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INICIAÇÃO À DOCÊNCIA, EXERCÍCIO PROFISSINONAL E CONDIÇÕES DE TRABALHO NA EDUCAÇÃO BÁSICA Este painel objetiva discutir as pesquisas sobre a inserção na carreira, abordando a questão das dificuldades e descobertas nos processos de socialização de professores da educação básica. Com base na análise de teses, dissertações e artigos, o primeiro trabalho apresenta informes de investigações sobre o processo de inserção profissional dos professores iniciantes na educação básica e busca realizar um estudo panorâmico sobre o tema tendo como lócus de pesquisa o IV Congresso Internacional sobre Professorado Principiante e a Inserção Profissional à Docência. O segundo artigo tem como objetivo apresentar o estado do conhecimento sobre professores iniciantes na educação infantil tendo como desafio mapear e discutir a produção acadêmica tentando responder quais aspectos e dimensões vêm sendo destacados e privilegiados nas diferentes pesquisas publicadas. O terceiro artigo busca identificar e analisar, sob o olhar do sujeito em exercício na função docente, quais são as dificuldades, desafios e descobertas que caracterizam a construção da profissionalidade docente das professoras em início de carreira na educação infantil, tendo como banco de dados os trabalhos apresentados em grandes eventos como Anped, Endipe, Congreprinci e também os artigos apresentados em periódicos Qualis A e B. Com esses estudos foi possível obter um mapeamento teórico sobre como o processo de inserção profissional na Educação básica está sendo caracterizada e discutida nas produções acadêmicas. Palavras-chave: Inserção Profissional. Professor Iniciante. Educação Básica. XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 7603 ISSN 2177-336X

INICIAÇÃO À DOCÊNCIA, EXERCÍCIO PROFISSINONAL E … · 2018-03-24 · sequencia ou ordem pré-estabelecida. ... Desconhecimento inicial sobre a ed. infantil ENDIPE Necessidade

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INICIAÇÃO À DOCÊNCIA, EXERCÍCIO PROFISSINONAL E CONDIÇÕES

DE TRABALHO NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Este painel objetiva discutir as pesquisas sobre a inserção na carreira, abordando a

questão das dificuldades e descobertas nos processos de socialização de professores da

educação básica. Com base na análise de teses, dissertações e artigos, o primeiro

trabalho apresenta informes de investigações sobre o processo de inserção profissional

dos professores iniciantes na educação básica e busca realizar um estudo panorâmico

sobre o tema tendo como lócus de pesquisa o IV Congresso Internacional sobre

Professorado Principiante e a Inserção Profissional à Docência. O segundo artigo tem

como objetivo apresentar o estado do conhecimento sobre professores iniciantes na

educação infantil tendo como desafio mapear e discutir a produção acadêmica tentando

responder quais aspectos e dimensões vêm sendo destacados e privilegiados nas

diferentes pesquisas publicadas. O terceiro artigo busca identificar e analisar, sob o

olhar do sujeito em exercício na função docente, quais são as dificuldades, desafios e

descobertas que caracterizam a construção da profissionalidade docente das professoras

em início de carreira na educação infantil, tendo como banco de dados os trabalhos

apresentados em grandes eventos como Anped, Endipe, Congreprinci e também os

artigos apresentados em periódicos Qualis A e B. Com esses estudos foi possível obter

um mapeamento teórico sobre como o processo de inserção profissional na Educação

básica está sendo caracterizada e discutida nas produções acadêmicas.

Palavras-chave: Inserção Profissional. Professor Iniciante. Educação Básica.

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

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PROCESSO DE INSERÇÃO PROFISSIONAL: PRINCIPAIS DIFICULDADES,

DESAFIOS E DESCOBERTAS DE PROFESSORES INICIANTES DA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Letícia Marinho Eglem de Oliveira

[email protected]

RESUMO

Vários estudos e pesquisas sobre a estrutura da carreira docente delimitaram uma

sequência de fases que os professores vivenciam durante todo seu exercício profissional.

Cada docente vive essas fases de maneira única e singular, não havendo assim um

sequencia ou ordem pré-estabelecida. Uma dessas fases refere-se à entrada na carreira

(1-3 anos), período marcado por grandes aprendizagens e também por grandes

dificuldades e desafios que influenciam, de forma positiva ou negativa, no

desenvolvimento profissional, na construção da identidade e na permanência ou

desistência da carreira desses professores. Inserido nesse campo investigativo, estão as

professoras iniciantes que atuam na educação infantil, etapa da educação básica que

vem ganhando destaque nas últimas décadas por sua relevância na formação de crianças

entre 0 a 5 anos de idade, o que gerou uma grande preocupação com o processo de

profissionalização das profissionais que atuam e irão atuar nessa etapa. Diante destes

apontamentos, o presente trabalho tem como objetivo identificar e analisar, sob o olhar

do sujeito em exercício na função docente, quais são as dificuldades, desafios e

descobertas que caracterizam a construção da profissionalidade docente das professoras

em início de carreira na educação infantil. Por meio de um levantamento bibliográfico,

tendo como banco de dados os trabalhos apresentados em grandes eventos como Anped,

Endipe e Congreprinci e também os artigos apresentados em periódicos classificados

em qualis A e B, foi possível obter um mapeamento teórico sobre como o processo de

inserção profissional, a profissionalização e a educação infantil estão sendo

caracterizadas e discutidas nas produções acadêmicas.

Palavras-chave: professores iniciantes, profissionalidade docente e educação infantil

Este trabalho tem como objetivo conhecer e estudar as produções já existentes

sobre a temática da professora iniciante na educação infantil no período entre 2000 a

2014. Esse levantamento foi realizado utilizando diferentes bancos de dados

possibilitando obter um mapeamento teórico sobre o objeto da pesquisa, identificando

assim como essa profissional e essa etapa da educação básica vem sendo caracterizada e

discutida nas produções acadêmicas.

Este levantamento bibliográfico foi organizado buscando selecionar produções

entre teses, dissertações, artigos apresentados nos GTs 7 e 8 de grandes eventos como:

ANPED, ENDIPE e CONGREPRINCI e periódicos (qualis A e B) que discutissem

sobre as especificidades do início da carreira docente dentro da realidade da educação

infantil sob diferentes contextos e abordagens.

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É necessário ressaltar que essa seleção atende aos seguintes critérios: a) ano de

conclusão, b) título dentro da temática, c) palavras-chave, d) leitura dos trabalhos

selecionados, e) fichamento das produções.

Mesmo obtendo uma grande quantidade de trabalhos analisados (136) foi

possível perceber que a temática da professora iniciante na educação infantil não está

chamando atenção de nossos pesquisadores, pois somente 19 trabalhos foram

selecionados, apesar dos anos iniciais da docência ser considerado como crucial para a

construção identidade profissional e permanência ou desistência da profissão.

Essa baixa produtividade pode ser observada no gráfico abaixo onde é

demonstrado a quantidade de produções analisadas e o número de trabalhos que

contemplam a temática.

QUADRO 1 – BANCO DE DADOS

Fonte: Dados analisados durante o primeiro semestre de 2015 e revisados em fevereiro de 2016

Durante a construção do levantamento bibliográfico alguns pontos se

destacaram, revelando aspectos importantes sobre a profissionalidade da professora

iniciante e da professora de educação infantil, especificidades do trabalho docente

(dessa etapa), pontos de similaridades entre os trabalhos selecionadas e dados

reveladores sobre o processo de inserção profissional, podendo até mesmo serem

classificados como pontos de mudança ou inclusão nas escolas que recebem esse novo

profissional.

Um dos primeiros elementos que mais chamou atenção durante toda a análise do

levantamento, diz respeito à similaridade das dificuldades, desafios e descobertas

apontados pelos sujeitos que participaram das pesquisas selecionadas. É impressionante

como a presença de sentimentos negativos, a preocupação em organizar o trabalho

Banco de Dados Trabalhos Analisados Trabalhos selecionados

Teses 7 -

Dissertações 23 -

Anped 11 3

Endipe 8 2

Congreprinci 51 9

Periódicos (qualis A) 10 -

Periódicos (qualis B) 26 5

Total 136 19

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pedagógico e o recebimento de críticas (tanta da equipe escolar como dos pais dos

alunos) aparecerem na grande maioria dos artigos.

Este dado permite afirmar que o início da docência é realmente um período de

grandes conflitos, tensões e desafios aos iniciantes. Afirmação essa não somente

levantada nessa pesquisa, mas também em várias outras, como os estudos realizados por

Castro (1995) e Fontana (2000), Huberman (1993), Imbernón (2001) e Marcelo Garcia

(1999), exemplificando alguns.

De acordo com Veenman (1984) os primeiros anos de exercício profissional dos

professores pode ser dramático e até mesmo traumático. Um dos maiores fatores que

contribui com essa tensa fase diz respeito ao “choque de realidade”, nesse momento os

docentes encontram a grande discrepância entre seus ideais de educação/ensino e a dura

realidade encontrada no dia-a-dia da sala de aula.

Contudo, não somente de desafios e dificuldades o início da docência é feito, os

iniciantes também vivenciam grandes descobertas que por muitas vezes permitem a

esses profissionais enfrentarem os aspectos negativos dessa etapa. Da mesma forma

como ocorreu anteriormente, foi possível identificar descobertas comuns entre as

pesquisas selecionadas.

A necessidade de continuar a formação e sua busca, a percepção da importância

em partilhar ideias, dúvidas e dificuldades para o desenvolvimento profissional, o

estágio como uma rica e poderosa ferramenta para a inserção profissional, conseguindo

até mesmo suavizar o choque de realidade tão comum nessa etapa da docência,

percepção que a formação inicial não proporcionou recursos suficientes para início da

carreira e a necessidade de organizar programas de iniciação à docência, foram alguns

dos elementos apontados pelos sujeitos dos trabalhos selecionados no levantamento.

Sobre a necessidade de organizar programas de iniciação à docência, Carlos

Marcelo Garcia comenta:

Os programas de iniciação para professores principiantes dão resposta à

necessidade de ser facultada assessoria e formação aos docentes que se

encontram no seu primeiro ano de ensino. Respondem, como vimos, à

concepção de que a formação de professores é um contínuo que tem de ser

oferecida de um modo adaptado às necessidades de cada momento da carreira

profissional. (GARCIA, 1999, p.112)

Para termos uma melhor visualização desses dados, foi construído um quadro

com todos os desafios, dificuldades e descobertas apontados pelos sujeitos das 19

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pesquisas selecionadas neste levantamento bibliográfico, assim poderemos obter uma

perspectiva mais exata sobre o processo de inserção profissional de professoras que

atuam na educação infantil.

Primeiramente as respostas foram anotadas e separadas entre duas categorias,

descobertas e desafios e dificuldades. Após esse momento, as respostas foram

agrupadas de acordo com seus significados e temáticas, gerando assim, vários campos

de investigação sobre essa professora e seu período de inserção profissional. Os quadros

abaixo exemplificam essa organização com algumas respostas selecionadas.

QUADRO 2- DESCOBERTAS, DIFICULDADES E DESAFIOS

DESCOBERTAS DIFICULDADES E DESAFIOS

ANPED

Percepção da necessidade de continuar a formação. Formação continuada

Prática como fonte de conhecimento Partilhar ideias e dúvidas Novas demandas: organização escolar Desconhecimento sobre suas próprias

defasagens Necessidade de organizar programas de

iniciação à docência Necessidade de pesquisar mais, ler,

estudar Partilhar dificuldades

Autonomia na docência Lidar com crianças pequenas Ansiedade Domínio do conteúdo Desconhecimento sobre suas próprias

defasagens Choque de realidade Pressão dos pais dos alunos, da direção Controle de turma Organização do trabalho pedagógico Tomar decisões coerentes com seus valores Desconhecimento inicial sobre a ed. infantil

ENDIPE

Necessidade de ter estratégias de ensino Necessidade de acompanhamento

próximo para as professoras iniciantes, podendo até mesmo ser transformado em políticas públicas

Necessidade de pesquisar mais, ler, estudar

Partilhar dificuldades

Ansiedade, insegurança, medo e desamparo

Relação com os pais dos alunos ligada a legitimação do trabalho

Domínio de sala Preocupação em saber intervir no

desenvolvimento das crianças.

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CONGREPRINCI

DESCOBERTAS DESAFIOS E DIFICULDADES

Formação Inicial muito distante da realidade da ed. Infantil

Faculdade deixou a desejar, muita teoria Importância da formação inicial Necessidade de aprofundar os estudos

sobre ed. Infantil Importância dos cursos oferecidos pela

secretaria de educação Valorização do magistério Importância do estágio para a atuação

docente e como primeiro contato com a escola

Relação entre as professoras iniciantes e as experiências: encontro de construção de saberes docentes

Singularidade na construção da identidade profissional

Trabalho colaborativo é importante para o crescimento do iniciante

Estabelecer relação entre o que se estudou e o contexto educativo

Angústia ao se deparar com a turma nova

Insegurança ao desenvolver o trabalho docente

Trabalho colaborativo na escola: professores novos e antigos: relação difícil

Insegurança Infraestrutura e recursos materiais Formação continuada: escola deve

ser lócus de formação Professores experientes não

desejam continuar suas formações Não há tempo livre Choque com a realidade social das

crianças Turma com muitos alunos

PERIÓDICOS, QUALIS B

DESCOBERTAS DIFICULDADES E DESAFIOS

Quer ser identificado como uma pessoa esforçada, que gosta de inovar

Quer ser reconhecido pelo bom envolvimento com as crianças

Quer merecer o respeito e carinho dos alunos

Revela a importância do compromisso que o professor de educação infantil possui

Caráter de continuidade de aprendizagem da profissão

Ambiente de trabalho como espaço de formação

Necessidade de criar programas de iniciação ao ensino para professores iniciantes

Importância da parceria com a coordenação

Construção da identidade profissional na vivência da ed. Infantil

Busca de formação constante Prática cotidiana é um espaço de

aprendizagem

Sentimentos contraditórios que levam o pensamento para a desistência da profissão

Preocupação em manter a qualidade do ensino

Busca por autonomia em sala de aula Lidar com crianças pequenas Ansiedade Transformação do conhecimento em

ensino Pensamentos de desistência Receptividade Bom relacionamento com a equipe de

trabalho e com os pais dos alunos Fase de adaptação das crianças Busca de formação constante Angústia, medo, sofrimento, decepções Lidar com turmas lotadas Cobrança da equipe técnica da escola e

dos pais Tensão Relação com os colegas de trabalho Preocupação com as regras institucionais

da escola.

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Necessidade de estabelecer parcerias com outros profissionais docentes da instituição.

Falta de opção na escolha da etapa da educação básica

Angústia, solidão Fonte: Oliveira, Letícia

Como podemos observar a quantidade de dados é grande e as similaridades

também. Um dos pontos que mais me chamou atenção refere-se a duas temáticas, que

de certa forma estão interligadas, a necessidade de criação de programas de iniciação à

docência e a necessidade de partilhar dificuldades, ideias e descobertas juntamente com

a presença do professor mais experiente no próprio local de trabalho do iniciante.

No Distrito Federal ainda não existem programas ou projetos que acompanhem o

professor iniciante de uma forma mais sistemática e formal em seu próprio ambiente de

trabalho, contudo, os dados obtidos com esse trabalho indicam a real necessidade da

elaboração de programas, projetos e até mesmo políticas públicas com esse intuito, ação

que poderia minimizar o abandono tão visível desse profissional.

É necessário indicar que já existe esse tipo de iniciativa pelo mundo, inclusive

no Brasil. Um dos trabalhos selecionados, “Desafios enfrentados por professoras

iniciantes no processo de docência” (CALIL, ALMEIDA, 2012) discute sobre essa

temática de forma bastante aprofundada, trazendo informações sobre os mais diversos

programas em funcionamento, inclusive uma lei que regulamenta essa proposta.

O projeto de Lei n° 227 desenvolvido pelo senador Marco Maciel, Residência

Pedagógica da Unifesp, Residência Pedagógica da Unesp e o projeto “Percursos de

formação e experiências docentes: um estudo com egressos do curso de pedagogia da

faculdade de formação de professores da UERJ” são alguns exemplos das iniciativas

discutidas neste trabalho.

Apesar de não existir um programa específico de acompanhamento dos

iniciantes em seu ambiente de trabalho, o Ministério da Educação (MEC) possuiu

políticas de inserção à docência e trabalhos direcionados aos futuros professores. Essas

políticas são discutidas no estado da arte Políticas Docentes no Brasil (Gatti, Barreto,

André, 2011) e umas delas é o PIBID- Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à

Docência que tem como objetivo incentivar a iniciação à docência e melhor qualificá-la,

visando melhorar o ensino ofertado pela educação básica.

Nesse projeto qualquer aluno da licenciatura pode concorrer as bolsas do

programa, podendo vivenciar as metas estabelecidas pelo PIBID, tais como: inserir os

estudos na realidade escolar proporcionando “oportunidades de criação e participação

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em experiências metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter inovador e

interdisciplinar que busquem a superação dos problemas identificados no processo de

ensino-aprendizagem” (BRASIL, 2010, artigo 3°, inciso IV).

Apesar dessa grande iniciativa nem todos os estudantes têm oportunidade de

ingressar no PIBID, dessa forma, o estágio curricular também pode ser considerado

como um importante espaço para os futuros professores, e os dados obtidos nesse

trabalho comprovam essa afirmação. Cerca de 15% dos artigos selecionados apontam as

contribuições desse espaço de formação para os iniciantes, inclusive nas falas dos

sujeitos participantes, como é possível observar no quadro apresentado.

Ainda sobre o processo de inserção profissional os dados também apontam que

os iniciantes consideram como dificuldade e descoberta a necessidade de acolhimento e

acompanhamento durante o início da docência. Esse elemento é enquadrado nas duas

categorias pois inicialmente o professor iniciante encontra-se em um mix de

sentimentos negativos (medo, ansiedade, angústia, sofrimento) e percebe que não possui

um espaço em que possa compartilhar essas sensações e discutir sobre as dificuldades

que está enfrentando em sala de aula, dessa forma, esse momento transforma-se em uma

dificuldade, além de perceber que o trabalho docente pode ser muito solitário,

constituindo novamente como uma dificuldade e descoberta.

Para termos uma melhor compreensão da visão dos iniciantes sobre seus

processos de inserção profissional, os desafios, dificuldades e descobertas apresentadas

no quadro 2 foram agrupadas e transformadas em categorias de análise, identificando

assim as áreas que mais se destacam nessa primeira fase da profissão professor.

Organização escolar e recursos: desafios e dificuldades

Universo da Ed. Infantil: dificuldade

Sentimentos Negativos: dificuldade

Estágio: descoberta

Construção da Identidade: descoberta

Relação professor, família e escola: dificuldades e desafios

Formação Continuada: descoberta

Choque de realidade: desafio e dificuldades

Novas percepções: descoberta, desafios e dificuldades

Programas de Iniciação à Docência: descoberta

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Escola, lócus de formação: descoberta

Lacunas de formação: descoberta, desafio e dificuldades.

Com o agrupamento das descobertas, dificuldades e desafios foi possível

identificar doze grandes categorias que influenciam diretamente no desenvolvimento do

trabalho das professoras iniciantes, tanto de forma positiva como de forma negativa.

As áreas estágio, programas de iniciação à docência, educação infantil e choque

de realidade se complementam, reforçando a noção de que os anos iniciais da docência

são um período de grandes desafios, tensões e aprendizagens para esse profissional.

Cada elemento abordado nessas áreas aponta para a necessidade de alguma forma de

acompanhamento ou auxílio para essa nova professora.

Já as áreas construção da identidade, novas percepções, sensações, organização

escolar e recursos e relação professor, família e escola sintetizam as maiores

dificuldades e desafios encontrados pelas professoras participantes das pesquisas. Esses

dados nos permitem identificar em quais elementos do trabalho docente a necessidade

de acompanhamento ou ajuda é mais necessária, podendo assim, direcionar o trabalho

que já vem sendo feito em alguns locais, conforme aponta este levantamento

bibliográfico e também servir de base para a criação de programas ou projetos que

auxiliam de forma sistematizada o professor iniciante.

Por último, temos as áreas formação continuada, lacunas de formação e escola,

lócus de formação, podendo ser identificadas como as principais descobertas das

iniciantes. Esses elementos podem ser considerados como reflexo das dificuldades e

desafios encontrados nos primeiros anos de docência, pois indicam combater o que foi

indicado com essas características. Por exemplo, muitas professoras apontaram que a

formação inicial foi insuficiente para lidar com a realidade escolar, principalmente

porque, na opinião das iniciantes, viram muita teoria e a prática foi pouco abordada.

Diante dessa situação, várias profissionais relataram que buscaram a formação

continuada para preencher essas lacunas e também acabaram descobrindo outros

espaços de aprendizagem válidos, como o ambiente escolar.

Outro fato que chamou bastante atenção durante a análise dos artigos diz

respeito a temática da educação infantil. Todos os trabalhos selecionados no

levantamento bibliográfico precisavam atender à vários critérios, e um deles seria

abordar a educação infantil como área de pesquisa dentro do objetivo do trabalho.

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Esse critério foi atendido, contudo, ao começar a leitura desses artigos foi

possível perceber que as especificidades do trabalho docente nessa etapa da educação

não estavam sendo discutidas ou apontadas nos trabalhos. Esse dado é bastante curioso

pois a maioria das pesquisas busca investigar o processo de inserção profissional das

professoras que atuam na educação infantil, mas acabam não entrando nesse aspecto do

trabalho docente. Apenas um trabalho, “Professores iniciantes e seus saberes para o

trabalho em creches” discute e analisa vários elementos que constituem o trabalho nessa

etapa de ensino, percorrendo a seleção de conteúdos, organização do espaço físico,

recursos materiais, características profissionais necessárias, planejamento das aulas,

relação com a família (específica dessa etapa) entre outros.

Esses dados parecem indicar uma falta de clareza ou até mesmo de importância

sobre as especificidades da educação infantil. Muitos artigos e muitas falas apontam

quase que exclusivamente para os polos cuidar e educar, sendo que o polo cuidar é mais

discutido, trazendo valores maternos e femininos como pertencentes da educação

infantil.

Essa forma identificar a educação infantil influencia fortemente os elementos

que constituem a profissionalidade dos sujeitos que atuem nessa área. Entendemos

profissionalidade neste trabalho, de acordo com o posicionamento de Ramalho, Nuñez e

Gauthier (2013) que a caracteriza pelo conjunto de conhecimentos/saberes necessários

ao exercício profissional, que no caso da docência seria a junção dos saberes das

disciplinas e os pedagógicos.

Por meio da posse desses conhecimentos e saberes, o docente começa a construir

as competências necessárias para exercer sua função. Mediante a formalização e

racionalização desses saberes é possível perceber que existe uma maneira mais ou

menos homogênea de trabalhar.

Esse caminho se faz necessário em qualquer etapa da educação básica e foi

identificado que apenas alguns elementos estão sendo apontados e discutidos nos

trabalhos aqui apresentados, não sendo possível identificar o que é específico da

educação infantil e o que já é considerado como universal, restando uma grande

questão: Como essa falta de especificidade está afetando a profissionalidade das

professoras iniciantes da educação infantil?

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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O processo de inserção profissional é um momento de grande importância para

todo indivíduo que inicia uma carreira. É o momento de entrar em contato com a

realidade profissional, talvez vista somente em textos, aulas e discussões durante sua

formação inicial e no caso da profissão docente, apresenta características marcantes que

necessitam ter uma maior atenção nos vários lócus de formação desse profissional.

A realidade estudada neste trabalho, professoras iniciantes que atuam na

educação infantil, trouxe várias contribuições para esse processo de inserção, indicando

pontos onde existe a necessidade de maior acompanhamento e atenção em relação a

esse profissional, tais como: acolhimento ao ingressar, apoio das profissionais mais

experientes, choque de realidade, relação família/escola, formação inicial insuficiente,

necessidade de criar programas de iniciação à docência, realidade social e econômica

dos alunos, entre outros.

Esses dados permitiram obter uma melhor visualização sobre o que os iniciantes

consideram como suas maiores dificuldades, desafios e descobertas no início da

carreira, possibilitando assim, traçar ações ou estratégias nas várias dimensões que

constituem o desenvolvimento profissional dos professores, ou seja, na formação inicial,

continuada e no espaço escolar.

Contudo, também foi possível perceber que não há uma discussão sistemática e

aprofundada sobre o que é específico do trabalho docente na educação infantil. Esse fato

trouxe grandes questionamentos sobre a profissionalidade dessa etapa da educação

básica e parece apontar para uma ausência dessa especificidade. Dessa forma, este

trabalho considera que o estudo do processo de inserção profissional é fundamental para

a investigação dessa aparente falta de especificidade encontrada nos trabalhos

analisados, revelando assim a importância e urgência dessa área de pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Decreto nº7.219, de 24 de junho de 2010. Dispõe sobre o Programa

Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência- PIBID e dá outras providências. Diário

Oficial da União. Brasília: Casa Civil da Presidência da República, 2010. Disponível

em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/_03/_Ato2007-2010/Decreto/D7219.htm.

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Desafios enfrentados por professoras iniciantes no processo de docência. Unicamp, 2012.

CASTRO, M. A. C. D. O professor iniciante: acertos e desacertos. 1995. 120p. Dissertação

(Mestrado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1995.

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7613ISSN 2177-336X

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CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE PROFESSORADO PRINCIPIANTE E

INSERÇÃO PROFISSIONAL Á DOCÊNCIA, IV, 2014, Curitiba. Professores iniciantes e

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FONTANA, R. C. Trabalho e subjetividade. Nos rituais da iniciação, a constituição do ser

professora. Cadernos Cedes, Campinas, ano XX, n. 50, p. 103-119,2000.

GARCIA, Carlos Marcelo. Formação de professores para uma mudança educativa.

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GATTI, Bernadete Angelina, BARRETO, Elba e ANDRÉ, Marli Eliza Afonso. Políticas

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HUBERMAN, M. The lives of teachers. New York: Teachers College Press, Columbia

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IMBERNÓN, F. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza.

2. ed. São Paulo: Cortez, 2001. 119 p. (Coleção, Columbia University, 1993).

RAMALHO, B. L.; NUÑEZ, I. B.; GUATHIER, C. Formar o professor, profissionalizar o

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VEENMAN, S. Problemas percebidos de professores iniciantes. Review of Education, verão

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7614ISSN 2177-336X

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DIFICULDADES E DESCOBERTAS DOS PROFESSORES INICIANTES NA

EDUCAÇÃO BÁSICA: O QUE FALAM AS PESQUISAS

Prof. Ms. Rodrigo Fideles Fernnandes – PUC Goiás

[email protected]

RESUMO

O presente texto tem como foco os informes de investigações sobre o processo de

inserção profissional dos professores iniciantes e busca realizar um estudo panorâmico

sobre o tema tendo como lócus de pesquisa o IV Congresso Internacional sobre

Professorado Principiante e a Inserção Profissional à Docência. A motivação para a

pesquisa origina-se das inquietações que, ao longo da trajetória profissional e de

pesquisas na formação de professores surgem sobre os professores no início de carreira.

O período caracterizado como o início da carreira – compreendido geralmente pelos três

primeiros anos de magistério – é identificado como a fase mais difícil, por ser a fase de

transição de aluno a professor, no qual é comum o sentimento de insegurança, medo e

de despreparado profissional. O período de iniciação é a etapa em que o professor busca

conhecer a sua própria situação e definir os comportamentos que serão adotados no

exercício da atividade profissional. Nessa etapa o professor encontra novos desafios,

podendo perceber um distanciamento entre o idealizado durante a formação inicial e a

realidade encontrada na sala de aula e na própria escola, o que coloca em conflito seus

conhecimentos, atitudes e crenças e que pode levá-lo a desistência da carreira docente.

Palavras-chave: inserção profissional – dificuldade e descobertas - educação básica.

INTRODUÇÃO

Este estudo tem como foco a inserção profissional do professor iniciante e a

organização do trabalho pedagógico buscando compreender como se dá esse processo

em meio as dificuldades e descobertas encontradas nesta inserção, considerando a

centralidade do processo pedagógico para a profissionalidade docente. Os professores

ao iniciarem a sua atuação profissional vão constituindo o seu modo de ser docente em

meio à tensão existente entre conflitos, descobertas e realizações. Assim, se propôs

estudar este processo da profissionalidade docente, no intuito de contribuir com a

análise da realidade do trabalho docente, a fim de trazer elementos que possam subsidiar

propostas e programas de acompanhamento e fortalecimento da ação docente no início

da carreira, apoiando o professor iniciante e possibilitando a formação deste profissional

com maior segurança, desenvoltura e habilidade para lidar com o cotidiano do trabalho

pedagógico.

Huberman (2000) ressalta que este momento do início profissional da docência é

caracterizado pelos estágios de sobrevivência, desistência e descoberta. Este momento

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

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de sobrevivência está relacionado com o choque de realidade como “[...] o colapso das

ideias missionárias forjadas durante o curso de formação de professores, em virtude da

dura realidade da vida quotidiana na sala de aula” (VEENMAN, 1984 apud ESTEVE,

1995, p.109). No qual entre tantas experiências, o professor passa por um tatear

constante, percebe distância entre os seus ideais e as realidades cotidianas da sala de

aula, oscila entre relações demasiado íntimas e demasiado distantes, enfrenta

dificuldades com os alunos que criam problemas. Segundo o autor, o professor só

consegue enfrentar este primeiro aspecto por acontecer paralelamente à descoberta, que

é o entusiasmo do professor por estar em uma situação de responsabilidade. Entretanto,

pode ser também vivenciado um conflito tão forte que provoque a saída, ou seja, a

desistência da carreira do magistério.

Algumas pesquisas (Mariano, 2005; Bejarano; Carvalho, 2003; Quadros et al.,

2006) relatam que a insegurança, a cultura escolar, as condições de trabalho, somada a

um sentimento de isolamento tomam conta do professor iniciante. Além disso, ao

observar a realidade de seu trabalho pode desenvolver conflitos e preocupações

educacionais, especialmente em contextos que afrontem a sua perspectiva de trabalho e

podem desestimular a continuidade da carreira. Tais conflitos podem ser entendidos

como situações em que o professor não esperava encontrar ou que está em contradição

com suas próprias crenças e expectativas do que é ser professor.

Sabemos que a aprendizagem pode ocorrer em várias etapas do desenvolvimento

profissional docente, mas salienta-se que é no exercício do trabalho, entendo esse

trabalho como categoria fundante do ser social

[...] dá origem a complexos sociais que são, concomitantemente, fundados

elo trabalho e dele distintos. Sem as posições teleológicos primárias, as

secundárias não poderiam sequer existir. Sem as transformações do real por

meio da objetivação de posições teleológicos, não teria qualquer sentido

tentar conversar outros indivíduos para que exerçam uma dada ação sobre o

existente (LESSA, 1996, p.51).

Nos primeiros anos de ingresso, que os conhecimentos apreendidos são

acionados para desenvolver competências e saberes necessários no cotidiano escolar.

Nesse movimento vão se constituindo modos próprios de ser, estar, pensar e agir na

profissão, num processo que envolve aspectos coletivos e subjetivos e que pode ser

compreendido pelo conceito de profissionalidade docente, tendo em vista, que as

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

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especificidades do trabalho realizado pelos professores impossibilita compreendê-lo sob

a perspectiva das demais profissões.

Segundo Cunha (2006) “a docência é uma atividade complexa, que exige tanto

uma preparação cuidadosa, como singulares condições de exercício, o que pode

distingui-la de algumas outras profissões” (p.84). A autora destaca ainda, que o conceito

de profissionalidade apresenta-se como melhor opção para discutir a atividade docente,

por se aproximar do contexto em que se desenvolve a ação. A profissionalidade pode

ser compreendida como o processo que decorre do ato de ensinar e consiste na

apropriação e reconfiguração, de acordo com a dinâmica e vivencia de cada professor,

de elementos que resultam da sua relação com os alunos, com seus pares e com a

instituição escolar, numa dinâmica de intensa articulação com a profissionalização e

com a produção material da vida social.

A DESCOBERTA DA PROFISSIONALIDADE NA FASE INICIAL DA

CARREIRA DOCENTE

O número de pesquisas encontradas no Brasil sobre a temática corrobora a

afirmação de Lima (2004), quando considera que, embora o início da carreira seja uma

fase importante do processo de aprender a ser professor, essa tem merecido pouca

atenção por parte dos pesquisadores brasileiros.

Analisando os trabalhos apresentados na ANPEd (Associação Nacional de Pós-

Graduação e Pesquisa em Educação) e no ENDIPE (Encontro Nacional de Didática e

Prática de Ensino), Mariano (2005) levantou que poucos apresentavam como foco

principal o início da carreira docente. Em seu levantamento encontrou apenas 26

trabalhos, sendo 5 na ANPEd e 21 no ENDIPE, o que representava 0,5% em relação ao

número total de trabalhos apresentados nesses eventos.

Compartilhamos com Lima (como citado em MARIANO, 2005) que embora o

início da carreira docente seja uma fase importante do processo de aprender a ser

professor, esta não tem merecido a atenção que lhe é devida, por parte dos

pesquisadores. Fazendo referencia ao trabalho do professor em início de carreira, o

autor comenta que a solidão e o isolamento são sentimentos que tomam conta do

professor iniciante e com poucas pesquisas que possam fomentar políticas no sentido de

apoiar essa fase da profissionalidade docente.

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7617ISSN 2177-336X

16

Entretanto, o interesse pela temática vem crescendo nos últimos anos, devido o

reconhecimento que essa é uma fase crucial para a formação do novo professor e até

mesmo para sua continuidade na carreira docente e também para a construção da

profissionalidade e modelo de docência. Nesse sentido apresentamos a seguir alguns

recortes de pesquisa que evidenciam certos conflitos, dificuldades, descobertas e

realizações enfrentadas pelos professores em início de carreira. Esta breve revisão tem o

intuito de explicitar a dimensão do problema quando se trata da vivência do professor

em início de carreira frente ao trabalho pedagógico.

Para muitos autores o início do trabalho docente configura-se como uma fase

cujo professor vivencia situações inesperadas, difíceis e até constrangedoras (GARCIA,

1998; HUBERMAN, 2000; TARDIF; RAYMOND, 2000). Outros trabalhos evidenciam

as dificuldades enfrentadas pelos professores nos primeiros anos de efetivo exercício

docente (FONTANA, 2000; GUARNIERI, 1996; TABACHNICK; ZEICHNER, 1988).

Tabachnick; Zeichner (1988) em um estudo com duas professoras iniciantes dos

Estados Unidos analisaram as estratégias por elas empreendidas para reduzir a

contradição entre suas crenças e suas condutas em sala, os autores ressaltam as

diferentes formas que Beth e Hannah se comportaram frente aos conflitos vividos

apresentando momentos de descrença e de entusiasmo na relação com os alunos.

A autora Fontana (2000) acompanhou uma professora durante o primeiro ano de

exercício docente frente a salas de aula de Ensino Fundamental. A autora identificou

conflitos oriundos de vários fatores que, quando confrontados, trazem à tona as diversas

concepções de educação existentes entre os indivíduos que trabalham na escola. Analisa

ainda os dramas vivenciados pela professora, as formas como ela resolveu esses dramas

e a necessidade de apoio própria de quem entra num mundo falado, porém ainda muito

pouco vivenciado. É interessante notar a posição da autora de que um professor nunca

está pronto no momento em que começa a exercer sua função. Para a autora, a sensação

de fracasso profissional que por vezes toma conta dos professores iniciantes é devida à

falta de apoio, o isolamento e à indiferença da escola frente a esse professor iniciante.

Em um estudo de caso, Bejarano; Carvalho (2003), acompanharam uma

professora de Física que estava começando a ministrar aulas e ao mesmo tempo

concluía o curso de Licenciatura em Física na Universidade de São Paulo – USP. Os

autores descrevem os conflitos desta professora, chamada por eles de Ani, em uma

escola de Ensino Médio. Segundo eles, as crenças de Ani sobre o papel do professor

estavam sendo severamente checadas. Bejarano; Carvalho (2003) destacam que Ani

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apresentava dificuldades em se relacionar com os alunos e ao mesmo tempo

dificuldades no convívio com os outros professores. Ani percebia no discurso dos

professores mais antigos uma insatisfação com a situação de ser professor que a deixava

confusa em relação à carreira.

Em outro trabalho, Bejarano; Carvalho (2003) acompanharam a trajetória de um

professor de Física chamado por eles de Eli, que também estava começando a ministrar

aulas, porém assim como Ani não havia concluído seu curso de graduação. Ao iniciar

seu trabalho, Eli logo notou o pouco apoio direção da escola e a dificuldade de

relacionamento com os alunos. Durante seu percurso Eli vivenciou diversos conflitos

relacionados com currículo e instrução da escola e relações interpessoais. A forma com

que Eli encontrou para lidar com conflitos foi proteger suas crenças e não aceitar as

contribuições vindas do programa de formação. Como afirma Quadros et al. (2006), o

resultado das pesquisas realizadas apontam que muitas vezes apesar de os professores

iniciantes terem estudado teorias contemporâneas de ensino e aprendizagem em sua

formação, acabam assumindo uma postura muito próxima àquela que eles condenavam

enquanto alunos.

Beach; Pearson (1998) em um estudo com vinte e oito (28)

professores/estudantes americanos categorizaram os principais conflitos e tensões que

surgem no início da profissionalização do professor, além de destacar formas ou

estratégias utilizadas no enfrentamento desses problemas. Segundo Beach; Pearson são

quatro as categorias fundamentais de conflitos:

1. Currículo e instrução: esta categoria de conflito pode ser subdividida em:

conflitos e tensões entre as percepções do que é relevante para o professor e as

percepções dos estudantes; entre o currículo da escola e o currículo do professor; e entre

cumprir o currículo proposto e ser ao mesmo tempo construtivista.

2. Relações interpessoais: conflitos pessoais em suas relações com os

estudantes, com colegas professores, administradores e sentimento de isolamento

pessoal do professor.

3. Contextual e institucional: conflitos e tensões relacionadas às expectativas

com os programas da universidade, as complexidades e políticas de sistemas escolares,

pressões para socializar a cultura das escolas e do ensino.

4. Ver-se como professor (conflitos de papel): conflitos e tensões relacionadas

ao autoconceito de ser professor e seu papel como professor, o papel da ambiguidade na

transição de estudante para professor, conflitos internos de se autodefinir.

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Segundo os autores, ao se depararem com os conflitos os professores iniciantes

buscam solucioná-los usando estratégias como: afastar-se dos conflitos, soluções de

curto prazo (chamadas de “técnicas de sobrevivência”) e mudanças de longo prazo

(checar suas crenças pessoais e examinar possíveis incongruências entre elas e os

próprios conflitos) e ou mesmo abandonar a carreira.

Veeman (1988) analisou 91 estudos realizados em diferentes países, e entre os

problemas mais sérios que os professores iniciantes enfrentam, aparece em primeiro

lugar a questão da disciplina, pelo motivo dos iniciantes não conseguirem explicitar

regras e procedimentos para a classe. Em seguida, a motivação dos alunos, a dificuldade

em lidar com as diferenças individuais e em avaliar a aprendizagem.

Concebendo a formação docente como um continuum, ou seja, um processo de

desenvolvimento ao longo e ao largo da vida, Lima (1996), enfatiza a obrigatoriedade

de se estabelecer um fio condutor que ofereça nexo entre a formação inicial, continuada

e as experiências vividas. Apresenta então, a reflexão coletiva e o apoio de um grupo

como um componente indispensável e capaz de promover esses nexos necessários.

Torres (1998) mostra a importância da aprendizagem profissional ocorrer

também no local de trabalho, num relacionamento horizontal de colegiado entre os

pares, quando os professores compartilham, dialogam, analisam e resolvem juntos os

problemas. Essa forma de capacitação precisa se estender para os outros componentes

da escola, e não só os professores de maneira isolada, sendo a equipe escolar o sujeito

privilegiado da capacitação.

Em síntese, o estudo de algumas das principais pesquisas sobre o professor no

início da carreira evidencia as dificuldades, descobertas e realizações que marcaram a

profissionalidade – o ser docente – no desenvolvimento de sua profissionalização.

Sendo assim, esta análise das pesquisas nos encoraja a sugerir que a discussão sobre a

vivência em sala de aula, e nela se insere crenças e conflitos, seja incorporada aos

cursos de formação inicial e continuada de professores e que é preciso pensar em uma

proposta de acompanhamento dos professores ingressantes, seja pelo professor tutor ou

pela perspectiva da “residência docente” considerando que é necessário conhecer as

dificuldades e transpor situações conflituosas que podem ser entraves ao processo de

ensino-aprendizagem e, sobretudo, ao ver-se professor.

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O QUE O IV CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE PROFESSORADO

PRINCIPIANTE E INSERÇÃO PROFISSIONAL À DOCÊNCIA FALA SOBRE

A QUESTÃO

A inserção ao ensino representa um momento de grande importância para o

futuro docente. Tradicionalmente os sistemas educativos têm prestado pouca atenção

aos professores principiantes e a sua inserção profissional.

A preocupação pela qualidade da educação que as novas gerações recebem nas

escolas ressalta a importância em se cuidar dos primeiros anos dos docentes. Os altos

índices de abandono da docência, assim como a preocupação por melhorar a qualidade

da formação docente, estão mostrando a necessidade de atender, de maneira especial,

aos primeiros anos de exercício profissional docente.

Buscando uma melhor sistematização a organização do congresso criou e dividiu

em sete grandes temáticas as apresentações dos trabalhos, sendo assim distribuídos:

Tema 1: Desenvolvimento e avaliação de programas de inserção profissional para o

professorado principiante; Tema 2: Efeitos dos programas de inserção profissional à

docência na melhoria escolar; Tema 3: Novas tecnologias para a supervisão e

acompanhamento do professorado principiante; Tema 4: Papéis e funções dos

professores mentores, supervisores e tutores em relação aos professores principiantes;

Tema 5: Práticas de ensino na formação inicial do professorado; Tema 6: Problemas

sobre os professores principiantes em seus processos de inserção profissional; e Tema 7:

Processos de socialização profissional docente na cultura da escola.

Para realizar nosso levantamento e selecionar os trabalhos, decidimos como

eixos de pesquisa três palavras chave, sendo elas: inserção profissional; educação

básica; e dificuldade e descoberta, esse levantamento foi realizado primeiramente a

partir dos títulos dos trabalhos. O congresso além de dividir os sete temas, ele ainda

criou três formas de apresentações, havia simpósios, informe de investigação e informe

de experiência por uma escolha metodológica priorizamos os informes de investigação,

por serem resultados de pesquisas.

Para termos uma visão geral do congresso, criamos este gráfico, nele podemos

observar quantos simpósios, informes de investigação e informes de experiência foram

apresentados por tema do congresso. Ainda é importante salientar que nele também se

encontra os números de informes de investigação foram selecionados para a realização

deste estudo.

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

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GRAFICO 1 – Número de trabalhos apresentados no IV CONGREPINCI e

selecionados para este estudo

Fonte: trabalhos gravados no CD do IV CONGREPRINCI

Ainda podemos observar no gráfico 1 que há uma maior procura nos tema 5 e

tema 6. Para melhor observarmos, Tema 1: Desenvolvimento e avaliação de programas

de inserção profissional para o professorado principiante = 18 trabalhos; Tema 2:

Efeitos dos programas de inserção profissional à docência na melhoria escolar = 18

trabalhos; Tema 3: Novas tecnologias para a supervisão e acompanhamento do

professorado principiante = 09 trabalhos; Tema 4: Papéis e funções dos professores

mentores, supervisores e tutores em relação aos professores principiantes = 11

trabalhos; Tema 5: Práticas de ensino na formação inicial do professorado = 50

trabalhos; Tema 6: Problemas sobre os professores principiantes em seus processos de

inserção profissional = 74 trabalhos; e Tema 7: Processos de socialização profissional

docente na cultura da escola = 16 trabalhos. Com isso podemos concluir que existe uma

ênfase nas pesquisas sobre professores iniciantes no que diz respeito a sua prática de

ensino e seus problemas na inserção profissional.

No que tange o campo de atuação dos professores iniciantes observamos que

está acontecendo uma mudança, pois as primeiras pesquisas realizadas nesse campo a

maioria dos professores investigados eram das áreas de exatas ou do curso de Educação

Física, agora dos 49 trabalhos selecionados (tendo como palavras chave, inserção

profissional; educação básica e dificuldade e descoberta) que representam 25% do total

dos trabalhos apresentados neste congresso, podemos observar que houve uma

pulverização na área de atuação dos professores investigados. É importante destacar que

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

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os 10 professores referentes ao eixo geral, significa que estas pesquisas não deram

ênfase a nenhum curso.

GRÁFICO 2 – Número de professores por área de atuação

Fonte: trabalhos gravados no CD do IV CONGREPRINCI

Na questão referente à metodologia das pesquisas apresentadas no congresso em

análise, percebemos uma grande ênfase no estudo de caso e pesquisa de cunho

etnográfico. O embasamento mais citado é o livro sobre “Pesquisa em educação:

abordagens qualitativas” das autoras LÜDKE, Menga e ANDRÉ, Marli E. D. A.,

publicado pela EPU em 1986. Mas sentimos falta de um referencial sobre o método,

existe uma preocupação em definir a metodologia e não método.

Para definir o conceito de professor iniciante trinte e dois artigos não busca

definir e apenas dezesseis faz essa definição. A maioria utiliza o professor Carlos

Marcelo Garcia (1999) para fazer isso,

[...] existem quatro fases diferenciadas pelas quais passa o professor em seu

processo de aprender a ensinar. A primeira fase é o pré-treino. Trata-se

daquilo que foi experienciado pelos professores ainda enquanto alunos, e que

pode influenciá-los mesmo que inconscientemente no exercício da sua

profissão. Em seguida, a formação inicial, etapa de preparação formal para

ser professor, objetivando-se em instituições especializadas. A terceira

denomina-se iniciação, compreendendo os primeiros anos do exercício

profissional, singular etapa na vida do professor. Por fim, a formação

permanente, a qual inclui as atividades de formação em nível institucional ou

individual, compreendendo o desenvolvimento profissional deste professor.

Sobre o tempo de carreira, ou seja, quanto tempo citar para definir quem é o

professor iniciante, temos 26,54% de artigos que usam a pesquisa de Huberman (1995)

para definir esse tempo. Sendo assim definido,

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

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considera a etapa de 2-3 anos de docência como o período inicial da carreira,

onde são definidos comportamentos e também é um momento desafiador

entre a idealização da profissão decorrente da formação inicial e a realidade

da sala de aula.

Podemos observar que ainda há um grande campo de pesquisa quando se trata de

inserção profissional do professor iniciante, já que antes a iniciativa do grupo de

pesquisadores que idealizaram e realizaram esse congresso havia poucos trabalhos

investigando essa temática, agora só nesse último houve 196 trabalhos apresentados

buscando compreender e avançar o conhecimento científico sobre esse período tão

complexo na construção da identidade docente.

REFERÊNCIAS

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and tensions. Teaching e Teacher Education, 14(3), 1998, 337-351.

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XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

7625ISSN 2177-336X

24

AS PESQUISAS SOBRE PROFESSORES INICIANTES NA EDUCAÇÃO

INFANTIL

Rosiris Pereira de Souza - CEPAE/UFG - PPGE/FE/UnB.

[email protected]

Resumo

O presente texto tem como objetivo apresentar o estado do conhecimento sobre

professores iniciantes na educação infantil tendo como desafio mapear e discutir a

produção acadêmica tentando responder quais aspectos e dimensões vêm sendo

destacados e privilegiados em diferentes pesquisas publicadas em periódicos,

congressos e eventos da área. A metodologia envolveu um levantamento bibliográfico

efetuado pelo Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Formação e Atuação de

Professores/Pedagogos (GEPFAPe/UnB) dentro de um recorte temporal de 14 anos

(2000 a 2014). A análise realizada da produção encontrada mostra que a pesquisa sobre

professores iniciantes vem sendo intensificadas no Brasil, porém, com pouca ênfase

para os desafios, dificuldades e especificidades dos professores iniciantes que atuam na

educação infantil.

PALAVRAS-CHAVE: Professores iniciantes; Educação infantil; Estado da arte.

INTRODUÇÃO

O presente texto tem como objetivo apresentar um panorama das pesquisas sobre

professores iniciantes na educação infantil. A metodologia utilizada envolveu a pesquisa

bibliográfica em bancos de dados de eventos científicos: Reuniões da Associação

Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação – ANPED, Encontros Nacionais de

Didática e Prática de Ensino – ENDIPE, Congressos Internacionais sobre Professorado

Principiante e Inserção profissional à Docência – CONGREPRINCI e busca no banco

de dados do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT.

No levantamento geral foram identificados 138 trabalhos que versam sobre

professores iniciantes e deste total foram encontrados 22 (vinte e dois) trabalhos que

tematizam especificamente a inserção profissional na educação infantil.

Nos trabalhos encontrados ressaltam-se principalmente os desafios, dificuldades

e descobertas dos professores de Educação infantil no início de carreira. Esses aspectos

se inserem em categorias mais amplas que dizem respeito ao exercício profissional, às

condições de trabalho, às representações sociais e às necessidades formativas.

Para Vaillant e Garcia (2012), o período de inserção na carreira apresenta um

caráter “distintivo e determinante para conseguir um desenvolvimento profissional

coerente e evolutivo” (p. 125). No processo de inserção na carreira docente na educação

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

7626ISSN 2177-336X

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infantil emergem especificidades que se somam às situações que exigem submissão à

normas externas e internas, imposições, negociações e resistências, compreendendo que

esses fatores marcam presença nas relações dentro da instituição e constroem

alternativas de permanência, convivência ou até mesmo de desistência da profissão.

PRODUÇÃO SOBRE PROFESSORES INCIANTES NA EDUCAÇÃO

INFANTIL

Nas produções da ANPED no período de 2000 a 2014 encontramos 05 (cinco)

trabalhos sobre inserção na carreira docente na educação infantil, sendo 02 (dois) no GT

07 – Educação de crianças de 0 a 6 anos em 2008 e 2012 e 03 (três) trabalhos no GT 08

- Formação de professores, nos anos de 2006, 2009 e 2013.

Nos eventos do ENDIPE encontramos 02 (dois) trabalhos de um total de 22

(vinte e dois) sobre o professor iniciante na educação infantil, os trabalhos foram

publicados no ano de 2012.

Nos encontros do CONGREPRINCI temos 10 (dez) trabalhos (19,6 % em um

total de 51 trabalhos de 2008 a 2014), todos os trabalhos sobre inserção profissional na

educação infantil foram apresentados no ano de 2014, representando um percentual de

26,3 %, esse quantitativo revela um leve crescimento na quantidade de trabalhos que

versam sobre a inserção da carreira na primeira etapa da educação básica neste evento.

Na busca em periódicos Qualis A e B foram encontrados 05 (cinco) trabalhos

com a temática da inserção de professores na Educação infantil em um total de 36

trabalhos representando um percentual de 13,9 %.

A partir da leitura destes 22 (vinte e dois) trabalhos identificamos as principais

categorias que emergiram dos objetos investigados que apontam para as seguintes

questões: a) o exercício profissional, b) as condições de trabalho, c) as necessidades

formativas e; d) as representações sociais.

EXERCÍCIO PROFISSIONAL

Sobre o Exercício profissional ou exercício docente, concordamos com Penna

(2010) na afirmação de que este conceito ou expressão está vinculado às questões que

estão envolvidas na ação e no desempenho da função de ser professor, considerando que

essa função é específica, sendo instituída e constituída socialmente e está vinculada à

institucionalização da escola e seus processos decorrentes.

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

7627ISSN 2177-336X

26

É importante destacar a incidência dessa categoria na maioria das pesquisas

sobre professor iniciante na educação infantil o que pode sinalizar, de certa forma, que

há uma necessidade de compreender o exercício docente como uma prática social,

histórica e contextualizada. Isso pode contribuir para a compreensão do processo que

envolve as ações docentes nos mais variados aspectos e principalmente nos anos iniciais

do exercício da carreira docente e, ainda, estabelecer mediações e relações com a escola

e processos mais amplos (TARDIF e LESSARD, 2005).

Oliveira (2008), nos alerta que há uma demanda emergente em estudos que se

debruçam sobre o exercício docente para compreensão, entre outros aspectos, das

relações dessa atividade e as reformas educacionais implantadas nas últimas décadas e

que podem estar relacionadas com a perspectiva da racionalidade técnica na formação

de professores.

De acordo com os dados e apontamentos anteriores, o exercício profissional é a

categoria que aparece em 81,8 % dos trabalhos sobre professores iniciantes na Educação

infantil, ou seja, é a mais representativa. E a partir dessa constatação destacaremos os

achados das pesquisas.

Para Rosa e Nadal (2014) foi importante compreender como se constitui o

processo de iniciação profissional na educação infantil para identificar as principais

dificuldades enfrentadas pelos professores nos primeiros anos da docência. A partir

disso, foi possível conhecer as fontes e recursos utilizados pelos docentes no

enfrentamento dos desafios postos no exercício da docência nessa fase tão singular da

carreira. Indicam que a formação nos primeiros anos de docência é primordial para o

desenvolvimento profissional. Foi possível constatar, a partir das falas dos sujeitos da

pesquisa, que a formação inicial se mostrou insuficiente ou desencontrada das

necessidades/realidades no exercício da docência no início da carreira, o que motivou

uma ação docente sustentada em experimentações práticas, observações e imitação de

outros professores, levando esse grupo de docentes a um exercício profissional

assistemático e individualista.

Voltarelli e Monteiro (2014) investigaram a aprendizagem da docência na creche

e o que contribuiu para essa aprendizagem. Partiram das dificuldades encontradas para a

atuação profissional na educação infantil, apresentando práticas e saberes desenvolvidos

pelos professores no enfrentamento de algumas das dificuldades. Finalizam o trabalho

confirmando a grande importância do envolvimento dos futuros docentes com o campo

de atuação ainda na formação inicial e a importância da socialização das experiências

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

7628ISSN 2177-336X

27

com os demais professores das instituições. Foi ressaltado a importância do trabalho

colaborativo, da participação de todos os docentes da instituição e da troca de

experiências. Em relação aos saberes essenciais para atuar com crianças pequenas, os

sujeitos da pesquisa indicaram a necessidade dos conhecimentos sobre desenvolvimento

infantil e as especificidades das faixas etárias.

Ribeiro, Fidelis e Nogueira (2014) investigaram os contextos de inserção

profissional na educação infantil em Campo Grande – MS a partir do olhar dos

professores dessa etapa e buscaram compreender em que medida o caráter

assistencialista influencia as políticas de formação e atuação docente. As autoras

concluem que ainda na atualidade a compreensão sobre o professor de educação infantil

está vinculada aos cuidados maternos e que essa imagem ainda está presente no senso

comum e se instaura também no ambiente escolar. Para as autoras, de acordo com a

atual configuração da educação infantil nas políticas públicas e na prática educacional é

de fundamental importância que os professores compreendam seu exercício profissional

para além da afetividade.

Montaño (2014) apresenta um estudo que investiga a construção de saberes de

professoras iniciantes que foram inseridas nas funções de gestão simultaneamente a

atuação como docentes na educação infantil. Os resultados da pesquisa apontam que o

exercício profissional docente envolve outras ações além do ato de ensinar, permeia

processos e ações de gestão pedagógica, administrativa e social e implicam uma visão

mais ampla do que atualmente se considera importante para a formação de professores.

Zucolotto e Côco (2014) investigaram o exercício profissional na educação

básica tendo como foco os estudos e discussões sobre a formação inicial e continuada na

constituição dos sujeitos docentes, no desenvolvimento das funções na realização do

trabalho e as relações nas instituições educativas. As autoras focalizaram o estudo na

educação infantil por acreditarem que nessa etapa da educação básica há uma especial

necessidade de processos específicos na formação inicial, continuada e no

desenvolvimento profissional em decorrências das especificidades das crianças de 0 a 5

anos de idade. Identificaram as condições de trabalho como fatores importante para a

escolha da permanência (ou não) na educação infantil. As autoras perceberam que a

forma como os professores lidam com as dificuldades e desafios postos, perpassam sim,

pela opção do abandono da carreira nos primeiros anos, mas, percebem também a

contradição desse mesmo movimento quando identificaram algumas posturas de

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professores que foram se modificando em face das necessidades das crianças,

assumindo novas crenças, concepções, estratégias e focos para o ensino.

No trabalho de Silveira e Rausch (2014) o foco investigativo recaiu também

sobre os desafios de professores iniciantes na educação infantil e ensino fundamental.

Foram identificados como desafios o trabalho colaborativo na escola, a infraestrutura

escolar, a relação entre instituição e família, a formação continuada, a educação especial

e a valorização do professor. A identificação desses desafios, segundo os autores, pode

promover reflexões significativas na formação inicial e continuada de professores.

Para Macenhan e Tozetto (2014) a forma como acontece o processo de inserção

na carreira profissional docente demostra as características, orientação e modelos que os

professores desenvolvem nos seus processos de inclusão no mundo da docência.

Apontam como significativo no processo de superação das dificuldades e desafios a

utilização das memórias dos estágios, a partilha com professores mais experientes, as

lembranças da experiência enquanto alunos, assim como alguns perfis de antigos

professores. A pesquisa também investigou os recursos teóricos práticos que os

professores recorrem nos momentos de tomada de decisão no trabalho docente na

educação infantil, reafirmando a importância da formação inicial e continuada para a

construção dos saberes docentes.

Na pesquisa de Machado (2014) é evidenciada a formação inicial do professor

da educação infantil e como essa formação influencia alguns impasses no exercício da

docência. Para essa pesquisadora a educação infantil é uma etapa muito importante no

processo educativo de crianças e, portanto, torna-se importante e oportuno as

investigações sobre a formação dos professores para essa etapa e a repercussão dessa

formação no exercício docente. A autora afirma que, de acordo com a pesquisa, a

temática da educação infantil, na formação inicial, não é muito abordada (os cursos, em

geral, priorizam o ensino fundamental). Esse fato implica significativamente nas ações e

decisões profissionais. Os professores investigados mencionam aspectos demasiados

teóricos na formação inicial e valorizam a prática dos estágios.

Nogueira, Melin e Almeida (2011) investigaram a construção do trabalho

docente, seus desafios e seus fatores determinantes envolvendo professores iniciantes na

educação infantil e acadêmicos residentes. As autoras concluem que toda ação

formativa deve estar centrada na realidade dos professores, assim como, os conteúdos

trabalhados na formação devem partir dos interesses dos mesmos. A pesquisa buscou o

reconhecimento da formação como elemento fundamental na qualidade da ação

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educativa. Evidenciou ainda que o processo formativo se realiza principalmente na

formação inicial, mas sua consolidação só se torna possível quando os professores se

defrontam com a realidade em que irão atuar.

Perrelli, Teixeira, Nogueira e Rebolo (2013) desenvolveram uma pesquisa a

partir da metodologia da pesquisa-formação, tendo como sujeitos dessa pesquisa alunas

do último ano do curso de Pedagogia com algum tipo de experiência no trabalho

docente. O objetivo do estudo foi identificar os elementos que contribuem para a

aprendizagem dos professores e os condicionantes dessa aprendizagem. Os resultados

apontam para o impacto do início da carreira docente que é marcado pelo entusiasmo e

expectativa e ao mesmo tempo pela sensação de despreparo dos professores diante dos

desafios da profissão. As alunas do curso de Pedagogia puderam, por meio da pesquisa,

refletir sobre o caráter inconcluso da aprendizagem da docência e ainda sobre as

dimensões da formação inicial e da escola/ambiente de trabalho.

Brostolin e Oliveira (2013) desenvolveram um estudo sobre as dificuldades e

desafios dos professores iniciantes na educação infantil buscando identificar a forma

como esses professores lidam com as situações desafiadoras do cotidiano escolar

utilizando para isso os saberes adquiridos na formação inicial. Os resultados indicaram

que apesar das dificuldades e condições de trabalho há uma sensação de satisfação pela

profissão o que permitiu as autoras afirmarem que as experiências cotidianas

possibilitam a superação das perspectivas negativas, ressaltando ainda a importância do

apoio do coletivo da escola que possibilitou a criação de vínculos profissionais

necessários para as vivências exitosas e a permanência na carreira.

Brostolin (2012) investiga narrativas de professores iniciantes na educação

infantil para discutir a profissão docente, a identidade e o desenvolvimento profissional.

Os achados da pesquisa evidenciaram que a identidade dos professores é constituída

durante toda a carreira, destacando o momento da escolha da profissão, a formação

inicial e diferentes espaços institucionais onde se desenvolve o exercício da docência.

Nono e Mizukami (2006) discutem os processos de formação de professores

iniciantes por meio de casos de ensino. Essa metodologia permitiu que professores

realizassem descrições e análises de suas trajetórias profissionais e nesse processo

emergiram as dúvidas, equívocos e contradições que orientam e caracterizam algumas

práticas docentes no início do exercício docente nas escolas. Os achados da pesquisa

evidenciaram que os professores, ao descreverem suas trajetórias profissionais e seus

processos formativos estabeleceram relações entre as situações vividas no início da

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carreira com a escolarização que tiveram antes da formação inicial, a própria graduação,

as exigências e expectativas da prática, a instituição de trabalho, as políticas públicas, os

conhecimentos acessados para enfrentamento das dificuldades, dilemas e obstáculos

vivenciados nos primeiros anos de ensino.

Os estudos de Nogueira, Almeida e Melin (2013) resultam do processo de

investigação realizado no ano de 2010 em que se propuseram a analisar as questões

pertinentes à formação de professores iniciantes na educação infantil. Os resultados

desse processo investigativo, realizado por meio da pesquisa-formação, evidenciaram

que o processo de reflexão sobre as próprias práticas ajuda os professores a mobilizarem

estratégias de transformação e a produzirem conhecimento no contexto escolar.

Nogueira e Almeida (2012) analisam processos de formação de professores

iniciantes e acadêmicos residentes com objetivo de construir diálogos que articulem

teoria e prática na formação inicial e no exercício profissional por meio de

acompanhamento pedagógico. As autoras defendem que a função dos formadores de

professores é realizar processos formativos alicerçados em saberes científicos que

possibilitem aos professores atuar criticamente em contextos sociais, tendo como

princípio orientador um diálogo que estabeleça uma rede de formação e de

aprofundamento de temáticas formativas.

No trabalho de Calil e Almeida (2012) são apontados os desafios enfrentados

por professores iniciantes no processo do exercício profissional. O diferencial desta

pesquisa é que a mesma foi realizada com professores em seu primeiro ano profissional

logo após a formação inicial sem nenhuma experiência no campo educacional com

crianças pequenas. Os resultados apontam para a necessidade de repensar os processos

da formação inicial, principalmente as questões relacionadas à didática e às políticas

públicas de apoio e acompanhamento dos professores iniciantes.

E por fim, apresentamos os apontamentos de Melin (2012) no qual aparecem

resultados parciais da pesquisa realizada com professores que atuam na educação

infantil e acadêmicos residentes. Ressaltam a construção docente, seus desafios e os

fatores determinantes. Os achados desta pesquisa apontam para aspectos

imprescindíveis à formação docente e ao exercício docente na fase inicial da carreira

além de indicar novos caminhos para a pesquisa e formação de professores.

CONDIÇÕES DE TRABALHO

As condições do trabalho docente estão inseridas em um conjunto de relações

que envolvem os processos de trabalho e as condições de emprego tais como: processos

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de contratação, remuneração, carreira e estabilidade (OLIVEIRA E ASSUNÇÃO,

2010). O impacto das condições de trabalho influencia a relação dos professores com a

profissão docente. Devemos considerar ainda que, as condições de trabalho, da mesma

forma que o exercício profissional da docência são categorias que estão situadas em um

contexto histórico social, ou seja, isso implica considerar que as condições de trabalho

são resultados de uma determinada forma de organização social, no nosso caso, no

modo de produção capitalista. De acordo com Antunes (2007) na atualidade vivemos

em um quadro de precarização estrutural do trabalho e de flexibilização da legislação

social do trabalho, o que aumenta incomensuravelmente os mecanismos e formas de

intensificação e os reflexos disso na saúde física e mental dos trabalhadores, ocorrendo,

entre outras coisas, a insatisfação dos professores com seu trabalho.

Na análise dos trabalhos sobre os professores iniciantes que atuam na educação

infantil identificamos dois artigos que tem como foco principal as condições de

trabalho.

No artigo de 2008, Côco e Siller apresentam a dinâmica de provimento de

cargos para as instituições públicas de educação infantil a partir da análise dos editais

públicos. Neste trabalho as autoras apresentam os dados de uma análise documental

sobre educação infantil com o objetivo de identificar as ramificações, temas e táticas

frente às demandas da realidade. Apontam para a importância dada pelos municípios ao

provimento de cargos no magistério por meio de concursos públicos, o que demonstra

respeito às políticas educacionais, no entanto, em uma análise mais acurada as

pesquisadoras identificam muitos desafios postos para o campo, para além dos avanços

nas políticas públicas. Os desafios dizem respeito aos mecanismos economicistas

adotados por gestores municipais, quando não dispõem de recursos para a área de

educação infantil. Esse fato implica na constituição da profissionalidade docente e no

exercício profissional. As autoras citam questões relacionadas à formação, jornada de

trabalho e salário para profissionais de categorias distintas que atuam com o mesmo

grupo de crianças (profissionais de apoio), esse fato prejudica a realização da integração

das ações pedagógicas.

No artigo de 2009 Côco focaliza as denominações, alternativas e formas de

vínculo e requisitos formativos necessários para provimentos de professores para atuar

na educação infantil nos editais públicos e os projetos de formação continuada.

Evidenciou que as transformações no campo da educação infantil vêm fortalecendo essa

área nos municípios, dentro de uma complexidade que envolve a atuação dos

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professores e nesse processo estão em jogo uma pluralidade de discursos e de

configuração de políticas educacionais que começam a indicar processos de valorização

que estão, de diferentes modos, permeando a configuração do trabalho docente na

educação infantil.

NECESSIDADES FORMATIVAS

Entendemos “Necessidades formativas” como um conceito que diz respeito aos

aspectos que são imprescindíveis à toda formação docente e ao mesmo tempo são

fundamentais para o trabalho do professor na fase de inserção na docência e demais

fases do desenvolvimento profissional e nesse aspecto enquadramos somente o trabalho

de Melin e Nogueira (2014) apresentado no CONGREPRINCI que descreveu resultados

de uma pesquisa desenvolvida com professores iniciantes na educação infantil dentro de

um projeto com acadêmicos do curso de pedagogia intitulado: Diálogos e

acompanhamento itinerários para a formação de professores iniciantes. O objetivo

principal foi a construção de diálogos que articulassem teoria e prática na formação

inicial e no exercício profissional de professores iniciantes que atuam na educação

infantil por meio de acompanhamento pedagógico.

REPRESENTAÇÃO SOCIAL

Representação social ou Representação social da prática docente é a forma como

os professores elaboram a compreensão sobre o conjunto de suas ações, crenças e

atitudes. Esse conceito é também definido como teoria do senso comum acerca do

trabalho realizado pelos docentes (CAMPOS, 2010).

A categoria Representação Social está presente em apenas 01 (um) trabalho e foi

apresentado no CONGREPRINCI. As autoras Souza; Rampazo e Rocha (2014)

pesquisaram os professores iniciantes, suas primeiras experiências de docência e o papel

da escola nesses processos. Para isso, analisaram relatos das expectativas, ideias e

anseios dos professores quanto à profissão nos primeiros anos de docência e a trajetória

desses professores narradas em memoriais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O panorama das pesquisas sobre professores iniciantes realizado a partir do

levantamento bibliográfico de 2000 a 2014 revela que houve um crescimento dos

estudos sobre essa temática, entretanto, na educação infantil percebemos uma escassez

de pesquisas. Esse fato indica a abertura de um novo campo de pesquisas e novas

demandas de formação de professores e políticas de acompanhamento pedagógico para

primeira etapa da educação básica.

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7634ISSN 2177-336X

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Sobre as categorias explicativas da inserção profissional identificadas nos

trabalhos encontrados ressaltam-se principalmente: a) exercício profissional; b)

condições de trabalho; c) necessidades formativas e; c) representações sociais.

Na maioria dos estudos, aparecem os interesses, preocupações, necessidades e

demandas dos docentes em seus processos formativos após sua inserção no campo do

trabalho e suas práticas. E para diagnosticar as descobertas, desafios e dificuldades e os

processos de desenvolvimento profissional dos professores estas pesquisas foram

realizadas a partir de metodologias distintas, no entanto há uma predominância nos

caminhos metodológicos percorridos pelos pesquisadores que apontam para a pesquisa-

formação, casos de ensino e análises de narrativas por meio da metodologia da

autobiografia.

A tendência fundamental indicada no conjunto das pesquisas sobre a inserção

profissional na educação infantil volta-se para a questão da formação do professor

principalmente na interação com o ambiente escolar e nas trocas de experiências com

professores mais experientes, ressaltando principalmente os conhecimentos que são

adquiridos com a experiência docente em seu exercício profissional.

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