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Entrevista - Cláudio de Oliveira CENTRO DE MEMÓRIA ORAL DA BAIXADA LUMINENSE Proibida a publicação no todo ou em parte. Permitida a citação textual com a indicação da fonte. Oliveira, Cláudio de. Depoimento, 2002. Nilópolis, CEMOBA Fluminense Cláudio de Oliveira ( depoimento em 15/09/2002 ) NILÓPOLIS 2002

Entrevista - Cláudio de Oliveira CENTRO DE MEMÓRIA ORAL … · emancipação de Nilópolis – Lucas de Andrade Figueira – A criação do município – O ... Academia de Nilópolis,

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Entrevista - Cláudio de Oliveira

CENTRO DE MEMÓRIA ORAL DA BAIXADA LUMINENSE

Proibida a publicação no todo ou em parte. Permitida a citação textual com a indicação da fonte.

Oliveira, Cláudio de. Depoimento, 2002. Nilópolis, CEMOBA – Fluminense

Cláudio de Oliveira

( depoimento em 15/09/2002 )

NILÓPOLIS

2002

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SUMÁRIO

A vida profissional e a paixão pela história – A infância – O movimento pela emancipação de Nilópolis – Lucas de Andrade Figueira – A criação do município – O coronel Júlio de Abreu – A associação de melhoramentos de Nilópolis – A visita de Nilo Peçanha – Manoel Reis e a criação do 7º distrito de Nova Iguaçu – Nova visita de Nilo Peçanha – A mudança de nome – Nilo Peçanha e a história de Nilópolis – O 21 de agosto de 1947 – O crescimento da cidade – Nilópolis hoje – João Alves Mirandela – A criação de burros – O loteamento – A chegada do automóvel – A venda dos lotes – As lutas políticas – Os coretos e o carnaval de Nilópolis – Os jacutingas – Os limites de Nilópolis com 22Km2 – O exército tomou terras de Nilópolis – Os escravos – Revendo a origem da cidade – Os imigrantes – A preservação do patrimônio cultural.

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Ficha Técnica

Modalidade: história de vida

Entrevistador: Cláudio Estevam

Sumário: Carla da Costa Araújo

Local: Nilópolis

Data: 15/09/2002

Tempo de entrevista: 4h e 15 min.

Quantidade de fitas: 05

Texto escrito: 30 páginas

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Entrevista - Cláudio de Oliveira

- CENTRO DE MEMÓRIA ORAL DA BAIXADA

FLUMINENSE-

Cláudio de Oliveira - Eu sou Cláudio de Oliveira, professor de

história, advogado aposentado, nasci em Nilópolis, dia 10 de Outubro de

1926. Meus pais vieram pra Nilópolis em 1920, meus pais se chamavam

Donizete de Oliveira e Tercide de Oliveira. Portanto, hoje eu estou com 75

anos de Nilópolis então conheço está cidade como a palma da minha mão.

Aqui em Nilópolis já fui professor do filgueiras, aqui em Nilópolis sou Diretor

do Museu Histórico de Nilópolis, restaurei a capela de São Mateus fundada

em 1637 e exerci várias atividades, sou diretor, sou membro de várias

Academias de letras, Academia de Nilópolis, São João de Meriti, Nova Iguaçu

e de Mesquita e exerci várias atividades, já fui bibliotecário da Biblioteca

Nacional, fui advogado militante nesta cidade, portanto sou aposentado

porque exerci advocacia por mais de 30 anos, funcionário público 37 anos

consecutivos e hoje, hoje só cuidando da história do nosso município e na

certeza de que podemos contribuir para que Nilópolis mantenha viva a sua

memória, tanto que o Museu Histórico de Nilópolis mantém um acervo de

toda a história desde o ano de 1603, quando aqui foi dada uma sesmaria ao

sopé do gericinó e agora eu estou a aqui disposição para que você as

perguntas interessar a você.

C.E- Eu queria saber do senhor como é que foi a sua infância,

escolaridade, como é que era a formação educacional nessa época?

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C.O - Hoje eu sou casado, tenho 5 filhos, 13 netos, 5 bisnetos, na

minha infância estudei em diversos colégios primários, vim fazer o 2º ano

supletivo no Colégio Filgueiras, fiz a faculdade de Direito no Colégio Cândido

Mendes no Rio de Janeiro, fiz vários cursos de extensão entre eles, extensão

de história e minha vida é uma vida comum, comum como outra qualquer

vivendo servi ao exército em 1947, casei em 1949 e fora disso eu sei que me

dediquei a guardar documentos da história de Nilópolis, mas foi só a partir

de 83, quando me aposentei do Estado que eu comecei a fundo a juntar todo

esse acervo que eu já tinha guardado, e em 1990 construímos o Museu

Histórico de Nilópolis na rua Antônio Cardoso de Melo na área da capela de

São Mateus para guardar todo esse acervo, portanto todo o material que eu

tinha guardado comigo hoje está no Museu Histórico de Nilópolis que

funciona diariamente de 8 ás 17 horas, gratuitamente, e franqueado a visitas

em grupos ou particulares. Ou para material até para teses já cinco, seis teses

foram feitas sobre em Nilópolis com o material colhido e estudado no Museu

Histórico de Nilópolis.

C.E - Como funcionava a educação na sua infância?

C.O- Na minha infância jogava futebol, estudava, soltava pipa, bola

de gude. Quais foram meus colegas de infância: Anísio Abrão David, Simon

Sessim, Miguel Abrão David e muita gente importante que hoje é destaque

em Nilópolis e até em Nova Iguaçu. Com eles eu jogava bola, com eles eu

estudava, com eles eu passeava, a gente fazia nossas farras e eu como jogador

de futebol jogava no Nova Cidade onde o meu pai era o presidente do Esporte

Clube Nova Cidade, único clube fechado de Nilópolis que fica no bairro Nova

Cidade. Fiz faculdade de Direito em Candido Mendes, no Rio de Janeiro,

aqui quando cheguei, eu nasci em Nilópolis perto justamente do campo do

Nova Cidade. E meu pai aos 11 anos me botou para trabalhar eu pegava a

Maria Fumaça aqui na estação, soltava em Madureira ia trabalhar numa

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alfaiataria na estrada Marechal Rangel e esse Maria Fumaça volta e meia, ele

parava em todas as estações, e volta e meia ele soltava aquele carvão da

máquina a vapor e sujava a gente somente aqueles que tinham se pendurado

do lado de fora. Depois em 1938, começou a circular o trem elétrico, foi

encostado o trem Maria Fumaça e começou a circular o trem elétrico. Aí eu

já trabalhava no escritório, de Corretor de Imóveis, do Rio de Janeiro, na rua

1º de Março, e trabalhei lá de 38 à 39 (não me lembro bem) até 1945 quando

me alistei no Exército e me liberei, e fiquei apenas 1 ano e 4 meses e servi na

Fortaleza de São João na Urca e depois, depois dei baixa do Exército. Fui

trabalhar na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, entrei como servente, fui

auxiliar de Biblioteca, depois fui Bibliotecário por Concurso e em 1962 saí da

Biblioteca e vim ser funcionário do Estado do Rio de Janeiro, fiscal de Renda

do Estado a partir de 1962 e me aposentei em 1983 nesse ínterim, nas horas

folgas, nas horas de movimento em Nilópolis eu passava muito pela Avenida

Mirandela que ainda não tinha, não tinha asfalto era barro puro, a maioria

dos terrenos eram alagadiços, a maioria das ruas de Nilópolis não tinham

passagem. Era rua intransitável só tinha mato, como a rua Manuel Reis,

Salgado Filho, Otávio Marques, Augusto Paris, Soares Neiva, em ruas não

tinham passagem, não tinham passagem para carro, só pedestre ou carroça.

Eram ruas cheias de mato. E então eu passava muito por essas ruas pra jogar

futebol nos campos dos outros pelo Nova Cidade. Então eu ia até o Cabral, eu

ia até a Chatuba, andava lá Coronel Júlio de Abreu, fundador da cidade. E com

toda essa locomoção ele foi para Assembléia e apresentou novo Projeto, como

Nova Iguaçu chamava-se Nova Iguaçu pelo Paiol de Pólvora, então essa ruas eu

ia conhecendo, porém, em 1945 surgiu um Movimento da Emancipação de

Nilópolis. Nesse Movimento inclusive eu participava indiretamente porque eu

gostaria que Nilópolis fosse emancipada e com eleição de novos deputados

estaduais pra Assembléia Legislativa. Nilópolis elegeu um deputado estadual

que chamava-se Lucas de Andrade Filgueira, era um dentista prático, ele não

tinha Curso de Odontólogo, ele formou-se pelo Exército porque ele sentou

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praça no Exército no CPOR e todos aqueles que sentavam praça quando

davam baixa vinha com uma profissão cá pra fora e ele então fez Curso

Prático de Dentista e abriu um Consultório na Avenida Carmela de Dutra, ali

lateral à Praça Paulo de Frontin e ali abriu o escritório, o Consultório de

Dentista. E com isso ele se elegeu deputado estadual. Era um cara pândego,

alegre, comunicativo, e Nilópolis conforme sua história desde 1915 já tinha os

seus Blocos Carnavalescos, Já tinha suas Escolas de Samba logo depois veio o

Grêmio Recreativo Teatral de Nilópolis que eu conheci, freqüentei muito,

reuni muito lá, no Grêmio Recreativo, até outro dia quando o prédio foi

demolido, o terreno então veio para o particular, até hoje não se sabe como,

que o terreno estava na mão da Prefeitura, a Prefeitura não ocupou o

terreno, pediu pra construir ali uma Biblioteca Pública, não construiu a

Biblioteca, pediu para construir a Câmara de Vereadores, não construiu a

Câmara de Vereadores hoje sem saber porque o terreno está na mão

particulares e lá funciona uma garagem de carros, pois bem, ai veio 1945, já

se falava na Emancipação de Nilópolis até Lucas de Andrade Filguera ele era

deputado apresentou a emenda à Assembléia Legislativa criando o município

de Nilópolis e ao mesmo tempo ao município de São João de Meriti aí houve

várias discurssões, demorou tempo a votação, a principio a Assembléia não

aceitou porque achava o município muito pequenino, não tinha produção

nenhuma, tinha poucas industrias, duas ou três indústrias e a Assembléia à

principio rejeitou e aprovou outra emenda conseguiu apoio de todos de todos

os deputados e aí a emenda passou, e veio ser promulgada em Agosto de 1947

junto com o de Nilópolis. Então houve o maior festejo da história de Nilópolis

com a inauguração eco instalação do município de Nilópolis. Porque Nilópolis

antes de ser Nilópolis era uma fazenda, era a fazenda São Mateus de

propriedade de João Álvares Mirandela e depois em 1913 veio a ser loteada e

a partir de 1914 começou a construção de residências modestas, a princípio

de pau a pique, a maioria casa de pau a pique, aqui não tinha pedreira, não

tinha nenhuma loja pra vender cimento, não tinha madeireira e de 1914 a

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1918 cinco mil pessoas vieram morar em Nilópolis casas desse tipo, porém, o

Coronel Júlio de Abreu, comerciante do Rio de Janeiro, vendo o anúncio do

loteamento da fazenda São Mateus que ele batizou apenas de Loteamento de

São Mateus chegou aqui encantou-se pelo loteamento e comprou nesse dia 10

lotes, na hoje Avenida Getúlio de Moura era em frente à estação e começou a

construir a casa. Como aqui não tinha areia, cimento, pedra, telhas, ele

alugava um vagão na Estação da Central do Brasil e trazia tudo do Rio de

Janeiro e com esse material ele conseguiu uma casa de alvenaria, areia,

pedra, cimento, areia, telha, piso e no dia 06 de Setembro de 1914 inaugurou

a casa, chamou toda a sociedade do Rio de Janeiro, porque aqui não tinha

sociedade nenhuma, aqui só morava operários que viesse à inauguração da

casa dele e nesse mesmo dia todos acharam que deviam ser a pedra

fundamental da fundação da cidade de São Mateus foi uma festança ainda

tem até retratos tem muitos retratos ainda dos lançamentos da festa da casa

da pedra fundamental, tem o retrato da primeira casa que era a casa dele,

tem as bandeiras colocadas ali ao lado da central do Brasil bem em frente à

Central do Brasil de modo que de lá pra cá, mais tarde ele construiu, e ele

constituiu a Associação de Melhoramento de Nilópolis e depois Associação de

Progresso de Nilópolis onde através dessa Associação ele trouxe água, luz, a

escola antes de Olinda e alguns melhoramentos mais importantes como os

correios telégrafos e Coronel Júlio de Abreu passou a então a ser considerado

o fundador de Nilópolis. E nesse bloco ele tinha os amigos onde ele constituía

o Bloco do Progresso e com o Bloco do Progresso ele chegou até a nomear um

secretário dele em 1918, o Governo Epitácio Pessoa, quando ele foi escolhido

num Congresso de Prefeitos como Governador de Nilópolis então o coronel

Júlio de Abreu chegou a ser simbolicamente o Governador de Nilópolis e ele

nomeou todos os seus amigos que ajudaram a fundar Nilópolis como os seus

Secretários. E isso durou pouco mais de dois anos quando ele criou a

Bandeira de Nilópolis e criou o hino de Nilópolis e depois fundou a Revista, a

Revista Nilópolis - Jornal era a mais bonita revista da Baixada Fluminense.

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Foi editada 48 números lançada em 15 de novembro de 1918 parou, em 1921

com o lançamento de 41 números da revista vendeu apenas 24 números, os

primeiros 24 primeiros números da revista contando o acervo da história de

Nilópolis. E a cidade já palpitava antes da emancipação, da sua emancipação

porque em 1916 vindo aqui Nilo Peçanha que era presidente do Estado,

Senador da República, aqui veio a convite do Bloco do Progresso de Nilópolis

e ele achou muito bonita a cidade já com dois anos, uma cidade bem alinhada

com ruas todas abertas porque o Júlio de Abreu mandou, mandou abrir

todas as ruas, mandou capinar todas as ruas para poder fazer loteamento às

ruas só não tinha meio fio, nem piso, mas pelo menos capinadas, capinadas as

ruas estavam, alguns tinham chácaras de laranjas e lavouras e então quando

Nilo Peçanha veio à Nilópolis em 1916 surgiu à idéia de Nilópolis deixar de

ser um loteamento para ser uma cidade. Aí o Manoel Reis que era deputado

estadual e alguns amigos de Nilópolis foi pra Assembléia e propôs que

Nilópolis deixasse de ser loteamento para ser Distrito de Nova Iguaçu, já

passou Nilópolis a ter praticamente uma semi – emancipação Nilópolis que

era ligado a São João de Meriti passou a ser ligado à Nova Iguaçu já como

Distrito independente já era o 7º Distrito de Nova Iguaçu e Nilópolis depois

passou a ser a Sede do Distrito, já tendo uma semi – emancipação.Com isso

Nilópolis então começou a crescer, a crescer de tal maneira que em 1921, Nilo

Peçanha voltou novamente à Nilópolis e ele agora era Senador da República

tinha sido ministro das Relações Exteriores, tinha sido Presidente da

República, voltou a Nilópolis passeou de bonde a burros e Nilópolis teve

bonde a burros de 1915 a 1921 e percorreu toda a cidade a pé e de bonde a

burro, na Avenida Mirandela, conheceu à Capela São Mateus, conheceu o

Morro do Progresso onde estava sendo construído a Caixa – d´água de

Nilópolis e depois foi homenageado com um churrasco em Nilópolis e com um

jantar na casa do Coronel Antonio Benigno Ribeiro que era o vice –

presidente do Bloco do Progresso de Nilópolis. Quando ele foi embora, depois

de todas as homenagens que ele recebeu aqui e logo começou o Movimento

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para tirar o nome de São Matheus para o de Nilópolis. O livro da Fundação

da História de Nilópolis que eu tenho assinado, pelo Nilo Peçanha onde ele

escreve que conheceu cidades no mundo onde que deve-se hoje, isso em 1921

a reis e a rainhas e a presidentes e que Nilópolis se orgulhava de ter, naquela

época, mais de cinco mil moradores, e que essa divida era notoriamente

exercida pelo, queriam que essa homenagem fosse para Nova Iguaçu.

Rejeitaram e acabaram aceitando para Nilópolis, só a partir de 1920, em

Nilópolis, ou melhor, antes a terra era conhecida como Nilópolis, a Revista

Nilópolis Jornal já tinha o título Nilópolis Jornal e era de 1918. Então no dia

1º de Janeiro de 1921 foi colocada uma placa, na parada do trem Maria

Fumaça e até hoje na estação de Nilópolis, uma placa com o nome da estação

Nilo Peçanha. Foi uma festa muito bonita com banda de música, com trios,

uma homenagem ao coronel Júlio de Abreu e Nilo Peçanha que estava

fazendo da cidade, uma antiga fazenda, uma cidade importante. E foi

justamente esse predicado da emancipação de Nilópolis que fez com que a

população quisesse que Nilópolis fosse emancipada, emancipada estava à

cidade, o município em 21 de Agosto de 1947. Com a presença do

Governador do Estado, presença de vários deputados estaduais e no dia 21 de

Agosto na Praça Paula de Frontin feita sessão solene de instalação do

município de Nilópolis e de 1947 pra cá, Nilópolis começou num crescer

extraordinário. Foi o município que mais cresceu na Baixada Fluminense.

Pelo tempo de existência, Nilópolis, de 1914 até hoje cresceu

proporcionalmente mais que Nova Iguaçu, São João, Duque de Caxias, e hoje

Nilópolis tem mais de 200 mil habitantes, mais de 50 mil casas construídas,

Nilópolis hoje tem muitas casas comerciais importantes filiais do Rio de

Janeiro, Nilópolis hoje tem uma rede bancária de quase todos os Bancos do

Rio de Janeiro, Nilópolis hoje tem a maior Rede de Ensino Municipal, tem 14

Escolas Públicas, Nilópolis hoje tem mais de 40 escolas de 1º e 2º Grau,

Nilópolis hoje tem três faculdades, São João tem uma, Caxias tem outra,

Nova Iguaçu tem outra e Nilópolis já tem três faculdades. Pra vocês vêem a

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importância do ensino, hoje Nilópolis tem 90% de alfabetização, recebeu em

1999 o prêmio da UNICEF pelo maior nível de escolarização, Nilópolis hoje

não tem mais que 5% de analfabetos, Nilópolis hoje tem o um Hospital de 1º

categoria Pronto Atendimento, está construindo no Cabral no Paiol de

Pólvora um 2 º Hospital, tem várias casas de saúde, Nilópolis tem várias

Praças Poliesportivas, vários Ginásios Esportivos, tem vários clubes de

futebol e inclusive o Nova Cidade já disputou a Liga de Profissional do Rio de

Janeiro, hoje não está disputando mais, Nilópolis tem a sua Guarda

Municipal, Nilópolis tem a sua Guarda de Trânsito, Nilópolis tem vários

Centros Culturais, inclusive o Centro Cultural da Prefeitura de

Nilópolis.nome de São Mateus porque em São João de Meriti uma cidade

chamada de São Mateus e a correspondência que às vezes tinha que vir para

Nilópolis ia parar em São João de Meriti, lá também tinha esse nome, tinha

não, ainda tem até hoje! Então começou o Movimento para mudar o nome de

São Mateus para Nilópolis em homenagem a Nilo Peçanha e foi o mesmo

Manoel Reis que mudou Nilópolis do 4º Distrito de São João de Meriti para

7º de Nova Iguaçu que apresentado na Assembléia, o Projeto, mudando o

nome de São Mateus para Nilópolis, em homenagem a Nilo Peçanha e o

projeto apresentado em 1920, ele foi rejeitado porque o deputados alegavam

que Nilópolis era uma cidade muito insignificante, que não tinha estrutura

pra homenagear um homem da importância de Nilo Peçanha, podia ser

qualquer nome, menos Nilo Peçanha. Manoel Reis justificou que Nilo

Peçanha já tinha estado duas vezes em Nilópolis, escreveu no livro da

Fundação da História

Então Nilópolis era muito bem administrada, Nilópolis pode ser

considerar um município de 1º classe, Nilópolis não tem uma rua que não seja

asfaltada, em Nilópolis todas as casas tem água e luz, Nilópolis hoje é

considerado um município padrão, da Baixada Fluminense, Nilópolis tem ainda

6 escolas publicas estaduais e tem seu Correio Telégrafo e tem uma Delegacia em

pleno funcionamento, uma Delegacia que hoje é Delegacia Legal e Nilópolis está

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pouco a pouco obtendo ainda há o problema de falta d’água porque a nossa

Caixa-d’água está desativada e ela agora vai ser reativada e o Estado vai

construir outra Caixa-d’água, agora mesmo está vindo uma nova Rede de água

por São João de Meriti para melhorar o Abastecimento d’água da cidade.

Nilópolis é uma cidade limpa, bem asseada ? de lixo, porque alguns moradores

não pagaram seus impostos, mas hoje não temos problema de impostos e

Nilópolis tem bastante obras na cidade, e isso pra nós é um orgulho, e eu que

estou aqui desde 1926 sinto orgulho dessa cidade e sinto prazer em falar nela.

Nessa cidade o que está faltando é um pouco mais consciência do cidadão daqui,

emparedar o rio Sarapuí e o rio Pavuna . Porque correm a céu em aberto.

Tanto a população, quanto os antigos moradores, jogavam tudo no rio, muito

lixo, e hoje esse rio praticamente está sem passagem para água. Qualquer

chuvinha alagava a cidade de Nilópolis, o rio Pavuna subia de 1 à 2 metros, o rio

Sorapuí subia de 1 à 10 metros e até hoje eles continuam cheios de sujeira,

porém, em 1999 foi construído no Gericino duas represas porque a água

acumulada,uma enchente, porque alagavam o Gericino e a água vinha toda pra

Nilópolis e com essas duas represas, a água fica represada dentro do Gericino e

não tem 6 anos ou 7 anos que não tem uma enchente em Nilópolis. Com a

represa pouco a pouco vai soltando a água e não chega a inundar a cidade. E

esses 2 rios inclusive, foram rios importantes na história de Nilópolis, por esses 2

rios, Sarapuí e Pavuna, que eram rios coloniais, passavam barcaças

transportando a produção da lavoura, de Nova Iguaçu, de Nilópolis, de São

João, do Cabral e então muita coisa embarcava descia de Nilópolis, de Pavuna à

hoje estação de Pavuna, de Sarapuí até Magé. E por muito tempo, Nilópolis que

tinha o seu canavial produzia através do moinho a cana-de-açúcar uma

aguardente que descia os dois rios com destino aos poços, às margens da

Guanabara para embarcar em navios com destino à corte e a Portugal. Então

quase toda a produção de aguardente que se chamava cachaça, o açúcar era o

açúcar colocado em caixa a aguardente colocada em tonel e era destinável à

corte e á Portugal. Esse canavial começou em 1603, veio a acabar com a

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Abolição da Escravatura, então os escravos abandonaram a fazenda, aí a

lavoura morreu e a cidade passou a ser uma fazenda com árvores gigantescas.

Até que em 1913, como nós já falamos, essa fazenda veio a pertencer à João

Alves Mirandela.

Prof. Estevam: O senhor João Alves Mirandela, ele veio a falecer aqui

mesmo em Nilópolis ?

Cláudio Oliveira: Não, João Alves Mirandela era um alto comerciante

de burros, criador de burros, morava na fazenda de Irajá e ele era praticamente

dono de toda a área de Irajá e adjacências, aí dedica-se à criação de burros,

porque o exército e muitos moradores não tinham outro meio de transporte no

meado do século XIX senão transporte a burros, que era pra puxar o bonde,

puxado a burros que era para as charretes, que era para os tílburis que era um

meio de transporte dos homens importantes da época e ele então passou a

expandir de Irajá para a baixada. Os burros, sendo ele o maior vendedor de

burros para o exército, para as estações de bonde puxados a burro do Jardim

Botânico, Copacabana, e várias, e Campo Grande tinha bonde puxado a burro

porém em 1866 a fazenda São Mateus veio a pertencer a Barão de Mesquita. O

Barão de Mesquita era um homem arqui-milionário já era o dono de fazenda de

Mesquita, já tinha sido presidente do Banco do Brasil, tinha sido vereador no

Rio de Janeiro, e ele era riquíssimo ele comprou a fazenda em 1866 ele era

muito amigo do João Alves Mirandela, um dia encontrando-o, pois ele

perguntou ao Barão de Mesquita se queria vender a fazenda, ele disse que não

estava interessada por enquanto à vender, mais se ele quisesse, ele iria arrendar

para ele. Porque ele sabia que tinha uma criação de burros e a fazenda São

Mateus fazia divisa com a fazenda do Gericinó que era bem perto da Vila

Militar, ai arrendaram. Ele arrendou a fazenda e transferiu a criação de burros

de Irajá para a fazenda de São Mateus. Só que havia entre Nilópolis, entre a

fazenda de São Mateus e o Gericinó uma cerca de arame farpado, e ele o que fez,

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para que o gado se espalhasse por dentro da fazenda de São Mateus, separou 1,5

Km da fazenda Gericinó e fez também uma cerca de arame farpado para a

criação de seu gado e começo a criação, e vendendo e negociando esse gado para

o Exército e para aquelas pessoas e empresa interessadas. A Prefeitura mesmo

usava bonde e carroça, puxava burros para pegar o lixo e a própria prefeitura

comprava uns 200, 300 burros. O Exército comprava também quantidade

grande 200, 300 burros. Quer dizer, era muito bondinho puxado a burro porque

o trem vinha até o Deodoro, o soldados desembarcavam e pegavam o bonde

puxado à burro e iam para a Vila Militar e neste ínterim a partir de 1910

começaram a chegar no Rio de Janeiro, os primeiros automóveis trazidos por

Rui Barbosa, Barão do Rio Branco e outras figuras que tinham recursos na

ocasião e a venda de burros começou a cair, de tal maneira que o Exército e

outras repartições a não ser ainda o Jardim Botânico e outras cidades que

tinham bonde puxado a burro e a Prefeitura ainda usavam burros, mais em

1913 João Alves Mirandela resolveu acabar com a criação de burros e vender a

fazenda. Nisso ele chamou um dos seus filhos de criação que chamava-se Vitor

Ribeiro de Faria Braga, não era parente, Mirandela era solteiro, não tinha

filhos de espécie nenhuma, no entanto, quando ele morreu, no seu Inventário,

apareceram 92 herdeiros, só na fazenda de são Mateus, qualquer pessoa que

trabalhava com ele seja na fazenda, seja em qualquer atividade que ele tinha

como dono de casa em questão com o filho dele eu tenho a cópia do Inventário

onde ele vai destinando a cada filho logo depois do seu falecimento, um pedaço

da terra e ai então Vitor Braga foi o primeiro afilhado dele. Depois veio o

irmão, João Murilo vieram outros, outras pessoas, só que o mais importante foi

Vitor Braga e mandou que vendesse a fazenda, o filho convenceu que não havia

necessidade de vender a fazenda, porque Nova Iguaçu estava criando vários

loteamentos e porque ele também não loteava Nilópolis, ele virou-se para o Vitor

Braga e disse, se você conhecer alguém que queira lotear vai ser então onde está

o loteamento. Vitor Braga conhece um engenheiro que trabalhava na Central do

Brasil ele convidou o engenheiro para saber se ele seria capaz de construir uma

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planta da fazenda para um loteamento, ele prontamente ofereceu , em 1913 ele

já começou, já mandou desmatar a fazenda pra que o próprio ficasse todos

limpos ele providenciou o loteamento e eu tenho o mapa desse loteamento , de

1914 registrada em 1915, eu tinha essa planta lá no museu, então depois desse

loteamento é que surgiu a cidade e o João Alves Mirandela que voltou a morar

em Irajá. Porque ele não morava aqui, ele vinha aqui mas não morava aqui, ele

voltou para Irajá. Mas todos os domingos ele vinha aqui para assinar a

Escritura da venda dos lotes havia um prédio ali, havia não, há um prédio ali

enfrente a estação, havia um prédio baixinho, ate hoje existente na faixada lá,

1915 ele vinha ali no ponto histórico de venda dos lotes e começou a dar a venda

dos lotes a partir de 13 de março de 1914. E ele vinha todos os domingos à

Nilópolis somente para assinar as Escrituras, em 1918 veio a febre espanhola,

muita gente morreu na ocasião, porque estava cheia a lagoa, a enchente trouxe

doenças muita gente saiu da cidade, largou seus bons vizinhos aqui, suas

casinhas, foi pra outros lugares, mas depois que passou a crise alguns

começaram a volta mas ai já tinham atrasado 4,5,6 prestações do lote, então

procuravam ele que deixava longo prazo praz pessoas quitar seus lotes, não

tomou lote de ninguém. Todas as pessoas que tinham os seus lotes ou por

moradia ou por chácaras como outras atividades até com pequeno comércio, ele

anistiou e deu novo prazo para que eles continuassem a pagar, e ele dava as

Escrituras de um modo que ele fez isso até 1923 e em 1923, com 93 anos de idade

ele veio a falecer, o Vitor Braga por sua vez não tinha mais nenhum lote do lado

de cá pra vender, juntou-se ao filho dele, Otávio Braga, que tinha herdado o

lado de lá , através de um avô, Lázaro de Almeida, também em 1919 começou a

lotear o lado da Torre da Light e Vitor Braga passou a ajudar o filho no

loteamento do lado de lá e esse loteamento foi tão rápido quanto o loteamento

do lado da Mirandela e em pouco mais de 8 ou 9 anos não tinha mais um lote do

lado de cá para ser vendido, foram todos vendidos a maioria à gente pobre e

alguns até com recursos, mas não construíram nada aqui, não construíram

nada, alguns abandonaram, alguns deram os lotes e outros abandonavam o

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loteamento um pouco avançados e até a pouco tempo não tinha lote, que não

tinha propriedade, que não tinha proprietário porque muitos quando alugaram,

pagaram e pegaram a Escritura, os lotes ficaram abandonados, chácaras ou

lotes mesmos alguns vazios foi quando um dos herdeiros dele, Francisco

Ferreira Mirandela, que tinha recebido como herança uma média de 500 lotes

como herança e ele, Francisco Ferreira Mirandela até os anos de 1950, ele

andava em Nilópolis, mas começou com muita cachaça e morreu com cirrose.

Que fez ele? - Sabendo de que muitos destes lotes, alguns proprietários antigos

não tomaram conta e passou a então a negociar esse lotes e chegou a vender

mais de 2.000 lotes em Nilópolis, fazia qualquer negócio. Até as vezes por um

copo de cachaça ele dava um lote. Ia no Cartório e comprava a escritura.

Arrumou aqui um Corretor de Imóveis muito malandro que ajudou ele a vender

ou lotes que estavam abandonados e alguns lotes que ainda eram dele. Então foi

o último herdeiro que eu conheci em vida do João Alves Mirandela há outros

herdeiros no Rio, tataraneto dele, bisneto dele, da família Malta, dos cocheiros e

fotógrafos do Rio de Janeiro. Mas quem não teve interesse nem veio ver terra de

Nilópolis. Os que conseguiram as terras venderam as terras, doaram as terras,

nunca tiveram interesse. Depois essa terras, como nós falamos, que hoje se

constitui o município de Nilópolis, depois em 1947 veio um prefeito que

chamava-se João Moraes Cardoso Júnior que veio depois ser mais 2 vezes

prefeito de Nilópolis. Era uma pessoa muito educada, muito fina, eu gosto muito

dele, porém, tinha um defeito muito grave, gostava de beber cachaça, ele

acordava 5 horas da manhã, já estava rondando as ruas de Nilópolis pra ver por

onde andavam os trabalhadores e a partir das 5 horas, 5 e meia, quando os

bares abriam, ele parava de bar em bar e tomava um palhinha de cachaça. Mas

mesmo assim, não caia não, depois de meio-dia depois de almoçar, de tarde

voltava à Prefeitura, então 5 e meia, 6 horas ele já estava no Depósito da

prefeitura distribuindo tarefas as trabalhadores, porém, depois dele foi eleito o

prefeito Egídio Mendonça Thuler, ele só ficou 3 anos dirigindo Nilópolis. Era

uma pessoa que nunca dizia não, qualquer pessoa que chegasse aos pés dele

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perguntasse se ele podia construir uma casa, assim sem fronta, ele dizia, oh meu

filho vai lá, construir sua casa, depois agente manda legalizar. E muitas casas,

naquela ocasião foram construídas até no meio da rua obrigando aqui que o

prefeito que entrasse depois, que tivesse que mandar demolir, por que não

havendo loteamento mais nenhum pra fazer, e as ruas cheias de mato por todos

os lados as pessoas nunca subiam se estavam construindo dentro do lote ou se

estavam construindo no meio da rua.

Prof. Estevam: Aqui em Nilópolis tem muitas ruas pequenas, ruas sem

saída, será que foi por causa dessa construção irregular, ou isso já tinha sido

planejado por causa da falta de espaço?

C.O._____ Não. Aqui no princípio onde foram loteados não havia

nenhuma rua sem saída. Eram todas ruas diretas, as ruas começavam no Cabral

e acabavam na Chatuba, começavam na avenida Mirandela acabavam na

estrada de ferro, começavam na estrada de ferro e iam até Estrada da Rio

d’ouro em São João de Meritir. Começavam da Pavuna e iam até o rio Sarapuí,

e não tinham calçamento depois foram sub-loteamentos, pequenos lotes, depois

dividiam os lotes começou a fazer, mas já foi recente, já foi 1950, 51,52 então de

2 lotes, eles faziam 4 ou 5 lotes menores, aí acabaram fechando tinha beco sem

saída como tem até hoje. Tinha rua que só era pedacinho d’uma rua, a outra,

abria dessa rua a outra rua abriu uma avenidazinha que não era sem saída, mas

era uma rua legalizada, sabe! Aí depois de uma rua foram todas legalizadas

agora existe registro pra Prefeitura, pra Light, pro Correio e Telegrafo, pra todo

o mundo as ruas constam no catálogo telefônico de um modo essas ruas foram

todas loteadas com bastante propriedades. Hoje Nilópolis também tem uma

grande Rede de Telefones, mas de 80 % das ruas de Nilópolis já tem telefones

públicos telefones particulares nos temos hoje em Nilópolis uma divisa São João

de Meriti um depósito de lixo que guarda, que recolhe o lixo de Nilópolis, um

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grande Depósito de lixo, nós temos hoje várias entidades de Prestação de

Serviços, há muita gente da Prestação de Serviços se não fosse como Clínicas

particulares, como Escolas de Datilografia, afinal Nilópolis hoje, sinceramente,

não tem do que se arrepender do que fez, e do que precisa, oh, eu vou aproveitar

aqui, a lembrança do dia 14, ficou 3 anos como prefeito, foi eleito Egídio

Mendonça Thuler que veio transferido de Itaperuna para Nilópolis, pra ser

guarda de barreira, guarde de barreira é aquele guarde que faz a Divisa faz

toda a mercadoria passar de um lado para o outro sem nota fiscal a mercadoria

era apreendida e essa Divisa ficava em Olinda, depois da permissão se elegeu

vereador, em 1950 se elegeu prefeito de Nilópolis. Ele era semi-analfabeto, um

cidadão alto, de corpo uma certa compostura, não faltava muito bem mas se

dava bem com todas as pessoas. Casado com Dona Nélia de Mendonça Thuler,

uma senhora muito educadinha.

Então tudo que ele era precisava fazer em Nilópolis, ela mesma dirigia.

Ela o orientava muito, não só na prefeitura como nas obras públicas. Nilópolis

estava asfaltada só até avenida Mirandela e a avenida Mena Barreto, com

paralelepípedo. As outras ruas não, tinham passagem nem para burros. Ele

mandou abrir todas as ruas de Nilópolis, com meio fio, mas a prefeitura não

tinha dinheiro. Ele foi ao governador do estado, levou o projeto dele, foi até a

Assembléia com o projeto dele. Sendo que ele prometeu a população a realização

dessas obras e o governador do estado mandou que ele relacionasse o que ele

precisava para cumprir seu projeto.Então ele trouxe naquela ocasião duas motos

niveladoras, cinco caminhões, dois vasculhantes, tudo de segunda mão do estado.

Ainda mandou 50 trabalhadores e ele que havia nomeado o secretário de obras

que semi-analfabeto como ele chamava-se Marinho Gonçalves Viana, ele

chamou o Marinho e disse: fiz um contrato com o governador do estado. Ele vai

mandar trazer, no principio do ano que vem, máquinas necessárias e nós vamos

abrir todas as ruas de Nilópolis, Mário Reis, Salgado Filho, Otávio Ávila,

Augusto Paris e depois vamos passar pro lado de lá, aí o Marinho Gonçalves

Viana aceitou a idéia: pode mandar que eu vou, que nós vamos executar 9 mil

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réis do ano seguinte, ele começou pelo Manoel Reis, foi pra Salgado Filho, foi

abrindo até a rodoviária. Abriu todas ruas e mandou botar meio-fios, e depois

Nova Iguaçu, a vez de pedreiras ofereceram, algumas venderam mais baratas e

outras cederam meio-fios e as ruas começaram a aparecer, foi aí que

apareceram casas no meio da rua e ele fez um acordo ao invés de existir muitos

lotes como anda aqui que a prefeitura marca e é da prefeitura, ele cedia um

terreno na rua loteada, onde fica o terreno e colocava para construir, aí a rua

de lá, a Mirandela já estava aberta, já estava com o meio-fio até à Batista das

Neves , e lá pra cá, não tinha ainda, era barro, terceiro já tomava esse barreiro

aí ou então se saia de casa, usava o sapato, ia a pé até a estação, e na estação

lavava os pés e botava os sapatos para ir trabalhar lá no Rio de Janeiro. Porém

começou a fazer do lado de lá todas as ruas até a beirada do Sarapuí em 4 anos

já abriremos todas essas ruas, e botou meio-fios nessas ruas todinhas depois,

mas não deu tempo de fazer do lado de lá. Como as obras já estavam

terminando, e ele não teve tempo, a não ser depois que eu voltei lá, ainda

conseguiu fazer a Mena Barreto. Depois foi eleito prefeito João Morais Cardoso,

na verdade reeleito, sob o comando do deputado Lucas de Andrade Figueira, e

Lucas achava que mandava em João Cardoso qualquer bairro que necessitava

de melhoria, Lucas nomeava todo pessoal da prefeitura, qualquer pessoa da

prefeitura tinha que consultar Lucas não interessava o que ele ia fazer ou não. O

Egídio não deu voto ao Lucas não. Era com o governador do estado, ele não

tinha nada que dar satisfação ao Lucas. Mas o Lucas quando teve a reeleição da

câmara, o Lucas fazia toda eleição ele elegeu a deputado da câmara foi assim

como João Cardoso foi assim ao meio mandato do Egídio Mendonça Thuler .Só

que no terceiro mandato Egídio assim não você agora não vai se eleger a

deputado da câmara, quem vai eleger a deputado da câmara sou eu, assim

começou o atrito entre Lucas e Egídio, de vez em quando, um acusava o outro,

xingavam, brigavam e os vereadores que apoiavam o Lucas xingavam o Egídio e

os que apoiavam Egídio xingavam o Lucas até que veio a eleição do terceiro

mandato e o Lucas pra ter certeza que ganhava a eleição da câmara pegava os

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vereadores dele e levava pra Niterói pra que Egídio não comprasse com eles e

ele perdesse a câmara. Só que no terceiro mandato ele levou os vereadores para

de Piratininga, Niterói, só que um dos que estavam com lá com eles, por fora

estava negociando com Egídio negócio separado, quando houve a eleição, este

que estava negociando com Egídio chamava Chambarelli, foi eleito presidente

da câmara e Egídio perdeu e Lucas perdeu, aí começou a briga todinha que o

Lucas ia matar o Egídio, vou matar esse velho safado pilantra, você vai ver, aí

saiu disparando por aí pela Assembléia, meteu o pau no Egídio, - porque Egídio

estava fazendo obra mal feita em Nilópolis, etc.., um dia os dois se encontraram

pessoalmente, ali, na rua Carmela Dutra, não se falaram, aí o Lucas subiu até o

consultório dele e Egídio parou como ele parava toda tarde num bar que tinha lá

em frente o consultório dele pra tomar café, aí o que fez o Lucas? Chamou um

dos capangas dele e falou assim: aquele safado tá mau armado, alá no balcão,

vai lá e mata ele. Mas o cara era tão ruim que os capangas dele deram três tiros

e logo depois quando ele vinha descendo a escada, avisaram:- Egídio, Egídio,

esconde aqui atrás do balcão olha quem está vindo te matar e o cara, um dos

capangas, entrou atirando pra trás do balcão, mas não matou poucos metros de

distância errou e tiraram o Egídio daí, ele foi para casa e ainda foi pra

Assembléia, falou com todos os deputados estaduais, que repudiaram o que fez

Lucas, criticaram ele, rebaixaram ele. Sabe o que aconteceu? A partir daí ele

passou a ser chefe de Nilópolis. Lucas não mandava mais nada aqui, só o Egídio

que mandava, aí veio a eleição para o Roberto Silveira, ele se elegeu deputado

estadual, Roberto Silveira se elegeu a governador e ele passou a mandar em tudo

de novo,né? E o Lucas não mandava mais em nada, foi pra São João de Meriti e

passou a mandar em São João de Meriti. O deputado Figueira era um cara

bonachão, tem uma cara larga, de boa estatura, ele era um homem meio

ignorante, semi-analfabeto também, ele não foi alfabetizado não, porque o curso

que ele tinha dentista e era pra ele poder disfarçar no exército, naquela época

havia muitos dentistas plásticos que modelava a dentadura e também fazia o

serviço de extração dentária, então passava a ser o doutor, ele então aqui em

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Nilópolis era chamado de Drº Lucas. Porém, Nilópolis deveu muito ao Lucas no

setor de festas, Nilópolis sempre foi pioneira em carnaval em bailes e em coretos,

um dos mais bonitos coretos da baixada fluminense era de Nilópolis, o maior

carnaval da baixada fluminense era o de Nilópolis, vinha gente de Deodoro pra

cá, pra curtir, brincar, vinha gente de Nova Iguaçu, Mesquita, Pavuna, Nilópolis

era um verdadeiro formigueiro humano, e naquela ocasião possuía 4, as vezes 5

coretos, quando havia concurso, Nilópolis ganhava por ser o melhor coreto da

baixada fluminense, porém essa história de coreto foi continuando e depois que

eles começaram a fazer coretos ainda maiores, muitos foram abandonando a

idéia, aí surgiu a ação do Figueira soube que em Nilópolis, se faziam coretos e

passou a fazer também todos os anos, o coreto de Nilópolis de 1939 ou 40 todos

os coretos eram feitos em Nilópolis pelo Lucas, pelo deputado Lucas de Andrade

Filgueiras, dois meses antes do Natal e do carnaval, ele corria de comércio em

comércio, levava um livro de ouro, e chegava perto dos comerciantes e dizia

assim: -assina aqui, bota aí 10 contos. Você, assina aqui, bota 10 contos. Ei, você,

assina, assina logo. E com o dinheiro que ele arrecadava, montava 3 ou 4

coretos.

Professor Estevam: Qual a importância desse rio Sarapuí pra história de

Nilópolis e da Baixada Fluminense?

C. Oliveira: O rio Sarapurí, o Meriti - Pavuna, são os dois mais

importantes rios para Nilópolis porque aqui em Nova Iguaçu tivemos mais

rios importantes, o rio Iguaçu e os rios aí importantes e esses foram

importantes desde de a colonização do Brasil, quando da época do

descobrimento aqui havia uma tribo índigena dos Jacutingas e ocupava a

área de Nilópolis, Nova Iguaçu, Duque de Caxias e São João de Meriti. Porém

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essas estruturas que já é construída de muito tempo em virtude desses rios

terem e além de serem largos de 40 por 50, 60 metros , todos os esses rios

passavam por aqui, também todas essas barcas que transportavam a

produção de todos engenhos de produção do Rio de Janeiro e toda produção

da Baixada Fluminense , e então por esses rios serem largos, desembocavam

na Baia de Guanabara, esses rios foram citados por historiadores que aqui

estiveram na região em 1511 em 1600, por mais de anos que aqui tiveram

escreveram um livro de os rios Sarapuí e Pavuna que desaguam na Baía de

Guanabara, nas épocas de enchentes, quando a Baía de Guanabara era cheia

de baleias que vinham de outros locais procurando água quente e água sem

gelo, a Baia de Guanabara era onde eles vinham procurar água quente, na

baía de outros locais que era um mar aberto, então era tão grande que na

época das chuvas, quando o mar, quando a Baia de Guanabara abrandavam,

dava a maré essas águas , entravam pelo rio Pavuna e a baleia vinha pelo

canal e entrava pelo canal que era o rio, e muitas dela vinham morrer aqui no

rio Sarapuí e no rio Pavuna, porque precisava ver de noite o tamanho que

ficava, de 10, 12, 15m de largura, era difícil de fazer o retorno então elas

morriam porque a água abaixava e elas ficavam enterradas na lama, esses

dois rios então, serviam de pacto para os índios quando eles tinham

conhecimento de que havia uma baleia morta eles comiam a carne e eles antes

disso aproveitavam o óleo da baleia, e depois de tirar a carne, os índios

voltavam e aproveitavam os ossos da baleia. Os colonos se serviam desse

mesmo osso, junto como óleo e com o barro para fazer tijolos, para as

construções da época os tijolos foram feitos no século XVII, XVIII, muitas

das casas feitas com adobo e óleo de baleia, o esqueleto da baleia e o barro

vermelho faz tijolos, e temos alguns desses tijolos ainda hoje na capela São

Matheus. Em uma daquelas paredes estarem em ruína. Essa é a importância

do índio , da região chamados de Jacutinga vivendo no Espírito Santo,

atravessaram o estado do Espírito Santo vieram cair em Nilópolis, na região

da Baixada porque havia realmente muita caça, muita pesca e um fator

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muito importante que era a comida da baleia que dava para nos sustentar

por mais de um mês uma tribo e é por causa disso que nós tivemos então,

além das baleias , também os jacarés. Os jacarés eram os que viviam dentro

das matas do Gericinó, eles vinham descendo na direção de Nilópolis nessas

chuvas, eles então paravam alguns aqui na avenida Mirandela do lado de cá,

havia muitos valões , havia o valão João de Alvarenga, a que era muito

caudaloso o jacaré que então só saíram dos rios e estavam tomando sol, ainda

mesmo esse ano e no ano passado, eu ainda cheguei a ver jacaré aqui no fim

da Mirandela saindo do rio e estavam tomando sol, não era um jacaré muito

grande, mas era um jacaré de mais de 1m de comprimento e até hoje de vez

em quando ainda tem jacaré que aparece em outras localidades mas pra cá

eles não vêm mais porque foi feita a barragem do rio Gericinhó, depois dessa

barragem em Nilópolis não teve mais nenhum alagamento e as águas

começaram a ser divididas entre Nilópolis, Nova Iguaçu e Rio de Janeiro, e

então, andou chegando mais jacarés em Nilópolis mas de vez em quando

encontram na barragem jacarés que aparecem dentro da barragem do

Gericinó . Depois eu quero falar sobre o limite de Nilópolis, a fazenda São

Matheus e que eu já falei pertencia ao último proprietário João Alves e

Mirandela, elas tinham 22km 2, o que 22 mil metros e ela ia do rio Pavuna ao

rio Cachoeira, que esta dentro de Mesquita, a fazenda da cachoeira, depois

do lado de lá, vinha até a estação do rio D´oro na ocasião e ocupava o trecho

do Gericinó, porém, pode como o advento da emancipação, os políticos da

região aproveitavam esse benefício de áreas, de Nilópolis para beneficiar os

parentes seus , como por exemplo Getúlio Moura que tinha um filho que

andava por Nova Iguaçu, em vez de fazer o limite no rio cachoeira que é o

rio, bem comparando-se que havia o rio Cachoeira, veio fazer o limite no rio

Sarapuí e com isso perdemos uns 15Km na Chatuba para hoje Mesquita saiu

perdendo uma faixa de 1Km em Nova Iguaçu a fazenda fazia divisa com a

estrada de ferro Rio D´Ouro, porém, Lucas de Andrade Figueira, que tinha

um irmão que era vereador em Nova Iguaçu, aproveitou a ausência do

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deputado, fez a torre de sustentação da light , hoje por onde passa a via light

e perdemos ali, mais de 5 km quadrados e outro foi o Gericinó que perdemos

também mais de 6 mil e poucos km quadrados assim. Seis e poucos km

quadrados, qual foi o resultado? A compra da fazenda São Mhateus, e havia

uma cerca ele tinha criação de burros e havia uma cerca dividindo a fazenda

São Matheus com a fazenda do Gericinó, pelo João Alves Mirandela, porém,

para que os burros não fugissem, é que João Mirandela fez uma cerca para

usar tudo, desde a Mirandela até o Cabral até o pontal, até o marco zero e fez

uma cerca para que os burros não fugissem, porém com um loteamento que

teve em 1913 e 1914, eles já não tinham mais burros e começou a lotear a

fazenda da estação, para no sentido Gericinó nesse ínterim, o Gericinó foi a

leilão - porque sua proprietária, era uma viúva- ela pediu um dinheirinho

emprestado ao Banco do Brasil e não teve como pagar o Banco do Brasil

penhorou a fazenda em 1913, justamente na época que Nolópolis começava a

ser loteada em leilão a fazenda de Gericinó, e quem comprou foi o exército,

que naquela época, chamava o Ministério da Guerra e depois quando o

ministro da guerra era o Marechal Hermes da Fonseca, como os militares já

treinavam dentro daquela área, que estava há muito tempo abandonada

porque os militares no limite da Vila Militar, já treinavam, ele no leilão

comprou a fazenda do Gericinó , quando eles tomaram conhecimento que

havia ali dentro do Gericinó, então eles fizeram duas cercas, uma pelo lado de

dentro e outra pelo lado de fora. E o que fizeram os militares que tomaram

posse da fazenda? Derrubaram a fazenda do lado de dentro e deixaram do

lado de fora que é o lado da fazenda pra São Matheus, aí eles aumentaram a

área. A área, legitimamente, já pertence a Nilópolis, são quase 6 km 2 que já

foi reconhecida por todas as autoridades, inclusive, por todos os regionais,

pois então só será devolvida a área , essa parte que pega do bairro Cabral e

vai até Marco Dois e envolve o território de Maxambomba e quando o

exército desocupar e terá a desativação e deixar de treinar nas costas de

Nilópolis, aí sim, mas mesmo assim para recuar esses 6 km quadrados leva no

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mínimo 20 anos depois de muitas balas e granadas , muitas balas

encravadas, muitas granadas encravadas e pra destocar essa área ela vai

levar no mínimo 20 anos, e qualquer pessoa que tentar fazer, aprofundar e

qualquer coisa, vai correr o risco de ser ameaçada e explodida. De modo que

esse limite que é de Gericinó, do rio Sarapuí até a via light, e o rio Pavuna,

seria muito maior se um dia Chatuba voltasse para Nilópolis, e hoje não tem

mais condição de voltar, já que está consagrada Mesquita. Se São João

devolvesse os 5 mil e poucos metros também, também não vai ser fácil

devolver, porque já ocupa, já esta praticamente ocupado e agora a estrada

dividiu legitimamente. E o Jerecinó, quando Deus quiser. Há muito tempo eu

me lembro, uns 20, 30 anos, de vez em quando, ressaltavam uma notícia –“ O

Jerecinó vai ser desativado para ser entregue a Nilópolis-” e eu participei de

vários churrascos da divisa da fazenda , quer dizer Nilópolis com Gericinó

comemorando os eventos só que não acontecia. E por isso que Nilópolis hoje

com 9Km quadrados tem a maior população de todos os municípios do Rio

de Janeiro, do Brasil, hoje por km 2 nós já temos mais de 22 mil moradores,

por km 2, não tem município nenhum no Brasil que tenha essa densidade

demográfica, por causa do seu tamanho e Nilópolis agora começa a crescer

também verticalmente, e hoje já tem mais de 220 mil habitantes e tem dias

que circulam em Nilópolis mais outros 100 mil provenientes dos vizinhos

Anchieta, Mariópolis, Éden, Pavuna, Mesquita, qualquer um desses

municípios não tem Repartições Públicas, como não tem Sede de Bancos que

Nilópolis possui, como não têm serviços, não têm hospitais, todos eles vêem

para Nilópolis e têm meses que acusa mais de100 mil pessoas que vêem

ocupar inclusive hospital, que vêem utilizar essa rede bancária, que vêem

utilizar a rede de ensino, que vêem utilizar os serviços médicos das clínicas,

então a população efetiva de mais de 200 mil e a população flutuante de mais

de 100 mil, é por isso que Nilópolis é realmente um dos municípios que mais

tem crescido, hoje já se construiu 4 prédios de 10 andares, e já tem mais 6

prédios em início de construção e também com mais de 10 andares de modo

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que Nilópolis agora quer crescer verticalmente porque temos poucos lotes

para construir, se tiver um ou outro lote aí é na expectativa, mas a grande

maioria dos lotes já estão todos construídos.

Nilópolis é dividida, Nilópolis é o primeiro distrito e Olinda é o

segundo. A estação de Olinda foi construída para uma paradinha, pois o trem

vinha de Anchieta e só vinha parar em Nilópolis, porém, os moradores

achava,m longe para ter que ir a pé de Anchieta a Olinda, ou de Olinda para

Nilópolis. Então encaminharam ao ministro Mendonça Lima, um pedido

para construção de uma parada em Olinda, ministro Mendonça autorizou e

fizeram a paradinha , e lá está, onde é hoje a estação de Olinda. Em 1934

inauguraram a paradinha, com cobertura de zinco para a proteção dos

passageiros e onde eles desembarcavam. Porém, após a inauguração da

estação, ainda não havia nome e a população fez um plebiscito a Olinda,

sabendo que nome daria a Estação de Olinda. Foi quando uma senhora de

respeito, lá de Olinda, que foi morar no Rio de Janeiro, voltou anos depois e

quando ela saltou do trem, ela virou e –“E mais Olinda, que cidade hein,

Linda!” – e a população achou então que Olinda seria o nome ideal para a

cidade de Olinda e a estação foi inaugurada em 1934 e hoje totalmente

remodelada e modernizada. Agora nós estávamos falando dos índios e

esquecemos de falar dos escravos.

Os escravos que vieram a partir de 1700, participaram também da

reforma da capela de São Matheus, e eles também com eliminação dos índios

na região começaram a fugir, os escravos que vieram trabalhar no engenho

que era construído em Nilópolis, do lado de lá ao lado da Mena Barreto e

do engenho de cá, na atual rua Antônio de Bitencourt da Cunha, esquina com

a rua Lúcio Tavarez, onde depois, no mesmo local foi construído o posto do

Alemão e depois passou a funcionar um posto de gasolina, até 1930 e trinta e

poucos, Ernesto Cardoso descreve a existência ali do engenho e disse que não

encontrou os barrotes com a concretagem do engenho e que 2% já apareceu

ali embaixo da terra, porque ninguém estocou coisa nenhuma e dizia –“até aí

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tô certo, nunca teve do lado de lá”-, que assentamentos e dos engenhos

desapareceram por debaixo da terra. Porém, e esses que vieram trabalhar no

engenho, alguns eram plantadores de café e outros lampiões, porém, em 1855

surgiu aqui uma doença hoje popular, mas naquela época não, a cólera, que

fazia com que a pessoa ficasse maluca, e os índios que na sua pobreza são

deficientes de alimentação porque eles morrem a qualquer doença, e essa

doença afetou mais os índios , mais os indígenas de Nilópolis e Nova Iguaçu.

Morreram naquela época mais de 50 índios e mais de 50 negros, que foram

enterrados no cemitério da em volta da Capela São Matheus, ainda

recentemente com a expansão da Capela, nós extraímos mais de 55 ossos, ou

melhor, esqueletos de índios e escravos que estavam enterrados no cemitério

dos escravo em redor da Capela de São Matheus. Desenterramos porque

precisávamos fazer duas ladeiras porque a Capela fica no alto, fica mais alta

que a rua e esses ossos foram colocados num mausoléu, que foi inaugurado no

dia 13 de maio de 1988, lá tem 50 ossadas com crânios, tíbias, canelas, arcada

dentária, e quem quiser visitar a capela e o museu, esses ossos estão colocados

no mausoléu. Pois bem, mas aqui de vez em quando, havia uns rebeldes

porque alguns não gostavam de trabalhar e eles queriam fugir, como daqui e

de Nova Iguaçu, de todo lugar porque eles não estavam trabalhando e o

feitor batia muito nos índios, além de escravizá-los, e ainda açoitavam,

prendiam os índios nos troncos árvores e desses negros , a maioria

abandonou a fazenda, fugiu, foi quando surgiu o Quilombo, justamente no

K11. O K11 era um quilombo quase praticamente, pertencia e era a divisa de

Nilópolis com Nova Iguaçu, era ali que eles se ocultavam quando fugiram

daqui, lá havia um chefe dos negros que normalmente levavam eles para lá e

durante muito tempo esse Quilombo existiu, como existia um Quilombo

também em Belford Roxo, só que esse Quilombos foram todos dizimados, aí

pouco depois muitos negros não voltaram a trabalhar nos engenhos, mas já

havia um movimento de Abolição da Escravatura e muitos portugueses já

começaram por sua conta a libertar os negros, até que em 1888 com a

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Abolição da Escravatura praticamente a fazenda de São Matheus não tinha

mais escravos, não morava ninguém, os portugueses não tinham mais nada o

que fazer aqui e abandonaram completamente a fazenda antes de 1888, antes

da Abolição da Escravatura, porém, abandonaram as fazendas, o Barão de

Mesquita arqui-milionário, Rio de Janeiro, que foi presidente do Banco do

Brasil, vereador do Rio de Janeiro e tinha vários cargos públicos, resolveu

comprar a fazenda de Nilópolis e a fazenda de cachoeira que hoje é Mesquita,

comprou a fazenda de Jacutinga, comprou a fazenda da Pavuna, a partir de

1866 ele passou a ser proprietário dessas fazendas todas da divisas, só não foi

de Maxambomba que hoje faz parte de Nova Iguaçu.

O Barão de Mesquita tinha uma família muito grande, todos eles

eram premiados por D. Pedro II, eram Barões, eram Viscondes, eram todos

eles titulados, pois eles prestavam grandes serviços ao Rio e a Portugual, e

todo Rio mesmo, porém, o Barão de Mesquita ainda fez uma tentativa a

partir de 1866 da plantação de cana de açúcar, aí já conseguiu reabilitar um

pedaço mas não adiantou, a cana já estava praticamente, estava em

decadência, portanto, eram muito grandes os investimentos e pouco lucro e

também, não construíram para fazer nada, que passou a ser apenas um dono

da fazenda, até que João Alves Mirandela, primeiro em 1900 comprasse

juntamente com Lázaro de Almeida, que era sócio da criação de burros da

fazenda de São Matheus. Nilópolis foi fundado em 6 de setembro de 1914,

pelo Coronel Julio de Abreu, poucos anos depois começaram imediatamente

a povoação porque interminada a guerra, muitas gente começou a fugir dos

centros, porque alguns até passavam fome, não havia meios de sobrevivência

e muitos abandonaram o interior, abandonaram os centros da cidade e

partiram para o interior. Nesse período, Nova Iguaçu já estava fazendo o seu

loteamento. Em Nilópolis, começou também em 1914 a fazer loteamento, em

pouco mais de 2 anos, Nilópolis já tinha mais de dois mil habitantes, a

maioria dos moradores faziam casas de barro, e algumas delas ainda cobertas

por palhas, com palha indígena, porque a telha tinha que vir de Mesquita,

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quando surgiu lá em Mesquita a primeira fabrica de telhas e em Nilópolis

com menos de 2 anos, mais de 2 mil habitantes, passando então deixando de

ser 4º distrito de São João e passando a ser independente o sétimo distrito de

Nova Iguaçu. Aí já era conhecido como Parada de São Matheus e a partir de

18, quando Nilo Peçanha esteve aqui, o município deixou de ser Parada de

São Matheus para que todos chamassem a Parada de Nilo Peçanha, em

homenagem a visita que Nilo Peçanha fez a cidade em 1916. Porém, a

população foi se tornando tão grande, que muitas construções foram feitas,

algumas indústrias, já funcionavam como a Carioca, muitas lojas de

ferragens, olarias já começavam a montar para construção de casas, dizem

que os moradores mais antigos e ainda vivos que a construção de casas era

uma coisa que todo domingo tinha gente nova nas obras construindo casas.

Até o ponto que com o término da 1º guerra mundial, os judeus da Europa

estavam sofrendo muitas perseguições, os judeus, os americanos e os judeus

de outros paises da Tchecoslováquia que fizeram eles e começaram a

procura-los em locais onde não houvesse perseguições e com isso a grande

maioria veio parar no Brasil. A partir de 1922, começaram a chegar levas de

judeus no Brasil, e grande parte ficou no Rio de Janeiro, ali onde hoje é a

Praça XI, e uma outra parte, cerca de 300 judeus, vieram parar em Nilópolis

entre 1925 e 1926. Os judeus aqui estiveram em Nilópolis do lado de lá, ainda

não estava bem, não tinha população, eles ocupavam a Mena Baneto, a Lúcio

Tavares, aquelas ruas todinhas foram ocupadas por judeus, eles vieram para

fazer dinheiro, construir suas lojas, suas casas, e aqui na região eles

dedicavam-se a abrir alfaiatarias e armarinhos, mas sua grande maioria vivia

do Mascate, que em judeu significa sair vendendo roupas e aviamentos de

porta em porta de roupas em pequenas unidades, em pequenas prestações, e

a grande maioria , com esse tipo de negócio foi enriquecendo. Outros,

moravam aqui, pegavam o trem e iam trabalhar no Rio de janeiro. A partir

de 1930, eles começaram a chamar via rico, aí já estava surgindo Copacabana

e grande maioria hoje dos mais antigos que viviam aqui, mais de 80% mora

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hoje na Zona Sul, especialmente em Copacabana onde estão, uns ainda vivos

e outros pela deixa de seus familiares, volta e meia vêm a Nilópolis ver

propriedades que aqui deixaram, só que têm propriedades que foram

invadidas, pois passaram 20, 30 anos sem vir em Nilópolis por onde chegaram

a encontrar as casas ocupadas. Essas casas existem também na Barreto e em

grandes trechos da Nina Barreto e Adjacências, são casas construídas pelos

judeus. Uns aidetémetem as casas, outros abandonaram e foram invadidas,

outros vieram depois e venderam as casas que ainda permanecem de pé, e

eles tinham a Sinagoga, cuja mesma ainda esta de pé, e ela agora foi tombada

pelo Patrimônio Histórico de Nilópolis. Todos foram embora, mais ainda tem

aí umas 8 ou 10 famílias de judeus, ultimamente vieram a Nilópolis e

venderam, alí na esquina de Lucio Tavarez, onde tinha 4 ou 5 casas que a

prefeitura pretendia transformar num centro cultural porque estavam

abandonadas e alguém avisou a prefeitura ia desapropriar, vieram aqui e

venderam tudo por 10 mil reais, todas as lojas, a esquina até junto à antiga

delegacia de polícia, dois ou três sobrados ali, vendeu pro primeiro que

chegou pra comprar, perguntou quanto valia, e disse uns 10 mil, “- Então me

dá 10 mil, que as casas são minhas", e comprou, está remodelando lá. Então

os judeus deixaram passar da história de Nilópolis, depois vieram os Sírios

Libaneses, mais de 2 anos depois, entre eles os sessim, Davi, Abraão e depois

passaram pro lado de cá, porque judeus eram todos e ficaram do lado de lá, e

alguns sírios-libaneses, trabalhavam do lado de lá, mas a grande maioria veio

pro lado de cá. Agora eles não foram muito grandes, 20 ou 30 famílias vieram

a Nilópolis e ficaram aqui no município e até hoje se perpetuou. Os judeus

saíram, os judeus são nômades, os judeus se dão bem em qualquer lugar, mas

os sírios libaneses não, era importante que eles estaquem, onde ele está, não

deseja sair, e aqui eles gostaram da cidade, ficaram e permaneceram.

E eu falei a pouco pra vocês que a Sinagoga foi desapropriada pela

Prefeitura como Patrimônio Histórico de Nilópolis, pois bem, eu a dois anos

foi nomeado como diretor do Patrimônio Histórico de Nilópolis e meu maior

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desejo é tornar Patrimônio Histórico alguns prédios de nossa cidade, prédios

antigos que poderão até ser demolidos, que poderão ser vendidos como a

Sinagoga de Nilópolis, e eu então junto ao Secretario de Cultura e ao Prefeito

José Carlos Cunha, é exemplo o tombamento de prédios em Nilópolis, dentre

eles, a capela de São Matheus, que foi construída em 1637, o casarão – a casa

antiga do fim da Mena Barreto – foi construída a mais ou menos 120 anos, o

casarão tem 60 cômodos, ela está invadida porque ela foi abandonada pela

família que acabou, a família se extinguiu, não tem herdeiros, e ela está atrás

do Colégio Nilo Peçanha, está hoje ocupada por uma família que só ocupa o

casarão a mais de 50 anos, mais só a geração deles são mais de 50 pessoas que

ocupam o casarão, também foi desapropriado para a Prefeitura fazer um

centro cultural, foi desapropriado e o centro cultural nunca foi construído,

após desapropriar a Sinagoga como eu disse, a Prefeitura ia ajudar a

restaurar, nem ajudou a restaurar, nem os judeus restauraram, eles vieram

aqui, se comprometeram a restaurar a Sinagoga, e até hoje estão correndo

atrás do recurso e não conseguiram trazer os recursos dos judeus, estão

tentando os salvamentos dos recursos para reformar a Sinagoga e também

foram e se tornaram Patrimônio Histórico a loja maçônica, a antiga Iguaçu, a

loja está estalada hoje em Nilópolis, também foi tombada a Igreja Nossa

Senhora da Conceição, também foi tombada a igreja de São Sebastião, desde

1950, mas sim pela arquitetura que ela apresenta, é uma moderna

arquitetura, e ela também foi tombada. E de lá pra cá tive que deixar a

prefeitura, pois entrou um novo prefeito e eu tive que deixar o cargo, porém

deixamos aí 6 prédios tombados e inseridos história de Nilópolis.

Professor Estevam: Gostaria de agradecer em nome de toda a população

de Nilópolis e daqueles que realmente gostam dessa cidade, por sua gentileza

dessa entrevista.