19
Prezados colegas e amigos, Entrego a cada participante deste encontro, os anexos de uma carta que enviei à professora Ana Cabral, pro - reitora da UFPE. Escolhi mandar a carta para ela porque a considero uma pessoa justa, séria, humana e grande conhecedora dos problemas ligados aos sistemas de seleção de candidatos, por ter sido presidente da COVEST durante vários anos, onde aliás, teve uma atuação renovadora, sem invencionices; séria, sem ser distante; humana, sem ser leniente com excessos. Outrossim, reúno-me aqui com vocês, colegas professores, coordenadores e diretores de escolas e cursinhos da cidade, para expor um pouco do que expus à PROACAD da UFPE através da referida carta. Já fui professor de quase todas as grandes escolas da cidade. Fui fundador de algumas delas, com muito orgulho. Tenho um cursinho de matérias isoladas, há quase 25 anos. No nosso cursinho, fazemos um trabalho bom, sério, honesto. Recebo, anualmente, centenas de alunos de quase todas as escolas, públicas e privadas da nossa cidade. Temos obtido, há muitos anos, resultados de grande destaque nos vestibulares. Considerando apenas os cursos de medicina das Universidades Públicas do Recife, são hoje alunos delas mais de 1300 ex-alunos nossos. Sinto-me na obrigação de me posicionar com relação ao momento por que passa o nosso sistema de seleção de candidatos às nossas universidades. Neste contexto, me posiciono: Há quase um ano foi lançado o NOVO ENEM. Segundo a proposta, o vestibular precisava acabar, porque era a causa de incontáveis problemas para a educação brasileira, tais como: 1. As provas continham “pegadinhas ” cujo objetivo era desviar a atenção do aluno e não avaliar a sua capacidade; 2. Exigia memorização de datas, fórmulas, dados... coisa inaceitável; 3. Era conteudista, porque exigia inúmeras informações não aplicáveis à vida real; 4. Orientava mal o ensino médio, pois as escolas pautavam seu ensino pelo adestramento ao modelo do vestibular; 5. Causava transtornos na vida dos jovens, por pressões psicológicas e sociais ; 6. As Universidades amargavam, anualmente, a persistência de vagas ociosas , sobretudo em alguns cursos de menor demanda; 7. Era excludente socialmente, porque os alunos de uma região ou cidade não poderiam fazer vestibular em outra região se deslocando para tal região ; 8. Tinha um caráter definitivo, porque não tinha validade para dois anos ou mais, uma vez que não era feito por provas que pudessem ser “comparáveis no tempo”, obrigando alunos a fazer vestibular novamente, no caso de desilusão ao iniciar um curso superior; 9. Era caro, porque cobrava altas taxas de inscrição; 10. Era cansativo, pois exigia que o aluno viajasse para várias cidades para fazer provas; 11. Não permitia que o aluno fizesse escolhas diferentes, entre cursos ou entre universidades; 12. Alimentava a “indústria dos cursinho”, o maior dos males da nossa educação; 13. Não permitia a mobilidade estudantil, deixando o Brasil atrás dos Estados Unidos e da Europa, onde a mobilidade é cerca de vinte vezes superior a nossa. 14. Era uma prova antiga, antiquada, repetitiva, pouco criativa; 15. Não permitia uniformização de conteúdos programáticos, deixando os alunos enlouquecidos por não saber o que estudar; 16. Permitia a ocupação predatória de vagas , na medida em que era possível um aluno ser aprovado em dois ou mais cursos de diferentes universidades, ocasionando perda de vagas; 17. Não permitia que o candidato fizesse uma auto-avaliação, que pudesse mensurar o se desempenho relativo nas provas;

ENEM 2010 - Fernando Beltrao

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Prezados colegas e amigos,

Entrego a cada participante deste encontro, os anexos de uma carta que enviei à professora Ana Cabral, pro - reitora da UFPE. Escolhi mandar a carta para ela porque a considero uma pessoa justa, séria, humana e grande conhecedora dos problemas ligados aos sistemas de seleção de candidatos, por ter sido presidente da COVEST durante vários anos, onde aliás, teve uma atuação renovadora, sem invencionices; séria, sem ser distante; humana, sem ser leniente com excessos.

Outrossim, reúno-me aqui com vocês, colegas professores, coordenadores e diretores de escolas e cursinhos da cidade, para expor um pouco do que expus à PROACAD da UFPE através da referida carta.

Já fui professor de quase todas as grandes escolas da cidade. Fui fundador de algumas delas, com muito orgulho. Tenho um cursinho de matérias isoladas, há quase 25 anos. No nosso cursinho, fazemos um trabalho bom, sério, honesto. Recebo, anualmente, centenas de alunos de quase todas as escolas, públicas e privadas da nossa cidade. Temos obtido, há muitos anos, resultados de grande destaque nos vestibulares. Considerando apenas os cursos de medicina das Universidades Públicas do Recife, são hoje alunos delas mais de 1300 ex-alunos nossos. Sinto-me na obrigação de me posicionar com relação ao momento por que passa o nosso sistema de seleção de candidatos às nossas universidades.

Neste contexto, me posiciono:

Há quase um ano foi lançado o NOVO ENEM. Segundo a proposta, o vestibular precisava acabar, porque era a causa de incontáveis problemas para a educação brasileira, tais como:

1. As provas continham “pegadinhas” cujo objetivo era desviar a atenção do aluno e não avaliar a sua capacidade;

2. Exigia memorização de datas, fórmulas, dados... coisa inaceitável;3. Era conteudista, porque exigia inúmeras informações não aplicáveis à vida real;4. Orientava mal o ensino médio, pois as escolas pautavam seu ensino pelo adestramento ao modelo

do vestibular;5. Causava transtornos na vida dos jovens, por pressões psicológicas e sociais;6. As Universidades amargavam, anualmente, a persistência de vagas ociosas, sobretudo em alguns

cursos de menor demanda;7. Era excludente socialmente, porque os alunos de uma região ou cidade não só poderiam fazer

vestibular em outra região se deslocando para tal região;8. Tinha um caráter definitivo, porque não tinha validade para dois anos ou mais, uma vez que não era

feito por provas que pudessem ser “comparáveis no tempo”, obrigando alunos a fazer vestibular novamente, no caso de desilusão ao iniciar um curso superior;

9. Era caro, porque cobrava altas taxas de inscrição;10. Era cansativo, pois exigia que o aluno viajasse para várias cidades para fazer provas;11. Não permitia que o aluno fizesse escolhas diferentes, entre cursos ou entre universidades;12. Alimentava a “indústria dos cursinho”, o maior dos males da nossa educação;13. Não permitia a mobilidade estudantil, deixando o Brasil atrás dos Estados Unidos e da Europa, onde a

mobilidade é cerca de vinte vezes superior a nossa. 14. Era uma prova antiga, antiquada, repetitiva, pouco criativa;15. Não permitia uniformização de conteúdos programáticos, deixando os alunos enlouquecidos por não

saber o que estudar;16. Permitia a ocupação predatória de vagas , na medida em que era possível um aluno ser aprovado em

dois ou mais cursos de diferentes universidades, ocasionando perda de vagas;17. Não permitia que o candidato fizesse uma auto-avaliação, que pudesse mensurar o se desempenho

relativo nas provas;18. Era uma prova baseada em modelos empíricos e antigos, com quase cem anos de existência;19. As questões eram arbitrárias, aleatórias, não testadas previamente;20. Era excludente socialmente, porque os alunos pobres do interior não tinham como concorrer às

vagas da capital, sem se deslocar para lá;

A solução proposta, que parecia perfeita, foi o Novo Enem. Segundo os dados da época, o novo Enem...

1. Não haveria “pegadinhas” o que permitiria que o candidato realmente respondesse às questões com base em sua capacidade e seu raciocínio; (VEJA O ANEXO 1)

2. Não exigiria memorização de fórmulas, datas, etc... seria uma prova pautada em habilidades e competências, semelhante aos Enems antigos, com um certo acréscimo de “conteúdos” para permitir uma melhor seleção de candidatos; (VEJA O ANEXO 2)

3. Não seria conteudista, utilizando sempre dados e informações relacionadas à vida real; (VEJA O ANEXO 3)

4. Seria um grande balizador do ensino médio, fazendo com que as escolas pudessem ensinar coisas de verdade e não apenas treinar para marcar um xis na resposta certa; (VEJA O ANEXO 4)

5. Acabaria com a pressão e o nervosismo típicos dos vestibulares, afinal, seriam provas adequadas para avaliar “habilidades e competências”, para fazer pensar, refletir, associar... (VEJA O ANEXO 5)

6. Permitiria, facilmente, a ocupação das vagas ociosas , otimizando a utilização dos recursos públicos. (VEJA O ANEXO 6)

7. Permitiria que o candidato pudesse optar por até cinco diferentes Universidades do País, mesmo em outros estados ou regiões, sem precisar se descolar para fazer vários vestibulares; (VEJA O ANEXO 7)

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8. Utilizaria a Teoria da Resposta ao Item (TRI), o que permitiria e emissão de um boletim com notas válidas por dois a três anos. Desse modo, se o aluno começasse um curso superior e não se adaptasse bem, poderia usar a mesma nota obtida no Enem anterior e se candidatar a uma vaga na próxima seleção que houvesse; (VEJA O ANEXO 8)

9. Seria barato, cerca de 35 reais, e gratuito para todos os alunos de escolas públicas; (VEJA O ANEXO 9)

10. Não provocaria o mesmo cansaço e desgaste provocados pelos vestibulares torturantes; (VEJA O ANEXO 10)

11. Acabaria com a “indústria dos cursinhos” , uma mazela produzida pelos vestibulares tradicionais; (VEJA O ANEXO 11)

12. Aumentaria a mobilidade estudantil, produzindo um intercâmbio cultural, estimularia a independência do jovem e até aquecendo a economia de algumas cidades; a meta seria atingir uma mobilidade de, no máximo, 10%;(VEJA O ANEXO 12)

13. Seria uma prova moderna, sistematizada, criativa, original; (VEJA O ANEXO 13)14. Teria uma matriz de referência, na qual se basearia toda a formulação da prova; (VEJA O ANEXO 14)15. Não teria regionalismos, exigindo apenas uma visão geral e abrangente. (VEJA O ANEXO 15)16. Teria um sistema inteligente para ocupação de vagas – O SISU – que já era usado no PROUNI com

muito sucesso e perfeição; este sistema impediria a ocupação predatória de vagas; (VEJA O ANEXO 16)

17. O aluno receberia, em sua residência, um boletim com os seus resultados individuais, na segunda quinzena de janeiro; (VEJA O ANEXO 17)

18. Seria baseado no SAT (prova americana que permite avaliar os estudantes no final do equivalente ao nosso ensino médio); (VEJA O ANEXO 18)

19. As questões seriam todas calibradas, pré-testadas, “etiquetadas”. (VEJA O ANEXO 19)20. Seria aplicado em milhares de municípios , simultaneamente, e isso permitiria que um candidato de

uma cidade pequena pudesse concorrer às vagas da capital, sem precisar se deslocar para lá; (VEJA O ANEXO 20)

Aquilo que parecia ser a solução milagrosa para problemas educacionais brasileiros se mostrou como um problema a mais. Faltou transparência, comunicação, logística, segurança, igualdade de condições para os candidatos. A frustração foi enorme. A mobilidade se mostrou predatória. A inclusão ocorreu às avessas. As provas foram roubadas e, quando refeitas e reaplicadas, estavam com outro perfil bem distinto (prejudicando a comparabilidade no tempo). O tempo dado para resolver os itens foi claramente insuficiente, o desgaste físico e emocional dos candidatos só aumentou. A utilização do SISU trouxe incontáveis problemas, de toda sorte. As grandes universidades não só não aderiram ao sistema como forma única de seleção como chegaram até a cancelar sua participação no meio do processo. As pequenas universidades, pressionadas pelo rolo-compressor do poder, não cansam de elogiar os avanços que não vejo.

Três problemas me assustaram, neste processo.

O primeiro foi o caso da aluna LIVIA RODRIGUES, que foi aprovada em medicina no Piauí e no Rio Grande do Sul, simultaneamente, com dois números de inscrição distintos. Será que estamos diante de duas LÍVIAS que têm somente um nome e um sobrenome (idênticos) e um mesmo sonho, mas moram longe? Será que não houve uma falha ou manipulação do sistema?

O segundo foi o fato de até hoje o INEP não ter divulgado as provas que foram aplicadas em janeiro aos presidiários e alunos de duas cidades onde a chuva não permitiu a aplicação do exame em dezembro (foram duas provas distintas, em dois finais de semana diferentes). Assim, o INEP deve, ao povo brasileiro, a divulgação dos 360 itens que foram usados para as provas de janeiro. Por que não foi divulgado até agora, se tem sido pedido com insistência? Será que aplicaram a mesma prova que já havia sido usada? Será que não divulgaram para evitar que a sociedade fizesse comparação de nível entre as provas?

O terceiro é a injustificável falta de informação, no tocante à procedência dos candidatos. Por que não foram divulgadas listagens com a procedência de cada estudante? Acredito que isso ocorreu propositalmente, para evitar que a sociedade percebesse o quanto os cursos mais concorridos das regiões mais pobres estavam sendo tomados por alunos de fora da cidade, da região ou do estado. Desse modo, se divulgaria apenas um dado geral dando conta de uma mobilidade de 10 ou 20 ou 30 por cento e as pessoas achariam até normal.

Sei que não tenho legitimidade para falar em nome das escolas de Pernambuco, nem dos Cursinhos ou Cursos de Matérias Isoladas. Falo por mim mesmo e peço a cada um: estudem este tema, discutam-no. Nós, educadores, somos responsáveis, pelo menos em parte, pelo equilíbrio psicossocial dos nossos alunos.

A indefinição de programas, sistemas, regras de seleção de candidatos tem provocado ansiedade e angústia em todos. Será justo modificar os sistemas de seleção de candidatos em pleno ano letivo? Como estamos nos sentindo? Como estão se sentindo os alunos? O que nós podemos fazer? Qual a posição de cada professor, de cada escola, de cada família?

Finalizo, colocando a vossa disposição os anexos nos quais ponho na mesa, os meus argumentos:

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ANEXO 01

O Enem não tem pegadinhas?

Observe que todos os dados do gráfico foram dados em MILHARES DE PESSOAS. Porém, ao pedir que o aluno calcule a população economicamente ativa em 06/09, foi pedido o número de pessoas. Para responder este item, seria necessário multiplicar último valor, 23.020 por 1,04 (equivalente a aumentar em 4% este valor). O valor encontrado seria aproximadamente 23.940 (o que está na letra A... pegadinha!). Claro que milhares ou milhões de alunos que sabiam a resposta e que fizeram o cálculo certo, NÃO VIRAM A PEGADINHA DO ENUNCIADO, QUE PEDIA O NÚMERO DE PESSOAS (e não o número de milhares de pessoas, como fora construído o gráfico).

ANEXO 02

O Enem não exige decoreba. O aluno não precisa decorar fórmulas, nomes, datas, etc. O que será avaliado é a capacidade de raciocinar. Havendo necessidade, serão fornecidas fórmulas ou dados pertinentes.

Para resolver esta questão de Ciências de Natureza...

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O aluno teria que saber a fórmula:

Era impossível a dedução natural da fórmula, a qual também não foi citada em nenhum lugar da prova. Ou seja, aqueles que não DECORARAM A FÓRMULA... se deram mal!

ANEXO 03

O Enem não será conteudista, ao contrário, trará coisas aplicáveis ao nosso dia-a-dia.

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Se isto não é conteúdo, não sei mais o que devemos considerar com tal. O que isso tem a ver com a nossa vida diária? O fato de ser uma obra de arte?

Veja a resolução deste item feita pela equipe de professores do Colégio Anglo de São Paulo (não esqueça que os professores tiveram a sua disposição calculadora, papel e principalmente TEMPO):

O que disse o MEC? Nada. Manteve o item como válido e silenciou. Até que ponto isso é aceitável?

ANEXO 04

O novo Enem vai balizar os conteúdos do ensino médio? O que ele conseguiu até agora, foi banalizar, misturar, confundir. Porque com ventos soprando em todas as direções, não há bússola que indique para onde devem ir os nossos jovens.

Se havia problemas para as escolas programarem adequadamente as suas atividades, porque o vestibular tradicional orientava os seus currículos de modo exagerado, equivocado, desatualizado, não contextualizado, etc... com a chegada do novo Enem, a coisa piorou, e muito! Por quê? Porque até que todas as universidades públicas adiram ao sistema vão se passar vários anos... ou décadas. Assim, enquanto durar a transição será impossível fazer programação.

O pior: Nunca, na história desse País, se mudou tanto a programação das escolas em pleno andamento do ano letivo (a matriz com os objetivos do novo Enem só foi lançada no meio de Maio e o simulado orientador – que na verdade pouco serviu – só foi divulgado em agosto). Isto fez com que o ano letivo de 2009 fosse um desastre, um tormento, um suplício para alunos, professores e gestores de escolas.

Pior ainda: Estamos quase em Abril e ainda não se sabe em que data será aplicada a prova deste ano. Especula-se que venha a ser em novembro. Será? No caso específico dos Pernambucanos, há boatos de que A UNIVASF vai manter o Enem para todas as vagas, a Rural vai adotá-lo também para a segunda entrada (coisa que não o fez em 2009), a UPE vai rechaçá-lo por inteiro e a UFPE vai voltar a usar a sua nota como parte da primeira etapa. Suposições, boatos, especulações... desconheço coisa pior para estimular os jovens a estudar.

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ANEXO 05

O novo Enem vai acabar com a pressão e o nervosismo porque é uma prova para fazer pensar, refletir, raciocinar?

Eu até achei que isso pudesse vir a ser uma verdade. Porém, não foi o que vimos.

No Enem antigo era dado um tempo de 5 horas (300 minutos, no total) para que o candidato pudesse fazer 63 questões mais uma redação. No novo Enem, onde SUPOSTAMENTE se deveria aumentar o grau de dificuldade e abrangência das questões, foi oferecido um tempo de 10 horas e 30 minutos (630 minutos, no total) para que o candidato fizesse 180 questões mais uma redação. Veja que a média de tempo por questão foi DRASTICAMENTE diminuída, o que prova que ou era dado tempo demais no Enem antigo (o que significaria uma ABSURDA INCOMPETÊNCIA ANTERIOR) ou foi dado tempo de menos no novo Enem (o que significaria um MASSACRE). Como pode uma prova mais difícil ser feita em menos tempo?

O novo Enem foi lançado com a proposta de FAZER PENSAR, REFLETIR, ASSOCIAR... então porque ele NÃO OFERECEU TEMPO SUFICIENTE PARA TAL? Pergunte aos candidatos aprovados e eles lhes dirão: O TEMPO FOI ABSURDAMENTE INSUFICIENTE E AS PROVAS FORAM MONSTRUOSAMENTE CANSATIVAS.

ANEXO 06:

O novo Enem acabaria com o fantasma das vagas ociosas...

O que vimos, infelizmente, foi um grande aumento de tais vagas, inclusive em cursos que nunca haviam experimentado tal problemática. Por quê? Por vários fatores. Primeiro: muitos candidatos aprovados no SISU não dispunham, sequer, do dinheiro da passagem para se deslocar para a cidade onde tinham conseguido a tal vaga; segundo: muitos alunos se inscreveram no SISU somente para mostrar aos parentes e amigos que eram capazes de passar em alguma coisa, mesmo sem interesse em cursar; terceiro: muitos alunos somente conseguiram vagas em cursos que nem de longe “faziam a sua cabeça”, e isso foi um balde de água fria em seus sonhos; quarto: alguns alunos se inscreveram nas vagas do SISU enquanto aguardavam as listagens ou remanejamentos das Universidades pelas quais realmente tinham interesse; quinto: alguns alunos se inscreveram apenas por rebeldia, protesto, influência de amigos, imaturidade, birra, loucura, etc, etc

ANEXO 07

O novo Enem possibilitará a escolha de até CINCO OPÇÕES DE CURSOS OU UNIVERSIDADES, sem que o aluno tenha a despesa com passagens e estadia. Será?

Na prática, o que assistimos foi que o SISU ofereceu apenas uma opção de curso ou universidade, mesmo assim, sem que o candidato soubesse de verdade, como estavam os seus concorrentes, porque o sistema não funcionava em tempo real e trazia apenas uma nota de corte, com base em dados do dia anterior. Ainda mais: o sistema trazia a nota mínima de corte, mas não mostrava quem eram os concorrentes que estavam à frente do candidato, para que ele pudesse pelo menos sonhar que, sendo forasteiros em sua maioria, estariam na lista do SISU apenas de modo temporário, até sair a listagem de aprovados da UFRJ, por exemplo, que somente divulgou o seu resultado 2009, no dia 22 de março.

Quanto às viagens... Amazonenses, Tocantinenses, Pernambucanos, Maranhenses, Piauienses... a maioria dos “enses” já não viajava mesmo para fazer vestibulares por aí. Quem viajava, e muito, eram os paulistas, cariocas, mineiros, capixabas, paranaenses, catarinenses, goianos, brasilienses e gaúchos... viajavam, sim! E continuaram viajando. A prova disso é que nas listas dos vestibulares da USP, UFMG, UFRJ, UFPR, UFRGS, UFSC, UFG, UNB, UNICAMP e outras que não deram bolas ao Enem, há uma infinidade de coincidências de nomes de candidatos. Assim, os que podiam viajar, continuaram a fazê-lo. Só que agora, eles puderam ir além: conseguiram, via Enem, vagas em cursos concorridos em Manaus, Petrolina, Palmas, Cuiabá, Pelotas, Petrolina, Mossoró, Teresina, Porto Velho, São Luis... mesmo sem saber, sequer, onde ficavam estes “lugarejos”, como vivia o povo destas “terras de ninguém”. Não pretendiam tomar vaga de ninguém... só no último caso, porque entre escolher uma faculdade particular do Sudeste e uma Universidade Federal dos “quintos dos infernos”, a segunda opção ainda encanta mais.

ANEXO 08

A nota do Enem terá a validade estendida. Pode ser utilizada durante dois ou três anos, a resolver.

Como é que nós podemos achar normal que a prova de 2010 (que será aplicada, depois da eleição por motivos de segurança?!), produza uma nota comparável com a prova do Enem de 2009? É muito difícil acreditar nisso, até porque haverá mudanças substanciais, como a INCLUSÃO DE INGLÊS, FRANCÊS E ESPANHOL, ausentes na primeira edição por falta de tempo hábil, segundo dados oficiais e declarações do próprio ministro da educação, em 2009. Será concebível que uma prova onde são inseridas não apenas novas questões, mas

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inseridas novas disciplinas, permita que possamos avaliar comparativamente, no tempo, usando apenas a TRI? Isto me parece invencionice.

Aliás, Muito do que se prometeu era invencionice, mesmo. Quer ver? Foi prometido que o sistema do SISU era perfeito, inteligente (palavras do próprio Ministro); que já havia sido bem testado (no PROUNI, segundo a mesma fonte). O problema é que o público-alvo do PROUNI são os alunos carentes, que consideram qualquer coisa que lhes dão como se fosse um presente do governo e, por isso, não reclamam. Ah, no PROUNI também tem aqueles PILANTRAS que têm dinheiro mas falsificam documentos para se fazer de pobres e fazer faculdade privada por conta do contribuinte (dá pra entender que esses pilantras não vão reclamar muito, não é?). Esqueceram de comparar os dois tipos de público.

Voltando à questão de que a nota do Enem pode valer para dois ou três anos, porque as provas são calibradas, comparáveis no tempo, ou seja, têm nível pré-determinado, pré-testado, faço aqui um desafio mortal: DUVIDO, duvido mesmo, que algum matemático do Brasil ou do Mundo diga, mesmo que nem prove, que as duas provas do novo Enem que foram publicadas (a que foi roubada em setembro e a que foi aplicada em dezembro), têm nível semelhante. IMPOSSÍVEL! Mesmo quem não entende nada de educação, nem de matemática, percebe a grande diferença que há entre as referidas provas, sendo a segunda bem mais trabalhosa, bem mais difícil e contando, inclusive, com várias pegadinhas e armadilhas, além de contas absurdas a serem feitas, sem que fosse dado espaço ou papel-rascunho para o candidato... e ainda queremos que o candidato pense, reflita... que é isso?

ANEXO 09

O Enem vai ser um barato!

O Enem saiu caro, muito caro. Afinal, de onde saiu o dinheiro para financiar a sua execução (inclusive com o prejuízo provocado pela infeliz tentativa de improviso, seguida de vazamento das primeiras provas)? Foram milhões de reais do contribuinte brasileiro, aplicados (bem ou mal?) neste projeto. Assim, não podemos dizer que ele saiu barato, mesmo para aqueles que não pagaram diretamente.

Quanto ao fato dos alunos de escolas públicas não pagarem pelo exame, eu acho justo e importante, desde que eles realmente precisem de tal dispensa. Isto porque há várias escolas públicas cujos alunos têm condições financeiras muito superiores aos alunos carentes que freqüentaram escolas privadas. Dou um exemplo:

A Escola do Recife é considerada uma escola pública estadual. Acontece que, os seus alunos pagam uma pequena quantia (em 2009 era cerca de 130 reais por mês). Ora, centenas de escolas de bairro ou do interior têm mensalidades bem inferiores aos 130 cobrados pela citada escola. Nessas escolas, frequentemente, encontramos alunos muito, muito, muito mais carentes do que os freqüentadores da Escola do Recife (digo isto porque o meu cursinho está repleto de alunos – bons pagadores e bons alunos, inclusive – da Escola do Recife, há vários anos).

ANEXO 10

O novo Enem pouparia o jovem do cansaço e do desgaste das provas dos vestibulares tradicionais.

Não foi isso que assistimos. Até por conta do enorme número de candidatos inscritos, foram utilizados todos os tipos possíveis de prédios (alguns excelentes, bem localizados, com ar-condicionado, estacionamento, bebedouros e outras regalias e outros com salas sem janelas, nem ventiladores, sem a menor condição de receber um candidato para fazer uma prova que exige resistência física (dez horas e meia em dois dias seguidos). Piorando a situação, o horário da prova seria o horário de Brasília, o que obrigou os estados mais pobres da federação a começarem a prova às 11h ou às 12h. Qual o problema em começar neste horário? É simples. Como o estudante deve chegar ao prédio com antecedência de uma hora, e como o trânsito nos dias de prova fica caótico, por motivos óbvios, qual seria a hora ideal para o aluno almoçar nos dois dias de prova? Às 9:30? Às 10h? Registre-se, ainda, que como as provas estavam extremamente longas e cansativas, não havia tempo, sequer, de parar um pouco a prova para lanchar (aqueles que levaram o seu lanche, é claro). Enquanto isso, na parte rica do Brasil, as provas começaram às 13h e o aluno pôde sair de casa às 11:30h... bem melhor, não?

Quer ver desgaste mesmo? Basta pensar na situação do candidato X. Ele mora em uma pequena cidade que fica há um dia de barco de Manaus. Inscreveu-se no Enem, pegou a canoa, chegou a capital Amazonense. Como era adepto da religião “Adventistas do Sétimo Dia”, foi obrigado, pelo MEC, a se apresentar para a prova às 12h, horário de Brasília (10h, horário de Manaus). Porém, como o primeiro dia de provas era um sábado, e a sua religião exige que se guarde este dia, o aluno X ficou em uma sala isolado, sem nada pra fazer, esperando o pôr-do-sol para poder iniciar a maratona de 5 horas de prova, que só terminaria por volta das 23h. Doze horas em atividade para no dia seguinte enfrentar mais outra batalha de cinco horas e meia... haja fé!

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ANEXO 11

O novo Enem acabaria com a indústria dos cursinhos

A indústria dos cursinhos virou vitrine em 2009, quando o Sr. Ministro da Educação, resolveu que a culpa da má-educação dos nossos jovens era do vestibular malvado, que só cobrava pegadinhas e decoreba e que interessava muito e apenas aos cursinhos, uma anomalia brasileira (sic). O mais impressionante é que ninguém critica tanto as falhas, os erros, a falta de contextualização, os excessos de pegadinhas e de conteudismos das provas, quanto os professores de cursinho. Ou alguém já viu jornalistas e professores universitários criticando especificamente as provas elaboradas pelas bancas examinadoras de cada instituição. Ora, aos professores de cursinho cabe a tarefa de preparar o aluno para aquilo que é pedido pelas comissões de vestibulares ou, em tempos de Enem, pelos técnicos do INEP. Não lhes cabe dar diretrizes, nem indicar os caminhos, nem fiscalizar o sistema. Acreditem, os professores de cursinhos são, isto sim, heróicos educadores. Educadores? Sim! Saibam que, em cursinhos, não são admitidos professores faltosos, nem hipocondríacos, nem enganadores, nem protegidos de fulano, nem concursados... somente os eficientes ficam, conforme a lei da seleção natural já há tanto descrita. Foi tão injusta a crítica feita pelo Ministro, que o mesmo pagou um preço muito alto por tê-la feito. Senão vejamos: no dia 6 de dezembro, ao acabarem as provas do Enem, foi divulgado no site do INEP, o GABARITO OFICIAL da prova. Acontece que o gabarito estava errado, bem errado. Foi retirado do ar e prometeu-se um novo gabarito para as 10h do dia seguinte. Só foi divulgado o novo gabarito às 12h... e estava errado, novamente. Finalmente, lá pelas 3 da tarde, saiu o gabarito final... IGUALZINHO AO QUE FORA DIVULGADO NA NOITE ANTERIOR, PELOS CURSINHOS. Assim, na noite de domingo do segundo dia do Enem, a única coisa na qual 3 milhões de brasileiros podiam acreditar era na resolução extra-oficial da prova, feita pela “escória” da educação brasileira. Isto é o Brasil.

ANEXO 12

O novo Enem aumentaria a mobilidade estudantil, que passaria de menos de 1% para cerca de 10%.

Onde estão as listagens completas dos alunos? Por que não foi divulgada procedência dos candidatos desde a primeira etapa do SISU? Por que mesmo agora, que a seleção através do SISU já acabou, ainda não existem dados claros, públicos? É lamentável ver aparecerem dados aos pedaços, oferecidos apenas a alguns jornalistas privilegiados. Porém, vamos ao que temos de Oficial, palavras da Profa. Maria Paula Dalari:

“A respeito da matéria sobre o ENEM na coluna do jornalista ELIO GASPARI (21/3), é importante esclarecer: 1) Os dados que deram origem à matéria publicada e que inspiraram o colunista foram repassados pela Assessoria de Comunicação do MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO aos repórteres.2) Com a utilização do ENEM/Sisu, o Brasil sai da quase inexistência de mobilidade acadêmica, com histórico de pouco mais de 1%, para taxas que o aproximam da tendência internacional verificada nos Estados Unidos e na União Europeia. 3) No primeiro processo de seleção do Sisu, alcançamos um dado global de 25% de mobilidade acadêmica, o que significa que um quarto dos cerca de 40 mil estudantes matriculados até a terceira etapa sairá de seus estados de origem para cursar o ENSINO SUPERIOR. Apenas 13% se deslocarão entre regiões, número que cai para 10%, se considerarmos também a mobilidade para estados fronteiriços de diferentes regiões (por exemplo, Minas e Goiás). 4) Com relação à suposta invasão paulista no Piauí, na prática são 202 estudantes de São Paulo que se deslocarão por toda a região Nordeste.”

Comentando as afirmações:1. Se os dados existem, por que não foram divulgados para toda a imprensa? Por que não foram disponibilizados na própria página do INEP?

2. Dizer que a mobilidade provocada pelo Enem nos aproxima dos Estados Unidos ou da Europa é piada. O que houve por aqui, foi uma via de mão única, onde as regiões mais pobres ofereceram as vagas (UFTO, UFAM, UNIVASF, UFMT, UFPI, UFMA e tantas outras de igual ou menor porte) e as regiões mais ricas ofereceram os candidatos (SÃO PAULO, MINAS, GOIÁS, BRASÍLIA, SANTA CATARINA, etc). Quase ninguém sabe, porque a imprensa engoliu a ideia de que 51 universidades haviam adotado o Enem, que não foi oferecida nenhuma vaga em curso concorrido como medicina, direito ou engenharia elétrica, em nenhuma dessas grandes universidades: UFRJ, UNIFESP, UFMG, UNICAMP, UFPR, USP, UFSC, UFG, UFRGS, UNB, UFES. Será coincidência?

3. O problema não está no percentual de 10%, ou de 20%. Se estas percentagens estivessem igualmente distribuídas entre os diversos cursos e não concentradas nos de maior demanda (efeito predatório) ou mesmo se houvesse pelo menos a possibilidade dos alunos de estados pobres disputar vagas das grandes universidades citadas no item 3... mas, elas não aderiram e algumas ainda pioraram a situação, somente divulgando suas listagens há poucos dias, como foi o caso da UFRJ.

4. Parece pequeno o fato de 202 estudantes de São Paulo se deslocarem por toda a região Nordeste. Mas não é. Desafio o MEC a divulgar a listagem nominal destes alunos e os cursos e universidades que farão. Sabe por quê? Porque muito provavelmente, 99% deles estão matriculados em Pernambuco, Piauí e Maranhão (estados que ofereceram suas vagas em cursos concorridos, como medicina e direito, para os outros estados mais pobres, como Sampa e Minas). Ou seja, se fossem 200 paulistas espalhados por 15 ou 20 universidades

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Nordestinas, em 10 ou 12 cursos distintos isto até seria mobilidade... mas, o que está havendo é predatismo. E tem mais: eu DESAFIO, agora com letra maiúscula, o MEC provar que dos nove estados que compõem o Nordeste saíram 200 alunos para ocupar vagas em quaisquer cursos, de quaisquer universidades de todo o Sul e Sudeste... e tenho dito!

ANEXO 13

O novo Enem representaria um avanço, trazendo uma prova moderna, criativa, original.

Que balela. Veja estes dois exemplos:

Primeiro, uma questão de Física:

O que tem de errado? Quase nada. Somente duas coisinhas:

1. Esta questão é um plágio. Foi copiada da FUVEST 2002, o que é um absurdo, pois o Brasil gastou quase 150 milhões para uma prova ter questões plagiadas. O que é isso?

2. Esta questão exige que o aluno tenha decorado duas fórmulas...

Q = mcT e

... sem decoreba, nada feito!”

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Agora, a questão de biologia:

Estas foi uma cópia da FUVEST 1999... pensaram que eu tinha esquecido. Porém, eu estou ficando velho, mas não besta!

Se a gente procurar direitinho, vai achar mais coisa (dê uma olhadinha na prova da UNB 2010)

ANEXO 14

A prova do Enem vai ter uma matriz de referência, com habilidades e competências que pautarão a prova.

Quem acompanhou todas as edições anteriores do Enem antigo, como eu, sabe o que é seguir uma matriz de referência. No Enem antigo, eram 63 questões, de 21 habilidades. Assim, havia em cada prova, obrigatoriamente, 3 questões abordando cada habilidade.

No novo Enem, isso se perdeu. Isto já ficou claro em agosto, quando foi divulgado o simulado oficial. Este simulado trazia 10 questões de cada área (quando deveria trazer 45 para imitar bem a realidade). Mas, em matemática, por exemplo, das 10 questões, duas abordavam a mesma habilidade. O mesmo vimos na prova que foi aplicada em dezembro: várias questões de uma mesma habilidade e algumas habilidades não contempladas: que pena!

Anexo 15

O novo Enem não traria regionalismos, cobrando do estudante uma visão geral, ampla.

Veja esta questão do Enem 2009 (daquela prova que foi roubada):

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Se esta questão não é regionalismo, eu não sei o que é! Alguém pode até dizer: mas, é uma questão fácil, ao alcance de qualquer pessoa. Mas é regionalismo puro. A obra do Mestre Vitalino apesar de conhecida em boa parte do Brasil e até em alguns países, não é uma caracterização nacional, ampla, geral. É algo típico, exclusivo da região Nordeste que, por acaso, é a região onde vivo. Não sei se devo exigir de um brasileiro que vive há 3 ou 4 mil quilômetros do Nordeste conheça este tipo de artesanato e se reconheça nele.

ANEXO 16

O novo Enem terá um sistema inteligente para a ocupação das vagas, o SISU.

Se o SISU era o que se dispunha de melhor, eu agora posso dizer: foi um erro enorme ter aceitado usar o Enem como forma única de seleção para vagas de algumas das nossas Universidades. Foram erros e falhas em todas as etapas do SISU. Vejamos algumas “inconsistências” (para usar o linguajar palaciano):

Logo no seu lançamento, estava previsto que a ordem de inscrição no SISU seria um critério de desempate... mudaram, no meio do processo, esta regra. Por quê? Simplesmente porque foi um pandemônio o que ocorreu nas primeiras 72 horas de implantação do SISU/parte 1. Os computadores travavam, as páginas não abriam, os números de inscrição não eram reconhecidos, etc, etc... e, na mídia o que aparecia era que “os alunos não estão acostumados com o sistema”. Tanto viram que o problema não era dos alunos que acabaram com o critério antiguidade para desempate;

Na primeira seleção do SISU, havia uma aluna, LÍVIA RODRIGUES, aprovada simultaneamente, em medicina, no Piauí e no Rio Grande do Sul. Seriam duas Lívias (com mesmo nome, somente um nome próprio e um sobrenome... sei não!)? Seria um erro por inconsistência ou desalinhamento do sistema? Seria uma Fraude? É impossível saber, porque em nenhum momento foram divulgadas as procedências e os RGs dos candidatos.

Em todas as edições do SISU, o candidato precisava entrar na internet várias vezes, todos os dias, para ficar de olho na sua vaga, porque alguém com nota maior poderia alcançá-lo e tomar a vaga. Isto é excludente porque prejudica exatamente os que não têm acesso a internet de qualidade, em casa, 24h por dia. O sistema somente poderia ser adequado se fosse em tempo real e se indicasse, on line, os nomes e as procedências dos candidatos que estivessem acima da nota do pretendente (assim ele poderia ter ideia da sua real situação).

Segundo os Jornais, houve o desaparecimento misterioso de vagas na UFMT, após a segunda rodada do SISU. A explicação foi: foram matrículas que chegaram atrasadas ao sistema. Será que não foram matrículas colocadas de última hora, de protegidos? Ninguém pode saber, porque não houve transparência.

Eram divulgadas notas de corte baseadas no dia anterior, mas o sistema conta com milhões de candidatos e uma nota de corte pode aumentar muito e tirar a vaga que parecia garantida.

O sistema SISU é tão perverso que ele permitiu que algumas escolas ou cursinhos, fizessem uma campanha: “inscreva-se no SISU, conquiste uma vaga (mesmo que não esteja interessado nela) e venha a nossa escola trocar o comprovante de aprovação por um cupom de sorteio para uma passagem aérea para a Europa...” De posse dos comprovantes, a escola poderia se auto-declarar supercampeã do Enem, pois aprovara centenas de alunos em cursos concorridos de todo o Brasil. E veja que havendo três ou quatro rodadas, o mesmo aluno poderia ser aprovado três ou quatro vezes, em diferentes cursos/universidades. No Piauí, por exemplo, houve caso de aluno aprovado na UFPI de duas maneiras: pelo PSIU e pelo SISU... que lindo!

Na última etapa do SISU, que deu origem às listas de espera, foram divulgados como aprovados e depois foram excluídos tais nomes. A explicação: tinha havido ordem judicial para colocar alguém... o que já prova que as coisas não foram assim tão boas. Aliás, de novo, só quem tem acesso a impetrar mandados judiciais vitoriosos em tempo record contra órgãos públicos é quem tem como pagar um bom advogado (bota bom nisso). Segundo a versão oficial foram apenas cerca de 30 casos. Pelas reclamações publicadas na imprensa, parece que este número seria muito maior.

O SISU patrocinou a maior ocupação predatória de vagas já vista no Brasil. Foram alunos de regiões ricas ocupando vagas de regiões pobres; alunos de cursos concorridos ocupando vagas em cursos menos concorridos; alunos já aprovados nos melhores vestibulares do Brasil brincando de ocupar vagas como quem participa de um videogame (a culpa disso é do sistema, não do aluno que é apenas um jovem em busca, inclusive, de reconhecimento).

Alguns perguntam: por que este mesmo sistema sempre funcionou tão bem no PROUNI e agora deu errado? Veja o anexo 8.

ANEXO 17

O aluno receberia, em sua residência, relatório mostrando seu desempenho para que pudesse usar, inclusive, como autoavaliação.

Até agora, ninguém recebeu o seu relatório de desempenho. E olhe que esta história de relatório entregue em casa é coisa já bem antiga, consolidada. Por que não entregaram ainda, se estava prometido para janeiro?

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ANEXO 18

O novo Enem seria baseado no SAT americano.

Isto deve ser uma piada. Desde quando, nas terras do Tio Sam um aluno marca um monte de xis, faz uma redação de dez linhas e consegue vaga em curso concorrido por aí? O SAT é parte de um processo, que leva em conta para oferecer vagas em bons cursos de boas universidades, uma série de outros fatores, tais como: provas práticas, provas escritas específicas, provas orais, apresentação de currículo, apresentação de cartas de recomendação, na análise de boletins, etc.

O modelo do vestibular tradicional tem e sempre teve defeitos. Mas, achar que uma novidade empacotada pode, por si só, ser melhor, mais eficiente e mais justa, é uma tolice. Não é verdade, nem justo dizer que os nossos vestibulares se parecem com aqueles que fizemos quando nós, cinqüentões, fizemos vestibular outrora. Há muita mudança boa, há muito mais criatividade e contextualização, há muito menos invencionice nos vestibulares da UNICAMP, da UFMG, da UNB, da UFRGS, da UFRN, etc, do que no novo Enem. O que o novo Enem está trazendo de novo mesmo é o TRI (que é bom e interessante, mas só pode servir para uma prova realmente calibrada, sem erros e com tempo suficiente para que o aluno possa fazê-la com tranqüilidade)... o resto é invencionice e politicagem.

ANEXO 19

No novo Enem as questões serão todas calibradas, pré-testadas.

Isto parece bacana. Porém, aponto dois pecados mortais:1. Segundo dados oficiais, a calibragem das questões – que consumiu quase dois milhões de reais – foi

feita em junho e julho, utilizando para isso, 50 mil alunos de 10 cidades brasileiras, de todas as regiões do País. Estes alunos-testadores eram alunos do segundo ano do ensino médio ou calouros de universidades. Aí está o primeiro problema: eles não serviriam para testar. O primeiro grupo, porque não tinha visto, sequer, metade do conteúdo programático do ensino médio; o segundo, não tinha a menor motivação para levar a sério uma tarefa de tamanha responsabilidade. Voltando ao primeiro grupo, alguém poderia retrucar: mas o objetivo não é medir conteúdos, é avaliar habilidades e competências! Eu retruco: então podemos achar que um adolescente que está no meio do ensino médio tem a mesma maturidade de um terceiranista? Tem não. Nesta fase da vida, as transformações são diárias, semanais, são intensas.... um ou dois semestres fazem diferença, sim. Alguém poderia, ainda, ponderar: então, como poderíamos testar estes itens? Respondo: É simples. Ao invés de apressar loucamente o novo Enem, teríamos usado o velho Enem e acrescentado, ao final da prova de cada candidato e de forma randômica, 5 questões para teste (valendo um bônus na nota, por exemplo)... e bum! Poderíamos testar milhares ou milhões de itens imitando as reais condições de reais candidatos.

2. Se a calibragem houve mesmo, e eu acredito nisso, como o INEP explica a existência de questões cujos textos ou dados foram retirados de publicações de agosto de 2009? (lembro que a calibragem ocorreu em junho)

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Só há duas conclusões possíveis: ou a prova não foi calibrada, como prometido, ou foi feita uma nova calibragem de itens, desta feita em pleno setembro ou coisa que o valha (se isto ocorreu, quanto foi gasto a mais? Por que não se divulgou? )

ANEXO 20

Por ser aplicado em milhares de cidades, o novo Enem seria mais INCLUSIVO, possibilitando a um aluno de uma pequena cidade concorrer a uma vaga na capital.

Isto até parece muito bacana. Porém, excluindo exceções – como sempre devemos fazer – o que pudemos observar foram milhares de estudantes prestando o vestibular somente para fazer número, ou seja, sem qualquer competitividade. Não que eles fossem inferiores ou incapazes. Antes disso, as provas é que não se mostravam conforme o prometido. Além disso, as tais vagas na capital, tão cobiçadas pelos alunos mais pobres do interior viriam a ser tomadas por alunos da própria capital, melhor preparados, mas não tanto que tiveram, de novo por deficiências do sistema, suas vagas usurpadas por alunos de outras regiões e capitais onde o Enem não havia sido adotado como forma única de seleção.

Exemplifico: O aluno A, residente em Petrolina, queria fazer vestibular para medicina na UNIVASF. Sua nota, não lhe permitiu tal conquista. Tudo bem. Aí, lhe vem a ideia: vou me matricular em enfermagem, na própria UNIVASF, porque assim eu consigo duas coisas: a aprovação dos meus pais e amigos e uma carteira de estudante (já que aluno de cursinho pré-vestibular não tem esta “regalia”); em seguida, me matriculo em um cursinho para que, no próximo ano, eu possa passar no curso dos meus sonhos. O aluno B, residente na cidade de Cabrobó, queria muito estudar enfermagem, na UNIVASF. Fez as provas e, de posse da sua nota, percebeu que não era uma nota suficiente para tal curso. Soube que o colega A estava se matriculando em enfermagem somente por capricho. Ficou com raiva, xingou o colega, sentiu-se injustiçado... e foi.

O aluno C, residente em Serra Talhada, sonhava com uma vaga em letras, na UFRPE de Serra Talhada mesmo. Fez o Enem. Gostou das provas. Inscreveu-se no SISU e, até o penúltimo dia, ocupava a última vaga do pretendido curso.

Neste ínterim, o aluno B, desgostoso que estava, viu-se na opção de usar a sua nota – inferior para enfermagem, na UNIVASF – para conseguir uma vaga em letras, em Serra... e conseguiu! Até se matriculou, mas não levou adiante. Afinal, a família era pobre e não achava que valeria a pena morar longe de casa para fazer um curso que não queria, gastando o dinheiro que já não tinha.

A vaga de medicina em Petrolina, objeto do desejo de A, fora ocupada por D (piauiense que teve a sua vaga ocupada por um sul-mato-grossense que, por sua vez, perdera a vaga para um paulista... afinal, em Sampa não havia vaga nenhuma de medicina para o Enem).

E foram infelizes para sempre!

PONDERAÇÕES FINAIS:

O que espero, a partir desse momento? Espero pouco, bem pouco. Quero apenas registrar meus pontos de vista para não morrer de remorso, por ter calado. Não sou, nunca fui nem serei omisso.

Assim, ponho em resumo o que acho disso tudo:

1. Gosto muito da ideia de termos uma prova nacional, uma avaliação do ensino médio que tenha um caráter não apenas conteudista, mas que se apresente como uma antena capaz de capturar e nos informar a quantas anda a educação dos nossos jovens. Somente com uma prova nacional, abrangente, obrigatória se pode chegar a este patamar.

2. Gosto muito da matriz de referências do Enem , sim, do novo Enem. Acho que ela contempla razoavelmente o que esperamos encontrar na cabeça de um jovem brasileiro, antenado, moderno, bem orientado.

3. Gosto muito de ver escolas públicas e privadas sendo avaliadas e até ranqueadas através dos seus produtos, os alunos. Neste ponto, tenho minhas ressalvas: como interpretar os dados se há discrepâncias de tamanho das escolas, de orientação pedagógica, religiosa ou mesmo diferenças brutais entre o nível social no qual está inserida cada unidade educacional. É possível que a escola onde estejam concentrados os maiores herois do Brasil seja tratada pelo ranking como se fosse coisa qualquer, porquanto seus resultados podem não ter magnitude para serem vistos ou viés para ser detectado. Acrescento: devemos deixar claro que esta avaliação é pontual e mede apenas um dos aspectos do que se faz na escola, não todos, nem mesmo a maioria, talvez nem mesmo, o principal.

4. Gosto muito de ver o País discutindo a educação, de colocar pais, professores e alunos na mesma roda, onde se debatem temas pertinentes à formação do jovem e o Enem pode trazer isso e até certo ponto, já o fez.

5. Não concordo com a adesão facultativa das IFES. Se é para ser assim, proponho que as nossas (e todas as pequenas e médias) somente aceitem qualquer novidade palaciana, depois que 10 entre as 10

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maiores o fizerem (incluo nisso as públicas estaduais, municipais e até as privadas). Vimos em 2009 a adesão isolada de algumas, prejudicando sobremaneira os habitantes das regiões onde estas se localizavam, por conta da ocupação predatória de vagas. Proponho: Vamos testar bem o Enem antes de usá-lo com amadorismo. Que tal começar com a UNB. Sim, somente com ela. Durante cinco anos, ofereceríamos todas as vagas da UNB pelo Enem, só por ele. Lembro que Brasília está praticamente no centro geográfico do Brasil o que tornaria igualitário o tamanho do deslocamento dos alunos. Acho, ainda que, para isso, a UNB deve receber milhões de reais para custear salas de aulas novas, alojamentos, alimentação de alunos, bibliotecas, laboratórios, etc. Depois de cinco anos, com Brasileiros de todos os cantos tendo a chance de estudar na UNB, pensaríamos em expandir o sistema, primeiro para as grandes universidades, que têm estrutura para suportar falhas do sistema e, por último, para a pequenas, as neófitas, as mais frágeis.

6. Não acho correta a omissão de dados e a falta de transparência . Acho que tudo, tudo mesmo deveria ser divulgado. Inclusive, se a intenção do MEC for, como parece estar ficando claro agora, dar mais vagas aos pobres alunos paulistas que têm poucas vagas públicas (em termos relativos) nas diversas unidades federativas. Onde estão as listagens completas com procedência e RG? Onde estão as provas aplicadas em Janeiro? O que houve com os alunos que foram aprovados e desaprovados no mesmo dia no final da terceira etapa do SISU? Quantas vagas de cada Universidade foram ocupadas por alunos da própria cidade, de cidades vizinhas, do estado, da região e de fora dela?

7. Acho temeroso deixar na mão de políticos as decisões sobre a nossa educação. Ficamos a mercê de eleições, de jogos de poder, de influências sombrias.

8. Acho horroroso trocar apoio a um projeto de avaliação nacional por dinheiro . Precisamos exigir dinheiro de quem pode e deve nos pagar o que merecemos.

9. Não consigo imaginar o Enem como selecionador absoluto (mesmo com TRI) para a maioria dos cursos de maior demanda. Podemos complementar a seleção com provas de primeira fase, de segunda fase, provas práticas, provas escritas, etc.

10. Finalmente, não posso deixar de me posicionar contrário ao que considero o mais grave de tudo, a indefinição. Na minha visão toda e qualquer mudança nos vestibulares, no Enem, nos sistemas de cotas e congêneres deveria ser anunciado com, no mínimo, três anos de antecedência. Três anos é o tempo que dura o ensino médio em nosso País. Assim, com uma antecedência razoável, escolas, famílias e alunos teriam tempo hábil para se adaptar. A FUVEST, por exemplo, já divulgou detalhes do vestibular 2011 e promete divulgar nesses dias as obras literárias que serão cobradas nos seus vestibulares de 2013, 2014 e 2015. Enquanto isso, a UFPE e a UPE ainda não definiram como será o próximo exame. Não me conformo com a possibilidade de mudanças durante o transcurso de um ano letivo, embora isso, paradoxalmente, aumente muito a demanda dos cursinhos.

Estamos à disposição de todos para quaisquer esclarecimentos.

Professor Fernando BeltrãoFone: 8763.2674Email: [email protected]: http://fernandobeltrao.zip.net

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