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28 | Conta Mais entrevista Criar um personagem é tão vital para minha saúde como beber água A vida como e Cláudia Alencar volta às novelas, lança livro e revela que é uma mulher feliz e realizada com a carreira que escolheu H á quase 3 anos longe das no- velas, foi em Vidas em Jogo, trama da Record, que a atriz, escritora e artista plástica Cláudia Alencar retornou para as telinhas, na pele de Adalgisa, fun- cionária de uma grife de moda. Nesse in- tervalo, ficou “enchendo seu poço criativo”, como disse em entrevista exclusiva à Con- ta Mais, por meio de 12 cursos. Escritora desde os 12 anos, hoje coleciona 4 livros publicados, sendo o último, Refinamento e Loucura, a ser lançado em 5 de dezembro, no Rio de Janeiro. Cláudia confessa que escreve para se salvar, mas acaba salvando os outros com esta outra forma de arte. No entanto, é como atriz que ganha o pão nos- so de cada dia, nesses 35 anos de carreira, feliz e realizada, após ter nadado contra a maré. O pai, médico, torcia o nariz para a profissão que ela abraçou. Mas, determi- nada, cursou duas faculdades: a do sonho e aquela que contentaria a família. Nesse bate-papo, Cláudia Alencar viaja ao pas- sado e pensa no futuro com maturidade, sonhos e muitas realizações. Desde 2008 que você não fazia novelas. A última foi Os Mutantes. O que ficou fazendo nesse intervalo? Você também é escritora e artista plástica. Ficou se dedicando a esses outros talentos? Fiz 12 cursos, entre eles de interpretação, com professores do Actor’s Studio; de es- crita poética; de artes plásticas, no Parque Lage; canto particular; de saúde alterna- tiva – Body Talk –; palestras na Casa do Saber, em São Paulo; sobre qualidade de vida, enfim, fiquei enchendo meu poço criativo. Depois, parti para dar vida ao que FOTOS: TONY ANDRADE ww PAG 28a30 - Entrevista - Claudia Alencar e.indd 28 17/11/2011 18:10:59

Entrevista - Claudia Alencar

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28 | Conta Mais

entrevista

Criar um personagem é tão vital para minha saúde como beber água

A vida como ela sempre quisCláudia Alencar volta às novelas, lança livro e revela que é uma mulher feliz e realizada com a carreira que escolheu

Há quase 3 anos longe das no-velas, foi em Vidas em Jogo, trama da Record, que a atriz, escritora e artista plástica Cláudia Alencar retornou

para as telinhas, na pele de Adalgisa, fun-cionária de uma grife de moda. Nesse in-tervalo, ficou “enchendo seu poço criativo”, como disse em entrevista exclusiva à Con-ta Mais, por meio de 12 cursos. Escritora desde os 12 anos, hoje coleciona 4 livros publicados, sendo o último, Refinamento e Loucura, a ser lançado em 5 de dezembro, no Rio de Janeiro. Cláudia confessa que escreve para se salvar, mas acaba salvando os outros com esta outra forma de arte. No entanto, é como atriz que ganha o pão nos-so de cada dia, nesses 35 anos de carreira, feliz e realizada, após ter nadado contra a maré. O pai, médico, torcia o nariz para a profissão que ela abraçou. Mas, determi-nada, cursou duas faculdades: a do sonho e aquela que contentaria a família. Nesse bate-papo, Cláudia Alencar viaja ao pas-sado e pensa no futuro com maturidade, sonhos e muitas realizações.

Desde 2008 que você não fazia novelas. A última foi Os Mutantes. O que ficou fazendo nesse intervalo? Você também é escritora e artista plástica. Ficou se dedicando a esses outros talentos?Fiz 12 cursos, entre eles de interpretação, com professores do Actor’s Studio; de es-crita poética; de artes plásticas, no Parque Lage; canto particular; de saúde alterna-tiva – Body Talk –; palestras na Casa do Saber, em São Paulo; sobre qualidade de vida, enfim, fiquei enchendo meu poço criativo. Depois, parti para dar vida ao que FO

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A vida como ela sempre quisaprendi. Fiz meu quarto livro de poesia Refinamento e Loucura, (que será lançado em 5 de dezembro, no Rio de Janeiro); uma exposição de fotos sobre as mulhe-res, com um dos melhores fotógrafos da Vogue européia, J. C. Bergamo, que deve-rá ser exibida em 2012, e estou captando para minha peça solo A Arte de se Encon-trar, dirigida por Moaccir Chaves.De onde surgiu o dom da escrita? Aos 14 anos ganhei o concurso de poesia nacional, promovido pelo jornal Correio Brasileiro, mas eu queria ser médica. Meu avô foi um médico notório em Campinas (SP). Escrevo desde os 12 anos. Comecei com diários e depois sigo escrevendo dia a dia, que evoluiu para poesia, contos e também continua sendo a forma que en-contro de meditar, me entender e refletir sobre o mundo. Tenho 3 livros de poesia: Maga Néon, Sutil Felicidade e 50 Poemas Escolhidos pelo Autor, todos já esgotados, esperando uma segunda edição. Escrevo para me salvar. E quando publiquei per-cebi que também poderia salvar outros. A arte salva, alegra e alivia. Em quem se inspirou para fazer a Adalgisa? É complicado entrar com uma trama em andamento?Perla Menescal entrou no quarto mês de A Fera Ferida, de Aguinaldo Silva, novela da Globo, mas eu me preparei para fazer o personagem muito. Adalgisa já entrou de supetão, em duas semanas. Estou en-contrando-a aos poucos, fazendo menos, para ver se ela tem a coragem de vir até a mim com seu olhar, andar e personalida-de... Ela está se construindo sob o olhar do público. É um desafio e tanto.Como surgiu o convite?Avancini (Alexandre, o diretor) me con-vidou a fazer a personagem, pois sabia que eu queria muito fazer uma novela da Cristiane (Fridmann, a autora) e com ele.Esta é sua quarta produção na Record, e sob a direção de Alexandre Avanci-ni. Podemos dizer que você é uma das queridinhas dele?Não há panelas na Record. Talvez por ser nova, esse fenômeno ainda não acontece tão claramente. Eu adoro a criatividade, a

sensibilidade, inteligência e meiguice do Avancini, mas não sou a queridinha dele. Ele me chamou porque precisava mesmo de uma personagem com o meu phisique du role, para a trama. Nós trabalhamos a serviço da obra em primeiro lugar. Não tenho favoritismo de ninguém.Podemos dizer que, na maturidade de 35 anos de carreira você já atingiu es-tabilidade financeira, vivendo do que ama fazer: interpretar?Por incrível que pareça sempre vivi de atuar como atriz, seja no teatro, tevê ou cinema. Além do talento, a persistência nessa profissão é fundamental. Não pode-mos desistir nunca, apesar das dificulda-des inerentes, dificuldades que qualquer ator do planeta sofre igualmente. Antes eu dava aula para Faculdade de Artes Cê-nicas (sou Bacharelada e licenciada em Teatro pela Universidade de São Paulo e fiz pós graduação) e trabalhava num cen-tro de artes em que pesquisava sobre tea-tro em São Paulo. Minha vida sempre foi voltada para o teatro; a arte de interpretar e depois para as letras e artes plásticas, mas não ganho o pão de cada dia com essas duas.Olhando para trás, mudaria algo ou fa-ria tudo outra vez? Por que?Gostaria de não errar os mesmos erros. De não repetir padrões. De ser mais ou-sada. Gostaria tanto de ser melhor (rs). Vejo que tinha muitos medos que hoje rio deles, que ultrapassei obstáculos, mas poderia tê-los ultrapassado com mais ra-pidez. Mudaria muita coisa se pudesse voltar no tempo. Lendo meus diários é que vejo minha evolução e minha lenti-dão de aprendizado na vida. Mas sou as-sim. Procuro sempre o meu melhor, mas nem sempre consigo. O que me alegra é que agora não me culpo por isso. Aceito minhas imperfeições.Você pode relembrar quando decidiu ser atriz?Aos 17 anos queria fazer EAD – que era curso de nível técnico e não universitá-rio – para ser atriz. Houve uma discussão terrível em família com meu pai, que me impediu de fazer. Fiz a faculdade de

Cláudia e a filha Cristal

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Sociologia e Comunicações e Artes ao mesmo tempo – uma de manhã outra, à tarde. Sociologia para contentá-lo e Co-municações para me contentar. Sempre dancei, pintei, e fiz teatro de brincadei-ra. Eu me sentia uma criadora, embora com todas as duvidas: será que sou mes-mo? Nasci com a alegria de criar. Pode-ria ter nascido para a alegria de curar. Mas curo com ficção! Acabei virando uma médica! Rsrs.O que enfrentou de dificuldades? Pen-sou em desistir?Na carreira inteira senti dificuldades. Se fazia sucesso, como tantos que fiz, acaba-

va a novela ou o teatro e não tinha mais trabalho para mim... Sempre fui de correr atrás de trabalho. Nunca pensei em desis-tir, porque a alegria, o prazer de estar num palco, num set de gravação, criar um per-sonagem, vivê-lo, é tão vital para minha saúde como beber água.Trabalhou em outras áreas para poder atingir seu sonho? Ou seja, para custe-ar estudos, sobreviver em uma profis-são tão instável? Fui professora universitária e de ensino médio de teatro por 5 anos. E pesquisado-ra de teatro por 5 anos também.Comecei minha carreira profissional com 25 anos

e nunca mais parei, tendo esses trabalhos como fonte de renda durante uns 5 anos. Depois minha atriz foi generosa e me deu o pão de cada dia.Ter chegado aos 60 te assustou ou teve alguma outra idade que a preo-cupou mais? Os quarenta anos me assustaram. Entrada nos enta. Mas agora nada me assusta, por-que penso que sou muito jovem. Imagi-nou se eu tivesse 90? Sou uma garota perto das mocinhas de 90. Penso no futuro, não no passado. E a cada ano fico mais jovem no meu aniversário: mais jovem que o ano que vem! Não é verdade também? Tudo é uma questão de olhar. E meu olhar cada vez mais caminha do escuro para o claro.Você ainda mantém uma afirmativa que fez em entrevista, no passado de que não tem medo da morte? Como se consegue isso?Tenho medo da morte de meus filhos. Muito. Muito. De meus amigos. Da mi-nha? Nasci sozinha. Morrerei sozinha. A Natureza sabe o que faz. Vamos dar fé a ela... ou a Deus, como quiserem pensar... E sei que sou uma mulher muito feliz por-que tive uma carreira que escolhi para ter prazer, dar prazer, para dar cultura, para ter cultura e porque tive filhos e eles são melhores que eu.O que sonha para sua vida daqui para frente? Já está preparada para ser avó? Yann tem 23 anos e mora em NYC e Crys-tal está com 19 anos. Estou sofrendo da tal síndrome do ninho vazio... Passando por ela com solidão e compreensão e alegria, pois eles indo embora é sinal que minha educação foi ótima! Estou preparada para ser avó, mas ainda não estou preparada para não ser desejada (risos). Percebo que a vontade de amar e ser amada perdura sempre na vida. Uma vez li em entrevista sua que é im-portante ter um amor, ter um projeto de vida e não se deixar levar pela carência afetiva. E a vida amorosa, como está? Estou casada comigo. E nos damos mui-to bem! Tenho alguns namoricos que me fazem muito bem, mas nada sério. Estou bem feliz, sem carências. A vida é múltipla.E qual é o seu projeto de vida a curto prazo?Ter saúde, ter e dar alegria. Deixe o go-verno dar o pão- sem corrupção - e nós o circo!”

AMANDHA DE OLIVEIRA

Meu olhar cada vez caminha do escuro para o claro

Numa das cenas de Vidas em Jogo, onde interpreta Adalgisa

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