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Relatório Técnico-Científico
ABORDAGEM ECOSSISTÊMICA PARA O DESENVOLVIMENTO DE INDICADORES DE
SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E DE SAÚDE – REGIÃO DO MÉDIO PARAÍBA, RIO DE JANEIRO1
(2007)
Equipe: Carlos Machado de Freitas (Coordenador) – Centro de Estudos da Saúde do
Trabalhador e Ecologia Humana; Escola Nacional de Saúde Pública;
Fundação Oswaldo Cruz – CESTEH/ENSP/FIOCRUZ
Simone Gomes de Oliveira (ENSP/FIOCRUZ)
Gabriel Eduardo Schütz (ENSP/FIOCRUZ)
Marcelo Bessa Freitas (EPJVS/FIOCRUZ)
1 Projeto financiado por: 1) Programa de Apoio à Pesquisa Estratégica em Saúde – Água (PAPES-Água), Vice-Presidência de Ambiente e Serviços de Referência, Fundação Oswaldo Cruz; 2) Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), projeto 481281/2004-5.
1
Sumário
Introdução .......................................................................................................... 02-041. Ecossistemas e Enfoques Ecossistêmicos nas Revistas de Saúde Pública da América Latina ................................................................................................... 05-062. As Vertentes dos Enfoques Ecossistêmicos ............................................. 07-14
2.1. Abordagem da Saúde de Ecossistemas (ASE) ................................... 07-102.2. Abordagem Ecossistêmica em Saúde (AES) ...................................... 10-152.3. Possibilidades e limites das duas abordagens .................................. 15-16
3. Reunindo Informações Numa Abordagem Ecossistêmica ........................15-214. Enfoques Ecossistêmicos e Indicadores de Sustentabilidade ................. 22-
38 4.1. Contextos e Avaliações em torno dos Indicadores ............................ 25-274.2. Indicadores e Índices – A Agregação das Informações ..................... 27-324.3. Informações Necessárias e Bases de Dados ..................................... 33-39
5. Indicadores de Sustentabilidade Ambiental e de Saúde em Perspectiva Ecossistêmica ................................................................................................... 40-00
5.1. Proposta de Indicadores de Sustentabilidade Ambiental e de Saúde em Perspectiva Ecossistêmica .............................................................................. 40-55
5.2. Indicadores de Sustentabilidade Ambiental e de Saúde em Perspectiva Ecossistêmica na Região do Médio Paraíba .................................................. 55-00
5.2.1. Estrutura espacial ........................................................................... 00-005.2.2. Estrutura demográfica ................................................................... 00-005.2.3. Estrutura econômica ...................................................................... 00-005.2.4. Condições ambientais .................................................................... 00-005.2.5. Condições de Bem-estar ................................................................ 00-005.2.6. Estrutura política e institucional para saúde e meio ambiente .. 00-00
Considerações Finais
1
2
IntroduçãoA escala, magnitude e incertezas que permeiam a atual crise ambiental
demonstram como as atividades humanas vêm produzindo drásticas mudanças
ambientais, nos níveis local e global, resultando em muitos e sérios problemas de
saúde. Por sua própria natureza complexa, estes problemas requerem a busca de
enfoques alternativos que integrem os aspectos socioeconômicos com os biofísicos
na compreensão e busca de soluções dos mesmos.
Na passagem do século XX para o XXI a necessidade de desenvolvimento destes
enfoques alternativos intensificou-se, sendo expressivo deste processo o relatório do
World Resources Institute (WRI, 2000) para biênio 2000-2001. Este relatório aponta
a necessidade de adoção de um enfoque ecossistêmico que possibilite
cientificamente reconhecer os “sistemas” nos ecossistemas de modo holístico e não
setorial, orientado para a tomada de decisão e que tenha como pressupostos a
capacidade de contribuir para: (1) reunião de informações diversas, que possibilitem
demonstrar as interfaces entre bens e serviços dos vários ecossistemas que devem
ser equilibradas com as metas ambientais, políticas, sociais e econômicas; (2)
formulação de políticas públicas amplas e instituições mais efetivas para
implementar as mesmas; (3) participação do público na gestão dos ecossistemas,
particularmente as comunidades locais.
Em 2001, as Nações Unidas lançam o Millennium Ecosystem Assessment (MEA,
2005), um programa de quatro anos concebido para responder às necessidades de
informações científicas sobre a relação entre mudanças nos ecossistemas e bem-
estar humano para os tomadores de decisões políticas. Seus resultados foram
divulgados em março de 2005 e apontam para a seguinte situação:
1. Nos últimos 50 anos, os humanos mudaram os ecossistemas mais
rapidamente e extensivamente do que em qualquer outro período da história,
em grande parte para atender sua crescente demanda de provisão de
serviços. Entre 1960 e 2000 a população mundial dobrou e a economia
global cresceu mais do que seis vezes, contribuindo para o aumento na
demanda por alimentos, consumo de água e energia.
2
3
2. Aproximadamente 60% dos serviços dos ecossistemas examinados estão
sendo degradados ou utilizados de modo insustentável, com custos difíceis
de estimar, mas crescentes. Entre estes serviços estão incluídos a provisão
de águas frescas, a purificação da água e do ar, a regulação do clima regional
ou local, os perigos naturais e pestes.
3. Há evidências de que essas mudanças vem aumentando as chances de
mudanças não-lineares nos ecossistemas, o que inclui a aceleração de
mudanças abruptas e irreversíveis, ocasionando importantes conseqüências
para os humanos (doenças emergentes, alterações abruptas da qualidade da
água, colapso na provisão de alimentos, e mudanças no clima regional).
4. Os efeitos negativos da degradação dos serviços dos ecossistemas ocorrem
de modo desproporcional para as populações mais pobres, contribuindo para
crescentes iniqüidades e disparidades entre grupos populacionais,
constituindo-se também em fator na origem da pobreza e de conflitos sociais.
A estrutura conceitual que permitiu chegar à estes resultados considerou as
forças motrizes diretas e indiretas que contribuíram para as mudanças nos
ecossistemas e nos serviços dos ecossistemas, resultando em conseqüências
sociais, econômicas e bem-estar humano; procurando responder à 4 perguntas
distribuídas em 3 grupos. No grupo 1 (condições e tendências): 1) quais são as
condições atuais e tendências históricas do ecossistema e seus serviços; 2) quais
tem sido as conseqüências para o bem-estar humano das mudanças nos
ecossistemas. No grupo 2 (cenários): 3) considerando mudanças plausíveis nas
forças motrizes primárias, quais serão as conseqüências para os ecossistemas,
seus serviços e o bem estar humano (deve enfatizar surpresas e não tendências
centrais, considerando resultados plausíveis de forças motrizes ambíguas e
imprevisíveis; ser consistente com o estado da arte em informação ecológica,
considerando anos à frente. No grupo 3 (respostas): 4) o que podemos fazer acerca
da questão, o que envolve um conjunto de políticas ou medidas – intervenções
legais, econômicas, financeiras, institucionais, sociais ou cognitivas - que impactem
o estado e o funcionamento atual dos ecossistemas, envolvendo um planejamento
que afete as forças motrizes indiretas, diretas e o bem estar humano.
3
4
A questão de como as mudanças nos ecossistemas resultam em conseqüências
presentes e futuras para o bem-estar e a saúde dos humanos fazem parte das
agendas científica e política globais atuais, sendo desenvolvidos enfoques que
permitam tratar da dupla relação entre a saúde de ecossistemas e saúde humana,
por um lado, e o conhecimento científico e a tomada de decisão política, por outro. O
objetivo deste projeto é, a partir da reunião de informações diversas (um dos
pressupostos para a adoção de enfoques ecossistêmicos no WRI) e de fácil acesso
para pesquisadores e o público em geral, oferecer subsídios para a construção de
indicadores de sustentabilidade ambiental e de saúde em perspectiva ecossistêmica
que permitam responder as duas primeiras perguntas do grupo 1 (condições e
tendências) presentes na estrutura conceitual do MEA.
A base territorial de referência é a Região do Médio Paraíba, composta por 12
municípios: Barra do Piraí, Barra Mansa, Itatiaia, Pinheiral, Piraí, Porto Real, Quatis,
Resende, Rio Claro, Rio das Flores, Valença, Volta Redonda. Estes 12 municípios
integram uma região que sofreu profundas transformações ambientais desde o
Século XIX, com mais de 90% da população vivendo em áreas urbanas,
predominando áreas de campos e pastagens, com alguns municípios altamente
industrializados e integrados na economia global. Esta base territorial constitui a
Região de Saúde do Médio Paraíba, que integra o processo de regionalização da
assistência e que exige maior organização e articulação regional para a oferta e o
acesso aos serviços de saúde. Consideramos que contribuindo para a construção
de indicadores de sustentabilidade ambiental e de saúde que permitam
compreender as condições atuais e tendências históricas de mudanças nos
ecossistemas e seus serviços na Região, bem como as conseqüências para o bem-
estar e saúde, estaremos contribuindo para o processo de regionalização da
assistência, pois esta não pode estar dissociada de uma lógica de regionalização
das ações de vigilância e monitoramento das condições de saúde e bem-estar da
população na sua relação com as mudanças nos ecossistemas e seus serviços.
Para atingir este objetivo, organizamos este relatório em cinco partes. Na
primeira, descrevemos brevemente a situação atual de produção científica no âmbito
da Saúde Pública sobre ecossistemas e saúde humana na América Latina. Na
segunda descrevemos e comparamos as duas vertentes que se encontram na base
do debate teórico e metodológico sobre os enfoques ecossistêmicos: (a) Abordagem
de Saúde de Ecossistemas (ASE); (b) Abordagem Ecossistêmica em Saúde (AES).
4
5
Na terceira analisamos os trabalhos empíricos que tenham adotado enfoques
ecossistêmicos produzidos por pesquisadores da América Latina ou sobre países do
continente tendo como referência o primeiro pressuposto apontado no relatório do
WRI (WRI, 2000), analisando as possibilidades e limites de reunião de informações
diversas para a construção de indicadores. Na quarta analisamos criticamente
possibilidades e limites na construção de indicadores. Na quinta parte procuramos
reunir informações diversas para a construção de indicadores para a Região de
Saúde do Médio Paraíba do Sul.
5
6
1. ECOSSISTEMAS E ENFOQUES ECOSSISTÊMICOS NAS REVISTAS DE SAÚDE PÚBLICA DA AMÉRICA LATINA
Na América Latina, em particular no Brasil, desde o início do século XXI,
discussões e estudos no âmbito da Saúde Pública baseados nestes enfoques vêm
crescendo. Em 2001, no volume 17 da revista Cadernos de Saúde Pública, por
exemplo, podemos citar a publicação no primeiro número do artigo Social
Ecosystem Health: Confronting the Complexity and Emergence of Infectious
Diseases 3, e um suplemento especial que teve como tema Uma Abordagem
Ecossistêmica à Saúde Humana: Doenças Transmissíveis e Emergentes (CSP,
2001). Neste suplemento os artigos trataram de questões bastante diversas tais
como: a aplicação destes enfoques às doenças (síndromes pulmonares,
leptospirose, dengue, malária, arbovíroses, doença de chagas e leshmaniose, por
exemplo); a gestão integrada de doenças e de recursos naturais, a mobilização e
participação popular; as estratégias de vigilância e monitoramento dos problemas
ambientais e de saúde.
Em 2002, como exemplos, citamos o capítulo de um livro sobre saúde e ambiente
sustentável, Enfoque Ecossistêmico de Saúde e Qualidade de Vida (Minayo, 2002) e
o documento Desafíos e Estrategias Para la Implementación de Un Enfoque
Ecosistémico Para a Saúde Humana en los Países em Desarrolo – Reflexiones a
Propósito de las Consultas Regionales Realizadas (Feola & Bazzani, 2003),
publicado pela Oficina Regional para América Latina e Caribe (Uruguai), do Centro
Internacional de Investigações para o Desenvolvimento (Canadá).
Levantamento realizado nas revistas de saúde pública latino-americanas
disponíveis no Scielo (http://wwww.scielosp.org) até 2004, identificou através do
assunto “ecossistema” e “ecosystem” 19 e 23 artigos respectivamente. Do total de
24 artigos nos dois levantamentos, identificamos 4 tendo como referência o enfoque
da ecologia de vetores (Guimarães e col., 2001; Souza-Santos, 2002; Guimarães e
col., 2000; Albuquerque e col., 2000); 2 fazendo a interface entre a ecologia de
vetores e o ecossistema como lugar modificado (Dias-Lima e col., 2002;
Vasconcelos e col., 2001); 7 tratando o ecossistema como um lugar, que foi
modificado e tornou-se propício às doenças (Silva, 2001; Anyamba e col., 2001;
Zimmerman, 2001), em que se encontra a presença do vírus (Ishak e col., 2003;
Echevarría & Leon, 2003), onde ocorrem doenças (Moreira e col., 2002; Davies e
col., 2000) e onde deve se dar a intervenção (Loyola, 2002); 9 adotando enfoques
6
7
ecossistêmicos que, em maior ou menor grau, tinham como base os pressupostos
apontados no relatório do WRI (2005). Destes 9 artigos, apenas 1 foi publicado por
pesquisadora brasileira (Possas, 2001). Os outros estão distribuídos
geograficamente do seguinte modo: 4 publicados por pesquisadores da América
Latina, tais como Peru (Murray & Sánchez-Choy, 2002), Colômbia (Carrasquilla,
2001; Rojas, 2001), Paraguai (Rojas-de-Arias, 2001), Argentina (Sosa-Estani e col.,
2001); 2 publicados por pesquisadores do Canadá (Nielsen, 2001; Waltner-Toews,
2001); 1 publicado por pesquisador da Suécia (Follér, 2001); 1 envolvendo a
cooperação entre pesquisadores do Quênia, Suíça e Itália (Baumgärtner e col.,
2001).
Do apresentado até aqui, podemos constatar que enfoques ecossistêmicos para a
saúde humana vêm cada vez mais ocupando espaço na agenda de pesquisas
orientadas para a solução de problemas ambientais. Entretanto, nas revistas
científicas específicas de saúde pública na América Latina, os dados revelam que a
palavra ecossistema ou “ecosystem” só recentemente vem sendo incorporada (os
artigos mais antigos datam de 2000) e que a maioria dos artigos o ecossistema não
é tratado de forma sistêmica, mas como o lugar do vetor (ecologia de vetores), do
vírus, da doença e da intervenção. Baseados em estudo anterior (Freitas e col.,
2005), podemos afirmar, que ainda é pequena a produção científica expressa na
forma de artigos que tratem de considerar a interface ecossistemas e saúde
humana, sendo ainda menor a que procura integrar esta interface através do
desenvolvimento de enfoques ecossistêmicos em saúde.
7
8
2. AS VERTENTES DOS ENFOQUES ECOSSISTÊMICOSPodemos identificar na atualidade duas grandes vertentes que estão na base dos
estudos que adotam um enfoque ecossistêmico. Uma valoriza fortemente o
desenvolvimento de modos de mensuração que permitam identificar sinais e
sintomas de como as mudanças nos ecossistemas podem afetar a saúde dos
mesmos e, por conseguinte, apresentam o potencial presente ou futuro de afetar a
saúde humana (Rapport, 1998a; Jorgensen e col., 2005; Aron & Patz, 2001). A
outra valoriza fortemente o desenvolvimento de abordagens contextualizadas e
participativas de como as mudanças nos ecossistemas de determinados lugares
(aldeias, vilarejos, pequenas cidades, por exemplo) afetam a saúde das
comunidades locais (Kay e col., 1999; Waltner-Toews, 2004; Lebel, 2003). A
primeira privilegia a construção de informações científicas que subsidiem a tomada
de decisão. A segunda privilegia a construção coletiva de informações, de modo que
os atores locais possam participar de modo mais qualificado das demandas ou
mesmo das tomadas de decisões.
2.1. Abordagem da Saúde de Ecossistemas (ASE) A ASE busca ser uma ciência integrativa, procurando ir além das fronteiras do
estresse ecológico, um campo voltado estritamente para os aspectos biofísicos dos
problemas ambientais. Procura integrar ciências naturais (dimensão biofísica),
sociais (dimensão socioeconômica) e da saúde (dimensão da saúde humana),
utilizando como recurso a metáfora do ecossistema como um paciente, que implica
em: 1) diagnosticar as disfunções dos ecossistemas, através do monitoramento de
sinais e indicadores, com o objetivo de identificar riscos de deterioração,
identificando os ecossistemas “saudáveis” (desejáveis) daqueles considerados
“patológicos” (indesejáveis); 2) oferecer opções para mudanças de estado dos
ecossistemas, focalizando em estratégias preventivas a fim de reduzir custos de
intervenções pós-danos, assim como, perdas de oportunidades econômicas, de
riscos à saúde humana e de rupturas sociais por conta da degradação ambiental
ocorrida (Rapport, 1998b; Rapport, 1998c).
Como uma ciência integradora, a ASE busca superar os limites das abordagens
dominantes econômicas (centrada nos preços de mercados que refletem a escassez
atual de recursos naturais e não considerando as conseqüências para gerações
futuras), ecológicas (tendência a deixar a sociedade e atividades econômicas de
8
9
lado, sendo ambas vistas como forças “externas”) e das engenharias (busca de
soluções pontuais baseadas em estratégias de comando e controle).
A integração proposta pela ASE se faz através da análise de diferentes
dimensões e atributos. Em relação às dimensões são consideradas quatro grandes
estratégias de análise. Na dimensão biofísica são avaliadas as estruturas e funções
dos ecossistemas, investigando fatores associados aos ciclos de nutrientes, fluxos
de energias, diversidade, dominância de espécies biológicas, ciclos e seqüestro de
substâncias tóxicas e a diversidade de habitats. Na dimensão sócio-econômica, os
aspectos econômicos e sociais são tratados de forma conjunta enfatizando as
diferenças na capacidade produtiva dos ecossistemas, assim como, a atribuição de
diferentes valores para o meio ambiente pelas populações, que repercutem
diretamente nas políticas econômicas dos países, independente do estágio de
desenvolvimento em que se encontrem. Na dimensão saúde humana é estabelecido
o nexo causal entre doenças e riscos à saúde humana e o desequilíbrio do estado
de saúde dos ecossistemas, independentemente de serem doenças infecto-
contagiosas ou crônico-degenerativas. E, por último, no que consideram dimensão
espaço-temporal, são abordadas as diferentes respostas dos ecossistemas às
variadas formas de estresse, sejam uni ou multi-causais, ao produzirem mudanças
de efeito cumulativo e/ou sinérgico afetando a viabilidade do sistema. Por exemplo,
sinais de disfunções observados em componentes isolados em escala local em uma
análise tradicional e reducionista podem acabar por considerar o ecossistema em
questão como saudável. Entretanto, padrões complexos inerentes às respostas dos
ecossistemas sob estresse podem significar, em larga escala espacial e temporal,
disfunções que tornam o mesmo ecossistema não saudável (exemplo das atividades
agrícolas no nível local que podem se transformar em impactos para todo o sistema
agro-pecuário) (Rapport, 1998b; Rapport, 1998c).
Em relação aos atributos a ASE sugere oito critérios/indicadores para a saúde de
ecossistemas aplicáveis na integração das dimensões acima explicitadas. Os três
primeiros critérios/indicadores (vigor, resiliência e organização) são caracterizados
por sua origem predominantemente biológica e permitem avaliar estrutura e funções
dos ecossistemas, sendo considerados os componentes primários da saúde de
ecossistemas. Os demais critérios/indicadores representam a capacidade de gestão,
planejamento e sustentabilidade das medidas de mitigação e de compensação
9
10
tomadas pela sociedade frente a situações de danos ambientais (Rapport, 1998b;
Rapport, 1998c). Estes oito atributos são descritos no Quadro 1.
Quadro 1: Atributos da Abordagem da Saúde de EcossistemasNome do critério/indicador Definição do critério/indicador
Vigor
Refere-se a energia ou atividade no contexto de um ecossistema. A energia refere-se à potência/rendimento e pode ser mensurada em termos de ciclagem de nutrientes e produtividade. Embora o estresse em muitos ecossistemas esteja associado com menor vigor em termos de produtividade e potência/rendimento, isto não significa que quanto mais alto a potência/rendimento, mais saudável será o ecossistema.
ResiliênciaRefere-se a capacidade um sistema enfrentar o estresse e retornar ao estado anterior, quando o estresse diminui. Esta capacidade é referida como “capacidade opositiva” e é mensurada pela capacidade do sistema para se recuperar após uma perturbação.
Organização
Refere-se a complexidade e interrelação entre os diferentes elementos bióticos e abióticos de cada ecossistema. Ecossistemas sob estresse, em geral, demonstram redução da riqueza de espécies, poucas relações simbióticas e mais espécies oportunistas entre os elementos destes sistemas.
Manutenção dos Serviços dos Ecossistemas
Este atributo vem emergindo como um critério chave para avaliação da saúde de ecossistemas e refere-se às funções que beneficiam as comunidades humanas, tais como detoxificação de substâncias químicas, purificação da água, produção de interrelações entre espécies e redução da erosão.
Opções de Gestão
Ecossistemas saudáveis oferecem maior diversidade de potenciais de usos, tais como colheitas/safras de recursos renováveis, recreação e provisão de água para consumo humano. Por outro lado, ecossistemas sob estresse não oferecem muitas opções de uso ou não conseguem manter/suportar tais opções por longos períodos.
Subsídios Reduzidos
Ecossistemas saudáveis não requerem um aumento de subsídios para manter sua produtividade. Como exemplo na agricultura, servem de inputs adicionais: trabalho, agrotóxicos e combustíveis fósseis. Subsídios também podem ocorrer na forma de incentivos econômicos que acabam por encorajar a exploração excessiva de recursos naturais, sem requerer para isso que a produção obtida internalize os custos ambientais e de saúde. Geralmente estes custos tendem a ser repassados para a sociedade como um todo e não para os empreendimentos que degradam.
Danos aos Sistemas VizinhosAlguns ecossistemas podem prosperar às expensas de outros. Exemplo disto ocorre quando os resíduos ou contaminantes de uma determinada região são transportados para além de suas fronteiras, ocasionando danos em ecossistemas não geradores dos mesmos.
Efeitos Sobre a Saúde HumanaA saúde humana pode servir como uma medida sinóptica da saúde do ecossistema. Ecossistemas saudáveis são caracterizados pela sua capacidade de sustentar populações humanas saudáveis.
Fonte: Rapport, 1998b
O emprego da metáfora do paciente na ASE constitui requisito fundamental para
o sucesso desta abordagem, funcionando como uma poderosa ferramenta de
comunicação com o público em geral. Sua importância reside na possibilidade de
ampliação da noção de saúde individual e/ou coletiva para a compreensão e
avaliação da saúde dos ecossistemas, assim como, a dependência da saúde
individual à saúde do ecossistema em que esteja inserida. Esta nova percepção da
saúde acarreta tanto no exercício de integração das ciências naturais e sociais,
como traz à tona discussões que objetivam a melhor compreensão da complexidade
associada ao comportamento dos ecossistemas sob as diversas pressões que nele
incidem (Rapport, 1998ª).
10
11
A ASE entendida como uma proposta de integração de ciências une duas
perspectivas distintas: (a) uma “científica” com a finalidade principal de elucidar
como um determinado ecossistema funciona, analisando possíveis padrões
desejáveis (saudáveis) dos ecossistemas mediante o uso de indicadores
quantitativos multidisciplinares; (b) uma “valorativa” em que consideram-se valores,
interesses e direitos sociais, que subsidiados pelo monitoramento de indicadores,
permitiria a avaliação de saúde ecossistêmica para os possíveis cenários futuros do
comportamento atual (Rapport, 1998b; Rapport, 1998c).
2.2. Abordagem Ecossistêmica em Saúde (AES) A proposta apresentada pela AES tem como base três aspectos fundamentais: a
teoria dos sistemas complexos, a hierarquia entre diferentes agrupamentos (hólons)
e a dinâmica dos ecossistemas frente às diferentes escalas (espaciais e temporais)
e aspectos que devem ser utilizados para seu estudo e compreensão. A AES parte
da premissa que as manifestações de doença e de saúde ocorrem em contextos
sócio-ecológicos complexos, caracterizando os ecossistemas como sistemas
holárquicos abertos auto-organizáveis (SOHO – self organizing holarquic open).
Esta abordagem busca determinar elos entre a saúde humana e as atividades ou
eventos que perturbam o estado e a função ecossistêmica (Waltner-Toews, 2001 e
2004; Kay e col., 1999).
O arcabouço teórico-metodológico desenvolvido na AES foi delineado em função
da complexidade inerente aos sistemas sócio-ecológicos que envolvem um conjunto
de agrupamentos hierárquicos em múltiplas escalas (espaciais e temporais) que
tendem à se organizar em círculos de retro-alimentação sociais e ecológicos. O que
se objetiva ao analisar esta complexidade é possibilitar identificar pontos críticos de
instabilidade que, por vezes, podem resultar na emergência espontânea de novas
estruturas e formas de organização que conduzem à mudanças abruptas dos
sistemas e podem resultar desde pequenas alterações até tragédias ambientais
envolvendo o surgimento de pragas ou epidemias (Waltner-Toews, 2001 e 2004;
Kay e col., 1999).
Nesta abordagem, as incertezas são inerentes aos sistemas sócio-ecológicos e
conduzem à uma abordagem direcionada principalmente para os problemas
ecossistêmicos e de saúde locais e regionais. Tem por base o pluralismo
metodológico e incorpora fortemente os princípios da participação social, de modo
11
12
que embora a metodologia proposta possua algumas diretrizes básicas, a
construção da abordagem de investigação e análise dos ecossistemas, bem como a
proposição de estratégias de gestão e políticas públicas, tem por base os processos
de aprendizagem social e colaborativa entre especialistas e atores sociais locais
(Waltner-Toews, 2004; Kay e col., 1999).
A participação e os processos de aprendizagem social e colaborativa podem
conduzir à um tipo de gestão adaptativa, que surge como uma alternativa e ao
mesmo tempo como um complemento à gestão antecipatória tradicional. Na gestão
adaptativa, as diferenças entre como o futuro realmente se revela e como foi
antecipado que ele se revelaria, são vistos como oportunidades de aprendizagem.
O enfoque adaptativo da AES presume que as decisões em torno das questões
ambientais envolvem o mapeamento da visão de como os territórios ou os
ambientes devem co-evoluir como uma entidade auto-organizada. Este caminho
também permite identificar quais são os atores e interesses sociais em jogo,
histórias de vida, preocupações e perspectivas futuras (Waltner-Toews, 2004; Lebel,
2003).
Embora, assim como a ASE, a AES considere também atributos/indicadores que
permitam identificar se um ecossistema se encontra saudável ou não, sua
metodologia se encontra centrada no processo, estabelecido em 4 etapas
articuladas, conforme pode se verificar na Figura 1. Nestas 4 etapas descritas
abaixo, consideram-se dois aspectos fundamentais: 1) as fronteiras de um
ecossistema e/ou problema ambiental são constituídas através da negociação entre
os diferentes atores sociais envolvidos; 2) os papéis e as responsabilidades dos
diferentes atores sociais são definidas à cada passo. Estes dois aspectos exigem
daqueles que se dedicam à esta abordagem a definir regras claras de negociação,
modos de envolver nos momentos apropriados os diferentes atores com interesses
conflituosos, modos de resolver os conflitos e estratégias para manter a participação
dos atores até o fim do processo (Waltner-Toews, 2004; Lebel, 2003).
12
13
Fonte: Waltner-Towes e col., 2002
A primeira etapa do processo consiste em, envolvendo a comunidade local, definir
a situação/problema (articulando uma agenda sobre problemas que devem ser
compreendidos e resolvidos) e a partir daí, desenvolver uma narrativa sobre as
mudanças-chave, tendências e padrões, presentes e passadas, percebidas e
identificadas pela comunidade e pesquisadores. Esta etapa, que não é exaustiva e
oferece um rico contexto, fornece uma base que permite compreender como um
determinado sistema sócio-ecológico chegou ao presente estado (Waltner-Toews,
2001 e 2004; Kay e col., 1999).
Apresentando a situação: o ponto de partida:
Apresentando questões: queixas
e/ou pesquisas/agendas
A história dada: ecológica, física,
social, econômica, governança, etc.
Questões: Ecológicas, Sociais
e de Saúde
Diferentes atores, equipe de pesquisa, e outros interessados
Tomadores de decisões, políticos e outros com
poder de decisão
Análise de:
As pessoas e suas histórias: Múltiplas estórias sociais e ecológicas,
quadros e descrições do sistemaAções e aprendizado colaborativo:
Monitorando e avaliando indicadores: está se
tornando melhor Descrições e narrativas do sistema: desenvolvendo uma compreensão sistêmica:
Síntese do sistema:Qualitativa: narrativas, estórias possíveis, trade-offs, oportunidades e constrangimentosQuantitativa: cenários, trade-offs, custos e benefícios
Implementação: mudança a visão em ações
Desenho de uma abordagem adaptativa para implementação da
nova visão e do aprendizado colaborativo
Busca de soluções: diálogos transversais, negociando trad-offs,
criando visões, narrativa futura coletiva
Análise do sistema:Qualitativa: quadros, modelos conceituais, diagramas do sistema, diferentes perspectivas através das escalasQuantitativa: simulações, SIGs, modelos matemáticos
Figura 1: Diagrama das Etapas da Abordagem Ecossistêmica em Saúde
13
14
A segunda etapa envolve a análise de três componentes: 1) os diferentes atores
sociais e interesses envolvidos; 2) as questões sócio-ecológicas; 3) as estratégias
de políticas públicas e governança. A análise dos diferentes atores sociais e
interesses não só procura identificar quem pode e deve tomar parte nas diferentes
etapas de pesquisa e de gestão do problema, mas também as diferentes “versões”
da realidade, representando as diferentes perspectivas de uma variedade de grupos.
Esta análise fornece elementos para incorporar e reconciliar os mesmos na agenda
de pesquisa e gestão. A análise das questões sócio-ecológicas ocorre a partir de
técnicas participativas que envolvem os diferentes atores e permite identificar
problemas e oportunidades de gestão dos mesmos. Através desta análise
identificam-se tanto as variáveis endógenas e exogénas de cada questão e suas
interações com outras questões, como também os elementos-chave que os atores
locais consideram importante na descrição do sistema e que representarão
elementos para mudanças ou manutenção do status quo. A análise de políticas
públicas e governança devem permitir descrever um contexto mais amplo e as
estruturas relevantes para as mesmas que constranjam ou facilitem a capacidade
local de lidar com os problemas. Fornece elementos para identificar, em um
contexto mais amplo, o necessário a ser transformado para facilitar a busca de
metas sustentáveis pelas sociedades locais (Waltner-Toews, 2001 e 2004; Kay e
col., 1999).
O resultado destas duas etapas anteriores é uma série de narrativas, quadros e
descrições de como o sistema sócio-ecológico é uma visão do que deve mudar na
situação atual. Estas narrativas, nas suas várias formas, servem de base para um
processo mais formal de desenvolvimento de uma compreensão sistêmica da
situação (Waltner-Toews, 2004; Kay e col., 1999).
A terceira etapa é de desenvolvimento de uma compreensão sistêmica das
descrições e narrativas do sistema sócio-ecológico. Envolve dois componentes, a
análise quantitativa e qualitativa do sistema e a síntese das descrições do sistema,
que permitem compreender como as várias narrativas interagem com cada uma
para criar o que reconhecemos como sistema. A análise do sistema consiste
essencialmente na construção de um modelo conceitual que descreve
espacialmente e temporalmente quais são os elementos-chave da situação e como
estes se encontram interconectados e inter-relacionados, identificando os
importantes processos que conformaram a mesma. Esta análise pode iniciar de
14
15
modo qualitativo e por vezes simples, fornecendo importantes insights e sugestões
para ações e, quando dados e informações estão disponíveis, inclui análises
quantitativas chegando a envolver modelos estatísticos, simulações e análises
espaciais. A síntese das descrições do sistema objetiva reconstruir um modelo do
sistema como um todo e analisar o mesmo em termos de saúde e sustentabilidade,
identificando quais são os pontos-chave de interseção entre os vários sub-modelos e
as narrativas futuras (cenários) que conformam a base da elaboração de hipóteses
sobre os prováveis resultados de intervenções particulares. Estes modelos e
narrativas futuras constituem a base das políticas públicas que sejam capazes de
considerar as múltiplas perspectivas e metas envolvidas e possibilitar aos tomadores
de decisões definirem um leque de opções de gestão factíveis e balancear as inter-
relacões entre os aspectos sociais, econômicos e ecológicos (Waltner-Toews, 2001
e 2004; Kay e col., 1999).
Com uma rica descrição e compreensão do sistema sócio-ecológico em mãos,
inicia-se a quarta etapa, que consiste nos seguintes componentes: 1) trabalhar com
os diferentes atores relacionados ao ecossistema para encontrar caminhos que
permitam negociar elementos que se intercambiam; 2) projetar abordagem
adaptativa para implementar um aprendizado colaborativo; 3) implementar
mudanças; 4) monitorar e avaliar as mudanças, de modo que se possa aprender
com elas. O objetivo desta etapa é colocar em ação um processo adaptativo e
colaborativo de aprendizagem para a sustentabilidade do ecossistema e da saúde
(Waltner-Toews, 2001 e 2004; Kay e col., 1999).
Ao mesmo tempo em que tem como base as correntes compreensões sobre
sistemas complexos, AES se pretende participativa e prática, tanto no modo como
formalmente analisamos e sintetizamos a compreensão de sistemas
multidimensionais, como, nos aspectos referentes às intervenções e monitoramento
das mesmas, bem como os ajustes necessários.
2.3. Possibilidades e limites das duas abordagens.É importante se observar que sobre o nome geral de enfoques ecossistêmicos
temos relevantes diferenças. A ASE é eficiente no aspecto comunicacional ao utilizar
a metáfora do ecossistema como um paciente. Permite sensibilizar grande parte do
público sobre as inter-relações entre saúde e ambiente. Entretanto, esta mesma
metáfora, por outro lado, tende a aprisionar a compreensão da saúde aos aspectos
15
16
predominantemente biomédicos. Além do mais, embora neste enfoque a ASE se
preocupe em definir quatro dimensões, entre estas a sócio-econômica, não
demonstra de forma clara como trabalhá-las de maneira integrada, mantendo ainda
a dicotomia sociedade-natureza. Porém, avança bastante na proposição de
atributos à serem investigados para avaliar a saúde dos ecossistemas, quando
define os oito critérios fundamentais. Estes critérios apresentam o grande potencial
de se constituírem como indicadores ecossistêmicos para avaliações, diagnósticos e
estratégias de monitoramento.
Outras diferenças relevantes entre a ASE e a AES incluem a formulação de
mudanças políticas e institucionais, bem como a participação do público. É na AES,
que como vimos vem mais influenciando as pesquisas produzidas na América
Latina, que encontramos estes dois aspectos mais presentes. Porém, importante
observar também que entre os artigos produzidos na América Latina e que tinham
forte influência da AES, a proposição de mudanças e a formulação de políticas
quase sempre centrou-se na escala residencial/comunidade, indo no máximo até a
escala municipal. No que se refere a participação do público, constata-se que esta
vem sendo bastante pontual, não sendo efetivamente incorporada à metodologia
adotada.
Podemos considerar que até o momento, há uma tendência de enfoques
baseados na AES serem mais dominantes nos países da América Latina, ainda que
a maioria apresente pouco desenvolvimento no que se refere aos aspectos de
formulação de estratégias de gestão e políticas públicas, sendo isto bem mais
acentuado no que se refere aos aspectos relacionados à participação. É certo que o
avanço de estudos nesta abordagem exige o desenvolvimento destes aspectos. Por
outro lado, o conjunto de relatórios que iniciam a ser disponibilizados pelas Nações
Unidas através do programa Millennium Ecosystem Assessment em 2005, incluindo
avaliações regionais e da relação ecossistemas e saúde, tenderá a fortalecer
perspectivas na América Latina que se identificam mais com a ASE, já que
privilegiam fortemente a avaliação dos atributos dos ecossistemas, em especial
mudanças nos serviços dos ecossistemas, ainda que em detrimento dos processos
de participação social desde a compreensão até a busca de soluções para os
problemas.
16
17
3. REUNINDO INFORMAÇÕES NUMA ABORDAGEM ECOSSISTÊMCIA Considerando o pressuposto de reunião de informações diversas do WRI, de
modo a se procurar responder às duas primeiras questões da estrutura conceitual do
MEA (1 - quais são as condições atuais e tendências históricas do ecossistema e
seus serviços; 2 - quais tem sido as conseqüências para a saúde das mudanças nos
ecossistemas), que também aparecem em livros recentes sobre o tema produzidos
no Canadá (Waltner-Toews, 2004; Lebel, 2003) e cujo enfoque vem influenciado as
pesquisas produzidas na América Latina (Murray & Sánchez-Choy, 2001;
Carrasquilla, 2001; Rojas-de-Arias, 2001; Sosa-Estani, 2001; Rojas, 2001),
selecionamos cinco dos artigos publicados em revistas de Saúde Pública na
América Latina que tenham adotado uma abordagem ecossistêmica. Todos os
artigos selecionados apresentam resultados de pesquisas realizadas em países da
América Latina e foram publicados no suplemento especial dos Cadernos de Saúde
Pública Uma Abordagem Ecossistêmica à Saúde Humana: Doenças Transmissíveis
e Emergentes, que resultou de um evento organizado e financiado pelo International
Development Research Centre (IDRC) do Canadá na Escola Nacional de Saúde
Pública, em novembro de 1999. A reunião de informações diversas no enfoque
ecossistêmico deve possibilitar demonstrar as interfaces entre bens e serviços dos
vários ecossistemas com as metas ambientais, políticas, sociais e econômicas1.
Dos cinco artigos selecionados para uma análise mais detalhada sobre a
adoção de enfoques ecossistêmicos na América Latina, o de Sosa-Estani e col.
(2001) sobre Síndrome Pulmonar por Hantavírus na Argentina, foi o único em que
não se encontra um quadro combinando informações sobre as diferentes escalas
espaciais e as diversas variáveis ambientais/ecológicas do problema em questão.
Os autores 24 trabalharam com um conjunto de informações relativamente comuns
aos estudos no campo da saúde (sorologia; registros de mortalidade nas pessoas
infectadas; identificação dos genótipos e fenótipos dos vírus; identificação das
espécies de roedores envolvidos). Na perspectiva da ASE, dos oito
critérios/indicadores que devem ser considerados para se avaliar a saúde de um
ecossistema, apenas o oitavo (efeitos sobre a saúde humana) foi considerado
através do conjunto de informações levantadas. Na perspectiva da AES, a análise
do problema envolveu somente uma descrição breve das mudanças sócio-
ecológicas nas três regiões, mas sem envolver as comunidades locais nesta
descrição.
17
18
Os outros quatro artigos (Murray & Sánchez-Choy, 2001; Carrasquilla, 2001;
Rojas-de-Arias, 2001; Rojas, 2001) envolveram a montagem de quadros que
permitiram combinar um conjunto maior de informações, divididas em dois grandes
grupos, sistematizados no Quadro 2.
Quadro 2 – Quadro sobre as variáveis e níveis das escalas espaciais ou dimensões ecológicas nos estudos selecionados desenvolvidos na América Latina
VariáveisAmbientais
e/ou Ecológicas
Relacionadas ao
Ecossistema
Econômicas Sociais Culturais Doenças no contexto do ecossistema
Impactos das intervenções relacionadas ao contexto
do ecossistema
Individual
Familia/Doméstica/ResidencialVizinhança
Aldeia
Comunidade
Paisagem
Municipal
Regional
Nacional
Global
Freitas e col., 2006
O primeiro conjunto trata das escalas espaciais/dimensões ecológicas,
reunindo informações sobre os níveis individual, doméstico/residencial (família),
vizinhança/aldeia/comunidade/paisagem, municipal, regional, nacional e global. O
segundo conjunto trata das variáveis, reunindo informações agrupadas em
ambientais/ecológicas, relacionadas ao ecossistema, econômicas, sociais, culturais,
de doenças no contexto do ecossistema e sobre os impactos das intervenções
relacionadas ao contexto do ecossistema.
Em relação às escalas é importante observar que tanto a ASE como a AES
tratam das trabalhadas nos artigos. Entretanto, o enfoque da AES, privilegia muito
mais a interface entre os níveis doméstico/residencial e
18
Nív
eis
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scal
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paci
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o Ec
ológ
ica
19
vizinhança/aldeia/comunidade/paisagem, de modo que, ainda que se refira as outras
escalas, as locais predominam. Porém, como observado no MEA, uma avaliação
completa das interações entre os humanos e ecossistemas requer uma abordagem
multi-escala, de modo a permitir que a análise das forças exógenas a um dado local
ou região permitam avaliar o impacto diferencial das mudanças nos ecossistemas
sobre o bem-estar humano e a saúde, e apontar para respostas diferenciadas e
combinadas nas diferentes escalas. Assim, o fato dos estudos analisados
centrarem-se na escala local, embora importante, surge como ainda limitado para a
busca de soluções dos problemas.
Nestes quatro artigos, dos oito atributos considerados na ASE, apenas os
efeitos sobre a saúde humana foram efetivamente considerados, tendo sido doenças
específicas (Doença de Chagas, Malária e Leishmaniose) o ponto de partida da
maioria dos estudos. Ainda tendo como referência a ASE, os atributos considerados
como componentes primários da saúde de ecossistemas (vigor, resiliência e
organização) e outros, tais como opções de gestão, subsídios e danos aos sistemas
vizinhos não foram tratados em nenhum dos artigos. Podemos considerar que
somente a manutenção dos serviços dos ecossistemas, atributo que vem emergindo
como um critério chave para avaliação da saúde de ecossistemas, foi considerado,
assim mesmo de forma bastante limitada.
Serviços de ecossistemas é um atributo que se refere às funções que
beneficiam as comunidades humanas. Vem sendo considerado em programas
como o MEA em atributo chave para a consideração dos aspectos de saúde e de
bem-estar humano. De acordo com o MEA, ecossistema é um complexo dinâmico
biótico (plantas, animais e micro-organismos) e abiótico, envolvendo os humanos,
interagindo como uma unidade funcional. Os serviços dos ecossistemas são os
benefícios que as pessoas recebem dos ecossistemas e incluem:
a. Serviços de suporte: serviços necessários para a produção de todos os
outros serviços dos ecossistemas, tais como: formação dos solos e
ciclos de nutrientes, produção primária.
b. Serviços de provisão: envolvem os produtos obtidos dos ecossistemas,
tais como: alimentos, água potável; combustíveis, fibras, compostos
bioquímicos, recursos genéticos.
c. Serviços de regulação: envolvem os benefícios obtidos através da
regulação dos processos dos ecossistemas, tais como: regulação do
19
20
clima, dos ciclos de águas e purificação da mesma, regulação de
doenças, tendo impactos na regulação de enchentes, de secas, e da
degradação dos solos.
d. Serviços culturais: envolvem os benefícios não materiais obtidos dos
ecossistemas, tais como: recreio e turismo, valor espiritual e religioso,
estéticos, educacionais, herança cultural e sensação de lugar.
No Quadro 3 sintetizamos como foram aplicadas informações relacionadas
aos serviços de ecossistemas.
Quadro 3: Síntese do Emprego de Serviços de Ecossistemas nos Estudos Selecionados
Tipo de Serviço Característica Referência Emprego
Provisão
alimentos; água potável; combustíveis, fibras, compostos bioquímicos, recursos genéticos
Murray e col. (2001) Uso de variáveis ambientais/ecológicas e centrado nas escalas locais. As informações consideradas pelos autores foram bastante gerais e trataram da presença e acesso aos recursos naturais para a agricultura, a pesca, a caça, a coleta ou o consumo de água.
Regulação
do clima, dos ciclos de águas e purificação da mesma, da degradação dos solos, etc.
Carrasquilla (2001) e Rojas (2001)
Nas variáveis ambientais/ecológicas circunscritas aos níveis locais, informações gerais sobre a alteração da paisagem pelas formas de uso e ocupação da mesma como processo que desregula a relação homem e ecossistema, favorecendo a doença através da intensificação de contato com vetores.
Carrasquilla (2001), Rojas-De-Arias (2001) e Rojas (2001)
aspectos climáticos (chuvas, umidade, temperatura, aquecimento global, El Nino, La Niña) aparecem como variáveis ambientais/ecológicas, mas situadas na escala regional ou global.
Suporte formação dos solos e ciclos de nutrientes; produção primária
Murray e col. (2001) Encontra-se informação sobre a produtividade do ecossistema através da fertilidade do solo
Culturais
benefícios não materiais obtidos dos ecossistemas, tais como: lazer e turismo, valor espiritual e religioso, estéticos, educacionais, herança cultural e sensação de lugar
Não identificado Não identificado
Em relação aos serviços de provisão, nas variáveis ambientais/ecológicas
encontramos referência somente no artigo de Murray e col. (2001), sendo centrado
nas escalas locais. As informações consideradas pelos autores foram bastante
gerais e trataram da presença e acesso aos recursos naturais para a agricultura, a
pesca, a caça, a coleta ou o consumo de água. Sobre serviços de suporte, é
também neste artigo, que encontramos alguma informação, sendo esta sobre a
produtividade do ecossistema considerada através da fertilidade do solo. Em
relação aos serviços de regulação, encontramos nos artigos de Carrasquilla (2001) e
20
21
Rojas (2001), nas variáveis ambientais/ecológicas circunscritas aos níveis locais,
informações gerais sobre a alteração da paisagem pelas formas de uso e ocupação
da mesma como processo que desregula a relação homem e ecossistema,
favorecendo a doença através da intensificação de contato com vetores. Ainda em
relação aos serviços de regulação, aspectos climáticos (chuvas, umidade,
temperatura, aquecimento global, El Niño, La Niña) aparecem nos artigos de
Carrasquilla (2001), Rojas-De-Arias (2001) e Rojas (2001), como variáveis
ambientais/ecológicas, mas situadas na escala regional ou global.
As variáveis que os autores denominaram de “relacionados ao ecossistema”
centraram-se nos serviços de regulação do ecossistema e trataram dos aspectos
climáticos (Rojas-de-Arias, 2001; Rojas, 2001), indo desde o nível das residências
(em função do material utilizado nas construções e de sua localização geográfica
próxima da floresta) até o nível regional e global (em função da alteração da
paisagem e das mudanças climáticas globais). Enquanto no nível residencial se
procurou indicar como tais aspectos favorecem a presença e o aumento da
população de vetores, no nível regional global procurou-se indicar como as
mudanças nos padrões climáticos da região estavam afetando as práticas agrícolas
e comportamento dos indivíduos em função das mudanças climáticas globais,
alterando os regimes de chuvas e enchentes, por exemplo.
As duas primeiras variáveis “ambientais/ecológicas” e “relacionados ao
ecossistema” compõem um conjunto que trata das mudanças no ecossistema. Um
segundo grupo de variáveis, que veremos a seguir, tratou dos aspectos econômicos,
sociais e culturais.
Em relação as variáveis econômicas (Carrasquilla, 2001; Rojas-de-Arias,
2001; Rojas, 2001), estas podem ser distribuídas em três grandes grupos. O
primeiro tratando do impacto negativo da morbi-mortalidade resultante da doença. O
segundo tratando do impacto positivo das intervenções na redução da morbi-
mortalidade, apontando para a necessidade de o governo assumir estes gastos. O
terceiro e maior grupo, tratou das variáveis que apontavam para forma de
organização da economia na localidade estudada (propriedade da terra,
produtividade, rendimentos, financiamentos, escoamento da produção, corrupção,
desemprego, acesso e utilização de recursos naturais, fluxos de migração em
função do empobrecimento de determinadas regiões, etc.).
21
22
Em relação as variáveis sociais (Carrasquilla, 2001; Rojas-de-Arias, 2001;
Rojas, 2001), estas foram bastante amplas, sendo algumas muito próximas das
econômicas. Trataram das formas de organização social da família e da
comunidade; do estigma social derivado da doença; da identificação das tomadas de
decisões sobre a doença no nível familiar pela mulher e da centralização das
tomadas de decisões sobre o nível local pelo Ministério da Saúde; as formas de
organização da comunidade para o combate à doença, a participação nas tomadas
de decisões e a formação de cooperativas; o acesso à educação, aos serviços de
saúde e à habitação; os movimentos migratórios; a omissão do poder público e a
perda da confiança da comunidade em relação aos tomadores de decisões; entre
outras.
Em relação as variáveis culturais (Carrasquilla, 2001; Rojas-de-Arias, 2001),
estas trataram também de aspectos bastante variados. Envolveram a percepção da
doença; as mudanças e choques culturais resultantes dos movimentos migratórios;
os saberes, crenças e práticas que determinam ações em direção ou não ao
aumento da doença; as formas de uso das habitações; a dependência de agentes
externos para organização da comunidade para combater a doença; diferenças nas
normas culturais em diferentes grupos étnicos.
As variáveis sobre a “doença no contexto do ecossistema” se misturam com
todas as anteriores, pois envolveram tanto aspectos das mudanças nos
ecossistemas, como os econômicos, sociais e culturais. Envolveram as formas de
organização social e cultural dos domicílios e peri-domicílios, bem como da
comunidade, contribuindo de forma favorável para a presença e proliferação do vetor
(nível individual e residencial); as características resultantes das mudanças
ecológicas da localidade e da região como favoráveis a presença e proliferação do
vetor (do nível local ao nível regional); as características sócio-econômicas
favorecendo a pobreza e, por sua vez, combinadas com as mudanças ecológicas
contribuindo para o aumento da doença.
O último grupo de variáveis foi circunscrito aos “impactos das intervenções
relacionados ao contexto do ecossistema” (Rojas-de-Arias, 2001; Rojas, 2001), e
podem ser sistematizadas em dois grupos. O primeiro trata de intervenções visando
a redução das condições propícias ao vetor ou mesmo sua eliminação na
comunidade, envolvendo a utilização de produtos químicos, acompanhadas de
programas para o controle da doença, bem como planos para melhoria das
22
23
habitações rurais e, em alguns casos, a nucleação das mesmas em determinadas
áreas. O segundo trata das intervenções econômicas que favoreçam mudanças nas
formas de organização da comunidade no nível local, através da criação de pólos de
desenvolvimento regional (incluindo acesso aos serviços como água, eletricidade e
gás) e da geração de alternativas de trabalho de modo a evitar que as atividades
laborais resultem em maio exposição aos vetores. No nível global as intervenções
envolvem aspectos como a redefinição das políticas governamentais de atenção à
saúde, a redução do aquecimento global ou maior ajuda da comunidade
internacional.
Os artigos em questão, particularmente os que tiveram o enfoque centrado na
AES, ainda que limitados no que se refere ao tratamento de informações relativas
aos atributos descritos na ASE (mesmo os somente relacionados aos serviços dos
ecossistemas), foram capazes de reunir um conjunto de informações bastante
diversas e foram, em certo grau, capazes de demonstrar as interfaces entre bens e
serviços dos vários ecossistemas e suas interfaces com aspectos econômicos,
sociais e culturais. É importante observar que, embora estes aspectos não sejam
exclusivos da AES, sua própria abordagem favorece que sejam tratados de modo
mais contextual. Seu maior limitante se refere exatamente ao fato de, apesar de
citarem outros níveis de escalas ou dimensões ecológicas, não as terem trabalhado
de modo articulado com os outros, centrando-se nos locais.
De qualquer modo, para que se possa avançar na reunião de informações
diversas e construir indicadores numa abordagem ecossistêmica, existem ainda
barreiras para serem superadas nos países da América Latina, tanto em relação a
quantidade de dados disponíveis, como também a sua qualidade, que acabam por
limitar o potencial de reunião de informações diversas, tal como proposto pelo WRI
(2005). Consideramos que para os países da América Latina em geral, e o Brasil,
especificamente, quatro grandes barreiras contribuem para esta situação quando o
assunto envolve reunir informações diversas sobre ecossistemas: 1) a pouca
tradição e restrita disponibilidade de dados ambientais e de ecossistemas,
comparado com dados sociais ou econômicos (Jannuzzi, 2004; IBGE, 2005); 2)
dados e medições idealmente específicos para um ecossistema em questão,
apresentam limitações para serem extrapolados para outras escalas (bio-regiões,
eco-distritos) e não costumam ser facilmente enquadrados nos limites políticos-
administrativos de municípios ou estados que norteiam a grande maioria dos dados
23
24
e informações disponíveis (Niemeijer, 2002); 3) a fragilidade institucional (ausência
ou precariedade dos recursos humanos, técnicos e financeiros necessários) que tem
como conseqüência tanto a inexistência ou mesmo descontinuidade dos programas
de monitoramento dos ecossistemas, como a baixa qualidade de muitos dos dados
disponíveis. Além destas barreiras, existe ainda uma questão geral que é a
dificuldade de determinação de valores ou estados de saúde de ecossistemas que
sejam tomados como referência, já que muitas vezes envolve julgamentos subjetivos
sobre o que deve ser considerado “normal” ou “aceitável”.
24
25
4. ENFOQUES ECOSSISTÊMICOS E INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE A partir da segunda metade do século XX, os humanos mudaram a estrutura e o
funcionamento dos ecossistemas mais rapidamente e extensivamente do que em
qualquer outro período comparável no tempo da história humana. Se, neste
processo, as mudanças nos ecossistemas foram realizadas para atender a
crescente demanda de alimentos, água, fibras, alimentos e combustíveis, estas tem
resultado em crescente custo e formas de degradação de muitos serviços de
ecossistemas e frequentemente podem causar ameaças à saúde e a vida dos
humanos (MEA, 2005).
Os humanos, como outras formas de vida no planeta, dependem dos
ecossistemas locais e da ecosfera global para viver e manter sua saúde. Mesmo
que indivíduos ou populações humanas possam viver ou trabalhar em locais onde
tenha ocorrido degradação ecológica, sua saúde é mantida através de subsídios de
serviços de ecossistemas produtivos em outras localidades. Estes subsídios são
viabilizados através do comércio e da tecnologia, contribuindo para que a saúde não
dependa diretamente do ecossistema local em que se situa o indivíduo ou a
população. Isto significa que populações locais podem degradar seus recursos
naturais e ecossistemas dentro de suas fronteiras políticas, mas também àqueles
que são bens comuns globais (em países ou regiões em outros lugares do planeta)
(Soskolne & Bertollini, 1998).
Esta situação é bastante comum às regiões industrializadas, em que grande
parte da população vive em cidades ou próximo destas. As atividades nas áreas
urbanas resultam em muitos danos ambientais que vão para além de seus
territórios, conectando áreas urbanas com não-urbanas, constituindo cidades-
regiões (Ravetz, 2000). Como observam Pickett et al. (1997), a ampliação da
urbanização em áreas rurais ou de florestas não só converte áreas tradicionalmente
estudadas pelas abordagens ecológicas em sistemas que requerem uma clara
apreciação do papel dos humanos, como está entre os maiores impactos globais
provocados pelos humanos.
Diante deste quadro, um dos desafios que vem sendo colocado para a Saúde
Pública é o de estruturar sistemas de monitoramento e vigilância que permitam
antecipar e, se possível, prevenir as conseqüências à saúde humana oriundas da
não-sustentabilidade ambiental e degradação dos recursos naturais e ecossistemas,
25
compreendidos como sistemas de suporte a vida2, particularmente a partir do
processo de expansão da urbanização e da concentração populacional em áreas
urbanas. Tendo por base Soskolne & Bertollini (1998), consideramos que isto requer
a sistemática coleta e análise de dados que permitam construir indicadores que
apontem para a situação do estado dos ecossistemas e da saúde humana de modo
à: 1) possibilitar análises de tendências que indiquem progressiva degradação dos
ecossistemas (integridade) e da saúde humana; 2) documentar estudos de casos
que demonstrem problemas de saúde emergentes associados com áreas em que os
ecossistemas tenham sido degradados; 3) selecionar comunidades para monitorar
prospectivamente, através de dados sócio-ecológicos e de saúde (critério de
integração ecológica, tal como bio-regiões, eco-distritos, etc.)
A sistemática coleta e análise de dados e construção de indicadores que
permitam monitorar tendências que indiquem progressiva degradação dos
ecossistemas (integridade) e da saúde humana vem gerando esforços internacionais
e nacionais com o objetivo de subsidiar tomadas de decisões, o planejamento de
políticas públicas e a comunicação com a sociedade de forma mais ampla (Soskolne
& Bertollini, 1998; De Kruijf & Van Vuuren, 1998). Esses esforços vem promovendo
a utilização de indicadores e aumentando a preocupação em aperfeiçoá-los e
legitimá-los como ferramentas empíricas de grande utilidade para a gestão dos
ecossistemas e da saúde humana, tanto a nível local, como nacional ou regional.
Os esforços para o desenvolvimento abordagens para a construção de
indicadores objetivam criar ferramentas que permitam avaliar se as metas de
sustentabilidade estão sendo alcançadas a partir do conjunto de decisões e ações
tomadas. Particularmente para a comunidade de gestores, o desenvolvimento de
indicadores como ferramenta para gestão da sustentabilidade vem adquirindo
proeminência por diversos motivos, dentre os quais destacamos dois. Primeiro, o
argumento de que a mensuração do ambiente propicia elaborar políticas públicas
coerentes com prioridades e alvos específicos para atingir as metas estabelecidas,
permitindo aos gestores operar a sustentabilidade (Bellen, 2005). Segundo, os
indicadores são poderosas ferramentas para a comunicação dos gestores com a
2 Incluem as águas doces e do mar, pescados, florestas, clima, solo, ar, assim como a biodiversidade. São integrais às funções biofísicas da ecosfera e sustentam a vida na terra. No contexto ecológico, os sistemas de suporte à vida se referem aos serviços dos ecossistemas a partir dos quais deriva a viabilidade de todos os organismos e sistemas vivos.
sociedade de modo geral, fornecendo visibilidade (consumo de energia, produção de
resíduos, etc.) para o que não é comumente percebido e, ao mesmo tempo,
servindo como um dos instrumentos utilizados para educar o público e conformar um
sentido de responsabilidade social (Macnaghten & Urry, 1998).
Os indicadores permitem simplificar a complexidade da informação e apresenta-
las de modo mais facilmente compreensível do que estatísticas complexas ou outras
formas de dados. Esta característica permite que exponham problemas relacionados
à sustentabilidade ambiental e de saúde, bem como a causas dos mesmos,
contribuindo para que facilitem o planejamento de políticas públicas e a
implementação e monitoramento das mesmas (De Kruijf & Van Vuuren, 1998). Um
indicador de saúde ambiental, em uma perspectiva ecossistêmica é a expressão da
vinculação entre a sustentabilidade dos ecossistemas (como sistemas de suporte à
vida) e da saúde humana, de modo que deve contribuir para a formulação de
estratégias de planejamento e de gestão ambiental ambiental, bem como para
políticas públicas.
Do ponto de vista do processo de tomada de decisões relacionadas à saúde
humana e aos ecossistemas, existem pelo menos cinco objetivos básicos para a
utilização de indicadores de saúde ambiental:
1. Contribuir para o estabelecimento de prioridades das ações que devem ser
executadas com urgência.
2. Estabelecer prioridades de pesquisa.
3. Identificar as vulnerabilidades para enfocar medidas proativas.
4. Oferecer uma medida comparável dos resultados para avaliar e planejar
intervenções e programas.
5. Orientar os investimentos e as negociações intersetoriais.
Por sua vez, a quantidade de indicadores destinados à tomada de decisão deve
ser limitada e baseada em medições padronizadas que utilizem métodos que sejam
acessíveis à todos os atores sociais envolvidos e interessados nos problemas de
sustentabilidade ambiental e de saúde. Porém, para tanto, existe um conjunto
básico de critérios que devem ser atendidos (De Kruijf and Van Vuuren, 1998):
1. Clareza no conteúdo: facilmente compreensível e transparentes.
2. Relevantes para os processos decisórios.
3. Teoricamente bem fundamentados (base científica).
4. Sensitivos às mudanças (induzidas pelos humanos), demonstrando mudanças ao
longo do tempo.
5. Tecnicamente mensuráveis (reprodutíveis à um custo razoável,etc.).
6. Apropriados em escalas temporal e espacial.
7. Ampla significância prevalecendo sobre o significado imediato.
A identificação e a seleção destes tipos de indicadores são tarefas que requerem
grande habilidade de gestão, não só pela complexidade dos aspectos técnicos
envolvidos, mas também porque — além das evidências científicas — a eficácia e
efetiva realização dos indicadores exige a democratização deste processo. Isto é: na
definição dos indicadores de sustentabilidade ambiental e de saúde, em uma
perspectiva ecossistêmica, não devem participar somente os cientistas e gestores;
devem estar incluídos também os diversos atores sociais envolvidos e interessados,
já que se reconhece que para a multiplicidade de visões de mundo e objetivos para
a compreensão dos problemas ambientais e de saúde há muitos indicadores
possíveis de serem construídos.
4.1. Contextos e Avaliações em torno dos Indicadores Para ajudar ao processo de tomada de decisões, os indicadores de saúde
ambiental, em uma perspectiva ecossistêmica e de sustentabilidade, devem
simplificar a complexidade das interfaces e interações entre ecossistemas, saúde e
sustentabilidade. É esta característica de simplificação que dá utilidade aos
indicadores. Entretanto, ao simplificar a complexidade da realidade, expressa muitas
vezes de forma quantitativa, o que se está fazendo é um corte inevitável da mesma:
Os indicadores não abrangem a totalidade da realidade, senão que apontam alguns
de seus aspectos previamente selecionados. Os indicadores podem ser
comparados aos traços existentes em um mapa. Um mapa não abrange e não inclui
a totalidade de um território. É uma representação do território que permite orientar-
se nele.
Para que um indicador possa ser analisado com algum sentido, a simplificação
realizada na sua construção deve permitir a recuperação do referente contextual
complexo que foi cortado. Caso contrário, a referência se inverte e é o valor
artificialmente produzido que permite criar o contexto que será, logicamente,
também artificial. Neste sentido, é importante observar que sempre que se produz
um corte da realidade, entram em jogo critérios de avaliação para a inclusão ou
29
exclusão de aspectos nesse corte. Por exemplo, na definição dos DALY (Anos de
Vida Ajustados pela Incapacidade) — um indicador que surge da soma dos anos de
vida perdidos por morte prematura e dos anos vividos com incapacidade — é
necessário definir uma idade na qual a morte não seja considerada prematura e as
condições que se consideram “incapacidade”. Neste caso, deve-se levar em conta
que quando as pessoas escolhem suas preferências, não estão somente
valorizando perdas funcionais, senão que estão considerando, simultaneamente, o
grau de desvantagem social que uma incapacidade em particular ou uma morte
prematura traz consigo; portanto, pode-se dizer que as preferências escolhidas
variam em função do sistema de valores que define a qual tipo de sociedade ou de
grupo social elas pertencem (Pereira Candel et al, 2001).
Além disso, deve-se observar que no processo de interpretação dos números
também está em jogo o sistema de valores sociais; que poderiam ser citados, como
exemplo, os indicadores de pobreza. Segundo Eduardo Galeano (2005), na década
de 70 a quantificação da pobreza era usada, principalmente, para pôr em evidência
a injustiça social promovida pelo sistema econômico; enquanto que, na atualidade, a
pobreza quantifica as merecidas conseqüências da ineficiência econômica de uma
nação ou grupo social, o que manifesta uma mudança radical no sistema de valores
sociais nas últimas décadas, marcadas pela globalização e hegemonia do modelo
econômico neoliberal.
Outro aspecto que deve ser levado em conta em torno das avaliações dos
indicadores de saúde, relaciona-se com a avaliação das conseqüências advindas
das decisões tomadas. A dotação de recursos (financeiros, humanos, institucionais,
etc.) destinados a ações ou programas de meio ambiente, saúde e desenvolvimento
econômico e social que concorrem entre si exige uma avaliação das diferentes
conseqüências de implementá-los ou não. Quando se deixa a avaliação dos pesos
relativos das diferentes classes de conseqüências totalmente nas mãos do processo
político burocratizado, é muito provável que conseqüências similares sejam
ponderadas incoerentemente (Murray, 1995). A avaliação das conseqüências
resultantes será um reflexo da capacidade de negociação (bargain) dos grupos com
poder ou influências. Tratar-se-á, portanto, de uma avaliação “implícita” do status
quo dominante. Do contrário, é possível definir da maneira mais participativa
possível — junto com os atores sociais envolvidos — um conjunto de valores
relativos para as diferentes conseqüências em termos de saúde, meio ambiente e
29
30
desenvolvimento econômico e social e, a partir desse consenso, construir
indicadores que permitan aproximar o processo de tomada de decisões ao escrutínio
e influência do público.
4.2. Indicadores e Índices – A Agregação da InformaçãoA agregação de dados e informações é uma operação característica da criação
de indicadores e índices, para que estes possam cumprir com sua função de
simplificar a alta complexidade inerente às interfaces e interações dos elementos
vinculados aos problemas de sustentabilidade ambiental e da saúde. Para entender
o processo da agregação dos dados e informações empíricas em indicadores e
índices, é necessário, em primeiro lugar, definir a diferença conceitual e funcional
entre esses termos. Dita distinção fica em evidência através da etiologia das
palavras, conforme pode se ver no Quadro 4 abaixo.
Quadro 4: Etiologia das palavras índice e indicador
INDICADOR (de indicar: mostrar, denotar, apontar)
Um indicador é um dispositivo ou sinal que serve para evidenciar um fenômeno.
ÍNDICE (de indiciar: dar indícios)
Um índice é um sinal en que há uma relação de contigüidade com o representado;
Um valor que representa a evolução de uma quantidade em relação a uma referência.
Um indicador é uma construção que permite indicar, apontar, anunciar as
tendências de estado de alguma coisa (exemplos: qualidade da água, qualidade de
vida, qualidade do ar, etc.) ou um fenômeno (exemplos: mudanças climáticas
globais). É construído a partir de dados (exemplo: níveis de poluição por hora)
agregados e sumarizados na forma de estatísticas (exemplo: média dos níveis de
poluição por dia) analisadas e expressas na forma de indicadores (exemplo: número
de dias em que os limites para a qualidade do ar foram excedidos). Um indicador
fornece meios de se agregar valor aos dados, convertendo-os em informações para
uso direto pelos tomadores de decisões, devendo ser relevante para a
implementação de políticas públicas) (Funtowicz & Ravetz, 1990; Briggs et al. 1996). Um índice é o que é apontado e permite conhecer a magnitude e/ou a
localização de uma variável em relação a valores de base ou de referência
30
31
(Funtowicz & Ravetz, 1990). Um exemplo emblemático de índice em que a
informação está altamente agregada é o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
O IDH se concentra em três dimensões mensuráveis do desenvolvimento humano:
viver uma vida longa e saudável, dispor de educação e ter um nível de vida digno.
Portanto, combina medidas da esperança de vida ao nascer, uma combinação de
números de matricula escolar de crianças com números de alfabetização de adultos
e a renda da população através do PIB (Produto Interno Bruto) per capita, dando
como resultado uma medida para cada país, que permite localizá-lo em um
esquema de referências: alto (entre 0.8 e 1); médio (entre 0.5 e 0.79) e baixo (menor
que 0.49) (UNDP, 2004). Em torno da criação de índices como o IDH, existem
alguns perigos que ameaçam a interpretação da informação neles contida.
Paradoxalmente, um destes perigos é diretamente proporcional ao sucesso da
medição em termos de comunicação ao público; trata-se da confusão freqüente
entre a medição e o objeto que está sendo medido. Assim, normalmente o IDH se
transforma no “desenvolvimento humano” da mesma maneira em que o PIB per
capita se transforma no “desenvolvimento econômico”. Na realidade, não se deve
perder de vista que o IDH foi criado por uma agência internacional (UNDP – United
Nations Development Program) para facilitar o monitoramento da sua política de
financiamento de programas e intervenções a partir dos três componentes que,
segundo esta agência, são os determinantes do desenvolvimento humano (Morse,
2004). Isto é, para definir o índice foi avaliado como seria o corte da totalidade para
simplificar a complexidade (traçar o mapa) do desenvolvimento humano (o território).
O Brasil, por exemplo, seguindo as recomendações do PNUD melhorou
sensivelmente seus indicadores nos últimos quarenta anos. Em 1960 era
considerado um país de baixo desenvolvimento humano com um índice de 0,394.
No relatório de 2004, o Brasil aparece entre os países de desenvolvimento médio,
com um índice de 0,775. Em contradição com a melhoria dos indicadores que
compõem o IDH, no mesmo período, observou-se o aprofundamento das
desigualdades sociais e dos processos de exclusão social no país (Minayo, 2000), o
que demonstra que a medição não é idêntica ao objeto medido, senão um aspecto
do mesmo que corresponde a avaliações e objetivos particulares.
A disponibilidade de dados e a agregação dos mesmos são pontos críticos para
a implementação e utilização dos indicadores no campo da interface
sustentabilidade, saúde e ambiente, particularmente em uma perspectiva
31
32
ecossistêmica. O indicador é uma variável que descreve uma dada situação e,
portanto, pode ser utilizado para avaliar mudanças nessa situação. O problema no
caso da interface entre sustentabibiidade, saúde e ambiente é que nem sempre se
conta com informações que possam ser utilizadas diretamente para tomar decisões.
A agregação de indicadores mais apropriada é aquela que permite adequar as
necessidades de informação às circunstâncias particulares que se enfrenta. Na
agregação entram em jogo aspectos técnicos, metodológicos e de avaliação, onde o
papel da multiplicidade de atores (órgão de governo, ONGs, instituições de
pesquisa, etc.) é crucial. Às vezes, a agregação é uma simples redução da
informação mais relevante do ponto de vista técnico. Por exemplo, pode-se
considerar que é melhor utilizar como indicador a soma de todos os “metais
pesados” em vez de usar cada um individualmente (cádmio, níquel, mercúrio,
chumbo, etc.). Por outro lado, pode-se considerar que uma agregação deste tipo
prejudica a qualidade da informação e não tem nenhuma relevância para os
problemas de saúde e ambiente. Outro exemplo ilustrativo envolve a definição de
qual indicador deve ser utilizado para avaliar a presença de partículas suspensas no
ar: por um lado, pode-se selecionar o indicador de acordo com algum critério de
relevância, em geral, o tamanho da partícula em suspensão (PM2.5; PM10); mas por
outro, pode-se optar por utilizar a soma total de todos os tamanhos de partículas em
suspensão (TSP). Em função do conhecimento atual sobre a relação entre a
presença de partículas suspensas e problemas respiratórios, poderia afirmar-se que,
neste caso, a agregação não significaria nenhuma contribuição efetiva.
Também, existem medições — índices e indicadores complexos — que agregam
na mesma medição uma equação sui generis de valores quantitativos e de
“percepção” de atores sociais em relação a um assunto, tal é o caso do CPI
(Corruption Perception Index) (Morse, 2004). Ademais das particularidades
metodológicas, às quais se deve recorrer para construir este tipo de indicadores,
como por exemplo, como lutar com a inconstância ou a pré-concepção em torno das
“percepções” deste tipo, o grande problema dos índices e indicadores complexos
com alto grau de agregação é que poderiam “esconder” informação de grande valor
que, para ser recuperada, necessita ser desagregada pelo usuário (Renning &
Wiggering, 1997). Sendo assim, cabe perguntar-se para que proceder à agregação
inicial (Morse, 2004).
32
33
O dilema da agregação pode ser visualizado na Figura 2, que representa a
“Pirâmide dos Indicadores” criada por Braat (1991) e muito utilizada pela OECD
(Organization for Economics Cooperation and Development).
Na Figura 2, observa-se a pirâmide ideal em que a integração do conjunto da
informação está representada por um triângulo eqüilátero, com uma base composta
pelos dados primários e o ápice representando os índices altamente agregados.
Cada grupo de atores sociais se localiza de acordo com o nível de agregação da
informação que lhe interessa; assim, os técnicos e cientistas se ocupam dos dados
primários — totalmente desagregados — na base, os gerentes e tomadores de
decisão se preocupam em dispor de indicadores para facilitar seu trabalho, e o
público, ao que chega a informação mais agregada, simplificada y reduzida. Isto é, à
medida que se sobe da base até o ápice, a complexidade da informação é atenuada.
Quando o processo se desenvolve normalmente e a informação agregada chega ao
público de maneira correta, o ápice do triângulo eqüilátero indica também que o
público está recebendo uma alta qualidade de informação agregada.
33
34
Figura 2: Pirâmide dos Indicadores
Entretanto, o processo de agregação da informação nem sempre se desenvolve
desta maneira, como se pode ver na Figura 2(b), onde o triângulo está distorcido e
o ápice se afastou do ponto de maior qualidade da informação agregada (Z) e o
público estará recebendo uma informação agregada que tende às posições (X) ou
Público
Gestores / Tomadores de decisões
Cientistas e Técnicos
Incremento da agregação
Dados
Indicadores
Índices
(a) Pirâmide ideal
Qualidade da informação
Público
Gestores / Tomadores de decisões
Cientistas e Técnicos
X Z Y
(b) Pirâmide distorcida com o ápice distanciado do centro que representa a máxima qualidade possível para a informação agregada
34
35
(Y), ambas de menor qualidade. Observe que, apesar da distorção do triângulo, o
tamanho da base em cada nível se mantém igual, ou seja, desagregado; trata-se da
mesma informação que está sendo “atenuada” de maneira tendenciosa para um
lado ou para outro.
Como exemplo desta distorção, poderia citar-se a agregação da informação
contida no indicador “superfície de sumidouros de CO2”, um parâmetro das áreas
com cobertura vegetal que tem capacidade para seqüestrar o gás de efeito estufa
CO2 atmosférico. Do ponto de vista estritamente técnico, toda área florestal
suficientemente densa poderia ser considerada um “sumidouro”. Entretanto, esta
seria uma agregação que esconde informação de altíssima relevância para a saúde
humana e dos ecossistemas, dado que estaria somando por exemplo, florestas
nativas com cultivo de eucalipto para exploração industrial. Em termos de
desenvolvimento sustentável local, da qualidade do meio ambiente e da saúde
humana, não é o mesmo um reflorestamento ou outro, dado que o cultivo de grande
áreas de eucalipto produz impactos devastadores. Apesar disto, no meio desta
agregação de informações existem fortes interesses econômicos, já que além das
pressões da indústria madeireira para estender sem obstáculos o cultivo do
eucalipto, existe a possibilidade dos países com excesso de sumidouros venderem
sua cota a outros mais contaminadores. Por isso, vários grupos ambientalistas de
nível internacional estão lutando para que as áreas reflorestadas com eucalipto não
sejam consideradas “sumidouros” para o Protocolo de Quioto, já que do contrário,
qual seria o sentido de manter a “improdutiva” vegetação nativa? (MMBT, 2003).
Exemplos como este demonstram a relevância de contar com a ampla participação
dos diferentes atores sociais para favorecer a qualidade da informação que será
destinada ao processo da tomada de decisão, evitando distorções, ampliando a
base de discussão, democratizando o conflito de interesses em jogo e legitimando
as ações que devam ser implementadas.
4.3. Informação Necessária e Bases de DadosÉ muito freqüente que indicadores sejam desenhados “na medida” para serem
utilizados em um único projeto de pesquisa; entretanto, nas últimas décadas
aumentou a tendência das agências internacionais em contar com bases de dados
que podem ser fonte de consulta permanente para os tomadores de decisão. Nestes
contextos, a informação armazenada perde sua relevância como valor quantitativo
35
36
absoluto e ganha importância a possibilidade de estabelecer comparações de séries
temporais.
Quando uma agência ou instituição se propõe a construir uma base de dados,
faz isso pensando na sua própria missão como organização. Entretanto, a
informação contida nas bases de dados abrange diversos campos de interesses e
admite uma ampla gama de agregações e interpretações; por outro lado, as bases
de dados também podem armazenar dados secundários provenientes de outra
instituição ou agência. Uma boa base de dados deve estar atenta à origem, à
freqüência de coleta e de processamento dos dados.
Uma base de dados contendo índices e indicadores para a tomada de decisões
no campo da saúde ambiental, em uma perspectiva ecossistêmica e de
sustentabilidade, deve ser sensível às estruturas socioeconômicas e socioecológicas
que determinam os principais problemas que devem ser atendidos. Para definir qual
é a informação que deve ser armazenada nestas bases de dados, é necessário
conhecer os objetivos e estratégias nacionais e/ou regionais, a realidade
institucional, o contexto político, o marco legislativo e a disponibilidade de recursos
nos níveis de gestão com os quais se pretende trabalhar.
Isto requer a busca de padronização na definição dos métodos de coleta de
dados fomentada tanto pelos organismos internacionais como nacionais,
considerando as necessárias interrelações que devem ocorrer entre os indicadores
globais, regionais, nacionais e locais.
É importante que cada país gere seus próprios indicadores. A busca pela
padronização na definição de métodos de coleta de dados fomentada pelas
agências internacionais não contradiz a importância de que cada país, ou estados e
municípios dentro dos países, disponham de seu próprio conjunto de indicadores
relevantes. Especificar os indicadores de acordo com as demandas locais pode
contribuir tanto para a disposição de um conjunto de ferramentas adequadas para
tais necessidades, quanto também para o aperfeiçoamento da capacidade de
respostas institucionais nos diferentes níveis de cada país. Entretanto, dado que os
problemas da saúde ambiental não respeitam fronteiras e, portanto, freqüentemente
exigem a cooperação e a ação conjunta entre países, estados e municípios, é muito
importante que a informação produzida nos diferentes níveis permita estabelecer
comparações. No Quadro 5 aparecem os principais assuntos de relevância para o
desenvolvimento de índices e indicadores comparáveis a nivel internacional; a
36
37
mesma foi adaptada do relatório produzido durante o workshop organizado em 2003
pelo JRC (Joint Research Centre of the European Comisión) e a OECD em Ispra,
Itália.
Quadro 5: Alguns aspectos que devem ser considerados para o desenvolvimento de informações comparáveis entre países
Assunto Nota
Marco Teórico Deve existir um marco teórico coerente e racional
Seleção dos dados As variáveis devem ser selecionadas de acôrdo com os seguintes critérios:
Solidez
Mensurabilidade
Cobertura nacional
Relevância
Interrelação com as outras variáveis
Análises de correlação dos dados
Deve-se ter em conta a relação que existe entre as medições e o fenômeno que está sendo avaliado e a sensibilidade às mudanças que podem ocorrer
Padronização Os métodos utilizados devem ser padronizados, para garantir a comparação de seus resultados
Estabelecimento de hierarquias
A informação deve poder ser hierarquizada de acordo com o marco teórico de base
Transparência / disponibilidade
Cada um dos passos através dos quais se chega ao resultado final na forma de índices e/ou indicadores deve poder ser explicado e entendido pelos atores sociales destinatários
Visualização A apresentação dos índices e indicadores deve incluir um reconhecimento de seus alcances e limitações. Os dados agregados devem poder desagregarse sem maiores dificuldades pelo público.
Fonte: JRC & OECD, 2003
Como já observado no início deste item, a sistemática coleta e análise de dados
e construção de indicadores que permitam monitorar tendências que indiquem
progressiva degradação dos ecossistemas (integridade) e da saúde humana tem se
constituído em esforços internacionais e nacionais. Porém, como veremos nos
Quadros 6 e 7 ainda há um longo caminho à ser percorrido, que exige superar
alguns desafios que foram se constituindo historicamente e que se refletem ainda
hoje nos indicadores utilizados pelos setores saúde e meio ambiente.
Para o setor saúde a idéia de se utilizar dados de morbidade e mortalidade como
base para as ações de saúde pública podem ser remetidas aos séculos XIV e XV
Entretanto, foi somente no século XIX que concepções sanitárias como a de
Chadwick permitiram não só utilizar estes dados, mas também envolver um conjunto
37
38
de informações sociais, econômicas e ambientais, particularmente relacionadas as
questões sobre salubridade das ocupações e estabelecimentos públicos, bem como
saneamento, que permitissem situar e contextualizar os dados de morbidade e
mortalidade (Declich & Carter, 1994; Rosen, 1994). Porém, conforme podemos
verificar no Quadro 6, em pleno início do século XXI, quando analisamos os
indicadores utilizados pelo setor saúde, constatamos restrições ou mesmo o
desaparecimento dos dados e informações relacionados aos aspectos sociais,
econômicos e ambientais.
Nos indicadores utilizados pela Organização Mundial da Saúde em seu relatório
anual de 2004, constamos que os sociais e ambientais desaparecem e que os
econômicos ficam restritos aos indicadores contábeis de gastos em saúde. Nos
indicadores de Vigilância em Saúde da SVS/MS, os relacionados aos aspectos
sociais e econômicos inexistem e o ambiental se restringe à Qualidade da Água para
Consumo Humano (proporção de amostras em conformidade com o padrão de
potabilidade (MS, 2004). Nos indicadores da OPS (OPS, 2004) e nos Indicadores
Básicos para a Saúde (RIPSA, 2002), os sociais se restringem ao acesso à
educação e serviços como saneamento e água. Os econômicos incluem PIB, renda,
pobreza e desigualdades. Para o setor saúde podemos observar que no conjunto
de indicadores utilizados pelos organismos internacionais (OMS e OPS) e nacionais
(SVS/MS e RIPSA), os demográficos são os mais bem estruturados, devendo-se isto
às suas próprias origens: a preocupação com a saúde de populações humanas.
Particularmente no que se refere aos indicadores ambientais, praticamente
inexistem ou, quando muito, se misturam com os sociais, restringindo-se aos de
acesso ao saneamento e a água (incluindo sua potabilidade para consumo humano).
Para o setor ambiental, como observado na introdução da publicação Indicadores
de Desenvolvimento Sustentável, “... os temas ambientais são mais recentes e não
contam com uma larga tradição de produção de estatísticas [o que] (...) resulta em
menor disponibilidade de informações para a construção dos indicadores requeridos
para uma abordagem mais completa dessa temática ...” (IDS, 2004: 12). Conforme
podemos verificar no Quadro 7, do conjunto de indicadores utilizados por
organismos internacionais como o Global Environmental Outlook (GEO), o World
Resources Institute (WRI) e o Iniciativa Latinoamericana y Caribeña para el
Desarrollo Sostenible: Indicadores de Seguimiento (ILCDS) e nacionais como os
38
39
Indicadores de Desenvolvimento Sustentával (IDS), verificamos algumas diferenças
e similaridades com relação ao conjunto de indicadores.
No que se refere aos indicadores econômicos podemos observar que no GEO
(2003) incluem PIB, investimentos por setor, gastos governamentais e dívida
externa. Os indicadores do WRI (2003) são mais amplos e incluem além do PIB e
gastos governamentais, os fluxos financeiros, os gastos das corporações e as
desigualdades econômicas. Nos indicadores da ILCDS (PNUMA, 2004) os
indicadores econômicos tratam da pobreza, das ineqüidades e dos gastos sociais.
No caso do Brasil, os IDS (IBGE, 2004) além de incluírem indicadores sobre
desigualdades econômicas, PIB, investimentos e endividamento, incluem também
outros sobre consumo de energia e minerais.
No que se refere aos indicadores sociais, os do GEO (2003) se restringem à
educação, os do WRI (2003) envolvem expectativa de vida e mortalidade e os da
ILCDS (PNUMA, 2004) combinam alguns de saúde com outros de pobreza e
ineqüidade, ocorrendo o mesmo com os IDS (IBGE, 2004). Quando tratam de
população e saúde, os organismos responsáveis pelos indicadores ambientais e de
desenvolvimento sustentável são bastante restritos. Em relação aos demográficos,
inexistem no GEO (2003) e na ILCDS (PNUMA, 2004). No WRI (2003) os
indicadores demográficos tratam da fertilidade, expectativa de vida e grupos etários.
Nos IDS se restringem à taxa de crescimento da população.
Em relação aos indicadores de saúde, são tratados de forma restrita pelo setor
ambiental. No GEO (2003) se restringem ao total de óbitos e lesionados em
decorrência de desastres “naturais”. No WRI (2003) incluem indicadores sobre
mortalidade infantil e de adultos vivendo com HIV. No ILCDS (PNUMA, 2004) é
interessante observar que incluem indicadores sobre mortalidade atribuída as
doenças respiratórias e anos de vida perdidos por disfunções conseqüentes de
enfermidades por recursos hídricos. No IDS (IBGE, 2004), além da taxa de
mortalidade infantil, incluem doenças relacionados ao saneamento ambiental
inadequado. Em síntese, podemos observar que os organismos que tratam dos
indicadores ambientais e de desenvolvimento sustentável, além do desafio de ainda
não disporem de dados e informações mais abrangentes e completas sobre as
mudanças ambientais, tratam de forma ainda bastante limitada os indicadores
demográficos e de saúde.
39
40
A análise dos Quadros 6 e 7 demonstra que se queremos avançar na
sistemática coleta e análise de dados e construção de indicadores que permitam
monitorar tendências que indiquem progressiva degradação dos ecossistemas
(integridade) e da saúde humana, há um longo caminho a ser percorrido. Nos
indicadores de saúde e ambientais utilizados pelas instituições internacionais e
nacionais não encontramos um conjunto mínimo de informações diversas, que
possibilitem demonstrar as interfaces entre as mudanças que vem afetando os bens
e serviços dos vários ecossistemas, os problemas de saúde e as transformações no
bem estar, combinados com indicadores sociais, econômicas e políticos.
Provavelmente contribuem para esta situação cinco grandes barreiras que se
manifestam de modo mais acentuado nos países da América Latina, sendo estas:
temas: 1) a restrita disponibilidade de dados de ecossistemas, comparado com
dados sociais ou econômicos; 2) dados e medições idealmente específicos para um
ecossistema em questão, apresentam limitações para serem extrapolados para
outras escalas (bio-regiões, eco-distritos) e não costumam ser facilmente
enquadrados nos limites políticos-administrativos de municípios ou estados; 3) o uso
de dados e informações diversos para a construção de indicadores envolve,
necessariamente, agregação espacial (sobre um número de ecossistemas ou sub-
áreas), o que exige certa uniformidade tanto para um conjunto de indicadores
utilizados para diferentes ecossistemas, como conceitual (definição de valores) para
constituir indicadores particulares para uma região; 4) muitas vezes, a baixa
qualidade dos dados em nível (em todas as escalas) impossibilita ou restringe a
extrapolação e/ou agregação tratadas nos dois itens anteriores; 5) a determinação
de valores ou estados de saúde de ecossistemas que sejam tomados como
referência é extremamente problemática, já que muitas vezes envolve julgamentos
subjetivos sobre o que deve ser considerado “normal” ou “aceitável”. Na América
Latina, além das dificuldades que caracterizam o processo de construção de
indicadores, há também as decorrentes da fragilidade institucional para garantir a
continuidade dos programas e definir coerentemente os critérios de alocação dos
recursos (técnicos, humanos, financeiros, etc.).
40
Quadro 6 - Comparativo de Indicadores de Saúde OMS, OPS e e Brasil
Organização Mundial da Saúde – Relatório 2004
Indicadores Básicos – Situación de Salud em las Américas
Indicadores básicos para a saúde do Brasil: conceitos e aplicações
Vigilância em Saúde – Dados e Indicadores Selecionados
42
Indicadores básicos
Estimativas populacionais
População total Taxa anual de crescimento Razão de dependência Percentual da população
com 60 anos e mais Taxa de fertilidade total
Expectativa de vida ao nascer
Expectativa de vida (para ambos os sexos, homens e mulheres)
Probabilidade de morrer (por 1.000)
Para crianças com menos de 5 anos (meninos e meninas)
Para pessoas entre 15 e 60 anos
Óbitos por causa, sexo e stratum de mortalidade por região da OMS
Sexo (masculino e feminino)
Regiões da OMS
Causas
Doenças infecciosas e parasitárias
Infecções respiratórias
Condições maternas
Condições perinatais
Demográficos População total Taxa bruta de
natalidade (1.000 hab) Média anual de
nascimentos Taxa bruta de
mortalidade (1.000 hab)
Média anual de disfunções
Crescimento demográfico anual (%)
Taxa global de fecundidade (filhos/mulher)
População urbana (%) Razão de
dependência (100 hab)
Esperança de vida ao nascer (total, homens e mulheres)
Socioeconômicos
População alfabetizada (total, homens e mulheres)
Disponibilidade de calorias (Kcal/pc/dia)
Receita nacional bruta (US$ per capita)
Crescimento médio anual do PIB (%)
População abaixo da linha internacional de pobreza (%)
Razão de rendimento 20% superior/20% inferior
População com acesso a serviços - água potável (total, urbana e rural)
População com acesso a serviços – esgotamento sanitário
Demográficos População total Razão de sexos Taxa de crescimento
da população Grau de urbanização Taxa de fecundidade
total Taxa específica de
fecundidade Taxa bruta de
natalidade Mortalidade
proporcional por idade Mortalidade
proporcional por idade, em menores de um ano
Taxa bruta de mortalidade
Esperança de vida ao nascer
Esperança de vida aos 60 anos de idade
Proporção de menores de cinco anos de idade na população
Proporção de idosos na população
Índice de envelhecimento
Razão de dependência
Socioeconômicos
Taxa de analfabetismo Níveis de escolaridade Produto Interno Bruto (PIB)
per capita Razão de renda Proporção de pobres Taxa de desemprego Taxa de trabalho infantil
Mortalidade
Taxa de mortalidade infantil
Mortalidade Total de óbitos Razão entre óbitos
informados (SIM) e óbitos estimados (IBGE)
Percentual da população residente em municípios com CGM padronizado < 4
Taxa de mortalidade infantil (n0 de óbitos em menores de 1 ano por 1.000 NV – inclui calculada pelo SIM/SISNAC e estimada pelo IBGE)
Taxa de mortalidade na infância (n0 de óbitos em menores de 5 anos por 1.000 NV)
Taxa de mortalidade fetal (n0 de óbitos em menores de 1 ano por 1.000 nascimentos totais - NV mais óbitos fetais)
Mortalidade proporcional em menores de 1 ano (% do total de óbitos)
Mortalidade proporcional em pessoas com 50 anos ou mais
Mortalidade por doenças do aparelho circulatório
Mortalidade por neoplasias
Mortalidade por causas externas
Mortalidade por doenças do aparelho respiratório
Mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias
Mortalidade
42
43
Deficiências nutricionais
Neoplasmas malignos
Outros neoplasmas
Diabéti melito Desordens
nutricionais/endócrinas
Desordens neuropsiquiátricas
Desordens nos órgãos sensoriais
Doenças cardiovasculares
Doenças respiratórias
Doenças digestivas
Doenças do sistema genitourinário
Doenças de pele Doenças
musculoesqueléticas
Anormalidades congênitas
Doenças orais Causas externas
(intencionais e não intencionais)
Carga da doença em DALYs por causa, sexo e stratum de mortalidade por região da OMS
Sexo (masculino e feminino)
Regiões da OMS
Causas
Doenças
(total, urbana e rural)
Mortalidade
Razão de mortalidade materna (100.000 NV)
Taxa de mortalidade infantil (1.000 NV)
Taxa de mortalidade em < 5 anos (1.000 NV)
Disfunções registradas em < 5 anos por EDA (%)
Disfunções registradas em < 5 anos por IRA (%)
Taxa de mortalidade estimada por homicídios (100.000 hab)
Taxa de mortalidade estimada por suicídios (100.000 hab)
Taxa de mortalidade estimada por acidentes de transportes terrestres (100.000 hab)
Causas mal definidas (%)
Subregistro de mortalidade (%)
Taxa de mortalidade geral para todas as causas (100.000 hab.)
Taxas de mortalidade por doenças transmissíveis (100.000 hab.)
Taxas de mortalidade para neoplasias malignas (100.000 hab.)
Taxas de mortalidade por doenças circulatórias (100.000
Taxa de mortalidade neonatal precoce
Taxa de mortalidade neonatal tardia
Taxa de mortalidade pós-neonatal
Taxa de mortalidade perinatal
Taxa de mortalidade materna
Mortalidade proporcional por grupos de causas
Mortalidade proporcional por causas mal definidas
Mortalidade proporcional por doenças diarréica aguda em menores de cinco anos de idade
Mortalidade proporcional por infecção respiratória aguda em menores de cinco anos de idade
Taxa de mortalidade por doenças do aparelho circulatório
Taxa de mortalidade por causas externas
Taxa de mortalidade por neoplasias malignas
Taxa de mortalidade por acidentes de trabalho
Taxa de mortalidade por diabete melito
Taxa de mortalidade por cirrose hepática
Taxa de mortalidade por AIDS
Taxa de mortalidade por afecções originadas no período perinatal
Morbidade e fatores de risco
Incidência de sarampo Incidência de difteria Incidência de coqueluche Incidência de tétano
neonatal Incidência de tétano (exceto
proporcional por causas maldefinidas – 60 anos e mais
Mortalidade proporcional por causas maldefinidas – em menores de 1 ano
Mortalidade proporcional por causas maldefinidas - total
Mortalidade proporcional em menores de 1 ano por doenças respiratórias (% do total de óbitos em menores de 1 ano)
Mortalidade proporcional em menores de 1 ano por doenças diarréicas (% do total de óbitos em menores de 1 ano)
Mortalidade proporcional em menores de 1 ano por malformação congênita (% do total de óbitos em menores de 1 ano)
Número de óbitos por doenças imunopreveníveis selecionadas, em menores de 5 anos
Taxa de letalidade materna em internações obstétricas do SUS (SIH) (óbitos maternos no SIH em internações obstétricas por 100.000 internações obstétrics)
Mortalidade proporcional por
43
44
infecciosas e parasitárias
Infecções respiratórias
Condições maternas
Condições perinatais
Deficiências nutricionais
Neoplasmas malignos
Outros neoplasmas
Diabéti melito Desordens
nutricionais/endócrinas
Desordens neuropsiquiátricas
Desordens nos órgãos sensoriais
Doenças cardiovasculares
Doenças respiratórias
Doenças digestivas
Doenças do sistema genitourinário
Doenças de pele Doenças
musculoesqueléticas
Anormalidades congênitas
Doenças orais Causas externas
(intencionais e não intencionais)
Expectativa de vida saudável (Healthy life expectancy – HALE)
Expectativa de vida saudável (total, masculino,
hab.) Taxas de mortalidade
por causas externas (100.000 hab.)
Morbidade
Incidência de sarampo Taxa de incidência por
tuberculose (100.000 hab.)
Casos registrados de cólera
População sob risco de malária (%)
Índice parasitário anual (IPA) malárico (1.000 hab.)
Casos registrados de malária
Casos registrados de dengue
Taxa de incidência de AIDS (100.000 hab.)
Razão homem-mulher de casos de AIDS
Prevalência de baixo peso ao nascer
Recursos, acesso e cobertura
Recursos humanos por 100.000 hab. – médicos
Recursos humanos por 100.000 hab. – enfermeiros
Recursos humanos por 100.000 hab. – dentistas
Leitos hospitalares por 1.000 hab.
Gasto nacional de saúde como % do PIB – público
Gasto nacional de saúde como % do
o neonatal) Incidência de febre amarela Incidência de raiva humana Incidência de hepatite B Incidência de cólera Incidência de febre
hemorrágica do dengue Incidência de sífilis
congênita Taxa de incidência de AIDS Taxa de incidência de
tuberculose Taxa de incidência de
dengue Taxa de detecção de
hanseníase Índice parasitário anual
(IPA) de malária Taxa de incidência de
neoplasias malignas Taxa de incidência de
doenças relacionadas ao trabalho
Taxa de incidência de acidentes de trabalho (típicos)
Taxa de incidência de acidentes de trabalho (de trajeto)
Taxa de prevalência de hanseníase
Taxa de prevalência de diabete melito
Índice CPO-D aos 12 anos Proporção de internações
hospitalares (SUS) por grupos de causas
Proporção de internações hospitalares (SUS) por causas externas
Proporção de nascidos vivos por idade materna
Proporção de nascidos vivos de baixo peso ao nascer
Prevalência de déficit ponderal para a idade em crianças menores de cinco anos de idade
causas maternas (excluídas causas indeterminadas) - causas diretas, excluindo aborto
Mortalidade proporcional por causas maternas (excluídas causas indeterminadas) - aborto
Mortalidade proporcional por causas maternas (excluídas causas indeterminadas) - causas indiretas
Percentual de óbitos segunda raça/cor – brancos
Percentual de óbitos segunda raça/cor – pretos e pardos
Percentual de óbitos segunda raça/cor - indígenas
Óbitos por causas externas – taxa de mortalidade por acidente de transporte terrestre, por 100.000 homens
Óbitos por causas externas – taxa de mortalidade por acidente de transporte terrestre, por 100.000 mulheres
Óbitos por causas externas – taxa de mortalidade por agressões (homicídeos), por 100.000 homens
Óbitos por causas externas – taxa de mortalidade por agressões (homicídeos), por
44
45
feminino, ao nascer e com 60 anos de idade)
Expectativa de perda de anos saudáveis ao nascer
Percentual do total de perda da expectativa de vida
Indicadores contábeis de saúde: níveis de gastos com saúde
Gastos governamentais e privados
Gasto com saúde como % do PIB
Gasto governamental com saúde, como percentual do total de gastos com saúde
Gasto privado com saúde, como percentual do total de gastos com saúde
Gasto governamental com saúde, como percentual do gasto governamental total
Recursos externos para a saúde como percentual do total de gastos com saúde
Gastos com seguridade social em saúde como % percentual dos gastos governamentais em saúde
Gasto direto como como % dos gastos privados em saúde.
Planos privados pré-pagos como % dos gastos privados com saúde
Indicadores contábeis de saúde e níveis de gastos com saúde
Gastos per capita
PIB – privado Atenção de saúde
por pessoal capacitado (%) – pré-natal
Atenção de saúde por pessoal capacitado (%) – parto
Cobertura de imunização em crianças menores de 1 ano (%) – DPT3
Cobertura de imunização em crianças menores de 1 ano (%) – DPT3
Cobertura de imunização em crianças menores de 1 ano (%) – OPV3
Cobertura de imunização em crianças menores de 1 ano (%) – BCG
Cobertura de imunização em crianças menores de 1 ano (%) – Sarampo/SRP
Uso de anticonceptivos – mulheres, todos métodos (%)
Prevalência de aleitamento materno
Prevalência de aleitamento materno exclusivo
Prevalência de pacientes com diálise (SUS)
Recursos
Número de profissionais de saúde por habitante
Número de leitos hospitalares por habitante
Número de leitos hospitalares (SUS) por habitante
Gasto público com saúde, como proporção do PIB
Gasto federal com saúde, como proporção do PIB
Gasto federal com saúde, como proporção do gasto federal total
Despesa familiar com saúde, como proporção da renda familiar
Gasto médio (SUS) por atendimento ambulatorial
Gasto médio (SUS) por internação hospitalar
Gasto público com saneamento, como proporção do PIB
Gasto federal com saneamento, como proporção do PIB
Gasto federal com saneamento, como proporção gasto federal total
Cobertura
Número de consultas médicas (SUS) por habitante
Número de procedimentos complementares por consulta médica (SUS)
100.000 mulheres Óbitos por doenças
crônicas não transmissíveis – taxa de mortalidade por neoplasias da traquéia, bônquios e pulmões, por 100.000 homens
Óbitos por doenças crônicas não transmissíveis – taxa de mortalidade por neoplasia de mama feminina por 100.000 mulheres
Óbitos por doenças crônicas não transmissíveis – taxa de mortalidade por neoplasia de colo de útero por 100.000 mulheres
Óbitos por doenças crônicas não transmissíveis – taxa de mortalidade por doenças cerebrovasculares, por 100.000 habitantes
Óbitos por doenças crônicas não transmissíveis – taxa de mortalidade por doenças isquêmicas por 100.000 habitantes
Óbitos por doenças crônicas não transmissíveis – taxa de mortalidade por diabetes por 100.000 habitantes
Óbitos por doenças crônicas não transmissíveis – proporção de óbitos por doenças cardiovasculares em adultos jovens (no de
45
46
Gastos per capita totais em saúde
Gastos governamentais per capita
Metas de Desenvolvimento do Milênio: indicadores selecionados
Baixo peso para crianças com menos de 5 anos
Mortalidade de crianças com menos de 5 anos (por 1000 nascidos)
Taxa de mortalidade infantil (por 1000 nascidos)
Cobertura vacinal em menores de 1 ano
Razão de mortalidade materna (por 100.000 nascimentos)
Nascimentos atendidos por profissionais de saúde habilitados
Prevalência de HIV entre 15-49 anos (%)
Taxa de mortalidade por malária (por 100.000)
Prevalência da tuberculose (por 100.000)
Taxa de mortalidade por tuberculose (por 100.000)
Casos de tuberculose (detectados e curados)
População que utiliza combustíveis sólidos (%)
População com acesso sustentável à fontes de água (urbana e rural) (%)
População com acesso ao saneamento (urbana e rural)
Número de internações hospitalares (SUS) por habitante
Proporção de internações hospitalares (SUS) por especialidade
Proporção de gestantes com acompanhamento pré-natal
Proporção de partos hospitalares
Proporção de partos cesáreos
Razão entre nascidos vivos informados e estimados
Razão entre óbitos informados e estimados
Cobertura vacinal no primeiro ano de vida
Proporção da população feminina em uso de métodos anticonceptivos
Cobertura do setor de saúde suplementar
Cobertura de planos e seguros privados de saúde suplementar
Cobertura de redes de abastecimento de água
Cobertura de esgotamento sanitário
Cobertura de serviços de coleta de lixo
óbitos por doenças cardiovasculares – 30 a 49 anos – por total de óbitos por doenças cardiovasculares – 30 anos e mais)
Doenças de notificação compulsória (divididas em dois grupos - casos novos e óbitos)
Acidentes com animais peçonhentos
AIDS AIDS – em
adolescentes – 10 a 19 anos
Botulismo Cólera Coqueluche Dengue Difteria Doenças
Meningocócia Febre Amarela Frebre Tifóide Hanseníase Hantavirose Hepatite A Hepatite B Hepatite C Leishmaniose
Tegumentar Americana
Leishmaniose Visceral Leptospirose Malária Meningite por
Haemophilus Influenze Peste Raiva Humana Rubéola Sarampo Sífilis Congênita em
menores de 1 ano Síndrome de Rubéola
Congênita
46
47
Tétano Acidental Tétano Neonatal Tuberculose
Nascidos vivos
Total de nascidos vivos
Percentual de cesarianas
Percentual de mães adolescentes (% do total de NV, com mães de 10 a 19 anos)
Percentual de nascidos vivos com baixo peso (% do total de NV, com peso inferior a 2,5 kg)
Taxa de fecundidade entre mulheres de 15 a 19 anos
Morbidade hospitalar
Taxa de internaçõa pelo SUS em menores de 1 ano por 1000 NV
Percentual de internação pelo SUS em menores de 1 ano por 100 internações na mesma faixa de idade – doenças respiratórias
Percentual de internação pelo SUS em menores de 1 ano por 100 internações na mesma faixa de idade – doenças diarréicas
Percentual de internação pelo SUS em menores de 1 ano por 100 internações na mesma faixa de
47
48
idade – causas perinatais
Número de curetagens por aborto no SUS
Percentual de gastos com AIH pagas em idosos
Percentual de gastos com AIH pagas em idosos (60 anos ou mais) pelo total de gastos com internações
Imunização
Cobertura vacinal em menores de 1 ano – oral contra poliomielite
Cobertura vacinal em menores de 1 ano –tretavalente (contra haemophilus influenzae tipo b, difteria, tétano e coqueluche)
Cobertura vacinal em menores de 1 ano – BCG intradérmica
Cobertura vacinal em menores de 1 ano – contra hepatite B
Cobertura vacinal em menores de 1 ano –contra febre amarela (área endêmica)
Cobertura vacinal – vacina tríplice viral (contra sarampo, rubéola e caxumba) em crianças menores de 1 ano
Cobertura vacinal – percentual de municípios com cobertura adequada em crianças de 1 ano
Cobertura vacinal –
48
49
contra influenza (gripe) entre pessoas de 60 anos e mais
Cobertura vacinal – dupla adulto (difetria e tétano) e mulheres de 15 a 49 anos
Eventos adversos pós vacinal (Eventos adversos graves notificados e investigados por 100.000 doses aplicadas) – Taxa de notificação de Linfadenopatia (> 3 cm) por 100.000 doses aplicadas da vacina BCG
Eventos adversos pós vacinal (Eventos adversos graves notificados e investigados por 100.000 doses aplicadas) – Taxa de notificação de episódios hipotônico hipo responsivo por 100.000 doses aplicadas da vacina tetravalente
Eventos adversos pós vacinal (Eventos adversos graves notificados e investigados por 100.000 doses aplicadas) – Taxa de notificação de Convulsão Febril 100.000 doses aplicadas da vacina tetravalente
Cobertura de Unidades de Saúde
Cobertura de unidades
49
50
básicas de saúde por 100.000 habitantes
Cobertura de unidades de saúde de média complexidade por 100.000 habitantes
Cobertura de unidades de saúde de alta complexidade por 100.000 habitantes
Descentraliação
Descentralização - Teto financeiros de Vigilância em Saúde – TFVS (R$)
Descentralização - Repasse para campanhas de vacinação e vacinação anti-rábica (R$)
Municípios certificados – percentual de municípios certificados
Municípios certificados – percentual de população nestes municípios
Qualidade da água para consumo humano
Percentual de amostras em conformidade com o padrão de potabilidade segundo a vigilância de sistemas de abastecimento de água (Portaria do MS no 518/2004) – Coliformes termotolerantes ou E.
50
51
Coli Percentual de
amostras em conformidade com o padrão de potabilidade segundo a vigilância de sistemas de abastecimento de água (Portaria do MS no 518/2004) – Turbidez
Percentual de amostras em conformidade com o padrão de potabilidade segundo a vigilância de sistemas de abastecimento de água (Portaria do MS no 518/2004) – Cloro Residual Livre
Fonte: WHO, 2004; OPS, 2004; MS, 2004; RIPSA, 2002
51
52
Quadro 7 - Comparativo de Indicadores Ambientais e de Desenvolvimento Sustentável Globais, América Latina e Brasil
Global Envirnomental Outlook World Resources Instititute Iniciativa Latinoamericana e Caribenha para o Desenvolvimento Sustentával –
Indicadores de Seguimento
Indicadores de Desenvolvimento Sustentável – Brasil 2004 (IBGE)
Atmosfera Aumento da cobertura
vegetal Emissões de CO2
provenientes de processos industriais
Emissões de CO2 total antropogênico, excluindo as mudanças no uso do solo e florestas
Emissões de CO2 provenientes de veículos de transporte
Emissões de CH4 provenientes da agricultura
Emissões de CH4 provenientes das emissões de combustíveis
Emissões de CH4 provenientes de resíduos
Emissões de CH4 total antropogênico
Emissões de N2O provenientes da agricultura
Emissões de N2O provenientes da combustão de combustíveis
Emissões de N2O provenientes de processos industriais
Emissões de N2O provenientes de terras explorados pela agricultura
Emissões de N2O total antropogênico
Emissões de CO2, CH4, N20, HFCs, PFCs e SF6 agregados, excluindo CO2 proveniente da mudança no uso do solo e florestas
Emissões de CO2, CH4, N20, HFCs, PFCs e SF6 agregados incluindo CO2 proveniente da mudança no uso do solo e florestas
Emissões de HFCs, PFCs e SF6 agregados
Emissões de CO2-provenientes da produção de cimento
Emissões de CO2-provenientes da queima de gás
Emissões de CO2-provenientes do consumo de gás combustível
Emissões de CO2-provenientes do consumo
Governança e acesso à informação Nível de liberdade Nível de liberdades civis Index político de
democracia/autocracia Percentual de assentos
parlamentares ocupados por mulheres
Index de percepção de corrupção
ONGs por milhões da habitantes
Liberdade de imprensa Liberdade de informação
legislativa Rádios por 1.000 habitantes Usuários de internet por
1.000 habitantes
Governança global: participação em acordos multilaterais
Convenção de direitos políticos e civis
Convenção sobre direitos econômicos, sociais e culturais
Convenção sobre o tráfico internacional de espécies ameaçadas
Convenção das mudanças climáticas
Protocolo de Quioto Convenção sobre a
diversidade biológica Protocolo de biossegurança Convenção de combate à
desertificação Convenção de Estocolmo
(POPs) Membro da Organização
Mundial do Comércio Processo da Agenda 21 –
Relatório de situação em 2002
Processo da Agenda 21 – número de municipalidades envolvidas
Fluxo financeiro, gastos governamentais e corporações
Investimentos estrangeiros diretos (milhões de dólares)
Exportações como percentual do PNB
Balança comercial (milhões
Diversidade biológica
Aumento da cobertura vegetal
Proporção da superfície coberta por bosques
Território de áreas protegidas
Proporção de áreas protegidas com relação ao território total
Recursos genéticos (distribuição eqüitativa de benefícios)
Existência de leis nacionais relacionadas com o acesso aos recursos genéticos e a repartição de recursos
Diversidade marinha
Áreas costeiras e marinhas protegidas em relação a área marinha e costeira total
Gestão de recursos hídricos
Fornecimento de água
Disponibilidade de água por habitante
Consumo de água por habitante
Gestão de bacias
Porcentagem de ares de bacia sob manejo
Gestão marino-costeira e seus recursos
Extração pesqueira
Dimensão ambiental
Atmosfera
Consumo industrial de substâncias destruidoras da camada de ozônio
Concentração de poluentes em áreas urbanas
Terra
Uso de fertilizantes Uso de agrotóxicos Terras em uso
agrossilvipastoril Queimadas e
incêndios florestais Deslorestamento na
Amazônia Legal Área remanescente e
desflorestamento na Mata Atlântica e nas formações vegetais litorâneas
Desertificação e arenização
Água doce
Qualidade das águas interiores
Oceanos, mares e áreas costeiras
Balneabilidade Produção de pescado
marítima e continental População residente
em áreas costeiras
Biodiversidade
Espécies extintas e ameaçadas de extinção
Áreas protegidas Tráfico, criação e
comércio de animais silvestres
Espécies invasoras
52
5. INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E DE SAÚDE EM PERSPECTIVA ECOSSISTÊMICA 5.1. Proposta de Indicadores de Sustentabilidade Ambiental e de Saúde em Perspectiva Ecossistêmica
Entre 1960 e 2000 a população humana mundial dobrou de 3 bilhões para 6
bilhões, com grande parte se concentrando cada vez mais nas áreas urbanas. A
economia global cresceu mais de 6 vezes, a produção de alimentos mais de duas
vezes e meia (cerca de 160% entre 1961 e 2003), o uso de água dobrou, o de
madeira triplicou e a produção de fibras cerca de 60%. Este processo foi
acompanhado de significativas mudanças ambientais que já vinham ocorrendo nos
últimos dois séculos e se intensificaram nos últimos 50 anos. A área global dos
sistemas florestais foi reduzida a metade no planeta, com alguns países perdendo
mais de 90% de sua cobertura vegetal e em outros desaparecendo completamente.
Cerca de 1/4 da superfície do planeta foi convertida em sistemas cultivados e a
disponibilidade de fluxos de nitrogênios reativos dobrou e triplicou a dos fluxos de
fósforo nos ecossistemas terrestres. Desde 1960, a quantidade de água retirada de
rios e lagos dobrou (aproximadamente 70% utilizada na agricultura) e a de água
armazenada em represas quadruplicou. As emissões atmosféricas de poluentes
cresceram muito, tanto em função do processo de urbanização e industrialização,
como das mudanças no uso do solo (agricultura e pastagens). Como um dos
resultados deste processo, nos últimos 100 anos, os humanos aumentaram a taxa
de extinção de espécies em mais de 1000 vezes comparando com as taxas típicas
do passado histórico do planeta, e há uma tendência de homogeneização da
distribuição de espécies na terra, contribuindo para o declínio global da diversidade
genética (MEA, 2005)
Particularmente no que se refere aos recursos hídricos, este processo de
crescimento populacional e acelerados e intensos processos de desmatamento, uso
do solo para atividades agropecuárias, industrialização e urbanização, com
ocupação de bacias hidrográficas, vem comprometendo e ameaçando serviços de
ecossistemas como a provisão, a regulação e a purificação da águas (Tundisi &
Tundisi, 2005; MEA, 2005). Estes serviços estão sendo degradados ou utilizados de
modo insustentável, com custos crescentes, ainda que difíceis de estimar, mas que
comprometem a saúde e o bem estar humano. Este quadro é preocupante quando
consideramos que se espera nos próximos 50 anos um crescimento na demanda
61
por água fresca (entre 30% à 85%) e que existem evidências, ainda que
incompletas, de que estas mudanças vem aumentando as chances de mudanças
não-lineares e irreversíveis nos ecossistemas. Para os humanos isto implica em
importantes conseqüências, como alterações abruptas da qualidade da água
(provisão de águas limpas) e colapso de pescados (provisão de alimentos) e a
emergência de doenças (MEA, 2005).
Tundisi & Tundisi (2005), alertam tanto para importância ecológica, econômica e
social da água, que mantêm a vida no planeta, sustenta a biodiversidade e a
produção de alimentos e suporta todos os ciclos naturais. A água tem, portanto,
importância ecológica, econômica e social, de modo que o comprometimento da
provisão, regulação e purificação da mesma afetam a sustentabilidade ecológica,
econômica e social, comprometendo a saúde, a qualidade de vida e o bem estar da
população humana, conforme pode se verificar no Quadro 8 (Tundisi & Tundisi,
2005).
Quadro 8: As várias atividades humanas e o acúmulo de usos múltiplos produzem diferentes ameaças e problemas para disponibilidade de água e causam riscos elevados
Atividade humana Impactos nos ecossistemas aquáticos Valores/serviços em riscoConstrução de represas Altera fluxo nos rios e o transporte de
nutrientes e sedimentos e interfere na migração e reprodução de peixes.
Altera habitats e a pesca comercial e esportiva.Altera os deltas e suas economias.
Construção de diques e canais Destrói a conexão do rio com as áreas inundáveis.
Afeta a fertilidade natural das várzeas e os controles das enchentes.
Alteração do canal natural dos rios Danifica ecologicamente os rios. Modifica os fluxos dos rios.
Afeta os hábitats e a pesca comercial esportiva. Afeta a produção de hidroeletricidade e transporte.
Drenagem de áreas alagadas Elimina um componente-chave dos ecossistemas aquáticos.
Perda de biodiversidade. Perda de funções naturais de filtragem e reciclagem de nutrientes. Perda de hábitats para peixes e aves aquáticas
Desmatamento/uso do solo Altera padrões de drenagem, inibe a recarga natural dos aqüíferos, aumenta a sedimentação.
Altera a qualidade e a quantidade da água, pesca comercial, biodiversidade e controle de enchentes.
Poluição não controlada Diminui a qualidade de água. Altera o suprimento de água. Aumenta os custos de tratamento. Altera a pesca comercial. Diminui a biodiversidade. Afeta a saúde humana.
Remoção excessiva de biomassa Diminui os recursos vivos e a biodiversidade. Altera a pesca comercial e esportiva. Diminui a biodiversidade. Altera os ciclos naturais dos organismos.
Introdução de espécies exóticas Elimina as espécies nativas. Altera ciclos de nutrientes e ciclos biológicos.
Perda de hábitats e alteração da pesca comercial. Perda da biodiversidade natural e estoques genéticos.
Poluentes do ar (chuva ácida) e metais pesados
Altera a composição química de rios e lagos. Altera a pesca comercial. Afeta a biota aquática. Afeta a recreação. Afeta a saúde humana. Afeta a agricultura.
Mudanças globais no clima Afeta drasticamente o volume dos recursos hídricos. Altera padrões de distribuição de precipitação e evaporação.
Afeta o suprimento de água, transporte, produção de energia elétrica, produção agrícola e pesca e aumenta enchentes e fluxo de água nos rios.
Crescimento da população e padrões gerais de consumo humano
Aumenta a pressão para construção de hidroelétricas e aumenta poluição da água e a acidificação de lagos e rios. Altera os ciclos hidrológicos.
Afeta praticamente todas as atividades econômicas que dependem dos serviços dos ecossistemas aquáticos.
Fonte: Apud: Tundisi & Tundisi, 2005
61
62
Assim, ao propor a construção de indicadores ambientais e de saúde em uma
perspectiva ecossistêmica, temos de procurar identificar as forças motrizes diretas e
indiretas que contribuíram para as mudanças nos ecossistemas e nos serviços dos
ecossistemas, resultando em conseqüências sociais, econômicas e na saúde.
Demonstrar estas interfaces entre os bens e serviços dos ecossistemas com as
questões econômicas e sociais associadas aos processos de crescimento
populacional, desmatamento, urbanização e atividades econômicas diversas,
particularmente agropecuária e industrialização deve possibilitar compreender as
condições atuais e as tendências históricas em termos de sustentabilidade ambiental
e da saúde humana.
Para tanto, de modo a se contribuir para compreensão das condições atuais e
tendências históricas das mudanças ambientais e de saúde em uma perspectiva
ecossistêmica, há de se procurar diminuir o fosso existente entre dois grupos de
indicadores: os indicadores de saúde dos ecossistemas e os indicadores de
sustentabilidade ambiental. De Kruijf & Van Vuuren (1998), por exemplo, propõem
um conjunto de requerimentos para a seleção de indicadores de sustentabilidade
ecológica descritos no Quadro 9, os quais são fortemente baseados na abordagem
de saúde de ecossistemas.
Quadro 9: Requerimentos para a Saúde de Ecossistemas – Um guia para a busca de indicadores relevantes
Requerimentos Descrição de aspectos relevantesRequerimentos intrínsecos
1. Resiliência Capacidade/incapacidade de se recuperar as perturbações e distúrbios
2. Vigor Medidas de funcionamento3. Organização Medidas estruturais; capacidade de se sustentar e se
perpetuar com necessidade ou não de subsídios4. Ausência de síndrome de estresse do ecossistema5. Ausência de prejuízo à outros sistemas Prejudica ou não a coexistência de sistemas adjacentes
Requerimentos relacionados com relação ao ambiente do sistema
6. Fatores de risco Presença de fatores de risco (poluição)7. Requerimentos econômicos/exploração (produção/infra-estrutura)
Capacidade de prover economicamente produtos de interesse; disponibilidade suficiente de produtos primários (água, madeira, etc); exploração de recursos renováveis X recursos não-renováveis
8. Gestão Presença/ausência de estrutura de processos decisórios e políticas públicas (manutenção)
9. Requerimentos sociais e culturais Valor para a recreação, amenidades e consciência social
Reconhecendo alguns dos limites da abordagem de saúde de ecossistemas,
embora fortemente influenciados pela mesma, De Kruijf & Van Vuuren (1998) tomam
como referência a estrutura conceitual geralmente aceita para a construção de
indicadores de sustentabilidade que é baseada no triangulo que reúne, segundo os
62
63
autores, 3 domínios, os quais passaremos a denominar de dimensões: ambiente-
economia-sociedade. Nesta estrutura conceitual, cada um das dimensões não pode
ser visto como uma entidade independente, mas que se sobrepõe, influência e
interage com os outros. Isto significa que, na perspectiva do desenvolvimento
sustentável, deve ocorrer tanto a sustentabilidade de cada dimensão, como um
equilíbrio entre as interações das mesmas. Então, para se compreender as
condições atuais e as tendências históricas da sustentabilidade, devem tanto ser
desenvolvidos indicadores para cada uma das dimensões, como também para as
áreas de interseção entre as mesmas, como se pode verificar na Figura 3 desenvolvida pelos autores.
Para cada uma das dimensões os autores exemplificam conceitos questões
que devem estar presentes na construção de indicadores. Para a dimensão
ambiental ou ecológica, os autores consideram que conceitos-chave são estrutura
abiótica, diversidade biológica, saúde de ecossistemas e quantidade e qualidade dos
recursos naturais. Em geral há bastante informação científica acerca das questões
deste domínio. Para a dimensão econômica observam que um dos indicadores mais
aceitos e influentes é o PIB per capita, ainda que considerem, do mesmo modo
como discutimos anteriormente, os limites do mesmo em oferecer informações sobre
o desenvolvimento sustentável. Para a dimensão social ou sócio-cultural observam
Figura 3: Estrutura conceitual para indicadores de sustentabilidade
Bem-estar
Processos naturaisPoluição
Qualidade de vidaSegurançaLiberdade
EmpregoEquidadeBem estarPobreza
Domínio AmbientalSaúde de ecossistemaQualidade abiótica
Domínio Sócio-CulturalPopulaçãoPadrões culturaisProcessos institucionaisSaúdeEmpoderamentoCapital humano
Domínio EconômicoCapital produtivoCapital de serviçoInfra-estrutura
63
64
que metas como equidade, eliminação da pobreza, preservação da diversidade
cultural, direitos humanos, segurança das pessoas e o grau em que as
necessidades humanas básicas são atendidas devem ser incluídos. Além dos
indicadores para cada uma das dimensões devem também ser desenvolvidos outros
para as áreas de interseção entre estes. Na Figura 3 observamos que a dimensão
econômica influencia a dimensão ambiental alterando os processos naturais e
gerando poluição, por exemplo. A dimensão econômica influencia a dimensão social
através do oferta de empregos, da eqüidade na distribuição e acesso aos bens e
recursos, na geração da pobreza, etc.
De um modo geral, esta estrutura conceitual se encontra presente na lógica
de construção da maior parte dos indicadores ambientais vigentes nos níveis
internacional, regional e nacional, conforme pode se verificar no Quadro 7.
Particularmente no que se refere aos indicadores de sustentabilidade desenvolvidos
para o Brasil (IDS) e América Latina (ILCDS) encontramos a dimensão institucional,
que tem sido acrescido a estrutura conceitual ambiente-economia-sociedade. A
inclusão da dimensão institucional faz parte do próprio debate que se seguiu ao
desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade propostos inicialmente pela
OCDE e baseados no modelo Pressão-Estado-Resposta (PER) para o modelo
Pressão-Estado-Impactos-Resposta (PEIR), conforme pode se verificar na Figura 4.
Fonte: De Kruijf & Van Vuuren, 1998
Atividades Humanas
Energia
Transporte
Industria
Agricultura
Terra
Ar
Águas
RecursosNaturais
Saúde Humana
Saúde de Ecossistemas
Econômicose Sociais
Estéticos
Culturais
Etc.
Políticas 1
Políticas 2
Políticas 3
Etc.
Estado do meioAmbiente
Impactos RespostasPolíticas
RESPOSTASIMPACTOSESTADOPRESSÕES
Pressões
Pressões
Pressões
PressõesPressões
Pressões
Respostas
Figura 4: Modelo de Indicadores Pressão-Estado-Impacto-Respostas (PEIR)
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Neste modelo, as pressões correspondem à dimensão econômica e
descrevem pressões das atividades humanas sobre o meio ambiente através de suas atividades econômicas e processos de produção (envolvendo todo o ciclo produtivo). O estado do meio ambiente à dimensão
ambiental, correspondendo à condição atual da qualidade ambiental e os aspectos quantitativos e qualitativos dos recursos naturais. Os Impactos à
dimensão social, referindo-se ao estado ou condição de saúde e bem-estar da população, economia, ecossistemas etc. As respostas políticas à dimensão
institucional e correspondem às ações (decisões políticas, a adoção de programas e ações diversas para conservação dos recursos naturais e a recuperação do meio ambiente) adotadas para mitigar, adaptar, prevenir, deter ou reverter os impactos negativos produzidos pelas atividades humanas (IBGE, 2005).
Este modelo vem resultando em desdobramentos e vem, com algumas
mudanças, sendo aplicado tanto para o desenvolvimento de indicadores de saúde
de ecossistemas, como para indicadores em saúde ambiental. Para ilustrar os
desdobramentos deste modelo na construção de indicadores para a saúde de
ecossistemas, apresentamos a Figura 5 que corresponde à uma variação da cadeia
PEIR aplicada para a compreensão de múltiplos estresses e seus impactos nos
serviços de ecossistemas apresentado por Rapport (1998)3.
3 Rapport, D., 1998. Dimensions of ecosystem health. In: Rapport, D.; Costanza, R.; Epstein, P.R.; Gaudet, C. and Levins, R. (eds.). Ecosystem Health. London: Blackwell Science. Inc., pp. 34-40.
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Como desdobramento deste modelo, o PNUMA, a OMS e a EPA
desenvolveram conjuntamente uma matriz de indicadores para a saúde ambiental
baseada no modelo PEIR que considera de modo mais destacado as exposições
ambientais dos humanos aos diferentes agentes presentes no ambiente e os
conseqüentes efeitos sobre a saúde (Ver Figura 6).
Colheitas, destruição de
habitatsPoluição do ar, solo, e águas
Mudanças climáticas Espécies
exóticas
Supressão de incêndios
RecreaçãoSuprimento de madeira
Qualidade do solo e da água
Vida selvagemBiodeiversidade
Capital de nutrientes
SoloPestesComposição florestalBiodiversidade
Supressão de incêndios
Pressões sobre o ecossistema florestal
Pressões sobre o ecossistema florestal
Estado do ecossistema florestal
Gestão Ambiental
Processo Decisório
Valores Hu
manos
Figura 5: Múltiplos estresses sobre o ecossistema florestal e seus impactos sobre os serviços de ecossistemas e processos decisórios
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Fonte: Corvalán e col., 1996 e 2000.
Detalharemos um pouco mais esta matriz pelo fato de ter sido desenvolvida
diretamente para os problemas de saúde ambiental.
As Forças Motrizes correspondem aos fatores que de modo amplo e em uma
escala macro, influenciam os vários processos ambientais que poderão afetar a
saúde humana. Como exemplo os autores citam o crescimento populacional, o
desenvolvimento tecnológico e o desenvolvimento econômico. Citam alguns
indicadores de forças motrizes, como: taxa de urbanização; nível de
desenvolvimento industrial; taxa de crescimento populacional; densidade
populacional; PIB per capita; níveis médios de rendimentos; taxa de alfabetização de
adultos; níveis de educação; políticas públicas de desenvolvimento; nível de
desenvolvimento tecnológico; taxas de emprego e desemprego; índices de pobreza;
etc.
Seguindo a lógica desta matriz, as Forças Motrizes resultam em P ressões sobre
o meio ambiente e são geradas por todos os setores de atividades econômicas –
transporte, energia, habitação, agricultura, industria, turismo, etc. – através de todos
os estágios da cadeia produtiva – extração, produção, distribuição, consumo,
disposição final – atingindo diferentes meios – água, solo, ar, cadeia alimentar. De
um modo geral os indicadores de pressões estão associados tanto ao consumo de
Forças Motrizes
Pressões
Exposição
Estado
Efeitos
Ações
Ações
Ações
Ações
Ações
Figura 6: Matriz de Indicadores Forças Motrizes-Pressões-Estado-Exposição-Efeitos-Ações (FPEEA)
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recursos naturais, como ao lançamento no ambiente de produtos e resíduos que
resultarão em alterações da qualidade ambiental. Exemplos de indicadores de
pressões se referem ao quantitativo de fontes e de emissões que alteram a
qualidade do ar; a quantidade efluentes não tratados e que alteram a qualidade da
água; o volume de água utilizada per capita; a quantidade de resíduos produzidos e
de produtos tóxicos lançados no meio ambiente.
As pressões, como já apontado, afetam o E stado do meio ambiente, resultando
em proporções ou concentrações de poluentes que indicam degradação ambiental,
que pode ser demonstrada através de alguns indicadores, tais como: proporção de
água para consumo que excede os padrões estabelecidos ou que atenda aos
padrões; número de horas por ano nos quais a média de concentração de partículas
em suspensão ou SO2 excedeu os padrões; concentrações de poluentes
específicos no ar - CO2, SO2, NOx, CO, chumbo; etc.
A Exposição de determinadas populações à um ambiente que tenha seu estado
alterado através de proporções de áreas degradadas ou concentrações de poluentes
pode afetar sua saúde e bem, de modo que é necessário construir indicadores sobre
a mesma. Exemplos de indicadores associados às várias exposições são:
proximidade de fontes de poluentes atmosféricos; proporção de crianças expostas à
poluentes; proporção da população com fornecimento de água fora dos padrões da
OMS; percentual da população sem acesso ao sistema de esgotamento sanitário;
proporção da população apresentando níveis de contaminação no sangue.
Dependendo da intensidade e magnitude das exposições, assim como do tipo de
perigo, estas podem resultar em E feitos sobre a saúde. Como exemplos de
indicadores em saúde ambiental que podem ser sugestivos de doenças
ambientalmente relacionadas os autores (Corvalán e col., 1996) destacam: número
e natureza de epidemias associadas à alimentos (Salmonella, etc.); número e
natureza de epidemias associadas ao consumo de água (Cólera, Giárdia, etc.);
mudanças nos padrões de mortalidade e morbidade (asbestose, benzenismo;
doenças e óbitos relacionados ao trabalho); morbidade por malária, cólera, hepatite
e outras doenças infecciosas e parasitárias; morbidade e mortalidade por diarréia
em crianças menores de 5 anos; morbidade e mortalidade por problemas
respiratórios agudos ou pneumonia; morbidade por asmas (hospitalizações) e
doenças alérgicas; malformações congênitas; doenças cardiovasculares e
problemas circulatórios; prevalência de baixo peso ao nascer; etc.
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Para os autores (Corvalán e col., 1996), diferentes Ações podem ser tomadas
para atingir vários pontos da cadeia desenvolvimento-meio ambiente. Algumas
ações podem ser de curto prazo e remediadoras, outras de longo prazo e
preventivas. Existem também ações que podem ser tomadas para reduzir ou
controlar um perigo particular, por exemplo, limitar as emissões de um poluente.
Como exemplos de indicadores de ações em saúde ambiental citam:
desenvolvimento e implementação de políticas públicas em saúde ambiental e
planos de ações em diferentes níveis de governo; incorporação de aspectos de
saúde nos planos nacionais de meio ambiente e vice-versa, assim como de
desenvolvimento sustentável; incorporação de políticas de saúde e meio ambiente
no planejamento urbano, energético, de transportes, de desenvolvimento industrial e
agrícola; mecanismos e estruturas formais de envolvimento dos diferentes atores e
grupos de interesse nos processos de decisórios em saúde ambiental, nos níveis
nacional, regional e local; redes e comunicações entre os diferentes parceiros e
estruturas de processos decisórios descentralizadas; existência de um sistema de
disseminação de informações públicas em saúde ambiental; suporte para grupos
comunitários em saúde ambiental; existência de legislação em saúde ambiental;
EIA-RIMA; etc.
Conforme De Kruijf & Van Vuuren (1998), o modelo PEIR, com
desdobramentos para indicadores de saúde de ecossistemas e de saúde ambiental,
baseia-se em uma relação causal simples e tem sido bastante útil na área ambiental
exatamente por isto. Entretanto, como observam os autores, para o
desenvolvimento sustentável este modelo apresenta sérias limitações, sendo estas:
1) não permite muitas ligações adicionais; 2) não reconhece que os impactos podem
ser pressões e vice-versa, como exemplificado nas setas tracejadas; 3) não
reconhece o fato de que existem múltiplas pressões para muitos impactos e muitos
impactos para muitas pressões; 4) existem sérias dúvidas sobre a aplicabilidade
deste sistema para o domínio sócio-cultural. Em síntese, consideram o modelo
como um sistema linear que obscurece interações complexas, ainda que muito
utilizado e útil para comunicação com tomadores de decisões.
Embora o modelo PEIR apresente limites, tem sido muito operacional e
utilizado, servindo de base para reunir informações diversas para a construção de
indicadores tanto na área ambiental, quanto da saúde. O desafio então é, tendo por
base este modelo, levantar um conjunto diversificado de dados (saúde, meio
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ambiente, economia, sociedade, política, etc.) sobre a Região do Médio Paraíba,
que sofreu profundas transformações ambientais desde o Século XIX e possui hoje
mais de 90% da população vivendo em áreas urbanas (ainda que a maior parte da
área física seja dominada por campos e pastagens) em municípios em que
predominam uma economia tipicamente urbana, poder construir indicadores de
sustentabilidade ambiental e de saúde que permitam reunir um conjunto de
informações diversas numa perspectiva (eco)sistêmica (não linear).
Um tratamento sistêmico da Região do Médio Paraíba para a construção dos
indicadores, exige compreender que os municípios não são unidades territoriais
simples, mas integram um “sistema complexo”, em que cada um de seus
componentes pode ser visto como um sistema e que, como tal, responde às
mudanças nas pressões, problemas e oportunidades, para sustentar sua existências
e funções. Assim, qualquer definição de sustentabilidade e de seus conseqüentes
indicadores, dependerá dos padrões de referência, como também a definição das
fronteiras do sistema dependerá da natureza das questões, já que não há fronteiras
fixas (Ravetz, 2002: 17)
Ravetz (2002) considera que uma perspectiva sistêmica para a
sustentabilidade deve considerar as qualidades da viabilidade, integridade e
longevidade de qualquer sistema. Para o autor, um sistema para sobreviver tem de
utilizar seus recursos disponíveis e lidar com condições adversas; responder as
mudanças de curto prazo e se as mudanças de longo prazo; de co-existir com outros
sistemas, maiores e menores, contendo os impactos internos que podem afetar sua
base de recursos.
Esta perspectiva sistêmica como base para a construção indicadores de
sustentabilidade ambiental e de saúde, tem por base alguns pressupostos (Ravetz,
2002: 5-6):
1. A sustentabilidade não pode ser considerada como fixa ou como uma nova parte
que é adicionada. Crises e oportunidades caminham conjuntamente, de modo
que a solução de hoje pode se tornar o problema de amanhã.
2. A sustentabilidade não é uma meta que pode ser cientificamente medida em
termos de escalas quantitativas. Raramente existe um único “verdadeiro”
caminho para a sustentabilidade, mas sim um conjunto de interações, cujos os
resultados podem ser mais ou menos eficientes, eqüitativos ou resultar em
medidas protetivas, dependendo de quem os mede.
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3. Uma cidade-região, ou no nosso caso município-região, não será uma ilha de
sustentabilidade, insulada do mundo que a rodeia. Podem ser relativamente
autônomas, mas são conduzidas por um sistema global de muitos modos,
exigindo-se que se conecte ações nacionais e globais com ações locais e
regionais, interconectando escalas e funções.
A questão de “quem e o que” tentaremos sustentar (a cidade, as pessoas, o
ambiente global ou todos) é o coração do projeto e sua abordagem exige conectar
diferentes tipos de conhecimentos. Isto exige evitar conclusões simples, como uma lista
dos dez pontos mais importante, em favor do aprofundamento do debate.
Tendo por base estes pressupostos, Ravetz (2002) considera que uma perspectiva
sistêmica para a construção de indicadores deve trazer consigo o conceito de
metabolismo (fluxo de energia, materiais e padrões de atividades), não restrito somente
ao metabolismo físico, mas o total ou “informacional” que envolve dimensões sociais,
econômicas e ambientais, reproduzindo na Figura 7 a mesma estrutura conceitual dos
indicadores de sustentabilidade presentes na Figura 3.
O conceito de metabolismo é de grande importância uma vez que áreas
urbanas tendem a romper os eco-ciclos naturais e de auto-organização dos
ecossistemas constituindo metabolismos “lineares”, em que recursos naturais são
consumidos e poluição e resíduos são produzidos. O metabolismo destas áreas
pode ser analisado em termos de “estoques” (mensuráveis, como áreas urbanas
com áreas verdes, e não tão mensuráveis, como o bem estar resultante destas
Dimensão sociedade e
política
Dimensão economia e
indústria
Dimensão meio ambiente e recursos naturais
Figura 7: Triangulo economia-ambiente-sociedade nas agendas e discursos sobre o desenvolvimento sustentável
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áreas verdes) e “fluxos” (consumo de recursos naturais e produção de resíduos e
poluição) que são organizados em “padrões” (arranjos estruturais de uso do solo que
possibilitam que dentro de uma mesma área de espaço verde, convivam diferentes e
conflitantes projetos ou sistemas de gestão).
Mesmo buscando adotar uma perspectiva sistêmica, Ravetz (2002) considera
que um modo de visualizar este metabolismo é através de um mapa mental de
causas e efeitos, ou “ponta inicial do processo” (necessidades) e “ponta final do
processo” (resultados). Este mapa do metabolismo total, que é baseado no modelo
PEIR da OCDE, deve incluir as dimensões culturais, sociais, econômicas, políticas,
espaciais, tecnológicas, ambientais e éticas organizadas em uma ordem que vai das
necessidades aos resultados e se encontram expressos na Figura 8.
Fonte: Ravetz, 2002
Este mapa contribui para visualizar o seguinte ciclo:
Os valores sociais e culturais, bem como os fatores relacionados ao estilo de
vida, contribuem para gerar necessidades e desejos de mobilidade e
identidade social, que se expressam em necessidades de consumo.
FIGURA 8 - Abordagem Integrada em Ambiente e Saúde
CONTEXTO NACIONAL E GLOBAL
Políticas Públicas, Regulações, Tecnologias e Mercados
Forças motrizes
Dimensões sociais e culturais
Valores sociais e culturais
Altas necessidad
es
Básicas necessidad
es
PadrõesPressões e fluxos
Pressões e resultados
Impactos e resultados
Meio ambiente,
ética
Meio ambiente, ecologia
Industria, tecnologia
Físico, espacial, político
Econômico, social
Demandas
Bem estar e
mercado
Infra-estruturaurbana
Física e institucion
al
Suprimento
Indústria e
tecnologia
Pressões ambientai
s
Condições ambientai
s
Impactos humanos
Impactos ecológico
s
Benefícios
humanos
Valores éticos
AÇÕES LOCAISGoverno Local, Setor Privado, Comunidades, Público em geral
“O que necessitamos (ponta inicial do processo)
O que temos (ponta final do
processo)
Estoques e fluxos
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Estes valores e fatores que contribuem para gerar necessidades se traduzem
em pressões e fluxos para os mercados econômicos, aumentando a as
demandas para o consumo de carros, que por sua vez se traduz em
demandas por aumento da produção industrial, consumo de recursos naturais
e produção de resíduos e poluição.
As demandas de mercado interagem com a infra-estrutura urbana, física e
institucional, produzindo padrões de ocupação do solo, de vias de acesso
urbano, de organização de instituições, etc.
Os fluxos oriundos das pressões e os padrões de infra-estrutura produzem
alterações nos estoques do sistema, intensificados pela necessidade de
suprimentos tecnológicos providos pelos serviços e que resultam em
impactos sobre o sistema.
Os fluxos oriundos das pressões, que geram padrões e que transformam os
estoques, resultam em pressões ambientais que ocasionam mudanças nas
condições ambientais, como degradação ecológica, poluição, mudanças
climáticas, etc.
Os resultados dos impactos podem ser positivos ou negativos e possuem seu
balanço final pesado pelas prioridades sociais e valores éticos estabelecidos.
O mapa que permite visualizar este ciclo deve tanto ter em conta o contexto em que
se dão as políticas públicas globais ou nacionais, as regulamentações de mercado e
desenvolvimento de tecnologias, como as ações locais que podem transformar vários
conecções do sistema, objetivando melhorar sua performance ou sustentabilidade
(Ravetz, 2002).
Em relação à construção e organização de indicadores que permitam construir
este mapa, Ravetz (2002) propõe constituir perfis de problemas e/ou perspectivas
Estrutura física: condições de habitação, infra-estrutura urbana, padrões de
espaços e convivência, existência de amenidades públicas, etc.
Condições ambientais: qualidade do ar, da água e do solo; formas de uso do
solo nas áreas urbanas e não-urbanas, etc.
Metabolismo ambiental: fluxo de entrada e saída de energia, água e
materiais; eficiência econômica e social na distribuição de bens e serviços
ambientais; etc.
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Estrutura espacial: uso do solo e tendências; perspectivas de acesso (férias e
descanso) e densidade de áreas protegidas e áreas verdes; área disponível
para manutenção da integridade ambiental, etc.
Transporte e comunicação: acesso e localização da infra-estrutura urbana,
redes de tecnologias de informação e comunicação, vias e formas de
transporte, difusão e emprego de comunicações culturais e da imprensa, etc.
Indústria e tecnologia – facilidades básicas e processos para os diferentes
setores produtivos (primário à terciário), comunicação, distribuição, inovação
e empreendedorismo, etc.
Estrutura econômica – vias de industrialização, vantagem competitiva, valor
agregado, re-investimentos, habilidades da força de trabalho, estrutura
ocupacional, vulnerabilidade industrial, etc.
Estrutura social: migração e estrutura habitacional; educação, saúde,
criminalidade; rendimento médio, ineqüidades, exclusão e desvantagens;
estilos de vida e qualidade de vida; etc.
Estrutura política: autonomia e governança, redes e organizações
institucionais, sociedade civil e de tomadas de decisões na esfera pública;
etc.
Estrutura cultural – normas e valores, redes de comunidades, coesão e
cooperação, etc.
Para nos aproximarmos destes perfis de problemas e/ou perspectivas para a
construção de indicadores proposto por Ravetz (2002) realizamos algumas
adaptações considerando tanto a disponibilidade de dados que pudessem ser
facilmente obtidos na internet ou em meios digitais, como também
problemas/perspectivas que deveriam ser melhor detalhados dada tradição de
construção de indicadores no setor saúde (RIPSA, ANO) que ficaram agrupados do
seguinte modo.
Estrutura espacial;
Estrutura demográfica;
Estrutura econômica;
Condições ambientais;
Condições de bem-estar;
Estrutura política e institucional para saúde e meio ambiente.
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Assim, em relação aos problemas/perspectivas mantivemos: estrutura espacial,
estrutura econômica e condições ambientais. Os aspectos demográficos que se
encontravam na estrutura social foram transformados em itens específicos de
problemas/perspectivas. Foram excluídos metabolismo ambiental, indústria & tecnologia
e estrutura física. Metabolismo ambiental ficará para ser desenvolvido em outro projeto
que dá continuidade. Indústria & tecnologia foi inserido em estrutura econômica.
Estrutura física teve parte inserida em estrutura econômica e parte incluída em
condições de bem-estar. Estrutura política foi modificada para estrutura política e
institucional para saúde e meio ambiente, focando neste momento em dois aspectos
que consideramos vitais e procurando dar proeminência a indicadores que apontem
uma capacidade de respostas para os problemas ambientais e de saúde. A estrutura
social foi completamente transformada e adaptada para condições de bem-estar. A
optar por esta mudança, procuramos não só nos adaptar a estrutura do MEA (2005),
que procura estabelecer uma relação entre serviços de ecossistemas e bem-estar
humano, mas também evitar tratar a “atenção à saúde” e a “saúde” como sinônimos,
encorajando a idéia de que a atenção médica para a doença iguala-se à saúde, que
acaba sendo reduzida meramente à ausência de doenças. Dentre os fatores sociais e
ambientais que afetam a saúde, podemos encontrar o emprego e a distribuição de
renda, as condições de vida e trabalho, a qualidade e a sustentabilidade do ambiente,
as redes sociais e de suporte social, a participação e o empowerment, bem como outros
que afetam o bem-estar coletivo e pessoal. Isto significa que a análise das condições
de saúde, bem como o desenvolvimento de programas de melhoria da saúde não
podem ser reduzidos somente à análise das doenças e à redução da incidência de
doenças (Hancock & Garret, 1995; Waltner-Towes, 2000). Uma concepção positiva de
saúde associa-a ao bem-estar, tratando-a como componente do bem-estar. Uma
proposta nesta direção se encontra na estrutura conceitual do MEA (2005) em que o
bem-estar é assumido como tendo múltiplos constituintes, incluindo:
Materiais básicos para uma boa vida, envolvendo a possibilidade de acesso à
recursos para obter vencimentos, ter sustento e poder morar, se vestir e
alimentar de modo seguro e adequado.
Saúde, envolvendo a capacidade de permanecer adequadamente alimentado,
livre de doenças evitáveis, ter um ambiente físico saudável, tal como ar e
águas limpas, e de obter energia para se manter protegido do frio ou do calor.
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Segurança, como a possibilidade de viver em um ambiente limpo e seguro e
de reduzir a vulnerabilidade aos choques e estresses ecológicos (exemplo:
desastres tecnológicos e naturais).
Boas relações sociais, envolvendo a oportunidade de expressar, em relação
aos ecossistemas, valores estéticos e de recreação, valores culturais e
espirituais, bem como a possibilidade de observar, estudar e aprender sobre
os ecossistemas. Envolve também o respeito mútuo e a coesão social.
Liberdade de escolha e ação: oportunidade para os indivíduos alcançarem o
que lhes têm valor. Esta liberdade é afetada por outros fatores, tais como
educação e é pré-condição para se alcançar os outros componentes.
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5.2. Indicadores de Sustentabilidade Ambiental e de Saúde em Perspectiva Ecossistêmica na Região do Médio Paraíba
O Estado do Rio de Janeiro possui 92 municípios (Ver Figura 9) e possui uma
área total de 43.864,3 km2 que corresponde à 0,51% da área total do país e 4,73%
da Região Sudeste. Estes municípios se encontram agrupados em 8 regiões
geográficas (Baia da Ilha Grande; Baixada Litorânea; Centro-Sul; Médio Paraíba;
Metropolitana; Noroeste; Norte e Serrana), pelo Centro de Informação e Dados do
Rio de Janeiro (CIDE), órgão da Secretaria de Estado de Planejamento. Destas 8
regiões, vamos nos debruçar sobre a Região do Médio Paraíba.
Figura 9: Regiões de Governo e Microrregiões Geográficas
A Região do Médio Paraíba é composta por 12 municípios: Barra do Piraí,
Barra Mansa, Itatiaia, Pinheiral, Piraí, Porto Real, Quatis, Resende, Rio Claro, Rio
das Flores, Valença e Volta Redonda (Ver Figura 10).
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Figura 10: Região do Médio Paraíba
De acordo com informações do IBGE (2005), destes 12 municípios, 7 foram
instalados em 1939 (Barra do Piraí, Barra Mansa, Piraí, Resende, Rio Claro, Rio das
Flores e Valença), Volta Redonda em 1954, Itatiaia em 1990, Quatis em 1993 e
Pinheiral e Porto Real em 1997. De acordo com informações do CIDE (2005), estes
12 municípios possuem anos de instalações mais diversificados e recuados no
tempo, sendo em ordem cronológica: 1801 Resende; 1826 Valença; 1833 Barra
Mansa; 1838 Piraí; 1850 Rio Claro; 1890 Barra do Piraí e Rio das Flores; 1955 Volta
Redonda; 1989 Itatiaia; 1993 Quatis; 1997 Porto Real e Pinheiral (ver Quadro 10).
Em relação ao Estado do Rio de Janeiro esta Região representa quase 14% da
área, 5,46% da população e 6,76% do PIB do Estado.
Quadro 10: Ano de instalação dos municípios da Região do Médio Paraíba
Municípios Ano de instalação de acordo com o CIDE
Ano de instalação de acordo com o IBGE
Barra do Piraí 1890 1939Barra Mansa 1833 1939Itatiaia 1989 1990Pinheiral 1997 1997Piraí 1838 1939Porto Real 1997 1997Quatis 1993 1993Resende 1801 1939Rio Claro 1850 1939Rio das Flores 1890 1939Valença 1826 1939Volta Redonda 1955 1954Fontes: CIDE, 2005; IBGE, 2005
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5.2.1. Estrutura espacial
O ponto culminante do Estado do Rio de Janeiro se encontra nesta região, o pico
das Agulhas Negras, situado no município de Itatiaia, com 2.791 metros de altitude
(CIDE, 2005). A área da Região é de 6203,4 km2 e corresponde à 13,73% do total
do Estado. Conforme podemos verificar no Quadro 11, em termos de área, os
menores municípios são Pinheiral e Porto Real, criados em 1997. Os maiores
municípios são Resende e Valença, os dois mais antigos (criados nos anos de 1801
e 1826 respectivamente, de acordo com o CIDE).
Quadro 11: Área dos municípios e percentual da área em relação ao total da Região
Região e municípios Área em km2 Percentual da área em relação ao total da Região
Região do Médio Paraíba 6203,4 100Barra do Piraí 582,1 9,38Barra Mansa 548,0 8,83, Itatiaia 241,9 3,89Pinheiral 77,8 1,25Piraí 504,6 8,13Porto Real 50,9 0,82Quatis 287,2 4,62Resende 1100,2 17,73Rio Claro 843,4 13,59Rio das Flores 479,5 7,72Valença 1305,8 21,04Volta Redonda 182,0 2,93Fonte: CIDE, 2005
No Quadro 12, de acordo com informações do IQM-Verde II (CIDE, 2004),
em termos de distribuição espacial das áreas, Porto Real e Volta Redonda
destacam-se por possuírem cerca de 1/4 de seu território como área urbana4. Em
termos de área agrícola5 destaca-se somente Porto Real, com 17,5%. No que se
refere às áreas de campos ou pastagens6, 5 municípios possuem entre 50% e 75%
(Piraí, Porto Real, Resende, Rio Claro e Volta Redonda) e 6 municípios (Barra do
Piraí, Barra Mansa, Pinheiral, Quatis, Rio das Flores e Valença) possuem mais de
4 De acordo com o IQM-Verde são as áreas caracterizadas “... por ocupação urbana, tanto a de alta densidade de ocupação (contínua e predominantemente vertical) quanto às de média (contínua e predominantemente horizontal) e baixa densidades (horizontal esparsa, entremeada por áreas verdes ou terrenos vazios) de ocupação.”5 Segundo o IQM-Verde, compreende “... as áreas agrícolas, onde se incluem os campos de cultivo cíclicos, permanentes e mistos.”6 Segundo o IQM-Verde, são “... considerados nesta classe os campos antrópicos encontrados nas áreas onde a vegetação natural primitiva foi substituída para práticas de agricultura ou para o criatório. No primeiro caso, o declínio da agricultura deu lugar a extensas áreas recobertas por vegetação herbácea sem nenhum uso atual (a fisionomia mais comum no território fluminense). Os campos utilizados como criatórios são encontrados em escala menor. Nesta classe, estão incluídos os campos que se instalaram no lugar dos remanescentes de savana (cerrado), da Bacia Terciária de Resende.”
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75%. O único município que possui apenas cerca de 1/3 de sua área caracterizada
como campos ou pastagens é Itatiaia. O somatório destas duas áreas só altera o
quadro para o município de Porto Real, que possui o maior percentual de área
agrícola, devendo-se ter em conta que se trata do menor município da
Região.
Quadro 12: Percentual de distribuição das áreas dos municípios
% de área urbana
% área agrícola
% campos e
pastagens
somatório = %área
de agropecuá
ria
% de corpos d
´água
% de florestas
% área vegetação secundá-
ria
Área com cobertura vegetal (km2)
somatório do % da área com cobertura vegetal
Estado do Rio de Janeiro
6,3 9,5 49,40 58,9 2,1 9,64 18,45 12.321.5 28,09
Barra do Piraí 3,2 0 76,45 76,45 0,88 0,06 19,43 113,0 19,49Barra Mansa 8,5 0,1 78,82 78,92 0,63 0,03 11,94 65,7 11,97Itatiaia 4,7 0 36,06 36,06 2,55 40,42 5,02 102,5 45,44Pinheiral 5,7 0 75,57 75,57 1,26 0 17,51 13,5 17,51Piraí 1,5 0 64,51 64,51 0,38 0 33,58 170,1 33,58Porto Real 24,8 17,5 50,05 67,55 2,44 0 5,22 2,6 5,22Quatis 0,9 0,4 80,42 80,82 0,86 2,62 14,88 50,2 17,50Resende 2,4 2,4 54,96 57,36 2,24 18,48 17,92 406,3 36,40Rio Claro 0,3 0 50,72 50,72 1,12 10,06 37,64 402,3 47,70Rio das Flores 0,3 0 82,52 82,52 1 0,02 16,14 77,4 16,16Valença 1 0,1 79,47 79,57 0,56 0 18,83 246,3 18,83Volta Redonda 25,6 0 53,02 53,02 1,18 0 20,25 37,9 20,25Fonte: CIDE, 2005
No que se refere a cobertura vegetal, para a área de florestas7 destaca-se
Itatiaia com cerca de 40%. Os municípios de Resende (18,48%) e Rio Claro
(10,06%) são os únicos que apresentam pelo menos 10% de áreas de florestas.
Entre os outros 9 municípios, 5 (Pinheiral, Piraí, Porto Real, Valença e Volta
Redonda) não possuem nenhuma área de florestas, 3 (Barra do Piraí, Barra Mansa
e Rio das Flores) menos de 1% e Quatis cerca de 3% de áreas de florestas. Ainda
em relação a cobertura vegetal, observa-se que grande parte é composta por
vegetação secundária8, ocupando mais 1/3 dos municípios de Rio Claro e Piraí. Os
municípios de Pinheiral, Piraí e Porto Real são os únicos em que sua cobertura
vegetal é composta somente de vegetação secundária. Com exceção de Rio Claro
7 Vegetação primária, de acordo com a Resolução CONAMA no 010, de 1/10/1993, corresponde a qualquer tipo de vegetação “... de máxima expressão local, com grande diversidade biológica, sendo os efeitos das ações antrópicas mínimos, a ponto de não afetar significativamente suas características originais de estrutura e de espécies.” 8 Vegetação secundária, de acordo com a Resolução CONAMA no 010, de 1/10/1993, corresponde a “... vegetação resultante dos processos naturais de sucessão, após supressão total ou parcial da vegetação primária por ações antrópicas ou causas naturais, podendo ocorrer árvores remanescentes da vegetação primária.”. De acordo com o IQM-Verde, compreendem tanto áreas abandonadas após diferentes tipos e intensidades de uso – o que pode conduzir a diferentes padrões de regeneração – quanto áreas naturais ou em regeneração submetidas a diferentes níveis de degradação, devido a fatores como fogo e exploração de madeira.
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e Piraí, a maioria dos municípios possui entre 10% e 20% da sua área coberta com
vegetação secundária, sendo que somente Itatiaia e Porto Real são os únicos
municípios que possuem somente cerca 5% de área com vegetação secundária,
observando-se que para este último corresponde ao total do percentual com
cobertura vegetal. Somando os percentuais de áreas com vegetação primária e
secundária destacam-se com mais de 45% da área Itatiaia (com a quase totalidade
de vegetação primária) e Rio Claro (predominantemente vegetação secundária).
No que se refere ao percentual de áreas de corpos d´água, destacam-se
Itatiaia, Porto Real e Resende, com aproximadamente 2,5% de sua área. Apesar do
baixíssimo percentual destas áreas de corpos d´água e do pequeno percentual de
áreas urbanas na maioria dos municípios (com exceção de Porto Real e Volta
Redonda), os municípios como Barra do Piraí, Barra Mansa, Itatiaia, Pinheiral, Piraí,
Porto Real, Quatis, Resende e Volta Redonda possuem o seu núcleo urbano
margeando o Rio Paraíba do Sul.
Conforme podemos observar no mapa do uso e cobertura do solo no Estado
do Rio de Janeiro (Figura 10), nas áreas cor de rosa que representam áreas
urbanas, há uma grande concentração em Volta Redonda-Barra Mansa (contínuas)
e outra envolvendo Resende-Itatiaia (contínuas, mas predominando no primeiro) e
Porto Real (aproximando-se de ser contínua das áreas urbanas de Resende e
Quatis). As áreas em verde escuro representam florestas e predominam em Itatiaia
e Resende (sendo contínua). As áreas em verde claro representam vegetação
secundária e se encontram bastante dispersas entre os municípios da Região do
Médio Paraíba. As áreas em bege predominam e representam campos e
pastagens, constituindo a maior parte de toda a Região.
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A seqüência de imagens extraídas do Google Earth (capturadas em 23 de
novembro de 2005) é bastante ilustrativa desta estrutura espacial.
Barra do Piraí
Barra Mansa
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Resende
Volta Redonda
Estas imagens revelam núcleos urbanos concentrados em determinadas
áreas, margeando o Rio Paraíba do Sul, exercendo fortes pressões sobre os
recursos hídricos. Estas áreas urbanas se encontram, em grande parte, cercadas
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de áreas de campos e pastagens, sendo que em municípios como Barra do Piraí é
visível a degradação das mesmas.
5.2.2. Estrutura demográfica O Estado do Rio de Janeiro é o 3o mais populoso do país com população de
14.391.282 em 2000, perdendo apenas para Minas Gerais (17.891.494) e São Paulo
(37.032.403). No Estado do Rio de Janeiro, a Região do Médio Paraíba (785.192) é
a segunda mais populosa, se encontrando atrás da Região Metropolitana
(10.710.515) e próxima da Região Serrana (642.002).
Em termos de tamanhos da população, a Região do Médio Paraíba é bastante
diversificada.
No Quadro 13 é possível verificar que em termos de faixas de tamanho da
população, há três grupos. No terceiro grupo, se encontram alguns dos municípios
mais populosos do Estado em 2005. Volta Redonda se encontrava em 10o, com
255.293 habitantes e 1,66% do total da população do Estado, Barra Mansa em 15o,
com 175.213 e 1,14% do total e Resende em 22o, com 117.391 e 0,76% do total
(CIDE, 2005).
Quadro 13 – Faixas de tamanho da população para os municípios da Região do Médio Paraíba
Faixas de tamanho da população Municípios
5.001 a 20.000 Porto Real, Quatis, Rio Claro e Rio das Flores
20.001 a 100.000 Barra do Piraí, Itatiaia, Pinheiral, Piraí e Valença
100.001 a 500.000 Barra Mansa, Resende e Volta Redonda
Os diferentes tamanhos dos municípios da Região na atualidade resultam do
processo histórico em que se deu a ocupação da mesma e particularmente de
alguns municípios. No Quadro 14 podemos verificar que no período de 60 anos,
entre 1940 e 2000, a população da Região cresceu quase 5 vezes mais, sendo que
em áreas onde hoje se encontra o município de Volta Redonda, este crescimento foi
de 87 vezes mais, não podendo ser dissociado do processo histórico que resultou na
criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).
Em termos percentuais municípios como Volta Redonda passaram de uma
população que correspondia à 1,7% do total da Região do Médio Paraíba em 1940
para 30,8% em 2000, correspondendo à um aumento de 18 vezes mais no período.
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O segundo maior município em termos de percentual da participação da população é
Barra Mansa, que passou de 12,1% para 21,7%. Valença, um município que já teve
22,3% do percentual da população, passa, em 2000, a ter 8,4%. Também
diminuíram bastante sua participação percentual municípios como Piraí (de 8,9%
para 2,8%), Rio Claro (9,3% para 2,1%) e Rio das Flores (4,8% para 1,0%).
Quadro 14 – Evolução da população na Região do Médio Paraíba e Municípios, por situação de domicílio - 1940-2000
Região do Médio Paraíba e Municípios
1940 1960 1980 2000
Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total
Região do Médio Paraíba 59.338 100.158 159.496 235.021 100.991 336.012 510.529 89.262 599.791 730.124 54.689 785.192
Barra do Piraí 16.271 15.084 31.355 32.346 13.021 45.367 55.794 16.137 71.931 84.796 3.679 88.503
Barra Mansa 9.916 9.369 19.285 49.201 9.301 58.502 130.422 16.328 146.750 164.963 5.630 170.753
Itatiaia 838 3.112 3.950 2.969 2.447 5.416 8.630 3.664 12.294 11.731 12.998 24.739
Pinheiral 927 1.052 1.979 3.642 1.425 5.067 9.003 570 9.573 17.674 1.807 19.481
Piraí 2.102 12.052 14.154 4.752 13.231 17.983 12.792 6.421 19.213 18.035 4.044 22.118
Porto Real 326 688 1.014 40 2.697 2.737 1.732 4.440 6.172 11.385 707 12.095
Quatis 1.527 2.752 4.279 2.335 2.977 5.312 5.523 2.468 7.991 9.388 1.311 10.730
Resende 9.270 13.188 22.458 26.658 13.986 40.644 57.660 11.209 68.869 95.893 8.589 104.549
Rio Claro 2.244 12.649 14.893 3.629 11.605 15.234 6.443 6.471 12.914 11.620 4.612 16.228
Rio das Flores 1.238 6.482 7.720 1.794 6.444 8.238 2.620 4.246 6.866 5.355 2.260 7.625
Valença 13.662 21.965 35.627 23.682 19.090 42.772 39.784 13.793 53.577 57.304 8.986 66.308
Volta Redonda 1.017 1.765 2.782 83.973 4.767 88.740 180.126 3.515 183.641 241.980 66 242.063
Fonte: CIDE, 2006.
No Quadro 15 podemos verificar, em relação à taxa média geométrica de
crescimento anual da população residente, merece destaque à de Volta Redonda no
período 1940-1950, que foi de 29,17, a maior já alcançada por qualquer município
do Estado do Rio de Janeiro. Ainda que reduzida a aproximadamente 1/3 do
período anterior, a taxa média geométrica no período 1950-1960 era ainda bastante
alta, comparada com as do Estado e de outros municípios. Também chama a
atenção a taxa média geométrica e crescimento do hoje município de Porto Real,
que foi de 7,61. No período 1960-1970 destacam-se os municípios de Barra Mansa
e Itatiaia (5,06 e 6,16 respectivamente). No período 1970-1980 os destaques ficam
Porto Real (4,92) e Barra Mansa (4,35) e no período 1980-1991, também com taxa
menores que o período anterior, destacam-se Pinheiral (3,16) e Itatiaia (2,47). No
período mais recente de 1991-2000 chama a atenção um grupo de municípios, com
a taxa de crescimento superior à 4,0 (Itatiaia com 4,90; Pinheiral com 4,17; Porto
Real com 4,23).
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Quadro 15 - Taxa média geométrica de crescimento anual da população residente, segundo as Regiões de Governo e municípios, Estado do Rio de
Janeiro - 1940-20001940/1950
1950/1960
1960/1970
1970/1980
1980/1991
1991/2000
Estado 2,61 3,68 2,97 2,30 1,15 1,30Região do Médio Paraíba 3,18 4,42 2,89 2,99 1,34 1,38
Barra do Piraí 0,46 3,29 2,68 1,99 0,88 1,24Barra Mansa 4,64 6,78 5,06 4,35 0,98 0,49Itatiaia -0,63 3,86 6,16 2,24 2,47 4,91Pinheiral 5,55 4,09 1,97 4,51 3,16 4,17Piraí 2,23 0,19 0,01 0,66 0,50 0,96Porto Real 2,63 7,61 3,39 4,92 2,76 4,23Quatis 0,66 1,51 0,90 3,24 0,88 2,23Resende 2,85 3,18 2,74 2,61 1,76 2,54Rio Claro -0,41 0,64 -0,66 -0,98 0,52 1,93Rio das Flores 0,52 0,13 -1,36 -0,45 -0,57 1,88Valença 0,14 1,70 1,23 1,04 1,16 0,97Volta Redonda 29,17 9,45 3,51 3,90 1,67 1,05
Fonte: CIDE, 2005
Conforme podemos ver no Quadro 16, para o Estado do Rio de Janeiro, a
taxa média de crescimento vegetativo anual no período de 1991-2000 foi de 1,11%,
enquanto que para a Região do Médio Paraíba foi de 1,25%. Merecem destaque os
municípios apresentaram taxa média igual ou superior à 2,00%, sendo estes Piraí
(2,00%) e Porto Real (2,07%).
Para o Estado do Rio de Janeiro, a taxa líquida de migração anual no período
de 1991-2000 foi de 0,19%. Para a Região do Médio Paraíba foi inferior, sendo
0,12%. Nesta Região, merecem destaques como municípios atratores nos
processos migratórios os de Itatiaia (3,52%), Pinheiral (2,83%) e Porto Real (2,16%).
Como municípios que vem apresentando taxas migratórios negativas se destacam
Barra Mansa (- 0,71%), Piraí (- 1,04%) e Valença (- 0,17%).
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O grande crescimento da população, iniciado de modo intenso no período
entre 1940 e 1960 e concentrado em alguns municípios, como Volta Redonda,
contribuiu para um quadro bastante heterogêneo em termos de densidade
demográfica. Conforme pode se verificar no Quadro 17, a densidade demográfica
da Região do Médio Paraíba sempre esteve, no período de 1940 à 2000, abaixo do
Estado do Rio de Janeiro. Entretanto, analisando os municípios individualmente,
constatamos que desde 1950, a densidade demográfica de Volta Redonda já se
aproximava do dobro do Estado, entre 1960 e 1970 representava mais do que o
triplo, e a partir de 1980 até 2000 passa a corresponder à quase quatro vezes mais.
Volta Redonda foi o único município da Região que ultrapassou a casa de mais de
1.000 habitantes por km2 (desde 1980). Municípios como Barra Mansa, Pinheiral e
Porto Real compõem um grupo de municípios em que a densidade demográfica
ultrapassou duas centenas de habitantes por km2. Os municípios de Barra do Piraí e
Barra Mansa estão entre os municípios na faixa de 100 à 200 habitantes por km 2.
Desde 1950 o Estado do Rio de Janeiro ultrapassou a os 100 habitantes por km 2.
Na Região, tendo como referência 100 ou mais habitantes por km2 constamos que
os municípios atingem e ultrapassam este número em momentos diferentes: em
1950 Volta Redonda; em 1960 Barra Mansa; em 1980 Pinheiral e Porto Real; em
2000 Itatiaia.
Quadro 17 – Densidade demográfica (hab/km2) do Estado, da Região do Médio
Quadro 16 - Taxa média geométrica de crescimento anual, taxa líquida de migração anual e taxa média de crescimento vegetativo anual – Estado do Rio de Janeiro, Região
do Médio Paraíba e Municípios, 1991-2000
Taxa médiageométrica de
crescimento anual (%)
Taxa líquida demigraçãoanual (%)
Taxa média decrescimento vegetativo
anual (%)
Estado 1,30 0,19 1,11Região do Médio Paraíba 1,38 0,12 1,25Barra do Piraí 1,24 0,11 1,13Barra Mansa 0,49 -0,71 1,20Itatiaia 4,91 3,52 1,39Pinheiral 4,17 2,83 1,34Piraí 0,96 -1,04 2,00Porto Real 4,23 2,16 2,07Quatis 2,23 0,85 1,39Resende 2,54 0,94 1,60Rio Claro 1,93 0,50 1,42Rio das Flores 1,88 0,81 1,06Valença 0,97 -0,24 1,21Volta Redonda 1,05 -0,17 1,22
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Paraíba e dos Municípios, 1940-20001940 1950 1960 1970 1980 1991 2000
Estado do Rio de Janeiro 82,3 106,6 153,0 205,1 257,4 292,0 328,1
Região do Médio Paraíba 25,7 35,2 54,2 72,0 96,7 111,9 126,6
Barra do Piraí 53,9 56,4 77,9 101,5 123,6 136,1 152,0
Barra Mansa 35,2 55,4 106,8 174,9 267,8 298,2 311,6
Itatiaia 16,3 15,3 22,4 40,7 50,8 66,4 102,3
Pinheiral 25,4 43,6 65,1 79,2 123,0 173,3 250,4
Piraí 28,0 35,0 35,6 35,7 38,1 40,2 43,8
Porto Real 19,9 25,8 53,8 75,0 121,3 163,6 237,6
Quatis 14,9 15,9 18,5 20,2 27,8 30,6 37,4
Resende 20,4 27,0 36,9 48,4 62,6 75,8 95,0
Rio Claro 17,7 17,0 18,1 16,9 15,3 16,2 19,2
Rio das Flores 16,1 17,0 17,2 15,0 14,3 13,5 15,9
Valença 27,3 27,7 32,8 37,0 41,0 46,6 50,8
Volta Redonda 15,3 197,6 487,6 688,4 1.009,0 1.210,5 1.330,0
Fonte: CIDE, 2006.
Outra característica da evolução da população entre 1940 e 2000 e que esta
se tornou quase que totalmente urbana na Região (Ver Quadro 18).
Em 2000, 93% da população se concentrava em áreas urbanas, sendo que
em municípios como Volta Redonda, chegava à 100%. Com taxas menores de
urbanização, destacavam-se Rio Claro e Rio das Flores (71,6% e 70,3%
respectivamente), sendo Itatiaia o município com a menor taxa de urbanização
(47,4%). Em termos percentuais, a população urbana era de 37,2% em 1940 e em
1950 já ultrapassava mais da metade (54,1%). Em 1970 a população urbana já
ultrapassava 3/4 do total, com 76,6% e desde de 1991 já superava os 90%,
correspondendo à 91,5% em 1991 e 93% em 2000. Desde 1991 a taxa de
urbanização da população residente da Região do Médio Paraíba se aproxima do
Estado do Rio de Janeiro. Dois municípios merecem destaque pela rapidez com
que em um período curto de tempo apresentam elevada taxa de urbanização da
população residente. O primeiro é Volta Redonda, que passa de 36,6 em 1940 para
89,4 em 1950. O segundo é Porto Real, que em anos recentes vivencia processo
similar, passando de 35,4 em 1991 para 94,2 em 2000. O único município que
apresenta uma taxa de urbanização da população residente inferior à 50,0 é Itatiaia,
com 47,4.
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Quadro 18 - Taxa de urbanização da população residente – Estado, Região do Médio Paraíba e municípios,1940-2000
1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000Estado 61,2 72,6 79,0 87,9 91,8 95,3 94,9Região do Médio Paraíba 37,2 54,1 69,9 76,6 85,1 91,5 93,0Barra do Piraí 51,9 65,9 71,3 78,8 77,6 93,6 95,8Barra Mansa 51,4 67,7 84,1 80,1 88,9 97,3 96,7Itatiaia 21,2 31,2 54,8 56,4 70,2 61,2 47,4Pinheiral 46,8 57,7 71,9 76,9 94,0 81,7 90,7Piraí 14,9 22,1 26,4 34,7 66,6 75,2 81,7Porto Real 32,1 2,8 1,5 36,8 28,1 35,4 94,2Quatis 35,7 38,7 44,0 57,4 69,1 87,0 87,7Resende 41,3 48,8 65,6 79,5 83,7 87,2 91,8Rio Claro 15,1 20,0 23,8 23,6 49,9 63,3 71,6Rio das Flores 16,0 14,3 21,8 30,8 38,2 59,9 70,3Valença 38,3 45,2 55,4 60,4 74,3 82,7 86,4Volta Redonda 36,6 89,4 94,6 96,3 98,1 99,9 100,0Fonte: CIDE, 2005
Tendo como referência o Mapeamento e Estimativa da Área Urbanizada do Brasil realizado pela EMBRAPA (Miranda e col., 2005),
podemos constar no Quadro 19 que este processo de urbanização foi acompanhado de um intenso processo de adensamento populacional nas
áreas urbanas. Ao contrário do Quadro 12, que em que os dados são provenientes do IQM-Verde, constatamos no Quadro 19 que 7 municípios
não ultrapassaram mais de 1% em termos de área urbana, 4 municípios variaram entre 1,1% e 5%, e somente o município de Volta Redonda teve
quase 15% de sua área definida como urbana. Estes dados chamam a atenção para a intensa concentração das áreas urbanas em pequenos
espaços dos municípios, resultando em grande densidade demográfica. Se em termos de habitantes por km2 dos municípios a média da Região
foi de 126,6 hab/ km2, sendo a maior encontrada em Volta Redonda, com 1.330 hab/ km2, quando realizamos uma análise em que se considera a
população urbana nas áreas urbanas, apenas o município de Rio das Flores surge com densidade menor do que 4.000 hab/ km2, sendo que 6
municípios com densidade entre 4.001 e 6.000 hab/ km2, 2 com mais de 6.001 e menos de 8.000, 1 com mais de 8.001 e menos de 10.000, 1
com pouco mais de 10.000 e 1 que ultrapassa todos os outros, com 38.238 (Barra do Piraí). Barra do Piraí que surgia como detentor da 5 a maior
densidade demográfica no Quadro 12, surge no Quadro 19 como a primeira, e Volta Redonda que surgia como 1a, aparece agora como 3a.
Quadro 19 – População total e urbana, área total e urbana, percentual da área urbanizada densidade demográfica (hab/km2) das áreas urbanizadas nos municípios e Região do Médio
ParaíbaMunicípio População
totalPopulação
urbanaPercentual
da população
urbana
Área total
(km2)
Área urbanizada
(km2)
Percentual da área
urbanizada em relação
à total
População por km2 de área
urbanizada
Barra do Piraí 88.503 84.816 95,8 579,8 2,2181 0,4 38.238Barra Mansa 170.753 165.134 96,7 548,9 16,4700 3,0 10.026Itatiaia 24.739 11.728 47,4 225,5 2,5845 1,1 4.537Pinheiral 19.481 17.672 90,7 77,0 3,4213 4,4 5.165Piraí 22.118 18.070 81,7 506,7 3,4768 0,7 5.197Porto Real 12.095 11.388 94,2 50,7 2,5362 5,0 4.490Quatis 10.730 9.412 87,7 286,9 2,2547 0,8 4.174Resende 104.549 95.963 91,8 1.116,2 13,1233 1,2 7.312
91
92
Rio Claro 16.228 11.616 71,6 843,5 2,5686 0,3 4.522Rio das Flores 7.625 5.364 70,3 479,0 1,6730 0,3 3.206Valença 66.308 57.323 86,4 1.308,1 8,6414 0,7 6.633Volta Redonda 242.063 241.996 99,9 182,8 27,1668 14,9 8.907
785.192 730.482 93,0 6.205,1 86,1347 1,4 8.480
Miranda e col, 2005.
No Quadro 20, podemos constar que na Região, as mulheres representam o maior
percentual da população (51,3%), situação que se reproduz na área urbana (51,6%),
dos municípios, com exceção de Porto Real. Na área rural ocorre o inverso, com os
homens representam o maior percentual (52,2 %), uma situação que se repete em
todos os municípios.
92
93
Quadro 20 - População residente, por situação do domicílio e sexo, segundo a Região do Médio Paraíba e
municípios, 2000
Total Urbana Rural
Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens MulheresRegião do Médio Paraíba 785.192 381.941 403.251 730.482 353.336 377.146 54.710 28.605 26.105Barra do Piraí 88.503 42.455 46.048 84.816 40.498 44.318 3.687 1.957 1.730Barra Mansa 170.753 83.072 87.681 165.134 80.136 84.998 5.619 2.936 2.683Itatiaia 24.739 12.278 12.461 11.728 5.710 6.018 13.011 6.568 6.443Pinheiral 19.481 9.687 9.794 17.672 8.709 8.963 1.809 978 831Piraí 22.118 11.001 11.117 18.070 8.837 9.233 4.048 2.164 1.884Porto Real 12.095 6.091 6.004 11.388 5.719 5.669 707 372 335Quatis 10.730 5.418 5.312 9.412 4.694 4.718 1.318 724 594Resende 104.549 51.170 53.379 95.963 46.657 49.306 8.586 4.513 4.073Rio Claro 16.228 8.279 7.949 11.616 5.793 5.823 4.612 2.486 2.126Rio das Flores 7.625 3.764 3.861 5.364 2.581 2.783 2.261 1.183 1.078Valença 66.308 31.986 34.322 57.323 27.304 30.019 8.985 4.682 4.303Volta Redonda 242.063 116.740 125.323 241.996 116.698 125.298 67 42 25
Fonte: CIDE, 2005
No Quadro 21, verificamos que em 2004 as faixas etárias no gradiente entre
20 e 49 anos foram as que concentraram mais de 100.000 habitantes da Região. A
Figura 11 revela este quadro em termos de percentuais.
93
94
Figura 11 - Percentuais da população por faixa etária na Região do Médio Paraíba, 2004
2% 7%
8%
9%
10%
17%
16%
14%
8%
5%3%
1%
Menos de 1 ano
1 a 4 anos
5 a 9 anos
10 a 14 anos
15 a 19 anos
20 a 29 anos
30 a 39 anos
40 a 49 anos
50 a 59 anos
60 a 69 anos
70 a 79 anos
80 anos e mais
Em síntese, desde a década de 1940 a Região do Média Paraíba assiste um
grande crescimento populacional concentrado nos municípios mais industrializados,
com uma população que se torna quase que totalmente urbana em quase todos os
municípios, alguns com intensa densidade demográfica nas áreas urbanas, com
maior percentual de mulheres nas áreas urbanas e homens nas áreas rurais, sendo
esta população composto majoritariamente de adultos jovens.
94
Quadro 21 - População residente na Região do Médio Paraíba e por município por faixa etária, 2004
Menos de 1 ano 1 a 4 anos 5 a 9 anos
10 a 14 anos
15 a 19 anos
20 a 29 anos
30 a 39 anos
40 a 49 anos
50 a 59 anos
60 a 69 anos
70 a 79 anos
80 anos e mais Total
Região do Médio Paraíba 13474 56274 69399 73358 79482 138687 132476 113852 68721 43681 24197 8464 822065Barra do Piraí 1520 6253 7454 7835 8456 15302 14775 12823 8140 5380 3131 1207 92276Barra Mansa 2827 11935 14599 15696 16727 29790 28534 23613 14470 9297 4660 1567 173715Itatiaia 485 2212 2652 2615 2820 5206 4462 3480 2223 1233 653 211 28252Pinheiral 343 1514 1883 1981 2260 3596 3361 3045 1641 963 605 225 21417Piraí 419 1619 2085 2128 2197 3928 3786 3107 1860 1228 699 295 23351Porto Real 249 1136 1406 1349 1350 2543 2205 1702 957 613 268 85 13863Quatis 220 825 1037 1077 1185 1970 1822 1462 931 573 314 108 11524Resende 1974 8060 9955 10377 11128 20100 18351 14693 9001 5326 2881 1030 112876Rio Claro 297 1431 1554 1451 1694 3061 2619 2045 1352 947 582 234 17267Rio das Flores 134 613 767 746 757 1359 1234 948 708 471 244 118 8099Valença 1110 4731 5724 6068 6294 10727 10456 9032 6206 4425 2629 1139 68541Volta Redonda 3896 15945 20283 22035 24614 41105 40871 37902 21232 13225 7531 2245 250884Fonte: CIDE, 2005
5.2.3. Estrutura econômica Para a atual estrutura econômica da Região do Médio Paraíba contribuiu um
processo histórico que tem início nos séculos XVII e XVIII, com o Ciclo do Ouro.
Neste período áreas da Região foram desbravadas por bandeirantes, em busca da
mineração do ouro nas Minas Gerais. Com o esgotamento do Ciclo do Ouro é
iniciado um processo de colonização da região, com populações se estabelecendo
nas margens do Rio Paraíba do Sul e passando a desenvolver atividades agrícolas e
de pecuária. No início do século XIX, estas atividades deram lugar às grandes
plantações de café como principal atividade econômica, resultando no Ciclo do Café.
Este ciclo propiciou à Região um grande surto econômico e crescimento
populacional. Porém, com a abolição da escravidão e o esgotamento dos solos para
a lavoura, a produção do café declinou bastante, sendo substituída pela pecuária de
corte e produção de leite. Na década de 30, tendo declinado totalmente o ciclo do
café, tem início o processo de industrialização em alguns municípios da Região
(TCE, 2005).
Foi somente no período após a II Guerra Mundial que ocorreu uma ampliação do
processo de industrialização, sendo um marco neste processo a criação da CSN em
Volta Redonda. A criação da CSN teve grande influência sobre grande parte dos
municípios da Região, contribuindo direta e indiretamente para o crescimento dos
setores secundário e terciário. Na atualidade, a CSN possui grande importância
enquanto pólo siderúrgico e metalúrgico no país e lidera o setor secundário da
região.
No Quadro 22, apresentamos um perfil das principais atividades econômicas dos
municípios da Região.
Na atualidade a Região do Médio Paraíba possui grande importância econômica
para o Estado. No ano de 2003, o PIB do Estado foi de R$ 220.206.189.000 e o da
Região 14.894.388.000 correspondendo à 6,76% do total do Estado. Interessante
observar que os 3 maiores PIB da Região, Volta Redonda, Resende e Barra Mansa
se encontram entre os 3 municípios da Região que estão entre os mais populosos
do Rio de Janeiro. Volta Redonda, com 2,90% do PIB possui 1,66% da população
do Estado, Resende com 0,99% do PIB possui 0,76% da população e Barra Mansa
com 0,91% do PIB possui 1,14% da população.
97
Quadro 22 – Principais atividades econômicas dos municípios da Região do Médio Paraíba
Municípios Principais atividades econômicas
Barra Mansa Industrial, comercial, serviços e agro-negócio.
Barra do Piraí Agricultura (café, chá-da-índia, banana, milho, feijão, cana de açúcar, alface, brócolis, tomate), agropecuária (bovinos de leite, suínos, aves de corte, apicultura, codornas, coelhos, eqüinos, bufalinos, asininos, muares, caprinos, ovinos, bovinos de corte), 303 indústrias, 2621 empresas instaladas.
Itatiaia Indústria, turismo e agropecuária.
Pinheiral Agricultura, indústria e comércio.
Piraí Agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal. Pesca, indústrias extrativas, indústria de transformação, produção e distribuição de eletricidade, gás e água, construção, comércio.
Porto Real Indústria, pecuária leiteira e agricultura.
Quatis Agricultura, agropecuária e serviços.
Resende Indústria-pólo metal-mecânico, química fina-reciclagem de plástico, comércio, agricultura e agropecuária.
Rio Claro Agricultura (banana, feijão, milho), agropecuária, 420 propriedades produtivas e avicultura.
Rio das Flores Bovinocultura: pecuária leiteira e corte caprino-cultura leiteira. Agricultura: fruticultura ( banana, maracujá, limão, goiaba, lima da pérsia, uva e atemóia. Grãos: milho e feijão. Olericultura: abóbora, abóbora-de-cabeça, giló, repolho,tomate, pepino e inhame. Cana-de-açúcar. Mandioca piscicultura.
Valença Agropecuária, comércio, parque industrial pequeno, condomínio industrial em expansão, turismo cultural, rural, ecológico e de aventura e retomada do setor têxtil.
Volta Redonda Metal-mecânica, cimento, agricultura, agropecuária, piscicultura, 205 propriedades rurais.
Fonte: http://www.governo.rj.gov.br/municipios.asp
Conforme o Quadro 23, verifica-se que em 2003, Volta Redonda foi responsável
por quase 43% do PIB da Região. Resende e Barra Mansa estiveram próximas,
com aproximadamente 14% e 13% respectivamente. Com menos de 1% do PIB da
Região encontramos os seguintes municípios: Pinheiral, Quatis, Rio Claro e Rio das
Flores.
Quadro 23 – Produto Interno Bruto da Região do Médio Paraíba de dos municípios e percentual do PIB dos Municípios em relação ao da Região – 2003
Região e municípios Produto Interno Bruto (1.000 R$) PIB dos Municípios em relação à Região (%)Região do Médio Paraíba 14.894.388 100,00 Barra do Piraí 809.723 5,43Barra Mansa 2.022.227 13,57Itatiaia 886.266 5,95Pinheiral 63.364 0,43Piraí 738.478 4,95Porto Real 1.323.847 8,88Quatis 52.329 0,35Resende 2.192.941 14,72Rio Claro 70.284 0,47Rio das Flores 55.951 0,37Valença 289.571 1,94Volta Redonda 6.389.408 42,89Fonte: CIDE, 2005
97
98
Analisando a participação dos setores em relação ao PIB na Região do Médio
Paraíba, constatamos que na atualidade a estrutura econômica se baseia no setor
secundário, particularmente na Indústria da Transformação. A Indústria da
Transformação, que correspondeu à 26% do total do Estado em 2003, correspondeu
à 60,5% do total do PIB da Região. Volta Redonda possui, principalmente através da
CSN, inquestionável posição de liderança, sendo responsável por 49,11% do total
da Região e 12,80% do total do Estado. Ainda em relação à este setor e sua
participação na Região merecem destaque Resende (16,49%), Porto Real (12,60%)
e Barra Mansa (12,38%) (CIDE, 2005).
Ainda em relação a participação dos setores no PIB da Região, podemos
chamar a atenção para alguns municípios. No setor Agropecuário destaca-se o
município de Barra do Piraí, correspondendo à 40,74%. No setor Extração de
Outros Minerais destacam-se os municípios de Barra Mansa (37,12%) e Volta
Redonda (28,44%). No setor Comércio Atacadista, os municípios de Porto Real
(47,55%) e Volta Redonda (35,91%) concentram o PIB deste setor. Já no setor
Comércio Varejista são os municípios de Barra Mansa (29,8%) e Volta Redonda
(32,41%) que concentram o PIB do mesmo. No setor da Construção Civil destacam-
se os municípios de Volta Redonda (34,17%), Barra do Piraí (27,50%) e Resende
(16,22%). No setor Serviços Industriais de Utilidade Pública, destaca-se o município
de Piraí, que concentrou 51,93% do total do PIB da Região, vindo em segundo lugar
o município de Volta Redonda, que respondeu por 14,4%. No setor de Transportes,
o município de Volta Redonda respondeu por 48,72%, com os municípios de Barra
Mansa (14,62%) e Resende (13,35) em segundo e terceiro lugar. No setor de
Comunicações, o PIB ficou concentrado nos municípios de Volta Redonda, com
38,99%, Resende e Barra Mansa, com 16,84% cada um destes municípios. Para os
setores Instituições Financeiras e Administração Pública o município de Volta
Redonda respondeu por cerca de 40% de cada um.
Com exceção dos setores Agropecuário e Serviços de Utilidade Pública, em
que os municípios de Barra do Piraí e Piraí concentram, respectivamente, o maior
PIB da Região, para todos os outros setores encontramos forte presença ou mesmo
domínio do PIB no município de Volta Redonda. Outros municípios, como Barra
Mansa e Resende também merecem destaque.
Como já observado anteriormente, o setor secundário, particularmente na
Indústria da Transformação, tem na CSN, em Volta Redonda, importante centro
98
99
estruturante da economia na Região, estando diretamente conectada ao mercado
externo de uma economia globalizada. Entre os 6 maiores investimentos decididos
para o Estado em 2004, 3 se encontravam em Volta Redonda, particularmente na
CSN (CIDE, 2005). Dentre as principais empresas exportadoras do Estado entre
1997-2003, 3 se encontram na Região, sendo estas a CSN, a Volkswagen do Brasil
Ltda. e a Peugeot do Brasil Automóveis Ltda. Em Volta Redonda, a CSN foi, em
1997, responsável por US$ 453.723.000 em mercadorias, caindo nos anos
seguintes e aumentando em 2003 para US$ 585.653.000, correspondendo em
percentuais em relação ao total do Estado à 26,16% e 12,08% respectivamente. No
município de Resende, a Volkswagen do Brasil Ltda., e no município de Porto Real,
a Peugeot do Brasil Automóveis Ltda., responderam em 2003 US$ 81.381.000 e
US$ 61.036.000 das exportações de mercadorias, equivalendo à 1,68% e 1,26% do
total do Estado respectivamente (CIDE, 2005).
Volta Redonda é um centro estruturante não só em termos de PIB ou de
exportações para o mercado externo, mas também no número total de
estabelecimentos industriais.
Em termos do número de estabelecimentos industriais, para o Estado do Rio
de Janeiro o total em 2003 era de 21.785 estabelecimentos. Estes, conforme pode
se verificar no Quadro 24, estavam classificados assim: 522 Extrativa Mineral
(2,39%), 14.684 Indústria da Transformação (67,40%), 373 Serviços Industriais de
Utilidade Pública (1,71 %) e 6.206 Construção Civil (28,48%).
Quadro 24 -
99
100
Ainda conforme o Quadro 24, em relação aos estabelecimentos industriais, por
classes, a Região do Médio Paraíba possuía em 2003 1.279 estabelecimentos
(correspondente à 5,87% do total de estabelecimentos no Estado), distribuídos do
seguinte modo: 38 Extrativa Mineral (2,97%), 818 Indústria da Transformação
(63,95%), 38 Serviços Industriais de Utilidade Pública (2,97%) e 385 Construção
Civil (30,1%). Estes dados demonstram a grande importância do setor Indústria da
Transformação em termos de percentuais e número de estabelecimentos na Região.
De acordo com a Figura 12, na Região do Médio Paraíba, particularmente em
um corredor que margeia o Rio Paraíba do Sul, encontramos pólos e
empreendimentos industriais, bem como inúmeras atividades industriais (metalurgia,
químico/farmacêutica, minerais não metálicos, madeira, couros e peles, produtos
alimentares e mecânica). Este corredor tem sua base no município de Volta
Redonda e, seguindo o Rio Paraíba do Sul, cruza os municípios de Barra Mansa e
Porto Real, chegando ao município de Resende.
A economia da Região estruturada no setor secundário, principalmente na
indústria da transformação, contribuiu para que a infra-estrutura de transporte e
fornecimento de energia elétrica (Figura 13) e de óleo e gás (Figura 14) atravessem
a Região. Do total de Usinas Elétricas encontradas no Estado, cerca de 6 se
encontram em Piraí (3 da CERJ e 3 da Light). Das principais linhas de transmissão
de energia elétrica que cruzam a Região, Barra do Piraí e Valença são atravessadas
por linhas de 345 kv e Piraí, Volta Redonda, Barra Mansa e Resende são
atravessadas por linha de 500 kv, ambas de Furnas. Dos gasodutos que
atravessam o Estado, uma linha cruza Rio das Flores e outra cruza Piraí, Barra do
Piraí e Volta Redonda, possuindo uma ramificação que cruza Pinheiral, Barra Mansa
e Resende. Dos oleodutos, uma linha cruza Piraí, Barra do Piraí, Volta Redonda,
Barra Mansa e Quatis.
100
103
Conforme podemos verificar no Quadro 25, grande parte da infra-estrutura de
energia elétrica para a Região esta orientada para atender as necessidades do setor
industrial. O consumo de energia elétrica na Região se encontra concentrado no
setor industrial, que responde por 78% do total de consumo, vindo em seguida
residências (12%) e o comércio (5%). As outros classes de consumo responderam
por menos de 2% do total.
Figura 15 - Consumo de energia elétrica por classe de consumo na Região do Médio Paraíba e municípios, 2000
12%
78%
5%
Residencial
Industrial
Comercial
Rural
Iluminação Pública
Serviços Públicos
Poder Público
Consumo Próprio
Embora a indústria da transformação concentre o maior percentual do PIB e de
estabelecimentos industriais na Região, quando consideramos em termos de
empregados, verificamos no Quadro 26 que a grande maioria se encontra nas
atividades relacionadas ao comércio e serviços. A Figura 16 demonstra, em
percentuais, que o setor de comércio e serviços concentravam 43% do total de
empregados na Região e que os setores industriais (transformação, utilidade publica
e construção civil) somavam 31%. Particularmente em relação a indústria da
transformação, esta foi responsável por 23% dos empregados.
103
Quadro 25 – Consumo de energia elétrica por classe de consumo na Região do Médio Paraíba e municípios, 2000Residencial Industrial Comercial Rural Iluminação
PúblicaServiços Públicos
Poder Público
Consumo Próprio
Total
Região do Médio Paraíba
492.380,00000 3.262.024,00000 221.346,00000 30.664,00000 48.570,00000 62.580,00000 31.633,00000 13.779,00000 4.162.976,00000
Barra do Piraí 54.723,00000 103.590,00000 22.377,00000 3.810,00000 4.131,00000 6.299,00000 3.016,00000 2.534,00000 200.480,00000 Barra Mansa 108.702,00000 433.292,00000 44.967,00000 1.620,00000 7.510,00000 7.306,00000 4.142,00000 205,00000 607.744,00000 Itatiaia 12.307,00000 65.278,00000 6.626,00000 487,00000 1.911,00000 1.736,00000 0,00000 54,00000 88.399,00000 Pinheiral 11.175,00000 446,00000 1.908,00000 356,00000 794,00000 222,00000 785,00000 0,00000 15.686,00000 Piraí 12.327,00000 87.419,00000 5.423,00000 1.410,00000 1.692,00000 1.503,00000 1.803,00000 9.814,00000 121.391,00000 Porto Real 5.612,00000 71.584,00000 1.972,00000 542,00000 908,00000 1.245,00000 0,00000 0,00000 81.863,00000 Quatis 5.559,00000 432,00000 1.552,00000 1.853,00000 652,00000 303,00000 214,00000 12,00000 10.577,00000 Resende 64.196,00000 113.027,00000 32.906,00000 13.692,00000 6.917,00000 15.449,00000 7.400,00000 816,00000 254.403,00000 Rio Claro 7.117,00000 373,00000 2.352,00000 2.322,00000 939,00000 55,00000 652,00000 32,00000 13.842,00000 Rio das Flores 2.965,00000 328,00000 748,00000 966,00000 377,00000 73,00000 921,00000 2,00000 6.380,00000 Valença 39.049,00000 12.384,00000 13.393,00000 3.389,00000 3.328,00000 5.263,00000 2.817,00000 95,00000 79.718,00000 Volta Redonda 168.648,00000 2.373.871,00000 87.122,00000 217,00000 19.411,00000 23.126,00000 9.883,00000 215,00000 2.682.493,00000 Fonte: CIDE, 2006
Quadro 26 – Número de empregados por atividades econômicas na Região do Médio Paraíba e municípios, 1999Município Indústria
Extrativa Mineral
Indústria de Transformação
Serviços Industriais de
Utilidade Pública
Indústria da Construção
Civil
Comércio Serviços Administração Pública
Outros/Ignorado Total
Região do Médio Paraíba 309 28.534 1.986 7.609 23.686 40.771 19.341 66 122.302 Barra do Piraí 58 2.531 179 758 2.592 3.091 125 0 9.334 Barra Mansa 84 4.690 306 898 5.743 7.369 3.747 0 22.837 Itatiaia 4 1.667 0 146 357 987 1.285 0 4.446 Pinheiral 0 233 0 16 279 244 0 0 772 Piraí 4 993 61 69 327 505 1.625 0 3.584 Porto Real 0 358 0 524 122 140 152 0 1.296 Quatis 22 120 14 40 257 249 12 0 714 Resende 27 3.525 360 916 2.883 9.226 2.581 0 19.518 Rio Claro 0 26 3 19 152 129 639 0 968 Rio das Flores 0 49 0 8 96 122 479 0 754 Valença 39 1.531 31 440 1.550 2.287 2.828 66 8.772 Volta Redonda 71 12.811 1.032 3.775 9.328 16.422 5.868 0 49.307 Fonte: CIDE, 2006
Conforme verifica-se na Figura 17, em termos de percentuais de empregados
por municípios, Volta Redonda concentrou 39%, sendo seguida por Barra Mansa
(18%) e Resende (16%). Com percentuais extremamente baixos, destacam-se
Pinheiral, Porto Real, Quatis, Rio Claro e Rio das Flores.
Figura 17 - Percentual de empregados na Região do Médio Paraíba e municípios, 1999
8%
18%
4%
1%
3%
1%
1%
16%7%
39%
1%1%
Barra do Piraí
Barra Mansa
Itatiaia
Pinheiral
Piraí
Porto Real
Quatis
Resende
Rio Claro
Rio das Flores
Valença
Volta Redonda
2%
6%
19%
34%
16%
23%Indústria deTransformação
Serviços Industriaisde Utilidade Pública
Indústria daConstrução Civil
Comércio
Serviços
AdministraçãoPública
Figura 16 - Percentual de empregados por atividade econômica na Região do Médio Paraíba, 1999
106
Conforme podemos verificar no Quadro 27, no período de 1995 à 1999
verifica-se uma queda no número total de empregados, representando uma perda de
56.700 empregos, uma perda de aproximadamente 32%. Itatiaia Porto Real (a partir
de 1998, já que foi criado em 1997) e Rio Claro foram os únicos municípios que
tiveram aumento no número de empregados no período.
Quadro 27 – Número de empregados por ano na Região do Médio Paraíba e por municípios, 1995-1999
1995 1996 1997 1998 1999 Região do Médio Paraíba 179.002 175.845 169.290 122.067 122.302 Barra do Piraí 16.322 16.518 16.497 10.820 9.334 Barra Mansa 33.617 30.907 29.640 22.050 22.837 Itatiaia 3.506 3.763 3.255 4.208 4.446 Pinheiral 0 0 0 1.102 772 Piraí 5.106 5.441 5.072 3.702 3.584 Porto Real 0 0 0 890 1.296 Quatis 1.584 1.266 1.188 847 714 Resende 26.901 25.640 30.502 18.263 19.518 Rio Claro 772 707 722 744 968 Rio das Flores 1.378 828 901 938 754 Valença 11.590 8.129 11.402 9.265 8.772 Volta Redonda 78.226 82.646 70.111 49.238 49.307 Fonte: CIDE, 2006
No Quadro 28, observamos que em termos de população economicamente
ativa (PEA), quase 1/5 recebe até 1 salário mínimo e 1/4 de 1 à 2 salários mínimos.
São expressivos os percentuais dos que recebem de 2 a 3 (11%), de 3 a 5 (12%) e
de 5 a 10 (10%). Com 10 salários mínimos ou mais se encontra 5% da PEA.
Figura 18 - População economicamente ativa por rendimento, 2000
1%
18%
25%
11%
12%
10%
2%
1%
2%
18%
Sem rendimento
Até 1 salário mínimo
1 a 2 salários mínimos
2 a 3 salários mínimos
3 a 5 salários mínimos
5 a 10 salários mínimos
10 a 15 salários mínimos
15 a 20 salários mínimos
Mais de 20 salários mínimos
Sem declaração
106
Quadro 28 – População economicamente ativa (PEA) por classes de rendimentos, 2000Sem
rendimentoAté 1/4 salário mínimo
1/4 a 1/2
salário mínimo
1/2 a 3/4
salário mínimo
3/4 a 1 salário mínimo
1 a 1 1/2 salários mínimos
1 1/2 a 2 salários mínimos
2 a 3 salários mínimos
3 a 5 salários mínimos
5 a 10 salários mínimos
10 a 15 salários mínimos
15 a 20 salários mínimos
Mais de 20
salários mínimos
Sem declaração
Total
Região do Médio Paraíba
4.826 1.570 7.276 8.795 45.989 42.671 45.740 40.342 43.668 37.865 8.352 5.075 5.535 63.293 360.997
Barra do Piraí
663 159 1.049 950 5.913 4.960 4.999 4.631 4.838 3.358 760 343 363 7.505 40.491
Barra Mansa
577 270 1.428 1.682 10.326 9.091 9.998 9.202 10.121 7.261 1.431 1.088 1.150 12.928 76.553
Itatiaia 153 55 233 305 1.516 1.604 1.860 1.547 1.599 1.165 192 146 191 1.829 12.395 Pinheiral 152 42 176 224 1.190 1.021 924 840 1.043 745 143 113 50 2.141 8.804 Piraí 104 10 176 216 1.425 1.319 1.108 1.134 989 897 255 115 85 1.862 9.695 Porto Real
103 24 144 101 692 788 912 677 579 324 44 30 57 1.088 5.563
Quatis 14 18 101 136 782 642 763 673 543 362 82 51 53 891 5.111 Resende 991 222 1.178 1.404 5.522 5.666 6.484 5.457 6.727 6.552 1.497 995 1.163 7.261 51.119 Rio Claro 406 10 151 165 1.243 916 1.068 779 775 526 78 30 52 1.003 7.202 Rio das Flores
62 26 118 126 990 445 529 290 202 145 12 14 21 482 3.462
Valença 401 270 676 890 5.778 3.999 4.016 2.636 2.965 2.309 462 350 280 4.965 29.997 Volta Redonda
1.200 464 1.846 2.596 10.612 12.220 13.079 12.476 13.287 14.221 3.396 1.800 2.070 21.338 110.605
Fonte: CIDE, 2005
Apesar de uma diversidade de atividades econômicas, é o setor industrial, e
particularmente a indústria da transformação, que concentram grande número de
estabelecimentos e pode econômico expresso no PIB. É o setor que também
concentra maio consumo energético na Região, cuja a larga infra-estrutura de
energia parece estar orientada para atender as necessidades do mesmo. Em
termos de empregos o quadro muda, já que é no setor de serviços e comércio que
se encontra a maior parte dos empregos, que vem diminuindo de modo geral na
Região, só com alguns poucos municípios apresentando crescimento no período
1995-1999. Mesmo com queda, é Volta Redonda que concentra o maior percentual
de empregos. Em termos de rendimento, 43% ganham de 1 a 3 salários mínimos e
apenas 5% ganha de 10 salários mínimos em diante.
5.2.4. Condições ambientais Tomando como referência inicial para a apresentação de indicadores
sobre as condições ambientais da Região do Médio Paraíba, adotamos os dados do Perfil dos Municípios Brasileiros – Meio Ambiente 2002, publicado pelo IBGE em 2005). Este perfil retrata o estado do meio ambiente nos municípios brasileiros segundo a percepção do gestor ambiental municipal, considerando os fatores de pressão que agem sobre os recursos ar, água e solo. Este perfil, restrito aos municípios da Região do Médio Paraíba, é o eixo que norteia todo este item.
De acordo com a metodologia adotada para a pesquisa sobre o perfil do meio ambiente dos municípios brasileiros, os gestores a assinalaram a(s) ocorrência(s) de impacto observada(s) de forma freqüente no estado do meio ambiente local, mesmo que sua(s) causa(s) tivesse(m) origem fora dos contornos do município. De modo geral, as ocorrências se relacionavam aos últimos 24 meses que antecederam à coleta das informações (a maior parte da coleta ocorreu em meados de 2003), sendo que em duas situações, em que o processo de degradação notadamente demanda um período maior, o período da informação não foi explicitado, sendo estas: assoreamento de corpo d’água e contaminação do solo. Outra questão observado pela autora é que um problema assinalado por
109
grande número de municípios não significa que seja o de maior gravidade ou impacto, mas sim sua abrangência espacial.
Comparando os resultados da pesquisa com os resultados encontrados para
os municípios da Região, constatamos alguns aspectos relevantes relacionados as
condições ambientais.
Em relação as alterações ambientais relevantes que afetaram as condições
de vida (Quadro 29), enquanto 41% dos municípios brasileiros informaram que
estas vem ocorrendo, na Região esta informação atingiu a totalidade de municípios.
Em relação as ocorrências mais informadas pelos municípios, para o Brasil as de
maior destaque em ordem decrescente foram esgoto a céu aberto (46%),
desmatamento (45%), queimadas (42%), presença de vetor (40%) e contaminação
de rio, baia etc. (36%). Para a Região do Médio Paraíba em primeiro lugar se
destaca queimadas com 67%, sendo superior ao percentual de 46% informado pelos
municípios da Região Sudeste e que aparece como a primeira alteração ambiental
mais informada. Em segundo lugar, com 42%, as ocorrências deslizamento de
encostas, ocupação irregular e desordenada do território, poluição do ar e presença
de vetor de doenças. Em terceiro lugar, com 33%, desmatamento e contaminação
de rio, baia, etc.. Esgoto a céu aberto que ocupou primeiro lugar no percentual de
ocorrências para o Brasil, ficou atrás de escassez de água, poluição sonora, doença
endêmica e tráfego pesado em área urbana (25% das ocorrências cada uma destas)
na Região, com o mesmo percentual de 17% de outras alterações, como
contaminação do solo, inundação e presença de lixão. No Estado do Rio de Janeiro as causas mais observadas foram a contaminação de rios, baías, lagos, etc., com 65% dos municípios que informaram alteração ambiental que tenha afetado as condições de vida da população, vindo em seguida queimadas (61%) e ocupação irregular e desordenada do território (59%) (IBGE, 2005a).
Entre os municípios que relataram maior percentual de ocorrências de
alterações ambientais específicas (total de 17, excluindo-se B1 e B19), destaca-se
Barra do Piraí, relatando 76%. Em segundo vem Resende, com informando a
presença de 65% das alterações ambientais que afetaram as condições de vida.
Volta Redonda, informou 47% de ocorrências, estando em terceiro lugar e em quarto
lugar, a aparecem com 41% os municípios de Barra Mansa e Itatiaia.
109
Quadro 29: Alterações ambientais relevantes que afetaram as condições de vida
B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 B11 B12 B13 B14 B15 B16 B17 B18 B19 Total de respostas
simBarra do Piraí ● ○ ● ○ ● ● ○ ● ● ● ● ● ● ● ● ● ○ ○ ○ 13
Barra Mansa ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ● ○ ● ● ○ ● ● ○ ○ ○ 7
Itatiaia ● ○ ● ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ● ○ ○ ● ○ ○ ○ ● ● 7
Pinheiral ● ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ 4
Piraí ● ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ● ○ ○ ○ 4
Porto Real ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 2
Quatis ● ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ 3
Resende ● ○ ● ● ● ● ○ ○ ● ● ● ○ ○ ● ○ ● ○ ● ○ 11
Rio Claro ● ○ ○ ○ ○ ● ● ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ 5
Rio das Flores ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 2
Valença ● ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ 3
Volta Redonda ● ○ ● ● ● ○ ○ ○ ○ ○ ● ● ○ ○ ○ ● ○ ● ○ 8
Total de respostas
sim
12 0 4 2 5 4 3 2 3 5 5 3 2 5 2 8 0 3 1
Legenda: B1) O meio ambiente afetou as condições de vida humana. Alterações ambientais relevantes que afetaram as condições de vida: B2) contaminação de nascente ou de água subterrânea; B3) contaminação de rio, baia, lago, açude, represa, etc.; B4) contaminação de recurso do solo; B5) deslizamento de encosta; B6) desmatamento; B7) escassez de água (superficial e subterrânea); B8) inundação; B9) doença endêmica (cólera, dengue, febre amarela, malária, etc.); B10) ocupação irregular e desordenada do território; B11) poluição do ar; B12) poluição sonora; B13) presença de lixão na proximidade de área de ocupação humana; B14) presença de vetor (mosquitos, ratos, barbeiros, caramujos); B15) presença de esgoto céu aberto; B16) queimadas; B17) redução do estoque pesqueiro; B18) tráfego pesado em área urbana; B19) outras alterações ambientais relevantes nos últimos 2 anos. Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)
Conforme pode se verificar no Quadro 30, os impactos ambientais mais
informados pelos municípios foram poluição da água e alteração ambiental que
prejudicou a paisagem, correspondendo à 83% cada um. Assoreamento de corpo d
´água (75%), poluição do ar (67%), contaminação do solo (50%) e atividades que
contribuíram para degradação de áreas legalmente protegidas (42%) vieram na
sequência. Estes dados diferem dos observados para todo o país, em que para o
maior parte dos municípios informou assoreamento de corpo d’água (53%), vindo
em seguida poluição do recurso água (38%), alteração da paisagem (35%),
contaminação do solo (33%), poluição do ar (22%) e degradação de áreas
protegidas (20%) (IBGE, 2005a).Quadro 30: Impactos ambientais
Poluição do ar Poluição da água
Assoreamento de corpo d
´água
Contaminação de solo
Alteração ambiental que prejudicou a
paisagem
Atividades que
contribuíram para
degradação de áreas
legalmente protegidas
Total de respostas
sim
Barra do Piraí ● ● ● ● ● ○ 5
Barra Mansa ● ● ● ● ○ ○ 4
Itatiaia ● ● ● ● ● ○ 5
Pinheiral ○ ● ● ○ ● ○ 3
Piraí ○ ○ ● ○ ● ● 3
Porto Real ● ○ ○ ○ ● ○ 2
Quatis ○ ● ● ○ ● ○ 3
Resende ● ● ● ● ● ● 6
Rio Claro ○ ● ● ○ ● ● 4
Rio das Flores ● ● ○ ○ ● ● 4
Valença ● ● ● ● ● ● 6
Volta Redonda ● ● ○ ● ○ ○ 3
Total de respostas
sim
8 10 9 6 10 5
Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)Dentre os municípios que informaram estarem ocorrendo todos os impactos
ambientais destacam-se Resende e Valença. Barra do Piraí e Itatiaia informaram 5
dos 6 impactos (83%). Barra Mansa, Rio Claro e Rio das Flores informaram 4 dos 6
impactos (67%). Pinheiral, Piraí, Quatis e Volta Redonda informaram 50% dos
impactos ambientais. Porto Real foi o município que informou menor número de
impactos (2 em 6), correspondendo à 33%.
113
Dentre as atividades que mais contribuíram para a poluição da água (Quadro 31), o despejo de esgoto doméstico foi a ocorrência com maior percentual (75%).
Criação de animais, bem como resíduos sólidos e lixo responderam por 42% das
ocorrências, sendo identificadas como a segunda causa. Em terceiro lugar, com
33% aparecem despejos industriais e ocupação irregular de curso d´água. Dentre
as causas identificadas (B32 à B41), Resende foi o município que informou maior
percentual (50%), vindo em seguida Barra do Piraí, Barra Mansa, Itatiaia e Rio Claro
(40%). Despejo de esgoto doméstico foi a única atividade comum à estes 5
municípios.
Quadro 31: Atividades que contribuíram para a poluição da águaB31 B32 B33 B34 B35 B36 B37 B38 B39 B40 B41 B42 Total de
respostas sim
Barra do Piraí ● ○ ○ ● ○ ● ● ● ○ ○ ○ ○ 5
Barra Mansa ● ○ ○ ● ○ ○ ● ● ● ○ ○ ○ 5
Itatiaia ● ○ ○ ○ ○ ○ ● ● ● ● ○ ○ 5
Pinheiral ● ○ ○ ○ ○ ● ● ○ ○ ● ○ ○ 4
Piraí ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Porto Real ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Quatis ● ○ ○ ● ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ 3
Resende ● ○ ○ ● ● ● ● ● ○ ○ ○ ○ 6
Rio Claro ● ○ ○ ● ○ ○ ● ● ● ○ ○ ○ 5
Rio das Flores ● ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ 2
Valença ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ 2
Volta Redonda ● ○ ○ ○ ○ ● ● ○ ○ ○ ○ ○ 3
Total de respostas
sim
10 0 0 5 1 4 9 5 4 2 0 0
Legenda: B31) Poluição da água; B32) mineração/garimpo; B33) combustível e óleo; B34) criação de animais; B35) despejo de vinhoto; B36) despejo resíduos industriais; B37) despejo esgoto doméstico; B38) resíduos sólidos/lixo; B39) ocupação irregular curso d´água; 40) ocupação irregular áreas de lençóis subterrâneos; 41) por uso de agrotóxico ou fertilizante; 42) outros tipos.Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)
No Quadro 32, relacionado ao esgotamento sanitário na Região, observa-se
que na faixa de 75% ou mais de domicílios com acesso a rede coletora de esgoto
sanitário se encontram somente 4 municípios, sendo estes: Barra Mansa, Pinheiral,
Resende e Volta Redonda. Com exceção de Rio Claro (45,4%), todos os outros
113
114
municípios se encontram na faixa de 50% à 74%. Em relação ao percentual de
domicílios que utilizam fossa séptica, destacam-se Itatiaia (29,5%), Piraí (25,2) e
Barra do Piraí (23,3%). Em relação a fossa rudimentar, Rio Claro é o maior
destaque, com 10,9%. Barra do Piraí (14,3%) e Valença (14,1%) são os municípios
com maior percentual de domicílios ligados à valas. E, com lançamento de esgotos
diretamente em corpo receptor sem tratamento chama a atenção o quadro presente
nos municípios de Rio das Flores (34,9%), Rio Claro (24%), Quatis (16,6%) e Barra
Mansa (11%). Considerando esta situação, o esgotamento sanitário, e mais
particularmente o despejo de esgoto doméstico, surgem como atividades que
fortemente contribuem para a poluição da água na região, aumentando a carga
orgânica nos corpos d´água, particularmente no Rio Paraíba do Sul.
Quadro 32: Percentual de domicílios com acesso ao esgotamento sanitário
% domicílios com acesso rede
coletora de esgoto sanitário % fossa séptica
% fossa rudimentar
% ligados à valas
% lançado diretamente em corpo
receptor sem tratamento
Região do Médio ParaíbaBarra do Piraí 52,0 23,3 5,9 14,3 5,1
Barra Mansa 75,0 2,8 0,8 10,0 11,0
Itatiaia 59,9 29,5 4,0 2,1 4,2
Pinheiral 82,1 4,1 3,4 4,6 5,5
Piraí 59,5 25,2 3,4 7,2 4,1
Porto Real 72,3 14,8 0,5 10,5 1,5
Quatis 73,5 2,6 1,0 5,8 16,6
Resende 85,3 9,4 1,0 1,4 2,5
Rio Claro 45,4 7,7 10,9 11,4 24,0
Rio das Flores 52,4 6,2 1,7 4,7 34,9
Valença 73,8 4,3 1,4 14,1 6,4
Volta Redonda 93,6 1,3 0,6 1,9 2,5
Fonte: CIDE, 2005
Ainda em relação às atividades que contribuíram para a poluição da água
criação de animais e resíduos sólidos e lixo são identificadas como atividades
poluidoras da água (42% das ocorrências). No que se refere a criação de animais,
Gruben e col. (2002) observam que mais de 70% da cobertura vegetal da bacia do
Paraíba do Sul se encontra para campos e pastagens e a criação de gado leiteiro
em regime extensivo é a de maior importância econômica na região. No que se
refere aos resíduos sólidos e lixo, o Quadro 33 demonstra que na Região são
produzidas 696 toneladas/dia de resíduos sólidos por dia, sendo 39% só no
município de Volta Redonda, vindo em segundo e terceiro lugares Barra Mansa
114
115
(17%) e Resende (15%). Em relação ao destino do lixo, constata-se que das 56
unidades identificadas, que 64% são lançados em vazadouros a céu aberto, sendo o
único destino em metade dos municípios (Barra do Piraí, Pinheiral, Piraí, Rio Claro,
Rio das Flores e Valença). Estes dados significam que 185 toneladas/dia,
equivalente à 24% do total de resíduos sólidos coletados diariamente na região, são
dispostos sobre Local utilizado para disposição do lixo sobre terrenos, sem qualquer
cuidado ou técnica especial que implique em medidas que protejam o meio ambiente
ou à saúde pública, ao contrário dos aterros sanitários.
Quadro 33 – Total de resíduos sólidos coletados e destino do lixo nos municípios da Região do Médio Paraíbatotal de
resíduos sólidos coletados
(toneladas/dia)
Vazadouros a céu aberto
Aterro controlado
Aterro sanitário
Aterro de resíduos especiais
Barra do Piraí 85 5 - - -
Barra Mansa 130 10 - - 1
Itatiaia 13 2 - - 1
Pinheiral 32 1 - - -
Piraí 18 4 - - -
Porto Real 10 - 1 - 1
Quatis 18 - - 3 -
Resende 115 - - 10 -
Rio Claro 10 5 - - -
Rio das Flores 10 3 - - -
Valença 30 6 - - -
Volta Redonda 300 - 2 - 1
Total 771 36 3 13 4
Fonte: CIDE, 2005
Em relação ao despejo de resíduos industriais, que no Quadro 31 surge
como ocorrência presente em 33% das atividades identificadas, chama a atenção o
fato de ser reconhecido e identificado neste relatório que o setor secundário é o de
maior importância na Região, sendo a atividade industrial considerada a mais crítica.
Gruben e col. (2002) observam que a maior parte da carga poluente é lançada entre
Barra Mansa e Volta Redonda, sendo a CSN a principal poluidora, além de outras
indústrias dos setores químico e metalúrgico. Os setores alimentício e de produção
de papel e celulose também contribuem, porém em menor escala. Ainda de acordo
com as autoras, “O Programa Estadual de Investimento (Projeto Qualidade das
Águas e Controle da Poluição Hídrica/Rio de Janeiro – PQA/RJ), no seu diagnóstico
de poluição industrial, identificou 44 empresas como responsáveis por mais de 80%
da poluição total no trecho fluminense da bacia, onde a CSN se destaca,
‘contribuindo’ com cerca de 60% da vazão efluente.”
115
116
No Plano de Ação para o Sistema de Alerta de Qualidade da Água da Bacia
do Paraíba do Sul, da Agência Nacional de Águas (ANA), é apresentado o
levantamento dos principais empreendimentos identificados como potencialmente
perigosos em termos ambientais para a Bacia do Paraíba do Sul, conforme pode se
verificar no Quadro 34. Grande parte das indústrias se encontram concentradas
nos municípios de de Resende, Barra Mansa e Volta Redonda, na proximidade das
margens do Rio Paraíba do Sul. Assim, parece não fazer sentido que o gestor
ambiental de Volta Redonda não tenha apontado o despejo de resíduos industriais
como uma das atividades que poluem as águas, ainda mais se considerando que o
município não só concentra grande número de industriais, como a que é identificada
como a mais poluidora da Região, no caso a CSN.
116
117
Quadro 34 – Levantamento das fontes potencialmente poluidoras identificadas no sistema de alerta da qualidade da água – ANA, 2003
METALURGICA BARRA DO PIRAI LTDA
Barra do Pirai Fabricaçao de Embalagens Metálicas
QUIMICA INDUSTRIAL BARRA DO PIRAI LTDA
Barra do Pirai Fabricaçao de Outros Produtos Inorgânicos
QUIMICA INDUSTRIAL BARRA DO PIRAI LTDA
Barra do Pirai Fabricaçao de Outros Produtos de Minerais Nao-Metalicos
QUIMVALE QUIMICA INDUSTRIAL VALE DO PARAIBA LTDA
Barra do Pirai Fabricaçao de Outros Produtos Inorgânicos
THYSSEN FUNDICOES LTDA Barra do Pirai Fabricaçao de Pecas Fundidas de Ferro e Aco
COOPERATIVA AGRO PEC.DE B.MANSA LTDA
Barra Mansa Preparaçao do Leite
DU PONT DO BRASIL S/A Barra Mansa Fabrç. de Outros Produtos Quimicos nao Especificados ou nao Classificados
GRIFFIN DO BRASIL LTDA Barra Mansa Fabrç. de Outros Produtos Quimicos nao Especificados ou nao Classificados
NESTLE BRASIL LTDA Barra Mansa Fabricaçao de Produtos do LaticínioSAINT-GOBAIN CANALIZACAO S.A Barra Mansa Fabricaçao de Outros Tubos de Ferro e
AcoSIDERURGICA BARRA MANSA S.A Barra Mansa Produçao de Laminados Nao-Planos de
AcoRECICLAN RECICLAGEM DE RESÍDUOS SIDERURGICOS LTDA
Barra Mansa Não definido
INSTITUTO BIOCHIMICO LTDA Itatiaia Fabricaçao de Medicamentos para Uso Humano
XEROX DO BRASIL LTDA Itatiaia Fabrç. de Máquinas de Escrever e Calcular, Copiadoras e Outros Equi...
SCHWEITZER-MAUDUIT DO BRASIL S.A
Pirai Fabricaçao de Papel
CIA INDUSTRIAL DE PAPEL PIRAHI Piraí Não definidoPEUGEOT CITROEN DO BRASIL S.A Porto Real Fabricaçao de Automoveis, Camionetas
e UtilitariosCARBOOX RESENDE QUIMICA IND. E COM. LTDA
Resende Fabricaçao de Outros Produtos de Minerais Nao-Metalicos
CONFECCAO INDUSTRIAL FERNANDA LTDA
Resende Confecçao de Roupas Profissionais
COOP AGRO PEC MUN RESENDE RESP LTDA
Resende Fabricaçao de Produtos do Laticínio
CYANAMID AGRICULTURA DO BRASIL LTDA
Resende Fabricaçao de Herbicidas
LATICINIOS PEDRA SELADA LTDA Resende Fabricaçao de Produtos do LaticínioNOVARTIS CONSUMER HEALTH LTDA (RESENDE)
Resende Fabricaçao de Outros Produtos Alimentícios
SEAGRAM DO BRASIL INDUSTRIA E COMERCIO LTDA
Resende Fabrç., Retificaçao, Homogeneizaçao e Mistura de Aguardentes e Outr...
SOCIEDADE MICHELIN DE PAR IND E COM LTDA
Resende Fabricaçao de Pneumaticos e de Camaras-De-Ar
CLARIANT S.A Resende Não definidoMETALURGICA PROAÇO Resende Não definidoCOOP. DOS PROD.DE LEITE DE CONSERVATORIA
Valenca Preparaçao do Leite
CIA ESTANIFERA DO BRASIL Volta Redonda Metalurgia de Outros Metais Nao-Ferrosos e Suas Ligas
CIMENTO TUPI S/A V.R. Volta Redonda Fabricaçao de CimentoCOMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL
Volta Redonda Produçao de Laminados Planos de Aço
COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL
Volta Redonda Fabrç. de Estruturas Metalicas para Edificios, Pontes, etc.
SOBREMETAL RECUPERACAO DE METAIS LTDA
Volta Redonda Reciclagem de Sucatas Metalicas
TUPI MASSA S.A Volta Redonda Fabrç. de Artefatos de Concreto, Cimento, Fibrocimento, Gesso etc.
CIA ESTANÍFERA DO BRASIL Volta Redonda Não definido
117
118
Dentre as atividades que mais contribuíram para alteração ambiental que
prejudicou a paisagem9 (Quadro 35), a erosão do solo foi a mais apontada pelos
municípios (67%), sendo seguida por desmatamento e ocupação irregular e
desordenada do solo, ambas com 58%. Empreendimento imobiliário aparece em
terceiro lugar, com 33%. Em relação aos municípios que relataram maior percentual
de atividades identificadas (B61 à B69), destacam-se Resende, Rio Claro e Valença,
com 44%. Pinheiral, Quatis e Rio das Flores ocupam o segundo lugar em termos de
atividades identificadas, com 33%. O desmatamento foi a única atividade comum
informada por estes 6 municípios.Quadro 33: Atividades que contribuíram para alteração ambiental que prejudicou a
paisagemB60 B61 B62 B63 B64 B65 B66 B67 B68 B69 B70 Total de
respostas sim
Barra do Piraí ● ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ 2
Barra Mansa ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ● ○ 2
Itatiaia ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ● ○ 3
Pinheiral ● ○ ○ ○ ○ ● ● ○ ○ ● ○ 4
Piraí ● ○ ○ ○ ● ○ ● ○ ○ ○ ○ 3
Porto Real ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ● ○ ○ 3
Quatis ● ○ ○ ● ○ ● ● ○ ○ ○ ○ 4
Resende ● ○ ○ ○ ○ ● ● ● ○ ● ○ 5
Rio Claro ● ○ ○ ○ ○ ● ● ○ ● ● ○ 5
Rio das Flores ● ○ ○ ○ ○ ● ● ○ ○ ● ○ 4
Valença ● ○ ○ ○ ○ ● ● ● ○ ● ○ 5
Volta Redonda ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Total de respostas
sim
10 0 0 1 1 7 8 4 2 7 0
Legenda: B60) Alteração ambiental que prejudicou a paisagem; B61) aterro espelho d´água; B62) por atividade de garimpo; B63) por atividade de extração mineral; B64) por atividade de construção de infra-estrutura; B65) por desmatamento; B66) por erosão do solo; B67) por empreendimento imobiliário; B68) por obra de infra-estrutura viária; B69) por ocupação irregular e/ou desordenada do solo; B70) por outros motivos.Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)
De acordo com Gruben e col. (2002), no período Pré-Colonial a Região era
ocupada por Índios e os vestígios encontrados indicam uma ocupação de mais de 9 De acordo com o glossário da publicação do IBGE (2005a) que trata do perfil ambiental dos municípios e que serviu de base para os dados aqui apresentados, paisagem se refere ao conjunto dos atributos naturais e antrópicos de um local, incluindo a vegetação (cobertura vegetal), os solos, a hidrografia, o relevo, a geologia, a geomorfologia, as atividades econômicas, a ocupação humana etc. A paisagem pode se reportar tanto ao conjunto de todo os atributos quanto apenas a um (ou alguns) deles (exemplos: paisagem humana, paisagem vegetal etc.).
118
119
1000 anos. A alteração da paisagem inicia a ocorrer de modo mais sistemático com
o Ciclo do Ouro no século XVIII e o Ciclo do Café no século XIX. Com o Ciclo do
Ouro, áreas da Região foram desbravadas por bandeirantes, em busca da
mineração do ouro nas Minas Gerais, com todo o Vale do Paraíba adquirindo
importância estratégica como corredor comercial, ocorrendo a construção das
primeiras estradas e formação de pequenos povoados que serviram de suporte aos
comerciantes (TCE, 2005; Gruben e col., 2002). Com o Ciclo do Café, que marcou a
economia brasileira no século XIX, a paisagem foi profundamente alterada pelo forte
impacto deletério que este cultivo teve sobre a Mata Atlântica, especialmente no
Vale do Paraíba (Pádua, 2000), contribuindo para que na atualidade só reste 7% da
floresta original e 36% das espécies de plantas endêmicas (Pimm & Jenkins, 2005).
O cultivo do café representou o início de um amplo processo de
desflorestamento e ocupação do Vale do Paraíba, resultando em profundas
mudanças na paisagem da região. Pádua (2000) cita uma testemunha do final do
século XIX, que observou que para cada hectare que se pretendia abrir para
lavoura, eram destruídos de cinco à dez pelo fogo descontrolado, que atingia a
cidade do Rio de Janeiro com a fumaça das queimadas levada pelos ventos. O
cultivo predatório no Vale do Paraíba, que destruíra grandes extensões de floresta e
que se deu preferencialmente nas encostas dos morros, resultou esgotamento do
solo para lavouras, em desequilíbrios climáticos e na extinção de florestas primárias.
Assiste-se a partir daí a decadência econômica da região, que passou a ter como
principais atividades econômicas a pecuária de corte e a produção de leite,
contribuindo para degradar ainda mais a mesma, e como uma das conseqüências a
migração da população rural para as áreas urbanas (Pádua, 2000; Grunber e col.,
2002; TCE, 2005).
Este processo de ocupação da região resultou já no século XIX em profundas
mudanças na paisagem, contribuindo para que na atualidade, conforme verificamos
no mapa do uso e cobertura do solo no Estado do Rio de Janeiro (Figura 10), o
reduzido percentual de áreas de florestas, predominando vegetação primária em
Itatiaia e Resende (sendo contínua) e um pequeno percentual em Rio Claro. No
mapa e no Quadro 12 chama a atenção o fato de uma vasta área que envolve 9
municípios não possuir nenhum ou baixíssimo percentual de áreas de florestas.
No mapeamento realizado no período 1956/1975, pelo IBGE, no que
concerne as florestas primárias e secundárias antigas do Estado, Rio Claro se
119
120
encontrava entre os municípios com maior área total e Piraí entre os com maiores
percentuais de sua coberta por florestas (51,07%). Em 2001, Índice de Qualidade do
Uso do Solo e da Cobertura Vegetal (IQM-Verde, 2005), revela que Piraí se
encontrava entre os municípios onde ocorreram os maiores desmatamentos em
termos de área total (8.803 hectares) e também em termos percentuais (11,74%).
Por outro lado, o IQM-Verde (2005) também revela que, embora ainda não
devidamente analisado, verifica-se em alguns municípios uma expansão da área
com cobertura vegetal. Em Resende identificou-se uma expansão de 21,64%,
podendo estar associado à uma dinâmica de regeneração natural da vegetação,
decorrente de aspectos como por exemplo, êxodo rural, abandono de áreas
agrícolas e política ambiental.
Ainda de acordo com os dados do IQM-Verde (2005), a região abriga um dos
blocos de florestas do Estado, situada no Parque Nacional de Itatiaia e envolve os
municípios de Itatiaia e Resende. No restante da região, a cobertura florestal é
composta por inúmeros fragmentos florestais de vegetação primária e secundária
(áreas em verde escuro verde claro na Figura 10). Além de alterações na paisagem
o desmatamento e o posterior processo de fragmentação de florestas traz consigo a
modificação da estrutura da vegetação, o empobrecimento das espécies animais e
vegetais, a alteração na diversidade genética e composição de espécies em várias
localidades, além de uma maior vulnerabilidade de animais e plantas de cada
fragmento, que podem minguar até a extinção, bem como em relação às espécies
invasoras (Lopes, 2004; Pimm & Jenkins, 2005).
Em relação as atividades que contribuíram para o assoreamento10 de corpos d
´água (Quadro 36), degradação da mata ciliar e desmatamento foram as que
registraram maior percentual de ocorrências entre os municípios (58%). A erosão
e/ou deslizamento de encostas ocupa o segundo lugar em termos percentuais (50%)
e se encontra diretamente relacionado às outras duas anteriores. Barra do Piraí,
Piraí, Quatis e Resende foram os municípios que registraram o maior percentual
(67%) de ocorrências específicas relacionadas ao assoreamento (B44 à B49).
A degradação da mata ciliar, assim como a erosão e o deslizamento de
encostas não podem ser dissociadas do intenso processo de desmatamento
10 De acordo com o texto do IBGE (2005b) sobre o assoreamento, este deve ser “... entendido, genericamente, como a obstrução do corpo d’água pelo acúmulo de substâncias minerais (areia, argila, etc.) ou orgânicas (lodo), provocando a redução de sua profundidade e da velocidade de sua correnteza. Quando ocorre, o assoreamento de um corpo d’água (baía, lagoa, rio, etc.) pode dificultar o tráfego de embarcações, trazer prejuízos à atividade pesqueira e acentuar os efeitos das inundações, principalmente sobre as populações ribeirinhas, quando do excesso de precipitações.”.
120
121
ocorrido na região e que envolve um conjunto de ações humanas, como o
sobrepastoreio, o uso inadequado dos solos, construções de estradas, etc., que
alteram os padrões de drenagem e aumentam o processo de sedimentação (Tundisi
& Tundisi, 2005; IBGE, 2005).
Dentre
as atividades que contribuíram para a poluição do ar (Quadro 37), as atividades
industriais, as queimadas e os veículos automotores responderam cada uma por
50% das ocorrências da região. Dentre os municípios que apresentaram maior
percentual de ocorrências relacionadas à poluição do ar (B21 à B29), Barra do Piraí
se destacou, com 44%. Resende, Itatiaia, Porto Real e Volta Redonda ocuparam
conjuntamente o segundo lugar, com 33% de ocorrências relacionadas a poluição do
ar.
As atividades industriais como fontes fixas de poluição atmosférica foram
relatadas pelos municípios mais industrializados da região, como Volta Redonda,
Quadro 36: Atividades que contribuíram para o assoreamento de corpo d´água
B43 B44 B45 B46 B47 B48 B49 B50 Total de respostas
simBarra do Piraí ● ● ○ ● ● ● ○ ○ 5
Barra Mansa ● ● ○ ● ○ ● ○ ○ 4
Itatiaia ● ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ 2
Pinheiral ● ● ○ ● ● ○ ○ ○ 4
Piraí ● ○ ○ ● ● ● ○ ● 5
Porto Real ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Quatis ● ○ ○ ● ● ● ● ○ 5
Resende ● ● ○ ● ● ● ○ ○ 5
Rio Claro ● ○ ○ ○ ● ● ○ ○ 3
Rio das Flores ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Valença ● ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ 2
Volta Redonda ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Total de respostas
sim
9 4 0 7 7 6 1 1
Legenda: B43) Assoreamento de corpo d´água; B44) aterro das margens; B45) atividade de mineração/garimpo; B46) degradação da mata ciliar: B47) desmatamento; B48) erosão e/ou deslizamento de encostas; B49) expansão de atividade agrícola; B50) outra causa de asseroamento.Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)
121
122
Resende, Porto Real, Itatiaia, Barra Mansa e Barra do Piraí. As queimadas como
fontes difusas constituem prática tradicional na agro-pecuária que consiste em atear
fogo a culturas, pastagens e à vegetação nativa, de modo a preparar o terreno tanto
para a atividade agrícola, como para a renovação de pastagens, apresentando
impactos sobre os solos, a vegetação, a biodiversidade e a qualidade do ar (IBGE,
2005b). Os veículos automotores como fontes móveis lançam na atmosfera uma
série de poluentes com efeitos locais, regionais e mesmo globais.
Quadro 35: Atividades que contribuíram para a poluição do arB20 B21 B22 B23 B24 B25 B26 B27 B28 B29 B30 Total de
respostas sim
Barra do Piraí ● ○ ● ○ ○ ● ● ○ ● ○ ○ 5
Barra Mansa ● ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ 3
Itatiaia ● ○ ● ○ ○ ○ ● ○ ● ○ ○ 4
Pinheiral ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Piraí ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Porto Real ● ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ ● ● ○ 4
Quatis ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Resende ● ○ ● ○ ○ ○ ● ○ ● ○ ○ 4
Rio Claro ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Rio das Flores ● ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ 2
Valença ● ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ 2
Volta Redonda ● ○ ● ○ ○ ○ ● ○ ● ○ ○ 4
Total de respostas
sim
8 0 6 0 0 1 6 0 6 1 0
Legenda: B20) Poluição do ar; B21) atividade agropecuária; B22) atividade industrial; B23) incineração de lixo; B24) mineração; B25) odores de lixo; B26) queimadas; B27) termoelétrica; B28) veículos automotores; B29) vias pavimentadas; B30) outros tipos.Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)
No Quadro 38, podemos constatar que tendo como referência os veículos
movidos a combustíveis fósseis (gasolina e diesel), Volta Redonda (36%), Barra
Mansa (17%) e Resende (15%) concentram quase 70% de toda a frota, constituída
predominante de veículos à gasolina.
122
123
Contaminação do solo (Quadro 39) teve como principais atividades
identificadas como causadoras a pecuária e os sumidouros (25% ambos), vindo em
seguida o chorume (17%). Os municípios que registraram maior percentual de
ocorrências causadoras da contaminação do solo (B52 à B58) foi Resende, com
57%. Barra do Piraí e Itatiaia registraram 43% das atividades; e Barra Mansa,
Valença e Volta Redonda 29%. Importante observar que Barra Mansa, Itatiaia e
Volta Redonda possuem unidades para deposição de resíduos especiais.
A pecuária vem contribuído para a degradação do solo nas extensas áreas de
campos e pastagens que existem na região. Os sumidouros e chorume se
relacionam aos problemas de saneamento ainda encontrados na Região do Médio
Paraíba. Um grande percentual de domicílios, situados na maioria dos municípios,
não possuem acesso a rede coletora de esgoto sanitário, sendo a utilização de
fossas, e por conseguinte sumidouros, comuns. O chorume gerado a partir da
decomposição da matéria orgânica existente no lixo já é um problema nos aterros
sanitários e se apresenta de modo mais grave nos vazadouros a céu aberto, que
constituem a maioria das unidades onde é lançado o lixo da região e não
apresentam nenhum tratamento visando à proteção ambiental.
Quadro 38 - Total da frota de veículos a gasolina e a diesel (maio de 2005)
MunicípiosGasolina Diesel Total de
Veículos
Região do Médio Paraíba 130.204 15.116 145.317
Barra do Piraí 14.229 3.302 17.531
Barra Mansa 23.789 3.334 27.123
Itatiaia 3.259 457 3.716
Pinheiral 1.563 184 1.744
Piraí 3.494 743 4.237
Porto Real 1.866 395 2.261
Quatis 1.696 424 2.120
Resende 20.424 1.729 22.153
Rio Claro 1.302 175 1.477
Rio das Flores 1.043 128 1.171
Valença 8.578 562 9.140
Volta Redonda 48.961 3.683 52.644
Fonte: Detran, maio de 2005
123
124
Em
relação às áreas legalmente protegidas (Quadro 40), que são consideradas áreas
com características naturais relevantes e são compostas por unidades de
conservação da natureza e as áreas de preservação permanente, tiveram como
principal ocorrência causadora registrada nos municípios as queimadas (42%),
seguidas pelo desmatamento e a extração vegetal (25% ambas). Estas três causas
apontadas de algum modo ainda mantêm continuidade com as primeiras formas de
ocupação da região, principalmente a partir do século XIX, quando queimadas,
desmatamento e extração vegetal compunham o eixo das atividades econômicas.
Dentre os municípios que identificaram maior percentual de ocorrências
identificadas como causadoras da degradação das áreas legalmente protegidas
(B72 à B81), destaca-se Resende com 60%. Piraí e Rio Claro ocupam
Quadro 39: Atividades que contribuíram para a contaminação do soloB51 B52 B53 B54 B55 B56 B57 B58 B59 Total de
respostas sim
Barra do Piraí ● ○ ● ○ ● ○ ○ ○ ○ 3
Barra Mansa ● ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ 2
Itatiaia ● ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ● 3
Pinheiral ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Piraí ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Porto Real ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Quatis ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Resende ● ○ ● ○ ● ● ○ ● ○ 5
Rio Claro ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Rio das Flores ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Valença ● ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ 2
Volta Redonda ● ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ 2
Total de respostas
sim
6 0 3 2 3 1 0 1 1
Legenda: B51) Contaminação do solo; B52) extração mineral; B53) atividade pecuária; B54) chorume; B55) sumidouros; B56) resíduos tóxicos e/ou metais pesados; B57)resíduos de unidades de saúde; B58) uso de fertilizantes e agrotóxicos; B59) outros tipos.Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)
124
125
conjuntamente o segundo lugar em termo de registro de ocorrências, com 40% cada
um.
Quadro 40: Atividades que contribuíram para degradação de áreas legalmente protegidasB71 B72 B73 B74 B75 B76 B77 B78 B79 B80 B81 B82 Total de
respostas sim
Barra do Piraí ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Barra Mansa ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Itatiaia ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Pinheiral ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Piraí ● ○ ● ○ ○ ● ○ ● ● ○ ○ ○ 5
Porto Real ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Quatis ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Resende ● ○ ● ● ○ ● ● ○ ● ● ○ ○ 7
Rio Claro ● ○ ○ ● ○ ○ ● ○ ● ● ○ ○ 5
Rio das Flores ● ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ 3
Valença ● ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ● ○ ○ ○ 3
Volta Redonda ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Total de respostas
sim
5 0 2 3 0 2 3 1 5 2 0 0
Legenda: B71) Degradação de áreas legalmente protegidas; B72) por atividade de extração mineral; B73) por caça/animais; B74) por desmatamento; B75) por disposição de resíduos sólidos; B76) extração vegetal; B77) por extração vegetal; B78) por ocupação irregular de áreas frágeis; B79) por extração vegetal ou pesca não autorizada; B79) por queimadas; B80) por uso da agropecuária; B81) por uso turístico excessivo; B82) por outros motivos.Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)
O conjunto de impactos ambientais apresentados e suas causas contribuem
para criar um ciclo de retro-alimentação em que as atividades econômicas que estão
na origem das ocorrências ao contribuírem para impactar o ambiente, acabam
resultando em prejuízos para as próprias atividades econômicas em um ciclo de não
sustentabilidade ambiental. Por exemplo, no Quadro 41, podemos observar que
impactos ambientais como erosão (B96) e esgotamento do solo (B97) são
identificados como os que mais contribuem para prejudicar a atividade agrícola, que
por sua vez é uma das atividades econômicas que vem contribuindo exatamente
para tais impactos. No Quadro 42, constatamos que esgotamento do solo e
poluição da água são impactos que contribuem para prejudicar a atividade pecuária
125
126
que enquanto atividade econômica, por sua vez, contribui exatamente para estes
ocorram.
Quadro 41: Atividades que contribuíram para prejudicar a atividade agrícola devido a problema ambiental
B93 B94 B95 B96 B97 B98 B99 B100 B101 B102 B103 Total de resposta
s simBarra do Piraí ○ ○ ○ ● ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ 2
Barra Mansa ○ ○ ○ ● ○ ● ○ ○ ● ○ ○ 3
Itatiaia ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Pinheiral ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Piraí ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Porto Real ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Quatis ○ ○ ● ● ● ● ○ ○ ○ ○ ○ 4
Resende ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Rio Claro ○ ○ ● ● ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ 3
Rio das Flores ○ ○ ○ ● ● ○ ○ ● ○ ○ ○ 3
Valença ○ ○ ● ● ● ○ ○ ● ● ● ○ 6
Volta Redonda ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Total de respostas
sim
0 0 3 6 4 2 1 2 2 1 0
Legenda: B93) Prejuízo na atividade agrícola devido a problema ambiental; B94) por extração mineral; B95) por compactação do solo; B96) por erosão do solo; B97) por esgotamento do solo; B98) por escassez da água; B99) por poluição da água; B100) por processo de desertificação; B101) por proliferação de pragas; B102) por salinização do solo; B103) outras causas.Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)
126
127
Em um quadro síntese dos impactos, suas causas e dos municípios que
apontaram maior percentual de causas (Quadro 43), podemos constatar que foram
identificados pelos gestores, como principais causas de poluição das águas e
contaminação do solo, aspectos relacionados ao saneamento (esgotos e lixo), bem
como a pecuária e a criação de animais. Desmatamentos, queimadas e processos
de erosão, incluindo deslizamentos, surgem como causas presentes na alteração da
paisagem, na degradação de áreas protegidas e no assoreamento dos corpos d
´água. Para a poluição do ar, além das queimadas (fontes difusas) que constituem
sério problema ambiental na região, surgem fontes fixas (indústrias) e móveis
(veículos motores), associados ao processo de urbanização e industrialização.
Quadro 42: Atividades que contribuíram para prejudicar a atividade pecuária devido a problema ambiental
B104 B105 B106 B107 B108 B109 Total de respostas
simBarra do Piraí ○ ○ ○ ● ○ ○ 1
Barra Mansa ○ ● ○ ○ ○ ○ 1
Itatiaia ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Pinheiral ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Piraí ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Porto Real ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Quatis ○ ● ○ ○ ○ ○ 1
Resende ● ○ ○ ○ ○ ● 2
Rio Claro ● ○ ○ ○ ○ ○ 1
Rio das Flores ● ○ ○ ○ ○ ○ 1
Valença ● ○ ○ ○ ○ ○ 1
Volta Redonda ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0
Total de respostas
sim
4 2 0 1 0 1
Legenda: B104) Prejuízo na atividade pecuária devido a problema ambiental; B105) por esgotamento do solo; B106) por escassez da água; B107) devido a poluição da água; B108) devido a desertificação; B109) por outras causas.Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)
127
128
Quadro 43 - Impactos ambientais, causas mais apontadas para a ocorrência do impacto e municípios com maior proporção de causas apontadas
Impacto ambiental (proporção de municípios na Região do
Médio Paraíba)
Causas mais apontadas para a ocorrência do impacto ambiental
Municípios com maior proporção de causas apontadas para a ocorrência
do impacto ambiental
Poluição da água (83%) Despejo de esgoto doméstico (75%)
Criação de animais (42%)
Resíduos sólidos e lixo (42%)
Resende (50%)
Barra do Piraí, Barra Mansa, Itatiaia e Rio Claro (40%)
Alteração ambiental que prejudicou a paisagem (83%)
Erosão do solo (67%)
Desmatamento (58%)
Ocupação irregular e desordenada do solo (58%)
Resende, Rio Claro e Valença (55%)
Assoreamento de corpo d´água (75%)
Degradação da mata ciliar (58%)
Desmatamento (58%)
Erosão e/ou deslizamento de encostas (50%)
Barra do Piraí, Piraí, Quatis e Resende (67%)
Poluição do ar (67%) Atividades industriais (50%)
Queimadas (50%)
Veículos automotores (50%)
Barra do Piraí (44%)
Resende, Itatiaia, Porto Real e Volta Redonda (33%)
Contaminação de solo (50%) Pecuária (25%)
Sumidouros (25%)
Chorume (17%)
Resende (57%)
Barra do Piraí e Itatiaia (43%)
Atividades que contribuíram para degradação de áreas legalmente protegidas (42%)
Queimadas (42%)
Desmatamento (25%)
Extração vegetal (25%).
Resende (60%)
Piraí e Rio Claro (40%)
Ao se tentar traçar um quadro das condições ambientais da Região do Médio
Paraíba numa perspectiva ecossistêmica, podemos considerar que dois grandes
processos se sobrepõem.
O primeiro processo envolve uma duração de dois séculos (XIX e XX) e tem
sua origem principalmente no Ciclo do Café, prosseguindo com a criação de gado e
produção de leite que se seguiu ao mesmo. O que caracteriza este processo é sua
característica extensiva em termos de produção econômica e de degradação
128
129
ambiental da região, tendo como principais elementos os desmatamentos e as
queimadas que contribuíram para destruir grande parte da floresta existente e sua
biodiversidade, afetando de modo geral a diversidade de serviços oferecidos pelos
ecossistemas. Este processo destrutivo contribuiu para a redução de alguns dos
serviços fornecidos pelas mesmas, como regulação da qualidade do ar, do fluxo das
águas e do clima, diminuindo também seu potencial para prevenir a erosão do solo e
reduzir as possibilidades de deslizamentos. A degradação e o empobrecimento do
solo, frutos de um longo processo de danos e degradação ambiental são indicativos
da perda de vigor e resiliência na região. Se em meados do século XIX, como
resultado do Ciclo do Café, o solo já iniciava a apresentar sinais de esgotamento, a
expansão da criação de gado leiteiro e das atividades agrícolas, ainda que não
representem a base da atividade econômica, intensificaram a degradação do solo e
acabam por representar importantes fontes de poluição dos solos e das águas
(Gruben e col., 2002)
O segundo processo tem suas origens no fim do Ciclo do Café e no pouco
desenvolvimento das atividades econômicas assentadas na área rural. O processo
de industrialização iniciado na década de 30 e intensificado a partir da II Guerra
Mundial, com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em 1946 no
município de Volta Redonda, instalado em 1954, tanto contribuiu para uma
migração da população rural para áreas urbanas, como para a estruturação da
economia da região no setor secundário, particularmente na Indústria da
Transformação. Como observam Gruben e col. (2002), a bacia do Paraíba do Sul
não só permitia a integração econômica entre Rio de Janeiro e São Paulo, mas
tornou-se um dos eixos da industrialização por conta das condições sócio-
ambientais que oferecia, como “suprimento de água, energia suficiente, mercado
consumidor e fácil escoamento da produção”. Neste caso, o PIB que é um indicador
econômico, pode também ser utilizado como um indicador de depleção de recursos
naturais, já que quanto maior a taxa de crescimento maior o índice de destruição
destes recursos e das condições ambientais. A Indústria da Transformação
responde por 60,5% do PIB da Região, estando concentrada nos municípios de
Volta Redonda (49,11%), vindo em seguida Resende (16,49%), Porto Real (12,60%)
e Barra Mansa (12,38%), todos municípios com percentual de área urbana que não
ultrapassa 25% do total, mas que tem sua população concentrada exatamente
nestas áreas.
129
130
Dois aspectos devem ser observados em relação ao tipo de desenvolvimento
econômico ocorrido na Região do Médio Paraíba, que não pode ser dissociado da
criação da CSN logo após o final da II Guerra Mundial que simboliza tanto o modelo
de desenvolvimento econômico associado à uma aceleração da integração de
mercados em direção ao processo de globalização, como de apropriação intensiva
dos recursos naturais resultando em crescente degradação ambiental e ineqüidades
sociais.
O primeiro aspecto é o débito ecológico e social do modelo de
desenvolvimento econômico adotado na Região do Médio Paraíba, que tem início no
Ciclo do Café no século XIX, e no processo de industrialização principalmente a
partir da II Guerra Mundial, tem grande parte da sua razão de ser para atender o
mercado internacional. A CSN, na atualidade simboliza bem isto. Maior exportadora
da região e uma das maiores do estado e do país em termos de PIB, se caracteriza
por ser uma indústria intensiva em recursos naturais, de modo que contribui para
que o custo ambiental da produção e de seus resíduos, ao mesmo tempo que
ultrapassa as fronteiras ambientais da cidade de Volta Redonda, acaba por afetar de
modo mais intenso a região, ficando no estado e no país. Como observa Libânio e
col. (2005: 222) “... para cada bem produzido, faz-se necessário dispor de um certo
volume de água, seja para incorporá-lo ao próprio produto, seja para diluir os rejeitos
de sua produção. Assim, a importação de mercadorias ou commodities com elevada
demanda hídrica específica acaba por contribuir, indubitavelmente, para a redução
do déficit hídrico nos países importadores, uma vez que um volume de água
equivalente deixa de ser suprido localmente e torna-se disponível para outras
necessidades.” Mesma lógica se aplica a outras indústrias situadas na região, como
a Volkswagen do Brasil Ltda. (Resende) e a Peugeot do Brasil Automóveis Ltda.
(Porto Real), que vem respondendo por alguns milhões de dólares em exportação
na região.
Esta lógica de crescimento econômico, que na região tem suas origens desde
o Ciclo do Café, não só acaba por se mostrar insustentável do ponto de vista
ambiental, mas acaba de também por afetar o bem-estar e a saúde humana. A
lógica atual do crescimento econômico cego, incluí gastos com as conseqüências
indesejadas da produção e do consumo de bens como valores positivos que são
agregados no PIB. Se passarmos a computar a perda de bem-estar resultante da
concentração de renda e a degradação ambiental como débitos sociais e ecológicos,
130
131
é provável que constatemos que enquanto o PIB da exportação de determinadas
indústrias, setores econômicos ou mesmo o PIB per capita de um país podem estar
encobrindo o débito ecológico e social. Daly (2005), por exemplo, demonstra que
em um país como E.U.A., enquanto o PIB per capita cresceu de US$ 20.000 para
quase 40.000 entre 1950 e 1990, o índice de bem-estar sustentável per capita
manteve-se praticamente estagnado, passando de US$ 10.000 para pouco mais do
que isto. (Daly, 2005)
O segunda aspecto é a pegada ecológica de tal modelo de desenvolvimento
econômico. Van Bellen (2005) ao sistematizar o método de pegada ecológica para a
construção de indicadores de sustentabilidade demonstra como sua metodologia se
baseia na contabilização dos fluxos de entrada e saída de matérias e energia
consumidos e produzidos por um sistema econômico ou população humana, que
são convertidos em correspondente área de terra ou água existentes na natureza
para sustentá-los. Em um estudo realizado para todas as nações no ano de 1995,
esta metodologia demonstrou, através de indicadores, que a área apropriada para a
produção e consumo global excedia a capacidade de carga produtiva do planeta em
37%. Decker e col. (2000), ao desenvolverem metodologias para se trabalhar com
os fluxos de matéria e energia dos ecossistemas urbanos, o fazem tendo como
referência o conceito de pegada ecológica, que expressa a quantidade de área que
uma cidade, região ou país requer para atender suas necessidades metabólicas. Os
autores observam que cidades industrializadas apresentam um déficit ecológico, ao
dependerem de uma quantidade de área maior do que as fronteiras urbanas para
prover recursos e absorver os resíduos, podendo em alguns casos, como das 29
maiores cidades do Mar Báltico, consumir uma área de 400 à 1000 vezes maior do
que o próprio tamanho das cidades só para assimilar o nitrogênio, o fósforo e o CO 2
produzidos.
Assim, embora as áreas urbanas ocupem pequeno percentual da área total
dos municípios da região, grande parte de sua população e indústrias se encontram
situadas nas mesmas, resultam na apropriação de uma área muito maior do que a
ocupada para atender suas demandas de matéria e energia para o consumo e
produção. Se tomamos o PIB não só como um indicador econômico de um setor
que se encontra situado nas áreas urbanas, podemos considerar que a área
degradada ultrapassa em muito as fronteiras destas mesmas áreas, sendo este um
131
132
processo com características de produção econômica intensivas e conectadas ao
mercado global, mas com potencial de danos e degradação ambiental extensivos.
5.2.5. Condições de Bem-estar Neste item, antes de trabalhar com os dados e indicadores, detalharemos um
pouco mais a estrutura conceitual que permite trabalhar com uma concepção
positiva de saúde, associando-a ao bem-estar e tratando-a como componente do
bem-estar. Uma proposta nesta direção se encontra na estrutura conceitual do MEA
(2005) em que o bem-estar é assumido não só como tendo múltiplos componentes,
já apresentados no final do item 5.1. (Proposta de indicadores de sustentabilidade
ambiental e de saúde em perspectiva ecossistêmica), como também estando
relacionado: 1) a sustentabilidade dos ecossistemas de modo a permitir que os
humanos se beneficiem dos serviços dos ecossistemas e reduzir sua vulnerabilidade
às mudanças e degradações ambientais; 2) as forças motrizes indiretas de
mudanças nos ecossistemas, que afetam tanto os serviços dos ecossistemas como
o bem-estar; 3) as forças motrizes diretas de mudanças nos ecossistemas, que
afetam tanto os serviços dos ecossistemas como o bem-estar (Ver Figura 19).
As forças motrizes indiretas, afetam tanto as forças motrizes diretas que alteram
os serviços dos ecossistemas, como afetam diretamente o bem-estar humano.
Também, por sua vez, as forças motrizes indiretas que alteram os serviços dos
ecossistemas, afetam diretamente o bem-estar humano. E, os serviços dos
ecossistemas ao serem transformados, afetam diretamente o bem-estar humano.
Por fim, o bem-estar humano, que é afetado diretamente pelas forças motrizes
indiretas e diretas, como pelas alterações nos serviços dos ecossistemas, acaba por
também resultar em impactos sobre as forças motrizes indiretas, que pode
realimentar o sistema sócio-ecológico positivamente ou negativamente. Este
processo envolve simultaneamente diferentes escalas espaciais (local, regional e
global) e temporais (mudanças de curto prazo e longo prazo) que se interligam.
132
133
Considerando que a manutenção dos serviços dos ecossistemas,
compreendidos como sistemas de suporte à vida, é fundamental para o bem-estar
humano, procuramos no Quadro 44, tendo como base o MEA (2005), agrupar na
coluna da esquerda os serviços dos ecossistemas que possuem forte intensidade de
conexões com os componentes do bem-estar. Um serviço dos ecossistemas pode
ter forte intensidade de conexões com mais de um componente do bem-estar. Por
outro lado, o fato do componente boas relações sociais não ter associado na coluna
da esquerda nenhum serviço de ecossistemas identificado apenas significa que as
Forças motrizes indiretas de mudanças
DemográficosEconômicos (exemplos: globalização, comércio, mercados e estruturas políticas)Sócio-políticos (exemplos: estruturas administrativas, institucionais e legais)Ciência e tecnologiaCulturais e religiosos (exemplo: escolhas sobre o e quanto consumir)
Bem-estar humano
Materiais básicos para uma boa vidaSegurançaSaúdeBoas relações sociaisLiberdade de escolhas e ação
Serviços dos ecossistemas
Suporte (exemplo: produção primária, formação do solo)Provisão (exemplo: alimentos, água, etc.)Regulação (exemplo: clima, água, doenças)Culturais (exemplo: valores espirituais, estéticos, etc.)
Forças motrizes diretas das mudanças
Mudanças no uso do solo e cobertura vegetalInputs externos como fertilizantes, irrigação e controle de pragas)Adaptação e usos das tecnologiasIntrodução e extinção de espéciesConsumo de colheitas e recursos naturaisMudanças no clima
Figura 19 – Estrutura conceitual de interação entre bem-estar humano, serviços de ecossistemas e forças motrizes diretas e indiretas de mudanças nos ecossistemas
Escalas espaciais
GLOBAL → → →← REGIONAL →← ← LOCAL
Escalas temporais
Curto prazoLongo prazo
133
134
conexões não são de forte intensidade, mas de baixa ou média intensidade, sendo
que os serviços culturais são os de maior intensidade de conexão com este
componente do bem-estar. Quadro 44 - Serviços de ecossistemas como bases para os componentes do bem-estar
humano
Serviços dos ecossistemas Componentes do bem-estar
Liberdades de escolha e ação
(envolve oportunidade para os indivíduos
alcançarem o que lhes têm valor. Esta
liberdade é afetada por outros fatores, tais
como educação e é tanto pré-condição para se alcançar os
outros componentes, como também é
afetada pelos mesmos)
Serviços de provisão (alimentos, água potável; combustíveis, fibras, compostos bioquímicos, recursos genéticos)
Serviços de regulação (regulação de enchentes, secas, deslizamentos e outras catástrofes)
Materiais básicos para uma boa vida (incluem a possibilidade de acesso à recursos para obter vencimentos, ter sustento e poder morar, se vestir e alimentar-se de modo seguro e adequado)
Serviços de regulação (regulação de enchentes, secas, deslizamentos e outras catástrofes)
Serviços culturais (perda dos atributos cerimoniais ou espirituais dos ecossistemas contribui para o enfraquecimento das relações sociais dentro da comunidade, afetando o bem-estar material, a saúde, a liberdade de escolha e ações, a segurança e as boas relações sociais)
Segurança (como a possibilidade de viver em um ambiente limpo e seguro e de reduzir a vulnerabilidade aos choques e estresses ecológicos (exemplo: desastres tecnológicos e naturais)
Serviços de provisão (alimentos, água potável, combustíveis, fibras, etc.)
Serviços de regulação (regulação de enchentes, secas, deslizamentos e outras catástrofes, incluindo também os que influenciam a distribuição de vetores e agentes patogênicos nas águas e no ar)
Saúde (envolve a capacidade de permanecer adequadamente alimentado, livre de doenças evitáveis, ter um ambiente físico saudável, tal como ar e águas limpas, e de obter energia para se manter protegido do frio ou do calor)
Serviços culturais (perda dos atributos cerimoniais ou espirituais dos ecossistemas contribui para o enfraquecimento das relações sociais dentro da comunidade, afetando o bem-estar material, a saúde, a liberdade de escolha e ações, a segurança e as boas relações sociais)
Boas relações sociais (envolve a oportunidade de expressar, em relação aos ecossistemas, valores estéticos e de recreação, valores culturais e espirituais, bem como a possibilidade de observar, estudar e aprender sobre os ecossistemas. Envolve também o respeito mútuo e a coesão social)
Considerando a pouca disponibilidade de dados ambientais existentes de base
municipal no nível, principalmente sobre ecossistemas, tomamos como referência o
Quadro 43, de modo que a partir da percepção dos gestores ambientais dos
municípios, procuramos relacionar os impactos ambientais aos serviços dos
ecossistemas que podem ser afetados pelos mesmos e também às causas mais
134
135
apontadas para a ocorrência de impacto na Região como promotores diretos das
mudanças ambientais que resultam nos impactos (Ver Quadro 45). De modo a
permitir uma rápida avaliação sobre as forças motrizes diretas que vem contribuindo
para os impactos ambientais que estão na base das alterações nos serviços dos
ecossistemas, adotamos um sistema de classificação, que depois é adotado para
também para os componentes do bem-estar, que vai do mais alto (em vermelho)
que representa a situação mais grave, ao mais baixo (em verde) que representa a
situação que é digna de atenção, tal como demonstrado na legenda abaixo:
Como podemos verificar no Quadro 45, os impactos estiveram diretamente
associados às mudanças no uso do solo e cobertura vegetal, bem como ao
consumo e degradação de recursos naturais. Dentre os impactos ambientais
percebidos pelos gestores como mais altos, destacam-se poluição da água e
alteração ambiental que prejudicou a paisagem. Entre as forças motrizes diretas
para estes impactos, destacam-se o despejo de esgoto doméstico, erosão do solo,
desmatamento, degradação da mata ciliar e ocupação irregular e desordenada do
território como os mais importantes, com gravidade média alta. Criação de animais
e queimadas e erosão e deslizamento de encostas são as três forças motrizes
diretas de gravidade média baixa que se encontram associadas a história agrária da
Região e ao processo de degradação do solo, afetando também a atmosfera e as
águas. As outras três forças motrizes diretas de gravidade média baixa se
encontram associadas ao processo de urbanização industrialização da Região que
se intensifica a partir da década de 30, tais como resíduos sólidos e lixo, atividades
industriais e veículos automotores. Neste conjunto de forças motrizes diretas de
gravidade média alta e baixa resultam na sobreposição de dois processos que vem
degradando a Região, o primeiro relacionado à sua história agrária, e o outro a sua
história de industrialização e urbanização.
Quadro 45 - Serviços dos ecossistemas, impactos ambientais e promotores diretos
Serviços dos ecossistemas Impactos ambientais que afetam Forças motrizes diretas dos impactos ambientais
Alto Médio alta Médio baixa Baixo
135
136
os serviços dos ecossistemas
Serviços de suporte (serviços necessários para a produção de todos os outros serviços dos ecossistemas, tais como: formação dos solos e ciclos de nutrientes, produção primária)
Contaminação do solo (50%)
Poluição d´água (83%)
Alteração ambiental que prejudicouou a paisagem (83%)
Pecuária (25%)Sumidouro (25%)Chorume (17%)
Despejo de esgoto doméstico (75%)Criação de animais (42%)Resíduos sólidos e lixo (42%)
Erosão do solo (67%)Desmatamento (58%)Ocupação irregular e desordenada do solo (58%)
Serviços de provisão (envolvem os produtos obtidos dos ecossistemas, tais como: alimentos, água potável; combustíveis, fibras, compostos bioquímicos, recursos genéticos)
Contaminação do solo (50%)
Poluição d´água (83%)
Alteração ambiental que prejudicou a paisagem (83%)
Pecuária (25%)Sumidouro (25%)Chorume (17%)
Despejo de esgoto doméstico (75%)Criação de animais (42%)Resíduos sólidos e lixo (42%)
Erosão do solo (67%)Desmatamento (58%)Ocupação irregular e desordenada do solo (58%)
Serviços de regulação (envolvem os benefícios obtidos através da regulação dos processos dos ecossistemas, tais como: regulação do clima, dos ciclos de águas e purificação da mesma, regulação de doenças, tendo impactos na regulação de enchentes, de secas, e da degradação dos solos)
Poluição d´água (83%)
Poluição do ar (67%)
Assoreamento de corpo d´água (75%)
Despejo de esgoto doméstico (75%)Criação de animais (42%)Resíduos sólidos e lixo (42%)
Atividades industriais (50%)Queimadas (50%)Veículos automotores (50%)
Degradação da mata ciliar (58%)Desmatamento (58%)Erosão e/ou deslizamento de encostas (50%)
Serviços culturais (perda dos atributos cerimoniais ou espirituais dos ecossistemas contribui para o enfraquecimento das relações sociais dentro da comunidade, afetando o bem-estar material, a saúde, a liberdade de escolha e ações, a segurança e as boas relações sociais)
Alteração ambiental queprejudicou a paisagem (83%)
Degradação de áreas legalmente protegidas (42%)
Erosão do solo (67%)Desmatamento (58%)Ocupação irregular e desordenada do solo (58%)
Queimadas (42%)Desmatamento (25%)Extração vegetal (25%)
No Quadro 46 procuramos elencar as principais forças motrizes diretas dos
impactos ambientais identificadas no Quadro 45 e agrupadas pela classificação de
gravidade, com os potenciais impactos diretos sobre a saúde humana.
Comentaremos primeiramente as forças motrizes diretas que apresentam potenciais
mais diretos, para em seguida comentar as outras, ainda que não seja possível
identificar impactos mais diretos.
136
137
Quadro 46 – Forças motrizes diretas dos impactos ambientais e potenciais impactos diretos sobre a saúde humana
Forças motrizes diretas dos impactos ambientais
Potenciais de impactos diretos sobre a saúde humana
Despejo de esgoto doméstico Doenças relacionadas à água contaminada por coliformes fecais.
Erosão do solo
Desmatamento
Ocupação irregular e desordenada do solo
Degradação da mata ciliar
Atividades industriais Poluição atmosférica afeta especialmente crianças e idosos e portadores de doenças do aparelho respiratório, como asma e insuficiência respiratória.Poluição química de corpos d´água afeta a saúde da população de modo geral.
Queimadas Poluição atmosférica afeta especialmente crianças e idosos e portadores de doenças do aparelho respiratório, como asma e insuficiência respiratória.
Veículos automotores Poluição atmosférica afeta especialmente crianças e idosos e portadores de doenças do aparelho respiratório, como asma e insuficiência respiratória.
Erosão e/ou deslizamento de encostas
Criação de animais
Resíduos sólidos e lixo Disposição inadequada contribuiu para ampliação de vetores de doenças e contaminação dos solos e das águas, afetando a água para consumo humano e contribuindo para doenças relacionados ao saneamento ambiental inadequado, como doenças de transmissão feco-oral, transmitidas por vetores, através do contato com a água, relacionados com a higiene e geo-helmintos e teníases.
Pecuária
Sumidouro Contaminação dos solos e das águas, afetando a água para consumo humano e contribuindo para doenças relacionados ao saneamento ambiental inadequado, como doenças de transmissão feco-oral.
Chorume Contaminação dos solos e das águas, afetando a água para consumo humano e contribuindo para doenças relacionados ao saneamento ambiental inadequado.
Extração vegetal
Legenda:Alto Médio alta Médio baixa Baixo
137
138
Conforme podemos observar no Quadro 46, o despejo de esgoto doméstico
foi identificado pelos gestores ambientais da Região como uma das causas dos
impactos ambientais, particularmente a poluição da água, surgindo como de
gravidade média alta. O acesso ao esgotamento sanitário é fundamental para o
controle e redução de doenças. O baixo percentual de domicílios com acesso a
rede coletora de esgoto sanitário em muitos municípios e o grande número de
municípios com elevado percentual de lançamento de esgoto sanitário diretamente
em corpo receptor sem tratamento (Ver Quadro 32), vem contribuindo não só para a
degradação das águas na Região, como também afetam uma série de atividades
relacionadas como irrigação, aqüicultura e recreação, além de contribuir para uma
série de doenças relacionadas à água contaminada por coliformes fecais (IBGE,
2004 e 2005).
Atividades industriais, queimadas, veículos automotores e resíduos sólidos e
lixo foram identificados pelos gestores como causas de impactos ambientais
classificadas por nós como de gravidade média baixa. Porém, constituem um grupo
cujos os impactos sobre a saúde vem sendo amplamente tratados na literatura
científica.
As atividades industriais resultam em diferentes modos de poluição. Os
elementos despejados pelas industrias na forma de energia ou de substâncias
sólida, líquida ou gasosa, ou combinação das mesmas, apresentam o potencial de
causar danos aos ecossistemas e à saúde, a segurança e ao bem-estar da
população, através de poluentes emitidos na atmosfera, efluentes industriais
lançados em corpos d´água e resíduos tóxicos produzidos como resultados da
produção. Além disto, em escala regional e global, as atividades industriais
intensivas resultam em poluição do ar e das águas e que se estendem para além do
seu lugar e em emissões que contribuem para as chuvas ácidas e o aquecimento
global. Em escala local, as atividades industriais, em função da alta capacidade
térmica, como no caso de siderúrgicas, alteram o equilíbrio térmico entre a superfície
e a atmosfera e interferem no clima (IBGE, 2005).
As queimadas, no nível local, afetam diretamente os solos, a vegetação, a
biodiversidade e a qualidade do ar, com impactos sobre a saúde e as condições de
vida das populações expostas, principalmente crianças, idosos e portadores de
doenças do aparelho respiratório, como asma e insuficiência respiratória. No nível
138
139
global contribuem para o efeito estufa, já que resultam na liberação de grandes
quantidades de dióxido de carbono para a atmosfera (IBGE, 2005). No mapa de
densidade dos focos de calor no Brasil em 2003, a Região do Médio Paraíba
aparece com densidade de 11 à 50 focos de calor por 1000 km2, sendo esta a
penúltima na escala de 10. Tanto queimadas como incêndios florestais destroem
vegetação nativa e ameaçam os ecossistemas. (IBGE, 2004)
Os veículos automotores são grandes responsável pela poluição atmosférica
em áreas urbanas e os seus principais poluentes são provenientes do processo de
combustão incompleta, resultando da emissão de monóxido de carbono,
hidrocarbonetos, óxidos de nitrogênio, dióxido de enxofre e material particulado. No
nível local afeta a qualidade do ar e afeta a saúde da população exposta,
principalmente crianças, idosos e portadores de doenças do aparelho respiratório,
como asma e insuficiência respiratória. Nos níveis regional e global contribuem para
a formação de chuvas ácidas a partir dos óxidos liberados após a queima de
hidrocarbonetos e o efeito estufa, já que resultam na liberação de grandes
quantidades de dióxido de carbono para a atmosfera (IBGE, 2005).
Em relação aos resíduos sólidos e lixo, embora o percentual de lixo coletado
na Região tenha aumentando no período entre 1991 e 2000, passando de 82,79%
para 94,82% permanece como grave problema a disposição final do mesmo, uma
vez que quando é inadequada resulta em degradação ambiental, com contaminação
do solo e de corpos d´água, bem como impactos sobre a saúde da população
(IBGE, 2005). De acordo com o Quadro 33, constata-se que grande parte dos
destinos do lixo (64%) é para vazadouros à céu aberto, que para metade dos
municípios representa o único destino do lixo, num total de 185 toneladas/dia.
Vazadouros a céu aberto representam grande potencial de contaminação dos solos
e das águas pelo chorume, como também para a saúde das populações,
representando pelo potencial de ampliação de vetores causadores de doenças e da
contaminação as águas para consumo humano. Aterros controlados, representam
grande parte do destino do lixo por dois municípios (Porto Real e Volta Redonda),
significando que em torno de 300 toneladas/dia são dispostas nos mesmos, onde
também não há tratamento do chorume, também contaminando os solos e as águas,
entre estas as para consumo humano.
Em relação as forças motrizes diretas cujo os impactos sobre a saúde
humana são de ordem mais indireta, destacamos em primeiro lugar o desmatamento
139
140
na Região. A Mata Atlântica corresponde ao segundo maior conjunto de florestas do
país e possuí elevada biodiversidade (em torno de 40% de espécies endêmicas).
Compreende as áreas de florestas primárias e secundárias. A história da Região,
em que grande parte da floresta foi derrubada e substituída por áreas agrícolas,
pastoris e urbanas e parte da própria história da Mata Atlântica. Constitui um
indicador não só de perda de florestas e biodiversidade, mas de pressões antrópicas
sobre os ecossistemas (IBGE, 2004). Na Região do Médio Paraíba, como vimos no
Quadro 12, os municípios de Itatiaia e Resende são os únicos que apresentam
maior percentual de florestas composta por vegetação primária. A maioria dos
municípios não chega a apresentar 1% de vegetação primária, sendo que em quase
todos o restante de floresta é composto majoritariamente por vegetação secundária
em fragmentos de florestas.
O desmatamento modifica a estrutura dos ecossistemas, resultando muitas
vezes na fragmentação de habitats em pequenos trechos separados por atividades
agrícolas ou populações humanas. Como conseqüência, ocorre uma modificação
da estrutura da vegetação, o empobrecimento das espécies animais e vegetais, a
alteração na diversidade genética e composição de espécies em várias localidades,
além de uma maior vulnerabilidade de animais e plantas de cada fragmento, que
podem minguar até a extinção, bem como em relação às espécies invasoras. Este
processo tem como conseqüência alterações na composição das espécies
hospedeiras no ambiente e na ecologia dos vetores e agentes patogênicos. Quando
combinadas com a mobilidade e contato de populações não imunes, vem
contribuindo para a emergência de doenças, como febres hemorrágicas com casos
de fatalidade em diversos países (Epstein, 1995; Lopes, 2004; Pimm & Jenkins,
2005).
O desmatamento como força motriz direta de impactos ambientais e de
alteração nos serviços de ecossistemas é de grande importância, pois dele,
combinado com queimadas, resultam outras forças motrizes diretas, como erosão do
solo, deslizamentos de encostas, degradação da mata ciliar e extração vegetal.
Além do desmatamento estar muito associada a atividades agrícolas e pastoris, teve
grande importância na Região a ocupação irregular e desordenada do solo. O
desmatamento, a erosão do solo, o crescimento das áreas urbanos e dos
empreendimentos imobiliários, entre outras, vem contribuindo para que a ocupação
irregular e desordenada do solo venha se constituindo em uma das principais forças
140
141
motrizes diretas resultando em impactos sobre os serviços dos ecossistemas e as
condições de bem-estar.
Tendo como critério o uso de indicadores disponíveis e de fácil acesso,
procuramos, no Quadro 47, associar aos componentes do bem-estar presentes na
coluna esquerda, indicadores que permitissem fornecer elementos para a
compreensão do mesmo nos municípios da Região, adotando o mesmo sistema de
classificação citado anteriormente.
Quadro 47 - Componentes do bem-estar humano e indicadores disponíveis
Componentes do bem-estar Indicadores disponíveis
Materiais básicos para uma boa vida (incluem a possibilidade
de acesso à recursos para obter vencimentos, ter sustento e
poder morar, se vestir e alimentar-se de modo seguro e
adequado)
Índice de emprego (Exclusão Social)
Índice de pobreza (Exclusão Social)
Índice de desigualdade (Exclusão Social)
Indicador renda (IDH)
Segurança (como a possibilidade de viver em um ambiente limpo
e seguro e de reduzir a vulnerabilidade aos choques e estresses
ecológicos (exemplo: desastres tecnológicos e naturais)
Índice de juventude (Exclusão Social)
Índice de violência (Exclusão Social)
Índice de exclusão social (Exclusão social)
Saúde (envolve a capacidade de permanecer adequadamente
alimentado, livre de doenças evitáveis, ter um ambiente físico
saudável, tal como ar e águas limpas, e de obter energia para se
manter protegido do frio ou do calor)
Indicador longevidade (IDH)
Mortalidade proporcional por doença diarréica aguda em < 5 anos
Mortalidade proporcional por infecção respiratória aguda em < 5
anos de idade
Boas relações sociais (envolve a oportunidade de expressar, em
relação aos ecossistemas, valores estéticos e de recreação,
valores culturais e espirituais, bem como a possibilidade de
observar, estudar e aprender sobre os ecossistemas. Envolve
também o respeito mútuo e a coesão social)
Índice de alfabetização (Exclusão Social)
Indíce de escolaridade (Exclusão Social)
Indicador educação (IDH)
Liberdades de escolha e ação (envolve oportunidade para os
indivíduos alcançarem o que lhes têm valor. Esta liberdade é
afetada por outros fatores, tais como educação e é pré-condição
para se alcançar os outros componentes)
Índice de exclusão (Exclusão Social)
Índice de desenvolvimento humano (IDH)
Para os índices de exclusão social, pobreza, emprego formal, desigualdade
social, alfabetização, escolaridade, juventude e violência, adotou-se os mesmos
valores definidos na publicação Atas da Exclusão Social (Campos e col., 2003).
Para os índices utilizados no IDH-M, realizamos uma adaptação, já que ao invés de
141
142
quatro, define somente três escalas, sendo estas alto (entre 0.8 e 1), médio (entre
0.5 e 0.79) e baixo (menor do que 0.49). Introduzimos mais uma escala, sendo de
0.499 à 2.500 considerado médio baixo e de 0.2499 à 0.000 baixo, de modo que
assim como AES, pudéssemos trabalhar com quatro escalas. Os valores e a
classificação nas escalas se encontra no Quadro 48 abaixo.
Quadro 48 – Legenda dos índices utilizados para os componentes do bem-estar humanoEx
clus
ão
Pobr
eza
Empr
ego
Des
igua
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Alfa
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ade
Juve
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e
Viol
ênci
a
IDH
-M
Mor
talid
ade
Prop
orci
onal
Alto 0.000 à
0.312
0.000 à
0.187
0.000 à
0.218
0.000 à
0.068
0.000 à
0.312
0.000 à
0.244
0.000 à
0.287
0.000 à
0.466
0.000 à
.2499> 5,4
Médio alta 0.313 à
0.381
0.188 à
0.609
0.219 à
0.342
0.069 à
0.153
0.313 à
0.653
0.245 à
0.422
0.288 à
0.514
0.467 à
0.737
0.250 à
0.499de 3,6 à 5,3
Médio baixa 0.382 à
0.588
0.610 à
0.748
0.343 à
0596
0.154 à
0.228
0.654 à
0.806
0.423 à
0.505
0.515 à
0.700
0.738 à
0.865
0.500 à
0.799de 1,8 à 3,5
Baixo 0.589 à
1.000
0.749 à
1.000
0.597 à
1.000
0.229 à
1.000
0.807 à
1.000
0.506 à
1.000
0.701 à
1.000
0.866 à
1.000
0.800 à
1.000< 1,7
No componente materiais básicos para uma boa vida (Quadro 49) utilizamos
índices do Atlas da Exclusão Social (AES) no Brasil (Campos e col., 2003) e do
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) disponibilizados pelo Centro
de Informações e Dados do Rio de Janeiro (CIDE, 2006). NO AES utilizamos os
índices que integram a dimensão da vida digna e do bem-estar material da
população, composta pelos índices de pobreza (insuficiência de rendimentos), de
emprego e de desigualdade de rendimentos. Do IDH-M utilizamos o indicador
renda, medida através do PIB (Produto Interno Bruto) per capita (Quadro 49).
Quanto mais próximo de 1,0, melhor a condição do tecido social e do
desenvolvimento humano. Quanto mais próximo de 0, pior a condição do tecido
social e do desenvolvimento humano (Campos e col, 2003), sendo isto válido para
todos os quadros referentes aos componentes do bem-estar humano. A exceção é
o Quadro 51, pois para os indicadores de mortalidade proporcional em menores de
cinco anos utilizamos um sistema de classificação descrito em nota de rodapé.
142
143
No Quadro 49, constatamos que no relacionado somente ao IDHM-Renda,
poderíamos considerar que a Região se encontra em uma situação de gravidade
média baixa. Isto se deve ao fato do próprio limite do IDH, já tratados anteriormente,
em que o PIB per capita (IDH-Renda) se transforma no “desenvolvimento
econômico”, não considerando as desigualdades sociais e os processos de exclusão
social. O mesmo ocorre quando consideramos o Índice de Pobreza, sendo que
Piraí, Rio Claro, Rio das Flores e Valença surgem como municípios de gravidade
média alta, demandando bastante atenção, e os outros municípios como de
gravidade média baixa, demandando atenção de qualquer modo. No AES (Campos
e col., 2003) o Índice de Pobreza corresponde a porcentagem de chefes de família
com insuficiências de rendimentos, sendo a linha de pobreza fixada em um salário
mínimo (Campos e col., 2003), cujo o valor a partir de 3 de abril de 2000 passou a
ser de R$ 151,00, ano em que considerando o dólar no primeiro e último dia útil do
mesmo, esteve em média a US$ 2,50, significando que o salário mínimo convertido
em dólar representaria cerca de US$ 2,00 por dia, com variações para mais ou para
menos ao longo do ano. A cesta básica em abril de 2000 estava valendo R$ 108,01.
Considerando o rendimento da PEA na Região em 2000, constatamos na Figura 18 que 18% ganhavam até 1 salário mínimo, percentual bastante inferior ao do Brasil,
que possuía cerca de 43,5% da população ganhando menos de dois dólares por dia
Quadro 49 - Materiais básicos para uma boa vida como componente do bem-estar
Índice de PobrezaÍndice de Emprego
Índice de Desigualdade IDHM – Renda
Barra do Piraí 0,668 0,166 0,128 0,710
Barra Mansa 0,682 0,167 0,126 0,720
Itatiaia 0,695 0,248 0,196 0,720
Pinheiral 0,642 0,074 0,106 0,690
Piraí 0,583 0,232 0,132 0,700
Porto Real 0,611 0,203 0,071 0,670
Quatis 0,638 0,131 0,109 0,690
Resende 0,734 0,251 0,275 0,760
Rio Claro 0,562 0,105 0,078 0,660
Rio das Flores 0,446 0,150 0,067 0,650
Valença 0,590 0,203 0,128 0,710
Volta Redonda 0,745 0,252 0,214 0,750Fonte: Campos e Col., 2003; CIDE, 2006.
143
144
ou sessenta dólares por mês (Kliksberg, 2002). Renda e pobreza não parecem
ser um problema de gravidade média nos municípios da RMP, exigindo atenção.
Quando olhamos para os indicadores de emprego e desigualdades o quadro
muda, já que surgem como os mais graves problemas atuais para 8 dos 12
municípios da RMP e exigindo bastante atenção nos outros 4. A situação para o
emprego - correspondendo ao percentual da população em idade ativa, com 10 anos
ou mais de idade e com carteira assinada (Campos e col., 2003) – tem reduzida a
sua gravidade para média alta em municípios como Resende e Volta Redonda, que
se encontram integradas ao mercado global através de exportações de industrias
como a Volkswagen do Brasil Ltda. e a CSN. De um modo geral, como verificamos
no Quadro 27, no período de 1995 à 1999 ocorreu queda no número total de
empregados, representando uma perda de 56.700 empregos. Embora municípios
como Itatiaia, Porto Real e Rio Claro tenham sido os únicos municípios que tiveram
aumento no número de empregados no período, estes não ocorreram,
principalmente para os dois últimos municípios, em número suficiente para atender
as necessidades de emprego e trabalho para a obtenção de vencimentos, elemento
básico para se obter materiais básicos para uma boa vida.
Em relação as desigualdades, que corresponde a proporção entre os chefes
de família com rendimentos acima de dez salários mínimos e aqueles com
rendimentos até este montante (Campos e col, 2003), em um extremo Resende
apresentava uma situação de menor desigualdade e no outro extremo Rio das
Flores com a maior desigualdade. Itatiaia e Volta Redonda apresentavam um
quadro de gravidade média baixa e os outros municípios de gravidade média alta.
Analisando o Quadro 28, constatamos que 93% da PEA recebia até 10 salários
mínimos e os outros 7% de 10 salários mínimos ou mais. Além da concentração de
renda, deve-se destacar a concentração dos ganhos financeiros com as atividades
econômicas para os acionistas das indústrias altamente lucrativas e integradas ao
mercado global e representando o maior percentual do PIB dos municípios e da
RMP. As questões relacionadas ao emprego formal parecem ser as mais graves na
RMP e merecem grande atenção, já que acabam incidindo sobre a pobreza, os
rendimentos e a desigualdade. ainda não são problemas de alta gravidade na
Região. Além do mais, populações sem emprego ou em condições precárias de
trabalho acoplado ao processo de pobreza e desigualdades restringem a
possibilidade de acesso aos materiais básicos para uma boa vida, reduzem o bem-
144
145
estar humano e ameaçam as condições sociais necessárias para a presente e futura
sustentabilidade ambiental e de saúde na RMP (Borghesi e Vercelli, 2003).
No componente segurança (Quadro 50) utilizamos índices do AES que
integram a dimensão vulnerabilidade juvenil, composta pelos índices de juventude
(percentual da população com até 19 anos de idade e que na Região correspondeu
a 37% da população em 2000) e violência (proporção de homicídios por 100.000
cidadãos), ambos voltadas para avaliar a exposição da população jovem à situações
de violência. Além destes incluímos o próprio índice de exclusão social, pois quanto
maior este, frequentemente são menores as possibilidades de viver em um ambiente
seguro e reduzir as vulnerabilidades às mudanças ambientes abruptas (Porto e
Freitas, 1996) (Quadro 47). Apesar da violência não poder ser considerada uma
conseqüência das mudanças nos serviços dos ecossistemas, é, como observam
Campos e col. (2003:51), a expressão e conseqüência de uma nova realidade em
que esta amplia-se no segmento jovem da população e resulta dos efeitos da
estagnação econômica e do desemprego, da expansão de valores de consumo e da
concentração de renda, com o crescimento da desigualdade sócioeconômica
(Campos e col., 2003; Minayo, 2003). Assim, embora o Índice de Violência seja
ainda de baixa de gravidade, em quase todos os municípios, com exceção de Porto
Real, algumas de suas causas se encontram presentes, como perda de empregos e
Quadro 50 – Segurança como componente do bem-estar
Índice de
JuventudeÍndice de Violência
Índice de Exclusão
Barra do Piraí 0,797 0,957 0,565
Barra Mansa 0,765 0,847 0,543
Itatiaia 0,707 0,984 0,584
Pinheiral 0,728 0,960 0,524
Piraí 0,752 0,908 0,534
Porto Real 0,676 0,917 0,508
Quatis 0,718 0,964 0,523
Resende 0,739 0,920 0,608
Rio Claro 0,728 0,898 0,480
Rio das Flores 0,728 0,877 0,469
Valença 0,780 0,969 0,553
Volta Redonda 0,787 0,810 0,596Fonte: Campos e Col., 2003; CIDE, 2006.
145
146
crescimento das desigualdades sócioeconômicas, tornando vulnerável mais de 1/3
da população jovem e podendo se constituir em uma ameaça futura ao bem-estar e
a sustentabilidade ambiental e de saúde na RMP se considerarmos que serão os
adultos e os idosos em cenários de 25 à 50 anos futuros. Consideramos que a
vulnerabilidade ambiental não pode ser dissociada da vulnerabilidade social, já que
esta última potencializa a primeira, além de se relacionar dialeticamente com o
componente boas relações sociais, que afetam e são afetados pela violência, e por
conseguinte, o tecido social vital para a sustentabilidade ambiental e de saúde.
No componente saúde (Quadro 47 utilizamos o indicador longevidade que
expressa a dimensão viver uma vida longa e saudável, combinando esperança de
vida ao nascer com a taxa de mortalidade infantil para menores de um ano). Além
deste indicador, utilizamos outros dois associados à mortalidade em menores de
cinco anos de idade, sendo estes mortalidade proporcional por doença diarréica
aguda em menores de cinco anos de idade (Códigos A00 a A09 da CID-10) e
mortalidade proporcional por doença infecção respiratória aguda em menores de
cinco anos de idade (Códigos J00 a J22 da CID-10) (Quadro 51). Ambos são
indicativos de insatisfatórias condições sócioeconômicas, além de insuficiente
cobertura e qualidade da atenção básica à saúde da criança, sendo que o primeiro
se encontra associado à precárias condições de saneamento, favorecendo doenças
diarréicas, e o segundo associado aos fatores climáticos que favorecem a ocorrência
de infecções respiratórias (RIPSA, 2002). Para os municípios utilizamos os dados
disponibilizados no sítio da Secretaria de Estado de Saúde disponíveis em março de
2006, compreendendo o período de 1999 à 2005.
De acordo com o Quadro 51, Quatis é o município que apresenta o melhor
Índice de Longevidade, com todos os outros classificados como média baixa. De
acordo com dados disponíveis no CIDE (2006) sobre esperança de vida ao nascer e
taxa de mortalidade infantil, o quadro na Região era o seguinte: 1) em 1980 a maior
esperança de vida ao nascer se encontrava no município de Resende (63,3) e em
2000 no município de Quatis (74,1); 2) a taxa de mortalidade infantil para menores
de um ano na Região passou de 36,6 em 1985 para 21,5 em 1999, situando-se em
uma classificação geral de taxas médias (entre 20 e 49 óbitos por 1.000 nascidos
vivos), sendo neste último ano a pior situação em Porto Real (34,3) e a melhor em
Piraí (14,3). No Quadro 52 aplicamos o critério de gravidade para a mortalidade
146
147
infantil em menores de um ano, permitindo visualizar que a melhora vem ocorrendo
ao longo dos anos, mas ainda muito por se fazer.
Assim, o Índice de Longevidade, que reflete o quadro de redução da taxa de
mortalidade infantil em menores de um ano e aumento na esperança de vida ao
nascer na Região aparece como merecendo atenção na quase totalidade dos
municípios, ao mesmo tempo que indica uma melhoria das condições de saúde e de
vida da população.
Quadro 51 – Saúde como componente do bem-estar
Índice de longevidade
Mortalidade
proporcional por doença
diarréica aguda em < 5
anos
Mortalidade
proporcional por
infecção respiratória
aguda em < 5 anos de
idade
Barra do Piraí 0,730 1.0 4,8
Barra Mansa 0,790 1,1 6,1
Itatiaia 0,780 3,2 1,6
Pinheiral 0,790 2,3 4,5
Piraí 0,750 2,6 2,6
Porto Real 0,690 2,3 7,0
Quatis 0,820 3,3 6,7
Resende 0,750 1,8 2,9
Rio Claro 0,750 7,7 7,7
Rio das Flores 0,730 0 10,0
Valença 0,730 2,1 5,8
Volta Redonda 0,760 1,8 3,3
147
Legenda para mortalidade proporcionalAlta (> 5,4)Média alta (entre 3,6 e 5,3)Média Baixa (entre 1,8 e 3,5)Baixa (< 1,7)
Quadro 52 - Taxa de mortalidade infantil em menores de 1 ano de vida, segundo a Região do Médio Paraíba emunicípiosRegião do Médio Paraíba e municípios
1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Região do Médio Paraíba 36,6 34,2 33,7 32,6 31,7 29,0 28,3 27,0 26,3 23,5 23,0 22,0 21,4 20,2 21,5Barra do Piraí 36,4 33,9 30,8 35,6 39,3 38,2 38,8 37,9 42,7 39,0 36,6 31,8 29,1 28,0 28,3Barra Mansa 40,8 39,1 43,6 41,5 39,8 34,9 35,7 32,5 29,6 24,9 23,6 22,3 21,0 19,1 20,7Itatiaia ... ... ... ... ... 15,5 14,0 13,8 14,7 16,5 21,6 25,4 26,6 22,1 24,8Pinheiral ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 30,4 24,7Piraí 41,5 43,9 40,7 37,7 37,4 36,5 32,7 36,1 33,8 35,0 27,4 24,6 18,1 12,6 14,3Porto Real ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 22,4 34,3Quatis ... ... ... ... ... ... ... ... ... 26,2 31,3 16,4 21,7 12,8 22,8Resende 33,7 31,0 29,6 27,8 21,7 17,0 12,8 10,9 10,9 12,4 15,0 17,4 18,9 20,7 21,5Rio Claro 24,2 27,4 32,0 37,7 34,2 35,6 30,9 30,8 29,0 25,1 21,9 19,4 20,8 21,1 21,1Rio das Flores 40,6 39,6 23,0 24,4 32,1 31,3 31,3 18,9 26,0 26,7 30,9 37,1 36,8 39,2 29,9Valença 38,8 34,7 32,2 32,1 34,2 32,3 30,7 27,9 29,3 24,9 27,1 25,3 29,1 26,0 25,9Volta Redonda 34,5 31,1 29,6 26,9 26,7 25,1 25,7 25,8 24,0 20,2 19,0 18,1 17,2 15,8 17,6
Alta (entre 37,6 e 50 por mil)Média alta (entre 37,5 e 25 por mil)Média baixa (entre 24,9 e 12,5 por mil)Baixa (< 12,5 por mil)
O indicador de mortalidade proporcional por doença diarréica aguda em
menores de cinco anos de idade que se encontra associado à precárias condições
de saneamento e é indicativo de insatisfatórias condições sócioeconômicas, além de
insuficiente cobertura e qualidade da atenção básica à saúde da criança, aparece
como alta gravidade somente no município de Rio Claro (Quadro 50), que em 2000
era o município com menor percentual (45,4%) de domicílios com acesso a rede de
esgoto sanitário e maior percental (10,9%) de domicílios com fossas rudimentares.
No outro extremo surgem com baixa gravidade os municípios de Barra do Piraí,
Barra Mansa e Rio das Flores. Todos os outros municípios aparecem como de
gravidade média baixa, merecendo atenção.
O indicador de mortalidade proporcional por doença infecção respiratória
aguda em menores de cinco anos de idade, que indica insatisfatórias condições
socioeconômicas e insuficiências na cobertura e qualidade da atenção básica à
saúde da criança, estando também associado aos fatores climáticos que favorecem
a ocorrência de infecções respiratórias, aparece como de alta gravidade nos
municípios de Barra Mansa, Porto Real, Quatis, Rio Claro, Rio das Flores e Valença.
Em Barra do Piraí e Pinheiral aparece como de gravidade média alta. Somente três
municípios (Piraí, Resende e Volta Redonda) aparecem como de gravidade média
baixa, merecendo atenção, e apenas Itatiaia como de gravidade baixa. O quadro de
gravidade alta ou média alta em 3/4 dos municípios da Região pode estar refletindo
a combinação da alta desigualdade socioeconômica da Região com mudanças
climáticas e ambientais associadas a poluição principalmente por queimadas que
estão entre as forças motrizes diretas dos impactos ambientais que afetam os
serviços de regulação dos ecossistemas, entre estes os de purificação do ar e
regulação do clima nos municípios e na região.
No Quadro 45, verificamos que os serviços dos ecossistemas vem sofrendo
impactos ambientais na sua capacidade de suporte, provisão, regulação e culturais
que combinam forças motrizes diretas como o desmatamento e consequentemente
as queimadas e erosão do solo, que se iniciam no século XIX, com processos
intensificados a partir da década de 1950 e que resultaram em ocupação irregular e
desordenada do solo com ausência de infra-estrutura (despejos de esgotos
domésticos) em uma Região que teve um grande crescimento populacional,
econômico e industrial que passou a se concentrar quase que totalmente em áreas
urbanas.
150
Assim, tendo como referência Hales e col. (2004), se podemos identificar
alguns efeitos dos distúrbios nos ecossistemas sobre a saúde humana, os quais
podem ser relativamente diretos, devemos considerar que muitos destes podem
ocorrer somente ao final de uma longa e complexa rede de eventos e situações
sócioecológicas. Isto significa que mudanças nos ecossistemas podem resultar em
efeitos diretos resultantes de danos à função de provisão (água para consumo
humano) ou regulação (purificação do ar e regulação do clima) dos ecossistemas,
como determinadas doenças agudas (Ver Quadro 52). Estes efeitos podem ter sua
escala temporal situada em dias e espacial situada no nível local, afetando centenas
de pessoas. Os efeitos também podem ser mediados, envolvendo desde mudanças
ambientais que alteram a distribuição e comportamento dos vetores e hospedeiros
ou secas e enchentes que irão exacerbar infecções originárias da água para
consumo humano. Nestes casos, a escala temporal pode abranger semanas/meses
espacial do local ao regional. Os efeitos modulados referem-se aos provenientes de
amplas mudanças socioecológicas que afetam a saúde humana por meio da fome e
escassez de alimentos, conflitos e violências, sendo suas origens sutis e/ou
indiretas, possuindo escala temporal de anos ou décadas e espacial que pode variar
do regional ao nacional. Por fim, há as falhas e/ou rupturas no sistema
sócioecológico que podem resultar em propriedades emergentes, como grandes
mudanças ambientais globais, entre elas o clima, exigindo longo prazo para as
adaptações sociais e no curto prazo atingindo milhões ou bilhões de pessoas em
escala global. Os efeitos sobre a saúde podem variar desde pandemias aos
associados aos desastres “naturais”.
Na Região do Médio Paraíba, se temos a presença de efeitos diretos e
mediados, temos de considerar o grande potencial de efeitos modulados, já que,
conforme vimos no Quadro 45, há a combinação de uma degradação que data de
mais de um século e se encontra ainda presente nos dias atuais através do
continuado desmatamento e queimadas, com a degradação do processo de
urbanização que ainda carece de infra-estrutura urbana para consideráveis
contingentes populacionais e industrialização, resultando em poluição atmosférica,
dos recursos hídricos e produção de resíduos industriais perigosos.
150
151
Quadro 52- Tipologia dos Impactos dos Ecossistemas na SaúdeEfeitos diretos Efeitos mediados Efeitos modulados Falhas no sistema
Mecanismo causal Simples e diretos,
ainda que
relacionados à
determinantes sociais
e ecológicos de médio
e longo prazo
Determinantes
ecológicos com maior
presença, alterando
de modo mediado os
ecossistemas
Causação complexa;
maior visibilidade da
presença dos
determinantes sociais
Propriedades
emergentes, efeitos
limiares e de
realimentação
Escala temporal Dias Semanas/meses Anos/décadas Décadas/séculos
Escala espacial Local Local/regional Regional/nacional Continental/Global
Número de afetados Dezenas/centenas Centenas/milhares Milhares/milhões Milhões/bilhões
Exemplo Prejuízos provenientes
de eventos climáticos
extremos ou
alterações climáticas
como inversões
térmicas e/ ou eventos
de poluição aguda
Transmissão de
doenças notificáveis
Fome regional,
conflitos e violências
Conectada aos
sistemas sócio-
ecológicos resultando
em pandemias ou
desastres de larga
escala de impactos
Fonte: adaptado a partir de Hales et al., 2004
No componente boas relações sociais (Quadro 47) utilizamos os índices de
alfabetização (porcentagem de cidadãos com 5 anos ou mais de idade que sabem
ler e escrever) e escolaridade (número médio de anos de estudo) do AES. Ambos
integram a dimensão do conhecimento e do acúmulo simbólico e cultural da
população (Quadro 53). Consideramos que estes índices estão na base da
possibilidade de ampliar o potencial de observar, estudar e aprender sobre os
ecossistemas, e por conseguinte incrementam a oportunidade de expressar, em
relação aos ecossistemas, valores estéticos, culturais e espirituais, bem como
fortalecem também o respeito mútuo e a coesão social, vitais para reduzir a
vulnerabilidade sócioecológica e aumentar a possibilidade de uma população
incrementar sua segurança como componente do bem-estar.
Em relação ao Índice de Alfabetização, o único município que merece atenção
é Rio Claro, com gravidade média baixa. Para o Índice de Escolaridade, a maior
parte dos municípios se encontra em situação de atenção, com gravidade média
baixa, e somente dois municípios (Rio Claro e Rio das Flores) apresentam uma
situação de gravidade média alta, que é idêntica a situação da Exclusão Social, que
também é de gravidade média alta em ambos (ver Quadro 50). Em relação ao
151
152
IDHM-Educação, que combina diversos indicadores, como número médio de anos
de estudo para a população de 25 anos e mais de idade, com a taxa analfabetismo
das pessoas com 15 anos e mais de idade incapazes de ler ou escrever, a situação
aparece como de baixa gravidade para todos os municípios.
A baixa gravidade no Índice de Violência (ver Quadro 50), combinada com
uma total baixa gravidade no IDHM-Educação e quase total no Índice de
Alfabetização apontam para um tecido social em que apesar da redução dos
empregos e das desigualdades ainda traz o potencial de se em um projeto comum
de sustentabilidade ambiental e da saúde da população da Região, reduzir as
vulnerabilidades sociais que poderão no futuro contribuir para aumentar a
vulnerabilidade ambiental existente.
Por fim, para o componente liberdade de escolhas e de ação (Quadro 47)
que depende de todos os outros componentes, utilizamos os índices de Exclusão
Social e de Desenvolvimento Humano Municipal, pois ambos sintetizam outros
índices e indicadores sem os quais a liberdade é reduzida e ameaçada (Quadro 54).
Consideramos que quanto maior a exclusão social e quanto menor o índice de
Quadro 53 – Boas relações sociais como componente do bem-estar
Indice de
AlfabetizaçãoÍndice de
EscolaridadeIDHM-Educação
Barra do Piraí 0,900 0,631 0,910
Barra Mansa 0,905 0,608 0,910
Itatiaia 0,883 0,635 0,900
Pinheiral 0,879 0,589 0,910
Piraí 0,858 0,536 0,880
Porto Real 0,850 0,501 0,870
Quatis 0,855 0,520 0,870
Resende 0,892 0,705 0,920
Rio Claro 0,795 0,439 0,800
Rio das Flores 0,837 0,473 0,850
Valença 0,876 0,608 0,900
Volta Redonda 0,917 0,727 0,930
152
Alta (< 0,250)Média alta (entre 0,499 e 0,250)Média baixa (entre 0,799 e 0,500)Baixa (entre 0,800 e 1,000)
153
desenvolvimento humano, mas reduzidas são os potenciais de liberdade de
escolhas e de ação e vice-versa.
Ao tomarmos a exclusão social e o desenvolvimento humano como
indicadores básicos para as liberdades de escolhas e de ações como componentes
básicos para o bem-estar humano, estamos considerando que sem ter atendidas as
dimensões que compõem estes dois índices, que são renda, educação, infância,
habitação e longevidade, por um lado (IDH-M) e vida digna, conhecimento e
vulnerabilidade por outro (AES), as liberdades e ações acabam por ser restringidas,
tornando estas populações e os seus ambientes de vida e trabalho mais vulneráveis
à degradação sócioambiental. No Quadro 54, a situação de gravidade média alta
aparece nos municípios de Rio Claro e Rio das Flores, os que possuem situação
similar em relação à escolaridade (Quadro 53), bem como alta gravidade no que se
refere a mortalidade proporcional por infecção respiratória aguda em menores de 5
anos de idade (Quadro 50).
Quadro 54 – Liberdades de escolha e ação como componente do bem-estar
Índice de
exclusão social
Índice de desenvolvimento
humano municipal
Barra do Piraí 0,565 0,780
Barra Mansa 0,543 0,810
Itatiaia 0,584 0,800
Pinheiral 0,524 0,800
Piraí 0,534 0,780
Porto Real 0,508 0,740
Quatis 0,523 0,790
Resende 0,608 0,810
Rio Claro 0,480 0,740
Rio das Flores 0,469 0,740
Valença 0,553 0,780
Volta Redonda 0,596 0,820
153
Alta (< 0,250)Média alta (entre 0,499 e 0,250)Média baixa (entre 0,799 e 0,500)Baixa (entre 0,800 e 1,000)
154
5.2.6. Estrutura política e institucional para saúde e meio ambiente Um dos requisitos básicos para a sustentabilidade é a estruturação da capacidade
de resposta social às forças motrizes diretas e indiretas que impactam o ambiente,
comprometem os serviços dos ecossistemas, assim como a saúde e o bem-estar
dos humanos. Esta resposta tem como requisitos tanto a institucionalização e
fortalecimento das ações do estado, como maior participação da sociedade.
No Brasil, na década de 80, sendo a principal referência a Constituição Federal de
1988, são estabelecidos marcos legais para a descentralização das ações
governamentais municipais, bem como maior participação da sociedade através de
conselhos municipais, que se ampliam durante a década de 90. Em termos de
indicadores de estrutura institucional, centrou-se na criada para a saúde,
compreendida como componente básico do bem-estar e afetada pelo mesmo, e para
o meio ambiente.
Particularmente no que se refere ao setor saúde na Região do Médio Paraíba,
todos os municípios possuíam secretarias municipais de saúde em 2001. Porém,
esta não é a mesma situação para o meio ambiente (ver Quadro 55). Só sete
municípios (58%) possuíam secretarias em 2001, sendo que destes somente 2
(28%) tratando exclusivamente do meio ambiente. Estes dados são distintos da
situação brasileira, já que no país em 2002 68% dos municípios possuíam estrutura
na área do meio ambiente, sendo que destes, somente quase 9% possuíam
estrutura exclusiva de meio ambiente (IBGE, 2005).
154
QUADRO 55 - CARACTERÍSTICAS DOS CONSELHOS MUNICIPAIS DE SAÚDE E DE MEIO AMBIENTE, SECRETARIAS DE MEIO AMBIENTE E AGENDA 21 LOCAL NA REGIÃO DO MÉDIO PARAÍBA, RIO DE JANEIRO, 2001-2002
SECRETARIAS MUNICIPAIS DE MEIO AMBIENTE
CONSELHOS MUNICIPAIS DE SAÚDE CONSELHOS MUNICIPAIS DE MEIO AMBIENTE AGENDA 21 LOCAL
EXIS
TÊN
CIA
DE
SEC
RET
AR
IA
MU
NIC
IPA
L D
E M
EO
AM
BIE
NTE
SEC
RET
AR
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NIC
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EXIS
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RIO
EXIS
TÊN
CIA
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MEO
A
MB
IEN
TE
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LIZO
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EUN
IÕES
EM
200
1
PER
IOD
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AD
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ES
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RIO
EXIS
TÊN
CIA
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END
A 2
1 LO
CA
L
EXIS
TÊN
CIA
DE
FÓR
UM
D
A A
GEN
DA
21
LOC
AL
BARRA DO PIRAÍ Sim Sim Sim Sim Mensal Sim Sim Sim Irregular Sim Não -
BARRA MANSA Não Não Sim Sim Mensal Sim Sim Não - - Sim SimITATIAIA Sim Sim Sim Sim Mensal Sim Sim Não - - Sim Não
PINHEIRAL Não Não Sim Sim Mensal Sim Não - - - Não -PIRAÍ Sim Não Sim Sim Mensal Sim Não - - - Não -
PORTO REAL Sim Não Sim Sim Mensal Sim Sim Não - - Não -QUATIS Não Não Sim Sim Mensal Sim Sim Não - - Não -
RESENDE Sim Sim Sim SimQuinzenal ou
menos Sim Sim Sim Irregular Sim Sim SimRIO CLARO Sim Não Sim Sim Mensal Sim Não - - - Sim Sim
RIO DAS FLORES Sim Não Sim Sim Mensal Sim Não - - - Sim Não
VALENÇA Não Não Sim Sim Mensal Sim Sim Sim Mensal Não Sim SimVOLTA
REDONDA Não Não Sim Sim Mensal Não Sim Sim Mensal Sim Sim SimFonte: IBGE, 2003 e 2005
No Quadro 56, constatamos que das 4 secretarias municipais de meio ambiente
vinculadas à outras secretarias, 3 se vinculavam à agricultura. Estes dados
demonstram como a estrutura institucional para o meio ambiente ainda é frágil na
Região.Quadro 56 – Estrutura Institucional para o Meio Ambiente
Possui secretaria de municipal de meio
ambiente
Secretaria única e exclusivamente de
meio ambiente
A que secretaria se encontra associada
secretaria municipal ao qual o
departamento ou assessoria se
encontra subordinado
Barra do Piraí ● ○ Agricultura
Barra Mansa ○ - - -
Itatiaia ● ● - -
Pinheiral ○ - - Outra secretaria
Piraí ● - Turismo -
Porto Real ● - - Outra secretaria
Quatis ○ - - Outra secretaria
Resende ● ●Rio Claro ● - Agricultura -
Rio das Flores ● - Agricultura -
Valença ○ - - Agricultura
Volta Redonda ○ - - Outra secretaria
Total de respostas
sim
7 3
Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)Fonte: IBGE, 2005
Os conselhos municipais, ao permitirem ampliar as formas de participação da
sociedade, promovendo novas relações entre estado e sociedade para o tratamento
de problemas como os ambientais e de saúde, acabam sendo vitais para a
democracia e a sustentabilidade. Possibilitam o debate de problemas públicos, a
proposição de soluções, a participação nas tomadas de decisões, a assessoria e o
acompanhamento de processos decisórios e ações governamentais no nível local
(IBGE, 2005).
De acordo com dados do Perfil dos Municípios Brasileiros – Gestão Pública 2001
(IBGE, 2003), no que se refere aos Conselhos Municipais de Saúde (CMS), verifica-
se ainda no Quadro 55, que em 2001 todos os municípios possuíam e realizaram
reuniões pelo menos mensais, sendo paritários, com exceção de Volta Redonda.
Para os Conselhos Municipais de Meio Ambiente (CMMA), oito (67%) possuíam,
157
sendo que somente quatro (50%) eram paritários e realizaram reuniões, sendo que
em dois mensais e nos outros irregulares. No Quadro 57, de acordo com dados do
Perfil dos Municípios Brasileiros – Meio Ambiente 2002 (IBGE, 2005), constatamos
que dos municípios que possuíam CMMA, outras entidades do poder público
estavam presentes em todos os CMMA, vindo em seguida associações de
moradores em 6 e entidades empresariais em 5. Associações ambientalistas e
profissionais estiveram presentes em 4 CMMA e entidades de ensino e pesquisa de
trabalhadores em 2. Em relação ao caráter consultivo ou deliberativo dos CMMA,
somente o de Valença possuía caráter deliberativo. Para o Brasil, em 2001 97% dos
municípios possuíam CMS e destes 86% tiveram reuniões regulares ao longo do
ano, sendo 92% paritários. Em relação aos CMMA em 2001 estavam presentes em
29% dos municípios do país, sendo que destes 69% tiveram reuniões regulares ao
longo do ano, sendo 64% paritários (IBGE, 2003).
Quadro 57: Entidades Representadas nos Conselhos Municipais de Meio AmbienteA B C D E F G H I Total de
respostas sim
Barra do Piraí ● ○ ● ● ○ ● ○ ● ○ 5
Itatiaia ● ● ● ○ ○ ● ○ ○ ○ 4
Piraí ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 1
Porto Real ● ● ○ ○ ● ○ ○ ● 4
Resende ● ● ● ● ● ● ○ ○ ○ 6
Rio das Flores ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 1
Valença ● ● ● ● ● ● ○ ● ● 8
Volta Redonda ○ ● ● ● ○ ○ ○ ○ ○ 3
Total de respostas
sim
7 4 6 4 2 5 0 2 2 32
Legenda: A) Outras representações do poder público; B) Associações ambientalistas; C) Associações de moradores; D) Associações profissionais (CREA, OAB, etc.); E) Entidades de ensino e pesquisa; F) Entidade empresarial; G) Entidade religiosa; H) Entidade de trabalhadores; I) Outras entidades.Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)Fonte: IBGE, 2005
A relativa fragilidade dos CMMA associada à uma estrutura institucional ainda
em construção, acabam por insuficientes no sentido da sustentabilidade ambiental
da Região e de redução dos conflitos ambientais presentes na mesma. Conforme
157
158
podemos verificar no Quadro 58, dos conflitos ambientais identificados no Mapa dos
Conflitos Ambientais no Estado do Rio de Janeiro (2004), 9 se relacionaram às
atividades industriais, sendo que a quase totalidade envolvendo a disposição legal e
ilegal de resíduos, demonstrando como o crescimento industrial não vem ocorrendo
sem conflitos que envolvem a degradação ambiental por substâncias químicas. A
ampliação dos CMMA e da participação da sociedade nos mesmos é vital para a
sustentabilidade na Região, mas necessita ser acompanhada do fortalecimento da
estrutura institucional que é ainda frágil para lidar com a complexidade dos
problemas ambientais na Região.
158
Quadro 58 – Conflitos ambientais na Região do Médio ParaíbaMunicipios Classificação
geralClassificação
específica Caso Mês do evento e Denunciante
Atores envolvidos
Breve descrição
Barra do Piraí Ausência de saneamento Vazadouros de lixo Lixão de Piraí
(bairro Cantão)Agosto de 2001Moradores
Ministério Público EstadualPrefeitura Municipal de Barra do PiraíComunidade local
Município mantinha vazadouro de lixo clandestino causando graves danos ambientais e a saúde, resultando em Ação Civil Pública contra a prefeitura. Persistem danos as crianças e adolescentes que auxiliam familiares na catação de lixo.
Itatiaia
Atividades industriais
Disposição não licenciada de resíduos industriais
Xerox do Brasil Abril de 1997FEEMA
FEEMAXerox do BrasilSANIPLAN Engenharia e Administração de Resíduos
No galpão de estocagem de resíduos da Xerox do Brasil foram encontrados70 bombonas contendo capacitores e fontes contaminadas por óleo PCB (Ascarel) que permanecial no local até atingirem um volume que economicamente justificasse o transporte da firma SANIPLAN para o CENTRES no município de Queimados.
Atividades industriais
Disposição não licenciada de resíduos industriais
Reciclagem Sudeste Rio Ltda.
Julho de 2002Ministério Público Estadual
FEEMAMinistério Público EstadualReciclagem Sudeste Rio Ltda.Xerox do BrasilComunidade local
Foram encontrados aproximadamente 15.000 m3 de resíduos provenientes de carcaças de máquinas copiadoras da Xerox do Brasil, espalhados em uma área de 1 hectare, a céu aberto e em contato direto com o solo. Observou-se a presença de água contaminada com resíduos penetrando no solo há mais de 10 anos. Em uma segunda área da planta foram encontradas carcaças de onze tanques de produtos oleosos não identificados, derramando grande quantidade de resíudos no solo. Em uma terceira área (denominada de reciclagem), foram encontrados galões com resíduos oleosos e latas com resíduos de tintas contaminando o solo.
Resende
Atividades industriais
Disposição não licenciada de resíduos industriais
Indústria Química Resende
Fevereiro de 1992Não identificado
FEEMAIndústria Química Resende
Indústria armazenava Ascarel (produto altamente tóxico) sem devida autorização dos órgãos ambientais.
Atividades industriais
Depósito licenciado de resíduos industriais
Aterro Industrial Classe I da BASF
Agosto de 2002Não identificado
FEEMABASF
BASP opera o aterro de resíduos perigosos gerados pela empresa e vem sendo estudados métodos a serem aplicados após a empresa paralisar as atividades no aterro.
Atividades industriais
Poluição do solo / Poluição de corpo hídrico
Contaminação na planta industrial da BASF
Julho de 2002FEEMA
FEEMAConsultoria Fort DodgeBASFEmpresa Novartis Consumer Health
Contaminação do solo e das águas subterrâneas por compostos orgânicos voláteis clorados e não clorados na planta industrial, atingindo área desativada da empresa onde funciona uma Estação de Tratamento de Efluentes e a unidade de óleo de pinho. Pluma de contaminantes alcança o rio Pirapetinga e vem atingindo a área da Empresa Novartis Consumer Health
Volta Redonda Atividades industriais
Disposição não licenciada de resíduos industriais
Sobremetal Recuperação de Metais S.A.
Agosto de 1998Não identificado
Delegacia Móvel do Meio AmbienteFEEMASobremetal Recuperação de
Polícia ambiental foi informada que os resíduos estavam sendo acumulados em poças de líquido branco, com pH básico e agressivo à vegetação, nas margens do Rio Paraíba do Sul.
160
Metais S.A.
Atividades industriais
Poluição atmosférica
Trevol – Petróleo Brasileiro S.A.
Fevereiro de 2000Não identificado
FEEMATrevol – Petróleo Brasileiro S.A.
A empresa alimentava a CSN com gás natural. No dia 14 de fevereiro de 2000 sofreu um acidente, resultando em vazamento de gás, só comunicando à FEEMA 20 horas após.
Atividades industriais
Depósito licenciado de resíduos industriais / Poluição do solo / Poluição de corpo hídrico
Aterro Volta Grande – CSN (bairro do Aterrado)
2000FEEMA
FEEMACSN
Investigação geoambiental detectou a existência de uma pluma de contaminação de Naftaleno na área denominada célula Volta Grande, que recebia resíduos tóxicos Classe I. Rompimento de tubulações que interligavam as 3 caixas coletoras de efluentes, sendo que uma destas localizando-se embaixo de residências de um conjunto habitacional construído sobre o aterro, em terreno cedido pela CSN à sua associação de funcionários, está na origem do problema. CSN adquiriu e demoliu as casas para a retirada das tubulações, desativar as caixas e remover o solo contaminado.Na Unidade Benzol I, que funcionou de 1946 à 1989, e que era responsável pela limpeza de gases de coqueria e a contaminação teve origem em pequenos e contínuos vazamentos nos equipamentos existentes, em falhas operacionais e em vazamentos no próprio tanque de benzol, além do descarregamento, manipulação de produtos e lavagem dos caminhões. Nesta unidade as águas subterrâneas estavam contaminadas por BTEX.Outros 4 aterros industriais estavam sendo desativados em 2002 e investigava-se a qualidade do solo e da água subterrânea.
Atividades industriais
Disposição não licenciada de resíduos industriais
Descarte clandestino de resíduos tóxicos (bairro Aterrado)
Agosto de 2000Quartel Central dos Bombeiros de Volta Redonda
Consultoria Técnica e Comercial Ltda.CHEMETALL do Brasil Ltda.Porter Indústria Química Ltda.Corpo de BombeirosFEEMACETESB
Seis toneladas de resíduos, entre estes grandes quantidades de Éstereato de Sódio, foram lançadas barranco abaixo, em centenas de sacos plásticos de 10 quilos que se romperam e estavam diretamente expostos no solo e a beira do riacho que abastece a cidade. A FEEMA identificou que a CHEMETALL do Brasil Ltda. (Diadema – SP) era a geradora dos resíduos, que foram destinados à empresa COMTECOM em fevereiro de 2000, por intermédio da Porter Indústria Química Ltda (Lorena – SP), que afirma jamais ter recebido 50 toneladas de resíduos pela Porter. Os resíduos e o solo contaminado foram transportados para as instalações da CHEMETALL e ficaram ainda 44 toneladas de resíduos Classe I e II desaparecidos.
160
No Quadro 59, podemos constatar que lei e decreto foram os instrumentos
utilizados para formalizar a A21L e que somente dois municípios, Valença e Volta
Redonda haviam iniciado em 2002 o processo de implementação da mesma,
estando a maior parte em estágio de sensibilização. Em relação aos temas
abordados, importante notar que os temas sociais estiveram em conjunto com os
ambientais em quase todos os municípios, sendo que os econômicos tiveram
também grande presença.
Considerando-se que os municípios integram um sistema socioambiental
complexo, em que as respostas institucionais individuais (secretarias, conselhos, e
A21L) podem afetar positiva ou negativamente os outros e vice-versa, é importante
considerar também a existência de instâncias e ações que integrem os diferentes
municípios. Na RMP existem algumas iniciativas de ações envolvendo os diversos
municípios, das quais destacam-se para o setor ambiental, o Comitê para Integração
da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Ceivap), criado por meio de decreto
em 96, e para o setor saúde o Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Paraíba,
efetivado em 1998 com o objetivo de desenvolver ações organizacionais dos
serviços de saúde, e o Plano Diretor da Regionalização da SES-RJ, que tem por
Quadro 59: Situação da Agenda 21 local nos municípios que iniciaram sua elaboração
Instrumento que formalizou
a Agenda 21 local (Lei,
Decreto ou Resolução)
Ano da lei que formalizou a
Agenda 21 local
Estágio atual da Agenda 21 local
Temas abordados na
Agenda 21 local
Barra Mansa Lei 2001 Sensibilização Ambientais eSociais
Itatiaia
Não identificado Não se aplica Sensibilização Ambientais, Sociais,
Econômicos e outros temas
Resende
Decreto 2001 Diagnóstico/Mobilização
Ambientais, Sociais,
Econômicos e outros temas
Rio Claro Decreto 2002 Sensibilização Ambientais,
Sociais e Econômicos
Rio das Flores Não identificado Não se aplica Sensibilização Outros temas
ValençaLei 2001 Implementação Ambientais,
Sociais e Econômicos
Volta RedondaLei 2001 Implementação Ambientais,
Sociais e Econômicos
Fonte: IBGE, 2005
162
base a Norma Operacional de Assistência à Saúde de 2001 e coloca possibilita
avançar ainda mais na regionalização da assistência à saúde através da
organização e articulação de redes intermunicipais para a oferta e acesso aos
serviços em seus diferentes níveis de complexidade (Castro e Moreira, 2002; SES-
RJ, 2006). Apesar de importantes estas iniciativas, ainda se encontram
desarticuladas e setorializadas e instâncias integrandos o conjunto de municípios,
nos diversos temas, ainda se encontram pouco estruturadas. Conforme podemos
verificar no Quadro 60, chama a atenção o fato de nenhum dos municípios, apesar
da interdependência entre estes, participar de um plano diretor regional, entre
outros, que seria vital para a Região. Fora o CEIVAP, que envolve todos os
municípios, o único que envolve um conjunto maior de municípios (5 no total) é o
uso de recursos naturais, vindo em seguida qualidade da água e disposição de
resíduos domésticos (3 no total) e por fim recuperação de áreas degradadas e
tratamento de esgoto urbano. Quadro 60: A Prefeitura Participa dos Seguintes Consórcios e Comitês de Bacias Hidrográfica
A B C D E F G H I J K L M Total de respostas
simBarra do Piraí ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● 1
Barra Mansa ○ ● ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ● ○ ○ ● 4
Itatiaia ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ● ○ ● ● 4
Pinheiral ● ● ○ ○ ○ ● ● ○ ● ● ○ ○ ● 7
Piraí ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ● 2
Porto Real ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● 1
Quatis ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● 1
Resende ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● 1
Rio Claro ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ● 2
Rio das Flores ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● 1
Valença ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● 1
Volta Redonda ○ ● ○ ○ ○ ● ○ ○ ● ● ○ ○ ● 5
Total de respostas
sim
1 3 0 0 0 3 2 0 2 5 0 2 12 30
Legenda: A) Deslizamento de encostas; B) Disposição de resíduos sólidos domésticos; C) Enchentes; D) Planos diretores locais e regionais; E) Presença de vetor de doenças; F) Qualidade da água; G) Recuperação de áreas degradadas; H) Sistema de captação de distribuição de água potável; I) Tratamento de esgoto urbano; J) Uso de recursos naturais; K) Zoneamento ecológico-econômico regional; L) Outros; M) Comitê de Bacia Hidrográfica.Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)Fonte: IBGE, 2005
162
163
Considerações FinaisConforme observamos na introdução deste relatório, o objetivo deste projeto foi, a
partir da reunião de informações diversas (um dos pressupostos para a adoção de
enfoques ecossistêmicos no WRI) e de fácil acesso para pesquisadores e o público
em geral, oferecer subsídios para a construção de indicadores de sustentabilidade
ambiental e de saúde em perspectiva ecossistêmica que permitam responder as
duas primeiras perguntas do grupo 1 (condições e tendências) presentes na
estrutura conceitual do MEA, tendo como base territorial de referência é a Região do
Médio Paraíba, composta por 12 municípios:
Em primeiro lugar, ficou evidente na primeira parte deste artigo que ainda é baixa
a produção científica expressa na forma de artigos que tratem de considerar a
interface ecossistemas e saúde humana, sendo ainda menor a que procura integrar
esta interface através do desenvolvimento de enfoques ecossistêmicos em saúde.
Em segundo lugar, é importante se observar que sobre o nome geral de enfoques
ecossistêmicos temos relevantes diferenças entre ambos. A ASE é eficiente no
aspecto comunicacional ao utilizar a metáfora do ecossistema como um paciente.
Permite sensibilizar grande parte do público sobre as inter-relações entre saúde e
ambiente. Entretanto, esta mesma metáfora, por outro lado, tende a aprisionar a
compreensão da saúde aos aspectos predominantemente biomédicos. Além do
mais, embora neste enfoque a ASE se preocupe em definir quatro dimensões, entre
estas a sócio-econômica, não demonstra de forma clara como trabalhá-las de
maneira integrada, mantendo ainda a dicotomia sociedade-natureza. Porém,
avança bastante na proposição de atributos à serem investigados para avaliar a
saúde dos ecossistemas, quando define os oito critérios fundamentais. Estes
critérios apresentam o grande potencial de se constituírem como indicadores
ecossistêmicos para avaliações, diagnósticos e estratégias de monitoramento. Parte
destes critérios se encontram presentes na estrutura conceitual do MEA que foi a
base conceitual deste relatório.
Em terceiro lugar vimos o quanto o debate sobre indicadores de sustentabilidade
vem crescendo e se ampliando, mas como ainda são poucas as interfaces entre os
de saúde e ambiente, assim como os aspectos sociais e econômicos ainda são
tratados de modo fragmentado, sendo a situação pior nos indicadores de saúde
utilizados no nível global, limitando-se aos gastos com saúde.
163
164
Por fim, vimos que, apesar das poucas informações ambientais, há o potencial de
se avançar em relação aos indicadores em perspectiva ecossistêmica, reunindo um
conjunto de informações sobre municípios integrantes da Região do Médio Paraíba,
de modo a indicar condições e tendências da sustentabilidade ambiental e do bem-
estar, compreendendo a saúde como componente deste.
Através de um conjunto de dados, indicadores e índices sobre as condições
socioeconômicas, ambientais e de bem-estar, assim como sobre a estrutura
institucional para a sustentabilidade procurou-se demonstrar como forças motrizes
diretas e indiretas vem, desde o século XIX extensivamente e intensivamente
contribuindo para a degradação nos serviços dos ecossistemas. Se a economia e a
população cresceram na Região, assim como a expectativa de vida aumentou e a
mortalidade infantil diminuiu, isto não representa que este processo seja sustentável,
pois vem ocorrendo de modo desigual e com tendências de degradação
socioambiental que ainda não encontram barreiras suficientes na estrutura
institucional vigente, potencializando efeitos modulados, mediados e falhas no
sistema socioambiental, resultando em doenças, agravos à saúde e restrições ao
bem-estar.
As limitações deste relatório se relacionam aos próprios limites das informações
disponíveis, principalmente ambientais no nível municipal, onde ainda é bastante
incipiente a disponibilidade de indicadores de sustentabilidade, particularmente
sobre ecossistemas e seus serviços. Além disto, deve-se considerar também que a
maioria das informações disponíveis, apesar de possuírem potencial representativo
para a sustentabilidade, foram desenvolvidas com outros objetivos: sociais,
ambientais, econômicos e de saúde.
Outra limitação se relaciona ao insuficiente diálogo entre os setores ambiental e
saúde para a construção conjunta de indicadores. Quando os indicadores
ambientais incorporam aspectos de saúde, acabam por, de modo geral, limitar-se
aos de mortalidade infantil e expectativa de vida ao nascer. Quando os indicadores
de saúde incorporam aspectos ambientais, restringem-nos aos temas como
qualidade da água para consumo humano e saneamento, basicamente acesso à
rede de esgotamento sanitário e coleta de lixo, mantendo o paradigma ambiental do
higienismo do século XIX. Quanto as informações sociais e econômicas estas ainda
são tratadas de modo fragmentado pelos setores saúde e ambiente.
164
165
Estas limitações devem ser compreendidas como desafios para a construção de
indicadores de sustentabilidade que permitam verificar condições atuais, tendências
de evolução temporal e distribuição espacial dos processos de mudanças
socioambientais que podem resultar em transformações ambientais e alterações nos
serviços dos ecossistemas, afetando positivamente ou negativamente a saúde e o
bem-estar humano.
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