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Entrevista | Por Marcelo Balbino Páginas Abertas 6 Divulgação Fenômeno de acessos na internet, os youtubers despontam com milhões de acessos e seguidores em seus canais. Ainda que muitos temas não sejam considerados educativos pelos professores, lançamos um breve olhar sobre a questão em duas pequenas entrevistas. A primeira é com a professora Helena Mendonça, coordenadora de Tecnologias Educacionais da Escola da Vila, em São Paulo (SP). Na sequência, fazemos algumas perguntas ao jornalista multimídia Eldo Gomes, que também é youtuber e nos conta como funciona seu trabalho atualmente. Acompanhe! e http://cetic.br/pesquisa/kids-online/) sobre o uso de tecnologias em es- cola e para fins educacionais. O se- gundo link mencionado mostra uma pesquisa chamada Kids Online, que entrevistou, entre 2014 e 2015, mais de 2000 crianças, de 9 a 17 anos, em 129 municípios brasileiros. Metade das crianças citou como atividade re- gular o acesso ao YouTube. Não há um indicador de que tipo de material acessam, mas é importante saber que as crianças entram e acessam o site e que esse uso vem crescendo ao longo dos últimos anos. Algum desses canais chamou mais a sua atenção? Há um canal, por exemplo, que mostra o jogo de mãe e filha no Minecraft. Elas assumem um personagem no jogo e o áudio mostra o diálogo entre as duas. Atualmente, tem quase 163.000 inscri- tos. Ao mesmo tempo que a filha ins- trui a mãe a jogar, ensina também aos que assistem. É curioso observar esse movimento de fama no YouTube. Há também canais como, por exem- plo, O Manual do Mundo, com quase Como você analisa o canal Youtube hoje? Qual a principal função em seu ponto de vista? Atualmente, entendo que a principal função do canal é oferecer entrete- nimento. Digo isso, mas reconheço também que existem alguns canais muito bons, que publicam materiais interessantíssimos para o uso na es- cola. Recentemente, por coincidên- cia, um grupo de alunos de 8º ano da Escola da Vila, onde atuo como co- ordenadora de tecnologias educacio- nais, fez uma pesquisa sobre o uso do YouTube com os alunos dos 6º, 7º e 8º anos, totalizando 94 alunos. Achei interessantes alguns pontos dessa breve pesquisa. E o que a pesquisa revelou? A pesquisa mencionou dois pontos interessantes. O primeiro é que pra- ticamente todos os alunos acessam o YouTube, e quase metade do grupo o faz todos os dias. O segundo ponto constatou que 65% do grupo de alu- nos acessam o YouTube para entre- tenimento. Trata-se de uma pesquisa escolar, breve, a partir de um grupo pequeno de alunos, mas nos ajuda a perceber quanto e como nossos alu- nos têm usado o serviço. Vocês utilizam outras pesqui- sas sobre o tema também? O Centro de Estudos sobre as Tecno- logias da Informação e da Comunica- ção – CETIC, responsável pela produ- ção de indicadores e estatísticas sobre a disponibilidade e o uso da internet no Brasil, divulga pesquisas bastante interessantes. Entre elas, há dois links (http://cetic.br/pesquisa/educacao/ Navegando alto nas ondas do YouTube

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Entrevista | Por Marcelo Balbino

Páginas Abertas 6

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Fenômeno de acessos na internet, os youtubers despontam com milhões de acessos e seguidores em seus canais. Ainda que muitos temas não sejam considerados educativos pelos professores, lançamos um breve olhar sobre a questão em duas pequenas entrevistas. A primeira é com a professora Helena Mendonça, coordenadora de Tecnologias Educacionais da Escola da Vila, em São Paulo (SP). Na sequência, fazemos algumas perguntas ao jornalista multimídia

Eldo Gomes, que também é youtuber e nos conta como funciona seu trabalho atualmente. Acompanhe!

e http://cetic.br/pesquisa/kids-online/) sobre o uso de tecnologias em es-cola e para fi ns educacionais. O se-gundo link mencionado mostra uma pesquisa chamada Kids Online, que entrevistou, entre 2014 e 2015, mais de 2000 crianças, de 9 a 17 anos, em 129 municípios brasileiros. Metade das crianças citou como atividade re-gular o acesso ao YouTube. Não há um indicador de que tipo de material acessam, mas é importante saber que as crianças entram e acessam o site e que esse uso vem crescendo ao longo dos últimos anos.

Algum desses canais chamou mais a sua atenção?Há um canal, por exemplo, que mostra o jogo de mãe e fi lha no Minecraft. Elas assumem um personagem no jogo e o áudio mostra o diálogo entre as duas. Atualmente, tem quase 163.000 inscri-tos. Ao mesmo tempo que a fi lha ins-trui a mãe a jogar, ensina também aos que assistem. É curioso observar esse movimento de fama no YouTube.Há também canais como, por exem-plo, O Manual do Mundo, com quase

Como você analisa o canal Youtube hoje? Qual a principal função em seu ponto de vista?Atualmente, entendo que a principal função do canal é oferecer entrete-nimento. Digo isso, mas reconheço também que existem alguns canais muito bons, que publicam materiais interessantíssimos para o uso na es-cola. Recentemente, por coincidên-cia, um grupo de alunos de 8º ano da Escola da Vila, onde atuo como co-ordenadora de tecnologias educacio-nais, fez uma pesquisa sobre o uso do

YouTube com os alunos dos 6º, 7º e 8º anos, totalizando 94 alunos. Achei interessantes alguns pontos dessa breve pesquisa.

E o que a pesquisa revelou? A pesquisa mencionou dois pontos interessantes. O primeiro é que pra-ticamente todos os alunos acessam o YouTube, e quase metade do grupo o faz todos os dias. O segundo ponto constatou que 65% do grupo de alu-nos acessam o YouTube para entre-tenimento. Trata-se de uma pesquisa escolar, breve, a partir de um grupo pequeno de alunos, mas nos ajuda a perceber quanto e como nossos alu-nos têm usado o serviço.

Vocês utilizam outras pesqui-sas sobre o tema também? O Centro de Estudos sobre as Tecno-logias da Informação e da Comunica-ção – CETIC, responsável pela produ-ção de indicadores e estatísticas sobre a disponibilidade e o uso da internet no Brasil, divulga pesquisas bastante interessantes. Entre elas, há dois links (http://cetic.br/pesquisa/educacao/

Navegando alto nas ondas do YouTube

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6 milhões de inscritos. São vídeos ex-celentes de “como fazer”, usados por muitos professores como apoio em trabalhos educacionais. Esse é apenas um exemplo de vários canais talvez menos expressivos do tipo.

Na sua visão, existe alguma relação entre educação e os youtubers? Qual?A relação mais imediata que vejo é que normalmente há muitas crianças com canais ativos no YouTube, mas essa atividade acaba não sendo, de al-guma forma, levada em consideração na escola. Poucas instituições apoiam essa iniciativa das crianças e jovens. Há várias possibilidades de apoiá-los e orientá-los para que não somente os que já têm canais, mas também outros alunos, possam aprender a criar vídeos e refletir sobre o tipo de conteúdo que estão criando. Além disso, é impor-tante que a escola tenha espaços para que os alunos reflitam sobre diversos temas que envolvem a publicação na internet, sobre a relação deles com o que é público e o que é privado, o que eles consideram fama e a qual tipo de conteúdo eles têm acesso na rede, en-tre muitos outros temas que precisam ser discutidos e tematizados na escola.

A escola pode se utilizar de conteúdos produzidos por youtubers? De que forma e para qual aluno?A escola pode usar, lógico, se for um material de qualidade, mas acho ainda mais interessante a possibilidade de se abrir espaço para que os alunos criem conteúdo no YouTube e em outros locais também. Defendo a existên-cia de ambientes de criação digital na escola. Espaços nos quais os alunos

aprendam a técnica e os procedimen-tos, mas, mais importante do que a técnica, aprendam as questões éticas sobre a criação e publicação, instru-mentos para a análise desses conteú-dos e tantos outros temas que envol-vem esse tipo de produção.

Como podemos analisar o uso da tecnologia na sala de aula? Quais seriam as vanta-gens e desafios?As tecnologias digitais podem ser ferra-mentas muito potentes para o trabalho educacional. Digo “podem” porque tudo depende do contexto em que a prática pedagógica está inserida. Pode-mos usar estratégias de todo tipo para ensinar com o uso de tecnologias; o que determinará a qualidade da prática se-rão os princípios didáticos, os valores e referências da instituição e, a partir dis-so, as escolhas do professor.Dessa forma, é importante definir os princípios do uso de tecnologias na ins-tituição, que devem estar alinhados com os princípios da escola. A partir daí, é necessário planejar ações de formação dos professores para colocar na prática as estratégias que consideram o uso das tecnologias digitais, que são, muitas ve-zes, novas na prática do professor.

Na sua visão, os professores estão preparados para incor-porar as novas tecnologias na escola? Ou isso depende de dinheiro, diretriz, governo e outras questões?Tudo isso é necessário. Além disso, é necessário também tempo para refle-xão, estudos e troca entre os profes-sores. Como se trata de um assunto muito novo, todos precisamos estu-dar, refletir e a escola precisa abrir

espaço para esse tema. Só assim os professores estarão mais preparados para essa incorporação.

Qual seria um bom caminho entre as novas tecnologias e a escola, em sua opinião? Estamos muito longe disso?Acho que há várias iniciativas muito interessantes por aí. As tecnologias não são mais tão novas assim. É im-portante que a escola aprenda a usar essas ferramentas para poder decidir sobre seu uso ou não. E aprender so-bre elas envolve abrir espaço para os alunos também aprenderem. Espaços de reflexão e formação para os profes-sores são fundamentais, mas uma fren-te muito importante na escola é abrir espaços para que os alunos aprendam, ensinem e reflitam sobre o tema. Esse tipo de ação também impulsiona a exploração de recursos e ferramentas por parte dos professores.

Você acredita que o modelo das novas tecnologias torna o papel do professor mais como o de um amigo ou mo-nitor das atividades? Como se preparar para isso?Sem dúvida o papel do professor é um tema que deve ser sempre discutido. São muitas as funções que o professor assume na escola e, em sua formação, este deve ser um tema presente. O papel do professor em sala de aula sempre foi um tema importante, mas o que muda nesse cenário, com o uso de tecnologias, é a mediação das tecnologias, que pode acontecer com as ferramentas, recursos e eventualmente ambientes virtuais, e que sem dúvida tem impacto nas re-lações que se estabelecem em um am-biente de aprendizagem.