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Relatório Técnico-Científico ABORDAGEM ECOSSISTÊMICA PARA O DESENVOLVIMENTO DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E DE SAÚDE – REGIÃO DO MÉDIO PARAÍBA, RIO DE JANEIRO 1 (2007) Equipe: Carlos Machado de Freitas (Coordenador) – Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana; Escola Nacional de Saúde Pública; Fundação Oswaldo Cruz – CESTEH/ENSP/FIOCRUZ Simone Gomes de Oliveira (ENSP/FIOCRUZ) Gabriel Eduardo Schütz (ENSP/FIOCRUZ) 1 Projeto financiado por: 1) Programa de Apoio à Pesquisa Estratégica em Saúde – Água (PAPES-Água), Vice-Presidência de Ambiente e Serviços de Referência, Fundação Oswaldo Cruz; 2) Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), projeto 481281/2004-5.

ENFOQUES ECOSSISTÊMICOS E SAÚDE – … · Web viewNa realidade, não se deve perder de vista que o IDH foi criado por uma agência internacional (UNDP – United Nations Development

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Relatório Técnico-Científico

ABORDAGEM ECOSSISTÊMICA PARA O DESENVOLVIMENTO DE INDICADORES DE

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E DE SAÚDE – REGIÃO DO MÉDIO PARAÍBA, RIO DE JANEIRO1

(2007)

Equipe: Carlos Machado de Freitas (Coordenador) – Centro de Estudos da Saúde do

Trabalhador e Ecologia Humana; Escola Nacional de Saúde Pública;

Fundação Oswaldo Cruz – CESTEH/ENSP/FIOCRUZ

Simone Gomes de Oliveira (ENSP/FIOCRUZ)

Gabriel Eduardo Schütz (ENSP/FIOCRUZ)

Marcelo Bessa Freitas (EPJVS/FIOCRUZ)

1 Projeto financiado por: 1) Programa de Apoio à Pesquisa Estratégica em Saúde – Água (PAPES-Água), Vice-Presidência de Ambiente e Serviços de Referência, Fundação Oswaldo Cruz; 2) Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), projeto 481281/2004-5.

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Sumário

Introdução .......................................................................................................... 02-041. Ecossistemas e Enfoques Ecossistêmicos nas Revistas de Saúde Pública da América Latina ................................................................................................... 05-062. As Vertentes dos Enfoques Ecossistêmicos ............................................. 07-14

2.1. Abordagem da Saúde de Ecossistemas (ASE) ................................... 07-102.2. Abordagem Ecossistêmica em Saúde (AES) ...................................... 10-152.3. Possibilidades e limites das duas abordagens .................................. 15-16

3. Reunindo Informações Numa Abordagem Ecossistêmica ........................15-214. Enfoques Ecossistêmicos e Indicadores de Sustentabilidade ................. 22-

38 4.1. Contextos e Avaliações em torno dos Indicadores ............................ 25-274.2. Indicadores e Índices – A Agregação das Informações ..................... 27-324.3. Informações Necessárias e Bases de Dados ..................................... 33-39

5. Indicadores de Sustentabilidade Ambiental e de Saúde em Perspectiva Ecossistêmica ................................................................................................... 40-00

5.1. Proposta de Indicadores de Sustentabilidade Ambiental e de Saúde em Perspectiva Ecossistêmica .............................................................................. 40-55

5.2. Indicadores de Sustentabilidade Ambiental e de Saúde em Perspectiva Ecossistêmica na Região do Médio Paraíba .................................................. 55-00

5.2.1. Estrutura espacial ........................................................................... 00-005.2.2. Estrutura demográfica ................................................................... 00-005.2.3. Estrutura econômica ...................................................................... 00-005.2.4. Condições ambientais .................................................................... 00-005.2.5. Condições de Bem-estar ................................................................ 00-005.2.6. Estrutura política e institucional para saúde e meio ambiente .. 00-00

Considerações Finais

1

2

IntroduçãoA escala, magnitude e incertezas que permeiam a atual crise ambiental

demonstram como as atividades humanas vêm produzindo drásticas mudanças

ambientais, nos níveis local e global, resultando em muitos e sérios problemas de

saúde. Por sua própria natureza complexa, estes problemas requerem a busca de

enfoques alternativos que integrem os aspectos socioeconômicos com os biofísicos

na compreensão e busca de soluções dos mesmos.

Na passagem do século XX para o XXI a necessidade de desenvolvimento destes

enfoques alternativos intensificou-se, sendo expressivo deste processo o relatório do

World Resources Institute (WRI, 2000) para biênio 2000-2001. Este relatório aponta

a necessidade de adoção de um enfoque ecossistêmico que possibilite

cientificamente reconhecer os “sistemas” nos ecossistemas de modo holístico e não

setorial, orientado para a tomada de decisão e que tenha como pressupostos a

capacidade de contribuir para: (1) reunião de informações diversas, que possibilitem

demonstrar as interfaces entre bens e serviços dos vários ecossistemas que devem

ser equilibradas com as metas ambientais, políticas, sociais e econômicas; (2)

formulação de políticas públicas amplas e instituições mais efetivas para

implementar as mesmas; (3) participação do público na gestão dos ecossistemas,

particularmente as comunidades locais.

Em 2001, as Nações Unidas lançam o Millennium Ecosystem Assessment (MEA,

2005), um programa de quatro anos concebido para responder às necessidades de

informações científicas sobre a relação entre mudanças nos ecossistemas e bem-

estar humano para os tomadores de decisões políticas. Seus resultados foram

divulgados em março de 2005 e apontam para a seguinte situação:

1. Nos últimos 50 anos, os humanos mudaram os ecossistemas mais

rapidamente e extensivamente do que em qualquer outro período da história,

em grande parte para atender sua crescente demanda de provisão de

serviços. Entre 1960 e 2000 a população mundial dobrou e a economia

global cresceu mais do que seis vezes, contribuindo para o aumento na

demanda por alimentos, consumo de água e energia.

2

3

2. Aproximadamente 60% dos serviços dos ecossistemas examinados estão

sendo degradados ou utilizados de modo insustentável, com custos difíceis

de estimar, mas crescentes. Entre estes serviços estão incluídos a provisão

de águas frescas, a purificação da água e do ar, a regulação do clima regional

ou local, os perigos naturais e pestes.

3. Há evidências de que essas mudanças vem aumentando as chances de

mudanças não-lineares nos ecossistemas, o que inclui a aceleração de

mudanças abruptas e irreversíveis, ocasionando importantes conseqüências

para os humanos (doenças emergentes, alterações abruptas da qualidade da

água, colapso na provisão de alimentos, e mudanças no clima regional).

4. Os efeitos negativos da degradação dos serviços dos ecossistemas ocorrem

de modo desproporcional para as populações mais pobres, contribuindo para

crescentes iniqüidades e disparidades entre grupos populacionais,

constituindo-se também em fator na origem da pobreza e de conflitos sociais.

A estrutura conceitual que permitiu chegar à estes resultados considerou as

forças motrizes diretas e indiretas que contribuíram para as mudanças nos

ecossistemas e nos serviços dos ecossistemas, resultando em conseqüências

sociais, econômicas e bem-estar humano; procurando responder à 4 perguntas

distribuídas em 3 grupos. No grupo 1 (condições e tendências): 1) quais são as

condições atuais e tendências históricas do ecossistema e seus serviços; 2) quais

tem sido as conseqüências para o bem-estar humano das mudanças nos

ecossistemas. No grupo 2 (cenários): 3) considerando mudanças plausíveis nas

forças motrizes primárias, quais serão as conseqüências para os ecossistemas,

seus serviços e o bem estar humano (deve enfatizar surpresas e não tendências

centrais, considerando resultados plausíveis de forças motrizes ambíguas e

imprevisíveis; ser consistente com o estado da arte em informação ecológica,

considerando anos à frente. No grupo 3 (respostas): 4) o que podemos fazer acerca

da questão, o que envolve um conjunto de políticas ou medidas – intervenções

legais, econômicas, financeiras, institucionais, sociais ou cognitivas - que impactem

o estado e o funcionamento atual dos ecossistemas, envolvendo um planejamento

que afete as forças motrizes indiretas, diretas e o bem estar humano.

3

4

A questão de como as mudanças nos ecossistemas resultam em conseqüências

presentes e futuras para o bem-estar e a saúde dos humanos fazem parte das

agendas científica e política globais atuais, sendo desenvolvidos enfoques que

permitam tratar da dupla relação entre a saúde de ecossistemas e saúde humana,

por um lado, e o conhecimento científico e a tomada de decisão política, por outro. O

objetivo deste projeto é, a partir da reunião de informações diversas (um dos

pressupostos para a adoção de enfoques ecossistêmicos no WRI) e de fácil acesso

para pesquisadores e o público em geral, oferecer subsídios para a construção de

indicadores de sustentabilidade ambiental e de saúde em perspectiva ecossistêmica

que permitam responder as duas primeiras perguntas do grupo 1 (condições e

tendências) presentes na estrutura conceitual do MEA.

A base territorial de referência é a Região do Médio Paraíba, composta por 12

municípios: Barra do Piraí, Barra Mansa, Itatiaia, Pinheiral, Piraí, Porto Real, Quatis,

Resende, Rio Claro, Rio das Flores, Valença, Volta Redonda. Estes 12 municípios

integram uma região que sofreu profundas transformações ambientais desde o

Século XIX, com mais de 90% da população vivendo em áreas urbanas,

predominando áreas de campos e pastagens, com alguns municípios altamente

industrializados e integrados na economia global. Esta base territorial constitui a

Região de Saúde do Médio Paraíba, que integra o processo de regionalização da

assistência e que exige maior organização e articulação regional para a oferta e o

acesso aos serviços de saúde. Consideramos que contribuindo para a construção

de indicadores de sustentabilidade ambiental e de saúde que permitam

compreender as condições atuais e tendências históricas de mudanças nos

ecossistemas e seus serviços na Região, bem como as conseqüências para o bem-

estar e saúde, estaremos contribuindo para o processo de regionalização da

assistência, pois esta não pode estar dissociada de uma lógica de regionalização

das ações de vigilância e monitoramento das condições de saúde e bem-estar da

população na sua relação com as mudanças nos ecossistemas e seus serviços.

Para atingir este objetivo, organizamos este relatório em cinco partes. Na

primeira, descrevemos brevemente a situação atual de produção científica no âmbito

da Saúde Pública sobre ecossistemas e saúde humana na América Latina. Na

segunda descrevemos e comparamos as duas vertentes que se encontram na base

do debate teórico e metodológico sobre os enfoques ecossistêmicos: (a) Abordagem

de Saúde de Ecossistemas (ASE); (b) Abordagem Ecossistêmica em Saúde (AES).

4

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Na terceira analisamos os trabalhos empíricos que tenham adotado enfoques

ecossistêmicos produzidos por pesquisadores da América Latina ou sobre países do

continente tendo como referência o primeiro pressuposto apontado no relatório do

WRI (WRI, 2000), analisando as possibilidades e limites de reunião de informações

diversas para a construção de indicadores. Na quarta analisamos criticamente

possibilidades e limites na construção de indicadores. Na quinta parte procuramos

reunir informações diversas para a construção de indicadores para a Região de

Saúde do Médio Paraíba do Sul.

5

6

1. ECOSSISTEMAS E ENFOQUES ECOSSISTÊMICOS NAS REVISTAS DE SAÚDE PÚBLICA DA AMÉRICA LATINA

Na América Latina, em particular no Brasil, desde o início do século XXI,

discussões e estudos no âmbito da Saúde Pública baseados nestes enfoques vêm

crescendo. Em 2001, no volume 17 da revista Cadernos de Saúde Pública, por

exemplo, podemos citar a publicação no primeiro número do artigo Social

Ecosystem Health: Confronting the Complexity and Emergence of Infectious

Diseases 3, e um suplemento especial que teve como tema Uma Abordagem

Ecossistêmica à Saúde Humana: Doenças Transmissíveis e Emergentes (CSP,

2001). Neste suplemento os artigos trataram de questões bastante diversas tais

como: a aplicação destes enfoques às doenças (síndromes pulmonares,

leptospirose, dengue, malária, arbovíroses, doença de chagas e leshmaniose, por

exemplo); a gestão integrada de doenças e de recursos naturais, a mobilização e

participação popular; as estratégias de vigilância e monitoramento dos problemas

ambientais e de saúde.

Em 2002, como exemplos, citamos o capítulo de um livro sobre saúde e ambiente

sustentável, Enfoque Ecossistêmico de Saúde e Qualidade de Vida (Minayo, 2002) e

o documento Desafíos e Estrategias Para la Implementación de Un Enfoque

Ecosistémico Para a Saúde Humana en los Países em Desarrolo – Reflexiones a

Propósito de las Consultas Regionales Realizadas (Feola & Bazzani, 2003),

publicado pela Oficina Regional para América Latina e Caribe (Uruguai), do Centro

Internacional de Investigações para o Desenvolvimento (Canadá).

Levantamento realizado nas revistas de saúde pública latino-americanas

disponíveis no Scielo (http://wwww.scielosp.org) até 2004, identificou através do

assunto “ecossistema” e “ecosystem” 19 e 23 artigos respectivamente. Do total de

24 artigos nos dois levantamentos, identificamos 4 tendo como referência o enfoque

da ecologia de vetores (Guimarães e col., 2001; Souza-Santos, 2002; Guimarães e

col., 2000; Albuquerque e col., 2000); 2 fazendo a interface entre a ecologia de

vetores e o ecossistema como lugar modificado (Dias-Lima e col., 2002;

Vasconcelos e col., 2001); 7 tratando o ecossistema como um lugar, que foi

modificado e tornou-se propício às doenças (Silva, 2001; Anyamba e col., 2001;

Zimmerman, 2001), em que se encontra a presença do vírus (Ishak e col., 2003;

Echevarría & Leon, 2003), onde ocorrem doenças (Moreira e col., 2002; Davies e

col., 2000) e onde deve se dar a intervenção (Loyola, 2002); 9 adotando enfoques

6

7

ecossistêmicos que, em maior ou menor grau, tinham como base os pressupostos

apontados no relatório do WRI (2005). Destes 9 artigos, apenas 1 foi publicado por

pesquisadora brasileira (Possas, 2001). Os outros estão distribuídos

geograficamente do seguinte modo: 4 publicados por pesquisadores da América

Latina, tais como Peru (Murray & Sánchez-Choy, 2002), Colômbia (Carrasquilla,

2001; Rojas, 2001), Paraguai (Rojas-de-Arias, 2001), Argentina (Sosa-Estani e col.,

2001); 2 publicados por pesquisadores do Canadá (Nielsen, 2001; Waltner-Toews,

2001); 1 publicado por pesquisador da Suécia (Follér, 2001); 1 envolvendo a

cooperação entre pesquisadores do Quênia, Suíça e Itália (Baumgärtner e col.,

2001).

Do apresentado até aqui, podemos constatar que enfoques ecossistêmicos para a

saúde humana vêm cada vez mais ocupando espaço na agenda de pesquisas

orientadas para a solução de problemas ambientais. Entretanto, nas revistas

científicas específicas de saúde pública na América Latina, os dados revelam que a

palavra ecossistema ou “ecosystem” só recentemente vem sendo incorporada (os

artigos mais antigos datam de 2000) e que a maioria dos artigos o ecossistema não

é tratado de forma sistêmica, mas como o lugar do vetor (ecologia de vetores), do

vírus, da doença e da intervenção. Baseados em estudo anterior (Freitas e col.,

2005), podemos afirmar, que ainda é pequena a produção científica expressa na

forma de artigos que tratem de considerar a interface ecossistemas e saúde

humana, sendo ainda menor a que procura integrar esta interface através do

desenvolvimento de enfoques ecossistêmicos em saúde.

7

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2. AS VERTENTES DOS ENFOQUES ECOSSISTÊMICOSPodemos identificar na atualidade duas grandes vertentes que estão na base dos

estudos que adotam um enfoque ecossistêmico. Uma valoriza fortemente o

desenvolvimento de modos de mensuração que permitam identificar sinais e

sintomas de como as mudanças nos ecossistemas podem afetar a saúde dos

mesmos e, por conseguinte, apresentam o potencial presente ou futuro de afetar a

saúde humana (Rapport, 1998a; Jorgensen e col., 2005; Aron & Patz, 2001). A

outra valoriza fortemente o desenvolvimento de abordagens contextualizadas e

participativas de como as mudanças nos ecossistemas de determinados lugares

(aldeias, vilarejos, pequenas cidades, por exemplo) afetam a saúde das

comunidades locais (Kay e col., 1999; Waltner-Toews, 2004; Lebel, 2003). A

primeira privilegia a construção de informações científicas que subsidiem a tomada

de decisão. A segunda privilegia a construção coletiva de informações, de modo que

os atores locais possam participar de modo mais qualificado das demandas ou

mesmo das tomadas de decisões.

2.1. Abordagem da Saúde de Ecossistemas (ASE) A ASE busca ser uma ciência integrativa, procurando ir além das fronteiras do

estresse ecológico, um campo voltado estritamente para os aspectos biofísicos dos

problemas ambientais. Procura integrar ciências naturais (dimensão biofísica),

sociais (dimensão socioeconômica) e da saúde (dimensão da saúde humana),

utilizando como recurso a metáfora do ecossistema como um paciente, que implica

em: 1) diagnosticar as disfunções dos ecossistemas, através do monitoramento de

sinais e indicadores, com o objetivo de identificar riscos de deterioração,

identificando os ecossistemas “saudáveis” (desejáveis) daqueles considerados

“patológicos” (indesejáveis); 2) oferecer opções para mudanças de estado dos

ecossistemas, focalizando em estratégias preventivas a fim de reduzir custos de

intervenções pós-danos, assim como, perdas de oportunidades econômicas, de

riscos à saúde humana e de rupturas sociais por conta da degradação ambiental

ocorrida (Rapport, 1998b; Rapport, 1998c).

Como uma ciência integradora, a ASE busca superar os limites das abordagens

dominantes econômicas (centrada nos preços de mercados que refletem a escassez

atual de recursos naturais e não considerando as conseqüências para gerações

futuras), ecológicas (tendência a deixar a sociedade e atividades econômicas de

8

9

lado, sendo ambas vistas como forças “externas”) e das engenharias (busca de

soluções pontuais baseadas em estratégias de comando e controle).

A integração proposta pela ASE se faz através da análise de diferentes

dimensões e atributos. Em relação às dimensões são consideradas quatro grandes

estratégias de análise. Na dimensão biofísica são avaliadas as estruturas e funções

dos ecossistemas, investigando fatores associados aos ciclos de nutrientes, fluxos

de energias, diversidade, dominância de espécies biológicas, ciclos e seqüestro de

substâncias tóxicas e a diversidade de habitats. Na dimensão sócio-econômica, os

aspectos econômicos e sociais são tratados de forma conjunta enfatizando as

diferenças na capacidade produtiva dos ecossistemas, assim como, a atribuição de

diferentes valores para o meio ambiente pelas populações, que repercutem

diretamente nas políticas econômicas dos países, independente do estágio de

desenvolvimento em que se encontrem. Na dimensão saúde humana é estabelecido

o nexo causal entre doenças e riscos à saúde humana e o desequilíbrio do estado

de saúde dos ecossistemas, independentemente de serem doenças infecto-

contagiosas ou crônico-degenerativas. E, por último, no que consideram dimensão

espaço-temporal, são abordadas as diferentes respostas dos ecossistemas às

variadas formas de estresse, sejam uni ou multi-causais, ao produzirem mudanças

de efeito cumulativo e/ou sinérgico afetando a viabilidade do sistema. Por exemplo,

sinais de disfunções observados em componentes isolados em escala local em uma

análise tradicional e reducionista podem acabar por considerar o ecossistema em

questão como saudável. Entretanto, padrões complexos inerentes às respostas dos

ecossistemas sob estresse podem significar, em larga escala espacial e temporal,

disfunções que tornam o mesmo ecossistema não saudável (exemplo das atividades

agrícolas no nível local que podem se transformar em impactos para todo o sistema

agro-pecuário) (Rapport, 1998b; Rapport, 1998c).

Em relação aos atributos a ASE sugere oito critérios/indicadores para a saúde de

ecossistemas aplicáveis na integração das dimensões acima explicitadas. Os três

primeiros critérios/indicadores (vigor, resiliência e organização) são caracterizados

por sua origem predominantemente biológica e permitem avaliar estrutura e funções

dos ecossistemas, sendo considerados os componentes primários da saúde de

ecossistemas. Os demais critérios/indicadores representam a capacidade de gestão,

planejamento e sustentabilidade das medidas de mitigação e de compensação

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tomadas pela sociedade frente a situações de danos ambientais (Rapport, 1998b;

Rapport, 1998c). Estes oito atributos são descritos no Quadro 1.

Quadro 1: Atributos da Abordagem da Saúde de EcossistemasNome do critério/indicador Definição do critério/indicador

Vigor

Refere-se a energia ou atividade no contexto de um ecossistema. A energia refere-se à potência/rendimento e pode ser mensurada em termos de ciclagem de nutrientes e produtividade. Embora o estresse em muitos ecossistemas esteja associado com menor vigor em termos de produtividade e potência/rendimento, isto não significa que quanto mais alto a potência/rendimento, mais saudável será o ecossistema.

ResiliênciaRefere-se a capacidade um sistema enfrentar o estresse e retornar ao estado anterior, quando o estresse diminui. Esta capacidade é referida como “capacidade opositiva” e é mensurada pela capacidade do sistema para se recuperar após uma perturbação.

Organização

Refere-se a complexidade e interrelação entre os diferentes elementos bióticos e abióticos de cada ecossistema. Ecossistemas sob estresse, em geral, demonstram redução da riqueza de espécies, poucas relações simbióticas e mais espécies oportunistas entre os elementos destes sistemas.

Manutenção dos Serviços dos Ecossistemas

Este atributo vem emergindo como um critério chave para avaliação da saúde de ecossistemas e refere-se às funções que beneficiam as comunidades humanas, tais como detoxificação de substâncias químicas, purificação da água, produção de interrelações entre espécies e redução da erosão.

Opções de Gestão

Ecossistemas saudáveis oferecem maior diversidade de potenciais de usos, tais como colheitas/safras de recursos renováveis, recreação e provisão de água para consumo humano. Por outro lado, ecossistemas sob estresse não oferecem muitas opções de uso ou não conseguem manter/suportar tais opções por longos períodos.

Subsídios Reduzidos

Ecossistemas saudáveis não requerem um aumento de subsídios para manter sua produtividade. Como exemplo na agricultura, servem de inputs adicionais: trabalho, agrotóxicos e combustíveis fósseis. Subsídios também podem ocorrer na forma de incentivos econômicos que acabam por encorajar a exploração excessiva de recursos naturais, sem requerer para isso que a produção obtida internalize os custos ambientais e de saúde. Geralmente estes custos tendem a ser repassados para a sociedade como um todo e não para os empreendimentos que degradam.

Danos aos Sistemas VizinhosAlguns ecossistemas podem prosperar às expensas de outros. Exemplo disto ocorre quando os resíduos ou contaminantes de uma determinada região são transportados para além de suas fronteiras, ocasionando danos em ecossistemas não geradores dos mesmos.

Efeitos Sobre a Saúde HumanaA saúde humana pode servir como uma medida sinóptica da saúde do ecossistema. Ecossistemas saudáveis são caracterizados pela sua capacidade de sustentar populações humanas saudáveis.

Fonte: Rapport, 1998b

O emprego da metáfora do paciente na ASE constitui requisito fundamental para

o sucesso desta abordagem, funcionando como uma poderosa ferramenta de

comunicação com o público em geral. Sua importância reside na possibilidade de

ampliação da noção de saúde individual e/ou coletiva para a compreensão e

avaliação da saúde dos ecossistemas, assim como, a dependência da saúde

individual à saúde do ecossistema em que esteja inserida. Esta nova percepção da

saúde acarreta tanto no exercício de integração das ciências naturais e sociais,

como traz à tona discussões que objetivam a melhor compreensão da complexidade

associada ao comportamento dos ecossistemas sob as diversas pressões que nele

incidem (Rapport, 1998ª).

10

11

A ASE entendida como uma proposta de integração de ciências une duas

perspectivas distintas: (a) uma “científica” com a finalidade principal de elucidar

como um determinado ecossistema funciona, analisando possíveis padrões

desejáveis (saudáveis) dos ecossistemas mediante o uso de indicadores

quantitativos multidisciplinares; (b) uma “valorativa” em que consideram-se valores,

interesses e direitos sociais, que subsidiados pelo monitoramento de indicadores,

permitiria a avaliação de saúde ecossistêmica para os possíveis cenários futuros do

comportamento atual (Rapport, 1998b; Rapport, 1998c).

2.2. Abordagem Ecossistêmica em Saúde (AES) A proposta apresentada pela AES tem como base três aspectos fundamentais: a

teoria dos sistemas complexos, a hierarquia entre diferentes agrupamentos (hólons)

e a dinâmica dos ecossistemas frente às diferentes escalas (espaciais e temporais)

e aspectos que devem ser utilizados para seu estudo e compreensão. A AES parte

da premissa que as manifestações de doença e de saúde ocorrem em contextos

sócio-ecológicos complexos, caracterizando os ecossistemas como sistemas

holárquicos abertos auto-organizáveis (SOHO – self organizing holarquic open).

Esta abordagem busca determinar elos entre a saúde humana e as atividades ou

eventos que perturbam o estado e a função ecossistêmica (Waltner-Toews, 2001 e

2004; Kay e col., 1999).

O arcabouço teórico-metodológico desenvolvido na AES foi delineado em função

da complexidade inerente aos sistemas sócio-ecológicos que envolvem um conjunto

de agrupamentos hierárquicos em múltiplas escalas (espaciais e temporais) que

tendem à se organizar em círculos de retro-alimentação sociais e ecológicos. O que

se objetiva ao analisar esta complexidade é possibilitar identificar pontos críticos de

instabilidade que, por vezes, podem resultar na emergência espontânea de novas

estruturas e formas de organização que conduzem à mudanças abruptas dos

sistemas e podem resultar desde pequenas alterações até tragédias ambientais

envolvendo o surgimento de pragas ou epidemias (Waltner-Toews, 2001 e 2004;

Kay e col., 1999).

Nesta abordagem, as incertezas são inerentes aos sistemas sócio-ecológicos e

conduzem à uma abordagem direcionada principalmente para os problemas

ecossistêmicos e de saúde locais e regionais. Tem por base o pluralismo

metodológico e incorpora fortemente os princípios da participação social, de modo

11

12

que embora a metodologia proposta possua algumas diretrizes básicas, a

construção da abordagem de investigação e análise dos ecossistemas, bem como a

proposição de estratégias de gestão e políticas públicas, tem por base os processos

de aprendizagem social e colaborativa entre especialistas e atores sociais locais

(Waltner-Toews, 2004; Kay e col., 1999).

A participação e os processos de aprendizagem social e colaborativa podem

conduzir à um tipo de gestão adaptativa, que surge como uma alternativa e ao

mesmo tempo como um complemento à gestão antecipatória tradicional. Na gestão

adaptativa, as diferenças entre como o futuro realmente se revela e como foi

antecipado que ele se revelaria, são vistos como oportunidades de aprendizagem.

O enfoque adaptativo da AES presume que as decisões em torno das questões

ambientais envolvem o mapeamento da visão de como os territórios ou os

ambientes devem co-evoluir como uma entidade auto-organizada. Este caminho

também permite identificar quais são os atores e interesses sociais em jogo,

histórias de vida, preocupações e perspectivas futuras (Waltner-Toews, 2004; Lebel,

2003).

Embora, assim como a ASE, a AES considere também atributos/indicadores que

permitam identificar se um ecossistema se encontra saudável ou não, sua

metodologia se encontra centrada no processo, estabelecido em 4 etapas

articuladas, conforme pode se verificar na Figura 1. Nestas 4 etapas descritas

abaixo, consideram-se dois aspectos fundamentais: 1) as fronteiras de um

ecossistema e/ou problema ambiental são constituídas através da negociação entre

os diferentes atores sociais envolvidos; 2) os papéis e as responsabilidades dos

diferentes atores sociais são definidas à cada passo. Estes dois aspectos exigem

daqueles que se dedicam à esta abordagem a definir regras claras de negociação,

modos de envolver nos momentos apropriados os diferentes atores com interesses

conflituosos, modos de resolver os conflitos e estratégias para manter a participação

dos atores até o fim do processo (Waltner-Toews, 2004; Lebel, 2003).

12

13

Fonte: Waltner-Towes e col., 2002

A primeira etapa do processo consiste em, envolvendo a comunidade local, definir

a situação/problema (articulando uma agenda sobre problemas que devem ser

compreendidos e resolvidos) e a partir daí, desenvolver uma narrativa sobre as

mudanças-chave, tendências e padrões, presentes e passadas, percebidas e

identificadas pela comunidade e pesquisadores. Esta etapa, que não é exaustiva e

oferece um rico contexto, fornece uma base que permite compreender como um

determinado sistema sócio-ecológico chegou ao presente estado (Waltner-Toews,

2001 e 2004; Kay e col., 1999).

Apresentando a situação: o ponto de partida:

Apresentando questões: queixas

e/ou pesquisas/agendas

A história dada: ecológica, física,

social, econômica, governança, etc.

Questões: Ecológicas, Sociais

e de Saúde

Diferentes atores, equipe de pesquisa, e outros interessados

Tomadores de decisões, políticos e outros com

poder de decisão

Análise de:

As pessoas e suas histórias: Múltiplas estórias sociais e ecológicas,

quadros e descrições do sistemaAções e aprendizado colaborativo:

Monitorando e avaliando indicadores: está se

tornando melhor Descrições e narrativas do sistema: desenvolvendo uma compreensão sistêmica:

Síntese do sistema:Qualitativa: narrativas, estórias possíveis, trade-offs, oportunidades e constrangimentosQuantitativa: cenários, trade-offs, custos e benefícios

Implementação: mudança a visão em ações

Desenho de uma abordagem adaptativa para implementação da

nova visão e do aprendizado colaborativo

Busca de soluções: diálogos transversais, negociando trad-offs,

criando visões, narrativa futura coletiva

Análise do sistema:Qualitativa: quadros, modelos conceituais, diagramas do sistema, diferentes perspectivas através das escalasQuantitativa: simulações, SIGs, modelos matemáticos

Figura 1: Diagrama das Etapas da Abordagem Ecossistêmica em Saúde

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A segunda etapa envolve a análise de três componentes: 1) os diferentes atores

sociais e interesses envolvidos; 2) as questões sócio-ecológicas; 3) as estratégias

de políticas públicas e governança. A análise dos diferentes atores sociais e

interesses não só procura identificar quem pode e deve tomar parte nas diferentes

etapas de pesquisa e de gestão do problema, mas também as diferentes “versões”

da realidade, representando as diferentes perspectivas de uma variedade de grupos.

Esta análise fornece elementos para incorporar e reconciliar os mesmos na agenda

de pesquisa e gestão. A análise das questões sócio-ecológicas ocorre a partir de

técnicas participativas que envolvem os diferentes atores e permite identificar

problemas e oportunidades de gestão dos mesmos. Através desta análise

identificam-se tanto as variáveis endógenas e exogénas de cada questão e suas

interações com outras questões, como também os elementos-chave que os atores

locais consideram importante na descrição do sistema e que representarão

elementos para mudanças ou manutenção do status quo. A análise de políticas

públicas e governança devem permitir descrever um contexto mais amplo e as

estruturas relevantes para as mesmas que constranjam ou facilitem a capacidade

local de lidar com os problemas. Fornece elementos para identificar, em um

contexto mais amplo, o necessário a ser transformado para facilitar a busca de

metas sustentáveis pelas sociedades locais (Waltner-Toews, 2001 e 2004; Kay e

col., 1999).

O resultado destas duas etapas anteriores é uma série de narrativas, quadros e

descrições de como o sistema sócio-ecológico é uma visão do que deve mudar na

situação atual. Estas narrativas, nas suas várias formas, servem de base para um

processo mais formal de desenvolvimento de uma compreensão sistêmica da

situação (Waltner-Toews, 2004; Kay e col., 1999).

A terceira etapa é de desenvolvimento de uma compreensão sistêmica das

descrições e narrativas do sistema sócio-ecológico. Envolve dois componentes, a

análise quantitativa e qualitativa do sistema e a síntese das descrições do sistema,

que permitem compreender como as várias narrativas interagem com cada uma

para criar o que reconhecemos como sistema. A análise do sistema consiste

essencialmente na construção de um modelo conceitual que descreve

espacialmente e temporalmente quais são os elementos-chave da situação e como

estes se encontram interconectados e inter-relacionados, identificando os

importantes processos que conformaram a mesma. Esta análise pode iniciar de

14

15

modo qualitativo e por vezes simples, fornecendo importantes insights e sugestões

para ações e, quando dados e informações estão disponíveis, inclui análises

quantitativas chegando a envolver modelos estatísticos, simulações e análises

espaciais. A síntese das descrições do sistema objetiva reconstruir um modelo do

sistema como um todo e analisar o mesmo em termos de saúde e sustentabilidade,

identificando quais são os pontos-chave de interseção entre os vários sub-modelos e

as narrativas futuras (cenários) que conformam a base da elaboração de hipóteses

sobre os prováveis resultados de intervenções particulares. Estes modelos e

narrativas futuras constituem a base das políticas públicas que sejam capazes de

considerar as múltiplas perspectivas e metas envolvidas e possibilitar aos tomadores

de decisões definirem um leque de opções de gestão factíveis e balancear as inter-

relacões entre os aspectos sociais, econômicos e ecológicos (Waltner-Toews, 2001

e 2004; Kay e col., 1999).

Com uma rica descrição e compreensão do sistema sócio-ecológico em mãos,

inicia-se a quarta etapa, que consiste nos seguintes componentes: 1) trabalhar com

os diferentes atores relacionados ao ecossistema para encontrar caminhos que

permitam negociar elementos que se intercambiam; 2) projetar abordagem

adaptativa para implementar um aprendizado colaborativo; 3) implementar

mudanças; 4) monitorar e avaliar as mudanças, de modo que se possa aprender

com elas. O objetivo desta etapa é colocar em ação um processo adaptativo e

colaborativo de aprendizagem para a sustentabilidade do ecossistema e da saúde

(Waltner-Toews, 2001 e 2004; Kay e col., 1999).

Ao mesmo tempo em que tem como base as correntes compreensões sobre

sistemas complexos, AES se pretende participativa e prática, tanto no modo como

formalmente analisamos e sintetizamos a compreensão de sistemas

multidimensionais, como, nos aspectos referentes às intervenções e monitoramento

das mesmas, bem como os ajustes necessários.

2.3. Possibilidades e limites das duas abordagens.É importante se observar que sobre o nome geral de enfoques ecossistêmicos

temos relevantes diferenças. A ASE é eficiente no aspecto comunicacional ao utilizar

a metáfora do ecossistema como um paciente. Permite sensibilizar grande parte do

público sobre as inter-relações entre saúde e ambiente. Entretanto, esta mesma

metáfora, por outro lado, tende a aprisionar a compreensão da saúde aos aspectos

15

16

predominantemente biomédicos. Além do mais, embora neste enfoque a ASE se

preocupe em definir quatro dimensões, entre estas a sócio-econômica, não

demonstra de forma clara como trabalhá-las de maneira integrada, mantendo ainda

a dicotomia sociedade-natureza. Porém, avança bastante na proposição de

atributos à serem investigados para avaliar a saúde dos ecossistemas, quando

define os oito critérios fundamentais. Estes critérios apresentam o grande potencial

de se constituírem como indicadores ecossistêmicos para avaliações, diagnósticos e

estratégias de monitoramento.

Outras diferenças relevantes entre a ASE e a AES incluem a formulação de

mudanças políticas e institucionais, bem como a participação do público. É na AES,

que como vimos vem mais influenciando as pesquisas produzidas na América

Latina, que encontramos estes dois aspectos mais presentes. Porém, importante

observar também que entre os artigos produzidos na América Latina e que tinham

forte influência da AES, a proposição de mudanças e a formulação de políticas

quase sempre centrou-se na escala residencial/comunidade, indo no máximo até a

escala municipal. No que se refere a participação do público, constata-se que esta

vem sendo bastante pontual, não sendo efetivamente incorporada à metodologia

adotada.

Podemos considerar que até o momento, há uma tendência de enfoques

baseados na AES serem mais dominantes nos países da América Latina, ainda que

a maioria apresente pouco desenvolvimento no que se refere aos aspectos de

formulação de estratégias de gestão e políticas públicas, sendo isto bem mais

acentuado no que se refere aos aspectos relacionados à participação. É certo que o

avanço de estudos nesta abordagem exige o desenvolvimento destes aspectos. Por

outro lado, o conjunto de relatórios que iniciam a ser disponibilizados pelas Nações

Unidas através do programa Millennium Ecosystem Assessment em 2005, incluindo

avaliações regionais e da relação ecossistemas e saúde, tenderá a fortalecer

perspectivas na América Latina que se identificam mais com a ASE, já que

privilegiam fortemente a avaliação dos atributos dos ecossistemas, em especial

mudanças nos serviços dos ecossistemas, ainda que em detrimento dos processos

de participação social desde a compreensão até a busca de soluções para os

problemas.

16

17

3. REUNINDO INFORMAÇÕES NUMA ABORDAGEM ECOSSISTÊMCIA Considerando o pressuposto de reunião de informações diversas do WRI, de

modo a se procurar responder às duas primeiras questões da estrutura conceitual do

MEA (1 - quais são as condições atuais e tendências históricas do ecossistema e

seus serviços; 2 - quais tem sido as conseqüências para a saúde das mudanças nos

ecossistemas), que também aparecem em livros recentes sobre o tema produzidos

no Canadá (Waltner-Toews, 2004; Lebel, 2003) e cujo enfoque vem influenciado as

pesquisas produzidas na América Latina (Murray & Sánchez-Choy, 2001;

Carrasquilla, 2001; Rojas-de-Arias, 2001; Sosa-Estani, 2001; Rojas, 2001),

selecionamos cinco dos artigos publicados em revistas de Saúde Pública na

América Latina que tenham adotado uma abordagem ecossistêmica. Todos os

artigos selecionados apresentam resultados de pesquisas realizadas em países da

América Latina e foram publicados no suplemento especial dos Cadernos de Saúde

Pública Uma Abordagem Ecossistêmica à Saúde Humana: Doenças Transmissíveis

e Emergentes, que resultou de um evento organizado e financiado pelo International

Development Research Centre (IDRC) do Canadá na Escola Nacional de Saúde

Pública, em novembro de 1999. A reunião de informações diversas no enfoque

ecossistêmico deve possibilitar demonstrar as interfaces entre bens e serviços dos

vários ecossistemas com as metas ambientais, políticas, sociais e econômicas1.

Dos cinco artigos selecionados para uma análise mais detalhada sobre a

adoção de enfoques ecossistêmicos na América Latina, o de Sosa-Estani e col.

(2001) sobre Síndrome Pulmonar por Hantavírus na Argentina, foi o único em que

não se encontra um quadro combinando informações sobre as diferentes escalas

espaciais e as diversas variáveis ambientais/ecológicas do problema em questão.

Os autores 24 trabalharam com um conjunto de informações relativamente comuns

aos estudos no campo da saúde (sorologia; registros de mortalidade nas pessoas

infectadas; identificação dos genótipos e fenótipos dos vírus; identificação das

espécies de roedores envolvidos). Na perspectiva da ASE, dos oito

critérios/indicadores que devem ser considerados para se avaliar a saúde de um

ecossistema, apenas o oitavo (efeitos sobre a saúde humana) foi considerado

através do conjunto de informações levantadas. Na perspectiva da AES, a análise

do problema envolveu somente uma descrição breve das mudanças sócio-

ecológicas nas três regiões, mas sem envolver as comunidades locais nesta

descrição.

17

18

Os outros quatro artigos (Murray & Sánchez-Choy, 2001; Carrasquilla, 2001;

Rojas-de-Arias, 2001; Rojas, 2001) envolveram a montagem de quadros que

permitiram combinar um conjunto maior de informações, divididas em dois grandes

grupos, sistematizados no Quadro 2.

Quadro 2 – Quadro sobre as variáveis e níveis das escalas espaciais ou dimensões ecológicas nos estudos selecionados desenvolvidos na América Latina

VariáveisAmbientais

e/ou Ecológicas

Relacionadas ao

Ecossistema

Econômicas Sociais Culturais Doenças no contexto do ecossistema

Impactos das intervenções relacionadas ao contexto

do ecossistema

Individual

Familia/Doméstica/ResidencialVizinhança

Aldeia

Comunidade

Paisagem

Municipal

Regional

Nacional

Global

Freitas e col., 2006

O primeiro conjunto trata das escalas espaciais/dimensões ecológicas,

reunindo informações sobre os níveis individual, doméstico/residencial (família),

vizinhança/aldeia/comunidade/paisagem, municipal, regional, nacional e global. O

segundo conjunto trata das variáveis, reunindo informações agrupadas em

ambientais/ecológicas, relacionadas ao ecossistema, econômicas, sociais, culturais,

de doenças no contexto do ecossistema e sobre os impactos das intervenções

relacionadas ao contexto do ecossistema.

Em relação às escalas é importante observar que tanto a ASE como a AES

tratam das trabalhadas nos artigos. Entretanto, o enfoque da AES, privilegia muito

mais a interface entre os níveis doméstico/residencial e

18

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19

vizinhança/aldeia/comunidade/paisagem, de modo que, ainda que se refira as outras

escalas, as locais predominam. Porém, como observado no MEA, uma avaliação

completa das interações entre os humanos e ecossistemas requer uma abordagem

multi-escala, de modo a permitir que a análise das forças exógenas a um dado local

ou região permitam avaliar o impacto diferencial das mudanças nos ecossistemas

sobre o bem-estar humano e a saúde, e apontar para respostas diferenciadas e

combinadas nas diferentes escalas. Assim, o fato dos estudos analisados

centrarem-se na escala local, embora importante, surge como ainda limitado para a

busca de soluções dos problemas.

Nestes quatro artigos, dos oito atributos considerados na ASE, apenas os

efeitos sobre a saúde humana foram efetivamente considerados, tendo sido doenças

específicas (Doença de Chagas, Malária e Leishmaniose) o ponto de partida da

maioria dos estudos. Ainda tendo como referência a ASE, os atributos considerados

como componentes primários da saúde de ecossistemas (vigor, resiliência e

organização) e outros, tais como opções de gestão, subsídios e danos aos sistemas

vizinhos não foram tratados em nenhum dos artigos. Podemos considerar que

somente a manutenção dos serviços dos ecossistemas, atributo que vem emergindo

como um critério chave para avaliação da saúde de ecossistemas, foi considerado,

assim mesmo de forma bastante limitada.

Serviços de ecossistemas é um atributo que se refere às funções que

beneficiam as comunidades humanas. Vem sendo considerado em programas

como o MEA em atributo chave para a consideração dos aspectos de saúde e de

bem-estar humano. De acordo com o MEA, ecossistema é um complexo dinâmico

biótico (plantas, animais e micro-organismos) e abiótico, envolvendo os humanos,

interagindo como uma unidade funcional. Os serviços dos ecossistemas são os

benefícios que as pessoas recebem dos ecossistemas e incluem:

a. Serviços de suporte: serviços necessários para a produção de todos os

outros serviços dos ecossistemas, tais como: formação dos solos e

ciclos de nutrientes, produção primária.

b. Serviços de provisão: envolvem os produtos obtidos dos ecossistemas,

tais como: alimentos, água potável; combustíveis, fibras, compostos

bioquímicos, recursos genéticos.

c. Serviços de regulação: envolvem os benefícios obtidos através da

regulação dos processos dos ecossistemas, tais como: regulação do

19

20

clima, dos ciclos de águas e purificação da mesma, regulação de

doenças, tendo impactos na regulação de enchentes, de secas, e da

degradação dos solos.

d. Serviços culturais: envolvem os benefícios não materiais obtidos dos

ecossistemas, tais como: recreio e turismo, valor espiritual e religioso,

estéticos, educacionais, herança cultural e sensação de lugar.

No Quadro 3 sintetizamos como foram aplicadas informações relacionadas

aos serviços de ecossistemas.

Quadro 3: Síntese do Emprego de Serviços de Ecossistemas nos Estudos Selecionados

Tipo de Serviço Característica Referência Emprego

Provisão

alimentos; água potável; combustíveis, fibras, compostos bioquímicos, recursos genéticos

Murray e col. (2001) Uso de variáveis ambientais/ecológicas e centrado nas escalas locais. As informações consideradas pelos autores foram bastante gerais e trataram da presença e acesso aos recursos naturais para a agricultura, a pesca, a caça, a coleta ou o consumo de água.

Regulação

do clima, dos ciclos de águas e purificação da mesma, da degradação dos solos, etc.

Carrasquilla (2001) e Rojas (2001)

Nas variáveis ambientais/ecológicas circunscritas aos níveis locais, informações gerais sobre a alteração da paisagem pelas formas de uso e ocupação da mesma como processo que desregula a relação homem e ecossistema, favorecendo a doença através da intensificação de contato com vetores.

Carrasquilla (2001), Rojas-De-Arias (2001) e Rojas (2001)

aspectos climáticos (chuvas, umidade, temperatura, aquecimento global, El Nino, La Niña) aparecem como variáveis ambientais/ecológicas, mas situadas na escala regional ou global.

Suporte formação dos solos e ciclos de nutrientes; produção primária

Murray e col. (2001) Encontra-se informação sobre a produtividade do ecossistema através da fertilidade do solo

Culturais

benefícios não materiais obtidos dos ecossistemas, tais como: lazer e turismo, valor espiritual e religioso, estéticos, educacionais, herança cultural e sensação de lugar

Não identificado Não identificado

Em relação aos serviços de provisão, nas variáveis ambientais/ecológicas

encontramos referência somente no artigo de Murray e col. (2001), sendo centrado

nas escalas locais. As informações consideradas pelos autores foram bastante

gerais e trataram da presença e acesso aos recursos naturais para a agricultura, a

pesca, a caça, a coleta ou o consumo de água. Sobre serviços de suporte, é

também neste artigo, que encontramos alguma informação, sendo esta sobre a

produtividade do ecossistema considerada através da fertilidade do solo. Em

relação aos serviços de regulação, encontramos nos artigos de Carrasquilla (2001) e

20

21

Rojas (2001), nas variáveis ambientais/ecológicas circunscritas aos níveis locais,

informações gerais sobre a alteração da paisagem pelas formas de uso e ocupação

da mesma como processo que desregula a relação homem e ecossistema,

favorecendo a doença através da intensificação de contato com vetores. Ainda em

relação aos serviços de regulação, aspectos climáticos (chuvas, umidade,

temperatura, aquecimento global, El Niño, La Niña) aparecem nos artigos de

Carrasquilla (2001), Rojas-De-Arias (2001) e Rojas (2001), como variáveis

ambientais/ecológicas, mas situadas na escala regional ou global.

As variáveis que os autores denominaram de “relacionados ao ecossistema”

centraram-se nos serviços de regulação do ecossistema e trataram dos aspectos

climáticos (Rojas-de-Arias, 2001; Rojas, 2001), indo desde o nível das residências

(em função do material utilizado nas construções e de sua localização geográfica

próxima da floresta) até o nível regional e global (em função da alteração da

paisagem e das mudanças climáticas globais). Enquanto no nível residencial se

procurou indicar como tais aspectos favorecem a presença e o aumento da

população de vetores, no nível regional global procurou-se indicar como as

mudanças nos padrões climáticos da região estavam afetando as práticas agrícolas

e comportamento dos indivíduos em função das mudanças climáticas globais,

alterando os regimes de chuvas e enchentes, por exemplo.

As duas primeiras variáveis “ambientais/ecológicas” e “relacionados ao

ecossistema” compõem um conjunto que trata das mudanças no ecossistema. Um

segundo grupo de variáveis, que veremos a seguir, tratou dos aspectos econômicos,

sociais e culturais.

Em relação as variáveis econômicas (Carrasquilla, 2001; Rojas-de-Arias,

2001; Rojas, 2001), estas podem ser distribuídas em três grandes grupos. O

primeiro tratando do impacto negativo da morbi-mortalidade resultante da doença. O

segundo tratando do impacto positivo das intervenções na redução da morbi-

mortalidade, apontando para a necessidade de o governo assumir estes gastos. O

terceiro e maior grupo, tratou das variáveis que apontavam para forma de

organização da economia na localidade estudada (propriedade da terra,

produtividade, rendimentos, financiamentos, escoamento da produção, corrupção,

desemprego, acesso e utilização de recursos naturais, fluxos de migração em

função do empobrecimento de determinadas regiões, etc.).

21

22

Em relação as variáveis sociais (Carrasquilla, 2001; Rojas-de-Arias, 2001;

Rojas, 2001), estas foram bastante amplas, sendo algumas muito próximas das

econômicas. Trataram das formas de organização social da família e da

comunidade; do estigma social derivado da doença; da identificação das tomadas de

decisões sobre a doença no nível familiar pela mulher e da centralização das

tomadas de decisões sobre o nível local pelo Ministério da Saúde; as formas de

organização da comunidade para o combate à doença, a participação nas tomadas

de decisões e a formação de cooperativas; o acesso à educação, aos serviços de

saúde e à habitação; os movimentos migratórios; a omissão do poder público e a

perda da confiança da comunidade em relação aos tomadores de decisões; entre

outras.

Em relação as variáveis culturais (Carrasquilla, 2001; Rojas-de-Arias, 2001),

estas trataram também de aspectos bastante variados. Envolveram a percepção da

doença; as mudanças e choques culturais resultantes dos movimentos migratórios;

os saberes, crenças e práticas que determinam ações em direção ou não ao

aumento da doença; as formas de uso das habitações; a dependência de agentes

externos para organização da comunidade para combater a doença; diferenças nas

normas culturais em diferentes grupos étnicos.

As variáveis sobre a “doença no contexto do ecossistema” se misturam com

todas as anteriores, pois envolveram tanto aspectos das mudanças nos

ecossistemas, como os econômicos, sociais e culturais. Envolveram as formas de

organização social e cultural dos domicílios e peri-domicílios, bem como da

comunidade, contribuindo de forma favorável para a presença e proliferação do vetor

(nível individual e residencial); as características resultantes das mudanças

ecológicas da localidade e da região como favoráveis a presença e proliferação do

vetor (do nível local ao nível regional); as características sócio-econômicas

favorecendo a pobreza e, por sua vez, combinadas com as mudanças ecológicas

contribuindo para o aumento da doença.

O último grupo de variáveis foi circunscrito aos “impactos das intervenções

relacionados ao contexto do ecossistema” (Rojas-de-Arias, 2001; Rojas, 2001), e

podem ser sistematizadas em dois grupos. O primeiro trata de intervenções visando

a redução das condições propícias ao vetor ou mesmo sua eliminação na

comunidade, envolvendo a utilização de produtos químicos, acompanhadas de

programas para o controle da doença, bem como planos para melhoria das

22

23

habitações rurais e, em alguns casos, a nucleação das mesmas em determinadas

áreas. O segundo trata das intervenções econômicas que favoreçam mudanças nas

formas de organização da comunidade no nível local, através da criação de pólos de

desenvolvimento regional (incluindo acesso aos serviços como água, eletricidade e

gás) e da geração de alternativas de trabalho de modo a evitar que as atividades

laborais resultem em maio exposição aos vetores. No nível global as intervenções

envolvem aspectos como a redefinição das políticas governamentais de atenção à

saúde, a redução do aquecimento global ou maior ajuda da comunidade

internacional.

Os artigos em questão, particularmente os que tiveram o enfoque centrado na

AES, ainda que limitados no que se refere ao tratamento de informações relativas

aos atributos descritos na ASE (mesmo os somente relacionados aos serviços dos

ecossistemas), foram capazes de reunir um conjunto de informações bastante

diversas e foram, em certo grau, capazes de demonstrar as interfaces entre bens e

serviços dos vários ecossistemas e suas interfaces com aspectos econômicos,

sociais e culturais. É importante observar que, embora estes aspectos não sejam

exclusivos da AES, sua própria abordagem favorece que sejam tratados de modo

mais contextual. Seu maior limitante se refere exatamente ao fato de, apesar de

citarem outros níveis de escalas ou dimensões ecológicas, não as terem trabalhado

de modo articulado com os outros, centrando-se nos locais.

De qualquer modo, para que se possa avançar na reunião de informações

diversas e construir indicadores numa abordagem ecossistêmica, existem ainda

barreiras para serem superadas nos países da América Latina, tanto em relação a

quantidade de dados disponíveis, como também a sua qualidade, que acabam por

limitar o potencial de reunião de informações diversas, tal como proposto pelo WRI

(2005). Consideramos que para os países da América Latina em geral, e o Brasil,

especificamente, quatro grandes barreiras contribuem para esta situação quando o

assunto envolve reunir informações diversas sobre ecossistemas: 1) a pouca

tradição e restrita disponibilidade de dados ambientais e de ecossistemas,

comparado com dados sociais ou econômicos (Jannuzzi, 2004; IBGE, 2005); 2)

dados e medições idealmente específicos para um ecossistema em questão,

apresentam limitações para serem extrapolados para outras escalas (bio-regiões,

eco-distritos) e não costumam ser facilmente enquadrados nos limites políticos-

administrativos de municípios ou estados que norteiam a grande maioria dos dados

23

24

e informações disponíveis (Niemeijer, 2002); 3) a fragilidade institucional (ausência

ou precariedade dos recursos humanos, técnicos e financeiros necessários) que tem

como conseqüência tanto a inexistência ou mesmo descontinuidade dos programas

de monitoramento dos ecossistemas, como a baixa qualidade de muitos dos dados

disponíveis. Além destas barreiras, existe ainda uma questão geral que é a

dificuldade de determinação de valores ou estados de saúde de ecossistemas que

sejam tomados como referência, já que muitas vezes envolve julgamentos subjetivos

sobre o que deve ser considerado “normal” ou “aceitável”.

24

25

4. ENFOQUES ECOSSISTÊMICOS E INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE A partir da segunda metade do século XX, os humanos mudaram a estrutura e o

funcionamento dos ecossistemas mais rapidamente e extensivamente do que em

qualquer outro período comparável no tempo da história humana. Se, neste

processo, as mudanças nos ecossistemas foram realizadas para atender a

crescente demanda de alimentos, água, fibras, alimentos e combustíveis, estas tem

resultado em crescente custo e formas de degradação de muitos serviços de

ecossistemas e frequentemente podem causar ameaças à saúde e a vida dos

humanos (MEA, 2005).

Os humanos, como outras formas de vida no planeta, dependem dos

ecossistemas locais e da ecosfera global para viver e manter sua saúde. Mesmo

que indivíduos ou populações humanas possam viver ou trabalhar em locais onde

tenha ocorrido degradação ecológica, sua saúde é mantida através de subsídios de

serviços de ecossistemas produtivos em outras localidades. Estes subsídios são

viabilizados através do comércio e da tecnologia, contribuindo para que a saúde não

dependa diretamente do ecossistema local em que se situa o indivíduo ou a

população. Isto significa que populações locais podem degradar seus recursos

naturais e ecossistemas dentro de suas fronteiras políticas, mas também àqueles

que são bens comuns globais (em países ou regiões em outros lugares do planeta)

(Soskolne & Bertollini, 1998).

Esta situação é bastante comum às regiões industrializadas, em que grande

parte da população vive em cidades ou próximo destas. As atividades nas áreas

urbanas resultam em muitos danos ambientais que vão para além de seus

territórios, conectando áreas urbanas com não-urbanas, constituindo cidades-

regiões (Ravetz, 2000). Como observam Pickett et al. (1997), a ampliação da

urbanização em áreas rurais ou de florestas não só converte áreas tradicionalmente

estudadas pelas abordagens ecológicas em sistemas que requerem uma clara

apreciação do papel dos humanos, como está entre os maiores impactos globais

provocados pelos humanos.

Diante deste quadro, um dos desafios que vem sendo colocado para a Saúde

Pública é o de estruturar sistemas de monitoramento e vigilância que permitam

antecipar e, se possível, prevenir as conseqüências à saúde humana oriundas da

não-sustentabilidade ambiental e degradação dos recursos naturais e ecossistemas,

25

compreendidos como sistemas de suporte a vida2, particularmente a partir do

processo de expansão da urbanização e da concentração populacional em áreas

urbanas. Tendo por base Soskolne & Bertollini (1998), consideramos que isto requer

a sistemática coleta e análise de dados que permitam construir indicadores que

apontem para a situação do estado dos ecossistemas e da saúde humana de modo

à: 1) possibilitar análises de tendências que indiquem progressiva degradação dos

ecossistemas (integridade) e da saúde humana; 2) documentar estudos de casos

que demonstrem problemas de saúde emergentes associados com áreas em que os

ecossistemas tenham sido degradados; 3) selecionar comunidades para monitorar

prospectivamente, através de dados sócio-ecológicos e de saúde (critério de

integração ecológica, tal como bio-regiões, eco-distritos, etc.)

A sistemática coleta e análise de dados e construção de indicadores que

permitam monitorar tendências que indiquem progressiva degradação dos

ecossistemas (integridade) e da saúde humana vem gerando esforços internacionais

e nacionais com o objetivo de subsidiar tomadas de decisões, o planejamento de

políticas públicas e a comunicação com a sociedade de forma mais ampla (Soskolne

& Bertollini, 1998; De Kruijf & Van Vuuren, 1998). Esses esforços vem promovendo

a utilização de indicadores e aumentando a preocupação em aperfeiçoá-los e

legitimá-los como ferramentas empíricas de grande utilidade para a gestão dos

ecossistemas e da saúde humana, tanto a nível local, como nacional ou regional.

Os esforços para o desenvolvimento abordagens para a construção de

indicadores objetivam criar ferramentas que permitam avaliar se as metas de

sustentabilidade estão sendo alcançadas a partir do conjunto de decisões e ações

tomadas. Particularmente para a comunidade de gestores, o desenvolvimento de

indicadores como ferramenta para gestão da sustentabilidade vem adquirindo

proeminência por diversos motivos, dentre os quais destacamos dois. Primeiro, o

argumento de que a mensuração do ambiente propicia elaborar políticas públicas

coerentes com prioridades e alvos específicos para atingir as metas estabelecidas,

permitindo aos gestores operar a sustentabilidade (Bellen, 2005). Segundo, os

indicadores são poderosas ferramentas para a comunicação dos gestores com a

2 Incluem as águas doces e do mar, pescados, florestas, clima, solo, ar, assim como a biodiversidade. São integrais às funções biofísicas da ecosfera e sustentam a vida na terra. No contexto ecológico, os sistemas de suporte à vida se referem aos serviços dos ecossistemas a partir dos quais deriva a viabilidade de todos os organismos e sistemas vivos.

sociedade de modo geral, fornecendo visibilidade (consumo de energia, produção de

resíduos, etc.) para o que não é comumente percebido e, ao mesmo tempo,

servindo como um dos instrumentos utilizados para educar o público e conformar um

sentido de responsabilidade social (Macnaghten & Urry, 1998).

Os indicadores permitem simplificar a complexidade da informação e apresenta-

las de modo mais facilmente compreensível do que estatísticas complexas ou outras

formas de dados. Esta característica permite que exponham problemas relacionados

à sustentabilidade ambiental e de saúde, bem como a causas dos mesmos,

contribuindo para que facilitem o planejamento de políticas públicas e a

implementação e monitoramento das mesmas (De Kruijf & Van Vuuren, 1998). Um

indicador de saúde ambiental, em uma perspectiva ecossistêmica é a expressão da

vinculação entre a sustentabilidade dos ecossistemas (como sistemas de suporte à

vida) e da saúde humana, de modo que deve contribuir para a formulação de

estratégias de planejamento e de gestão ambiental ambiental, bem como para

políticas públicas.

Do ponto de vista do processo de tomada de decisões relacionadas à saúde

humana e aos ecossistemas, existem pelo menos cinco objetivos básicos para a

utilização de indicadores de saúde ambiental:

1. Contribuir para o estabelecimento de prioridades das ações que devem ser

executadas com urgência.

2. Estabelecer prioridades de pesquisa.

3. Identificar as vulnerabilidades para enfocar medidas proativas.

4. Oferecer uma medida comparável dos resultados para avaliar e planejar

intervenções e programas.

5. Orientar os investimentos e as negociações intersetoriais.

Por sua vez, a quantidade de indicadores destinados à tomada de decisão deve

ser limitada e baseada em medições padronizadas que utilizem métodos que sejam

acessíveis à todos os atores sociais envolvidos e interessados nos problemas de

sustentabilidade ambiental e de saúde. Porém, para tanto, existe um conjunto

básico de critérios que devem ser atendidos (De Kruijf and Van Vuuren, 1998):

1. Clareza no conteúdo: facilmente compreensível e transparentes.

2. Relevantes para os processos decisórios.

3. Teoricamente bem fundamentados (base científica).

4. Sensitivos às mudanças (induzidas pelos humanos), demonstrando mudanças ao

longo do tempo.

5. Tecnicamente mensuráveis (reprodutíveis à um custo razoável,etc.).

6. Apropriados em escalas temporal e espacial.

7. Ampla significância prevalecendo sobre o significado imediato.

A identificação e a seleção destes tipos de indicadores são tarefas que requerem

grande habilidade de gestão, não só pela complexidade dos aspectos técnicos

envolvidos, mas também porque — além das evidências científicas — a eficácia e

efetiva realização dos indicadores exige a democratização deste processo. Isto é: na

definição dos indicadores de sustentabilidade ambiental e de saúde, em uma

perspectiva ecossistêmica, não devem participar somente os cientistas e gestores;

devem estar incluídos também os diversos atores sociais envolvidos e interessados,

já que se reconhece que para a multiplicidade de visões de mundo e objetivos para

a compreensão dos problemas ambientais e de saúde há muitos indicadores

possíveis de serem construídos.

4.1. Contextos e Avaliações em torno dos Indicadores Para ajudar ao processo de tomada de decisões, os indicadores de saúde

ambiental, em uma perspectiva ecossistêmica e de sustentabilidade, devem

simplificar a complexidade das interfaces e interações entre ecossistemas, saúde e

sustentabilidade. É esta característica de simplificação que dá utilidade aos

indicadores. Entretanto, ao simplificar a complexidade da realidade, expressa muitas

vezes de forma quantitativa, o que se está fazendo é um corte inevitável da mesma:

Os indicadores não abrangem a totalidade da realidade, senão que apontam alguns

de seus aspectos previamente selecionados. Os indicadores podem ser

comparados aos traços existentes em um mapa. Um mapa não abrange e não inclui

a totalidade de um território. É uma representação do território que permite orientar-

se nele.

Para que um indicador possa ser analisado com algum sentido, a simplificação

realizada na sua construção deve permitir a recuperação do referente contextual

complexo que foi cortado. Caso contrário, a referência se inverte e é o valor

artificialmente produzido que permite criar o contexto que será, logicamente,

também artificial. Neste sentido, é importante observar que sempre que se produz

um corte da realidade, entram em jogo critérios de avaliação para a inclusão ou

29

exclusão de aspectos nesse corte. Por exemplo, na definição dos DALY (Anos de

Vida Ajustados pela Incapacidade) — um indicador que surge da soma dos anos de

vida perdidos por morte prematura e dos anos vividos com incapacidade — é

necessário definir uma idade na qual a morte não seja considerada prematura e as

condições que se consideram “incapacidade”. Neste caso, deve-se levar em conta

que quando as pessoas escolhem suas preferências, não estão somente

valorizando perdas funcionais, senão que estão considerando, simultaneamente, o

grau de desvantagem social que uma incapacidade em particular ou uma morte

prematura traz consigo; portanto, pode-se dizer que as preferências escolhidas

variam em função do sistema de valores que define a qual tipo de sociedade ou de

grupo social elas pertencem (Pereira Candel et al, 2001).

Além disso, deve-se observar que no processo de interpretação dos números

também está em jogo o sistema de valores sociais; que poderiam ser citados, como

exemplo, os indicadores de pobreza. Segundo Eduardo Galeano (2005), na década

de 70 a quantificação da pobreza era usada, principalmente, para pôr em evidência

a injustiça social promovida pelo sistema econômico; enquanto que, na atualidade, a

pobreza quantifica as merecidas conseqüências da ineficiência econômica de uma

nação ou grupo social, o que manifesta uma mudança radical no sistema de valores

sociais nas últimas décadas, marcadas pela globalização e hegemonia do modelo

econômico neoliberal.

Outro aspecto que deve ser levado em conta em torno das avaliações dos

indicadores de saúde, relaciona-se com a avaliação das conseqüências advindas

das decisões tomadas. A dotação de recursos (financeiros, humanos, institucionais,

etc.) destinados a ações ou programas de meio ambiente, saúde e desenvolvimento

econômico e social que concorrem entre si exige uma avaliação das diferentes

conseqüências de implementá-los ou não. Quando se deixa a avaliação dos pesos

relativos das diferentes classes de conseqüências totalmente nas mãos do processo

político burocratizado, é muito provável que conseqüências similares sejam

ponderadas incoerentemente (Murray, 1995). A avaliação das conseqüências

resultantes será um reflexo da capacidade de negociação (bargain) dos grupos com

poder ou influências. Tratar-se-á, portanto, de uma avaliação “implícita” do status

quo dominante. Do contrário, é possível definir da maneira mais participativa

possível — junto com os atores sociais envolvidos — um conjunto de valores

relativos para as diferentes conseqüências em termos de saúde, meio ambiente e

29

30

desenvolvimento econômico e social e, a partir desse consenso, construir

indicadores que permitan aproximar o processo de tomada de decisões ao escrutínio

e influência do público.

4.2. Indicadores e Índices – A Agregação da InformaçãoA agregação de dados e informações é uma operação característica da criação

de indicadores e índices, para que estes possam cumprir com sua função de

simplificar a alta complexidade inerente às interfaces e interações dos elementos

vinculados aos problemas de sustentabilidade ambiental e da saúde. Para entender

o processo da agregação dos dados e informações empíricas em indicadores e

índices, é necessário, em primeiro lugar, definir a diferença conceitual e funcional

entre esses termos. Dita distinção fica em evidência através da etiologia das

palavras, conforme pode se ver no Quadro 4 abaixo.

Quadro 4: Etiologia das palavras índice e indicador

INDICADOR (de indicar: mostrar, denotar, apontar)

Um indicador é um dispositivo ou sinal que serve para evidenciar um fenômeno.

ÍNDICE (de indiciar: dar indícios)

Um índice é um sinal en que há uma relação de contigüidade com o representado;

Um valor que representa a evolução de uma quantidade em relação a uma referência.

Um indicador é uma construção que permite indicar, apontar, anunciar as

tendências de estado de alguma coisa (exemplos: qualidade da água, qualidade de

vida, qualidade do ar, etc.) ou um fenômeno (exemplos: mudanças climáticas

globais). É construído a partir de dados (exemplo: níveis de poluição por hora)

agregados e sumarizados na forma de estatísticas (exemplo: média dos níveis de

poluição por dia) analisadas e expressas na forma de indicadores (exemplo: número

de dias em que os limites para a qualidade do ar foram excedidos). Um indicador

fornece meios de se agregar valor aos dados, convertendo-os em informações para

uso direto pelos tomadores de decisões, devendo ser relevante para a

implementação de políticas públicas) (Funtowicz & Ravetz, 1990; Briggs et al. 1996). Um índice é o que é apontado e permite conhecer a magnitude e/ou a

localização de uma variável em relação a valores de base ou de referência

30

31

(Funtowicz & Ravetz, 1990). Um exemplo emblemático de índice em que a

informação está altamente agregada é o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).

O IDH se concentra em três dimensões mensuráveis do desenvolvimento humano:

viver uma vida longa e saudável, dispor de educação e ter um nível de vida digno.

Portanto, combina medidas da esperança de vida ao nascer, uma combinação de

números de matricula escolar de crianças com números de alfabetização de adultos

e a renda da população através do PIB (Produto Interno Bruto) per capita, dando

como resultado uma medida para cada país, que permite localizá-lo em um

esquema de referências: alto (entre 0.8 e 1); médio (entre 0.5 e 0.79) e baixo (menor

que 0.49) (UNDP, 2004). Em torno da criação de índices como o IDH, existem

alguns perigos que ameaçam a interpretação da informação neles contida.

Paradoxalmente, um destes perigos é diretamente proporcional ao sucesso da

medição em termos de comunicação ao público; trata-se da confusão freqüente

entre a medição e o objeto que está sendo medido. Assim, normalmente o IDH se

transforma no “desenvolvimento humano” da mesma maneira em que o PIB per

capita se transforma no “desenvolvimento econômico”. Na realidade, não se deve

perder de vista que o IDH foi criado por uma agência internacional (UNDP – United

Nations Development Program) para facilitar o monitoramento da sua política de

financiamento de programas e intervenções a partir dos três componentes que,

segundo esta agência, são os determinantes do desenvolvimento humano (Morse,

2004). Isto é, para definir o índice foi avaliado como seria o corte da totalidade para

simplificar a complexidade (traçar o mapa) do desenvolvimento humano (o território).

O Brasil, por exemplo, seguindo as recomendações do PNUD melhorou

sensivelmente seus indicadores nos últimos quarenta anos. Em 1960 era

considerado um país de baixo desenvolvimento humano com um índice de 0,394.

No relatório de 2004, o Brasil aparece entre os países de desenvolvimento médio,

com um índice de 0,775. Em contradição com a melhoria dos indicadores que

compõem o IDH, no mesmo período, observou-se o aprofundamento das

desigualdades sociais e dos processos de exclusão social no país (Minayo, 2000), o

que demonstra que a medição não é idêntica ao objeto medido, senão um aspecto

do mesmo que corresponde a avaliações e objetivos particulares.

A disponibilidade de dados e a agregação dos mesmos são pontos críticos para

a implementação e utilização dos indicadores no campo da interface

sustentabilidade, saúde e ambiente, particularmente em uma perspectiva

31

32

ecossistêmica. O indicador é uma variável que descreve uma dada situação e,

portanto, pode ser utilizado para avaliar mudanças nessa situação. O problema no

caso da interface entre sustentabibiidade, saúde e ambiente é que nem sempre se

conta com informações que possam ser utilizadas diretamente para tomar decisões.

A agregação de indicadores mais apropriada é aquela que permite adequar as

necessidades de informação às circunstâncias particulares que se enfrenta. Na

agregação entram em jogo aspectos técnicos, metodológicos e de avaliação, onde o

papel da multiplicidade de atores (órgão de governo, ONGs, instituições de

pesquisa, etc.) é crucial. Às vezes, a agregação é uma simples redução da

informação mais relevante do ponto de vista técnico. Por exemplo, pode-se

considerar que é melhor utilizar como indicador a soma de todos os “metais

pesados” em vez de usar cada um individualmente (cádmio, níquel, mercúrio,

chumbo, etc.). Por outro lado, pode-se considerar que uma agregação deste tipo

prejudica a qualidade da informação e não tem nenhuma relevância para os

problemas de saúde e ambiente. Outro exemplo ilustrativo envolve a definição de

qual indicador deve ser utilizado para avaliar a presença de partículas suspensas no

ar: por um lado, pode-se selecionar o indicador de acordo com algum critério de

relevância, em geral, o tamanho da partícula em suspensão (PM2.5; PM10); mas por

outro, pode-se optar por utilizar a soma total de todos os tamanhos de partículas em

suspensão (TSP). Em função do conhecimento atual sobre a relação entre a

presença de partículas suspensas e problemas respiratórios, poderia afirmar-se que,

neste caso, a agregação não significaria nenhuma contribuição efetiva.

Também, existem medições — índices e indicadores complexos — que agregam

na mesma medição uma equação sui generis de valores quantitativos e de

“percepção” de atores sociais em relação a um assunto, tal é o caso do CPI

(Corruption Perception Index) (Morse, 2004). Ademais das particularidades

metodológicas, às quais se deve recorrer para construir este tipo de indicadores,

como por exemplo, como lutar com a inconstância ou a pré-concepção em torno das

“percepções” deste tipo, o grande problema dos índices e indicadores complexos

com alto grau de agregação é que poderiam “esconder” informação de grande valor

que, para ser recuperada, necessita ser desagregada pelo usuário (Renning &

Wiggering, 1997). Sendo assim, cabe perguntar-se para que proceder à agregação

inicial (Morse, 2004).

32

33

O dilema da agregação pode ser visualizado na Figura 2, que representa a

“Pirâmide dos Indicadores” criada por Braat (1991) e muito utilizada pela OECD

(Organization for Economics Cooperation and Development).

Na Figura 2, observa-se a pirâmide ideal em que a integração do conjunto da

informação está representada por um triângulo eqüilátero, com uma base composta

pelos dados primários e o ápice representando os índices altamente agregados.

Cada grupo de atores sociais se localiza de acordo com o nível de agregação da

informação que lhe interessa; assim, os técnicos e cientistas se ocupam dos dados

primários — totalmente desagregados — na base, os gerentes e tomadores de

decisão se preocupam em dispor de indicadores para facilitar seu trabalho, e o

público, ao que chega a informação mais agregada, simplificada y reduzida. Isto é, à

medida que se sobe da base até o ápice, a complexidade da informação é atenuada.

Quando o processo se desenvolve normalmente e a informação agregada chega ao

público de maneira correta, o ápice do triângulo eqüilátero indica também que o

público está recebendo uma alta qualidade de informação agregada.

33

34

Figura 2: Pirâmide dos Indicadores

Entretanto, o processo de agregação da informação nem sempre se desenvolve

desta maneira, como se pode ver na Figura 2(b), onde o triângulo está distorcido e

o ápice se afastou do ponto de maior qualidade da informação agregada (Z) e o

público estará recebendo uma informação agregada que tende às posições (X) ou

Público

Gestores / Tomadores de decisões

Cientistas e Técnicos

Incremento da agregação

Dados

Indicadores

Índices

(a) Pirâmide ideal

Qualidade da informação

Público

Gestores / Tomadores de decisões

Cientistas e Técnicos

X Z Y

(b) Pirâmide distorcida com o ápice distanciado do centro que representa a máxima qualidade possível para a informação agregada

34

35

(Y), ambas de menor qualidade. Observe que, apesar da distorção do triângulo, o

tamanho da base em cada nível se mantém igual, ou seja, desagregado; trata-se da

mesma informação que está sendo “atenuada” de maneira tendenciosa para um

lado ou para outro.

Como exemplo desta distorção, poderia citar-se a agregação da informação

contida no indicador “superfície de sumidouros de CO2”, um parâmetro das áreas

com cobertura vegetal que tem capacidade para seqüestrar o gás de efeito estufa

CO2 atmosférico. Do ponto de vista estritamente técnico, toda área florestal

suficientemente densa poderia ser considerada um “sumidouro”. Entretanto, esta

seria uma agregação que esconde informação de altíssima relevância para a saúde

humana e dos ecossistemas, dado que estaria somando por exemplo, florestas

nativas com cultivo de eucalipto para exploração industrial. Em termos de

desenvolvimento sustentável local, da qualidade do meio ambiente e da saúde

humana, não é o mesmo um reflorestamento ou outro, dado que o cultivo de grande

áreas de eucalipto produz impactos devastadores. Apesar disto, no meio desta

agregação de informações existem fortes interesses econômicos, já que além das

pressões da indústria madeireira para estender sem obstáculos o cultivo do

eucalipto, existe a possibilidade dos países com excesso de sumidouros venderem

sua cota a outros mais contaminadores. Por isso, vários grupos ambientalistas de

nível internacional estão lutando para que as áreas reflorestadas com eucalipto não

sejam consideradas “sumidouros” para o Protocolo de Quioto, já que do contrário,

qual seria o sentido de manter a “improdutiva” vegetação nativa? (MMBT, 2003).

Exemplos como este demonstram a relevância de contar com a ampla participação

dos diferentes atores sociais para favorecer a qualidade da informação que será

destinada ao processo da tomada de decisão, evitando distorções, ampliando a

base de discussão, democratizando o conflito de interesses em jogo e legitimando

as ações que devam ser implementadas.

4.3. Informação Necessária e Bases de DadosÉ muito freqüente que indicadores sejam desenhados “na medida” para serem

utilizados em um único projeto de pesquisa; entretanto, nas últimas décadas

aumentou a tendência das agências internacionais em contar com bases de dados

que podem ser fonte de consulta permanente para os tomadores de decisão. Nestes

contextos, a informação armazenada perde sua relevância como valor quantitativo

35

36

absoluto e ganha importância a possibilidade de estabelecer comparações de séries

temporais.

Quando uma agência ou instituição se propõe a construir uma base de dados,

faz isso pensando na sua própria missão como organização. Entretanto, a

informação contida nas bases de dados abrange diversos campos de interesses e

admite uma ampla gama de agregações e interpretações; por outro lado, as bases

de dados também podem armazenar dados secundários provenientes de outra

instituição ou agência. Uma boa base de dados deve estar atenta à origem, à

freqüência de coleta e de processamento dos dados.

Uma base de dados contendo índices e indicadores para a tomada de decisões

no campo da saúde ambiental, em uma perspectiva ecossistêmica e de

sustentabilidade, deve ser sensível às estruturas socioeconômicas e socioecológicas

que determinam os principais problemas que devem ser atendidos. Para definir qual

é a informação que deve ser armazenada nestas bases de dados, é necessário

conhecer os objetivos e estratégias nacionais e/ou regionais, a realidade

institucional, o contexto político, o marco legislativo e a disponibilidade de recursos

nos níveis de gestão com os quais se pretende trabalhar.

Isto requer a busca de padronização na definição dos métodos de coleta de

dados fomentada tanto pelos organismos internacionais como nacionais,

considerando as necessárias interrelações que devem ocorrer entre os indicadores

globais, regionais, nacionais e locais.

É importante que cada país gere seus próprios indicadores. A busca pela

padronização na definição de métodos de coleta de dados fomentada pelas

agências internacionais não contradiz a importância de que cada país, ou estados e

municípios dentro dos países, disponham de seu próprio conjunto de indicadores

relevantes. Especificar os indicadores de acordo com as demandas locais pode

contribuir tanto para a disposição de um conjunto de ferramentas adequadas para

tais necessidades, quanto também para o aperfeiçoamento da capacidade de

respostas institucionais nos diferentes níveis de cada país. Entretanto, dado que os

problemas da saúde ambiental não respeitam fronteiras e, portanto, freqüentemente

exigem a cooperação e a ação conjunta entre países, estados e municípios, é muito

importante que a informação produzida nos diferentes níveis permita estabelecer

comparações. No Quadro 5 aparecem os principais assuntos de relevância para o

desenvolvimento de índices e indicadores comparáveis a nivel internacional; a

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37

mesma foi adaptada do relatório produzido durante o workshop organizado em 2003

pelo JRC (Joint Research Centre of the European Comisión) e a OECD em Ispra,

Itália.

Quadro 5: Alguns aspectos que devem ser considerados para o desenvolvimento de informações comparáveis entre países

Assunto Nota

Marco Teórico Deve existir um marco teórico coerente e racional

Seleção dos dados As variáveis devem ser selecionadas de acôrdo com os seguintes critérios:

Solidez

Mensurabilidade

Cobertura nacional

Relevância

Interrelação com as outras variáveis

Análises de correlação dos dados

Deve-se ter em conta a relação que existe entre as medições e o fenômeno que está sendo avaliado e a sensibilidade às mudanças que podem ocorrer

Padronização Os métodos utilizados devem ser padronizados, para garantir a comparação de seus resultados

Estabelecimento de hierarquias

A informação deve poder ser hierarquizada de acordo com o marco teórico de base

Transparência / disponibilidade

Cada um dos passos através dos quais se chega ao resultado final na forma de índices e/ou indicadores deve poder ser explicado e entendido pelos atores sociales destinatários

Visualização A apresentação dos índices e indicadores deve incluir um reconhecimento de seus alcances e limitações. Os dados agregados devem poder desagregarse sem maiores dificuldades pelo público.

Fonte: JRC & OECD, 2003

Como já observado no início deste item, a sistemática coleta e análise de dados

e construção de indicadores que permitam monitorar tendências que indiquem

progressiva degradação dos ecossistemas (integridade) e da saúde humana tem se

constituído em esforços internacionais e nacionais. Porém, como veremos nos

Quadros 6 e 7 ainda há um longo caminho à ser percorrido, que exige superar

alguns desafios que foram se constituindo historicamente e que se refletem ainda

hoje nos indicadores utilizados pelos setores saúde e meio ambiente.

Para o setor saúde a idéia de se utilizar dados de morbidade e mortalidade como

base para as ações de saúde pública podem ser remetidas aos séculos XIV e XV

Entretanto, foi somente no século XIX que concepções sanitárias como a de

Chadwick permitiram não só utilizar estes dados, mas também envolver um conjunto

37

38

de informações sociais, econômicas e ambientais, particularmente relacionadas as

questões sobre salubridade das ocupações e estabelecimentos públicos, bem como

saneamento, que permitissem situar e contextualizar os dados de morbidade e

mortalidade (Declich & Carter, 1994; Rosen, 1994). Porém, conforme podemos

verificar no Quadro 6, em pleno início do século XXI, quando analisamos os

indicadores utilizados pelo setor saúde, constatamos restrições ou mesmo o

desaparecimento dos dados e informações relacionados aos aspectos sociais,

econômicos e ambientais.

Nos indicadores utilizados pela Organização Mundial da Saúde em seu relatório

anual de 2004, constamos que os sociais e ambientais desaparecem e que os

econômicos ficam restritos aos indicadores contábeis de gastos em saúde. Nos

indicadores de Vigilância em Saúde da SVS/MS, os relacionados aos aspectos

sociais e econômicos inexistem e o ambiental se restringe à Qualidade da Água para

Consumo Humano (proporção de amostras em conformidade com o padrão de

potabilidade (MS, 2004). Nos indicadores da OPS (OPS, 2004) e nos Indicadores

Básicos para a Saúde (RIPSA, 2002), os sociais se restringem ao acesso à

educação e serviços como saneamento e água. Os econômicos incluem PIB, renda,

pobreza e desigualdades. Para o setor saúde podemos observar que no conjunto

de indicadores utilizados pelos organismos internacionais (OMS e OPS) e nacionais

(SVS/MS e RIPSA), os demográficos são os mais bem estruturados, devendo-se isto

às suas próprias origens: a preocupação com a saúde de populações humanas.

Particularmente no que se refere aos indicadores ambientais, praticamente

inexistem ou, quando muito, se misturam com os sociais, restringindo-se aos de

acesso ao saneamento e a água (incluindo sua potabilidade para consumo humano).

Para o setor ambiental, como observado na introdução da publicação Indicadores

de Desenvolvimento Sustentável, “... os temas ambientais são mais recentes e não

contam com uma larga tradição de produção de estatísticas [o que] (...) resulta em

menor disponibilidade de informações para a construção dos indicadores requeridos

para uma abordagem mais completa dessa temática ...” (IDS, 2004: 12). Conforme

podemos verificar no Quadro 7, do conjunto de indicadores utilizados por

organismos internacionais como o Global Environmental Outlook (GEO), o World

Resources Institute (WRI) e o Iniciativa Latinoamericana y Caribeña para el

Desarrollo Sostenible: Indicadores de Seguimiento (ILCDS) e nacionais como os

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39

Indicadores de Desenvolvimento Sustentával (IDS), verificamos algumas diferenças

e similaridades com relação ao conjunto de indicadores.

No que se refere aos indicadores econômicos podemos observar que no GEO

(2003) incluem PIB, investimentos por setor, gastos governamentais e dívida

externa. Os indicadores do WRI (2003) são mais amplos e incluem além do PIB e

gastos governamentais, os fluxos financeiros, os gastos das corporações e as

desigualdades econômicas. Nos indicadores da ILCDS (PNUMA, 2004) os

indicadores econômicos tratam da pobreza, das ineqüidades e dos gastos sociais.

No caso do Brasil, os IDS (IBGE, 2004) além de incluírem indicadores sobre

desigualdades econômicas, PIB, investimentos e endividamento, incluem também

outros sobre consumo de energia e minerais.

No que se refere aos indicadores sociais, os do GEO (2003) se restringem à

educação, os do WRI (2003) envolvem expectativa de vida e mortalidade e os da

ILCDS (PNUMA, 2004) combinam alguns de saúde com outros de pobreza e

ineqüidade, ocorrendo o mesmo com os IDS (IBGE, 2004). Quando tratam de

população e saúde, os organismos responsáveis pelos indicadores ambientais e de

desenvolvimento sustentável são bastante restritos. Em relação aos demográficos,

inexistem no GEO (2003) e na ILCDS (PNUMA, 2004). No WRI (2003) os

indicadores demográficos tratam da fertilidade, expectativa de vida e grupos etários.

Nos IDS se restringem à taxa de crescimento da população.

Em relação aos indicadores de saúde, são tratados de forma restrita pelo setor

ambiental. No GEO (2003) se restringem ao total de óbitos e lesionados em

decorrência de desastres “naturais”. No WRI (2003) incluem indicadores sobre

mortalidade infantil e de adultos vivendo com HIV. No ILCDS (PNUMA, 2004) é

interessante observar que incluem indicadores sobre mortalidade atribuída as

doenças respiratórias e anos de vida perdidos por disfunções conseqüentes de

enfermidades por recursos hídricos. No IDS (IBGE, 2004), além da taxa de

mortalidade infantil, incluem doenças relacionados ao saneamento ambiental

inadequado. Em síntese, podemos observar que os organismos que tratam dos

indicadores ambientais e de desenvolvimento sustentável, além do desafio de ainda

não disporem de dados e informações mais abrangentes e completas sobre as

mudanças ambientais, tratam de forma ainda bastante limitada os indicadores

demográficos e de saúde.

39

40

A análise dos Quadros 6 e 7 demonstra que se queremos avançar na

sistemática coleta e análise de dados e construção de indicadores que permitam

monitorar tendências que indiquem progressiva degradação dos ecossistemas

(integridade) e da saúde humana, há um longo caminho a ser percorrido. Nos

indicadores de saúde e ambientais utilizados pelas instituições internacionais e

nacionais não encontramos um conjunto mínimo de informações diversas, que

possibilitem demonstrar as interfaces entre as mudanças que vem afetando os bens

e serviços dos vários ecossistemas, os problemas de saúde e as transformações no

bem estar, combinados com indicadores sociais, econômicas e políticos.

Provavelmente contribuem para esta situação cinco grandes barreiras que se

manifestam de modo mais acentuado nos países da América Latina, sendo estas:

temas: 1) a restrita disponibilidade de dados de ecossistemas, comparado com

dados sociais ou econômicos; 2) dados e medições idealmente específicos para um

ecossistema em questão, apresentam limitações para serem extrapolados para

outras escalas (bio-regiões, eco-distritos) e não costumam ser facilmente

enquadrados nos limites políticos-administrativos de municípios ou estados; 3) o uso

de dados e informações diversos para a construção de indicadores envolve,

necessariamente, agregação espacial (sobre um número de ecossistemas ou sub-

áreas), o que exige certa uniformidade tanto para um conjunto de indicadores

utilizados para diferentes ecossistemas, como conceitual (definição de valores) para

constituir indicadores particulares para uma região; 4) muitas vezes, a baixa

qualidade dos dados em nível (em todas as escalas) impossibilita ou restringe a

extrapolação e/ou agregação tratadas nos dois itens anteriores; 5) a determinação

de valores ou estados de saúde de ecossistemas que sejam tomados como

referência é extremamente problemática, já que muitas vezes envolve julgamentos

subjetivos sobre o que deve ser considerado “normal” ou “aceitável”. Na América

Latina, além das dificuldades que caracterizam o processo de construção de

indicadores, há também as decorrentes da fragilidade institucional para garantir a

continuidade dos programas e definir coerentemente os critérios de alocação dos

recursos (técnicos, humanos, financeiros, etc.).

40

Quadro 6 - Comparativo de Indicadores de Saúde OMS, OPS e e Brasil

Organização Mundial da Saúde – Relatório 2004

Indicadores Básicos – Situación de Salud em las Américas

Indicadores básicos para a saúde do Brasil: conceitos e aplicações

Vigilância em Saúde – Dados e Indicadores Selecionados

42

Indicadores básicos

Estimativas populacionais

População total Taxa anual de crescimento Razão de dependência Percentual da população

com 60 anos e mais Taxa de fertilidade total

Expectativa de vida ao nascer

Expectativa de vida (para ambos os sexos, homens e mulheres)

Probabilidade de morrer (por 1.000)

Para crianças com menos de 5 anos (meninos e meninas)

Para pessoas entre 15 e 60 anos

Óbitos por causa, sexo e stratum de mortalidade por região da OMS

Sexo (masculino e feminino)

Regiões da OMS

Causas

Doenças infecciosas e parasitárias

Infecções respiratórias

Condições maternas

Condições perinatais

Demográficos População total Taxa bruta de

natalidade (1.000 hab) Média anual de

nascimentos Taxa bruta de

mortalidade (1.000 hab)

Média anual de disfunções

Crescimento demográfico anual (%)

Taxa global de fecundidade (filhos/mulher)

População urbana (%) Razão de

dependência (100 hab)

Esperança de vida ao nascer (total, homens e mulheres)

Socioeconômicos

População alfabetizada (total, homens e mulheres)

Disponibilidade de calorias (Kcal/pc/dia)

Receita nacional bruta (US$ per capita)

Crescimento médio anual do PIB (%)

População abaixo da linha internacional de pobreza (%)

Razão de rendimento 20% superior/20% inferior

População com acesso a serviços - água potável (total, urbana e rural)

População com acesso a serviços – esgotamento sanitário

Demográficos População total Razão de sexos Taxa de crescimento

da população Grau de urbanização Taxa de fecundidade

total Taxa específica de

fecundidade Taxa bruta de

natalidade Mortalidade

proporcional por idade Mortalidade

proporcional por idade, em menores de um ano

Taxa bruta de mortalidade

Esperança de vida ao nascer

Esperança de vida aos 60 anos de idade

Proporção de menores de cinco anos de idade na população

Proporção de idosos na população

Índice de envelhecimento

Razão de dependência

Socioeconômicos

Taxa de analfabetismo Níveis de escolaridade Produto Interno Bruto (PIB)

per capita Razão de renda Proporção de pobres Taxa de desemprego Taxa de trabalho infantil

Mortalidade

Taxa de mortalidade infantil

Mortalidade Total de óbitos Razão entre óbitos

informados (SIM) e óbitos estimados (IBGE)

Percentual da população residente em municípios com CGM padronizado < 4

Taxa de mortalidade infantil (n0 de óbitos em menores de 1 ano por 1.000 NV – inclui calculada pelo SIM/SISNAC e estimada pelo IBGE)

Taxa de mortalidade na infância (n0 de óbitos em menores de 5 anos por 1.000 NV)

Taxa de mortalidade fetal (n0 de óbitos em menores de 1 ano por 1.000 nascimentos totais - NV mais óbitos fetais)

Mortalidade proporcional em menores de 1 ano (% do total de óbitos)

Mortalidade proporcional em pessoas com 50 anos ou mais

Mortalidade por doenças do aparelho circulatório

Mortalidade por neoplasias

Mortalidade por causas externas

Mortalidade por doenças do aparelho respiratório

Mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias

Mortalidade

42

43

Deficiências nutricionais

Neoplasmas malignos

Outros neoplasmas

Diabéti melito Desordens

nutricionais/endócrinas

Desordens neuropsiquiátricas

Desordens nos órgãos sensoriais

Doenças cardiovasculares

Doenças respiratórias

Doenças digestivas

Doenças do sistema genitourinário

Doenças de pele Doenças

musculoesqueléticas

Anormalidades congênitas

Doenças orais Causas externas

(intencionais e não intencionais)

Carga da doença em DALYs por causa, sexo e stratum de mortalidade por região da OMS

Sexo (masculino e feminino)

Regiões da OMS

Causas

Doenças

(total, urbana e rural)

Mortalidade

Razão de mortalidade materna (100.000 NV)

Taxa de mortalidade infantil (1.000 NV)

Taxa de mortalidade em < 5 anos (1.000 NV)

Disfunções registradas em < 5 anos por EDA (%)

Disfunções registradas em < 5 anos por IRA (%)

Taxa de mortalidade estimada por homicídios (100.000 hab)

Taxa de mortalidade estimada por suicídios (100.000 hab)

Taxa de mortalidade estimada por acidentes de transportes terrestres (100.000 hab)

Causas mal definidas (%)

Subregistro de mortalidade (%)

Taxa de mortalidade geral para todas as causas (100.000 hab.)

Taxas de mortalidade por doenças transmissíveis (100.000 hab.)

Taxas de mortalidade para neoplasias malignas (100.000 hab.)

Taxas de mortalidade por doenças circulatórias (100.000

Taxa de mortalidade neonatal precoce

Taxa de mortalidade neonatal tardia

Taxa de mortalidade pós-neonatal

Taxa de mortalidade perinatal

Taxa de mortalidade materna

Mortalidade proporcional por grupos de causas

Mortalidade proporcional por causas mal definidas

Mortalidade proporcional por doenças diarréica aguda em menores de cinco anos de idade

Mortalidade proporcional por infecção respiratória aguda em menores de cinco anos de idade

Taxa de mortalidade por doenças do aparelho circulatório

Taxa de mortalidade por causas externas

Taxa de mortalidade por neoplasias malignas

Taxa de mortalidade por acidentes de trabalho

Taxa de mortalidade por diabete melito

Taxa de mortalidade por cirrose hepática

Taxa de mortalidade por AIDS

Taxa de mortalidade por afecções originadas no período perinatal

Morbidade e fatores de risco

Incidência de sarampo Incidência de difteria Incidência de coqueluche Incidência de tétano

neonatal Incidência de tétano (exceto

proporcional por causas maldefinidas – 60 anos e mais

Mortalidade proporcional por causas maldefinidas – em menores de 1 ano

Mortalidade proporcional por causas maldefinidas - total

Mortalidade proporcional em menores de 1 ano por doenças respiratórias (% do total de óbitos em menores de 1 ano)

Mortalidade proporcional em menores de 1 ano por doenças diarréicas (% do total de óbitos em menores de 1 ano)

Mortalidade proporcional em menores de 1 ano por malformação congênita (% do total de óbitos em menores de 1 ano)

Número de óbitos por doenças imunopreveníveis selecionadas, em menores de 5 anos

Taxa de letalidade materna em internações obstétricas do SUS (SIH) (óbitos maternos no SIH em internações obstétricas por 100.000 internações obstétrics)

Mortalidade proporcional por

43

44

infecciosas e parasitárias

Infecções respiratórias

Condições maternas

Condições perinatais

Deficiências nutricionais

Neoplasmas malignos

Outros neoplasmas

Diabéti melito Desordens

nutricionais/endócrinas

Desordens neuropsiquiátricas

Desordens nos órgãos sensoriais

Doenças cardiovasculares

Doenças respiratórias

Doenças digestivas

Doenças do sistema genitourinário

Doenças de pele Doenças

musculoesqueléticas

Anormalidades congênitas

Doenças orais Causas externas

(intencionais e não intencionais)

Expectativa de vida saudável (Healthy life expectancy – HALE)

Expectativa de vida saudável (total, masculino,

hab.) Taxas de mortalidade

por causas externas (100.000 hab.)

Morbidade

Incidência de sarampo Taxa de incidência por

tuberculose (100.000 hab.)

Casos registrados de cólera

População sob risco de malária (%)

Índice parasitário anual (IPA) malárico (1.000 hab.)

Casos registrados de malária

Casos registrados de dengue

Taxa de incidência de AIDS (100.000 hab.)

Razão homem-mulher de casos de AIDS

Prevalência de baixo peso ao nascer

Recursos, acesso e cobertura

Recursos humanos por 100.000 hab. – médicos

Recursos humanos por 100.000 hab. – enfermeiros

Recursos humanos por 100.000 hab. – dentistas

Leitos hospitalares por 1.000 hab.

Gasto nacional de saúde como % do PIB – público

Gasto nacional de saúde como % do

o neonatal) Incidência de febre amarela Incidência de raiva humana Incidência de hepatite B Incidência de cólera Incidência de febre

hemorrágica do dengue Incidência de sífilis

congênita Taxa de incidência de AIDS Taxa de incidência de

tuberculose Taxa de incidência de

dengue Taxa de detecção de

hanseníase Índice parasitário anual

(IPA) de malária Taxa de incidência de

neoplasias malignas Taxa de incidência de

doenças relacionadas ao trabalho

Taxa de incidência de acidentes de trabalho (típicos)

Taxa de incidência de acidentes de trabalho (de trajeto)

Taxa de prevalência de hanseníase

Taxa de prevalência de diabete melito

Índice CPO-D aos 12 anos Proporção de internações

hospitalares (SUS) por grupos de causas

Proporção de internações hospitalares (SUS) por causas externas

Proporção de nascidos vivos por idade materna

Proporção de nascidos vivos de baixo peso ao nascer

Prevalência de déficit ponderal para a idade em crianças menores de cinco anos de idade

causas maternas (excluídas causas indeterminadas) - causas diretas, excluindo aborto

Mortalidade proporcional por causas maternas (excluídas causas indeterminadas) - aborto

Mortalidade proporcional por causas maternas (excluídas causas indeterminadas) - causas indiretas

Percentual de óbitos segunda raça/cor – brancos

Percentual de óbitos segunda raça/cor – pretos e pardos

Percentual de óbitos segunda raça/cor - indígenas

Óbitos por causas externas – taxa de mortalidade por acidente de transporte terrestre, por 100.000 homens

Óbitos por causas externas – taxa de mortalidade por acidente de transporte terrestre, por 100.000 mulheres

Óbitos por causas externas – taxa de mortalidade por agressões (homicídeos), por 100.000 homens

Óbitos por causas externas – taxa de mortalidade por agressões (homicídeos), por

44

45

feminino, ao nascer e com 60 anos de idade)

Expectativa de perda de anos saudáveis ao nascer

Percentual do total de perda da expectativa de vida

Indicadores contábeis de saúde: níveis de gastos com saúde

Gastos governamentais e privados

Gasto com saúde como % do PIB

Gasto governamental com saúde, como percentual do total de gastos com saúde

Gasto privado com saúde, como percentual do total de gastos com saúde

Gasto governamental com saúde, como percentual do gasto governamental total

Recursos externos para a saúde como percentual do total de gastos com saúde

Gastos com seguridade social em saúde como % percentual dos gastos governamentais em saúde

Gasto direto como como % dos gastos privados em saúde.

Planos privados pré-pagos como % dos gastos privados com saúde

Indicadores contábeis de saúde e níveis de gastos com saúde

Gastos per capita

PIB – privado Atenção de saúde

por pessoal capacitado (%) – pré-natal

Atenção de saúde por pessoal capacitado (%) – parto

Cobertura de imunização em crianças menores de 1 ano (%) – DPT3

Cobertura de imunização em crianças menores de 1 ano (%) – DPT3

Cobertura de imunização em crianças menores de 1 ano (%) – OPV3

Cobertura de imunização em crianças menores de 1 ano (%) – BCG

Cobertura de imunização em crianças menores de 1 ano (%) – Sarampo/SRP

Uso de anticonceptivos – mulheres, todos métodos (%)

Prevalência de aleitamento materno

Prevalência de aleitamento materno exclusivo

Prevalência de pacientes com diálise (SUS)

Recursos

Número de profissionais de saúde por habitante

Número de leitos hospitalares por habitante

Número de leitos hospitalares (SUS) por habitante

Gasto público com saúde, como proporção do PIB

Gasto federal com saúde, como proporção do PIB

Gasto federal com saúde, como proporção do gasto federal total

Despesa familiar com saúde, como proporção da renda familiar

Gasto médio (SUS) por atendimento ambulatorial

Gasto médio (SUS) por internação hospitalar

Gasto público com saneamento, como proporção do PIB

Gasto federal com saneamento, como proporção do PIB

Gasto federal com saneamento, como proporção gasto federal total

Cobertura

Número de consultas médicas (SUS) por habitante

Número de procedimentos complementares por consulta médica (SUS)

100.000 mulheres Óbitos por doenças

crônicas não transmissíveis – taxa de mortalidade por neoplasias da traquéia, bônquios e pulmões, por 100.000 homens

Óbitos por doenças crônicas não transmissíveis – taxa de mortalidade por neoplasia de mama feminina por 100.000 mulheres

Óbitos por doenças crônicas não transmissíveis – taxa de mortalidade por neoplasia de colo de útero por 100.000 mulheres

Óbitos por doenças crônicas não transmissíveis – taxa de mortalidade por doenças cerebrovasculares, por 100.000 habitantes

Óbitos por doenças crônicas não transmissíveis – taxa de mortalidade por doenças isquêmicas por 100.000 habitantes

Óbitos por doenças crônicas não transmissíveis – taxa de mortalidade por diabetes por 100.000 habitantes

Óbitos por doenças crônicas não transmissíveis – proporção de óbitos por doenças cardiovasculares em adultos jovens (no de

45

46

Gastos per capita totais em saúde

Gastos governamentais per capita

Metas de Desenvolvimento do Milênio: indicadores selecionados

Baixo peso para crianças com menos de 5 anos

Mortalidade de crianças com menos de 5 anos (por 1000 nascidos)

Taxa de mortalidade infantil (por 1000 nascidos)

Cobertura vacinal em menores de 1 ano

Razão de mortalidade materna (por 100.000 nascimentos)

Nascimentos atendidos por profissionais de saúde habilitados

Prevalência de HIV entre 15-49 anos (%)

Taxa de mortalidade por malária (por 100.000)

Prevalência da tuberculose (por 100.000)

Taxa de mortalidade por tuberculose (por 100.000)

Casos de tuberculose (detectados e curados)

População que utiliza combustíveis sólidos (%)

População com acesso sustentável à fontes de água (urbana e rural) (%)

População com acesso ao saneamento (urbana e rural)

Número de internações hospitalares (SUS) por habitante

Proporção de internações hospitalares (SUS) por especialidade

Proporção de gestantes com acompanhamento pré-natal

Proporção de partos hospitalares

Proporção de partos cesáreos

Razão entre nascidos vivos informados e estimados

Razão entre óbitos informados e estimados

Cobertura vacinal no primeiro ano de vida

Proporção da população feminina em uso de métodos anticonceptivos

Cobertura do setor de saúde suplementar

Cobertura de planos e seguros privados de saúde suplementar

Cobertura de redes de abastecimento de água

Cobertura de esgotamento sanitário

Cobertura de serviços de coleta de lixo

óbitos por doenças cardiovasculares – 30 a 49 anos – por total de óbitos por doenças cardiovasculares – 30 anos e mais)

Doenças de notificação compulsória (divididas em dois grupos - casos novos e óbitos)

Acidentes com animais peçonhentos

AIDS AIDS – em

adolescentes – 10 a 19 anos

Botulismo Cólera Coqueluche Dengue Difteria Doenças

Meningocócia Febre Amarela Frebre Tifóide Hanseníase Hantavirose Hepatite A Hepatite B Hepatite C Leishmaniose

Tegumentar Americana

Leishmaniose Visceral Leptospirose Malária Meningite por

Haemophilus Influenze Peste Raiva Humana Rubéola Sarampo Sífilis Congênita em

menores de 1 ano Síndrome de Rubéola

Congênita

46

47

Tétano Acidental Tétano Neonatal Tuberculose

Nascidos vivos

Total de nascidos vivos

Percentual de cesarianas

Percentual de mães adolescentes (% do total de NV, com mães de 10 a 19 anos)

Percentual de nascidos vivos com baixo peso (% do total de NV, com peso inferior a 2,5 kg)

Taxa de fecundidade entre mulheres de 15 a 19 anos

Morbidade hospitalar

Taxa de internaçõa pelo SUS em menores de 1 ano por 1000 NV

Percentual de internação pelo SUS em menores de 1 ano por 100 internações na mesma faixa de idade – doenças respiratórias

Percentual de internação pelo SUS em menores de 1 ano por 100 internações na mesma faixa de idade – doenças diarréicas

Percentual de internação pelo SUS em menores de 1 ano por 100 internações na mesma faixa de

47

48

idade – causas perinatais

Número de curetagens por aborto no SUS

Percentual de gastos com AIH pagas em idosos

Percentual de gastos com AIH pagas em idosos (60 anos ou mais) pelo total de gastos com internações

Imunização

Cobertura vacinal em menores de 1 ano – oral contra poliomielite

Cobertura vacinal em menores de 1 ano –tretavalente (contra haemophilus influenzae tipo b, difteria, tétano e coqueluche)

Cobertura vacinal em menores de 1 ano – BCG intradérmica

Cobertura vacinal em menores de 1 ano – contra hepatite B

Cobertura vacinal em menores de 1 ano –contra febre amarela (área endêmica)

Cobertura vacinal – vacina tríplice viral (contra sarampo, rubéola e caxumba) em crianças menores de 1 ano

Cobertura vacinal – percentual de municípios com cobertura adequada em crianças de 1 ano

Cobertura vacinal –

48

49

contra influenza (gripe) entre pessoas de 60 anos e mais

Cobertura vacinal – dupla adulto (difetria e tétano) e mulheres de 15 a 49 anos

Eventos adversos pós vacinal (Eventos adversos graves notificados e investigados por 100.000 doses aplicadas) – Taxa de notificação de Linfadenopatia (> 3 cm) por 100.000 doses aplicadas da vacina BCG

Eventos adversos pós vacinal (Eventos adversos graves notificados e investigados por 100.000 doses aplicadas) – Taxa de notificação de episódios hipotônico hipo responsivo por 100.000 doses aplicadas da vacina tetravalente

Eventos adversos pós vacinal (Eventos adversos graves notificados e investigados por 100.000 doses aplicadas) – Taxa de notificação de Convulsão Febril 100.000 doses aplicadas da vacina tetravalente

Cobertura de Unidades de Saúde

Cobertura de unidades

49

50

básicas de saúde por 100.000 habitantes

Cobertura de unidades de saúde de média complexidade por 100.000 habitantes

Cobertura de unidades de saúde de alta complexidade por 100.000 habitantes

Descentraliação

Descentralização - Teto financeiros de Vigilância em Saúde – TFVS (R$)

Descentralização - Repasse para campanhas de vacinação e vacinação anti-rábica (R$)

Municípios certificados – percentual de municípios certificados

Municípios certificados – percentual de população nestes municípios

Qualidade da água para consumo humano

Percentual de amostras em conformidade com o padrão de potabilidade segundo a vigilância de sistemas de abastecimento de água (Portaria do MS no 518/2004) – Coliformes termotolerantes ou E.

50

51

Coli Percentual de

amostras em conformidade com o padrão de potabilidade segundo a vigilância de sistemas de abastecimento de água (Portaria do MS no 518/2004) – Turbidez

Percentual de amostras em conformidade com o padrão de potabilidade segundo a vigilância de sistemas de abastecimento de água (Portaria do MS no 518/2004) – Cloro Residual Livre

Fonte: WHO, 2004; OPS, 2004; MS, 2004; RIPSA, 2002

51

52

Quadro 7 - Comparativo de Indicadores Ambientais e de Desenvolvimento Sustentável Globais, América Latina e Brasil

Global Envirnomental Outlook World Resources Instititute Iniciativa Latinoamericana e Caribenha para o Desenvolvimento Sustentával –

Indicadores de Seguimento

Indicadores de Desenvolvimento Sustentável – Brasil 2004 (IBGE)

Atmosfera Aumento da cobertura

vegetal Emissões de CO2

provenientes de processos industriais

Emissões de CO2 total antropogênico, excluindo as mudanças no uso do solo e florestas

Emissões de CO2 provenientes de veículos de transporte

Emissões de CH4 provenientes da agricultura

Emissões de CH4 provenientes das emissões de combustíveis

Emissões de CH4 provenientes de resíduos

Emissões de CH4 total antropogênico

Emissões de N2O provenientes da agricultura

Emissões de N2O provenientes da combustão de combustíveis

Emissões de N2O provenientes de processos industriais

Emissões de N2O provenientes de terras explorados pela agricultura

Emissões de N2O total antropogênico

Emissões de CO2, CH4, N20, HFCs, PFCs e SF6 agregados, excluindo CO2 proveniente da mudança no uso do solo e florestas

Emissões de CO2, CH4, N20, HFCs, PFCs e SF6 agregados incluindo CO2 proveniente da mudança no uso do solo e florestas

Emissões de HFCs, PFCs e SF6 agregados

Emissões de CO2-provenientes da produção de cimento

Emissões de CO2-provenientes da queima de gás

Emissões de CO2-provenientes do consumo de gás combustível

Emissões de CO2-provenientes do consumo

Governança e acesso à informação Nível de liberdade Nível de liberdades civis Index político de

democracia/autocracia Percentual de assentos

parlamentares ocupados por mulheres

Index de percepção de corrupção

ONGs por milhões da habitantes

Liberdade de imprensa Liberdade de informação

legislativa Rádios por 1.000 habitantes Usuários de internet por

1.000 habitantes

Governança global: participação em acordos multilaterais

Convenção de direitos políticos e civis

Convenção sobre direitos econômicos, sociais e culturais

Convenção sobre o tráfico internacional de espécies ameaçadas

Convenção das mudanças climáticas

Protocolo de Quioto Convenção sobre a

diversidade biológica Protocolo de biossegurança Convenção de combate à

desertificação Convenção de Estocolmo

(POPs) Membro da Organização

Mundial do Comércio Processo da Agenda 21 –

Relatório de situação em 2002

Processo da Agenda 21 – número de municipalidades envolvidas

Fluxo financeiro, gastos governamentais e corporações

Investimentos estrangeiros diretos (milhões de dólares)

Exportações como percentual do PNB

Balança comercial (milhões

Diversidade biológica

Aumento da cobertura vegetal

Proporção da superfície coberta por bosques

Território de áreas protegidas

Proporção de áreas protegidas com relação ao território total

Recursos genéticos (distribuição eqüitativa de benefícios)

Existência de leis nacionais relacionadas com o acesso aos recursos genéticos e a repartição de recursos

Diversidade marinha

Áreas costeiras e marinhas protegidas em relação a área marinha e costeira total

Gestão de recursos hídricos

Fornecimento de água

Disponibilidade de água por habitante

Consumo de água por habitante

Gestão de bacias

Porcentagem de ares de bacia sob manejo

Gestão marino-costeira e seus recursos

Extração pesqueira

Dimensão ambiental

Atmosfera

Consumo industrial de substâncias destruidoras da camada de ozônio

Concentração de poluentes em áreas urbanas

Terra

Uso de fertilizantes Uso de agrotóxicos Terras em uso

agrossilvipastoril Queimadas e

incêndios florestais Deslorestamento na

Amazônia Legal Área remanescente e

desflorestamento na Mata Atlântica e nas formações vegetais litorâneas

Desertificação e arenização

Água doce

Qualidade das águas interiores

Oceanos, mares e áreas costeiras

Balneabilidade Produção de pescado

marítima e continental População residente

em áreas costeiras

Biodiversidade

Espécies extintas e ameaçadas de extinção

Áreas protegidas Tráfico, criação e

comércio de animais silvestres

Espécies invasoras

52

5. INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E DE SAÚDE EM PERSPECTIVA ECOSSISTÊMICA 5.1. Proposta de Indicadores de Sustentabilidade Ambiental e de Saúde em Perspectiva Ecossistêmica

Entre 1960 e 2000 a população humana mundial dobrou de 3 bilhões para 6

bilhões, com grande parte se concentrando cada vez mais nas áreas urbanas. A

economia global cresceu mais de 6 vezes, a produção de alimentos mais de duas

vezes e meia (cerca de 160% entre 1961 e 2003), o uso de água dobrou, o de

madeira triplicou e a produção de fibras cerca de 60%. Este processo foi

acompanhado de significativas mudanças ambientais que já vinham ocorrendo nos

últimos dois séculos e se intensificaram nos últimos 50 anos. A área global dos

sistemas florestais foi reduzida a metade no planeta, com alguns países perdendo

mais de 90% de sua cobertura vegetal e em outros desaparecendo completamente.

Cerca de 1/4 da superfície do planeta foi convertida em sistemas cultivados e a

disponibilidade de fluxos de nitrogênios reativos dobrou e triplicou a dos fluxos de

fósforo nos ecossistemas terrestres. Desde 1960, a quantidade de água retirada de

rios e lagos dobrou (aproximadamente 70% utilizada na agricultura) e a de água

armazenada em represas quadruplicou. As emissões atmosféricas de poluentes

cresceram muito, tanto em função do processo de urbanização e industrialização,

como das mudanças no uso do solo (agricultura e pastagens). Como um dos

resultados deste processo, nos últimos 100 anos, os humanos aumentaram a taxa

de extinção de espécies em mais de 1000 vezes comparando com as taxas típicas

do passado histórico do planeta, e há uma tendência de homogeneização da

distribuição de espécies na terra, contribuindo para o declínio global da diversidade

genética (MEA, 2005)

Particularmente no que se refere aos recursos hídricos, este processo de

crescimento populacional e acelerados e intensos processos de desmatamento, uso

do solo para atividades agropecuárias, industrialização e urbanização, com

ocupação de bacias hidrográficas, vem comprometendo e ameaçando serviços de

ecossistemas como a provisão, a regulação e a purificação da águas (Tundisi &

Tundisi, 2005; MEA, 2005). Estes serviços estão sendo degradados ou utilizados de

modo insustentável, com custos crescentes, ainda que difíceis de estimar, mas que

comprometem a saúde e o bem estar humano. Este quadro é preocupante quando

consideramos que se espera nos próximos 50 anos um crescimento na demanda

61

por água fresca (entre 30% à 85%) e que existem evidências, ainda que

incompletas, de que estas mudanças vem aumentando as chances de mudanças

não-lineares e irreversíveis nos ecossistemas. Para os humanos isto implica em

importantes conseqüências, como alterações abruptas da qualidade da água

(provisão de águas limpas) e colapso de pescados (provisão de alimentos) e a

emergência de doenças (MEA, 2005).

Tundisi & Tundisi (2005), alertam tanto para importância ecológica, econômica e

social da água, que mantêm a vida no planeta, sustenta a biodiversidade e a

produção de alimentos e suporta todos os ciclos naturais. A água tem, portanto,

importância ecológica, econômica e social, de modo que o comprometimento da

provisão, regulação e purificação da mesma afetam a sustentabilidade ecológica,

econômica e social, comprometendo a saúde, a qualidade de vida e o bem estar da

população humana, conforme pode se verificar no Quadro 8 (Tundisi & Tundisi,

2005).

Quadro 8: As várias atividades humanas e o acúmulo de usos múltiplos produzem diferentes ameaças e problemas para disponibilidade de água e causam riscos elevados

Atividade humana Impactos nos ecossistemas aquáticos Valores/serviços em riscoConstrução de represas Altera fluxo nos rios e o transporte de

nutrientes e sedimentos e interfere na migração e reprodução de peixes.

Altera habitats e a pesca comercial e esportiva.Altera os deltas e suas economias.

Construção de diques e canais Destrói a conexão do rio com as áreas inundáveis.

Afeta a fertilidade natural das várzeas e os controles das enchentes.

Alteração do canal natural dos rios Danifica ecologicamente os rios. Modifica os fluxos dos rios.

Afeta os hábitats e a pesca comercial esportiva. Afeta a produção de hidroeletricidade e transporte.

Drenagem de áreas alagadas Elimina um componente-chave dos ecossistemas aquáticos.

Perda de biodiversidade. Perda de funções naturais de filtragem e reciclagem de nutrientes. Perda de hábitats para peixes e aves aquáticas

Desmatamento/uso do solo Altera padrões de drenagem, inibe a recarga natural dos aqüíferos, aumenta a sedimentação.

Altera a qualidade e a quantidade da água, pesca comercial, biodiversidade e controle de enchentes.

Poluição não controlada Diminui a qualidade de água. Altera o suprimento de água. Aumenta os custos de tratamento. Altera a pesca comercial. Diminui a biodiversidade. Afeta a saúde humana.

Remoção excessiva de biomassa Diminui os recursos vivos e a biodiversidade. Altera a pesca comercial e esportiva. Diminui a biodiversidade. Altera os ciclos naturais dos organismos.

Introdução de espécies exóticas Elimina as espécies nativas. Altera ciclos de nutrientes e ciclos biológicos.

Perda de hábitats e alteração da pesca comercial. Perda da biodiversidade natural e estoques genéticos.

Poluentes do ar (chuva ácida) e metais pesados

Altera a composição química de rios e lagos. Altera a pesca comercial. Afeta a biota aquática. Afeta a recreação. Afeta a saúde humana. Afeta a agricultura.

Mudanças globais no clima Afeta drasticamente o volume dos recursos hídricos. Altera padrões de distribuição de precipitação e evaporação.

Afeta o suprimento de água, transporte, produção de energia elétrica, produção agrícola e pesca e aumenta enchentes e fluxo de água nos rios.

Crescimento da população e padrões gerais de consumo humano

Aumenta a pressão para construção de hidroelétricas e aumenta poluição da água e a acidificação de lagos e rios. Altera os ciclos hidrológicos.

Afeta praticamente todas as atividades econômicas que dependem dos serviços dos ecossistemas aquáticos.

Fonte: Apud: Tundisi & Tundisi, 2005

61

62

Assim, ao propor a construção de indicadores ambientais e de saúde em uma

perspectiva ecossistêmica, temos de procurar identificar as forças motrizes diretas e

indiretas que contribuíram para as mudanças nos ecossistemas e nos serviços dos

ecossistemas, resultando em conseqüências sociais, econômicas e na saúde.

Demonstrar estas interfaces entre os bens e serviços dos ecossistemas com as

questões econômicas e sociais associadas aos processos de crescimento

populacional, desmatamento, urbanização e atividades econômicas diversas,

particularmente agropecuária e industrialização deve possibilitar compreender as

condições atuais e as tendências históricas em termos de sustentabilidade ambiental

e da saúde humana.

Para tanto, de modo a se contribuir para compreensão das condições atuais e

tendências históricas das mudanças ambientais e de saúde em uma perspectiva

ecossistêmica, há de se procurar diminuir o fosso existente entre dois grupos de

indicadores: os indicadores de saúde dos ecossistemas e os indicadores de

sustentabilidade ambiental. De Kruijf & Van Vuuren (1998), por exemplo, propõem

um conjunto de requerimentos para a seleção de indicadores de sustentabilidade

ecológica descritos no Quadro 9, os quais são fortemente baseados na abordagem

de saúde de ecossistemas.

Quadro 9: Requerimentos para a Saúde de Ecossistemas – Um guia para a busca de indicadores relevantes

Requerimentos Descrição de aspectos relevantesRequerimentos intrínsecos

1. Resiliência Capacidade/incapacidade de se recuperar as perturbações e distúrbios

2. Vigor Medidas de funcionamento3. Organização Medidas estruturais; capacidade de se sustentar e se

perpetuar com necessidade ou não de subsídios4. Ausência de síndrome de estresse do ecossistema5. Ausência de prejuízo à outros sistemas Prejudica ou não a coexistência de sistemas adjacentes

Requerimentos relacionados com relação ao ambiente do sistema

6. Fatores de risco Presença de fatores de risco (poluição)7. Requerimentos econômicos/exploração (produção/infra-estrutura)

Capacidade de prover economicamente produtos de interesse; disponibilidade suficiente de produtos primários (água, madeira, etc); exploração de recursos renováveis X recursos não-renováveis

8. Gestão Presença/ausência de estrutura de processos decisórios e políticas públicas (manutenção)

9. Requerimentos sociais e culturais Valor para a recreação, amenidades e consciência social

Reconhecendo alguns dos limites da abordagem de saúde de ecossistemas,

embora fortemente influenciados pela mesma, De Kruijf & Van Vuuren (1998) tomam

como referência a estrutura conceitual geralmente aceita para a construção de

indicadores de sustentabilidade que é baseada no triangulo que reúne, segundo os

62

63

autores, 3 domínios, os quais passaremos a denominar de dimensões: ambiente-

economia-sociedade. Nesta estrutura conceitual, cada um das dimensões não pode

ser visto como uma entidade independente, mas que se sobrepõe, influência e

interage com os outros. Isto significa que, na perspectiva do desenvolvimento

sustentável, deve ocorrer tanto a sustentabilidade de cada dimensão, como um

equilíbrio entre as interações das mesmas. Então, para se compreender as

condições atuais e as tendências históricas da sustentabilidade, devem tanto ser

desenvolvidos indicadores para cada uma das dimensões, como também para as

áreas de interseção entre as mesmas, como se pode verificar na Figura 3 desenvolvida pelos autores.

Para cada uma das dimensões os autores exemplificam conceitos questões

que devem estar presentes na construção de indicadores. Para a dimensão

ambiental ou ecológica, os autores consideram que conceitos-chave são estrutura

abiótica, diversidade biológica, saúde de ecossistemas e quantidade e qualidade dos

recursos naturais. Em geral há bastante informação científica acerca das questões

deste domínio. Para a dimensão econômica observam que um dos indicadores mais

aceitos e influentes é o PIB per capita, ainda que considerem, do mesmo modo

como discutimos anteriormente, os limites do mesmo em oferecer informações sobre

o desenvolvimento sustentável. Para a dimensão social ou sócio-cultural observam

Figura 3: Estrutura conceitual para indicadores de sustentabilidade

Bem-estar

Processos naturaisPoluição

Qualidade de vidaSegurançaLiberdade

EmpregoEquidadeBem estarPobreza

Domínio AmbientalSaúde de ecossistemaQualidade abiótica

Domínio Sócio-CulturalPopulaçãoPadrões culturaisProcessos institucionaisSaúdeEmpoderamentoCapital humano

Domínio EconômicoCapital produtivoCapital de serviçoInfra-estrutura

63

64

que metas como equidade, eliminação da pobreza, preservação da diversidade

cultural, direitos humanos, segurança das pessoas e o grau em que as

necessidades humanas básicas são atendidas devem ser incluídos. Além dos

indicadores para cada uma das dimensões devem também ser desenvolvidos outros

para as áreas de interseção entre estes. Na Figura 3 observamos que a dimensão

econômica influencia a dimensão ambiental alterando os processos naturais e

gerando poluição, por exemplo. A dimensão econômica influencia a dimensão social

através do oferta de empregos, da eqüidade na distribuição e acesso aos bens e

recursos, na geração da pobreza, etc.

De um modo geral, esta estrutura conceitual se encontra presente na lógica

de construção da maior parte dos indicadores ambientais vigentes nos níveis

internacional, regional e nacional, conforme pode se verificar no Quadro 7.

Particularmente no que se refere aos indicadores de sustentabilidade desenvolvidos

para o Brasil (IDS) e América Latina (ILCDS) encontramos a dimensão institucional,

que tem sido acrescido a estrutura conceitual ambiente-economia-sociedade. A

inclusão da dimensão institucional faz parte do próprio debate que se seguiu ao

desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade propostos inicialmente pela

OCDE e baseados no modelo Pressão-Estado-Resposta (PER) para o modelo

Pressão-Estado-Impactos-Resposta (PEIR), conforme pode se verificar na Figura 4.

Fonte: De Kruijf & Van Vuuren, 1998

Atividades Humanas

Energia

Transporte

Industria

Agricultura

Terra

Ar

Águas

RecursosNaturais

Saúde Humana

Saúde de Ecossistemas

Econômicose Sociais

Estéticos

Culturais

Etc.

Políticas 1

Políticas 2

Políticas 3

Etc.

Estado do meioAmbiente

Impactos RespostasPolíticas

RESPOSTASIMPACTOSESTADOPRESSÕES

Pressões

Pressões

Pressões

PressõesPressões

Pressões

Respostas

Figura 4: Modelo de Indicadores Pressão-Estado-Impacto-Respostas (PEIR)

64

65

Neste modelo, as pressões correspondem à dimensão econômica e

descrevem pressões das atividades humanas sobre o meio ambiente através de suas atividades econômicas e processos de produção (envolvendo todo o ciclo produtivo). O estado do meio ambiente à dimensão

ambiental, correspondendo à condição atual da qualidade ambiental e os aspectos quantitativos e qualitativos dos recursos naturais. Os Impactos à

dimensão social, referindo-se ao estado ou condição de saúde e bem-estar da população, economia, ecossistemas etc. As respostas políticas à dimensão

institucional e correspondem às ações (decisões políticas, a adoção de programas e ações diversas para conservação dos recursos naturais e a recuperação do meio ambiente) adotadas para mitigar, adaptar, prevenir, deter ou reverter os impactos negativos produzidos pelas atividades humanas (IBGE, 2005).

Este modelo vem resultando em desdobramentos e vem, com algumas

mudanças, sendo aplicado tanto para o desenvolvimento de indicadores de saúde

de ecossistemas, como para indicadores em saúde ambiental. Para ilustrar os

desdobramentos deste modelo na construção de indicadores para a saúde de

ecossistemas, apresentamos a Figura 5 que corresponde à uma variação da cadeia

PEIR aplicada para a compreensão de múltiplos estresses e seus impactos nos

serviços de ecossistemas apresentado por Rapport (1998)3.

3 Rapport, D., 1998. Dimensions of ecosystem health. In: Rapport, D.; Costanza, R.; Epstein, P.R.; Gaudet, C. and Levins, R. (eds.). Ecosystem Health. London: Blackwell Science. Inc., pp. 34-40.

65

66

Como desdobramento deste modelo, o PNUMA, a OMS e a EPA

desenvolveram conjuntamente uma matriz de indicadores para a saúde ambiental

baseada no modelo PEIR que considera de modo mais destacado as exposições

ambientais dos humanos aos diferentes agentes presentes no ambiente e os

conseqüentes efeitos sobre a saúde (Ver Figura 6).

Colheitas, destruição de

habitatsPoluição do ar, solo, e águas

Mudanças climáticas Espécies

exóticas

Supressão de incêndios

RecreaçãoSuprimento de madeira

Qualidade do solo e da água

Vida selvagemBiodeiversidade

Capital de nutrientes

SoloPestesComposição florestalBiodiversidade

Supressão de incêndios

Pressões sobre o ecossistema florestal

Pressões sobre o ecossistema florestal

Estado do ecossistema florestal

Gestão Ambiental

Processo Decisório

Valores Hu

manos

Figura 5: Múltiplos estresses sobre o ecossistema florestal e seus impactos sobre os serviços de ecossistemas e processos decisórios

66

67

Fonte: Corvalán e col., 1996 e 2000.

Detalharemos um pouco mais esta matriz pelo fato de ter sido desenvolvida

diretamente para os problemas de saúde ambiental.

As Forças Motrizes correspondem aos fatores que de modo amplo e em uma

escala macro, influenciam os vários processos ambientais que poderão afetar a

saúde humana. Como exemplo os autores citam o crescimento populacional, o

desenvolvimento tecnológico e o desenvolvimento econômico. Citam alguns

indicadores de forças motrizes, como: taxa de urbanização; nível de

desenvolvimento industrial; taxa de crescimento populacional; densidade

populacional; PIB per capita; níveis médios de rendimentos; taxa de alfabetização de

adultos; níveis de educação; políticas públicas de desenvolvimento; nível de

desenvolvimento tecnológico; taxas de emprego e desemprego; índices de pobreza;

etc.

Seguindo a lógica desta matriz, as Forças Motrizes resultam em P ressões sobre

o meio ambiente e são geradas por todos os setores de atividades econômicas –

transporte, energia, habitação, agricultura, industria, turismo, etc. – através de todos

os estágios da cadeia produtiva – extração, produção, distribuição, consumo,

disposição final – atingindo diferentes meios – água, solo, ar, cadeia alimentar. De

um modo geral os indicadores de pressões estão associados tanto ao consumo de

Forças Motrizes

Pressões

Exposição

Estado

Efeitos

Ações

Ações

Ações

Ações

Ações

Figura 6: Matriz de Indicadores Forças Motrizes-Pressões-Estado-Exposição-Efeitos-Ações (FPEEA)

67

68

recursos naturais, como ao lançamento no ambiente de produtos e resíduos que

resultarão em alterações da qualidade ambiental. Exemplos de indicadores de

pressões se referem ao quantitativo de fontes e de emissões que alteram a

qualidade do ar; a quantidade efluentes não tratados e que alteram a qualidade da

água; o volume de água utilizada per capita; a quantidade de resíduos produzidos e

de produtos tóxicos lançados no meio ambiente.

As pressões, como já apontado, afetam o E stado do meio ambiente, resultando

em proporções ou concentrações de poluentes que indicam degradação ambiental,

que pode ser demonstrada através de alguns indicadores, tais como: proporção de

água para consumo que excede os padrões estabelecidos ou que atenda aos

padrões; número de horas por ano nos quais a média de concentração de partículas

em suspensão ou SO2 excedeu os padrões; concentrações de poluentes

específicos no ar - CO2, SO2, NOx, CO, chumbo; etc.

A Exposição de determinadas populações à um ambiente que tenha seu estado

alterado através de proporções de áreas degradadas ou concentrações de poluentes

pode afetar sua saúde e bem, de modo que é necessário construir indicadores sobre

a mesma. Exemplos de indicadores associados às várias exposições são:

proximidade de fontes de poluentes atmosféricos; proporção de crianças expostas à

poluentes; proporção da população com fornecimento de água fora dos padrões da

OMS; percentual da população sem acesso ao sistema de esgotamento sanitário;

proporção da população apresentando níveis de contaminação no sangue.

Dependendo da intensidade e magnitude das exposições, assim como do tipo de

perigo, estas podem resultar em E feitos sobre a saúde. Como exemplos de

indicadores em saúde ambiental que podem ser sugestivos de doenças

ambientalmente relacionadas os autores (Corvalán e col., 1996) destacam: número

e natureza de epidemias associadas à alimentos (Salmonella, etc.); número e

natureza de epidemias associadas ao consumo de água (Cólera, Giárdia, etc.);

mudanças nos padrões de mortalidade e morbidade (asbestose, benzenismo;

doenças e óbitos relacionados ao trabalho); morbidade por malária, cólera, hepatite

e outras doenças infecciosas e parasitárias; morbidade e mortalidade por diarréia

em crianças menores de 5 anos; morbidade e mortalidade por problemas

respiratórios agudos ou pneumonia; morbidade por asmas (hospitalizações) e

doenças alérgicas; malformações congênitas; doenças cardiovasculares e

problemas circulatórios; prevalência de baixo peso ao nascer; etc.

68

69

Para os autores (Corvalán e col., 1996), diferentes Ações podem ser tomadas

para atingir vários pontos da cadeia desenvolvimento-meio ambiente. Algumas

ações podem ser de curto prazo e remediadoras, outras de longo prazo e

preventivas. Existem também ações que podem ser tomadas para reduzir ou

controlar um perigo particular, por exemplo, limitar as emissões de um poluente.

Como exemplos de indicadores de ações em saúde ambiental citam:

desenvolvimento e implementação de políticas públicas em saúde ambiental e

planos de ações em diferentes níveis de governo; incorporação de aspectos de

saúde nos planos nacionais de meio ambiente e vice-versa, assim como de

desenvolvimento sustentável; incorporação de políticas de saúde e meio ambiente

no planejamento urbano, energético, de transportes, de desenvolvimento industrial e

agrícola; mecanismos e estruturas formais de envolvimento dos diferentes atores e

grupos de interesse nos processos de decisórios em saúde ambiental, nos níveis

nacional, regional e local; redes e comunicações entre os diferentes parceiros e

estruturas de processos decisórios descentralizadas; existência de um sistema de

disseminação de informações públicas em saúde ambiental; suporte para grupos

comunitários em saúde ambiental; existência de legislação em saúde ambiental;

EIA-RIMA; etc.

Conforme De Kruijf & Van Vuuren (1998), o modelo PEIR, com

desdobramentos para indicadores de saúde de ecossistemas e de saúde ambiental,

baseia-se em uma relação causal simples e tem sido bastante útil na área ambiental

exatamente por isto. Entretanto, como observam os autores, para o

desenvolvimento sustentável este modelo apresenta sérias limitações, sendo estas:

1) não permite muitas ligações adicionais; 2) não reconhece que os impactos podem

ser pressões e vice-versa, como exemplificado nas setas tracejadas; 3) não

reconhece o fato de que existem múltiplas pressões para muitos impactos e muitos

impactos para muitas pressões; 4) existem sérias dúvidas sobre a aplicabilidade

deste sistema para o domínio sócio-cultural. Em síntese, consideram o modelo

como um sistema linear que obscurece interações complexas, ainda que muito

utilizado e útil para comunicação com tomadores de decisões.

Embora o modelo PEIR apresente limites, tem sido muito operacional e

utilizado, servindo de base para reunir informações diversas para a construção de

indicadores tanto na área ambiental, quanto da saúde. O desafio então é, tendo por

base este modelo, levantar um conjunto diversificado de dados (saúde, meio

69

70

ambiente, economia, sociedade, política, etc.) sobre a Região do Médio Paraíba,

que sofreu profundas transformações ambientais desde o Século XIX e possui hoje

mais de 90% da população vivendo em áreas urbanas (ainda que a maior parte da

área física seja dominada por campos e pastagens) em municípios em que

predominam uma economia tipicamente urbana, poder construir indicadores de

sustentabilidade ambiental e de saúde que permitam reunir um conjunto de

informações diversas numa perspectiva (eco)sistêmica (não linear).

Um tratamento sistêmico da Região do Médio Paraíba para a construção dos

indicadores, exige compreender que os municípios não são unidades territoriais

simples, mas integram um “sistema complexo”, em que cada um de seus

componentes pode ser visto como um sistema e que, como tal, responde às

mudanças nas pressões, problemas e oportunidades, para sustentar sua existências

e funções. Assim, qualquer definição de sustentabilidade e de seus conseqüentes

indicadores, dependerá dos padrões de referência, como também a definição das

fronteiras do sistema dependerá da natureza das questões, já que não há fronteiras

fixas (Ravetz, 2002: 17)

Ravetz (2002) considera que uma perspectiva sistêmica para a

sustentabilidade deve considerar as qualidades da viabilidade, integridade e

longevidade de qualquer sistema. Para o autor, um sistema para sobreviver tem de

utilizar seus recursos disponíveis e lidar com condições adversas; responder as

mudanças de curto prazo e se as mudanças de longo prazo; de co-existir com outros

sistemas, maiores e menores, contendo os impactos internos que podem afetar sua

base de recursos.

Esta perspectiva sistêmica como base para a construção indicadores de

sustentabilidade ambiental e de saúde, tem por base alguns pressupostos (Ravetz,

2002: 5-6):

1. A sustentabilidade não pode ser considerada como fixa ou como uma nova parte

que é adicionada. Crises e oportunidades caminham conjuntamente, de modo

que a solução de hoje pode se tornar o problema de amanhã.

2. A sustentabilidade não é uma meta que pode ser cientificamente medida em

termos de escalas quantitativas. Raramente existe um único “verdadeiro”

caminho para a sustentabilidade, mas sim um conjunto de interações, cujos os

resultados podem ser mais ou menos eficientes, eqüitativos ou resultar em

medidas protetivas, dependendo de quem os mede.

70

71

3. Uma cidade-região, ou no nosso caso município-região, não será uma ilha de

sustentabilidade, insulada do mundo que a rodeia. Podem ser relativamente

autônomas, mas são conduzidas por um sistema global de muitos modos,

exigindo-se que se conecte ações nacionais e globais com ações locais e

regionais, interconectando escalas e funções.

A questão de “quem e o que” tentaremos sustentar (a cidade, as pessoas, o

ambiente global ou todos) é o coração do projeto e sua abordagem exige conectar

diferentes tipos de conhecimentos. Isto exige evitar conclusões simples, como uma lista

dos dez pontos mais importante, em favor do aprofundamento do debate.

Tendo por base estes pressupostos, Ravetz (2002) considera que uma perspectiva

sistêmica para a construção de indicadores deve trazer consigo o conceito de

metabolismo (fluxo de energia, materiais e padrões de atividades), não restrito somente

ao metabolismo físico, mas o total ou “informacional” que envolve dimensões sociais,

econômicas e ambientais, reproduzindo na Figura 7 a mesma estrutura conceitual dos

indicadores de sustentabilidade presentes na Figura 3.

O conceito de metabolismo é de grande importância uma vez que áreas

urbanas tendem a romper os eco-ciclos naturais e de auto-organização dos

ecossistemas constituindo metabolismos “lineares”, em que recursos naturais são

consumidos e poluição e resíduos são produzidos. O metabolismo destas áreas

pode ser analisado em termos de “estoques” (mensuráveis, como áreas urbanas

com áreas verdes, e não tão mensuráveis, como o bem estar resultante destas

Dimensão sociedade e

política

Dimensão economia e

indústria

Dimensão meio ambiente e recursos naturais

Figura 7: Triangulo economia-ambiente-sociedade nas agendas e discursos sobre o desenvolvimento sustentável

71

72

áreas verdes) e “fluxos” (consumo de recursos naturais e produção de resíduos e

poluição) que são organizados em “padrões” (arranjos estruturais de uso do solo que

possibilitam que dentro de uma mesma área de espaço verde, convivam diferentes e

conflitantes projetos ou sistemas de gestão).

Mesmo buscando adotar uma perspectiva sistêmica, Ravetz (2002) considera

que um modo de visualizar este metabolismo é através de um mapa mental de

causas e efeitos, ou “ponta inicial do processo” (necessidades) e “ponta final do

processo” (resultados). Este mapa do metabolismo total, que é baseado no modelo

PEIR da OCDE, deve incluir as dimensões culturais, sociais, econômicas, políticas,

espaciais, tecnológicas, ambientais e éticas organizadas em uma ordem que vai das

necessidades aos resultados e se encontram expressos na Figura 8.

Fonte: Ravetz, 2002

Este mapa contribui para visualizar o seguinte ciclo:

Os valores sociais e culturais, bem como os fatores relacionados ao estilo de

vida, contribuem para gerar necessidades e desejos de mobilidade e

identidade social, que se expressam em necessidades de consumo.

FIGURA 8 - Abordagem Integrada em Ambiente e Saúde

CONTEXTO NACIONAL E GLOBAL

Políticas Públicas, Regulações, Tecnologias e Mercados

Forças motrizes

Dimensões sociais e culturais

Valores sociais e culturais

Altas necessidad

es

Básicas necessidad

es

PadrõesPressões e fluxos

Pressões e resultados

Impactos e resultados

Meio ambiente,

ética

Meio ambiente, ecologia

Industria, tecnologia

Físico, espacial, político

Econômico, social

Demandas

Bem estar e

mercado

Infra-estruturaurbana

Física e institucion

al

Suprimento

Indústria e

tecnologia

Pressões ambientai

s

Condições ambientai

s

Impactos humanos

Impactos ecológico

s

Benefícios

humanos

Valores éticos

AÇÕES LOCAISGoverno Local, Setor Privado, Comunidades, Público em geral

“O que necessitamos (ponta inicial do processo)

O que temos (ponta final do

processo)

Estoques e fluxos

72

73

Estes valores e fatores que contribuem para gerar necessidades se traduzem

em pressões e fluxos para os mercados econômicos, aumentando a as

demandas para o consumo de carros, que por sua vez se traduz em

demandas por aumento da produção industrial, consumo de recursos naturais

e produção de resíduos e poluição.

As demandas de mercado interagem com a infra-estrutura urbana, física e

institucional, produzindo padrões de ocupação do solo, de vias de acesso

urbano, de organização de instituições, etc.

Os fluxos oriundos das pressões e os padrões de infra-estrutura produzem

alterações nos estoques do sistema, intensificados pela necessidade de

suprimentos tecnológicos providos pelos serviços e que resultam em

impactos sobre o sistema.

Os fluxos oriundos das pressões, que geram padrões e que transformam os

estoques, resultam em pressões ambientais que ocasionam mudanças nas

condições ambientais, como degradação ecológica, poluição, mudanças

climáticas, etc.

Os resultados dos impactos podem ser positivos ou negativos e possuem seu

balanço final pesado pelas prioridades sociais e valores éticos estabelecidos.

O mapa que permite visualizar este ciclo deve tanto ter em conta o contexto em que

se dão as políticas públicas globais ou nacionais, as regulamentações de mercado e

desenvolvimento de tecnologias, como as ações locais que podem transformar vários

conecções do sistema, objetivando melhorar sua performance ou sustentabilidade

(Ravetz, 2002).

Em relação à construção e organização de indicadores que permitam construir

este mapa, Ravetz (2002) propõe constituir perfis de problemas e/ou perspectivas

Estrutura física: condições de habitação, infra-estrutura urbana, padrões de

espaços e convivência, existência de amenidades públicas, etc.

Condições ambientais: qualidade do ar, da água e do solo; formas de uso do

solo nas áreas urbanas e não-urbanas, etc.

Metabolismo ambiental: fluxo de entrada e saída de energia, água e

materiais; eficiência econômica e social na distribuição de bens e serviços

ambientais; etc.

73

74

Estrutura espacial: uso do solo e tendências; perspectivas de acesso (férias e

descanso) e densidade de áreas protegidas e áreas verdes; área disponível

para manutenção da integridade ambiental, etc.

Transporte e comunicação: acesso e localização da infra-estrutura urbana,

redes de tecnologias de informação e comunicação, vias e formas de

transporte, difusão e emprego de comunicações culturais e da imprensa, etc.

Indústria e tecnologia – facilidades básicas e processos para os diferentes

setores produtivos (primário à terciário), comunicação, distribuição, inovação

e empreendedorismo, etc.

Estrutura econômica – vias de industrialização, vantagem competitiva, valor

agregado, re-investimentos, habilidades da força de trabalho, estrutura

ocupacional, vulnerabilidade industrial, etc.

Estrutura social: migração e estrutura habitacional; educação, saúde,

criminalidade; rendimento médio, ineqüidades, exclusão e desvantagens;

estilos de vida e qualidade de vida; etc.

Estrutura política: autonomia e governança, redes e organizações

institucionais, sociedade civil e de tomadas de decisões na esfera pública;

etc.

Estrutura cultural – normas e valores, redes de comunidades, coesão e

cooperação, etc.

Para nos aproximarmos destes perfis de problemas e/ou perspectivas para a

construção de indicadores proposto por Ravetz (2002) realizamos algumas

adaptações considerando tanto a disponibilidade de dados que pudessem ser

facilmente obtidos na internet ou em meios digitais, como também

problemas/perspectivas que deveriam ser melhor detalhados dada tradição de

construção de indicadores no setor saúde (RIPSA, ANO) que ficaram agrupados do

seguinte modo.

Estrutura espacial;

Estrutura demográfica;

Estrutura econômica;

Condições ambientais;

Condições de bem-estar;

Estrutura política e institucional para saúde e meio ambiente.

74

75

Assim, em relação aos problemas/perspectivas mantivemos: estrutura espacial,

estrutura econômica e condições ambientais. Os aspectos demográficos que se

encontravam na estrutura social foram transformados em itens específicos de

problemas/perspectivas. Foram excluídos metabolismo ambiental, indústria & tecnologia

e estrutura física. Metabolismo ambiental ficará para ser desenvolvido em outro projeto

que dá continuidade. Indústria & tecnologia foi inserido em estrutura econômica.

Estrutura física teve parte inserida em estrutura econômica e parte incluída em

condições de bem-estar. Estrutura política foi modificada para estrutura política e

institucional para saúde e meio ambiente, focando neste momento em dois aspectos

que consideramos vitais e procurando dar proeminência a indicadores que apontem

uma capacidade de respostas para os problemas ambientais e de saúde. A estrutura

social foi completamente transformada e adaptada para condições de bem-estar. A

optar por esta mudança, procuramos não só nos adaptar a estrutura do MEA (2005),

que procura estabelecer uma relação entre serviços de ecossistemas e bem-estar

humano, mas também evitar tratar a “atenção à saúde” e a “saúde” como sinônimos,

encorajando a idéia de que a atenção médica para a doença iguala-se à saúde, que

acaba sendo reduzida meramente à ausência de doenças. Dentre os fatores sociais e

ambientais que afetam a saúde, podemos encontrar o emprego e a distribuição de

renda, as condições de vida e trabalho, a qualidade e a sustentabilidade do ambiente,

as redes sociais e de suporte social, a participação e o empowerment, bem como outros

que afetam o bem-estar coletivo e pessoal. Isto significa que a análise das condições

de saúde, bem como o desenvolvimento de programas de melhoria da saúde não

podem ser reduzidos somente à análise das doenças e à redução da incidência de

doenças (Hancock & Garret, 1995; Waltner-Towes, 2000). Uma concepção positiva de

saúde associa-a ao bem-estar, tratando-a como componente do bem-estar. Uma

proposta nesta direção se encontra na estrutura conceitual do MEA (2005) em que o

bem-estar é assumido como tendo múltiplos constituintes, incluindo:

Materiais básicos para uma boa vida, envolvendo a possibilidade de acesso à

recursos para obter vencimentos, ter sustento e poder morar, se vestir e

alimentar de modo seguro e adequado.

Saúde, envolvendo a capacidade de permanecer adequadamente alimentado,

livre de doenças evitáveis, ter um ambiente físico saudável, tal como ar e

águas limpas, e de obter energia para se manter protegido do frio ou do calor.

75

76

Segurança, como a possibilidade de viver em um ambiente limpo e seguro e

de reduzir a vulnerabilidade aos choques e estresses ecológicos (exemplo:

desastres tecnológicos e naturais).

Boas relações sociais, envolvendo a oportunidade de expressar, em relação

aos ecossistemas, valores estéticos e de recreação, valores culturais e

espirituais, bem como a possibilidade de observar, estudar e aprender sobre

os ecossistemas. Envolve também o respeito mútuo e a coesão social.

Liberdade de escolha e ação: oportunidade para os indivíduos alcançarem o

que lhes têm valor. Esta liberdade é afetada por outros fatores, tais como

educação e é pré-condição para se alcançar os outros componentes.

76

77

5.2. Indicadores de Sustentabilidade Ambiental e de Saúde em Perspectiva Ecossistêmica na Região do Médio Paraíba

O Estado do Rio de Janeiro possui 92 municípios (Ver Figura 9) e possui uma

área total de 43.864,3 km2 que corresponde à 0,51% da área total do país e 4,73%

da Região Sudeste. Estes municípios se encontram agrupados em 8 regiões

geográficas (Baia da Ilha Grande; Baixada Litorânea; Centro-Sul; Médio Paraíba;

Metropolitana; Noroeste; Norte e Serrana), pelo Centro de Informação e Dados do

Rio de Janeiro (CIDE), órgão da Secretaria de Estado de Planejamento. Destas 8

regiões, vamos nos debruçar sobre a Região do Médio Paraíba.

Figura 9: Regiões de Governo e Microrregiões Geográficas

A Região do Médio Paraíba é composta por 12 municípios: Barra do Piraí,

Barra Mansa, Itatiaia, Pinheiral, Piraí, Porto Real, Quatis, Resende, Rio Claro, Rio

das Flores, Valença e Volta Redonda (Ver Figura 10).

77

78

Figura 10: Região do Médio Paraíba

De acordo com informações do IBGE (2005), destes 12 municípios, 7 foram

instalados em 1939 (Barra do Piraí, Barra Mansa, Piraí, Resende, Rio Claro, Rio das

Flores e Valença), Volta Redonda em 1954, Itatiaia em 1990, Quatis em 1993 e

Pinheiral e Porto Real em 1997. De acordo com informações do CIDE (2005), estes

12 municípios possuem anos de instalações mais diversificados e recuados no

tempo, sendo em ordem cronológica: 1801 Resende; 1826 Valença; 1833 Barra

Mansa; 1838 Piraí; 1850 Rio Claro; 1890 Barra do Piraí e Rio das Flores; 1955 Volta

Redonda; 1989 Itatiaia; 1993 Quatis; 1997 Porto Real e Pinheiral (ver Quadro 10).

Em relação ao Estado do Rio de Janeiro esta Região representa quase 14% da

área, 5,46% da população e 6,76% do PIB do Estado.

Quadro 10: Ano de instalação dos municípios da Região do Médio Paraíba

Municípios Ano de instalação de acordo com o CIDE

Ano de instalação de acordo com o IBGE

Barra do Piraí 1890 1939Barra Mansa 1833 1939Itatiaia 1989 1990Pinheiral 1997 1997Piraí 1838 1939Porto Real 1997 1997Quatis 1993 1993Resende 1801 1939Rio Claro 1850 1939Rio das Flores 1890 1939Valença 1826 1939Volta Redonda 1955 1954Fontes: CIDE, 2005; IBGE, 2005

78

79

5.2.1. Estrutura espacial

O ponto culminante do Estado do Rio de Janeiro se encontra nesta região, o pico

das Agulhas Negras, situado no município de Itatiaia, com 2.791 metros de altitude

(CIDE, 2005). A área da Região é de 6203,4 km2 e corresponde à 13,73% do total

do Estado. Conforme podemos verificar no Quadro 11, em termos de área, os

menores municípios são Pinheiral e Porto Real, criados em 1997. Os maiores

municípios são Resende e Valença, os dois mais antigos (criados nos anos de 1801

e 1826 respectivamente, de acordo com o CIDE).

Quadro 11: Área dos municípios e percentual da área em relação ao total da Região

Região e municípios Área em km2 Percentual da área em relação ao total da Região

Região do Médio Paraíba 6203,4 100Barra do Piraí 582,1 9,38Barra Mansa 548,0 8,83, Itatiaia 241,9 3,89Pinheiral 77,8 1,25Piraí 504,6 8,13Porto Real 50,9 0,82Quatis 287,2 4,62Resende 1100,2 17,73Rio Claro 843,4 13,59Rio das Flores 479,5 7,72Valença 1305,8 21,04Volta Redonda 182,0 2,93Fonte: CIDE, 2005

No Quadro 12, de acordo com informações do IQM-Verde II (CIDE, 2004),

em termos de distribuição espacial das áreas, Porto Real e Volta Redonda

destacam-se por possuírem cerca de 1/4 de seu território como área urbana4. Em

termos de área agrícola5 destaca-se somente Porto Real, com 17,5%. No que se

refere às áreas de campos ou pastagens6, 5 municípios possuem entre 50% e 75%

(Piraí, Porto Real, Resende, Rio Claro e Volta Redonda) e 6 municípios (Barra do

Piraí, Barra Mansa, Pinheiral, Quatis, Rio das Flores e Valença) possuem mais de

4 De acordo com o IQM-Verde são as áreas caracterizadas “... por ocupação urbana, tanto a de alta densidade de ocupação (contínua e predominantemente vertical) quanto às de média (contínua e predominantemente horizontal) e baixa densidades (horizontal esparsa, entremeada por áreas verdes ou terrenos vazios) de ocupação.”5 Segundo o IQM-Verde, compreende “... as áreas agrícolas, onde se incluem os campos de cultivo cíclicos, permanentes e mistos.”6 Segundo o IQM-Verde, são “... considerados nesta classe os campos antrópicos encontrados nas áreas onde a vegetação natural primitiva foi substituída para práticas de agricultura ou para o criatório. No primeiro caso, o declínio da agricultura deu lugar a extensas áreas recobertas por vegetação herbácea sem nenhum uso atual (a fisionomia mais comum no território fluminense). Os campos utilizados como criatórios são encontrados em escala menor. Nesta classe, estão incluídos os campos que se instalaram no lugar dos remanescentes de savana (cerrado), da Bacia Terciária de Resende.”

79

80

75%. O único município que possui apenas cerca de 1/3 de sua área caracterizada

como campos ou pastagens é Itatiaia. O somatório destas duas áreas só altera o

quadro para o município de Porto Real, que possui o maior percentual de área

agrícola, devendo-se ter em conta que se trata do menor município da

Região.

Quadro 12: Percentual de distribuição das áreas dos municípios

% de área urbana

% área agrícola

% campos e

pastagens

somatório = %área

de agropecuá

ria

% de corpos d

´água

% de florestas

% área vegetação secundá-

ria

Área com cobertura vegetal (km2)

somatório do % da área com cobertura vegetal

Estado do Rio de Janeiro

6,3 9,5 49,40 58,9 2,1 9,64 18,45 12.321.5 28,09

Barra do Piraí 3,2 0 76,45 76,45 0,88 0,06 19,43 113,0 19,49Barra Mansa 8,5 0,1 78,82 78,92 0,63 0,03 11,94 65,7 11,97Itatiaia 4,7 0 36,06 36,06 2,55 40,42 5,02 102,5 45,44Pinheiral 5,7 0 75,57 75,57 1,26 0 17,51 13,5 17,51Piraí 1,5 0 64,51 64,51 0,38 0 33,58 170,1 33,58Porto Real 24,8 17,5 50,05 67,55 2,44 0 5,22 2,6 5,22Quatis 0,9 0,4 80,42 80,82 0,86 2,62 14,88 50,2 17,50Resende 2,4 2,4 54,96 57,36 2,24 18,48 17,92 406,3 36,40Rio Claro 0,3 0 50,72 50,72 1,12 10,06 37,64 402,3 47,70Rio das Flores 0,3 0 82,52 82,52 1 0,02 16,14 77,4 16,16Valença 1 0,1 79,47 79,57 0,56 0 18,83 246,3 18,83Volta Redonda 25,6 0 53,02 53,02 1,18 0 20,25 37,9 20,25Fonte: CIDE, 2005

No que se refere a cobertura vegetal, para a área de florestas7 destaca-se

Itatiaia com cerca de 40%. Os municípios de Resende (18,48%) e Rio Claro

(10,06%) são os únicos que apresentam pelo menos 10% de áreas de florestas.

Entre os outros 9 municípios, 5 (Pinheiral, Piraí, Porto Real, Valença e Volta

Redonda) não possuem nenhuma área de florestas, 3 (Barra do Piraí, Barra Mansa

e Rio das Flores) menos de 1% e Quatis cerca de 3% de áreas de florestas. Ainda

em relação a cobertura vegetal, observa-se que grande parte é composta por

vegetação secundária8, ocupando mais 1/3 dos municípios de Rio Claro e Piraí. Os

municípios de Pinheiral, Piraí e Porto Real são os únicos em que sua cobertura

vegetal é composta somente de vegetação secundária. Com exceção de Rio Claro

7 Vegetação primária, de acordo com a Resolução CONAMA no 010, de 1/10/1993, corresponde a qualquer tipo de vegetação “... de máxima expressão local, com grande diversidade biológica, sendo os efeitos das ações antrópicas mínimos, a ponto de não afetar significativamente suas características originais de estrutura e de espécies.” 8 Vegetação secundária, de acordo com a Resolução CONAMA no 010, de 1/10/1993, corresponde a “... vegetação resultante dos processos naturais de sucessão, após supressão total ou parcial da vegetação primária por ações antrópicas ou causas naturais, podendo ocorrer árvores remanescentes da vegetação primária.”. De acordo com o IQM-Verde, compreendem tanto áreas abandonadas após diferentes tipos e intensidades de uso – o que pode conduzir a diferentes padrões de regeneração – quanto áreas naturais ou em regeneração submetidas a diferentes níveis de degradação, devido a fatores como fogo e exploração de madeira.

80

81

e Piraí, a maioria dos municípios possui entre 10% e 20% da sua área coberta com

vegetação secundária, sendo que somente Itatiaia e Porto Real são os únicos

municípios que possuem somente cerca 5% de área com vegetação secundária,

observando-se que para este último corresponde ao total do percentual com

cobertura vegetal. Somando os percentuais de áreas com vegetação primária e

secundária destacam-se com mais de 45% da área Itatiaia (com a quase totalidade

de vegetação primária) e Rio Claro (predominantemente vegetação secundária).

No que se refere ao percentual de áreas de corpos d´água, destacam-se

Itatiaia, Porto Real e Resende, com aproximadamente 2,5% de sua área. Apesar do

baixíssimo percentual destas áreas de corpos d´água e do pequeno percentual de

áreas urbanas na maioria dos municípios (com exceção de Porto Real e Volta

Redonda), os municípios como Barra do Piraí, Barra Mansa, Itatiaia, Pinheiral, Piraí,

Porto Real, Quatis, Resende e Volta Redonda possuem o seu núcleo urbano

margeando o Rio Paraíba do Sul.

Conforme podemos observar no mapa do uso e cobertura do solo no Estado

do Rio de Janeiro (Figura 10), nas áreas cor de rosa que representam áreas

urbanas, há uma grande concentração em Volta Redonda-Barra Mansa (contínuas)

e outra envolvendo Resende-Itatiaia (contínuas, mas predominando no primeiro) e

Porto Real (aproximando-se de ser contínua das áreas urbanas de Resende e

Quatis). As áreas em verde escuro representam florestas e predominam em Itatiaia

e Resende (sendo contínua). As áreas em verde claro representam vegetação

secundária e se encontram bastante dispersas entre os municípios da Região do

Médio Paraíba. As áreas em bege predominam e representam campos e

pastagens, constituindo a maior parte de toda a Região.

81

Figura 10: Uso e Cobertura do Solo no Estado do Rio de Janeiro - 2001

A seqüência de imagens extraídas do Google Earth (capturadas em 23 de

novembro de 2005) é bastante ilustrativa desta estrutura espacial.

Barra do Piraí

Barra Mansa

84

Itatiaia

Porto Real

84

85

Resende

Volta Redonda

Estas imagens revelam núcleos urbanos concentrados em determinadas

áreas, margeando o Rio Paraíba do Sul, exercendo fortes pressões sobre os

recursos hídricos. Estas áreas urbanas se encontram, em grande parte, cercadas

85

86

de áreas de campos e pastagens, sendo que em municípios como Barra do Piraí é

visível a degradação das mesmas.

5.2.2. Estrutura demográfica O Estado do Rio de Janeiro é o 3o mais populoso do país com população de

14.391.282 em 2000, perdendo apenas para Minas Gerais (17.891.494) e São Paulo

(37.032.403). No Estado do Rio de Janeiro, a Região do Médio Paraíba (785.192) é

a segunda mais populosa, se encontrando atrás da Região Metropolitana

(10.710.515) e próxima da Região Serrana (642.002).

Em termos de tamanhos da população, a Região do Médio Paraíba é bastante

diversificada.

No Quadro 13 é possível verificar que em termos de faixas de tamanho da

população, há três grupos. No terceiro grupo, se encontram alguns dos municípios

mais populosos do Estado em 2005. Volta Redonda se encontrava em 10o, com

255.293 habitantes e 1,66% do total da população do Estado, Barra Mansa em 15o,

com 175.213 e 1,14% do total e Resende em 22o, com 117.391 e 0,76% do total

(CIDE, 2005).

Quadro 13 – Faixas de tamanho da população para os municípios da Região do Médio Paraíba

Faixas de tamanho da população Municípios

5.001 a 20.000 Porto Real, Quatis, Rio Claro e Rio das Flores

20.001 a 100.000 Barra do Piraí, Itatiaia, Pinheiral, Piraí e Valença

100.001 a 500.000 Barra Mansa, Resende e Volta Redonda

Os diferentes tamanhos dos municípios da Região na atualidade resultam do

processo histórico em que se deu a ocupação da mesma e particularmente de

alguns municípios. No Quadro 14 podemos verificar que no período de 60 anos,

entre 1940 e 2000, a população da Região cresceu quase 5 vezes mais, sendo que

em áreas onde hoje se encontra o município de Volta Redonda, este crescimento foi

de 87 vezes mais, não podendo ser dissociado do processo histórico que resultou na

criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).

Em termos percentuais municípios como Volta Redonda passaram de uma

população que correspondia à 1,7% do total da Região do Médio Paraíba em 1940

para 30,8% em 2000, correspondendo à um aumento de 18 vezes mais no período.

86

87

O segundo maior município em termos de percentual da participação da população é

Barra Mansa, que passou de 12,1% para 21,7%. Valença, um município que já teve

22,3% do percentual da população, passa, em 2000, a ter 8,4%. Também

diminuíram bastante sua participação percentual municípios como Piraí (de 8,9%

para 2,8%), Rio Claro (9,3% para 2,1%) e Rio das Flores (4,8% para 1,0%).

Quadro 14 – Evolução da população na Região do Médio Paraíba e Municípios, por situação de domicílio - 1940-2000

Região do Médio Paraíba e Municípios

1940 1960 1980 2000

Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total

Região do Médio Paraíba 59.338 100.158 159.496 235.021 100.991 336.012 510.529 89.262 599.791 730.124 54.689 785.192

Barra do Piraí 16.271 15.084 31.355 32.346 13.021 45.367 55.794 16.137 71.931 84.796 3.679 88.503

Barra Mansa 9.916 9.369 19.285 49.201 9.301 58.502 130.422 16.328 146.750 164.963 5.630 170.753

Itatiaia 838 3.112 3.950 2.969 2.447 5.416 8.630 3.664 12.294 11.731 12.998 24.739

Pinheiral 927 1.052 1.979 3.642 1.425 5.067 9.003 570 9.573 17.674 1.807 19.481

Piraí 2.102 12.052 14.154 4.752 13.231 17.983 12.792 6.421 19.213 18.035 4.044 22.118

Porto Real 326 688 1.014 40 2.697 2.737 1.732 4.440 6.172 11.385 707 12.095

Quatis 1.527 2.752 4.279 2.335 2.977 5.312 5.523 2.468 7.991 9.388 1.311 10.730

Resende 9.270 13.188 22.458 26.658 13.986 40.644 57.660 11.209 68.869 95.893 8.589 104.549

Rio Claro 2.244 12.649 14.893 3.629 11.605 15.234 6.443 6.471 12.914 11.620 4.612 16.228

Rio das Flores 1.238 6.482 7.720 1.794 6.444 8.238 2.620 4.246 6.866 5.355 2.260 7.625

Valença 13.662 21.965 35.627 23.682 19.090 42.772 39.784 13.793 53.577 57.304 8.986 66.308

Volta Redonda 1.017 1.765 2.782 83.973 4.767 88.740 180.126 3.515 183.641 241.980 66 242.063

Fonte: CIDE, 2006.

No Quadro 15 podemos verificar, em relação à taxa média geométrica de

crescimento anual da população residente, merece destaque à de Volta Redonda no

período 1940-1950, que foi de 29,17, a maior já alcançada por qualquer município

do Estado do Rio de Janeiro. Ainda que reduzida a aproximadamente 1/3 do

período anterior, a taxa média geométrica no período 1950-1960 era ainda bastante

alta, comparada com as do Estado e de outros municípios. Também chama a

atenção a taxa média geométrica e crescimento do hoje município de Porto Real,

que foi de 7,61. No período 1960-1970 destacam-se os municípios de Barra Mansa

e Itatiaia (5,06 e 6,16 respectivamente). No período 1970-1980 os destaques ficam

Porto Real (4,92) e Barra Mansa (4,35) e no período 1980-1991, também com taxa

menores que o período anterior, destacam-se Pinheiral (3,16) e Itatiaia (2,47). No

período mais recente de 1991-2000 chama a atenção um grupo de municípios, com

a taxa de crescimento superior à 4,0 (Itatiaia com 4,90; Pinheiral com 4,17; Porto

Real com 4,23).

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Quadro 15 - Taxa média geométrica de crescimento anual da população residente, segundo as Regiões de Governo e municípios, Estado do Rio de

Janeiro - 1940-20001940/1950

 1950/1960

 1960/1970

 1970/1980

 1980/1991

 1991/2000

 

Estado 2,61 3,68 2,97 2,30 1,15 1,30Região do Médio Paraíba 3,18 4,42 2,89 2,99 1,34 1,38

Barra do Piraí 0,46 3,29 2,68 1,99 0,88 1,24Barra Mansa 4,64 6,78 5,06 4,35 0,98 0,49Itatiaia -0,63 3,86 6,16 2,24 2,47 4,91Pinheiral 5,55 4,09 1,97 4,51 3,16 4,17Piraí 2,23 0,19 0,01 0,66 0,50 0,96Porto Real 2,63 7,61 3,39 4,92 2,76 4,23Quatis 0,66 1,51 0,90 3,24 0,88 2,23Resende 2,85 3,18 2,74 2,61 1,76 2,54Rio Claro -0,41 0,64 -0,66 -0,98 0,52 1,93Rio das Flores 0,52 0,13 -1,36 -0,45 -0,57 1,88Valença 0,14 1,70 1,23 1,04 1,16 0,97Volta Redonda 29,17 9,45 3,51 3,90 1,67 1,05

Fonte: CIDE, 2005

Conforme podemos ver no Quadro 16, para o Estado do Rio de Janeiro, a

taxa média de crescimento vegetativo anual no período de 1991-2000 foi de 1,11%,

enquanto que para a Região do Médio Paraíba foi de 1,25%. Merecem destaque os

municípios apresentaram taxa média igual ou superior à 2,00%, sendo estes Piraí

(2,00%) e Porto Real (2,07%).

Para o Estado do Rio de Janeiro, a taxa líquida de migração anual no período

de 1991-2000 foi de 0,19%. Para a Região do Médio Paraíba foi inferior, sendo

0,12%. Nesta Região, merecem destaques como municípios atratores nos

processos migratórios os de Itatiaia (3,52%), Pinheiral (2,83%) e Porto Real (2,16%).

Como municípios que vem apresentando taxas migratórios negativas se destacam

Barra Mansa (- 0,71%), Piraí (- 1,04%) e Valença (- 0,17%).

88

89

O grande crescimento da população, iniciado de modo intenso no período

entre 1940 e 1960 e concentrado em alguns municípios, como Volta Redonda,

contribuiu para um quadro bastante heterogêneo em termos de densidade

demográfica. Conforme pode se verificar no Quadro 17, a densidade demográfica

da Região do Médio Paraíba sempre esteve, no período de 1940 à 2000, abaixo do

Estado do Rio de Janeiro. Entretanto, analisando os municípios individualmente,

constatamos que desde 1950, a densidade demográfica de Volta Redonda já se

aproximava do dobro do Estado, entre 1960 e 1970 representava mais do que o

triplo, e a partir de 1980 até 2000 passa a corresponder à quase quatro vezes mais.

Volta Redonda foi o único município da Região que ultrapassou a casa de mais de

1.000 habitantes por km2 (desde 1980). Municípios como Barra Mansa, Pinheiral e

Porto Real compõem um grupo de municípios em que a densidade demográfica

ultrapassou duas centenas de habitantes por km2. Os municípios de Barra do Piraí e

Barra Mansa estão entre os municípios na faixa de 100 à 200 habitantes por km 2.

Desde 1950 o Estado do Rio de Janeiro ultrapassou a os 100 habitantes por km 2.

Na Região, tendo como referência 100 ou mais habitantes por km2 constamos que

os municípios atingem e ultrapassam este número em momentos diferentes: em

1950 Volta Redonda; em 1960 Barra Mansa; em 1980 Pinheiral e Porto Real; em

2000 Itatiaia.

Quadro 17 – Densidade demográfica (hab/km2) do Estado, da Região do Médio

Quadro 16 - Taxa média geométrica de crescimento anual, taxa líquida de migração anual e taxa média de crescimento vegetativo anual – Estado do Rio de Janeiro, Região

do Médio Paraíba e Municípios, 1991-2000

 

Taxa médiageométrica de

crescimento anual (%)

Taxa líquida demigraçãoanual (%)

Taxa média decrescimento vegetativo

anual (%)

Estado 1,30 0,19 1,11Região do Médio Paraíba 1,38 0,12 1,25Barra do Piraí 1,24 0,11 1,13Barra Mansa 0,49 -0,71 1,20Itatiaia 4,91 3,52 1,39Pinheiral 4,17 2,83 1,34Piraí 0,96 -1,04 2,00Porto Real 4,23 2,16 2,07Quatis 2,23 0,85 1,39Resende 2,54 0,94 1,60Rio Claro 1,93 0,50 1,42Rio das Flores 1,88 0,81 1,06Valença 0,97 -0,24 1,21Volta Redonda 1,05 -0,17 1,22

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Paraíba e dos Municípios, 1940-20001940 1950 1960 1970 1980 1991 2000

Estado do Rio de Janeiro 82,3 106,6 153,0 205,1 257,4 292,0 328,1

Região do Médio Paraíba 25,7 35,2 54,2 72,0 96,7 111,9 126,6

Barra do Piraí 53,9 56,4 77,9 101,5 123,6 136,1 152,0

Barra Mansa 35,2 55,4 106,8 174,9 267,8 298,2 311,6

Itatiaia 16,3 15,3 22,4 40,7 50,8 66,4 102,3

Pinheiral 25,4 43,6 65,1 79,2 123,0 173,3 250,4

Piraí 28,0 35,0 35,6 35,7 38,1 40,2 43,8

Porto Real 19,9 25,8 53,8 75,0 121,3 163,6 237,6

Quatis 14,9 15,9 18,5 20,2 27,8 30,6 37,4

Resende 20,4 27,0 36,9 48,4 62,6 75,8 95,0

Rio Claro 17,7 17,0 18,1 16,9 15,3 16,2 19,2

Rio das Flores 16,1 17,0 17,2 15,0 14,3 13,5 15,9

Valença 27,3 27,7 32,8 37,0 41,0 46,6 50,8

Volta Redonda 15,3 197,6 487,6 688,4 1.009,0 1.210,5 1.330,0

Fonte: CIDE, 2006.

Outra característica da evolução da população entre 1940 e 2000 e que esta

se tornou quase que totalmente urbana na Região (Ver Quadro 18).

Em 2000, 93% da população se concentrava em áreas urbanas, sendo que

em municípios como Volta Redonda, chegava à 100%. Com taxas menores de

urbanização, destacavam-se Rio Claro e Rio das Flores (71,6% e 70,3%

respectivamente), sendo Itatiaia o município com a menor taxa de urbanização

(47,4%). Em termos percentuais, a população urbana era de 37,2% em 1940 e em

1950 já ultrapassava mais da metade (54,1%). Em 1970 a população urbana já

ultrapassava 3/4 do total, com 76,6% e desde de 1991 já superava os 90%,

correspondendo à 91,5% em 1991 e 93% em 2000. Desde 1991 a taxa de

urbanização da população residente da Região do Médio Paraíba se aproxima do

Estado do Rio de Janeiro. Dois municípios merecem destaque pela rapidez com

que em um período curto de tempo apresentam elevada taxa de urbanização da

população residente. O primeiro é Volta Redonda, que passa de 36,6 em 1940 para

89,4 em 1950. O segundo é Porto Real, que em anos recentes vivencia processo

similar, passando de 35,4 em 1991 para 94,2 em 2000. O único município que

apresenta uma taxa de urbanização da população residente inferior à 50,0 é Itatiaia,

com 47,4.

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Quadro 18 - Taxa de urbanização da população residente – Estado, Região do Médio Paraíba e municípios,1940-2000

1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000Estado 61,2 72,6 79,0 87,9 91,8 95,3 94,9Região do Médio Paraíba 37,2 54,1 69,9 76,6 85,1 91,5 93,0Barra do Piraí 51,9 65,9 71,3 78,8 77,6 93,6 95,8Barra Mansa 51,4 67,7 84,1 80,1 88,9 97,3 96,7Itatiaia 21,2 31,2 54,8 56,4 70,2 61,2 47,4Pinheiral 46,8 57,7 71,9 76,9 94,0 81,7 90,7Piraí 14,9 22,1 26,4 34,7 66,6 75,2 81,7Porto Real 32,1 2,8 1,5 36,8 28,1 35,4 94,2Quatis 35,7 38,7 44,0 57,4 69,1 87,0 87,7Resende 41,3 48,8 65,6 79,5 83,7 87,2 91,8Rio Claro 15,1 20,0 23,8 23,6 49,9 63,3 71,6Rio das Flores 16,0 14,3 21,8 30,8 38,2 59,9 70,3Valença 38,3 45,2 55,4 60,4 74,3 82,7 86,4Volta Redonda 36,6 89,4 94,6 96,3 98,1 99,9 100,0Fonte: CIDE, 2005

Tendo como referência o Mapeamento e Estimativa da Área Urbanizada do Brasil realizado pela EMBRAPA (Miranda e col., 2005),

podemos constar no Quadro 19 que este processo de urbanização foi acompanhado de um intenso processo de adensamento populacional nas

áreas urbanas. Ao contrário do Quadro 12, que em que os dados são provenientes do IQM-Verde, constatamos no Quadro 19 que 7 municípios

não ultrapassaram mais de 1% em termos de área urbana, 4 municípios variaram entre 1,1% e 5%, e somente o município de Volta Redonda teve

quase 15% de sua área definida como urbana. Estes dados chamam a atenção para a intensa concentração das áreas urbanas em pequenos

espaços dos municípios, resultando em grande densidade demográfica. Se em termos de habitantes por km2 dos municípios a média da Região

foi de 126,6 hab/ km2, sendo a maior encontrada em Volta Redonda, com 1.330 hab/ km2, quando realizamos uma análise em que se considera a

população urbana nas áreas urbanas, apenas o município de Rio das Flores surge com densidade menor do que 4.000 hab/ km2, sendo que 6

municípios com densidade entre 4.001 e 6.000 hab/ km2, 2 com mais de 6.001 e menos de 8.000, 1 com mais de 8.001 e menos de 10.000, 1

com pouco mais de 10.000 e 1 que ultrapassa todos os outros, com 38.238 (Barra do Piraí). Barra do Piraí que surgia como detentor da 5 a maior

densidade demográfica no Quadro 12, surge no Quadro 19 como a primeira, e Volta Redonda que surgia como 1a, aparece agora como 3a.

Quadro 19 – População total e urbana, área total e urbana, percentual da área urbanizada densidade demográfica (hab/km2) das áreas urbanizadas nos municípios e Região do Médio

ParaíbaMunicípio População

totalPopulação

urbanaPercentual

da população

urbana

Área total

(km2)

Área urbanizada

(km2)

Percentual da área

urbanizada em relação

à total

População por km2 de área

urbanizada

Barra do Piraí 88.503 84.816 95,8 579,8 2,2181 0,4 38.238Barra Mansa 170.753 165.134 96,7 548,9 16,4700 3,0 10.026Itatiaia 24.739 11.728 47,4 225,5 2,5845 1,1 4.537Pinheiral 19.481 17.672 90,7 77,0 3,4213 4,4 5.165Piraí 22.118 18.070 81,7 506,7 3,4768 0,7 5.197Porto Real 12.095 11.388 94,2 50,7 2,5362 5,0 4.490Quatis 10.730 9.412 87,7 286,9 2,2547 0,8 4.174Resende 104.549 95.963 91,8 1.116,2 13,1233 1,2 7.312

91

92

Rio Claro 16.228 11.616 71,6 843,5 2,5686 0,3 4.522Rio das Flores 7.625 5.364 70,3 479,0 1,6730 0,3 3.206Valença 66.308 57.323 86,4 1.308,1 8,6414 0,7 6.633Volta Redonda 242.063 241.996 99,9 182,8 27,1668 14,9 8.907

785.192 730.482 93,0 6.205,1 86,1347 1,4 8.480

Miranda e col, 2005.

No Quadro 20, podemos constar que na Região, as mulheres representam o maior

percentual da população (51,3%), situação que se reproduz na área urbana (51,6%),

dos municípios, com exceção de Porto Real. Na área rural ocorre o inverso, com os

homens representam o maior percentual (52,2 %), uma situação que se repete em

todos os municípios.

92

93

 Quadro 20 - População residente, por situação do domicílio e sexo, segundo a Região do Médio Paraíba e

municípios, 2000 

Total Urbana Rural

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens MulheresRegião do Médio Paraíba 785.192 381.941 403.251 730.482 353.336 377.146 54.710 28.605 26.105Barra do Piraí 88.503 42.455 46.048 84.816 40.498 44.318 3.687 1.957 1.730Barra Mansa 170.753 83.072 87.681 165.134 80.136 84.998 5.619 2.936 2.683Itatiaia 24.739 12.278 12.461 11.728 5.710 6.018 13.011 6.568 6.443Pinheiral 19.481 9.687 9.794 17.672 8.709 8.963 1.809 978 831Piraí 22.118 11.001 11.117 18.070 8.837 9.233 4.048 2.164 1.884Porto Real 12.095 6.091 6.004 11.388 5.719 5.669 707 372 335Quatis 10.730 5.418 5.312 9.412 4.694 4.718 1.318 724 594Resende 104.549 51.170 53.379 95.963 46.657 49.306 8.586 4.513 4.073Rio Claro 16.228 8.279 7.949 11.616 5.793 5.823 4.612 2.486 2.126Rio das Flores 7.625 3.764 3.861 5.364 2.581 2.783 2.261 1.183 1.078Valença 66.308 31.986 34.322 57.323 27.304 30.019 8.985 4.682 4.303Volta Redonda 242.063 116.740 125.323 241.996 116.698 125.298 67 42 25

Fonte: CIDE, 2005

No Quadro 21, verificamos que em 2004 as faixas etárias no gradiente entre

20 e 49 anos foram as que concentraram mais de 100.000 habitantes da Região. A

Figura 11 revela este quadro em termos de percentuais.

93

94

Figura 11 - Percentuais da população por faixa etária na Região do Médio Paraíba, 2004

2% 7%

8%

9%

10%

17%

16%

14%

8%

5%3%

1%

Menos de 1 ano

1 a 4 anos

5 a 9 anos

10 a 14 anos

15 a 19 anos

20 a 29 anos

30 a 39 anos

40 a 49 anos

50 a 59 anos

60 a 69 anos

70 a 79 anos

80 anos e mais

Em síntese, desde a década de 1940 a Região do Média Paraíba assiste um

grande crescimento populacional concentrado nos municípios mais industrializados,

com uma população que se torna quase que totalmente urbana em quase todos os

municípios, alguns com intensa densidade demográfica nas áreas urbanas, com

maior percentual de mulheres nas áreas urbanas e homens nas áreas rurais, sendo

esta população composto majoritariamente de adultos jovens.

94

Quadro 21 - População residente na Região do Médio Paraíba e por município por faixa etária, 2004

Menos de 1 ano 1 a 4 anos 5 a 9 anos

10 a 14 anos

15 a 19 anos

20 a 29 anos

30 a 39 anos

40 a 49 anos

50 a 59 anos

60 a 69 anos

70 a 79 anos

80 anos e mais Total

Região do Médio Paraíba 13474 56274 69399 73358 79482 138687 132476 113852 68721 43681 24197 8464 822065Barra do Piraí 1520 6253 7454 7835 8456 15302 14775 12823 8140 5380 3131 1207 92276Barra Mansa 2827 11935 14599 15696 16727 29790 28534 23613 14470 9297 4660 1567 173715Itatiaia 485 2212 2652 2615 2820 5206 4462 3480 2223 1233 653 211 28252Pinheiral 343 1514 1883 1981 2260 3596 3361 3045 1641 963 605 225 21417Piraí 419 1619 2085 2128 2197 3928 3786 3107 1860 1228 699 295 23351Porto Real 249 1136 1406 1349 1350 2543 2205 1702 957 613 268 85 13863Quatis 220 825 1037 1077 1185 1970 1822 1462 931 573 314 108 11524Resende 1974 8060 9955 10377 11128 20100 18351 14693 9001 5326 2881 1030 112876Rio Claro 297 1431 1554 1451 1694 3061 2619 2045 1352 947 582 234 17267Rio das Flores 134 613 767 746 757 1359 1234 948 708 471 244 118 8099Valença 1110 4731 5724 6068 6294 10727 10456 9032 6206 4425 2629 1139 68541Volta Redonda 3896 15945 20283 22035 24614 41105 40871 37902 21232 13225 7531 2245 250884Fonte: CIDE, 2005

5.2.3. Estrutura econômica Para a atual estrutura econômica da Região do Médio Paraíba contribuiu um

processo histórico que tem início nos séculos XVII e XVIII, com o Ciclo do Ouro.

Neste período áreas da Região foram desbravadas por bandeirantes, em busca da

mineração do ouro nas Minas Gerais. Com o esgotamento do Ciclo do Ouro é

iniciado um processo de colonização da região, com populações se estabelecendo

nas margens do Rio Paraíba do Sul e passando a desenvolver atividades agrícolas e

de pecuária. No início do século XIX, estas atividades deram lugar às grandes

plantações de café como principal atividade econômica, resultando no Ciclo do Café.

Este ciclo propiciou à Região um grande surto econômico e crescimento

populacional. Porém, com a abolição da escravidão e o esgotamento dos solos para

a lavoura, a produção do café declinou bastante, sendo substituída pela pecuária de

corte e produção de leite. Na década de 30, tendo declinado totalmente o ciclo do

café, tem início o processo de industrialização em alguns municípios da Região

(TCE, 2005).

Foi somente no período após a II Guerra Mundial que ocorreu uma ampliação do

processo de industrialização, sendo um marco neste processo a criação da CSN em

Volta Redonda. A criação da CSN teve grande influência sobre grande parte dos

municípios da Região, contribuindo direta e indiretamente para o crescimento dos

setores secundário e terciário. Na atualidade, a CSN possui grande importância

enquanto pólo siderúrgico e metalúrgico no país e lidera o setor secundário da

região.

No Quadro 22, apresentamos um perfil das principais atividades econômicas dos

municípios da Região.

Na atualidade a Região do Médio Paraíba possui grande importância econômica

para o Estado. No ano de 2003, o PIB do Estado foi de R$ 220.206.189.000 e o da

Região 14.894.388.000 correspondendo à 6,76% do total do Estado. Interessante

observar que os 3 maiores PIB da Região, Volta Redonda, Resende e Barra Mansa

se encontram entre os 3 municípios da Região que estão entre os mais populosos

do Rio de Janeiro. Volta Redonda, com 2,90% do PIB possui 1,66% da população

do Estado, Resende com 0,99% do PIB possui 0,76% da população e Barra Mansa

com 0,91% do PIB possui 1,14% da população.

97

Quadro 22 – Principais atividades econômicas dos municípios da Região do Médio Paraíba

Municípios Principais atividades econômicas

Barra Mansa Industrial, comercial, serviços e agro-negócio.

Barra do Piraí Agricultura (café, chá-da-índia, banana, milho, feijão, cana de açúcar, alface, brócolis, tomate), agropecuária (bovinos de leite, suínos, aves de corte, apicultura, codornas, coelhos, eqüinos, bufalinos, asininos, muares, caprinos, ovinos, bovinos de corte), 303 indústrias, 2621 empresas instaladas.

Itatiaia Indústria, turismo e agropecuária.

Pinheiral Agricultura, indústria e comércio.

Piraí Agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal. Pesca, indústrias extrativas, indústria de transformação, produção e distribuição de eletricidade, gás e água, construção, comércio.

Porto Real Indústria, pecuária leiteira e agricultura.

Quatis Agricultura, agropecuária e serviços.

Resende Indústria-pólo metal-mecânico, química fina-reciclagem de plástico, comércio, agricultura e agropecuária.

Rio Claro Agricultura (banana, feijão, milho), agropecuária, 420 propriedades produtivas e avicultura.

Rio das Flores Bovinocultura: pecuária leiteira e corte caprino-cultura leiteira. Agricultura: fruticultura ( banana, maracujá, limão, goiaba, lima da pérsia, uva e atemóia. Grãos: milho e feijão. Olericultura: abóbora, abóbora-de-cabeça, giló, repolho,tomate, pepino e inhame. Cana-de-açúcar. Mandioca piscicultura.

Valença Agropecuária, comércio, parque industrial pequeno, condomínio industrial em expansão, turismo cultural, rural, ecológico e de aventura e retomada do setor têxtil.

Volta Redonda Metal-mecânica, cimento, agricultura, agropecuária, piscicultura, 205 propriedades rurais.

Fonte: http://www.governo.rj.gov.br/municipios.asp

Conforme o Quadro 23, verifica-se que em 2003, Volta Redonda foi responsável

por quase 43% do PIB da Região. Resende e Barra Mansa estiveram próximas,

com aproximadamente 14% e 13% respectivamente. Com menos de 1% do PIB da

Região encontramos os seguintes municípios: Pinheiral, Quatis, Rio Claro e Rio das

Flores.

Quadro 23 – Produto Interno Bruto da Região do Médio Paraíba de dos municípios e percentual do PIB dos Municípios em relação ao da Região – 2003

Região e municípios Produto Interno Bruto (1.000 R$) PIB dos Municípios em relação à Região (%)Região do Médio Paraíba 14.894.388 100,00 Barra do Piraí 809.723 5,43Barra Mansa 2.022.227 13,57Itatiaia 886.266 5,95Pinheiral 63.364 0,43Piraí 738.478 4,95Porto Real 1.323.847 8,88Quatis 52.329 0,35Resende 2.192.941 14,72Rio Claro 70.284 0,47Rio das Flores 55.951 0,37Valença 289.571 1,94Volta Redonda 6.389.408 42,89Fonte: CIDE, 2005

97

98

Analisando a participação dos setores em relação ao PIB na Região do Médio

Paraíba, constatamos que na atualidade a estrutura econômica se baseia no setor

secundário, particularmente na Indústria da Transformação. A Indústria da

Transformação, que correspondeu à 26% do total do Estado em 2003, correspondeu

à 60,5% do total do PIB da Região. Volta Redonda possui, principalmente através da

CSN, inquestionável posição de liderança, sendo responsável por 49,11% do total

da Região e 12,80% do total do Estado. Ainda em relação à este setor e sua

participação na Região merecem destaque Resende (16,49%), Porto Real (12,60%)

e Barra Mansa (12,38%) (CIDE, 2005).

Ainda em relação a participação dos setores no PIB da Região, podemos

chamar a atenção para alguns municípios. No setor Agropecuário destaca-se o

município de Barra do Piraí, correspondendo à 40,74%. No setor Extração de

Outros Minerais destacam-se os municípios de Barra Mansa (37,12%) e Volta

Redonda (28,44%). No setor Comércio Atacadista, os municípios de Porto Real

(47,55%) e Volta Redonda (35,91%) concentram o PIB deste setor. Já no setor

Comércio Varejista são os municípios de Barra Mansa (29,8%) e Volta Redonda

(32,41%) que concentram o PIB do mesmo. No setor da Construção Civil destacam-

se os municípios de Volta Redonda (34,17%), Barra do Piraí (27,50%) e Resende

(16,22%). No setor Serviços Industriais de Utilidade Pública, destaca-se o município

de Piraí, que concentrou 51,93% do total do PIB da Região, vindo em segundo lugar

o município de Volta Redonda, que respondeu por 14,4%. No setor de Transportes,

o município de Volta Redonda respondeu por 48,72%, com os municípios de Barra

Mansa (14,62%) e Resende (13,35) em segundo e terceiro lugar. No setor de

Comunicações, o PIB ficou concentrado nos municípios de Volta Redonda, com

38,99%, Resende e Barra Mansa, com 16,84% cada um destes municípios. Para os

setores Instituições Financeiras e Administração Pública o município de Volta

Redonda respondeu por cerca de 40% de cada um.

Com exceção dos setores Agropecuário e Serviços de Utilidade Pública, em

que os municípios de Barra do Piraí e Piraí concentram, respectivamente, o maior

PIB da Região, para todos os outros setores encontramos forte presença ou mesmo

domínio do PIB no município de Volta Redonda. Outros municípios, como Barra

Mansa e Resende também merecem destaque.

Como já observado anteriormente, o setor secundário, particularmente na

Indústria da Transformação, tem na CSN, em Volta Redonda, importante centro

98

99

estruturante da economia na Região, estando diretamente conectada ao mercado

externo de uma economia globalizada. Entre os 6 maiores investimentos decididos

para o Estado em 2004, 3 se encontravam em Volta Redonda, particularmente na

CSN (CIDE, 2005). Dentre as principais empresas exportadoras do Estado entre

1997-2003, 3 se encontram na Região, sendo estas a CSN, a Volkswagen do Brasil

Ltda. e a Peugeot do Brasil Automóveis Ltda. Em Volta Redonda, a CSN foi, em

1997, responsável por US$ 453.723.000 em mercadorias, caindo nos anos

seguintes e aumentando em 2003 para US$ 585.653.000, correspondendo em

percentuais em relação ao total do Estado à 26,16% e 12,08% respectivamente. No

município de Resende, a Volkswagen do Brasil Ltda., e no município de Porto Real,

a Peugeot do Brasil Automóveis Ltda., responderam em 2003 US$ 81.381.000 e

US$ 61.036.000 das exportações de mercadorias, equivalendo à 1,68% e 1,26% do

total do Estado respectivamente (CIDE, 2005).

Volta Redonda é um centro estruturante não só em termos de PIB ou de

exportações para o mercado externo, mas também no número total de

estabelecimentos industriais.

Em termos do número de estabelecimentos industriais, para o Estado do Rio

de Janeiro o total em 2003 era de 21.785 estabelecimentos. Estes, conforme pode

se verificar no Quadro 24, estavam classificados assim: 522 Extrativa Mineral

(2,39%), 14.684 Indústria da Transformação (67,40%), 373 Serviços Industriais de

Utilidade Pública (1,71 %) e 6.206 Construção Civil (28,48%).

Quadro 24 -

99

100

Ainda conforme o Quadro 24, em relação aos estabelecimentos industriais, por

classes, a Região do Médio Paraíba possuía em 2003 1.279 estabelecimentos

(correspondente à 5,87% do total de estabelecimentos no Estado), distribuídos do

seguinte modo: 38 Extrativa Mineral (2,97%), 818 Indústria da Transformação

(63,95%), 38 Serviços Industriais de Utilidade Pública (2,97%) e 385 Construção

Civil (30,1%). Estes dados demonstram a grande importância do setor Indústria da

Transformação em termos de percentuais e número de estabelecimentos na Região.

De acordo com a Figura 12, na Região do Médio Paraíba, particularmente em

um corredor que margeia o Rio Paraíba do Sul, encontramos pólos e

empreendimentos industriais, bem como inúmeras atividades industriais (metalurgia,

químico/farmacêutica, minerais não metálicos, madeira, couros e peles, produtos

alimentares e mecânica). Este corredor tem sua base no município de Volta

Redonda e, seguindo o Rio Paraíba do Sul, cruza os municípios de Barra Mansa e

Porto Real, chegando ao município de Resende.

A economia da Região estruturada no setor secundário, principalmente na

indústria da transformação, contribuiu para que a infra-estrutura de transporte e

fornecimento de energia elétrica (Figura 13) e de óleo e gás (Figura 14) atravessem

a Região. Do total de Usinas Elétricas encontradas no Estado, cerca de 6 se

encontram em Piraí (3 da CERJ e 3 da Light). Das principais linhas de transmissão

de energia elétrica que cruzam a Região, Barra do Piraí e Valença são atravessadas

por linhas de 345 kv e Piraí, Volta Redonda, Barra Mansa e Resende são

atravessadas por linha de 500 kv, ambas de Furnas. Dos gasodutos que

atravessam o Estado, uma linha cruza Rio das Flores e outra cruza Piraí, Barra do

Piraí e Volta Redonda, possuindo uma ramificação que cruza Pinheiral, Barra Mansa

e Resende. Dos oleodutos, uma linha cruza Piraí, Barra do Piraí, Volta Redonda,

Barra Mansa e Quatis.

100

Figura 12 – Distritos industriais e principais empreendimentos do Estado do Rio de Janeiro, 2003

Figura 13 – Infra-estrutura de energia elétrica

Figura 14 – Infra-estrutura de dutos de óleo e gás

103

Conforme podemos verificar no Quadro 25, grande parte da infra-estrutura de

energia elétrica para a Região esta orientada para atender as necessidades do setor

industrial. O consumo de energia elétrica na Região se encontra concentrado no

setor industrial, que responde por 78% do total de consumo, vindo em seguida

residências (12%) e o comércio (5%). As outros classes de consumo responderam

por menos de 2% do total.

Figura 15 - Consumo de energia elétrica por classe de consumo na Região do Médio Paraíba e municípios, 2000

12%

78%

5%

Residencial

Industrial

Comercial

Rural

Iluminação Pública

Serviços Públicos

Poder Público

Consumo Próprio

Embora a indústria da transformação concentre o maior percentual do PIB e de

estabelecimentos industriais na Região, quando consideramos em termos de

empregados, verificamos no Quadro 26 que a grande maioria se encontra nas

atividades relacionadas ao comércio e serviços. A Figura 16 demonstra, em

percentuais, que o setor de comércio e serviços concentravam 43% do total de

empregados na Região e que os setores industriais (transformação, utilidade publica

e construção civil) somavam 31%. Particularmente em relação a indústria da

transformação, esta foi responsável por 23% dos empregados.

103

Quadro 25 – Consumo de energia elétrica por classe de consumo na Região do Médio Paraíba e municípios, 2000Residencial Industrial Comercial Rural Iluminação

PúblicaServiços Públicos

Poder Público

Consumo Próprio

Total

Região do Médio Paraíba

492.380,00000 3.262.024,00000 221.346,00000 30.664,00000 48.570,00000 62.580,00000 31.633,00000 13.779,00000 4.162.976,00000

Barra do Piraí 54.723,00000 103.590,00000 22.377,00000 3.810,00000 4.131,00000 6.299,00000 3.016,00000 2.534,00000 200.480,00000 Barra Mansa 108.702,00000 433.292,00000 44.967,00000 1.620,00000 7.510,00000 7.306,00000 4.142,00000 205,00000 607.744,00000 Itatiaia 12.307,00000 65.278,00000 6.626,00000 487,00000 1.911,00000 1.736,00000 0,00000 54,00000 88.399,00000 Pinheiral 11.175,00000 446,00000 1.908,00000 356,00000 794,00000 222,00000 785,00000 0,00000 15.686,00000 Piraí 12.327,00000 87.419,00000 5.423,00000 1.410,00000 1.692,00000 1.503,00000 1.803,00000 9.814,00000 121.391,00000 Porto Real 5.612,00000 71.584,00000 1.972,00000 542,00000 908,00000 1.245,00000 0,00000 0,00000 81.863,00000 Quatis 5.559,00000 432,00000 1.552,00000 1.853,00000 652,00000 303,00000 214,00000 12,00000 10.577,00000 Resende 64.196,00000 113.027,00000 32.906,00000 13.692,00000 6.917,00000 15.449,00000 7.400,00000 816,00000 254.403,00000 Rio Claro 7.117,00000 373,00000 2.352,00000 2.322,00000 939,00000 55,00000 652,00000 32,00000 13.842,00000 Rio das Flores 2.965,00000 328,00000 748,00000 966,00000 377,00000 73,00000 921,00000 2,00000 6.380,00000 Valença 39.049,00000 12.384,00000 13.393,00000 3.389,00000 3.328,00000 5.263,00000 2.817,00000 95,00000 79.718,00000 Volta Redonda 168.648,00000 2.373.871,00000 87.122,00000 217,00000 19.411,00000 23.126,00000 9.883,00000 215,00000 2.682.493,00000 Fonte: CIDE, 2006

Quadro 26 – Número de empregados por atividades econômicas na Região do Médio Paraíba e municípios, 1999Município Indústria

Extrativa Mineral

Indústria de Transformação

Serviços Industriais de

Utilidade Pública

Indústria da Construção

Civil

Comércio Serviços Administração Pública

Outros/Ignorado Total

Região do Médio Paraíba 309 28.534 1.986 7.609 23.686 40.771 19.341 66 122.302 Barra do Piraí 58 2.531 179 758 2.592 3.091 125 0 9.334 Barra Mansa 84 4.690 306 898 5.743 7.369 3.747 0 22.837 Itatiaia 4 1.667 0 146 357 987 1.285 0 4.446 Pinheiral 0 233 0 16 279 244 0 0 772 Piraí 4 993 61 69 327 505 1.625 0 3.584 Porto Real 0 358 0 524 122 140 152 0 1.296 Quatis 22 120 14 40 257 249 12 0 714 Resende 27 3.525 360 916 2.883 9.226 2.581 0 19.518 Rio Claro 0 26 3 19 152 129 639 0 968 Rio das Flores 0 49 0 8 96 122 479 0 754 Valença 39 1.531 31 440 1.550 2.287 2.828 66 8.772 Volta Redonda 71 12.811 1.032 3.775 9.328 16.422 5.868 0 49.307 Fonte: CIDE, 2006

Conforme verifica-se na Figura 17, em termos de percentuais de empregados

por municípios, Volta Redonda concentrou 39%, sendo seguida por Barra Mansa

(18%) e Resende (16%). Com percentuais extremamente baixos, destacam-se

Pinheiral, Porto Real, Quatis, Rio Claro e Rio das Flores.

Figura 17 - Percentual de empregados na Região do Médio Paraíba e municípios, 1999

8%

18%

4%

1%

3%

1%

1%

16%7%

39%

1%1%

Barra do Piraí

Barra Mansa

Itatiaia

Pinheiral

Piraí

Porto Real

Quatis

Resende

Rio Claro

Rio das Flores

Valença

Volta Redonda

2%

6%

19%

34%

16%

23%Indústria deTransformação

Serviços Industriaisde Utilidade Pública

Indústria daConstrução Civil

Comércio

Serviços

AdministraçãoPública

Figura 16 - Percentual de empregados por atividade econômica na Região do Médio Paraíba, 1999

106

Conforme podemos verificar no Quadro 27, no período de 1995 à 1999

verifica-se uma queda no número total de empregados, representando uma perda de

56.700 empregos, uma perda de aproximadamente 32%. Itatiaia Porto Real (a partir

de 1998, já que foi criado em 1997) e Rio Claro foram os únicos municípios que

tiveram aumento no número de empregados no período.

Quadro 27 – Número de empregados por ano na Região do Médio Paraíba e por municípios, 1995-1999

1995 1996 1997 1998 1999 Região do Médio Paraíba 179.002 175.845 169.290 122.067 122.302 Barra do Piraí 16.322 16.518 16.497 10.820 9.334 Barra Mansa 33.617 30.907 29.640 22.050 22.837 Itatiaia 3.506 3.763 3.255 4.208 4.446 Pinheiral 0 0 0 1.102 772 Piraí 5.106 5.441 5.072 3.702 3.584 Porto Real 0 0 0 890 1.296 Quatis 1.584 1.266 1.188 847 714 Resende 26.901 25.640 30.502 18.263 19.518 Rio Claro 772 707 722 744 968 Rio das Flores 1.378 828 901 938 754 Valença 11.590 8.129 11.402 9.265 8.772 Volta Redonda 78.226 82.646 70.111 49.238 49.307 Fonte: CIDE, 2006

No Quadro 28, observamos que em termos de população economicamente

ativa (PEA), quase 1/5 recebe até 1 salário mínimo e 1/4 de 1 à 2 salários mínimos.

São expressivos os percentuais dos que recebem de 2 a 3 (11%), de 3 a 5 (12%) e

de 5 a 10 (10%). Com 10 salários mínimos ou mais se encontra 5% da PEA.

Figura 18 - População economicamente ativa por rendimento, 2000

1%

18%

25%

11%

12%

10%

2%

1%

2%

18%

Sem rendimento

Até 1 salário mínimo

1 a 2 salários mínimos

2 a 3 salários mínimos

3 a 5 salários mínimos

5 a 10 salários mínimos

10 a 15 salários mínimos

15 a 20 salários mínimos

Mais de 20 salários mínimos

Sem declaração

106

Quadro 28 – População economicamente ativa (PEA) por classes de rendimentos, 2000Sem

rendimentoAté 1/4 salário mínimo

1/4 a 1/2

salário mínimo

1/2 a 3/4

salário mínimo

3/4 a 1 salário mínimo

1 a 1 1/2 salários mínimos

1 1/2 a 2 salários mínimos

2 a 3 salários mínimos

3 a 5 salários mínimos

5 a 10 salários mínimos

10 a 15 salários mínimos

15 a 20 salários mínimos

Mais de 20

salários mínimos

Sem declaração

Total

Região do Médio Paraíba

4.826 1.570 7.276 8.795 45.989 42.671 45.740 40.342 43.668 37.865 8.352 5.075 5.535 63.293 360.997

Barra do Piraí

663 159 1.049 950 5.913 4.960 4.999 4.631 4.838 3.358 760 343 363 7.505 40.491

Barra Mansa

577 270 1.428 1.682 10.326 9.091 9.998 9.202 10.121 7.261 1.431 1.088 1.150 12.928 76.553

Itatiaia 153 55 233 305 1.516 1.604 1.860 1.547 1.599 1.165 192 146 191 1.829 12.395 Pinheiral 152 42 176 224 1.190 1.021 924 840 1.043 745 143 113 50 2.141 8.804 Piraí 104 10 176 216 1.425 1.319 1.108 1.134 989 897 255 115 85 1.862 9.695 Porto Real

103 24 144 101 692 788 912 677 579 324 44 30 57 1.088 5.563

Quatis 14 18 101 136 782 642 763 673 543 362 82 51 53 891 5.111 Resende 991 222 1.178 1.404 5.522 5.666 6.484 5.457 6.727 6.552 1.497 995 1.163 7.261 51.119 Rio Claro 406 10 151 165 1.243 916 1.068 779 775 526 78 30 52 1.003 7.202 Rio das Flores

62 26 118 126 990 445 529 290 202 145 12 14 21 482 3.462

Valença 401 270 676 890 5.778 3.999 4.016 2.636 2.965 2.309 462 350 280 4.965 29.997 Volta Redonda

1.200 464 1.846 2.596 10.612 12.220 13.079 12.476 13.287 14.221 3.396 1.800 2.070 21.338 110.605

Fonte: CIDE, 2005

Apesar de uma diversidade de atividades econômicas, é o setor industrial, e

particularmente a indústria da transformação, que concentram grande número de

estabelecimentos e pode econômico expresso no PIB. É o setor que também

concentra maio consumo energético na Região, cuja a larga infra-estrutura de

energia parece estar orientada para atender as necessidades do mesmo. Em

termos de empregos o quadro muda, já que é no setor de serviços e comércio que

se encontra a maior parte dos empregos, que vem diminuindo de modo geral na

Região, só com alguns poucos municípios apresentando crescimento no período

1995-1999. Mesmo com queda, é Volta Redonda que concentra o maior percentual

de empregos. Em termos de rendimento, 43% ganham de 1 a 3 salários mínimos e

apenas 5% ganha de 10 salários mínimos em diante.

5.2.4. Condições ambientais Tomando como referência inicial para a apresentação de indicadores

sobre as condições ambientais da Região do Médio Paraíba, adotamos os dados do Perfil dos Municípios Brasileiros – Meio Ambiente 2002, publicado pelo IBGE em 2005). Este perfil retrata o estado do meio ambiente nos municípios brasileiros segundo a percepção do gestor ambiental municipal, considerando os fatores de pressão que agem sobre os recursos ar, água e solo. Este perfil, restrito aos municípios da Região do Médio Paraíba, é o eixo que norteia todo este item.

De acordo com a metodologia adotada para a pesquisa sobre o perfil do meio ambiente dos municípios brasileiros, os gestores a assinalaram a(s) ocorrência(s) de impacto observada(s) de forma freqüente no estado do meio ambiente local, mesmo que sua(s) causa(s) tivesse(m) origem fora dos contornos do município. De modo geral, as ocorrências se relacionavam aos últimos 24 meses que antecederam à coleta das informações (a maior parte da coleta ocorreu em meados de 2003), sendo que em duas situações, em que o processo de degradação notadamente demanda um período maior, o período da informação não foi explicitado, sendo estas: assoreamento de corpo d’água e contaminação do solo. Outra questão observado pela autora é que um problema assinalado por

109

grande número de municípios não significa que seja o de maior gravidade ou impacto, mas sim sua abrangência espacial.

Comparando os resultados da pesquisa com os resultados encontrados para

os municípios da Região, constatamos alguns aspectos relevantes relacionados as

condições ambientais.

Em relação as alterações ambientais relevantes que afetaram as condições

de vida (Quadro 29), enquanto 41% dos municípios brasileiros informaram que

estas vem ocorrendo, na Região esta informação atingiu a totalidade de municípios.

Em relação as ocorrências mais informadas pelos municípios, para o Brasil as de

maior destaque em ordem decrescente foram esgoto a céu aberto (46%),

desmatamento (45%), queimadas (42%), presença de vetor (40%) e contaminação

de rio, baia etc. (36%). Para a Região do Médio Paraíba em primeiro lugar se

destaca queimadas com 67%, sendo superior ao percentual de 46% informado pelos

municípios da Região Sudeste e que aparece como a primeira alteração ambiental

mais informada. Em segundo lugar, com 42%, as ocorrências deslizamento de

encostas, ocupação irregular e desordenada do território, poluição do ar e presença

de vetor de doenças. Em terceiro lugar, com 33%, desmatamento e contaminação

de rio, baia, etc.. Esgoto a céu aberto que ocupou primeiro lugar no percentual de

ocorrências para o Brasil, ficou atrás de escassez de água, poluição sonora, doença

endêmica e tráfego pesado em área urbana (25% das ocorrências cada uma destas)

na Região, com o mesmo percentual de 17% de outras alterações, como

contaminação do solo, inundação e presença de lixão. No Estado do Rio de Janeiro as causas mais observadas foram a contaminação de rios, baías, lagos, etc., com 65% dos municípios que informaram alteração ambiental que tenha afetado as condições de vida da população, vindo em seguida queimadas (61%) e ocupação irregular e desordenada do território (59%) (IBGE, 2005a).

Entre os municípios que relataram maior percentual de ocorrências de

alterações ambientais específicas (total de 17, excluindo-se B1 e B19), destaca-se

Barra do Piraí, relatando 76%. Em segundo vem Resende, com informando a

presença de 65% das alterações ambientais que afetaram as condições de vida.

Volta Redonda, informou 47% de ocorrências, estando em terceiro lugar e em quarto

lugar, a aparecem com 41% os municípios de Barra Mansa e Itatiaia.

109

110 110

Quadro 29: Alterações ambientais relevantes que afetaram as condições de vida

B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 B11 B12 B13 B14 B15 B16 B17 B18 B19 Total de respostas

simBarra do Piraí ● ○ ● ○ ● ● ○ ● ● ● ● ● ● ● ● ● ○ ○ ○ 13

Barra Mansa ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ● ○ ● ● ○ ● ● ○ ○ ○ 7

Itatiaia ● ○ ● ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ● ○ ○ ● ○ ○ ○ ● ● 7

Pinheiral ● ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ 4

Piraí ● ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ● ○ ○ ○ 4

Porto Real ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 2

Quatis ● ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ 3

Resende ● ○ ● ● ● ● ○ ○ ● ● ● ○ ○ ● ○ ● ○ ● ○ 11

Rio Claro ● ○ ○ ○ ○ ● ● ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ 5

Rio das Flores ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 2

Valença ● ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ 3

Volta Redonda ● ○ ● ● ● ○ ○ ○ ○ ○ ● ● ○ ○ ○ ● ○ ● ○ 8

Total de respostas

sim

12 0 4 2 5 4 3 2 3 5 5 3 2 5 2 8 0 3 1

Legenda: B1) O meio ambiente afetou as condições de vida humana. Alterações ambientais relevantes que afetaram as condições de vida: B2) contaminação de nascente ou de água subterrânea; B3) contaminação de rio, baia, lago, açude, represa, etc.; B4) contaminação de recurso do solo; B5) deslizamento de encosta; B6) desmatamento; B7) escassez de água (superficial e subterrânea); B8) inundação; B9) doença endêmica (cólera, dengue, febre amarela, malária, etc.); B10) ocupação irregular e desordenada do território; B11) poluição do ar; B12) poluição sonora; B13) presença de lixão na proximidade de área de ocupação humana; B14) presença de vetor (mosquitos, ratos, barbeiros, caramujos); B15) presença de esgoto céu aberto; B16) queimadas; B17) redução do estoque pesqueiro; B18) tráfego pesado em área urbana; B19) outras alterações ambientais relevantes nos últimos 2 anos. Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)

Conforme pode se verificar no Quadro 30, os impactos ambientais mais

informados pelos municípios foram poluição da água e alteração ambiental que

prejudicou a paisagem, correspondendo à 83% cada um. Assoreamento de corpo d

´água (75%), poluição do ar (67%), contaminação do solo (50%) e atividades que

contribuíram para degradação de áreas legalmente protegidas (42%) vieram na

sequência. Estes dados diferem dos observados para todo o país, em que para o

maior parte dos municípios informou assoreamento de corpo d’água (53%), vindo

em seguida poluição do recurso água (38%), alteração da paisagem (35%),

contaminação do solo (33%), poluição do ar (22%) e degradação de áreas

protegidas (20%) (IBGE, 2005a).Quadro 30: Impactos ambientais

Poluição do ar Poluição da água

Assoreamento de corpo d

´água

Contaminação de solo

Alteração ambiental que prejudicou a

paisagem

Atividades que

contribuíram para

degradação de áreas

legalmente protegidas

Total de respostas

sim

Barra do Piraí ● ● ● ● ● ○ 5

Barra Mansa ● ● ● ● ○ ○ 4

Itatiaia ● ● ● ● ● ○ 5

Pinheiral ○ ● ● ○ ● ○ 3

Piraí ○ ○ ● ○ ● ● 3

Porto Real ● ○ ○ ○ ● ○ 2

Quatis ○ ● ● ○ ● ○ 3

Resende ● ● ● ● ● ● 6

Rio Claro ○ ● ● ○ ● ● 4

Rio das Flores ● ● ○ ○ ● ● 4

Valença ● ● ● ● ● ● 6

Volta Redonda ● ● ○ ● ○ ○ 3

Total de respostas

sim

8 10 9 6 10 5

Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)Dentre os municípios que informaram estarem ocorrendo todos os impactos

ambientais destacam-se Resende e Valença. Barra do Piraí e Itatiaia informaram 5

dos 6 impactos (83%). Barra Mansa, Rio Claro e Rio das Flores informaram 4 dos 6

impactos (67%). Pinheiral, Piraí, Quatis e Volta Redonda informaram 50% dos

impactos ambientais. Porto Real foi o município que informou menor número de

impactos (2 em 6), correspondendo à 33%.

113

Dentre as atividades que mais contribuíram para a poluição da água (Quadro 31), o despejo de esgoto doméstico foi a ocorrência com maior percentual (75%).

Criação de animais, bem como resíduos sólidos e lixo responderam por 42% das

ocorrências, sendo identificadas como a segunda causa. Em terceiro lugar, com

33% aparecem despejos industriais e ocupação irregular de curso d´água. Dentre

as causas identificadas (B32 à B41), Resende foi o município que informou maior

percentual (50%), vindo em seguida Barra do Piraí, Barra Mansa, Itatiaia e Rio Claro

(40%). Despejo de esgoto doméstico foi a única atividade comum à estes 5

municípios.

Quadro 31: Atividades que contribuíram para a poluição da águaB31 B32 B33 B34 B35 B36 B37 B38 B39 B40 B41 B42 Total de

respostas sim

Barra do Piraí ● ○ ○ ● ○ ● ● ● ○ ○ ○ ○ 5

Barra Mansa ● ○ ○ ● ○ ○ ● ● ● ○ ○ ○ 5

Itatiaia ● ○ ○ ○ ○ ○ ● ● ● ● ○ ○ 5

Pinheiral ● ○ ○ ○ ○ ● ● ○ ○ ● ○ ○ 4

Piraí ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Porto Real ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Quatis ● ○ ○ ● ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ 3

Resende ● ○ ○ ● ● ● ● ● ○ ○ ○ ○ 6

Rio Claro ● ○ ○ ● ○ ○ ● ● ● ○ ○ ○ 5

Rio das Flores ● ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ 2

Valença ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ 2

Volta Redonda ● ○ ○ ○ ○ ● ● ○ ○ ○ ○ ○ 3

Total de respostas

sim

10 0 0 5 1 4 9 5 4 2 0 0

Legenda: B31) Poluição da água; B32) mineração/garimpo; B33) combustível e óleo; B34) criação de animais; B35) despejo de vinhoto; B36) despejo resíduos industriais; B37) despejo esgoto doméstico; B38) resíduos sólidos/lixo; B39) ocupação irregular curso d´água; 40) ocupação irregular áreas de lençóis subterrâneos; 41) por uso de agrotóxico ou fertilizante; 42) outros tipos.Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)

No Quadro 32, relacionado ao esgotamento sanitário na Região, observa-se

que na faixa de 75% ou mais de domicílios com acesso a rede coletora de esgoto

sanitário se encontram somente 4 municípios, sendo estes: Barra Mansa, Pinheiral,

Resende e Volta Redonda. Com exceção de Rio Claro (45,4%), todos os outros

113

114

municípios se encontram na faixa de 50% à 74%. Em relação ao percentual de

domicílios que utilizam fossa séptica, destacam-se Itatiaia (29,5%), Piraí (25,2) e

Barra do Piraí (23,3%). Em relação a fossa rudimentar, Rio Claro é o maior

destaque, com 10,9%. Barra do Piraí (14,3%) e Valença (14,1%) são os municípios

com maior percentual de domicílios ligados à valas. E, com lançamento de esgotos

diretamente em corpo receptor sem tratamento chama a atenção o quadro presente

nos municípios de Rio das Flores (34,9%), Rio Claro (24%), Quatis (16,6%) e Barra

Mansa (11%). Considerando esta situação, o esgotamento sanitário, e mais

particularmente o despejo de esgoto doméstico, surgem como atividades que

fortemente contribuem para a poluição da água na região, aumentando a carga

orgânica nos corpos d´água, particularmente no Rio Paraíba do Sul.

Quadro 32: Percentual de domicílios com acesso ao esgotamento sanitário

% domicílios com acesso rede

coletora de esgoto sanitário % fossa séptica

% fossa rudimentar

% ligados à valas

% lançado diretamente em corpo

receptor sem tratamento

Região do Médio ParaíbaBarra do Piraí 52,0 23,3 5,9 14,3 5,1

Barra Mansa 75,0 2,8 0,8 10,0 11,0

Itatiaia 59,9 29,5 4,0 2,1 4,2

Pinheiral 82,1 4,1 3,4 4,6 5,5

Piraí 59,5 25,2 3,4 7,2 4,1

Porto Real 72,3 14,8 0,5 10,5 1,5

Quatis 73,5 2,6 1,0 5,8 16,6

Resende 85,3 9,4 1,0 1,4 2,5

Rio Claro 45,4 7,7 10,9 11,4 24,0

Rio das Flores 52,4 6,2 1,7 4,7 34,9

Valença 73,8 4,3 1,4 14,1 6,4

Volta Redonda 93,6 1,3 0,6 1,9 2,5

Fonte: CIDE, 2005

Ainda em relação às atividades que contribuíram para a poluição da água

criação de animais e resíduos sólidos e lixo são identificadas como atividades

poluidoras da água (42% das ocorrências). No que se refere a criação de animais,

Gruben e col. (2002) observam que mais de 70% da cobertura vegetal da bacia do

Paraíba do Sul se encontra para campos e pastagens e a criação de gado leiteiro

em regime extensivo é a de maior importância econômica na região. No que se

refere aos resíduos sólidos e lixo, o Quadro 33 demonstra que na Região são

produzidas 696 toneladas/dia de resíduos sólidos por dia, sendo 39% só no

município de Volta Redonda, vindo em segundo e terceiro lugares Barra Mansa

114

115

(17%) e Resende (15%). Em relação ao destino do lixo, constata-se que das 56

unidades identificadas, que 64% são lançados em vazadouros a céu aberto, sendo o

único destino em metade dos municípios (Barra do Piraí, Pinheiral, Piraí, Rio Claro,

Rio das Flores e Valença). Estes dados significam que 185 toneladas/dia,

equivalente à 24% do total de resíduos sólidos coletados diariamente na região, são

dispostos sobre Local utilizado para disposição do lixo sobre terrenos, sem qualquer

cuidado ou técnica especial que implique em medidas que protejam o meio ambiente

ou à saúde pública, ao contrário dos aterros sanitários.

Quadro 33 – Total de resíduos sólidos coletados e destino do lixo nos municípios da Região do Médio Paraíbatotal de

resíduos sólidos coletados

(toneladas/dia)

Vazadouros a céu aberto

Aterro controlado

Aterro sanitário

Aterro de resíduos especiais

Barra do Piraí 85 5 - - -

Barra Mansa 130 10 - - 1

Itatiaia 13 2 - - 1

Pinheiral 32 1 - - -

Piraí 18 4 - - -

Porto Real 10 - 1 - 1

Quatis 18 - - 3 -

Resende 115 - - 10 -

Rio Claro 10 5 - - -

Rio das Flores 10 3 - - -

Valença 30 6 - - -

Volta Redonda 300 - 2 - 1

Total 771 36 3 13 4

Fonte: CIDE, 2005

Em relação ao despejo de resíduos industriais, que no Quadro 31 surge

como ocorrência presente em 33% das atividades identificadas, chama a atenção o

fato de ser reconhecido e identificado neste relatório que o setor secundário é o de

maior importância na Região, sendo a atividade industrial considerada a mais crítica.

Gruben e col. (2002) observam que a maior parte da carga poluente é lançada entre

Barra Mansa e Volta Redonda, sendo a CSN a principal poluidora, além de outras

indústrias dos setores químico e metalúrgico. Os setores alimentício e de produção

de papel e celulose também contribuem, porém em menor escala. Ainda de acordo

com as autoras, “O Programa Estadual de Investimento (Projeto Qualidade das

Águas e Controle da Poluição Hídrica/Rio de Janeiro – PQA/RJ), no seu diagnóstico

de poluição industrial, identificou 44 empresas como responsáveis por mais de 80%

da poluição total no trecho fluminense da bacia, onde a CSN se destaca,

‘contribuindo’ com cerca de 60% da vazão efluente.”

115

116

No Plano de Ação para o Sistema de Alerta de Qualidade da Água da Bacia

do Paraíba do Sul, da Agência Nacional de Águas (ANA), é apresentado o

levantamento dos principais empreendimentos identificados como potencialmente

perigosos em termos ambientais para a Bacia do Paraíba do Sul, conforme pode se

verificar no Quadro 34. Grande parte das indústrias se encontram concentradas

nos municípios de de Resende, Barra Mansa e Volta Redonda, na proximidade das

margens do Rio Paraíba do Sul. Assim, parece não fazer sentido que o gestor

ambiental de Volta Redonda não tenha apontado o despejo de resíduos industriais

como uma das atividades que poluem as águas, ainda mais se considerando que o

município não só concentra grande número de industriais, como a que é identificada

como a mais poluidora da Região, no caso a CSN.

116

117

Quadro 34 – Levantamento das fontes potencialmente poluidoras identificadas no sistema de alerta da qualidade da água – ANA, 2003

METALURGICA BARRA DO PIRAI LTDA

Barra do Pirai Fabricaçao de Embalagens Metálicas

QUIMICA INDUSTRIAL BARRA DO PIRAI LTDA

Barra do Pirai Fabricaçao de Outros Produtos Inorgânicos

QUIMICA INDUSTRIAL BARRA DO PIRAI LTDA

Barra do Pirai Fabricaçao de Outros Produtos de Minerais Nao-Metalicos

QUIMVALE QUIMICA INDUSTRIAL VALE DO PARAIBA LTDA

Barra do Pirai Fabricaçao de Outros Produtos Inorgânicos

THYSSEN FUNDICOES LTDA Barra do Pirai Fabricaçao de Pecas Fundidas de Ferro e Aco

COOPERATIVA AGRO PEC.DE B.MANSA LTDA

Barra Mansa Preparaçao do Leite

DU PONT DO BRASIL S/A Barra Mansa Fabrç. de Outros Produtos Quimicos nao Especificados ou nao Classificados

GRIFFIN DO BRASIL LTDA Barra Mansa Fabrç. de Outros Produtos Quimicos nao Especificados ou nao Classificados

NESTLE BRASIL LTDA Barra Mansa Fabricaçao de Produtos do LaticínioSAINT-GOBAIN CANALIZACAO S.A Barra Mansa Fabricaçao de Outros Tubos de Ferro e

AcoSIDERURGICA BARRA MANSA S.A Barra Mansa Produçao de Laminados Nao-Planos de

AcoRECICLAN RECICLAGEM DE RESÍDUOS SIDERURGICOS LTDA

Barra Mansa Não definido

INSTITUTO BIOCHIMICO LTDA Itatiaia Fabricaçao de Medicamentos para Uso Humano

XEROX DO BRASIL LTDA Itatiaia Fabrç. de Máquinas de Escrever e Calcular, Copiadoras e Outros Equi...

SCHWEITZER-MAUDUIT DO BRASIL S.A

Pirai Fabricaçao de Papel

CIA INDUSTRIAL DE PAPEL PIRAHI Piraí Não definidoPEUGEOT CITROEN DO BRASIL S.A Porto Real Fabricaçao de Automoveis, Camionetas

e UtilitariosCARBOOX RESENDE QUIMICA IND. E COM. LTDA

Resende Fabricaçao de Outros Produtos de Minerais Nao-Metalicos

CONFECCAO INDUSTRIAL FERNANDA LTDA

Resende Confecçao de Roupas Profissionais

COOP AGRO PEC MUN RESENDE RESP LTDA

Resende Fabricaçao de Produtos do Laticínio

CYANAMID AGRICULTURA DO BRASIL LTDA

Resende Fabricaçao de Herbicidas

LATICINIOS PEDRA SELADA LTDA Resende Fabricaçao de Produtos do LaticínioNOVARTIS CONSUMER HEALTH LTDA (RESENDE)

Resende Fabricaçao de Outros Produtos Alimentícios

SEAGRAM DO BRASIL INDUSTRIA E COMERCIO LTDA

Resende Fabrç., Retificaçao, Homogeneizaçao e Mistura de Aguardentes e Outr...

SOCIEDADE MICHELIN DE PAR IND E COM LTDA

Resende Fabricaçao de Pneumaticos e de Camaras-De-Ar

CLARIANT S.A Resende Não definidoMETALURGICA PROAÇO Resende Não definidoCOOP. DOS PROD.DE LEITE DE CONSERVATORIA

Valenca Preparaçao do Leite

CIA ESTANIFERA DO BRASIL Volta Redonda Metalurgia de Outros Metais Nao-Ferrosos e Suas Ligas

CIMENTO TUPI S/A V.R. Volta Redonda Fabricaçao de CimentoCOMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL

Volta Redonda Produçao de Laminados Planos de Aço

COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL

Volta Redonda Fabrç. de Estruturas Metalicas para Edificios, Pontes, etc.

SOBREMETAL RECUPERACAO DE METAIS LTDA

Volta Redonda Reciclagem de Sucatas Metalicas

TUPI MASSA S.A Volta Redonda Fabrç. de Artefatos de Concreto, Cimento, Fibrocimento, Gesso etc.

CIA ESTANÍFERA DO BRASIL Volta Redonda Não definido

117

118

Dentre as atividades que mais contribuíram para alteração ambiental que

prejudicou a paisagem9 (Quadro 35), a erosão do solo foi a mais apontada pelos

municípios (67%), sendo seguida por desmatamento e ocupação irregular e

desordenada do solo, ambas com 58%. Empreendimento imobiliário aparece em

terceiro lugar, com 33%. Em relação aos municípios que relataram maior percentual

de atividades identificadas (B61 à B69), destacam-se Resende, Rio Claro e Valença,

com 44%. Pinheiral, Quatis e Rio das Flores ocupam o segundo lugar em termos de

atividades identificadas, com 33%. O desmatamento foi a única atividade comum

informada por estes 6 municípios.Quadro 33: Atividades que contribuíram para alteração ambiental que prejudicou a

paisagemB60 B61 B62 B63 B64 B65 B66 B67 B68 B69 B70 Total de

respostas sim

Barra do Piraí ● ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ 2

Barra Mansa ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ● ○ 2

Itatiaia ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ● ○ 3

Pinheiral ● ○ ○ ○ ○ ● ● ○ ○ ● ○ 4

Piraí ● ○ ○ ○ ● ○ ● ○ ○ ○ ○ 3

Porto Real ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ● ○ ○ 3

Quatis ● ○ ○ ● ○ ● ● ○ ○ ○ ○ 4

Resende ● ○ ○ ○ ○ ● ● ● ○ ● ○ 5

Rio Claro ● ○ ○ ○ ○ ● ● ○ ● ● ○ 5

Rio das Flores ● ○ ○ ○ ○ ● ● ○ ○ ● ○ 4

Valença ● ○ ○ ○ ○ ● ● ● ○ ● ○ 5

Volta Redonda ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Total de respostas

sim

10 0 0 1 1 7 8 4 2 7 0

Legenda: B60) Alteração ambiental que prejudicou a paisagem; B61) aterro espelho d´água; B62) por atividade de garimpo; B63) por atividade de extração mineral; B64) por atividade de construção de infra-estrutura; B65) por desmatamento; B66) por erosão do solo; B67) por empreendimento imobiliário; B68) por obra de infra-estrutura viária; B69) por ocupação irregular e/ou desordenada do solo; B70) por outros motivos.Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)

De acordo com Gruben e col. (2002), no período Pré-Colonial a Região era

ocupada por Índios e os vestígios encontrados indicam uma ocupação de mais de 9 De acordo com o glossário da publicação do IBGE (2005a) que trata do perfil ambiental dos municípios e que serviu de base para os dados aqui apresentados, paisagem se refere ao conjunto dos atributos naturais e antrópicos de um local, incluindo a vegetação (cobertura vegetal), os solos, a hidrografia, o relevo, a geologia, a geomorfologia, as atividades econômicas, a ocupação humana etc. A paisagem pode se reportar tanto ao conjunto de todo os atributos quanto apenas a um (ou alguns) deles (exemplos: paisagem humana, paisagem vegetal etc.).

118

119

1000 anos. A alteração da paisagem inicia a ocorrer de modo mais sistemático com

o Ciclo do Ouro no século XVIII e o Ciclo do Café no século XIX. Com o Ciclo do

Ouro, áreas da Região foram desbravadas por bandeirantes, em busca da

mineração do ouro nas Minas Gerais, com todo o Vale do Paraíba adquirindo

importância estratégica como corredor comercial, ocorrendo a construção das

primeiras estradas e formação de pequenos povoados que serviram de suporte aos

comerciantes (TCE, 2005; Gruben e col., 2002). Com o Ciclo do Café, que marcou a

economia brasileira no século XIX, a paisagem foi profundamente alterada pelo forte

impacto deletério que este cultivo teve sobre a Mata Atlântica, especialmente no

Vale do Paraíba (Pádua, 2000), contribuindo para que na atualidade só reste 7% da

floresta original e 36% das espécies de plantas endêmicas (Pimm & Jenkins, 2005).

O cultivo do café representou o início de um amplo processo de

desflorestamento e ocupação do Vale do Paraíba, resultando em profundas

mudanças na paisagem da região. Pádua (2000) cita uma testemunha do final do

século XIX, que observou que para cada hectare que se pretendia abrir para

lavoura, eram destruídos de cinco à dez pelo fogo descontrolado, que atingia a

cidade do Rio de Janeiro com a fumaça das queimadas levada pelos ventos. O

cultivo predatório no Vale do Paraíba, que destruíra grandes extensões de floresta e

que se deu preferencialmente nas encostas dos morros, resultou esgotamento do

solo para lavouras, em desequilíbrios climáticos e na extinção de florestas primárias.

Assiste-se a partir daí a decadência econômica da região, que passou a ter como

principais atividades econômicas a pecuária de corte e a produção de leite,

contribuindo para degradar ainda mais a mesma, e como uma das conseqüências a

migração da população rural para as áreas urbanas (Pádua, 2000; Grunber e col.,

2002; TCE, 2005).

Este processo de ocupação da região resultou já no século XIX em profundas

mudanças na paisagem, contribuindo para que na atualidade, conforme verificamos

no mapa do uso e cobertura do solo no Estado do Rio de Janeiro (Figura 10), o

reduzido percentual de áreas de florestas, predominando vegetação primária em

Itatiaia e Resende (sendo contínua) e um pequeno percentual em Rio Claro. No

mapa e no Quadro 12 chama a atenção o fato de uma vasta área que envolve 9

municípios não possuir nenhum ou baixíssimo percentual de áreas de florestas.

No mapeamento realizado no período 1956/1975, pelo IBGE, no que

concerne as florestas primárias e secundárias antigas do Estado, Rio Claro se

119

120

encontrava entre os municípios com maior área total e Piraí entre os com maiores

percentuais de sua coberta por florestas (51,07%). Em 2001, Índice de Qualidade do

Uso do Solo e da Cobertura Vegetal (IQM-Verde, 2005), revela que Piraí se

encontrava entre os municípios onde ocorreram os maiores desmatamentos em

termos de área total (8.803 hectares) e também em termos percentuais (11,74%).

Por outro lado, o IQM-Verde (2005) também revela que, embora ainda não

devidamente analisado, verifica-se em alguns municípios uma expansão da área

com cobertura vegetal. Em Resende identificou-se uma expansão de 21,64%,

podendo estar associado à uma dinâmica de regeneração natural da vegetação,

decorrente de aspectos como por exemplo, êxodo rural, abandono de áreas

agrícolas e política ambiental.

Ainda de acordo com os dados do IQM-Verde (2005), a região abriga um dos

blocos de florestas do Estado, situada no Parque Nacional de Itatiaia e envolve os

municípios de Itatiaia e Resende. No restante da região, a cobertura florestal é

composta por inúmeros fragmentos florestais de vegetação primária e secundária

(áreas em verde escuro verde claro na Figura 10). Além de alterações na paisagem

o desmatamento e o posterior processo de fragmentação de florestas traz consigo a

modificação da estrutura da vegetação, o empobrecimento das espécies animais e

vegetais, a alteração na diversidade genética e composição de espécies em várias

localidades, além de uma maior vulnerabilidade de animais e plantas de cada

fragmento, que podem minguar até a extinção, bem como em relação às espécies

invasoras (Lopes, 2004; Pimm & Jenkins, 2005).

Em relação as atividades que contribuíram para o assoreamento10 de corpos d

´água (Quadro 36), degradação da mata ciliar e desmatamento foram as que

registraram maior percentual de ocorrências entre os municípios (58%). A erosão

e/ou deslizamento de encostas ocupa o segundo lugar em termos percentuais (50%)

e se encontra diretamente relacionado às outras duas anteriores. Barra do Piraí,

Piraí, Quatis e Resende foram os municípios que registraram o maior percentual

(67%) de ocorrências específicas relacionadas ao assoreamento (B44 à B49).

A degradação da mata ciliar, assim como a erosão e o deslizamento de

encostas não podem ser dissociadas do intenso processo de desmatamento

10 De acordo com o texto do IBGE (2005b) sobre o assoreamento, este deve ser “... entendido, genericamente, como a obstrução do corpo d’água pelo acúmulo de substâncias minerais (areia, argila, etc.) ou orgânicas (lodo), provocando a redução de sua profundidade e da velocidade de sua correnteza. Quando ocorre, o assoreamento de um corpo d’água (baía, lagoa, rio, etc.) pode dificultar o tráfego de embarcações, trazer prejuízos à atividade pesqueira e acentuar os efeitos das inundações, principalmente sobre as populações ribeirinhas, quando do excesso de precipitações.”.

120

121

ocorrido na região e que envolve um conjunto de ações humanas, como o

sobrepastoreio, o uso inadequado dos solos, construções de estradas, etc., que

alteram os padrões de drenagem e aumentam o processo de sedimentação (Tundisi

& Tundisi, 2005; IBGE, 2005).

Dentre

as atividades que contribuíram para a poluição do ar (Quadro 37), as atividades

industriais, as queimadas e os veículos automotores responderam cada uma por

50% das ocorrências da região. Dentre os municípios que apresentaram maior

percentual de ocorrências relacionadas à poluição do ar (B21 à B29), Barra do Piraí

se destacou, com 44%. Resende, Itatiaia, Porto Real e Volta Redonda ocuparam

conjuntamente o segundo lugar, com 33% de ocorrências relacionadas a poluição do

ar.

As atividades industriais como fontes fixas de poluição atmosférica foram

relatadas pelos municípios mais industrializados da região, como Volta Redonda,

Quadro 36: Atividades que contribuíram para o assoreamento de corpo d´água

B43 B44 B45 B46 B47 B48 B49 B50 Total de respostas

simBarra do Piraí ● ● ○ ● ● ● ○ ○ 5

Barra Mansa ● ● ○ ● ○ ● ○ ○ 4

Itatiaia ● ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ 2

Pinheiral ● ● ○ ● ● ○ ○ ○ 4

Piraí ● ○ ○ ● ● ● ○ ● 5

Porto Real ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Quatis ● ○ ○ ● ● ● ● ○ 5

Resende ● ● ○ ● ● ● ○ ○ 5

Rio Claro ● ○ ○ ○ ● ● ○ ○ 3

Rio das Flores ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Valença ● ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ 2

Volta Redonda ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Total de respostas

sim

9 4 0 7 7 6 1 1

Legenda: B43) Assoreamento de corpo d´água; B44) aterro das margens; B45) atividade de mineração/garimpo; B46) degradação da mata ciliar: B47) desmatamento; B48) erosão e/ou deslizamento de encostas; B49) expansão de atividade agrícola; B50) outra causa de asseroamento.Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)

121

122

Resende, Porto Real, Itatiaia, Barra Mansa e Barra do Piraí. As queimadas como

fontes difusas constituem prática tradicional na agro-pecuária que consiste em atear

fogo a culturas, pastagens e à vegetação nativa, de modo a preparar o terreno tanto

para a atividade agrícola, como para a renovação de pastagens, apresentando

impactos sobre os solos, a vegetação, a biodiversidade e a qualidade do ar (IBGE,

2005b). Os veículos automotores como fontes móveis lançam na atmosfera uma

série de poluentes com efeitos locais, regionais e mesmo globais.

Quadro 35: Atividades que contribuíram para a poluição do arB20 B21 B22 B23 B24 B25 B26 B27 B28 B29 B30 Total de

respostas sim

Barra do Piraí ● ○ ● ○ ○ ● ● ○ ● ○ ○ 5

Barra Mansa ● ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ 3

Itatiaia ● ○ ● ○ ○ ○ ● ○ ● ○ ○ 4

Pinheiral ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Piraí ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Porto Real ● ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ ● ● ○ 4

Quatis ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Resende ● ○ ● ○ ○ ○ ● ○ ● ○ ○ 4

Rio Claro ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Rio das Flores ● ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ 2

Valença ● ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ 2

Volta Redonda ● ○ ● ○ ○ ○ ● ○ ● ○ ○ 4

Total de respostas

sim

8 0 6 0 0 1 6 0 6 1 0

Legenda: B20) Poluição do ar; B21) atividade agropecuária; B22) atividade industrial; B23) incineração de lixo; B24) mineração; B25) odores de lixo; B26) queimadas; B27) termoelétrica; B28) veículos automotores; B29) vias pavimentadas; B30) outros tipos.Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)

No Quadro 38, podemos constatar que tendo como referência os veículos

movidos a combustíveis fósseis (gasolina e diesel), Volta Redonda (36%), Barra

Mansa (17%) e Resende (15%) concentram quase 70% de toda a frota, constituída

predominante de veículos à gasolina.

122

123

Contaminação do solo (Quadro 39) teve como principais atividades

identificadas como causadoras a pecuária e os sumidouros (25% ambos), vindo em

seguida o chorume (17%). Os municípios que registraram maior percentual de

ocorrências causadoras da contaminação do solo (B52 à B58) foi Resende, com

57%. Barra do Piraí e Itatiaia registraram 43% das atividades; e Barra Mansa,

Valença e Volta Redonda 29%. Importante observar que Barra Mansa, Itatiaia e

Volta Redonda possuem unidades para deposição de resíduos especiais.

A pecuária vem contribuído para a degradação do solo nas extensas áreas de

campos e pastagens que existem na região. Os sumidouros e chorume se

relacionam aos problemas de saneamento ainda encontrados na Região do Médio

Paraíba. Um grande percentual de domicílios, situados na maioria dos municípios,

não possuem acesso a rede coletora de esgoto sanitário, sendo a utilização de

fossas, e por conseguinte sumidouros, comuns. O chorume gerado a partir da

decomposição da matéria orgânica existente no lixo já é um problema nos aterros

sanitários e se apresenta de modo mais grave nos vazadouros a céu aberto, que

constituem a maioria das unidades onde é lançado o lixo da região e não

apresentam nenhum tratamento visando à proteção ambiental.

Quadro 38 - Total da frota de veículos a gasolina e a diesel (maio de 2005)

MunicípiosGasolina Diesel Total de

Veículos

Região do Médio Paraíba 130.204 15.116 145.317

Barra do Piraí 14.229 3.302 17.531

Barra Mansa 23.789 3.334 27.123

Itatiaia 3.259 457 3.716

Pinheiral 1.563 184 1.744

Piraí 3.494 743 4.237

Porto Real 1.866 395 2.261

Quatis 1.696 424 2.120

Resende 20.424 1.729 22.153

Rio Claro 1.302 175 1.477

Rio das Flores 1.043 128 1.171

Valença 8.578 562 9.140

Volta Redonda 48.961 3.683 52.644

Fonte: Detran, maio de 2005

123

124

Em

relação às áreas legalmente protegidas (Quadro 40), que são consideradas áreas

com características naturais relevantes e são compostas por unidades de

conservação da natureza e as áreas de preservação permanente, tiveram como

principal ocorrência causadora registrada nos municípios as queimadas (42%),

seguidas pelo desmatamento e a extração vegetal (25% ambas). Estas três causas

apontadas de algum modo ainda mantêm continuidade com as primeiras formas de

ocupação da região, principalmente a partir do século XIX, quando queimadas,

desmatamento e extração vegetal compunham o eixo das atividades econômicas.

Dentre os municípios que identificaram maior percentual de ocorrências

identificadas como causadoras da degradação das áreas legalmente protegidas

(B72 à B81), destaca-se Resende com 60%. Piraí e Rio Claro ocupam

Quadro 39: Atividades que contribuíram para a contaminação do soloB51 B52 B53 B54 B55 B56 B57 B58 B59 Total de

respostas sim

Barra do Piraí ● ○ ● ○ ● ○ ○ ○ ○ 3

Barra Mansa ● ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ 2

Itatiaia ● ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ● 3

Pinheiral ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Piraí ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Porto Real ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Quatis ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Resende ● ○ ● ○ ● ● ○ ● ○ 5

Rio Claro ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Rio das Flores ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Valença ● ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ 2

Volta Redonda ● ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ○ 2

Total de respostas

sim

6 0 3 2 3 1 0 1 1

Legenda: B51) Contaminação do solo; B52) extração mineral; B53) atividade pecuária; B54) chorume; B55) sumidouros; B56) resíduos tóxicos e/ou metais pesados; B57)resíduos de unidades de saúde; B58) uso de fertilizantes e agrotóxicos; B59) outros tipos.Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)

124

125

conjuntamente o segundo lugar em termo de registro de ocorrências, com 40% cada

um.

Quadro 40: Atividades que contribuíram para degradação de áreas legalmente protegidasB71 B72 B73 B74 B75 B76 B77 B78 B79 B80 B81 B82 Total de

respostas sim

Barra do Piraí ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Barra Mansa ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Itatiaia ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Pinheiral ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Piraí ● ○ ● ○ ○ ● ○ ● ● ○ ○ ○ 5

Porto Real ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Quatis ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Resende ● ○ ● ● ○ ● ● ○ ● ● ○ ○ 7

Rio Claro ● ○ ○ ● ○ ○ ● ○ ● ● ○ ○ 5

Rio das Flores ● ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ 3

Valença ● ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ● ○ ○ ○ 3

Volta Redonda ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Total de respostas

sim

5 0 2 3 0 2 3 1 5 2 0 0

Legenda: B71) Degradação de áreas legalmente protegidas; B72) por atividade de extração mineral; B73) por caça/animais; B74) por desmatamento; B75) por disposição de resíduos sólidos; B76) extração vegetal; B77) por extração vegetal; B78) por ocupação irregular de áreas frágeis; B79) por extração vegetal ou pesca não autorizada; B79) por queimadas; B80) por uso da agropecuária; B81) por uso turístico excessivo; B82) por outros motivos.Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)

O conjunto de impactos ambientais apresentados e suas causas contribuem

para criar um ciclo de retro-alimentação em que as atividades econômicas que estão

na origem das ocorrências ao contribuírem para impactar o ambiente, acabam

resultando em prejuízos para as próprias atividades econômicas em um ciclo de não

sustentabilidade ambiental. Por exemplo, no Quadro 41, podemos observar que

impactos ambientais como erosão (B96) e esgotamento do solo (B97) são

identificados como os que mais contribuem para prejudicar a atividade agrícola, que

por sua vez é uma das atividades econômicas que vem contribuindo exatamente

para tais impactos. No Quadro 42, constatamos que esgotamento do solo e

poluição da água são impactos que contribuem para prejudicar a atividade pecuária

125

126

que enquanto atividade econômica, por sua vez, contribui exatamente para estes

ocorram.

Quadro 41: Atividades que contribuíram para prejudicar a atividade agrícola devido a problema ambiental

B93 B94 B95 B96 B97 B98 B99 B100 B101 B102 B103 Total de resposta

s simBarra do Piraí ○ ○ ○ ● ○ ○ ● ○ ○ ○ ○ 2

Barra Mansa ○ ○ ○ ● ○ ● ○ ○ ● ○ ○ 3

Itatiaia ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Pinheiral ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Piraí ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Porto Real ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Quatis ○ ○ ● ● ● ● ○ ○ ○ ○ ○ 4

Resende ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Rio Claro ○ ○ ● ● ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ 3

Rio das Flores ○ ○ ○ ● ● ○ ○ ● ○ ○ ○ 3

Valença ○ ○ ● ● ● ○ ○ ● ● ● ○ 6

Volta Redonda ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Total de respostas

sim

0 0 3 6 4 2 1 2 2 1 0

Legenda: B93) Prejuízo na atividade agrícola devido a problema ambiental; B94) por extração mineral; B95) por compactação do solo; B96) por erosão do solo; B97) por esgotamento do solo; B98) por escassez da água; B99) por poluição da água; B100) por processo de desertificação; B101) por proliferação de pragas; B102) por salinização do solo; B103) outras causas.Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)

126

127

Em um quadro síntese dos impactos, suas causas e dos municípios que

apontaram maior percentual de causas (Quadro 43), podemos constatar que foram

identificados pelos gestores, como principais causas de poluição das águas e

contaminação do solo, aspectos relacionados ao saneamento (esgotos e lixo), bem

como a pecuária e a criação de animais. Desmatamentos, queimadas e processos

de erosão, incluindo deslizamentos, surgem como causas presentes na alteração da

paisagem, na degradação de áreas protegidas e no assoreamento dos corpos d

´água. Para a poluição do ar, além das queimadas (fontes difusas) que constituem

sério problema ambiental na região, surgem fontes fixas (indústrias) e móveis

(veículos motores), associados ao processo de urbanização e industrialização.

Quadro 42: Atividades que contribuíram para prejudicar a atividade pecuária devido a problema ambiental

B104 B105 B106 B107 B108 B109 Total de respostas

simBarra do Piraí ○ ○ ○ ● ○ ○ 1

Barra Mansa ○ ● ○ ○ ○ ○ 1

Itatiaia ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Pinheiral ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Piraí ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Porto Real ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Quatis ○ ● ○ ○ ○ ○ 1

Resende ● ○ ○ ○ ○ ● 2

Rio Claro ● ○ ○ ○ ○ ○ 1

Rio das Flores ● ○ ○ ○ ○ ○ 1

Valença ● ○ ○ ○ ○ ○ 1

Volta Redonda ○ ○ ○ ○ ○ ○ 0

Total de respostas

sim

4 2 0 1 0 1

Legenda: B104) Prejuízo na atividade pecuária devido a problema ambiental; B105) por esgotamento do solo; B106) por escassez da água; B107) devido a poluição da água; B108) devido a desertificação; B109) por outras causas.Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)

127

128

Quadro 43 - Impactos ambientais, causas mais apontadas para a ocorrência do impacto e municípios com maior proporção de causas apontadas

Impacto ambiental (proporção de municípios na Região do

Médio Paraíba)

Causas mais apontadas para a ocorrência do impacto ambiental

Municípios com maior proporção de causas apontadas para a ocorrência

do impacto ambiental

Poluição da água (83%) Despejo de esgoto doméstico (75%)

Criação de animais (42%)

Resíduos sólidos e lixo (42%)

Resende (50%)

Barra do Piraí, Barra Mansa, Itatiaia e Rio Claro (40%)

Alteração ambiental que prejudicou a paisagem (83%)

Erosão do solo (67%)

Desmatamento (58%)

Ocupação irregular e desordenada do solo (58%)

Resende, Rio Claro e Valença (55%)

Assoreamento de corpo d´água (75%)

Degradação da mata ciliar (58%)

Desmatamento (58%)

Erosão e/ou deslizamento de encostas (50%)

Barra do Piraí, Piraí, Quatis e Resende (67%)

Poluição do ar (67%) Atividades industriais (50%)

Queimadas (50%)

Veículos automotores (50%)

Barra do Piraí (44%)

Resende, Itatiaia, Porto Real e Volta Redonda (33%)

Contaminação de solo (50%) Pecuária (25%)

Sumidouros (25%)

Chorume (17%)

Resende (57%)

Barra do Piraí e Itatiaia (43%)

Atividades que contribuíram para degradação de áreas legalmente protegidas (42%)

Queimadas (42%)

Desmatamento (25%)

Extração vegetal (25%).

Resende (60%)

Piraí e Rio Claro (40%)

Ao se tentar traçar um quadro das condições ambientais da Região do Médio

Paraíba numa perspectiva ecossistêmica, podemos considerar que dois grandes

processos se sobrepõem.

O primeiro processo envolve uma duração de dois séculos (XIX e XX) e tem

sua origem principalmente no Ciclo do Café, prosseguindo com a criação de gado e

produção de leite que se seguiu ao mesmo. O que caracteriza este processo é sua

característica extensiva em termos de produção econômica e de degradação

128

129

ambiental da região, tendo como principais elementos os desmatamentos e as

queimadas que contribuíram para destruir grande parte da floresta existente e sua

biodiversidade, afetando de modo geral a diversidade de serviços oferecidos pelos

ecossistemas. Este processo destrutivo contribuiu para a redução de alguns dos

serviços fornecidos pelas mesmas, como regulação da qualidade do ar, do fluxo das

águas e do clima, diminuindo também seu potencial para prevenir a erosão do solo e

reduzir as possibilidades de deslizamentos. A degradação e o empobrecimento do

solo, frutos de um longo processo de danos e degradação ambiental são indicativos

da perda de vigor e resiliência na região. Se em meados do século XIX, como

resultado do Ciclo do Café, o solo já iniciava a apresentar sinais de esgotamento, a

expansão da criação de gado leiteiro e das atividades agrícolas, ainda que não

representem a base da atividade econômica, intensificaram a degradação do solo e

acabam por representar importantes fontes de poluição dos solos e das águas

(Gruben e col., 2002)

O segundo processo tem suas origens no fim do Ciclo do Café e no pouco

desenvolvimento das atividades econômicas assentadas na área rural. O processo

de industrialização iniciado na década de 30 e intensificado a partir da II Guerra

Mundial, com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em 1946 no

município de Volta Redonda, instalado em 1954, tanto contribuiu para uma

migração da população rural para áreas urbanas, como para a estruturação da

economia da região no setor secundário, particularmente na Indústria da

Transformação. Como observam Gruben e col. (2002), a bacia do Paraíba do Sul

não só permitia a integração econômica entre Rio de Janeiro e São Paulo, mas

tornou-se um dos eixos da industrialização por conta das condições sócio-

ambientais que oferecia, como “suprimento de água, energia suficiente, mercado

consumidor e fácil escoamento da produção”. Neste caso, o PIB que é um indicador

econômico, pode também ser utilizado como um indicador de depleção de recursos

naturais, já que quanto maior a taxa de crescimento maior o índice de destruição

destes recursos e das condições ambientais. A Indústria da Transformação

responde por 60,5% do PIB da Região, estando concentrada nos municípios de

Volta Redonda (49,11%), vindo em seguida Resende (16,49%), Porto Real (12,60%)

e Barra Mansa (12,38%), todos municípios com percentual de área urbana que não

ultrapassa 25% do total, mas que tem sua população concentrada exatamente

nestas áreas.

129

130

Dois aspectos devem ser observados em relação ao tipo de desenvolvimento

econômico ocorrido na Região do Médio Paraíba, que não pode ser dissociado da

criação da CSN logo após o final da II Guerra Mundial que simboliza tanto o modelo

de desenvolvimento econômico associado à uma aceleração da integração de

mercados em direção ao processo de globalização, como de apropriação intensiva

dos recursos naturais resultando em crescente degradação ambiental e ineqüidades

sociais.

O primeiro aspecto é o débito ecológico e social do modelo de

desenvolvimento econômico adotado na Região do Médio Paraíba, que tem início no

Ciclo do Café no século XIX, e no processo de industrialização principalmente a

partir da II Guerra Mundial, tem grande parte da sua razão de ser para atender o

mercado internacional. A CSN, na atualidade simboliza bem isto. Maior exportadora

da região e uma das maiores do estado e do país em termos de PIB, se caracteriza

por ser uma indústria intensiva em recursos naturais, de modo que contribui para

que o custo ambiental da produção e de seus resíduos, ao mesmo tempo que

ultrapassa as fronteiras ambientais da cidade de Volta Redonda, acaba por afetar de

modo mais intenso a região, ficando no estado e no país. Como observa Libânio e

col. (2005: 222) “... para cada bem produzido, faz-se necessário dispor de um certo

volume de água, seja para incorporá-lo ao próprio produto, seja para diluir os rejeitos

de sua produção. Assim, a importação de mercadorias ou commodities com elevada

demanda hídrica específica acaba por contribuir, indubitavelmente, para a redução

do déficit hídrico nos países importadores, uma vez que um volume de água

equivalente deixa de ser suprido localmente e torna-se disponível para outras

necessidades.” Mesma lógica se aplica a outras indústrias situadas na região, como

a Volkswagen do Brasil Ltda. (Resende) e a Peugeot do Brasil Automóveis Ltda.

(Porto Real), que vem respondendo por alguns milhões de dólares em exportação

na região.

Esta lógica de crescimento econômico, que na região tem suas origens desde

o Ciclo do Café, não só acaba por se mostrar insustentável do ponto de vista

ambiental, mas acaba de também por afetar o bem-estar e a saúde humana. A

lógica atual do crescimento econômico cego, incluí gastos com as conseqüências

indesejadas da produção e do consumo de bens como valores positivos que são

agregados no PIB. Se passarmos a computar a perda de bem-estar resultante da

concentração de renda e a degradação ambiental como débitos sociais e ecológicos,

130

131

é provável que constatemos que enquanto o PIB da exportação de determinadas

indústrias, setores econômicos ou mesmo o PIB per capita de um país podem estar

encobrindo o débito ecológico e social. Daly (2005), por exemplo, demonstra que

em um país como E.U.A., enquanto o PIB per capita cresceu de US$ 20.000 para

quase 40.000 entre 1950 e 1990, o índice de bem-estar sustentável per capita

manteve-se praticamente estagnado, passando de US$ 10.000 para pouco mais do

que isto. (Daly, 2005)

O segunda aspecto é a pegada ecológica de tal modelo de desenvolvimento

econômico. Van Bellen (2005) ao sistematizar o método de pegada ecológica para a

construção de indicadores de sustentabilidade demonstra como sua metodologia se

baseia na contabilização dos fluxos de entrada e saída de matérias e energia

consumidos e produzidos por um sistema econômico ou população humana, que

são convertidos em correspondente área de terra ou água existentes na natureza

para sustentá-los. Em um estudo realizado para todas as nações no ano de 1995,

esta metodologia demonstrou, através de indicadores, que a área apropriada para a

produção e consumo global excedia a capacidade de carga produtiva do planeta em

37%. Decker e col. (2000), ao desenvolverem metodologias para se trabalhar com

os fluxos de matéria e energia dos ecossistemas urbanos, o fazem tendo como

referência o conceito de pegada ecológica, que expressa a quantidade de área que

uma cidade, região ou país requer para atender suas necessidades metabólicas. Os

autores observam que cidades industrializadas apresentam um déficit ecológico, ao

dependerem de uma quantidade de área maior do que as fronteiras urbanas para

prover recursos e absorver os resíduos, podendo em alguns casos, como das 29

maiores cidades do Mar Báltico, consumir uma área de 400 à 1000 vezes maior do

que o próprio tamanho das cidades só para assimilar o nitrogênio, o fósforo e o CO 2

produzidos.

Assim, embora as áreas urbanas ocupem pequeno percentual da área total

dos municípios da região, grande parte de sua população e indústrias se encontram

situadas nas mesmas, resultam na apropriação de uma área muito maior do que a

ocupada para atender suas demandas de matéria e energia para o consumo e

produção. Se tomamos o PIB não só como um indicador econômico de um setor

que se encontra situado nas áreas urbanas, podemos considerar que a área

degradada ultrapassa em muito as fronteiras destas mesmas áreas, sendo este um

131

132

processo com características de produção econômica intensivas e conectadas ao

mercado global, mas com potencial de danos e degradação ambiental extensivos.

5.2.5. Condições de Bem-estar Neste item, antes de trabalhar com os dados e indicadores, detalharemos um

pouco mais a estrutura conceitual que permite trabalhar com uma concepção

positiva de saúde, associando-a ao bem-estar e tratando-a como componente do

bem-estar. Uma proposta nesta direção se encontra na estrutura conceitual do MEA

(2005) em que o bem-estar é assumido não só como tendo múltiplos componentes,

já apresentados no final do item 5.1. (Proposta de indicadores de sustentabilidade

ambiental e de saúde em perspectiva ecossistêmica), como também estando

relacionado: 1) a sustentabilidade dos ecossistemas de modo a permitir que os

humanos se beneficiem dos serviços dos ecossistemas e reduzir sua vulnerabilidade

às mudanças e degradações ambientais; 2) as forças motrizes indiretas de

mudanças nos ecossistemas, que afetam tanto os serviços dos ecossistemas como

o bem-estar; 3) as forças motrizes diretas de mudanças nos ecossistemas, que

afetam tanto os serviços dos ecossistemas como o bem-estar (Ver Figura 19).

As forças motrizes indiretas, afetam tanto as forças motrizes diretas que alteram

os serviços dos ecossistemas, como afetam diretamente o bem-estar humano.

Também, por sua vez, as forças motrizes indiretas que alteram os serviços dos

ecossistemas, afetam diretamente o bem-estar humano. E, os serviços dos

ecossistemas ao serem transformados, afetam diretamente o bem-estar humano.

Por fim, o bem-estar humano, que é afetado diretamente pelas forças motrizes

indiretas e diretas, como pelas alterações nos serviços dos ecossistemas, acaba por

também resultar em impactos sobre as forças motrizes indiretas, que pode

realimentar o sistema sócio-ecológico positivamente ou negativamente. Este

processo envolve simultaneamente diferentes escalas espaciais (local, regional e

global) e temporais (mudanças de curto prazo e longo prazo) que se interligam.

132

133

Considerando que a manutenção dos serviços dos ecossistemas,

compreendidos como sistemas de suporte à vida, é fundamental para o bem-estar

humano, procuramos no Quadro 44, tendo como base o MEA (2005), agrupar na

coluna da esquerda os serviços dos ecossistemas que possuem forte intensidade de

conexões com os componentes do bem-estar. Um serviço dos ecossistemas pode

ter forte intensidade de conexões com mais de um componente do bem-estar. Por

outro lado, o fato do componente boas relações sociais não ter associado na coluna

da esquerda nenhum serviço de ecossistemas identificado apenas significa que as

Forças motrizes indiretas de mudanças

DemográficosEconômicos (exemplos: globalização, comércio, mercados e estruturas políticas)Sócio-políticos (exemplos: estruturas administrativas, institucionais e legais)Ciência e tecnologiaCulturais e religiosos (exemplo: escolhas sobre o e quanto consumir)

Bem-estar humano

Materiais básicos para uma boa vidaSegurançaSaúdeBoas relações sociaisLiberdade de escolhas e ação

Serviços dos ecossistemas

Suporte (exemplo: produção primária, formação do solo)Provisão (exemplo: alimentos, água, etc.)Regulação (exemplo: clima, água, doenças)Culturais (exemplo: valores espirituais, estéticos, etc.)

Forças motrizes diretas das mudanças

Mudanças no uso do solo e cobertura vegetalInputs externos como fertilizantes, irrigação e controle de pragas)Adaptação e usos das tecnologiasIntrodução e extinção de espéciesConsumo de colheitas e recursos naturaisMudanças no clima

Figura 19 – Estrutura conceitual de interação entre bem-estar humano, serviços de ecossistemas e forças motrizes diretas e indiretas de mudanças nos ecossistemas

Escalas espaciais

GLOBAL → → →← REGIONAL →← ← LOCAL

Escalas temporais

Curto prazoLongo prazo

133

134

conexões não são de forte intensidade, mas de baixa ou média intensidade, sendo

que os serviços culturais são os de maior intensidade de conexão com este

componente do bem-estar. Quadro 44 - Serviços de ecossistemas como bases para os componentes do bem-estar

humano

Serviços dos ecossistemas Componentes do bem-estar

Liberdades de escolha e ação

(envolve oportunidade para os indivíduos

alcançarem o que lhes têm valor. Esta

liberdade é afetada por outros fatores, tais

como educação e é tanto pré-condição para se alcançar os

outros componentes, como também é

afetada pelos mesmos)

Serviços de provisão (alimentos, água potável; combustíveis, fibras, compostos bioquímicos, recursos genéticos)

Serviços de regulação (regulação de enchentes, secas, deslizamentos e outras catástrofes)

Materiais básicos para uma boa vida (incluem a possibilidade de acesso à recursos para obter vencimentos, ter sustento e poder morar, se vestir e alimentar-se de modo seguro e adequado)

Serviços de regulação (regulação de enchentes, secas, deslizamentos e outras catástrofes)

Serviços culturais (perda dos atributos cerimoniais ou espirituais dos ecossistemas contribui para o enfraquecimento das relações sociais dentro da comunidade, afetando o bem-estar material, a saúde, a liberdade de escolha e ações, a segurança e as boas relações sociais)

Segurança (como a possibilidade de viver em um ambiente limpo e seguro e de reduzir a vulnerabilidade aos choques e estresses ecológicos (exemplo: desastres tecnológicos e naturais)

Serviços de provisão (alimentos, água potável, combustíveis, fibras, etc.)

Serviços de regulação (regulação de enchentes, secas, deslizamentos e outras catástrofes, incluindo também os que influenciam a distribuição de vetores e agentes patogênicos nas águas e no ar)

Saúde (envolve a capacidade de permanecer adequadamente alimentado, livre de doenças evitáveis, ter um ambiente físico saudável, tal como ar e águas limpas, e de obter energia para se manter protegido do frio ou do calor)

Serviços culturais (perda dos atributos cerimoniais ou espirituais dos ecossistemas contribui para o enfraquecimento das relações sociais dentro da comunidade, afetando o bem-estar material, a saúde, a liberdade de escolha e ações, a segurança e as boas relações sociais)

Boas relações sociais (envolve a oportunidade de expressar, em relação aos ecossistemas, valores estéticos e de recreação, valores culturais e espirituais, bem como a possibilidade de observar, estudar e aprender sobre os ecossistemas. Envolve também o respeito mútuo e a coesão social)

Considerando a pouca disponibilidade de dados ambientais existentes de base

municipal no nível, principalmente sobre ecossistemas, tomamos como referência o

Quadro 43, de modo que a partir da percepção dos gestores ambientais dos

municípios, procuramos relacionar os impactos ambientais aos serviços dos

ecossistemas que podem ser afetados pelos mesmos e também às causas mais

134

135

apontadas para a ocorrência de impacto na Região como promotores diretos das

mudanças ambientais que resultam nos impactos (Ver Quadro 45). De modo a

permitir uma rápida avaliação sobre as forças motrizes diretas que vem contribuindo

para os impactos ambientais que estão na base das alterações nos serviços dos

ecossistemas, adotamos um sistema de classificação, que depois é adotado para

também para os componentes do bem-estar, que vai do mais alto (em vermelho)

que representa a situação mais grave, ao mais baixo (em verde) que representa a

situação que é digna de atenção, tal como demonstrado na legenda abaixo:

Como podemos verificar no Quadro 45, os impactos estiveram diretamente

associados às mudanças no uso do solo e cobertura vegetal, bem como ao

consumo e degradação de recursos naturais. Dentre os impactos ambientais

percebidos pelos gestores como mais altos, destacam-se poluição da água e

alteração ambiental que prejudicou a paisagem. Entre as forças motrizes diretas

para estes impactos, destacam-se o despejo de esgoto doméstico, erosão do solo,

desmatamento, degradação da mata ciliar e ocupação irregular e desordenada do

território como os mais importantes, com gravidade média alta. Criação de animais

e queimadas e erosão e deslizamento de encostas são as três forças motrizes

diretas de gravidade média baixa que se encontram associadas a história agrária da

Região e ao processo de degradação do solo, afetando também a atmosfera e as

águas. As outras três forças motrizes diretas de gravidade média baixa se

encontram associadas ao processo de urbanização industrialização da Região que

se intensifica a partir da década de 30, tais como resíduos sólidos e lixo, atividades

industriais e veículos automotores. Neste conjunto de forças motrizes diretas de

gravidade média alta e baixa resultam na sobreposição de dois processos que vem

degradando a Região, o primeiro relacionado à sua história agrária, e o outro a sua

história de industrialização e urbanização.

Quadro 45 - Serviços dos ecossistemas, impactos ambientais e promotores diretos

Serviços dos ecossistemas Impactos ambientais que afetam Forças motrizes diretas dos impactos ambientais

Alto Médio alta Médio baixa Baixo

135

136

os serviços dos ecossistemas

Serviços de suporte (serviços necessários para a produção de todos os outros serviços dos ecossistemas, tais como: formação dos solos e ciclos de nutrientes, produção primária)

Contaminação do solo (50%)

Poluição d´água (83%)

Alteração ambiental que prejudicouou a paisagem (83%)

Pecuária (25%)Sumidouro (25%)Chorume (17%)

Despejo de esgoto doméstico (75%)Criação de animais (42%)Resíduos sólidos e lixo (42%)

Erosão do solo (67%)Desmatamento (58%)Ocupação irregular e desordenada do solo (58%)

Serviços de provisão (envolvem os produtos obtidos dos ecossistemas, tais como: alimentos, água potável; combustíveis, fibras, compostos bioquímicos, recursos genéticos)

Contaminação do solo (50%)

Poluição d´água (83%)

Alteração ambiental que prejudicou a paisagem (83%)

Pecuária (25%)Sumidouro (25%)Chorume (17%)

Despejo de esgoto doméstico (75%)Criação de animais (42%)Resíduos sólidos e lixo (42%)

Erosão do solo (67%)Desmatamento (58%)Ocupação irregular e desordenada do solo (58%)

Serviços de regulação (envolvem os benefícios obtidos através da regulação dos processos dos ecossistemas, tais como: regulação do clima, dos ciclos de águas e purificação da mesma, regulação de doenças, tendo impactos na regulação de enchentes, de secas, e da degradação dos solos)

Poluição d´água (83%)

Poluição do ar (67%)

Assoreamento de corpo d´água (75%)

Despejo de esgoto doméstico (75%)Criação de animais (42%)Resíduos sólidos e lixo (42%)

Atividades industriais (50%)Queimadas (50%)Veículos automotores (50%)

Degradação da mata ciliar (58%)Desmatamento (58%)Erosão e/ou deslizamento de encostas (50%)

Serviços culturais (perda dos atributos cerimoniais ou espirituais dos ecossistemas contribui para o enfraquecimento das relações sociais dentro da comunidade, afetando o bem-estar material, a saúde, a liberdade de escolha e ações, a segurança e as boas relações sociais)

Alteração ambiental queprejudicou a paisagem (83%)

Degradação de áreas legalmente protegidas (42%)

Erosão do solo (67%)Desmatamento (58%)Ocupação irregular e desordenada do solo (58%)

Queimadas (42%)Desmatamento (25%)Extração vegetal (25%)

No Quadro 46 procuramos elencar as principais forças motrizes diretas dos

impactos ambientais identificadas no Quadro 45 e agrupadas pela classificação de

gravidade, com os potenciais impactos diretos sobre a saúde humana.

Comentaremos primeiramente as forças motrizes diretas que apresentam potenciais

mais diretos, para em seguida comentar as outras, ainda que não seja possível

identificar impactos mais diretos.

136

137

Quadro 46 – Forças motrizes diretas dos impactos ambientais e potenciais impactos diretos sobre a saúde humana

Forças motrizes diretas dos impactos ambientais

Potenciais de impactos diretos sobre a saúde humana

Despejo de esgoto doméstico Doenças relacionadas à água contaminada por coliformes fecais.

Erosão do solo

Desmatamento

Ocupação irregular e desordenada do solo

Degradação da mata ciliar

Atividades industriais Poluição atmosférica afeta especialmente crianças e idosos e portadores de doenças do aparelho respiratório, como asma e insuficiência respiratória.Poluição química de corpos d´água afeta a saúde da população de modo geral.

Queimadas Poluição atmosférica afeta especialmente crianças e idosos e portadores de doenças do aparelho respiratório, como asma e insuficiência respiratória.

Veículos automotores Poluição atmosférica afeta especialmente crianças e idosos e portadores de doenças do aparelho respiratório, como asma e insuficiência respiratória.

Erosão e/ou deslizamento de encostas

Criação de animais

Resíduos sólidos e lixo Disposição inadequada contribuiu para ampliação de vetores de doenças e contaminação dos solos e das águas, afetando a água para consumo humano e contribuindo para doenças relacionados ao saneamento ambiental inadequado, como doenças de transmissão feco-oral, transmitidas por vetores, através do contato com a água, relacionados com a higiene e geo-helmintos e teníases.

Pecuária

Sumidouro Contaminação dos solos e das águas, afetando a água para consumo humano e contribuindo para doenças relacionados ao saneamento ambiental inadequado, como doenças de transmissão feco-oral.

Chorume Contaminação dos solos e das águas, afetando a água para consumo humano e contribuindo para doenças relacionados ao saneamento ambiental inadequado.

Extração vegetal

Legenda:Alto Médio alta Médio baixa Baixo

137

138

Conforme podemos observar no Quadro 46, o despejo de esgoto doméstico

foi identificado pelos gestores ambientais da Região como uma das causas dos

impactos ambientais, particularmente a poluição da água, surgindo como de

gravidade média alta. O acesso ao esgotamento sanitário é fundamental para o

controle e redução de doenças. O baixo percentual de domicílios com acesso a

rede coletora de esgoto sanitário em muitos municípios e o grande número de

municípios com elevado percentual de lançamento de esgoto sanitário diretamente

em corpo receptor sem tratamento (Ver Quadro 32), vem contribuindo não só para a

degradação das águas na Região, como também afetam uma série de atividades

relacionadas como irrigação, aqüicultura e recreação, além de contribuir para uma

série de doenças relacionadas à água contaminada por coliformes fecais (IBGE,

2004 e 2005).

Atividades industriais, queimadas, veículos automotores e resíduos sólidos e

lixo foram identificados pelos gestores como causas de impactos ambientais

classificadas por nós como de gravidade média baixa. Porém, constituem um grupo

cujos os impactos sobre a saúde vem sendo amplamente tratados na literatura

científica.

As atividades industriais resultam em diferentes modos de poluição. Os

elementos despejados pelas industrias na forma de energia ou de substâncias

sólida, líquida ou gasosa, ou combinação das mesmas, apresentam o potencial de

causar danos aos ecossistemas e à saúde, a segurança e ao bem-estar da

população, através de poluentes emitidos na atmosfera, efluentes industriais

lançados em corpos d´água e resíduos tóxicos produzidos como resultados da

produção. Além disto, em escala regional e global, as atividades industriais

intensivas resultam em poluição do ar e das águas e que se estendem para além do

seu lugar e em emissões que contribuem para as chuvas ácidas e o aquecimento

global. Em escala local, as atividades industriais, em função da alta capacidade

térmica, como no caso de siderúrgicas, alteram o equilíbrio térmico entre a superfície

e a atmosfera e interferem no clima (IBGE, 2005).

As queimadas, no nível local, afetam diretamente os solos, a vegetação, a

biodiversidade e a qualidade do ar, com impactos sobre a saúde e as condições de

vida das populações expostas, principalmente crianças, idosos e portadores de

doenças do aparelho respiratório, como asma e insuficiência respiratória. No nível

138

139

global contribuem para o efeito estufa, já que resultam na liberação de grandes

quantidades de dióxido de carbono para a atmosfera (IBGE, 2005). No mapa de

densidade dos focos de calor no Brasil em 2003, a Região do Médio Paraíba

aparece com densidade de 11 à 50 focos de calor por 1000 km2, sendo esta a

penúltima na escala de 10. Tanto queimadas como incêndios florestais destroem

vegetação nativa e ameaçam os ecossistemas. (IBGE, 2004)

Os veículos automotores são grandes responsável pela poluição atmosférica

em áreas urbanas e os seus principais poluentes são provenientes do processo de

combustão incompleta, resultando da emissão de monóxido de carbono,

hidrocarbonetos, óxidos de nitrogênio, dióxido de enxofre e material particulado. No

nível local afeta a qualidade do ar e afeta a saúde da população exposta,

principalmente crianças, idosos e portadores de doenças do aparelho respiratório,

como asma e insuficiência respiratória. Nos níveis regional e global contribuem para

a formação de chuvas ácidas a partir dos óxidos liberados após a queima de

hidrocarbonetos e o efeito estufa, já que resultam na liberação de grandes

quantidades de dióxido de carbono para a atmosfera (IBGE, 2005).

Em relação aos resíduos sólidos e lixo, embora o percentual de lixo coletado

na Região tenha aumentando no período entre 1991 e 2000, passando de 82,79%

para 94,82% permanece como grave problema a disposição final do mesmo, uma

vez que quando é inadequada resulta em degradação ambiental, com contaminação

do solo e de corpos d´água, bem como impactos sobre a saúde da população

(IBGE, 2005). De acordo com o Quadro 33, constata-se que grande parte dos

destinos do lixo (64%) é para vazadouros à céu aberto, que para metade dos

municípios representa o único destino do lixo, num total de 185 toneladas/dia.

Vazadouros a céu aberto representam grande potencial de contaminação dos solos

e das águas pelo chorume, como também para a saúde das populações,

representando pelo potencial de ampliação de vetores causadores de doenças e da

contaminação as águas para consumo humano. Aterros controlados, representam

grande parte do destino do lixo por dois municípios (Porto Real e Volta Redonda),

significando que em torno de 300 toneladas/dia são dispostas nos mesmos, onde

também não há tratamento do chorume, também contaminando os solos e as águas,

entre estas as para consumo humano.

Em relação as forças motrizes diretas cujo os impactos sobre a saúde

humana são de ordem mais indireta, destacamos em primeiro lugar o desmatamento

139

140

na Região. A Mata Atlântica corresponde ao segundo maior conjunto de florestas do

país e possuí elevada biodiversidade (em torno de 40% de espécies endêmicas).

Compreende as áreas de florestas primárias e secundárias. A história da Região,

em que grande parte da floresta foi derrubada e substituída por áreas agrícolas,

pastoris e urbanas e parte da própria história da Mata Atlântica. Constitui um

indicador não só de perda de florestas e biodiversidade, mas de pressões antrópicas

sobre os ecossistemas (IBGE, 2004). Na Região do Médio Paraíba, como vimos no

Quadro 12, os municípios de Itatiaia e Resende são os únicos que apresentam

maior percentual de florestas composta por vegetação primária. A maioria dos

municípios não chega a apresentar 1% de vegetação primária, sendo que em quase

todos o restante de floresta é composto majoritariamente por vegetação secundária

em fragmentos de florestas.

O desmatamento modifica a estrutura dos ecossistemas, resultando muitas

vezes na fragmentação de habitats em pequenos trechos separados por atividades

agrícolas ou populações humanas. Como conseqüência, ocorre uma modificação

da estrutura da vegetação, o empobrecimento das espécies animais e vegetais, a

alteração na diversidade genética e composição de espécies em várias localidades,

além de uma maior vulnerabilidade de animais e plantas de cada fragmento, que

podem minguar até a extinção, bem como em relação às espécies invasoras. Este

processo tem como conseqüência alterações na composição das espécies

hospedeiras no ambiente e na ecologia dos vetores e agentes patogênicos. Quando

combinadas com a mobilidade e contato de populações não imunes, vem

contribuindo para a emergência de doenças, como febres hemorrágicas com casos

de fatalidade em diversos países (Epstein, 1995; Lopes, 2004; Pimm & Jenkins,

2005).

O desmatamento como força motriz direta de impactos ambientais e de

alteração nos serviços de ecossistemas é de grande importância, pois dele,

combinado com queimadas, resultam outras forças motrizes diretas, como erosão do

solo, deslizamentos de encostas, degradação da mata ciliar e extração vegetal.

Além do desmatamento estar muito associada a atividades agrícolas e pastoris, teve

grande importância na Região a ocupação irregular e desordenada do solo. O

desmatamento, a erosão do solo, o crescimento das áreas urbanos e dos

empreendimentos imobiliários, entre outras, vem contribuindo para que a ocupação

irregular e desordenada do solo venha se constituindo em uma das principais forças

140

141

motrizes diretas resultando em impactos sobre os serviços dos ecossistemas e as

condições de bem-estar.

Tendo como critério o uso de indicadores disponíveis e de fácil acesso,

procuramos, no Quadro 47, associar aos componentes do bem-estar presentes na

coluna esquerda, indicadores que permitissem fornecer elementos para a

compreensão do mesmo nos municípios da Região, adotando o mesmo sistema de

classificação citado anteriormente.

Quadro 47 - Componentes do bem-estar humano e indicadores disponíveis

Componentes do bem-estar Indicadores disponíveis

Materiais básicos para uma boa vida (incluem a possibilidade

de acesso à recursos para obter vencimentos, ter sustento e

poder morar, se vestir e alimentar-se de modo seguro e

adequado)

Índice de emprego (Exclusão Social)

Índice de pobreza (Exclusão Social)

Índice de desigualdade (Exclusão Social)

Indicador renda (IDH)

Segurança (como a possibilidade de viver em um ambiente limpo

e seguro e de reduzir a vulnerabilidade aos choques e estresses

ecológicos (exemplo: desastres tecnológicos e naturais)

Índice de juventude (Exclusão Social)

Índice de violência (Exclusão Social)

Índice de exclusão social (Exclusão social)

Saúde (envolve a capacidade de permanecer adequadamente

alimentado, livre de doenças evitáveis, ter um ambiente físico

saudável, tal como ar e águas limpas, e de obter energia para se

manter protegido do frio ou do calor)

Indicador longevidade (IDH)

Mortalidade proporcional por doença diarréica aguda em < 5 anos

Mortalidade proporcional por infecção respiratória aguda em < 5

anos de idade

Boas relações sociais (envolve a oportunidade de expressar, em

relação aos ecossistemas, valores estéticos e de recreação,

valores culturais e espirituais, bem como a possibilidade de

observar, estudar e aprender sobre os ecossistemas. Envolve

também o respeito mútuo e a coesão social)

Índice de alfabetização (Exclusão Social)

Indíce de escolaridade (Exclusão Social)

Indicador educação (IDH)

Liberdades de escolha e ação (envolve oportunidade para os

indivíduos alcançarem o que lhes têm valor. Esta liberdade é

afetada por outros fatores, tais como educação e é pré-condição

para se alcançar os outros componentes)

Índice de exclusão (Exclusão Social)

Índice de desenvolvimento humano (IDH)

Para os índices de exclusão social, pobreza, emprego formal, desigualdade

social, alfabetização, escolaridade, juventude e violência, adotou-se os mesmos

valores definidos na publicação Atas da Exclusão Social (Campos e col., 2003).

Para os índices utilizados no IDH-M, realizamos uma adaptação, já que ao invés de

141

142

quatro, define somente três escalas, sendo estas alto (entre 0.8 e 1), médio (entre

0.5 e 0.79) e baixo (menor do que 0.49). Introduzimos mais uma escala, sendo de

0.499 à 2.500 considerado médio baixo e de 0.2499 à 0.000 baixo, de modo que

assim como AES, pudéssemos trabalhar com quatro escalas. Os valores e a

classificação nas escalas se encontra no Quadro 48 abaixo.

Quadro 48 – Legenda dos índices utilizados para os componentes do bem-estar humanoEx

clus

ão

Pobr

eza

Empr

ego

Des

igua

ldad

e

Alfa

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Esco

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ade

Juve

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e

Viol

ênci

a

IDH

-M

Mor

talid

ade

Prop

orci

onal

Alto 0.000 à

0.312

0.000 à

0.187

0.000 à

0.218

0.000 à

0.068

0.000 à

0.312

0.000 à

0.244

0.000 à

0.287

0.000 à

0.466

0.000 à

.2499> 5,4

Médio alta 0.313 à

0.381

0.188 à

0.609

0.219 à

0.342

0.069 à

0.153

0.313 à

0.653

0.245 à

0.422

0.288 à

0.514

0.467 à

0.737

0.250 à

0.499de 3,6 à 5,3

Médio baixa 0.382 à

0.588

0.610 à

0.748

0.343 à

0596

0.154 à

0.228

0.654 à

0.806

0.423 à

0.505

0.515 à

0.700

0.738 à

0.865

0.500 à

0.799de 1,8 à 3,5

Baixo 0.589 à

1.000

0.749 à

1.000

0.597 à

1.000

0.229 à

1.000

0.807 à

1.000

0.506 à

1.000

0.701 à

1.000

0.866 à

1.000

0.800 à

1.000< 1,7

No componente materiais básicos para uma boa vida (Quadro 49) utilizamos

índices do Atlas da Exclusão Social (AES) no Brasil (Campos e col., 2003) e do

Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) disponibilizados pelo Centro

de Informações e Dados do Rio de Janeiro (CIDE, 2006). NO AES utilizamos os

índices que integram a dimensão da vida digna e do bem-estar material da

população, composta pelos índices de pobreza (insuficiência de rendimentos), de

emprego e de desigualdade de rendimentos. Do IDH-M utilizamos o indicador

renda, medida através do PIB (Produto Interno Bruto) per capita (Quadro 49).

Quanto mais próximo de 1,0, melhor a condição do tecido social e do

desenvolvimento humano. Quanto mais próximo de 0, pior a condição do tecido

social e do desenvolvimento humano (Campos e col, 2003), sendo isto válido para

todos os quadros referentes aos componentes do bem-estar humano. A exceção é

o Quadro 51, pois para os indicadores de mortalidade proporcional em menores de

cinco anos utilizamos um sistema de classificação descrito em nota de rodapé.

142

143

No Quadro 49, constatamos que no relacionado somente ao IDHM-Renda,

poderíamos considerar que a Região se encontra em uma situação de gravidade

média baixa. Isto se deve ao fato do próprio limite do IDH, já tratados anteriormente,

em que o PIB per capita (IDH-Renda) se transforma no “desenvolvimento

econômico”, não considerando as desigualdades sociais e os processos de exclusão

social. O mesmo ocorre quando consideramos o Índice de Pobreza, sendo que

Piraí, Rio Claro, Rio das Flores e Valença surgem como municípios de gravidade

média alta, demandando bastante atenção, e os outros municípios como de

gravidade média baixa, demandando atenção de qualquer modo. No AES (Campos

e col., 2003) o Índice de Pobreza corresponde a porcentagem de chefes de família

com insuficiências de rendimentos, sendo a linha de pobreza fixada em um salário

mínimo (Campos e col., 2003), cujo o valor a partir de 3 de abril de 2000 passou a

ser de R$ 151,00, ano em que considerando o dólar no primeiro e último dia útil do

mesmo, esteve em média a US$ 2,50, significando que o salário mínimo convertido

em dólar representaria cerca de US$ 2,00 por dia, com variações para mais ou para

menos ao longo do ano. A cesta básica em abril de 2000 estava valendo R$ 108,01.

Considerando o rendimento da PEA na Região em 2000, constatamos na Figura 18 que 18% ganhavam até 1 salário mínimo, percentual bastante inferior ao do Brasil,

que possuía cerca de 43,5% da população ganhando menos de dois dólares por dia

Quadro 49 - Materiais básicos para uma boa vida como componente do bem-estar

  Índice de PobrezaÍndice de Emprego

Índice de Desigualdade IDHM – Renda

Barra do Piraí 0,668 0,166 0,128 0,710

Barra Mansa 0,682 0,167 0,126 0,720

Itatiaia 0,695 0,248 0,196 0,720

Pinheiral 0,642 0,074 0,106 0,690

Piraí 0,583 0,232 0,132 0,700

Porto Real 0,611 0,203 0,071 0,670

Quatis 0,638 0,131 0,109 0,690

Resende 0,734 0,251 0,275 0,760

Rio Claro 0,562 0,105 0,078 0,660

Rio das Flores 0,446 0,150 0,067 0,650

Valença 0,590 0,203 0,128 0,710

Volta Redonda 0,745 0,252 0,214 0,750Fonte: Campos e Col., 2003; CIDE, 2006.

143

144

ou sessenta dólares por mês (Kliksberg, 2002). Renda e pobreza não parecem

ser um problema de gravidade média nos municípios da RMP, exigindo atenção.

Quando olhamos para os indicadores de emprego e desigualdades o quadro

muda, já que surgem como os mais graves problemas atuais para 8 dos 12

municípios da RMP e exigindo bastante atenção nos outros 4. A situação para o

emprego - correspondendo ao percentual da população em idade ativa, com 10 anos

ou mais de idade e com carteira assinada (Campos e col., 2003) – tem reduzida a

sua gravidade para média alta em municípios como Resende e Volta Redonda, que

se encontram integradas ao mercado global através de exportações de industrias

como a Volkswagen do Brasil Ltda. e a CSN. De um modo geral, como verificamos

no Quadro 27, no período de 1995 à 1999 ocorreu queda no número total de

empregados, representando uma perda de 56.700 empregos. Embora municípios

como Itatiaia, Porto Real e Rio Claro tenham sido os únicos municípios que tiveram

aumento no número de empregados no período, estes não ocorreram,

principalmente para os dois últimos municípios, em número suficiente para atender

as necessidades de emprego e trabalho para a obtenção de vencimentos, elemento

básico para se obter materiais básicos para uma boa vida.

Em relação as desigualdades, que corresponde a proporção entre os chefes

de família com rendimentos acima de dez salários mínimos e aqueles com

rendimentos até este montante (Campos e col, 2003), em um extremo Resende

apresentava uma situação de menor desigualdade e no outro extremo Rio das

Flores com a maior desigualdade. Itatiaia e Volta Redonda apresentavam um

quadro de gravidade média baixa e os outros municípios de gravidade média alta.

Analisando o Quadro 28, constatamos que 93% da PEA recebia até 10 salários

mínimos e os outros 7% de 10 salários mínimos ou mais. Além da concentração de

renda, deve-se destacar a concentração dos ganhos financeiros com as atividades

econômicas para os acionistas das indústrias altamente lucrativas e integradas ao

mercado global e representando o maior percentual do PIB dos municípios e da

RMP. As questões relacionadas ao emprego formal parecem ser as mais graves na

RMP e merecem grande atenção, já que acabam incidindo sobre a pobreza, os

rendimentos e a desigualdade. ainda não são problemas de alta gravidade na

Região. Além do mais, populações sem emprego ou em condições precárias de

trabalho acoplado ao processo de pobreza e desigualdades restringem a

possibilidade de acesso aos materiais básicos para uma boa vida, reduzem o bem-

144

145

estar humano e ameaçam as condições sociais necessárias para a presente e futura

sustentabilidade ambiental e de saúde na RMP (Borghesi e Vercelli, 2003).

No componente segurança (Quadro 50) utilizamos índices do AES que

integram a dimensão vulnerabilidade juvenil, composta pelos índices de juventude

(percentual da população com até 19 anos de idade e que na Região correspondeu

a 37% da população em 2000) e violência (proporção de homicídios por 100.000

cidadãos), ambos voltadas para avaliar a exposição da população jovem à situações

de violência. Além destes incluímos o próprio índice de exclusão social, pois quanto

maior este, frequentemente são menores as possibilidades de viver em um ambiente

seguro e reduzir as vulnerabilidades às mudanças ambientes abruptas (Porto e

Freitas, 1996) (Quadro 47). Apesar da violência não poder ser considerada uma

conseqüência das mudanças nos serviços dos ecossistemas, é, como observam

Campos e col. (2003:51), a expressão e conseqüência de uma nova realidade em

que esta amplia-se no segmento jovem da população e resulta dos efeitos da

estagnação econômica e do desemprego, da expansão de valores de consumo e da

concentração de renda, com o crescimento da desigualdade sócioeconômica

(Campos e col., 2003; Minayo, 2003). Assim, embora o Índice de Violência seja

ainda de baixa de gravidade, em quase todos os municípios, com exceção de Porto

Real, algumas de suas causas se encontram presentes, como perda de empregos e

Quadro 50 – Segurança como componente do bem-estar

 Índice de

JuventudeÍndice de Violência

Índice de Exclusão

Barra do Piraí 0,797 0,957 0,565

Barra Mansa 0,765 0,847 0,543

Itatiaia 0,707 0,984 0,584

Pinheiral 0,728 0,960 0,524

Piraí 0,752 0,908 0,534

Porto Real 0,676 0,917 0,508

Quatis 0,718 0,964 0,523

Resende 0,739 0,920 0,608

Rio Claro 0,728 0,898 0,480

Rio das Flores 0,728 0,877 0,469

Valença 0,780 0,969 0,553

Volta Redonda 0,787 0,810 0,596Fonte: Campos e Col., 2003; CIDE, 2006.

145

146

crescimento das desigualdades sócioeconômicas, tornando vulnerável mais de 1/3

da população jovem e podendo se constituir em uma ameaça futura ao bem-estar e

a sustentabilidade ambiental e de saúde na RMP se considerarmos que serão os

adultos e os idosos em cenários de 25 à 50 anos futuros. Consideramos que a

vulnerabilidade ambiental não pode ser dissociada da vulnerabilidade social, já que

esta última potencializa a primeira, além de se relacionar dialeticamente com o

componente boas relações sociais, que afetam e são afetados pela violência, e por

conseguinte, o tecido social vital para a sustentabilidade ambiental e de saúde.

No componente saúde (Quadro 47 utilizamos o indicador longevidade que

expressa a dimensão viver uma vida longa e saudável, combinando esperança de

vida ao nascer com a taxa de mortalidade infantil para menores de um ano). Além

deste indicador, utilizamos outros dois associados à mortalidade em menores de

cinco anos de idade, sendo estes mortalidade proporcional por doença diarréica

aguda em menores de cinco anos de idade (Códigos A00 a A09 da CID-10) e

mortalidade proporcional por doença infecção respiratória aguda em menores de

cinco anos de idade (Códigos J00 a J22 da CID-10) (Quadro 51). Ambos são

indicativos de insatisfatórias condições sócioeconômicas, além de insuficiente

cobertura e qualidade da atenção básica à saúde da criança, sendo que o primeiro

se encontra associado à precárias condições de saneamento, favorecendo doenças

diarréicas, e o segundo associado aos fatores climáticos que favorecem a ocorrência

de infecções respiratórias (RIPSA, 2002). Para os municípios utilizamos os dados

disponibilizados no sítio da Secretaria de Estado de Saúde disponíveis em março de

2006, compreendendo o período de 1999 à 2005.

De acordo com o Quadro 51, Quatis é o município que apresenta o melhor

Índice de Longevidade, com todos os outros classificados como média baixa. De

acordo com dados disponíveis no CIDE (2006) sobre esperança de vida ao nascer e

taxa de mortalidade infantil, o quadro na Região era o seguinte: 1) em 1980 a maior

esperança de vida ao nascer se encontrava no município de Resende (63,3) e em

2000 no município de Quatis (74,1); 2) a taxa de mortalidade infantil para menores

de um ano na Região passou de 36,6 em 1985 para 21,5 em 1999, situando-se em

uma classificação geral de taxas médias (entre 20 e 49 óbitos por 1.000 nascidos

vivos), sendo neste último ano a pior situação em Porto Real (34,3) e a melhor em

Piraí (14,3). No Quadro 52 aplicamos o critério de gravidade para a mortalidade

146

147

infantil em menores de um ano, permitindo visualizar que a melhora vem ocorrendo

ao longo dos anos, mas ainda muito por se fazer.

Assim, o Índice de Longevidade, que reflete o quadro de redução da taxa de

mortalidade infantil em menores de um ano e aumento na esperança de vida ao

nascer na Região aparece como merecendo atenção na quase totalidade dos

municípios, ao mesmo tempo que indica uma melhoria das condições de saúde e de

vida da população.

Quadro 51 – Saúde como componente do bem-estar

  Índice de longevidade

Mortalidade

proporcional por doença

diarréica aguda em < 5

anos

Mortalidade

proporcional por

infecção respiratória

aguda em < 5 anos de

idade

Barra do Piraí 0,730 1.0 4,8

Barra Mansa 0,790 1,1 6,1

Itatiaia 0,780 3,2 1,6

Pinheiral 0,790 2,3 4,5

Piraí 0,750 2,6 2,6

Porto Real 0,690 2,3 7,0

Quatis 0,820 3,3 6,7

Resende 0,750 1,8 2,9

Rio Claro 0,750 7,7 7,7

Rio das Flores 0,730 0 10,0

Valença 0,730 2,1 5,8

Volta Redonda 0,760 1,8 3,3

147

Legenda para mortalidade proporcionalAlta (> 5,4)Média alta (entre 3,6 e 5,3)Média Baixa (entre 1,8 e 3,5)Baixa (< 1,7)

Quadro 52 - Taxa de mortalidade infantil em menores de 1 ano de vida, segundo a Região do Médio Paraíba emunicípiosRegião do Médio Paraíba e municípios

1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999

Região do Médio Paraíba 36,6 34,2 33,7 32,6 31,7 29,0 28,3 27,0 26,3 23,5 23,0 22,0 21,4 20,2 21,5Barra do Piraí 36,4 33,9 30,8 35,6 39,3 38,2 38,8 37,9 42,7 39,0 36,6 31,8 29,1 28,0 28,3Barra Mansa 40,8 39,1 43,6 41,5 39,8 34,9 35,7 32,5 29,6 24,9 23,6 22,3 21,0 19,1 20,7Itatiaia ... ... ... ... ... 15,5 14,0 13,8 14,7 16,5 21,6 25,4 26,6 22,1 24,8Pinheiral ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 30,4 24,7Piraí 41,5 43,9 40,7 37,7 37,4 36,5 32,7 36,1 33,8 35,0 27,4 24,6 18,1 12,6 14,3Porto Real ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 22,4 34,3Quatis ... ... ... ... ... ... ... ... ... 26,2 31,3 16,4 21,7 12,8 22,8Resende 33,7 31,0 29,6 27,8 21,7 17,0 12,8 10,9 10,9 12,4 15,0 17,4 18,9 20,7 21,5Rio Claro 24,2 27,4 32,0 37,7 34,2 35,6 30,9 30,8 29,0 25,1 21,9 19,4 20,8 21,1 21,1Rio das Flores 40,6 39,6 23,0 24,4 32,1 31,3 31,3 18,9 26,0 26,7 30,9 37,1 36,8 39,2 29,9Valença 38,8 34,7 32,2 32,1 34,2 32,3 30,7 27,9 29,3 24,9 27,1 25,3 29,1 26,0 25,9Volta Redonda 34,5 31,1 29,6 26,9 26,7 25,1 25,7 25,8 24,0 20,2 19,0 18,1 17,2 15,8 17,6

Alta (entre 37,6 e 50 por mil)Média alta (entre 37,5 e 25 por mil)Média baixa (entre 24,9 e 12,5 por mil)Baixa (< 12,5 por mil)

O indicador de mortalidade proporcional por doença diarréica aguda em

menores de cinco anos de idade que se encontra associado à precárias condições

de saneamento e é indicativo de insatisfatórias condições sócioeconômicas, além de

insuficiente cobertura e qualidade da atenção básica à saúde da criança, aparece

como alta gravidade somente no município de Rio Claro (Quadro 50), que em 2000

era o município com menor percentual (45,4%) de domicílios com acesso a rede de

esgoto sanitário e maior percental (10,9%) de domicílios com fossas rudimentares.

No outro extremo surgem com baixa gravidade os municípios de Barra do Piraí,

Barra Mansa e Rio das Flores. Todos os outros municípios aparecem como de

gravidade média baixa, merecendo atenção.

O indicador de mortalidade proporcional por doença infecção respiratória

aguda em menores de cinco anos de idade, que indica insatisfatórias condições

socioeconômicas e insuficiências na cobertura e qualidade da atenção básica à

saúde da criança, estando também associado aos fatores climáticos que favorecem

a ocorrência de infecções respiratórias, aparece como de alta gravidade nos

municípios de Barra Mansa, Porto Real, Quatis, Rio Claro, Rio das Flores e Valença.

Em Barra do Piraí e Pinheiral aparece como de gravidade média alta. Somente três

municípios (Piraí, Resende e Volta Redonda) aparecem como de gravidade média

baixa, merecendo atenção, e apenas Itatiaia como de gravidade baixa. O quadro de

gravidade alta ou média alta em 3/4 dos municípios da Região pode estar refletindo

a combinação da alta desigualdade socioeconômica da Região com mudanças

climáticas e ambientais associadas a poluição principalmente por queimadas que

estão entre as forças motrizes diretas dos impactos ambientais que afetam os

serviços de regulação dos ecossistemas, entre estes os de purificação do ar e

regulação do clima nos municípios e na região.

No Quadro 45, verificamos que os serviços dos ecossistemas vem sofrendo

impactos ambientais na sua capacidade de suporte, provisão, regulação e culturais

que combinam forças motrizes diretas como o desmatamento e consequentemente

as queimadas e erosão do solo, que se iniciam no século XIX, com processos

intensificados a partir da década de 1950 e que resultaram em ocupação irregular e

desordenada do solo com ausência de infra-estrutura (despejos de esgotos

domésticos) em uma Região que teve um grande crescimento populacional,

econômico e industrial que passou a se concentrar quase que totalmente em áreas

urbanas.

150

Assim, tendo como referência Hales e col. (2004), se podemos identificar

alguns efeitos dos distúrbios nos ecossistemas sobre a saúde humana, os quais

podem ser relativamente diretos, devemos considerar que muitos destes podem

ocorrer somente ao final de uma longa e complexa rede de eventos e situações

sócioecológicas. Isto significa que mudanças nos ecossistemas podem resultar em

efeitos diretos resultantes de danos à função de provisão (água para consumo

humano) ou regulação (purificação do ar e regulação do clima) dos ecossistemas,

como determinadas doenças agudas (Ver Quadro 52). Estes efeitos podem ter sua

escala temporal situada em dias e espacial situada no nível local, afetando centenas

de pessoas. Os efeitos também podem ser mediados, envolvendo desde mudanças

ambientais que alteram a distribuição e comportamento dos vetores e hospedeiros

ou secas e enchentes que irão exacerbar infecções originárias da água para

consumo humano. Nestes casos, a escala temporal pode abranger semanas/meses

espacial do local ao regional. Os efeitos modulados referem-se aos provenientes de

amplas mudanças socioecológicas que afetam a saúde humana por meio da fome e

escassez de alimentos, conflitos e violências, sendo suas origens sutis e/ou

indiretas, possuindo escala temporal de anos ou décadas e espacial que pode variar

do regional ao nacional. Por fim, há as falhas e/ou rupturas no sistema

sócioecológico que podem resultar em propriedades emergentes, como grandes

mudanças ambientais globais, entre elas o clima, exigindo longo prazo para as

adaptações sociais e no curto prazo atingindo milhões ou bilhões de pessoas em

escala global. Os efeitos sobre a saúde podem variar desde pandemias aos

associados aos desastres “naturais”.

Na Região do Médio Paraíba, se temos a presença de efeitos diretos e

mediados, temos de considerar o grande potencial de efeitos modulados, já que,

conforme vimos no Quadro 45, há a combinação de uma degradação que data de

mais de um século e se encontra ainda presente nos dias atuais através do

continuado desmatamento e queimadas, com a degradação do processo de

urbanização que ainda carece de infra-estrutura urbana para consideráveis

contingentes populacionais e industrialização, resultando em poluição atmosférica,

dos recursos hídricos e produção de resíduos industriais perigosos.

150

151

Quadro 52- Tipologia dos Impactos dos Ecossistemas na SaúdeEfeitos diretos Efeitos mediados Efeitos modulados Falhas no sistema

Mecanismo causal Simples e diretos,

ainda que

relacionados à

determinantes sociais

e ecológicos de médio

e longo prazo

Determinantes

ecológicos com maior

presença, alterando

de modo mediado os

ecossistemas

Causação complexa;

maior visibilidade da

presença dos

determinantes sociais

Propriedades

emergentes, efeitos

limiares e de

realimentação

Escala temporal Dias Semanas/meses Anos/décadas Décadas/séculos

Escala espacial Local Local/regional Regional/nacional Continental/Global

Número de afetados Dezenas/centenas Centenas/milhares Milhares/milhões Milhões/bilhões

Exemplo Prejuízos provenientes

de eventos climáticos

extremos ou

alterações climáticas

como inversões

térmicas e/ ou eventos

de poluição aguda

Transmissão de

doenças notificáveis

Fome regional,

conflitos e violências

Conectada aos

sistemas sócio-

ecológicos resultando

em pandemias ou

desastres de larga

escala de impactos

Fonte: adaptado a partir de Hales et al., 2004

No componente boas relações sociais (Quadro 47) utilizamos os índices de

alfabetização (porcentagem de cidadãos com 5 anos ou mais de idade que sabem

ler e escrever) e escolaridade (número médio de anos de estudo) do AES. Ambos

integram a dimensão do conhecimento e do acúmulo simbólico e cultural da

população (Quadro 53). Consideramos que estes índices estão na base da

possibilidade de ampliar o potencial de observar, estudar e aprender sobre os

ecossistemas, e por conseguinte incrementam a oportunidade de expressar, em

relação aos ecossistemas, valores estéticos, culturais e espirituais, bem como

fortalecem também o respeito mútuo e a coesão social, vitais para reduzir a

vulnerabilidade sócioecológica e aumentar a possibilidade de uma população

incrementar sua segurança como componente do bem-estar.

Em relação ao Índice de Alfabetização, o único município que merece atenção

é Rio Claro, com gravidade média baixa. Para o Índice de Escolaridade, a maior

parte dos municípios se encontra em situação de atenção, com gravidade média

baixa, e somente dois municípios (Rio Claro e Rio das Flores) apresentam uma

situação de gravidade média alta, que é idêntica a situação da Exclusão Social, que

também é de gravidade média alta em ambos (ver Quadro 50). Em relação ao

151

152

IDHM-Educação, que combina diversos indicadores, como número médio de anos

de estudo para a população de 25 anos e mais de idade, com a taxa analfabetismo

das pessoas com 15 anos e mais de idade incapazes de ler ou escrever, a situação

aparece como de baixa gravidade para todos os municípios.

A baixa gravidade no Índice de Violência (ver Quadro 50), combinada com

uma total baixa gravidade no IDHM-Educação e quase total no Índice de

Alfabetização apontam para um tecido social em que apesar da redução dos

empregos e das desigualdades ainda traz o potencial de se em um projeto comum

de sustentabilidade ambiental e da saúde da população da Região, reduzir as

vulnerabilidades sociais que poderão no futuro contribuir para aumentar a

vulnerabilidade ambiental existente.

Por fim, para o componente liberdade de escolhas e de ação (Quadro 47)

que depende de todos os outros componentes, utilizamos os índices de Exclusão

Social e de Desenvolvimento Humano Municipal, pois ambos sintetizam outros

índices e indicadores sem os quais a liberdade é reduzida e ameaçada (Quadro 54).

Consideramos que quanto maior a exclusão social e quanto menor o índice de

Quadro 53 – Boas relações sociais como componente do bem-estar

 Indice de

AlfabetizaçãoÍndice de

EscolaridadeIDHM-Educação

Barra do Piraí 0,900 0,631 0,910

Barra Mansa 0,905 0,608 0,910

Itatiaia 0,883 0,635 0,900

Pinheiral 0,879 0,589 0,910

Piraí 0,858 0,536 0,880

Porto Real 0,850 0,501 0,870

Quatis 0,855 0,520 0,870

Resende 0,892 0,705 0,920

Rio Claro 0,795 0,439 0,800

Rio das Flores 0,837 0,473 0,850

Valença 0,876 0,608 0,900

Volta Redonda 0,917 0,727 0,930

152

Alta (< 0,250)Média alta (entre 0,499 e 0,250)Média baixa (entre 0,799 e 0,500)Baixa (entre 0,800 e 1,000)

153

desenvolvimento humano, mas reduzidas são os potenciais de liberdade de

escolhas e de ação e vice-versa.

Ao tomarmos a exclusão social e o desenvolvimento humano como

indicadores básicos para as liberdades de escolhas e de ações como componentes

básicos para o bem-estar humano, estamos considerando que sem ter atendidas as

dimensões que compõem estes dois índices, que são renda, educação, infância,

habitação e longevidade, por um lado (IDH-M) e vida digna, conhecimento e

vulnerabilidade por outro (AES), as liberdades e ações acabam por ser restringidas,

tornando estas populações e os seus ambientes de vida e trabalho mais vulneráveis

à degradação sócioambiental. No Quadro 54, a situação de gravidade média alta

aparece nos municípios de Rio Claro e Rio das Flores, os que possuem situação

similar em relação à escolaridade (Quadro 53), bem como alta gravidade no que se

refere a mortalidade proporcional por infecção respiratória aguda em menores de 5

anos de idade (Quadro 50).

Quadro 54 – Liberdades de escolha e ação como componente do bem-estar

 Índice de

exclusão social

Índice de desenvolvimento

humano municipal

Barra do Piraí 0,565 0,780

Barra Mansa 0,543 0,810

Itatiaia 0,584 0,800

Pinheiral 0,524 0,800

Piraí 0,534 0,780

Porto Real 0,508 0,740

Quatis 0,523 0,790

Resende 0,608 0,810

Rio Claro 0,480 0,740

Rio das Flores 0,469 0,740

Valença 0,553 0,780

Volta Redonda 0,596 0,820

153

Alta (< 0,250)Média alta (entre 0,499 e 0,250)Média baixa (entre 0,799 e 0,500)Baixa (entre 0,800 e 1,000)

154

5.2.6. Estrutura política e institucional para saúde e meio ambiente Um dos requisitos básicos para a sustentabilidade é a estruturação da capacidade

de resposta social às forças motrizes diretas e indiretas que impactam o ambiente,

comprometem os serviços dos ecossistemas, assim como a saúde e o bem-estar

dos humanos. Esta resposta tem como requisitos tanto a institucionalização e

fortalecimento das ações do estado, como maior participação da sociedade.

No Brasil, na década de 80, sendo a principal referência a Constituição Federal de

1988, são estabelecidos marcos legais para a descentralização das ações

governamentais municipais, bem como maior participação da sociedade através de

conselhos municipais, que se ampliam durante a década de 90. Em termos de

indicadores de estrutura institucional, centrou-se na criada para a saúde,

compreendida como componente básico do bem-estar e afetada pelo mesmo, e para

o meio ambiente.

Particularmente no que se refere ao setor saúde na Região do Médio Paraíba,

todos os municípios possuíam secretarias municipais de saúde em 2001. Porém,

esta não é a mesma situação para o meio ambiente (ver Quadro 55). Só sete

municípios (58%) possuíam secretarias em 2001, sendo que destes somente 2

(28%) tratando exclusivamente do meio ambiente. Estes dados são distintos da

situação brasileira, já que no país em 2002 68% dos municípios possuíam estrutura

na área do meio ambiente, sendo que destes, somente quase 9% possuíam

estrutura exclusiva de meio ambiente (IBGE, 2005).

154

QUADRO 55 - CARACTERÍSTICAS DOS CONSELHOS MUNICIPAIS DE SAÚDE E DE MEIO AMBIENTE, SECRETARIAS DE MEIO AMBIENTE E AGENDA 21 LOCAL NA REGIÃO DO MÉDIO PARAÍBA, RIO DE JANEIRO, 2001-2002

 

SECRETARIAS MUNICIPAIS DE MEIO AMBIENTE

CONSELHOS MUNICIPAIS DE SAÚDE CONSELHOS MUNICIPAIS DE MEIO AMBIENTE AGENDA 21 LOCAL

EXIS

TÊN

CIA

DE

SEC

RET

AR

IA

MU

NIC

IPA

L D

E M

EO

AM

BIE

NTE

SEC

RET

AR

IA Ú

NIC

A E

EX

CLU

SIVA

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TE D

E M

EIO

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BIE

NTE

EXIS

TÊN

CIA

DE

CO

NSE

LHO

S M

UN

ICIP

AIS

DE

SAÚ

DE

REA

LIZO

U R

EUN

IÕES

EM

200

1

PER

IOD

ICID

AD

E D

AS

REU

NIÕ

ES

PAR

ITÁ

RIO

EXIS

TÊN

CIA

DE

CO

NSE

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S M

UN

ICIP

AIS

DE

MEO

A

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IEN

TE

REA

LIZO

U R

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IÕES

EM

200

1

PER

IOD

ICID

AD

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REU

NIÕ

ES

PAR

ITÁ

RIO

EXIS

TÊN

CIA

DE

AG

END

A 2

1 LO

CA

L

EXIS

TÊN

CIA

DE

FÓR

UM

D

A A

GEN

DA

21

LOC

AL

BARRA DO PIRAÍ Sim Sim Sim Sim Mensal Sim Sim Sim Irregular Sim Não -

BARRA MANSA Não Não Sim Sim Mensal Sim Sim Não - - Sim SimITATIAIA Sim Sim Sim Sim Mensal Sim Sim Não - - Sim Não

PINHEIRAL Não Não Sim Sim Mensal Sim Não - - - Não -PIRAÍ Sim Não Sim Sim Mensal Sim Não - - - Não -

PORTO REAL Sim Não Sim Sim Mensal Sim Sim Não - - Não -QUATIS Não Não Sim Sim Mensal Sim Sim Não - - Não -

RESENDE Sim Sim Sim SimQuinzenal ou

menos Sim Sim Sim Irregular Sim Sim SimRIO CLARO Sim Não Sim Sim Mensal Sim Não - - - Sim Sim

RIO DAS FLORES Sim Não Sim Sim Mensal Sim Não - - - Sim Não

VALENÇA Não Não Sim Sim Mensal Sim Sim Sim Mensal Não Sim SimVOLTA

REDONDA Não Não Sim Sim Mensal Não Sim Sim Mensal Sim Sim SimFonte: IBGE, 2003 e 2005

No Quadro 56, constatamos que das 4 secretarias municipais de meio ambiente

vinculadas à outras secretarias, 3 se vinculavam à agricultura. Estes dados

demonstram como a estrutura institucional para o meio ambiente ainda é frágil na

Região.Quadro 56 – Estrutura Institucional para o Meio Ambiente

Possui secretaria de municipal de meio

ambiente

Secretaria única e exclusivamente de

meio ambiente

A que secretaria se encontra associada

secretaria municipal ao qual o

departamento ou assessoria se

encontra subordinado

Barra do Piraí ● ○ Agricultura

Barra Mansa ○ - - -

Itatiaia ● ● - -

Pinheiral ○ - - Outra secretaria

Piraí ● - Turismo -

Porto Real ● - - Outra secretaria

Quatis ○ - - Outra secretaria

Resende ● ●Rio Claro ● - Agricultura -

Rio das Flores ● - Agricultura -

Valença ○ - - Agricultura

Volta Redonda ○ - - Outra secretaria

Total de respostas

sim

7 3

Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)Fonte: IBGE, 2005

Os conselhos municipais, ao permitirem ampliar as formas de participação da

sociedade, promovendo novas relações entre estado e sociedade para o tratamento

de problemas como os ambientais e de saúde, acabam sendo vitais para a

democracia e a sustentabilidade. Possibilitam o debate de problemas públicos, a

proposição de soluções, a participação nas tomadas de decisões, a assessoria e o

acompanhamento de processos decisórios e ações governamentais no nível local

(IBGE, 2005).

De acordo com dados do Perfil dos Municípios Brasileiros – Gestão Pública 2001

(IBGE, 2003), no que se refere aos Conselhos Municipais de Saúde (CMS), verifica-

se ainda no Quadro 55, que em 2001 todos os municípios possuíam e realizaram

reuniões pelo menos mensais, sendo paritários, com exceção de Volta Redonda.

Para os Conselhos Municipais de Meio Ambiente (CMMA), oito (67%) possuíam,

157

sendo que somente quatro (50%) eram paritários e realizaram reuniões, sendo que

em dois mensais e nos outros irregulares. No Quadro 57, de acordo com dados do

Perfil dos Municípios Brasileiros – Meio Ambiente 2002 (IBGE, 2005), constatamos

que dos municípios que possuíam CMMA, outras entidades do poder público

estavam presentes em todos os CMMA, vindo em seguida associações de

moradores em 6 e entidades empresariais em 5. Associações ambientalistas e

profissionais estiveram presentes em 4 CMMA e entidades de ensino e pesquisa de

trabalhadores em 2. Em relação ao caráter consultivo ou deliberativo dos CMMA,

somente o de Valença possuía caráter deliberativo. Para o Brasil, em 2001 97% dos

municípios possuíam CMS e destes 86% tiveram reuniões regulares ao longo do

ano, sendo 92% paritários. Em relação aos CMMA em 2001 estavam presentes em

29% dos municípios do país, sendo que destes 69% tiveram reuniões regulares ao

longo do ano, sendo 64% paritários (IBGE, 2003).

Quadro 57: Entidades Representadas nos Conselhos Municipais de Meio AmbienteA B C D E F G H I Total de

respostas sim

Barra do Piraí ● ○ ● ● ○ ● ○ ● ○ 5

Itatiaia ● ● ● ○ ○ ● ○ ○ ○ 4

Piraí ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 1

Porto Real ● ● ○ ○ ● ○ ○ ● 4

Resende ● ● ● ● ● ● ○ ○ ○ 6

Rio das Flores ● ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 1

Valença ● ● ● ● ● ● ○ ● ● 8

Volta Redonda ○ ● ● ● ○ ○ ○ ○ ○ 3

Total de respostas

sim

7 4 6 4 2 5 0 2 2 32

Legenda: A) Outras representações do poder público; B) Associações ambientalistas; C) Associações de moradores; D) Associações profissionais (CREA, OAB, etc.); E) Entidades de ensino e pesquisa; F) Entidade empresarial; G) Entidade religiosa; H) Entidade de trabalhadores; I) Outras entidades.Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)Fonte: IBGE, 2005

A relativa fragilidade dos CMMA associada à uma estrutura institucional ainda

em construção, acabam por insuficientes no sentido da sustentabilidade ambiental

da Região e de redução dos conflitos ambientais presentes na mesma. Conforme

157

158

podemos verificar no Quadro 58, dos conflitos ambientais identificados no Mapa dos

Conflitos Ambientais no Estado do Rio de Janeiro (2004), 9 se relacionaram às

atividades industriais, sendo que a quase totalidade envolvendo a disposição legal e

ilegal de resíduos, demonstrando como o crescimento industrial não vem ocorrendo

sem conflitos que envolvem a degradação ambiental por substâncias químicas. A

ampliação dos CMMA e da participação da sociedade nos mesmos é vital para a

sustentabilidade na Região, mas necessita ser acompanhada do fortalecimento da

estrutura institucional que é ainda frágil para lidar com a complexidade dos

problemas ambientais na Região.

158

Quadro 58 – Conflitos ambientais na Região do Médio ParaíbaMunicipios Classificação

geralClassificação

específica Caso Mês do evento e Denunciante

Atores envolvidos

Breve descrição

Barra do Piraí Ausência de saneamento Vazadouros de lixo Lixão de Piraí

(bairro Cantão)Agosto de 2001Moradores

Ministério Público EstadualPrefeitura Municipal de Barra do PiraíComunidade local

Município mantinha vazadouro de lixo clandestino causando graves danos ambientais e a saúde, resultando em Ação Civil Pública contra a prefeitura. Persistem danos as crianças e adolescentes que auxiliam familiares na catação de lixo.

Itatiaia

Atividades industriais

Disposição não licenciada de resíduos industriais

Xerox do Brasil Abril de 1997FEEMA

FEEMAXerox do BrasilSANIPLAN Engenharia e Administração de Resíduos

No galpão de estocagem de resíduos da Xerox do Brasil foram encontrados70 bombonas contendo capacitores e fontes contaminadas por óleo PCB (Ascarel) que permanecial no local até atingirem um volume que economicamente justificasse o transporte da firma SANIPLAN para o CENTRES no município de Queimados.

Atividades industriais

Disposição não licenciada de resíduos industriais

Reciclagem Sudeste Rio Ltda.

Julho de 2002Ministério Público Estadual

FEEMAMinistério Público EstadualReciclagem Sudeste Rio Ltda.Xerox do BrasilComunidade local

Foram encontrados aproximadamente 15.000 m3 de resíduos provenientes de carcaças de máquinas copiadoras da Xerox do Brasil, espalhados em uma área de 1 hectare, a céu aberto e em contato direto com o solo. Observou-se a presença de água contaminada com resíduos penetrando no solo há mais de 10 anos. Em uma segunda área da planta foram encontradas carcaças de onze tanques de produtos oleosos não identificados, derramando grande quantidade de resíudos no solo. Em uma terceira área (denominada de reciclagem), foram encontrados galões com resíduos oleosos e latas com resíduos de tintas contaminando o solo.

Resende

Atividades industriais

Disposição não licenciada de resíduos industriais

Indústria Química Resende

Fevereiro de 1992Não identificado

FEEMAIndústria Química Resende

Indústria armazenava Ascarel (produto altamente tóxico) sem devida autorização dos órgãos ambientais.

Atividades industriais

Depósito licenciado de resíduos industriais

Aterro Industrial Classe I da BASF

Agosto de 2002Não identificado

FEEMABASF

BASP opera o aterro de resíduos perigosos gerados pela empresa e vem sendo estudados métodos a serem aplicados após a empresa paralisar as atividades no aterro.

Atividades industriais

Poluição do solo / Poluição de corpo hídrico

Contaminação na planta industrial da BASF

Julho de 2002FEEMA

FEEMAConsultoria Fort DodgeBASFEmpresa Novartis Consumer Health

Contaminação do solo e das águas subterrâneas por compostos orgânicos voláteis clorados e não clorados na planta industrial, atingindo área desativada da empresa onde funciona uma Estação de Tratamento de Efluentes e a unidade de óleo de pinho. Pluma de contaminantes alcança o rio Pirapetinga e vem atingindo a área da Empresa Novartis Consumer Health

Volta Redonda Atividades industriais

Disposição não licenciada de resíduos industriais

Sobremetal Recuperação de Metais S.A.

Agosto de 1998Não identificado

Delegacia Móvel do Meio AmbienteFEEMASobremetal Recuperação de

Polícia ambiental foi informada que os resíduos estavam sendo acumulados em poças de líquido branco, com pH básico e agressivo à vegetação, nas margens do Rio Paraíba do Sul.

160

Metais S.A.

Atividades industriais

Poluição atmosférica

Trevol – Petróleo Brasileiro S.A.

Fevereiro de 2000Não identificado

FEEMATrevol – Petróleo Brasileiro S.A.

A empresa alimentava a CSN com gás natural. No dia 14 de fevereiro de 2000 sofreu um acidente, resultando em vazamento de gás, só comunicando à FEEMA 20 horas após.

Atividades industriais

Depósito licenciado de resíduos industriais / Poluição do solo / Poluição de corpo hídrico

Aterro Volta Grande – CSN (bairro do Aterrado)

2000FEEMA

FEEMACSN

Investigação geoambiental detectou a existência de uma pluma de contaminação de Naftaleno na área denominada célula Volta Grande, que recebia resíduos tóxicos Classe I. Rompimento de tubulações que interligavam as 3 caixas coletoras de efluentes, sendo que uma destas localizando-se embaixo de residências de um conjunto habitacional construído sobre o aterro, em terreno cedido pela CSN à sua associação de funcionários, está na origem do problema. CSN adquiriu e demoliu as casas para a retirada das tubulações, desativar as caixas e remover o solo contaminado.Na Unidade Benzol I, que funcionou de 1946 à 1989, e que era responsável pela limpeza de gases de coqueria e a contaminação teve origem em pequenos e contínuos vazamentos nos equipamentos existentes, em falhas operacionais e em vazamentos no próprio tanque de benzol, além do descarregamento, manipulação de produtos e lavagem dos caminhões. Nesta unidade as águas subterrâneas estavam contaminadas por BTEX.Outros 4 aterros industriais estavam sendo desativados em 2002 e investigava-se a qualidade do solo e da água subterrânea.

Atividades industriais

Disposição não licenciada de resíduos industriais

Descarte clandestino de resíduos tóxicos (bairro Aterrado)

Agosto de 2000Quartel Central dos Bombeiros de Volta Redonda

Consultoria Técnica e Comercial Ltda.CHEMETALL do Brasil Ltda.Porter Indústria Química Ltda.Corpo de BombeirosFEEMACETESB

Seis toneladas de resíduos, entre estes grandes quantidades de Éstereato de Sódio, foram lançadas barranco abaixo, em centenas de sacos plásticos de 10 quilos que se romperam e estavam diretamente expostos no solo e a beira do riacho que abastece a cidade. A FEEMA identificou que a CHEMETALL do Brasil Ltda. (Diadema – SP) era a geradora dos resíduos, que foram destinados à empresa COMTECOM em fevereiro de 2000, por intermédio da Porter Indústria Química Ltda (Lorena – SP), que afirma jamais ter recebido 50 toneladas de resíduos pela Porter. Os resíduos e o solo contaminado foram transportados para as instalações da CHEMETALL e ficaram ainda 44 toneladas de resíduos Classe I e II desaparecidos.

160

No Quadro 59, podemos constatar que lei e decreto foram os instrumentos

utilizados para formalizar a A21L e que somente dois municípios, Valença e Volta

Redonda haviam iniciado em 2002 o processo de implementação da mesma,

estando a maior parte em estágio de sensibilização. Em relação aos temas

abordados, importante notar que os temas sociais estiveram em conjunto com os

ambientais em quase todos os municípios, sendo que os econômicos tiveram

também grande presença.

Considerando-se que os municípios integram um sistema socioambiental

complexo, em que as respostas institucionais individuais (secretarias, conselhos, e

A21L) podem afetar positiva ou negativamente os outros e vice-versa, é importante

considerar também a existência de instâncias e ações que integrem os diferentes

municípios. Na RMP existem algumas iniciativas de ações envolvendo os diversos

municípios, das quais destacam-se para o setor ambiental, o Comitê para Integração

da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Ceivap), criado por meio de decreto

em 96, e para o setor saúde o Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Paraíba,

efetivado em 1998 com o objetivo de desenvolver ações organizacionais dos

serviços de saúde, e o Plano Diretor da Regionalização da SES-RJ, que tem por

Quadro 59: Situação da Agenda 21 local nos municípios que iniciaram sua elaboração

Instrumento que formalizou

a Agenda 21 local (Lei,

Decreto ou Resolução)

Ano da lei que formalizou a

Agenda 21 local

Estágio atual da Agenda 21 local

Temas abordados na

Agenda 21 local

Barra Mansa Lei 2001 Sensibilização Ambientais eSociais

Itatiaia

Não identificado Não se aplica Sensibilização Ambientais, Sociais,

Econômicos e outros temas

Resende

Decreto 2001 Diagnóstico/Mobilização

Ambientais, Sociais,

Econômicos e outros temas

Rio Claro Decreto 2002 Sensibilização Ambientais,

Sociais e Econômicos

Rio das Flores Não identificado Não se aplica Sensibilização Outros temas

ValençaLei 2001 Implementação Ambientais,

Sociais e Econômicos

Volta RedondaLei 2001 Implementação Ambientais,

Sociais e Econômicos

Fonte: IBGE, 2005

162

base a Norma Operacional de Assistência à Saúde de 2001 e coloca possibilita

avançar ainda mais na regionalização da assistência à saúde através da

organização e articulação de redes intermunicipais para a oferta e acesso aos

serviços em seus diferentes níveis de complexidade (Castro e Moreira, 2002; SES-

RJ, 2006). Apesar de importantes estas iniciativas, ainda se encontram

desarticuladas e setorializadas e instâncias integrandos o conjunto de municípios,

nos diversos temas, ainda se encontram pouco estruturadas. Conforme podemos

verificar no Quadro 60, chama a atenção o fato de nenhum dos municípios, apesar

da interdependência entre estes, participar de um plano diretor regional, entre

outros, que seria vital para a Região. Fora o CEIVAP, que envolve todos os

municípios, o único que envolve um conjunto maior de municípios (5 no total) é o

uso de recursos naturais, vindo em seguida qualidade da água e disposição de

resíduos domésticos (3 no total) e por fim recuperação de áreas degradadas e

tratamento de esgoto urbano. Quadro 60: A Prefeitura Participa dos Seguintes Consórcios e Comitês de Bacias Hidrográfica

A B C D E F G H I J K L M Total de respostas

simBarra do Piraí ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● 1

Barra Mansa ○ ● ○ ○ ○ ● ○ ○ ○ ● ○ ○ ● 4

Itatiaia ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ● ○ ● ● 4

Pinheiral ● ● ○ ○ ○ ● ● ○ ● ● ○ ○ ● 7

Piraí ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ● 2

Porto Real ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● 1

Quatis ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● 1

Resende ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● 1

Rio Claro ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ● 2

Rio das Flores ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● 1

Valença ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● 1

Volta Redonda ○ ● ○ ○ ○ ● ○ ○ ● ● ○ ○ ● 5

Total de respostas

sim

1 3 0 0 0 3 2 0 2 5 0 2 12 30

Legenda: A) Deslizamento de encostas; B) Disposição de resíduos sólidos domésticos; C) Enchentes; D) Planos diretores locais e regionais; E) Presença de vetor de doenças; F) Qualidade da água; G) Recuperação de áreas degradadas; H) Sistema de captação de distribuição de água potável; I) Tratamento de esgoto urbano; J) Uso de recursos naturais; K) Zoneamento ecológico-econômico regional; L) Outros; M) Comitê de Bacia Hidrográfica.Legenda de símbolos: ● (sim); ○ (não)Fonte: IBGE, 2005

162

163

Considerações FinaisConforme observamos na introdução deste relatório, o objetivo deste projeto foi, a

partir da reunião de informações diversas (um dos pressupostos para a adoção de

enfoques ecossistêmicos no WRI) e de fácil acesso para pesquisadores e o público

em geral, oferecer subsídios para a construção de indicadores de sustentabilidade

ambiental e de saúde em perspectiva ecossistêmica que permitam responder as

duas primeiras perguntas do grupo 1 (condições e tendências) presentes na

estrutura conceitual do MEA, tendo como base territorial de referência é a Região do

Médio Paraíba, composta por 12 municípios:

Em primeiro lugar, ficou evidente na primeira parte deste artigo que ainda é baixa

a produção científica expressa na forma de artigos que tratem de considerar a

interface ecossistemas e saúde humana, sendo ainda menor a que procura integrar

esta interface através do desenvolvimento de enfoques ecossistêmicos em saúde.

Em segundo lugar, é importante se observar que sobre o nome geral de enfoques

ecossistêmicos temos relevantes diferenças entre ambos. A ASE é eficiente no

aspecto comunicacional ao utilizar a metáfora do ecossistema como um paciente.

Permite sensibilizar grande parte do público sobre as inter-relações entre saúde e

ambiente. Entretanto, esta mesma metáfora, por outro lado, tende a aprisionar a

compreensão da saúde aos aspectos predominantemente biomédicos. Além do

mais, embora neste enfoque a ASE se preocupe em definir quatro dimensões, entre

estas a sócio-econômica, não demonstra de forma clara como trabalhá-las de

maneira integrada, mantendo ainda a dicotomia sociedade-natureza. Porém,

avança bastante na proposição de atributos à serem investigados para avaliar a

saúde dos ecossistemas, quando define os oito critérios fundamentais. Estes

critérios apresentam o grande potencial de se constituírem como indicadores

ecossistêmicos para avaliações, diagnósticos e estratégias de monitoramento. Parte

destes critérios se encontram presentes na estrutura conceitual do MEA que foi a

base conceitual deste relatório.

Em terceiro lugar vimos o quanto o debate sobre indicadores de sustentabilidade

vem crescendo e se ampliando, mas como ainda são poucas as interfaces entre os

de saúde e ambiente, assim como os aspectos sociais e econômicos ainda são

tratados de modo fragmentado, sendo a situação pior nos indicadores de saúde

utilizados no nível global, limitando-se aos gastos com saúde.

163

164

Por fim, vimos que, apesar das poucas informações ambientais, há o potencial de

se avançar em relação aos indicadores em perspectiva ecossistêmica, reunindo um

conjunto de informações sobre municípios integrantes da Região do Médio Paraíba,

de modo a indicar condições e tendências da sustentabilidade ambiental e do bem-

estar, compreendendo a saúde como componente deste.

Através de um conjunto de dados, indicadores e índices sobre as condições

socioeconômicas, ambientais e de bem-estar, assim como sobre a estrutura

institucional para a sustentabilidade procurou-se demonstrar como forças motrizes

diretas e indiretas vem, desde o século XIX extensivamente e intensivamente

contribuindo para a degradação nos serviços dos ecossistemas. Se a economia e a

população cresceram na Região, assim como a expectativa de vida aumentou e a

mortalidade infantil diminuiu, isto não representa que este processo seja sustentável,

pois vem ocorrendo de modo desigual e com tendências de degradação

socioambiental que ainda não encontram barreiras suficientes na estrutura

institucional vigente, potencializando efeitos modulados, mediados e falhas no

sistema socioambiental, resultando em doenças, agravos à saúde e restrições ao

bem-estar.

As limitações deste relatório se relacionam aos próprios limites das informações

disponíveis, principalmente ambientais no nível municipal, onde ainda é bastante

incipiente a disponibilidade de indicadores de sustentabilidade, particularmente

sobre ecossistemas e seus serviços. Além disto, deve-se considerar também que a

maioria das informações disponíveis, apesar de possuírem potencial representativo

para a sustentabilidade, foram desenvolvidas com outros objetivos: sociais,

ambientais, econômicos e de saúde.

Outra limitação se relaciona ao insuficiente diálogo entre os setores ambiental e

saúde para a construção conjunta de indicadores. Quando os indicadores

ambientais incorporam aspectos de saúde, acabam por, de modo geral, limitar-se

aos de mortalidade infantil e expectativa de vida ao nascer. Quando os indicadores

de saúde incorporam aspectos ambientais, restringem-nos aos temas como

qualidade da água para consumo humano e saneamento, basicamente acesso à

rede de esgotamento sanitário e coleta de lixo, mantendo o paradigma ambiental do

higienismo do século XIX. Quanto as informações sociais e econômicas estas ainda

são tratadas de modo fragmentado pelos setores saúde e ambiente.

164

165

Estas limitações devem ser compreendidas como desafios para a construção de

indicadores de sustentabilidade que permitam verificar condições atuais, tendências

de evolução temporal e distribuição espacial dos processos de mudanças

socioambientais que podem resultar em transformações ambientais e alterações nos

serviços dos ecossistemas, afetando positivamente ou negativamente a saúde e o

bem-estar humano.

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