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Época – Edição 896 – 10 Agosto 2015

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Revista Época – Edição 896 – Data: 10 Agosto 2015

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6 I ÉPOCA I 10 de agosto de 2015

Edição 896 I 10 de agosto de 2015

PRIMEIRO PLANODA REDAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

PERSONAGEM DA SEMANA . . . . . . . . . . 13

Luiz Carlos Trabuco Cappi,diretor presidente do Bradesco

A SEMANA EM NOTAS . . . . . . . . . . . . . . . . 16

A SEMANA EM FRASES . . . . . . . . . . . . . . . 18

EXPRESSO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

Fábio Luiz Inácio Lula da Silva, o Lulinha,cria nova empresa em São Paulo

GUILHERME FIUZA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

Dirceu? Que Dirceu?

SUA OPINIÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

NOSSA OPINIÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

TEMPOTEATRO DA POLÍTICAA crise atual é consequênciado modo petista de fazer política . . . . . . . . . 28

A prisão de José Dirceu . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

O conflito no Congresso . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

OBSERVADOR DO SINDICALISMO . . . . 42

A caixinha-preta dos petroleiros

ENTREVISTA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

Valdimir Aras, procurador daRepública e chefe da Secretariade Cooperação Jurídica Internacional

IDEIASDEBATES E PROVOCAÇÕESA política dos campeõesnacionais deu certo? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

André Salcedo e Felipe Marquesem uma análise a favor do apoiodado pelo BNDES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

Macos Lisboa e Sérgio Lazzarini emuma análise contra a política dos campeões 54

HELIO GUROVITZ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

A biografia de Roger Ailes,presidente da Fox News, mostrasua influência na política americana

ENTREVISTA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e umdos maiores especialistas em pobreza

VIDAHISTÓRIA PESSOAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

Marcelo Rubens Paiva e duas de suas irmãsem um relato sobre o desaparecimentodo pai durante a ditadura militar

BRUNO ASTUTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

Marco Pigossi será um policial boa-praçaem A regra do jogo, nova novela das 9

WALCYR CARRASCO . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

Vontade de votar?

MENTE ABERTA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

Exposição em Roma sobre o estilistaAzzedine Alaïa, o mestreindependente da moda

GUSTAVO CERBASI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

Somos os culpados pela crise

MENTE ABERTA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

Grupo Corpo celebra 40 anos em boa forma

12 HORAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

RUTH DE AQUINO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

A quem interessa a queda de Dilma28

DIRETOR GERAL Frederic Zoghaib KacharDIRETOR DE MERCADO ANUNCIANTE Alexandre Barsotti

DIRETOR DE MERCADO LEITOR Luciano Touguinha de Castro

Diretor de Redação: João Gabriel de Lima [email protected]: Diego EscosteguyDiretor de Arte Multiplataforma: Alexandre LucasEditores Executivos: Alexandre Mansur, Guilherme Evelin, Marcos CoronatoEditor-Colunista: Bruno AstutoEditores: Aline Ribeiro, Bruno Ferrari, Danilo Venticinque, Flávia Yuri Oshima,João Luiz Vieira, Marcela Buscato, Marcelo Moura, Rodrigo TurrerRepórteres Especiais: Cristiane Segatto, José FucsColunistas: Eugênio Bucci, Guilherme Fiuza, Gustavo Cerbasi, Helio Gurovitz,Jairo Bouer, Marcio Atalla, Ruth de Aquino, Walcyr CarrascoRepórteres: Flávia Tavares, Graziele Oliveira, Júlia Azevedo Korte,Leopoldo Mateus, Marcelo Sperandio, Nina Finco, Pedro Marcondes de Moura,Ruan de Sousa Gabriel, Teresa Perosa, Thais Lazzeri, Vinicius GorczeskiEstagiários: Ana Helena Rodrigues, Ariane Teresa de Freitas,Felipe Hideki Yatabe, Gabriel Lellis, Harumi Visconti, Igor Utsumi, Patricia PeresSUCURSAIS l RIO DE JANEIRO: [email protected]ça Floriano, 19 – 8o andar – Centro – CEP 20031-050Diretora: Cristina Grillo; Repórteres: Acyr Méra Júnior, Daniela Barbi,Marcelo Bortoloti, Nonato Viegas, Sergio Garcia;Repórteres Especiais: Hudson Corrêa, Raphael Gomide; Samantha LimaEstagiária: Lívia Cunto Salles l BRASÍLIA: [email protected] 701 – Centro Empresarial Assis Chateaubriand – Bloco 2 – Salas 701/716 – Asa SulDiretor: Luiz Alberto Weber; Editor: Leandro Loyola;Repórteres: Filipe Coutinho, Murilo Ramos, Thiago BronzattoFOTOGRAFIA l Editor: André Sarmento; Assistente: Sidinei LopesDESIGN E INFOGRAFIA l Editor: Daniel Pastori; Editora Assistente: Aline ChicaDesigners: Alyne Tanin, Daniel Graf, Renato Tanigawa;Editor de Infografia: Marco Vergotti; Infografistas: Luiz C.D. SalomãoSECRETARIA EDITORIAL l Coordenador: Marco Antonio RangelREVISÃO l Coordenadora: Araci dos Reis Galvão de França; Revisores: Alice Rejaili Augusto,Elizabeth Tasiro, Silvana Marli de Souza Fernandes, Verginia Helena Costa RodriguesÉPOCA ONLINE l [email protected]: Liuca Yonaha; Editora Assistente: Isabela Kiesel;Repórteres: Bruno Calixto, Marina Ribeiro, Rafael Ciscati; Vídeo: Pedro Schimidt;Web Designer: Giovana Tarakdjian; Estagiária: Gabriela VarellaCARTAS À REDAÇÃO: Nathalia Bianco [email protected];Assistente Executiva: Jaqueline Damasceno; Assistentes: Nathália Machado Garcia,Victória Miwa; Pesquisa: CEDOC/Globopress;INOVAÇÃO DIGITAL: Diretor de Inovação Digital: Alexandre Maron;Gerente de Estratégia de Conteúdo Digital: Silvia Balieiro;Gerente de Tecnologia Digital: Carlos Eduardo Cruz; Gerente de InterfacesDigitais: Valter Bicudo; Designers: Janaina Torres, Sheyla Amaral; Esley Henrique eMarcella Maia (estagiários) Desenvolvedores: Bruno Agutoli, Everton Ribeiro, JefersonMendonça, Leonardo Turbiani, Marcio Esposito, Tcha-Tcho, Victor Hugo Oliveira da Silva

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MERCADO LEITOR: Diretor de Marketing: Cristiano Augusto Soares Santos;Ger. de Vendas de Assinaturas: Reginaldo Moreira da Silva;Ger. de Operações e Planejamento de Assinaturas: Ednei Zampese

ÉPOCA é uma publicação semanal da EDITORA GLOBO S.A. – Av. Jaguaré,1.485,São Paulo (SP),CEP 05346-902. Distribuidor exclusivo para todo o Brasil: Dinap – Distribuidora Nacional dePublicações GRÁFICAS: Log & Print Gráfica e Logística S.A. – Rua Joana Foresto Storani,676 – Distrito Industrial – Vinhedo, São Paulo, SP – CEP 13280-000.

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O Bureau Veritas Certification, com base nos processos e procedimentos descritos no seu Relatório de Verifica-ção, adotando um nível de confiança razoável, declara que o Inventário de Gases de Efeito Estufa - Ano 2012,da Editora Globo S.A., é preciso, confiável e livre de erro ou distorção e é uma representação equitativa dosdados e informações de GEE sobre o período de referência, para o escopo definido; foi elaborado em conformi-dade com a NBR ISO 14064-1:2007 e Especificações do Programa Brasileiro GHG Protocol.

Foto: Ricardo Correa/ÉPOCA

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Prezado cliente: preço por pessoa. Pacotes somente parte terrestre, não incluem passagens aéreas. Preços, datas de saída e condições de pagamento sujeitos a reajuste edisponibilidade e somente para embarque em 2015. Condições de pagamento com parcelamento 0+10 vezes sem juros no cartão de crédito ou 1+9 no boleto bancário. Sujeitoa aprovação de crédito. Preços calculados com câmbio CVC 29/7/2015: US$ 1,00 = R$ 3,37, válido por tempo limitado. Os pacotes devem ser calculados com o câmbio do dia dacompra. Espanhol na Argentina: Escola Expanish. Preço base US$ 878. Inglês na África do Sul: Escola LAL. Preço base US$ 965. Inglês no Canadá: Escola LSI. Preço base US$ 954.Inglês em Malta: Escola EF. Preço base US$ 1.435. Inglês em Cambridge: Escola EF. Preço base US$ 1.803. Inglês em Boston: Escola EF. Preço base US$1.913.

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8 I ÉPOCA I 10 de agosto de 2015

mesa mais aplaudida da Festa Literária de Paraty tevecomo protagonista o historiador Boris Fausto. A cer-

ta altura da conversa, o jornalista Paulo Roberto Pires per-guntou a ele se a ditadura militar havia deixado algumlegado ao Brasil. Boris disse que, se houve um legado, é acerteza de que nunca mais precisaremos de uma ditadura.

A afirmação do historiador de 84 anos é mais que umafrase de efeito. Durante a maior parte do século XX, muitosbrasileiros alimentavam uma ilusão: umregime autoritário, ainda que provisório,resolveria seus problemas. Eram outrostempos. Uns achavam que militares de-veriam tomar conta do governo. Outrosacreditavam no outro lado da mesmamoeda, uma revolução comunista. Em1964, veio a primeira alternativa (pode-ria ter sido a segunda). E emergiu a tris-te verdade sobre ditaduras, de direita oude esquerda. Uma vez instaladas, elasdemoram a ir embora. E deixam um ras-tro de mortes. Entre as vítimas da dita-dura brasileira está o deputado RubensBeyroldt Paiva, assassinado durante uminterrogatório em 1971. A narrativa to-cante dos filhos de Paiva que, crianças,viram o pai sair de casa para nunca maisvoltar pode ser lida a partir da página 62,em reportagem de Aline Ribeiro.

Lembranças tristes como essa estão na base da tese deBoris Fausto. Com exceção de minorias delirantes – queainda acreditam em golpe militar ou em revolução –, osbrasileiros, hoje, nem cogitam retroceder a uma ditadura.A vibração atual do país não combina com regimes de for-ça. Em ditaduras, os cidadãos ficam em casa, amedrontados.Em democracias, são livres para se manifestar nas ruas,desde que seja de forma pacífica (qualquer forma de vio-lência é oposta ao espírito democrático). Em ditaduras, asinstituições se subordinam ao ditador de plantão. Em de-mocracias, são livres e fiscalizam umas às outras. Por isso,em ditaduras a corrupção costuma correr sem freios. Emdemocracias, a polícia, que é independente, investiga ospoderosos. E a Justiça, garantido o direito de defesa, é au-tônoma para denunciar e condenar.

A

SEMDITADURASOhistoriador Boris Fausto.O Brasil não temmais ilusõessobre regimes de força

JoãoGabriel de LimaDiretor de Redação

Ademocracia está aí.É hora de se acostumar

Viver numa democracia exige um aprendizado. Em de-mocracias maduras, demonstrações em ruas e praças pú-blicas ocorrem de forma pacífica (e, quando isso não acon-tece, os violentos são processados e punidos). Nasmanifestações de 2013 no Brasil houve excessos de parte aparte – black blocs de um lado, policiais do outro. A vio-lência afastou os brasileiros das ruas. Quando eles voltaram,no início deste ano, os excessos haviam deixado de ser a

regra. Que continue assim – é sinal deque estamos aprendendo algo sobreconvivência democrática.

O mesmo vale para as investigaçõessobre corrupção. Elas são o pão de cadadia de uma democracia moderna, masmuitos brasileiros ainda estranham. Nasemana passada, depois da prisão doex-ministro José Dirceu – acusado, comprovas fartas, de reincidir no crime decorrupção –, o líder do PT na Câmara,Sibá Machado, queixou-se de persegui-ção (leia mais a partir da página 28). Decerta forma, ecoou a atitude do presi-dente da Câmara, Eduardo Cunha –que, acusado de pedir propina numadelação premiada, brandiu uma mira-bolante teoria conspiratória, dizendo-seperseguido pelo governo federal. O mi--mi-mi contra a polícia é um refrão

recorrente dos políticos brasileiros, em geral acompanhadode uma grita contra quem noticia as investigações.

Em regimes de liberdade, a fiscalização da polícia – eo escrutínio permanente da imprensa – faz parte do co-tidiano. Os representantes eleitos pelo povo devem seacostumar com isso. Que significa, em última análise,acostumar-se à própria democracia.

Foto: Zanone Fraissat/Folhapress

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Job: 22533-018 -- Empresa: africa -- Arquivo: AFD-22533-018-Anuncio-202x266_pag001.pdfRegistro: 171042 -- Data: 15:03:12 23/07/2015

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AQUICADASEGUNDOVALEOURO.PREPARE-SEPARAAMAIORCOBERTURA

QUEVOCÊJÁVIU.

SOMOSTODOSCAMPEÕES

De 5 a 21 de agosto

Milton Leite Luiz Carlos Jr. Marcelo Barreto Andre Rizek

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PRIMEIROPLANO

O diretor presidentedo Bradesco colocaa empresa na colado arquirrival Itaú

Unibanco e prepara-se para aproveitarum futuro (e ainda

distante) ciclode crescimento

Ohomemqueviuattqtravés

dacrise

LUIZ CARLOS TRABUCO CAPPI

10 de agosto de 2015 I ÉPOCA I 13

SERENO EMATADORO executivo LuizCarlos Trabuco.Ele se orgulha doestilo conciliador e,nos últimosmeses,usou o jeito calmopara conduzir aousada compradoHSBC

Foto: Leonardo Rodrigues/Valor/Ag. O Globo

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a tarde de 28 de julho, estavam reunidos nasede do Bradesco, em Osasco, São Paulo, osdez integrantes do conselho administrativo,incluindo o diretor presidente do banco, LuizCarlos Trabuco Cappi. Na sala, sentia-se o

peso da história. Participam também do conselho o ex-diretor presidente e mítico banqueiro Lázaro Brandão, de89 anos, e Denise e João Aguiar Alvarez, netos de AmadorAguiar, que fundou o banco, em 1943. Lá fora, sentia-se opeso da crise. O mundo econômico e financeiro se esgoe-lava conforme desabava a Bolsa chinesa. Alastrava-se otemor de que o Brasil cairia na classificação das agênciasavaliadoras de risco. A atenção da cúpula do Bradesco, po-rém, estava em outro lugar. Eles esperavam uma ligaçãodos Estados Unidos, onde quatro executivos sêniores aplai-navam os últimos detalhes de um negócio de bilhões dedólares. A ligação foi feita e, em teleconferência, os colegasem Nova York confirmaram aos colegas em São Paulo: aproposta havia sido aceita. O Bradesco era o novo dono daoperação do HSBC no Brasil. Trabuco Cappi havia coman-dado a maior das 48 compras de empresas que o Bradescojá fez em seus 72 anos. A operação seria histórica em qual-quer cenário econômico. No ambiente atual, de crise e ex-trema cautela por parte das empresas, a compra se tornaainda mais impressionante. Trabuco preferiu se concentrarna oportunidade. “Os ciclos vão, vêm, passam. O Brasilsempre sai mais forte das crises. Essa operação representanossa confiança de que o país vai mudar de patamar dedesenvolvimento”, disse o executivo a ÉPOCA.

Banqueiros mundo afora podem admirar a jogada, masclientes de todos os bancos, não só do HSBC, têm umarazão justa para se preocupar. Concentrações, em qualquersetor, podem ter consequências ruins para o consumidor– serviços piores, mais uniformes e mais caros. Esse tipo demudança preocupa especialmente num setor cujo principalserviço, a oferta de crédito, já cobra um preço muito ele-vado, na forma dos altíssimos juros finais no Brasil. Bem osabe quem usa cartão de crédito ou cheque especial. Estu-dos do Fundo Monetário Internacional em diferentes mo-mentos, em 2003 e 2013, concluíram que o setor bancáriono Brasil “comporta-se de maneira oligopolística” e “secaracteriza pela concentração”. Um relatório de 2012 daConsultoria Legislativa da Câmara dos Deputados levantoupreocupações similares. Trabuco, com seu jeito sempre afá-vel, tenta acalmar o cliente. Ele acredita que a concentraçãopara por aqui. “Acho que concluímos a consolidação dosetor bancário, no segmento dos grandes bancos com pre-tensão de cobertura nacional. Ficamos com dois privados,dois estatais e um estrangeiro”, diz, referindo-se a Bradesco/HSBC, Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Caixa e Santander.“Agora, essas instituições restantes vão disputar mais du-ramente o mercado. A concorrência vai ficar no mesmo

nível ou até aumentar”, afirma. Embora os juros finais bra-sileiros sejam extraordinariamente altos, os dados do mer-cado não chegam a revelar uma concentração assustadora.Com a compra, os três maiores bancos – Banco do Brasil,Itaú Unibanco e Bradesco/HSBC – somariam 51% do totalde ativos do mercado. É uma parcela superior à da Alema-nha e à dos Estados Unidos, mas ainda inferior à que ocor-re no Reino Unido e na França. Por causa da potencialameaça ao consumidor e à segurança do sistema bancário,a compra do HSBC terá de ser avaliada pelo Cade (Conse-lho Administrativo de Defesa Econômica), ligado ao Mi-nistério da Justiça, e pelo Banco Central.

Embora faça bem em suspeitar do resultado da operação,o brasileiro pode também admirar a mensagem transmi-tida por uma iniciativa desse tipo. A tacada de US$ 5,2bilhões (cerca de R$ 18 bilhões) representa uma apostaarriscada. O preço foi considerado alto por especialistas einvestidores, o que fez cair o valor das ações do Bradescono dia do anúncio do negócio, 3 de agosto. Mas Trabucovê o atual fosso econômico em que o Brasil se encontracomo um buraco para colocação de alicerces.“O banco foifundado durante a Segunda Guerra Mundial. Naquele mo-mento, os fundadores queriam explorar uma nova frontei-ra econômica, o norte do Paraná”, diz o executivo de 64anos, há 45 na mesma empresa, para explicar seu conforto

NMarcosCoronato, comAriane Teresa de Freitas

PERSONAGEM DA SEMANA

IMPÉRIOSede do BradescoemOsasco, SãoPaulo, em 1971. Emtamanho, o bancovolta a se aproximardo líder, seu rivalItaú Unibanco

Foto: Folhapress

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com situações de instabilidade. Atualmente, há novasfronteiras para a companhia desbravar – geográficase tecnológicas.“No primeiro semestre, oferecemos R$10 bilhões em crédito para operações feitas pelo ce-lular. Queremos levar esse tipo de acesso a mais váriosmilhões de clientes. O celular é um instrumento bá-sico e amigável para qualquer consumidor”, diz. Coma aquisição do HSBC, o Bradesco ganha 851 agências,principalmente no Nordeste, região com alto poten-cial de crescimento e onde o banco tem presença maistímida. A compra do HSBC expande a rede em 23%,para mais de 5.500 agências e 4 mil postos bancários.A empresa fica em boa posição para aproveitar umfuturo ciclo de crescimento (ainda não visível no ho-rizonte). Aos que criticam os bancos por lucrar sem-pre, com crise ou sem crise, Trabuco oferece umaexplicação simples. “Entendemos os tempos duros eos maduros. Uma hora o cliente é investidor, em ou-tra é tomador de empréstimo”, afirma.

A audácia da operação só faz destacar o jeito calmocom que Trabuco conduz os negócios. Não se vê nelesinal da impulsividade ou hiperatividade que se cos-tuma atribuir a gênios das finanças estereotípicos. Ohomem que comanda movimentações bilionáriasestudou filosofia e sociologia e gosta de destacar comosuas características marcantes “temperança” e “sere-nidade”. “Elas me servem para lidar com opiniõesdiferentes, encontrar convergências, construir pontese chegar a consensos”, afirma. Como frequentadorregular da lista anual de ÉPOCA dos brasileiros maisinfluentes, Trabuco recebeu elogios incomuns naspáginas da revista, além das previsíveis loas a sua com-petência. Lázaro Brandão exaltou sua “cordialidade”incomum. Luiza Helena Trajano, presidente do Ma-gazine Luiza, ficou impressionada com seu otimismoe sua habilidade de bom ouvinte.

Cordialidade à parte, ninguém deixou de notar queo negócio levou o Bradesco à distância de mordida deseu arquirrival, o Itaú Unibanco. Depois que Itaú eUnibanco se fundiram, em 2008, a empresa resultan-te ultrapassou o Bradesco e se tornou o maior bancoprivado do Brasil. O novo primeiro colocado chegoua se distanciar bem do Bradesco, com 30% a mais deativos totais. Agora, com a compra do HSBC, o Bra-desco encolhe a distância para pouco mais de 1%.Trabuco nega que a rivalidade pese na decisão de com-pra. Gosta de mostrar o tamanho do salto dado coma operação, equivalente a dez anos de crescimento. Elatorna real a possibilidade de o Bradesco voltar a ser omaior banco privado do país. Não se pode exigir maisesse passo de Trabuco, um executivo já admirado. Masele sabe que essa seria uma conquista histórica. u

Luiz Carlos Trabuco Cappi

“Osciclosvão,vêm,passam.OBrasil sempresaimais fortedas

crises.Confioqueopaísvai evoluir

depatamar”

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Obama contra oCO2O presidente americano, BarackObama, anuncioua criação de um Plano de Energia Limpa com oobjetivo de reduzir em 32% a emissão de dióxidode carbono (CO2) nos Estados Unidos. Trata-sede uma medida inédita na história do país. O CO2

é o gás causador de efeito estufa mais abundante,e as últimas pesquisas climáticas aumentam apressão sobre os países poluidores. Estima-se quea temperatura global subirá ao menos 2 grauscélsius até 2050 com o atual ritmo de poluição.

RaciocínioconfusoNa quinta-feira, dia 6,o governador de MinasGerais, Fernando Pimentel(PT), sancionou a lei quelibera a venda e o consumode bebidas alcoólicas nosestádios mineiros. Em julho,Pimentel chegou a admitirque o clima nos estádiosmelhorou muito depois que avenda de álcool foi limitada.A proibição estava em vigordesde 2007 e deixará de valera partir do domingo, dia 9.

Escravos chinesesO Ministério do Trabalho eEmprego (MTE) do Rio deJaneiro descobriu um esquema decorrupção no controle migratóriodo aeroporto do Galeão. Agentescobravam propina de R$ 42mil de donos de pastelarias elanchonetes para liberar a entradade chineses que chegavam ao Brasilpara trabalhar como escravos.

AGOSTO I 2015

Seg Ter Qua Qui Sex Sáb Dom3 4 5 6 7 8 9

paraR$531milhões.

Contribuíramparao resultadoaquedadopetróleoeo

reconhecimentodedívidas.

SEMGASOLINAO lucro daPetrobrasno terceirotrimestre caiu

PqmvAda

Condiçãode vooPassageiros de 15aeroportos participaramde uma pesquisa sobre ascondições dos terminaisfeita pela Secretariade Aviação Civil (SAC).Os participantes foramgenerosos ao dar suas notas.

Fonte: Secretaria de Aviação Civil

Numa escala de 1 (pior) a 5 (melhor)

1

2

3

4

5

6

7

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10

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12

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14

15

CURITIBA

RECIFE

CAMPINAS

BRASÍLIA

PORTO ALEGRE

FORTALEZA

CONGONHAS I São Paulo

MANAUS

GALEÃO I Rio de Janeiro

NATAL

SANTOS DUMONT I Rio de Janeiro

CONFINS I Belo Horizonte

GUARULHOS I São Paulo

SALVADOR

CUIABÁ

4,434,334,274,244,234,204,174,164,134,094,094,054,043,663,35

QUE RESUMEM A SEMANA

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10 de agosto de 2015 I ÉPOCA I 17

Altos e baixos do EnemUm levantamento feito pelo Instituto Nacional de Estudos ePesquisa mostrou uma piora no desempenho das escolas na provade matemática do Enem 2014, mas um avanço em outras disciplinas.No ranking das 1.000 melhores instituições de ensino, 93 são escolaspúblicas – um avanço de 8% da rede pública em relação a 2013.

70ANOSDABOMBA Na última quinta-feira, dia 6, a cidade japonesa de Hiroshima lembrou as vítimasdo lançamento da bomba atômica com um recorde: a presença de representantes demais de 100 países no ParqueMemorial da Paz. Na hora exata do lançamento da bomba, milhares de pessoas fizeram umminuto de silêncio.

Aprata de EtieneEtieneMedeiros, de 24 anos, tornou-se a primeira mulher brasileira a subirno pódio de um campeonato mundialde piscina longa. A atleta ganhoumedalha de prata na modalidade 50metros costas, disputada no Mundialde Esportes Aquáticos de Kazan, naRússia. Ela ficou atrás da chinesa LiuXiang. Etiene terminou a prova em27s11, melhor tempo de sua carreirae atual recorde sul-americano.

Fotos: Andrew harnik/AP, Thomas Peter / Reuters, Michael Sohn/AP,Levy Ribeiro/Agência o dia e Getty images/Istockphoto

Fonte: Inep

Notasmédias nacionais por área disciplinar

LINGUAGEME SEUS CÓDIGOS

CIÊNCIASNATURAIS

CIÊNCIASHUMANAS

MATEMÁTICA

Em 2013 Em 2014

528508 507492565537 511544

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18 I ÉPOCA I 10 de agosto de 2015

“Nãochore”Ronda Rousey,lutadora deUFC, apósnocautear a brasileira BetheCorreia. Dois dias antes daluta, Bethe provocara Rondacomasmesmas palavras

Fotos: Jeff Bottari/Zuffa LLC/Zuffa LLC via GettyImages, Foto Audiência, André Coelho/Ag. OGlobo,

Jemal Countess/Getty Images, Michel Filho/Ag. OGlobo

QUE RESUMEM A SEMANA

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10 de agosto de 2015 I ÉPOCA I 19

“É preciso que alguémtenha capacidade dereunificar a todos”Michel Temer (PMDB-SP), vice-presidente.Houve quem entendesse a frase como campanhapela saída da presidente Dilma Rousseff

“Pelo que José Dirceusignifica, mesmo quesua prisão não fossepolítica, seria política”Luis FernandoVerissimo, escritor, eminterpretação peculiar dos fatos

“Emmenos de dezmeses fui campeãmundial, recordista e,agora, outramedalha”EtieneMedeiros, primeira brasileira medalhistadoMundial de Natação em piscina longa,com a prata no nado costas 50metros

“As casas precisamser nobres, nãopara os pobres”Carlos Carvalho, construtor e donodo terreno da Vila Olímpica, sobre olegado dos Jogos do Rio de Janeiro

“Estranhamente, tema propriedade de trêscarros de luxo”Rodrigo Janot,procurador-geral da República, sobre a ÁguaBranca Participações, empresa sem sedeou funcionários dona da Ferrari, do Bentleye do Lamborghini apreendidos na casa dosenador Fernando Collor deMello (PTB-AL)

“As empresas têmcontrato social, estãodevidamente registradasna junta comercial.(...) Filho da p...”FernandoCollordeMello,senador (PTB-AL) e ex-presidente, emdiscurso natribunadoSenado, sem ligar para odecoro parlamentar

“Se você chutarcada latino parafora deste país,quem vai limparseu banheiro,

Donald Trump?”Kelly Osbourne,

cantora, numa desastradatentativa de criticar Donald

Trump, candidato à Presidênciados Estados Unidos que pregaa expulsão de imigrantes

“Quem éextorquido

procura a polícia,não omundodas sombras”

SergioMoro,juiz federal responsável pela

Operação Lava Jato, ao condenarexecutivos da OAS por corrupção.A defesa argumentava que aconstrutora foi extorquida porfuncionários da Petrobras

DEDO NA CARA

O ILUMINADO

TOMATE DA SEMAN

“A notícia ao menosdá certeza às famílias”Najib Rizak, primeiro-ministro daMalásia, aoconfirmar a descoberta de destroços do avião do vooMH-370, desaparecido em 2014 com 239 pessoas

“O Brasil vai bem”Georges Plassat, presidentemundial do Carrefour

“Não são excomungadasnem devem sertratadas assim”Papa Francisco, a favor das pessoasdivorciadas que se casam novamente

“Nossas vidas agorasão separadas.Veremos outraspessoas,porcos e sapos”Miss Piggy, porquinha da sérieMuppets.Ela e o sapo Caco casaram-se em 1984, nofilmeOsMuppets conquistamNova York

“Eu seria Beyoncé”Michelle Obama, primeira-dama dos EUA,perguntada sobre que carreira seguiria se nãofosse “advogada, escritora ou líder política”

ANA

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[email protected] Ramos

20 I ÉPOCA I 10 de agosto de 2015

Socorro virtualNa semana passada, assessores deMichel Temer encaminharam e-mail a21 ministros com o mapa de votação,na Câmara dos Deputados, do projetoque autorizava aumento dos saláriosdos advogados da União. Temerqueria que os ministros entrassemem campo junto a suas bancadas parareverter o quadro antes da votaçãodefinitiva. Sabe o que conseguiu?Nada. O governo foi massacrado.

Batata assadaSe Dilma abrir mão de Mercadantena Casa Civil, não será só pelapressão de Renan, mas de políticosdo próprio PT. Dois nomes ganhamforça: Jaques Wagner, ministro daDefesa, é o favorito. Aldo Rebelo, daCiência e Tecnologia, corre por fora.

Aculpa é do FaceO desespero do governo é lidarcom os deputados novatos. Elesembarcaram numa onda anti-PT não pela influência de seuslíderes partidários, mas pelapressão que vem de suas bases porintermédio das redes sociais.

EmbarquecomplicadoOs irmãos Ciro e Cid Gomes estãocom tudo em cima para embarcarno PDT. Espaçosos, vão logo imporcandidatura à Presidência daRepública de um dos dois em 2018e “formar uma frente de esquerda”.Mas, se depender do senadorCristovam Buarque, que tambémsonha em ser candidato ao Planalto,os irmãos Gomes não terão direito atapete vermelho: “Eles não chegam,passam. Ciro Gomes não tem projetopara o Brasil”, afirma Buarque.

Batalhaparavirar o jogo

ilma e sua equipe começaram a traçar nos últimos diasum plano para tentar escapar de um eventual processo

de impeachment. Ele inclui a redução do ministério em atédez Pastas, a redistribuição de cargos para prestigiar caciquesdo PMDB do Senado – como Renan Calheiros, Romero Jucáe Eunício Oliveira – e substituir ministros que falham emconvencer suas bancadas a votar com o governo. Entre eles estãoManoel Dias, do Trabalho, e Henrique Alves, do Turismo.

D

Último suspiro?

Freddiena bandejaRenanCalheiros não querapenas mais cargos nogoverno. Para ajudar Dilma,faz questão que a presidentedemita o ministro da CasaCivil, Aloizio Mercadante– cujo apelido é FreddieMercury, em razão do vastobigode. Renan não esquece queMercadante pediu sua cassaçãoem 2007, enquanto se defendiade acusações de ter despesaspagas por uma empreiteira.

Fotos: AlanMarques/Folhapress, Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress,Alex Silva/Estadão Conteúdo, Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

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ComMarcelo Sperandio, Nonato Viegas e RicardoDella Coletta, com reportagem de Leandro Loyola

Gasolina na fogueiraAdvogados da Petrobras bem quetentaram, mas não conseguiramconvencer o juiz Jed Rakoff, da cortede Nova York, a arquivar processosque acionistas estrangeiros movemcontra a estatal e ex-dirigentes porprejuízos bilionários provocados pelacorrupção na empresa. Rakoff decidiuque as ações terão continuidade edeverão ser julgadas até fevereiro doano que vem. Uma das razões quemotivaram os acionistas a processara Petrobras foi uma reportagem deÉPOCA de 2013, que revelou o desviode recursos da Petrobras para encheros bolsos de operadores do PMDB.

Cupido de delaçãoSabe quem está convencendoinvestigados na Lava Jato a aceitaracordos de delação premiada como Ministério Público Federal? Oex-diretor de Abastecimento daPetrobras Paulo Roberto Costa.Ele transmite aos pretendentesinformações sobre as vantagens deentregar os companheiros de propina.

Querido amigoCom saudades do ex-diretor da ÁreaInternacional da Petrobras, JorgeZelada, com quem bolou estratégiaspara sangrar a Petrobras, o lobistaJoão Augusto Henriques perguntou aprocuradores se poderia visitá-lo nacarceragem. Procuradores disseramque era melhor não. Havia risco deHenriques ir à cela e não sair de lá.

Nada seguroA alemã HDI Seguros está preocupadacom a venda do HSBC para o Bradesco.É que ela tinha um acordo com o HSBCpara vender apólices em suas agências.Perderá a vez para o Bradesco Seguros.

Por cimaA Câmara Municipal de São Paulodeverá analisar em breve umprojeto que prevê a instalação depequenas antenas de celular notopo de bancas de revista e prédiosmenores. No Rio de Janeiro, o uso dasanteninhas foi autorizado em 2013.

Pode esperarA advogada Beatriz Catta Preta,expert em delações premiadas,deverá comparecer a umasessão da CPI da Petrobras,mesmo depois de se dizervítima de ameaças de alguns deseus integrantes. Só que antesBeatriz terá de responder a umainterpelação para que dê os nomesdos deputados que a ameaçaram.

Capitalismo na veiaFábio Luiz Lula da Silva, o Lulinha,o filho mais próspero do ex-presidentLula, ignora a crise econômica eempreende. Acaba de abrir a FFKEmpreendimentos, empresa comcapital de R$ 150 mil em sociedadecom os irmãos Fernando Bittar e KaliBittar; daí o nome FFK. A sede daempresa é a mesma da Play TV, canalde televisão que em 2006 recebeuuma bolada da antiga Telemar.A ausência mais sentida no negócioé de Jonas Suassuna, parceiro deLulinha em outras empreitadas.

Leia a coluna Expresso em epoca.com.br

SonháticospráticosAntes mesmo de ter seu registroaprovado pela Justiça Eleitoral,a Rede, de Marina Silva, vaipromover uma revisão de seuestatuto, aprovado em fevereirode 2013. A mudança deve-se a uma necessidade nadasonhática: permitir a reeleiçãode políticos filiados à legenda,o que era proibido. A alteraçãodeverá catapultar adesões aopartido já para as eleiçõesmunicipais do ano que vem.

Dodiscurso à realidade

te

il

Nos proclamesA Propeg acionou a Justiça para serincluída num contrato de R$ 560milhões da Caixa Econômica Federalcom agências de publicidade. Achance apareceu depois de a agênciaBorghi & Lowe ter sido afastada apósser citada na Lava Jato.

Nem024nem069Todos os 81 senadores da Repúblicatêm direito a um carro oficial. Ea lógica é que a numeração dosveículos fosse de 01 a 081. Certo?Nem tanto. Senadores evitaramescolher números como 024 e 069.

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Page 22: Época – Edição 896 – 10 Agosto 2015

GUILHERME FIUZA

Guilherme Fiuza é jornalista. Publicou os livrosMeu nome não é Johnny, quedeu origem ao filme, 3.000 dias no bunker eNão é amamãe – Para entendera Era Dilma. Escreve quinzenalmente em ÉPOCA [email protected]

22 I ÉPOCA I 10 de agosto de 2015

Dirceu?Que Dirceu?

Brasil, esse país noveleiro, já está à espera da novatrama: José Dirceu vai entregar Lula e todo mundo.

Era mais emocionante quando os brasileiros esperavampelo Papai Noel.

O maior assalto da República, perpetrado pelo PT noPalácio do Planalto, não chega ao fim porque tem umcúmplice poderoso: a sociedade brasileira. Após 12 anose meio de pilhagem, os companheiros continuam contan-do com a consciência aloprada do país para permanece-rem como donos da boca. Se não, vejamos: em 2006, Dir-ceu caiu em desgraça com o mensalão e o Brasil reelegeuLula, que inocentara Dirceu; em 2014, depois da prisãode Dirceu pelo mensalão, o Brasil reelegeu Dilma, que sesolidarizara com os mensaleiros presos; em 2015, depoisda prisão de Dirceu pelo petrolão, Dilma não é investiga-da e o Brasil fica esperando que Dirceuconte o que Dilma tem a ver com ele.

Vai esperar sentado, assistindo a umfilme de Al Capone – impressionado comobandidos podem privatizar um governo.

Enquanto isso, vamos tentar contar anovelinha de outro jeito: João Vaccari, ex-tesoureiro do PT, está preso pelo petrolão;Dilma passou a campanha presidencialnegando-se a dar uma palavra sequer decrítica a Vaccari; num evento partidário,Lula resumiu a estratégia de proteção aohomem do cofre – “na dúvida, fiquem como companheiro”, exortou à militância petista; João Vaccarié pau-mandado de Dirceu, como apontam as investigaçõesda Lava Jato; e no que Dirceu é preso pelo petrolão, o PTsolta nota sem citá-lo, o Planalto finge que nunca o viu maisgordo, e o Brasil se esquece (especialidade da casa) do fa-moso “estamos juntos” – proferido por Lula a Dirceu dedentro do Palácio, selando a sociedade entre presidente eréu, entre governo e quadrilha.

E tome literatura sobre o caráter de Dilma, a índole deDilma, a moralidade de Dilma. Vozes insuspeitas do ce-nário político, jornalístico e acadêmico vêm ressalvar quenão acreditam na hipótese de Dilma ter roubado. Só faltaalguma vestal da intelectualidade aparecer para jurar quea bicicleta pedalada por Dilma não foi subtraída de nin-guém à faca. Ora, distintos senhores: quem é Dilma? Aquivai a resposta, de graça: Dilma é funcionária de José Dir-ceu. Antes e acima de tudo, é funcionária do projeto de

poder montado e gerido por Dirceu, sob o signo messiâ-nico de Luiz Inácio da Silva. Projeto este que está rouban-do o país há mais de década, sistematicamente, como apolícia e a Justiça já cansaram de esfregar na cara dosbrasileiros. Ora, vão procurar a honradez de Dilma Rous-seff nas bugigangas de Erenice Guerra.

E assim, por se recusar a ver a paisagem óbvia da jane-la escancarada, o Brasil agora resolveu aguardar, sôfrego,que José Dirceu conte tudo. Tudo o quê?

Que tipo de delação premiada poderia favorecê-lo?Tudo o que Dirceu contar sobre quaisquer personagensvoltará imediatamente para seu prontuário, como esgotoderramado na beira da praia. Dirceu é o dono do projeto.Inventou o Lulinha Paz e Amor quando nem o PT queriamais apostar na quarta candidatura do ex-operário per-

dedor. Dirceu negociou com o centro,com a direita, com os empresários, comos formadores de opinião, com FernandoHenrique (através de Palocci), ajudandoa presidir a mais bela transição de poderda democracia brasileira. Poderia ter aju-dado a contratar um futuro pródigo parao Brasil, com sua experiência política,mas preferiu o delírio de fazer o PT en-golir o Estado e conquistar o poder abso-luto. Talvez esteja arrependido do cami-nho da mediocridade, de se esconder noguevarismo colegial para se lançar na

fúria arrecadadora, mas o arrependimento não é comumaos cronicamente vaidosos.

Não é estranho o Brasil ficar esperando que Dirceu sejaum homem-bomba. É apenas ridículo. Um Paulo Rober-to Costa pode amenizar seu calvário dando o caminhodas pedras e indicando que o Planalto sabia de tudo. JoséDirceu não pode amenizar nada para si, porque o partidoé ele, o governo é ele, o escândalo é ele. Lula é o mitogarantidor da fraude e Dilma é a militante que estava àmão para manter a fachada.

Só um país primário pode enguiçar numa discussãosobre a honradez da mulher sapiens, testa de ferro domaior golpe da história da República. u

O

NÃO É ESTRANHOO BRASIL FICARESPERANDO QUEDIRCEU SEJA UMHOMEM-BOMBA.

É APENAS RIDÍCULO

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Page 23: Época – Edição 896 – 10 Agosto 2015

PETRONAS. PRESENTE NOMUNDO. NO BRASIL. NA SUA VIDA.

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Page 24: Época – Edição 896 – 10 Agosto 2015

JUSTICEIROSOLITÁRIO“O almirante, o PT, o lobista e o PSDB”(895/2015) narrou a amizade de OthonPinheiro com seu sócio investigado pelosescândalos na Alstom e noMetrô paulista

Como advogado de José Amaro PintoRamos, em momento algum afirmei

que“a Hydro parou de funcionar por voltade 2010”. Meu cliente participou da criaçãoda Hydro Geradores e Energias Ltda., emsociedade com o almirante Othon Pinhei-ro da Silva.Após dificuldades para produziro protótipo, assinou com outros sócios acessão de quotas – que, por razões que eledesconhece, deixou de ser registrada, e as-sim ele deixou a sociedade. Desde então,não mantém negócios com o almirante.Sobre as investigações na Suíça, o Ministé-rio Público Suíço arquivou o inquérito so-bre o meu cliente em 2013, ao considerarsatisfatórios os elementos de que dispunha.As investigações na Suíça e no Brasil jamaisse referiram a possíveis cartéis entre empre-sas com relação a licitações do Metrô ou daCPTM. As relações profissionais de meucliente com a Alstom cessaram em 1999. Noque se refere ao caso da EPTE, ele nunca foimencionado. Reitero a inocência de meucliente, que será confirmada quando as in-vestigações forem encerradas.

Thiago Diniz Barbosa NicolaiÉPOCAmantém o que publicou.

COMENTÁRIO DA SEMANA

Escreva para:[email protected]

BOMBA-RELÓGIO“Você votou neles. Eles vão honrar essevoto?” (895/2015) narrou o paradoxo que oCongresso enfrenta com a “pauta-bomba”,que pode interferir na vida dos cidadãos

Com o desenrolar dos fatos estamosassistindo, como se fosse um intermi-

nável filme de terror, aos nossos candidatoseleitos tomarem conta só do que é deles. Enós, que os elegemos, seremos prejudica-dos sem preocupação por parte deles.

Zureia Baruch Jr.,São Paulo, SP

Infelizmente, o desrespeito noparto é comum. Esse momentodeveria ser lembrado como umaexperiência maravilhosa, masacaba se tornando um pesadelo”Aline Lopes,via Facebook

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Page 25: Época – Edição 896 – 10 Agosto 2015

MAIS COMENTADAS MAIS LIDAS MAIS COMPARTILHADAS

INSTAGRAM DO LEITOR

@melpraciano venceu o tema“Toque de poesia”. Confira mais fotose o tema da próxima edição no sitede ÉPOCA : glo.bo/bombou

UMACAUSADETODOS“Parto com respeito” (895/2015)publicou relatos demulheres queenfrentaram abusos e violência

ÉPOCA cumpre seu papel ao colocarquestões de interesse social em debate.

No entanto, a abordagem exigeesclarecimentos. A maioria dos 400 milmédicos brasileiros tem seguido asorientações do Código de Ética Médica,tratando com dignidade e respeito todosos seus pacientes. Por outro lado, causamgrande preocupação ao Conselho Federalde Medicina (CFM) situações de violênciacontra gestantes e recém-nascidos, comoresultado da omissão do Estado, que nãolhes garante leitos e condições deatendimento para realização de um partoseguro, e também a baixa cobertura para

Violência obstétrica: 1 emcada 4 brasileiras diz tersofrido abuso no parto

Resignado com a prisão,Dirceu disse a amigo estar...Coluna Expresso

Renato Duque aceitadelação premiadaColuna Expresso

Rio de Janeiro deixou decontabilizar R$ 1 bi emdívidas, diz TCE

O mau pagador depromessasColuna de Ruth de Aquino

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Carol Celico e Kakácancelam casamento e...Coluna de Bruno Astuto

Violência obstétrica: 1 emcada 4 brasileiras diz tersofrido abuso no parto

Nova Carminha? “Não sintopressão”, diz Giovanna...Coluna de Bruno Astuto

Investigadores da Lava Jatoapelidam Eduardo Cunha...Coluna Expresso

Resignado com a prisão,Dirceu disse a amigo estar...Coluna Expresso

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Violência obstétrica: 1 emcada 4 brasileiras diz tersofrido abuso no parto

Investigadores da Lava Jatoapelidam Eduardo Cunha...Coluna Expresso

Moro acha que o ideal éencerrar a principal parte...Coluna Expresso

Renato Duque aceitadelação premiadaColuna Expresso

Resignado com a prisão,Dirceu disse a amigo estar...Coluna Expresso

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INSTAGRAMLeitoras de

ÉPOCA aderemà campanha.Elas usaram a

rede social paradar seu relato

esses pacientes oferecida pelos planos desaúde. A erradicação dessa realidadedeveria ser o mote de uma campanhapermanente da sociedade.

Carlos Vital Tavares Corrêa Lima,Presidente do Conselho

Federal deMedicina

#PARTOCOMRESPEITO

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Page 26: Época – Edição 896 – 10 Agosto 2015

26 I ÉPOCA I 10 de agosto de 2015

Brasil vive grave crise econômica, quepoderá se tornar ainda pior. O aviso veiono último relatório da agência de clas-

sificação de risco Standard & Poor’s, uma das trêsmaiores do mundo. O Brasil está na iminênciade perder o grau de investimento, o atestado deque o país é bom pagador e merece crédito dosinvestidores. A perda do selo poderá ter conse-quências funestas para o país: redução dos inves-timentos externos, maiores dificuldades para asempresas brasileiras se financiarem, prolonga-mento da recessão, alta da inflação. Diante doaviso da Standard & Poor’s, ÉPOCA publicou queo comportamento das lideranças do CongressoNacional, na volta aos trabalhos, deveria ser o debuscar honrar o voto dos cidadãos e agir comresponsabilidade, deixando de aprovar projetosque representem mais gastos públicos.

Não se viu, porém, comportamento respon-sável na Câmara dos Deputados na volta do re-cesso, na semana passada. Sob o comando dopresidente da Câmara, Eduardo Cunha, os depu-tados continuam a brincar de piquenique na bei-ra do vulcão. Ignoraram as recomendações deprudência e aprovaram, em primeiro turno, a PEC443, que vincula os salários da Advocacia-Geralda União, delegados civis e federais à remuneraçãodos ministros do Supremo Tribunal Federal(STF). Se a PEC 443 for aprovada pelo Congresso,cria-se mais uma despesa adicional de R$ 2,4 bi-lhões por ano. Na expectativa de vir a ser denun-ciado pela Procuradoria-Geral da República, porconta das investigações da Operação Lava Jatosobre esquemas de corrupção na Petrobras, Cunhaguia a pauta da Câmara movido por seus interes-ses individuais. Fustigando o governo Dilma com

O

A Câmara ageirresponsavelmentee contribui paraagravar a crise do país

Piqueniqueàbeiradovulcão

a pauta-bomba, crê que dará uma demonstraçãode força para evitar um processo no SupremoTribunal Federal (STF). A pauta-bomba, porém,não contribui apenas para desestabilizar o gover-no Dilma e desgastar o PT. A aprovação de maisgastos públicos prejudica os cidadãos que elege-ram os parlamentares como seus representantesno Congresso Nacional – que, em consequência,enfrentarão alta nos preços, desemprego e umacrise econômica ainda mais longa. O país esperaagora que as lideranças do Senado Federal sejammais responsáveis e atuem para desarmar asbombas que a Câmara deixou no caminho. u

HOMEM-BOMBA

Opresidenteda Câmara,

EduardoCunha. Aose opor ao

governo Dilma,ele prejudicatambémoseleitores

brasileiros

Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

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Page 27: Época – Edição 896 – 10 Agosto 2015

Job: 42175-003 -- Empresa: Publicis -- Arquivo: 42175-003-20.2x26.6-An.PSCrizal-Rev.Epoca-Veja_pag001.pdfRegistro: 166851 -- Data: 14:20:24 05/05/2015

Page 28: Época – Edição 896 – 10 Agosto 2015

TEMPOTEATRO

DA POLÍT ICA

ACRISEATUALÉCONSEQUÊNCIADEMÁGESTÃO,ERROSPOLÍTICOSEARROGÂNCIA–QUEEXISTEMNOPTDESDEOSTEMPOSDELULAEJOSÉDIRCEU

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Page 29: Época – Edição 896 – 10 Agosto 2015

xistem cidades assentadas sobrefalhas geológicas, o que aumen-ta a probabilidade de terremoto– casos de Tóquio, Los Angeles eIstambul. Seus habitantes têm dese acostumar a pequenos sismoscotidianos e preparar-se para a

ocorrência de grandes tremores. Em suarelação com o mundo político, os brasi-leiros vivem como os habitantes dessascidades. Ocorrem terremotos todas assemanas – e, depois deles, terrenos quepareciam firmes se tornam movediços.Dois desses terremotos ocorreram nesteinício de agosto. O primeiro foi a prisão

Di na segunda-feira, dia 3

queesqui-

Rousseffndices de po-

r da página 38).Dirceu representou

que para o Partido doss. Primeiro, porque dirige

es da Lava Jato para o primei-ndato do ex-presidente Lula, onde

am montados os esquemas do mensa-lão e do petrolão. Revelações incômodassobre a gênese da corrupção podem ferirgravemente uma candidatura de Lula àPresidência no futuro. Segundo porque,em meio às provas abundantes contraDirceu (leia o quadro na página 30), hásinais de enriquecimento pessoal. Issotorna difícil defender Dirceu junto à mi-litância. Quando foi preso no mensalão,Dirceu deixou-se fotografar erguendo opunho cerrado – no gesto que os PanterasNegras, militantes do movimento negronos anos 1960, tornaram célebre.Naquelaocasião, nas redes sociais, militantes pe-tistas apresentaram Dirceu como vítimade um“julgamento político”.Desta vez,opartido abandonou Dirceu.

A semana atribulada de Dilma come-çou na quarta-feira, quando a Câmara,em sua estratégia irresponsável de explo-dir o Orçamento, aprovou um dos itensda “pauta-bomba”: a vinculação dossalários da Advocacia-Geral da União,delegados civis e federais a 90,25% daremuneração dos ministros do Supremo.Isso significa um gasto adicional de R$2,4 bilhões por ano, numa época em que

qualquer gasto adicional pode represen-tar uma piora sensível da situação econô-mica e dos cidadãos (leia Nossa Opiniãoa partir da página 26). É aquela situaçãoem que os eleitos pelo povo, por purooportunismo, prejudicam os próprioseleitores. Na mesma quarta-feira, doispartidos da base aliada, o PDT e o PTB,romperam com o governo – que ficou,assim,ainda mais frágil.A semana de másnotícias se completou com a divulgação,na quinta-feira, de uma pesquisa em queDilma atingiu seu pior resultado: 71%dos brasileiros consideram seu governo“ruim” ou “péssimo”, em comparação a65% da pesquisa anterior. É o pior resul-ado da série histórica de Dilma.

Existem muitas conexões entre os doisfatos, a prisão de Dirceu e a crise do go-verno Dilma.A mais importante – e talvezmenos aparente – é que uma coisa é con-sequência da outra.Muitas das agruras dogoverno Dilma foram plantadas duranteo governo Lula, especialmente na épocaem que José Dirceu era o todo-poderosoministro da Casa Civil. Se o governosofre hoje com as investigações da LavaJato, isso se deve a uma decisão toma-da no início da era Lula. Em entrevistarecente, o deputado Miro Teixeira disseque participou de uma reunião na qualestiveram quatro integrantes do governo.O tema da reunião era como formar umabase de apoio político. Alguns, como oex-ministro da Fazenda Antonio Palocci,defendiam que deveria ser via convenci-mento,negociando propostas com outrospartidos – na mesma linha do que ocor-rera com o PFL, fiel aliado do governoFernando Henrique.A proposta vencedo-ra, no entanto, foi a via“orçamentária”: abase de apoio seria negociada caso a caso,com uso de dinheiro como argumento,de acordo com as “demandas” de cadapartido ou parlamentar. O cinismo emrelação à democracia levou aos esquemasde compra de apoio,mensalão e petrolão.

Se Dilma enfrenta problemas na eco-nomia, isso se deve a uma mentalidadeestatizante que começou ainda no gover-no Lula. Que, num primeiro momento,ficou sob controle. Lula, pragmatica-mente, adotou o arcabouço econômi-co do governo anterior, cujos fiadoreseram o ministro da Fazenda, AntonioPalocci,e o presidente do Banco Central,s

de José Dirceu, na segunda feir ,(leia a reportagem a partir da página 32).O segundo foi a rebelião da base aliadado governo, na quarta-feira, dia 5, quse somou à divulgação de uma pessa em que a presidente Dilma Raparece com seus piores índpularidade (leia a partir

A prisão de José Dum grande baquTrabalhadoresos holofotesro mandforamlã

tad

SOLIDÃOOex-ministroJosé Dirceu,

preso na semanapassada. E,

desta vez, elefoi abandonado

pelo partido

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TEATRO DA POLÍT ICA

A INVESTIGAÇÃOSOBREDIRCEUAs conclusões da força-tarefa sobre a atuaçãodo ex-ministro noescândalo do petrolão

com a Petrobras, e a Engevix, apenas um dos contratos era de R$ 1,3 bilhão

Mensalinho de R$ 96mil

Dirceu ainda se valia dejatinhos e até arquiteto parareformar sua casa. Tudopagopelo lobistaMiltonPascowitch

FOI O TOTAL RECEBIDODE EMPRESAS E PELO MENOSR$ 9 MILHÕES VIERAM DEINVESTIGADAS NA LAVA JATO.A ENGEVIX, POR EXEMPLO,PINGOU R$ 900MIL

Início

Oesquemareproduz os víciosde todo o escândalo

de corrupção

OUSOPOLÍTICODAMÁQUINAPÚBLICA

Para ganhar dinheirocomaPetrobras, Dirceucolocou emposiçãoestratégica umaliado

Sob ocomando de

Duque, a Diretoriade Serviços fechavacontratosmediante

a cobrançade propina

As principais fontes pagadoras de propina eram aHope Recursos Humanos, com contratos de

ComDuquenaPetrobras levantandodinheiro, Dirceumontouainda umaestrutura de aliados para fazer amáquina funcionar

MiltonPascowitch

AdolfoPascowitch

FernandoMoura

LuisEduardo

RobertoMarques

LOBISTAS RESPONSÁVEIS PELO ESQUEMA DE COLETA E DISTRIBUIÇÃO DE PROPINA

RENATODUQUE

Havia aindadistribuição dedinheiro vivo. Namédia, cada umganhava ummensalinho deR$30mil a R$ 180mil

JOSÉDIRCEU

Ganhou obras de arte avaliadas emUS$ 380mil

Compra e reforma de apartamento: R$ 1,5milhão

Reforma na casa no valor deR$ 1milhão

Outra reforma na casa no valor deR$ 1,3milhão

Compra de uma casa para a filha no valor deR$ 500mil

Dirceu aindatinha seu próprioesquema, atuandocomo consultorde empresascomcontratosna Petrobras

VACCARINETO,tesoureiro do PT,

arrecadava dinheiroilegal para o partido,

incluindo R$ 10milhões na sede do PT

Site responsável por achacar adversários do PT.Segundo o lobista Milton Pascowitch, o dinheiro erapara agradar ao PT e nenhum serviço foi prestado. Aproposta do 247mostrava que o site vendia conteúdo

O SITE GOVERNISTA BRASIL 247

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Henrique Meirelles. A partir da crise de2008, no entanto, criou-se a “Nova Ma-triz Econômica”, política aprofundadano governo Dilma (leia Debates e Provo-cações a partir da página 51). A reboqueda Nova Matriz, implantada na gestãode Guido Mantega, o mais longevo mi-nistro da Fazenda da era democrática, ogoverno perdeu o controle dos gastos,tentou maquiar o deficit com as“pedala-das”e jogou o país na crise que vivemos.

Por fim, se Dilma enfrenta animosi-dade no Legislativo, e tem dificuldadespara firmar um pacto nacional, isso sedeve, em grande parte, à arrogância quese instaurou no governo desde os tem-pos de Lula e Dirceu. Como relembra oeconomista Ricardo Paes de Barros (leiaa entrevista a partir da página 58), Lulateve humildade, no início do mandato,para implantar várias políticas do gover-no anterior – além do já citado arcabouçoeconômico, Lula “importou” da era tu-cana o programa de combate à pobrezacriado pela equipe de Paes de Barros noInstituto de Pesquisa Econômica Apli-cada (Ipea). Lula implantou o Bolsa Fa-mília com competência e convicção. Osbons resultados desta e de outras políticasacertadas, aliados a uma conjuntura in-ternacional favorável, levaram os petistasa achar que a política brasileira se dividiaentre “antes” e “depois” deles – ideia ex-pressa num dos bordões mais arrogantesde nossa história política, o“nunca antesneste país”. O crescimento brasileiro noperíodo democrático, e a melhoria dascondições de vida da população, se devea uma sequência de fatos que começa naConstituição de 1988 e deve muito à es-tabilização econômica obtida no gover-no Fernando Henrique. Dizer que tudocomeçou com o governo do PT equivalea alguém comprar uma casa térrea, trans-formá-la num sobrado e maldizer quemconstruiu os alicerces (Constituição) e aparte de baixo (governos anteriores) –como se fosse possível erguer um segun-do andar sem a existência do primeiro.

Corrupção na base política,má gestãoeconômica e a arrogância que divide opaís.Três erros do modo petista de gover-nar que, hoje, têm influência decisiva nacrise. Neste momento em que urge criarum pacto nacional, é hora de reconhecertais erros – e aprender com eles. u

Dirceu Duque

OCÍRCULOJosé Dirceu indicaRenato Duque naPetrobras, que

contrata empresas,que contratam lobistas,que dão dinheiro aDirceu e Duque

DIRCEU INDICA

RENATODUQUE

Contrata empresas que...

...contratam lobistas

PETROBRAS

Dinheiro é repassado

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osé Dirceu vivia bem. Descalço,vestia uma bermuda branca, ca-misa polo vermelha, com os bo-tões abertos. A sua direita, umalareira – certamente pouco utili-zada no calor seco de Brasília. A

sua esquerda estava Simone, sua mu-lher, também descalça, de short preto ecamisa amarela. Os dois estavam ajoe-lhados, abraçando a filha de 4 anos. Aofundo, uma árvore de natal decorada.Era a foto da família Dirceu na casa doLago Sul, bairro nobre de Brasília. Oúnico detalhe incomum, não captadopela imagem, é que Dirceu estava emprisão domiciliar. Mas ele, condenadocomo chefe do mensalão, vivia bem.“As

famílias felizes parecem-se todas”, es-creveu o autor russo Liev Tolstói.

Na semana passada, tudo mudou. Aoser encarcerado pela Polícia Federallogo na segunda-feira, Dirceu tornou-seo vértice do encontro dos dois maioresescândalos de corrupção da históriarecente do país, o mensalão e o petro-lão. Na transferência da seca Brasíliapara a fria Curitiba, Dirceu foi revista-do nu para poder entrar no avião e foirecepcionado com gritos de “ladrão” e“vagabundo”. Dirceu não é um troféuqualquer para a força-tarefa da LavaJato. De acordo com os procuradores,é o agente que inoculou o código dacorrupção nas estatais em grande esca-

OSDISSABORESDOGOVERNOCOMAOPERAÇÃOLAVAJATOSEDEVEMAUMESQUEMAMONTADONOGOVERNOLULA. NOVOSDETALHESVIERAMÀTONACOMAPRISÃODE JOSÉDIRCEU – EOUTROSAINDAVIRÃO

Filipe Coutinho

TEATRO DA POLÍT ICA

la em favor de partidos aliados no go-verno Lula – e para o enriqqquecimentoilícito de seu grupo políticooo.

Para os procuradores da ffforça-tarefa,Dirceu estabeleceu o modusss operandi domensalão e do petrolão, baseeeado no apa-relhamento do Estado, no fififisiologismoe na corrupção. “José Dirceeeu como be-neficiário é apenas uma parrrte da pintu-ra que queremos mostrar cooom a opera-ção. O que queremos mooostrar é JoséDirceu e Fernando Moura (((operador deDirceu) como os agentes rrresponsáveispela instituição do esquemmma Petrobras,ainda no tempo que Dirceu era ministroda Casa Civil”, disse o procurador Car-los Fernando dos Santos Limmma. “Temos

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indicativos de que (o esquema) vem des-de aquela época, passou pelo mensalão,passou pelas investigações do mensalão,passou pelo processo do mensalão, pas-sou pela condenação, passou pelo perío-do de prisão, sempre com pagamentosa José Dirceu.” Para os procuradores,na árvore genealógica dos dois escân-dalos, Dirceu está no topo. O esquemade desvio de dinheiro público paracomprar apoio político, financiar cam-panhas e enriquecimento pessoal esta-va claro desde o alvorecer do governoLula. Até agora se supunha que o es-quema do petrolão era uma linhagemaprimorada do men-salão. A força-tarefanão pensa assim.Para os procurado-res, são duas partesde uma mesma prá-tica política.

O azar de José Dir-ceu tem nome e sobre-nome: Milton Pasco-witch. Lobista, ele foio responsável por fa-zer os pagamentos aoex-ministro. Entregou o petista em tro-ca de penas menores. À Polícia Federal,o lobista disse que o esquema começouno início do governo Lula, em paraleloao mensalão.“Na ocasião do mensalão,a área política se afastou dessas deman-das, tendo sido estabelecido um ‘inter-locutor’, entre as áreas, que no caso foia pessoa de Júlio Camargo”, disse. Pas-cowitch entrou no esquema em 2008.Renato Duque era diretor da Área deAbastecimento, por indicação de JoséDirceu. A função de Duque era faturar.Fernando Moura, amigo de longa datade Dirceu, era quem arrecadava. Con-forme o trecho do depoimento acima,Pascowitch substituiu outro lobista,

Júlio Camargo, que passara a ser vistocom desconfiança.

Até aquele momento, de acordo comos depoimentos, Dirceu ainda estava nassombras. Mas os pagamentos mostra-ram como o petista estava dentro doesquema. Entre 2007 e 2011, apenas aHope Recursos Humanos, uma empresafornecedora de mão de obra técnica, ga-nhou R$ 3,5 bilhões da Petrobras. E paraisso pagou propina – em dinheiro vivo.A empreiteira Engevix tinha pelo menosum contrato de R$ 1 bilhão. Tambémpagou propina. Foram citadas ainda aPersonal Service, Multitek Engenharia e

Consist Sotfware.No mensalão, Dir-

ceu foi condenadopor organizar e che-fiar um esquema decompra de apoio po-lítico. A trajetória deDirceu e as provasobtidas revelam que omantra de que o di-nheiro desviado doscofres públicos erausado para fortalecer

o PT e um “projeto transformador desociedade”, (como se isso fosse atenuan-te) não cola no caso do petrolão. O pro-jeto político estava em segundo plano. Ofoco era a propina mesmo. José Dirceu é,antes de tudo, um preso rico; e a investi-gação mostra que ficou rico com dinhei-ro público desviado, principalmente, daPetrobras. A perícia da PF mostra comoDirceu se esbaldou no petrolão. Desco-briu, por exemplo, que o lobista MiltonPascowitch, intermediador de contratosna estatal, pagou a reforma da casa deDirceu (leia o infográfico na página 30).

Para levantar dinheiro, Milton Pasco-witch trabalhava com o irmão, Adolfo.Dirceu, por sua vez, tinha Fernando s

VÍCIO DEORIGEMJosé Dirceuem 2014, ao deixara prisão paratrabalhar. Naquelaépoca, haviaquem aceitassea corrupção emnome da ideologia

NO MENSALÃO,A DESCULPA ERAIMPLEMENTAR UM

PROJETO POLÍTICO. NOPETROLÃO, O FOCO ERAARRANCAR PROPINA

Foto: Ed Ferreira/Estadão Conteúdo

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Moura como principal aliado para cuidardo dia a dia do esquema, além do irmãoLuiz Eduardo de Oliveira e do assessorRoberto Marques. Todos estão presos.Parte dos valores do esquema era paga emdinheiro vivo. Milton Pascowitch relatoudiversos episódios das malas de propina,com direito a delivery de motorista ouvisita às tesourarias das empresas. AHope, segundo o delator, costumava pa-gar propina de R$ 500 mil a R$ 800 milpor mês. Cerca de R$ 180 mil ficavamcom Fernando Moura.Segundo os inves-tigadores,Dirceu ficava com 30%,Duquecom 40% e Pascowitch com outros 30%.Na ponta do lápis: entre R$ 96 mil e R$186 mil mensais para Dirceu. Só da Per-sonal, Pascowitch disse que recebia entreR$ 100 mil e R$ 300 mil por mês paradistribuir ao esquema. Da Engevix, Dir-ceu ganhou dinheiro por meio de consul-torias e outros mimos.A casa deVinhedo,interior de São Paulo, foi reformada comdinheiro da Engevix – Pascowitch con-tratou e pagou a arquiteta. O valor foilavado por meio de uma doação de R$1,3milhão,em dezembro de 2013.O dinhei-ro da empreiteira, junto com o da Hopee da Personal, também foi usado pelolobista para reformar um apartamentodo irmão de Dirceu em São Paulo, porR$ 1 milhão. No ramo imobiliário dapropina,houve ainda uma compra de umapartamento da filha de Dirceu, porR$ 500 mil.Pascowitch também“contra-tou” a consultoria de Dirceu e, para isso,deu mais R$ 1 milhão ao petista.

Dirceu ficou rico e passou a ter hábi-tos de rico. Pascowitch afirma que, emjulho de 2011, pagou R$ 1 milhão paracomprar metade do valor do jatinho queo petista costumava usar em suas via-gens, além de bancar faturas de táxi-aéreo. Renato Duque não ficava muitoatrás. Ganhou duas obras de arte (US$380 mil e R$ 220 mil), além de umaconstrução de R$ 730 mil na casa do ex-diretor da Petrobras. Segundo o lobista,o dinheiro destinado a Duque vinha daMultitek Engenharia, que deu R$ 3,4milhões em propina. Não bastasse a es-trutura de arrecadação montada, JoséDirceu ainda atuava como “consultor”– inclusive enquanto estava preso, con-denado pelo mensalão. Para os investi-gadores da Lava Jato, há fortes indícios

de que os contratos firmados eram ape-nas uma forma de maquiar propina. Nototal, a consultoria de José Dirceu rece-beu R$ 29 milhões de empresas, entre2009 e 2014. Desse montante, R$ 9 mi-lhões vieram de empresas investigadasna operação. Um dos casos mais com-plicados é o da Engevix, em razão dadelação premiada de Pascowitch. A em-presa pagou R$ 900 mil. Segundo Pas-cowitch, parte do valor foi dada mesmosem qualquer serviço prestado. “O pri-meiro contrato de consultoria firmadopela Engevix com a JD o declaranteacredita que realmente foi prestado oserviço de consultoria; que, no entanto,os demais contratos visavam apenascobrir ‘furos de caixa’ do escritório daJD (Consultoria, a empresa de Dirceu)”,informa o relatório da delação.

Há muito a investigar a respeito deempresas de outros setores, sem rela-ção direta com a Petrobras, que paga-ram valores milionários enquanto

FOI DIRCEU QUEMMONTOU O ESQUEMADE APOIO NADIRETORIADE SERVIÇOS?

O PETROLÃO FOICOMPRA DE BASEDE APOIOPOLÍTICO, COMOOMENSALÃO?

Sim. José Dirceu nomeou RenatoDuque para a Diretoria de Serviços eEngenharia da Petrobras. Na divisãodos valores de propina dirigidos àDiretoria, segundo os investigadores,parte caberia a Dirceu e a seugrupo. Para eles, Dirceu continuourecebendo sua parcela, mesmodepois de ter deixado a Casa Civile até mesmo quando estava preso

Ao que tudo indica, sim.Parlamentares de partidoscomo PT, PP e PMDB –da base aliada – são suspeitosde receber valores ligados acontratos da Petrobras,cujos diretores eram indicadospelos partidos e nomeadospor Lula. É possível, noentanto, que fosse umaparelhamento anterior ao PT

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Dirceu estava condenado e preso. Cer-tos trechos da delação premiada deMilton Pascowitch mostram que Dir-ceu também fazia pagamentos ao PT,sempre por meio de João Vaccari, oex-tesoureiro que também está preso.Mas só quando sobrava dinheiro. “Osaldo mensal era destinado a Dirceuquando este precisava de recursos noescritório. Quando não precisava, osaldo era então entregue a Vaccari”.Um pixuleco para o PT, que deu tantosbenefícios ao ex-ministro.

Dirceu está preso desde o começo dasemana passada e não há previsão desaída. O companheiro Vaccari enfren-ta o frio de Curitiba há quase quatromeses. Ao mandar prender José Dirceu,o juiz Sergio Moro, responsável pelaLava Jato, deu o tom das prováveis con-sequências da prisão. Moro chamou aatenção para o fato de que Dirceu con-tinuou a receber valores mesmo con-denado no mensalão. “Afigura-se bas-

tante difícil justificar esses depósitos.Afinal, não é crível que Dirceu, conde-nado por corrupção pelo Supremo Tri-bunal Federal, fosse procurado paraprestar serviços após dezembro de 2012e inclusive após sua prisão. Em reali-dade, parece pouco crível que fosseprocurado até mesmo antes, pelo me-nos a partir do início do julgamento.”

Para Moro, a realização dos paga-mentos após 2012 é “um indicativo deque os pagamentos não consistiam emcontrapartida à consultoria ou à inter-mediação de negócios reais, mas sim aacertos de propinas pendentes por con-tratos das empreiteiras com a Petro-bras”. O juiz é claro em seu diagnóstico:para ele, Dirceu desprezou a lei e a Jus-tiça, ao persistir no esquema corruptomesmo com a decisão do Supremo.“Asprovas, em cognição sumária, são nosentido de que estava envolvido no es-quema criminoso que vitimou a Petro-bras enquanto já respondia, como s

DEVOLTAJosé Dirceu nasemana passada,nomomento daprisão. Ele vaiaderir à delaçãopremiada?

HOUVEENRIQUECIMENTOPESSOALNO PETROLÃO?

EXISTE DINHEIRODO PETROLÃOEM CAMPANHASELEITORAIS?

Sim. As provas colhidas ateagora indicam que os envolvidosrecebiam obras de arte, imóveise recursos financeiros comoforma de propina. Há desde opagamento da reforma de umimóvel em Vinhedo e outro emSão Paulo para Dirceu até acompra de um apartamentopara a filha do ex-ministro

Ao que tudo indica, sim. Umdos delatores afirma querepassoumais de R$ 13milhões para o PT pormeiodo tesoureiro JoãoVaccariNeto e pormeio de empresasque nunca prestaram serviços

Foto: André Dusek/Estadão Conteúdo

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acusado, à Ação Penal 470, e que per-sistiu recebendo vantagem indevidadurante toda a tramitação da ação pe-nal, inclusive durante o julgamento emPlenário, o que caracteriza, em princí-pio, acentuada conduta de desprezo nãosó à lei e à coisa pública, mas igualmen-te à Justiça criminal e à Suprema Corte.”

O advogado de José Dirceu, RobertoPodval, diz que a prisão é descabida.“Não se enquadra em nenhuma das trêscondições jurídicas necessárias para adecretação de uma prisão preventiva: elenão apresenta risco de fuga, não temcomo obstruir o trabalho da Justiça nemtampouco é capaz de manter qualquersuposta atividade criminosa”, afirma. Oadvogado diz ainda que Dirceu atuavacomo consultor internacional, emboraseus clientes não pedissem a produção derelatório. A reportagem não conseguiu aposição dos advogados de FernandoMoura. O advogado Maurício Vasquesafirmou que Roberto Marques respon-deu a todas as perguntas da PF, masacrescenta que o sigilo dos autos impedeo pronunciamento sobre as nuances daapuração em andamento. As empresasEngevix e Hope afirmam colaborar coma Justiça. A Pesonal só se manifestará“após o pleno acesso de seus advogados

às investigações”. A Consist afirma quenão tinha contrato com a Petrobras eque os serviços acertados com MiltonPascowitch foram todos cumpridos. AMultitek não foi localizada.

Para os investigadores, Dirceu é ago-ra uma potencial fonte de informaçõespara esclarecer o petrolão. A opção deformalizar um acordo de delação pre-miada é tão tentadora para ele quantopara os que o precederam. Antes de serpreso, Dirceu disse a amigos que estavapropenso a falar tudo o que sabe em tro-ca de uma pena menor. Nas próximassemanas, ele será ouvido pela Justiça, esua disposição será testada. Se falar, po-derá ajudar a esclarecer como nasceramo mensalão e o petrolão, se operou sozi-nho – ou se havia alguém acima deleciente de tudo o que acontecia. u

PRESTÍGIOOentão recém-eleito presidente

Lula e JoséDirceu, em 2002.

Lula chamavaDirceu, ministroda Casa Civil, de“capitão do time”

FOI DIRCEU QUEMMONTOU TODA AESTRUTURA DEAPARELHAMENTODA PETROBRAS?

DIRCEU AGIASOZINHO E PORCONTA PRÓPRIA?

O ex-ministro participou dadistribuição de cargos, mas outrosatores políticos também tinhamsuas estruturas de aparelhamentoda empresa. Como chefe da CasaCivil, apontado pelo ex-presidenteLula como o “capitão do time”, oloteamento passava, no entanto,pela avaliação de Dirceu

As investigações ainda estão emandamento. Os investigadoresafirmam que ninguém estáacima da lei e isento de serinvestigado, indicando queestãomapeando a cadeiade comando envolvida

Foto: Antônio Gaudério/Folhapress

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vice-presidente, Michel Temer, jáestava perto da base aérea de Bra-sília, pronto para embarcar paraSão Paulo, quando recebeu umachamada do ministro da AviaçãoCivil, Eliseu Padilha. Temer queria

conversar com a presidente Dilma Rous-seff, mas não encontrara uma brecha.Naquele momento, Padilha, seu principalauxiliar na articulação política, avisavaque Dilma podia falar. Temer mandouo motorista fazer meia-volta, em dire-ção ao Palácio do Planalto. Lá, ao ladode Padilha e do ministro-chefe da CasaCivil, Aloizio Mercadante, Temer expli-cou a Dilma que seu discurso – quase um

desabafo, na verdade –, feito na véspera,continha apenas um veemente apelo pelagovernabilidade, que não tivera nenhu-ma intenção de passar a imagem de seruma opção ao cargo em caso de Dilmadeixar o poder. Deu a Dilma a opção deretirá-lo da articulação política. Dilmaouviu e minimizou o episódio.

Uma saída de Temer do cargo seria umterremoto – mais um, e mais grave queos da semana passada. Há dúvidas se ogoverno teria forças para resistir. Temeré, hoje, essencial ao governo. Sua posturacausou espanto pelo tom do apelo, dra-mático, por uma trégua no Congresso.“Não vamos ignorar que a situação é ra-

zoavelmente grave, não tenho dúvida deque é grave,e é grave porque há uma crisepolítica se ensaiando, há uma crise eco-nômica que está precisando ser ajustada,mas, para tanto, é preciso contar com oCongresso”, disse.“É preciso que alguémpossa, tenha capacidade de reunificar atodos,de unir a todos.”Esse“alguém”sus-citou as interpretações que fizeram Temerse explicar a Dilma. O sempre frio Temertinha um tom de voz emocionado. “OMichel estava no limite dele”,diz um líderpartidário. Independente de intençõesou de interpretações, os acontecimentosda semana passada levaram a um novopatamar na crise. Queira ou não queira,

TEATRO DA POLÍT ICA

APRESIDENTEDILMAROUSSEFFTENTASUPERARASDIFICULDADESCOMOCONGRESSO,MASAPOSTURADOPTQUEMINIMIZAAGRAVIDADEDACRISEECONÔMICAE IRONIZAPROTESTOSSÓATRAPALHAOGOVERNO.PARARECONSTITUIRUMABASEQUESEESFARELA, ELADEPENDECADAVEZMAISDOVICE,MICHELTEMER

Leandro Loyola

Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

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Temer passou a ser visto como a liderançapolítica em ação, enquanto Dilma ficoum segundo plano. Provas disso foramadas pelas reações às palavras. Políticosntenderam que Temer é a pessoa queode vir a público falar, enquanto Dilmaão tem força para tais atitudes. Lide-anças empresariais manifestaram apoio,um claro sinal de que buscam um portoguro para desacelerar a crise política.Dilma precisa reagir, e está fraca. Na

mana passada, a pesquisa Datafolhaostrou que Dilma é a presidente mais

mpopular desde a redemocratização:enas 8% dos entrevistados conside-m sua administração boa ou ótima,

enquanto um recorde de 71% conside-ram ruim ou péssima. A avaliação po-pular não é a causa, mas é usada comojustificativa para decisões desfavoráveisao governo no Congresso. Parlamenta-res dificilmente abandonam um governopopular. Na semana passada, o PDT eo PTB se declararam independentes dogoverno. Somados, os dois partidos têm44 deputados que agora estão na con-fortável situação de estarem livres parabater em um governo impopular. Dilmatambém não teve a ajuda do programade televisão do PT, veiculado na semanapassada. Em uma estratégia equivocada,o programa cometeu os erros de mini-mizar a crise econômica e ironizar ospanelaços, manifestações contrárias aosúltimos pronunciamentos de Dilma. É aexpressão exata da arrogância que estáno DNA das administrações petistas (leiamais a partir da página 28). Soou comouma provocação, um risco para quemestá fragilizado, a poucos dias das mani-festações marcadas para o dia 16.

O pronunciamento de Temer demons-trou a incapacidade do governo de evitarataques predatórios do Congresso, aindaque estes representem um grave perigo s

POUCASOPÇÕESApresidente DilmaRousseff. Acuada,ela pensa agora emreformaministerialpara tentarrecuperar iniciativa

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às finanças públicas. Logo no primeirodia de trabalho, Temer havia recebidolíderes de partidos da (teórica) base deapoio do governo para uma conversa noPalácio do Jaburu. A conversa era parteda estratégia de tentar evitar a aprovaçãode projetos danosos para as contas públi-cas, em meio a um clima cada vez maishostil em relação ao Palácio do Planalto.Ficou combinado que, no dia seguinte, ospartidos aliados do governo na Câmaraadiariam a votação da proposta que igua-lava o salário de advogados da União a90,25% do salário de um ministro do Su-premo Tribunal Federal, um gasto extracapaz de sangrar o Tesouro em cerca deR$ 2,4 bilhões por ano.

Os líderes deixaram o Jaburu e foramjantar no Palácio da Alvorada, a convitede Dilma. Tudo em um clima ameno.Entretanto, parte dos parlamentaressaiu do Alvorada para um terceiro en-contro, desta vez na residência oficial dopresidente da Câmara, Eduardo Cunha(PMDB), onde também estava parte daoposição. Em seu primeiro encontrocom os colegas após ser acusado porum dos delatores presos na OperaçãoLava Jato de receber propina de US$ 5milhões, Cunha queria organizar os tra-balhos para o segundo semestre. E, quan-do Cunha trabalha, o governo sofre. Nodia seguinte, no plenário, os partidos nãocumpriram nada do que haviam com-binado com Michel Temer. Decidiramnão adiar a votação da medida danosae, na quarta-feira, aprovaram o aumentosalarial aos servidores. Por mais de 400votos favoráveis, criaram mais uma novadespesa. Até mesmo parte do PT votoucontra o governo.

Além da pancada financeira, sob acondução acelerada de Eduardo Cunha,a Câmara também aprovou, na semanapassada, parte das contas dos governosItamar, Fernando Henrique e Lula, queestavam mofando em seus arquivos. As-sim, a Câmara começou a abrir o cami-nho para julgar imediatamente as con-tas do governo Dilma, assim que foremexaminadas pelo Tribunal de Contas daUnião (TCU), no final do mês. No TCUas perspectivas não são boas para Dil-ma. É concreto o risco de uma inéditarejeição das contas, graças às irregulares“pedaladas” criadas pelo governo para

disfarçar um aumento do gasto públicoe às estripulias contábeis para escondera gastança irresponsável. Se as contasforem rejeitadas no TCU, é possível quea Câmara faça o mesmo – dando umarazão para a abertura de um processo deimpeachment contra a presidente.

A ameaça do TCU e o comportamen-to fora do comum de Temer assustaramos tucanos. Líderes do partido, como ossenadores Aécio Neves, José Serra, TassoJereissati,Aloysio Nunes e Cássio CunhaLima, tiveram uma longa conversa como presidente do Senado, Renan Calhei-ros, sobre a chance de Dilma sofrer umprocesso de impeachment. Os tucanosdisseram a Renan que preferem não pen-sar nisso e esperar pelas manifestações dodia 16. Logo depois, líderes tucanos maisligados ao senador Aécio Neves deixaramum pouco de lado as pancadas em Dilmapara defender a realização de novas elei-ções, em vez de advogar pelo impeach-

ment. “Em resposta ao chamamento dovice-presidente Temer de que é preciso seencontrar alguém que possa unir o país,estamos dizendo da nossa convicção deque só se encontrará essa pessoa atravésde uma eleição direta, com a legitimidadedo voto popular”, disse o líder tucano noSenado, Cássio Cunha Lima.

O cálculo político do PSDB de Aécioé que um impeachment após o parecerdo TCU deixaria o poder nas mãos deMichel Temer. Por isso,Aécio e sua turmapreferem outra alternativa: a cassação, noâmbito do Tribunal Superior Eleitoral, dachapa Dilma-Temer por irregularidadesna eleição presidencial do ano passado.Não se trata de um processo de impeach-ment, feito pelo Congresso Nacional,pelo qual apenas o presidente perde seucargo e o vice assume. O TSE pode cassara chapa Dilma-Temer se, após um julga-mento, os ministros considerarem quehouve irregularidades na prestação de

TEATRO DA POLÍT ICA

Foto: André Dusek/Estadão Conteúdo

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contas da campanha. Nesse caso, ambosperderiam o cargo e seriam convocadasnovas eleições. O trabalho do TSE aindaestá no início – e a convocação de novaseleições é uma hipótese pouco provável.Como é um caminho que só ajuda a Aé-cio, um óbvio favorito, em caso de novopleito, não agrega aliados.

Dilma só apareceu em meio à crisequando recebeu líderes e presidentesde partidos aliados para o churrasco noAlvorada. O clima era relaxado, sem aslimitações de cerimonial. As mesas nãotinham lugares marcados, então os po-líticos podiam se misturar e conversar àvontade. Eles tiveram de ouvir apenasum curto discurso de Dilma. O conteú-do, no entanto, não era dos melhores.“Já falaram que eu sou autista, que eunão estou percebendo as coisas, que eubaixei no hospital”, disse Dilma. “Querodeixar bem claro: eu não me deprimo.Eu suporto a pressão.” Dilma insistiu na

imagem da “travessia” para um tempomelhor. “O Brasil não está na crise queestão dizendo”, disse.

Apesar do visível esvaziamento de suaautoridade, Dilma ainda tem algumas al-ternativas para tentar ganhar algum fô-lego e superar a fase mais aguda da crise.Sobre sua mesa está a possibilidade deuma reforma ministerial. A principalmudança reivindicada por seus aliadosé a saída da Casa Civil do petista AloizioMercadante, um antagonista do PMDB,considerado responsável por travar asnomeações de aliados para cargos no go-verno, grande parte deles ainda nas mãosdo PT. Dilma também pode reduzir onúmero de ministérios. Embora não várepresentar um grande corte nos gastospúblicos, a medida é simbólica e racionaldo ponto de vista administrativo. Dil-ma também tem a chance de destravaras nomeações dos cerca de 200 cargoscolocados à disposição dos aliados.

Ainda assim, a travessia que Dilmapassou a citar em seus discursos será pe-nosa. Os partidos que deveriam apoiarDilma se uniram à oposição para isolaro PT e vão ocupar cargos em duas CPIsimportantes e barulhentas, que começa-rão a trabalhar nos próximos dias. Semintegrantes entre os cargos que conduzemos trabalhos, o PT deverá ser um meroespectador de comissões que podem cau-sar severos danos ao governo. O PR vaipresidir a CPI criada para investigar osempréstimos concedidos pelo BNDES,o Banco Nacional de DesenvolvimentoEconômico e Social, nos últimos 12 anos(leia mais em Debates e Provocações, a par-tir da página 51). Entre as beneficiáriasestão empresas que se tornaram gran-des doadoras do PT e, principalmente,as empreiteiras envolvidas na Lava Jato,que também fizeram obras no exterior.Outra comissão, que vai investigar asnumerosas irregularidades em fundos depensão – grande parte deles comandadapor petistas –, será conduzida pelo DEM,provavelmente o mais agressivo oposi-tor de Dilma. A palavra travessia usadadiversas vezes por Dilma como eufemis-mo para uma crise muito mais séria podelembrar muitas coisas, inclusive uma belamelodia, mas a travessia de Dilma só seassemelha à canção porque tem tudo paraser um caminho de pedras. u

MORDE EASSOPRA

OviceMichelTemer e o

presidente daCâmara, Eduardo

Cunha. ComCunha fustigandoo governo, Temer

apelou para aunião nacional

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o dia 3 de julho, vestindo umajaqueta alaranjada igual à dossindicalistas, o ex-presidente

Luiz Inácio Lula da Silva discursou para250 petroleiros em um encontro da Fe-deração Única dos Petroleiros (FUP) emGuararema, região metropolitana de SãoPaulo. “Companheiros, o Brasil precisade vocês, e o nosso governo, outra vez,está precisando conversar com o povobrasileiro”, disse, em referência aos escân-dalos de corrupção. Naquela reunião,depois do discurso de Lula, a FUP apro-vou a criação de uma taxa de 2% sobreum mês de salário dos empregados daPetrobras. O valor arrecadado financiaráuma série de manifestações de petroleirosem diferentes Estados. Os sindicalistasadotaram o slogan“Defender a Petrobras

Sindicalistas aprovam taxa de 2% sobre saláriosde empregados da Petrobras para “defender”a estatal. Mas nem todos querem pagar

Acaixinhadospetroleiros

NHudsonCorrêa eSamantha Lima

é defender o Brasil”, frase que Lula vemrepetindo desde o início do ano.

A base sindical petroleira é velha aliadade Lula,desde a época em que ele lideravaos sindicatos de trabalhadores no ABCpaulista, no fim dos anos 1970. Muitosparticiparam da fundação do PT, anosdepois. Em 1995, quando os petroleirosfizeram sua maior greve,pedindo reajustessalariais e a não privatização da Petrobras,tiveram o apoio imediato de Lula, entãopresidente do PT.Da mesma FUP vieram,no início do governo Lula,nomes avaliza-dos pelo recém-eleito presidente para as-sumir cargos influentes na Petrobras.Umaespécie de santíssima trindade sindicaltornou-se notória na companhia – e foradela.O paulistaWilson Santarosa assumiua gerência de Comunicação Institucional

e passou a cuidar de contratos com agên-cias de publicidade e patrocínios, comorçamentos superiores a R$ 1 bilhão porano. Armando Trípodi assessorou os ex--presidentes petistas José Eduardo Dutrae José Sérgio Gabrielli e tornou-se gerentede sustentabilidade em 2012. Diego Her-nandes também foi assessor de Dutra epor oito anos geriu a área de RecursosHumanos da Petrobras. Além de Lula,contavam com o aval de José Dirceu.

Não é difícil entender por que, paraLula,em momento de dificuldade política,recorrer aos petroleiros é um caminhonatural.Ainda que apenas 45% dos traba-lhadores da Petrobras sejam filiados aosindicato,historicamente a categoria con-tacomrazoávelníveldeorganizaçãosindi-cal e de adesão.Somente a Petrobras tems

SOBENCOMENDA

Lula no encontrodos petroleiros,em julho. A taxa,

criada nareunião, revoltoufuncionários da

Petrobras

OBSERVADOR DO S IND ICALISMO

Foto: Roberto Stuckert

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59 mil trabalhadores, o que correspondea uma massa salarial de R$ 1,2 bilhão pormês. Essa conta exclui subsidiárias comoa BR – cujos trabalhadores são de outrosindicato. Caso todos paguem a “contri-buição”criada pela FUP, a campanha sin-dicalista arrecadará R$ 24 milhões.A FUPrecomendou aos sindicatos estaduais dospetroleiros que aprovassem, no mês pas-sado, a cobrança da taxa em assembleia.Um levantamento feito por ÉPOCA mos-tra que os sindicatos do Rio de Janeiro, deSão Paulo, Espírito Santo e Bahia aderi-ram. A lista pode ser maior, pois poucosdivulgaram o resultado das assembleias.Segundo a Petrobras,na última semana dejulho, dez sindicatos aprovaram a taxa.

A“taxa assistencial”pegou de surpre-sa um grande contingente que não fre-quenta assembleias de sindicatos nemconsidera os sindicalistas seus legítimosrepresentantes – ainda que todos te-nham se beneficiado do acordo costura-do pela FUP que garantiu R$ 1 bilhãoem participação nos resultados em 2014,mesmo com o prejuízo de R$ 22 bilhõesque a estatal teve no período. Para teruma ideia da pouca mobilização, emfevereiro a Petrobras organizou umaeleição para escolher o representante dosfuncionários no Conselho de Adminis-tração da estatal.De 58.718 pessoas aptas,apenas 12.246 votaram.

Na semana passada, funcionários darefinaria LandulfoAlves,na região metro-politana de Salvador, correram para aces-sar, em seus computadores, a página dosistema interno da Petrobras em que po-dem recusar o desconto na folha de paga-mentos. O geofísico sênior Oscar CezarFerreira Magalhães afirmou que mandoumensagens para centenas de funcionáriosem todo o país, alertando sobre a taxa e apossibilidade de evitar a cobrança. “Nãoexiste mais credibilidade nenhuma no sin-dicato e nem na FUP. Eles reúnem meiadúzia de pessoas e metem a faca no bolsoda gente”,disse Magalhães.Os cerca de 150petroleiros que trabalham na plataformada Petrobras P-31 em alto-mar, na Baciade Campos,Rio de Janeiro,mandaram umcomunicado ríspido para o sindicato doNorte Fluminense,que aprovou a cobran-ça da taxa.“Gostaríamos de externar nos-so repúdio aos sindicatos que se associa-ram ao governo, sendo omissos frente às

falcatruas e desmandos dessa quadrilhaque se encontra no poder”, escreveram.

Procurada, a FUP informou que nãopoderia falar sobre a taxa e a campanhade mobilização porque todos os seus di-rigentes estavam reunidos em Brasília.Segundo o coordenador-geral do sindica-to dos petroleiros do Norte Fluminense,Marcos Brêda, os sindicatos são contra aredução de investimentos na Petrobras erejeitam a proposta, em discussão no Se-nado, de mudança no sistema de explo-ração do pré-sal. A Petrobras informouque a instituição da contribuição sindicalpelos sindicatos é prevista em lei e nosacordos coletivos com a categoria.Segun-do a empresa,os funcionários estão sendoavisados de sua criação e podem optarformalmente por não aceitá-la.

Da santíssima trindade sindical dostempos de Dutra e Gabrielli, apenas Trí-podi continua como gerente, cuidandode um orçamento anual de R$ 300 mi-lhões. Ele também ocupa, desde 2012,uma vaga no Conselho de Administraçãoda Sete Brasil, empresa formada sob osauspícios do governo para construir29 sondas para a Petrobras. ConformeÉPOCA revelou, Trípodi foi apontadopelo lobista João Augusto Henriquescomo um dos interlocutores,na presidên-cia, dos negócios da Petrobras na África.Santarosa e Hernandes foram destituídos,respectivamente, pelo atual presidente,Aldemir Bendine,em março,e pela ante-cessora, Graça Foster, em 2012.

Na gerência de Recursos Humanos,Diego Hernandes era subordinado aoentão diretor Renato Duque, preso pelaLava Jato. Sob seu comando, o númerode terceirizados da Petrobras triplicouem uma década. Duas das empresas quepassaram a fornecer mão de obra para aPetrobras em sua gestão, a Hope e a Per-sonal Service, assinaram, nos últimosoito anos, contratos que, somados, che-gam a R$ 6 bilhões, fora aditivos (leiamais na página 30). As empresas perma-necem como fornecedoras.Ambas foramalvo, na semana passada, de mandadosde busca e apreensão na 17a fase da LavaJato. Hernandes hoje é assessor da presi-dência da Petros, o fundo de pensão daPetrobras. A Polícia Federal tem umainvestigação em andamento para apuraros contratos com a Hope. u

OBSERVADOR DO S IND ICALISMO

A SANTÍSSIMATRINDADEDo alto para baixo,Armando Trípodi,Diego HernandeseWilson Santarosa.Os três sãoex-sindicalistas quetiveramposiçõesde comandona Petrobras

Fotos: Paulo Negreiros (2) e Marcos De Paula/Estadão Conteúdo

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rocurador da República desde 2003 e chefe daSecretaria de Cooperação Jurídica Internacional,Vladimir Aras era promotor de justiça no interior

da Bahia quando decidiu entrar para o Ministério PúblicoFederal. Ele queria rastrear as contas de mais de 35 milbrasileiros que enviaram R$ 150 bilhões para paraísos fis-cais durante o escândalo do Banestado. O doleiro AlbertoYoussef era um dos delatores do esquema. Hoje, ele coor-dena o grupo que caça pelo mundo dinheiro subtraídodos cofres públicos brasileiros no petrolão. A Lava Jato éa operação com maior número de pedidos de cooperaçãointernacional no Brasil – e não deve parar. “A operaçãoaumentou a credibilidade do país porque estão vendoque está funcionando. Os envolvidos estão colaboran-do e estamos localizando os recursos desviados”, afirmaAras. “A asfixia financeira é a melhor forma de combatero crime.” A conversa com ÉPOCA na última quarta-feirafoi interrompida diversas vezes por contatos internacio-nais. “Tenho grupos de WhatsApp com procuradores domundo todo. Não para” , diz Aras.

ÉPOCA – Como foi possível a cooperação internacionalno âmbito da Lava Jato?Vladimir Aras – Cada vez mais a cooperação será utilizadae será cada vez mais difícil esconder dinheiro. Hoje vocênão esconde mais dinheiro na Suíça. A Suíça hoje colaboramuito mais que outros países. O cerco está sendo fechado, ea mentalidade de um país muda muito por conta de pressãoexterna também. A Suíça foi colocada alguns anos atrásnuma lista cinza em que se apontava o que o país estava

fazendo de errado. Existe agora uma espécie de “complian-ce” nacional. A lista suja faz com que o país tome vergonhae se movimente. Aconteceu com o Uruguai também. Sãovários vetores ao mesmo tempo que vão surgindo. Sem elesvocê não teria a Lava Jato.

ÉPOCA – Quais os avanços na cooperação internacionaldesdeasprimeiras experiências do casoBanestado?Aras –As ferramentas que foram utilizadas no Banestadosão muito semelhantes àquelas que estão sendo usadasagora pela Lava Jato: delação e pedidos de cooperação.Foram muitos naquela época e esse número é hoje muitomaior. As ferramentas são semelhantes, mas a estruturado Estado melhorou. Hoje temos mais tratados, e equipesdo Ministério Público e Polícia Federal mais treinadas amanejar esses instrumentos. Lá atrás, embora você tivesseas mesmas possibilidades de obter provas no exterior,você não tinha por exemplo as convenções internacio-nais de Merida (2006) e de Palermo (2004). O Banestadoterminou em 2006. A Lava Jato pegou então um outroarcabouço jurídico e outra consciência internacional. Agente não imaginaria a Suíça fazendo isso que está sendofeito agora há dez anos. A Suíça está colaborando comrepatriações maiúsculas. Para a Lava Jato, temos conver-sado com gente de mais de 20 países e já foram mais de50 pedidos de cooperação.

ÉPOCA – Por que se fazem tantas críticas à delaçãopremiada?Aras – Porque mudou o alvo dos acordos de delação e aí s

Alana Rizzo

Para o chefe da Secretaria de Cooperação Jurídica Internacionaldo Ministério Público, nunca os investigadores tiveram tantasferramentas para rastrear criminosos e recursos desviados

ENTREV ISTA

“Hoje você não escondemais dinheiro na Suíça”

P

VLADIMIR ARAS

Foto: AdrianoMachado/ÉPOCA

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PELOMUNDOOprocuradorVladimir Aras.“Para a LavaJato, jácontatamosgente demaisde 20 países”

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se criou uma celeuma. Ninguém nunca criticou a delaçãono caso do Hildebrando Pascoal, a chacina de Unaí ou ho-micidas. Quando a gente fala do homicida, do estuprador,do ladrão, você está falando de alguém que é um estranhoa você. Já quando você fala de alguém que comete crimeseconômicos, está falando de alguém que está muito maispróximo de seu grupo cultural do que aquele estuprador,homicida... Tem esse aspecto e tem as diferenças estrutu-rais do modelo brasileiro, que depende de dois tribunaisque defendem todas as causas do país. Mas a delação éimportante para acelerar o procedimento de repatriaçãodos valores. Temos casos aqui de quase dez anos e aindanão conseguimos recuperar nada.

ÉPOCA – Quais são os maiores entraves para a recupe-ração do dinheiro?Aras –Os entraves estão no sistema recursal, de se recorrersempre. É um sistema que está vocacionado para a im-punidade e para que as coisas não aconteçam. Por isso asérie de condenações que começou em 2013 surpreendeutanto. O ex-deputado Natan Donadon abriu a fila por-que a ministra Cármen Lúcia antecipouo trâmite em julgado para impedir que osrecursos atrasassem o julgamento. Vocênão pode ficar recorrendo o resto da vidapara impedir que sua pena seja cumprida.No momento que você usa o sistema paraatrasar ou impedir a funcionalidade dele,o contribuinte está pagando por algo quenão serve para nada. Por isso a delação éuma ferramenta importante e previstaem lei.

ÉPOCA – O Brasil demanda mais ou édemandado?Aras–Demandamos muito mais. Somos o país que mais de-manda, inclusive pelo fluxo de valores. O caminho de quemcomete crime é muito mais daqui para fora. Claro que temosmuitos investimentos, inclusive é uma deficiência interna denosso sistema de investigação, de europeus que vêm investirem imóveis no Brasil para lavar dinheiro. Conhecemos, masnão sabemos o tamanho disso. O narcotráfico também éum mecanismo que pode trazer muitos valores por contade organizações transacionais, como o PCC, e esses pedidosestão aumentando. Estamos recebendo cada vez mais pedi-dos de cooperação de países da América Latina.

ÉPOCA – Um problema é que você fecha o cerco de umlado e o crime cria novos caminhos, certo?Aras – Sim. Você procura países que não têm acordos decooperação, paraísos fiscais. Hoje você está se escondendonuma ilha como Seychelles, por exemplo, mas e no futuro?Veja Paulo Maluf, o ex-presidente da CBF José Maria Ma-rin, que não podem sair daqui... Tem uma história curiosasobre a fuga de PC Farias para a Inglaterra que ilustra bemessa questão internacional. Ele escolheu a Inglaterra porque

na época não havia acordo entre Brasil e Reino Unido eele não poderia ser extraditado sem tratado. Dali ele fugiupara a Tailândia e ali foi preso e deportado. Hoje você teminstrumentos e uma rede de bloqueio de ativos e busca deforagidos muito amarrada e que permite que a gente váatrás da pessoa e do dinheiro onde quer que eles estejam,de uma forma que não existia antes. Veja o Nestor Cerveró,que pensou em fugir e voltou. Ou o Henrique Pizzolato,que acabou preso.

ÉPOCA – A cooperação deixou de ser um acordo de ca-maradas e passou a sermais institucionalizada?Aras – Sim. Hoje o conceito é formar redes de redes. Vocêconstrói redes regionais e que se conectam com outrasredes regionais. Então temos pontos de contato em todoo mundo. Outro ponto importante são os adidos pelomundo. Queremos ter também nossas próprias represen-tações no exterior.

ÉPOCA – Há um modelo de cooperação internacionalconsiderado bem-sucedido?

Aras – O modelo em que devemos nosespelhar é o modelo da União Europeia,que não é de um país, mas de todos. Eletem todos os instrumentos de coopera-ção. No futuro, temos um projeto de criara Amerijus, órgão supranacional de Mi-nistérios Públicos. São promotores quecoordenam ações em espaços comuns.Aqui no Mercosul, você facilita a vida docidadão e a livre circulação de mercado-rias, mas não tem a livre circulação de in-vestigações e de medidas judiciais. O idealé que uma medida aqui passe a valer naArgentina, por exemplo. Queremos uma

cooperação mais fluida e mais profissional. É a busca daeficiência e da rapidez na transmissão das informações,ir direto ao ponto. Também queremos uma unidade derecuperação de ativos. É muito mais fácil achar gente. Apessoa faz uma cirurgia, vai se esconder, mas deixa rastro.Dinheiro dá muito trabalho – e muito mais por conta dadeficiência estrutural de nosso modelo.

ÉPOCA – A Secretaria também atua em casos que en-volvemdramas familiares, comoo sequestro internacio-nal de crianças e pensão alimentícia. Como é a atuaçãonesses casos?Aras – Todos esses casos são dramas para as famílias.Atuamos nos pedidos de sequestro e pedidos de pensõesalimentícias. Temos muitos casos aqui. De 2013 a maio de2015, foram 275 pedidos na Convenção de Nova York so-bre Prestação de Alimentos no Estrangeiro, por exemplo.Então tentamos buscar uma solução judicial que agradea todos. Mas também atuamos em casos como a recenterepatriação de serpentes, de sangue ianomâmi, de fósseis,obras de arte e de pedras preciosas. u

ENTREV ISTA Vladimir Aras

Hojeo conceitoé formar redesde redes, que seconectam.Temospontode contatoemtodoomundo”

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A instalação de CPI do BNDES naCâmara reacende debate sobre políticade criação de conglomerados glll

pobais

IDEIASDEBATES E

PROVOCAÇÕES

Câmara dos Deputados instalou, na semanapassada, a CPI do BNDES (Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico e Social). Um dos

objetivos declarados da CPI é investigar os empréstimosdo BNDES para a política de criação de “campeões nacio-nais”: grandes empresas com musculatura para se torna-rem líderes globais. Inspirada no exemplo da Coreia doSul, que forjou grandes conglomerados, como a Samsunge a Hyundai, a política de campeões nacionais foi encer-rada pelo BNDES em 2013. Falta dinheiro, e a avaliaçãoobjetiva dos resultados não é das melhores. Além disso, talpolítica é frequentemente responsabilizada pelo desequi-líbrio das contas públicas, mas continua a gerar grandescontrovérsias sobre seus resultados. Com a instalação daCPI, o debate sobre os campeões nacionais deve voltara esquentar – e ÉPOCA publica, a seguir, artigos comargumentos a favor e contra a política.

A

OSCAMPEÕESNACIONAIS

DERAMCERTO?

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BNDES apoia o fortalecimento de se-tores e empresas nacionais como for-ma de gerar mais e melhores empregos,

aumentar exportações e elevar a capacidade deinovação do país. O BNDES considera inade-quado o termo“campeões nacionais”, porque elepressupõe a concessão de privilégios para poucasempresas escolhidas. Nada mais distante das prá-ticas e dos objetivos da ação do banco.

Em geral, o apoio do BNDES é feito via crédi-to. Por esse instrumento, o BNDES chega a umcrescente número de empresas. Em 2014, foramapoiadas 277 mil empresas, seis vezes mais do queem 2007, sendo que micro, pequenas e médiasempresas (MPMEs) representam 50% do desem-bolso para indústria, agropecuária, comércio eserviços. Nos últimos cinco anos, houve umaincorporação de mais de 485 mil novos clientes.

Em alguns casos, contudo, a ousadia do pla-no de investimentos ou a estrutura de capitaldas empresas não permitem o apoio via crédito.Para suprir essa lacuna, o banco criou, a partir de1974, subsidiárias para investimentos de rendavariável, que em 1982 formaram a BNDESPAR.

Esses investimentos foram importantes paraa consolidação de diversos setores como a in-dústria nacional de celulose. De 1974 a 1985,o banco aportou recursos na forma de partici-

pação acionária em 27 empresas, que permiti-ram que o país se tornasse líder na produçãomundial de celulose de fibra curta. Hoje, porexemplo, a BNDESPAR é a principal investi-dora do país em fundos de capital de risco e decapital semente, como o Criatec.

A verdade é que o BNDES não escolhe vence-dores e está aberto a analisar projetos de todasas empresas idôneas, com classificação de riscoaceitável e que cumpram obrigações fiscais etrabalhistas. O BNDES chega a grande partedas maiores empresas do país: entre 2007 e2012, o banco apoiou 91 das 100 maiores em-presas e 783 entre as 1.000 maiores. O mercado,contudo, seleciona empresas que se mostrambem-sucedidas e capazes de elaborar planos denegócio viáveis, que são avaliadas pelo BNDEStanto em relação a operações de crédito quantode participação acionária.

A BNDESPAR atua com taxas de mercado etem como fonte de recursos o giro de sua car-teira, não utiliza recursos em TJLP do TesouroNacional ou do FAT. Ela é grande geradora delucros: entre 2007 e 2014, sua contribuição parao lucro do Sistema BNDES foi de cerca de R$23,4 bilhões, ou 40% do total, o dobro de suaparticipação média nos ativos do BNDES.

A BNDESPAR tem investimentos em 23 se-

OAndréSalcedo e Felipe SilveiraMarques

a

André Salcedoémestre emengenharia pelaPUC-Rio e assessor-chefe da Diretoriaresponsável pelasáreas de Indústria,Mercado deCapitais e CapitalEmpreendedordo BNDES

André Salcedo e Felipe SilveiraMarques

O BNDES contribuiu para o crescimento das empresas, via

DEBATES E PROVOCAÇÕES

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tores e mais de 280 empresas (diretamente ouvia fundos). A diversificação da carteira permi-te mitigar riscos de um investimento específicoe analisar o desempenho financeiro sob a óticado portfólio e nunca de forma isolada. Con-tudo, mesmo em setores questionados comoo de carnes, que foi apoiado em consonânciacom as políticas públicas setoriais, o saldo dosinvestimentos é positivo, com retorno atualda ordem de R$ 5 bilhões, considerando todaa carteira do setor.

A atuação da BNDESPAR favorece o mercadode capitais. Ela amplia a liquidez, incentivando aformação de investidores e fortalecendo a estru-tura de capital das empresas. Além de atuar comempresas que já são de capital aberto, o bancotambém opera para estimular novos entrantesno mercado de capitais. Incentiva boas práticasde governança, o que inclui, como contrapartidaa seus investimentos, exigências de abertura decapital no Novo Mercado ou nível equivalente.

Para analisar parte da contribuição daBNDESPAR à sociedade, o banco, em parceriacom o CGEE (Centro de Gestão de Estudos Es-tratégicos), mobilizou pesquisadores externospara analisar o crescimento de grandes empresasnacionais com destaque internacional em seussetores e a contribuição do apoio da BNDESPAR,

com foco no desenvolvimento de competênciase impactos setoriais e sociais. As conclusões dospesquisadores apontam que o banco contribuiupara o crescimento dessas empresas, aportandorecursos no montante e nos prazos necessáriospara viabilizar suas estratégias, fortalecendo suascompetências, como inovação e gestão socioam-biental, além de estimular o mercado de capitais.O banco ajudou a estruturar o primeiro IPO na-cional no setor de software e, no caso de carnes,contribuiu para a evolução da governança, trans-parência e gestão socioambiental, a assunção deposição de destaque internacional e a expressivaredução da informalidade (de 40% em 1999 paramenos de 10% em 2014), com reflexos na quali-dade dos produtos que chegam ao consumidor ena formalização das relações no setor.

Em suma, o aumento do acesso das MPMEsao BNDES é uma das prioridades do banco e vemsendo conseguido por instrumentos inovadores,como o Cartão BNDES e o Fundo Garantidorde Investimentos (FGI). Também a BNDESPARapoia diretamente ou via fundos centenas de em-presas, a custo de mercado e gerando lucro parao banco. Nesse processo, nota-se fortalecimentoda governança das empresas e de suas compe-tências e contribuição para o desenvolvimentodo mercado de capitais nacional. u

FelipeSilveiraMarques é doutoremeconomia peloIE-UFRJ e assessordaDiretoriaresponsávelpelas áreas dePlanejamento,Pesquisa EconômicaeGestão deRisco doBNDES

as, viabilizando suas estratégias e fortalecendo suas competências

Fotos: divulgação e Getty Images/iStockphoto

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esde meados da década passada, o Brasilvivenciou a retomada da estratégia na-cional desenvolvimentista adotada em

vários momentos do século passado. Mesmo an-tes da crise, já havia movimentos para fortalecer oprotagonismo estatal e o aumento dos estímulospara a formação de grandes grupos empresariaisque, em tese, conquistariam mercados interna-cionais. A fusão Oi-Brasil Telecom em 2008, porexemplo, foi impulsionada por injeção de capitaldo BNDES, Banco do Brasil e fundos de pensão.

Assim como após o choque do petróleo em1974, a estratégia dos últimos anos teve comoobjetivo garantir o crescimento econômico emmeio a um cenário externo adverso. O argumentoera relativamente simples.A expansão da produ-ção seria mantida com a concessão de incentivosa setores e empresas selecionados por meio decrédito subsidiado e a maior proteção da pro-dução doméstica contra a concorrência externa.

Tanto agora como nos anos 1970, no entanto,o processo terminou com uma grave crise fiscal,pressão inflacionária e a estagnação da economia,com alguns anos de recessão.

Políticas de proteção setorial resultam emcustos para o restante da economia. Subsídiosconsomem recursos que poderiam ser utilizadosem políticas sociais, redução da carga tributária,liberando recursos para o setor privado, ou emmaior equilíbrio fiscal, fortalecendo a estabili-dade macroeconômica. Além disso, podem pre-servar empresas ineficientes e prejudicar a pro-dutividade e o crescimento dos demais setores.

Essas políticas podem ser eficazes em casos es-pecíficos, desde que os setores se tornem eficien-tes, que a proteção possa ser retirada posterior-mente, para benefício do restante da sociedade,e que compensem os seus custos de implantação.

Por essas razões, a boa prática requer que se-jam acompanhadas de avaliação cuidadosa deresultados, preferencialmente com grupos decontrole, e comparadas com as alternativas depolítica pública. Metas de desempenho, controletransparente dos custos e dos resultados obtidossão importantes para garantir que as políticasresultem nos benefícios esperados e que, em casode fracasso, possam ser tempestivamente revistas.

No caso do Brasil, porém, foi outra a prática

DMarcos Lisboa eSérgio Lazzarini

Marcos Lisboaé economista ediretor presidentedo Insper, escolade administração,economia, Direitoe engenharia deSão Paulo

A produtividade estagnou na maioria dos setores apoiados pelo BNDES. Mu

DEBATES E PROVOCAÇÕES

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Sérgio Lazzarinié engenheiro-agrônomocommestradoe doutorado emadministração emnegócios. É diretor dapós-graduação strictosensu do Insper

ES. Muitos projetos poderiam ser financiados sem recursos públicos

e outro o resultado. Inúmeros estudos, inclusivefeitos pelo próprio BNDES, indicam que houvepouco impacto sobre a produtividade e o inves-timento. Desde 2003, o crédito do banco sobre oPIB saltou de 5% para 12%, enquanto a formaçãobruta de capital fixo pouco se moveu para alémdo patamar de 17%-18%.A produtividade estag-nou na maioria dos setores, inclusive em muitosapoiados pelo banco.

A explicação é simples. A expansão do bancoocorreu justamente em um período em que oBrasil se beneficiou de uma melhora no preçodas commodities e das condições de crédito.Superada a fase inicial da crise, os mercadosemergentes passaram a crescer novamente, eo Brasil não foi exceção. Muitos projetos po-deriam ser financiados sem recursos públicos,que apenas substituíram o crédito privado. Afunção primordial do banco, no entanto, se-ria suportar investimentos com retorno socialsem financiamento privado por imperfeiçõesdo mercado de crédito.

As políticas de proteção tiveram o efeito cola-teral de reduzir a pressão competitiva no mercado

doméstico e os incentivos para o investimento emprodutividade, além de reduzir a participaçãodas empresas nas cadeias globais de produção.A falta de critério para acompanhar, avaliar e,eventualmente, cessar os subsídios incentivou aexpectativa de suporte perene, independente dodesempenho das empresas.

Apesar de os defensores das políticas utilizaremo modelo coreano como justificativa, a execuçãodestoou da boa prática adotada naquele modelo,como as metas de desempenho e a gestão de resul-tados. Além disso, na Coreia foram feitos grandesinvestimentos em educação e infraestrutura, quereduziram as restrições de recursos privados e am-pliaram o efeito dos incentivos públicos direcio-nados ao desenvolvimento empresarial.

Os procedimentos para a concessão de in-centivos, a avaliação de resultados e a correçãode rumos são relevantes para o sucesso ou fra-casso das políticas. Aprender com os erros ajudaa evitar que sejam repetidos. Que ao menosnisso o resgate do nacional desenvolvimentis-mo dos últimos anos seja distinto da estratégiaadotada nos anos 1970. u

Fotos: Letícia Moreira/Editora Globo,Getty Images/iStockphoto

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HELIO GUROVITZ

Helio Gurovitz é jornalista [email protected] (e-mail)@gurovitz (Twitter) http://g1.globo.com/mundo/blog/helio-gurovitz/ (web)

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O precursorda candidatura Trump

brasileiro está acostumado a associar o liberalismoa privatizações, austeridade fiscal, abertura e livre

mercado. Nos Estados Unidos, “liberal” tem outro senti-do. É alguém de esquerda, favorável a saúde e educaçãoestatais, aborto, proteção de minorias como negros, mu-lheres, gays ou até leões africanos. São causas associadasao Partido Democrata, cujas bases mais sólidas estão emEstados como Nova York ou Califórnia, centros da aca-demia e da imprensa. O debate da Fox News na quinta-feira passada, o primeiro a reunir os pré-candidatos re-publicanos à sucessão de Barack Obama, foi em Ohio, umEstado-pêndulo, ora democrata, ora republicano. Oscandidatos fizeram o maior esforço possívelpara afastar-se da pecha de “liberal”. Quemmais chamou a atenção, previsivelmente, foi oempresário-celebridade Donald Trump, comsuas impagáveis frases de efeito.

A candidatura Trump foi recebida com ummisto de perplexidade (“como levar a sério umfanfarrão que só quer aparecer?”), desprezo(“claro que ele não vencerá as primárias; outrosjá lideraram e naufragaram”) e temor (“mas ese ele levar?”). É provável que Trump não ganhemesmo. Mas sua ascensão reflete um sentimen-to real de orfandade do eleitor. Em tempos de“ansiedade econômica e alienação política”, naspalavras do analista David Brooks, Trump falaum idioma compreendido pelos sete de cadadez americanos que não se veem representadosem Washington. Sua linguagem é direta, agres-siva. Seu populismo – embalado no narcisismo mitômanode um ego descontrolado – traz uma resposta fácil à popu-lação que desconfia das “elites liberais” dos grandes centros.É a mesma população que levou à liderança a rede de TVque transmitiu o debate. Se você assistir à Fox e ouvir co-mentaristas como Rush Limbaugh, Bill O’Reilly ou SeanHannity, perceberá que Trump não inventou nada.

O mérito de reconhecer o tamanho da audiência con-servadora cabe ao criador e presidente da Fox, Roger Ailes.Sem ele, a política americana hoje seria outra e Trumptalvez nem fosse candidato. Ailes esteve envolvido na elei-ção de três dos últimos quatro presidentes republicanos:Richard Nixon, Ronald Reagan e George H. Bush. No finaldos anos 1990, convenceu o empresário Rupert Murdocha apostar em sua TV com um olhar à direita. A Fox cap-turou a agenda nacional, apostou em questões divisivas econtribuiu para a hoje irremediável separação entre elei-

tores “azuis” (democratas) e “vermelhos” (republicanos).Deu apoio às guerras do Iraque e do Afeganistão e à cria-ção do Tea Party. Sua oposição a Obama gerou até umboicote da Casa Branca. A Fox é tão odiada que o come-diante Jon Stewart, um ícone “liberal”, dedicou na sema-na passada um segmento inteiro de seu programa de des-pedida no canal Comedy Central a atacá-la. Não dá paraentender os Estados Unidos de hoje sem a Fox ou semAiles. Dois anos atrás, ele próprio resolveu combater acampanha negativa e ofereceu acesso exclusivo ao jorna-lista Zev Chafets para uma biografia. O resultado, RogerAiles off camera, lhe é obviamente simpático. Mas Chafets

não foge das histórias incômodas. Procura, numeco ao slogan da Fox, ser “justo e equilibrado”.

As raízes de Ailes estão em Warren, uma peque-na cidade operária de Ohio. Hemofílico, não teveuma infância fácil. Era frequentemente agredidopelo pai, que pelo menos uma vez o deixou sangrara ponto de ir parar no hospital. Estudou televisãona mediana Universidade de Ohio. Até hoje tempreconceito contra universidades como Harvardou MIT, que diz produzirem intelectuais sem co-nexão com o mundo real. Sua carreira mistura umtalento excepcional a lances de sorte, transforma-dos por Chafets numa narrativa eletrizante. Numapágina, Ailes consola o filho Zac após uma derro-ta no futebol. Na outra, explica a Nixon, então nolimbo republicano, por que a TV seria essencialcaso ele quisesse candidatar-se à Presidência. Dádicas a Reagan antes do debate em que estraçalhou

o democrata Walter Mondale. Espontâneo, às vezes rude,fala o que lhe vem à cabeça em reuniões da Fox ou palestrasa estudantes. Recebe o patrão, Murdoch, para acompanhara apuração das eleições de 2012 e, diante da derrota, dizque é hora de os republicanos mudarem sua opinião sobreos latinos. Apesar da fama, Ailes cultiva relações sólidascom democratas e “liberais”, como Jesse Jackson ou a famí-lia Kennedy. Mantém a Fox na liderança de mercado desde2002. Não faltam críticas a sua falta de sensibilidade parao público feminino, latino ou negro – apenas 1,3% da au-diência, ante 20% da concorrência. Aos críticos, Ailes diz:“Os últimos dois caras que tiveram sucesso em alinhar oolhar de toda a mídia de um lado só foram Hitler e Stálin”.Poderia ser uma frase de Trump. u

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Roger Ailes off cameraZev Chafets

Sentinel2013

272 páginasUS$ 16

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LIVRODASEMANA

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Nos últimos140 anos, tivemoscarro a álcool,Lava Jato, Pré-Sale crise do petróleo.E a economia,quando vai sairdo fundo do poço?

O BRASIL PRECISA SABER. LEIA O ESTADÃO.

De 1875 para cá, o Estadão esteve presente em todasas grandes mudanças do País. E vai continuar ao seulado. Sempre. Porque, neste tempo todo, só uma coisanão mudou: o seu direito de querer saber.

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m dos maiores especialistas do mundo em pobrezae desigualdade abraçou outra causa. Um dos for-muladores dos programas de combate à pobre-

za, ainda nos tempos do governo Fernando Henrique,Ricardo Paes de Barros deixou o governo Dilma nesteano e agora se debruça sobre políticas públicas para aeducação, como economista-chefe do Instituto AyrtonSenna. PB, como é chamado, é engenheiro do InstitutoTecnológico da Aeronáutica (ITA), tem mestrado em es-tatística, doutorado e pós-doutorado em economia pelaUniversidade de Chicago – templo do pensamento liberal– e pela Universidade Yale, ambas nos Estados Unidos.Hoje usa suas habilidades com números e o conhecimen-to que adquiriu ao longo de 40 anos de estudos sobre asociedade brasileira para avaliar as políticas de maioralcance, com menor custo, na educação brasileira. Naentrevista a seguir, fala sobre o Plano Nacional de Edu-cação, o impacto da desigualdade no aprendizado e sobrequanto a ideologia atrapalha o país.

ÉPOCA – O problema da educação é falta de dinheiroou de gestão?RicardoPaesdeBarros–A meta é investir 10% do ProdutoInterno Bruto (PIB) em educação até 2024. Nenhum ou-tro país coloca tanto dinheiro na área. Mas o Brasil tem aeducação típica de um país que tem metade da renda percapita brasileira; está 25 anos atrás do Chile e tem apenasmetade dos jovens cursando o ensino médio na idade certa.São problemas graves. Então, se pedirem 10% do PIB paramexer na educação, acho que a sociedade brasileira deve

dar. Mas deve dar sob a condição de garantir que a situaçãomudará, com um plano sério, bem explicado, com metas.

ÉPOCA–Esse seria oobjetivodoPlanoNacional deEdu-cação (PNE), que passou a vigorar neste ano. Qual suaopinião sobre ele?PaesdeBarros–As metas do PNE são muito pouco ambicio-sas para quem quer realmente dar um salto na área. Elas nãobotam o Brasil no mapa do mundo da educação mesmo queconsigamos cumprir todas. Faltam no PNE evidências sobrea eficácia das ações que mudarão para melhor o cenário dopaís. O MEC tem de dizer:“Pegaremos esse dinheiro, faremosisso com ele e entregaremos este resultado. E se, no meio docaminho, não chegarmos lá, acionaremos uma outra coisa,que funcionará assim, custará tanto e produzirá tal efeito”.

ÉPOCA – No ponto em que o Brasil está hoje, cuidar daeducação émais importante que cuidar da pobreza?PaesdeBarros – Em 2000, a gente tinha 15% da populaçãoextremamente pobre e 12% de analfabetos. Todo mundoacreditava que reduziríamos os analfabetos rapidamenteporque o problema era focalizado e todos sabiam comofazer. Acreditavam que seria complexo reduzir a pobreza.No fim, a gente pegou aqueles 15% de pobres e rapida-mente os levamos a 3%. E o analfabetismo ainda estáem 9%. Hoje nossa revelada incompetência em melhorarem educação torna o problema mais desafiante e maisimportante. Já temos uma política social supercapaz deatacar a miséria, mas os problemas da educação atingemmuito mais gente do que a pobreza. s

Flávia Yuri Oshima eGuilherme Evelin

O economista liberal, um dos pais do Bolsa Família,diz que o Plano Nacional de Educação é pouco ambiciosoe critica o preconceito no governo contra o setor privado

ENTREV ISTA

“A crise da educação émaisgrave do que a da pobreza”

U

RICARDO PAES DE BARROS

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VAMOSCOPIAROeconomistaRicardo Paes deBarros no InstitutoAyrton Senna.Ele defendea difusão dasmelhores práticas

Foto: Ricardo Correa/ÉPOCA

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ÉPOCA –O que o senhor faria se estivesse noMinistérioda Educação?PaesdeBarros–Cuidaria da difusão de melhores práticas.Num mesmo bairro temos escolas com nota 6 do Índicede Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que é umaboa nota, e outras com Ideb 3, que é péssima. Isso não fazsentido. Se uma empresa inventar uma coisa bacana, oque a concorrência fará? Copiará. Por que a escola de Ideb3 não copia a vizinha de Ideb 6? A questão é que criamosum sistema de educação que não é público, é estatal, e nãotem nenhuma dinâmica. O sucesso do Bolsa Família temmuito a ver com isso. No fundo, quem faz todo o trabalhodo Bolsa Família ser um negócio focalizado é o município,porque quem escolhe quem será cadastrado é ele. Váriosmunicípios copiam as experiências dos outros, e o BolsaFamília funciona bem em todo o país.

ÉPOCA – Essas boas práticas em edu-cação não se disseminampor causa dasdesigualdades regionais?Paes de Barros – Acho que não é esse o pro-blema. O desempenho agregado de Pernam-buco, Goiás e Rio de Janeiro em educação,na última década, é muito melhor que doresto do país. São Estados completamentediferentes. Agora, me diga por que o Espí-rito Santo não é igual ao Rio de Janeiro?Se Goiás fez, por que Tocantins e MatoGrosso não fizeram? Por que os municípiosvizinhos a Sobral, no Ceará (outro caso desucesso em educação), não vão lá entender oque eles fizeram para ter as melhores notasdo Estado no ensino público?

ÉPOCA – E quanto a condição social in-fluencianessasdisparidadesnaeducação?PaesdeBarros–Muito mais do que deveria.Essa é uma das coisas que a gente deveriacobrar do governo.Esse é um ponto que estámuito pouco contemplado no Plano Nacio-nal da Educação. É absurdo que o aprendi-zado de uma criança esteja condicionado ao lugar em queela vive, ao fato de ela ser pobre ou rica, branca ou negra. Osistema educacional brasileiro permite que essas característicastenham um impacto gigantesco no aprendizado do aluno. Issoé uma fonte de desigualdade de oportunidade absurda, quealimentará uma desigualdade ainda maior no futuro.

ÉPOCA–Oquepodeserfeitopararesolveresseproblema?Paes de Barros – Se for bem planejada e bem implementada, aeducação de tempo integral pode reduzir essa desigualdade.Ela pode dar ao aluno mais pobre aquilo que uma famíliaem melhores condições oferece para uma criança e que temtanto impacto positivo no aprendizado. Se numa famíliamais rica a criança tem acesso a um lugar iluminado e tran-quilo para estudar, é isso que a escola tem de ter. A escola

tem de desenhar mecanismos para tornar a educação maisindependente do ambiente familiar. Tem de dizer para opai: eu só preciso que o senhor faça a criança dormir cedo,faça ela se alimentar bem e seja carinhoso e encorajador.Não adianta pedir para o pai estudar com ele, para fazerpesquisas em livros a que ele não tem acesso. É precisocuidar também da autoeficácia. O aluno bom é aquele queacredita que é capaz de aprender. O aluno confiante que temum professor que acredita nele vai aprender muito mais.

ÉPOCA – O senhor é um entusiasta da ideia de que osesforços de educação devem ser concentrados nos pri-meiros anos de vida da criança. A principal meta do go-vernopara aprimeira infância é a criaçãodemilhares decreches. É o caminho certo?

Paes de Barros – Essa é uma questão im-portante e muito complexa. A creche nãoé a solução para todas as crianças. Mãese pais, em suas casas, com suporte do Es-tado, com atendimento médico, podempromover o desenvolvimento fantásticoda criança. Um exemplo é o Primeira In-fância Melhor, do Rio Grande do Sul. Éum programa de visitação domiciliar, deum profissional que vai observar a criançae dar orientação para a família de comocuidar dela. O plano do governo diz que,daqui a dez anos, teremos 50% das crian-ças nas creches. Mas o que precisamos é deum plano que cuide de 100% das criançasaqui e agora. Precisamos de um programaem que os agentes de saúde olhem pelodesenvolvimento das crianças e orientemas famílias. Ninguém no mundo cuidouda primeira infância colocando todas ascrianças em creches de tempo integral.A creche é uma resposta para as criançaspequenas de mães pobres que trabalham.Para esse público, é uma opção eficaz. Acreche aumenta mais a renda da famíliaque o Bolsa Família. E faz isso de forma

autônoma. Agora, existe um problema com as creches noBrasil que chega a ser uma maluquice: a maior parte dascreches públicas é usada por mães que não trabalham. Exis-te hoje espaço nas creches brasileiras para abrigar a vastamaioria das mães pobres que trabalham. Mas não se dáprioridade a elas. O Ministério Público diz que o direito àcreche é universal. Ocorre que quem tem tempo para pegara fila da creche, quem vai lá no Ministério Público reclamarque quer creche, é a mãe que não trabalha. A política decreches deveria ser focalizada em quem precisa.

ÉPOCA –Na criação do Bolsa Família, houve resistênciade setores do governo Lula ao programapor se tratar deumapolítica focalizada, considerada neoliberal por eles.Aindahápreconceito contra aspolíticasde focalização?

ENTREV ISTA

Não testamosas escolascharter,quemisturamverbapública eprivada,pordiscriminação

contrao setorprivado”

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Paes de Barros – Esse debate sobre a focalização foi supe-rado. O que continua a existir é uma coisa discriminatóriacontra o setor privado. A educação claramente discrimina auniversidade privada diante da pública, como se, por defini-ção, algo estatal fosse melhor do que o privado. O programanacional de alfabetização, por exemplo, tem de ser com asuniversidades públicas, e não com as privadas. Por quê? Épura discriminação – e ela tem de ser contestada. Há a ideiade que privatizar parte da educação é mercantilizar o setor.Esse é o grande nó dos serviços públicos do Brasil. Na edu-cação essa mentalidade é brutal e representa um grande pro-blema. Não se pode usar o Fundeb (fundo de financiamentopara a educação básica) para contratar uma rede de escolasde educação média para prover os serviços de um Estado.Um Estado poderia gastar menos contratando uma rede deensino particular. Ele não se preocupariacom infraestrutura, nem com o quadro dedocentes. O foco do Estado seria o controleda qualidade do ensino. Isso economizariadinheiro e dor de cabeça. Imagina isso noEstado de São Paulo, que tem mais de 200mil professores. As Organizações Sociais(OS) deram certo na saúde. Mas não sepode usar OS na educação. Não podemostestar o modelo de charters schools no Bra-sil, que são escolas privadas pagas em partepelo governo e gratuitas para a população.Na Colômbia estão fazendo isso. A Suéciaestá se livrando de todas as escolas públicas.O país paga para a rede privada prover oestudo. Para a família é gratuito – e só o queimporta é a qualidade.

ÉPOCA –Apesar da discriminação con-tra o setor privado, o Bolsa Família, for-mulado por liberais como o senhor, setransformou em uma vitrine dos gover-nosdoPT.Osenhor se ressentepor isso?Paes de Barros – Não tenho problema ne-nhum com essa apropriação. Na verdade, éo contrário. Eu gostaria que eles tivessem seapropriado de outras ideias minhas. Foi um privilégio po-der ter contribuído de alguma forma com a mudança socialque ocorreu nos últimos anos. O presidente Lula fez coisassurpreendentes nesse sentido. Ele tem o mérito fantásticode ter escutado os caras mais variados da face da terra. Saiucopiando ideia de tudo que é lugar, coisas dramaticamentediferentes, filosófica e ideologicamente contrárias. O ProUni,que concede bolsas de estudo em rede privada, e o ReUni,que é a expansão das universidades públicas, são contradi-ções frontais. O Fernando Henrique escolheria um dos dois,nunca faria os dois. O Lula não tinha muita ideologia. Eletinha um senso prático e uma vontade de melhorar a vidadas pessoas. Se você me perguntar por que a desigualdadecaiu no Brasil, direi que não sei a razão e que isso é ótimo.Quando se sabe o motivo do crescimento econômico, isso

significa que ele não será sustentável. Não tem nenhumaindústria que mantenha o crescimento de um país por umlongo período. Quando é algo espalhado, misturado, que nãodá para dizer que foi A, B ou C, é positivo, porque foi algoque aconteceu em todos os setores, por todo o país.

ÉPOCA– Quais das suas ideias o senhor se ressente pornão terem sido implementadas?PaesdeBarros–A principal foi a da junção de toda a políticade transferência. Unir o seguro-desemprego com o Bolsa Fa-mília. Hoje, o beneficiário que conseguir um emprego formalperde o direito ao benefício. Se ele perder o emprego, não oganha de volta.A gente tem de construir um sistema que junteisso tudo num programa que estimule o trabalho e a forma-lização. Da forma como está, ele desestimula o cidadão a ser

formal, ou a voltar a trabalhar. Passei o últi-mo governo inteiro tentando emplacar esseplano,mas não fui ouvido.Desenvolvi outroprograma para a população isolada na áreade fronteira do país que garante a permanên-cia nessa faixa. Temos 600 mil pessoas lá. Napróxima geração,não teremos ninguém.Issoserá um problemão para o Brasil.

ÉPOCA–Tivemosváriosganhosnaredu-çãodedesigualdadenosúltimos20anos.Essas conquistas estão em risco com acrise que o país está vivendo agora?PaesdeBarros–Os ganhos sociais são mui-to sólidos. Não acho que corremos muitorisco. A crise que temos é inventada pornós mesmos. Não temos crise por causade desastre natural, ou alguma doença, oualgum inimigo que causou alguma coisa. Éum desarranjo institucional. Fomos mui-to desorganizados, gastamos mais do quetínhamos. Dado isso, essa crise teria tudopara ser de curta duração. Seria o caso dechamar todo mundo, organizar e proteger arenda dos mais pobres. Metade da popula-ção brasileira tem menos de 20% da renda

brasileira. É fácil proteger 20% da renda brasileira. Porquese a renda brasileira precisar cair 4%, basta os outros 80%perderem 5% que a renda dos mais pobres não precisa cairnada. Num país com uma política social poderosa como a doBrasil, dá para blindar os pobres. Para isso precisamos de umcorte orçamentário cuidadoso.Agora, estamos caminhandopara a direção errada. Fizemos cortes toscos, no abono sa-larial e no seguro-desemprego, que poderiam ser alteradosde outra forma. E transformamos uma crise que poderia serde curta duração em algo de média duração. Falta coesão euma liderança que junte todo mundo em torno de uma mesapara fazer um ajuste sério. Hoje é como se estivéssemos numaenchente desastrosa, com água até o joelho, e a oposição quersentar numa mesa boiando na enchente para discutir quemé o culpado, em vez de correr para escoar a água. u

Ricardo Paes de Barros

Osmunicípiosse ajudaramparatornaroBolsa

Família eficiente.Omesmopode

ser feitoemeducação”

Fotos: Melanie Stetson Freeman/The ChristianScienceMonitor e Mario Bittencourt/Folhapress

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arcelo – Era feriado no Rio, fazia bastante sol.Eu tinha 11 anos. A gente morava numa casade dois andares na Rua Delfim Moreira, de

frente para o mar do Leblon. Meu pai tinha saído demanhã para caminhar na orla com o jornalista Raul Ryff,amigo e confidente que também havia estado no exílio.Quando chegou, deitou no sofá, acendeu um charutoe começou a ler os jornais. Minha mãe estava por ali,fazendo companhia. Era um pouco mais de 10 horasquando o telefone tocou. Do outro lado da linha, umamulher queria o nosso endereço para entregar uma en-comenda do Chile. Meu pai não desconfiou de nada.Eliana – Umas 11 da manhã, coloquei biquíni e pe-

guei minhas coisas. Como todo mundo na adolescência,eu tinha minha turma de praia.Desci as escadas correndo paraencontrar os amigos. Nossa casaera ladeada por um jardim. Meupai e Ryff estavam ali sentados,conversando e tomando sol.Acho que também iam à praiadepois, não sei o que espera-vam. Antes de eu cruzar o por-tão, meu pai perguntou: “Vocênão vai me dar um beijo?”. Eu

M disse: “Claro que vou”. Nunca me esqueço disso. Dei umbeijo nele, no Ryff e saí. Foi a última vez que vi papai.Vera–Eram férias escolares, e eu estava em Londres na

casa do Fernando Gasparian,um grande amigo do meu pai,empresário que resistiu ao golpe.Na época,eu tinha no Rioum namorado três anos mais velho do que eu e papai queriaque nos afastássemos um pouco. Eu era nova, a gente co-meçou a falar de casar. Meu pai achava cedo demais. Entãome mandou para lá, para ficar um pouco distante e paraestudar inglês. A última vez que falei com meu pai foi em25 de dezembro de 1970, pouco menos de um mês antes.Ele me telefonou para desejar feliz Natal, saber se estavabem, dizer que estava com saudade. Falei só com ele, nãoconversei com minha mãe e nem com meus irmãos naquele

dia. Meu pai também falou com oGasparian. Ele desligou o telefonechorando. Disse que sentia muitafalta daquele grande companheiro.O dia 20 de janeiro, quando papaifoi preso, foi normal para mim. Fuipara a escola de inglês,não me lem-bro o que fiz exatamente.Marcelo–Meus pais estavam na

sala, prontos para ir à praia. Seis su-jeitos armados entraram em casa s

Marcelo, Vera e Eliana Paiva

20 de jane iro de 1971

RIO DE JANEIRO, BRASIL

As memórias do desaparecimento do pai na ditaduramilitar estão no novo livro de Marcelo Rubens Paiva, Ainda

estou aqui, da editora Objetiva. Marcelo e duas irmãsrelatam a ÉPOCA o feriado mais triste da infância deles

“O dia em quepapai não voltou”

VIDAH ISTÓR IAPESSOAL

1 AnaLúcia2 Marcelo3 Beatriz4 Vera5 Eunice, amãe6 Eliana

OS PAIVAS

Foto: Eduardo Simões/Acervo da Família

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NÃODIGAXISAprimeira imagemde Eunice e os filhosapós a prisão domarido, na entradada casa no Leblon,em 1971. O fotógrafoda extinta revistaManchete reclamava:“Fiquem sérios”. Masa irreverência eramarca da família

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pela porta dos fundos. Na cozinha, apontaram metralha-doras para a empregada, Maria José. Ela entrou pálida eavisou meu pai que tinha uns homens querendo falar comele. Minha mãe continuou a ler o jornal e meu pai, escol-tado por dois militares, pediu:“Amorzinho, fique calma”.Pediu também que eles baixassem as armas. Era o maiscalmo de todos. Os militares perguntaram quem maisestava na casa. Mamãe respondeu que só as crianças. Babiu(Beatriz), minha irmã mais nova, percebeu o barulho efoi até lá. Eu estava dormindo no quarto. Eles fecharamtodas as janelas e cortinas da casa e começaram a fazerperguntas. Trocavam informações pelo rádio. Pediram ameu pai para acompanhá-los para prestar depoimento.Meu pai pediu para se trocar. Subiu, colocou terno e gra-vata, relógio no pulso, umas cadernetas no bolso. Saiu decasa escoltado por dois agentes. Outros quatro militaresficaram em casa. Ninguém podia sair.Eliana–Quando voltei da praia, umas 2 da tarde, estra-

nhei a casa toda fechada em pleno verão.Entrei e vi mamãemuito assustada, com os olhos arregalados, coisa que nãome lembrava de ter presenciado antes.Falava baixo,contida.Perguntei: “O que aconteceu?”. Ela: “Teu pai foi preso”. Eunão tinha percebido que havia militares à paisana dentro dacasa. Na ausência da Vera, que estava em Londres, eu era airmã mais velha. Talvez por isso minha mãe me tenha feitoum pedido:“Você precisa dar um jeito de sair para avisar seutio.Você tem dinheiro?”.Meu tio era advogado.Nessa época,eu era atleta do Clube do Botafogo. Jogava vôlei no juvenil.Me vesti para o jogo e fui pela porta da frente.Falei depressa:“Estou saindo para jogar, estão me esperando, tenho de ir”.Fechei a porta e fui. Até hoje, não sei como consegui. Se foiporque eu fiz uma cara de pau muito grande ou se porqueos militares não tiveram tempo para pensar no que estavaacontecendo. Fui para a casa de um amigo, que moravanum lugar que chamávamos de“condomínio de jornalistas”,telefonei para o meu tio. Depois fiquei circulando para daro tempo de uma partida de vôlei. Uma hora e meia depois,voltei para casa. O mais fortão perguntou: “O que vocêfoi fazer na rua?”. Respondi que tinha ido jogar. E ele,furioso: “Não, você não foi, você foi avisar seu tio queteu pai está preso”. Como ele sabia? Meu tio, como umbom advogado, ligou para a casa para saber o que tinhaacontecido. Eles escutaram a conversa pela extensão.Marcelo – Acordei tarde, depois de tudo isso. Ainda

sonolento, escovei os dentes e percebi um estranho nocorredor, vigiando da janela do andar de cima o movi-mento da rua. Cumprimentei com a cabeça. Assim quedesci as escadas, percebi o movimento. Mas nem estranhei,eles não estavam fardados. Era comum ter gente de foraali, minha casa vivia cheia. Me chamou a atenção que ummilitar atendia o telefone quando tocava. Então pergunteipara minha mãe o que estava acontecendo. Ela respondeu:“Nada”. Perguntei quem eram aqueles caras. Ela disse queeram fiscais, depois que vieram para dedetizar a casa. O

H ISTÓR IA PESSOAL

RETRATOSDEFAMÍLIAA vida dos Paivas antes do sumiçodo patriarca, o ex-deputadoRubens Paiva, preso na ditadura

ÉRAMOS SETE1.A família completacom a avó Cici, mãede Rubens 2.O casalRubens e Euniceem viagemde férias3.Marcelo nos ombrosdo pai, na piscina4. Eunice em sua luademel emBariloche,em 1952 5.Retratode Rubens Paiva

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Fotos: Acervo da Família

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almoço foi servido, e os militares almoçaram também.Estávamos apreensivos, mas não tensos. Consegui sairsem ser notado, fui jogar bola na praia. Quando voltei,levei bronca de um deles. Queria saber onde eu haviaido. Eu disse que estava logo ali na frente jogando bola. Oque tinha demais? Eram férias, feriado, era minha praia.Ninguém podia me impedir. Surpreso com a resposta, eleme disse: “Você não tem a menor ideia do que está aconte-cendo aqui, não é, garoto?”. Quando minha mãe percebeuque eu consegui sair, me chamou no quarto e perguntoupor onde eu tinha escapado. “Pela garagem”, respondi.Achei que levaria uma bronca, mas na verdade ela que-ria um favor. Escreveu um bilhete, colocou numa caixade fósforos e me pediu para levar até a casa da vizinha,Helena, sem que ninguém me visse. Fui correndo, toqueia campainha, li o bilhete antes de entregá-lo:“Rubens foipreso, ninguém pode vir aqui, senão é preso também”.Eliana –Naquele dia, ficamos em casa, numa espécie

de prisão domiciliar.Me lembro de ter conseguido dormir.Acordei no dia seguinte com minha mãe pedindo para eulevantar e me trocar, porque prestaríamos depoimento.“Eu?”. Coloquei uma túnica preta e uma calça bem discre-ta. Por volta de 11 da manhã, nos colocaram num Fusca.Quando chegamos em frente ao Maracanã,colocaram umcapuz preto em nossas cabeças.Chegamos ao DOI-Codi (odestacamento de inteligência ligado ao Exército), na Tijuca,e me separaram da minha mãe. Fui revistada de cima abaixo. Fiquei o dia todo numa espécie de corredor polonês.Sempre encapuzada,um cheiro horrível, não via nada.Elespassavam e diziam: “Comuniiiiiista”. Passavam a mão nosmeus peitos. Me davam coques na cabeça. Não compreen-dia o que estava acontecendo. Era uma menina. Vivia noRio,numa casinha em frente à praia,numa família normal,com festas... não dava para imaginar que aquilo existia.Comecei a ouvir coisas terríveis:“Pelo amor de Deus,paremcom isso”.Fui interrogada três vezes, em uma sala pequena,fechada, sem janelas. No primeiro, o interrogador era umtal de Cirurgião. Tinha um pau de arara ao lado, sangueno chão. A gente estava frente a frente, separados por umamesa. Ele tinha uma planilha, e ficava me perguntando dealgumas pessoas, amigas de papai. “Frequentam sua casa?São comunistas? São terroristas?”. Até que surgiu uma coisaabsurda: um dos meus trabalhos escolares de história. Euestudava no Notre Dame de Sion,um colégio tradicional doRio. O trabalho era sobre a revolução da Tchecoslováquia,algo bastante noticiado pelos jornais. Eles me mostrarame disseram:“Então você também é comunista”. O segundoe o terceiro interrogatórios foram mais tranquilos. Àque-la altura, acho que papai já estava morto. Eu podia sentirisso, não sei explicar. Saí no dia seguinte ao da prisão. Mederam a bolsa da minha mãe, com dinheiro, cigarro, tudodentro. Me colocaram num Fusca e me deixaram numapraça. Entrei num bar, liguei para um amigo do meu paie pedi para ir me buscar. Só dois dias depois contaram s

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H ISTÓR IA PESSOAL

para mamãe que haviam me libertado. Ela ficava esten-dida num colchão sem se mexer, achando que a filhaainda estava presa. Ficou lá por 12 dias. Enquanto isso,ficamos com nossa avó, que veio de Santos.Vera – O correio da Inglaterra estava em greve, e eu

mandava cartas para o Brasil por portador, tanto parameus pais quanto para meu namorado. No dia da prisãoda minha mãe, meu namorado foi a nossa casa, no Leblon,buscar uma carta minha e acabou preso também. Ele e umamigo.Os dois foram parar no DOI-Codi,mas logo foramsoltos. Só fiquei sabendo de tudo dias depois. Telefonar eradifícil naquele tempo. Quando a notícia chegou a Londres,ninguém me contou de imediato. As pessoas mudavamde assunto quando eu entrava na sala. Mas eu achava quetinha relação com meu tio, irmão mais velho do meu pai,que estava com câncer.Só foram me contar depois.Na aulade inglês, a gente estudava e discutia textos de jornais. Fuipara a escola e, pela manchete do The Times, soube da pri-são dele. Ao voltar para a casa do Gasparian, conversaramcomigo. Todo mundo fazia o possível para deixar a gentecalmo. O tom era: tudo vai se resolver, vai dar tudo certo.A versão oficial dos militares era de que meu pai havia es-capado durante uma transferência da prisão.Marcelo – Assim que minha mãe voltou, magérrima

e sem meu pai, a gente ficou um pouco assustado. Mas

nem tanto. Naquela época, muita gente ia presa. Prestavadepoimento, ficava uns dias e saía. Foi assim com muitosamigos da família. Não se falava ainda em desaparecidopolítico, meu pai foi o quinto do Brasil. A prática come-çou em 1970. Quando fomos morar em Santos, seis me-ses depois da prisão, minha mãe comprou uma cama deviúva. Isso foi muito simbólico. A gente acha que nesseperíodo ela já tinha alguma informação de que ele tinhasido morto. Mamãe nunca nos contou, provavelmenteporque nem ela mesmo sabia. Mas, para ter saído do Rio,mudado com os cinco filhos para Santos, se inscrito numafaculdade de Direito... alguma coisa ela sabia. Muita gentevendia informações, dizia que papai estava vivo. A gentemantinha certa esperança, sabe?Vera–Voltei ao Brasil e, mesmo passado um tempo, a

gente não falava do assunto, para não fazer a mamãe so-frer. Ela também não falava, porque não tinha o que dizer.A gente não podia pensar que ele havia morrido. Uma dascoisas mais terríveis era que, se passava um pensamentocomo esse na sua cabeça, era como se você estivesse ma-tando. Estivesse decidindo a morte. Era uma culpa muitogrande. Uma experiência brutal. Como se fôssemos osassassinos. Vira um buraco, uma coisa indizível. u

Em depoimento a Aline Ribeiro

MARCADOS PELADITADURA1.Oescritor Marcelo Rubens Paivaem seu apartamento emSão Paulo2.Maria Eliana Facciolla Paiva, asegundade cinco filhos, presa pelosmilitares umdia depois do pai 3.VeraSilvia Facciolla Paiva, a irmãmais velha

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Fotos: Ricardo Correa/ÉPOCA, reproduçãoe Filipe Araújo/Estadão Conteúdo

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[email protected]

Depois de viver o piloto Rafael em BoogieOogie,MarcoPigossi vai continuar usandouniforme e mexendo com o imagináriodo público em A regra do jogo, a novanovela das 9, de João Emanuel Carneiro.Com cabelo curtinho e distintivo, ele seráDante, um policial boa-praça, correto,porém sedento por vingança. Ele foiadotado quando criança por RomeroRômulo (Alexandre Nero) e escolheu aprofissão para fazer justiça à morte dopai biológico, que foi assassinado. “Para

conhecer a parte burocrática, fiz visitasà Cidade da Polícia, complexo cariocaque abriga 14 delegacias especializadas,onde atuam 3 mil agentes da PolíciaCivil”, diz Pigossi. “Também visitei oBope para conhecer a parte operacional,de resgate e apreensão.” O ator teve deaprender a manusear uma arma, mas dizque ainda não tem intimidade com seunovo instrumento de trabalho. “Seguraruma pistola causa muito desconforto.É mais pesada do que imaginei.”

Distintivo

É A CRISEAs grifes internacionaisque desembarcaram noBrasil nos últimos cincoanos estão segurandoao máximo o reajustedos preços que seráfatalmente feito porcausa da disparada dodólar. “As coleções quechegam às lojas emsetembro ainda têm odólar de março, quandoas compras foram feitas”,diz a diretora de umamarca italiana. “Mas,em novembro, ninguémterá mais como segurar.”Uma bolsa que hojecusta cerca de R$ 15mil poderá chegarao triplo do preço.

SEGURA O TCHANMarcas como LouisVuitton e Gucci, queelevaram os preçosem todo o mundonuma estratégia derequalificação deimagem, tentarãosegurar o reajusteno Brasil até que amoeda americananão fique tão volátil.

OTIMISMOApesar da crise, o setorde roupas e acessóriosde luxo, por incrívelque pareça, mantém-seotimista. “Sentimos umleve refreamento nascompras, mas, comoas viagens ao exteriordiminuirão, o atrativo deparcelar as compras ematé cinco vezes manteráo setor aquecido”, dizo diretor financeiro deuma grife francesa.

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Rosa, só o vestidoUma das modelos mais bem pagas do mundo, a top AlessandraAmbrósio tomou gosto pela carreira de atriz. O début na TV foicom Samia, na novela Verdades secretas, de cara numa cena desexo com o personagem Alex, de Rodrigo Lombardi. “Transmitira intenção da personagem foi o mais difícil. Nas cenas mais sexy,o Rodrigo foi muito generoso comigo”, conta. Ela parece nãose deixar abalar pelas críticas, como a da atriz Mariana Xavier.Mariana escreveu no Twitter: “A Ambrósio é linda, deusa, masnão é atriz”. Alessandra sabe relevar. “É normal receber críticas.Mas hoje essas barreiras estão diminuindo. Várias modelosestão na TV e há atrizes fazendo moda. É bom sair da zona deconforto”, diz a top, que estrela a campanha de verão da Dzarm.E o tão falado book rosa? “Já ouvi histórias. Maus profissionaisexistem e, por isso, é importante se cercar de agências sérias.”

Emnomedo filhoUma das maiores relações-públicas do mercado de luxo,a paulistanaMonicaMendes resolveu usar sua influên-cia internacional numa causa nobre. Ela acaba de criar aFundação Strong X, para divulgar a síndrome do X frágil,segunda causa mais comum do deficit hereditário deaprendizado. Ele atinge uma em cada 4 mil mulheres e umem cada 6 mil homens. É o caso de seu filho, Carlinhos,de 8 anos. “Só descobrimos a síndrome há dois anos”, diz.“É possível detectar a síndrome com um simples examede DNA, muito caro no Brasil.” Na segunda-feira, Monicafará um coquetel de lançamento da fundação, no JockeyClub de São Paulo, com renda revertida para a causa.“Deus sabe o que faz. Deu o filho certo para a mãe certa.”

Vida leveO cearenseYuriDiogenesmudou-se para Dallas, nos Estados Unidos,em 2003, para assumir um cargo naMicrosoft– ele é umdosmais influentesmembros da empresa na área desegurança da informação.Mergulhadono trabalho, deixou a saúde de lado echegou a pesar 130 quilos. Em 2011,depois de exames desanimadores,estipulou uma meta: tornar-sefisiculturista. Desde então, perdeu,gradativamente, 45 quilos. De 5milcalorias diárias, passou a ingerir 1.800.“Chorei muito na primeira semana,parecia que estava em abstinência.”Desde o ano passado, compete emcampeonatos de fisiculturismo. “Terchegado ao palco foi uma vitória.”

ComAcyrMéra Júnior eDani Barbi

ANTES

DEPOIS

Fotos: EstevamAvellar/TVGlobo, Premier Images (2), arquivo pessoal e Fábio Bartelt

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CICATRIZESJosé Loreto napele do lutador JoséAldo. “Estou cheio de hematomas”

Santo de casaRodrigoHilbert acaba deestrear a sexta temporada deTempero de família, programa deculinária comandado por ele euma das maiores audiências doGNT. “Comecei a cozinhar porobrigação. Minha mãe trabalhavafora e deixava a comida pré-pronta, para que eu terminasseo almoço para ela”, diz Hilbert.“A primeira receita que fiz foiuma maionese caseira, paracomer commisto-quente.” Fãde hambúrguer e cheese-salada,Rodrigo é chef saudável em casa.Para a mulher, a apresentadoraFernanda Lima, prepara peixefresco grelhado com arrozintegral. Os filhos gêmeos, Joãoe Francisco, vivem pedindofeijão com arroz de carreteiro.Dia desses Hilbert ganhou umabronca pública da mulher, quereclamou que ele não sabe odia do aniversário dela e nema data comemorativa da uniãodo casal. “Sou bem desligadomesmo. Mas, depois de 13anos juntos, consegui decorarao menos essas duas datas.”

osé Loreto está mergulhado decorpo, hematomas e alma no filme

sobre a vida do campeão peso-penado UFC, José Aldo, que será lançadoem 2016. Na última semana, Loretoteve de interromper as filmagens porcausa de uma lesão no tornozelo es-querdo, depois de um salto mortalmalsucedido. “Tudo bem me machu-car, faz parte do processo. Em doisdias, estarei bem”, afirma. Para inter-pretar o atleta, o ator aprendeu a lutarmais de cinco modalidades, perdeu 5quilos – agora pesa 80 quilos – e dimi-nuiu sua taxa de gordura corporal paraapenas 3%. “Praticamente não me ali-mento bem há oito meses.”

ÉPOCA –Atleta de UFC não come?José Loreto – É que desde novembroestou comendo muitos legumes, algu-mas proteínas e bastante fruta paraaumentar amassamuscular. Faço umadieta rigorosa para me manter pele,osso e músculos, porque o Aldo é for-te, mas é seco – ele tem 66 quilos e eu80. Não vejo a hora de terminar as fil-magens para comer pizza e tomar umchope. Tambémaprendi diversos tiposde luta, MMA, submission, wrestling,muay thai, boxe e voltei para o judô,que comecei a praticar aos 5 anos.

ÉPOCA – Tem sofrido com as pan-cadas?Loreto – Bastante. Chego a ter seiscenas de luta por dia, é tudo muito pu-xado, estou sempre fazendo força esuando. Quando não é isso, tenho defazer cenas de emoção arrebatado-ra e conflitos delicados. A cada dia defilmagem, deixo um pedacinho meu,literalmente. Já tomei joelhada, deichute que bateu errado e estou cheiode hematomas pelo corpo. Às vezes

entro na banheira com gelo e até façofisioterapia para dar conta.

ÉPOCA – Fazer a caracterização édifícil?Loreto – Aldo sofreu um acidentequando tinha menos de 1 ano e ficoucom uma cicatriz no rosto. Para fazeressa cicatriz, as tatuagens, as orelhasdisformes, escurecer meu cabelo ebarba, levo quaseduas horas. Tambémtenho feito bronzeamento artificialpara ficar com o mesmo tom de pelee faço fonoaudiologia para aprender osotaque manauara dele. A preparaçãoé intensa, temme deixado com um es-gotamento físico e mental. Mas JoséAldo despertouminha fúria.

J

BRUNO ASTUTO

ENTREV ISTA

“A cada dia de filmagem,deixo um pedacinhomeu”

José Loretoator

Leia a coluna diária de BrunoAstuto em epoca.com.br

ao menos essas duas datas.

Fotos: divulgação (2)

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WALCYR CARRASCO

Walcyr Carrasco é jornalista, autor de livros,peças teatrais e novelas de televisão

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Vontadede votar?

sensação é de que não adianta nada. Não é somenteminha. Com as pessoas com quem converso, a ideia

de votar parece inútil. Não é nova, mas acentuou-se nosúltimos tempos. Muitas vezes, ao votar, em São Paulo, en-contrei gente reclamando. Uma prima disse:

– Já que é feriado, eu queria aproveitar uma praia.Conheci pessoas que marcaram viagens na época da

eleição. É fácil justificar e abrir mão do direito de escolherseu representante.

Com frequência, sinto que voto em quem não me repre-senta, principalmente em cargos executivos. As opções sãopoucas. Escolho o que considero “menos pior”. A expressãonão é minha. Boa parte das pessoas diz exatamente isso.Bem, esse não é o melhor sentimento para votar. Da últimavez, um amigo comentou:

– Não tem jeito mesmo, então vou votarem quem dá.

Tanto eu quanto ele, como muita genteque conheço, diante dos projetos de umcandidato ou candidata, sentimos a pro-funda inutilidade. Se fulano ou sicranaganhar, se conseguir fazer tudo o que dese-ja, ou promete, ainda assim, dificilmente,será um mundo com que eu sonho. Pior:na maior parte das vezes sabe-se que elesestão mentindo, que as promessas são im-possíveis ou otimistas demais. Reconheçominha parcela de culpa, assim como damaioria da população brasileira. A gente vota em vereadore deputado sem saber direito de quem se trata, muitas vezes.Digo francamente: não lembro em quem votei nas últimaseleições para a Câmara. Ao contrário de outros países, ondea população estabelece uma relação direta com seu repre-sentante, eu não tenho nenhuma.

Nesse sentido, os evangélicos estão de parabéns. Elessabem muito bem em quem votam. E o motivo. Seus can-didatos representam o que pensam. Eu posso não ser a favorde suas propostas. Mas sua capacidade de mobilização andabem mais forte que a dos partidos políticos. Não vou choverno molhado, lembrando tantos fins de sonhos, as falênciasideológicas de partidos que um dia nos representaram. Osmais jovens nem sabem exatamente do que estou falando.Quando os militares estavam no poder, a oposição manti-nha acesa a luta pela liberdade. Hoje, como vou acreditarem partidos que adotam candidatos que pulam de sigla emsigla como aves num poleiro?

Para meu pavor, ouvi vozes clamando a volta dos milita-res. Já que não há utilidade no voto, para que insistir nele?O sonho de que alguém mais sábio conduza nossas vidas éconstante. Quantas vezes não entregamos projetos pessoaisàs mãos de alguém, querendo que resolva nossa própria vida?Da mesma forma, há a tentação de entregar o país a essegrupo mágico, capaz de inventar leis, “dar um jeito”. Houveuma época em que se pensava que os reis eram ungidos porDeus. Os romanos acreditaram na divindade dos próprioscésares. Basta lembrar das loucuras dos imperadores, dos reispirados, para saber que o autoritarismo nunca foi solução.O fato de militares proibirem as más notícias não significaque elas não existem. Só que não podem ser publicadas. Mas,também, não precisamos ir longe. Governos democratica-mente eleitos também se revoltam contra a imprensa e que-

rem inventar alguma medida para proibirnotícias desagradáveis.

Tudo isso é verdade. Mas fica difícil deengolir quando falcatruas são denunciadase as pessoas continuam lá em cima.Quandodignos representantes são acusados e, cul-pados ou não, mandam e desmandam. Dáuma sensação horrível ver uma advogada desucesso fechar seu escritório por medo de“ameaças” decorrentes de sua atividade naOperação Lava Jato. Parece até um daquelesfilmes sobre o início do nazismo, quando osjudeus foram perdendo seus direitos passo a

passo.Ou uma comédia de humor negro,quando um políticoassumidamente na linha do “rouba mas faz” ainda dá palpitee consegue espaço para lançar novos candidatos.

Agora já se começa a falar da campanha à prefeitura, e,juro, dá um tédio! Vou ter de votar, de novo, no “menospior”? Quando, afinal, vou escolher num candidato comorgulho, como foi no passado, quando eu acreditava emnossos políticos? Quando vou ter, enfim, esperança de quetudo vai melhorar e de que meu voto contou para isso?

Compartilho esse sentimento com tanta gente! É inútilvotar porque não muda nada? Ainda penso que não, é útilsim. Sem voto, sem democracia, seria tão pior. Mesmo desa-creditando, vou votar, sempre! Nem que seja, como disse, no“menos pior”. Tenho o direito de votar e, apesar de ter essasensação tão ruim, não abro mão. u

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COMO CREREM PARTIDOS QUE

ADOTAM CANDIDATOSQUE PULAM DE SIGLAEM SIGLA, COMO AVES

NUM POLEIRO?

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zzedine Alaïa só desfila –quando desfila – suas cria-ções de alta-costura uma se-

mana depois que todos os editores demoda foram embora de Paris. Proíbeterminantemente a todo-poderosadiretora da Vogue americana, AnnaWintour, de sentar em sua plateia porconsiderá-la “medíocre”. Jamais criouuma coleção de pré-outono por aindaacreditar que o ano comporta apenasquatro estações. Só lançou seu primei-ro perfume em junho, 40 anos depoisde ter fundado sua marca. À fragância,adicionou notas de vodca, “o cheiromais sexy que pode existir”. Nas úl-timas décadas, mesmo nos períodosde dificuldades financeiras, esnobouinúmeros convites de conglomeradospara assumir a direção de algumas dasmais lendárias maisons francesas. Aos76 anos, o tunisiano Alaïa é o últimorebelde da moda, setor em que ele éreverenciado como o “papa da silhue-ta”. “Eu faço roupas. As mulheres quefazem moda”, diz Alaïa.

Para reunir os 65 exemplares em-blemáticos da obra escultural de Alaïa,não haveria lugar mais perfeito do quea lendária Galleria Borghese. O mu-seu, um dos mais importantes e belosde Roma, reúne pinturas e esculturasde Gian Lorenzo Bernini, Caravaggio,

A Leonardo da Vinci, Rafael, Rubens eTiciano. Pela primeira vez, ele abre suasportas para receber uma exposição demoda de um costureiro contemporâ-neo. Azzedine Alaïa: Couture/Sculpturefica em cartaz até o dia 25 de outubro,com ingressos vendidos com hora mar-cada. “Sou apenas um visitante nestacidade, mas minhas roupas aqui sesentem em casa”, diz Alaïa, conhecidocomo estilista-escultor

No final dos anos 1970, Alaïa captou,antes de todo mundo, o potencial quetinham as clientes peitudas, popozudase cheias de quadril, até então ignoradaspelo mercado. E assim fundou o movi-mento body-conscious, com vestidos-escultura em formato de abajur, comsaias evasês drapeadas, ou coladíssi-mos ao corpo. Ele estudou esculturana Escola de Belas-Artes de Paris, paraa qual, aliás, mentiu a tenra idade a fimde conseguir se matricular quando che-gou da Tunísia, nos anos 1960.

A grande sacada do curador MarkWilson, que já comandou exposiçõessobre Alaïa na Holanda em 2007 e2011, foi realçar a vocação esculturaldo estilista interferindo minimamen-te na decoração barroca da GalleriaBorghese. Assim, os manequins, quesão recortados de acordo com as fen-das e os decotes dos vestidos, pare-

Exposição em Roma reúne obras-primasdo estilista tunisiano Azzedine Alaïa, oúltimo mestre independente da moda

Esculturasdevestir

BrunoAstuto, de Roma

MENTE ABERTA

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Fotos: AGF s.r.l./REX Shutterstock (2) e Bruno Astuto (2)

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IMPECÁVELA imponente GalleriaBorghese (1) emRoma, que recebe aexposição sobre a obrade Azzedine Alaïa (2).Nas salas da famosagaleria de arte, osvestidos-esculturaque fizeram sua famaestão àmostra (3 e 4)

cem f lutuar, dialogando com escultu-ras como O rapto de Perséfone e Apolo eDafne, de Bernini, Leda e o cisne, de DaVinci, e Pauline Bonaparte em Vênus,de Antonio Canova. As esculturas estãocircundadas por modelos do períodoafricano de Alaïa, no início dos anos1990, com conchas e crinas de cavalo, evestidos-coluna neoclássicos, apresen-tados sem placa, sem data, reforçandosua atemporalidade. Na sala dedicadaao pintor italiano Caravaggio, dois ves-tidos de veludo combinam com as coresde Menino com a corbelha de frutas e umcolete ultrabordado é justaposto à obraMadonna, criança e serpente. O famosofraque de couro de crocodilo é coloca-do entre duas esculturas de mármorerepresentando senadores romanos, apoucos passos de um vestido curtíssimode tricô branco, com a saia plissada s

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GUSTAVO CERBASI

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à moda dos gladiadores. “Você sabe,Roma, Túnis, é tudo Mediterrâneo”, dizAlaïa, tentando simplificar seu processoultracomplexo e rigoroso de produção.

Alaïa sempre quis vestir mulheres queo seduzem e, segundo ele, “perturbam aordem natural das coisas”, como a atrizGreta Garbo, a baronesa Marie-Hélènede Rothschild, a socialite brasileira Eli-sinha Moreira Salles, a top model NaomiCampbell (ela o chama de pai), e, maisrecentemente, Lady Gaga. Dono de umgênio assumidamente difícil, estratégiaque encontrou para manter seu processocriativo insubmisso aos ditames do mer-cado, ele se permite ao luxo de recusaruma cliente quando a considera indignade vestir suas criações.

Em seu ateliê, no bairro parisiense doMarais, não há espaço para devaneios ouexcessos mirabolantes. Sua genialidadeestá nas sofisticadas execuções têxteis:um tricô mais leve, um couro de tex-tura inusitada, trabalhado de maneiratão suave como a leveza de um papel. Aassinatura desse grande mestre, de 1,50metro de altura, está no corpo das mu-lheres, sobre o qual esculpe seus vesti-dos. É um trabalho que pode levar deum mês a dois anos, caso de um recentemodelo de musselina. O próprio Alaïafoi ao hotel em que a cliente estava paradobrar o vestido da maneira correta namala. “Uma roupa só está pronta quan-do está pronta, e não quando um CEOdeseja. Quando eu trabalho uma roupa,ela tem de escorregar no corpo, de perfile de costas”, diz.

Alaïa é o contraponto ao atual mundoda moda. Se a tendência é ver estilistasse submeter a grandes conglomerados,cotados na Bolsa de Valores, que decidemabrir lojas em série, Alaïa continua comapenas duas butiques, em Paris. Paragarantir sua independência, mantémcontrato com o grupo suíço Richemond,dono de sua marca, que lhe garante ple-na autonomia. A austeridade com queconduz seus negócios faz parte de suapersonalidade. Alaïa raramente vai a fes-tas e se veste sempre com um monásticoterno preto sem gola. É um caso raro deindependência, de um criador dono dopróprio nariz, o que o credencia, talvez,como o último bastião do verdadeiro einalcançável luxo. u

MENTE ABERTA

GustavoCerbasi é consultorfinanceiro e escritor. Escreva para ele emwww.maisdinheiro.com.brTwitter:@gcerbasi

ue ano! Enquanto algumasfamílias entram em desespe-

ro com o desemprego, outras estãocomprando e investindo. Enquantoalgumas empresas fecham, outrascompram seus ativos com desconto.Poucos percebem que a crise – queprefiro chamar de correção de expec-tativas – não é criada apenas pela fal-ta de planejamento do governo. Elanasce da falta de planejamento dasfamílias e dos empresários.

Mal preparados que somos paraplanos de longo prazo, é comumque, em períodos de vacas gordas,exageremos nos investimentos, nasaquisições, nos parcelamentos queengessam escolhas futuras, no des-lumbramento diante de um novocarro ou do restaurante da moda.Gastamos mais do que é razoável,acreditamos que os bons ventosda bonança continuarão soprandopor mais tempo e que a providên-cia divina ajudará. Todos, otimistas,acreditam ao mesmo tempo que “omercado” ajudará no sucesso dosnegócios e no pagamento dos custosextras assumidos. Mas, dali a algunsmeses, “o mercado” não tem maisdinheiro para gastar, os negóciosdiminuem, vem a crise (ou corre-ção das expectativas) – e com ela odesemprego, o prejuízo, o endivida-mento fora de controle e o medo. Osmais conscientes percebem que issoé cíclico, contêm suas expectativasnos bons momentos e criam reser-vas para aproveitar as oportunidadesque serão deixadas pelos desespera-dos durante as crises. Sabem que “omercado” somos nós.

Nesse exato instante, está sendo

criada a próxima crise. Mal saímos daatual, é fato! Mas, por falta de prepa-ro para um cenário que convida aosestudos e à reformulação de planos,muitos desempregados sem reservasfinanceiras estão recorrendo a bicose a novas carreiras para sobreviver.Estão surgindo pintores que nuncapintaram uma parede, encanadoresque não sabem o que é um sifão, pro-fessores sem formação. A necessidadecria uma legião de profissionais nãoprofissionalizados que, sem técnica,não saberão fidelizar clientes. Ganha-rão mal pelo trabalho ruim, sofrendotambém com isso. A crise acabará,um dia. Na recuperação, os profis-sionais que perderam emprego e quenão puderam melhorar sua qualifica-ção perderão a onda de recuperação.Verão todos prosperar a sua volta.Quando a bonança – enfim! – chegara todos, estarão sedentos por tirar oatraso e se deslumbrar no consumo.“Eu mereço!” Mas o ciclo da bonan-ça já estará no fim.

Ao governo, no curto prazo, cabetentar balizar os mecanismos queestão a seu alcance para equilibrara economia. O ideal é investir emeducação para que as pessoas e asempresas aprendam a planejar eempreender. E não faria mal, claro,se cortasse gastos nas vacas gordas,para dar o exemplo. Mas, cadê? Nesseaspecto, estamos desgovernados. Ascrises virão: cíclicas, esperadas. Aosconscientes, bom proveito! u

Somos osculpadospela crise

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Moooda, decorrraaaaçççç

ããããoooo,,,

orrrientação ppparrrr

aooosss pppaiiisss,,,

reeeceberbbbeeeM:

ssssuareeevvvistaaapre

feridaaa

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GGGarantahooojeeeeooos

euexxxemplar!

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ENSSSAIO V ISUAL

VOANNNDOALTOFlagraaantesda preeeparação1. Osmmmúsculosretesaaadosda baiiilarinadenunnnciamo esfooorço físico;2. Na llleveza dosalto, o bailarinopareccce flutuar 1

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Os bastidores do ensaio do novoespetáculo do Grupo Corpo revelam

a tradição e as inovações da companhiaque completa quatro décadas

40anoscomcorpinhode20

Sérgio Garcia (texto) e Leo Drumond (fotos)

niversários, ainda mais em da-tas redondas, ensejam um ba-lanço da vida. É hora de refletir

sobre o passado e pôr em perspectiva no-vos rumos. Esses são os mandamentosque norteiam os 40 anos do Grupo Cor-po,a mais festejada companhia de dançabrasileira. A ocasião é comemorada damaneira mais apropriada: no palco. Nasemana passada,a trupe estreou em BeloHorizonte um espetáculo que valoriza

A sua história, mas busca inovar. Comose tornou marca do grupo, a música foicomposta especialmente para a apresen-tação,dividida em dois blocos. Em Suítebranca, o cantor e compositor SamuelRosa, numa atividade inédita, põe a so-noridade do Skank a serviço da pantomi-ma, a expressão por gestos e pelas linhasdo corpo. Na sequência, a trilha de Mar-co Antônio Guimarães, um antigo cola-borador do grupo, é executada pela s

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ENSAIO V ISUAL

Orquestra Filarmônica de Minas Gerais.As coreografias têm a assinatura de Rodri-go Pederneiras, fundador e alma do Corpo.“Tinha anotações e ideias antigas engave-tadas”,diz.“Fui atrás delas para depois mis-turar com conceitos mais recentes.”

O espetáculo se pauta pelo lirismo,pleno de movimentos delicados quepassam longe do gestual extravagante edas acrobacias que vemos em conheci-das atrações de dança contemporânea.“Não gosto muito de fogos de artifício.Não é nossa praia”, afirma Pederneiras.Tanto os figurinos quanto a cenografia ea iluminação servem como suporte pararealçar o bailado, sem desviar a atençãodele. Uma parte da exibição tem comopano de fundo um grande painel brancocom textura semelhante à de um papelamassado.Na outra,assoma um mosaicocom mais de 1.000 fotografias que reme-tem às quatro décadas de existência dacompanhia. A pompa se resume a umcollant de veludo usado pelas bailarinas

na segunda metade da apresentação, quetem duração de 115 minutos e a partici-pação de 21 dançarinos.

Ao mesmo tempo que ganhava cur-rículo cosmopolita, com a realização deturnês mundo afora, o Corpo mantevesua natureza doméstica. É essencialmenteum grupo mineiro, criado pelos irmãosPederneiras. Paulo, Pedro, Rodrigo e Mi-riam ainda integram a equipe, enquan-to o primogênito, José Luiz, e a caçula,Marisa, partiram para outros projetos.O primeiro endereço da turma foi a pró-pria casa dos pais, que abriram mão damoradia em prol do sonho maior dosfilhos. Como apêndice, o Corpo ganhouuma escola de dança e, tempos depois,um projeto social que hoje envolve 600crianças e adolescentes. O grupo chegaaos 40, mas com vigor e corpinho de 20,como mostra este ensaio fotográfico feitodurante a preparação para o espetáculo,que chega a São Paulo no dia 12 de agostoe ao Rio de Janeiro em 3 de setembro. u

DETALHESNos últimos trêsmeses, os bailarinoscumpriram uma árduarotina de exercícios1. Empenho extremoembusca domovimento perfeito;2, 3 e 4. Emdupla,gestos sincronizados;5. Para aquecer,integrante alongaamusculatura;6. Conviver coma dor faz partedo espetáculo; 7.Concentração totalante a plateia vazia;8. Umamerecidapausa para descansar

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Missões sempre possíveisChega aos cinemas o quinto filme da franquiaMissão impossível – aquela emque o agente secretoEthanHunt, interpretado porTomCruise, envolve-se emenredos tãomirabolantes que parecemperder o sentido. Mas quem liga?Oque importasão as explosões e os efeitos especiais. Aos 53anos, Cruise diz ter feito questão de protagonizaramaior parte das cenas, semcontar comdublês.Na sequência emque aparece agarrado à asa deumavião, a 1.500metros do chão, Cruisemostraestar em forma – como se fosse omesmo jovemdo primeiro filme, de 1996. Ah, sim, o enredo:desta vezHunt temde enfrentar a organizaçãocriminosaOSindicato, formada por ex-agentessecretos. No lançamento,Missão impossível –Nação secreta teve amaior bilheteria do fimdesemana nos EstadosUnidos.Estreia no dia 13/8.

Amor gaynos temposda ditaduraOs jovens Inajá eInajacy se apaixoname resolvem se casarno pequeno povoadode Inacha, ondemoram, nomeio daAmazônia. Só haviaum obstáculo: amboseram homens.Para contornar o“problema”, em plenadécada de 1960,durante o regimemilitar, eles procuramumpajé para queumdos dois sejatransformado emmulher.Olho deboto, do escritorparaense SalomãoLarêdo, é umromance baseadoem fatos reais (querdizer, nem tantoassim). Ao falarde preconceito,a obra exalta abeleza do amorlivre.Empíreo, 280páginas, R$ 39,90.

Só noMoonwalkOespetáculoTributo ao rei dopop recria osgrandes shows deMichael Jackson. Ao somde uma banda ao vivo, um sósia brasileiro docantor, Rodrigo Teaser, dança as coreografiasque fizeram de Jackson ummito do pop – hojeseus passos são objeto de estudo acadêmicotanto quanto suasmúsicas. O espetáculo contacomcorpodebailarinos, efeitospirotécnicose aprovação do americano Lavelle Smith,coreógrafo responsável por algumas dasprincipais performances de Jackson. Norepertório, estão clássicos como “Thriller” e“Beat it”.EspaçoCulturalBrasília, Brasília, 15/8.

Cinema2 horas

E se os cães falassem?Quem nunca imaginou o que se passana cabeça do seu animal de estimação?Sem coleira – A vida secreta dos cãesretrata os possíveis pensamentos dospets, esses pequenos tiranos. Segundo avisão sarcástica do cartunista britânicoRuper Fawcett, eles têm certeza de quenão ocupammuito lugar no sofá (mesmoque você esteja espremido ao lado deles)e que levam os donos para passear (nãoo contrário). Para rir – e identificar-se.Editora Rocco, 160 páginas, R$ 34,50.

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10 de agosto de 2015 I ÉPOCA I 81

Dilemas juvenis aomarA lenda do Holandês Voador já inspirou diversas produções, desde óperasaté uma das sequências da famosa série de filmes Piratas do Caribe. Napeça que estreia em São Paulo, o mito do pirata amaldiçoado a vagar pelosmares até encontrar seu verdadeiro amor é adaptado para o público jovem.Agora, ele terá de carregar o fardo da juventude – com todo o sofrimentoque a imaturidade traz – até conquistar sua alma gêmea.Navio fantasma–OHolandês Voador trata de temas que afligem os jovens adultos: aânsia por novas experiências, a insatisfação com a imposição de valores e aprocura por um grande amor.Teatro João Caetano, São Paulo, até 27/9.

Teatro2 horas

Drauzio na pistaCorrer, de DrauzioVarella, é ummanualpara corredores – easpirantes. O relato de suarotina comomaratonistaé um incentivo paradeixar o sedentarismo.

LIVROS

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A cara dos protestosDepois deMiami eNovaYork,a exposiçãoMovimentos, docariocaAndrédeCastro, chegaaoRiodeJaneiro. Retratosdemanifestantesqueparticiparamde protestos políticos noBrasil e nos EstadosUnidos,naGrécia e naTurquia sãoimpressosempainéis gigantes.Castro ressalta ocomponentehumanoqueunificaasmaisvariadasmanifestaçõespolíticas.CaixaCultural, RiodeJaneiro, de 12/8a 12/10.

PorMarcelaBuscato,[email protected],comArianeFreitas, [email protected]

Música para dançarEmNo place in heaven, o cantorMika,libanês naturalizado inglês, consolidao ritmo dançante de suasmúsicas,inspirado em cantores pop dos anos1970. O ex-jurado dos programas decalourosX factor Itália e The voiceFrança investe em refrões-chiclete decanções feitas para dançar. Pop aoextremo.Universal Music, R$ 27,90.

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FICÇÃO

Cidades de papel I John Green I Intrínseca 90/1

Número zero IUmberto Eco I Record 6/2

Toda luz que não podemos ver IAnthony Doerr I Intrínseca 15/3

Se eu ficar IGayle Forman INovo Conceito 50/4

AGuerra dos Tronos – Vol. 1 IGeorge R.R. Martin I Leya Brasil 106/8

As espiãs do dia D I Ken Follett IArqueiro 9/*

Simplesmente acontece ICecelia Ahern INovo Conceito 26/7

Quem é você, Alasca? I John Green IWMFMartins Fontes 60/9

Atraçãomagnética IMeredithWild IAgir 1/*

Como eu era antes de você I Jojo Moyes I Intrínseca 21/5

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NÃOFICÇÃO

Só por hoje e para sempre IRenato Russo ICompanhia das Letras 4/1

Correr IDrauzio Varella ICompanhia das Letras 10/2

Abilio ICristiane Correa I Primeira Pessoa 2/10

O diário de Anne Frank IAnne Frank I Record 55/3

O papai é pop IMarcos Piangers I Belas Letras 1/*

Destrua este diário I Keri Smith I Intrínseca 84/5

Brasil I Lilia Moritz Schwarcz; Heloisa Starling ICompanhia das Letras 12/6

Gabriel Medina I Tulio Brandão I Primeira Pessoa 2/4

Sonho grande ICristiane Correa I Sextante/GMT 113/9

Bomdia, sr. Mandela I Zelda La Grange INovo Conceito 2/10

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E-BOOKS

Grey I E.L. James I Intrínseca 8/1

Pulsação IGail Mchugh IArqueiro, RJ 5/5

Dieta dometabolismo rápido IHaylie Pomroy IAgir 7/3

Lick I Kylie Scott IUniverso dos Livros 1/*

Muitomais que cincominutos I Kefera Buchmann I Paralela 1/*

INFANTOJUVENIL

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OPequeno Príncipe I Antoine de Saint-Exupéry IAgir 481/3

Minha vida fora de série – 3a temporada I Paula Pimenta IGutenberg 6/2

A herdeira – Vol. 4 I Kiera Cass I Seguinte 13/1

Eu fico loko IChristian Figueiredo de Caldas INovas Páginas 25/4

Diário de umbanana – Vol. 9 I Jeff Kinney IVergara & Riba 18/5

A seleção I Kiera Cass I Seguinte 50/6

A rainha vermelha IVictoria Aveyard I Seguinte 2/*

Guerra civil I Stuart Moore INovo Século 6/7

A elite I Kiera Cass I Seguinte 23/9

Diário de uma garota nada popular I Rachel Renee Russel IVerus 11/*

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RUTH DE AQUINO

Ruth deAquino é colunista de ÉPOCA [email protected]

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A quem interessaa queda de Dilma

uma bolsa de apostas apartidária, livre e intuitiva,poucos hoje investiriam seu dinheirinho na perma-

nência de Dilma Rousseff como presidente por mais trêsanos e meio. Não sou a favor do impeachment de Dilma.Ainda não surgiram provas irrefutáveis de sua desonesti-dade, apenas de sua incompetência na gestão econômica epolítica. Por enquanto, Dilma não é Zé Dirceu. Não pareceter a ganância do companheiro.

O que pode manter Dilma no Planalto? Numa crise eco-nômica provocada por ela mesma e pelo PT, e que nada temde passageira, a presidente precisa de apoio para recolocaro país nos trilhos. Urgente.

Dilma não pede uma vaquinha, apenas paciência. Pedeunião a quem pensa “só em si mesmo”. Não tem coragem demostrar na TV,na galeria dos egoístas,a foto de Eduardo Cunha– quem,mais que ele, tenta tumultuar?A pauta-bomba do pre-sidente da Câmara é clara: inviabilizar Dilma,derrubar a presidente por estrangulamento epor meios legais. PDT e PTB já aderiram aomotim e anunciaram a saída da base aliada.

O Brasil cai no tal alçapão mostradopelo ator José de Abreu na TV. Os apelosde Dilma não encontram eco, só barulho.Mas é patética a tentativa do PT de inti-midar o brasileiro com a alternativa D ouD: “Dilma” ou “Ditadura”. Isso não existe.

De onde pode vir o apoio para Dilma semanter? Da população,não: só 8% aprovamseu governo e 71% a reprovam,segundo pes-quisa Datafolha. Da Câmara, jamais – o Planalto consideraEduardo Cunha “ingovernável”. Do Senado, depende do se-dento Renan Calheiros. O vice Michel Temer foi o primeiroa constatar o lugar vago da presidente, ao dizer que “alguém”precisa unir o Brasil. Quem será esse alguém? Temer jogou atoalha como articulador.Ou puxou o tapete.A semana dramá-tica culminou em apelos petistas ao PSDB e aos empresários.

Nenhum presidente governa sozinho. Essa fórmula nãofica de pé. Chico Buarque cantava que “é sempre bom lem-brar que um copo vazio está cheio de ar”. O ar que emergedos panelaços hoje cheira a azedo. Dilma descobrirá quenão pode fazer troça de manifestações populares. O humor,nesses casos, vira provocação. Se Dilma negociar sua saídado Planalto em nome da governabilidade e ceder sua cadeiraao vice Michel Temer, quem ganhará com isso? Se Dilmasofrer impeachment, e levar junto o vice, com convocaçãode novas eleições, quem será o mais forte adversário do novopresidente, seja ele do PMDB ou do PSDB?

Em ambas as hipóteses, Lula é quem mais ganhará. Ga-nhará fôlego para a eleição de 2018. Ganhará liberdade paraaumentar as críticas a “tudo que está aí” – como vem fazen-do de forma subliminar. Jogará a conta no novo governo enos economistas liberais. Dirá que sabe como fazer o Brasilcrescer. Os remédios amargos para curar o país do “mal deDilma” não serão mais ministrados pelo PT.

“O Lula é um animal político, dos mais sagazes e maiscapazes de manipular a opinião pública”, disse Roberto Ro-mano, cientista político da Unicamp, Universidade Estadualde Campinas.“Lula tem uma liderança inconteste, mesmoem baixa nas pesquisas. A prisão do Dirceu foi um golpe,mas ele já isolou o companheiro. Com Lula é assim: osônus vão para os auxiliares. Desde o Getúlio (Vargas), nãoexiste personagem mais rápido para se reorganizar. SaindoDilma, poderá bater sem pudor no Levy, na terceirização.

Dirá que Dilma não seguiu a linha dele, eque ele é a salvação da lavoura.”

Não sou a favor do impeachment deDilma. Também não acho bonito o cenáriode Dilma sangrando até o final, sem basee sem chão. A continuidade da presidenteinteressa à economia, pois o impeachmentagrava a crise. Interessa a Serra e Alckmin,que sonham em ser candidatos tucanosem 2018. Interessa à parte do PMDB quequer disputar com alguma viabilidade aPresidência – leia-se o prefeito do Rio deJaneiro, Eduardo Paes. Interessa à terceira

via, Marina Silva. Interessa a todos que odeiam tanto o PTque têm medo de fortalecer Lula para 2018. Paradoxo? Apolítica nunca foi uma ciência linear.

Não vejo ninguém capaz de unir o país, nem na base aliadanem na oposição. Faltam líderes com credibilidade. O me-lhor para o Brasil seria que a presidente tivesse habilidadepara dialogar com as forças políticas e a população. Utopia.

Enquanto o PT tiver a cara de pau de defender que evitoupor seis anos que a crise internacional chegasse ao Brasil,que o país vive “problemas passageiros na economia” e quereprovar Dilma equivale a nos jogar nos braços de umaditadura de direita, será difícil reconquistar a população.Chamar críticos de trouxas e fascistas é desespero de causa.Diz o PT: “Hoje, há uma pessoa capaz de evitar uma gravecrise política no país: você”. Não diga! “Juízo”, aconselhammamãe Dilma e papai Lula. O que você fará no dia 16? u

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SE DILMA RENUNCIAR,OU SE SOFRER

IMPEACHMENT, LULA ÉQUEM MAIS GANHARÁ.QUEM DISSE QUE APOLÍTICA É LINEAR?

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