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Composite Feito no Hermes DIAMANTINO 25/08/04 07:21 ODIA - CADERNOD1 - 1 - 25/08/04 ‘C om 17 anos você não pensa em na- da, menino. Fica ali se distraindo. Hoje em dia, a cada show penso mais, mergulho e aprendo com as lições que tiro da vi- da.” Quem ensina é Maria Bethânia, 40 anos de car- reira, mas com a lembran- ça ainda fresca da estréia, ainda adolescente, na Ba- hia de 1964. Quando pisar no palco do Canecão ama- nhã, para a temporada de duas semanas do show Brasileirinho, tanta expe- riência, contudo, não tirará dela o tesão inicial. “Hoje em dia é triplicado”, garan- te. E o medo? “Tenho pa- vor, me tremo, choro, fico nervosa demais antes do show. Depois rezo, me acal- mo e faço”, continua. “Subir no palco é a me- lhor hora da minha vida”. Estar em cena pode até ser, dos prazeres, para a cantora o melhor. Mas há outros. “Eu adoro chamar as pessoas pra olhar a lua. Sei que ninguém está mui- to interessado, mas adoro chamar”, revela Bethânia, na explicação de suas ori- gens e da origem de Brasi- leirinho . “É um disco de pro- fundo amor pelo Brasil, mas não um amor cego. É um amor de verdade, lúci- do, a um Brasil que pouca gente vê hoje em dia. Gos- to de me sentir próxima da terra, da exuberante nature- za. Sou do interior, do Re- côncavo Baiano, talvez pe- se na minha formação, no meu sentimento”, explica. É claro que pesa, tanto que a declaração de amor musical de Bethânia à pá- tria resultou em casamento perfeito. Seriam só as duas noites de março no Cane- cão para a gravação do DVD do premiado disco, mas o público pediu mais. “As pessoas me escre- viam: Anem ouse, não lhe pertence fazer só isso, pre- cisamos de mais”, revela. Ela obedeceu e o show com direção cênica de Bia Lessa e musical de Jaime Alem reestréia com gosto de ineditismo. “Curto cada situação do show, cada acorde. É um show suave, meu refúgio, minha guari- da.” No palco, o Brasil ín- dio, religioso, o Brasil da fé. Basta falar no assunto pa- ra Bethânia abrir um sorri- so largo, soltar o cabelo e se desmanchar em elogios às músicas do show que louvam os santos, caso de São João Xangô Menino (Caetano Veloso e Gilberto Gil), Santo Antônio (Jota Ve- loso) e Padroeiro do Brasil , ode a São Jorge feita por Ary Monteiro e Irany de Oli- veira. “Eu me criei indo às festas de Santo Antônio. Era cada noite numa casa para cantar o Santo Antô- nio durante 13 dias”, con- ta. “Até hoje faço em mi- nha casa o São João, acen- do fogueira, solto fogos, danço quadrilha, faço comi- da. É a festa mais bonita do mundo”, diz a cantora, que completou 58 anos dia 18 de junho, para ela, um mês inteiro de festa. Assim como é festa para a cantora ter gravado com os mineiros do Uakti, ter co- mo convidados no show Miúcha e o Tira-Poeira, ou se permitir liberdades co- mo o beijo dado em Adria- na Calcanhotto em Marico- tinha. “Tinha a ver com a música Cantada. Eu disse: ‘Adrianinha, vem, a gente cola, fica engraçado’”, en- trega. Novamente, as mãos passeiam pelo cabe- lo. Cortá-lo, jamais. “Não vou cortar o meu cabelo nunca, ele tem dono. Pin- tar também não. Um esfor- ço danado pra conseguir que ele envelheça e você quer que eu o modifique?”, brinca a baiana, fã ardoro- sa da nova diva do jazz Dia- na Krall, além de Billie Holi- day, Callas, Alcione... “Adoooro. Gosto de ouvir Al- cione bem alto no meu car- ro viajando. Adoooro”. Êxtase também no show. “Brasileirinho é infer- nal pra mim. Já começo ar- repiada. Bachianas de Villa- Lobos é muito forte. E com Melodia Sentimental sem- pre me comovo”, observa a cantora que, bem se sa- be, não só canta como lê em cena. E o show está re- pleto de tais leituras, boa parte poemas de Guima- rães Rosa. Foi da cabeça dele que saiu ‘qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura’. Os fãs vão concor- dar: qualquer tantinho de Bethânia também. DIVA NO PÓDIO “Tenho pavor, me tremo, choro, fico nervosa antes do show” “Eu adoro chamar as pessoas pra olhar a lua” A medalha não veio com Daiane, mas o ‘Brasileirinho’ que Bethânia vai apresentar no Canecão é ouro puro “Depois eu rezo, me acalmo e faço. É a melhor hora” PARTO FEITO Comida de grego Aproveitando o espírito olímpico, Rodolfo Bottino dá receitas com sabor da Grécia Pág. 8 DANÇA Muitos passos na Baixada Festival de dança reúne várias tendências em Nova Iguaçu a partir de hoje Pág. 3 O DIA QUARTA-FEIRA, 25 DE AGOSTO DE 2004 www.odia.com.br ISABELA KASSOW CULTURA, DIVERSÃO E ESTILO DE VIDA Para ouvir Maria Bethânia falando sobre outros projetos da carreira ligue para o Portal Mais, no telefone 8809-5000, escolha a opção ‘Mais Que a Matéria’ e digite o código 1006. MÁRCIO MERCANTE BETHÂNIA diz que jamais vai pintar seu cabelo: “Um esforço danado para conseguir que ele envelheça...” TELEVISÃO O adeus de Cauã Prestes a se despedir do público em ‘Da Cor do Pecado’, Cauã Reymond fala de seu estilo de vida, do passado de lutador e da repercussão da novela Pág. 5 ANDRÉ GOMES

Entrevista com a cantora Maria Bethânia em 2004

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Entrevista com a cantora Maria Bethânia em 2004, dias antes da estreia do celebrado show 'Brasileirinho'

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Page 1: Entrevista com a cantora Maria Bethânia em 2004

Composite Feito no Hermes DIAMANTINO 25/08/04 07:21 ODIA - CADERNOD1 - 1 - 25/08/04

‘Com 17 anos vocênão pensa em na-da, menino. Fica

ali se distraindo. Hoje emdia, a cada show pensomais, mergulho e aprendocomas liçõesque tiro da vi-da.” Quem ensina é MariaBethânia, 40 anos de car-reira, mas com a lembran-ça ainda fresca da estréia,ainda adolescente, na Ba-hia de 1964. Quando pisarno palco do Canecão ama-nhã, para a temporada deduas semanas do showBrasileirinho, tanta expe-riência, contudo, não tirarádela o tesão inicial. “Hojeem dia é triplicado”, garan-te. E o medo? “Tenho pa-vor, me tremo, choro, ficonervosa demais antes doshow.Depois rezo,meacal-mo e faço”, continua.

“Subir no palco é a me-lhor hora da minha vida”.

Estar em cena pode atéser, dos prazeres, para acantora o melhor. Mas háoutros. “Eu adoro chamaras pessoas pra olhar a lua.Sei que ninguém está mui-to interessado, mas adorochamar”, revela Bethânia,na explicação de suas ori-gens e da origem de Brasi-leirinho. “Éumdiscodepro-fundo amor pelo Brasil,mas não um amor cego. Éum amor de verdade, lúci-do, a um Brasil que poucagente vê hoje em dia. Gos-to de me sentir próxima daterra,daexuberantenature-za. Sou do interior, do Re-côncavo Baiano, talvez pe-se na minha formação, nomeu sentimento”, explica.

É claro que pesa, tantoque a declaração de amormusical de Bethânia à pá-tria resultouemcasamentoperfeito. Seriam só as duasnoites de março no Cane-cão para a gravação doDVD do premiado disco,mas o público pediu mais.“As pessoas me escre-viam: Anem ouse, não lhepertence fazer só isso, pre-cisamos de mais”, revela.

Ela obedeceu e o showcom direção cênica de BiaLessa e musical de JaimeAlem reestréia com gostode ineditismo. “Curto cadasituação do show, cadaacorde. É um show suave,meu refúgio, minha guari-da.” No palco, o Brasil ín-dio, religioso, o Brasil da fé.

Basta falar no assunto pa-ra Bethânia abrir um sorri-so largo, soltar o cabelo ese desmanchar em elogiosàs músicas do show quelouvam os santos, caso deSão João Xangô Menino(Caetano Veloso e GilbertoGil),SantoAntônio (JotaVe-loso) e Padroeiro do Brasil,ode a São Jorge feita porAry Monteiro e Irany de Oli-veira. “Eu me criei indo àsfestas de Santo Antônio.Era cada noite numa casapara cantar o Santo Antô-nio durante 13 dias”, con-ta. “Até hoje faço em mi-nhacasaoSãoJoão, acen-do fogueira, solto fogos,dançoquadrilha, façocomi-da. É a festa mais bonitado mundo”, diz a cantora,que completou 58 anosdia 18 de junho, para ela,um mês inteiro de festa.

Assim como é festa paraa cantora ter gravado comosmineirosdoUakti, ter co-mo convidados no showMiúcha e o Tira-Poeira, ouse permitir liberdades co-mo o beijo dado em Adria-naCalcanhotto emMarico-tinha. “Tinha a ver com amúsica Cantada. Eu disse:‘Adrianinha, vem, a gentecola, fica engraçado’”, en-trega. Novamente, asmãos passeiam pelo cabe-lo. Cortá-lo, jamais. “Nãovou cortar o meu cabelonunca, ele tem dono. Pin-tar também não. Um esfor-ço danado pra conseguirque ele envelheça e vocêquerqueeuomodifique?”,brinca a baiana, fã ardoro-sa da nova diva do jazz Dia-na Krall, além de Billie Holi-day, Callas, Alcione...“Adoooro.Gostodeouvir Al-cionebemaltonomeucar-ro viajando. Adoooro”.

Êxtase também noshow. “Brasileirinhoé infer-nal pra mim. Já começo ar-repiada.BachianasdeVilla-Lobos é muito forte. E comMelodia Sentimental sem-pre me comovo”, observaa cantora que, bem se sa-be, não só canta como lêem cena. E o show está re-pleto de tais leituras, boaparte poemas de Guima-rães Rosa. Foi da cabeçadele que saiu ‘qualqueramor já é um pouquinhode saúde, um descanso naloucura’.Os fãs vãoconcor-dar: qualquer tantinho deBethânia também.DIVA NO PÓDIO

“Tenho pavor, metremo, choro,fico nervosaantes do show”

“Eu adorochamar aspessoas praolhar a lua”

A medalha não veio com Daiane, mas o ‘Brasileirinho’ que Bethânia vai apresentar no Canecão é ouro puro

“Depois eu rezo,me acalmoe faço. É amelhor hora”

PARTO FEITO

Comida de gregoAproveitando o espírito olímpico, Rodolfo Bottinodá receitas com sabor da Grécia ● Pág. 8

DANÇA

Muitos passos na BaixadaFestival de dança reúne várias tendênciasem Nova Iguaçu a partir de hoje ● Pág. 3

O DIA QUARTA-FEIRA, 25 DE AGOSTO DE 2004 www.odia.com.br

ISAB

ELA

KAS

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CULTURA, DIVERSÃO E ESTILO DE VIDA

Para ouvir Maria Bethâniafalando sobre outros projetosda carreira ligue para oPortal Mais, no telefone8809-5000, escolha a opção‘Mais Que a Matéria’e digite o código 1006.

MÁR

CIO

MER

CAN

TE

BETHÂNIA diz quejamais vai pintar seucabelo: “Um esforçodanado para conseguirque ele envelheça...”

TELEVISÃO

O adeusde CauãPrestes a se despedir dopúblico em ‘Da Cor doPecado’, Cauã Reymondfala de seu estilo devida, do passado delutador e da repercussãoda novela ● Pág. 5

ANDRÉ GOMES