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ISSN 2176-1396 ENSINO HÍBRIDO: O DESAFIO DE UM ENSINO QUE INTEGRE AS TECNOLOGIAS NO DIA A DIA ESCOLAR Viviane Salarolli de Souza Silva 1 - UFMT Eixo Educação, tecnologia e comunicação Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O estudo descritivo discute as tecnologias e os meios de comunicação social (MCS) no ambiente escolar. Como motivação a importância das mídias e novas tecnologias na vida dos seus usuários, no qual destacaram-se professores e estudantes, sendo este um recorte do relatório de estágio de docência na graduação. Justifica-se pela necessidade de identificarmos a ação docente frente aos investimentos tecnológicos e midiáticos por uma proposição de ensino em meio a “era digital” vivenciada pela cibergeração. Objetivou-se descobrir como as professoras estabelecem uma relação entre as tecnologias e os meios de comunicação social (MCS), com seus alunos, ao longo do seu percurso docente. Participaram 12 professoras, com média de trinta e um anos de idade, atuantes em instituições educacionais, pública e privada, de Cuiabá e Várzea Grande, municípios do Estado de Mato Grosso. A coleta de dados ocorreu na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus Cuiabá/MT, durante o estágio de docência na graduação, com a turma do 4º ano, turno vespertino, do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, entre setembro de 2016 e março de 2017. Com abordagem qualitativa, os dados foram submetidos às técnicas de análise de conteúdo (BARDIN,1977), através de um questionário semiestruturado aplicado às professoras que atuam na Educação Infantil, Básica e de Jovens e Adultos. Os resultados evidenciam que estamos diante do desafio de um ensino que integre as tecnologias no dia a dia escolar, a precariedade de ofertas dos aparatos tecnológicos nas instituições e a carência por uma formação baseada na epistemologia da prática. As professoras participantes reconhecem a importância de um ensino hibridizado, em uma cibercultura vivenciada por seus alunos, porém, não há como estabelecer relação com essas ferramentas num labor pedagógico, mediante as condições atuais de trabalho que elas são instadas a suportar. Palavras-chave: Tecnologias. Meios de Comunicação Social. Ensino Híbrido. Educação. 1 Aluna do Programa de Pós-Graduação em Educação Mestrado pela Universidade Federal de Mato Grosso UFMT. Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Corporeidade e Ludicidade (GEPCOL). E-mail: [email protected].

ENSINO HÍBRIDO: O DESAFIO DE UM ENSINO QUE INTEGRE AS ... · proposição de ensino em meio a “era digital” vivenciada pelos alunos da cibergeração. A coleta de dados ocorreu

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ISSN 2176-1396

ENSINO HÍBRIDO: O DESAFIO DE UM ENSINO QUE INTEGRE AS

TECNOLOGIAS NO DIA A DIA ESCOLAR

Viviane Salarolli de Souza Silva1 - UFMT

Eixo – Educação, tecnologia e comunicação

Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

O estudo descritivo discute as tecnologias e os meios de comunicação social (MCS) no

ambiente escolar. Como motivação a importância das mídias e novas tecnologias na vida dos

seus usuários, no qual destacaram-se professores e estudantes, sendo este um recorte do

relatório de estágio de docência na graduação. Justifica-se pela necessidade de identificarmos

a ação docente frente aos investimentos tecnológicos e midiáticos por uma proposição de ensino

em meio a “era digital” vivenciada pela cibergeração. Objetivou-se descobrir como as

professoras estabelecem uma relação entre as tecnologias e os meios de comunicação social

(MCS), com seus alunos, ao longo do seu percurso docente. Participaram 12 professoras, com

média de trinta e um anos de idade, atuantes em instituições educacionais, pública e privada, de

Cuiabá e Várzea Grande, municípios do Estado de Mato Grosso. A coleta de dados ocorreu na

Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus Cuiabá/MT, durante o estágio de

docência na graduação, com a turma do 4º ano, turno vespertino, do Curso de Licenciatura

Plena em Pedagogia, entre setembro de 2016 e março de 2017. Com abordagem qualitativa, os

dados foram submetidos às técnicas de análise de conteúdo (BARDIN,1977), através de um

questionário semiestruturado aplicado às professoras que atuam na Educação Infantil, Básica e

de Jovens e Adultos. Os resultados evidenciam que estamos diante do desafio de um ensino que

integre as tecnologias no dia a dia escolar, a precariedade de ofertas dos aparatos tecnológicos

nas instituições e a carência por uma formação baseada na epistemologia da prática. As

professoras participantes reconhecem a importância de um ensino hibridizado, em uma

cibercultura vivenciada por seus alunos, porém, não há como estabelecer relação com essas

ferramentas num labor pedagógico, mediante as condições atuais de trabalho que elas são

instadas a suportar.

Palavras-chave: Tecnologias. Meios de Comunicação Social. Ensino Híbrido. Educação.

1 Aluna do Programa de Pós-Graduação em Educação – Mestrado – pela Universidade Federal de Mato Grosso –

UFMT. Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Corporeidade e Ludicidade (GEPCOL). E-mail:

[email protected].

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Introdução

Diante do cenário das interações e comunicações estabelecidas culturalmente entre seus

membros, por meio das conexões possibilitadas através do uso das tecnologias, propomos a

reflexão que estamos diante de uma geração que as adotou e desenvolveu novas estratégias de

aprendizagem. O crescente uso das tecnologias digitais e a interatividade entre os aparelhos e

seus usuários, se faz necessário uma nova relação com o saber e novas práticas pedagógicas.

O estudo descritivo, com abordagem qualitativa é um recorte do relatório de estágio de

docência na graduação, com a colaboração de 12 professoras em formação, discentes do 4º e

último ano, do curso de Pedagogia, da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, turno

vespertino. Com o objetivo de descobrirmos como as professoras estabelecem uma relação

entre as tecnologias e os meios de comunicação social (MCS)2 com seus alunos, na tentativa de

identificarmos a ação docente frente aos investimentos tecnológicos e midiáticos por uma

proposição de ensino em meio a “era digital” vivenciada pelos alunos da cibergeração. A coleta

de dados ocorreu na própria instituição, no campus da capital mato-grossense, durante o período

de estágio na graduação, no período entre 24 de setembro de 2016 até 03 de março de 2017.

Para o filósofo francês da cultura virtual contemporânea, Pierre Lévy (1999, p. 17) a

cibercultura é “[...] o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de

modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do

ciberespaço3”. Ainda, segundo o autor, “[...] o crescimento do ciberespaço resulta de um

movimento internacional de jovens ávidos para experimentar, coletivamente, formas de

comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem” (LÉVY, 1999, p. 11).

A cada dia surgem novas tecnologias e aplicativos objetivando facilitar a vida dos seus

usuários, otimizando o tempo – produto de luxo na contemporaneidade. Com o advento da

tecnologia, as novas mídias de comunicação social acabam por produzir as conexões

necessárias, para acesso rápido e cômodo às informações, que dispõem aos seus usuários

quando precisam, simplesmente, conectarem com o mundo em que vivem. “Mas será que a

educação e os educadores estão à altura da tarefa? ” (BAUMAN, 2007, p.21).

Segundo o sociólogo Francês Gilles Lipovetsky:

2 Meios de comunicação social são todos os tipos de aparatos analógicos ou digitais utilizados para transmitir

textos, imagens e áudios. Exemplo: livros, jornais, revistas, televisão, rádio, smartphone e Internet. 3 Ciberespaço também chamado de rede é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial de

computadores (1999, p.17).

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As novas tecnologias invadem tudo e geram uma obsessão de interatividade. É preciso

estar sempre conectado. Privado e público se confundem. Cada vez mais, cada um

quer ser protagonista e contar sua vida num blog ou noutro mecanismo de exposição

o que antes era reservado à família, aos vizinhos e aos amigos. O grande problema é

que agora cada um sente-se na obrigação de se realizar, de fazer algo da sua vida, de

ser bem-sucedido, de dar um sentido satisfatório ao próprio destino (LIPOVETSKY,

2007, p. 18).

E esta interatividade adentra a escola e a sala de aula, seja por meio das discussões, das

ferramentas tecnológicas condicionando as pessoas por meio desse movimento, a importância

que é dada ao fato de estarmos cada vez mais conectados. Nesse sentido, enquanto educadores

faz-se necessário, caminharmos na direção de uma reflexão que deve, sobretudo, ser crítica,

ressignificando e redimensionando nossa própria prática docente.

Uma sociedade emergida na tecnologia

O termo Homo zappiens nos é apresentado pelos autores Veen &Vrakking (2009),

segundo os pesquisadores holandeses a proposta é discutir as características deste Homo

zappiens, explorando a aprendizagem, nos proporcionando uma reflexão através das relações

entre o jogar, o aprender e o papel da tecnologia, na vida deste novo ser e as habilidades

desenvolvidas por meio do uso da tecnologia.

O homem que “zapia” faz alusão ao primata, cujo nome científico conhecido por todos

é Homo sapiens. Eles atribuem o termo zapiar para explicar este humano que possui

saber/sabedoria (sapiens). Hoje, este ser brinca na tela do smartphone, tablet, frente ao

computador, zapeia (troca) os canais da televisão, ouve música, navega nas redes sociais, e

aprende, simultaneamente. Diferentemente do menino que brincava correndo, construindo seu

próprio carrinho com lata de leite em pó.

Denominada “geração da rede”, “geração digital”, “instantânea”, ciber, ou geração y,

essa geração se desenvolve em um mundo de constantes mudanças, “o Homo zappiens está

crescendo cercado pela tecnologia” (Veen & Vrakking, 2009, p. 88). Os nascidos no século

XXI demonstram maior relutância em encaixar-se no sistema educacional do que qualquer outra

geração antecedente. Os autores defendem que essa geração, em geral, compreende melhor a

tecnologia, do que as pessoas que as educam, para tanto, nos fazem refletir que os sistemas de

educação mudarão e que o professor será desafiado, como profissional, a contribuir para tais

mudanças.

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O Homo zappiens desenvolveu uma ferramenta de comunicação mais poderosa do que

a linguagem, este novo ser vem redescobrindo o potencial das imagens e ampliando seu

conjunto de comunicação para algo próximo da velocidade do cérebro.

Segundo Venn & Vrakking (2009, p. 90) “eles estão escolhendo suas próprias maneiras

de aprender”. Assim sendo, concordando ou não com a ideia defendida pelos autores, é certo

que existe uma nova maneira de aprendizagem, quando mencionado:

De qualquer maneira, o aumento no potencial da comunicação criou espaço para o

indivíduo afirmar um nicho próprio. Com a criação da tecnologia, mudamos o

equilíbrio entre o individual e o coletivo para o individual e, portanto, criamos mais

potencial para a mudança e para a inovação. Como chamamos a era da padronização

de massa de “era industrial”, chamaremos essa era de “era criativa” (VEEN &

VRAKKING, 2009, p. 85, grifo dos autores).

Os estudantes desta nova geração são atraídos por tecnologia, assim como pelos jogos

(mídias, redes sociais e aplicativos), porque os mesmos os desafiam o tempo todo, tornando-se

assim, mais atrativos. Talvez, esta seja a explicação para a atração entre a tecnologia, os jovens

e adolescentes, suscitando pesquisas e discussões sobre as relações entre o jogar e o aprender,

o papel da tecnologia na vida do Homo zappiens e as habilidades desenvolvidas por meio dessa

interação.

Na obra mencionada, é-nos apresentada uma nova teoria de aprendizagem: o

conectivismo (2009, p. 94), centrada no papel das tecnologias de informação e de comunicação

na aprendizagem. Esta teoria surge para tentar incorporar as consequências da aceleração de

aquisição da informação, e da mudança do conhecimento por meio das tecnologias.

Propomos uma discussão acerca das características do Homo zappiens e exploramos

como as professoras estabelecem uma relação entre as tecnologias e os MCS perante o desafio

de ensinar a esta nova geração.

Tecnologia ― ferramenta pedagógica para ensinar e atrativa técnica para aprender

Os estudantes costumam armazenar suas informações em cadernos, fichários, na era

digital o espaço para arquivar as informações vem sofrendo modificações e diminuindo de

tamanho. O aparelho de celular vem sendo usado pelos alunos como uma ferramenta para

armazenar informações como: músicas, fotos, vídeos e porque não dizer livros? O modelo de

celular mais vendido no Brasil hoje possui capacidade de armazenamento equivalente a 16 mil

livros. Um dos modelos mais caros e sofisticados disponíveis no mercado consegue armazenar

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aproximadamente 128 mil livros (Fonte: Globo Repórter – março/2016), mas será que toda esta

capacidade de armazenamento é o suficiente para potencializar o desempenho de um aluno?

Assim como o uso que o mesmo faz da Internet?

Surge a proposta por um ensino híbrido4 ― que sugere a personalização e tecnologia na

educação, esse alvitre já é realidade na cidade do Rio de Janeiro há dois anos. O professor de

História Eric Faria foi selecionado para ser um dos pioneiros no Brasil de uma nova técnica de

ensino que usa computadores em sala de aula. A proposta chamou atenção de uma escola

pública em Guadalupe, zona Norte do Rio de Janeiro/RJ (Fonte: Globo Repórter, março/2016).

A aula começa e os alunos buscam os netbooks na secretaria escolar. A instituição onde

o professor Eric leciona não dispõe de sinal de Internet, mas o docente resolveu de maneira

criativa aliar a disponibilidade do uso desta ferramenta tecnológica a ideia de um ensino mais

atraente para seus alunos, preparando vídeoaulas e disponibilizando aos alunos os conteúdos

postados via redes sociais. Em sala, com o uso de um pendrive, o professor disponibiliza o

conteúdo daquela aula para os alunos que não tiveram acesso anteriormente. A novidade

agradou consideravelmente aos estudantes, “você não tem aquela rotina de sempre vir para a

escola e assistir uma pessoa ficar falando (Lucas Lopes -14 anos) e tem que escrever e ter que

ficar entediado com isso”. “Aqui tem um vídeo, você se diverte, você consegue fazer muito

mais interação e você tem um tempo melhor para fazer porque se você não entendeu algo, você

pode voltar o vídeo e ver de novo”. “É como se fosse uma aula só para mim e aí eu posso ficar

onde eu quiser, é maravilhoso (Larissa Loraine – 13 anos), eu tenho medo de sair dessa escola

e não ter mais aula desse tipo”.

Na referida reportagem foi apresentado o caso do Yuri Coutinho (15 anos), um dos

alunos com melhor desempenho escolar com a ajuda das novas ferramentas. Yuri comemora o

fim da “chatice” na hora de estudar em casa, na escola, as notas confirmam que algo mudou e

para melhor.

As novas tecnologias vieram para ficar, entretanto, com elas novos riscos como uma

onda crescente de desatenção, estaríamos na “era do algoritmo” – ‘tudo é para agora, tudo

elevado a décima potência’, segundo o professor Dr. Edmilson Felipe da Silva – Departamento

de Antropologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), “você tem um

sujeito cada vez mais ansioso, irreversível” (Fonte: Globo Repórter – março/2016). Tudo que

4 Fonte: Ensino Híbrido – apresenta contribuições para professores que querem inovar, integrando as tecnologias

digitais ao dia a dia em sala de aula. Disponível em: < http://www.fundacaolemann.org.br/ensino-hibrido/>

Acesso em: 25 mar. 2016.

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é novo assusta, fascina e ensina, a Internet não é boa e nem má, o uso que fazemos é que define

a qualidade dessa relação, segundo a leitura do sociólogo polonês: “mas como nosso mundo

líquido moderno está em constante movimento, somos perpetuamente arrastados na viagem,

por bem ou por mal, conscientemente ou não, alegres ou infelizes, mesmo que tentemos ficar

parados, sem sair do lugar” (Bauman, 2011, p.9).

Segundo Cunha (2006, p. 135) “o ritual escolar está organizado em cima da fala do

professor [...]. Há, sim, a constatação de que é o professor a principal fonte da informação

sistematizada”. Corroborando com a ideia da referida autora buscar inovar às aulas é função

imprescindível do professor, função esperada e ansiada por seus alunos, resultando na

possibilidade de gerar novos conhecimentos por parte do professor e apreensão de novos

saberes na perspectiva dos estudantes. Contudo, é preciso atenção e olhar criterioso, porque não

dizer cuidadoso, na formação dos novos professores e na formação continuada daqueles que já

atuam na docência, numa perspectiva de ensino que faça sentido para os alunos, para tanto, não

deve haver um abismo que distancie o ensino das tecnologias, nos dias atuais.

Percurso metodológico

O estudo descritivo proposto envolveu a participação de 12 professoras que atuam na

Educação Infantil, Básica e de Jovens e Adultos, na rede pública e privada, da capital mato-

grossense. São discentes do 4º ano, vespertino, do curso de Pedagogia, do Instituto de Educação

(IE), da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus Cuiabá/MT. As professoras

tinham entre vinte e quatro e quarenta e nove anos, média de trinta e um anos de idade, atuantes

nas instituições educacionais. O estágio teve carga horário de 30 horas, e foi realizado entre

setembro de 2016 a março de 2017, a coleta de dados ocorreu no IE/UFMT, campus

Cuiabá/MT, durante o momento do intervalo das aulas.

O enfoque da pesquisa qualitativa segundo Minayo:

A pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações,

crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das

relações, dos processos e nos fenômenos que não podem ser reduzidos à

operacionalização de variáveis (2001, p.14).

O instrumento escolhido para a coleta de dados foi questionário misto no qual as

professoras responderam as seguintes perguntas: 1- Em sala de aula há momentos de discussão

sobre a força das tecnologias na vida dos seus alunos? 2-Você considera importante trabalhar

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com tecnologias em sala de aula? Sim ou Não? Costuma trabalhar? Sim, não ou às vezes? Por

que? 3- Em plena “era tecnológica”, o que você proporia aos seus alunos para que eles

pudessem aliar o uso das tecnologias (que eles têm acesso), com os conteúdos escolares? 4-

Sobre quais assuntos são realizadas discussões sobre os programas veiculados nos MCS? 5-

Você considera que a tecnologia (tablet, smartphone, notebook, aplicativos – WhatsApp –,

Playstation, etc.), influencia o comportamento dos alunos quanto ao consumo? 6- Com base

na cibergeração que cresce sabendo lidar com a tecnologia, você se considera preparada para

lidar diariamente com estes alunos? Justifique.

Caracterização das participantes

Tabela 1 - Caracterização das participantes

Tempo docência

(Anos) Modalidade Público/privado Participante

1

Ed. Infantil

Privado

Público –estadual

I

J

1,8 meses Ed. Infantil Público –municipal D

2 Ensino Fundamental Privado A, K, E, H

3 Ed. Infantil Privado B e F

5 EJA Público –estadual G

8 Ed. Infantil Público –municipal C

14 Ensino Fundamental Público –municipal L

TOTAL: 2,9 anos média em docência

Fonte: Dados da Pesquisa 2017.

Descrição e Análise dos dados – Categorias

A escolha do questionário semiestruturado para coleta de dados aplicado as professoras,

se deu pela compreensão de que este instrumento seria de mais fácil acesso para as

participantes. Considera-se o questionário como um importante instrumento de coleta de dados,

como Jovchelovitch e Bauer (2002) explanam, já que este é tão bem estruturado quanto à

entrevista narrativa. A aplicação do questionário ocorreu nos intervalos das aulas, em que as

discentes/professoras costumavam socializar suas experiências educacionais, momentos de

interação entre as discentes e a estagiária.

Os dados foram catalogados e analisados conforme à técnica de análise de conteúdo

(BARDIN, 1977), enquanto as respostas foram submetidas à análise compreensiva, na

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perspectiva de identificarmos como as professoras estabelecem uma relação entre as

tecnologias e os programas dos meios de comunicação social (MCS) – com intuito de

identificarmos os possíveis mecanismos de resistência da escola frente aos investimentos da

tecnologia e da publicidade como nova forma de cultura.

As participantes foram identificadas por letras do alfabeto, assegurando seu anonimato

e responderam o questionário de forma livre e esclarecida, assinando o termo de consentimento

para publicação dos dados desta pesquisa.

Com base nas respostas apresentados surgiram as seguintes categorias: a) Discutindo as

tecnologias - um momento produtivo em sala de aula; b) Trabalhando com a tecnologia – aulas

mais atraentes e aprendizagens significativas; c) Uma proposta de dosagem em meio a “era

tecnológica”; d) Os assuntos veiculados aos MCS; e) Quando a tecnologia influencia o

consumo; f) As professoras estão preparadas para a cibergeração?

Discutindo as tecnologias ― um momento produtivo em sala de aula

Perguntado as participantes, no exercício do trabalho docente, há momentos de

discussão sobre a influência que as tecnologias exercem no cotidiano dos seus alunos? Através

da fala das participantes foi possível identificar que estes momentos de discussões ocorrem

frequentemente em sala de aula. A grande maioria, 58,33% (7 participantes) responderam que

as discussões ocorrem no momento da roda de conversa. Empatados com 8,33% (1 participante)

tivemos momentos diferenciados, como: leitura deleite; pós-leitura deleite; no primeiro

momento da aula; ao final da aula ou quando o assunto vem ao encontro do conteúdo, como

apresentados abaixo:

Participante A – “No momento do planejamento das aulas”.

Participante G – “Esta discussão ocorre no momento da leitura deleite”.

Participante C- “Roda de conversa [...]sempre após os filmes”.

Participante K – “Ao término dos filmes trabalhados em sala ou quando o assunto

vem ao encontro do que estamos trabalhando em sala”.

Participante L – “Após o momento da leitura deleite que são realizados no início das

aulas”. A professora e seus alunos costumam relacionar o que foi lido com algo que

eles assistem na televisão.

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Participante F – “Roda de conversa e sempre que comentam alguma notícia,

aproveito para abordar o assunto. Porém em casa, percebo que eles têm acesso a

todos os tipos de tecnologias”.

Participante H – “Geralmente no primeiro momento da aula”.

A resposta da participante G, nos causou surpresa, pois entendemos que o momento da

leitura deleite deveria ser um momento onde os alunos tivessem a “liberdade” de escolher uma

obra de sua preferência, para a leitura. Como caberia neste momento, uma discussão sobre a

temática perguntada? O que nos traz a reflexão de que o que acontece na sala de aula de fato

fica na sala de aula, a menos que haja alguma espécie de intervenção.

Destacamos a resposta de que as discussões acontecem no momento da roda de conversa

– participante C, nos questionamos, novamente, se todos os filmes propostos por essa

professora tratam da temática tecnologia, pois segundo a resposta da participante é isso o que

acontece. Em contrapartida, a participante L nos relatou que as discussões ocorrem após o

momento da leitura deleite, que são realizados no início das aulas, a professora e seus alunos

costumam relacionar o que foi lido em sala de aula fazendo relação com o que eles assistem,

em casa, na televisão. Já a participante F afirmou que as discussões ocorrem na roda de conversa

e sempre que os alunos comentam sobre alguma notícia, a professora usufrui deste momento

para abordar a temática – “porém em casa, percebo que os alunos têm acesso a todos os tipos

de tecnologias, durante muitas horas”. Essa fala demonstra que a professora está atenta aos

momentos que propiciam as discussões, no decorrer das aulas, e ao mesmo tempo denota

preocupação com o uso indiscriminado que seus alunos fazem da tecnologia quando estão em

casa.

Trabalhando com tecnologia ― aulas mais atraentes e aprendizagens significativas

Questionamos o que é possível fazer para que as aulas sejam mais atraentes e

aprendizagens mais significativas aos alunos, as participantes foram unânimes em considerar

importante o trabalho de educar tendo a tecnologia como aliada, porém, quando questionamos

se as mesmas costumam fazer uso dessa ferramenta 41,66 % (5 participantes) trabalham às

vezes, seguido de 33,33% (4 participantes) as que trabalham com tecnologias e 25% (3

participantes) disseram que não trabalham.

Chamamos atenção para o fato de que, se somarmos as professoras que trabalham às

vezes com tecnologia (41,66%), com as que não trabalham (25%), concluímos que mais da

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metade (66,66%) de fato não utiliza frequentemente essa ferramenta, em comparação com os

33% que afirmaram trabalhar com tecnologia, confira algumas respostas abaixo:

Participante A – “Às vezes. Ressalto que a utilização auxilia no processo de ensino-

aprendizagem, porém nem sempre os professores dispõem dessa ferramenta

disponível na escola”.

Participante C- “Não tenho acesso a Datashow na instituição, mais gostaria de

preparar minhas aulas para trabalhar desta forma, em função disto faço uso do livro

didático e o quadro negro”.

Participante E – “A tecnologia mais presente em minha docência é a inserção de

algum filme que esteja de acordo com o conteúdo a ser explorado”.

Participante H – “Trabalhar em escola pública é complicado, pois nem sempre temos

a disponibilidade de materiais tecnológicos, como Datashow, tablets, etc., por isso, a

prática de passar filmes e compatíveis com a faixa etária dos nossos alunos é uma

prática comum. Com os filmes dá para explorar os conteúdos de forma que sejam

apropriados para os alunos e com linguagem de fácil acesso”.

Participante I – Não comentou.

Participante L – “Nem sempre dá para preparar aula com slides, pois é preciso

agendar a reserva com muita antecedência, por isso, nem sempre é possível dar uma

aula mais atrativa para as crianças”.

A pouca utilização da tecnologia se dá pelo fato das professoras terem que trabalhar

com os instrumentos que as escolas têm a oferecer, como é do nosso conhecimento,

empiricamente, essa oferta não nem sempre é possível.

Segundo a participante H a tecnologia trabalhada são filmes, de forma a explorar seus

conteúdos, que sejam apropriados para os alunos e com linguagem de fácil acesso. A

participante acrescenta: “trabalhar em escola pública é complicado, pois as professoras nem

sempre têm disponibilidade de trabalhar com tecnologia, como Datashow, computadores,

etc.”, enquanto ferramentas pedagógicas, por isso, a prática de passar filmes compatíveis com

a faixa etária dos alunos é a referência que essa professora tem de um ensino híbrido, ou seja,

que busque integrar as tecnologias digitais ao dia a dia do seu trabalho docente.

Corroborando, a professora L afirma que nem sempre dá para preparar aula com

“slides”, pois é preciso agendar a reserva, com muita antecedência do equipamento, por isso,

nem sempre é possível dar uma aula mais atrativa. Já a participante E ressalta que a tecnologia

mais presente em sua prática docente é o filme que esteja em consonância com o conteúdo a

ser explorado.

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Entre as professoras que afirmaram não utilizar a tecnologia em sala de aula, a

participante C alegou não ter acesso ao projetor na instituição, mais que gostaria de trabalhar

desta forma, na impossibilidade faz uso do livro didático e do quadro negro – reforçado na fala

da professora A. Este relato nos traz uma certa preocupação, pois se evidencia a ausência de

condições mínimas de trabalho para o profissional da educação, uma questão que sempre

embasou as lutas de nossa categoria ao longo dos tempos.

Uma proposta de dosagem em meio a “era tecnológica”

Com o advento da tecnologia, perguntamos as professoras proporiam aos seus alunos

para aliarem o uso das tecnologias com os conteúdos escolares? As respostas foram

apresentadas em 3 categorias, confira abaixo:

Participante A- “Proporia dinâmicas, jogos, teatro, palestras, aulas de campo,

atividades extracurriculares, debates, produção de gêneros e projetos de leitura”.

Participante B- “Incentivar os alunos lerem mais livros, revistas, gibis, através de

cartazes também”.

Participante D- “Vídeo game e WhatsApp”.

Participante E- “Converso com eles que troquem mensagens pelo “zap zap” com os

colegas da sala que são bons alunos”.

Participante F- “Incentivar o gosto pela leitura”.

Participante G- “Sempre oriento para que se organizem diariamente, determinando

um tempo para os estudos. Falo que dá para fazer muita coisa durante o dia, porém

é preciso organização por parte deles”.

Participante H- “Proponho estudar com a tecnologia, tipo WhatsApp”.

Participante I- “Alguns programas educativos que ensinam as crianças brincando,

exemplo: amiguinhos”.

Participante J- “O acompanhamento mais próximo dos pais, incentivando os filhos.

Sentando e conversando com a criança sobre assuntos da escola. Participação

integral da família quando não estiverem na escola”.

Participante K- “Proponho que seja trabalhado o gosto pela leitura, nem que seja de

e-books para que passe a ser um hábito na vida deles”.

Participantes C e L- “Não responderam”.

A categoria mais votada com 25% foi a proposta de incentivo à leitura, segundo as

participantes B, F e K. Com 16,66%, a segunda categoria, curiosamente, foram as proposições

de estudar com tecnologia e a utilização de sites para que os alunos possam estudar brincando,

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ou seja, uma hibridização entre a tecnologia com os estudos. As participantes que optaram por

essas alternativas foram H e I; seguido das participantes C e L – que não responderam. A terceira

e última categoria com 8,33% foram as proposições: “Incentivo para que alunos troquem

mensagens pelo ‘zap zap’ ― WhatsApp ― com os colegas que são bons alunos” - part. E; o

acompanhamento mais próximo dos pais - part. J; dinâmicas, jogos, teatro, aulas de campo -

part. A; “organização do tempo, pois os alunos têm tempo para estudar e fazer uso das

tecnologias, simultaneamente” - part. G. Por fim, a participante D respondeu vídeo game e

WhatsApp.

Na análise dos dados, essa categoria reafirma que a hibridização (contribuições para os

professores inovarem seu trabalho docente, integrando as tecnologias digitais ao dia a dia na

sala de aula) se apresenta como uma proposta de ensino que merece reflexão, em meio a “era

tecnológica” que estamos emergidos.

Os assuntos veiculados aos meios de comunicação social (MCS)

Mais adiante, a questão levantada as professoras foram quais assuntos costumam

desencadear discussões/diálogos, em sala de aula, conduzidos quanto aos “MCS” difundidos

nos programas assistidos por seus alunos. Surgiram 7 categorias de respostas, apresentadas

abaixo:

Participantes B; C; G; H; J e L – Assuntos sobre drogas.

Participantes A; B; C; D; G; H e K – Sobre alimentação.

Participantes C; D e H – Tecnologia.

Participantes B; C; F; G; H; J e L – Violência.

Participantes B; G; H e L – Questões de gênero.

Participantes A; B; G e H – Doenças.

Participantes B; C; D; H e K – Educação.

Participantes H e B – Consumo.

Participantes A; B; C; F; G; H; J e K –Discriminação racial/preconceito.

Participantes A e D – Moda/vestuário.

Participantes F e G – Política.

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Participantes B e G – Bullying.

Participantes E; I– Não respondeu.

Segundo análises dos dados, o tema mais escolhido foi a discriminação

racial/preconceito, com 66,66%; em segundo lugar alimentação e violência empatados com

58,33% dos votos; em terceiro com 50% foi escolhido o tema drogas; em quarta posição

aparece a educação com 41,66% ; em quinto lugar empatados com 33,33% questões de gênero

e doenças; em sexta colocação com 25% tecnologias; em sétimo e último lugar, empatados

consumo, moda/vestuário, política, bullying e os que não responderam tiveram 16,66% da

preferência.

Após análises, em contraditoriamente, uma diferenciação se comparadas as respostas

obtidas para as perguntas 1 e 4 (discussão sobre - influência da tecnologia na vida dos alunos),

porém, é satisfatório reconhecer que que assuntos que precisam ser discutidos como

discriminação racial/preconceito estão entre os temas mais discutidos (66,66%), assim, como

assuntos ligados à educação são mais discutidos em sala de aula (41,66%) do que temáticas

sobre a tecnologia (25%).

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (Brasil, 1997, p.15) “[...] os

objetivos dos Temas Transversais devem ser incorporados nas áreas já existentes e no trabalho

educativo da escola”. O documento completa “[...] os Temas Transversais correspondem a

questões importantes, urgentes e presentes sob várias formas, na vida cotidiana. O desafio que

se apresenta para as escolas é o de abrirem-se para este debate”.

Quando a tecnologia influencia o consumo

Mais adiante, perguntamos às professoras se consideram que a tecnologia (tablet,

smartphone, notebook, aplicativos – WhatsApp –, Playstation, etc.), influencia o

comportamento dos seus alunos quanto ao consumo, as respostas foram:

Participantes A – “Sim, pois trabalha com o inconsciente dos alunos, a partir das

emoções”.

Participantes C; D; E – “Sim, por forte influência da mídia reproduzindo uma

ideologia negativa sem ética. Fruto da mídia, os alunos querem segui-la”.

Participantes F – “Sim, porque eles querem imitar os coleguinhas”.

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Participantes G; H; I e J – “Sim, as crianças são facilmente influenciadas pela

televisão que estimula, através do que passa nela, o consumo”.

Participantes B – “Não influencia”.

Participantes K e L – “Não responderam”.

Nossa intenção era descobrimos se a tecnologia, tão acessível aos seus usuários através

dos “MSC” fomenta o consumo dos estudantes. Entendemos que na perspectiva das

professoras, os meios de comunicação social, assim como as mídias e as propagandas exercem

forte influência para o consumo dos alunos, por se tratar, em especial, de um público alvo em

pleno desenvolvimento de suas estruturas dinâmicas da personalidade (id, ego e superego),

segundo a teoria psicanalítica freudiana, “todas as atividades que intervêm entre o aparecimento

do desejo e sua realização são agrupadas sob o nome de objeto. [...] mas inclui também todos

os comportamentos que acontecem para assegurar a coisa ou a condição necessária” (Hall,

Lindzey & Campbell, 2000, p. 56).

As professoras estão preparadas para esta cibergeração?

Com base na cibergeração que cresce sabendo lidar com a tecnologia questionamos as

participantes se consideram preparadas para lidar diariamente com esses alunos, pedimos que

justificassem suas respostas, e conforme a tabulação surgiram três categorias:

Participantes que responderam sim –, Professoras que aprenderam na prática ao longo

da docência (C; E; J e I). “Sempre fazemos os cursos que são ofertados, aliás quase

sempre é obrigado a fazer e nos cursos não costumamos ver coisas diferentes que

fazemos no dia a dia” (B). “Pelo fato de que sou mãe, consigo lidar bem com crianças,

mas admito que grito as vezes” (H). “Trabalho muitos anos como professora, acho

que dou conta do recado” (D).

Participantes que responderam não – Formação diferenciada da realidade – “Claro

que não! Durante os quatros anos só tivemos 1 disciplina sobre tecnologia e o

professor só falava de AVA (ambiente virtual de aprendizagem), coisa que só usamos

uma vez aqui na faculdade. Nada a ver! ” (F). “A formação que temos é muito

diferente do que vivenciamos na prática” (A). “É complicado respondermos o que a

gente pensa de verdade, mais eu acho que as crianças de hoje são muito mais maduras

do que estamos sendo formados para lidar com elas”. Não justificou (L).

Participantes que optaram em não responder – Participante G e K.

Na fala das participantes C, E, J e I consideram-se preparadas para lidarem com essa

cibergeração – metáfora do filósofo e sociólogo francês Pierre Lèvy, destacamos a queixa de

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uma formação diferenciada de suas realidades, buscaram enquanto alternativa, uma formação

empírica e o aprendizado no fazer docente. Nesse sentido, as participantes que responderam

não, porém, justificaram, como L e F – corroboram que suas formações foram distanciadas no

que se refere a teoria e prática.

A questão que propomos reflexão é: quantos erros não foram cometidos ao longo desse

processo? A participante B queixa-se que os professores sempre fazem os cursos de formação

continuada, porque quase sempre são “obrigadas”, mas se há uma formação deficitária, porque

não suprir essa deficiência com os cursos então ‘ofertados’? Será que as instituições ofertantes

dos cursos de formação continuada, buscam suprir através desses cursos, as necessidades dessas

profissionais?

A participante A relata: “é complicado respondermos o que a gente pensa de verdade,

mais eu acho que as crianças de hoje são muito mais maduras do que estamos sendo formadas

para lidar com elas”. Contribuindo com a discussão, Pimenta (2006, p.19) destaca: “assim,

valorizando a experiência e a reflexão na experiência [...] Schön5 propõe uma formação

profissional baseada numa epistemologia da prática, ou seja, na valorização da prática

profissional como momento de construção de conhecimento através da reflexão” (grifo da

autora). Ou seja, chamamos atenção para uma formação cada vez mais híbrida, não apenas no

aspecto das metodologias, currículos ou ferramentas (recursos), mais uma formação baseada

numa epistemologia da prática, segundo os estudos e proposições de Schön (1987).

Considerações Finais

Com base nos dados apresentados, os resultados evidenciam que de fato estamos diante

do desafio de um ensino que integre as tecnologias no dia a dia escolar. Durante as aulas há

momentos de diálogo sobre a influência das tecnologias na vida dos alunos. O episódio da

leitura deleite escolhido como momento para que professoras e alunos discutam essa influência,

nos traz um alerta para o tipo de trabalho que vem sendo desenvolvido, seja nas escolas públicas

ou privadas, ou o contrário, não estão sendo realizados. O que nos traz a reflexão de que o que

acontece na sala, permanece na sala de aula, a menos que haja alguma espécie de intervenção

e esses momentos propiciados por meio da pesquisa, assim como os estágios, seja de regência

ou docência na graduação, nos possibilitam essa discussão.

5 Donald Schön – filósofo e educador estadunidense. Pesquisador de temas sobre a reflexão na educação e

aprendizagem organizacional.

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Ressaltamos a precariedade de oferta dos aparatos tecnológicos nas instituições atuantes

das professoras pesquisadas. Onde estão os laboratórios de informática com seus respectivos

computadores? Onde estão os aparelhos de projeção? Mediante atuais condições de trabalho na

contemporaneidade, contraditoriamente, os livros, quadro negro e giz se apresentam como as

ferramentas tecnológicas disponíveis ao trabalho pedagógico nesses espaços.

Em contrapartida, nos deparamos com professoras que aproveitam os momentos da roda

de conversa, para propor discussões, sempre que os alunos comentam sobre alguma notícia

veiculada nas mídias, permitindo assim, que seus alunos tenham voz em sala de aula, pautando

sua docência numa relação dialógica.

A questão não desperta atenção apenas no que diz respeito à infraestrutura em que os

profissionais da Educação Infantil, Básica e EJA enfrentam, mas o cerne advém de uma

formação distante da realidade, que muitas vezes, por questões de sobrevivência fazem do

profissional da educação um aprendiz que supri esta deficiência ao longo do seu percurso

docente.

A pesquisa nos revelou que a hibridização (contribuições para os professores inovarem

seu trabalho docente, integrando as tecnologias digitais ao dia a dia em sala de aula) se apresenta

como boa proposta de ensino em meio a “era tecnológica” que estamos inseridos. As

professoras reconhecem a importância desta hibridização, unindo as tecnologias e o ensino, em

uma cultura midiática, vivenciada por seus alunos, porém, não há como estabelecer relação com

essas ferramentas pedagógicas em seu trabalho docente mediante condições atuais de trabalho.

Conclui-se que não podemos afastar nossos alunos dos assuntos que estão veiculados

aos meios de comunicação social (MCS) assistidos é percebido que esses meios, assim como

as mídias e as propagandas exercem forte influência sob as crianças e adolescentes, entretanto,

podemos trazer esses assuntos para dentro das salas de aula, na perspectiva de auxiliá-los na

metabolização das informações em conhecimentos, mediando esse trabalho que deve ser

desenvolvido pela escola, em parceria com a família, comunidade e, sobretudo, políticas

públicas, resultando em um aprendizado para além dos muros da escola.

REFERÊNCIAS

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