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Ensaios Diálogos Ensaios & Diálogos Rio Claro v. 9 n. 1 p. 1-233 jan./dez. 2016 ISSN 1983-6341 Revista Científica do Claretiano – Faculdade ENSAIOS & DIÁLOGOS

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Revista Científica do Claretiano – Faculdade

ENSAIOS & DIÁLOGOS

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Reitoria / RectorateDiretor Geral: Pe. Luiz Claudemir BotteonDiretor Administrativo: Osvaldo CelottiDiretor Acadêmico: Prof. Dr. Sávio Carlos Desan ScopinhoDiretor Comunitário e de Extensão: Prof. Esp. Ângelo Aparecido ZadraCoordenadoria Geral de Pesquisa e Iniciação Científica: Prof. Me. Pablo Rodrigo Gonçalves

Conselho editorial / Publish CommitteProf.ª Dra. Maria Cecília L. B. Soares (CLARETIANO – RIO CLARO)Prof. Esp. Ângelo Aparecido Zadra (CLARETIANO – RIO CLARO)Prof. Me. João Carlos Picolin (CLARETIANO – RIO CLARO)Prof. Esp. Euclides Francisco Jutkoski (CLARETIANO – RIO CLARO)Prof. Dr. Manoel Valmir Fernandes (CLARETIANO – RIO CLARO)Prof.ª Esp. Viviane Cristina Geraldo (CLARETIANO – RIO CLARO)Prof.ª Dra. Beatriz Martins Manzano (CLARETIANO – RIO CLARO)Prof. Dr. Ronaldo Ribeiro de Campos (FATEC – TAQUATIRINGA)Prof.ª Dra. Márcia Reami Pechula (UNESP – RIO CLARO)

Informações Gerais / General InformationPeriodicidade: anualNúmero de páginas: 233 páginasNúmero de artigos: 11 artigos neste volumeMancha/Formato: 11,3 x 18 cm / 15 x 21 cm

Os artigos são de inteira responsabilidade de seus autores

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Ensaios & Diálogos Rio Claro v. 9 n. 1 p. 1-233 jan./dez. 2016

ISSN 1983-6341

Revista Científica do Claretiano – Faculdade

ENSAIOS & DIÁLOGOS

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© 2016 Ação Educacional Claretiana

Equipe editorial / Editorial teamEditor responsável: Prof. Me. Pablo Rodrigo Gonçalves

Equipe técnica / Technical staffNormatização: Dandara Louise Vieira MatavelliRevisão: Felipe Aleixo, Filipi Andrade de Deus Silveira e Vanessa Vergani MachadoCapa e Projeto gráfico: Bruno do Carmo Bulgarelli

Direitos autorais / CopyrightTodos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana.

Permuta / ExchangeOs pedidos de permuta devem ser encaminhados à Biblioteca da instituição:Claretiano – Faculdade / Rio Claro – SP Av. Santo Antonio Maria Claret, n. 1724, Cidade Claret Rio Claro / SP – CEP: 13.503-250E-mail: [email protected]: (19) 2111-6000

Bibliotecária / LibrarianGabriela Leandro Fontana – CRB-8/9748

001.4 E52

Ensaios & Diálogos: revista científica do Claretiano Faculdade

– v.9, n.1 (jan./dez. 2016)-. - Rio Claro, SP: Claretiano,

2016. 233 p.

Anual.

ISSN: 1983-6341

1. Pesquisa Científica I. Ensaios & Diálogos: revista

científica do Claretiano Faculdade.

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Sumário / Contents

Editorial / Editor’s note

ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL PAPER

Os efeitos da equoterapia no processo de ensino e aprendizagem de alunos com Síndrome de DownDaniela Françoia / Michelle Dayane Rebustini / Viviane Regina Rigatto Custódio / Pablo Rodrigo Gonçalves

Avaliação de Desempenho por meio do Seis Sigma na visão da Contabilidade GerencialEmerson Roberto Vicente

Instalação elétrica otimizada para a Construção CivilEwerton Luiz Duarte / Júlio César Bellan

A visão dos profissionais da Santa Casa de Rio Claro acerca da função do Assistente Social no âmbito hospitalarGraziella Santos de Oliveira / Adriana Cristina de Oliveira Altéia

Relação entre ansiedade e autoconfiança: análise das percepções dos árbitros de esportes de invasãoJonathan Ap. Macedo dos Santos / Denis Cristiano Briani / Gustavo Lima Isler

A importância do movimento na Educação Infantil de 0 a 3 anosNatalia Rodrigues / Andréia Nadai Carbinatto

A relação entre estresse infantil e desempenho escolarNathalia Karoline Proni / Elisabete Scaglia Trento

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A atuação do profissional de Educação Física em equipes multidisciplinares da Saúde Pública e PrivadaRafael Spiller Pacheco / Maria Cecília L. B. Soares

As famílias atendidas no loteamento MCMV Terras de Ajapi II: um estudo do territórioSabrina Guillen Gonçalves / Maria Aparecida Ribeiro Germek

Relatos de experiência de leitura do conto machadiano Idéias de Canário com mulheres aprisionadasValter Antonio Lourenção

Estratégias de diferenciação de micro e pequenas empresas: um estudo de caso de pequena amostra na cidade de Rio Claro para análise de estratégias de sobrevivência no mercadoAndressa Socolowski de Lima / Dafine Christie Baumgartner / Daniely Reis Garcia / Thais Cristina de Oliveira / Vanessa Santos Domingos / Eder Benedito Simonato

Política Editorial / Editorial Policy

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Editorial / Editor’s note

A Revista Ensaios & Diálogos, do Claretiano – Faculdade, está na sua nona edição e apresenta a possibilidade de conhecer diversos artigos de discentes, docentes e funcionários técnico-ad-ministrativos da Instituição.

Os artigos são expressão e resultado de uma coletânea de temas presentes em vários tipos de pesquisa, desde Trabalhos de Conclusão de Curso, resultados de Iniciação Científica, até artigos provenientes de dissertações de mestrado. Nesse sentido, mere-ce destaque o artigo do funcionário técnico-administrativo Valter Antônio Lourenção, intitulado “Relatos de Experiência de Leitura de Conto Machadiano Idéias de Canário com Mulheres Aprisio-nadas”, resultado de sua dissertação de mestrado na Unesp de Rio Claro e de um intenso trabalho social realizado no Centro de Res-socialização de Mulheres, do município de Rio Claro.

É importante ressaltar e reforçar ainda os demais artigos pro-venientes dos Cursos de Graduação oferecidos pelo Claretiano – Faculdade, sendo que este número da revista apresenta dois artigos do Curso de Graduação em Pedagogia – Licenciatura, um artigo do Curso de Graduação em Engenharia Elétrica – Bacharelado, dois artigos do Curso de Graduação em Serviço Social – Bacharelado, três artigos do Curso de Graduação em Educação Física – Bacha-relado, um artigo do Curso de Graduação em Ciências Contábeis – Bacharelado e um artigo do Curso de Graduação em Adminis-tração – Bacharelado. No total, são onze artigos que refletem uma pluralidade de temáticas provenientes de várias áreas do conheci-mento, mostrando o “rosto” de uma Instituição de Ensino Superior voltada também para a pesquisa, além de suas atividades de ensino e extensão.

A vida acadêmica se faz por meio da atuação de seus mem-bros e tem a educação como foco principal de suas ações. Por sua vez, a Faculdade, empenhada em oferecer uma educação de quali-dade, tem, em seu corpo docente, professores qualificados, acadê-

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mica e profissionalmente, com a devida competência para o exercí-cio do ensino. Mas, como dizia Paulo Freire, como todo professor também é um pesquisador, o Claretiano – Faculdade tem um corpo docente que não apenas ministra aulas, mas desenvolve a pesquisa como foco significativo de seu papel educacional. E essa menta-lidade é extensiva aos alunos e funcionários, fazendo-os compro-metidos não apenas com a transmissão do conhecimento, mas com seu processo de construção que, por sua vez, possibilita práticas inovadoras.

Assim, este novo número da Revista Ensaios & Diálogos vem confirmar o ideal da Instituição, que tem no seu Projeto Edu-cativo a missão de “capacitar a pessoa humana para o exercício profissional e para o compromisso com a vida, mediante uma for-mação integral. Esta missão se caracteriza pela investigação da ver-dade, pelo ensino e pela difusão da cultura, inspirada nos valores éticos e cristãos e no Carisma Claretiano que dão pleno significado à vida humana”.

Parabéns aos autores e atores desse processo de construção do conhecimento e que nos sintamos todos comprometidos com a realização da missão institucional, confiantes de que estamos no caminho certo para a formação de profissionais qualificados para inserção no mercado de trabalho e de cidadãos comprometidos com a formação integral da pessoa humana em suas dimensões corporal, psíquica e espiritual.

Prof. Dr. Sávio Carlos Desan ScopinhoDiretor Acadêmico

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Os efeitos da equoterapia no processo de ensino e aprendizagem de alunos com Síndrome de Down

Daniela FRANÇOIA1

Michelle Dayane REBUSTINI2

Viviane Regina Rigatto CUSTÓDIO3

Pablo Rodrigo GONÇALVES4

Resumo: Este trabalho objetiva verificar se existe relação entre a equoterapia e o processo de ensino e aprendizado dos alunos com Síndrome de Down, rela-cionando os resultados da modalidade terapêutica em junção com o processo de ensino. Consistiu em uma revisão bibliográfica, elaborada a partir de materiais já publicados, gerando conhecimentos para aplicação prática e proporcionando a compreensão dos efeitos. A equoterapia é uma modalidade terapêutica com uma abordagem interdisciplinar que proporciona ganhos no âmbito físico e psíquico, desenvolvendo globalmente o individuo praticante. O cavalo que para alguns é um simples animal, para outros é visto como possibilidades. A Equoterapia, conciliada com a escola de ensino regular, com a família e outras modalidades terapêuticas, contribui efetivamente para o desenvolvimento de crianças com Síndrome de Down, seja nas atividades escolares, como nas atividades cotidia-nas, tendo assim, uma melhora significativa nos aspectos psicológico, compor-tamental, social e motor.

Palavras-chave: Síndrome de Down. Equoterapia. Ensino e Aprendizagem.

1 Daniela Françoia. Aluna do curso de Licenciatura em Pedagogia do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.2 Michelle Dayane Rebustini. Aluna do curso de Licenciatura em Pedagogia do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.3 Viviane Regina Rigatto Custódio. Aluna do curso de Licenciatura em Pedagogia do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.4 Pablo Rodrigo Gonçalves. Graduado em Planejamento Administrativo e Programação Econômica, especialista em Gestão Escolar e mestre em Engenharia. É coordenador do Núcleo de Pesquisa e Iniciação Científica do Claretiano – Centro Universitário de Rio Claro (SP).

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1. INTRODUÇÃO

No cenário atual da educação, vivenciamos diariamente pro-cessos de inclusão dentro das instituições de ensino. Esses alunos muitas vezes necessitam de auxílios extracurriculares para desen-volverem suas potencialidades.

Atendimentos especializados como de fisioterapeutas, fono-audiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, psicopedagogas, entre outros, devem fazer parte da vida dos alunos com algum tipo de deficiência, auxiliando seu desenvolvimento global.

Para que resultados positivos sejam alcançados, é importante que haja uma parceria entre os profissionais especializados e as Instituições de ensino. O documento oficial Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (BRASIL, 2001, p. 50) afirma:

A inclusão de alunos com necessidades educacionais es-peciais em classes comuns do ensino regular, como meta das políticas de educação, exige interação constante entre professor da classe comum e os dos serviços de apoio pe-dagógico especializado, sob pena de alguns educandos não atingirem rendimento escolar satisfatório.

Nesse contexto, a equoterapia surge como uma das modalida-des terapêuticas que por meio de uma abordagem interdisciplinar, visa ao desenvolvimento global das crianças com alguma limita-ção, seja ela física ou intelectual. Segundo a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE – BRASIL, 2016b):

É um método terapêutico que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, edu-cação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicos-social de pessoas com deficiência e/ou com necessidades especiais.

Sendo assim, esta pesquisa, intitulada “Os efeitos da equote-rapia no processo de ensino e aprendizagem de alunos com Síndro-me de Down”, busca mostrar os resultados da modalidade equote-rápica e seus efeitos em crianças portadoras dessa síndrome.

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O problema central deste trabalho é identificar quais os efei-tos da prática da equoterapia no processo de ensino e aprendizagem desses alunos.

Acredita-se que, por meio dessa modalidade terapêutica, alu-nos com Síndrome de Down podem apresentar melhores resultados no processo de ensino e aprendizagem dentro de sala de aula.

A presente pesquisa justifica-se pelo fato de poder apresen-tar, em seus resultados, dados relevantes no ensino e aprendizado das crianças com Síndrome de Down que frequentam a modalidade terapêutica equoterápica. Em termos sociais, consideramos que as pessoas necessitam compreender que a relação dos indivíduos com os cavalos vai além das montarias a passeio. Para muitos é uma oportunidade de enxergar, ouvir, movimentar-se num mundo dife-rente, único.

O objetivo desta pesquisa foi verificar a relação entre a equo-terapia e o desenvolvimento dos alunos com Síndrome de Down no processo de ensino e aprendizagem, relacionando os resultados da modalidade terapêutica em junção com o processo de ensino.

A metodologia foi de natureza aplicada, que objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática e dirigidos à compreensão dos efeitos da equoterapia no processo de ensino e aprendizagem de alunos com Síndrome de Down.

O estudo é de caráter exploratório, e visa proporcionar maior familiaridade com a questão do efeito da equoterapia no processo de ensino e aprendizagem das crianças com Síndrome de Down. Envolve o levantamento bibliográfico.

No ponto de vista dos procedimentos técnicos, este estudo foi bibliográfico, elaborado a partir de material já publicado, constitu-ído principalmente de livros, artigos, periódicos e atualmente com o material disponibilizado na internet.

Este artigo apresentará a definição da Síndrome de Down; da Equoterapia; e identificará a relação existente entre a equoterapia e o processo de ensino e aprendizado dos alunos com Síndrome de Down.

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2. A ÚNICA DIFERENÇA É MEU CROMOSSOMO 21

Os primeiros registros na História sobre a Síndrome de Down foram feitos entre 1864 e 1866, pelo médico inglês Langdon Haydon Down. Ele analisou e observou várias crianças de mães com idade acima de 35 anos que possuíam características similares entre si. O termo mongoloide, usado pelo médico para descrever os indivíduos com a Síndrome de Down, surge pelo fato de que o mes-mo observou que esses “pacientes” eram parecidos com as pessoas que viviam na Mongolian do Blumenbach.

Após esses registros, os portadores dessa síndrome começa-ram a ser nomeados como “seres inacabados”, que surgiam a partir de outras doenças, como a sífilis e a tuberculose. Eram rejeitados pela sociedade, afastados das cidades e muitas vezes mortos (OLI-VEIRA; GOMES, 2010).

Apenas em 1959, Jerome Lejeune e Patricia Jacobs determi-naram que as causas da Síndrome de Down surgiam a partir da trissomia do cromossomo 21, que, segundo Bautista5 (1997, p. 10 apud TORRES, 2012), ocorre da seguinte forma:

No momento da fecundação, os 46 cromossomas unem-se para a formação da nova célula, e a criança normal recebe 23 pares específicos de cromossomas. O óvulo fecundado com esta única célula cresce por divisão celular. No caso da criança com síndrome de Down, ocorre um erro nesta distribuição e, em vez de 46, as células recebem 47 cro-mossomas. O elemento suplementar une-se ao par 21. É por esta razão que esta síndrome é também determinada de trissomia 21.

Em 1970, nos Estados Unidos, o termo mongolismo foi ba-nido, e a alteração dos cromossomos foi denominada Síndrome de Down, em homenagem ao médico que a descreveu pela primeira vez, Langdon Haydon Down.

A partir das últimas décadas do século XX, vivenciamos o período das discussões dos direitos das crianças e dos adolescentes, segundo os quais toda criança, independente de seu sexo, cor, re-ligião, cultura, deficiência mental ou física, tem direito de receber 5 BAUTISTA, R. Necessidades Educativas Especiais. Lisboa: Dinalivro, 1997. (Coleção Saber Mais).

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atendimento médico e educacional (OLIVEIRA; GOMES, 2010). É assim que as crianças com Síndrome de Down se encontram hoje, recebendo todo o apoio e muitos próximos de alcançar um desen-volvimento tido como “normal” aos de crianças sem SD. Segundo o Movimento Down (2016), o indivíduo com SD:

É capaz de sentir, amar, aprender, se divertir e trabalhar. Poderá ler e escrever deverá ir à escola como qualquer ou-tra criança e levar uma vida autônoma. Em resumo, ele poderá ocupar um lugar próprio e digno na sociedade.

Diante desses dados, é necessário compreender que a Síndro-me de Down não possui relação com os fatores externos vindo dos pais. Os mesmos não possuem culpa nessa formação “desigual”, e não há nada que os dois poderiam ter feito para evitá-la. Além disso, a SD não é uma doença e sim uma formação diferente nos cromossomos.

Percebe-se que os indivíduos portadores dessa Síndrome possuem características em comum. Segundo Gesell e Amatruda (19906, p. 8 apud ALBUQUERQUE; RUBIO, 2014), eles possuem:

Baixa estatura, crânio pequeno, arredondado; o cabelo é ralo e grosso; a língua é grande e com fissuras aparecendo através da abertura da boca; o nariz é curto e largo; as mãos são grandes e gordas, o quinto dedo sendo particu-larmente pequeno e, em geral, curvo. Os ligamentos arti-culares são frouxos e os músculos, hipotônicos, dando as articulações uma mobilidade incomum.

Porém, é preciso lembrar que essas crianças, jovens e adultos, apesar de apresentarem semelhanças entre si, possuem personalida-des e características únicas.

É direito previsto na Constituição Federal que todos os indi-víduos portadores de alguma necessidade especial possam frequen-tar às instituições escolares. “Segundo a referida lei Título VIII, da Ordem Social, Artigo 208: III – Atendimento educacional espe-cializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino” (BRASIL, 2001).

6 GESELL, A.; AMATRUDA, C. S. Diagnósticos do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Atheneu, Janeiro, 1990.

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Dessa maneira, os profissionais da área educacional devem estar atentos às dificuldades, potencialidades e características apre-sentadas por cada deficiência, e por cada indivíduo. No caso da SD, é preciso considerar atraso no desenvolvimento da linguagem, me-nor reconhecimento das regras gramaticais, dificuldade na produ-ção da fala, vocabulário reduzido, memória auditiva de curto prazo mais breve e dificuldade em utilizar o recurso da linguagem para pensar, raciocinar e lembrar-se das informações (CENTRO SALE-SIANO DE FORMAÇÃO, 2016).

Todavia, é indispensável lembrar que as crianças com SD possuem um potencial muito grande para se desenvolverem “natu-ralmente”, porém necessitam de uma estimulação mais precoce, de mais tempo com a família e do trabalho de especialistas que possam orientar nesse processo. Segundo o Movimento Down (2016):

Uma boa estimulação realizada nos primeiros anos de vida pode ser determinante para a aquisição de capacidades em diversos aspectos, como desenvolvimento motor, comuni-cação e cognição. Estimular é ensinar, motivar, aproveitar objetos e situações e transformando-os em conhecimento e aprendizagem. É levar a criança, através da brincadeira, a aprender sempre mais. Pode parecer complicado, mas não é: basta acreditar que o bebê vai aprender e ter vontade de ensinar.

Essa estimulação pode ser feita por profissionais com for-mação em fonoaudiologia, fisioterapia e terapias ocupacionais e é extremamente importante, pois eles analisam e criam recursos para ajudar nas áreas em que a criança está com maiores dificulda-des para se desenvolver, tanto em relação aos conteúdos escolares, quanto às atividades de vida diária. Além dos profissionais já cita-dos, as pessoas portadoras da SD ainda podem contar com o auxílio da equoterapia, que procura completar o trabalho dos especialistas e contribuir na formação desse indivíduo.

Sendo assim, todos os portadores dessa síndrome têm plena capacidade de se desenvolver e possuir independência. Atualmen-te encontramos muitas pessoas com SD que já moram sozinhas e conseguem realizar todos os afazeres cotidianos. É importante que

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todos consigam alcançar essa autoconfiança, apesar dessa conquis-ta ser trabalhosa, é possível e necessária (KOZMA, 2016).

3. PARA ALGUNS SOU APENAS UM CAVALO, PARA OUTROS, SOU A POSSIBILIDADE DE SE MOVI-MENTAR NUM MUNDO DIFERENTE, ÚNICO

Vivemos num mundo onde, por meio das transformações, a sociedade aprendeu a lidar com as diferenças existentes. As limi-tações que as crianças com Síndrome de Down apresentam podem ser trabalhadas, desenvolvidas e até mesmo superadas por meio de um simples animal, o cavalo.

A utilização desse animal surgiu na antiguidade como um meio terapêutico e só entrou definitivamente na área da reabilita-ção na Segunda Guerra Mundial, quando os soldados debilitados demonstraram resultados satisfatórios com esse método. Com isso passaram a existir outros centros terapêuticos na Alemanha, França e Inglaterra (MEDEIROS; DIAS, 2002).

No Brasil, surgiu por meio da Associação Nacional de Equo-terapia Ande-Brasil em meados dos anos 80, oferecendo por meio de um animal, condições para melhorar a qualidade de vida de pes-soas com deficiência ou necessidades especiais.

Segundo a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE –BRASIL, 2016a):

A palavra EQUOTERAPIA foi criada pela ANDE-BRA-SIL, para caracterizar todas as práticas que utilizem o cavalo com técnicas de equitação e atividades equestres, objetivando a reabilitação e a educação de pessoas com deficiência ou com necessidades especiais.

Essa modalidade terapêutica utiliza-se de uma abordagem in-terdisciplinar, ou seja, existe um trabalho em conjunto com saúde, educação e equitação. A equipe pode ser formada por fisioterapeu-tas, fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, psicope-dagogos, entre outros profissionais que contribuem para o desen-volvimento global do indivíduo.

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A prática equestre tem como agente promotor o cavalo, que, por meio das diferentes andaduras, proporciona ganhos no âmbito físico e psíquico. Com isso, é necessário se atentar para as caracte-rísticas do animal, devendo ter os movimentos tridimensionais re-gulares, uma estatura baixa, ser treinado para realizar as atividades propostas, manso e dócil.

Com o intuito de realizar as sessões de equoterapia, é neces-sário que os profissionais envolvidos tracem um plano terapêutico para cada paciente, o qual será sempre reavaliado para atender as necessidades de cada um (MEDEIROS; DIAS, 2002).

Para ocorrer a montaria no cavalo, existe todo um ritual a ser feito com a criança. No início, algumas crianças apresentam certo receio, medo de aproximar-se do animal. Para diminuir essa distância, é necessário criar um enlace afetivo. As atividades in-cluem desde mostrar os materiais utilizados, alimentar o cavalo, até a limpeza e encilhagem, ou seja, preparar o cavalo para a montaria.

Feito isso, vem a segunda etapa, em que a criança passa a su-bir no dorso do animal e realizar todas as atividades propostas. Para alguns, cavalgar pode ser apenas um passatempo, mas para outros é uma forma de sentir como é andar, pois o cavalo realiza ciclos de movimentos idênticos ao homem.

Esses movimentos são chamados de tridimensionais, mais conhecidos como passo, trote e galope. Cada tipo de movimento e de velocidade de andadura contribui para a estimulação dos siste-mas vestibular, somatossensorial, proprioceptivo, visual e auditivo ao paciente.

Com isso a criança observa um mundo completamente di-ferente do habitual, visto que é uma terapia cinética, tanto a visão como a audição se modificam de acordo com os movimentos pro-postos.

Segundo a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE –BRASIL, 2016b):

A Equoterapia emprega o cavalo como agente promotor de ganhos a nível físico e psíquico. Esta atividade exige a participação do corpo inteiro, contribuindo, assim, para

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o desenvolvimento da força muscular, relaxamento, cons-cientização do próprio corpo e aperfeiçoamento da coorde-nação motora e do equilíbrio.

A interação com o cavalo, incluindo os primeiros contatos, os cuidados preliminares, o ato de montar e o manuseio final desenvolvem, ainda, novas formas de socialização, autoconfiança e auto-estima.

A terceira etapa é a separação da criança do animal. São de-senvolvidas atividades conclusivas com elas, tais como desencilhar o animal, dar banho, manejá-los até a baia, entre outros.

É importante que sejam realizadas essas três etapas para que a criança possa compreender começo, meio e fim da sessão.

Segundo Medeiros e Dias (2002):A equoterapia deve ser desenvolvida como tratamento de suporte, não substituindo o convencional, sendo elegível somente uma vez por semana, a não ser em casos específi-cos de saturação aos tratamentos realizados, observando--se de acordo com a necessidade, qual o numero de sessões a serem indicadas.

Pela utilização de um simples animal, é proporcionada uma terapia na qual se desenvolve o indivíduo globalmente de forma prazerosa e significativa. Crianças com Síndrome de Down apre-sentam algumas limitações, sejam elas físicas e psíquicas. Tendo essa modalidade inserida como um tratamento de suporte, contri-buirá positivamente para o seu desenvolvimento, superando suas limitações e melhorando, assim, sua qualidade de vida.

4. A EQUOTERAPIA E O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM: UM CAMINHO DE PASSOS LEN-TOS, MAS COM GRANDES VITÓRIAS

No atual cenário da educação brasileira, vivenciamos diaria-mente novas modalidades terapêuticas que auxiliam no trabalho dos profissionais da educação. Esses novos procedimentos vêm para acrescentar positivamente no processo de ensino e aprendiza-gem de crianças com qualquer tipo de deficiência dentro da sala de

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aula. É necessário lembrar que esse processo só resultará positiva-mente, quando existir a inter-relação entre todos os profissionais.

Nesse âmbito, a relação entre a equoterapia e o processo de ensino e aprendizagem vem sendo confirmada pelas pesquisas de Boucherville (2007):

As crianças com problemas de aprendizagem através da equoterapia apresentam excelentes resultados, pois a práti-ca eleva a auto-estima, melhora a concentração e a postura dos pequenos praticantes em relação aos atos.

O tratamento utilizando o cavalo é feito de forma lúdica, di-ferente e prazerosa, oferecendo assim possibilidades maiores e me-lhores ao desenvolvimento desses alunos, do que os tratamentos clínicos em ambientes fechados.

Todo o praticante durante a sessão equoterápica deve ser esti-mulado pelo profissional, podendo perceber algumas necessidades momentâneas, por exemplo, física, afetiva, que deverá ser trabalha-da naquele momento, sendo muitas vezes preciso usar a criativida-de para mudar o contexto que seria trabalhado.

O praticante com Síndrome de Down se dispersa facilmente e, sendo assim, a sessão equoterápica é realizada com um ser vivo fundamental para a prática, que, no caso, é o cavalo, e outro ser vivo, que é o praticante. Diante dessa situação, Alves (2003) res-salta os estímulos que ambas as partes fazem entre si, sendo que o cavalo responde por alguns meios, como mexer o rabo, erguer as orelhas, expirar, relinchar, entre outros; diante desses estímulos o praticante que está montado, de uma forma ou de outra, transmite a resposta.

De acordo com Pick e Vayer7 (1969 apud SELAU; FURINI, 2002):

Os estímulos ambientais atuam como ativadores para o de-senvolvimento do potencial, assim entendemos enquanto princípios básicos da Equoterapia, o convívio social, a es-timulação continuada, o atendimento individualizado e a colaboração do cavalo visto aqui como “material” palpável em três dimensões (altura, profundidade e largura), fugi-

7 PICK, L.; VAYER, P. Educación psicomotriz y retraso mental. Barcelona: Científico-Médica, 1969.

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mos das ações comuns de sala de aula, das simulações e nos inserimos na natureza, rica em trocas, oportunidades.

As crianças com problemas de aprendizagem que praticam a equoterapia apresentam inúmeros resultados significativos, como, por exemplo: elevação da autoestima, melhora na concentração, melhora na postura, melhora nos problemas psicológicos e sociais, melhora na coordenação motora, melhora no seu cognitivo, melho-ra em demonstrar a afetividade, entre muitos outros (BOUCHER-VILLE, 2007).

A equoterapia aliada à pedagogia torna-se uma ferramenta poderosa no ensino regular, pois o educador pode desenvolver suas atividades diárias de uma forma mais lúdica. Sendo assim, é neces-sário trocar experiências entre a equipe de equoterapia e a equipe interdisciplinar da escola.

Lourenço e Paiva8 (2010 apud BASTANI; TRAVASSOS, 2016, p. 18) salienta que:

A motivação no processo escolar de ensino-aprendizagem e afirmam que, motivado e entusiasmado, o aluno busca novos conhecimentos e oportunidades, revela disposição na participação de tarefas e envolve-se no processo de aprendizagem devido ao pensar correto e agir do educador.

Prestar atenção nas atividades escolares é de suma importân-cia para um desenvolvimento pleno, juntamente com as necessida-des e interesses de cada aluno.

Cabe-nos uma reflexão: A equoterapia pode ajudar na ação pedagógica?

Severo9 (2006, p. 143 apud BRITO, 2013, p. 10) afirma que:Para se entender os benefícios psicomotores da equote-rapia no ser humano e principalmente, na criança, há ne-cessidade de se estabelecer, à priori, que o ser humano é um produto filogenético, ontogenético e cultural, sendo o sistema nervoso, os estados psicológicos e as situações sociais, os grandes responsáveis pelas aquisições da apren-

8 LORENÇO; PAIVA, D. E. Neurociência fundamental: com aplicações básicas e clínicas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.9 SEVERO, J. T. A equoterapia pode ajudar na ação pedagógica? In: BRITO, M. C. G. Minha Caminhada II – Equoterapia: cavalgar é preciso. 2. ed. Salvador: SMG Gráfica, 2006.

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dizagem e dos desempenhos comportamentais. Em segun-do lugar, há necessidade de se entender que o desenvolvi-mento psicomotor antecede o desenvolvimento cognitivo e emotivo... Educar é ajudar o ser humano com os princípios e os fundamentos do ensino e da aprendizagem, informal e formal, na família e na sociedade, a transformar-se pelo crescimento e pelo desenvolvimento biopsicossocial em um cidadão com liberdade, felicidade e paz.

Acreditar na potencialidade de cada indivíduo é o que nos torna diferente do que a sociedade nos impõe. Acreditar que todos são capazes, mesmo com suas dificuldades e limitações. Shkedi (1997 apud SPITZ, 2016) afirma que:

As habilidades escolares básicas referem-se à linguagem e ao pensamento. Montar a cavalo auxilia na aquisição des-sas habilidades e na elaboração de pensamento coerente, as quais requerem o uso de ambos os hemisférios cere-brais. É a motivação para cavalgar que estimula a criança a progredir com ordens e seqüências espaciais e temporais. Ou seja, montar ajuda a criança que apresenta dificuldades de aprendizagem.

A professora Isone10 (1996 apud STORER; OLIVEIRA; TU-PAN, 2003) afirma que a equoterapia facilita a organização do es-quema corporal; facilita a aquisição do esquema espacial; desenvol-ve a estrutura temporal; aguça o raciocínio e o sentido de realidade; desperta uma profunda comunhão criança-realidade; proporciona e facilita a aprendizagem da leitura, da escrita e do raciocínio mate-mático; aumenta a cooperação e a solidariedade; minimiza os dis-túrbios comportamentais; promove a autoestima, a autoimagem e a segurança; facilita e acelera os processos de aprendizagem.

Sendo assim, o cavalo é um ativador de atenção, intenção e iniciativa, tanto para os alunos quanto para a equipe. A Equotera-pia, juntamente com o processo de ensino e aprendizagem, torna-se equilibrado, melhorando a autoestima e tornando-se prazeroso o meio em que estes estão inseridos.

A inclusão de crianças portadoras de alguma deficiência físi-ca ou cognitiva e/ou Síndrome de Down no contexto escolar não é veloz, tornando-se, assim, um grande desafio para o educador.10 ISONE, T. C. Anais da ANDE-BRASIL. Brasil, 1996.

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Sendo assim, toda criança tem o direito à educação nas esco-las regulares, seguindo uma orientação inclusiva que seja capaz de suprimir atitudes discriminatórias, mudando a sociedade, tornando--a inclusiva, sem discriminações, favorecendo uma educação ade-quada a todas as crianças, com deficiência ou não.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na hipótese apresentada neste trabalho, constatou--se que o cavalo, um animal comum, que em sua maioria é criado para trabalhos rurais, ou apenas para a diversão em passeios turís-ticos, pode ser utilizado para o desenvolvimento de crianças com diversas deficiências e/ou adultos que sofreram algum tipo de aci-dente físico ou psíquico.

Dessa forma, o cavalo e o ambiente são estimuladores para que os alunos tenham uma vida melhor, conseguindo desenvolver sua coordenação motora, seu raciocínio e sua fala.

Já no caso das crianças com Síndrome de Down, o cavalo vem como um incentivo, tanto nas atividades escolares, quanto nas atividades cotidianas.

Em suas moradas, comprovou-se que, com a ajuda da família, é possível o desenvolvimento pleno dessas crianças, tanto para de-monstrar sua afetividade quanto para desenvolver ativamente suas atividades diárias.

No ambiente escolar, a equoterapia auxilia na postura, no cognitivo, no equilíbrio, na concentração, na socialização e princi-palmente na coordenação motora, seja ela grossa ou fina. No dia a dia, as crianças com Síndrome de Down necessitam de muita esti-mulação para que adquiram a autoconfiança e autonomia. O cavalo torna-se um agente promotor, quando realizadas as atividades na equoterapia, trazendo em seu dorso uma carga de novas emoções e realizações de um mundo inexistente.

Sendo assim, comprovou-se que a Equoterapia, conciliada com a escola de ensino regular, com o estímulo da família e outras modalidades terapêuticas, contribui para o desenvolvimento das

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crianças com Síndrome de Down e colabora para a aquisição de uma vida plena, segura e autônoma.

Eu vi uma criança que não podia andar. Sobre um cavalo, cavalgava por prados floridos que não conhecia. Eu vi uma criança sem força em seus braços. Sobre um cavalo, o con-duzia por lugares nunca imaginados. Eu vi uma criança que não podia enxergar. Sobre um cavalo, galopava rin-do do meu espanto, com o vento em seu rosto. Eu vi uma criança renascer, tomar em suas mãos as rédeas da vida e, sem poder falar, com seu sorriso dizer: “Obrigado Deus, por me mostrar o caminho” (DAVIES, 2009).

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Avaliação de Desempenho por meio do Seis Sigma na visão da Contabilidade Gerencial

Emerson Roberto VICENTE1

Resumo: As empresas, para se tornarem sólidas, ou até mesmo para conseguirem se manter no mercado em que estão inseridas, precisam de informações seguras e em tempo hábil para tomada de decisões. Para que essas informações cheguem de forma correta para seus administradores, são necessárias a estruturação de processos e a definição de normas e procedimentos sobre as atividades de cada departamento da empresa, de forma que todas as operações sejam canalizadas para a área da contabilidade gerencial. Diante do cenário altamente competitivo em que as empresas estão inseridas, as informações passam a ser um diferen-cial de grande importância para auxiliar nas estratégias e no norteamento das empresas, principalmente para medir a satisfação de seus clientes e o custo das atividades operacionais, entretanto sabemos que muitas empresas não adotam ferramentas eficazes de gestão, por falta de entendimento ou até mesmo por falta de interesse, o que pode impactar de forma negativa nos resultados dessas empre-sas. Uma forma de auxiliar na busca pelos resultados seria a implementação do programa Seis Sigma em conjunto com a contabilidade gerencial das empresas. O objetivo deste artigo é mostrar, por meio da revisão da literatura, o impacto positivo da implementação de controles baseados no Seis Sigma atrelados à con-tabilidade gerencial.

Palavras-chave: Seis Sigma. Gestão Estratégica. Tomada de Decisões. Conta-bilidade Gerencial.

1 Emerson Roberto Vicente. Graduado em Ciências Contábeis Claretiano – Centro Universitário (2008). Atualmente atua como professor universitário e consultor financeiro. E-mail: <[email protected]>.

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1. INTRODUÇÃO

As instituições empresariais têm se mostrado despertas para uma realidade econômica e financeira, diferentemente de que ocorria tempos atrás, e com isso passaram a refletir sobre suas es-tratégias empresariais relacionadas à forma de condução de seus processos, organização das informações e entendimento sobre as expectativas de seus clientes.

Diante desse novo cenário econômico, novas estratégias e métodos de controle e análise gerencial, que outrora eram ultra-passados, precisam ser revistos como diferencial de mercado, pois as instituições empresariais só conseguem tomar decisões quando estão de posse de informações confiáveis e tempestivas.

As instituições empresariais precisam alterar suas estratégias e a condução das informações, para que possam se enquadrar a essa nova realidade de competitividade e ao cenário econômico que es-tamos vivendo nos últimos anos.

As transformações que vêm ocorrendo em diferentes aspec-tos sociais e econômicos acabam contribuindo de forma direta no resultado financeiro das empresas, gerando uma grande instabilida-de financeira e preocupação por parte dos empresários e pessoas re-lacionadas diretamente com as empresas, ainda que as instituições empresariais tenham seus valores claramente definidos, para po-derem alcançar a eficiência em seus processos e se tornarem mais competitivas no mercado em que estão inseridas.

A revisão teórica a seguir aborda os temas relacionados ao Seis Sigma e controles gerenciais, visando demonstrar os possí-veis resultados que essas ferramentas podem agregar aos processos gerenciais de controle e consequentemente auxiliar de forma nos resultados.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Quando as empresas não se preocupam com seus controles internos, deixam de ter informações preciosas, e perdem totalmen-

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te seu referencial de qualidade e possibilidades de visualização de possíveis problemas. Por meio da implementação do programa Seis Sigma, as empresas poderão medir o resultado de seus processos, e visualizar de forma antecipada possíveis problemas que possam vir a ocorrer, e corrigi-los antecipadamente, evitando retrabalho, perdas financeiras e contribuindo com a redução dos custos opera-cionais de suas atividades.

Importância da estruturação de processos

O objetivo principal do programa Seis Sigma é organizar os processos relacionados às atividades da empresa, e contribuir na agregação de valores para seus produtos e serviços, por meio de métricas estatísticas que deverão ser implementadas e acompanha-das em todos os processos. Com os processos das atividades da empresa organizados, será possível avaliarmos onde, de fato, estão ocorrendo os problemas e se é necessário tomarmos as ações corre-tivas relacionadas ao problema encontrado.

Qualidade das informações por meio da implementação do progra-ma Seis Sigma

O Programa Seis Sigma se concentra na melhoria da qualida-de – por exemplo, na redução de custo e no desperdício nos proces-sos –, ao ajudar as organizações a produzir de forma melhor, mais rápida e mais econômica.

De acordo com Bravo (2013), é amplamente recomendado que se utilize novas metodologias e técnicas, para que possamos administrar cada etapa da evolução que estamos vivendo, relacio-nadas as novas exigências de qualidade buscada pelos clientes.

Segundo Carpinetti (2008), a valorização da visão sistêmica e de processos, como fontes de informações e controle, levou as empresas a migrarem para um novo formato de controle e adminis-tração de suas atividades.

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Avaliação de desempenho por meio dos indicadores gerenciaisPor meio dos controles implementados e organizados pelo

programa Seis Sigma, muitos indicadores de resultados serão gera-dos, e poderão fazer parte do grupo de análise gerencial estruturado pela área de controladoria, que deverá contribuir de forma positiva nas decisões estratégicas das empresas.

A área de controladoria tem a responsabilidade de desenvol-ver regras e procedimentos internos, visando sempre à canalização das informações para apoio nas decisões estratégicas, entretanto, se esse trabalho for realizado em conjunto com o programa Seis Sigma, a eficiência desses controles será mais eficaz, e o nível de informação poderá contribuir de forma mais produtiva nos direcio-namentos estratégicos da empresa.

Importância dos controles gerenciaisCom o significativo aumento de competitividade, devido à

globalização e aos mercados, sejam eles industriais, comerciais ou de serviços, os custos tornando-se altamente relevantes quando da tomada de decisões em uma empresa, porque, quanto menor o cus-to, melhor será o preço de venda para o consumidor, não deixando de lado a qualidade.

O conhecimento dos custos do produto é vital para saber se poderá ou não ser rentável com base nos preços praticados nas vendas e também analisar a possibilidade de reduzi-los.Com base nisso, podemos afirmar que a Contabilidade Gerencial, juntamente com o Departamento de qualidade das empresas, vem desenvolven-do sistemas de informações que permitam melhor gerenciamento de custos, com informações rápidas e confiáveis.

Dentre as vantagens da implementação do programa Seis Sig-ma em parceria com a controladoria das empresas, podemos citar:

• melhoria contínua dos processos;• interação das pessoas;• retorno financeiro;• análise gerencial;

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• manutenção preventiva de possíveis problemas;• competitividade;• redução de custos operacionais;• aumento da qualidade;• satisfação dos clientes.

Estratégias da Contabilidade Gerencial X Seis SigmaQualquer melhoria de processos ou formatação de sistemas

de controle e indicadores gerenciais deverá ser estabelecida pelo nível estratégico das empresas, pois são os gestores que deverão estabelecer o nível de informação que esperam e o resultado que esses indicadores deverão oferecer, visando sempre aos objetivos esperados pela empresa.

Na elaboração desses controles, deverão ser analisados alguns pontos de extrema relevância, como, por exemplo a estrutura orga-nizacional, a capacidade intelectual e o nível de comprometimento dos envolvidos.

Nesse processo de formatação de sistema e controle de indi-cadores, a Contabilidade Gerencial, por meio da controladoria, terá uma atuação bem ativa, pois deverá trabalhar em conjunto com a área da qualidade na elaboração desses controles, fornecendo dados relevantes para canalização dessas informações para o nível estra-tégico.

Para Marion (2009), a Contabilidade passa a ser um instru-mento de gerenciamento atuante e poderoso, provendo seus usuá-rios com relatórios e análises de natureza econômica, financeira, física e de produtividade, de tal forma que as metas definidas no planejamento estratégico possam ser constantemente reavaliadas e, enfim, obtidas.

Definição dos itens de avaliaçãoAs empresas devem se certificar de que os itens de autoava-

liação proposto pelo nível estratégico não tenham efeitos colaterais. Se isso acontecer, será necessário mudar esses itens de autoavalia-

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ção, procurando outros que não tenham tais efeitos, ou então de-senvolver uma estratégia para sanar esses efeitos. Para que esses efeitos colaterais sejam minimizados, é de extrema importância que se reúna o maior número de sugestões possíveis e avaliar a possibi-lidade de executar um procedimento de teste muito bem elaborado antes de trabalhar com esses indicadores em base de produção.

Os levantamentos das causas que influenciam no processo vão determinar o sucesso da implementação desses indicadores. Nesse levantamento, o que precisa ficar claro são algumas questões importantes relativas a essa etapa, tais como:

• o que é a atividade;• quem são os executores das atividades;• quando será feita a atividade de planejamento, execução,

verificação e atuação;• quanto custa;• por que a atividade é necessária;• nível intelectual dos envolvidos no programa.Se os indicadores não forem muito bem trabalhados, pode-

rão gerar vários complicadores para a empresa; por isso, é muito importante que o nível estratégico tenha claramente seus objetivos definidos e, em contrapartida, faz-se necessária uma análise bem criteriosa sobre a eficácia desses indicadores nos processos, pois devem visar sempre à eficiência e maximização das atividades re-lacionadas a esses controles.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O programa Seis Sigma, alinhado à controladoria das empre-sas, se torna uma ferramenta de extrema importância na geração de indicadores gerenciais, que poderão ser utilizados como base nas tomadas de decisões estratégicas das empresas, tornando-as mais competitivas no mercado em que estão inseridas. Por meio desses indicadores, as empresas poderão ter em mãos um diagnóstico pre-ciso da real situação em que se encontrão seus processos e tomar as

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medidas necessárias para correção de problemas. O programa Seis Sigma é mais que uma metodologia da qualidade, é uma importante ferramenta de planejamento, comunicação e documentação do de-senvolvimento de novos produtos e melhoria, que auxilia a redução de custos e garante a melhoria da qualidade, tornando as empresas mais competitivas no mercado em que estão inseridas.

REFERÊNCIAS

BRAVO, I. Gestão da qualidade em tempo de mudanças. Campinas: Alínea, 2013.

CARPINETTI, L. C. Gestão da qualidade. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

MARION, J. C. Contabilidade empresarial. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

PADOVEZE, C. L. Contabilidade gerencial: um enfoque em sistema de informação contábil. São Paulo: Atlas, 2009.

TOLEDO, J. C. Qualidade: gestão e métodos. São Paulo: LTC, 2013.

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Instalação elétrica otimizada para a Construção Civil

Ewerton Luiz DUARTE1

Júlio César BELLAN2

Resumo: Com os programas do Governo Federal como Programa de Aceleração do Crescimento e Programa Minha Casa, Minha Vida, muitas pessoas consegui-ram adquirir imóvel próprio, aumentando a procura pelos mesmos. Dessa forma, as Construtoras necessitam trabalhar com produtos que agreguem valor em um menor espaço de tempo. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é conhecer o desenvolvimento e o processo de fabricação, entendendo o método construtivo da Rede Elétrica Otimizada, a qual veio para garantir a diminuição de tempo na entrega de residências, já que a mesma é produzida industrialmente, gerando redução de tempo, de desperdício de materiais e de mão de obra especializada, além do fato de que é testada em mesa de montagem (linha de produção), o que garante um produto de qualidade.

Palavras-chave: Linha de Produção. Programa Minha Casa, Minha Vida. Rede Elétrica.

1 Ewerton Luiz Duarte. Gradruado em Engenheira Elétrica pelo Claretiano – Centro Universitário, atua como engenheiro trainee na área de pesquisa e desenvolvimento de produtos voltados para a Construção Civil. E-mail: <[email protected]>.2 Júlio César Bellan. Graduado em Engenharia Elétrica pela Faculdades Integradas Einstein Limeira (2000) e com Especialização em Proteção de Sistemas Elétricos pela Universidade Federal de Itajubá (2010). Tem experiência na área de Engenharia Elétrica, com ênfase em Sistemas Elétricos de Potência. E-mail: <[email protected]>.

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1. INTRODUÇÃO

Em 2010, foi criado no Brasil o Programa de Aceleração do Crescimento, que visava beneficiar a população de baixa e média renda por meio de medidas econômicas, entre elas, o estímulo ao crédito e ao financiamento (BRASIL, 2010).

O estímulo de crédito imobiliário, por meio do Programa Mi-nha Casa, Minha Vida, do Governo Federal, permitiu que grande parte da população adquirisse sua tão sonhada casa própria. O Pro-grama citado atende a população com 3 faixas de renda mensal, e tem como meta principal reduzir o déficit habitacional, com inicial-mente (em 2010) a construção de 2 milhões de habitações, 60% das mesmas voltadas a famílias da faixa 1. Em 2010, já havia atingido a meta inicial de 1 milhão de contratações (BRASIL, 2011).

Dessa forma, a Construção Civil tem crescido de forma ace-lerada no país e, para atender a alta demanda de habitações popula-res, o governo necessita de rapidez, qualidade e redução de custos, fazendo com que a indústria da construção civil adote o sistema Just in time, em que as peças chegam prontas para instalação, ga-rantindo padrão de qualidade, reduzindo custos e tempo de produ-ção (GHINATO, 2000).

No Brasil, para Teixeira e Carvalho (2005), o setor da cons-trução civil, em 2003, participou com 7,23% para a formação do PIB nacional e movimentou mais de R$100 bilhões, descontados os impostos indiretos líquidos e as margens de transporte e comer-cialização.

Algumas indústrias enxergaram o sistema de “Chicote Elé-trico” industrializado como uma oportunidade de negócio na cons-trução civil. Diversos itens, como cercas elétricas, sistemas de cir-cuitos fechados de TV, alarmes, portarias eletrônicas, cabeamento de rede, além do chicote elétrico para residências e apartamentos, tudo dentro de um novo conceito inovador, em que as construto-ras podem comprar peças, que serão entregues no próprio canteiro de obras. O sistema, que é padronizado, consiste na elaboração da tubulação e de todo o circuito elétrico do imóvel, além da identifi-cação exata de cada ponto sem depender de mão de obra específica

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para a montagem do mesmo na obra (JORNAL ESTADO DE MI-NAS, 2011).

O chicote elétrico residencial, lançado em meados de 2010 por uma empresa no interior de São Paulo (IMPRESA DA PRE-FEITURA MUNICIPAL DE RIO CLARO, 2011), trata-se de um kit formado por cabos, tomadas, interruptores e disjuntores, que já sai da fábrica embalado pronto para ser instalado nos imóveis. Além do padrão de qualidade, esse produto assegura às constru-toras ganho de velocidade, redução da mão de obra e de custos que pode chegar a 30%. Com o chicote elétrico é possível admi-nistrar toda a logística da instalação elétrica com apenas uma ou duas pessoas, enquanto, na instalação convencional, via aquisição de equipamentos e peças em separado, pode-se demandar até 30 trabalhadores segundo empresa do ramo (ROCHA, 2013).

Portanto, o objetivo deste trabalho é conhecer o desenvolvi-mento e o processo de fabricação das redes elétricas industrializa-das para construção civil dentro das normas técnicas brasileiras, verificando a necessidade do cliente quanto à rede elétrica indus-trializada, entendendo o método construtivo do cliente e desenvol-vendo o processo do projeto elétrico industrializado, sempre utili-zando as condições mínimas exigidas por normas técnicas.

Assim, por meio de pesquisa de campo, foram colhidas as respostas de usuários da Rede Elétrica Otimizada para um questio-nário com 5 questões, a fim de entender quais os maiores motivos que levam os mesmos a adquirirem o produto.

2. JUSTIFICATIVA, PROBLEMA E HIPÓTESE

Após o autor trabalhar em empresa do ramo e, tendo em vista a importância do assunto para a área da Engenharia Elétrica e Civil, observou-se a relevância da produção industrializada em massa de redes elétricas para a Construção Civil, possibilitando vantagens na relação Custo versus Benefício.

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O problema desse método é a aceitabilidade do cliente quanto aos modernos métodos de instalação, frente ao tradicional, princi-palmente por parte dos instaladores, já que terão que mudar hábitos.

Portanto, se o cliente apresentar resistência à aceitação, o mesmo, por meio deste trabalho, enxergará as vantagens e ganhos comparando com a forma tradicional de instalação.

O projeto preverá ganhos no tempo de execução e prazo de entrega, além de não ser necessária a presença constante de mão de obra especializada para a instalação das redes elétricas. Outro fator importante será a administração dos materiais pertencentes à instalação que ficam armazenados no almoxarifado da obra: o responsável por essa área, em vez de se responsabilizar por vários itens que compõem a rede elétrica, responsabiliza-se por apenas um item, que é a própria rede elétrica em si, garantindo maior eficiên-cia para que não haja falta de material e, sim, fácil administração, por ser apenas uma embalagem contendo todo o material. Todos os desperdícios gerados são eliminados quanto à quantidade de sobras de materiais após o uso dos mesmos, pois a rede elétrica é feita sob medidas precisas para que não falte ou sobre material, levando à otimização do processo e economia do produto final.

O retorno social que este estudo trará será a entrega das ha-bitações em um prazo reduzido para a população, a redução de de-feitos por mau contato, a redução na conta de energia devido às conexões estarem corretamente executadas e testadas, a geração de novos empregos na indústria em que serão confeccionados os kits, a eliminação de resíduos deixados na obra, como sobra de fios, ele-trodutos, fita isolante, entre outros.

Dessa forma, é importante saber o que pensam os usuários da Rede Elétrica Otimizada e, para tanto, foi criado um questionário (em anexo), o qual traça um perfil dos compradores, além de trazer opiniões de melhorias para o produto.

O questionário foi enviado por e-mail aos Construtores que já entraram em contato com a Rede Elétrica Otimizada por meio de um site. Foram 15 participantes, os quais estavam cientes da participação para pesquisa de campo do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), no qual o intuito do questionário foi levantar as

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vantagens, desvantagens e a aceitação do produto no mercado da construção civil.

3. O PAC E O PROGRAMA MINHA CASA, MINHA VIDA

O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) foi criado em 2007 no governo do presidente Luís Inácio “Lula” da Silva, com o intuito de contribuir para o desenvolvimento do país nos setores mais precários, como planejamento e execução de grandes obras de infraestruturas sociais, entre elas as de moradia, com o Programa Minha Casa, Minha Vida (BRASIL, 2011).

O Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV) tinha por finalidade reduzir o déficit da população mais carente. Em 2010 conseguiu atingir a meta de 1 milhão de contratações (BRASIL, 2011):

Na área urbana atende famílias com três faixas salariais, sendo:

Até R$1600,00 (faixa 1);

Até R$3100,00 (faixa 2);

Até R$5000,00 (faixa 3).

Na área rural as rendas são anuais, sendo:

Até R$15.000,00 (faixa 1);

Até R$30.000,00 (faixa 2);

Até R$60.000,00 (faixa 3) (BRASIL, 2011).

Até o final de 2014, o PMCMV pretendia atender 2 milhões de moradias, sendo 60% para as famílias da faixa 1, 30% para fa-mílias da faixa 2, e 10% para famílias da faixa 3 (DIEESE, 2011).

Dessa forma, o PMCMV permitiu que a Construção Civil crescesse de forma acelerada e contínua no Brasil.

Em 2010, segundo o Dieese (2011), como mostra o Gráfico 1, o PIB teve um crescimento de 7,5% e a Construção Civil teve o

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segundo maior crescimento, com 11,6%, ficando atrás apenas da Indústria Mineral.

Por esse motivo, algumas empresas se engajaram em facilitar a forma de trabalho da Construção Civil, de forma que as moradias pudessem ser entregues aos proprietários de forma mais ágil. Sendo assim, na área da Engenharia Elétrica, a implantação de cabeamen-to elétrico fabricado em linha de produção tem se mostrado um grande avanço.

As Construtoras, com o apoio dessas empresas e, seguindo o sistema Toyota (Just in Time), que procura diminuir os desperdícios com materiais e tempo de instalações das redes elétricas, têm mos-trado bastante interesse nesse segmento.

Gráfico 1. PIB Brasil X PIB Construção Civil – 2004/2013.

Fonte: Dieese (2011).

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4. SISTEMA TOYOTA – “JUST IN TIME”

O “Sistema de Produção Enxuta”, mais conhecido como Sis-tema Toyota de Produção (Toyota Production System – TPS) que define um sistema de produção mais eficiente, flexível, ágil e ino-vador do que a produção em massa.

Segundo Ghinato (2000), o TPS foi criado para a indústria automobilística e adaptado a outros segmentos por otimizar de for-ma organizada e atender às necessidades do cliente no menor tempo possível, com alta qualidade e aumentando a segurança e o moral dos colaboradores, envolvendo todas as partes da manufatura.

A essência do TPS é eliminar todas as perdas, substituindo a antiga equação: “Custo + Lucro = Preço” por “Preço – Custo = Lucro”, ou seja, até então, PREÇO era imposto como resultado do CUSTO de fabricação somado a uma margem de LUCRO. Assim, o fabricante poderia repassar os valores dos custos, incluindo as perdas ao cliente. Com o TPS, a única forma de manter ou aumen-tar o LUCRO é por meio da redução dos CUSTOS (GHINATO, 2000).

De acordo com Wood Jr. (1992), o TPS possui um subsis-tema denominado “Just in Time” (JIT), o qual opera com redução de estoques intermediários, obrigando cada integrante do processo produtivo a antecipar os problemas e evitar que ocorram: “O JIT é nada mais do que uma técnica de gestão incorporada à estrutura do TPS, que ocupa a posição de pilar de sustentação do sistema (TPS)” (GHINATO, 2000).

De forma resumida, a lógica do TPS, assim como a do JIT, é produzir no ritmo da demanda, somente os itens certos, na quanti-dade e momentos certos, evitando a superprodução, a qual é consi-derada o maior motivo de perda. Ainda vale ressaltar que no TPS as perdas a serem evitadas estão classificadas em sete grandes grupos, sendo:

• Primeiro: perda por superprodução (produção de grandes quantidades ou por antecipação).

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• Segundo: perda por espera (essa espera pode ser tanto no processo, no lote ou na operação).

• Terceiro: perda por transporte (a eliminação ou redução dessa etapa deve ser encarada com prioridade, já que pode ocupar até 45% do tempo total da fabricação de um item).

• Quarto: perda no processamento (melhorias no processo, sem afetar a qualidade do produto final).

• Quinto: perda por estoque (excesso de matéria-prima, ma-terial em processamento e produto acabado).

• Sexto: perda por movimentação (redução nos tempos de operação).

• Sétimo: perda por fabricação de produtos defeituosos (eli-minação de retrabalhos).

5. INSTALAÇÃO ELÉTRICA OTIMIZADA

A produção do chicote elétrico industrial é feita por meio de “projeto customizado”. Assim, é apresentada proposta às construto-ras que, ao se interessarem pelo produto, enviam o projeto elétrico a ser usado na obra. Dessa forma, para um imóvel de 100 apartamen-tos, por exemplo, a empresa homologa um chicote junto à constru-tora e faz a produção dos outros 99, sendo todos padronizados.

Para a execução do projeto de instalações, o projetista ne-cessita de plantas e cortes de arquitetura, saber o fim que se destina a instalação, os recursos disponíveis, a localiza-ção da rede mais próxima, bem como saber as caracterís-ticas elétricas da rede (aérea ou subterrânea, tensão entre fase ou fase-neutro etc. (CREDER, 2008, p. 58).

O chicote elétrico é a solução para problemas críticos apre-sentados pelo modo convencional de instalação elétrica residencial.

O sistema de chicote elétrico pode ser utilizado em vários mé-todos construtivos, tais como paredes de alvenaria, pré-moldados (paredes e lajes), paredes de concreto moldadas “in loco” com for-mas (alumínio, PVC, madeira), drywall, steel frame, entre outros.

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É um sistema muito vantajoso, já que:• Elimina desperdícios.• Identifica os pontos, facilitando a instalação.• Reduz itens a serem administrados, eliminando os riscos

de extravios de materiais.• Produção em escala.• Instalação na obra com tempo inferior à uma hora, possi-

bilitando ganhos na execução.• Eliminação de problemas elétricos por falha no processo

de conexões e aquecimento.• Redução da necessidade de mão de obra especializada.• Realização de teste em linha de produção.• Padronização conforme determinado na norma NBR-

5410.O chicote elétrico é composto por eletrodutos, caixas de pa-

redes e de teto, cabeamentos já passados nos eletrodutos e interli-gados conforme o circuito elétrico. Ou seja, o cliente recebe o kit contendo todos os componentes necessários para a instalação da rede elétrica. Conforme a exigência do cliente, poderá receber o produto com os acabamentos instalados, como interruptores, spots, lâmpadas, tomadas e disjuntores.

Para cada projeto, existe uma linha de montagem, sendo que todos os kits são testados individualmente em gabarito exclusivo, garantindo a continuidade de todas as conexões e que todos os ca-bos elétricos estejam passados (sem falhas ou faltas de circuitos).

O gabarito exclusivo já citado se trata de uma mesa de mon-tagem automatizada (Figura 1), a qual simula possíveis falhas em todo o sistema, para, no caso dessas falhas ocorrerem, o operador da linha as corrija imediatamente, chegando às construções com certificado de garantia (100% testados).

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Figura 1. Mesa de montagem e testes dos kits.

Fonte: elaborado pelo autor.

Cada apartamento/casa recebe uma embalagem (kit), o qual pode ser instalado de forma manual sem o uso de ferramentas es-pecíficas e mão de obra especializada. Dessa forma, o instalador é responsável por administrar uma embalagem por apartamento/casa, sendo que, pelo método tradicional de instalação, o mesmo preci-saria ter o controle de vários materiais, sendo: eletrodutos de vários diâmetros (DN20, DN25, DN32 etc.), rolos de fios de várias cores e bitolas, caixas de paredes, caixas de teto, fitas isolante, ferramentas (alicate, estilete, multímetro, passa-fio, entre outros).

No modo tradicional de instalação, é necessário, antes de tudo, um eletricista qualificado que, na primeira etapa, passará a tubulação seca (eletrodutos vazios), a qual será concretada logo em seguida. Após a concretagem, o profissional passará à segunda eta-pa, na qual um arame guia percorrerá toda a tubulação. Em seguida, ele passará a fiação elétrica pelos eletrodutos (terceira etapa) por meio do arame guia. A partir dessa etapa ele fará as interligações, utilizando estanho e fitas isolante. Dessa forma, torna-se um tra-balho exaustivo e demorado. Além disso, cada rolo de fio possui 100 metros e, como esses fios são cortados manualmente, sobram

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pedaços pequenos, os quais não poderão ser reaproveitados, geran-do resíduos na obra, assim como excesso de fitas isolante (sobras).

No método otimizado, os cabos já estão cortados industrial-mente por máquinas automáticas e passados nos eletrodutos, re-sumindo as três etapas de instalação em apenas uma única, sem necessariamente a presença de um profissional com mão de obra especializada. Isso porque, ao adquirir o kit, o empresário reúne, num único momento, as etapas de compras, recebimento, distribui-ção, cortes de fio, passagem de guias, entre outras, incluindo a do transporte de diferentes itens, sem mencionar o fato de eliminar o risco de desvio ou roubo de material. Como benefício adicional, o produto garante também redução no tempo de instalação. Depen-dendo do projeto, pode demandar menos de uma hora.

Como os fios são cortados por meio de máquinas industriais já na medida determinada pelo projeto, não existem desperdícios com sobras de fios e as fitas isolantes são substituídas por moder-nos conectores IDC, que, em uma única operação, perfuram a capa isolante do fio sem o uso de alicates para decape, conectam e iso-lam os mesmos de forma rápida, fácil e segura, evitando problemas elétricos por má conexão e aquecimento, os quais geram perdas de energia e aumento do consumo (isolação inadequada). Dessa forma, diminuem-se bastante os impactos ambientais com resíduos.

Infelizmente, o que não é muito vantajoso ainda é o valor uni-tário do kit. Como o mesmo é industrialmente fabricado e montado, torna-se mais caro ou, no mínimo, igual ao valor do método tradi-cional. Porém, as vantagens já apresentadas e o tempo reduzido na instalação são atrativos para as Construtoras com grandes volumes de casas/apartamentos adotarem esse método como padrão.

Como se pode observar na Tabela 1, a redução do tempo na instalação da rede elétrica residencial otimizada é bem significati-vo.

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Tabela 1. Tabela Comparativa de gasto de tempo entre os métodos de instalação Otimizada e Tradicional.

TABELA COMPARATIVA DE TEMPO GASTO ENTRE OS MÉTODOS DE INSTALAÇÃO OTIMIZADA E TRADICIONAL

Construtoras (modelos construtivos) Método Tradicional Método Otimizado

Exemplo A 3h30min 20minExemplo B 4h00min 25minExemplo C 4h00min 1h30min

Fonte: elaborado pelo autor.

Tabela 2. Tabela Comparativa custo de materiais Rede Elétrica Otimizada X Tradicional.

TABELA COMPARATIVA DE VALORES ENTRE REDE ELÉTRICA TRADICIONAL E OTIMIZADA

Tradicional OtimizadaR$500,00 R$800,00

Fonte: elaborado pelo autor.

Levando em consideração o tempo de instalação, os desper-dícios de materiais na instalação e a mão de obra especializada, o valor final da Instalação Tradicional pode chegar a 30% mais que a Instalação Otimizada.

6. RESULTADOS

De acordo com a pesquisa de campo realizada com 15 usuá-rios da Rede Elétrica Otimizada, por meio do site SurveyMonkey3, que é especializado em questionários on-line para obter respostas e resultados, utilizando um questionário, chegou-se aos seguintes gráficos:

3 Disponível em: <https://pt.surveymonkey.com/?ut_source=header>.

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Gráfico 2. Tempo de uso da Rede Elétrica Otimizada.

Fonte: elaborado pelo autor.

Gráfico 3. Avaliação da satisfação com o produto.

Fonte: elaborado pelo autor.

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Gráfico 4. Utilização.

Fonte: elaborado pelo autor.

Gráfico 5. Aspectos relevantes na compra do produto.

Fonte: elaborado pelo autor.

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Dentre as principais sugestões para melhorias, estão (5ª ques-tão): redução do preço final, maior afinidade entre fabricante e ins-talador, os quais criam um preconceito errôneo sobre o produto, porém a maioria sente grande satisfação com o mesmo, e maior número de fabricantes do produto para aumentar a qualidade e di-minuir os preços. O fato dos usuários terem a opção de sugerirem mais de uma alternativa para melhorias altera a porcentagem final, que deveria ser de 100%.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com os programas governamentais, como Programa de Ace-leração do Crescimento (PAC) e Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), o déficit de moradia da população de baixa e mé-dia renda diminuiu, já que o Governo disponibilizou verbas desti-nadas a esse fim.

Dessa forma, a área da Construção Civil cresceu de forma acelerada, sendo, inclusive, responsável por 11,6% do PIB no ano de 2010.

Sendo assim, as indústrias têm manifestado interesse em oti-mizar o trabalho das Construtoras, beneficiando-se também com esse crescimento. Os chicotes elétricos para residências com ins-talação otimizada são exemplo disso, já que os mesmos, de forma simplificada, são apresentados com a finalidade de diminuir des-perdícios com materiais e tempo de instalação. Além disso, produ-zem menos impactos ambientais.

Para isso, tanto as construtoras como as empresas fabricantes dos chicotes elétricos residenciais otimizados têm trabalhado com o Sistema Toyota de Produção, que tem por finalidade a “Produção Enxuta”, utilizando para isso a ferramenta “Just in Time”, a qual prevê redução ou eliminação de perdas com superprodução, elimi-nação de estoques, diminuição de tempo e transporte, entre outros.

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Os cabeamentos elétricos residenciais para instalações otimi-zadas são a nova tendência para a Construção Civil, já sendo im-plantado em diversos países.

Como foi ilustrado nas Tabelas 1 e 2, a redução do tempo nas instalações otimizadas, em relação às dos métodos tradicionais, é bem significativa. E essa redução do tempo, juntamente com a de perdas de materiais, compensa o valor ainda elevado.

Conforme os usuários que já fazem uso dessa instalação oti-mizada e concordaram em responder o questionário, a aceitabilida-de do produto é grande, embora ainda não seja muito conhecido, principalmente entre os instaladores elétricos, que têm receios de perderem espaço no mercado de trabalho.

A satisfação dos usuários da Rede Elétrica Otimizada é gran-de, sendo poucas as sugestões de melhorias. E o que ainda incomo-da são os valores altos, devido à pouca concorrência no país.

Conforme pesquisa, as reduções no tempo da instalação, no desperdício de materiais e na mão de obra especializada valorizam a rede elétrica otimizada, sendo as principais vantagens do ponto de vista dos usuários.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério do Planejamento. Programa de Aceleração do Crescimento. Brasília, 2010.

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A visão dos profissionais da Santa Casa de Rio Claro acerca da função do Assistente Social no âmbito hospitalar

Graziella Santos de OLIVEIRA1

Adriana Cristina de Oliveira ALTÉIA2

Resumo: O presente artigo tem por objetivo geral apresentar a visão de profis-sionais atuantes na Santa Casa de Misericórdia de Rio Claro acerca das funções de um Assistente Social dentro da área hospitalar. Por fazer parte de uma equipe multiprofissional, bem como em decorrência de fatores históricos, as competên-cias e atribuições do Assistente Social por vezes se confundem com as de outros membros da equipe, não lhe sobrando espaço para implementar a luta na defesa do direito à saúde dos pacientes que procuram o hospital. Sendo assim, executam tarefas que não condizem com as presentes nas legislações específicas, as quais tratam das competências e atribuições desse profissional. Para expor o nível de conhecimento que os profissionais da Santa Casa de Rio Claro têm a respeito do Serviço Social na instituição, realizamos pesquisa de campo, por meio da entrega de questionários para gestores e líderes dos setores selecionados, com perguntas abertas e fechadas que nos ajudaram a revelar o grau de conhecimento dessa população em relação ao trabalho executado pelo setor de Serviço Social do hospital, avaliando, assim, o alcance de suas intervenções. Abordamos, também, os primórdios da profissão no Brasil e na Santa Casa de Rio Claro, bem como expomos o que são atribuições e competências do Assistente Social na Saúde.

Palavras-chave: Serviço Social Hospitalar. Competências e Atribuições Profis-sionais. Visão da Equipe Multidisciplinar. Santa Casa de Rio Claro.

1 Graziella Santos de Oliveira. Graduada em Serviço Social pelo Claretiano – Centro Universitário (2014). Atualmente trabalha como Assistente Social.2 Adriana Cristina de Oliveira Altéia. Graduada em Serviço Social pela Faculdades Integradas Maria Imaculada (1990). Tem experiência na área de Serviço Social, com ênfase em Serviço Social. Atualmente é assistente social da Prefeitura Municipal de Rio Claro (SP) e professora do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.

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1. INTRODUÇÃO

As diversas categorias profissionais existentes possuem es-pecíficas competências e habilidades para desempenhar adequada-mente suas funções, em decorrência de sua formação acadêmica e do Código de Ética Profissional. Diante das condições e conjuntu-ras que configuraram o início da profissão, muitas carregam con-sigo estigmas e conceitos errôneos no que diz respeito à sua real função.

Uma das profissões em que é bastante comum o desconheci-mento por parte da população de suas reais atribuições é o Serviço Social. Para Estevão (2001, p. 8):

Alguns mais irônicos dizem que a Assistente Social “as-siste o social”; outros mais sérios disseram que somos “os artífices das relações sociais” ou “os modernos agentes da caridade”. Para os de “esquerda”, somos os que põem pa-nos quentes nas feridas do capitalismo. Enfim, tanto leigos como profissionais já deram mil e um palpites e até agora não se conseguiu definir o que é Serviço Social.

Historicamente, a origem da profissão atrelava-se às práticas caritativas. Quem realizava essa função eram as damas de caridade da sociedade, moças de famílias ricas que supriam as necessidades mais básicas de sobrevivência dos indivíduos praticando o assisten-cialismo (entrega de cestas básicas, remédios, roupas). O trabalho social era realizado pelos ricos para distribuir seus bens entre os pobres, seguindo justificativas religiosas. Segundo Estevão (2001, p. 7):

As origens do Serviço Social estão fincadas na assistência prestada aos pobres, por mulheres piedosas, alguns sécu-los atrás. De lá pra cá, apesar de muita coisa ter mudado, o Serviço Social continuou sendo uma profissão essencial-mente feminina, só que as ricas damas de caridade cede-ram lugar às filhas da classe média ou dos trabalhadores urbanos.

Com o passar dos anos e constantes lutas, a profissão foi regulamentada, sendo necessária a formação acadêmica de nível superior para poder exercê-la, já sem a visão assistencialista do

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passado, e sim com o objetivo de garantir os direitos sociais dos indivíduos usuários dos serviços sociais.

O Assistente Social passou a ser requisitado para integrar as equipes multiprofissionais em diversos setores da administração pública, de empresas privadas, escolas, hospitais, entre outros, de-vido à visão biopsicossocial que têm dos indivíduos. Neste traba-lho, vamos nos limitar a estudar o trabalho desse profissional no âmbito hospitalar.

No documento intitulado “Parâmetros para a Atuação de As-sistentes Sociais na Saúde” (CFESS, 2009, p. 24), afirma-se que “a equipe de saúde e/ou empregadores, frente às condições de trabalho e/ou falta de conhecimento das competências do assistente social, tem requisitado diversas ações aos profissionais que não são atri-buições dos mesmos”.

De acordo com Simão (2010), o mercado de trabalho dos pro-fissionais de Serviço Social na saúde ampliou-se principalmente nos hospitais, onde são requisitados para desenvolver as mais di-versas atividades.

Mesmo com o ingresso do profissional na equipe multidis-ciplinar atuante na área hospitalar, muitos dos profissionais da re-ferida equipe desconhecem a real função de um Assistente Social.

Em decorrência disso, seu trabalho acaba não ficando claro ou mesmo confundindo-se com o de outros profissionais do grupo, sendo incumbido de realizar tarefas que não são de sua competên-cia.

Considerando que há pouca divulgação do seu real papel dentro de uma instituição hospitalar, este estudo tem por objetivo central mostrar a visão que os demais profissionais desse tipo de instituição têm a respeito das atribuições de um Assistente Social, refletir sobre as possibilidades e os limites de atuação do Serviço Social, bem como expor as competências que estão presentes nas legislações que tratam sobre a profissão.

Dessa maneira, justifica-se a importância desta pesquisa par-tindo do princípio de que o grau de conhecimento apresentado pela maioria dos profissionais pode mostrar uma falha na divulgação da

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real função do Assistente Social, bem como a realização de com-petências equivocadas, não transparecendo claramente suas reais atribuições.

A pesquisa será realizada com gestores de 24 setores existen-tes na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Rio Claro. Fo-ram excluídos setores administrativos, por não manterem contato direto com os pacientes internados e, consequentemente, não sendo rotineiro o contato com as Assistentes Sociais da Instituição. Será aplicado um questionário contendo 11 perguntas abertas e fechadas para uma amostragem de 30 empregados de um total de 452 setores selecionados.

2. A GÊNESE DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL

O surgimento do Serviço Social no Brasil remonta ao início da década de 1930, “como fruto da iniciativa particular de vários setores da burguesia, fortemente respaldados pela Igreja Católica, e tendo como referencial o Serviço Social europeu” (MARTINELLI, 2000, p. 121-122).

Levando-se em conta a conjuntura dos países europeus, é evi-dente que o modelo adotado no Brasil não era uma cópia exata do modelo por lá adotado; a única preocupação era a evidente acumu-lação capitalista. Como cita Martinelli (2000), a acumulação ine-rente ao sistema capitalista já não derivava de atividades agrárias e de exportação, e sim da crescente industrialização e inter-relação do mercado global. Com isso, o operariado passou a se organizar para lutar em prol de direitos para combater a exploração de sua classe e garantir o direito a condições de vida e trabalho mais justas.

Com isso, a luta de classes ganhou força, e a atuação da Igreja e da burguesia para controlar e evitar o avanço do movimento do proletariado passou a ser insuficiente. Para reverter esse quadro, o Estado estreitou laços com a Igreja Católica e com a burguesia da época para que juntos trouxessem para seu lado a classe operária e amenizassem os conflitos entre as classes.

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De acordo com Martinelli (2000), em 1932, foi criado em São Paulo o Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), que realizou o primeiro curso de preparo para o exercício da ação social, sob a denominação de Curso Intensivo de Formação Social para Moças e tinha como ingressantes jovens católicas que pertenciam a famílias da burguesia de São Paulo. Esperava-se que esse curso se propagas-se a mais pessoas, bem como apresentasse resultados satisfatórios, sobretudo pelo ingresso de mulheres no processo político da con-juntura da época.

Durante a década de 1930, o Estado acompanhava de perto os movimentos dos trabalhadores pra abafar quaisquer tentativas de manifestações contra o governo vigente, para que tivesse controle sobre a sociedade. Martinelli (2000, p. 124) ainda cita que:

As práticas assistenciais desenvolvidas nos vários estados brasileiros, ao longo dos anos de 1930 e 1940, e os even-tuais benefícios concedidos aos trabalhadores, através de empréstimos, assistência médica, social e auxílios mate-riais, encobriam as reais intenções subjacentes.

Esse foi o pano de fundo para o Serviço Social durante sua implantação no Brasil. As primeiras escolas de Serviço Social sur-giram a partir de 1936, período de intensa industrialização no país que fez emergir as mazelas decorrentes da exploração do trabalha-dor pelos empregadores, com o objetivo de formar profissionais para responderem às exigências emanadas pelo sistema de produ-ção capitalista através do controle social, tendo princípios religio-sos de ajuda às necessidades imediatas dos trabalhadores e famílias carentes, bem como a manutenção da ordem social vigente.

De acordo com Castro (2010, p. 107):[...] sob esta inspiração católica fundou-se a primeira esco-la de Serviço Social do Rio de Janeiro que, como a escola paulista, inscrevia-se na luta travada pela Igreja para de-fender o povo de influências consideradas nocivas e para constituir-se como a força normativa da sociedade.

Devido ao fato de seu início no Brasil ter emergido da junção entre Estado, Igreja e burguesia, as práticas iniciais do Serviço So-cial eram voltadas para os interesses das classes dominantes, ten-tando controlar ao máximo o proletariado e as classes mais baixas

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da sociedade pra que não se voltassem contra a classe dominante. O profissional atendia à população, apenas aplacando suas necessida-des mais básicas para aquietá-la de uma forma alienada, e não com o intuito de promovê-la, como ocorre nos dias atuais.

A identidade profissional do Assistente Social acabou atrela-da à alienação capitalista; nada era produzido de novo. As técnicas utilizadas serviam para a reprodução do capital e aos interesses da burguesia, e havia total ausência de consciência política. Martinelli (2000, p. 128) cita que:

[...] a ausência de movimento histórico de construção co-letiva de um sentido comum para a profissão havia pro-duzido, portanto, um saldo muito negativo: os assistentes sociais compunham uma categoria sem identidade profis-sional própria.

A história do início da profissão por si só já é capaz de jus-tificar como um possível motivo de, até os dias atuais, o Serviço Social ser uma profissão em que há um desconhecimento do seu projeto profissional, não apenas por parte da população em geral, mas também de alguns profissionais que atuam conjuntamente com um Assistente Social. Pode-se dizer que é uma profissão relativa-mente nova, uma vez que, no Brasil, foi regulamentada em 1957, e até hoje se discute seu projeto profissional.

O Serviço Social no Campo da Medicina

Foi na Inglaterra, de acordo com Raulino (1976, p. 2), que se iniciou o Serviço Social aliado ao campo da Medicina, e tinha por finalidade “evitar a exploração por parte daqueles que, sendo possuidores de recursos econômicos, abusavam da gratuidade hos-pitalar”. Ainda de acordo com o referido autor, no ano de 1913, teve início o Serviço Social Médico na Alemanha e, no ano seguinte, iniciou-se na França.

O Serviço Social na América Latina se institucionalizou no Chile em 1925, quando foi criada a primeira escola pelo médico Alejandro Del Río. De acordo com Castro (2010, p. 112):

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Seu surgimento e desenvolvimento se dão por uma for-te e decisiva influência externa, como reflexo do Serviço Social Belga, Francês e Alemão, e depois, Norte-Ameri-cano. Na América Latina, o Serviço Social surge como subprofissão, subordinada à profissão médica, porque os médicos procuravam elevar sua eficiência e rendimento, integrando-a à série de subprofissões já existentes. O de-senvolvimento do Serviço Social no campo médico só foi possível devido ao reconhecimento por parte da Medicina de uma visão mais ampliada em relação à influência que os problemas sociais e pessoais dos indivíduos acarretam diretamente em sua saúde.

No Rio de Janeiro, o Serviço Social apareceu de alguma for-ma vinculado à área da saúde. De acordo com Castro (2010, p. 107), “[...] em 1940, o curso de preparação ao Serviço Social incor-pora-se à Escola de Enfermagem Ana Nery”. Foi no Rio de Janeiro que o processo de afirmação do Serviço Social foi mais acentuado, “provavelmente porque na capital do país estavam centralizadas muitas repartições públicas sob cuja demanda se profissionalizou o Serviço Social”.

Por sua especialidade profissional, o médico é o responsá-vel pelo diagnóstico e tratamento das moléstias físicas do paciente. O conceito de saúde, de acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS (1948), “é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença”. Portanto, para manutenção da saúde, não se deve apenas enxergar o paciente como a doença que ele desenvolveu, mas analisar o meio em que ele vive, suas condições de moradia, de higiene dentro de sua residência, os problemas sociais que podem favorecer o surgimento de moléstias, a ausência de políticas de saúde para prevenção de doenças. E o profissional que está capacitado para esse tipo de avaliação é o As-sistente Social.

O objetivo do Serviço Social na área hospitalar é prestar as-sistência ao paciente e seus familiares, com um olhar humanizador, visando à qualidade no atendimento para que seu tratamento seja mais eficaz, reforçando o direito de todo cidadão à saúde de quali-dade, bem como auxiliando para que o período de internação não deixe o paciente demais ansioso, pois ele mantém a preocupação

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de suas responsabilidades do cotidiano de trabalho, familiar, dentre outros inerentes à sua vida fora do hospital. Também é dever do Assistente Social fazer a mediação médico – paciente – família.

O profissional deve conhecer bem a política de saúde do Sis-tema Único de Saúde SUS, assim como as outras políticas sociais existentes no Município, de modo a garantir o acesso do paciente tanto no período de internação quanto da alta hospitalar para que dê continuidade ao tratamento.

O início do Serviço Social na Santa Casa de Misericórdia de Rio Claro até os dias atuais

De acordo com documentos históricos, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Rio Claro foi fundada em 28 de Março de 1885 pelo Comendador Sr. Francisco de Assis Negreiros, em virtude da ausência, até então, de um serviço de assistência médico--hospitalar para atender à comunidade da cidade de Rio Claro.

Nota-se que, no período, a utilização dos serviços prestados pela Santa Casa não estavam disponíveis para toda A comunidade. Nesse período, o Sistema Único da Saúde – SUS ainda não tinha sido criado; portanto, eram “selecionados” aqueles que se enqua-dravam nos padrões estabelecidos para receberem atendimento mé-dico. Como afirma Krammer (1971, p. 18), “[...] o atendimento aos clientes realiza-se antes da consulta médica, para o que se solicita toda documentação. Os clientes que eram previdenciários encami-nhávamos ao INPS, para aquisição de guia”.

Em 17 de fevereiro de 1969, a Irmandade da Santa Casa sen-tiu a necessidade da profissionalização do trabalho social, implan-tando-se nesta data o Departamento de Serviço Social Médico, que tinha por funções, segundo Krammer (1971, p. 18), a triagem no ambulatório e enfermarias, o tratamento de casos médico-sociais e o encaminhamento de pacientes às obras congêneres.

Antes do atendimento médico, as Assistentes Sociais realiza-vam uma triagem socioeconômica, que tinha por base:

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[...] evitar a exploração do hospital pelo doente não necessi-tado, estipulando individualmente a quantia nos casos dos pacientes admitidos, o pagamento e o encaminhamento de pacientes para hospitais especializados a pedido médico (KRAMMER, 1971, p. 18).

Como uma alternativa para facilitar o tratamento prescrito pelo médico assistente, o Assistente Social da Instituição procurava justificativas para entender quais fatores eram empecilhos para “a procura, a aceitação ou a continuidade do tratamento médico pelo paciente” (BORTOLOZO, 1972, p. 22).

Atualmente, o Serviço Social na Santa Casa de Rio Claro conta com três Assistentes Sociais, que se dividem em três hospi-tais: Santa Casa, Hospital São Rafael Unidade I e Unidade II. Ao longo do tempo, suas funções se modificaram. De acordo com do-cumento da própria instituição, que discorre sobre as competências do Assistente Social, o Departamento de Serviço Social:

[...] tem como principal objetivo intervir junto aos pacien-tes e familiares, incentivando-os a participarem do proces-so de recuperação da saúde. Promove acesso às informa-ções disponíveis no ambiente hospitalar, garantindo acesso aos serviços oferecidos e resolutividade das situações so-ciais que interferem no processo saúde-doença.

As funções do Assistente Social na Santa Casa de Rio Claro são diversas. Dentre as suas atividades, estão:

• Realização de visitas diárias em todas as clínicas com orientação aos pacientes e familiares sobre as normas e rotinas hospitalares.

• Mobilização das redes socioassistenciais do município e região, a fim de atender às demandas e necessidades dos pacientes e de seus familiares.

• Sensibilização da família sobre a importância de sua parti-cipação e apoio no tratamento do paciente.

• Orientação sobre os direitos dos pacientes, como os pre-videnciários, a mulher, a criança e o adolescente, o idoso, entre outros.

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• Participação em comissões com a equipe multidisciplinar (Grupo de Trabalho Humanizado – GTH, Grupo de Ges-tores, CIPA e outros).

• Articulação como agente facilitador do contato paciente--médico-família.

• Localização de familiares.• Realização de entrevista socioeconômica com paciente e/

ou família (quando necessário).• Transferência de pacientes do hospital para outros hospi-

tais e vice-versa.• Intervenção em casos de adoção.• Agendamento e solicitação de transporte para transferên-

cia e remoção de pacientes.• Acolhimento e orientação aos familiares em caso de óbito.• Autorização para troca de acompanhantes e visitas fora do

horário especificado.• Emissão de declaração de acompanhante.• Emissão de alta, a pedido do paciente.• Realização de pesquisa de Satisfação do Cliente nos três

hospitais que integram a Santa Casa de Rio Claro.• Atendimento dos casos de divergências em atestados mé-

dicos emitidos pelo Pronto-Atendimento do Hospital São Rafael (alterações feitas pelo paciente, rasuras, falta de da-dos do médico).

3. AS COMPETÊNCIAS E ATRIBUIÇÕES DO ASSIS-TENTE SOCIAL NA ÁREA DA SAÚDE

A intervenção dos Assistentes Sociais na área da saúde tem como referencial o documento “Parâmetros para Atuação dos As-sistentes Sociais na Saúde” elaborado pelo Grupo de Trabalho

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“Serviço Social na Saúde”, do Conselho Federal de Serviço Social – CFESS. De acordo com Martinelli (2011, p. 500),

O assistente social é reconhecidamente um profissional da saúde. As Resoluções do Conselho Nacional de Saúde n. 218, de 6 de março de 1997, e do Conselho Federal de Serviço Social n. 383, de 29 de março de 1999, além da Re-solução n. 196, de 1996, que trata da ética em pesquisa, en-volvendo seres humanos. (Rosa et al., 2006, p. 63-64) são expressões concretas desta afirmativa. No âmbito desses marcos legais e normativo, torna-se indispensável ressaltar a importância dos Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde, elaborados a partir de ampla participação da categoria profissional e promulgados pelo CFESS, com o objetivo de “referenciar a intervenção dos profissionais na área da saúde” (CFESS, 2010, p. 11).Tais parâmetros reforçam a importância de reconhecer os usu-ários da saúde como sujeitos de direitos, em um contexto de cidadania e de democracia.

É por meio desse documento que as ações profissionais do Serviço Social na área da saúde devem ser norteadas tanto na aten-ção básica, quanto na média e alta complexidade. O Serviço Social tem seu trabalho pautado nas expressões da questão social; portan-to,

[...] a atuação profissional deve estar pautada em uma pro-posta que vise ao enfrentamento da questão social que repercute nos diversos níveis de complexidade da saúde, desde a atenção básica até os serviços que se organizam a partir de ações de média e alta densidade tecnológica (CFESS, 2009, p. 20).

A definição de saúde contida no Artigo n. 196 da Constitui-ção Federal de 1988, diz que:

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à redu-ção do risco de doença e de outros agravos e ao acesso uni-versal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Ou seja, o processo de saúde não apenas constrói-se dentro da unidade de saúde no período da doença instalada; é preciso, tam-bém, acompanhar esse paciente quando da alta, bem como orientá-

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-lo quanto às políticas públicas existentes no município, a realidade fora do hospital, a continuidade ao tratamento com o objetivo não apenas de cura da enfermidade, mas principalmente da manutenção de sua saúde e prevenção de futuras doenças.

Dentro da área da saúde, o trabalho do Assistente Social di-retamente com o usuário se dá mediante as Unidades Básicas de Saúde (UBS), Unidades de Saúde da Família (USF), Centros de Especialidades, Hospitais Gerais, Hospitais de Emergência, Clíni-cas Médicas, tanto na rede pública (federal, estadual ou municipal) quanto na rede privada.

A função do Assistente Social na área da saúde deve ter em vista os meios para combater as questões sociais que acarretam da-nos à saúde dos indivíduos. O problema encontrado em diversas literaturas acerca do Assistente Social atuante na área da saúde é:

[...] quando este profissional se distancia, no cotidiano de seu trabalho profissional, do objetivo da profissão, que na área da saúde passa pela compreensão dos aspectos so-ciais, econômicos e culturais que interferem no processo saúde-doença e a busca de estratégias para o enfrentamen-to destas questões (CFESS, 2009, p. 14).

De acordo com o documento “Parâmetros para Atuação dos Assistentes Sociais na Saúde”, as principais ações a serem desen-volvidas pelo Assistente Social, de forma resumida, são:

• Democratização de informações sobre os direitos sociais à população usuária, em especial os direitos da seguridade social.

• Avaliação socioeconômica dos usuários para mobilização em prol da garantia dos direitos, e não como critério de elegibilidade.

• Interlocução entre os usuários e a equipe de saúde com relação a questões sociais e culturais.

• Realização de visitas domiciliares quando necessário, sempre respeitando a privacidade do usuário.

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• Realização de visitas institucionais para que se possa mo-bilizar a rede de serviços no processo de garantia dos di-reitos sociais.

• Auxílio no processo de promoção, proteção, prevenção e recuperação da saúde através de trabalhos de fortaleci-mento de vínculos familiares.

• Criação de rotinas de ação para facilitar e organizar o ser-viço.

• Registro de todos os atendimentos realizados com o intui-to de propor projetos de intervenção profissional, assegu-rando sigilo das informações colhidas.

• Realização de ações coletivas de orientação pra democra-tizar as rotinas e o funcionamento da unidade de saúde.

• Realização de atividades de grupo com os usuários e suas famílias com temas de interesse destes.

Se o Assistente Social e a instituição de saúde para qual ele trabalha não estabelecerem suas competências e atribuições para a realização de um trabalho com resultados positivos na vida do usu-ário, será tarefa difícil estabelecer prioridades para um atendimento que vise à defesa da garantia do direito que cada usuário tem à saúde. Sem prioridades e conhecimento da função de um Assistente Social na área da saúde, ou mesmo nas outras áreas de atuação, seu trabalho acaba sendo emergencial e de caráter burocrático.

A participação do Assistente Social na Equipe multiprofissional

O principal objetivo de qualquer instituição hospitalar é ofe-recer subsídios para cura de problemas de saúde do paciente, bem como prevenir novas mazelas que acarretem danos à sua saúde. Para um atendimento eficaz, faz-se necessário o atendimento por uma equipe multidisciplinar, a partir do momento que se deve en-xergar o paciente como um sujeito biopsicossocial e que cada es-pecialidade tem a capacidade de tratar uma área específica. Com a junção de cada conhecimento individual, os benefícios consegui-

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dos para a saúde do paciente são bem maiores do que se tratados a partir de uma única visão.

A equipe multiprofissional da Santa Casa de Rio Claro é composta por Assistentes Sociais, Enfermeiras, Técnicos e Auxi-liares de Enfermagem, Médicos, Fisioterapeutas, Fonoaudiólogos, Nutricionistas, Técnicos de Segurança do Trabalho, Engenharia Clínica, Manutenção Hospitalar, Higiene Hospitalar, Administrativo (Auditores, Secretárias, Escriturárias, Faturistas), Copeiras e Cozi-nheiras.

Cada profissional deve ter seu limite de atuação dentro da equipe para que o trabalho em rede seja efetivo. Para se entender a importância do Assistente Social na referida equipe, faz-se neces-sário conhecer o Artigo 3º da Lei n.8.080/1990, alterada na Lei n. 12.864/2013, a saber:

Os níveis de saúde expressam a organização social e eco-nômica do País, tendo a saúde como determinantes e con-dicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o sa-neamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o aces-so aos bens e serviços essenciais.

Tratar da saúde do paciente apenas dentro da Instituição Hos-pitalar já não é mais o melhor caminho para a manutenção da saú-de. Os cuidados devem ultrapassar os limites do hospital, chegando à comunidade a que o paciente está inserido, bem como à sua casa e de seus familiares.

Para que o profissional de Serviço Social possa realizar sua intervenção junto ao paciente e sua família tanto no período de in-ternação quanto da alta, é preciso que a função, a competência e a atribuição de cada profissional da equipe multidisciplinar estejam bem delimitadas. De acordo com o CFESS (2009, p. 23),

O assistente social, ao participar de trabalho em equipe na saúde, dispõe de ângulos particulares de observação na interpretação das condições de saúde do usuário e uma competência também distinta para o encaminhamento das ações, que o diferencia do médico, do enfermeiro, do nu-tricionista e dos demais trabalhadores que atuam na saúde.

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Os serviços de saúde têm requisitado dos assistentes sociais, por desconhecimento de suas competências ou mesmo condições de trabalho inadequadas, ações que não são atribuições suas, como marcação de consultas e exames, solicitação e regulação de am-bulância para remoção e alta, identificação de vagas em outras unidades nas situações de necessidade de transferência hospitalar, pesagem e medição de crianças e gestantes, comunicação de alta/óbito, declaração de comparecimento à unidade, viabilização para acesso à medicação de alto custo e fornecimento de equipamentos (CFESS, 2009, p. 24).

Todo trabalho em equipe precisa ser pensado e discutido para que as atribuições específicas de cada membro do grupo sejam am-plamente divulgadas e seguidas. Cada especialidade presente na equipe multiprofissional existe para que seu trabalho se enrique-ça com as diferentes visões e competências, adquirindo o grupo maior capacidade de resolução e acerto. Porém as particularidades de cada área devem ser mantidas e suas atribuições respeitadas, e não abafadas pelas demais.

4. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

A pesquisa foi desenvolvida na Santa Casa de Misericórdia de Rio Claro no período de setembro a outubro de 2013. Foram selecionados 24 setores dos 59 existentes na instituição. O critério adotado para a escolha baseou-se na frequência do contato com o setor de Serviço Social, devido à demanda de pacientes que neces-sitam de algum tipo de apoio desse profissional.

De 452 colaboradores, aplicou-se o questionário a 30 deles. Foram selecionados gestores e líderes de cada setor, pois são esses profissionais que devem acionar o Serviço Social quando diagnos-ticado algum problema que requeira intervenção.

Dos 30 questionários entregues aos colaboradores seleciona-dos, 17 foram respondidos e devolvidos. Os demais, após um perío-do de três semanas de tentativas de reavê-los, não foram entregues.

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Do universo de 17 profissionais que responderam ao ques-tionário, 11 atuam como Enfermeiras, entre responsáveis técnicas por algum setor do hospital, supervisoras de turno e gerente de en-fermagem. Também participaram da pesquisa: 1 Fisioterapeuta, 1 Nutricionista, 1 Líder de Recepção, 1 Administrador Hospitalar, 1 Psicólogo, 1 Médico de Terapia Intensiva Pediátrica. Desses profis-sionais, 47% têm entre 5 e 9 anos de trabalho na instituição, 29,4% têm entre 10 anos e 16 anos, e 23,6% trabalham entre 3 meses e 4 anos.

Dos colaboradores pesquisados, 100% responderam ter co-nhecimento do número de Assistentes Sociais atuantes na Santa Casa, porém o número exato variou: 41,2% responderam haver três Assistentes Sociais; 41,2% responderam haver quatro, ressaltando que nesse universo foram incluídas tanto a Assistente Social res-ponsável pelo Plano de Saúde da Santa Casa, quanto um Auxiliar Administrativo que trabalha na mesma sala das Assistentes Sociais; 5,9% afirmaram atuar 1 Assistente Social. A quantidade não foi es-pecificada por 11,8% da amostra.

Do total da amostra, 100% responderam ter contato com as Assistentes Sociais. Quando questionados sobre a frequência e o motivo do contato, os resultados foram diversos: contato com fami-liares dos pacientes internados (orientação, localização, avaliação da dinâmica familiar) totalizou 38,5% das respostas. Solicitação de vagas em outros serviços, transferência de pacientes, agendamento de exames e consultas tanto para pacientes quanto para funcioná-rios da instituição e participação em eventos da instituição totali-zaram 35,9% das respostas. Resolução de conflitos e de problemas socioeconômicos totalizou 15,4%. O ato de densibilizar e fortalecer os vínculos entre mãe e filhos apareceu em 7,7%. Empréstimo de mobiliário totalizou 2,5% do universo da amostra.

Quando solicitada a presença da Assistente Social, 94,1% responderam que a atuação desse profissional obteve resultado po-sitivo. Como justificativa para as respostas, apareceram: possuem profissionalismo e boa vontade para resolver os casos; favorecem a união entre os setores da instituição para resolução dos problemas levantados; atendem às solicitações da equipe de enfermagem; res-

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pondem às expectativas; as profissionais são competentes e envol-vidas com o trabalho; trabalham bem em equipe; atuam diretamen-te no foco e prontamente quando solicitadas; sempre se dispõem a resolver as situações, quando se necessita contato com Conselho Tutelar; solicitação de transferência ou exame externo.

Nas atividades que acreditam ser de competência do Assis-tente Social, 43,1% deram como resposta: resolução de conflitos e problemas sociais dos pacientes, complementar a equipe multidis-ciplinar do hospital, garantir os direitos do paciente, interlocução com outros serviços de saúde, realizar ações socioeducativas e as-sistenciais, acionar órgãos competentes, realizar encaminhamentos necessário. Já para 29,3% dos pesquisados, são competências do Assistente Social agilizar exames mais complexos para os interna-dos, agilizar consultas médicas, fazer encaminhamento pra retirada de medicações especiais, realizar contato com convênios médicos, solicitar transporte e transferência para pacientes, bem como fazer as orientações pertinentes em cada um dos casos, providenciar hos-pedagem para familiares que residam em outras cidades, solução de reclamações. Da amostra, 27,6% responderam que o Assistente Social é o responsável pelo acolhimento em casos de óbito ou alta, pela realização contato com familiares (busca, acompanhamento e orientações da rotina hospitalar), pela verificação da frequência das visitas aos pacientes e pela mediação médico-família.

Sobre a importância da presença do Assistente Social na equipe multiprofissional do hospital, 88,3% responderam ser im-portante, enquanto 11,7% nada responderam. Como justificativas para a indagação, encontramos que 43,7% justificaram a importân-cia do Assistente Social na equipe alegando que cada profissional tem suas particularidades; sendo assim, o trabalho em equipe seria enriquecedor. A troca de conhecimentos entre os profissionais be-neficia diretamente o paciente e não se resolvem problemas sociais sem a presença de um assistente social. Já 31,2% responderam que o Assistente Social é o profissional que encaminha os pacientes para os setores competentes para que os problemas sejam solucio-nados (exames e altas), auxilia na resolução de problemas mesmo quando em domicílio para evitar a reinternação e fornece suporte aos pacientes e familiares. Do universo pesquisado, 18,7% respon-

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deram que o Assistente Social desperta no paciente sua consciência crítica, em virtude de ser um profissional com conhecimento so-ciocultural e de legislações específicas, além de possuir qualidades como carisma e ética.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por ser um profissional com olhar na totalidade do indiví-duo, a presença do Assistente Social na equipe multiprofissional de uma instituição hospitalar é de suma importância, pois, através de seus instrumentais e olhar crítico, é capaz de reconhecer problemas sociais que podem colaborar para a instalação de enfermidades e, assim, propor ações para a melhoria das condições sociais do indi-víduo, bem como realizar orientações pertinentes em um momento em que paciente e família estão fragilizados. É um profissional que participa ativamente na luta pela garantia dos direitos sociais dos indivíduos.

Mesmo com avanços na produção científica para essa cate-goria, no que diz respeito ao que é e o que faz o Serviço Social, a profissão ainda luta contra os resquícios assistencialistas que a originaram, tanto entre profissionais de diversas áreas quanto de Assistentes Sociais.

Sendo assim, o objetivo desta pesquisa foi investigar o que a equipe que atua na presença de Assistentes Sociais acreditava ser atribuição e competência desse profissional dentro da área hospi-talar.

Quanto aos resultados, o desconhecimento de quantas as-sistentes sociais atuam na Santa Casa pode ser justificado tanto pelo horário de trabalho em turnos diferentes, não possibilitando o contato, ou mesmo por atuarem em unidades distintas da instituição (são três prédios distintos).

Nos motivos pelo contato com as Assistentes Sociais, uma amostra considerável respondeu que é solicitada a sua intervenção para agendamento de exames e consultas. Quando indagados sobre a importância que o Assistente Social tem na equipe multiprofis-

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sional, bem como a respeito do que acreditam ser atribuições desse profissional, como umas das respostas obtivemos, também, o enca-minhamento para realização de consultas e exames. De acordo com o documento apresentado neste trabalho – “Parâmetros para Atua-ção de Assistentes Sociais na Saúde” –, o agendamento de consul-tas e exames não é competência desse profissional.

O fato de responderem que é ele que encaminha os pacientes para os setores competentes pode ser resultado da visão de o Ser-viço Social ser a porta de entrada para se ter acesso aos serviços de saúde oferecidos na instituição, ou mesmo de ser um profissional que “resolve problemas”.

A visão apresentada pelos profissionais, em geral, foi positiva em relação ao trabalho desenvolvido pelas Assistentes Sociais: foi citado o comprometimento aos casos apresentados, a garantia dos direitos dos pacientes internados, orientações e apoio aos familiares em um momento de fragilização e a necessidade de se ter um Assis-tente Social na equipe multiprofissional do hospital.

Porém, constatamos que muitos profissionais ainda têm uma visão do Assistente Social como um agente tarefeiro, que trabalha para resolver problemas que outros setores não solucionam, como marcação de consultas médicas, facilitar a realização de exames fora do hospital, solicitação de ambulância para transporte de pa-cientes, afazeres que vão na contramão das funções de um Assis-tente Social, preconizadas em seu projeto profissional.

Nota-se que a defesa da garantia de direitos sociais dos usuá-rios, como fornecer meios para o enfrentamento de problemas so-cioeconômicos, realização de ações socioeducativas, sensibilização para o fortalecimento dos vínculos familiares e contato com órgãos públicos competentes quando necessário, foi citada por 47% do universo pesquisado, o que mostra um certo grau de desconheci-mento dos pesquisados acerca das competências e atribuições do Assistente Social, se comparado à porcentagem de respostas que se referiram à agilização de exames e consultas, orientações acerca da rotina da unidade, resolução de problemas, transferências a trans-portes de pacientes, entre outros dados coletados que totalizaram

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71% das respostas. É preciso lembrar, nesse sentido, que obtivemos diferentes respostas dentro dos mesmos questionários.

Porém, mesmo com as atribuições e competências profissio-nais ainda um pouco tímidas no que diz respeito ao conhecimento em geral, o trabalho executado pelo Assistente Social na instituição apresentou resultados positivos dentro de sua área de alcance e das possibilidades que lhes são apresentadas em seu cotidiano profis-sional.

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Relação entre ansiedade e autoconfiança: análise das percepções dos árbitros de esportes de invasão

Jonathan Ap. Macedo dos SANTOS1

Denis Cristiano BRIANI2

Gustavo Lima ISLER3

Resumo: O objetivo do presente estudo foi analisar o índice de autoconfiança nos árbitros esportivos das modalidades de invasão, comparando com os níveis de ansiedade cognitiva e somática. Participaram do estudo 44 árbitros de futebol de campo, futsal, handebol e basquetebol. Os instrumentos utilizados foram um questionário sociodemográfico, destinado a coletar informações pessoais sobre os entrevistados, e o CSAI-2 (Competitive State Anxiety Inventory – 2), utilizado para medir o nível de ansiedade-estado (somática e cognitiva) e a autoconfiança. A análise dos dados seguiu o protocolo do instrumento e a metodologia quali-tativa, sendo amparada pela Frequência Acumulada Percentual, a qual facilitou a apresentação, interpretação e análise dos dados. Como resultado, encontrou--se que todos os participantes perceberam os níveis de ansiedade cognitiva e somática considerados baixos, construindo uma relação inversa com os níveis de autoconfiança, os quais se apresentaram elevados. Diante disso, pode-se con-siderar que os participantes estão em condições adequadas, quanto aos níveis de ansiedade e autoconfiança, para atuar em suas respectivas modalidades.

Palavras-chave: Ansiedade. Autoconfiança. Arbitragem. Psicologia do Esporte. Educação Física.

1 Jonathan Ap. Macedo dos Santos. Graduado em Educação Física pelo Claretiano – Centro Universitário (2014). Atua como professor de Educação Física. E-mail: <[email protected]>.2 Denis Cristiano Briani. Graduado em Ecologia pela Universidade Estadual Paulista – Unesp (1999), licenciado em Ciências pelo Centro Universitário Herminio Ometto (1996), licenciado (Licenciatura plena) em Matemática pela Universidade de Nova Iguaçu – UNIG, licenciado em Educação Física pelo Claretiano – Centro Universitário (2013), mestre em Conservação e Manejo de Recursos pela Universidade Estadual Paulista – Unesp (2001) e doutor em Ciências Biológicas (Zoologia) pela Universidade Estadual Paulista – Unesp (2006). E-mail: <[email protected]>.3 Gustavo Lima Isler. Licenciado em Educação Física pela Universidade Estadual Paulista – Unesp (1999). Mestre em Ciências da Motricidade pela Universidade Estadual Paulista – Unesp (2003) e doutor pelo programa Desenvolvimento Humano e Tecnologias pela mesma Instituição (2015). E-mail: <[email protected]>.

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1. INTRODUÇÃO

A arbitragem hoje em dia tem sido um dos aspectos mais po-lêmicos e comentados de uma competição esportiva. Citados por alguns atletas, técnicos e comentaristas como os responsáveis por insucessos e como fonte de “estresse” durante os jogos (ROSE JU-NIOR; PEREIRA; LEMOS, 2002).

O tema deste estudo foi escolhido por dois motivos, o pri-meiro porque fiz parte de uma associação de árbitros de futebol, na qual observei a atuação dos mesmos de uma forma diferente; mais ampla. Além disso, também conheço alguns árbitros de outras mo-dalidades esportivas e gosto muito dessa área. O segundo motivo foi para poder entender um árbitro esportivo durante uma partida simples ou complicada; esse tema foi pensado de forma a poder esclarecer o porquê dos atos dos árbitros esportivos.

Esse trabalho é de suma importância à área de Educação Fí-sica, pois a grande maioria dos profissionais da área trabalha com escolinhas de várias modalidades esportivas, tais como Futebol, Futsal, Handebol e Basquetebol, e nos treinos há os jogos ou co-letivos, isso faz com que o treinador vire um árbitro desses jogos, levando-o a lidar com situações-problemas na hora do jogo, o que implica atuar mais seguro em suas decisões como treinador nos treinos ou como técnico na hora do jogo, evitando a discussão com a arbitragem da partida.

Na sociedade atual, cada vez mais há pessoas assistindo jogos (todas as modalidades) pela TV, nos ginásios, estádios, entre ou-tros; isso faz com que elas fiquem cada dia mais críticas, principal-mente com a arbitragem. Hoje em dia também muitos pais, amigos e familiares estão indo assistir aos jogos de seus filhos, amigos ou familiares, isso também pode ocasionar uma pressão sobre a arbi-tragem durante a partida.

Foi detectado que existem poucos trabalhos relacionados à arbitragem, fazendo com que o trabalho tenha um foco maior re-lacionado a esse tema; esse fato torna a pesquisa importante, mas também dificulta sua realização por não haver muitos parâmetros de comparação.

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Diante dos fatos apresentados aqui, o objetivo geral do pre-sente estudo foi analisar o nível de ansiedade-estado e de autocon-fiança de árbitros de diferentes modalidades esportivas de invasão. Tendo como objetivos específicos comparar os níveis de ansiedade--estado e os níveis de autoconfiança dos participantes, verificou as influências da idade sobre os níveis de ansiedade-estado e os níveis de autoconfiança dos participantes, verificando as influências do nível de experiência sobre os níveis de ansiedade-estado e os níveis de autoconfiança dos participantes.

2. REVISÃO DE LITERATURA

Com a intenção de oferecer embasamento ao referente es-tudo, nos capítulos a seguir será apresentado um breve histórico sobre arbitragem e sobre as modalidades esportivas de invasão. Na sequência, encontra-se a revisão referente à ansiedade, suas classi-ficações e características, e à autoconfiança.

História da Arbitragem

A arbitragem só foi amparada no Brasil por uma lei em 1996, mas, desde o século XIX, 1824, já se usava a arbitragem de forma para solucionar as disputas nacionais e estrangeiras. Algumas pen-dências entre Estados Unidos e Canadá, Suécia e Noruega, também entre Argentina e Guiana Francesa, entre os anos de 1870 e 1904, já mostravam que a arbitragem era essência para resoluções de lau-dos (MOURÃO, [s.d]). No Brasil, segundo Repórter Terra [s.d.a], existem seis tipos de arbitragem, sendo elas:

• Voluntária: as duas partes optam por resolver as diferenças em detrimento processual, é muito usada hoje em dia.

• De Direito: o árbitro toma a decisão de acordo com as nor-mas.

• De Equidade: o árbitro toma a decisão baseando-se no seu julgamento e sentimento de justiça.

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• “ad hoc” (para isto): as regras são determinadas pelos par-ticipantes de acordo com as Leis da Arbitragem, o proce-dimento do árbitro não seguirá as regras de uma institui-ção arbitral.

• Institucional: as regras são determinadas por uma institui-ção constituída para esse fim, como, por exemplo, associa-ções e confederações.

• Internacional: a sentença é proferida em outro país, regida pela Associação Internacional, mas deve ser executada no Brasil, ou seja, você pode ser tornar árbitro fora do Brasil, mas para que você atue no Brasil serão feitas algumas exi-gências das confederações brasileiras.

No ambiente internacional, a arbitragem segue as regras da American Arbitration Association (AAA), sediada em Nova York há 50 anos, resolvendo conflitos gerados no mundo, prevalecendo o sigilo do processo. No âmbito nacional ou internacional, o árbitro é muito importante, pois é ele que busca solucionar os conflitos internos ou externos, tendo frações de segundos para tomar uma decisão durante o jogo. O árbitro é a peça mais importante durante um jogo (REPORTER TERRA, [s.d]b).

No âmbito esportivo, a arbitragem é muito importante, espe-cificamente nas modalidades coletivas de invasão, tais como Bas-quete, Handebol, Futebol de Campo e Futebol de Salão (Futsal), nas quais nos aprofundaremos um pouco mais. Segue agora um pouco mais de detalhes sobre essas modalidades.

História das Modalidades

BasqueteO basquete foi criado em 1891, pelo Colégio Internacional

da Associação Cristã de Moços (ACM) em Massachussets, Estados Unidos, pelo professor canadense James Naismith. Sua criação foi estimulada pelo inverno intenso no país, o que impossibilitava a prática de exercício ao ar livre, então foi criado o basquete em qua-dra fechada (CBB, 2014).

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No processo de invenção do basquete, James teria que inven-tar um esporte no qual o contato fosse mínimo entre os jogadores para que não houvesse conflito entre os rapazes da ACM, por isso o alvo teria que ser fixo e ser atingido apenas pela bola, a qual devia ser jogada com as mãos e não com os pés. Então, ele teve a ideia de fixar o alvo elevado em relação ao chão, o que, além de outros aspectos, tornaria esse esporte único quando comparado aos outros. Com tal ideia em mente, ele procurou o zelador do prédio da ACM para lhe auxiliar a encontrar alguma coisa que servisse como alvo (cesta), foi quando encontraram dois cestos velhos de pêssego e, com um martelo e pregos, James fixou os cestos em duas pilastras a uma altura que ele imaginava ter mais de 3 metros, por coincidên-cia ela tinha exatos 3,05 metros, a qual é adotada até hoje. Além das dimensões e alturas dos cestos, James também inventou as primei-ras regras, as quais eram compostas por 13 itens, que ele memori-zou e passou no papel em menos de uma hora; depois levou-as até seus alunos, lhes informando que tinha um novo jogo, o qual foi apresentado a eles naquele momento (CBB, 2014).

Enquanto modalidade olímpica, o basquete foi incluído ape-nas em 1936, nos Jogos Olímpicos de Berlim. Hoje em dia o es-porte é praticado por mais de 300 milhões de pessoas no mundo todo, praticado em mais de 170 países filiados a FIBA – Federação Internacional de Basquete (CBB, 2014).

HandebolO primeiro jogo de handebol, citado por Homero, na Odis-

seia, chamava-se “Urânia”, era praticado na antiga Grécia com uma bola do tamanho de uma maçã e era jogado com as mãos e sem balizas. O handebol como é jogado hoje em dia foi introduzido na Alemanha pelo alemão Hirschmann (secretário da Federação In-ternacional de Futebol) na última década do século XIX, mas foi levado para o campo em 1912 (CBHb, 2014).

Na primeira Guerra Mundial (de 1915 a 1918), o professor de ginástica berlinense Max Heiser criou um jogo ao ar livre denominado “Tortball” para as operárias da Fábrica Siemens, que teve o campo aumentando para as medidas do futebol quando os homens começaram a praticá-lo. Em 1919, o professor alemão Karl

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Schelenz reformulou o “Tortball”, passando a chamar Handball, com um total de 11 jogadores dentro de campo, a mesma quantidade do futebol; como o inverno era muito rigoroso na Alemanha, foi criado o handebol de salão, o qual é praticado até hoje, com apenas 7 jogadores em quadra, sendo 1 goleiro e 6 jogadores de linha (CBHb, 2014).

Como o basquete, o handebol só entrou como modalidade olímpica nos Jogos Olímpicos de 1936. No Brasil, até 1960, o es-porte era praticado apenas em São Paulo; a partir deste ano, o pro-fessor francês Augusto Listello, durante um curso Internacional na cidade de Santos, apresentou a modalidade a outros estados bra-sileiros, fazendo-o assim parte das aulas de Educação Física. Em 1971, o MEC introduziu a modalidade nos Jogos Estudantis (JES’s) e nos Jogos Universitário Brasileiro (JUB’s). O handebol no Brasil é gerenciado pela Confederação Brasileira de Handebol (CBHb), criada em 1979 (CBHb, 2014).

Futebol de CampoOs historiadores contam que a primeira partida de futebol foi

realizada na China por volta de 2.500 a.C. De acordo com esses historiadores, os soldados chineses se divertiam com os crânios de seus inimigos decapitados em um grande jogo. Outros historiadores alegam que quem inventou foram os maias (HISTÓRIA DO MUN-DO, 2014).

Apesar das divergências quanto à sua origem, foi apenas no século XIX, na Inglaterra, que o futebol ganhou as regras oficiais que o regem até hoje, ganhando também o formato atual. No Bra-sil, o esporte foi introduzido por Charles Miller, por volta de 1894 (HISTÓRIA DO MUNDO, 2014).

Em 1870, foi realizada a primeira copa do mundo de futebol, somente com times ingleses, mas em 1904 os franceses promove-ram a universalização do futebol, formando a Fifa (Federação In-ternacional de Futebol), a qual ainda é a responsável pelo futebol no mundo. O futebol é praticado pelo mundo todo em diversos países e pode ser jogado em qualquer espaço retangular com duas balizas. O Brasil é considerado o país do futebol e possui cinco títulos mun-

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diais, conquistados em 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002 (HISTÓRIA DO MUNDO, 2014).

FutsalSegundo historiadores, o futsal possui duas versões sobre seu

surgimento, havendo algumas divergências sobre sua invenção. Uma das versões diz que o futsal começou a ser jogado em qua-dras de basquete e hóquei, no ano de 1940, por frequentadores da Associação Cristã de Moços, em São Paulo, os quais alegavam que havia muita dificuldade em encontrar campos de futebol livres para poderem jogar. A segunda versão da possível criação do futsal, tida como a mais provável, diz que o futsal foi inventado em 1934, na Associação Cristã de Moços de Montevidéu, Uruguai, pelo pro-fessor Juan Carlos Ceriani, que deu o nome de “Indoor-foot-ball” (CBFS, 2014).

Há relatos de que os primeiros jogos eram disputados com cinco, seis ou sete jogadores em cada equipe, mas logo em seguida definiram o número para cinco jogadores, assumindo a forma que possui até hoje. As bolas utilizadas eram feitas de serragem, crina vegetal, ou de cortiça granulada, mas saltavam muito e com fre-quência saiam de quadra, havendo assim uma diminuição do seu tamanho e aumento de seu peso, ganhando o nome de “Esporte da bola pesada” (CBFS, 2014).

Ansiedade

Segundo Ferreira (2006), a ansiedade em contextos desporti-vos não deve ser escrita pela sua própria designação às situações de competição regular ou oficial, mas também às diferentes e variadas situações avaliativas que se sucedem ao longo de um ciclo de rea-lização (contempla diferentes momentos ou etapas) que exigem do atleta determinados níveis de realização e de rendimento.

A ansiedade vem do latim anxietate, ela pode ter várias de-finições, tais como, aflição, angústia, incerteza, relação com qual-quer contexto de perigo etc. (CAMPANI et al., 2011).

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Segundo Weinberg e Gould (2008), ansiedade é um estado emocional negativo que se caracteriza pelo nervosismo, pela preo-cupação e apreensão, associado à excitação do corpo.

Atualmente, pode-se entender a ansiedade como um fenôme-no que pode beneficiar ou atrapalhar o indivíduo, dependendo da sua intensidade e da percepção subjetiva, podendo prejudicar o fun-cionamento psíquico (mental) e somático (corporal).

Segundo Reis (2008), a ansiedade é definida como um estado emocional transitório, possui três componentes distintos, mas, ao mesmo tempo, interligados, esses componentes são a parte fisio-lógica (exemplo: aumento da frequência cardíaca e da tensão mus-cular), a parte comportamental (exemplo: diminuição da precisão, coordenação de movimentos etc.) e a parte cognitiva (exemplo: di-ficuldade de concentração, antecipação dos resultados negativos).

A ansiedade é dividida em dois campos, sendo eles ansieda-de-estado e ansiedade-traço, a seguir é explicado um pouco de cada um desses campos.

Ansiedade-estadoPara Weinberg e Gould (2008) ansiedade-estado é definida

como um estado emocional caracterizado por sentimentos subje-tivos de apreensão e tensão. Os autores mostram que, na ansieda-de, existem dois componentes, o primeiro é chamado de ansiedade cognitiva, a qual se relaciona com preocupação e apreensão, e o segundo é chamado de ansiedade somática, o qual é o grau de ati-vação física percebida. Ferreira (2008) conceitua como um estado emocional imediato e transitório que varia de intensidade e no tem-po, caracterizado por uma apreensão e tensão em uma determinada situação em que o indivíduo ativa o sistema nervoso.

Segundo Xavier (2009, p. 23), a ansiedade-estado pode ser dividida em mais dois componentes, sendo eles:

Ansiedade Cognitiva: está associada à preocupação, geral-mente expressas em dúvidas e pensamentos sobre si mes-mo ou das consequências durante o jogo.

Ansiedade Somática: refere-se a elementos fisiológicos e reações que influenciam no nível de ativação, com au-

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mento da ativação do sistema nervoso central, alterando a frequência cardíaca e respiratória, ação da musculatura, entre outros.

Ansiedade-traçoA ansiedade-traço se caracteriza por uma tendência ou dispo-

sição comportamental adquirida que influencia o comportamento (WEINBERG; GOULD, 2008).

Segundo Ferreira (2006, p. 89), “[...] a ansiedade como um traço de personalidade, deve ser vista como as diferenças indivi-duais relativamente estáveis na tendência para a ansiedade”. Pode ser definida como a disposição do indivíduo de sua personalidade em ter ansiedade em algumas situações.

Ansiedade-traço refere-se a diferenças individuais estáveis, são reações a situações ameaçadoras que cada indivíduo desenvol-ve a partir de suas experiências pessoais (LAVOURA; BOTURA; MACHADO, 2006). O desenvolvimento dessa ansiedade está dire-tamente ligado às experiências passadas e às percepções de cada in-divíduo. Muita ansiedade-traço pode causar ameaças à integridade da pessoa; normalmente quando a ansiedade-traço está muito alta, o indivíduo tende a ter uma baixa autoestima e pouca confiança em si mesmo (ROSITO, 2008).

Autoconfiança

A autoconfiança é reconhecida no campo da Psicologia do Esporte como a “crença de que você pode realizar com sucesso um comportamento desejado” (WEINBERG; GOULD, 2008, p. 344).

A confiança é um fator multidimensional, sendo constituída por vários aspectos. Ela é caracterizada por uma alta expectativa de sucesso, facilidade de concentração e ajuda a focalizar as estraté-gias de jogo. Com base nesses componentes, a confiança pode mu-dar o estado psicológico de uma pessoa. Importante destacar que alguns aspectos da autoconfiança podem ser avaliados e discutidos, como mostra os exemplos descritos por Weinberg e Gould (2008) e apresentados a seguir:

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• O Despertar de Emoções Positivas: esse estado mental e corporal mostra que, quanto maior o nível de confiança, maior será a chance de se manter calmo e relaxado sobre forte pressão.

• A Facilitação na Concentração: esse estado mostra que a confiança pode facilitar a concentração do indivíduo no que está fazendo.

• A Confiança afeta as Metas: aqui mostra que, quando se está confiante, consegue-se alcançar as metas mais altas estabelecidas.

• O Aumento da Força: a confiança pode aumentar suas for-ças, suas capacidades, fazendo com que se consiga realize coisas extraordinárias.

• As Estratégias de Jogo: de acordo com esse ponto, a con-fiança pode alterar as estratégias ou o resultado de um jogo, podendo mudar um resultado pronto.

• O Mau Desempenho: a confiança pode afetar muito o de-sempenho de um atleta, técnico, treinador, professor ou até mesmo de um árbitro esportivo.

O nível de autoconfiança pode influenciar o desempenho po-sitiva ou negativamente; por exemplo, a confiança em um nível ideal pode trazer benefícios ao atleta e à equipe técnica, sendo que o contrário, a falta ou o excesso de confiança, pode trazer mais pon-tos negativos (desconcentração, medo, vergonha) ao atleta e à sua equipe (WEINBERG; GOULD, 2008).

Assim, sabe-se que “Pensamentos, Sentimentos e Compor-tamentos estão inter-relacionados: quanto mais um atleta atua com confiança, maior a probabilidade de que ele se sinta confiante” (WEINBERG; GOULD, 2008, p. 356). Reforça-se, então, sempre a necessidade de buscar níveis adequados de autoconfiança.

Há outro campo que abrange a confiança, e que pode ser aco-plado ao autodesempenho: dentro desse assunto, podem ser avalia-das as expectativas que os técnicos ou, no caso deste trabalho, os árbitros têm sobre o rendimento dos atletas. Por exemplo, em um

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estudo em que patinadores artísticos foram avaliados por alguns ár-bitros que os conheciam e outros que não os conheciam, ficou cons-tatado que as avaliações e as classificações eram mais altas quando os juízes conheciam os patinadores (WEINBERG; GOULD, 2008).

A autoconfiança tem um papel muito importante no rendi-mento de árbitros, sendo citada por todos durante o jogo. Segundo Ferreira (2006), a autoconfiança pode ser considerada um fator de diferença individual que engloba a percepção global de confiança do atleta e que possui uma relação linear positiva com o rendimen-to.

Arbitragem

Samulski e Silva (2009) definem arbitragem como um “[...] substantivo feminino que significa arbitramento, julgamento feito por um ou mais árbitros, ato de dirigir qualquer jogo esportivo”.

Arbitragem esportiva há décadas é utilizada nas modalidades esportivas, ela é regulamentada no Brasil pela Lei 9.307/96, a cha-mada Lei da Arbitragem, e vem sendo reconhecida como o método mais eficiente de resolução de conflitos, contribuindo para o des-congestionamento do Poder Judiciário (CÂMARA NACIONAL DE ARBITRAGEM, 2010).

Com relação à Arbitragem Esportiva, Kocian e Machado (2008, p. 245) a descrevem:

Justamente pela atribuição de julgar as ações desportistas, quando em competição, este é um trabalho que exige muita precisão e o mínimo de erros de quem o executa. Todos esses fatores mistificam, expõem e tornam a figura do ár-bitro crucial para o desenvolvimento de um esporte. Anali-sar os aspectos da autoridade e os objetivos e atitudes pró-prias levam-nos a entender das relações intergrupos com que teremos que lidar, no desenvolvimento da profissão: a autoridade do árbitro é mais um elemento a ser trabalhado, num jogo entre dois grupamentos sociais diferentes.

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Os autores prosseguem:Para a maioria dos árbitros os momentos finais do jogo são os mais tensos, pois para estes, são os momentos decisivos, por esse motivo também o árbitro deverá ter um preparo físico, técnico e psicológico para poder desempenhar sua função (KOCIAN; MACHADO, 2007 p. 252).

A atuação dos árbitros, na maioria dos esportes, antes de tudo, é dada pela sua participação anterior na modalidade escolhida para arbitrar, depois é a peça essencial para o espetáculo, para uma boa atuação, eles devem ter um preparo técnico, mas também uma óti-ma preparação psicológica. Para que o trabalho do arbitro seja im-parcial e justo, existem alguns fatores que devem ser considerados, como o estado emocional, que pode estar sendo influenciado pelo público da partida (jogadores, treinadores, torcedores etc.). Para li-dar com situações emocionais, o arbitro precisa de autocontrole e muita autoconfiança. Os árbitros considerados bem-sucedidos na profissão geralmente são seguros, autoconfiantes, espontâneos e ajustados socialmente.

A arbitragem deve se preocupar com quatro responsabilida-des dentro de campo. São elas: assegurar que o jogo corra de acordo com suas regras, interferir o menos possível, estabelecer e manter uma boa atmosfera para o jogo e, por último, mostrar preocupação com os jogadores. Um árbitro diferenciado deve atuar com rapidez e decisão, mostrar domínio e controle emocional, atuar com inte-gridade, com muita confiança, dominar as regras da modalidade, ter comunicação verbal sem palavrões, em tons adequados, nunca ofender jogadores, técnicos e colegas de trabalho, ser ético e impar-cial em todos os jogos.

Sobre as intervenções psicológicas, os árbitros devem ter mais recursos para executar um papel educativo no esporte, evitan-do alguns conflitos. Eles exercem um papel fundamental dentro da área de jogo, seja ele na quadra ou campo, pois suas decisões podem definir uma partida ou um campeonato, isso exige que o árbitro se mantenha o tempo todo concentrado, atento e esteja sempre bem posicionado para tomar as decisões corretas. Os árbitros no mundo inteiro, principalmente os que apitam jogos da várzea ou amador, encontram dificuldades para trabalhar, seja pela infraestrutura do

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local do jogo, pela falta de segurança, pelas condutas antiesportivas dos atletas, dirigentes, treinadores e de torcedores que querem agre-dir a arbitragem de forma verbal ou física: “Assim, arbitrar pode ser uma atividade desafiadora em muitos aspectos, mas ao mesmo tem-po pode ser uma experiência frustrante e emocionalmente difícil” (FERREIRA; BRANDÃO, 2012, p. 10).

A arbitragem esportiva tem um grande impacto no desempe-nho dos jogadores, no resultado final de um jogo ou de uma compe-tição, mesmo que involuntariamente; para alguns autores, a equipe de arbitragem deveria ser a mais avaliada durante uma partida, uma vez que um árbitro pode tomar mais de 130 decisões durante um jogo. O árbitro principal tem a autoridade total para tomar decisões importantíssimas durante a partida e fazer cumprir as regras da mo-dalidade, suas decisões são sempre definitivas, ele pode interrom-per, suspender ou finalizar uma partida a qualquer momento, dentro das regras estabelecidas (OLIVEIRA et al., 2013).

Segundo os mesmos autores, a concentração de um árbitro deve estar 100% durante toda a partida; antes e depois dela tam-bém, o árbitro deve sempre estar atento, seletivo com suas decisões, intenso e direto nas tomadas de decisões mais sérias (OLIVEIRA et al., 2013). Além de ter um bom preparo psicológico, o árbitro deve ter um preparo físico excelente, para poder avaliar as jogadas, evi-tando que as regras sejam violadas e sofrendo uma pressão maior, diminuindo seu nível de concentração. Um árbitro mais experiente consegue manter um nível de concentração maior durante uma par-tida (PEREIRA; SANTOS; CILLO, 2007).

Hoje em dia a arbitragem é muito prejudicada pela mídia, pois em campo ou na quadra o árbitro só tem a visão dele e a de seus assistentes para lances muito rápidos e difíceis de ser analisa-dos. Já a mídia possui várias câmeras a seu dispor, podendo avaliar aquele lance em que o árbitro errou de vários ângulos, podendo assim criticar o árbitro pelo seu erro, de forma a prejudicar seu rendimento pós-jogo. Por causa desses lances os árbitros são muito criticados pelo torcedor, jogador e treinadores que estão assistindo ao jogo.

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Outro ponto que prejudica e pode influenciar a tomada de decisões de um árbitro é a torcida, que pode ser a peça para um erro da arbitragem durante todo o jogo ou um campeonato. Um estudo realizado com dois grupos de árbitros, sendo que um grupo assistiu a um jogo com o barulho da torcida e o outro grupo assistiu a um jogo sem torcida, revelou que os árbitros que assistiram a um jogo com torcida, principalmente do time da casa, tiveram uma diminui-ção de 15,5% de faltas marcadas para o time da casa, comparado com o grupo de árbitros que assistiram sem torcida no estádio. Os autores concluem que os árbitros que assistiram ou que apitam o jogo com o barulho da torcida tendem a sentir uma intimidação por causa do barulho da torcida, favorecendo assim o time da casa (SILVA; OLIVEIRA, 2012).

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os dados foram analisados seguindo uma metodologia qua-litativa, com o uso de estatística descritiva, ou seja, buscando a resolução de problemas, melhorando as práticas por meio da ob-servação, análise e descrições objetivas (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012).

Foram investigados árbitros das quatro principais modali-dades coletivas de invasão: Futebol de Campo, Futebol de Salão, Handebol e Basquetebol. Participaram do estudo 44 árbitros divi-didos em: 15 árbitros de Futebol de Campo, 12 árbitros de Futsal, 7 árbitros de Handebol e 10 árbitros de Basquetebol. Foram com-paradas média de idade, média de atuação, cidade de nascimen-to, estado civil, profissão, escolaridade, prática de exercício físico, realização de exames médicos.

Os materiais utilizados foram uma anamnese destinada a tra-çar o perfil dos entrevistados, a qual é composta por 13 questões.

Após responder a anamnese, o participante foi convidado a preencher o CSAI-2 (Competitive State Anxiety Inventory – 2) utili-zado para medir o nível de ansiedade-estado (somática e cognitiva) e a ansiedade relacionada à autoconfiança. O CSAI-2 é composto por 27 questões, divididas em 3 subescalas (ansiedade cognitiva,

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somática e autoconfiança), nas quais o sujeito opta por 1 = nada, 2 = alguma coisa, 3 = moderado e 4 = muito, de acordo com a afir-mação. A pontuação das 3 subescalas é obtida pela somatória das respostas, com pontuação variando de 9 a 36 (FERREIRA, 2008).

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O presente estudo teve como objetivo analisar o índice de autoconfiança nos árbitros esportivos das modalidades de invasão, Basquetebol, Handebol, Futebol de Campo e Futsal, comparando-o com os níveis de ansiedade cognitiva e somática.

Segundo o apontado por Januário et al. (2009), há uma relação inversa entre os níveis de ansiedade-estado e o nível de autocon-fiança. Nesse caso, se os níveis de ansiedade cognitiva e somática estiverem baixos, o nível de autoconfiança estaria alto.

Segundo afirmam Campani et al. (2011), existe claramen-te uma relação entre ansiedade e desempenho esportivo. Moraes, (1990 apud CAMPANI et al., 2011) diz que a ansiedade varia de acordo com outros fatores, como o tipo de esporte praticado, a difi-culdade, a personalidade do atleta, o ambiente, torcida etc. Guzmán, Amar e Ferreras (1995, apud CAMPANI et al., 2011) sugerem que, principalmente nas competições, há um elevado nível de ansiedade atrapalhando o desempenho esportivo, alegando que a ansiedade produz efeitos negativos no rendimento do atleta, causando alguns sintomas físicos, tais como aceleração dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, aumento da tensão muscular, entre outros, e, alguns sintomas psicológicos, tais como desconfiança, pensamentos negativos, preocupação, falta de atenção, perca do autocontrole, cansaço, distração, entre outros (CAMPANI et al., 2011).

Para análise dos dados, foi criada uma tabela, a qual apresenta os dados coletados por meio do CSAI-2 (Competitive State Anxiety Inventory – 2), analisando ansiedade cognitiva, ansiedade somáti-ca e autoconfiança. Para a apresentação dos dados foi utilizada a Frequência Acumulada Percentual, por meio dela se consegue unir as quatro categorias do instrumento (nada, um pouco, bastante e

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muito) em apenas duas categorias, o que tornou a construção e o entendimento da tabela mais claros. Além do mais, inseriu-se a mé-dia de idade e a média do tempo de atuação dos participantes para eventuais comparações. Segue a tabela.

Tabela 1. Comparação dos níveis de ansiedade cognitiva, somática e autoconfiança.

COMPARAÇÃO DOS NÍVEIS DE ANSIEDADE COGNITVA, SOMÁTICA E AUTOCONFIANÇA

MODALIDADES

ANSIEDADE COGNITIVA ANSIEDADE SOMÁTICA AUTOCONFIANÇAMÉDIA IDADE (ANOS)

MÉDIA ATUA-ÇÃO (ANOS)

NADA/UM POUCO

BASTANTE/MUITO

NADA/UM POUCO

BASTANTE/MUITO

NADA/UM POUCO

BASTANTE/MUITO

Basquetebol 76,25% 23,75% 87,78% 12,22% 71,11% 28,89% 39,00 17,10Handebol 83,93% 16,07% 92,06% 7,94% 52,38% 47,62% 25,00 6,14Futebol 71,67% 28,33% 90,37% 9,63% 74,81% 25,19% 37,73 8,87Futsal 78,12% 21,12% 85,19% 14,81% 78,70% 21,30% 38,42 10,83

A tabela nos mostra que, em todas as modalidades, o nível de ansiedade cognitiva e somática apresentou, para quase todos os participantes, uma relação inversa quando se comparou aos níveis de autoconfiança (níveis de ansiedade baixos e elevada autocon-fiança), situação considerada adequada por Januário et al. (2009).

Analisando individualmente cada modalidade, observa-se que os árbitros de handebol foram a categoria que percebeu níveis de autoconfiança mais pareados, ou seja, a parcela de árbitros que percebem níveis elevados de autoconfiança (52,38%) é muito si-milar à que percebe baixos níveis (47,62%). Pode-se referir esse equilíbrio, e a diferença para as outras modalidades, à menor média de tempo de atuação desses árbitros (6,14 anos), quando compara-dos aos das outras modalidades, no entanto são os árbitros menos ansiosos, pois demonstraram elevados índices de respostas “nada” e “um pouco” para a ansiedade cognitiva (83,93%) e somática (92,06%). Como forma de justificar a pouca experiência desses ár-bitros, pode-se apontar a média de idade, sendo a menor (25 anos) dentre todos os participantes.

Foi observado que a modalidade que tem os árbitros mais confiantes em suas atuações é o futsal, com índices de quase 79%

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de autoconfiança e com índices inferiores a 20% de ansiedade, o que confirma a teoria de Januário et al (2009).

A modalidade de futebol de campo teve os árbitros com o se-gundo menor índice de ansiedade somática, com uma frequência de apenas 9,63% de ansiedade. Pôde-se verificar que há uma relação entre a autoconfiança e a ansiedade percebida pelos árbitros. Ante-riormente vimos que alguns árbitros sentem-se pressionados pelas pessoas que os rodeiam, tais como treinadores, jogadores, torcida, a mídia (repórteres) e as Federações e Confederações.

Na modalidade de basquetebol obtivemos os árbitros mais experientes, sendo que a média de idade entre os entrevistados é de 39 anos e a média de atuação dentro da modalidade é de 17 anos; comparados aos árbitros de handebol, eles possuem três vezes mais experiências, isso pode tê-los deixado mais confiantes durante o tempo para tomarem certas decisões. Cárdenas e Pumariega (2012) mostram que a experiência dos árbitros é o melhor indicador para as tomadas de decisões; com isso, o tempo que possuem para tomar uma decisão é um dos aspectos que mais causa estresse antes, du-rante e depois das competições, interferindo assim na sua tomada de decisão.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Weinberg e Gould (2008), Samulski e Silva (2009), Ferreira e Brandão (2012) e Cárdenas e Pumariega (2012) demonstraram que a ansiedade e, em destaque, o fator autoconfiança podem interferir diretamente na atuação dos árbitros em uma partida esportiva, em especial nas modalidades estudadas neste trabalho.

Segundo os autores estudados, a ansiedade, que pode acon-tecer antes, durante e após os jogos, interfere negativa ou positiva-mente no nível de autoconfiança do árbitro, fato que pode interferir em seu desempenho durante o jogo.

As situações que, de um modo geral, provocam ansiedade e, como consequências, interferem na autoconfiança, são todas aque-las em que existem incertezas (desempenho, condições do local e

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do jogo etc.), nas situações novas e de trocas (proximidade de um campeonato importante ou a necessidade de se classificar para o quadro de árbitros de uma Federação ou Confederação, possibili-dade de tornar-se árbitro profissional), nas que há uma sobrecarga de informação (informação simultâneas dos jogadores, do árbitro reserva, do assistente etc.), nas que faltam condutas para fazer fren-te e manejar a situação.

Segundo Cárdenas e Pumariega (2012, p. 5), o controle dos aspectos psicológicos, que é mencionado pelos próprios árbitros, é fundamental para o melhor desempenho na arbitragem esportiva. Como afirmam os mesmos autores, “para ser um bom árbitro é ne-cessário ter boa autoconfiança e uma consolidada segurança em si mesmo” (CÁRDENAS; PUMARIEGA, 2012, p. 5).

No contexto atual, a arbitragem sofre uma grande dificuldade em atuar bem com as mudanças nas regras, principalmente no fute-bol de campo, que teve grande repercussão nos últimos meses, com alguns erros e algumas interpretações equivocadas, sendo observa-do, assim, algum despreparo das equipes de arbitragem, inclusive daquelas filiadas às Confederações e Federações Internacionais, tanto no contexto técnico, quanto no físico. Com relação ao psico-lógico, as equipes de arbitragem devem ter um cuidado maior ain-da, pois, como citado, para o árbitro ter um desempenho adequado, alguns fatores são essenciais, como, por exemplo, a autoconfiança.

Diante do exposto no presente estudo, sugere-se que novos estudos sejam feitos com árbitros de diferentes modalidades, que investiguem as equipes de arbitragem esportivas nacionais e inter-nacionais. Com a intenção de serem mais abrangentes, estes es-tudos poderiam envolver as mais diversas variáveis (psicológicas, fisiológicas e fatores relacionados ao desempenho) e suas inter--relações.

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A importância do movimento na educação infantil de 0 a 3 anos

Natalia RODRIGUES1 Andréia Nadai CARBINATTO2

Resumo: Por meio do movimento a criança aprende de forma significativa, constrói o conhecimento de si mesmo e do contexto em que vive, brinca, apren-de, explora e descobre o mundo utilizando a maior de todas as ferramentas da aprendizagem, ou seja, seu próprio corpo. O objetivo deste trabalho foi analisar a importância do movimento na educação de crianças de 0 a 3 anos; para tan-to, foi utilizada pesquisa bibliográfica e relato de experiência. Por meio des-ta, buscou-se entender as características desenvolvimentistas dessa faixa etária, como o movimento pode auxiliar no desenvolvimento e como o educador deve agir/interagir como facilitador desse desenvolvimento por meio do movimento. Concluiu-se que este é intrínseco à criança nessa faixa etária e que o educador precisa conhecer seus alunos e procurar estratégias para atendê-lo, assim como os referenciais educacionais e as propostas pedagógicas da instituição.

Palavras-chave: Educação. Educação Infantil. 0 a 3 anos. Movimento. Desen-volvimento Motor.

1 Natalia Rodrigues. Graduada em Pedagogia pelo Claretiano – Centro Universitário (2014). E-mail: <[email protected]>.2 Andréia Nadai Carbinatto. Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual Paulista – Unesp (1994), graduada em Pedagogia pelo Claretiano – Centro Universitário (2008) e mestre em Ciências da Motricidade pela Universidade Estadual Paulista – Unesp (1999). E-mail: <[email protected]>.

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho objetiva mostrar a importância de tra-balhar o movimento na Educação Infantil de 0 a 3 anos, como consta no Referencial Curricular da Educação Infantil, no qual o movimento faz parte dos eixos a serem trabalhados na educação. Por meio dele, a criança aprende de forma significativa, constrói o conhecimento de si mesmo e do contexto em que vive, brinca, aprende, explora e descobre o mundo utilizando a maior de todas as ferramentas de aprendizagem, ou seja, seu próprio corpo (BRASIL, 1998).

Para tanto o educador precisa entender as etapas do desen-volvimento, suas funções e habilidades, levando em consideração e respeitando o tempo de cada criança; entender a real necessidade de se trabalhar o movimento e a forma adequada de estimular as crianças desde o berçário até o maternal; observar se está de acordo como os Documentos Educacionais Nacionais (RCNEI); aprender a organizar o espaço com a finalidade de estimular a linguagem corporal para impulsionar o desenvolvimento físico e cognitivo das crianças nessa faixa etária (GALLARDO; OLIVEIRA; ARAVE-NA, 1998).

O movimento é o meio pelo qual o indivíduo se comunica e transforma o mundo que o rodeia. Ele é a primeira manifesta-ção na vida do ser humano; desde antes de nascer ele já realiza movimentos, e, no decorrer do crescimento, eles irão amadurecen-do e ganhando habilidades estruturadas. Por meio do movimento é possível expressar os sentimentos, pensamentos e vontades, sem que haja a necessidade de verbalizá-los (FREIRE, 1997).

Entender a necessidade de se trabalhar e estimular o movi-mento na educação infantil é a principal proposta deste trabalho, pois o desenvolvimento da criança de 0 a 3 anos é puramente mo-tor. É um processo complexo, que produz transformações qualita-tivas e envolve aprendizagem de diversos tipos: biológica, psicoló-gica e social, expandindo e aprofundando a experiência individual e coletiva. É essencial que o professor saiba como e o que trabalhar

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dentro da faixa etária de 0 a 3 anos, estabelecendo relação entre a teoria e a prática para se obter um resultado significativo e eficaz.

O educador deve estar atento, buscando agir como facilitador da aprendizagem, respeitando as fases e limites do aluno, transmi-tindo-lhe confiança e afeto, para que se estabeleça uma relação que contribua de forma significativa em seu desenvolvimento motor, autonomia e identidade (NEIRA; NUNES, 2006).

Para complementar a revisão bibliográfica, o presente tra-balho analisou os fatos por meio de uma pesquisa descritiva com abordagem qualitativa, relatando o desenvolvimento de atividades em uma instituição educacional que trabalha com essa faixa etária.

O desenvolvimento infantil nessa faixa etária está intima-mente ligado a estímulos físicos e sensoriais, ou seja, a criança pos-sui necessidade de movimentar-se para conhecer e interagir com a sociedade (GALLARDO, OLIVEIRA, ARAVENA, 1998).

Dessa forma, por meio do presente trabalho se observa a im-portância do planejamento das atividades de motricidade para as crianças de zero a três anos, de forma que contribuam para seu desenvolvimento integral.

2. DESENVOLVIMENTO

Característica da criança de 0 a 3 anos

As crianças de 0 aos 3 anos, por meio de gestos, exploram e conhecem o mundo em que vivem. Esse estágio foi descrito como sensório-motor pelo médico, psicólogo e filósofo francês Henri Wallon (1879-1962) (GONÇALVES, 2009, p. 14).

Segundo Freire (1997, p. 19), “[...] o conhecimento do mun-do da criança nesse período depende das relações que ela vai esta-belecendo com os outros e com as coisas”. Nessa faixa etária, não é aconselhável dissociar a brincadeira do desenvolvimento, pois é por meio do lúdico que a criança recebe estímulos para seu desen-volvimento, proporcionando interação com o ambiente educacio-

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nal. O planejamento das atividades deve contemplar a individuali-dade da criança, seu tempo de desenvolvimento, de forma lúdica, envolvendo a criança, e ao mesmo tempo, a desafiando a explorar novas sensações.

O desenvolvimento cognitivo nessa faixa etária é intenso, po-rém o desenvolvimento psicomotor é mais concreto, visível, pois é a fase em que a criança necessita desenvolver as habilidades moto-ras, que auxiliarão na aquisição das demais habilidades (GALLAR-DO, OLIVEIRA, ARAVENA, 1998).

As crianças, na faixa etária dos 0 aos 3 anos, iniciam a ex-ploração do ambiente por meio de seu próprio corpo; sendo assim, elas entram em contato com novas sensações, recebem estímulos sensoriais, bem como começam a perceber a noção de espaço e a reconhecê-lo, ou seja, sentindo total liberdade para explorá-lo. O primeiro brinquedo que a criança possui é seu próprio corpo (BRA-SIL, 1998). Elas possuem desde antes do nascimento um potencial de desenvolvimento, o qual se torna refinado à medida que entram em contato com os fatores determinantes em seu processo de apren-dizagem.

Sabe-se que os fatores biológicos e ambientais tornam-se um ponto de partida para que a criança se desenvolva, se aprimore de forma significativa e dentro das etapas de seu desenvolvimento mo-tor (LÉVY, 1972).

O desenvolvimento infantil deve ser entendido como um meio de contínua interação entre experiências, possibilitando a análise entre fatores genéticos e o desenvolvimento biológico da criança (GALLARDO, OLIVEIRA, ARAVENA, 1998).

Desde muito cedo, a criança carrega consigo uma bagagem de vivências, experiências e conhecimentos que influenciam sua capacidade de sentir o mundo e interagir com ele (LEGARDA; MI-KETTA, 2008).

Seu desenvolvimento dá-se por meio de estágios, em uma sequência ordenada; o que veremos agora será um resumo das ha-bilidades esperadas nesse processo de desenvolvimento:

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Do primeiro ao terceiro mês de vida, o bebê ainda não possui controle de seus movimentos, contando com movimentos involun-tários e automáticos; reage a pequenos barulhos e ruídos, podendo se assustar com barulhos inesperados e intensos, seu sistema visual é limitado, portanto só enxerga algum objeto ou alguém se estiver bem próximo a ele (LEGARDA; MIKETTA, 2008).

Do segundo ao terceiro mês, o bebê já começa a acompanhar objetos e pessoas com os olhos e reconhece os pais. Abre e fecha as mãos, leva-as à boca e suga os dedos. Segura objetos com firmeza por certo tempo e consegue pegar objetos suspensos (LEGARDA; MIKETTA, 2008).

É importante entender que, nessa fase, ao ser estimulado com brincadeiras e músicas, o bebê fica agitado, realizando movimentos de pernas e braços, sorri e dá gritinhos; ao ouvir a voz dos pais, o bebê vira a cabeça. É de suma importância que a rotina seja de for-ma razoavelmente metódica (LEGARDA; MIKETTA, 2008).

Do quarto ao sétimo mês, fica na postura de bruços e se apoia nos antebraços quando quer ver o que está acontecendo ao seu re-dor; rola de um lado para o outro, estende a mão para alcançar o objeto que deseja, transfere-o de uma mão para outra e coloca-o na boca. Passa a apresentar equilíbrio quando colocado sentado (LE-GARDA; MIKETTA, 2008).

Nessa fase, a criança movimenta a cabeça na direção do som escutado, para de chorar ao ouvir música, sorri quando quer aten-ção do adulto. Encontra-se no processo de formação do conceito de causa e efeito no momento em que está explorando um brinquedo; olha, chacoalha, e atira objetos ao chão (LEGARDA; MIKETTA, 2008).

Por volta dos seis meses a criança já está apta a se sentar; essa habilidade oferece-lhe grande oportunidade, pois o campo de visão é ampliado, portanto os estímulos recebidos são bem maiores e a criança passa a interagir com o meio naturalmente, pois a curiosi-dade é uma das características da criança (NEIRA; NUNES, 2006).

Do oitavo ao décimo primeiro mês, a criança engatinha, con-segue ficar em pé com apoio, aponta para objetos ou pessoas e pega

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pequenos objetos com o indicador e o polegar (movimento de pin-ça) (LEGARDA; MIKETTA, 2008).

Localiza a fonte sonora movimentando o corpo para o local onde se encontra o som. Bate palmas, joga beijo e entende quan-do lhe dizem tchau. Começa a compreender o significado de al-guns gestos. Balança a cabeça quando não quer alguma coisa, anda apoiada em alguns objetos e pode até mesmo arrastá-los (LEGAR-DA; MIKETTA, 2008).

A partir do primeiro ano de vida, passa a andar sem apoio. Por volta dos dezoito meses, pode começar a correr, subir em móveis (algumas crianças já adquirem essa habilidade antes dessa idade, dependendo do estímulo que recebem), e ficar nas pontas dos pés sem apoio. Consegue virar páginas de um livro ou revistas (várias ao mesmo tempo), gosta de rabiscar no papel ou em qualquer outro lugar (LEGARDA; MIKETTA, 2008).

Por volta dos vinte e quatro meses, já tira os sapatos, chuta bola sem perder o equilíbrio (algumas vezes acaba perdendo um pouco). Gosta de dançar, consegue acompanhar o ritmo da música batendo palmas. Nessa fase, a criança está pronta para abandonar o uso das fraldas (LEGARDA; MIKETTA, 2008).

Aos trinta e seis meses, acredita-se que a criança consiga co-locar suas roupas e tirá-las sem ajuda de um adulto, já consiga segu-rar um lápis na posição correta; passe por obstáculos com destreza, tenha adquirido controle total dos movimentos e equilíbrio e consi-ga pedalar. Nessa fase, a criança é capaz de separar os brinquedos por tamanho e cor (GESELL; AMATRUDA, 1990, p. 8).

[...] o corpo da criança cresce e seu comportamento cresce; ela forma sua “mente” do mesmo modo que forma seu cor-po – através dos processos do desenvolvimento. À medida que seu sistema nervoso sofre diferenciações ligadas ao crescimento, as formas de seu comportamento também se diferenciam. Numa idade, ela agarra objetos com a mão inteira; em idade posterior, apanha os objetos com uma oposição clara entre polegar e indicador – a diferenciação neural produz especialização da função e um novo com-portamento (GESELL; AMATRUDA, 1990, p. 3).

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Os estímulos recebidos pela criança nessas faixas etárias não são isolados, pois, ao mesmo tempo em que está recebendo estímulos sensoriais, recebe estímulos visuais, auditivos, verbais, sociais etc. É nesse momento que a construção dos conhecimentos cognitivos é estimulada inicialmente, preparando a criança para a exploração e compreensão dos ambientes sociais (LÉVY, 1972, p. 9).

O vínculo afetivo constitui de forma relevante as experiências que marcarão toda a vida da criança. Os fatores genéticos influem nas características de personalidade, como os níveis de introver-são e extroversão, contribuindo assim para sua questão desenvol-vimentista. O desenvolvimento biológico enfoca o crescimento, a estrutura e funcionalidade dos órgãos e do cérebro. Os estímulos cognitivos e afetivos são as chaves para a formação neurológica da criança e maturação dos neurônios que influenciam o movimento (GONÇALVES, 2009).

As experiências vivenciadas pela criança nessa primeira fase são armazenadas no cérebro e com seu desenvolvimento essas in-formações são processadas, gerando aprendizagem, ou seja, desen-volvimento cognitivo e estruturação do pensamento (LEGARDA; MIKETTA, 2008, p. 15).

[...] com a estimulação não perseguimos a criação de gê-nios, mas sim de crianças mais completas, mais seguras de si e mais felizes, porque somos felizes quando podemos desfrutar a vida. Quanto mais conhecimentos e interesses tem uma pessoa, mais ela desfrutará a aquisição de novos conhecimentos e mais fácil será para ela adquiri-los (LE-GARDA; MIKETTA, 2008, p. 24).

Ao fazer uso dos estímulos certos, a criança cresce e amadu-rece nos aspectos físico, mental e psicológico. Os fatores biológicos e ambientais interagem entre si, influenciando no desenvolvimento motor da criança, para que ela atinja, em seu período de maturação, a aquisição das habilidades necessárias propostas de acordo com cada faixa etária (GONÇALVES, 2009).

Sabe-se que nem todos se desenvolvem no mesmo período, cada organismo reage de uma maneira aos estímulos recebidos e, à medida que a parte motora é trabalhada na criança, esta torna-se

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mais refinada, adquirindo as habilidades necessárias e esperadas dentro do desenvolvimento motor, que a auxiliarão no decorrer de sua vida (GALLAHUE, 2005).

Esse desenvolvimento motor pode ser visto como uma série de mudanças ao longo do ciclo da vida, que envolve adaptações e transformações contínuas, que auxiliarão a criança a adquirir e manter o controle das competências motoras, por meio de esforços e estímulos apropriados. Faz-se necessário entender que nem sem-pre o desenvolvimento motor está relacionado à idade cronológica da criança e sim à sua maturação motora e neurológica (GONÇAL-VES, 2009).

Os processos e produtos do desenvolvimento motor de-vem constantemente nos lembrar da individualidade do aprendiz. Cada indivíduo tem um tempo individual para o desenvolvimento e uma extensão para aquisição de habi-lidades. Embora nosso “relógio biológico” seja de alguma maneira previsível quando há sequência na aquisição da habilidade motora durante a Educação Infantil e o Ensino fundamental, a média e a extensão de desenvolvimento são individualmente determinadas e intensamente influencia-das pelas exigências de performance da própria tarefa es-pecifica (GALLAHUE; DONNELLY, 2008, p. 37).

O processo do desenvolvimento motor das crianças dá-se por meio de diversos fatores e mudanças graduais ocorrem ao longo desse processo.

Espera-se que adquiram habilidades tais como: equilíbrio e locomoção sem auxílio. Do nascimento aos 3 anos, as crianças ad-quirem controle simples de seus movimentos; ao entrar na Educa-ção Infantil de 4 a 5 anos e posteriormente nos anos iniciais do En-sino Fundamental, há uma mudança e refinamento das habilidades motoras fundamentais (GALLARDO; OLIVEIRA; ARAVENA, 1998; GONÇALVES, 2009).

Esse processo do desenvolvimento e crescimento motor na infância é contínuo e varia consideravelmente de acordo com a fai-xa etária, porém não depende exclusivamente dela; fatores modu-ladores permitem a aquisição das habilidades motoras refinadas ao longo da etapa de desenvolvimento (GALLAHUE, 2005).

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Segundo Gallahue e Donnelly (2008), o desenvolvimento de habilidades motoras fundamentais é um pré-requisito para a apren-dizagem e o domínio das habilidades esportivas. É na faixa etária de 0 a 3 anos que a criança adquire essas habilidades necessárias e, com o passar dos tempos, se receber os estímulos corretos, consi-gue tornar essas habilidades apuradas.

[...] Queremos uma criança capaz de se auto-regular di-namicamente e de sentir, processar e gerar respostas à informação afetiva e cognitiva que recupera e recebe do ambiente, que graças a sua vitalidade e curiosidade se constrói e descobre a si mesma: seu corpo, movimentos, expressões e emoções, seus pensamentos e afetos. Dese-jamos uma criança que seja formada a partir dos seus in-teresses e potencialidades, segundo seu ritmo pessoal de aprendizagem, através do jogo, da arte e da exploração do seu ambiente (LEGARDA; MIKETTA, 2008, p. 7).

A equipe educacional responsável pelas crianças de 0 a 3 anos deve conhecer e entender as etapas do desenvolvimento infantil, suas funções e habilidades, levando em consideração e respeitando o tempo de cada criança; entender a real necessidade de se trabalhar o movimento e a forma adequada de estimular as crianças, desde o berçário até o maternal; observar se a estimulação está de acordo como o referencial curricular, com o currículo e os projetos já es-tabelecidos dentro dos documentos da Unidade de Ensino; manter um olhar atento a cada criança, pois cada uma irá desenvolver-se no seu tempo e de acordo com suas habilidades e maturação motora e neurológica.

O movimento e a criança de 0 a 3 anos

A criança começa a se movimentar antes do nascimento, em sua vida intrauterina; esses movimentos são involuntários, porém de grande importância para o desenvolvimento cognitivo e mo-tor, pois o cérebro recebe e registra cada movimento. Ao nascer, a criança recebe estímulos visuais, auditivos e sensoriais, que serão acrescidos aos já vivenciados, dessa forma construindo conheci-mentos (FREIRE, 1997).

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Por meio do movimento a criança aprende de forma signifi-cativa, constrói o conhecimento de si mesmo e do contexto em que em que vive, brinca, aprende, explora e descobre o mundo utilizan-do a maior de todas as ferramentas de aprendizagem, ou seja, seu próprio corpo (GALLARDO; OLIVEIRA; ARAVENA, 1998).

As crianças têm iniciado sua vivência com a educação desde a primeira infância. Atualmente, o número de crianças que ingres-sam na educação infantil a partir dos quatro meses de idade tem aumentado, dessa forma a escola passa a ser responsável pelo de-senvolvimento integral dessa criança (GALLARDO; OLIVEIRA; ARAVENA, 1998, p. 55).

Nos primeiros anos de vida, e em alguns casos, nos primeiros meses de vida, ela relaciona-se com a mãe intensamente, pois é a primeira pessoa associada ao conforto/segurança, também ligada a sensações prazerosas como alimentação. Ao iniciar no ambiente es-colar os laços de afetividade familiar rompem-se momentaneamen-te, mas a criança ainda não desenvolveu a noção de tempo, portanto surge a insegurança e o medo do desconhecido. Nesse momento, o vínculo afetivo social começa a ser construído, pois a criança estará em contato com outras, e não serão apenas as necessidades básicas e físicas que serão saciadas, mas as afetivas, e estas são interligadas ao desenvolvimento (LEGARDA; MIKETTA, 2008, p. 15-17).

A afetividade está diretamente relacionada com as experi-ências vivenciadas pela criança, dessa maneira, o ambiente esco-lar deve se preocupar efetivamente com a afetividade, pois ele é o ambiente social depois da família, formador, responsável pelo desenvolvimento integral do aluno (LEGARDA; MIKETTA, 2008, p. 17).

O desenvolvimento da criança na primeira infância é carac-terizado pelo desenvolvimento motor, ou seja, a criança executa movimentos inicialmente involuntários que a ajudarão a desenvol-ver e fortalecer a musculatura para que os movimentos intencionais comecem a acontecer. Esse período é um treinamento psicomotor, pois envolve o desenvolvimento cognitivo e motor, simultanea-mente. Por isso, a criança necessita de espaço para se desenvolver e isso inclui pequenos obstáculos que a desafiem a executar pe-

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quenos movimentos, porém significativo para o crescimento (GE-SELL; AMATRUDA, 1990).

O desenvolvimento psicomotor (cognitivo, emocional, mo-tor e social) da criança, subentende assim uma integração sensorial em construção sequenciada e integrada. Sem ela, o desenvolvimento global não seria possível (GONÇAL-VES, 2009, p. 69).

Cada criança precisa ser estimulada na Educação Infantil, sem perder a ludicidade que envolve essa faixa etária. Essa estimu-lação motora torna-se uma ferramenta essencial no aprendizado da criança, possibilitando explorar, perceber, criar, brincar, sentir seu corpo como instrumento motivador do aprender a aprender. É por meio do movimento que ela interage com o meio e aprende sobre si mesmo, as pessoas que as rodeiam e os lugares que frequentam (BRASIL, 1998).

Por meio do movimento, expressa seus sentimentos, seus pensamentos e até seus desejos, sem que haja a necessidade de ver-balizar tal vontade, pois a criança assim que nasce faz uso de movi-mentos para comunicar-se, mesmo que inconscientemente (GON-ÇALVES, 2009).

A psicomotricidade na teoria Walloniana encara a motri-cidade como um meio privilegiado para enriquecer e am-pliar as possibilidades expressivas, afetivas e cognitivas das crianças e dos jovens, promovendo a sua flexibilidade e a sua plasticidade (WALLON, 2005, p. 172 apud FON-SECA, 2008, p. 52).

É fundamental que haja intenção no processo de aprendizagem relacionada ao movimento. Ao dar-se ênfase à significação e ex-pressão pertinente a essa área do desenvolvimento, traz à tona a personalidade de cada indivíduo. Para facilitar a interação da crian-ça com o mundo dos objetos e dos indivíduos com quem se relacio-na, faz-se necessário um olhar atento, pois por meio da motricida-de, a criança desenvolve capacidades psicológicas aguçadas que se tornarão refinadas ao longo do processo de desenvolvimento motor (ASSIS; ASSIS, 2010):

É por meio da atividade motora que a criança vai construindo um mundo mental cada vez mais complexo,

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não apenas em conteúdo, mas também em estrutura. O mundo mental da criança, devido às ações e interações com o mundo natural e social, acaba por apresentar essas realidades por meio de sensações e imagens dentro de seu corpo e de seu cérebro. Primeiro pela intervenção de outras pessoas, que atuam como mediadoras entre a criança e o mundo; depois pelos sucessos e insucessos da sua ação, ela vai adquirindo experiências que virão a ser determinantes no seu desenvolvimento psicológico futuro (FONSECA, 2004, p. 131).

A aprendizagem e o desenvolvimento de habilidades motoras estão estreitamente relacionados ao nível de desenvolvimento motor, com isso gera a capacidade de processar informações (CHIVIACOWSKY et al., 2007).

O desenvolvimento motor não depende apenas das experiên-cias vivenciadas pela criança, porém o conhecimento do corpo e os estímulos recebidos favorecem seu desenvolvimento, bem como a flexibilidade, a noção de espaço, localização e adequação no am-biente (BRASIL, 1998).

[...] O movimento humano, portanto, é mais do que simples deslocamento do corpo no espaço: constitui-se em uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o ambiente humano, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo (BRASIL, 1998, p. 15).

Nas escolas de educação infantil e creches, trabalhar a temá-tica do movimento requer planejamento. Atividades que envolvem gestos repetitivos e coreografados e os tradicionais circuitos que desafiam as crianças a descer, subir, rolar, entrar e sair são interes-santes, porém é necessário garantir ainda mais, pensar em propos-tas que desafiem as crianças constantemente a ir e vir, a explorar ações que ainda desconheçam, a experimentar sensações e a conhe-cer o próprio corpo, possibilidades e limites. Para isso, organizar o espaço físico onde serão desenvolvidas essas atividades com ele-mentos pertinentes e espaços livres é essencial para maior eficácia da proposta (BRASIL, 1998).

Não existe fórmula para criar um ambiente corporalmente desafiador para o desenvolvimento das atividades de movimento,

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no entanto é importante incentivar diversas interações, tais como objetos grandes e pequenos, colocados no alto e próximos do chão, permitindo que os bebês busquem meios de alcançar todos eles. Além disso, proporcionar atividades que possibilitem a exploração do ambiente, onde existam peças grandes, como peças de mobiliá-rio, obstáculos que permitam subir, descer e entrar, garante um bom trabalho com movimento (BRASIL, 1998).

Essas intervenções rendem frutos para a construção e o de-senvolvimento da autonomia e da identidade, outro eixo funda-mental na Educação Infantil. Segundo Ana Lúcia Bresciane (apud SCAPATICIO, 2012, p. 12), psicóloga e formadora de professores, “o desenvolvimento motor favorece as descobertas e a expressão de sensações e sentimentos, promovendo a comunicação segundo as marcas simbólicas, próprias da cultura infantil”. Nara de Oliveira, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com-pleta: “Pensar de forma opositiva, corpo versus mente, só reforça estereótipos” (apud SCAPATICIO, 2012, p. 12).

Os estímulos que a envolvem a criança na primeira infância, em especial as que frequentam as instituições educacionais na etapa I, devem ser bem observados, pois eles devem ser planejados com muito cuidado, visando atingir os objetivos necessários, as limita-ções e o tempo de cada criança, pois essas etapas do desenvolvi-mento não devem ser puladas e muito menos antecipadas, e deve-se garantir que sejam executados de maneira segura e divertida para a criança (LEGARDA; MIKETTA, 2008).

Os estímulos visuais e auditivos estimulam a criança a mu-dar de posição; esse movimento faz com que ela experimente a sensação de equilibrar-se. Do nascimento aos seis meses, a criança conhece e experimenta o mundo por meio do seu corpo. Nessa fase do desenvolvimento, é importante que o bebê seja posicionado de bruços, de modo que seus braços auxiliem na sustentação do corpo, assim, estará treinando o sustento da cabeça, fortalecendo a mus-culatura inferior e superior, essa posição é um esboço do ato de engatinhar (GESELL; AMATRUDA, 1990).

As experiências sensoriais também estimulam o fortaleci-mento da musculatura, portanto é necessário que a criança sinta o

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toque de objetos em seu corpo, sendo esses de diferentes texturas, em especial na palma de suas mãos e nas solas do pé (BRASIL, 1998; ASSIS; ASSIS, 2010).

Os ritmos musicais também são importantes para estimular o movimento, pois, ao se balançar, ela explora o meio ambiente, estica e contrai a musculatura, conhece seu corpo, e inicia o proces-so de equilíbrio, importante para sentar, engatinhar, andar e correr. Atividades de rolar com o corpo, ou rolar objetos, são fundamentais nessa fase do desenvolvimento (GESELL; AMATRUDA, 1990).

[...] Nessa fase do desenvolvimento infantil, o corpo é a via de acesso ao mundo. Maior ou menor mobilidade, flexi-bilidade, agilidade ou autonomia corporal dependem, em grande parte da quantidade e qualidade de experiências motoras com as quais a criança se depara no dia-a-dia (GALLARDO; OLIVEIRA; ARAVENA, 1998, p. 60).

O corpo em movimento tornar-se-á peça básica da aprendiza-gem, pois a criança reproduz aquilo que pode sentir e experimentar por meio de seu próprio corpo, construindo seu pensamento primei-ramente e expressando na forma de ação. Em outras palavras, ela pensa na ação e isso faz com que o movimento do corpo ganhe um papel de destaque nas fases iniciais do desenvolvimento infantil. Oferecer à criança a oportunidade de mover-se, fazendo uso de sua criatividade, significa estabelecer experiências que propiciarão de-senvolver habilidades motoras fundamentais por meio de padrões básicos de movimentos (CERISARA, 1999).

Segundo Gallahue (2005), a criança deve ser capaz de saber utilizar-se de qualquer movimento para alcançar o objetivo; mudar de um tipo de movimento para outro (deslocamento) quando a si-tuação exigir; e alterar cada movimento conforme as condições do ambiente, caso as mudem (adaptação).

[...] As crianças do 0 aos 3 anos devem ter muitas experi-ências com todo o corpo para terem as mais variadas sen-sações. Precisam aprender a sentir e dar nome ao que sen-tem. Isso é fundamental porque crianças que trabalharam bem com seu corpo são adultos bem resolvidos (ASSIS; ASSIS, 2010, p. 119).

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Relato de Experiência

Com base na revisão bibliográfica exposta, percebe-se que é importante proporcionar uma variedade de experiências motoras à criança, pois isso a ajudará a adquirir e descobrir um mundo completamente novo. Por meio do movimento, a criança experimenta habilidades e limites motores. Ao se trabalhar esse eixo na educação infantil, a criança adquire movimentos mais am-plos, ajudando-a a conhecer seu corpo, a obter a autoconfiança ne-cessária no processo de construção de sua autonomia (LEGARDA; MIKETTA, 2008).

Ao longo do processo de construção desse trabalho, foi ob-servado que, por meio de planejamento cuidadosamente elaborado para a faixa etária, que atenda a seus interesses, buscando a harmo-nia entre as necessidades individuais e as do grupo, por meio de atividades lúdicas, desenvolvendo a consciência corporal, de es-paço e tempo, é possível promover o desenvolvimento integral da criança. Dessa forma, ela tornar-se-á capaz de realizar movimentos considerados fundamentais, sendo possível a locomoção, a expres-são corporal, o equilíbrio, as habilidades motoras, o controle cor-poral e a destreza para a realização das atividades (GALLARDO; OLIVEIRA; ARAVENA, 1998).

Neste item do trabalho, descreverei minha experiência como monitora em uma turma de educação infantil de 0 a 3 anos, em uma instituição pública. A decisão de incluir o relato de experiência veio da ideia de enriquecer o trabalho, descrevendo a realidade escolar.

Diversas atividades foram observadas em minha atuação, como: “dança com bexigas”, “circuitos com obstáculos”, “jogos com bolas de diversos tamanhos”, “corrida”, “músicas” (envolven-do a gesticulação e imitação), entre outras atividades que envolvem a estimulação dos movimentos trabalhados nessa faixa etária.

Ao observar essas atividades, percebe-se que, ao trabalhar o eixo Movimento na Educação Infantil, a criança desenvolve as se-guintes habilidades, de acordo com Legarda e Miketta (2008):

1) Familiarizar-se com a imagem do próprio corpo.

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2) Explorar as possibilidades de gestos e ritmos corporais para se expressar nas brincadeiras.

3) Deslocar-se com destreza no espaço ao andar, correr e pu-lar, desenvolvendo atitude de confiança nas próprias capa-cidades motoras;

4) Explorar e utilizar os movimentos de preensão, encaixe e lançamento.

5) Ampliar as possibilidades expressivas e expansivas do próprio movimento, utilizando gestos diversos e o ritmo corporal.

6) Explorar diferentes qualidades e dinâmicas do movimen-to, como força, velocidade, resistência e flexibilidade, co-nhecendo gradativamente os limites e habilidades de seu corpo.

7) Controlar gradualmente o próprio movimento, aperfeiço-ando seus recursos de deslocamento e ajustando suas ha-bilidades motoras para utilização em jogos, brincadeiras e danças.

8) Apropriar-se progressivamente da imagem global de seu corpo, conhecendo e identificando seus segmentos e ele-mentos e desenvolvendo cada vez mais uma atitude de in-teresse e cuidado com o próprio corpo.

Brincando, a criança se movimenta, estabelece relação entre o meio e seu próprio corpo; nesse caso há a necessidade de encon-trar educadores atentos que explorem e promovam desafios para que a criança na faixa etária de 0 a 3 anos consiga se desenvolver e que a instiguem a buscar mais conhecimento, obstáculos ainda maiores para sua exploração e aquisição de conhecimento motor (LEGARDA; MIKETTA, 2008).

Nem sempre isso é fácil de encontrar, por diversos fatores; entre eles, falta de preparo por parte dos educadores (alguns assu-mem o cargo e não fazem ideia da importância real do trabalho), ou falta de planejamento nas atividades (falta de vontade de adquirir conhecimento do desenvolvimento da faixa etária e de como traba-

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lhar esse eixo de suma importância); há também a ansiedade em querer que as crianças cumpram à risca o que foi proposto no planejamento ou na proposta pedagógica preestabelecida pela equi-pe gestora, esquecendo-se de que cada criança possui seu próprio tempo. É necessário um olhar atento a todas elas, buscar variações nas atividades propostas para que todas possam participar e se sen-tir incluídas.

O resultado da estimulação motora pode ser percebido de for-ma efetiva, pois, nessa faixa etária, as crianças respondem a esses estímulos mais rapidamente do que se pode imaginar, tornando o trabalho ainda mais prazeroso.

Os profissionais da educação têm o privilégio de acompanhar passo a passo o desenvolvimento das crianças desde o momento em que entram na escola por volta dos quatro meses. Dos seis aos oito meses, é possível observar e estimular as primeiras tentativas de locomoção (rolar, rastejar, engatinhar, levantar e andar com apoio), sentar sem apoio. Essa estimulação é feita com a criança no colo, no colchonete, no chão sobre um tapete emborrachado. Para des-pertar a atenção dessas crianças, utilizam-se brinquedos coloridos e sonoros, para que ela se sinta interessada em buscá-los.

Nessa instituição, todos os materiais de estimulação e diver-sos brinquedos são colocados ao alcance das crianças para que pos-sam explorá-los a medida que se sentirem à vontade.

Assim que começam a adquirir melhor equilíbrio corporal, por volta dos nove meses a um ano, procuram-se diferentes ati-vidades recreativas com a intenção de fornecer um meio rico em estímulos e desafios para que facilitem sua locomoção dentro e fora da sala. Nessa faixa etária algumas crianças já começam a andar sem apoio.

Entre um e dois anos, as crianças acentuam a fase das desco-bertas e conquistas, passam a subir e descer, lançar objetos, cair e levantar, saltar com alternâncias dos pés. Atualmente trabalho com essa faixa etária.

Foi possível perceber com a observação e estimulação grande avanço do começo do ano até o fim, as crianças tiveram um salto no

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desenvolvimento motor durante o primeiro semestre, quatro delas chegaram à escola sem saber andar, e em um mês (com os estímu-los certos) começaram a andar e em dois meses estavam correndo, e agora, no final do segundo semestre do ano letivo, estão saltando, tirando os dois pés do chão. Há na sala uma criança com paralisia cerebral, que teve considerável avanço motor ao logo do ano, po-rém dentro das suas limitações.

Atividades no parque são as favoritas, pois o subir e descer do escorregador e do trepa-trepa torna-se prazeroso para elas, além do contato com texturas diferentes, no caso, a areia, auxiliam no processo do desenvolvimento. Descer e subir de bancos, dançar, brincar com água, massinhas (trabalhando o movimento das mãos e pés), entrar em túneis e caixas de papelão são atividades que, se trabalhadas dentro de um planejamento, tornam-se ferramentas preciosas no desenvolvimento motor.

Com as crianças de três anos, pode-se utilizar as mesmas ati-vidades, porém aumentando o grau de dificuldade, pois, ao estimu-lar essas crianças, desenvolvem-se diferentes possibilidades de ex-ploração de movimentos relacionados ao controle do próprio corpo. Cabe ao educador explorar e provocar situações para que auxilie a criança a obter consciência de si mesma, conhecer sua realidade corporal, estabelecer relações com o espaço, com o tempo e com os objetos a serem trabalhados (LEGARDA; MIKETTA, 2008).

Os professores e monitores podem realizar diversas ativida-des dentro e fora da sala de aula, adaptar essas atividades de acordo com a realidade do espaço físico que possuem. Na instituição em que trabalho, o espaço físico é bastante limitado (pequeno), mas isso não nos impede de realizar as atividades; ao montar circuitos, usamos materiais simples como obstáculos (cadeiras, bancos, tú-nel, caixas de papelão, cordas e o que mais vier na imaginação).

A música “Vamos passear no bosque enquanto seu lobo não vem” é uma forma de a criança dançar e se movimentar livremente, pois, no momento em que “seu lobo termina de se arrumar”, ele vai à busca das crianças para “pegá-las”; nesse momento, elas cor-rem, escondem-se, sobem em lugares onde o lobo não possa pegar (segundo sua imaginação, pois, além da movimentação, a criança

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cria estratégias mentais para a solução de um “problema”, no caso, o lobo). Atividades simples, com material à disposição que, ao ser utilizado de maneira planejada, faz toda diferença no processo do desenvolvimento motor da criança.

[...] O pátio é uma extensão da sala de aula. Nele, pode ser dada a continuidade para toda e qualquer atividade que esteja sendo desenvolvida na sala. Ou, melhor ainda, tem--se a possibilidade de desenvolver trabalhos que requeiram mais espaço, movimento simultâneo, diversidade de ma-teriais. Infelizmente, não é hora de o educador descansar, nem de crianças sozinhas, no pátio. Nesse espaço mais amplo, a educadora deve estar mais presente. E “estar pre-sente” significa não lendo ou fazendo relatórios, arruman-do suas unhas ou fazendo qualquer outra coisa que não seja intervenções. “Estar mais presente” significa “ter um olhar” sobre suas crianças, estar atenta ao que elas fazem, brincar junto com elas (ASSIS; ASSIS, 2010, p. 119).

3. DISCUSSÃO

Ao realizar este trabalho, buscou-se analisar, por meio de es-tudo bibliográfico e como exemplificação os relatos de experiência, a relação entre a teoria e a prática do desenvolvimento da criança na faixa etária de 0 a 3 anos, inserida na educação infantil. Dessa forma, realizou-se um trabalho minucioso por meio do estudo de diversos materiais e autores que exprimem o levantamento das ca-racterísticas da criança em seu desenvolvimento, para estabelecer ligação entre o desenvolvimento físico, social e cognitivo, pois é necessário compreender como a criança se desenvolve, suas pos-síveis habilidades e as etapas preestabelecidas e esperadas nessa faixa etária.

As fases do desenvolvimento são parâmetros para o planeja-mento de atividades que estimulem a criança, permitindo que esta se desenvolva física, mental e socialmente, porém devem ser con-sideradas as variações de indivíduo para indivíduo, pois o desen-volvimento não é homogêneo, mas influencia e é influenciado pelo meio (GONÇALVES, 2009)

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O desenvolvimento infantil nessa faixa etária está intima-mente ligado a estímulos físicos e sensoriais, ou seja, a criança pos-sui necessidade de movimentar-se para conhecer e interagir com a sociedade (GALLARDO; OLIVEIRA; ARAVENA, 1998).

O desenvolvimento motor da criança é visível e perceptível antes mesmo de seu nascimento por meio de movimentos involun-tários, porém seu cérebro registra não apenas os movimentos pro-priamente ditos, mas todo o mecanismo muscular envolvido, bem como as sensações recebidas. Esses registros, inicialmente imper-ceptíveis, somados a outros estímulos visuais, auditivos e somáti-cos, contribuem significativamente para o desenvolvimento motor, cognitivo e social da criança (LÉVY, 1972).

As experiências vivenciadas pelas crianças de forma lúdica e por meio de jogos, brincadeiras de faz de conta, desafios corporais formarão a base para a resolução de problemas, como conflitos in-terpessoais, desenvolvimento da criatividade, desenvolvimento da linguagem como expressão oral etc. (LÉVY, 1972).

Dessa forma, observa-se a importância do planejamento das atividades de motricidade para as crianças de 0 a 3 anos, como as-seguram os RCNs.

Comparando o relato de experiência com a revisão bibliográ-fica, foi possível verificar que a maioria dos educadores procura conhecer de forma efetiva as características dessa faixa etária, criar estratégias diversificadas para proporcionar diferentes oportunida-des de experiências para enriquecer o desenvolvimento motor da criança, auxiliando em seu desenvolvimento integral.

De forma lúdica, a criança é inserida em um ambiente social (escola) mais amplo que o de sua família, e aprende a relacionar-se com adultos e crianças por meio de gestos, da linguagem oral esti-mulada pela música, por meio das expressões corporais trabalhadas com a dança e os exercícios corporais.

O ambiente escolar verificado no relato de experiência, ape-sar de suas limitações (espaço físico bastante reduzido), é planeja-do e adequado para tornar-se um local de aprendizagem efetivo e significativo pra as crianças; o educador é o facilitador/estimulador

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desta aprendizagem e desenvolvimento, pois prepara o ambiente para torná-lo atrativo e desafiador.

Nem sempre é fácil planejar atividades estimuladoras paras as crianças, pois imprevistos podem ocorrer a todo o momento, e o educador precisa ter planos A, B, C, em alguns casos até Z (estra-tégias diversificadas), para a realização delas, precisa estar atento às necessidades das crianças, pois o tipo de atividade pode não ser apropriado para aquele momento específico, o tempo pode não estar propício, diversos fatores podem ser adversos a esse planejamento.

O envolvimento do educador com as atividades lúdicas e brincadeiras com as crianças, por meio de intervenções, desafiam--nas a interagir com o social, estabelecer comunicação, articular respostas e criar situações, e isso sem contar que a criança, quan-do vê o educador brincando com ela, passa a criar laços afetivos maiores; nesse momento, o adulto não é apenas um educador, mas alguém que troca experiências com as crianças, pois ele, ensinando, também aprende.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo do processo de construção do presente trabalho, ob-servou-se a necessidade de se trabalhar o movimento da educação infantil, como ferramenta de auxílio de desenvolvimento integral.

Os autores estudados enfatizam constantemente que a criança encontra-se em movimento antes mesmo de seu nascimento e, a partir do momento em que nasce, esse movimento aumenta e torna--se mais refinado com o passar do tempo. É na fase do 0 a 3 anos que a criança adquire habilidades motoras que a acompanharão por toda a vida (GALLAHUE; DONNELLY, 2008).

A escola é um espaço social, onde há trocas afetivas entre crianças e adultos e entre colegas de idades próximas e é nesse momento que a estimulação motora ocorre. Todas as possibilidades de desenvolvimento aumentam à medida que a criança cresce e a maturação de seu sistema neurológico e sensorial se completa.

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No decorrer do processo é necessário que haja educadores preparados, atentos e constantemente pesquisadores, para a reali-zação desse trabalho, que planejem atividades com a intenção de auxiliar no desenvolvimento motor da criança de forma prazerosa e adequada para cada faixa etária, respeitando o tempo e as limita-ções de cada uma, sem perder a ludicidade.

São nos momentos das atividades (brincadeiras e estimula-ção) que essas possibilidades se transformam em ferramentas de conhecimento e estruturação do desenvolvimento motor.

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A relação entre estresse infantil e desempenho escolar

Nathalia Karoline PRONI1

Elisabete Scaglia TRENTO2

Resumo: O estresse é caracterizado por situações, boas ou ruins, que resultam em reações físicas ou psicológicas no indivíduo. Situações estas que acometem indivíduos de qualquer idade, inclusive crianças. A realização desta pesquisa provém da inquietação em compreender a relação entre o estresse e o desempe-nho escolar dos alunos, analisando as causas e sintomas provenientes do estresse infantil. Saber identificar e compreender as fontes estressoras na infância e as consequências atreladas a elas é fundamental no auxílio da superação desse qua-dro, principalmente por parte dos docentes. A discussão desses temas auxiliam professores a tomarem conhecimento da importância da intervenção docente, que oferece bases e auxílio para que os alunos se desenvolvam e lidem com as situações estressoras às quais estão submetidos. O que se observa é que há rela-ção direta entre estresse e desempenho escolar, com uma criança que apresenta sintomas de estresse não possuindo pleno desenvolvimento cognitivo, e que o professor tem papel fundamental na mediação da aprendizagem, e essa inter-venção é capaz de amenizar os sintomas e as consequências desse quadro no processo de ensino e aprendizagem.

Palavras-chave: Estresse. Estresse Infantil. Desempenho Escolar. Aprendiza-gem.

1 Nathalia Karoline Proni. Graduada em Pedagogia pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.2 Elisabete Scaglia Trento. Graduada em Formação de Psicólogos pela Universidade Metodista de Piracicaba (1981) e mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC (1993). E-mail: <[email protected]>.

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1. INTRODUÇÃO

Em um mundo consideravelmente agitado e globalizado, torna-se inevitável que os indivíduos, em meio a tantas atividades e responsabilidades diárias, desenvolvam um quadro de cansaço excessivo e irritabilidade que acaba por atrapalhar seu desempenho em suas ações, características que recebem o nome de estresse ou stress.

O presente trabalho tem por objetivo geral verificar a relação entre o estresse e o desempenho escolar, verificando se as dificulda-des de aprendizagem podem estar relacionadas ao estresse infantil.

Lipp et al. (2002, p. 51-52) definem:O estresse é uma reação do organismo composta por com-ponentes físicos e/ou psicológicos, causados pelas alte-rações psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa se confronta com uma situação que, de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite ou confunda, ou mesmo que a faça imensamente feliz.

Apesar de se tratar de um termo que precipitadamente remete a situações de indivíduos adultos, atinge crianças com a mesma intensidade. Pacanaro e Di Nucci (2005) afirmam que o estresse em adultos produz muitas consequências em suas vidas, o que não se distingue do estresse infantil, que também traz sérios reflexos no cotidiano da criança; a diferença entre ambos está nos sintomas e em suas causas.

A partir da definição do estresse e suas consequências, a pes-quisa busca analisar as principais causas e os sintomas do estresse infantil, além de verificar se a intervenção por parte do professor pode auxiliar na superação das dificuldades escolares dos alunos com estresse.

Uma criança estressada pode possuir problemas em diversas áreas; na escola o aluno com estresse pode desenvolver sérias difi-culdades em relacionar-se com os colegas e obter sucesso em sua aprendizagem, resultando em um desempenho escolar baixo.

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A hipótese a ser levantada neste contexto é a de que, se ocor-rer a intervenção e mediação de professores no ambiente escolar, então pode-se aliviar as consequências do estresse, mesmo que este não seja resultado de fontes estressoras do ambiente escolar. O pro-fessor pode oferecer um ambiente agradável e auxiliar seu aluno em suas dificuldades, evitando assim que seu desempenho cogniti-vo seja afetado severamente.

Lemes et al. (2003) nos alertam para o fato de que em nosso país não há uma política de prevenção à saúde geral que inclua o estresse em crianças e, por esse motivo, na maioria das vezes, pode passar desapercebido, o que resulta em vários males aos pequeni-nos. Esse fato nos faz refletir sobre a importância de conscientiza-ção de pais e professores sobre esse novo vilão.

Ao se compreender a gravidade das consequências do estres-se no desenvolvimento das crianças, principalmente em seu desem-penho escolar, torna-se imensamente necessário que pais e profes-sores estejam sempre atentos aos sintomas apresentados, visando ao diagnóstico e à amenização dos mesmos.

Nesse contexto, a presente pesquisa se torna relevante na área educacional e até mesmo psicológica, à medida que oferece infor-mações essenciais na percepção do estresse, definindo os principais sintomas e causas, e alertando sobre a importância da ação de pro-fessores nessa situação.

A pesquisa está dividida em três subtítulos. O primeiro, deno-minado “O estresse e suas definições” visa definir o que é o estresse e suas vertentes, voltando-se principalmente para as definições do estresse infantil.

No segundo, “As diversas causas e sintomas de estresse em crianças”, há a reflexão sobre as principais fontes estressoras que cercam as crianças, os sintomas apresentados por elas, além de apontar algumas das consequências do estresse no cotidiano dos pequenos, principalmente no desempenho escolar.

Já no terceiro, denominado “O estresse e o desempenho es-colar”, há o detalhamento da relação entre o estresse e as dificulda-des de aprendizagem, verificando que as alterações resultantes do

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estresse podem interferir diretamente no desempenho escolar das crianças, e alertando sobre a importância do professor desenvolver uma boa relação com seus alunos, amenizando o quadro de estresse dos mesmos.

2. DESENVOLVIMENTO

O estresse e suas definições

Tão importante quanto verificar as relações entre estresse e desempenho escolar é esclarecer o que realmente é estresse, por meio de teorias que resultaram de diversos estudos e pesquisas na área. Vale ressaltar que não se tratam de conceitos definidos e imu-táveis, mas sim conceitos que buscam o esclarecer o real signifi-cado do estresse, principalmente em crianças, para aqueles que se interessam pelo assunto.

Em um mundo a cada dia mais globalizado, os indivíduos possuem cada vez mais responsabilidades, exigências e tarefas a cumprir. A correria contra o tempo para concluir todas as atividades necessárias e a relação com diversas pessoas e suas peculiaridades podem resultar em um estado físico e psicológico desconfortável para o indivíduo; tal estado pode ser denominado de estresse.

Pereira (2002) aponta que a palavra “estresse” deriva do la-tim e foi empregada primeiramente no século XVII referindo-se à fadiga ou cansaço. O termo alcançou uma difusão tão grande que quase acabou se transformando em um sinônimo para qualquer tipo de alteração negativa do indivíduo.

Alguns o utilizam erroneamente para se referir às mais varia-das alterações de comportamento sem nenhum estudo aperfeiçoado de definição ou para simplesmente justificar alguns comportamen-tos. Neste contexto, é necessário esclarecer o significado correto do termo “estresse”.

Consultando o Mini Aurélio século XXI: o minidicionário da língua portuguesa (FERREIRA, 2000, p. 298), temos por definição

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da palavra estresse: “conjunto de reações do organismo a agressões de origens diversas, capazes de perturbar-lhe o equilíbrio interno.”

Já para Lipp (1991, p. 12):Chama-se de stress a um estado de tensão que causa uma ruptura no equilíbrio interno do organismo. É por isso que às vezes, em momento de desafios, nosso coração bate rá-pido demais, o estômago não consegue digerir a refeição e a insônia ocorre. Em geral, o corpo todo funciona em sin-tonia, como uma grande orquestra. Desse modo, o coração bate no ritmo adequado às suas funções; pulmões, fígado, pâncreas e estômago têm seu próprio ritmo da vida que se entrosa com o de outros órgãos. A orquestra do corpo toca o ritmo da vida com equilíbrio preciso. Mas quando o stress ocorre, esse equilíbrio, chamado de homeostase pe-los especialistas, é quebrado e não há entrosamento entre os vários órgãos do corpo.

Após analisar as definições anteriores, fica claro que o estres-se é resultado de situações que envolvem o indivíduo e fazem com que ele sofra alterações no funcionamento de seu corpo, sejam elas emocionais, comportamentais e até mesmo físicas. Alterações estas que podem afetar o desempenho do indivíduo a ponto de prejudicar seu desempenho em diversas atividades.

Para Meleiro (2008) o estresse é uma reação normal do or-ganismo e é necessária no preparo do indivíduo para enfrentar as diversas situações de perigo e de emoções extremas.

As pessoas podem apresentar estresse nas mais variadas eta-pas de sua vida. Alguns indivíduos se estressam desde muito cedo, e isso pode se tornar parte de seu cotidiano sem ao menos perceber, as exigências externas, e principalmente internas, somadas à falta de tempo, podem causar cansaço excessivo e desânimo.

Lipp (2008, p.118) nos confirma essa afirmação ao dizer:Há pessoas que aprenderam desde criança a pensar de modo estressante. Essas pessoas carregam dentro de si uma verdadeira fábrica de stress. O stress que vem de den-tro é relevante porque acompanha a pessoa a cada minuto do dia e em tudo o que ela faz. Essa fábrica interna de stress é formada por valores, às vezes muito rígidos, que temos, um modo típico de reagir com ansiedade diante do

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mundo, o desejo de ser perfeito ou de ser aceito e amado por todos. Além disso, alguns sofrem do que chamo de “síndrome da pressa”, isto é, são cronicamente movidos a fazer muitas coisas em um dia só e tudo rapidamente. São pessoas que vivem em uma constante corrida contra o relógio, que estressa e desgasta. O pensamento negativo ou muito exigente talvez seja a maior fonte de stress conheci-da na humanidade.

Vale ressaltar que há diversas situações que podem gerar des-conforto, porém algumas situações estressantes para alguns indiví-duos podem não ter o mesmo efeito sobre outros. Nesse contexto, assim como as características diferem os indivíduos, as situações estressoras também são distintas para cada pessoa.

É importante lembrar, também, que não somente coisas ruins são causadoras de estresse, acontecimentos bons, como datas co-memorativas ou eventos, podem causar tensão, pois exigem esfor-ço maior do que o exigido no cotidiano. Isso ocorre independente-mente da idade do indivíduo (LIPP et al., 1991).

Cada etapa de nosso desenvolvimento possui características e exigências próprias. As exigências cotidianas atingem os mais di-ferentes indivíduos e as mais diversas idades.

Nesse contexto, não só adultos sofrem com o estresse, crian-ças também podem apresentar alterações no funcionamento de seu organismo e de suas emoções, que são resultado da influência de agentes estressores.

Para Lucarelli e Lipp (1999, p. 2):Quando a criança é exposta a um evento estressante, seja ele bom ou ruim, ela entra em estado de alerta, haven-do, assim, uma ativação do sistema nervoso simpático e da glândula pituitária, através do hipotálamo. Ao mesmo tempo, ocorre a ativação das glândulas supra-renais que liberam adrenalina, preparando a criança para a reação de “luta e fuga” e provocam a inibição das atividades vege-tativas [...]

O estresse na infância apresenta semelhança com o estresse em adultos, pois, quando uma criança está diante de agentes es-tressores, reage com sensações físicas e psicológicas, e as conse-

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quências do estresse excessivo ou prolongado podem resultar em problemas sérios de saúde, mental ou física (LIPP et al., 1991 apud LEMES et al., 2003).

Apesar da incidência de estresse em crianças não ser tão co-nhecida, Lipp (2002) relata que sabemos que serão inevitáveis as situações de estresse, mais ou menos sério, que os pequenos irão enfrentar; alguns exemplos são: internações, acidentes, doenças, nascimento de irmão, mudança de casa, de escola, entre outros.

As reações diante de agentes estressores podem se distinguir de acordo com a situação emocional e a idade da criança, depen-dendo da maturação de seu desenvolvimento (LIPP, 2002). Cada estágio do desenvolvimento apresenta problemas, situações e con-flitos próprios a serem solucionados e fontes próprias causadoras de ansiedade e estresse (ERICKSON, 1963, apud LIPP, 2002).

Como já foi dito, há vários agentes estressores que acometem o cotidiano de uma criança; a escola pode ser um desses agentes, na medida em que a criança passa boa parte do seu tempo diário dentro dela e, para algumas crianças, é o primeiro ambiente socializante fora da família (TRICOLI, 2003 apud PACANARO; DI NUCCI, 2005).

Dentro do ambiente educacional, a criança, para se sentir adaptada e confortável, deverá contar com o auxílio dos educado-res, principalmente do professor, já que este tem relação direta e diária com os alunos. O estado psicológico do professor e suas ati-tudes podem desencadear comportamento inesperados dos alunos e se tornar um agente estressor.

Com diversas conceituações e definições sobre o estresse, que pode atingir ou acometer o indivíduo seja lá qual for a sua idade, é importante sabermos que há também diversas causas e sin-tomas que caracterizam este quadro.

As diversas causas e sintomas do estresse em crianças

Como já foi dito, as causas de estresse podem variar de indi-víduo para indivíduo, dependendo de suas habilidades psicológicas

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de enfrentar situações de desafios ou que exijam muito emocio-nalmente. Dessa forma fica evidente que se trata de um assunto bastante complexo e que merece atenção constante para que não resulte em graves consequências, que, por vezes, atrapalham o de-sempenho do indivíduo nas mais diversas áreas, e crianças são me-nos preparadas para lidar com tais situações sozinhas.

As situações resultantes em algum tipo de sintoma de estres-se são conhecidas como agentes estressores ou fontes de estresse. Tais fontes de estresse podem ser caracterizadas como externas ou internas.

Fontes externas são as situações do ambiente a que a crian-ça está submetida, ou seja, situações exteriores, que podem exigir demais de seu emocional ou que a atinjam de maneira que possam resultar em um desconforto e até mesmo o próprio estresse. Dentre elas, podemos destacar as mais comuns, que são: atividades em ex-cesso, responsabilidade em excesso, brigas ou separação dos pais, escola, morte na família, exigência e/ou rejeição de colegas, disci-plina confusa por parte dos pais, exigências ambíguas da sociedade, hospitalização e nascimento de irmão (LIPP et al., 1991).

Já as fontes internas são aquelas criadas pela própria criança, dependendo da maneira como ela enfrenta as situações que ocor-rem no dia a dia, seus pensamentos, o tipo de personalidade e suas atitudes. As principais fontes internas de estresse são: timidez, an-siedade, medo de castigos divinos, baixa autoestima e crenças irra-cionais (LIPP et al., 1991).

Assim como as causas variam, os sintomas também podem ser distintos entre várias crianças e serão mais ou menos intensos de acordo com o nível de estresse em que a criança se encontra.

Alguns sintomas aparecem na maioria das crianças que se encontram em um quadro de estresse. Lipp (2002) ressalta que a criança pode apresentar sintomas imediatos, como birras, enurese, medos excessivos e hiperatividade. Os pais, na maioria das vezes, buscam rapidamente diminuir a tensão à qual a criança está subme-tida; isso ocorre de maneira intuitiva, e os pais sequer têm conheci-mento de que estão lidando com o estresse. Entretanto, quando os adultos não percebem os sintomas, a situação pode se tornar preo-

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cupante, e os danos emocionais podem perdurar por longos perío-dos.

Para Lipp (2002) o estresse pode manifestar-se por meio de sintomas físicos ou psicológicos. Os sintomas físicos mais comuns são: dor de barriga, diarreia, tique nervoso, dor de cabeça, náusea, hiperatividade, enurese noturna, gagueira, tensão muscular, ranger de dentes, falta de apetite, mãos frias e suadas. Já os sintomas psi-cológicos são: terror noturno, introversão súbita, medo ou choro excessivo, agressividade, impaciência, pesadelos, ansiedade, difi-culdades interpessoais, desobediência, insegurança e hipersensibi-lidade.

Os adultos que convivem diariamente com crianças podem notar com maior facilidade as alterações comportamentais, emo-cionais e de saúde que estas podem apresentar, dentre estes adultos os que se relacionam mais diretamente com elas podem ser a base para a superação do estresse; são eles pais e professores.

Ao citar os professores, ressaltamos que o estresse pode afe-tar também o desempenho escolar das crianças, assim é importante que os docentes observem e percebam sintomas de estresse em seus alunos, buscando auxiliar na superação desse quadro.

O estresse e o desempenho escolar

A criança, em alguma etapa do seu desenvolvimento, deverá frequentar o ambiente escolar com o objetivo de adquirir conhe-cimentos básicos de escrita e leitura, além de aprofundar conhe-cimentos de diversas disciplinas. Frequentar a escola é um direito do indivíduo, e é dever da sociedade garantir que a criança esteja na escola e conclua, no mínimo, a educação básica, composta por Educação Infantil, Ensino Fundamental I e II e Ensino Médio.

O objetivo da educação brasileira e o dever da sociedade de garantir a educação a todos os indivíduos estão presentes na Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996, s/p), que em seu Artigo 2º diz:

A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade hu-mana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do

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educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

A escola é local de socialização, de criação de vínculos com colegas e educadores, de aprendizagem, de troca de experiências, ou seja, local de desenvolvimento pleno do indivíduo, abrangendo todas as habilidades da criança, sejam elas físicas, emocionais, so-ciais ou cognitivas.

A Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996, s/p) também afirma em seu Artigo 29 que:

A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da crian-ça até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicoló-gico, intelectual e social, complementando a ação da famí-lia e da comunidade.

Vale ressaltar que, apesar do trecho da lei citado se referir mais especificamente à Educação Infantil, tais objetivos devem ser estendidos a todas as demais etapas da educação básica. O aluno deve ter a oportunidade de explorar, aprimorar e desenvolver todas e quaisquer habilidades que possua.

A escola nesse contexto tem a responsabilidade de zelar pelo bem-estar de seus alunos, buscando suprir as necessidades dos mes-mos, sejam elas físicas ou cognitivas. Sendo o primeiro ambiente socializante para uma criança, ela pode acumular várias fontes de estresse; a primeira é a separação da família, cabe ao professor aco-lher os pequenos e tentar amenizar as consequências emocionais dessa separação durante o processo de aprendizagem.

É denominado processo de aprendizagem a ação de ensinar e aprender, que na escola é um ato que envolve vários dos agentes educacionais, professores, gestores, alunos, familiares e até mesmo a comunidade. É claro que uns participam mais diretamente, enquanto outros complementam esse processo.

Dos agentes educacionais mais intimamente ligados ao pro-cesso de aprendizagem, os principais são os professores e os alu-nos, que durante os dias letivos se encontram diariamente em sala de aula e juntos, por meio da troca de experiências e transmissão de conhecimento, aprendem e ensinam.

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Nesse contexto, a relação entre professor e aluno é um dos mais importantes pontos do processo de aprendizagem, na medida em que a boa relação entre ambos pode resultar no sucesso escolar do discente, porém, quando a relação não vem a ser tão prazerosa, as dificuldades escolares se tornam inevitáveis.

A relação entre professor e aluno é baseada em um trinômio: proximidade – dependência – conflito. A proximidade refere-se ao grau de afetividade e comunicação entre a criança e seu professor, que é associado de maneira positiva ao desempenho acadêmico; já a dependência está ligada a comportamentos possessivos ou pela busca excessiva do auxílio do professor, o que está ligado ao surgi-mento de dificuldades e desempenho escolar mais pobre. O conflito está ligado ao fato de adquirir novos conhecimentos, sendo neces-sário adaptar e acomodar os novos saberes aos antigos (BIRCH; LADD, 1997 apud GARDINAL; MARTURANO, 2009).

Ao analisarmos o trinômio proposto anteriormente, podemos relacioná-lo ao estresse da criança na medida em que a boa relação entre docente e discente poderá amenizar o quadro de estresse vin-do do exterior da escola, e a criança vê no professor uma fonte de apoio que a ajudará a superar seus medos e dificuldades. Porém, quando a relação entre ambos não é composta por vínculos afetivos e efetivos, a criança pode estar diante de uma nova fonte de estres-se, desencadeando dificuldades de aprendizagem.

Lipp (2008, p. 96) confirma as consequências da relação en-tre professor e aluno ao dizer:

O professor na escola tem uma função muito importante em relação aos alunos, pois seu contato é direto. Por exem-plo, o professor auxilia na solução de problemas, é amigo, confidente, substituto da mãe ou do pai e, por fim, é um transmissor de informações. Atualmente os professores acumulam inúmeras funções e, desse modo, precisam co-nhecer individualmente cada aluno, para realmente poder preparar esse futuro adulto para o mundo. É necessário saber tratar cada um de acordo com suas características pessoais. O professor é a peça-chave da equipe escolar, servindo como modelo para o manejo ou como mais uma fonte de stress.

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O estado emocional e a personalidade do professor podem afetar o andamento de sua sala, ou seja, um professor descontente com o que faz transmitirá a seus alunos sua negatividade, contudo um professor alegre e motivado com toda certeza conquistará alu-nos com as mesmas características.

Seguindo essa linha de pensamento, um professor agressivo, autoritário, que grita todo o tempo, tentando buscar a disciplina de sua sala, algum tempo depois de iniciar a convivência com seus alunos, terá crianças semelhantes a ele, falando alto e agredindo os demais, inclusive o docente, ou terá alunos retraídos, calados, com o receio de receberem broncas e gritos. Porém, um docente calmo e seguro do que faz conquistará o mesmo comportamento de sua turma (LIPP, 2008).

Sabemos que cada criança é um ser único com característi-cas e peculiaridades próprias; há aquelas com maior facilidade de aprendizagem e outras que possuem maiores dificuldades. Porém, tais dificuldades podem surgir até mesmo em crianças com altas habilidades cognitivas se elas estiverem expostas a situações que lhe causem desconforto, ou seja, estresse.

A criança, por mais dedicada e inteligente que seja, não con-seguirá bons resultados de aprendizagem diante de uma crise de estresse. Várias dificuldades de atenção, memória, concentração, interesse, apatia ou agitação poderão ocorrer decorrentes do estres-se. E é por isso que o docente deve ter conhecimento das caracte-rísticas individuais de seus alunos, pois dessa maneira poderá me-diar a situação, visando minimizar os sintomas e consequências do estresse e até mesmo auxiliar na recuperação de seu aluno (LIPP, 2008).

Outra fonte estressora na escola vem a ser os métodos de avaliação; provas escritas ou orais são exemplos de estressores. O sistema educacional brasileiro supervaloriza os momentos formais de avaliação, que na maioria das vezes medem muito pouco dos conhecimentos adquiridos pelos alunos, e o mais agravante é que esses momentos são caracterizados pela tensão e pressão sobre o aluno (LIPP, 2008).

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Patto (apud BASTOS, 2012) afirma que há quatro fatores que podem resultar no fracasso escolar, são eles: pedagógico, social, biológico e psicológico. O fator pedagógico refere-se à importância do processo de aprendizagem eficaz no sucesso escolar. Já o social visa refletir a carência cultural que as crianças enfrentam, ou seja, a falta de relações sociais efetivas. O fator biológico verifica as in-tercorrências clínicas que a criança enfrenta ao longo do ano letivo. E, por último, talvez o mais importante, o psicológico, que se refere à estrutura emocional e mental à qual está submetida, relaciona-se principalmente à estrutura familiar, que pode ser adequada ou não.

As principais causas relacionadas ao mau desempenho esco-lar, melhor dizendo, às dificuldades de aprendizagem estão liga-das às condições de vida, que por vezes impedem ou dificultam a frequência escolar; bem como à inadequação da escola para lidar com os alunos, havendo, muitas vezes, falta de professores adequa-dos, de materiais e de recursos; e também à falta de sensibilidade por parte de professores e gestores, que na maioria das vezes estão alheios à realidade dos alunos, desconhecendo a cultura a qual es-tão inseridos e assim desenvolvem aulas sem real significado para os discentes (COLLARES, 1989).

Essas principais causas, se analisadas, são também fontes estressoras, e impedem os alunos de se desenvolverem plenamente; mais uma vez nota-se que o estresse está ligado ao insucesso es-colar, já que as principais causas do mau desempenho também são causas de estresse.

O mau desempenho escolar geralmente é melhor observado quando a criança ingressa no ensino fundamental, pois é nessa eta-pa do ensino em que ela está mais submetida a processos avaliati-vos e as pressões são muito maiores, na medida em que conheci-mentos teóricos e técnicos são muito mais exigidos, principalmente no início da alfabetização.

Nesse contexto, a transição do 1º ano trata-se de um período marcado por incertezas, já que as crianças sofrem com a adapta-ção, que exige delas a superação de várias metas de aprendizagem e também de socialização, metas estas que na maioria das vezes exigem maior autonomia que na Educação Infantil. A junção das

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novas exigências com a expectativa de autonomia, que ocorre em ambiente físico e social até então estranho para o aluno, caracteriza um período em que as crianças serão submetidas a diferentes emo-ções, como excitação, ansiedade e medo (GRAZIANO et al., 2007 apud MARTURANO; TRIVELLATO-FERREIRA; GARDINAL, 2009).

A passagem para o 1º ano é considerada uma transição que submete a criança a quatro tarefas adaptativas, são elas: ajustar-se às transformações nas definições de papéis e comportamentos de-sejados; situar-se na rede social ampliada; adequar-se às regras do novo contexto; lidar com o estresse associado às incertezas presen-tes à situação como um todo (ELIAS, 1989 apud MARTURANO; TRIVELLATO-FERREIRA; GARDINAL, 2009)

Esse momento de transição caracterizado pelas incertezas faz com que a criança sinta-se vulnerável, resultando no desconforto emocional que pode afetar seu desempenho nas mais diversas ati-vidades escolares. E é nesse contexto que o professor deve obser-var e mediar tais situações causadoras de estresse, relacionando-se afetivamente com seus alunos, transmitindo, assim, segurança, e consequentemente amenizando as pressões da nova etapa de ensino e mostrando que, apesar da maior exigência cognitiva, os pequenos terão o suporte e o cuidado necessário para superação de suas difi-culdades.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve por finalidade a análise da relação entre estresse infantil e desempenho escolar, verificando as causas e sin-tomas que caracterizam o quadro de estresse e as alterações e difi-culdades de aprendizagem resultantes de tais sintomas.

Durante o desenvolvimento desta pesquisa ficou evidente a importância de se perceber os sintomas de estresse apresentados pelas crianças precocemente, para que haja a intervenção de adul-tos para auxiliar a superação dessas dificuldades e evitar que as consequências cognitivas, emocionais e até mesmo físicas sejam severas.

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Para entender os efeitos do estresse é necessário compreender suas definições, ou seja, compreender o que é estresse, e que este não acomete somente pessoas adultas, mas também crianças.

Assim, centrando a pesquisa no estresse na infância, tão im-portante quanto defini-lo é identificar suas principais causas e sin-tomas, visando perceber fontes estressoras e amenizar essas situa-ções para que as consequências sejam as menores possíveis.

O desempenho escolar baixo é uma das consequências de es-tresse em crianças; por meio de estudos e teorias é possível verifi-car a relação entre as dificuldades de aprendizagem e os sintomas apresentados pelos alunos, alertando para a importância da boa re-lação entre professor e aluno, para que tal relação não se torne mais uma fonte estressora.

A relação entre professor e aluno é extremamente importante, a intervenção do professor é capaz de amenizar as consequências do estresse de crianças, mesmo que este não tenha suas causas pre-sentes no ambiente escolar. O professor, ao oportunizar um am-biente harmonioso, que permita a seus alunos aprenderem de forma tranquila e significativa, faz com que as fontes estressoras diminu-am e que as consequências desse estresse não sejam tão severas.

Para comprovar a importância da intervenção do professor, Lipp (2008, p. 136) afirma que:

[...] compete ao professor ensinar seus alunos a lidarem com o estresse do cotidiano de modo saudável. Crianças que possuem professores que promovem o ensino de técni-cas de manejo do estresse serão adultos melhor preparados em relação às adversidades da vida.

O professor é peça-chave no desenvolvimento da criança e deve zelar pelo seu bem-estar e sempre buscar a melhor forma de se relacionar com seus alunos e desenvolver suas aulas, para que estes não se tornem mais uma forma de estresse a que os pequenos estejam submetidos.

É importante ressaltar que este trabalho não visa atribuir unicamente ao professor a responsabilidade de mediar situações de estresse; sabe-se que este deve ser o objetivo de todos os adultos

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que convivem com crianças submetidas a fontes estressoras. Po-rém, no ambiente escolar, o docente deve sim buscar identificar e trabalhar crianças com sintomas de estresse, para que estas tenham suporte e consigam superar suas dificuldades.

Pesquisas na área do estresse infantil ainda não são tão fre-quentes, principalmente em relação ao desempenho escolar; dessa forma, torna-se necessário que pesquisas sejam realizadas como forma de identificar meios de se mediar essas situações, mediação esta não só por parte de docentes, mas de educadores como um todo, incluindo até mesmo gestores.

REFERÊNCIAS

BASTOS, F. D. F. Estresse infantil e dificuldades escolares: mito ou realidade? Monografia (Especialização em Orientação Educacional e Pedagógica) – Instituto A Vez do Mestre, Universidade Candido Mendes, Rio de Janeiro, 2012. Disponível em: <http://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/posdistancia/51235.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2016.

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MARTURANO, E. M.; TRIVELLATO-FERREIRA, M. C.; GARDINAL, E. C. Estresse Cotidiano na transição da 1ª série: percepção dos alunos e associação com desempenho e ajustamento. Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 22, n. 1, p. 93-101, 2009.

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A atuação do profissional de Educação Física em equipes multidisciplinares da saúde pública e privada

Rafael Spiller PACHECO1

Maria Cecília L. B. SOARES2

Resumo: A restrita área de atuação do profissional de Educação Física nas esco-las e academias vem sendo quebrada pela qualidade e importância que esse pro-fissional adquiriu com os anos, principalmente no campo da saúde. Ainda que ele seja pouco valorizado dentro do serviço de saúde, pode atuar de forma preventi-va no combate a diversas enfermidades. O profissional de Educação Física está capacitado para trabalhar junto às equipes multidisciplinares de saúde, pois as ações de práticas corporais podem reduzir os agravos e os danos decorrentes das doenças não transmissíveis, beneficiar a redução do consumo de medicamentos, favorecer a formação de organizações sociais e incentivar a interdisciplinaridade. Poucas equipes organizam a prática da atividade física, e, na maioria das vezes, não é o profissional de Educação Física quem cuida das atividades propostas aos usuários. Quando se trata de exercícios físicos, o profissional de Educação Física é o único habilitado para trabalhar com os pacientes, pois, além de ser um agente de saúde, mostra, com base científica, os benefícios dos exercícios físicos para os pacientes, o que pode representar um grande papel na prevenção de doenças e promoção da saúde.

Palavras-chave: Profissional de Educação Física. Serviço de Saúde. Atividades Físicas.

1 Rafael Spiller Pacheco. Graduado em Educação Física pelo Claretiano – Centro Universitário. (2014). E-mail: < [email protected]>.2 Maria Cecília L. B. Soares. Doutora em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp (2004), mestre em Educação pela mesma Instituição (1997), graduada em Licenciatura Plena em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba (1988). Professora do Claretiano – Centro Universitário dos cursos a distância, coordenadora e professora da presencial do polo de Rio Claro (SP). E-mail: <[email protected]>.

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1. INTRODUÇÃO

O profissional orienta e avalia os pacientes definindo fatores, como, por exemplo, o tipo e a intensidade dos exercícios conforme o peso, a estatura e a circunferência, além de considerar as avalia-ções das demais equipes médicas que acompanham o paciente. Esse trabalho consiste em consultas individuais para anamnese específi-ca, avaliação e orientação sobre atividades físicas e/ou sessões de ginástica postural em grupo ou individuais, em que são utilizados exercícios de alongamento, resistência muscular e relaxamento, en-tre outros, com a finalidade de melhorar a prontidão dos pacientes para a realização de atividades cotidianas.

Segundo Coutinho (2011), pode-se levantar algumas hipóte-ses para a falta de profissionais de Educação Física nesse campo de atuação, principalmente no campo público, como a falta de cons-cientização dos gestores de saúde; falta de abertura de concurso pú-blico para esse profissional na área da saúde; falta de diálogo entre esses profissionais e os secretários municipais de saúde; a ideia de que a Educação Física faz parte da escola, não existindo o reco-nhecimento desse profissional como participante de uma equipe na área da saúde; e, por último, que essa iniciativa seria somente mais um gasto para os governos.

Um fator considerável que mostra a importância do profissio-nal de Educação Física dentro da Atenção Básica da Saúde (ABS) é a inatividade física dos usuários, causada por fatores socioeconômi-cos e culturais. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2002), cinco fatores de risco que elevam a mortalidade no mundo são a pressão alta/hipertensão (13%), o tabagismo (9%), alta taxa de glicose no sangue (6%), sedentarismo (6%) e excesso de peso.

Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais3 – DCNS (2004), a formação do bacharel em Educação Física deve ser de forma generalista, humanista, crítica e reflexiva. O graduando es-tará apto para atuar no planejamento, na prescrição, na supervisão e na coordenação de projetos e programas de atividades físicas, re-creativas e esportivas, abrindo espaço para análises e avaliações 3 Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Educação Física, Parecer CNE/CES n° 0058/2004, aprovado em 18/02/2004.

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nos campos da prevenção, promoção e reabilitação da saúde e da formação cultural do indivíduo.

Segundo o Ministério da Educação4 (2004), as Diretrizes de Educação Física propõem a formação de um perfil profissional vol-tado ao entendimento do contexto social dos indivíduos e comuni-dades para neles intervir profissionalmente, com a sua especiali-dade acadêmica e com a ampliação do conhecimento para adotar hábitos saudáveis.

O profissional deve estar capacitado para fazer parte da equi-pe multidisciplinar da saúde, pois ele trabalhará com atividades de gestão e também lidará com políticas de saúde, além, é claro, das práticas corporais e atividades físicas elaboradas aos usuários. Para uma atuação efetiva e eficaz, esse profissional (bacharel) deve acompanhar e contribuir para as transformações na área da saúde, mantendo-se atualizado nas práticas intervencionistas.

Com a implantação do NASF pelo Ministério da Saúde, em 2011, e a criação de diversos programas de medicina preventiva no âmbito privado da saúde, essa atuação cresceu ainda mais. Dessa forma, associaram-se os cuidados médicos e os tratamentos com medicamentos à prática de exercício físico dentro da saúde, seja ela pública, seja particular.

Diante dessas questões, torna-se necessária a investigação das seguintes questões:

• Qual a importância da atuação do profissional de Educa-ção Física nas UBSs e na rede privada de hospitais na vi-são do próprio profissional?

• Qual a importância da atuação do profissional de Edu-cação Física nas UBSs e na rede privada de hospitais na visão dos outros profissionais que pertencem às equipes multidisciplinares de saúde?

• Como os profissionais de Educação Física (bacharel) já atuantes na área veem sua importância na composição da equipe multidisciplinar da saúde?

4 Ministério da Educação (BR). Conselho Nacional de Educação. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Educação Física em nível superior de graduação plena. Resolução CNE/CES nº 7, de 31 de março de 2004. Diário Oficial União: 5 abr. 2004.

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2. JUSTIFICATIVA

É muito importante a prática de qualquer exercício físico com o auxílio de um profissional de Educação Física, pois ele é res-ponsável por prescrever, orientar e acompanhar todos aqueles que buscam praticar algum tipo de exercício físico ou atividade despor-tiva, trazendo, com a sua intervenção, melhora no desempenho do indivíduo.

O exercício físico pode ser realizado para fim estético, espor-tivo e, também, para melhora na saúde de portadores de doenças, como diabéticos, hipertensos, pessoas com osteoporose, mialgia, entre outras, bem como pessoas em processo pós-cirúrgico, após li-beração do médico responsável. Por isso a importância da interven-ção do profissional de Educação Física nos hospitais e nas UBSs.

O profissional de Educação Física vem ganhando importân-cia na área de saúde com o reconhecimento de que o exercício físico vem se tornando cada vez mais necessário para uma vida saudável. Sendo assim, o Ministério da Saúde (MS) incluiu a atividade física no Sistema Único de Saúde (SUS) como fator primordial para me-lhorar a qualidade de vida da população, iniciando, com isso, uma série de ações para promoção da saúde e prevenção de doenças por meio do exercício físico e incorporando os profissionais de Educa-ção Física no quadro de profissionais da saúde.

O profissional de Educação Física ainda é pouco valorizado dentro do serviço de saúde, uma vez que pode atuar de forma pre-ventiva no combate a diversas enfermidades. Muito disso se dá pela atuação única e exclusiva em academias (bacharel) e nas escolas (licenciatura); por isso, os profissionais de Educação Física podem ser vistos como não portadores de um conhecimento capaz de aten-der as necessidades de um programa de saúde pública.

3. OBJETIVO

Este estudo tem, como objetivo principal, analisar a atuação do profissional de Educação Física e sua importância na equipe multidisciplinar da saúde, nas redes públicas ou privadas de saúde.

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4. METODOLOGIA

Este estudo, de natureza qualitativa, foi realizado por união de pesquisa bibliográfica e exploratória. A pesquisa bibliográfica constou de busca de informações em fontes secundárias, como li-vros, artigos, teses e dissertações. A pesquisa exploratória (utilizada com o objetivo de conseguir informações/conhecimento acerca de um problema) foi desenvolvida por meio de entrevista estruturada, contendo perguntas abertas e fechadas.

A pesquisa exploratória foi realizada nas cidades de Rio Cla-ro e Santa Gertrudes, ambas localizadas no estado de São Paulo, nas Unidades Básicas de Saúde (PSF Centro, PSF Jequitibas, PSF Parque Industrial e PSF São Joaquim) e hospitais da rede privada (UNIMED Rio Claro, São Rafael e Hospital Santa Filomena) dos municípios, sendo desenvolvida entre julho e setembro do ano de 2014.

O presente estudo foi realizado com 18 (dezoito) profissio-nais de saúde (médicos e enfermeiros) e 5 (cinco) profissionais de Educação Física (PEF), que responderam a uma entrevista estru-turada, contendo perguntas abertas e fechadas, sendo selecionadas por conveniência. Os voluntários tiveram de assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram selecionados profissionais tanto da rede pública de saúde quanto de hospitais particulares e, também, profissionais de Educação Física que traba-lham junto às equipes multidisciplinares nessas unidades de saúde.

Para a realização da pesquisa bibliográfica, foram consulta-dos sites, livros, artigos, teses e dissertações que abordavam o tema da formação e da atuação do profissional de Educação Física nas equipes multidisciplinares de saúde, no sentido de buscar subsídios teóricos para a discussão da importância desse profissional no cam-po da saúde. Para tanto, foram consultados os materiais disponíveis on-line, nas bases de dados de periódicos científicos Capes, Scielo, Google Acadêmico e Lilacs.

Para o desenvolvimento da pesquisa exploratória, inicial-mente, foi feito o contato com as Unidades Básicas de Saúde e as instituições privadas de saúde, solicitando autorização para a rea-

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lização da pesquisa. Posteriormente, foram feitos os convites aos profissionais pertencentes às equipes multidisciplinares de saúde, explicando os objetivos da pesquisa. Após o aceite, os profissionais assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Após esse procedimento, os sujeitos selecionados responde-ram à entrevista, composta por questões abertas e fechadas, na qual responderam perguntas sobre a importância do profissional de Edu-cação Física (bacharel) nesse campo de atuação.

Após coletados, os dados foram analisados descritivamente, por meio da Técnica de Análise de Conteúdo Temático (BARDIN, 2010). Os dados foram categorizados em 5 (cinco) eixos, para que se pudesse realizar a discussão. As categorias foram estabelecidas a posteriori, como propõe Bardin (2010), a partir da recorrência dos dados.

5. REVISÃO DE LITERATURA

Formação e preparação profissional em educação física

Nos dias de hoje, muito se fala sobre a importância da prática de exercícios físicos para a manutenção da saúde física e dos aspec-tos psicológicos e sociais do indivíduo. Sendo assim, a atuação do profissional de Educação Física coloca-se, cada vez mais, em evi-dência. O exercício físico é, atualmente, mais que um ato social, é um estímulo atrativo para todos e que, além disso, proporciona um maior bem-estar tanto físico como mental e emocional, bem como uma melhoria na qualidade de vida e o aumento da expectativa de vida, por estar associado, diretamente, à promoção da saúde dos praticantes.

A Educação Física explora as potencialidades de alunos nas escolas (licenciatura) e de clientes em clubes, academias e personal training (bacharelado), trabalhando vários aspectos, como raciocí-nio lógico, reflexão, equilíbrio, coordenação motora, respeito ao próximo, socialização, inclusão, interação com o meio ambiente e anatomia corporal.

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Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), a Educação Física desenvolve o espírito de cooperação em benefício da coletividade, trabalhando a percepção das diferenças e limites. Abrange trabalhos de diversas formas e com diferentes indivíduos, independentemente de idade, classe social, sexo, reli-gião, etnia, cultura, idade, com alguma deficiência física ou mental e gestantes, sempre com acompanhamento médico.

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Educação Física, de 18/02/20045, o curso de Licenciatura em Educação Física passou a formar profissionais exclusivamente para a Educação Básica, ou seja, para atuarem como docentes nas escolas de Educação Infantil e dos Ensinos Fundamental e Médio. O licenciado poderá também atuar em pesquisas relacionadas ao ensino e suas interfaces com outras áreas de estudo; entretanto, os novos licenciados não podem atuar em academias, clubes e outros espaços não escolares. Já o bacharel em Educação Física forma profissionais para a área não escolar, como clubes, academias, cen-tros comunitários, hotéis, associações recreativas, empresas de pre-paração física, esporte de alto rendimento e outros, sendo excluída, de sua formação, a possibilidade de atuar na Educação Básica.

O objetivo do Bacharelado em Educação Física é formar o profissional para atuar no planejamento, orientação e avaliação de programas de atividades físicas e saúde para grupos de crianças, jovens, adultos e idosos em condições saudáveis ou integrantes de grupos especiais (com fatores de risco, portadores de deficiência, gestantes e outros). Ele pode realizar pesquisas nessas áreas, entre-tanto, não está autorizado a atuar no ensino formal escolar.

Com a separação dos cursos de bacharelado e licenciatura, algumas Instituições de Ensino Superior reformularam os currícu-los dos cursos de preparação profissional em Educação Física, ha-vendo a diferenciação e a separação do licenciado (docente) para o bacharel (profissional), visando atender, do ponto de vista profis-sional, às necessidades do mercado e da sociedade. Desse modo, passou-se a existir professores ligados à Educação Física Escolar e profissionais ligados a programas de atividade física no atendi-5 Parecer CNE/CES n°58, de 18 de fevereiro de 2004. Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Educação Física.

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mento de diferentes necessidades da população, sendo criado, as-sim, um novo perfil de profissional, que não está ligado somente ao ensino regular (escolas), mas a uma nova e crescente fatia do mercado, constituída por clubes, academias, empresas, condomí-nios e personal trainners, em que a atuação é direcionada não mais somente a executar habilidades, mas também em saber como e por que executar (GHILARDI, 1998).

Diante deste contexto atual, torna-se necessário ampliar a formação do profissional de Educação Física, capacitando-o para atuar no atendimento de saúde nos níveis primário, secundário e terciário, que se desenvolverão quer nos Programas de Saúde da Família, quer em ambiente ambulatorial ou hospitalar no âmbito privado, habilitando-o a lidar com todas as especificidades do seu campo de atuação.

O campo de atuação do profissional de Educação Física

O campo de atuação do bacharel em Educação Física está se tornando amplo e diversificado, saindo do tradicional trabalho em academias e escolas e atuando na intervenção das áreas de pre-paração desportiva, fitness e promoção da saúde, trabalhando com todas as faixas etárias (crianças, jovens, adultos, idosos) e pessoas com necessidades especiais. Também pode desenvolver atividades relacionadas aos campos da educação e reeducação motora, da for-mação cultural e esportiva, da prevenção e promoção da saúde, do lazer, da gestão de eventos e da inclusão, proporcionando vivências e experiências de solidariedade, cooperação e superação, cuidando da promoção de benefícios para a sociedade em que está inserido, por meio do desenvolvimento de habilidades motoras, e criando perspectivas de uma visão ampla do contexto sócio-político-educa-cional, além de manter atitudes, valores, conhecimentos e ética pro-fissional, promovendo a qualidade de vida da população mediante atividades e exercícios corporais.

Para Santos (1999), a Educação Física pode ser considerada profissão dentro de uma conotação descritiva, pois envolve habili-

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dades especializadas, dedicação à pesquisa, razão social, período de preparação e uma organização profissional.

Battaglion Neto (2003) afirma que o trabalho do PEF se de-senvolve tendo como referencial central o ser humano e seu cor-po, vista como práxis transformadora, norteada por uma visão de corporeidade e movimento, englobada em um conceito do homem como unidade.

Santos (2000) amplia essa reflexão ao apresentar a área hos-pitalar como um campo de atuação emergente para o profissional de Educação Física. No entanto, esse mesmo autor ressalta que ainda é escassa a sua presença nessa área de atuação, pois quando se fala em Educação Física, é comum remeter-se à atuação desse profissio-nal em escolas, academias, clubes, enfim, tudo que está relacionado a movimento humano, desconsiderando a sua importância como um profissional da saúde, atuando na rede hospitalar, por exemplo.

Com a separação das áreas de atuação (bacharel e licenciatu-ra), os profissionais de Educação Física habilitados no bacharelado não se limitam mais a escolas e formação de alunos; eles podem atuar com formação de equipes esportivas em escolinhas de espor-tes, em clubes com qualquer modalidade esportiva, em academias de ginástica e musculação, artes marciais, dança e capoeira, escolas de ensino especial e centros de reabilitação, em academias de nata-ção e outras atividades aquáticas, em empresas com ginástica labo-ral, personal training, gerenciamento e administração de qualquer local que se destine à prática de atividade física e até mesmo dentro de hospitais com reabilitação de pacientes operados e também na prevenção de doenças nas Unidades Básicas de Saúde da rede pú-blica, atuando em equipes com médicos, fisioterapeutas, nutricio-nistas e demais profissionais dos serviços de reabilitação. É muito importante enfatizar a importância do trabalho dos profissionais de Educação Física na prescrição de exercícios físicos como forma de prevenção às doenças crônicas degenerativas.

Segundo Santos (1999), em áreas médicas, o profissional de Educação Física pode atuar com serviços de reabilitação e manu-tenção da saúde (condicionamento físico), minimizando o estresse, recuperando o indivíduo e promovendo o desenvolvimento educa-

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cional, social, moral e afetivo, conquistando, assim, o bem-estar e reintegrando o paciente em fase final de tratamento, ou já recu-perado, à vida normal e ao seu antigo cotidiano, que certamente sofreu algumas modificações após o tratamento. Também realiza trabalhos de ginástica, alongamento, yoga, consciência corporal e respiratória, visando reforço do tônus muscular e melhoria da flexi-bilidade e como meio de socialização.

O profissional de Educação Física deve saber se posicionar em uma equipe multidisciplinar, entendendo os atos interdiscipli-nares, e saber não somente se colocar em discussões da equipe, mas conhecer o funcionamento da rotina do ambiente em que trabalha – no caso, os hospitais, clínicas e postos de saúde. Esse campo de atuação é um espaço totalmente diferente do usual campo de atu-ação do profissional de Educação Física, mas em momento algum esse profissional deve desviar o objetivo de sua presença naquele ambiente e atendimento, ao qual se dispõe a atuar profissionalmen-te (SANTOS, 2000).

A atuação do profissional de educação física no Sistema Único de Saúde

O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado sobre a premissa de que a saúde é direito de todos e dever do Estado, definido por meio da Constituição Federal de 1988, no Artigo 1966, de acordo com as diretrizes de descentralização, atendimento integral e parti-cipação popular, respeitando os princípios de universalidade, inte-gralidade e igualdade, firmados na própria Constituição.

A Lei Federal nº 8.080/90 diz que o SUS é o conjunto de ações e serviços de saúde prestados por órgãos e instituições pú-blicas federais, estaduais e municipais, da administração direta ou indireta e das fundações, mantidas pelo poder público e comple-mentarmente pela iniciativa privada. É um sistema universal, regio-nalizado e hierarquizado, que integra o conjunto de ações de saúde 6 “Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/14cns/docs/constituicaofederal.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2014.

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da União, estados, Distrito Federal e municípios. Cada esfera de gestão (federal, estadual e municipal) possui funções e competên-cias específicas e articuladas entre si.

Segundo o Conselho Nacional de Saúde7 – CNS, o SUS pro-move a justiça social atendendo todos os indivíduos, indepentende-mente da cor, raça, religião, local de moradia, situação de emprego ou renda, pois todo cidadão é igual perante ao SUS. É o maior sis-tema público de saúde do mundo, atendendo cerca de 190 milhões de pessoas, sendo que 80% delas dependem exclusivamente do sis-tema para tratar da saúde.

Os serviços de saúde devem saber quais são as diferenças dos grupos da população e trabalhar cada necessidade; o SUS deve tratar igualmente os desiguais. As ações de saúde devem ser com-binadas e voltadas, ao mesmo tempo, para a prevenção e a cura, fa-zendo que as ações de promoção, prevenção e recuperação formem um todo indivisível, que não pode ser separado (BRASIL, 1990).8

No SUS, está alocado o Programa Saúde da Família (PSF), que foi um programa criado pelo Ministério da Saúde, dando uma nova abordagem e orientação ao modelo de assistência à saúde da comunidade, por meio de uma equipe multiprofissional, em Unida-des Básicas de Saúde, localizado em uma área geográfica estabe-lecida, com o objetivo e o propósito de acolhimento, atendimento e acompanhamento de um número fixo de famílias pertencentes a essa área definida, cadastradas nessa unidade, com o intuito maior de promover, prevenir, recuperar a assistência à saúde e tratar os indivíduos sadios e doentes, além de prevenir os riscos e agravos que possam vir a acometer essa população.

Em 24 de janeiro de 2008, o então Ministro de Saúde, Sr. José Gomes Temporão, por meio da Portaria nº 154, criou os NASFs (Núcleos de Apoio à Saúde da Família)9, nos quais o profissional de Educação Física passa a trabalhar diretamente no SUS, dentro 7 Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/web_sus20anos/sus.html>. Acesso em: ago. 2014.8 Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990 – CAPÍTULO II – Dos Princípios e Diretrizes. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/legislacao/lei8080.htm>. Acesso em: ago. 2014.9 [...] Dentro do escopo de apoiar à inserção da Estratégia de Saúde da Família na rede de serviços e ampliar a abrangência, a resolutividade, a territorialização, a regionalização, bem como a ampliação das ações da APS no Brasil, o Ministério da Saúde criou os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), mediante a Portaria GM nº 154, de 24 de janeiro de 2008.

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das Unidades de Atenção Básica à Saúde, mais especificamente nas Unidades com Estratégia de Saúde da Família, onde desenvolvem um trabalho multidisciplinar, em parceria com outras categorias profissionais. Sua criação está baseada em ações de promoção da saúde destinadas a garantir condições de bem-estar físico, mental e social. As práticas corporais/atividades físicas devem ser conce-bidas na perspectiva da saúde humanizada, integral, levando em conta os aspectos socioculturais, econômicos, políticos e históricos da região onde tais práticas serão concebidas.

As diretrizes do NASF (2013, p. 11) apontam como um dos aspectos normativos:

O NASF deve ser constituído por equipes compostas por profissionais de diferentes áreas de conhecimento, para atuarem no apoio e em parceria com os profissionais das equipes de Saúde da Família, como foco nas práticas em saúde nos territórios sob responsabilidade da equipe de SF.

A Portaria n°154 aponta a existência de duas modalidades de NASF, sendo o NASF 1 e o NASF 2. A equipe do NASF 1 deve ser composta por, no mínimo, cinco profissionais com formação universitária, vinculando de oito a 20 Equipes Saúde da Família, havendo nelas:

• Psicólogo;• Assistente Social;• Farmacêutico;• Fisioterapeuta;• Fonoaudiólogo;• Médico Ginecologista;• Profissional de Educação Física;• Médico Homeopata;• Nutricionista;• Médico Acupunturista;• Médico Pediatra;

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• Médico Psiquiatra;• Terapeuta Ocupacional.No NASF 2, a portaria indica que deverá ter, no mínimo, três

profissionais com formação universitária, vinculando, no mínimo, três Equipes Saúde da Família, havendo nelas:

• Psicólogo;• Assistente Social;• Farmacêutico;• Fisioterapeuta;• Fonoaudiólogo;• Profissional de Educação Física;• Nutricionista;• Terapeuta Ocupacional.Nos dias de hoje, falar de saúde não se restringe apenas às

ações médicas. A saúde coletiva trabalha no sentido da multidis-ciplinaridade entre diferentes áreas do conhecimento nas várias atuações no campo da saúde, “[...] subestimado a importância de intervenções fora do núcleo médico, pouco investigando sobre a eficácia do autocuidado, da educação em saúde e da autoanálise [...]”, e desvalorizado “[...] o papel da alimentação e dos estilos de vida na produção de saúde” (COQUEIRO, 2006). Todas essas ações são pensadas para trabalhar ações conjuntas no âmbito da saúde pública.

Além dessas ações, em 2011, o Ministério da Saúde, pensan-do na qualidade da atividade física quando dinamizada pelo profis-sional de Educação Física e em mais uma estratégia para fortalecer as ações de melhoria de qualidade de vida da população, criou a Academia da Saúde (Portaria nº 719/2011), programa voltado para estimular a prática regular de exercício físico, visando mudança de hábitos e adoção de estilo de vida ativo. A Academia da Saúde tornou-se um espaço apropriado à promoção da saúde e à educação da população para o autocuidado.

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Diante dessas ações, torna-se importante o trabalho do profis-sional de Educação Física junto às equipes de saúde (médicos, en-fermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem). O profissional de Educação Física tem grande importância na prevenção de doenças e na promoção/manutenção da saúde da população. Dentre todos os profissionais, ele é o responsável pela condução e coordenação dos NASFs.

A atuação do profissional da Educação Física no campo da Saú-de Privada

A Educação Física na saúde privada pode ser aplicada para reabilitação cardíaca, após a liberação do médico cardiologista, depois de cirurgias, bem como em pacientes com doenças renais crônicas, programas de ginástica laboral para médicos, equipes de enfermagem e profissionais em geral da saúde que trabalham em hospitais, procedimentos pós-cirúrgicos (sempre com liberação do médico responsável) e também com os chamados “Doutores da Alegria”, que fazem parte da recreação hospitalar.

Na rede privada de saúde, foram criados os programas de medicina preventiva, serviço no qual profissionais de várias áreas de estudo, como Enfermagem, Nutrição, Educação Física e Psico-logia, desenvolvem um conjunto de ações, conscientizando sobre a importância da prevenção de doenças e da promoção da saúde, estimulando a mudança de hábitos e de cuidados pessoais. Marega e Carvalho (2012) afirmam que a atividade física regular é essen-cial para a prevenção de doenças. Cabe aos profissionais da saúde orientarem seus pacientes sobre sua real importância e como fazê--la corretamente.

Além desses aspectos, Pinto (2009) ressalta o papel do lazer no hospital, destacando as funções compensatórias e utilitaristas importantes para a condição dos internados, sendo perceptíveis suas contribuições para o descanso, o relaxamento, a meditação, a recuperação do desgaste emocional relacionado ao tratamento, a redução da dor e do sofrimento, do tédio, o alívio do estresse e da ansiedade e até mesmo para a “ocupação” do tempo. Constatou-se

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que o lazer pode contribuir como um recurso para recuperação, tra-tamento e enfrentamento da internação, podendo melhorar a condi-ção de saúde dos pacientes internados.

O profissional de Educação Física trabalha dentro dos hospi-tais junto com o nutricionista, o fisioterapeuta, o terapeuta ocupa-cional, médicos, entre outros profissionais da saúde, para orientar os usuários sobre a importância de um estilo de vida saudável e também para aliar a atividade física com o tratamento a doenças crônicas. A prática de exercícios físicos, sem exageros e com orien-tação de um profissional da área, traz benefícios para a saúde das pessoas e melhora na qualidade de vida.

Diante disso, é possível afirmar que todas essas mudanças no contexto da atuação do profissional de Educação Física trouxeram a necessidade de adequar a formação acadêmica em Educação Físi-ca. As Instituições de Ensino Superior precisam disponibilizar, em sua grade curricular, mais disciplinas que tratem de saúde pública, de políticas públicas e do trabalho multiprofissional, para agregar ainda mais conhecimento e maior competência aos futuros pro-fissionais que venham a atuar neste campo de trabalho cada vez maior: a área da saúde.

A Educação Física começa a ganhar espaço nas equipes mul-tidisciplinares de saúde, porém são poucos os estudos que discu-tem a participação desse profissional específico no serviço público e privado. Deve-se pensar na importância da Educação Física no serviço público e privado de saúde, não apenas para ampliar seu campo de atuação, mas também para subsidiar uma forma eficaz de lidar com os usuários das unidades de saúde, trazendo melhoras significativas a eles na questão da saúde.

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir dos dados coletados nas entrevistas, com perguntas abertas e fechadas, são apresentadas e analisadas as respostas para cada pergunta elaborada, levantando questionamentos por meio de cinco eixos temáticos:

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A visão de outros profissionais da saúde e do PFE sobre a sua atuação na equipe multidisciplinar;

1) A importância do PEF na equipe multidisciplinar de saú-de;

2) Problemas da atuação do profissional de Educação Física;3) Opinião dos usuários;4) Sugestões para participação do profissional de Educação

Física na equipe multidisciplinar.De acordo com as entrevistas, todos os profissionais consul-

tados (médicos, enfermeiros e profissionais de Educação Física) sugeriram que a atuação do PEF seria muito importante para que se pudesse ter um maior incentivo à prática de atividade física. Além disso, foi ressaltado que as ações que envolvem as práticas corpo-rais podem reduzir os agravos e danos de doenças não transmis-síveis (DCNT), tais como diabetes, hipertensão e obesidade, bem como a melhora do estado físico e mental dos usuários do sistema público de saúde.

Ao mesmo tempo em que essas condições positivas são res-saltadas, surge o questionamento sobre a falta de estrutura, como também sobre a pouca atenção aos profissionais atuantes, a difi-culdade de contratação do PEF, o espaço físico reduzido e, muitas vezes, a falta desses espaços nas UBSs e importância da conscien-tização multiprofissional sobre a prática e realização da atividade física e do exercício físico.

Com relação à equipe multidisciplinar da saúde privada em específico, nota-se que os profissionais não possuem muito conhe-cimento sobre a atuação do PEF junto à equipe e que visam ao profissional de Educação Física apenas para a ginástica laboral, principalmente na opinião dos enfermeiros.

Com relação aos médicos, estes indicam a falta de capacita-ção de profissionais e a dificuldade dos profissionais para trabalha-rem em conjunto. Assim como no questionamento levantado pela equipe da saúde pública, a equipe privada também cita a falta de locais apropriados, estrutura e falta de empenho dos administrado-

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res do sistema do plano de saúde para que haja o PEF trabalhando com a equipe de enfermeiros e médicos.

A falta de interesse e conhecimento das autoridades adminis-tradoras ficou evidenciada, e esse dado demonstra a importância da realização de um estudo mais aprofundado sobre a atuação do profissional de Educação Física junto às equipes multidisciplinares da saúde para que o conhecimento seja repassado aos gestores, fa-zendo que o PEF seja mais valorizado e passe a ser não somente o profissional da ginástica laboral, mas, sim, o preventor e auxiliador no tratamento de enfermidades (DM e HAS).

Sendo assim, partindo-se dos resultados encontrados e apoiando-se no estudo de Oliveira (2011), justifica-se a importân-cia e a necessidade do profissional de Educação Física inserido no campo de trabalho da saúde. É ele a pessoa habilitada para desen-volver atividades adequadas para cada indivíduo, respeitando, cui-dadosamente, os problemas identificados. Esse profissional é capaz de organizar, avaliar e coordenar ações especializadas, e esses cui-dados são imprescindíveis para um bom resultado, uma vez que, realizados de forma inadequada, podem ocasionar resultados nega-tivos, como lesões musculares, lesões articulares, fraturas ósseas, cansaço, dores musculares, alterações nos batimentos cardíacos, cefaleia e consequente aumento da pressão arterial.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com os resultados coletados neste trabalho, é pos-sível confirmar a extrema importância do PEF trabalhando junto à equipe multidisciplinar da saúde pública e privada, devido à sua atuação e formação, por meio da qual ele tem conhecimento para trabalhar com os usuários do sistema de saúde. Apesar disso, nota--se que esse profissional, na saúde privada, é muitas vezes visto apenas como professor ou monitor de ginástica laboral.

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As famílias atendidas no loteamento MCMV Terras de Ajapi II: um estudo do território

Sabrina Guillen GONÇALVES1

Maria Aparecida Ribeiro GERMEK2

Resumo: A habitação no Brasil é um dos grandes desafios do Governo e a ele-gibilidade das famílias atendidas em empreendimentos de interesse social se dá por meio de critérios federais e municipais, cujo parecer favorável diante dos mesmos e outros aspectos consideráveis em relação à família acompanhada são de responsabilidade do Serviço Social do órgão municipal de habitação do muni-cípio. Este presente artigo busca verificar a importância do critério de territoria-lidade no empreendimento de interesse social do programa Minha Casa Minha Vida, que atendeu vinte e três famílias, Loteamento Terras de Ajapi II, localizado em Rio Claro-SP, no distrito de Ajapi. Os critérios devem considerar os vínculos comunitários já instalados na população de determinado bairro, tomando-se cui-dado para o seu não rompimento. A comprovação da análise foi obtida por meio de levantamento de dados quanti-qualitativo a fim de verificarmos a atenção desse quesito em relação ao parecer da equipe técnica da área social da Secreta-ria Municipal de Habitação com base num questionário, opinião dos moradores por meio de entrevista semiestruturada e no aspecto documental, pelo banco de dados municipal de habitação por meio de um roteiro. As entrevistas possibili-taram desvendar a representação desse empreendimento para os entrevistados e entender a relação dos mesmos com o território, uma vez que esse aspecto para os moradores nem sempre é o mais importante.

Palavras-chave: Território. Habitação. Critério.

1 Sabrina Guillen Gonçalves. Graduada em Serviço Social pelo Claretiano – Centro Universitário. Atua como Assistente Social. E-mail: <[email protected]>.2 Maria Aparecida Ribeiro Germek. Graduada em Serviço Social pela Faculdade Integrada Maria Imaculada (1978), graduada em Economia Doméstica pela Faculdade Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – USP (1978) e mestre em Serviço Social pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp (2000). E-mail: <[email protected]>.

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1. INTRODUÇÃO

A habitação traz, além do conceito de abrigo, a oportunidade de realizar relações sociais e as perpetuar em falas e atitudes em relação aos que estão ao redor (PERUZZO, 1984).

Por meio de algumas leis, as quais serão apresentadas no de-correr deste trabalho, identificamos a importância da efetivação desse direito, a fim de que todos possam ter sua residência própria, considerando o espaço que a família se insere seja sobre o aspecto urbano ou rural, com qualidade do material físico e social para os futuros moradores. É de extrema necessidade a moradia a qualquer cidadão e sua inserção nesta. Pensado aqui no âmbito de moradias de interesse social sob o conceito de Rolnik et al. (2010, p. 39), temos:

Destinam-se exclusivamente a promover a construção de unidades residenciais para alienação a famílias de menor renda, a ser operacionalizada pela Caixa Econômica Fe-deral no âmbito do “Programa Minha Casa Minha Vida – PMCMV”, do Ministério das Cidades, para atendimento da necessidade de moradia da população de baixa renda, instituído pela lei Federal nº 11.977, de 07 de julho de 2009, pelo que fica também autorizada a sua desafetação para tal fim.

As intervenções devem ter como base a estruturação e a sus-tentabilidade do espaço no qual serão construídas as unidades habi-tacionais com a realização dos demais direitos sociais (FREITAS, 2010).

Para um pequeno segmento da sociedade, a moradia própria é conquistada pelas condições de cada cidadão. Contudo, uma grande parcela da população não possui a mesma oportunidade, por conta da ausência de outros direitos que vão além do habitacional, como diz Furtado (2002). Ou seja, há uma série de políticas públicas que devem ser executadas junto à habitação, como saúde, educação, transporte, dentre outros (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2011).

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Faz-se necessária, portanto, a efetivação de diversos direitos bem como o de moradia, que reconhece a habitação como direito social no artigo 6º da Constituição Federal.

Somente dessa forma será possível o crescimento da cidade com justiça social, porque considera a qualidade de vida dos cida-dãos e não lhes afasta de locais desenvolvidos daquele município; pelo contrário, possibilita o desenvolvimento do seu território. Pela definição de Santos (2002), citado pelo Ministério das Cidades na cartilha Trabalho social em programas e projetos de habitação de interesse social (2010, p. 16), o território pressupõe interação:

O território não é apenas o conjunto dos sistemas naturais e de sistemas de coisas superpostas. O território tem que ser entendido como o território usado, não o território em si. O território usado é o chão mais a identidade. A identi-dade é o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é o fundamento do trabalho, o lugar da resi-dência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida.

Este presente artigo surge de uma preocupação não somente com o espaço físico dos empreendimentos habitacionais de Inte-resse Social, mas com a qualidade de vida das famílias que são contempladas, de acordo com os critérios estabelecidos.

Vale ressaltar que, de acordo com o perfil da família, deve--se, dentre outros critérios, considerar o lugar onde a pessoa mora. Pois, se isso não é considerado pelo parecer da equipe social, a fa-mília beneficiada por um dos empreendimentos habitacionais pode se sentir vulnerável pelo vínculo comunitário rompido e até mesmo colocar obstáculos como imperfeições físicas e sociais no espaço de sua nova moradia.

O presente estudo se propõe a analisar o perfil das vinte e três famílias selecionadas em 21 de julho de 2013, para o empreendi-mento Terras de Ajapi II, localizado no distrito da cidade de Rio Claro, no estado de São Paulo, cuja construção seguiu os parâme-tros do Programa Minha Casa Minha Vida.

Os questionamentos levantados se voltam à verificação de se a territorialidade do empreendimento atende às necessidades das

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famílias selecionadas, viabilizando a importância do não rompi-mento dos vínculos comunitários pelo mesmo programa.

É imprescindível salientarmos que a falta de possibilidade do usuário decidir sobre o território que irá habitar leva os mesmos a uma insatisfação quando as casas são ocupadas, devendo-se, por-tanto, efetivar a autonomia das famílias na escolha dos seus futuros lares, dentre os empreendimentos, desde a primeira acolhida na Se-cretaria de Habitação do município.

A pesquisa terá como metodologia o levantamento de dados quantitativos por uma pesquisa documental, pelo banco de dados habitacional da cidade para apresentação de dados estatísticos, en-fatizando o local onde residiam as famílias antes de serem atendi-das no empreendimento.

Também será aplicada uma entrevista qualitativa semiestru-turada, com perguntas abertas, junto a seis das vinte e três famílias atendidas no empreendimento de estudo, a fim de conhecer o que pensam e esperam sobre o local de moradia.

Por fim, para a equipe social da Secretaria Municipal de Ha-bitação, será aplicada uma pesquisa de opinião para se verificar a consideração territorial no parecer técnico social na seleção das famílias que foram contempladas.

2. HABITAÇÃO E A QUESTÃO SOCIAL

As pessoas sempre procuraram melhores condições de vida, em toda a história da humanidade. O ser humano está sempre em busca de alcançar um conforto, e isso inclui também o de moradia.

A partir da industrialização ocorrida no Brasil no início no século XX, na década de 30 aproximadamente, houve grande fluxo migratório das pessoas que residiam no campo para as cidades, que eram polos industriais, à procura de uma condição de vida melhor, e viam o trabalho como alicerce para isso.

A região Sudeste foi bastante alterada pelas indústrias, fazen-do, portanto, aumentar a população que ali residia e também o mer-cado imobiliário. Foi nesse cenário que a questão social foi notória,

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expressando-se na relação capital-trabalho e se apresentando pelas desigualdades que são existentes até os dias atuais, sendo a falta de habitação uma delas.

A urbanização acelerada pela industrialização induz o Estado a responder pelas questões vigentes e a se adequar às necessidades que se impuseram a esse novo contexto de vida socialmente urbana. Já que, como afirmam Iamamoto e Carvalho (2009, p. 77):

A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu re-conhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade e repressão.

Percebe-se, pela citação anterior, que a intervenção estatal na vida social, e não somente na vida trabalhista, era algo de extrema importância para respaldar as famílias que, pelas expressões das questões sociais, eram induzidas, em relação à habitação, a ocupar locais irregularmente, dentre outras precárias condições de moradia conforme traz o Ministério das Cidades na cartilha Reabilitação urbana com foco em áreas centrais (2013).

Ao longo da história, muitas políticas foram sendo constru-ídas para o enfrentamento dessa questão social, como, em 1946, a Fundação da Casa Popular.

Em 1964, é criado o Banco Nacional de Habitação (BNH), que, juntamente ao Sistema Financeiro de Habitação, tinha como foco a concepção de moradias dignas por meio da utilização do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), de poupanças ou outras fontes de rendas comprovada (D’AMICO, 2011). Esta era uma forma do Estado impulsionar a população a trabalhar com carteira registrada, e não como autônomo. Contudo, o BNH faliu em 1986, pelo fato de não validar por completo o que era normativo no seu discurso, e por conta da crise que a inflação trouxe junto ao aumento significativo da inadimplência.

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Em 1990, com o início do governo neoliberal, cria-se o Pla-no de Ação Imediata para a Habitação, porém não obtém o êxito esperado.

Essa necessidade de mudança no aspecto urbano só veio a aumentar quando foi constatada a importância de um trabalho qua-litativo. Até então, as ações se limitavam a uma intervenção física, e com pouco favorecimento ao aspecto social.

As transformações urbanas no Brasil foram firmadas consi-derando o fator social somente em 2009, quando se inicia um traba-lho social com habitações de interesse social, pelo Programa Minha Casa Minha Vida do Ministério das Cidades, sendo repassado ao setor privado o protagonismo na construção das moradias popu-lares, mantendo a lógica de mercado e a exigência de um Projeto de Trabalho Técnico Social a todo empreendimento de Interesse Social implantado nos municípios.

3. PARTICULARIDADES DO EMPREENDIMENTO MCMV TERRAS DE AJAPI II E VISÃO DOS USUÁ-RIOS

O Distrito de Ajapi foi criado em 1948, pela Lei Estadual nº 233, e incorporado ao município de Rio Claro pela mesma lei, sen-do que a divisão territorial foi legalizada em 1995, conforme nos traz o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE, 2013).

O empreendimento de interesse social instituído pelo Progra-ma Minha Casa Minha Vida nomeado de Terras de Ajapi II, lo-calizado nesse distrito, teve o levantamento de dados autorizado pela atual Secretária Municipal de Habitação e foi composto por três etapas, em que verificamos vários aspectos importantes que complementam a justificativa, bem como nos trazem resultados em relação ao objetivo proposto, com os quais viabilizamos o estudo em sua totalidade, que apresentaremos neste capítulo.

Foi aplicada a entrevista para seis pessoas adultas que nos atenderam em suas residências, sendo que os dados levantados e

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analisados nos trouxeram importantes apontamentos que devem ser ressaltados.

Verificou-se um elemento que não foi alvo de estudo, contu-do justificável diante do que coloca Wilheim (2008), ao retratar que a família, quando no espaço que é seu, passa a viver e não somente sobreviver como era antes, quando residia em moradia de aluguel. E1 comprova essa proposta quando diz “facilitou é que já morava aqui, e não pago mais aluguel, não teve dificuldades”. Ou seja, ela sobrevivia no Distrito de Ajapi, mas agora vive no mesmo territó-rio, por não ter mais pendências locativas do imóvel.

Os dados levantados pelo banco de dados habitacional reve-lam que 56,5% dos moradores do empreendimento já residiam em Ajapi, e 34,7% moravam nas chácaras e sítios próximos ao Distrito, sendo somente 8,7% do município de Rio Claro, que mudaram para o Distrito de Ajapi. Último número justificável quando analisamos o questionário preenchido pela equipe técnica, quando apenas duas técnicas sociais das cinco responsáveis pelo parecer favorável às unidades habitacionais, incluíram como critério a territorialidade.

O fator marcante das entrevistas foi sem dúvidas que, antes do empreendimento, moravam em imóveis alugados, e sair dessa condição foi algo extremamente satisfatório às famílias, E5: “De difícil não teve nada, facilitou que o aluguel era muito caro neah, agora pago bem menos”, de certa forma, algumas não ressaltaram a dificuldade ou facilidade territorial como aspecto.

Notamos também a preocupação das famílias com os equipa-mentos comunitários, como o transporte coletivo e a unidade básica de saúde e tem grande significado, como aborda E3: “Nada difi-cultou, a única coisa é que o ônibus ainda não passa, mas estamos indo atrás disso também [...]” e E2: “Bem, que melhorasse o posto de saúde, fica próximo, mas não atende todo mundo, tem horário lá pro médico ver a gente”.

Em relação à ação comunitária, destaca-se na fala de E3, segundo a qual moradores estão lutando para melhorar o bairro, sendo essa ação fomentada por serem proprietários dos imóveis, desenvolvendo o território pelas iniciativas de organizações comu-nitárias, como bem conceitua o que Wilheim (2008, p. 106) chama

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de apropriação da cidade, “o direito e expressão da opinião indivi-dual é fator importante na vida urbana, pois orienta o habitante na escolha e realização de seus projetos de vida”.

Falas competentes à segurança são aspectos fundamentais para se viver bem, conforme diz E5: “Tenho que acabar de fazer o muro no fundo, vou colocar portão também”, E6: “Há, quero fazer o muro pra deixar mais seguro a casa neah...”. Sendo esse elemen-to associado ao dinheiro que antes era para aluguel, e que agora é vinculado à melhoria da moradia, os usuários apontam como pre-tendem melhorar suas residências para maior segurança.

A convivência social é valorizada quando se reporta a vizi-nhança, o que é comprovado por E4 quando fala: “É gostoso aqui, os vizinhos são gente boa[...]” e por E6: “[...] Os vizinhos também são bons, todos trabalhadores, então não tem barulho de noite, isso é uma coisa boa”.

O território para muitos não é apontado como de necessida-de prioritária, e sim o condicionante de habitar em sua proprieda-de. Porém, a territorialidade do empreendimento é algo marcante quando verificada pela visão social do vínculo comunitário que os moradores criaram por meio do bairro em que agora residem, expressando-se de forma organizada e respeitosa com atos de con-vivência, bem como união por meio de mobilizações para melhores condições de habitação.

4. A LUTA PELA GARANTIA DO DIREITO À HABITA-ÇÃO: POSSIBILIDADE DE INCLUSÃO VIA POLÍTI-CAS PÚBLICAS

A consolidação do direito habitacional pela intervenção do estado é algo que traz a necessidade de transformação do espaço no qual serão implantadas as unidades habitacionais. Como diz Wilheim (2008, p. 138-139):

Se a habitação, nas camadas populares, tem tal variedade de funções e importância vivencial, pode-se compreender que sua localização não seja indiferente, não se podendo

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decidir levianamente sobre remoção de favelas ou locali-zação de conjuntos habitacionais.

É nesse momento que se inicia um minucioso trabalho que eleva a importância de caracterização do entorno, a fim de desen-volvê-lo por meio das políticas públicas. Ou seja, os empreendi-mentos são construídos como estratégias de crescimento do terri-tório.

Ao mesmo tempo em que no espaço são inclusos equipa-mentos de saúde, educação, segurança, assistência, dentre outros, verifica-se, de acordo com os critérios habitacionais do Governo Federal, pela Lei nº 11977/2009 do Programa Minha Casa Minha Vida, e Municipal, elaborada pelo Conselho Municipal de Assistên-cia Social quais famílias serão inclusas no empreendimento.

As políticas públicas para prover habitações às famílias que não possuem condições para adquirir uma casa por meios financei-ros individuais, desde a Revolução Industrial, foi foco de atenções governamentais, a fim de garantir aos cidadãos o direito de moradia urbana como traz a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 no Capítulo II, Art. 6º: “são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, ao trabalho, a moradia [...]”.

A moradia assim, como os outros direitos constituídos na lei citada, são frutos de políticas públicas que, pela definição de Silva e Lima (2010, p. 5):

São produtos de um intricado processo de pressões políti-cas exercidas por grupos da sociedade civil, bem organiza-dos e influentes politicamente, e das predisposições políti-cas do governo em se sensibilizar acerca dessas pressões.

Ou seja, não é somente por interesse do Estado a construção das unidades habitacionais, mas de vários aspectos que, aliados, forçam o governo a prover o que nos é direito.

Fica clara essa atuação estatal na Lei nº 10.257, que implanta o Estatuto da Cidade em 2001, no 26º artigo, quando enfatiza a preempção de áreas que, dentre outros motivos, também focalizam a construção de projetos habitacionais de interesse social.

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Esse artigo é completado pela Lei nº 11.977, criada em 2009, que dispõe sobre o Programa Minha Casa Minha Vida e, no seu Art. 3º, § 1º, trata a habitação de interesse social como prioridade de atendimento pelos três entes federativos e, mais adiante, no Art. 47, a discrimina como a ZEIS – Zona Especial de Interesse Social, destacando a responsabilidade do Plano Diretor ou outras leis mu-nicipais de destinar uma parcela das áreas urbanas para o programa.

O respaldo legal para a efetivação do direito à moradia digna pelos programas aos de baixa renda é algo que está presente na maioria dos municípios do Brasil, uma vez que eles trazem desen-volvimento para as cidades. Contudo, o contingente populacional de pessoas que nunca possuíram imóveis ou que estão residindo em áreas de risco é muito grande.

É de extrema importância que a fotografia da cidade seja cap-turada para amenizar as questões sociais, com a implantação de políticas públicas nos municípios. E que estas não fiquem distantes dos cidadãos; pelo contrário, que lhes sejam de alcance territorial para utilização, se necessário.

Verificamos, portanto, que a política habitacional não traz sozinha a emancipação dos atendidos nos empreendimentos, mas é apenas um setor a que a família tem direito de ser atendida, em meio a outras políticas públicas.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como observamos, as políticas habitacionais brasileiras se alteraram rapidamente, adequando-se às necessidades do espaço que as cidades possuem, e os empreendimentos de interesse social tiveram que ser desenvolvidos nem sempre nos espaços centrais das cidades, mas em zonas periféricas, necessitando, contudo, do acompanhamento de outras políticas públicas para também desen-volver essas áreas.

É importante destacarmos que o território do empreendimen-to de estudo está fomentando discussões para o seu desenvolvimen-to, como a preocupação com equipamentos de saúde e transporte

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coletivo, que nos induzem a um novo estudo, o de que não basta somente implantar as políticas públicas junto às habitações nas ci-dades, mas é também necessário que elas comportem a população do entorno.

Os aspectos abordados na pesquisa ultrapassaram os limites estipulados quando verificamos, por meio da análise dos dados, que as famílias não veem o território como o principal elemento de dis-cussão acerca das unidades habitacionais nas quais foram inseridas, mas sim não terem mais que pagar o aluguel. Nossa inquietação residia no fato do território, porém verificamos, por meio da pes-quisa, que ter o imóvel próprio tem um grande significado para os sujeitos, percebe-se que não ter mais a obrigatoriedade do aluguel significa um alívio para a população.

Ainda foi constatado que a maioria já residia no Distrito, o que nos mostra que os vínculos comunitários não foram rompidos pelo programa; pelo contrário, a união dos atendidos no Loteamen-to Terras de Ajapi II é viabilizada quando articulada à satisfação que possuem com a vizinhança do local onde moram.

O fator principal encontrado na pesquisa foi a felicidade dos moradores por não residirem mais em casas locadas. Fator positi-vamente justificado pelo parecer das técnicas sociais, verificamos que nem todas consideram a territorialidade, ainda que sendo um critério para inserção das famílias nos empreendimentos, pois prio-rizam questões de saúde e condições de moradia.

Numa reflexão mais ampla, podemos tomar como iniciativa esse território para contextualizarmos e conscientizarmos da im-portância das famílias de deixarem de pagar aluguel, não somente nesse Distrito, mas em toda a nação, e terem alguma propriedade fí-sica que, em consequência, trará também um ganho social: a liber-dade de tornar-se conhecido e realizar-se socialmente (WILHEIM, 2008).

Os dados levantados nos levam a concluir que o território atualmente é complementar. É o fator que desvendará o desenvol-vimento do bairro com identidade construída pela população, e não consiste no mais importante. O resultado nos instiga a realizar no-vos estudos e análises mais profundas sobre a inclusão das famílias

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de baixa renda em programas de interesse social sendo a política de habitacional um caminho para inclusão.

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Relatos de experiência de leitura do conto machadiano Idéias de Canário com mulheres aprisionadas

Valter Antonio LOURENÇÃO1

Resumo: Este artigo tem como objetivo apresentar uma parte de minha disser-tação, desenvolvida no Centro de Ressocialização Feminino de Rio Claro, que propôs dar uma resposta à pergunta que norteou este trabalho acadêmico: pode a prática social educativa da experiência de leitura de textos literários ser um dos caminhos para conduzir as reeducandas a ampliar a sua compreensão de mundo? Apesar de serem trabalhados junto às reeducandas três contos machadianos, nes-te artigo abordaremos apenas um: Idéias de Canário. A principio, foi aplicado um questionário contendo perguntas abertas e fechadas com a finalidade de criar um perfil de cada uma das dez participantes. Em seguida, foi combinado um dia para a leitura e a coleta dos comentários tecidos pelas reeducandas. E a última proposta seria a criação de uma leitura encenada entre as participantes. Elas es-colheriam um dos contos e construiriam uma nova leitura do mesmo. A resposta à pergunta da pesquisa seria obtida pela análise dos conteúdos coletados.

Palavras-chave: Experiência de Leitura. Prisão. Textos literários. Mulheres. Machado de Assis.

1 Valter Antonio Lourenção. Graduado em Comunicação Social pela Faculdade Integradas Claretianas (2004). Possui complementação pedagógica em Língua Portuguesa na Faculdade Integradas Claretianas (2006). Mestre em Educação pela Universidade Estadual Paulista – Unesp de Rio Claro (2013). Atua com o incentivo à leitura nas prisões e com alunos universitários. E-mail: <[email protected]>.

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1. INTRODUÇÃO

Ao ingressar no programa de Pós-Graduação em Educação da Unesp no ano de 2011, compreendi que ler representa muita mais que interpretar textos escritos no papel, antes, relaciona-se também com a nossa maneira de ver o mundo. Ao perceber esta íntima relação existente entre ambos os tipos de leitura (a escrita e a de mundo), compreendi que, como afirma Freire (1992, p. 20), “a leitura de mundo preceda a leitura da palavra”. Assim, a leitura da palavra é importante para municiar e ampliar a nossa visão de mundo, no entanto, para que o escrito se torne ampliador de mundo, ele tem que ser uma experiência.

Por essa razão, Jorge Larrosa (2002, p. 135), ao afirmar que a experiência de leitura pode conduzir à formação do indivíduo lei-tor, estabelece a condição de que a leitura precisa ser “[...] aquilo que nos passa. Não o que passa, senão o que nos passa”.

Todas essas reflexões sobre a leitura estavam focadas em res-ponder a pergunta norteadora da dissertação e foi no gênero literá-rio do conto que encontramos um aliado que possivelmente poderia acender nas reeducandas a vontade de mergulhar no mundo das pa-lavras para contemplá-las, propiciando às apenadas a oportunidade de exercitarem a mente, preenchendo os poros do texto lido com novos significados, novas maneiras de ver a vida; reconhecendo na narrativa a sua imagem, como se estivessem olhando em um espe-lho, enxergando com uma visão ampla a sua vida, possibilitando a elas escolher qual o caminho a trilhar para reconstruir seu projeto de vida.

A escolha do conto se relaciona com o processo de humaniza-ção que o texto literário carrega em seu escopo, ao desnudar para o leitor situações na sociedade, tornando-os mais conscientes de seus direitos e deveres, além de saberem que são pertencentes a uma sociedade humana (CANDIDO, 1998).

Tais características da literatura são necessárias junto às mu-lheres encarceradas porque podem conduzi-las à reflexão sobre sua situação de aprisionadas e fazer com que não sejam passivas quanto a esse momento de suas vidas, devendo, ao contrário, movimentar-

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-se e ousar expor-se para buscar novos caminhos que poderão guiá--las à reconstrução de um novo projeto de vida.

Na execução deste projeto, o conto foi o elemento provoca-dor para as participantes e, dentre tantos escritos, foram escolhidos os seguintes: Idéias2 de Canário, A Agulha e a Linha e A Igreja do Diabo. Todos os três são de autoria de Machado de Assis, um autor possuidor de temáticas oportunas por entre as linhas de sua escrita, bem como reconhecido pela sua característica de ser um profundo conhecedor da alma humana.

No entanto, neste artigo serão abordados apenas os dados co-letados das dez participantes do conto Idéias de Canário.

2. METODOLOGIA

O título da pesquisa – Relatos de experiências de leitura de contos machadianos com mulheres aprisionadas – propositalmente se utiliza da partícula da língua portuguesa “com” para informar aos leitores que as participantes dessa pesquisa não estariam solitá-rias; antes, teriam o pesquisador como leitor dos contos em conjun-to com elas, destacando as possibilidades de interpretações sugeri-das pelas falas e os escritos dessas mulheres, por isso, o caminho trilhado por essa investigação é o da pesquisa-ação.

Em grande parte da literatura acadêmica, existe uma grande polêmica sobre a pesquisa-ação, pois muitos afirmam que ela é o sinônimo de pesquisa participante. No entanto, não vamos nos ater a discussões metodológicas que fogem ao foco deste artigo. Gosta-ríamos apenas de seguir o pensamento expresso por Simon (2007, p. 547) ao dizer que a pesquisa-ação preconiza “[...] um sistema de expressão e de escuta inserida no movimento ou na prática social, captando os discursos e expressões que se manifestam em diversos momentos e em diversas situações”.

Desenvolvi um cronograma das atividades de leitura nesta pesquisa para que o leitor possa entender o seu desenvolvimento na investigação, explicitando as atividades, os contos lidos, as res-2 A palavra “ideia”, que pela nova ortografia é grafada sem o acento agudo, nesse texto segue conforme a escrita do autor, ou seja, com acento agudo.

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pectivas datas e horários estabelecidos pelo diálogo entre nós, as reeducandas e unidade prisional.

Quadro 1. Cronograma das atividades de leituras.

Atividades Instrumentos Metodológicos Data Local Horário

1Leitura silenciosa e em voz alta do conto Idéías de Canário

Diário de Campo 18/10/2012 Refeitório 19h às

21h30

2

Apresentação da biografia de Machado de Assis e nova leitura do conto Idéias de Canário com o vocabulário em mãos

Diário de Campo 24/10/2012 Refeitório 19h às

21h30

3Discussão e encerramento do conto Idéias de Canário

Diário de Campo (relatos orais) e Relatos por escrito

29/10/2012 Biblioteca 19h às 21h30

4Leitura e discussão do conto A agulha e a linha

Diário de Campo 05/11/2012 Biblioteca 19h às

21h30

5Leitura silenciosa e em voz alta do conto A igreja do diabo

Diário de Campo 12/11/2012 Biblioteca 19h às

21h30

6

Nova leitura em voz alta e discussão do conto A igreja do diabo

Diário de Campo (relatos orais) e Relatos por escrito

19/11/2012 Biblioteca 19h às 21h30

Fonte: Autor.

Dessa maneira, o refeitório ou a biblioteca tornaram-se um espaço social onde as reeducandas puderam ter liberdade para ler, entender e expor suas opiniões (discussões) de maneira democrá-tica.

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3. COMPOSIÇÃO DOS RESULTADOS

Os resultados obtidos foram construídos de maneira a res-ponder a pergunta que norteou o trabalho, sendo constituídos da seguinte maneira:

• Questionário: composto por 13 questões, construindo o perfil leitor de cada reeducanda que participou desta pes-quisa.

• Relatos orais: constituem-se nas falas de cada participante oriundas do diálogo entre os textos literários e a subje-tividade das participantes, ou seja, da possível experiên-cia de leitura vivenciada por cada uma delas. Elas foram anotadas em meu diário de campo. Por motivos éticos, os nomes foram substituídos por números de I a X.

• Relatos por escrito: são comentários que cada participante fez e me entregou em uma folha escrita durante as apli-cações das atividades de leitura. Esses textos produzidos pelas participantes foram identificados da mesma forma que os relatos orais.

Após a realização de todas essas etapas, foi aplicada uma técnica conhecida pela comunidade acadêmica como triangulação de metodologias, que consiste em “combinar, em uma única in-vestigação diferentes métodos de recolha e análise de informação” (DUARTE, 2009, p. 3). Dessa maneira, a triangulação foi aplicada nesta pesquisa e foram entrelaçados os dados coletados pelo ques-tionário, os relatos (orais transcritos no diário de campo e os textos escritos entregues ao pesquisador). Os resultados foram compostos de argumentos coletados no perfil da leitora a partir do questio-nário, nos relatos orais e por escrito, a fim de atingir os objetivos propostos e responder à questão que orientou esta pesquisa.

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Resultados do questionário e da leitura do conto Idéias de Ca-nário

Quadro 2. Perfil da Participante I.

PERFIL DA PARTICIPANTE ICaracterísticas da participante

Faixa Etária 25-29 anos e 364 diasEstado Civil solteiraFilhos 4 filhosRazão da prisão tráfico de drogasTempo de prisão mais de 3 anosTempo de prisão a cumprir de 1 ano até 2 anos, 11 meses e 29 diasRecebe visitas não

Perfil da leitoraEscolaridade Ensino Fundamental incompletoEstuda na prisão simTem costume de ler simTipo de leitura revista, jornal, livro e BíbliaObras que leu livro espírita e romanceAssiste à novela simGênero de que mais gosta época e comédia

Fonte: Autor.

A Participante I, na faixa dos 20 anos, com Ensino Funda-mental incompleto, conseguiu estabelecer a relação entre ela, o pás-saro, a gaiola e a prisão:

– “Tadinho do pássaro está preso e eu também”.Nessa resposta, a reeducanda, além de se comparar ao pás-

saro da gaiola, usa a expressão “tadinho”, que pode, em minha opinião, revelar um sentimento de autopiedade, uma vez que não recebe visita, segundo a sua resposta à pergunta do questionário. Ao analisar a fala da participante compreendi que o emprego da expressão “tadinho” pode ser revelador de um sentimento de aban-dono, talvez pela razão da participante ser mãe de 4 filhos e não receber nenhuma visita.

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Quadro 3. Perfil da Participante II.

PERFIL DA PARTICIPANTE IICaracterísticas da participante

Faixa Etária 25-29 anos e 364 diasEstado Civil solteiraFilhos 3 filhosRazão da prisão associação e tráfico de drogasTempo de prisão mais de 3 anosTempo de prisão a cumprir de 6 meses até 9 meses e 29 diasRecebe visitas não

Perfil da leitoraEscolaridade Ensino Fundamental completoEstuda na prisão nãoTem costume de ler simTipo de leitura revista, livro e BíbliaObras que leu Bíblia e autoajudaAssiste à novela simGênero de que mais gosta época

Fonte: Autor.

A Participante II, uma jovem de menos de 30 anos, solteira, Ensino Fundamental completo, associa o canário ao escritor Ma-chado Assis na leitura que fizemos de Idéias de Canário.

A reeducanda expõe que:– “O mundo é um livro e nós somos os escritores, com o tem-

po viramos a pagina e vamos escrevendo nossa história”.Esse relato feito pela participante reforça a ideia de que, para

ela, Machado representa o canário, porque denota que ele escreveu em um conto detalhes de sua história e, de maneira similar, todos nós também o fazemos, ao vivermos as nossas vidas, na qual as marcas das vivências são escritas em nosso interior, de onde nunca se apagam. Essas palavras proferidas pela participante recordam-

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-me o que Manguel (2010, p. 204) escreveu: “O mundo, que é um livro, é devorado por um leitor, que é uma letra no texto do mundo, assim, cria-se uma metáfora circular para a infinitude da leitura. Somos o que lemos”.

Quadro 4. Perfil da Participante III.PERFIL DA PARTICIPANTE III

Característica da participanteFaixa Etária 30-49 anos e 364 diasEstado Civil solteiraFilhos 10 filhosRazão da prisão associação e tráfico de drogasTempo de prisão mais de 3 anosTempo de prisão a cumprir de 1 ano até 2 anos, 11 meses e 29 diasRecebe visitas não

Perfil da leitoraEscolaridade Ensino Fundamental incompletoEstuda na prisão simTem costume de ler simTipo de leitura livroObras que leu Doce lar, A favela e Tambores de AngolaAssiste à novela simGênero de que mais gosta suspense

Fonte: Autor.

A Participante III está na faixa etária entre 30 e 49 anos, é solteira e possui Ensino Fundamental incompleto. Essa participante me disse que gosta de ler livros literários, contudo não os entende. Na sua primeira consideração sobre a leitura do conto – Idéias de Canário – ela relaciona o canário com uma pessoa aprisionada:

– “Uma pessoa jovem, que nunca trabalhou lá fora, que a maior parte de sua vida esteve presa na cadeia e lá não teve oportu-nidade de aprender nada. O que fará quando sair? É o mesmo caso do canário criado na gaiola”.

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A reeducanda aborda esse assunto pensando em sua própria situação. O fato de estar na prisão por mais de três anos e ainda res-tarem quase dois para cumprir, agravado por ter idade superior a 30 anos e não possuir nenhuma qualificação desenvolvida no tempo em que está na prisão, deve gerar uma sua sensação de tempo per-dido muito grande. Possivelmente, “[...] este sentimento de tempo perdido, destruído ou tirado de suas vidas [...]” pode se configurar como motivo que a levou a participar da pesquisa (ONOFRE, 2012, p. 53).

Além disso, existe a questão do estigma carregado por toda ex-detenta ao procurar um emprego, sabendo que a dificuldade au-menta por sua escolaridade ser de fundamental incompleto, agrava-da pela responsabilidade de criar dez filhos, o que aumenta ainda mais a pressão sobre essa reeducanda. Possivelmente essas várias razões devem preocupar essa participante que, provocada pela nar-rativa, formulou esse questionamento, que aflige também a muitos outros na mesma situação.

A questão da perda do seu referencial de pertencimento ao mundo, que acontece quando o apenado adentra a prisão, é muito bem esclarecida nas palavras de Onofre (2012, p. 53):

Nesse momento, ele é despido de seu referencial, e o pro-cesso de admissão o leva a outras perdas significativas em relação ao seu pertencimento à sociedade. [...] observa que o encarcerado passa por um processo de descaracterização de sua identidade adquirida anteriormente nas relações com a família, amigos e instituições religiosas, educacio-nais, profissionais.

Percebe-se a preocupação da reeducanda com a educação, quando fala do apenado não aprender nada dentro de uma unidade prisional, sendo que, ao sair de lá, se sente incapacitado para en-frentar as dificuldades que seu estigma de ex-detento lhe acarreta, de sua falta de preparação para a competição no mercado de tra-balho. Dessa maneira, fica evidente a importância de projetos que estimulem a leitura e a escrita, porque elas alimentam e ampliam a nossa visão de mundo. O ato de ler é uma conversa na qual os lei-tores respondem aos diálogos imaginários, alimentados por leituras passadas, que ouvem ecoar em algum local de suas mentes. Esses

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diálogos são respostas a provocações silenciosas feitas por palavras escritas em uma página (MANGUEL, 2010).

Quadro 5. Perfil da Participante IV.PERFIL DA PARTICIPANTE III

Características da participanteFaixa Etária 25-29 anos e 364 diasEstado Civil viúvaFilhos 3 filhosRazão da prisão tráfico de drogasTempo de prisão mais de 3 anosTempo de prisão a cumprir mais de 3 anosRecebe visitas sim, da mãe, irmãos e filhos

Perfil da leitoraEscolaridade Ensino Fundamental completoEstuda na prisão nãoTem costume de ler simTipo de leitura revista, jornal, BíbliaObras que leu Mudança de planos, livro bíblico de JóAssiste à novela simGênero de que mais gosta drama, época e comédia

Fonte: Autor.A Participante IV, uma mulher na faixa etária entre 25 e 29

anos, viúva, Ensino Fundamental completo, menciona em seu relato o que significa, para ela, a gaiola e o canário:

– “O canário preso em sua gaiola, mostra um pouco da prisão de cada um, não só de uma prisão ir e vir, mais sim de uma prisão de pensamento de expor as nossas ideias os nossos pensamentos”.

Em seu relato escrito a reeducanda relaciona a prisão de gra-des literais ao silêncio necessário dentro do ambiente que vive. É difícil se manter calado ao passarem diante de nós textos que desa-gradam, agridem e ferem, os quais destinam nossas próprias pala-vras a serem mantidas na cela de nossas mentes, nenhum som pode

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ser proferido de nossa boca. Possivelmente a participante retrata como prisão o fato de não poder exprimir os seus ideais, como se ainda vivêssemos no tempo de ditadura.

Ao ler, a participante pode ter sido conduzida a fazer um mo-vimento para fora de si ao encontro do isso – o conto – que me pas-sa, que é exterior a ela, e ao encontrá-lo, retorna para dentro de si. É nessa volta que o sujeito da experiência soma aquilo que aprendeu no exterior ao que já possui em seu interior, para produzir uma nova significação (LARROSA, 2011).

De acordo com Yunes (2003), o leitor, ao ler, soma toda a sua experiência pessoal de vida, mesmo sem se dar conta de tal fato, atribuindo ao que leu as suas marcas pessoais de memória intelec-tual e emocional, desvelando a pessoa que é.

Quadro 6. Perfil da Participante V.PERFIL DE PARTICIPANTE VCaracterísticas da participante

Faixa Etária 25-29 anos e 364 diasEstado Civil solteiraFilhos nãoRazão da prisão não informadoTempo de prisão 1 ano até 2 anos, 11 meses e 29 diasTempo de prisão a cumprir 1 ano até 2 anos, 11 meses e 29 diasRecebe visitas sim, da mãe

Perfil da leitoraEscolaridade Ensino Superior incompletoEstuda na prisão nãoTem costume de ler simTipo de leitura revista, jornal, livro e BíbliaObras que leu livro e BíbliaAssiste à novela simGênero de que mais gosta época

Fonte: Autor.

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Ao apresentarmos a pesquisa, essa reeducanda, entre a faixa etária de 25 e 29 anos, solteira, mostrou um grande interesse em participar, mas, em virtude de sua agenda, choque com os horários de suas aulas, não pode participar integralmente. A reeducanda tem nível superior incompleto e ministra aulas de várias disciplinas no Ensino Médio da unidade para outras apenadas.

Dessa forma, tomei a iniciativa de falar com a diretora da unidade e juntos chegamos a um denominador comum que seria o de que a reeducanda, no dia do projeto, deixaria os exercícios prontos para suas alunas resolverem, podendo participar então das leituras. Assim foi feito, porém o tempo, que já era pequeno para ela, tornou-se menor ainda, atrapalhando suas participações com comentários nas sessões de leitura. No entanto, vale a pena indagar se não seria prudente permitir que a reeducanda, uma vez por sema-na, apenas 2,5 horas, participasse das atividades de leituras, já que a mesma estava interessada.

Esta é a grande encruzilhada em que se encontra a educação no ambiente prisional: por um lado, as prisões, com normas rígidas que tendem a acomodar o sujeito dentro da sociedade; por outro, a educação, que pretende despertar neles o desejo de transforma-se por meio de uma visão de mundo mais abrangente. Isso me lem-brou das palavras da pesquisadora Onofre (2012, p. 47):

As discussões postas nesse momento têm enfatizado difi-culdades em desenvolver, efetivamente, um programa de educação, se este estiver ligado ao esquema de funciona-mento da prisão, cujo caráter é essencialmente disciplinar. A reabilitação requer a anulação do ser e não um empreen-dimento próprio para a sua formação como sujeito, tendo sua primazia centrada na aceitação da situação. A educa-ção, por seu lado, almeja a formação dos sujeitos, a amplia-ção de sua leitura de mundo, o despertar da criatividade, a participação na construção do conhecimento e a superação de sua condição atual.

A prisão é disciplinadora, repressiva e prioriza a ordem. Con-tudo, sabemos que a educação é transformadora, por isso, seria ne-cessário que se encontrasse um ponto de intersecção entre as práti-cas educativas e as unidades prisionais, porque o sistema prisional faz uso do caráter disciplinar em detrimento do educativo. Sendo

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assim, a prisão anula o sujeito em vez de conduzi-lo à formação, enquanto a educação tem como característica formar, expandir a sua visão de mundo, em apoio à reconstrução de um novo projeto de vida para esse sujeito.

Desta forma, em virtude desses comentários feitos aqui sobre a participação dessa reeducanda, justificam-se as suas poucas falas no projeto. Em sua primeira participação ela disse:

– “O meu mundo é a prisão, por que estou vivendo dentro de uma”.

Nessa pequena frase, a aprisionada fala sobre o seu mundo, que nesse momento está restrito a uma construção com celas e di-versas mulheres alojadas. Essa revelação da reeducanda mostra a sua visão realista em afirmar que nesse presente momento a prisão é o seu mundo, portanto, tem que fazer o melhor possível para so-breviver e transformá-lo em outro melhor.

Essa fala da reeducanda mostra o quanto o “encarcerado pas-sa por um processo de descaracterização de sua identidade adquiri-da anteriormente nas relações com a família, amigos e instituições religiosas, educacionais, profissionais” (ONOFRE, 2012, p. 53).

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Quadro 7. Perfil da Participante VI.PERFIL DA PARTICIPANTE VI

Características da participanteFaixa Etária 18-24 anos 364 diasEstado Civil solteiraFilhos nãoRazão da prisão interceptação telefônicaTempo de prisão de 1 ano até 2 anos, 11 meses e 29 diasTempo de prisão a cumprir não sentenciadaRecebe visitas sim, dos pais e irmãos

Perfil da leitoraEscolaridade Ensino Médico completoEstuda na prisão nãoTem costume de ler simTipo de leitura revista, jornal, livro e BíbliaObras que leu Ame o que é seuAssiste à novela simGênero de que mais gosta comédia

Fonte: Autor.

A Participante VI, de faixa etária entre 18 e 24 anos, com Ensino Médio completo, é responsável pela biblioteca da unidade. Foi ela quem providenciou para o pesquisador a lista de livros en-contrados na biblioteca e os que foram locados durante o primeiro semestre de 2012. Durante as atividades de leitura do conto Idéias de Canário, essa participante relacionou a felicidade com suas prioridades momentâneas, destacando que naquele momento o seu maior desejo era ser livre, o que daria a ela a oportunidade de ser feliz. Contudo, esclarece que, quando estiver livre, outra necessida-de surgirá e, para atingi-la, terá que se empenhar e lutar. Ela relata isso nas seguintes palavras:

– “Nesse exato momento a minha felicidade é ganhar a liber-dade, quando ela chegar, vou atrás de outra felicidade para alcan-çar”.

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Se observarmos, concluiremos que a atitude da participan-te é de estabelecer metas conforme suas necessidades e procurar atingi-las, ou seja, galgar por diferentes espaços à procura de algo melhor. Ela continua o seu relato:

– “Mas a partir do momento, que o canário conheceu, um pe-dacinho do céu azul infinito, aí ele acreditou que o mundo era mui-to mais que uma loja de brechó, se sentiu livre. Assim somos nós, temos sempre que tentar enxergar além do horizonte, nem sempre o que é colocado ali para nós naquele instante é só, e mais nada, engano. Para melhor enxergar além do horizonte nada mais útil do que a leitura”.

A importância do ato de ler encontra-se na possiblidade que se oferece para “[...] navegar sem bússola para o desconhecido, buscando um conhecimento que, a cada passo, é necessário rever e reavaliar. Humor, ironia, solidariedade e a esperança de aportar em porto seguro [...]” (GARCIA, 2003, p. 22) A reeducanda salienta em seus comentários o significado da família em sua vida:

– “A família é o meu mundo, até estar presa não havia com-preendido o significado desta palavra. Eu sou o canário, a gaiola é a cadeia, aqui presa conheci pessoas que me ajudaram a ter paciência e esperar o dia de minha saída e a partir daí aplicar alguns bons ensinamentos que tive aqui”.

Esse comentário vem ao encontro de sua resposta no ques-tionário quanto a receber visita, pois ela goza do apoio de seus fa-miliares que a visitam na unidade. Esse tipo de apoio é importante para a reintegração dela na sociedade, sendo que, das dez partici-pantes desta pesquisa, apenas quatro recebem visitas.

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Quadro 8. Perfil da Participante VII.PERFIL DA PARTICIPANTE VII

Características da participanteFaixa Etária 30-49 anos e 364 diasEstado Civil tem companheiro(a)Filhos nãoRazão da prisão sequestroTempo de prisão mais de 3 anosTempo de prisão a cumprir mais de 3 anosRecebe visitas não

Perfil da leitoraEscolaridade Ensino Médio completoEstuda na prisão nãoTem costume de ler simTipo de leitura revista, jornal, livro e BíbliaObras que leu livros espíritas e revista SeleçõesAssiste à novela simGênero de que mais gosta drama, época e comédia

Fonte: Autor.A Participante VII, na faixa etária entre 30 e 49 anos, com

companheiro(a), Ensino Médio completo, ao participar de um se-questro, é presa, passando por uma nova experiência, deixando de ser comparativamente o personagem Macedo (personagem que, no conto, aprisiona o canário) para ser o canário preso em uma gaiola ou cela de uma prisão. Ela responde a seguinte pergunta:

– “O que é o mundo para vocês?”Responde: – “Liberdade. Porque estou presa”.Ao desvelar as palavras da participante, posso associá-las à

conduta de Macedo, que, ao reconhecer as potencialidades do ca-nário e a glória que poderia lhe propiciar tê-lo em suas mãos, apri-sionou-o em uma gaiola para obter o máximo proveito da circuns-tância. A reeducanda, ao colaborar no sequestro de alguém, tinha a

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intenção de tirar proveito financeiro da situação que ali se firmava. No entanto, ao ser presa, pode sentir a impotência de ser mantida em uma prisão, sem visitas, por mais três anos.

O canário, quando questionado por Macedo sobre o que era o mundo, teve a sua resposta baseada naquilo que ele conhecia até aquele presente momento de sua vida, que se tratava da gaiola velha na loja de belchior. No caso da reeducanda, foi o inverso, pois ela conhecia o que era ser livre e desconhecia o que era ser aprisionada, dessa forma, ao ser presa, teve a oportunidade de conhecer essa ou-tra face da moeda. Na resposta da participante, pude observar que a “Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreen-são do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percep-ção das relações entre o texto e o contexto” (FREIRE, 2011, p. 11).

Questionei-as ainda:– “Quem é o canário para vocês? ”A resposta da participante foi: – “O canário sou eu, sem visão

e aprisionada”.Ao se comparar ao canário e adjetivar-se como sendo sem

visão, possivelmente confirma o fato de não entender o valor de ser livre e, como resultado, hoje encontra-se presa por mais de três anos em uma unidade prisional. A participante complementa:

– “O texto nos leva a enxergar que a muitos preconceitos com negros, presos, pobres e deficientes de todos os tipos. Quanto a gaiola na qual, o pássaro esteve preso por algum tempo é um tipo de preconceito referente a visão das pessoas, de enxergarem apenas o que está a sua frente e nada mais, é como se usassem cabresto”.

No entender da participante, a gaiola é a falta de visão ampla da vida, ela se compara ao animal que usa um cabresto e só con-segue enxergar o que está a sua frente, ou aquilo que querem que seja visto. Com o cabresto não lhe permite a mobilidade para ver os outros lados em torno de si, a reeducanda se considera sem visão, possivelmente por arrependimento e por saber que ainda lhe restam mais de três anos para cumprir.

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Ela ainda cita alguns tipos de preconceitos que podem ser gaiolas, como o racial, social, contra deficientes e presos. Provavel-mente, sua associação ao preconceito contra o apenado pode ser um reflexo do fato de não receber visitas.

O estigma da prisão é difícil de lidar, principalmente porque a sociedade tem em sua mente que o apenado é um “bandido” e tem que ficar preso. Contudo, o crime e a violência são frutos de uma sociedade incapaz de gerir as suas próprias mazelas, como a cor-rupção e a impunidade de poderosos. Esses pensamentos me recor-dam as palavras da pesquisadora Câmara (2011, p. 7), ao ressaltar:

A violência, divulgada pela mídia, gera o medo nas pes-soas de proximidade com prisioneiros, mesmo que seja, apenas, em visitas a prisão. A violência personificada pela indiferença e omissão das pessoas à miséria e o sofrimento de outros, ao longo do tempo, é tão terrível, se não for pior, do que os próprios atos criminais.

Dessa maneira, o preconceito contra os presos apregoado pela reeducanda é fruto do medo das pessoas maximizado pela mí-dia. Contudo, as prisões estão cada vez mais cheias, tornando ne-cessárias práticas politicas em educação e outras áreas, para que se possa ter uma sociedade mais justa e menos violenta.

Quadro 9. Perfil da Participante VIII.PERFIL DA PARTICIPANTE VIII

Características da participanteFaixa Etária 18-24 anos e 364 diasEstado Civil tem companheiro(a)Filhos 1 filhoRazão da prisão não informouTempo de prisão de 3 anos até 5 anos e 29 diasTempo de prisão a cumprir sem sentençaRecebe visitas não

Perfil da leitoraEscolaridade Ensino Médio incompletoEstuda na prisão nãoTem costume de ler simTipo de leitura jornal, livro e Bíblia

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Obras que leu Nas margens do Rio Piedras sentei e chorei e Bíblia

Assiste à novela simGênero que mais gosta drama e comédia

Fonte: Autor.

A Participante VIII, de faixa etária entre 18 e 24, tem companheiro(a), Ensino Médio incompleto, trata-se de uma jovem que não informou o motivo de sua prisão por medo, vergonha e por estar em uma unidade prisional há pouco tempo. Perguntei-lhes:

– “O que é o mundo para vocês?”Respondeu:– “Meu mundo é o aprendizado, a cada dia aprendemos coisas

diferentes”.Ela se dá conta de que precisa do conhecimento para viver.

Aprender significa trocar de gaiola, deixando a velha, localizada na loja de belchior, para outras maiores e melhores até chegar ao céu azul. A participante responde a outra pergunta:

– “O que é o canário?”– “Eu sou o canário que venceu obstáculos da vida. Sou uma

vencedora, como ele”.Cabe ressaltar aqui que, no conto machadiano – Idéias de

Canário –, não há evidências sobre alguma resistência ou luta do canário para sair da gaiola. O pássaro não lutou, apenas foi uma consequência da vida.

Possivelmente, a reeducanda, pensando em sua própria situação, ou seja, presa em uma unidade prisional, associou-se de imediato ao pássaro prisioneiro em uma gaiola, ressignificando o texto e associando ao que estava acontecendo a ela. A reeducanda

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sabe que, para sair da prisão, precisará de vontade, porque não é fácil estar tolhida de sua liberdade, sem ver sol e as pessoas. Tal situação pode tê-la levado a pensar na sua luta pessoal constante, além de nos informar que tem por hábito a leitura da Bíblia, um livro que estimula a fé e a perseverança de seus leitores na procura de soluções para os seus problemas.

Quadro 10. Perfil da Participante IX.PERFIL DA PARTICIPANTE IX

Características da participanteFaixa Etária 25-29 anos e 364 diasEstado Civil tem companheiro(a)Filhos nãoRazão da prisão associação ao tráfico de drogasTempo de prisão mais de 3 anosTempo de prisão a cumprir até 3 mesesRecebe visitas sim, marido e familiares

Perfil da leitoraEscolaridade Ensino Médio completoEstuda na prisão nãoTem costume de ler simTipo de leitura revista, jornal, livro e BíbliaObras que leu A cor da ternura e Escafandro e a BorboletaAssiste à novela simGênero que mais gosta drama e comédia

Fonte: Autor.A Participante IX está na faixa etária entre 25 e 29 anos, tem

companheiro, com Ensino Médio completo, é uma jovem que não aparenta características ligadas ao crime, não usa os jargões de ape-nadas, o que me leva a pensar que ela é uma vítima de sua falta de leitura de mundo. Perguntei a elas:

– “O que é o mundo?”Ela responde:– “O mundo traz experiência, é vivendo que aprendemos e

crescemos”.

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Em suas palavras, a experiência representa o seu mundo. A falta dessa qualidade em sua vida lhe conduziu a ser encarcerada em uma unidade prisional. Ela foi presa por associação ao tráfico de drogas, no entanto não demonstra em palavras e conduta alguma ligação com a criminalidade; possivelmente por ser inexperiente, permitiu o seu envolvimento com o tráfico e, como ré primária, ao ser presa, veio para o CRF. Ao pensar em uma visão de mundo inocente, lembra-me da pobreza de experiência destacada por Ben-jamim (1987) que ele reflete como sendo resultado do imediatismo da sociedade moderna, que conduz a uma situação de falta de re-flexões, pensamentos, conversas, sentimentos e, consequentemen-te, ao empobrecimento das experiências vividas pelos homens. Fiz uma nova pergunta:

– “O que é o canário para vocês?”A reeducanda respondeu:– “Inexperiente”.A participante, ao ler esse conto, talvez tenha encontrado uma

intersecção com sua vida, associando e percebendo com clareza como a falta de experiência, de visão de mundo, a conduziu para uma unidade prisional. A reeducanda continua o seu pensamento em seus relatos ao diferenciar os tipos de prisões:

– “Através deste conto podemos ver vários tipos de prisão. Assim como o canário, que dentro de sua gaiola só enxergava o que ele via, é o preconceito. Que nada mais é que falar sobre o que não conhece. Como por exemplo temos os negros: são pessoas como qualquer outra, só mudam a cor, um deficiente de cadeira de rodas, também é uma pessoa como qualquer outra, porem limitada de an-dar, correr, entre outras”.

Ao destacar o preconceito como sendo uma forma de gaiola, ela exemplifica ao relacioná-lo com a intolerância racial ao qual associo a leitura do livro intitulado A cor da ternura, que a parti-cipante menciona ter lido no questionário. Esse livro foi escrito no ano de 1990 por Gení Guimarães, narrando o drama de sua pró-pria vida: uma menina negra, pobre, que enfrenta dificuldade pelo

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racismo, entretanto vence e se torna uma professora de educação infantil.

A autora mostra que o seu caminho foi feito com muita luta e coragem para enfrentar o preconceito das pessoas, no que tange à sua cor de pele (FOLHA DE SÃO PAULO, 2013).

Quadro 11. Perfil da Participante X.PERFIL DA PARTICIPANTE XCaracterísticas da participante

Faixa Etária 30-49 anos e 364 diasEstado Civil solteiraFilhos nãoRazão da prisão agressãoTempo de prisão de 6 meses até 9 meses e 29 diasTempo de prisão a cumprir cumpriu a penaRecebe visitas não

Perfil da leitoraEscolaridade Ensino Superior incompletoEstuda na prisão nãoTem costume de ler simTipo de leitura revista, jornal, livro e Bíblia

Obras que leu O retrato de Dorian Gray, O cortiço e Incidente em Antares

Assiste à novela simGênero que mais gosta drama, época e comédia

Fonte: Autor.A Participante X, na faixa etária entre 30 e 49 anos, solteira,

com Ensino Superior incompleto, foi a responsável pela organiza-ção das participantes da pesquisa no horário e local da pesquisa, mas acabou desistindo de participar no último conto.

Ela começa os seus comentários apontando para a corrupção da justiça brasileira que permite os casos de tráfico de crianças. A reeducanda levanta essa questão afirmando que o dinheiro de mui-tas pessoas consegue abrir caminhos na aquisição de uma criança

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advinda de progenitores carentes e sem instrução. A criança se tor-na uma mercadoria que é vendida sem a permissão dos pais.

– “Na China só se pode ter um filho, quando nascem filhas, são mortas. No Brasil, a política é diferente, mas, as crianças são mercadorias, a justiça colabora para que os filhos de famílias po-bres e desinformadas dos seus direitos fossem roubados e vendidos para pessoas de condição financeira elevada, seja no país ou fora dele. A justiça, por sua vez, colaborar para que tudo isso aconteça”.

Esse comentário feito pela reeducanda foi provocado ao se lançar na conversa o tema da corrupção no país e a questão da cul-tura chinesa que aprisiona seus habitantes. Essa reeducanda cursou o nível superior na área de Publicidade e Propaganda, a escolarida-de proporciona a ela uma maior facilidade em relação às demais no que se refere à análise dos assuntos tratados.

Ela expõe a imposição feita de se ter apenas um filho. Tal afirmação vai ao encontro do que Foucault (apud CÂMARA, 2011, p. 3) esclarece quanto à prisão que a cultura se torna:

Não há uma única cultura no mundo em que seja permitido tudo fazer. E sabemos bem, há muito tempo, que o homem não começa com a liberdade, mas com o limite e a linha do intransponível.

Quanto ao fato de sermos prisioneiros da corrupção, vemos que a participante é positiva em apontar, em meio a políticos e au-toridades do sistema brasileiro, atitudes nefastas que envergonham a sociedade. O dinheiro passa a ser moeda de poder e isso impul-siona muitos a buscarem este caminho, o que não era diferente da época de Machado, muda-se apenas o fato de que naquela época a valorização era o da posição social como representação do poder. A participante ainda responde:

– “Onde eu vivo!”A reeducanda, que leu clássicos da literatura como O retra-

to de Dorian Gray, O Cortiço e Incidente em Antares, obras que expõem problemas sociais de sua época e que revelam uma parte da personalidade crítica da leitora que participa da pesquisa, de-monstra como é importante o ato de ler como mola impulsionadora

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do pensamento, desenvolvendo-o e fazendo com que o indivíduo tenha consciência de que: “A prisão não é a grade, e a liberdade não é a rua. Existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência” (MAHATMA GANDHI).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados obtidos pela triangulação metodológica pro-porcionaram análises que me possibilitaram entender as caracterís-ticas leitoras de cada reeducanda, bem como a compreensão delas sobre os interstícios dos textos literários presentes em seus relatos de experiências (orais e escritos).

Outra consideração é que a leitura, conforme dados coletados pelo questionário, não se fazia presente na vida das reeducandas, enquanto experiência, algo que as toca, transforma e deforma como nos diz Larrosa (2002); apesar de atestarem que têm o costume de ler, provavelmente o ato de ler era superficial, uma galvanização (BENJAMIN, 1987), um passatempo para preencher os longos dias na cela.

Apesar de todas as dez participantes se empenharem e apro-veitarem as leituras e as conversas instituídas na pesquisa, cabe ressaltar a participação da Participante III, uma mulher na faixa etária entre 30 e 49 anos, solteira, e que possui como nível escolar o fundamental incompleto, a qual, porém, impressionou com os seus comentários e relações estabelecidas entre os contos e o mundo que a cerca. Ao iniciar o projeto, ela me disse que gostava muito de literatura, porém não conseguia compreender, porque as palavras eram difíceis. De fato, ela encontrou dificuldades com a leitura no decorrer das atividades, mas conseguiu superá-las e surpreender ao tecer comentários críticos, como o que fez ao dizer que a educação na unidade prisional não propicia ao egresso uma melhor compre-ensão e apoio sólido para as dificuldades que terá que enfrentar ao retornar a sociedade.

A Participante III fez ainda um comentário no qual delineia um paralelo entre o primeiro e o último conto lido – Idéias de Ca-

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nário e A Igreja do Diabo – demonstrando a sua capacidade de ler o mundo e ressignificá-lo segundo a sua visão dele. Ela disse:

– “A grande lição que tiro dos dois contos é que a falta de conhecimento pode causar a prisão em uma gaiola e permitir que sirvamos de escada para outras pessoas”.

A frase citada é a sua ressignificação dos contos lidos e re-vela os avanços significativos que notei em sua compreensão. Essa mulher com pouca escolaridade e que, após a leitura dos textos lite-rários e os diálogos colaborativos instituídos durante as atividades, obteve uma melhora em sua compreensão de mundo, tornando-a mais abrangente à medida que amplia o sentido daquilo que lê. Um exemplo disso é a simples relação que estabelece entre o pássaro na gaiola e a reeducanda na prisão. Ela alça voo para entendimentos maiores, como o de uma possível causa para a sua prisão – a falta de conhecimento, a falta de discernimento nas situações vividas – e do uso que outras pessoas podem fazer daqueles que são menos experientes.

A experiência de leitura de textos literários, alicerçada em sua leitura de mundo, proporcionou-lhe a oportunidade de construir o seu texto e pode significar que atingiu uma compreensão de mundo mais ampla ao ser tocada e marcada pelo texto literário.

Quanto aos contos machadianos lidos e discutidos com as re-educandas, posso considerá-los ampliadores do mundo, ao provo-carem nelas o espírito questionador e crítico.

Essas considerações permitem-me responder, ainda que par-cialmente, que a leitura como experiência pode resultar em uma visão de mundo ampliada para as participantes da pesquisa. Digo parcialmente porque sou sabedor de que a leitura é um processo que precisa e deve ser alimentado dia a dia, demandando mais tempo para o seu desenvolvimento. Dessa maneira, fica aqui a sugestão de se implantar um projeto de leitura de textos literários que faça parte da instituição prisional e seja desenvolvido semanalmente durante o ano.

Este projeto institucional poderia estar apoiado na valoriza-ção da leitura proposta pela criação de um projeto de lei que ad-

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mite a remição de pena de um apenado pela leitura. A contagem de tempo para fins de remição de pena funcionará pela razão de quatro dias de pena para cada 30 dias de leitura, no entanto existem critérios que devem ser seguidos, de acordo com a Portaria Conjun-ta 276, do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) (TRIBU-NAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO, 2013).

Um projeto de leitura contínuo, diverso em seu conteúdo, cujo objetivo é tornar a experiência de leitura, para as reeducandas, uma prática educativa que “[...] deve, portanto, promover o indi-víduo, e este, deve transformar o mundo em que está inserido, não se tornando um instrumento de ajuste à sociedade [...]” (ONOFRE, 2011, p. 48). Assim transformam-se as reenducandas em sujeitos capazes de “[...] navegar sem bússola para o desconhecido, bus-cando um conhecimento que, a cada passo, é necessário rever e reavaliar” (YUNES, 2003, p. 22).

Como pesquisador e participante ativo dessa pesquisa, con-sidero essa investigação como provocadora de reflexões sobre o ato de ler, levando em consideração o ambiente carcerário, com suas dificuldades e restrições. Para a instituição penitenciária, essa investigação pode ser considerada um incentivo na construção de mulheres mais esclarecidas, cientes de seus direito e deveres para com a sociedade.

Também implicou para mim não só o crescimento acadêmi-co, ao buscar a resposta para a minha inquietação, mas também me fez crescer como pessoa, ao acrescentar-me a oportunidade de ser um sujeito da pesquisa, por ler com elas os textos literários, permi-tindo-me conhecer o mundo de mulheres que estão aprisionadas, cujo conteúdo retrata os seus medos, dúvidas e traumas, abrindo a perspectiva para o pensamento de que todos têm o direito a uma nova oportunidade, porém cabe a cada um aproveitá-la.

REFERÊNCIAS

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Estratégias de diferenciação de micro e pequenas empresas: um estudo de caso de pequena amostra na cidade de Rio Claro para análise de estratégias de sobrevivência no mercado

Andressa Socolowski de LIMA1

Dafine Christie BAUMGARTNER2

Daniely Reis GARCIA3

Thais Cristina de OLIVEIRA4

Vanessa Santos DOMINGOS5

Eder Benedito SIMONATO6

Resumo: A maior oportunidade de empreender é ter o próprio negócio, contudo manter uma empresa viva requer não apenas aproveitamento de uma oportu-nidade, mas também constante tomada de decisões. O objetivo do trabalho foi estudar e entender como as micro e pequenas empresas da cidade de Rio Claro atuam para obter vantagem competitiva, porque isso é o motor que garante a sobrevivência destas. O estudo de caso permitiu analisar o perfil empreendedor e os fatores necessários para alcance do sucesso, além das estratégias utilizadas ao longo do processo. Foram entrevistados 25 micro e pequenos empresários na cidade de Rio Claro de forma pessoal, aplicando-se um questionário composto por doze questões fechadas e duas questões abertas. Notou-se que essas organi-zações utilizam algumas estratégias, porém elas não garantem crescimento ou sobrevivência a longo prazo. É fundamental o papel de um administrador para aplicar ferramentas administravas que identifiquem os problemas e o potencial da empresa, a fim de oferecer novas oportunidades a essas organizações.

Palavras-chave: Estratégia. Micro e Pequenas Empresas. Mercado. Oportunida-de e Diferenciação.1 Andressa Socolowski de Lima. Graduada em Administração de Empresas pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.2 Dafine Christie Baumgartner. Graduada em Administração de Empresas pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.3 Daniely Reis Garcia. Graduada em Administração de Empresas pelo Claretiano – Centro Unversitário. E-mail: <[email protected]>.4 Thais Cristina de Oliveira. Graduada em Administração de Empresas pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.5 Vanessa Santos Domingos. Graduada em Administração de Empresas pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.6 Eder Benedito Simonato. Graduado em Administração e em Ciências Contábeis. Especialista em MBA em Gestão Estratégica de Negócios e em Educação a Distância: Planejamento, Implantação e Gestão. Atualmente é professor da Escola Superior de Tecnologia e Educação de Rio Claro (SP) e professor no Claretiano – Centro Universitário de Rio Claro (SP). E-mail: <[email protected]>.

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1. PONTO DE PARTIDA

A competitividade e a falta de recursos (sejam eles materiais, humanos ou financeiros) que as organizações enfrentam hoje é pal-co para caça de estratégias que garantam a sobrevivência dessas empresas no mercado. E o que dizer então sobre as micro e peque-nas empresas? Além de todas as dificuldades do ambiente externo, essas empresas ainda precisam ganhar a confiança e a estabilidade no mercado, além de percepções de oportunidades e ameaças para crescer e neutralizar dificuldades.

É realidade nas micro e pequenas empresas o não desenvol-vimento de estratégias de atuação no mercado, pois estão preocu-padas em apenas produzir para o retorno financeiro. Entretanto, hoje um cliente espera mais, além de um bom produto ou servi-ço entregues a tempo no local correto; ele quer ser surpreendido. Para isso é necessário desenvolver estratégias de diferenciação que requerem uma revisão em todos os processos e departamentos da empresa para tornar o produto/serviço “único” no mercado, garan-tindo certamente o aumento do lucro: “Cada vez mais, as empresas se preocupam em conhecer os clientes, não mais para que fiquem satisfeitos com seus produtos e serviços, mas para que fiquem en-cantados e os divulguem para outras pessoas” (LEMES JÚNIOR; PISA, 2010, p. 167).

A evolução da globalização e da tecnologia permitiu o “boom” de criação de pequenas empresas que abastecem as gran-des multinacionais, holdings, entre outras, e diretamente o consu-midor final, mas na verdade essas pequenas empresas perceberam que elas poderiam ir além, e isso dependia exclusivamente de sua estratégia (baixo custo, diferenciação do produto, até mesmo novi-dade tecnológica que permite mais comodidade).

Caminhamos para um futuro no qual o poder de crescimento será descentralizado em pequenas estruturas que absorvem melhor as oscilações externas, mas para isso essas pequenas empresas pre-cisam estar estruturadas, firmes naquilo que se propõem a fazer.

O objetivo do trabalho foi estudar e entender como as mi-cro e pequenas empresas da cidade de Rio Claro atuam para obter

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vantagem competitiva, de modo que os objetivos específicos são descobrir e analisar quais estratégias de diferenciação essas micro e pequenas empresas utilizam.

Para execução dos objetivos citados, foram realizadas uma pesquisa bibliográfica e uma pesquisa de campo (entrevista), sendo os sujeitos 25 (vinte e cinco) proprietários e sócios de micro e pe-quenas empresas estabelecidas na cidade de Rio Claro – SP.

A entrevista foi composta de um questionário de 12 (doze) questões de múltipla escolha e 2 (duas) questões abertas para análi-se qualitativa das mudanças organizacionais fundamentais ao cres-cimento, bem como do diferencial oferecido para que seus clientes vejam o potencial da empresa.

Todas as informações foram tabuladas, apuradas e organiza-das em gráficos. A pesquisa não estudou uma amostra probabilís-tica, trata-se de um estudo de caso de uma pequena amostra na cidade de Rio Claro.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Tanto empresários de firmas de sucesso quanto entrevista-dos de empresas extintas apontam a identificação de uma oportunidade de negócio como o principal motivo para abertura ou a entrada num negócio (TACHIZAWA; FA-RIA, 2014, p. 21).

Além do mais, Longenecker, Moore e Petty (1997) citam que ser independente também é um dos fatores que contribuem para ser um empreendedor, já que hoje as pessoas procuram não serem mais subordinadas.

As recompensas de possuir o próprio negócio são incri-velmente atraentes. Muitos fazem fortuna. Há também a satisfação emocional de criar sua própria firma e controlar sua própria vida – sensação de independência, realização e orgulho pessoal. Para muitos empreendedores, desenvol-ver sua própria empresa significa dar um fim às frustra-ções de trabalhar em grandes organizações – rigidez buro-crática, política e rotina enfadonha (RESNIK, 1991, p. 2).

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Abrir um novo negócio no ramo de que se gosta ou no qual se sabe trabalhar realmente tem suas vantagens, porém não é tão simples. Um empreendedor passa a tomar suas próprias decisões. De fato, parece uma boa ideia, mas apresenta maiores exposições a riscos, maior dedicação de tempo e de atenção.

O empreendedor precisa se superar, ir além da vontade de abrir seu próprio negócio, e para isso deve conhecer o mercado em que irá atuar. Para investir em um empreendimento, é necessária informação, entender a situação atual do segmento em que se quer investir; a verdade é que os grandes avanços, na maioria das ve-zes, partem de empresas com maior porte, por se tratar de grandes investimentos; com isso, as micro, pequenas e médias empresas garantem seu espaço pela necessidade de produtos e serviços inter--relacionados (TREVISANI JUNIOR, 1998). São vários os pontos importantes para micro e pequenas empresas crescerem, e todos devem estar estritamente relacionados.

Enquanto a maioria concorda que a habilidade de uma empresa para sobreviver e prosperar depende principalmente da escolha e da implementação de uma boa estratégia, há menor consenso sobre o que é uma estratégia e menos ainda o que constitui uma boa estratégia (BARNEY; HESTERLY, 2011, p. 3-4).

Técnicas para analisar a concorrência são bem-vindas nesse período, como avaliação de pontos fortes e fracos, além de se ba-sear neles para atingir seus próprios objetivos da melhor maneira, evitando erros comuns do mercado de atuação.

Novos empreendimentos precisam de pensamento estraté-gico e de liderança; sem que essas novas capacidades se-jam acrescentadas, o espírito empreendedor sozinho, não levará ao crescimento rápido e a lucratividade (STUMPF, 1994, p. 5).

As micro e pequenas empresas estão sempre em fase de total crescimento e nessa fase o aprendizado e conhecimento são funda-mentais:

A pequena empresa necessita desesperadamente de uma clara identidade e de um conceito dominante de organização para separar os assuntos administrativos vitais

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dos desejáveis, os importantes dos triviais, o músculo da gordura. Ela deve explorar suas opiniões e potenciais em margens competitivas que as distinguem de suas rivais (RESNIK, 1991, p. 31).

Resnik (1991) ainda explica que uma boa administração vai além das atividades de um gestor, é também atitude, percepções e pensamentos, é aquilo que se percebe que pode ser importante para a empresa e a sua preocupação com os altos e baixos que estão em torno dela. Como é feito o trabalho e qual é a responsabilidade dos gestores, quais pontos da empresa são considerados intoleráveis e quais serão administrados e as decisões de onde e como serão co-locados os recursos da empresa. Do mesmo modo, Stumpf (1994) ressalta que, após os gerentes dos novos empreendimentos enten-derem o desejo do cliente, eles precisam determinar quais e quan-tos serão seus clientes, determinando o tamanho do mercado que a empresa atenderá, fazendo uma estimativa para desenvolver o cres-cimento, e saber quais são as pessoas necessárias para sustentar o crescimento rápido.

Para isso é muito importante saber qual é o foco e o desejo futuro para a empresa: “A seleção de objetivos e sua mensuração são o único meio de determinar a eficácia de uma organização, uma vez que as decisões são tomadas com base em fatos, dados e in-formações quantitativas” (TACHIZAWA; FARIA, 2014, p. 212). O empreendedor tem que se planejar: “Uma empresa sem metas e objetivos parecerá um jogo de basquete em um terreno baldio sem um aro para se fazer cestas” (RESNIK, 1991, p. 267).

O processo de administração estratégica começa quando uma empresa define sua missão. A missão de uma empresa é seu propósito de longo prazo. Missões definem tanto o que a empresa aspira ser no longo prazo como o que ela quer evitar nesse ínterim (BARNEY; HESTERLY, 2011, p. 4, grifo dos autores).

“O que percebemos é que o grande desafio para a sobrevivên-cia das micro e pequenas empresas está no diferencial da empre-sa; na qualidade oferecida; e no preço compatível com o mercado” (TACHIZAWA; FARIA, 2014, p. 45). Segundo Tachizawa e Faria (2014), o Brasil é o país que tem o maior número de pessoas com

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espírito empreendedor no mundo, devendo destacar que o empre-endedorismo não é ensinado em universidades.

Sendo as micro e pequenas empresas indispensáveis para economia, basta que o empreendedor conheça o negócio para que consiga o sucesso: “A velocidade é forte potencial de vantagem competitiva, tanto para se entrar no mercado, como para responder às necessidades do cliente ou corrigir problemas organizacionais” (TACHIZAWA; FARIA, 2014, p. 90).

Administrar uma empresa vai além de executar tarefas, são necessários muito planejamento e dedicação, ter ideias apenas não leva a empresa ao sucesso, até mesmo porque muitas ideias já le-varam grandes empresas ao fracasso. Os componentes básicos para uma empresa se manter no mercado é a liderança e o gerenciamen-to.

Novos tempos exigem novas coisas. Novas coisas exigem novos conhecimentos. E novos conhecimentos exigem pessoas capazes de aprender. A aprendizagem está na base de todas as mudanças. Grandes ou pequenas (CHIAVE-NATO, 2008, p. 76).

É por meio dos corretos registros contábeis que se dá a análise dos motivos do grande número de pequenas empresas fecharem antes do tempo (CFC, 2002). Portanto, analisar economicamente qualquer tipo de investimento é fundamental, principalmente tratando-se grandes valores e decisões de longo prazo. Dessa forma, é possível traçar alternativas, um segundo plano, para não ficar refém apenas de uma escolha (SANTOS, 2009): “Analisar significa extrair das informações conclusões relevantes para apoiar a avaliação e tomada de decisões nos vários níveis da organização” (TACHIZAWA; FARIA, 2014, p. 211).

As empresas devem conhecer e elaborar estratégias iminen-tes, que quebrem padrões atuais, a partir de percepções das dificul-dades comuns existentes hoje. Para tanto, é preciso empenho do empreendedor:

A pequena empresa é, em última análise, uma adminis-tração eficaz: o conhecimento, direção e controle da em-presa por uma pessoa – você. Quando você administra a

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empresa de maneira eficiente, não precisa de boa sorte. O sucesso é um resultado natural (RESNIK, 1991, p. 273).

Ou seja, “A chave para uma gestão bem sucedida é o próprio gerente, e a chave para o sucesso é a flexibilidade. Se os gerentes forem flexíveis, os sistemas deixarão de ser sistemas e passarão a ser diretrizes” (SCHELL, 1995, p. 21).

O segredo para uma empresa bem-sucedida é estar sempre inteirado com os ambientes interno e externo da empresa e desen-volver o papel de um verdadeiro administrador.

O desenvolvimento do dom da liderança é também fun-damental. O exercício da liderança abrange assuntos tais como comunicações pessoais, o respeito ou o desrespeito para com os esforços e ideias dos subordinados, e milhares de outros aspectos que existem diariamente nas relações interpessoais (BUCHELE, 1971, p. 66).

Nas micro e pequenas empresas, o empreendedor deve bus-car procedimentos apropriados para cada organização, evitando possíveis erros dentro da administração.

Para Longenecker, Moore e Petty (1997) existem alguns motivos que podem levar a empresa ao fracasso. Há casos em que o empreendedor pode perder a metade do capital investido e, consequentemente, há a perda dos credores, o que pode significar uma perda maior do que o capital inicial. Com isso, desencadeia um grande problema ao empreendedor: a falta de motivação. Depois do golpe, muitos não têm forças de retomar o seu negócio que foi iniciado com tanto entusiasmo. Isso provavelmente o levará a falência: “O fracasso não precisa ser totalmente devastador para os empreendedores. A chave, portanto, é a reação daquele que fracassa e a capacidade da pessoa para aprender com o fracasso” (LONGENECKER; MOORE; PETTY, 1997, p. 42).

Não existem fórmulas prontas para empresas, mas os empre-endedores precisam praticar maneiras de planejamento, para saber o que pode ser feito diante das dificuldades, não deixar que uma crise destrua seu negócio e coloque fim ao que já foi conquistado.

Resnik (1991) afirma que outro dos maiores problemas de uma empresa é a falta de conhecimento do próprio negócio. Quan-

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do o gestor não se preocupa com todas as atividades da empresa, ele possui apenas um ponto de vista; sendo assim, saberá resolver os problemas futuros de uma só forma: “Compromissos sem acom-panhamentos não serão compromissos cumpridos. São promessas esquecidas. Quanto mais você acompanhar, menos precisará fazê--lo” (SCHELL, 1995, p. 132). É necessário que seja trabalhado o objetivo inicial com um longo planejamento, pensando também nos obstáculos que deverão aparecer no decorrer do tempo e como estes serão solucionados; além disso, deixar planos de emergência caso algo dê errado é sempre uma boa escolha, além de uma rígida che-cagem, evitando problemas futuros.

A minimização dos riscos do insucesso depende muito das decisões estratégicas, tomadas pelo empreendedor, quan-do do desenvolvimento das etapas do Plano de Negócio, em que questões relacionadas com a definição do local de implantação do empreendimento, da montagem da equipe e das necessidades de apoio são algumas delas (FARAH et al., 2005, p. 222).

Administrar seu próprio negócio precisa ser, antes de tudo, algo prazeroso, que traga realização pessoal, profissional e finan-ceira, este é o primeiro passo para que o empreendedor tenha inte-resse em buscar conhecimento do negócio e do mercado que está inserido. Essa busca garante que o empreendedor tenha mais co-nhecimento no cenário atual e consiga identificar erros, problemas futuros e soluções:

“O sucesso empresarial demanda cada vez mais o uso de prá-ticas financeiras apropriadas” (SANTOS, 2009, p. 11).

Qualquer tipo de empresa independente de seu porte ou natureza jurídica, necessita manter escrituração contábil completa, inclusive do Livro Diário, para controlar o seu patrimônio e gerenciar adequadamente os seus negócios (CFC, 2002, p. 19).

A apuração, análise e controle de custos geram informações necessárias à tomada de decisões, como precificação, definição da carteira de produtos e serviços. Além da avaliação econômica de novos projetos de investimentos. Deste mesmo modo o lucro da empresa precisa ser avaliado e, se não tiver num nível adequa-

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do, exigirá medidas de controle. A análise do lucro tem um campo maior de utilização porque sua utilização não está restrita à própria empresa. Credores, parceiros comerciais e investidores também ne-cessitam analisar o resultado da empresa (SANTOS, 2009).

A margem de lucro é quase sempre escolhida de maneira er-rônea, de qualquer forma, com base no que é visto nas outras em-presas, deixando de lado que existe um custo para isso e que todo o processo deve agregar valor ao produto. Planejar a área financei-ra de uma empresa demanda tempo, concentração e muito estudo. Cada empresa tem o seu método para administrar, contudo uma boa administração financeira, além de benefícios para a própria organi-zação, traz também a isenção de problemas e melhor resolução dos que podem vir a acontecer.

“A maioria das empresas não utiliza métodos matemáticos para determinar o volume de caixa ótimo. Isso é feito de modo intuitivo, muitas vezes com base no processo de tentativa e erro” (SANTOS, 2009, p. 73). Além disso:

É muito comum em situações de crise todas as prioridades serem colocadas para resolver o problema de caixa. Essa atitude, voltada exclusivamente para o curto prazo, tende a trazer outros problemas a longo prazo (SANTOS, 2009, p. 248).

É necessário ter um bom conhecimento do caixa da empresa, situação atual, percepções futuras, além de boas estratégias que ga-rantem um superávit nas finanças da organização, mesmo em época de crise financeira no mercado.

Um planejamento eficaz para uma pequena empresa visa ações e resultados. Envolve converter objetivos que desa-fiam, mas que são concretos e realistas em atividades pro-dutivas. A finalidade é melhor desempenho e maior lucro (RESNIK, 1990, p. 259).

Ao se trabalhar a finalidade da organização, forma-se uma base clara e objetiva para alinhar os processos da empresa com suas metas, estas podem ser formadas por meio de um conjunto de indi-cadores vinculado aos requisitos dos clientes e/ou ao desempenho da organização (TACHIZAWA; FARIA, 2014). Ou seja, alinhar o que a empresa oferece ao que os clientes necessitam e a qual é o

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posicionamento na empresa perante mercado de atuação: “A aná-lise de desempenho não está completa, a menos que identifique a necessidade de melhoria, e motive o analisando a promover essa melhoria” (SCHELL, 1995, p. 75). Portanto, para um bom desem-penho, a empresa pode utilizar métodos de melhoria, verificando os resultados atuais e erros anteriores:

A análise de melhoria do desempenho envolve a criação e utilização de indicadores de qualidade de desempenho para avaliar resultados globais, produtos, serviços de apoio, processos, tarefas e atividades (TACHIZAWA; FARIA, 2014, p. 212).

As dificuldades irão variar de acordo com as áreas de atuação da empresa. Conforme Sebrae (2006), as micro e pequenas empresas estão predominantemente focadas nos seguintes ramos: comércio, serviços de reparações, serviços pessoais e domiciliares, serviços de diversões, construção civil, indústrias, serviços de alojamento e alimentação. As empresas dispõem de oportunidades sem precedentes para desfrutar de novos mercados. Além disso, os mercados estão mudando, tornando-se intensamente competitivos. Como modo de sobrevivência e de aumentar poder de negociação com fornecedores, utilizando compras em conjunto, e diluir entre elas despesas com treinamentos e publicidade, cada vez mais as micro e pequenas empresas buscam se organizar em redes (TACHIZAWA; FARIA, 2014).

Como exemplo, é possível visualizar que, com a mudança do mercado, tornando-se mais competitivo, as empresas começaram a buscar meios para se tornarem maiores e mais produtivas.

Por sua vez, micro e pequenas empresas acabam engessadas pelo próprio mercado, pois a sua sobrevivência depende da capaci-dade de adaptação a fatores externos. As oportunidades de negócio, segundo Trevisani Júnior (1998), surgem de acordo com a necessi-dade de consumo.

As alterações tecnológicas criam, concomitantemente, oportunidades (quando as empresas podem explorá-las a fim de criar novos produtos serviços) e ameaças, pois nesse momento elas

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precisam refletir sobre suas estratégias tecnológicas (BARNEY; HESTERLY, 2011).

Além da inovação, outro fator essencial é a qualidade, entre-gar um produto/serviço de acordo com a necessidade do cliente. Ou seja, a qualidade é intrínseca ao produto/serviço, pois é sua capa-cidade de atender àquilo que se propõe. Dessa forma, essa avalia-ção depende muito de quem está avaliando e da sua necessidade, deixando nas mãos dos clientes dizer o que a qualidade significa (OLIVEIRA, 1994).

Tem aumentado de forma espantosa tanto o nível de exi-gência como as expectativas dos clientes em relação à qua-lidade. Mais e mais MPE’s (micro e pequenas empresas) enfatizam a oferta de produtos e serviços de melhor qua-lidade e se concentram na satisfação do cliente. Essa ten-dência tem fortes implicações em todas as partes da MPE. Seus executivos terão que dar apoio efetivo ao quadro ope-racional porque o nível de desempenho da MPE vai se re-fletir diretamente na qualidade final do produto ou serviço por ela oferecido (TACHIZAWA; FARIA, 2014, p. 83).

Um aspecto positivo para os clientes é a diferenciação dos produtos/serviços oferecidos: “A inovação é uma atividade de coo-peração que deriva do envolvimento de múltiplas perspectivas para promover a integração necessária entre os vários setores da organi-zação” (MARTINELLI; JOYAL, 2004, p. 62).

Diferenciação de produto significa que empresas estabe-lecidas possuem identificação de marca e fidelidade do cliente que entrantes potenciais não possuem. Identifica-ção de marca e fidelidade do cliente funcionam como bar-reiras à entrada, porque novos entrantes precisam não só absorver custos usuais associados a iniciar a produção em um novo setor como também absorver os custos associa-dos a superar as vantagens de diferenciação das empresas estabelecidas (BARNEY; HESTERLY, 2011, p. 32, grifo do autor).

Trevisani Júnior (1998) relata que uma necessidade das micro e pequenas empresas é se manter sempre bem informadas sobre os grandes investimentos que estão por acontecer, principalmente na fase que a economia está em expansão. Mesmo que a empresa seja saudável, pode aparecer uma oportunidade de venda que vai ala-

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vancar a vida empreendedora e trazer muitos benefícios, ou mesmo parcerias com empresas estrangeiras para aumentar os negócios. O comércio exterior abre portas para tornar pequenas empresas em grandes organizações; para que isso ocorra com baixo percentual de riscos, há serviços de consultoria especializada, que auxiliam esse tipo de mercado.

As consultorias também podem auxiliar em alguns aspectos necessários para atuação: entendimento do mercado, lidar com a diferença e satisfação de clientes internos e externos, entre outros pontos que podem prejudicar a organização: “Deixar de entender mudanças na cultura, ou diferenças entre culturas, pode ter um im-pacto muito grande na habilidade de ganhar vantagem competitiva” (BARNEY; HESTERLY, 2011, p. 27).

Os empresários precisam entender também a importante lição de saber o valor dos colaboradores: “A responsabilidade número um do proprietário de uma pequena empresa é formar uma equipe de super profissionais nas posições-chave” (SCHELL, 1995, p. 37). Schell (1995) cita que devemos agradecê-los por tê-los em nosso ambiente de trabalho e, à medida que a empresa tem os melho-res empregados, consegue os melhores clientes, o que resultará em vantagens para a empresa.

O homem é o foco principal do processo. Para que ele es-teja capacitado, é necessário investir em treinamento. É necessário que os trabalhadores sejam considerados os elementos-chaves da organização. Não é suficiente apenas pregar isso, o importante é praticar. O homem tem que ser habilitado para executar as funções. Mais do que isso, ele tem que ser educado para ter uma atitude proativa na solu-ção dos problemas (OLIVEIRA, 1994, p. 13-20).

Mesmo que o atual cenário tecnológico altere o foco das ati-vidades para inovação, máquinas, softwares, entre outras tecnolo-gias, a atividade humana ainda assim é vital para organização, pois hoje, com o nível tecnológico a que temos acesso, a mudança ocor-re sempre e também dentro das empresas, e as pessoas são ainda mais importantes quando se trata de vantagem competitiva, pois as pessoas são as detentoras das competências e, sobretudo, do conhe-cimento (ROMERO; COSTA; KOPS, 2013).

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Tanto a empresa quanto seus funcionários buscam objetivos, logo essa relação deve ser a mais harmônica possível e benéfica para ambos. No que diz respeito ao relacionamento com os em-pregados, as ações desenvolvidas pelas empresas focam sempre na alimentação, na segurança do trabalho e na saúde de seus colabora-dores e, ao passar por uma situação difícil, as empresas procuram reduzir custos com diversas alternativas para que não haja necessi-dade de diminuir o número de empregados (SEBRAE, 2005).

Por fim, um ambiente organizacional harmônico, com me-tas definidas e objetivo convergente desenvolve sua estratégia, seja ela qual for, para adquirir sua vantagem competitiva. Dessa forma, destaca-se no mercado, como afirmam Barney e Hesterly (2011, p. 8, grifos do autor):

Naturalmente, o objetivo final do processo de adminis-tração estratégica é permitir que a empresa escolha e im-plemente uma estratégia que gere vantagem competitiva. Mas o que é vantagem competitiva? Em geral, uma empre-sa possui vantagem competitiva quando é capaz de gerar maior valor econômico do que suas concorrentes. O valor econômico é simplesmente a diferença entre os benefícios percebidos obtidos por um cliente que compra produtos e serviços de uma empresa e o custo econômico total desses produtos ou serviços.

3. QUANDO A TEORIA SE JUNTA À PRÁTICA

É nítido que há uma tendência de abrir uma empresa sem grandes expectativas, apenas levando em consideração a oportuni-dade do negócio, porém, após a abertura dela, os empreendedores buscam de diversificadas maneiras se consolidar no mercado, al-cançar o principal objetivo das organizações: vender e obter lucro, sempre focando na satisfação dos clientes, e por isso acabam se tornando referência de mercado e atingem o sucesso do empreen-dedorismo (LEMES JÚNIOR; PISA, 2010).

Com base na pesquisa realizada com 25 empresas de micro e pequeno porte localizadas na cidade de Rio Claro/SP, constatou--se que a maior parte é formada por organizações que possuem até

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cinco funcionários e atuam há mais de dez anos no mercado. Foram obtidos os resultados apresentados a seguir, com seus respectivos gráficos, tendo objetivo de identificar e analisar as características do processo empreendedor. O público-alvo dessas empresas varia entre as que preferem trabalhar diretamente com consumidor final e as que optam em trabalhar com diversos públicos entre consumidor final e organizacional. Pode-se observar que o perfil empreendedor dos entrevistados é, em sua maioria, de jovens empreendedores, ou seja, decidiram ingressar no mercado e iniciar sua própria empresa antes dos 30 anos de idade.

Realizada a entrevista, podem-se verificar alguns fatores re-levantes sobre como é realizado o planejamento dessas empresas e como se posicionam no mercado competitivo.

Primeiramente, observa-se que o motivo que levou grande parte dos empreendedores a abrir suas respectivas empresas deve--se às oportunidades que surgiram no mercado (capital financeiro, potenciais clientes, alterações na legislação e ideias inovadoras), oportunidades essas que os incentivaram a entrar no mundo dos negócios.

Ao checar esses dados, é possível concluir que essas micro e pequenas empresas foram abertas sem grande planejamento, mui-tas vezes sem informações suficientes do mercado de atuação e até mesmo sem conhecimento da maneira de trabalhar com o produ-to e/ou serviços que seria disponibilizado. Além disso, não havia prospecção futura do negócio, pois, como nota-se, a maioria dos entrevistados não possui missão, visão e valores, que são funda-mentais no que tange à razão da existência dessas empresas de seus objetivos. Ou seja, conforme apurado, os entrevistados não fizeram planejamento no início do negócio e continuam não fazendo.

A partir desses fatos, nota-se que a falta de planejamento ini-cial leva a maioria dos empreendedores a não ter culturas empre-sariais que os ajudariam a desvendar alguns assuntos de extrema importância para a organização se desenvolver e se consolidar no mercado –por exemplo, a falta do uso de indicadores de desempe-nho e da participação dos colaboradores frente a tomadas de deci-sões, sendo estas restritas apenas pelo empreendedor e sócios que

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muitas vezes não estão diretamente envolvidos com o problema, como analisado no Gráfico 1.

Gráfico 1. A tomada de decisão é realizada.

Isso ocorre, pois o próprio empreendedor não tem conheci-mento sobre a necessidade e importância desses indicadores (de-sempenho, lucratividade, rentabilidade, motivação, participação de colaboradores, entre outros), que, quando bem utilizados, geram acertos para um planejamento e tomada de decisão mais eficaz.

Os indicadores ajudam o empreendedor a criar projeções. Olhando o seu desempenho passado e atual, criando metas para o futuro, torna-se mais fácil o processo de planejar e assim estar mais atento às mudanças externas, podendo agir com resiliência, tornando-se ainda mais forte no mercado.

Por sua vez, os empreendedores dizem que a área que pos-sui maior dificuldade de gerenciamento é a de Recursos Humanos; nesse caso, pode-se observar que, por dificuldade em gerenciamen-to deste setor, não optam por uma gestão participativa e acabam tomando suas decisões de maneira autocrática.

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Gráfico 2. Qual a área da empresa que você encontra maior dificul-dade para gerencial?

Observando o Gráfico 2, nesse cenário, é possível relatar que, se os empreendedores optassem por um estilo de gestão mais par-ticipativa, além de esclarecer melhor as informações empresariais, utilizando ferramentas como visão, missão, valores e indicadores de desempenho, em alguns casos, mais inovações se fariam na em-presa, pelo princípio de que uma equipe motivada e bem alinhada poderia auxiliar todos a buscar o mesmo objetivo e mais ideias sur-giriam. E, talvez, pessoas com pensamentos diferentes consegui-riam superar as dificuldades que possam surgir e mais estratégias seriam colocadas em prática.

Isso expõe o medo que a responsabilidade cria num negócio. Os gestores cobram a todo momento resultados e temem passar essa tarefa aos demais integrantes da equipe por medo de falhas, receio de não assumirem o mesmo compromisso que eles assumi-ram ao criarem um empreendimento. Significa, também, falta de preparo desses gestores, que, como explicado anteriormente, se ti-vessem acesso a mais conteúdos, aliados a um plano de negócios, entenderiam a importância da participação conjunta da equipe.

Essa situação demonstra a falta de liderança dos empreen-dedores, pois bons lideres conseguem motivar a sua equipe a bus-car um objetivo comum com o empreendedor. Se a liderança fosse

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mais bem aplicada dentro dessas pequenas organizações, resultados melhores poderiam ser observados. A equipe estaria motivada e fo-cada no sucesso do empreendimento, auxiliando o empreendedor nas dificuldades que possam surgir.

Outro ponto para estudo é a visão da organização perante o mercado de atuação. Percebe-se, no Gráfico 3, uma tendência nas empresas de destinar um foco estratégico no contato com cliente, em que consolidar a fidelização significa atingir o objetivo inicial da empresa: vender e obter lucro.

Gráfico 3. Quais dessas opções você julga mais importante para a maximização dos resultados da empresa?

Fidelizar o cliente não significa uma resposta errada para ma-ximizar os resultados de uma empresa, afinal de contas o cliente é parte fundamental nesse processo. Contudo, os empreendedores entrevistados não levaram em conta que, para fidelizar um cliente, antes de tudo, é preciso conhecê-lo. Fazer uma venda hoje é uma atividade bem mais complexa que há 30, 10, 5 anos atrás, pois os desejos e as necessidades estão mudando num ritmo cada vez mais acelerado.

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Outro ponto importante é o pós-venda, que não está somente relacionado a soluções de problemas, mas envolve a construção de elos entre a organização e seus clientes, pois uma boa imagem da empresa nasce a partir de um bom atendimento, que, para micro e pequenas empresas, pode se tornar um grande diferencial. Grande parte dos entrevistados tem a consciência de que o trabalho, quando bem feito, traz crescimento e confiança de clientes, pois atitudes que beneficiam os compradores geram boas recomendações e re-sultam em novas vendas, novos clientes. Além disso, para micro e pequenas empresas, é mais barato manter um cliente satisfeito e fazer com que este atraia outros clientes, do que conquistar novos por meio de publicidade.

Até porque, como visto no Gráfico 4, uma das maiores difi-culdades das empresas entrevistadas em aplicar uma estratégia de diferenciação seria a falta de estrutura e de recursos financeiros, o que leva a pensar que também seria uma consequência da falta de planejamento inicial e da análise constante do ambiente e suas contingências.

Gráfico 4. Qual motivo que implica não aplicar uma estratégia de diferenciação?

Quando questionados sobre a possibilidade de inovação no mercado atual, a maioria concorda que é possível inovar, porém não consegue identificar informações e recursos para isso; nota-se

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que a grande preocupação das organizações entrevistadas é o inves-timento para melhoria, apesar de dizer que estão preparados para uma possível oscilação negativa no mercado. Isso expõe a fragili-dade dos empreendedores que temem investir e não terem retorno esperado, o que é completamente normal quando não há experiên-cia suficiente que indique os resultados de bons investimentos.

Boa parte das empresas vê o investimento em imagem, tec-nologia, assistência técnica, distribuição, terceirização, desen-volvimento de novos produtos e/ou serviços, recursos humanos e qualidade como uma grande estratégia para alavancar sua venda e posicionamento no mercado, buscando criar diferenciais para o consumidor, sempre com foco na satisfação e fidelização, e em no-vos clientes.

É sempre muito bom quando há uma preocupação do em-preendedor em buscar diferenciação para satisfazer o cliente, em virtude da concorrência acirrada do mercado interno e externo e da seletividade que os clientes estabelecem na hora de efetivarem suas compras.

Há, ainda, algumas empresas que usam como diferenciação a legislação e suas alterações a seu favor, ou seja, essas alterações fazem com que seus serviços sejam procurados, para as devidas adequações à legislação.

Gráfico 5. Existe algum período certo para desempenhar novas es-tratégias?

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Uma estratégia que poucos entrevistados conseguem identi-ficar seria um período específico para desempenhar novas táticas de vendas. Na maioria das empresas (Gráfico 5), não há período certo identificado para oportunidade de negócios. Mas, é fato que, se algumas dessas empresas pudessem identificar essa fase, conse-guiriam tirar proveito dos efeitos de alta ou baixa de demanda, com estratégias direcionadas, aproveitando cada estágio do período, se acontecesse.

O empreendedor deve estar atento ao mercado em que está inserido para assim identificar a hora correta de desempenhar novas estratégias. Saber quando agir é tão importante quanto de fato agir. Uma estratégia, se aplicada em um período inadequado, pode não trazer os resultados esperados.

Gráfico 6. Qual tipo de estratégia é utilizado pela empresa para se diferenciar da concorrência?

Partindo do ponto de vista da estratégia, com foco em dife-renciação de mercado e maximização dos resultados, percebe-se, como se vê no Gráfico 6, a preocupação das empresas em possuir produtos e/ou serviços inovadores que levam a investimentos de inovação e treinamentos constantes da equipe. A inovação é a so-

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lução mais buscada pelas empresas que querem se diferenciar no mercado, seja desenvolvendo um produto inédito ou criando uma forma de fazer mais e melhor do que os concorrentes.

Entretanto, as ações de diferenciação não estão levando em consideração uma análise aprofundada do público-alvo da empre-sa. De fato, a inovação faz parte do cotidiano, e automaticamente faz as pessoas tomarem decisões mais rápidas, só que essas empre-sas entrevistadas inovam com base no que o mercado faz, não com base na necessidade ou vontade do cliente. Além disso, é necessário que o empreendedor saiba que um produto ou serviço inovador não é a única forma de diferenciação. Existem outras maneiras, que po-dem ser aplicadas em conjunto com o produto ou serviço inovador, que maximizariam os resultados.

Para obter informações dos concorrentes e do que eles fa-zem em relação à inovação, as empresas dão preferência a manter um bom relacionamento com seus concorrentes diretos e indiretos, buscando dados necessários para se diferenciar deles, além de se in-formar com seus próprios clientes, conforme observado no Gráfico 7. A maior parte das empresas concorda que ter essas informações é necessário para saber quem é o líder no mercado de atuação e como seu produto está em relação ao dele, para assim traçar estratégias para seu próprio posicionamento.

Gráfico 7. Como você obtém informações sobre o que seus concor-rentes estão fazendo em relação a inovação?

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Investimentos, atualizações, treinamentos, bom relaciona-mento com clientes, preço justo e transparência são alguns itens que, segundo os empreendedores entrevistados, fazem com que a empresa se diferencie dos concorrentes, ou seja, fazer o que as ou-tras empresas não oferecem, ser único e inovador. Para eles, esta seria a melhor maneira de se consolidar no mercado das micro e pequenas empresas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

É perceptível que a oportunidade de abrir um negócio desper-tou nos empreendedores toda sua vontade e capacidade de ter um negócio próprio e, de fato, foi o motor que impulsionou a abertura das micro e pequenas empresas analisadas. O mercado proporcio-nou situações atrativas, sejam elas econômicas, políticas, sociais, e o empreendedor atento soube como aproveitá-las.

Além disso, relacionando as entrevistas com a pesquisa bi-bliográfica, observa-se que, após a abertura do negócio, é funda-mental a contínua tomada de decisões para manter a empresa viva, contudo essa tomada de decisões ainda cabe aos fundadores e seus sócios.

Sendo organizações de pequeno porte e com um quadro enxu-to de colaboradores, os donos dos negócios não avaliam as opiniões desses colaboradores que, pelo fato de serem poucos nessas orga-nizações pequenas, possuem ampla visão do negócio. Isso pode se tornar um risco, pois esses funcionários podem vir a ser potenciais concorrentes. Sobretudo ainda, os empreendedores mantêm essa gestão autocrática e sentem as dificuldades de lidar com o capital humano organizacional.

Manter uma empresa de pequeno porte no atual cenário com-petitivo requer muito mais que aproveitamento de uma oportunida-de, precisa-se de uma estratégia que seja identidade da organização, espelhe sua missão e sua vontade de ultrapassar barreiras e con-tinuar ativa. E quando se trata de estratégia, ainda que implícitas nas tarefas de cada empresa, essas estratégias auxiliam em relação à concorrência e colaboram também para fidelização dos clientes.

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Essas empresas possuem contato direto com seus clientes. Conhecem suas necessidades, seus problemas. Aproveitam essa proximidade para serem eficientes e eficazes, minimizando ações de concorrentes, principalmente de porte maior. As pequenas or-ganizações são as primeiras a sentirem as oscilações externas e es-tarem atentas e preparadas às mudanças que permitam neutralizar dificuldades, consolidando suas experiências e habilidades de esta-rem no mercado.

Visto que os empreendedores não possuem conhecimento ou experiência na gestão administrativa do negócio, os resultados su-gerem que ainda falta preparação na condução de uma gestão mais profissional, que estipule e cumpra metas e que defenda a plena participação de todos que fazem parte da empresa. Logo, percebe--se que é necessário desenvolver essa habilidade de gestão que con-duziria as empresas ao sucesso profissional.

Implicitamente essas organizações utilizam estratégias que as mantém vivas no mercado, porém isso não garante sobrevivência em longo prazo. Nota-se, então, que, a partir desse momento, o pa-pel de um administrador é de fundamental importância, pois, com sua visão ampla do negócio e do mercado, identificará o potencial de crescimento da empresa por meio de ferramentas administrati-vas.

Por meio da pesquisa, surgiu o aprendizado de que planejar é fundamental para qualquer tomada de decisão, sobretudo no que tange à abertura de um novo negócio e sua manutenção. Planejar pensando nos riscos, prevendo cenários e articulando as estratégias necessárias para sobrevivência e destaque diante da concorrência. O estudo do tema é amplo e deve continuar explorando as particu-laridades dessas organizações que gradativamente ganham força e confiança no mercado.

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Política Editorial / Editorial Policy

A Revista Ensaios & Diálogos é um periódico anual publi-cado pelo Claretiano – Faculdade, no formato digital, disponível na internet, e impresso. Este periódico é dirigido à comunidade cien-tífica: professores, alunos de graduação e de pós-graduação, assim como profissionais que atuam em diversas áreas do conhecimento. Nesse sentido, a Revista vem a ser mais um veículo para a divul-gação da pesquisa, cuja finalidade é disseminar e divulgar o conhe-cimento, ampliando e promovendo o debate acerca de assuntos de interesse da comunidade científica e da sociedade em geral.

A Revista Ensaios & Diálogos está disponível para a pu-blicação de artigos de desenvolvimento teórico, para trabalhos empíricos e ensaios das seguintes áreas: Administração, Ciências Contábeis, Letras, Sistemas de Informação, Publicidade e Propa-ganda, Direito, Educação Física, Pedagogia, Secretariado Execu-tivo, Gestão Ambiental, Recursos Humanos, Logística, Processos Gerenciais, Serviço Social, Ciências Biológicas e Engenharia.

Os artigos de desenvolvimento teórico devem ser sustentados por ampla pesquisa bibliográfica e devem propor novos modelos e interpretações para fenômenos relevantes, nos diversos campos de conhecimento abordados pela Revista.

Os trabalhos empíricos devem fazer avançar o conhecimento na área por meio de pesquisas metodologicamente bem fundamen-tadas, criteriosamente conduzidas e adequadamente analisadas.

Os ensaios compõem formas mais livres de contribuição científica. Tais artigos devem ser caracterizados por abordagens críticas e criativas, revelando novas perspectivas e levando os lei-tores a reflexões sobre temas relevantes na área de conhecimento apresentada.

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Análise dos trabalhos

A análise dos trabalhos é realizada da seguinte forma: 1) A seleção dos trabalhos inscritos será feita pelo Conselho

Editorial da Revista.2) Os trabalhos selecionados serão encaminhados para a re-

visão textual que encaminhará as sugestões de alteração para o autor.

3) Os autores deverão realizar as correções sugeridas e sub-meter novamente o artigo que será enviado para nova re-visão textual.

Publicação

A Revista Ensaios & Diálogos aceitará trabalhos para publi-cação nas seguintes categorias:

1) Artigo científico de professores, pesquisadores ou estu-dantes: mínimo de 8 e máximo de 20 páginas.

2) Relatos de caso ou experiência: descrição de experiência individual ou coletiva de proposta de intervenção pontual, que faça o contraponto teoria/prática e indique com pre-cisão as condições de realização da experiência relatada. Contribuição para a solução de problemas técnicos do se-tor.

3) Resenhas: relativas a publicações recentes (livros e peri-ódicos recentemente publicados, como também disserta-ções e teses), nacionais ou estrangeiras.

4) Temas em debate: matéria de caráter ensaístico, opinati-vo, sobre temas da atualidade.

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Formatação do trabalho

1) Os artigos devem ter até 20 páginas, incluindo as referên-cias bibliográficas.

2) A primeira página do artigo deve conter o título, o resumo, palavras-chave e nome e apresentação do(s) autor(es). O título deve ser conciso, porém informativo, não ultrapas-sando 20 palavras. O resumo deve conter o objetivo da pesquisa, procedimentos metodológicos e as conclusões, não excedendo 150 palavras. O artigo deve conter até 5 palavras-chave. O nome do(s) autor(es) deve vir seguido do nome da Instituição e do endereço eletrônico. O título do artigo e o nome dos autores com o e-mail devem estar centralizados.

3) A formatação do artigo deve ser: editor de texto Word for Windows 6.0 ou superior, tamanho do papel A4, todas as margens com 2,5 cm, fonte Arial 11 e espaçamento 1,5 linha. O corpo do texto deve ter alinhamento justificado. O título do artigo deve estar em formato Arial, tamanho 14 e o título das seções deve ser colocado em Arial 12 e negrito.

4) As referências bibliográficas devem ser citadas no corpo do texto com indicação do sobrenome e ano de publica-ção. As referências bibliográficas completas deverão ser apresentadas em ordem alfabética no final do texto, de acordo com as normas da ABNT (NBR-6023).

5) Diagramas, figuras, quadros e tabelas devem ser numera-dos sequencialmente; apresentar título e fonte, bem como ser referenciados no corpo do artigo.

6) Os artigos devem ser entregues no formato digital, devida-mente identificado com nome do(s) autor(es).

7) Os artigos devem ser submetidos para o e-mail: [email protected].

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Artigos de periódico em meio eletrônicoPIZZORNO, Ana Cláudia Philippi et al. Metodologia utilizada pela bibliote-ca universitária da UNISUL para registro de dados bibliográficos, utilizando o formato MARC 21. Revista ACB, Florianópolis, v. 12, n. 1, p. 143-158, jan./ jun. 2007. Disponível em: <http://www.acbsc.org.br/revista/ojs/viewarticle. php?id=209&layout=abstract>. Acesso em: 14 dez. 2007.

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