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Epidemiologia da Febre Maculosa Brasileira no Estado de São Paulo Marcelo B. Labruna Departamento de Medicina Veterinaria Preventiva e Saúde Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brazil. E-mail: [email protected]

Epidemiologia da Febre Maculosa Brasileira no Estado de ... · ATAQUE EM MASSA !!! Amblyomma aureolatum: INFESTAÇÕES RARAS, ... de larvas, ninfas e adultos de A. cajennense em equinos

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Epidemiologia da Febre Maculosa Brasileira no Estado de São Paulo

Marcelo B. Labruna Departamento de Medicina Veterinaria Preventiva e Saúde Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brazil. E-mail: [email protected]

Causada pela Bactéria Rickettsia rickettsii (EUA, México, Costa Rica, Panamá, Colômbia, Brasil)

Alta letalidade para humanos no Brasil Em algumas áreas, letalidade de até 80%

Febre Maculosa Brasileira

Ocorrência confirmada no Brasil: MG, SP, RJ, ES, (SC, PR, RS)

Vetores: CARRAPATOS DAS ESPÉCIES Amblyomma cajennense: SP, MG, ES, RJ Amblyomma aureolatum: grande SP

Doença de notificação compulsória no Brasil, desde 2002

Espécies susceptíveis à doença: homem, cães

Rickettsia rickettsii nas Americas

R. rickettsii

Sintomatologia Período de Incubação: 5-7 dias (2 a 14) Início: febre alta, dores musculares, cefaléia Posteriormente: petéquias cutâneas ascendentes (50%) Letalidade: 80% em casos não tratados Tratamento: Cloranfenicol ou Tetraciclinas (doxiciclina) Prognóstico do tratamento: início da doença: favorável Após o aparecimento das petéquias: reservado

FEBRE MACULOSA POR Rickettsia rickettsii

Vetores Primários de Rickettsia rickettsii nas Américas

Dermacentor andersoni

Dermacentor variabilis

Amblyomma aureolatum

Rhipicephalus sanguineus

Amblyomma cajennense

BRASIL Ocorrência da febre maculosa brasileira (Rickettsia

rickettsii) no Sudeste brasileiro de 1997 a 2010: 670 casos confirmados (letalidade de 32%; 215/670)

SP: 385 casos, letalidade 34%

ES: 35 casos, letalidade 17%

RJ: 61 casos, letalidade 36%

MG: 189 casos, letalidade 31%

ESTADO DE SÃO PAULO: áreas endêmicas de 1995 a 2004

A. aureolatum

A. cajennense

Áreas com características de Cerrado

Áreas com características de Mata Atlântica

<15oC 15-17oC

17-18oC

18-19oC

19-20oC

20-21oC 22-23oC

>23oC

21-22oC

Estado de São Paulo:áreas isotérmicas

Municípios endêmicos para FMB de 1995 to 2010

A. cajennense : Áreas de transmissão (“Cerrado”)

A. aureolatum Áreas de transmissão (mata atlântica >500m)

Winter mean ToC

A. aureolatum

Hospedeiros primários de Amblyomma aureolatum

ADULTOS CARNIVORA (Canidae)

PASSERIFORMES–ROEDORES (Caviomorfos) LARVAS, NINFAS

Infestação humana: apenas por carrapatos adultos (RARAMENTE)

A. aureolatum

Hospedeiros de Amblyomma cajennense

ADULTOS EQUINOS, CAPIVARAS

LARVAS, NINFAS

Infestação humana: por larvas, ninfas e adultos (MUITO FREQUENTE)

EQUINOS, CAPIVARAS

Infestações por carrapatos nas áreas endêmicas de São Paulo

Amblyomma cajennense:

MUITO FREQUENTE ! ATAQUE EM MASSA !!!

Amblyomma aureolatum:

INFESTAÇÕES RARAS, PONTUAIS !

Sangioni et al. (2005) Pinter & Labruna (2006)

Labruna et al. Experimental infection of Amblyomma aureolatum ticks with Rickettsia rickettsii. Emerg. Infect. Dis. 17: 829-834, 2011

Soares et al. Experimental infection of the tick Amblyomma cajennense with Rickettsia rickettsii, the agent of Rocky Mountain spotted fever. Med. Vet. Entomol. (2011)

100% dos carrapatos se infectaram (transmissão transestadial) por R. rickettsii após se alimentarem em cobaias experimentalmente infectadas

<50% dos carrapatos se infectaram (transmissão transestadial) por R. rickettsii após se alimentarem em cobaias experimentalmente infectadas

100% transmissão transovariana <50%transmissão transovariana

100% infecção de descendentes <50% infecção de descendentes

Larvas, ninfas e adultos infectados transmitiram R. rickettsii com sucesso

Ninfas e adultos transmitiram R. rickettsii com sucesso, mas larvas não tiveram muito sucesso

Menor performance reprodutiva de carrapatos infectados por R. rickettsii, em comparação com carrapatos não infectados

Menor performance reprodutiva de carrapatos infectados por R. rickettsii, em comparação com carrapatos não infectados

Alta Competência Vetorial de todos estágios parasitários; no entanto, frequência de infecção de carrapatos em condições naturais é baixa (1%)

Baixa Competência Vetorial de todos estágios parasitários (menor ainda para larvas). No campo, frequência de infecção de carrapatos é muito baixa (<1%).

Já que a infestação humana por A. aureolatum é rara, este carrapato tem relativamente uma BAIXA CAPACIDADE VETORIAL em condições de campo

No campo, a baixa competência vetorial de A. cajennense é compensada pela alta frequência de infestação humana, resultando relativamente numa BAIXA CAPACIDADE VETORIAL

Labruna et al. Experimental infection of Amblyomma aureolatum ticks with Rickettsia rickettsii. Emerg. Infect. Dis. 17: 829-834, 2011

Soares et al. Experimental infection of the tick Amblyomma cajennense with Rickettsia rickettsii, the agent of Rocky Mountain spotted fever. Med. Vet. Entomol. (2011)

Labruna et al. 2008, J. Med. Entomol, 45:1156-1159 (http://www.cve.saude.sp.gov.br ) “De 1998 a 2007, o número médio de casos confirmados de FMB por área endêmica foi de 6.4 ± 3.6 (amplitude: 1-11) para sete áreas de transmissão por A. aureolatum e 5.3 ± 8.4 (1-38) para 28 áreas de transmissão por A. cajennense (médias estatisticamente similares; teste t-Student, P= 0.616, gl: 23).”

Incidência atual de Febre Maculosa Brasileira (FMB) em São Paulo: 0.10 casos/100,000 habitantes de áreas endêmicas (Katz et al., 2009)

Áreas de transmissão por A. aureolatum

Áreas de transmissão por A. cajennense

ALTA COMPETÊNCIA VETORIAL BAIXA COMPETÊNCIA VETORIAL

BAIXA INFESTAÇÃO HUMANA ALTA INFESTAÇÃO HUMANA

BAIXA CAPACIDADE VETORIAL BAIXA CAPACIDADE VETORIAL

Municípios endêmicos para FMB de 1995 to 2010

Incidência mensal de FMB no Estado de São Paulo (2003 to 2008) (Katz et al., 2009)

Pinter et al. (2004; J. Med. Entomol. 41:324-332): Dinâmica sazonal de carrapatos adultos de Amblyomma aureolatum em cães

2001 2002

2 adultos

Adultos de A. aureolatum Ativos por todo ano

Casos de FMB sem tendência sazonal

Labruna et al. (2002; Vet. Parasitol. 105: 65-77): Dinâmica sazonal de larvas, ninfas e adultos de A. cajennense em equinos

Log

(X+1

) No.

Car

rapa

tos

em e

quin

os

1997 1998 1999

O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S

adultos

larvas

ninfas

Log

(X+1

) No.

tic

ks o

n ho

rses

1997 1998 1999 O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S

adults larvae nymphs

Transmissão transovariana de R. rickettsii em A. cajennense é baixa (Soares et al. 2011)

Baixa eficiência de transmissão por larvas (Soares et al. 2011)

Papel crucial de hospedeiros amplificadores, a fim de criar novas linhagens de ninfas infectadas, que irão transmitir a doença para humanos

Municípios endêmicos para FMB de 1995 a 2010

Capivaras experimentalmente infectadas por R. rickettsii desenvolveram rickettsemia, SEM SINTOMAS CLÍNICOS, por uma média de 10 dias, quando elas infectaram cerca de 25% dos carrapatos A. cajennense que se alimentaram nelas

Áreas de transmissão por A. aureolatum

Áreas de transmissão por A. cajennense

Carrapatos são muito eficientes para manter R. rickettsii por transmissões transovariana e

transestadial

Carrapatos NÃO são muito eficientes para manter R. rickettsii por transmissões transovariana e

transestadial

Hospedeiros amplificadores são necessários a médio e longo

prazo

Hospedeiros amplificadores (capivaras) são necessários a

curto prazo

Áreas endêmcias estáveis (persistentes)

Áreas endêmicas instáveis (muito dinâmico)

Área endêmica para Febre maculosa em Piracicaba, Estado de São Paulo

Densidade populacional de capivaras nesta área: até 60 vezes maior que em ambientes naturais (pantanal, Amazônia) (Ferraz et al. 2006)

Mata ciliar

Rio Piracicaba

Plantação de cana-de-açucar

Fonte: CVE, Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo (http://www.cve.saude.sp.gov.br)

Casos confirmados de FMB no Estado de São Paulo Dados de 1985 a 31/outubro/2007: 274 casos com 98 (35.8%) óbitos

0

5

10

15

20

25

30

35

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

Ano

Núm

ero

de c

asos

Nº DE CASOS

Nº DE ÓBITOS

Se a capivara é um bom hospedeiro amplificador, então a solução é controlar as populações de capivaras nas áreas endêmicas. Como???

Maior risco de infecção humana

Interferência humana na população de hospedeiros amplificadores (aumento da oferta de alimento)

Aumento da taxa de reprodução: Riscos de aumentar o número de animais susceptíveis a R. rickettsii

Aumento da taxa de carrapatos infectados

RISCO DE FEBRE MACULOSA