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Entendendo o Estado, o Pacto Federativo e o papel do Cidadão “O homem, como uma dentre as várias espécies animais existentes, também desenvolveu processos de convivência, reprodução, acasalamento e defesa....Porém, quer por dificuldades impostas pelo ambiente, quer por particularidades da própria espécie, o homem também desenvolveu habilidades e comportamentos que dependem de aprendizado. Assim, as crianças aprendem a conter sua fome e a comer em horários regulares, aprendem a brincar e a obedecer e, mais tarde, quando crescem, a trabalhar, comerciar, administrar, governar.” ¹ Cristina Costa O ser humano é um ser sociável, ou seja, necessita viver em sociedade. Tembém tem grande capacidade de aprendizado. Do convívio em grupos, ao longo do tempo, o homem foi aprimorando as formas de organização desses grupos. “...Só na convivência e com a cooperação dos semelhantes o homem pode beneficiar-se das energias, dos conhecimentos, da produção e da experiência dos outros, acumuladas através de gerações, obtendo assim os meios necessários para que possa atingir os fins de sua existência, desenvolvendo todo o seu potencial de aperfeiçoamento, no campo intelectual, moral ou técnico. Esses, em linhas gerais, os argumentos que sustentam a conclusão de que a sociedade é um fato natural, determinado pela necessidade que o homem tem da cooperação de seus semelhantes para a consecução dos fins de sua existência. Essa necessidade não é apenas de ordem material, uma vez que, mesmo provido de todos os bens

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guia para entendimento do Estado, do pacto federativo e do papel do cidadão

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Entendendo o Estado,

o Pacto Federativo e o papel do Cidadão

“O homem, como uma dentre as várias espécies animais existentes, também desenvolveu processos de convivência, reprodução, acasalamento e defesa....Porém, quer por dificuldades impostas pelo ambiente, quer por particularidades da própria espécie, o homem também desenvolveu habilidades e comportamentos que dependem de aprendizado. Assim, as crianças aprendem a conter sua fome e a comer em horários regulares, aprendem a brincar e a obedecer e, mais tarde, quando crescem, a trabalhar, comerciar, administrar, governar.” ¹

Cristina Costa

O ser humano é um ser sociável, ou seja, necessita viver em sociedade. Tembém tem grande capacidade de aprendizado. Do convívio em grupos, ao longo do tempo, o homem foi aprimorando as formas de organização desses grupos.

“...Só na convivência e com a cooperação dos semelhantes o homem pode beneficiar-se das energias, dos conhecimentos, da produção e da experiência dos outros, acumuladas através de gerações, obtendo assim os meios necessários para que possa atingir os fins de sua existência, desenvolvendo todo o seu potencial de aperfeiçoamento, no campo intelectual, moral ou técnico. Esses, em linhas gerais, os argumentos que sustentam a conclusão de que a sociedade é um fato natural, determinado pela necessidade que o homem tem da cooperação de seus semelhantes para a consecução dos fins de sua existência. Essa necessidade não é apenas de ordem material, uma vez que, mesmo provido de todos os bens materiais suficientes à sua sobrevivência, o ser humano continua a necessitar do convívio com os semelhantes ...” ²

Dalmo de Abreu Dallari

Os seres humanos continuam se unindo uns aos outros, de diversas formas, sejam em grupos chamados de associações, sejam em instituições religiosas, em entidades de benefício mútuo etc...

As associações dos homens evoluíram até o que hoje se chama de Estado. O Estado é estrutura política e organizacional soberana (tem conjunto de normas e leis que se exercem imperativamente e extroversamente), formada pelos

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elementos povo (conjunto de cidadãos que se organiza de modo a formar a sociedade e se subordinam ao mesmo poder soberano e possuem direitos iguais perante a lei), território (parte do Estado, que sobre ele exerce poder soberano, controlando seus recursos) e governo soberano (núcleo decisório do Estado, formado por membros da elite política, e encarregado da gestão da coisa pública, ou seja, do conjunto de bens patrimoniais e recursos financeiros originados pela contribuição das pessoas).

As funções do Estado podem ser entendidas como:

1 – “Funções Clássicas” (também chamada de Estado mínimo):

- “A garantia da defesa externa e a manutenção da ordem e da segurança interna (a resolução de conflitos, aplicação da justiça e a imposição de sanções);”

- “Estabelecer e cobrar tributos e administrá-los juntos com os bens da coletividade;”

- “A regulamentação jurídica das interações entre os mais variados atores que influenciam no convívio em sociedade.”

2 – “Função social” – que engloba as seguintes:

- “sustentar o emprego e evitar a degradação das condições de vida dos trabalhadores;”

- proteger os cidadãos “contra situações de dependência de longa duração (velhice, invalidez) ou de curta duração (doença, maternidade, desemprego)”;

- proteger e compensar “as desigualdades sociais - renda mínima, alimentação, saúde, educação, habitação, etc”;

- “prover a maximização da eficiência do sistema econômico”. ³

Atualmente uma das formas de organização de um Estado é a Federação, que é o sistema político pelo qual vários estados se reúnem para formar um Estado federal, cada um conservando sua autonomia.

Segundo a Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Federa%C3%A7%C3%A3o – 21/nov/2010):

“Dá-se o nome de Federação ou Estado federal a um Estado composto por diversas entidades territoriais autônomas dotadas de governo próprio, geralmente conhecidas como "estados". Como regra geral, os estados ("estados federados") que se unem para constituir a federação (o "Estado federal") são autônomos, isto é, possuem um conjunto de competências ou prerrogativas garantidas pela constituição que não podem ser abolidas ou alteradas de modo unilateral pelo governo central. Entretanto, apenas o Estado

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federal é considerado soberano, inclusive para fins de direito internacional: normalmente, apenas estes possuem personalidade internacional; os estados federados são reconhecidos pelo direito internacional apenas na medida em que o respectivo Estado federal o autorizar.

São exemplos de Estados federais a Alemanha, Argentina, Austrália, o Brasil, o Canadá, os Emirados Árabes Unidos, a Índia, a Malásia, o México, a Nigéria, a Rússia, a Suíça e os Estados Unidos.”

Segundo Dalmo de Abreu Dallari²:

“Etimologicamente, federação (do latim foedus) quer dizer pacto, aliança. O Estado Federal é, portanto, uma aliança ou união de estados...São as seguintes as características fundamentais do Estado Federal:

A união faz nascer um novo Estado e, concomitantemente, aqueles que aderiram à federação perdem a condição de Estados....

Na federação não existe direito de secessão. Uma vez efetivada a adesão de um Estado este não pode mais se retirar por meios legais....

Só o Estado Federal tem soberania....

No Estado Federal as atribuições da União e as das unidades federadas são fixadas na Constituição, por meio de uma distribuição de competências. Não existe hierarquia na organização federal, porque a cada esfera de poder corresponde uma competência determinada....Modernamente, tornou-se comum a atribuição de competências concorrentes, ou seja, outorga de competência à União e às unidades federadas para cuidarem do mesmo assunto, dando-se precedência, apenas nesse caso, à União. A regra, portanto, no Estado Federal é a distribuição de competências, sem hierarquia. Assim sendo, quando se tratar de assuntos de competência de uma unidade federada, esta é que pode legislar sobre o assunto, não a União, e vice-versa....

A cada esfera de competências se atribui renda própria. Este é um ponto de grande importância. Como a experiência demonstrou, e é óbvio isso, dar-se competência é o mesmo que atribuir encargos. É indispensável, portanto, que se assegure a quem tem os encargos uma fonte de rendas suficientes, pois do contrário a autonomia política se torna apenas nominal, pois não pode agir, e agir com independência, quem não dispõe de recursos próprios. O poder político é compartilhado pela União e pelas unidades federadas. Existe um governo federal, do qual participam as unidades federadas e o povo, e existem governos estaduais dotados de autonomia política, podendo fixar sua própria orientação nos assuntos de seu interesse, desde que não contrariem a Constituição federal. Para assegurar a participação dos Estados no governo federal foi constituído o poder legislativo bicameral. O Senado é o órgão de

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representação dos Estados, sendo praxe, embora haja algumas exceções, assegurar-se a todas as unidades federadas igual número de representantes. Na outra Casa do poder legislativo é o próprio povo quem se faz representar....

Os cidadãos do Estado que adere à federação adquirem a cidadania do Estado Federal e perdem a anterior.... A Constituição federal estabelece os direitos básicos dos cidadãos, que as unidades federadas podem ampliar, não restringir.”

Como descrito, a distribuição de competências e as atribuições da União e das unidades federadas são fixadas na Constituição. A Constituição é, em linhas gerais, um conjunto de regras com base nas quais os relacionamentos são ordenados. Ela é como um acordo, um pacto dentro da federação. Pode-se considerá-la o início do Pacto Federativo. Ela também dita os direitos básicos dos cidadãos. Cabe agora definir o que é cidadania para melhor entendimento das regras estabelecidas, das funções do Estado e do Pacto Federativo.

“Cidadania significa a efetiva possibilidade do indivíduo tomar parte, por vias diretas ou indiretas, nas decisões coletivas que afetam a sua vida e o seu destino. Em outras palavras, significa o direito e a capacidade dos membros de uma sociedade de interferirem no próprio Direito, ou seja, na formulação e execução das leis. Em troca deste direito, o indivíduo se compromete a contribuir, de alguma forma, para com o bem estar da coletividade.

....a cidadania é uma relação de direitos e deveres.... para com o conjunto dos cidadãos e das pessoas jurídicas por eles instituídas.” ³

Dentre os direitos pode-se enumerá-los da seguinte forma:

1 – Direitos civis

- “garantia da segurança (vida e integridade física), liberdade (de ir e vir, de crença, de opinião e de fazer tudo o que não fosse proibido) e de propriedade (de trabalhar, de comprar e vender bens e serviços, de desfrutar e de acumular os bens adquiridos).”

2 - Direitos políticos

- “direito de associar-se, de manifestar e divulgar opinião, de votar e de ser votado, de participar e influir nas decisões.”

3 – Direitos sociais

- “direito à instrução e educação, à proteção contra situações de vulnerabilidade ou dependência de longa duração (velhice, invalidez) ou de curta duração (doença, maternidade, desemprego) e vários outros - como renda mínima, alimentação, saúde, habitação, etc”

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4 – Direitos entendidos após transformações mundiais recentes

- direito de “proteção à intimidade e à família, ...à proteção contra a exploração infanto-juvenil, ... direitos ambientais, ... direitos ao patrimônio histórico-cultural das nações, ... direito ao patrimônio econômico público, ou – em palavras mais simples – o direito à “coisa pública” ...(conjunto de bens patrimoniais e recursos financeiros originados dos impostos pagos pelos cidadãos sendo, por isso, propriedade da coletividade e compreende tudo o que é público, inclusive a educação, a cultura, a ciência e a tecnologia, o meio ambiente, etc.)” ³

Quanto aos deveres dos cidadãos tem-se:

1 – Obedecer às leis estabelecidas – “obrigação de todos de contribuir para a manutenção da ordem que viabiliza a coexistência coletiva, reduzindo os custos da coerção;”

2 – contribuir, com trabalho, “para as atividades de defesa pública, tanto externa quanto de defesa civil, nos casos de calamidade ou emergência pública;

3 – contribuir financeiramente para as atividades de interesse comum da coletividade. Na prática, corresponde ao pagamento de impostos destinados a prover recursos para ... tornar exequível o exercício de todos os direitos de cidadania; e para promover o desenvolvimento social. .... é o que viabiliza todos os serviços e bens oferecidos pelo Estado à sociedade: saúde, educação, segurança, reforma agrária, cultura, proteção ambiental, e muitos outros”

4 – de controle social – que é um híbrido de dever e direito – é o “dever de rejeitar, denunciar e combater a corrupção, o nepotismo, os privilégios corporativos, as transferências ilegítimas (ainda que legais) de recursos públicos, a exclusão social, a violação dos direitos humanos, a baixa qualidade de bens e serviços oferecidos a população, etc”. É também o “dever de participar ativamente na escolha dos dirigentes das organizações, na formulação das suas políticas e no acompanhamento e avaliação dos resultados.” ³

Como todo relacionamento humano, existem críticas e elogios ao Pacto Federativo que pode-se relacionar como vantagens e desvantagens:

Vantagens da Federação

“Dificulta a concentração de poder e com isso a formação de governos totalitários, assegurando oportunidades mais amplas de participação no poder político, pois aqueles que não obtiverem ou não desejarem a liderança federal poderão ter acesso aos poderes locais....

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...Favorece a preservação das características locais, reservando uma esfera de ação autônoma a cada unidade federada....

...É considerado mais favorável à defesa das liberdades do que o Estado centralizado. ...

...É mais democrático, pois assegura maior aproximação entre governantes e governados, uma vez que o povo tem sempre acesso mais fácil aos órgãos do poder local e por meio deste influi sobre o poder central....

...Promove a integração, transformando as oposições naturais em solidariedade.” ²

Desvantagens da Federação

“Dificulta, e às vezes impede mesmo, a planificação para aproveitamento mais adequado e eficiente dos recursos sociais, econômicos e financeiros disponíveis, pois é constitucionalmente impossível obrigar uma unidade federada a enquadrar-se num plano elaborado pela União. “ ²

“Provoca a dispersão dos recursos, uma vez que obriga à manutenção de múltiplos aparelhos burocráticos, sempre dispendiosos e desejando executar seus próprios planos. tende a favorecer a ocorrência de conflitos jurídicos e políticos, pela coexistência de inúmeras esferas autônomas, cujos limites nem sempre podem ser claramente fixados.” ²

Os que são contra a organização federativa “entendem que o Estado Federal é inadequado para a época atual, em que, para atender a solicitações muito intensas, é necessário um governo forte” (no Brasil o Governo Federal tende a criar impostos para aumentar a sua autonomia).

O ponto crítico da organização federativa reside, precisamente, no governo federal, pois na prática é impossível assegurar-se a todas as unidades federadas uma participação exatamente igual no exercício do poder político.

“Apesar das críticas feitas, vê-se que há, no mundo atual, acentuada tendência para a organização federativa. Isso pode ser explicado pela conjunção de dois fatores, numa simbiose aparentemente ilógica e até contraditória. De um lado, procura-se a federação para aumentar o poder dos Estados. A necessidade de ação intensa e planificada, bem como as exigências de serviços e o custo de uma organização militar eficiente, tudo isso exige recursos que os pequenos Estados não podem obter sozinhos e a federação, propiciando a conjugação de esforços, permite a integração dos Estados em unidades que são naturalmente mais fortes, em todos os sentidos.” ²

Novamente recorremos às palavras de Dallari: “Outra razão de prestígio do Estado Federal é que ele preserva os particularismos. O Estado que adere a

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uma federação não precisa abrir mão de seus valores, nem modificar suas características. E é isso justamente que se considera conveniente: o Estado se torna integrante de uma unidade mais poderosa, convivendo, dentro da federação, em condições de igualdade com os demais integrantes, cada um preservando suas peculiaridades sócio-culturais” ²

“...é preciso considerar que a federação, quando autêntica, exige o tratamento igual de todos os componentes, o que na prática pode ser um mal, criando uma solidariedade forçada e meramente formal. Isto porque a igualdade jurídica, se imposta onde não há igualdade de fato, é o começo da injustiça” ²

Partindo das colocações anteriores, pode-se entender que, novamente o ser humano, no Pacto Federativo, chamado de cidadão, usa de sua capacidade de aprendizado para desenvolver outro processo de convivência.

Deve-se ressaltar que os cidadãos devem participar ao máximo da dinâmica do Estado, exercendo seu dever/direito de controle social e, assim contribuírem com o convívio em grupo, não deixando margem para que outros influenciem na tomada de decisão quanto a assuntos de seu interesse. Os interessados são aqueles que têm mais a contribuir e serão os maiores influenciados com os resultados, sejam positivos ou negativos.

Autor: Carlos Alberto José Corrêa. ([email protected])

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Bibliografia

¹ Costa, Maria Cristina Castilho. “Sociologia: Introdução à ciência da sociedade” São Paulo, Moderna 3ª edição, 2005.

² DALARI, Dalmo de Abreu. “Elementos de Teoria Geral do Estado” - 2ª edição, 1998, Saraiva.

³ Rocha, William Lima. apostila do curso Governo e Administração Pública; out/2010

BARBOSA, Leon Victor de Queiroz. “Guerra fiscal: ataque ao pacto federativo brasileiro”. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 281, 14 abr. 2004.

Constituição Federal

http://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil , 14/nov/2010

http://pt.wikipedia.org/wiki/Federa%C3%A7%C3%A3o – 21/nov/2010

http://www.coladaweb.com/sociologia/sociedade 14/nov/2010

http://portal.cnm.org.br/sites/9000/9070/Estudos/PoliticaeEleicoes/pacto_federativo.pdf