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Revista Ensaios & Diálogos Revista das Faculdades Integradas Claretianas de Rio Claro, N.6, Jan/Dez 2013

Revista Ensaios & Diálogos Ressocialização de detentas: Direitos humanos X preconceito no contexto do CRF – Rio Claro Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 –

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  • Revista Ensaios & Diálogos

    Revista das Faculdades Integradas Claretianas de Rio Claro, N.6, Jan/Dez 2013

  • Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 – janeiro/dezembro de 2013 2

    Diretor Geral Pe. Luiz Claudemir Botteon

    Diretor Administrativo Pe. Brás Lorenzetti

    Diretor Acadêmico Prof. Dr. Sávio Carlos Desan Scopinho

    Coordenadoria Geral de Pesquisa e Iniciação Científica Prof. Ms. Pablo Rodrigo Gonçalves Conselho Editorial Profa Ms. Andréia Nadai Carbinatto Prof. Es. Ângelo Aparecido Zadra Prof. Ms. Eduardo Feltran Barbieri

    Prof. Ms. João Carlos Picolin Prof. Esp. Euclides Francisco Jutkoski Prof. Ms. Manoel Valmir Fernandes Profª. Ms. Raquel Albano Scopinho Prof. Es. Mateus Colabone Neto Profª. Ms. Klausner Vieira Gonçalves Profª Es. Viviane Cristina Geraldo Prof. MS. Ronaldo Ribeiro de Campos Profa. Dra. Márcia Reami Pechula Editoração e Projeto Gráfico Prof. Ms. Pablo Rodrigo Gonçalves

    Os artigos são de inteira responsabilidade de seus autores Catalogação na Publicação

    Pede-se Permuta Faculdades Integradas Claretianas – Rio Claro – SP Av. Santo Antonio Maria Claret, n. 1724, Cidade Claret, Rio Claro–SP CEP 13.503-250 e-mail: [email protected] Telefone: (19) 2111-6000

    Versão digital: http://www.claretianorc.com.br/revista

    Ensaios & Diálogos / Faculdades Integradas

    Claretianas. — São Paulo: Gráfica Avenida, 2013.

    108 p.

    ISSN 1983-635X; n.6 Anual

    1. Pesquisa 2. Periódico científico I. Claretiano Faculdade

    CDD - 001.42

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    PREFÁCIO A Direção das Faculdades Integradas Claretianas, a partir de 2013, com a nova denominação de Claretiano – Faculdade, apresenta a sexta edição da Revista Institucional Ensaios & Diálogos, com a intenção de divulgar vários artigos de docentes e discentes, que desenvolveram temas específicos nas áreas de pesquisa dos diversos cursos oferecidos pela Instituição. Trata-se de uma iniciativa importante, partindo de alguns pressupostos que não podem ser negligenciados ou esquecidos. O primeiro deles é o fato de que a Instituição, pela condição de ser Faculdade, não tem a exigência de apresentar atividades vinculadas à pesquisa. Mas, devido ao seu interesse no desenvolvimento de temas que extrapolam os limites do espaço da sala de aula, consta em seus documentos internos a importância da pesquisa, voltada para a iniciação científica, com ações que confirmam o que está registrado nos documentos oficiais. As ações se efetivam na elaboração de trabalhos de iniciação científica, com apoio da Instituição, nos trabalhos de conclusão de curso (TCC), sendo uma exigência em vários cursos da Instituição, no PIBIC, com quatro bolsas disponibilizadas pelo CNPq, e nos Congressos de Iniciação Científica, que são realizados anualmente e servem de espelho das atividades de pesquisa desenvolvidas durante o ano letivo. Outra ação que procede desse pressuposto é a participação de professores e alunos em eventos acadêmicos, promovidos pela Instituição ou por outras instituições e órgãos de fomento, com o devido apoio institucional. O segundo pressuposto é a certeza de que, para a Instituição, a docência sem a pesquisa apresenta o risco de considerar a educação apenas como um ato de transmissão do conhecimento. Na realidade, ela é muito mais do que isso, pois se trata de enfatizar que o conhecimento exige também uma grande capacidade de produção, o que pode ser feito principalmente com a pesquisa. Apesar das dificuldades e debilidades enfrentadas por uma Instituição de Ensino Superior Particular, o Claretiano – Faculdade procura ser uma Instituição atenta a essa preocupação, fomentando interesse pela pesquisa e procurando enfatizar que a educação não é apenas a transmissão do conhecimento, mas um “saber com sabor”, um “aprender a aprender”, proporcionando ações criativas e inovadoras. As ações já elencadas refletem essa condição assumida e motivada pela Direção do Claretiano – Faculdade, sempre reconhecendo os desafios e limites nesse campo específico de atuação. Assim, a Revista Institucional Ensaios & Diálogos se apresenta como um espelho das atividades de pesquisa desenvolvidas pela Instituição e um fator motivacional para que alunos e professores se interessem, cada vez mais, para essa grande dimensão que, juntamente com o estudo e a extensão, torna-se fundamental para sustentar uma Instituição de Ensino Superior, que tem o objetivo de pensar a educação também como produção do conhecimento e não apenas como mera mediadora de um “professor que sabe” e de um “aluno que não sabe”. Mais uma vez, vale a intuição do grande educador brasileiro, Paulo Freire, que insistia no fortalecimento de uma educação libertadora e problematizadora, e não de uma educação “bancária”, em que o aluno se torna apenas “depositário” de um conhecimento transmitido pelo professor, como foi tão bem desenvolvido em várias de suas obras, principalmente no livro “Pedagogia do Oprimido. Parabéns aos alunos e professores que publicaram seus artigos na Revista Ensaios & Diálogos. Nosso desejo é que esse exemplo faça com que a comunidade acadêmica esteja cada vez mais sensibilizada a pensar uma educação preocupada com os problemas atuais, apresentando pistas e soluções que, com empenho e dedicação, serão propostos nestes e em outros artigos desenvolvidos pelos alunos e professores que, de alguma maneira, realizaram pesquisas na Instituição. Sávio Carlos Desan Scopinho Diretor Acadêmico Claretiano - Faculdade

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    SUMÁRIO Ressocialização de detentas: Direitos humanos X preconceito no contexto do CRF – Rio Claro RIBEIRO, Camila C.;PAES, Larissa L.; REAL, Michelly P.;MORAES, Miriam G. T.; SANTOS, Regina C. K. dos; DALANEZE, Sergio . ............................................................................. 6 O papel do pedagogo na equoterapia BOTION, Daniele; BELO, Evelyn M. ............................................................................... 14 Motivação para a implantação das normas ISO 9001 em uma empresa de serviços contábeis: Um estudo de caso SIMONATO, Eder B. . ................................................................................................... 19 A importância do recurso pedagógico para o ensino e aprendizagem de uma aluna com paralisia cerebral EVANGELISTA, Haila J.; REGANHAN, Walkiria G. ............................................................. 30 Publicidade como serviço: O impacto da publicidade digital na experiência do usuário SOUZA, Ibrahim C. N.; DIAS, Fabio E. . ......................................................................... 40 Gestão ambiental e recursos hídricos: Análise do plano de bacias 2010-2020 do comitê de bacias hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (CBH-PCJ) SOUZA, Karina de L. R. ; FURTADO, Ana L. F.F. .............................................................. 49 Quando a gestão da rede logística se torna uma vantagem competitiva ALMEIDA, Priscila C.; ZADRA, Ângelo Ap. ...................................................................... 62 Estilo de vida e as alterações da flexibilidade e resistência muscular localizada na fase adulta KANNEBLEY JR., Vicente P; MULLER, Tatiana. ................................................................. 72 Estruturando redes neurais artificiais paralelas e independentes para o controle de próteses robóticas SERAFIM, Daniel; NETO, Antonio J. da S. ...................................................................... 80 Desenvolvimento de aplicações utilizando realidade aumentada TONIN, Leandro; GONÇALVES, Klausner V. .................................................................... 93

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    Ressocialização de detentas: Direitos humanos X preconceito no contexto

    do CRF – Rio Claro

    Camila Cardoso Ribeiro Larissa Lemes Paes

    Michelly Piacenso Real Miriam Giovana Toledo Moraes

    Regina Claret Kapp Santos Solange Aparecida Savareze1

    Prof. MS. Sergio Dalaneze2

    Resumo

    O presente artigo trata da responsabilidade estatal em implementar políticas públicas que viabilizem o acesso real ao estado democrático de direito, proveniente da Constituição de 1988 em relação aos direitos e deveres dos cidadãos. Destaca, porém, de forma mais insistente, as legislações concernentes aos presidiários, que também são sujeitos de direitos e deveres, segundo essa Carta Magna de cidadania. Mostra também a necessidade de uma conjuntura social para trabalhar em prol da segurança em comum, investindo num processo de ressocialização que possibilite a reinserção social dos infratores legais. Conta o processo histórico do sistema penitenciário do estado de São Paulo e as alternativas estruturais que implementam o processo de reabilitação e reinserção de detentos através dos CRF masculinos e femininos. Apresenta como referencial o modelo, o contexto e os resultados alcançados pelo CRF feminino de Rio Claro/São Paulo, que trabalha em defesa dos Direitos Humanos e Constitucionais básicos, a fim propiciar um voto de confiança e uma segunda chance às reeducandas. Palavras-chave: Direitos Humanos, Constituição 1988, Ressocialização, Egresso Social.

    1 Introdução

    A partir da Constituição “cidadã” de 1988, o Brasil vive um estado democrático de direito, porém,

    apesar de contar com todo um aparato legislativo que visa a uma sociedade justa e equitativa; ainda luta

    por desmistificar e colocar em prática todo o seu conteúdo, que de forma progressiva trará realmente

    autonomia plena aos cidadãos brasileiros.

    Vemos que a busca pela liberdade plena e pelos direitos iguais entre todos os cidadãos ainda é

    uma constante e desafiadora realidade diante dos marginalizados e excluídos pelo sistema econômico

    capitalista. Essa situação agrava-se ainda mais quando nos deparamos com a questão social dos

    transgressores das leis, os presidiários, sejam eles de gênero masculino ou feminino, pois são também

    sujeitos de direitos. Embora devam cumprir punições devido às suas más atitudes, seus decorrentes

    agravos e prejuízos sociais, devem receber também cuidados, atenção e uma nova chance para

    ressocializar-se com a sociedade.

    Segundo artigo da Revista Âmbito-Jurídico (06/2013), de forma constitucional o Estado detém a

    responsabilidade sobre a integridade física e moral do preso, para que o mesmo possa cumprir o período

    estabelecido para cumprimento de sua pena judicial em regime fechado. Porém, atualmente o sistema

    penitenciário brasileiro encontra-se em situação precária devido à grande demanda e à falta de recursos

    materiais, estruturais e humanos para desenvolver esse tempo de correção social, para uma possível

    readaptação e ressocialização do indivíduo.

    Na realidade paulista, podemos constatar que há uma preocupação constante em fomentar

    soluções para esse desafio de reinserção social a partir de formulações institucionais e movimentos da

    estrutura que dá suporte aos detentos, viabilizando um período de correção judicial com dignidade e

    1 Alunas do curso de Serviço Social do Claretiano Faculdade 2 Mestre em Direito, professor do Claretiano Faculdade

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    humanização. Para entendermos esse trabalho, contamos com um pequeno histórico do sistema

    penitenciário do estado de São Paulo extraído do site da SAP (2013):

    A história do sistema penitenciário paulista começa em 1/03/1892, quando o Decreto nº 28 criou a Secretaria da Justiça. Até o início de 1979, os estabelecimentos destinados ao cumprimento de penas privativas de liberdade, no Estado de São Paulo, estavam subordinados ao Departamento dos Institutos Penais do Estado – DIPE, órgão pertencente à Secretaria da Justiça. (...) Até março de 1991, as unidades prisionais ficaram sob a responsabilidade da Secretaria da Justiça. Em seguida, a responsabilidade foi para a segurança pública e com ela ficou até dezembro de 1992. No entanto, o Governo do Estado, entendeu ser tarefa essencial o estabelecimento de melhores condições de retorno à sociedade daqueles que estão pagando suas dívidas para com a justiça. O sistema prisional tem características próprias e exige uma adequada solução: um sistema carcerário eficiente, dentro de um Estado democrático, onde o direito de punir é consequência da política social, a serviço de toda a sociedade, mas fundado nos princípios de humanização da pena, sem que dela se elimine o conteúdo retributivo do mal consequente do crime. Como decorrência dessa preocupação, a Lei nº 8209, de 04/01/93, criou e, o Decreto nº 36.463, de 26/01/1993, organizou a SECRETARIA DA ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA, a primeira no Brasil, a tratar com exclusividade do referido segmento. Recentemente o Rio de Janeiro também criou uma Secretaria específica para assuntos penitenciários ..

    Assim, no contexto dessa preocupação estatal e judiciária em reinserir o cidadão infrator, vê-se a

    formação de centros de ressocialização masculina e feminina, que detêm uma oportunidade diferenciada

    de tratamento, postergando gradualmente uma reconciliação social.

    A ressocialização é um processo de solidariedade mútua e progressiva entre o Estado, a

    sociedade civil e privada, pois cada cidadão deve contribuir para que ocorra a devida recuperação do

    indivíduo em meio ao círculo criminal, para que restabeleça novos valores e novas posturas sociais,

    readquirindo a dignidade e um lugar na sociedade. Podemos destacar as palavras de Santis (2010, p.48-

    49):

    Assim, para se alcançar a eficácia da ressocialização do preso é imprescindível a união de

    esforços entre os diversos segmentos sociais e instituições públicas e privadas. (...) È que

    nada adiantará a adoção de medidas visando diminuir a população carcerária, sem antes

    arrancar o mal pela raiz, cujas raízes residem na própria sociedade. (...).

    Este artigo pretende, assim, mostrar uma nova realidade prisional desenvolvida nos CRF (Centros

    de Ressocialização) femininos e/ou masculinos e suas contribuições à sociedade brasileira, ofertando aos

    seus membros em períodos de correção judicial uma nova chance de reabilitação social, visto ser um ser

    humano que erra e precisa de uma nova oportunidade para rever suas atitudes e valores.

    Apresentamos como exemplo eficaz o CRF de Rio Claro (SP) tido como modelo penitenciário de

    acolhimento prisional, oferecendo às presas, chamadas como reeducandas, um tratamento mais

    humanizado e organizado, com possibilidades de reinventar novos objetivos à vida, após o cumprimento

    de sua pena legal.

    2 Direitos humanos e presidiários

    Os Direitos Humanos são um desafio constante no contexto das instituições prisionais, pois o

    Sistema de Segurança Pública se presta, principalmente, para aprisionar aqueles que estão em

    cumprimento de pena correcional estabelecida judicialmente, porém possui uma estrutura física

    inadequada, insuficiente e deficiente de posturas para reintegração social devido à grande demanda que

    ocorre ininterruptamente frente aos índices constantes e crescentes da criminalidade em meio à

    sociedade.

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    Dessa forma, a maioria dos presos fica desassistidos em suas necessidades básicas, tendo a

    saúde negligenciada devido à superlotação da estrutura física, falta de banhos de sol, má alimentação,

    exposição a doenças contagiosas devido à falta de condições de higiene, morosidade e precariedade da

    assistência judiciária e ainda situações de violência, corrupção e arbitrariedades por parte dos agentes de

    segurança do Estado e mesmo entre os detentos.

    3 Presidiários/Constituição de 1988/Direitos Humanos

    Os direitos básicos e as possíveis garantias que tratam da dignidade do cidadão brasileiro são

    tratadas no Capítulo I da Constituição, em especial no Artigo 5º,(BRASIL, 1988), apresentando os

    direitos e deveres individuais e coletivos que devem ser observados e adquiridos indistintamente por

    homens e mulheres.

    Podemos também acrescentar alguns artigos da Lei nº 7210/84, Lei de Execução Penal – LEP,

    que nos estudos de Neto (1988) destacam as providências necessárias por parte de cada

    estabelecimento prisional para a apropriação dos Direitos Humanos tendo em vista o recolhimento dos

    detentos em instituições prisionais ou em centros de ressocialização. Do conteúdo do Capítulo II:

    3.1 Seção I – Disposições gerais

    “Art.10: A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e

    orientar o retorno à convivência em sociedade.”

    Apresenta as disposições gerais da assistência aos presidiários que necessitam de tratamentos

    adequados e não discriminatórios para uma possível ressocialização posterior ao cumprimento de sua

    pena, vale ainda colocar que tal assistência é dever do Estado. (Neto, 1988 pg. 43-44)

    3.2 Seção II – Da Assistência material

    “Art.12: A assistência material ao preso e ao internado consistirá no fornecimento de

    alimentação, vestuário e instalação higiênica.”

    Trata sobre a estrutura física, a alimentação, a higiene e as vestimentas limpas para proporcionar

    ao detento uma vida adequada no período de reclusão. (Neto, 1988 pg 45-46),

    3.3 Seção III - Da Assistência à saúde

    “Art.14: A assistência à saúde do preso e do internado é de caráter preventivo e curativo,

    compreenderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico”.

    Cada estabelecimento prisional deveria ter, pelo menos, um médico clínico geral qualificado para

    atendimento eventual aos detentos e também um especialista periódico para acompanhar casos de

    dependência de toxicômanos e outros assuntos psiquiátricos. (Neto, 1988, p. 46-47)

    3.4 Seção IV - Da Assistência jurídica

    “Art.15 : A assistência jurídica é destinada aos presos e aos internados sem recursos financeiros

    para constituir advogado”.

    “Art.16: As unidades da Federação deverão ter serviços de assistência jurídica nos

    estabelecimentos penais.”

    O Estado deve assegurar a todo e qualquer cidadão que não tiver condições financeiras um

    defensor publico ou advogado qualificado que defendera seu caso e se necessário terá direito de recorrer

    a sentença. (Neto 1988, p. 52 - 54).

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    3.5 Seção V - Assistência educacional

    “Art.17: A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do

    preso e do internado”.

    Todo cidadão livre ou em detenção tem direito à educação, desde o ensino fundamental como

    base imprescindível para a formação da personalidade do indivíduo. Os cursos técnicos e superiores são

    ofertados de modo generalizado pois necessita do interesse e da adesão pela aptidão profissional

    escolhida. (Neto, 1988, p. 54).

    Faz-se necessário abrir um adendo e destacar o trabalho realizado pelo Sistema Penitenciário

    Paulista, com o objetivo de reduzir o analfabetismo, elevar o nível de escolaridade e atingir uma possível

    diminuição de reincidência de crimes, surgiu o Programa de Educação nas prisões, elaborado a partir do

    perfil e das necessidades do público alvo, nesse caso, os internos.

    Este trabalho é desenvolvido pela Funap – Fundação "Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel" de

    Amparo ao Preso, que planeja, desenvolve e avalia programas sociais para os presos e egressos (ex-

    presidiários) das 142 penitenciárias do estado de São Paulo em conjunto com a SAP – Secretaria de

    Administração Penitenciária. A Fundação contribui para a recuperação social do preso e para a melhoria

    de suas condições de vida, oferecendo estudo, qualificação, aprendizado profissional e oportunidade de

    trabalho remunerado.

    3.6 Seção VI - Assistência social

    “Art. 22: A Assistência Social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepará-los

    para o retorno à liberdade”. (Neto, 1988, p. 57).

    A assistência social deve promover o detento a partir de sua detenção e acompanhar o processo

    de sua reinserção na família e na sociedade.

    Cabe ao assistente social prisional conhecer, avaliar, relatar por escrito resultados de diagnósticos

    sociais e comportamentais do detento junto ao diretor do estabelecimento prisional, bem como

    apresentar problemas e dificuldades do assistido em relação ao seu interesse e envolvimento junto às

    atividades realizadas no presídio, bem como sua saída e retorno em datas especiais. Contando com os

    meios disponíveis, deve promover momentos de lazer e interação social, orientar o detento sobre o

    desenvolvimento de seu tempo penal e estimulá-lo para um bom retorno a sociedade, salientando o valor

    da liberdade. Deve providenciar documentação necessária e também benefícios junto á Previdência Social

    e orientar e amparar, quando necessário, a família do detento.

    3.7 Seção VII - Assistência religiosa

    “Art. 24: A assistência religiosa, com liberdade de culto, será prestada aos presos e aos

    internados, permitindo a participação nos serviços organizados no estabelecimento penal, bem como a

    posse de livros de instrução religiosa”. (Neto, 1988 p. 59).

    Estabelece o direito a liberdade de culto, com momentos para oração e literatura de diversas

    denominações religiosas. Assim, os detentos não podem ser obrigados a participar de atividades

    religiosas, prevalecendo a sua escolha de culto.

    3.8 Seção VIII - Assistência ao egresso

    “Art. 25: A Assistência ao egresso consiste:

    a) na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade;

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    b) na concessão, se necessário de alojamento e alimentação, em estabelecimento adequado, pelo

    prazo de dois meses.” (Neto, 1988 p. 61).O setor de assistência social, com o apoio de ONGs e entidades

    sócio-educativas, devem promover, no decorrer do tempo de condicionamento prisional, projetos que

    estimulem o trabalho e que estes, por sua vez, sejam formas de ressocialização para reconscientizar

    sobre os valores reais do trabalho, favorecendo também meios para amparo socioeconômico do detento,

    que posteriormente voltará ao convívio social.

    No período imediato à sua liberdade, o detento deve receber orientação e apoio para sua

    reintegração. E, se necessário, por um período de dois meses, deverá receber auxilio para transporte,

    alimentação e vestuário.

    3.9 Capítulo III – do trabalho

    Seção I- Disposições gerais

    “Art. 28: O trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade humana, terá

    finalidade educativa e produtiva.” (Neto, 1988, P. 65).

    3.9.1 – Seção II – do trabalho interno

    “Art. 31: O condenado à pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho na medida de

    suas aptidões e capacidade”. (Neto, 1988 p. 71).

    Dentro do espaço prisional, todos os condenados deverão trabalhar conforme sua saúde física e

    mental, com acompanhamento medico, como forma de estímulo e responsabilidade mútua pela limpeza e

    higiene do local.

    3.9.2 – Seção III - Trabalho externo

    “Art. 37: A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção do estabelecimento,

    dependerá da aptidão e responsabilidade mostrado pelo detento, além do cumprimento mínimo de um

    sexto da pena a ser cumprida”. (Neto 1988 p. 76).

    Somente com autorização prévia da direção do estabelecimento prisional será possível a saída

    para o trabalho fora do presídio, pois depende do comportamento, do cumprimento das regras

    institucionais, da aptidão e responsabilidade do detento.

    4 Direitos Humanos/Constituição de 1988 em confronto com a realidade do Centro

    de Ressocialização feminino de Rio Claro – SP

    O Centro de Ressocialização Feminino de Rio Claro foi inaugurado em 27 de julho de 2002.

    Segundo dados colhidos pela SAP (2013, 2), o local tem capacidade para atender 80 mulheres e,

    segundo dados estatísticos de julho de 2011, contava com 52 internas.

    Esse centro tem como objetivo a ressocialização, ou seja, preparar emocionalmente,

    profissionalmente e psicologicamente as mulheres judicialmente internas para o regresso ao convívio

    social.

    A instituição recebe detentas de Rio Claro e região em regime provisório (aguardando

    julgamento), fechado (sem direito à saída) e semiaberto (saída para local de trabalho sem

    acompanhamento) para aquelas já condenadas.

    O projeto do Centro de Ressocialização é um esforço conjunto dos poderes Executivo, Judiciário,

    o Ministério Público e a comunidade, visando obter um melhor resultado na inserção social das detentas.

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    O governo do estado repassa verba à entidade conveniada para suprir as necessidades

    assistenciais, contando com uma administração competente, incentivada pela participação da

    comunidade; eventualmente, conta ainda com ajuda de estagiários e voluntários de diversos segmentos

    da sociedade.

    Em entrevista ao Jornal Cidade (2010) a atual diretora Maura Batista da Cruz, que assumiu o

    cargo em dezembro de 2007, afirma que muitas detentas optam por vir a cumprir sua pena no CRF,

    devido ao seu sistema de tratamento; no entanto, não é possível para todas, pois há um processo

    seleção que tem critérios bem definidos e uma triagem realizada com os técnicos:

    – Condenação inferior a 10 anos.

    – Primariedade.

    – Não ter vínculo com nenhuma facção criminal.

    – Aceitar as regras da Instituição.

    Assim, caso a detenta não esteja em conformidade com alguma dessas exigências, ela será

    transferida para uma outra penitenciária.

    Segundo reportagem feita por Navas (2010) pelo Jornal Cidade, a principal diferença entre Centro

    de Ressocialização e Penitenciária é o estimulo para não reincidirem no crime; além disso, as celas,

    denominadas como alojamentos, permanecem abertas.

    Em cada alojamento, convivem três reeducandas, a limpeza do local é compartilhada por todas e

    ainda recebem um tratamento diferenciado, pois o centro preza pelos princípios dos Direitos Humanos.

    Algumas empresas parceiras enviam trabalhos para serem realizados dentro do Centro pelas

    reeducandas em regime fechado; outras empresas empregam aquelas que estão em regime semiabertos

    ou que já conquistaram a liberdade; vale acrescentar que, a cada três dias trabalhados, diminui um dia

    de sua pena.

    O CRF tem um “banco” onde fica depositado o dinheiro que as reeducandas ganham como fruto

    do seu trabalho, chamado Pecúlio.

    Em datas comemorativas, quando elas têm as chamadas “saidinhas”, esse dinheiro é entregue a

    elas, porém uma pequena parte fica na instituição para manutenção daquelas que realizam trabalhos

    internos, chamado de Rateio. Este visa à manutenção geral do ambiente que é ocupado por todas, seja

    na limpeza da instituição ou no preparo das refeições.

    Esse centro é o segundo implantado no Brasil e o índice de reincidência ao crime das ex-detentas

    não ultrapassa 10%, contrastando com os índices do sistema penitenciário tradicional, que chega a 70%,

    segundo estimativas da Secretaria de Administração Penitenciaria do Estado de São Paulo.

    O espaço físico da entidade é muito limitado, e não comporta as exigências em relação ao

    atendimento médico e ambulatorial na sede, porém elas têm um consultório dentário e parcerias com

    hospitais e clínicas da cidade, onde as reeducandas recebem toda a assistência.

    Constata-se, no CRF, que a grande maioria das reeducandas vem de uma família muito humilde e

    sem condições de pagar um advogado e utilizam um Defensor Publico ou então um advogado que cuida

    somente dos benefícios da instituição.

    O Centro tem parceria com a Funap, que realiza um projeto educacional de âmbito nacional com

    as reeducandas, mas, devido ao pouco espaço, elas têm aulas no refeitório da instituição.

    O contato eventual com as famílias é considerado de grande importância para as reeducandas do

    CRF, que recebem visitas todos os finais de semana, sendo isso um importante elo com o mundo

    exterior.

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    Semanalmente também são realizados missas e cultos de diversos credos religiosos, podendo

    ficar em seus alojamentos as reeducandas que não quiserem participar.

    As penas a serem cumpridas pelas reeducandas são frutos de envolvimento com figuras

    masculinas nas práticas criminosas; na grande maioria dos casos, de uma forma ou de outra, há sempre

    algum homem como responsável, direto ou indireto, pela sua inserção na criminalidade ou sua prisão. Há

    também ocorrências de roubos, estelionato e entorpecentes.

    5 Considerações finais

    Os Centros de Ressocialização existentes em todo o país procuram dar uma segunda chance a

    pessoas cidadãs que, por um motivo ou outro, praticaram algum ato ilícito e infrator junto à sociedade.

    Podemos acrescentar que, para a segurança da sociedade, é imprescindível que haja uma ação

    conjunta entre Estado, sociedade civil e privada, os órgãos judiciais e as entidades prisionais em prol da

    reabilitação moral e reinserção do preso no seio social.

    Confirmando a necessidade de uma conjuntura social delineada com uma consciência coletiva

    para inclusão e ressocialização, acrescentamos as palavras de Santis (2010, 48-49):

    Imperioso, portanto implementar uma política criminal que sirva para tratar a parte doente da sociedade. Que o Estado cumpra seu papel atendendo às necessidades reais do cidadão, que muitas vezes se socorre das milícias (...) organizações criminosas por lhe faltar o amparo da sociedade e das autoridades competentes. Que haja uma participação social consciente e ativa no processo de ressocialização do preso, visando blindar o Estado Democrático de Direito.

    Porém, em meio à precariedade e à falta de recursos materiais e humanos para realização

    satisfatória e humana de um projeto de reinserção social aos condenados, podemos considerar a eficácia

    do trabalho realizado pelo CRF de Rio Claro como um modelo de interação social, visto que, por meio dos

    resultados de não reincidência à criminalidade, confirma sua validade enquanto local de ressocialização

    do indivíduo e modelo sistemático e estatal de reintegração social.

    6 Referências Bibliográficas

    BRASIL. Constituição. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF. Senado. 1988.

    FUNAP. Fundação "Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel" de Amparo ao Preso. Home page. Disponível em: . Acesso em: 12 jun. 2013.

    MAIA NETO, C. F. Direitos humanos do preso: lei de execução penal – Lei nº 7210/84. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1988.

    NAVAS, S. Aniversário: Centro de Ressocialização Feminino de Rio Claro. Jornal Cidade. Disponível em: . 30 jul. 2010. Acesso em 12 jun. 2013.

    SANTIS, K. A. S. Ressocialização de presos. Responsabilidade do judiciário e da sociedade. Revista Jurídica Consulex, ano XIV, n. 314, 15 fev. 2010.

    SAP. Secretaria da Administração Penitenciária. História da SAP. Disponível em: . Acesso em: 13 ago. 2013.

    SAP (2). Secretaria da Administração Penitenciária. Centro de Ressocialização Feminino de Rio Claro. PARC - Programa de Assistência e Ressocialização Carcerária. Disponível em: . Acesso em: 12 jun. 2013.

    SECRETARIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, ALFABETIZAÇÃO,DIVERSIDADE E INCLUSÃO. Educação em prisões. Disponível em:

  • Ressocialização de detentas: Direitos humanos X preconceito no contexto do CRF – Rio Claro

    Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 – janeiro/dezembro de 2013 13

    . Acesso em 12 jun. 2013.

  • Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 – janeiro/dezembro de 2013 14

    O papel do pedagogo na equoterapia

    Daniele Botion1

    Evelyn Monari Belo2

    Resumo

    O presente trabalho teve como objetivo apresentar ao leitor a importância do papel do pedagogo no desenvolvimento de um trabalho integrado à Equoterapia. Tal prática proporciona aos praticantes um melhor desenvolvimento motor e também cognitivo. Nesse contexto, enfatizamos os resultados obtidos com os portadores de Síndrome de Down, também denominados como portadores de Necessidades Educacionais Especiais. É necessária a integração de profissionais de diferentes áreas para a realização de um trabalho no qual seja possível a obtenção de êxito, buscando também a interação entre praticante, cavalo e profissional. Palavras Chaves: Equoterapia, Atuação do pedagogo, Atuação integrada. 1 Histórico sobre a Equoterapia

    A Equoterapia tem se destacado como instrumento que auxilia na recuperação de pessoas.

    Segundo Olivertech (2010), para Hipócrates o cavalo é utilizado desde 400 a.C. para ajudar na saúde dos

    pacientes. A prática começou a vigorar no Brasil apenas nos anos 80, quando foi criada a Associação

    Nacional de Equoterapia (ANDE). Atualmente, há diversos centros de Equoterapia espalhados em muitos

    lugares:

    No Brasil, a ANDE (Associação Nacional de Equoterapia), uma instituição beneficente, foi fundada em 1989 e está localizada na Granja do Torto em Brasília. 09/04/1997 – Ocorreu o reconhecimento da Equoterapia pelo Conselho Federal de Medicina – Parecer nº 06/97 – como Método Terapêutico de Reabilitação Motora. 1999 – Foi realizado o Primeiro Congresso Brasileiro de Equoterapia (MEDEIROS; DIAS, 2002, p. 4).

    O cavalo já era utilizado para tratamentos terapêuticos, porém foi após a Primeira Guerra Mundial

    que sua prática se destacou.

    Na Equoterapia, o indivíduo é denominado de praticante, pois é um trabalho em conjunto com o

    animal.

    Atualmente, a Equoterapia está sendo reconhecida como tratamento para pessoas de todas as

    idades, independentemente de sua necessidade. Sua prática proporciona sensação de independência do

    praticante, estimulando assim o relacionamento com as pessoas e sua autoestima.

    Através dos dados fornecidos pela ANDE (1999), a Equoterapia é incorporada por meio de

    métodos e técnicas para auxiliar no tratamento de crianças com necessidades especiais através do

    instrumento que é o cavalo, tendo como melhoramento o sistema físico, psíquico, educacional e social.

    Através desse benéfico o praticante começa a apresentar ganhos no tratamento.

    De acordo com Rodrigues (2006), a palavra “Equoterapia” significa programa de reabilitação e

    educação, sendo o cavalo o mecanismo principal para a execução da atividade.

    O andar do cavalo é semelhante ao andar do ser humano; especialistas comentam que essa

    semelhança é de apenas 5%, possibilitando, assim, a firmeza em cima do animal, conforme ressalta

    Souza (2007).

    1 Aluna do curso de Licenciatura em Pedagogia do Claretiano Faculdade. 2 Doutora em Geografia, professora do Claretiano Faculdade.

  • O papel do pedagogo no equoterapia

    Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 – janeiro/dezembro de 2013 15

    Para a criança, o cavalo é um mecanismo novo, que ela precisará dominar, comandar, obtendo

    algumas vantagens: autoconfiança, aprendizado de seus limites, despertar de sua afetividade, entre

    outros.

    A Equoterapia proporciona benefícios físicos, psicológicos, educacionais e sociais, buscando o desenvolvimento de pessoas portadoras de deficiência ou de necessidades especiais. Cavalgando, a pessoa interioriza sensações temporais, sentimentos e emoções através do tato, visão, olfato, audição e cinestesia. O movimento tridimensional do dorso do cavalo, associado aos movimentos multidirecionais proporcionados por este, proporciona ao cavaleiro numa sessão equoterápica de 30 minutos, 1.800 a 2.250 ajustes tônicos e 3.400 oscilações com o cavalo se deslocando ao passo, que é a andadura mais benéfica no tratamento (BARROS; AZEVÊDO apud RODRIGUES, 2006, p. 171).

    Cada sessão da Equoterapia tem duração de aproximadamente 40 minutos, considerando desde a

    aproximação da criança com o cavalo até a hora que termina a sessão; é claro que em casos simples o

    praticante pode permanecer um pouco mais, sendo a sessão realizada uma vez por semana.

    É necessário atingir a idade mínima de 3 anos para o início do tratamento, porém não há idade

    máxima.

    A Equoterapia foi fundamentada como uma atividade equestre, através do uso do cavalo, sendo,

    na verdade, um tratamento auxiliador de recuperações tanto motora quanto mental.

    A prática da Equoterapia traz inúmeros benefícios, segundo Barros e Azevêdo (apud RODRIGUES,

    2006, p.172): “Ocorre ainda o aumento da produção de adrenalina, que, por sua vez, aumenta as taxas

    cardíacas e respiratórias, auxiliando no funcionamento do aparelho digestório.”

    De acordo com Medeiros e Dias (2002), na Equoterapia o tratamento é composto de 4 fases,

    sendo elas, respectivamente: hipoterapia; educação/reeducação equestre; pré-esportiva; e esportiva.

    Medeiros e Dias (2002) explicam cada uma das fases: na primeira, o praticante precisa da ajuda,

    pois não tem equilíbrio, condições físicas e mentais para se manter sobre o cavalo e nem o conduz

    sozinho. Nessa fase, o profissional precisa montar junto com o praticante; na segunda, o praticante

    apresenta algumas condições de se manter sozinho sobre o cavalo, o profissional acompanha o praticante

    nas laterais para realizar o tratamento. Nessa etapa, o cavalo se torna um grande facilitador na

    aprendizagem da criança; na terceira, o praticante consegue plenamente o domínio sobre o cavalo,

    porém necessita da orientação dos profissionais, sendo um auxílio maior do profissional de equitação; e

    na quarta fase, o praticante possui alta do tratamento, sendo inserido na escola de equitação, o que fica

    a critério de cada praticante.

    Dados apontam que a terapia através do uso do cavalo vigorou após observações de que muitas

    pessoas conseguem resolver diversas situações que ocorrem durante a vida por meio da presença de um

    animal, por exemplo, cachorro, gato, passarinho, cavalo, que é a peça fundamental para a realização da

    Equoterapia.

    2 A importância da Equoterapia para tratamentos de portadores de Síndrome Down e

    necessidade educacional especial

    2.1 Casos que podem ser tratados

    De acordo com Medeiros e Dias (2002), o tratamento pode ser realizado nas seguintes

    indicações: autismo, síndrome hipercinética (hiperatividade), deficiência mental, dificuldade do

    aprendizado, alterações do comportamento, síndromes neurológicas (Down, West, Rett, Soto e outras)

    etc.

  • O papel do pedagogo no equoterapia

    Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 – janeiro/dezembro de 2013 16

    A Equoterapia só não é recomendada, ressaltam Barros e Azevêdo, para casos considerados

    graves, como pacientes que apresentam crises convulsivas incontroláveis, pessoas com cardiopatias

    graves ou escoliose muito acentuada, (2006).

    2.2 Benefício da Equoterapia para os portadores de Síndrome Down (SD)

    A criança com Síndrome Down, conforme ressaltam Barros e Azevêdo (apud RODRIGUES, 2006,

    p.178), só pode realizar as sessões após diagnóstico médico, sendo solicitados alguns exames, como

    raios X, radiografias específicas da espinha cervical, entre outros exames.

    No início das sessões, a criança com Síndrome Down apresenta, aos poucos, algumas melhoras

    que se manifestam em seu comportamento, porém o resultado mais alcançado no começo do tratamento

    é a questão da postura, pois, montando a cavalo, o praticante precisa ficar com a coluna reta, sendo esse

    requisito muito importante para o portador da Síndrome Down, pois trabalha o exercício direcionado para

    a coluna, ajudando o praticante no seu dia a dia, segundo Barros e Azevêdo (apud RODRIGUES, 2006).

    Nas sessões realizadas com praticantes portadores de Síndrome Down, o profissional (pedagogo)

    pode trabalhar a parte lúdica, por exemplo, contando histórias para o praticante, cantando músicas,

    levando figuras de animais, personagens de desenhos, materiais ligados ao dia a dia.

    O praticante com Síndrome Down se dispersa facilmente e, sendo assim, a sessão equoterápica é

    realizada com um ser vivo fundamental para a prática que, no caso, é o cavalo e outro ser vivo, que é o

    praticante. Diante dessa situação, Alves (2003) destaca os estímulos que ambas as partes fazem entre si,

    sendo que o cavalo responde através de alguns meios, como mexer o rabo, erguer as orelhas, espirar,

    relinchar, entre outros; diante desses estímulos, o praticante que está montado de uma forma ou de

    outra transmite a resposta.

    2.3 Benefício da Equoterapia para os portadores de Necessidades Educacionais

    Especiais (NEE)

    A Equoterapia contribui significativamente dentro dos processos de dificuldade de aprendizagem,

    por exemplo, leitura, concentração, escrita, convívio social, entre outros aspectos, conforme ressalta

    Souza (2007).

    O praticante com NEE, por meio da Equoterapia, possui condições de começar a organizar seu

    espaço, melhorar a audição, a visão, auxilia no trabalho com a lateralidade, contribuindo também para

    um vocabulário mais produtivo. Diante de todos esses requisitos, o praticante melhora sua atividade

    escolar, a leitura, escrita, raciocínio.

    De acordo com a necessidade a que se precisa atender com o praticante durante as sessões, o

    pedagogo pode utilizar, para a realização das atividades propostas na terapia, uma lousa de ferro e

    também objetos, números, tabelas, enfim, vários materiais para trabalhar a dificuldade que o aluno

    apresenta, pedindo que ele faça as atividades solicitadas montado em cima do cavalo, estimulando assim

    sua coordenação para realizar o que está sendo solicitado e conduzir o cavalo para conseguir

    desempenhar seus afazeres.

    Considerando que o ambiente que o aluno/praticante se encontra dentro da Equoterapia é

    fundamental para a realização de tarefas, verificamos que o desenvolvimento é obtido pelo fato de ser

    um ambiente calmo, que respeita a individualidade, prazeroso, estimulando assim o aprendizado e a

    concentração.

  • O papel do pedagogo no equoterapia

    Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 – janeiro/dezembro de 2013 17

    A Equoterapia auxilia o praticante em diversas dificuldades escolares, por exemplo, na disciplina

    de Matemática, para o aluno conseguir resolver a atividade, é preciso concentração e raciocínio, mas

    muitas vezes o aluno se dispersa na aula e não consegue executar a atividade.

    O cavalo, quando “enquadrado” no contexto educacional, ajuda a provocar situações nas quais é

    necessário desenvolver o autocontrole e a concentração do praticante para efetuar as atividades

    propostas.

    Por meio de atividades equoterápicas estipuladas, a criança adquire mais condições de equilíbrio,

    ajudando muito nas aulas voltadas à Educação Física. É importante ressaltar que, durante a sessão, a

    criança realiza diversas atividades que estimulam seu equilíbrio, como deitar sobre o cavalo, fica de

    joelho, deitar de barriga para baixo, sentar com as pernas em borboleta.

    A Equoterapia auxilia a coordenação motora por trabalhar com diversos movimentos,

    proporcionando uma forma contínua de trabalho dentro da sala de aula, tornando mais fácil para a

    criança trabalhar o mecanismo de manusear o lápis. Enfim, a criança ganha autonomia em seus

    movimentos.

    3 O profissional que trabalha com a Equoterapia: formação e atuação

    Para a realização da prática equoterápica, é fundamental uma equipe interdisciplinar, atuante em

    diversas áreas. Entre elas, podemos destacar a atuação de pedagogos, psicólogos, fisioterapeutas,

    instrutores de equitação, fonoaudiólogos, veterinários, terapeutas ocupacionais, professores de educação

    física, conforme afirmam Medeiros e Dias (2002).

    Cada profissional exerce uma função na atividade equoterápica, pois é um mecanismo

    complementar, sendo necessário integrar todas as informações obtidas para a realização das sessões.

    Segundo Souza (2007), o profissional da área equoterápica precisa de uma formação em cursos

    ministrados pela ANDE, pois só assim estará qualificado para a execução do trabalho. Como é um

    trabalho em conjunto, a pessoa que observa a realização das atividades propostas não consegue

    diferenciar cada profissional no desenvolvimento da atividade, pois a atuação de todos os profissionais é

    direcionada para um mesmo objetivo.

    Para a criança, o profissional é o instrumento de ligação. Por meio desse vínculo, ela estabelece

    uma relação com o cavalo durante as sessões equoterápicas, tornando sua presença importante para a

    realização da prática, sendo essa atividade uma interação entre praticante e cavalo.

    Segundo Barros e Azevêdo (apud RODRIGUES, 2006), a Equoterapia consiste em equipe

    interdisciplinar, que possui os conhecimentos de cada área de atuação e o entendimento transdisciplinar,

    que nada mais é que a troca de informação em conjunto de todos os profissionais, sendo importante

    ressaltar que o processo se torna consistente a partir dessa troca, pois o praticante é um indivíduo em

    pleno desenvolvimento. Ao formular, planejar as atividades a serem realizadas pelos praticantes, os

    profissionais que trabalham com a Equoterapia devem considerar os diagnósticos dos praticantes.

    Como toda e qualquer atividade, a Equoterapia exige de todos os seus integrantes, a equipe, o

    praticante e os familiares, paciência no decorrer da realização das sessões, pois se trata de uma

    atividade que precisa de interação de todas as partes para concluir o resultado.

    Toda a equipe equoterápica deve ter uma visão focada no praticante e no animal, sendo um

    circulo formado de constante aprendizado, ressaltando assim aspectos em todos os sentidos.

  • O papel do pedagogo no equoterapia

    Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 – janeiro/dezembro de 2013 18

    Os profissionais da área podem criar situações favoráveis aos aspectos de alguma atividade

    lúdica, despertando assim o entusiasmo do praticante, criando um acordo entre os envolvidos e

    diversificando as sessões, tornando-as mais prazerosas.

    Alguns profissionais de outras áreas de atuação, como tenentes da polícia, estudantes

    estagiários, ou mesmo pessoas que se interessam pela atividade, doam uma parte de seu tempo para

    auxiliar voluntariamente as sessões equoterápicas, constituindo um número maior de pessoas envolvidas

    com a prática.

    4 Considerações Finais

    Por meio do trabalho realizado, foi possível perceber que a Equoterapia é uma pratica equestre

    que, cada vez mais, “ganha força” e alcança seus ideais, proporcionando aos praticantes inúmeros

    benefícios.

    Assim, a figura do pedagogo é de extrema importância, pois deverá estar articulado aos demais

    profissionais envolvidos com a prática equoterápica de modo a promover situações de aprendizagem,

    obtendo rendimento a partir de uma melhor concentração do aluno na realização das atividades

    propostas.

    A integração dos profissionais da área promove resultados positivos, que resultam na troca de

    experiências e no rendimento de cada praticante dentro do contexto equoterápico.

    A Equoterapia está vinculada a diversos fatores que nos permitem identificar resultados positivos

    conforme observamos os casos de portadores de Síndrome de Down e Necessidade Educacional Especial.

    Um elemento que merece destaque na realização dessa prática é o cavalo, pois é capaz de atrair

    a atenção das crianças e, então, estimular a realização de atividades a partir do estabelecimento de uma

    relação “amistosa”, fundamentada também na confiança adquirida para a prática proposta.

    Em suma, a Equoterapia é uma prática que possibilita a integração do praticante com o

    profissional, o cavalo e o contato amplo com a natureza, fortalecendo, assim, a integração no ambiente

    social, cuja eficácia se comprova na medida em que observamos a ampla possibilidade de atuação que a

    área oferece aos profissionais envolvidos, incluindo o pedagogo.

    5 Referências bibliográficas

    ALVES, A. M. Equoterapia, estimulação precoce e Síndrome de Down: quando as partes se completam formando um todo – relatando uma experiência bem sucedida. Brasília: UnB, 2003. Disponível em: . Acesso em 15 ago. 2011.

    ANDE. Associação Nacional de Equoterapia. Disponível em: . Acesso em 09 set. 2010.

    BRAGAMONTE, M. C.; SANTO, S. M. B. A atuação do pedagogo na Equoterapia. Disponível em: . Acesso em 15 set. 2011.

    MEDEIROS M.; DIAS, E. Equoterapia: bases e fundamentos. Rio de Janeiro: Revinter, 2002.

    OLIVERTECH. Equoterapia. Disponível em: . Acesso em: 19 ago. 2010.

    RODRIGUES, David. Atividade Motora Adaptada: a alegria do corpo. São Paulo: Artes Médicas, 2006.

    SOUZA, J. Equoterapia: a cada trote uma esperança. Filantropia. São Paulo, v. 6, n. 32, p. 46-47, nov./dez. 2007.

  • Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 – janeiro/dezembro de 2013 19

    Motivação para a implantação das normas

    ISO 9001 em uma empresa de serviços contábeis: Um estudo de caso

    Eder Benedito Simonato1

    Resumo

    Neste artigo, queremos analisar a hipótese de que a gestão de empresas e a gestão da qualidade sejam amplamente passíveis de aplicação em empresas de prestação de serviços contábeis. Busca-se elencar como podem e devem ser aplicadas a qualquer tipo de empresa do ramo contábil as ferramentas tecnológicas de gestão. Enfim, procura-se constatar que essas ferramentas fazem parte do universo de atuação das empresas de serviços contábeis, contudo essas ferramentas não se aplicam em uniformidade a todas as empresas. É o caso da aplicação das normas ISO 9001, a qual nem todos os escritórios ou empresas de serviços contábeis têm a possibilidade de implantar e utilizar corretamente, visto o dispêndio financeiro para implantação e o volume de novos procedimentos para a checagem dos padrões de processo, necessitando de aumento de quadro de pessoal, de clientes e de apoio de empresas externas. Palavras-chave: Gestão; ISO 9001; qualidade; serviços contábeis. 1 introdução (o porquê de tudo isto – o que nos move a mudança)

    Nos últimos anos, com o início da era da tecnologia da informação e, mais especificamente, da

    era do conhecimento, a necessidade da redução de custos empresariais fez com que surgissem

    inovações, como a engenharia de valor, em busca de competitividade em um mercado que cada vez mais

    se direcionava a globalização.

    Hutchins (1994) nos diz que não deve ser encarado como mérito de uma ou outra empresa

    utilizar ferramentas tecnológicas para a sua diferenciação no mercado concorrencial, pois qualquer

    empresa pode fazê-lo, mesmo que não haja parâmetros para comparação.

    Dessa forma, mesmo uma empresa de prestação de serviços terá condições de criar seus

    indicadores de padrão e de persegui-los, a fim de transformar isso em condição perceptível por parte dos

    clientes, a chamada “qualidade”.

    Devido a vários aspectos, como o avanço tecnológico, o crescimento dos mercados, o incremento

    da concorrência, o aumento da complexidade e da efervescência dos aspectos econômicos, políticos e

    sociais, as empresas estão sendo levadas a utilizar eficazes sistemas de informações.

    Informação é o dado trabalhado que permite ao executivo tomar decisões, podendo afetar ou

    modificar o comportamento existente na empresa, bem como o relacionamento entre suas várias

    unidades organizacionais.

    1 Especialista em Gestão Estratégica de Negócios e professor do Claretiano Faculdade.

  • Motivação para a implantação das normas ISO 9001 em uma empresa de serviços contábeis: Um estudo de caso

    Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 – janeiro/dezembro de 2013 20

    Dessa forma, as informações devem transpor a barreira do conhecimento individual e estar

    disponibilizadas a toda a estrutura empresarial, de forma que seja popularizada e esteja á mão de

    qualquer indivíduo que participe do processo de produção empresarial e que se

    aventure a aprender e a descobrir novas formas de interatividade e de expansão dos domínios do

    conhecimento.

    Democratizar a informação, então, passa a ser a função de algumas ferramentas. Entre elas

    estão os padrões e normas ISO 9001, que auxiliam a organizar, cadastrar e registrar formas e

    procedimentos distintos, perpetuando-os ao longo do tempo e transformando-os em informações

    disponíveis a todos. A grande vantagem é a de poder documentar tudo o que deu certo, a fim de que

    seja replicado com eficiência, e de descartar tudo o que deu errado, a fim de que não seja também

    replicado o erro.

    Perante uma formação homogênea, o mercado é abastecido anualmente com um grande número

    de egressos que desejam seu lugar ao sol. Para se manter num mercado competitivo, são necessárias

    nada mais do que boas fontes de informações para dar suporte à tomada de decisões que serão feitas ao

    longo de sua carreira, seja ela como funcionário, como profissional autônomo ou como prestador de

    serviços contábeis.

    Logo, um profissional que não busca ou que não possui esse sistema de busca de informação com

    uma boa base de tecnologia e planejamento tornam-se apenas mais um entre todos os outros, não se

    destacando no mercado.

    Devido ao vasto conteúdo referente à gestão e também ao volume de tecnologias disponíveis e

    em contínua evolução, muitos profissionais – por falta de tempo, já que são patrões –, e muitas vezes

    juntamente operários do negócio, não veem ou não têm acesso às possibilidades de crescimento à sua

    volta. Aqueles que optarem pela prestação de serviços contábeis terão aqui mais uma fonte de

    informação para sua evolução, ganhando em sinergia e conhecimento.

    Visto dessa forma, essa opção na profissão tem a possibilidade e a intenção de juntar em um

    único conteúdo o que se pode aplicar de melhor na questão da gestão empresarial para a área contábil.

    Além de disponibilizar as informações primárias para que as empresas de serviços contábeis interessadas

    em evoluir e melhorar os padrões de seus procedimentos possam conhecer a prática de uma empresa

    que já está inserida no futuro dos padrões de controles da prestação de serviço.

    A possibilidade de divulgação desse compêndio de informações leva não só a área de

    contabilidade aqui tratada, mas também outras áreas e nichos de mercado a ponderarem sobre a

    possibilidade da busca pela excelência em seus serviços. E nada melhor do que poder começar a busca

    desse caminho sendo apoiado por uma empresa de serviço contábil que já faz parte desse universo.

    Este artigo foi realizado através de uma pesquisa descritiva bibliográfica, observação in loco,

    entrevista descritiva e valendo-se da exploração do acervo das Faculdades Integradas Claretianas em Rio

    Claro – SP. Sua finalidade é proporcionar informações sobre o assunto investigado e assim propiciar mais

    uma fonte de informações para os profissionais de todas as áreas do mercado.

    Para estruturação e fundamentação, considerando a metodologia de pesquisa proposta, foram

    utilizados os seguintes passos para levantar os dados e adquirir maiores conhecimentos para a

    elaboração do presente trabalho de pesquisa:

    – realização de uma revisão literária do tema proposto através de uma pesquisa bibliográfica;

    – coleta de dados necessários da empresa estudada in loco, juntamente com as operações diárias

    do escritório. Essa coleta foi adquirida das seguintes formas:

  • Motivação para a implantação das normas ISO 9001 em uma empresa de serviços contábeis: Um estudo de caso

    Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 – janeiro/dezembro de 2013 21

    – entrevista com o empresário proprietário da empresa de serviços contábeis em processo de

    implantação da ISO 9001;

    – visita e apuração no local do processo de gestão empresarial e da implantação da ISO 9001;

    Esse método possibilitou diversas informações, proporcionando um melhor diagnóstico da

    organização em destaque, desenvolvendo uma avaliação geral e conhecendo seus problemas e soluções

    de forma ampla, em relação à empresa inserida no mercado, e estrita, relativa aos por menores diários

    de cada procedimento de implantação.

    Dessa forma, o presente artigo limita-se a efetuar um estudo de caso, baseado em entrevista,

    pesquisa descritiva e de observação no local, sobre a gestão da empresa de serviços contábeis Cont Rio –

    Contabilidade Empresarial e Condominial Ltda., empresa baseada na cidade de Rio Claro – SP.

    Para o caso de algumas informações que não se conclusivas, recordamos a situação em que se

    encontra a empresa: durante o período de confecção deste artigo, a empresa estava em processo de

    implantação do sistema de qualidade na prestação de serviços baseado nas normas ISO 9001.

    Sendo assim, na estruturação deste trabalho, busca-se, na primeira parte, a fundamentação

    bibliográfica como fonte de informação para a composição do questionamento, o qual faz parte de um

    segundo momento do trabalho. Logo em seguida, tem-se os resultados apresentados e a discussão

    destes de forma breve. Por ultimo, como forma de responder ao tema deste trabalho, buscamos enfatizar

    as características que mais se destacaram para a tomada de decisão para a evolução tecnológica da

    empresa estudada.

    2 Definição da base teórica e definição do problema

    Para Sá (2006), na teoria da Contabilidade, a evolução do pensamento contábil parte da

    Matemática, passa pela Contabilidade e se fixa na Lógica; incidentalmente, essa condição de pensamento

    reflete a concepção das partidas dobradas, a causa e efeito, a que cada fato gerador se submete.

    Por efeito de uma analogia interessante, as próprias empresas de prestação de serviços contábeis

    não estão isentas dessa concepção enquanto empresa inserida no mercado concorrencial de sua área de

    atuação. Dessa forma, causas delimitarão as tomadas de decisão por mudança no escritório de

    Contabilidade e sem duvida terão efeito a ser apurado.

    O efeito apurado será a nova base dos porquês das causas das tomadas de decisão, pois as

    empresas de prestação de serviços contábeis têm que evoluir. Portanto, a teoria da Contabilidade, que é

    o instrumento de trabalho das empresas de prestação de serviços contábeis, tem que ser usada também

    como ferramenta para o desenvolvimento da própria empresa.

    Hutchins (1994) afirma que, partindo de premissas básicas de padronização, qualquer empresa

    pode e deve fazer uma compilação de suas melhores condições, registrando-as através de índices e

    gráficos, e a partir daí utilizá-los como base para comparação, desenvolvimento e melhoria contínua de

    seus processos ou procedimentos, ou seja, deve utilizar Matemática como referência para tomadas de

    decisão.

    Essa é a base da ISO 9001 (International Organization for Standardization), um grupo de normas

    técnicas compiladas que, quando implementadas pelas empresas, conduzem a métodos de padronização

    comparada entre índices e resultados passados para a atualização presente dos rumos futuros.

    Marion (1996) dá uma luz quanto à percebida condição de estagnação das empresas de prestação

    serviços contábeis. Ele afirma que a metodologia de ensino das escolas de Contabilidade no nível

  • Motivação para a implantação das normas ISO 9001 em uma empresa de serviços contábeis: Um estudo de caso

    Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 – janeiro/dezembro de 2013 22

    superior, na sua maioria, trata o aluno de forma passiva, ou seja, existe a transferência de conhecimento

    do professor para o aluno e acaba aí.

    Devido a inúmeros fatores, como tempo, espaço físico, custo, oportunidade, entre tantos outros,

    os alunos não participam de nenhuma atividade prática no campo da Contabilidade; sendo assim, falta a

    “prática profissional”.

    Essa condição acaba por refletir num profissional que, ao terminar a faculdade, inicia o trabalho

    em alguma empresa de prestação de serviços contábeis, aprende a metodologia dali e acaba por replicá-

    la sem poder ter testado outras situações ou mesmo condições de trabalho e possibilidades.

    Já Schell (1995) infere que ter ou administrar uma empresa de serviços contábeis é gerir

    pessoas, atender e trabalhar com pessoas; dessa forma, é participar diretamente de suas expectativas,

    sonhos e esperanças. É preciso estar preparado para criar valores, metas, motivação e criar uma equipe

    eficiente que busca eficácia constantemente.

    Essa é mais uma das tarefas do profissional em Contabilidade que tem ou deseja ter uma

    empresa própria de prestação de serviços contábeis. Buscando essa experiência e esse conhecimento

    elencados acima, e também buscando entender a gestão de serviços contábeis na prática, a partir deste

    artigo apresentaremos as condições de existência de uma empresa de serviços contábeis e da motivação

    para a evolução através do processo de implantação das normas ISO 9001 perante as demais empresas

    no mercado de Rio Claro – SP.

    Começaremos a elencar as condições e motivações que levaram a empresa à busca pelo

    crescimento e pelo padrão de processo na prestação dos serviços contábeis, objetivando a confiabilidade

    total dos trabalhos destinados aos seus clientes.

    Rio Claro, cidade a 180 km da capital, no interior do estado de São Paulo, conta com

    aproximadamente 200.000 habitantes e tem um mercado acirrado, quando olhamos para o ramo de

    serviços contábeis. A cidade conta hoje com mais de sessenta escritórios de Contabilidade entre diversos

    tamanhos e especializações em aplicações de operação.

    Dentro desse universo, destaca-se o Escritório de Contabilidade Cont Rio S/C Ltda. À frente da

    empresa estão o Sr. Gilmar Dietrich, bacharel em Ciências Contábeis, sócio proprietário da empresa,

    juntamente com sua esposa, Marli Telma das Neves Dietrich, também bacharel em Ciências Contábeis.

    Na composição de estrutura da empresa, o escritório conta com dezesseis funcionários

    distribuídos em quatro ambientes diferentes, havendo já na recepção três pessoas; logo atrás dela está a

    sala da Sra. Marli e, em seguida, a sala do Sr. Gilmar; ao lado esquerdo de quem entra na recepção, está

    a sala com doze mesas distribuídas no ambiente e mais onze funcionários. Devido ao espaço que temos,

    não é possível elencar todas as tarefas efetuadas por cada funcionário da empresa, porém, descrevemos

    resumidamente abaixo as tarefas prioritárias desempenhadas pelo grupo em suas atividades diárias,

    relação esta que já mostra também a abrangência dos produtos oferecidos pela empresa em questão:

    – instruções a clientes sobre lucro presumido e associações;

    – solicitações de documentos que interfiram nos fatos econômicos e financeiros das empresas

    clientes;

    – organização de documentos recebidos e digitação dos mesmos;

    – integração de notas fiscais e folhas de pagamentos;

    – fechamento e conciliação de contas, extratos bancários e encerramento contábil;

    – emissão de declarações obrigatórias e acessórias, como Demonstrativo de Apuração de

    Contribuições Sociais (DACON), Declaração Anual do Simples Nacional (DASN), Declaração de Débitos e

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    Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 – janeiro/dezembro de 2013 23

    Créditos Tributários Federais (DCTF), Declaração de Informações sobre Atividades Imobiliárias (DIMOB),

    Declaração do Imposto de Renda Retido na Fonte (DIRF), Declaração de Informações Econômico Fiscais

    da Pessoa Jurídica (DIPJ), entre outras;

    – geração dos livros contábeis e devolução dos documentos protocolados;

    – aberturas e encerramentos de empresas, apuração de impostos, carnê leão, atenção a órgãos

    públicos, como prefeitura, vigilância sanitária, entre outros, para emissão de alvarás.

    As empresas nesse ramo não são todas iguais, os serviços prestados não são iguais; além de

    alterações como valores, tempo de prestação, volume de fatos e emissões, entre outros, alteram as

    características dessas empresas até mesmo o mercado limitado de uma cidade, onde serviços contábeis

    comerciais são prestados para empresas em um bairro com grande número de empresas comerciais.

    Logo, serviços contábeis estritamente industriais serão prestados em outro bairro com grande

    volume de indústrias de transformação. Portanto, pode acontecer de uma empresa de serviços contábeis

    nunca ter que preencher ou proceder determinado tipo de processo devido à especificidade de seus

    clientes ou da área em que atua.

    A impressão que temos é a de um escritório de ambiente agradável, onde, logo que entramos,

    nos deparamos com um painel em aço escovado de um metro quadrado, na parede da recepção, com o

    selo que segue abaixo:

    Figura 1 – Sistema de Gestão da Qualidade

    Fonte: Cedida pelo Escritório Cont Rio.

    Esse selo retrata e divulga o trabalho que a empresa está desenvolvendo na busca de sua

    excelência em serviços, a fim de se tornar referência na área profissional de sua atuação. Desse ponto de

    vista, seus proprietários marcam presença no rol dos empreendedores que buscam evoluir sempre e não

    se deixam estagnar no mercado. Hoje a estrutura do escritório conta com a mais moderna interface de

    comunicação, pois já era tradição do referido escritório sempre se manter à frente na utilização do que

    há de mais moderno em Tecnologia de Informação (TI) no mercado.

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    Segundo Thomé (2001), evoluir e saber minuciosamente em que mercado se está inserido é uma

    das principais funções que o proprietário de empresa de prestação de serviço contábil ou escritório de

    serviço contábil assume para conseguir a perpetuação ou até mesmo a manutenção de existência de seu

    negócio.

    Para entender a operação do Escritório de Contabilidade Cont Rio, estivemos no local do mesmo e

    verificamos que este, devido ao seu tempo de existência – mais de dezoito anos no mercado de Rio Claro

    e região – e à experiência acumulada, tem em seu rol de clientes indústrias, empresas comerciais, de

    prestação de serviços, do terceiro setor, cooperativa financeira e condomínios residências e industriais.

    Neste artigo, queremos provar as hipóteses de que a gestão de empresas de serviços contábeis

    pode e deve ser aplicada a qualquer tipo de empresa do ramo contábil e de que ferramentas tecnológicas

    de gestão podem e devem fazer parte do universo da empresas de serviços contábeis, contudo essas

    ferramentas não se aplicam em uniformidade a todas as empresas.

    É o caso da aplicação das normas ISO 9001, a qual nem todos os escritórios ou empresas de

    serviços contábeis têm a possibilidade de implantar e utilizar corretamente, visto o dispêndio financeiro

    para implantação e o volume de novos procedimentos para a checagem dos padrões de processo,

    necessitando de aumento de quadro de pessoal, de clientes e de apoio de empresas externas.

    Dessas hipóteses elencadas acima, tentamos responder a algumas interrogações, sem o

    rigorismo de uma pesquisa de campo e sim partindo da metodologia que já elencamos anteriormente, as

    quais ajudarão a clarear ou, sendo mais otimista, a elucidar campos ainda obscuros do mercado de

    serviços contábeis. São elas:

    – A implantação do procedimento ISO 9001 é adequada à área de Contabilidade?

    – Qual seria o valor de dispêndio da implantação e da adequação de estrutura da empresa

    contábil para esse sistema de padronização?

    – Que tipo de empresa contábil deve ou pode pensar na implantação da ISO 9001?

    – O que motivará uma empresa de serviços contábeis a implantar as normas de processo ISO

    9001?

    – O contabilista autônomo entende ser possível e dá importância à gestão empresarial ou à

    implantação da ISO 9001 em seu negócio?

    – O que muda para o cliente quanto aos produtos de serviços oferecidos?

    Sobre essas interrogações, buscamos respostas diretamente com o Sr. Gilmar, sócio-proprietário

    do Escritório de Contabilidade Cont Rio. O mesmo cedeu seu tempo para uma entrevista pessoal, com a

    motivação e atenção para com o assunto tratado. De acordo com a metodologia, as questões foram

    encaminhadas com antecedência para o que o mesmo as lesse. Durante o encontro, o formato utilizado

    foi o de um bate-papo, onde o pesquisador novamente inseriu as questões e com isto o Sr. Gilmar

    formulou suas respostas verbalmente, sendo tomada nota em rascunhos das mesmas pelo pesquisador.

    Fica aqui já registrado o nosso agradecimento pelo cordial acolhimento, atenção e consentimento dado

    pelo Sr. Gilmar ao nosso trabalho.

    Segue a transcrição do escrutínio feito durante a entrevista com as respostas dadas:

    – O que levou o Escritório de Contabilidade Cont Rio a pensar em explorar a qualidade nos

    serviços?

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    Resposta – Como toda empresa que entende o termo “qualidade”, o que nos levou a esse

    caminho foi a necessidade de organização e estruturação interna. Precisávamos de padrão de processo.

    Quando éramos pequenos, tínhamos todos os procedimentos escritos e controlados; ao crescermos,

    parte desse controle se perdeu e muitos processos precisaram ser reescritos e criados.

    – Qual o caminho que se seguiu até o Escritório de Contabilidade Cont Rio chegar à decisão de

    implantação da ISO 9001?

    Resposta – Tivemos diversas tentativas internas de efetuar a adequação e a implantação dos

    controles para a melhoria nos procedimentos de prestação de serviços aos clientes. Quando estas

    falharam, partimos para o uso do Centro de Qualidade do Sescon, a fim de obtermos o selo e o

    certificado de qualidade em serviços, atestado pelo mesmo. Vencida essa etapa, entendemos que

    precisaríamos de algo mais, precisávamos consolidar de vez e perpetuar esse padrão de excelência que

    havíamos alcançado. Desde então surgiu o caminho para a implantação da ISO 9001.

    – Qual a visão dos outros escritórios de Contabilidade de Rio Claro e região sobre essa questão da

    implantação de uma ferramenta de gestão de controle?

    Resposta – A mentalidade é diversa e a impressão que tenho é que está sempre voltada para a

    condição de ser “desnecessária” essa empreitada. Desde o inicio do processo e sempre que tenho

    encontrado com colegas de profissão, proprietários de outros escritórios, sempre escuto aquele “por

    quê?”, “para quê?”, ou ainda “isso é perda de tempo”, “é jogar dinheiro fora”. Chegam ao ponto de dizer

    que é sem sentido uma empresa que presta serviço de organização de fatos contábeis ter que se apoiar

    em ferramentas e tecnologias de padrão de processo.

    – Qual a percepção dos funcionários do Escritório de Contabilidade Cont Rio e dos fornecedores

    do mesmo a respeito da implantação da ISO 9001?

    Resposta – Há uma divisão nítida no caso dos funcionários, em que uma parte não entende o

    porquê de se implantar uma ferramenta de gestão de controle, a outra parte entende e se esforça em

    colocá-la em prática. Quanto aos fornecedores não houve problemas, parece que a implantação ainda

    não os atingiu, mas, na verdade, para continuar fornecendo, eles já se adequaram as nossas novas

    necessidades.

    – Qual a percepção do cliente do Escritório de Contabilidade Cont Rio a respeito da implantação

    da ISO 9001?

    Resposta – Este é um fato interessante; assim como com os funcionários, temos uma divisão de

    pensamentos e sentimentos entre os clientes que temos em nossa carteira. Alguns deles, já de inicio,

    acharam a mudança interessante e de bom grado, entenderam como profissionalismo de nossa parte a

    implantação das normas de procedimento ISO 9001. Outros clientes apoiam a ideia, mas não a entendem

    e também não se abalam com as mudanças que ocorrem. Agora pasme, temos cliente que já ameaçaram

    quebrar o contrato de serviços, o que em nosso meio é conhecido como “levar meus livros de

    contabilidade para outro escritório”, porque entendem que a inovação vai lhes causar problemas, mais

    trabalho, tarefas que não querem assumir e, de quebra, aumento no preço dos serviços prestados.

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    – Qual a influência desse processo de implantação das normas ISO 9001 sobre os produtos

    oferecidos pelo Escritório de Contabilidade Cont Rio?

    Resposta – A influência é de melhoria contínua dos produtos de serviços que prestamos, a ideia

    sempre foi mantermos um padrão de processo de serviço, com a intenção de atingirmos eficiência. Outro

    foco é a utilização da padronização de procedimentos para diminuir a incidência de erros e falhas.

    – Qual é a evolução esperada pelo Escritório de Contabilidade Cont Rio com a implantação da ISO

    9001?

    Resposta – Não temos uma ideia de evolução ainda. Estamos na etapa de criação da visão e da

    missão da empresa. Para nós essa evolução se encontra em andamento. Só então traçaremos o plano

    estratégico para atingir os objetivos propostos. Estamos acompanhando essa evolução para tirar o

    máximo de proveito.

    – Quais as dificuldades enfrentadas pelo Escritório de Contabilidade Cont Rio antes e durante a

    implantação da ISO 9001, e quais as esperadas para depois desse processo?

    Resposta – Antes, ou seja, no começo, a grande dificuldade foi encontrar um profissional

    gabaritado no mercado, aquele com experiência na implantação da ISO 9001 em escritórios de

    Contabilidade. Foi realmente uma dificuldade encontrá-lo. Agora, durante a implantação, a maior

    dificuldade está sendo o “fazer a cabeça dos funcionários”. Está sendo uma dificuldade alinhar

    pensamentos e fazer com que todos pensem dentro do formato de evolução com padrão. E, para depois

    do processo de implantação, já vislumbramos que a dificuldade a ser enfrentada será com relação aos

    clientes. Será necessário persuadi-los a participar da evolução, talvez seja necessário treiná-los, sem

    contar que provavelmente teremos perdas de alguns clientes, como já falamos acima, e mais trabalho

    ainda para repor as mesmas.

    – Quanto custa a implantação? Qual é o retorno esperado financeiramente com a implantação da

    ISO 9001 no Escritório de Contabilidade Cont Rio?

    Resposta – Como disse acima, como não tínhamos o profissional de forma fácil, não tínhamos

    referência e experiência e acabamos por nos precipitar, assinando um contrato de consultoria com a

    primeira empresa que encontramos. Logo depois, tivemos problemas com a mesma e a experiência foi

    ruim. Nesse primeiro movimento, tivemos um investimento entre R$ 30.000,00 e R$ 40.000,00. Na

    sequência, após mais pesquisa e mais contatos, encontramos um profissional de consultoria na área, que

    gerou o efeito que desejávamos e o custo deste está em torno dos R$ 4.000,00 atualmente.

    A última questão, descrita abaixo, levando-se em conta o comentário de que o processo de

    implantação está no momento de criação da visão e missão da empresa, foi formulada de improviso na

    hora da entrevista, já que nos veio a noção de que existe um horizonte almejado pela empresa, ou seja,

    um objetivo que já está fixado:

    – Quais são os planos para o futuro do Escritório de Contabilidade Cont Rio com a implantação da

    ISO 9001?

    Resposta: Nosso plano é acompanhar de perto a evolução do mercado, pois no futuro os

    escritórios de Contabilidade serão bastante reduzidos, tecnicamente encolherão, devido à toda a

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    implantação de controle que os órgãos governamentais estão adequando. Com isso, as pequenas e

    médias empresas não precisarão mais de escritórios de Contabilidade, visto que todo sistema será on-

    line; essas empresas cuidarão por si só de sua “contabilidade” o que será suficiente para cumprirem com

    suas obrigações. Caberá então aos escritórios de Contabilidade que subsistirem no mercado encontrar

    seu lugar em um mercado que deve ser formado pela junção das empresas do terceiro setor, empresas

    da indústria e as empresas dos grandes comércios, sejam elas atacadistas ou varejistas. Essas empresas,

    devido ao seu tamanho e à busca constante de redução de custos, demandarão as estruturas de

    escritórios que temos hoje, pois serão elas que vão precisar de análises aprofundadas dos fatos contábeis

    e de bons parceiros para a organização das informações contábeis para a tomada de decisão.

    3 Conclusões e planos para o futuro

    No presente estudo, nosso objetivo foi apurar a utilização da gestão de serviços contábeis por

    uma empresa de Rio Claro – SP, mais especificamente, o Escritório de Contabilidade Cont Rio, empresa

    prestadora de serviços. Buscamos, também, enfatizar a gestão de serviços contábeis apoiada por

    ferramentas de tecnologia do conhecimento, como é o caso da ISO 9001, a sua importância na geração

    de informações dentro da empresa, apoiando de forma relevante as tomadas de decisões, com ênfase no

    processo de atendimento ao cliente.

    Dessa forma especificamente, nosso objetivo, além de caracterizar a importância dos aspectos

    básicos da gestão de empresas de serviços contábeis, também era analisar as características que

    levaram a empresa a escolher, entre as diversas ferramentas tecnológicas existentes para esse meio,

    justamente a implantação das normas ISO 9001.

    Realizar este estudo de caso sobre o Escritório de Contabilidade Cont Rio, prestador de serviços

    contábeis em vias de finalização da implantação da ISO 9001, em Rio Claro – SP, nos chama a atenção

    para o quanto é rico e pouco explorado o universo das pequenas e médias empresas, mesmo com todas

    as informações que temos na atualidade.

    Temos a sorte de ter todas as conclusões que podemos aqui efetuar, mesmo estando limitada a

    essa empresa ou escritório de serviços contábeis. Descrevê-la, na sua organização de empresa de

    prestação de serviço contábil em Rio Claro – SP, nos coloca de frente com a realidade das empresas de

    pequeno e médio porte no Brasil, onde somente algumas de muitas sobrevivem após alguns anos de sua

    inauguração. É um privilégio quando temos a oportunidade de presenciar que as que sobrevivem

    continuam a buscar por um futuro melhor, como é o caso do Escritório de Contabilidade Cont Rio.

    Explanar sobre metodologia de implantação das normas ISO 9001 para empresas de serviços

    contábeis, neste caso, nos proporcionou assertividade na proposta do problema central deste trabalho,

    que se apresenta nas conclusões que apresentamos a seguir.

    Como já fundamentamos anteriormente, a evolução constante por parte das empresas

    prestadoras de serviços contábeis parece-nos ser o único caminho para a sobrevivência a médio e longo

    prazo. Pela conclusão que tiramos do exemplo, não será possível sobreviver com pequenos clientes,

    mesmo que sejam muitos, pois os custos serão elevados, sem o retorno adequado que possa sustentar o

    investimento.

    A conclusão do porquê da empresa pesquisada ter optado pela implantação da ISO 9001 se

    configura na amarração do parágrafo anterior e com a declaração do Sr. Gilmar. Toda empresa precisa

    de organização e, para isso, padrão de processo é muito eficiente, principalmente na prestação de

    serviço, a qual depende muito do indivíduo que o está prestando. Logo, saber que qualquer um dos

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    Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 – janeiro/dezembro de 2013 28

    funcionários da empresa fará determinado processo de forma muito similar a todos os outros, ao prestar

    um produto de serviço a um cliente, traz tranquilidade ao processo de operacionalidade da empresa.

    E, melhor ainda, saber que, com a implantação desse procedimento, os funcionários estarão, com

    o passar do tempo, capacitados, preparados e aptos a responderem por suas tarefas e até mesmo por

    seu setor de trabalho e pelos setores dos colegas, quando da solicitação de informação por parte de um

    cliente, demonstra a eficiência a que a implantação de tal tecnologia pode levar.

    Isso é ponto de vantagem competitiva para a empresa, quando ela replica de forma cada vez

    mais eficiente o serviço ao cliente, evita retrabalhos, reduz custos e tem tempo para realizar processos

    mais complexos ou mesmo melhorar outros processos. É isso que motivou a empresa pesquisada ao

    investimento de tal processo de padronização.

    Como a empresa está se adequando, pois não tem paralelos de referência na implantação de

    normas ISO 9001 em escritórios de serviços contábeis, está evoluindo conforme a implantação desse

    processo vai acontecendo. Logo, são muitas as dificuldades encontradas para a implantação da

    padronização nessa empresa, porém ressalta-se em nossa conclusão que os dois pontos elencados pelo

    Sr. Gilmar como os mais obtusos são aqueles em que se encontram as pessoas como agentes do

    processo.

    De um lado, funcionários, de outro, os clientes, pessoas que, como sempre vemos em todo

    processo de mudança, têm aversões a exaltar.