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Entrevista a Maya

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Revista Nova Era

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CAPA

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Uma personalidade bem conhecida do público, mas qUe nUnca procUroU a fama e nem sonhava dedicar-se ao TaroT. foi o desTino qUe assim o qUis. não deiToU as carTas à nova era, mas ‘abriU o jogo’ e faloU-nos Um poUco sobre si.

Texto: marisa Teixeira fotos: orlando Teixeira

Foi a professora Eunice du-rante duas décadas, e até frequentou o curso de Di-reito. Mas mudou a sua vida de forma radical e transfor-

mou-se na Maya em 1990, quando co-meçou a escrever para o jornal Públi-co a rubrica Astros na Mesa, que mais tarde se começou a chamar Cartas da Maya. A partir daí muitas mais pu-blicações a foram solicitando, e, mais tarde, a televisão. Atualmente, com 53 anos, é apresentadora do Despertar CM, a par de Nuno Graciano, no canal CMTV.

Ao longo de 20 anos ensinou en-quanto professora primária. E o que é que aprendeu?Aprendi que nunca sabemos tudo. Costumo dizer que tenho várias for-mas de lidar com o futuro. Eu lidei sempre com o futuro. Quando era professora do 1.º ciclo com aquelas crianças, que naturalmente seriam o futuro, e no Tarot também. Eu nunca estou propriamente a trabalhar o pre-sente, estou quase sempre um pouco mais além.

“Já nascemos com alguns códigos por cumprir”

maya, Taróloga

Ainda hoje faço formações em Tarot e é muito curioso, porque um dos mo-tivos que me leva a faze-lo é a apren-dizagem. Obviamente, o primeiro motivo é económico, eu vivo do meu trabalho. Mas o segundo motivo é a aprendizagem, porque é raro o curso em que não há um aluno que me co-loque uma questão que eu ainda não tinha visto. Portanto, esta dinâmica do ensino-aprendizagem trago-a do ensino primário. E trago daí também a forma como eu comunico a leitura das cartas, de uma maneira mais fácil e mais facilmente entendível porque me habituei a esse discurso no ensino primário.

O que aconteceu na sua vida que levou a professora Eunice a trans-formar-se na taróloga Maya?Foi o destino. Não vejo outra explica-ção porque nada na minha vida me encaminharia nem para uma carreira na área do Tarot nem para uma carrei-ra pública. Sempre fui uma rapariga normal, que pensava, como qualquer mulher da altura e com uma educação católica, em casar, ter filhos... Ser pro-

fessora era uma boa profissão para este quadro. Eventualmente, fazer depois um curso superior, mas seguir uma carreira de família e clássica. Na minha família não há o culto de qual-quer futurologia. Fui empurrada pelas cartas.

Empurrada pelas cartas em que sentido?As cartas é que se cruzam na minha vida e eu percebi que havia ali um fa-tor que eu tinha de explorar porque aquilo mexia comigo. Eu sempre fui uma pessoa de aprender aquilo que mexe comigo e foram as cartas que me empurraram para isso. Comecei a estudar Cartomancia tradicional, mais tarde Tarot, sempre como hobby. Foram as pessoas que me procuraram que me levaram a ter em determinada altura de assumir isto como carrei-ra. Mas nunca foi um objetivo, como nunca foi um objetivo meu fazer tele-visão. Ser comunicadora e hoje apre-sentadora nunca foi um objetivo. Há pessoas que procuram a fama, vão, por exemplo, a reality shows, fazem tudo pela fama. Nunca foi essa a mi-

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nha intenção. Sou uma famosa por destino, mas não o procurei.

Convive bem com o mediatismo?Muito bem, acho que é fundamental o mediatismo. Costumo dizer que devo aquilo que sou à imprensa, porque eu podia ser a melhor taróloga do país, mas se não tivesse visibilidade nin-guém me procurava. O ‘boca a boca’ é limitado para quem quer fazer uma carreira de uma determinada dimen-

são. E o facto de ter começado no Pú-blico e depois ter passado por outros órgãos de comunicação social... es-tamos a falar de 12 anos de percurso em imprensa escrita, portanto, devo o boom da minha popularidade à tele-visão, mas a base de sustentação da minha carreira é a imprensa escrita. E porquê? Porque os meus colegas jornalistas iam passando por vários media e iam-me sempre chamando... Penso que, sobretudo, sabiam que ti-

nham uma página para fazer e que tinham uma pessoa que não falhava prazos. Isso é uma das marcas da mi-nha carreira: o profissionalismo.

Como define o Tarot?O Tarot é, sobretudo, o método de lei-tura e orientação pessoal. Não tenho a mínima dúvida, ao fim de 20 anos como taróloga, que temos dentro de nós uma série de instrumentos com os quais nascemos e que podemos desenvolver. Há pessoas que têm esse acesso ao desenvolvimento das suas características, das suas potencialida-des, outras têm menos. Mas acredito que já nascemos com alguns códigos por cumprir. Portanto, o Tarot é um oráculo, uma forma de captar aquilo que a pessoa tem como potencialida-des e fazer essa transmissão, e depois a pessoa integrar essa informação como integra outras no sentido de poder lidar com os acontecimentos. Alguns que são voluntários, há o livre arbítrio, mas não penso que tudo na nossa vida seja assim. Penso que há acontecimentos com os quais somos confrontados e que não estão no nos-so livre arbítrio.

E acredita na reencarnação?Obviamente. Aquilo que eu sei de cartas não aprendi só com o que es-tudei aqui... Naturalmente que já tra-zia uma base informativa forte. Não tenho dúvida nenhuma.

E com que cartas se identifica mais? Identifico-me com o Tarot e com os

“As cartas é que se cruzam na minha vida e eu percebi que havia ali um fator que eu tinha de explorar porque aquilo mexia comigo”

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22 arquétipos que lá estão consigna-dos, só trabalho com os arcanos maio-res. O método que eu criei, as cartas da Maya, é um método eclético que mistura a Cartomancia tradicional e o Tarot. Misturei aquilo que sabia da Cartomancia, que para mim era insu-ficiente, com o Tarot, e criei o método Maya, que está patenteado em Portu-gal e lá fora. E sei que pelo menos até há pouco tempo era o único que mis-turava a Cartomancia com o Tarot.

Consegue identificar o perfil da maioria dos seus clientes?Hoje em dia é mais difícil. No início de carreira inseria-se numa classe socioeconómica bastante bem po-sicionada, agora é mais abrangente porque a televisão me levou a todos os pontos do país. Hoje em dia tanto faço consulta a um quadro superior de uma empresa como a uma senhora viúva que passa algumas dificuldades. Faço também para fora, pois onde há um português é possível eu fazer consulta. Austrália, Canadá, Quénia, Zimbabwe, Moçambique, Angola, Brasil, Inglaterra, França... faço-o por telefone, mas em breve vou começar a faze-lo via Skype.

Porque é que a procuram? As prio-ridades das pessoas mudaram?Sim, foram mudando. Nos tempos áu-reos, em que vivíamos acima das nos-sas possibilidades, as pessoas esta-vam mais preocupadas com questões afetivas. Atualmente, procuram-me muito pelas questões profissionais e sobretudo por causa do futuro dos filhos. Sempre se preocuparam com eles, mas não de forma tão dramática como agora.

Hoje em dia o Tarot já é visto com menos preconceito?Não há uma definição muito clara do que é o quê, e nesse aspeto as revistas, a comunicação, têm um papel esclare-

cedor. Uma coisa são métodos de de-senvolvimento e orientação pessoal, outras coisas são práticas, rituais ou crendices. E também há as medicinas populares. Estamos a falar de coisas diferentes. As pessoas tendem a mis-turar tudo, e muitas vezes estas práti-cas estão consignadas a pessoas que não têm qualquer capacidade extras-sensorial. Isso é muito complicado. Hoje em dia penso que a informação que a comunicação social veicula já permite separar o ‘trigo do joio’.

Acredita que o Tarot pode ser uma ferramenta de desenvolvimento pessoal?Claro que sim. Acredito que todas as informações que têm que ver com a pessoa conhecer-se melhor, estar mais preparada para enfrentar o seu dia a dia, é um fator de segurança e, portanto, de sucesso. E o Tarot é uma dessas ferramentas. Não é a única, mas é uma delas, sobretudo nas fases

em que as pessoas se sentem mais confusas e precisam de uma luz.

Qual o tipo de informação que se consegue adquirir numa consulta com a Maya?Há uma diferença crucial entre o Ta-rot e a Astrologia. Em primeiro lugar, acredito que a Astrologia é mais es-trutural, logo, mais potenciadora de um autoconhecimento no âmbito das capacidades de cada um. Para fazer uma avaliação da pessoa e ajudá-la a conhecer-se melhor, eu diria que recorreria à Astrologia. Eu não sou astróloga. Numa análise conjuntural, de momento de vida e de orientação, esclarecimento e lucidez é o Tarot o mais indicado. São coisas que não se excluem, a As-trologia e o Tarot.

E qualquer um pode aprender a lançar as cartas?Não. São capacidades extrassenso-

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riais que a pessoa tem, mais ou menos desenvolvidas. Todos nós temos ca-pacidade de captar vibrações, de per-ceber se estamos num bom ou mau ambiente. Mas nem todos têm capa-cidade de desenvolver isso a ponto de conseguirem captar as energias dos outros e obter os códigos informa-tivos que cada um tem dentro de si. Isso desenvolve-se quando a pessoa tem uma aptidão e um gosto, porque não se é bom em nada se não se gos-tar. A formação em Tarot tem duas componentes: o desenvolvimento das

capacidades extrassensoriais, através do desenvolvimento da intuição, e a interpretação das cartas. A diferença está no lançamento. De-pois de lançadas as cartas todas as pessoas as interpretam, a questão é ter capacidade para as lançar.

E como é que alguém que tira o curso consegue perceber se essas capacidades estão dentro de si?Consegue. O Tarot é muito bom nis-so, tira do caminho quem não presta. Não sei como é que ele faz isso, mas sei que há pessoas que olham e aquilo fica escuro...

As suas palavras numa consulta vão influenciar a vida das pes-soas. Como é que lida com isso?Eu tenho muito cuidado, naturalmen-te, na forma como explico e informo as pessoas sem dar um ar de fatalismo às situações. Porém, tenho a noção de que aquilo que eu digo é influencia-dor. Quais são as minhas ‘defesas’? É um profundo conhecimento do Tarot, é ter muito cuidado com as condições em que deito cartas – não o faço na rua nem em feiras, por causa das corren-tes energéticas, mas sim em ambiente

privado e quando estou bem--disposta. Se não estiver bem, se achar que alguma coisa me afetou, eu digo que não faço a

consulta. Ao fim de milhares de consultas, a confiança que eu tenho nas minhas cartas e que as cartas têm em mim e também a no-ção de que quando falhar de uma forma que eu considere grave deixarei de fazer isto. Penso que será o Tarot que decidirá quando é que eu deixo de ser taróloga.

Quais foram os maiores desafios da sua vida?

Ser mãe. Criar um filho, e a partir de certa altura praticamente sozinha, com a totalidade da responsabilidade nos meus ombros, foi e é o maior de-safio. O meu filho tem 20 anos e ainda não está completamente encaminha-do. Outro grande desafio que tenho tido é moderar alguns excessos da minha personalidade, sou muito radi-cal em algumas coisas, sou Sagitário. Os Sagitários têm uma metade muito evoluída e outra parte é a de cavalo, que é mais dura.

E para as suas decisões recorre ao Tarot?Não posso usá-lo em causa própria, porque não consigo filtrar aquilo que é informação fundamental, mas se ti-ver alguma dúvida recorrerei a uma outra pessoa. Eu não faço auto-acon-selhamento.Curiosamente, antes de mudar a mi-nha vida radicalmente, consultei um oráculo de rua, em Londres, que usa-va o método Cruz Celta, e que me dis-se que a minha vida ia mudar imenso, que ia ser muito famosa, que deixaria o marido com quem estava. Portanto, aquilo para mim não fez sentido ne-nhum mas as cartas tinham razão.

É uma mulher de fé?Sim. Sou uma mulher de fé no sentido em que acredito na força. Na interior e nas forças exteriores e claro que acredito que devemos focar sempre as nossas energias num ato de fé, sem dúvida. Não acredito em nada que se faça sem fé. Acredito numa organiza-ção superior, que para mim se chama Deus, porque foi essa a educação que eu tive. Estou um pouco zangada com

“Atualmente, procuram-me muito pelas questões profissionais e sobretudo devido às preocupações com o futuro dos filhos”

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a igreja há uns anos, porque sei que sou pecadora mas não tanto como a igreja me imputa. Por ser casada num primeiro casamento católico e ter um segundo casamento não católico sou considerada pecadora e não posso comungar nem confessar-me, o que me parece muito desagradável. Espe-ro que haja uma revolução no direito canónico que nos permita ter os direi-tos naturalmente. Penso que o acesso à religião é um direito natural e que não pode ser legislado contrariamen-te a isso. Mas acredito sobretudo nos princípios de Cristianismo.

Ao longo da sua vida já experi-mentou terapias alternativas?Várias. Desde o Shiatsu, ao Reiki e à Terapia Transpessoal, algumas por necessidade, outras por aprendiza-gem. Já fiz formação em Reiki, por-tanto, tenho tido o cuidado de fazer algumas aprendizagens pela prática.

É reikiana, portanto?Claro que sim, sou reikiana. E, hoje em dia, é com muito agrado que já vejo alguns médicos a permitirem o acesso ao Reiki como terapia complementar. Fico muito satisfeita com isso porque já perceberam que há coisas que têm que ver com bloqueios energéticos e a organização energética correta pode ajudar muito a potenciar as curas.

Das terapias que já experienciou qual foi a que mais a marcou?A terapia que mais fez sentido na mi-nha vida foi a Talassoterapia pura. Não estou a falar dos Spa, mas sim de termas marinhas. Há cerca de 16 anos, tive uma crise grave de artrite reuma-toide e a Talassoterapia foi o processo curativo que encontrei, e ainda hoje faço com alguma frequência Talasso-terapia – água do mar aquecida – que faz muito bem a tudo, penso eu, mas no sentido termal, não no sentido es-tético. Essa foi talvez a terapia mais

“Sou reikiana. E, hoje em dia, é com muito agrado que já vejo alguns médicos a permitirem o acesso ao Reiki como terapia complementar”

importante da minha vida, porque me permitiu sair de uma situação de doença para uma situação de controlo de doença e de bem-estar. De resto, todas as outras terapias que tenho praticado me têm sido muito úteis, algumas têm a ver com os mo-mentos. Como se diz, “muitas vidas, muitos mestres”, e, de fac-to, em cada momento há situações que nos são mais úteis e efi-cazes.

A Maya já afir-mou ter uma vida fasci-nante. O que gostava ainda de concreti-zar no seu caminho?F a l t a - m e muita coisa, muitas aprendiza-gens. Quanto às experiências mais mediáticas, falta-me fazer cinema. De resto já vivenciei tudo, teatro, circo, televisão, rádio... Falta-me o cinema, que dizem que é uma arte completa-mente diferente da TV. Hei de faze-lo quando tiver tempo e quando o Leo-nel Oliveira encontrar uma persona-gem que se adeqúe a mim. Ele diz que eu tenho de ser uma personalidade histórica, vamos ver o que ele me ar-ranja... alguma bruxa queimada pela inquisição [risos]. De resto, falta-me fazer tanta coisa... Conhecer outras culturas, viajar, estudar e ler mais, e falta-me continuar a fazer este cami-nho até que isso seja possível. Não me tenciono reformar tão cedo [risos].

Que conselho daria aos leitores da Nova Era?O conselho que dou é que cada vez mais procurem conhecer-se e encon-trar as respostas. Acredito que, mui-

tas vezes, precisamos de apoios, de ferramentas, mas o que é essencial está dentro de nós. E essa procura do autoconhecimento é fundamental porque as pessoas não podem estar constantemente à espera de encon-trar respostas fora de si. E a maior parte das pessoas anda sempre à pro-cura do apoio no amigo, na relação, na família. Isso tudo é importante, nós somos a soma de tudo, mas é muito importante a pessoa conhecer--se, construir-se e gostar de si.

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