24
LANCHE ESCOLAR EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO PRIVADO Hachel Pinheiro Melengate Resumo Esse trabalho teve a preocupação de compreender a importância da alimentação infantil nas instituições de ensino de caráter privado, analisando a merenda caseira de alunos da Educação Infantil da Escola Miguel. É de suma importância que a Instituição de Ensino da Rede Privada proporcione mecanismos para que o conhecimento sobre Educação Alimentar ultrapasse o prisma teórico, tornando-se espontâneo e habitual aos envolvidos no processo ensino aprendizagem. Entendendo que a educação plena ocorre quando resultante da parceria entre Escola e Família, o trabalho de conscientização dos pais e responsáveis, quanto à relevância e o incentivo de práticas alimentares satisfatórias, necessita estar incluso na política educacional da Instituição de Ensino. Essa pesquisa teve por objetivo central abordar a importância de uma alimentação saudável para o desenvolvimento da criança, em especial no que diz respeito ao lanche trazido pelo aluno para dentro do ambiente escolar. Foram realizados levantamentos bibliográficos e documentais, de uma pequena pesquisa de campo em uma escola de rede privada. Afora observações diárias, entrevistei informalmente a proprietária da cantina e uma farmacêutica. Defendo a promoção da reeducação do paladar, por meio de atividades

Endipe - Hachel Melengate

Embed Size (px)

DESCRIPTION

ResumoEsse trabalho teve a preocupação de compreender a importância da alimentação infantil nas instituições de ensino de caráter privado, analisando a merenda caseira de alunos da Educação Infantil da Escola Miguel. É de suma importância que a Instituição de Ensino da Rede Privada proporcione mecanismos para que o conhecimento sobre Educação Alimentar ultrapasse o prisma teórico, tornando-se espontâneo e habitual aos envolvidos no processo ensino aprendizagem. Entendendo que a educação plena ocorre quando resultante da parceria entre Escola e Família, o trabalho de conscientização dos pais e responsáveis, quanto à relevância e o incentivo de práticas alimentares satisfatórias, necessita estar incluso na política educacional da Instituição de Ensino. Essa pesquisa teve por objetivo central abordar a importância de uma alimentação saudável para o desenvolvimento da criança, em especial no que diz respeito ao lanche trazido pelo aluno para dentro do ambiente escolar. Foram realizados levantamentos bibliográficos e documentais, de uma pequena pesquisa de campo em uma escola de rede privada. Afora observações diárias, entrevistei informalmente a proprietária da cantina e uma farmacêutica. Defendo a promoção da reeducação do paladar, por meio de atividades lúdicas e a ação diretiva da escola em relação ao que comem seus alunos (em especial, o lanche escolar) com projetos que atinjam os responsáveis, ou seja, a "alfabetização em nutrição".Palavras-chaves: educação alimentar, rede privada de ensino, lanche caseiro, reeducação do paladar, alfabetização em nutrição.

Citation preview

LANCHE ESCOLAR EM INSTITUIES DE ENSINO PRIVADOHachel Pinheiro Melengate

Resumo

Esse trabalho teve a preocupao de compreender a importncia da alimentao infantil nas instituies de ensino de carter privado, analisando a merenda caseira de alunos da Educao Infantil da Escola Miguel. de suma importncia que a Instituio de Ensino da Rede Privada proporcione mecanismos para que o conhecimento sobre Educao Alimentar ultrapasse o prisma terico, tornando-se espontneo e habitual aos envolvidos no processo ensino aprendizagem. Entendendo que a educao plena ocorre quando resultante da parceria entre Escola e Famlia, o trabalho de conscientizao dos pais e responsveis, quanto relevncia e o incentivo de prticas alimentares satisfatrias, necessita estar incluso na poltica educacional da Instituio de Ensino. Essa pesquisa teve por objetivo central abordar a importncia de uma alimentao saudvel para o desenvolvimento da criana, em especial no que diz respeito ao lanche trazido pelo aluno para dentro do ambiente escolar. Foram realizados levantamentos bibliogrficos e documentais, de uma pequena pesquisa de campo em uma escola de rede privada. Afora observaes dirias, entrevistei informalmente a proprietria da cantina e uma farmacutica. Defendo a promoo da reeducao do paladar, por meio de atividades ldicas e a ao diretiva da escola em relao ao que comem seus alunos (em especial, o lanche escolar) com projetos que atinjam os responsveis, ou seja, a "alfabetizao em nutrio".

Palavras-chaves: educao alimentar, rede privada de ensino, lanche caseiro, reeducao do paladar, alfabetizao em nutrio.

Introduo

Essa comunicao prope a refletir sobre a importncia da alimentao infantil nas instituies de ensino de carter privado, analisando a merenda caseira de alunos da Educao Infantil s sries iniciais da Escola Miguel Moretth, sendo o nome fictcio de uma escola do Interior do Estado do Rio de Janeiro, evitando assim constrangimentos. uma Instituio de Ensino Privado que atende alunos da Educao Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Mdio e Ps-Mdio com 92 anos de tradio.A relevncia deste tema justifica-se por essa minha experincia, no incio da minha carreira como docente, com o falecimento de uma aluna de 3 trs anos de idade, devido ao agravamento de uma pneumonia, consequente de uma baixa imunidade ocasionada por uma alimentao pobre em valor nutricional.O Programa Nacional de Alimentao Escolar (PNAE), implantado em 1955, garante, por meio da transferncia de recursos financeiros, a alimentao escolar dos alunos. As Diretrizes para a Promoo de Alimentao Saudvel (SENADO, 2011)

prevem a garantia de uma alimentao rica em valores nutricionais para alunos tanto da rede pblica, quanto de rede privada de ensino, por meio de aes, como a suspenso de cantinas escolares. Porm, os rgos pblicos competentes no priorizam a fiscalizao da merenda escolar dos alunos da rede privada, o que torna a Educao Alimentar uma temtica transversal conteudista, distanciada de um conhecimento relevante para o aluno.Dessa forma, mais do que a abordagem sistmica com os alunos, este artigo defende a promoo da reeducao do paladar, atravs de atividades ldicas e a ao diretiva da escola em relao ao que comem seus alunos no ambiente escolar, atravs de projetos alimentares com palestras, filmes entre outros. Ou seja, construir uma "alfabetizao em nutrio".Tive, por objetivos, identificar os alimentos trazidos pelos alunos como lanche escolar e Analisar a dinmica nutricional do dia da fruta que ocorre, informalmente, na Escola Miguel Moretth e compar-la aos demais dias da semana. Ento, formulei questes: quais sero os alimentos trazidos pelos alunos como lanche escolar? E, existiria na prtica, o dia da fruta?Para sua realizao, foram efetuados levantamentos bibliogrficos e documentais, uma pequena pesquisa de campo, observaes dirias quanto ao que os alunos comem no recreio escolar, sempre anotadas em um caderno de campo, entrevistas informais com professoras e alguns pais, com a proprietria da cantina e uma farmacutica, sendo que esta ltima auxiliou-me na seleo de guloseimas saudveis. Enfim, elaborei breves experimentos com alunos sobre alimentao

LANCHE ESCOLAR EM INSTITUIES DE ENSINO PRIVADO

A Merenda Escolar no Brasil, oferecida aos estudantes da Rede Pblica de Ensino envolve, em seus primrdios, uma viso filantrpica de ajuda aos rfos e crianas de baixo nvel social e, posteriormente, um plano scio-poltico, objetivando uma complementao carncia alimentar dos alunos das classes populares. Considerada parte de uma poltica para a frequncia e permanncia das crianas desfavorecidas economicamente em instituies de Ensino, que, muitas vezes, frequentam as escolas em busca dessa refeio e quase ausente em suas casas (CHAVES, 1998). Essa preocupao pblica em relao merenda escolar continua at os dias de hoje com o Programa Nacional de Alimentao Escolar, por meio das Diretrizes para a Promoo de Alimentao Saudvel,

Art. 1 Esta Lei visa a instituir diretrizes para a promoo da alimentao saudvel nas escolas de educao infantil, fundamental e de nvel mdio das redes pblica e privada, em mbito nacional, de modo a favorecer o desenvolvimento de aes que promovam e garantam a adoo de prticas alimentares mais saudveis no ambiente escolar (SENADO, 2011, grifo meu).

Entende-se, dessa forma, que a preocupao com a merenda escolar conjetura aes educativas que garantam uma alimentao saudvel e no somente o oferecimento de alimentos aos alunos da (SENADO, 2011, rede pblica de ensino. Porm, como as instituies educativas da rede privada no recebem esse benefcio, seus alunos levam de casa alguma alimentao que ser nomenclaturada como Lanche Escolar ou Merenda Caseira, recebendo a devida distino da alimentao proposta pelo Governo.

1. A prtica da merenda caseira na escola Miguel Moretth

Segundo o Artigo 2 das Diretrizes citadas:

A alimentao saudvel um direito humano e compreende um padro alimentar adequado s necessidades biolgicas, sociais e culturais dos indivduos, de acordo com as fases do curso da vida (SENADO, 2011).

Como garantia ao cumprimento dessa exigncia, a presente Legislao determina que a Escola Pblica deva oferecer uma alimentao adequada s necessidades da criana, produzida em ambiente higinico, com a implementao de hortas e o uso dos alimentos nela produzidos, alm da restrio a implantao de cantinas escolares, com fins comerciais de alimentos com baixo valor nutricional e incentivo ao consumo de alimentos naturais, como frutas, legumes e verduras (SENADO, 2011).As dependncias Escola Miguel Moretth so um indicativo do paradoxo que abrange a Educao Alimentar e sua prtica no cotidiano, visto que no possui um espao adequado (refeitrio) para alimentao das crianas, conforme decretado na Legislao Vigente. Observa-se a presena de apenas uma mesa com quatro bancos, o que no suficiente para atender a demanda de aproximadamente uma centena de alunos. Este fator acarreta para que o recreio escolar seja um momento em que as crianas brinquem. As que lancham, o fazem sentadas em degraus de escadas ou em bancos acimentados no ptio e na quadra.Embora prevista pela Legislao Vigente, a prtica de uma alimentao saudvel

- A Merenda Escolar - elaborada por nutricionistas e oferecida s crianas -, no tem alcanado Rede Privada de Ensino. Sem devida fiscalizao, comum a atividade

comercial interna, com a finalidade de gerao de renda, suprindo algumas necessidades financeiras da escola, ou mesmo um servio terceirizado, vendendo-se alimentos ricos em gorduras, conservantes e corantes artificiais.No h intermeto do Estado em relao ao que comem os alunos atravs de fiscalizao vigente, estabelecedora de padres para o lanche escolar, ao menos no que diz respeito vistoria e cumprimento da proibio de cantinas em Instituies Privadas de Ensino. Em contrapartida, os Parmetros Curriculares Nacionais ressalvam a obrigatoriedade da abordagem do Tema Transversal - Sade - no currculo escolar no de modo informativo e conceitual, mas com aes que viabilizem uma atuao preventiva S doenas ocasionadas ou agravadas por uma alimentao insatisfatria s especificidades da infncia. possvel observar um paradoxo que abrange a Educao Alimentar (contedo metodicamente elaborado) e a prtica alimentar dos alunos em escolas particulares. Esse evento fato comprovado atravs da anlise do que os estudantes levam para o lanche, escolar em detrimento ao que aprendem formalmente em sala de aula. Dessa forma, os pais e responsveis legais so os elaboradores do cardpio informal de seus filhos, sem comprometimento legal com a qualidade do que oferecido, pois sobre quem ento recaem as consequncias da problemtica?Alice Miller (1997) usa a termologia Pobre criana rica para ilustrar um tipo especfico de desamparo: crianas que usufruem de uma vida confortvel do ponto de vista material, pois seus desejos podem ter sido satisfeitos, mas as suas necessidades, no. A afirmativa de grande relevncia para o presente trabalho,visto que atravs de dilogo com os alunos constatei que so ativos no ato da escolha da merenda caseira. Em seus lares, suas vontades em relao ao que comem so ouvidas e atendidas, porm suas necessidades nutricionais ficam em segundo plano. O lanche escolar trazido de casa pelas crianas composto por alimentos no saudveis e de marcas famosas. Assim, a dificuldade encontrada pelos pais e responsveis na elaborao de um cardpio de lanche saudvel e atraente s crianas, os produtos comercializados na cantina escolar, a comparao feita pelo prprio aluno do seu lanche, em relao ao trazido por seus demais colegas, so aspectos importantes a serem observados, objetivando uma educao alimentar que traga sade.Penso que se trata de um fator compensatrio, visando minimizar os danos gerados pela nova formao familiar, consequentes de fatores contemporneos, como uma vida profissional mais intensa que leva os pais ficarem mais tempo fora de casa, o ingresso intenso da mulher no mercado de trabalho e o alto ndice de divrcios, nesse

ltimo caso, tornando a famlia uma instituio com chefia feminina. Probst (2005, p. 5) afirma que A mulher deixou de ser apenas uma parte da famlia para se tornar o comandante dela em algumas situaes. Fato comprovado com o 2 ano escolar da instituio observada, onde seis dos doze alunos so filhos de pais separados, enquanto trs vivem somente com as mes.1.1. O experimento

A primeira etapa do experimento foi realizada em 19 de maio de 2011, com os alunos do 2 ano do Ensino Fundamental. Participaram 12 doze alunos, sendo trs meninos e nove meninas entre 7 e 8 anos de idade. Foi solicitada com devida antecedncia que cada aluno levasse uma fruta de casa, tendo para degustao uma pra, uma ma, uma banana, uma goiaba, um caqui, um cacho de uvas, uma caixa de morangos e uma mexerica. Aps a higiene das mos e das frutas, essas foram cortadas em pequenos pedaos e oferecidas aos alunos que se encontravam com os olhos vendados. Eles saborearam e identificaram combinaes distintas de frutas, encontrando dificuldades apenas em diferenciar ma e pra quando combinadas com outras, estabeleceram preferncias por algumas, como caqui, que tinha menor consistncia. Todos os alunos demonstraram apreo pelo alimento que estavam ingerindo, afirmando que no faziam parte de suas rotinas. A maioria preferiu frutas de aspecto mais atrativo, como o morango, a uva e a ma, o que nos auxilia na compreenso da importncia da forma de apresentao dos alimentos para sua boa aceitao.1.2. O Dia da Fruta

Na escola existe uma proposta informal chamada O dia da fruta. No descrita em seu Projeto Poltico Pedaggico. Alguns professores estabeleceram a quarta-feira como o dia propcio para que as crianas tragam de suas casas uma fruta para seu lanche escolar. Porm, na prtica, no h distino entre os demais dias da semana no cotidiano escolar. Para constatar esse fato, no perodo compreendido entre 15 e 22 de junho de2011, foram observados os hbitos alimentares dos alunos da Educao Infantil ao 5 ano do Ensino Fundamental, sendo crianas entre 3 e 11 anos, com boa condio financeira, em idade escolar normal e residentes na rea urbana do municpio. Foram recolhidos dados acerca de quantos alunos levaram frutas e quais suas motivaes.Alguns estudantes interrogados do 5 ano, perguntaram se valia nota trazer fruta. Pude concluir que o Dia da Fruta no faz parte de um projeto de incentivo mudana de hbitos alimentares e sim uma poltica de condicionamento. Os alunos

temiam no participar para no perder pontos em matemtica. Nos demais dias os alunos no levavam frutas, pois no eram punidos nem premiados pelo que comiam.Em relao Educao Infantil e ao 1 ano, as professoras de algumas turmas agendaram para o dia da fruta uma sesso pipoca, contrariando a proposta de estimulao de bons hbitos alimentares, sendo o lanche do dia (pipoca e refrigerante) no supridor das necessidades fsicas das crianas. O contedo das lancheiras tambm foi preocupante: Refrigerantes, salgadinhos embalados, iogurtes saborizados e coloridos artificialmente, biscoitos recheados de marcas famosas, fartos em acares, fazem parte da rotina alimentar desses alunos, da faixa etria considerada mais vulnervel - 0 a 5 anos - aquisio, desenvolvimento e agravamento de doenas, assim como ocorreu com a pequena aluna, inspiradora deste artigo. Com o trmino desse tipo de observao torna-se possvel verificar a negligncia dos pais dos alunos do Ensino Fundamental em relao ao que comem seus filhos. A ausncia da fruta na merenda caseira foi muito expressiva em relao a essas turmas.Ao serem questionados em relao ao seu cardpio, os alunos do 2 ano informaram que so ouvidos por seus pais em relao as suas preferncias. Exemplifico com uma aluna que se demonstrou muito relutante em relao a uma alimentao saudvel. Ao questionar sua responsvel em relao a esse episdio, respondeu-me que, por se tratar de uma criana adotada, que sofreu muito por ausncia de alimentos, procurava compens-la com o que denomina de abundncia e fartura. Contudo, compreendo que hoje, passa por outro tipo de escassez: a defasagem de alimentos ricos em valor nutricional - ao menos em mbito escolar - visto que sua merenda caseira, alm de ser composta por biscoitos recheados, salgados embalados, abundosos em sdio e gorduras e refrigerantes, ainda acompanhada por balas, bombons e pirulitos.Observar o 3 ano escolar trouxe reflexes de maior inquietao em relao alimentao na escola pesquisada. Durante toda a observao, nenhum aluno incluiu frutas a sua merenda caseira, exceto os gmeos que trouxeram uma tangerina, mas ficaram curiosos para saberem o motivo das minhas observaes. Trata-se da turma que mais compra lanches na cantina escolar (salgado e refresco artificial de xarope de guaran), cuja professora demonstra o mesmo comportamento, trafegando por toda escola com uma lata de refrigerante de cola nas mos, mesmo durante da fila. Sem dvidas, essa postura extremamente contribuidora para a formao de maus hbitos dos alunos que tem sua educadora como um exemplo.

Diferentemente, a professora do 4 ano escolar props a Hora da Fruta, incentivando seus alunos que separem um pequeno intervalo nas atividades do dia, s14h da tarde, para degustarem as frutas que trouxerem de casa. Ela participa da proposta, alm de no premiar com pontos extras ou punir qualquer criana por sua no participao. Voluntariamente, a maioria da turma teve excelente adeso essa proposta.1.3. Entrevistas

No dia 18 de junho de 2011 discorri, em uma conversa informal, com a Doutora Glria Camargo sobre a temtica que abrange o presente trabalho. Em sua experincia como docente em quatro escolas da Rede Privada do municpio nas reas de Cincias biolgicas, observa a contradio envolta entre a escolha alimentar dos alunos e os temas aprendidos em sala de aula. Segundo ela, as crianas tm ingerido uma quantidade de sal muito alm do que o organismo humano pode suportar. Isto ocorre porque o sal tem sido utilizado, para burlar a lei, mantendo a maioria dos alimentos industrializados como queijos, presuntos e mortadelas com aparncia saudvel, agindo como um conservante no benfico, pois quase sempre est em demasia, podendo provocar doenas renais. Desta forma, afirmou que os produtos vendidos em cantinas escolares tem o objetivo de promover lucro e no sade. O capital tem sido visto como algo mais importante do que a prpria vida.Objetivando conhecer os produtos vendidos na cantina escolar, foi realizada uma entrevista com a proprietria do estabelecimento no dia 20 de junho de 2011, quando fui informada que so comercializados salgados assados, bebidas em conserva, doces, balas e sanduches ditos como naturais, porm tendo como componentes milho, ervilha, presunto, maionese e batatas, todos industrializados. Segundo ela, os alunos compram diariamente um salgado e um refresco artificial de xarope de guaran ou refrigerante de coca, gastando em mdia trs reais para o lanche. O troco, se houver, preferencialmente usado para a compra de pirulitos. Quanto aos professores, os dados no mudam e a mdia mensal de dbitos pode alcanar at cem reais por professor.2.4. Apreciao de guloseimas saudveis

No dia 27 de junho de 2011 foi realizado com os alunos do 2 ano escolar da Escola - em nmero de dez, sendo dois meninos e oito meninas - uma atividade de apreciao de guloseimas saudveis e comparao com outras de marcas famosas. Para tanto foram usadas gulodices/petiscos de soja, no veiculadas nas grandes mdias e cujo valor nutricional significativo e iguarias semelhantes as que os alunos consomem

diariamente. As guloseimas que apresentam maior valor nutricional so dotadas de uma colorao esbranquiada (devido a no presena de conservantes artificiais em sua composio) em relao aos salgados com baixo valor nutritivo (abundantes em corantes, aromatizantes e saborizadores artificiais). Em relao a sua textura ttil, os salgados integrais ou light so mais secos, deixando menos resduos de oleosidade na ponta dos dedos e quanto mais saudvel o produto, mais leve e menos salgado seu sabor.

Os alunos s reconheceram as embalagens das guloseimas veiculadas nas grandes mdias ou vendidas na cantina escolar. Com os olhos vendados, ofereci uma amostra de cada uma, para identificar as diferentes reaes. Todas foram apreciadas e aceitas pelos alunos. Porm, demonstraram predileo por guloseimas de marcas famosas que, segundo eles, era considerada mais saborosa, por ter mais sal.Em relao escolha de um lanche saudvel, os alunos chegaram a um consenso de que um cardpio deveria ter uma fruta, um sanduche de queijo e presunto e um refrigerante de cola, o que remete a influncia das mdias em relao s preferncias infantis, no caso estudado, em relao alimentao. Sobre biscoitos, para os alunos, eles precisam ser bem doces. Conclui-se que de extrema importncia no somente uma Educao Alimentar no que diz respeito a contedos especficos em nutrio e sade. indispensvel refletir sobre uma reeducao do paladar infantil. Os excessos de sal e acar tem se refletido no condicionamento do paladar, impossibilitando que as crianas degustem e apreciem alimentos com temperos e sabores mais suavizados, livre dos extremos. Com o experimento, constatei que existem opes de lanches com embalagens ldicas, roupagem infantil e com valor alimentar nutritivo, comparado com aqueles que as crianas normalmente levam para as dependncias escolares.A instituio escolar no deve ser mera transmissora de conhecimentos e reprodutoras de seus contedos programticos. A relao dialgica entre educandos e educadores parte indissolvel ao processo ensino aprendizagem. Dessa forma, em relao temtica Educao Alimentar, o professor pesquisador alm de dispor aos alunos informaes a cerca de uma alimentao nutritiva, observa as prticas alimentares dos mesmos em seu ambiente escolar, debate e argumenta quanto a relevncia de uma alimentao saudvel como ao preventiva em sade e viabilizao de uma maior qualidade de vida.

2. Educao Alimentar: Uma Temtica De Ao Preventiva Em Sade

A Educao Alimentar em mbito escolar deve ser a maior promovedora de hbitos alimentares saudveis, tanto no nvel instrucional (garantindo o pleno conhecimento do que se entende por uma alimentao nutritiva e cooperadora do bom desenvolvimento fsico, cognitivo e scio-cultural, atravs de palestras aos pais, aulas dinmicas, entre outros) quanto em nvel prtico (ao se dispor na elaborao de cardpios saudveis, ambiente propcio para o momento da merenda, bom exemplo por parte de seus educadores). Desta forma, ao atrelar teoria e prtica em Educao Alimentar, a escola promove aes preventivas em sade, no que diz respeito ao desenvolvimento de doenas resultantes de uma baixa imunidade, tais como: anemia, diabetes, problemas renais, obesidade, hipertenso, problemas cardiovasculares, gripes e seus agravamentos.Uma alimentao saudvel aquela que tem todos os alimentos que necessitamos. Deve respeitar as preferncias individuais e valorizar os aspectos culturais, econmicos e regionais. Assim, importante que seja saborosa, colorida e equilibrada. Biazzi (1997), abordando a temtica hbitos alimentares benficos ao corpo humano, afirma que uma alimentao satisfatria no se constri atravs de uma grande quantidade de alimentos ingeridos, que no garante criana as protenas e vitaminas dirias que ela precisa. A variedade de alimentos tambm importante.Uma alimentao adequada um direito humano e compreende um padro alimentar adequado s necessidades biolgicas, sociais e culturais dos indivduos, de acordo com as fases do curso da vida (SENADO, 2011). O educador precisa estar disposto a ser o exemplo, pois alguns estudos apontaram para a importncia do papel do professor como modelo de estmulo aceitao de alimentos no ambiente escolar. Para isso, o treinamento dos professores uma condio, sensibilizando-os para o engajamento, processo mediado pelo profissional de sade como agente instrucional e motivacional (BIZZOI, 2003, p.6). A atual legislao sobremodo importante e esclarecedora quanto alimentao dispensada aos educandos, mas no estabelece aes que garantam que esses hbitos alcancem unidades privadas de ensino e nem que ultrapassem os limites da escola, permeando a vida do aluno, em uma educao integral.Por fim, Benchimol (2011, p. 6) atenta para a educao do paladar, j na infncia. A apreciao dos alimentos sem o acrscimo de acares e saborizadores

artificiais cooperam com o desenvolvimento do gosto alimentar da criana para a vida

adulta.

A Educao Alimentar uma temtica que tem sua abrangncia pedaggica e sua relevncia sociocultural. Busca promover uma alimentao no compensatria, mas Legal (pois se trata de um direito universal) atendendo as indigncias das diferentes classes sociais, no somente amparando aos menos favorecidos, como tambm conscientizando as classes detentoras de poder aquisitivo quanto aos benefcios de uma alimentao saudvel. Porm, para que essa proposta seja concretizada, necessrio estabelecer uma parceria entre a escola e a famlia, pois as refeies das crianas ocorrem de uma forma geral nos dois ambientes, tendo a famlia como mantenedora de ambas as situaes em casa e na escola.

Consideraes Finais

O estudo do tema Lanche Escolar em Instituies de Ensino Privado: A Educao Alimentar e a Merenda Caseira propiciou a fidcia de quo distantes ainda nos encontramos de um ensino para a vida, onde teoria e prtica se entrelacem na construo do conhecimento socialmente relevante. Desta forma, a merenda caseira em ambiente de instituies de ensino da rede privada precisa ser refletida e construda atravs de uma relao em conjunto (educadores, educandos e familiares). A escola tem por comprometimento a elaborao de um currculo segundo ao que estabelece os PCNs, visando meios para que o aluno obtenha o conhecimento necessrio em relao a uma alimentao nutritiva alm de promover mecanismos que forneam ao aluno plenas condies de formar bons hbitos alimentares, que promovam sade. de suma importncia que o Projeto Poltico Pedaggico adote projetos que cientifiquem tambm aos pais quanto ao seu papel em relao alimentao de seus filhos, atravs de eventos, palestras, feiras cientficas, murais informativos entre outros. O posicionamento dos educadores acopla mais do que a misso de transmitir conhecimentos. Antes, suas atitudes so ilustraes de seus ensinamentos. O bom exemplo em relao a sua alimentao torna o discurso digno de credibilidade. As crianas imitam as aes de seus professores, adotando-as como referncia. Isso poder ser um fator positivo ou inibidor de novos hbitos alimentares.Retomo a afetividade que abrange todos os envolvidos nesse processo. Em cunho demonstrativo, fao uma aluso entre a merenda escolar e a amamentao. A primeira alimentao da criana o leite materno, saudvel e nutritivo, tm todos os

nutrientes necessrios para o beb. Trata-se de um alimento proporcionado pela me para seu filho. Crescendo, sua alimentao continua sendo proporcionada por seus responsveis. As suas preferncias em relao ao seu paladar so uma explanao seletiva entre todos os alimentos que lhe foram oferecidos. Dizer que uma criana no come determinado alimento por que no gosta se afugentar das consequncias do oferecimento de guloseimas entre outros alimentos de sabor artificial, realizada por seus prprios progenitores. Uma vez criados, os maus hbitos alimentares so dificilmente substitudos por uma alimentao saudvel e nutritiva, pois concorrer com as grandes mdias que tentam influenciar nas preferncias das crianas no uma tarefa fcil, nem para pais e to pouco para educadores.A mesma relao de afetividade que permeia a amamentao infantil deve inspirar seus responsveis na promoo de hbitos alimentares saudveis, livre de chantagens emocionais devido questo de uma nova formao familiar. possvel sim proporcionar a criana uma merenda caseira nutritiva, saborosa e ldica. Porm, necessrio o engajamento de todos os envolvidos nessa problemtica. Trata-se de ensinar a fazer a escolha certa e no pression-la ou gratific-la.Alm de oferecer contedo programtico aos estudantes sobre a temtica, a Instituio de Ensino da Rede Privada deve proporcionar mecanismos para que o conhecimento construdo em um ambiente coletivo ultrapasse o prisma terico, abrangendo tambm um trabalho de conscientizao dos pais E responsveis, quanto relevncia e o incentivo de prticas alimentares satisfatrias, necessita estar incluso na poltica educacional da Instituio de Ensino.Conclui-se que de extrema importncia no somente uma Educao Alimentar no que diz respeito a contedos especficos em nutrio e sade. indispensvel refletir sobre uma reeducao do paladar infantil. Os excessos de sal e acar tem se refletido no condicionamento do paladar, impossibilitando que as crianas degustem e apreciem alimentos com temperos e sabores mais suavizados, livre dos extremos.A instituio escolar no deve ser mera transmissora de conhecimentos e reprodutoras de seus contedos programticos. A relao dialgica entre educandos e educadores parte indissolvel ao processo ensino aprendizagem. Dessa forma, em relao temtica Educao Alimentar, o professor pesquisador alm de dispor aos alunos informaes a cerca de uma alimentao nutritiva, observa as prticas alimentares dos mesmos em seu ambiente escolar, debate e argumenta quanto a

relevncia de uma alimentao saudvel como ao preventiva em sade e viabilizao de uma maior qualidade de vida.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

BENCHIMOL, Fania Szydlow. Alimentao Infantil Saudvel. Santa Catarina, Sesso Textos e reflexes. Disponvel em acesso em 13 de junho de 2011.BIAZZI, Elisa. Sucessos da cozinha saudvel. Uberlndia: Edies Natureza. 1997. BIZZOI, Maria Letcia Galluzzi e LEDER, Ldia. Educao nutricional nosparmetros curriculares nacionais para o ensino fundamental. Monografia. (Curso de Especializao em Intervenes Nutricionais em Sade Coletiva). Departamento de Nutrio Social e Aplicada, Instituto de Nutrio, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Brasil, s/d.

BRASIL Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao (FNDE) Programas - Alimentao Escolar. Disponvel em < http://www.fnde.gov.br/index.php/programas- alimentacao-escolar> Acesso em 28 de abril de 2011.

BRASIL. Diretrizes para a Promoo da Alimentao Saudvel nas Escolas de educao infantil, fundamental e nvel mdio das redes pblicas e privadas, em mbito nacional N 225, de 20. SENADO FEDERAL Disponvel em < http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=97953> Acesso em 28 de abril de 2011.

BRASIL. Temas Transversais. In: Parmetros curriculares nacionais. Braslia: MEC,1996.

CAMARGO, Glria. Entrevista. Nova Friburgo, 18 de junho de 2011.

CHAVES, Ftima Machado. O trabalho de serventes e merendeiras de escolas pblicas da cidade do Rio de Janeiro. Dissertao de Mestrado. Niteri: Centro de Estudos Sociais Aplicados. Faculdade de Educao. Universidade Federal Fluminense,1998.

MILLER, Alice. O Drama da Criana Bem Dotada: Como os Pais Podem Formar (e deformar) a vida emocional dos filhos. Perdizes: Summus, 1994.