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Ter consciência de que é necessário inovar não basta. É preciso partir para a ação – rapidamente. A XII Conferência Anpei vai mostrar que a inovação é a prática que pode garantir às empresas brasileiras sobrevivência no mercado local e competitividade na economia globalizada. Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras ANO XVIII - Nº 3 - mai/jun 2012 Esforço coletivo Para Marco Antonio Raupp, ministro da C,T&I, (foto) governo, empresas e instituições de ciência e tecnologia já entenderam que precisam somar forças para que o Brasil tenha sua economia baseada na inovação. Páginas 8 e 9 Hora de inovar Capital da inovação: Joinville abrigará programação densa e variada. Página 3 Desafio: reverter balança comercial dos produtos de alta tecnologia. Páginas 4 e 5 Olhares de fora: XII Conferência terá quatro palestrantes internacionais. Página 7 Segredos revelados: serão apresentados 38 cases de inovação. Páginas 10 e 11 Pari passu: Santa Catarina também realiza sua Conferência de C,T&I. Página 12 Nanotecnologia da vasilha à esquerda protege tomate contra bactérias Nanobactericida Empresa Nanox, de São Carlos (SP), já exporta para México e Itália sua linha de produto antimicrobiano a base de prata, e agora entra no mercado chinês. Páginas 14 e 15 LIDERAR INOVAÇÃO SEGUIR QUEM INOVA Patentes estimulam a economia Artigo de Jorge Avila, do INPI, e Carlos Calmanovici, da Anpei. Página 16

Engenhar ediçao junho-2012

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Ter consciência de que é necessário inovar não basta. É preciso partir para a ação – rapidamente. A XII Conferência Anpei vai mostrar que a inovação é a prática que pode garantir

às empresas brasileiras sobrevivência no mercado local e competitividade na economia globalizada.

Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento

das Empresas Inovadoras

ANO XVIII - Nº 3 - mai/jun 2012

Esforço coletivo Para Marco Antonio Raupp, ministro da C,T&I, (foto) governo, empresas e instituições de ciência e tecnologia já entenderam que precisam somar forças para que o Brasil tenha sua economia baseada na inovação. Páginas 8 e 9

Hora de inovar

Capital da inovação: Joinville abrigará programação densa e variada. Página 3

Desafio: reverter balança comercial dos produtos de alta tecnologia. Páginas 4 e 5

Olhares de fora: XII Conferência terá quatro palestrantes internacionais. Página 7

Segredos revelados: serão apresentados 38 cases de inovação. Páginas 10 e 11

Pari passu: Santa Catarina também realiza sua Conferência de C,T&I. Página 12

Nanotecnologia da vasilha à esquerda protege tomate contra bactérias

NanobactericidaEmpresa Nanox, de São Carlos (SP), já exporta para México e Itália sua linha de produto antimicrobiano a base de prata, e agora entra no mercado chinês. Páginas 14 e 15

LIDERAR INOVAÇÃO

SEGUIR QUEM INOVA

Patentes estimulam a economia

Artigo de Jorge Avila, do INPI, e Carlos Calmanovici, da Anpei. Página 16

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Presidente Carlos Eduardo Calmanovici Vice-presidente Guilherme Marco de Lima Diretores Bruno Bragazza, Celso Antonio Barbosa, Fábio Lopes Bueno Netto, Jaylton Moura Ferreira, Luciana Hashiba, Luis Cláudio Silva Frade, Marli Elizabeth Ritter dos Santos, Martín Izarra, Oscar Chamberlain Pravia, Oto Morato Álvares, Ronald Martin Dauscha, Sebastião Lauro Nau.

Secretário-executivo Naldo Medeiros Dantas

Conselho editorialAna Paula AndrielloNaldo DantasRicardo Magnani

Editora Angela Trabbold

Repórter Janaína Simões

Design gráfico/Editoração Antonio Carlos Prado

Engenhar é uma publicação da Anpei, com produção editorial e gráfica da Acadêmica Agência de Comunicação (www.academica.jor.br). É permitida a reprodução de reportagens e artigos, desde que citada a fonte. Os pontos de vista expressos nos artigos não refletem necessariamente a posição da Anpei.

Anpei – Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas InovadorasRua Helena, 170, cj. 134. | 04552-050, São Paulo, SPFone (11) 3842-3533 | Fax (11) [email protected] | www.anpei.org.br

EDITORIAL

Não haverá pré-sal sem inovação. Nem vice-versa.Carlos Eduardo Calmanovici,Presidente da Anpei

A inovação é essencial para qualquer país que deseja

acelerar seu processo de desenvolvimento com crescimento

sustentável e melhoria da distribuição de renda. No Brasil,

o quadro da inovação revela uma situação intermediária,

que não atende nossas ambições de desenvolvimento

econômico e não é coerente com a importância da

economia brasileira no mundo.

O pré-sal é um bom exemplo dessa situação, uma vez

que suas reservas só estarão acessíveis economicamente

se as tecnologias necessárias forem colocadas à disposição

da cadeia de óleo e gás. Contudo, somente a inovação,

entendida como incorporação e operacionalização de

conhecimento pelo setor produtivo, poderá assegurar a

eliminação da defasagem tecnológica de parte da nossa

indústria supridora de materiais, equipamentos e serviços.

Para tanto, a ANP deve ampliar, na sua regulamentação,

o leque de possibilidades de investimentos em P&D para

empresas nacionais da área do petróleo que apresentem

projetos específicos ou tecnológicos para a obtenção de

produtos ou processos inovadores. Assim, capacitaremos

as empresas brasileiras de bens e serviços, incrementando

efetivamente a geração de tecnologia diretamente

relacionada ao desenvolvimento do setor. Essa

abordagem exige a alteração de alguns regulamentos

para permitir que, além das universidades e institutos

de pesquisas, as empresas brasileiras da indústria do

petróleo também possam ser credenciadas junto à ANP,

assegurando, assim, um regulamento que contemple

todo o ciclo da inovação de forma mais equilibrada.

Percebe-se, assim, uma via de mão dupla entre

inovação e pré-sal. A exploração plena das reservas

do pré-sal com real criação de riqueza nacional depende

de investimentos consistentes e regulares em inovação

e tecnologia. Mas, para que o círculo virtuoso ocorra, é

fundamental que a riqueza gerada pelo pré-sal seja revertida,

pelo menos em parte, diretamente para atividades inovativas.

Assim, torna-se imprescindível antecipar os impactos do novo

marco regulatório do pré-sal no sistema de financiamento

à inovação tecnológica para as empresas, particularmente

a indústria do petróleo. Temos que garantir a inserção de

mecanismos de financiamento na regulamentação dos

contratos de partilha (royalties e cláusula de investimentos em

P,D&I), inclusive prevendo o financiamento direto às empresas

inovadoras. O sistema deve garantir também a manutenção

dos recursos atualmente destinados ao Fundo Setorial do

Petróleo, o CT-Petro, decorrentes de percentuais tanto dos

contratos de concessão como dos royalties decorrentes da

exploração do petróleo. O CT-Petro foi excluído da partilha

dos royalties do petróleo com a aprovação do PLS 448/2011

pelo Senado. De volta à Câmara dos Deputados, o relator do

Projeto, o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), restabeleceu no

texto (agora com o nº 2.565/2011) o percentual destinado

ao CT-Petro. A decisão, portanto, está agora nas mãos dos

parlamentares e, em última instância, da presidente Dilma

Rousseff.

É hora também de quebrarmos barreiras burocráticas e

ideológicas que impedem o acesso das empresas a recursos

públicos (CT-PETRO entre outros) e privados (recursos das

operadoras para cumprir cláusulas contratuais com a ANP),

inclusive recursos não reembolsáveis. Devemos estimular a

criação e o fortalecimento de cadeias produtivas robustas

com base em empresas inovadoras.

3

Hora decisivaXII CONFERÊNCIA ANPEI

Conferência Anpei vai discutir a necessidade de inovar para

competir globalmente e sobreviver no mercado local.

Apesar da recente fase de crescimento econômico e da pujança do mercado interno brasileiro, o quadro é preocupante. O Brasil passa por um período de elevada importação e déficit crescente na balança comercial de produtos de alta intensidade tecnológica. As empresas brasileiras precisam adotar já a estratégia da inovação como forma de sobreviver e competir globalmente. (Veja mais nas páginas 4 e 5)

Esse é o pano de fundo que vai emoldurar a progra-mação da XII Conferência Anpei de Inovação Tecnológi-ca, que será realizada de 11 a 13 de junho, em Joinville, Santa Catarina. A Anpei espera a participação de mil pessoas nos três dias do evento.

A manhã do dia 11 será dedicada exclusivamente às micro e pequenas empresas, com um workshop or-ganizado pelo Sebrae. Serão diversas atividades, com palestras, oficinas e cases, para mostrar às MPEs por que e como inovar. A programação da tarde começa com um espetáculo de 20 minutos de dança clássica e con-temporânea da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, que tem sede em Joinville.

Na sequência, ocorrerá a solenidade de abertura, com as presenças já confirmadas do ministro da Ciên-cia, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, e do governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo. A presidente Dilma Rousseff também foi convidada.

Segundo Mario Barra, coordenador técnico da XII Conferência, a programação foi trabalhada em blocos, que tratam de assuntos relacionados ao tema central Inovar Agora: competição global e sobrevivência local. “Um dos blocos mostrará onde as empresas acertam e erram para conseguir implementar inovações no dia a dia”, informa Barra. “Para isso, haverá apresentação de

38 cases, em sessões simultâneas e plenárias, em um ambiente de interação e compartilhamento de práti-cas”. (Veja páginas 10 e 11)

Ainda no sentido de promover a troca de conheci-mento e experiências, haverá um espaço de interação com grandes empresas, por meio de palestras de pre-sidentes de companhias reconhecidamente inovadoras, como o Grupo Ultra, a WEG e a Whirlpool. Eles falarão das dificuldades, barreiras e caminhos para obter suces-so em inovação.

Uma das palestras mais aguardadas é a de Dan Tapscott, presidente do Moxie Insight e professor da Universidade de Toronto, no Canadá. “Ele é um dos 50 principais keynote speakers do mundo quando se trata de inovação”, ressalta Barra. Os outros pales-trantes internacionais são Annalisa Primi, da Orga-nização para Cooperação e Desenvolvimento Econô-mico (OCDE), Gennaro Gama, da Universidade da Georgia, e Paul Germeraad, da Intellectual Assets. Eles vão falar de indicadores em P,D&I, relação uni-versidade-empresa e propriedade intelectual, respec-tivamente. (Veja página 7)

Outro bloco da Conferência se refere à interação com as agências e mecanismos de fomento, canais para facilitar a inovação. Palestrantes do Senai, da Embrapii, do BNDES e da Finep estarão presentes para falar do apoio aos investimentos em inovação. Também foi orga-nizado um painel sobre venture capital, angel investor e seed money.

O governo de Santa Catarina vai aproveitar a rea-lização da XII Conferência Anpei para, de forma con-comitante, fazer sua Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação. (Veja página 12)

Abrangência nacional:

a XI Conferência Anpei foi realizada

em Fortaleza, CE. Santa Catarina

recebe o evento pela segunda vez.

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É preciso acelerar o passoXII CONFERÊNCIA ANPEI

Indústria exporta menos e enfrenta maior

concorrência dos importados no mercado

interno. Inovar agora é o caminho para

reverter a situação.

A produção da indústria de transformação em 2011 cresceu apenas 0,2% na comparação com 2010. Esse dado, levantado pelo Instituto de Estudos para o Desen-volvimento Industrial (IEDI), traz como aspecto positivo o fato de as atividades de alta intensidade tecnológica terem tido um crescimento da produção, o que con-trabalançou, em parte, a retração no desempenho das atividades de baixa intensidade tecnológica no ano pas-sado. A má notícia está no fato de que o mercado local vem sendo cada vez mais abastecido por produtos de maior intensidade tecnológica que vêm do exterior. A inovação não foi brasileira.

Segundo o estudo do IEDI sobre a desaceleração da indústria em 2011, a produção das empresas de alta intensidade tecnológica cresceu 2,2%. O segmento de média-alta cresceu 0,4%; o de média-baixa aumentou 0,7% comparado a 2010. A produção da indústria de baixa intensidade tecnológica declinou em 1,2%. Já o déficit do setor de alta intensidade tecnológica au-mentou de US$ 26,2 bilhões para US$ 30 bilhões entre 2010 e 2011. No setor de média-alta, o déficit saiu de US$ 39 bilhões para US$ 52,4 bilhões no período.

Em 2011, o comércio exterior dos bens típicos da indústria de transformação foi deficitário em US$ 48,7 bilhões, valor 40,2% superior ao registrado em 2010, segundo outro estudo do IEDI – “O Comércio Exterior Brasileiro em 2011”. A participação dos produtos indus-triais nas exportações chegou a 57,8% – no ano 2000 era 81,3% –, ou seja, prossegue a “commoditização” da pauta exportadora. Mais agravante ainda, para o IEDI, é que mesmo na pauta de exportação das commodities se observa um aumento da participação de produtos de menor valor agregado.

Pano de fundoEsse quadro é o pano de fundo das discussões que

serão travadas na XII Conferência Anpei, cujo tema é “Inovar agora: competição global e sobrevivência lo-cal”. O encontro vai reunir representantes dos setores empresarial, acadêmico e de governo em Joinville (SC), entre os dias 11 e 13 de junho, para discutir como o País pode acelerar o passo no sentido de se tornar uma economia mais baseada em inovação.

Carlos Calmanovici, presidente da Anpei, destaca que o indicador mostra que a indústria está reagindo, com ajuda das políticas públicas, mas a reação não acompanhou o dinamismo da economia. “Tivemos oportunidade para um aumento muito maior”, apon-ta. “Não podemos comparar mais Brasil com Brasil, o País está num contexto global, opera num mercado concorrido, então é preciso ver o que ocorre lá fora”, diz. “Nossa economia está ocupando as primeiras posi-ções, mas, em termos de inovação, estamos sempre em posição intermediária nas comparações internacionais. Independentemente dos critérios, o País aparece nos rankings de inovação em 38º lugar, 45º lugar”, ressalta.

“Precisaríamos de uma evolução maior. Outros países, inclusive de renda média, estão tendo avanço maior do que o nosso. Isso é preocupante”, alerta. Chi-na, Índia e Coreia são exemplos de países que avançam mais rapidamente. “Nesse sentido, a XII Conferência Anpei vai alertar para o fato de que a inovação confere competitividade estrutural às empresas e aos países, e se processa na operação do dia a dia das empresas”, prossegue.

“O aumento da competição, as condições mais di-fíceis para as empresas operarem no Brasil e a pressão de produtos importados tornam mais importante do que nunca a criação de produtos melhores, de custo mais baixo, de melhor performance e mais sustentáveis”, enumera Pedro Wongtschowski, presidente do Conse-lho Superior da Anpei e do Grupo Ultra.

Para ele, não há mais tempo a perder. “A mensa-

Carlos Calmanovici: “Não podemos comparar mais Brasil com Brasil, o País está num contexto global”.

5

É preciso acelerar o passoXII CONFERÊNCIA ANPEI

gem da Conferência é clara: o caminho para a criação [de produtos, processos e serviços] é a inovação”, completa. “Quem não inovar vai, inexoravelmente, perder mercado, perder rentabilidade ou perder mer-cado e rentabilidade”, aponta, dizendo que a opção de não inovar pode representar até a não sobrevivên-cia da empresa.

Questão de sobrevivênciaOutros fatores que inibem os investimentos, apontados

no estudo do IEDI, ainda persistem: o custo do capital, da mão de obra especializada, tributação complexa, gargalos logísticos e infraestrutura deficiente. É possível para as em-presas fazer inovação nesse contexto? “O que determina ino-vação é a demanda de mercado. Já a velocidade, o tipo de inovação, o grau de ousadia de uma empresa podem ser afe-tados por um contexto mais ou menos favorável”, responde Calmanovici. “Inovação é atividade de risco e tudo que for feito para reduzi-lo viabiliza os investimentos em inovação”, completa.

Ele explica, ainda, que as empresas se tornam efetiva-mente inovadoras quando percebem que o risco de não ino-var é maior do que o risco da atividade de inovação. “Temos no Brasil empresas extremamente inovadoras que fizeram essa opção anos atrás e hoje lideram os respectivos segmen-tos, e elas, de certo modo, sustentam o processo de inovação no Brasil”, afirma.

Guilherme Marco de Lima, vice-presidente da Anpei e coordenador geral do evento, lembra que, além da maior im-portação de produtos de alto valor agregado, o País enfrenta uma competição mais acirrada no próprio mercado interno. Se a situação não for revertida, a vocação brasileira tende a ser cada vez mais focada na produção de commodities.

“Se nossa vocação é essa, vamos trabalhar nisso, focar a inovação em commodities. Mas vejo que o Brasil tem con-dições e deveria buscar posição de destaque maior nos seg-mentos de alta e média-alta intensidade tecnológica para ser efetivamente competitivo”, acrescenta.

“Há quem pense que inovar é uma estratégia para a com-petição extramuro. Enquanto isso, os concorrentes estão vin-do para o Brasil com uma base de competitividade calcada na inovação, o que faz com que nossas empresas percam espaço no mercado interno”, contrapõe. “Cadeias produtivas no Brasil que se sustentaram apenas na exploração do mer-cado nacional estão agora competindo, dentro de casa, com concorrentes de diversos países que colocaram a inovação como estratégia de negócio”, aponta.

Inovação na práticaGuilherme Lima também fala da necessidade de impri-

mir mais velocidade ao Brasil no que se refere à inovação. “Mas, infelizmente, não sinto que nós, como país – e falo do governo, do setor acadêmico e do setor empresarial –, entendemos isso. Não dá mais para discutirmos se inova-ção ocorre na universidade ou na empresa ou os cortes do orçamento do MCTI [Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação], precisamos realmente colocar inovação no cerne da questão, atuar de verdade, porque o curto prazo vai ser ainda mais impactado”, prevê.

O vice-presidente da Anpei conta também que persiste em algumas empresas a ideia de que inovar é assunto da academia. “Se essa situação tivesse sido superada, usarí-amos melhor a base mínima de apoio à inovação instala-da no País. Temos muito por fazer, mas já contamos com incentivos fiscais automáticos, recursos reembolsáveis subsidiados, ferramentas de estímulo à cadeia produtiva, ferramentas pouco ou nada exploradas”, argumenta.

Para ele, o momento é de avançar nas discussões. “Os gargalos relacionados ao chamado custo Brasil existem e precisamos avançar muito em termos de com-petitividade macro para conseguir ter nível maior de atuação internacional”, comenta. “Mas há um espaço de atuação que depende só do setor privado, que pre-cisa investir para ter maior competitividade: olhar para dentro da empresa, identificar instrumentos de fomento, incentivos fiscais e ferramentas de cooperação com uni-versidade, entre outros mecanismos que podem ajudar a sermos mais competitivos”, recomenda. “Se não ino-var agora, a competição global, a sobrevivência local estão em cheque. Se o empresário não se mover, o caos está estabelecido”, finaliza.

Pedro Wongtschowski: “Quem não inovar,

vai, inexoravelmente, perder mercado,

perder rentabilidade, ou perder mercado e

rentabilidade”.

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XII CONFERÊNCIA ANPEI

Hora 11/6/2012Segunda-feira

12/6/2012Terça-feira

13/6/2012Quarta-feira

8h Credenciamento Credenciamento

9h

Workshop Oportunidades para MPES sobre o tema “Inovar agora: competição global e sobrevivência

local”

Facilitadores da inovação: SENAI

Cases Sessões simultâneas Salas I, II, III e IV

9h30Palestra A urgência da inovação

nas MPEs

Palestra internacional “Propriedade intelectual: oportunidades de negócios com tecnologias não

patenteadas”

10h30 Cases Incubadora Midi TecnológicoCases Comitê Anpei Gestão de

Propriedade IntelectualCoffee Break

11hCases ALI - Agentes Locais de

InovaçãoCoffee Break

Palestra internacional “Parceira Universidade-

Empresa - catalisador de inovações locais, nacionais e

globais”

11h30 Coffee Break Palestra internacional OCDE “Indicadores de desempenho e referências comparativas de

inovações em países emergentes x Brasil”

12hCases Sebraetec (design

de embalagem)Comitê Anpei Interação Universidade-Empresa

12h30 Cases Consultoria Tecnológica SebraeCases Comitê Anpei Gestão de

Indicadores de P&DBrunch

13hBrunch Brunch

13h30

14h Credenciamento Facilitadores da inovação: EMBRAPII

Cases Sessões simultâneas Salas I, II, III e IV

14h30 Abertura Ballet Bolshoi Palestra Internacional “Desafios do mundo contaminado pela inovação e

pela globalização”15h Solenidade de abertura

16hMesa de abertura Depoimentos

dos atores da inovação Workshop Investimentos privados de

risco com foco em inovações Conclusões do evento e leitura da carta de Joinville

17h Coffee Break Coffee Break

17h30 Debate Inovar agora: competição global e sobrevivência local

Case WEG Equipamentos Elétricos S.A.

Conclusões da Conferência Estadual: Ciência, Tecnologia e

Inovação

18h Case Whirlpool Latin America

19h Coquetel de abertura Case Magneti Marelli Cofap

19h30 Confraternização e networking

Veja a programação completa da XII Conferência Anpei de Inovação Tecnológica

7

Olhares de foraXII CONFERÊNCIA ANPEI

XII Conferência Anpei terá quatro especialistas

estrangeiros, como Don Tapscott – um dos principais

pensadores em gestão de negócios do mundo.

O keynote speaker da XII Conferência Anpei, Don Tapscott, tem assessorado líderes de empresas e governos do mundo inteiro no que se relaciona à inovação, novas tecnologias e à geração digital. Considerado um dos 50 principais pensadores em gestão de negócios do mundo pelo site Thinkers50.com, Tapscott é presidente do Moxie Insight, um grupo interdisciplinar de estudos sobre inova-ção, e professor-adjunto de Administração de Negócios da Joseph L. Rotman School of Management, Universidade de Toronto, no Canadá.

Tapscott já fez mais de 400 apresentações em even-tos nos últimos cinco anos e é reconhecido internacio-nalmente por sua capacidade de identificar como novas tecnologias serão impulsionadoras de negócios futuros e por apresentar definições de modelos de negócios e es-tratégias para se obter sucesso nesses negócios. Na XII Conferência Anpei, ele vai apresentar o tema “Desafios do mundo contaminado pela inovação e pela globalização” no dia 12 de junho.

Formado em Psicologia e Estatística, mestre em edu-cação pela Universidade de Alberta, no Canadá, Tapscott é autor e coautor de 14 livros. O mais recente é “Grown Up Digital”, ou “A Hora da Geração Digital”, título em português. Também é criador do “Wikinomics: How Mass Collaboration Changes Everything”, publicado no Brasil com o título “Wikinomics: Como a Colaboração em Mas-sa Pode Mudar seu Negócio”, livro traduzido para mais de 25 idiomas e o mais vendido em 2007 em sua categoria. Ele também é membro do Fórum Econômico Mundial.

“Tapscott vai trazer uma visão muito interessante sobre aspectos relacionados ao tema da XII Conferência Anpei – Inovar Agora”, destaca Guilherme Marco de Lima, vice-presidente da Anpei e coordenador geral do evento. “Ele trará um olhar para o público jovem e como é a interação hoje com essa nova dinâmica de mercado, com a presen-ça da Internet 2.0, das redes sociais”, conta.

Indicadores, parcerias e PI Além de contar com o canadense Don Tapscott como

keynote speaker, a Anpei traz os palestrantes Annalisa Primi, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Eco-nômico (OCDE), Gennaro Gama, da Universidade da Geor-gia, e Paul Germeraad, da Intellectual Assets. Eles vão falar sobre indicadores de P&D, interação universidade-empresa e gestão de propriedade intelectual, respectivamente, temas relacionados aos comitês temáticos da Anpei. Cada palestra será ilustrada com um case. (Veja página 10)

Annalisa Primi é economista da OCDE, responsável pela análise de políticas relacionadas com inovação e desenvol-vimento industrial. Suas áreas de especialização compreen-dem análise das dinâmicas de inovação, política industrial e propriedade intelectual, aconselhamento e assistência téc-nica a governos nesses assuntos. Ela vai falar no dia 12 de junho sobre “Indicadores de desempenho e referências com-parativas de inovações em países emergentes e no Brasil”.

Gennaro Gama é gerente sênior de Tecnologia da Fun-dação de Pesquisa da Universidade da Georgia, dos Estados Unidos. Também é membro do Comitê Executivo do Insti-tuto de Pesquisa de Sistemas de Bioenergia da UGA, força tarefa da Universidade da Georgia que abrange seu portfólio de pesquisas relacionadas com biocombustíveis e bioener-gia. Ele vai apresentar no dia 13 de junho o tema “Parceria universidade-empresa – Catalisador de inovações locais, na-cionais e globais”.

Paul Germeraad é presidente da Intellectual Assets, Inc., empresa de consultoria em gerenciamento, especializada em integração de negócios, P&D e processos envolvendo pro-priedade intelectual. Ele também já presidiu sessões e deba-tes do Industrial Research Institute (IRI), entidade coirmã da Anpei nos Estados Unidos, e é vice-presidente da Licensing Executive Society (LES) International. Germeraad falará sobre o tema “Propriedade intelectual: oportunidades de negócios com tecnologias não patenteadas”, no dia 12 de junho.

Tapscott, Primi, Gama e Germeraad: referências em suas especialidades

Hora 11/6/2012Segunda-feira

12/6/2012Terça-feira

13/6/2012Quarta-feira

8h Credenciamento Credenciamento

9h

Workshop Oportunidades para MPES sobre o tema “Inovar agora: competição global e sobrevivência

local”

Facilitadores da inovação: SENAI

Cases Sessões simultâneas Salas I, II, III e IV

9h30Palestra A urgência da inovação

nas MPEs

Palestra internacional “Propriedade intelectual: oportunidades de negócios com tecnologias não

patenteadas”

10h30 Cases Incubadora Midi TecnológicoCases Comitê Anpei Gestão de

Propriedade IntelectualCoffee Break

11hCases ALI - Agentes Locais de

InovaçãoCoffee Break

Palestra internacional “Parceira Universidade-

Empresa - catalisador de inovações locais, nacionais e

globais”

11h30 Coffee Break Palestra internacional OCDE “Indicadores de desempenho e referências comparativas de

inovações em países emergentes x Brasil”

12hCases Sebraetec (design

de embalagem)Comitê Anpei Interação Universidade-Empresa

12h30 Cases Consultoria Tecnológica SebraeCases Comitê Anpei Gestão de

Indicadores de P&DBrunch

13hBrunch Brunch

13h30

14h Credenciamento Facilitadores da inovação: EMBRAPII

Cases Sessões simultâneas Salas I, II, III e IV

14h30 Abertura Ballet Bolshoi Palestra Internacional “Desafios do mundo contaminado pela inovação e

pela globalização”15h Solenidade de abertura

16hMesa de abertura Depoimentos

dos atores da inovação Workshop Investimentos privados de

risco com foco em inovações Conclusões do evento e leitura da carta de Joinville

17h Coffee Break Coffee Break

17h30 Debate Inovar agora: competição global e sobrevivência local

Case WEG Equipamentos Elétricos S.A.

Conclusões da Conferência Estadual: Ciência, Tecnologia e

Inovação

18h Case Whirlpool Latin America

19h Coquetel de abertura Case Magneti Marelli Cofap

19h30 Confraternização e networking

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“Inovação é um esforço de todos”ENTREVISTA

Físico formado pela UFRGS e PhD em Matemática pela Universidade de Chicago, além de livre-docente pela USP, Marco Antonio Raupp, 73, assumiu o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em janeiro deste ano, pouco antes de ser anunciado um corte de 23% no orçamento da pasta. Gaúcho de Cachoeira do Sul, Raupp foi diretor de várias ICTs, a exemplo do Laboratório Nacional de Computação Científica, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e do Parque Tecnológico de São José dos Campos. Antes de assumir o Ministério, presidiu a Agência Espacial Brasileira por quase um ano. Nesta entrevista ao Engenhar, ele fala sobre os principais desafios à frente da pasta, um deles, o de encontrar novas fontes de recursos para executar as macrometas da Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.

O seu Ministério ganhou a palavra “inovação” há cerca de um ano. O que isso introduziu de novo na vida do Ministério?

Reforçou o nosso compromisso de colocar a tríade ciên-cia, tecnologia e inovação como protagonista do desenvolvi-mento brasileiro em bases modernas e sustentáveis. Até um determinado momento, a produção científica e tecnológica bastava como elemento necessário ao País para o desenvol-vimento de seu sistema acadêmico de pesquisa e para atuali-zação do ensino de graduação e pós-graduação. Agora, está mais do que claro que a ciência e a tecnologia devem servir para fins, digamos, utilitários, que podem ser traduzidos em geração de inovações tecnológicas. Não dá mais para ficar aumentando nosso estoque de conhecimentos científicos e tecnológicos e não mobilizá-lo em prol do desenvolvimento econômico e social do País. Foi com essa preocupação que o Ministério definiu, no decorrer do ano passado, na gestão de meu antecessor, Aloizio Mercadante, a Estratégia Nacio-nal de Ciência, Tecnologia e Inovação. As seis macrometas da ENCTI estão focadas no aumento das atividades de P&D.

Quais são essas macrometas?A primeira delas é aumentar os investimentos em P&D

para 1,8% do PIB, sendo em 0,90%, de dispêndio empresa-rial e o mesmo montante do setor público. Outra é aumentar em 10% a taxa de inovação – em 2008 era 38,6% – e chegar a cinco mil o número de empresas que fazem P&D continu-amente. Pretendemos dobrar o número de empresas que fa-zem uso dos incentivos fiscais previstos na Lei do Bem, além de aumentar em 30% o número de empresas que utilizam os instrumentos do governo de apoio à inovação. O MCTI

Raupp: Precisamos formular um novo modelo de financiamento às atividades de ciência, tecnologia e inovação.

está se mobilizando para realizar plenamente a Estratégia de modo a dar consecução às suas macrometas.

O senhor pode dar exemplo dessa mobilização?Posso dar vários exemplos, mas quero destacar dois: a

nossa busca por um novo modelo de financiamento das ati-vidades de ciência, tecnologia e inovação no País, e o aper-feiçoamento do marco legal. Hoje, nossa principal fonte é o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnoló-gico [FNDCT], mas as necessidades do Brasil estão além da capacidade do FNDCT, no formato atual, de nos prover dos recursos que precisamos. Dessa forma, devemos formular um novo modelo de financiamento às atividades de ciência, tec-nologia e inovação, condizente com os valores que atendam a nossa demanda.

E o marco legal?Nossas preocupações com o marco legal coincidiram

com a entrada em tramitação no Congresso Nacional, Câma-ra e Senado, concomitantemente, de projetos de lei visando o estabelecimento de um Código Nacional de C,T&I. Foi uma iniciativa importante do Consecti e do Confap, que agora está sendo aprimorada com a participação de vários atores do sis-tema. A Anpei, inclusive, está bem ativa nesse processo, o que é muito importante, pois o novo marco legal deve con-templar plenamente as demandas do setor empresarial para a realização das atividades de P&D.

Voltando à questão do financiamento, a transforma-ção da Finep em banco faz parte da construção do novo modelo de financiamento?

Sim. A transformação da Finep em banco passou a ser in-

Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação acredita que governo, empresas e

instituições de ciência e tecnologia já entenderam que precisam somar forças

para que o Brasil tenha sua economia baseada na inovação.

9

“Inovação é um esforço de todos”ENTREVISTA

serida na discussão mais ampla, de reformulação do modelo de financiamento como um todo.

O senhor fala da necessidade de aumentar recursos, mas recentemente houve um corte de 23% no orça-mento do MCTI.

Essa redução é exemplar da necessidade de buscarmos um novo modelo de financiamento. Nossas fontes de recur-sos devem ser necessariamente estáveis e, preferencialmente, crescentes, para que o sistema de produção de P&D não fique demasiadamente sujeito às intempéries da macroeconomia. Mas deve ficar claro que, enquanto não temos esse novo mo-delo definido e em operação, estamos providenciando outras formas de garantir o crescimento da oferta de recursos, espe-cialmente para P&D nas empresas. Em 2011, a Finep fechou R$ 2,9 bilhões em contratos – 74,5% a mais que 2010. Teve um desembolso de R$ 1,8 bi – 40,4% a mais que 2010 – e construiu uma carteira de R$ 9,7 bi, com 338 projetos – 70% deles em áreas prioritárias do Plano Brasil Maior. Para este ano, nossa expectativa é elevar a disponibilidade de recursos na Fi-nep, extra FNDCT, para R$ 6 bilhões, provenientes do Progra-ma de Sustentação do Investimento (PSI). Note que, com isso, estamos dobrando o nosso orçamento.

Neste ano haverá edital do programa de subvenção econômica?

Lançaremos no segundo semestre. Minha intenção é su-perar os valores dos editais anteriores.

O senhor crê que será possível chegar a 2014 com 1,8% do PIB em P&D?

Concordo que seja uma meta audaciosa, mas acredito que será atingida em razão de um motivo central: o Brasil já percebeu, a exemplo de todas as economias inovadoras, que inovação é um esforço de todos. Governo, empresas e instituições de ciência e tecnologia já entenderam isso e, tão importante quanto, todos sabemos que a roda já está girando e precisamos fazê-la girar mais rapidamente. Da parte do go-verno há o entendimento de que ele precisa partilhar os riscos e os esforços com as empresas, tanto que a meta de 1,8% do PIB é igualmente dividida entre governo e empresas, 0,90% para cada parte. Sabemos que nas economias inovadoras a proporção é sempre maior para o setor privado. Portanto, o que precisamos é que as empresas brasileiras também este-jam dispostas a elevar seus dispêndios em P&D. Se não houver essa disposição, não chegaremos a lugar algum.

O senhor acredita que as empresas estão estimula-das o bastante?

Quem diz que precisa haver inovação é o mercado. O principal estímulo está aí. Se as empresas querem conti-nuar no mercado, elas precisam se sentir naturalmente es-timuladas a inovar.

E com relação aos estímulos originados dos progra-mas de financiamento?

Os programas estão crescendo, como disse há pouco so-bre a elevação da oferta de crédito pela Finep. Recentemente a Finep aperfeiçoou o programa Inova Brasil. O CNPq, que origi-nariamente se dedicava ao financiamento de atividades de pes-quisa acadêmica, está também ampliando suas atenções para a inovação, a exemplo do que já fazia com o Programa Rhae. Há uma tendência de as empresas utilizarem mais os incentivos fiscais da Lei do Bem. Essa utilização vem crescendo ano a ano, mas agora vai aumentar mais, em parte por causa da edição da Instrução Normativa da Receita Federal que regula o uso dos incentivos. A propósito, sei que a Anpei se empenhou bastante para que essa Instrução fosse feita.

A Embrapii está pronta para operar?Pretendemos que a Embrapii signifique uma revolução

no modo de se fazer P&D no Brasil e, como ocorre com toda revolução, para dar certo ela precisa ser bem planejada, tanto no plano estratégico como no tático. No plano estratégico, em linhas gerais, a questão está definida: queremos que a Embrapii contribua significativamente para a inovação no Brasil. O que estamos fazendo é desenhar o melhor modelo operacional para a Embrapii e definir o formato institucional ideal para atender esse modelo. Um ponto já definido, para mim, é que o setor industrial deve ser majoritário na gover-nança da Embrapii.

O governo federal vem jogando força no programa Ciência sem Fronteiras. Que benefícios esse progra-ma proporcionará para as empresas, em termos de inovação?

Esperamos que o Ciência sem Fronteiras ajude a resolver a questão da demanda por recursos humanos qualificados para atividades de P&D no ambiente empresarial. O bolsista do Programa está indo para universidades ou instituições de pesquisa com tradição na interação com empresas e no estí-mulo ao empreendedorismo. Ou seja, ele trará do exterior a bagagem de ter vivido em um país com maior destaque que o Brasil em termos de inovação, e também a experiência de ter estudado em uma universidade habituada, por exemplo, a ser pró-ativa em termos de P&D, a gerar startups ou a estimular seus alunos a serem empreendedores.

Como um acadêmico, como o senhor, se sente tra-tando de assuntos com forte viés empresarial, como inovação tecnológica?

Me sinto estimulado. Sou um cientista que já passou da fase de conceber unicamente o modelo de ciência pela ciên-cia. A ciência de per si tem que continuar sendo feita, obvia-mente, mas não tenho dúvida de que a ciência precisa ajudar o País a se desenvolver, e uma das formas disso acontecer é gerando e fornecendo conhecimentos que possam ser úteis aos setores produtivos empresariais. Como ministro, estou trabalhando para qualificar nossa base científica e também para que tenhamos mais empresas desenvolvendo mais P&D como estratégia para o desenvolvimento delas e do País.

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XII CONFERÊNCIA ANPEI

WEG, Magneti

Marelli, Cofap e

Whirlpool serão os

cases de destaque

do evento

Três projetos, desenvolvidos pelas empresas WEG Equipamentos Elétricos, Magneti Marelli Cofap e Whirlpool Latin America, serão apresentados como cases de destaque na XII Conferência Anpei, de 11 a 13 de junho em Joinville, Santa Cata-rina. As apresentações serão realizadas no dia 12, das 17h às 18h30. Outros 32 cases serão mostrados em sessões paralelas (veja página ao lado) nos dias 12 e 13. Haverá ainda mais três cases sobre temas que en-

volvem o trabalho dos comitês temáticos da Anpei: gestão da propriedade intelectu-al, interação universidade-empresa, e ges-tão de indicadores de pesquisa e desenvol-vimento (veja o box). Pôsteres com cases de sucesso também serão expostos.

O case da Magnetti Marelli Cofap trata do desenvolvimento de sistemas de amortecimento semiativos ou inteli-gentes. Sensores aplicados em diversas partes do veículo permitem que se altere em segundos as forças de amortecimento atuantes sobre a suspensão do automóvel, melhorando a estabilidade e o conforto. O projeto foi feito por uma equipe multi-disciplinar. A concepção do sistema me-cânico foi brasileira e o sistema eletrônico foi desenvolvido na Itália.

Os sistemas semiativos de amortecimen-to começaram a ser produzidos em 2009 e já foram implantados em veículos Fiat na Itália. “A competência técnica da Cofap, de origem brasileira, está sendo reconhecida. A empresa está trazendo também profissionais da Itália para apresentar esse projeto na XII Conferência Anpei”, conta Mario Barra, co-ordenador técnico do evento.

Sustentabilidade na mira A WEG vai apresentar na XII Conferência

Anpei o desenvolvimento de uma plataforma de motor elétrico de indução com maiores níveis de eficiência e menor nível de ruído. Ele serviu de base para cerca de 150 linhas diferentes de motores produzidos pela em-presa. Para chegar ao produto, a equipe de P&D inovou no sistema de ventilação e ele-tromagnético, no design, e desenvolveu um novo processo de fundição para fabricar os novos motores com carcaças diferenciadas.

O projeto envolveu profissionais de di-versas áreas da WEG – da diretoria ao es-critório de design, passando pelas equipes de sete subsistemas e pelos fornecedores. A nova linha de produtos é responsável por 55% do seu faturamento. “Um dos méritos do projeto é procurar fazer frente à concorrência global. A empresa trouxe também o conceito de lançamento de uma plataforma, e não só de um novo produto”, destaca Barra.

A Whirlpool Latin America vai mostrar a linha de refrigeradores Viva, equipada com compressores de capacidade variada desenvolvidos pela Embraco que aumen-taram em 25% a eficiência energética em comparação com os convencionais. Além disso, o produto é composto por 80% de materiais recicláveis. A empresa inovou ainda na logística de coleta e reciclagem dos produtos que serão substituídos pelos refrigeradores Viva.

A empresa trabalhou em parceria com a rede Wal-Mart. Entre os benefícios da inovação, a companhia aponta o descar-te correto dos refrigeradores antigos, que agora vão para reciclagem, o fato de pro-duzirem geladeiras com componentes re-nováveis e os ganhos econômicos para o consumidor com a eficiência energética. “A Whirlpool traz um novo conceito de produto, no qual o pós-vida é tratado com igual cuidado como se faz durante sua vida útil”, ressalta.

Cases temáticosCada uma das três palestras internacionais (veja pági-

na 7) também será acompanhada por apresentações

de cases envolvendo o tema discutido. No dia 12, às

10h, Eduardo de Mello e Souza vai contar como paten-

tes ajudaram um grupo de empreendedores brasileiros

a entrar em um mercado de US$ 3,4 bilhões. A Basf vai

falar sobre “Gestão de Inovação e Tecnologia – Indica-

dores de Inovação”, também no dia 12, às 12h. Por

fim, o Grupo Fleury vai apresentar o case “Inovação

aberta – incentivo à parceria com universidades e cen-

tros de pesquisa para geração de conhecimento cientí-

fico e inovação tecnológica em medicina e saúde”, no

dia 13, às 12h.

Mario Barra coordenou a análise dos 83 cases submetidos à XII Conferência

Modelos de inovação

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XII CONFERÊNCIA ANPEI

Mil e uma formas de inovarComo cada empresa encontra seu caminho para inovar estará na pauta dos 32 cases que serão apresentados em sessões simultâneas, nos dias 12 e 13. Veja a seguir:

Empresa/ICT Case24X7 Cultural De fechando para contratando. Se não pode vencê-los... inove.

Ambidados Desenvolvimento de conteúdo nacional para a indústria de petróleo

Bosch Desenvolvimento de produtos Flex Fuel

Brasil Foods A internacionalização da P&D da BRF

Braskem Braskem lança resina pioneira no mundo para filmes laminados

Cash Comércio e Assessoria em Software e Hardware VTMIS brasileiro

Centrifugar Equipamentos e Serviços de Friburgo Centrifugação de petróleo e derivados

Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro Redes internacionais de inovação aberta: o centro de inovação sueco-brasileiro

CESAR Trazendo a inovação para a frente da loja

Ci&T Empreendedorismo corporativo: alternativa para expansão da competitividade de grupos empresariais

Colmeia Containers O primeiro contrato internacional a gente nunca esquece

Dow Brasil Especialidade em espuma de poliuretano

Embraco Vanguarda em tecnologias de refrigeração: um compressor, um refrigerador, duas nações.

Faber-Castell Estratégias botton up para criação de uma cultura de inovação: como tornar a inovação sistêmica na organização

FPF – Fundação Desembargador Paulo Feitoza Uso da metodologia dos living labs e inovação aberta para criação de tecnologias assistivas de baixo custo

Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa Gerenciamento de projetos à distância

Hewlett Packard do Brasil SmartWaste

HI Technologies Hi Technologies

Instituto Superior Tupy – Sociesc Fortalecimento do setor moveleiro da região de Arapongas (PR)

ISAT Comunicação, Educação e Tecnologia Virtualização completa do Global Forum da América Latina

LCB Nutrição Animal Desenvolvimento de processo de fabricação de um suplemento alimentar solidificado para ruminantes

MHM do Brasil - Sociesc Inovação para a indústria têxtil: desenvolvimento da máquina de adiação de rodos de Estampar

Mahle Metal Leve Investigação de formação de gel e desenvolvimento de filtros para sistemas de combustíveis flex

Natura Inovação e Tecnologia de Produtos Desenvolvimento de uma ferramenta inovadora de inclusão para recomendação e produto

Natura Logística e Serviços Programa Amazônia: inovação em sustentabilidade.

Oxiteno Pioneirismo na indústria de tintas: coalescentes renováveis baixo COV

Petrobras Metodologia de valoração de tecnologias

Pipeway - Soluções Inteligentes em Inspeções de Dutos Posicionamento no mercado global

Rhodia – Magnetti Marelli Coletores de admissão de ar para motores em material polimérico oriundo de reciclagem química

Siemens Novo centro de P&D global - Smart Grid Brasil

Siemens Drysub – transformador seco submersível

Subsin Robô para inspeção de dutos submarinos

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de inovação. “Deixará claro que todos podem e devem pensar em inovação, independentemente do tamanho da instituição”, ressalta.

A cidade aprovou uma lei que cria um fundo municipal para inovação, concede incentivos às empresas, estimula a criação de instituições científicas e tecnológicas e prevê um prêmio municipal, entre outras medidas. O município tam-bém deu posse, em março deste ano, aos membros do Con-selho Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação (Comciti).

Udo Döhler, presidente da Associação Empresarial de Joinville (ACIJ), destaca que a economia de Joinville vem crescendo o dobro da média nacional. “Desde já precisa-mos vislumbrar empregos que envolvam produtos e serviços de alto valor agregado e gerem renda para essa população. Pesquisa, desenvolvimento e inovação são caminhos para atingir esses objetivos”, aponta.

“Acreditamos na inovação da mesma forma que acre-ditamos nos empresários das micro, pequenas e médias empresas. São propulsores do salto necessário para que o País tenha uma distribuição de renda mais justa e maior harmonia social”, destaca Gean Marcos Dombroski Cor-rea, presidente da Associação de Joinville e Região da Mi-cro, Média e Pequena Empresa (Ajorpeme).

“A Conferência Anpei será fundamental para engajar novos atores no debate, como as micro e pequenas em-presas, e enriquecer as contribuições para a busca e de-senvolvimento de soluções para os gargalos enfrentados pelo País”, afirma Vanessa Collere, diretora do Parque de Inovação Tecnológica de Joinville e Região (Inovaparq). Para ela, o evento é um fórum privilegiado para discussão, por reunir os principais atores do sistema. “A Conferência tem um potencial multiplicador importante para as ações que vêm sendo desenvolvidas na região”, conclui.

Força tarefaXII CONFERÊNCIA ANPEI

Em paralelo ao encontro da Anpei, Santa Catarina realiza sua

Conferência de C,T&I para debater novas ações de fomento à inovação.

O governo de Santa Catarina vai aproveitar a realização da XII Conferência Anpei, entre os dias 11 e 13 de junho, em Joinville, para, de forma concomitante, fazer sua Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação. No encerramen-to da Conferência Anpei haverá uma sessão específica de fe-chamento da Conferência Estadual, com apresentação de um documento que agrupe todas as sugestões para aprimorar a política de C,T&I do Estado.

“Inovação é o componente com o qual as empresas de serviço, do comércio e a indústria vão conseguir competir, exitosamente, com a agressividade da globalização da eco-nomia”, destaca Paulo Roberto Bornhausen, secretário do Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDS).

A principal medida da política de C,T&I de Santa Catari-na é o Programa Inova SC. “Com o Inova, estamos ajudando a organizar e aglutinar todas as ações voltadas para inovação e tecnologia no Estado”, afirma. Um exemplo de ação desse programa é o Juro Zero para microempreendedor individual, realizada em parceria com o Sebrae. Além do financiamento sem juros, as empresas participantes recebem consultoria em gestão financeira e inovação.

“A estratégia da indústria brasileira para enfrentar os pro-dutos asiáticos não pode ser por meio de preços baixos. Com inovação, as empresas fortalecem suas marcas, aumentam a lucratividade e conquistam vantagens estratégicas para man-ter e ampliar sua participação no mercado”, aponta Glauco José Côrte, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc). “Com o acirramento da concor-rência internacional, a inovação ganhou importância ainda maior para garantir a competitividade e o crescimento sus-tentável das empresas”, afirma ele.

“Os temas que serão tratados na Conferência Anpei e na Conferência Estadual são da preocupação do dia a dia do empresário”, complementa Sergio Gargioni, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Santa Catari-na (Fapesc). “Somos um Estado muito industrializado, temos bons exemplos de empresas que investem regularmente em inovação, que são vistas como referência, e não se pode falar em inovação sem falar de indústria”, completa.

Agenda pró-inovação“Nosso município tem um forte histórico industrial e

seremos a região brasileira que mais crescerá nos próxi-mos anos, mais do que duplicando nossa economia. Essa evolução se dará por meio do aumento da produção em si e, principalmente, pela inovação em produtos, proces-sos e serviços”, destaca Carlito Merss, prefeito de Joinville. Para ele, a Conferência ajudará a desmistificar o conceito

Bornhausen e Côrte: atores do sistema de C,T&I de Santa Catarina engajados no debate

CONFErêNCIA ANPEI - PATrOCINADOrES

Planeta

Subcontinente

País

região

Estado

Capital

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XII CONFERÊNCIA ANPEI

A jovem inovadora Nanox, localizada em São Car-los, interior de São Paulo, completa sete anos de exis-tência em 2012. Startup da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a empresa de 10 funcionários resol-veu, logo em seus primeiros anos de vida, partir para o mercado internacional. E agora está levando seu Nano-xClean, a tecnologia com ação antimicrobiana que é a principal linha de produtos da empresa, para a China. A estratégia de se voltar para o exterior foi a alternati-va encontrada pela companhia para a falta de mercado interno. Para a Nanox, o Brasil ainda não está maduro quando o assunto é nanotecnologia.

O NanoxClean é uma linha de produtos antimicro-bianos naturais, derivados de uma nanotecnologia con-tendo prata como princípio ativo. A prata tem grande eficiência como agente antimicrobiano. No NanoxCle-an, esse princípio ativo é suportado em partículas cerâ-micas. “O processo desenvolvido pela Nanox cria ilhas de prata na superfície de cerâmica, ou seja, a nanotec-nologia está no processo de obtenção [do NanoxClean] e no material”, explica Gustavo Simões, presidente da empresa.

O NanoxClean mata as bactérias e impede sua pro-liferação, destruindo as funções vitais das bactérias quando elas entram em contato com a superfície que recebeu o tratamento nanotecnológico. Essa destruição se dá pela conjunção de três ações: pelo impedimento da troca de gases por meio da parede celular, fazen-do com que os microorganismos não consigam respi-rar; pelo rompimento da parede celular, o que também mata as bactérias; e pela inibição da divisão celular. As nanopartículas matam todo tipo de bactéria que entram

em contato com a superfície que recebeu o tratamento bactericida.

O produto pode ser aplicado em todos os tipos de materiais, como plásticos, tintas, metais, madeiras e te-cidos. A empresa já revestiu com o NanoxClean pro-dutos como bebedouros de água, peças plásticas de secadores de cabelo, o interior de geladeiras e tapetes.

Parceria com universidadesA Nanox percorreu o caminho clássico das startups:

nasceu em uma universidade, a partir das ideias de três químicos com veia empreendedora: Gustavo Simões, Daniel Minozzi e André Luiz de Araújo. Foi incubada em São Carlos e, em 2005, recebeu o primeiro financia-mento, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Conseguiu depois financiamento do fundo de venture capital Novarum e virou sociedade anônima. Em 2009, já estava exportando seu produto para a Mabe, que fabrica linha branca no México. A Nanox tem cinco pedidos de patentes, no Brasil e nos Estados Unidos.

A empresa sempre trabalhou fazendo parcerias com o setor acadêmico, com destaque para as universidade de São Paulo (USP), Federal de São Carlos (UFSCar) e Unesp, campus de Araraquara. Parte de suas atividades e infraestrutura de P&D estão nas parceiras, já que a empresa não precisa, por exemplo, utilizar com fre- quência os caríssimos microscópios eletrônicos neces-sários para os estudos em nanotecnologia.

Contra bactérias? Nanotecnologia!

Nanox, de São Carlos (SP), já exporta

para México e Itália sua linha de produto

antimicrobiano a base de prata, e agora

entra no mercado chinês.

As diferentes versões do NanoxClean (à esq.) e seus efeitos: no pote da esquerda, o produto foi misturado ao plástico.

Gustavo Simões e Daniel Minozzi: aposta no mercado externo

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XII CONFERÊNCIA ANPEI

A Nanox ocupa um galpão no bairro Jardim Santa Fe-lícia, distante cerca de três quilômetros do centro de São Carlos. No segundo andar estão as instalações adminis-trativas. No térreo, ao caminhar para a área de produção e pesquisa, chega-se primeiro aos laboratórios de Micro-biologia e de Química. Essas instalações são usadas para procedimentos de análise de qualidade, atividades de P&D e prestação de serviços para os clientes.

Para cada cliente, a Nanox desenvolve atividade de P&D específica. Ela analisa o material de que é feito o produto de seu cliente (plástico, aço, alumínio, ce-râmica), seu processo de produção, qual a quantidade de NanoxClean deve ser adicionada para ter o efeito bactericida, toxicidade, entre outros aspectos. No mo-mento, um dos projetos da área de P&D da companhia se relaciona à aplicação do NanoxClean na indústria de cerâmica, para uso em piscinas, banheiros, hospitais e áreas com muita umidade e formação de mofo.

“Enviamos nosso produto para os clientes, que pro-duzem algumas peças-piloto com aplicação de Na-noxClean. Essas peças são encaminhadas para nossa empresa, para que façamos os testes de eficiência e eficácia antimicrobiana”, conta Daniel Minozzi, diretor comercial da Nanox. “Em média, o processo de P&D para cada cliente demora cerca de um ano”, acrescenta Simões.

Embalagens inteligentesUm dos experimentos em realização no Laboratório

de Microbiologia no dia da visita do Engenhar à empresa se referiu às embalagens inteligentes. Havia duas vasilhas plásticas para conservar alimentos em ambiente domés-tico, deixadas fora da geladeira por quase um mês. Na vasilha com o NanoxClean incorporado ao plástico, um tomate estava praticamente igual a quando chegou do mercado; na outra, convencional, o fruto estava podre. O fabricante da vasilha é um tradicional e grande produtor de utensílios plásticos para cozinhas e potencial cliente da Nanox.

A Nanox não faz distinção sobre quantas pessoas tra-balham em P&D. A empresa contabiliza quantas horas de

Valorização lá foraA aposta da Nanox para continuar a crescer é o mercado externo. “Nossa busca pela exportação se dá porque percebemos que mer-cados mais regulados, como Estados Unidos e Europa, têm melhor percepção do valor do nosso produto”, justifica Simões.

Na China, a Nanox acaba de firmar parceria com uma empresa lo-cal, a The Delta Hub. Os produtos NanoxClean chegam ao mercado chinês, via exportação, em julho deste ano.

A Nanox procura também um parceiro local para entrar no merca-do norte-americano. “Os Estados Unidos têm muita demanda; há lei obrigando que certos produtos sejam antimicrobianos, como ocorre, por exemplo, com os equipamentos hospitalares”, lembra Minozzi. A empresa está prospectando o mercado latino-americano, além de já exportar para México e Itália.

O x da questãoUma pesquisa de agosto de 2010 do Sebrae SP mostrou que 27% das empresas paulistas encerram suas atividades já no primeiro ano de vida. Se a Nanox passou pelo teste dos pri-meiros anos, agora enfrenta o desafio de encontrar recursos para continuar crescendo. “Não há mecanismos para financiar a fase da venda. Nosso próximo passo seria obter mais ventu-re capital, mas esse segmento não está bem estabelecido no Brasil”, afirma Gustavo Simões.

Os executivos estimam que, em recursos públicos, receberem R$ 5 milhões de apoio nesses sete anos de existência, incluindo o investimento da Novarum, que tem participação da Finep, além da própria Financiadora, da Fapesp e do CNPq. “Se observarmos a realidade na-cional, o valor que recebemos de investimento público é considerado alto, mas se olharmos as práticas no mercado internacional, não”, aponta Daniel Minozzi.

“Existem empresas do nosso tamanho no exterior que conseguem levantar US$ 100 milhões de investimento. Lá fora, é possível chegar a um banco e pedir financiamento com juros de 2% ao ano, levando como garantia apenas o número de uma patente”, destaca Simões. “O patrimônio da Nanox é intelectual e isso, no Brasil, não vale nada; aqui os financiadores querem saber do terreno, do prédio”, lamentam os executivos. A Nanox não revela seu faturamento.

trabalho os funcionários dedicam a essa atividade, já que os pesquisadores também trabalham com a área de qua-lidade e produção. Na média, os funcionários dedicam 30% do tempo para as atividades de P&D. Outros setores da empresa, como vendas e marketing, precisam estar en-volvidos desde o início do desenvolvimento de um novo produto ou de uma nova aplicação para NanoxClean.

Junto aos dois laboratórios está a fábrica. São duas linhas de produção, formadas por reatores projetados e desenvolvidos pelos próprios pesquisadores da Nanox. Os reatores não foram patenteados: a Nanox preferiu proteger a invenção por meio do segredo industrial. Uma das linhas produz o NanoxClean em pó e a outra, na forma de resina líquida. A produção na forma granular é terceirizada.

Além de produzir o NanoxClean, a companhia faz sua aplicação por meio de imersão no Laboratório de Apli-cação de Coatings, ou de revestimentos. Ali, um robô é responsável por dar o banho de NanoxClean nos produtos enviados pelos seus clientes, como se estivesse pintando--os. É o que ocorre com as canetas odontológicas de um dos clientes, por exemplo.

Grande parte do esforço atual da empresa está nas vendas. “Por exemplo, entre os fabricantes de assentos para vasos sanitários, ter um produto com tratamento an-timicrobiano é um diferencial. Mas quando vamos para outras áreas, nosso maior desafio é mostrar para o cliente e o consumidor deste cliente quais são os diferenciais da nossa inovação”, comenta Simões.

Hoje, entre os 10 clientes fixos da Nanox, estão a Mabe, fabricante de linha branca, a Taiff, de secadores de cabelo, a Tapetes São Carlos e a Dabi Atlante, de equipa-mentos odontológicos. A dificuldade da Nanox para atuar na área hospitalar, que seria um excelente nicho para a empresa, está no fato de a maior parte dos equipamen-tos deste setor ser fabricada no exterior. “Desenvolvemos uma aplicação para cateteres com um parceiro, que está buscando a aprovação na Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]”, conta Minozzi.

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ARTIgO

Patentes estimulam a economiaJorge Avila e Carlos Calmanovici

As patentes fazem parte da competição entre empre-

sas e ajudam a construir um novo cenário econômico. O

binômio inovação/propriedade intelectual é a chave da

competitividade no século XXI e felizmente o Brasil já

percebe isso. A última Pesquisa de Inovação Tecnológica

do IBGE mostrou que 38,6% das empresas são inovadoras

no Brasil. Embora a definição de empresa inovadora seja

ampla, quando o assunto é inovação nosso potencial é

enorme: o brasileiro é criativo e vê resultados expressivos

de produção científica e tecnológica. Pesquisas do Glo-

bal Entrepreneurship Monitor em 2010 mostram no Brasil

mais de 21 milhões de pessoas à frente de

atividades empreendedoras.

Trazer o tema de propriedade intelec-

tual para o centro da agenda de inova-

ção brasileira é uma aposta decisiva para

acelerar o desenvolvimento do País. A con-

solidação de uma indústria de produtos

mais intensivos em tecnologia assegurará o

fortalecimento das empresas e o superávit

da balança comercial, aumentando a den-

sidade tecnológica da produção nacional e

reduzindo o risco da flutuação dos preços

das commodities. Apenas essa dinâmica poderá suportar,

no prazo longo, os avanços na renda e no emprego que

caracterizam o atual ciclo de crescimento da economia

brasileira. Este cenário vem sendo desenhado nos últimos

20 anos com a abertura econômica do Brasil nos anos

1990 e o questionamento do modelo de substituição de

importações. Hoje, é praticamente impossível competir

apenas por preços; é preciso competir por diferenciação,

ou seja, investir em inovação. Mas, para estimular o in-

vestimento em inovação, é necessário que haja garantias

institucionais adequadas.

Constituir direitos de propriedade intelectual, como

patentes, marcas e desenhos industriais é, hoje, uma for-

ma universalmente empregada para garantir a apropria-

ção dos resultados por quem investiu na sua obtenção.

É também o meio seguro para a realização de contratos

que promovam a associação de tais resultados aos ativos

necessários ao processo de inovação. Para isso, avançar

no marco regulatório e na execução das políticas de pro-

priedade intelectual constitui prioridade inquestionável.

No campo legislativo, é urgente encontrar soluções para

gargalos que ainda existem na área da biotecnologia e

no uso sustentável da biodiversidade. Em relação às po-

líticas públicas, o Ministério do Desenvolvimento, Indús-

tria e Comércio Exterior (MDIC) e o INPI têm atuado em

parceria com órgãos e entidades, como a Anpei, e dire-

cionam atenção especial às micro e pequenas empresas,

e ressaltam o potencial das parcerias entre as empresas

e as instituições acadêmicas e/ou de pesquisa para gerar

tecnologia.

O INPI investe na informatização de

suas operações (este ano será possível pedir

patentes pela Internet), no aprofundamento

da cooperação internacional e reestrutura-

ção interna, com a ampliação do quadro de

examinadores de marcas e patentes. A ex-

pectativa é de o prazo médio para conces-

são de patentes cair a cerca de quatro anos

a partir do depósito, enquanto que para

marcas a expectativa é reduzir o prazo de

espera para não mais que nove meses. Tais

avanços buscam gerar condições de isono-

mia frente a concorrentes internacionais e representam uma

evolução necessária para suportar o investimento crescente

das empresas brasileiras em inovação: o objetivo é garantir

a segurança necessária e um ambiente de negócios favorá-

vel à geração, proteção e comercialização do resultado do

esforço de inovação. O principal desafio, no momento, é

fazer essas mudanças na velocidade adequada. Não somos

o único país que se empenha em melhorar seu ambiente de

inovação. E a competitividade de uma empresa ou de um

país é sempre medida em relação às condições presentes

nas empresas concorrentes ou nos países que as abrigam.

Configura-se, assim, oportunidade inédita de imprimir rapi-

dez ao processo de modernização institucional. Precisamos

aproveitá-la.

Jorge de Paula Costa de Avila é presidente do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI)

Carlos Eduardo Calmanovici é presidente da Associação Nacional de P&D das Empresas Inovadoras (Anpei)

Trazer o tema

de propriedade

intelectual para o

centro da agenda

de inovação

brasileira é uma

aposta decisiva