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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ -UNIOESTE CENTRO DE EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E ARTE/CECA PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NÍVEL DE MESTRADO/PPGE ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SOCIEDADE, ESTADO E EDUCAÇÃO ENTRE A LOUCURAE A NORMALIDADE: PROPOSIÇÃO DE UM MATERIAL DIDÁTICO REFERENTE A HISTÓRIA DO HOSPITAL COLÔNIA DE BARBACENA E AS DISCUSSÕES ATUAIS A RESPEITO DA DIVERSIDADE KAROLLINY NARDINO GOMES CASCAVEL, PR 2017

ENTRE A LOUCURA E A NORMALIDADE : PROPOSIÇÃO DE …tede.unioeste.br/bitstream/tede/3361/5/Karolliny_Gomes2017.pdfos planos não ocorreram como o esperado. A Professora será sempre

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ -UNIOESTE CENTRO DE EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E ARTE/CECA

PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

NÍVEL DE MESTRADO/PPGE ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SOCIEDADE, ESTADO E EDUCAÇÃO

ENTRE A “LOUCURA” E A “NORMALIDADE”: PROPOSIÇÃO DE UM MATERIAL DIDÁTICO REFERENTE A HISTÓRIA DO HOSPITAL COLÔNIA DE BARBACENA

E AS DISCUSSÕES ATUAIS A RESPEITO DA DIVERSIDADE

KAROLLINY NARDINO GOMES

CASCAVEL, PR 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ -UNIOESTE CENTRO DE EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E ARTE/CECA

PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

NÍVEL DE MESTRADO/PPGE ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SOCIEDADE, ESTADO E EDUCAÇÃO

ENTRE A “LOUCURA” E A “NORMALIDADE”: PROPOSIÇÃO DE UM MATERIAL DIDÁTICO REFERENTE A HISTÓRIA DO HOSPITAL COLÔNIA DE BARBACENA

E AS DISCUSSÕES ATUAIS A RESPEITO DA DIVERSIDADE

KAROLLINY NARDINO GOMES

CASCAVEL, PR 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ -UNIOESTE CENTRO DE EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E ARTE/CECA

PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

NÍVEL DE MESTRADO/PPGE ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SOCIEDADE, ESTADO E EDUCAÇÃO

ENTRE A “LOUCURA” E A “NORMALIDADE”: PROPOSIÇÃO DE UM MATERIAL DIDÁTICO REFERENTE A HISTÓRIA DO HOSPITAL COLÔNIA DE BARBACENA

E AS DISCUSSÕES ATUAIS A RESPEITO DA DIVERSIDADE

KAROLLINY NARDINO GOMES Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, Área de concentração Sociedade, Estado, e Educação, linha de pesquisa: Ensino de Ciências e matemática da Universidade Estadual do Oeste do Paraná/UNIOESTE Campus Cascavel, como requisito parcial para obtenção do título de Mestra em Educação. Orientadora: Profª. Drª. Fernanda Aparecida Meglhioratti.

CASCAVEL, PR 2017

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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) (Sistema de Bibliotecas – UNIOESTE)

Rosângela A. A. Silva – CRB 9ª/1810

Gomes, Karolliny Nardino.

G612e Entre a “loucura” e a “normalidade”: proposição de um material didático referente a história do hospital colônia de Barbacena e as discussões atuais a respeito da diversidade (PR) / Karolliny Nardino Gomes. --- Cascavel (PR), 2017.

196f.:il. Orientadora: Profª. Drª. Fernanda Aparecida Meglhioratti

Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Cascavel, 2017.

Programa de Pós-Graduação em Educação, Centro de Educação, Comunicação e Artes/ CECA.

Inclui bibliografia

1. Material didático. 2. Ciência- História. 3. Diversidade - Humana. 4. Hospital Colônia de Barbacena- Minas Gerais. 5. Eugenia I. Meglhioratti, Fernanda Aparecida. II. Universidade Estadual do Oeste do Paraná. III. Título.

CDD 371.33

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A todos que me incentivaram e me apoiaram a trilhar os caminhos da arte de

ensinar.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente a Deus que me conduziu a realizar minhas conquistas

e realizações. Agradeço por me manter forte e confiante perante as adversidades do

caminho.

Aos meus pais João e Berenice Gomes que com inteligência e sabedoria me

ensinaram a viver sempre prezando pela dignidade, honestidade, integridade e

perseverança. Eles que com dignidade constituíram uma família que é pautada pela

união, carinho, respeito e amor. Agradeço imensamente pela criação e educação que

me proporcionaram. Agradeço pelos constantes momentos que tiveram paciência com

minhas atitudes, e que inúmeras vezes contribuíram me apoiando e incentivando com

os meus projetos e planos.

Ao meu namorado, melhor amigo e companheiro Maykon Z. Vieira pelo carinho,

compreensão e amor sempre me apoiando em minhas decisões.

Aos amigos, os quais são fonte de apoio e ânimo, agradeço pelas conversas e

conselhos que muitas vezes ajudaram muito na vida e também em minha formação.

Agradeço imensamente a minha amiga Mariana B. Cavalli que durante estes dois

anos de mestrado me ofereceu hospedagem, amizade e conversas, sem as quais

seria imensamente difícil realizar e concluir esta pesquisa.

A professora Fernanda Ap. Meglhioratti que muito contribuiu com minhas

pesquisas acadêmicas, tendo paciência e serenidade mesmo nos momentos em que

os planos não ocorreram como o esperado. A Professora será sempre um exemplo

profissional, que com muita paciência me ajudou em minhas dificuldades. Agradeço

pela amizade, apoio e disponibilidade e pela a construção desse trabalho.

A todos os professores que fazem parte do Programa de Pós-graduação em

Educação-PPGE da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, que de uma forma

ou de outra contribuíram para a conclusão desta pesquisa. Em especial, as

professoras Dra. Eduarda M. Schneider, Dra. Marcia B. da Cunha e Dra. Lourdes D.

Justina, que contribuíram com sua experiência na área educativa, para enriquecer

meu trabalho.

A todos que contribuíram para a realização desta pesquisa, agradeço

imensamente.

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GOMES, Karolliny Nardino. Entre a “loucura” e a “normalidade”: proposição de um material didático referente a história do hospital colônia de Barbacena e as discussões atuais a respeito da diversidade. 2017. 196f. Dissertação (Mestrado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação. Área de concentração: Sociedade, Estado e Educação, Linha de Pesquisa: ensino de ciências e matemática, Universidade Estadual do Oeste do Paraná –UNIOESTE, Cascavel, 2017.

RESUMO

As questões ligadas à diversidade humana têm sido alvo de muitas discussões e diálogos nos últimos tempos. Gênero sexual, cultura, etnia, diversidade religiosa são alguns dos temas enfocados e debatidos tanto no ambiente social como no âmbito educacional. E uma forma de tornar esta temática mais contextual dentro da escola, é incluir a História da Ciência (HC), já que a mesma possibilita aproximar a compreensão do conhecimento científico do aluno, além de ser uma forma facilitadora e interessante de aprendizado. Desse modo, o presente trabalho apresenta uma discussão, que culminou em um material de apoio didático, sobre questões da diversidade humana, loucura e normalidade, trazendo o caso histórico do Hospital Colônia de Barbacena-MG, articuladas com as contribuições da HC por meio do movimento eugênico. Assim, objetivamos com este trabalho: analisar o período histórico do Hospital Colônia de Barbacena, por meio de revisão bibliográfica, para compreender os discursos biológicos e ideológicos que fundamentaram as ações que ocorreram nessa instituição e assim, construir e validar entre os pares uma proposta didática relativa à natureza da ciência que trate do caso do Hospital Colônia de Barbacena, das discussões a respeito da diversidade humana e do papel do discurso científico na sociedade. A metodologia de pesquisa empregada foi realizada em dois momentos: um se dedica a analisar documentos oriundos de fontes públicas sobre o Hospital Colônia de Barbacena-MG relativa ao movimento eugênico e outro está voltado à validação pelos pares e análise do material de apoio didático construído. Além disso, os dados foram interpretados segundo a perspectiva de Bardin (2006). A validação, buscou investigar os limites e possibilidades que o material de apoio didático pode contribuir para abordar a temática diversidade humana dentro da escola. A validação do material de apoio foi realizada para seis participantes que eram da formação inicial, professores da rede pública de ensino, mestrando e doutorando. Os resultados contemplaram a análise dos pares e uma reflexão da autora sobre a aplicação do material. Os pares evidenciaram que o material de apoio didático, é um excelente instrumento para discutir questões ligadas a diversidade, contribuindo e enriquecendo a aprendizagem sobre o conhecimento científico, possibilitando ao aluno aprender de maneira crítica e reflexiva. Ainda, possibilitou ser um local de troca de experiência e reflexão; aproximar a ciência do cotidiano, sendo uma temática relevante para a educação. Como limites, foi evidenciada a questão da falta de tempo de desenvolvimento; a pouca abordagem sobre a legislação para a diversidade e do movimento eugênico. Como reflexão da autora, além das questões citadas pelos pares, foi evidenciada a falta de dinâmica do material. Assim, sugere-se ao final da análise dos resultados, uma sequência reestruturada, a qual levou em consideração os apontamentos da validação e a reflexão da autora. Finalmente, acreditamos que as discussões sobre a HC e a temática diversidade humana, permitiu uma maior compreensão e aprendizagem sobre o conhecimento científico e a sociedade

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humana, já que propiciou criar maiores relações e compreender as diferentes faces da ciência e o respeito à diversidade de maneira geral.

PALAVRAS-CHAVE: Material de apoio didático, História da Ciência, Diversidade, Hospital Colônia de Barbacena – Minas Gerais, Eugenia.

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GOMES, Karolliny Nardino. Between "madness" and "normality": didactic material proposition referring to the Barbacena Colony Hospital history and current discussions about diversity. 2017. 196f. Dissertation (Eduaction Master degree). Education Post-Graduation Program. Concentration Area: Society, State and Education, Research line: sciences and math learn, Universidade Estadual do Oeste do Paraná –UNIOESTE, Cascavel, 2017.

ABSTRACT

Issues related to human diversity have been subject of much discussion and dialogue in recent times. Gender, culture, ethnicity, religious diversity are some of the themes focused and debated both in the social and educational environment. And one way to make this thematic more contextual in the school, is include Science History, since it allows to approach the student scientific knowledge understanding besides being a facilitating and interesting way of learning. Thus, the present work presents a discussion that culminated in didactic support material on human diversity issues, madness and normality, bringing the historical Hospital Colônia de Barbacena - Minas Gerais case, articulated with Science History contributions through the eugenics movement. This study objetive was analyze Hospital Colônia de Barbacena historical period through a bibliographical review to understand the biological and ideological discourses that underpinned actions that occurred in this institution and, thus, construct and validate among peers a didactic proposal on science dealing nature with Hospital Colônia de Barbacena case, discussions about human diversity and role of scientific discourse in society. The research methodology employed was carried out in two moments: one is dedicated to analyze documents from public sources about Hospital Colônia de Barbacena - MG and related to eugenics movement and the other is focus on pairs validation and analysis of didactic support material constructed. In addition, data was interpreted according to Bardin perspective (2006). The validation, sought to investigate the limits and possibilities that didactic material can contribute to address human diversity theme in the school. The support material validation was carried out for six participants from to the initial formation, public network education professors, masters and doctorate. The results included analysis of the pairs and authors reflection about material application. The pairs showed that didactic material is an excellent tool to discuss issues related to diversity, contributing and enriching the learning about scientific knowledge, enabling student to learn in a critical and reflective way. Still, it made possible an experience and reflection exchange place approach the daily science being a thematic relevant for the education. As limits, development time lack question was evidenced; the little approach on the legislation for diversity and the eugenic movement. As an authors reflection in addition to the issues cited by the peers, it was evidenced material dynamics lack. Thus, a restructured sequence is suggested at the end of results analysis, which took into account the validation notes and the authors' reflections. Finally, we believe Science History discussions combination about and human diversity theme allows a greater understanding and learning about scientific knowledge and human society, since it allows to create greater relations and understand different faces of science and diversity respect in general.

KEYWORDS: Didactic support material, Science History, Diversity, Hospital Colônia de Barbacena - Minas Gerais, Eugenics.

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LISTA DE SIGLAS

HFC - História e Filosofia da Ciência

3MP - Três momentos pedagógicos

AC - Análise de Conteúdo

CHPB - Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena

ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente

FHEMG - Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais

FUNDAC - Fundação Municipal de Cultura de Barbacena

MEC - Ministério da Educação e Cultura

PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais

PNLD - Programa Nacional do Livro Didático

SEED - Secretaria de Estado da Educação

TICs - Tecnologia de Informação e Comunicação

ZDP - Zona de Desenvolvimento Proximal

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1: Estrutura geral dessa primeira proposta da sequência didática............84

QUADRO 2: Sequência didática reestruturada: atividades sistematizadas...............86

QUADRO 3: Percepções sobre a mudança do conceito de loucura e normalidade...92

QUADRO 4: Relevância dos temas da sequência didática........................................96

QUADRO 5: Aspectos positivos no desenvolvimento da sequência didática.............99

QUADRO 6: Aspectos negativos no desenvolvimento da sequência didática..........102

QUADRO 7: Atividades sistematizadas...................................................................119

QUADRO 8: Atividade 1 – Explorando as percepções implícitas em relação a

diversidade humana................................................... ..............................................122

QUADRO 9: Atividade 1 – Correspondência entre perfis e identidade..................123

QUADRO 10: Atividade 2 – Resumo O Alienista.....................................................126

QUADRO 11: Atividade 3 Insertos Boletins de Eugenia..........................................135

QUADRO 12: Atividade 4 – Texto A brincadeira não tem Graça.............................142

QUADRO 13: Atividade 5 – A Loucura na história....................................................146

QUADRO 14: Atividade 6 – Leis da diversidade.......................................................147

QUADRO 15: Atividade 7 – Panfletos e cartazes na escola – “Observado e

melhorando o mundo ao seu redor”..........................................................................149

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 15

CAPÍTULO 1 – A COMPREENSÃO CONTEXTUAL DA EDUCAÇÃO E A

FORMAÇÃO DE PROFESSORES ........................................................................... 20

1.1 AS CONCEPÇÕES CURRICULARES DE EDUCAÇÃO ..................................... 20

1.2 FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS:

CONTRIBUIÇÕES DA HISTÓRIA E FILOSOFIA DA CIÊNCIA ................................ 26

1.3 MATERIAL DE APOIO DIDÁTICO: POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS PARA

O ENSINO E APRENDIZAGEM DE CIÊNCIA .......................................................... 29

CAPÍTULO 2 – O MOVIMENTO EUGÊNICO E A BUSCA DA PADRONIZAÇÃO DO

SER HUMANO: O CASO BRASILEIRO DO HOSPITAL COLÔNIA DE BARBACENA

.................................................................................................................................. 34

2.1 MOVIMENTO EUGÊNICO: A NOVA IDEOLOGIA DE “MELHORAMENTO

HUMANO” ................................................................................................................. 34

2.2 BOLETINS DE EUGENIA: ................................................................................... 40

2.3 HOSPITAL COLÔNIA EM BARBACENA: UM CAMPO DE CONCENTRAÇÃO

“PSIQUIATRICO” ...................................................................................................... 49

2.4 O MUSEU DA LOUCURA – BARBACENA –MG. ............................................... 56

2.5. AS PESQUISAS REFERENTES AO HOSPITAL COLÔNIA DE BARBACENA . 58

3.1. A LOUCURA E A NORMALIDADE AO LONGO DO TEMPO ............................ 63

3.2. O LOUCO É O QUE É DIFERENTE? O RESPEITO À DIVERSIDADE HUMANA

.................................................................................................................................. 67

CAPÍTULO 4 - ASPECTOS DA METODOLOGIA DE PESQUISA ........................... 76

4.1 O CONTEXTO DA PESQUISA ........................................................................... 76

4.2 CONSTITUIÇÃO DA PESQUISA ........................................................................ 77

4.2.1 Pesquisa bibliográfica e histórica ..................................................................... 78

4.2.2 Validação da sequência didática ...................................................................... 81

4.2.3 A construção e validação da sequência didática .............................................. 82

4.2.3.1. Sequência aplicada em grupo – 01 de outubro de 2016 .............................. 82

4.2.3.2 Sequência reestruturada ............................................................................... 86

4.3 ANÁLISE QUALITATIVA ..................................................................................... 88

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CAPÍTULO 5 – RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................... 91

5.1 VALIDAÇÃO E ANÁLISES DOS APONTAMENTOS DOS PARTICIPANTES

SOBRE A PERCEPÇÃO, ESTRUTURA E CONTEÚDO DA APLICAÇÃO DA

PRIMEIRA SEQUÊNCIA DIDÁTICA ......................................................................... 91

5.1.2 Percepções e aprendizagem de conceitos gerais da sequência didática ........ 92

5.1.3 Percepções da organização e da estrutura da sequência didática .................. 98

5.2 VALIDAÇÃO DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA – ANÁLISES, REFLEXÔES E

PERPECTIVAS DA AUTORA ................................................................................. 104

5.3 SEQUÊNCIA DIDÁTICA “O QUE É SER NORMAL”: MATERIAL DE APOIO AO

PROFESSOR .......................................................................................................... 111

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 156

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 159

APÊNDICES ........................................................................................................... 180

ANEXOS ................................................................................................................. 195

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INTRODUÇÃO

Ainda pode ser encontrada em nossa sociedade uma crença em um discurso

científico apenas como gerador de “melhorias e avanços”, sem uma reflexão referente

às ideologias e aos condicionantes sociais que permeiam o fazer científico. Segundo

Martins (1998), a visão da ciência como solucionadora de problemas e como uma

atividade que obtém uma dada “verdade” é comum. Parte dessa visão é oriunda da

presença constante da ciência e tecnologia nas nossas experiências diárias e da

aceitação que essa presença traz sempre benefícios, compondo a ilusão de uma

ciência inquestionável. Entretanto, Mai e Boarini (2002) salientam que deve haver

criticidade ao analisar esses supostos “avanços”, já que um determinado estudo

científico pode gerar tanto aspectos positivos como questões polêmicas.

Uma maneira de tornar a ciência mais palpável e reflexiva é pela inserção da

História e Filosofia da Ciência (HFC) em sala de aula. Matthews (1995, p.165) aponta

que “tanto a teoria como, particularmente, as práticas do ensino de ciências estão

sendo enriquecidas pelas informações colhidas da história e da filosofia da ciência”,

que podem proporcionar uma nova visão de ciência mais humanizada que se

aproxima de questões culturais, éticas, políticas e reflexivas.

Pensando nessa vertente, faz-se necessário uma formação inicial e continuada

que proporcione reflexões a respeito da construção científica. Mello (2000, p. 98)

salienta que uma aprendizagem escolar significativa deve garantir “experiência

intelectualmente estimulante e socialmente relevante, [sendo] indispensável á

mediação de professores com boa cultura geral e domínio dos conhecimentos que

devem ensinar e dos meios para fazê-lo com eficácia”. Desta maneira, uma forma de

tornar a formação inicial e continuada mais eficaz, é tornando o currículo educacional

uma realidade efetiva e contextualizada, de forma que possam ser incluídos

conteúdos relativos às discussões atuais acerca da história da ciência bem como o

respeito à diversidade humana.

Ao compreender a importância de explicitar o caráter dinâmico, ideológico e ético

da ciência e considerarmos a importância da inserção da HFC na educação e no

ensino, propomos realizar uma pesquisa que discuta a questão da normalidade e

loucura do ponto de vista dos discursos científicos, ressaltando que esses discursos

foram, repetidas vezes, sustentados por ideologias. O tema do indivíduo do tipo

“normal” ou “ideal” foi escolhido, pois essa discussão foi marcante na História da

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Biologia, em especial, no início do século XX, estando vinculado ao movimento

eugênico1.

No Brasil o movimento eugênico esteve difundido em diferentes contextos: na

literatura, na medicina, na educação, em boletins científicos e mesmo na constituição

brasileira (SCHNEIDER; MEGLHIORATTI, 2012). As discussões relativas à saúde

mental no início do século XX também se vincularam aos discursos eugênicos, que

propunham de diferentes modos à segregação dos “tipos considerados anormais”

(ORSI, 2013). Um fato emblemático dessa segregação ocorreu no Hospital Colônia

de Barbacena – MG, fundado em 1903. Esta instituição foi criada inicialmente para

abrigar os alienados do Estado mineiro, entretanto ao passar dos anos se tornou um

local de despejo humano de “rejeitados”. Essa segregação dos tipos considerados

anormais era apoiada em discursos biológicos e se manteve durante vários anos,

mesmo quando o movimento eugênico declinou.

O Hospital Colônia de Barbacena surgiu da necessidade brasileira de encontrar

uma solução para os indivíduos “indesejados” da sociedade (ARBEX, 2013).

Inicialmente, o Hospital funcionou incentivando a produção agrícola, ganhando fama

e sendo buscado por inúmeras famílias para a internação de seus parentes.

Entretanto, após alguns anos de seu surgimento (1903), aproximadamente em 1914,

já existiam queixas do mau atendimento aos seus pacientes, e assim o hospital

passou a receber tanto pessoas com diagnósticos de doenças como pessoas que

eram marginalizadas da sociedade e que deveriam ficar invisíveis a essa.

As atrocidades que aconteciam no Hospital Colônia eram sustentas, em parte,

por discursos provindos do movimento eugênico, o qual buscava impor a ideia do

“melhoramento populacional” e a busca de uma “raça superior”. Arbex (2013, p. 21)

argumenta: “A teoria eugenista, que sustentava a ideia de limpeza social, [...]

pretendia livrar a sociedade da escória, desfazendo-se dela, de preferência em local

que a vista não pudesse alcançar”. Os ditos “loucos”, assim, eram enviados aos muros

do Hospital Colônia de Barbacena e só saiam de lá mortos, sendo seus cadáveres

comercializados para as faculdades de medicina.

1O movimento eugênico “Seria uma genuína ciência da hereditariedade humana ou do melhoramento biológico do tipo humano, que teria como propósito, por meio de dados matemáticos e biológicos, identificar os melhores membros, como se faz com cavalos, porcos, cães ou qualquer outro animal, portadores das melhores características, e estimular a sua reprodução, bem como, encontrar os que representavam características degenerescentes e, da mesma forma, evitar que se reproduzissem” (DEL CONT, 2007; MAI, 2004; STEPAN, 2005 apud SCHNEIDER, 2013, p.51).

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A reflexão relativa ao Hospital Colônia de Barbacena permite demonstrar como

os discursos científicos apoiam ideologias e preconceitos, permitindo romper com uma

visão ingênua da ciência. Cabe também destacar que a percepção da normalidade e

da loucura se modificou ao longo dos anos, mostrando que, em muitos casos, a

loucura foi associada ao diferente, ao sujeito que não se encaixava em determinadas

normas sociais. Essa discussão é importante na atualidade para incentivar o respeito

à diversidade humana.

Partindo disso, os dados constituídos pela pesquisa relativa ao Hospital Colônia

de Barbacena foram utilizados para a proposição de uma sequência didática, ou seja,

um material de apoio didático para o professor, de modo que essa contemple aspectos

da história da ciência, discussões sobre os conceitos de loucura e normalidade e

apontamentos atuais relativos ao respeito à diversidade e políticas de inclusão social,

visando dinamizar o conhecimento e proporcionar uma reflexão a respeito desta

temática.

Acreditamos que a proposição desse material de apoio didático ao professor

seria fundamental quando se trata de trabalhar a História da Ciência e questões

ligadas a diversidade, uma vez que existem poucos materiais que trazem fatores

históricos ligados a esta temática para o contexto da sala de aula. Carvalho e Garcia

(2006) explicam que grande parte da História da Ciência que chegava aos nossos

alunos, eram encontrada nos livros com menção a questão de biografia e suas

realizações científicas. Entretanto hoje, esta realidade está sendo mudada, incluindo

assim fatores sociais, culturais, filosóficos, ideológicos e políticos gerando maiores

argumentos ao estudar a História da ciência. Esperamos ainda que apresentar um

material de apoio didático que contemple os aspectos supracitados pode ser uma

excelente forma de auxiliar o professor a aproximar o aluno do conteúdo. Para Freitas

(2009, p.21), os materiais didáticos são “[...] qualquer recurso utilizado em um

procedimento de ensino, visando à estimulação do aluno e à sua aproximação do

conteúdo”. Ele por si só, segundo a mesma autora, pode aproximar o contato

professor/aluno, quebrando com a monotonia da sala de aula, facilitando a

compreensão do conteúdo e assim da aprendizagem.

Dessa maneira, a construção e pertinência dessa proposta didática foi validada

pela aplicação da sequência didática em um grupo formado por um professor em

formação inicial, professores em formação continuada e pesquisadores da área que

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contribuíram para que a sequência fosse reestruturada, sendo apresentada no

formato de um material de apoio contextualizado e dinâmico para o professor.

Tendo em vista as pertinências supracitadas esta pesquisa visa responder as

seguintes perguntas: como articular as temáticas de respeito à diversidade com

elementos da história da ciência brasileira na proposição de um material didático?

Como a sequência didática proposta é avaliada por professores e pesquisadores em

uma aplicação em um pequeno grupo de estudos? Como a sequência didática é

reconstruída a partir das sugestões desses professores e pesquisadores na

elaboração de um material didático?

Com base nos aspectos citados e compreendendo que o tema é importante

para o professor pensar e ensinar a ciência de maneira crítica, objetivamos propor e

validar uma sequência didática, que se constituirá em um material didático, com o

intuito de auxiliar os professores a trabalhar questões ligadas à diversidade, a ética e

a história da ciência. Pautados na discussão relativa ao tema normalidade e loucura

mediante um exemplo da história da ciência brasileira, objetivamos especificamente:

a) Analisar o período histórico do Hospital Colônia de Barbacena, por meio de

revisão bibliográfica, para compreender os discursos biológicos e

ideológicos que fundamentaram as ações que ocorreram nessa instituição.

b) Construir e validar entre os pares uma proposta didática relativa à natureza

da ciência que trate do caso do Hospital Colônia de Barbacena, das

discussões a respeito da diversidade humana e do papel do discurso

científico na sociedade.

Partindo destes pressupostos e para satisfazer os objetivos desta pesquisa

organizamos a dissertação em cinco capítulos. No primeiro capítulo, buscamos

apresentar uma discussão sobre educação e as teorias curriculares educacionais, que

apoiam e orientam as atividades educativas e a maneira que devem ser executadas.

Ainda, tratamos da formação de professores, formação de professores para o ensino

de ciência e alguns apontamentos acerca da importância de utilizar materiais de apoio

na educação salientando algumas barreiras encontradas atualmente para se

encontrar e desenvolver trabalhos e materiais que incluam a História da Ciência.

O segundo capítulo trata das considerações a respeito do movimento eugênico

e de ideias biológicas que sustentaram parcialmente as práticas no Hospital Colônia

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de Barbacena. Ainda trata de maneira contextualizada o período histórico em que

houve o funcionamento do Hospital Colônia de Barbacena, evidenciando as práticas

que eram realizadas no local entre outras peculiaridades. Busca-se também

apresentar dados de pesquisas relacionadas ao Hospital Colônia de Barbacena.

O terceiro capítulo discute a questão da loucura, na tentativa de responder

como a ciência explicou o que é ser normal ou anormal no decorrer da história. Ainda

traz discussões sobre questões atuais relativas à diversidade, inclusão social e

preconceito.

No quarto capítulo é apresentada a abordagem metodológica da pesquisa. No

primeiro momento é descrita a base para a pesquisa bibliográfica relativa ao Hospital

Colônia de Barbacena e a respeito da eugenia que sustentou a elaboração do material

de apoio. Em um segundo momento é descrito como ocorreu à validação da sequência

didática, com posterior reestruturação e proposição desta no formato de um material

didático. E por fim, é descrito o método de análise empregado nos resultados da

pesquisa.

No quinto capítulo apresentamos os resultados e discussões encontrados na

realização da validação do material didático elaborado bem como traçamos algumas

considerações a respeito de como utilizar o material no contexto escolar e na formação

de professores.

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CAPÍTULO 1 – A COMPREENSÃO CONTEXTUAL DA EDUCAÇÃO E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Nesse capítulo discutimos alguns aspectos relativos à formação de professores

e a importância de o professor ser formado para refletir em relação à construção do

conteúdo científico e as possíveis ideologias que o permeia.

1.1 AS CONCEPÇÕES CURRICULARES DE EDUCAÇÃO

Ao escolher uma profissão, principalmente a de professor, estamos envolvidos

em expectativas, inseguranças e emoções diversificadas. Juntamente com estes

sentimentos são mescladas inúmeras responsabilidades que exigem capacidades

muitas vezes complexas. Logo, no primeiro contato com o ambiente escolar cabe ao

docente saber gerir diversas situações que vão desde as relações interpessoais, como

por exemplo, saber lidar com a indisciplina de seus alunos, fatores familiares

envolvidos na aprendizagem até a elaboração de planos de aula para o dia a dia

escolar, cumprimento das legislações educacionais que exigem do professor formar

um aluno crítico, ativo e sujeito de sua história. Mas, será que a formação inicial e a

continuada estão proporcionando ao professor lidar com esses enfrentamentos? E os

alunos, estão sendo formados de acordo com o que propõem as leis educacionais

brasileiras para se inserirem na sociedade?

Estas são perguntas que fundamentam diversas pesquisas brasileiras, no

entanto, não são encontradas respostas que deem uma solução fácil ou imediata para

a problemática. O que é conhecido, é que atualmente “A formação de professores

para a educação básica é tema de constante discussão no meio educacional [...] [pois

se faz necessário] formar profissionais críticos e reflexivos, conscientes e

comprometidos com uma educação de qualidade” (PINHEIRO, 2009, p.12). Mas qual

o caminho para solucionar ou amenizar está constate discussão? Acreditamos que

uma maneira de tentar subsidiar a formação inicial, continuada e do indivíduo é a

instituição de um currículo educacional e sistema educacional funcional2 . Assim,

durante a história, o Brasil vem tentando construir um sistema educacional e um

2 Entendemos por sistema funcional uma organização que seja adequada para todos os tipos de alunos,

onde haja inclusão da diversidade, organização e políticas estudantis, tendo uma participação ativa da comunidade de maneira geral.

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currículo que supra a necessidade formativa tanto de professores, quanto dos alunos.

Entretanto, Leite (2005, s/p.) declara que:

Qualquer sistema educacional só é um sistema se tiver uma entrada facilitada, uma continuidade garantida e na sua saída uma coesão com os seus princípios. Sendo que, um sistema educacional de um país que, busca um bem-estar social, para o seu povo tem como ponto principal à formação do cidadão completo, humanista e transformador.

De tal modo, além do sistema educacional apresentar-se funcional, o currículo

também pode ser uma peça chave para o desenvolvimento da educação, já que

segundo Silva et al. (2013, p.1) o currículo procura ser:

[...] a fonte de inspiração para o planejamento da prática diária das instituições de ensino, dos professores, como também o compromisso para com os instruendos, pois os mesmos necessitam e devem ser ouvidos, só assim a aprendizagem será democrática, uma vez que os debates são utilizados a fim de desvelar a significância dos conhecimentos prévios.

Desta maneira, baseada nas citações de Leite (2005) e Silva et al (2013), as

experiências em sala de aula e carreira docente, podemos concluir que o sistema

educacional brasileiro e currículo ainda são falhos quando pensamos em formação de

professores e formação de indivíduos, já que muitas vezes não fornecem as condições

necessárias que garantam a existência de uma formação mais sólida e abrangente.

Contudo, é notório que o currículo e o sistema educacional já passaram por diversas

transformações tentando promover o tão sonhado “bem-estar” social. Assim,

procurando discutir sobre a formação de professores e de indivíduos buscaremos

conceituar os debates na educação que ocorreram durante a história para assim

entendermos questões atuais sobre o respeito à diversidade e formação de

professores.

Analisando a história educacional brasileira, podemos perceber que os

objetivos e as preocupações com a educação e a formação dos indivíduos vêm se

modificando ao passar dos anos. De tal modo, percebe-se que o campo educacional

tem sido amplamente influenciado pelas mudanças que ocorrem no cenário mundial

em virtude da política e economia vigente. Segundo Leão (1999, p.188), “tudo o que

rodeia a educação o institucionalizado é fruto de nossa própria história de sociedade

em suas mais variadas ramificações (política, econômica, etc)”. Deste modo, as

principais concepções sobre a educação também dizem respeito ao caminho trilhado

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pela humanidade, tendo um papel importante na procura de cultura e conhecimento.

Com base neste aspecto, a educação foi construída em diferentes momentos e

teorias, a qual foi influenciada pelo momento histórico o qual pertencia. Podemos

reconhecer diferentes concepções e teorias educacionais, tais como: tradicional,

escolanovista, crítica e pós-crítica. A seguir descrevemos brevemente essas

concepções educacionais e argumentamos como nosso trabalho se vincula a uma

concepção pós-crítica da educação.

A concepção tradicional da educação teve muita influência sobre a educação

brasileira. “A teoria tradicional surgiu a partir da vinda e estruturação dos sistemas

nacionais de ensino, que tem seu apogeu no século passado, entretanto atingiu maior

força e abrangência nas últimas décadas do século XX” (LEAO, 1999). Esta teoria

buscava apresentar a educação como direito de todos e dever do Estado, contudo o

direito de todos era referido ao interesse da classe dominante, ou seja, da burguesia.

Assim, a concepção tradicional de educação buscava consolidar a “democracia

burguesa”, com divisão escolar de classes sociais, tendo professores razoavelmente

preparados para o ensino (SAVIANI, 1983) já que a pretensão era a formação de um

cidadão disciplinado e acrítico. A concepção tradicional não se preocupava em:

[...] discutir, questionar ou problematizar radicalmente as organizações educacionais, às configurações influentes de conhecimento, ou a estrutura social preponderante que atua disfarçadamente nas escolas. Elas valorizam: ensino, aprendizagem, avaliação, metodologia, didática, organização, planejamento, eficiência e objetivos (CHAVES; ALENCAR, 2015, p. 4).

A concepção tradicional de educação presava a memorização e a disciplina,

fazendo com que os estudantes se tornassem mentalmente mecânico e seguidores

de regras. Podemos pressupor assim, que este modelo de currículo e esta maneira

de ensino/aprendizagem não estão dando conta das necessidades educacionais.

Segundo Pinheiro (2009, p. 14), os aspectos históricos ligados ao surgimento de um

novo currículo vêm alicerçados ao movimento da Escola Nova. Para este autor, o

escolanovismo veio contrapor os ideais tradicionalistas que vinha sendo muito

utilizado na educação brasileira. “[...] a Escola Nova, que veio opor-se à visão

tradicional da educação, tendo como precursor Anísio Teixeira, trouxe inovações no

pensamento sobre o currículo, na perspectiva de organizá-lo, priorizando os

interesses e as necessidades das crianças”.

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Agora nos deteremos a apresentar as teorias curricular crítica e pós-críticas da

educação. Garcia (2010, p.23) ressalta que:

Nos anos 1960, e sob a influência da perspectiva racionalista, visualiza-se o mestre como um técnico eficaz, que deve atingir objetivos de instrução a partir de uma série de meios e recursos. Nos anos 1990 surge o conceito de “profissional da educação”, concebido como um intelectual reflexivo que pode colaborar com a transformação dos processos escolares (GARCIA, 2010, p. 23).

A concepção crítica da educação surge na tentativa de contrapor o método

tradicional de ensino, estabelecendo-se como uma nova abordagem educacional.

Todavia, queremos ressaltar, que não podemos, e nem devemos proferir que a

concepção tradicional da educação é em sua totalidade ruim, ou ineficaz na

aprendizagem, mas sim foi pensada em ideais políticos, econômicos da época e

também de certa forma se perpetua até a atualidade. Segundo Pereira (2012), a

concepção crítica da educação emerge em meados da década de 60, com duas

grandes vertentes, sendo uma fortemente questionadora das estruturas sociais,

políticas e culturais se articulando com ideias marxistas e outra que levava mais em

consideração a interpretação e investigação do ambiente, sendo um currículo

reflexível, subjetivo, portanto mais aliado à fenomenologia e a hermenêutica.

A concepção crítica da educação busca se atentar aos temas envolvendo

ideologias, o saber, o poder que podem influenciar no campo escolar, objetivando a

reprodução das classes sociais na educação. A concepção crítica se preocupa em

avaliar como se dá a aprendizagem e os diversos saberes escolares que são

construídos na escola entre os alunos, já que “esse saber expressa certas maneiras

de agir, de sentir, de falar e de ver o mundo” (LIBÂNEO; SANTOS, 2005, p. 29).

A concepção pós-crítica da educação, segundo Silva (2007, p.113-114), não

surgiu para substituir a teoria crítica, mas sim, vem como um alicerce, como forma de

continuidade que busca combinar o poder, saber e identidade. Ela vem evidenciar as

diferentes culturas e a diversidade da atualidade, ou seja, do mundo contemporâneo.

Para Malta (2013) para iniciarmos a compreensão desta teoria, temos que

compreender que ela está intimamente ligada a harmonia entre as culturas, provendo

uma ideia de tolerância, como o mesmo profere:

Podemos começar a falar sobre as teorias pós‐críticas analisando o currículo multiculturalista que destaca a diversidade das formas culturais do mundo contemporâneo. O multiculturalismo, mesmo sendo considerado estudo da antropologia, mostra que nenhuma

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cultura pode ser julgada superior a outra. Em relação ao currículo, o multiculturalismo aparece como movimento contra o currículo universitário tradicional que privilegiava a cultura branca, masculina, europeia e heterossexual, ou seja, a cultura do grupo social dominante (MALTA, 2013, p. 350).

Nessa concepção de educação, o poder é visto descentralizado, sendo

compartilhado pela sociedade. O sujeito é racional e consciente, não é visto como o

centro da ação social, mas sim com uma identidade “descentrada e fragmentada”.

Desse modo, substituem-se as amplas narrativas e o objetivismo pelo “subjetivismo

das interpretações parciais e localizadas”, buscando fugir das afirmações categóricas

e indiscutíveis e se aproximar da diversidade, da “mistura” e da “incerteza”. Portanto,

o indivíduo nesta perspectiva se aproxima do conhecimento histórico, da reflexão, do

diálogo como articula Pinheiro (2009, p. 21), a concepção pós-crítica da educação

deve propiciar “avanços em que além do aluno manter constante diálogo com o

professor e com o grupo, precisa desenvolver autonomia no seu processo formativo,

ou seja, estar em constante busca pelo conhecimento [...]”.

O sujeito nesta perspectiva vê o ensino de uma forma crítica, tomando decisões

autônomas, interpretando a sua realidade racionalmente e vendo maneiras de

transformá-la. A teoria pós–críticas se preocupa com as diferenças, dando importância

a relação de saber-poder existente no ambiente escolar. Ainda, existe a mesma

preocupação com inclusão do multiculturalismo, as diferentes culturas raciais e

étnicas (PINHEIRO, 2009).

Com todas as reflexões apontadas a respeito das concepções curriculares ao

longo da história, chegamos à conclusão que a concepção pós-crítica da educação é

potencialmente significativa para trabalhar aspectos da diversidade humana e o

respeito às diferentes habilidades, etnias, culturas, religiosidades, orientação sexual e

de identidades de gênero. Desse modo, pela temática da dissertação, que trabalha

com a potencialidade da diversidade humana, entendemos que temos uma maior

proximidade às ideias pós-críticas da educação. Como salienta Pinheiro (2009, p.22):

As teorias curriculares críticas e pós-críticas na formação inicial de professores podem ser vistas como influências significativas e que precisam ser trabalhadas de forma efetiva, pois contribuem com uma formação crítica e reflexiva, da importância de se valorizar o conhecimento prévio dos alunos, da diversidade cultural, enfim da preocupação com a transformação social e do professor como agente dessa mudança.

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Para Lopes (2013, p. 19), a sociedade atual está em constante mudança, sendo

necessária uma demanda diferenciada para se pensar em um currículo e na formação

do cidadão, pois estamos diariamente em contato com o “diferente” – “diferenças de

gênero, sexualidade, etnia, raça, região, religião”. Portanto, já que estamos inseridos

neste meio nada melhor do que pensar em uma educação que propicie a tolerância e

principalmente o respeito a qualquer forma de vida. Para Neira (2011, p.196):

A educação em uma perspectiva multicultural crítica [pós-crítica] não só valoriza e reconhece as diferenças, como também assegura a diversidade cultural, superando processos discriminatórios, opressão, injustiça social e naturalização das diferenças, apontando focos de resistência e de construção da identidade cultural.

A escola tem que encarar a realidade que está frente à sociedade. Estamos em

uma época onde somente aulas tradicionais sem abertura de diálogos e aulas

descontextualizadas não despertam o interesse do aluno. As tecnologias cada dia

mais ganham forças e a escola novamente não pode ficar fora deste contexto. O

mundo está cada dia mais complexo, exigindo dos cidadãos compreensões mais

críticas, opiniões mais embasadas e conhecimentos mais específicos. Neira (2011, p.

196) adverte que “quando o currículo está desvinculado das mudanças culturais, ele

corrobora o processo de dominação, subalternização, discriminação e conflito entre

culturas”. Desta maneira, precisamos modificar o sentido que está sendo dado a

educação, e proporcionar aos nossos alunos a oportunidade de conhecer o diferente.

Este conhecimento não deve ser a cultura da massa, ou o senso comum, mas sim

deve ser embasado em teorias críticas e pós-críticas que proporcionem ao indivíduo

formar uma opinião que não seja preconceituosa e principalmente discriminatória.

E uma forma de trabalhar estes conceitos acerca do “diferente”, é utilizar as

múltiplas formas de cultura e conhecimentos sociais. A concepção pós-crítica do

currículo, é um exemplo já que presa pelo multiculturalismo, ou seja, evidencia que o

ser humano é constituído pelo contato com a história e a diversidade. Ainda o

multiculturalismo admite “[...] à necessidade de compreender-se a sociedade como

constituída de identidades plurais, com base na diversidade de raças, gênero, classe

social, padrões culturais e linguísticos, habilidades e outros marcadores identitários

[...]” sendo ele uma forte tendência empregada em debates da modernidade (CANEN;

OLIVEIRA, 2002, p. 61).

Para Silva (2014), o multiculturalismo objetiva ser uma forma de incluir o

indivíduo diferente por meio do respeito à pluralidade. E ainda, salienta que no meio

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escolar, o multiculturalismo, pode proporcionar a inclusão, já que leva ao diálogo, à

troca de experiências para o ambiente escolar, levando a perceber que as nossas

diferenças são na realidade particularidades que fazem parte da nossa essência.

Segundo Canen e Xavier (2005, p. 336), “na educação, o multiculturalismo [...]

articulam conteúdo específicos a questionamentos sobre a construção de

preconceitos e à valorização da pluralidade cultural”, assim o professor deve empregar

o multiculturalismo em sala de aula, para desenvolver conteúdo que corresponde a

nossa realidade de pluralidade social. Deve ainda, enfatizar que não existe

uniformidade na sociedade, mas que somos todos diferentes, ricos em diversidade, e

assim não existe sobreposição, ou superioridades de culturas dentro de uma

sociedade (SILVA, 2014).

Perante o exposto, concordamos com Canen e Oliveira (2002, p. 74) quando

dizem que “em tempos de choques culturais e intolerância crescente quanto àqueles

percebidos como “diferentes”, a educação e a formação de professores não podem

mais se omitir quanto à questão multicultural”. De tal modo, o ensino deve se apropriar

da defesa ao diferente, já que a educação é um agente transformador e na atualidade

precisamos transformar e modificar a visão acerca da diversidade.

Uma maneira de se transformar a visão que se tem é contextualizar o

conhecimento e também “[...] considerar a ideia de que não existe um conhecimento

único e verdadeiro, sendo essa uma questão de perspectiva histórica, ou seja, que se

transforma nos diferentes tempos e lugares” (PENA, 2016, s/p). Partindo disto, na

próxima seção discutiremos sobre a formação do professor para o ensino de ciência,

visando uma aproximação do conteúdo de história da ciência, que busca identificar a

ciência como humana, vinculada a ideologias e compreendida em um dado tempo

histórico.

1.2 FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS:

CONTRIBUIÇÕES DA HISTÓRIA E FILOSOFIA DA CIÊNCIA

Estudos apontam que hoje a visão da construção do conhecimento científico

deve ultrapassar a visão estereotipada da Ciência como desenvolvimento e

descoberta de conceitos mirabolantes e geniais, com uma visão de ciência fantástica

e inalcançável (CARVALHO; GARCIA; 2006). Neste sentido, Martins (1998, p.18),

atenta para a importância de “[...] evitar que se adote uma visão ingênua (ou

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arrogante) da ciência, como sendo "a verdade" ou "aquilo que foi provado", alguma

coisa de eterno e imutável, construída por gênios que nunca cometem erros e

eventualmente alguns imbecis que fazem tudo errado”.

Atualmente, o que se pretende com o ensino, e principalmente o ensino de

ciência, é formar um sujeito que é “fruto de seu tempo histórico, das relações sociais

em que está inserido, [...] um ser singular, que atua no mundo a partir do modo como

o compreende e como dele lhe é possível participar” (PARANÁ, 2008, p.16). Dessa

maneira, para que essa formação do indivíduo aconteça efetivamente, devemos nos

atentar para a formação de professores, para a sua preparação para formar um

aluno/indivíduo crítico e atuante em sociedade. Malucelli (2007) acredita que os

professores de ciências não têm consciência da sua carência ou insuficiência de

formação, o que acarreta na perpetuação das insuficiências para seus alunos.

Um dos aspectos necessários para a formação de professores para o Ensino

de Ciências é compreender de forma contextual a construção científica, oferecendo

significados ao conteúdo específico que se ensina e propiciando a compreensão do

dinamismo da ciência. Essa necessidade se intensifica ainda mais nos dias atuais,

nos quais a presença da ciência e tecnologia é constante. Assim, “discutir o papel das

ciências e das tecnologias na sociedade contemporânea, tornou-se questão das mais

importantes no cenário educacional das duas últimas décadas” (PIETROCOLA et al.,

2003, p.131). Admitimos que essa fala condiz com a realidade, já que a própria LDB

– Lei de Diretrizes e base de 1996 objetiva que os indivíduos devem ser formados

para a compreensão do campo social, político, tecnológico e artísticos e ainda prevê

que essa formação seja interligada a Base Nacional Comum Curricular sendo

articulado com o contexto “histórico, econômico, social, ambiental e cultural” (BRASIL,

1996).

Tendo vista essas premissas educacionais, faz-se necessário a formação de

um indivíduo que possua conhecimentos embasados em fatores históricos e

contextualizados. Para tanto, a inclusão da HFC no ensino de ciência e biologia se faz

muito importante já que contextualiza o conhecimento (CARNEIRO; GASTAL, 2005)

e, ainda, permite a inclusão da história e filosofia no ensino. Segundo Matthews (1995,

p.165), a história e a filosofia da ciência:

[...] podem humanizar as ciências e aproximá-las dos interesses pessoais, éticos, culturais e políticos da comunidade; podem tornar as aulas de ciências mais desafiadoras e reflexivas, permitindo, deste modo, o desenvolvimento do pensamento crítico; podem contribuir

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para um entendimento mais integral de matéria científica, isto é, podem contribuir para a superação do mar de falta de significação que se diz ter inundado as salas de aula de ciências, onde fórmulas e equações são recitadas sem que muitos cheguem a saber o que significam; podem melhorar a formação do professor auxiliando o desenvolvimento de uma epistemologia da ciência mais rica e mais autêntica, ou seja, de uma maior compreensão da estrutura das ciências bem como do espaço que ocupam no sistema intelectual das coisas (MATTHEWS, 1995, p.165).

Portanto, empregar a HFC no ensino pode ajudar o educando a compreender

como o conhecimento foi elaborado, como ele foi desenvolvido e desmistificar a

ciência como uma “fórmula mágica de maravilhas”. Simplício e Almeida (2016, p. 2)

ainda ratificam: “o conhecimento científico não se faz de forma inerte, uma vez que

sua evolução está relacionada tanto com as mudanças históricas, quanto sociais”.

Esta citação evidencia ainda mais a importância de se incluir a HFC no ensino, pois

Carvalho (1990) apud Penitente e Castro (2010) salienta que quando procuramos

estudar conceitos históricos, na realidade estamos tentando identificar a maneira que

ele foi construído e a visão de mundo no qual foi pautado. Assim, proporcionar ao

educando esta vertente pode deixá-lo mais centrado, tendo a percepção que a ciência

sofre influências da sociedade sendo permeada de ideologias.

Ao trabalhar amparado na HFC, pode-se contribuir para a compreensão das

questões relativas à diversidade, pois a HFC trabalha com questões ligadas a cultura

e humanização de conceitos. A HFC permite discutir aspectos da natureza da ciência

e como a ciência vem sendo modificada ao longo dos anos. Nesse sentido, pode-se

evidenciar a influência da cultura de uma época na elaboração e defesa de

determinados conteúdos científicos e que a Ciência não se trata de uma verdade única

e absoluta, mas um conjunto de explicações temporárias para os fenômenos. Em

relação à temática aqui abordada – a diversidade humana – a HFC permite identificar

como a ciência abordou as diferenças entre os seres humanos ao longo do tempo.

Ainda, pode-se destacar que a ciência atual, de maneira geral, reconhece o papel da

diversidade biológica e também da diversidade humana, sendo articulada a um

discurso de respeito ao ambiente e na vida em sociedade. A ciência sendo ensinada

nestes princípios leva ao educando a pensar e avaliar o mundo que o rodeia.

Proporciona o raciocínio acerca do período histórico que está inserido, podendo refletir

sobre as atitudes que estão sendo tomadas, não somente no individual, mas também

em âmbito coletivo.

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A HFC pode colaborar para a melhoria do ensino/aprendizagem, principalmente

no que diz respeito ao ensino de ciência, assim Simplício e Almeida (2016, p. 1-2)

reforçam:

[...] a utilização da História e Filosofia da Ciência (HFC) é um dos possíveis caminhos para a melhoria do ensino de ciências, seja como conteúdo em si, seja como estratégia didática facilitadora da compreensão de conceitos, modelos e teorias, de modo a contribuir para criar no aluno competências e habilidades que permitam entender o processo de construção das ciências como uma atividade humana.

Dessa forma, fica evidente que a inclusão da HFC é essencial para um ensino

de ciências contextualizado e dinâmico. Contudo, apesar da HFC ser importante,

ainda existem algumas dificuldades em se inserir de forma adequada episódios da

história da ciência na Educação Básica (MACHADO ET. AL 2014). Uma das

dificuldades encontradas é a falta de materiais de apoio ao professor, já que a

obtenção de fontes históricas originais demanda tempo e, muitas vezes, é de difícil

acesso. Nesse sentido, esse trabalho propõe a elaboração e validação de uma

sequência didática, como um material de apoio ao professor, buscando articular

aspectos da história da ciência e temáticas de respeito à diversidade humana na

atualidade. Assim, na próxima seção abordaremos um pouco a respeito de materiais

didáticos de apoio para o ensino tanto de ciências e biologia como para a melhoria da

educação de maneira geral.

1.3 MATERIAL DE APOIO DIDÁTICO: POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS PARA

O ENSINO E APRENDIZAGEM DE CIÊNCIA

Desde a época de nossos ancestrais, diferentes objetos são utilizados como

forma de facilitar as atividades do nosso dia a dia. Pesquisas arqueológicas mostram

que o homem vem utilizando objetos artesanais bastante rudimentares, como

martelos, facas, ponta de lanças para realizar diferentes funções para garantir a sua

sobrevivência. Eram materiais utilizados de modo aproximado à forma como eram

encontrados na natureza. Ao passar dos anos, na história da humanidade os materiais

passaram a ser utilizados para facilitar o ensino e a aprendizagem, já que os familiares

utilizavam ensinamentos orais, manuais, visuais para ensinar a respeito das diferentes

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atividades, como o trabalho no campo e o cuidado com as criações (FREITAS, 2009).

Freitas (2009) salienta:

Esses são apenas alguns exemplos de como os seres humanos, desde o princípio de sua existência, lançam mão de diferentes técnicas e recursos que auxiliam e melhoram sua qualidade de vida, até mesmo na educação. É, portanto, uma característica humana buscar e construir estratégias e ferramentas facilitadoras de seu cotidiano (FREITAS, 2009, p. 21).

Neste contexto, diferentes materiais foram e são utilizados no contexto

educativo. Nos dias atuais, também os professores se utilizam de diferentes recursos

e estratégias para facilitar a compreensão de seus alunos.

As pesquisas da área de educação e ensino tem buscado compreender a

complexidade dos processos de ensino e aprendizagem, buscando diversificar

estratégias e metodologias de ensino, recursos didáticos e instrumentos avaliativos

bem como entender os processos cognitivos que ocorrem na aprendizagem

(MENDES, et al., 2012). Essas pesquisas devem dialogar com o contexto escolar e

com a formação de professores, reconhecendo por um lado às experiências que os

professores vivenciam em sala de aula e do outro as pesquisas já realizadas que

podem subsidiar as reflexões e ações docentes, aproximando a pesquisa acadêmica

à realidade escolar. Nesse contexto, a proposição de recursos e textos didáticos vem

no sentido de trazer um elemento de diálogo com o professor, que com base em suas

vivências e seu contexto de ensino pode utilizar esses recursos de modo

diversificados.

Segundo Bandeira (2009, p.14), os materiais didáticos se configuram como

“produtos pedagógicos utilizados na educação, especificadamente, como um material

instrucional que se elabora com finalidade didática”. Ainda, Pais (2000, s/p) salienta

que a finalidade de um material didático “é servir de interface mediadora para facilitar

na relação entre professor, aluno e o conhecimento em um momento preciso da

elaboração do saber”. Sendo assim, o mesmo é um aliado quando se pensa em

facilitar o aprendizado e mediar o conhecimento. Entretanto, o professor é peça chave

para viabilizar esse processo, já que estes recursos têm função de apoio ao docente

e não gera aprendizagem por si só. Contudo, existe uma aproximação maior com o

objeto de estudo quando esse é mediado por diferentes recursos: “O uso de materiais

alternativos no ensino independentemente do nível educacional, permite ao indivíduo

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apreendente uma proximidade maior ao seu objeto de estudo e consequentemente

do conhecimento” (MENDES, et al., 2012, p. 3).

Para diversos autores, o principal material de apoio que encontramos no ensino

é o livro didático. Este material, segundo a PNLD (Programa Nacional do Livro

Didático), “passou a ser considerado o principal referencial do trabalho em sala de

aula” (BRASIL, 2008, p. 29). Contudo, é importante destacar que o Livro Didático não

é o único guia curricular que deve ser seguido pelo professor, mas apenas mais um

material de apoio que deve ser mobilizado de acordo com seus objetivos de ensino

(OLIVEIRA; SILVA 2013), assim Frison et al (2009 p. 11) salienta “[...] o professor

deve desenvolver saberes e ter competências para superar as limitações que ainda

existem nos livros didáticos, tendo a responsabilidade de complementar, adaptar e

dar maior sentido aos livros recomendados pelo MEC.” O livro didático quando

mobilizado pelos professores pode ser um importante material de apoio ao ajudar na

compreensão e dinamizar o conteúdo a ser estudado. Verceze e Silvino (2008, p. 83)

declaram:

O livro didático [...] pode ser visto como um enunciado que constitui um elo na cadeia de comunicação verbal, estabelecida por professores e alunos na sala de aula. Desse modo, na interação face a face, constitui um mecanismo relevante para os processos de leitura e compreensão de textos. Se o professor souber explorá-lo, fazendo uso de sua criatividade, inserindo, através de textos, a diversidade de gêneros textuais necessária ao alunado, certamente, lhe propiciará boas reflexões sobre sua realidade.

Os livros didáticos, contudo, não trazem todos os conteúdos que podem ser

explorados na sala de aula, mesmo porque esse não é um objetivo do livro didático.

Dessa forma, outros textos paradidáticos, textos científicos, textos históricos,

diferentes mídias e recursos podem e devem utilizados pelo professor. Como

destacam os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), cabe ao professor

utilizar, além do livro didático, materiais diversificados como imagens, jornais,

propagandas, folhetos, revistas, computadores, filmes entre outras fontes de

informação na tentativa de ampliar a compreensão de seus alunos. Werneck (2006,

p. 190) ratifica: “O bom professor é o que se preocupa com o ensino e com a

aprendizagem. Para isso, deve aprimorar-se, buscar novas técnicas, pesquisar sobre

o tema”. Nesse sentido, é o professor que organiza suas aulas e avalia seu contexto

educacional utilizando para isso diferentes estratégias e recursos de modo

significativo e contextualizado.

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No ensino de Ciências e Biologia, os professores devem se preocupar também

em como contextualizar os conteúdos de ensino:

[...] em função de equívocos históricos e práticas cristalizadas, muitos contextos de aprendizagem são desenvolvidos sem a devida preocupação com a contextualização dos conteúdos, valorização dos conhecimentos prévios e possibilidades de interconexão com outras disciplinas. Some também aos elementos descritos a enxurrada de termos, definições e o culto a um vasto currículo, quase sempre incompatível com o tempo pedagógico (MENDES, et al.; 2012, p. 3).

Um modo de contextualizar e dar significados aos conteúdos científicos que

estão sendo ensinados é por meio da HFC, contudo, nos livros didáticos a abordagem

histórica da ciência é muito tímida e alguns textos ainda trazem apenas descrições de

“descobertas” e datas, promovendo uma visão distorcida da construção científica

como sendo realizada de forma isolada e das ideias sendo elaboradas de maneira

fácil como simples descobertas (CARVALHO; GARCIA, 2006). Vidal e Porto (2012,

p.304) completam:

Levando em consideração os relatos contidos nos livros didáticos a respeito das origens das ideias científicas, observamos que, na maioria dos casos, a ideia ou a descoberta é apenas citada. Essa maneira simplista de abordar a história da ciência tampouco contribui, de maneira satisfatória, para um entendimento de como a ciência se desenvolve.

Ainda há a problemática de que muitos textos didáticos trazem uma ideia

bastante positivista da ciência, não mostrando a importância das fundamentações

teóricas, divergências entre pesquisadores e das soluções criativas na ciência. Neto

e Francalanza (2003, p. 151) advertem que por mais que a comunidade científica não

meça esforços para solucionar este problema, ainda se tem uma compreensão da

ciência distante da compreensão atual da mesma. Assim, o livro didático aborda os

conteúdos científicos de maneira pronta e acabada, ensinando o conhecimento como

uma verdade absoluta que desconsidera o contexto social e histórico.

Além de aspectos da História e Filosofia da Ciência, é necessário que as

disciplinas escolares abram espaços para discutir desde questões polêmicas da

ciência e tecnologia até o respeito à diversidade cultural e a pluralidade humana,

incentivando o respeito e empatia nas relações sociais. Assim, outra problemática é

encontrar materiais didáticos que possibilitem trabalhar com essas diferentes

temáticas. Recentemente o governo estadual vem incentivando a inclusão de

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questões ligadas à diversidade étnico racial com o programa que estabelece a equipe

multidisciplinar em todas as escolas paranaenses. Segundo o site do governo do

Paraná as Equipes Multidisciplinares são instâncias do trabalho escolar oficialmente

legitimadas pelo Artigo 26A da LDB, Lei nº 9394/96, pela Deliberação nº 04/06

CEE/PR, pela Instrução nº 017/06 SUED/SEED (Secretaria de Estado da Educação),

pela Resolução nº 3399/10 SUED/SEED e a Instrução n.º 010/10 SUED/SEED. Sendo

esta equipe um espaço de debates, estratégias e de ações pedagógicas que

fortaleçam a implementação da Lei nº 10.639/03 e da Lei nº 11.645/08, bem como das

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e

para o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena no currículo

escolar das instituições de ensino da rede pública estadual e escolas conveniadas do

Paraná. Apesar desse projeto estar tendo funcionamento, ainda é tímida esta inclusão

da diversidade, já que o Brasil não se restringe somente a questões étnicas, mas sim

por uma infinidade de múltiplas personalidades e culturas.

Ao considerarmos a importância de um ensino contextualizado e de trabalhar

com a temática da pluralidade humana e respeito à diversidade e ao evidenciarmos a

falta de materiais de apoio para esses propósitos, buscamos nesse trabalho construir

e validar uma proposta didática que articule aspectos da história da ciência e reflexões

a respeito da diversidade de seres humanos. Entendemos, que a escassez de

materiais deve ser vista como um incentivo para novas produções.

Na proposta didática apresentada e validada nesse trabalho destacamos um

momento da história brasileira que teve forte articulação com as ideias biológicas e

científicas de seu período - a exclusão dos considerados anormais no Hospital Colônia

de Barbacena e sua articulação com o movimento eugênico e com ideias biológicas

do que seria considerado “normal”. Compreendemos que ao estudar esse período da

HFC, possibilita-se a emergência de questões a respeito da natureza da ciência e da

diversidade humana em termos de habilidades, comportamentos, culturas, etnias,

entre outros aspectos. No próximo capítulo detalhamos esses aspectos.

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CAPÍTULO 2 – O MOVIMENTO EUGÊNICO E A BUSCA DA PADRONIZAÇÃO DO

SER HUMANO: O CASO BRASILEIRO DO HOSPITAL COLÔNIA DE BARBACENA

Neste capítulo abordaremos o movimento eugênico e seu desenvolvimento no

Brasil, evidenciando de que forma esse movimento se articulou com ideias biológicas

e científicas. Também apresentamos o caso do Hospital Colônia de Barbacena, que

se apoiou parcialmente nas ideias eugênicas bem como em ideias científicas

referentes à normalidade. O caso do hospital ficou conhecido como Holocausto

Brasileiro, uma vez, que nele foram cometidas atrocidades nos tratamentos de

alienados e também pela marginalização das pessoas internadas nessa instituição.

2.1 MOVIMENTO EUGÊNICO: A NOVA IDEOLOGIA DE “MELHORAMENTO

HUMANO”

Purificar a raça. Aperfeiçoar o homem. Evoluir a cada geração. Se superar. Ser saudável. Ser belo. [...] Para ser o melhor, o mais apto, o mais adequado é necessário competir e derrotar o mais fraco pela concorrência. Luta de raças (DIWAN, 2007, p. 21).

Estes foram alguns dos princípios contidos na concepção de eugenia. Um dos

exemplos clássicos deste movimento foi a campanha nazista de Adolf Hitler na qual

pregava-se a busca por “uma raça pura, denominada por ele de ariana, segundo a

qual somente os alemães mais fortes deveriam sobreviver” (GONÇALVES, 2015, p.

80).

Vieira (2012, p.2) enfatiza sobre um dos períodos mais famoso em que se é

lembrado a eugenia:

O primeiro pensamento que sobrevêm ao tratar do tema do eugenismo ou eugenia são os horrores levados à prática pelos nazistas sob a escusa de tentar promover a criação de uma raça pura ou de uma raça com qualidades superiores as demais. Todavia, se os nazistas foram os responsáveis pelo apogeu do eugenismo, tanto em termos conceituais como práticos, eles não foram os únicos responsáveis quer pela criação das técnicas eugênicas quer pela difusão dos métodos de eliminação dos indivíduos mal formados.

Desse modo, podemos conjecturar que a criação da eugenia não ocorreu como

num passe de mágica, ou exclusivamente dos ideais nazistas, mas sim, foi inspirada

em ideais e costumes vindos historicamente da antiguidade. Desde os tempos de

Platão e Aristóteles já se buscava “selecionar” a população entre os ditos seres

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“superiores” ou dignos de se casarem e se reproduzirem. Os hebreus também tinham

seus costumes, preocupando-se com questões ligadas a higiene; os gregos se

limitavam a estabelecer padrões de beleza física para selecionar seus “melhores”

indivíduos. A renascença também colaborou para as ideias eugenicas como, por

exemplo, contribuindo na ideia de colocar o homem no centro de tudo, onde poderia

ser um explorador da natureza e dominá-la O iluminismo veio para instituir a era da

razão, a centralidade da ciência, e os questionamentos filosóficos (DIWAN, 2007).

Para Silva (2007, p. 1) o iluminismo traria a sociedade para a luz do conhecimento, ou

seja, “esta forma de pensamento tinha o propósito de iluminar as trevas em que se

encontrava a sociedade” e assim por meio da ciência e da razão explicar os

fenômenos do universo. No iluminismo acreditava-se que o homem por meio da

ciência deveria buscar respostas que iriam além da fé, envolvendo-se em questões

políticas, sociais e econômicas. Assim, podemos perceber que ao decorrer da história,

vários momentos colaboraram para a fundamentação da ideia de eugenia e que

sempre houve um grande anseio para que se proclamasse a superioridade de um

grupo de indivíduos em relação a outros (DIWAN, 2007).

Foucault (2008, apud SOARES 2016, p.1) nos apresenta um novo termo para a

dominância entre os indivíduos e a superioridade. Este termo é o biopoder, que pode

ser definido como um “conjunto dos mecanismos pelos quais aquilo que, na espécie

humana, constitui suas características biológicas fundamentais vai poder entrar numa

política, numa estratégia política, numa estratégia geral de poder” sendo assim,

biopoder seria um modo de exercer o controle sobre os indivíduos por meio dos

elementos biológicos humanos.

Rabinow e Rose (2006, p. 38) exemplificam formas de biopoder no século XX

por meio de ações oriundas do estado:

[...] os Estados não apenas desenvolveram ou apoiaram mecanismos de segurança, mas também acolheram, organizaram e racionalizaram os fios soltos da provisão médica, especificaram e regularam padrões de habitação, engajaram-se em campanhas de educação de saúde e coisas similares. Até os Estados liberais exerceram seu papel na batalha contra a degenerescência, impondo controles de imigração, legitimando por vezes esterilizações compulsórias ou quase compulsórias, encorajando organizações, dando orientação eugênica sobre o casamento e a procriação, e assim por diante. Com certeza, cada uma destas estratégias tinha sua contrapartida ‘molecular’, como, por exemplo, na transformação da casa em uma máquina para a saúde, a educação e a requisição de mães como

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trabalhadoras auxiliares no cuidado com a saúde de seus filhos (grifos nossos).

Portanto, o movimento eugênico pode ser considerado uma forma de biopoder.

Schneider, Justina e Meglhioratti (2011) relatam que o movimento eugênico teve

grande influência das teorias biológicas mendelianas e das ideias de sobrevivência

diferencial e seleção de Charles Darwin3, pois já naquela época acreditava-se que

várias características físicas, mentais e morais dos humanos poderiam ser

hereditárias, ou seja, herdadas e passadas para as gerações futuras.

A teoria evolucionista entendia que os mais bem adaptados sobreviveriam.

Com base nestas premissas Galton desenvolveu a sua teoria, que enfatizava que por

meio do darwinismo social, e da ideia da “seleção natural e da sobrevivência dos mais

adaptados ocorreria o fortalecimento de uma “raça superior”. Assim [...]

gradativamente, os problemas sociais seriam solucionados” (SILVA; MOURA, 2012,

p. 1282).

Segundo Vieira (2012), o responsável pelo termo eugenia foi Francis Galton,

pesquisador inglês, matemático, biólogo e antropólogo que durante o desenvolver de

sua pesquisa não apenas foi influenciado pela teoria de seu primo Charles Darwin,

mas também pelas ideias de Mendel 4 . Segundo Castañeda (2003), as ideias

propostas por Galton influenciaram diversas outras ideias pelo mundo.

O termo eugenia significa, “eu: boa; genus: geração” e foi desenvolvido no livro

Hereditary genius, escrito por Francis Galton (1822-1911) (CASTAÑEDA, 1998). O

livro até hoje é considerado o precursor da eugenia (SCHWARCZ,1993, p. 60).

“Segundo Galton, diversas características da espécie humana, tais como a

inteligência e o talento para as artes, entre outras capacidades, eram fortemente

determinadas pelo fator genético, e não pelo fator ambiental” (VIEIRA, 2012, p.255).

Desta maneira, ser inteligente e brilhante ou ser estúpido e insignificante, eram

considerados fatores determinados biologicamente (COWAN, 1977 apud

CASTAÑEDA, 2003).

Masiero (2005) relata que Galton acreditava que com o advento da eugenia, a

humanidade estaria caminhando para um mundo ideal, de uma forma racional por

meio do controle biológico da evolução humana. Galton era convicto de que a eugenia

3 Estudioso e defensor da Teoria da Evolução das Espécies, sendo esta teoria que “proporciona uma explicação coerente para o surgimento natural da vida e sua diversificação” (MEGLHIORATTI, 2004, p. 77). 4 Gregor Mendel, pesquisador que se dedicou a escrever sobre a hereditariedade.

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livraria o mundo do crime, loucura, doenças e até mesmo da feiura, sendo estas

adversidades perigosas que acometiam a sociedade. Assim, Castañeda (2003, p.

903) ainda completa: “um degenerado jamais poderia ser melhorado, a única coisa a

fazer seria impedir sua continuidade biológica”. De tal modo, Mayr (1998) apud

Schneider (2013), diz que o programa eugênico de Galton, vinha na tentativa de

politizar a ideia da eugenia, para assim conduzir a humanidade a uma perfeição cada

vez maior.

E foi o que ocorreu na época. O movimento eugênico influenciou as esferas

científicas, sociais, políticas e morais. Segundo Schwarcz (1993), a eugenia se tornou

um movimento extremamente forte a partir de 1980 onde tinha influencia em diversas

áreas. Na ciência ela designou diferentes interpretações para a hereditariedade, as

quais agora eram compreendidas por meio de nascimentos controlados e desejáveis.

No âmbito social, a eugenia era vista como uma forma de controle para os bens

casados, ou seja, ela exercia a função de intervir na seleção dos indivíduos para não

tornar a sociedade uma desordem degenerada.

Gonçalves (2015) argumenta que a eugenia pode ser dividida em duas

vertentes sendo uma “positiva” e outra “negativa”. Para Schneider, Justina e

Meglhioratti (2011, p. 3) “No início do século XX, muitos cientistas defendiam a ideia

de estimular a reprodução entre pessoas com características desejáveis – eugenia

positiva – e desestimular a reprodução entre os doentes e incapacitados – eugenia

negativa”. A eugenia positiva foi inspirada em Galton, que buscava melhoramento da

raça humana pela seleção dos indivíduos, como, por exemplo, selecionar as pessoas

por meio de casamentos convenientes. Já o modelo eugenista “negativo”, partia para

propostas mais extremas, pregando que a melhoria da raça humana só poderia

acontecer com a eliminação dos indivíduos “inferiores” e infelizmente este modelo de

eugenia foi seguido em alguns países. Schneider (2013) declara que por trás do

discurso eugênico de Galton, havia uma ideologia amplamente declarada, que se

baseava em buscar argumentos e suportes científicos para sustentar e divulgar uma

teoria que considerava selecionar as “melhores características” entre a população.

Maciel (1999) afirma que a eugenia defendia os princípios da hereditariedade

como sendo o fator pela qual se determinava o destino e as futuras condições dos

indivíduos, ou seja, se o indivíduo, nascia “pobre”, permaneceria “pobre” até sua

morte. Mas para que este ideal fosse concretizado, fazia-se necessário ser

incorporado em políticas públicas, para ter o controle e “impedir a degeneração”. Esse

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discurso na época foi considerado científico e amparou diversas práticas tanto no

Brasil, como no mundo (MACIEL, 1999).

É importante frisar que este movimento de maneira nenhuma deve ser tratado

como uma barbaridade praticada pela escória científica da época. Segundo Stepan

(2005), a eugenia era praticada pelos mais renomados cientistas e ativistas do seu

tempo, sendo um resultado do desenvolvimento de estudos oriundos da

hereditariedade.

O movimento eugênico emergiu nas discussões brasileiras nas décadas de

1910 e 1920 onde se associou entres outras vertentes, com as preocupações com

saúde, saneamento, higiene, políticas e questões raciais. O Brasil na época era

considerado um país de degenerados, formado por uma mistura de “raças” e sem

perspectivas de se tornar aos olhos do mundo uma nação digna (SOUZA, 2005). Para

Nalli (2005), a palavra “nação Brasileira” ainda era distante para o desejo da elite

brasileira, já que o país era miscigenado, sem politicas organizadas e longe de se

aparentar aos países europeus.

Para Torres (2008) o Brasil nesta época era uma:

[...] República jovem na qual o crescimento urbano convivia com surtos de doenças tropicais, fervilhavam discussões sobre as formas de se agilizar as mudanças sociais reclamadas pelo desejo de vir a ser uma nação moderna. Para alguns cientistas e intelectuais da época, o obstáculo no caminho do desenvolvimento social seria superado com o branqueamento da população; para outros, somente condições sanitárias eficazes, extensivas às áreas rurais, poderiam aumentar a produtividade e a riqueza (TORRES, 2008, s/p).

Desta maneira, a eugenia surge no Brasil em um momento de mudanças e

conflitos sociais. O país era avaliado pelos europeus como sendo um local disgênico,

ou seja, era considerado subdesenvolvido com uma população atrasada, pobre,

analfabeta, mestiça sendo incompatível aos ideais eugênicos. Lança-se assim uma

campanha para inserir a eugenia no Brasil (STEPAN, 2004). O mesmo autor ainda

salienta:

[...] a eugenia surgiu no Brasil como resposta a prementes questões nacionais às quais os brasileiros se referiam em 1920 como ‘a questão social’: as aterrorizantes miséria e falta de saúde da população trabalhadora, em grande parte negra e mulata. [...] Pobreza, migração, imigração e desemprego abriram caminho para um período de radicalização política, protestos, greves e interrupções de trabalho que culminaram em uma gigantesca greve em 1917 (STEPAN, 2004, p. 336).

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Como Stepan (2004) relata, o Brasil era alvo de inúmeras revoltas, pestes, falta

de produção científica, criando o cenário perfeito para o surgimento das conversas

acerca da eugenia em território brasileiro. Estabelecer um aprimoramento da raça

parecia atrativo aos olhos da elite, já que buscavam a tão sonhada “ordem e

progresso” para o país.

Souza (2008) acredita que a eugenia no Brasil foi encarada como avanço e

modernidade cultural. Ela era vista como uma poderosa arma que levaria ao avanço

científico, evolução, progresso e maior civilização da população levando o país a uma

nova realidade social. Albuquerque (2016, p.8) narra:

A raça, o corpo, o sexo, a saúde e a higiene tornaram-se temas correntes. O Brasil era visto como um “país doente”, cabendo então aos médicos curá-lo. Os médicos pesquisadores [eram figurados] como detentores da verdade, dotados de uma capacidade divinal de objetividade. [...] e os seus discursos se constituíram enquanto diretrizes da sociedade brasileira. O campo social é invadido pela medicina, que, enquanto um saber regenerativo, colocava-se como uma tecnologia de poder com intuito de normalizar e de controlar os indivíduos e as populações. A medicina assume uma postura de intervenção social intensa e autoritária.

Desde modo, a partir do ano de 1917, o então médico e farmacêutico Renato

Kehl, divulgou as ideias eugênicas no Brasil criando assim a primeira sociedade Latino

Americana que tratava sobre a eugenia, sendo denominada “Sociedade Eugênica de

São Paulo” (SOUZA, 2005). Não foram só médicos e cientistas da época que aderiram

a este movimento no Brasil. Um dos grandes defensores da teoria eugênica foi o

famoso literário Monteiro Lobato. Como suas próprias palavras escrita a Renato Kehl

exemplificam:

Renato, tu és o pai da eugenia no Brasil e a ti devia eu dedicar meu Choque, grito de guerra pró-eugenia. Vejo que errei não te pondo lá no frontispício, mas perdoai a este estropeado amigo. […] precisamos lançar, vulgarizar estas ideias. A humanidade precisa de uma coisa só: poda. É como a vinha (DIWAN, 2007, p. 105).

Neste trecho fica claro a opinião favorável do escritor no que diz respeito a

aplicação da eugenia no Brasil. Sua opinião era tão favorável aos ideais eugenistas

que até em suas obras haviam traços eugênicos. “Jeca Tatu” foi um exemplo, ‘pois o

famoso personagem criado pelo escritor resume em si uma imagem corrente na época

sobre o brasileiro típico: um homem mestiço, preguiçoso e doente’ (STEPAN, 2005).

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A obra o Jeca Tatu era uma denúncia de Monteiro Lobato sobre as condições

que viviam os homens do interior brasileiro. Ele acreditava que:

A mistura de raças era [...] a causa daquela realidade. O caboclo, o mulato eram por ele apresentados como resultados degenerados da miscigenação. A hierarquia racial, na qual Lobato e intelectuais do período acreditavam, estabelecia que o branco era superior ao negro e que a mistura entre raças diferentes resultava em seres inferiores, degenerados, tal qual era apresentado o Jeca Tatu naquele momento (STANCIK, 2005, p.49)

Como pode ser visto, o movimento se disseminou entre a população brasileira.

Agora “excluir e discriminar” as pessoas era uma prática defendida pelos ideais

científicos e pela lei. E infelizmente, este foi o tratamento que as pessoas ditas “loucas”

tiveram neste período, o discurso biológico influenciado pelo movimento eugênico

fundamentava as ações que ocorriam com os alienados. Para Masiero (2005, p. 199)

a eugenia se apropriando dos ideais de “aprimoramento da raça”, buscava excluir

indivíduos “acometidos por qualquer sinal de distúrbio mental ou físico deveriam

abster-se da reprodução, mesmo que para isso o Estado se encarregasse

compulsoriamente deste impedimento”.

Portanto é visível que o movimento eugênico tinha a pretensão de excluir os

indesejados e de que maneira isso seria possível? Como convencer a população

destes ideais? Como tornar pública está nova ideologia? Estas questões foram

resolvidas no Brasil, mais especificadamente no Estado do Rio de Janeiro, com um

jornal chamado Boletim de eugenia. Este será o assunto da nossa próxima seção,

onde será exposto alguns trechos dos boletins nos quais relatam um pouco mais sobre

o movimento no Brasil.

2.2 BOLETINS DE EUGENIA:

Como conceituado, a eugenia foi um movimento que alicerçou parte do que

acontecia no Hospital Colônia de Barbacena. Acreditamos que uma das maneiras com

que a eugenia ganhou popularidade no Brasil foi através do Boletim de eugenia. Como

é mencionada pelas autoras:

O Boletim foi um dos principais meios de divulgação da eugenia entre a comunidade científica e a sociedade do Brasil, impresso no Rio de Janeiro, com uma tiragem mensal de 1000 exemplares. O Boletim de Eugenia foi publicado entre os anos de 1929 e 1933. Sua tiragem, nos

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primeiros três anos, era mensal, passando, posteriormente, a ser trimestral. O Boletim era composto, em geral, de 4 a 10 páginas. Nele eram publicados artigos de diversos autores com assuntos que divergiam conforme os interesses do editor. Um dos principais objetivos da publicação do Boletim era promover o movimento eugenista e despertar o interesse público para os problemas do país que, segundo os eugenistas, teriam origem racial (MAI; BOARINI, 2002 apud Schneider 2013 p. 71).

A eugenia no Brasil incentivada entre outros por Renato Kehl, buscava livrar o

Brasil do caos que se encontrava. O objetivo era excluir a escória e isolá-la:

Seu objetivo é discernir entre os fatores sociais aquelles que são de natureza a favorecer, de uma parte, a procriação de seres bem dotados, de outra parte, a eliminação progressiva dos indivíduos tarados (KEHl, R.; INQUÉRITO EUGÊNICO p. 3 n. 13, 1930) (grifos nossos).

Interessante ressaltar, que a palavra “tarado” diversas vezes escrita no

Boletins, remete a palavra “tara” cujo significado está ligado a defeito físico ou moral,

degeneração, depravação (FERREIRA, 2009) e assim as pessoas que possuem

alguma imperfeição como serem surdos-mudos, cegos eram referidos como tarados,

realmente o refugo da população (MACIEL, 1999).

Como pode ser percebido o boletim era um meio de espalhar a eugenia no

Brasil. Era a forma de convencer a população que a eugenia era uma ciência que

levaria o Brasil ao sucesso, a melhoria da condição de vida, da desgraça social e da

degeneração humana. Os trechos a baixo exemplificam perfeitamente o seu principal

objetivo de convencimento:

O sucesso da eugenia está ligado, antes de tudo, á conquista da opinião pública e, em participar, das pessoas cultas (KEHl, R.; O QUE TODOS PRECISAM COMPREENDER, 1931, p. 6, n. 33) (grifos nossos).

Eugenismo é a educação é o saneamento, é hygiene, é esporte, é legislação, é, tudo que beneficiando o homem, reverte directa ou indirectamente em beneficio de sua prole (KEHl, R.; EUGENIA E EUGENISMO 1929, p. 1, n 8) (grifos nossos).

É perceptível a crença de que a eugenia era uma ciência que pretendia ser

difundida e aplicada no Brasil. Schneider, Justina e Meglhioratti (2011, p. s/p)

concordam que “eugenia era considerada o início de uma nova ciência, preocupada

com as qualidades raciais humanas.”. Souza (2008) também enfatiza que o

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movimento ao entrar na literatura nacional foi encarado como ciência moderna,

inovação, um progresso para o país. Os trechos exemplificam:

A Eugenia é fundamentalmente uma sciencia que estuda os factores que sob controle social poderão prejudicar ou beneficiar as qualidades raciais das futuras gerações, tanto physicas como mentalmente (KEHl, R; BOLETIM DE EUGENIA, p. 2, 1929) (grifos nossos).

Eugenia é a sciencia do aperfeiçoamento physico, psychico e mental o gênero humano, tendo em conta as disposições hereditárias da semente e as medidas que beneficiam através das gerações (KEHl, R ;EUGENIA E EUGENISMO n 8, p. 1, 1929) (grifos nossos).

[...] esta sciencia não só se relaciona com os problemas biológicos que dizem respeito a vida do homem, como considera todos os factos e influencias que actuam sobre sua vida intelectual, social e moral. Investiga os dados moraes, mentaes e physicos. O eugenista moderno não erra, reconhecendo a importância do meio e dos ideaes, embora o seu objetivo principal seja o controle da espécie humana, no sentido de obter uma proporção maior de indivíduos equilibrados, com qualidades congênitas capazes de adaptação, exigidas por uma sociedade mais elevada (KEHl, R; BOLETIM DE EUGENIA, p.2, 1929) (grifos nossos).

A eugenia realmente acreditava que poderia “salvar” a população dos

problemas que enfrentavam. É perceptível durante a leitura dos boletins o insistente

argumento em falar sobre o “controle da espécie humana”, “aperfeiçoamento”,

“exclusão de degenerados” dentre outras palavras que levam a crer que deveriam

realmente selecionar quem pode viver na sociedade e quem deve ser excluído.

A palavra “degenerado” era vinculada aos incapazes, como explica Miskolci

(2003). “Degenerado” era um indivíduo fadado a fraqueza ao fracasso, a enfermidade

e desempenho social perigoso. A degeneração era tratada como hereditária, sem

mudança, sem cura, ou seja, era uma característica adquirida determinante e

definitiva.

E como “salvar” e prover esta “salvação”? Uma maneira que foi encontrada

para tornar o discurso eugênico uma realidade foi efetivá-lo com a política. Tornar as

leis biológicas indissociáveis as leis sociais era uma extrema necessidade para Kehl,

como o mesmo pronuncia: “não há política racional, independente dos princípios

biológicos, capaz de trazer paz e felicidade aos povos. Eis, por que, a política, por

excelência, é a política biológica, a política com base na eugenia” (KEHL, 1937, p.13

apud SOUZA, 2005, p. 6).

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Outra maneira encontrada foi segundo Souza (2008) tornar a eugenia no Brasil

um caráter preventivo. E o que seria melhor na prevenção do que promover uma

educação eugênica? Assim durante todos os exemplares dos boletins que obtivemos

em nossa pesquisa, sempre vemos um tom de “educar”

A eugenia sempre terá em mira a educação popular em questões de hygiene e de hereditariedade, pondo em relevo as applicações sociaes das leis, que são susceptíveis de interessar a coletividade (KEHl, R; INQUÉRITO EUGÊNICO, p. 3, n. 13, 1930) (grifos nossos).

Sabemos que por meio da educação conseguimos ultrapassar muitas barreiras

e os eugenistas na nossa concepção tinham esta visão. Rocha (2014) explica que não

só os eugenistas acreditavam numa educação eugênica como advertiam que somente

por ela e por uma condição social favorável que o Brasil sairia da desgraça. A própria

constituição brasileira de 1934 no seu artigo 138 demostra a influência da eugenia na

educação e, portanto, no campo das ideias dos jovens brasileiros:

Art 138 - Incumbe à União, aos Estados e aos Municípios, nos termos das leis respectivas: a) assegurar amparo aos desvalidos, criando serviços especializados e animando os serviços sociais, cuja orientação procurarão coordenar; b) estimular a educação eugênica; c) amparar a maternidade e a infância; d) socorrer as famílias de prole numerosa; e) proteger a juventude contra toda exploração, bem como contra o abandono físico, moral e intelectual; f) adotar medidas legislativas e administrativas tendentes a restringir a moralidade e a morbidade infantis; e de higiene social, que impeçam a propagação das doenças transmissíveis; g) cuidar da higiene mental e incentivar a luta contra os venenos sociais (BRASIL, 1934).

A questão racial também é redigida nos boletins de eugenia. Era claro o

desfavorecimento do negro em função o branco. Masiero (2005, p. 203) cita em seu

artigo uma pesquisa realizada por Oliveira Vianna (1959) onde retrata a inferioridade

como que negros eram tratados nas pesquisas. A pesquisa europeia comparava as

habilidades intelectuais de brancos e negros, chegando aos números percentuais de

que os brancos considerados superdotados variavam entre 5% desta população, já

os superdotados na população de negros não passariam de 0,8%. Assim é evidente

que a intenção do movimento eugênico era reafirmar que mulatos e negros seriam

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degenerações da população, organismos fracos que levariam a sociedade à

desgraça. Os trechos exemplificam:

Os mestiços brasileiros de branco e preto (mulatos), são, na maioria, elementos feios e fracos, apresentado, com frequência, os vícios dos seus ancestrais. Apresentam grande instabilidade de caráter e

constituem elementos perturbadores do processo nacional, sob o ponto de vista ethnico e social (KELH, R.; QUESTOES DE RAÇA, p.3, n. 6-7, 1929) (grifos nossos).

É razoável o casamento do branco com o preto? Não, absolutamente, não. E ainda mais, nem razoável nem decente (KELH, R.; CRUZAMENTO DO BRANCO COM O PRETO, n. 30, p.3, 1929) (grifos nossos).

Sou optimista relativamente ao futuro ethnico do Brasil. tenho a firme crença de que o processo de cruzamento de selecção natural, bem assim a entrada crescente de novas correntes européas modificarão, para melhor, o estado geral da população, quer sob o ponto de vista geral da população, quer psychico: já se delinea, claramente, o caminho da futura consolidação ethnica (KELH, R.; QUESTOES DE RAÇA, p.3, 1929) (grifos nossos).

O único recurso certo, radical, para o melhoramento da espécie humana é o recurso eugênico, o melhoramento genético da humanidade. Este recurso consiste na multiplicação das famílias eugênicas e na restricção paulatina e progressiva das não eugênicas. Não existe outro caminho (KELH, R.; EDUCAÇÃO E EUGENIA, p. 1, n. 9, 1928) (grifos nossos).

A imigração também era um problema questionado pelos eugenistas. No I

Congresso eugênico do Brasil, a imigração se tornou uma pauta, já que segundo

Maciel (1999) ela era considerada um perigo que poderia acabar com o controle e

propiciava o “contágio” da população. Na época era grande a imigração para o nosso

país. Entretanto, Kehl ressaltava que deveria haver limites para a entrada dos

imigrantes, sendo que os africanos e asiáticos deveriam ser impedidos de entrar no

Brasil, já que acreditava que os mesmos não trariam benefícios a polução, ao contrário

a tornaria mais degenerada. Os trechos demonstram:

O branco, sempre considerado como raça superior, é orthognatha, tem o ângulo facila apurado e o índice cephalico tão exagerado que, sem a menor duvida, marca o sensível afastamento das espécies inferiores (KELH, R.; CRUZAMENTO DO BRANCO COM O PRETO, n. 30, p.3, 1929) (grifos nossos). Como constituinte da raça inferior, o negro é prognatha, tem o ângulo facial exagerado e índice cephalico quasi nullo (KELH, R.;

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CRUZAMENTO DO BRANCO COM O PRETO. n. 30, p.3, 1929) (grifos nossos).

A eugenia era fortemente ligada a questões de hereditariedade, casamento e

reprodução. Praticamente este era o seu carro forte, toda a teoria eugênica era

fortemente alicerçada a reprodução dos indivíduos puros e considerados vantajosos

hereditariamente. Souza (2005) argumenta que uma possível causa de se levar em

conta a hereditariedade seria porque os estudos da época garantiam que a

criminalidade, as diferentes formas de delinquência, promiscuidade, doenças metais,

os diferentes vícios e até mesmo a pobreza eram vinculados a fatores hereditários.

Assim

Em certos casos, seria vantajosa, para a comunidade, a prohibição ao casamento ou a esterilização de indivíduos positivamente nocivos a espécie (KELH, R.; EDUCAÇÃO E EUGENIA, n. 9, p. 1, 1928) (grifos nossos).

Se os homens tivessem consciência do que representa “casar e multiplicar” o grande problema da felicidade estaria resolvido (KELH, R.; EDUCAÇÃO E EUGENIA, n. 9, p. 1, 1928) (grifos nossos).

Como pode ser visto a eugenia influenciou questões científicas, raciais,

imigratórias, higiênicas, hereditárias entre outras e era a única forma pregada de

melhorar a raça.

Emquanto não se estabelecer a “consciência eugênica”, o mundo continuará o mesmo, um paraiso perdido pelo gênerados humano, constiuido por um amontoado amorfo de anormaes, parasitando um núcleo relativamente pequeno de equilibrados (KELH, R; EDUCAÇÃO E EUGENIA, p. 1, n . 9, 1928) (grifos nossos).

E a questão de normalidade como pode ser vista nos grifos a cima, não poderia

ficar a parte desta discussão. A normalidade e a loucura também vieram como uma

forma de exclusão da população. Um exemplar do boletim argumenta que para se

medir a normalidade, mesmo sendo muito difícil, era estabelecida uma média, no qual

indivíduos que tivessem muitas características degeneradas eram ditos anormais e

outros que possuíam poucas eram taxados como normais.

Não é, pois fácil estabelecer, com rigor absoluto, os limites desta normalidade ideal, taes as gradações existentes, na realidade, entre os caracteres apresentados pela maioria dos nossos semelhantes

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(KELH, R.; SEREI UM INDIVIDIO NORMAL?, n. 29, p. 1, 1931) (grifos nossos).

Todo individuo, pois, que se afastar do typo médio, para baixo da linha M (depreciação) póde-se considerar como degenerado; e todo aquelle que se typo médio para cima, (valorização) póde-se considerar normal superior (KELH, R.; SEREI UM INDIVIDIO NORMAL?, n. 29, p. 1, 1931) (grifos nossos).

Um individuo pode apresentar um ou mais caracteres anormais, tendo todos os demaes regulares, como se verifica. Via de regra, sendo por isso passível de uma classificação favorável na tabela da normalidade. Homem normal absoluto é raríssimo ou mesmo não existe (KELH, R.; SEREI UM INDIVIDIO NORMAL?, n. 29, p. 1, 1931) (grifos nossos).

Ainda que fosse estabelecida uma forma de classificação de normal e anormal,

o próprio boletim deixa claro que é difícil ter exatidão nesta classificação quando

adverte que é raro ou inexistente o indivíduo normal. Isto deixa claro que apesar da

inexatidão da classificação a eugenia ainda sim permitia que os “anormais” fossem

marginalizados. Segundo Miskolci (2003, p. 114), “[...] a Eugenia - ampliou o espectro

de controle da normalidade de forma a prescindir do isolamento dos indivíduos em

instituições fechadas”.

Somente dois motivos podem autorizar o Estado a fazer internar um louco – o da caridade e da defesa social. O primeiro, quando ele é inofensivo, e então a sua finalidade se limita ao próprio louco; o segundo, quando constituem um perigo para a sociedade, e então a sua finalidade tem por alvo a preservação social (KELH. R.; A PHYCHIATRIA EM NOSSAS LEIS PENAIS, n. 14, p. 4, 1930) (grifos nossos).

Desta forma, intensifica-se a ideia de que o “louco” deve ser aprisionado e

isolado do meio social. Além de ser evidenciado que o mesmo adquire esta

característica ainda na idade fetal, portanto pode ser algo hereditário e de difícil

diagnóstico como exemplifica o trecho a baixo.

Idiotia, em pathologia, é um déficit mental consecutivo a uma parada no desenvolvimento psychico, ocorrente já na vida fetal, ou nos primórdios da vida extrauterina, cuja symptomatologia o leigo em psychiatria jamais será capaz de differençar de alguns outros estados mórbidos como por exemplo certas demências (KELH. R.; A PHYCHIATRIA EM NOSSAS LEIS PENAIS, n. 14, p. 4, 1930) (grifos nossos).

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Portanto, pode ser percebido que a eugenia se apropria da loucura, e, portanto,

da área psiquiátrica no Brasil. Segundo Couto (1994) a psiquiatria brasileira sofreu

grande influência da teoria eugênica, pois ela transformou os parâmetros de

normalidade em fatores sociais, para evitar a degeneração. Nos anos 20 era tanto

controle da eugenia sobre a psiquiatria que pode ser visto o aparecimento de diversas

entidades psiquiátricas baseadas nestes ideais por todo Brasil, a Liga Paulista de

Higiene Mental e o Sanatório Pinel de Piratuba são alguns exemplos. Assim, Weyler

(2006, p. 21) reforça que o entendimento da loucura estava atrelado nesse período às

influências eugênicas, já que:

Atribuía-se à loucura um caráter hereditário, transmitida em graus crescentes através das gerações. As classes sociais inferiores, compostas por indivíduos degenerados, eram portadoras de “maus hábitos”, “vícios” e “ociosidade” que alimentavam a vesâ-nia. Esta concepção justificava a pobreza e estigmatizava os pobres. Essa teoria conferiu à medicina mental um outro patamar teórico e prático e foi uma importante aliada do enfrentamento, no início do período republicano, dos problemas urbanos trazidos pelas recentes mudanças econômicas, sociais e políticas.

O mesmo autor argumenta que havia uma grande preocupação por parte do

Estado em promover o progresso da nação, assim por meio da teoria de

degenerescência (base eugênica) era justificado o aprisionamento e recolhimento dos

indivíduos para os hospícios. Para a população e o governo, em favor da ordem e

progresso, era imprescindível realizar uma limpeza social, onde os ditos degenerados

e alienados fossem retirados das ruas e principalmente do convívio social, assim o

internamento nos hospícios era visto como algo benéfico e solucionava o problema.

“Foi neste contexto e apoiado nesses ideais que os hospícios e as colônias para

alienados como instituições médicas surgiram, no Brasil, como promessa de um

mundo regulado que substituiria o caos da loucura pelo triunfo da razão” (WEYLER,

2006, p. 24).

Os boletins de eugenia abordavam estas questões de exclusão dos alienados

como mostra os trechos a baixo:

A tara da psychopathia, como a tara do crime, é pois indiscutivelmente hereditária (KELH, R.; MALUCOS E CRIMINOSOS, p. 8) (grifos nossos).

As medidas em praticas em consistem em estabelecer colônias e albergues para mendingos. Penitenciarias e prisões para os

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criminosos, manicômios e hospitais para os loucos e degenerados, sem que os estabelecimentos criados comportem o numero crescente de infelizes que surgem cada dia em progressão geométrica (KELH, R.; A CAMPANHA DA EUGENIA NO BRASIL, p. 1, n 33, 1931) (grifos nossos).

Ainda, pode ser visto que existia todo um aparato para o convencimento dos

leitores, pois eram expostas nos boletins pesquisas que fortaleciam o argumento de

que a loucura devia ser controlada e isolada.

A loucura por seu lado é tremenda. Nos 14 manicomios de New York existiam em 1928 sob tratamento 58,354 doentes, mais de 9,124 nas escolas de anormais e 1890 nos institutos para epilépticos. A despesas com estes infelizes orçou em muito milhões de dólares, sendo que em sete annos, esse estado approvou emissões de bônus no valor de 150.000,000 para atterder as despesas com psychopathas (KELH, R. MALUCOS E CRIMINOSOS, p.8, n. 23, 1930) (grifos nossos).

O peor é que a maioria dos delinquentes são incuráveis ou incorrigíveis, em virtude das suas tendências innatas para o crime, sendo necessário mantel-os, indefinidamente, sob vigilância em estabelecimento de reclusão (KELH, R. MALUCOS E CRIMINOSOS, p.8, n. 23, 1930) (grifos nossos).

Segundo estudos feitos, officialmente, na américa do norte calcula-se que existem 5 debeis mentaes para cada 1000 habitantes, correspondendo pelo menos 500.000 debeis mentaes a todo o paiz (KELH, R.; CRIMES E DEBILIDADE MENTAL, n . 24, p. 10, 1930) (grifos nossos).

Tomando por base a estatística americana, de 5 debeis mentaes para cada 1.000 habitantes, calculamos que existem , no Brasil, cerca de 200.000 individuos nessas condições de inferioridade (KELH, R.; CRIMES E DEBILIDADE MENTAL, n . 24, p. 10, 1930) (grifos nossos).

Só mesmo um serie programma de prophylaxia da procriação poderá reduzir, progressivamente, essa avalanche de infelizes, que constituem grave perigo para a communidade(KELH, R.; CRIMES E DEBILIDADE MENTAL, n . 24, p. 10, 1930) (grifos nossos).

Como visto a eugenia se tornou uma ideologia popular que propunha que a

“loucura” fosse controlada e isolada. Nesta perspectiva, o movimento eugênico

permeou com ideologias os hospitais e instituições que tratavam das pessoas

consideradas “anormais”, um desses casos foi o do Hospital Colônia em Barbacena

Minas Gerais. A eugenia já estava sendo uma realidade no Brasil, funcionava como

uma ideologia que mantinha um controle e fazia parte da opinião popular. Concluímos,

portanto que por mais que hoje vemos o que aconteceu no Hospital Colônia como

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sendo algo terrível, cruel e desumano tinha apoio, em geral, de ideias científicas da

época.

Schneider (2013) argumenta que a eugenia foi uma forte ideologia que a

história da ciência pode exemplificar. Por meio desta ideologia podemos ver como

houve um favorecimento de uma classe dominante em detrimento dos menos

favorecidos. A ideologia entorno da loucura favoreceu a classe dominante que

pretendia o branqueamento e a reprodução da “raça pura”, assim o que não era aceito:

louco, epilético, grávidas sem maridos, alcoólatras, protestantes, negros, amantes

entre outros estorvos sociais, ganharam um aparato para serem reclusos e garantir a

paz social.

2.3 HOSPITAL COLÔNIA EM BARBACENA: UM CAMPO DE CONCENTRAÇÃO

“PSIQUIATRICO”

“Está chegando mais um “trem de doido” — gritou um funcionário do

hospital” (ARBEX, 2013, p.22).

Estas são palavras que representam o Hospital Colônia de Barbacena durante

a maioria das décadas de seu funcionamento. Entretanto, não era essa a ideia inicial

mineira de auxílio aos alienados. A ideia inicial para se implantar uma assistência aos

alienados no estado de Minas Gerais surgiu das poucas alternativas que eram

encontradas para o encaminhamento de seus doentes psiquiátricos. Para os doentes

só havia três escolhas: (1) a Santa Casa de Misericórdia; (2) as cadeias públicas; (3)

Hospícios Nacionais de Alienados no Rio de Janeiro, onde, infelizmente, era oferecido

somente 25 leitos. Dado a esta limitada escolha, e ao grande gasto do Estado com

manutenção dos seus doentes, foi proposta a criação da Assistência a Alienados no

Estado de Minas Gerais. Assim, em 1903, a cidade de Barbacena foi designada para

receber as instalações de um hospital especializado em recursos psiquiátricos

(VIDAL, et al., 2007).

A cidade de Barbacena nem sempre foi conhecida como a pioneira mineira em

atendimento psiquiátrico no estado. Inicialmente era conhecida como “Cidades das

rosas”, já que há uma grande produção das mesmas no local, entretanto, após o ano

de 1903 a cidade foi federalmente conhecida como a “Cidade dos Loucos” (BOTTI;

TERRÉZIO, 2013).

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Na cidade dos loucos ainda hoje são encontradas manifestações a respeito da

loucura, dentre estas o famoso Festival da Loucura. Segundo Botti e Terrézzio (2013,

p. 308), desde o ano de 2006 é realizado anualmente este festival, que tem a duração

de quatro dias, onde manifestações culturais, artísticas e científicas são apresentadas

nas ruas e praças da cidade. “As atividades da programação dão visibilidade social

ao tema da loucura para além do espaço restrito de tratamento ao qual historicamente

sempre esteve fortemente relacionado”.

Além desse festival, a cidade conta com o Museu da Loucura, localizado no

Centro Hospitalar de Barbacena, rodovia MG-265, Km 5. Segundo Orsi (2013, p. 1), o

museu que foi inaugurado em 1996 objetiva preservar a memória da História do

Hospital Colônia de Barbacena, onde o sofrimento e impunidade marcaram a vida de

muitos brasileiros. Este museu é dito pioneiro na temática loucura no Brasil, e seu

“acervo [...] abriga fotografias e documentos textuais dos pacientes, mas também

objetos museológicos, tais como aparelhos de eletrochoque e de raios-X.”

A história do Hospital Colônia de Barbacena se inicia em 1903, ano de sua

fundação. Durante os seus 30 anos primeiros anos de funcionamento, o Hospital

incentivava a produção agrícola, ganhando fama e sendo buscado por inúmeras

famílias para a internação de seus parentes. Nos primeiros anos realmente ele foi

conhecido como sendo um hospital que possuía tratamento humanizado (ORSI,

2013). Esse incentivo agrícola que o hospital desempenhava, inferimos que seja

devido a cultura que o Brasil tem desde o período colonial, de ser um forte produtor

do setor primário5. Além disso, nesta época de sociedade pré-capitalista, segundo

Constantine (2003, p. 27), o Brasil aceitava diversos públicos para realizar trabalhos

agrícolas e artesanais, “porque tanto o trabalho agrícola como o artesanato, atividades

estas sobre as quais se assentava a economia da época, eram capazes de aceitar

grande variedade individuais”. Podendo ser pessoas normais ou anormais.

A cada dia, mais pacientes eram internados, dando ao hospital um número

excessivo de pessoas. Este excesso, aliado a falta de funcionários e recursos

segundo Orsi (2013) fez com o hospital virasse um deposito humano de rejeitados por

meados de 1930. Arbex (2013) relata que ao chegar no hospital o paciente perdia sua

identidade, sendo classificado como um mero “objeto” que segue uma categorização.

5 [...] o setor primário abrange a agricultura em sentido restrito (isto é, a lavoura), a pecuária, a caça, a pesca, bem como a extração de minerais e de madeira, ou seja, todas as atividades de exploração direta dos recursos naturais de origem vegetal, animal e mineral, não implicando em uma agregação de valor via industrialização (ALMEIDA; SILVA; ANGELO, 2013, p. 149-150).

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Os recém-chegados eram levados ao setor de triagem onde eram separados por sexo,

idade e características físicas. Seus pertences eram entregues, inclusive roupas e

sapatos a força, e assim eram levados a banhos coletivos, geralmente gelados e

prosseguiam para o corte de cabelo, onde os homens tinham cabelos raspados

semelhantes a prisioneiros de guerra. Após a classificação e desinfecção, cada grupo

recebia um uniforme chamado de “azulão” dada a sua cor azul escura e o material

pesado que era confeccionado, e assim cada um seguia para o seu setor.

Arbex (2013, p.2) descreve:

Homens, mulheres e crianças, às vezes, comiam ratos, bebiam esgoto ou urina, dormiam sobre capim, eram espancados e violados. Nas noites geladas da serra da Mantiqueira, eram atirados ao relento, nus ou cobertos apenas por trapos. Instintivamente faziam um círculo compacto, alternando os que ficavam no lado de fora e no de dentro, na tentativa de sobreviver. Alguns não alcançavam as manhãs (ARBEX, 2013, p. 2).

Os pacientes seguiam regras de disciplinas, onde acordavam às 5h da manhã,

seguindo o rumo do pátio do pavilhão. Não importava se estava chovendo, ou fazendo

frio, os pacientes ficavam o dia todo no pátio, onde só retornavam aos dormitórios no

início da noite para dormir. Durante o período que se encontravam no pátio caso

estivesse muito frio, os internos tinham que se esquentar da maneira que conseguiam,

assim eles andavam em grupos, uns se encostando-se aos outros para garantir ao

menos uma sensação de calor (ARBEX, 2013).

Os cuidados com os pacientes eram os mais banais possíveis. Silva e Baltazar

(2013) mencionam que no lugar de enfermeiros, haviam guardas espalhados pelos

pavilhões. Os pacientes na maioria das vezes passavam fome, alimentando-se das

próprias fezes para sobreviver. Não haviam remédios, além do “eletrochoque” que era

distribuído, na forma de controle.

Entretanto, mesmo com esses tratamentos desumanos que eram realizados no

hospital, os tratamentos psiquiátricos durante a história eram muito variados nas áreas

psiquiátrica. A história dos tratamentos psiquiátrico se inicia a partir do século XX onde

sofreu muitas mudanças ao passar dos anos. Segundo Sabbatini (2017):

As primeiras décadas do século XX testemunharam uma grande revolução na nossa compreensão e no tratamento das doenças mentais. Até então, pessoas portadoras de psicose eram simplesmente trancadas em asilos para loucos, onde recebiam apenas alguns cuidados simples e, algumas vezes, apoio social, sem

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que nenhuma terapia efetiva estivesse disponível para os "alienistas", como os psiquiatras eram então denominados.

Todavia com o advento de pesquisas durante os anos, os tratamentos

psicológicos começaram a ser aprimorados e assim os “alienistas” passaram a ter

tratamentos mais específicos. Os tratamentos inicialmente se baseavam em

experiências sobre a questão da convulsão e doenças mentais, já que se acreditavam

que a convulsões minimizavam os traumas mentais. Contudo, ao passar dos anos vão

sendo aprimorados com o avanço da ciência com a utilização de quimioterápico e

aparelhos elétricos (SABBATINI, 2017).

Por volta do século XVIII, Pinel o pai da psiquiatria, descreve sobre o tratamento

para o alienado. Ele acreditava que deveria ser dentro de manicômios, porém

promovendo a reeducação do indivíduo, com atitudes firmes, contudo gentis, já que

era desejável que os indivíduos tivessem respeito a normas e que não fossem

agressivos (LOPES, 2001 s/p).

Porém com o passar do tempo houve uma leitura modificada do tratamento moral de Pinel, [...]As ideias corretivas para o comportamento dos hábitos dos doentes passaram a ser recursos de imposição da ordem e da disciplina institucional [...]. No início do século XIX o tratamento do doente era uma releitura distorcida do tratamento moral de Pinel e utilizava medidas físicas e higiênicas como duchas, banhos frios, chicotadas, máquinas giratórias e sangrias (LOPES, 2001 s/p).

E nesta vertente de tratamento que se baseou o hospital colônia. Orsi (2013, p.

3) conta que os métodos “terapêuticos” eram muitos dolorosos, e aplicados como

represália por má comportamento, como era costume do ideário psiquiátrico. Um dos

tratamentos mais utilizados era o eletrochoque. Outro método era a lobotomia, “que

consistia em uma psicocirurgia onde ocorria a abertura de orifícios na parte sagital do

crânio, para retirada das fibras nervosas dessa região do cérebro”. Está psicocirurgia

transformava os pacientes agressivos e agitados em indivíduos mais calmos e

passivos.

Por não terem atendimento adequado e sofrerem diversas agressões, os

internos do Hospital Colônia faleciam constantemente. Vital et. al. (2007, p. 74)

declaram:

[...] elevadas taxas de óbito na população internada apontavam para as péssimas condições a que os pacientes estavam submetidos: pavilhões em estado precário de conservação, excesso de pacientes,

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inexistência de tratamento, falta de medicamentos e escassez de alimentos. Em toda a história do hospital, foram mais de 60 mil mortes, e as principais causas eram as infecções intestinais e pulmonares, a fome, além do frio a que os pacientes eram expostos.

Com esse relato de Vital et. al. (2007) sobre o número de mortes, podemos

introduzir outro crime que acontecia entre os muros do Hospital Colônia: a venda de

cadáveres. Castro et al (2015, p.3) relatam em seu trabalho sobre o livro de registro

de cadáveres da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG que a maioria dos

corpos que entraram na universidade após o ano de 1940 possuíam registro com

lacunas, isto porque “[...] a partir de 1954 [...] o Hospital Colônia de Barbacena passa

a ser o principal responsável pelo fornecimento de cadáveres para as aulas de

anatomia”. Arbex (2013) entrevista um professor da Universidade de Juiz de Fora, que

presenciou a chegada de um lote de cadáveres na universidade. O mesmo relata a

conversa que teve com um técnico de laboratório sobre o espanto de ver tantos

cadáveres juntos:

Rapaz, que luta! Essa madrugada uma camioneta de Barbacena chegou lotada de cadáveres. O responsável localizou o diretor da medicina e ofereceu cada corpo por 1 milhão (cerca de R$ 364 nos dias atuais). Se a universidade não quisesse, já tinha comprador no Rio de Janeiro. Claro que o diretor não podia perder a oportunidade. Estávamos apenas com seis cadáveres, e o preço estava bom. [Fala do técnico de laboratório] (ARBEX, 2013, p. 61).

Como pode ser visto o hospital não era o local mais adequado para uma pessoa

com algum déficit intelectual ou para qualquer tipo de pessoa. No primeiro capítulo de

seu livro, Arbex (2013) relata a situação do ambiente do hospital no Pavilhão Afonso

Pena no ano de 1975. Por meio de narrativas vindas de uma funcionária, a autora

relata que o local seria uma área grande, com muros altos que a primeira impressão

“aspirava cinzas”. Ao entrar no pavilhão, o cheiro insuportável combinado com a

sujeira do ambiente e o impacto de ver seres humanos quase todos desnudos e em

condições deploráveis, rastejando no chão, quase desfigurados, causava náuseas a

funcionária. Os mortos eram empilhados no canto do grande salão pelos funcionários

e “apesar de estar tomada pela indignação, sentiu–se impotente diante da instituição

tradicional que mantinha, com o apoio da Igreja Católica, as portas abertas desde

1903. ” Ainda Orsi (2013, p.9) declara “[...] durante a ditadura militar que os conceitos

médicos desapareceram e passaram a ser mandados para lá desafetos” com maior

frequência.

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Tendo suporte tanto da Igreja Católica, como da teoria eugenista que se

instalava no intelecto brasileiro e ainda mais o apoio do governo da época, o Hospital

continuou a receber o “trem de Doido”. Além do trem, ainda os internos chegavam ao

hospital de ônibus ou viaturas, já que a força policial da época era autorizada a assinar

internações e requisições de internamento (ARBEX, 2013). Assim percebemos que:

[...] dentro deste contexto histórico que se encontra o doente mental hospitalizado, agora sujeito de estudo. Eles constituem uma população específica, com perda da sua autonomia e vulneráveis não só em decorrência da própria doença que os afeta, mas também pela situação de abandono que muitas vezes se encontram (LOPES, 2001 s/p).

Para a admissão dos pacientes era necessário somente um requerimento para

as vistas da assistência hospitalar psiquiátrica. Perpassava longe a necessidade de

uma avaliação clínica (NASCIMENTO, 2014).

Art. 33º. - A admissão dos indigentes se dará por ordem do Secretário do Interior. 1. A requisição de admissão no hospício, apresentada ao secretario do Interior, deverá ser acompanhada de: a) Uma guia contendo o nome, filiação, naturalidade, edade, sexo, côr, proffesão, domicilio, signaes physicos e physiconomicos do individuo ou a sua photographia, bem como os demais esclarescimentos que puder colligir em ordem a certificar-se a identidade13; b) Uma exposição dos motivos pelos quaes a alienação está provada ou suspeitada; incidentes que ocorreram para a prisão, caso tenha ella sido feita, e attestados medicos, si houver, afirmativos de molestia mental; c) Attestado de auctoridade local competente, provando a indigencia e a residencia no estado, ao menos por seis mezes (DECRETO nº 1.579, 1903 apud MORETZSOHN, p. 18, 1989)

Como mostra o artigo 1.579/1903 o hospital passou a receber pessoas sem o

mínimo necessário para que houvesse uma assistência digna e humanista. Com isso,

não só pessoas com diagnósticos psiquiátricos entraram no hospital, mas também os

ditos “problemas sociais” assim passando a virar um depósito humano imenso de

rejeitados (ORSI, 2013). Ainda que o movimento eugênico tenha entrado em declínio

após a segunda guerra mundial, algumas ideias permaneceram na sociedade

brasileira, na qual as pessoas consideradas diferentes eram isoladas e

marginalizadas. Além disso, ideias científicas da área psiquiátrica continuaram a dar

suporte as ações e métodos de tratamentos desumanos, evidenciando que a ciência

nem sempre é ética e beneficia a todos.

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Em seu livro Holocausto Brasileiro Arbex, (2013, p.12) argumenta que:

Cerca de 70% não tinham diagnóstico de doença mental. Eram epiléticos, alcoolistas, homossexuais, prostitutas, gente que se rebelava, gente que se tornara incômoda para alguém com mais poder. Eram meninas grávidas, violentadas por seus patrões, eram esposas confinadas para que o marido pudesse morar com a amante, eram filhas de fazendeiros as quais perderam a virgindade antes do casamento. Eram homens e mulheres que haviam extraviado seus documentos. Alguns eram apenas tímidos. Pelo menos trinta e três eram crianças.

De tal modo, o hospital cada vez mais aspirava critérios esdrúxulos e absurdos

para os seus diagnósticos, sendo até a “tristeza” considerada como motivo para a

internação. Fassheber (2009, p. 35) salienta que era obviamente uma “faceta de

limpeza social a que a loucura estava submetida na época” (década de 30). Um dos

pacientes do colônia declarou a Arbex no seu livro: “O que acontece no Colônia é a

desumanidade, a crueldade planejada. No hospício, tira-se o caráter humano de uma

pessoa, e ela deixa de ser gente. É permitido andar nu e comer bosta, mas é proibido

o protesto qualquer que seja a sua forma” (ARBEX, p. 14, 2013).

Orsi (2013) declara que a situação do hospital começou a se modificar a partir

da década de 70, onde por meio Reforma Psiquiátrica que ocorreu no Brasil, houve a

divulgação das ações que aconteciam dentro das paredes do Colônia. Com o declínio

da ditatura e abertura de vertentes políticas mais liberais, as denúncias ganharam

maior público, houve divulgação de documentários, reportagens jornalísticas de

diferentes jornais da época, na tentativa de modificar o que estava acontecendo. Isto

cominou com o movimento da reforma psiquiátrica e então “Foi nesse momento que

começaram a entrar profissionais especializados na área psiquiátrica, com o objetivo

de apagar o passado que um dia fora tão cruel e sofrido” (ORSI, 2013 p. 5).

É no período situado entre 1978 e 1980 que se reconhece, em geral, o começo das ideias que passaram a nortear a Reforma Psiquiátrica brasileira, um processo que segue nos dias de hoje. A Reforma propõe uma crítica conjuntural e estrutural ao sistema de saúde mental brasileiro, “ao saber e às instituições psiquiátricas clássicas, dentro de toda a movimentação político-social que caracteriza a conjuntura de redemocratização” (AMARANTE, 2003, p.87, apud BORGES, 2017 p. 107).

Hoje, o Hospital Colônia ainda se encontra em funcionamento, com o nome de

“Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena” tendo 171 pacientes registrado

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como internos de longa permanência, visto que não possuem familiares e nem

para onde se dirigir. As atividades se modificaram completamente, hoje os

pacientes não são maltratados e nem vagam pelo pátio sem ter o que fazer, eles

desempenham aulas de desenho, teatro, artesanatos como crochê, e costura

(CASTRO, 2015).

Por fim, nesse sentido, estudos que propõem trabalhar com a História da

Ciência podem contribuir para evidenciar os diferentes aspectos vivenciados no

Hospital Colônia, desmitificando a ciência como algo neutro e demonstrando que essa

pode sofrer mudanças e ser refutada no decorrer dos anos (RUFFO, 2015). Assim, é

possível identificar que a ciência tem um “[...] forte sentido cultural, social e ético e

amplamente influenciada pelo contexto e pelo percurso, contrariando uma mera

descrição e enumeração de descobertas feitas por cientistas isolados e endeusados

[...]” (PAIXÃO; CACHAPUZ, 2003, p.31). No caso do tratamento dos considerados

diferentes a ciência influenciou tanto com as ideias eugênicas – mais intensas na

primeira metade do século XX – como pela institucionalização dos tratamentos

psiquiátricos que eram muitas vezes desumanos.

2.4 O MUSEU DA LOUCURA – BARBACENA –MG.

Para manter viva a história da “loucura” em Barbacena – MG, o próprio Estado

Mineiro e outras instituições públicas incentivam as ações culturais que contam os

acontecimentos que ocorriam no local. Marzano (2008) versa em sua dissertação

sobre instituições destinadas a reconstituir a memória da loucura no município de

Barbacena, e entre as memórias da “Terra de doido”, descreve o Museu da Loucura

em grande riqueza de detalhes.

O Museu foi inaugurado no dia 16 de agosto de 1996, oriundo de acordos

firmados entre a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMG), o Centro

Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB) e a Fundação Municipal de Cultura de

Barbacena (FUNDAC). Buscava o “resgate da história de Barbacena, mantendo-se os

núcleos históricos em seus lugares “originais”, ou demarcados de forma fiel aos

espaços de seu acontecimento “real” ” (MARZANO, 2008, p. 56).

Tendo esse objetivo, o Museu da Loucura está situado em um dos pavilhões

em que o Hospital Colônia tinha o funcionamento, segundo Prudente (2005), o

pavilhão era destinado a doentes tuberculosos, sendo as terras na época de Joaquim

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Silvério dos Reis, o traidor da inconfidência mineira. O museu conta com sete salas

que contam a história do Hospital Colônia e aspectos da Loucura. Na sala 1, Marzano

(2008) relata que consta como foi a criação e as progressivas evoluções do primeiro

Hospital de Assistência aos Alienados de Minas Gerais, fundado em 1903. Na sala 2,

o mesmo autor, diz que a proposta do Museu seria de descrever o tratamento que os

doentes eram submetidos no Hospital Colônia, sendo mostrado fotos, aparelhos

utilizados, fármacos, microscópios e vários textos que ilustram como aconteciam o

tratamento psiquiátrico na época. Na sala 3 é proposto as particularidades do doente

mental, o modo como havia o preconceito, o abandono familiar, e a exclusão social.

O museu traz como texto inicial intitulado “O paciente”:

O doente mental é antes de tudo um doente social. O impulso da

sociedade de tê-lo afastado justifica o hospício, e este é o destino de

muitos pacientes até a morte. As internações são justificadas de todas

as formas: psicóticos, deficientes físicos, alcoólatras, epilépticos e

rejeitados em geral. A maioria das famílias abandona seus doentes

que se tornam crônicos (MARZANO, 2008, p. 65).

A sala 4 ainda na perspectiva de Marzano (2008) demostra como era a vida do

paciente que vivia no Hospital Colônia. Ali é mencionado a venda de cadáveres para

universidades, onde os livros e textos do museu contam domínio que as “autoridades”

exerciam sobre os pacientes. A sala 5 é uma representação de um centro cirúrgico da

época, onde há um crânio com instrumentos utilizados na época para realizar a

cirurgia de lobotomia. Ainda é encontrado radiografias expostas ao fundo músicas de

batimentos cardíacos conferindo um suspense ao local. As duas próximas salas (6 e

7) se dedicam a demostrar o novo cotidiano do antigo Hospital Colônia no caso

atualmente o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena. São relatadas as falas de

pacientes em momentos de descontração e demonstrações artísticas.

Desta maneira, Marcos (2012) afirma que poder vivenciar o conteúdo das salas

do Museu permite ao ser humano, uma profunda reflexão sobre o mundo e

principalmente, permite uma análise crítica sobre nós mesmos e nossa relação com o

diferente, com o difícil. E também com a vivência deste momento o mesmo autor

descreve que é inevitável um exame de consciência, onde buscamos nosso lugar

nesta sociedade, onde os valores são demasiadamente turvos, onde tratamos as

pessoas com um grande e imenso “nada”.

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2.5 AS PESQUISAS REFERENTES AO HOSPITAL COLÔNIA DE BARBACENA

Para evidenciar a necessidade de realizarmos pesquisas a respeito da História

da Ciência, diversidade e ideologias, nesta seção traremos resultados de uma

pesquisa do tipo “estado da arte6” sobre o Hospital Colônia de Barbacena- MG. Esta

pesquisa foi realizada durante o ano de 2015, procurando levantar os trabalhos em

fontes oriundas da internet, que se dedicaram a falar sobre o Hospital Colônia, suas

temáticas e as áreas do conhecimento que abrangem este tema. Este estado da arte

foi uma peça bastante importante da realização e conclusão desta dissertação, já por

meio dele podemos identificar como a temática do Hospital Colônia de Barbacena

estava sendo estudada, quais os trabalhos que estava sendo desenvolvidos, quais as

abordagens e aspectos explorados e por fim, se estava colaborando de alguma forma

com o âmbito educacional.

Na pesquisa de estado a arte foram encontrados 16 trabalhos que enfocam o

Hospital Colônia de Barbacena, sendo uma combinação de artigos em eventos,

artigos em revistas, dissertações e teses, todos após o ano de 2007. Portanto, pode-

se inferir que o Hospital não foi foco de muitas pesquisas durante as últimas décadas.

Ainda ao analisarmos mais a fundo os artigos encontrados a respeito do Hospital

Colônia de Barbacena, percebemos que grande parte dos trabalhos trazem menção

a reforma psiquiátrica brasileira e a psicologia. No que diz respeito às áreas do

conhecimento que abordam a temática do hospital, podemos evidenciar, a área de

psicologia como líder nas produções, seguida pela graduação de história, mestrado

em ciência da saúde, graduação de jornalismo e sociologia.

Os trabalhos de psicologia (CEZAR; DUARTE, 2011), (PERON, 2013),

(BECHO, 2016), (DUARTE, 2011), (SILVA et al. 2011), (GOULART, 2010),

(AVARENGA; NOVAIS, 2007), (PASSOS et al. 2007) relatam acerca da influência que

o Hospital Colônia de Barbacena teve na reforma psiquiátrica Brasileira. Fassheber

(2009, p. 17) relata que o Hospital Colônia era uma total desordem, ficando claro o

colapso do local como recurso terapêutico aos “loucos”. Dessa maneira, surgem

diversas denúncias, vindas de funcionários e de membros da sociedade de modo

geral. “Tais denúncias atingiram seu ápice no ano de 1979, quando o psiquiatra

6 Romanowski e Ens (2006), argumenta que estado da arte se trata de uma revisão e um levantamento

de dados sobre determinado conhecimento. Ele visa uma análise qualitativa dos resultados sendo um estudo descritivo e analítico.

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italiano Franco Basaglia visitou Barbacena e comparou o famoso Hospital Colônia a

um campo de concentração nazista”.

Quando se pensa na área de conhecimento ligada ao jornalismo (SILVA;

BALTAZAR, 2014), foi talvez o trabalho que rendeu mais publicidade ao hospital, já

que traz as dificuldades e contribuições de uma jornalista mineira, para revelar o que

aconteceu dentro dos muros do Hospital. O documentário produzido por ela se intitula

“Holocausto Brasileiro: 50 anos sem punição” onde foi primeiramente publicado em

sete matérias no jornal Tribuna de Minas. Dois anos após esta série de publicações,

a jornalista pública seu livro no Brasil e em Portugal. Este livro (ARBEX, 2013)

denuncia o crime silencioso que aconteceu principalmente durante o período do

regime militar brasileiro, no qual as pessoas chegavam ao hospital em trens e iam

embora mortas para o comércio ilegal de corpos para as universidades de medicina

de todo o país. Os trabalhos de História (CALEIROS; CELESTINO, 2010), (DUARTE,

2009), (ORSI, 2013) relatam fatores históricos, como por exemplo fala das

concepções e práticas que ocorriam no hospital de Barbacena entre os anos de 1946

– 1979.

Ciência da Saúde (MALAMUT, 2013) e (FASSHEBER, 2009) trata de trabalhos

voltados a questão de saúde mental vinculados ao hospital colônia, como por

exemplo, o trabalho de “O processo de reforma psiquiátrica no município de

Barbacena - MG no período 2000-2004: um estudo de caso acerca da “Cidade dos

Loucos” (FASSHEBER, 2009) traz um estudo de caso acerca do processo de

transformação em saúde mental em Barbacena-MG. Por fim, Sociologia “Os

esquecidos: familismo e assistência pública na inimputabilidade por doença e

deficiência mental no Brasil” (SANTOS, 2014) mostra um trabalho que se dedica a

socialização dos pacientes após sair do hospital, (desinternação), mostrando dados

qualitativos e quantitativos.

O estado da arte, ainda revelou as temáticas que os trabalhos se dedicam a

explanar sobre o Hospital. Foram evidenciadas as seguintes temáticas: Revisão

Bibliográfica, Documentários e reportagens, Práticas humanizadas no tratamento das

doenças mentais, Relação entre loucura e práticas ideológicas e Determinação

biológicas e a questão da saúde mental. Assim, abordaremos alguns trabalhos que se

tornaram relevantes para a constituição da dissertação, enriquecendo o nosso

horizonte perante as práticas que aconteciam no hospital e as pesquisas já realizadas

sobre eles.

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As revisões bibliográficas são bastante abundantes quando se pensar do

Hospital, acredita-se que seja oriundo dos muitos artefatos e documentos históricos

que podem ser encontrados no “Museu da Loucura”, proporcionando releituras e

revisões sobre o Hospital. Um trabalho interessante é do autor Orsi (2013)

denominado “Esquecer ou relembrar o passado? Neste artigo, encontra-se reflexões

sobre o museu da loucura e hospital colônia de Barbacena através dos veículos de

comunicação. Ali são mencionados fatos interessantes como por exemplo: dados

sobre o museu da loucura, sua inauguração em 1996 em Barbacena – MG,

mencionando ser o primeiro museu do Brasil que trata do tema loucura. São

mencionados os materiais que são encontrados lá, como fotos, documentos textuais

dos pacientes, os aparelhos que eram usados no hospital, como eletrochoque e raio

X. O artigo deixa claro o objetivo do museu em deixar viva a memória histórica do

manicômio, mostrando o espaço de sofrimento e impunidade que os ditos “loucos”

viveram no início do século XX.

Quando se pensa em documentários e reportagens referente ao Hospital, é

trazido como referência o famoso documentário “Em nome da razão”, no artigo de

Maria Stella Brandão Goulart (2010). Acredita-se que a iniciativa para a produção do

documentário surgiu da indignação de um cineasta ao ver fotos clandestina do

hospital. Ele se questionava “Como a sociedade permite que as famílias e a medicina

despejem pessoas neste depósito de lixo humano?” (ARBEX, 2013, p.181) e assim

na tentativa de sensibilizar a população por meio do cinema produz este documentário

que “exibiu relatos de pessoas que estavam a vida inteira internadas por causa de

brigas familiares, do abuso de álcool e de comportamento homossexual” (ARBEX,

2013, p.181). Em Práticas humanizadas no tratamento das doenças mentais foram

identificados trabalhos que se propunham a mencionar sobre a assistência ao

deficiente intelectual, onde mostra como evoluiu o tratamento e a legislação brasileira

para este grupo de pessoas. O artigo de Peron (2013), exemplifica perfeitamente a

“preocupação” do poder legislativo com a situação do Hospital Colônia, já que

menciona que em 1961 o então presidente Jânio Quadros, coloca o governo a serviço

do Hospital Colônia, na tentativa de minimizar o caos que lá se encontrava. O estado

mineiro cria comissões para discutir o que acontecia, mas nada foi feito para modificar

as ações que lá ocorria. Somente em meados de 1970 que a situação começa a se

modificar graças a denúncia de psiquiatras e a reforma psiquiátricas que se iniciava.

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Em Relação entre loucura e práticas ideológicas, são mencionados a questão

do hospital e aspectos da loucura. O artigo de Passos et al (2007) menciona como era

visto o louco pela sociedade, sendo “como o resíduo da sociedade, os loucos

passaram a ser excluídos do convívio social, juntamente com os ladrões, as

prostitutas e demais marginalizados sociais (PASSOS et al., 2007, p. 243). Assim,

pode ser percebido que exclusão dos “loucos” esteve vinculada as ideologias de cada

época, tendo colaboração da teoria higienista e da teoria eugenista. A questão da

higiene era um elemento fundamental para a civilização no início do século XX,

sustentado as ideias biológicas de seleção natural e produção de seres humanos mais

aptos e saudáveis. A teoria higienista no Brasil, sustentava a ideia que deveria ser

controlada as classes ditas perigosas, ou seja, pobres que ofereciam perigo de

contágio de doenças (FERNANDES; OLIVEIRA, 2012) proporcionando um cenário de

desordem pública.

A teoria eugenista foi vigorosa e presente como sustentação das práticas do

Hospital Colônia de Barbacena. O trabalho “Esquecer ou relembrar o passado? O

museu da loucura e as reflexões acerca do hospital colônia de Barbacena através dos

veículos de comunicação” (ORSI, 2013) mostra como esta teoria dava suporte ao o

que acontecia, já que mesmo com a revolta de alguns funcionários perante os males

que eram feitos com os pacientes, havia esta teoria que dava suporte a limpeza social

da escória.

As determinações biológicas e a questão da saúde mental são abordadas no

artigo “De ares e luzes a inferno humano. Concepções e práticas no hospital de

Barbacena 1946 1979 estudo de caso” (DUARTE, 2009), que enfatiza os argumentos

biológicos e a influência da biologia na sustentação das práticas que aconteciam no

Hospital, determinando que a “Loucura” era algo hereditária e contagiosa.

A herança se transmitia por meio de sucessivas gerações e não se restringia apenas ao plano biológico, mas incluía ainda as dimensões intelectuais, morais e de comportamento. Assim, os efeitos da transmissão hereditária da morbidade tenderiam a acentuar os traços da tara adquirida pelos predecessores nas gerações subsequentes (DUARTE, 2009, p. 36). Os partidários “higienista psíquica individual”, os higienistas, propunham a prevenção da doença mental, preocupando-se em estimular medidas profiláticas, de modo que os distúrbios psíquicos dos doentes mentais não pudessem ser transmitidos aos descendentes, hereditariamente (DUARTE, 2009, p.85).

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Podemos perceber que os pensamentos de hereditariedade se articulavam

com traços ideológicos da eugenia, nos quais defendia o melhoramento humano por

meio da reprodução por indivíduos da mesma classe, saudáveis, virgens e que não

apresentassem sinais de doenças, já que qualquer característica, inclusive a

considera “pobreza intelectual” era passada de pai para filho (MACIEL, 1999).

Finalizando esta seção, podemos perceber que produções referentes ao

Hospital Colônia de Barbacena, muito pouco tem a ver com questões de ensino e

educação e propriamente a história e filosofia da ciência. Entretanto, Para Carneiro e

Gastal (2005), a inclusão da HFC no ensino de ciência e biologia se faz muito

importante já que contextualiza o conhecimento, além de ser uma das recomendações

do currículo do ensino fundamental e médio. Desta maneira, a realização de trabalhos

que articulam estas vertentes com a educação, são extremamente pertinentes já que

exploram novos caminhos para o aprendizado dos alunos e justificam o trabalho de

pesquisa aqui apresentado na dissertação. Assim, no próximo capítulo discutiremos

mais a fundo sobre a educação e diversidade.

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CAPÍTULO 3 – DA COMPREENSÃO DA “LOUCURA” AO RESPEITO À

DIVERSIDADE HUMANA

Neste capítulo iremos abordar um histórico da temática “loucura” na tentativa

de compreender como ela foi tratada no decorrer dos anos. Para Silveira e Braga

(2005, p. 592) “[...] a história nos mostra que [...] loucura, alienação, doença mental,

transtorno mental e sofrimento psíquico não foram pensados de maneira uniforme

nem ao longo da história, nem no mesmo espaço temporal”. De tal modo, buscaremos

conceituar como a loucura foi entendida e reproduzida pela sociedade ao passar dos

anos, buscando levar a reflexão sobre a forma que estamos vendo os indivíduos,

como estamos criando estereótipos e julgando baseados em conceitos e ideologias

sociais e científicos. Ainda, traremos discussões a respeito da compreensão da

loucura e diversidade na educação, discutindo referenciais teóricos e legislações

brasileiras que apoiam o respeito a diversidade na sociedade e escola.

3.1. A LOUCURA E A NORMALIDADE AO LONGO DO TEMPO

A definição de loucura nos dias atuais segundo o dicionário Ferreira (2009, s/p)

é: “(1) Alienação mental. (2) Insensatez; imprudência. (3) Extravagância. (4) Doidice,

ato descontrolado ou irrefletido”. Entre outras palavras loucura no século XXI é

atribuído o significado de desrazão, desordem mental e psicológica a qual um

indivíduo sofre. Todavia, esta não é a concepção que se tinha da loucura a séculos

atrás.

Para Oliveira (2016) foi Hipócrates (460-377 a.C.) que rompe com a ideia de

loucura como sendo ação demoníaca. Ele acreditava que a irracionalidade vinda da

loucura deveria ser pautada em concepções médica, tendo como base

esclarecimentos racionais, não místicos como era sendo usado na época. Hipócrates

ainda acreditava que as doenças mentais teriam causas naturais, no qual estava

intimamente relacionada com as forças externas e internas que regiam o corpo. A

loucura tinha origem no desequilíbrio entre as forças internas e externas, e deveria

ser tratada com drogas para o controle. Cherubini (2006) destaca ainda que para

Hipócrates a loucura tinha origem física, provocados por desequilíbrios cerebrais

originados de disfunções humorais. Além de Hipócrates, outros pensadores como

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Aristóteles e Galeno, defendia que o coração e os pneumas7 era o órgão central

produtor da loucura.

Segundo Silveira e Braga (2005) a visão que se tinha da loucura na Grécia

antiga fugia desta atribuição definida por Ferreira (2009) e Oliveira (2016). Silveira e

Braga (2005) esclarecem que na antiga Grécia a loucura podia até ser tratada como

um privilégio ou uma dádiva divina, onde por meio dos devaneios poderiam ser

alcançadas verdades que não eram enxergadas por seres “normais”.

Frequentemente, a loucura era interpretada como sendo um “saber divino”, no qual os

pensamentos dos “privilegiados” eram interpretados como mensagens dos deuses,

buscando aproximar os homens dos desejos dos deuses do Olimpo. Sendo assim, a

loucura passa a ser “[...] um lugar social possível, não era preciso bani-la ou controlá-

la, visto que era necessária como instrumento de decodificação da vontade divina”

(PEDROSA,1996, p.1).

Essa interpretação da loucura com caráter místico prevaleceu por vários anos

até que surge na antiguidade clássica a ideia de loucura como representação

simbólica do mal (SILVEIRA; BRAGA, 2005, p. 593). Mas, como muitas vezes não há

sempre uma unificação de ideias, também na cultura grega-romana, havia aqueles

que acreditavam que:

As pessoas enfermas de doença mental estariam, segundo esta opinião, possuídas por espíritos malignos e vulneráveis à cólera dos deuses. Neste sentido, considerava-se extraordinariamente difícil delinear meios seguros para a intervenção e tratamento destas doenças. As intervenções estavam sobretudo entregues a médicos sacerdotes e fundamentadas basicamente em processos médico-religiosos (OLIVEIRA, 2016, p. 107).

Assim, na renascença e na idade média muda-se o conceito de loucura,

passando a ser interpretado como algo ruim, passível de exclusão. Soler (2012)

destaca que esta visão de loucura na idade média, em partes é oriunda da imagem

que se tinha do leproso, já que o mesmo era marginalizado.

Na idade média as cidades escorraçavam os loucos (os de origem estrangeira), deixando-os correrem pelos campos distantes, quando não eram confiados a grupos de mercadores e peregrinos. Havia barcos que levavam os insanos de uma cidade para outra, e como errantes eles vagavam de cidade em cidade. Frequentemente as

7 Pneumas [...] definindo-os como vapores e sopros internos do corpo humano que afetam o encéfalo e as faculdades mentais. Mais tarde, os pneumas são denominados de "espíritos animais" pelos filiados à escola pneumática, como Descartes e Thomas Willis (CHERUBINI, 2006, p.27).

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cidades da Europa viam essas naus de loucos atracar em seus portos (PSICOFISIOLOGIA, 1997, s/p).

Como pode ser visto, na idade média, a loucura tinha um caráter religioso e

místico, era vinculado a forças demoníacas e bruxaria. Essas forças sobrenaturais

dominavam o homem e agiam o tornando insano, e modificando a sua conduta. “Todo

comportamento bizarro pode ser obra do demônio. As pessoas tidas como loucas

equivalem a endomoniadas; são mutiladas, queimadas em fogueiras, exorcizadas.

Sofrem toda a sorte de perseguições” (CHERUBINI, 2006, p.27).

Portanto, a renascença e a idade média são marcadas com o princípio da

loucura como sendo um indivíduo sobrenatural, incapaz, descartável, perigoso e digno

de desprezo. Como Pedrosa (1996, s/p) aponta a loucura neste período era “vista

como um conjunto de vícios: avareza, preguiça, indolência, etc. De substantivo

transcendente a loucura passa a ser adjetivo desqualificador”. Desta maneira a

loucura veio a ser motivo de exclusão, de marginalização e fica pior quando a medicina

se apropria desse conceito a tornando uma patologia.

Soler (2012, p. 3) destaca que no século XVII ainda a loucura era vista como

sendo um tipo de desequilíbrio. No século XIX ela vem tomar significados mais

científicos, ligados a conceitos biológicos, físicos e psicológicos. Segundo o autor essa

nova atribuição é proveniente do:

[...] surgimento da indústria, pois anteriormente, aquele que tivesse capacidade física e mental para o trabalho e permanecesse ocioso era nocivo ao Estado. Desta forma, para endossar a mão de obra barata necessária ao crescimento das indústrias e assim da riqueza, surge a mudança do conceito de loucura [...].

Com o conceito de loucura sendo vinculado a medicina, a loucura toma status

de anormalidade e patologia. Para Hegenberg (1998) a medicina classifica, quando

se pensa em uma linguagem clínica, como sendo normal tudo aquilo que foge do

patológico e de doenças. E ainda conceitua, a anormalidade como tudo que não é

benéfico a nossa saúde, tudo que é nocivo. Entretanto, estes conceitos foram também

utilizados para as questões ligadas à loucura, logo pessoas que tinham as faculdades

mentais “perfeitas” eram ditas normais, e aquelas que apresentavam algum desvio de

uma “norma ideal” eram taxadas como anormais.

De tal modo, pode ser percebido que a expressão 'normal' é extremamente

habitual e comum em nosso vocabulário, sendo admitida em diversos contextos,

inclusive na Medicina. Entretanto, deve se ter cuidado com o seu uso, já que nem

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sempre pode ser delimitado o seu significado, sendo necessário intensos estudos e

esforços para chegar em alguma conclusão (HEGENBERG, 1998).

Atualmente, é corriqueiro vermos em nossa sociedade certos estereótipos com

pessoas diferentes taxando-os como seres normais ou anormais. Quando atribuímos

a palavra “diferente ou anormal”, neste trabalho não estamos somente falando de

pessoas com algum tipo de déficit físico ou intelectual, mas também pessoas que são

julgadas como diferente por ter uma orientação sexual, determinada cultura, etnia,

identidade de gênero, modo de agir, entre outros aspectos que tem sido motivo de

preconceitos na sociedade atual.

Julgamos pela aparência, excluímos e marginalizamos por preconceitos e

principalmente por ignorância. Conceituamos os indivíduos baseados em ideias

vindas da mídia e do senso comum, sem avaliarmos com maior clareza a situação

como um todo. O termo normal é muito subjetivo já que algo dito normal para uma

época ou uma localidade, pode não ser em outros períodos e locais.

Archer (2016, p. 9) traz uma reflexão bastante pertinente quando pensarmos

em normalidade, pois ele faz a indagação: “Desde cedo aprendemos que possuímos

determinadas aptidões que nos tornam especiais. Se ser normal significa ser igual a

todo mundo, qual é a vantagem? Não deveríamos preferir ser únicos e nos aceitar

como somos?”. Estas indagações nos fazem refletir sobre o porquê de nós termos a

tendência de querer normatizar tudo, se as nossas diferenças que nos confere

vantagem em diferentes meios da sociedade. Será medo? Preconceito? Falta de

conhecimento? Para Affonso (2014, p. s/p) uma das hipóteses de termos essa

tendência é possuirmos um caráter cultural bastante forte, ou seja, temos o costume

de seguir tradições, sendo passadas de geração em geração. O autor ainda afirma

que essas tradições são passadas independentemente do tempo ou lugar, sendo

muitas vezes reproduzidas sem nenhum cuidado e reflexão, permanecendo como

verdades incondicionais. E dentre essas verdades, uma ideia que permanece ao longo

dos anos é de que “somos ou devemos ser “normais”.

Lima (2006, p.17) afirma:

[...] a diversidade é norma da espécie humana: seres humanos são diversos em suas experiências culturais, são únicos em suas personalidades e são também diversos em suas formas de perceber o mundo. Seres humanos apresentam, ainda, diversidade biológica. Algumas dessas diversidades provocam impedimentos de natureza distinta no processo de desenvolvimento das pessoas (as comumente chamadas de “portadoras de necessidades especiais”). Como toda

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forma de diversidade é hoje recebida na escola, há a demanda óbvia, por um currículo que atenda a essa universalidade (LIMA, 2006, p.17 apud GOMES, 2007, p.19).

Portanto, deve ser compreendido que a diversidade é extremamente benéfica

para uma sociedade, tanto no caráter biológico8, como em vida social, já que ser

diferente é uma característica humana, que nos permite sermos únicos. Desta

maneira, como Lima (2006) menciona deve haver um currículo escolar que propicie

uma conscientização que o diferente e a diversidade não deve ser eliminado e

marginalizado, mas sim respeitado e principalmente ser aceito da maneira que ele é.

De tal modo, esta discussão sobre a questão de diversidade serão as fontes

inspiradoras da próxima seção, onde buscaremos refletir sobre o que vemos como

“louco” ou diferente, e como podemos criar maiores possibilidades de inclusão a

diversidade na sociedade e no ambiente escolar.

3.2. O LOUCO É O QUE É DIFERENTE? O RESPEITO À DIVERSIDADE HUMANA

“Temos o direito de ser iguais sempre que as diferenças nos inferiorizem, temos o direito de ser diferentes sempre que a igualdade nos descaracterize. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades” (SANTOS, 2003 s/p).

O sociólogo Boaventura de Souza Santos usa esta célebre citação para

destacar a importância de olhar para o diferente com bons olhos, com respeito e

compreensão. Inspirados nesta colocação do autor, mesmo tendo consciência que a

mesma é bastante famosa e amplamente conhecida, entendemos que essa frase

exemplifica o que esperamos discutir acerca da diversidade e da loucura nesta seção.

Para Santos (2008, p.14), tratar de temas ligados à diversidade na educação

não se refere somente a questões ligadas a estudantes com necessidades especiais,

mas também tratar de diversidade é: “[...] dar oportunidades a todos os alunos de

acesso e permanência na escola, com as mesmas igualdades de condições,

respeitando as diferenças”. Para o autor, ainda cabe a esta definição de diversidade,

conteúdos ligados a demandas culturais, socioeconômicas, étnicas, as desigualdades

e discriminação.

8Quando falamos em caráter biológico estamos atribuindo à questão de diversidade biológica de

indivíduos em uma população que pode conferir, por exemplo, resistência a doenças.

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O que temos que compreender é que a diversidade deve ser encarada como

uma característica positiva dentro de uma sociedade. Gomes (2007, p.22) adverte que

“O ser humano se constitui por meio de um processo complexo: somos ao mesmo

tempo semelhantes (enquanto gênero humano) e muito diferentes (enquanto forma

de realização do humano ao longo da história e da cultura)”. Assim, mesmo que em

termos biológicos sejamos muito próximos, intelectualmente cada indivíduo é único

em suas diferenças, em suas crenças, costumes e deve ser respeitado e valorizado

ao seu modo.

Atualmente, um dos grandes desafios encontrados pela sociedade atual é

respeitar o direito da diversidade. O mundo está cada vez mais desigual e as

diferenças dos grupos acabam por repercutir em abusos e rotulações das pessoas,

sendo as pessoas com necessidades especiais ou aquelas que fogem as normas

culturais de um determinado local as mais prejudicadas (SOTO, et al. 2006). Vivemos

numa sociedade impregnada de normas e regras e quando nos distanciamos dos

“padrões” de ações esperados somos tachados de “loucos” ou “anormais”. Salles e

Silva (2008, p.150) declaram:

A sociedade categoriza pessoas em função, dentre outros aspectos, do que considera comum e natural para um grupo social, uma faixa etária ou um status social. As preconcepções que construímos sobre um grupo de pessoas são transformadas em expectativas e normas de comportamento e esperamos que elas ajam de acordo com elas (SALLES; SILVA, 2008, p. 150).

Portanto, a sociedade julga o que considera normal, e o restante que não se

enquadra nessa normalidade é taxado como indivíduos “loucos” ou “anormais”. Para

Berger (1986), a sociedade cria maneiras de estabelecer padrões, nas quais acaba

classificando seus membros, e julgando tudo aquilo que pode ser aceitável ou não.

Desta maneira, podemos concluir que dentro de uma sociedade muitas vezes só é

aceito aquilo que segue a norma, os indivíduos que fogem a isto são marginalizados

e esquecidos.

Becker (2008, p. 15) ainda ressalta:

Todos os grupos sociais fazem regras e tentam, em certos momentos e em algumas circunstâncias, impô-las. Regras sociais definem situações e tipos de comportamento a elas apropriados, especificando algumas ações como ‘certas’ e proibindo outras como ‘erradas’. Quando uma regra é imposta, a pessoa que presumivelmente a infringiu pode ser vista como um tipo especial, alguém de quem não se espera viver de acordo com as regras estipuladas pelo grupo.

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De tal modo, a própria sociedade é um fator excludente de indivíduos e essas

normas, regras e expectativas podem acontecer também na realidade da escola,

sendo motivos de preconceitos e até mesmo de agressões psicológicas e ações de

violência física (RAMOS, 2008). Contudo, é importante destacar, como afirmam

Cordeiro e Buendgens (2012, p.50), que a escola é em sua essência lugar da

diversidade e responsável por ensinar valores de respeito às diferenças. Entretanto,

mesmo tendo essa função, “ela também reproduz juízos, crenças, estereótipos e

significados que estabelecem e refletem padrões de normalidade e, por conseguinte

estabelece critérios de exclusão das relações sociais”.

Do mesmo modo, para Santos (2008, s/n) a escola e a educação da

contemporaneidade devem priorizar as ações coletivas, estando voltada para

questões que contemplem a importância das diferenças. Deste modo, deve ser

discutida a diversidade humana em sua totalidade, levando em consideração as

questões a serem discutidas e/ou refletidas a respeito da etnia, raça, gênero, classe,

sexo, entre outras, “valorizando todo o conhecimento que os diferentes grupos trazem

para a sala de aula, enriquecendo muito mais o ensino e a aprendizagem, onde,

infelizmente acabam sendo despercebidos ou ignorados por muitos professores”.

Ao criarmos estereótipos, de acordo com Bento (2005, p. 35), carimbamos a

pessoa, passando a ver por meio de uma marca, pouco importando como realmente

ela seja, assim eternizando um conceito negativo de inferioridade em relação ao outro.

Anos atrás, as brincadeiras e apelidos eram encarados como algo natural e inofensivo

entre as relações interpessoais. Entretanto, após os anos 70, em virtude dessas

“brincadeiras” tomarem rumos inesperados e extremamente agressivos, como, por

exemplo, levar pessoas a morte, esta temática da “violência na escola” ganha a mídia,

trazendo grande repercussão (SOUZA; ALMEIDA, 2011). Pode-se ver uma íntima

relação entre a questão de violência, preconceito e o bullying como relata Cobas

(2011, s/p):

Existe uma relação direta entre respeito ao outro e bullying, entre compreensão da diferença do outro e assédio moral. [...]. Olhar o outro como se a si mesmo, respeitando suas diferenças e necessidades, compreendendo suas escolhas, sua cor, seu credo, seus instintos, sua origem, seu padrão de vida é fundamental na formação de pessoas às quais não seja importante massacrar o outro para se fazer feliz, ou forte, ou líder, ou importante no grupo.

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Assim, o preconceito, o bullying, a padronização de indivíduos, a discriminação

racial, sexual e cultural são formas de exclusão e violência presentes na sociedade e

também infelizmente nas escolas brasileiras. Para Salles e Silva (2008), mesmo a

escola sendo um local de interação entre diferentes grupos de pessoas, quando não

são problematizados e trabalhados conceitos, tais como de respeito à diversidade,

acaba por gerar relações interpessoais pautadas nos conflitos, confrontos e violência

entre os indivíduos.

Pensar em questões ligadas a essa temática é extremamente relevante, pois

nos faz refletir como está sendo feita a inclusão das diferenças no ambiente escolar e

como estamos tratando pessoas que são vistas como diferentes em um dado

contexto. Santos (2008, p. 9) ainda questiona: “Qual é a concepção de mundo, de

homem, de sociedade, de conhecimento, de ensino e de aprendizagem que o nosso

currículo possui?”. Respondendo e refletindo a esta pergunta, podemos ver que o

currículo brasileiro ainda tem fortes características tradicionais, com transmissão de

conteúdo e professores pouco abertos aos diálogos. Para Souza (2013, p. 14) “[...]

sendo o Brasil um dos países mais multi-étnico-culturais do mundo, é contraditória a

adoção de propostas curriculares que busquem homogeneizar e silenciar as

diversidades culturais”. Porém, pode ser visto iniciativas que caminham rumo a um

currículo crítico e pós crítico onde há espaço de discussão para temas ligados a

diversidade.

Um exemplo desta abertura de espaço são as legislações que foram criadas a

partir dos anos 1980 que defendem a inclusão da diversidade tanto na sociedade

como na escola. Hoje, é visto que estímulos oriundos da própria federação se

preocupam em sanar a questão da inclusão do “diferente”, visto que os professores

são estimulados a trabalharem assuntos sobre a diversidade em sala de aula. Além

deste incentivo, são propostas legislações que defendem o direito a inclusão do

“diferente” na escola, como por exemplo, a Lei Nº 7.853/89 que dispõe legalmente em

relação ao apoio às pessoas portadoras de deficiência, garantindo sua integração

social, define os crimes, e dá outras providências que devem ser realizadas. Define

ainda, como crime recusar a matrícula de um estudante por sua deficiência

(BRASIL,1989).

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é outra legislação que garante

a inclusão da diversidade, já que defende a igualdade e o atendimento especializado

aos educandos (BRASIL, 1990). O ECA, segundo Viegas e Rabelo (2016, s/p), é uma

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lei que certifica os direitos da criança e do adolescente no Brasil. Nessa lei, as crianças

e adolescentes “sem distinção de raça, cor ou classe social, passaram a ser

reconhecidos como sujeitos de direitos e deveres, considerados como pessoas em

desenvolvimento a quem se deve prioridade absoluta do Estado”. Quando se pensa

em diversidade, podemos interpretar o artigo 17 do ECA o qual profere:

O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais (BRASIL, 1990).

Portanto, podemos ver que é um direito assegurado por lei o respeito e

integridade física e moral dos adolescentes. E assim, caso haja ações que firam este

direito cabe sanções legais e punições ao agressor.

Uma lei que trata da diversidade sendo mais especificamente de questões

ligadas a homofobia é Lei Estadual nº 16.454/10 de 17 de maio de 2010 que institui o

Dia Estadual de Combate a Homofobia, a ser promovido, anualmente, no dia 17 de

maio. Segundo o site do governo do Paraná (2016), a homofobia é definida “como o

medo, a aversão, ou o ódio irracional aos homossexuais, e, por extensão, a todos os

que manifestem orientação sexual ou identidade de gênero diferente dos padrões

heterossexuais convencionalmente aceitos”. Percebemos que o Estado identificou a

necessidade de orientar a população a respeito desta questão, já que um senso

realizado no Brasil em 2009 (PARANÁ,2016) o classificou como sendo o país mais

homofóbico do mundo. Desta maneira se faz necessário a conscientização e a

promoção de ações educativas que visem mostrar o direito da orientação sexual de

cada indivíduo.

Pode ser vista também uma iniciativa tecnológica do Estado do Paraná que dá

maior atenção a ações sobre a diversidade. Esta iniciativa é um site, na área de

educação, no qual pode ser encontrado um departamento que se dedica

exclusivamente a diversidade, sendo denominado Departamento da Diversidade –

DEDI9. Esse departamento entende que “tão importante quanto assegurar o direito a

educação, é reconhecer e valorizar as diferenças, que envolvem: gênero e identidade

de gênero, orientação sexual, classe social, étnico-racial, cultural, religiosa, geracional

(idoso), campo e territorialidade” (PARANÁ, 2016, s/n).

9 Disponível em:<http://www.educacao.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteu do= 10>.

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Estas leis mencionadas anteriormente são mais ligadas aos direitos da

diversidade (ANEXO B). Entretanto, também há legislações nacionais e decretos que

dão direitos aos cidadãos de maneira geral como é o caso da Constituição de 1988

que garante “o pleno desenvolvimento dos cidadãos, sem preconceito de origem,

raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação [...]”

(CAVALCANTE, 2006, s/p). O Decreto nº 3.956 (Convenção da Guatemala) também

garante a “impossibilidade de tratamento desigual com base na deficiência” assim

qualquer pessoa tem direito a escola e qualquer outro meio sem poder ser excluído

pela sua deficiência.

Se tratando ainda deste conteúdo de diversidade e ambiente escolar, os

Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN10, e a Diretrizes Curriculares Nacionais para

a educação básica são exemplos de legislações nacionais que orientam a

comunidade escolar a respeito da diversidade. Mas o que são tratados nessas

legislações?

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN são encontrados

recomendações e abordagens que revelam a importância do respeito a diversidade

na educação, pois lembra que deve ser levando em consideração que a sociedade é

heterogenia e complexa e, portanto, rica em diversidades culturais, étnicas, religiosas

e políticas (BRASIL,1997).

O documento dedica uma seção sobre orientações para a diversidade, a qual

menciona a importância de direcionar atividades escolares levando em consideração

o público diverso. “A educação escolar deve considerar a diversidade dos alunos

como elemento essencial a ser tratado para a melhoria da qualidade de ensino e

aprendizagem” (BRASIL, 1997 p. 13). Ainda, ela deve estar atento as capacidades

intelectuais que o público diverso necessita para a aprendizagem e salienta:

[...] a atuação do professor em sala de aula deve levar em conta fatores sociais, culturais e a história educativa de cada aluno, como também características pessoais de déficit sensorial, motor ou psíquico, ou de superdotação intelectual. Deve-se dar especial atenção ao aluno que demonstrar a necessidade de resgatar a autoestima. Trata-se de garantir condições de aprendizagem a todos os alunos, seja por meio de incrementos na intervenção pedagógica

10 Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem um referencial de qualidade para a educação no

Ensino Fundamental em todo o País. Sua função é orientar e garantir a coerência dos investimentos no sistema educacional, socializando discussões, pesquisas e recomendações, subsidiando a participação de técnicos e professores brasileiros, principalmente daqueles que se encontram mais isolados, com menor contato com a produção pedagógica atual (BRASIL, 1997, p.13).

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ou de medidas extras que atendam às necessidades individuais (BRASIL, 1997 p. 63).

Por conseguinte, o professor deve estar a par dos assuntos voltados a

diversidade, trabalhando aspectos que desenvolva uma consciência crítica do aluno.

E um meio do professor trabalhar aspectos sobre a diversidade, são a

abordagem dos temas transversais em sala de aula. O próprio PCN, enfatizam a

questão de abordar na educação os temas transversais que podem ser entendidos

como questões sobre “[...] a violência, a saúde, o uso de recursos naturais, os

preconceitos [...] ética, pluralidade cultural, meio ambiente, saúde e orientação sexual”

(BRASIL, 1997, p. 23).

A orientação vinda do PCN é que os temas transversais devem ser trabalhados

perpassando todas as disciplinas curriculares. Ou seja: “Cada um dos temas

transversais seria tratado tanto em língua portuguesa quanto em matemática,

ciências, história, geografia, educação artística e educação física” (MACEDO, 1998 p.

23) De tal modo, cada disciplina explora a temática dentro do seu conteúdo, dando

uma visão multidisciplinar ao aluno. Isto garante ao aprendiz ter uma visão multifocal,

já que uma disciplina pode contribui com um ensinamento totalmente diferente de

outra disciplina.

No que diz respeito as Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação

básica, o governo brasileiro também estabelece ações que mostram aos membros da

comunidade escolar os direitos e deveres para com a pluralidade de indivíduos. O

artigo 9° é bastante claro quando falam sobre o atendimento a diversidade na escola,

como mostrado:

Art. 9º A escola de qualidade social adota como centralidade o estudante e a aprendizagem, o que pressupõe atendimento aos seguintes requisitos: II - consideração sobre a inclusão, a valorização das diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade cultural, resgatando e respeitando as várias manifestações de cada comunidade; (BRASIL, 2010).

Portanto, é defendido por lei a questão de oferecer uma educação de qualidade

a qualquer indivíduo, proporcionando um conhecimento direcionado a inclusão e

respeito da diversidade. De tal modo, abordar assuntos ligado a diversidade e respeito

ao diferente se adequariam nas discussões legislativas, pedagógicas e cientificas da

atualidade. O próprio PCN menciona: “Se a escola pretende estar em consonância

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com as demandas atuais da sociedade, é necessário que trate de questões que

interferem na vida dos alunos e com as quais se vêem confrontados no seu dia-a-dia”.

E numa sociedade em que prevalece a heterogenia, faz-se necessário abordar estes

conhecimentos para a promoção da cidadania e consciência dos indivíduos, para não

haver preconceito, marginalizar e exclusão dos ditos diferentes, somente pela sua

aparência, cultura, religião, ou gênero sexual.

A nova Base Nacional Comum Curricular também trata da questão da

diversidade, nela são encontrados parágrafos claros sobre a questão da diversidade

cultural e da falta de equidade que se estabelece no país. E dado esse fato, orienta

as escolas a terem uma “demanda [de] currículos diferenciados e adequados a cada

sistema, rede e instituição escolar” fazendo com que não seja estabelecido um único

currículo nacional, mas sim um currículo flexível para que “a experiência escolar seja

acessível, eficaz e agradável para todos, sem exceção, independentemente de

aparência, etnia, religião, sexo, identidade de gênero, orientação sexual ou quaisquer

outros atributos, garantindo que todos possam aprender” (BRASIL, 2016 , p. 11).

Ainda neste documento prevê que sejam desenvolvidas nos estudantes objetivos de

aprendizagem e atividades como dança, teatros, músicas dentro do ambiente escolar

que valorizem e reconheçam o respeito a diversidade.

Todos esses aparatos legais mencionados são formas de garantir os direitos à

diversidade em nosso país e devem ser de amplo conhecimento da população, pois

somos uma população rica em diversidade e essa diversidade é defendida por

legislações. Uma possibilidade de garantir que a população tenha a consciência da

existência dessas leis acerca da diversidade e também passar a compreender e

respeitá-la é por meio da educação. Pois:

A escola não pode tudo, mas pode mais. Pode acolher as diferenças. É possível fazer uma pedagogia que não tenha medo da estranheza, do diferente, do outro. A aprendizagem é destoante e heterogênea. Aprendemos coisas diferentes daquelas que nos ensinam, em tempos distintos, (...) mas a aprendizagem ocorre, sempre. Precisamos de uma pedagogia que seja uma nova forma de se relacionar com o conhecimento, com os alunos, com seus pais, com a comunidade, com os fracassos (com o fim deles) e que produza outros tipos humanos, menos dóceis e disciplinados (ABRAMOWICZ, 1997, s/p).

Desta maneira, a escola passa a ser um articulador que possibilita as pessoas

compreender e respeitar o diferente. Por meio do estudo da diversidade humana

articulada com momentos da história da ciência - em que as pessoas consideradas

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“diferentes” foram subjugadas e marginalizadas – podemos refletir com olhar crítico e

ético a respeito de como as diferenças foram tratadas ao longo do tempo e como a

ciência foi usada para apoiar determinados discursos e ações discriminatórias. Ao

trazer a história de como o diferente e a loucura foram vistos no movimento eugênico

brasileiro, trazer um episódio de como a institucionalização de hospitais para segregar

os considerados diferentes se articulou ao discurso eugênico e psiquiátrico com bases

científicas e abordar as discussões atuais de respeito à diversidade humana,

buscamos articular uma proposta que desenvolva um olhar crítico tanto para a Ciência

como para tentativas de normatizar os seres humanos.

A utilização da história da ciência articulada ao movimento eugênico e as

compreensões de normalidade pela medicina podem tornar a discussão do tema mais

contextual, já que trata de um período que aconteceu na história brasileira e que

possuem fontes documentais primárias históricas disponíveis e que podem ser

acessadas por professores e alunos (por exemplo, os Boletins de Eugenia, As atas do

I congresso de Eugenia Brasileiro11, os arquivos da Liga Brasileira de Higiene Mental12

entre outros documentos). Em uma proposta desse tipo além de trabalharmos a

necessidade de respeito à pluralidade humana, podemos também trabalhar questões

de natureza da ciência ao, por exemplo, identificar como ideias biológicas e de outras

ciências se articularam ao movimento eugênico ou como a medicina transformou

algumas vezes em patologias, características pessoais que fugiam às normas de uma

dada cultura. Assim, podemos compreender que temos ideologias oriundas de

conhecimentos científicos que devem ser analisadas com olhar crítico, combatendo

uma visão de ciência supervalorizada e desprovida de erros. Desse modo,

compreendemos que a proposição e validação de um material didático que aborde

essas temáticas seja pertinente para ser trabalhado no ambiente escolar, até mesmo

como forma de minimizar preconceitos e estimular a empatia e o respeito. No capítulo

a seguir detalhamos a construção desse material didático, na forma de proposição de

uma sequência didática para o trabalho do professor e seu processo de validação

pelos pares (professores em formação inicial e continuada e professores-

pesquisadores do ensino de ciências).

11 Disponível em:<http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=acebibcoc_r&pagfis=9788> 12 Os arquivos estão disponíveis na página do Grupo de Estudos e Pesquisas Higiene Mental e Eugenia (GEPHE) da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Disponível em: http://old.ppi.uem.br/gephe/index.php/arquivos-digitalizados/14-sample-data-articles/85-arquivos-brasileiros-de-higiene-mental>. Acesso em: 29 ago. 2017.

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CAPÍTULO 4 - ASPECTOS DA METODOLOGIA DE PESQUISA Nesse capítulo apresentamos como foi desenvolvida a pesquisa histórica e

bibliográfica que subsidiou a elaboração do material didático, bem como a validação

e análise da sequência didática que resultou em um material de apoio para o

professor.

4.1 O CONTEXTO DA PESQUISA

Para iniciarmos esta seção, apresentamos nossa compreensão relativa ao que

é pesquisa. Baseados em Minayo (2001, p. 17):

Entendemos por pesquisa a atividade básica da Ciência na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo. Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação. Ou seja, nada pode ser intelectualmente um problema, se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática (MINAYO, 2001, p.17).

Percebemos que se configura atual a vertente que discorre que o discurso

científico não é uma verdade absoluta e irrefutável, mas uma construção humana e

social, permeado de ideologia e preconceitos. Assim, toda pesquisa científica parte

de determinados pontos de vistas e pressupostos teóricos que norteia sua análise. Na

nossa pesquisa temos o olhar imerso na busca do respeito a pluralidade cultural e

humana bem como no entendimento da ciência como empreendimento vinculado a

aspectos econômicos, ideológicos e sociais. Quanto aos pressupostos curriculares

que guiam nosso olhar, entendemos que as concepções pós-críticas da educação que

enfatizam a multiculturalidade e a diversidade articulam-se com nossos objetivos de

pesquisa.

Partindo desses modos de olhar a escola e a sociedade, nesse estudo

propomos articular aspectos da História da Ciência e do respeito a diversidade

humana em uma proposição didática, validada por professores e pesquisadores da

área de ensino de ciências. Essa proposta está amparada na necessidade de

materiais de apoio para o contexto escolar, em especial, que trabalhem a História da

Ciência Brasileira. Ainda é de conhecimento dos pares que são poucos os materiais

que se dedicam a articular a história da ciência com temas da atualidade como por

exemplo a diversidade.

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As questões que norteiam esse estudo são: como articular as temáticas de

respeito a diversidade com elementos da história da ciência brasileira na proposição

de um material didático? Como a sequência didática proposta é avaliada por

professores e pesquisadores em uma aplicação em um pequeno grupo de estudos?

Como a sequência didática é reconstruída a partir das sugestões desses professores

e pesquisadores na elaboração de um material de apoio?

A presente pesquisa visa apontar uma análise realizada por pesquisadores da

área, referente a uma sequência didática. Acreditamos que a sequência possa ajudar

professores da rede de ensino a trabalhar temas relevantes sobre ciência, diversidade

e educação. Este referencial pode colaborar com diferentes rumos de pesquisas, o

qual possa responder questões relevantes a visão sobre as ideologias que são

encontradas no ensino de ciências. Ainda podem ser realizados estudos destacando

como a ciência está entrelaçada com questões políticas, sociais e ideológicas.

Ainda acreditamos que a temática da padronização humana e da loucura,

mediante o estudo de aspectos históricos referentes ao Hospital Colônia de

Barbacena, pode auxiliar a discutir sobre a natureza da ciência. O preconceito e a

exclusão do “anormal” não é algo novo em nossa realidade. Essa discussão mesmo

sendo baseada em fontes bibliográficas, se configura atual, uma vez que, podemos

evidenciar a questão do respeito à diversidade e as políticas de inclusão na sociedade

atual, inclusive pela discussão de leis e decretos, além de desmistificar a visão simples

e estereotipada sobre a loucura, normalidade e a ciência.

4.2 CONSTITUIÇÃO DA PESQUISA

“O fundamental é estar aberto às surpresas, ao imprevisível e ao imponderável que emergem do trabalho de campo, mesmo que isso nos obrigue a rever nossos conceitos e a refazer o caminho trilhado” (DUARTE, 2004, p. 223).

Em um primeiro momento foi realizada uma pesquisa bibliográfica a respeito

de como o tema da “normalidade” foi articulado ao movimento eugênico brasileiro,

para tanto utilizamos de pesquisas em documentos históricos da época, em

específico, os Boletins de Eugenia. Após, utilizamos como exemplo de tratamento

dado as pessoas consideradas “anormais” os acontecimentos que ocorreram no

Hospital Colônia de Barbacena, sendo esse exemplo escolhido por ser uma instituição

que funcionou ao longo de praticamente todo o século XX e recebeu influência tanto

de ideais eugenistas como da medicalização e patologização associadas a ciência

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psiquiátrica. Em seguida, analisamos como o tema da “normalidade” e respeito as

diferenças tem sido tratado atualmente, em especial, com respeito a inclusão escolar

e pluralidade de comportamentos e culturas. Após a pesquisa bibliográfica e histórica,

elaborou-se uma sequência didática para tratar da temática, sendo a mesma aplicada

a um pequeno grupo constituído por professores e pesquisadores da área, como

forma de avaliar a sequência proposta. A partir dos indicativos dessa aplicação, a

sequência didática foi reestruturada na forma de um material de apoio para

professores. Esse material de apoio reformulado foi dinamizado e acrescentado mais

atividades sempre sendo baseado nas opiniões dos pares que o validaram.

4.2.1 Pesquisa bibliográfica e histórica

Para Lakatos e Marconi (2003, p. 183), a pesquisa do tipo bibliográfica ou de

fontes secundárias corresponde a:

[...] toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico etc., até meios de comunicação orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e televisão.

Dessa maneira, esta dissertação utilizou de pesquisas bibliográficas para tratar

de temas como Eugenia, normalidade e respeito à diversidade. Lakatos e Marconi

(2003, p. 183) argumentam que este tipo de pesquisa pode direcionar o pesquisador

ao que já foi estudado e escrito sobre determinada temática, e conferir novos

direcionamentos para pesquisas futuras. Diante do contexto, “a pesquisa bibliográfica

não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o

exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões

inovadoras”. Lakatos e Marconi (2003) ainda definem vários tipos de fontes

bibliográficas, sendo elas: escrito (jornais, revistas), meios audiovisuais (filmes, rádio,

televisão, fotos), material cartográfico (mapas, gráficos) e publicações (revistas

científicas, livros, teses, dissertações, monografias, publicações avulsas).

Um dos levantamentos bibliográficos desta dissertação foi do tipo “meios

audiovisuais” e “publicações” oriundas de acesso públicas oriunda da internet, livros

e periódicos. Não foi estabelecido uma cronologia temporal, ou um local específico

para a realização da pesquisa, visto que o que se tem disponível publicamente sobre

o tema ainda é tímido.

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Salientamos aqui o motivo da opção de busca de acesso público apenas por

fontes secundárias para tratar do Hospital Colônia de Barbacena. A decorrência desta

escolha é oriunda da demasiada e exaustiva tentativa de conseguir a aprovação da

pesquisa juntamente a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais, responsável

pelo Museu da Loucura em Barbacena – MG para obtenção de fontes primárias de

pesquisa sobre o Hospital colônia. O Museu da Loucura contaria com as fontes

primárias de documentos e fotos sobre o Hospital de Barbacena, entretanto, mesmo

sendo enviado o projeto com meses de antecedência, devido a revitalização do Museu

que ocorreu entre janeiro a maio de 2016, as análises dos projetos ficaram em

segundo plano, assim, com este atraso na aprovação do projeto, acabamos por

redimensionar a pesquisa e procurar fontes secundárias para a fundamentação.

Segundo a Lei 12.965 de 23 de abril de 2014 que estabelece princípios,

garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil, a internet tem por

objetivo dar “acesso à informação, ao conhecimento e à participação na vida cultural

e na condução dos assuntos públicos” aos cidadãos, ainda objetiva “da adesão a

padrões tecnológicos abertos que permitam a comunicação, a acessibilidade e a

interoperabilidade entre aplicações e bases de dados” (BRASIL, 2014). Desta

maneira, baseados nestes insertos de lei, buscamos realizar um levantamento

histórico sobre o Hospital Colônia de Barbacena – MG em fontes públicas.

Segundo Sena (2011, p.27-28), a Internet surgiu em meados do ano 1969 e

ganhou enorme popularidade no início dos anos de 90. Com ela, podemos expandir

extremamente as possibilidades de busca da informação em diferentes as áreas do

conhecimento. Sena ainda completa: “diversas fontes de informação que antes só

existiam no formato impresso, evoluíram para o formato eletrônico, possibilitando o

usuário localizar e obter o documento numa agilidade bem maior”. Assim, para

conseguirmos nossa base teórica, utilizamos deste meio eletrônico para fazemos um

levantamento sobre a história do Hospital Colônia de Barbacena – MG. Neste

levantamento, encontramos o livro de Daniela Arbex que retrata a História do Hospital

com riquezas de detalhes. Além disso, foram encontrados vários vídeos em canais

abertos (YOUTUBE) que se dedicam a contar a história e também mostrar fotografias

do período em que o hospital mantinha o seu funcionamento.

Além da pesquisa realizada em fontes públicas da internet referente ao Hospital

Colônia de Barbacena, uma pesquisa referente ao movimento eugênico foi realizada

a partir de fontes primárias, sendo utilizados, em especial, os Boletins de Eugenia,

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obtidos na Casa de Oswaldo Cruz, unidade técnico-científica da Fundação Oswaldo

Cruz no ano de 2012. Estes boletins foram vinculados no Rio de Janeiro durante os

anos de 1929 a 1931 na tentativa de se disseminar a eugenia pelo país. Desse modo,

essa pesquisa também esteve vinculada a pesquisa de fontes históricas da ciência ao

avaliar os Boletins de Eugenia. Nesse contexto, Martins (2006, p. 21) declara que:

“[...] O estudo adequado de alguns episódios históricos permite compreender as inter-relações entre ciência, tecnologia e sociedade, mostrando que a ciência não é uma coisa isolada de todas as outras, mas, sim faz parte de um desenvolvimento histórico, de uma cultura, de um mundo humano, sofrendo e influenciando por sua vez muitos aspectos da sociedade”.

Matthews (1995) afirma ainda que estudos relacionados à área de história da

ciência vêm proporcionando grande avanço no ensino de ciência. Seguindo esta

vertente de inclusão da História da ciência no ambiente de ensino, para melhor

sistematizar esta pesquisa, realizaremos a pesquisa documental histórica nos

baseando em Martins (2005, p. 306) que nos diz que a “História da Ciência apresenta

uma metodologia própria, que não é nem a metodologia da História e nem a

metodologia da Ciência, uma vez que é um tipo de estudo de natureza diferente dos

dois anteriores”. Ainda salienta que para fazer um estudo sobre a História da Ciência

é preciso: “refletir sobre o problema estudado e procurar novas fontes [...] fazer

levantamentos, selecionar e localizar documentos, buscá-los ou obter cópias deles e

analisá-los [...] elaborar uma argumentação, discutir trabalhos [...] e fundamentar bem

as conclusões” (2005, p. 307-308). Assim sendo, um trabalho em história da Ciência,

se configura metacientífico, ou de segundo nível, já que a ciência seria o estudo real

em primeiro nível. Martins (2005) estabelece dois tipos de abordagem conceitual para

se analisar os documentos históricos sendo a interna/internalista 13 e a

externa/externalista14. Baseados nisto, analisamos os documentos conhecidos como

Boletins de eugenia e buscamos desenvolver uma discussão fundamentada tanto no

fator histórico científico como nos aspectos sociais e políticos da época.

13 Abordagem conceitual (interna, internalista), discute os fatores científicos (evidências, fatos de

natureza científica) relacionados a determinado assunto ou problema. Procura responder a perguntas tais, como se determinada teoria estava bem fundamentada, considerando o contexto científico de sua época. (MARTINS,2005, p. 306). 14 Uma abordagem não-conceitual (externa, externalista), lida com os fatores extra científicos (influências sociais, políticas, econômicas, luta pelo poder, propaganda, fatores psicológicos). Por exemplo: se uma teoria estava bem fundamentada para sua época e foi rejeitada, o porquê da rejeição da mesma diz respeito a fatores não-conceituais. (MARTINS, 2005, p. 306).

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Ainda Martins (2005) classifica a pesquisa documental entre fontes primárias e

secundárias. Sendo as fontes primárias os materiais originais do caso histórico

estudado e as secundárias obras que discutem o caso estudado. Portanto, o presente

estudo se apoia em fontes secundárias oriundas de trabalhos que relatam as

interfaces do período histórico vivido pelo Hospital Colônia de Barbacena e também

em trabalhos que discutam as principais ideias biológicas vinculadas à loucura e ao

movimento eugênico. E também em fontes primárias, tais como os Boletins, que

descrevem o movimento eugênico, suas ideologias e principais práticas que

permearam o território brasileiro na década de 1920 e 1930.

4.2.2 Validação da sequência didática

O conceito de validar pode ser definido segundo o dicionário de língua

portuguesa Ferreira (2009, s/n) como sendo: “Tornar ou declarar válido ou dar

validade”. Desta maneira, podemos perceber que validar na língua portuguesa

significa ser válido. Contudo, Ollaik e Ziller (2012, p. 231) declaram que em pesquisas

científicas, mais precisamente em pesquisas qualitativas, a validação é um termo um

pouco mais complexo, sendo “a validade [...] referente à semelhança entre o conceito

e suas medidas, ao grau em que uma medida representa precisamente o que se

espera”. Assim, a proposição da sequência didática foi validada em dois momentos

distinto: a) uma primeira sequência foi estruturada e encaminhada por e-mail para dois

pesquisadores da área para que contribuíssem com sugestões e apontamentos; b) A

sequência incluiu os apontamentos desses pesquisadores e foi aplicada para um

pequeno grupo de professores e pesquisadores da área de ensino para validar sua

funcionalidade.

A validação da sequência didática foi aplicada com um pequeno grupo

constituído por seis participantes graduados e/ou em formação inicial. Os participantes

eram: um aluno da formação inicial de professores, três professores da rede pública

de ensino, uma doutoranda e uma mestranda. A aplicação teve duração de 8 horas e

ocorreu na data de 01 de outubro de 2016 na Unioeste com professores de diferentes

áreas do conhecimento (Pedagogia, Ciência e Biologia). Os participantes aceitaram

participar da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento livre esclarecido

(TCLE) o qual permitia a análise dos dados da pesquisa ali realizada. O projeto foi

tramitado no comitê de ética sendo aprovado com CAAE 55181516.6.0000.0107. O

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desenvolvimento da sequência didática foi áudiogravado com câmera filmadora e

transcrita para melhor obtenção dos dados e posterior análise. A partir da aplicação

analisamos a funcionalidade da sequência proposta e obtivemos sugestões dos

participantes para fazer alterações na mesma e assim propor um material mais

dinâmico que ajude ao professor a desenvolver o tema diversidade dentro de sala de

aula com a ajuda da história da ciência.

4.2.3 A construção e validação da sequência didática

Nesta seção contemplaremos resumidamente como foi elaborada e

desenvolvida a sequência didática em suas duas versões (sequência aplicada em

grupo e sequência reformulada) para a investigação que se propõe esta dissertação.

4.2.3.1. Sequência aplicada em grupo – 01 de outubro de 2016

A sequência aplicada e validada pelo grupo foi desenvolvimento na estratégia

metodologia expositiva dialogada. Segundo Anastasiou e Alves (2016, p. 15-16) essa

estratégia de trabalho docente consiste:

Numa exposição do conteúdo, com a participação ativa dos estudantes, cujo conhecimento prévio deve ser considerado e pode ser tomado como ponto de partida. O professor leva os estudantes a questionarem, interpretarem e discutirem o objeto de estudo, a partir do reconhecimento e do confronto com a realidade. Deve favorecer a análise crítica, resultando na produção de novos conhecimentos. Propõe a superação da passividade e imobilidade intelectual dos estudantes (ANASTASIOU; ALVES, 2016, p. 15-16).

Desta maneira, durante todo o tempo de desenvolvimento, o conteúdo proposto

foi contextualizado com a temática, sendo articulado com as informações e o

conhecimento que os professores traziam para a dinâmica de discussão. Ainda,

procurou-se deixar o máximo de espaço para o diálogo e questionamento para dentro

do possível sanar as dúvidas e permitir uma maior reflexão sobre a temática no grupo.

Segundo Silva e Leal (2016, p. 1), é um fato que o trabalho em grupo pode tornar mais

dinâmico e estimulador a participação ativa dos alunos no processo de aprendizagem.

Assim, este tipo de trabalho tem “o intuito de promover a interação social entre os

membros, beneficiando, com isso, a relação entre aprendizado e desenvolvimento”.

Também durante a aplicação da sequência didática foram utilizadas estratégias

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metodológicas com diferentes ferramentas didáticas, como a utilização de vídeos,

questionários e slides para o conteúdo não ficasse pesado e desinteressante.

Como premissas teóricas a sequência didática contou com a teoria de

aprendizagem de Vygotsky – Teoria sociocultural. O princípio da mesma em resumo

é de que:

[...] à relação indivíduo/sociedade em que afirma que as características humanas não estão presentes desde o nascimento, nem são simplesmente resultados das pressões do meio externo. Elas são resultados das relações homem e sociedade, pois quando o homem transforma o meio na busca de atender suas necessidades básicas, ele transforma-se a si mesmo [...] O desenvolvimento do psiquismo humano é sempre mediado pelo outro que indica, delimita e atribui significados à realidade (COELHO; PISSANI, 2012, p. 146).

A escolha dessa teoria de aprendizagem veio ao encontro da proposta da

nossa pesquisa, já que Vygotsky defendia a inclusão na escola. Como propomos

discutir sobre a diversidade, concordamos com a teoria de Vygotsky, quando na fala

de Coelho e Pasoni (2012, p.147) argumenta: “O limite biológico não é o que

determina o não desenvolvimento do surdo, cego ((ou seja a diversidade em geral)).

A sociedade sim é quem vem criando estes limites para que os deficientes não se

desenvolvam totalmente”. Além disso, a teoria de Vygotsky ressalta a importância da

aprendizagem pela interação com o outro, assim em momentos de discussão durante

a realização da sequência, pode ser visto o quanto a heterogeneidade de indivíduos

permite que as ideias de uns auxiliem na aprendizagem e suporte ao outro.

D’Avila (2016, p.23) destaca que na perspectiva Vygotskiana “o sujeito não só

age sobre a realidade, mas sim ele interage com ela, construindo seus conhecimentos

a partir das relações intra e interpessoais”. Desta maneira, nos baseamos nesta

concepção de aprendizagem para propor a sequência didática. A primeira proposta

da sequência didática pode ser vista de forma completa no Apêndice A, contudo, a

estrutura geral dessa primeira proposta está sintetizada no quadro 1 apresentado a

seguir.

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QUADRO 1: Estrutura geral da primeira proposta da sequência didática

ETAPA ATIVIDADES

Etapa 1 – Levantamento de conhecimento prévios

a) Assinatura do TCLE (Termo de Consentimento Livre Esclarecido)

b) Questionário inicial

Etapa 2- Problematização inicial a) Questionamentos sobre o que é ser normal por meio de slides.

b) Vídeo “O que é ser normal”, discutindo o quê contextualiza a normalidade e loucura na atual sociedade.

c) Discussão sobre a normalidade, loucura e

diversidade dentro do ambiente escolar por meio do texto “A brincadeira não tem graça” (ANEXO A).

Etapa 3 – História da Ciência e movimento psiquiátrico.

a) Conhecimento teórico sobre a eugenia por meio de apresentação de slides.

b) Exemplares dos Boletins de eugênica como fonte histórica primária da eugenia no Brasil.

c) Vídeo e resumo do conto “O alienista”.

d) Conhecimento teórico sobre o Hospital Colônia de Barbacena por meio de apresentação de slides

e) Vídeo “Holocausto Brasileiro - Manicômio de Barbacena”.

Etapa 4 – Diversidade e ambiente escolar a) Vídeos “Caminhos da Escola: educação para a diversidade” e “inclusão educacional na perspectiva da diversidade”.

b) Discussão por meio de questionamentos nos slides sobre o contexto apresentado nos vídeos.

c) Relatos de experiências dos participantes

sobre diversidade na escola.

Etapa 5 – História da Loucura e legislação para a diversidade.

a) Conhecimento teórico sobre o contexto da loucura durante a história.

b) Leitura de texto sobre as legislações

brasileiras que amparam a diversidade. c) Discussão com os participantes por meio

de questionamentos nos slides sobre a legislação para a diversidade e como a mesma se efetiva.

Etapa 6 – Síntese e concepções construídas a) Discussão sobre dúvidas e sugestões de leituras complementares.

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b) Vídeo “Chimamanda Adichie – Os perigos de uma história única” contextualizando a importância da História da ciência para o ensino.

c) Questionário final

Fonte: a autora

A aplicação da sequência didática foi dividida em 6 etapas. A primeira etapa

contou com um questionário inicial e a assinatura do TCLE proposto para identificar

concepções apriori dos professores. Em seguida, a segunda etapa foi iniciada uma

problematização inicial do tema, com leitura e discussão de um texto sobre o bullying,

“A brincadeira não tem graça15” (ANEXO A) assim abrindo questionamentos acerca

do modo de “classificar” os seres humanos.

Na terceira etapa, apoiamo-nos nas discussões a respeito da “classificação”

dos seres humanos para introduzir a temática do Hospital Colônia de Barbacena –

MG. Nesse momento, foram demonstrados vídeos e fragmentos do livro de Daniela

Arbex “Holocausto Brasileiro” para realizar a contextualização do conteúdo e assim

posteriormente introduzir a questão de como o conhecimento científico, por meio do

movimento eugênico, pode apoiar o que acontecia no Hospital Colônia. Nesta etapa,

pode ser evidenciado a questão da não neutralidade do conhecimento científico,

mostrando suas ideologias. Segundo Schneider (2013), se faz importante levar a sala

de aula o contexto cultural, político e ideológico, logo essa discussão pode propiciar

aos professores a tomada de uma postura mais crítica tanto para os conteúdos

científicos e questões biológicas, como para a desmistificação da ideia de uma ciência

neutra e linear.

A quarta etapa foi direcionada a questões ligadas à diversidade. Por meio de

vídeos, (Caminhos da Escola: educação para a diversidade” e “inclusão educacional

na perspectiva da diversidade foi introduzido o tema de inclusão do “diferente” no

ambiente escolar) foi provocado aos participantes a refletirem a respeito de como

vemos as pessoas que consideramos “diferentes” e se ainda as classificamos como

“loucas”. Na quinta etapa era pretendido, inicialmente para realizar o fechamento da

mesma, apresentamos um vídeo (Chimamanda Adichie – Os perigos de uma história

única” contextualizando a importância da História da ciência para o ensino) sobre a

importância de estudar a história, assim contextualizando a importância de introduzir

15 DREYER, D. A brincadeira não tem graça. 2017. Disponível em: <“http://www.educacional.com.br/

reportagens/bullying/>. Acesso em 10 jul.2017.

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a história e filosofia da ciência na aprendizagem e no ensino das diferentes matérias.

Entretanto, com a falta de tempo, acabamos por não apresentar o vídeo, sendo

somente comentado e disponibilizado o link para que pudesse ser visualizado

posteriormente.

Na sexta etapa, foi feito um fechamento dos conceitos, sendo aberto um espaço

para que pudesse ser sanado as dúvidas que ficaram no decorrer do desenvolvimento

da sequência. Após este diálogo, os professores responderam um questionário final

para que fosse avaliada a sequência de modo geral, levantando os limites e

possibilidades do material.

Essa primeira aplicação foi realizada como forma de validar a proposta, além

disso os participantes sugeriram algumas alterações que permitiram repensar a

elaboração da proposta didática e a construção de um material de apoio aos

professores.

4.2.3.2 Sequência reestruturada

Após a primeira análise, os autores reestruturaram a sequência didática a fim

de melhorar a sua aplicabilidade e o seu desenvolvimento. A estrutura geral e os

objetivos das atividades dessa sequência didática reformulada estão apresentadas no

Quadro 2:

QUADRO 2: Sequência didática reestruturada: atividades sistematizadas

ETAPA ATIVIDADES OBJETIVO

Etapa 1 – Levantamento de conhecimento prévios e Problematização inicial.

a) Contrato didático

b) Dinâmica “Explorando as percepções implícitas em relação a diversidade humana”.

c) Vídeo “O que é ser normal”, contextualizando a normalidade e loucura na atual sociedade.

d) Vídeo e resumo do conto “O

alienista”.

Observar o conhecimento prévio do aluno sobre o preconceito, conceito de diversidade e normalidade. Introduzir a temática: o que é ser normal na sociedade? Refletir sobre as opiniões e argumentos.

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ETAPA 2 – Sistematizando o conhecimento por meio da história da ciência.

a) Conhecimento teórico sobre a eugenia por meio de apresentação de slides.

b) Insertos de exemplares dos boletins

de eugenia. c) Discussão teórica do conto “Jeca

Tatu” de monteiro lobato contextualizando o movimento eugênico na literatura brasileira.

d) Conhecimento teórico sobre o

Hospital Colônia de Barbacena por meio de apresentação de slides.

e) Fotografias reais do Hospital

Colônia de Barbacena em slides. f) Relato textual de uma moradora do

Hospital Colônia sobre as atividades que aconteciam no local no tempo que permaneceu lá.

g) Vídeo “Holocausto Brasileiro -

Manicômio de Barbacena”.

Está etapa objetiva apresentar o contexto científico sobre o movimento eugênico embasando na história da ciência, assim possibilitar a compreensão das atitudes que eram realizadas dentro do Hospital Colônia de Barbacena. Ainda, por meio disso, com ajuda de diferentes ferramentas didáticas exibiremos o caso do Hospital, provocando a discussão entre os alunos.

Etapa 3 – Sistematizando conhecimento pela inclusão da diversidade de seres humanos na atualidade.

a) Vídeo “Na minha escola todo mundo é igual”.

b) Discussão por meio de questionamentos nos slides sobre o contexto apresentado nos vídeos.

c) Relatos de experiências dos participantes sobre diversidade na escola.

d) Discussão sobre a normalidade, loucura e diversidade dentro do ambiente escolar por meio do texto “A brincadeira não tem graça”.

Realizar a discussão sobre a diversidade e o ambiente escolar embasado no conteúdo já estudado anteriormente.

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Etapa 4 – História da Loucura e legislação para a diversidade.

a) Vídeo: “Todo seu – entrevista: história da loucura com Guido Palomba”

b) Conhecimento teórico sobre o contexto da loucura durante a história.

c) Leitura de texto sobre as legislações

brasileiras que amparam a diversidade.

d) Discussão com os participantes por

meio de questionamentos nos slides sobre a legislação para a diversidade e como a mesma se efetiva.

e) Vídeo “Chimamanda Adichie – Os

perigos de uma história única” contextualizando a importância da História da ciência para o ensino

Discutir sobre o conceito de loucura na atualidade e historicamente. Apresentar e discutir as legislações que defendem a diversidade no Brasil.

Etapa 5 – Aplicando os conhecimentos na realidade escolar

a) Atividade “Observando e melhorando o mundo ao seu redor”

Evidenciar o aprendizado dos alunos e as concepções adquiridas por eles.

Esta sequência didática reformulada fará parte dos nossos resultados e será

explanada no capítulo cinco. Esperamos futuramente a mesma ser desenvolvida

como material de apoio dentro de sala de aula, revelando novos dados para pesquisas

futuras.

4.3 ANÁLISE QUALITATIVA Para compreender a validação que foi realizada a partir da aplicação da

primeira proposta de sequência didática utilizamos a análise qualitativa, em

específico, usamos a análise de conteúdo de Bardin (2006). Desse modo, a pesquisa

é de caráter qualitativo, no qual buscamos obter o caráter analisado em “profundidade

“ao invés de em “quantidade”. Segundo Gerhardt e Silveira (2009, p. 31), não se

preocupando com o caráter numérico, a pesquisa qualitativa busca uma compreensão

a nível social, não assumindo um único método para todas a ciências, mas sim é

buscado “explicar o porquê das coisas, exprimindo o que convém ser feito, mas não

quantificam os valores e as trocas simbólicas nem se submetem à prova de fatos, pois

os dados analisados são não-métricos [...] e se valem de diferentes abordagens”.

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Desta maneira, nos basearemos nas premissas qualitativas de Ludke e André

(1986) para embasarmos nossa pesquisa. Segundo os autores, as características

básicas da pesquisa qualitativa são:

1. A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento. (...) 2. Os dados coletados são predominantemente descritivos. (...) 3. A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto. (...) 4. O 'significado' que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador. (...) 5. A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo. Os pesquisadores não se preocupam em buscar evidências que comprovem hipóteses definidas antes do início dos estudos. As abstrações se formam ou se consolidam basicamente a partir da inspeção dos dados num processo de baixo para cima. (LUDKE; ANDRÉ,1986, p. 11-12)

Baseados na análise qualitativa, utilizamos uma técnica metodológica descrita

por Bardin (2006) denominada Análise de Conteúdo (AC) para avaliar nossos dados.

Esta autora remete que a AC é um conjunto de instrumentos metodológicos que se

aperfeiçoa constantemente e que se aplicam a discursos diversificados. Para Bardin

(2006, p.31):

[...] a Análise de Conteúdo é não só um instrumento, mas um “leque de apetrechos; ou, com maior rigor, um único instrumento, mas marcado por uma grande disparidade de formas e adaptável a um campo de aplicação muito vasto: as comunicações”.

Para realizar o método da AC, segundo Bardin (2006) tratamos a informação a

partir de um roteiro específico, dividida em três fases, sendo elas: (a) pré-análise, (b)

na exploração do material e (c) o tratamento dos resultados. Na fase da pré-análise

de modo geral, se escolhem os documentos, formulam-se hipóteses e objetivos para

a pesquisa, estes três fatores não precisam seguir esta lógica cronológica, entretanto

a autora declara que estão intimamente ligados, já que “a escolha dos documentos

depende dos objetivos, ou inversamente [...] os indicadores serão construídos em

função das hipóteses, ou, pelo contrário, as hipóteses serão criadas na presença de

certos índices” (p. 96). Geralmente é iniciada com uma leitura prévia, que permite

conhecer e se familiarizar com os dados já coletados, e assim, pode-se retirar as

principais ideias sobre a temática, possibilitando realizar a análise de seu conteúdo.

Nela temos um período de intuições, sempre sistematizando as ideias com o objetivo

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de construir um esquema que resulte em um plano de análise. Na exploração do

material, pode-se aplicar as técnicas específicas segundo os objetivos, ou seja,

realiza-se um estudo mais aprofundado evidenciando as informações contidas nos

materiais para assim definir as unidades e posteriormente realizar as categorias de

análise. Esta fase segundo Bardin (2006) é longa e maçante para o pesquisador, já

que nela realizamos as uniões e formulações dos dados para estabelecer categorias.

A categorização nada mais é do que agrupar os dados em um conjunto,

estabelecendo um critério previamente definido. A categoria, não é um item obrigatório

da análise de conteúdo, mas em nossa pesquisa optamos por realizá-la. Após serem

definidas as categorias, se inicia o tratamento dos resultados que consiste nas

interpretações, reflexões que os autores tecem sobre os dados coletados.

Como Chizzotti (2006, p. 98), pronuncia: “o objetivo da análise de conteúdo é

compreender criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou

latente, as significações explícitas ou ocultas”. Desta maneira, procuraremos revelar

em profundidade o que os sujeitos apontam em relação a sua visão sobre o material

explorando ao máximo possível o conteúdo apresentado em nossos dados. E para

isso, utizaremos as categorias de analise simbolizada pela letra “C” e respectivamente

o número.

Após exposto nossos encaminhamentos metodológicos, no próximo capítulo,

nos dedicaremos a apresentar os dados adquiridos durante a realização da pesquisa.

Nesta seção descreveremos os olhares e contribuições dos pares perante a validação

do material de apoio didático. Também, traremos a reflexão da autora perante a sua

experiência sobre a aplicação do material didático.

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CAPÍTULO 5 – RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após a realização de um longo trajeto de pesquisa agora surge o momento de

apresentar uma reflexão e discussão acerca dos dados, que permita ir além do

enfoque teórico. Apresentamos os resultados em duas seções sendo elas a primeira

“Validação e análises dos apontamentos dos participantes sobre a percepção,

estrutura e conteúdo da aplicação da primeira sequência didática”, a qual traz uma

análise da validação da primeira proposta de sequência didática. Nesta seção,

objetivamos apresentar as contribuições dos diferentes olhares docentes sobre a

sequência, permitindo que ajudassem a enriquecer a proposta. Na segunda seção

“Sequência didática “o que é ser normal”: material de apoio ao professor” traremos a

reelaboração e reestruturação da primeira sequência, onde por meio das diferentes

perspectivas e opiniões foi aprimorada. Com esta readequação, esperamos que este

material futuramente seja um apoio didático para docentes quando se pensar em

conteúdo de história da ciência e diversidade, e que o mesmo possibilite uma reflexão

perante questões ligadas a educação e o ensino de ciências.

5.1 VALIDAÇÃO E ANÁLISES DOS APONTAMENTOS DOS PARTICIPANTES

SOBRE A PERCEPÇÃO, ESTRUTURA E CONTEÚDO DA APLICAÇÃO DA

PRIMEIRA SEQUÊNCIA DIDÁTICA

Para Fiscarelli (2017, p. 1) “fazer uso de um material em sala de aula, de forma

a tornar o processo de ensino aprendizagem mais concreto, menos verbalístico, mais

eficaz e eficiente, é uma preocupação que tem acompanhado a educação brasileira

ao longo de sua história”. Assim, após a intensa fase de pesquisa, elaboração e

escrita, vimos a necessidade de aplicar em grupo a sequência didática para que

possamos avaliar com maior clareza este material que resultará em uma proposta aos

professores como material de apoio didático. O objetivo da aplicação foi precisamente

levantar as possíveis problemáticas: os pontos positivos e negativos das etapas

propostas na sequência; verificar como os professores compartilham informações e

relatam a relevância da temática; discutir os limites e possibilidades das ferramentas

de obtenção de dados; e avaliar a sequência de maneira geral, pensando em

modificações.

Anteriormente, ao início das análises dos questionários queremos salientar que

mesmo tendo seis participantes na validação da sequência, somente cinco

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responderam o questionário final. O sexto participante teve que deixar com

antecedência o grupo, não participando de algumas atividades, impossibilitando a

avaliação e contribuição efetiva na sequência.

5.1.2 Percepções e aprendizagem de conceitos gerais da sequência didática

A primeira percepção a ser analisada em nossa pesquisa diz respeito a

contribuição que a sequência proporcionou aos participantes quando se pensa no

conteúdo sobre loucura e normalidade. Os dados presentes nesta seção são retirados

de três perguntas do questionário final (APÊNDICE C) sendo ela a número dois, três

e sete aplicados na primeira sequência didática. As categorias são representadas pela

letra “C” e o seu respectivo número. Essas percepções são sistematizadas no quadro

3:

QUADRO 3: Percepção sobre a mudança do conceito de loucura e normalidade

CONTRIBUIÇÕES DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA SOBRE A RELAÇÃO DE LOUCURA E NORMALIDADE

QUANTIDADE DE PARTICIPANTES

C1 Aprofundamento teórico sobre a temática A1, A3, A4, A5

C2 Mudança de percepção sobre loucura e normalidade A2

C3 Enriquecimento no preparo de aulas A4

Fonte: autora

Quando pensarmos nas contribuições que a sequência didática pode dar ao

participante a respeito da concepção de loucura e normalidades podemos evidenciar

três categorias de análise. A primeira categoria C1 “Complemento e aprofundamento

teórico sobre a temática” mencionada pela maioria dos participantes (A1, A3, A4, A5)

diz respeito sobre como a sequência propiciou um maior aprofundamento teórico

sobre o conteúdo, permitindo que os participantes enriquecessem ainda mais o seu

conhecimento teórico, sanando as principais dúvidas e curiosidades. Como falam, A3 e

A4:

Foi interessante e aumentou e aprofundou as ideias que eu visualizava. (A3) Esta sequência reafirma meu compromisso enquanto professora e pessoa. Já que completa o que tinha visto na graduação nos grupos de pesquisa. (A4)

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Pode ser percebido, nas falas que a sequência proporciona, reafirma ou

complementa ideias que os participantes tinham a respeito da temática. Ainda na fala

de A4 pode ser evidenciado que a normalidade e loucura não são temas trabalhados

na grade da graduação, sendo discutido em grupos de pesquisa. Isto reafirma a

necessidade da participação dos acadêmicos neste grupo visto que podem oferecer

discussões que fica alheias da sala de aula, Erdmann et al. (2010, p. 20) completa:

Os grupos de pesquisa se efetivam na concretização de atividades de investigação, orientação, ensino, extensão, socialização, publicação, organização de eventos, dentre outras que o caracterizam como espaço da cultura do pensar, gerar, experimentar e aplicar conhecimentos e saberes que incrementem a prática da profissão e ciência [...]

Desta maneira, a efetiva participação pode colaborar com a profissão docente

ampliando o conhecimento do futuro profissional.

Ainda sobre esta categoria, temos a confiança, que as diferentes estratégias e

recursos utilizados (vídeos, imagens, textos, slides) durante toda a formação de

conceitos sobre a loucura e normalidade permitiu a melhor compreensão sobre o

conteúdo, pois Souza (2012, p. 110) destaca que “o uso de recursos didáticos deve

servir de auxílio para que no futuro seus alunos aprofundem e ampliem seus

conhecimentos e produzam outros conhecimentos a partir desses”. Desta forma,

acreditamos que por meio desta sequência e das discussões sobre a normalidade e

loucura, possam gerar novos conhecimentos e novas indagações floresçam, para que

cada vez mais sejam produzidos materiais nesta linha de conhecimento, já que as

mesmas são bastante escassas. Ainda essa afirmação sobre a importância do uso de

recurso didático vai de encontro ao nosso referencial teórico, pois esperamos que

além de permitir o aprofundamento e ampliação do conhecimento, concordamos com

Freitas (2009) quando profere que este tipo de material pode aproximar o aluno do

conteúdo, criando um maior contato entre o professor/aluno e assim quebrando com

a monotonia da sala de aula facilitando a compreensão do conteúdo e assim da

aprendizagem.

Entretanto, para que seja desenvolvido estes temas com os alunos, devemos

considerar a importância de o professor estar preparado para esta atividade,

significando assim, que o mesmo deve estar sempre se atualizando e procurando uma

formação continuada consistente. Santos (1998) declara que a formação continuada

vem a ser uma proposta de aprimoramento profissional, que busca criar e possibilitar

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um progresso na prática, domínio científico e metodológico em sala de aula. Assim,

para que o professor desenvolva trabalhos em sala de aula, deve se sentir seguro e

apresentar certo domínio de conteúdo, pois “A prática pedagógica nas escolas da

atualidade, exige um professor bem capacitado e preparado para trabalhar com os

alunos e também com as novas problemáticas que estão presentes no cotidiano da

sociedade” (MILEO; KOGUT 2009, p. 4944).

Outro ponto de discussão foi a categoria C2 “Mudança de percepção sobre

loucura e normalidade” mencionada por A2 na fala:

Sim, tudo deve ser realizado de forma complacente, verificando o contexto da situação [...] pois o comportamento aconteceu através de estímulos que a pessoa recebeu do meio social e o meio ambiente.

Pode ser visto nesta fala que o participante afirma ter mudado a concepção e

ainda adverte que a temática de loucura e normalidade deve ser olhada perante o

contexto a qual a mesma se encontra. Isto mostra ainda mais a importância de se

incluir as questões históricas e contextuais no ensino de ciência já isto pode facilitar a

compreensão de conceitos desta natureza.

Como referido no capítulo 3, a percepção sobre a loucura sofreu muitas

mudanças ao longo das décadas, e acreditamos que justamente pela sequência

abordar este contexto histórico que proporcionou uma mudança da visão dos

participantes sobre a loucura e da normalidade. Matthews um grande defensor da

história e filosofia no ensino (1995) citado Hidalgo e Junior (2016, p. 25) declara que

“a história e filosofia da ciência tem a capacidade de promover um ensino “em” e

“sobre” a ciência”. Para o autor o ensino “em” ciência é entendido como aquele em

que se “abordam os aspectos internos ao conhecimento científico (leis, teorias,

hipóteses, etc. – aliado ao conhecimento epistemológico da ciência)”. Já o

conhecimento vindo “sobre” a ciência, se aproxima mais dos aspectos externos,

constituindo as “influências sociais, culturais, econômicas, etc. – aliado ao

conhecimento ontológico da ciência”. Desta maneira, a História e Filosofia da Ciência

torna-se uma aliada na aula, pois além de abordar conceitos sobre a visão científica

do conteúdo estudado, também fornece um panorama do contexto social que pode

facilitar a compreensão do conteúdo que está sendo proposto e levar a mudança de

conceito.

E para que a mudança conceitual aconteça com eficiência, devemos

proporcionar um ambiente de aprendizagem interessante e rico em conhecimentos.

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Assim, esta afirmação vai ao encontro da última categoria relativa à contribuição da

sequência sobre a loucura e normalidade sendo ela C3 “Enriquecimento no preparo

de aulas”. O participante A4 exemplifica:

Acredito que enriqueceu, me deu mais embasamento para eu preparar uma boa aula e trazer à tona questionamentos. E não dar uma aula de forma mecânica [...]

Segundo Silva et al (2012), os pesquisadores do ramo educacional, tendendo

encontrar soluções para as dificuldades deixadas pelo ensino tradicional,

especialmente no que tange o ensino de Ciências Naturais, vêm se aproximando da

ideia de gerar uma implementação de novas metodologias, que pode promover um

auxílio ao professor no processo de ensino-aprendizagem dos alunos, valorizando a

utilização de diversos recursos didáticos. Mileo e Kogut (2009, p.4947) completam:

Cabe ao professor manter-se qualificado para que possa atender as necessidades de seus alunos bem como da sociedade. Uma vez que, o mercado de trabalho busca o profissional melhor qualificado, flexível e disposto para enfrentar os desafios a ele proposto, visando uma melhoria na educação e no ensino. Portanto apenas a formação inicial não é suficiente para a garantia da qualificação dos professores na atualidade.

Assim, inferimos que a sequência como material de apoio, proporciona um

enriquecimento no preparo de aula e de aprimoramento profissional já que pode

orientar o professor a desenvolver não somente temas sobre a questão da

diversidade, mas pode também despertar o hábito de utilizar diferentes recursos

didáticos durante a aula, utilizar o contexto histórico para contextualizar o

conhecimento para o aluno. De tal modo, é tarefa do professor além de preparar aulas

enriquecedoras e atraentes, sempre se manter atualizado, participando de cursos e

formações que permitam o refinamento do seu conhecimento.

Assim sendo, pensando em como a sequência pode ser um material de apoio

ao professor o quadro 4 mostra os assuntos relevantes que os participantes

selecionaram dizendo serem importante e que a sequência proporciona para o ensino.

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QUADRO 4: Relevância dos temas da sequência didática

FATORES RELEVANTES SOBRE A IMPORTÂNCIA DE SE DESENVOLVER A SEQUÊNCIA DIDÁTICA EM SALA DE AULA

QUANTIDADE DE PARTICIPANTES

C1 Contribui para relação ciência e sociedade A4, A5

C2 Desmistificação de conceitos e formação de

pensamento crítico

A3, A5

C3 Relevante, entretanto com pré-análise da turma A2

C4 Somente descreve ser importante A1

Fonte: autoras

Inicialmente, as categorias C1 “Contribui para relação ciência e sociedade”

citado por A4, A5 e C2 “Desmistificação de conceitos e formação de pensamento

crítico” mencionado por A3, A5 foram as temáticas que os participantes acharam mais

relevante. Algumas falas exemplificam as categorias:

C1 importantíssimo, [...] desenvolver esses conteúdos permite uma aplicabilidade no ensino. A ciência deve ser sempre relacionada a sociedade. (A4) C2 [...] pode trazer importantes contribuições ao ensino de modo a esclarecer diversos pontos, tanto em relação a aspectos sociais, históricos [...]. (A5)

Acreditamos que isso se dá graças ao momento pedagógico que se tem

presenciado nas escolas brasileiras atualmente, onde são buscados cada vez mais

um currículo multicultural que envolva a sociedade, não esquecendo da formação para

a cidadania e criticidade dos indivíduos. Isto é justamente o que buscamos mostrar

em nosso primeiro capítulo, e ao decorrer da sequência, pois buscamos trabalhar

neste material e em suas atividades conteúdos transversais, sabendo que isto hoje é

parte obrigatória dentro do espaço escola. Bezerra e Ribeiro (2009, p. 6) declaram:

As temáticas transversais remetem à situação social atual do país, as necessidades de convivência e transformação, têm como objetivo proporcionar relações sociais e interpessoais pautadas em princípios éticos e democráticos, a fim de desenvolver atitudes de cidadania, contribuindo, assim, para uma educação crítica de teor político e social. Para isso perpassam as disciplinas, transitando entre os conteúdos diversos, contextualizando-os, ou seja, situando-os em realidades particulares.

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Portanto, vimos que os participantes entendem a temática da sequência como

relevante para ser trabalhada em sala de aula, pois articulam temáticas sobre a inter-

relação ciência/sociedade e criticidade/cidadania buscadas pelo currículo pós-crítico

e multiculturalista. Canen e Xavier (2005, p. 336) acreditam que “na educação, o

multiculturalismo [...] articulam conteúdos específicos a questionamentos sobre a

construção de preconceitos e à valorização da pluralidade cultural”, assim o professor

deve empregar o multiculturalismo em sala de aula, para desenvolver conteúdo que

corresponde a nossa realidade de pluralidade social.

A categoria C3 “Relevante, entretanto, com pré-análise da turma” exemplificada

na fala A2:

Esta análise deve ser observada, verificar bem o comportamento da turma no qual será aplicada, [...] aplicar de uma forma que se obtenha resultado significativo.

Acreditamos que esta fala diz respeito a questão de a temática ser relevante

para ser trabalhado em sala de aula, mas deve haver um cuidado com a escolha do

público alvo, pois argumenta em sua resposta que a sequência deve ser desenvolvida

para turmas onde haja alunos mais maduros e responsáveis que consigam

compreender as relações entres as questões de loucura, diversidade, inclusão,

preconceito abordado, sem que haja aumento da discriminação. Ainda, deve ser

salientado que de maneira nenhuma está categoria inferioriza a questão do trabalho

com a temática diversidade, mas que ela deve ser debatida em locais onde seja

proveitosa a discussão, para que gere frutos que busquem minimizar a discriminação

por meio da educação. Ainda, que estas propostas que busquem o respeito ao

diferente sejam tímidas, Gomes (2012) revela que as mudanças que ocorreram nos

últimos anos no trato da diversidade são devido aos movimentos sociais, que

juntamente a um perfil mais progressista de setores brasileiros conseguiram implantar

políticas públicas de caráter universal, que desencadeia a implementação de políticas

de ações afirmativas16. Assim, percebe-se que somente por meio da discussão e

diálogo conseguiremos ultrapassar a barreira da desigualdade, precisamos sim

desenvolver atividades deste cunho com os jovens em meio escolar.

16 Ações afirmativas compreendem políticas públicas (e privadas) que visam à garantia de direitos

historicamente negados a grupos minoritários, como negros, mulheres e portadores de deficiência. Fundamentam-se no princípio de igualdade substancial ou material, que difere daquele professado pelo liberalismo francês e norte-americano assentado em uma concepção formal de igualdade, qual seja, a de igualdade de oportunidades. Tal perspectiva fundamenta-se na premissa de que a igualdade de direitos basta para garantir o acesso igual à educação e ao mercado de trabalho (CAMPOS, 2013, p.2).

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A última categoria C4 “Somente descreve ser importante” (A1) menciona que

a temática é relevante e de extrema importância, mas deixa a desejar os pontos em

que a mesma atinge esta importância, impossibilitando a argumentação das autoras.

Após todas as considerações sobre pontos importantes trabalhados na

sequência, na próxima seção discutiremos a análise e avaliação da estrutura e

organização do material, levantando os aspectos considerados positivos e negativos.

5.1.3 Percepções da organização e da estrutura da sequência didática

Nesta investigação buscaram-se as informações a respeito do modo como os

participantes avaliaram a estrutura, organização, pontos positivos e negativos da

sequência. As percepções que serão discutidas aqui foram mais especificamente

retiradas do questionário final respondido na aplicação. Nos dados são encontrados

apontamentos sobre o que ocorreu durante a aplicação, portanto, são informações

que tem caráter de testemunho, embasadas na experiência vivenciada durante a

participação da validação da sequência. Esta categoria possibilita visualizar quais são

as percepções, dificuldades, importância da temática para a educação, dentre outras

vertentes.

De tal modo, as sistematizações das informações serão apresentadas em

quadros relacionados e discutidos ao longo da seção. Inicialmente, discutiremos a

visão dos participantes perante os aspectos positivos e negativos que a sequência

pode propinar.

Aspectos positivos

Para Souza (2007, p. 113) “O uso de materiais didáticos no ensino escolar,

deve ser sempre acompanhado de uma reflexão pedagógica quanto a sua verdadeira

utilidade no processo de ensino e aprendizagem, [...] não se deve utilizar qualquer

recurso didático por si só sem objetivos claros. Baseados nesta afirmação, a qual

defende uma reflexão perante o material didático a ser utilizado pelo professor, aqui

destacamos os aspectos positivos descritos em nossa análise, no qual mostram as

percepções que deram resultados e devem ser valorizadas na sequência. De tal

modo, a análise nos revela quatro categorias de dados sendo elas: “Proporciona

aprendizagem sobre a diversidade humana”; “Espaço para troca de conhecimento e

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experiências”; “Temática relevante para ensino de ciência e educação” e

“Aprofundamento e reflexão da prática pedagógica” que são sistematizadas no quadro

5:

QUADRO 5: Aspectos positivos no desenvolvimento da sequência didática.

ASPECTOS POSITIVOS QUANTIDADE DE PARTICIPANTES

C1 Temática relevante para ensino de ciência e

educação

A1, A3, A4, A5

C2 Espaço para troca de conhecimento e experiências A1, A4, A5

C3 Proporciona aprendizagem sobre a diversidade

humana

A2, A3

C4 Aprofundamento e reflexão da prática pedagógica A3, A5

Fonte: autoras

A categoria C1 “Temática relevante para ensino de ciência e educação” foi a

mais frequente citada pelos participantes (A1, A3, A4, A5). Como mostra as falas a

baixo:

Proporcionam reflexão sobre a prática pedagógica [...] ciência e sociedade. (A3) [...] o levantamento do conhecimento e experiências prévias favorecem a discussão na educação. (A5)

Inferimos que isto se dá ao fato de a sequência tratar de temas ligados a

diversidade humana que atualmente faz parte do currículo obrigatório escolar. E

especialmente para o ensino de ciência, já que a questão de diversidade étnicas,

gênero, religiosas, por exemplo, são conteúdos tratados no dia a dia escolar. Ainda

existe a questão de o conteúdo ir ao encontro de assuntos muito explorados pela mídia

e que tem gerado muitos debates relacionando ao contexto da inclusão e respeito a

diversidade. A mídia está intimamente ligada ao ambiente escolar, pois o aluno assiste

diferentes programas e interage com os mesmos, e, a aula de ciência é,

frequentemente, uma fonte de retirada de dúvidas desta temática.

A categoria C2 “Espaço para troca de conhecimento e experiências” é o

segundo aspecto positivo mais citado (A1, A4, A5). Acreditamos que isto se dá, graças

a sequência ser organizada com atividades que permite a expressão de opiniões e

espaços de debates, onde sempre há o diálogo e a partilha de experiência.

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Foi de grande valia, trazendo o contexto histórico e troca de experiência. (A1)

Para Altarugio et. al. (2010, p. 27) “A realização de debates em sala de aula

oferece aos alunos a oportunidade de exporem suas ideias prévias a respeito de

fenômenos e conceitos científicos num ambiente estimulante” e assim podendo gerar

novas experiências transformadoras. Leitão (2000) ainda completa que esta atividade

pode não garantir a mudança de posição ou opinião a respeito de determinado

assunto, entretanto, declara que é um pré-requisito para que a mudança aconteça. E

desta maneira, numa sociedade que busca o respeito e inclusão do diferente, deve

sempre haver atividades com o intuito de comunicar e desenvolver conteúdos que

viabilizem a mudança conceitual acerca da diversidade para que no futuro haja mais

sensibilidade com o próximo e uma inclusão verdadeira, livre de preconceitos.

Em terceiro lugar, encontramos a categoria C3 “Proporciona aprendizagem

sobre a diversidade humana” identificada por A2, A3. Esta categoria evidencia um dos

principais objetivos da sequência didática, que foi apresentar o quanto somos ricos

em diversidade e o quanto devemos conhecê-la e respeitá-la. Como A2 fala:

[...] olhar as pessoas de uma forma aprofundada, [...] e realizar um trabalho de ensino de maneira que isto seja claro.

Santos (2008) declara que discussões a respeito da diversidade devem surgir

principalmente na escola, já que é o local onde ela é efetivamente presente, assim a

sequência pode colaborar com esta inserção de discussão sobre a diversidade e

proporcionar uma aprendizagem mais significativa, já que:

Na escola do século XXI, é possível perceber que a heterogeneidade está presente, ou seja, os alunos que lá estão são muito diferentes dos das décadas passadas, pois a escola atualmente é composta por grupos muito diferentes, tais como: sociais, econômicos, religiosos, culturais, de gênero, étnicos, com necessidades especiais, etc. Além desses grupos, ainda encontramos os que apresentam facilidade para aprender e outros que sofrem para assimilar os conceitos mais simples, alguns que apresentam facilidade para aprender; mas não se interessam, pois não querem nada com nada; outros com dificuldades e se mostram muito interessados; outros com estilos de aprendizagem diferentes; e outros indisciplinados (SANTOS, 2008, p. 15).

E desta maneira, apresentar materiais que proporcionem um aprendizado a

respeito da diversidade humana pode garantir o desenvolvimento e sensibilização dos

alunos perante a realidade vivida na escola.

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Outra categoria que surgiu e gerou aspectos positivos sobre a sequência foi a

promoção de um “Aprofundamento e reflexão da prática pedagógica” (A3, A5)

(CATEGORIA C4) vista na fala:

[...] reflexão sobre a prática pedagógica, história de vida em sociedade [...] (A3)

Temos o entendimento que mesmos que a sequência seja destinada ao público

estudantil, ela deve ser estudada e preparada por um professor que necessita ter

domínio sobre o conteúdo que irá ensinar e desenvolver. Assim, cremos que a

sequência didática ultrapassa os limites do ensino de ciência e diversidade, e vai ao

encontro de um material de apoio que desperte uma reflexão sobre a ação docente

de maneira geral. É necessária uma mudança de atitude por parte dos docentes, que

poderia ser “iniciada com uma formação crítico-reflexiva [...], visando a boa qualidade

educacional” (FONTANA; FAVERO, 2013, p. 2). Assim, Junior (2010) desponta que

refletir sobre a prática docente propicia e valoriza o conhecimento, já que gera novas

formas de aprender, de resolver problemáticas e compreender aspectos diferentes

desta prática.

Como apontado, os participantes avaliaram a sequência didática com vários

pontos positivos, o que garante a relevância de se insistir em desenvolver trabalhos

nesta vertente. Entretanto, também foram encontrados aspectos negativos, aos quais

serão explanados com maiores descrições na próxima seção.

Aspectos negativos

As categorias negativas evidenciadas pelos dados dos questionários foram

bastante tímidas, visto que somaram apenas três categorias sendo elas “Pouco tempo

de desenvolvimento da sequência”; “Não apresentou pontos negativos” e “Pouca

discussão sobre legislação e movimento eugênico”.

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QUADRO 6: Aspectos negativos no desenvolvimento da sequência didática.

ASPECTOS NEGATIVOS

QUANTIDADE DE PARTICIPANTES

C1 Falta de tempo de desenvolvimento da sequência A1, A3, A5

C3 Pouca discussão sobre legislação e movimento

eugênico

A5

C2 Não apresentou pontos negativos A2, A4

Fonte: autoras

Como mostra o quadro 6 na sua primeira categoria C1 “Falta de tempo de

desenvolvimento da sequência”, o maior aspecto negativo da sequência foi a ausência

de tempo para a realização da mesma.

O ponto negativo é que foi pouco tempo. (A1)

Um tempo curto para abordagem da temática [...]. (A3)

Como mencionado, a aplicação foi realizada durante um dia, tendo a carga

horária de oito horas. A princípio acreditávamos que este tempo seria ideal para

contemplar todos os assuntos que se propunha a sequência, entretanto esquecemos

de considerar os momentos destinados ao diálogo e exposições de ideias e

experiências. Estes momentos por mais ricos e proveitosos que possam ser, levam

grande demanda de tempo, e deste modo acabou por prejudicar as atividades que

estavam programadas para todo o dia. Desta maneira, acreditamos que houve uma

má gestão do tempo na aplicação da sequência. Segundo Rodrigues (2010), existe

toda uma organização por parte do professor para garantir que as aulas sejam dadas

de maneira completas aos alunos. Esta organização é chamada de tempo

pedagógico17.

E esta falta de organização foi justamente o ponto mais negativo encontrado

na sequência, o mesmo autor ainda profere que os esforços para organização do

tempo convergem na aprendizagem, e justamente esse foi outro ponto negativo

registrado pelos participantes na categoria dois C2 “Pouca discussão sobre legislação

e movimento eugênico”, o qual menciona a escassa discussão teórica sobre o

17 Esse tempo é empregado pelos professores no trabalho de ensino na sala de aula tendo como

referência os conteúdos a serem apresentados e desenvolvidos no dia, na semana, no bimestre, no semestre e no ano letivo (RODRIGUES; 2010, p.3).

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movimento eugênico e aspectos gerais que envolvem legislações brasileiras de

diversidade evidenciado por A5:

Não houve muita discussão dos boletins [...] poderia ser mais aprofundado, sendo que precisava de mais tempo. Faltou ainda aprofundar mais aspectos legais mais detalhados, por isso precisa de mais tempo [...].

Com esta perda, podemos inferir que prejudicou a compreensão teórica da

ciência dos participantes, quando pensamos no movimento eugênico que sustenta

várias práticas realizadas no Hospital Colônia de Barbacena, já que ficam com um

conhecimento bastante superficial, sendo que poderia ser mais discutido e

aprofundado com melhor gestão do tempo. Quando pensamos na legislação também

pecamos, já que estas poderiam garantir o acesso a pessoas que desconhecem o seu

direito.

Para amenizar esta problemática do tempo, Rodrigues (2010, p. 10) explica

com perfeição o que deve ser feito em caso onde o tempo seja um fator limitante:

[...] a organização do tempo pedagógico no trabalho docente se dá no enfrentamento das situações de trabalho. Essa organização abrange o momento da situação e representa a reordenação da prescrição. É o uso que o professor faz do tempo em sala de aula que possibilita novas formas de organização. Essas formas caracterizam-se pela ressignificação das atividades frente aos acontecimentos gerados pela indisciplina dos alunos, pelas rupturas e continuidades, repetições, pelas interferências externas e pela imprevisibilidade; de certa forma, requerem uma ação imediata do professor e, às vezes, uma reordenação das atividades desenvolvidas.

Portanto, cabe ao professor gerir e direcionar as atividades em função dos

acontecimentos que interferem na sua dinâmica escolar. Planejar e direcionar os

acontecimentos fazem com que sejam melhor aproveitadas as atividades e também

garante que o que se é proposto seja efetivamente exposto.

Por fim, apresentamos a última categoria C3“Não apresentou pontos negativos”

(A2, A4) como o próprio título já descreve, os participantes não relatam por escrito, os

aspectos negativos da sequência.

Percebamos que com a discussão desta seção foram levantados poucos

fatores negativos pelos participantes a respeito do material em questão, os quais

insuficientemente auxiliaram na reformulação da sequência didática. Desta forma, a

próxima seção propõe apresentar a visão da autora deste trabalho perante a aplicação

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da sequência, mencionando a sua percepção de como foi a aplicação do material e

das atividades desenvolvidas.

5.2 VALIDAÇÃO DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA – ANÁLISES, REFLEXÕES E

PERPECTIVAS DA AUTORA

Visando uma melhoria e reformulação da sequência didática, a autora fez uma

reflexão perante a própria aplicação da sequência didática (APÊNDICE A) realizada

na data de 01 de outubro de 2016. Para Fontana e Fávero (2013), a formação do

professor da atualidade deve ser pautada na reflexão, para que seja vencida as

barreiras de sua atuação no ambiente de sala de aula. Ainda, salientam que além dos

professores estar em constate questionamento e reflexão, devem estar preparados

para as reformulações para atender as necessidades dos alunos.

Segundo Alarcão (2005, p. 176):

[...] os professores desempenham um importante papel na produção e estruturação do conhecimento pedagógico porque refletem, de uma forma situada, na e sobre a interação que se gera entre o conhecimento científico [...] e a sua aquisição pelo aluno, refletem na e sobre a interação entre a pessoa do professor e a pessoa do aluno, entre a instituição escola e a sociedade em geral. Desta forma, têm um papel ativo na educação e não um papel meramente técnico que se reduza à execução de normas e receitas ou à aplicação de teorias exteriores à sua própria comunidade profissional.

Diante disso, é possível perceber que a ação reflexiva do professor pode

modificar e melhorar a aprendizagem dos alunos, visto que este questionamento

permite uma melhora na sua atuação e possivelmente no entendimento dos alunos.

Mendes (2005, p.5) acredita que a “A ação–reflexão–ação permite perceber, entre

outras coisas, se o trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula está atendendo

às expectativas dos alunos, seus interesses e os propósitos da disciplina [...]” assim

permitindo haver modificações do trabalhado docente caso seja necessário.

Baseados nestas premissas de reflexão da prática docente, iremos neste

momento apresentar a nossa reflexão de como foi desenvolver a sequência didática

“O que é ser normal?”

O curso teve início às 8h com etapa 1 “Questionário inicial e problematização

da temática” onde foi realizado a aplicação do questionário inicial, e assinatura do

TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido). Barbosa (2008) relata que os

questionários são um dos instrumentos mais utilizados em pesquisa no ramo da

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educação, já que os mesmos possuem baixo custo, possui a mesma intensidade nas

perguntas, já que as mesmas perguntas são respondidas por todos os participantes,

existe um alto grau de confiabilidade e são de fácil acesso já que podem ser realizados

por telefone ou e-mail. Entretanto, o mesmo autor também ressalta pontos negativos

na utilização dos questionários, sendo elas: a falta de expressões dos participantes,

são restritos a pessoas alfabetizadas, podem possuir perguntas ambíguas ou de difícil

interpretação, e ainda impossibilitar a conferencia das respostas, já que são

anônimos.

Nesta primeira fase, identificamos um ponto negativo pertinente e diferente dos

que Barbosa (2008) relata em seu artigo, e o identificamos como sendo o fator

temporal. Pode ser percebido pelos pesquisadores a demora para ser respondido o

questionário inicial, o constante diálogo entre os participantes que muitas vezes se

dispersava e percorria outros assuntos que iam além do tema dos questionários.

Estas atitudes fizeram com que a ministrante da sequência didática avaliasse

esta primeira etapa como não adequada, já que se inferiu que os questionários

estariam muito longo e com perguntas parecidas. Os próprios participantes citaram

em questionários e verbalmente durante a avaliação da sequência está problemática

da redundância das perguntas, gerando respostas parecidas ou que a argumentação

fosse a mesma. De tal modo, inferimos que haveria a necessidade de mudança, pois

o questionário não estava adequado as nossas necessidades e tampouco despertava

a atenção dos participantes, já que podemos perceber que durante as respostas dos

questionários, surgiram vários assuntos paralelos que acabavam desviando a atenção

dos participantes.

Diante do apresentado, chegamos a duas conclusões, sendo elas: (1) diminuir

e reformular as questões do questionário inicial deixando menos cansativo, mais

objetivo e mais sintetizado ou (2) propor uma nova introdução da temática que

despertasse maior interesse nos participantes, sendo mais dinâmica. Decidimos por

adequar a etapa 1 com a substituição do questionário inicial por uma dinâmica em

grupo. Segundo Silva (2008, p. 84), as dinâmicas em grupo vêm ganhado espaço e

se tornando interessantes aliados na realização de treinamentos, atividades de cunho

educacional e empresarial. O autor acredita que isto se dá “Em razão de possuir, em

sua imensa maioria, um caráter de natureza lúdica, a dinâmica de grupo tem o condão

de promover uma reprodução do mundo das relações [...] constituindo-se em um

poderoso agente de mudanças”. Baseados nesta afirmação, acreditamos que ao

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modificar o modo de iniciarmos a conversa com os participantes da sequência,

estaremos tornando-a mais interessante e assim contextualizando o conteúdo para

que possa ser relevante e compreendido com maior excelência a questão do respeito

à diversidade humana que é o principal foco apresentado pela sequência.

Pensando em dar seguimento a sequência e refletindo sobre a metodologia

utilizada, decidimos manter a aula expositiva dialoga, entretanto, incluímos na nova

sequência a dinâmica dos três momentos pedagógicos (1° Problematização inicial, 2°

Organização do conhecimento e 3° Aplicação do conhecimento). Segundo

Albuquerque (2015) p.463) “Ela permite por meio de um processo dialógico entre

professor e aluno que ambos adquiram ao longo desse processo uma compreensão

a respeito dos conhecimentos e práticas envolvidos no tema proposto”. Ao utilizarmos

está dinâmica metodológica ainda, podemos proporcionar uma aplicabilidade ao

conteúdo já que o último momento pedagógico “Aplicação do conhecimento” permite

introduzir uma atividade a qual o aluno possa ver efetiva aplicabilidade para o

conteúdo apresentado, e isto vai ao encontro de nossos objetivos.

Seguindo a aplicação da sequência didática, partimos para a discussão do que

seria ser normal? Assim introduzimos a temática com o Vídeo “O que é ser normal?”,

e questionamos Como vemos a normalidade dentro e fora da escola? Desta maneira,

poderíamos instigar os participantes a expressar a sua opinião sobre o que é visto

como normal na sociedade atual. O que pode ser percebido nesta discussão é as

diferentes perspectivas e relatos que os professores trazem a respeito deste assunto.

Foi levantado muitas hipóteses, muitas discussões como por exemplo sobre questões

de estereótipos, preconceitos oriundos de orientação sexual, crença, etnia dentre

outros. Ainda foi muito debatido assuntos que permeiam o ambiente escolar, como o

caso do bullying como propunha o texto “A brincadeira não tem graça” (ANEXO A), o

preconceito e a violência escolar. Esta fase foi demasiadamente produtiva sendo

extremamente relevante para a compreensão do conceito de normalidade visto na

sociedade e principalmente na escola. Entretanto, como é um tema muito abrangente

e que gera uma imensidade de discussões foi demasiadamente extenso, levando

quase duas horas para ser concretizada, assim acreditamos que por mais relevante

que seja a temática, haveria a necessidade de reorganização, já que somos limitados

ao tempo.

Desta maneira, com a reestruturação da sequência didática, acabamos por

retirar da Etapa 1 o texto referente ao bullying “ A brincadeira não tem graça” e o

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readequamos na etapa 4 “Diversidade e ambiente escolar” onde acreditamos que o

texto pode ainda mais alicerçar a discussão sobre a violência escolar e o bullying no

ambiente escolar, já que o bullying é um fato corriqueiro dentro da escola e deve ser

combatido. Ferreira e Tavares (2009, p. 195) advertem:

Em termos específicos, diante desta realidade escolar, os problemas relacionados à violência devem ser tratados e apresentados com nova roupagem [...]. Por conseguinte, a escola a partir desta realidade [...] deve sim, apreciar a diversidade com a intenção de ensinar e valorizar os aspectos que refletem as diferenças existentes nas salas de aula; tratando os alunos com respeito, apesar de suas diferenças, pois só assim poderão adquirir valores necessário para seu desenvolvimento na vida.

De tal modo, com a introdução desta temática “bullying” na etapa 4,

acreditamos que o material será mais proveitoso, já que discutir o ambiente escolar e

a diversidade está intimamente ligado ao conceito de bullying na escola.

Finalizando a etapa 1, percebemos que a mesma se encontrava desconexa

com a etapa seguinte que vislumbrava descrever “História da Ciência e movimento

psiquiátrico”. Assim, na tentativa de tornar o conteúdo mais concatenado, incluímos

na sequência reestruturada o resumo do livro “O alienista”. Este resumo busca,

promover uma discussão a respeito da loucura e normalidade no contexto da literatura

brasileira de Machado de Assis, onde permeado por este conto os participantes

podem passar a compreender mesmo que ficticiamente como a loucura era tratada,

como ela era vista e assim poder compreender as futuras explicações da próxima

etapa da sequência.

Com a demasiada discussão de normalidade da etapa 1 a etapa 2

“Sistematização do conhecimento” que propunha a contextualização da pesquisa ficou

fragilizada na temática “movimento eugênico”. Por mais que os participantes lessem

individualmente os boletins eugênicos, e fosse discutido pelos ministrantes esta

temática, não debatemos com profundidade o assunto. Portanto, acreditamos que

para os leigos, este conteúdo permaneceu frágil, podendo gerar algumas

interpretações equivocadas sobre este movimento que embasa o funcionamento do

Hospital Colônia. O que poderia ser mais interessante, seria ler e discutir os boletins

em grupos, para que pudesse ser sanada as dúvidas dos participantes e também

melhor conceituar do período histórico e exemplificar melhor este movimento. Esta

sugestão veio de uma participante que não conhecia a fundo sobre a eugenia, e

mencionou ter curiosidade de discutir mais sobre este assunto.

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Pensando em permitir maiores discussões, inserimos na nova sequência

didática vários insertos dos exemplares que tivemos acesso para maximizar a

compreensão dos diferentes aspectos que a eugenia teve influência. São

mencionados trechos dos boletins de eugenia, os quais mencionam a posição dos

eugenistas perante temas como reprodução humana, imigração, negros, educação,

loucura e normalidade. Abordar estas outras temáticas pode mostrar aos alunos que

o movimento eugênico não teve influência somente sobre a loucura e normalidade,

mas ultrapassou outras esferas da sociedade na tentativa de estabelecer uma

purificação racial.

Quanto a explicação da história do Hospital Colônia de Barbacena, essa

ocorreu de maneira satisfatória. Os participantes interagiram bem com as ferramentas

didáticas utilizadas (slides, imagens, vídeos). A apresentação do vídeo da Globo News

“Holocausto Brasileiro” foi bastante elogiada e em nossa visão tornou claro o que

acontecia no Hospital. Isto nos faz pensar em como as TICs (Tecnologia de

Informação e Comunicação) auxilia no dia a dia escolar. Silva (2004, p. 3) declara que

“A utilização das TIC enquadra-se na visão atual da escola. Elas potenciam a

organização e planificação das atividades, podendo também rentabilizar as

aprendizagens”. Acabamos por concordar com essa afirmação, pois realmente, a

utilização das tecnologias possibilitou tornar o desenvolvimento da sequência muito

mais interessante, já que permitiu fugir daquela dinâmica tradicional de leitura e

discussão. O mesmo autor ainda salienta:

O computador, a Internet e o vídeo ao apresentarem a informação de uma forma que vai para além da linguagem verbal, oferecem também possibilidades multissensoriais. Estas tecnologias devem promover nos alunos a capacidade de investigação, a iniciativa e o espírito crítico, bem como rentabilizar e potenciar as capacidades comunicacionais de professores e alunos. As Tecnologias de Informação e Comunicação multiplicam e facilitam a procura de informação e os equipamentos interativos e multimídia colocam à disposição dos alunos e professores um manancial inesgotável de informação (SILVA, 2004, p. 4).

Assim com o auxílio destas tecnologias houve em nossa opinião, um maior

aproveitamento das atividades além de tornar o conteúdo mais contextualizado e

dinâmico.

Terminando esta discussão sobre o movimento eugênico e o hospital, iniciamos

a etapa 3 “sistematização do conhecimento - inclusão da diversidade de seres

humanos na escola”. Para contextualizar o início do diálogo que procurava discutir

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sobre a diversidade dentro da escola, passamos os vídeos “Caminhos da escola:

educando para a diversidade (14:01 minutos)” e partes dos vídeos “Inclusão

educacional na perspectiva da diversidade (07:27 minutos)”. Inferimos que estes

vídeos subsidiaram e enriqueceram as discussões sobre a questão da diversidade,

entretanto, já que as discussões elencaram vários temas como: (1) formação de

professores para a inclusão; (2) inclusão de deficientes intelectuais e físicos; (3)

respeito a diversidade de gênero; (4) integração e inclusão de deficientes na escola;

(5) problemas e experiências diárias com alunos “diferentes”; (6) relação do

conhecimento científico e normas da sociedade. Um ponto que acreditamos não ser

muito favorável nesta etapa foi a quantidade de tempo que os vídeos acerca da

diversidade levaram. Como juntos levam aproximadamente 20 minutos de

reprodução, optamos por exclui-los na reestruturação, já que o vídeo ““Na minha

escola todo mundo é igual” (02:38 minutos) passa a mesma mensagem e pode gerar

as mesmas discussões, isto ajuda a gerir melhor o tempo da sequência.

Além das questões sobre diversidade e escolas abordamos as seguintes

perguntas: É perceptível que o discurso científico perpetua a discriminação? Se sim,

de que maneira? Lembrando do caso do Hospital Colônia de Barbacena e do

movimento eugênico é perceptível alguma postura que ainda se perpetua? Como

podemos classificar a loucura? Quem é realmente louco? Assim, surgiu um ponto

bastante interessante na discussão que foi a respeito de como o discurso científico

ideológico permeia nossas escolas. Foram dados exemplos da mídia influenciando os

jovens, o próprio discurso eugenista enraizado em nossas concepções de

discriminação racial, e o conhecimento científico ideológico se perpetuando em

nossas práticas diárias, como por exemplo, a questão da ciência somente trazer

avanços e melhorias sem pontos negativos. De tal modo, é perceptível que nessa

etapa o objetivo foi alcançado, pois os participantes tiveram tempo para desenvolver

e concluir suas ideias e percepções, trocaram experiência e principalmente

perceberam o quanto a ciência está impregnada no nosso dia a dia como por exemplo

por meio dos discursos ideológicos. Mbarga e Fleury (2017 p. 90) completam: “A

ciência tem transformado nosso mundo moderno de maneira profunda e espetacular.

Ela mexeu tanto com cada pedacinho da vida que é impossível escapar às suas

garras, para o bem ou para o mal”. Assim cabe a nós, sabermos analisá-la de maneira

crítica, conseguindo interpretar as suas múltiplas faces, direcionando os seus

conhecimentos e tecnologias com sabedoria.

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Logo após o tema diversidade ser discutido com os participantes, chegamos a

temática “O que é loucura?”. E, de maneira geral, foi construtivo o modo em que foi

proposto na sequência original, assim decidimos manter e acrescentar um resumo

explicativo da história da loucura. O histórico sobre a loucura na antiguidade e

atualidade levantou vários questionamentos, já que alguns participantes não sabiam

de algumas curiosidades sobre a temática, como por exemplo, o louco ser tratado

como “uma divindade” ou “mensageiro dos pensamentos divinos” na Grécia antiga.

Também foi gerado a discussão de como a loucura é vista hoje, como a indústria

farmacêutica fatura economicamente com este “retrato de loucura”, como a medicina

se “apropriou” da loucura e tornou o indivíduo com algum déficit intelectual alguém

que deve ser excluído e desmerecedor de confiabilidades.

Com a exposição da loucura ligada a questão da diversidade, introduzimos a

questão das legislações que auxiliam e protegem o direito da diversidade no Brasil.

Acreditamos que esta parte da sequência foi a mais prejudicada, pois houve uma falta

de discussão sobre as legislações de diversidade. Inferimos que isto se deu por

diferentes motivos: (1) os debates e reflexões anteriores levaram um tempo bastante

considerável; (2) já estava perto do tempo de finalização dos trabalhos, os

participantes por mais que achassem o tema atrativo estavam esgotados por ficarem

praticamente sete horas e meia sentados, estavam cheios de informações e cansados

desta dinâmica de apresentação de conteúdo, discussão e diálogo.

Com esses agravantes, decidimos pela finalização da sequência com o início

da etapa 4 - “síntese da temática e questionário final”. Assim propomos o questionário

final, para que os participantes pudessem avaliar como foi o desenvolvimento da

sequência, as atividades desenvolvidas e contribuições para a educação. Na

sequência reestruturada propomos uma finalização com intuito de averiguar o

conteúdo da sequência e não o material de apoio. Assim o questionário final foi

retirado e incluído uma dinâmica que condiz com o terceiro momento pedagógico

“aplicação do conhecimento” que foi o desenvolvimento de cartazes e panfletos a

respeito da diversidade a sua volta.

Acreditamos que o final da etapa 3 e a etapa 4 foram bastante prejudicadas,

pois não foi sistematizado como planejado a relevância da questão da História

Filosofia da ciência, o fechamento e conclusão de todas as atividades e assim esta

etapa ficou bastante prejudicada, limitando-se apenas a discutir alguns pontos

positivos e poucos negativos. Outra grande perda, foi não haver tempo suficiente para

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passar o vídeo da “Chimamanda Adichie - Os perigos de uma história única” já que o

mesmo evidenciaria uma importante discussão sobre a relevância de se conhecer a

história por traz dos acontecimentos, entretanto, foi mencionado o seu título, e onde o

mesmo se encontrava para que pudessem assistir em casa.

Por fim, com a aplicação e validação da sequência foi possível concluir que a

mesma precisava ser reestruturada. A sequência se encontrava pouco dinâmica,

provocando um cansaço ao participante pelas variadas temáticas serem muito

teóricas. Concluímos que as atividades deveriam ser melhor administradas quanto ao

tempo de realização, já que a demora de uma etapa acabou prejudicando a outra e

assim levando a um fechamento incompleto, carente em extrair as dúvidas recorrentes

do desenvolvimento da sequência. A sequência para ser desenvolvida com alunos

precisa se tornar mais flexível, interessante e apresentar objetivos de aprendizagem

para cada atividade, sistematizar melhor cada etapa, incluir novas perspectivas e em

fim ser um material que realmente fosse um apoio na busca de conhecimento.

Confiamos, que por mais que os questionários apontem dados positivos sobre

sequência, sendo a temática relevante, bem aplicada e desenvolvida. Uma

metodologia adequada, propondo uma reflexão acerca da diversidade e do

conhecimento científico, nós enquanto pesquisadores nos preocupamos com as

“perdas” que ocorreram na aplicação, e pensando em obter resultados melhores,

propomos uma reestruturação da sequência que será apresentada em detalhes na

próxima seção dos nossos resultados.

5.3 SEQUÊNCIA DIDÁTICA “O QUE É SER NORMAL”: MATERIAL DE APOIO AO PROFESSOR Nesta seção dos resultados descreveremos de forma integral como a

sequência didática ficou após a sua reestruturação pelas autoras. Destacamos que

para a realização da reestruturação e das modificações, nos baseamos na análise dos

questionários dos participantes e também na experiência das autoras perante as

discussões da validação acima descritos. Acreditamos que com as mudanças

realizadas a sequência didática “O que é ser normal?” tornou-se um material de apoio

adequado para pesquisadores e professores. Temos a esperança que este material

futuramente possa ganhar publicidade e gerar diversas discussões e aprendizado

sobre esta temática, garantindo a melhoria e ampliação de fontes teóricas que

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desenvolvam a questão do ensino de ciência vinculado ao contexto da história da

ciência e diversidade humana. Assim como Paulo Freire profere: “Ninguém começa a

ser educador numa certa terça-feira às quatro horas da tarde. Ninguém nasce

educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, a gente se forma,

como educador, permanentemente, na prática e na reflexão sobre a prática”. Temos

o a intensão que este material ajude os docentes a refletir e orientar a sua prática,

trazendo benefícios para sua profissão e vida.

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O QUE É SER

NORMAL?

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APRESENTAÇÃO

Após a realização de uma pesquisa de dois anos surge o momento de

apresentar uma reflexão acerca dos dados que permita ir além do enfoque teórico.

Apresentamos aqui uma proposta para auxiliar o professor a trabalhar temáticas

ligadas à história da ciência, as ideologias que permeiam a construção científica, o

respeito à pluralidade cultural e a diversidade humana. Com esta proposta

pretendemos aproximar a educação e o conteúdo ensinado de um currículo mais

voltado à perspectiva pós-crítica, no qual se devem valorizar os indivíduos e a sua

cultura sem discriminação e preconceito.

O material de apoio desenvolvido foi pautado em uma pesquisa realizada com a

intensão de contribuir na dinâmica das relações entre professor, aluno e

conhecimento. Ele também foi elaborado como uma tentativa de diminuir à carência

vista atualmente de materiais didáticos que valorizem as ações ligadas à diversidade

e ao multiculturalismo. Ainda vale ressaltar que outra motivação foi a existência de

poucos materiais que buscam conectar aspectos da história da ciência com temáticas

ligadas a inclusão e diversidade. São raros os trabalhos que buscam criar esta

articulação, portanto acreditamos que com o desenvolvimento deste material

criaremos fontes de reflexões e aprendizagens, que podem gerar novos anseios e

questionamentos para a produção de pesquisas futuras neste ramo de estudo. Desta

maneira, apresentamos nas próximas páginas uma sequência didática, onde serão

destacados materiais, planejamentos, textos, links de vídeos e questionamentos que

ajudarão os professores a terem um ponto de partida ou um direcionamento quando

se pensar em trabalhar conteúdos relacionados à inclusão social, história da ciência

e diversidade.

Porque estudar essa temática?

Partimos do pressuposto de que atualmente nos encontramos em uma sociedade

pautada em um discurso científico que, na maioria das vezes, entende a ciência

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apenas como geradora de “melhorias e avanços”, sem uma reflexão referente às

ideologias e aos condicionantes sociais que permeiam o fazer científico. Acreditamos

que parte dessa visão é oriunda da presença constante da ciência e tecnologia nas

nossas experiências diárias e da aceitação que essa presença traz sempre benefícios,

compondo a ilusão de uma ciência inquestionável (SILVEIRA; BAZZO, 2016).

Portanto, podemos conjecturar que grande parte das nossas decisões é baseada em

pesquisas e estudos científicos, repetidas vezes, não levando em conta, por exemplo,

os fatores culturais que hoje podem ser considerados a identidade de um povo.

Nesse material didático buscamos estruturar uma sequência que permita ao

professor trabalhar com os seguintes objetivos de ensino: compreender a influência

que o discurso científico na sociedade, desmistificar a ideia de linearidade e

neutralidade da ciência por meio de um estudo da História da Ciência; refletir a

respeito do conceito de normalidade; desenvolver uma atitude de respeito à

diversidade humana e pluralidade cultural; construir um posicionamento crítico a

respeito das temáticas de “normalidade”, “loucura”, diversidade de gêneros, educação

especial e inclusão, orientação sexual e padrões de conduta, na tentativa de introduzir

o respeito à diversidade e romper com o preconceito. Segundo Araújo (2013, p. 322-

323), uma sequência didática é uma proposta metodológica para ser empregada no

contexto da sala de aula, tendendo facilitar o processo de ensino e aprendizagem,

sendo “um modo de o professor organizar as atividades de ensino em função de

núcleos temáticos e procedimentais”.

Salientamos na proposta a importância de se incluir a História Ciência e o respeito

à diversidade humana no ambiente escolar. De tal modo, discutem-se questões

referentes à normalidade e à loucura do ponto de vista dos discursos científicos,

avaliando exemplos da História da Ciência, em específico o movimento eugênico e o

desenvolvimento do Hospital Colônia de Barbacena.

Qual teoria da aprendizagem

fundamenta o material de apoio?

Para o desenvolvimento de um material didático é necessário pensar como o

aluno aprende, e, portanto, fundamentar-se em uma teoria do conhecimento que

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alicerça a aprendizagem. Vasconcelos, et al (2003) salientam que a psicologia da

educação tem ajudado o ensino de ciência, explicando como ocorre o processo de

aprendizagem, sendo uma ferramenta que fundamenta as práticas realizadas no

ensino. Dessa maneira, para realizarmos nossa pesquisa nos fundamentaremos na

teoria sociocultural de Vygotsky, cujo princípio em resumo é a:

[...] relação indivíduo/ sociedade em que afirma que as características humanas não estão presentes desde o nascimento, nem são simplesmente resultados das pressões do meio externo. Elas são resultados das relações homem e sociedade, pois quando o homem transforma o meio na busca de atender suas necessidades básicas, ele transforma-se a si mesmo [...] O desenvolvimento do psiquismo humano é sempre mediado pelo outro que indica, delimita e atribui significados à realidade (COELHO; PISSANI, 2012, p. 146).

A escolha dessa teoria de aprendizagem vem ao encontro da proposta da nossa

pesquisa, já que Vygotsky defendia a inclusão na escola. Como propomos a respeito

da diversidade, concordamos com a teoria de Vygotsky, quando os autores Coelho e

Passani (2012, p.147) argumentam: “O limite biológico não é o que determina o não

desenvolvimento do surdo, cego (ou seja, a diversidade em geral). A sociedade sim é

quem vem criando estes limites para que os deficientes 18 não se desenvolvam

totalmente”.

A teoria de Vygotsky ressalta a importância da aprendizagem pela interação com

o outro, em momentos de discussão, no qual a heterogeneidade de indivíduos permite

que as ideias de uns auxiliem na aprendizagem e suporte ao outro. Ferreira (2010,

p.40) afirma que a teoria sociocultural discursa que o aprendizado e o

desenvolvimento do homem ocorrem da interação entre os indivíduos por meio “[...]

da linguagem, instrumentos mediadores19 e situação de trabalho”. Ainda afirma que

as funções mentais superiores20 decorrem da interação social, da cultura, da história,

dessa maneira, a cognição não acontece simplesmente mediante processos

biológicos, mas sim na integração destes com as práticas sociais.

18 O termo deficiente tratado aqui, entende a deficiência não apenas como uma lesão corporal que limita e restringe a ação do indivíduo, mas entende as limitações corpóreas e denuncia a opressão social que o indivíduo passa por tê-la (DINIZ, 2007). 19 O homem se desenvolve também através da mediação; o comportamento mediado constitui-se numa

forma mais desenvolvida do que o direto (por exemplo, os reflexos). A mediação pode ocorrer por instrumentos materiais, como um computador utilizado para escrever ou estudar ou pela linguagem [...]. Essa mediação é dada pelo grupo social que possui suas práticas culturais e ao qual o indivíduo pertence (FERREIRA, 2010, p.40). 20 Para Vygotsky as funções mentais superiores correspondem aos processos de cognição

(FERREIRA, 2010).

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Vygotsky indica que a aprendizagem ocorre em dois diferentes níveis de

desenvolvimento: real e potencial. De modo relativamente simples, o desenvolvimento

real é “o que a criança consegue fazer sozinha (etapas alcançadas, já conquistadas

pela criança), porque já tem um conhecimento consolidado, ou seja, é o que o

indivíduo consegue resolver de maneira autônoma” (MORAES, 2013, p.14) Já o

desenvolvimento potencial é “aquilo que a criança pode realizar com a ajuda dos

outros (adultos ou companheiros mais capazes), que ainda não domina, mas que

poderá dominar com ajuda de alguém mais experiente” (MORAES, 2013, p.14), ou

seja, é o que o indivíduo poderá construir. Assim, para Vygotsky (1984, p. 97,) a

distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento

potencial, caracteriza como Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) que pode ser

definida como: “aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em

processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão, presentemente,

em estado embrionário”.

Na ZDP as atividades devem ser orientadas, uma vez que devem ser pensadas a

partir das capacidades dos alunos aprenderem de forma mediada e com o auxílio de

outras pessoas. “Para Vygotsky todo ambiente social é uma ZDP, o comportamento

não é consequência da maturação e sim da interação, evidenciando a importância na

educação e no papel do professor como criadores da ZDP” (MORAES, 2013, p.14).

D’Avila (2016, p.23) destaca que na perspectiva vygotskiana “o sujeito não só age

sobre a realidade, mas sim ele interage com ela, construindo seus conhecimentos a

partir das relações intra e interpessoais”. Dessa maneira, no desenvolvimento da

proposta desse material, levou-se em consideração essa teoria da aprendizagem, já

que nesta concepção o contexto do professor/aluno e as suas vivências fornecem

subsídios para as discussões e diálogos que acontecem no processo de ensino e de

aprendizagem.

Quais estratégias metodológicas usar?

Para o desenvolvimento do material de apoio, nos basearemos na metodologia

dos Três momentos pedagógicos (3MP) proposta por Delizoicov. A dinâmica segundo

Muenchen e Delizoicov (2014) consiste em 3 etapas as quais são: (1)

Problematização Inicial: são questionamentos ou situações problemas

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apresentadas aos alunos, para que conheçam e contextualize os temas sobre o

conteúdo a ser ensinado. Nesse momento pedagógico, os alunos podem expor suas

opiniões, conhecimento prévios para que o professor possa conhecer o que eles

pensam e assim melhor nortear a aula fazendo com que a curiosidade do aluno seja

despertada e fazer com que ele sinta a necessidade da aquisição de outros

conhecimentos que ainda não detém. (2) Organização do Conhecimento: ocasião

em que, sob o direcionamento do professor, os conhecimentos teóricos necessários

para a compreensão dos temas e da problematização inicial são estudados. (3)

Aplicação do Conhecimento: neste momento é abordado de maneira sistemática o

conhecimento teórico incorporado pelo aluno, fazendo com que sela interpretada as

situações problemas do início da aula, quanto outras do seu cotidiano que implique o

uso do conhecimento apreendido.

Dentro desta metodologia dos três momentos pedagógicos, ainda propomos

utilizar a modalidade didática da aula expositiva dialogada durante o desenvolvimento

das atividades. Segundo Anastasiou e Alves (2016, p. 15-16) essa estratégia de

trabalho docente consiste:

Numa exposição do conteúdo, com a participação ativa dos estudantes, cujo conhecimento prévio deve ser considerado e pode ser tomado como ponto de partida. O professor leva os estudantes a questionarem, interpretarem e discutirem o objeto de estudo, a partir do reconhecimento e do confronto com a realidade. Deve favorecer a análise crítica, resultando na produção de novos conhecimentos. Propõe a superação da passividade e imobilidade intelectual dos estudantes.

Desta maneira, buscamos contextualizar a temática articulando as informações

e o conhecimento que os professores/alunos trazem para levar a melhor compreensão

do conteúdo programado. Ainda, procuraremos deixar o máximo de espaço para o

diálogo e questionamento para dentro do possível sanar as dúvidas e permitir maiores

reflexão sobre a temática.

Durante o desenvolvimento do material também deve ser disponibilizado vários

momentos de discussão com o grupo, nos quais o ponto de vista dos participantes

seja evidenciado. Segundo Silva e Leal (2016, p. 1) é um fato que o trabalho em grupo

pode tornar mais dinâmico e estimular a participação ativa dos alunos no processo de

aprendizagem. Assim, este tipo de trabalho tem “o intuito de promover a interação

social entre os membros, beneficiando, com isso, a relação entre aprendizado e

desenvolvimento”.

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De tal modo, procuramos sugerir a utilização de diferentes estratégias

metodológicas permeadas por diferentes recursos didáticos, como a utilização de

vídeos, dinâmicas, textos, questionários e imagens. Ainda, busca-se proporcionar um

ambiente que instigue o diálogo e as discussões.

A SEQUÊNCIA DIDÁTICA

Estrutura geral da sequência

Apresentamos a seguir, um quadro sistemático das atividades que serão

desenvolvidas ao decorrer da sequência didática. Salientamos que as atividades são

sugestões de materiais, sendo inteiramente flexível ao professor. Cabe a ele orientar

o que seja mais proveitoso a sua realidade, podendo utilizar a sequência na integra,

ou seja, desenvolver as atividades como um todo, ou também filtrar algumas

atividades ou partes delas para desenvolver sua aula.

Ainda advertimos sobre a questão do tempo de realização da sequência, já que

a mesmo contém bastante atividades diferenciadas, portanto aconselha-se a realizá-

la em mais de um dia caso seja reproduzida na integra, para evitar das atividades

serem prejudicadas ou insuficientemente discutida dado ao fator temporal. As

atividades da sequência seguem sistematizadas no quadro 1 a seguir:

QUADRO 7: Atividades sistematizadas

ETAPA ATIVIDADES OBJETIVO

Etapa 1 – Levantamento de conhecimento prévios e Problematização inicial.

e) Contrato didático

f) Dinâmica “Explorando as percepções implícitas em relação a diversidade humana”.

g) Vídeo “O que é ser normal”, contextualizando a normalidade e loucura na atual sociedade.

h) Vídeo e resumo do conto “O

alienista”.

Observar o conhecimento prévio do aluno sobre o preconceito, conceito de diversidade e normalidade. Introduzir a temática: o que é ser normal na sociedade? Refletir sobre as opiniões e argumentos.

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ETAPA 2 – Sistematizando o conhecimento por meio da história da ciência.

h) Conhecimento teórico sobre a eugenia por meio de apresentação de slides.

i) Insertos de exemplares dos boletins

de eugenia. j) Discussão teórica do conto “Jeca

Tatu” de monteiro lobato contextualizando o movimento eugênico na literatura brasileira.

k) Conhecimento teórico sobre o

Hospital Colônia de Barbacena por meio de apresentação de slides.

l) Fotografias reais do Hospital

Colônia de Barbacena em slides. m) Relato textual de uma moradora do

Hospital Colônia sobre as atividades que aconteciam no local no tempo que permaneceu lá.

n) Vídeo “Holocausto Brasileiro -

Manicômio de Barbacena”.

Está etapa objetiva apresentar o contexto científico sobre o movimento eugênico embasando na história da ciência, assim possibilitar a compreensão das atitudes que eram realizadas dentro do Hospital Colônia de Barbacena. Ainda, por meio disso, com ajuda de diferentes ferramentas didáticas exibiremos o caso do Hospital, provocando a discussão entre os alunos.

Etapa 3 – Sistematizando conhecimento pela inclusão da diversidade de seres humanos na atualidade.

e) Vídeo “Na minha escola todo mundo é igual”.

f) Discussão por meio de questionamentos nos slides sobre o contexto apresentado nos vídeos.

g) Relatos de experiências dos participantes sobre diversidade na escola.

h) Discussão sobre a normalidade, loucura e diversidade dentro do ambiente escolar por meio do texto “A brincadeira não tem graça”.

Realizar a discussão sobre a diversidade e o ambiente escolar embasado no conteúdo já estudado anteriormente.

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Etapa 4 – História da Loucura e legislação para a diversidade.

f) Vídeo: “Todo seu – entrevista: história da loucura com Guido Palomba”

g) Conhecimento teórico sobre o contexto da loucura durante a história.

h) Leitura de texto sobre as legislações

brasileiras que amparam a diversidade.

i) Discussão com os participantes por

meio de questionamentos nos slides sobre a legislação para a diversidade e como a mesma se efetiva.

j) Vídeo “Chimamanda Adichie – Os

perigos de uma história única” contextualizando a importância da História da ciência para o ensino

Discutir sobre o conceito de loucura na atualidade e historicamente. Apresentar e discutir as legislações que defendem a diversidade no Brasil.

Etapa 5 – Aplicando os conhecimentos na realidade escolar

b) Atividade “Observando e melhorando o mundo ao seu redor”

Evidenciar o aprendizado dos alunos e as concepções adquiridas por eles.

Problematização Inicial – Etapa 1

Propomos que essa sequência didática seja iniciada pelo estabelecimento de

um contrato didático, ou seja, de um acordo entre professor e aluno, estabelecendo

regras e atitudes em conjunto, para proporcionar um ambiente agradável para a

aprendizagem. Pinto (2003, p. 12) reforça que o contrato didático pode:

[...] dinamizar as interações estabelecidas pelo professor e pelo aluno com o saber, suas regras não podem ser unilaterais. O sentido democrático do contrato é garantido pelas situações em que o aluno é desafiado a produzir novos conhecimentos [...]

Nesse momento é interessante estabelecer um diálogo, explicando

detalhadamente os objetivos do desenvolvimento da sequência didática. Ricardo et

al. (2003) ressaltam que existem diversas relações dentro de sala de aula quando se

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pensa em ensino e aprendizagem, as quais podem ser mais harmônicas caso haja

responsabilidades pré-estabelecidas.

Após o contrato, orientamos ao professor utilizar um instrumento para fazer um

diagnóstico dos conhecimentos prévios dos alunos em relação aos assuntos que

serão abordados. Desta maneira iniciamos a problematização inicial, Para torna-la

mais dinâmica esta problematização e levantamento inicial dos modos de pensar dos

alunos, propomos a aplicação da atividade 1 que impulsione os alunos a refletirem em

relação as formas que a sociedade enxerga os indivíduos e suas diferentes

características e identidades. A atividade é apresentada no quadro 1.

QUADRO 8: Atividade 1 – Explorando as percepções implícitas em relação a diversidade humana.

Faça um exercício de imaginação com seus alunos para que eles reflitam sobre seus

preconceitos. Para isso, narre a seguinte situação: “Houve uma catástrofe nuclear, o futuro da

humanidade está em jogo e existe um abrigo subterrâneo que pode abrigar somente seis

pessoas. A seguir descrevemos algumas pessoas que podem ser escolhidas para serem salvas

no abrigo. Escolha somente seis com base em seus perfis”.

Perfis:

Sujeito 1: “Negro, pastor, teólogo, revolucionário e pacifista condenado por causar desordem

pública”;

Sujeito 2: Jovem aristocrata, homossexual dono de uma escola para moços.

Sujeito 3: Artesão desempregado, amigo de ladrões, condenado à morte.

Sujeito 4: Músico filho de uma mulher com sífilis, surdo, temperamental.

Sujeito 5: Homem, que fora uma criança difícil não falou até os três anos de idade, disléxico,

reprovado na escola fundamental, anarquista perseguido pelo FBI.

Sujeito 6: “Nerd” tímido, pouco popular na escola, desobedeceu a seu pai e abandonou a

faculdade no terceiro período de matemática para estabelecer seu próprio negócio baseado

numa invenção revolucionaria.

Sujeito 7: Estudioso, portador de múltiplas deficiências, causadas por uma doença rara,

degenerativa, paralisante e sem cura.

Sujeito 8: Estudioso, não fuma e nem bebe, solteiro, grande organizador, autor de um famoso

livro autobiográfico intitulado “Minha Luta”.

Sujeito 9: Filho adotivo da aristocracia, grande administrador, admirador da música e do

teatro,construiu grandes obras em seu governo sendo também musico e poeta.

Sujeito 10: Moço tímido na adolescência foi soldado e trabalhador voluntário, filho de

aristocratas, teve educação esmerada, engenheiro civil, empresário bem-sucedido pai de 12

filhos.

Sujeito 11: Prostituta perseguida e condenada a morte pela justiça.

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Sujeito 12: Filho de imigrantes, foi coroinha, atleta, graduado em direito, condenado a quinze

anos de prisão, tendo sido anistiado.

Sujeito 13: Órfã de pai, tímida, fez voto de castidade e tinha problemas cardíacos.

Sujeito 14: Órfã criada em um orfanato, foi adotada várias vezes, até se casar aos 16 anos.

Atriz e viciada em drogas.

Sujeito 15: Viciado em cocaína, especialista em sexualidade, fumante de cachimbo inveterado.

Sujeito 16: O pai recusou-se a reconhecer sua paternidade, ainda jovem foi acusado de atentado

ao pudor, volúvel, inconstante sendo pintor deixou muitas obras inacabadas.

Fonte: Café com sociologia. 2016. Disponível em <http://cafecomsociologia.com/2014/05/dinamica-preconceito.html>. Acesso: 26 out. 2016.

Após as escolhas dos alunos, faça uma discussão em relação quais foram as

seis pessoas incluídas no abrigo pela maioria dos alunos. Discuta com eles os motivos

que guiaram suas escolhas e destaque que nossas ações são norteadas por

preconceitos e estereótipos. Após a escolha, revele aos alunos de quem era cada

perfil descrito (quadro 2).

QUADRO 9: Atividade 1 – Correspondência entre perfis e identidade

PERFIS PESSOA

Sujeito 1 PLATÃO, filósofo grego – por ter sido um dos maiores filósofos da humanidade.

Sujeito 2 MARTIN LUTHER KING – Nobel da Paz por ter liderado o movimento que colocou fim ao racismo nos Estados Unidos nos anos 60.

Sujeito 3 JESUS – por ser o maior pacifista de todos os tempos.

Sujeito 4 BEETHOVEN– por ser um dos maiores compositores de todos os tempos

Sujeito 5 ALBERT EINSTEIN, físico alemão – pai da teoria da relatividade, considerado um dos maiores físicos da humanidade.

Sujeito 6 BILL GATES, dono da Microsoft – Por ter sido responsável pelo desenvolvimento dos computadores pessoais no nosso século.

Sujeito 7 STEPHEN HAWKING – por ser o maior físico da atualidade.

Sujeito 8 ADOLF HITLER – ditador alemão responsável pela ideologia nazista, por ter comandado o extermínio de mais de 6 milhões de judeus nas câmaras de gás nos campos de concentração na Segunda Guerra Mundial

Sujeito 9 NERO, imperador romano que colocou fogo em Roma e perseguiu os cristãos – por ser o mais cruel e louco de todos os imperadores romanos, tendo criado o Coliseuon de milhares de cristãos foram trucidados e ter incendiado Roma.

Sujeito 10 OSAMA BIN LADEN – por ser o maior líder terrorista da história.

Sujeito 11 MARIA MADALENA – por ter sido injustamente julgada pela Igreja Católica e só recentemente reconhecida como amiga e seguidora de Jesus.

Sujeito 12 FIDEL CASTRO, presidente socialista, radical e vitalício de Cuba – por ser responsável pela prisão, tortura e morte de milhares de cubanos nos últimos anos.

Sujeito 13 MADRE TEREZA DE CALCUTÁ – por ter sido Nobel da Paz e ter dedicado a sua vida a erradicar a pobreza, mortalidade e a fome.

Sujeito 14 MARILYN MONROE, por seu trabalho como atriz de filmes famosos, por seu envolvimento com drogas, acusada pelo FBI por espionagem e pelo seu suicídio.

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Sujeito 15 SIGMUND FREUD – por ser considerado o pai da psicanálise moderna.

Sujeito 16 LEONARDO DA VINCI – por ser considerado um gênio do Renascimento.

Fonte: Café com sociologia. 2016. Disponível em <http://cafecomsociologia.com/20 14/05/dinamica-preconceito.html>. Acesso: 26 out. 2016.

No caso do exemplo número (2), se o mesmo fosse escolhido, o indivíduo que

permaneceria no abrigo seria Martin Luther King, homem que ganhou um Nobel da

Paz por ter liderado o movimento que colocou fim ao racismo nos Estados Unidos nos

anos 60. Caso o exemplo número (10) fosse o eleito entre os seis, seria incluso no

abrigo Osama Bin Laden, famoso por ser o maior líder terrorista da história. Esses

exemplos mostram como não podemos julgar as pessoas por estereótipos e por

preconceitos. Além disso, mostra como é difícil comparar pessoas e entender um ser

humano como melhor ou pior que outro. Essa dinâmica tem o objetivo de fazer os

alunos refletirem se em seu dia a dia não estão julgando as pessoas ao seu redor por

meio de ideias pré-concebidas relativas a etnia, crença, cultura, comportamento,

vestimentas, orientação sexual, identidade de gênero, profissões, etc. É importante

essa reflexão para superar ideias discriminatórias, tecendo apontamentos a respeito

de temas como preconceito, exclusão social e diversidade humana.

Após a atividade 1, na qual, Lideias implícitas em relação a diversidade humana

são questionadas, buscamos discutir o processo de idealização de seres humanos

“perfeitos”. Para tanto, introduzimos as seguintes questões: O que é ser normal? Você

se considera normal ou anormal? Avaliando a dinâmica anterior, no que você se

baseou na escolha dos indivíduos para o abrigo nuclear? Para complementar essa

discussão sugerimos a inserção do vídeo “O que é ser normal? O que é ser Louco?21”,

produzido pela Rede de Olhares, em que uma repórter chamada Caroline Dall Agnol

entrevista pessoas leigas que conceituam o que é ser normal ou loucos para elas. O

objetivo principal dessa atividade de problematizar o que é ser normal é levar os

alunos a compreenderem que mesmo entre um número pequeno de pessoas há

divergências do que é considerado “normal”.

Questões ligadas a normalidade são bastante complexas e polêmicas já que o

que pode ser normal em um lado do mundo, pode não ser do outro, sendo dependente

essa conceitualização de uma dada cultura ou sociedade. O vídeo proposto reflete

ainda a respeito da “loucura”. Um dos entrevistados diz: “Ser louco acho que é

contrariar o que a sociedade pensa hoje em dia, tu indo contra a sociedade, tu é

21 Disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=m84-NZ54Clo>. Acesso em 08 jul. 2017.

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considerado louco”. Podemos questionar se os alunos concordam com a fala do

entrevistado, já que ela explicita uma visão de loucura como um distanciamento das

normas sociais e do que é considerado padrão.

A procura por certo padrão de ser humano gera preconceitos contra aqueles

que são considerados divergentes do padrão estabelecido. Concordamos com

Affonso (2014, s/p.) quando profere que:

O Brasil possui uma diversidade incrível e devemos aproveitar ao máximo as diferenças, sejam elas culturais, religiosas, de gênero, pensamento, estilo de vida etc. A inclusão passa pela compreensão das diferenças e aproveitamento da diversidade para a construção de uma educação que realmente forme cidadãos plenos que atuem para o fortalecimento de uma sociedade mais justa.

Uma forma de contextualizar como a busca de normalidade pode refletir em

uma sociedade que exclui e trata como doença a diferença é por meio da leitura de

uma obra de ficção. Aqui sugerimos a inserção do conto de Machado de Assis “O

alienista”.

Fonte: <https://www.estantevirtual.com.br/b/machado-de-assis/o-alienista/79018486>

O professor pode solicitar a leitura na íntegra do conto e sua posterior discussão

ou entregar um resumo22 da obra para leitura durante a aula23 que encontra-se na

atividade 2 a seguir.

22 GUIA DO ESTUDANTE, "O Alienista" - Resumo e Análise do conto de Machado de Assis.2016.

Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br /estudar/literatura/alienista-resumo-analise-conto-machado-assis-701990. shtml>. Acesso em 29 jul. de 2016 23 O conto também possui uma versão para História em Quadrinho, que acreditamos ser muito interessante, disponível em <https://caminhopoetico.files.wordpress.com/2014/10/hq-o-alienista-m achado-de-assis.pdf>.

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QUADRO 10: Atividade 2 – Resumo O Alienista

Após conquistar respeito em sua carreira de médico na Europa e no Brasil, o Dr. Simão

Bacamarte retorna à sua terra-natal, Itaguaí, para se dedicar ainda mais a sua profissão. Após

um tempo na cidade, casa-se com a já viúva D. Evarista, uma mulher por volta dos vinte e

cinco anos e que não era nem bonita e nem simpática. O médico a escolheu por julgá-la capaz

de lhe gerar bons filhos, mas ela acaba não tendo nenhum sequer.

Certo dia o Dr. Bacamarte resolve se dedicar aos estudos da psiquiatria e constrói na cidade

um manicômio chamado Casa Verde para abrigar todos os loucos da cidade e região. Em

pouco tempo o local fica cheio e ele vai ficando cada vez mais obcecado pelo trabalho. No

começo os internos eram realmente casos de loucura e a internação aceita pela sociedade,

mas em certo momento Dr. Bacamarte passou a enxergar loucura em todos e a internar

pessoas que causavam espanto. A primeira delas foi o Costa, homem que perdeu toda sua

herança emprestando dinheiro para os outros, mas não conseguia cobrar seus devedores. A

partir daí diversas outras personagens serão internadas pelo alienista.

Enquanto essas internações vão se sucedendo e deixando a população da cidade alarmada,

D. Evarista encontra-se em uma viagem pelo Rio de Janeiro. Ela havia ficado muito deprimida

pela falta de atenção que o marido lhe dava, quase voltando a se sentir uma viúva novamente,

e ganhara do Dr. Bacamarte uma viagem para conhecer o Rio. Todos na cidade viam na volta

de D. Evarista a solução para as inesperadas internações feitas pelo alienista. Porém, mesmo

após ela retornar à cidade o Dr. Bacamarte continuou agindo da mesma forma.

Com o tempo, a cidade vai adquirindo um clima cada vez mais tenso e o barbeiro Porfírio, que

a muito almejava ingressar na carreira política, resolve armar um protesto. Porém, quando se

descobre que o alienista pediu para não receber mais pelos internos, a ideia de que as

inúmeras reclusões não eram movidas por interesses econômicos corruptos, o movimento se

enfraquece. Porfírio, no entanto, movido por sua ambição de chegar ao poder, consegue armar

a Revolta dos Canjicas (o barbeiro era conhecido por “Canjica”). A população se move até a

casa do Dr. Bacamarte para protestar, mas é recebida por ele de forma muito equilibrada e

racional. Por um momento parecia que a fúria do povo havia sido controlada, mas a população

se revolta novamente quando o alienista lhes dá as costas e volta a seus estudos.

É quando a força armada da cidade chega para tentar controlar a população. Porém, para a

surpresa de todos, a polícia se junta aos revoltos e Porfírio se vê em uma posição poderosa

como líder da revolução. Resolve, então, dirigir-se até a Câmara dos Vereadores para destituí-

la. Agora com plenos poderes, Porfírio chama o Dr. Bacamarte para uma reunião, mas ao

invés de despedi-lo junta-se a ele e assim as internações continuam na cidade.

Dias depois, 50 apoiadores da Revolução dos Canjicas são internados. Outro barbeiro, o João

Pina, levanta-se contra e arma uma confusão tão grande que Porfírio é deposto. Mas a história

se repete e o novo governo também não derruba a Casa Verde. Pelo contrário, fortalece-a. As

internações continuam de forma acelerada e até D. Evarista é internada após passar uma

noite sem dormir por não conseguir decidir que roupa usaria numa festa.

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Por fim, a cidade encontrava-se com 75% de sua população internada na Casa Verde. O

alienista, percebendo que sua teoria estava errada, resolve libertar todos os internos e refazer

sua teoria. Se a maioria apresentava desvios de personalidade e não seguia um padrão, então

louco era quem mantinha regularidade nas ações e possuía firmeza de caráter. Baseado

nessa sua nova teoria, o Dr. Bacamarte recomeça a internar as pessoas da cidade e o primeiro

deles é o vereador Galvão. Ele havia proposto na Câmara uma lei que impedia os vereadores

de serem internados. Assim, as internações continuam na cidade. Outras pessoas, porém,

são consideradas curadas ao apresentarem algum desvio de caráter.

Após algum tempo, o Dr. Simão Bacamarte percebe que sua teoria mais uma vez está

incorreta e manda soltar todos os internos novamente. Como ninguém tinha uma

personalidade perfeita, exceto ele próprio, o alienista conclui ser o único anormal e decide

trancar-se sozinho na Casa Verde para o resto de sua vida.

Para alavancar a discussão o professor pode questionar: Como estamos

categorizando a população a nossa volta? Com que critérios estamos excluindo as

pessoas no meio social? Como pode ser entendido o desfecho na obra? Quem afinal

era normal? Para Menezes (2010), o conto representa a loucura de uma forma

patológica, ou seja, ela é encarada como uma doença que deve ser tratada. Embora

seja visto que os processos pelo quais eram identificados os loucos eram aspectos

fatos sociais e não médicos, ou seja, os indivíduos que foram diagnosticados com

loucura e anormalidades eram aqueles que destoavam de um comportamento

socialmente instituído. Buscamos mostrar com a obra que a loucura não é algo fácil

de ser identificado e também que a diversidade existe e não deve ser classificada

como doença ou anormalidade. Cada pessoa tem suas particularidades e cada ser

humano deve ser respeitado e compreendido por suas singularidades, a discriminação

somente gera revoltas e injustiças.

Após a fase de problematização da sequência didática buscamos sistematizar

conhecimentos relativos a temática por meio da introdução da História da Ciência

Brasileira do movimento eugênico e de um período histórico referente ao Hospital

Colônia de Barbacena-MG.

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SISTEMATIZANDO O CONHECIMENTO

POR MEIO DA HISTÓRIA DA CIÊNCIA

Etapa 2

Hospital Colônia de Barbacena

ARBEX (2013)

Partindo da discussão levantada a respeito do que é ser normal, propomos

iniciar a sistematização do conhecimento com o auxílio da história do Hospital Colônia

de Barbacena – MG. Para introduzir esse período histórico sugerimos a utilização de

um vídeo intitulado “Holocausto Brasileiro - Manicômio de Barbacena”24. Esse vídeo

produzido pelas Globo News, conta a história do Hospital Colônia de Barbacena, um

hospital psiquiátrico. Daniela Arbex, escritora do livro “Holocausto Brasileiro”

esclarece nesse vídeo que nem sempre pessoas com diagnósticos de loucura vinham

para o Hospital Colônia, mas, poderiam ser pessoas rejeitadas pela sociedade. Para

complementar a temática introduzida pelo vídeo o professor pode incluir em suas

aulas fragmentos do livro “Holocausto Brasileiro” de Daniela Arbex (2013), mostrando

a forma desumana com que as pessoas foram tratadas nesse hospital bem como os

principais casos que lá ocorriam, como a venda e comércio de cadáveres.

24 Link vídeo disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=1xBQr5zFAHs>. Acesso em: 08 jul.

2017.

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O Hospital Colônia de Barbacena foi uma instituição que inicialmente foi

pensada como um local para acomodar os indivíduos com défits intelectuais do estado

mineiro. Entretanto, ao passar dos anos com a contribuição das ideias eugênicas, o

hospital passou a receber pessoas que não possui qualquer debilidade, mas sim

rejeitados da sociedade (homossexuais, leprosos, mulheres que perderam a

virgindade, amantes, etc). A situação que se encontrava os pacientes era deplorável

e desumana, sendo submetidos a dormir em palhas e tratamentos de choques para

disciplinar a superlotação das estruturas (ARBEX, 2013)

Enfim, a história do Hospital Colônia de Barbacena foi um período trágico

Brasileiro e como dito não era somente pessoas com déficits intelectuais que

adentravam os muros do Colônia, como foi o caso de Dona Geralda Siqueira Santiago.

Como relatado no livro de Arbex (2013), Dona Geralda chegou ao Hospital ainda nova,

com 14 anos, e o motivo de usa entrada foi uma gravidez por estupro. Como conta

Geralda, ela era uma menina sem família, seus pais haviam falecido quando ainda

era uma criança, e assim passou a viver aos cuidados da comunidade. A menina

magra, analfabeta, com longos cabelos negros que chamavam a atenção de quem os

via, passou a trabalhar na casa de um renomado advogado, no qual realizava os

serviços gerais, já que sua esposa não possui boas faculdades mentais. Cuidava de

todos os afazeres domésticos e não tinha tempo para muitas coisas além disso.

“Quando sobrava tempo, brincava escondido com a boneca de pano que havia

costurado com retalhos que encontrou. Era o único momento de criança” (ARBEX,

2013, p. 119). A vida seguia este rumo, trabalho e nada muito além disso. Até que em

um dia quando Geralda estava limpando o banheiro foi surpreendida pelo seu patrão,

que a abusou sexualmente. Geralda conta que não reagiu, nem ao menos emitiu som

diante do acontecido, tinha medo das consequências. Tentou até pedir ajuda e relatar

o acontecido para a irmã do advogado, e o que ouviu dela foi que era coisa de homem,

melhor esquecer.

Um ano após o ocorrido, enquanto pegava comida na cozinha tarde na noite,

surpreendeu-se novamente com o seu padrão que a estuprou.

O tempo passou, mas agora quem estava diferente era ela. Havia perdido o ar ingênuo, suas feições endureceram. Seu corpo também passara por transformações. A mama havia crescido; o quadril, alargado. Ela vomitava quase que diariamente e, ainda assim, sentia mais fome. Logo a gravidez foi descoberta, e familiares do advogado começaram a articular uma saída. A mais fácil seria mandar a gestante para longe, para um local de

onde ela não pudesse mais sair (ARBEX, 2013, p. 120).

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Então o seu destino foi o Hospital Colônia. Geralda foi levada para lá por duas

freiras, onde o seu cumprimento de boas-vindas foi a cadeira de eletrochoque para

controle, mesmo grávida. A partir daí a moça passou residir na ala feminina do

Hospital, trabalhava no berçário, sendo incumbida de cuidar e lavar as roupas.

Trabalhava muito e mal comia, já que a comida era mais parecida com lavagem de

porcos do que comida humana. O seu filho nasceu em 1966, e permaneceu a seu

lado por seis meses durante o período de amamentação. Após este intervalo de

tempo, Geralda foi liberada do Hospital, entretanto o seu filho ainda devia residir lá,

podendo ser visitado apenas aos domingos. A moça passou a trabalhar de doméstica

em uma casa de família da redondeza, para juntar algum dinheiro para poder alugar

um local para morar com seu filho. No domingo como de costume, foi visitar seu filho,

mas uma surpresa a aguardava. O menino havia sido transferido, como a freira

mencionou: Foi levado para longe. Geralda caiu em desespero, agindo sem pensar,

numa verdadeira histeria acabou sendo eletrocutada e ameaçada para nunca mais

retornar. Neste contexto, Dona Geralda só voltou a rever seu filho em 2011, quando

as pessoas que trabalhavam com ele, sabendo da história, a localizaram e

proporcionaram o reencontro após 45 anos de procura de ambos (ARBEX, 2013). As

fotos a baixo tornam visível a situação a que eram submetidas as pessoas no Hospital

Colônia em Barbacena.

ARBEX (2013)

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ARBEX (2013)

ARBEX (2013)

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Tendo o Hospital Colônia de Barbacena e o conto o alienista como exemplo,

discutiremos como o discurso científico sustentou as práticas que ocorriam ali, em

especial na primeira metade do século XX, por meio do movimento eugênico e

também pela patologização dos comportamentos pela medicina. Faremos uma

apresentação a diante conceituando um pouco sobre o movimento eugênico e

traremos exemplares do “Boletim de Eugênia” para serem analisados pelos

professores/alunos e assim perceberem como o discurso científico subsidiou práticas

desumanas.

O Movimento Eugênico

O movimento eugênico foi uma das bases teóricas encontradas pelos políticos

da época (1903) para alicerçar o que acontecia no Hospital Colônia de Barbacena.

Para Maciel (1999, p. 121), este movimento se constituiu em:

[...] um conjunto de ideias e práticas relativas a um “melhoramento da raça humana” ou, como foi definida por um de seus seguidores, ao “aprimoramento da raça humana pela seleção dos genitores tendo como base o estudo da hereditariedade”

Esse movimento não teve só influência nas questões reprodutivas da

sociedade, mas também foi ligado a Educação e a Ciência, sendo um de seus

propósitos designar estudos a respeito do que seria o ser humano “normal”. Nesse

contexto, os indivíduos que fugiam das padronizações e normas sociais eram

considerados “tipos” indesejados para a sociedade. Arbex (2013, p. 21) diz: “A teoria

eugenista, que sustentava a ideia de limpeza social, [...] pretendia livrar a sociedade

da escória, desfazendo-se dela, de preferência em local que a vista não pudesse

alcançar”.

Serra e Scarcelli (2014) relatam que a teoria eugenista teve o seu ápice no

início do século XX por toda a Europa e Estados Unidos chegando assim ao hemisfério

sul americano. A elite brasileira que participava de congressos internacionais se

“entusiasmaram” com a ideia de “aperfeiçoar” a espécie humana brasileira, diminuindo

a miscigenação, e, assim garantindo a qualidade das raças ditas “puras”. No Brasil,

diferentemente dos Estados Unidos e Europa o movimento eugênico foi mais “suave”

sendo dividido em duas vertentes. Uma era representada pelos problemas sociais,

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que afetavam o saneamento básico e a saúde pública, ocasionando graves

dificuldades. E outra vertente era constituída pelas ideologias raciais que

preocupavam os eugenistas, que buscavam um melhoramento racial para a

população brasileira (SOUZA, 2006).

A eugenia tornou-se sinônimo de evolução e progresso (SOUZA, 2006).

Canova (2011, p. 155) propõe que neste cenário de entusiasmo e com o desejo do

Brasil ser considerado uma nação “civilizada” a eugenia ganha força. “Ser civilizado

era fazer do discurso da eugenia uma prática social, tornando aqueles que fugiam aos

padrões normativos burgueses os principais alvos do ataque eugenista”. Assim, o

Estado apoiado nesta teoria, tanto politicamente, como no discurso, tentava construir

uma sociedade ordenada e idealizada pela elite.

A apresentação do movimento eugênico permite gerar discussões a respeito

de como a ciência pode estar vinculada a defesa de certas ideologias e está permeada

de aspectos sociais, pois o movimento eugênico no início do século XX era

considerado um tipo de ciência experimental. Aqui sugerimos trabalhar o movimento

eugênico brasileiro por meio de fontes históricas primárias como os Boletins de

Eugenia 25 , nos quais destacamos alguns fragmentos para auxiliar o acesso ao

professor a esse material. Também podem ser trabalhados o livro de atas e trabalhos

volume I que mencionam as conferências e textos apresentados no Primeiro

Congresso Brasileiro de Eugenia. O primeiro congresso brasileiro de eugenia foi

realizado na cidade do Rio de Janeiro na data de 30 de junho a 7 de julho de 1929.

Ele foi organizado em três seções sendo a primeira de Antropologia, a segunda de

Genética, a terceira seção foi a de Educação e Legislação (GONÇALVES, 2010).

“De acordo com as atas das reuniões e fichas de inscrição, mais de 140 pessoas participaram do evento e, foram entregues à secretaria do Congresso mais de 70 trabalhos. Entre estes encontram-se os seguintes temas: imigração, alcoolismo, casamento, educação, degeneração, puericultura, raça, doenças venéreas, educação física, exames-pré-nupciais e esterilização” (GONÇALVES, 2010, p. 04)

Além do encontro, outra forma de discutir a eugenia com a população foi o

Boletim de eugenia, que se tornou um dos principais meios de divulgação da eugenia

entre a comunidade científica e a sociedade do Brasil, impresso no Rio de Janeiro,

com uma tiragem mensal de 1000 exemplares. O Boletim de Eugenia foi publicado

25 Os Boletins de Eugenia foram adquiridos na Biblioteca da Fio Cruz no Rio de Janeiro pelas Professoras Dra. Fernanda Ap. Meglhioratti e a Prof. Dra. Eduarda M. Schneider no ano de 2010.

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entre os anos de 1929 e 1933. Sua tiragem, nos primeiros três anos, era mensal,

passando, posteriormente, a ser trimestral. O Boletim era composto, em geral, de 4 a

10 páginas. Nele eram publicados artigos de diversos autores com assuntos que

divergiam conforme os interesses do editor. Um dos principais objetivos da publicação

do Boletim era promover o movimento eugenista e despertar o interesse público para

os problemas do país que, segundo os eugenistas, teriam origem racial (MAI;

BOARINI, 2002 apud Schneider 2013, p. 71).

Objetivamos com a discussão dessa temática que os alunos compreendam que

o conhecimento científico não é neutro e imparcial, e comumente serve a

determinados propósitos políticos e econômicos. Isso pode ser percebido pela intensa

relação entre o movimento eugênico – considerado científico – e a política, tendo

implicações até mesmo na constituição brasileira de 1934, como pode ser visto no

artigo 138 dessa lei brasileira.

Art 138 - Incumbe à União, aos Estados e aos Municípios, nos termos das leis respectivas: a) assegurar amparo aos desvalidos, criando serviços especializados e animando os serviços sociais, cuja orientação procurarão coordenar; b) estimular a educação eugênica; c) amparar a maternidade e a infância; d) socorrer as famílias de prole numerosa; e) proteger a juventude contra toda exploração, bem como contra o abandono físico, moral e intelectual; f) adotar medidas legislativas e administrativas tendentes a restringir a moralidade e a morbidade infantis; e de higiene social, que impeçam a propagação das doenças transmissíveis; g) cuidar da higiene mental e incentivar a luta contra os venenos sociais (BRASIL, 1934, s/p).

Os Boletins de Eugenia serviam como modo de propagação dessas ideias

eugênicas, principalmente entre a elite. A seguir destacamos alguns fragmentos dos

boletins de Eugenia que podem ser discutidos com os alunos e sugestões de algumas

reflexões que podem ser traçadas a partir deles. Alguns insertos do Boletim

(ATIVIDADE 3) viabilizam discussões a respeito do movimento eugênico e da sua

maneira de influenciar e expandir seus ideais no território brasileiro, abordando

questões de reprodução, raça, loucura e normalidade.

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QUADRO 11: Atividade 3 Insertos Boletins de Eugenia

O sucesso da eugenia está ligado, antes de tudo, á conquista da opinião pública e, em

participar, das pessoas cultas (KEHL, RENATO p. 6, n. 33, 1931 grifos nossos)

Eugenismo é a educação é a saneamento, é hygiene, é esporte, é legislação, é, tudo que

beneficiando o homem, reverte directa ou indirectamente em beneficio de sua prole (KEHL,

RENATO, 1929, p. 1, n 8).

A Eugenia é fundamentalmente uma sciencia que estuda os factores que sob controle

social poderão prejudicar ou beneficiar as qualidades raciais das futuras gerações, tanto

physicas como mentalmente (BOLETIM DE EUGENIA, Março de 1929, p. 2, grifos nossos).

Eugenia é a sciencia do aperfeiçoamento physico, psychico e mental o gênero humano,

tendo em conta as disposições hereditárias da semente e as medidas que beneficiam através

das gerações (KEHL, RENATO, 1929, p. 1, n 8 grifos nossos).

[...] esta sciencia não só se relaciona com os problemas biológicos que dizem respeito a vida

do homem, como considera todos os factos e influencias que actuam sobre sua vida

intelectual, social e moral. Investiga os dados moraes, mentaes e physicos. O eugenista

moderno não erra, reconhecendo a importância do meio e dos ideaes, embora o seu

objetivo principal seja o controle da espécie humana, no sentido de obter uma

proporção maior de indivíduos equilibrados, com qualidades congênitas capazes de

adaptação, exigidas por uma sociedade mais elevada (BOLETIM DE EUGENIA, Março de

1929, p. 2, grifos nossos).

A eugenia sempre terá em mira a educação popular em questões de hygiene e de

hereditariedade, pondo em relevo as applicações sociaes das leis, que são susceptíveis de

interessar a coletividade (KEHL, RENATO p. 3 n.13, 1930 grifos nossos).

“Sou optimista relativamente ao futuro ethnico do Brasil. tenho a firme crença de que o

processo de cruzamento de selecção natural, bem assim a entrada crescente de novas

correntes européas modificarão, para melhor, o estado geral da população, quer sob o

ponto de vista geral da população, quer psychico: já se delinea, claramente, o caminho da

futura consolidação ethnica” (KEHL, RENATO, 1929 p.3 grifos nossos).

O único recurso certo, radical, para o melhoramento da espécie humana é o recurso

eugênico, o melhoramento genético da humanidade. Este recurso consiste na multiplicação

das famílias eugênicas e na restricção paulatina e progressiva das não eugênicas. Não existe

outro caminho (KEHL, RENATO, 1928 p. 1 n. 9 grifos nossos).

O branco, sempre considerado como raça superior, é orthognatha, tem o ângulo facila

apurado e o índice cephalico tão exagerado que, sem a menor duvida, marca o sensível

afastamento das espécies inferiores (KEHL, RENATO, p..3, n. 30, 1929, grifos nossos)

Como constituinte da raça inferior, o negro é prognatha, tem o ângulo facial exagerado e

índice cephalico quasi nullo (KEHL, RENATO, p..3, n. 30, 1929, grifos nossos).

Se os homens tivessem consciência do que representa “casar e multiplicar” o grande

problema da felicidade estaria resolvido (KEHL, RENATO, 1928 p. 1 n. 9 grifos nossos).

Emquanto não se estabelecer a “consciência eugênica”, o mundo continuará o mesmo,

um paraiso perdido pelo gênerados humano, constiuido por um amontoado amorfo de

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anormaes, parasitando um núcleo relativamente pequeno de equilibrados (KEHL, RENATO,

1928 p. 1 n. 9 grifos nossos).

Não é, pois fácil estabelecer, com rigor absoluto, os limites desta normalidade ideal, taes as

gradações existentes, na realidade, entre os caracteres apresentados pela maioria dos nossos

semelhantes (KEHL, RENATO, p.1, n. 29 1931).

Todo individuo, pois, que se afastar do typo médio, para baixo da linha M (depreciação)

póde-se considerar como degenerado; e todo aquelle que se typo médio para cima,

(valorização) póde-se considerar normal superior (KEHL, RENATO, p.1, n. 29, 1931).

Um individuo pode apresentar um ou mais caracteres anormais, tendo todos os demaes

regulares, como se verifica. Via de regra, sendo por isso passível de uma classificação

favorável na tabela da normalidade. Homem normal absoluto é raríssimo ou mesmo não

existe (KEHL, RENATO, p.1, n. 29, 1931).

Somente dois motivos podem autorizar o Estado a fazer internar um louco – o da caridade

e da defesa social. o primeiro, quando ele é inofensivo, e então a sua finalidade se limita ao

próprio louco; o segundo, quando constituem um perigo para a sociedade, e então a sua

finalidade tem por alvo a preservação social (KEHL, RENATO p. 4, n. 14, 1930, grifos nossos).

Idiotia, em pathologia, é um déficit mental consecutivo a uma parada no desenvolvimento

psychico, ocorrente já na vida fetal, ou nos primórdios da vida extrauterina, cuja

symptomatologia o leigo em psychiatria jamais será capaz de differençar de alguns outros

estados mórbidos como por exemplo certas demências (KEHL, RENATO p. 4, n. 14, 1930,

grifos nossos).

As medidas em praticas em consistem em estabelecer colônias e albergues para mendingos.

Penitenciarias e prisões para os criminosos, manicômios e hospitais para os loucos e

degenerados, sem que os estabelecimentos criados comportem o numero crescente de

infelizes que surgem cada dia em progressão geométrica (KEHL, RENATO, p.1, n. 33 1931

griffos nossos)

A loucura por seu lado é tremenda. Nos 14 manicomios de New York existiam em 1928 sob

tratamento 58,354 doentes, mais de 9,124 nas escolas de anormais e 1890 nos institutos para

epilépticos. A despesas com estes infelizes orçou em muito milhões de dólares, sendo que em

sete annos, esse estado approvou emissões de bônus no valor de 150.000,000 para atterder

as despesas com psychopathas (KEHL, RENATO, p.8 1929, grifos nossos)

O peor é que a maioria dos delinquentes são incuráveis ou incorrigíveis, em virtude das suas

tendências innatas para o crime, sendo necessário mantel- os, indefinidamente, sob vigilância

em estabelecimento de reclusão (KEHL, RENATO, p.8 1929, grifos nossos).

Segundo estudos feitos, officialmente, na américa do norte calcula-se que existem 5 debeis

mentaes para cada 1000 habitantes, correspondendo pelo menos 500.000 debeis mentaes a

todo o paiz (KEHL, RENATO, p. 10 n . 24 1930 grifos nossos).

Tomando por base a estatística americana, de 5 debeis mentaes para cada 1.000 habitantes,

calculamos que existem, no Brasil, cerca de 200.000 individuos nessas condições de

inferioridade (KEHL, RENATO, p. 10, n. 24, 1930, grifos nossos).

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Só mesmo um serie programma de prophylaxia da procriação poderá reduzir,

progressivamente, essa avalanche de infelizes, que constituem grave perigo para a

communidade (KEHL, RENATO, p. 10 n 24 1930, grifos nossos).

Com os conceitos de eugenia implantada pelos boletins, buscava-se espalhar

a ideia de limpeza social sendo o principal objetivo excluir os tarados 26 e a

considerada escória social para fazer do Brasil uma nação forte e progressiva. É

perceptível durante a leitura dos Boletins o insistente argumento em falar a respeito

do “controle da espécie humana”, do “aperfeiçoamento”, da “exclusão de

degenerados”, levando a ideia de que devemos selecionar quem deve viver na

sociedade e quem deve ser banalizado e excluído.

Na tentativa de tornar a ideia eugênica uma realidade nacional a mesma foi

incluída tanto na política como na educação dos jovens. Como podemos perceber na

fala de um dos divulgadores do movimento eugênico, Renato Kehl: “não há política

nacional, independente dos princípios biológicos, capaz de trazer paz e felicidade aos

povos. Eis, por que, a política, por excelência, é a política biológica, a política com

base na eugenia” (KEHL, 1937, p.13 apud SOUZA, 2006, p. 6). Na educação não foi

diferente, Rocha (2014) explica que não só os eugenistas acreditavam numa

educação eugênica como advertiam que somente por dela e por uma condição social

favorável que o Brasil sairia da desgraça.

A questão racial também é redigida nos boletins de eugenia. Era clara o

desfavorecimento do negro em função o branco. Masiero (2005, p. 203) cita em seu

artigo uma pesquisa realizada por Oliveira Vianna (1959) onde retrata o quanto havia

inferioridade na questão racial de negros e brancos em período eugênico no Brasil.

Outra preocupação, segundo Maciel (1999), era com a imigração, considerada um

perigo que propiciava o “contágio” da população.

Relacionado ao “contagio”, adentra-se outro tema bastante forte ligada a

eugenia: questões de hereditariedade, casamento e reprodução. Praticamente toda a

ideia eugênica era fortemente alicerçada na reprodução dos indivíduos puros e

considerados vantajosos hereditariamente. Souza (2006) argumenta que uma

possível causa de se levar em conta a hereditariedade seria porque os estudos da

26 A palavra “tarado” é interessante de explicar o seu significado para a época, pois ela remete a um

significado diferente do que conhecemos da atualidade. A palavra “tarado” diversas vezes escrita no Boletins, remete a palavra “tara” cujo o significado está ligado a defeito físico ou moral, degeneração, depravação (FERREIRA, 2009) e assim as pessoas que possuem alguma imperfeição como serem surdos-mudos, cegos eram referidos como tarados, realmente o refugo da população (MACIEL, 1999).

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época, garantiam que a criminalidade, as diferentes formas de delinquência,

promiscuidade, doenças metais, os diferentes vícios e até mesmo a pobreza eram

vinculadas a fatores hereditários.

Como pode ser visto a eugenia influenciou questões científicas, raciais,

imigratórias, hereditárias entre outras e era considerada no início do século XX como

a única forma de melhorar a raça. E a questão de normalidade não poderia ficar a

parte desta discussão. A normalidade e a loucura também vieram como uma forma

de exclusão da população. Nos boletins são mencionadas proposições para medir a

normalidade, mesmo sendo advertido que seria muito difícil, era estabelecido uma

média, no qual indivíduos que tivessem muitas características degeneradas eram

ditos anormais e outros que possuíam poucas eram taxados como normais. Segundo

Miskolci (2003, p. 114) “[...] a Eugenia - ampliou o espectro de controle da normalidade

de forma a prescindir do isolamento dos indivíduos em instituições fechadas”. Desta

forma, cria-se a ideia de que o “louco” deve ser aprisionado e isolado do meio social.

Além de ser evidenciado que o mesmo adquire esta característica ainda na idade fetal,

portanto sendo algo hereditário e de difícil diagnóstico.

Pode ser percebido que a eugenia se apropria da loucura, e, portanto, da área

psiquiátrica no Brasil. Segundo Couto (1994), a psiquiatria brasileira sofreu grande

influência da teoria eugênica, pois ela transformou os parâmetros de normalidade. Nos

anos 20 era tanto o controle da eugenia em relação a psiquiatria que pode ser visto o

aparecimento de diversas entidades psiquiátricas baseadas nestes ideais por todo

Brasil, por exemplo, a Liga Paulista de Higiene Mental e Sanatório Pinel de Piratuba.

Weyler (2006) argumenta que havia uma grande preocupação por parte do

Estado em promover o progresso da nação, assim por meio da teoria de

degenerescência (base eugênica) era justificado o aprisionamento e recolhimento dos

indivíduos para os hospícios. Para a população e o governo, em favor da ordem e

progresso, era imprescindível realizar uma limpeza social, na qual os ditos

degenerados e alienados fossem retirados das ruas e principalmente do convívio

social, assim o internamento nos hospícios era algo considerado benéfico e que

solucionava o problema. “Foi neste contexto e apoiado nesses ideais que os hospícios

e as colônias para alienados como instituições médicas surgiram, no Brasil, como

promessa de um mundo regulado que substituiria o caos da loucura pelo triunfo da

razão” (WEYLER, 2006, p. 24).

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A eugenia se tornou uma ideologia popular que propunha uma “loucura”

controlada e isolada. Nesta perspectiva, que foi fundamentada a criação do Hospital

Colônia em Barbacena Minas Gerais. A eugenia já estava sendo uma realidade no

Brasil, funcionava como uma ideologia que mantinha um controle e fazia parte da

opinião popular. Concluímos, portanto que por mais que hoje vemos o que aconteceu

no Colônia como sendo algo terrível, cruel e desumano era condizente com o que se

pregava na época. Fazia parte da ideologia cultural brasileira, desta maneira não deve

ser julgado com os olhares da atualidade e sim com os olhos do contexto da época.

Schneider (2013) argumenta que a eugenia foi uma forte ideologia que a

história da ciência pode exemplificar. Por meio desta ideologia podemos ver como

houve um favorecimento de uma classe dominante em detrimento dos menos

favorecidos. A ideologia por volta da loucura favoreceu a classe dominante que

pretendia o branqueamento e a reprodução da “raça pura”, assim o que não era aceito:

louco, epilético, grávidas sem maridos, alcoólatras, protestantes, negros, amantes,

entre outros estorvos sociais, ganharam um aparato para serem reclusos e garantir a

paz social.

Nessa discussão, objetivamos mostrar que a eugenia influenciou diferentes

esferas da sociedade. Ela teve forte caráter político e educacional que acreditamos

ser um dos motivos dela influenciar tanto a população. A eugenia como mencionado

influenciou diferentes ramos e não ficaria de fora os intelectuais da literatura brasileira.

Assim, pode-se usar para reflexão a discussão de uma obra literária escrita por um

famoso escritor brasileiro na época do movimento eugênico.

Nesse momento, sugerimos a discussão de aspectos das obras de Monteiro

Lobato, grande defensor da eugenia no Brasil. Por exemplo, no livro “Urupês”,

Monteiro Lobato se dedica a explicar o personagem Jeca Tatu, que é uma

representação dos “degenerados” eugênicos relatados nos boletins de eugenia.

Fonte: <https://updatesaude.wordpress.com/2014/04/18/o-jeca-tatu-de-monteiro-lobato-e-a-medicina-brasileira/>

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Souza (2012) declara que a obra Urupês tem um dos personagens mais

famosos do autor: o Jeca Tatu. O livro é constituído de treze contos que foram escritos

durante o período em que o autor passou na fazenda de Buquira. O nome Urupês vem

de um cogumelo que inspirou o nome do livro, já que Monteiro Lobato faz a

comparação do caboclo com um pau podre que fica na vegetação inerte, sem

aparente função. Para Santos (2012), não se pode esquecer do fator temporal quando

se pensar no conteúdo da obra. Monteiro lobato está retratando o Brasil nas primeiras

décadas do século XX, ou seja, período em que há a vinculação dos Boletins de

Eugenia e dos ideais eugênicos, no qual se propaga uma série de ideias a respeito de

como seria um indivíduo normal, descente e de linhagens puras. E infelizmente esta

não era a visão do caboclo brasileiro por Monteiro Lobato. Para Souza (2012, p. 17-

18), Lobato:

[...] trouxe à tona a figura do homem do sertão brasileiro, que por suas mãos ficou conhecido como Jeca Tatu, o típico caboclo do sertão, sujo e mal trapilho, de barba rala, pobre, ignorante, avesso a hábitos de higiene, de personalidade rude, desagradável e de um modo de vida apático, também caracterizado como um homem preguiçoso, sem afinco para o trabalho.

Esta era visão que o escritor tinha da população do sertão brasileiro. “O Jeca não é

assim: está assim” (LOBATO, 1972, p. 121 apud SOUZA, 2012 p. 23). Pela

interpretação de Souza (2012, p. 23) Monteiro Lobato expressa a ideia do seu

equivoco em relação ao Jeca Tatu, o homem do campo. “Devido aos problemas

sanitários o Jeca fez-se assim. Não nasceu, mas foi criado pela sociedade, pela falta

de higiene, de saúde e até de educação. Não por vontade própria, mas por não ter

condições físicas e esclarecimentos sobre tal assunto”. Com este exemplo literário

fica claro como era visto o menos favorecido pelos membros da elite eugênica. É

perceptível a desvalorização do ser humano perante seu modo de vida. Desta maneira

com o exemplo desta obra objetivamos mostrar como o ideário brasileiro foi

influenciado pela eugenia.

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SISTEMATIZANDO CONHECIMENTO

PELA INCLUSÃO DA DIVERSIDADE DE

SERES HUMANOS NA ATUALIDADE

Etapa 3

Ciência e Diversidade

Com toda a contextualização sobre a loucura, normalidade, movimento

eugênico, hospital colônia de Barbacena já realizada chega o momento de trazer este

contexto para dentro da realidade atual e principalmente para o ambiente escolar. A

diversidade é algo presente na escola e muitas vezes não sabemos ou não tivermos

suporte para trabalhar com ela. Para Santos (2008, p. 13):

Um dos aspectos a ser desenvolvido em nossos alunos é a cidadania, que pressupõe respeito às diferenças, não com a intenção de acentuar as desigualdades, mas de respeitar as diversidades entre os indivíduos. Cada aluno é único, portanto, tem suas características particulares que merecem ser consideradas pelo professor e pela escola.

Desta maneira, juntamente com os ensinamentos sobre cidadania e ética, a

escola deve desenvolver conceitos e conhecimentos que inspirem o respeito às

diferenças individuais. As diferenças dos indivíduos não devem ser entendidas como

anormalidades, mas sim como singularidades a seres respeitadas em um ambiente

inclusivo. Santos (2008) ratifica que falar de diversidade não é somente se remeter a

pessoas com déficits intelectuais ou necessidades especiais, mais se trata de um

olhar voltado para o todo, no qual se enxerga o ser humano na sua totalidade e

singularidades, e, portanto, diferentes uns dos outros.

Deve-se considerar como diversidade os diferentes aspectos culturais, étnicos,

socioeconômicas, entre outras relações que despertem discriminação e exclusão, tais

como discriminação de gênero e religiosa. Para Carvalho (2002, p. 120), uma escola

inclusiva é aquela escola que “inclui a todos, que reconhece a diversidade e não tem

preconceito contra as diferenças, que atende às necessidades de cada um e que

promove a aprendizagem”. Desta maneira, devemos tentar promover este tipo de

modelo escolar, no qual se prioriza o respeito a heterogeneidade.

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Nesse material de apoio sugerimos a introdução desse tema de inclusão da

diversidade por meio da reflexão de um texto que fala de bullying na escola. Com o

texto buscamos discutir como estão sendo tratadas as diferenças no ambiente

escolar. A seguir apresentamos o texto a ser trabalhado “A brincadeira não tem Graça”

atividade 4.

QUADRO 12: Atividade 4 – Texto A brincadeira não tem Graça

A brincadeira que não tem graça Todos os dias, alunos no mundo todo sofrem com um tipo de violência que vem mascarada na forma de “brincadeira”. Estudos recentes revelam que esse comportamento, que até há bem pouco tempo era considerado inofensivo e que recebe o nome de bullying, pode acarretar sérias consequências ao desenvolvimento psíquico dos alunos, gerando desde queda na autoestima até, em casos mais extremos, o suicídio e outras tragédias. Por Diogo Dreyer Quem nunca foi zoado ou zoou alguém na escola? Risadinhas, empurrões, fofocas, apelidos como “bola”, “rolha de poço”, “quatro-olhos”. Todo mundo já testemunhou uma dessas “brincadeirinhas” ou foi vítima delas. Mas esse comportamento, considerado normal por muitos pais, alunos e até professores, está longe de ser inocente. Ele é tão comum entre crianças e adolescentes que recebe até um nome especial: bullying. Trata-se de um termo em inglês utilizado para designar a prática de atos agressivos entre estudantes. Traduzido ao pé da letra, seria algo como intimidação. Trocando em miúdos: quem sofre com o bullying é aquele aluno perseguido, humilhado, intimidado. E isso não deve ser encarado como brincadeira de criança. Especialistas revelam que esse fenômeno, que acontece no mundo todo, pode provocar nas vítimas desde diminuição na autoestima até o suicídio. “bullying diz respeito a atitudes agressivas, intencionais e repetidas praticadas por um ou mais alunos contra outro. Portanto, não se trata de brincadeiras ou desentendimentos eventuais. Os estudantes que são alvos de bullying sofrem esse tipo de agressão sistematicamente”, explica o médico Aramis Lopes Neto, coordenador do primeiro estudo feito no Brasil a respeito desse assunto — “Diga não ao bullying: Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes”, realizado pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia). Segundo Aramis, “para os alvos de bullying, as consequências podem ser depressão, angústia, baixa autoestima, estresse, absentismo ou evasão escolar, atitudes de autoflagelação e suicídio, enquanto os autores dessa prática podem adotar comportamentos de risco, atitudes delinquentes ou criminosas e acabar tornando-se adultos violentos”. A pesquisa da Abrapia, que foi realizada com alunos de escolas de Ensino Fundamental do Rio de Janeiro, apresenta dados como o número de crianças e adolescentes que já foram vítimas de alguma modalidade de bullying, que inclui, além das condutas descritas anteriormente, discriminação, difamação e isolamento. O objetivo do estudo é ensinar e debater com professores, pais e alunos formas de evitar que essas situações aconteçam. “A pesquisa que realizamos revela que 40,5% dos 5.870 alunos entrevistados estão diretamente envolvidos nesse tipo de violência, como autores ou vítimas dele”, explica Aramis. A denominação dessa prática como bullying, talvez até por ser um termo estrangeiro, ainda causa certa polêmica entre estudiosos do assunto. Para a socióloga e vice coordenadora do Observatório de Violências nas Escolas — Brasil, Miriam Abramovay, a prática do bullying não é o que existe no país. “O que temos aqui é a violência escolar.

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Se nós substituirmos a questão da violência na escola apenas pela palavra bullying, que trata apenas de intimidação, estaremos importando um termo e esvaziando uma discussão de dois anos sobre a violência nas escolas”, opina a coordenadora. Mas, tenha o nome que tiver, não é difícil encontrar exemplos de casos em que esse tipo de violência tenha acarretado consequências graves no Brasil. Em janeiro de 2003, Edimar Aparecido Freitas, de 18 anos, invadiu a escola onde havia estudado, no município de Taiúva, em São Paulo, com um revólver na mão. Ele feriu gravemente cinco alunos e, em seguida, matou-se. Obeso na infância e adolescência, ele era motivo de piada entre os colegas. Na Bahia, em fevereiro de 2004, um adolescente de 17 anos, armado com um revólver, matou um colega e a secretária da escola de informática onde estudou. O adolescente foi preso. O delegado que investigou o caso disse que o menino sofria algumas brincadeiras que ocasionavam certo rebaixamento de sua personalidade. Vale lembrar que os episódios que terminam em homicídio ou suicídio são raros e que não são poucas as vítimas do bullying que, por medo ou vergonha, sofrem em silêncio. Além de haver alguns casos com desfechos trágicos, como os citados, esse tipo de prática também está preocupando por atingir faixas etárias cada vez mais baixas, como crianças dos primeiros anos da escolarização. Dados recentes mostram sua disseminação por todas as classes sociais e apontam uma tendência para o aumento rápido desse comportamento com o avanço da idade dos alunos. “Diversos trabalhos internacionais têm demonstrado que a prática de bullying pode ocorrer a partir dos 3 anos de idade, quando a intencionalidade desses atos já pode ser observada”, afirma o coordenador da Abrapia. Motivação Segundo Aramis, os motivos que levam a esse tipo de violência são extremamente variados e estão relacionados com as experiências que cada aluno tem em sua família e/ou comunidade: “Famílias desestruturadas, com relações afetivas de baixa qualidade, em que a violência doméstica é real ou em que a criança representa o papel de bode expiatório para todas as dificuldades e mazelas são as fontes mais comuns de autores ou alvos debullying”. Das onze escolas avaliadas na pesquisa da Abrapia, nove eram públicas e duas particulares. Não houve diferenças quanto à incidência de bullying. O que se observou foi que a forma como ele é praticado varia de uma escola para outra. Nas particulares, por exemplo, valorizam-se muito os bens materiais, como carro, tênis importado, etc. Nessas instituições, não possuir algum desses bens pode ser motivo para perseguições. Já nas escolas públicas, a principal razão é a própria violência vivenciada cotidianamente pela comunidade. Para a socióloga, essa é uma comparação difícil de ser feita. “Se você me perguntar onde existe mais intimidação, ou bullying, se na escola pública ou privada, responderei que não tenho idéia. No entanto, com relação à violência, é evidente que ela ocorre com mais força no lugar onde há menos condições de controle. E, na verdade, a escola privada tem muito mais condições de controlar aquilo que está acontecendo dentro de seus muros, com ela mesma ou com seus alunos. E os pais que têm filhos em escolas privadas podem entrar lá e intervir. Os alunos podem voltar para casa e discutir o problema com eles, e os pais, por sua vez, têm a possibilidade de ir à escola reclamar, mudar o filho de horário, de colégio, etc. Já em uma escola pública isso jamais vai acontecer! Se uma mãe for reclamar, os diretores e os professores nem vão dar bola”, afirma. Origem O bullying começou a ser pesquisado cerca de dez anos atrás na Europa, quando se descobriu o que estava por trás de muitas tentativas de suicídio entre adolescentes. Sem receber a atenção da escola ou dos pais, que geralmente achavam as ofensas bobas demais para terem maiores consequências, o jovem recorria a uma medida desesperada. Atualmente, todas as escolas do Reino Unido já implantaram políticas anti-bullying.

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Os estudos da Abrapia demonstram que não há diferenças significativas entre as escolas avaliadas e os dados internacionais. A grande surpresa foi o fato de que aqui os estudantes identificaram a sala de aula como o local de maior incidência desse tipo de violência, enquanto, em outros países, ele ocorre principalmente fora da sala de aula, no horário de recreio. Soluções Para quem é vítima de algum desses tipos de humilhação, a saída é “se abrir”, ou seja, procurar ajuda, começando pelos próprios pais. E quem tem um filho passando por esse problema precisa mostrar-se disponível para ouvi-lo. Nunca se deve aconselhá-lo a revidar a agressão; mas, sim, esclarecer que ele não é culpado pelo que está acontecendo. Também é fundamental entrar em contato com a escola. Mas, se os pais não têm certeza de que seu filho sofre com essa violência, podem ficar atentos aos seguintes aspectos: “Os alunos-alvo são crianças ou adolescentes que são, sistematicamente, discriminadas, humilhadas ou intimidadas por outros colegas. Geralmente, eles têm poucos amigos, procuram se isolar do grupo e são identificados por algum tipo de diferença física ou comportamental. Além disso, têm dificuldades ou inabilidades que os impedem de buscar ajuda, são desesperançados quanto a sua aceitação no grupo e tendem a um comportamento introvertido”, explica Aramis. Especialistas do mundo inteiro concordam sobre o fato de que o papel dos pais — tanto de alunos agressores como de agredidos — é fundamental para combater a violência moral nas escolas e de que eles precisam saber lidar com a situação. No caso dos pais de agressores, é preciso que se convençam e mostrem aos filhos que esse comportamento é prejudicial a eles. “De acordo com dados obtidos em trabalhos internacionais, não existe escola sem bullying. O objetivo é alterar a forma de avaliação do que é uma brincadeira e do que é bullying, mudando o enfoque da questão para a valorização do sentimento de quem sofre bullying, ou seja, respeitando seu sofrimento e buscando soluções que amenizem ou interrompam isso”, diz o coordenador da Abrapia. “Os autores de bullying podem se tornar líderes entre os alunos por disseminarem o medo e estarem repetindo seu modelo familiar, em que a afetividade é pobre ou a autoridade é imposta por meio de atitudes agressivas ou violentas”, completa. Segundo Aramis, a única maneira de combater esse tipo de prática é a cooperação por parte de todos os envolvidos: professores, funcionários, alunos e pais: “Todos devem estar de acordo com o compromisso de que o bullying não será mais tolerado. As estratégias utilizadas devem ser definidas em cada escola, observando-se suas características e as de sua população. O incentivo ao protagonismo dos alunos, permitindo sua participação nas decisões e no desenvolvimento do projeto, é uma garantia ainda maior de sucesso. Não há, geralmente, necessidade de atuação de profissionais especializados; a própria comunidade escolar pode identificar seus problemas e apontar as melhores soluções”. Para o médico, a receita é promover um ambiente escolar seguro e sadio, onde haja amizade, solidariedade e respeito às características individuais de cada um de seus alunos. “Enfim, é fundamental que se construa uma escola que não se restrinja a ensinar apenas o conteúdo programático, mas também onde se eduquem as crianças e adolescentes para a prática de uma cidadania justa”, finaliza.

DREYER, D. A brincadeira não tem graça. 2017. Disponível em: <“http://www.educacional.com.br/ reportagens/bullying/>. Acesso em 10 jul.2017.

Após a leitura do texto pelos alunos podemos lançar alguns questionamentos:

Como o preconceito se manifesta no nosso dia a dia? O bullying é uma realidade na

escola hoje? Existe loucura? Como classificá-la? Existe padrões de conduta correto

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hoje em dia? Como devo me portar? Existe um padrão? Como estamos respeitando

a diversidade? O conhecimento científico tem alguma influência nisso? Se tem qual

seria? Como ele pode influenciar? Com estes questionamentos poderemos articular

as temáticas que tratamos anteriormente e refletir que ainda a exclusão, mesmo que

de formas diferentes, acontece ainda na atualidade.

Após o diálogo a respeito do texto, pode-se introduzir de forma complementar

alguns vídeos a respeito da inclusão da diversidade na escola. Neste material

apresentaremos em um vídeo chamado “Na minha escola todo mundo é igual27” que

contempla representações artística da diversidade que pode ser encontrada na

escola. (02:38 minutos de duração)

Partindo destes vídeos iniciaremos a discussão sobre a diversidade que

encontramos na escola. Será questionado como estamos olhando para esta

diversidade? Estamos discriminando ou maltratando os “Diferentes”? A escola está

sendo um local de discriminação dos “diferentes”? Na sua opinião a escola está

preparada para receber a diversidade? É perceptível que o discurso científico

perpetua a discriminação? Se sim, de que maneira? Lembrando do caso do Hospital

Colônia de Barbacena e do movimento eugênico é perceptível alguma postura que

ainda se perpetua? Como podemos classificar a loucura? Quem é realmente louco?

O que poderia ser feito com a diversidade na escola? ”

Com esta atividade de leitura e questionamento, objetiva-se fazer com que os

alunos olhem para a diversidade e os ditos “diferentes” que é encontrada dentro da

escola. Fazer o mesmo perceber como está sendo tratado as pessoas que fogem dos

padrões e normatização social. Compreendendo que as pessoas que fogem na

normatização que a sociedade impõe são tratadas como loucas e insanas. E refletir o

que pode ser feito para melhorar a integração e inclusão dessa diversidade.

Na próxima seção discutiremos as legislações que garante a inclusão e direitos

da diversidade no Brasil.

27 Disponível em<https://www.youtube.com/watch?v=WlbJkmGNNRM>. Acesso em 08 jul. 2017.

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História da Loucura e legislação para a

diversidade

Etapa 4

Após estes questionamentos apresentaremos um pouco mais sobre o conceito

de loucura, para que o aluno compreenda melhor o porquê de estudar esta temática.

Para contextualizar, pode ser apresentado um vídeo para introduzir o tema “loucura”,

onde pode ser realizado cortes, já que o vídeo também se dedicar a falar sobre

psicologia que no momento não condiz com a temática. “Todo Seu - Entrevista:

História da Loucura com Guido Palomba28”. O vídeo conta um pouco sobre a

história da loucura e como hoje é feito o auxílio aos indivíduos com déficit intelectual

(12:30 minutos de duração).

Para deixar mais claro este conceito de loucura pode ser utilizado a história

como auxilio, já que a mesma pode contextualizar e tornar o tema mais compreensível

para o aluno. A história pode ser introduzida por meio de um texto (atividade 5) que

trará considerações sobre como a loucura, como a mesma foi tratada durante a

história e como a vemos atualmente.

QUADRO 13: Atividade 5 – A Loucura na história

Durante a história a loucura foi compreendida de diferentes formas, assim veremos neste texto algumas de suas faces. GRÉCIA ANTIGA: a loucura era considerada como uma manifestação divina. Os loucos eram vistos como profetas, porque falavam coisas que o homem comum não entendia. ERA MEDIEVAL: a Igreja tinha o saber e o poder, uma vez que era a intermediária entre Deus e o homem. O louco era visto como uma associação demoníaca, um ser maligno. Se o louco fizesse a confissão de que era bruxo, poderia ser exorcizado ou punido. RENASCIMENTO: Nesta época o homem é o centro de tudo, e assim deveria ser lucido e perfeito. Assim surge a ideia dos “Nau dos loucos’’, que foi uma embarcação que levava os rejeitadas pela sociedade para serem deportadas para fora das cidades REVOLUÇÃO FRANCESA: surgiu uma nova reestruturação do espaço social. Formalmente, não era mais permitido o encarceramento arbitrário de nenhum cidadão com a exceção dos loucos. Entendia-se que os loucos não podiam circular no espaço social como os outros cidadãos devido a sua alta periculosidade. Agora eram vistos como doentes, que necessitavam de tratamento. Com o objetivo de curá-los, passaram a ser internados em instituições destinadas especificamente a eles: nasceu o manicômio. O tratamento realizado em manicômios ou hospitais psiquiátricos era chamado de "tratamento moral". Devido à doença o alienado tinha perdido a distinção entre o bem e o mal; só seria curado se conseguisse reaprendê-la, a cada ato indevido devia ser advertido e punido, para vir a reconhecer seus erros: quando se arrependia deles e não os cometia mais, era considerado curado.

28 Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=CuQ1a4N1I_8>. Acesso 08 jul. 2017.

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SÉCULO XX: os manicômios cresceram enormemente em número e se tornaram cada vez mais repressivos. O isolamento, o abandono, os maus-tratos, as péssimas condições de alimentação e de hospedagem, agravaram-se progressivamente. Ao final da II Guerra Mundial, era sub-humana a situação dos hospitais psiquiátricos ATUALIDADE: Os conceitos de loucura são percebidos como um fenômeno de inflexibilidade e exclusão da vida social, em que surge uma resistência da sociedade para com o “louco”, por ele ser visto como um doente mental, que transmite perigo, medo, intimidação, A loucura vem de uma concepção social que normatiza e dita o que é normal e/ou patológico Desta maneira, a loucura cotidiana poderia ser caracterizada de acordo com a visão de mundo e o comportamento de cada um dentro de uma sociedade. “louco é aquele que tem atitudes consideradas fora do padrão da sociedade, seja porque perdeu a razão, seja porque adota um comportamento diferente do que é costume” (GOMES, 2010 s/p) .

Com a atividade objetiva-se compreender a diferentes faces da loucura durante

a história, e como ela foi entendida pelo homem. Desta maneira, o pensamento do

filósofo Foucault sistematiza perfeitamente a “loucura” já que ele compreender que ela

não é algo de fácil classificação; e que durante a história vem sendo entendida de

diversas maneiras.

Depois, de expor as interfaces da loucura, pode ser exposto a questão do direito

a diversidade, fazendo com que os alunos compreendam que no Brasil existe

legislações que defendam e amparam a diversidade, sendo crime ações que firam a

integridade física e moral a diversidade. Por meio da atividade 6, apresentaremos as

leis brasileiras e internacionais que defendem a inclusão da diversidade na escola e

na sociedade.

QUADRO 14: Atividade 6 – Leis da diversidade

1988 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA Prevê o pleno desenvolvimento dos cidadãos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação; garante o direito à escola para todos; e coloca como princípio para a Educação o "acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um". 1989 LEI Nº 7.853/89 Define como crime recusar, suspender, adiar, cancelar ou extinguir a matrícula de um estudante por causa de sua deficiência, em qualquer curso ou nível de ensino, seja ele público ou privado. A pena para o infrator pode variar de um a quatro anos de prisão, mais multa. 1990 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) Garante o direito à igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola, sendo o Ensino Fundamental obrigatório e gratuito (também aos que não tiveram acesso na idade própria); o respeito dos educadores; e atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular. 1994 DECLARAÇÃO DE SALAMANCA

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O texto, que não tem efeito de lei, diz que também devem receber atendimento especializado crianças excluídas da escola por motivos como trabalho infantil e abuso sexual. As que têm deficiências graves devem ser atendidas no mesmo ambiente de ensino que todas as demais. 1996 LEI E DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL (LBD) A redação do parágrafo 2o do artigo 59 provocou confusão, dando a entender que, dependendo da deficiência, a criança só podia ser atendida em escola especial. Na verdade, o texto diz que o atendimento especializado pode ocorrer em classes ou em escolas especiais, quando não for possível oferecê-lo na escola comum. 2000 LEIS Nº10.048 E Nº 10.098 A primeira garante atendimento prioritário de pessoas com deficiência nos locais públicos. A segunda estabelece normas sobre acessibilidade física e define como barreira obstáculos nas vias e no interior dos edifícios, nos meios de transporte e tudo o que dificulte a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos meios de comunicação, sejam ou não de massa. 2001 DECRETO Nº3.956 (CONVENÇÃO DA GUATEMALA) Põe fim às interpretações confusas da LDB, deixando clara a impossibilidade de tratamento desigual com base na deficiência. O acesso ao Ensino Fundamental é, portanto, um direito humano e privar pessoas em idade escolar dele, mantendo-as unicamente em escolas ou classes especiais, fere a convenção e a Constituição Fonte: Dia a dia educação. Disponível em:< http://www.educadores.diaadia.pr gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=553>. 2010 LEI ESTADUAL Nº 16.454/10 DE 17 DE MAIO DE 2010 - INSTITUI O DIA ESTADUAL DE COMBATE A HOMOFOBIA, A SER PROMOVIDO, ANUALMENTE, NO DIA 17 DE MAIO. Resolução nº. 12, de 16 de janeiro de 2016- Conselho Nacional de Combate às Discriminações e promoções dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais travestis e transexuais CNCD/LGBT. Sobre o reconhecimento institucional da identidade de gênero

Com esta apresentação, pode ser discutido as questões ligada a diversidade

como por exemplo: Você tinha conhecimento sobre estas legislações? Será que as

mesmas são aplicadas? Funcionam? Como está sendo dado o subsídio para a efetiva

inclusão do diferente dentro da escola? Como a sociedade está olhando para esta

diversidade? A ciência está contribuindo para a exclusão do diferente? Se sim, como?

Entre outros questionamentos que surgirem entre os diálogos.

Para finalizar a sistematização do conhecimento, passaremos um vídeo sobre

a importância de se estudar a história “Chimamanda Adichie - Os perigos de uma

história única. LEGENDADO29” este vídeo conta sobre uma escritora africana que

relata os perigos de contar uma única história, sendo que o conhecimento fica

estagnado, somente com um ponto de vista. E assim, inclui-se o tema da importância

de incluir a história e filosofia da ciência no ensino de ciência, mostrando como ela

pode ajudar o professor a humanizar e revelar o lado construtivista da ciência. Como

29 Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=ZUtLR1ZWtEY>. Acesso em 08 jul. 2017.

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Matthews (1995, p. 165) diz por meio da história e filosofia da ciência, que poderemos

aproximar os “[...] interesses pessoais, éticos, culturais e políticos da comunidade [e

ainda] [...] tomar as aulas de ciências mais desafiadoras e reflexivas, permitindo, deste

modo, o desenvolvimento do pensamento crítico [...]”.

Aplicando os conhecimentos na

realidade escolar

Etapa 5

Escola e diversidade

Para tornar o aprendizado do material de apoio mais efetivo e contextualizado,

para finalizar esta sequência pode se propor uma atividade que caracterize o meio

social e escolar que os alunos vivem, mostrando como a diversidade é algo real,

caracterizando o terceiro momento pedagógico aplicação do Conhecimento.

Propomos assim, como forma de interpretar os conhecimentos que os alunos

adquiriram, a confecção de panfletos e cartazes (ATIVIDADE 7), que pode ser exposto

durante atividades culturais na escola, por exemplo na semana afrodescendente, ou

até mesmo como forma de divulgar o respeito e equidade a diversidade.

QUADRO 15: Atividade 7 – Panfletos e cartazes na escola – “Observado e melhorando o mundo ao

seu redor”.

Objetivo: A atividade consiste em fazer com que aluno perceba a diversidade que está a sua

volta, fazendo com que o mesmo reflita em como pode ajudar a minimizar as diferenças e

modificar o ambiente positivamente.

Material: Cartaz, canetas canetões, imagens ligada ao contexto, tabela, cola dentre outros

materiais disponíveis para se confeccionar panfletos e cartazes.

Desenvolvimento: Após o desenvolvimento da temática da sequência, o professor faz um

desafio aos alunos, que consiste em andar pela escola e perceber a diversidade. Com esta

percepção, o aluno é levado a completar uma tabela (tabela 1) pré determinada pela atividade,

mais especificamente no campo “O QUE ENCONTRAMOS ?”

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O recolhimento dessas informações pode ser no momento do intervalo entre as aulas, ou no

horário de saídas dos alunos, ou onde o professor achar que os alunos conseguiram obter

essas informações.

Após o preenchimento, o professor pode discutir com os alunos se é preciso modificar o fato

que foi encontrado, levando os mesmo a pensar sobre suas ações, as ações oriundas da

escola, professores e funcionários. O professor também pode auxiliar evidenciando algo que

os alunos não perceberam durante a busca dos dados.

Com os dois primeiros campos completos, chega o momento de ser discutido o que pode ser

feito para modificar e melhorar a convivência dentro da escola para o “diferente”. Com a

discussão, proponha a atividade da confecção de cartazes ou panfletos para que torne pública

a ideia de melhoria para a escola.

Tabela 1

O QUE ENCONTRAMOS

SOBRE DIVERSIDADE NA

ESCOLA?

É QUE PRECISA MODIFICAR AS AÇÕES

PERANTE ESTE TIPO DE DIVERSIDADE?

O QUE PODE SER FEITO?

Ex 1: Bullying com alunos

negros

Sim Cartazes mencionado

legislações que defendem

a igualdade entre as

raças. Panfletos que

advirta a penalidade para

quem prática bullyng.

Ex 2: Alunos cadeirantes Sim Panfletos orientando

sobre a questão de

acessibilidade dentro do

ambiente escola,

incentivando a

colaboração entre os

alunos.

Fonte: as autoras

Com esta atividade, se pode explorar e evidenciar o contexto vivido pelo aluno

tornando o conteúdo abordado durante todo o material mais significativo e palpável.

Além de poder ver o desenvolvimento dos alunos perante os conteúdos trabalhados

na sequência didática, já que a atividade proposta evidenciará a opinião e tomada de

decisão do mesmo.

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Considerações finais

Espera-se que esta sequência possa ter proporcionado aos professores/alunos

uma experiência nova e uma fonte de referência para questões ligada a diversidade.

Acreditamos que embasados neste referencial pode-se formar uma opinião mais

crítica a respeito da diversidade e inclusão da história da ciência no ensino.

Acreditamos que trabalhar questões ligadas à diversidade que componham fatos

científicos torna as diferenças mais aceitável aos olhos dos alunos, fazendo com que

possam perceber que nem sempre o conhecimento científico é neutro em suas ações.

De tal modo, as atividades propostas ao longo deste material buscam realizar

uma aprendizagem crítica e consciente, permitindo que o aluno interprete os

conhecimentos passados e possam transmiti-los em seu cotidiano. Além disso, o

material pode ajudar o professor a trabalhar diferentes temáticas do ensino de ciências

e biologia, como por exemplo, movimento eugênico, diversidade e cultura,

discriminação social entre outros.

Advertimos que a sequência didática é uma fonte de pesquisa e referência e

não um material estático e imutável, cabe ao professor saber gerir e adaptar ao seu

uso a sua realidade, fazendo com que o material seja o mais significativo possível

para os seus alunos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”.

Paulo Freire

Nesta perspectiva de educação que finalizamos este trabalho, acreditando que

o conhecimento cria diferentes possibilidades e se concretiza de forma constante, e

isto foi o que desejamos desenvolver. Por meio do material de apoio didático

buscamos apresentar uma forma contextual e diferenciada de trabalhar conceitos

atuais sobre a diversidade, sempre levando em consideração o conhecimento

científico e ciência.

Vemos que cada vez mais tem se criado incentivos para se trabalhar a

diversidade em sala de aula e no âmbito social. As legislações educacionais são bons

exemplos, pois salientam a importância de incluir temáticas sobre a diversidade

cultural e humana nas atividades da escola. Ainda como explanado no capítulo três,

existe diversas legislações federais, estaduais que defendem o direito e inclusão dos

diferentes no ambiente social. Como Santo (2008, s/p) fala, a escola da atualidade

deve priorizar conteúdos que ensine aspectos sobre as diferenças, discutindo a

diversidade de modo geral, trazendo temas como etnia, raça, gênero, classe, sexo,

entre outras, “valorizando todo o conhecimento que os diferentes grupos trazem para

a sala de aula, enriquecendo muito mais o ensino e a aprendizagem”.

Pensando nisto, durante nossa análise, concluímos que a temática abordada

no material de apoio didático é extremamente pertinente, visto que a validação dos

pares demostrou que a mesma possibilita uma formação para a cidadania, sendo um

espaço que propicia a troca de experiências e a complementação de conceitos. Ainda,

pode ser visto que a sequência pode colaborar com a prática pedagógica, já que o

professor pode aprender e/ou ter inspiração para o desenvolvimento de novas

atividades, provocando um maior interesse do aluno para o conhecimento científico.

Quando pensamos em como articular as temáticas de respeito a diversidade

com elementos da história da ciência, podemos perceber pela avaliação dos

professores que as atividades desenvolvidas na sequência didática cumprem esta

articulação, já que demonstram fatos históricos perpassando sempre o conhecimento

científico, gerando assim interpretações que possibilitam uma compreensão que leve

ao respeito à diversidade e as diferenças.

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As atividades buscaram propiciar um enriquecimento tanto no que diz respeito

a história da ciência, como por exemplo, com os boletins de eugenia como com o

respeito as diferenças. As atividades não se limitaram somente ao saber científico,

mas também buscaram introduzir a questão da diversidade e preconceito, como por

exemplo, a dinâmica ”Explorando as percepções implícitas em relação a diversidade

humana” e também “Observando e melhorando o mundo ao seu redor”.

Os participantes relataram as possibilidades e aspectos positivos que o material

proporciona aos alunos, entre eles destaca-se a importância que a temática tem para

o ensino de ciência e na área da educação. Este apontamento vem ao encontro com

as nossas expectativas iniciais. No levantamento bibliográfico realizado não

encontramos trabalhos que articulem as questões de diversidade à História da ciência.

Além disso, pode-se perceber que muito se tem escrito sobre a questão da diversidade

dentro da escola, no que tange as questões relativas às deficiências intelectuais e

físicas, e, muito pouco a respeito da inclusão das “diferenças e minorias sociais

(negros, homossexuais, mulheres, pessoas menos favorecidas, etc.). Assim,

acreditamos que a sequência proposta tem muita relevância para o ensino de ciência

e educação e foge do “comum” ao trabalhar com a diversidade.

Pode ser evidenciado ainda como aspecto positivo a questão de proporcionar

um aprendizado da diversidade humana. Como salienta Assis (2008, p. 3):

A aparência física (cor de pele, cabelo e olhos, formato dos olhos, textura dos cabelos, altura...), que percebemos de imediato, não serve de parâmetro para explicar nossa pluralidade, pois a diversidade está no modo de viver, acreditar, professar a fé, acasalar, habitar, caçar, guerrear, sepultar os mortos, vestir, festejar, chorar, comer...

E justamente isto que tentamos aproximar ao professor e ao aluno com a

proposta do material didático. Tentamos mostrar por meio da ciência e do

conhecimento científico que questões discriminatórias ligadas à diversidade, loucura

e normalidade tiveram influências de ideologias que permeavam e ainda permeiam o

campo das ideias dos indivíduos. Assim, proporcionar uma maior aprendizagem da

diversidade humana pode levar a mudança de opinião desta questão e também pode

dar maiores argumentos em defesa dessa pluralidade.

Em meio aos aspectos positivos citados, também houve limites a serem

superados, já que os pares e os autores identificaram que a sequência deve ser

trabalhada com a gestão do tempo, sendo ministrada com sabedoria e inteligência no

diz respeito à sistematização das atividades. Ainda, houve a questão de se apresentar

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atividades mais contextualizadas e dinâmicas para que os participantes sintam-se

interessados e engajados no tema.

Com todos os aspectos analisados, reconstruímos a partir das sugestões dos

professores o material didático o qual foi tornado mais dinâmico e menos cansativo.

Foi melhor sistematizado com a inclusão na metodologia dos três momentos

pedagógicos, elaborando a sequência para a melhor compreensão e

desenvolvimento. Ainda foi incluído mais conteúdo e detalhamentos sobre os boletins

de eugenia tornando este fato histórico mais compreensível, além da inclusão da

história do Jeca Tatu, famoso personagem brasileiro que melhor exemplifica a

compreensão do homem visto pela sociedade eugenista. Também para deixar a

sequência com maior aplicabilidade, propomos uma atividade que buscar mostrar ao

participante como está o ambiente ao seu redor, procurando evidenciar e melhorar as

atitudes que temos com à diversidade com simples atividades educacionais.

Ambicionamos que esta pesquisa e o material apresentado aqui proporcionem

uma reflexão aos que a lerem, que haja um questionamento perante a visão de ciência

que se tem e também sobre a educação para a diversidade. O material didático pode

proporcionar uma aproximação e um respeito quanto à heterogeneidade que hoje é

uma realidade social. Sento um material de apoio ao professor, ele deve ser

direcionado e pensado perante a necessidade vista no ambiente escolar, sendo

totalmente flexibilizado caso seja necessário.

Por fim, concluímos este trabalho almejando ter contribuído com os profissionais

da área de educação no que tange a discussões de diversidade, história da ciência,

história da loucura e normalidade e construções históricas referentes ao Hospital

Colônia de Barbacena. Acredita-se que este trabalho não seja a única solução para

uma educação de qualidade, quando pensarmos em questões ligadas a história da

ciência e diversidade humana, mas é um caminho que possibilita a integração do

conhecimento científico de maneira contextualizada, com questões históricas e

ideológicas. Espera-se que das reflexões aqui propostas, possam surgir novas

perguntas a serem investigadas e que elas possibilitem um avanço no âmbito do

respeito ao próximo e a conteúdos ligados a História e Filosofia da Ciência.

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APÊNDICES APÊNDICE A – SEQUÊNCIA PARA A VALIDAÇÃO O QUE É SER NORMAL?

SEQUÊNCIA DIDÁTICA

Introdução

Este texto deseja apresentar uma sequência didática para ser aplicada a

professores da rede pública estadual das cidades de Assis Chateaubriand e

Cascavel– PR com a temática “O que é ser normal? ”. Para discutir essa temática,

utilizaremos o período histórico conhecido como “Holocausto Brasileiro”, o qual conta

a história do Hospital Colônia de Barbacena – MG. Segundo Araújo (2013, p. 322-

323), a sequência didática é uma proposta metodológica para ser empregada no

contexto da sala de aula, tendendo facilitar o processo de ensino e aprendizagem,

sendo “um modo de o professor organizar as atividades de ensino em função de

núcleos temáticos e procedimentais”. A sequência será aplicada pela mestranda

Karolliny N. Gomes com auxílio de sua orientadora Fernanda Ap. Meglhioratti, e da

professora Juliana M. Prudente de Oliveira na data prevista de 24 de setembro de

2016 na cidade de Cascavel, sendo um sábado, com duração de 8 horas/aulas, e no

dia 04 de outubro na cidade de Assis Chateaubriand, também um sábado com a

mesma carga horária. Os encontros serão certificados pela Pró-reitora de extensão,

garantindo ao professor horas para a progressão da carreira. O convite para a

participação da sequência será emitido pelo Núcleo Regional de Educação de Assis

Chateaubriand e a inscrição pode ser confirmada até a data de 23 de setembro em

Cascavel e 03 de outubro em Assis Chateaubriand. A sequência ofertará 40 vagas em

cada município, caso não haja o preenchimento do total oferecido, será também

realizado o convide para a formação de professores em ciências biológicas.

Pretendemos com essa sequência didática possibilitar momentos para o

professor refletir a respeito da construção do conhecimento científico, do ensino de

ciências e da sua prática de sala de aula. Para isso, utilizaremos do contexto do

movimento eugênico a exemplo do Hospital Colônia de Barbacena- MG. O movimento

eugênico foi proposto primeiramente por Francis Galton, inspirado principalmente na

teoria evolucionista de Darwin (DEL CONT, 2007), buscando impor a ideia do

“melhoramento populacional”, na qual o surgimento de uma “raça superior” e

“melhorada” deveria ser predominante em uma sociedade. Nesse sentido, “a eugenia

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conjugaria áreas diversas [...] com o firme propósito de, através do controle

reprodutivo dos indivíduos considerados eugenicamente inferiores, fazer surgir uma

nova sociedade, livre dos traços degenerantes” (DEL CONT, p.189, 2007). Nestas

concepções cientificas que foram apoiadas as atividades do Hospital Colônia de

Barbacena- MG, o período conhecido como “Holocausto Brasileiro”.

O Hospital funcionou em seus primórdios incentivando a produção agrícola,

ganhando fama e sendo buscado por inúmeras famílias para a internação de seus

parentes. Nos primeiros anos realmente ele foi conhecido como sendo um hospital

que possuía tratamento humanizado (ORSI, 2013). Entretanto, o no final do século

XX, entre meados de 1960 o hospital psiquiátrico passou a receber e alojava tanto

pessoas com diagnósticos de doenças, como pessoas que eram marginalizadas da

sociedade e que deveriam ficar invisíveis a esta. O hospital aspirava critérios

esdrúxulos e absurdos para os seus diagnósticos, sendo até a “tristeza” considerada

como motivo para a internação. Fassheber (2009, p. 35) ainda salienta que era

obviamente uma “faceta de limpeza social a que a loucura estava submetida na época.

Alguns funcionários chegaram a questionar o funcionamento do Hospital, mas a teoria

eugenista, que sustentava a ideia de limpeza social, dava ao Hospital segurança e

justificava o que ocorria entre quatro paredes (ORSI, 2013, p.4).

Assim, levar este conhecimento histórico aos professores pode auxiliar os

mesmos a terem uma visão modificada de ciência. Ainda, Schneider (2013) ratifica a

importância de levar para a sala de aula o contexto cultural, político e ideológico, pois

discutir essa temática propiciará aos professores um subsidio para a tomada de uma

postura crítica tanto em relação aos conteúdos científicos e questões biológicas,

desmistificando a ideia de uma ciência neutra e linear, como em relação à sua postura

em sala de aula

A aplicação e análise da sequência didática levará em consideração todo o

processo de desenvolvimento, assim avaliaremos as concepções prévias dos

professores, por meio de questionário inicial, a participação dos mesmo durante a

sequência por meio dos questionamentos, respostas, discussões, leituras e vídeos.

Por fim, responderão a um questionário final, sendo avaliado como foi o

desenvolvimento da sequência didática e também o entendido da temática pelos

professores.

Apresentação do problema

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Partimos do pressuposto de que atualmente nos encontramos em uma

sociedade pautada em um discurso científico que entende a ciência apenas como

geradora de “melhorias e avanços”, sem uma reflexão referente às ideologias e aos

condicionantes sociais que permeiam o fazer científico. Acreditamos que parte dessa

visão é oriunda da presença constante da ciência e tecnologia nas nossas

experiências diárias e da aceitação que essa presença traz sempre benefícios,

compondo a ilusão de uma ciência inquestionável (SILVEIRA; BAZZO, 2016). Assim,

propomos realizar uma pesquisa que discuta as diferentes visões de ciência, como

ela pode ser influenciada ideologicamente. Ainda, pretendemos salientar a

importância de se incluir a História e filosofia da ciência no ensino e o respeito à

diversidade humana no ambiente escolar. De tal modo, pretende-se discutir a temática

da normalidade e loucura do ponto de vista dos discursos científicos, tomando como

exemplo o Hospital Colônia de Barbacena – MG e assim poderemos dialogar e refletir

sobre como estamos vendo o que é normal atualmente.

Objetivos

Objetivo Geral:

Apresentar aos professores uma visão geral sobre a influência que o discurso

científico tem na sociedade, desmistificando a ideia da linearidade e

neutralidade da ciência com o exemplo do Hospital Colônia de Barbacena- MG.

Objetivos Específicos:

Verificar o conhecimento prévio dos professores sobre a temática “O que é ser

normal? ” com perguntas que instiguem o diálogo.

Verificar qual o conhecimento prévio sobre o Hospital colônia de Barbacena –

MG e sobre o movimento eugênico.

Apresentar uma visão geral e discutir as temáticas sobre: visão estereotipada,

preconceito, “normalidade”, “loucura”, diversidade de gêneros, Bullyng,

educação especial e inclusão, orientação sexual, padrões de conduta na

tentativa de introduzir o respeito a diversidade e romper com o preconceito.

Teoria da aprendizagem que norteará o desenvolvimento da sequência didática

– Teoria sociocultural de Vygotsky

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Para Vasconcelos, Praia e Almeida (2003) a psicologia da educação vem

auxiliando o ensino de ciência a explicar como ocorre a compreensão do processo de

aprendizagem, sendo uma ferramenta que fundamenta as práticas realizadas no

ensino. Dessa maneira, para realizarmos nossa pesquisa nos fundamentaremos na

teoria sociocultural de Vygotsky, cujo princípio em resumo é de que:

[...] à relação indivíduo/ sociedade em que afirma que as características

humanas não estão presentes desde o nascimento, nem são

simplesmente resultados das pressões do meio externo. Elas são

resultados das relações homem e sociedade, pois quando o homem

transforma o meio na busca de atender suas necessidades básicas, ele

transforma-se a si mesmo [...] O desenvolvimento do psiquismo humano

é sempre mediado pelo outro que indica, delimita e atribui significados à

realidade (COELHO; PISSANI, 2012, p. 146).

A escolha dessa teoria de aprendizagem vem ao encontro da proposta da

nossa pesquisa, já que Vygotsky defendia a inclusão na escola. Como propomos

discutir sobre a diversidade, ousamos concordar com a teoria de Vygotsky, quando

na fala de Coelho e Pasoni (2012, p.147) argumenta: “ O limite biológico não é o que

determina o não desenvolvimento do surdo, cego ((ou seja a diversidade em geral)).

A sociedade sim é quem vem criando estes limites para que os deficientes não se

desenvolvam totalmente”.

Além disso, a teoria de Vygotsky ressalta a importância da aprendizagem pela

interação com o outro, em momentos de discussão, no qual a heterogeneidade de

indivíduos permite que as ideias de uns auxiliem na aprendizagem e suporte ao outro.

Ferreira (2010, p.40) afirma que a teoria sociocultural discursa que o aprendizado e o

desenvolvimento do homem ocorrem da interação entre os indivíduos, sendo por meio

“[...] da linguagem, instrumentos mediadores30 e situação de trabalho”. Ainda afirma

que as funções mentais superiores31 ocorre da interação social, da cultura, da história,

30 O homem se desenvolve também através da mediação; o comportamento mediado constitui-se numa

forma mais desenvolvida do que o direto (por exemplo, os reflexos). A mediação pode ocorrer por instrumentos materiais, como um computador utilizado para se escrever ou para estudar, ou pela linguagem [...]. Essa mediação é dada pelo grupo social que possui suas práticas culturais e ao qual o indivíduo pertence (FERREIRA, 2010, p.40). 31 Para Vygotsky as funções mentais superiores querem dizer em simples palavras o processo de

cognição (FERREIRA, 2010)

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desta maneira cognição não acontece simplesmente de processos biológicos, mas

sim da integração deste com as práticas sociais.

Vygotsky acredita que a aprendizagem ocorre em dois diferentes níveis de

desenvolvimento sendo o real e o potencial. De modo relativamente simples, o

desenvolvimento real é “ o que a criança consegue fazer sozinha (etapas alcançadas,

já conquistadas pela criança), porque já tem um conhecimento consolidado, ou seja,

é o que o indivíduo consegue resolver de maneira autônoma. Já o desenvolvimento

Potencial é “aquilo que a criança pode realizar com a ajuda dos outros (adultos ou

companheiros mais capazes), que ainda não domina, mas que poderá dominar com

ajuda de alguém mais experiente”, ou seja é o que o indivíduo poderá construir. Ainda

estabelece que entre estes níveis existe a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP)

que pode melhor se desenvolver pela solução de problemas, orientação e da

colaboração de pessoas mais capazes. “Para Vygotsky todo ambiente social é uma

ZDP, o comportamento não é consequência da maturação e sim da interação,

evidenciando a importância na educação e no papel do professor como criadores da

ZDP” (MORAES, 2013, p.14).

D’Avila (2016, p.23) destaca que na perspectiva vygotskiana “o sujeito não só

age sobre a realidade, mas sim ele interage com ela, construindo seus conhecimentos

a partir das relações intra e interpessoais”. Desta maneira, nos basearemos nesta

concepção de aprendizagem para o desenvolvimento desta sequência didática, já que

o contexto do professor e as suas vivências serão um material de apoio para as

discussões e diálogos que aconteceram.

Estratégia metodológica

Para o desenvolvimento da sequência didática, nos basearemos na

metodologia expositiva dialogada. Segundo Anastasiou e Alves (2016, p. 15-16) essa

estratégia de trabalho docente consiste:

Numa exposição do conteúdo, com a participação ativa dos estudantes,

cujo conhecimento prévio deve ser considerado e pode ser tomado como

ponto de partida. O professor leva os estudantes a questionarem,

interpretarem e discutirem o objeto de estudo, a partir do reconhecimento

e do confronto com a realidade. Deve favorecer a análise crítica,

resultando na produção de novos conhecimentos. Propõe a superação da

passividade e imobilidade intelectual dos estudantes.

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Desta maneira, buscaremos contextualizar a temática articulando as

informações e o conhecimento que os professores trazem para levar a melhor

compreensão do conteúdo programado. Ainda, procuraremos deixar o máximo de

espaço para o diálogo e questionamento para dentro do possível sanar as dúvidas e

permitir maiores reflexão sobre a temática.

Durante a sequência didática também tentaremos disponibilizar vários

momentos de discussão com o grupo, nos quais o ponto de vista dos professores seja

evidenciado. Segundo Silva e Leal (2016, p. 1) é um fato que o trabalho em grupo

pode tornar mais dinâmico e estimulativo a participação ativa dos alunos no processo

de aprendizagem. Assim, este tipo de trabalho tem “o intuito de promover a interação

social entre os membros, beneficiando, com isso, a relação entre aprendizado e

desenvolvimento. ”

De tal modo, procuraremos utilizar estratégias metodológicas com diferentes

ferramentas didáticas, como a utilização de vídeos, questionários e slides. Ainda,

buscaremos proporcionar um ambiente que instiguem o diálogo e as discussões,

deixando o professor a vontade e se sentindo participante da pesquisa.

Constituição dos dados da pesquisa

Para melhor análise dos dados, os encontros serão vídeo gravados, por meio

de uma filmadora. Posteriormente os encontros serão transcritos literalmente. Para as

transcrições serão utilizados símbolos para informar mudanças que ocorrerem

durante a filmagem e elementos do texto: as pausas serão representadas pelas

reticências [...]; as incompreensões do áudio serão representadas por colchetes com

a marcação do período de tempo, por exemplo, [12:02-12:04]; cada participante será

representado pela letra P e subsequente número (exemplos, P1, P2, P3...).

PRIMEIRO ENCONTRO

O encontro será iniciado com a apresentação das ministrantes, bem como com

a proposta de se estabelecer um contrato didático entre as mesmas e os professores

participantes. Segundo Ricardo et al (2003), existem diversas relações dentro de sala

de aula quando se pensa em ensino e aprendizagem, as quais pode ser mais

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harmônicas caso haja responsabilidades pré-estabelecidas. Assim, nesse momento,

estabeleceremos horários para intervalo, explicaremos detalhadamente os objetivos

da sequência, as temáticas abordadas, discutiremos brevemente as expectativas dos

professores quanto à sequência, entre outros aspectos que surgirem durante a

conversa.

ETAPA 1 - QUESTIONÁRIO INICIAL E PROBLEMATIZAÇÃO DA TEMÁTICA

Após estabelecido o contrato didático, iniciaremos a sequência com a aplicação

de um questionário inicial (APÊNDICE B). Ele buscará obter dados quanto ao

conhecimento prévio que os professores têm a respeito da temática. Assim,

partiremos para a contextualização da pesquisa, perguntando “o que é ser normal? ”

Você se considera normal? O que é ser louco ou anormal? Dessa maneira

propiciaremos um ambiente para que se estabeleça o diálogo, e assim obtermos a

ideia consensual da turma sobre o que vem a ser normalidade. Para levantar maiores

questionamentos, mostraremos o vídeo “ O que é ser normal? O que é ser Louco? ”

produzido pela Rede de Olhares, onde uma repórter chamada Caroline Dall Agnol,

entrevista pessoas leigas que conceituam o que é ser normal ou loucos para elas.

Por meio da fala de um dos entrevistados no vídeo que diz: “Ser louco acho

que é contrariar o que a sociedade pensa hoje em dia, tu indo contra a sociedade tu

é considerado louco” por meio desta frase será perguntado se os participantes

concordam ou não com o entrevistado. Partindo desse pressuposto, buscaremos

levantar a reflexão de como está sendo a visão em relação ao “louco” ou “diferente”

dentro da escola? Estamos tendo essa visão estereotipada e preconceituosa? Para

melhor exemplificar será passado o texto para leitura, “A brincadeira não tem Graça ”

(ANEXO A), buscando levantar ainda mais questionamentos aos professores sobre a

situação que se encontra a educação no que diz respeito ao preconceito. Ainda

questionaremos: Como o preconceito se manifesta no nosso dia a dia? O bullying é

uma realidade na escola hoje? Existe loucura? Como classificá-la? Existe padrões de

conduta correto hoje em dia? Como devo me portar? Existe um padrão? Como

estamos respeitando a diversidade? O conhecimento científico tem alguma influência

sobre isto? Se tem qual seria? Como ele pode influenciar?

Com estes questionamentos poderemos despertar o interesse do professor

para a sequência, abrindo o diálogo de sua experiência cotidiana com os pares e

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assim podendo melhor contextualizar o conteúdo. Nessa discussão, procuraremos

direcionar a sequência para o discurso científico e as ideologias que o permeiam.

ETAPA 2 – SISTEMATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO

Partindo da discussão levantada sobre o que é ser normal? Será iniciado a

sistematização do conhecimento com o auxílio da história e filosofia da ciência.

Exemplificaremos e contextualizaremos o conteúdo teórico da sequência por meio de

elementos da história do Hospital Colônia de Barbacena – MG. Para tanto, será

passado um vídeo intitulado “Holocausto Brasileiro - Manicômio de Barbacena”. Esse

vídeo produzido pelas Globo News, conta a história do Hospital Colônia de Barbacena,

como o mesmo funcionava, qual o tipo de público que atendia, suas práticas e outros

detalhes do funcionamento do Hospital. Daniela Arbex, escritora do livro “Holocausto

Brasileiro” esclarece nesse vídeo que nem sempre pessoas com diagnósticos de

loucura vinham para o Hospital Colônia, mas sim, muitas vezes eram pessoas

rejeitadas pela sociedade. Ainda será apresentado fragmentos do livro “Holocausto

Brasileiro” de Daniela Arbex, mostrando como as pessoas viviam no Hospital Colônia

e os principais casos que lá ocorriam, como a venda e comércio de cadáveres.

Tento o Hospital Colônia de Barbacena como exemplo, discutiremos como o

discurso científico sustentou as práticas que ocorriam ali, em especial na primeira

metade do século XX, por meio do movimento eugênico. Faremos uma apresentação

de slides, conceituando o movimento eugênico e traremos exemplares do “Boletim de

Eugênia” para serem analisados pelos professores e assim perceberem como o

discurso científico subsidiou práticas desumanas.

SEGUNDO ENCONTRO

Este encontro será iniciado com um diálogo sobre o encontro anterior. Após

esse diálogo será introduzido alguns vídeos sobre a diversidade. Estes vídeos terão

o objetivo de introduzir a temática diversidade na escola, sendo um modo

contextualizado de introduzir este tema. Nesses vídeos são apresentadas entrevistas

que mostram como foi feito atividades que propiciassem a inclusão do “diferente” no

contexto escolar. Os vídeos serão exibidos em sequência, onde contextualizará as

diferentes maneiras que as escolas brasileiras encontraram para incluir o diferente.

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Dependendo das discussões anteriores, nem todos os vídeos poderão ser

apresentados, pois há o limite de tempo. Caso não haja tempo, será passado os que

se encontram em negrito. Entretanto, segue um resumo do que cada vídeo:

“Caminhos da Escola - Educação para a diversidade” mostra a diversidade

perante a cultura negra, racismo e preconceito. (14:01 minutos de duração)

“Salto reportagem - a diversidade na escola” vídeo mostra uma forma de se

incluir a cultura negra na escola. (05:53 minutos de duração)

“Inclusão educacional na perspectiva da diversidade – Legendado”

discorre sobre a importância de se incluir o “diferente” na escola. (07: 27 minutos de

duração)

“Na minha escola todo mundo é igual” vídeo mostrando uma representação

artística da diversidade que pode ser encontrada na escola. (02:38 minutos de

duração)

ETAPA 3 – SISTEMATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO - INCLUSÃO DA

DIVERSIDADE DE SERES HUMANOS NA ESCOLA

Partindo destes vídeos iniciaremos a discussão sobre a diversidade que

encontramos na escola. Será questionado como estamos olhando para esta

diversidade? Somos formados e capacitados para atender este público? É perceptível

que o discurso científico perpetua a discriminação? Se sim, de que maneira?

Lembrando do caso do Hospital Colônia de Barbacena e do movimento eugênico é

perceptível alguma postura que ainda se perpetua? Como podemos classificar a

loucura? Quem é realmente louco?

Após estes questionamentos passaremos, ainda um vídeo para introduzir o

tema “loucura”, onde serão realizados cortes, já que o vídeo também se dedicar a falar

sobre psicologia que no momento não condiz com a temática. “Todo Seu - Entrevista:

História da Loucura com Guido Palomba” conta um pouco sobre a história da

loucura e como hoje é feito o auxílio aos indivíduos com défice intelectual. (12:30

minutos de duração). Ainda, exibiremos alguns slides que trará considerações sobre

como vemos a loucura atualmente, trazendo o pensamento de um filósofo renomado

neste assunto, Foucault. Ele defende que a “loucura” não é algo de fácil classificação;

e que durante a história vem sendo entendida de diversas maneiras. Depois,

apresentaremos as leis brasileiras e internacionais que defendem a inclusão da

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diversidade na escola (ANEXO Bl) e discutiremos como está sendo tratado este tema?

Como está sendo dado o subsídio para a efetiva inclusão? Como a sociedade está

olhando para esta diversidade? A ciência está contribuindo para a exclusão do

diferente? Se sim, como? Entre outros questionamentos que surgirem entre os

diálogos.

Para finalizar passaremos um vídeo sobre a importância de se estudar a

história “Chimamanda Adichie - Os perigos de uma história única. LEGENDADO” este

vídeo conta sobre uma escritora africana que relata os perigos de contar uma única

história, sendo que muitas vezes o conhecimento fica estagnado, somente com um

ponto de vista. E assim, incluiremos o tema da importância de incluir a história e

filosofia da ciência no ensino de ciência, mostrando como ela pode ajudar o professor

a humanizar e revelar o lado construtivista da ciência. Como Mattheus (1995, p. 165)

diz por meio da história e filosofia da ciência, que poderemos aproximar os “ [...]

interesses pessoais, éticos, culturais e políticos da comunidade [e ainda] [...] tomar

as aulas de ciências mais desafiadoras e reflexivas, permitindo, deste modo, o

desenvolvimento do pensamento crítico [...]”.

ETAPA 4 - SINTESE DA TEMÁTICA E QUESTIONÁRIO FINAL

Para melhor entendimento e para propiciar uma aprendizagem mais

significativa, será realizado uma síntese da temática pelos palestrantes, na qual será

sanada algumas dúvidas que ficaram durante o percurso. Para concluirmos nosso

encontro, será feito o agradecimento pela participação dos professores. E também

pedido para que seja respondido um questionário final (APÊNDICE C), para que

possamos avaliar como foi desenvolvida a sequência didática. Espera-se com o fim

dessa sequência proporcionar aos professores uma referência para formar uma

opinião a respeito da diversidade e inclusão da história e filosofia da ciência no ensino.

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APÊNDICE B QUESTIONÁRIO INICIAL 1) O que é ser “normal”? Existe um padrão de conduta ou uma maneira de classificá-la na sociedade atual? Comente sua opinião. ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________. 2) Hoje na escola, você acredita haver discriminação do “diferente”? Qual seriam os exemplos? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________. 3) Sobre inclusão a diversidade. Você acredita que estamos nos baseando em quê para fazer a inclusão das “minorias” na escola? Justifique. ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________. 4) Você acredita que a inclusão da diversidade está sendo ofertada com qualidade? Explique. _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________. 5) O discurso científico é neutro, ou seja, desvinculado de ideologias? Justifique. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________. 6) Você acredita que o conhecimento científico de alguma maneira estabelece padrões e normas na sociedade? Explique. _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________. 7) Você tem algum conhecimento sobre o movimento eugênico no Brasil? Ou sobre o episódio histórico conhecido como Holocausto Brasileiro? Comente. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________.

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APÊNDICE C

QUESTIONÁRIO FINAL

1) A ciência estabelece normas e posturas na sociedade? Explique seu posicionamento. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________. 2) Após ter participado da sequência didática, acredita que seu olhar em relação à “loucura” e à “normalidade” mudou? Explique. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________. 3) Você acredita ser importante trabalhar em suas aulas a temática abordada na sequência didática? Quais são os limites e possibilidades para um trabalho desse tipo? _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________. 4) Quais as relações que você percebe entre as ideologias e os conhecimentos científicos no episódio “Holocausto Brasileiro”? _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________. 5) Quais ideias científicas do início do século XX foram utilizadas para justificar o funcionamento do Hospital Colônia de Barbacena? _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________. 6) Como você percebe os processos discriminatórios no contexto da sala de aula? Quais relações você estabelece entre esses processos e o caso do Hospital Colônia de Barbacena, estudado na sequência didática. _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________. 7) Destaque os aspectos positivos e negativos no desenvolvimento da sequência didática. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________.

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ANEXOS

Anexo A

A brincadeira que não tem graça

Todos os dias, alunos no mundo todo sofrem com um tipo de violência que vem mascarada na forma de “brincadeira”. Estudos recentes revelam que esse comportamento, que até há bem pouco tempo era considerado inofensivo e que recebe o nome de bullying, pode acarretar sérias conseqüências ao desenvolvimento psíquico dos alunos, gerando desde queda na auto-estima até, em casos mais extremos, o suicídio e outras tragédias.

Por Diogo Dreyer

Quem nunca foi zoado ou zoou alguém na escola? Risadinhas, empurrões, fofocas, apelidos como “bola”, “rolha de poço”, “quatro-olhos”. Todo mundo já testemunhou uma dessas “brincadeirinhas” ou foi vítima delas. Mas esse comportamento, considerado normal por muitos pais, alunos e até professores, está longe de ser inocente. Ele é tão comum entre crianças e adolescentes que recebe até um nome especial: bullying. Trata-se de um termo em inglês utilizado para designar a prática de atos agressivos entre estudantes. Traduzido ao pé da letra, seria algo como intimidação. Trocando em miúdos: quem sofre com o bullying é aquele aluno perseguido, humilhado, intimidado.

E isso não deve ser encarado como brincadeira de criança. Especialistas revelam que esse fenômeno, que acontece no mundo todo, pode provocar nas vítimas desde diminuição na auto-estima até o suicídio. “bullying diz respeito a atitudes agressivas, intencionais e repetidas praticadas por um ou mais alunos contra outro. Portanto, não se trata de brincadeiras ou desentendimentos eventuais. Os estudantes que são alvos de bullying sofrem esse tipo de agressão sistematicamente”, explica o médico Aramis Lopes Neto, coordenador do primeiro estudo feito no Brasil a respeito desse assunto — “Diga não ao bullying: Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes”, realizado pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia). Segundo Aramis, “para os alvos de bullying, as conseqüências podem ser depressão, angústia, baixa auto-estima, estresse, absentismo ou evasão escolar, atitudes de autoflagelação e suicídio, enquanto os autores dessa prática podem adotar comportamentos de risco, atitudes delinqüentes ou criminosas e acabar tornando-se adultos violentos”.

A pesquisa da Abrapia, que foi realizada com alunos de escolas de Ensino Fundamental do Rio de Janeiro, apresenta dados como o número de crianças e adolescentes que já foram vítimas de alguma modalidade de bullying, que inclui, além das condutas descritas anteriormente, discriminação, difamação e isolamento. O objetivo do estudo é ensinar e debater com professores, pais e alunos formas de evitar que essas situações aconteçam. “A pesquisa que realizamos revela que 40,5% dos 5.870 alunos entrevistados estão diretamente envolvidos nesse tipo de violência, como autores ou vítimas dele”, explica Aramis.

A denominação dessa prática como bullying, talvez até por ser um termo estrangeiro, ainda causa certa polêmica entre estudiosos do assunto. Para a socióloga e vice-coordenadora do Observatório de Violências nas Escolas — Brasil, Miriam Abramovay, a prática do bullying não é o que existe no país. “O que temos aqui é a violência escolar. Se nós substituirmos a questão da violência na escola apenas pela palavra bullying, que trata apenas de intimidação, estaremos importando um termo e esvaziando uma discussão de dois anos sobre a violência nas escolas”, opina a coordenadora.

Mas, tenha o nome que tiver, não é difícil encontrar exemplos de casos em que esse tipo de violência tenha acarretado conseqüências graves no Brasil. Em janeiro de 2003, Edimar Aparecido Freitas, de 18 anos, invadiu a escola onde havia estudado, no município de Taiúva, em São Paulo, com um revólver na mão. Ele feriu

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gravemente cinco alunos e, em seguida, matou-se. Obeso na infância e adolescência, ele era motivo de piada entre os colegas.

Na Bahia, em fevereiro de 2004, um adolescente de 17 anos, armado com um revólver, matou um colega e a secretária da escola de informática onde estudou. O adolescente foi preso. O delegado que investigou o caso disse que o menino sofria algumas brincadeiras que ocasionavam certo rebaixamento de sua personalidade.

Vale lembrar que os episódios que terminam em homicídio ou suicídio são raros e que não são poucas as vítimas do bullying que, por medo ou vergonha, sofrem em silêncio. Além de haver alguns casos com desfechos trágicos, como os citados, esse tipo de prática também está preocupando por atingir faixas etárias cada vez mais baixas, como crianças dos primeiros anos da escolarização. Dados recentes mostram sua disseminação por todas as classes sociais e apontam uma tendência para o aumento rápido desse comportamento com o avanço da idade dos alunos. “Diversos trabalhos internacionais têm demonstrado que a prática de bullying pode ocorrer a partir dos 3 anos de idade, quando a intencionalidade desses atos já pode ser observada”, afirma o coordenador da Abrapia. Motivação

Segundo Aramis, os motivos que levam a esse tipo de violência são extremamente variados e estão relacionados com as experiências que cada aluno tem em sua família e/ou comunidade: “Famílias desestruturadas, com relações afetivas de baixa qualidade, em que a violência doméstica é real ou em que a criança representa o papel de bode expiatório para todas as dificuldades e mazelas são as fontes mais comuns de autores ou alvos debullying”.

Das onze escolas avaliadas na pesquisa da Abrapia, nove eram públicas e duas particulares. Não houve diferenças quanto à incidência de bullying. O que se observou foi que a forma como ele é praticado varia de uma escola para outra. Nas particulares, por exemplo, valorizam-se muito os bens materiais, como carro, tênis importado, etc. Nessas instituições, não possuir algum desses bens pode ser motivo para perseguições. Já nas escolas públicas, a principal razão é a própria violência vivenciada cotidianamente pela comunidade.

Para a socióloga, essa é uma comparação difícil de ser feita. “Se você me perguntar onde existe mais intimidação, ou bullying, se na escola pública ou privada, responderei que não tenho idéia. No entanto, com relação à violência, é evidente que ela ocorre com mais força no lugar onde há menos condições de controle. E, na verdade, a escola privada tem muito mais condições de controlar aquilo que está acontecendo dentro de seus muros, com ela mesma ou com seus alunos. E os pais que têm filhos em escolas privadas podem entrar lá e intervir. Os alunos podem voltar para casa e discutir o problema com eles, e os pais, por sua vez, têm a possibilidade de ir à escola reclamar, mudar o filho de horário, de colégio, etc. Já em uma escola pública isso jamais vai acontecer! Se uma mãe for reclamar, os diretores e os professores nem vão dar bola”, afirma. Origem

O bullying começou a ser pesquisado cerca de dez anos atrás na Europa, quando se descobriu o que estava por trás de muitas tentativas de suicídio entre adolescentes. Sem receber a atenção da escola ou dos pais, que geralmente achavam as ofensas bobas demais para terem maiores conseqüências, o jovem recorria a uma medida desesperada. Atualmente, todas as escolas do Reino Unido já implantaram políticas anti-bullying.

Os estudos da Abrapia demonstram que não há diferenças significativas entre as escolas avaliadas e os dados internacionais. A grande surpresa foi o fato de que aqui os estudantes identificaram a sala de aula como o local de maior incidência desse tipo de violência, enquanto, em outros países, ele ocorre principalmente fora da sala de aula, no horário de recreio. Soluções

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Para quem é vítima de algum desses tipos de humilhação, a saída é “se abrir”, ou seja, procurar ajuda, começando pelos próprios pais. E quem tem um filho passando por esse problema precisa mostrar-se disponível para ouvi-lo. Nunca se deve aconselhá-lo a revidar a agressão; mas, sim, esclarecer que ele não é culpado pelo que está acontecendo. Também é fundamental entrar em contato com a escola.

Mas, se os pais não têm certeza de que seu filho sofre com essa violência, podem ficar atentos aos seguintes aspectos: “Os alunos-alvo são crianças ou adolescentes que são, sistematicamente, discriminadas, humilhadas ou intimidadas por outros colegas. Geralmente, eles têm poucos amigos, procuram se isolar do grupo e são identificados por algum tipo de diferença física ou comportamental. Além disso, têm dificuldades ou inabilidades que os impedem de buscar ajuda, são desesperançados quanto a sua aceitação no grupo e tendem a um comportamento introvertido”, explica Aramis.

Especialistas do mundo inteiro concordam sobre o fato de que o papel dos pais — tanto de alunos agressores como de agredidos — é fundamental para combater a violência moral nas escolas e de que eles precisam saber lidar com a situação. No caso dos pais de agressores, é preciso que se convençam e mostrem aos filhos que esse comportamento é prejudicial a eles. “De acordo com dados obtidos em trabalhos internacionais, não existe escola sem bullying. O objetivo é alterar a forma de avaliação do que é uma brincadeira e do que é bullying, mudando o enfoque da questão para a valorização do sentimento de quem sofre bullying, ou seja, respeitando seu sofrimento e buscando soluções que amenizem ou interrompam isso”, diz o coordenador da Abrapia. “Os autores de bullying podem se tornar líderes entre os alunos por disseminarem o medo e estarem repetindo seu modelo familiar, em que a afetividade é pobre ou a autoridade é imposta por meio de atitudes agressivas ou violentas”, completa.

Segundo Aramis, a única maneira de combater esse tipo de prática é a cooperação por parte de todos os envolvidos: professores, funcionários, alunos e pais: “Todos devem estar de acordo com o compromisso de que o bullying não será mais tolerado. As estratégias utilizadas devem ser definidas em cada escola, observando-se suas características e as de sua população. O incentivo ao protagonismo dos alunos, permitindo sua participação nas decisões e no desenvolvimento do projeto, é uma garantia ainda maior de sucesso. Não há, geralmente, necessidade de atuação de profissionais especializados; a própria comunidade escolar pode identificar seus problemas e apontar as melhores soluções”. Para o médico, a receita é promover um ambiente escolar seguro e sadio, onde haja amizade, solidariedade e respeito às características individuais de cada um de seus alunos. “Enfim, é fundamental que se construa uma escola que não se restrinja a ensinar apenas o conteúdo programático, mas também onde se eduquem as crianças e adolescentes para a prática de uma cidadania justa”, finaliza.

DREYER, D. A brincadeira não tem graça. 2017. Disponível em: <“http://www.educacional.com.br/ reportagens/bullying/>. Acesso em 10 jul.2017.

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ANEXO B Fonte: Nova escola. Disponível em:<http://novaescola.org.br/formacao/leis-diversidade-424523.shtml>.

Várias leis e documentos internacionais estabeleceram os Direitos das pessoas

com deficiência no nosso país.

1988

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA

Prevê o pleno desenvolvimento dos cidadãos, sem preconceito de origem, raça,

sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação; garante o direito à

escola para todos; e coloca como princípio para a Educação o "acesso aos níveis

mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade

de cada um".

1989

LEI Nº 7.853/89

Define como crime recusar, suspender, adiar, cancelar ou extinguir a matrícula de

um estudante por causa de sua deficiência, em qualquer curso ou nível de ensino,

seja ele público ou privado. A pena para o infrator pode variar de um a quatro anos

de prisão, mais multa.

1990

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA)

Garante o direito à igualdade de condições para o acesso e a permanência na

escola, sendo o Ensino Fundamental obrigatório e gratuito (também aos que não

tiveram acesso na idade própria); o respeito dos educadores; e atendimento

educacional especializado, preferencialmente na rede regular.

1994

DECLARAÇÃO DE SALAMANCA

O texto, que não tem efeito de lei, diz que também devem receber atendimento

especializado crianças excluídas da escola por motivos como trabalho infantil e

abuso sexual. As que têm deficiências graves devem ser atendidas no mesmo

ambiente de ensino que todas as demais.

1996

LEI E DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL (LBD)

A redação do parágrafo 2o do artigo 59 provocou confusão, dando a entender que,

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dependendo da deficiência, a criança só podia ser atendida em escola especial. Na

verdade, o texto diz que o atendimento especializado pode ocorrer em classes ou

em escolas especiais, quando não for possível oferecê-lo na escola comum.

2000

LEIS Nº10.048 E Nº 10.098

A primeira garante atendimento prioritário de pessoas com deficiência nos locais

públicos. A segunda estabelece normas sobre acessibilidade física e define como

barreira obstáculos nas vias e no interior dos edifícios, nos meios de transporte e

tudo o que dificulte a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos

meios de comunicação, sejam ou não de massa.

2001

DECRETO Nº3.956 (CONVENÇÃO DA GUATEMALA)

Põe fim às interpretações confusas da LDB, deixando clara a impossibilidade de

tratamento desigual com base na deficiência. O acesso ao Ensino Fundamental é,

portanto, um direito humano e privar pessoas em idade escolar dele, mantendo-as

unicamente em escolas ou classes especiais, fere a convenção e a Constituição

Fonte: Dia a dia educação. Disponível em:< http://www.educadores.diaadia.pr gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=553>.

Lei Estadual nº 16.454/10 de 17 de maio de 2010 - Institui o Dia Estadual de

Combate a Homofobia, a ser promovido, anualmente, no dia 17 de maio.

Resolução nº. 12, de 16 de janeiro de 2016- Conselho Nacional de Combate às

Discriminações e promoções dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais travestis e

transexuais CNCD/LGBT. Sobre o reconhecimento institucional da identidade de

gênero.