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Enid Blyton Gémeas Volume I As gémeas no Colégio de Santa Clara http://groups.google.com/group/digital source 1 I AS GÉMEAS TOMAM UMA RESOLUÇÃO

Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

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Enid Blyton

Gémeas

Volume I

As gémeas no Colégio de Santa Clara

http://groups.google.com/group/digital

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1

I

AS GÉMEAS TOMAM UMA RESOLUÇÃO

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Numa tarde de Sol, quatro raparigas encontravam-se

sentadas na relva, junto de um campo de ténis, bebendo

limonada. As suas raquetas repousavam no chão e as seis

bolas brancas estavam espalhadas pelo campo.

Duas das pequenas eram gémeas. Isabel e Patrícia

O'Sullivan eram tão parecidas que poucas pessoas

conseguiam distinguir uma da outra. Ambas tinham cabelo

castanho escuro, ligeiramente ondulado, bonitos olhos azuis,

um sorriso simpático e um ligeiro sotaque irlandês que lhes

dava certa graça.

As gémeas estavam a passar quinze dias em casa das

suas amigas Maria e Francisca Waters. As quatro pequenas

conversavam e a Patrícia franzia o sobrolho enquanto falava.

Pegou na raqueta e bateu com ela na relva.

- É uma pena que a mãe não nos deixe ir para o mesmo

colégio que vocês, já que saímos do Colégio Redroofs, onde

sempre andámos juntas. Somos amigas há tantos anos e

agora, indo para colégios diferentes, vamos estar muito

tempo sem nos vermos.

- É uma pena que o Colégio Redroofs só admita alunas

até aos catorze anos - disse a Isabel. De contrário

poderíamos continuar juntas e seria muito mais divertido.

Gostei imenso de ser chefe de turma, no ano passado, com a

Patrícia. E também gostei de ser capitão da equipa de ténis e

a Patrícia de hóquei. Agora temos que ir para outro colégio,

onde voltamos ao princípio. Em vez de chefe de turma,

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seremos caloiras.

- Gostaria tanto que vocês fossem connosco para o

Colégio Ringmere! - disse a Francisca. A nossa mãe diz que é

um colégio muito bem frequentado. Só vão para lá filhas de

pais ricos e de boas famílias, por isso conseguem-se óptimas

amizades. Teremos um quarto só para nós duas e a nossa

sala de estudo. À noite é obrigatório vestido de cerimónia

para jantar e dizem que a comida é esplêndida.

- E nós vamos para o Colégio de Santa Clara, onde toda a

gente pode entrar e os dormitórios são para seis ou oito

alunas, com uma mobília inferior à dos quartos das nossas

criadas! - exclamou a Patrícia, com voz lamentosa.

- Não percebo por que razão a mãe resolveu mandar-nos

para ali, em vez de irmos para o Colégio de Ringmere - disse

a Isabel. - Não tenho a certeza que a mãe já esteja

completamente decidida. Amanhã voltamos para casa e

ambas faremos o possível para a convencer a deixar-nos ir

para o vosso colégio, Maria e Francisca! À noite telefonamos

a contar o resultado.

- Ficaremos radiantes se nos derem boas notícias - disse

a Maria. - Na verdade, depois de se ter sido capitão num

colégio maravilhoso como o Redroofs, ter cada qual o seu

lindo quarto, sala de estudo com óptima vista e ser

considerada por uma centena de colegas, é horrível mudar

para outro colégio e ainda por cima sem nenhuma

vontade!...

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- Bem, façam o possível por convencer os vossos pais a

mudarem de opinião - disse a Francisca. E agora vamos jogar

mais uma partida de ténis antes do lanche!

Todas se levantaram, combinando-se os pares. A Isabel

jogava muito bem e ganhara o campeonato do Colégio

Redroofs. Tinha um certo orgulho nisso. Patrícia jogava

quase tão bem como a irmã, mas preferia o hóquei em

patins.

- Não jogam hóquei no Colégio de Santa Clara. Só jogam

o lacrosse - disse a Patrícia, aborrecida.

- É um jogo mesmo idiota, que se joga com uma rede nos

estiques, apanhando a bola durante todo o tempo, em vez

de lhe batermos! Será uma das coisas que eu direi à mãe.

Não quero jogar lacrosse depois de ter sido capitão da

equipa de hóquei.

As gémeas fartaram-se de pensar em todas as razões

que apresentariam aos pais quando voltassem para casa, no

dia seguinte. Tornaram a falar no assunto durante o

regresso, no comboio.

- Eu digo uma coisa e tu dizes outra - decidiu a Patrícia. -

Afinal nós é que devemos saber qual o colégio que mais nos

convém. Confesso que o de Santa Clara me parece

detestável!

Na tarde seguinte, em casa, as gémeas começaram a

falar sobre colégios. A Patrícia, como era seu hábito, foi

direita ao assunto, dirigindo-se ao pai e à mãe:

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- A Isabel e eu temos pensado muito no colégio para que

desejamos ir, e por favor não nos mandem para Santa Clara.

Todos dizem que é horrível.

A mãe riu-se e o pai, surpreendido, afastou o jornal que

estava a ler.

- Não sejas pateta - disse a senhora O'Sullivan.

- É um óptimo colégio.

- Mas estão resolvidos a mandarem-nos para lá?

- perguntou a Isabel.

- Ainda não decidimos - disse a mãe. - Mas o pai e eu

achamos que é o colégio mais conveniente para vocês. O

Colégio de Redroofs estragou-as bastante, pois é muito caro

e luxuoso. Hoje em dia é preciso aprender-se a viver com

mais simplicidade. O Colégio de Santa Clara é muito mais

modesto, além de que conheço a directora com quem

simpatizo muito.

A Patrícia protestou.

- Um colégio modesto! Detesto as coisas modestas; são

sempre horríveis e feias, estúpidas e desconfortáveis. Ó

mãe, deixe-nos ir para o Colégio de Ringmere, com a Maria e

a Francisca.

- De maneira nenhuma - cortou logo a senhora

O'Sullivan. - É um colégio muito snob e não estou disposta a

que as minhas filhas fiquem umas toleironas e petulantes.

- Não ficamos nada - observou a Isabel, fazendo um sinal

à Patrícia para que não continuasse a discussão. Patrícia

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irritava-se com muita facilidade e isso não dava resultado,

sobretudo na presença do pai.

- Querida mãezinha, seja um amor, e deixe-nos ir para o

Ringmere só por um ou dois períodos e se nessa altura achar

que estamos a tornar-nos umas toleironas, então pode tirar-

nos. Mas deixe-nos experimentar. Ali jogam hóquei, tanto do

nosso agrado. Não nos apetece nada aprender outro jogo,

agora que nos tornámos tão boas no hóquei!

O senhor O'Sullivan martelou com o cachimbo na mesa.

- Minha querida Isabel - disse - acho que só vos pode

fazer bem aprender uma coisa nova, desde o princípio.

Parece-me que no último ano escolar vocês tornaram-se

bastante vaidosas, considerando-se umas maravilhas! Se

forem obrigadas a aprender coisas novas e perceberem que

não são assim tão fantásticas como julgam, só lucrarão com

isso.

As gémeas ficaram muito vermelhas. Sentiam-se

zangadas e feridas no seu amor próprio e estavam quase a

chorar. A mãe teve pena delas.

- O pai não quis ser antipático - disse-lhes. Mas ele tem

toda a razão, minhas queridas. Sei que gostaram imenso do

tempo que passaram em Redroofs. Tudo lhes correu bem,

distinguiram-se em muitas coisas e viveram num ambiente

luxuoso. Porém, agora devem mostrar-nos a vossa

verdadeira categoria ao entrarem numa escola em que as

mais novas têm a vossa idade, e as alunas das últimas

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classes dezoito anos e mais!

Patrícia mostrou-se muito aborrecida e o queixo de Isabel

tremia, quando respondeu:

- Não seremos felizes e nada faremos para o ser!

- Muito bem, então sejam infelizes à vontade! - disse o

pai, severamente. - Se foram essas atitudes idiotas que

aprenderam em Redroofs, lamento que as tenhamos lá

deixado estudar durante tanto tempo. Há dois anos que quis

tirá-las, mas pediram-me tanto para continuar que lhes fiz a

vontade. Agora nem mais uma palavra sobre o assunto. Eu

próprio escreverei para Santa Clara, ainda esta noite,

pedindo para que sejam matriculadas. Se querem que eu

tenha orgulho nas minhas filhas, alegrem-se e decidam

desde já serem boas rapariguinhas, trabalhadoras e alegres

no vosso colégio. O pai acendeu o cachimbo e voltou à

leitura do jornal. A mãe pegou na costura. Nada mais havia a

dizer. As gémeas saíram da sala e foram para o jardim.

Dirigiram-se ao seu habitual esconderijo, atrás duma

espessa sebe e deitaram-se na relva. O Sol da tarde

espalhava os seus raios dourados em redor e elas piscavam

os olhos devido à luz intensa. Nos olhos da Isabel brilhavam

algumas lágrimas.

- Nunca pensei que a mãe e o pai fossem tão duros -

disse. - Nunca!

- E afinal parece-me que a nossa opinião neste assunto

também é importante - reforçou a Patrícia, furiosa. Pegou

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num pauzinho e enterrou-o com força na terra. - Só me

apetece fugir!

- Não sejas parva! - disse a Isabel. - Bem sabes que é

impossível. Além disso, uma fuga é sempre uma cobardia.

Não temos outro remédio senão ir para Santa Clara. Mas vai

ser horrível!

- Vamos ambas detestar - disse a Patrícia. E ainda mais,

tenciono ser antipática com tudo e com todos! Não quero

que elas pensem que somos umas miuditas de catorze anos,

acabadas de sair duma escola preparatória qualquer. Em

breve saberão que éramos chefes de turma e capitães da

equipa de ténis e hóquei. Que injusto o pai dizer que somos

toleironas! Não somos mesmo nada! Não podíamos deixar

de verificar que nos distinguíamos em quase tudo, além de

sermos consideradas bonitas e muito divertidas.

- Olha que a falares dessa maneira realmente pareces

um pouco toleirona - disse a Isabel. Acho melhor não

contarmos demasiadas coisas quando estivermos em Santa

Clara.

- Tenciono dizer tudo o que me apetecer e tu deves fazer

coro comigo - teimou Patrícia.

É preciso que as pessoas saibam quem nós somos e o

que valemos! E as professoras também hão-de olhar-nos

com deferência. As gémeas O'Sullivan são ALGUÉM! Não te

esqueças disto, Isabel.

Isabel fez um sinal afirmativo com a sua cabeça de

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cabelo escuro e ondulado.

- Não me esquecerei - disse. - Hei-de apoiar-te em tudo!

II

AS GÉMEAS CHEGAM

AO COLÉGIO DE SANTA CLARA

Chegou finalmente a altura em que as gémeas tiveram

de partir para Santa Clara. A mãe recebera uma lista do que

deviam levar e as duas irmãs examinaram-na com cuidado.

- Não se compara com o número de coisas que

precisávamos em Redroofs - disse a Patrícia. Santo Deus, só

nos permitem levar pouquíssimos vestidos! A Maria e a

Francisca contaram-nos que para Ringmere podem levar os

que quiserem! E até vestidos de baile, como os das

senhoras. Quando voltarem a ver-nos devem mostrar-se bem

importantes...

- E repara, estiques para lacrosse em vez de estiques

para hóquei - observou a Isabel, aborrecida. - Podiam pelo

menos jogar hóquei. A mãe comprou-os para nós? Olha para

isto, até indicam o que devemos ter nas nossas caixas de

costura. Em Redroofs podíamos levar o que quiséssemos.

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- Espera até chegarmos a Santa Clara. Nessa altura

saberão que só faremos a nossa vontade disse a Patrícia. - A

que horas é o comboio, amanhã?

- Às dez - respondeu Isabel. - Vamos ter o primeiro

contacto com as alunas de Santa Clara!

A senhora O'Sullivan acompanhou as filhas até Londres.

Ali dirigiu-se à estação donde partia o comboio que

pretendiam. Lá estava ele! Na plataforma viam-se muitas

raparigas conversando animadamente umas com as outras,

despedindo-se dos pais, cumprimentando as professoras e

comprando chocolates.

Uma professora vestida com toda a simplicidade foi ao

encontro das gémeas. Sabia tratar-se de alunas de Santa

Clara, pois vestiam já o uniforme cinzento do colégio. Sorriu

para a senhora O'Sullivan e olhou para a lista que tinha na

mão.

- São alunas novas? - perguntou. - Calculo que devem ser

a Patrícia e a Isabel O'Sullivan, pois são parecidíssimas. Sou

miss Roberts, a vossa responsável, e tenho muito prazer em

conhecê-las.

O acolhimento não podia ser mais simpático e as

gémeas gostaram do aspecto. de miss Roberts. Era magra,

nova, bonita e sorridente, mas tinha uma expressão

decidida. Isabel e Patrícia calcularam que não devia ser

indulgente com as alunas ao seu cuidado.

- A vossa carruagem é esta; vão com as outras alunas da

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vossa classe - disse miss Roberts. Despeçam-se da vossa

mãe e subam para o comboio que deve estar quase a partir.

A professora afastou-se para falar com outra aluna e as

gémeas abraçaram a mãe.

- Adeus - disse a senhora Sullivan. - Sejam cumpridoras

durante este período e tenho esperanças que gostarão do

vosso novo colégio. Escrevam-me brevemente.

As gémeas entraram num compartimento onde três ou

quatro outras alunas estavam sentadas a conversar. Não

disseram uma palavra, mas observavam com interesse as

colegas que passavam no corredor.

No outro colégio, as gémeas tinham sido as mais velhas,

mas agora estavam entre as mais novas. Em Redroofs todas

olhavam para Patrícia e para Isabel com respeito e

admiração, mas agora não despertavam nenhum interesse

especial.

Raparigas altas e elegantes de classe mais adiantada,

passavam, a conversar. Vozes alegres chamavam umas

pelas outras, enquanto corriam a ocupar os seus lugares.

Pequenas mais novas entravam na carruagem, à medida que

eram prevenidas de que o comboio ia partir.

A viagem era um divertimento. Todas levavam

sanduíches para comerem ao meio-dia e compraram no

comboio garrafas de refrescos ou de leite. Às duas e meia o

comboio parou em frente duma pequena estação. Via-se

uma tabuleta a dizer Apeadeiro para o Colégio de Santa

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Clara.

As grandes camionetas do colégio estavam à espera e as

alunas ocuparam os lugares, conversando e rindo. Uma

delas voltou-se para Patrícia e para Isabel.

- Ali está o colégio, reparem! No alto daquele monte!

As gémeas olharam. Viram um bonito edifício, de pedra

branca, com duas torres, uma em cada extremidade. Estava

virado para o vale, cheio de campos de jogos e jardins.

- Não é nada tão bonito como Redroofs - disse a Patrícia

à Isabel. - Lembras-te como o nosso outro colégio ficava

lindo à luz da tarde? O telhado vermelho brilhava, parecendo

querer dar-nos as boas-vindas. Não tinha este aspecto

branco e frio de Santa Clara.

Durante alguns minutos as duas raparigas tiveram

saudades da anterior escola e das suas amigas. Não

conheciam ninguém em Santa Clara. Não podiam dizer Olá a

cada companheira, como acontecera sempre no princípio de

cada período.

Não gostavam do aspecto de nenhuma das colegas, que

pareciam muito mais barulhentas e faladoras do que as de

Redroofs. Era horrível!

- Ao menos sempre nos temos uma à outra disse a Isabel

à irmã. - Detestava vir para aqui sozinha. Ninguém parece

reparar em nós.

A culpa era das gémeas. Embora não o soubessem,

tinham ambas um ar embezerrado, como uma das alunas

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segredara a outra.

Seguiu-se a azáfama do desfazer das malas, como

acontece em qualquer colégio interno.

Os grandes dormitórios estavam cheios de alunas que

arrumavam as suas coisas nas gavetas, penduravam os

vestidos e guarneciam as mesinhas de cabeceira com

fotografias.

Havia muitos dormitórios em Santa Clara. Patrícia e

Isabel ficaram no número sete onde se viam oito, camas

todas iguais. Cada cama era rodeada por cortinas que

podiam estar fechadas ou abertas, segundo o desejo das

alunas. A cama da Patrícia era ao lado da cama da Isabel,

para sua grande alegria.

Quando as gémeas tinham acabado de desfazer as

malas, apareceu uma rapariga muito alta e perguntou:

- Estão aqui algumas alunas novas?

Patrícia e Isabel fizeram um sinal afirmativo. Nós somos

novas - respondeu Patrícia.

- Olá, gémeas! - disse a rapariga alta, sorrindo ao ver as

duas irmãs tão parecidas. - Vocês são a Patrícia e Isabel

O'Sullivan, não é verdade? A roupeira quer falar convosco.

As gémeas acompanharam a colega mais velha até um

compartimento onde a roupeira se encontrava rodeada por

armários, cómodas e prateleiras.

Era uma senhora gorda, com olhar vivo e de aspecto

alegre.

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- Não conseguem enganar a roupeira em nada segredou

a companheira. - Vejam se conseguem cair nas suas boas

graças.

A roupeira passou revista a todas as roupas das gémeas,

lençóis, toalhas e vestuário.

- Ficam sabendo de que serão responsáveis por coser

tudo o que lhes pertence - disse.

- Santo Deus! - exclamou a Patrícia. -No nosso anterior

colégio, havia costureiras para fazerem esse serviço.

- Que disparate! - disse a roupeira asperamente.

- Bem, aqui não há costureiras. Por isso tenham cuidado

com as vossas coisas e lembrem-se que elas custaram bom

dinheiro aos vossos pais.

- Os nossos pais não precisam de preocupar-se com as

roupas rasgadas - começou a Patrícia. - Uma vez em

Redroofs fiquei presa a um arame farpado e tudo o que

levava vestido ficou em tiras. A costureira disse que não

podia aproveitar-se nada e...

- Pois eu teria obrigado a menina a coser todos os

buracos, todas as tiras - disse a roupeira, irritada. - Se há

coisa que não tolero são descuidos e desmazelos. Por isso,

atenção... Que é isso, Emília?

Outra aluna entrara na rouparia com uma pilha de

toalhas e as gémeas ficaram muito satisfeitas de que a

atenção da roupeira se desviasse para outro assunto. Saíram

da rouparia, sem se fazerem notadas.

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- Não gosto da roupeira! - disse a Patrícia. - E só me

apetece rasgar uma coisa de tal maneira que não possa ser

cosida. Isso talvez lhe desse uma lição!

- Vamos a ver que tal é o colégio - sugeriu a Isabel,

dando o braço à irmã. - Parece muito mais vazio e frio do

que o nosso querido Redroofs.

As gémeas começaram as suas pesquisas. As salas das

aulas pareciam iguais às de toda a parte e a vista das

janelas era magnífica. As duas irmãs espreitaram para as

salas de estudo. No antigo colégio tinham uma bonita sala

de estudo só para elas, mas aqui só as alunas do último ano

gozavam esse privilégio. As mais novas tinham uma sala de

estar comum, onde havia também uma telefonia, um pick-up

e um armário-biblioteca cheio de livros. Viam-se prateleiras

em volta da sala e a cada aluna cabia uma parte da

prateleira, colocando ali as suas coisas e ficando responsável

pela sua arrumação.

Havia pequenos compartimentos de música, com piano,

um belo estúdio, um enorme ginásio que também servia

para reuniões e concertos e um bem apetrechado

laboratório. As professoras tinham duas salas de estar e um

quarto de dormir para cada uma. A directora vivia numa

espécie de apartamento semi-independente numa das

torres.

- Não é muito mau - disse a Patrícia, depois de terem

bisbilhotado por toda a parte. - E os campos de jogos são

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esplêndidos. Há aqui mais campos de ténis do que em

Redroofs, o que não admira, porque o colégio é maior.

- Não gosto de colégios grandes - disse a Isabel. - Prefiro

os mais pequenos onde todas sabem quem somos e não nos

sentimos umas insignificantes no meio de tanta gente!

Foram para a sala de estar. A telefonia estava ligada,

tocando música de dança que era quase abafada pela

conversa das alunas. Algumas olharam para as gémeas

quando estas entraram.

- Olá gémeas! - disse com ar trocista uma pequena de

cabelos louros encaracolados. - Como é que se chamam?

- Eu sou a Patrícia O'Sullivan e a minha irmã gémea

chama-se Isabel.

- Bem-vindas sejam a Santa Clara! - disse a pequena. -

Eu sou a lida Wentworth e estamos as três no mesmo

dormitório. Já alguma vez estiveram num colégio interno?

- Já estivemos no Redroofs - disse a Patrícia.

- Oh! O colégio das meninas bem - disse uma miúda

morena, entrando na conversa. - Esteve lá uma prima minha

e vocês nem calculam a toleima com que vinha quando de lá

saiu! Achava que todas lhe deviam prestar as maiores

honras e não era capaz de pregar um botão!

- Cala-te! - disse a lida, vendo que a Patrícia corara. - Tu

falas sempre demasiado, Joana. Bem, Patrícia e Isabel, este

não é o mesmo género de colégio do Redroofs. Nós

trabalhamos muito, brincamos muito, e ensinam-nos

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sobretudo a sermos independentes e termos o sentido das

responsabilidades.

- Nós não queríamos vir para aqui - disse a Patrícia. -

Queríamos ir para o Colégio Ringmere, para onde foram as

nossas amigas. No Redroofs ninguém tinha grande opinião

sobre o de Santa Clara.

- Palavra?! - perguntou a Joana, levantando

de tal maneira as sobrancelhas que elas desapareceram

sob o seu cabelo negro. - O que importa, minhas queridas

gémeas, não é o que vocês possam pensar deste colégio,

mas o que este colégio possa pensar de vocês! É muito

diferente. Pessoalmente, parece-me que foi uma pena vocês

não terem ido para outro sítio. Acho que não calham aqui

nada bem!

- Joana, cala-te - disse a lida. - Não é bonito dizer coisas

dessas a novas colegas. Deixa-as à vontade. Venham, Isabel

e Patrícia. vou mostrar-lhes o caminho para a sala da

directora. Devem ir cumprimentá-la antes do jantar.

A Patrícia e a Isabel ficaram quase a rebentar de raiva

com o que dissera aquela Joana morena. A lida levou as

gémeas para fora da sala.

- Não liguem importância à Joana - recomendou.

- Diz sempre exactamente o que pensa, o que é muito

agradável quando pensa coisas simpáticas sobre as pessoas,

mas isso nem sempre acontece. Vocês hão-de habituar-se a

ela.

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- Espero que não - disse a Patrícia secamente.

- Gosto de boas maneiras, uma coisa que se ensinava no

nosso antigo colégio, mesmo que aqui seja uma matéria

desconhecida!

- Não sejas assim - disse a lida. - É aqui a sala da

directora. Batam primeiro à porta e depois apresentem-se

com as vossas boas maneiras a miss Theobald!

As gémeas bateram à porta. Uma voz agradável, um

tanto forte, respondeu:

- Pode entrar!

Patrícia abriu a porta e as gémeas entraram. A directora

estava sentada à secretária, a escrever. Olhou para as

pequenas e sorriu-lhes.

- Não preciso perguntar-lhes quem são - disse. Tão

parecidas só podem ser as gémeas O'Sullivan! - e levantou-

se, contornando a secretária.

- Somos sim, minha senhora - disseram as pequenas,

observando a sua nova directora. Tinha o cabelo grisalho e

uma cara de pessoa séria e digna, onde, de vez em quando,

aparecia um bonito sorriso. Apertou a mão às duas gémeas.

- Tenho muito gosto em recebê-las em Santa Clara -

disse. - Espero que um dia nos viremos a orgulhar de vocês.

Façam o melhor que puderem e o Colégio de Santa Clara

fará também tudo o que puder por vocês.

- Faremos o possível - disse a Isabel e então ficou muito

surpreendida com o que acabara de dizer. Não tencionava

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fazer mesmo nada naquele sentido! Olhou para a Patrícia.

Esta não disse nada e continuou a olhar em frente.

- Conheço muito bem a vossa mãe - disse miss Theobald.

- Fiquei radiante quando ela resolveu mandá-las para aqui.

Quando lhe escreverem mandem dizer-lhe que lhe envio

muitas saudades.

- com certeza, miss Theobald - disse a Patrícia. A

directora dirigiu-lhes um último sorriso e voltou para a sua

secretária.

- Que crianças tão estranhas! - pensou a directora. -

Parece que detestam aqui estar. Talvez seja apenas timidez

ou saudades de casa.

Mas elas não eram tímidas nem tinham saudades. Eram

apenas duas meninas teimosas, resolvidas a encarar tudo

pelo lado pior, só porque não tinham sido mandadas para o

colégio da sua preferência!

III

UM MAU COMEÇO

As gémeas em breve perceberam que Santa Clara era

muito diferente do seu anterior colégio. Até mesmo as

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camas não eram tão confortáveis. E em vez de lhe

permitirem ter as suas próprias colchas e lindos edredões,

todas as alunas eram obrigadas a um modelo único.

- Detesto ter que ser igual a todas as outras disse a

Patrícia. - Se ao menos pudéssemos servir-nos das coisas

que gostamos, faríamos um vistão.

- O que eu mais odeio é ser uma das mais novas - disse a

Isabel, desanimada. - Detesto que me falem como se eu só

tivesse seis anos, quando alguma das mais velhas me dirige

a palavra: “Eh, sai da frente. Eh, vai-me buscar um livro à

biblioteca!”. Não há direito!

O nível dos estudos era mais elevado em Santa Clara do

que em muitos dos outros colégios e, embora as gémeas

fossem inteligentes, perceberam que estavam atrasadas em

relação às companheiras da mesma aula e isso também as

aborreceu. Tinham tantas esperanças em impressionar as

colegas e em nada conseguiam distinguir-se!

Em breve travaram conhecimento com as alunas, da

mesma aula. Além da lida Wentworth e da Joana de língua

afiada, havia uma pequena muito sossegada, de cabelo liso,

chamada Vera Johns e outra com ar superior, a Ester Nayler.

As gémeas não simpatizavam nada com esta última.

- Não percebo porque há-de ser tão vaidosa disse a

Patrícia à Isabel. - Na verdade tem uma linda casa, porque

eu vi uma fotografia na sua mesa de cabeceira, mas às

vezes fala como se fosse um padre a fazer um sermão.

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Depois lembra-se que não deve ser assim e torna-se uma

idiota.

Havia ainda Catarina Gregory, uma pequena de quinze

anos, olhar assustado, a única que tentou tornar-se amiga

das gémeas logo na primeira semana. A maioria das outras

colegas não lhes ligava nenhuma importância, embora não

fossem mal educadas e lhes ensinassem os hábitos do

colégio. Todas achavam que a Patrícia e a Isabel eram muito

emproadas.

- A Catarina é engraçada - disse a Isabel. Parece ter

imensa vontade de se tornar nossa amiga, empresta-nos

livros e oferece-nos guloseimas. Está no colégio há um ano e

parece não ter nenhuma amiga. Está sempre a pedir-me que

vá com ela, quando saímos, mas eu respondo-lhe que não

posso, pois gosto de ir contigo.

- Tenho uma certa pena dela - disse a Patrícia.

- Faz-me lembrar um cão perdido à procura do dono.

A Isabel riu-se.

- É isso mesmo. Acho que de todas as da nossa turma, a

mais simpática é a lida. É natural e alegre e uma boa

camarada.

As gémeas sentiam uma grande admiração pelas alunas

mais velhas, que lhes pareciam crescidíssimas.

Principalmente as do último ano, chegavam a ter um

aspecto ainda mais imponente que as próprias professoras.

Na primeira semana, a Mónica James, uma das mais

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velhas, disse algumas palavras às gémeas. Era uma rapariga

alta, de cara inteligente, olhos azuis e bonito cabelo sedoso.

O colégio tinha orgulho nela, pois passara em todos os

exames com óptimas notas.

- Vocês são alunas novas, não é verdade? - perguntou. -

Sejam bem comportadas e boas alunas. E se tiverem alguma

dificuldade, venham ter comigo, pois estou pronta a ajudá-

las.

- Oh, muito obrigado - disseram as gémeas, sentindo-se

um tanto embaraçadas. A Mónica afastou-se com as suas

amigas e as duas irmãs ficaram a observá-las.

- É bastante simpática - disse a Isabel. - Na verdade acho

que a maioria das alunas do último ano são simpáticas,

embora me pareçam muito sérias e compenetradas.

Gostavam também de miss Roberts, embora ela não

admitisse qualquer falta de comportamento.

Às vezes a Patrícia tentava argumentar contra qualquer

coisa dizendo; “Foi assim que me ensinaram no meu antigo

colégio”.

Então, miss Roberts retorquia: - Bem, faz como quiseres,

mas garanto-te que não irás longe. Lembra-te de que aquilo

que serve num colégio, pode não resultar noutro. No

entanto, se gostas de ser teimosa, isso é contigo!

Nessa altura a Patrícia apertava os lábios, a Isabel ficava

muito vermelha e o resto da aula sorria. Aquelas emproadas

tinham que aprender uma lição!

Page 23: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

A professora de desenho, miss Walker, era uma senhora

alegre, muito competente no seu trabalho. Ficou satisfeita ao

verificar que tanto a Isabel como a Patrícia tinham jeito para

desenho e pintura. As gémeas adoravam as aulas de miss

Walker. Ela permitia-lhes uma liberdade nos trabalhos a que

não estavam habituadas no seu antigo colégio. Além disso

podiam conversar e rir, tornando-se às vezes uma aula

muito barulhenta.

A professora de francês, a mademoiselle, não era tão

indulgente. Era mais velha, severa e com mau génio. Usava

óculos que lhe escorregavam pelo nariz, sobretudo quando

estava zangada, o que acontecia muitas vezes. Tinha uns

pés enormes e uma voz áspera que as gémeas ao princípio

detestaram. Mas Mademoiselle tinha também um enorme

sentido de humor e quando qualquer coisa lhe dava vontade

de rir, desatava às gargalhadas no que era logo secundada

por toda a aula.

A Patrícia e a Isabel ao princípio tiveram grandes

dificuldades com a Mademoiselle, pois embora

compreendessem e falassem francês muito bem, nunca se

tinham ralado com a gramática e suas regras, e a professora

era intransigente nesse ponto!

- Vocês duas. Patrícia e Isabel! - exclamava ela. - Não

basta falarem a minha língua. Escrevem abominavelmente.

Vejam este exercício. É abominável, abominável!

“Abominável” era a palavra preferida de Mademoiselle.

Page 24: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Usava-a a respeito de tudo, do tempo, de um lápis mal

aparado, das alunas e dos seus próprios óculos quando lhe

escorregavam pelo nariz. Patrícia e Isabel chamavam-lhe, à

sorrelfa, Mademoiselle Abominável, e tinham no fundo um

certo medo daquela francesa de voz grossa.

A disciplina de História pertencia em todos os anos a

miss Kennedy e as suas aulas eram uma desordem. A pobre

miss Kennedy era uma solteirona mal vestida, não

conseguindo impor-se numa aula por mais de cinco minutos.

Era nervosa e muito séria, imensamente bem educada,

prestando atenção a todas as perguntas que lhe faziam,

mesmo às mais idiotas, e explicava tudo com grandes

pormenores. Parecia nunca compreender que metade do

tempo as alunas estavam a “gozá-la”...

- Antes de miss Kennedy, tínhamos a sua amiga miss

Lewis - disse lida às gémeas. - Era uma óptima professora.

Mas adoeceu no fim do último ano e pediu à directora para

ser substituída por miss Kennedy, até se encontrar

restabelecida. A miss Kennedy parece que tem vários cursos

superiores e dizem que é inteligentíssima mas, santo Deus!

é mesmo “gozável”!...

A pouco e pouco as gémeas passaram a conhecer bem

as colegas, as professoras e os hábitos do colégio.

No entanto mesmo passados os primeiros quinze dias

ainda não se conformavam de serem “ninguém em vez de

alguém”, como se lamentava a Patrícia.

Page 25: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Havia uma coisa que elas achavam insuportável. Era o

costume do colégio que mandava as mais novas fazerem

pequenos serviços às das classes mais adiantadas.

Nos últimos dois anos, tinham uma sala de estudos para

cada duas alunas. Estas podiam ser decoradas pelas suas

ocupantes, com muita simplicidade, e no tempo frio

acendiam o lume, podendo também lanchar ali, em vez de

irem ao refeitório.

Um dia uma aluna entrou na sala de estar das mais

novas, onde as gémeas estavam a ler, e chamou a Joana.

- Olha, Joana, a Kay Longdon precisa de ti. Tens que

acender o lume e fazer-lhe umas torradas.

Joana levantou-se sem um protesto e saiu da sala. As

gémeas ficaram muito surpreendidas.

- É fantástico! Mas que indecente a Kay Longdon mandar

chamar a Joana desta maneira! Garanto-te que eu nunca iria

acender o lume a ninguém! - exclamou a Patrícia.

- Nem eu! - concordou a Isabel. - Uma das criadas pode

acendê-lo ou então que o acenda a própria Kay!

A lida levantou a cabeça do seu bordado.

- A próxima vez serão vocês - disse ela. Devem estar de

serviço na próxima semana. Quando as mais velhas

precisam de qualquer coisa, contam connosco. É um

costume do colégio e ninguém se rala com isso. Quando nós

formos das mais crescidas também poderemos mandar nas

mais pequenas. - Nunca ouvi falar em tal coisa! - exclamou

Page 26: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Patrícia, furiosa. - Não tenciono fazer de criada das outras.

Os nossos pais não nos mandaram para aqui para sermos

criadas das preguiçosas mais velhas! Elas que acendam os

seus lumes e façam as suas torradas. A Isabel e eu nunca

lhes faremos nada e elas não poderão obrigar-nos!

- Patetices - disse a lida. - Nunca vi ninguém com tão

mau génio. É melhor afastares-te, Patrícia, tenho medo que

me batas!

Patrícia fechou o livro com força e saiu da sala. A irmã

seguiu-a. Todas as outras companheiras se riram.

- Idiotas! - disse a lida. - Quem julgam elas que são?

Porque não resolvem ser razoáveis? Não seriam nada

antipáticas se perdessem aquela proa. Temos que lhes dar

umas boas lições, para não acabarmos por as detestar.

- Combinado! - disse a Vera. - Vai ser bonito quando

tiverem que prestar serviços às mais velhas. Deus queira

que deparem com a Belinha Towers. No ano passado estive

às ordens dela e nem calculam como me pôs a trabalhar. Ela

estava convencida que eu era preguiçosa e garanto-lhes que

até emagreci, sempre numa roda-viva.

As pequenas riram-se. Ester Nayler falou com aquela sua

maneira superior.

- A pior coisa que têm as pessoas convencidas de que

são alguém, é que na maioria dos casos não passam de

ninguém. Garanto-lhes que não teria interesse nenhum em

me dar com as gémeas, se as tivesse conhecido lá fora.

Page 27: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

- Não comeces com as tuas grandes frases, Ester - disse

a lida. - As gémeas não são más raparigas. Depois de

apanharem alguns “entalões verás como se modificam.

E na verdade os “entalões” começaram no dia seguinte.

IV

UM PEQUENO SARILHO PARA AS GÉMEAS

Um dia, por volta das cinco e meia da tarde, quando as

gémeas estavam a escrever para casa, uma aluna de outra

classe apareceu à porta.

- Meninas! - disse ela. - Vocês duas são as gémeas

O'Sullivan? A Belinha Towers precisa de uma de vocês.

Patrícia e Isabel entreolharam-se. A Patrícia ficou muito

vermelha.

- Que pretende ela de nós? - perguntou.

- Não faço ideia - disse a aluna. - Esta manhã esteve lá

fora no campo, por isso é natural que queira os sapatos

engraxados. De qualquer modo, é melhor apressarem-se,

para não se meterem em sarilhos.

A portadora do recado desapareceu. As gémeas não se

mexeram. A lida olhou para elas.

Page 28: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

- Não sejam idiotas! - disse a lida. - Uma de vocês tem

que ir saber o que pretende a Belinha. Não a façam esperar.

Ela tem tão mau génio como tu, Patrícia.

- Vou eu - disse a Isabel, levantando-se. Mas a irmã

agarrou-a.

- Não faças isso! - disse ela. - Eu não engraxo os sapatos

de ninguém e tu também não!

- Ouve, Patrícia, não sejas presumida - disse a Joana. - A

Belinha pode querer apenas dizer-lhes qualquer coisa. Talvez

queira pedir-lhes para entrarem num desafio. Bem sabem

que é capitão de equipa.

- Não acredito - disse a Patrícia. - Nem eu nem a Isabel

sabemos jogar lacrosse.

- Mas por favor MEXAM-SE! - disse a lida. - Uma de vocês

tem que acabar por ir, porque não fazê-lo imediatamente?

Outra aluna apareceu à porta.

- Previno-as que a Belinha está furiosa! Onde estão as

irmãs O'Sullivan? Ela ainda perde a cabeça se uma das

gémeas não lhe aparecer sem demora!

- Vamos - disse a Patrícia à Isabel. - Vamos saber o que

ela pretende. Mas garanto-lhes que não lhe engraxarei os

sapatos, nem lhe acenderei o lume. E tu também não!

As duas levantaram-se e saíram da sala. As outras

desataram a rir.

- Quem me dera assistir ao que se vai passar disse a

Joana. - Adoro presenciar os ataques de fúria da Belinha.

Page 29: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Belinha Towers estava na sua sala de estudo com a

companheira que a compartilhava, a Paulina Harrison.

Patrícia abriu a porta.

- Não sabes bater à porta? - perguntou a Belinha,

zangada. - Isso não é maneira de se entrar! Sempre gostava

de saber onde têm estado metidas. Mandei chamar uma de

vocês há imenso tempo.

Patrícia sentiu-se bastante atrapalhada e Isabel não se

atreveu a responder.

- Então nenhuma de vocês tem língua? - perguntou a

Belinha. - Ó Paulina, já viste um par de parvas mais

completo? Bem, já que apareceram as duas, podem ambas

fazer-me umas coisas que preciso. Quero os meus sapatos

limpos e a Paulina também. Acendam o lume e ponham a

chaleira a aquecer. Encontrarão água ao fundo do corredor.

Vamos, Paulina, vamos fazer o nosso tema de inglês. quando

tivermos acabado, a chaleira estará a ferver e então

poderemos preparar o chá.

As duas mais velhas dirigiram-se para a porta. Mas a

Patrícia, muito vermelha e zangada, impediu-lhes a

passagem.

- Não vim para Santa Clara para trabalhar para as

colegas mais adiantadas! - disse. - Nem a minha irmã. Não

tencionamos limpar os vossos sapatos, nem acenderemos o

lume, nem nada.

A Belinha parou e até parecia que lhe tinham dado um

Page 30: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

tiro. Olhou para a Patrícia como se esta fosse um pequeno

insecto desagradável. Depois voltou-se para a Paulina.

- Estás a ouvir isto? - disse. - Que descaramento! Está

bem, minha menina, ficas sem licença de ir à cidade. E não

te esqueças desta proibição!

As gémeas olharam para Belinha, aflitas. As alunas de

Santa Clara tinham licença de ir à cidade, duas a duas, para

comprar qualquer coisa que precisassem ou para ver as

montras e até mesmo ir ao cinema, se tivessem autorização

para isso. Certamente a Belinha não tinha poder para as

impedir de o fazerem.

- Acho que não tens o direito de dizer isso disse a

Patrícia. - vou ter com a Mónica James, contar-lhe o que tu

disseste.

- Só faltava mais esta - disse a Belinha, tão zangada que

até o cabelo ruivo parecia estar em chamas. - Tens assim

tanta vontade de ser humilhada? Então vai já a correr fazer

as tuas queixinhas à Mónica e verás o que acontece.

A Patrícia e a Isabel saíram da sala de estudo. Isabel

sentia-se muito aborrecida e queria fazer o que Belinha lhe

mandara, mas a Patrícia estava furiosa. Agarrou no braço da

irmã e conduziu-a à sala de estudo de Mónica. Patrícia não

se atreveu a entrar sem bater à porta.

- Pode entrar! - ouviu-se a voz da Mónica. As gémeas

entraram. Mónica estava a trabalhar, sentada a uma mesa. -

Que se passa? Estou bastante ocupada.

Page 31: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

- Por favor, Mónica - disse a Patrícia. - A Belinha Towers

mandou-nos limpar os sapatos, acender-lhe o lume e

aquecer água na chaleira. E quando nós dissemos que não

queríamos obedecer-lhe, ela proibiu-nos de irmos à cidade.

Por isso viemos ter contigo.

- Estou a perceber - disse Mónica. - Sabem, é costume

deste colégio as mais novas prestarem serviços às mais

velhas. Isso não as choca. Vocês conhecem o provérbio: “Em

Roma sê romano”.

- Mas nós não queríamos vir para Santa Clara e por isso

também não estamos dispostas a seguir hábitos idiotas -

disse a Patrícia. - Não é verdade, Isabel?

A Isabel abanou a cabeça. Não conseguia perceber como

a Patrícia se atrevia a falar daquela maneira. Os seus joelhos

estavam a tremer. Nunca seria tão corajosa como a irmã.

- Acho que é melhor pensares um pouco, antes de

chamar idiotas aos nossos hábitos - disse a Mónica. - Agora

oiçam, não sabem limpar sapatos? Não sabem como se

acende o lume? Nunca puseram uma chaleira a ferver?

- Nunca tivemos que fazer nada disso em Redroofs -

disse a Patrícia, teimosamente. - E também nunca o fizemos

em nossa casa.

- Não faço bem ideia como se limpam sapatos cheios de

lama - disse a Isabel, calculando que com aquela declaração

a Mónica as mandasse embora.

- Santo Deus! - exclamou Mónica, desanimada.

Page 32: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

- Pensar que têm quase quinze anos e não sabem limpar

uns sapatos. É fantástico! Ainda mais uma razão para

aprenderem imediatamente. Voltem para a sala de estudo

da Belinha e tentem fazer o que ela lhes mandou. Bem sei

que ela tem mau génio e há-de dar-lhes grandes

descomposturas, mas francamente acho que bem as

merecem. Vejam se conseguem arranjar um pouco de

sensatez.

Mónica voltou para os seus livros. As gémeas, muito

vermelhas, saíram da sala e fecharam a porta

cuidadosamente. Pararam lá fora e entreolharam-se.

- Eu não limpo os malditos sapatos, nem que me

obriguem a dormir lá fora durante todo o período e não vá à

cidade nem mais uma vez! - declarou a Patrícia, furiosa.

- Ó Patrícia! Preciso tanto de comprar uma fita para o

cabelo e uns chocolates - disse a Isabel, desconsolada. -

Anda, o melhor é fazermos o que nos mandaram. As outras

hão-de achar que nós somos umas palermas por fazermos

tanto barulho desnecessário. Já nos troçaram o suficiente.

- Podes ir, se quiseres, mas eu não vou! - declarou a

Patrícia e afastou-se, muito empertigada, deixando Isabel

sozinha.

Esta pôs-se a pensar: “Supondo que vou fazer os

serviços que a Belinha mandou, ela não me tirará a licença

de ir à cidade. E como a Patrícia é igualzinha a mim, também

poderá ir, de outras vezes, acompanhada por uma qualquer.

Page 33: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Ninguém descobrirá. É uma boa partida para pregar à

Belinha!

Isabel dirigiu-se à sala de estudo da Belinha. Não estava

lá ninguém. No chão viam-se dois pares de sapatos cheios

de lama. As raparigas teriam andado com certeza sobre

terra molhada. Isabel examinou-os. Como seria que se

limpavam sapatos naquele estado?

Ouviu alguém passar no corredor e foi à porta. Viu a

Catarina Gregory e chamou-a.

- Catarina! Olha para estes horrorosos sapatos! Como

devo limpá-los?

A Catarina ficou encantada. Agradava-lhe imenso que a

Isabel pedisse o seu auxilio.

- Tens que os raspar primeiro, para tirar toda a lama -

disse ela. - Eu vou ajudar-te.

Em breve as duas pequenas limpavam com todo o

cuidado os sapatos enlameados. Levaram bastante tempo.

Catarina falou sem descanso, dando toda a espécie de

informações sobre a maneira como era amimada em casa, a

quantidade de presentes que recebia dos pais e quanto

dinheiro lhe tinham mandado no dia dos anos.

Isabel ouvia por delicadeza, muito grata pela ajuda da

Catarina, mas achando que ela era bastante pateta. Afinal

todas recebiam presentes e dinheiro no dia dos anos!

Quando os sapatos ficaram prontos, colocou-os na prateleira

dos sapatos e foi acender

Page 34: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

O lume. Catarina mostrou à companheira onde se ia

buscar água e pôs a chaleira a ferver. Nessa altura

encontraram a Belinha e a Paulina.

- Afinal resolveste tomar juízo - disse Belinha.

- Onde está a tua irmã gémea? Ajudou-te?

- Não - disse a Isabel.

- Então diz-lhe da minha parte que não poderá ir à

cidade enquanto não ajudar as mais velhas - disse a Belinha,

sentando-se numa cadeira. - Não quero ver as alunas mais

novas com ares de donas do colégio! A chaleira já está a

ferver? Ora, ora, a água está fria! Há quanto tempo está a

chaleira ao lume?

- Há menos de um minuto, Belinha - disse Isabel.

- Suponho que não te ocorreu que seria boa ideia

acender o lume e pôr a chaleira a ferver antes de limpares

os sapatos! - disse a Belinha, com ironia. - Naturalmente

achaste que era uma pena que a chaleira fervesse enquanto

limpavas os sapatos. Não percebo para que servem as

miúdas de hoje. Quando eu tinha a tua idade era muito mais

desembaraçada. Agora vai-te embora. E não te esqueças de

vir a correr quando te mandar outro recado.

Isabel saiu da sala de estudo. Quando ia a fechar a porta,

a Belinha chamou-a outra vez.

- E não te esqueças de dar o recado a essa teimosa da

tua irmã! Se ela desobedecer, farei queixa à senhora

directora.

Page 35: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

A Isabel foi-se embora. Sentia-se aborrecida, zangada e

muito estúpida. Porque não havia de ter posto a água a

ferver antes de limpar os sapatos? Não admirava que a

Belinha a tivesse achado uma idiota.

A Isabel contou à irmã o que se passara.

- E ela diz que não podes ir à cidade enquanto não

fizeres a tua parte dos serviços, mas eu acho que podes,

Patrícia, pois ninguém saberá se és tu ou sou eu. Acho que,

por enquanto, ainda ninguém consegue distinguir-nos.

- Está bem - disse a Patrícia, aborrecida. Mas não fiquei

nada satisfeita por me teres abandonado daquela maneira,

Isabel. E fantástico como te resolveste a limpar aqueles

sapatos!

- Até foi divertido - confessou a Isabel. - A Catarina

ajudou-me. Primeiramente nós...

- Cala-te - interrompeu a Patrícia, com maus modos. - Vai

fazer uma redacção sobre a maneira de limpar sapatos e

ferver água, se estás interessada mas não me venhas com

sermões, por favor. Isabel ficou ofendida. Mas Patrícia não

conseguia estar muito tempo zangada com a irmã. Ainda

não tinha passado uma hora, deu o braço à Isabel.

- Desculpa, menina - disse. - Eu não estava realmente

zangada contigo. Estava furiosa com a Belinha e

descarreguei sobre ti. Não tem importância. Hei-de enganar

a Belinha e ir à cidade sempre que quiser, fingindo seres tu.

Patrícia assim fez. Foi à cidade com uma ou outra

Page 36: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

companheira, tomando o lugar de Isabel e ninguém deu pela

diferença! Nem calculam como as gémeas se riam com a

façanha!

E então aconteceu uma coisa; A Patrícia fora à cidade

com a Catarina, depois do lanche, quando entrou uma aluna

na sala de estar. Isabel estava a pôr um disco no pick-up e

sobressaltou-se ao ouvir chamar pela Patrícia.

- Patrícia O'Sullivan! A Belinha quer falar contigo.

- Bem, tenho que fingir que sou a Patrícia pensou a

Isabel. - Mas que quererá a Belinha da Patrícia? Bem sabe

que só eu trabalho para ela.

Em breve soube o que queria a Belinha. O capitão de

equipa estava a fazer uma lista e olhou para a Isabel quando

esta entrou.

- Patrícia O'Sullivan, tu ontem jogaste lacrosse bastante

bem - disse ela. - Estive a observar-te. Tu és uma miúda

teimosa e palerma, mas isso não me interessa quando se

trata do lacrosse. Vais entrar no desafio de sábado.

A Isabel ficou surpreendida. Como a Patrícia iria ficar

satisfeita! Isabel murmurou um agradecimento e foi-se

embora, morta por que viesse a irmã para lhe dar a boa

novidade.

Quando Patrícia ouviu o que se passava, ficou quase sem

fala.

- Vou já entrar num desafio! - exclamou por fim. - Olha

que a Belinha foi formidável! Se fosse vingativa, tão cedo

Page 37: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

não me deixaria entrar num desafio!

Depois calou-se e foi-se embora sozinha. A Isabel sabia

muito bem no que estaria a pensar, pois também ela se

sentia preocupada.

Em breve Patrícia voltou e deu o braço à irmã.

- Sinto-me uma idiota! - disse a Patrícia. - Tenho

consentido que tu faças todos os serviços, enquanto eu vou

à cidade sempre que quero, apesar da proibição da Belinha.

Pensava que tínhamos sido muito espertas por lhe termos

pregado uma tão grande partida. Mas agora já não sou da

mesma opinião.

- Nem eu - confessou a Isabel. - Sinto-me má e

desonesta. A Belinha foi formidável em ter-te incluído na

equipa, embora deva estar furiosa contigo, mas nós não

fomos decentes para com ela. E tu sabes, Patrícia, eu

realmente não me ralo de fazer serviços às mais velhas. Elas

são umas belas raparigas. A Belinha agora conversa imenso

comigo e gosto dela, embora tenha um medo do seu mau

génio!

Patrícia esfregou o nariz e franziu o sobrolho. Fazia

sempre assim, quando se sentia atrapalhada. De repente

levantou-se e dirigiu-se para a porta.

- Vou contar à Belinha que lhe preguei uma partida -

disse. - Não quero entrar no desafio de sábado com a

consciência de que não me portei bem.

Dirigiu-se à sala de estudo da Belinha e bateu à porta.

Page 38: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Belinha gritou: “Pode entrar”. Ficou surpreendida ao ver a

pequena.

- Olá, Isabel! - exclamou. - Não te mandei chamar.

- Não sou a Isabel, sou a Patrícia - disse a pequena. - Vim

falar-te por causa do desafio de sábado.

- Não há mais nada a dizer além do que te disse há

pouco - disse a Belinha.

- É por isso mesmo. Tu não falaste comigo, mas com a

minha irmã Isabel - disse a Patrícia. Eu tinha ido à cidade.

Bem sei que tu me tinhas proibido, mas sou tão parecida

com a minha irmã gémea que bem sabia que ninguém daria

por isso.

- Foi uma partida muito feia - respondeu Belinha.

- Bem sei - disse a Patrícia, perturbada. Venho pedir-te

desculpa. Quero agradecer-te por me teres posto na equipa

para sábado, embora saiba que não me deixarás jogar

depois do que te confessei. De qualquer maneira não podia

consentir que fosses tão simpática comigo, sem saberes a

partida que te estava a pregar. E a partir de hoje já não me

importo de fazer serviços para ti, como a minha irmã Isabel.

Sei que fui muito parva. E é tudo, Belinha. Desculpa.

- Não, não é tudo - disse a Belinha, numa voz

inesperadamente simpática. - Também tenho qualquer coisa

a dizer. Fizeste uma coisa bastante feia, mas tiveste a

coragem de a confessar. Não falemos mais nisso. Mas hás-de

entrar no desafio de sábado.

Page 39: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Patrícia foi a correr contar à irmã, radiante. Como a

Belinha fora formidável! Como é que até ali a considerara

má e antipática?

- Hei-de ferver-lhe a água para o chá, engraxar-lhe os

sapatos e até esfregar-lhe o chão - pensou a Patrícia. - E hei-

de meter uma dúzia de golos no sábado, vão ver...

Não meteu uma dúzia de golos, mas conseguiu meter

um, muito difícil! E como ela ficou contente ao ouvir a Isabel

e a Belinha gritarem: “Muito bem, Patrícia! Bravo! Bravo! “

V

UMA BATALHA COM A MADEMOISELLE

NA aula das gémeas, todas as semanas se tinha notas

nas diferentes disciplinas. Patrícia e Isabel, que estavam

habituadas a serem das melhores alunas em Redroofs, ali

emSanta Clara, sentiam-se envergonhadas e entristecidas

por se encontrarem mais próximo das piores do que das

melhores.

A lida percebeu a sua tristeza e tentou animá-las.

- Vocês devem lembrar-se que são as únicas alunas

novas na vossa aula - disse. - Todas as outras já aqui

Page 40: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

estavam pelo menos há dois períodos, e habituamo-nos aos

métodos de Santa Clara. Por isso animem-se!

Mas era a mademoiselle “Abominável” quem mais

preocupava as gémeas. Não se mostrava nada

condescendente e quando faziam erros nos exercícios ficava

muito zangada.

Tinha um monte de cadernos de francês na sua

secretária, onde marcava “Muito Bem”, “Bem” ou “Óptimo”.

Mas, quando pegava nos cadernos da Isabel ou da Patrícia,

em ambos escrevia “Abominável”.

- Isto não pode continuar! - gritava Mademoiselle,

batendo com a mão enorme nos cadernos.

- C'est abominable! Voltam a fazer todo o exercício e

hão-de entregar-mo depois do jantar.

- Não podemos fazê-lo hoje, mademoiselle disse Isabel

com delicadeza. - Temos aula de desenho esta tarde e

depois do lanche temos autorização para irmos as duas ao

cinema. Não teremos tempo para mais nada. Poderemos

tornar a fazer o exercício amanhã?

- Oh, que vous êtes insuportáveis! - exclamou a

Mademoiselle, batendo com o pé no chão e fazendo com que

os cadernos empilhados na sua secretária começassem a

escorregar. - Como se atrevem a dizer uma coisa dessas?

Apresentam-me um exercício incrível, sim, incrível, e depois

ainda falam em ir ao cinema. Não podem ir. Ficarão no

colégio a fazer o exercício. E, se fizerem mais do que um

Page 41: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

erro, voltarão a escrevê-lo novamente. Garanto-lhes!

- Mas... mas... já temos os bilhetes - disse a Isabel. -

Tivemos que marcar os nossos lugares e...

- Não me interessam os vossos lugares! - gritou a

Mademoiselle, fora de si. - Só me interessa que aprendam

um bom francês, pois é para isso que aqui estou. Hão-de

trazer-me os exercícios feitos, depois do jantar.

Isabel estava quase a chorar. Patrícia ficou furiosa,

mordendo os lábios. Todas as outras se divertiam com a

cena e algumas delas, no fundo, até sentiam satisfação por

verem as gémeas metidas noutro sarilho. Depois ninguém se

atreveu a não estar com atenção e a aula decorreu com

muita ordem, embora Patrícia estivesse furiosa e seguisse a

lição o menos que podia.

Quando a aula acabou, as gémeas trocaram algumas

palavras.

- Eu vou ao cinema! - disse a Patrícia.

- Oh, não, por favor! - exclamou Isabel, aflita. Não

podemos ir. Metíamo-nos num grande sarilho. É melhor

ficarmos a fazer o exercício.

- Eu vou ao cinema! - declarou a Patrícia, teimosa. - Hei-

de conseguir fazer a porcaria do exercício em qualquer outra

altura e tu farás outro tanto. Podemos escrevê-lo depois do

jantar. Não me ralo que fique mal feito.

Mas depois do jantar tinham que ir a uma reunião da sua

classe para planearem uma excursão, por isso nessa altura

Page 42: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

não haveria tempo.

A lição de desenho ocupou-as toda a tarde. Isabel

começou a sentir-se preocupada. E se Patrícia insistisse em ir

ao cinema, mesmo sem terem feito os exercícios? Nem

queria pensar o que diria a Mademoiselle!

- Podemos não lanchar - propôs a Isabel à irmã,

enquanto corria pela escada abaixo, depois da aula de

desenho. - Aproveitaremos o tempo para escrever o

exercício.

- Não lanchar! Nem penses nisso! - declarou a Patrícia. -

Estou cheia de fome. Não sei por que motivo a lição de

desenho me faz sempre fome, mas é verdade. E eu sei que a

Joana recebeu um grande boião de compota de ameixa que

vai abrir hoje ao lanche. Não quero perder a minha parte!

Isabel também tinha apetite e por isso desistiu, embora

contrariada. Bem sabiam que, se queriam chegar a tempo

ao cinema, não tinham um momento a perder depois do

lanche, quanto mais escreverem exercícios!

“Eu realmente não devia ir ao cinema - pensou ela. “Não

tenho coragem. A Mademoiselle Abominável era capaz de

ter um ataque se soubesse que tínhamos saído.”

Mas depois do lanche a Patrícia arrastou a irmã até ao

dormitório para irem buscar os chapéus e os casacos.

- Nós não podemos ir, Patrícia - exclamou a Isabel.

- Vamos com certeza! - teimou Patrícia, mordendo os

lábios. - Despacha-te!

Page 43: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

- Mas, Patrícia, vamos meter-nos numa enorme

complicação - disse a Isabel. - E não vale a pena. Talvez a

Mademoiselle nos obrigue a ter mais uma hora de trabalho

por dia ou coisa assim. A Joana contou-me que uma vez ela

lhe tirou o recreio depois do lanche durante uma semana,

para escrever verbos em francês, só porque fez uma ligeira

troça da Mademoiselle. E olha que é um castigo muito

maçador.

- Não sejas cobarde, Isabel - respondeu Patrícia.

- Tenho um plano. A Mademoiselle mandou-nos

apresentar os exercícios depois do jantar, não foi? Mas não

disse a que horas! Assim, quando estivermos na cama e

calcularmos que as outras adormeceram, iremos até à sala

de estudo, em roupão, escreveremos os nossos exercícios e

vamos entregá-los à Mademoiselle.

- Patrícia, não tenho coragem! - exclamou a pobre Isabel.

- E incrível irmos procurar a Mademoiselle a essas horas da

noite, em roupão. Tu deves estar maluca.

- A Mademoiselle é que nos põe malucas! - disse a

teimosa Patrícia. - De qualquer modo não me importo com o

que possa suceder. Bem sabes que nunca quisemos vir para

Santa Clara e se vão continuar a tratar-nos desta maneira,

não quero cá ficar. Prefiro ser expulsa!

- Patrícia, não deves falar assim - disse a Isabel. - Pensa o

que diriam o pai e a mãe.

- Foram eles que nos mandaram para aqui respondeu

Page 44: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Patrícia, que estava realmente furiosa.

- Mas pensa como seria horrível se soubessem em

Redroofs que tínhamos sido expulsas de Santa Clara - disse a

Isabel em voz baixa.

Os olhos da Patrícia encheram-se de lágrimas. Nem

queria pensar em tal.

- Vamos - disse ela, decidida. - Não tenciono agora

mudar de ideias. Se queres vir comigo, decide-te. Caso

contrário, só tu serás a cobarde!

Mas a Isabel não queria ficar sozinha. Por isso vestiu o

casaco e pôs o chapéu. Joana entrou no dormitório quando

as gémeas iam a sair.

- Olha, olha! - exclamou ela. - com que então sempre vão

ao cinema! Quando é que arranjaram tempo para fazer o

exercício de francês?

- Ainda não o fizemos - declarou a Patrícia. Joana deu um

grande assobio e olhou para as gémeas, surpreendida.

- Não gostaria de estar na vossa pele, quando amanhã

tiverem de dizer isso à Mademoiselle disse ela. - Realmente

vocês são um par de idiotas. Não sei que prazer têm em

complicar tudo!

As gémeas não responderam. Desceram as escadas a

correr e em breve estavam na cidade. Mas nenhuma delas

apreciou realmente o filme, embora fosse muito bom.

Tiveram que sair um pouco antes do final, para chegarem a

tempo ao jantar. Seguiu-se uma reunião a que ambas

Page 45: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

tiveram de assistir, embora muito lhes apetecesse faltar.

Mas era dirigida pela Mónica James e nenhuma das gémeas

se atreveu a pedir dispensa.

Às nove horas todas as alunas da sua classe, foram

deitar-se assim como dos dois anos seguintes. Conversando

e rindo, as gémeas e as companheiras encaminharam-se

para os dormitórios e despiram-se. Geralmente era uma

professora quem ia ver se as alunas estavam todas na cama

e apagava as luzes, mas naquela noite a lida participou que

estava encarregada desse trabalho.

- A miss Roberts está com a directora - disse. Por isso,

hoje estou de serviço. Despachem-se, porque daqui a cinco

minutos vou apagar a luz, e se forem vagarosas terão que se

despir às escuras.

Duas das pequenas, a Joana e a Dora, começaram uma

luta com as almofadas, ao ouvirem que a miss Roberts não

aparecia. Todas desataram a rir, ao verem as duas

almofadas a baterem uma na outra. Mas o caso não foi

assim tão divertido quando a cobertura de uma das

almofadas se rompeu e as penas que continha começaram a

espalhar-se por toda a parte.

- Valha-me Deus! - exclamou Joana. - Olhem para a

minha almofada. lida, peço-te por tudo que não apagues já a

luz. Tenho que apanhar as penas!

- Desculpa - disse a lida. - Terás que apanhá-las amanhã

de manhã. vou já apagar a luz. A miss Roberts deve passar

Page 46: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

por aqui dentro de uma hora e espero que não veja as penas

espalhadas por toda a parte. Julgará que estivemos a

depenar galinhas no dormitório.

As luzes apagaram-se. Todas as pequenasse meteram

nas camas, excepto a Joana e a Dora que tentaram apanhar

algumas penas. Tinham que se acabar de despir e lavar os

dentes com as luzes apagadas. Joana deixou cair o copo dos

dentes e Dora bateu com o tornozelo na cómoda, o que a fez

resmungar, com a dor. A Joana riu-se e a Catarina Gregory

teve um tal ataque de riso que ficou cheia de soluços.

- Cala-te, Catarina - ordenou a lida. - Estás com soluços

de propósito. Já te conheço.

- Não estou nada! - exclamou a Catarina, indignada, e

deu um soluço tão grande que a cama até estremeceu. A

Joana não conseguiu conter o riso. Por mais que tentasse

parar, a pobre Catarina dava mais soluços e Joana

continuava a rir.

Até mesmo as gémeas, embora estivessem ansiosas por

que todas as outras adormecessem, não conseguiam deixar

de rir. A lida ficou zangada e sentou-se na cama.

- Vocês são muito más! - disse ela. - Se alguém aparecer

e as ouvir fazerem todo este barulho eu é que serei

repreendida, pois estou a tomar conta do dormitório. Cala-te,

Joana. E tu, Catarina, por favor bebe um pouco de água.

Como será possível adormeceres se continuares assim aos

soluços?

Page 47: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

- Desculpa, lida - disse a Catarina, com mais um soluço. -

vou levantar-me para ir buscar água.

- Metam-se na cama, Joana e Dora - ordenou a lida,

preparando-se para dormir. - Não me interessa se já lavaram

os dentes e escovaram o cabelo! PARA A CAMA!

Daí a cinco minutos o dormitório estava em paz e

sossego, tirando uns espaçados soluços da Catarina,

seguidos de pequenas gargalhadas da Joana.

As gémeas permaneciam acordadas, esperando que as

outras adormecessem. Preocupava-as saberem que a miss

Roberts deveria aparecer daí a uma meia hora. Não podiam

esperar ainda uma hora até se escaparem para a sala de

estudo. Além disso, a Mademoiselle já teria ido deitar-se,

quando acabassem os exercícios.

- Isabel! - murmurou a Patrícia por fim. Isabel! Julgo que

todas adormeceram. Levanta-te e veste o roupão.

- Mas a miss Roberts ainda não apareceu! respondeu

Isabel em voz baixa.

- Poremos os travesseiros dentro das camas, para

parecerem os nossos corpos - disse a Patrícia.

- Vamos.

Levantaram-se sem fazerem barulho e vestiram os

roupões. Enfiaram os travesseiros dentro das camas,

esperando que a miss Roberts não notasse nada de anormal,

quando aparecesse. Depois saíram e desceram as escadas

mal iluminadas até à sala de estudo, que ficava mesmo por

Page 48: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

baixo do dormitório.

A Patrícia fechou a porta e acendeu a luz. As gémeas

sentaram-se e abriram os cadernos de francês. A

Mademoiselle marcara todos os erros, e com cuidado, as

duas pequenas voltaram a escrever os exercícios já

corrigidos.

- O meu tinha quinze erros, espero que desta vez não

tenha mais de cinco! - disse a Isabel. Diabos levem a

Mademoiselle Abominável! Estou cheia de sono. Ó Patrícia, e

achas que agora temoscoragem para ir procurar a

Mademoiselle? Sinto-me a tremer, só com a ideia!

- Não sejas palerma - disse a Patrícia. - Que mal nos pode

fazer? Voltámos a escrever os exercícios e ela mandou-nos

entregar depois do jantar.

Os exercícios estavam prontos. Agora era preciso

encontrar a Mademoiselle. Onde estaria? Numa das salas de

estar das professoras, no seu próprio quarto ou onde?

- Bem, vamos lá - disse a Patrícia por fim. - Temos que a

descobrir. Anima-te, Isabel.

As gémeas saíram da sala de estudo e dirigiram-se para

a primeira das salas das professoras. A luz estava apagada e

não se encontrava ali ninguém. Quando se dirigiam para

uma das outras salas, ouviram a voz da Mademoiselle, que

vinha de uma das aulas. Que sorte!

- Está na aula número 3 - murmurou a Patrícia.

- Não sei quem lá estará com ela, mas também não

Page 49: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

interessa. Naturalmente é a professora de desenho, que é

muito amiga da Mademoiselle.

Bateram à porta da aula número três. Uma voz

surpreendida disse:

- Quem é? Entre!

A Patrícia abriu a porta e as gémeas entraram. Santo

Deus, quem haveria de estar com a Mademoiselle,

examinando um grande mapa francês? Miss Theobald, a

directora.

As gémeas ficaram tão atrapalhadas, que pararam sem

dizer uma palavra, e os olhos muito abertos. A Mademoiselle

exclamou:

- Viens! - em voz alta e admirada, e miss Theobald não

disse nada. Mademoiselle foi a primeira a refazer-se da

surpresa.

- Que se passa? Estão doentes, mes petites?

- Não, Mademoiselle - disse a Patrícia, numa voz um

tanto trémula. - Não estamos doentes. Trouxemos os nossos

exercícios escritos. A Mademoiselle mandou-nos entregá-los

depois do jantar.

- Mas porque os trouxeram tão tarde? - perguntou miss

Theobald, na sua voz séria e profunda. Deviam ter percebido

que a Mademoiselle queria que os entregassem antes de

irem para a cama.

- Não tivemos tempo para os escrever mais cedo - disse

a Patrícia, sentindo-se de repente muito parva. - Levantámo-

Page 50: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

nos da cama e fomos para a sala de estudo escrevê-los.

As gémeas ficaram tão atrapalhadas, que pararam sem

dizerem uma palavra, os olhos muito abertos.

- Ah! Que crianças tão teimosas! Afinal foram ao cinema

em vez de ficarem a fazer os exercícios disse a

Mademoiselle, percebendo tudo imediatamente. - Oh, miss

Theobald, estas gémeas fazem-me cabelos brancos. Os

exercícios que apresentam! Dá ideia que nunca estiveram

num colégio antes de virem para aqui. O seu trabalho é

abominável.

- Nós estivemos num colégio que era óptimo afirmou a

Patrícia, indignada. - Muito melhor do que Santa Clara.

Seguiu-se um prolongado silêncio. A miss Theobald

parecia pensativa. Mademoiselle dava ideia que perdera a

fala.

- Acho que é melhor não decidir nada esta noite sobre o

assunto - disse finalmente a directora. Já é muito tarde. Vão

para a cama, meninas, e amanhã de manhã, às dez horas,

vão procurar-me. Peçam à miss Roberts que as dispense por

um quarto de hora.

Assim as gémeas voltaram para a cama, agarradas aos

seus cadernos de francês, aborrecidas e desanimadas. Que

pouca sorte terem logo esbarrado com a própria directora!

Agora que lhes iria acontecer? Nem queriam pensar na

manhã seguinte!

Page 51: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

VI

POBRE MISS KENNEDY!

A lida estava acordada quando as gémeas voltaram para

a cama e perguntou-lhes onde tinham ido.

- Miss Roberts veio cá, acendeu a luz e eu acordei - disse

a lida. - Percebi logo que vocês tinham posto os travesseiros

dentro das camas, mas a miss Roberts não reparou. Que

estiveram a fazer?

A Patrícia contou-lhe. lida ouvia muito admirada.

- Essa é fantástica! - exclamou. - Vocês são malucas!

Parece impossível que tenham sido chefes de turma no

vosso colégio. Portam-se como bebés.

As gémeas ficaram aborrecidas com a lida, sobretudo

porque muito no fundo, lhes parecia que ela tinha razão.

Foram para a cama e puseram-se a pensar. Na verdade era

muito bonito ser-se refilona e atrevida, mas no fim não tinha

lá muita graça!

Às dez horas da manhã seguinte pediram a miss Roberts

que as dispensasse. Era evidente que miss Roberts já sabia

do que se tratava, pois fez um sinal de assentimento e nada

perguntou. As gémeas dirigiram-se juntas para o escritório

Page 52: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

da directora.

Miss Theobald estava a fazer uns horários e mandou-as

sentar e esperar um pouco. Era terrível estarem ali sentadas,

em expectativa. As duas gémeas sentiam-se muito mais

nervosas do que queriam aparentar.

Patrícia começou a pensar se a directora escreveria aos

pais, a contar o que se passara. Embora tivesse protestado

tanto com a ida para Santa Clara, não queria que a directora

mandasse dizer que eram indisciplinadas.

Finalmente miss Theobald ficou pronta a atender as

pequenas. Fez com que a cadeira desse meia volta e

encarou-as. Estava muito séria, mas não parecia zangada.

- Estive a examinar as notas e informações que o vosso

pai me mandou, pertencentes ao vosso antigo colégio -

começou a directora. - São muito boas e parece que vocês

eram umas alunas excelentes, de comportamento exemplar.

Acho difícil que tenham mudado de maneira de ser em tão

pouco tempo, por isso não irei tratá-las como meninas

insubordinadas e inconscientes. Estou certa que deve haver

alguma razão fundamental, para se terem portado de

maneira tão extraordinária ontem à noite. Na verdade,

minhas queridas, pregaram-nos um grande susto, à

Mademoiselle e a mim, quando entraram na sala de aula,

com os vossos roupões.

A directora sorriu. As gémeas sentiram-se muito

aliviadas e Patrícia começou a contar o que se passava na

Page 53: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

aula de francês.

- O francês não é ensinado da mesma maneira do que no

nosso antigo colégio. E nem vale a pena tentarmos fazer os

exercícios bem, porque no final estão sempre errados. Nós

não temos culpa. E ontem a Mademoiselle estava

simplesmente furiosa connosco, e...

A miss Theobald ouviu Patrícia, cheia de paciência até ao

fim.

- Bem, as vossas dificuldades no francês podem acabar -

disse a directora. - Já falei com a Mademoiselle e ela

informou-me que vocês falam bastante bem e percebem

tudo, mas não têm bases na escrita e gramática. A

Mademoiselle ofereceu-se para lhes dar meia hora de lição

extraordinária todos os dias, até estarem no mesmo

adiantamento que as vossas colegas. Foi uma grande

amabilidade da sua parte, pois tem imenso que fazer. Todo

este aborrecimento provém de vocês estarem atrasadas e se

ajudarem, trabalhando com toda a boa vontade com a

Mademoiselle, não há mais nada a dizer sobre o vosso

comportamento pateta da noite passada.

As gémeas olharam para miss Theobald um tanto

confundidas. Por um lado sentiam um grande alivio que ela

não lhes desse nenhuma descompostura mas por outro lado,

santo Deus! Como seria horrível terem que aturar a

Mademoiselle todos os dias, mais meia hora! E no entanto

Mademoiselle Abominável fora simpática em se ter oferecido

Page 54: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

para as ajudar.

- Muito obrigada, miss Theobald - disse por fim Patrícia. -

Vamos fazer os possíveis. Quando conseguirmos alcançar as

outras, já não nos sentiremos tão revoltadas nem

envergonhadas, ao apanharmos descomposturas em frente

de toda a classe.

- Ninguém se zangará convosco, se a Mademoiselle

perceber que estão a esforçar-se por ser boas alunas - disse

a miss Theobald. - Agora vão ter com a Mademoiselle e

combinem qual a melhor hora para as lições extraordinárias.

E por favor não voltem a andar pelos corredores, em roupão,

às dez e meia da noite.

- Com certeza, miss Theobald - disseram as gémeas em

coro, sorrindo para a directora. Agora tudo aparecia com

melhor aspecto. O que tinham feito já não tomava as

proporções de uma horrível falta de comportamento,

necessitando de ser punida por processos terríveis, mas

apenas um disparate de que ambas se sentiam muito

envergonhadas. Saíram do gabinete e dirigiram-se à sala de

estar das professoras. A Mademoiselle encontrava-se ali,

corrigindo enormes pilhas de cadernos, falando para consigo

enquanto os lia.

- Três bien, ma petite lida! Ai, esta terrível menina Joana!

Ah... entrem!

As gémeas avançaram. A Mademoiselle sorriu-lhes e

bateu-lhes no ombro, afectuosamente. Embora tivesse muito

Page 55: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

mau génio e se irritasse com facilidade, tinha bom coração e

era generosa.

- Agora vamos a ver essa coragem, para apanharem as

outras! - disse. - Trabalharão todos os dias comigo e vamos

tornar-nos boas amigas, n'est cê pás?

- Obrigada, Mademoiselle - exclamou a Patrícia.

- Ontem fomos umas palermas. Mas não queremos voltar

a sê-lo!

- E muito obrigada por se ter oferecido para nos ajudar -

disse a Isabel.

E assim, daí em diante, a aula de francês tornou-se mais

suave. A Mademoiselle era mais paciente com as gémeas e

elas esforçavam-se o mais que podiam.

Só ninguém se esforçava por ser boa aluna com a pobre

miss Kennedy! Joana era por temperamento muito trocista e

brincalhona e tornava-se impossível na aula da professora

de História. A Joana tinha uma bela colecção de lápis de

carnaval e com todos eles obtinha enorme êxito em relação

a miss Kennedy.

Um dos lápis tinha uma ponta feita de borracha, e por

isso toda se dobrava, quando a professora tentava escrever

com ele. Outro tinha uma ponta que se enfiava para dentro

mal tocava no papel. As alunas divertiam-se imenso,

enquanto a pobre miss Kennedy se esforçava por se servir

dos lápis e os observava, muito surpreendida.

Depois Joana arranjou um lápis que não escrevia mesmo

Page 56: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

nada, embora mostrasse um bico bem afiado. Ao ver a pobre

miss Kennedy tentando por escrever “Muito bem” com o tal

lápis, toda a classe desatava às gargalhadas.

- Meninas! Meninas! Por favor façam menos barulho -

dizia miss Kennedy. - Abram os vossos compêndios de

História na página oitenta e sete. Hoje vou-lhes explicar

como viviam as pessoas no século XVII.

As alunas punham-se todas a abrir os livros na página

oitenta e sete, de tal maneira que faziam um barulho que

mais parecia uma ventania. Continuavam assim,

murmurando “Oitenta e sete, oitenta e sete” durante todo o

tempo.

- Que número disse, miss Kennedy? - perguntou a

Catarina, com um ar muito inocente, embora estivesse farta

de saber que página procurava.

- Eu disse “página oitenta e sete” - repetiu a miss

Kennedy, delicadamente. Era sempre delicada, nunca se

enfurecendo como a Mademoiselle, ou tornando-se trocista

como a miss Roberts.

- Oh, oitenta e sete! - disseram as alunas todas em coro,

e imediatamente recomeçaram a virar as folhas, agora em

sentido contrário, muito atarefadas e com ar seríssimo.

Então Joana não conseguiu conter uma gargalhada e toda a

aula se pôs a rir. Miss Kennedy bateu com a mão na

secretária.

- Por favor, por favor - disse ela. - Peço-lhes por tudo que

Page 57: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

estejam caladas e vamos continuar com a nossa lição.

- Miss Kennedy, as pessoas usavam fatos no século XVII

ou apenas peles? - perguntou a Joana, fingindo-se muito

séria. Miss Kennedy ficou surpreendida.

- Com certeza sabias que usavam fatos - disse ela. -

Tenho aqui um desenho das roupas que então usavam.

Devias saber, Joana, que nessa altura já não se usavam

peles.

- Nem mesmo as suas próprias peles? - perguntou a

Joana. Na verdade a pergunta não tinha grande graça, mas a

classe já estava em tal estado que tudo as fazia rir e

desataram às gargalhadas.

- Talvez não gostassem de “estar nas suas peles” e por

isso é que não as usavam - disse a lida. Seguiram-se mais

gargalhadas, embora metade das alunas nem tivesse

percebido o que lida dissera.

- Meninas, isto não pode continuar, palavra que não pode

- disse a miss Kennedy. - Tenho que participar das meninas.

- Oh, por favor, POR FAVOR, miss Kennedy! gritou toda a

classe, em coro e uma ou duas alunas fingiram chorar.

Pobre miss Kennedy! Acontecia o mesmo em todas as

aulas, embora as classes mais adiantadas se comportassem

melhor. As alunas das classes menos adiantadas não

queriam ser más nem desagradáveis, mas gostavam de se

divertir e nem pensavam no que a pobre miss Kennedy

poderia sofrer com isso. Achavam-na apenas muito divertida.

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Uma manhã, quando a aula estava especialmente

insubordinada, Joana fez um sinal. Catarina riu-se, pois sabia

o que estava combinado. Quando Joana fez o segundo sinal

todas as companheiras deitaram ao chão o compêndio de

História.

Pam! Miss Kennedy sobressaltou-se e logo a seguir a

porta abriu-se e entrou miss Roberts! Ela estava a dar uma

aula na sala ao lado e ao ouvir o barulho de vinte livros a

cair no chão ao mesmo tempo, parecendo um tiro, resolveu

que era altura de investigar o que se passava.

- Miss Kennedy, não sei se quer participar de algumas

alunas - disse a miss Roberts numa voz muito fria. - Terei

todo o prazer em recebê-la depois das aulas da manhã.

Certamente considera muito difícil ensinar, no meio de todo

este barulho.

Miss Roberts olhou para a classe e as pequenas ficaram

muito caladas e algumas coraram. Miss Kennedy também

ficou vermelha.

- Peço desculpa pelo barulho, miss Roberts disse ela. -

Bem vê...

Mas miss Roberts desaparecera fechando a porta com a

sua maneira decidida.

- A Kenny não fará queixa de ninguém - murmurou a

Joana â Isabel. - Se o fizesse teria que participar de toda a

aula e para isso não teria coragem.

Miss Kennedy não acusou ninguém, mas nessa noite,

Page 59: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

bem fechada no seu quarto, não conseguia dormir. Fora para

Santa Clara porque a sua amiga miss Lewis, que tanto a

elogiava, estava doente e agora miss Kennedy percebia que

estava a deixá-la ficar mal, pois não conseguia ter mão nas

alunas e tinha a certeza que naquele período nada tinham

aprendido de História. Miss Roberts entrara na aula daquela

maneira e mais tarde quase não lhe falara, na sala das

professoras. E se fosse participar dela a miss Theobald? Era

horrível sentir que falhara, mas a pobre Kennedy não sabia

como conseguir impor-se.

“Tenho medo das pequenas, essa é a questão principal”,

pensou miss Kennedy. - E não quero acusá-las porque depois

ficam a detestar-me e isso ainda tornaria as coisas piores.

Entretanto no dormitório, Joana planeava novas partidas

a pregar a miss Kennedy! Joana tinha vários irmãos, todos

tão brincalhões como ela, que lhe mandavam toda a espécie

de objectos de que já se tinham servido nas suas próprias

classes.

- Patrícia! Isabel! Estão a dormir? - perguntou Joana em

voz baixa. Os meus irmãos vão mandar-me uns estalinhos

para lume. Já viram alguns?

- Nunca - responderam as gémeas. - Que é isso?

- Deitam-se para o lume e desatam a estalar e a assobiar

- explicou a Joana, rindo. - O meu lugar na aula fica perto da

lareira. Por isso vocês verão como será divertido, na próxima

semana. Espero que a encomenda chegue amanhã.

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As gémeas riram-se. O que diria a Kenny quando o lume

começasse a estalar e a assobiar? Já anteviam a expressão

alarmada da professora.

- Joana! - murmurou Patrícia. - Vamos...

Mas a lida, encarregada do dormitório, acabou a

conversa.

- Calem-se! Conhecem o regulamento, não conhecem?

Por favor, já dormir!

VII

JOANA CONTINUA A PREGAR PARTIDAS

O embrulho para Joana, com os estalinhos, chegou. Ela

riu-se quando o tirou do cesto do correio e piscou o olho às

gémeas.

- Vou abri-lo no dormitório, depois do pequeno almoço -

disse. - Façam de conta que se esqueceram de qualquer

coisa e vão lá acima antes de rezarmos.

Assim, Joana e as gémeas correram ao dormitório logo a

seguir ao pequeno-almoço e durante cinco minutos

examinaram o conteúdo do embrulho. Havia uma caixa e lá

dentro uns cinquenta estalinhos pequeninos e com aspecto

Page 61: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

inofensivo, amarelos e vermelhos.

- Achas que farão assim tanto barulho? - perguntou a

Patrícia, pegando num deles. - Dá ideia que só conseguem

dar um pequeno salto.

- Não te preocupes! vou atirar para o lume mais de uma

dúzia ao mesmo tempo - disse Joana. Há-de parecer uma

autêntica explosão, garanto-lhes. Vai ser divertidíssimo.

Não parando de rir, as três pequenas desceram as

escadas, no momento em que tocava a campainha para as

orações. Estavam mortas por que chegasse a hora da lição

de história. Era a seguir ao recreio da manhã. Joana contara

a mais algumas colegas o que tencionava fazer e toda a

classe se encontrava na maior expectativa. Até mesmo miss

Roberts percebeu que se passava qualquer coisa, embora as

alunas se esforçassem por prestar atenção.

No fim da aula de matemática, mesmo antes do

intervalo, miss Roberts disse-lhes em tom severo:

- Após o intervalo terão a aula habitualmente. Espero

que estejam na aula da miss Kennedy como na minha.

Se isso não acontecer, terão que me ouvir. Não te portes

mal esta manhã, ESTÁS A OUVIR, JOANA?

A Joana sobressaltou-se. Não percebia porque motivo

miss Roberts se dirigia a ela em especial. Também não sabia

que estava com cara de culpada.

- Sim, miss Roberts - disse Joana, pensando que afinal

não conseguiria fazer a partida dos estalinhos.

Page 62: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Mas as colegas da mesma classe rodearam-na durante o

intervalo e insistiram para que cumprisse a sua promessa.

Não queriam perder o espectáculo de miss Kennedy toda

assustada, olhando para o lume, sem perceber o que se

passava.

- Está bem - disse Joana por fim. - Mas por favor não me

acusem à miss Roberts se ela der pelo barulho. E prometam

não rir muito alto. Olhem que nos metemos num grande

sarilho, se miss Roberts nos ouvir.

- É impossível - disse a Catarina. - Ela vai falar com o

sexto ano, não sei porquê e como sabem essa aula fica na

outra ponta do colégio. Não ouvirá nada.

- Óptimo! - exclamou Joana, sentindo-se mais à vontade.

- Vocês verão como vai ser animado!

Todas as alunas estavam sentadas nos seus lugares,

caladas como ratos, quando miss Kennedy entrou para lhes

dar a habitual lição de História. Sentia-se ainda mais nervosa

do que de costume, pois não podia esquecer o modo como

as alunas se haviam comportado na última lição. Ficou muito

satisfeita ao vê-las tão sossegadas, sentadas nos seus

lugares.

- Bom-dia, meninas - disse, sentando-se à sua secretária.

- Bom-dia, miss Kennedy - respondeu a aula em coro e a

lição começou. Miss Kennedy precisou de virar-se para o

quadro, para traçar um esquema e imediatamente todas as

pequenas se voltaram para a Joana. Chegara a grande

Page 63: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

oportunidade!

O lugar da Joana era mesmo ao lado do lume. A caixa

dos estalinhos encontrava-se na sua carteira. Ela retirou a

tampa cuidadosamente e escolheu cerca de uma dúzia.

Depois atirou-os para o meio do lume que ardia na lareira.

Todas ficaram em enorme expectativa. Por um momento

nada aconteceu, só as chamas se elevaram um pouco mais.

Depois começou a animação!

PAM! PIM! PAM! BZZZZ! BZZZ! Metade dos estalinhos

explodiam. Viam-se faúlhas subindo pela chaminé ou

saltando do lume para o chão da aula.

PAM! BZZZ! Todas ouviam, com os olhos pregados na

pobre miss Kennedy, que se mostrava a criatura mais

surpreendida e assustada do mundo.

- Miss Kennedy! Ó miss Kennedy! Que é isto?

- exclamou a Patrícia, fingindo-se assustada.

- Não é nada, Patrícia. Não tem importância disse miss

Kennedy. - Pronto, já acabou, mas realmente também fiquei

assustada.

PAAAM! PAAAM! Mais alguns estalinhos explodiam e uma

chuva de faúlhas saltava do lume. Joana deu um salto,

agarrou no pano com que se limpava o quadro e começou a

bater nas faúlhas com grandes gestos, desnecessários.

- Joana! Joana! Pára com isso! - exclamou a miss

Kennedy, receando que na aula ao lado ouvissem o barulho.

Nessa altura as pequenas começaram a rir, apesar dos

Page 64: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

esforços para se manterem sérias e abafarem as

gargalhadas. Quando os estalinhos recomeçaram a explodir

já riam sem se conterem, sobretudo ao verem a Joana

fingindo mais uma vez que batia nas faúlhas com o pano do

quadro, espalhando nuvens de pó.

Miss Kennedy tornou-se muito pálida. Calculou que lhe

estavam a pregar uma partida, embora não percebesse qual.

Ficou de pé, muito direita, parecendo de repente

extraordinariamente séria, embora umas madeixas de

cabelo estivessem fora do seu lugar.

- Meninas! - disse ela. - Esta manhã não haverá lição de

História. Recuso-me a dar aula a uma classe como esta.

E saiu da sala, muito pálida, com os olhos cheios de

lágrimas.

Teria que ir falar com a Directora e pedir a demissão. Não

era possível receber um ordenado por dar aulas a meninas

que passavam o tempo todo a brincar. Mas não iria naquele

momento, pois sentia-se muito deprimida. Esperaria pela

hora do almoço. Escreveu à pressa um bilhete a miss

Roberts e mandou-o entregar por uma das criadas do

colégio.

Sinto-me muito mal disposta e tive que interromper a

lição, dizia o bilhete.

Miss Roberts ficou surpreendida ao lê-lo.

Hesitou se devia ir ver o que se passava na classe, mas

calculava que miss Kennedy certamente dera às alunas

Page 65: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

qualquer trabalho para fazerem. No entanto acabou por

resolver deixar escritas algumas perguntas no quadro,

tentando imaginar o que se passaria com as outras

pequenas.

Todas tinham ficado um tanto perturbadas quando miss

Kennedy saira da sala. Algumas das alunas sentiram-se

culpadas e embaraçadas mas quando o lume mais uma vez

começou a explodir, voltou a alegria e a Dora, a Catarina, a

Joana e as companheiras de novo se riram com vontade.

- Vocês repararam na Kenny quando explodiu o primeiro

estalinho? - perguntou Joana. - Julguei que morria, com o

esforço para não me rir. Até fiquei com uma dor aqui ao

lado!

- Ó Joana, esses estalinhos são uma maravilha! -

exclamou a lida. - Deita mais uns para o lume. A Kenny já

não volta. Só espero que ela não vá contar à directora.

- Ela não foi para o lado dos aposentos da miss Theobald

- disse Joana. - Está bem, vou deitar mais uns estalinhos.

Atenção!

Joana agitou a caixa perto do lume, tencionando lançar

mais uma dúzia de estalinhos, mas de repente todos os que

se encontravam na caixa saltaram para as chamas! Joana

riu-se.

- Olhem! Saltaram todos! Vamos - divertir-nos muito.

Dora estava de guarda à porta da aula, para o caso de

aparecer alguma professora. De repente soltou uma

Page 66: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

exclamação.

- Oh! Cuidado! Vem aí a miss Roberts! Vão depressa para

os vossos lugares.

Todas correram para as respectivas carteiras. Abriram os

livros de História e na altura em que a miss Roberts entrou, a

aula parecia muito sossegada, embora fosse um pouco

suspeito ver tantas cabeças baixas. Miss Roberts ficou logo

de pé atrás. Geralmente as pequenas olhavam todas para

ela, quando entrava.

- Parecem muito ocupadas - disse secamente. Miss

Kennedy deu-lhes algum trabalho de História para fazerem?

Ninguém respondeu. Joana olhou para a lareira cheia de

ansiedade. Os estalinhos! Como desejava não ter deitado

tantos para o lume!

As chamas tornaram-se um pouco mais vivas.

Miss Roberts disse com severidade:

- Ninguém me responde? A miss...

Mas não acabou a pergunta, porque cerca de vinte

estalinhos puseram-se a explodir quase ao mesmo tempo,

fazendo um barulho terrível! As faúlhas espalhavam-se por

toda a parte e enormes labaredas subiam pela chaminé.

- Santo Deus! - exclamou miss Roberts. - Que se passa

com o lume?

Mais uma vez ninguém respondeu. Agora ninguém se ria.

Todas pareciam assustadas.

barn! barn! BZZZ! barn! BZZZ! Alguns estalinhos

Page 67: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

explodiam no ar, fazendo com que se desprendesse uma

autêntica chuva de fuligem. Era fuligem muito quente, que

se espalhava por toda a sala. Joana e as colegas sentadas

mais perto do lume começaram a tossir, engasgadas.

- Afasta-te do lume, Joana - ordenou a miss Roberts. -

Essas faúlhas ainda te pegam fogo ao uniforme.

A fuligem continuava a espalhar-se e partículas negras

iam pousando nos livros, papéis, carteiras e cabelos. Miss

Roberts mal podia conter a fúria.

- Alguém deitou estalinhos para o lume! exclamou. -

Podem sair da aula. vou para o meu gabinete. Espero que a

menina que resolveu pregar esta estúpida e perigosa partida

vá imediatamente ter comigo.

Saiu da sala. As pequenas entreolharam-se, aflitas. Era

muito engraçado pregar uma partida a miss Kennedy, mas

com a miss Roberts o caso era muito diferente. Miss Roberts

conhecia muitos castigos desagradáveis!

- Santo Deus! Agora estou servida! - disse Joana,

aborrecida. - O melhor é ir já tratar do assunto.

Dirigiu-se para a porta. As gémeas olharam para Joana.

Então Patrícia também correu para a saída da aula.

- Joana! Espera! Eu também vou. Eu tenho tanta culpa

como tu, pois incitei-te. Teria atirado os estalinhos para o

lume, se tu não o fizesses.

- E eu também vou - disse logo a Isabel.

- Vocês são formidáveis! - exclamou Joana, dando o

Page 68: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

braço a Patrícia e dando a outra mão a Isabel. Depois foi a

vez da lida.

- Também vou convosco. Na verdade todas nós

merecemos o mesmo castigo. Foste realmente tu que

arranjaste os estalinhos e os deitaste para o lume, mas

todas participámos na brincadeira e por isso não é justo que

só tu sejas castigada.

Finalmente toda a classe se dirigiu à sala da professora,

com um ar cabisbaixo e envergonhado. Miss Roberts ficou

surpreendida por ver tantas alunas entrando na sala.

- Que vem a ser isto? - perguntou, severamente.

- Miss Roberts - começou a chefe de turma. Posso ser eu

a explicar?

- Quero que se acuse a menina que fez a partida disse a

miss Roberts. - Quem foi?

- Fui eu - disse a Joana, bastante pálida. Sentia as pernas

a tremer e olhava para o chão. Não conseguia encarar miss

Roberts, nem os seus olhos cor de avelã.

- Mas todas tivemos culpa! - continuou lida. Fomos nós

que convencemos a Joana a deitar os estalinhos para o lume.

- Posso perguntar-lhes se fizeram a mesma coisa a miss

Kennedy? - perguntou miss Roberts num tom sarcástico.

- Fizemos - respondeu Joana, em voz baixa.

- Então está tudo explicado! - disse miss Roberts,

pensando no bilhete que miss Kennedy lhe enviara. - Bem,

todas contribuirão para a despesa da limpeza da chaminé e

Page 69: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

passarão duas horas cada uma lavando as paredes,

esfregando o chão e limpando as carteiras. Isso significa que

trabalharão em turnos de cinco, durante o vosso tempo livre,

depois da vinda do limpa-chaminés.

- Sim, miss Roberts! - respondeu toda a aula em coro,

com o mesmo sentimento de culpa.

- Claro que irão também pedir desculpa a miss Kennedy -

continuou miss Roberts. - E quero que saibam que me sinto

envergonhada por vocês, visto abusarem do facto de a vossa

professora de História ser branda convosco.

As pequenas saíram da sala. Miss Roberts telefonou ao

limpa-chaminés e miss Kennedy ficou surpreendida ao

deparar com sucessivos grupos de alunas que iam pedir-lhe

humildes desculpas pelo seu mau comportamento. Não lhe

contaram o que se passara, por isso não fazia a menor ideia

que miss Roberts também assistira às mesmas

extraordinárias explosões do lume, mas tratara do caso com

firmeza. Pensou que as pequenas tinham ido pedir-lhe

desculpa de seu moto próprio e quase se sentiu feliz.

“Já não peço a minha demissão à miss Theobald”

pensou. “Se o fizesse teria que explicar o motivo, e não

quero acusar as pequenas depois de serem tão simpáticas

em virem-me pedir desculpa.”

Por isso o assunto ficou por ali. Grupos de pequenas

muito maçadas tiveram que passar o dia a esfregar o chão e

a limpar paredes, em vez de jogarem lacrosse e assistirem a

Page 70: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

um concerto!

Uma boa coisa se conseguiu com toda aquela história. As

companheiras das gémeas ficaram a gostar mais das duas

irmãs, pois tinham sido elas as primeiras a acompanhar a

Joana.

- A Patrícia e a Isabel foram formidáveis em quererem

acompanhar a Joana, dizendo que também tinham a culpa -

comentou a lida. - Ficou-lhes muito bem!

VIII

A GRANDE CEIA DA MEIA-NOITE

NAS semanas seguintes miss Roberts manteve-se

bastante severa para com a classe das gémeas, fazendo-

lhes observações extraordinariamente ásperas. Patrícia e

Isabel detestavam que lhes falassem como se fossem umas

insignificantes, mas não se atreviam a ripostar.

- É horrível sermos tratadas como se ainda estivéssemos

no jardim infantil, depois de em Redroofs nos termos

habituado a mandar em todas - disse a Isabel. - Nunca me

conformarei com isto.

- Também me parece detestável - concordou Patrícia. -

Page 71: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

No entanto não consigo deixar de gostar da miss Roberts.

Tenho-lhe imenso respeito e as pessoas gostam de quem

merece ser respeitado.

- Então também gostava que ela nos respeitasse um

pouco mais - disse a Isabel, tristemente. Assim talvez

passasse a ter-nos mais amizade e talvez não nos desse

tantas descomposturas. Quando esta manhã me esqueci de

lhe entregar o caderno dos exercícios de matemática, até

me deu ideia que ia telefonar para a esquadra pedindo que

viessem prender-me. Patrícia riu-se.

- Não sejas palerma - disse. - A propósito, não te

esqueças de dar cinco escudos para a compra de um

presente para os anos de miss Theobald. Eu já entreguei o

dinheiro.

- Valha-me Deus! - exclamou a Isabel. – Não sei se terei

dinheiro suficiente. Tive que pagar a minha parte ao limpa-

chaminés e dei dez escudos à criada para me limpar o

uniforme, receando que a roupeira se zangasse comigo.

Além dos vinte e cinco tostões que entreguei a semana

passada para a Casa das Crianças Convalescentes. Estou

quase sem um tostão!

A Isabel foi à sua prateleira, na sala, e tirou o porta-

moedas. Estava vazio!

- Que é isto? - disse admirada. - Estou convencida que

ainda tinha oito escudos. Tiraste-os daqui, Patrícia?

- Não! - disse Patrícia. - Se o tivesse feito, avisava-te.

Page 72: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Devem ter ficado na algibeira do teu casaco.

Mas os oito escudos não estavam em parte nenhuma.

Isabel acabou por concluir que os perdera e pediu

emprestado algum dinheiro à irmã, para entregar a sua

contribuição para o presente da directora.

Depois a Joana fez anos e todas foram à cidade para lhe

comprar uma lembrança. Todas menos a lida, que descobriu

com grande tristeza que a nota de cinquenta escudos que a

avó lhe enviara, desaparecera do seu bolso.

- Vejam lá, logo cinquenta escudos! - lamentava-se a

rapariga. - Tencionava comprar tantas coisas! Preciso de uns

atacadores novos e o meu estique de lacrosse necessita ser

arranjado. Para onde teria ido a minha nota?

Susana emprestou dez escudos à lida para comprar um

presente à Joana e esta, no dia dos seus anos, ficou

encantada ao receber numerosas lembranças. Joana era

muito popular, apesar da sua franqueza rude. O melhor

presente que recebeu foi da Catarina Gregory que lhe

ofereceu um “barrette” de ouro, com o nome gravado.

- Não devias ter comprado uma coisa tão cara! disse

Joana, admirada. - Isto deve ter-te custado um dinheirão,

Catarina! Não me atrevo a aceitá-lo. É um presente

demasiado generoso.

- Mas tens que o aceitar, pois mandei gravar teu nome -

disse Catarina. - Não serve para mais ninguém.

Todas admiraram o alfinete de ouro com o nome gravado

Page 73: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

atrás. Catarina estava delirante com o êxito que o seu

presente suscitara e quando Joana voltou a agradecer-lhe,

dando-lhe um grande abraço, ficou muito corada, tal a

alegria que sentiu.

- A Catarina foi muito generosa - disse a Joana às

gémeas enquanto seguiam para a aula. - Mas não

compreendo porque gastou tanto dinheiro comigo.

Geralmente ela oferece umas insignificâncias ou então não

dá mesmo nada. Por outro lado tenho a impressão que nem

simpatiza comigo, pois meto-me com ela muitas vezes, por

ser um bocado palerma!

Joana recebeu uma enorme encomenda, de casa, pelo

seu aniversário. Desembrulhou-a, ajudada pela lida e pelas

gémeas.

- Todas as coisas de que eu mais gosto! exclamou Joana.

- Um grande bolo de chocolate, biscoitos de manteiga,

sardinhas de lata com molho de tomate. Leite condensado! E

reparem nestas pastilhas de hortelã-pimenta! Devem ser

deliciosas.

- Vamos fazer uma ceia à meia-noite - propôs a Patrícia. -

Uma vez fizemos uma em Redroofs, ainda não estávamos no

último ano. Não percebo porque certas guloseimas sabem

muito melhor a meio da noite do que durante o dia, mas

garanto-lhes que é assim mesmo. Ó Joana, não achas que

seria divertido?

- Também me parece - disse Joana. - Mas não estão aqui

Page 74: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

coisas suficientes para todas nós. Vocês também têm que

comprar mais qualquer coisa. Cada uma trará um pequeno

bolo, umas bolachas ou uns chocolates. Quando fazemos a

festa?

- Amanhã à noite - disse Isabel, rindo. - Miss Roberts vai

a um concerto, ouvi-a eu dizer. Passa a noite em casa de

uma amiga e só volta no dia seguinte à hora das orações.

- Óptimo! Então fica marcada a festa para amanhã à

noite - disse Joana. - Vamos avisar as outras.

Assim, avisaram toda a classe da próxima ceia e todas as

raparigas prometeram levar qualquer coisa. Patrícia comprou

uma torta recheada de compota. Isabel, que mais uma vez

teve que pedir dinheiro emprestado à irmã, comprou uma

tablette de chocolate. A Joana comprou velas, pois as alunas

estavam proibidas de acender a luz-eléctrica depois de ser

apagada, a não ser por uma razão muito forte, tal como uma

doença.

A contribuição mais importante foi a de Catarina que

apareceu com um lindo bolo, todo coberto de branco,

enfeitado com rosinhas cor de rosa e azuis. Todas ficaram

encantadas.

- Ó Catarina, deves ter recebido uma herança! exclamou

Joana. - Este bolo deve ter-te custado todas as tuas

economias para este período! É uma maravilha.

- É o bolo mais bonito que ainda vi - declarou a lida. -

Foste muito simpática, Catarina.

Page 75: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

A Catarina corou de felicidade. Acolheu com a maior

alegria os elogios das companheiras sobre o seu bolo.

- Gostava de ter arranjado qualquer coisa melhor do que

um insignificante chocolate, mas mesmo assim ainda tive

que pedir dinheiro emprestado à Patrícia - disse Isabel.

- E eu só lhes trouxe umas bolachas que ainda restavam

numa lata que a mãe me mandou há quinze dias - disse a

lida. - Estou completamente “falida” desde que perdi a

minha nota de cinquenta escudos.

- De qualquer modo, temos muitas coisas acrescentou

Joana, muito ocupada a esconder tudo no fundo de um

armário que ficava mesmo junto do dormitório. - Bem,

espero que a roupeira não resolva de repente vir limpar este

armário. Ficaria bastante surpreendida com o que aqui

encontrasse! Olhem, quem trouxe esta empada de carne?

Tem um aspecto formidável!

Todas as alunas, naquele dia, se sentiam entusiasmadas.

Era muito animado compartilharem um segredo, sem que as

outras classes o soubessem, lida descobriu que o terceiro

ano também já fizera uma ceia naquele período. Fora um

grande êxito e desejaria que a da sua classe tivesse um

êxito ainda maior!

Miss Roberts não conseguiu compreender por que motivo

as alunas naquele dia estavam tão desatentas. Mas a

Mademoiselle percebeu que escondiam qualquer coisa e

ficou irritada.

Page 76: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

- Então, mes petites, que se passa? - perguntou quando

as pequenas fizeram todas o mesmo erro na tradução de

francês. - Em que estão a pensar? Estão a planear qualquer

coisa, não é verdade? Contem-me o que se passa.

- Oh, Mademoiselle, porque diz isso? - perguntou Joana. -

Que poderíamos estar a planear?

- Sei lá! - exclamou a mademoiselle. - Só sei que estão

distraídas. Se fazem mais algum erro, mando-as para a

cama uma hora mais cedo do que habitualmente.

A Mademoiselle disse aquilo sem nenhuma intenção

especial, mas as pequenas tiveram vontade de rir, pois

naquela noite estavam todas ansiosas por ir para a cama.

Joana deu uma gargalhada e ia sendo expulsa da aula.

Finalmente chegou a hora de se deitarem.

- Quem vai tirar as coisas do armário? - perguntou a

Patrícia.

- Tu, eu, a lida e a Isabel - decidiu Joana. E por favor

tenham cuidado. Se deixarmos cair a empada de carne no

chão, ficará tudo sujo.

Todas se riram. Meteram-se na cama, mas queriam

conservar-se acordadas. Resolveram então que a melhor

maneira era, cada uma por sua vez, ficar sentada na cama

durante meia hora, e depois acordar uma companheira para

a substituir. Assim, à meia-noite todas estariam acordadas e

começaria a grande festa.

Joana foi a primeira a ficar de vela durante meia hora,

Page 77: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

pensando em todas as coisas que estavam dentro do

armário. Não tinha sono nenhum. Acendeu a sua lanterna de

algibeira para ver as horas. Terminara a sua meia hora.

Inclinou-se para a cama seguinte e acordou a lida.

À meia-noite todas dormiam profundamente, excepto a

Patrícia que era a aluna de vela. Quando ouviu soar as

badaladas do enorme relógio de uma das torres do edifício,

Patrícia saiu da cama. Foi acordando todas as companheiras,

abanando-as e segredando:

- lida! São horas! Acorda! Isabel, é meia-noite! Joana, a

ceia vai começar. Catarina, Catarina, acorda! É meia-noite!

Por fim todas as alunas estavam acordadas e com risos

abafados vestiram os roupões e calçaram as chinelas.

O colégio estava às escuras. Patrícia acendeu duas velas

e colocou-as numa das mesinhas de cabeceira, mesmo ao

centro do dormitório. Mandara a Isabel acordar o resto da

classe, no dormitório ao lado, e muito entusiasmadas todas

se reuniram. Sentaram-se nas camas mais próximas das

velas e esperaram que Patrícia e as outras três fossem

buscar as coisas ao armário.

Patrícia acendeu a sua lanterna de algibeira e virou-a

para dentro do armário, enquanto as outras retiravam as

guloseimas. Uma lata de caramelos caiu no chão. Todas se

sobressaltaram, ficando muito quietas, a escutar. Mas não se

ouviu nada, nenhuma porta se abriu, nem se acendeu

qualquer luz.

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- Idiota! - exclamou a Joana para a Isabel. Por amor de

Deus não deixes cair esse bolo de chocolate. Para onde rolou

a lata dos caramelos? Oh, está aqui!

Finalmente levaram tudo para o dormitório e fecharam a

porta com cuidado. Olharam para as guloseimas e sentiram

imenso apetite.

- Empada de carne e bolo de chocolate, sardinhas e leite

Nestlé, chocolate e pastilhas de hortelã-pimenta, uma lata

de ananás, biscoitos, bolachas.

- Ih, tantas laranjadas! - exclamou Joana. - Que grande

ceia! Até garanto que vamos bater a ceia do terceiro ano!

Vamos começar. Eu parto o bolo.

Em breve todas as pequenas comiam com apetite,

achando que nada lhes soubera tão bem. Joana pegou num

abridor de garrafas e começou a distribuir as laranjadas. A

primeira abriu-se com facilidade e encheu dois copos. Mas a

laranjada seguinte tinha imenso gás e ensopou a cama onde

a Joana estava sentada. Todas se riram. A terceira garrafa

deu um estalo ao abrir-se, o que, no silêncio da noite,

pareceu muito sonoro.

- Não se preocupem! Ninguém nos ouvirá! disse Joana. -

Olha, Patrícia, abre a lata das sardinhas. Também trouxe pão

e manteiga para fazermos sanduíches.

Desembrulharam o pão e a manteiga. A Joana arranjara

as duas coisas à hora do lanche. Cada pequena escondera

uma fatia e entregara-a à Joana.

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- Tirem uma sanduíche de sardinha, uma fatia de

empada de carne e uma colher de leite Nestlé - disse a

Patrícia. - Sabe lindamente.

O chocolate ficou para o fim. Nessa altura já não

conseguiam comer mais nada e então puseram-se a chupar

caramelos e saborear chocolate. Riam-se por tudo e por

nada.

- O melhor de toda a ceia foi o lindo bolo da Catarina -

disse a lida. - A capa de açúcar era formidável.

- Tens razão e eu comi uma das rosinhas concordou

Joana. - Achei-a muito gostosa. Quanto pagaste por aquele

bolo, Catarina? Foste realmente muito simpática!

- Oh, não teve importância - respondeu Catarina.

- Ainda bem que vocês gostaram.

Catarina estava muito feliz. O bolo maravilhoso não

chegara para todas e ela nem sequer o provara. Mas não se

importara nada com isso. Era-lhe bastante ouvir os elogios

que as outras faziam.

Então todas começaram a insistir com a Dora, para que

fizesse a sua dança a imitar um palhaço. Aprendera aquela

dança muito engraçada durante as férias. A Dora era muito

espirituosa e com toda a facilidade fazia rir as outras. A

dança do palhaço era muito ridícula. Dora dava saltos e caía,

fazendo umas expressões esquisitíssimas e dando enormes

suspiros, o que punha toda a assistência a rir.

- Agora não se riam muito alto - pediu ela, levantando-

Page 80: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

se. - Da última vez fizeram tal barulho quando dancei na

nossa sala, que a Belinha Towers entrou e deu-me uma

descompostura.

Começou a dançar com uma cara muito séria. Depois

caiu aos pés da cama, de propósito, e esfregou uma perna,

fingindo ter-se magoado.

As colegas começaram a rir-se, tapando as bocas com as

mãos.

Dora adorava fazer com que as outras se rissem. Pôs-se

a andar de um lado para o outro, fazendo umas expressões

muito cómicas, depois fingindo que tropeçava, caiu,

agarrando-se à Patrícia, com um grito profundo e abafado.

Patrícia caiu também, sufocando uma gargalhada e

bateu na mesinha de cabeceira. A mesinha abanou e tudo

quanto estava em cima dela espalhou-se no chão! Uma

escova, dois pentes, várias molduras com fotografias, copos

de dentes, uma garrafa de limonada. Santo Deus, que

barulho!

As pequenas ficaram assustadas. O barulho parecia

simplesmente terrível!

- Depressa! Guardem tudo e metam-se na cama disse

Joana, aflita. - Daqui a pouco aparecem aí todas as

professoras.

As alunas que pertenciam ao outro dormitório fugiram

logo. As outras começaram a guardar tudo à pressa e em

breve perceberam que se acendia a luz do corredor.

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- Para a cama! - murmurou a lida. E todas se enfiaram na

roupa, puxando-a até às orelhas.

Ficaram muito quietas, à escuta. lida lembrou-se de que

haviam deixado duas garrafas de laranjada no meio do chão

e não tinham tido tempo de esconder as sobras da empada

de carne. A empada esmigalhara-se imenso, cada vez que se

cortara uma fatia!

A porta abriu-se e uma pessoa apareceu, recortada na

luz do corredor.

Patrícia viu quem era: Miss Kennedy!

Que pouca sorte! Se descobrisse o que se passara,

certamente faria queixa delas, depois do mau

comportamento da classe na aula de História. Mas talvez

não chegasse a acender a luz do dormitório.

Miss Kennedy parou, a escutar. Uma das pequenas

ressonou um pouco, para fazer crer que dormia

profundamente. Mas Catarina não conseguiu aguentar-se,

pois já estava perdida de riso. Soltou uma gargalhada

abafada e a miss Kennedy ouviu-a. Então acendeu a luz.

A primeira coisa que lhe chamou a atenção, foram as

duas garrafas de laranjada no meio do chão. Depois viu as

sobras da empada de carne. Viu também o papel de prata do

chocolate. Percebeu imediatamente o que as pequenas

haviam estado a fazer.

Um sorriso bondoso apareceu no seu rosto. Mas que

miúdas terríveis.

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Recordou-se de uma ceia em que participara, no seu

colégio, muitos anos antes, e como ela e as colegas tinham

sido apanhadas e severamente castigadas. Disse em voz

baixa para lida, a encarregada do dormitório.

- Ilda! Estás acordada?

Ilda não se atreveu a fingir o contrário. Respondeu em

voz ensonada:

- Miss Kennedy! Passa-se alguma coisa?

- Pareceu-me ouvir barulho neste dormitório disse miss

Kennedy. - Esta noite sou eu que tomo conta de vocês, pois

miss Roberts saiu. Mas, naturalmente, enganei-me...

Ilda sentou-se na cama e viu as duas garrafas de

laranjada. Olhou de relance para a miss Kennedy e notou

que ela piscava um olho.

- Naturalmente enganou-se, miss Kennedy disse a

pequena. - Talvez... talvez... fossem ratos.

- Talvez... - disse miss Kennedy. - Bem... sendo assim,

acho que não há nada a participar a miss Roberts, mas como

tu és a responsável pelo dormitório, deves ver se tudo fica

bem arrumado antes da roupeira fazer a sua habitual

inspecção.

Apagou a luz, fechou a porta e voltou para o seu quarto.

As pequenas sentaram-se logo nas camas e começaram a

falar em voz baixa.

- Olhem que a Kenny foi formidável!

- Viu logo aquelas malditas garrafas de laranjada! E teve

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a coragem de concordar que o tremendo barulho foi feito

pelos ratos!

- E foi tão boa que até disse que devíamos arranjar tudo

para não deixar vestígios da ceia e prometeu não fazer

queixa a miss Roberts.

- A miss Roberts também é estupenda, à sua maneira -

disse a Dora.

- Mas não se esqueçam que anda zangada connosco e se

soubesse o que se passou, era um grande sarilho - lembrou

a Isabel. - A Kenny foi fantástica!

IX

UMA PARTIDA DE LACROSSE

E UM ACONTECIMENTO MISTERIOSO

A única consequência da ceia da meia-noite foi no dia

seguinte a Isabel, a Dora e a Vera não se sentirem muito

bem. Miss Roberts observava-as com atenção.

- Que comeram ontem? - perguntou.

- O mesmo que as outras - respondeu a Dora, não

faltando à verdade.

- Vão à enfermaria para se tratarem - disse miss Roberts.

Page 84: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

As três pequenas saíram, mal dispostas e contrariadas.

Na enfermaria havia remédios de sabor muito desagradável.

E eram obrigadas a tomar tudo o que lhes mandavam.

Depois Joana e Catarina também se sentiram doentes e

foram por sua vez mandadas à enfermaria.

- Já conheço estes sintomas - disse a enfermeira. -

Fizeram uma ceia esta noite! Ah, não vale a pena fingir o

contrário! Quando comerem empadas de porco e

sanduíches, chocolates e laranjadas a meio da noite, bem

podem ver-se obrigadas a tomar umas boas doses de

remédio.

As pequenas ficaram aterradas. Como teria ela sabido?

- Quem lhe disse tal coisa? - perguntou a Joana,

pensando que miss Kennedy, afinal, não ficara calada.

- Ninguém! - respondeu a enfermeira, rolhando com

firmeza uma enorme garrafa. - Mas não ocupo este lugar há

mais de vinte e cinco anos sem ter aprendido algumas

coisas. Também já tive que dar o mesmo remédio à tua mãe

e à tua tia, Joana, pois também não lhes caiu bem uma

refeição a meio da noite. E agora vão-se embora. Não

fiquem embasbacadas a olhar para mim. Descansem que

não direi nada a ninguém. Acho que não vale a pena castigar

as meninas que tomam parte numa ceia, pois a má

disposição que sentem no dia seguinte já é o suficiente.

As pequenas foram-se embora. Joana olhou para a

Catarina.

Page 85: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

- Sabes, eu ontem adorei a empada de porco e as

sardinhas - disse. - Mas só pensar nelas, põe-me enjoada.

Tenho a impressão que nunca mais serei capaz de comer

uma sardinha.

Mas em breve todas se tinham esquecido da indisposição

daquele dia e a ceia foi contada e recontada por todo o

colégio. Até mesmo a Belinha Towers teve conhecimento do

que se passara e riu-se ao saber como tudo acabara com a

queda de quanto se encontrava sobre a mesa de cabeceira.

Foi a Catarina quem contou à Belinha. Era bastante

estranho como Catarina se modificara nas últimas semanas.

Já não parecia nervosa, pedindo desculpas por tudo e por

nada, e notava-se que se sentia muito mais feliz,

conversando e rindo como as outras.

Até conseguia conversar com a Belinha Towers sem

gaguejar! Naquela semana era Catarina quem prestava

serviços à Belinha e lá ia, toda contente, fazer torradas,

dando recados e nem mesmo protestando quando a Belinha

a mandava chamar a meio de um ensaio musical.

Catarina e Isabel deviam entrar naquela semana, num

importante desafio de lacrosse. Eram as duas mais novas

das escolhidas. Todas as outras pertenciam ao ano seguinte.

Ao princípio Patrícia fora a melhor jogadora das gémeas,

mas em breve Isabel aprendera a apanhar e atirar a bola

com toda a facilidade, ultrapassando a irmã. O jogo seria

contra as alunas de um externato vizinho e as pequenas

Page 86: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

estavam muito entusiasmadas.

- A Catarina jogará como guarda-redes - contou a Patrícia

a Isabel. -A Belinha disse-lhe hoje.

Não achas que a Catarina está diferente? Tornou-se

muito mais simpática.

- E é tão generosa! - lembrou Isabel. - Comprou ontem

uma caixa de bombons e dividiu-os todos entre as colegas,

sem ter provado nem um! E trouxe uns crisântemos à Vera,

que lhe devem ter custado uma fortuna!

A Vera estava na enfermaria, com gripe. Ficara muito

surpreendida e sensibilizada quando a Catarina lhe oferecera

dois lindos crisântemos! Nem parecia a mesma rapariga que

em tempos fora tão pouco generosa.

Catarina levou a Isabel para praticar o lançamento da

bola quando ela defendia a baliza, aperfeiçoando-se como

guarda-redes. Ela era muito rápida. Depois treinaram-se a

atirar e apanhar a bola, correndo também.

- Se eu conseguisse no sábado meter dois ou três golos!

- não se cansava de repetir a Isabel, lida riu-se. Isabel

perguntou-lhe porque se ria.

- Estou a rir-me de ti - disse a lida. - Quem é que franzia

o nariz ao lacrosse há bem pouco tempo? Eras tu! Quem

dizia que o único jogo que valia a pena jogar era o hóquei?

Eras tu! Quem declarava que nunca aprenderia a jogar uma

coisa tão parva como o lacrosse? Tu! É por isso que me estou

a rir. Agora passas o dia a falar de lacrosse! e não tens outro

Page 87: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

assunto. Isso é que eu acho graça.

A Isabel também achou graça e, um tanto vermelha,

afirmou:

- Na verdade devo ter parecido bastante idiota.

- Vocês eram umas presumidas - disse Joana, entrando

na conversa. - As gémeas emproadas. Era assim que nós

costumávamos chamar-lhes.

- Ah! - exclamou Isabel, envergonhada. E resolveu logo

que no próximo sábado jogaria tão bem que toda a sua

classe se orgulharia dela! As gémeas emproadas! Que

alcunha horrível. Na verdade era preciso que ela e a patrícia

fizessem qualquer coisa para que as outras esquecessem

aquele terrível nome.

Chegou sábado, um belo dia de Inverno. A classe das

gémeas estava entusiasmada. As alunas do externato

tinham sido convidadas para o almoço e as internas

recebiam-nas o melhor que podiam. Ao almoço havia

salsichas com puré de batata, seguindo-se pudim de

caramelo, uma refeição muito apreciada.

- Olhem, Isabel e Catarina, não comam demais disse a

lida. - Queremos que vocês joguem o melhor possível.

Lembrem-se que são as únicas a jogar, da nossa classe. Mas

vamos fazer com que as alunas do outro colégio comam

imenso para depois nem conseguirem apanhar a bola.

- Tens razão. Não posso comer duas salsichas? -

perguntou a Isabel, decepcionada. - E costumo sempre

Page 88: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

repetir o pudim...

- Hoje não - ordenou Joana com firmeza. - Mas se vocês

jogarem bem e ganharem, a nossa classe oferece-vos

merengues à hora do lanche. Estão de acordo?

A Isabel ficou mais animada e de boa vontade deixou de

repetir o pudim. Foi um almoço muito divertido. As alunas

convidadas eram simpáticas e alegres e riram-se imenso

quando lhes contaram a história da ceia da meia-noite.

- Nós não nos podemos divertir como vocês disse uma

das alunas do externato. - Porque à noite vamos para casa.

Que tal é a vossa equipa de lacrosse? Temos sempre ganho

quando jogamos contra vocês.

- E até aposto que as vamos bater mais uma vez - disse

a capitã da equipa, uma rapariga alta, de cabelo ruivo.

- Quantos merengues quiseres, se não deixares entrar

golos, Catarina! - exclamou a Joana e todas se riram.

As alunas dos três primeiros anos estavam autorizadas a

assistir ao desafio. O quarto ano tinha ido jogar fora e as

mais velhas raramente se incomodavam a assistir aos jogos

das mais novas. Só algumas do quinto apareciam, entre elas

a Belinha Towers, pois organizava todos os desafios e

escolhia as jogadoras, por ser a dirigente dos desportos, e

além disso porque tinha um grande interesse em que Santa

Clara ganhasse o maior número de jogos possível.

As jogadoras tomaram os seus lugares. Isabel sentia-se

bastante nervosa. Catarina parecia serena, diante da baliza.

Page 89: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

O desafio começou.

A equipa das alunas externas estava bem treinada e

todas corriam muito bem. Ficaram logo com a bola em seu

poder e passavam-na umas às outras. Mas Isabel deu um

salto e apanhou a bola no trajecto, entre duas adversárias.

Depois começou a correr a toda a velocidade. Uma das

pequenas tentou tirar a bola da rede de Isabel, mas esta

conseguiu atirá-la para outra jogadora de Santa Clara e esta

continuou o jogo. Isabel correu mais para a frente e

novamente apanhou a bola.

Mas uma adversária muito rápida foi atrás da Isabel e

conseguiu ficar de posse da bola. Voltou logo para o outro

lado, tentando marcar um golo. Passou a bola a uma colega

que, por sua vez, a passou a uma terceira, que fez pontaria à

baliza onde se encontrava Catarina. Esta, rápida como um

relâmpago, conseguiu apanhar a bola com a sua rede e

atirou-a à Isabel que a esperava, não muito longe.

- Bem defendida, Catarina! - gritaram as alunas de Santa

Clara e a Catarina ficou toda vermelha de alegria e

entusiasmo.

O jogo foi seguindo até ao intervalo, quando distribuíram

quartos de limão pelas jogadoras cansadas e cheias de calor.

Como sabia bem chupar o sumo fresco e azedo do limão.

- Três a um - disse o árbitro. - Três para as alunas do

Externato de S. Cristóvão e um para as alunas de Santa

Clara.

Page 90: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

- Animem-se! - gritava Belinha. - Vê se consegues mais

uns golos, Isabel!

Começou a segunda parte do desafio. Agora as

jogadoras não mantinham a mesma velocidade, pois

estavam cansadas. Mas o entusiasmo foi enorme,

principalmente quando o Santa Clara conseguiu mais dois

golos, um deles marcado por Isabel.

Catarina dava pulos de contentamento, enquanto o jogo

se passava no outro meio campo.

Já defendera sete jogadas. As pequenas continuavam a

correr, atirando a bola umas às outras, com graça e

facilidade. Catarina esperava com toda a atenção, sabendo

que iriam tentar meter mais um golo na sua baliza.

A bola chegou até ela com força e rapidez. Tentou

defender mas a bola entrou disparada, mesmo pelo canto

superior. GOLO! Quatro a três e só faltavam cinco minutos

para acabar a partida.

Então Santa Clara meteu um golo inesperadamente a

dois minutos do fim, conseguindo o empate.

- Só falta um minuto e meio! - gritou Isabel a outra

jogadora de Santa Clara, quando lhe passou a bola. - Temos

que meter outro golo e ganhar!

A bola voltou para ela. Uma rapariga do externato correu

na direcção de Isabel. Era uma pequena alta e forte. Isabel

conseguiu evitá-la, dando meia volta com a bola sempre na

sua rede. Passou-a a uma colega que voltou a atirar-lha, logo

Page 91: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

que a encontrou em posição. Então Isabel olhou de relance

para a baliza adversária que, embora um tanto longe, estava

mesmo em frente. Valia a pena tentar! E atirou a bola com

força, atravessando o campo.

A guarda-redes tomou posição, mas não conseguiu

apanhar a bola que entrou na baliza um momento antes de

tocar o apito que terminava o desafio. As alunas de Santa

Clara gritavam a plenos pulmões! Patrícia dava voltas, como

se tivesse enlouquecido, Belinha gritava até ficar rouca e

lida e Joana batiam nas costas uma da outra, embora nem

dessem pelo que faziam.

- Viva Isabel! Ganhou o desafio mesmo a tempo! -

gritava Patrícia. - Merece todos os merengues!

Cheias de calor, cansadas e felizes, as pequenas saíram

do campo para se lavarem e prepararam-se para o lanche.

Joana correu a buscar o seu porta-moedas para ir num

instante, de bicicleta, comprar os merengues.

Mas o seu porta-moedas só tinha lá dentro algumas

moedas de cobre! Que estranho! Joana sabia muito bem que

ainda naquela manhã estavam ali guardados vinte e tal

escudos, e não gastara nada.

- Olhem! O meu dinheiro desapareceu! - exclamou,

decepcionada. - Já não posso comprar os merengues. Para

onde teria ido?

- Que esquisito! - disse a Isabel. - O meu também

desapareceu ainda há bem pouco tempo e o mesmo

Page 92: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

aconteceu com a nota de cinquenta escudos da lida. Agora

chegou a tua vez.

- Bem, não vale a pena discutirmos o assunto neste

momento! - volveu Joana. - É preciso fazermos as honras da

casa às alunas convidadas. Mas é uma pena, por causa dos

merengues.

- Eu posso comprá-los! - disse Catarina. - vou dar-te o

dinheiro, Joana.

- Oh, não! - respondeu Joana. - Somos nós que os

queremos comprar para ti e para a Isabel por se terem

portado tão bem no desafio. Não podemos consentir que os

compres!

- Por favor, faz-me a vontade - pediu a Catarina, tirando

algum dinheiro do bolso. - Aqui tens! compra merengues

para todas!

- Tu és muito amável - disse a Joana pegando no

dinheiro. - Muitíssimo obrigada.

Joana foi-se embora de bicicleta, enquanto as outras

ficavam a preparar-se para o lanche.

- Jogaram muito bem, meninas - disse Belinha Powers. -

Defendeste alguns golos bem difíceis, Catarina. E tu

conseguiste o golo mais necessário, Isabel, embora todas as

outras jogassem igualmente muito bem.

Ficaram radiantes com os elogios da capitã da equipa.

Depois sentaram-se para o lanche e em breve como que por

encanto desapareciam as grandes pilhas de pão com

Page 93: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

manteiga, arrufadas e bolo de chocolate. A Joana voltou daí

a pouco com uma quantidade de merengues de aspecto

delicioso. As pequenas receberam-na com grande animação.

- Obrigada, Catarina! És um amor, Catarina! exclamavam

todas e Catarina sorria encantada.

- Hoje foi um dia óptimo! - disse Isabel à Patrícia, quando

seguiam juntas para a sala, depois de terem assistido à

despedida das alunas do externato. - Foi simplesmente

maravilhoso. Tudo formidável!

- Nem tudo! - disse a Patrícia, bastante séria. Que teria

acontecido ao dinheiro da Joana? Alguém o tirou, Isabel. E

isso é tremendo. Quem poderia ter sido?

- Não consigo imaginar... - disse Isabel.

Nem as outras conseguiam. As pequenas conversaram

sobre o assunto, pensando quem se aproximara do casaco

da Joana. Ela pendurara-o num cabide no pavilhão dos

desportos e quase todas as alunas do primeiro e segundo

ano ali haviam estado. Mas não era possível que uma aluna

do Colégio de Santa Clara fosse capaz de fazer uma coisa

dessas!

- É um roubo, um verdadeiro roubo - disse a lida. - E já

não é o primeiro, pois sei de mais algumas, além da Isabel,

da Joana e de mim, a quem tem faltado dinheiro. A Belinha

também perdeu vinte escudos. Fartou-se de falar no caso,

mas nunca mais encontrou o dinheiro.

- Será alguma das criadas? - lembrou Joana.

Page 94: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

- Não me parece... - disse a lida. - Elas já aqui estão há

vários anos. Bem, agora temos que ter cuidado com os

nossos porta-moedas.

X

UMA ALUNA CHEIA DE PROBLEMAS

Uma tarde a Rita George, uma das alunas mais velhas,

mandou chamar a Catarina para lhe dar algumas instruções

sobre uma excursão que estava a organizar. Catarina pediu a

Patrícia para acabar de dobar a lã que a Isabel lhe fizera o

favor de segurar entre as duas mãos e correu para a porta.

- Não me demoro -disse e saiu. Patrícia dobou a lã num

novelo e depois colocou-o no cesto de costura da Catarina.

Viu as horas.

- Espero que a Catarina não se demore - disse

- Temos lição de ginástica daqui a cinco minutos. É

melhor ir preveni-la. Vens comigo, Isabel?

As gémeas saíram da sala e dirigiram-se à sala de estar

da Rita, para verem se Catarina ainda ali se encontrava. Mas

quando chegaram à porta pararam, aflitas.

Alguém estava a chorar. Depois ouviram dizer:

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- Peço-te por tudo que me perdoes! Por favor não digas a

ninguém! Peço-te por tudo! Por tudo!

- Meu Deus! Não te parece a voz da Catarina? - disse

Patrícia, perturbada. - Que terá acontecido?

Não se atreveram a entrar. Ficaram à espera, ouvindo

mais soluços, que faziam partir o coração, e depois a voz da

Rita, parecendo muito zangada. Mas não conseguiram

perceber o que ela dizia.

Então a porta abriu-se e a Catarina saiu, com os olhos

muito vermelhos e a cara cheia de lágrimas.

Não parava de soluçar e nem mesmo viu as gémeas.

Correu para as escadas que levavam ao seu dormitório. A

Patrícia e a Isabel ficaram a olhar

para ela.

- Deve ter-se esquecido da ginástica - disse Patrícia. -

Mas não me apetece ir avisá-la, pois é capaz de não gostar

que a vejam a chorar.

- Acho que devemos ir consolá-la - disse Isabel. -

Apanharemos uma descompostura por chegarmos tarde à

ginástica, mas não sou capaz de ver uma pessoa aflita e não

tentar ajudá-la.

Assim, resolveram subir as escadas e entraram no

dormitório. Catarina estava deitada sobre a cama, com a

cara metida na almofada, a soluçar.

- Catarina! Que aconteceu? - perguntou Isabel, pondo

uma mão sobre o ombro da Catarina. Ela sacudiu-a.

Page 96: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

- Vão-se embora! - disse. - Vão-se embora! Não quero

que me venham espreitar.

- Não viemos espreitar-te - disse Patrícia delicadamente.

- Que se passa? Bem sabes que somos tuas amigas.

- Mas deixariam de o ser; se lhes contasse o que

aconteceu - respondeu Catarina a soluçar. - Por favor, vão-se

embora. vou fazer as malas e deixar Santa Clara ainda hoje!

- Catarina, por favor, conta-nos o que aconteceu! -

exclamou Isabel. - A Rita deu-te alguma descompostura?

Não te preocupes com isso.

- Não é por causa da descompostura que eu estou

preocupada, é por causa daquilo que eu fiz e que mereceu a

descompostura - disse Catarina. Sentou-se na cama, com os

olhos muito vermelhos e inchados. - Bem, vou-lhes contar e

depois podem ir dar a novidade a toda a gente, se lhes

apetecer. Todas farão troça de mim, mas nessa altura já aqui

não estarei!

Pôs-se de novo a chorar. Patrícia e Isabel estavam muito

preocupadas. Isabel deu um abraço à amiga. - Vá, conta-nos

- disse. - Prometo-te que não diremos nada a ninguém.

- Não acredito, não acredito! O que eu fiz é horrível! -

disse Catarina entre soluços. - Vocês nem podem acreditar.

Eu sou... eu sou... uma ladra!

- Catarina! Que ideia é essa? - perguntou Patrícia,

chocada. Catarina olhou para ela, em ar de desafio, e limpou

os olhos com as mãos, a tremer.

Page 97: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

- Tirei todo o dinheiro que lhes tem faltado disse ela. -

Todo, até mesmo o teu, Isabel. Não suportava nunca ter

dinheiro e ver-me obrigada a dizer sempre que não, quando

se fazia um peditório; e não lhes oferecer presentes bonitos,

nos dias dos anos, e todas julgarem que eu era má, egoísta

e sovina. Tinha tanta vontade de ser generosa com todas e

que todas se tornassem minhas amigas! Gosto tanto de

oferecer coisas bonitas e ver as pessoas contentes!

As gémeas olharam para Catarina, surpreendidas e ao

mesmo tempo horrorizadas. Mal podiam acreditar no que

ouviam. Ela continuou a contar a sua desgraça, entre

soluços.

- Não tenho mãe que me mande dinheiro, como vocês

todas. O meu pai está no estrangeiro e só cá tenho uma tia

velha que me manda vinte e cinco tostões por semana.

Detesto só ter tão pouco dinheiro e um dia encontrei dez

escudos que pertenciam a uma de vocês e comprei um

presente. Aquela que o recebeu ficou tão satisfeita que eu

me senti verdadeiramente feliz. Vocês não podem imaginar

como é horrível uma pessoa querer ser generosa e não

poder!

- Pobre Catarina! - exclamou Isabel, dando-lhe um

abraço. - Ninguém se importaria nada, se tivesses dito com

franqueza que não tinhas dinheiro. Nós teríamos repartido o

nosso contigo.

- Mas eu era demasiado orgulhosa para consentir tal

Page 98: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

coisa - disse Catarina. - E contudo não fui demasiado

orgulhosa para roubar! Agora já nem sei como tive coragem

para o fazer! Tirei o dinheiro da lida e da Belinha. Foi sempre

muito fácil. Mas esta tarde... eu... eu...

A Catarina recomeçou a chorar convulsivamente e as

gémeas sentiram-se apreensivas. - Não contes mais nada, se

não te apetece - disse a Patrícia.

- Agora que comecei, quero contar-lhes tudo. É um alívio

confessar-me - disse a pobre Catarina.

- Bem, esta tarde quando fui ao quarto de estudo da

Rita, ela não estava lá. Vi o seu casaco pendurado no cabide

e o porta-moedas meio a sair do bolso. Resolvi abri-lo, mas a

Rita entrou sem fazer barulho e apanhou-me! Agora vai fazer

queixa à directora, todas as alunas do colégio saberão que

eu sou uma ladra e eu serei expulsa, e...

Continuou a soluçar e as gémeas entreolharam-se sem

saberem o que fazer. Recordavam-se de todas as repentinas

generosidades da Catarina, os seus presentes, o lindo bolo

com rosinhas de açúcar, os belos crisântemos para a Vera, e

também se lembraram das faces coradas de Catarina e os

olhos brilhantes de felicidade quando via as amigas

apreciarem as coisas que lhes comprava.

- Catarina, vai lavar a cara e vamos todas para a aula de

ginástica - disse por fim Patrícia.

- Não quero ir - respondeu a Catarina, obstinada.

- Vou fazer as malas. Não quero ver mais ninguém. Vocês

Page 99: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

duas foram muito boas para mim, mas bem sei que no fundo

me desprezam!

- Estás enganada, querida Catarina! - disse a Isabel. -

Temos muita, muita pena de ti e compreendemos

perfeitamente porque procedeste dessa maneira. Querias

tanto ser generosa que fizeste uma coisa mal feita para

fazer outra bem, e isso nunca é processo conveniente.

- Por favor, agora vão-se embora! - pediu a Catarina.

As gémeas saíram do dormitório. A meio do ginásio,

Isabel parou e puxou pelo braço da irmã.

- Patrícia, vamos procurar a Rita. Talvez consigamos

desculpar a pobre Catarina.

- Está bem - concordou Patrícia.

As gémeas foram à sala de estudo da Rita, mas não

estava ali ninguém.

- Que pouca sorte! - exclamou a Patrícia. - Talvez já tenha

ido falar com a miss Theobald.

- Vamos ver - disse a Isabel. Assim, dirigiram-se para os

aposentos da directora e encontraram a própria Rita George,

que ia a sair com um ar muito sério.

- Que fazem vocês aqui? - perguntou. E, sem esperar

pela resposta, continuou o seu caminho.

Patrícia olhou para Isabel.

- Foi fazer queixa a miss Theobald - murmurou.

- Tens a coragem de ir lá dentro falar com a directora

sobre o assunto? Eu acho que a Catarina não é uma

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verdadeira ladra, mas se for tratada como tal, ainda um dia

roubará sem jamais se emendar. Vamos, vamos entrar.

- Bateram à porta e a directora mandou-as entrar. Ficou

surpreendida ao ver as gémeas.

- Que se passa? - perguntou. - Parecem muito graves e

sérias.

Patrícia não sabia como começar. Mas de repente as

frases sucederam-se umas às outras, contando toda a

história de Catarina, a razão por que roubara, etc...

- Mas, miss Theobald, a Catarina não gastou nem um

tostão com ela - disse Patrícia. - Tudo o que comprou foi para

nós. Na verdade tirou o nosso dinheiro, mas devolveu-o

transformado em presentes e outras coisas. Não é uma ladra

vulgar, que rouba por vício. Ela está muito aflita. Não seria

possível, miss Theobald, fazer qualquer coisa por ela e não a

expulsar do colégio? Tenho a certeza de que se esforçaria

para repor todo o dinheiro e nós duas ajudá-la-emos no que

pudermos para que nunca mais repita tão feia acção.

- Foi só por não receber quase dinheiro nenhum, que

tudo isto aconteceu. Catarina é demasiado orgulhosa para

contar o que se passava e não queria ser considerada

egoísta e sovina, pois na verdade é extraordinariamente

generosa - acrescentou a Isabel.

Miss Theobald sorriu com muita doçura.

- Minhas queridas, a vossa história é completamente

diferente da da Rita e estou satisfeita por conhecê-la. Como

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é natural, a Rita considera a Catarina uma ladra vulgar.

Vocês vêem-na como ela é. Uma pequena cheia de

problemas que deseja ardentemente ser generosa e para

isso escolhe um caminho fácil, mas perfeitamente errado.

Estou convencida que nunca conseguiria que a Catarina me

desse a verdadeira explicação e seria obrigada a escrever à

tia para a vir buscar. E depois, tudo podia acontecer àquela

menina tão sensível!

- Oh, miss Theobald, então a Catarina continuará

connosco? - perguntou Patrícia, encantada.

- Claro que sim! - respondeu a directora. Primeiro preciso

falar com ela e fazer com que me confesse tudo isso. Não se

preocupem, que saberei tratar do assunto. Onde está a

Catarina?

- No dormitório, a fazer as malas - informou a Patrícia.

Miss Theobald levantou-se.

- Vou ter com ela. Agora voltem para a aula em que

deviam estar a esta hora e peçam desculpa à professora por

chegarem atrasadas, mas expliquem-Lhe que estiveram

comigo. E quero dizer-lhes mais uma coisa. Estou muito

satisfeita convosco! Vocês são bondosas e compreensivas,

duas coisas muito importantes.

Corando de satisfação, as gémeas abriram a porta para

deixar passar a directora e saíram também.

Olharam uma para a outra, radiantes.

- Não é fantástico? - disse Patrícia. - Como estou

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contente por termos tido coragem de aqui vir contar tudo!

Estou convencida que agora as coisas hão-de tornar-se mais

fáceis para a Catarina.

Foram a correr para a ginástica e pediram desculpa por

chegarem atrasadas. Fartaram-se de pensar no que se

estaria a passar entre a miss Theobald e Catarina. Só

souberam à hora do lanche, quando a Catarina, com os olhos

ainda vermelhos, mas parecendo muito mais satisfeita, foi

ter com elas.

- Não me vou embora - disse. - vou aqui ficar para

mostrar a miss Theobald que sou tão bem comportada como

qualquer de vocês. Ela vai escrever à minha tia, pedindo-lhe

para que me mande mais algum dinheiro por semana e eu

devolverei tudo o que tirei. E se não puder ser tão generosa

como me apetece durante algum tempo, esperarei

pacientemente até o conseguir.

- Tens razão, e não receies que as outras não te

considerem, se não tiveres dinheiro para gastar - disse

Patrícia. - Ninguém se importa com isso. É um orgulho pateta

não se ter coragem de confessar que não se tem dinheiro. O

Catarina, estou tão contente por não te ires embora! A Isabel

e eu gostamos imenso de ti.

- Vocês têm sido umas boas amigas! - disse a Catarina

dando-lhes o braço, enquanto caminhava entre as duas. -

Deus queira que algum dia também lhes possa ser útil.

Vocês voltaram a ter confiança em mim, não é verdade? Era

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horrível se assim não fosse. Não o suportaria.

- Claro que confiamos em ti - afirmou Patrícia. - Se assim

continuares, hei-de levantar cem contos do Banco e

entregar-tos-ei, para os guardares!...

XI

NOVAMENTE MISS KENNEDY

As gémeas estavam na verdade a começar a ser bem

acolhidas no Colégio de Santa Clara. Tinham-se habituado a

ser das mais pequenas em vez das mais crescidas, e já não

lhes chamavam as gémeas emproadas. A Mademoiselle

ajudara-as imenso no estudo do francês e tinham

conseguido chegar ao adiantamento das outras. Miss

Roberts achava que elas eram inteligentes e já lhes fazia

alguns elogios, o que ambas muito apreciaram.

Catarina continuava a ser a sua grande amiga. Na

verdade era uma pequena muito bondosa e, apesar de não

ter muito dinheiro para gastar, ajudava todas com a maior

generosidade. Passajara umas meias da Patrícia, colarauma

jarra da Mademoiselle que se partira, e passara o maior

tempo que pudera na enfermaria, com a Dora e a lida,

Page 104: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

quando estiveram com gripe. Sabia perfeitamente que

nunca mais tornaria a ser desonesta e esforçava-se por não

se acabrunhar e esquecer as coisas tão feias que fizera.

Miss Kennedy passara a ter um pouco menos de

dificuldades, pois desde que fora tão simpática na noite da

ceia do dormitório, as alunas da classe das gémeas

portavam-se melhor. Mas as alunas do ano seguinte

continuavam impossíveis.

Descobriram que miss Kennedy tinha medo de gatos e

era surpreendente o número de gatos que apareciam

naquela aula.

As alunas do segundo ano agarravam todos os gatos em

que punham a vista e escondiam-nos na sala de aulas antes

da lição de História. Tinham um grande armário, que era um

esconderijo perfeito para os gatos.

Uma manhã miss Roberts sentiu-se mal. Percebeu que ia

ter gripe e foi para a cama, para se curar depressa. Por isso

a pobre miss Kennedy teve que leccionar ao mesmo tempo o

primeiro ano e o segundo. As alunas do primeiro ano foram

para a sala de aula das alunas do segundo, que era bastante

maior.

Entraram em formatura. Miss Jenks, que era a

encarregada do segundo ano, encontrava-se ali a distribuir

os lugares. - Agora fiquem sossegadas até chegar a miss

Kennedy - disse ela, e foi-se embora dar uma lição de

costura a outra classe.

Page 105: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Logo que miss Jenks saiu, começou uma confusão e um

barulho ensurdecedor e, com grande espanto da classe das

gémeas, apareceu um enorme gatarrão preto, vindo do

corredor, onde a Teresa, uma aluna do segundo ano, o

escondera num armário.

O gato era muito manso. Arqueava o corpo e ronronava,

levantando a cauda. As gémeas olharam para ele,

surpreendidas.

- Donde veio o gato? - perguntou a Patrícia - também é

aluno da vossa classe?

- Ah! Ah! Boa piada - disse a Paulina, fazendo uma festa

ao bichano. - Não, Patrícia, é só para assustar a Kenny. Não

sabias que ela tem imenso medo dos gatos?

- Vamos fechá-lo no nosso armário dos trabalhos

manuais e depois, quando aparecer uma boa oportunidade,

a Teresa, que fica sentada perto do armário, abre a porta e

solta o gatarrão. Vais ver como correrá direito à Kenny!

As alunas do primeiro ano começaram a rir-se. Aquilo era

uma maravilha, ainda melhor do que estalinhos no lume!

- Shiu! Ela vem aí! - disse a pequena que estava de

guarda à porta. - Todas para os seus lugares. Mete depressa

o gato no armário, Teresa!

O gato encontrou-se, de repente no armário, para sua

surpresa. Fecharam a porta. Catarina, que adorava animais,

começou a argumentar:

- Vocês acham que o gato consegue respirar bem, ali

Page 106: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

dentro? Talvez nós...

- Cala-te! - murmurou Teresa, Nesse momento entrou

miss Kennedy, com vários livros debaixo do braço. Saudou as

pequenas e sentou-se.

Sentia-se muito nervosa, pois não gostava de dar aula a

duas classes ao mesmo tempo. Também percebeu que havia

qualquer coisa no ar, e não lhe agradaram uma ou duas

gargalhadas abafadas que lhe chegaram aos ouvidos vindas

da última fila. Um dos seus livros caiu ao chão e ela curvou-

se para o apanhar. Nessa altura o cinto abriu-se e também

caiu.

Na verdade isto não era muito engraçado, mas as alunas

das primeiras filas ficaram perdidas de riso e baixaram as

cabeças, esforçando-se por não se rirem. Miss Kennedy no

entanto percebeu que elas se estavam a rir e decidiu

mostrar-se severa, pela primeira vez.

- Qualquer aluna que perturbe a aula por se rir ou

brincar, ficará de pé durante toda a lição anunciou na voz

mais firme de que foi capaz. Todas se admiraram de ouvir a

tímida miss Kennedy fazer tal declaração e por alguns

momentos ficaram muito sossegadas.

Teresa devia soltar o gato quando a aula chegasse ao

meio, mas o bicho não esteve de acordo. Deitara-se sobre os

trabalhos guardados no armário e enrolara-se numa ráfia de

cores vivas que as pequenas usavam para fazer cestos.

Tentou desembaraçar as patas traseiras da ráfia, mas não

Page 107: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

conseguiu.

Pôs-se em pé e agitou-se. Deu voltas e mais voltas, mas

quanto mais voltas dava mais emaranhada ficava a ráfia e

por fim sentiu-se assustado.

Desatou aos pulos na prateleira e começou a ouvir-se na

sala um barulho estranho, vindo do armário. Ao princípio

miss Kennedy não conseguiu perceber de que se tratava. As

alunas sabiam perfeitamente que era o gato e inclinaram as

cabeças sobre os cadernos, fazendo os possíveis para não

rirem.

O gato ficou excitado. Deu um salto e bateu com a

cabeça na prateleira de cima. Então começou a tentar a todo

o custo libertar-se da ráfia.

- Que está dentro daquele armário? - perguntou por fim

miss Kennedy.

- Os nossos trabalhos manuais - respondeu Teresa.

- Bem sei - disse a miss Kennedy impaciente. Mas os

trabalhos manuais não fazem barulho. Que está a causar

todo este barulho? Devem ser ratos.

Claro que não eram ratos. Tratava-se apenas do pobre

gato que estava completamente desvairado. Corria de um

lado para o outro, na prateleira, prendendo a todo o

momento as patas na ráfia.

- Isto é demais! - exclamou a miss Kennedy, zangada.

Dirigiu-se ao armário e abriu a porta. O gato assustou-se e

deu um salto, miando. Miss Kennedy deu um grito quando

Page 108: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

viu o enorme gato preto a saltar e correu para a porta. O

gato seguiu-a, calculando que ela o ia deixar sair. Roçou

pelas suas pernas e a miss Kennedy ficou pálida de medo,

pois realmente os gatos aterravam-na.

O gato e miss Kennedy saíram juntos e fugiram em

direcções opostas. As pequenas encostaram as cabeças às

secretárias e quase choravam a rir. Os olhos da Catarina

estavam cheios de lágrimas enquanto ria às gargalhadas e

as gémeas começaram com soluços de tanto rir.

A Teresa foi fechar a porta, não fosse passar no corredor

qualquer outra professora. Durante uns bons cinco minutos

não pararam de rir. Quando paravam, uma delas

recomeçava e seguiam-se gargalhadas de todos os lados.

Era uma autêntica paródia.

- Vocês repararam quando o gato saltou? - disse a

Teresa, e todas se riram ainda mais.

- Devem ser ratos - disse a Dora, imitando a voz da miss

Kennedy. Novas gargalhadas.

- Shiu! - fez a Teresa, limpando os olhos. - Podem ouvir-

nos. Que terá acontecido à Kenny? Desapareceu

completamente. Acham que volta para continuar a lição?

Mas miss Kennedy não voltou a aparecer. Estava sentada

numa das salas de estar, deserta àquela hora, bebendo um

copo de água, ainda muito pálida. Tinha tanto medo de

gatos como certas pessoas de baratas ou morcegos, mas

não era só isso que a fazia sentir-se tão aborrecida e

Page 109: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

desesperada. Era a ideia de que as alunas lhe haviam

pregado mais uma partida, sabendo que ela cairia na

armadilha com toda a facilidade.

“Não tinha jeito nenhum para dar aulas”, pensou miss

Kennedy, pousando o copo. “Tudo se passa muito bem,

quando só tenho uma ou duas alunas mas este lugar não é

para mim. No entanto o ordenado faz-me imenso arranjo,

agora que a minha mãe está doente. Mas não posso

continuar. Tenho que desistir...”

Decidiu ir à cidade, lanchar com uma amiga. Falaria com

ela no assunto, depois voltaria ao colégio, pediria a

demissão a miss Theobald, confessando-lhe que não

conseguia ensinar nem manter a disciplina.

Assim, foi até à cidade às quatro horas, telefonando

primeiro à sua amiga miss Roper, para se encontrarem numa

pastelaria.

E nessa mesma pastelaria estavam a lanchar as gémeas

e a Catarina. A pastelaria estava dividida em pequenos

compartimentos, separados por cortinas vermelhas e as

pequenas já ali se encontravam saboreando scones com

manteiga, quando miss Kennedy entrou com miss Roper.

As senhoras escolheram o compartimento ao lado do das

pequenas. As alunas não podiam ver a professora mas

ouviam-na perfeitamente.

E reconheceram logo a voz de miss Kennedy!

- Atenção! É a Kenny. Até aposto que vai contar a história

Page 110: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

do gato preto! - murmurou Catarina. As pequenas não

tinham intenção de escutar, mas não podiam deixar de ouvir

o que se dizia. E, tal como pensavam, miss Kennedy pôs-se a

falar dos acontecimentos daquela manhã.

Mas também falou de outra coisa, da sua velha mãe,

doente e necessitada; do dinheiro que o lugar de professora

lhe rendia; das contas que tinha de pagar. Falava com

tristeza na sua falta de jeito para se impor às alunas.

- É desonesto - disse ela à amiga. - Recebo um ordenado

para ensinar as alunas do colégio e elas não aprenderam

nada, só porque não consigo discipliná-las. Pregam-me

partidas e fazem troça de mim durante todo o tempo. Não te

parece que devo confessar isto à directora, Clara? Não é leal

da minha parte deixar uma aula, só porque fazem pouco de

mim. A miss Lewis, a professora de História que substituí,

não deve poder voltar até ao fim do próximo período, e não

vejo como possa ocupar o seu lugar até essa altura.

- Mas precisas tanto do dinheiro para ajudares a tua mãe

enquanto ela estiver doente! - lembrou a miss Roper. - É

pouca sorte, minha querida amiga. As tuas alunas devem ser

insuportáveis.

As três pequenas ouviam, sem proferirem uma palavra.

Estavam muito aflitas. Aquilo que até ali só lhes parecera

uma divertida brincadeira, significava para a professora o

perder um lugar, não podendo ajudar a mãe doente, além de

sofrer o seu sentimento de incapacidade como professora.

Page 111: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

- Vamo-nos embora - disse a Patrícia, em voz baixa. - Não

devemos ouvir esta conversa.

Conseguiram sair sem serem vistas por miss Kennedy,

pagaram a conta e voltaram para o colégio. Sentiam-se

bastante tristes. Não podiam consentir que miss Kennedy

pedisse a demissão. Era fraca e tímida em muitas coisas,

mas boa pessoa e cheia de qualidades. E elas, as alunas,

eram insuportáveis.

- Sabem, sinto-me péssima! - declarou Catarina,

sentando-se na sala de estar. - Não estou a gostar nada de

mim, neste momento. Achei imensa graça à brincadeira

desta manhã, mas uma brincadeira deixa de o ser, quando

significa tristeza e infelicidade para alguém.

- Temos que evitar que miss Kennedy vá ter com miss

Theobald - disse Patrícia de repente. Seria horrível. É preciso

fazer qualquer coisa. Pensem bem!

Isabel olhou para as companheiras. - Só há realmente

uma coisa a fazer - disse ela. - Devemos pedir a toda a nossa

classe para assinar uma carta e o segundo ano também,

pedindo desculpa da partida que fizemos e garantindo que

nunca mais seremos endiabradas na aula de História. E

teremos que cumprir o prometido.

- Não é nada má ideia! - concordou Patrícia. Catarina, vai

ao segundo ano, que deve estar numa reunião e conta

resumidamente o que se passou. vou escrever a carta e

depois cada uma de nós deve assiná-la.

Page 112: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Catarina saiu. Patrícia pegou numa caneta e num bloco

e, com a ajuda da Isabel, escreveu a carta. Dizia assim:

Querida miss Kennedy,

Estamos muito envergonhadas por causa do nosso

comportamento desta manhã e pedimos-lhe que aceite as

nossas mais humildes desculpas. Não sabíamos que o gato

lhe ia saltar para cima. Por favor, perdoe-nos. Se assim

acontecer, prometemos que nunca mais pregaremos

partidas, portar-nos-emos bem e estudaremos com atenção.

Nós achámos que foi formidável por não ter feito queixa

de nós acerca “daquilo que sabe”. Com toda a consideração,

e seguiam-se os nomes das alunas, cada qual assinado pela

própria.

Depois chegaram as alunas do segundo ano e uma a

uma, todas assinaram os seus nomes.

- O que é “aquilo que sabe”? - perguntou a Teresa, com

curiosidade.

- A nossa ceia da meia-noite - explicou Patrícia. - Ela

sabia o que tínhamos feito e não disse a ninguém. Agora, já

todas assinaram? Faltas tu, Lena. Escreve o teu nome aqui

no fim.

Todas as pequenas se tinham sentido envergonhadas

quando Catarina lhes contou, o que soubera na pastelaria.

- Vocês não deviam ter ficado à escuta - disse lida,

censurando. - Não é bonito escutar seja o que for.

- Bem sei! - concordou Patrícia. - Mas na verdade não

Page 113: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

podíamos proceder de outra maneira, lida. E de qualquer

forma ainda bem que o fizemos. Assim podemos impedir que

miss Kennedy perca o seu lugar.

Realmente conseguiram impedir que a miss Kennedy

fosse falar com a directora, quando chegou da cidade. Viu a

carta na secretária e abriu-a. Quando a leu, grossas lágrimas

saltaram-lhe dos olhos.

“Que carta tão simpática”, pensou. “Afinal as pequenas

não são tão insuportáveis como parecem. Se ao menos

mantiverem a sua promessa... Bem gostaria então de as

ensinar.”

Na manhã seguinte agradeceu a cada uma das classes e

disse que lhes perdoava. E pela primeira vez naquele

período, a sua aula decorreu tão bem como a de qualquer

outra professora, pois as pequenas não tinham intenção de

quebrar a sua palavra.

De vez em quando ainda se ouvia uma ou outra

gargalhada, uns papelinhos voavam de umas carteiras para

as outras, mas não havia partidas organizadas nem faltas de

educação.

Miss Kennedy sentia-se feliz. Agora ensinava muito

melhor, pois já não tinha que pensar nas partidas e as

alunas passaram a interessar-se pela matéria e a prestarem

atenção.

- Estou satisfeita por termos feito aquilo que devíamos -

disse Patrícia, um dia, depois da aula de História. - Hoje

Page 114: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

perguntei a miss Kennedy como estava a mãe. Ela

respondeu-me que está muito melhor e amanhã já sai da

casa de saúde. Seria horrível se ela tivesse morrido por

termos feito com que a Kenny perdesse o emprego e a mãe

não pudesse ser tratada convenientemente.

- Horrível! - concordou Isabel. E todas as companheiras

pensaram o mesmo.

XII

UM VIDRO PARTIDO E UM CASTIGO

Uma certa manhã lida entrou na sala de estar, muito

entusiasmada.

- Já sabem que vai armar-se um circo mesmo na entrada

da cidade? Vi há pouco o anúncio!

- Esperemos que nos deixem lá ir - disse Patrícia que

adorava circo.

- É o Circo Galliano - contou lida e tirou um prospecto da

algibeira. - Ora vejam, palhaços, acrobatas, cavalos, cães,

tudo! Queira Deus que miss Theobald nos deixe lá ir.

A Directora deu autorização. Decidiu que cada noite

poderiam ir duas classes, com as respectivas professoras. O

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primeiro ano ficou entusiasmado. Patrícia, Isabel, Catarina e

Joana foram à cidade e leram os grandes cartazes coloridos,

que se viam afixados por toda a parte.

Parecia um óptimo programa. As pequenas foram

observar as enormes barracas armadas no campo.

Debruçaram-se sobre a cancela e estiveram a ver os cavalos

de pêlo acetinado a galoparem em círculo e viram cinco

ursos a passearem com o seu treinador. Viram também um

grande chimpanzé vestido com calças e camisola dando a

mão a um rapazinho, seguido por um cão.

- Olhem para aquele enorme macaco! - exclamou Isabel.

- O Sam não é um macaco, é um chimpanzé - disse o

rapaz, sorrindo. - Aperta a mão a estas meninas, Sam!

O grande chimpanzé estendeu a mão às pequenas.

Isabel e Catarina tiveram medo, mas Patrícia estendeu logo

a sua. O Sam apertou-a com vivacidade.

- Vêm assistir ao nosso espectáculo? - perguntou o rapaz.

- Vimos - respondeu a Patrícia. - Também faz parte do

circo? Qual é o seu papel?

- Sou o Quim Brown e faço um número com o meu

famoso cão, o Lucky. Aqui está ele. Sabe escrever e contar.

- Oh, não! Os cães não podem fazer isso! disse Isabel.

O Quim riu-se. Mas o meu sabe. Hão-de vê-lo quando cá

vierem. Olhem, estão a ver aquela rapariga ali, montada no

cavalo preto? É a Lotte. Também a hão-de aplaudir no

espectáculo. Consegue montar o cavalo mais bravo do

Page 116: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

mundo.

As pequenas olharam para Lotte. Galopava pelo campo,

num lindo cavalo negro. Quando se aproximou, pôs-se de

repente em pé em cima do cavalo e disse adeus às três

pequenas que ficaram muito admiradas!

- Mas que habilidosa! - exclamou Patrícia. Gostava

imenso de saber montar assim. Ela nunca cai?

- Nunca! - disse o Quim. - Bem, tenho que me ir embora.

Vamos, Sammy! Nós havemos de procurá-las às quatro,

quando vierem assistir ao espectáculo.

Afastou-se com o chimpanzé e o cãozinho.

As pequenas voltaram para o colégio. Estavam mortas

porque chegasse a noite em que o primeiro e o segundo ano

iriam ao circo.

- Há dois espectáculos todos os dias - lembrou Patrícia. -

O primeiro, das seis e trinta às oito e trinta, e o outro das

oito e quarenta e cinco às dez e quarenta e cinco. Gostava

que fôssemos ao segundo. Seria divertido irmos para a cama

às onze horas.

- Não teremos essa sorte - disse Isabel. Caminhemos

depressa, para não chegarmos atrasadas.

Mas um enorme aborrecimento esperava o primeiro ano

na manhã seguinte. Entraram na sala da aula, conversando

como de costume, e viram que um grande vidro da janela do

meio estava todo partido! Miss Roberts encontrava-se

sentada à secretária, com ar severo.

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- Santo Deus! Como é que a janela está partida? -

perguntou Joana, surpreendida.

- É isso mesmo que eu quero saber! - disse a miss

Roberts. - Quando estava na sala das professoras ouvi

barulho e vim ver de que se tratava, ouvi passos a correr

pelo corredor e quando aqui cheguei vi o vidro partido!

- Quem foi? - perguntou Patrícia.

- Não sei! - respondeu a miss Roberts. - Mas foi isto que

quebrou a janela.

- E a miss Roberts mostrou uma bola de borracha dura,

daquelas com que jogavam o lacrosse. - Encontrei-a ainda a

rolar pelo chão, quando entrei. Alguém deve ter estado a

brincar com ela na sala da aula, partindo o vidro. Como

sabem é contra o regulamento tirar bolas de lacrosse do

armário do ginásio, a não ser quando vão jogar uma partida.

Todas ouviram em silêncio. Sentiram-se um tanto

culpadas quando miss Roberts mencionou que era contra o

Regulamento as bolas de lacrosse saírem do ginásio, pois

ninguém respeitava essa regra. Todas as alunas iam de vez

em quando ao ginásio buscar uma bola para brincar no

recreio.

- Agora - disse miss Roberts - quero saber quem foi a

menina que partiu o vidro. Que se apresente já ou vá ter

comigo no intervalo. Claro que ela se devia ter acusado logo

que quebrou o vidro, mas é muito natural que, num

momento de susto, tenha fugido.

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Ninguém disse nada. Todas ficaram sentadas, imóveis.

Nem olharam umas para as outras. Miss Roberts examinava

cada uma das filas de alunas, para ver se descobria uma

expressão de culpa.

Mas como metade das pequenas coraram, de nervoso,

nada conseguiu. Praticamente toda a classe parecia culpada

e pouco à vontade. Sempre assim acontecia quando

qualquer coisa corria mal.

- Bem - disse por fim miss Roberts. - É evidente que a

culpada não se vai agora acusar. Deve ir ter comigo sem

falta, no intervalo. Sei que todas vocês têm o sentido da

honra e nenhuma é cobarde. Por isso tenho a certeza que a

culpada terá coragem suficiente para ir ter comigo. Estarei

na sala sozinha.

Ninguém disse uma palavra. Uma ou duas olharam em

volta e todas queriam saber quem seria a culpada. Patrícia e

Isabel sorriram nervosamente, uma para a outra. Tinham

andado juntas desde o pequeno-almoço, por isso bem

sabiam que nenhuma delas partira o vidro!

Começou a primeira lição. Era matemática. Miss Roberts

não estava nada bem disposta e ninguém se atreveu a

trocar uma palavra. Cabeças loiras e escuras inclinavam-se

com atenção sobre os cadernos e quando a professora dava

qualquer ordem, era prontamente obedecida. Todas sabiam

como era perigoso contrariar miss Roberts quando estava de

mau humor.

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Depois da aula de matemática, tiveram francês.

Mademoiselle entrou na sala e exclamou, ao ver a janela

quebrada.

- O vidro está partido. Como é que isto aconteceu?

- Não sabemos, Mademoiselle - disse a lida. Ainda

ninguém se acusou.

- Isso é abominável! - exclamou a Mademoiselle, olhando

em redor, com os seus grandes olhos negros.

- Que cobardia!

As alunas não responderam. Sentiam-se pouco à

vontade. Era desagradável saberem que entre elas se

encontrava uma cobarde. Mas talvez a culpada se fosse

acusar no intervalo. Quem seria?

Patrícia e Isabel fartaram-se de pensar. Não podia ser a

Joana, nem a lida, pois eram as duas muito corajosas e

acusavam-se logo, quando faziam qualquer disparate. Não

podia ser a Catarina, porque estivera sempre com elas. Seria

a Vera, ou a Célia, ou a Dora ou a Josefina? Não, certamente

não seria nenhuma delas! Não eram cobardes!

No intervalo as alunas do primeiro ano reuniram-se para

discutir o assunto.

- Não fomos nós - disse a Patrícia. - A Isabel e eu

estivemos juntas desde o pequeno-almoço, até entrarmos na

aula. E a Catarina esteve connosco.

- Eu também não! - disse a lida. - Estive a fazer um

trabalho para a Rita.

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- Eu não fui - disse a Joana. - Estive a limpar a gaiola dos

passarinhos e a Dora ajudou-me.

Uma por uma, as alunas do primeiro ano foram dizendo o

que haviam estado a fazer entre o pequeno almoço e a

primeira aula. Dava ideia que nenhuma delas podia ter

quebrado o vidro da janela, embora alguma pudesse não

estar a ser verdadeira!

Depois do intervalo as pequenas ocuparam os seus

lugares na aula. Miss Roberts entrou, apertando os lábios e

com uma expressão fria nos seus olhos cor de avelã. Olhou

em redor.

- Tenho muita pena de dizer que ninguém se foi acusar -

disse ela. - Por isso tive que pôr miss Theobald ao corrente

do assunto. Ela concordou em que o vidro deve ser pago

entre todas, visto a culpada não se acusar. A janela tinha um

vidro especial e a sua substituição custa duzentos escudos.

Miss Theobald decidiu que em vez de as deixar ir ao circo, o

que lhes custaria dez escudos a cada, o dinheiro servirá para

o vidro da janela.

Todas as pequenas soltaram uma exclamação de pesar.

Não irem ao circo! Era uma notícia terrível! Olharam umas

para as outras, aborrecidas e contrariadas. Porque havia de

sofrer toda a classe, quando uma só aluna fizera uma coisa

mal feita? Não parecia justo.

- Estou convencida que quem quebrou a janela não quer

ver a classe toda castigada - continuou miss Roberts. - Por

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isso espero que ainda se acuse antes de chegar a noite em

que esta classe deveria ir ao circo, ou seja na próxima

quinta-feira. E confio em que se alguma de vocês sabe quem

é a culpada, deve insistir com ela para que cumpra o seu

dever perante a sua classe.

- Mas, miss Roberts, suponha que ninguém se acusa -

começou a lida. - Podemos dar dez escudos cada uma para o

vidro e mesmo assim irmos ao circo?

- Não! - disse miss Roberts. - Não quero discussões, lida.

O que eu disse não será alterado. Abram os livros na página

oitenta e dois, por favor.

Nem se pode imaginar a agitação que se produziu depois

das aulas da manhã, no recreio antes do almoço! As

pequenas estavam indignadas!

- É uma vergonha! - exclamou Joana. - Eu não fui, nem tu

Patrícia, nem a Isabel. E nós bem o sabemos. Então porque

havemos de também ser castigadas?

- É costume nos colégios fazer com que toda a classe

seja castigada em casos semelhantes - disse a lida. - Passou-

se o mesmo no colégio do meu irmão, embora não aconteça

muitas vezes. Não percebo muito bem a lógica deste

procedimento, mas é assim mesmo. Se ao menos

soubéssemos quem é a culpada! Garanto-lhes que a

agarrava pelo pescoço e abanava-a toda!

- E se uma de nós se fosse acusar, para as outras

poderem ir ao circo? - propôs de repente Catarina. - Não me

Page 122: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

importo de pôr as culpas para cima de mim. Assim todas

vocês podem ir.

- Não sejas palerma! - exclamou Patrícia, dando o braço

a amiga. - Como se nós consentíssemos que fizesses uma

coisa dessas!

- Suponho que não foste tu, Catarina! - disse a Célia, a

brincar.

- Claro que não foi! - exclamou Isabel. -Esteve comigo e

com a Patrícia toda a manhã. É muito simpático da parte da

Catarina querer ficar com toda a culpa, mas nem pensar em

tal coisa. Se eu soubesse que ela se tinha acusado para nos

salvar, iria logo ter com miss Roberts e garantia-lhe que a

Catarina não podia ter feito nada!

- Está bem - disse Catarina. - Não me acusarei claro, se

vocês não concordam. Se conseguíssemos saber qual de nós

é a culpada!

Passou-se toda a terça-feira e toda a quarta. Ninguém se

acusou. Quando chegou a quinta-feira, miss Roberts

informou a classe de que o segundo ano ia ao circo, mas o

primeiro não. As pequenas protestaram.

- Tenho muita pena - disse miss Roberts. - É pouca sorte.

Espero que a culpada se sinta extraordinariamente infeliz e

cheia de remorsos. Agora não quero ouvir mais protestos.

Vamos continuar a lição de geografia!

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XIII

AS QUATRO ENDIABRADAS

Naquela tarde, depois do lanche, quatro alunas do

primeiro ano tiveram uma reunião num dos pequenos

compartimentos das lições de música.

Tratava-se das gémeas, a Catarina e a Joana. Estavam

todas furiosas por não poderem nessa noite assistir ao

espectáculo de circo.

- Temos que ir! - repetia Joana, - Conseguiremos escapar-

nos às oito menos um quarto e, se montarmos nas nossas

bicicletas sem ninguém dar por nós, seguiremos pelo lado do

campo de lacrosse. Voltaremos sem novidade a meio da

noite.

- Mas as portas do colégio são todas fechadas à chave,

às dez horas - lembrou Catarina. - E se arranjássemos uma

escada de mão? Está uma encostada à arrecadação do

jardineiro. Será fácil, servindo-nos dela, entrarmos pela

janela do nosso dormitório.

- Pois sim, mas na manhã seguinte todos veriam a

escada encostada à parede do dormitório - lembrou Isabel.

- Valha-me Deus, para que lhes servem os miolos? -

suspirou Joana. - Uma de nós pode subir pela escada e

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depois abrir a porta das traseiras, para as outras. Iremos pôr

a escada no seu lugar, junto da arrecadação, antes de

entrarmos. Perceberam ou é preciso repetir tudo outra vez?

Todas se riram. A Joana era engraçada quando ficava

impaciente.

- Estou a perceber - disse Patrícia. - Mas se somos

apanhadas? Nem quero pensar no que nos poderia

acontecer!

- Então não penses - ripostou Joana. - Porque não

seremos apanhadas! Miss Roberts nunca acende a luz

quando vai à noite ao nosso dormitório. Por esse lado

estaremos em segurança. No entanto, é preciso prevenir a

Lida. Ela não poderá vir connosco porque é a chefe de turma

e não pode infringir as regras, mas não nos impedirá de

sairmos.

Na verdade lida não as impediu.

- Está bem - disse ela. - Arrisquem-se, se assim o

desejam. Mas peço-lhes por tudo que não sejam apanhadas!

O segundo ano saiu para o circo, com a miss Jenks. O

primeiro ano ficou no colégio, todas aborrecidas e um tanto

revoltadas. Só as quatro amigas que tinham resolvido

assistir à segunda sessão, pareciam animadas e divertidas. A

maioria das alunas do primeiro ano sabia do plano da Joana,

mas mais ninguém se atreveu a acompanhá-las.

- Se forem apanhadas, são capazes de ser expulsas -

avisou a Dora. - Não me admirava nada.

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- Não seremos expulsas e não seremos apanhadas -

disse Joana com firmeza.

Quando chegou a altura, as quatro amigas vestiram os

casacos, puseram os chapéus e saíram à sucapa pela porta

das traseiras. Lá fora estava escuro, mas o céu não tinha

nuvens. Quando voltassem deveria haver luar. Foram de

mansinho até a arrecadação das bicicletas.

- Que barulho que fazem as bicicletas! - murmurou

Joana, enquanto montavam. - Agora descemos pelo caminho

que passa pelo campo de lacrosse.

Lá foram elas, com os faróis das bicicletas brilhando na

escuridão. Quando chegaram perto do circo, viram muitas

pessoas a sair. Deviam ter assistido à primeira sessão.

- Cuidado! Escondam-se atrás da cerca até ter passado

toda a gente! - ordenou a Joana - Não podemos esbarrar com

miss Jenks!

Esconderam-se, até passar o perigo. Depois deixaram as

bicicletas encostadas à cerca e dirigiram-se ao portão por

onde já estavam a entrar pessoas, à luz de lâmpadas de

acetilene. As pequenas pagaram os bilhetes e dirigiram-se à

enorme barraca do circo. Em breve se sentavam nos seus

lugares, lá muito no fundo, para não serem vistas. Tiraram

os chapéus do uniforme.

O espectáculo era óptimo. Viram a tal rapariga chamada

Lotte, agora com um vestido todo a brilhar, montando sem

selim, pondo-se em pé em cima do cavalo, ajoelhando-se,

Page 126: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

saltando, sempre a sorrir. Viram o Quim com o seu cão Lucky

e nem percebiam como o cão podia ter sido treinado para se

mostrar tão habilidoso. Riram-se imenso com as graças dos

palhaços e com os espantosos acrobatas. Também

simpatizaram com o senhor Galliano;com o seu chicote a

estalar e grandes bigodes. O espectáculo era excelente e as

quatro pequenas divertiram-se desde o princípio ao fim.

- É melhor sairmos um pouco antes de acabar disse

Joana, observando o Sara Chimpanzé, que se despia com

toda a serenidade e enfiava um pijama. Não é engraçado?

Olha, agora vai meter-se na cama!

Um pouco antes do espectáculo terminar as pequenas

saíram, sem darem nas vistas. Toda a gente estava muito

interessada a observar os cinco ursos que jogavam às

estátuas com o seu domador.

- Todos deitados no chão! - gritava o domador, e no

momento em que as pequenas saíram, os cinco ursos

deitaram-se no chão, como se fossem crianças!

- Que belo espectáculo! - disse Joana, enquanto se

dirigiam ao sítio onde haviam deixado as bicicletas. - Onde

está a minha bicicleta? Oh, aqui está!

Montaram e pedalaram na direcção do colégio. A lua

brilhava, iluminando o caminho. Em breve chegavam ao seu

destino. Guardaram as bicicletas, fazendo o menor barulho

possível e depois, com os corações a bater com força, foram

até à arrecadação do jardineiro onde se encontrava, junto à

Page 127: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

parede, a tal escada de mão.

Sentiam-se bastante nervosas. E se fossem apanhadas

naquela altura? Seria horrível! Mas não, não apareceu

ninguém. Via-se apenas uma luz pálida, vinda do quarto de

uma das professoras no lado direito do edifício. Eram cerca

das onze horas e todas as alunas e professoras deviam estar

a dormir.

Procuraram a escada. Encontraram duas, uma mais

pequena e outra muito maior. Joana apontou para a mais

pequena.

- Acho que esta deve chegar! - disse ela. As quatro

companheiras levaram-na até ao sitio onde as janelas do

dormitório brilhavam à luz do luar.

Encostaram a escada à parede, mas com grande

decepção verificaram que nem chegava ao parapeito da

janela!

- Que azar! - exclamou Joana. - Ora reparem! è

demasiado perigoso tentarmos trepar para o parapeito, do

cimo da escada, pois fica muito abaixo da janela. Bem,

vamos levá-la para o seu lugar e é preciso trazermos a

outra. Acho que essa até chega ao telhado!

Levaram a escada pequena e deitaram-na no sítio donde

a haviam retirado, sem fazerem barulho, mas então

perceberam que não conseguiam carregar com a escada

grande! Era terrivelmente pesada e precisava de dois ou três

jardineiros para a transportar! As quatro amigas mal

Page 128: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

conseguiam erguê-la, quanto mais porem-na a pino e

encostarem-na à parede!

Entreolharam-se, muito embaraçadas.

- Que vamos fazer agora? - perguntou Isabel, com a voz

a tremer. - Não podemos passar a noite aqui fora.

- Claro que não, pateta! - disse Joana. - Vamos

experimentar todas as portas. Talvez uma delas não esteja

fechada à chave. Animem-se!

Foram andando à roda do edifício, experimentando todas

as portas, mas encontraram-nas todas fechadas à chave e

bem trancadas. As criadas não eram descuidadas!

Catarina começou a chorar. Não queria ser apanhada,

pois esforçava-se por merecer a consideração de miss

Theobald, desde que fora perdoada pela sua grave falta. E

de repente pareceu-lhe horrível estar lá fora, enquanto as

outras dormiam.

- Seremos descobertas de manhã - murmurou ela. - E

apanharemos umas constipações de morte, se ficarmos aqui

fora.

- Cala-te e não sejas tão acriançada - disse Joana,

zangada.

- Já sei o que vamos fazer! Vamos atirar umas pedrinhas

à janela do nosso dormitório - lembrou Patrícia. - Hão-de

fazer barulho e talvez uma das nossas companheiras acorde.

Então poderá descer as escadas e abrir-nos a porta.

- Boa ideia! - aprovou Joana. - Apanhem todas as

Page 129: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

pedrinhas pequenas.

Escolheram várias pedrinhas e começaram a atirá-las.

Mas Catarina tinha muito má pontaria e as suas pedrinhas

foram bater noutra janela, a que ficava por cima do

dormitório, onde dormia a Mademoiselle! E a professora de

francês acordou!

- Depressa! Escondam-se na sombra! - murmurou a

Joana, aflita. - Idiota, acertaste na janela da Mademoiselle!

A cabeça escura da Mademoiselle apareceu à janela e

ouviram-na dizer qualquer coisa para consigo. Estavam

todas juntas, a um canto, mal se atrevendo a respirar,

aterradas com a ideia que a Mademoiselle as pudesse

descobrir. Mas as sombras eram muito escuras e a

Mademoiselle não viu nada de anormal. Intrigada e

bocejando, voltou para a cama. As pequenas ficaram no

mesmo sítio durante alguns minutos e depois começaram a

falar baixinho.

- Isto é horrível! Simplesmente horrível. Que vamos

fazer?

- Quem me dera não ter ido ao circo!

- Tenho tanto frio que sinto os dentes a bater. De repente

Patrícia agarrou o braço da Isabel e murmurou:

- Repara, repara, não está alguém a espreitar pela janela

do nosso dormitório?

Todas olharam para cima e na verdade via-se a cabeça

duma companheira a espreitar pela janela. Patrícia saiu da

Page 130: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

sombra e mostrou-se à luz do luar. Ouviram então a voz da

lida, num murmúrio:

- Patrícia! É tardissimo! Onde estão as outras?

- Aqui - murmurou Patrícia. - As escadas não podem

servir. Vai abrir a porta das traseiras para nós entrarmos!

Depressa! Estamos cheias de frio!

A cabeça da lida desapareceu. Um minuto mais tarde as

pequenas ouviram a chave da porta das traseiras dar a

volta, a tranca a ser retirada e a porta abriu-se! Entraram

sem fazer barulho e a lida voltou a fechar a porta à chave e

a trancá-la.

Todas subiram as escadas, tão silenciosas como ratinhos,

com os sapatos na mão, acabando por entrar no dormitório.

Uma vez ali, atiraram-se para cima da cama da Joana, e

começaram os risos abafados, sentindo-se nervosas e ao

mesmo tempo aliviadas.

Contaram à lida tudo o que se passara. A Dora acordou e

juntou-se ao grupo. As quatro endiabradas sentiam-se muito

melhor, agora que já estavam fora de perigo e gabavam-se

da sua aventura.

- Ouviste as nossas pedrinhas baterem na janela, lida? -

perguntou Joana. - Porque apareceste à janela?

- As vossas pedrinhas foram bater no chão - disse lida,

rindo-se. - A janela tinha ficado aberta para vocês entrarem

com facilidade. Acordei com o barulho das pedras a baterem

no encerado. Ao princípio não percebi do que se tratava.

Page 131: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Depois acendi a minha lanterna de algibeira e vi as

pedrinhas. Temos que as varrer de manhã.

Joana bocejou.

- Estou cansadíssima - disse ela. - O circo foi fantástico.

Só tenho pena que não tenhas ido, lida.

- Também eu - concordou lida. - Agora dispam-se

depressa. E não façam barulho, para não acordarem a

Mademoiselle. Lembrem-se que o seu quarto fica mesmo

aqui por cima. - Bem o sabemos! - disse Patrícia, rindo,

recordando a cabeça da Mademoiselle a espreitar na janela.

- Onde está a minha camisa de dormir? Para onde teria ido?

- Como a podes encontrar na minha cama, idiota? - disse

Isabel que já se despira e enfiara o roupão.

- Estás cheia de sono. A tua cama é ali, e a tua camisa

de dormir está em cima da almofada.

- Tens razão - disse Patrícia, bocejando. Apetece-me

dormir mesmo vestida!

Em breve o dormitório estava novamente em silêncio e

todas as alunas adormeceram. As quatro amigas

endiabradas dormiam em paz, mas no dia seguinte iriam ter

uma grande surpresa!

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XIV

UMA GRANDE DECEPÇÃO

No dia seguinte as quatro endiabradas estavam cheias

de sono. Custou-lhes imenso a acordar. Quando tocou a

campainha nenhuma se levantou.

- Joana! Catarina! Não tencionam mexer-se? - disse a

lida. - Vão chegar atrasadas. E olha para aquelas gémeas

preguiçosas. Ainda nem abriram os olhos!

- Só mais cinco minutos - murmurou Patrícia, ensonada.

Mas os cinco minutos prolongaram-se até dez e as quatro

continuavam deitadas. A lida fez um sinal à Dora e as duas

foram de mansinho até as camas das outras e puxaram pela

roupa de maneira que elas caíram no meio do chão!

- Ooooh! - exclamaram as pequenas arrepiadas, pois

estava uma manhã muito fria. - Vocês são más!

- Depressa, levantem-se, se não querem apanhar uma

descompostura - disse a lida. E cheias de preguiça as quatro

amigas arranjaram-se, sempre a bocejar. Animaram-se um

pouco quando as colegas as rodearam perguntando-lhes o

que acontecera na noite anterior. Então sentiram-se quase

umas heroinas, ao contarem a sua aventura.

- Esta manhã não me apetece nada ir às aulas disse

Joana. - Hoje temos lição de álgebra com a miss Roberts, não

é? Sempre foi uma coisa para que não tivesse jeito nenhum,

então hoje não devo perceber mesmo nada. Espero que ela

Page 133: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

esteja bem disposta.

As alunas foram para a sala de aula e ocuparam os seus

lugares. Joana abriu o livro de álgebra na página que devia

ter estudado e leu apressadamente o capitulo que lhe

interessava. Dava-lhe a impressão que se esquecera de

tudo, mas era devido ater dormido tão pouco.

- Lá vem a miss Roberts - disse a Dora, que estava à

porta. As pequenas puseram-se em pé. Miss Roberts entrou.

O que teria acontecido? Estava muito contente, com os olhos

brilhantes, até parecia mais bonita.

- Sentem-se, meninas - disse ela e as pequenas

obedeceram, intrigadas por a professora parecer tão

satisfeita. Teriam feito algum exercício maravilhoso ou

qualquer coisa assim?

- Meninas - começou miss Roberts. - Esta manhã sinto-

me muito contente. Descobri que não foi nenhuma aluna da

minha classe que quebrou o vidro da janela.

As pequenas olharam para a professora, admiradas. Miss

Roberts sorriu.

- Foi uma aluna do segundo ano - disse ela. Parece que a

bola saltou para dentro desta sala, a pequena correu atrás,

tentando apanhá-la, mas bateu com força na janela,

partindo-se o vidro.

- Mas porque não se acusou? - perguntou a lida,

indignada. - Foi indecente! Deixámos de ir ao circo por causa

dela!

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- Esperem - disse miss Roberts. - A culpada foi a Joaquina

Hobart, que como vocês sabem está na enfermaria com uma

forte gripe. Ficou assustada quando partiu o vidro, mas

tencionava acusar-se no fim da manhã. Mas a meio da

manhã sentiu-se doente e mandaram-na para a enfermaria,

onde tem permanecido desde então. Hoje está melhor e a

sua professora miss Jenks foi visitá-la.

- E então? o! Acusou-se? - perguntou a Joana.

- A miss Jenks contou-lhe que o segundo ano fora ao

circo na noite passada, mas o primeiro ano ficara de castigo.

A Joaquina quis saber o motivo - continuou miss Roberts. -

Quando soube que todas vocês tinham sido castigadas por

uma coisa que ela tinha feito, ficou muito aflita e pôs-se a

chorar. Claro que confessou tudo a miss Jenks e esta veio-me

contar.

- Estou satisfeita por não ter sido ninguém da nossa

classe - disse lida. - Detestava pensar que entre nós havia

uma tão grande cobarde!

- Também eu não compreendia tal coisa - disse miss

Roberts. - Julgo conhecê-las bastante bem e, embora às

vezes sejam muito estúpidas, muito irritantes, enfim,

insuportáveis, custava-me a crer que alguma se mostrasse

cobarde.

Miss Roberts riu-se enquanto dizia as últimas frases e

toda a classe se riu também. Sentiam-se todas muito

aliviadas.

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- Então agora já podemos ir ao circo? - perguntou a lida. -

Ainda há espectáculo hoje e amanhã.

- Sem dúvida - disse miss Roberts. - Miss Theobald

decidiu que irão amanhã. E para compensar o castigo que

realmente não mereciam, iremos primeiro tomar chá a uma

pastelaria da cidade, um chá oferecido pelo colégio. Que tal

lhes parece?

As pequenas acharam uma óptima ideia. Soltaram

exclamações de alegria, esfregaram as mãos de

contentamento, e mostraram-se radiantes. Primeiro um

belíssimo lanche e depois um espectáculo de circo! Seria

divertidíssimo! Logo na última noite do circo! Que sorte a

Joaquina se ter acusado a tempo!

Mas havia quatro alunas que se sentiam muito pouco à

vontade, ou seja, as gémeas, Catarina e Joana. Já tinham

visto o espectáculo.

Olharam umas para as outras e sentiram-se cheias de

culpas! Porque não tinham esperado?

Foram falar no assunto à lida depois da aula. Estamos

bastante atrapalhadas. Achas que também devemos ir

amanhã? - perguntou Patrícia.

- Bem, se não forem, que desculpa conseguem arranjar?

- lembrou a lida. - Mas já que me perguntam, quero dizer-

lhes que acho que não deviam ir. já se divertiram, indo

contra o regulamento. Claro que toda a gente de vez em

quando faz uma coisa contra o regulamento, por isso não

Page 136: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

estou a censurá-las, mas parece-me que não é justo que se

vão divertir outra vez. Eu também me sentiria tão

atrapalhada como vocês. Mas se disserem a verdade a miss

Roberts, nem sei o que lhes pode acontecer.

- Poderemos dizer que não nos sentimos bem? lembrou

Isabel. - Na verdade hoje não me sinto lá muito bem, por ter

dormido tão pouco.

- Então dá essa desculpa amanhã - disse a lida. - Mas

olha que tiveram pouca sorte! Vão perder um óptimo lanche

e toda a gente sabe que os espectáculos de sábado à noite

são os melhores.

- Agora estou arrependida de termos sido tão

impacientes - disse Catarina, com um suspiro. Gostava tanto

de ir convosco, amanhã!

As quatro estavam muito tristes. Conversaram juntas

sobre o assunto.

- Acho que de toda a maneira podemos ir! - disse Joana,

mas mudou logo de opinião. - Não, não podemos. Havia de

me sentir mal durante todo o tempo. E as nossas colegas

também ficariam com pouca consideração por nós.

- Só espero que a miss Roberts não nos mande à

enfermaria tomar um daqueles detestáveis remédios,

quando amanhã lhe dissermos que não nos sentimos bem -

disse Catarina, que era terrível para tomar qualquer

medicamento.

Mas no dia seguinte não tiveram o problema de dizer

Page 137: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

que se sentiam mal, pois as quatro estavam

constipadíssimas! Tinham apanhado imenso frio enquanto

esperavam por entrar no colégio, na noite de quarta-feira

anterior, e fartaram-se de espirrar e tossir.

Miss Roberts reparou logo.

- É melhor irem para a cama - disse ela. - Naturalmente

estão a caminho de apanhar uma gripe. Vão à enfermaria e

peçam que lhes tirem a temperatura. Vão as quatro

imediatamente. Onde teriam apanhado tão tremendas

constipações?

Não responderam. Foram à enfermaria, sentindo-se

muito aborrecidas. Catarina tinha temperatura e a

enfermeira, calculando que naturalmente todas quatro iam

ficar com gripe, mandou-as para a cama. Deu-lhes uma dose

de um dos seus enormes frascos e deixou-as juntas na

enfermaria, com algumas recomendações.

- Atchiim! - espirrou Catarina. - Fomos umas grandes

palermas por termos saído à noite. Não é nada agradável ter

uma tremenda constipação.

- E perder o lanche - lembrou a Patrícia. lida disse que

miss Roberts telefonou para a pastelaria recomendando que

guardassem daqueles bolos de chocolate que tanto

apreciamos.

- Não vale a pena lamentarmo-nos - disse Isabel,

sensatamente. - Tivemos o castigo que merecíamos. Agora

calem-se, que eu quero ler.

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O primeiro ano saiu às cinco, com miss Roberts.

Saborearam um óptimo lanche. Miss Roberts comprou quatro

bolos de chocolate para levar às alunas que haviam ficado

na enfermaria.

- Elas foram uns amores por se terem conformado com

tanta facilidade - disse miss Roberts à lida. Não tiveram um

queixume, nem uma palavra de revolta.

Ilda não respondeu. Miss Roberts ficaria admiradíssima

se soubesse a verdadeira razão por que as quatro

endiabradas não tinham ido ao circo! Mas claro que não lho

iriam contar.

O circo naquela noite estava na sua melhor forma e no

final as pequenas tiveram autorização para irem aos

bastidores falar com os artistas. O chimpanzé Sam ficou

encantado ao vê-las e, muito bem educado, não parava de

lhes tirar o chapéu. Jumbo, o enorme elefante, soprou para o

pescoço da lida e despenteou-a toda, como se se tratasse de

uma rajada de vento. Lotte consentiu que fizessem festas ao

seu magnifico cavalo, o Beleza Negra. Foi um fim de tarde

maravilhoso e, quando as pequenas voltaram, sentiam-se

um pouco cansadas, mas felizes e cheias de entusiasmo.

Miss Roberts foi à enfermaria para ver se as quatro

doentes estavam acordadas. A enfermeira estava a medicá-

las para a noite.

- Não tem nada de grave - disse ela a miss Roberts. - A

temperatura da Catarina já baixou. Têm apenas umas fortes

Page 139: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

constipações. Como amanhã é domingo, ficarão na cama

mais um dia.

- Trouxe-lhes uns daqueles bolos de chocolate que vocês

gostam muito - disse miss Roberts. Não sei se os podem

comer agora.

- Se lhes apetecer, não lhes farão mal - respondeu a

enfermeira, sorrindo.

As quatro sentiram logo imensa vontade de provar os

bolos de chocolate e sentaram-se nas camas. Ficaram muito

sensibilizadas por miss Roberts não as ter esquecido.

Saborearam os bolos, enquanto a professora lhes ia

contando o que se passara.

- Não achou graça ao chimpanzé quando ele se despiu e

se meteu na cama? - perguntou a Catarina cheia de

vivacidade, esquecendo-se completamente que a professora

não fazia ideia que elas tinham ido ao circo. Miss Roberts

ficou muito surpreendida.

- A Catarina viu os cartazes na cidade - apressou-se a

explicar Patrícia, olhando furiosa para a Catarina.

- Acho que agora são horas das pequenas dormirem -

disse a enfermeira, entrando naquele momento, para grande

alívio das quatro amigas. Miss Roberts despediu-se e foi-se

embora. As pequenas deitaram-se para baixo, enquanto a

enfermeira arrumava umas coisas. Depois apagou a luz e

saiu.

- Que idiota, Catarina! - exclamou a Joana. Quase nos

Page 140: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

deixaste ficar mal!

- Desculpem - disse Catarina cheia de sono. Ia-me

esquecendo!

- Nada de conversas! - ralhou a enfermeira, da porta. -

Mais uma palavra e faço-as engolir uma colherada de um

dos meus remédios menos agradáveis.

E com aquele aviso, mais ninguém abriu a boca!

XV

UMA TERRÍVEL DISCUSSÃO

AS semanas iam passando rapidamente. O período

chegou a meio. A mãe das gémeas foi visitá-las nessa altura

e levou-as a dar um passeio de automóvel. Ficou satisfeita

de ver as filhas tão felizes e bem dispostas.

- Então como se têm dado por cá? - perguntou a

senhora. - Espero que não achem Santa Clara tão mau como

julgavam.

As gémeas coraram.

- Não é mau colégio - disse Patrícia.

- É bastante agradável - acrescentou Isabel. A mãe

sorriu. Conhecia as filhas tão bem, que sabia por aquelas

Page 141: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

poucas palavras que se sentiam felizes e satisfeitas no

Colégio de Santa Clara.

Todas as semanas havia desafios de lacrosse. Ums vezes

eram disputados pelas classes mais atrasadas, outras pelas

mais adiantadas. As gémeas interessavam-se imenso pelo

jogo e costumavam assistir aos desafios das mais velhas

com enorme entusiasmo. Consideravam Belinha Towers

maravilhosa. Ela era rapidíssima e apanhava a bola duma

maneira muito elegante.

- Lembras-te como fomos antipáticas para ela no

princípio do período? - disse Patrícia à irmã. Nem sei como

tivemos coragem para tal.

- Éramos umas grandes idiotas - respondeu Isabel. -

Palavra que nem sei como nos podiam aturar!

- Agora só há uma pessoa que realmente eu não suporto,

é a Célia Naylor - tornou Patrícia. Que se passa com ela? É

tão vaidosa e altiva, sempre a falar da sua maravilhosa casa,

do número de criados que tem, do seu cavalo e dos seus três

automóveis. Tem que se meter em todos os assuntos e dar a

sua opinião sobre todas as coisas, que em geral nada

interessam!

Na verdade todas as colegas achavam a Célia muito

maçadora. Fazia sempre o possível por impressionar as

presentes e levá-las a pensar que era extraordinária. Na

verdade ela era uma rapariguinha sem nada de especial, um

tanto mal educada e que fazia erros de gramática ao falar.

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Vestia-se com roupas muito boas, preocupando-se imenso

que fossem do melhor que havia e no entanto nunca

escovava o cabelo com esmero e, se pudesse, até se

esqueceria de lavar o pescoço!

A aluna menos paciente do primeiro ano era a Joana. Não

suportava vaidades estúpidas e os grandes ares e frases da

Célia, irritavam-na extraordinariamente. Não tinha paciência

para discutir com ela e, em geral, como a Célia sabia isso,

evitava-a.

Uma tarde, antes do lanche, o primeiro ano esteve a

descansar na sua sala de estar. Tinham ligado o gira-discos e

tocaram a mesma música quatro vezes a seguir. A Joana

protestou:

- Por favor! Tencionas aprender a música de cor, Patrícia?

Tira o disco e quebra-o! Se me obrigas a ouvi-lo outra vez,

começo a gritar.

- Não adevias falar assim! - começou a Célia, na sua voz

cortante. A Joana levantou os olhos de um livro que estava a

ler, irritada.

- É fantástico! “Não adevias!”. Por Deus, Célia, onde é

que nasceste? Ainda não conseguiste aprender que as

pessoas não dizem adevias? Passas a vida a gabar as tuas

criadas, os teus Rolls-Royce, o teu cavalo, o lago do teu

jardim, não sei quantas coisas mais, e afinal falas como a

filha dum cavador!

Célia ficou muito pálida. Patrícia apressou-se a mudar de

Page 143: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

disco. Joana voltou ao seu livro, ainda irritada, mas um tanto

envergonhada. Se a Célia não tivesse dito mais nada, o

episódio ficaria esquecido. Mas um pouco depois Célia

dirigiu-se à Joana.

- Tenho a certeza que se a minha família soubesse que

eu aqui no colégio tenho que me dar com meninas como tu,

Joana, nunca me mandariam para Santa Clara - começou ela.

- Não tens maneiras e...

- Maneiras! Olha quem fala! - exclamou Joana, furiosa,

voltando a desviar o livro. - Santo Deus! Sempre gostava que

me dissesses que tais são as tuas maneiras! É melhor só

falares sobre as outras, quando já souberes lavar o pescoço,

escovar o cabelo e comer à mesa decentemente! E ainda

tens o descaramento de fingir que és demasiado fina para

nós! Pfff!...

Joana saiu da sala. Célia ficou parada, como uma estátua

e muito pálida. As gémeas olharam-na de soslaio e Patrícia

pôs outro disco a tocar, com toda a força. Que terrível

discussão!

Pouco depois Célia também saiu da sala. Patrícia

desligou o gira-discos.

- Não achas que ela ficou terrivelmente ofendida? -

perguntou Patrícia à irmã. - Era melhor que a Joana não

tivesse dito tudo aquilo. Na verdade é o que todas pensamos

e que temos dito umas às outras, fazendo troça. Mas é

terrível pôr assim o “preto no branco”.

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- Em parte foi por culpa da Célia - disse a lida. - Se não

andasse sempre a gabar-se, tentando convencer-nos que é

maravilhosa, não notaríamos com tanta facilidade as

parvoíces que diz e faz. Quando uma pessoa se gaba de ter

cinco casas de banho diferentes, uma cor de rosa, outra

azul, outra verde, outra amarela e outra preta, e anda com o

pescoço mal lavado, isso nota-se muito mais.

- Na verdade é muito ridícula aquela sua história das

casas de banho! - disse Isabel. - Toda ela é ridícula. E parece-

me que é a única aluna do nosso ano que eu não conheço

mesmo nada. Quero dizer, não sei se é generosa ou sovina,

boa ou má, honesta ou desonesta, verdadeira ou mentirosa,

brincalhona ou triste, pois está sempre a fingir e a “armar”,

com os seus grandes ares, gabando-se de tudo quanto há

como se estivesse a representar um papel. Até pode ser que

seja simpática, mas nós não damos por isso.

- Simpática, não acredito - disse a lida, que estava farta

da Célia e das suas parvoíces. Francamente, acho-a uma

maçadora.

Célia não apareceu à hora do lanche, mas ninguém

sentiu a sua falta. Como não apareceu na sala de estudo,

miss Roberts mandou a Patrícia procurá-la. Patrícia correu

todo o colégio, e acabou por ir encontrá-la sentada sozinha

num dos pequenos e frios compartimentos para o estudo de

música.

- Célia! Que fazes aqui? - perguntou Patrícia. Não sabes

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que estamos na hora do estudo?

Célia continuou sentada, muito quieta, e não respondeu.

patrícia observou-a com mais atenção. Parecia doente.

- Não te sentes bem? - perguntou Patrícia. Se quiseres,

acompanho-te à enfermaria. Que se passa, Célia?

- Nada! - respondeu Célia.

- Então porque estás aqui sentada, com tanto frio? -

perguntou Patrícia. - Não sejas palerma. Se não estás

doente, vem para o estudo. Miss Roberts fica preocupada e

aborrecida contigo.

- Não vou! - declarou Célia. - Não quero voltar a vê-las,

depois do que a Joana me disse.

- Ora, ora! Não ligues meia ao que a Joana diz! -

exclamou Patrícia, sentindo-se atrapalhada. Bem sabes

como se irrita com todas nós e diz coisas que não sente.

Agora já se deve ter esquecido de tudo. Vem comigo.

- Ela não disse coisas que não pensava. Aí é que está a

diferença - tornou Célia, na mesma voz calma, mas bastante

estranha. - Disse coisas que realmente pensava. Oh,

detesto-a!

- Não é possível detestar a Joana - protestou Patrícia. - E

muito irritável e tem mau génio, mas é muito boa rapariga.

Não seria capaz de te ferir propositadamente, Célia. Olha,

tenho a impressão que não te sentes bem. vou levar-te à

enfermaria. Naturalmente tens febre.

- Deixa-me em paz - disse Célia, teimosamente. Patrícia

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deixou-a, sem saber como consolá-la, sentindo-se muito

preocupada. Que pena a Joana ter-se irritado tanto e ter dito

coisas tão terríveis! Patrícia calculou que também se sentiria

pessimamente se alguém a tivesse troçado de maneira

semelhante, em frente das companheiras. Não sabia que

fazer. Deveria contar a miss Roberts?

No caminho para o estudo, passou pela sala da Mónica

James. A porta estava entreaberta e a Patrícia viu a sua

ocupante, lendo um livro. Hesitou um pouco, pois tivera uma

ideia.

Não era possível contar a miss Roberts a terrível

discussão. Mas talvez pudesse revelá-la â Mónica. Era

preciso fazer qualquer coisa pela Célia, embora não

soubesse bem como ajudá-la. Bateu à porta.

- Entre! - disse a pequena, levantando a cabeça com a

sua expressão séria ao ver Patrícia. Perguntou:

- Olá! Que se passa? Não devias estar a estas horas no

estudo?

- Devia- concordou Patrícia. - Mas miss Roberts mandou-

me procurar uma colega. E eu estou preocupada com ela por

causa duma coisa que não posso dizer a miss Roberts. Posso

contar-te a ti?

- Claro! - disse a Mónica. - Desde que não seja qualquer

queixinha pateta.

- Garanto-te que não é, Mónica! - afirmou Patrícia. -

Nunca faço queixas. Mas de repente lembrei-me que tu e a

Page 147: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

rapariga em questão vivem as duas na mesma terra, por

isso pensei que talvez a possas ajudar um pouco.

- Mas que grande mistério! - disse Mónica. De que se

trata?

Então Patrícia contou toda a discussão e o que

acontecera depois.

- A Célia agora está esquesita e até parece doente

acrescentou. - Parece que o caso tomou proporções

demasiadas para uma simples discussão.

A Mónica ouviu, em silêncio. - Ainda bem que vieste ter

comigo - disse ela. - Parece-me que sou a única pessoa que

a pode ajudar um pouco, pois conheço a história da Célia. Tu

és uma menina sensata, Patrícia, por isso posso contar-te

uma coisa e talvez entre as duas consigamos ajudar a Célia.

- Assim o espero - disse Patrícia. - Confesso-te que não

simpatizo nada com ela, Mónica, na verdade mal a conheço,

pois está sempre escondida sob uma capa de vaidade e

gabarolice, não sei se me faço compreender. Mas sente-se

muito infeliz e isso é horrível.

- Os pais da Célia foram em tempos muito pobres - disse

a Mónica. - A mãe era filha do nosso jardineiro. O pai tinha

uma pequena loja. Conseguiu ganhar muito dinheiro, uma

enorme fortuna, por isso subiram imenso na escala social.

Agora têm uma linda casa, quase um palácio, não sei

quantos criados e automóveis e mandaram a Célia para um

bom colégio, pois querem que a filha se torne uma senhora.

Page 148: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

- Ah! - exclamou a Patrícia, compreendendo de repente

uma porção de coisas. - É por isso que a pobre Célia passa a

vida a gabar-se e é tão toleirona. Receia que façamos troça

dela.

- Sim, e a sua estúpida vaidade é uma espécie de cortina

de fumo para esconder a pessoa vulgar e um tanto

amedrontada que ela realmente e - disse Mónica. - Agora tu

viste o que aconteceu. A Joana soprou a cortina de fumo e

apontou em frente de todas aquilo que a Célia tenta

esconder a todo o custo, tal como os modos e maneiras de

falar que aprendeu quando era ainda muito pequena.

- Mas que parvoíce ter andado todo este tempo a fingir! -

exclamou Patricia. - Se nos tivesse contado francamente que

a família ganhara imenso dinheiro, como estava contente

por ter vindo para Santa Clara e outras coisas no género,

teríamos compreendido e simpatizado com ela. Mas toda

aquela estúpida vaidade e gabarolice! com franqueza,

Mónica, era detestável.

- Quando as pessoas percebem que não são tão

inteligentes, nem tão boas, nem tão bem nascidas como as

outras, muitas vezes comportam-se assim, para esconder os

seus complexos de inferioridade disse a Mónica, parecendo

muito experiente. Só nos resta ter pena dessas pessoas e

tentar ajudá-las.

- E como posso ajudar a Célia? - perguntou Patrícia. - Na

verdade não sei.

Page 149: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

- Vou falar com ela - disse a Mónica, levantando-se. - A

única coisa que eu quero que faças, e a Isabel também, é

serem extraordinariamente simpáticas com ela durante uma

ou duas semanas e não a troçarem, nem lhe apontarem

qualquer coisa que a possa ferir. Agora que a Joana dissipou

a cortina que a Célia punha à sua volta e mostrou toda a

vulgaridade que a encobria, precisará de amizade e de

compreensão. Se ela for um pouco sensata, abandonará os

seus ares superiores e vocês terão oportunidade de

descobrir como é a verdadeira Célia. Mas dêem-lhe uma

oportunidade, sim?

- Claro que daremos - prometeu Patrícia. - Muito

obrigada, Mónica. Agora volto para o estudo.

O que Mónica disse a Célia nunca as gémeas souberam.

Mónica tinha a sensatez de uma pessoa mais velha e lidou

com a infeliz pequena com compreensão e simpatia. Nessa

noite Célia apareceu na sala de estar, pálida e nervosa, não

olhando para ninguém. Mas Patrícia foi logo em seu auxilio.

- Célia! Estava mesmo a precisar de ti! Vê lá, por favor,

onde é que me enganei nesta camisola que estou a tricotar.

Tu tens tanto jeito para seguir os modelos! Achas que me

enganei aqui ou ali?

Célia foi logo sentar-se ao lado da Patrícia e em breve lhe

mostrava como desfazer o engano na sua malha. Quando o

trabalho acabou, a Isabel, por sua vez chamou-a.

- Ó Célia, és capaz de me emprestar as tuas aguarelas?

Page 150: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Não sei o que aconteceu às minhas.

- com certeza - disse Célia, indo buscar as suas

aguarelas. Joana olhou para as amigas, logo que a Célia saiu

da sala.

- Mas que súbitas amizades são essas com a importante

Célia? - perguntou.

- É para compensar um pouco as coisas desagradáveis

que lhe disseste - explicou Patrícia. Dá-lhe uma

oportunidade, Joana. Feriste-a nos seus sentimentos mais

profundos.

- Foi muito bem feito! - disse Joana.

- Está bem, mas agora dá-lhe uma oportunidade pediu

Patrícia. - Não sejas mesquinha, Joana!

- Não sou! - disse Joana. - Garanto-lhes que estou

arrependida do que lhe disse, embora vocês possam pensar

o contrário. Está bem, podem contar comigo. Mas não vou

pedir-lhe desculpa. Se o fizesse levantaria outra vez o

assunto. Mas não me importo de mostrar que estou

arrependida.

- Ainda melhor - disse Isabel. - Atenção, lá vem ela.

Célia entrou, com a caixa de aguarelas. - Muito obrigada

- disse Isabel. - Mas que linda caixa!

Normalmente Célia diria logo quanto custara e outras

coisas no género. Mas desta vez não disse nada. Joana olhou

de relance, reparando que continuava pálida. A Joana tinha

bom coração e era generosa, embora tivesse mau génio e

Page 151: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

não poupasse ninguém. Foi buscar uma caixa de caramelos

à sua prateleira e ofereceu-os às colegas. Célia calculou que

a Joana nada lhe oferecesse e olhou para outro lado.

- Não queres um caramelo, Célia? - perguntou a Joana

com a sua voz agradável. Célia olhou para Joana e hesitou.

Continuava aborrecida e zangada com ela. Mas os olhos

castanhos de Joana tinham uma expressão doce e amável e

Célia percebeu que ela tentava fazer as pazes. Conseguiu

dominar-se e estendeu a mão para tirar um caramelo.

- Obrigada, Joana! - disse ela, com a voz um pouco

trémula. Depois todas as pequenas se meteram na

discussão sobre uma peça que iriam representar no Natal e

com o entusiasmo Célia esqueceu-se do sucedido, chupou o

seu caramelo e sentiu-se mais feliz.

Fartou-se de pensar, quando foi para a cama, nessa

noite. Não devia ter sido tão gabarola e vaidosa, mas só o

fizera por saber que não era do nível das outras e não queria

que elas o percebessem. Sempre que as colegas tinham

dado pelos seus pontos fracos, deviam ter feito imensa troça

das suas gabarolices. Se ao menos fossem simpáticas com

ela e não a troçassem, faria o possível por não se importar.

Não era uma rapariga corajosa, nem muito sensata, mas

naquela noite foi suficientemente corajosa e sensata para

ver que o dinheiro, as criadas e os automóveis não

interessam nada. O que na verdade interessa é a própria

pessoa.

Page 152: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

- E agora vou seguir o conselho da Mónica, mostrando às

outras a pessoa que realmente sou pensava a pobre Célia,

às voltas na cama. - Na verdade não valho grande coisa,

mas de qualquer modo sou melhor do que aquela horrível e

vaidosa criatura que me pretendi mostrar desde o princípio!

E assim se acabaram as gabarolices de Célia.

As outras alunas seguiram o exemplo da Joana e das

gémeas, tornando-se simpáticas com a Célia, dando-lhe uma

oportunidade. Ela aproveitou-a e embora, como receara, não

fosse uma pessoa extraordinária, a Célia um tanto apagada

de agora, era muito mais agradável do que a anterior. com o

andar dos tempos tornar-se-ia uma rapariga com

personalidade e, como disse a Patrícia, valeria a pena tê-la

como amiga.

- Agora hei-de sempre dar uma oportunidade a toda a

gente - disse Patrícia à Isabel. - Repara na Catarina. Como se

tornou um amor! E a Célia também já está muito mudada.

- Bem - disse Joana que ouvia a conversa. Acho que

fazem lindamente em dar uma oportunidade às outras

pessoas. Nós também vos demos uma a vocês duas! Quando

chegaram aqui ao colégio, eram mesmo insuportáveis, mas

agora até já escapam!

Patrícia e Isabel pegaram nas almofadas que enfeitavam

um sofá e correram para a terrível Joana. Esta, rindo às

gargalhadas, tentou fugir, mas as gémeas começaram a

bater-lhe com as almofadas, sem dó nem piedade.

Page 153: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

- A ti não te daremos nenhuma oportunidade, minha

malvada! - disse Isabel, rindo. - Não a mereces! Nada de

beliscões!

- Então não me batam no estômago! - gritou a Joana. -

Esperem até que eu apanhe uma almofada.

Mas as gémeas não esperaram! Fugiram para o ginásio

com Joana a persegui-las. Esbarraram pelo caminho com

uma meia dúzia de pequenas.

- Estas miúdas do primeiro ano! – comentou a Teresa

com ar penalizado. - Deviam ir para o Jardim Infantil! Portam-

se como criancinhas!

XVI

CÉLIA TAMBÉM TEM O SEU PAPEL

Só faltavam mais quatro semanas para o fim do período.

As alunas andavam muito ocupadas com o ensaio de peças

e canções e com os desenhos, que deviam ficar prontos

antes das férias.

O primeiro ano estava a fazer uma peça histórica com

miss Kennedy, o que muito as divertia.

Miss Kennedy escrevia a peça com a ajuda das alunas

Page 154: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

em tudo o que podiam. Miss Ross, a professora de lavores,

ajudava a fazer os fatos. Era muito animado.

- Acho a Kenny uma boa pessoa - disse Patrícia, que

estava muito ocupada a decorar o seu papel da peça. - É

engraçado, agora nem me passa pela cabeça brincar

durante a lição de história. Naturalmente é por estarmos tão

interessadas na peça.

- Também gostava de estar assim interessada na nossa

peça francesa - lamentou-se a Dora, cuja pronúncia francesa

era o desespero da Mademoiselle.

- Não consigo pronunciar os “erres” como vocês.

Todas se riram dos esforços da Dora para dizer a letra “r”

à francesa. A Dora não tinha ouvido nem Para música, nem

para línguas e era o desespero tanto da professora de canto

como da Mademoiselle. Mas dançava maravilhosamente e o

seu sentido de humor fazia com que todas se perdessem de

riso mais de uma dúzia de vezes por dia.

Era muito animado prepararem-se para a festa do Natal.

Todos os diversos anos estavam a ensaiar qualquer coisa e

havia discussões sobre a ocupação do ginásio para os

ensaios.

Miss Thomas, a professora de ginástica, queixava-se de

que o ginásio, naqueles dias, servia para tudo menos para o

seu verdadeiro fim!

Como é evidente, as aulas continuavam e miss Roberts

recusava-se a consentir que os preparativos do Natal

Page 155: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

transtornassem de qualquer modo, o trabalho que marcava

às suas alunas. Ficou muito zangada com a Patrícia quando

descobriu que ela estava a estudar às escondidas o seu

papel da peça, quando devia estar a aprender umas regras

de gramática.

Patrícia copiara o seu papel e metera-o dentro da

gramática. Era bastante comprido e a pequena desejava

sabê-lo perfeitamente no ensaio daquela tarde.

- Tenho a impressão, Patrícia, de que abriste a gramática

numa página errada - disse de repente miss Roberts. - Traz-

ma cá.

Patrícia ficou muito vermelha. Deixou o livro cair ao chão,

propositadamente, para que se fechasse, depois apanhou-o,

esperando que miss Roberts não reparasse no papel da peça

que estava dentro. Mas claro que miss Roberts reparou.

Nunca lhe escapava nada.

- Já esperava isto - disse ela, secamente, pegando no

papel em que Patrícia copiara as suas palavras da peça. -

Quando é o ensaio?

- Esta tarde, miss Roberts - respondeu Patrícia.

- Então vais ficar a aprender as regras de gramática em

vez de ires ao ensaio - disse miss Roberts.

- Parece-me bastante justo e espero que concordes

comigo. Se estudas o teu papel da peça durante a lição de

gramática, é natural que aprendas as regras de gramática

durante o ensaio da peça.

Page 156: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Patrícia olhou para a professora, aflita.

- Ó miss Roberts! Por favor não me obrigue a faltar ao

ensaio. Como sabe, desempenho um papel importante na

peça!

- Pois sim, mas no próximo ano esta turma também terá

um exame importante - disse miss Roberts. - Bem, Patrícia,

perdoo-te por esta vez. Mas não repitas! Aprende as regras

agora e vem dizer-mas no fim da manhã. Se as souberes

bem, deixo-te ir ao ensaio. E agora volta para o teu lugar.

Patrícia foi ao ensaio! Não valia a pena tentar qualquer

estratagema na aula de miss Roberts e viu-se obrigada a

aprender as regras de gramática no intervalo, para as dizer

sem se enganar.

Mas todas gostavam daquela professora. Era severa, por

vezes sarcástica, mas era sempre perfeita e justa e nunca

faltava ao que dizia ou prometia. A Mademoiselle nem

sempre era justa, mas tinha tão bom coração que só poucas

alunas realmente não simpatizavam com ela.

Com os preparativos para os exames de fim de período e

para a festa, as raparigas tinham pouco tempo livre, mas

divertiam-se como nunca. Dora iria dançar sozinha uma

dança que ela própria criara. Vera tocaria piano, para o que

tinha muitíssimo jeito. Cinco alunas entravam na peça

francesa e a maioria na peça histórica. Todas faziam

qualquer coisa.

Excepto uma aluna! A Célia não entrava em nada! Isso

Page 157: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

aconteceu absolutamente por acaso.

Ao princípio a Mademoiselle escolheu-a para ser o

Monsieur Toc-Toc na peça francesa, por isso miss Kennedy

não a pôs na peça histórica. Mas depois a Mademoiselle

mudou de opinião e substituiu-a pela Joana. Por isso a Célia

não ficou em nenhuma das peças e, como não sabia tocar

piano nem viola, não tinha nenhum jeito para recitar e era

muito má bailarina, sentiu-se posta de parte.

Não disse nada. Ao princípio ninguém reparou que ela

não entrava em nada, pois tudo acontecera acidentalmente.

Depois Isabel notou que a Célia andava cabisbaixa e

perguntou-lhe o motivo.

- Que se passa? Recebeste más noticias de casa?

- Oh, não! - disse ela. - Não se passa nada. Isabel não fez

mais perguntas mas, durante os dias seguintes, observou a

colega. Em breve reparou que ela não entrava nas peças,

nem fazia qualquer número sozinha.

- Olha, acho que andas triste porque não entras na festa!

- disse Isabel. - Julgava que representavas na peça francesa.

- Fui escolhida, mas depois a Mademoiselle substituiu-me

por outra - disse Célia, atrapalhada.

- Não entro em nada, e todas vão reparar nisso, Isabel.

Detesto ser deixada de fora.

- Mas não foi de propósito, pateta - respondeu Isabel,

rindo.

- Mas eu sinto como se fosse! - disse Célia. Bem sei que

Page 158: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

não tenho grande jeito para nada, mas também não posso

esforçar-me se não me derem oportunidade para fazer

qualquer coisa.

- Não sejas palerma! - exclamou Isabel.

Mas Célia não mudava de ideias. Como a maioria das

pessoas com pouca personalidade, era muito teimosa.

- Estou farta! - disse ela. - Como não tenho ensaios,

passo a vida sozinha.

- Ao menos podias interessar-te pelo que estamos a

fazer, mesmo não entrando em coisa nenhuma disse Isabel,

indignada. - Assim é uma estupidez.

- Então serei estúpida! - exclamou a Célia, quase a

chorar e foi-se embora.

Isabel contou à Patrícia.

- Que maçada! - disse Patrícia. - Agora que a Célia

começava a tornar-se simpática! Acho melhor não nos

preocuparmos com o caso. Se quer pensar que foi

propositadamente que ficou sem nenhum papel, deixá-la!

Joana aproximou-se e ouviu a conversa. Fora muito

amável para a Célia nas últimas semanas pois na verdade

sentia-se culpada do seu mau génio em relação à

companheira. Ficou pensativa.

- Parece-me que não devemos escangalhar o bom

trabalho que temos vindo a fazer - disse ela. Vamos arranjar

qualquer coisa. Lembro-me que uma vez não tomei parte

num desafio em que muito queria participar e, embora não

Page 159: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

seja tão palerma como a Célia, senti-me muito desesperada.

Julguei que todo o colégio devia estar a fazer troça de mim,

tentando adivinhar o que eu teria feito para não entrar no

jogo! Foi para mim uma coisa horrível! As gémeas riram-se.

Joana era tão sensata e- alegre que não conseguiam

imaginá-la a preocupar-se com uma coisa tão insignificante.

- Vocês não podem perceber bem o caso, por isso se

riem - disse Joana. - Como são gémeas, têm-se uma à outra

para se consolarem e rirem, mas quando se é acanhada

como a Célia, é diferente. Pequenas coisas tomam grandes

proporções.

- Estás a defender a Célia com unhas e dentes disse

Patrícia, surpreendida.

- Não, não estou. Mas acho que não devemos estragar o

que já fizemos - respondeu Joana, impaciente.

- Então dá lá uma ideia - disse Isabel. - Eu não consigo.

As gémeas foram-se embora. Joana sentou-se, a pensar.

Era impaciente e impulsiva, mas quando resolvia tratar de

um assunto, não desistia. A Célia precisava de ajuda outra

vez e Joana estava pronta a oferecer-lha.

- Pronto! Tive uma ideia! - disse para consigo.

- Será o nosso ponto. Precisamos de alguém nos ensaios,

com o texto, alguém pronto a auxiliar aquelas que se

esquecem de uma palavra ou frase. E então eu, esqueço-me

imensas vezes! vou perguntar à Célia se quer ser o ponto

nos ensaios e no dia da festa.

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Foi procurar a Célia. Custou-lhe bastante encontrá-la e

acabou por a descobrir na sala de pintura, a arrumar os

armários.

- Célia! Queres fazer-nos um favor? - perguntou Joana. -

Queres ser o ponto, nas peças? Há sempre confusões,

porque tentamos fazer de pontos umas das outras e seria

uma grande ajuda ter alguém com o texto, seguindo as

frases e ajudando-nos quando nos enganamos.

- Não tenho jeito nenhum para isso - disse Célia,

bruscamente.

- Tens sim, pateta! - contrariou Joana. - Seria uma

enorme ajuda, Célia. Por favor, faz-nos a vontade. Algumas

de nós devem estar nervosíssimas na noite da festa e seria

um descanso saber que tu estavas escondida ali perto,

pronta a ajudar-nos nas nossas falhas.

- Está bem - disse Célia, de má vontade. Como não

entrava nas peças tinha resolvido não ajudar em nada. Mas

isso seria muito mesquinho e Célia fazia agora os possíveis

para se mostrar com verdadeira categoria.

Assim, passou a ser o ponto e assistia a todos os

ensaios, com os textos na mão. Em breve começou a achar

aquilo muito divertido e a gostar das peças. Não fazia mais

do que se sentar ou ficar de pé, com o texto,

auxiliandoaquelas que se esqueciam, enquanto

representavam, muito animadas. Mas nunca se queixou nem

se mostrou aborrecida e as gémeas, no fundo, acharam que

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se comportava bastante bem.

- Ainda bem que a Joana teve esta ideia - disse Patrícia.

- Ainda pensou que a Célia ia recusar - contou Isabel. - E

não sei se eu aceitaria, se o caso se tivesse passado comigo!

- Obrigar-te-ia a aceitares! - declarou Patrícia. Duas

semanas antes do fim do período, aconteceu um acidente. A

Vera, uma menina muito bem comportada do primeiro ano,

caiu na aula de ginástica e partiu um braço. Partiu-o mesmo

no pulso e teve que ser levada ao hospital para tirar uma

radiografia. Puseram-lhe gesso e como o período escolar

estava quase no fim, os pais da Vera resolveram levá-la para

casa, em vez de continuar em Santa Clara as últimas duas

semanas.

- É o braço direito, por isso não poderá escrever - disse a

mãe a miss Theobald. - Parece-me que lhe fará melhor estar

sossegada, em casa.

Assim, a pobre Vera despediu-se das companheiras e

partiu, prometendo voltar no período seguinte com o braço

outra vez bom! A classe ficou então bastante aflita, porque

Vera desempenhava um papel importante na peça histórica.

- Quem vai ter o papel dela agora - perguntou a Patrícia

decepcionada. - Mais ninguém conseguirá aprender o papel

em tão pouco tempo. A Vera tinha um papel compridíssimo.

Todas se sentiam desanimadas. Aquelas que não

entravam na peça, declararam logo que não eram capazes

de aprender o papel em tão pouco tempo. E então Joana

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teve outra ideia.

- Há uma aluna que sabe com certeza todo o papel de

cor! - exclamou. - És tu, Célia! Tens feito de ponto em todos

os ensaios e por isso sabes todos os papéis! És a única que

tem seguido o texto todo, pelo livro, página por página. Não

podes fazer o papel da Vera?

Célia ficou muito corada. Todas olharam para ela, em

expectativa.

- Vá, diz que sim - pediu Patrícia. - Tenho a certeza que o

podes fazer tão bem como a Vera!

- Gostava imenso - disse Célia. - Estou convencida que

consigo fazê-lo. Sei-o todo de cor. Como devem calcular,

acabei por saber todos os papéis, mas aquele de que mais

gostava era o da Vera.

- Óptimo! - exclamou Patrícia. - Então fica o caso

arrumado. - Temos que arranjar outra aluna para fazer de

ponto e tu ficarás com o papel da Vera.

Assim, no ensaio seguinte Célia já não fez de ponto,

ficando com um dos papéis principais. Disse tudo lindamente

e, como vira tantas vezes a Vera a representá-lo, saiu-se

muito bem.

Todas ficaram satisfeitas. Sabiam que Célia se sentira

magoada por não entrar na festa, o que acontecera por

acaso, e haviam-na admirado por ter aceitado o maçador

cargo de ponto. Agora que tivera uma recompensa tão

inesperada, as companheiras estavam muito contentes.

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Mas ninguém ficara mais contente do que a própria

Célia. Estava entusiasmada com a sua sorte!

Andava de um lado para o outro, muito sorridente e tão

alegre que as colegas mal reconheciam a antiga Célia.

Mas a Célia não se esqueceu de escrever à Vera,

mostrando-lhe como tinha pena de que ela tivesse partido o

braço. Mostrou lembrar-se da tristeza que a companheira

devia sentir, quando todas estavam tão contentes. Na

verdade Célia estava a tornar-se uma belíssima rapariga!

XVII

CATARINA TEM UM SEGREDO

Uma tarde, quando Catarina, Patrícia e Isabel vinham da

cidade, através do campo, ouviram ganir, junto da cerca.

- É um cão! - disse logo Catarina e correu para ver o que

se passava. As gémeas seguiram-na e ali mesmo, na valeta,

viram um terrier de pêlo ruço e mal tratado, com o focinho e

o corpo a sangrar.

- Deram-lhe um tiro! - exclamou a Catarina, indignada. -

Reparem nas suas patitas! Oh, foi com certeza aquele

horrível lavrador que vive no alto do monte. Anda sempre a

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dizer que mata todos os cães que aparecerem na sua

propriedade.

- Mas por que motivo? - perguntou Patrícia, surpreendida.

- Os cães andam sempre por toda a parte.

- Mas ele tem um grande rebanho e devem estar a

nascer vários cordeirinhos. Como sabem, os cães gostam de

perseguir e assustar os carneiros e ovelhas.

- Pobre animalzinho que levou um tiro! - exclamou

Patrícia. - Que vamos fazer-lhe?

- Vou levá-lo comigo para o colégio, para o tratar - disse

a Catarina, que adorava animais.

As gémeas olharam para a amiga, muito admiradas.

- Não consentirão que fique com ele - lembrou Patrícia. -

De qualquer modo terás que telefonar à polícia, contando o

que se passa. Supõe que o dono anda a procurá-lo?

- Então telefonarei perguntando se alguém se queixou -

disse Catarina. - Mas se pensam que eu vou deixar Um cão

aqui abandonado, assim ferido, estão muito enganadas.

- Está bem, está bem - concordou Isabel. Mas como o

levas para o colégio? Ficarás toda suja de lama.

- Não me ralo nada com isso! - declarou Catarina,

pegando no cão ao colo, com todo o cuidado. O animal

voltou a ganir, mas aconchegou-se nos braços da pequena,

percebendo que tinha ali uma amiga.

Voltaram para o colégio, com o cão. Começaram a

pensar onde deviam escondê-lo. As alunas não tinham

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licença para levarem cães para o colégio e, se algum fosse

descoberto, seria mandado embora. Mas Catarinaestava

perfeitamente resolvida a tratar do cão até ele estar melhor!

- Talvez o pudéssemos esconder na arrecadação das

bicicletas - lembrou a Patrícia.

- Não, porque é demasiado fria - disse Catarina, que

tinha parado atrás de uns arbustos com o cão ao colo, e

procurava a melhor maneira de o levar para o colégio, sem

ser descoberta. - Vamos pensar.

Puseram-se todas a pensar. De repente Patrícia teve uma

ideia.

- Já sei! E se o metêssemos no sótão, na casa das malas

que fica junto da caldeira da água quente? Ninguém lá vai e

ali não teria frio.

- Nós também não devemos lá entrar - lembrou Isabel. -

Santo Deus, passamos a vida a fazer coisas proibidas.

- Mas desta vez é para bem do cão - disse Catarina. -

Estou resolvida a fazer seja o que for. Coitadinho! Não

estejas a ganir! Prometo-te que hei-de fazer com que

melhores!

Joana apareceu, descobrindo as três amigas atrás do

arbusto.

- Olá! - exclamou. - Que se passa? Que têm aí? Um cão!

Coitado, que lhe aconteceu?

- Levou um tiro - explicou Catarina. - Vamos levá-lo para

a arrecadação das malas, lá em cima no sótão, até que

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esteja melhor. Tu vais à cidade, Joana? Então sê camarada e

pergunta na polícia se alguém se queixou de ter perdido um

cão. Se assim tiver acontecido, pede o nome e a morada da

pessoa interessada e informa de que eu estou a tratá-lo.

- Está bem - disse Joana. - Mas vê se consegues que ele

não faça barulho, pois se for descoberto, metes-te num

grande sarilho. Tu és louca por animais, Catarina! Adeus!

Joana foi a correr buscar a sua bicicleta. A Catarina virou-

se para as gémeas. - Vão ver se o caminho está desimpedido

- pediu. - E vamos pensando o modo de lhe arranjarmos uma

cama.

- Vi um caixote no alpendre do jardineiro - disse Isabel. -

Acho que serve perfeitamente. vou buscá-lo.

Foi a correr buscar o caixote. Patrícia entrou no colégio,

para ver se Catarina podia levar o cão lá para dentro. Deu

um assobio e Catarina correu, com o cão ao colo. Foram

subindo as escadas sem encontrarem ninguém, mas antes

de dobrarem uma esquina do corredor, ouviram passos que

se aproximavam e as vozes da Mademoiselle e da miss

Jenks, conversando.

- Oh, que pouca sorte! - exclamou Catarina, dando meia

volta. Mas alguém vinha agora a subir as escadas. Patrícia

abriu a porta de um grande armário onde se guardavam

vassouras e empurrou lá para dentro a Catarina e o cão.

Fechou a porta e depois baixou-se, fingindo atar um

atacador do sapato. Exactamente na altura em que a

Page 167: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Mademoiselle e miss Jenks passavam, o cão, dentro do

armário, soltou um ganido. A Mademoiselle olhou em volta,

surpreendida.

- Tiens! Que ideia é essa de ganires como um cão? -

perguntou a Patrícia e foi andando, concluindo que as

pequenas às vezes tinham ideias muito estranhas! Patrícia

riu-se e abriu a porta do armário, quando as duas

professoras desapareceram.

- Ouviste o que disse a Mademoiselle? - perguntou a

Patrícia. - Vamos, já passou o mais difícil. Podemos num

instante chegar às escadas para o sótão.

O sótão ficava mesmo por baixo do telhado e os vários

compartimentos tinham uma forma engraçada, com o tecto

inclinado, sendo quase impossível ficar-se de pé. Guardavam

ali as malas e malões pertencentes às alunas. O

compartimento das malas só era visitado duas vezes por

ano: Quando as alunas chegavam e levavam para ali as suas

malas vazias e quando se iam embora e era preciso ir buscá-

las para as encher com as respectivas roupas.

Pouco depois chegou Isabel com o caixote e um velho

cobertor que encontrara no armário do ginásio. As pequenas

escolheram o compartimento contíguo à caldeira de água

quente. Puseram o caixote num canto e ajeitaram lá dentro o

velho cobertor. Ficou uma cama muito confortável. Então

Catarina começou a tratar das feridas do cão. Levou muito

tempo e o animal conservou-se deitado pacientemente, até

Page 168: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

o tratamento ter acabado. De vez em quando lambia as

mãos de Catarina.

- Tens imenso jeito para animais - disse Patrícia,

observando a amiga. - Olha como ele gosta de ti!

- Tenciono ser veterinária quando for crescida disse

Catarina. - Ora aí tens, meu pequenino. Agora vais ficar bom.

Faz o possível por não lamberes essa pomada. Se estiveres

quieto, em breve ficarás bom. vou trazer-te água e

alimentos.

Tocou a sineta para o estudo e as pequenas desceram as

escadas apressadamente, tendo deixado a porta do sótão

bem fechada. Encontraram Joana à entrada da aula.

- Fui à polícia - contou Joana em voz baixa. Informaram-

me de que ninguém se queixou de ter perdido um cão. Tive

que explicar como era o teu cão e dar o teu nome e morada.

- Santo Deus! Foste uma idiota! - murmurou Catarina,

sentando-se no seu lugar. - Que dirá miss Theobald se

telefonarem da esquadra, à minha procura! Tens cada uma,

Joana!

- Fui obrigada! - disse Joana, sempre em voz baixa. - Não

se pode negar uma coisa dessas à polícia, não achas? No

entanto parece-me que ninguém irá ali procurar o cão, por

isso não te preocupes.

Mas Catarina ficou muito preocupada. Quando à tardinha

ouviu o telefone tocar, convenceu-se que era da esquadra,

chamando pela directora. Mas não era. As pequenas deram

Page 169: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

um suspiro de alivio ao saberem que se tratava de um

recado para miss Roberts.

Deram água e comida ao cão que continuava muito

quieto no seu caixote e era muito mansinho.

- Devia correr um pouco, antes de irmos para a cama -

disse a Catarina. - Como será isso possível?

- Vamos metê-lo numa trouxa de roupa que vestiremos

na nossa peça - lembrou Patrícia. - Se alguém nos encontrar,

ficará convencido que levamos um monte de vestidos para o

ensaio.

Cinco minutos antes da hora de irem deitar-se, as

pequenas subiram até ao sótão com uma trouxa de roupa. O

cãozito, surpreendido, foi escondido com cuidado entre os

vestidos, só com o nariz de fora, para poder respirar.

Depois Catarina desceu as escadas com ele, sempre a

falar-lhe em voz baixa, para que não ganisse.

Mas o cão não queria estar quieto. Felizmente só

encontraram a roupeira que estava com muita pressa e mal

reparou nas pequenas.

- Se não se apressam não irão a tempo para a cama! -

comentou. As pequenas riram-se e foram até ao jardim,

passando por uma pequena porta de serviço. Soltaram o cão

num patiozinho onde os jardineiros partiam a lenha, e ele

desatou a saltar, muito contente. Depois voltaram a

embrulhá-lo nos fatos da peça e foram para dentro.

Desta vez não tiveram tanta sorte. Encontraram Belinha

Page 170: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Towers! Ela parou a olhar para as pequenas.

- Não sabem que já tocou para irem para a cama? Que

andam a fazer por aqui? E que coisa é essa, escondida entre

as roupas?

O cão fazia o possível para se libertar e de repente

apareceu o focinho no meio da roupa.

- Oh, tivemos tanto cuidado para o esconder! - exclamou

Catarina, quase a chorar. - Belinha, ele levou um tiro e...

- Não me contem mais nada e eu faço de conta que não

sei - disse Belinha, que também gostava muito de animais. -

Vá, guardem essas roupas e vão depressa para o dormitório.

- A Belinha é estupenda! - declarou Patrícia enquanto as

três corriam pelas escadas acima, até ao sótão. - Foi uma

boa camarada. Despacha-te, Catarina. Olha que não

podemos demorar-nos mais. Meteram o cão no caixote. Ele

lambeu as mãos das pequenas e soltou um latido abafado.

- Não é inteligente? - disse Catarina, encantada.

- Até sabe que não pode ladrar alto!

- Não se pode dizer que fosse um latido em segredo -

comentou Patrícia. - Vamo-nos embora. Deus queira que a

lida não ralhe connosco. É a primeira vez que chegamos

atrasadas ao dormitório. Esperemos que o cão não desate a

ladrar durante a noite.

- Nem penses nisso! - disse Catarina, fechando com

cuidado a porta do quarto das malas. - Há-de dormir toda a

noite e amanhã, muito cedo, vou levá-lo novamente a

Page 171: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

passear.

Correram para o dormitório e encontraram a lida

desesperada com elas.

- Onde estiveram? - perguntou. - Bem sabem que tenho

obrigação de fazer com que todas aqui estejam ás nove

horas em ponto. Não há direito!

- Fomos deitar o cão - murmurou a Catarina. A lida olhou

para ela, muito surpreendida.

- Que estás a dizer? - perguntou. - Deitar quem?

- Devo contar às outras? - perguntou Catarina, e as

gémeas concordaram. Era agradável ter um segredo mas

também era muito divertido contá-lo e surpreender as

colegas!

Por isso Catarina contou a história do cãozinho ferido e

todas ouviram, admiradas.

- Que extraordinário, levarem o cão para o quarto das

malas! - exclamou a Dora. - Nunca me atreveria a tal!

Suponham que a roupeira resolve lá ir. Encontra logo o cão!

- Só ali estará mais um dia ou dois, até ficar muito

melhor - disse Catarina. - Depois é preciso descobrir a quem

pertence e entregá-lo ao dono.

Mas não foi assim tão fácil!

Page 172: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

XVIII

O SEGREDO É DESCOBERTO

O cão não fez barulho nenhum durante a noite.

Catarina conseguiu acordar muito cedo e ir ao sótão

buscá-lo para o soltar no pequeno pátio da lenha. Mas o cão

recusou-se a ser levado outra vez escondido na trouxa de

roupa, por isso teve que lhe atar uma corda à volta do

pescoço e descer as escadas com ele. As suas patitas faziam

um certo barulho a descer os degraus, mas ninguém

apareceu para ver de que se tratava.

Era maravilhoso como as patas do bicho, o corpo e o

focinho tinham melhorado durante a noite. Catarina ficou

muito contente. O cão começou aos pulos no pátio, tentando

lamber as mãos da pequena. Catarina achou que ele era um

cão maravilhoso e só esperava ardentemente que ninguém o

reclamasse.

“Se ao menos pudesse conservá-lo até ao fim do

período, “pensou. “Seria estupendo! “

Levou-o outra vez para o quarto das malas. Desta vez o

cão não queria separar-se da pequena e depois dela ter

fechado a porta e voltado para o dormitório, começou a ouvi-

lo arranhar a porta e ganir.

A aula do primeiro ano não ficava mesmo por baixo do

quarto, mas um pouco mais para a direita. Catarina escutava

Page 173: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

ansiosamente, receando que ele fizesse barulho durante o

tempo de aulas. O seu ouvido apurado deu conta de uns

ganidos, mas felizmente miss Roberts parecia não ter

ouvido.

Quando a Mademoiselle foi dar a sua lição de francês,

ouviu o cão distintamente. Também tinha muito bom ouvido.

Da primeira vez que o cão ganiu, ela olhou em roda,

surpreendida.

- Donde virá este barulho? - perguntou.

- Que barulho, Mademoiselle? - perguntou Isabel, com ar

inocente.

- Os latidos de um cão! - disse Mademoiselle, impaciente.

- Está um cão a ganir e a ladrar! Será possível que tu não

ouças, Isabel?

Toda a classe fingiu pôr-se à escuta. Depois as alunas

abanaram as cabeças.

- Deve estar enganada, Mademoiselle - disse a Dora,

muito séria.

- Não há nenhum cão no colégio - acrescentou Joana. -

Só se forem os gatos da cozinha.

A Mademoiselle ficou verdadeiramente surpreendida por

ser a única pessoa a ouvir os estranhos latidos.

- Naturalmente tenho qualquer coisa nos ouvidos - disse

ela, abanando a cabeça com força. - vou pedir ao médico

para me fazer uma lavagem com seringa. É desagradável

ouvir cães a ladrar e a ganir sem razão.

Page 174: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

A classe, que se esforçava por não se rir, não conseguiu

conter-se por mais tempo e ouviram-se várias gargalhadas.

A Mademoiselle bateu com a mão na secretária.

- Caladas! Não tem graça nenhuma. Vamos fazer ditado,

por favor.

A lição continuou. No sótão, o cão devia andar de um

lado para o outro e a avaliar pelo barulho, fartava-se de

arranhar com as patas, a porta e as paredes.

A Mademoiselle voltou a mostrar-se admirada mais uma

ou duas vezes e olhava para as alunas, para ver se elas não

teriam ouvido nada de especial, mas as pequenas

continuavam serenamente a fazer o seu ditado, por isso a

Mademoiselle apalpou os ouvidos, apreensiva, e resolveu

que iria ao médico mesmo naquele dia.

As gémeas e Catarina passavam a maior parte do tempo

livre no quarto das malas, com o cão. Este ficava encantado

quando as via e as pequenas tornaram-se muito suas

amigas. A única coisa terrível era que, ao deixá-lo, ele

desatava a ladrar e a ganir, arranhando a porta para a abrir.

Tinham sempre - medo que nessas alturas alguém o ouvisse.

Mas passaram-se dois dias e o cão não foi descoberto.

As pequenas alimentavam-no, davam-lhe água e

levavam-no a passear às escondidas, ao pátio da lenha. A

Catarina adorava o animalzinho e na verdade era um cão

muito inteligente e meigo.

- Como ninguém o reclamou, penso ficar com ele, não

Page 175: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

lhes parece bem? - perguntou ela, enquanto faziam- festas

ao cão, num intervalo. - Gosto tanto dele. É mesmo um

amor! Não sou capaz de o entregar agora na esquadra.

Vocês sabem que, se ninguém o reclamar, a polícia manda-o

matar.

- Então fica com o cão - disse Patrícia. - Já não falta muito

para o fim do período. Mas tens que o tirar daqui quando as

criadas cá vierem buscar as nossas malas. Não sei o que

faremos nessa altura.

No entanto as gémeas e a Catarina não precisaram de se

preocupar com o que deviam fazer, porque o cão resolveu o

caso por si próprio.

Uma manhã, quatro dias depois de ter sido encontrado,

estava deitado a apanhar uma nesga de sol que entrava

pela janela do sótão. Depois correu para a porta e começou

a cheirá-la. Pôs-se aos saltos, querendo chegar ao puxador.

Daí a pouco, absolutamente por acaso, conseguiu baixar

o fecho e a porta abriu-se!

O cão ficou encantado. Abriu-a mais, com o focinho, e

pulou pelas escadas abaixo.

Tudo isto teria acabado bem, se um dos gatos da cozinha

não estivesse a dormir no corredor por baixo de um dos

radiadores. O cão farejou o gato e correu para ele,

encantado. Um gato e ainda por cima a dormir!

Com um latido, o cão saltou por cima do gato, a brincar.

Embora o cão fosse pequeno e não o tivesse magoado, o

Page 176: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

gato assustou-se imenso e, miando com toda a força, fugiu

pelo corredor, com a cauda no ar. O cão começou logo a

persegui-lo. E nessa altura a directora encontrou-se com o

cão!

A senhora dirigia-se para uma das salas de aula quando,

primeiro o gato e depois o cão, esbarraram com as suas

pernas. Ficou muito admirada. Havia gatos no colégio, para

perseguirem algum rato, mas como aparecera ali um cão?

O gato saltou pela janela. O cão parou, admirado por o

gato ter desaparecido tão de repente. Então resolveu ir

procurar Catarina. Lembrou-se que a farejara em qualquer

sítio por onde passara. Por isso lá foi ele e em breve chegava

à aula do primeiro ano. Pôs-se em pé, nas patas traseiras,

arranhando a porta e ganindo.

A Mademoiselle estava novamente a dar lição de francês

e todas as alunas se encontravam muito ocupadas a corrigir

um exercício. Quando o cão se pôs a arranhar a porta e a

ganir, a Mademoiselle teve um sobressalto.

- Tiens! Desta vez não são os meus ouvidos! É mesmo

um cão.

Dirigiu-se para a porta e abriu-a. E lá entrou o cãozito a

correr, com a cauda a abanar, direito a Catarina. As alunas

ficaram todas em suspenso!

Logo atrás apareceu miss Theobald, resolvida a

desvendar o mistério do cão. Olhou para dentro da aula e viu

a Mademoiselle dando grandes passadas de um lado para o

Page 177: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

outro e Catarina fazendo os possíveis para acalmar o cão!

- Que vem a ser isto? - perguntou miss Theobald na sua

voz calma. A Mademoiselle virou-se logo para a directora,

com grandes gestos, enquanto contava como ouvira um cão

a ganir uns dias antes e como ele agora aparecera ali, a

arranhar a porta.

- Talvez a Catarina saiba mais sobre este assunto do que

qualquer outra - disse miss Theobald, reparando como o

animalzinho fazia festas à pequena, e como ela o

acarinhava. - Catarina, vem comigo e talvez me possas dar

uma explicação.

Catarina, um tanto pálida, levantou-se. Seguiu a

directora para os seus aposentos sempre acompanhada pelo

cão. Miss Theobald mandou-a sentar.

- Não quis fazer nenhum mal - disse Catarina começando

a sua história. - Mas encontrei-o tão ferido, miss Theobald, e

gosto tanto de cães, de mais a mais nunca tive nenhum só

meu, que...

- Vamos começar pelo princípio - pediu a directora.

Catarina contou então toda a história e miss Theobald

ouviu-a com atenção. No fim pegou no auscultador do

telefone e pediu que lhe ligassem para a esquadra. A

Catarina sentia-se muito aflita. Que iria dizer a directora?

Miss Theobald perguntou se tinham recebido alguma

queixa sobre um cão desaparecido. Parecia que não. Depois

perguntou o que acontecia quando se ficava com um cão

Page 178: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

encontrado ferido.

- Não trazia coleira quando foi encontrado. Pouco depois

desligou e voltou-se para a Catarina, que tinha agora o cão

ao seu colo.

- Não percebo como conseguiste esconder o cão durante

todos estes dias - disse ela. - E também não vou perguntar-

te. Sei que gostas muito de animais. Aparentemente parece

não haver nenhum motivo pelo qual não possas ficar com o

cão para ti, se ninguém o reclamar dentro de um certo

prazo. Por isso proponho-te que o conserves até às férias do

Natal e, se a tua tia autorizar, podes então levá-lo para casa.

Mas é preciso que fique lá fora, Catarina. Por uma vez sem

exemplo vou contra o regulamento, autorizando que uma

aluna conserve um animalzinho no colégio até às férias.

Se Catarina não tivesse tanto respeito pela directora

Certamente lhe teria saltado ao pescoço! Mal conseguia

dominar a comoção que sentia e foi-lhe difícil dizer qualquer

coisa, conseguindo por fim formular umas frases de

agradecimento. Contudo o cão não tinha vergonha de miss

Theobald e foi ter com ela, lambendo-lhe as mãos como se

soubesse o que a directora acabara de dizer!

- Leva-o para a cavalariça e pede a um dos criados que

lhe arranje um lugar abrigado – disse miss Theobald. - E para

a próxima vez que quiseres fazer qualquer coisa especial,

Catarina, vem primeiro pedir autorização, a mim ou a miss

Roberts. Assim pouparás imensas maçadas!

Page 179: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Catarina despediu-se, com os olhos a brilhar. O cão

seguiu-a. Antes de ir à cavalariça, a pequena voltou à aula,

entrando de rompante muito vermelha, esfusiante de

alegria.

- Oiçam! - exclamou. - Posso ficar com o cão. vou levá-lo

para casa se a minha tia...

- Catarina! Não consinto que interrompas a minha lição

desta maneira incrível! - gritou a Mademoiselle, levantando-

se da secretária, furiosa.

Catarina olhou para a professora e desapareceu. Foi à

cavalariça e encontrou um dos jardineiros. O homem

indicou-lhe um lugar para o cão e ela ali o deixou, feliz ao

pensar que agora poderia ir passeá-lo sempre que tivesse

tempo livre.

Ao voltar para a aula encontrou Belinha Towers, que ia

para um treino no campo de lacrosse.

- Belinha! - exclamou. - O cão fugiu e foi ter comigo à

aula! Perseguiu um gato, miss Theobald viu-o e agora deixa-

me ficar com ele.

- Ainda bem! - disse Belinha. - Agora vai direitinha para a

tua classe. Estas miúdas do primeiro ano passam a vida a

meter-se em coisas extraordinárias!

Catarina não perdeu tempo. Entrou muito

sossegadamente na aula de francês e sentou-se no seu

lugar. A Mademoiselle pregou-lhe uma enorme

descompostura, mas as palavras entravam-lhe por um

Page 180: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

ouvido e saiam pelo outro. Sonhava com o cão que passaria

a pertencer-lhe.

- E se não me prestares atenção mando-te fazer um

exercício de três páginas, sobre cães! - ouviu de repente a

Mademoiselle dizer. Então fez o possível por se acalmar. As

companheiras sorriram. A Mademoiselle estava meio

zangada, meio divertida, pois na verdade a pequena não

ouvira até ali, nem uma palavra.

Mas a Catarina não tinha nenhuma vontade de fazer

uma redacção de três páginas em francês.

Se assim acontecesse não teria tempo de ir passear com

o seu cão! Por isso nos vinte minutos que se seguiram,

trabalhou com toda a boa vontade e a Mademoiselle não

disse mais nada.

No intervalo entre as aulas da manhã e o almoço, quatro

pequenas rodearam o cãozito, discutindo que nome lhe

deviam chamar.

- Eu é que escolho! Sou a dona! - declarou Catarina com

firmeza. - vou chamar-lhe Binks. É um nome bonito.

E por isso ficou a ser o Binks e assim continuou até ao

fim do período, quando a Catarina o levou para casa. Nem

calculam como ele se divertiu até então, com dúzias de

pequenas à sua volta, que o passeavam e lhe levavam

tantas guloseimas que ficou gordo como um texugo! Até

mesmo as professoras gostavam dele e faziam-lhe festas,

quando o encontravam lá fora, com a Catarina.

Page 181: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Todas, menos a Mademoiselle, que achava que um

colégio não era lugar para cães.

- Ele é abominável! - dizia sempre que o via. Que cão!

Nem calculam como perturbou a minha aula! Mas ao mesmo

tempo piscava o olho, por isso, ninguém a levava a sério!

XIX

ISABEL PASSA UM MAU BOCADO

Começaram os exames. As gémeas tinham uma grande

vontade de responder bem, pois gostariam de ser as

primeiras classificadas, pelo menos numa disciplina. Tinham

conseguido pôr-se no mesmo adiantamento que o resto da

classe, mas como a maioria das colegas já estavam no

colégio há muito mais tempo do que elas, miss Roberts

avisou-as que era melhor não esperarem ser das primeiras,

pelo menos naquele período.

O exame de matemática foi o primeiro. Era bastante

puxado, pois miss Roberts preparara-as bem e esperava pôr

à prova os conhecimentos das alunas. Patrícia e Isabel

acharam o ponto difícil, mas fizeram o melhor que puderam.

- Já sei que tenho erradas as perguntas 3, 4 e 5 - disse

Page 182: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Isabel, quando no fim compararam os resultados. - Julgo que

fiz os problemas certos, mas demorei tanto tempo a

descobrir como se faziam, que não os fiz todos.

- Eu vou ser uma das piores - declarou Patrícia,

desgostosa.

De vez em quando ainda se lamentava por não ser

“alguém”, embora depressa se tivesse esquecido das ideias

de superioridade, que sustentara ao princípio.

Os pontos de francês já lhes pareceram mais fáceis.

Graças às explicações da Mademoiselle Abominável, as

gémeas tinham passado a ser umas alunas regulares na

parte escrita. A Dora é que se tinha ido abaixo em francês.

No exame oral enganara-se e gaguejara várias vezes, o que

fez com que a Mademoiselle perdesse a cabeça.

- Será possível que depois de tantas lições ainda fales

francês como uma miúda de quatro anos, do jardim infantil?

- perguntou, furiosa. - Agora recita-me uma das poesias

francesas que aprendeste neste período.

Quanto mais a Mademoiselle se zangava, pior respondia

a pobre Dora. Olhou para as companheiras como se lhes

pedisse ajuda e piscou o olho às gémeas.

- Ainda por cima a piscares o olho! Talvez chores depois!

- gritou Mademoiselle. - Terás um zero na prova oral de

francês!

Como Dora já esperava ter uma má nota, não se

perturbou e foi sentar-se no seu lugar, muito aliviada.

Page 183: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Seguiu-se Joana. Como era boa aluna em francês, a

Mademoiselle acalmou-se.

Os exames continuaram e só faltava o de Geografia. As

gémeas todas as manhãs examinavam as pautas com as

notas e ficavam tristes ao verificar que em nada eram as

primeiras. Patrícia conseguiu ser a terceira em Ciências

Naturais e Isabel a quinta em História, mas foi o melhor que

conseguiram!

- As nossas notas não farão vista nenhuma disse Patrícia,

suspirando. - Quando estávamos em Redroofs éramos as

melhores alunas em quase tudo, mesmo antes de sermos

chefes de turma. A mãe e o pai vão ficar decepcionados por

não sermos as melhores em nenhuma disciplina.

- Julgarão que fizemos o que tencionávamos, não nos

esforçando nada - disse a Isabel. - E olha que nos

esforçámos a valer! Que pena termos dito tantos disparates

antes de virmos para Santa Clara. Não sei o que pensará o

pai, ao julgar que cabulámos durante todo o período! Está

tão habituado a receber as nossas cadernetas com notas

formidáveis...

- Bem só falta a prova de Geografia - disse Patrícia. -

Gostaria que fôssemos as melhores ao menos nessa

disciplina, mas duvido. Acho que não sei o suficiente sobre

África, embora tenhamos passado o tempo a estudar essa

maçada de terra! Em que parte vivem os Zulus? Nunca me

lembro.

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- Quem me dera que tivéssemos a melhor nota!

respondeu Isabel, abrindo o seu compêndio de Geografia e

virando as páginas. - Patrícia, vamos estudar isto até nos

deitarmos, para vermos se conseguimos fazer uns bons

pontos. Vamos!

As duas gémeas começaram a estudar com toda a

atenção, fazendo revisões pormenorizadas. Observaram os

mapas que haviam desenhado e tornaram a copiá-los em

esboço, mais quatro ou cinco vezes. Fizeram listas das

cidades e dos portos, interrogando-se uma à outra. Também

reviram os nomes dos rios e leram o que havia a respeito

das populações africanas, flora e fauna.

- Agora parece-me que já sei mais qualquer coisa - disse

Isabel, com um suspiro. - Mas até aposto que não nos farão

perguntas sobre o que estivemos a estudar. Parece que as

perguntas de exame tratam sempre de assuntos que não

sabemos bem, porque estivemos doentes ou que nos

esquecemos de estudar ou que por qualquer motivo não

conseguimos recordar, embora esforçando-nos!

- Esta noite já não estudo mais - declarou Isabel. - Quero

acabar com a minha camisola. Só me faltam umas carreiras

para acabar a última manga. Onde é que eu pus o livro que

tem o modelo?

- Não faço ideia - respondeu Patrícia. - Estás sempre a

perdê-lo. Parece-me que o levaste para a sala de aulas, esta

tarde.

Page 185: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

- Foi isso mesmo! - disse Isabel. - Que maçada!

Levantou-se e saiu da sala. Esqueceu-se completamente de

que tinham prevenido todas as alunas que não deviam

entrar na sala de aula do primeiro ano, porque as perguntas

do exame ficariam ali. Dirigiu-se à aula, abriu a porta e

entrou. Foi até à sua secretária e levantou o tampo.

Lá estava o livro das malhas. Ainda bem! Tirou-o e pegou

também num lápis que pertencia a miss Roberts. Foi até à

secretária da professora e colocou-o no seu lugar, junto dos

outros lápis e canetas.

Então, reparou que mesmo a olhar para ela, estavam ali

os pontos de exame para o dia seguinte. Isabel observou-os,

com o coração a bater. Era uma lista de perguntas de

geografia, escritas com toda a clareza numa folha de papel.

Se soubesse que perguntas eram, poderia estudar o

assunto tão bem, que teria a melhor nota da classe! Sem

mesmo pensar no que fazia, leu apressadamente as

perguntas. “Diga o que sabe sobre o clima da África do Sul.

Que sabe sobre uma raça chamada Pigmeus? O que

conhece...” Leu as perguntas do princípio ao fim e depois

saiu da sala. Tinha a cara muito vermelha e o coração a

bater.

- Todas as perguntas são sobre os assuntos que

estivemos a estudar hoje - disse para consigo. - Afinal não

teve importância eu ter lido o ponto. Acho que sei todas as

respostas.

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- Patrícia olhou para a irmã quando ela entrou na sala de

estar.

- Encontraste o livro? - perguntou.

Isabel reparou que trazia as mãos vazias. Afinal

esquecera-se do livro das malhas.

- Não estava lá? - perguntou Patrícia.

- Estava sim - disse a Isabel. - Mas acabei por o deixar na

aula outra vez.

- Então não o vais buscar? - perguntou Patrícia cada vez

mais surpreendida. Isabel hesitou. Não suportava a ideia de

voltar à aula.

- Que se passa, Isabel? - perguntou Patrícia, com

impaciência. - Emudeceste? Que aconteceu?

- Patrícia, as perguntas de geografia estavam em cima

da secretária de miss Roberts - disse Isabel. - E eu li-as!

- Isabel! Isso é indecente! - exclamou Patrícia.

- Nem pensei se era bem ou mal - confessou Isabel,

perturbada. - Mas não teve importância, Patrícia, pois as

perguntas eram todas sobre o que estudámos hoje.

Patrícia olhou para a irmã, que baixou os olhos.

- Isabel, não sei como vais conseguir amanhã fazer o

exame de geografia, lembrando-te que já viste as perguntas

- disse por fim, - Calculo que pudesses responder a todas as

perguntas perfeitamente sem as teres lido hoje. Mas, se

alguém soubesse o que se passou, pensaria que és uma

intrujona. E não és, sempre foste séria e leal. Não estou a

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compreender-te.

- Eu fiz tudo precipitadamente - disse a Isabel.

- É melhor ires contar a miss Roberts - aconselhou

Patrícia.

- Oh, não sou capaz! - disse Isabel, aterrada. Bem sabes

como é severa. Não sou capaz!

- Então deves responder mal a todas as perguntas, de

maneira que miss Roberts se zangue contigo e então

poderás explicar-lhe porque o fizeste disse Patrícia. - Se ela

souber que não tiraste nenhuma vantagem de teres visto as

perguntas, não te pode chamar intrujona, nem dizer que

copiaste. Terás que te acusar antes ou depois. Acusa-te já,

acho preferível.

- Não, acuso-me depois - decidiu Isabel. vou fazer o

exame e responderei a tudo tão mal que hei-de ter a pior

nota de todas. Depois, quando miss Roberts se zangar

comigo, explico-lhe tudo.

Que aborrecimento! Porque fui tão palerma? Foi tudo

muito precipitado. Até podia ter sido a melhor, pois todas as

perguntas tratam de coisas que eu sei perfeitamente.

- Não me digas quais são - pediu Patricia. Não quero

saber, para me sentir à vontade a responder. Anima-te,

Isabel. Conheço-te o suficiente para saber que não

tencionavas fazer batota. Todas nós às vezes somos muito

parvas.

Isabel nessa noite não se sentia nada satisfeita. Fartou-

Page 188: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

se de dar voltas na cama, muito arrependida de ter visto as

perguntas de Geografia. Poderia com tanta facilidade ter

respondido certo e apanhar uma boa nota! Como fora idiota!

O exame de Geografia seria logo no primeiro tempo da

manhã. Às nove horas todas as alunas do primeiro ano

entraram na aula e ocuparam os seus lugares. Isabel reparou

que as perguntas continuavam sobre a secretária. Patrícia

também as viu, embora fosse impossível lê-las àquela

distância.

Miss Roberts entrou.

- Bom-dia, meninas! - disse ela.

- Bom-dia, miss Roberts! - respondeu a classe em coro. E

sentaram-se.

- Esta manhã temos ponto de Geografia - disse miss

Roberts, apressadamente. - Por favor prestem atenção!

Joana, vem aqui, para distribuíres as perguntas.

Isabel viu a Joana ir buscar as folhas de papel. Sentiu-se

muito triste. Não era nada agradável ter que responder

errado de propósito, mas não havia mais nada a fazer.

No momento em que Joana ia pegar nas folhas de papel,

miss Roberts soltou uma exclamação e mandou-a parar.

- Espera! Parece-me que estas não são as perguntas

para vocês. Pois realmente não são. Que estupidez! São os

pontos do segundo ano, que também esteve a rever a África.

Vai ter com a miss Jenks, leva estas folhas e pede-lhe as que

eu deixei na sua secretária. Explica-lhe que são as do

Page 189: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

primeiro ano e estas correspondem ao segundo.

Joana pegou nas folhas e saiu da aula. Isabel olhou para

a irmã. Patrícia sorria, muito contente. Quando miss Roberts

se voltou para escrever qualquer coisa no quadro, Patrícia

inclinou-se para Isabel e murmurou:

- Que sorte! Agora podes fazer o melhor possível, em vez

de responderes errado. Afinal viste as perguntas do segundo

ano! Viva!

Isabel fez um sinal afirmativo. Também estava muito

satisfeita. Até parecia demasiado bom para ser verdade!

Miss Roberts virou-se de repente.

- Não quero ninguém a falar! Se eu apanhar alguma

menina a falar durante a prova, tiro-lhe um valor na

classificação. Estás a ouvir, Patrícia?

- Estou sim, miss Roberts - disse Patrícia.

Joana voltou com as perguntas certas e distribuiu-as por

toda a aula. Isabel, leu-as rapidamente. Eram muito, muito

diferentes das que ela lera na véspera. Que bom!

Agora podia começar a responder, fazendo os possíveis

por acertar em tudo. Nunca mais voltaria a ser palerma. Não

quisera ser trapaceira, mas sentira-se como tal.

Mas a pobre Isabel, depois de tudo o que se passara,

estava bastante nervosa e realmente não fez o ponto tão

bem como a Patrícia. Tinha a mão a tremer enquanto

desenhava os mapas pedidos e fez alguns erros. Por isso

quando as provas foram corrigidas, Isabel não teve de

Page 190: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

maneira nenhuma a melhor nota. Foi a sexta classificada,

mas Patrícia foi a melhor! Isabel ficou tão satisfeita ao ver o

nome da irmã à cabeça da pauta como se fosse ela própria a

melhor. Deu um grande abraço à sua gémea.

- Estou radiante, Patrícia! - exclamou. - Agora já uma de

nós foi a melhor em qualquer coisa!

Patrícia também estava satisfeitíssima. Era maravilhoso

ver o seu nome em primeiro lugar! Miss Roberts aproximou-

se.

- Fizeste uma prova excelente, Patrícia - disse, ela. - Só

fiquei admirada que o ponto da Isabel não fosse melhor. Que

aconteceu, Isabel?

Mas Isabel não contou o que acontecera e a professora

afastou-se, sorrindo. Nos exames acontecem às vezes coisas

surpreendentes e talvez no próximo período as gémeas

O'Sullivan fossem as melhores classificadas em quase tudo!

XX

A FESTA

E agora o fim do período já estava mesmo a chegar. A

directora e as professoras andavam muito ocupadas a

Page 191: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

preencher cadernetas, a fazerem listas, ajudando as alunas

nos preparativos para a festa e corrigindo provas de exame.

As pequenas também não paravam, fazendo planos para

férias, preparando-se para a festa, tentando adivinhar que

observações seriam escritas nas cadernetas e pondo a

Mademoiselle fora de si, por estarem desatentas.

Miss Roberts mostrava-se mais calma mas mesmo assim

perdeu a paciência quando a Isabel lhe respondeu que um

quilo tinha cem gramas.

- Bem sei que vocês se tornam sempre um pouco

desatinadas no fim do período - disse ela. - Mas tudo tem

limites. Isabel, se este ano houvesse uma classe mais

atrasada, mandava-te para lá o resto da manhã.

As duas últimas semanas eram na verdade muito

divertidas. Entre outras coisas todos os armários tinham que

ser esvasiados, lavados, limpos e arrumados de novo.

As gémeas nunca haviam feito aquele trabalho no

Colégio Redroofs e ao princípio pareceu-lhes desagradável

semelhante tarefa. Mas quando viram as outras a cobrir o

cabelo com lenços e a porem aventais, não puderam deixar

de concordar que o trabalho devia ser divertido, apesar de

feito durante as horas livres.

- Vem, Patrícia! Vem, Isabel! Não se ponham aí

embezerradas, como antigamente - disse Joana percebendo

logo que as gémeas nunca tinham feito aquele serviço. - Vão

ficar todas sujas, mas depois podem tomar banho e lavar a

Page 192: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

cabeça! Venham, toleironas!

Toleironas era um nome com que as gémeas nada

simpatizavam, por isso resolveram-se logo, a seguir as

outras. A lida estava encarregada de dirigir as limpezas do

primeiro ano.

Na verdade era muito animado. Esvaziaram os armários

e havia exclamações de alegria quando se encontravam

coisas há muito desaparecidas.

- Ah, julgava que tinha perdido este canivete! - exclamou

Dora, pegando num pequeno canivete de madrepérola. -

Onde teria estado todo este tempo?

- Olha, a caneta de tinta permanente de miss Roberts! -

exclamou a lida daí a pouco. - Estava metida no meio desta

ráfia. Ah, já sei como veio aqui parar! Lembras-te, Joana,

quando puseste uma enorme porção de ráfia em cima da

secretária de miss Roberts, durante a aula de trabalhos

manuais? Ela não gostou e tu voltaste a meter a ráfia no

armário. com certeza levaste a caneta juntamente. Depois

fartámo-nos de a procurar!

- Por amor de Deus não lhe lembres que a culpa deve ter

sido minha - pediu Joana. - Anda agora muito mal disposta.

Ouve, Isabel, leva-lhe a caneta e diz-lhe apenas que a

encontrámos no armário dos trabalhos manuais. Como ela

hoje se zangou contigo, talvez agora te faça um sorriso.

Isabel foi entregar a caneta. Miss Roberts ficou

encantada ao vê-la e agradeceu com um grande sorriso.

Page 193: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Isabel calculou que ela estava de bom humor e resolveu

pedir-lhe um favor.

- Miss Roberts, peço-lhe desculpa por ter feito tantos

erros no meu exercício de matemática desta manhã. Se lhe

prometer que amanhã prestarei mais atenção, não pode

dispensar-me de fazer todas aquelas contas outra vez? Hoje

estou tão ocupada!

Mas Miss Roberts não se deixava levar assim com tanta

facilidade.

- Minha querida Isabel, estou muito satisfeita por teres

encontrado a caneta - disse ela. - Mas certamente concordas

que não é razão para te perdoar o teu péssimo exercício. E

mesmo que me encontrasses o meu melhor chapéu, que no

domingo passado me voou da cabeça de repente e

desapareceu completamente nos campos, continuaria a

dizer que é preciso fazeres as contas outra vez.

As colegas riram-se. Miss Roberts era muito sarcástica

quando queria. Isabel também se riu e voltou às suas

limpezas e arrumações.

- Gostava de lhe encontrar o chapéu! - disse ela. - É

muito severa mas também muito justa. Quando chegou a

noite da festa, o entusiasmo era enorme. Nos últimos dias as

pequenas andavam muito excitadas, dando os últimos

ensaios e encarregando-se dos últimos retoques. Cada

classe apresentava os seus números e a festa deveria durar

três horas, com um intervalo ao meio, para tomarem

Page 194: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

refrescos.

A Mademoiselle ensinara peças e canções em francês a

todas as classes e importunava as alunas continuamente,

para se certificar da sua pronúncia. O sexto ano

representaria uma pequena peça grega. O quinto levava à

cena uma absurda comédia que as próprias alunas haviam

escrito, chamada “A senhora Jenks faz uma visita”. Tinham

pedido emprestados todo o género de chapéus e vestidos

das professoras, e até mesmo um vestido da cozinheira! O

quarto ano ensaiara uma música de Jazz, que todas

achavam uma maravilha, embora a Mademoiselle repetisse

que o tambor não fazia falta nenhuma, porque se ouvia de

uma ponta à outra do colégio, às horas mais inconcebíveis.

O terceiro ano levava uma parte de uma peça de

Shakespeare e o segundo e o primeiro tinham números

especiais, tais como o bailado da Dora e a recitação da

Teresa. A Célia andava entusiasmadissima. Sabia que se lhe

tivessem distribuído um papel no princípio dos ensaios da

peça histórica, nunca teria a oportunidade de ser um assim

tão importante. Agora, por causa do acidente da Vera,

representaria um papel de grande responsabilidade.

Ensaiava-o continuamente, pensando nele, dando-lhe uma

interpretação em que a Vera nunca pensara e admirando

todas com a sua maneira de representar.

- Ela vai lindamente! - disse Joana à Patrícia.

- Estou a simpatizar muito mais com a Célia. Quem havia

Page 195: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

de dizer que ela era assim trabalhadora e conscienciosa,

quando se encobria com uma capa de basófias e altivez!

Patrícia e Isabel também se preparavam com todo o

entusiasmo para a festa. Todas as professoras assistiriam e

as alunas estariam todas presentes. Ninguém se poderia

esquecer do seu papel ou dizer qualquer asneira. Cada

classe teria que mostrar o que valia.

Chegou a grande noite. Durante todo o dia houve

gargalhadas e segredos. Não houve aulas, a não ser as de

francês. A Mademoiselle não deixaria de dar lições nem que

houvesse um tremor de terra! Não admirava que as alunas

fossem tão boas em francês, quando chegavam ao último

ano.

A professora de lavores trabalhara a toda a velocidade

para fazer as emendas do último momento nos vestidos. A

ecónoma foi muito simpática, mandando preparar uma

verdadeira refeição para uma das peças, em vez dos

alimentos a fingir que a lida arranjara.

- Que simpática! - comentou a lida, olhando para o jarro

da limonada e para os bolinhos que a ecónoma lhe

fornecera. - Agora o meu papel na peça torna-se muito mais

divertido.

- Não enchas tanto a boca que não possas falar

recomendou Joana, rindo. - E se nós pedíssemos à

Mademoiselle para nos deixar servir uma refeição a valer na

peça francesa?

Page 196: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Mas ninguém se atreveu a fazer tal pedido à

Mademoiselle.

Às seis horas começou a festa. Todas se acomodaram no

ginásio onde tinham posto muitas filas de cadeiras. O palco

com cortinas e luzes, estava muito bonito. Aos lados viam-se

vasos com flores, provenientes da estufa de miss Theobald.

As professoras sentaram-se nas três filas da frente,

deixando por uma vez as alunas à sua vontade.

O pessoal da cozinha e da copa sentou-se atrás das

professoras. As alunas ocuparam os bancos seguintes

enchendo completamente o ginásio.

A todas era oferecido um programa desenhado e pintado

pelas próprias alunas. Patrícia ficou encantada ao ver que

miss Theobald ficara com o programa que ela desenhara.

Viu a directora observar cuidadosamente a pintura e

ficou cheia de vontade de saber se miss Theobald tinha visto

o seu nome, num canto. “Patrícia O'Sullivan”.

Cada classe sabia quando chegava a sua vez e quando

devia levantar-se, sem fazer barulho, e vestir-se atrás do

palco para entrar em cena.

O quinto ano era o primeiro a representar a sua peça e

quando se abriram as cortinas e as pequenas apareceram

vestidas da maneira mais ridícula, com chapéus incríveis,

toda a assistência desatou às gargalhadas.

A cozinheira do colégio gritou: - Olha o meu vestido!

Nunca pensei que ainda o veria num palco!

Page 197: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

A comédia era realmente muito engraçada e a

assistência aplaudiu-a. Depois seguiu-se a peça grega,

representada pelo sexto ano, que era uma coisa séria e

difícil de perceber. As alunas do primeiro ano prestaram

atenção por delicadeza e no fim bateram palmas, mas no

fundo acharam que a peça do quinto ano era muito melhor!

Seguiu-se o quarto ano com a sua orquestra de Jazz, que

foi um êxito retumbante. A baterista era estupenda e a

Mademoiselle até se esqueceu do estado de irritação que o

tambor lhe havia produzido. Tocaram várias músicas de

dança e a assistência cantava o refrão. Bateram muitas

palmas, pedindo bis, mas como chegara o intervalo, a

orquestra de jazz teve finalmente que se despedir!

As pequenas apreciaram imenso os biscoitos, bolos de

creme, as sanduíches e a limonada! Quando chegaram ao

refeitório, ficaram pasmadas ao ver tantas iguarias.

- Tanta coisa! Não será possível comermos isto tudo! -

exclamou Patrícia.

- Patrícia O'Sullivan, não sabes o que estás a dizer -

respondeu Joana, pegando num prato com sanduíches de

espargos. - Fala só por ti. Tira uma ou duas sanduíches,

enquanto aqui estão.

E na verdade Patrícia não sabia o que estava a dizer,

pois em vinte minutos, nada ficou nos pratos! As alunas

tinham comido tudo! E escondido por baixo da toalha estava

alguém com tanto apetite como as pequenas: era o cãozito

Page 198: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Binks.

Catarina levara-o para ali e prendera-o a um pé da mesa.

Foi-lhe dando pedacinhos de salsichas, de que ele muito

gostou. Teve o cuidado de não pôr o focinho de fora, para

não ser descoberto, e ninguém percebeu que ele ali estava,

excepto a Isabel que ficara surpreendida com a enorme

quantidade de pãezinhos com salsicha que a Catarina

conseguia comer.

Mas de repente percebeu o que se passava. Oh,

Catarina, és terrível! Trouxeste o Binks para aqui!

- Shiu! - fez a Catarina. - Não digas nada. Fez-me pena

que ele perdesse a festa. Não achas que se porta bem?

O Binks depois ainda foi melhor tratado, pois teve duas

pessoas a alimentá-lo em vez de uma só.

A festa recomeçou. O primeiro ano apresentou as suas

duas pequenas peças. A Célia representou tão bem que a

assistência gritava o seu nome para a aplaudir

especialmente. Nunca Célia se sentira tão feliz e ficava

muito bonita ali no palco, corada e animada. A Mónica sorriu

à Patrícia, para que ela percebesse como estava satisfeita

por terem dado à Célia a oportunidade que pedira.

A peça francesa também foi um êxito e a Mademoiselle

ficou radiante quando ouviu aplaudi-la com entusiasmo.

- Estas miúdas do primeiro ano não são nada más - disse

para a Belinha Towers e a Isabel ouviu, gravando a frase na

memória, para depois contar às outras.

Page 199: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Dora executou o seu bailado, que era excelente. Também

lhe pediram bis e ela voltou, vestida de palhaço. Executou a

dança do palhaço, a mesma que terminara tão

desastradamente na noite da ceia, mas desta vez foi muito

aplaudida. No momento em que acabava de dançar, passou-

se um episódio extraordinário.

O Binks roeu a corda com que estava preso e foi ter com

a dona. Catarina encontrava-se escondida num dos lados do

palco a ver a Dora dançar. O Binks saltou para o palco muito

contente, para ir ter com ela e tropeçou na Dora, como se

fizesse parte da dança!

A Dora caiu logo e a música acabou. Toda a assistência

se riu imenso e aplaudiu com agrado. O Binks voltou-se ao

ouvir as palmas, com a língua de fora e a cauda a abanar.

Catarina, receando que se zangassem com ela, foi logo

levar o cão para o jardim.

Mas ninguém se zangou, nem mesmo a Mademoiselle

que não se cansava de dizer que achava “abominável” e

“insuportável” consentir aquele cão no colégio.

A festa acabou com todas as alunas a cantar o hino do

colégio, uma música muito ritmada e bonita, que as gémeas

ouviram pela primeira vez. Eram elas as únicas que não a

conheciam.

- Na próxima vez também já a cantaremos murmurou a

Patrícia à irmã. - Ó Isabel, que bela tarde! Não achas que

esta festa bateu as do Colégio Redroofs?

Page 200: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Depois, começando a bocejar, pois passava uma hora do

costume, as alunas do primeiro ano foram deitar-se. Riram e

conversaram enquanto se despiam, demorando o tempo que

lhes apetecia, pois era a última noite daquele período e no

dia seguinte iriam para férias.

2

XXI

O ULTIMO DIA

No dia seguinte as malas e malões foram retirados do

sótão. Cada qual tinha o nome da sua dona, em letras

brancas, e em breve estavam a encher-se de roupa. A

roupeira andava de um lado para o outro, muito ocupada,

distribuindo roupas e esforçando-se porque as malas

ficassem pelo menos relativamente bem feitas. Obrigou a

Dora a tirar tudo para fora e recomeçar do princípio.

- Mas depois não tenho tempo! - objectou Dora, rindo-se

do ar escandalizado da roupeira.

- Nem que demores uma semana inteira, a mala há-de

ficar como deve ser - disse a roupeira, severa. - Ouve, Dora

Eldward, a tua mãe e as tuas tias estiveram aqui no colégio

em tempos e nunca consegui ensiná-las a fazer uma mala.

Mas tu hás-de aprender! Não faz sentido colocar coisas que

se partem no fundo, e sapatos e botas sobre as tuas

melhores roupas! Recomeça tudo de novo!

Page 201: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

- Catarina! Qual é a tua morada? - perguntou Patrícia. -

Disseste que ma tinhas dado, mas não a tenho. Quero

mandar-te as Boas Festas.

Catarina ficou encantada. Até ali ninguém se lembrara

de lhe pedir a morada. Escreveu-a num papel e entregou-o à

Patrícia. Seguiu-se uma troca de moradas, promessas de

telefonemas, convites para festas depois do Natal.

O colégio nem parecia o mesmo. Por toda a parte se

ouviam conversas e risos e mesmo quando as professoras

entravam nas salas de aula ou nos dormitórios, ninguém

pensava em calar-se. As professoras também estavam

entusiasmadas e conversavam umas com as outras, rindo

com a alegria das alunas.

- Estou muito satisfeita com a minha turma, este período

- disse miss Roberts ao ver a Célia atirar qualquer coisa à

Patrícia. - Duas ou três alunas mudaram tanto para melhor,

que mal as conheço.

- Que tal são as gémeas O'Sullivan? - perguntou miss

Jenks. - Pensei que iam ser um caso sério, quando chegaram.

Chamavam-lhes as “gémeas emproadas e ao princípio não

suportava olhar para as suas caras descontentes.

- Oh. são muito boas pequenas - disse logo miss Roberts.

- Adaptaram-se bem. Têm óptimo estofo. O Colégio de Santa

Clara ainda se há-de orgulhar delas, note bem o que eu digo.

No entanto são bastante endiabradas. Tome cuidado quando

elas forem para a sua classe, no próximo ano.

Page 202: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

- Oh, não terei problemas, depois de passarem mais dois

períodos entregues aos seus ternos cuidados! - disse miss

Jenks, rindo. - Nunca tenho aborrecimentos com as alunas

que vêm das suas mãos. As alunas novas que vão

directamente para a minha classe é que me dão

preocupações.

A Mademoiselle andava de um lado para o outro, toda

satisfeita. Apontava sempre as moradas das alunas num

pequeno caderninho de capa preta e escrevia a todas, nas

férias.

- Querida Mademoiselle Abominável! - murmurou

Patrícia, quando ela passou. A Mademoiselle, com o seu

ouvido apurado, percebeu o que a Patrícia dissera.

- O que foi que me chamaste? - perguntou, dirigindo-se à

Patrícia, ajoelhada junto do seu malão.

- Oh, nada, Mademoiselle - disse Patrícia muito

atrapalhada, ao pensar que a Mademoiselle podia ter ouvido.

As companheiras disfarçavam o riso. Todas sabiam a alcunha

que as gémeas haviam posto à Mademoiselle.

- Fazes o favor de me dizer. Sou eu que te peço - insistiu

a Mademoiselle, começando a irritar-se.

- Bem - começou Patrícia de má vontade. Chamei-lhe

Mademoiselle Abominável porque ao princípio considerava

sempre abomináveis os meus exercícios e os da Isabel. Por

favor não se zangue!

A Mademoiselle não se zangou. com o seu sentido de

Page 203: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

humor habitual, achou até imensa graça e fartou-se de rir.

- Com que então Mademoiselle Abominável? É um lindo

nome para chamar à vossa professora de francês. E no

próximo período os vossos exercícios serão tão bons que os

hei-de classificar de “Magníficos” e então passarei a ser a

“Mademoiselle Magnifica”, n'est cê pau?

Finalmente as malas ficaram prontas. As alunas foram

despedir-se de miss Theobald. Quando as gémeas entraram

no seu gabinete, míss Theobald sorriu com muita ternura.

- Julgo que não queriam vir para Santa Clara disse a

directora. - Mas agora parece-me que mudaram de opinião.

- Sim, na verdade mudámos de opinião! - concordou

Patrícia, com sinceridade, porque nunca se importava de

confessar que mudara de opinião. Nós detestámos vir para

aqui. Tínhamos resolvido portarmo-nos o pior possível, e

ainda o tentámos. Mas na verdade o Colégio de Santa Clara

é óptimo.

- E temos a maior vontade de voltar no próximo período -

acrescentou Isabel - Aqui trabalha-se mais e os costumes

são muito diferentes do nosso antigo colégio. É esquisito

sermos das mais novas, depois de nos termos habituado a

ser das mais velhas em Redroofs, mas agora já não nos

importamos.

- Talvez um dia sejam das mais velhas em Santa Clara -

disse miss Theobald.

Mas pensar que um dia seriam tão importantes como a

Page 204: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Mónica James, parecia às gémeas demasiada ambição.

- Oh, não! - exclamou Patrícia. - Nunca, nunca

conseguiremos chegar a chefes do último ano.

Mas miss Theobald sorriu misteriosamente. Conhecia

melhor as alunas do que elas se conheciam a si mesmas.

Aquelas gémeas um pouco endiabradas eram boas raparigas

e tanto a directora como Santa Clara esperavam que elas

não as desiludissem.

- Aqui estão as vossas cadernetas, dentro destes

sobrescritos - disse miss Theobald, entregando às gémeas

dois envelopes. - Dêem saudades minhas à vossa mãe e

digam-lhe que por enquanto não precisei de as expulsar.

- Deus queira que tenhamos boas notas! exclamou

Patrícia. - Declarámos ao nosso pai que não nos

esforçaríamos nada e se tivermos más notas deve julgar que

foi de propósito.

- Logo verão, quando chegarem a casa - respondeu miss

Theobald, sorrindo. - Mas, se eu fosse vocês, não me

preocupava muito! Adeus!

As gémeas despediram-se de toda a gente e a

Mademoiselle deu-lhes dois grandes beijos pois naquele dia

mostrava-se muito amiga de todas as alunas. Miss Roberts

apertou-lhes a mão e recomendou-lhes que não comessem

demasiado peru. Miss Kennedy estava um tanto triste, pois a

sua amiga, miss Lewis, já se encontrava completamente

restabelecida e no próximo período retomaria o seu lugar.

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- Não voltarei a vê-las - disse a miss Kennedy, quando se

despediu das gémeas. - vou ter muitas saudades vossas.

- Adeus, miss Kennedy - disse a Patrícia. Ao princípio

fomos muito más para consigo, mas espero que nos tenha

perdoado. Hei-de escrever-lhe. Não me esquecerei.

- Nem eu! - acrescentou Isabel e então a Joana e a lida e

as outras aproximaram-se, rodeando a miss Kennedy que

ficou muito comovida quando as pequenas se despediram,

desejando-lhe felicidades. Ainda bem que afinal conseguira

ensinar alguma coisa.

Naquele dia, quem estava mais animado era o Binks.

Andava sem trela de um lado para o outro, comendo o

chocolate que as suas amigas lhe ofereciam, lambendo-lhes

as mãos e até as caras, quando se ajoelhavam para fazer as

malas. Nenhuma professora teve coragem de protestar e o

Binks divertiu-se imenso.

- Vai ser horrível ter que deixá-lo em casa quando voltar

para o colégio - disse Catarina, fazendo-lhe festas. - Mas não

faz mal. Agora teremos um mês de férias para estarmos

juntos. Miss Theobald escreveu à minha tia e ela vai ver que

tal o Binks se porta.

- Há-de portar-se bem - afirmou Joana. Mas tenho

impressão que vai seguir o teu exemplo, Catarina, umas

vezes há-de portar-se melhor e outras pior.

Catarina riu-se e deu à Joana uma palmada amigável. Ela

não vivia muito longe das gémeas e por isso tinham

Page 206: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

combinado visitar-se, de bicicleta. Sentia-se muito feliz.

Tocou o sino, significando que chegara a primeira

camioneta para levar as alunas à estação. Era a camioneta

destinada ao primeiro ano. Dizendo adeus às professoras, as

alunas correram pelas escadas e meteram-se em tropel

dentro da camioneta.

Que divertido irem para férias! Que divertido pensar nos

presentes de Natal que deviam comprar e deviam receber! E

os cartões de Boas Festas que tencionavam enviar.

Patrícia e Isabel entraram juntas para o comboio,

esperando que as alunas dos outros anos chegassem na

camioneta. Daí a pouco a máquina apitou e as carruagens

deram um solavanco. Partiram!

As gémeas foram à janela para verem mais uma vez o

grande edifício branco de que agora tanto gostavam.

- Adeus! - disse Patrícia. - Detestámos-te, quando te

vimos pela primeira vez, Santa Clara! Mas agora pareces-nos

encantador!

- Ficaremos satisfeitas ao ver-te outra vez! murmurou

Isabel. - Oh, Patrícia, que bom termos à nossa frente um mês

de férias. Até à vista, Santa Clara!

O comboio foi seguindo no seu barulho monótono, que

parecia dizer: “Queremos voltar p'ra Santa Clara” Uma

cantiga muito verdadeira, pensaram as gémeas!

Page 207: Enid Blyton[Gemeas 01] As gemeas no Colégio (txt)(rev)

Fim

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