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Vemos um palco. Câm mostra a platéia vazia, deixando claro para o publico que tudo se passa dentro de um teatro. Câm roda até parar num ponto fixo do palco. Luiza I entra e arruma as cadeiras, aos poucos os outros personagens também entram cada um em seu “universo”. Luiza I: Você quer saber como eu morri meu querido? Luiz: Não perca seu tempo mandando abrir o meu corpo em fatias. Luiza II: Eu mesma vou contar como foi. Luiz: Não foi aquele delicioso coquetel de comprimidos coloridos, acompanhados de um bom vinho alemão. Luiza II: Nem os cortes de gilete feitos num banheiro frio. Luiza I: E muito menos a corda em volta do meu pescoço me pendurando a dois palmos de distância do chão... Não... Todos: Essas foram apenas as conseqüências. Luiza I: Me matei por culpa do meu maior vício Luiza II e Luiz: trocando de cadeiras no palco Eu sabia! Luiza I: Não! Não cante vitória ainda! Luiza II: Meu maior vicio não é o cigarro... Luiz: E muito menos as drogas que você, diariamente, fazia questão de criticar... Todos: Debochando Isso vai te matar meu amor Luiza I: Não... Meu maior vicio era uma tremenda idiotice! Levanta da cadeira Luiza II: Juntando-se a Luiza I Meu maior vicio era uma tremenda idiotice! Luiz: Juntando-se a elas Meu maior vicio era uma tremenda idiotice! Luiza I: Fica em pé em uma das cadeiras e caminha sobre as outras, os atores que ficaram embaixo fazem uma “passarela” movimentando as cadeiras que estão atrás para a frente Como eu era idiota em te perdoar por me amar muito, enquanto eu te amava loucamente. Desce. Luiz: Sobe Te perdoava por me dizer “eu também te amo” ao invés de dizer “Eu te amo” Desce. Luiza II: Sobe Te perdoava por tocar o meu corpo e dizer que me queria para sempre, ao invés de dizer e só depois tocar. Desce. Luiza I: Sentando na cadeira do meio. Os outros fazem o mesmo nas cadeiras da ponta um pouco mais para o fundo do palco. Te perdoava por chegar atrasado em casa dizendo que era por culpa do trabalho, e mesmo eu sabendo que não era o gosto da sua boca que eu sentia em seus lábios, eu ficava quieta. Luiza II: Indo para um ponto do palco. Eu ficava quieta

Ensaio Sobre o Suicídio

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Page 1: Ensaio Sobre o Suicídio

Vemos um palco. Câm mostra a platéia vazia, deixando claro para o publico que tudo se passa dentro de um teatro. Câm roda até parar num ponto fixo do palco. Luiza I entra e arruma as cadeiras, aos poucos os outros personagens também entram cada um em seu “universo”.

Luiza I: Você quer saber como eu morri meu querido?Luiz: Não perca seu tempo mandando abrir o meu corpo em fatias.Luiza II: Eu mesma vou contar como foi.Luiz: Não foi aquele delicioso coquetel de comprimidos coloridos, acompanhados de um bom vinho alemão.Luiza II: Nem os cortes de gilete feitos num banheiro frio.Luiza I: E muito menos a corda em volta do meu pescoço me pendurando a dois palmos de distância do chão... Não...Todos: Essas foram apenas as conseqüências. Luiza I: Me matei por culpa do meu maior vícioLuiza II e Luiz: trocando de cadeiras no palco Eu sabia!Luiza I: Não! Não cante vitória ainda!Luiza II: Meu maior vicio não é o cigarro...Luiz: E muito menos as drogas que você, diariamente, fazia questão de criticar...Todos: Debochando Isso vai te matar meu amorLuiza I: Não... Meu maior vicio era uma tremenda idiotice! Levanta da cadeiraLuiza II: Juntando-se a Luiza I Meu maior vicio era uma tremenda idiotice!Luiz: Juntando-se a elas Meu maior vicio era uma tremenda idiotice!Luiza I: Fica em pé em uma das cadeiras e caminha sobre as outras, os atores que ficaram embaixo fazem uma “passarela” movimentando as cadeiras que estão atrás para a frente Como eu era idiota em te perdoar por me amar muito, enquanto eu te amava loucamente. Desce.Luiz: Sobe Te perdoava por me dizer “eu também te amo” ao invés de dizer “Eu te amo” Desce.Luiza II: Sobe Te perdoava por tocar o meu corpo e dizer que me queria para sempre, ao invés de dizer e só depois tocar. Desce.Luiza I: Sentando na cadeira do meio. Os outros fazem o mesmo nas cadeiras da ponta um pouco mais para o fundo do palco. Te perdoava por chegar atrasado em casa dizendo que era por culpa do trabalho, e mesmo eu sabendo que não era o gosto da sua boca que eu sentia em seus lábios, eu ficava quieta.Luiza II: Indo para um ponto do palco. Eu ficava quietaLuiz: Indo para um ponto oposto de Luiza II. Eu ficava quietoLuiza I: Sim meu querido, eu sabia!Luiz: Sabia que existia outro!Luiza II: Eu sempre soube que você amava outra!

Luiz põe um terno (ou algo que caracterize o “namorado”).

Luiz: Estranho...Luiza II: O quê?Luiz: Sei lá... Ta tudo tão... Frio.Luiza II: Está frio porque faz frio, orasLuiz: Eu quis dizer do quadro!Luiza II: Que quadro?Luiz: O nosso quadroLuiza II: Ah... Este quadro.

Page 2: Ensaio Sobre o Suicídio

Luiz: Achei que ficaria mais bonito se o deixássemos em croqui. Se eu soubesse que preto e branco dói tanto.Luiza II: Mas ainda existem alguns borrões coloridos!Luiz: Onde?Luiza II: Aqui...Luiz: Ah sim, mas borrou por causa daquela chuva que o pegou há um tempo. Ficou disforme.Luiza II: Acho que a gente pode colorir um pouco aqui!Luiz: Acho que não!Luiza II: Por favor!Luiz: Eu não tenho mais tinta!Luiza II: Eu ainda tenho um pouco de tinta azul...Luiz: Azul não combina ali. Nada mais combina. Nada.

Ambos voltam ao lugar onde estavam antes do diálogo.

Todos: Nada?Luiza I: Eu sempre soube que você amava outra!Luiz: Não foi você mesmo que disse que a única forma de ficar bem era cortando os meus vícios pela raiz?Luiza I: Eu sempre soube que você amava outra!Luiza II: Mas como fazer isso se meu maior vício era você?Luiza I: Eu podia simplesmente ir embora, como já havia tentado antes.Luiza II: Mas a minha pele sempre pedia pela suaLuiz: Eu não conseguia ficar longe de você!Luiza I: O suicídio era a única saída!Luiz e Luiza II: Eu sempre soube que você amava outro(a)Luiza I: Não se sinta culpado. Essa era a única forma de ficar em paz e te deixar em paz também.Todos: Misturando-se Feche as pesadas cortinas de veludo vermelho. É assim que eu termino a minha ópera.

Entram aplausos, os atores agradecem. Cam mostra a platéia ainda vazia, mas os aplausos continuam rolando, quando volta para o palco, a cortina está fechada.

SOBE LETREIRO.