações de seus pensamentos despertarão em nós efeitos semelhantes e produzirão, com o tempo, modificações de nosso caráter pela própria natureza das impressões sentidas. (grifo nosso)

(Léon Denis. O Problema do Ser e do Destino – Capítulo XXIV: A disciplina do pensamento e a reforma do caráter, CELD)

Como resultado...

O trabalho do médium é aquele que se revela no esforço diário em sintonizar com os Planos Superiores da vida, embora ele esteja lidando em um mundo inferior. É a superação de suas inferioridades e a vitória sobre suas más tendências. Procurai traçar o vosso perfil: Como sou? O que fazer para ser o que desejo ser? (grifo nosso)

(Aurélio. Aos médiuns com carinho – lição 8)

Cabe agora refletirmos:

1. Como cheguei à Casa Espírita e como estou hoje, após sofrer a ação da Divulgação Doutrinária em mim mesmo? 2. Estou solidificando as bases doutrinárias do Espiritismo e renovando equivocadas concepções? 3. Minhas atitudes colaboram para a fixação do Reino de Deus em mim e naqueles que jornadeiam a vida comigo? 4. De que forma tenho extraído do exercício mediúnico aprendizado para minha evolução espiritual? 5. Que influências estou exercendo em mim e em torno de mim como médium da Casa Espírita a qual estou vinculado? 6. O que tenho feito das revelações espirituais direcionadas a mim? 7. Como testemunho a Doutrina Espírita diante da dor que me visita? 8. Como posso ajudar na sustentação do Projeto Divino? 9. Reconheço-me um semeador das Verdades Espíritas? 10. Tenho apropriado-me da fonte inesgotável do oásis* que é a Casa Espírita?

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* Lembremos a definição de Oásis dada pelo plano espiritual: Como que um oásis no meio do deserto (...), ele poderá vir a receber um pouco de paz, de tranquilidade. É assim que experimentam os médiuns, quando em trabalhos mediúnicos e quando sintonizados com seus guias espirituais: eles conseguem desenvolver as suas tarefas e, em contrapartida, sentem-se muito mais aliviados, muito mais fortalecidos e renovados, porque estão vendo fluir as suas energias e, ao mesmo tempo, receber novas energias para a sustentação das lutas que estão vivenciando do ponto de vista terreno. (grifo nosso)

(Dr. Hermann – Avaliação 18o EEMED)

Qual o resultado possível da autodivulgação doutrinária na ambiência da Casa Espírita?

(...) Você vê que tudo isso é um processo crescente, que precisa de uma engrenagem firme desses trabalhadores que formam o foco constante de entendimento, de renovação, de fluidos, de energias, de trabalho dentro da Casa. É nisto que precisa a Casa estar bem firme e forte. E fazer com que os médiuns estejam alinhados, renovados e trabalhando em conjunto, para que esses serviços administrativos, assistenciais, doutrinários, estejam sendo desenvolvidos dentro de uma segurança, dentro de um amparo preciso da Casa. Para isso você precisa manter esse grupo bem coeso, bem consciente.

Então, vejam que educar o médium e torná-lo consciente da necessidade de que a sua atitude (demonstrada) irá repercutir não só nele, mas nele e na Casa toda; ele não estará trabalhando de maneira consciente. Entendeu como tudo isso é uma engrenagem que precisa ser sempre bem conscientizada, bem trabalhada, educada, do ponto de vista mediúnico, para que todos participem e se responsabilizem pelas suas atitudes? (...) Então, é responsabilidade de cada um diante de toda a Casa. Isto que é o chamamento principal, para que todos entendam que cada criatura, cada trabalhador, cada médium é um pilar importante na sustentação dessa Casa, e para que ela continue a existir. (grifo nosso)

(Dr. Hermann – Avaliação 18o EEMED)

O médium precisa entender que ele é o elemento integrante e integrador das atividades da Casa Espírita através de seu comportamento, pensamentos e sentimentos.

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Quando adentraste a Casa Espírita, trazias o coração repleto de vivo entusiasmo. A descoberta de outros ângulos da vida, a compreensão das dores redentoras, a

palavra dos Amigos Espirituais e o apoio firme dos que te haviam precedido na senda da renovação te davam esperanças de que, um dia, dentro do tempo, também realizarias grandes obras de benemerência, palestras esclarecedoras, ou, quem sabe, através de abençoada mediunidade, virias a curar, orientar ou consolar os que de ti se aproximassem?

A senda, portanto, era uma senda iluminada pelo sol da Verdade, convidando-te a percorrê-la.

Aceitando o convite que se revelava como apelo do Mundo Superior, iniciaste a longa caminhada. (grifo nosso)

(Icléia. Aos médiuns com carinho – lição 14)

Com Jesus, com generosos guias espirituais, todos que fazem parte desse imenso exército de espíritos espíritas, sejam encarnados ou desencarnados, todos se transformarão em fontes de luz. Ah! Meus irmãos, é preciso que saibamos o próprio papel na vida: o que representamos para os outros, o que mostramos a alguém quando agimos. (...) Busquemos, com a Doutrina Espírita e com Jesus, sentido dentro de nosso ser, após cada estudo, após cada leitura, após cada momento. Façamos um pouco de meditação do que significa aquilo para nós e, se formos capazes de absorver todo o resultado daquele trabalho, seremos capazes de, paulatinamente, ir nos transformando. (grifo nosso)

(Antonio de Aquino. Inspirações do amor único de Deus – lição 1)

Reconhece se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para dominar as suas más inclinações. Enquanto um se satisfaz no seu horizonte limitado, o outro, que compreende alguma coisa de melhor, se esforça para libertar-se dele, e sempre o consegue quando tem a vontade firme.

(O Evangelho Segundo o Espiritismo, XVII, item 4)

Não basta crer e saber, é necessário viver nossa crença, isto é, fazer penetrar na prática diária da vida os princípios superiores que adotamos; é necessário habituarmo-nos a comungar pelo pensamento e pelo coração com os espíritos eminentes que foram os reveladores, com todas as almas de escol que serviram de guias à humanidade, viver com eles numa intimidade cotidiana, inspirarmo-nos em suas vistas e sentir sua influência pela percepção íntima que nossas relações com o mundo invisível desenvolvem. (grifo nosso)

(Léon Denis. O Problema do Ser e do Destino, A disciplina do pensamento e reforma do caráter)

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Anexos:

Regras básicas para os Encontros Espíritas no CELD

O que caracteriza um estudo sério é a continuidade que se lhe dá. (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos, Introdução VIII, 1o §)

Saibamos escolher bons livros e habituemo-nos a viver no meio deles, em relação constante com os espíritos de escol.

(Léon Denis. Depois da Morte, cap. LIII)

Meus irmãos, que Jesus Cristo nos ajude, agora e sempre, para o trabalho do bem e da paz!

Ditaremos, a seguir, algumas regras para os encontros espíritas efetuados nesta casa. Consideramos que elas se aplicam a todos aqueles que sinceramente desejam caminhar dentro de um serviço que progressivamente se transformará em um serviço de divulgação doutrinária de alto valor.

Sempre estudar os temas, quer sejam encontristas, dinamizadores, moni-tores ou coordenadores de tarefas. O estudo apropriado do tema dará a cada um condições de expandir o conhecimento que se deseja, de modo adequado e pro-fícuo.

Compreender a dificuldade de aprendizado e assimilação das ideias de todos aqueles que estão na tarefa do bem. Homem algum consegue apreender todas as coisas e ter todos os conhecimentos. O crescimento espiritual é individual.

Fazer com que as palavras que expressem o conhecimento signifiquem luz, em todos os momentos em que forem usadas. Dinamizador algum deve esquecer que está numa tarefa de luz, e cada palavra, cada expressão de conhecimento deve estar cheia de luz interior, de modo que as pessoas sintam que o conhecimento espalhado mostra como anda o coração de quem fala.

Entender que o momento da discussão em grupo é da mais alta relevância e, por isso, deve-se adotar a circunspeção, embora a alegria interior. Deve-se adotar o comedimento, embora a satisfação justa pelo que se está fazendo. As palavras doutrinárias devem conter o justo peso e a justa medida para que elas sirvam de roteiro, e deve-se buscar sublimar os sentimentos ao falar da Doutrina Espírita. Doutrina de luz é para difundir a luz. O Espiritismo pede porta-vozes conhecedores da paz e que tenham conseguido senti-la em espírito.

Continuar sempre! O conhecimento se espalha continuamente. A cultura espírita não tem fim, e o melhoramento íntimo deve ser buscado continuamente.

O objetivo próprio da Doutrina Espírita deverá estar sempre em nossa mente quando falarmos sobre ela e a divulgarmos.

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Que o Senhor Jesus nos ajude, nos abençoe, e que todos vocês se apercebam de que cada encontro é um núcleo de luz e uma possibilidade de expandir conhecimentos para os que não os têm.

Deus fique com todos!

Psicofonia em 31/3/1993, no CELD, RJ. (Em Torno de Léon Denis, lição 11 – Editora CELD)

Compromisso do trabalhador do bem

O que vos vimos dar é apenas um encorajamento; é somente para estimular o vosso zelo e as vossas virtudes...

(Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XIII, item 12, 3o §)

O exercício da mediunidade encontra dois obstáculos temíveis: o espírito de lucro e o orgulho.

(Léon Denis. Espíritos e Médiuns, cap. IV)

Pela graça infinita de Deus, paz! Balthazar, pela graça de Deus.

Meus irmãos, Na tarefa de dinamização de Encontros não se pode esquecer a necessidade

do autoaprimoramento para se falar corretamente aos encontristas. Cada um de nós pode falar do que sabe, cada um de nós pode dizer do que

conhece, cada um de nós pode transmitir o que está nos livros; mas falar com propriedade, o fazem aqueles que, além de conhecer, de saber, de estudar, praticam todos os conhecimentos adquiridos.

Falando assim, pode parecer a muitos que estamos fazendo uma seleção de trabalhadores para a causa; mas lembramos a vocês que cada um deve trazer no próprio sentimento um desejo puro de aprender, de servir, de trabalhar em favor do próximo.

Os bons espíritos observam os trabalhadores encarnados pelos seus sentimentos, pelo desejo que possuem de servir adequadamente. Eles estimulam as pessoas a dar passos na direção do Bem e da construção da Verdade e do Reino de Deus em si mesmas. Os bons espíritos observam severamente aqueles que apenas falam, aqueles que apenas aprendem, sem a utilização devida dos recursos de que dispõem, aqueles que apenas sabem, sem transmitir aos outros o fruto do aprendizado. Eles os observam severamente, porque estes não trazem em si nenhum desejo de aprender, de melhorar-se, de transformar-se.

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É por isso que cada um de nós que aqui está trabalhando neste Encontro, como em qualquer outro, tem um compromisso com o saber, mas tem o principal compromisso com o transformar a si mesmo.

Assim, meus irmãos, elevando nossas preces a Deus, neste processo de oração que sempre fazemos, não podemos nos esquecer de acrescentar uma conversa íntima com Ele, para que tenhamos coragem de nos modificar em nossos erros.

Tenham coragem, meus irmãos! Tenham consciência disso, dessa necessi-dade de transformação e, certamente, estarão incluídos entre aqueles que são dignos de trabalhar no bem!

Que Deus nos ilumine a todos, nos proteja, nos abençoe, agora e sempre! Graças a Deus!

Psicofonia em 12/3/1996, no CELD, RJ. (Em Torno de Léon Denis, lição 17 – CELD)

Mandamentos do expositor espírita

1) Estudarás Jesus e Kardec, sempre, aprimorando, também, tua cultura geral para elucidação de ti mesmo e do mundo, divulgando somente a verdade.

2) Valorizarás as fontes dignas e respeitáveis do Evangelho, do Espiritismo e da história, evitando os conflitos de ideias, atacar essa ou aquela teologia, cuidando por te dedicares no aperfeiçoamento da técnica e do conteúdo doutrinário.

3) Verás, nos semelhantes, almas irmãs que te fazem a caridade ao parti-ciparem de tuas exposições doutrinárias, dando-te a oportunidade de estudares e falares, antes, para ti mesmo.

4) Trabalharás ciente de que a vaidade te poderá corromper e que serás apenas um servidor. Tua conduta deverá ser compatível com aquilo que divul-gares.

5) Empregarás esforços a fim de que a tua semeadura doutrinária esteja em plena concordância com o Espiritismo. Confiarás em Deus, nos amigos espiri-tuais, mas prepararás teus estudos com probidade, evitando os improvisos.

6) Suportarás com equilíbrio as críticas que te buscarem, sem que te abatas fazendo o possível por melhorar no que for bom e útil.

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7) Agradecerás aos amigos sinceros que te instruírem ou corrigirem, visando o melhoramento do teu serviço.

8) Orarás pedindo a Deus inspiração superior para que os objetivos junto à humanidade sejam atingidos, suportando, com paciência cristã, os reveses do caminho sem desanimar.

9) Servirás, com amor, simplicidade e conteúdo doutrinário espírita correto, poderosamente incrustado em Kardec, para que o mundo nunca lembre o teu nome, mas reconheça em ti a voz do Cristo posta em tua boca, a luz do Mestre reverberando em tuas atitudes.

10) Estarás desiludido, consciente de que muitos homens, embriagados pela vaidade, hão de laurear-te com a tiara de espinhos e o mundo, no frenesi dos iludidos, te conduzirá ao Monte da Caveira. Prepara-te e, ante o madeiro, defende o ideal que divulgaste. Abre, lépido, resoluto e intimorato, teus braços de serviço na coragem dos que conheceram Jesus e faze do teu último discurso a maior peça de retórica da tua vida, pois que, na solidão dos teus exemplos, na paz evangélica que divulgaste, tuas atitudes se converterão em coro de mil vozes a arrastar e encorajar os filhos de Deus!

Então, no silêncio da tua alma, recolhendo os frutos da tua semeadura, ouvirás a voz do Mestre a receber-te nos Tabernáculos Eternos: Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus. (Mt 5:9)

Yvonne do Amaral Pereira

(A Pena e o Trovão – Pág. 93)

Espiritismo e Divulgação

O excelente advogado Joaquim Mota, espírita de convicção desde a primeira mocidade, possuía ideais muito próprios acerca do pensamento religioso. Extremamente sensível, julgava um erro expor qualquer definição pessoal, em matéria de fé. “Religião — costumava dizer — é assunto exclusivo de consciência.” E fechava-se. Na biblioteca franqueada aos amigos, descansavam tomos em percalina e dourados, reunindo escritores clássicos e modernos, em ciência e literatura. Conservava, porém, os livros espíritas isolados em velha cômoda do espaçoso quarto de dormir. Não agia assim, contudo, por maldade. Era, na essência, um homem sincero e respeitável, conquanto espírita à moda dele, sem a menor preocupação de militância. Espécie de ilha amena, cercada pelas correntes do comodismo.

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Encasquetara na cabeça o ponto de vista de que ninguém devia, a título algum, falar a outrem de princípios religiosos que abraçasse, e prosseguiu, vida a fora, repelindo qualquer palpite que o induzisse à renovação.

Era justamente a esse homem que fôramos confortar, dentro da noite. Mota vinha de perder a companhia de Licínio Fonseca, recentemente desencarnado, o amigo que lhe partilhara 26 anos de serviço no foro. Ambos amadurecidos na exis-tência e na profissão, após os 60 anos de idade, eram associados invariáveis de trabalho e de luta.

Juntos sempre nos atos jurídicos, negócios, interesses, férias e excursões. Sem o colega ideal, baqueara Mota em terrível angústia. Trancava-se em lágrimas, no aposento íntimo, ansiando vê-lo em espírito... E tanto rogou a concessão, em preces ocultas, que ali nos achávamos, em comissão de quatro cooperadores, com instruções para levá-lo ao companheiro. Desligado cautelosamente do corpo, que se acomodara sob a influência do sono, embora não nos percebesse o apoio direto, foi Joaquim transportado à presença do amigo que a morte arrebatara. No leito de recuperação do grande instituto beneficente a que fora recolhido, no Mundo Espiritual, Licínio chorou de alegria ao revê-lo, e nós, enternecidos, seguimos, frase a frase, o diálogo empolgante que se articulou, após o júbilo extrovertido das saudações.

— Mota, meu caro Mota — soluçou o desencarnado, com impressionante inflexão —, a morte é apenas mudança... Cuidado, meu amigo! Muito cuidado!... Quanto tempo perdi, em razão de minha ignorância espiritual!... Saiba você que a vida continua!...

— Mas eu sei disso, meu amigo — ajuntou o visitante, no intuito de consolá-lo —, desde muito cedo entrei no conhecimento da imortalidade da alma. O sepulcro nada mais é que a passagem de um plano para outro... Ninguém morre, ninguém...

— Ah! você sabe então que o homem na Terra é um espírito habitando provisoriamente um engenho constituído de carne? Que somos no mundo inquilinos do corpo? — indagou Licínio, positivamente aterrado.

— Sei, sim... — E você já foi informado de que quando nascemos, entre os homens, conduzimos ao berço as dívidas do passado, com determinadas obrigações a cumprir?

— De modo perfeito. Muito jovem ainda, aceitei o ensinamento e a lógica da reencarnação...

— Mota!... Mota!... — gritou o outro visivelmente alterado — você já consegue admitir que nossas esposas e filhos, parentes e amigos, quase sempre são pessoas que conviveram conosco em outras existências terrestres? Que estamos enleados a eles, frequentemente, para o resgate de antigos débitos?

— Sim, sim, meu caro, não apenas creio... Sei que tudo isso é a verdade inconteste...

— E você crê nas ligações entre os que voltam para cá e os que ficam? Você já percebe que uma pessoa na Terra vive e respira com criaturas encarnadas e

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desencarnadas? que podem existir processos de obsessão entre os chamados vivos e mortos, raiando na loucura e no crime?!...

— Claramente, sei disso... O interlocutor agarrou-lhe a destra e continuou, espantado: — Mota! Mota! Ouça!... Você está certo de que a vida aqui é a continuação do

que deixamos e fazemos? Já se convenceu de que todos os recursos do plano físico são empréstimos do Senhor, para que venhamos a fazer todo o bem possível e que ninguém, depois da morte, consegue fugir de si mesmo?...

— Sim, sim... Nesse instante, porém, Licínio desvairou-se. Passeou pelo recinto o olhar

repentinamente esgazeado, fez instintivo movimento de recuo e bradou: — Fora daqui, embusteiro, fora daqui!... O visitante, dolorosamente surpreendido, tentou apaziguá-lo: — Licínio, meu amigo, que vem a ser isso? acalme-se, acalme-se... — Sou eu,

Joaquim Mota, seu companheiro do dia a dia... — Nunca! Embusteiro, mistificador!... Se ele conhecesse as realidades que você

confirma, jamais me teria deixado no suplício da ignorância... Meu amigo Joaquim Mota é como eu, enganado nas sombras do mundo... Ele foi sempre o meu melhor irmão!... Nunca, nunca permitiria que eu chegasse aqui, mergulhado em trevas!... Mota, em pranto, intentava redarguir, mas interferimos, a fim de sustar o desequilíbrio e, para isso, era preciso afastá-lo de imediato.

Mais alguns minutos e o advogado reapossou-se do corpo físico. Nada de insegurança que o impelisse à ideia de sonho ou pesadelo. Guardava a certeza absoluta do reencontro espiritual. Estremunhado, ergueu-se em lágrimas e, sequioso de ar puro que lhe refrigerasse o cérebro em fogo, abriu uma das janelas do alto apartamento que lhe con-figurava o ninho doméstico. Mota contemplou o casario compacto, onde, talvez, naquela hora, dezenas de pessoas estivessem partindo da experiência passageira do mundo para as experiências superiores da Vida Maior e, naquele mesmo instante da madrugada, começou a pensar, de modo diferente, em torno do Espiritismo e da sua divulgação.

(Cartas e Crônicas – Irmão X)

Fome e ignorância

Reunião pública de 8/2/1960 - Questão no 32

Atentos ao impositivo do estudo, a fim de que a luz do entendimento nos ensine a caminhar com segurança e a viver proveitosamente, estabeleçamos alguns confrontos entre a fome e a ignorância — dois dos grandes flagelos da Humanidade.

A fome ameniza o corpo.

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A ignorância obscurece a alma. A fome atormenta. A ignorância anestesia. A fome protesta. A ignorância ilude. A fome cria aflições imediatas. A ignorância cria calamidades remotas. A fome é crise gritante. A ignorância é problema enquistado. *Em todos os lugares, vemos o faminto e o ignorante em atitudes diversas. O faminto trabalha afanosamente na conquista do pão. O ignorante é indiferente à posse da luz. O faminto reconhece a própria carência. O ignorante não se define. O faminto aparece. O ignorante oculta-se. O faminto anuncia a própria necessidade. O ignorante engana a si mesmo. *Qualquer pessoa pode atender à fome. Raras criaturas, porém, conseguem socorrer a ignorância. Para sanar a fome, basta estender pão. Para extinguir a ignorância, é indispensável fazer luz. Nesse sentido, mentalizemos o Provedor Divino. Todos sabemos que o pão

entregue pelos discípulos a Jesus, a fim de ser multiplicado em favor dos famintos, é, aproximadamente, o mesmo de hoje que podemos amassar com facilidade; mas a luz entregue pelo Senhor aos discípulos, para ser multiplicada em favor dos ignorantes, exige perseverança incansável no serviço do bem aos outros, com espírito de amor puro e sacrifício integral. Valendo-nos, pois, da conceituação que a fome e a ignorância nos sugerem, concluímos que, na Doutrina Espírita, não nos bastam aqueles amigos que nos mostrem médiuns e fenômenos, para dissiparmos a inquietação da fome de ver, mas, acima de tudo, precisamos dos companheiros valorosos, com atitude e exemplo, que nos arranquem ao comodismo da ignorância, para ajudar-nos a discernir.

(Emannuel. Seara dos Médiuns, Francisco Cândido Xavier)

Palavras de Fenelon Barbosa

(...) Enquanto vocês arregimentam companheiros e especificam temas, nós, de nossa parte, buscamos os temas e arregimentamos os cooperadores de nosso plano de vida, para a diversidade de tarefas do momento e para as futuras.

(Mensagem: Confiante e seguros)

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(...) A mensagem espírita, pelo seu teor de renovação, pelo conforto que veicula e pela harmonia que institui, não estaria apoiada apenas nos frágeis ombros daqueles que se encontram às voltas com suas próprias lutas redentoras.

(Mensagem: Palavras de estímulo)

(...) Entretanto, a evangelização da infância e da juventude, nos programas estabelecidos no Mundo Espiritual, sob o comando das hostes de Jesus, reclama uma prioridade e uma urgência cada vez mais elaboradas pelos companheiros da terra, visto que o aprofundamento do conhecimento espírita e a ampliação da sensibilidade intuitiva permitirão que se estabeleça uma só equipe de tarefeiros. Não mais trabalhadores “de cá” e trabalhadores “de lá”, não apenas “equipe terrena” e “equipe espiritual”, e sim o “grupo do trabalho de Jesus”.

(Mensagem: Aos evangelizadores espíritas de infância) (Dossiê Fenelon Barbosa, Lamartine Palhano Júnior)

O Espírita Vaidoso

(...) Estava completamente equivocado. Aqueles irmãos, alguns esclarecidos, outros portadores de instrução precária, mesmo os considerados analfabetos, se encontravam em melhores condições do que eu.

Pela dedicação, pelo esforço, pela boa vontade, assimilavam os preceitos evangélicos e a maioria procurava exemplificá-los (...). Estava completamente equivocado. O que aprendiam nos postulados das teologias que professavam procuravam, dentro de seu entendimento e possibilidades, transmitir aos seus irmãos de ideais.

Exibicionista, empolado como um pavão, cego de presunção, percebi, mais tarde, que eu repetia como um papagaio, com empáfia, o conhecimento que estava armazenado em mim.

Ignorei completamente as recomendações dos espíritos nas obras básicas da Doutrina Espírita: quem tivesse mais conhecimentos deveria auxiliar, com paciência e benevolência, aqueles que sabiam menos. Aplicar o amor ao próximo sem restrições, inclusive quando se tratasse de considerar as suas convicções religiosas, lembrando, sempre, que Deus é o pai comum e cada qual deverá colaborar com sua parcela para a marcha do progresso.

(...) Sem análise mais profunda das comunicações psicografadas, sem critério mais seguro, tachava-as como insignificantes, destituídas de clareza e mesmo de veracidade.

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Como ditador brilhante nos conhecimentos, tinha conceito ególatra e, na manifestação do meu orgulho, não me importava em magoar ou ferir, justificando-me que estava à procura da verdade.

Observando a minha atitude incoerente e antifraternal, alguns espíritos estavam à minha espreita: se alguns se divertiam à minha custa, zombeteiros e brincalhões, outros regozijavam-se com os meus deslizes ao ferir e prejudicar as pessoas, muitas vezes retirando-lhes a fé e o ânimo para o difícil trabalho no bem. Aguardavam o momento da minha chegada aos umbrais do mundo espiritual.

Que lástima! Quanto tempo desperdiçado em louvar da vaidade, da presunção e da prepotência!

Encontrava-me envolvido por espíritos trevosos que se ligaram a mim em decorrência das imperfeições que eu trazia, não utilizando verdadeiramente o Espiritismo para diminuí-las.

Petulante, naturalmente, angariava a antipatia das pessoas que contestava constantemente em choques mais ou menos ostensivos.

Os anos se sucediam e eu continuava a papaguear, repetindo trechos, pensamentos, palavras brilhantes e até mesmo citando obras científicas, visando a demonstrar a minha cultura que eu julgava de grande expressão.

Chegado o momento do retorno à pátria espiritual, após o desencarne, espíritos que se mantiveram ligados comigo, em virtude de sintonia mental, jubilosos me aguardavam.

Fui transferido, na espiritualidade, para um local compatível com o meu grau de evolução espiritual.

Na companhia de espíritos de padres católicos, pastores, pregadores de outras religiões, que também, no plano físico da Terra, haviam aparentado virtudes, que haviam ostentado a “sabedoria religiosa” sem exemplo, tinha, agora, amplo campo para as intermináveis discussões sobre a verdade e os princípios teológicos. Ambiente sombrio de tristeza e depressão.

(...) Tinha noção da situação em que me encontrava. O pensamento cada vez mais lúcido, como se nuvens espessas aos poucos se desfizessem, clareando as minhas ideias, começava a perceber a incoerência entre o meu “saber” e o meu “ser”.

(...) Preponderante foi o esforço e a proteção de minha querida mãe, não possuidora de cultura acadêmica, que se encontrava nos planos espirituais superiores.

Comigo, instrutores espirituais traçaram um plano para que eu pudesse iniciar o desbastamento das arestas da minha personalidade, principalmente os fortes do orgulho e vaidade.

Iniciei tarefas simples de assistência amorosa a outros espíritos vaidosos e orgulhosos que se debatiam em polêmicas intermináveis nas regiões umbralinas, procurando ouvi-los com carinho e amor e não mais tentando vencer a golpes verbais.

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Posteriormente, recebi a incumbência de, pela intuição, sensibilizar aqueles irmãos equivocados como eu que, muitas vezes, perturbaram as pessoas nos centros e no movimento espírita...

(Histórias e recados do mundo espiritual, Espíritos Diversos) Palavras de Divaldo Pereira Franco, em 24/7/2011, no 1o Encontro sobre

Mediunidade, na FEB/RJ

(...) Tínhamos uma reunião na qual fazíamos a divulgação da Doutrina, era uma reunião consoladora e, na parte terminal, aplicávamos passes coletivos.

(...) Eu fiquei surpreso, porque nunca antes houvera visto. Então, me detive e consegui identificar a pessoa que estava sendo banhada por essa luminosidade especial. Fiquei muito emocionado, pois não conhecia profundamente o Espiritismo, nem o conheço — conheço-o ainda na sua superfície, porque uma doutrina grave como o Espiritismo não se vadeia em uma única reencarnação. É necessário o trabalho apostolar de muitas existências. O que os benfeitores sempre dizem é que estamos no começo da Revelação.

Ao terminar a reunião, identifiquei a senhora. Era uma afrodescendente — naquele tempo podia-se dizer que a pessoa era negra, sem nenhuma ofensa, não havia mesmo objetivo de subestimar. Então, terminada a reunião, eu lhe dei um sinal, era uma senhora que frequentava a nossa Casa fazia meses. Aparentava 40 anos, aproximadamente, e sempre estava modesta e limpamente vestida.

(...) Eu atendi os compromissos estabelecidos e, uma hora e meia depois, sentei-me ao seu lado, peguei-lhe nas mãos e disse: “Eu vi uma coisa tão linda sobre a senhora, o que a senhora sentiu hoje em nossa reunião?”

Naquela época, não era muito comum o ar refrigerado — veja o quanto nós evoluímos em apenas 60 anos. Ela disse: “Ah! Meu irmão, eu senti um friozinho tão bom, eu fechei os olhos e viajei, eu viajei numa barca toda feita de luz, eu fico até com vergonha, porque eu não sei se foi um sonho; será que eu dormi?”

Eu disse: “Não, não dormiu, a senhora desprendeu-se, porque realmente um banho de luz descia sobre a senhora. Então me dei conta de que a senhora pode nos ajudar muito”.

(...) E ela então me disse; “Como é que poderei?” Respondi-lhe que gostaria de convidá-la a aplicar passes, porque era uma

senhora de alma tão nobre. Fiquei com vergonha de elogiá-la, porque era a primeira vez que tínhamos um contato físico, embora ela frequentasse a reunião muitas vezes.

Ela disse: “Mas meu irmão, como é que poderemos fazer?” Respondi: “A senhora vem aqui aos sábados, à tarde, depois do atendimento

aos doentes, e eu lhe explico. A senhora olha como é que nos aplicamos, vai apren-dendo e, em breve, a senhora vai fazer parte da pequena equipe dos que aplicam passes coletivos em nossa reunião”.

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(...) Eu lhe disse: “vou-lhe dar este livro, porque muitas vezes a senhora vai ver pessoas doentes no bairro e irá gostar de aplicar um passe, mas vou lhe dar um conselho, nunca vá a sós, porque a senhora sabe, as pessoas são intolerantes, a senhora é muito modesta, e, se o paciente vier a morrer, vão dizer que foi feitiço” — “Vão dizer que foi feitiço, foi magia negra, qualquer coisa. A senhora vá com uma testemunha, nunca receite nada, nem chá. A senhora vai aplicar passe.”

Mas ela estava espichada, cabelo partido ao meio, e então disse: “Irmão Divaldo, hoje é o segundo dia mais feliz da minha vida.” Eu disse: “E o primeiro?” “Foi um dia da revelação. Quando o irmão me falou que uma luz me banhava

e que eu viajei numa barca. Hoje é o segundo.” E eu perguntei: “Mas por quê?” “Porque acabo de me diplomar pelo Movimento Brasileiro de Alfabetização

dos Adultos (Mobral).” Então eu caí em mim, vendo que havia cometido uma gafe; havia-lhe dado O

Evangelho, pedido para ela ler, e ela era analfabeta! “Mas então, meus parabéns!” “Pois é, irmão Divaldo, e vou-lhe contar, eu fui a oradora, por que o senhor sabe,

Espírita é de morte!” “Não, é de vida,” “mas fala com os mortos”. “Com os vivos.” Sorrimos, e ela disse: “É que nós espíritas aprendemos a falar, a doutrinar, se a pessoa tem uma queda a gente diz assim: não reclame, é de baixo que vai pra cima, tem sempre uma explicação. E lá no curso eu sempre tinha explicações, o que o irmão falava aqui eu repetia lá, do meu jeito, aí me convidaram para ser a oradora e eu falei sobre a missão de educar”.

(...) — Eu chego, sento-me com a minha companheira e digo ao doente: abra e leia, por favor. Quando ele diz que não sabe ler, eu dou à companheira, leia, eu também não sei ler, então eu vou falar o que o irmão Divaldo contou. Mas eu nunca me confessei como analfabeta e se passar agora, meu irmão, eu abro em qualquer lugar e leio suavemente.

(Em nome do amor: A Mediunidade com Jesus – Espírito Bezerra de Menezes – Divaldo Franco – Primeira parte: A prática mediúnica)

O estudo doutrinário como terapia

Pertenço à equipe de espíritos colaboradores da Casa dos Espíritas, embora não tivesse tido com ela nenhuma ligação, quando encarnado. Descrevendo minha história, vocês irão compreender como isso aconteceu.

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Residia na cidade de São Paulo, tinha uma família, vivia com minha mulher e meus filhos. Desfrutava uma situação invejável na empresa em que trabalhava.

Certa manhã, quando ia para o trabalho, percorrendo o mesmo trajeto que fazia todos os dias, enfrentando o trânsito terrível da cidade grande, eis que, ao ultrapassar um farol favorável para mim, inesperadamente, um carro surgiu na minha frente. O motorista cometeu uma infração visível e criminosa, cortando-me a frente, então ocorreu o impacto inevitável.

Um acidente de grandes proporções. Dois carros totalmente estraçalhados. Inconsciente, colocado numa ambulância, fui levado às pressas para um

hospital. Submetido a uma delicada cirurgia, gradativamente, fui retomando a consciência.

Desconfiava que algo muito grave havia ocorrido comigo... não sentia nenhuma reação nas minhas pernas.

Cautelosos, médico e familiares aguardavam o momento oportuno para revelar a triste realidade.

Enfim, havia chegado a hora de eu saber as consequências daquele trágico acidente.

Fui informado de que minhas pernas estavam paralisadas e o diagnóstico era de que seria impossível eu voltar a andar. Estava condenado a passar o resto da minha vida em uma cadeira de rodas.

Um misto de tristeza e revolta apoderou-se de mim, lágrimas rolaram pelo meu rosto, misturada com soluços de dor!

Foi um duro golpe... Debalde, tentava me consolar. Desesperado, não entendia como ainda conseguia concatenar as ideias, em um cérebro que parecia explodir pelo impacto do sofrimento.

Tudo aconteceu em um relance e a minha vida havia se modificado radicalmente. A partir de então, eu me tornara um homem totalmente dependente dos meus familiares ou enfermeiros.

Como eu poderia conviver com minha mulher e meus filhos naquela condição? Revoltado, pensava: “não tive culpa”. Aquele cidadão imprevidente atraves-

sou o farol com o sinal vermelho... Não tinha o direito de fazer isso comigo... era um irresponsável... onde se encontrava Deus e a sua justiça?

Um turbilhão de indagações, com meus pensamentos atormentados, varria o meu cérebro. Por mais que eu me esforçasse, não encontrava uma resposta satisfatória.

Nesse estado de ânimo, enclausurado no meu quarto, cada vez mais taciturno, recusava receber parentes e amigos, que vinham à minha residência.

Repelia quaisquer manifestações de consolo.

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Era grosseiro com minha mulher, dedicada e amorosa; ficava irritado com a presença dos meus filhos.

Como me sentia amargurado... Numa abençoada manhã, minha jovem e delicada filha, entrando em meu

quarto com um livro nas mãos e aproximando-se carinhosamente, perguntou: — Pai, eu gostaria de ler para você um trecho deste livro, que, acredito, vai ser

muito proveitoso, aceita? Categoricamente, refutei a sugestão. Não pretendia ler nada, nem que fosse

lida alguma coisa para mim. Se o meu problema era irreversível, em que poderia me modificar a leitura?

A ternura aliada com a persistência equilibrada surtiu efeito. Aos poucos acabei cedendo aos apelos carinhosos da filha, que com desvelo tencionava ajudar.

Num determinado momento, permiti que fosse lido um trecho daquela obra. Aos poucos, fui sentindo uma agradável sensação e a tensão diminuía. Notava que, dia a dia, fortalecia-me e com o tempo passamos a interpretar e

comentar todo o capítulo. Logo mais, juntando-se a nós os demais familiares, formamos um grupo de

estudo coeso. Sentindo-me melhor, saí da reclusão do meu aposento, recebendo com bom

humor as pessoas que chegavam à minha casa. Conversava com elas, procurando passar-lhes o que eu havia aprendido. Assim, sucessivamente, outros livros foram estudados. O livro que eu lera e estudara havia sido emprestado para minha filha por uma

amiga. Ela residia na cidade de São Paulo e era sócia do Clube do Livro Espírita Terceiro Milênio da Casa dos Espíritas.

Tratava-se do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec. Li outros livros que ela recebia desse clube, mas também resolvi adquirir

outros títulos, formando a coleção completa das obras de Allan Kardec, obras filosóficas e científicas. Com avidez, estudei as obras da codificação kardeciana, as psicografadas por Francisco Cândido Xavier e, entre elas, com especial carinho, as de André Luiz.

Conforme adentrava nos estudos, ampliando os meus conhecimentos, sentia uma vontade enorme de conhecer André Luiz, após o meu desencarne.

Transformado, tendo recebido valiosa preparação, chegou o momento de retornar à pátria espiritual. Desencarnado, estava consciente do que havia me acontecido, não mais pertencia ao plano físico.

Em dado momento, uma sensação agradável apoderou-se de meu ser, intensa luminosidade surgiu repentinamente. Emocionado, vislumbrei o espírito André Luiz à minha frente.

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Sem pronunciar nenhuma palavra, abraçou-me amorosamente. Lágrimas de gratidão rolaram na minha face.

— Obrigado, meu Deus, pela graça recebida — consegui balbuciar. Desfez-se a aparição e senti-me feliz em transpor a barreira da morte com o

devido esclarecimento e poderia situar-me numa faixa vibratória isenta de maiores sofrimentos.

Após o tempo necessário para o devido ajuste no novo plano existencial, solicitei a bênção do trabalho.

Pelos elos de gratidão e vínculos afetivos, permitiram-me a oportunidade de trabalho na instituição que me havia possibilitado sair da revolta e da angústia e penetrar na visão espiritual que me desenvolvera a compreensão, a alegria, a fé e o desejo de ajudar o meu próximo como me fosse possível.

Por isso, proponho-me, em minha tarefa, inspirar às pessoas que chegam ao Centro a leitura dos livros espíritas e o estudo doutrinário, inspirando-as diretamente ou agindo através dos cooperadores da Casa Espírita.

Nessa bendita terapia, lembro-me sempre do Espírito de Verdade: “espíritas, amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo”.

Augusto

Recebida pela psicofonia na sessão com os cooperadores da Casa dos Espíritas, em Lins/SP.

(Histórias e recados do mundo espiritual, Depoimentos e reflexões, Espíritos Diversos – Cap. VIII)

Tribuno Amargurado

Nas paragens além da morte, tive oportunidade de encontrar-me com conhe-cido tribuno espírita que, recém-liberto do corpo, não disfarçava o seu abatimento em face das surpresas decorrentes da desencarnação.

Entre nós, amigos de longa data, seguiu-se interessante diálogo, pedindo-lhes vênia para aqui nomeá-lo apenas por uma de suas iniciais.

— B. — interroguei, com o propósito de afastá-lo da tristeza em que se ensimesmava —, qual o motivo do desalento?! Você pregou tanto pelo Brasil afora!...

— Justamente por isso... Falei mais do que fiz... — Encaminhou muita gente ao bem... — Mas esqueci-me de perseverar no caminho que apontava aos outros. — Sente falta de alguma coisa?

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— Por incrível que pareça, sinto falta da atenção com que era ouvido... Por vezes, fico horas inteiras escutando o eco dos aplausos que sempre me saudavam ao término da minhas conferências.

— Você foi muito útil à Doutrina. — Não fosse pelo meu personalismo, poderia tê-lo sido mais. Defendi pontos

de vista pessoais... — Abracei equivocadas teorias doutrinárias... — O que faz presentemente? — Estou reavaliando... Preciso encontrar um caminho diferente... Percebo que

só pela palavra ninguém encontra Jesus... — Por que não continua ensinando a mensagem espírita? Você tem tanta

facilidade! — Curioso, é provável que agora a boa memória me traísse... Sinto o coração

vazio de amor e anseio repletar a alma de paz... — Não se recrimine tanto assim... Perto de muitos confrades, você pode ser

considerado um vitorioso. — Não é assim que estou me sentindo... Eu também fomentei muitas ilusões...

Não estou me referindo aos meus possíveis deslizes morais, com os quais a Lei tem sido muito condescendente; refiro-me à ilusão de ser mais do que sempre fui.

— Mas o tínhamos como um dos mais humildes do nosso meio! — Humilde por fora, Ramiro... No fundo, no fundo, estimava a bajulação, a

deferência com que era tratado... — E a mediunidade?... Você era possuidor de excelentes recursos! — Talentos que não aproveitei a contento... A rigor, não os coloquei a serviço

dos sofredores. Perdi-me num sem-número de reuniões particulares, nunca me fixando em centro espírita algum.

— B., mas nessa apatia espiritual... — Sei que ela não há de demorar-se comigo... Estou pleiteando anônimo

serviço de enfermeiro em um dos inúmeros pavilhões onde são recolhidos os religiosos que chegam da Terra em estado de frustração...

— Católicos, protestantes? — Espíritas, principalmente. A nossa turma lá embaixo anda enfiando os pés

pelas mãos... Acreditam-se com a bola toda... — Privilegiados, não é? — Um privilégio que não existe, pois, deste outro lado da vida, somos todos

iguais... Do lado de cá, não existe religião a, b ou c; existe o mérito espiritual baseado no esforço de cada um.

— E o conhecimento da Bíblia, de O Livro dos Espíritos?... — Ninguém, de fato, conhece o que não vivencia. Aqui têm muito mais valor

alguns bons calos nas mãos do que muitos versículos nos lábios...

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— Então, você está deixando de ser o que é... — Preciso esquecer o que fui; a fim de ser o que preciso ser, não posso ficar

preso às lembranças de mim mesmo. — E a obra que você deixou? — Sementes que plantei, nada mais. Se forem boas, com certeza continuarão

produzindo... — Caso contrário... — Caso contrário, Ramiro, o trator do tempo, em se encarregando de revolver

a terra, deixará a gleba pronta para outras semeaduras. — Algum recado para os nossos companheiros de ideal? — Que banquem os espertos; tratem de fazer no bem o que os outros mandam

e não de mandar o que os outros fazem. — Você não quer escrever a eles? — Não, obrigado... É possível que não me acreditassem. Coitado do médium

que me “recebesse”! Eu acabaria por colocá-lo numa tremenda enrascada!... — Sinto que o nosso diálogo lhe fez bem. — O desabafo sempre ajuda. — Pensa em reencarnar? — Assim que puder... — Deseja, novamente, ser espírita? — Não será condição sine qua non... Quero a religião na alma... Estou cansado

de rotulagens... — Mas ser espírita é rótulo?! — Para mim, acabou sendo. — Um abraço, B.; que Deus o abençoe em seus novos propósitos! — Propósitos antigos, Ramiro, propósitos antigos... Sem outros comentários, deixo-os com as reflexões que o inusitado diálogo

lhes inspire, afirmando-lhes, de minha parte, que os seus efeitos ainda me perduram n’alma, desconfiando que, depois dele, algo que não sei o que é também começou a mudar dentro de mim.

(Espírito Ramiro Gama. Diário da Mediunidade. Carlos Baccelli)

A Palavra de Monteiro

— Os ensinamentos aqui são variados. Fora o amigo de Belarmino quem tomara a palavra. Mostrando agradável maneira de dizer, continuou:

— Há três anos sucessivos venho diariamente ao Centro de Mensageiros e as lições são sempre novas.

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Tenho a impressão de que as bênçãos do Espiritismo chegaram prematu-ramente ao caminho dos homens. Se minha confiança no Pai fosse menos segura, admitiria essa conclusão. Belarmino, que observava atento os gestos do amigo, interveio, explicando:

— O nosso Monteiro tem grande experiência do assunto. — Sim — confirmou ele —, experiência não me falta. Também andei às tontas nas semeaduras terrestres. Como sabem, é muito difícil escapar à influência do meio, quando em luta na carne. São tantas e tamanhas as exigências dos sentidos, em relação com o mundo externo, que não escapei, igualmente, a doloroso desastre.

— Mas, como? — indaguei interessado em consolidar conhecimentos. — É que a multiplicidade de fenômenos e as singularidades mediúnicas

reservam surpresas de vulto a qualquer doutrinador que possua mais raciocínios na cabeça que sentimentos no coração. Em todos os tempos, o vício intelectual pode desviar qualquer trabalhador mais entusiasta que sincero, e foi o que me aconteceu. Depois de ligeira pausa, prosseguiu: — Não preciso esclarecer que também parti de “Nosso Lar”, noutro tempo, em missão de Entendimento Espiritual. Não ia para estimular fenômenos, mas para colaborar na iluminação de companheiros encarnados e desencarnados. O serviço era imenso. Nosso amigo Ferreira pode dar testemunho, porquanto partimos quase juntos. Recebi todo o auxilio para iniciar minha grande tarefa e intraduzível alegria me dominava o espírito no desdobramento dos primeiros serviços. Minha mãe, que se convertera em minha devotada orientadora, não cabia em si de contente. Enorme entusiasmo instalara-se-me no espírito. Sob meu controle direto estavam alguns médiuns de efeitos físicos, além de outros consagrados à psicografia e à incorporação; e tamanho era o fascínio que o comércio com o invisível exercia sobre mim, que me distraí completamente quanto à essência moral da doutrina.

Tínhamos quatro reuniões semanais, às quais comparecia com assiduidade absoluta. Confesso que experimentava certa volúpia na doutrinação aos desencarna-dos de condição inferior. Para todos eles, tinha longas exortações decoradas, na ponta da língua. Aos sofredores, fazia ver que padeciam por culpa própria. Aos embus-teiros, recomendava, enfaticamente, a abstenção da mentira criminosa. Os casos de obsessão mereciam-me ardor apaixonado. Estimava enfrentar obsessores cruéis para reduzi-los a zero, no campo da argumentação pesada. Outra característica que me assinalava a ação firme era a dominação que pretendia exercer sobre alguns pobres sacerdotes católicos-romanos desencarnados, em situação de ignorância das verdades divinas. Chegava ao cúmulo de estudar, pacientemente, longos trechos das Escrituras, não para meditá-los com o entendimento, mas por mastigá-los a meu bel-prazer, bolçando-os depois aos espíritos perturbados, em plena sessão, com a ideia criminosa de falsa superioridade espiritual. O apego às manifestações exteriores desorientou-me por completo. Acendia luzes para os outros, preferindo, porém, os caminhos escuros e esquecendo a mim mesmo. Somente aqui, de volta, pude verificar a extensão da

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minha cegueira. Por vezes, após longa doutrinação sobre a paciência, impondo pesadíssimas obrigações aos desencarnados, abria as janelas do grupo de nossas atividades doutrinárias para descompor as crianças que brincavam inocentemente na rua. Concitava os perturbados invisíveis a conservarem serenidade para, daí a instantes, repreender senhoras humildes, presentes à reunião, quando não podiam conter o pranto de algum pequenino enfermo. Isso, quanto a coisas mínimas, porque, no meu estabelecimento comercial, minhas atitudes eram inflexíveis. Raro o mês que não mandasse promissórias a protesto público. Lembro-me de alguns varejistas menos felizes, que me rogavam prazo, desculpas, proteção. Nada me demovia, porém. Os advogados conheciam minhas deliberações implacáveis. Passava os dias no escritório estudando a melhor maneira de perseguir os clientes em atraso, entre preocupações e observações nem sempre muito retas e, à noite, ia ensinar o amor aos semelhantes, a paciência e a doçura, exaltando o sofrimento e a luta como estradas benditas de preparação para Deus.

Andava cego. Não conseguia perceber que a existência terrestre, por si só, é uma sessão permanente. Talhava o Espiritismo a meu modo. Toda a proteção e garantia para mim, e valiosos conselhos ao próximo. Ao demais disso, não conseguia retirar a mente dos espetáculos exteriores. Fora das sessões práticas, minha atividade doutrinária consistia em vastíssimos comentários dos fenômenos observados, duelos palavrosos, narrações de acontecimentos insólitos, crítica rigorosa dos médiuns. Monteiro deteve-se um pouco, sorriu e continuou:

— De desvio em desvio, a angina encontrou-me absolutamente distraído da realidade essencial. Passei para cá, qual demente necessitado de hospício. Tarde reconhecia que abusara das sublimes faculdades do verbo. Como ensinar sem exemplo, dirigir sem amor? Entidades perigosas e revoltadas aguardaram-me à saída do plano físico. Sentia, porém, comigo, singular fenômeno. Meu raciocínio pedia socorro divino, mas meu sentimento agarrava-se a objetivos inferiores. Minha cabeça dirigia-se ao Céu, em súplica, mas o coração colava-se à Terra. Nesse estado triste, vi-me rodeado de seres malévolos que me repetiam longas frases de nossas sessões. Com atitude irônica, recomendavam-me serenidade, paciência e perdão às alheias faltas; perguntavam-me, igualmente, porque me não desgarrava do mundo, estando já desencarnado. Vociferei, roguei, gritei, mas tive de suportar esse tormento por muito tempo.

Quando os sentimentos de apego à esfera física se atenuaram, a comiseração de alguns bons amigos me trouxe até aqui. E imagine o irmão que meu espírito infeliz ainda estava revoltado. Sentia-me descontente. Não havia fomentado as sessões de intercâmbio entre os dois planos? Não me consagrara ao esclarecimento dos desen-carnados? Percebendo-me a irritação ridícula, amigos generosos submeteram-me a tratamento. Não fiquei satisfeito. Pedi à Ministra Veneranda uma audiência, visto ter sido ela a intercessora da minha oportunidade. Queria explicações que pudessem atender ao meu capricho individual. A Ministra é sempre muito ocupada, mas sempre

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atenciosa. Não marcou a audiência, dada a insensatez da solicitação; no entanto, por demasia de gentileza, visitou-me em ocasião que reservara a descanso. Crivei-lhe os ouvidos de lamentações, chorei amargamente e, durante duas horas, ouviu-me a benfeitora por um prodígio de paciência evangélica. Em silêncio expressivo, deixou que me cansasse na exposição longa e inútil. Quando me calei, à espera de palavras que alimentassem o monstro da minha incompreensão, Veneranda sorriu e respondeu: “Monteiro, meu amigo, a causa da sua derrota não é complexa, nem difícil de explicar. Entregou-se, você, excessivamente ao Espiritismo prático, junto dos homens, nossos irmãos, mas nunca se interessou pela verdadeira prática do Espiritismo junto de Jesus, nosso Mestre”.

Nesse instante, Monteiro fez longa pausa, pensou uns momentos e falou, comovido:

— Desde então, minha atitude mudou muitíssimo, entendeu? Aturdido com a lição profunda, respondi, mastigando palavras, como quem

pensa mais, para falar menos: — Sim, sim, estou procurando compreender.

(André Luiz. Os Mensageiros, Cap. XII, FEB)

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