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IX Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos de Defesa Forças Armadas e Sociedade Civil: Atores e Agendas da Defesa Nacional no Século XXI 06 a 08 de Julho de 2016 Área Temática: AT7 Segurança Internacional e Defesa Painel: P47 Defesa Global I ENTRE A COMPETIÇÃO ESTRATÉGICA E A COOPERAÇÃO: AS RELAÇÕES ENTRE CHINA E ÍNDIA NO INDOPACÍFICO Osvaldo Alves Pereira Filho Universidade Federal do Rio Grande do Sul Erik Herejk Ribeiro Universidade Federal do Rio Grande do Sul Florianópolis 2016

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IX Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos de Defesa

Forças Armadas e Sociedade Civil: Atores e Agendas da Defesa Nacional no Século XXI

06 a 08 de Julho de 2016

Área Temática: AT7 Segurança Internacional e Defesa

Painel: P47 ­ Defesa Global I

ENTRE A COMPETIÇÃO ESTRATÉGICA E A COOPERAÇÃO: AS RELAÇÕES

ENTRE CHINA E ÍNDIA NO INDO­PACÍFICO

Osvaldo Alves Pereira Filho

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Erik Herejk Ribeiro

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Florianópolis

2016

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Entre a Competição Estratégica e a Cooperação: As Relações entre China e Índia no Indo­Pacífico

Osvaldo Alves Pereira Filho e Erik Herejk Ribeiro

Resumo

O objetivo deste estudo é analisar as interações políticas e securitárias entre China e Índia

na região do Indo­Pacífico. Atualmente, com o crescimento econômico da Ásia no período

pós­Guerra Fria e a emergência de potências regionais com maior projeção, mormente

China e Índia, observa­se o surgimento de um amplo espaço geoestratégico de interação

regional, o Indo­Pacífico. No Oceano Índico, a Índia tem reforçado seu interesse em

estabelecer o controle do mar, enquanto a China depende destas linhas marítimas de

comunicação para a sua segurança energética e para manter seu fluxo de exportações. No

Pacífico, a Índia começa a se oferecer como um parceiro para os países do Sudeste

Asiático e para o Japão. Desta forma, a ascensão de China e Índia aumenta os potenciais

focos de atrito, de modo que emerge a necessidade em se buscar arranjos institucionais

que levem à mitigação de suas desconfianças mútuas. Será utilizada a literatura sobre

Regimes de Segurança para problematizar a insegurança entre Estados e os eventuais

interesses em superar esta condição. A busca por regimes e códigos de conduta no

Indo­Pacífico pode aproximar diferentes visões econômicas e securitárias e diluir a

percepção de ameaça. Tomando como exemplo a recente adesão da Índia como membro

da Organização para a Cooperação de Xangai (OCX), China e Índia poderiam estender a

sua cooperação também no âmbito marítimo. Do ponto de vista da integração econômica, a

confluência entre os espaços do Índico e do Pacífico ocorre por intermédio do projeto

ASEAN+6. Na questão infraestrutural, a China capitaneia a iniciativa "One Belt, One Road",

que possui versões de interligação marítima (Rota da Seda Marítima) e da massa

continental eurasiática (Cinturões de Prosperidade). Apesar dos esforços iniciais de

aproximação, observa­se a falta de mecanismos securitários de cooperação, que poderiam

conferir maior estabilidade às relações sino­indianas.

Palavras­chave: Relações Internacionais da Ásia. Indo­Pacífico. Regimes de Segurança.

China. Índia.

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1. Introdução

O presente estudo tem por finalidade debater a evolução recente das relações entre

China e Índia em sua macrorregião (o Indo­Pacífico). Observa­se dinâmicas simultâneas de

competição estratégica e de cooperação. Por um lado, há as tensões históricas, a

nuclearização, as modernizações militares, a expansão do perímetro defensivo e o aumento

de missões das Forças Armadas dos dois países. Em suma, nota­se o aumento de suas

ambições e preocupações securitárias no Indo­Pacífico, gerando desconfiança mútua e

possibilidade constante de atrito. Por outro lado, China e Índia vivem um momento de

pragmatismo e cooperação. Seu interesse maior é a estabilidade securitária, que possibilita

ganhos econômicos mútuos a partir de maior conectividade entre sub­regiões e dos projetos

de integração aberta liderados pela ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático) . 1

Contudo, a partir de uma leitura realista de regimes de segurança, o Dilema de

Segurança presente nas relações sino­indianas não é resolvido somente pelo aumento da 2

interdependência entre os dois países. Deve haver um entendimento mútuo de regras e

normas de conduta pelas quais ambos renunciam a posturas mais assertivas no campo

securitário para manter a estabilidade e evitar escaladas em possíveis conflitos.

Desta forma, analisa­se neste trabalho as estratégias de China e Índia, trazendo

seus interesses e prioridades para a segurança regional. Posteriormente, a análise da

evolução da cooperação regional demonstra como os dois países ainda têm dificuldades em

estabelecer laços mais fortes no âmbito securitário, apesar do considerável progresso nas

relações e projetos econômicos. Sugere­se, de forma preliminar, a cooperação marítima

como ponto focal para a construção de confiança nas relações sino­indianas.

No período pós­Guerra Fria, China e Índia retomaram suas relações sobre bases de

um pragmatismo econômico e do realinhamento político global. A proliferação de

organizações internacionais e de coalizões de geometria variável também favoreceu a

convergência em torno de temas de interesse comum. Pode­se citar, como exemplos, os

casos do grupamento BRICS e do G20 . Contudo, apesar do momento favorável para as 3 4

1 Association of Southeast Asian Nations (ASEAN): Associação regional formada em 1957, possui atualmente 10 Estados­membros. Estes são: Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Singapura, Tailândia e Vietnã. Além desse núcleo, a ASEAN estabeleceu uma série de fóruns de coordenação com outros países, incluindo a ASEAN+3, ASEAN+6 e o Fórum Regional da ASEAN (Asean Regional Forum). 2 O Dilema de Segurança ocorre quando as medidas tomadas por um Estado para aumentar sua segurança acabam diminuindo a segurança relativa de outro Estado. 3 BRICS ­ O acrônimo BRIC foi criado em 2003 por Jim O’neill, economista do banco Goldman Sachs, para referir às quatro maiores economias emergentes: Brasil, Rússia, Índia e China. Gradativamente estes países apropriaram­se do conceito e criaram um arranjo de cooperação política informal, que

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relações sino­indianas no início deste Século XXI, permanecem ainda elementos estruturais

da rivalidade que impedem uma parceria mais profunda. A exploração das fragilidades

territoriais na Caxemira e no Tibete é tema central nos cálculos securitários de ambos. Além

disso, o objetivo principal da parceria sino­paquistanesa sempre foi (e ainda é) manter o

equilíbrio regional no Sul da Ásia, pondo em cheque a liderança indiana na região

(GARVER, 2001; MALIK, 2012).

Devido à crescente dependência dos mercados externos, a dimensão marítima da

relação sino­indiana é cada vez mais importante. As estratégias marítimas de China e Índia

indicam como os dois países se preparam na esfera securitária para lidar com eventuais

ameaças de interrupção de seus fluxos comerciais e energéticos (KAPLAN, 2011). Isto

inclui suas capacidades de projeção de força e de controle ou negação do mar.

Por fim, devido à posição geopolítica e à grandeza de China e Índia, é natural que os

dois países disputem por influência no continente asiático, especialmente nas regiões do

Sudeste Asiático, Ásia Central e Sul da Ásia. Assim, a megarregião asiática torna­se central

para o Dilema de Segurança sino­indiano. Em outras palavras, a arquitetura de segurança

asiática e os projetos de infraestrutura e integração econômica são indicadores importantes

dos padrões de competição e cooperação sino­indiana.

2. Competição e Cooperação no Dilema de Segurança

A fim de analisar as relações sino­indianas, parte­se do conceito de Dilema de

Segurança, considerado o problema fundamental na perspectiva realista das Relações

Internacionais. Na sua definição básica, as ações tomadas para aumentar a segurança de

um Estado automaticamente diminuem a segurança de outros Estados. Esta condição de

incerteza e medo gera dilemas em dois níveis (Interpretação e Resposta). No primeiro,

questiona­se os motivos, intenções e capacidades de outros Estados, enquanto o segundo

diz respeito à melhor forma de responder racionalmente ao estímulo (BOOTH; WHEELER,

2008).

Admitindo a importância do Dilema de Segurança para a rivalidade entre China e

Índia (GARVER, 2002), partimos da leitura de Robert Jervis (1982) sobre regimes de

segurança, que podem mitigar o dilema. Estes podem ser entendidos como os “princípios,

evoluiu a ponto de integrar a África do Sul ao grupo e de iniciar, em 2009, os encontros formais de Cúpula entre estes países. 4 G20 ­ Refere­se tanto ao G20 econômico, grupo que reúne as 20 principais economias do globo, quanto ao G20 comercial, criado em 2003 no âmbito das negociações da Rodada Doha da OMC. O G20 econômico ganhou importância na conjuntura da Crise econômica de 2008, que deslegitimou parcialmente o G7 enquanto locus preferencial da governança econômica mundial.

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regras e normas que permitem às nações adotarem comportamento restrito, acreditando

que outros agirão de forma recíproca” (JERVIS, 1982, p. 357). Seriam necessárias quatro

condições para o estabelecimento de um regime desta natureza: 1) As potências devem

desejar a sua criação; 2) acreditar que os outros também valorizam segurança mútua e

cooperação; 3) nenhum dos atores pode acreditar que estará mais seguro por meio de

expansão; 4) a guerra e a busca individualista por segurança devem ser vistos como

custosos (JERVIS, 1982, p. 360­362). Ao invés de considerarmos as condições e o próprio

regime de segurança como algo absoluto, determinístico, sugere­se que ambos indicam

tendências num gradiente entre competição estratégica e cooperação.

O recorte temporal definido por esta pesquisa é o período do Pós­Guerra Fria. Neste

sentido, há duas novas dinâmicas estruturais que condicionam as relações sino­indianas: a

regionalização da segurança e a emergência de um novo espaço estratégico chamado de

Indo­Pacífico.

A regionalização da segurança é fenômeno já estudado pela literatura de Relações

Internacionais (BUZAN; WAEVER, 2003). Em grande parte, a regionalização decorre da

supremacia militar dos Estados Unidos após a queda da URSS. A superioridade

estadunidense permanece inconteste mesmo no cenário atual de crise econômica. Sendo

assim, não há competidor à altura em termos de projeção de poder extra­regional. Além

disso, toda potência que reunir capacidades militares consideráveis tende a aumentar a

percepção de ameaça dos vizinhos e a gerar comportamento balanceador (DUARTE,

2013). Em suma, há fortes constrangimentos à projeção securitária global de qualquer

Grande Potência além dos EUA.

Em paralelo a esta condição estrutural, a Ásia tem experimentado um intenso

processo de crescimento econômico, abertura comercial e modernização militar. Segundo

Medcalf (2013), a emergência do espaço estratégico do Indo­Pacífico deve­se a três

tendências atuais: 1) Dependência do Leste Asiático em exportações, fluxos energéticos e

recursos naturais transportados pelo Oceano Índico; 2) a emergência estratégica da Índia

no Pacífico; 3) a presença e o papel dos Estados Unidos no Índico e no Pacífico. Barry

Buzan (2012) avança sobre o mesmo argumento, apontando que o “supercomplexo”

asiático é fruto em grande parte do emergente triângulo estratégico China­EUA­Índia.

Por conta desta maior interação no Indo­Pacífico, as estratégias e os projetos de

China e Índia estão cada vez mais confluindo para os mesmos espaços (MOHAN, 2012). A

questão principal é: Qual tipo de ordem regional emergirá deste processo? A resposta

dependerá, em grande medida, das relações sino­indianas e do papel da potência

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extra­regional (Estados Unidos). Neste estudo nos concentramos em analisar o primeiro

ponto.

Por um lado, autores como Mohan Malik (2012) apontam interesses irreconciliáveis

entre as duas potências asiáticas, que estariam fadadas à competição estratégica e ao

conflito, apesar de haver momentos de distensão. Nesta mesma linha, John Garver (2001)

aponta que haverá confronto caso a Índia não aceite se subordinar a uma ordem asiática

liderada pela China. Numa perspectiva mais otimista, Holslag (2010) e Raja Mohan (2012)

analisam como os dois países têm construído confiança e agido de forma pragmática para

maximizar os benefícios mútuos de uma relação estável, embora naturalmente competitiva.

Num continente asiático de rápidas e intensas transformações, as coalizões de

geometria variável têm prevalecido sobre um sistema rígido de alianças ao estilo da Guerra

Fria (BA, 2014). Mesmo tradicionais aliados dos EUA na Ásia não rejeitam o diálogo

securitário e a cooperação militar com a China. Poderíamos citar como exemplos a

Indonésia, a Tailândia e Singapura.

Dada a grandeza da Índia e os possíveis benefícios da cooperação com os

chineses, é difícil conjecturar uma aliança indo­americana formal de contenção à China. É

mais provável que haja um jogo de barganha e triangulação, em que cada um dos atores

tem receio em ser pressionado pela coalizão entre as outras duas partes. Embora os

problemas de relacionamento entre China e Estados Unidos sejam bastante conhecidos, a

Índia não descarta a possibilidade de um condomínio sino­americano (a exemplo das

décadas de 1970 a 1990) em detrimento dos interesses indianos (NAYAR; PAUL, 2003).

Ainda não é claro o quanto os estadunidenses estão preparados a aceitar a

multipolaridade, em detrimento de seu poder relativo. Favorecer a ascensão de um

competidor militar à altura da China e da Rússia certamente significaria abraçar mudanças

significativas no Sistema Internacional, não necessariamente favoráveis à hegemonia

americana. Da mesma forma, os indianos evitam confrontar­se diretamente com a China,

seja por suas capacidades econômicas e militares inferiores, seja pela falta de

comprometimento e incentivos claros dos EUA ou pelo próprio risco diplomático em alienar

a potência central da Ásia.

A China, por sua vez, encontra­se em uma posição geopolítica singular, cercada por

uma série regiões com conflitos latentes e por potências regionais (Coreia do Sul, Índia e

Japão), com forte presença histórica dos Estados Unidos em bases aliadas no Pacífico

Ocidental. Enfrenta ainda grande dificuldade em delimitar seu território, possuindo disputas

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com Índia, Japão, e vários países Sudeste Asiático (disputas no Mar do Sul da China ), 5

além do status não resolvido de Taiwan (NATHAN; SCOBELL, 2012).

Neste sentido, as oportunidades para cooperação sino­indiana parecem florescer

dos custos elevados da escalada das tensões bilaterais, tendo em vista o ambiente regional

pouco regulado por normas e propício à competição e à formação de conflito na Ásia.

Portanto, seguindo a leitura de Jervis (1982), o caminho para o estabelecimento de um

regime de segurança é construir confiança entre China e Índia, para que os países

progressivamente percebam o outro como disposto a abrir mão de uma política securitária

assertiva e auto­interessada em troca do benefício da paz e da estabilidade regional. Não

se pode esquecer que ambos os países ainda enfrentam problemas de legitimidade interna

e, no caso indiano, um baixo nível de desenvolvimento econômico, apesar das taxas

aceleradas de crescimento nos últimos anos. O objetivo principal de China e Índia nas

primeiras décadas do Século XXI será a superação de sua condição histórica de

subdesenvolvimento. A segurança e a defesa nacional devem, ao mesmo tempo, garantir

que nenhuma ameaça externa interrompa este processo, além de auxiliar nas estratégias

de desenvolvimento tecnológico e industrial e beneficiar a integração securitária da região.

Desta forma, uma das questões de segurança colocadas nessa nova situação de

crescimento do poder militar regional na Ásia­Pacífico está o cenário de competição

crescente e projeção de poder no Oceano Índico. Cumpre notar que o Oceano Índico é o

oceano com capacidade de projeção e envolvimento de maior número países nucleares.

Desde Israel, que pode se conectar à região através dos Estreitos de Tiran, passando por

EUA (Ilha de Diego Garcia), França , China, Paquistão, e, claro, Índia. Além disto, o fato 6

deste oceano garantir projeção em quatro regiões geopolíticas (costa oriental da África,

Oriente Médio, Sul da Ásia e Sudeste Asiático), além do intenso fluxo de comércio e de

recursos energéticos, colocam­no como uma das áreas de competição e cooperação mais

importantes neste século (KAPLAN, 2011).

5 O Mar do Sul da China abarca uma série de tensões e disputas territoriais sobre ilhas, rochas e recifes, alguns submersos durante parte do ano. Nos últimos anos, países como China e Vietnã tem buscado aumentar a extensão das ilhas sob seu domínio, além de melhorar a infraestrutura para a defesa destas possessões, como a construção de melhorar pontos de ancoragem e aeroportos. Encontram­se na região áreas disputadas pela República Popular da China, República da China (Taiwan), Brunei, Indonésia, Malásia, Vietnã e Filipinas. 6 A França deve ser considerada uma potência do Oceano Índico primeiramente pela soberania sobre as Ilhas de La Réunion e Mayotte, que garantem ao país pequenas faixas de terra mas uma significativa do Zona Econômica Exclusiva (ZEE) na região. Além disso, a França é um dos principais exportadores de sistemas de armas para os países do Golfo, como Arábia Saudita, além de possuir laços significativos com outras potência na região, como Índia e Israel (REHMAN, 2015).

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3. A estratégia da China para o Indo­Pacífico

Desde o processo de abertura e modernização iniciado por Deng Xiaoping em 1978,

a China passa por um período de intenso crescimento econômico. Gradativamente, este

fenômeno ensejou duas decorrências: primeiro, a crescente necessidade da China de

garantir a segurança das linhas marítimas de comunicação (SLOCs) por onde atravessam 7

suas exportações para outras regiões e importações de recursos primários e energéticos; e

segundo, a gradativa mudança de foco das Forças Armadas Chinesas de uma estratégia

primariamente terrestre em direção a uma crescente importância da Marinha e sua Força

Aérea. Ao mesmo tempo, o processo de crescimento econômico e de modernização

possibilitou o aumento dos recursos destinados à modernização militar do país.

Neste sentido, duas leituras principais perpassam atualmente o debate estratégico

sobre a “ascensão chinesa”. Por um lado, estão aqueles que enfatizam que a modernização

chinesa já coloca um problema sério de segurança para os demais atores da região,

incluindo os EUA. Nesta leitura, o processo de ascensão chinês seria eminentemente hostil,

e neste cenário a China passaria a atuar de maneira mais intransigente e interventora na

região (FISHER, 2010). Por outro lado, colocam­se tanto autores que não veem no

crescimento do poderio chinês uma rota determinista rumo ao aumento das tensões na

região, quanto aqueles que demonstram que o processo de modernização do país ainda

está longe de terminar (KISSINGER, 2011; CHASE et al, 2015).

Em suma, está claro que a China perpassa um processo profundo e ambicioso de

reformas e modernização que visa por fim e evitar a ressurgência de um período de

fraqueza estrutural e dominação estrangeira. Contudo, está em aberto a conformação que a

China dará para sua política externa na região, e isto dependerá, entre outros fatores, do

desenvolvimento futuro de suas relações com as outras potências regionais, como a Índia.

Recentemente, a China passou a expandir sua capacidade de projeção de poder no

Oceano Índico. Desde o início de sua participação nas missões navais de paz no Golfo de

Aden, em 2008, a China já pode empregar uma variedade de meios e plataformas, além de

aumentar sua experiência e conhecimento geográfico prático das linhas marítimas na região

(ERICKSON; STRANGE, 2013). Além disso, recentemente passaram a ocorrer patrulhas e

visitas de portos na região por submarinos chineses, causando apreensão em Nova Déli. O

principal imperativo chinês para sua presença na região é informado pelo “Dilema de

7 Linhas Marítimas de Comunicação ­ São as principais rotas por onde navegam os fluxos de comércio e transporte marítimos. Do termo em inglês SLOCs (Sea Lines of Communication).

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Malaca”, ou seja, a grande dependência da China das rotas marítimas que atravessam este

estreito que interliga o Oceano Índico ao Mar do Sul da China.

Entretanto, o envolvimento chinês no Oceano Índico não é novo. Desde a

aproximação com o Paquistão no início da década de 60, a China ganhou um aliado com

capacidade de projeção e saída para este oceano. Além disso, o envolvimento chinês na

construção de portos na região engendrou o que alguns especialistas chamaram de “Colar

de Pérolas” chinês sobre a Índia. Contudo, esta análise precisa ser matizada. 8

Primeiramente, a maior parte do investimento em portos pela China na região é feita com

intuito comercial, e não garantiria à China acesso ou sua utilização como bases militares em

um eventual conflito sino­indiano. Em segundo lugar, as eventuais bases chinesas no Índico

estariam numa posição de difícil sustentação e de alta vulnerabilidade.

Nos últimos anos, o ritmo intenso da modernização militar chinesa e,

particularmente, o comissionamento de novos submarinos e do primeiro porta­aviões do

país, além da intensificação de acordos de infraestrutura e de desenvolvimento de portos na

região do Índico levaram ao fortalecimento de uma visão de ameaça chinesa à Índia e a

outros países da região. Contudo, o enfoque securitário da China permanece vinculado à

defesa próxima do país e à resolução do impasse no Estreito de Taiwan. Recentemente,

também houve o aumento das tensões entre a China e países da ASEAN, acirrando a

competição sobre o status dos arquipélagos e ilhas no Mar do Sul da China.

Neste sentido, a Nova Estratégia Militar chinesa, lançada pelo Conselho de Estado

em 2015 trouxe pela primeira vez o conceito de “open seas protection”, em complemento à

tradicional defesa costeira (PEOPLE’S REPUBLIC OF CHINA, 2015). Se por um lado este

desenvolvimento mostra o crescente interesse chinês em temas como a defesa das SLOCs

mais distantes de sua costa, por outro demonstra que o enfoque de sua modernização

militar mantém­se ligado à sua capacidade de ação nos mares próximos como o Mar do

Leste, Amarelo e do Sul da China. Além disso, o próprio comissionamento do primeiro

porta­aviões chinês sofreu uma série de atrasos e ainda enfrenta problemas como a

integração dos vetores aéreos. Não está claro qual será o ritmo de construção de novos

porta­aviões na medida em que o próprio país ainda precisa lidar com a curva de

aprendizado de operacionalização deste meio e sua integração em grupos de combate.

Nos últimos anos acirram­se as disputas históricas entre China e outros países da

região acerca das fronteiras marítimas no Mar do Sul da China. A situação do pós­Guerra

8 “Colar de Pérolas” ­ O termo surgiu inicialmente em um relatório de consultoria da empresa Booz Allen Hamilton para o Departamento de Defesa dos EUA. A ideia transmitida é de que a China estaria promovendo um cerco à Índia pela construção de portos, bases navais e instalações de inteligência, reconhecimento e vigilância em países parceiros no Oceano Índico, como Bangladesh, Mianmar, Paquistão e Sri Lanka.

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Fria era de relativa tranquilidade e abertura à resolução pacífica das controvérsias, como

demonstrado pela assinatura do Código de Conduta do Mar do Sul da China (2002) pela

China e os países da ASEAN, além do acordo de fronteira marítima China­Vietnã no Golfo

de Tonkin (2000). No entanto, uma série de encontros entre forças marítimas destes países

tem aumentado as tensões. Em paralelo a estes choques, há a construção de novos

aeródromos e até mesmo a instalação de uma rede de mísseis antiaéreos (baterias HQ­9)

pela China em 2015, na ilha Woody, localizada no arquipélago das ilhas Paracell (FISHER,

2015). Ainda, emerge uma nova situação de aproximação entre os EUA e o Japão aos

países do Sudeste Asiático, que buscam no aprofundamento destas parcerias uma forma

de contrabalancear o poderio chinês na região.

Por outro lado, a China segue realizando incursões diplomáticas para aplacar a

insatisfação dos seus vizinhos ao mesmo tempo em que busca garantir seu controle sobre

as SLOCs na região . Importa ainda para a China a capacidade de proteção da base naval 9

estratégica de Yulin ­ localizada na ilha de Hainan ­ onde estão posicionados alguns de

seus submarinos nucleares. Contudo, quaisquer que sejam os desdobramentos, é

improvável que a situação se estabilize o suficiente nos próximos anos a ponto de a região

deixar de ser um gargalo na política externa e de segurança da China, dificultando qualquer

decisão chinesa em aumentar sua presença e capacidade de ação no Oceano Índico.

Neste sentido, a presença chinesa deve intensificar­se nas áreas em torno dos

Mares do Leste e Amarelo e do Mar do Sul da China. Este cenário estaria de acordo com os

principais riscos percebidos à soberania territorial chinesa, além de condizer com a

estratégia chinesa de A2/AD , com o intuito de evitar a ingerência de uma potência externa 10

no seu entorno estratégico, notadamente os Estados Unidos (COLE, 2013).

4. A estratégia da Índia para o Indo­Pacífico

Historicamente, a Índia observa seu entorno estratégico como sua esfera de

influência civilizacional, numa área que abrange o Sul da Ásia, parte do Sudeste Asiático e

alguns países insulares do Oceano Índico. Os indianos sempre pensaram a defesa de seu

território com base nas experiências de invasões terrestres a partir do Afeganistão. A

9 Indicador disso é a recente reunião, ocorrida no dia 14 de junho de 2016 entre China e dez países da ASEAN para abrandar as tensões no Mar do Sul da China. A crescente dificuldade nestas relações foi demonstrada pelos problemas relativos à declaração conjunta das partes. 10 A2/AD ­ Acrônimo para anti­acess/area denial. Referem­se a vetores capazes de evitar a ação de uma potência externa em determinada região, ou a vetores que dificultem a ação desta potência quando já dentro do teatro de guerra. Apesar da China não adotar este termo em sua doutrina, os sistemas de armas presentes em sua modernização são condizentes com uma estratégia de A2/AD.

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colonização britânica influenciou o pensamento indiano, no sentido de aprofundar a defesa

territorial também por meio do controle do Oceano Índico e de seus estreitos de entrada e

saída (BREWSTER, 2010).

Desde a sua independência, a Índia se posiciona de forma contrária à interferência

de potências externas nos assuntos regionais e internos de cada país no Sul da Ásia. No

entanto, a fragilidade material indiana e o contexto da Guerra Fria impediram seu

protagonismo inicial. No momento em que a Índia buscou a hegemonia regional por meio do

Tratado de Amizade com a União Soviética e da guerra de independência de Bangladesh 11

(1971), a coalizão China­EUA­Paquistão retomou o equilíbrio indo­paquistanês, sobretudo

na conjuntura da Guerra do Afeganistão (1979­89).

No período pós­Guerra Fria, observa­se duas dinâmicas complementares da política

externa e de segurança da Índia para a Ásia: (1) Construção de meios diplomáticos e

militares para garantir a hegemonia no Oceano Índico; (2) a tentativa de balancear a

presença da China no Sudeste Asiático. O objetivo final é, por um lado, possuir capacidades

condizentes com sua intenção declarada em tornar­se uma grande potência, assumindo

papel de liderança regional e superando o tradicional entrave paquistanês a seu

protagonismo. Numa escala mais ampla, a Índia procura elementos de barganha para a

construção da ordem regional no Indo­Pacífico, pois, de outra forma, estaria subordinada às

agendas da China ou dos Estados Unidos.

No plano estratégico, como mencionado anteriormente, a Índia busca uma condição

de dissuasão nuclear e de capacidades retaliatórias, aproximando­se da Tríade Nuclear . A 12

escolha em apontar a China como principal ameaça, em carta do Primeiro Ministro

Vajpayee ao presidente Bill Clinton logo após seu teste nuclear , buscou sinalizar aos EUA 13

11 A União Soviética e a República Popular da China assinaram um Tratado de Amizade e Cooperação em 1950, este ainda herdeiro de um Tratado semelhante assinado já em 1946, durante o governo nacionalista na China. Contudo, apesar deste Tratado nunca ter sido denunciado, na prática já não se encontrava em vigor desde a chamada ruptura sino­soviética de 1960. Em 1971, a viagem de Henry Kissinger à China marcou o início da aproximação sino­americana e a chamada triangulação, que visava à contenção da URSS. É neste cenário que ocorre o aprofundamento da cooperação entre União Soviética e a Índia e a assinatura do Tratado entre os dois países em 1971. 12 A Tríade Nuclear refere­se às três formas clássicas de emprego do uso da força nuclear, referindo­se à meios aéreos (bombardeiros), mísseis balísticos de alcance intercontinental (ICBMs, do inglês Intercontinental Ballistic Missiles) e mísseis balísticos lançados por submarinos (SLBMs, do inglês Submarine­Launched Ballistic Missiles). 13 O primeiro teste nuclear indiano, declarado como uma “explosão nuclear pacífica” (pacific nuclear explosion) foi realizado no ano de 1974. Em 1998, o país abandonou a ambiguidade e se declarou como potência nuclear ao realizar o teste Pokhran II. Poucos dias depois, o Paquistão também realizou seus testes nucleares.

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a intenção indiana de atuar como contrabalança regional à China, em uma conjuntura de

incremento das tensões entre China e EUA no Leste Asiático . 14

Atualmente, a Índia se apresenta cada vez mais no papel de provedor de segurança

e de estabilidade no Indo­Pacífico, propondo­se como alternativa à lógica da dicotomia

sino­americana. Em primeiro lugar, os indianos veem seu futuro cada vez mais ligado à

economia mundial, especialmente ao seu novo polo dinâmico no Leste Asiático. O futuro da

economia indiana depende em grande medida dos suprimentos energéticos do Oriente

Médio e da integração nas cadeias produtivas macrorregionais. O papel das Forças

Armadas no Indo­Pacífico, portanto, seria o de garantir os fluxos comerciais regionais,

defendendo os mares próximos e os estreitos.

A partir da Estratégia Marítima de 2009, a Marinha Indiana expandiu oficialmente

sua área de preocupação primária, englobando o Mar Arábico e a Baía de Bengala. Além

disso, o país adota o conceito de Vizinhança Estendida para delimitar as áreas de interesse

securitário (ou seja, onde teria disposição a se envolver militarmente) (SCOTT, 2009). Esta

área operacional tem seus limites ocidental e oriental no Canal de Suez e no Mar do Sul da

China, respectivamente. Em relação à China, os indianos possuem a vantagem de contar

com uma base avançada nas ilhas Andaman e Nicobar, posicionadas próximo ao Estreito

de Malaca . 15

Atualmente, a Índia possui meios dissuasórios sobrepostos apenas em uma faixa

mais próxima a seu litoral. Para além do Sul da Ásia, suas capacidades operacionais podem

aumentar os custos da entrada do inimigo em sua área vital. Portanto, apesar do interesse

em atuar nos estreitos mais distantes do Índico e além, é mais prudente afirmar que a Índia

desfruta de capacidade de negação de acesso/área (A2/AD) e de interdição apenas em sua

região (NEVES, 2015). Mesmo assim, isso implica na possibilidade de influenciar as linhas

logísticas por meio de um eventual bloqueio marítimo, aumentando seu poder dissuasório.

A Doutrina Marítima da Índia parece estar de acordo com suas capacidades atuais.

Suas missões incluem, entre outros, a dissuasão convencional e nuclear contra Estados do

Sul da Ásia e o aumento do custo da intervenção de potências externas. Contudo, a

Marinha reconhece que a tarefa de controle dos pontos de entrada e saída do Índico ainda

14 Entre 1995 e 1996, ocorreu a chamada Terceira Crise do Estreito de Taiwan. Nesta crise, a China realizou testes de mísseis balísticos próximos à costa taiwanesa com o intuito de mostrar uma posição de força em relação à Taiwan às vésperas do calendário eleitoral na ilha. A China mostrava­se desagravada com a viagem do presidente Lee­Teng Hui aos EUA, no qual este sinalizara as intenções pró­independência de Taiwan. Em resposta à diplomacia coercitiva chinesa, os EUA enviaram, em 1996, dois grupos de porta­aviões para a região do Estreito de Taiwan, como sinalização contundente da disposição norte­americana de defender a ilha. A China vê a atuação norte­americana na situação do Estreito como uma intromissão em sua guerra civil inconclusa. 15 Nos últimos anos, a Índia também tem adquirido experiência operacional no Oceano Pacífico por meio do Exercício Malabar, em conjunto com Estados Unidos, Japão e outros países.

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não é uma realidade, mas uma expectativa para o futuro (HOLMES; WINNER;

YOSHIHARA, 2009).

Em relação ao ordenamento político regional no Sul da Ásia, a Índia enfrenta

resistência de seus vizinhos devido a seu grande poder relativo. Nas últimas décadas, as

disparidades econômicas e militares tem aumentado, dificultando a construção de confiança

com o Paquistão (GARVER, 2001). Em sua própria região, a Índia parece ter abandonado

temporariamente a ideia de uma integração regional fechada por meio da SAARC (South

Asian Association for Regional Cooperation). Para avançar seus interesses securitários e

geopolíticos, os indianos expandiram sua noção de Vizinhança Próxima para englobar os

países costeiros do Oceano Índico. O resultado é a formação de novos grupos de diálogo

securitário e econômico. Importa mencionar, por exemplo, o Indian Ocean Five (IO­5),

representado por Índia, Ilhas Maurício, Maldivas, Seychelles e Sri Lanka. Os quatro países

insulares gravitam historicamente na esfera de influência indiana, recebendo equipamentos

militares e, em troca, oferecem suas bases navais e suas águas territoriais para a instalação

de radares e sonares, por exemplo. Sua importância remonta ao antigo império britânico,

que priorizava justamente o controle de pontos de tráfego marítimo para obter controle dos

oceanos.

Devido à resistência dos vizinhos menores, a Índia tem proposto iniciativas

multilaterais de geometria flexível. Já na década de 1990, os indianos buscaram

aproximar­se do Sudeste Asiático com o lançamento da política do Look East (Olhar para o

Leste). Assim, as relações econômicas e políticas com a região cresceram

substancialmente, destacando­se a formalização da parceria institucional com a ASEAN e a

emergência de cooperação militar com países como Singapura, Mianmar e Vietnã. Segundo

Scott (2013), a participação da Índia no Sudeste Asiático é evidência clara de que há um

interesse em contrabalançar a presença chinesa no Sul da Ásia. Neste caso, um possível

aprofundamento da parceria econômica e militar com o Vietnã, por exemplo, significaria um

contrapeso às relações especiais da China com o Paquistão.

5. A Proliferação de submarinos e a evolução da Tríade Nuclear na região

Os históricos problemas de fronteira e as disputas entre China e Índia nos países em

sua periferia, além da geografia irregular a altiplana da região, tendeu a colocar em

evidência a importância das modernizações nos exércitos, forças aéreas e na capacidade

logística dos dois países em sua dinâmica securitária. A guerra limitada de 1962 é exemplo

desta condição estratégica, onde a China conseguiu manter uma vantagem militar através

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do melhor uso do terreno e melhor preparação logística (WORTZEL, 2003). As “lições”

desta guerra reverberaram na Índia sobretudo no que dizia respeito a sua capacidade de

ação nos altiplanos, buscando melhorar as capacidades de sua Força Aérea tanto em

superioridade aérea quanto em capacidade de transporte estratégico. Contudo, a

modernização militar das duas nações e sua crescente dependência tanto das linhas

marítimas de comunicação (SLOCs) quanto do espaço sideral, em termos de consciência

de situação, comunicações militares e capacidades estratégicas, vem deslocando a

competição militar entre os dois países da esfera anteriormente limitada às suas fronteiras.

Neste sentido, a própria Marinha Chinesa pode aumentar sua importância dentro da

estrutura das Forças Armadas. Gradativamente, o país passou a reduzir o efetivo de seu

exército, que visava uma doutrina intensiva no uso da guerra popular, em direção a um

perfil de forças mais equilibrado entre as diferentes forças. A relevância da modernização

naval do país respondia tanto à necessidade de salvaguardar as linhas marítimas de

comunicação ­ em um cenário de crescimento econômico médio de 10% ao ano baseado

sobretudo no modelo exportador ­ e da própria segurança do litoral chinês em um novo

ambiente de alta tecnologia . 16

Paralelo a estes desenvolvimentos, a própria componente estratégica­nuclear

chinesa vem passando por um processo lento mas constante rumo a sua modernização.

Além do próprio desenvolvimento da China enquanto potência, concorre para sua

modernização a sensação de insegurança pelos desenvolvimentos no pós­Guerra Fria do

Escudo Antimíssil norte­americano. Neste sentido, a possibilidade de que a constituição do

Escudo Antimíssil remove a frágil capacidade chinesa de retaliar um ataque nuclear a seu

território (capacidade de segundo ataque ), engendrando um forte incentivo de modernizar 17

seu aparato estratégico a ponto de preservar sua capacidade retaliatória (BIN; HONGYI,

2008).

Dessa forma, se por um lado estima­se que o estoque chinês de ogivas nucleares

manteve­se relativamente regular desde o final da Guerra Fria, por outro a

operacionalização de novos sistemas e meios de entrega vem efetivamente aumentando a

confiabilidade da sua capacidade estratégica. Concorre neste sentido a eminente

operacionalização do míssil balístico lançado de submarino Julang­2, ao mesmo tempo em

que uma nova classe de submarinos lançadores de mísseis balísticos entra em serviço, a

Classe Jin (Type­94) (DoD, 2016).

16 A China adota, desde a revisão de sua doutrina após a Guerra do Golfo, o conceito de “Guerra Local em Condições de Informatização”. 17 Capacidade de segundo ataque (second­strike capability) ­ Refere­se à capacidade de um país, após sofrer um ataque nuclear, conseguir responder nuclearmente a este primeiro ataque. Esta é a base das doutrinas de dissuasão mútua.

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Contudo, ao mesmo tempo em que o desenvolvimento estratégico chinês responde

ao desafio de manter uma força nuclear retaliatória crível, esta própria modernização passa

a gerar novas tensões e insegurança em outros países da região. Neste sentido, a Índia

atualmente passa por seu próprio processo de modernização estratégica, com a

operacionalização de novos mísseis balísticos internacionais capazes de alcançar Beijing,

além de novos submarinos nucleares capazes de entregar mísseis balísticos.

Desde o teste de 1998, as capacidades indianas de entrega nuclear têm se

desenvolvido. O programa do míssil balístico Agni naquele momento possuía apenas a

primeira versão com alcance entre 700 e 1250 km. Atualmente, o Agni IV (alcance de até

4000 km) já está em operação e o Agni V (acima de 5000 km) está em fase de testes.

Ainda, é digna de menção a introdução recente do novo submarino nuclear Arihant,

conferindo à Índia uma capacidade crível de segundo ataque (ou retaliação).

Por sua vez, a modernização estratégica e as disparidades em capacidade

convencional indiana em relação ao Paquistão leva este também a um rápido

desenvolvimento das capacidades estratégicas paquistanesas. O Paquistão é atualmente o

país que mais intensamente vem operacionalizando novas ogivas nucleares, além de

manter em aberto a possibilidade de primeiro uso nuclear, dificultando ainda mais os

cálculos e o frágil equilíbrio estratégico na região.

Em paralelo às modernizações estratégicas, a noção de que as modernizações

navais são parte crucial dos mecanismos de proteção costeira e de projeção de poder no

presente século leva a uma significativa proliferação submarinos convencionais

(diesel­elétricos) e de propulsão nuclear, além do comissionamento de novos combatentes

de superfície, como destróieres e fragatas (O’ROURKE, 2016). Há também a busca pela

parte da China e da Índia de comissionar novos porta­aviões, o que também indica a

ampliação, ainda que incipiente, da capacidade de constituição de marinhas de águas

azuis. Estas dinâmicas de modernização engendram novos possibilidades de atrito sobre o

alcance dos interesses e da capacidade de ação securitária de ambos os atores, tornando

ainda mais urgente a constituição de mecanismos de dirimição de controvérsias e de

coordenação marítima entre estes dois atores.

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6. As relações sino­indianas e a evolução da cooperação regional

O novo regionalismo na Ásia é influenciado tanto por elementos sistêmicos quanto

da própria dinâmica regional. Caso exemplar é o da OCX , que nasce em uma conjuntura 18

de ascensão do neoconservadorismo norte­americano e da própria saída dos EUA do

Tratado ABM . Neste sentido, pode­se afirmar a importância que a ameaça de caráter 19

sistêmico (o Escudo Antimíssil norte­americano) teve para ancorar o processo de

aproximação securitária entre Rússia e China, resultando na criação da OCX em 2001.

Paralelo a estes desdobramentos, a recente entrada de Índia e Paquistão na Organização

demonstra a crescente interdependência securitária regional, conformando um novo

sistema asiático integrado que une Sul da Ásia, Leste Asiático e Ásia Central até a Rússia.

Em meio a este cenário de crescente interação estratégica entre as outrora

estanques subregiões asiáticas, surgem novos projetos de integração infraestrutural e

econômica patrocinados pelas potências asiáticas em ascensão. A China tem se disposto a

progressivamente exportar capitais para o financiamento de obras e empreendimentos na

região, gradativamente institucionalizando sua política oficial sob nomes como “Cinturões de

Prosperidade”, “Nova Rota da Seda”, e que foram recentemente unidas sob a denominação

de “One Belt, One Road”. Paralelo a isto, o surgimento de mecanismos subjacentes de

financiamento, como o Fundo para a Nova Rota da Seda e o Novo Banco Asiático de

Infraestrutura demonstram a seriedade com o qual a China vem buscando liderar um novo

paradigma para a região, em parte em contraposição ao velhos mecanismos como o próprio

Banco Asiático de Desenvolvimento (BRITES; JAEGER, 2016).

Contudo, se por um lado ocorre hoje uma maior interdependência econômica e

celebração do interesse chinês em financiar obras estruturais na região, por outro há uma

crescente ansiedade de muitos países locais sobre uma possível dependência econômica

em relação à China, além da possibilidade desta tornar­se gradativamente menos flexível

em seus conflitos com os países vizinhos. É sob esta lente que deve­se perceber os

anseios de muitos países da ASEAN em aprofundar a aproximação com outros atores

regionais e extra­regionais, tais como Índia, Japão e EUA, de modo a contrabalançar a

18 OCX ­ Organização para a Cooperação de Xangai. Inicialmente, foi criada com o objetivo principal de resolver os problemas de fronteira entre China e Rússia, trazendo consigo o gerenciamento da Ásia Central pós­soviética. Com a mudança na política externa americana durante o governo Bush (2001­2008), a OCX aprofundou sua coordenação para evitar maior inserção estratégica dos EUA na região. Num plano global, a Organização se coloca em contraposição à ordem hegemônica estadunidense, propondo novas normas de interação interestatal conhecidas como Espírito de Xangai. 19 Tratado ABM ­ Criado em 1972, colocava um limite na operacionalização de sistemas antibalísticos por EUA e URSS. Tornou­se o núcleo da estabilidade estratégica na Guerra Fria, a partir do conceito de vulnerabilidades recíprocas.

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influência chinesa. Esta dinâmica pode ser demonstrada pelos recentes tensionamentos

entre China e países como Mianmar e Vietnã.

Além disso, observa­se uma aceleração da abertura de novos corredores logísticos.

Como exemplo, a China ainda confere grande importância estratégica ao Paquistão e

investe pesadamente em infraestrutura para garantir a conexão entre sua região oeste e o

porto de Gwadar, através da conexão terrestre pelo passo do Karakoram . A Índia, por sua 20

vez, procura estreitar relações com o Irã por meio da construção do porto de Chabahar,

com a finalidade de obter acesso aos recursos energéticos da Ásia Central.

Paralelo a estes desdobramentos, a ascensão do governo de Narendra Modi na

Índia abriu novo espaço para a reaproximação geopolítica do país com seus vizinhos. Uma

das principais conquistas recentes da política externa indiana foi a resolução de parte dos

conflitos de fronteira com Bangladesh, que causava profunda ansiedade em Daca e

incentivava maior aproximação deste país com a China para reduzir o desequilíbrio de

poder com seu vizinho. Recentemente, o governo Modi lançou a política de Act East (Agir

no Leste), que visa aumentar o comércio e os investimentos bilaterais da Índia com o

Sudeste Asiático, em meio a um cenário de crescente insatisfação e ansiedade da região

nas suas relações com a China, como pode ser visualizada pelo aumento das tensões nas

disputas no Mar do Sul da China. Em relação aos projetos econômicos da China, ainda há

resistência por parte da Índia, que promove suas próprias iniciativas no Índico, evitando a

participação chinesa . 21

Um dos maiores desafios de China e Índia é lidar com a complexa teia de relações

na Ásia. Dessa forma, pode­se dizer que relações bilaterais entre China e Índia são

informadas por três fenômenos de relações triangulares subjacentes: em nível sistêmico,

pelo triângulo formado por China­EUA­Índia; e no nível regional, pelos triângulos

China­Índia­Paquistão e China­Índia­Japão . Isto conforma uma extrema complexidade na 22

20 Contudo, estas relações por vezes são tensionadas devido ao apoio do Paquistão à insurgência islâmica na região, além da possibilidade de o Paquistão adotar uma postura desestabilizadora através de seu perfil de forças nucleares, cuja ênfase está em sistemas táticos de entrega para compensar a sua fragilidade em sistemas convencionais face à Índia. 21 No âmbito econômico, a IORA (Indian Ocean Rim Association) reúne grande parte dos países costeiros e introduziu em 2014 sua Declaração Econômica, que prioriza a chamada Economia Azul (indústrias ligadas ao mar). A China é parceiro de diálogo do IORA. No âmbito securitário, a Marinha Indiana organiza desde 2008 o IONS (Indian Ocean Naval Symposium), composto por 35 países. Embora o objetivo seja aumentar a cooperação multilateral entre marinhas no Índico em temas tradicionais e não tradicionais, a Índia ainda resiste à inclusão de potências externas. 22 Segundo Garver e Wang (2010), a China busca não alienar diplomaticamente, ao mesmo tempo, Índia e Japão, o que acaba por informar a conexão substantiva com o terceiro triângulo apresentado. Cumpre notar que recentemente, devido ao aumento das tensões no leste asiático, o Japão tem buscado aumentar seu perfil de inserção no Sudeste Asiático, iniciando inclusive patrulhas conjuntas com Filipinas e EUA no Mar do Sul da China.

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resolução de conflitos e nas dinâmicas securitárias entre os diferentes atores. Neste

sentido, uma dinâmica securitária entre China e EUA que leve a um determinado tipo de

resposta e modernização militar por parte da China, pode desencadear simultaneamente

uma resposta indiana a esta modernização, desencadeando por sua parte uma

contrarresposta paquistanesa. A possibilidade da geração de resultados inesperados e não

intencionais torna­se cada vez mais presente e é retroalimentada tanto pelos conflitos

presentes quanto pelos cenários de modernização militar futura entre estes atores.

Mesmo assim, diversos autores têm defendido que há formas de mitigar, ao menos,

a escalada de tensões frente às possibilidades de atrito futuro. No escopo deste estudo,

cabe salientar a cooperação marítima como um regime de segurança bastante relevante

para China e Índia. Enquanto a disputa bilateral de fronteira tem desfrutado de novos

acordos e normas para construção de confiança (HOLSLAG, 2010), os países ainda

carecem de um arranjo para reduzir tensões no âmbito marítimo.

Conforme visto anteriormente, as estratégias de ambas para o Oceano Índico, por

exemplo, não são mutuamente excludentes. A Marinha Indiana deseja uma posição

dominante e a Marinha Chinesa tem maior interesse imediato em proteger suas linhas de

comunicação, não em buscar a projeção de poder. A cooperação marítima é

particularmente interessante por tratar de questões frequentemente menos sensíveis, como

as operações antipirataria e de assistência humanitária. China e Índia poderiam assim

aumentar o intercâmbio entre marinhas e suas capacidades conjuntas de interoperabilidade,

abrindo o caminho para construção de normas de procedimento de comunicação e

operação (KHURANA; SINGH, 2015). Deste modo, reduziriam a percepção de que a

expansão marítima de um país somente ocorreria em detrimento da segurança do outro.

7. Considerações Finais

No período pós­Guerra Fria, o fim da disputa bipolar facilitou as dinâmicas de

regionalização e de proliferação dos nexos de conflito e cooperação nas regiões. Na Ásia, o

processo de crescimento econômico veio acompanhado de maior participação na aquisição

e produção de armamentos. Ao crescente aumento dos fluxos de comércio e integração,

além da modernização das Forças Armadas na região, ocorre uma tendência de exposição

destes países a novos focos e pontos de tensão regional. Disputas latentes tornam­se

novamente ativadas pelo nacionalismo ressurgido, e a própria noção de desenvolvimento

permeável à região como um todo coloca em choque as diferentes visões destes países

para a reorganização da ordem regional.

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Conforme a discussão teórica deste estudo, China e Índia reconhecem que os

ganhos da cooperação são maiores do que a confrontação direta e entendem que sua

contraparte também é pragmática. No entanto, ambas ainda resistem a mecanismos que

limitem suas margens de manobra na região. Em suma, a busca individual por segurança,

mesmo com a tendência crescente de superposição e atrito, ainda é vista como desejável

frente à incerteza da cooperação e da restrição mútua. Dessa forma, mantém­se o Dilema

de Segurança, que incorre no risco de falhas de interpretação e de resposta a novos

desafios.

Em grande parte, as dificuldades de relacionamento não são resultado apenas dos

esforços bilaterais de China e Índia, mas sim de uma complexa rede de relações

triangulares. Neste sentido, importam sobretudo para as relações bilaterais as inter­relações

com EUA, Paquistão, Japão, e mesmo a Rússia. Como medidas de aquisição de confiança

mútua, sugere­se as iniciativas marítimas, por serem assuntos de grande potencial e de

menor sensibilidade para o público interno e para os formuladores de políticas.

Contudo, o desafio de reordenar as relações bilaterais ainda demandará décadas de

desenvolvimento intelectual, posto que o cenário estratégico atual no Indo­Pacífico

conforma uma série de países que se projetam como potências ascendentes. O conjunto

das modernizações militares, a proliferação de sistemas de armas capazes de negar o uso

dos mares, além do próprio risco de uma escalada nas modernizações nucleares engendra

uma série de riscos e novos desafios para a governança regional, em um cenário de rápido

desenvolvimento.

Por fim, cabe salientar que este estudo tem relevância para o Brasil. Isto se deve

sobretudo por três interações: (1) O laço que o Brasil possui com China e Índia, seja no

sentido econômico, seja na esfera política e estratégica, através de agrupamentos como o

BRICS e a iniciativa IBAS ; (2) a importância que o Oceano Índico também possui para o 23

país, devido a sua conexão com o Atlântico na porção sul ­ um indicador dessa relevância

são os exercícios IBSAMAR, no âmbito do IBAS, que aproximam as marinhas de Brasil,

Índia e África do Sul; (3) cumpre para o Brasil observar as modernizações navais em curso

como forma de emulação militar, ou seja, por meio dos casos de outras nações, extrair

lições e decorrências em termos de doutrina, aquisição e desenvolvimento de um complexo

acadêmico­militar­industrial brasileiro.

23 Iniciativa criada em 2003 que engloba Brasil, Índia e África do Sul.

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