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MÚSICA LITERATURA CDS: Marcelinho da Lua LIVROS: Maria Flor DVDS: Alyson Noël ARTIGO: Ésio Macedo Ribeiro ARTIGO2: Clara Averbuck ENTREVISTA: Ken Follett MINIPING: Joss Stone O LADO FATAL DAS DIVAS POP LINGUAGUEM O AVESSO DE MUNCH PERFIL: Herman Hesse CAPA MENINO MALUQUINHO, HOMEM FELIZ DROPS TIRINHAS COLUNA: Thaís Nicoleti GRÁFICO 10+ CULTURA VOCÊ VIVE EXCLUSIVO CULTURA OLHAR TODAS AS EDIÇÕES O relógio marca 12h30 na capital inglesa, Londres, quatro horas à frente do horário brasileiro, quando, cumprindo a tão difundida pontualidade britânica, o escritor Ken Follett atende ao nosso telefonema. “Boa tarde”, diz animado, sem ter noção do clima de sono de que, aos poucos, nos livramos. A conversa com o escritor, sempre gentil e atencioso, é para falar do segundo título da trilogia O século, série na qual ele narra a história do século 20 por meio da Primeira e da Segunda Guerra mundiais, e Guerra Fria – cada uma relatada em um volume. Depois de publicar, em 2010, Queda de gigantes, está marcado para o mês de setembro o lançamento mundial de Winter of The World (Inverno do mundo), a segunda peça da jornada – apenas uma das muitas empreitadas já geridas por Follett. “Agora entendo a história do século 20 muito melhor do que antes. Vejo uma progressão desse período que realmente não via”, revela, mostrando o que conquistou ao escrever os dois primeiros volumes da trilogia. Aos 63 anos, o escritor nascido em Cardiff, no País de Gales, já emplacou mais de 20 best sellers, entre eles O buraco da agulha (esgotado), A chave de Rebeca (esgotado), Pilares da Terra, Mundo sem fim e o próprio Queda de gigantes. Sem o menor interesse em escrever sobre as últimas tendências, a sua verdadeira paixão é pelas histórias do passado. Tanto que, além do livro que encerrará a série O século, ele já planeja escrever um novo título sobre a Era Medieval. Uma produção incessante, mas que se explica com a rotina dura que Follett se impõe no dia a dia. “Gosto de começar bem de manhãzinha, por volta das 7h, e escrevo até as 17h, com algumas paradas para refeições”, diz ele, que divide o tempo com uma série de pesquisas necessárias para embasar suas criações. O lançamento, a composição das personagens – e a relação delas com os fatos históricos – e os males do século 20 são alguns dos assuntos sobre os quais Ken Follett conversa na entrevista a seguir. Ele ainda fala sobre o poder de transformação das pessoas por meio da literatura, além de sua admiração pela obra do escritor brasileiro Jorge Amado. Inverno do mundo, o segundo livro da trilogia O século, será lançado em setembro. Como você se transformou como escritor e ser humano desde que começou a escrever sobre o século 20? Eu entendo a história muito melhor do que antes. Vejo uma progressão desse período que eu realmente não via antes. No início do século 20, existiam pouquíssimos países democratas, a grande maioria vivia uma monarquia. E, nesse pequeno número de países democratas, grande parte do povo ainda não podia votar, como era o caso da mulher. E o que aconteceu no século 20 foi que a democracia e a liberdade triunfaram. Hoje, as pessoas consideram que a melhor maneira de viver é de forma livre e democrática. Há algumas décadas, elas ainda discutiam sobre isso e duvidavam dessa possibilidade. Todos esses fatos, obviamente, explicam a sua decisão de criar a trilogia O século... O século 20 foi o período mais dramático na história da raça humana. Tivemos duas guerras terríveis, líderes tiranos como Hitler e Stalin, armas nucleares foram inventadas, além de diversos conflitos raciais. E também foi a época em que eu e a maioria dos meus leitores nascemos. Então, a história desse século é a nossa história. E o que você espera que os leitores sintam ao ler Inverno do mundo? A primeira coisa que espero é que eles mergulhem na história, fiquem cativados pelas personagens, virem as páginas e se interessem pelo que vai acontecer a seguir. Essa é a principal intenção. Em segundo lugar, espero que, quando terminarem de ler, eles digam: “Agora entendo a história da Segunda Guerra Mundial melhor do que antes”. Sabemos que na trilogia as personagens principais são fictícias. Como você as criou? Primeiramente, pensei em como criar personagens fictícias e como elas fariam parte dos eventos históricos relatados, como guerras e revoluções, e então pensei em mostrar como essas personagens viveriam nesses períodos. Incluindo os jovens, que são obrigados a viver as dores advindas da guerra... Esses jovens são os filhos das personagens principais de A queda de gigantes. É a segunda geração dessas famílias, que passou pela Primeira Guerra Mundial e pela Revolução Russa, e seus filhos têm que passar pela mesma coisa. Então, de certa forma, eles vão terminar de enfrentar o que seus pais viveram, e isso é muito doloroso. Uma guerra é sempre muito dolorosa, já que elas atingem milhares de pessoas de diferentes formas. Aliás, como você imagina que as gerações do século 21 entenderão o século passado? Nós não tivemos uma terceira guerra e estávamos muito assustados com essa possibilidade. O que espero é que as pessoas do futuro olhem para trás e digam: “Foi ali que a guerra acabou”. É possível apontar, em sua opinião, o maior erro do século 20? Acredito que foi quando o Parlamento alemão deu a Hitler o poder absoluto, em fevereiro de 1933. Esse provavelmente foi o maior erro.

Entrevista by Livraria Cultura - Ken Follett

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Entrevista feita pela Livraria Cultura ao grande escritor Ken Follett, autor de vários livros e lançando em 2012 o segundo livro da Trilogia do Século, Inverno do Mundo.

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Page 1: Entrevista by Livraria Cultura - Ken Follett

MÚSICA

LITERATURA

CDS:Marcelinho da Lua

LIVROS:Maria Flor

DVDS:Alyson Noël

ARTIGO:Ésio Macedo Ribeiro

ARTIGO2:Clara Averbuck

ENTREVISTA:

Ken Follett

MINIPING:Joss Stone

O LADO FATAL DAS DIVAS POP

LINGUAGUEM

O AVESSO DE MUNCH

PERFIL:Herman Hesse

CAPA

MENINO MALUQUINHO, HOMEM FELIZ

DROPS

TIRINHAS

COLUNA:Thaís Nicoleti

GRÁFICO 10+

CULTURA VOCÊ VIVE

EXCLUSIVO CULTURA

OLHAR

TODAS AS EDIÇÕES

O relógio marca 12h30 na capital inglesa, Londres, quatro horas à frente do horário brasileiro, quando, cumprindo a tão difundida pontualidade britânica, o escritor Ken Follett atende ao nosso telefonema. “Boa tarde”, diz animado, sem ter noção do clima de sono de que, aos poucos, nos livramos. A conversa com o escritor, sempre gentil e atencioso, é para falar do segundo título da trilogia O século, série na qual ele narra a história do século 20 por meio da Primeira e da Segunda Guerra mundiais, e Guerra Fria – cada uma relatada em um volume. Depois de publicar, em 2010, Queda

de gigantes, está marcado para o mês de setembro o lançamento mundial de Winter of The World (Inverno do

mundo), a segunda peça da jornada – apenas uma das muitas empreitadas já geridas por Follett. “Agora entendo a história do século 20 muito melhor do que antes. Vejo uma progressão desse período que realmente não via”, revela, mostrando o que conquistou ao escrever os dois primeiros volumes da trilogia.

Aos 63 anos, o escritor nascido em Cardiff, no País de Gales, já emplacou mais de 20 best sellers, entre eles O buraco da

agulha (esgotado), A chave de Rebeca (esgotado), Pilares da

Terra, Mundo sem fim e o próprio Queda de gigantes. Sem o menor interesse em escrever sobre as últimas tendências, a sua verdadeira paixão é pelas histórias do passado. Tanto que, além do livro que encerrará a série O século, ele já planeja escrever um novo título sobre a Era Medieval. Uma produção incessante, mas que se explica com a rotina dura que Follett se impõe no dia a dia. “Gosto de começar bem de manhãzinha, por volta das 7h, e escrevo até as 17h, com algumas paradas para refeições”, diz ele, que divide o tempo com uma série de pesquisas necessárias para embasar suas criações.

O lançamento, a composição das personagens – e a relação delas com os fatos históricos – e os males do século 20 são alguns dos assuntos sobre os quais Ken Follett conversa na entrevista a seguir. Ele ainda fala sobre o poder de transformação das pessoas por meio da literatura, além de sua admiração pela obra do escritor brasileiro Jorge Amado.

Inverno do mundo, o segundo livro da trilogia O século, será lançado em setembro. Como você se transformou como escritor e ser humano desde que começou a escrever sobre o século 20? Eu entendo a história muito melhor do que antes. Vejo uma progressão desse período que eu realmente não via antes. No início do século 20, existiam pouquíssimos países democratas, a grande maioria vivia uma monarquia. E, nesse pequeno número de países democratas, grande parte do povo ainda não podia votar, como era o caso da mulher. E o que aconteceu no século 20 foi que a democracia e a liberdade triunfaram. Hoje, as pessoas consideram que a melhor maneira de viver é de forma livre e democrática. Há algumas décadas, elas ainda discutiam sobre isso e duvidavam dessa possibilidade.

Todos esses fatos, obviamente, explicam a sua decisão de criar a trilogia O século... O século 20 foi o período mais dramático na história da raça humana. Tivemos duas guerras terríveis, líderes tiranos como Hitler e Stalin, armas nucleares foram inventadas, além de diversos conflitos raciais. E também foi a época em que eu e a maioria dos meus leitores nascemos. Então, a história desse século é a nossa história.

E o que você espera que os leitores sintam ao ler Inverno do mundo? A primeira coisa que espero é que eles mergulhem na história, fiquem cativados pelas personagens, virem as páginas e se interessem pelo que vai acontecer a seguir. Essa é a principal intenção. Em segundo lugar, espero que, quando terminarem de ler, eles digam: “Agora entendo a história da Segunda Guerra Mundial melhor do que antes”.

Sabemos que na trilogia as personagens principais são fictícias. Como você as criou? Primeiramente, pensei em como criar personagens fictícias e como elas fariam parte dos eventos históricos relatados, como guerras e revoluções, e então pensei em mostrar como essas personagens viveriam nesses períodos.

Incluindo os jovens, que são obrigados a viver as dores advindas da guerra... Esses jovens são os filhos das personagens principais de A queda

de gigantes. É a segunda geração dessas famílias, que passou pela Primeira Guerra Mundial e pela Revolução Russa, e seus filhos têm que passar pela mesma coisa. Então, de certa forma, eles vão terminar de enfrentar o que seus pais viveram, e isso é muito doloroso. Uma guerra é sempre muito dolorosa, já que elas atingem milhares de pessoas de diferentes formas.

Aliás, como você imagina que as gerações do século 21 entenderão o século passado? Nós não tivemos uma terceira guerra e estávamos muito assustados com essa possibilidade. O que espero é que as pessoas do futuro olhem para trás e digam: “Foi ali que a guerra acabou”.

É possível apontar, em sua opinião, o maior erro do século 20? Acredito que foi quando o Parlamento alemão deu a Hitler o poder absoluto, em fevereiro de 1933. Esse provavelmente foi o maior erro.

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E a guerra, em si, é sempre um erro ou, às vezes, necessária? Diria que geralmente é um erro, pois mesmo que você tenha uma boa razão, e nós sempre temos uma razão para tudo, quase nunca alcançamos o que queremos.

Após Inverno do mundo, qual livro encerrará a trilogia? Ele se chamará Edge of Eternity e será sobre a Guerra Fria. Eu quase terminei a etapa de planejamento e espero começar a escrevê-lo em algumas semanas.

A propósito, como você faz a pesquisa histórica para os seus

livros? Normalmente, pego informações de outros livros que leio, muitos livros históricos, memórias e biografias. Ocasionalmente, entrevisto pessoas ou visito lugares. É muito importante para mim que, após escrever os primeiros rascunhos, eu os mostre para pessoas que conhecem as histórias. Então, nos primeiros livros da trilogia, mostrei para diversos historiadores. Eu os paguei para lerem com muita atenção, procurar algum erro e me passar um relatório com todos os detalhes que eu poderia ter esquecido ou escrito errado. Isso é muito importante.

No caso de Inverno do mundo, alguma viagem fez parte do

processo de produção? Bem, eu já conhecia muito bem as cidades citadas no livro, como Berlim, Londres e Moscou, mas fui para a Espanha central, nas ruínas de Belchite. Tem um longo capítulo no livro que fala sobre esse local, durante a Guerra Civil Espanhola. E viajei para lá, onde hoje existem ruínas. Andei pelas ruas em que aconteceram as lutas, visitei as casas destruídas na guerra, tirei muitas fotos e imaginei as personagens da minha história atirando umas nas outras nessa cidade espanhola empoeirada.

Com tantos lugares citados nos livros, você imagina como as

pessoas de diferentes países entendem e encaram o que você

escreve? Sim, penso muito sobre isso. Meus livros são lidos por pessoas do mundo todo, de lugares que nunca vi... São diferentes tipos de pessoas: ricas, pobres, novas, velhas... Então, penso sobre como elas entendem e absorvem minhas histórias. A verdade é que existem coisas que interessam a todos os seres humanos, como o amor e o sexo, as guerras e os perigos que enfrentamos. Se a história trata de alguma dessas coisas, todos podem se interessar.

Você acredita que a trilogia O século pode virar uma série de TV,

como aconteceu com Pilares da Terra? Espero que sim, mas teria que ser bem comprido, porque o ideal seria uma série da trilogia

completa, e não de apenas um livro. E com certeza custará muito caro para ser realizado, então, talvez não aconteça.

Há também outro livro seu que virou série recentemente... Isso. O livro se chama World Without End (O mundo sem fim), que é a sequência de Pilares da Terra, e deve estrear em diversos países até o fim deste ano.

Você participa da criação dos roteiros, seleção das personagens e das filmagens dos capítulos? Não. Deixo para os roteiristas e diretores. Isso porque eles contam uma história em imagens, e eu a conto em palavras. São habilidades bem diferentes.

Após a trilogia, você gostaria de escrever algo sobre o século 21? Não. Meu próximo livro, após a trilogia, será sobre a Era Medieval.

Você já pensou em escrever algo sobre o mundo em que vivemos, cheio de tecnologia e redes sociais como Facebook e Twitter? Não, não sou o tipo de escritor que procura as últimas tendências e escreve sobre as coisas novas. Me interesso muito pelas coisas antigas, que duraram centenas de anos. Gosto muito mais do passado do que do futuro.

E livros feitos para jovens, você tem o hábito de lê-los? Gosto muito de saber o que os jovens estão lendo. Minha neta adora Jogos vorazes, Crepúsculo e Harry Potter. Então, os leio para entender por que são tão populares e crianças e adolescentes gostam tanto.

Os jovens também deveriam ler seus livros, eles iriam gostar... Todo mundo deveria ler meus livros (risos)!

E quais são os seus autores favoritos? Gosto muito de Stephen King, Philip Roth e considero Lee Child o melhor autor do momento.

Qual foi o último livro que te marcou muito? Foi As I Lay

Diying (Enquanto agonizo – esgotado), de William Faulkner, grande escritor americano.

Você conhece a literatura brasileira ou mesmo a história do

nosso país? Já estive no Rio de Janeiro duas vezes, dei algumas entrevistas por lá. Acho que não conheço muita coisa da história do Brasil, mas gosto muito de um escritor de vocês. Acho que ele já está morto... Ele escreveu Dona Flor...

Jorge Amado! Isso mesmo, Jorge Amado! Ele ainda está vivo?

Não, ele morreu há 11 anos. Estamos comemorando o

centenário de seu nascimento neste ano Ele foi um escritor maravilhoso. Adoro seus livros.

Por acaso, você alguma vez aceitou sugestões de amigos ou

fãs para os seus próximos livros? Não, nunca aceito sugestões, pois eles não sabem o que é preciso para escrever um livro. Quando penso em uma ideia para uma história, sei do que preciso, mas as outras pessoas não sabem. Outros escritores com certeza sabem, mas amigos, não. As pessoas sempre dizem: “Tenho uma ideia para sua história, você deveria escrever algo sobre isso”. Eles estão sempre errados, nunca é uma boa ideia.

Em uma entrevista recente, você disse que uma pessoa que lê seus livros nunca mais é a mesma. O seu desejo é sempre transformar o

leitor? Quando você termina um livro, você é uma pessoa diferente daquela que começou a lê-lo. Você conheceu algo novo ou entende o que não conhecia direito. Você experimentou novas emoções. Acho que todos os livros trazem alguma mudança para nós. Quando você lê um livro, aprende

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27/09/2012http://www.revistadacultura.com.br:8090/revista/rc61/index2.asp?page=entrevista

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como é a vida de pessoas que não são como nós e esse é o primeiro passo para entendermos a história. Então, acredito que ler livros é muito

importante, pois eles expandem a possibilidade de pensar, enxergar as coisas e viver de modo diferente. Esse é o começo da sabedoria.

E você, que declarou gostar mais de escrever sobre o passado em vez de imaginar o futuro, acredita em um mundo melhor? Eu sou um

otimista! Acho que as coisas ficarão bem (risos). ©

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27/09/2012http://www.revistadacultura.com.br:8090/revista/rc61/index2.asp?page=entrevista