SAI DE BAIXO EPISÓDIO: MAGDA, A PROFESSORA

QUATRO ATOS

AUTOR JD Morbidelli

(11)99770-3750 jdmorbidelli@gmail.com

PERSONAGENS Caco Antibes

Magda Vavá

Cassandra Neide Aparecida

Mulher (Ivonete da Conceição) Menino (Vavazinho)

PRIMEIRO ATO

MAGDA entra em cena, sorridente e carregando um monte de livros. Coloca-os sobre a mesa, apanha um exemplar de gramática e começa a ler com dificuldades.

MAGDA (pausadamente)

An/tes de “p” e “b”, usa-se sem/pre “m”. Al/gu/mas pa/la/vras o/xí/to/nas ter/mi/na/das em “ u” não são

a/cen/tu/a/das, co/mo: u/ru/bu, ca/ju e can/gu/ru. (satisfeita)

Nossa, canguru não tem pauzinho no “u”! O Caco prec isa saber disso!

CACO ANTIBES entra em cena e se surpreende ao vê-la tão compenetrada nos estudos.

CACO ANTIBES Magda, mas o que significa tudo isso? O que você fa z enfurnada

no meio de tantos livros? Se eu não a conhecesse tã o bem, poderia confundi-la com uma intelectual. Cuidado, h ein! Embora

a leitura seja importante, no seu caso ler mais de cinco linhas por dia pode causar consequências irreparáve is aos seus

últimos neurônios.

MAGDA Amor, eu descobri minha verdadeira vocação. Quero q ue você

saiba, em primeira mão, primeira perna, primeiro pe scoço, que eu nasci para ensinar os desnutridos de conheciment o.

CACO ANTIBES

Desnutridos de conhecimento?! Cala a boca, Magda! Não é desnutrido, é desprovido!

Quem vai ficar desnutrido nesse apartamento sou eu, sem meus brioches no café da manhã, sem meu mousse de gorgon zola, sem

meu filé mignon ao creme de alho doce.

Magda dá de ombros e volta para os livros.

CACO ANTIBES (apanhando um dos livros)

Mas era só o que me faltava! Você vai ensinar o quê se não sabe nem distinguir um atlas geográfico de um livro de

filosofia?!

MAGDA (séria)

Caco, eu estou entendendo! Já faz algum tempo que e u tenho percebido que você não me acha inteligente. Mas eu vou provar

que eu não sou apenas um par de coxas e um rostinho bonito. (batendo contra os peitos)

Pelo contrário, eu também tenho dois peitos!

CACO ANTIBES (dissimulado)

Não diga! Sério?!

MAGDA Você está superestimando minha sabedoria. Por sua c ulpa, eu

estou sendo chamada de “a burra gostosa do Arouche” .

CACO ANTIBES É subestimando, sua anta!

MAGDA

(sorrindo) Gostosa, tudo bem, até que eu gosto de ser chamada assim.

(irritada) Mas burra é ofensa!

CACO ANTIBES

Ofensa aos burros, claro. Você, Magda, é tão anta, tão anta que...

(pausa) Lembra aquela vez que você foi ao mercadinho compra r papel

higiênico, e o caixa perguntou se era para embrulha r. (dirigindo-se à plateia)

Ela respondeu: “Não, é para limpar a bunda mesmo”.

MAGDA Pois fique o senhor sabendo que eu sei muito bem a diferença entre um atlas geográfico e um livro de filosofia. Ontem fui

até o banco fazer um financiamento para comprar uma van

filosofia. Vou montar uma sala de aula aqui mesmo, e pagar o empréstimo com o dinheiro dos meus pupilos e das mi nhas

pupilas, que já estão até dilatadas de tanto ler.

CACO ANTIBES Van o quê?

MAGDA

(impaciente) Van filosofia! É um furgão cheio de livros de Plutã o; do

Sócrates, aquele ex-jogador do Corinthians que escr eveu O Calcanhar de Aquiles .

CACO ANTIBES

Cala a boca, Magda! Não é Plutão, é Platão! Sócrate s, o ex-jogador, nunca foi filósofo! E vã filosofia não é n enhum

furgão para transportar livros, mas uma expressão shakespeariana.

MAGDA

Tem até livro daquele escritor famoso, que escreveu O Alpinista . Como é mesmo no nome dele?

Aquele, amor, amigo do Pernalonga.

CACO ANTIBES Amigo do Pernalonga, o coelho?

MAGDA

Isso! Paulo Coelho.

VAVÁ entra em cena, falando ao celular.

VAVÁ (irritado)

Isso não pode ficar assim! Eu vou tomar uma providê ncia urgente! Nos meus tempos de síndico, os condôminos eram

tratados com respeito e esse tipo de coisa não acon tecia.

MAGDA O que aconteceu, tio Vavá?

Por que o senhor está tão excitado?

VAVÁ Excitado eu estava ontem à noite, quando saí com aq uela

vizinha gostosona. Hoje eu estou exaltado, Magda. Algum engraçadinho deixou uma van com dois pneus fu rados

bloqueando a entrada da garagem. Não entra e sai ni nguém do edifício. Eu mesmo tive que levar meu carro para um

estacionamento pago.

CACO ANTIBES (desdenhando)

Deve ser a van filosofia da sua sobrinha. Ela cismo u que quer ser professora.

VAVÁ

Vã filosofia?! Isso não é um conceito daquele romancista espanhol, Miguel de

Cervantes?

CACO ANTIBES É impressionante como a inteligência passa longe de sse

ambiente. Eu fico horrorizado, e a cada minuto que permaneço com vocês minha cultura também se esvai para fora d o meu

intelecto. (ênfase nos termos estrangeiros)

Quem disse isso foi William Shakespeare, um verdade iro lorde inglês, um gentleman que nasceu em Stratford-upon-A von,

pequena cidade do condado de Warwickshire ao sul de Birmingham. Escreveu, entre outras obras-primas, Romeu e

Julieta e Hamlet . Aliás, esse ano William Shakespeare completa 453 anos.

MAGDA

Nossa, ele deve estar bem velhinho! Foi só você fal ar em Romeu e Julieta que me deu uma fome danada! Será que tem queijo e

goiabada na geladeira?

Caco Antibes apanha um vaso sobre a mesa e dirige-s e à plateia, com a luz voltada para ele.

CACO ANTIBES (recitando)

Ser ou não ser, eis a questão. (pausa)

Por favor, produção, agora com legenda: To be or not to be, that´s the question.

O palco se ilumina novamente, e Caco Antibes coloca o objeto de volta à mesa.

MAGDA (aplaudindo)

Que lindo, amor! Nunca tinha visto um monólogo entr e duas pessoas; ou melhor, entre uma pessoa e um vaso.

Estou até sem palavras. Você receita muito bem! E o vaso também foi ótimo!

CACO ANTIBES

Realmente, Magda, eu recito muito bem. Estou me sentindo como Laurence Olivier interpretan do o

príncipe Hamlet, um louro de olhos azuis e pele mai s alva do que a própria neve dos campos dinamarqueses.

VAVÁ Tenho que admitir, Caco Antibes, que em matéria de encenação

você é impecável!

CASSANDRA entra em cena, com um envelope nas mãos.

CASSANDRA Magda, minha filha.

Chegou esse envelope para você. E é dos Estados Uni dos!

CACO ANTIBES (surpreso, com ênfase nos termos estrangeiros)

Um envelope para Magda?! Mas de quem pode ser?! Em toda a sua existência, ela jamais recebeu sequer um e-mail – n em mesmo um

spam – ou uma simples mensagem no WhatsApp. Quem dera uma carta, e ainda mais vindo dos United States of

America. Caco Antibes apanha o envelope das mãos de Cassandr a.

CASSANDRA Caco Antibes, saiba que violação de correspondência é crime!

CACO ANTIBES

(aproximando-se da sogra) Crime, Cassandra, é o que você faz diariamente com esse

cabeção em frente ao espelho. Crime, minha sogrinha , é ficar horas e mais horas no camarim modelando o cabelo co m laquê e passando creme de abacate no rosto para melhorar es sa cútis, que um dia já foi de pêssego, mas hoje não passa de um kiwi

com casca. Na verdade, uma salada de frutas complet a. (voltando ao envelope)

Como marido, eu tenho todo o direito de violar as c oisas da minha mulher, inclusive as mais secretas.

Caco Antibes abre o envelope, enquanto todos aguard am com grande curiosidade.

CACO ANTIBES (admirado, com ênfase nos termos estrangeiros)

Um cheque! E assinado pelo director da University o f Massachusetts!

Deve ser, evidentemente, preenchido em dólar americ ano. Deixe-me ver.

MAGDA

(interrompendo-o) Caco, você sabia que canguru não tem pauzinho no “u ”?

CACO ANTIBES (carinhoso)

Magda, minha professorinha. É acento! E deixa comig o que o pauzinho eu mesmo coloco onde é necessário.

(dirigindo-se à plateia) Aliás, vocês sabem por que lá em Portugal os passag eiros só

viajam em pé? É que depois da nova regra ortográfic a, tiraram o assento dos ônibus.

CASSANDRA

(orgulhosa) Um cheque para a Magda!

(aproximando-se da filha) Minha filha, por acaso você pretende fazer intercâm bio nos

Estados Unidos ou prestar algum vestibular?

VAVÁ Nem vestibular nem vestibulinho, Cassandra. A sua f ilha quer

ser professora. (pensativo)

Se bem que pode ser uma boa ideia. Eu tenho que res olver umas coisas, mas volto logo.

Vavá sai de cena, apressado.

CASSANDRA

(sorrindo, discretamente) Mas Magda, você vai dar aula do quê?

MAGDA

Vou ensinar os desnutridos de educação como falar corretamente, mamãe. O Caco sempre diz que eu sou b oa de

língua, não é amor?

CACO ANTIBES (ênfase nos termos estrangeiros)

Sim, Magda. Isso eu não posso negar, principalmente quando a língua tem o oval do director da University of Mass achusetts e

a aprovação de Caco Antibes. E vamos lá para o quar to porque eu quero retomar a última lição.

Caco Antibes e Magda saem de cena, enquanto que NEIDE APARECIDA entra carregando uma caixa enorme cheia de livros.

NEIDE APARECIDA (reclamando)

Dona Cassandra, eu quero deixar bem claro que sou d iarista e não uma mula de carga. Eu devia é cobrar um adicion al por carregar cada uma dessas caixas que largaram na rec epção.

CASSANDRA

Adicional?! A gente deveria é reduzir seu salário p ara compensar as xícaras e os pratos que você quebra. Já não se fazem mais serviçais como antigamente.

NEIDE APARECIDA

Que maldade! Saiba que em toda a minha carreira de diarista eu nunca quebrei um copo sequer.

CASSANDRA

(desdenhando) Carreira?!

NEIDE APARECIDA

Carreira, sim! Eu sou uma profissional da cozinha!

CASSANDRA Então, vai até lá me preparar um chá de frutas verm elhas com

uns biscoitinhos leves de chocolate.

NEIDE APARECIDA (dissimulada)

Chá de frutas vermelhas e biscoitinhos leves de cho colate! Vou trazer chá de caixinha e pão duro. É o que sobr ou.

Vavá entra em cena.

VAVÁ

(animado) Cassandra e Neide Aparecida, minhas queridas. Eu já sei como

tirar a gente dessa pindaíba.

NEIDE APARECIDA Pronto! Lá vem!

É melhor eu ir preparar o chá da dona Cassandra.

FIM DO PRIMEIRO ATO

SEGUNDO ATO

Vavá e Neide Aparecida preparam um quadro negro, e alinham algumas carteiras escolares.

VAVÁ Pronto, Neide Aparecida. Eu já mexi os meus pauzinh os e agora

é só esperar a isca morder o anzol.

NEIDE APARECIDA Seu Vavá, o que o senhor está aprontando? Tem certe za que a

dona Magda tem condição de ensinar alguém?

VAVÁ Já está tudo planejado. Nós só precisamos de um úni co aluno.

NEIDE APARECIDA Como assim?!

VAVÁ

A Magda não é uma simples professora que ensina o b ê-a-bá. Ela vai dar aula para um público muito específico e de muita

grana: os novos ricos. Ou, como diria Caco Antibes, “the new rich”!

NEIDE APARECIDA

Seu Vavá, seu Vavá! Eu acho que o senhor não está m uito bem da cabeça! Qual é a ricaça que vai querer ter aulas co m a dona

Magda?!

VAVÁ Neide Aparecida, você não percebe o quanto ela tem se

esforçado? Na verdade, a Magda é mais inteligente d o que todos nós juntos. Ela só precisa de um empurrãozinho.

Além do mais, nós precisamos dar a ela um voto de c onfiança. Quem sabe não há ali um gênio escondido, querendo d espertar

para a vida.

NEIDE APARECIDA É ruim, hein!

VAVÁ

E mais: para ensinar esses novos ricos não é precis o ter muito conhecimento.

NEIDE APARECIDA

Aula com a dona Magda?! Eu é que não queria estar n a pele deles... como é que se chama? (erro na pronúncia do inglês)

De niu riche!

VAVÁ Ah, mas você vai! Deixa tudo comigo! Eu já joguei a isca e se

meu plano der certo, eu garanto que nós vamos ficar ricos! Estou até pensando em aumentar o seu salário!

NEIDE APARECIDA

Sei não! Se eu recebesse um centavo para cada aumen to que o senhor promete, já teria aposentado e estaria toman do sol lá

na laje em São Matheus.

VAVÁ É que você não conhece a minha visão para os negóci os.

Magda entra em cena.

MAGDA (dirigindo-se ao quadro negro)

O que é isso, tio Vavá?

VAVÁ É um quadro negro, minha sobrinha.

MAGDA

Mas se é um quadro negro, por que pintaram de verde ?

NEIDE APARECIDA Seu Vavá, eu acho que ela precisa bem mais do que u m

empurrãozinho. Precisa é ser gerada de novo, de pre ferência pelo sêmen daquele cara do computador, o tal de Bil l Gates; e sem a participação da dona Cascassandra para não co ntaminar.

MAGDA

(irritada) Por acaso vocês dois estão me defumando?

VAVÁ

Não, minha querida. Nós não estamos lhe difamando. Pelo contrário, estamos falando sobre sua inteligência. Se você

quer ser professora, então será. Eu estou divulgand o essa sua nova atividade, e daqui a pouco uma aluna muito imp ortante

estará chegando para as aulas.

MAGDA Jura, tio Vavá! Então, eu tenho que me preparar. Já que a

gente não tem computador nessa casa, vou até a livr aria comprar uma versão impressa daquele famoso site de pesquisa.

VAVÁ

Do que você está falando?

MAGDA Do Google.

VAVÁ

(desanimado) Vai, minha querida! Vai!

Magda sai de cena.

NEIDE APARECIDA Seu Vavá, isso não vai dar certo. Se tiver mesmo um gênio morando dentro da dona Magda, ele estão tão escondi do que

ninguém nunca vai encontrar.

VAVÁ Tenha um pouco de paciência, e confie em mim.

Caco Antibes e Cassandra entram em cena, felizes e carregando várias sacolas de compras.

CASSANDRA

(entregando as sacolas para Neide Aparecida) Nossa, como eu estava precisando de um banho de loj as!

Serviçal, leve tudo isso para o meu quarto.

Caco Antibes faz o mesmo.

CACO ANTIBES Depois eu quero que você engome umas camisas novas, porque

essa noite será especial.

NEIDE APARECIDA Seu Caco, dona Cassandra. Onde vocês conseguiram di nheiro para

comprar tantas roupas? E tudo de grife!

CACO ANTIBES Isso não é da sua conta, intrometida.

Eu e a cascacu, isto é, minha querida sogrinha, tir amos a sorte grande!

NEIDE APARECIDA

Para quem comeu pão duro pela manhã, a dona Cassand ra deve ter mesmo acertado na loteria.

CASSANDRA

Melhor, Neide Aparecida. Melhor!

CACO ANTIBES Mas pobre é tudo igual mesmo, né! Basta ver alguém se dando

bem na vida, que já pensa que ganhou na loteria. Al iás, toda vez que vai à lotérica, junta as moedinhas que sobr aram da

conta de luz para fazer uma fezinha. Daí, antes mes mo do sorteio, fica fazendo planos: “Ah, eu vou comprar u ma casa nova, encher a geladeira de cerveja e chamar os amigo para

jogar truco e fazer um churrasquinho. Depois, eu vo u pegar as criança e passar uns tempo na praia”.

Eu odeio pobre!

Neide Aparecida sai de cena.

VAVÁ Pelo menos para mim vocês vão dizer onde conseguira m dinheiro

para comprar todas essas coisas. (pausa)

Já sei! Vocês pegaram aquele cheque que chegou dos Estados Unidos para a Magda!

CACO ANTIBES

Vavá, eu direi a Magda que o dinheiro será muito me lhor utilizado se investirmos em nós mesmos em vez de ga star com

educação.

VAVÁ

Sei! E que argumentos vocês usarão para convencê-la , justamente agora que sua inteligência está se aflor ando para o

mundo?

CASSANDRA (sorrindo)

Simples! Nós apenas diremos que é isso que os polít icos fazem o tempo inteiro.

CACO ANTIBES

E mais: eu direi que se ela não concordar, nunca ma is colocarei acento no canguru.

VAVÁ

Mas canguru não tem acento!

CACO ANTIBES Vavá, isso é um detalhe íntimo! Você não quer saber onde eu

coloco acento, ou quer?

VAVÁ Deus me livre, farroupilha!

CACO ANTIBES

Então, fica na sua e deixe que eu e minha digníssim a sogra, esse exemplo vivo de como uma mulher consegue resis tir ao

tempo e às revoluções, desfrutemos um pouco das reg alias da vida.

VAVÁ

Pois fiquem sabendo que eu não concordo com o que v ocês fizeram com o dinheiro da Magda.

CASSANDRA

Ah não! E quanto àquela sua “boa ideia” para tirar a gente da pindaíba, hein!

(apontando para o quadro negro e as carteiras) Aposto que você também está se aproveitando desse l ampejo de

inteligência da minha filha para se dar bem. Vejam só: é o roto falando do esfarrapado.

VAVÁ

Espera aí, minha irmã. Vocês estão confundindo as c oisas! Eu posso até estar tirando a minha casquinha, mas é pa ra o bem de

todos e não ficar gastando dinheiro com roupas de g rife em shopping center.

CACO ANTIBES

É impressionante! Eu, mesmo sendo protagonista, sou o último a saber das coisas que acontecem nesse apartamento.

(gritando) Mas que ideia é essa, Vavá? Conte logo!

(suavemente) Estou louco para sentir novamente o aroma dos meus brioches

exalando no café da manhã.

Cassandra apanha um naco de pão duro sobre a mesa e dirige-se à plateia, com a luz voltada para ela.

CASSANDRA

(imitando Vivien Leigh em “E o Vento Levou”) Por Deus, eu juro! Por Deus, eu juro que eles não v ão acabar

comigo! Eu vou passar por tudo isso e quando termin ar, jamais comerei pão duro novamente! Nem eu, nem minha famíl ia! Mesmo

que tenha que descontar todos os cheques que os ame ricanos mandaram para a minha filha, jamais comerei pão dur o

novamente!

O palco se ilumina novamente, e Cassandra morde o p ão duro.

CACO ANTIBES (dirigindo-se a plateia, fingindo choro)

Senhores e senhores, vocês acabaram de testemunhar mais uma brilhante participação da grande Aracy Balabanian, vulgo

cabeção. Acostumada a nos fazer rir, por pouco ela não me fez chorar como uma criança. Só me contive para que as lágrimas

não desbotassem o azul tão profundo dos meus olhos nórdicos. (apanhando o pão duro e dirigindo-se a Cassandra)

Cascacu, mais uma vez você se superou! Fez a Vivian Leigh e seu rabanete de E o Vento Levou parecer

uma mera coadjuvante diante dessa performance, dign a de Oscar, com o pão duro!

CASSANDRA

Caco Antibes, deixe de enrolação e vamos ouvir a id eia do Vavá.

Vavá aproxima-se dos dois e conta seu plano, cochic hando. MAGDA entra em cena, vestida de maneira um pouco ex travagante para uma professora.

MAGDA Quem cochicha o rabo enguiça. Aposto que vocês nunc a ouviram

esse versículo.

CACO ANTIBES Cala a boca, Magda! Não é enguiça, é espicha! Não é versículo,

é provérbio! E que roupa é essa? Você quer ser prof essora ou personagem de novela mexicana?

MAGDA

(séria)

Caco Antibes, o senhor me respeite porque eu estude i muito e agora sou uma mulher amestrada!

CACO ANTIBES

(cínico) Disso eu não duvido! Foi eu mesmo quem a amestrei c om o

canguru perneta!

Toca a campainha.

VAVÁ (agitado)

Deve ser a aluna. Saiam todos, saiam todos e só vol tem quando estiverem prontos.

Caco Antibes, Cassandra e Neide Aparecida saem apre ssados de cena. Magda os acompanha.

MAGDA Esperem por mim.

Vavá atende a porta. IVONETE DA CONCEIÇÃO, com visual extravagante, praticamente, uma perua, entra em cena.

VAVÁ

(atencioso) Ivonete da Conceição! Há quanto tempo que não nos v emos! Acho

que desde aquele baile lá em... Como era mesmo o no me do lugar?

(pensativo) Itapecerica da Serra.

IVONETE DA CONCEIÇÃO

(surpresa) Há quanto tempo, Vanderley Mathias!

(retomando a compostura) Eu estou aqui por causa das aulas. Quero ver se ess a

professora com seu novo método de ensino é mesmo tã o bom!

VAVÁ (desconcertado)

Não se preocupe, madame. O nosso método tem sido ad otado nos principais países europeus, e é pioneiro no Brasil. Com

certeza, a senhora se ficará ainda mais refinada de pois de passar algumas horas com a professora Magda.

(beijando-lhe as mãos) Se bem que, aos meus olhos, não há absolutamente na da que se

possa melhorar!

IVONETE DA CONCEIÇÃO

Dispenso os elogios, Vanderlei Mathias. (pausa)

Mas onde está essa professora tão especial? É verda de mesmo que ela ensinou a Madonna a falar japonês em menos de três

horas antes de um show em Tóquio?

VAVÁ Ensinou a Madonna a falar japonês, a Beyoncé a fala r

castelhano, a primeira-ministra alemã Angela Merkel a falar chinês. Ensinou até o ex-presidente Lula a falar po rtuguês! Ela Só não deu aulas de língua para o papa Francisc o porque

não concordou com algumas regras do Vaticano. Sabe como é, né! Uma mulher bonita e inteligente no meio de um monte de padres

poderia criar uma situação embaraçosa.

IVONETE DA CONCEIÇÃO Claro!

VAVÁ

(sério) Só tem uma questão: por ser um método tão inovador e eficaz as

aulas não são baratas?

IVONETE DA CONCEIÇÃO Dinheiro não é problema! O que importa é eu aprende r italiano!

VAVÁ

(esfregando as mãos) Que bom! Para a madame, claro!

IVONETE DA CONCEIÇÃO

Não importa o quanto eu tenha que gastar desde que aprenda a falar inglês rapidamente para imitar a Madonna. Diz em até que

eu me pareço com ela.

Ivonete da Conceição imita a Madonna, ao som Like a Virgin .

VAVÁ Bravo! Bravo!

(entregando-lhe uma caneta) Enquanto a professora não chega, a madame pode ir p reenchendo

o cheque.

Ivonete da Conceição preenche o cheque e o entrega a Vavá.

VAVÁ Ótimo!

(conduzindo-a até a carteira) Sente-se aqui, por favor. A professora Magda já est á se

preparando.

Caco Antibes, Cassandra e Neide Aparecida, vestidos como novos ricos, entram em cena.

FIM DO SEGUNDO ATO

TERCEIRO ATO Caco Antibes, Cassandra, Neide Aparecida e Ivonete da Conceição estão sentados nas carteiras à espera da professora.

CASSANDRA

(fingindo não conhecer os outros alunos) Eu sou a Cassandra. Muito prazer em conhecê-los.

NEIDE APARECIDA

E eu sou a Neide Aparecida, dona Cassandra. Já tive aula de alemão com essa professora antes de viajar para o C anadá.

CASSANDRA

Não precisa me chamar de dona! Aqui somos todos igu ais!

NEIDE APARECIDA Iguais?! Sei.

CASSANDRA

(chamando-lhe, discretamente, a atenção) Neide Aparecida, no Canadá não se fala alemão. Só i nglês e

francês.

NEIDE APARECIDA Ah, dona Cassandra. Ela não sabe disso!

CACO ANTIBES

Bem, vocês já devem ter ouvido falar de mim. Sou o Caco Antibes, único sobrevivente de um luxuoso transatlâ ntico que

se chocou com um iceberg nas águas geladas do ocean o Pacífico. (fingindo tristeza)

Preciso ir às pressas para a longínqua Dinamarca to mar posse da herança de minha querida titia Sophia, que falec eu

recentemente e me deixou suas propriedades. Afinal, sou seu único e lindo herdeiro, cujos olhos azuis nunca mai s a verão.

Que Deus a tenha!

IVONETE DA CONCEIÇÃO Meu nome é Ivonete da Conceição.

CACO ANTIBES

Pobre tem cada nome! É Ivonete, Inocêncio, Simplíci o, Neide Aparecida. Sem falar naquela mania de registrar os filhos com

a mesma inicial: Jurema, Jurandir, Genésio. Daí, de pois de

registrado descobre que Genésio é com “G” em vez de “J”, e põe a culpa no coitado do escrivão.

No aniversário das criança , pobre compra dois quilo de linguiça, umas asinha de frango e um engradado de cerveja para

fazer churrasco em cima da laje. E na janta , aproveita as sobras da carne e da farinha para fazer um mexidão.

Pobre guarda uns trocadinho o ano inteiro para uma viagenzinha de avião; fica perdido no aeroporto e, assim que em barca, tira

foto da janelinha só para fazer inveja às vizinha . No desembarque, fica andando pela cidade inteira com a quela

fitinha da companhia aérea presa na mala. Eu odeio pobre!

(dirigindo-se à mulher) E a senhora, mora onde? Em Guaianases ou Parelheiro s?

IVONETE DA CONCEIÇÃO

Eu moro nos Jardins e estou aqui para aprender ital iano. Pretendo ir para a Toscana em meu jatinho particula r.

CACO ANTIBES

Toscana?! Itália?! Jatinho?! Para falar a verdade, Ivonete da Conceição, se bem

pronunciado, chega a acalentar os ouvidos, até mesm o os de um louro requintado como eu, descendente dos mais nobr es

escandinavos.

VAVÁ e MAGDA, caracterizada como professora, entram em cena.

VAVÁ Eu quero lhes apresentar a professora Magda, ideali zadora de

método inovador de ensino de idiomas.

MAGDA Tio Vavá, que hora é a merenda?

VAVÁ

(cochichando em seu ouvido) Magda, preste atenção! Você é a professora, lembra? Basta

fazer aquilo que combinamos e vai dar tudo certo. E u confio muito em você, minha sobrinha. Nós temos o mesmo sa ngue.

MAGDA

(emocionada) Poxa, tio Vavá. Finalmente alguém viu algo de valor em mim

além do meu par de coxas. (irritada)

Mas espera aí: que negócio é esse da gente ter o me smo sangue? Pelo que eu sei, a única transfusão que fizemos foi bancária.

VAVÁ

Está bem! É só força de expressão. (entregando-lhe um giz)

Agora, pegue esse pedaço de giz e tome seu lugar em frente ao quadro negro.

Vavá sai apressado de cena.

MAGDA

(enrolando) Bem, eu sou a professora Magda e sou muito boa de l íngua. Vou

ensinar a vocês tudo o que precisam para um bom lin guado.

CACO ANTIBES Eu sou a prova viva dessa sua habilidade, fessora.

Ivonete da Conceição o encara com espanto.

CACO ANTIBES (disfarçando)

Eu quero dizer que já fui aluno dela em outras ocas iões, e a cada aula ficava mais impressionado com seu método. E mais

culto, claro! (dirigindo-se a Ivonete da Conceição)

Em matéria de língua, minha senhora, eu posso afirm ar que ainda está para nascer alguém tão competente quanto a

professora Magda.

MAGDA Arigatô, amor.

CACO ANTIBES

Estão vendo a perfeição! Essa frase já vale pela au la inteira. Já estou me sentindo na terra do sol nascente.

Sayonara para todos!

Caco Antibes faz menção de se retirar.

IVONETE DA CONCEIÇÃO Espera aí! Eu tenho que estar na Toscana na próxima semana, e

não irei embora enquanto não falar italiano fluente mente!

Todos fazem cara de preocupados.

NEIDE APARECIDA (cochichando para Cassandra)

Dona Cassandra, o que a gente vai fazer para engana r essa perua? Já estava até sonhando com aquele aumento de salário

que o Seu Vavá me prometeu.

CASSANDRA (cochichando)

Aumento?! Ele não me disse nada sobre isso, mas eu também estou ficando preocupada. Não sei de onde o Vavá ti rou essa

ideia maluca de que a Magda pode ser professora.

Magda bate a régua com força no quadro negro.

MAGDA

Silêncio! Vamos parar agora mesmo com esse zunzunzu m. Quem cochicha o rádio enguiça.

IVONETE DA CONCEIÇÃO

Não é rádio, é rabo. E não é enguiça, é espicha.

CACO ANTIBES / CASSANDRA / NEIDE APARECIDA (em uníssono)

Cala a boca, Ivonete!

CACO ANTIBES (ênfase nos termos estrangeiros)

Não percebe que a professora está se aquecendo. Ess es trocadilhos fazem parte do seu método inovador de e nsino: “Learning with joke and fuck everybody”. Ou mais ou menos isso, que ela desenvolveu em Massachusetts, e que h oje é

adotado em todas as escolas do mundo oriental, ocid ental, setentrional e meridional.

NEIDE APARECIDA

É verdade! Eu já vi esse negócio de fuck nos filmes americanos, e é bom mesmo!

CACO ANTIBES

E quanto a você, Cascacu. Ou melhor, coleguinha Cas sandra. O que acha desse método tão inovador “Learning with j oke and

fuck everybody”. Aliás, há quanto tempo que...

CASSANDRA Pois fique o coleguinha Caco Antibes sabendo que an tes mesmo

dele nascer, eu já praticava esse método!

CACO ANTIBES O Brigadeiro Salão que o diga. Que Deus o tenha lon ge de você!

(cochichando) Sogrinha!

Magda continua a aula.

MAGDA

Vamos começar com o italiano, que é a língua que os italianos falam na Itália.

CACO ANTIBES

(dissimulado) Bravo! Bravo! Os italianos falam italiano na Itália , assim

como os franceses falam francês na França!

MAGDA E os australianos falam australiano na Austrália; o s

bolivianos falam boliviano na Bolívia. Mas isso não vem ao caso, agora!

IVONETE DA CONCEIÇÃO

Desculpa interromper, professora, mas pelo que eu s ei os australianos falam inglês e os bolivianos falam esp anhol.

CACO ANTIBES / CASSANDRA / NEIDE APARECIDA

(em uníssono) Cala a boca, Ivonete!

VAVÁ entra em cena, trazendo suco para os alunos.

VAVÁ É hora do intervalo, e eu trouxe um suco para refre scar esse

calor.

NEIDE APARECIDA (desdenhando)

Quer o avental, Seu Vavá!

VAVÁ Não, minha querida! Aqui somos todos iguais!

NEIDE APARECIDA

Iguais?! Sei.

CACO ANTIBES (ênfase nos termos estrangeiros)

Na verdade, eu preferia um vinho Richebourg Grand C ru, que costumo degustar durante minhas viagens a Paris ou em minha

casa de inverno em Mont Blanc, nos Alpes Franceses.

MAGDA Grande o quê?!

VAVÁ

Nada disso! Preparei um suco de laranja para todos, e um especial para a madame Ivonete da Conceição.

(entregando-lhe o copo) Madame, queira apreciar essa delícia que eu prepare i com todo

o carinho.

Ivonete da Conceição pega o copo e o leva à boca.

MAGDA (interrompendo)

Tio Vavá, eu também quero um desses. Está com uma c or tão colorida!

VAVÁ Não, Magda. Esse é da madame Ivonete da Conceição.

IVONETE DA CONCEIÇÃO

(dirigindo-se a Magda) Pode ficar com o meu suco, professora! Eu não estou com muita

sede.

VAVÁ / CACO ANTIBES / CASSANDRA / NEIDE APARECIDA (em uníssono)

Não! Esse é da madame!

MAGDA (apanhando o copo)

Mas ela não quer! E eu preciso regar minha inteligê ncia.

VAVÁ / CACO ANTIBES / CASSANDRA / NEIDE APARECIDA (em uníssono)

Cala a boca, Magda!

VAVÁ (dirigindo-se a Ivonete da Conceição)

Esse suco é especial porque faz parte do aprendizad o.

IVONETE DA CONCEIÇÃO Então, está bem!

Todos a observam tomando o suco. Em poucos minutos, Ivonete da Conceição desmaia.

FIM DO TERCEIRO ATO

QUARTO ATO Todos permanecem na sala.

CASSANDRA

Vavá, você matou a pobre coitada!

CACO ANTIBES Se matou eu não sei, mas de pobre ela só tem o nome .

VAVÁ

Calma, minha gente. Eu só coloquei um sonífero inof ensivo no suco dela.

NEIDE

Tipo boa noite Emanuela, tio Vavá! Isso é muito per igoso. Fiquei sabendo que uma mulher tomou e acordou morta !

CACO ANTIBES Cala a boca, Magda! É Cinderela e não Emanuela! E j á se viu

alguém acordar morto?

NEIDE APARECIDA Se ela morreu, eu também quero parte da herança.

CASSANDRA

Neide Aparecida, a única herança que você terá será um escovão de chão e sem direito à contestação. Já para a cozi nha,

serviçal.

Neide Aparecida sai de cena.

VAVÁ (aproximando-se do corpo de Ivonete da Conceição)

Caco, me ajude a colocá-la no sofá.

Caco Antibes o ajuda, a contragosto.

CACO ANTIBES A velha pode ser milionária, morar nos Jardins e te r um

jatinho particular, mas quem foi pobre uma vez nunc a perde o jeito. A propósito, Vavá, de onde você conhece essa perua?

VAVÁ

De um baile em Itapecerica da Serra na década de 19 70, dançando ao som do Bee Gees.

MAGDA

Essa palavra “Itapecerica” me faz lembrar quando o Caco me deixava sozinha!

CACO ANTIBES

Como assim, Magda?!

VAVÁ (sonhador)

Sabe que me deu até saudades! Vavá coloca uma peruca estilo anos 70 e dirige-se à plateia, com a luz voltada para ele. Ele dança como John Travolta ao som de Staying Aliv e. A música sobe e contagia a todos, que também começa m a dançar. Magda destoa do ritmo e dança de maneira sexy. O palco se ilumina novamente.

VAVÁ (retirando a peruca e suspirando)

Foi uma longa noite de prazer!

CACO ANTIBES

Quem diria, Sr. Vanderley Mathias. O John Travolta brasileiro, desfrutando donzelas e sabe-se lá o quê mais nos ba iles de

Itapecerica da Serra.

VAVÁ Vamos deixar de conversa fiada e terminar o nosso plano.

MAGDA

Isso mesmo, tio Vavá! Vai que ela ressuscita.

O palco fica totalmente escuro por alguns segundos. Ivonete da Conceição acorda lentamente.

IVONETE DA CONCEIÇÃO Dove sono? Cosa Succede?

VAVÁ

Você está no Arouche, madame. (admirado)

Está falando italiano?

CACO ANTIBES Vavá, o que você colocou no sonífero?

CASSANDRA

É um milagre! Minha filha é uma santa! Ela ensinou a língua dos papas para essa pobre criatura!

Todos ficam admirados.

CACO ANTIBES Eu sempre soube que onde minha mulher coloca a mão, o milagre

acontece.

Neide Aparecida entra em cena de mãos dadas com um menino, de uns sete anos de idade, com cabelo e roupas idêntic as às de Vavá.

NEIDE APARECIDA

Seu Vavá, esse menino estava procurando a avó lá na rua em frente ao prédio. Ele parece alguém que eu conheço. Deu uma

peninha!

IVONETE DA CONCEIÇÃO (levantando depressa do sofá e abraçando o menino)

Vavazinho, a vovó está aqui! (dirigindo-se, em seguida, a Vavá) Vanderlei Matias, ele é seu neto.

Vavá fica mudo, sem reação.

NEIDE APARECIDA

Quer dizer que o senhor andou pulando a cerca, Seu Vavá!

CACO ANTIBES Não pulou só cerca! Pulou a etapa dos filhos e foi direto para

o neto.

VAVÁ (retomando a compostura)

Mas como?! Onde estão os pais do menino?

IVONETE DA CONCEIÇÃO Nossa filha mora na Itália, e o pai só Deus sabe. F ui eu que o

criei, e queria que você o conhecesse.

CACO ANTIBES O que aconteceu com a língua italiana? Voltou pro t erceiro

mundo?

IVONETE DA CONCEIÇÃO (interrompendo-o, enquanto retira as roupas de peru a e se

revela uma bela e elegante mulher) A verdade é que eu falo italiano como qualquer nati vo da

Itália. Desde o início, sabia que esse tal método d e ensino era uma farsa só para me extorquir. Mas eu aceitei assim mesmo

como desculpa para me aproximar de você, Vanderley.

VAVÁ Agora, ferrou!

IVONETE DA CONCEIÇÃO

Gostaria que você tomasse conta dele por uns tempos , enquanto eu viajo. E, claro, não precisa se preocupar com as despesas.

(dirigindo-se a Magda) Fui eu também que mandei aquele cheque de Massachu setts.

CACO ANTIBES

Vem com o titio Caco, Vavazinho! Não é um lourinho dinamarquês como o tio, mas faz parte da família.

MAGDA

Que gesto bonito, amor! Me deu até vontade de ser m ãe solteira!

CASSANDRA

Você já é casada, minha filha. Com um traste desses , mas é!

CACO ANTIBES (abraçando-a)

Não se preocupe, Magda! Essa noite nós vamos fazer o canguru juvenil para relembrar nossa adolescência.

Sobe a vinheta.

Todos se posicionam em frente ao palco. Fecham-se as cortinas.

FIM