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ENTRELUGARES NOTAS CRÍTICAS SOBRE O PÓS-MANGUE RICARDO MAIA JR.

Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

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Ensaios de Ricardo Maia Jr. sobre a música contemporânea de Pernambuco.

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Page 1: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

ENTRELUGARESNOTAS CRÍTICAS SOBRE O PÓS-MANGUE

RICARDO MAIA JR.

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Entrelugares:notas críticas sobre o pós-mangue

1ª Edição

Ricardo Maia Jr.

Recife - PE2012

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EdiçãoJosé Juvino da Silva Júnior

OrganizaçãoCarlos Gomes

RevisãoFernanda Maia e Carlos Gomes

Diagramação e CapaFernanda Maia

Foto de CapaHidden

ColaboraçãoRodrigo Édipo

RealizaçãoOutros Críticos

MAIA JR., RicardoEntrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue – Recife: José Juvino da Silva Júnior, 2012. 64 p.

E-bookISBN 978-85-914545-2-5

1. Música - crítica. 2. Pós-mangue. I. Título.

Disponível para download gratuito no blogue Outros Críticos.

Contatos:Autor: [email protected]

Outros Críticos: [email protected]

| 2012 |

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SUMÁRIO

Prefácio - 5

Pós-mangue: to be or not to be?! - 10

Um passeio pela sonoridade pós-mangue - 17

Para além da sonoridade pós-mangue - 28

Do Mangue pra casa - 36

A falácia pós-mangue - 46

É possível lutar pelo pós-mangue? - 54

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SOBRE CÂNONES INTOCÁVEIS, POLÍTICA, TECNOLOGIA E A ESTÉTICA DA MÚSICA PERNAMBUCANA

PREFÁCIO

“O intelectual existe para criar o desconforto, é o seu papel [...]”

Milton Santos

A similaridade mais interessante nas funções de jornalista e pesquisador é o caráter, essencialmente, contestatório das duas profissões. E para tal, um bom profissional das duas áreas que, por vezes, se misturam em seus propósitos mais nobres, tem no artifício da pergunta uma utilidade bélica. Utilizando-a como arma de investigação que desbrava denúncias e postulações, sugerindo novas rotas de fuga para a sociedade, promovendo reflexões e debates que podem ou não desestabilizar o status quo vigente. Melhor, claro, quando desestabiliza.

Foi transitando na interseção entre as duas profissões e, acredito, com esse propósito em mente, que Ricardo Maia Jr. encontrou um lugar para expor o que pensa. Conheci o autor no começo da década de 2000, através de uma grande amiga minha que estudou jornalismo com ele na UNICAP (Universidade Católica de Pernambuco). A memória mais remota dessa época foi vê-lo em uma das etílicas ruas do Recife Antigo, sentado na calçada em uma roda de amigos, discutindo algum assunto que, para mim, era muito cabeçudo para o meu momento festivo da ocasião. Ricardo centralizava a conversa,

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e provavelmente – tenho quase certeza – estava reclamando de algo que discordava. Provoco até minha memória e me arrisco a dizer que Marx & Engels estavam presentes em espírito no inflamado discurso de meio fio. Posso estar enganado.

Anos depois, tomando cervejas com Ricardo no célebre Bar do Bigode, situado nas imediações da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), passo a ter uma relação mais estreita com ele a partir do interesse do mesmo em pesquisar academicamente o TV Primavera, coletivo anarquista e niilista de videoarte, do qual fiz parte no final da década passada. Lembro que, na época, fiquei surpreso: “Aonde esse cara quer chegar com isso?”. Conhecendo-o melhor, terminei por entender. Na verdade, Cacá (como também é conhecido na cidade) é um cara de personalidade provocadora, incomodado com o establishment das instituições e – como poucos na careta classe média recifense – guarda dentro de si um fascínio pela arte que é marginal.

Ricardo se identifica com esses agentes de contestação porque também é um deles. Seja evidenciando artistas outsiders na – cada vez mais asséptica – academia, ou como mentor da banda Ex-exus, um dos grupos mais controversos surgidos na música pernambucana, desde o Textículos de Mary. E foi imbuído até o último fiapo de cabelo desta áurea abusada, que o jornalista, pesquisador & músico, pôs o dedo em uma ferida há muito exposta e escreveu as linhas que compõem o Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue1.

Admirador confesso do Manguebit, como todo pernambucano que não vê a música somente como trilha sonora para azaração e cachaça, Ricardo não está interessado em questionar o valor 1 Os textos que compõem o livro foram publicados, originalmente, em colunas mensais no blogue Outros Críticos, durante o primeiro semestre de 2012.

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da movimentação que aconteceu em Recife na década de 1990. Muito pelo contrário, reconhece a importância do mesmo, porém, critica veementemente a institucionalização do movimento como o principal referencial da música contemporânea do Estado. Como também questiona a supervalorização de outros cânones da nossa cultura, como o frevo e o maracatu, por exemplo.

Para Ricardo, esta visão moderna e estática demais e, consequentemente, pouco fluida, pode estar sufocando uma nova gama de bons artistas que, apesar de estarem produzindo música de forma autônoma dentro dos próprios quartos, não encontram investimentos suficientes para um merecido escoamento da obra, a não ser a gratuita, porém desterritorializada internet. A partir disso, durante os seis ensaios aqui compilados, o autor nos provoca constantemente, metralhando questões em busca de respostas que não são respondidas tão facilmente.

A música pernambucana perdeu mesmo a euforia da renovação? Os novos artistas são interditados pela sombra do Manguebit? Há mesmo uma concentração de investimentos públicos e privados nos medalhões? Nos falta um novo herói? Uma das soluções seria uma imprensa alternativa mais forte? A repaginação vem somente da transgressão? O pós-mangue é vítima da desmontada pós-modernidade? O pós-mangue é uma falácia? Ele é uma ressaca pós-efervescência ou uma evolução estética? Afinal, o que porra é o pós-mangue?

Com esta coletânea de ensaios legitimada em livro, podemos dizer que Ricardo Maia Jr. é a primeira pessoa, pelo menos publicamente, a chamar atenção para este grande ponto de interrogação que, talvez por ser contemporâneo até demais, seja necessário um

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desenvolvimento de pesquisa mais apurado, para que – com o passar do tempo – o problema possa ser visualizado por todos de uma forma menos turva. Assim, nos seis textos que compõem esta obra, delineia-se uma linha de raciocínio que transparece certa inquietude e angústia de quem também é personagem de todo este processo e não está nada satisfeito com o rumo que as coisas estão tomando.

Por outro lado, apesar do envolvimento direto com a causa, existe um cuidado a todo momento para não soar determinista e leviano, mesmo deixando bem claro o ponto de vista de uma construção lógica que é própria. As comparações entre estéticas, políticas e tecnologias de épocas diferentes estão sempre a serviço do pensamento do autor, que busca apoio nas experiências pessoais e referências teóricas para elaborar este arriscado exercício crítico do seu tempo. O debate está aberto.

Rodrigo Édipo

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ENTRELUGARES:NoTAS cRiTicAS SobRE o poS-mANGUE

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Pos-mangue: to be or not to be?!

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Estabelecidos x outsiders? Mangueboys x indies?

Fora do eixo x Pernambuco? O que essas rixas

podem nos revelar é bastante limitador. O

cenário musical pernambucano merece um tratamento

um tanto quanto relativista, não no sentido niilista,

mas na noção metodológica da análise. Apesar dessas

limitações, esses três duelos também explicam a

situação atual da música em Pernambuco, de certa

forma, como sintomas de um mal-estar.

O embate entre estabelecidos e outsiders não é

nenhuma novidade na cena musical pernambucana,

mas é dissimulado, pouco percebido e debatido. E

por que, em meio a essas interrogações, jogar com

o conceito de pós-mangue? Porque ele compreende

uma força simbólica significativa entranhada ainda

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no Manguebeat, ou Manguebit, considerado último

marco cultural representativo e aglutinador da arte

pernambucana, mais especificamente da música. Assim

como o conceito de pós-moderno, o pós-mangue

carrega muitas dúvidas, e isso se reflete em vários

sentidos no cenário musical pernambucano. Embora

não se possa descarregar tudo no Mangue, pois outras

vertentes que se tornaram instituições, como por

exemplo: o frevo, o forró e o maracatu, também dizem

bastante dessa posição outsider em que se encontra a

música pernambucana contemporânea, até mesmo o

indie conseguiu sua parcela estabelecida na cultura do

Estado.

O pós-mangue nos serve para entender melhor essa

cena alternativa, a partir de um conceito mais plausível

com o contexto atual. Através disso, uma série de

problemáticas surgem, como: só o mito do Mangue –

Chico Science – que conseguiu tencionar essa barreira

com mais êxito, entre o alternativo e o popular? O que

veio com o pós-mangue? Quais são suas referências,

se for possível dizer isso? Mombojó foi a referência

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direta a esse conceito, e talvez por esse isolamento não

tenha sido possível o desenvolvimento de uma estética

coletiva e de uma decorrente política cultural. Então,

toda a culpa seria do Mombojó? Não, pois os efeitos do

Mangue na geração seguinte não podem se restringir a

um único exemplo de carreira, por mais que tenha sido

uma das bem-sucedidas dessa turma do pós-mangue,

que também pode ser compreendida nos projetos solos

dos remanescentes do Manguebeat: China, Siba, Otto,

Karina Buhr e até de Lirinha (José Paes de Lira), do

Cordel do Fogo Encantado.

O que se percebe é a perda de uma certa euforia de

renovação, carregada pelo Mangue, em seus primórdios,

e também no auge do movimento, pois essa repaginação,

enquanto proposta, ainda é proporcionada através dos

mesmo agentes que, de certa forma, ganharam status

institucionais na cultura pernambucana. Por conta

disso, houve uma ofuscação, ou mesmo ostracismo, dos

artistas que vieram depois e que, de certa forma, atuam,

realmente, na cidade, e são eles que podem representar

essa retomada expressiva da música pernambucana.

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Não quer dizer que esses músicos que já carregam

um nome e um público significativo – apesar de

morarem no Sudeste há bastante tempo – perderam a

criatividade ou o poder simbólico com suas obras, mas

sim que houve uma concentração dessa força criativa.

A principal consequência disso é uma divisão mais

evidente, e paradoxalmente mais dissimulada, entre os

estabelecidos e os outsiders, pois a repaginação ficou

interditada, apesar dos esforços multiculturais das

instituições públicas a partir do projeto conceitual do

Manguebeat e, também, da numerosa produção da

música pernambucana atual.

O que fazer perante esse panorama? Quem será o novo

guia ou o herói da música pernambucana pós-mangue?

Essas perguntas não podem nem devem ser respondidas

em um artigo ou manifesto, ou em alguma previsão ou

aposta, ou em uma fórmula qualquer de produção ou

de emancipação, pois as soluções podem ser relativas e

infindáveis. Com esse diagnóstico sintético, é relevante

destacar a carência de como escoar a produção musical

do Estado, que parece emperrar na distribuição de

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todo esse material. Daí vem os outsiders, de toda essa

produção que não se organiza e que está fora da cultura

oficial e dos circuitos de divulgação.

Seria por conta do isolamento dos músicos, que

acreditam somente no seu próprio trabalho gravado e

divulgado na internet? Ou a causa seria a insuficiência

de produtores para trabalhar com esse material? Ou

seriam os meios de comunicação, que contribuem

mais decididamente para essa estagnação? Ou seria o

poder público que investe sempre nos mesmos artistas,

que acabam se tornando, praticamente, funcionários

públicos? Todas essas perguntas justificam a situação,

mas não há só um problema ou uma solução.

Com este artigo, é possível introduzir o debate sobre

a atual conjuntura da música pernambucana, mas só

os agentes desse cenário é que vão poder, de fato, dar

essas respostas, e na prática. O que fica no ar é se ainda

pode ser relevante a luta pelo novo, ou pelo ovo, ou

mesmo pelo outro… ou pelo ouro?! A música, em seu

potencial estético, não pode abdicar da política, nem

o embate pode se limitar à destruição de uma cena

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para surgir outra nova. A luta seria pela retomada da

força de repaginação da contemporaneidade que se faz

mais do que necessária para a cultura pernambucana

escutar, de fato, novas vozes e experimentar novos

sentidos, novos agentes na música!

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Um passeio pela sonoridade pos-mangue

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Essa noção da luta por Serge Daney – trecho

extraído do livro A Rampa, em que o crítico

faz uma análise contundente sobre o Cahiers

du Cinéma (1970-1982) –, vem a calhar muito bem

com o que venho escrevendo a respeito do pós-mangue

(contexto que se arrasta há mais de uma década).

O pós-mangue não é uma fragmentação só de agora,

da atualidade, do presente, ele vem se prolongando e se

acumulando no cenário musical pernambucano, desde

o começo dos anos 2000. O que torna a conceituação

“Uma luta se anuncia, e ela avança na maior desordem de enunciados erráticos, de paródias, gritos, palavras de ordem, crenças desordenadas, tudo o que constitui uma enunciação coletiva… Porque se uma luta fala, ela não diz jamais eu”.

Serge Daney

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cada vez mais complexa. Como colocar num mesmo

saco conceitual, só pra citar alguns exemplos bem

distintos: Originais do Sample, Re:combo, Mombojó,

Songo, Mellotrons, Volver, Johnny Hooker, Fiddy, D

Mingus, AMP, Desalma, Team.Radio, Ex-exus, Matheus

Mota, Profiterolis, Ahlev de Bossa, A Comuna, Tagore,

Feiticeiro Julião, Bande Dessinée, Novanguarda,

German Ra, Canivetes, Os Insights, A rua, Glauco & o

Trem, Marditu Soundz, Nuda, Julia Says e Sem Perneira

Pra Suco Sujo? Qualquer tentativa de enquadramento

será frágil perante esse corpus de análise, que não se

restringe a esses citados. Mas, mesmo assim, é por

esse terreno escorregadio e movediço que a crítica

deve instigar a sua abordagem para colaborar com a

compreensão deste momento da música alternativa do

estado: o que veio depois do Manguebeat.

É através da sonoridade que pretendo discorrer a

respeito, neste texto. Como dar conta de um panorama

tão plural? É possível sintetizar? Quando você pensa

sobre o Manguebeat, é possível visualizar algumas

linhas estilísticas, apesar de saber que houve muitas

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extrapolações. Quando você se debruça sobre o pós-

mangue na tentativa de perceber tendências de estilo, é

evidente que a fragmentação está gradativamente mais

aguda. Mas não é nada que impeça esta crítica e também

outras reflexões que surjam, de expandir ainda mais a

explanação deste longo momento multifacetado.

É possível verificar que, nesse contexto pós-mangue,

uma forte movimentação indie tomou força, em

Recife, além dos remanescentes e dos repaginadores do

Mangue – que, talvez, tenham tido na tendência Olinda

Original Style, lançada pela Eddie, a linha estética mais

significativa –, e também do legado rocker e psicodélico,

deixado por Lula Côrtes em Jaboatão dos Guararapes

e na Zona Oeste do Recife. Há ainda os que estiveram

transitando por mais de uma tendência dessas ou, de

certa forma, procurando estar por fora disso tudo,

como os metaleiros, a cena punk e HC. A grosso modo,

esse seria o panorama dos quatro principais segmentos

culturais da Região Metropolitana do Recife, do início

dos anos 2000 até hoje.

A tendência indie, em Recife, tem sido a mais

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representativa no cenário alternativo pernambucano,

como contraponto ao Manguebeat. Principalmente, por

conta da mídia e dos festivais gerados pelo seu principal

agente: o Coquetel Molotov. Não dá para esquecer que

o site Reciferock e o concurso Microfonia, financiado

pela Aeso/Barros Melo, também foram importantes

atores para a promoção da estética indie. Esse perfil

sempre foi marcado pela predominância das classes

média e alta recifense, enquanto agentes culturais dessa

movimentação. Grupos foram formados querendo

mostrar a autossuficiência e a capacidade que cada um

teria em gerir sua carreira, sem precisar se misturar.

Na verdade, essa vertente surgiu concomitante com

o Manguebeat, com bandas como Supersonics, River

Raid, Amps & Lina e também com a paulistana Stela

Campos – que morou na capital pernambucana,

durante quase toda a década 1990, na efervescência do

movimento Mangue –, mas essa tendência só tomou

força e corpo, realmente, no início do século XXI.

A sonoridade indie é tão ampla quanto o conceito pós-

mangue. Volver, Mellotrons, Rádio de Outono, Team.

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Radio, The Dead Superstars, Os Retrôvisores, Sweet

Fanny Adams e Lulina são algumas referências de

artistas do estado. Apesar da disparidade de propostas,

onde eles se tocam sonoramente falando? A principal

linha norteadora seria o desapego com qualquer

enraizamento que seja da cultura local. Num tempo

em que a novidade virou uma falácia, as propostas de

mistura lançadas pelo Manguebeat foram confrontadas

por uma sonoridade sem cacoetes regionais. O rock

alternativo americano e britânico foram as principais

fontes de inspiração desta turma, principalmente

no que diz respeito ao som. A timbragem é diversa,

pois passeia pelo pós-punk, dos anos 1970, pelo new

wave, dos anos 1980, pelo shoegaze, dos anos 1990,

até a repaginação rocker, proposta pelo The Strokes.

Mas, o que há, de fato, em meio a todo esse panorama

amplo, é o desprendimento com um compromisso de

resgatar ou mesmo de repaginar as referências culturais

tradicionais ou populares do estado. Não que essa

internacionalização resuma a atuação sonora destes

grupos, pois influências nacionais como Roberto

Carlos, Mutantes e Clube da Esquina também refletem

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algumas das nuances destas bandas. O fato é que essa

referência ao rock alternativo internacional deu a

tônica mais forte na sonoridade indie do estado, aliada

ao desligamento de voltar-se aos sons regionais.

Por outro lado, o legado do Manguebeat foi passado a

grupos que imprimiram, ao seu modo, a ressignificação

desses conceitos. Mombojó, Re:combo, Originais

do Sample, Orquestra Contemporânea de Olinda,

Academia da Berlinda, Bonsucesso Samba Clube,

Songo e Zé Cafofinho e Suas Correntes são alguns

dos projetos que, talvez, possam carregar com mais

propriedade o real sentido do termo pós-mangue,

pois, neles, é mais notável a repaginação da tendência

conceitual proposta pelos mangueboys. A mistura

entre os regionalismos e a música pop global, através

dos preceitos lançados por Chico Science & Cia, deram

e continuam a dar muito pano pra manga na música

alternativa pernambucana. A abertura é o grande

trunfo deixado pelo Mangue, pois é possível retomar

o fôlego a partir de sonoridades mais contemporâneas

– da música eletrônica (DJ Shadow, Daft Punk) ou

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da música alternativa mundial (Stereolab, Beck) –,

ou mesmo através de novas tensões com a música

caribenha, com a bossa nova, com o frevo, com o jazz,

com o samba-rock, com o hip-hop etc. Enfim, há uma

linha estilística que aproxima, de certa forma, esses

artistas tão díspares, que é a repaginação do legado

deixado pelo Manguebeat.

Os descendentes da fase rocker e psicodélica de Lula

Côrtes se espalharam geograficamente, de modo

geral, por Jaboatão dos Guararapes – Johnny Hooker,

Monomotores – e pela zona oeste do Recife – Canivetes,

Os Insights, Jean Nicholas. Além da referência ao

músico pernambucano, o The Stooges, talvez, seja uma

aproximação analítica interessante para confrontar

com as posturas dessas bandas. Pois, é no encontro do

rock com o punk, no chamado pré ou proto-punk, que

as sonoridades destes grupos se encontram. É óbvio

que existem muitos mais apontamentos referenciais –

como: Sérgio Sampaio, Raul Seixas, Bob Dylan, David

Bowie etc. –, mas na busca por uma síntese, a tensão

entre a fase rocker de Lula Côrtes e o The Stooges é

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bastante representativa para aqueles que comungaram

mais diretamente com essa terceira tendência. Não há

uma necessidade em reprocessar a música tradicional

do estado com outras vertentes da música pop ou

alternativa internacional, mas, ao mesmo tempo, não

é expresso diretamente o desapego com os preceitos

do Manguebeat, e isso também não significa que eles

estejam num meio termo, entre essas duas tendências.

É possível perceber, de fato, posturas à margem da

música alternativa do estado – no sentido de terem

pontos semelhantes com os dois primeiros grupos

estéticos do pós-mangue, mas eles não se posicionam

nem contra nem a favor, mesmo tendo um conjunto

conceitual comum que tocam as bandas da terceira

vertente, de uma forma peculiar. É isso que as lançam

na marginalidade, tocando nesses dois eixos pelas

bordas e propondo, dessa maneira, outras sonoridades!

E os artistas citados como referências sonoras

reforçam a tomada de postura estética destes músicos

pernambucanos, que optaram – pegando o gancho do

nome do principal festival desta terceira categoria do

pós-mangue –, pelo Desbunde Elétrico.

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Há ainda uma quarta movimentação nesse panorama

fragmentado, que seriam os que estão fora e ao

mesmo tempo circulando, muitas vezes, em mais de

um segmento apresentado. Nuda, Ex-exus, D Mingus,

Matheus Mota, A rua, Glauco & o Trem, Julia Says,

Joseph Tourton, Feiticeiro Julião e Bande Dessinée

não são diretamente associados a nenhuma das três

tendências. Como o caráter é mais híbrido e, às vezes,

obscuro, esses projetos radicalizam ainda mais, de

certa forma, com a fragmentação da cena musical

pernambucana. O que dificulta a tarefa de análise

em sintetizar algumas tendências deste grupo, em

especial, pois ele consegue ser mais plural do que os três

segmentos anteriores. Do tropicalismo ao vanguardismo

paulista, do psicodelismo à música francesa, da música

eletrônica ao krautrock, do art-rock ao afrobeat, e por

aí vão as referências, sem amarrar qualquer conceito.

É na liquidez que esse grupo tem sentido. Não existem

blocos conceituais comuns, cada grupo, praticamente,

ou se envolve em uma movimentação própria, singular

e autônoma ou se mistura por dentro e por fora dessas

outras categorias, enfim, nas bordas de forma peculiar.

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E extrapolando ainda mais essas tendências, ainda

existem os metaleiros (Desalma), os stone rockers

(AMP), os mpbistas (Paes) e os experimentais (Monstro

Amor).

O que veio depois do Manguebeat, a partir dos

anos 2000, foi uma fragmentação devastadora, e as

sonoridades das bandas de música alternativa do

estado – apesar de grosseiramente enquadradas, por

mim, em quatro categorias – refletem também essa

pluralidade estética, de forma decisiva. Essa análise

não quer incitar rixas ou facções, mas sim estimular o

debate de um contexto, que já tem mais de 10 anos, e

que vem sendo pouco agregado e discutido.

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Para alem da sonoridade pos-mangue

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Tirando um pouco a massa sonora da música,

dando ênfase nas letras das canções, o que

elas podem nos dizer? Quando selecionamos

alguns artistas pernambucanos no intuito de expandir

um pouco mais a análise sobre a atual cena alternativa

da música pernambucana, principalmente dos

outsiders do pós-mangue, o que isso pode nos revelar?

Será que podemos perceber alguma ligação, ou mesmo

tendência, entre esses músicos? Vou procurar responder

sobre essas perguntas no decorrer do texto.

Uma primeira questão que vem, ao observar as letras

de artistas como: Glauco & O trem, Rua, Feiticeiro

Julião, Nuda, Matheus Motta, D Mingus, Johnny

Hooker, Ex-exus, Tagore, entre outros, é sobre a perda

da necessidade de um vínculo direto com a cidade, não

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que se tenha perdido a criticidade, mas não há uma

relação espacial tão explícita nas letras como houve

com as bandas provenientes do Manguebeat, que

tinham um forte conceito aglutinador. Isso também

não quer dizer que esses músicos não sejam urbanos,

só que as letras das canções remetem a outras tentativas

de explorar a poeticidade, além do vínculo citadino.

Enfim, o contexto é outro, e esses artistas, na tentativa

de repaginar a música pernambucana, usam a força

das letras das canções com outros engajamentos.

Os mangueboys tiveram o espaço urbano como

principal elemento do conceito que uniu os artistas em

torno da manifestação cultural do Manguebeat, nos

anos 1990. Os músicos do pós-mangue fragmentaram

essa união em forma de nichos de potência. Nas letras, é

possível constatar essa tendência. Por isso, há um certo

isolamento que impede tanto o diagnóstico quanto a

força representativa de uma cena alternativa emergente.

Para visualizar melhor toda essa conceitualização,

vamos analisar alguns trechos de canções dos músicos

pernambucanos citados acima, com a intenção de

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mostrar tanto a fragmentação da cena alternativa

pós-mangue quanto os valores representativos das

composições.

Vamos começar com artistas que contrariam, de certa

forma, o que coloquei sobre a falta de ligação com a

cidade. Johnny Hooker, com a canção “Candeias Rock

City”, tenta criar um elo com um bairro emblemático

do litoral de Jaboatão dos Guararapes – local onde Lula

Côrtes, ícone rocker do estado, se estabeleceu e virou

referência do lugar. Johnny tenta personificar o bairro

de Candeias a partir de uma postura rebelde contra

um imaginário rival – que pode ser interpretado de

diversos modos, como a luta do novo contra o velho, ou

do outsider contra o estabelecido – como é proclamado

no refrão pastiche, de uma maneira vingativa: “Estamos

indo atrás de você/ Candeias rock city”. Na canção da

Nuda, “Maruimstad”, a relação com a cidade também

é evidente. Mas, diferentemente da música de Johnny,

há uma crítica mais contundente sobre a realidade

urbana, como é possível perceber neste trecho da letra:

“Não se faz cartão postal no córrego do maruim/ Lá

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corre o boato que construíram um tribunal/ lado a

lado do coque/ e o mote do roque é:/ Viaduto separa

qualquer luxo de coqueluche”.

Há também tentativas críticas mais diretas de uma nova

cena musical contra a antiga, como é possível perceber

na parceria entre Bruno Souto (Volver) e Tagore no

projeto The New Folks, com a música “Mangue Beatle”.

A letra inteira trata desse embate estético, temporal e

até de classe social, com o Manguebeat: “Sou playboy

tipo burguês/ Fui pra Londres canto em inglês, então/

Teu desprezo é maior/ E eu vou na contramão/ E essa

lama nos teus dedos/ Não traduz o meu desejo, em

vão/ Meu vício é bem maior/ Na minha solidão”. Numa

tentativa de diferenciação com o momento anterior.

Outro exemplo nos remete a uma realidade inventada,

como é possível perceber no trabalho de Matheus Mota.

Nas letras deste artista, os universos dos quadrinhos e

até da linguagem publicitária são bastante recorrentes.

Em “Madame na Avenida”, ele cria um clima lúdico a

partir da realidade do flanelinha, como é perceptível

no refrão da canção: “Ele guardou o meu carro com

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carinho e apreço/ Um dia, ele tem saudades e vai partir/

Espera, ela vem roubar o seu coração/ Não, não”.

Já nas canções de D Mingus, de Glauco & o Trem e

da Rua, é bem latente a verve existencial e surrealista

na poética. Em “Jardim Suburbano”, de D Mingus, é

evidente a tendência existencialista, montando um

retrato urbano em tom melancólico e clima surreal. O

trecho inicial da canção é bem ilustrativo: “Recortes

de um álbum etéreo/ Pedaços da minha alegria/ Pelas

ruas vazias/ Vias respiratórias congestionadas pelo

mofo da nostalgia”. Em Glauco & o Trem, a perspectiva

existencial é retratada em frustrações de ser outsider,

como podemos conferir em “Notícia popular”, onde

a falta de reconhecimento no cenário musical é

estampada na frase: “não saiu no jornal”, ou mesmo

através das crises existenciais do compositor em

“Medo-me”: “Tenho mãos estranhas, braços finos, um

tremor nas pernas um olhar desconfiado/ Uma língua

afiada, mas com medo de cantar”. Nas letras da Rua, o

tom surrealista é mais escancarado do que nos outros

dois artistas. Um bom exemplo é esse trecho da canção

Page 34: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

34

“Escorrego”: “Escorreu/ A gota salgou/ Os lábios de

um deus/ Fez este mim cão/ Que pisa as horas em

bemol”. O jogo de palavras é o artifício necessário para

embaralhar os sentidos, criando um desapego espacial.

Indo por outro viés, analisando as letras das músicas dos

Ex-exus e do Feiticeiro Julião, além do caráter místico,

é perceptível uma tentativa de ruptura em relação a

comportamentos padrões, tabus e temas interditados,

seja do universo do macho contemporâneo, ou do

cidadão que busca novos espaços de liberdade dentro

da sociedade. “Carne Humana”, dos Ex-exus, escancara

essa condição masculina: “Você não vai querer morrer

nos meus braços/ Eu como carne humana/ Há muito já

perdeu o nexo/ Repete que me ama”. A transgressão é

a tônica! Assim como no título-refrão “Vou tirar você

da cara”, do Feiticeiro Julião, é possível perceber, de

forma lúdica, a busca por uma condição mais livre de

repressões do indivíduo na sociedade contemporânea.

Os embates são travados em vários níveis. E essas

canções nos mostram, um pouco mais, as possibilidades

da fragmentação discursiva. Os conceitos apresentados

Page 35: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

35

servem para nortear a análise, mas é preciso dizer que

esses artistas se tocam e se misturam em vários desses

pontos levantados, indo além dessas concepções, às

vezes. Enfim, com todos esses exemplos, é possível

constatar que a cidade e a urbanidade estão presentes

nos discursos desses músicos, mas de uma forma

diferente em relação ao momento Manguebeat: não

sendo uma prerrogativa necessária enquanto tendência

de uma movimentação cultural centralizadora. O

que esses artistas querem, ao mesmo tempo, de uma

forma plural e singular, é redefinir as facetas da música

alternativa pernambucana pós-mangue, e as letras

das canções, junto com a análise empreendida, nos

mostram como isso pode ser possível. Por isso, temos

que ser engajados: que venham os novos hinos!

Page 36: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

36

Do Mangue pra casa

Page 37: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

37

Esse movimento vem marcando a atual

cena musical pernambucana. São artistas

que vieram depois da efervescência do

Manguebeat. O chamado pós-mangue caiu numa

fragmentação muito maior do que poderiam prever os

mangueboys. Além do clima de renovação da música

alternativa deixado por Chico Science e companhia,

o barateamento da tecnologia foi um dos principais

agentes dessa movimentação do Mangue pra casa. Os

nichos foram sendo criados através dos home studios e,

dessa maneira, os músicos criaram micropoderes.

Mas, quais seriam as características dessas produções

caseiras? Primeiramente, uma estética de baixa

qualidade, ou do low-fi, por necessidade. Não que isso

não tenha acontecido na época do Manguebeat, ou

Page 38: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

38

mesmo antes, na época do psicodelismo de Lula Côrtes,

mas o número desse tipo de produção aumentou

consideravelmente ao ponto de virar uma marca dessa

geração. Concomitante à explosão de home studios,

estúdios de ensaio e de gravação foram adquirindo

melhores equipamentos, e, com isso, a produção

de discos vem se tornando cada vez mais acessível

e crescendo consideravelmente. Por conta dessa

proliferação de possibilidades, fica difícil delimitar uma

estética para este momento pós-mangue; há algumas

tendências, mas nada que dê para generalizar demais.

A partir destas tendências do pós-mangue, vários

grupos existiram e acabaram, como: Rádio de Outono,

Mula Manca e a Triste Figura, Pé-preto, A comuna,

The Keith, Chocalhos & Badalos, Gigantesco Narval

Elétrico, Nuda, The Insights, Canivetes, Retrovisores

etc. Outros são uma incógnita, como: Mellotrons,

Monodecks, Vamoz, Fiddy etc. Alguns permaneceram,

como: Volver, AMP, Julia Says e Johnny Hooker, por

exemplo. E outros apareceram, ou como remanescentes

destes trabalhos anteriores, ou sendo novos nomes

Page 39: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

39

mesmo, assim como: Ex-exus, A rua, Glauco & o

Trem, Bande Dessinée, Novanguarda, German Ra,

D Mingus, Matheus Mota, Feiticeiro Julião, Marditu

Soundz, Tagore, Team.Radio, entre outros. Com esses

poucos exemplos, é mais do que notável a capacidade

de proliferação da cena musical do estado, mas também

fica evidente a falta de projeção que esses artistas acabam

tendo pela fragmentação radical do pós-mangue.

Mas, como aliar a estética, a política e a tecnologia? Essa

é a grande questão que vem sendo colocada para esses

novos artistas da música alternativa pernambucana,

pois esse foi o grande êxito dos mangueboys. No entanto,

é constatado que, em vez da aglomeração proposta

pela manifestação do Manguebeat, foram criados

nichos que almejam a autossuficiência; mas, na práxis,

é percebido que essa geração vem se fragmentando

tão fortemente, ao ponto de ficarem quase de fora do

campo em disputa da cultura, tornando-se outsiders.

O poder de influência desses músicos acabou sendo

dizimado simbolicamente. Mas, como reverter essa

situação? Isso nos impõe mais questões cruciais.

Page 40: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

40

Seria por conta da falta de casas de show de pequeno

e de médio porte? Ou o público que não é fomentado

e prefere shows de graça, proporcionados pelas

instituições públicas? Ou o conceito do pós-mangue

que deixa muitas dúvidas no ar? Ou seria o movimento

radical do Mangue pra casa que trouxe essa situação de

ostracismo geral? O grande desafio para a nova geração

do pós-mangue seria tornar a atual cena sustentável e

viável, sem precisar sair para morar no Sudeste, como

forma de provar algum valor. Criando, dessa forma,

uma rede de bandas no estado, como o Manguebeat

fez em seus primórdios, que dialoguem de forma mais

democrática com as produções que vêm de toda parte

da Região Metropolitana do Recife.

E o que está acontecendo na prática? Um fenômeno

é interessante como sintoma desse momento pós-

mangue: a predominância atual de eventos com

Djs tocando setlists na cena alternativa da cidade.

As bandas quase que estão desistindo de tocar na

cidade, preferindo somente gravar e divulgar na rede

de computadores. São os próprios músicos que estão

Page 41: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

41

realizando esses eventos, o que mostra, com maior

evidência, algumas das lacunas mais gritantes da

produção musical do estado. Esse diagnóstico não é

feito para crucificar ninguém, mas só para constatar

uma tendência.

Pegando esse gancho, a principal referência seria a de

Belém, onde há as Aparelhagens, que são, de forma

geral, Djs tocando as músicas produzidas na cidade,

basicamente, o brega. Essas festas são importantes

para fomentar a cena local. No final dos eventos, eles

vendem o setlist para o público que quiser comprar. É

uma postura mercadológica e política, aliando a estética

do brega nessa luta franca pelo mercado independente.

Além da Aparelhagem, os carrinhos que vendem CDs

piratas são usados também como forma de fomentar

e valorizar a nova safra musical da capital paraense.

Convenhamos que eles tratam com um estilo popular,

que é o brega, e o produto musical de Recife seria, no

caso, a música alternativa. Mas também há a música

regional do estado, que é popular, mas não sai das asas

do poder público. Daí vem essa difícil encruzilhada

Page 42: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

42

que a música pernambucana quase sempre se encontra:

como vender o nosso produto cultural sem virar um

Axé Music? Com essa experiência do brega paraense,

outra questão também pode ser levantada: como

fomentar nossa cena independente?

Contudo, a solução para essas questões também não

seria usar as fórmulas do brega de Belém nem do Axé da

Bahia como modelos salvadores. Deve haver algumas

ações que possam funcionar aqui, claro, mas isso só dá

para saber na prática mesmo, não formulando discursos.

A fragmentação da cena é positiva pela democratização,

mas não é viável, quando vira isolamento ou ostracismo.

Os outsiders sempre são agentes interessantes para

a renovação do cenário cultural, mas não devem ser

perpetuados como malditos. Isso é perigoso! É curioso

ver o esforço dos músicos, por conta das possibilidades

dadas pela internet, em se comunicar com o mundo,

principalmente com os grandes centros, leia-se: Europa

e Estados Unidos. Mas, eles se esquecem da práxis de

manter uma via mais do que aberta com a própria

cidade, estado, região. Isso não é demonstrar fraqueza

Page 43: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

43

nem a abertura de cotas para os excluídos, e sim mostrar

que a cena está viva e que precisa de movimentação,

apesar dos gostos e dos nichos que possam existir.

Com essa fragmentação, não é praticável cada grupo

desses achar que sozinho dá para ser um movimento

tão significativo e forte quanto foram o Manguebeat e

o Tropicalismo.

Onde estão esses outros artistas, hoje, que ficaram

fragmentados? Estão produzindo ainda na cidade, mas

geralmente na condição de outsiders. Esses músicos não

são só os remanescentes de algum cenário anterior, pois

há muitos novos artistas que estão trilhando o mesmo

caminho, por não se enquadrarem nas condições

dos estabelecidos ou por não encontrarem meios de

propagar a música alternativa que está sendo feita no

estado. Talvez, por insistirem numa fragmentação, isso

enfraquece o potencial de ação criativa de uma cena

musical que tem o seu poder na aglomeração, e precisa

muito disso para sobreviver, isto é, da soma desses

agentes criativos.

A possibilidade da gravação caseira e a decorrente

Page 44: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

44

democratização do acesso à produção fonográfica vêm

proporcionando uma expansão significativa na música

alternativa pernambucana, mas este movimento do

Mangue pra casa não pode ser tão radical ao ponto

de fazer os artistas esquecerem-se de atuar nas ruas

das cidades, de fato. É preciso atuar na malha cultural

de forma efetiva, com apresentações e estratégias de

distribuição dessas gravações – que estão se tornando

abundantes –, na perspectiva de fomentar o público

da cena independente do estado. Para isso, os músicos

precisam trabalhar juntos para dar visibilidade a

todos, a partir do coletivo, e não apostar somente na

individualidade de cada projeto.

A música em seu potencial estético não pode abdicar

da política, e o embate não pode se limitar à destruição

de uma cena para surgir outra nova. O pós-mangue

precisa, mais do que nunca, do fôlego dos outsiders,

pois os seus principais agentes estão querendo mudar a

cidade, não mudar de cidade. Os outsiders se encontram

ainda entranhados nesses nichos, nos entrelugares

dessas relações. Escorregadios e fragmentados! E

Page 45: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

45

isso é um sintoma importante para a criação, de

fato, de um cenário renovado. Não dá para sufocar

mais o Manguebeat. A cena de música alternativa

pernambucana almeja reconhecimento e espaço, para

agora! Não daqui a 5, 10, 15 anos, simplesmente para

preencher alguma lacuna histórica.

Page 46: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

46

A falacia pos-mangue

Page 47: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

47

Pós-mangue é uma falácia, assim como todas

as tentativas de rótulo sob movimentações

culturais, pois são sempre frágeis e não dão

conta da complexidade de uma contingência e de um

contexto qualquer. E se isso está atrelado diretamente

a um conceito pretérito, essa incapacidade se torna

mais aguda. Apesar dessa constatação, a crítica e

muitos artistas não deixam de tentar emplacar um

direcionamento que busca definir o modo operante

de um grupo ou o espírito de uma época. Quando a

fragmentação é a tônica do instante, o melhor caminho

é o pós ou o neo? Ou é a preguiça ou é a falta de

criatividade que não deixam um conceito triunfar? Ou

estamos falando de uma política enfraquecida aliada

a uma estética fragmentada e individualista? Ou não

Page 48: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

48

sabemos mesmo é lidar com o caos e precisamos nos

escorar em pilares conceituais?

É fato que o peso representativo do Manguebeat caiu

mais do que bem nos artistas que estavam envolvidos

nessa causa. Está, também, muito claro que o pós-

mangue não decolou por não ter essa representatividade

nem o poder de aglutinação, e precisa ser tratado

apenas como uma denominação de um momento –

temporalmente falando – depois do Mangue. Neste

contexto hiperfragmentado e supersaturado pelas

beiradas em que cada um deveria ser capaz de tornar-

se instituição, os artistas não se sentem atraídos nem

querem ser referenciados como tais. Pode haver a

potência para a autossuficiência, porém ainda há

muitos entraves externos e internos para essa realidade

ser concretizada. Já fiz quarto artigos sobre a temática

na tentativa de refletir sobre o contexto em que me

insiro, diretamente, mesmo sabendo que o conceito

pós-mangue não daria conta desse panorama nem

representaria, de fato, a cena contemporânea de música

alternativa em Pernambuco.

Page 49: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

49

Os meus argumentos têm a pretensão de compreender

e de, principalmente, problematizar, e não de

delimitar ou de definir uma leitura final sobre o tema.

Primeiramente, o que me moveu a escrever foi a falta

de críticas que procurassem, mesmo generalizando,

entender este momento pós-mangue, que se arrasta

desde o começo dos anos 2000. O segundo motivo

foi por estar envolvido e atuando neste contexto; e o

terceiro, por toda essa fragmentação que me instigou

a pensar a respeito e a tentar achar algumas linhas

conceituais através deste recorte analítico. Seria a marca

da atualidade da música alternativa pernambucana:

não estar à procura de uma linha norteadora? Bem,

até hoje, não existe um conceito-chave. Os artistas

do pós-mangue não despontam aos holofotes da

indústria cultural, nem um músico nem um grupo ou

uma movimentação que represente, genericamente,

todo um contexto. Talvez, futuramente, esse caos seja

catalisado e convertido em um emblema representativo,

que tenha a força de abarcar a contemporaneidade do

porvir. Será que esta geração beira ao fracasso e está,

simplesmente, preparando o terreno para uma cena

Page 50: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

50

futura mais esclarecida? Fracasso da indústria, mas e o

sucesso de nicho? É aquela história: o que é dar certo

na “sociedade pós-massiva” (André Lemos) que a gente

está vivendo? Não dá para trabalhar com previsões

nem é possível resumir a importância de uma época ao

ostracismo, pelo simples fato de ela não emplacar um

hit ou uma movimentação conceitual; essa cena ainda

não está morta, ao contrário, ela está se contorcendo

em busca de novas possibilidades.

Essa noção do pós é sempre um incômodo e dá uma

certa sensação de instabilidade, pois, mesmos os

movimentos que encontraram uma base conceitual

consistente, como o Tropicalismo e o Manguebeat, e que

tiveram na polivalência uma das mais fortes diretrizes

de suas intenções de manifesto, não encontraram o

cenário tão fragmentado e individualista como esse do

pós-mangue. Apesar de essas marcas terem vingado,

o que elas conseguiram foi forjar uma cena em torno

de uma conceituação que, primeiramente, favorecem

seus criadores e os que estão abarcados ao redor deles,

e, por último, de tão repetidas como a identidade

Page 51: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

51

plausível de um momento cultural, acabam sendo,

muitas vezes, a única interpretação de um contexto

e, consequentemente, uma tendência. Mas o fato de

terem forjado a cena não necessariamente é sinônimo

de sucesso. Já houve várias cenas sendo forjadas e não

dando em nada. Então, talvez, o caminho não seja só

esse!

A farsa pós-mangue não alcançou um status

representativo e aglutinador e, talvez, a principal

razão de seu fracasso seja a postura assumida pelos

artistas e pelos críticos. Será que procuraram trilhar

pelo individualismo em vez de somar e de dar força

a um poder cultural de pressão coletiva? A potência

dissimulada de que cada indivíduo poderia ser uma

instituição (como bem observou Rodrigo Édipo, na

coluna da revista Mi #1), por conta do caos encontrado

após a falência da indústria fonográfica, que foi

potencializado pelo barateamento da tecnologia de

gravação e pela possibilidade de distribuição através

da internet. Dessa forma, chegou-se a um novo estágio,

em que o artista precisa, ainda, aprender a lidar com

Page 52: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

52

todas as fases de produção para poder gerir, de fato,

sua carreira e, por fim, conseguir aliar de forma crítico-

criativa as novas tecnologias com uma nova forma

de política e de estética, que possibilite o status de

representação requerido por uma nova geração ávida

por ser a cara de uma época caótica. Ou se faz isso, ou

como disse H.D. Mabuse, em entrevista para a Mi #2:

pega um empréstimo de 200 mil e paga jabá!

Essa potencialidade é, muitas vezes, confundida

com uma ilusão de democracia e de liberdade

enquanto, cada vez mais, as instituições estabelecidas

se cercam e interditam de uma forma mais eficaz e

dissimulada, travestida, muitas vezes, de transgressão

e vanguardismo, mas que, na realidade, dão uma

falsa impressão de que tudo já foi feito e confrontado.

As rupturas são domesticadas e financiadas para

transparecer um momento “democrático”. Como

proceder entre o paradoxo do anonimato das redes

sociais e do financiamento adestrador? Ou como

questionou Inès Champey, apresentando o livro de

Pierre Bourdieu e Hans Haacke, Livre-troca (1995):

Page 53: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

53

“Como se pode afirmar a independência de artistas

e intelectuais críticos quando confrontados pelos

novos cruzados da cultura ocidental, pelos campeões

neoconservadores da moralidade e do bom-gosto,

pelos patrocínios de multinacionais e apoio do Estado,

além da preocupação autoindulgente dos teóricos que

perderam totalmente o contato com a realidade? Como

salvaguardar o mundo da livre-troca?” Essas questões

parecem que vão ficando mais complexas com o passar

do tempo. E em meio ao contexto pós-mangue, esses

problemas estão longe de serem solucionados. Acho

que eles nunca chegarão a um fim, de fato. Mas, agindo

de forma mais consciente, é viável que carreiras sejam

sustentáveis, mesmo sem engatar qualquer falácia que

seja de uma cena convincente.

Page 54: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

54

E possivel lutar pelo pos-mangue?

Page 55: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

55

Chegamos ao sexto e último texto do que

venho postulando sobre o momento pós-

mangue. Tentei abordar essa problemática

com a devida carga analítica merecida, a partir da

bagagem crítica que venho acumulando por vir atuando

enquanto músico, pesquisador e jornalista, justamente,

durante o período em questão.

Tratei de traçar um panorama sobre os embates

entre estética e política aos modos de produção, das

análises sonoras e das letras de alguns expoentes

desta movimentação que veio após o Manguebeat, à

problematização do próprio termo “pós-mangue”,

enquanto ferramenta de aglutinação e de representação

desta geração de artistas. Enfim, muito foi dito por

mim e muito mais poderia ser debatido com outras

Page 56: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

56

perspectivas e por outros críticos.

Para finalizar essa empreitada, pretendo voltar a crítica

para ela mesma, ou seja, vou falar, agora, do que entendo

não só sobre a crítica especializada, encontrada em

segmentos editoriais restritos, como revistas, jornais

e blogues, mas também a respeito dos veículos de

distribuição da música enquanto dispositivos críticos,

a partir da perspectiva mais ampla da indústria cultural

no embate entre arte, mercado e técnica.

Por conta da autonomia subjetiva proporcionada

pelo surgimento dos microuniversos produtivos, os

artistas, que surgiram a partir da readaptação dos

sistemas de produção das grandes gravadoras, ficaram

deslumbrados com as possibilidades de independência

profissional da carreira, mas acabaram sendo engolidos

por toda essa potência criativa e tecnológica, sem

saberem administrar, de fato, e lutar ativamente dentro

dos novos paradigmas econômicos escancarados pelo

barateamento da tecnologia e pelo uso das redes de

computadores.

Page 57: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

57

Dentro desse panorama, o grande gargalo deixado pelas

grandes gravadoras não está na produção fonográfica

no que diz respeito à gravação, mixagem, masterização,

enfim, à concepção do produto, e sim à distribuição

efetiva desses trabalhos. Além das referências óbvias

quando se fala em disseminação na indústria cultural da

música, como rádio e televisão, a crítica especializada

encontrada nos periódicos impressos e digitais

também reflete essa carência mercadológica; espaços

onde a procura de vanguardas deveria ser mais pela

movimentação política do que pela novidade estética,

aliando uma com a outra, contra o esvaziamento

coletivo. Por essa e outras razões, é preciso pontuar

o pós-mangue mais como momento que veio depois

da era de monopólio das grandes gravadoras do que

como um movimento estético aglutinador. Movidos

pelos ideais estéticos de autonomia, de alteridade e de

autenticidade, esses artistas negligenciam a política de

circulação por meio dos dispositivos institucionalizados

pela indústria cultural da música, por acharem que

esses meios estão contaminados demais ou por não

encontrarem a abertura esperada.

Page 58: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

58

Os dispositivos de distribuição abertos para os

mangueboys não são os mesmos encontrados hoje

em dia, principalmente para Chico Science e Nação

Zumbi, seguido pelo Mundo Livre S/A, que tiveram,

no contexto, o surgimento de uma indústria cultural

voltada para a música jovem, aparatada pelos selos

especializados das grandes gravadoras, como o Chaos e

o Banguela, da Sony e da Warner, respectivamente; pela

crítica especializada da revista Bizz, que tinha surgido

antes em 1985 e conseguia vender, nacionalmente,

uma média de 60 a 70 mil exemplares, e pela chegada

do primeiro canal de TV segmentado do país, a MTV

Brasil, em 1990, que acolheu a movimentação do

Manguebeat em sua grade de novidades e apostas.

Anterior a esta movimentação, a capital pernambucana

foi fomentada pela Rozenblit, de 1954 a 1977. A Fábrica

de Discos Rozenblit dispunha, além da gravadora, de

um moderno parque gráfico, o que dava à empresa

pernambucana autossuficiência na cadeia produtiva.

Entre a falência da Rozenblit e o começo do movimento

Mangue, há um hiato que podemos denominar como

Page 59: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

59

pré-mangue (para dar uma certa afinidade com o nosso

foco de análise). Apesar de distantes, o antes e o depois

do Mangue se assemelham em bastantes aspectos e se

distinguem em muitos outros, obviamente.

O ponto mais relevante de aproximação para a análise

entre o pré e o pós-mangue é o ostracismo. No período

anterior, a obscuridade da cena local deu-se por conta

do monopólio e do casting restrito da era áurea das

grandes gravadoras nacionais. Na época atual, que se

arrasta desde o início do século XXI, esse caráter existe

devido à falta de engajamento por uma produção

fonográfica sustentável, e a principal carência encontra-

se no segmento de distribuição. Aparentemente, tudo

está ao alcance das mãos, mas, na prática, isso não é bem

assim. Os discursos a respeito desse assunto são bem

batidos já: falta espaço nas rádios, não há programas

na televisão que veiculem esses artistas, os jornais não

dão espaço crítico suficiente, não há um engajamento

por parte da crítica etc.

Há muito trabalho sendo feito na internet e por mídias

alternativas, mas não é o suficiente para a promoção

Page 60: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

60

de carreiras duradouras. Há tantas manifestações,

atualmente, querendo ocupar espaços e interferir em

políticas públicas - o que é bastante positivo para o

debate social. O cinema em Pernambuco, por exemplo,

vem tendo conquistas importantes dentro da indústria

cultural, as quais se refletem em mais investimentos,

reconhecimento crítico e circulação do material fílmico.

Já a área da música no estado, apesar de ter excesso

de produção, não consegue mostrar o que é feito,

demonstrando que uma parte preciosa da produção

fonográfica está ainda capengando: a de distribuição

e circulação de artistas e de materiais, pois dependem,

também, da ocupação dos dispositivos institucionais

de financiamento e dos meios de comunicação

tradicionais. Talvez seja o caso de recrutar profissionais

para essa demanda, ou de quebrar os entraves que

ainda existem com as rádios, as TVs e as instituições

públicas e privadas.

Como se organizar politicamente perante à arte, ao

mercado e à técnica, atualmente, é ainda a grande

questão para os artistas do pós-mangue, e vai além

Page 61: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

61

deles. Com essas reflexões e com minha atuação,

enquanto agente na área da música em Pernambuco,

espero contribuir para essa luta contínua ter mais

êxitos e menos retrocessos. Há debates antigos que

parecem ter se esgotado, mas que, na verdade, ainda

precisam ser reforçados e conquistados, de fato, pois

são essenciais para o funcionamento de uma cadeia

produtiva sustentável na música alternativa do estado.

É uma pena que o estado de espírito atual faça com

que tudo esteja fora de moda constantemente, é como

pontuou Bauman: “a modernidade atual é incapaz

de manter sua forma. Tudo é permanentemente

desmontado e reconstruído e, mesmo a reconstrução

já é feita com a perspectiva da transitoriedade”, a

desconfiança é uma coisa positiva e necessária para

o pensamento crítico, mas é preciso também que seja

combinada com uma práxis transformadora, pois, por

mais clichê e anacrônico que pareça, o momento urge

revoluções!

Page 62: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

62

Ricardo Maia Jr.

Rodrigo Edipo

Carlos Gomes

Doutorando em Comunicação pela UFPE, músico da banda Ex-exus e repórter da MI – Música Independente em Pernambuco.

Mestrando em Comunicação pela UFPE, editor da MI – Música Independente em Pernambuco e do site Futebol de Bolso.

Escritor, editor do blogue Outros Críticos e curador do projeto Outros Críticos Convidam.

Page 63: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

63

Este e-book foi composto na tipologia Minion Pro e Bolton, em corpo 14/18/25,2 nas dimensões 600px x 800px, em

formato PDF (Portable Document Format).

Page 64: Entrelugares: notas críticas sobre o pós-mangue

64

“O pós-mangue precisa, mais do

que nunca, do fôlego dos outsiders,

pois os seus principais agentes estão

querendo mudar a cidade, não mudar

de cidade. Os outsiders se encontram

ainda entranhados nesses nichos,

nos entrelugares dessas relações.

Escorregadios e fragmentados! E

isso é um sintoma importante para

a criação, de fato, de um cenário

renovado. Não dá para sufocar mais

o Manguebeat. A cena de música

alternativa pernambucana almeja

reconhecimento e espaço, para

agora! Não daqui a 5, 10, 15 anos,

simplesmente para preencher alguma

lacuna histórica.”

Ricardo Maia Jr.

“A modernidade

atual é incapaz

de manter sua

forma. Tudo é

permanentemente

desmontado e

reconstruído

e, mesmo a

reconstrução

já é feita com a

perspectiva da

transitoriedade.”

Bauman