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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática Rogeria Teixeira Urzêdo Queiroz EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO BRASIL (1930-1980) Belo Horizonte 2018

EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

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Page 1: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática

Rogeria Teixeira Urzêdo Queiroz

EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL

EM LIVROS DIDÁTICOS NO BRASIL (1930-1980)

Belo Horizonte

2018

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Rogeria Teixeira Urzêdo Queiroz

EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO

BRASIL (1930-1980)

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e

Matemática da Pontifícia Universidade Católica de

Minas Gerais, como requisito parcial para a

obetenção de Grau de Mestre em Ensino de Ciências

e Matemática.

Orientadora: Professora Doutora Elenice de Souza

Lodron Zuin

Área de Concentração: Ensino de Matemática

Belo Horizonte

2018

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Dedico este trabalho a meu esposo Rhelman e aos meus

filhos Richter e Davi, pelo apoio e incentivo. Sem eles, eu

não teria realizado essa conquista.

Page 6: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

AGRADECIMENTOS

Durante a realização deste trabalho, muitas foram as contribuições e incentivos recebidos.

Gostaria de agradecer de modo especial:

A Deus, presente em todos os momentos.

A profa Dr

a Elenice de Souza Lodron Zuin, pela orientação, pela confiança e por todas as

contribuições feitas durante a realização deste trabalho.

Ao meu esposo, Rhelman, sempre companheiro. Pelo apoio, incentivo, paciência, carinho e

disponibilidade no desenvolvimento deste trabalho.

Aos meus filhos, Richter e Davi, pelo incentivo constante e por sempre acreditarem em meu

trabalho.

Ao Prof. Cristiano Casimiro, pela disponibilidade na diagramação do produto.

Aos professores do Programa de Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática, pelos

momentos de reflexão, convivência e colaboração para o meu crescimento como educadora.

Aos professores, Dr. Wagner Rodrigues Valente e Dr. Antonio Vicente Marafioti Garnica,

pela colaboração ao enviar-me alguns livros que foram importantes para o desenvolvimento

desse trabalho.

Aos professores Marcos Dias da Rocha e Neuber Silva Ferreira, do Instituto Federal de Minas

Gerais – Campus Ouro Preto, e aos alunos do Curso de Especialização em Educação

Matemática, pela contribuição na realização desse trabalho, possibilitando a aplicação do

produto.

Aos colegas da Turma 11: Aloísio, Allan,Augusto,Fernanda, Flávio, James,Nádia, Paulinho e

Sabrina, pela convivência, pela troca de experiência e pela amizade.

Aos funcionários da Secretaria: Karla, Pablo e Walace.

A todos que, de alguma forma, contribuíram para a realização deste trabalho.

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“Ninguém pode ir para a batalha a menos que esteja

plenamente convencido da vitória em antemão. Se

começarmos sem confiança, já perdemos metade da

batalha e enterramos os nossos talentos. Enquanto

dolorosamente conscientes das nossas próprias fraquezas,

temos que marchar sem ceder.”

Papa Francisco

Page 8: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

RESUMO

Nessa pesquisa, analisamos o conteúdo equação/função exponencial em quinze livros

didáticos, editados no período de 1930 a 1980. Esse estudo tem como foco principal a

verificação da abordagem do referido conteúdos nas obras analisadas. No período

considerado, o ensino brasileiro passou pelas reformas Francisco Campos, Gustavo

Capanema, Simões Filho, a LDB 4024/1961 e a LDB 5692/1971, além do surgimento do

Movimento da Matemática Moderna, que trouxe mudanças significativas para a Matemática

escolar. Verificamos que, nas obras da década de 1930, as equações exponenciais eram

praticamente ausentes e a função exponencial abordada de forma suscinta. Nos livros

analisados da década de 1940, a função exponencial apresenta-se de forma mais completa que

na década anterior e as equações exponenciais já comparecem com exercícios resolvidos e

propostos. Nas obras analisadas da década de 1950, com o Programa Mínimo, a equação

exponencial está presente, incluindo definição, classificação, exercícios resolvidos e

propostos. Inferimos que, nesta década, a equação exponencial foi destaque nos livros

didáticos. A partir do Movimento da Matemática Moderna, as obras analisadas da década de

1960, trazem a teoria dos conjuntos anexada à uma simbologia que é levada ao capítulo da

função exponencial, mantendo a estrutura metodológica da década anterior para as equações

exponenciais. Nas obras da década de 1970, não encontramos mudanças significativas. Como

produto educacional, foi elaborado um material para a formação inicial e continuada dos

professores de Matemática e áreas afins, destacando as reformas de ensino ocorridas no Brasil

e as tendências pedagógicas no período proposto, incluindo obras pertencentes a cada uma das

décadas destacadas para a realização desta pesquisa.

Palavras-chave: Equação/função exponencial; História da Educação Matemática; Livros

didáticos; Educação Matemática; Brasil.

Page 9: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

ABSTRACT

In this research we analyze the subject exponential equation/function in fifteen didactic books

edited in period of 1930 until 1980. This project presented as the main objective verifying the

manner which some authors chose to show this content in their work. During the years fo-

cused, Brazilian education underwent the reforms Francisco Campos, Gustavo Capanema,

Simões Filho and the documents LDB 4024/1961 and LDB 5692/1971, as well as the begin-

ning of the Modern Mathematics Movement (Movimento da Matemática Moderna), which

brought important changes for students and teachers. What is possible to be observed in the

analyzed books of 1930’s the exponential equations were mainly absent from the books and

that exponential function was approached in a succinct way. In the analyzed books of 1940’s

the exponential function was put in a more complete manner, compared to the previous years,

and the exponential equations appear with the support of solved exercises. In the analyzed

books of 1950’s the Minimum Program (Programa Mínimo) made the exponential equation

be shown very completely in terms of definition, classification, solved and proposed exercis-

es. It can be said that during this decay the exponential equation was a highlight in the di-

dactic books. With the arrival of Modern Mathematics Movement (Movimento da Matemática

Moderna), some books from the 1960’s were edited and brought the set theory, attached to a

simbolism taken to the chapter about exponential function and keeping the methodological

structure from the previous years to the exponential equation. In the analyzed books of

1970’s, no meaningful change was noticed. This research has formulated a material for the

initial and continuing education for Mathematics and related areas, highlighting the reforms

experienced in Brazil, as well as the pedagogical trends in the proposed period, presenting a

sum of five books, each one representing a decay studied in this project.

Key words: Exponential equation/function; History of Mathematics Education; Didact

Books; Mathematics Education; Brazil.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Livros didáticos de Aritmética, Álgebra e Geometria da década de 1920 .............. 26

Figura 2 - Imagem de Euclides Roxo ....................................................................................... 27

Figura 3 - Contracapa dos livros Como se aprende Mathematica e Curso de Mathematica

Elementar ................................................................................................................................. 29

Figura 4- Capa do Manual Primeiras Lições de Coisas............................................................ 33

Figura 5- Publicações da Biblioteca da Educação .................................................................... 38

Figura 6- Programas de Matemática do primeiro ano clássico e científico.............................. 53

Figura 7- Conteúdos de Matemática a serem tratados no Programa de Admissão .................. 59

Figura 8- Simbologia utilizada na teoria dos conjuntos e na lógica ......................................... 60

Figura 9– Capa do livro Roxo, Thiré & Mello e Souza ........................................................... 71

Figura 10- Folha de rosto do livro Roxo, Thiré e Mello e Souza ............................................. 72

Figura 11- Índice geral do livro Roxo, Thiré e Mello e Souza ................................................. 73

Figura 12- Noções preliminares ............................................................................................... 74

Figura 13- Apresentação da base negativa ............................................................................... 75

Figura 14- Exemplo IV ............................................................................................................. 76

Figura 15- Esboço dos gráficos de duas funções exponenciais de bases 2 e 1/2 ..................... 76

Figura 16- Feixe de curvas ....................................................................................................... 77

Figura 17- Exercícios propostos ............................................................................................... 78

Figura 18- Equação exponencial .............................................................................................. 79

Figura 19- exercícios propostos sobre equações exponenciais ................................................ 79

Figura 20- Folha de rosto do livro de Roxo et al ..................................................................... 84

Figura 21- Partes do livro com os respectivos autores ............................................................. 85

Figura 22- Programa da segunda série ..................................................................................... 86

Page 11: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

Figura 23- Demonstração da propriedade V............................................................................. 88

Figura 24- Representação gráfica da função exponencial ........................................................ 89

Figura 25- Apresentação da função logarítmica ....................................................................... 90

Figura 26- Resolução da equação exponencial por meio das frações contínuas ...................... 91

Figura 27- Resolução de equações em que a e b são potências de um mesmo número ........... 92

Figura 28- Capa do livro Curso de Matemática ....................................................................... 94

Figura 29- Programa do Ciclo Colegial para o Curso Científico ............................................. 95

Figura 30- Programa do Ciclo Colegial para o Curso Clássico ................................................ 96

Figura 31- Parte do índice da obra de Maeder.......................................................................... 97

Figura 32- Definição de função exponencial apresentada ........................................................ 98

Figura 33- Propriedades da função exponencial ...................................................................... 99

Figura 34- Variação da função exponencial para base maior que 1 ......................................... 99

Figura 35- Variação da função exponencial para base entre 0 e 1 ........................................... 99

Figura 36- - Gráficos da função exponencial: à esquerda, base maior que 1 e à direita, menor

que 1 ....................................................................................................................................... 100

Figura 37- A definição de função logarítmica ........................................................................ 101

Figura 38- Capa do livro do autor Manoel Jairo Bezerra (1955) ........................................... 104

Figura 39- Folha de rosto do livro do autor Manoel Jairo Bezerra (1955) ............................. 105

Figura 40- Classificação das equações exponenciais ............................................................. 106

Figura 41- Segundo tipo e exemplos e a substituição de variável ......................................... 106

Figura 42- Capa do livro de autoria de Thales Mello de Carvalho (1955) ............................. 109

Figura 43- Folha de rosto do livro de autoria de Thales Mello de Carvalho (1955) .............. 109

Figura 44- Nota de rodapé, mostrando duas determinações:a negativa e a positiva .............. 111

Figura 45- - Representação gráfica da função exponencial para os dois casos de valores da

base ......................................................................................................................................... 111

Figura 46- - Feixe de curvas exponenciais para bases maiores e menores que 1 ................... 112

Page 12: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

Figura 47- Construção do gráfico da função logarítmica ....................................................... 112

Figura 48- Exercícios para resolver de 1 a 9 .......................................................................... 113

Figura 49- Exercícios para resolver de 10 a 15. ..................................................................... 114

Figura 50 - Capa do livro do Roxo et al. (1956) .................................................................... 115

Figura 51- Folha de rosto do livro do Roxo et al. (1956) ....................................................... 116

Figura 52- Capa do livro de Quintella (1959) ........................................................................ 118

Figura 53- Folha de rosto do livro de Quintella (1959) .......................................................... 119

Figura 54- Resolução de uma equação exponencial como exemplo ...................................... 120

Figura 55- Exercícios de 1 a 27 de Quintella (1959) .............................................................. 121

Figura 56- Exercícios de 28 a 35 de Quintella (1959) ............................................................ 121

Figura 57- Capa do livro dos Irmãos Maristas ....................................................................... 125

Figura 58- Folha de rosto do livro dos Irmãos Maristas ........................................................ 126

Figura 59- Exemplo de resolução de equação com o uso de logaritmos ................................ 127

Figura 60- Exemplo de resolução de equação sem o uso de logaritmos ................................ 128

Figura 61- Capa do livro do Serrão (1966) ............................................................................ 129

Figura 62- Folha de rosto da obra do Serrão (1966)............................................................... 130

Figura 63- Comportamento da função exponencial para base maior que 1 ........................... 131

Figura 64- Representação gráfica da função exponencial para base maior que 1 .................. 132

Figura 65- Comportamento da função exponencial para base menor que 1 .......................... 132

Figura 66- Representação gráfica da função exponencial para base menor que 1 ................. 132

Figura 67- Parte dos exercícios propostos .............................................................................. 133

Figura 68- Resultados resumidos do exercício 159 ................................................................ 134

Figura 69- Capa do livro Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967) ....................................... 136

Figura 70- Folha de rosto do livro Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967) ......................... 137

Figura 71- Definição de potenciação e definição de potenciação de base real a e expoente

inteiro positivo n. .................................................................................................................... 138

Page 13: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

Figura 72- Propriedades das potências ................................................................................... 139

Figura 73- Extensão da definição de φ ................................................................................... 139

Figura 74- Valores de y para base igual a 2 ........................................................................... 139

Figura 75- Representação gráfica da função injetora com domínio Z ................................... 140

Figura 76- Representações gráficas para base entre 0 e 1 e para base negativa ..................... 140

Figura 77- Propriedades das potências para quaisquer expoentes racionais .......................... 141

Figura 78- Representação gráfica dos pontos (x, ax) para valores de x iguais a 0, 1/2 e 1 ..... 141

Figura 79- Propriedades das potências de expoente real ........................................................ 142

Figura 80- Representação simbólica da função logaritmica ................................................... 143

Figura 81- Capa do livro Brunelli (1972) ............................................................................... 146

Figura 82- Folha de rosto do livro Brunelli (1972) ................................................................ 146

Figura 83- Índice do livro Brunelli (1972) ............................................................................. 147

Figura 84- Definição de função exponencial .......................................................................... 148

Figura 85- Conjunto de valores para base 2 ........................................................................... 148

Figura 86- Gráfico da função exponencial de base 2 ............................................................. 148

Figura 87- Gráficos da função exponencial ............................................................................ 149

Figura 88- Definição da função logaritmica ........................................................................... 150

Figura 89- Processo prático para o traçado do gráfico da função logarítmica ....................... 150

Figura 90- Capa do livro Matemática na Escola Renovada ................................................... 152

Figura 91- Definição de função exponencial .......................................................................... 152

Figura 92- Função exponencial oscilante de base -2 .............................................................. 153

Figura 93- Função exponencial oscilante de base -1/2 ........................................................... 154

Figura 94- Definição de função logaritmica ........................................................................... 155

Figura 95- Capa do livro em análise ....................................................................................... 157

Figura 96- Folha de rosto da obra ........................................................................................... 158

Page 14: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

Figura 97- Nomenclatura para a função exponencial ............................................................. 159

Figura 98- Representação gráfica da função de base maior que 1 ......................................... 159

Figura 99- Quadro comparativo entre as funções exponencial e logaritmica ........................ 160

Figura 100- Exercício 35 ........................................................................................................ 160

Figura 101- Capa do livro Iezzi et al. (1978) ......................................................................... 162

Figura 102- Folha de rosto Iezzi et al. (1978) ........................................................................ 163

Figura 103- Definição de potência de expoente inteiro .......................................................... 164

Figura 104- Propriedades das potências com expoente inteiro .............................................. 164

Figura 105- Comparação de potências ................................................................................... 165

Figura 106- Exemplo de gráfico da função exponencial ........................................................ 166

Figura 107- Uma das aplicações da Matemática .................................................................... 167

Page 15: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Obras selecionadas para análise .............................................................................. 67

Quadro 2- Comparativo da estrutura externa/interna das duas obras (década de 30) .............. 69

Quadro 3- Quadro comparativo das obras analisadas na década de 40 .................................... 82

Quadro 4-- Quadro comparativo das obras na década de 50 .................................................. 103

Quadro 5- Quadro comparativo das obras na década de 60 ................................................... 123

Quadro 6- Quadro comparativo das obras na década de 60 ................................................... 124

Quadro 7- Quadro comparativo das obras da década de 70 ................................................... 144

Quadro 8- Quadro comparativo das obras da década de 70 ................................................... 145

Quadro 9- Estrutura do material (produto) ............................................................................. 170

Quadro 10- Quadro comparativo das cinco obras .................................................................. 171

Quadro 11- Formação dos participantes ................................................................................. 173

Quadro 12- Tempo de atuação como docente com o respectivo nível de ensino ................... 173

Quadro 13- Tipo de Escola de cada participante .................................................................... 174

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 18

Justificativa ............................................................................................................................. 22

1. SUPORTE TEÓRICO ....................................................................................................... 24

1.1 Disciplinas escolares ..................................................................................................... 24

1.1.1 A criação da disciplina Matemática ....................................................................... 25

1.2 Reformas de ensino de 1930 a 1980 ............................................................................. 31

1.2.1 Método Intuitivo ..................................................................................................... 31

1.2.2 Movimento escolanovista ....................................................................................... 34

1.2.3 A Reforma Francisco Campos ............................................................................... 38

1.2.4 A Reforma Capanema ............................................................................................ 44

1.2.4.1 Programas de Matemática para os Cursos Clássicos ............................................ 46

1.2.4.2 Programas de Matemática para os Cursos Científicos ......................................... 47

1.2.5 Programa Mínimo .................................................................................................. 50

1.2.6. Programas de Matemática adotados no Colegial (Programa Mínimo) .............. 51

1.2.7 Lei n. 4024 e Lei n. 5692 ........................................................................................ 53

1.3 O Movimento da Matemática Moderna ..................................................................... 54

1.4 O livro didático: fonte de pesquisa .............................................................................. 61

2. REFERENCIAIS TEÓRICO-METODOLÓGICOS ...................................................... 65

3.1 Década de 1930 ............................................................................................................. 68

3.1.1 Livro 1 - Curso de Mathemática, 4.o Anno, 4.a Edição, 1938. Autores: Euclides

Roxo, Cecil Thiré, Mello e Souza. ................................................................................... 69

3.1.2 Livro 2 - Curso de Mathemática, 4.o Anno, 3.

a Edição, 1936. Autores: Euclides

Roxo, Cecil Thiré. Mello e Souza .................................................................................... 81

3.2 Década de 1940 ............................................................................................................. 81

3.2.1 Livro 3 – Matemática 2.o Ciclo, 2

a Série, 2.

a Edição, 1944. Autores: Euclides

Roxo, Haroldo Lisboa da Cunha, Roberto Peixoto, Cesar Dacorso Netto. .................. 83

3.2.2 Livro 4 – Curso de Matemática, 2.o Livro Colegial, 3.

a Edição, 1949. Autor:

Algacyr Munhoz Maeder. ................................................................................................ 93

3.3 Década de 1950 ........................................................................................................... 102

3.3.1 Livro 5- Curso de Matemática, Primeiro Ano Colegial (Clássico e Científico), 3.a

Edição, 1955. Autor: Manoel Jairo Bezerra. ............................................................... 103

Page 17: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

3.3.2 Livro 6 – Matemática para os cursos Clássico e Científico, 1o Ano, 9.

a Edição,

1955. Autor: Thales Mello Carvalho. ........................................................................... 108

3.3.3 Livro 7 – Matemática 2o Ciclo, 1

a Série, 8.

a Edição, 1956. Autores: Euclides

Roxo, Roberto Peixoto, Haroldo Cunha, Dacorso Netto. ............................................ 115

3.3.4 Livro 8 - Matemática Primeiro Ano Colegial, 6.a Edição, 1959. Autor: Ary

Quintella. ........................................................................................................................ 117

3.4 Década de 1960 ........................................................................................................... 123

3.4.1 Livro 9- Irmãos Maristas. Matemática Primeira Série Colegial. 1960. (Coleção

Didática FTD). ............................................................................................................... 124

3.4.2 - Livro 10- Exercícios e Problemas de Álgebra, Vol .I – Parte A, Para o Ciclo

Colegial e Exames Vestibulares às Escolas Superiores. Alberto Nunes Serrão, 4.a

Edição, 1966. .................................................................................................................. 129

3.4.3 Livro 11- Matemática Curso Colegial Moderno, 1.a Série Colegial. Scipione Di

Pierro Netto, Luiz Mauro Rocha, Ruy Madsen Barbosa, vol. 1, 1967. ....................... 135

3.5 Década de 1970 ........................................................................................................... 144

3.5.1 Livro 12- Matemática, 2.o Grau e vestibular. Remo L. Brunelli, 1972. .............. 145

3.5.2 Livro 13- Matemática na Escola Renovada, 1.a Série do 2.

o Grau (antigo

colegial). Scipione Di Pierro Netto, Célia Contin Góes, 1972 ..................................... 151

3.5.3 Livro 14- Matemática Segundo Grau. Damian Schor, José Guilherme Tizziotti.

Vol. 1, 1975. ................................................................................................................... 157

3.5.4 Livro 15- Tópicos de Matemática. Gelson Iezzi, Nilson J. Machado, Luiz Roberto

S. Castro, Márcio C. Goulart, Antônio S. Machado. Vol. 1, 1978. .............................. 161

4. O PRODUTO E SUA APLICAÇÃO .............................................................................. 169

4.1 Aplicação do produto ................................................................................................. 172

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 178

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 183

APÊNDICE A ....................................................................................................................... 190

APÊNDICE B ........................................................................................................................ 193

Page 18: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

18

INTRODUÇÃO

Inicialmente, tomo a liberdade de escrever, não na forma impessoal dos verbos, como

é recomendado pelas normas de redação de trabalhos de pesquisa, mas, sim, na primeira

pessoa do singular, pois farei, neste primeiro momento, uma breve revisão da minha trajetória,

não apenas relembrando o meu caminho como estudante, mas também o meu percurso

profissional até os dias de hoje.

Minha infância foi vivida em uma pequena cidade do interior de Minas – Pirapetinga –

Minas Gerais – onde tudo era bastante restrito, inclusive as oportunidades na área

educacional. Cresci entre livros, cadernos, quadro, giz e um desejo enorme de ser professora.

A minha vida escolar começou muito cedo. Aos seis anos, eu já era aluna da primeira série.

Não fiquei no terceiro período, pois, quando entrei para a escola, já sabia ler, escrever e

dominava a tabuada e as operações básicas. Tudo isso me foi ensinado pelos meus pais.

Meu pai estudou e se formou em Contabilidade depois de casado e pai de dois filhos e,

minha mãe, costureira, cursou somente até a quarta série primária. A preocupação de ambos

era que eu chegasse à escola já sabendo muitas coisas que iriam ser ensinadas para que não

encontrasse dificuldade. O método usado pelos dois, para essa iniciação escolar, foi o método

da “decoreba” para a tabuada (vejo-me sempre entre as folhas da tabuada, andando pela casa

“cantando” alto os fatos para poder decorar), da prova dos nove para a verificação das

operações e da cartilha para a alfabetização. Lembro-me, até hoje: “O sapato é do vovô”.

“Vivi viu a uva”. Nas quatro primeiras séries do Ensino Fundamental, tive duas professoras:

D. Aparecida e D. Ivete. Foram exemplos de educadoras e me marcaram por toda minha vida.

Com seu carinho e dedicação, elas me incentivaram a ir atrás de um sonho: o de ser

professora.

Iniciei a quinta série na minha cidade. Logo depois, meus pais foram para Volta

Redonda, onde cursei sexta série. Nos dois últimos anos do Ensino Fundamental, já havíamos

mudado para a cidade de Mariana, na qual vivo atualmente e lá terminei os Ensinos

Fundamental e Médio.

Em 1978, aos 14 anos, iniciei o curso de Magistério, no Colégio Providência, onde

hoje atuo como professora do Ensino Médio. Aos 16 anos, terminei o Magistério; queria

lecionar. Não consegui, na época, devido à minha idade. Quando terminei o curso desejei

fazer vestibular na Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP. Eu me dediquei a aulas

particulares, fazendo umas substituições, aqui e ali, até completar 18 anos. Nos anos

Page 19: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

19

seguintes, trabalhei com crianças na Educação Infantil e nos primeiros anos do Ensino

Fundamental, neste nível, trabalhei durante treze anos com crianças entre 9 e 10 anos,

lecionando Matemática e Ciências. A minha paixão pela Matemática já vinha desde muito

cedo e aumentou ainda mais nesse período.

Há muito desejava fazer um curso superior que atendesse às minhas expectativas. Na

região, nenhum curso me interessava até que surgiu, em Ouro Preto, o curso de Licenciatura

em Matemática. Já, aluna do curso de graduação em Matemática da UFOP, convivi com

professores que realmente se preocupavam com o ensino-aprendizagem da Matemática e

tinham um novo olhar sobre a educação. Fiquei muito entusiasmada. Durante os quatro anos

do curso, tive a oportunidade de conhecer novas propostas de ensino como as que o Projeto

Matemática na Escola vinha realizando com professores da cidade de Ouro Preto e Mariana.

Participei de vários congressos, encontros e Semanas da Licenciatura em Matemática. Foi

nessa época que me foi apresentado o termo Educação Matemática.

Em 2004, fui convidada pela Diretora do Colégio onde trabalhava para assumir quatro

turmas da 1a série do Ensino Médio. Foi um desafio! No princípio, enfrentei algumas

dificuldades que são comuns quando se inicia um novo trabalho. Diante de tudo isso e da

constante busca de melhorar minha formação, ingressei no curso de especialização em

Educação Matemática. Nesse curso... novas indagações foram surgindo.

Depois de terminada a especialização, muitas portas se abriram. Em fevereiro de 2005,

comecei a lecionar na Universidade Presidente Antônio Carlos – UNIPAC – Unidade Mariana

– lecionando para o curso de Normal Superior e Pedagogia. Muito do que estudei na

graduação e na Especialização me auxiliaram nesse novo desafio.

Lecionar para as turmas de Normal Superior e Pedagogia me levou a estudar mais e

procurar conhecer melhor como se dava o processo de ensino-aprendizagem de Matemática e

como possibilitar um maior o desenvolvimento do processo de formação de professores e

pedagogos que fossem capazes de atuar melhor nessa área.

Em agosto de 2005, fui convidada pela Faculdade de Administração de Mariana –

FAMA – para lecionar para o segundo período de Administração. A turma era formada por

alunos que tinham terminado o Ensino Médio há mais tempo. Foi uma experiência nova;

muito estudo e dedicação. Atualmente, leciono para os cursos de Engenharia Ambiental,

Produção e Civil, com as disciplinas de Cálculo Diferencial e Integral I e II.

Em 2000, o professor Antônio Carlos Brollezzi, no curso de Licenciatura em

Matemática, dizia, em suas aulas, que o futuro seria daqueles educadores que soubessem usar

sua criatividade. Agora, como fazer surgir essa imaginação criadora em nós, educadores, e em

Page 20: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

20

nossos alunos? Qual será a nossa prática de ensino, de agora em diante, com uma visão para o

que vier mais a frente?

Durante meu curso de Especialização, realizei um trabalho com professores de

Matemática e vi que muitos ainda não conheciam e, se conheciam, não utilizavam as novas

propostas para o ensino-aprendizagem de Matemática. A participação em eventos de caráter

científico, particularmente congressos e seminários sobre Educação Matemática, me

possibilitaram acompanhar as discussões atuais e pesquisas nessa área, verificando que há

muitas questões para serem estudadas.

É a busca constante por novas práticas pedagógicas, uma formação continuada e os

processos de ensino-aprendizagem em Matemática que me levaram, em 2015, a iniciar meus

estudos em um mestrado. O objetivo de fazer a inscrição no Programa de Pós-graduação em

Ensino de Ciências e Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais –

PUC-MINAS – foi aliar a minha prática profissional aos novos conhecimentos acadêmicos,

através de pesquisas e estudos acerca do ensino da Matemática. Afinal, reafirmando as

palavras de Paulo Freire (1998, p.40): “Sou professor a favor da boniteza de minha própria

prática, boniteza que dela some se não cuido do saber que devo ensinar”.

A escolha do tema

Atualmente, resido em Mariana, primeira cidade e capital de Minas Gerais, fundada

em 16 de julho de 1696 como arraial de Nossa Senhora do Carmo e elevada à cidade em

1745. Mariana abriga importantes riquezas do tempo do Brasil Colônia, ligadas à

religiosidade, à produção do ouro e do minério de ferro. Foi a primeira cidade planejada do

estado de Minas Gerais e isso é notado pelas suas ruas retas e praças retangulares. Nesta

cidade, está localizado o Seminário de Mariana, fundado em 20 de dezembro de 1750 onde se

encontra uma das bibliotecas de Filosofia e Teologia mais importantes do Brasil, não somente

pela diversidade de títulos, mas também pela grande quantidade de obras raras, ligadas a essas

duas áreas do conhecimento.

Dentro deste contexto, procuro explicitar uma das razões que me levaram a pesquisar

um tema relacionado com a história da Educação Matemática. É certo que o ambiente em que

moro e todo o contato direto com parte da história de Minas e do Brasil exerceram influência

na minha escolha. Outro ponto motivador para a realização dessa pesquisa foi uma conversa

que tive, durante as aulas do mestrado, com a minha orientadora, Elenice Zuin, após lhe

mostrar um livro, editado em 1971, dos autores Nicolau D`Ambrósio e Ubiratan D´Ambrósio,

pai e filho, tendo como título “Matemática Comercial e Financeira”. Nessa conversa, a

Page 21: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

21

professora Elenice perguntou-me: “Já que você tem interesse por livros antigos de

Matemática, por que você não realiza uma investigação na qual algumas dessas obras sejam

suas fontes primárias?” Imediatamente, interessei-me pela proposta de trabalho, pois possuía,

em casa, obras de autores renomados tais como Ary Quintella, Manoel Jairo Bezerra e Thales

Mello de Carvalho. Verifiquei, em uma pesquisa na WEB, que outros livros poderiam ser

adquiridos com relativa facilidade. Adicionalmente, em Ouro Preto, há a Biblioteca de Obras

Raras na Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto. Dessa forma, as fontes já

estavam definidas e restava a escolha do tema central. Essa escolha também não foi difícil.

Como professora de Matemática em todas as séries do Ensino Médio, sempre percebi a

dificuldade de vários alunos com o conteúdo função exponencial e, dada a importância que

essa função apresenta hoje como ferramenta em vários ramos do conhecimento, senti-me

curiosa em estudar esse tema e perceber de que forma os livros didáticos o apresentavam.

Essa foi a minha motivação inicial e já com a certeza de que outras surgiriam, pois tenho um

interesse pessoal pela temática e a certeza de que é um conteúdo importante, aliado ao fato de

tratar-se de uma pesquisa que ofereceria uma farta documentação.

Na literatura, encontramos pesquisadores que estudaram sobre o conteúdo funções. Na

linha de pesquisa da História da Educação Matemática, podemos citar o trabalho “O processo

inicial de disciplinarização de função na Matemática do Ensino Secundário Brasileiro”, de

Ciro Braga, que estudou a inclusão de função nos programas oficiais de Matemática do ensino

secundário. Em outra linha de pesquisa, Sílvio Tadeu Teles da Silva estudou “O ensino das

funções exponencial e logaritmica por atividades” e conclui que é importante que o aluno

tenha conhecimento da definição da função exponencial e logaritmica. Raquel Taís Breunig e

Renan Gabbi utilizaram o jogo de xadrez para o ensino de função exponencial. Trata-se de um

relato de experiência, explorando uma representação teatral com a proposta de um problema

que é solucionado através de uma série de questionamentos, além de contar com um tabulerio

de xadrez e grãos de trigo. Os autores procuraram mostrar a importância de se realizar

atividades diferenciadas para estimular os alunos. O uso da modelagem no ensino de função

exponencial é título do trabalho de pesquisa de Cristina Maria Brucki, chegando à conclusão

que a modelagem possibilita uma aprendizagem reflexiva, uma vez que essa metodologia

facilita a participação do aluno e ativa o seu interesse.

É nossa expectativa estar colaborando com o presente trabalho no intuito de poder

oferecer um outro olhar para o entendimento e conhecimento da equação/função exponencial

como conteúdo escolar ao longo de cinco décadas.

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22

Objetivo geral

O objetivo geral dessa pesquisa é verificar quais foram as alterações e/ou

continuidades no tópico equação/função exponencial nos livros analisados no período

delimitado entre 1930 e 1980.

Objetivos Específicos

Como objetivos específicos, destacamos:

Verificar quais foram as influências das reformas de ensino nos livros

didáticos;

Descrever como a equação/função exponencial era apresentada

conceitualmente entre os anos de 1930 e 1980;

Analisar os exercícios e problemas resolvidos e propostos;

Comparar as obras dos autores de livros didáticos de Matemática selecionados,

analisando o conteúdo equação/função exponencial.

Temos como hipótese que ao longo de cinco décadas houve modificações na forma de

exposição da equação/função exponencial, principalmente com o Movimento da Matemática

Moderna.

Justificativa

As pesquisas históricas referentes aos livros didáticos tiveram um grande impulso nos

últimos anos e o número de trabalhos de pesquisa nessa área tem demonstrado e reforçado a

importância dos mesmos como fontes para inúmeras respostas a questões do cotidiano

escolar. Uma dessas questões é procurar estabelecer uma conexão entre um conteúdo

específico de Matemática e a forma de abordagem nos livros durante a vigência de reformas

de ensino que ocorreram no Brasil. Essa conexão pode também ser estendida a outros

conteúdos e, deste modo, o presente trabalho poderá servir como mais uma referência para o

estudo e reflexão da metodologia utilizada pelos autores de obras de Matemática, com o

passar do tempo, acrescentando pontos para o desvelar da história dessa disciplina escolar, a

partir da discussão de conteúdos específicos, como função e equação exponenciais.

Do ponto de vista acadêmico, a presente pesquisa se estabelece como mais uma fonte

sobre a História da Educação Matemática e poderá agregar conhecimentos à questão já que a

história dos conteúdos é importante e desejável para a formação dos professores de

Matemática e áreas afins.

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23

Esse trabalho apresenta o texto estruturado da seguinte maneira: logo após a

introdução, segue o primeiro capítulo que foi denominado “Suporte teórico”, subdividido em

quatro partes.

A primeira parte, denominada “Disciplinas escolares”, tem como objetivo mostrar a

relação teórico-metodológica entre a disciplina escolar e a cultura escolar. Também,

discutimos sobre a criação da disciplina Matemática.

Na segunda, denominada “reformas de ensino de 1930 a 1980”, apresentamos, de

forma introdutória o método intuitivo e o movimento escolanovista. Em seguida, mostramos

as reformas de ensino de 30 a 80, apresentando os pressupostos teórico-metodológicos das

reformas desse período. A terceira parte foi destinada ao importante Movimento da

Matemática Moderna, onde procuramos mostrar como esse movimento ocorreu no Brasil e as

consequências advindas no ensino da Matemática no Brasil.

A quarta parte destinou-se ao livro didático como fonte de pesquisa, ressaltando a

importância que o mesmo representa para pesquisadores como fonte de pesquisa.

No segundo capítulo, mostramos a metodologia utilizada para a análise das obras e no

terceiro capítulo faz-se análise do conteúdo equação/função exponencial, sendo esse capítulo

dividido em cinco partes, sendo cada uma delas destinada a uma década: década de 1930,

década de 1940, década de 1950, década de 1960 e década de 1970.

O programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da PUC Minas,

curso de Mestrado, exige a elaboração de um produto. Trata-se de um importante ponto do

curso, pois fornece ao mestrando uma possibilidade de oferecer ao mundo acadêmico e

profissional dos docentes mais elementos sobre o ponto de vista do ensino e aprendizagem da

Matemática. Em nosso caso, o produto foi intitulado como “Equação/função exponencial em

livros didáticos no Brasil (1930-1980)”, no qual abordamos as várias metodologias adotadas

por diferentes autores para apresentar o conteúdo em suas obras, além de suscitar uma

reflexão sobre a própria história dos conteúdos escolares, no período fixado. Nesse material,

trataremos de alguns aspectos históricos das funções de um modo geral, das reformas

ocorridas no Brasil no período de 1930 a 1980 e, de acordo com as tendências pedagógicas

nesse período, mostrar como alguns autores apresentaram aos alunos e leitores de modo geral

esse tema. No quarto capítulo, descrevemos esse produto e nesse mesmo capítulo falamos

sobre o minicurso apresentado a alunos do Curso de Especialização em Educação Matemática

do Instituto Federal de Minas Gerais.

Nas considerações finais, apresentamos nossas análises sobre os métodos utilizados

pelos diversos autores para apresentar o conteúdo que é tema desse trabalho.

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24

1. SUPORTE TEÓRICO

1.1 Disciplinas escolares

Nos dicionários da Língua Portuguesa, encontra-se comumente o significado de

disciplina como sendo obediência aos preceitos, às regras; respeito a um regulamento;

submissão ou respeito às regras, às normas, àqueles que são seus superiores e, finalmente, diz

respeito à matéria ensinada na escola, ou seja, disciplina escolar. Esses são alguns conceitos

de disciplina que são utilizados no dia a dia das pessoas.

Lourenço Filho (2013), ao dissertar sobre as disciplinas escolares, inicia o seu texto

com três questões importantes e que norteiam toda a discussão sobre as Instituições Escolares:

“O que é, como e onde surge uma disciplina escolar?”. Essas questões, aparentemente

simples, trazem uma riqueza enorme de temas de pesquisa sobre vários pontos da Educação e

um deles é a história das disciplinas escolares que encontra suporte em várias pesquisas

desenvolvidas, envolvendo de modo particular a história da Matemática escolar.

O francês André Chervel1 em seu artigo “História das disciplinas escolares: reflexões

sobre um campo de pesquisa” relata que:

... demasiado vagas ou demasiado restritas, as definições que dela

[disciplina] são dadas de fato não estão de acordo a não ser sobre a

necessidade de encobrir o uso banal do termo, o qual não é distinguido de

seus “sinônimos”, como “matérias” ou “conteúdos” de ensino. A disciplina é

aquilo que se ensina e ponto final. (CHERVEL, 1990, p.177).

Revelando, deste modo, outros aspectos da disciplina escolar, o autor acrescenta que:

A disciplina escolar é então constituída por uma combinação, em proporções

variáveis, conforme o caso, de vários constituintes: um ensino de exposição,

os exercícios, as práticas de incitação e de motivação e um aparelho

docimológico, os quais, em cada estado da disciplina, funcionam,

evidentemente, em estreita colaboração, do mesmo modo que cada um deles

está, à sua maneira, em ligação direta com as finalidades (CHERVEL, 1990,

p. 207).

Pode-se perceber, assim, que a disciplina escolar é, verdadeiramente, a célula

fundamental do ensino, uma vez que engloba, conforme bem pontuado pelo autor, a

1 André Chervel é pesquisador do Service d’histoire de l’éducation - Institut National de Recherche

Pédagogoque, Paris, França.

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existência de quatro pilares que sustentam todo o processo dinâmico do ensino, quais sejam:

exposição de conteúdos, os exercícios, a motivação que deve ser dada ao aluno, evitando um

ensino árido, que não fornece a percepção da importância do conhecimento e, por fim, as

avaliações (CHERVEL, 1990).

Chervel (1990) acredita que o acompanhamento da forma, ao longo dos anos, pela

qual uma disciplina escolar foi ministrada fornece parâmetros e dados importantes:

Desde que se compreenda em toda a sua amplitude a noção de disciplina,

desde que se reconheça que uma disciplina escolar comporta não somente as

práticas docentes da aula, mas também as grandes finalidades que presidiram

sua constituição e o fenômeno de aculturação em massa que ela determina,

então a história das disciplinas escolares pode desempenhar um papel

importante não somente na história da educação mas na história cultural

(CHERVEL, 1990, p. 184).

A pesquisa em História da Educação e na História da Educação Matemática pode

muito bem se alicerçar no estudo das apresentações dos vários conteúdos que foram

desenvolvidos nos livros didáticos ao longo dos anos.2

Para Chervel (1990, p. 188), os conteúdos sofrem transformações e a função das

disciplinas escolares “consiste em cada caso em colocar um conteúdo de instrução a serviço

de uma finalidade educativa.” Na concepção desse autor, existem duas finalidades: as

finalidades de objetivo e as finalidades reais. As primeiras são estabelecidas pela legislação,

enquanto, as últimas, são as escolares, aquelas pelas quais a escola ensina. Dentro deste

contexto, Chervel assevera:

A distinção entre finalidades reais e finalidades de objetivo é uma

necessidade imperiosa para o historiador das disciplinas. Ele deve aprender

distingui-las, mesmo que os textos oficiais tenham tendência a misturar umas

e outras. Deve sobretudo tomar consciência de que uma estipulação oficial,

num decreto ou numa circular, visa mais frequentemente, mesmo se ela é

expressada em termos positivos, corrigir um estado de coisas, modificar ou

suprimir certas práticas, do que sancionar oficialmente uma realidade

(CHERVEL, 1990, p. 190).

1.1.1 A criação da disciplina Matemática

O que se observou no Brasil até as três primeiras décadas dos 1900, segundo

pesquisadores como Valente (2003, 2004, 2007), Miorim (1995), Dassie (2008), o ensino de

2 Valente (2007, p. 29) advoga “a pesquisa em história da Educação Matemática está inscrita no campo da

história. Mais especificamente, ela reporta-se à História da Educação”.

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26

Matemática era realizado de forma compartimentada e, aos alunos, eram apresentadas, ao

longo dos anos, no ensino secundário: Aritmética, Álgebra, Geometria e Trigonometria.3

Dessa forma, os livros didáticos eram específicos para cada um desses ramos, ou seja, não

havia um texto de Matemática único, abordando essas áreas (figura 1).

Há também a afirmação de que os conteúdos apresentados eram desligados do

cotidiano dos alunos, ou seja, não havia uma ligação entre o assunto apresentado e a vivência

prática do dia a dia ou alguma aplicação em outros ramos do conhecimento (DASSIE, 2008).

Figura 1 - Livros didáticos de Aritmética, Álgebra e Geometria da década de 1920

Fonte: Marin (1923); Coleção FTD (1925); Pereira (1927).

Concomitantemente, nos períodos que antecederam o ano de 1929, ocorreu um

movimento internacional que objetivou discutir o ensino de Matemática.

A primeira manifestação desse movimento ocorreu em Roma, em 1908, em um evento

internacional de Matemática. Nesse congresso, “pela primeira vez, matemáticos dão

importância a questões ligadas ao ensino” (VALENTE, 2005, p. 89). Foi criada, nesse

congresso, uma Comissão Internacional de Ensino da Matemática, IMUK4 que contava com

um comitê central dirigente ao qual pertenciam os matemáticos Félix Klein, Henri Fehr e

George Greenhill (VALENTE, 2005, p. 89).

No ano de 1912, foi realizado, em Cambridge, o V Congresso Internacional de

Matemática e, nesse evento, deliberou-se que o comitê constituído no congresso anterior

3 Também no ensino primário, as matérias eram separadas, não havia a “disciplina” Matemática.

4 Denominada em alemão por IMUK (Internationale Mathematische Unterrichtskommission) e, em francês, por

CIEM (Comission Internationale l’Enseignement Mathématique).

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27

deveria elaborar relatórios “a respeito do estado da instrução matemática nos diversos países”

(VALENTE, 2005, p. 89). A partir desse mesmo evento, nasceu uma proposta de reforma do

ensino de Matemática.

No Brasil, essas questões ligadas à renovação do ensino de Matemática começaram a

ser discutidas apenas no final dos anos 1920. Essa estrutura de ensino da Matemática foi

questionada pelo professor Euclides Roxo5, importante educador brasileiro que, na época, era

Diretor do Colégio Pedro II e gerenciou toda a proposta de mudança, dirigida à Congregação

desse colégio e apresentou mudanças radicais no ensino da Matemática nessa escola. Essas

alterações tinham o objetivo de refletir na disposição dos conteúdos, na metodologia aplicada

e nas finalidades do ensino.

Figura 2 - Imagem de Euclides Roxo6

Fonte: Valente (2003).

Em 1929, é publicado no Diário Oficial da União o Decreto 18.564, de 15 de janeiro,

que dá o aceite à proposta modernizadora do Prof. Euclides Roxo:

Art. 1º Fica approvada a alteração da seriação do curso secundário, proposta

pela Congregação do Collegio Pedro II e homologada pelo Conselho

Nacional do Ensino, em sessão de 26 de julho de 1928, substituindo-se a

discriminação constante do art. 47 do citado regulamento pela seguinte:

5 Euclides de Medeiros Guimarães Roxo foi engenheiro civil, professor catedrático e diretor do Colégio Pedro II

além de Diretor do Ensino Secundário do Ministério da Educação e da Saúde. Nasceu em 1890 e faleceu em

1950 (DASSIE, 2008, p. 24). 6 Essa foto de Euclides Roxo foi digitalizada da capa do livro “Euclides Roxo e a modernização do ensino da

Matemática no Brasil”.

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28

1º anno: 1) Portuguez, 2) Francez, 3) Mathematica, 4) Geographia Geral, 5)

Desenho;

2º anno: 1) Portuguez, 2) Latim, 3) Francez, 4) Inglez ou Allemão, 5)

Mathematica, 6) Chorographia do Brasil, 7) Desenho;

3º anno: 1) Portuguez, 2) Latim, 3) Francez, 4) Inglez ou Allemão, 5)

Historia Universal, 6) Mathematica, 7) Desenho;

4º anno: 1) Portuguez, 2) Latim, 3) Inglez ou Allemão, 4) Historia Universal,

5) Mathematica, 6) Phiysica, 7) Historia Natural, 8) Desenho, 9) Chimica;

5º anno: 1) Latim, 2) Phiysica 3) Chimica, 4) Historia Natural, 5)

Philosophia, 6) Cosmographia, 7) Instrucção Moral e Civica, 8) Historia do

Brasil;

6º anno: 1) Sociologia, 2) Historia da Philosophia, 3) Litteratura

(especialmente a brasileira e as das linguas latinas), 4) Italiano (facultativo),

5) Curso complementar de mathematica (para os alumnos que se destinem ás

escolas militares e Polytechnica), 6) Curso complementar de Sciencias

Physicas e Naturaes (para os alumnos que se destinem ás escolas de

Medicina), 7) Curso complementar de Geographia (Social e Economia).

(BRASIL, 1929).

As modificações trazidas pelo decreto 18.564 foram seguidas apenas pelo Colégio

Pedro II, uma vez que não existia uma legislação em nível nacional no campo da educação.

Para atender à legislação referente ao Colégio Pedro II, que preconizava a fusão dos

ramos Aritmética, Álgebra e Geometria, foram elaboradas três coleções: Como se aprende

Mathematica, em dois volumes, de Saverio Cristofaro, publicada a partir de julho de 1929; o

Curso de Mathematica Elementar, em três volumes, de Euclides Roxo (figura 3) a partir de

setembro de 1929; e, Mathematica, em três volumes, de Cecil Thiré e Mello e Souza, em

1930.

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Figura 3 - Contracapa dos livros Como se aprende Mathematica e Curso de Mathematica Elementar

Fonte: Cristofaro (1925) e Roxo (1930).

É importante salientar, e pode-se comprovar no prefácio da obra de Saverio Cristofaro,

a preocupação em se adotar o programa oficial:

Temos o prazer de apresentar ao professorado dos cursos secundários o

presente trabalho. É o desenvolvimento do programma official de

Mathematica, para o primeiro anno gymnasila, approvado pela congregação

do Collegio D. Pedro II, e publicado a 24 de Março deste anno. Lembramos

a data, para mostrar que em tão curto espaço de tempo não nos teria sido

possível improvisar compendio desta natureza, se não tivessemos, quasi

prompta, toda a materia que o compõe. Prova isto virmos, de ha muito,

seguindo a orientação ora recomendada (CRISTOFARO, 1925, p.5).

No prefácio de sua obra, Euclides Roxo expressa, de forma clara, as novas diretrizes

para o ensino de Matemática. Enfatizando a importância do momento vivido no final dos anos

20 e dos novos rumos dirigentes, transcrevemos, da obra de Roxo (1930), algumas

considerações:

1- TORNAR ESSENCIALMENTE PREDOMINANTE O PONTO DE

VISTA PSICOLÓGICO. - Significa isso que o ensino não deve depender

unicamente da matéria ensinada, mas deve atender antes de tudo ao

indivíduo a quem se tem de ensinar. Um mesmo assunto deve ser exposto a

uma criança de seis anos de modo diferente porque o é a uma de dez e a esta

ainda de maneira diversa que a um homem maduro. Aplicado

particularmente ao ensino da matemática, esse princípio geral nos conduz a

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começar sempre pela intuição viva e concreta e só pouco a pouco trazer ao

primeiro plano os elementos lógicos e adotar, de preferência, o método

genético, que permite uma penetração lenta das noções.

2- NA ESCOLHA DA MATÉRIA A ENSINAR TER EM VISTA AS

APLICAÇÕES DA MATEMÁTICA AO CONJUNTO DE OUTRAS

DISCIPLINAS, - procurando aliviar o estudante de uma grande sobrecarga

de estudo cujo interesse é puramente formalístico e tornar o ensino mais

vivo e mais produtivo.

3- SUBORDINAR O ENSINO DA MATEMÁTICA À FINALIDADE DA

ESCOLA MODERNA: - “tornar os indivíduos moral e intelectualmente

aptos a cooperarem na obra da civilização hodierna, essencialmente

orientada para o sucesso prático”. Daí decorre a necessidade de se terem em

vista, no ensino da matemática, as suas aplicações às ciências físicas e

naturais e à técnica (ROXO, 1929, p. 7-8).

Nos próprios dizeres de Euclides Roxo, “essas três tendências apresentadas se

harmonizam e se fortalecem mutuamente” (ROXO, 1930).

Quanto às características citadas na obra e que são consequências dessas tendências,

Roxo (1930) ainda destaca no prefácio:

a) A fusão da aritmética, álgebra e geometria (incluída a trigonometria). A

esse respeito diz Klein: “Não quero dizer que essas partes devam ser

completamente fundidas, mas não devem ser tão separadas como sucede

hoje freqüentemente nas escolas, contra o que é natural: um exemplo

instrutivo é o estudo das proporções que primeiro se explicam

aritmeticamente e depois - muitas vezes sem nenhuma relação com o estudo

anterior - ensina-se novamente sob forma geométrica”. (...)

b) Introdução precoce da noção de função, que, para Klein, é o âmago do

moderno movimento de reforma apresentada - o que se não

didática de Euclides (“die starre euklidische Manier”) com deve perder de

vista – sob forma geométrica e expressa, eficazmente, pelas representações

gráficas, das quais diz Klein: “Penetram não somente através a grande

literatura moderna das ciências exatas, mas, pode-se dizer, surgem em todas

as cogitações da vida atual”. (...)

c) Abandono, em parte, da rígida a introdução da idéia da mobilidade de

cada figura, por meio da qual em cada caso particular, se torna

compreensível o caráter geral da geometria.

d) Introdução, desde cedo, de noções de coordenadas e de geometria

analítica, a qual “é acessível à compreensão dos meninos desde as primeiras

séries e, por isso, deveria penetrar em todo o ensino da Matemática”, ao

invés de, como se faz atualmente, ‘sobrepor-se como uma nova construção à

parte, ao estudo já concluído da geometria elementar’.

e) Introdução de noções de cálculo diferencial e integral, apoiadas de modo

preponderante em métodos geométricos, e, portanto, intuitivos.

f) Maior desenvolvimento do ensino do desenho projetivo e da perspectiva,

ainda em conexão com o estudo da geometria elementar.

g) A introdução de recursos de laboratório (constituindo o que os americanos

chamam “laboratory method”) como sejam regras graduadas, compassos,

instrumentos de medir ângulos (prancheta, trânsito, etc.), papel milimetrado,

esferas negras, balanças, termômetros, alavancas, planímetros, polias,

aparelhos de demonstração, figuras e sólidos de vidro, de fios de seda, etc.).

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Esses recursos, aliados ao método heurístico, permitem a experimentação e

auxiliam a self-discovery, além de concorrerem para dar vivacidade e

interesse ao ensino e um certo apoio concreto e, talvez, um tanto divertido,

ao raciocínio do adolescente, ajudando-o a galgar, o mais suavemente

possível, a íngreme rampa da abstração matemática.

h) Finalmente, um princípio que preside a todos os que precedem, o método

histórico no desenvolvimento da Matemática, princípio pedagógico de

ordem geral, por todos francamente reconhecido mas raramente respeitado

(ROXO, 1930).

Essas inovações, experimentadas pelo ensino da Matemática, serão o alicerce para a

Reforma Francisco Campos, no primeiro período da Era Vargas, uma vez que o próprio

Euclides Roxo é convidado pelo Ministro da Educação e Saúde Pública para fazer parte de

uma comissão para a elaboração de um projeto de reforma do ensino secundário brasileiro.

O método heurístico se relaciona com a “arte” de inventar, de encontrar soluções para

os problemas. Deste modo, o método heurístico proposto, vinha com o objetivo de romper

com o ensino tradicional que se pautava em memorização. O aluno participante do processo

de ensino/aprendizagem como um agente ativo.

A seguir, faz-se uma descrição das principais reformas no ensino brasileiro a partir de

1930, finalizando em 1980.

1.2 Reformas de ensino de 1930 a 1980

Antes de dissertarmos sobre as principais reformas de ensino que ocorreram entre as

décadas de 30 e 80 dos Novecentos, daremos ênfase ao método de ensino-aprendizagem

denominado Método Intuitivo e sua relação com o movimento escolanovista, uma vez que foi

a partir da segunda década do século XX que o movimento da Escola Nova passou a ser

difundido no Brasil (ZUIN, 2016). Para Resende e Souza (2005), esse período representou

uma época importante para a educação, pois era entendida como uma via importante de

divulgação das ideias e propostas republicanas.

1.2.1 Método Intuitivo

Até o fim do século XIX, a escola ou pedagogia tradicional se fez presente de “modo

hegemônico”, segundo Silva (2012, p. 2). Nessa escola, a exposição de conteúdos era feita de

forma verbal pelo professor, sendo ele a autoridade máxima e a memorização era feita pela

repetição sem relação com o cotidiano. Silva destaca ainda como importantes características

dessa escola:

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32

O aluno deve se empenhar para atingir êxito pelo próprio esforço. A

educação é entendida como processo externo. Neste contexto, prevalece a

transmissão de conhecimento, sendo a escola centrada numa formação moral

e intelectual. Dessa forma, é hierarquizada com normas rígidas de disciplina.

Em suma, se caracteriza pelo conteudismo, exercícios de fixação e

memorização (SILVA, 2012, p. 2).

A escola tradicional passa a ser questionada e, nas últimas décadas do século XIX,

muitos debates sobre o ensino apareceram (ZUIN, 2016). Nesse sentido, foram destaques as

discussões pedagógicas voltadas para um ensino diferente do que era praticado na escola

tradicional.

Já havia surgido, na Alemanha, no final do século XVIII, o denominado método

intuitivo que se baseava nas ideias do suíço Pestalozzi7, tendo também sua origem histórica

associada ao empirismo clássico de Bacon (SILVA, 2012). No Brasil, os princípios do

Método Intuitivo foram propagados, principalmente, através do manual Primeiras Lições de

Coisas8, cujo autor era Norman Allison Calkins. A obra foi traduzida para o português por

Rui Barbosa. As Primeiras Lições de Coisas constituiu-se em um texto que colaborou para a

difusão do método intuitivo no Brasil, assumindo importante função de orientação dos

professores (REMER; STENTZLER, 2009, p. 6338). A figura 4 ilustra a capa da obra citada9.

7 Johann Heinrich Pestalozzi (1746 –1827) era natural da Suiça e pensou o método de ensino intuitivo, contando

com os seus discípulos no trabalho de divulgação, tendo ganhado adeptos na Europa e Estados Unidos ao longo

do século XIX (ZUIN, 2016, p. 2). 8 Título original do livro: “Primary Object Lessons: training the senses and developing the faculties of children;

a manual of elementary instruction for parents and teachers”. 9 Exemplar referente à 40ª edição americana (1884), disponível na biblioteca da Fundação Casa de Rui Barbosa,

no endereço eletrônico < http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/227357> Acessado em 30 de agosto de 2017.

Page 33: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

33

Figura 4- Capa do Manual Primeiras Lições de Coisas

Fonte: http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/227357.

Calkins afirma, logo no início da obra, que há uma sequência a ser seguida para a

formação das ideias que resumimos no texto a seguir:

1. É pelos sentidos que nos advém o conhecimento do mundo material. Os

primeiros objetos onde se exercem as nossas faculdades são as coisas e os

fenômenos do mundo exterior. 2. A percepção é a primeira fase da

Inteligência [...]. 3. A existência de uma noção no espírito nasce da

percepção das semelhanças e diferenças entre os objetos. [...]. 4. Todas as

faculdades medram, e robustecem a poder de exercício adequado: correndo o

risco de se debilitarem, se as sobrecarregamos, ou se as aplicamos a matérias

que não estejam ao seu alcance. 5. Algumas das energias mentais são tão

ativas e quase tão vigorosas no menino, quanto no homem: tais a sensação, a

percepção, a observação, a comparação, a simples retentiva e a imaginação.

Outras não chegam ao seu desenvolvimento cabal, antes que a criança toque

o período da madureza. Entre estas estão a razão, a memória filosófica e a

generalização. 6. O mais natural e saudável incentivo para obter, entre as

crianças a atenção e a aquisição de conhecimento, é associar a recreação ao

ensino. [...]. 7. É do bom ensino o inspirar contentamento à infância [...]. 8.

Os hábitos de atenção firme são permanentes mananciais de educação

intelectual [...]. Mas o grande segrêdo, para fixar a atenção das crianças, esta

em aguçarlhes a curiosidade, e satisfazer-lhes o amor de atividade [...]. 9. O

processo natural de ensinar parte do simples para o complexo; do que se

sabe, para o que se ignora; dos fatos, para as causas; das coisas, para os

nomes; das idéias, para as palavras; dos princípios para as regras

(CALKINS, 1886/1950, p. 2-3).

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34

De acordo com Rocha & Santos (2016, p. 6), podemos verificar que “os Princípios,

mesmo servindo de base para a educação das crianças, devem seguir etapas significativas para

que o conhecimento do mundo material seja adquirido a partir dos sentidos.”

Para Zuin (2016), a implementação do método intuitivo exigiu novos materiais

escolares e, sendo o Brasil um país de dimensões continentais, muitas escolas não seguiram os

princípios do método. No entanto, “a grande exaltação das lições de coisas, o livro de Calkins,

as Conferências pedagógicas de Professores na Corte, atingiram positivamente os docentes,

trazendo para a instrução infantil, mudanças significativas e, em muitos locais, o ensino

assentado nos princípios jesuíticos passaria a ser coisa do passado” (ZUIN, 2016, p.2).

Essa metodologia, alicerçada na educação dos sentidos, na intuição e na observação

das coisas, passando, assim, a ser adotada por vários professores, despertou a reflexão sobre o

ensino, ativando a busca por mudanças focadas em outras propostas de ensino/aprendizagem.

Esse despertar por melhorias nos métodos de ensino, trouxe à tona, a partir do final do século

XIX, “a busca pela superação da concepção tradicional” (SILVA, 2012, p. 3).

1.2.2 Movimento escolanovista

A Escola Nova, na percepção de Zuin (2016), ganhou força a partir da segunda década

do século XX quando, então, vários estados brasileiros incluem na legislação, reformas para a

instrução. Esse modelo de Escola surge como proposta inovadora, contrária à Escola

Tradicional, onde o professor é o mediador da aprendizagem, proporcionando ao aluno a

oportunidade para a realização do seu desenvolvimento psicológico e de sua auto-realização,

pois o que anteriormente realizava o simples papel de ouvinte passivo, sem expressão, sem

luz (na própria etimologia da palavra aluno), agora seria um “agente ativo, criativo e

participativo no ensino aprendizagem” (SILVA, 2012, p.3).

Dessa forma, essa “nova” escola, nos dizeres de Zuin (2016), também denominada

Escola Ativa ou Escola Progressiva, trazia novos princípios que são descritos por Peres

(2002, p. 11-12):

na autonomia dos educandos, na atividade espontânea, no auto-governo, na

experiência pessoal da criança, na liberdade, na criatividade, na

individualidade e nos métodos ativos. A escola Ativa seria, então, a escola

da espontaneidade, da expressão criadora, da liberdade. (...) Todo o

formalismo da escola e todas as práticas que estivessem à margem da vida

deveriam ser banidas definitivamente dos meios educacionais (PERES,

2002, apud ZUIN 2016, p.3).

Page 35: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

35

Figueira (2010, p. 17) afirma que esse movimento, além de ser contrário ao

reducionismo intelectual por meio da memorização, criticava o Método Intuitivo por basear

suas atividades em práticas sensoriais rotineiras. Assim, “propunha uma escola mais livre e

formativa, centrada no desenvolvimento da experiência do aluno” (FIGUEIRA, 2010, p. 17).

Um dos principais representantes da Escola Nova foi John Dewey10

. Dewey

influenciou educadores de todo o mundo, incluindo brasileiros, com o método de ensino,

denominado por ele mesmo de experiência reflexiva, princípio unificador que auxiliaria os

educadores no ensino (FIGUEIRA, 2010). As duas principais obras de Dewey foram

publicadas no Brasil em 1930, com o título Como pensamos e, em 1936, Democracia e

Educação (FIGUEIRA, 2010, p. 17). Nessas publicações, o autor mostra que o pensamento

reflexivo se desenvolve através da curiosidade, isto é, através da possibilidade de estabelecer

novos contatos, buscando novos objetos. Instalam-se as situações-problemas que são as

apresentações de dificuldades que serão o incentivo para a busca de possíveis soluções a

serem experimentadas. Figueira (2010, p.18) notifica, ainda, que:

Nessas situações, a criança passa, por meio da observação direta dos sentidos

(percepção) ou de lembranças passadas de observações previamente feitas

por ela mesma ou por outra pessoa em outro momento (memória), a colher

fatos, isto é, dados (material a ser interpretado, considerado e explicado). A

posse destes dados lhe permite averiguar as condições nas quais se encontra

para, posteriormente, levantar sugestões sobre os cursos possíveis de ações

em busca de soluções. Para tanto, com os dados em mãos, passa, diante da

diversidade e da possível contradição que poderá existir entre os fatos e sua

relação com as sugestões, quando considerada a solução buscada, a escolher,

eliminar, ou conservar aqueles que sejam importantes como prova daquilo

que deseja alcançar, discernindo uns dos outros e atribuindo a eles valores e

juízos (FIGUEIRA, 2010, p. 17).

Percebemos, a partir daí, que o professor passa a exercer o papel de guia para o

aprendizado, oferecendo atividades que despertem o interesse do educando e, mais que isso, o

educando deve retirar algum significado para sua vida.

No Brasil, educadores da Escola Nova, dentre eles Anísio Teixeira, Fernando de

Azevedo e Lourenço Filho publicaram, em 1932, o Manifesto dos Pioneiros da Educação

Nova, motivados pela “esperança de democratizar e transformar a sociedade por meio da

escola pública, laica e pautada em um novo modelo pedagógico” (FIGUEIRA, 2010, p. 19).

Podemos extrair, logo das primeiras linhas desse manifesto, a preocupação dos educadores

10

John Dewey (1859-1952) foi filósofo e pedagogo norte americano.

Page 36: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

36

que o idealizaram com a devida valorização a ser dada à Educação pelos que governavam a

nação:

Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e

gravidade ao da educação. Nem mesmo os de caráter econômico lhe podem

disputar a primazia nos planos de reconstrução nacional. Pois, se a evolução

orgânica do sistema cultural de um país depende de suas condições

econômicas, é impossível desenvolver as forças econômicas ou de produção,

sem o preparo intensivo das forças culturais e o desenvolvimento das

aptidões à invenção e à iniciativa que são os fatores fundamentais do

acréscimo de riqueza de uma sociedade. (AZEVEDO et al.., 1984, p. 407).

O manifesto demonstra, de forma veemente, a função e obrigação do Estado em

oferecer uma Escola Pública de qualidade a todo cidadão quando relata:

Assentado o princípio do direito biológico de cada indivíduo à sua educação

integral, cabe evidentemente ao Estado a organização dos meios de o tornar

efetivo, por um plano geral de educação, de estrutura orgânica, que torne a

escola acessível, em todos os seus graus, aos cidadãos a quem a estrutura

social do país mantém em condições de inferioridade econômica para obter o

máximo de desenvolvimento de acordo com as suas aptidões vitais.

(AZEVEDO et al.., 1984, p. 413).

Chega-se, dessa forma, ao princípio da escola para todos, única, independente da

condição social do cidadão.

O manifesto conclama também a favor de uma escola laica, gratuita e obrigatória:

A laicidade, gratuidade, obrigatoriedade e coeducação são outros tantos

princípios em que assenta a escola unificada e que decorrem tanto da

subordinação à finalidade biológica da educação de todos os fins particulares

e parciais (de classes, grupos ou crenças), como do reconhecimento do

direito biológico que cada ser humano tem à educação. A laicidade, que

coloca o ambiente escolar acima de crenças e disputas religiosas, alheio a

todo o dogmatismo sectário, subtrai o educando, respeitando-lhe a

integridade da personalidade em formação, à pressão perturbadora da escola

quando utilizada como instrumento de propaganda de seitas e doutrinas. A

gratuidade extensiva a todas as instituições oficiais de educação é um

princípio igualitário que torna a educação, em qualquer de seus graus,

acessível não a uma minoria, por um privilégio econômico, mas a todos os

cidadãos que tenham vontade e estejam em condições de recebê-la. Aliás o

Estado não pode tornar o ensino obrigatório, sem torná-lo gratuito. A

obrigatoriedade que, por falta de escolas, ainda não passou do papel, nem em

relação ao ensino primário, e se deve estender progressivamente até uma

idade conciliável com o trabalho produtor, isto é, até aos 18 anos, é mais

necessária ainda "na sociedade moderna em que o industrialismo e o desejo

de exploração humana sacrificam e violentam a criança e o jovem", cuja

Page 37: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

37

educação é freqüentemente impedida ou mutilada pela ignorância dos pais

ou responsáveis e pelas contingências econômicas. (AZEVEDO et al.., 1984,

p. 413-414).

Realmente, na Escola Nova, o aluno passa a ser o centro de convergência das atenções

dos gestores governamentais e dos professores. Consequentemente, os manuais de ensino

baseados no Método Intuitivo são criticados como instrumentos de apoio, pois se pensava não

ser aconselhável ter uma prática pedagógica padrão, frente às necessidades diferenciadas de

aluno por aluno (FIGUEIRA, 2010).

Segundo Figueira (2010), a divulgação do movimento da Escola Nova e suas

características se deu através do aparecimento de literatura especializada, de autores

brasileiros e estrangeiros após a publicação das reformas educacionais.

Valdemarin (2008, p. 20) aponta que os princípios escolanovistas divulgados

priorizaram “o estabelecimento das novas bases teóricas, descrevendo as iniciativas

metodológicas delas decorrentes, não descrevendo modelos de como ensinar, mas

asseverando a diversidade de possibilidades já implementadas”. O cuidado com a leitura dos

professores foi, dessa forma, o modo escolhido pelos escolanovistas para a divulgação dos

novos princípios. Citamos, aqui, o grande educador brasileiro Lourenço Filho11

, que também

organizou a Biblioteca da Educação12

que foi fonte de publicação de:

Eminentes catedráticos ligados aos problemas básicos da educação e do

ensino estão presentes nesta Série que se destina, não só a professores e

estudantes, mas também a quantos se interessam pelos problemas

fundamentais da Educação (LOURENÇO FILHO, 1978, contracapa).

11

Manoel Bergström Lourenço Filho nasceu em 1897 e faleceu em 1970. Normalista pelas escolas normais de

Pirassununga e da Praça da República, formou-se também em Direito. Foi Diretor da Escola de Professores do

Distrito Federal e Diretor do INEP que, então, era denominado Instituto Nacional de Pedagogia. Publicou o livro

Introdução ao Estudo da Escola Nova que está entre as edições e tiragens de livros mais difundidos entre 1928 e

1979 (MONARCHA, 2010). 12

A Biblioteca da Educação foi uma coleção organizada por Lourenço Filho no período compreendido entre

1927 e 1940. No acervo existente no Centro de Referência para Pesquisa Histórica em Educação (Faculdade de

Ciências e Letras de Araraquara – UNESP) e também no acervo presente na Escola Estadual Dr. Álvaro Guião

(São Carlos – S.P.), podem ser encontradas vinte e nove obras publicadas por esta coleção. Foi um dispositivo

estratégico para a formação de professores nas décadas compreendidas entre 1927 e 1940 (OLIVEIRA, 2015, p.

18-19).

Page 38: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

38

Figura 5- Publicações da Biblioteca da Educação

Fonte: LOURENÇO FILHO (1978, contracapa).

Este mesmo educador escreveu a obra Introdução ao estudo da Escola Nova,

considerada uma das principais obras responsáveis pela divulgação de todas as correntes

renovadoras da educação. Este livro contou com várias edições, pois foi muito difundido no

período entre 1927 e 1979 e passou a ser uma referência acadêmica obrigatória, sobretudo nos

cursos de formação do Magistério e nas Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras.

(FIGUEIRA, 2010). Assim está escrito no Prólogo da Editora:

Este livro do Prof. Lourenço Filho foi pela primeira vez publicado no ano de

1929, pela Seção Editora da Companhia Melhoramentos de São Paulo, cuja

produção passou mais tarde a ser identificada com a rubrica “Edições

Melhoramento”. Embora constituísse volume de pequenas dimensões, estava

destinado a ter repercussão singular. De fato, em nosso país foi a primeira

obra pedagógica a despertar a atenção do grande público, como também a

primeira no gênero, de autor nacional, a circular em mais de uma versão no

estrangeiro (LOURENÇO FILHO, 1978, p. 9).

1.2.3 A Reforma Francisco Campos

Na década de 1920, o Brasil vivia uma crise generalizada, fruto de uma recessão

econômica que se desencadeou pelas baixas no preço do café, principalmente. Os

investimentos estrangeiros no país, após a Primeira Guerra Mundial, foram reduzidos.

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39

Simultaneamente, havia uma grave crise mundial. Dessa forma, até mesmo as elites da época

foram atingidas, vendo suas rendas reduzidas. Com essa insatisfação, instalou-se, em pouco

tempo, um risco à ordem vigente, pois havia a possibilidade de uma ruptura política que se

instaurou no momento em que o país se preparava para escolher o presidente no período de

1930 a 1934. Como candidatos, o paulista Júlio Prestes e o gaúcho Getúlio Vargas, pela

Aliança Liberal, apoiada pelo movimento tenentista13

. Com a vitória de Júlio Prestes, houve

denúncias de fraudes, desencadeando um processo revolucionário com o assassinato do vice

de Vargas, João Dantas. Dessa forma, o então presidente, Washington Luis, foi deposto e

assumiu, no dia 3 de fevereiro de 1930, Getúlio Vargas como chefe do Governo Provisório

(BRAICK, MOTA, 2007).

O então Governo Provisório instituiu o Ministério da Educação e da Saúde Pública

que já existira no início da República, porém, com curta duração. Na época, o primeiro

Ministro da Educação e Saúde Pública, Francisco Campos, instituiu seis decretos, efetivando

a chamada reforma que ficou conhecida como Reforma Francisco Campos:

Decreto n.o 19.850, de 11 de abril de 1931, que instituía o Conselho Nacional de

Educação.

Decreto n.o 19.851, de 11 de abril de 1931, que dispunha sobre a organização do

ensino superior no Brasil e abarca o regime universitário.

Decreto n.o 19.852, de 11 de abril de 1931, que dispõe sobre a organização da

Universidade do Rio de Janeiro.

Decreto n.o 19.890, de 18 de abril de 1931, que regulamentava a organização do

ensino secundário.

Decreto n.o 20.158, de 30 de junho de 1931, que organizava o ensino comercial,

fornece regulamentação à profissão de contador e fornece outras providências.

Decreto n.o 21.241, de 4 de abril de 1932, que consolidava as disposições sobre a

organização do Ensino Secundário.

Na exposição de motivos que acompanhou o último decreto, Francisco Campos

ressaltou o caráter inovador da proposta elaborada, deixando claro, no decreto número 21241,

os objetivos que realmente deveriam nortear os rumos da educação no Brasil:

13 Rebeliões de cunho político-militar realizadas por jovens oficiais do Exército Brasileiro. A série de rebeliões militares

deu-se no início da década de 20, quando jovens militares de baixa e média patente começaram a incitar reformas políticas

no Brasil (http://www.historiabrasileira.com/brasil-republica/tenentismo/).

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40

A finalidade exclusiva do ensino secundário não há de ser a matrícula nos

cursos superiores; o seu fim, pelo contrário, deve ser a formação do homem

para todos os grandes setores da atividade nacional, constituindo no seu

espírito todo um sistema de hábitos, atitudes e comportamento que o

habilitem a viver por si e tomar, em qualquer situação, as decisões mais

convenientes e mais seguras (BRASIL apud ROMANELLI, 1980, p. 135).

Romanelli (1980) afirma que:

[...] a Reforma Francisco Campos teve o mérito de dar organicidade ao

ensino secundário, estabelecendo definitivamente o currículo seriado, a

frequência obrigatória, dois ciclos, um fundamental e outro complementar, e

a exigência de habilitação neles para o ingresso no ensino superior. Além

disso, equiparou todos os colégios secundários oficiais ao Colégio Pedro II,

mediante a inspeção federal e deu a mesma oportunidade às escolas

particulares que se organizassem, segundo o decreto, e se submetessem à

mesma inspeção (ROMANELLI, 1980, p. 135).

Através da Reforma Francisco Campos, pelo seu artigo 1º, o ensino secundário

oficialmente reconhecido, seria ministrado no Colégio Pedro II e em estabelecimentos sob

regime de inspeção oficial. O ensino secundário ficou dividido em dois ciclos, sendo um

fundamental, de 5 anos, e o outro, complementar, de 2 anos. Pelo artigo 18º, era necessário o

exame de admissão para o candidato ingressar no secundário e, pelo artigo 19º, a idade mínica

era de 11 anos e, no caso do internato não poderia exceder a idade de 13 anos.

O ciclo fundamental ficou obrigatório para o ingresso em qualquer escola superior e, o

segundo ciclo, obrigatório em algumas escolas. Dessa forma, para esse ciclo complementar,

foi efetuada uma subdivisão que compreendia “um certo grau de especialização, conforme se

tratasse de curso preparatório para ingresso nas Faculdades de Direito, Ciências Médicas e

Engenharia”. (ROMANELLI, 1980, p. 135).

O artigo terceiro do Decreto 21.241 distribui as disciplinas do Curso Fundamental em

cinco anos de acordo com a seguinte seriação:

1ª série: Português - Francês - História da Civilização - Geografia -

Matemática - Ciências físicas e naturais - Desenho - Música (canto

orfeônico).

2ª série: Português - Francês - Inglês - Hitória da Civilização - Geografia -

Matemática - Ciências físicas e naturais - Desenho - Música (canto

orfeônico).

3ª série: Português - Francês - Inglês - História da Civilização - Geografia -

Matemática - Física - Química - História Natural - Desenho - Música (canto

orfeônico).

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41

4ª série: Português - Francês - Inglês - Latim - Alemão (facultativo) -

História da Civilização - Geografia - Matemática - Física - Química -

Historia Natural - Desenho.

5ª série: Português - Latim - Alemão (facultativo) - História da Civilização -

Geografia - Matemática - Física - Química - Historia Natural - Desenho.

(BRASIL, 1932).

Para o Curso Complementar, objetiva-se a preparação para as Faculdades de Direito,

Faculdades de Medicina, Odontologia e Farmácia e Faculdades de Engenharia e Arquitetura.

O artigo quarto, do referido decreto, estabelece:

O curso complementar obrigatório para os candidatos à matrícula em

determinados institutos de ensino superior, será feito em dois anos de estudo

intensivo, com exercícios e trabalhos práticos individuais, e compreenderá as

seguintes disciplinas: Alemão ou Inglês, Latim, Literatura, Geografia,

Geofísica e Cosmografia, História da Civilização, Matemática, Física,

Química, História Natural, Biologia Geral, Higiene, Psicologia e Lógica,

Sociologia, Noções de Economia e Estatística, História da Filosofia e

Desenho. (BRASIL, 1932).

Pode-se observar que o ciclo fundamental procurou fornecer uma formação básica

geral, enquanto, o complementar, buscou estruturar-se como um curso propedêutico

(ROMANELLI, 1980).

Quanto aos programas de Matemática e suas instruções pedagógicas, a Reforma

Campos, através de Euclides Roxo, implementa as inovações que vinham sendo realizadas de

forma paulatina no Colégio Pedro II, a partir de 1929, por iniciativa do próprio Roxo. As

instruções pedagógicas apresentavam como pontos-chave a aplicação do método heurístico, as

junções entre os pontos de vista aritmético, algébrico e geométrico, a inter-relação da

Matemática com outras disciplinas, tendo a noção de função como ideia central do ensino

(ALVAREZ, 2004, p. 30).

As orientações metodológicas da Reforma Francisco Campos para a disciplina

Matemática, segundo Alvarez (2004, p. 120):

frisavam o uso da intuição, principalmente nas séries iniciais, primeira e

segunda. A exposição formal seria introduzida gradativamente. A princípio,

os conhecimentos deveriam ser adquiridos pela experimentação e percepção

sensorial. O estudo da geometria deveria ser precedido por um curso

propedêutico de caráter intuitivo e experimental...

O método heurístico, também orientado pela reforma, destacava que o próprio aluno

fosse capaz de enunciar as regras e propriedades dos conceitos em estudo e isso seria possível

Page 42: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

42

a partir da resolução de problemas pelo aluno. Esse método foi caracterizado na reforma da

seguinte maneira:

O ensino se fará, assim, pela solicitação constante da atividade do aluno

(método heurístico), de quem se procurará fazer um descobridor e não um

receptor passivo de conhecimentos. Daí a necessidade de se renunciar

completamente à prática de memorização sem raciocínio, ao enunciado

abusivo de definições e regras e ao estudo sistemático das demonstrações já

feitas. Ao invés disso, deve a matéria ser levada ao conhecimento do aluno

por meio da resolução de problemas e de questionários intimamente

coordenados. Assim os problemas não se devem limitar a exercícios dos

assuntos ensinados, mas cumpre sejam propostos como processo de orientar

a pesquisa de teoremas e de desenvolver a presteza na conclusão lógica.

(BICUDO, 1942, p. 157 apud ALVAREZ, 2004, p. 17).

A reforma propõe, então, que o conteúdo deve ser ensinado de forma que o ponto de

partida seja a intuição e o professor deveria conduzir as atividades de modo que o aluno

conseguisse, se possível, descobrir, por si só, as verdades matemáticas, deixando de ser um

mero receptor passivo de conhecimentos.

Os programas de Matemática, para o curso fundamental, implantados pela Reforma

Francisco Campos foram assim estabelecidos14

:

Primeira Série

Iniciação geométrica

Principais noções sobre formas geométricas; Área do quadrado, retângulo, paralelogramo,

triângulo e trapézio; circunferência e área do circulo; Volumes do paralelepípedo retângulo, do

cubo, do prisma triangular, do cilindro e do cone circular (retos). Fórmulas;

Aritmética

Prática das operações fundamentais. Cálculo abreviado. Exercício de cálculo mental; Noção

de múltiplo e de divisor. Caracteres de divisibilidade; Decomposição em fatores primos;

aplicação ao m. d. c. e ao m. m. c.; Frações ordinárias e decimais. Operações com as frações.

Explicação objetiva pelo fracionamento de objetos ou de grandezas geométricas; Sistema

métrico decimal. Prática das medidas de comprimento, superfície, volume e peso; Sistema

inglês de pesos e medidas; Quadrado e raiz quadrada de números inteiros e decimais;

aproximação no cálculo da raiz; Traçado de gráficos.

Álgebra

Símbolos algébricos; fórmulas; noção de expoente; Números relativos ou qualificados.

Operações. Explicação objetiva das regras dos sinais; Cálculo do valor numérico de monômios

e polinômios. Redução de termos semelhantes; adição e subtração; Multiplicação de

monômios e polinômios, em casos simples. Explicação objetiva pela consideração de áreas;

Potências de monômios. Quadrado de um binômio; Primeira noção de equação com uma

incógnita; resolução de problemas numéricos simples.

Segunda Série

Iniciação geométrica

14

Dassie (2008)

Page 43: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

43

Noção de ângulo e de rotação; ângulos adjacentes, complementares, suplementares, opostos

pelo vértice; Medida dos ângulos. Uso do transferidor; Paralelas e perpendiculares; problemas

gráficos sobre seu traçado; Triângulos: alturas, medianas, e bissetrizes; soma dos ângulos

internos e externos; Estudo sucinto dos quadriláteros; Noções sobre figuras semelhantes;

escala; Medida indireta das distâncias; Razões entre lados de um triângulo retângulo. Seno,

coseno e tangente de ângulo agudo. Uso de tabelas de senos, co-senos e tangentes

naturais.

Aritmética e Álgebra

Noção de função de uma variável independente. Representação gráfica; Estudo das funções

𝑦 = 𝑎𝑥 e 𝑦 = 𝑎/𝑥; exemplos; Proporções e suas principais propriedades; Resolução de

problemas sobre grandezas proporcionais. Porcentagens, juros, desconto (comercial), divisão

proporcional, câmbio; Equações do 1º grau com uma incógnita. Problemas. Interpretação das

soluções negativas; Sistemas de equações do 1º grau com duas incógnitas. Problemas;

Representação gráfica da função linear de uma variável. Resolução gráfica de um sistema de

duas equações com duas incógnitas; Divisão algébrica. Expoente zero. Expoente negativo;

Decomposição em fatores; Frações algébricas. Simplificações.

Terceira Série

Aritmética e Álgebra

Equações e problemas de 1º grau com uma ou mais incógnitas.; Desigualdade do 1º grau;

Potências e raízes; Estudo das funções 𝑦 = 𝑥𝑚, 𝑦 = 1/𝑥𝑚 e 𝑦 = √𝑥; representação gráfica;

Cálculo dos radicais. Expoentes fracionários; Trinômio do 2º grau; Equação do 2º grau.

Resolução gráfica; resolução analítica. Discussão: propriedades das raízes; Desigualdades do

2º grau.

Geometria

Conjunto de proposições fundamentais que servem de base à Geometria dedutiva. Noções

sobre deslocamentos elementares no plano; translação e rotação de figuras. Simetria; Estudo

de triângulos; Estudo dos polígonos; soma dos ângulos internos e externos; Noção e

exemplares de lugar geométrico; Círculo; propriedades dos arcos e cordas. Tangente e normal;

Medidas dos ângulos; Linhas proporcionais; linhas proporcionais no triângulo; Semelhança;

homotetia; Relações métricas no triangulo; Relações métricas no círculo. Média proporcional.

Quarta Série

Aritmética e Álgebra

Equações biquadradas e equações irracionais; Problemas do 2º grau; discussão; Progressão

aritmética. Propriedades. Interpolação; Progressão geométrica. Propriedades. Interpolação;

Estudo da função exponencial; Logaritmos; propriedades. Uso das tábuas; Régua

logarítmica; Juros compostos; unidades.

Geometria; Polígonos regulares; relação métrica nos polígonos regulares; Medida da

circunferência; cálculo de pi (método dos perímetros); Áreas equivalentes; relação entre áreas

de figuras semelhantes; Retas e planos no espaço; Ângulos poliedros. Triedros suplementares;

Prisma e pirâmides; Cilindro e cone; Esfera. Seções planas. Pólos; plano tangente; cone e

cilindro circunscritos; Noção sobre geração e classificação das superfícies; superfícies

regradas, de revolução, desenvolvíveis. As funções circulares; relações entre essas funções.

Gráficos; Expressões da tangente, cotangente, secante e co-secante em função do seno e co-

seno e tangente da soma de dois ângulos, do dobro de um ângulo, da metade de um ângulo.

Quinta Série

Aritmética, Álgebra e Geometria

Resolução de triângulos retângulos, prática das tábuas de logaritmos; Casos simples de

resolução de triângulos obliquângulos; Noções de análise combinatória; Binômio de Newton

(caso de expoente inteiro e positivo); Derivada de um polinômio inteiro em x; Noção de

limite. Derivada de √𝑥 . Derivada de seno de x, co-seno de x, tangente de x e cotangente de x;

Page 44: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

44

Interpretação geométrica da noção de derivada. Aplicação da noção de derivada ao estudo da

variação de algumas funções simples; Processos elementares de desenvolvimento em série;

convergência de uma série; Desenvolvimento em série do seno, co-seno e tangente; Problema

inverso da derivação. Primitivas imediatas. Aplicação ao cálculo de certas áreas; Volumes do

prisma e do cilindro; da pirâmide, do cone e dos respectivos troncos. Volume da esfera e suas

partes; Estudo sucinto das seções cônicas. (BRASIL apud DASSIE, 2008, p. 248).

Verifica-se que, o estudo da função exponencial ficou localizado no programa da

quarta série.

1.2.4 A Reforma Capanema

A 9 de abril de 1942, por iniciativa do então ministro de Getúlio Vargas, Gustavo

Capanema, era promulgada a denominada Lei Orgânica do Ensino Secundário, mediante o

Decreto-lei n. 4244 . Na exposição de motivos, Gustavo Capanema assim se pronunciou:

É que o ensino secundário se destina à preparação das individualidades

condutoras, isto é, dos homens que deverão assumir as responsabilidades

maiores dentro da sociedade e da nação, dos homens portadores das

concepções e atitudes espirituais que é preciso infundir nas massas, que é

preciso tornar habituais entre o povo. Ele deve ser, por isto, um ensino

patriótico por excelência, e patriótico no sentido mais alto da palavra, isto é,

um ensino capaz de dar aos adolescentes a compreensão da continuidade

histórica da pátria, a compreensão dos problemas e das necessidades, da

missão e dos ideais da nação, e bem assim dos perigos que a acompanhem,

cerquem ou ameacem, um ensino capaz, além disto, de criar, no espírito das

gerações novas, a consciência da responsabilidade diante dos valores

maiores da pátria, a sua independência, a sua ordem, o seu destino.

(BRASIL, 1942).

Pelo artigo 5º do decreto-lei, determinava-se dois tipos de estabelecimentos de ensino

secundário, o ginásio e o colégio e, pelo parágrafo 2º, o ensino secundário passaria a ser

ministrado em dois ciclos – o primeiro compreenderia um só curso: o curso ginasial,

enquanto, o segundo, dois cursos paralelos: clássico e científico. Para Romanelli (1980), estes

dois últimos cursos não apresentavam, pelo currículo, nenhum caráter de especialização. Na

exposição de motivos do referido decreto, destacamos os seguintes dizeres:

Quanto aos dois cursos do segundo ciclo, o clássico e o científico, é de notar

que não constituem dois rumos diferentes da vida escolar, não são cursos

especializados, cada qual com uma finalidade adequada a determinado setor

dos estudos superiores. A diferença que há entre eles é que, no primeiro, a

formação intelectual dos alunos é marcada por um acentuado estudo das

letras antigas, ao passo que, no segundo, a maior acentuação cultural é

proveniente do estudo das ciências. Entretanto a conclusão tanto de um

quanto de outro dará direito ao ingresso em qualquer modalidade de curso do

ensino superior (Exposição de Motivos) (BRASIL, 1942, p. 3).

Page 45: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

45

Para o ginásio, as disciplinas ficaram assim distribuídas (Art. 22):

Primeira série: 1) Português. 2) Latim. 3) Francês. 4) Matemática. 5)

História geral. 6) Geografia geral. 7) Trabalhos manuais. 8) Desenho. 9)

Canto orfeônico.

Segunda série: 1) Português. 2) Latim. 3) Francês. 4) Inglês. 5) Matemática.

6) História geral. 7) Geografia geral. 8) Trabalhos manuais. 9) Desenho. 10)

Canto orfeônico.

Terceira série: 1) Português. 2) Latim. 3) Francês. 4) Inglês. 5) Matemática.

6) Ciências naturais. 7) História do Brasil. 8) Geografia do Brasil. 9)

Desenho. 10) Canto orfeônico.

Quarta série: 1) Português. 2) Latim. 3) Francês. 4) Inglês. 5) Matemática. 6)

Ciências naturais. 7) História do Brasil. 8) Geografia do Brasil 9) Desenho.

10) Canto orfeônico. (BRASIL, 1942).

Para o curso clássico:

Primeira série : 1) Português. 2) Latim. 3) Grego. 4) Francês ou inglês 5)

Espanhol. 6) Matemática. 7) História geral. 8) Geografia geral.

Segunda série: 1) Português. 2) Latim. 3) Grego. 4) Francês ou inglês 5)

Espanhol. 6) Matemática. 7) Física. 8) Química. 9) História geral. 10)

Geografia geral.

Terceira série: 1) Português. 2) Latim. 3) Grego. 4) Matemática. 5) Física. 6)

Química. 7) Biologia. 8) História do Brasil. 9) Geografia do Brasil. 10)

Filosofia (BRASIL, 1942).

Para o curso científico:

Primeira série: 1) Português. 2) Francês. 3) Inglês. 4) Espanhol. 5)

Matemática. 6) Física. 7) Química. 8) História geral. 9) Geografia geral

Segunda série: 1) Português. 2) Francês. 3) Inglês. 4) Matemática. 5) Física.

6) Química. 7) Biologia. 8) História geral. 9) Geografia geral 10) Desenho.

Terceira série: 1) Português. 2) Matemática. 3) Física. 4) Química. 5)

Biologia. 6) História do Brasil. 7) Geografia do Brasil. 8) Filosofia. 9)

Desenho (BRASIL, 1942).

Com relação à Reforma Capanema, era evidente o caráter de cultura geral e

humanística dos currículos, mesmo no curso científico. Nos dizeres de Romanelli (1980, p.

158) “sobressaíam, nos dois níveis, uma preocupação excessivamente ideológica e ausência

de distinção substancial entre os dois cursos: o clássico e o científico”. Esta autora continua

comentando que “esse ensino não diversificado só tinha, na verdade, um objetivo: preparar

para o ingresso no ensino superior. Em função disso só podia existir como educação de

classe.” (ROMANELLI, 1980, p. 158).

Page 46: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

46

Em abril de 1942, foi instituída uma comissão para a elaboração dos programas de

Matemática do curso ginasial. Essa mesma comissão organizou também os programas de

Matemática para os cursos clássico e científico (DASSIE, 2008).

1.2.4.1 Programas de Matemática para os Cursos Clássicos

De acordo com a Portaria Ministerial n. 177, de 16 de março de 1943.

Primeira série

Aritmética Teórica

Unidade I: A divisibilidade numérica: 1- Teoremas gerais sobre divisibilidade. 2- Caracteres

de divisibilidade. 3- Teorias do m.m.c. e do m.d.c. 4- Teoria dos números primos; aplicações.

Álgebra

Unidade II. Os polinômios: 1- Operações algébricas sobre polinômios. 2 - Teoria da divisão de

polinômios. 3 - Divisão de um polinômio inteiro em x por x a regra e dispositivo prático de

Briot-Ruffini.

Unidade III. O trinômio do 2º grau: 1 - Decomposição em fatores do 1º grau; sinais do

trinômio; desigualdades do 2º grau. 2 - Noção de variável e de função; variação do trinômio do

2º grau; representação gráfica.

Geometria

Unidade IV. O plano e a reta no espaço: 1 - Determinação de um plano. 2 - Intersecção de

planos e retas. 3 - Paralelismo de retas e planos. 4 - Reta e plano perpendiculares. 5 -

Perpendiculares e oblíquas de um ponto a um plano. 6 - Diedros; planos perpendiculares entre

si. 7 - Noções sobre ângulos poliédricos.

Unidade V. Os poliedros: 1 - Noções gerais. 2 - Estudo dos prismas e pirâmides e respectivos

troncos; área desses sólidos.

Unidade VI. Os corpos redondos: 1 - Noções sobre geração e classificação das superfícies. 2 -

Estudo do cilindro e do cone; áreas desses sólidos. 3 - Estudo da esfera; área da esfera, da zona

e do fuso esféricos.

Segunda série

Álgebra

Unidade I. Progressões e logaritmos: 1 - Estudo das progressões aritméticas e geométricas. 2 -

Teoria dos logaritmos; uso das táboas; aplicações. 3 - Resolução de algumas equações

exponenciais simples.

Trigonometria

Unidade II. Vetor: 1 - Grandezas escalares e vetoriais. 2 – Noção de vetor; equipolência. 3 -

Resultante ou soma geométrica de vetores. 4 - Vetores deslizantes sobre um eixo; medida

algébrica; teorema de Chasles.

Unidade III. Projeções: 1 - Projeção ortogonal de um vetor sobre um eixo. 2 - Teorema de

Carnot. 3 - Valor da projeção de um vetor.

Unidade IV. Funções circulares: 1 - Generalização das noções de arco e de ângulo; arcos

côngruos; arcos de mesma origem e extremidades associadas. 2 - Funções circulares ou

trigonométricas: definições, variação, redução ao primeiro quadrante. 3 - Relações entre as

funções circulares de um mesmo arco. 4 - Cálculo das funções circulares dos arcos de 30º, 45º

e 60º.

Page 47: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

47

Unidade V. Resolução de triângulos: 1 - Relações entre os elementos de um triângulo. 2 - Uso

das táboas trigonométricas. 3 - Resolução de triângulos retângulos.

Terceira Série

Álgebra

Unidade I. Funções: 1 - Noção de função de variável real. 2 - Representação cartesiana. 3 -

Noção de limite e de continuidade.

Unidade II. Derivadas: 1 – Definição; interpretação geométrica e cinemática. 2 - Cálculo das

derivadas. 3 - Derivação das funções elementares. 4 - Aplicação à determinação dos máximos

e mínimos e ao estudo da variação de algumas funções simples.

Unidade III – Primitivas: 1 - Definição; interpretação geométrica. 2 - Primitivação e

integração imediata; noção de integral definida. 3 - Aplicação ao cálculo de certas áreas e dos

volumes da pirâmide, do cone e da esfera. 4 - Problemas sobre o cálculo dos volumes.

Geometria

Unidade IV. Curvas usuais: 1 - Definição e propriedades fundamentais da elipse, da hipérbole

e da parábola. 2 - As secções cônicas. 3 - Definição e propriedades fundamentais da hélice

cilíndrica.

Geometria Analítica

Unidade V. Noções fundamentais: 1 - Concepção de Descartes. 2 - Coordenadas; abcissa

sobre a reta; coordenadas retilíneas no plano. 3 - Distância de dois pontos; ponto que divide

um segmento numa razão dada. 4 - Determinação de uma direção; ângulo de duas direções.

Unidade VI - Lugares geométricos: 1 - Equação natural de um lugar geométrico; sua

interpretação. 2 - Passagem da equação natural para a equação retilínea retangular. 3 -

Equação da reta. 4 - Equação do círculo. 5 - Equações reduzidas da elipse, da hipérbole e da

parábola. (BRASIL, 1943).

Neste programa, como pode ser constatado, comparece apenas, para o ensino de

Álgebra na segunda série, a resolução de algumas equações exponenciais simples.

1.2.4.2 Programas de Matemática para os Cursos Científicos

Também de acordo com a Portaria Ministerial n. 177, de 16 de março de 1943, os

programas para os cursos científicos deveriam seguir:

Primeira Série

Aritmética Teórica

Unidade I - As operações aritméticas fundamentais: 1 - Teoria da adição, da subtração, da

multiplicação e da divisão, da potenciação e da radiciação de inteiros. 2 - Sistemas de

numeração.

Unidade II - A divisibilidade numérica: 1 - Teoremas gerais sobre divisibilidade. 2 -

Caracteres de divisibilidade. 3 - Teorias do m.d.c. e do m.m.c. 4 - Teoria dos números primos;

aplicações.

Unidade III - Os números fracionários: 1 - Teoria das operações aritméticas sobre números

fracionários. 2 - Noções sobre cálculo numérico aproximado. Erros. Operações abreviadas.

Álgebra

Unidade IV - Os polinômios: 1 - Operações algébricas sobre polinômios. 2 - Teoria da divisão

de polinômios. 3 - Identidade de polinômios; método dos coeficientes a determinar;

Page 48: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

48

identidades clássicas. 4 - Divisão de um polinômio inteiro em x por x ± a; regra e dispositivo

de Briot-Ruffini.

Unidade V - O trinômio do 2º grau: 1 - Decomposição em fatores do 1º grau; sinais do

trinômio; inequações do 2º grau. 2 - Noção de variável e de função; variação do trinômio do 2º

grau; representação gráfica. 3 - Noções elementares sobre continuidade e sobre máximos e

mínimos.

Geometria

Unidade VI - O plano e a reta no espaço: 1 - Determinação de um plano. 2 - Intersecção de

planos e retas. 3 - Paralelismo de retas e planos. 4 - Reta e plano perpendiculares. 5 -

Perpendiculares e oblíquas de um ponto a um plano. 6 - Diedros; planos perpendiculares entre

si. 7 - Ângulos poliédricos; estudo especial dos triedros.

Unidade VII - Os poliedros: 1 - Noções gerais. 2 - Estudo dos prismas e pirâmides e

respectivos troncos; áreas desses sólidos; Teorema de Euler; noções sobre os poliedros

regulares.

Unidade VIII - Os corpos redondos: 1. Noções sobre geração e classificação das superfícies. 2.

Estudo do cilindro e do cone; áreas desses sólidos. 3. Estudo da esfera; área da esfera, da zona

e do fuso esféricos.

Segunda Série

Álgebra

Unidade I - A função exponencial: 1 - Estudo das progressões aritméticas e geométricas. 2 -

Noção de função exponencial e de sua função inversa. 3 - Teoria dos logaritmos;

aplicações. 4 - Resolução de algumas equações exponenciais.

Unidade II - O binômio de Newton: 1 - Noções sobre análise combinatória. 2 - Binômio de

Newton.

Unidade III - Determinantes: 1 - Teoria dos determinantes. 2 - Aplicação aos sistemas de

equações lineares; regras de Crammer; teorema de Rouché.

Unidade IV - Frações contínuas: 1. Noções sobre frações contínuas. 2. Aplicação à análise

indeterminada do 1º grau.

Trigonometria

Unidade V - Funções circulares: 1 - Generalização das noções de arco e de ângulo; arcos

côngruos; arcos de mesma origem e extremidades associadas. 2 - Funções circulares ou

trigonométricas: definições, variação, redução ao primeiro quadrante. 3 - Relações entre as

funções circulares de um mesmo arco. 4 - Cálculo das funções circulares dos arcos / n.

Unidade VI - Transformações trigonométricas: 1 - Fórmulas de adição, subtração,

multiplicação e divisão de arcos: aplicações. 2 - Transformação de somas em produtos;

aplicação ao cálculo numérico. 3 - Uso de tábuas trigonométricas.

Unidade VII - Equações trigonométricas: Resolução e discussão de algumas equações

trigonométricas simples.

Unidade VIII - Resolução de triângulos: 1 - Relações entre os elementos de um triângulo. 2 –

Resolução de triângulos retângulos. 3 - Resolução de triângulos obliquângulos. 4 - Aplicações

imediatas à Topografia.

Álgebra vetorial

Unidade IX - Vetor: 1 - Grandezas escalares e vetoriais. 2 – Noção de vetor; equipolência. 3 –

Resultante ou soma geométrica de vetores livres. 4 – Decomposição de um Vetor segundo

dois ou três eixos. 5. Vetores deslizantes sobre um eixo; medida algébrica; teorema de chasles.

Unidade X - Projeções: 1 - Projeção ortogonal de um vetor sobre um eixo paralelamente a um

plano; projeção de vetores livres. 2 - Teorema de Carnot. 3 – Projeção de vetores deslizantes

4 – Orientação do plano; orientação de dois eixos; valor da projeção de um vetor deslizante.

Unidade XI - Multiplicação de vetores: 1. Produto escalar; definição; propriedades. 2– Produto

vetorial; definição; propriedades. 3 – Produto mixto; definição; propriedades.

Terceira Série

Geometria

Page 49: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

49

Unidade I - Relações métricas: 1 - Teorema de Stewart e suas aplicações ao cálculo das linhas

notáveis no triângulo. 2 - Relações métricas nos quadriláteros; teorema de Ptolomeu ou

Hiparco. 3 - Potência de um ponto; eixos radicais; planos radicais.

Unidade II - Transformação de figuras: 1 - Deslocamentos, translação, rotação, simetria. 2 -

Homotetia e semelhança nos espaços de duas e de três dimensões. 3 - Inversão pelos raios

vetores recíprocos.

Unidade III - Curvas usuais: 1 - Definição e propriedades fundamentais da elipse, da hipérbole

e da parábola. 2 - As secções cônicas. 3 – Definição e propriedades fundamentais da hélice

cilíndrica.

Álgebra

Unidade IV - Séries: 1 – Sucessões. 2 - Cálculo aritmético dos limites. 3 - Séries numéricas. 4

- Principais caracteres de convergência.

Unidade V - Funções: 1 - Função de uma variável real. 2 - Representação cartesiana. 3 -

Continuidade; pontos de descontinuidade; descontinuidade de uma função racional.

Unidade VI - Derivadas: 1 - Definição; interpretação geométrica e cinemática. 2 - Cálculo das

derivadas. 3 – Aplicação às funções elementares. 4 - Aplicação à determinação dos máximos e

mínimos e ao estudo da variação de algumas funções simples.

Unidade VII – Primitivas: 1. Definição; interpretação geométrica. 2. Primitivação e integração

imediata; noção de integral definida. 3. Aplicação ao cálculo de certas áreas e dos volumes da

pirâmide, do cone e da esfera. 4. Problemas sobre o cálculo dos volumes.

Unidade VIII - Números complexos: 1 - Definição; operações fundamentais. 2 -Representação

trigonométrica e exponencial.3 - Aplicação às operações vetoriais no plano e à representação

geométrica das potências racionais da unidade. 4. Aplicação à resolução das equações

trinômicas.

Unidade IX - Equações algébricas: 1 - Propriedades gerais dos polinômios. 2 - Relações entre

os coeficientes e as raízes de uma equação algébrica; aplicação à composição das equações. 3 -

Noções sobre transformações das equações; equações recíprocas.

Geometria Analítica

Unidade X - Noções fundamentais: 1 - Concepção de Descartes. 2 - Coordenadas; abscissa

sobre a reta; coordenadas retilíneas no plano. 3 - Distância entre dois pontos; ponto que divide

um segmento numa razão dada. 4 - Determinação de uma direção; ângulo de duas direções.

Unidade XI - Lugares geométricos: 1 - Equação natural de um lugar geométrico; sua

interpretação. 2 - Passagem da equação natural para a equação retilínea retangular. 3 -

Equações reduzidas da elipse, da hipérbole e da parábola.

Unidade XII - A reta: 1. Teoria da reta no plano (eixos retangulares). 2. Problemas sobre a

reta.

Unidade XIII - O círculo: 1. Teoria do círculo no plano (eixos retangulares). 2. Problemas

sobre o círculo.

Unidade XIV - Espaço de três dimensões: 1. Coordenadas retilíneas retangulares no espaço de

três dimensões. 2. Determinação de uma direção. 3. Distância entre dois pontos. 4. Equações

do plano (coordenadas retangulares). 5. Equações da reta (coordenadas retangulares).

(BRASIL, 1943).

Já, para o científico, para a segunda série, o ensino de Álgebra contemplava o

conteúdo função exponencial, incluindo também a noção de função exponencial e de sua

função inversa e a resolução de algumas equações exponenciais.

Page 50: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

50

1.2.5 Programa Mínimo

O denominado Programa Mínimo foi instituído através de duas portarias no ano de

1951. A primeira delas foi a Portaria n.o 966 de 2 de outubro de 1951 e a segunda, Portaria n.

o

1.054 de 14 de dezembro de 1951. Essas portarias foram o resultado de uma revisão dos

programas do Ensino Secundário feita por uma comissão, criada no início de 1951, mais

precisamente em 27 de fevereiro, data esta da Portaria n.o 456 que forneceu legalidade a essa

comissão, constituída por quatro membros: um professor da Faculdade Nacional de Filosofia,

um professor do Colégio Pedro II, um professor do Instituto de Educação de Distrito Federal e

um professor do Sindicato dos professores das escolas particulares (OLIVEIRA FILHO,

2013, p. 83). Foram publicados os Programas Mínimos de todas as disciplinas e as respectivas

instruções metodológicas.

Nessa época, era Ministro da Saúde e Educação Simões Filho que na Portaria 966 faz

referência à Portaria n.o 614, de 10 de maio de 1951, que dá a incumbência à Congregação do

Colégio Pedro II de elaborar os programas das diversas disciplinas do curso secundário.

Transcrevem-se aqui os parágrafos 1.o e 2.

o da Portaria n.

o 966:

Art. 1.

o Ficam aprovados os programas que a esta acompanham, para o

ensino de Português, Francês, Inglês, Latim, Grego, Espanhol, Geografia

Geral e do Brasil, Matemática, Ciências Físicas e Naturais, Desenho, Física,

Química, História Natural, Filosofia, História Geral e do Brasil, Economia

Doméstica e Trabalhos Manuais no ensino secundário.

Art. 2.o Os programas aprovados pela presente portaria serão adotados por

todos os estabelecimentos de ensino secundário do país e entrarão em vigor

progressivamente, a começar do ano vindouro, pela primeira série ginasial e

colegial (BRASIL, 1951).

O Ministro da Educação e Saúde, Simões Filho, assim se pronunciou em uma

entrevista coletiva à imprensa:

A necessidade, por um lado, de aliviar os deveres escolares que

congestionam os atuais programas do Ensino Secundário, e, de outro,

atribuir maior elasticidade e rendimento à sua execução, tantas vezes

reclamada, quer pelos educadores, quer por alunos e seus pais, levou o

Ministério da Educação a estudar a conveniência de proceder a uma revisão

da matéria neles contida, de modo a possibilitar o desenvolvimento racional

de suas finalidades educativas (Ensino Secundário no Brasil. INEP, 1952, p.

515 apud MARQUES, 2005, p. 52).

Marques (2005), em seu trabalho, afirma que os anos 1950 foram marcados por um

aumento do número de estudantes no ensino secundário. Os conteúdos das disciplinas eram

demasiados, trazendo dificuldades no seu cumprimento. A simplificação dos programas seria

Page 51: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

51

uma tentativa de minimizar esse problema. Essa alternativa adotada foi justificada pelo

próprio Ministro Simões Filho ao dizer:

O objetivo fundamental deste trabalho consistiu, pois, em eliminar dos

programas atualmente em vigor, os excessos aludidos, reduzindo a

prolixidade dos conhecimentos alinhados na estruturação de diversas

disciplinas, que tornava penosa a tarefa didática. Ao mesmo tempo,

verificava-se o flagrante desajustamento desses programas com o nível de

assimilação da população escolar, cujas faculdades intelectuais, ainda mal

desabrochadas, não a habilitavam a abranger a enorme soma de deveres e

atividades de aprendizagem oferecidas ao seu conhecimento (Ensino

Secundário no Brasil. INEP, 1952, p.515, apud MARQUES, 2005, p.52).

Pode-se dizer, após leitura da justificativa colocada, que houve uma preocupação em

se reduzir os conteúdos até então ministrados. Dessa forma, o termo Programa Mínimo

refere-se àquele que seria trabalhado por todas as instituições escolares e teriam, assim,

condições de executá-lo. Por outro lado, o artigo 4º da Portaria 966 revela outro objetivo do

programa mínimo:

Os programas das diversas disciplinas do curso secundário serão cumpridos

no Colégio Pedro II e nos demais estabelecimentos de ensino secundário do

país com desenvolvimento adequado às diversas regiões, tendo-se sempre

em vista as conveniências didáticas.

A interpretação que pode ser dada a esse artigo é que houve a possibilidade de serem

elaborados planos de desenvolvimento desse programa mínimo de acordo com as

especificidades de cada região.

Durante a vigência do programa mínimo, o 2º ciclo do ensino secundário continuou a

ser chamado de Clássico e Científico, tendo perdurado no sistema educacional brasileiro até

1961, ano da LDB 4.024/61.

1.2.6. Programas de Matemática adotados no Colegial (Programa Mínimo)15

Para a primeira e a segunda séries do Colegial, eram especificados determinados

conteúdos para o ensino da Matemática.

Primeira Série

Noções sobre o cálculo aritmético aproximado; erros.

Progressões

Logaritmos.

15

Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/diarios/2825451/pg-19-secao-1-diario-oficial-dauniao-

dou-de-26-11-1951/pdfView. Acesso em 10/04/2017.

Page 52: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

52

Retas e planos; superfícies e poliedros em geral; corpos redondos usuais; definições e

propriedades; áreas e volumes.

Seções cônicas; definições e propriedades fundamentais.

Segunda Série

Análise combinatória simples.

Binômio de Newton.

Determinantes; sistemas lineares.

Noções sobre vetores; projeções; arcos e ângulos; linhas e relações trigonométricas.

Transformações trigonométricas em geral; equações trigonométricas simples.

Resolução trigonométrica de triângulos.

Terceira Série

Conceito de função; representação cartesiana; reta e círculo; noção intuitiva de limite

e continuidade.

Noções sobre derivadas e primitivas; interpretações; aplicações.

Introdução à teoria das equações; polinômios, propriedades, divisibilidade por x ± a;

problemas de composição, transformação e pesquisa de raízes; equações de tipos

especiais.

O conteúdo função exponencial não consta no programa mínimo. As equações

exponenciais são tratadas na unidade referente a logaritmos (figura 6).

Page 53: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

53

Figura 6- Programas de Matemática do primeiro ano clássico e científico

Fonte: Bezerra (1955).

1.2.7 Lei n. 4024 e Lei n. 5692

A primeira lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira surgiu em 1961e recebeu o

número 4024. As principais mudanças decorrentes dessa lei foram a possibilidade de acesso

ao nível superior para alunos egressos do ensino técnico e a criação do Conselho Federal de

Educação e dos Conselhos Estaduais. Porém, a estrutura tradicional do ensino foi mantida e o

sistema continuou a ser organizado segundo a legislação anterior e ficou da seguinte forma:

1. Ensino pré-primário, composto de escolas maternais e jardins de infância;

2. Ensino primário de 4 anos, com chance de ser acrescido de 2 anos mais, com

programa de artes aplicadas;

3. Ensino médio, subdividido em dois ciclos: o ginasial de 4 anos e o colegial de 3 anos,

ambos por sua vez compreendendo o ensino secundário e o ensino técnico;

4. Ensino superior.

Page 54: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

54

A Lei 4024 apresentou como vantagem a não prescrição de um currículo fixo e rígido

para todo o território nacional, em cada ramo e nível. Para a quebra de rigidez e a

descentralização foi um progresso, pois houve a “possibilidade de os Estados e os

estabelecimentos anexarem disciplinas optativas ao currículo mínimo estabelecido pelo

Conselho Federal de Educação foi, sem dúvida, um progresso em matéria de legislação”

(ROMANELLI, 1980, p. 181).

A lei 5692 é de 11 de agosto de 1971 e fixou o objetivo geral da educação no nível

básico. Dentre as mudanças introduzidas pela lei, salienta-se a obrigatoriedade escolar para

oito anos, isto é, faixa etária que vai dos 7 aos 14 anos. Fez-se a junção do curso primário e do

curso ginasial em um só curso fundamental de oito anos. Houve a mudança da nomenclatura e

da periodização dos graus de ensino, de 1ª a 8ª séries, primeiro grau e o ensino médio passou

a se denominar 2º grau, cursado em três anos. Houve a eliminação do dualismo existente entre

escola secundária e escola técnica, pela criação de uma escola única de 1o e 2

o graus. Dessa

forma, a estrutura passou a ser a seguinte:

Ensino de 1o grau: com 8 anos de duração e uma carga horária de 720 horas

anuais. Passa a proporcionar a sondagem vocacional e a iniciação para o trabalho.

• Ensino de 2 o grau: com 3 ou 4 anos de duração e carga horária de 2200 horas, para os

cursos de 3 anos e 2900 horas para os cursos de 4 anos. Passa a constituir-se de um

nível de ensino cujo objetivo primordial é a habilitação profissional.

1.3 O Movimento da Matemática Moderna

Em 1934, surgiu na França um grupo de matemáticos com o pseudônimo de Nicolas

Bourbaki16

. Entre os membros originais, figuravam André Weil, Henri Cartan, Claude

Chevalley, Jean Delsarte, Jean Dieudonné17

(BOMBAL, 2011). Esse grupo lançou os

Éléments de Bourbaki cujo primeiro volume foi editado em 1939 e o trigésimo primeiro, em

1965. O conjunto da obra institulou-se Les structures fundamentales de l’analyse que engloba

Teoria dos Conjuntos, Álgebra, Topologia geral, funções de variável real, espaços vetoriais

topológicos e integração (BOYER, 2008, p. 438). Para Boyer (2008, p. 438), a “apresentação

16

Há algumas versões que ajudam a entender a origem do nome Bourbaki e uma dessas versões atribui o nome

em homenagem ao general Charles Denis Sauter Bourbaki que ganhou fama na Guerra Franco-Prussiana. Em

1862, rejeitou o trono da Grécia e, depois de uma campanha desastrosa, em 1871, foi obrigado a recuar até a

Suiça onde se exilou. Consta que há uma estátua em homenagem ao general em Nancy, França, onde se situa a

Universidade de Nancy, com a qual vários membros do grupo tiveram vínculos. Porém, essa versão deixa em

aberto a origem do nome “Nicolas” (EVES, 2007, p. 692). 17

De acordo Bombal (2011), no início do Grupo Bourbaki, se encontravam outros integrantes, como Szolem

Mandelbrojt, René de Possel y Charles Ereshmann, que vieram a abandonar o grupo posteriormente.

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55

do assunto por Bourbaki é caracterizada por uma adesão sem concessões ao tratamento

axiomático e a uma forma secamente abstrata e geral que retrata claramente a estrutura

lógica”.

De acordo com Burigo (1988, p. 90), o grupo foi “responsável pela reconstrução do

edifício matemático que substituíra a divisão tradicional do conhecimento matemático em

ramos por categorias mais gerais”. Na construção do grupo, há três tipos de “estruturas-mãe”:

algébricas, de ordem e topológicas. A autora ainda afirma que:

Nas propostas para o secundário, a influência do trabalho de Bourbaki fazia-

se sentir na ênfase na unidade entre os ramos da matemática, no uso dos

conceitos unificadores, tais como os de conjunto e função e na introdução do

estudo das estruturas algébricas como grupos e anéis e dos espaços vetoriais

(BURIGO, 1988, p.90).

Eves (2007) salienta que:

Duas das características principais da matemática do século XX, a ênfase na

abstração e a preocupação crescente com a análise das estruturas e modelos

subjacentes chamaram a atenção, em meados do século, dos interessados em

ensino da matemática. Vários destes entenderam que seria oportuno adaptar

tais características ao ensino e, não demorou, formaram-se grupos

competentes e entusiastas empenhados em reformular e “modernizar” a

matemática escolar. Nascia a matemática moderna. (EVES, 2007, p. 690).

É necessário acrescentar que na “origem, a expressão ‘matemática moderna’ ou

‘matemáticas modernas’ referia-se à evolução interna da própria disciplina, nos últimos 100

anos e em especial a partir do trabalho do grupo Bourbaki”. (BURIGO, 1988, p. 82). Este

grupo exerce influência significativa no MMM internacionalmente e, em particular, no Brasil

(VALENTE et al, 2007, p.2).

Na década de 40, matemáticos pertencentes à liderança do grupo Bourbaki chegam ao

Brasil e são contratados pela Universidade de São Paulo. Aqui, influenciam e orientam os

responsáveis pelas cátedras, como também alguns jovens assistentes Dentre eles, destacam-se

Osvaldo Sangiorgi, Jacy Monteiro, Omar Catunda, Benedito Castrucci, que na década de 60

iniciam e divulgam o MMM no Brasil (VALENTE et al, 2007, p. 2).

Dentre os matemáticos que aqui estiveram, podemos citar Jean Dieudonné, líder do

grupo. Beatriz D’Ambrósio (2017, p. 84), assim relata:

Jean Dieudonné. Matemático europeu, líder do grupo Bourbaki, também

exerceu muita influência sobre a educação matemática do Brasil. Na década

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56

de 1940, Dieudonné lecionou na Universidade de São Paulo. Mais tarde, na

década de 50, apresentou uma série de palestras no Brasil, relacionadas com

o trabalho do grupo Bourbaki. Uma vez que muitos matemáticos brasileiros

haviam estudado com Dieudonné em suas visitas anteriores, suas opiniões

eram muito respeitadas e seu interesse em educação matemática gerou

interesse similar entre os seus ex-alunos. Isso sinalizou para os matemáticos

da academia que era “respeitável” envolver-se com educação matemática.

No Brasil, na década de 50 do século XX, justamente na época em que o Ministério da

Educação fazia valer o Programa Mínimo, havia, na comunidade acadêmica, uma grande

insatisfação com o ensino de Matemática (SOARES, 2001). Dessa forma, houve a

necessidade de realização de encontros entre professores para que fosse possível a discussão

de temas relacionados ao ensino. No Brasil, foram realizados cinco congressos nacionais de

Ensino de Matemática, sendo o primeiro realizado em 1955 e, o último, em 1966.

O primeiro desses congressos ocorreu na cidade de Salvador e foram discutidos, de

forma exclusiva, assuntos relacionados ao Ensino de Matemática, abordando temas tais como

programas, livros didáticos e formação de professores (LAVORENTE, 2008).

Nesse congresso, foi aprovado o aumento da carga horária semanal de matemática no

curso secundário, para quatro horas, no curso ginasial e, para cinco horas, no colegial

(SOARES, 2001). Ainda, baseado em reformas anteriores, foi aprovado o seguinte programa

de ensino para o Curso Colegial (cinco horas semanais para o científico):

Primeira Série

Progressões

Números irracionais

Potências com expoentes fracionários

Logaritmos (como operação)

Equações exponenciais

Trigonometria

Segunda Série

Análise Combinatória

Binômio de Newton

Determinantes

Sistemas lineares

Geometria no espaço

Terceira Série

Análise Matemática: (início)

Conceitos elementares de variável e de função. Limite: primeiras noções sobre derivadas e

aplicações ao estudo da variação de uma função. Estudo do trinômio do 2.o grau.

Noções sobre números complexos

Polinômios e equações algébricas em geral (pequena introdução)

Geometria Analítica: (início)

Estudo no plano até cônicas. (SOARES, 2001).

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57

Em 1957, na cidade de Porto Alegre, foi realizado o segundo Congresso que

apresentou também palestras referentes ao ensino primário e à formação de professores, ou

seja, se propôs a discutir a aprendizagem de Matemática nos diferentes níveis de ensino

(LAVORENTE, 2008). O tema “Matemática Moderna” foi citado, segundo Soares (2001), de

forma discreta por Ubiratan D`Ambrósio e por Osvaldo Sangiorgi. D’Ambrosio desenvolveu

a temática Considerações sobre o ensino atual de Matemática e Osvaldo Sangiorgi, levou

uma discussão sobre Matemática clássica ou Matemática moderna, na elaboração dos

programas do ensino secundário?

O terceiro Congresso ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, em 1959, e objetivou

estudar os problemas relativos aos ensinos secundário e primário, comercial, industrial e

normal e problemas gerais relativos ao ensino de Matemática (SOARES, 2001). Como

decisões importantes desse congresso, podem-se citar:

Proposta ao Ministério da Educação de não conceder o registro de professor de

Matemática aos licenciados em outros cursos tais como pedagogia, Ciências

Sociais, História Natural e Química.

Criação de uma Revista de Matemática para o Ensino Médio.

Solicitar aos Departamentos de Matemática das Faculdades de Filosofia de todo o

país a criação de cursos de preparação à Matemática Moderna, tais como Teoria

dos Números, Lógica Matemática, Teoria dos Conjuntos e Álgebra Moderna, para

professores do Ensino Médio (SOARES, 2001, p. 85).

O quarto congresso foi realizado em 1962, em Belém do Pará, e tratou de forma mais

objetiva a introdução da Matemática Moderna no ensino secundário. Nesse congresso, houve

a participação de congressistas ligados ao GEEM - Grupo de Estudos do Ensino da

Matemática18

. Nesse evento, os membros do GEEM realizaram sete aulas-demonstração,

discorrendo sobre o tratamento moderno de certos tópicos de Matemática na escola

secundária, duas apresentações do desenvolvimento moderno de assuntos de Matemática e

três palestras que focaram a introdução da Matemática Moderna na escola secundária

(SOARES, 2001).

O Congresso de 1966 foi realizado na cidade de São José dos Campos, em São Paulo,

e contou com grande participação do GEEM, pois o grupo se encarregou de sua organização.

18

O GEEM foi fundado em 1961, na Universidade Mackenzie, sob a presidência do Professor Osvaldo

Sangiorgi. A constituição e atuação deste grupo foram importantes para a implantação e divulgação do

Movimento da Matemática Moderna no Brasil. O grupo tinha como objetivos escrever livros textos, realizar

congressos, encontros, simpósios e cursos voltados à Matemática Moderna para professores (LIMA, 2006, p.

43).

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58

O tema desse quinto congresso foi Matemática Moderna na Escola Secundária, articulações

com o ensino primário e com o ensino universitário. Segundo Soares (2001), houve sessões de

estudo que foram distribuídas em três momentos:

Primeiro: problemas da Teoria dos Conjuntos e de Lógica Matemática aplicada ao

ensino.

Segundo: tópicos de Álgebra Moderna e Espaços Vetoriais.

Terceiro: problemas de tratamento moderno de Geometria e Lógica Matemática.

Segundo Pinto (2008), houve a apresentação de trabalhos no V Congresso que

mostraram que o Movimento da Matemática Moderna já estava difundido em escolas de

diferentes estados brasileiros, pois, graças ao GEEM, acelerou-se a difusão do movimento. A

convite do coordenador do grupo, Osvaldo Sangiorgi, foram a São Paulo, proferir palestras,

ilustres representantes estrangeiros e essas palestras atraiam professores de Matemática de

outras regiões do Brasil (PINTO, 2008). Em 1964, o GEEM expandiu sua ação para além do

estado de São Paulo, ministrando cursos de Matemática Moderna e, em 1970, era líder do

MMM no Brasil (SOARES, 2001).

Evidencia-se a presença da Matemática Moderna nas provas de Exame de Admissão19

de 1964, aplicada em São Paulo, especificamente no Colégio Santa Cruz. Nesse exame, o

termo “prova” é substituído por “teste” e nesse teste há espaços para a resolução das questões

e espaços para as respostas (PINTO, 2005). Pode-se constatar o uso do termo “sentença”, das

opções F (falso) e V (verdadeiro) e alterações na forma de propor as questões com aspectos de

uma nova linguagem matemática. Em 1965-66, nas Escolas Primárias de São Paulo, houve

outro modelo de prova de Matemática Moderna com uma extensa questão sobre conjuntos o

que, para a autora, “evidencia o início, naquele momento, da adoção da Matemática Moderna

na escola primária paulista” (PINTO, 2005, p. 8). Em 1968, nos livros que preparavam os

alunos para os exames de admissão, o item 1, figura 7, é dedicado exclusivamente à noções

sobre conjuntos.

19

Os Exames de Admissão foram iniciados através do Decreto no 4.468, de 1

o de fevereiro de 1870, para os

ingressantes no Colégio Pedro II e regulamentados pelo Decreto no 981 de 8 de novembro de 1890.

Posteriormente, como parte da Reforma Francisco Campos, tornaram-se obrigatórios nas escolas públicas de

todo o país pelo Decreto n.o 19.890 de 18 de abril de 1931 (AKSENEN e MIGUEL, 2013, p.231).

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59

Figura 7- Conteúdos de Matemática a serem tratados no Programa de Admissão

Fonte: Azevedo et al. (1968).

Para Soares (2001),

No Brasil as propostas da Matemática Moderna encaixavam-se

perfeitamente na política de modernização econômica do governo da década

de 60. Vigorava no país a corrente pedagógica tecnicista que se consolidou

sustentada pela ideologia desenvolvimentista que defendia a industrialização

do país e privilegiava a formação técnica. Por conta desse interesse, o

governo abriu as portas para os técnicos americanos nos conhecidos acordos

MEC-USAID20

(SOARES, 2001, p.137).

Para Beatriz D’Ambrósio (2017), a Matemática Moderna foi um projeto idealizado em

países desenvolvidos e, posteriormente, aplicado em países do Terceiro Mundo. Soares (2001,

p.137) ainda afirma que “os acordos assinados pelo Brasil (MEC – USAID) facilitaram a

entrada das ideias da Matemática Moderna que eram veiculadas nos Estados Unidos”.

As mudanças propostas Movimento da Matemática Moderna também apresentavam

como meta fazer com que o ensino da Matemática se tornasse mais “atraente” para o aluno,

ou seja, mais prazeroso. Soares (2001, p. 148) afirma que “o Movimento defendia a inclusão

de tópicos de Matemática estudados na Universidade no currículo do ensino secundário tais

como: álgebra moderna, topologia, transformações lineares, etc”.

Pierro Neto et al (1967) assim escreveram:

20

O Acordo MEC-USAID foi assim denominado pela série de convênios assinados, a partir de 1964, entre o

MEC (Ministério da Educação) e a agência USAID (United States Agency for International Development). O

Acordo objetivou uma reforma em todos os níveis de ensino brasileiros, adotando-se para tanto, o modelo norte

americano, especialmente no ensino superior. Pelo papel estratégico deste nível, a reforma visava uma formação

técnica mais ajustada ao plano desenvolvimentista e econômico brasileiro, em consonância com a política norte-

americana para o país (FRANZON, 2015, p.40621).

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60

Quando usamos a expressão “Moderna” para a Matemática atualmente

ensinada, muitos são levados a pensar que se trata da substituição, pura e

simples, dos assuntos tradicionais da aritmética, álgebra e geometria, por

uma matemática completamente diferente. Pelo contrário, o que se pretende

estudar é a mesma coisa, e alguns novos tópicos de maior importância para

as ciências modernas, através de uma linguagem mais fácil e precisa, capaz

de penetrar todos os ramos da matemática (PIERRO NETO et al.., 1967,

p.11).

Outra característica importante da Matemática Moderna foi a introdução dos

fundamentos de conjuntos, relações e suas propriedades. A linguagem dos conjuntos foi muito

enfatizada, valorizando muito a utilização de símbolos. A figura 8 mostra a simbologia,

utilizada no capítulo inicial, destinado à Teoria dos Conjuntos e Lógica Matemática.

Figura 8- Simbologia utilizada na teoria dos conjuntos e na lógica

Fonte: Pierro Neto et al.. (1967, p. 12).

Para Soares (2001), não houve tempo para que os professores se preparassem para o

novo modelo de ensino da Matemática. No entanto, ocorreram vários cursos e programas de

televisão enfocando a Matemática Moderna.

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61

Para Soares (2001, p. 149), “a Geometria foi abandonada, e os cálculos numéricos

foram substituídos por formalismos excessivos desvinculados da realidade”. Porém, Zuin

(2001) aponta que as construções geométricas e, consequentemente, o ensino de geometria,

continuou em algumas escolas nas aulas de Desenho Geométrico e mesmo, em determinadas

situações, através da disciplina Educação Artística, implantada com a LDB 5692/71.

Evidentemente, as críticas à “moderna matemática” foram muitas, não só no Brasil,

mas também nos Estados Unidos com a publicação da obra “O fracasso da Matemática

Moderna” do matemático Morris Kline que não aprovava a grande quantidade de simbolismos

e à excessiva valorização da Teoria dos Conjuntos. Soares (2001, p.149) ainda afirma que no

Brasil “os exageros cometidos em nome da Matemática Moderna são devidos principalmente

aos livros didáticos, publicados livremente e sem nenhuma fiscalização ou critério e também à

falta de formação adequada dos professores secundários.”

Não se pode negar, no entanto, que o Movimento da Matemática Moderna alterou a

estrutura do ensino da Matemática e, se não houve êxitos na sua implantação, é porque uma

renovação na maneira de ensinar demanda tempo e não é fácil de ser realizada. Chervel (1990,

p. 197) alerta que, de fato, “a instauração das disciplinas ou das reformas disciplinares é uma

operação de longa duração. O sucesso ou o fracasso de um procedimento didático não se

manifesta a não ser ao término da escolaridade do aluno”.

1.4 O livro didático: fonte de pesquisa

Um bom questionamento a se fazer: o que é e o que representa um livro didático?

Munakata (2016) aponta que vários pesquisadores adotam o conceito de que o livro didático é

qualquer livro impresso em papel, mídia eletrônica, etc. e que foi produzido unicamente para

ser utilizado na escola, com fins didáticos. Esse conceito preliminar faz, então, a conexão

entre a escola e o livro didático, ou seja, esse último é uma peculiaridade da primeira.

Conceituar o livro didático, associando-o à escola parece simples em um primeiro

momento. Entretanto, adotando uma visão além dos limites escolares, a pergunta “o que é o

livro didático?” torna-se complexa e apresenta um leque de discussões importantes. Levando-

se em consideração a relação livro didático/setor econômico. Choppin (2004, p. 551) sublinha

a “onipresença – real e bastante desejável – de livros didáticos pelo mundo e, portanto, o peso

considerável que o setor escolar assume na economia editorial nesses dois últimos séculos”.

No Brasil, segundo o mesmo autor, no início do século XX, dois em cada três livros

publicados eram didáticos e, mesmo em 1996, representavam 61% da produção nacional. Em

Page 62: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

62

outro foco, podemos relacionar livro didático/história da educação. Essa relação é assegurada

pelo interesse atual dos historiadores por essa área que foi, para Choppin (2004),

negligenciada por muitos anos. Todavia, a partir de 1960 e, sobretudo, nos últimas décadas,

houve um crescimento importante do interesse pela pesquisa em história da educação, tendo

como fonte os livros didáticos (CHOPPIN, 2004).

Alguns aspectos que justificam esse dinamismo na pesquisa são enumerados por

Choppin (2004, p.551) e, particularmente, pode-se citar “o crescente interesse manifestado

pelos que se interessam pela história ou por historiadores profissionais em relação às questões

da educação, área cuja demanda social se torna cada vez maior”; além disso,

[...] essa atividade científica tão abundante deve-se também a causas

estruturais: a complexidade do objeto ‘livro didático’, a multiplicidade de

suas funções, a coexistência de outros suportes educativos e a diversidade de

agentes que ele envolve. (CHOPPIN, 2004, p. 552).

Pode-se perceber que o livro didático não representa apenas uma ferramenta que o

professor tem como suporte para suas aulas e o aluno utiliza durante a sua vida escolar – é

muito mais que isso, além do fato de ser simplesmente um vetor de informações voltadas para

o conhecimento específico de uma área. Um conceito que norteia caminhos metodológicos de

análise para o uso do livro didático como uma fonte de pesquisa histórica é ele ser:

[...] um produto cultural. Como tal, é preciso compreendê-lo em seu

processo de produção física, material; em seu contexto de elaboração

intelectual; nas múltiplas faces que por vezes se entrecruzam na autoria dos

textos; nas formas de circulação que os livros ganham; no uso deles em

diferentes épocas; nas suas diferentes edições e em tantos outros aspectos

necessários ao entendimento de um bem cultural (VALENTE e OLIVEIRA

FILHO, 2011, DVD – GHEMAT apud OLIVEIRA FILHO, 2013).

De fato, além do conteúdo inserido em uma obra, é importante compreender a forma

materializada concebida ao livro didático: a rigidez da sua capa, figuras (coloridas ou não),

letras utilizadas. Para Oliveira Filho (2013, p.57), o livro didático é “um objeto cultural que

exige ser interrogado pelo historiador de uma maneira múltipla, variada, completa,

fornecendo também informações que podem ajudar o conhecimento do cotidiano escolar

[...].”

A importância do livro didático é destacada por Choppin como fonte de pesquisa ao

relatar que:

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63

Os manuais representam para os historiadores uma fonte privilegiada, seja

qual for o interesse por questões relativas à educação, à cultura ou às

mentalidades, à linguagem às ciências... ou ainda à economia do livro, às

técnicas de impressão ou à semiologia da imagem. O manual é, realmente,

um objeto complexo dotado de múltiplas funções, a maioria, aliás,

totalmente desapercebidas aos olhos dos contemporâneos (CHOPPIN, 2002,

p.15).

Em outro trabalho, Choppin (2004) destaca duas grandes categorias de pesquisa:

[...] aquelas que concebendo o livro didático apenas como documento

histórico igual a qualquer outro, analisam os conteúdos em busca de

informações estranhas a ele mesmo (a representação de Frederico II da

Prússia21

, ou a representação da ideologia colonial22

, por exemplo), ou as que

só se interessam pelo conteúdo ensinado por meio do livro didático.

[...] aquelas que, negligenciando os conteúdos dos quais o livro didático é

portador, o consideram como um objeto físico, ou seja, como um produto

fabricado, comercializado, distribuído ou, ainda, como um utensílio

concebido em função de certos usos, consumido – e avaliado – em um

determinado contexto (CHOPPIN, 2004, p. 554).

Conforme se pode perceber, para Choppin, a história que o pesquisador concebe, na

primeira categoria, não é a do livro didático em si, mas sim de um tema, de um conteúdo ou

de uma disciplina. No caso da nossa pesquisa, em particular, temos foco no conteúdo

equação/função exponencial.

Na segunda categoria, a atenção é voltada diretamente para o livro didático no que

concerne à sua fabricação, comercialização e distribuição. Evidentemente, em uma pesquisa,

considerada na sua totalidade, devem ser tomadas as duas categorias.

A análise de conteúdos é marcada por duas grandes tendências citadas por Choppin

(2004): a primeira refere-se à crítica ideológica e cultural dos livros didáticos, enquanto, a

segunda, analisa o conteúdo dos livros didáticos, segundo uma perspectiva epistemológica ou

propriamente didática.

É importante sublinhar que os livros didáticos constituem muito mais do que um

manual adotado por um professor, servindo de guia para as suas aulas, quando fará a

apresentação dos conteúdos e também é muito mais do que um objeto a ser manuseado pelo

aluno durante um ano letivo, complementando as abordagens do professor e trazendo as

21

Michael Marker, “Die Darstellung Friedrich des Groen in deutschen Lesebüchen für den Geschichtsun-

terricht an Gymnasien selt der Weimaren Republic” (MÜNSTER,1998, apud CHOPPIN, 2004, p.554). 22

Manuela Semidei, “De l’Empire à la décolonisation à travers les manuels scolaires français”, Revue

Française de Sciences Politiques (CHOPPIN, 2004, p. 554).

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64

tarefas impressas a serem realizadas, para facilitar a compreensão dos vários conteúdos. Pelo

que foi exposto nos parágrafos anteriores, o livro didático traz até nós outras informações de

relevância que merecem a atenção dos historiadores e que o fazem primordial para pesquisas

na área da Educação e da própria História da Educação e da Educação Matemática.

Valente (2004) chama a atenção para o esforço a ser efetuado no sentido de buscar

marcas do cotidiano escolar em épocas passadas. Ressalta que:

Ao lado de toda normatização oficial que regula o funcionamento das

escolas, como leis, decretos, portarias, etc. há toda uma série de produções

de cultura escolar: livros didáticos, cadernos de alunos, de professores,

diários de classe, provas, etc. São essas as fontes de pesquisa que devem ser

encontradas, organizadas e inventariadas a fim de estudarmos a trajetória

histórica da matemática escolar (VALENTE, 2004a, p. 11).

Para o mesmo autor, o empecilho em encontrar essas fontes de pesquisa se deve ao

fato de que, quase sempre, os cadernos de alunos, as provas, os materiais pedagógicos de

professores não estão disponíveis, pois, na maioria das vezes, são descartáveis após o uso e

sublinha que “os documentos dos arquivos das escolas, além de não estarem organizados,

acabam excluídos a cada cinco anos em virtude da legislação” (VALENTE, 2004a, p. 11).

Destacamos aqui, mais uma vez, as considerações de Valente (2004a):

Nossos próprios materiais escolares tendem a ser descartados em razão, por

exemplo, de espaços cada vez menores nas moradias. Enfim, a obtenção dos

testemunhos dos cotidianos escolares passados torna-se muito difícil. Assim,

quando se tem a oportunidade, por razões as mais diversas, de encontrarmos

esses traços da cultura escolar, ganhamos a possibilidade de escrever sobre o

trajeto histórico que seguiu um saber nas escolas; aqui, no caso, a

matemática escolar (VALENTE, 2004a, p. 11).

Outra observação importante, que Valente traz para a nossa reflexão, é que os livros

didáticos antigos se constituem em uma condição importante, porém não é condição suficiente

para a escrita da história das práticas pedagógicas do passado. Há uma “filosofia implícita”,

que nos leva ao estudo desses livros, ou seja, “a análise dos livros didáticos, tratados como

fonte para a história da matemática escolar, em muito difere de considerá-lo como fonte a

partir da própria Matemática” (VALENTE, 2004a, p.12).

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65

2. REFERENCIAIS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

Para a análise do conteúdo equação/função exponencial, tomamos como base

metodológica o trabalho desenvolvido por Picado y Rico (2011). Estes autores definiram

cinco fases para a pesquisa que foram consideradas neste trabalho:

Definição do problema, o campo e tipo de pesquisa e a definição de objetivos.

Nesta fase, incluem-se a seleção do tema, sua delimitação e o estabelecimento de um

marco teórico que o fundamente. Na seleção do tema devem ser considerados aspectos como

relevância, viabilidade, originalidade e interesse pessoal.

Busca, localização e seleção de livros didáticos.

É nesta fase que se levam em conta a busca, localização e seleção das fontes

documentais que possam proporcionar informações a respeito do tema da pesquisa.

Localizadas as fontes, é necessário classificá-las e selecioná-las com o objetivo de se evitar

repetição de informações. Nesta etapa, deve-se realizar a verificação da autenticidade das

fontes.

Análise dos livros didáticos.

Na fase de análise, consideramos três pontos importantes que são o autor, a estrutura

do texto e o conteúdo. Quanto ao autor, foram destacadas as informações pessoais e

profissionais, informando o nome, a profissão, o lugar de formação, vínculos com

matemáticos e obras publicadas. Com relação à estrutura do texto, relacionamos o ano, a

edição, a editora, finalidade e objetivos, organização do conteúdo, estilo de apresentação das

informações e as referências no texto.

Na análise do conteúdo, procuramos verificar de que forma o autor inicia o capítulo,

ou seja, se há ou não referências a conceitos fundamentais para o entendimento do que se

propõe e também quais são as estratégias propostas pelo autor para o ensino e aprendizagem,

identificando os sistemas de representação que, de modo geral, são em número de cinco:

textual, numérica, simbólica, tabular e gráfica. Também foi importante verificar se houve

referências históricas relativas ao conteúdo e se o autor aborda aplicações a outras áreas do

conhecimento.

Com relação à fenomenologia, procuraremos identificar os fenômenos naturais (se no

texto são apresentadas situações de natureza física, química, biológica ou de outras áreas, nas

quais a função exponencial pode ser aplicada) e fenômenos matemáticos (se o conteúdo

analisado se apresenta em um contexto de aplicação de uma ou várias operações aritméticas).

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66

No caso da nossa pesquisa, faremos aqui, nesta fase, a análise do conteúdo que é tema

deste trabalho, analisando as formas utilizadas pelos autores selecionados para apresentá-lo.

Exposição dos resultados.

Nesta fase, serão mostrados todos os livros analisados, destacando as suas estruturas

externa e interna e destacando o conteúdo que é tema dessa pesquisa.

Interpretação dos dados.

Aqui nessa fase, procuraremos discutir, à luz da legislação vigente à época da

publicação, a metodologia utilizada pelo autor.

Nosso trabalho corresponde a uma investigação qualitativa-descritiva cujo objetivo

geral foi verificar, através de livros didáticos, as formas utilizadas por diversos autores para

apresentar um conteúdo específico de Matemática entre os anos de 1930 e 1980.

Os marcos temporais, inicial e final, foram delimitados tendo em vista a Reforma

Francisco Campos, que trouxe modificações para o ensino com demarcação da união da

Álgebra, Geometria e Aritmética em uma só disciplina, denominada Matemática, e o período

no qual os autores se voltaram para as prescrições do MMM.

Para a seleção das fontes, adotamos o procedimento de escolha de, pelo menos, dois

livros didáticos em cada década, excetuando-se a década de 1930, marco do início da análise,

na qual foi feita a escolha de apenas uma obra, porém, referenciando duas edições e

finalizando na década de 1980. A partir desse procedimento, foi possível a análise do

conteúdo equação/função exponencial durante as reformas de ensino no período de 1930 a

1980, além de verificar a influência do MMM.

Para a busca dessas fontes, foram realizadas visitas em bibliotecas de escolas mais

antigas e que ainda estão em plena atividade em Minas Gerais: Colégio Providência, primeira

Escola Feminina de Minas Gerais, localizado em Mariana, fundado em 1850; Seminário de

Mariana, fundado em 1750 e que abrigou, durante décadas, as atuais modalidades de Ensino

Fundamental e Médio; Colégio Arquidiocesano, Ouro Preto, fundada em 1927; Instituto

Federal de Minas Gerais, Campus Ouro Preto, cuja criação efetiva deu-se em maio de 194423

,

e a Biblioteca de Obras Raras da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto.

Houve maior dificuldade em encontrar livros didáticos, editados na década de 1930, e,

evidentemente, os publicados na década de 1970 o número de obras encontradas foi bem

maior. Alguns livros foram comprados em livrarias que trabalham com livros usados e foi-nos

23

No ano de 1942, foi sancionado o Decreto 4.127, que criava o curso técnico de Mineração e Metalurgia de

Ouro Preto, vinculado ao então Ministério da Educação e Saúde, mas as atividades letivas se iniciaram em 1944

(SILVA, MACHADO, BARBOSA, 2015).

Page 67: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

67

gentilmente enviada a cópia de uma das obras analisadas pelo professor Dr. Antônio Vicente

Marafioti Garnica.

O processo de seleção resultou em um conjunto de quinze obras, organizadas de

acordo com a década de sua publicação (quadro 1):

Quadro 1- Obras selecionadas para análise

1930 – 1940

Roxo, Euclides; Thire, Cecil; Mello e Souza. Curso de Mathematica, 4.o Anno. Livraria Francisco Alves, 4.

a

Edição, 1938.

Roxo, Euclides; Thire, Cecil; Mello e Souza. Curso de Mathematica, 4.o Anno. Livraria Francisco Alves, 3.

a

Edição, 1936.

1940 – 1949

Roxo, Euclides; Cunha, Haroldo Lisboa da; Peixoto, Roberto; Netto, Cesar Dacorso. Matemática, 2.o Ciclo.

Livraria Francisco Alves, 2.a Edição, 1944.

Maeder, Algacyr. Munhoz; Curso de Matemática, 2.o Livro Colegial, 3.

a Edição; Edições Melhoramentos;

1949.

1950 – 1960

Bezerra, Manoel Jairo. Curso de Matemática primeiro Ano Colegial (Clássico e Científico), Companhia

Editora Nacional, 3.a Edição; São Paulo, 1955.

Carvalho, Thales Mello. Matemática para os Cursos Clássico e Científico, 1.o ano; Companhia Editora

Nacional, 9.a Edição; São Paulo, 1955.

Roxo, Euclides; Peixoto, Roberto; Cunha, Haroldo Lisboa; Netto, César Dacorso. Matemática 2.o Ciclo, 1.

a

Série; Livraria Francisco Alves, 8.a Edição; Rio de Janeiro, 1956.

Quintella, Ary. Matemática Primeiro Ano Colegial; Companhia Editora Nacional, 6.a Edição; São Paulo,

1959.

1960 – 1970

Irmãos Maristas. Matemática Primeira Série Colegial. Rio de Janeiro: Editora do Brasil, 1960. (Coleção

Didática FTD).

Serrão, Alberto Nunes. Exercícios e Problemas de Álgebra, Vol. I – Parte A, Para o Ciclo Colegial e

Exames Vestibulares às Escolas Superiores; Ao Livro Técnico S/A – Indústria e Comércio, 4.a Edição; Rio de

Janeiro, 1966.

Di Pierro Netto, Scipione; Rocha, Luiz Mauro; Barbosa, Ruy Madsen. Matemática Curso Colegial Moderno,

1.a Série Colegial, Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas, Vol. 1; 1967, São Paulo.

1970 – 1980

Brunelli, Remo Loschi. Matemática, 2.o grau e vestibular. Edições Loyola, São Paulo, 1972

Di Pierro Netto, S.; GÓES, Célia Contim;. Matemática na Escola Renovada, 1a Série do 2

o Grau (antigo

colegial); Editora Saraiva, São Paulo, 1972.

Schor, Damian; Tizziotti, José Guilherme. Matemática, 2.o grau, volume 1. São Paulo, Editora Ática, 1975.

Iezzi, Gelson; Dolce, Osvaldo; Teixeira, José Carlos; Machado, Nilson José; Goulart, Márcio Cintra; Castro,

Luiz Roberto da Silveira; Machado, Antônio dos Santos. Matemática, 1a Série, 2

o Grau; 6.

a Edição Revisada;

Atual Editora Ltda, São Paulo, Brasil, 1978.

Fonte: Elaborado pela autora.

Page 68: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

68

3. EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL NOS LIVROS

DIDÁTICOS

Neste capítulo, trazemos a análise da equação/função exponencial considerando

quinze livros analisados, publicados entre 1930 e 1980, tal como foi mencionado no capítulo

anterior.

Zuin e Queiroz (2016) afirmam que a equação exponencial já estava presente nos

livros didáticos de Álgebra, publicados no século XIX e, ainda, salientam que:

A equação exponencial já estava presente em livros didáticos de Álgebra

publicados no século XIX. No entanto, a função exponencial passa a

constar dos programas para o ensino da Matemática no nível secundário,

em âmbito nacional, a partir da Portaria Ministerial n. 70, de 30 de junho

de 1931 – que estabeleceu os programas e as instruções metodológicas

para as disciplinas do curso fundamental do ensino secundário. Para a

quarta série, ficava prescrita a introdução da função exponencial. Foi a

primeira vez que este conteúdo apareceu indicado na legislação (ZUIN e

QUEIROZ, 2016, p. 4).

Poderemos observar, então, já na década de 30 dos mil e novecentos, a presença da

função exponencial. Neste capítulo, apresentamos a análise do conteúdo equação/função

exponencial em cada um dos quinze livros que foram selecionados e apresentados no capítulo

anterior.

3.1 Década de 1930

Livro 1 - Curso de Mathemática, 4.o Anno, 4.

a Edição, 1938. Autores: Euclides Roxo,

Cecil Thiré. Mello e Souza

Livro 2 - Curso de Mathemática, 4.o Anno, 4.

a Edição, 1936. Autores: Euclides Roxo,

Cecil Thiré. Mello e Souza

Apresentamos uma comparação entre as duas obras no tocante à sua estrutura externa

e também interna (quadro 2). Os livros analisados não se distinguem pelo padrão de cada um

deles. Justificamos, novamente, a presença de duas obras dos mesmos autores e reforçamos,

afirmando que há diferenças perceptíveis entre as duas edições.

Page 69: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

69

Quadro 2- Comparativo da estrutura externa/interna das duas obras (década de 30)

ESTRUTURA

EXTERNA/INTERNA

ROXO, THIRÉ, MELLO e

SOUZA, 1936

ROXO, THIRÉ,

MELLO e SOUZA, 1938

Tipo de capa Dura Dura

Índice

Sim, na última página do

livro e em ordem alfabética.

Sim, na última página e sem

estar em ordem alfabética.

Prefácio X X

Bibliografia - -

Tamanho (cm) 16 x 23 16 x 23

Número de páginas 410 409

Apresentação de formulários X X

Referências históricas - -

Exercícios de exemplo X X

Exercícios propostos com resposta Sim e após o enunciado Sim e após o enunciado

Notas de rodapé X X

Terminologia adotada Linguagem simples e direta. Linguagem simples e direta.

Capítulo destinado à potenciação - -

Número de páginas destinadas

a função exponencial

16 9

Número de páginas destinadas

a equação exponencial

1/2 1/2

Aplicação da função

exponencial a outras áreas

X -

Aplicação da equação exponencial à

outras áreas

- -

Fonte: Dados da pesquisa.

3.1.1 Livro 1 - Curso de Mathemática, 4.o Anno, 4.a Edição, 1938. Autores: Euclides Roxo,

Cecil Thiré, Mello e Souza.

Os autores

Euclides de Medeiros Guimarães Roxo

Euclides Roxo nasceu em Aracaju, Sergipe, em 10 de dezembro de 1890 e faleceu no

Rio de Janeiro no dia 21 de dezembro de 1950. Em 1909, bacharelou-se no Colégio Pedro II,

tendo sido aprovado em 1915 em concurso para professor substituto de Matemática. Formou-

se em Engenharia pela Escola Politécnica do Rio De Janeiro em 1916. Em 1919 foi nomeado

catedrático do Colégio Pedro II e aí foi também examinador de Francês, Latim e Matemática.

Posteriormente, foi aprovado em concurso para catedrático do Instituto de Educação. No

Colégio Dom Pedro II foi diretor de 1925 a 1935, sendo diretor no externato de 1925 a 1930

e, no internato, de 1930 a 1935. No Ministério da Educação e Saúde, exerceu o cargo de

Diretor do Ensino Secundário no ano de 1937. Foi, também, membro do Conselho Diretor da

Associação Brasileira de Educação (ABE) de 1929 a 1931 e fez parte da comissão do ensino

secundário da mesma associação, fundada na 2.a Conferência da ABE, além de ter sido

presidente da Comissão Nacional do Livro Didático (VALENTE, 2003, p. 86-87).

Page 70: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

70

Entre suas obras podemos citar:

Lições de Aritmética (1925).

Curso de Mathemática Elementar, 2 volumes (1.o volume: 1929; 2.

o volume:1930).

Curso de Mathemática, com Cecil Thiré e J. C. De Mello e Souza (5 volumes).

Matemática Ginasial – (4 volumes), publicado a partir de 1942, com outros autores

(Cecil Thiré e Mello e Souza).

Matemática Segundo Ciclo, com Roberto Peixoto, Haroldo Lisboa da Cunha e César

Dacorso Neto (3 volumes).

Matemática na Educação Secundária (1937).

Unidades e Medidas (1941) (VALENTE, 2003, p. 87-88).

Júlio César de Mello e Souza

Mello e Souza, também conhecido pelo pseudônimo de Malba Tahan, nasceu em 06

de maio de 1895 na cidade do Rio de Janeiro e faleceu em Recife em 1974. Cursou o ensino

fundamental no Colégio Militar do Rio de Janeiro e o ensino médio no Colégio Pedro II,

sendo ambas essas instituições reconhecidas pela excelência de ensino. Em seguida, se

formou como professor na Escola Normal e como engenheiro na Escola Nacional de

Engenharia. Como professor, lecionou em várias escolas, inclusive no Colégio Pedro II e na

Escola Normal. Foi ainda catedrático na Escola Nacional de Belas Artes, na Faculdade

Nacional de Arquitetura e no Instituto de Educação do Rio de Janeiro. Publicou, em 1938, a

famosa obra O homem que calculava (FARIA, 2004).

Outros títulos de sua autoria:

Mathematica 1.o e 2.

o anno, em coautoria com Cecil Thiré (1931)

Curso de Mathemática, em coautoria com Cecil Thiré e Euclides Roxo (5 volumes).

Mathemática Ginasial – (4 volumes), publicado a partir de 1942, com outros autores

(Cecil Thiré e Euclides Roxo).

Geometria Analítica, 1.a e 2.

a partes

Tudo é fácil

Matemática fácil e atraente (ROXO; THIRÉ; MELLO e SOUZA, 1938).

Page 71: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

71

Cecil Thiré

Cecil Thiré nasceu em Nova Lima, em maio de 1892 e faleceu no Rio de Janeiro em

novembro de 1963. Formou-se em Engenharia pela Universidade Mackenzie. Foi catedrático

em Matemática no Colégio Pedro II.

Destacamos algumas obras publicadas por este autor:

Mathematica 1.o e 2.

o anno, em coautoria com Mello e Souza (1931).

Curso de Mathemática, em coautoria com Mello e Souza e Euclides Roxo (5

volumes).

Mathemática Ginasial – (4 volumes), publicado a partir de 1942, em coautoria com

outros autores (Mello e Souza e Euclides Roxo).

Exercícios de Álgebra

Exercícios de Arithmética

Exercícios de Mathematica – 1.o e 2.

o annos (ROXO; THIRÉ; MELLO e SOUZA,

1938).

A figura 9 ilustra a capa da presente obra.

Figura 9– Capa do livro Roxo, Thiré & Mello e Souza

Fonte: Roxo, Thiré e Mello e Souza (1938).

Page 72: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

72

Estrutura editorial

É possível observar no livro em pauta que a capa e a folha de rosto são locais

exclusivos para a localização de elementos paratextuais (GENETTE, 2009). Na capa,

encontramos o título da obra Curso de Mathemática e o subtítulo 4o anno e além desses,

destacam-se os nomes dos autores e a livraria que o editou.

Na primeira folha interna, visualizamos os nomes dos autores e, no verso, o destaque

de algumas obras dos mesmos. Na contracapa (figura 10), encontram-se dados bibliográficos,

bem resumidos, dos autores, o número da edição (4a Edição, 1938) e os endereços da livraria

responsável pela edição (Livraria Francisco Alves).

Figura 10- Folha de rosto do livro Roxo, Thiré e Mello e Souza

Fonte: Roxo, Thiré e Mello e Souza (1938).

No prefácio, os autores revelam que a obra segue o programa oficial vigente e que se

preocuparam em ressaltar as aplicações práticas de Matemática:

Destinando-se este livro especialmente aos estudantes da 4.a serie do curso

secundario, tivemos ao elaborá-lo, a preoccupação de seguir pari passu o

programa official, distribuindo pelos diferentes capítulos toda a matéria

exigida.

Procurámos, sempre que foi possível, acompanhar os pontos estudados de

questões simples e problemas numericos que fizessem resaltar as multiplas

aplicações praticas da Mathematica (ROXO, THIRÉ & MELLO E SOUZA,

1938).

Page 73: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

73

O prefácio da 4a edição, de 1938, é o mesmo da 3

a edição, de 1936, ou seja, em ambas

as edições o autor chama a atenção do leitor para a importante questão relativa às aplicações

práticas de Matemática.

Em relação aos elementos textuais, a obra é organizada em capítulos e cada capítulo é

apresentado em tópicos enumerados e essa indexação é interrompida entre os capítulos. Há

tópicos que trazem exercícios resolvidos e denominados de exemplo. Há poucos casos onde os

exercícios estão intercalados com o texto em um capítulo.

Outro elemento textual que se destaca é o denominado formulário que está localizado

no final do livro, anterior ao índice geral (figura 11), apresentado na última página. Os

conteúdos abordados seguem o programa oficial de acordo com a Reforma Francisco

Campos.

Figura 11- Índice geral do livro Roxo, Thiré e Mello e Souza

Fonte: Roxo, Thiré e Mello e Souza (1938).

Page 74: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

74

Análise do conteúdo equação/função exponencial

O conteúdo função exponencial se encontra no capítulo VI com o título Funcção

exponencial logo após o capítulo correspondente às progressões geométricas que exige como

pré-requisito o conhecimento das propriedades das potências. O capítulo se inicia na página

70 e finaliza na página 78. Os autores apresentam no tópico 1 as Noções preliminares (figura

12) no qual apresentam a igualdade

𝑝 = 𝑎𝑚

como se o aluno desconhecesse a operação de potenciação, uma vez que coloca no parágrafo

seguinte as denominações de p (potência), a (base) e m (expoente). A partir daí, supõe que a

base a é constante e que a potência e o expoente são variáveis. Com uma mudança de

nomenclatura, denominam o expoente por x e a potência por y e apresentam a igualdade

𝑦 = 𝑎𝑥, conceituando a função exponencial. São apresentadas nesse tópico duas notas de

rodapé, alertando para o caso do expoente permanecer constante e lembra que foi um assunto

estudado no 3o anno no livro Algebra.

Figura 12- Noções preliminares

Fonte: Roxo, Thiré e Mello e Souza (1938, p. 70).

Page 75: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

75

No tópico 2, se apresenta o Exemplo I, trabalhando com a função 𝑦 = 5𝑥, atribuindo

valores a x e calculando y.

No tópico 3 tem-se o caso de expoente commensuravel e afirma, pelo exemplo I, que o

expoente x pode receber um valor real qualquer nulo ou positivo. No exemplo II, é

apresentado o caso de um expoente positivo e diferente de 1, enquanto que, no exemplo III, o

caso do expoente positivo e menor que 1.A partir desses dois exemplos, os autores

apresentam o tópico 6 A funcção ax quando a é negativo. Neste ponto, os autores, evitando

demonstração longa, mostram de forma objetiva o número imaginário (figura 13).

Figura 13- Apresentação da base negativa

Fonte: Roxo, Thiré e Mello e Souza (1938, p. 73).

Na página 74, os autores apresentam a seguinte conclusão: “Quando a base a é

negativa a funcção y = ax não é definida para qualquer valor real de x” (ROXO; THIRÉ;

MELLO e SOUZA, 1938, p.74).

O Exemplo IV, figura 14, mostra esse caso com os possíveis valores de y, quais sejam,

negativo, positivo ou imaginário.

Page 76: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

76

Figura 14- Exemplo IV

Fonte: Roxo, Thiré e Mello e Souza (1938, p. 74).

A definição de função exponencial é apresentada no tópico 9 e, nesse momento, os

autores consideram a base como sendo um número positivo e diferente de 1 uma vez que já

demonstraram que, no caso da base negativa, a função não é definida para todo valor real de

x. No tópico 10, são apresentados dois gráficos da função exponencial, considerando base

maior que 1 e menor que 1.

A seguir, os autores ilustram as curvas obtidas no tópico 10 em uma figura (figura 15)

e enunciam as propriedades da curva exponencial:

Figura 15- Esboço dos gráficos de duas funções exponenciais de bases 2 e 1/2

Fonte: Roxo, Thiré e Mello e Souza (1938, p. 76).

As propriedades da curva exponencial são assim enunciadas:

Page 77: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

77

1o) A curva, em qualquer dos casos, fica situada toda acima do eixo dos x,

pois a funcção ax é positiva para qualquer valor de x

2o) A curva exponencial passa sempre pelo ponto B de coordenadas 0 e 1.

3o) A partir do ponto B, no 1

o caso (a > 1), a curva sobe rapidamente acima

do semi-eixo positivo dos x e desce lentamente sobre o semi-eixo negativo

do qual se approxima indefinidamente, mas sem nunca attingil-o. O semi-

eixo negativo dos x é uma asymptota da curva y = ax (a > 1). No 2

o caso (a <

1), dá-se o inverso: a curva, a partir do ponto B, afasta-se cada vez mais do

semi-eixo negativo dos x e tem por asymptota o semi-eixo positivo das

abscissas (ROXO; THIRÉ; MELLO e SOUZA, 1938, p.76).

O tópico 13 mostra um feixe de curvas exponenciais, mas não fazem referência a

alterações do aspecto da curva quando se varia a base. A figura 16 mostra essas curvas.

Figura 16- Feixe de curvas

Fonte: Roxo, Thiré e Mello e Souza (1938, p. 77).

Citam seis propriedades da função exponencial que enumeramos:

I) Para qualquer valor de x a funcção ax é positiva.

II) Quando o valor de x se approxima de zero ax se aproxima de 1.

III) A funcção ax é continua para qualquer valor de x, isto é, attribuindo-se a

x um valor qualquer real e finito, ax terá um valor real, finito e bem

determinado.

IV) Ha um valor real de x e um só para o qual a funcção ax toma um valor

particular b positivo.

Page 78: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

78

V) Si x crescer indefinidamente a funcção ax crescerá indefinidamente

quando a for maior que 1, e tenderá para zero quando a for menor que 1.

(...).

VI) Si x for negativo e crescer indefinidamente em valor absoluto, a funcção

ax tendera para zero quando a for maior que 1, e crescerá indefinidamente

quando a for menor que 1. (...). (ROXO; THIRÉ; MELLO e SOUZA, 1938,

p.77-78).

Ao final do capítulo, são dispostos oito exercícios (figura 17).

Figura 17- Exercícios propostos

Fonte: Roxo; Thiré; Mello e Souza (1938, p. 78).

Os exercícios propostos ao aluno, apresentado pelos autores, mostram que houve uma

tendência de explorar os conceitos apresentados no texto, antes da definição de função

exponencial. São exercícios que se assemelham aos exemplos I, II e III. Não há nos

Exercícios caso em que a base é negativa. Relativamente à função exponencial propriamente

dita, há apenas o exercício 7 que explora a parte gráfica, sem exigir conhecimentos das

propriedades da função em questão. O exercício 8, apesar de referir-se a uma função, que por

definição difere da exponencial, tem objetivo semelhante ao 7 que é o traçado de gráfico.

Page 79: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

79

Os autores não fazem nenhuma referência histórica e, também, não observamos

aplicações práticas do conteúdo, conforme anunciado no prefácio.

As equações exponenciais não são apresentadas dentro deste capítulo. Há, no capítulo

IX, Taboas de Logarithmos, no tópico 17, a demonstração apenas da resolução da equação

exponencial da forma 𝑎𝑥 = 𝑏 (figura 18). Não há a apresentação de nenhuma outra forma de

equação exponencial.

Figura 18- Equação exponencial

Fonte: Roxo; Thiré; Mello e Souza (1938, p. 129).

Os exercícios são apresentados em número de 3, no final do capítulo e todos envolvem

a utilização de logaritmos (figura 19).

Figura 19- exercícios propostos sobre equações exponenciais

Fonte: Roxo;Thiré ;Mello e Souza (1938, p. 132).

Page 80: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

80

Sistemas de representação

No texto descrito, os autores lançam mão de formas de representação que poderemos

dizer serem de forma textual, simbólica, tabular, por meio de quadros, e gráfica.

Há uma predominância da representação verbal que é reforçada pela pequena

quantidade de exemplos, que são exercícios resolvidos, como complemento da teoria

apresentada. Identificamos quatro exemplos.

A representação simbólica se faz presente em todo o capítulo, seja na forma simbólica

de se apresentar a função exponencial, bem como na forma de discorrer sobre expoentes com

valores fracionários ou não.

Na representação tabular, verificam-se os quadros, os quais são explorados para

mostrar os resultados de exemplos (figura 14).

Os gráficos (figuras 15 e 16) complementam a visualização da variação da função

exponencial, considerando base maior e menor que 1.

Fenomenologia

Fenômenos naturais: Não são apresentadas situações físicas da natureza nas quais a

equação/função exponencial poderia ser verificada.

Fenômenos matemáticos: A resolução de uma equação exponencial ou a determinação da

variável y para possíveis valores de x sempre exige a aplicação de operações aritméticas, tais

como potenciação, radiciação e as operações fundamentais.

Análise da obra sob o ponto de vista da Reforma Francisco Campos

O livro em questão pode ser traduzido como um exemplo bem fiel das propostas

inovadoras estabelecidas pela reforma. O que se percebe, é que, ao se iniciar o estudo das

funções exponenciais através das noções preliminares e, logo em seguida, propondo um

exemplo, adotando valores positivo, nulo e negativo para o expoente, inferimos que os autores

pretendem provocar a reflexão para conduzir à percepção de que, ao se reduzir o valor do

expoente, para a base positiva, colocada no exemplo, o valor da variável y decresce. Assim, os

autores vão conduzindo a apresentação do texto até culminar com a definição de função

exponencial. Nesse momento, de forma heurística, o aluno deverá ter concluído que a base

deverá ser positiva e diferente de 1. Então, é visível o emprego do método heurístico, uma vez

que o aluno é solicitado a participar, constantemente, do estudo proposto que, no nosso caso,

é equação/função exponencial.

Page 81: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

81

3.1.2 Livro 2 - Curso de Mathemática, 4.o Anno, 3.

a Edição, 1936. Autores: Euclides Roxo,

Cecil Thiré. Mello e Souza

Julgamos ser importante a comparação da 4.a

edição, já apresentada, com a 3.a

edição

de 1936. Na edição de 1936, os autores haviam incluído o tópico caso de expoente

incommensuravel (tópico 9, p. 78), além de apresentar, nos tópicos 12 e 13, duas propriedades

da curva exponencial que não foram mais apresentadas na edição de 1938:

Primeira propriedade da curva exponencial: Dados tres pontos A, C, B, se a

abscissa de C for a média arithmetica das abscissas de a e B, a ordenada de C

será a média geométrica dos pontos A e B .

Segunda propriedade da curva exponencial: Si vários pontos se succedem

sobre a curva exponencial de modo que a differença entre as abscissas de

dois pontos consecutivos seja sempre a mesma, esses pontos têm as

ordenadas numa razão constante (ROXO; THIRÉ; MELLO e SOUZA, 1936,

p.81).

O Factor de crescimento é apresentado no tópico 14, seguido de um exemplo de

aplicação prática, relacionado ao crescimento populacional: “A população de uma cidade

cresce por anno à razão de 20 por mil. Qual é o factor de crescimento annual?” (ROXO;

THIRÉ; MELLO e SOUZA, 1936, p.84).

Outro tópico que não estará presente na edição de 1938 é o Graphico da funcção

𝑦 = 𝑏𝑎𝑥, na qual a e b são constantes. Os autores mostram que as ordenadas, correspondentes

aos mesmos valores de x na função 𝑦 = 𝑎𝑥, ficam multiplicadas pelo valor constante b.

A catenaria é apresentada como aplicação prática no tópico 22 onde se faz uma

referência histórica a Galileu ao relatar que: “Galileu foi o primeiro que observou a catenária

atribuindo erradamente a essa curva a forma parabólica”. (ROXO; THIRÉ; MELLO e

SOUZA, 1936, p.88).

Compreendemos que os autores dispensaram uma atenção especial à função

exponencial em detrimento às equações exponenciais. Podemos dizer que, seguiram a

proposição de conteúdos estabelecidos pela reforma Francisco Campos.

3.2 Década de 1940

Livro 3 – Matemática 2.o Ciclo, 2

a Série, 2.

a Edição, 1944. Autores: Euclides Roxo, Haroldo

Lisboa da Cunha, Roberto Peixoto, Cesar Dacorso Netto.

Page 82: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

82

Livro 4 – Curso de Matemática, 2.o Livro Colegial, 3.

a Edição, 1949. Autor: Algacyr Munhoz

Maeder.

O quadro comparativo é mostrado a seguir:

Quadro 3- Quadro comparativo das obras analisadas na década de 40

ESTRUTURA

EXTERNA/INTERNA

ROXO, THIRÉ,

MELLO e SOUZA, 1944

MAEDER,

1949

Tipo de capa Dura Dura

Índice

Sim, nas últimas páginas do livro e

sem estar em ordem alfabética.

Sim, nas primeiras páginas do

livro e sem estar em ordem

alfabética.

Prefácio X -

Bibliografia - -

Tamanho (cm) 14x20 14x21

Número de páginas 455 415

Apresentação de formulários - -

Referências históricas X -

Exercícios de exemplo X X

Exercícios propostos com

resposta

Sim e ao final do livro Sim e após o enunciado

Notas de rodapé X -

Terminologia adotada

Os autores utilizam muito rigor

matemático nas demonstrações. A

explicação do professor deve ser

bem valorizada para o completo

entendimento do conteúdo.

Linguagem simples e direta.

Capítulo destinado

a potenciação

Sim com 11 páginas -

Número de páginas destinadas a

função exponencial

4 10

Número de páginas destinadas a

equação exponencial

8 6

Aplicação da função

exponencial a outras áreas do

conhecimento

- -

Aplicação da equação

exponencial a outras áreas do

conhecimento

- -

Fonte: Dados da pesquisa.

Na década de 40, temos como referência a Reforma Gustavo Capanema que manteve a

separação dos ensinos: o curso anteriormente chamado de Curso Fundamental passou a se

chamar Ginasial e o Curso Complementar, Colegial, com duas opções: Clássico ou Científico.

O Curso Científico apresentava programas de Matemática, Física e Química bem mais

completos e explica a presença da função exponencial no programa da 2.a série da disciplina

de Matemática e, para Marques (2005), era dirigido aos alunos interessados aos cursos de

Page 83: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

83

Engenharia, Medicina e correlatos. A Reforma Capanema não expediu instruções

metodológicas (MARQUES, 2005, p.48).

3.2.1 Livro 3 – Matemática 2.o Ciclo, 2

a Série, 2.

a Edição, 1944. Autores: Euclides Roxo,

Haroldo Lisboa da Cunha, Roberto Peixoto, Cesar Dacorso Netto.

Os autores

Haroldo Lisboa da Cunha

Engenheiro civil e eletricista, professor catedrático de Matemática do Colégio Pedro II

e Docente-livre de Cálculo Infinitesimal e de Complementos de Geometria Analítica e

Noções de Nomografia da Escola nacional de Engenharia da Universidade do Brasil. Foi

também professor do Instituto de Educação (OLIVEIRA FILHO, 2013, p. 96).

Outras obras publicadas por este autor:

Sobre as equações algébricas e sua solução por meio de radicais, Rio, 1933 (Tese)

Pontos de Álgebra Complementar (Teoria das equações), Rio, 1939.

Matemática, 2.o Ciclo com Euclides Roxo, Roberto Peixoto e Cesar Dacorso Netto

(ROXO et al., 1944, contra capa).

Roberto Peixoto

Roberto José Fontes Peixoto graduou-se em Engenharia Civil pela Escola Politécnica

do Rio de Janeiro. Foi professor do Instituto de Educação, professor de Matemática das

Escolas Técnicas Secundárias da Prefeitura do Distrito Federal, do Colégio Paula Freitas, do

Ginásio Vera Cruz e do Instituto Superior de Preparatórios (OLIVEIRA FILHO, 2013, p. 95).

Outros títulos de sua autoria:

Geometria Analítica a duas dimensões

Geometria Analítica a três dimensões

Exercícios de Geometria Analítica a duas dimensões

Exercícios de Geometria Analítica a três dimensões

Matemática, 2.o Ciclo com Euclides Roxo, Haroldo Lisboa da Cunha e Cesar Dacorso

Netto (ROXO et al.., 1944, contra capa).

Page 84: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

84

César Dacorso Netto

Há poucos registros na literatura sobre esse autor. Porém, segundo Dassie (2008, p.

220), ele graduou-se na Escola Politécnica da Universidade do Distrito Federal24

e ex–

professor do Colégio São Bento do Rio de Janeiro.

Destacamos algumas obras publicadas por este autor:

Elementos de Aritmética, Livraria do globo, Porto Alegre, 1938.

Esboço sobre a transformação em matemática elementar, Rio, 1933 (Tese) (ROXO et

al.., 1944, contra capa).

Figura 20- Folha de rosto do livro de Roxo et al

Fonte: Roxo et al., (1944).

Estrutura editorial

A obra (figura 20) corresponde à 2.a edição, para a 2.

a série, datada de 1944 e editada

pela Livraria Francisco Alves. Foi escrito por quatro professores, sendo dois deles do Colégio

24

A Universidade do Distrito Federal foi criada em 1935, incorporando o Instituto de Educação que era a antiga

Escola Normal do Distrito Federal e essa transformação se deu em 1932, gerenciada por Anísio Teixeira, então

Diretor da Instrução Pública (DASSIE, 2008, p. 191).

Page 85: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

85

Pedro II e os outros do Instituto de Educação. Na folha de rosto, há o título da obra, o nome

dos autores, a instituição onde trabalham e o nome da livraria com endereços.

O volume que dispomos para análise não possui a capa original e, dessa forma, não foi

possível apresentá-la.

Em relação aos elementos textuais, a obra é organizada em três partes: Álgebra,

Geometria e Trigonometria, divididas em unidades: Álgebra com quatro unidades, Geometria

com uma unidade e Trigonometria com seis unidades. Cada unidade é apresentada em tópicos

enumerados em sequência até a última unidade de Trigonometria. Essa forma de organização,

segundo Dassie (2011, p. 181) “auxilia a localização de algum conteúdo já apresentado

quando novos conceitos estão sendo abordados e, também, caracterizam o desejo de uma

organização sistematizada”.

Há exemplos resolvidos durante o desenvolvimento do conteúdo e outros denominados

exercícios, alocados no final do texto explicativo. As respostas e as soluções de alguns

exercícios estão no final do livro. Esta obra foi destinada aos alunos dos Cursos Científico e

Clássico (ROXO et al., 1944, advertência).

A parte I, Álgebra, foi escrita por César Dacorso Netto; A parte II, por Euclides Roxo

e a parte III por Roberto Peixoto. Embora, no livro, conste o nome do professor Haroldo

Lisbôa da Cunha, não há referências dos tópicos que ele pudesse ter contribuído. Deste modo,

como Dacorso Netto foi o autor da parte que contém equação e função exponenciais, apenas o

nome desse autor será referenciado quando tratarmos desses conteúdos.

Figura 21- Partes do livro com os respectivos autores

Fonte: Roxo et al (1944).

Page 86: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

86

Na Advertência, os autores alertam que:

A matéria não ficou adstrita, entretanto, aos títulos e sub-títulos dos atuais

programas. Procuraram os autores sugerir alguns complementos e

aplicações, sem se afastar, entretanto, dos assuntos dos programas e sem

quebrar a harmonia do conjunto. (...) Finalmente, será frizado que os atuais

programas do 2º Ciclo são compostos de partes nitidamente distintas que

compreendem: Aritmética teórica, Álgebra elementar, Trigonometria.

Álgebra vetorial e geometria analítica. Com isso, com o fim de manter, na

exposição de cada um dêsses ramos, a indispensável unidade didática,

julgaram os autores, do melhor alvitre, dividir a tarefa tal como é indicado

em cada uma das partes (ROXO et al.,1944, advertência).

No programa (figura 22) colocado para a 2.a série, os autores denominam a unidade I

de A função exponencial e, nessa unidade, está incluído o estudo dos logaritmos e o uso das

tábuas, incluindo as aplicações com a resolução de algumas equações exponenciais.

Figura 22- Programa da segunda série

Fonte: Roxo et al. (1944).

Page 87: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

87

Análise do conteúdo equação/função exponencial

A unidade I (A função exponencial) inicia-se com Potências de Expoente Real e na

advertência, tópico 1, os autores justificam que:

Após o desenvolvimento das progressões aritméticas e geométricas, que

apresentaremos apenas para atender a disposições do atual programa,

trataremos da função exponencial, que nos conduzirá ao estudo e à prática

dos logaritmos. A completa execução desse objetivo exige, porém, que

retomemos o conceito de potência para estendê-lo ao caso em que o

expoente não é inteiro nem positivo, mas sim um número qualquer

(DACORSO NETTO, 1944, p. 9).

Nesse retorno ao conceito de potência, há uma completa abordagem ao assunto,

iniciando-se com potência de expoente racional, passando para propriedades das potências

de expoente racional que são apresentadas em número de sete:

I) Designando-se por a um número aritmético e por r um número racional,

tem-se:

𝑎𝑟 > 1 𝑠𝑒 é 𝑎 > 1

𝑎𝑟 < 1 𝑠𝑒 é 𝑎 < 1 II) Potências de mesmo expoente variam no mesmo sentido em que as bases,

isto é, elevando-se os membros de uma desigualdade à mesma potência,

obtém-se outra desigualdade de mesmo sentido.

III) Potências de mesma base variam no mesmo sentido em que os expoentes

quando a base é maior que 1, e em sentido contrário quando a base é menor

que 1.

IV) Dado 𝑎 > 1, pode sempre obter-se um número racional, r, de modo que

𝑎𝑟 seja superior a qualquer número pre-fixado.

V) Dado 𝑎 > 1, pode sempre obter-se um número racional, r, de modo que

𝑎𝑟 seja maior do que 1 e a diferença 𝑎𝑟 − 1 seja inferior a qualquer número

pre-fixado.

VI) Dado 𝑎 < 1, pode sempre obter-se um número racional, r, de modo que

𝑎𝑟 seja inferior a qualquer número pré-fixado.

VII) Dado 𝑎 < 1, pode sempre obter-se um número racional, r, de modo que

𝑎𝑟 seja menor do que 1 e a diferença 𝑎𝑟 − 1 seja inferior a qualquer número

pre-fixado (DACORSO NETTO, 1944, p. 11-15)

Nas propriedades IV, V, VI e VII, já percebemos a utilização do conceito de limites e

há um rigor matemático nas demonstrações dessas propriedades, conforme podemos perceber,

por exemplo, na propriedade V (figura 23). Há sempre a utilização de notas de rodapé e

algumas com informações de conteúdo histórico como é o caso em que introduzem o símbolo

de infinito (∞) e revelam na nota número 10 informações detalhadas sobre esse símbolo:

Page 88: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

88

O símbolo ∞, empregado pelos Romanos para representar o número 1000,

foi usado pela primeira vez, com a atual significação, por J. Wallis e, masi

tarde, por J. Bernoulli (“Ars Conjectandi”, 1713). Não traduz êste símbolo

um número, propriamente, mas apenas exprime um infinito potencial,

distinto do infinito realizado da concepção dos números transfinitos, de G.

Cantor (1874) (DACORSO NETTO,1944, nota de rodapé, p. 13).

Figura 23- Demonstração da propriedade V

Fonte: Dacorso Netto (1944, p. 14).

A seguir, tratam das potências com expoente irracional e com expoente real. Não há

nenhum exemplo de exercícios, mas sim a exposição teórica e bem fundamentada das

potências. Para a compreensão das propriedades colocadas e de suas demonstrações, o aluno

deve ter contado com uma aula bem preparada pelo professor, devido, como já dissemos do

rigor matemático utilizado.

Na parte de função exponencial, o tópico 25 traz a definição já com a restrição para a

base que deve ser positiva e diferente de 1. É importante destacar a utilização do termo campo

de existência e, na nota de rodapé, já se utiliza o termo conjunto quando observa que é “o

conjunto dos valores que podemos atribuir à variável independente” (DACORSO NETTO,

Page 89: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

89

1944, nota de rodapé p. 47). Asseguram que a função exponencial é contínua em todo o seu

campo de existência e seguem para a representação gráfica e, para tal, explora as propriedades

das potências, colocadas anteriormente. Em linguagem bem simbólica, apresentam:

𝑎 > 1 {𝑎−∞ = 0𝑎0 = 1

𝑎+∞ = ∞ 0 < 𝑎 < 1 {

𝑎−∞ = ∞𝑎0 = 1

𝑎+∞ = 0

(DACORSO NETTO, 1944, p. 48).

Há apenas um gráfico representativo com alguns esclarecimentos relativo ao

comportamento da curva (figura 24).

Figura 24- Representação gráfica da função exponencial

Fonte: Dacorso Netto (1944, P. 48).

No tópico seguinte, o autor já parte para o conceito de função inversa. Trata da

correspondência biunívoca entre x e y e, ao tomar x como função de y, apresenta a função

inversa da função exponencial à qual denomina de função logarítmica (figura 25).

Page 90: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

90

Figura 25- Apresentação da função logarítmica

Fonte: Dacorso Netto (1944, p. 50).

A partir daí, desenvolvem-se vários tópicos sobre os logaritmos e a utilização das

tábuas de logaritmos. Não há a proposição de nenhum exercício relativo à função

exponencial.

As equações exponenciais, colocadas ao final do estudo dos logaritmos, recebem o

título, na unidade, de Resolução de algumas equações exponenciais. O autor mostra o tipo

mais comum de equação que é o da forma 𝑎𝑥 = 𝑏 com a e b positivos e 𝑎 ≠ 1 . Esclarece que

a equação apresentará sempre uma solução, ao lembrar do estudo da função exponencial,

“pois que a todo valor positivo de y corresponde um valor real de x” (DACORSO NETTO,

1944, p. 73). O autor propõe, como método de resolução, o emprego de logaritmos, caso a e b

não sejam potências de mesma base. Como nota de rodapé, indica que a equação 𝑎𝑥 = 𝑏

também pode ser resolvida por meio das frações contínuas, que estão presentes na UNIDADE

IV, página 185. Um exemplo de resolução por esse método se encontra na figura 26. As

frações contínuas ainda serão abordadas na obra de Maeder (1949, p.143), que dedica um

capítulo ao tema.

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91

Figura 26- Resolução da equação exponencial por meio das frações contínuas

Fonte: Dacorso Netto (1944, p. 200).

Os exemplos de equações exponenciais colocados foram:

I) 𝑎𝑥 = 𝑏, sendo a e b positivos. Na resolução, apresenta-se as propriedades dos logaritmos,

fornecendo um exemplo de solução (0,3)𝑥 = 7.

II) 𝑎𝛼𝑥= 𝑏, sendo a e b positivos. Apresenta-se uma forma mais geral que é 𝑎𝑓(𝑥) = 𝑏

também com solução por meio das propriedades dos logaritmos. Há dois exemplos e figura o

caso em que a e b são potências inteiras de um mesmo número (figura 27).

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92

Figura 27- Resolução de equações em que a e b são potências de um mesmo número

Fonte: Dacorso Netto (1944, p. 76).

III) Equações que se reduzem à forma: 𝑎𝑚2𝑥 + 𝑏𝑚𝑥 + 𝑐 = 0 que se reduzem a uma equação

do 2.o grau e recaem na forma 𝑎𝑥 = 𝑏. São dados dois exemplos desse tipo de equação. Os

exercícios propostos têm o enunciado Resolver as equações, em um total de 23. Os demais

exercícios propostos, 7 restantes, envolvem um sistema de equações com uma exponencial e a

outra, logarítmica, 4 envolvendo progressão geométrica e retorna nos exercícios 29 e 30 com

o enunciado Resolver a equação.

Como vimos, pela Portaria Ministerial n.o 77, expedida em 16 de março de 1943, para

a 2ª série a unidade I era prescrito:

A função exponencial: 1 - Estudo das progressões aritméticas e

geométricas. 2 - Noção de função exponencial e de sua função inversa. 3 -

Teoria dos logaritmos; aplicações. 4 - Resolução de algumas equações

exponenciais. (BRASIL, 1943).

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93

Percebemos que o estudo das equações exponenciais, nesta obra, foi mais detalhado

quando comparamos com a obra da década de 1930, uma vez que a resolução de equações

exponenciais agora é parte do programa oficial.

Sistemas de representação

Há uma predominância da representação verbal. Os autores utilizam muito texto.

A representação simbólica se faz presente em todo o capítulo, seja na forma simbólica

de se apresentar a função exponencial, bem como na forma de discorrer sobre expoentes com

valores fracionários ou não.

A representação tabular não foi utilizada, mas a gráfica sim, considerando as bases

maiores que 1 e entre 0 e 1 com o objetivo de mostrar ao aluno o comportamento da função.

Fenomenologia

Fenômenos naturais: Não são apresentadas situações físicas da natureza nas quais a

equação/função exponencial poderia ser verificada.

Fenômenos matemáticos: Com a aplicação de operações aritméticas, tais como potenciação,

radiciação e as operações fundamentais para a resolução de equações exponenciais.

3.2.2 Livro 4 – Curso de Matemática, 2.o Livro Colegial, 3.

a Edição, 1949. Autor: Algacyr

Munhoz Maeder.

O autor

Algacyr Munhoz Maeder nasceu no dia 22 de abril de 1903, em Curitiba, Paraná, onde

fez seus primeiros estudos escolares, seguindo, posteriormente, para São Paulo, capital,

quando passou a estudar no Colégio São Bento. Retornando a Curitiba, graduou-se em

Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia da Universidade Federal do Paraná. Maeder

foi autor de livros didáticos de Matemática editados por duas editoras: Typographia João

Haupt e Cia. e Edições Melhoramentos (LONGEN, 2007). Publicou dezenove livros entre

1928 e 1962. Durante a sua vida, exerceu diversas funções, entre as quais, diretor do

Gymnasio Paranaense (atual Colégio Estadual do Paraná), de 1928 a 1930; prefeito de

Curitiba, em 1946; reitor da Universidade Federal do Paraná de 1971 a 1972; presidente da

Associação de Professores da Universidade Federal do Paraná e membro do Conselho Federal

de Educação, da Sociedade Paranaense de Matemática e da Sociedade Brasileira de Física.

Faleceu no dia 29 de dezembro de 1975 (LONGEN, 2007).

Entre outras obras publicadas por esse autor, podemos citar:

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94

O conceito de número (These, 1927) – Concurso para Lente cathedrático de

Arithmetica e Algebra do Externato do Gymnasio Paranaense.

Resolução e Discussão das Equações do Primeiro e Segundo Gráos a uma Incognita

(These, 1927) - Concurso para Lente cathedrático de Arithmetica e Algebra do

Externato do Gymnasio Paranaense.

Algebra Elementar, 1.a parte e 2.

a parte.

Lições de Matemática, do 1.o ao 5.

o ano.

Curso de Matemática, Curso Ginasial, da 1.a a 4.

a série

Curso de Matemática, Ciclo Colegial, 1.o, 2.

o e 3.

o livros

Matemática, Curso Comercial Básico, da 1.a a 4.

a série (LONGEN, 2007).

Figura 28- Capa do livro Curso de Matemática

Fonte: Maeder (1949).

Estrutura editorial

A obra a ser analisada, denominada “Curso de Matemática”, destinou-se ao ciclo

colegial e foi denominado de 2.o Livro. Trata-se da 3.

a edição, publicada em 1949, pela

Edições Melhoramentos, tendo como público-alvo estudantes do curso secundário do segundo

Page 95: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

95

ciclo, conforme a Reforma Capanema. As características da obra, no que concerne a capa e

folha de rosto são semelhantes ao livro de Roxo et al. (1945).

A obra é apresentada em 25 capítulos, numerados em algarismos romanos. Não há

nenhuma referência histórica na obra. Os conteúdos são apresentados em tópicos com

numeração de 1 a 435, o que não traduz em uma característica desse autor, pois Roxo et al.

(1945) também assim o fizeram. Nas primeiras páginas, anteriores ao índice, o autor apresenta

os programas do ciclo colegial para os cursos científico e clássico, referentes à 2.a série

(figura 29).

Figura 29- Programa do Ciclo Colegial para o Curso Científico

Fonte: Maeder (1949, p. 7).

O programa oficial coloca, de forma bem definida, as partes de Matemática: Álgebra

com quatro unidades; Geometria com uma unidade e Trigonometria com seis unidades. A

unidade I é destinada à função exponencial e podemos observar a colocação da função inversa

da exponencial, tratando-se da função logarítmica (figura 30).

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96

Figura 30- Programa do Ciclo Colegial para o Curso Clássico

Fonte: Maeder (1949, p. 8).

Quando fazemos a comparação entre esses dois programas, observamos algumas

diferenças e também semelhanças. De modo geral, o programa destinado ao ensino clássico

está presente naquele que corresponde ao ensino científico, porém, neste último, as

abordagens são mais completas. Em relação à Álgebra, as diferenças são constatadas no

aumento de conteúdos para o curso científico, com o acréscimo de duas unidades:

Determinantes e fracções contínuas. A função exponencial aparece no Curso Científico. A

Geometria é contemplada com o mesmo programa e, a Trigonometria, ganha no Curso

Científico as unidades de Transformações trigonométricas e Equações trigonométricas.

Observando o índice da obra (figura 31), conclui-se que esta é destinada ao curso

científico, apesar de o autor não ter especificado esse detalhe na capa ou folha de rosto.

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97

Figura 31- Parte do índice da obra de Maeder

Fonte: Maeder (1949, p. 8).

Análise do conteúdo equação/função exponencial

O autor apresenta a noção de função exponencial e de sua inversa no terceiro capítulo,

iniciando na página 36 e, finalizando na página 45. Nesse mesmo capítulo, o autor apresenta a

função logarítmica, considerando o conceito de função inversa. Quanto às equações

exponenciais, o capítulo V as descreve, das páginas 69 a 74.

Não há, de forma inicial, nenhuma revisão ou referências a assuntos previamente

estudados e que servirão de suporte para o bom entendimento do capítulo.

A função exponencial é apresentada a partir do tópico 37, com uma definição, sem

referências a conceitos de domínio e imagem, relatando, apenas, que o “campo de existência”

Page 98: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

98

é o conjunto dos números reais (figura 32). Faz-se referência à base simplesmente como um

número positivo qualquer, não excetuando a base igual a 1.

Figura 32- Definição de função exponencial apresentada

Fonte: Maeder (1949, p. 36).

O conteúdo é exposto, explorando os princípios e propriedades, sendo que, o tópico

38, apresenta o Princípio I: “As potências de expoente inteiro e positivo de um número maior

que 1 são maiores que 1 e crescem no mesmo sentido que o expoente, podendo tornar-se

menores que qualquer número prefixado”. (MAEDER, 1949, p. 36).

O autor faz uma demonstração detalhada desse princípio que envolve conceitos de

teoria dos números e desigualdades. Da mesma forma, no tópico 40, é apresentado o

Princípio II: “As potências de expoente inteiro e positivo de um número menor que 1 são

menores que 1 e variam em sentido contrário do expoente, podendo tornar-se menores que

qualquer número prefixado.” (MAEDER, 1949, p. 38). Novamente, o autor apresenta a

demonstração desse princípio com o mesmo rigor dado ao primeiro.

No tópico 42, são apresentadas quatro propriedades das funções exponenciais (figura

33). Na primeira, há a afirmação de que a função exponencial é sempre positiva, pois a base é

sempre também o é. Novamente, não excetua a base igual a 1. Na segunda, o autor escreve

que “para cada valor de x corresponde um valor determinado de y”, não fazendo referência ao

conceito de função bijetora. Na terceira propriedade, estabelece a condição para que a função

seja crescente ou decrescente. Na quarta propriedade, estabelece que “a função exponencial é

contínua para qualquer valor de x”.

Page 99: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

99

Figura 33- Propriedades da função exponencial

Fonte: Maeder (1949, p. 39).

As variações da função exponencial são apresentadas no tópico 43, considerando os

casos em que a base é maior que 1 e compreendida entre 0 e 1. Neste tópico, há, pela primeira

vez, a observação de que 0 < 𝑎 < 1, sendo 𝑎, a base, ou seja, 𝑎 deve ser diferente de 1. Essas

variações são apresentadas em dois quadros. O primeiro (figura 34) é para base maior que 1:

Figura 34- Variação da função exponencial para base maior que 1

Fonte: Maeder (1949, p. 42).

O segundo (figura 35) apresenta a variação para a base entre 0 e 1:

Figura 35- Variação da função exponencial para base entre 0 e 1

Fonte: Maeder (1949, p. 43).

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100

Na representação gráfica, há o exame de dois casos, considerando base maior que 1 e

base menor que 1 e o autor escreve: “Servindo-nos do sistema ortogonal de eixos

coordenados, vejamos o aspecto que adquire o gráfico no primeiro caso.” (MAEDER, 1949,

p. 42).

Para o primeiro caso, é representada a função 𝑦 = 2𝑥 e, no segundo, 𝑦 = (1/2)𝑥. São

dados apenas esses dois exemplos (figura 36). Não há exercícios de fixação. Não há

referências a nenhuma aplicação em outros ramos do conhecimento.

Figura 36- - Gráficos da função exponencial: à esquerda, base maior que 1 e à direita, menor que 1

Fonte: Maeder (1949, p. 43-44).

Não há, no desenvolvimento do tema, exemplos de exercícios resolvidos e nem

exercícios propostos sobre a função exponencial.

O conceito de função inversa comparece no tópico 45, como ponto de partida para a

apresentação da função logarítmica (figura 37). O autor segue a mesma sequência apresentada

por Roxo, Peixoto, Cunha e Netto (1945).

As equações exponenciais são abordadas no capítulo V, logo após todo o estudo de

logaritmos, intitulado Resolução de Algumas Equações Exponenciais. No tópico 72, é

apresentada a definição de equação exponencial que é seguida de um exemplo literal no

tópico 73. É apresentado um exercício resolvido, utilizando-se as propriedades dos

logaritmos. Há mais dois exemplos literais nos tópicos 74 e 76. As equações do tipo

𝑎𝑏𝑐.....𝑥

= 𝑚

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101

são apresentadas como observação no tópico 75, sinalizando que são equações que poderão,

em alguns casos, serem resolvidas sem auxílio dos logaritmos. É dado o exemplo 32𝑥= 6561

que é resolvido.

Figura 37- A definição de função logarítmica

Fonte: Maeder (1949, p. 45).

No tópico 76, o autor mostra outro tipo de equação exponencial da forma:

𝑎2𝑥 + 𝑏𝑎𝑥 + 𝑐 = 0

sugerindo a substituição de variáveis, considerando 𝑎𝑥 = 𝑦

No tópico 77, há mais três exercícios resolvidos, seguidos dos propostos no tópico 78.

Esses últimos são em número de vinte e com enunciado “resolver as equações seguintes”. No

tópico 77, há mais três exercícios resolvidos, seguidos dos propostos no tópico 78. Esses

últimos são em número de vinte e com enunciado “resolver as equações seguintes”. Os

exercícios de 1 a 7 são repetitivos, isto é, o autor muda apenas a base e o resultado da

potenciação e pede o expoente. De 8 a 13, há soma, no expoente e no primeiro membro da

equação, e são bem semelhantes. Os demais envolvem aplicações de logaritmos. Com os

exemplos resolvidos, o aluno consegue resolver esses exercícios propostos.

No capítulo reservado às frações reduzidas, capítulo X, página 143, nos exercícios, o

autor propõe ao leitor a resolução de duas equações 2𝑥 = 5 e 10𝑥 = 3 (MAEDER, 1949, p.

168).

Page 102: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

102

Sistemas de representação

No texto descrito para a função exponencial, há uma predominância da representação

verbal, não havendo nenhum exemplo de exercício resolvido na parte teórica das funções

exponenciais.

A representação simbólica se faz presente em todo o capítulo, seja na forma de se

apresentar a função exponencial, bem como na forma de discorrer sobre expoentes com

valores fracionários ou não.

Na representação tabular, verificam-se os quadros que evidenciam a variação da

função (figuras 34 e 35).

Os gráficos são apresentados e complementam a visualização da variação da função

exponencial, considerando base maior e menor que 1.

Fenomenologia

Fenômenos naturais: Não são apresentadas situações físicas da natureza nas quais a

equação/função exponencial poderia ser verificada.

Fenômenos matemáticos: O autor utiliza operações aritméticas, tais como potenciação,

radiciação e as operações fundamentais para a resolução de equações exponenciais.

3.3 Década de 1950

Livro 5 - Curso de Matemática, Primeiro Ano Colegial (Clássico e Científico), 3.a

Edição, 1955. Autor: Manoel Jairo Bezerra.

Livro 6 - Matemática para os cursos Clássico e Científico, 1o Ano, 9.

a Edição, 1955.

Autor: Thales Mello Carvalho.

Livro 7 - Matemática 2o Ciclo, 1

a Série, 8.

a Edição, 1956. Autores: Euclides Roxo,

Roberto Peixoto, Haroldo Cunha, Dacorso Netto.

Livro 8 - Matemática Primeiro Ano Colegial, 6.a Edição, 1959. Autor: Ary Quintella.

O quadro comparativo das quatro obras (quadro 4) é mostrado a seguir.

Page 103: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

103

Quadro 4-- Quadro comparativo das obras na década de 50

ESTRUTURA

EXTERNA/INTERNA

BEZERRA

1955

CARVALHO

1955

ROXO et al.

1956

QUINTELLA

1959

Tipo de capa Dura Dura Dura Dura

Índice Início da obra Final da obra Final da obra Final da obra

Prefácio - - - -

Bibliografia - - - -

Tamanho (cm) 13x19 13x19 14x20 13x19

Número de páginas 300 316 378 285

Apresentação de formulários - - - -

Referências históricas - X X -

Exercícios de exemplo X X X X

Exercícios propostos com

resposta

Sim e com

respostas no

final do

capítulo

Sim e com

respostas no final

da proposição

dos exercícios

Sim e com respostas

no final da unidade

Sim e com

respostas no final

de cada enunciado

Notas de rodapé - X - -

Terminologia adotada

Linguagem

simples e

clara com

assuntos

colocados em

ordem

crescente de

dificuldade

Linguagem

simples e clara

com assuntos

colocados em

ordem crescente

de dificuldade

Utilização de

demonstrações que

requerem abstração

por parte dos alunos.

A contribuição do

professor é

importante

Linguagem simples

e clara com

assuntos colocados

em ordem

crescente de

dificuldade

Capítulo destinado

a potenciação

- X X -

Número de páginas

destinadas à função

exponencial

0 5 0 0

Número de páginas

destinadas à equação

exponencial

7 4 7 6

Aplicação da função

exponencial a outras áreas

do conhecimento

- - - -

Aplicação da equação

exponencial a outras áreas

do conhecimento

- - - -

Fonte: Dados da pesquisa.

3.3.1 Livro 5- Curso de Matemática, Primeiro Ano Colegial (Clássico e Científico), 3.a

Edição, 1955. Autor: Manoel Jairo Bezerra.

O autor

Manoel Jairo Bezerra nasceu em fevereiro de 1920, em Macau, Rio Grande do Norte e

faleceu em março de 2010, no Rio de Janeiro. Bacharel em Matemática pela Faculdade

Nacional de Filosofia, em 1943; criador do curso preparatório Pré – Normal Jairo Bezerra.

Foi professor no Colégio Pedro II, no Instituto de Educação do Estado da Guanabara, na

Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica, no Curso de Técnica de Ensino do

Page 104: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

104

Exército, Colégio Naval, Colégio Andrews, no Curso Universidade de Cultura Popular, na

Rádio MEC e na Fundação Centro Brasileiro de Televisão Educativa. Em 1967, Jairo Bezerra,

ao lado dos educadores Gilson Amado e Alfredina de Paiva e Souza, criou a Fundação

Centro Brasileiro de Televisão Educativa – um centro produtor de programas didáticos que

viria, posteriormente, conseguir a outorga da TVE Brasil (MACIEL, 2011, p. 2-3).

Algumas obras publicadas por este autor:

Didática Especial de Matemática (1958). Premiado com uma viagem à França pela

CADES (Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário). Manoel

Jairo Bezerra se orgulhava dessa obra.

Cadernos MEC Geometria (1966 e 1977).

Aritmética (1965, 1982).

Álgebra 1 (1977).

Vamos Gostar da Matemática (1985).

Problemas e Exercícios de Matemática (1964).

Iniciando a Matemática Moderna, volumes 1 e 2 (1968? E 1969).

Curso de Matemática, 1.o, 2.

o e 3.

o colegial (1955, 1953, 1954 respectivamente).

Curso de Matemática para os primeiro, segundo e terceiro anos dos cursos Clássico e

Científico (1960) (MACIEL, 2012, p. 7-8).

Estrutura editorial

A obra corresponde à 3.a edição, para o 1.

o ano colegial, de 1955 e editada pela

Companhia Editora Nacional (figura 38).

Figura 38- Capa do livro do autor Manoel Jairo Bezerra (1955)

Fonte: Manoel Jairo Bezerra (1955).

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105

Na folha de rosto (figura 39), há o título da obra, o nome do autor e a informação de

que é destinado ao Curso Clássico ou Científico, também a informação de que está de acordo

com os novos programas, conforme portarias n.o 966, de 2 de outubro de 1951 e 1045 de 14

de dezembro de 1951.

Figura 39- Folha de rosto do livro do autor Manoel Jairo Bezerra (1955)

Fonte: Manoel Jairo Bezerra (1955).

Em relação aos elementos textuais, a obra é organizada em cinco unidades que

abrangem Erros, Progressões, Logaritmos, Geometria Espacial e Secções Cônicas. Cada

unidade é apresentada em tópicos numerados em sequência.

Há exercícios resolvidos como exemplos e outros denominados Exercícios para

resolver, cujas respostas são encontradas ao final de todos eles com o título Respostas.

As equações exponenciais são encontradas na unidade de Logaritmos e o autor não

incluiu nenhum tópico de função exponencial.

Análise do conteúdo equação/função exponencial

O estudo das equações exponenciais começa na página112 e finaliza na página 118.

Não há nenhuma referência prévia, nesse volume, sobre Potências e o autor já inicia com a

Definição que é bem simples: “Chama-se equação exponencial a toda equação que possua

uma ou mais incógnitas em expoente.” (BEZERRA, 1955, p.112).

Page 106: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

106

As equações são apresentadas em quatro tipos. O primeiro, é classificado como o mais

simples, citando a resolução por logaritmos e com o auxílio dos logaritmos (figura 40).

Figura 40- Classificação das equações exponenciais

Fonte: Manoel Jairo Bezerra (1955, p. 112).

Ao final do tópico, há dois exercícios que estão resolvidos (figura 41). As

propriedades operatórias dos logaritmos são bastante exploradas. O segundo tipo é

apresentado como sendo da forma:

𝑎𝑏𝑐....𝑥

= 𝑛

Na solução, há a proposta de substituição de variável:

Figura 41- Segundo tipo e exemplos e a substituição de variável

Fonte: Manoel Jairo Bezerra (1955, p. 112).

Page 107: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

107

O terceiro tipo são equações que se reduzem a uma equação do segundo grau e da

forma:

𝑎𝑥2𝑛 + 𝑏𝑥𝑛 + 𝑐 = 0

que também se resolvem por meio de substituição de variável.

O quarto tipo são equações cujo primeiro membro é uma soma de exponenciais de

mesma base:

𝑎𝑥 + 𝑎𝑥−1 + 𝑎𝑥−2 + ⋯ + 𝑎𝑥−𝑛 = 𝑏

A solução proposta é colocar em evidência, no primeiro membro, a potência de menor

expoente. Posteriormente, mais dois exercícios resolvidos.

O tópico a seguir mostra oito exemplos de equações que são solucionadas sem o

emprego de logaritmos.

Os exercícios para resolver são em número de vinte e cinco e são questões diretas que

pedem para “resolver as seguintes equações”.

Inferimos que Bezerra (1955), ao utilizar uma linguagem clara e simples, permitiria

que o aluno pudesse, por ele mesmo, entender os tipos de equações exponenciais.

Sistemas de representação

No texto, não há uma predominância da representação verbal, pois o autor descreve a

teoria, fazendo uso de exemplos literais e numéricos que são os exercícios resolvidos.

A representação simbólica se faz presente para a representação geral dos tipos de

equação exponencial.

Não há representação tabular e nem representação gráfica.

Fenomenologia

Fenômenos naturais: Não são apresentadas situações físicas da natureza nas quais a

equação/função exponencial poderia ser verificada.

Fenômenos matemáticos: O autor utiliza operações aritméticas, tais como potenciação,

radiciação e as operações fundamentais para a resolução de equações exponenciais.

Page 108: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

108

3.3.2 Livro 6 – Matemática para os cursos Clássico e Científico, 1o Ano, 9.

a Edição, 1955.

Autor: Thales Mello Carvalho.

O autor

Thales Mello de Carvalho nasceu em 1913 e faleceu em 1961 (GAERTNER;

BARALDI, 2014, p.34). Engenheiro Civil e Geógrafo pela Escola Politécnica da

Universidade Técnica Federal (atual Escola Politécnica da UFRJ). Foi professor de

Matemática do Ensino Secundário do Distrito Federal; catedrático de Metodologia do Cálculo

do Instituto de Educação do antigo Distrito Federal; Catedrático de Matemática Financeira da

Faculdade Nacional de Ciências Econômicas, professor de Matemática Geral e Financeira do

Curso de Aperfeiçoamento da Caixa Econômica do Rio de Janeiro e do Curso de Extensão do

Instituto de Resseguros do Brasil (CARVALHO, 1969, contra capa).

Outras obras publicadas por este autor:

Curiosidades Matemáticas;

Lições de Trigonometria Retilínea;

Lições de Matemática;

O número de ouro;

Sobre Alguns Ábacos de Alinhamento e sua Aplicação ao Cálculo da Taxa de

Anuidades (Tese);

Elementos de Matemática Comercial e Financeira;

Matemática para os Cursos Clássico e Científico (CARVALH0, 1969, contra capa).

Estrutura editorial

A obra corresponde à 9.a edição, para o 1.

o ano colegial, de 1955 e editada pela

Companhia Editora Nacional (figura 42).

Page 109: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

109

Figura 42- Capa do livro de autoria de Thales Mello de Carvalho (1955)

Fonte: Carvalho (1955).

Na folha de rosto (figura 43), há o título da obra, o nome do autor, a informação de

que está de acordo com os novos programas, conforme portarias n.o 966, de 2 de outubro de

1951 e 1045 de 14 de dezembro de 1951.

Figura 43- Folha de rosto do livro de autoria de Thales Mello de Carvalho (1955)

Fonte: Carvalho (1955).

Page 110: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

110

Em relação aos elementos textuais, a obra é organizada em sete capítulos: Cálculo

Numérico Aproximado, Progressões, Logaritmos, Geometria Espacial e Secções Cônicas.

Cada unidade é apresentada em tópicos enumerados cuja numeração é reiniciada nos tópicos

seguintes.

Há exercícios com resolução e outros que são denominados Exercícios para resolver,

cujas respostas são encontradas ao final de cada enunciado.

Análise do conteúdo equação/função exponencial

O livro em questão trata da função exponencial, dentro do capítulo de logaritmos

(capítulo III) que é iniciado com uma abordagem sobre potências, evidenciando nos dois

primeiros tópicos, as potências de expoente inteiro e de expoente racional com oito

propriedades, demonstradas ao final do enunciado de cada uma. A exemplo de Dacorso Netto

(1944), já introduz o termo limite com o seu símbolo. Citamos essas propriedades:

I. Sendo a um número real absoluto e m um número natural, tem-se 𝑎𝑚 ><

1

ou 𝑎−𝑚 <>

1 conforme 𝑎 ><

1.

II. Sendo a e b números reais absolutos tais que 𝑎 > 𝑏, e r um número

racional positivo, tem-se 𝑎𝑟 > 𝑏𝑟 e 𝑎−𝑟 < 𝑏−𝑟.

III. Sendo a um número real absoluto e r um número real positivo, tem-se

𝑎𝑟 ><

1 ou 𝑎−𝑟 <>

1, conforme 𝑎 ><

1.

IV. Sendo a um número real absoluto e r e r’ números racionais tais que

𝑟 > 𝑟′, tem-se 𝑎𝑟 ><

𝑎𝑟′ conforme seja 𝑎 ><

1.

V. Sejam a um número real absoluto e r um número racional. Se 𝑟 > 1, tem-

se 𝑎𝑟 ><

𝑎, conforme seja 𝑎 ><

1; se 𝑟 < 1, tem-se 𝑎𝑟 <>

𝑎, conforme seja 𝑎 ><

1.

VI. Sendo 𝑎 > 1 e s um número absoluto arbitrário, é possível escolher um

número racional absoluto r, tal que 𝑎𝑟 > 𝑠.

VII. Sendo 𝑎 < 1 e s um número absoluto arbitrário, é possível escolher um

número racional absoluto r, tal que 𝑎𝑟 < 𝑠.

VIII. Sendo 𝑎 > 1 é possível escolher um número racional absoluto r tal que

a diferença 𝑎𝑟 − 1 seja inferior a um número racional positivo ∝,

arbitrariamente escolhido (CARVALHO, 1955, p. 73-75).

São também apresentadas as potências de expoente real. A partir daí, é iniciada a

explanação sobre a função exponencial, que é apresentada de uma maneira simples através da

equação 𝑦 = 𝑎𝑥, na qual considera a um número real positivo, diferente de 1. O autor chama

a atenção do leitor, afirmando que o “símbolo 𝑎𝑥 representa uma determinação positiva de

𝑎𝑥” (CARVALHO, 1955, p. 76). A nota de rodapé esclarece o caso (figura 44).

Page 111: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

111

Figura 44- Nota de rodapé, mostrando duas determinações:a negativa e a positiva

Fonte: Carvalho (1955, p. 76).

O autor aponta essa determinação positiva como sendo uma restrição, o que coloca a

curva representativa da função no semiplano situado acima do eixo dos x.

As funções são colocadas no texto, utilizando-se a terminologia Primeiro caso para o

caso da base maior que 1, expondo o gráfico e o Segundo caso, considerando a base menor

que 1 (figura 45). Na definição o autor já se referiu à base como sendo um número real

absoluto e diferente de 1.

Figura 45- - Representação gráfica da função exponencial para os dois casos de valores da base

Fonte: Carvalho (1955, p. 77-78).

Na observação do tópico 8, o autor leva até o leitor, um feixe de curvas exponenciais:

considerou duas base a e b, sendo 𝑎 > 𝑏 > 1 e que, portanto,

0 <1

𝑎<

1

𝑏< 1. Assim, apresenta o gráfico e sugere que a utilização do feixe de curvas para

um melhor entendimento das propriedades das potências que foram citadas (figura 46).

Page 112: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

112

Figura 46- - Feixe de curvas exponenciais para bases maiores e menores que 1

Fonte: Carvalho (1955, p. 79).

A função logarítmica é discutida pelo autor de uma forma clara quando mostra a

função logarítmica pela equação 𝑦 = log𝑎 𝑥, sendo a um número real absoluto, diferente de 0

e de 1 e deduz a igualdade 𝑥 = 𝑎𝑦 que define x como função exponencial de y. Observamos

que o autor não utiliza o termo direto função inversa, mas constrói a curva da função

logarítmica de uma forma distinta dos outros autores analisados (figura 47).

Figura 47- Construção do gráfico da função logarítmica

Fonte: Carvalho (1955, p. 80).

Page 113: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

113

As equações exponenciais são descritas no mesmo capítulo III (logaritmos) e no tópico

40, Preliminares, o autor expõe que “Equação exponencial é aquela que contém incógnita em

expoente” (CARVALHO, 1955, p. 101). Confirma que a mais simples é a da forma 𝑎𝑥 = 𝑏 e

propõe uma solução, utilizando, como recurso, os logaritmos. Nos tópicos de 31 a 45,

emprega, como recurso pedagógico, exercícios com resolução, levando ao conhecimento do

leitor não só a resolução, mas os tipos de equações exponenciais, normalmente apresentados

por outros autores: equação na qual os membros não são potências de mesma base, solução

por logaritmos; membros que são potências de mesma base e equações cujo primeiro membro

é uma soma de exponenciais de mesma base. As atividades são colocadas como exercícios

para resolver, no tópico 46, em um total de 15, e os demais com a proposição de Resolver a

equação. As respostas são colocadas ao final de cada enunciado (figuras 48 e 49).

Figura 48- Exercícios para resolver de 1 a 9

Fonte: Carvalho (1955, p. 103).

Page 114: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

114

Figura 49- Exercícios para resolver de 10 a 15.

Fonte: Carvalho (1955, p. 103).

Todos os exercícios propostos são semelhantes aos exemplos resolvidos no texto,

sendo que os de números 4 e 5 envolvem aplicação de logaritmos. Todos os demais, como

sublinhado pelo autor “requer um pequeno artifício” (CARVALHO, 1955, p. 102). São

resoluções diretas e de caráter repetitivo.

Sistemas de representação

O autor faz uso de parágrafos explicativos sobre propriedades de potências e

demonstrações sem utilizar exemplos de exercícios resolvidos, ou seja, explorou bastante a

representação textual.

A representação simbólica se faz presente em todo o capítulo, seja na forma de se

apresentar a função exponencial, bem como na forma de discorrer sobre expoentes com

valores fracionários ou não.

Não houve representação por meio de quadros ou tabelas. A representação gráfica é

usada para as funções e, ao que parece, com o objetivo de fazer o aluno compreender

intuitivamente as propriedades das potências que foram citadas: “Para uma compreensão mais

intuitiva das propriedades do n.o 3

25, sugerimos ao leitor interpretá-las à luz do gráfico da fig.

3” (CARVALHO, 1955, p. 78). A figura indicada pelo autor corresponde à figura 46 deste

trabalho.

Fenomenologia

Fenômenos naturais: Não são apresentadas situações físicas da natureza nas quais a

equação/função exponencial poderia ser verificada.

25

As propriedades do n.o 3 estão descritas na página 109.

Page 115: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

115

Fenômenos matemáticos: O autor utiliza operações aritméticas, tais como potenciação,

radiciação e as operações fundamentais para a determinação de potências e para a resolução

de equações exponenciais.

3.3.3 Livro 7 – Matemática 2o Ciclo, 1

a Série, 8.

a Edição, 1956. Autores: Euclides Roxo,

Roberto Peixoto, Haroldo Cunha, Dacorso Netto.

Os autores

Um breve resumo biográfico desses autores já foi realizado na análise dos livros da

década de 1940.

Figura 50 - Capa do livro do Roxo et al. (1956)

Fonte: Roxo et al. (1956).

Estrutura editorial

A obra corresponde à 8.a edição, para a 1.

a série, datada de 1956 e editada pela

Livraria Francisco Alves. Foi escrita por quatro professores, sendo dois deles do Colégio

Pedro II e dois do Instituto de Educação.

Na folha de rosto (figura 51), há o título da obra, o nome dos autores, a instituição

onde trabalham e o nome da livraria com endereços e a informação de que a obra está de

acordo com a Portaria Ministerial n.o 1045, de 14 de dezembro de 1951.

Page 116: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

116

Figura 51- Folha de rosto do livro do Roxo et al. (1956)

Fonte: do livro do Roxo et al. (1956).

Em relação aos elementos textuais, a obra é organizada em duas partes: Aritmética e

Álgebra, parte I, Geometria, parte II. A parte I é dividida em três unidades, sendo Logaritmos

a unidade III. A parte II é dividida em cinco unidades. As unidades são divididas em itens. Os

tópicos estão numerados em ordem crescente até o final de cada parte e é reiniciada na parte

seguinte.

Há exercícios resolvidos durante o desenvolvimento do conteúdo e outros

denominados exercícios, alocados no final do texto explicativo. As respostas foram colocadas

no final de cada parte e foram denominadas de soluções dos exercícios propostos. Alguns

exercícios, de maior complexidade, foram realmente solucionados.

Análise do conteúdo equação/função exponencial

Não há na obra nenhuma referência à função exponencial. As equações exponenciais

comparecem na parte I (Aritmética e Álgebra), na unidade de logaritmos, no item 3 nos

tópicos de 50 e 51.

O assunto Potências consta como primeiro ponto da unidade III (logaritmos) e os

autores repetem a mesma disposição de informações que foram realizadas no livro de 1944,

2.a edição. Inferimos que, para a adequação à portaria ministerial vigente, os autores retiraram

Page 117: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

117

a parte de função exponencial e mantiveram todo o texto relativo a equações exponenciais da

edição de 1944.

Sistemas de representação

No texto para equações exponenciais, não há uma predominância da representação

verbal, pois o autor descreve a teoria, fazendo uso de exemplos literais e numéricos que são os

exercícios resolvidos.

A representação simbólica se faz presente para a representação geral dos tipos de

equação exponencial

Não há representação tabular e nem representação gráfica.

Fenomenologia

Fenômenos naturais: Não são apresentadas situações físicas da natureza nas quais a

equação/função exponencial poderia ser verificada.

Fenômenos matemáticos: O autor utiliza operações aritméticas, tais como potenciação,

radiciação e as operações fundamentais para a resolução de equações exponenciais.

3.3.4 Livro 8 - Matemática Primeiro Ano Colegial, 6.a Edição, 1959. Autor: Ary Quintella.

O autor

Ary Norton de Murat Quintella nasceu em 1906, em São Paulo e faleceu em 1968. A

partir do ensino secundário teve sua vida de estudante e profissional no Rio de Janeiro.

Estudou no Colégio Pedro II, formou-se na Escola Militar e foi professor desde 1937 do

Colégio Militar do Rio de Janeiro. Foi professor do Instituto de Educação de 1950 a 1960.

Participou da organização dos programas de Matemática para os cursos comercial básico e

técnico, a convite do Ministro da Educação (VALENTE, 2008, p.15).

Algumas obras publicadas por este autor:

Matemática, primeira, segunda, terceira e quarta Série Ginasial.

Matemática, primeiro, segundo e terceiro ano Colegial.

Aritmética Prática para o primeiro ano do Curso Comercial Básico.

Matemática para o segundo ano do Curso Comercial Básico.

Álgebra Elementar para o terceiro ano do Curso Comercial Básico.

Guia de Matemática, Coleção Madureza.

Page 118: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

118

Exercícios de Aritmética, Admissão e Quinta Série Primária.

Questões de concurso nas Escolas Superiores.

Exercícios de Matemática para o Curso Normal (QUINTELLA, 1959).

Figura 52- Capa do livro de Quintella (1959)

Fonte: Quintella (1959).

Estrutura editorial

A obra (figura 52) corresponde à 6.a edição, para o primeiro ano colegial, datada de

1959 e editada pela Companhia Editora Nacional. Foi escrito por Ary Quintella que, à época,

era Professor Catedrático do Colégio Militar.

Na folha de rosto (figura 53), há o título da obra, o nome do autor, a instituição onde

trabalha, a edição e o nome da livraria, trazendo a informação de que a obra atende a Portaria

Ministerial n.o 1045, de 14 de dezembro de 1951.

Page 119: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

119

Figura 53- Folha de rosto do livro de Quintella (1959)

Fonte: Quintella (1959).

Em relação aos elementos textuais, a obra é organizada em unidades, sendo três

unidades para Aritmética e Álgebra, 1 unidade para Geometria Espacial e 1 unidade para

Secções Cônicas. Somente a parte de Geometria que foi dividida em capítulos. As demais

foram divididas em itens. Por exemplo, a Unidade III trata de Logaritmos e equações

exponenciais, sendo que o item I é Conceito. Propriedades gerais, o item II é Logaritmos

decimais e o item III, Equações exponenciais. Após o índice geral, o autor apresenta o índice

dos exercícios. Durante o desenvolvimento teórico, são colocados exemplos que são

exercícios resolvidos. Os exercícios, para o aluno resolver, são colocados ao final da unidade

e, as respostas, no final de cada enunciado.

Análise do conteúdo equação/função exponencial

Não há referência à função exponencial nessa obra.

Quintella (1959) traz a definição de equação exponencial pela característica da

incógnita figurar em expoente e a classifica em primeira e segunda ordens. Para a primeira

ordem, que é da forma 𝑎𝑥 = 𝑏, traz dois casos: a e b são potências de mesma base e a e b

Page 120: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

120

quaisquer. O segundo caso resolve por logaritmos. São dados quatro exemplos em que as

equações são solucionadas de uma forma bem didática.

A equação de segunda ordem é da forma 𝑎2𝑥= 𝑏 que se reduz a uma de primeira

ordem ao se fazer 2𝑥 = 𝑦.

A equação exponencial do tipo 𝑎 ∝2𝑥+ 𝑏 ∝𝑥+ 𝑐 = 0 é também considerada e por

substituição de variável se reduz a uma equação do 2.o grau. É dado um exemplo.

No tópico seguinte, têm-se as equações onde, nos exponente incógnitos, figuram

adição e subtração com um exemplo e finaliza com equações onde figuram índices incógnitos

com mais um exemplo.

Verifica-se uma disposição do conteúdo de forma cadenciada e bem descrita. Parece

que o autor tinha a intenção de que o leitor, por si só, compreender o conteúdo (figura 54).

Figura 54- Resolução de uma equação exponencial como exemplo

Fonte: Quintella (1959, p. 97).

Os exercícios, em número de 98, são colocados ao final de toda a parte descritiva e, as

respostas, após o enunciado (figuras 55 e 56).

Page 121: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

121

Figura 55- Exercícios de 1 a 27 de Quintella (1959)

Fonte: Quintella (1959, p. 98).

Figura 56- Exercícios de 28 a 35 de Quintella (1959)

Fonte: Quintella (1959, p. 99).

Page 122: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

122

Sistemas de representação

No texto para equações exponenciais, não há uma predominância da representação

verbal, pois o autor fornece, como texto, a definição de equação exponencial e mostra, a partir

daí, exemplos resolvidos.

A representação simbólica se faz pouco presente e é usada para a representação geral

dos tipos de equação exponencial.

Não há representação tabular e nem representação gráfica.

Fenomenologia

Fenômenos naturais: Nenhuma situação física da natureza, como aplicação da equação

exponencial, é citada durante o texto.

Fenômenos matemáticos: O autor utiliza operações aritméticas, tais como potenciação,

radiciação e as operações fundamentais para a resolução de equações exponenciais.

Como consideração final nessa década, podemos dizer que as formas de apresentação

do conteúdo equação exponencial, objeto de pesquisa deste trabalho, em muito são

semelhantes nos quatro livros verificados. Os autores, de uma maneira ou outra, definem,

classificam, fornecem exemplos resolvidos e propõem exercícios quase que semelhantes

quanto ao grau de dificuldade.

A função exponencial não foi mais integrante dos textos, excetuando-se em Carvalho

(1955). Dessa forma:

[...] ficou caracterizado, nos Cursos Clássico e Científico dos anos 50, um

padrão estandardizado para a Matemática escolar. É possível dizer, então,

que a matemática dos Cursos Clássico e Científico dos anos 50 se constituiu

numa disciplina escolar sob a ótica de André Chervel, pois a partir da

portaria 51 que traz mudanças à reforma Capanema, se constitui na prática

uma única matemática do Colégio (OTONE, 2011, p.248).

Quanto ao conteúdo geral das obras, as Portarias 966 e 1054 promoveram a

estabilidade dos conteúdos.

Page 123: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

123

3.4 Década de 1960

Livro 9 - Irmãos Maristas. Matemática Primeira Série Colegial. 1960. (Coleção

Didática FTD).

Livro 10- Exercícios e Problemas de Álgebra, Vol. I – Parte A, Para o Ciclo Colegial

e Exames Vestibulares às Escolas Superiores. Alberto Nunes Serrão, 4.a Edição, 1966.

Livro 11- Matemática Curso Colegial Moderno, 1.a Série Colegial. Scipione Di Pierro

Neto, Luiz Mauro Rocha, Ruy Madsen Barbosa, vol. 1, 1967.

Nessa década, não apenas os programas de Matemática, mas também as formas de

apresentação dos conteúdos sofreram influência do Movimento da Matemática Moderna, uma

vez que, conforme já anunciamos anteriormente (subtítulo 2.3) houve a introdução de

elementos unificadores quais sejam a Teoria dos Conjuntos, Estruturas Algébricas, Relações e

Funções. Analisaremos o conteúdo função/equação exponencial em três obras, sendo a

primeira editada no início da década, cuja influência do Movimento da Matemática Moderna

não foi perceptível, apesar de o I Congresso de Ensino de Matemática ter sido realizado em

1955 e a terceira, em 1967, logo após o V Congresso de Ensino de Matemática, realizado em

São José dos Campos em 1966.

O quadros comparativos das quatro obras (quadros 5 e 6) são mostrados a seguir.

Quadro 5- Quadro comparativo das obras na década de 60

ESTRUTURA

EXTERNA/INTERNA

IRMÃOS

MARISTAS

1960

SERRÃO

1966

DI PIERRO NETTO,

ROCHA e BARBOSA

1967

Tipo de capa Dura com desenhos

geométricos

Flexível de cor

vermelha com

detalhe em branco

Flexível de cor vermelha com

o título Matemática de cor

branca e detalhes circulares

brancos

Índice Início da obra:

índice geral e índice

analítico

Início da obra Final da obra

Prefácio - X X

Bibliografia - - -

Tamanho (cm) 13,5x21 14x21 14,5x21

Número de páginas 298 218 267

Apresentação de formulários X - -

Referências históricas - - -

Exercícios de exemplo X X X

Exercícios propostos com

resposta

Sim e com

respostas no final

do enunciado

Sim e com

respostas no final

da proposição dos

exercícios

Sim e com respostas no final

do enunciado

Notas de rodapé - - -

Fonte: Dados da pesquisa.

Page 124: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

124

Quadro 6- Quadro comparativo das obras na década de 60

ESTRUTURA

EXTERNA/INTERNA

IRMÃOS

MARISTAS

1960

SERRÃO

1966

DI PIERRO NETTO,

ROCHA e BARBOSA

1967

Terminologia adotada Linguagem simples

e clara com

assuntos colocados

em ordem crescente

de dificuldade

Exposição teórica

bem resumida que

necessitam de

complementação

Linguagem clara, o autor

utiliza textos bem explicativos

e ainda utiliza o Vocabulário,

que é o resumo do capítulo

como lembrete

Capítulo destinado a

potenciação

- - X

Número de páginas

destinadas a função

exponencial

0 2 4

Número de páginas

destinadas a equação

exponencial

5 13 5

Aplicação da função

exponencial a outras áreas

do conhecimento

- - -

Aplicação da equação

exponencial a outras áreas

do conhecimento

- - -

Fonte: Dados da pesquisa.

3.4.1 Livro 9- Irmãos Maristas. Matemática Primeira Série Colegial. 1960. (Coleção

Didática FTD).

O autor

A sigla FTD foi uma homenagem ao Frei Théophane Durand, que assumiu a direção

geral da Congregação Marista em 1833. No Rio de Janeiro, a FTD foi inaugurada, em 1902,

para atender a demanda “de livros europeus pelos novos colégios católicos criados no Brasil”.

A editora investe na edição de um grande número de livros didáticos de “todas as disciplinas

escolares” (VALENTE, 2002, p. 190 apud QUEIROZ; ZUIN, 2016, p. 7), obtendo êxito.

Frei Théophane Durand foi um grande incentivador dos irmãos dessa congregação

para escreverem obras didáticas, apesar de que, nessa época, já havia 50 títulos publicados

(BARONI, 2008 apud QUEIROZ; ZUIN, 2016, p. 7). Dessa forma, as edições mais antigas e

as novas publicações compuseram o que os Irmãos Maristas denominaram “Coleção Didática

FTD” – a primeira frase impressa como título na capa do livro ora citado. Outra

particularidade dessa obra é que não há a apresentação do nome do autor. Essa é outra

característica dos livros didáticos de Matemática da editora FTD. Com essa ação, segundo

Baroni (2009), os Maristas deixavam suas obras como obra da Congregação e não como obra

específica de um único Irmão. Por essa razão, em algumas obras, poderemos também

Page 125: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

125

encontrar os impressos “Por FTD” ou “Por uma reunião de professores” (QUEIROZ; ZUIN,

2016, p. 7).

Outras obras publicadas:

Exercícios de Cálculo sobre as Quatro Operações (1902).

Novas Taboas de Logarithmos.

Elementos de Aritmética, curso elementar.

Elementos de Aritmética, curso secundário.

Curso de Álgebra Elementar, ensino primário e secundário.

Complementos de Álgebra.

Trigonometria elementar.

Geometria elementar (VALENTE, 2002, p. 190-191).

Estrutura Editorial

A obra corresponde ao sexto volume da coleção Didática FTD, dirigida à primeira

série do Curso Colegial, datada de 1960 e editada pela editora do Brasil (figura 57).

Figura 57- Capa do livro dos Irmãos Maristas

Fonte: Irmãos Maristas (1960).

Na folha de rosto (figura 58), há o título do livro, o nome Irmãos Maristas, o volume

6, e a editora. Em destaque, a informação de que a obra atende a Portaria Ministerial n.o 1045,

de 14 de dezembro de 1951.

Page 126: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

126

Figura 58- Folha de rosto do livro dos Irmãos Maristas

Fonte: Irmãos Maristas (1960).

Em relação aos elementos textuais, a obra apresenta dois índices: o índice geral e o

índice analítico. Os conteúdos são apresentados em capítulos com numeração em algarismos

romanos de I a XVII. Durante o desenvolvimento teórico, são colocados exercícios com

solução. Os exercícios propostos são dispostos no final do capítulo e as respostas estão no

final de cada enunciado.

Análise do conteúdo equação/função exponencial

O conteúdo equações exponenciais encontra-se no capítulo VI, após o capítulo de

logaritmos e os autores não abordam as funções exponenciais.

O capítulo VI consta de apenas quatro páginas. Todas as definições, conceitos e

exemplos, ao longo de toda a obra, são numerados em ordem crescente e, assim procedendo, a

apresentação das equações exponenciais inicia-se no tópico 74, onde é dada uma definição

simples de equação exponencial. No parágrafo seguinte do mesmo tópico, define-se

exponencial, citando três exemplos. A seguir, classificam-se as exponenciais em: primeira

ordem, quando o expoente é uma incógnita; de segunda ordem, quando tem por expoente uma

exponencial de primeira ordem; de terceira ordem, quando tem por expoente uma exponencial

de segunda ordem e, assim, sucessivamente.

Page 127: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

127

Para a resolução das equações exponenciais (tópico 75), os autores informam que as

mesmas poderão ser resolvidas por logaritmos ou, em certos casos, por artifícios.

No tópico 76, são apresentados exercícios resolvidos e, em todos os exemplos, houve

o emprego de propriedades dos logaritmos. O 2.o exemplo, disposto na página 92, no qual há

a apresentação de uma mudança de variável do tipo 𝑏𝑥 = 𝑦 que se repete nos exemplos 3 e 4

(figura 59).

Figura 59- Exemplo de resolução de equação com o uso de logaritmos

Fonte: Irmãos Maristas (1960, p. 92).

No tópico 77, os autores apresentam exemplos de resolução sem o emprego de

logaritmos (figura 60). Neste caso, o método de resolução sugere o emprego do artifício,

citado no tópico 75, que é a decomposição em fatores primos. São apresentados cinco

exemplos.

Page 128: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

128

Figura 60- Exemplo de resolução de equação sem o uso de logaritmos

Fonte: Irmãos Maristas (1960, p.93).

No tópico 78, é apresentado um único exemplo de equação exponencial, na qual há

uma soma de exponenciais no primeiro membro da equação.

Os autores, durante o desenvolvimento do capítulo, não incluem referências históricas

e não apresentam nenhuma situação de aplicação em outras áreas. Os exercícios propostos ao

final do capítulo, num total de 25, se concentram em: “Resolver as equações seguintes sem os

logaritmos” e “Resolver as equações seguintes pelos logaritmos”. Não há, evidentemente,

nenhuma representação gráfica, uma vez que, como citado anteriormente, não existe nenhuma

indicação de qualquer conceito ou noção de função exponencial.

Sistemas de representação

No tópico 74, que trata da definição de equação exponencial, os autores utilizam a

representação textual para apresentar as ordens das equações. A partir desse tópico, com

pouco texto, os autores resolvem exemplos de equações, tanto literais quanto numéricas,

fazendo-se presente a representação simbólica.

Não há a apresentação de quadros e nem de gráficos.

Fenomenologia

Fenômenos naturais: Não são apresentadas situações físicas da natureza nas quais a

equação/função exponencial poderia ser verificada.

Fenômenos matemáticos: A resolução de uma equação exponencial ou a determinação da

variável y para possíveis valores de x sempre exige a aplicação de operações aritméticas, tais

como potenciação, radiciação e as operações fundamentais.

Page 129: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

129

3.4.2 - Livro 10- Exercícios e Problemas de Álgebra, Vol .I – Parte A, Para o Ciclo Colegial

e Exames Vestibulares às Escolas Superiores. Alberto Nunes Serrão, 4.a Edição, 1966.

O autor

Foi professor catedrático de Matemática do Colégio Pedro II. Professor-chefe da

Seção de Matemática do Colégio Universitário da Universidade do Brasil. Engenheiro civil e

geógrafo pela Escola Nacional de Engenharia. Docente-livre da Cadeira de Cálculo

Infinitesimal, Geometria Analítica e Noções de Nomografia da Escola Nacional de

Engenharia. Livre docente da cadeira de Matemática Superior da Escola Nacional de

Engenharia. Ex-professor de Matemática do Curso Complementar do Colégio Pedro II, do

Instituto de Educação do Estado do Rio de Janeiro (OLIVEIRA FILHO, 2013, p. 95).

Outras obras publicadas por este autor:

Lições de matemática para médicos e químicos

Lições de trigonometria retilínea e de cálculo vectorial

Exercícios e problemas de Álgebra (SERRÃO, 1966).

Figura 61- Capa do livro do Serrão (1966)

Fonte: Serrão (1966).

Page 130: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

130

Estrutura Editorial

A obra corresponde ao volume 1, da 4.a edição, de 1966 e com reimpressões nos anos

de 1968, 1969, 1970, 1971, 1972, 1974 e 1975. Editada por Ao Livro Técnico S/A – Indústria

e Comércio (figura 61).

O papel da capa já difere das obras analisadas anteriormente, sendo flexível,

semelhante à cartolina, brilhante, de cor vermelha, mostrando em detalhe a representação

gráfica de uma função exponencial de base maior que 1. Esse é um detalhe significativo, pois

ressalta a função exponencial em aspectos específicos do seu domínio e sua forma gráfica em

primeiro plano. Talvez, o fato de Serrão ser professor de Cálculo Diferencial e Integral tenha

influenciado na figura da capa.

No folha de rosto (figura 62), há uma pequena biografia do autor, na parte superior e

centrada, o título da obra, o nível escolar de aplicação da obra e o nome da editora.

Figura 62- Folha de rosto da obra do Serrão (1966)

Fonte: Serrão (1966).

Quanto aos elementos textuais, os conteúdos são organizados em capítulos de 1 a 6,

sendo, o capítulo 5, função exponencial e, o 6, o das equações exponenciais.

No prefácio, o autor descreve:

Page 131: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

131

Cada capítulo contém, inicialmente, um resumo teórico onde estão grupadas

as fórmulas e enunciados das proposições referentes às diversas unidades

didáticas e que serão utilizadas na solução das questões. Em seguida, há uma

coleção de “EXERCÍCIOS E PROBLEMAS A” resolvidos, em ordem de

dificuldade crescente, versando sobre matéria do científico. Depois, aparece,

uma série de exercícios A, propostos, com as respectivas respostas ou breves

sugestões referentes às soluções. Em terceiro lugar vem um conjunto de

“EXERCÍCIOS E PROBLEMAS B”. Dêstes, muitos se encontram

inteiramente resolvidos e são completados por outros de igual dificuldade, na

grande maioria das vezes, também com respostas (SERRÃO, 1966,

prefácio).

Verificamos, pela citação, que o autor demonstra grande preocupação com os

exercícios e problemas, chamando a atenção para o fato de que estes estão em ordem

crescente de dificuldade.

Análise do conteúdo equação/função exponencial

O capítulo 5 é destinado à função exponencial e logaritmos. É apresentado um resumo

teórico que se inicia com a definição de função exponencial pela relação 𝑦 = 𝑎𝑥,

denominando a de base, número real positivo qualquer, desde que a seja diferente de 0 e 1. O

autor impõe, na definição, a condição para a base sem se referir a campo de existência ou

domínio. Continua, anotando que x varia no campo real, isto é, desde −∞ a +∞.

Há a distinção de dois casos para a função exponencial, conforme a base seja maior

que 1 ou menor que 1. O comportamento da função para este caso é mostrado na figura 63.

Figura 63- Comportamento da função exponencial para base maior que 1

Fonte: Serrão (1966).

Existe uma representação gráfica correspondente (figura 64), na qual o leitor é levado

ao conceito de assíntota ao eixo x, utilizando como recurso didático a distância +𝜖 de um

ponto da curva ao eixo x e afirma que essa distância tende a zero “à medida que o ponto se

afasta indefinidamente sobre a curva” (SERRÃO, 1966, p. 135). O autor evita, então, a

utilização do termo x tende a −∞, embora o conceito de limite esteja presente.

Page 132: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

132

Figura 64- Representação gráfica da função exponencial para base maior que 1

Fonte: Serrão (1966).

O comportamento da função para o caso da base menor que 1é mostrado na figura 65.

Figura 65- Comportamento da função exponencial para base menor que 1

Fonte: Serrão (1966).

A representação gráfica é a apresentada na figura 66.

Figura 66- Representação gráfica da função exponencial para base menor que 1

Fonte: Serrão (1966).

A função logarítmica é apresentada como a inversa da função exponencial,

considerando a função 𝑥 = 𝑎𝑦 e explicitando y aparece a função logarítmica 𝑦 = log𝑎 𝑥.

O capítulo 6 traz as equações exponenciais e no item 6.1 o conceito de que a

característica da equação exponencial é possuir uma ou mais incógnitas em expoente. Assim,

Page 133: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

133

a forma mais simples é 𝑎𝑥 = 𝑏, a e b estão subordinadas a certas restrições, mas não as

apresenta. A equação exponencial de segunda ordem seria 𝑎𝑏𝑥= 𝑐.

É interessante o que o autor escreve no item 6.3, método geral: “não há processos

gerais para a solução de equações exponenciais ou logarítmicas, quaisquer” (SERRÃO, 1966,

p. 170).

São apresentados 25 exercícios resolvidos e, seguidamente, os propostos em número

de 141 e todos com o enunciado resolver as equações (figura 67).

Figura 67- Parte dos exercícios propostos

Fonte: Serrão (1966, p. 179).

Os exercícios e problemas B apresentam maior nível de dificuldade. Como exemplo,

transcrevemos o exercício a seguir:

159. Discutir a equação 32𝑥 − (𝑚 + 2). 3𝑥 + (2𝑚 + 1) = 0,

quando o parâmetro m varia de −∞ a +∞. (SERRÃO, 1966, p. 185).

Page 134: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

134

Para a resolução da equação anterior, quando se faz a substituição:

32x

= y2 e 3

x = y, obtendo-se y

2 – (m + 2)y + (2m +1) = 0,

o autor dispõe um quadro, no qual apresenta os possíveis resultados de forma resumida,

acrescentando as conclusões a partir de casos específicos considerando-se o sinal das raízes.

Figura 68- Resultados resumidos do exercício 159

Legenda: discriminante de uma equação do 2º grau,

P = produto das raízes, S = soma das raízes

Fonte: Serrão (1966).

O autor preocupa-se em dar detalhes de uma possível resolução. Este tipo de

procedimento não foi encontrado em outros livros analisados.

Sistemas de representação

A obra apresenta como característica principal a apresentação inicial de um resumo

teórico com a apresentação de fórmulas e enunciados das proposições referentes às diversas

unidades didáticas e que são utilizadas na solução dos exercícios. Dessa forma, a

representação textual é pouco explorada. A representação simbólica foi usada na

representação da função, da distância até o eixo x (ɛ), do infinito e símbolos de crescente e

Page 135: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

135

decrescente. A representação tabular também foi utilizada para visualizar a variação da

função, bem como a representação gráfica com o mesmo objetivo.

Fenomenologia

Fenômenos naturais: Não são apresentadas situações físicas da natureza nas quais a

equação/função exponencial poderia ser verificada.

Fenômenos matemáticos: Estão presentes na determinação da variável y para possíveis

valores de x que exige a aplicação de operações aritméticas, tais como potenciação, radiciação

e as operações fundamentais.

3.4.3 Livro 11- Matemática Curso Colegial Moderno, 1.a Série Colegial. Scipione Di Pierro

Netto, Luiz Mauro Rocha, Ruy Madsen Barbosa, vol. 1, 1967.

Os autores

Scipione Di Pierro Netto

Scipione Di Pierro Netto (1926-2005) era doutor em Educação pela Universidade de

São Paulo – USP. No início de sua carreira, foi professor de Matemática na rede pública do

Estado de São Paulo, ingressando posteriormente, por concurso público, no Colégio de

Aplicação da USP. Lecionou em diversas instituições de Ensino Superior, entre elas a USP e

a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Teve participação no G.E.E.M. – Grupo de

Estudos do Ensino da Matemática, presidido por Osvaldo Sangiorgi. Scipione foi autor de

inúmeros livros didáticos de Matemática e começou a ter destaque nesse ofício no final da

década de 1960 (QUEIROZ e ZUIN, 2016, p. 8).

Algumas obras publicadas por este autor:

Matemática Para a Escola Moderna 4 volumes: 1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries do Curso Ginasial.

Matemática na Escola Renovada –1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries do Curso Ginasial.

Matemática Passo a Passo – 1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries do 1º grau.

Matemática na Escola Renovada –1º, 2º e 3º anos do Curso Colegial (co-autora: Célia

Contin Goes).

Matemática – 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries do 1º grau (co-autores: Magda Teresinha Angelo,

Edson do Carmo e Lilia Maria Faccio) (BROLEZZI; PINHEIRO, 2008, p. 3).

Page 136: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

136

Luiz Mauro Rocha

Foi professor de Cálculo Infinitesimal da FEI – Faculdade de Engenharia Industrial26

e

da FFCL – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Fundação Santo André. Foi Instrutor

de Cálculo Infinitesimal da Escola Politécnica da USP e Ex-professor do Colégio Estadual de

São Paulo (DI PIERRO NETO; ROCHA; BARBOSA, 1967).

Ruy Madsen Barbosa

Doutor em Matemática pela Universidade Católica de Campinas. Livre docente de

Matemática da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Fundação de Araraquara. Foi

professor do ensino secundário oficial do estado de São Paulo (DI PIERRO NETO; ROCHA;

BARBOSA, 1967).

Estrutura Editorial

A obra corresponde ao volume 1, da 1.a edição, de 1967, editada pelo Instituto

Brasileiro de Edições Pedagógicas.

A capa é papel flexível, semelhante à cartolina com layout moderno. Na parte superior

da folha de rosto, dispõem-se os nomes dos autores e o título é centralizado. Na parte inferior,

o nome da editora, com endereço, telefones e caixa postal (figuras 69 e 70).

Figura 69- Capa do livro Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967)

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967).

26

Criada pelo decreto n. 20.942 de 9/4/1946. No mesmo ano, em 22 de agosto, a FEI e outras faculdades

constituiram a PUC de São Paulo. A partir do final de 1971, desligou-se da PUC, voltando à condição de

instituição isolada de ensino superior (http://portal.fei.edu.br/pt-BR/fei/historia/Paginas/historia.aspx).

Page 137: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

137

Quanto aos elementos textuais, os conteúdos estão dispostos em quatro partes, sendo

a primeira denominada FUNDAMENTOS, com dois capítulos. A segunda parte compreende

FUNÇÕES ELEMENTARES com três capítulos. A quarta parte, TRIGONOMETRIA com dois

capítulos e a quarta e última parte, GEOMETRIA com um capítulo. São, portanto, oito

capítulos, enumerados em algarismo romano.

Figura 70- Folha de rosto do livro Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967)

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967).

Na apresentação, os autores justificam a publicação, afirmando:

A idéia da publicação de uma série colegial de “Matemática Moderna”, em

prosseguimento à Matemática para a Escola Moderna”, do prof. Scipione Di

Pierro Neto, tomou forma e se concretizou durante o transcurso do V

Congresso de Ensino da Matemática, realizado em S. José dos Campos, no

Centro Técnico de Aeronáutica, em 1966. Naqueles dias, em contato com

professores de quase todos os Estados, sentimos bem de perto a angústia

com que os nossos colegas se referiam à dificuldade que encontravam para a

atualização do ensino da matemática no colégio, dada a inexistência, ao seu

alcance, de obras nacionais e estrangeiras (DI PIERRO NETO; ROCHA;

BARBOSA, 1967, apresentação).

Os autores também justificam a presença da primeira parte, adotando normas para a

redação dos três volumes:

1. Apresentar, no início do primeiro volume, um capítulo de

FUNDAMENTOS, destinado aos professôres ainda não iniciados na

Page 138: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

138

“Matemática Moderna”, redigido em linguagem fácil e nível elementar – de

modo a que possa ser aprendido e ao mesmo tempo ensinado, no todo ou em

parte, aos alunos (DI PIERRO NETO; ROCHA; BARBOSA, 1967,

apresentação).

Os textos são desenvolvidos em tópicos enumerados em ordem crescente de 1 a 198.

Análise do conteúdo equação/função exponencial

A função exponencial inicia-se no capítulo V, tópico 68 com o título Potências com

expoente real.

A linguagem é objetiva e os autores escrevem como se estivessem conversando com o

leitor, como, por exemplo, ao anunciar que “Nos capítulos anteriores, temo-nos referido

constantemente aos números reais, embora sem termos desenvolvido uma Teoria dos

Números Reais.” (DI PIERRO NETO; ROCHA; BARBOSA, 1967, p. 123). No parágrafo

segundo, escrevem “Aceitamos que o leitor é possuidor de uma idéia intuitiva da natureza

desses números e que sabe utilizar as propriedades essenciais da adição multiplicação e

operações inversas: subtração e divisão.” (DI PIERRO NETO; ROCHA; BARBOSA, 1967,

p. 123).

Antes, então, do estudo da função exponencial, são feitos alguns comentários sobre a

operação de potenciação e a definição de potenciação de base real a e expoente inteiro

positivo n é feita, utilizando-se uma representação simbólica bem detalhada (figura 71).

Figura 71- Definição de potenciação e definição de potenciação de base real a e expoente inteiro positivo n.

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967, p. 123).

O autor define a aplicação φ como uma operação denominada potenciação. Esta é uma

forma não encontrada em outros autores.

As propriedades das potências são colocadas em destaque dentro de um quadro (figura

72).

Page 139: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

139

Figura 72- Propriedades das potências

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967, p. 124).

A extensão da definição da operação φ para expoentes zero e negativos é feita com a

utilização do símbolo para todo (∀) (figura 73).

Figura 73- Extensão da definição de φ

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967, p. 124).

A função injetora de domínio Z é obtida, fixando a base a, no caso 𝑎 = 2 e

variando o expoente x no conjunto Z. Os autores utilizam o quadro de valores para

𝑎 = 2. A função é apresentada com a simbologia 𝜑 ∶ 𝑥 → 𝑦 = 2𝑥, 𝑥 ∈ 𝑍 (figura 74).

Figura 74- Valores de y para base igual a 2

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967, p. 125).

A representação gráfica dessa função é feita com uma linha contínua com a

observação de que não faz parte do gráfico (figura 75).

Page 140: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

140

Figura 75- Representação gráfica da função injetora com domínio Z

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967, p. 125).

As representações gráficas para a base compreendida entre 0 e 1 e para a base menor

que 0 são também realizadas (figura 76).

Figura 76- Representações gráficas para base entre 0 e 1 e para base negativa

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967, p. 126).

Para a potência com expoente real, os autores apresentam a propriedade “Tôda

equação da forma 𝑥𝑛 = 𝑎 com a real não negativo e n natural, tem solução real” (DI PIERRO

NETO; ROCHA; BARBOSA, 1967, p. 126). As definições de potências com expoentes reais

são feitas para bases não negativas. São apresentadas novamente cinco propriedades para

quaisquer números reais a, b não negativos e quaisquer expoentes racionais (figura 77).

Page 141: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

141

Figura 77- Propriedades das potências para quaisquer expoentes racionais

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967, p. 127).

A representação gráfica da função 𝑦 = 2𝑥, para x racional é apresentada, considerando

valores de x iguais a 0, 1/2 e 1 (figura 78).

Figura 78- Representação gráfica dos pontos (x, ax) para valores de x iguais a 0, 1/2 e 1

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967, p. 129).

As propriedades das potências com expoente real, em número de cinco, são destacadas

em um quadro (figura 79).

Page 142: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

142

Figura 79- Propriedades das potências de expoente real

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967, p. 129).

Por último, no tópico 68, temos a definição de função exponencial:

Admitimos então que tôda função 𝑦 = 𝑎𝑥 com a real positivo e x real

qualquer, considerando para cada x o valor positivo da potência 𝑎𝑥, é

injetora e tem por gráfico uma curva contínua, do tipo indicado nos gráficos

anteriores, denominada curva exponencial (DI PIERRO NETO; ROCHA;

BARBOSA, 1967, p.130).

Com relação às propriedades da função exponencial, são apresentadas dez

propriedades que tratam, respectivamente, da intersecção com o eixo y, do ponto de abscissa

1, do sinal de 𝑓(𝑥), das abscissas positivas e negativas para base maior que 1, das abscissas

positivas e negativas para base entre 0 e 1, da monotonicidade para base maior que 1, da

monotonicidade para base entre 0 e 1, da aproximação do eixo horizontal para base maior que

1, da aproximação do eixo horizontal para base entre 0 e 1 e da exponencial 𝑦 = 1𝑥.

É importante ressaltar as duas propriedades também apresentadas como características

da função exponencial:

𝑓(𝑥1 + 𝑥2) = 𝑓(𝑥1). 𝑓(𝑥2) ou 𝑎𝑥1+𝑥2 = 𝑎𝑥1 . 𝑎𝑥2

[𝑓(𝑥1)]𝑥2 = 𝑓(𝑥1. 𝑥2) ou (𝑎𝑥1)𝑥2 = 𝑎𝑥1.𝑥2

A definição de equação exponencial é formalizada seguindo uma maneira que difere

dos autores já mencionados, pois usam o termo sentença numérica aberta. Assim, a definem:

“Equação exponencial é uma sentença numérica aberta, na variável real x, onde x figura em

expoentes” (DI PIERRO NETO; ROCHA; BARBOSA, 1967, p.133). Os autores afirmam que

a equação exponencial mais simples é a da forma 𝑎𝑥 = 𝑏, onde a e b são constantes positivas.

Page 143: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

143

Existem dois exemplos de resolução. Outros tipos de equação que se reduzem a essa forma

são apresentadas em mais três exemplos.

A função logarítmica comparece no tópico 81 e, dessa forma, não foram apresentados

os casos de equações com resolução por meio das propriedades operatórias dos logaritmos. Os

exercícios para o aluno são encontrados no tópico 79 com a construção de gráficos, aplicação

das propriedades das potências e equações exponenciais para resolver (36 equações) em

ordem crescente de complexidade, sendo a primeira a equação 3𝑥 = 1/81 e, a última,

𝑥𝑥 − 𝑥−𝑥 = 3(1 + 𝑥−𝑥), seguidas pelas respostas.

A função logaritmica é apresentada como inversa da função exponencial geral

𝑦 = 𝑓(𝑥) = 𝑎𝑥 no caso em que a base a é positiva e diferente de 1, utilizando a representação

simbólica:

Figura 80- Representação simbólica da função logaritmica

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967, p. 138).

Sistemas de representação

Os autores utilizam bastante à representação textual com conceitos, definições e

demonstrações de propriedades das potências.

A representação simbólica é bastante explorada por já se tratar de uma obra que coloca

para o leitor a linguagem da Matemática Moderna. Na representação tabular, verificam-se

quadros que ressaltam as propriedades das potências e tabelas são também utilizados pelos

autores e a apresentação de gráficos é feita com a utilização de linhas de grade o que já denota

um diferencial de apresentação dessa obra.

Fenomenologia

Fenômenos naturais: Não são apresentadas situações físicas da natureza nas quais a

equação/função exponencial poderia ser verificada.

Fenômenos matemáticos: A resolução de uma equação exponencial ou a determinação da

variável y para possíveis valores de x sempre exige a aplicação de operações aritméticas, tais

como potenciação, radiciação e as operações fundamentais.

Page 144: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

144

3.5 Década de 1970

Livro 12- Matemática, 2.o Grau e vestibular. Remo L. Brunelli, 1972.

Livro 13- Matemática na Escola Renovada, 1.a Série do 2.

o Grau (antigo colegial).

Scipione Di Pierro Netto, Célia Contin Góes, 1972

Livro 14- Matemática Segundo Grau. Damian Schor, José Guilherme Tizziotti. Vol. 1,

1975.

Livro 15- Tópicos de Matemática. Gelson Iezzi, Nilson J. Machado, Luiz Roberto S.

Castro, Márcio C. Goulart, Antônio S. Machado. Vol. 1, 1978.

Nesta fase, já está em vigor a lei 5692 de 11 de agosto de 1971 e, assim, o antigo

colegial passa a se denominar 2.o grau.

Os quadros comparativos das obras (quadros 7 e 8) são apresentado a seguir.

Quadro 7- Quadro comparativo das obras da década de 70

ESTRUTURA

EXTERNA/INTERNA

BRUNELLI

1972

DI PIERRO

NETTO,

ROCHA & C. C.

GÓIS

1972

SCHOR & J. G.

TIZIOTTI

1975

IEZZI et al.

1978

Tipo de capa Flexível,

colorida, com

desenhos de

gráficos e com

simbologias.

Flexível, bem

colorida

Flexível,

explorando pouco

as cores

Flexível,

colorida

Índice Final da obra Início da obra Início da obra Início da obra

Prefácio X – X X

Bibliografia – – X X

Tamanho (cm) 16x22 15,5x22,5 15x22 15x20,5

Número de páginas 209 244 269 325

Apresentação de formulários – – – –

Referências históricas – – X –

Exercícios de exemplo X X X X

Exercícios propostos com

resposta

Sim e com

respostas no

final do livro

Sim e com

respostas no final

da proposição dos

exercícios

Sim e com

respostas no final

do enunciado

Sim e com

respostas no

final do livro

Notas de rodapé – – – –

Terminologia adotada Linguagem

simples e com

exposição bem

resumida da

teoria

Exposição teórica

com muita

utilização de

simbologia

Linguagem clara, o

autor utiliza textos

bem explicativos e

ainda utiliza o

Vocabulário, que é

o resumo do

capítulo como

lembrete

Exposição

teórica com

utilização de

simbologia

Capítulo destinado a

potenciação

– – – X

Fonte: Dados da pesquisa.

Page 145: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

145

Quadro 8- Quadro comparativo das obras da década de 70

ESTRUTURA

EXTERNA/INTERNA

BRUNELLI

1972

DI PIERRO

NETTO,

ROCHA & C. C.

GÓIS

1972

SCHOR & J. G.

TIZIOTTI

1975

IEZZI et al.

1978

Número de páginas

destinadas a função

exponencial

4 16 2 15

Número de páginas

destinadas a equação

exponencial

5 3 4 3

Aplicação da função

exponencial a outras áreas

do conhecimento

– – – X

Aplicação da equação

exponencial a outras áreas

do conhecimento

– – – –

Fonte: Dados da pesquisa.

3.5.1 Livro 12- Matemática, 2.o Grau e vestibular. Remo L. Brunelli, 1972.

O autor

Remo Loschi Brunelli foi professor de Matemática nos Colégios Loyola e Municipal

de Belo Horizonte e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (BRUNELLI, 1972,

verso da capa).

Estrutura Editorial

A obra corresponde ao volume 1, da primeira edição, publicada pela Edições Loyola

no ano de 1972 (figura 81).

Page 146: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

146

Figura 81- Capa do livro Brunelli (1972)

Fonte: Brunelli (1972).

A capa é papel flexível, semelhante a cartolina com cores azul, vermelha e amarela,

mostrando gráficos de funções, dentre elas, a exponencial.

Na folha de rosto (figura 82), encontramos o título da obra, o público alvo (alunos do

2.o grau e vestibular), a editora (Edições Loyola) e o ano de edição (1972).

Figura 82- Folha de rosto do livro Brunelli (1972)

Fonte: Brunelli (1972).

Page 147: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

147

Quanto aos elementos textuais, os conteúdos estão dispostos em seis capítulos,

divididos em tópicos, colocados em ordem crescente de numeração, dentro do capítulo, como

por exemplo, 1.1, 1.2, etc. As cores dos títulos dos tópicos alternam entre o vermelho e o azul.

As funções exponencial e logarítmica estão no capítulo 5. O índice é bem resumido e

colocado no final do livro (figura 83).

Figura 83- Índice do livro Brunelli (1972)

Fonte: Brunelli (1972).

O autor inicia a obra com o capítulo de Funções e na apresentação o autor faz a

seguinte sugestão: “Aos colegas que nos honrarem com a indicação dêste curso sugerimos, se

necessário, preceder o primeiro capítulo com o de “Elementos da Teoria dos Conjuntos”

(BRUNELLI, 1972, p. 5). A Teoria dos Conjuntos seria, portanto, pré-requisito para uma boa

compreensão dos conteúdos apresentados na obra, já que a linguagem dos conjuntos era

fundamental no contexto da obra.

Análise do conteúdo equação/função exponencial

A função exponencial é definida no tópico 5.1, utilizando a simbologia de conjuntos e

funções (figura 84). O autor utiliza pouco texto explicativo e a definição pode parecer

complexa para o aluno. A seguir, é dado um exemplo de uma função exponencial de base 3

Page 148: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

148

Figura 84- Definição de função exponencial

Fonte: Brunelli (1972, p. 143).

No mesmo exemplo, há o cálculo das imagens para valores de x iguais a -2, 0, 1, 1/2,

etc (figura 85).

Figura 85- Conjunto de valores para base 2

Fonte: Brunelli (1972, p. 144).

O gráfico da função exponencial é apresentado (figura 86), considerando no exemplo

1 uma função exponencial de base 2 que é precedido de uma tabela de valores (𝑥, 𝑎𝑥).

Diferentemente de outros autores, o gráfico é apresentado em um fundo vermelho, o que

chama a atenção do leitor.

Figura 86- Gráfico da função exponencial de base 2

Fonte: Brunelli (1972, p. 144).

Page 149: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

149

No exemplo 2, o autor mostra a função exponencial de base 1/2, seguindo a mesma

metodologia, utilizando uma tabela de valores e o correspondente gráfico.

A partir dos dois gráficos, o autor estabelece algumas conclusões que dizem respeito

ao comportamento da função exponencial, considerando base maior que 1 e base

compreendida entre 0 e 1, ressaltando que independente da base ser maior que 1 ou estar entre

0 e 1, o ponto (0,1) pertence ao gráfico (figura 87). Novamente, é utilizado um fundo

colorido, desta vez azul, para ressaltar as informações contidas na figura. Finalmente, há a

referência para o caso em que a base é igual a 1, mas nesse caso o gráfico “é uma reta paralela

ao eixo dos x” (BRUNELLI, 1972, p. 145).

Figura 87- Gráficos da função exponencial

Fonte: Brunelli (1972, p. 146).

Conforme explica o autor, não foram colocados nas tabelas valores irracionais para x e

cita como exemplo 𝑥 = √2 que fornece 𝑦 = 2√2. O texto é finalizado com a seguinte

afirmação: “Para você ter uma idéia de que interpretar 2√2 não é muito simples, basta saber

que sòmente em 1927 foi mostrado que 2√2 não é um número racional” (BRUNELLI, 1972,

p. 146).

A equação exponencial é definida como “toda equação em que pelo menos um

expoente é função da incógnita” (BRUNELLI, 1972, p. 146). Após a definição, são dados 8

exemplos de equações que se reduzem à forma 𝑎𝑥 = 𝑏 com a e b positivos. O capítulo é

finalizado com os exercícios propostos do tipo Resolver as equações em número de 30. A

função logarítmica é definida como inversa da função exponencial, utilizando também muita

simbologia (figura 88).

Page 150: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

150

Figura 88- Definição da função logaritmica

Fonte: Brunelli (1972, p. 150).

Consideramos objetivo o processo prático mostrado pelo autor para o traçado do

gráfico da função logarítmica (figura 89).

Figura 89- Processo prático para o traçado do gráfico da função logarítmica

Fonte: Brunelli (1972, p. 153).

Sistemas de representação

O livro apresenta pouco texto e muitos exercícios gradativamente apresentados. O

autor não utiliza quadros e sim tabelas para mostrar valores (𝑥, 𝑎𝑥) e a representação gráfica é

pouco explorada, inclusive nos exercícios propostos, onde há apenas questões ligadas a

resoluções de equações.

Fenomenologia

Fenômenos naturais: Não são apresentadas situações físicas da natureza nas quais a

equação/função exponencial poderia ser verificada.

Page 151: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

151

Fenômenos matemáticos: A resolução de uma equação exponencial ou a determinação da

variável y para possíveis valores de x sempre exige a aplicação de operações aritméticas, tais

como potenciação, radiciação e as operações fundamentais.

3.5.2 Livro 13- Matemática na Escola Renovada, 1.a Série do 2.

o Grau (antigo colegial).

Scipione Di Pierro Netto, Célia Contin Góes, 1972

Os autores

Scipione Di Pierro Netto

Já referenciado no ítem 4.4.3.

Célia Contim Góes

A coautora, Célia Contin Góes, também foi professora do Colégio de Aplicação da

USP, tendo publicado com Di Pierro Netto os três volumes da Coleção Matemática na Escola

Renovada (QUEIROZ; ZUIN, 2016, p. 8).

Estrutura Editorial

A obra é destinada à primeira série do 2.o

grau, correspondente ao antigo colegial. O

ano de publicação é o de 1972 e foi editado pela Editora Saraiva.

A capa, em papel flexível, exibe quadros, semelhantes a molduras contendo a

representação de duas funções trigonométricas (funções cosseno e secante) (figura 90).

A folha de rosto traz o título da obra com o nome dos autores na parte superior, sendo

o primeiro nome em negrito. Na parte central, o título da obra, a série de destino e o nome da

editora com o ano de publicação.

No prefácio, Aos Senhores professores, há uma lista dos conteúdos abordados e a

observação de que:

Não fizemos qualquer separação entre Lógica e Conjuntos; a

interdependência dos assuntos justifica a forma de apresentar. O estudo das

Relações e Funções foi realizado com os pormenores exigidos pelos cursos

atuais, onde inserimos algumas noções – já bem substanciais – de Geometria

Analítica. (DI PIERRO NETTO; GÓES, 1972).

Page 152: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

152

Figura 90- Capa do livro Matemática na Escola Renovada

Fonte: Di Pierro Netto e Góes (1972).

A obra é composta por treze capítulos, subdivididos em tópicos, dispostos em ordem

crescente de numeração. A função exponencial se concentra no sexto capítulo, enquanto os

logaritmos e equações, incluindo as exponenciais, estão no sétimo capítulo. A função exponencial

está disposta em quatro tópicos (57 a 60) e, as equações exponenciais, no tópico 140.

Análise do conteúdo equação/função exponencial

O capítulo VI, A Função Exponencial, traz como subtítulo Construção da função

exponencial e a definição da função exponencial é feita em R (conjunto dos reais), utilizando

a simbologia característica da teoria dos conjuntos.

Figura 91- Definição de função exponencial

Di Pierro Netto e Góes (1972, p. 98).

Page 153: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

153

Após a definição, os autores propõem algumas questões “provocativas”, indagando,

por exemplo, por que não se pode ter a < 0? Parece, então, que os autores tentam estabelecer

um diálogo com os leitores, anunciando, no tópico seguinte, que “Tais perguntas estarão

respondidas quando tivermos construído a função f a partir de sucessivas ampliações dos

campos numéricos a partir de N.” (DI PIERRO NETTO; GÓES, 1972, p. 98).

Os autores, então, iniciam o estudo da função exponencial em N, enunciando uma

definição com a base a, assumindo a condição 𝑎 ∈ 𝑅∗. Também são mostradas as cinco

propriedades das potências, sendo as duas primeiras de multiplicação e divisão de potências

de mesma base; a terceira, de uma potência elevada a um expoente e, as duas últimas,

referindo-se a potência de um produto e de uma divisão.

O comportamento da função, quanto ao crescimento, é feito, considerando quatro

casos a saber: base maior que 1, base compreendida entre 0 e 1, base menor que 0 e base igual

a 1. No caso da base menor que 0, denomina a função como oscilante e, para a base igual a 1,

como constante.

No caso da função oscilante, há exemplos com uma base igual a -2 e a outra igual a

-1/2 (figuras 92 e 93)

Figura 92- Função exponencial oscilante de base -2

Fonte: Di Pierro Netto e Góes (1972, p. 101).

Page 154: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

154

Figura 93- Função exponencial oscilante de base -1/2

Fonte: Di Pierro Netto e Góes (1972, p. 101).

De forma similar, para a função exponencial, no conjunto dos inteiros, apresentam-se

os gráficos para cada caso da base.

Para a função exponencial em Q, os autores mostram as primeiras definições. A

potência com expoente racional para 𝑚, 𝑛 ∈ Z e 𝑛 ≠ 0.

𝑎𝑚𝑛 = 𝑦 ↔ 𝑎𝑚 = 𝑦𝑛

Ou seja,

𝑎𝑚𝑛 = 𝑦 ↔ 𝑦 = √𝑎𝑚𝑛

A partir dessa consequência, observam que pode ocorrer que y não seja um número

real, pois se a for negativo, m ímpar e n par, y não pertencerá a R. Assim sendo, em Q, a base

deverá ser positiva para garantir a existência da imagem em R.

A justificativa de não se representar o gráfico da função exponencial em Q é dada

pelos autores:

[...] se quisermos representar a função exponencial em Q, devemos, por um

lado, desenhar uma linha contínua, porque entre dois pontos quaisquer

sempre existe um outro que pertence à função; por outro lado, sabemos que

Page 155: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

155

se assim o fizermos estaremos incluindo, no gráfico, pontos que não

pertencem à função, isto é, aquêles de expoente irracional. (DI PIERRO

NETTO e GÓES, 1972, p. 108).

A função exponencial em R é definida com a positivo e diferente de 1, juntamente

com as cinco propriedades das potências. Os gráficos são linhas contínuas.

No tópico 62, os autores apresentam a denominada “Aplicações”, colocando dois

exemplos para a verificação de que as potências dadas pertencem ou não ao conjunto dos

números reais. Não há proposição de aplicações da exponencial em outras áreas do

conhecimento e, tão pouco, incluem qualquer abordagem histórica. Para Zuin e Queiroz

(2016, p. 13), a utilização, quase que “exagerada” de simbolismos, denotou à obra um grau de

dificuldade muito grande para o entendimento do conteúdo.

O capítulo destinado às funções é finalizado, no tópico 63, com a proposição de

exercícios, em três sequências. Na primeira, há exercícios sobre as propriedades das

potências; na segunda, representação gráfica de funções, questões onde os questionamentos

teóricos deverão ser respondidos com justificativas e determinação do domínio de algumas

funções; na terceira, são colocados exercícios de resolução de inequações.

A função logarítmica é colocada como inversa da função exponencial (figura 94).

Figura 94- Definição de função logaritmica

Fonte: Di Pierro Netto e Góes (1972, p. 114).

As equações exponenciais são incluídas no tópico 79. A definição esclarece que a

incógnita comparece como expoente de uma ou mais potências dessa equação. A forma mais

Page 156: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

156

simples é 𝑎𝑥 = 𝑏, com a e b positivos e a diferente de 1. São dados dois exemplos, sendo o

primeiro com aplicação da propriedade operatória dos logaritmos, para potências e, o

segundo, quando a e b são potências de mesma base. As respostas são expressas utilizando o

conjunto verdade. Os autores ressaltam que “Não existe um processo determinado para se

resolver uma equação exponencial. Todavia, examinaremos alguns tipos mais comuns” (DI

PIERRO NETTO; GÓES, 1972, p.141). Feita essa observação, apresentam três tipos de

equação: o primeiro são aquelas cujos membros são redutíveis a potências de uma mesma

base, enquanto. no segundo tipo, os membros são potências de base distintas. O terceiro tipo

são equações redutíveis a 𝑎𝑚𝑥 + 𝑏 = 0 ou então 𝑎𝑚2𝑥 + 𝑏𝑚𝑥 + 𝑐 = 0. Após cada tipo

citado, há um exemplo resolvido. Os exercícios para o aluno são colocados no tópico 81 em

duas sequências. Na primeira, os exercícios são propostos de forma a aplicar, ou não, as

propriedades dos logaritmos. Na sequência 2, as equações propostas exigem um manuseio

algébrico maior. Há 39 exercícios e, em todos, o enunciado exige a determinação do conjunto

verdade.

Sistemas de representação

A representação verbal é pouco explorada, havendo predominância da simbólica

(simbologia da teoria dos conjuntos, relações e funções) que se faz presente nas definições e

exemplos. Existe a representação gráfica. Não há representação tabular, mas sim de tabelas de

valores (𝑥, 𝑦) para o traçado de gráficos que complementam a visualização da variação da

função exponencial.

Fenomenologia

Fenômenos naturais: Não são apresentadas situações físicas da natureza nas quais a

equação/função exponencial poderia ser verificada.

Fenômenos matemáticos: Presentes na aplicação de operações aritméticas, tais como

potenciação, radiciação e as operações fundamentais.

Page 157: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

157

3.5.3 Livro 14- Matemática Segundo Grau. Damian Schor, José Guilherme Tizziotti. Vol. 1,

1975.

Os autores

Damian Schor

Nasceu na Romênia em 1943, vindo para o Brasil ainda criança. Estudou Engenharia

Elétrica na Politécnica da USP. Foi professor do Anglo de São Paulo, Sorocaba e São Roque e

dirigiu o Colégio Bialik, fundado por imigrantes judeus. Escreveu os livros Matemática,

Segundo Grau, Volumes 1,2 e 3. Faleceu em São Paulo em 2012 (Folha de São Paulo, São

Paulo, 30 nov. 2012. Cotidiano)27

.

José Guilherme Tizziotti

Não encontramos referências para a escrita de dados biográficos desse autor. Ele

escreveu os livros Matemática, segundo grau, três volumes, em coautoria com Damian Schor.

Estrutura Editorial

A obra é destinada à primeira série do 2.o

grau e foi publicada em 1975 pela editora

Ática (figura 95).

A capa é feita de papel flexível, de cor branca, exibindo uma figura que se assemelha a

uma senóide.

Figura 95- Capa do livro em análise

Fonte: Schor e Tizziotti (1975).

27

Disponível em < http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1193555-damian-schor-1943-2012---um-professor-

nascido-na-guerra.shtml >.

Page 158: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

158

A folha de rosto segue o mesmo padrão dos livros já analisados, com título centrado

no meio da página, os nomes dos autores na parte superior e o nome da editora na parte

inferior (figura 96).

Figura 96- Folha de rosto da obra

Fonte: Schor e Tizziotti (1975).

Os conteúdos são divididos em duas partes, enumeradas em algarismos romanos. A

parte I é destinada a Álgebra e, a parte II, à Trigonometria. A Álgebra foi dividida em 4

capítulos e, a Trigonometria, em 6 capítulos, numerados de 1 a 11, sendo que o capítulo 4 foi

destinado ao estudo dos logaritmos e equações exponenciais, incluindo aí as funções

exponencial e logarítmica.

Análise do conteúdo equação/função exponencial

No início da parte I, Álgebra, há uma referência histórica ao mostrar os capítulos e as

abordagens de cada um deles. Assim escrevem:

Diofanto, matemático grego do século III d. C., parece ter sido o primeiro a

tentar uma notação algébrica. Assimilando a cultura grega, os árabes muito

contribuíram para o desenvolvimento da Álgebra, conseguindo chegar à

solução de equações de 2.o e 3.

o graus. Durante séculos, os autores usaram

notações próprias, as quais tenderam a uma padronização a partir de René

Descartes (1596-1650). (SCHOR e TIZZIOTTI, 1975, p. 9).

Page 159: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

159

Já no início do capítulo 4, os autores informam que as funções exponencial e

logarítmica são funções inversas entre si. A seguir, definem a função exponencial como sendo

𝑓(𝑥) = 𝑎𝑥 com a positivo e diferente de 1. Como complemento, há um quadro denominado

nomenclatura (figura 97).

Figura 97- Nomenclatura para a função exponencial

Fonte: Schor e Tizziotti (1975, p. 127).

O domínio e a imagem da função são estabelecidos pela simbologia de conjuntos e

dados por: 𝐷 = 𝑅 e 𝐼𝑚 = 𝑅+∗ .

Na representação gráfica da função exponencial existem dois exemplos, considerando

no primeiro exemplo, a base 2 e, no segundo, a base 1/2. Os gráficos são acompanhados de

tabelas de valores de x e y. Na figura 98, mostramos apenas o primeiro exemplo.

Figura 98- Representação gráfica da função de base maior que 1

Fonte: Schor e Tizziotti (1975, p. 127).

Na definição, a parte verbal é sucinta existindo apenas os dois exemplos de gráficos.

Page 160: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

160

A função logarítmica é definida como a inversa da exponencial e aponta o caminho da

determinação da função injetora 𝑦 = 𝑎𝑥. Na página 131, há um quadro comparativo entre as

duas funções (figura 99).

Figura 99- Quadro comparativo entre as funções exponencial e logaritmica

Fonte: Schor e Tizziotti (1975, p. 131).

Não foram propostos exercícios sobre a função exponencial.

As equações exponenciais iniciam-se na página 159 com a definição de que são

equações em que a incógnita figura em expoente e complementam informando que algumas

delas são resolvidas com a aplicação de logaritmos, enquanto que em outras basta aplicar

propriedades de potências. São dados 5 exemplos, sendo os dois primeiros com a aplicação de

logaritmos e os demais coma aplicação de propriedades das potências.

Nos exercícios propostos, de 35 a 42, o enunciado é complete. Mostramos essa

característica na figura 100, referente ao exercício 35.

Figura 100- Exercício 35

Fonte: Schor e Tizziotti (1975, p. 161).

Page 161: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

161

Sistemas de representação

A representação verbal é pouco explorada. Foi evitada a exposição de textos longos. A

representação simbólica é utilizada em substituição a frases explicativas. O quadro de

comparação (figura 99) ilustra a representação tabular. Há apenas dois gráficos da função

exponencial, os autores utilizaram pouco a representação gráfica.

Fenomenologia

Fenômenos naturais: Não são apresentadas situações físicas da natureza nas quais a

equação/função exponencial poderia ser verificada.

Fenômenos matemáticos: Na representação gráfica da função, exigiu-se o cálculo da variável

y que exige a aplicação da operação de potenciação. As equações exponenciais se apresentam

em um contexto de aplicação de uma ou mais operações aritméticas.

3.5.4 Livro 15- Tópicos de Matemática. Gelson Iezzi, Nilson J. Machado, Luiz Roberto S.

Castro, Márcio C. Goulart, Antônio S. Machado. Vol. 1, 1978.

Os autores

Não foram encontrados na bibliografia dados biográficos de alguns dos autores. Por

essa razão, citamos apenas Gelson Iezzi, Osvaldo Dolce e Nilson José Machado.

Gelson Iezzi

Gelson Iezzi é formado em Engenharia Metalurgia pela Escola Politécnica da

Universidade de São Paulo e Licenciatura em Matemática pelo. Instituto de Matemática e

Estatística da USP (IEZZI et al., 2006).

Outros títulos de sua autoria:

Matemática Ciência e Aplicações, volumes 1, 2 e 3 em coautoria com Osvaldo Dolce,

David Degenszajn, Roberto Périgo e Nilze de Almeida.

Matemática conecte, volume único.

Matemática e realidade para o ensino fundamental em coautoria com Osvaldo Dolce e

Antônio Machado28

.

28

Disponível em < https://www.livrariacultura.com.br/e/gelson-iezzi.

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162

Osvaldo Dolce

Engenheiro Civil pela Escola Politécnica da USP e licenciado em Matemática pelo

Instituto de Matemática e Estatística da USP (IEZZI et al., 2006).

Outros títulos de sua autoria:

Matemática Ciência e Aplicações, volumes 1, 2 e 3 em co-autoria com Gelson Iezzi,

David Degenszajn, Roberto Périgo e Nilze de Almeida.

Matemática e realidade para o ensino fundamental em co-autoria com Gelson Iezzi e

Antônio Machado. (IEZZI et al., 2006).

Nilson José Machado

Nasceu em Olinda, Pernambuco, em 1947. É licenciado em Matemática e doutor em

Filosofia da Educação pela Universidade de São Paulo, onde é professor desde 1972,

inicialmente no Instituto de Matemática e Estatística. Leciona na Faculdade de Educação

desde 1984, sendo atualmente professor titular. Publicou diversos livros didáticos e

paradidáticos para os três níveis de ensino (MACHADO, 2004, p.155).

Outros títulos de sua autoria:

Matemática e Realidade, 1987.

Matemática e Língua Materna, 1999.

Matemática e Educação, 2000.

Epistemologia e didática, 2000.

Educação: Projetos e Valores, 2004. (MACHADO, 2004, p.155

Figura 101- Capa do livro Iezzi et al. (1978)

Fonte: Iezzi et al. (1978).

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163

Estrutura Editorial

A obra é destinada à primeira série do segundo grau e foi editado pela Atual Editora,

em 1978, sendo esta a sexta edição revisada (figura 101). A primeira edição foi de 1973.

A capa é de papel flexível com a palavra Matemática escrita em vermelho e a imagem

especular no semiplano direito e também no inferior. Os nomes dos autores foram dispostos

de forma a produzir uma visualização piramidal.

A folha de rosto tem como diferencial a informação do número de exemplos, de

exercícios resolvidos e exercícios propostos ao todo na obra, além dos nomes dos autores, o

público alvo que são alunos da 1.a série do 2.

o grau (figura 102).

Figura 102- Folha de rosto Iezzi et al. (1978)

Fonte: Iezzi et al. (1978).

Os conteúdos abordados estão dispostos em nove capítulos, que são subdivididos em

tópicos. A função exponencial se encontra no capítulo 7, sendo o primeiro capítulo destinado

aos conjuntos. No prefácio, os autores relatam sobre a metodologia utilizada na elaboração do

livro:

[...] procuramos chegar aos conceitos fundamentais através de exemplos,

muitas vezes não matemáticos, tentando tornar as definições as mais naturais

possíveis. Tivemos também a preocupação de apresentar sempre que

possível, os vínculos da Matemática com outras ciências, notadamente a

Física. A teoria apresenta-se em doses nunca muito grandes, seguidas de

exercícios que devem ser considerados parte integrante do texto. Procuramos

Page 164: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

164

apresentar exercícios resolvidos e propostos compatíveis com a teoria dada e

o objetivo visado (IEZZI et al., 1978, prefácio).

Análise do conteúdo equação/função exponencial

O capítulo 7 traz, como ponto de partida, a operação de potenciação, apresentando, em

primeiro lugar, a potência com expoente inteiro. É apresentado um quadro de definição e

denominando 𝑎𝑛 de potência de base a e expoente inteiro n (figura 103).

Figura 103- Definição de potência de expoente inteiro

Fonte: Iezzi et al. (1978, p.133).

Os exercícios para a aplicação da definição são propostos em seguida e em número de

sete com subitens, totalizando 47 potências a serem calculadas.

Outro quadro mostra as propriedades das potências com expoente inteiro (figura 104).

Figura 104- Propriedades das potências com expoente inteiro

Fonte: Iezzi et al. (1978, p.134).

Os exercícios propostos se apresentam como: Classificar em V (verdadeiro) ou F

(falso) e Simplificar as expressões.

Page 165: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

165

No tópico seguinte, são apresentados os radicais com suas propriedades em outro

quadro. Para o aluno, os exercícios são da forma: calcular, simplificar, Classificar em V

(verdadeiro) ou F (falso), resolver as equações em R.

Na sequência, mostram as potências com expoentes racional, irracional e real para,

assim, na página 139, mostrar as equações exponenciais.

Para as equações exponenciais, não há definição e tão pouco a classificação das

equações. São resolvidos alguns exemplos que foram denominados de R.114 (por se tratar do

centésimo décimo quarto exercício resolvido), R.115 (dois exemplos) e R.116 (dois

exemplos). Os exercícios propostos são similares aos resolvidos e os enunciados são da forma

resolver as equações exponenciais.

A comparação de potências, no tópico 7, é resumida em um quadro (figura 105).

Figura 105- Comparação de potências

Fonte: Iezzi et al. (1978, p.142).

No tópico 8, tem-se a definição de função exponencial como sendo a função, definida

para todo x real, 𝑓(𝑥) = 𝑎𝑥 cujo domínio é R e conjunto imagem, 𝑅+∗ .

Os gráficos da função exponencial são ilustrados através de dois exemplos,

utilizando a base 2 e a base 1/2, acompanhados das tabelas de valores (𝑥, 𝑦) (figura 106). O

plano cartesiano apresenta linhas de grade a exemplo do que foi utilizado por Di Pierro Netto

et al. (1967).

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166

Figura 106- Exemplo de gráfico da função exponencial

Fonte: Iezzi et al. (1978, p.143).

A partir dos exemplos, concluem que a curva está acima do eixo dos x. A curva corta o

eixo dos y no ponto de ordenada +1 e tem dois aspectos, conforma a base seja maior que 1 ou

ser um número compreendido entre 0 e 1.

Os exercícios resolvidos têm como enunciado classificar as funções em crescentes ou

decrescentes. Trata-se do exercício R.117 com subitens de a a e.

O último tópico refere-se a inequações exponenciais e fornece mais dois exercícios

resolvidos.

Nos exercícios propostos, o aluno deverá esboçar gráficos de algumas funções

exponenciais, classificar as funções em crescente ou decrescente, resolver inequações

exponenciais e determinar o domínio de funções. Finaliza o capítulo com uma figura onde

ressalta que a Matemática é aplicada na Eletrônica com a inscrição “As máquinas de calcular

constituem uma das maravilhosas conquistas deste século e a realização dos sonhos dos

cientistas do passado.” (figura 107).

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167

Figura 107- Uma das aplicações da Matemática

Fonte: Iezzi et al. (1978, p.148).

Sistemas de representação

A representação textual é notada pelos textos elaborados, principalmente na parte

teórica para a descrição das potências. No que tange à função exponencial propriamente dita,

não se observa textos longos.

A representação simbólica foi destacada na utilização dos símbolos de menor que (< )

e maior que ( > ). Há pouco uso da simbologia própria para conjuntos.

Na representação tabular, verificam-se os quadros, os quais são explorados para

mostrar propriedades e comparações entre potências.

Os gráficos mostrados tiveram como finalidade a representação da variação das

funções exponenciais e não foram muitos, apenas quatro.

Fenomenologia

Fenômenos naturais: Apesar de Gelson Iezzi colocar em seu prefácio que iria fazer “os

vínculos da Matemática com outras ciências”, algo que seria muito pertinente para as

equações exponenciais, não são encontradas situações físicas ou químicas relacionadas ao

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168

tema, apesar da citação da aplicação da Matemática na Eletrônica através de uma figura

(figura 107).

Fenômenos matemáticos: Verificado fenômenos matemáticos na aplicação de operações

aritméticas, tais como potenciação, radiciação e as operações fundamentais.

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169

4. O PRODUTO E SUA APLICAÇÃO

Nesse capítulo, apresentaremos os pontos principais do produto desenvolvido e os

dados e resultados da aplicação do mesmo para um grupo de alunos do Curso de

Especialização em Educação Matemática do Instituto Federal de Minas Gerais.

O produto educacional teve como objetivo ser utilizado por profissionais da educação

(professores, pesquisadores e pessoas de alguma forma ligados à educação) de modo a terem

acesso a mais uma fonte de informações sobre a história de um conteúdo, cuja leitura poderá

levar a pontos importantes da História da Educação no Brasil.

Percebemos, pela nossa experiência em sala de aula, que é fundamental o

conhecimento da História, não apenas de uma disciplina, no caso da Matemática, mas também

do percurso experimentado pelo conteúdo em pauta que, nos dias atuais, tomou uma

importância muito grande, graças às várias aplicações que encontra em diversos ramos do

conhecimento.

Entendemos ser uma forma de promover a formação de professores e colaborar para

promover uma melhoria no ensino-aprendizagem de Matemática. Pelas suas características

bem peculiares, a profissão de ensinar requer essa busca constante de aprendizado e, mais que

isso, fornece momentos de reflexão sobre a prática dentro da sala de aula. Podem ser

momentos de busca de alternativas pedagógicas que tornem prazerosas as aulas, despertando

no aluno o interesse pelo saber. Como consequência, as aulas poderão ser momentos de um

ensino e de uma aprendizagem mais efetivos.

Concordamos com Garcia et al (2011) ao defenderem que:

Questionar, investigar e refletir são princípios básicos para propostas de

formação que visem obter mudanças na ação docente e na escola. Um

caminho para desencadear essas mudanças é a criação de oportunidades e

espaços, para o aluno/professor estabelecer relações entre atividades que lhe

são propostas, no contexto em que atua como aluno, e o seu próprio trabalho

docente, na escola em que atua como professor. (GARCIA et al 2011, p.7).

A estrutura do produto consta de cinco unidades, citamos os conteúdos de cada uma

delas com os objetivos (quadro 9).

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170

Quadro 9- Estrutura do material (produto)

Equação/função exponencial em livros didáticos no Brasil (1930-1980)

Unidade Conteúdo Objetivos

Apresentação Finalidade do material Apresentar a proposta

do material

Aspectos históricos das funções Abordagem histórica

das funções

Abordar a história das funções

Reformas de ensino que

ocorreram no período

de 1930 a 1980

As reformas ocorridas

no período

de 1930 a 1980

Informar as tendências e

reformas existentes no período

e as consequências

advindas das reformas

Apresentação do conteúdo

equação/função exponencial

nos livros didáticos

selecionados

Apresentação de

cinco livros didáticos

Apresentar

os elementos analisados

Características principais da

metodologia apresentada pelos

autores selecionados

Análise de como os autores

introduzem o conteúdo,

os exercícios/problemas

Apresentar os livros analisados,

identificando as características

encontradas na apresentação

do conteúdo Fonte: Elaborado pela autora.

Os livros selecionados para o material foram:

Curso de Mathematica 4.o Anno, de Euclides Roxo, Cecil Thiré e Mello e Souza

(1938);

Curso de Matemática 2.o Livro Colegial, de Algacyr Munhoz Maeder (1949);

Curso de Matemática 1.o ano para os Cursos Clássico e Científico, de Thales Mello

Carvalho (1955);

Matemática Curso Colegial Moderno, de Scipione Di Pierro Netto, Luiz Mauro Rocha

e Ruy Madsen Barbosa (1967);

Matemática 2o Grau 1

a Série, de Gelson Iezzi, Osvaldo Dolce, José Carlos Teixeira,

Nilson José Machado, Márcio Cintra Goulart, Luiz Roberto da Silveira Castro e

Antônio dos Santos Machado (1978).

O quadro 10 apresenta as características das obras analisadas no que se refere às

estruturas externa e interna.

Page 171: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

171

Quadro 10- Quadro comparativo das cinco obras

ESTRUTURA

EXTERNA/INTERNA

ROXO et al

(1938)

MAEDER,

(1949)

CARVALHO

(1955(

DI

PIERRO

NETTO et

al (1967)

IEZZI et

al.

(1978)

Tipo de capa Dura Dura Dura Flexível de

cor vermelha

com o título

Matemática

em branco

Flexível,

colorida

Índice

Sim, na última

página e sem estar

em ordem

alfabética.

Sim, nas

primeiras

páginas do

livro e sem

estar em

ordem

alfabética.

Final da obra Final da

obra

Início da

obra

Prefácio X – – X X

Bibliografia – – – – X

Tamanho (cm) 16 x 23 14x21 13x19 14,5x21 15x20,5

Número de páginas 409 415 316 267 325

Apresentação de formulários X – – – –

Referências históricas – – X X –

Exercícios de exemplo X X X – X

Exercícios propostos com

resposta

Sim e após o

enunciado

Sim e após

o enunciado

Sim e com

respostas no

final da

proposição

dos exercícios

Sim e com

respostas no

final do

enunciado

Sim e com

respostas

no final do

livro

Notas de rodapé X – X – –

Terminologia adotada Linguagem

simples e direta.

Linguagem

simples e

direta.

Linguagem

simples e

clara com

assuntos

colocados em

ordem

crescente de

dificuldade

Linguagem

clara, o autor

utiliza textos

bem

explicativos

e ainda

utiliza o

Vocabulário

Exposição

teórica

com

utilização

de

simbologia

Capítulo destinado

à potenciação

– – X X X

Número de páginas

destinadas à função

exponencial

9 10 5 4 15

Número de páginas

destinadas à equação

exponencial

1/2 6 4 5 3

Aplicação da função

exponencial a outras áreas – - – – X

Aplicação da equação

exponencial à outras áreas

– – – – –

Fonte: Dados da pesquisa.

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172

4.1 Aplicação do produto

Para a aplicação do produto, entramos em contato com o professor Marcos Dias da

Rocha, coordenador do Curso de Pós Graduação Latu Sensu em Educação Matemática, do

Instituto Federal de Minas Gerais/Campus Ouro Preto, localizado no município de Ouro

Preto, Minas Gerais. Foram cedidas as aulas de Projeto de Pesquisa, que acontecem às

quintas feiras de 19:00 h às 22:50 h, e realizamos um minicurso no dia 9 de novembro de

2017. Houve a presença de dez alunos e do professor Neuber Silva Ferreira, titular da

disciplina de Projetos de Pesquisa, totalizando onze participantes.

Em um primeiro momento, foi feita a exposição dos tópicos contidos no material,

como está exposto no quadro 9 (p. 169).

Foram levados cinco livros, dos quinze analisados na dissertação, os quais foram

integrados no produto. Os participantes tiveram acesso às obras e, de forma especial, no

capítulo destinado à equação/função exponencial. Para tal, os alunos se dispuseram em

círculo, tendo acesso aos livros para a verificação da metodologia adotada pelos autores das

obras. Nesse momento, abrimos espaço para que cada aluno fizesse algum comentário sobre o

assunto e muitos observaram que os livros não traziam “ligações” com as outras áreas,

diferentemente de alguns autores atuais que trazem aplicações desse conteúdo. Outros

comentaram que isso é “muito lógico” dado momento em que foram editados com “outras

tecnologias, outros alunos, outros professores, outras escolas, etc”. Apesar de terem sido

apresentadas e discutidas as reformas de 1931 e 1942, no minicurso, ainda assim, os

participantes não conseguiram perceber que os autores analisados poderiam não estar

cumprindo o prescrito nas reformas e instruções metodológicas e, no caso da Reforma

Francisco Campos, essas instruções frisavam o uso da intuição, principalmente nas séries

iniciais, enquanto que a exposição formal deveria ser introduzida aos poucos. O método

heurístico também foi orientado pela mesma reforma onde o próprio aluno enunciaria as

regras e propriedades dos conceitos em estudo a partir da resolução de problemas.

Os alunos observaram que o material de impressão “eram até melhores que os de hoje,

com capas duras”, com “jeito de livro mesmo”, conforme relatou um participante.

Em outro momento, foi aplicado um questionário (apêndice A), cujo objetivo foi

verificar se o material trouxe novas informações aos participantes e se foi positivo, ou não, o

minicurso, sobretudo no que concerne aos conteúdos. Acrescenta-se também que esse feed

back poderia trazer mudanças no material ou mesmo adaptações para promover a sua

melhoria.

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173

Ressaltamos que não havia necessidade de se colocar o nome na folha de respostas

para resguardar a identidade dos participantes. O quadro 11 mostra o perfil dos participantes.

Quadro 11- Formação dos participantes

Número de

participantes

Licenciados

em

Matemática

Licenciados

em outras

áreas

Mestres

Especialistas

Atuantes em

ensino de

Matemática

11 10 1

(Economia)

1 1 11

Fonte: Dados da pesquisa.

Observamos que apenas um participante não tem formação em Matemática e todos os

demais apresentam licenciatura. Com relação à atuação como professores, o quadro 12 mostra

o resultado extraído do questionário.

Quadro 12- Tempo de atuação como docente com o respectivo nível de ensino

Participante Atuação no

Ensino

Fundamental

Atuação

no Ensino

Médio

Tempo

de

serviço

até 5

anos

Tempo

de

serviço

entre 5 e

10 anos

Tempo de

serviço mais

de 10 anos

P 1 _ X X _ _

P 2 _ X _ _ X

P 3 X _ X _ _

P 4 X X X _ _

P 5 X _ _ _ X

P 6 X _ X _ _

P 7 X _ X _ _

P 8 _ X _ X _

P 9 _ X X _ _

P 10 _ X _ _ X

P 11 _ X _ X _

Fonte: Dados da pesquisa.

Pelo quadro, podemos verificar que sete participantes atuam no Ensino Médio, cinco

deles no Ensino Fundamental e apenas um trabalha nos dois níveis de ensino. Com relação ao

tempo de serviço, seis tem até cinco anos de docência, dois entre cinco e dez anos e três deles

com mais de 10 anos de trabalho.

Com relação ao tipo de escola em que cada participante trabalha atualmente, foi

possível elaborar o quadro 13.

Page 174: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

174

Quadro 13- Tipo de Escola de cada participante

Participante Escola Pública

Estadual

Escola Pública

Municipal

Escola Pública

Federal

Escola Privada

P 1 – – – X

P 2 – – X _

P 3 – – – X

P 4 X – – –

P 5 – X – –

P 6 X – – –

P 7 – X – –

P 8 – – – X

P 9 – – – X

P 10 X – – –

P 11 – – – X Fonte: Dados da pesquisa.

Pelo quadro 13, constatamos que cinco professores atuam na Rede Privada de ensino e

os seis restantes na Escola Pública, sendo três na Estadual, dois na Municipal e um na Rede

Federal de ensino.

Os aspectos apresentados nos quadros 11, 12 e 13 correspondem à primeira parte do

questionário, no qual se investiga a formação, o tempo de atuação como docente de

Matemática, o segmento de ensino em que atua e o tipo de escola em que trabalha.

A segunda parte do questionário trouxe alguns questionamentos e, o primeiro deles,

diz respeito à informações trazidas pelo minicurso e que eram desconhecidas pelos

participantes. Todos foram unânimes em responder que o minicurso acrescentou informações.

Abaixo, transcrevemos algumas respostas:

“Eu nunca tive acesso a livros de outras décadas e como a forma de montar os conteúdos

foram mudando com o passar dos anos.” (P1)

“Reformas de ensino, os principais autores de livros didáticos das décadas de 30 a 70. Como

eram abordados a equação/função exponencial neste período.” (P2)

“Acrescentou muito em relação às reformas na legislação educacional, não conhecia

basicamente nada.”(P3)

“Conhecimentos sobre a história da Matemática, autores importantes. Literaturas indicadas

para leitura.”(P4)

“Sobre a Matemática Moderna eu já tinha um pouco de conhecimento e foi interessante saber

sobre as épocas anteriores.”(P8)

“O processo histórico da construção do livro didático em busca de dar uma resposta a

comunidade acadêmica.”(P10)

“A mudança do número de anos do Ensino Médio e também a mudança do nome do Ensino

Médio.”(P11)

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175

Sobre a questão o minicurso mudou sua visão sobre algum aspecto relativo, todos

foram unânimes em responder que sim. Destacamos os aspectos relativos colocados no

questionário:

Mudou a visão em relação às correntes pedagógicas abordadas.

Mudou a visão em relação à legislação educacional.

Mudou a visão em relação à importância da história da Educação Matemática na formação

docente.

Mudou a visão em relação à importância da análise dos livros didáticos.

Não houve sugestões de mudança para a condução do material desenvolvido.

Em outra questão, perguntamos se seria importante que esse material fosse utilizado

nos cursos de formação inicial e continuada de professores de Matemática e áreas afins e

algumas respostas estão trasncritas a seguir:

“Acho importante sim, mas o enfoque deveria ser em mais disciplinas [conteúdos] que não só

exponencial para maior aproveitamento dos professores.” (P1)

“Sim, pois é preciso conhecer a história do ensino de Matemática no Brasil, bem como os

currículos e livros que eram utilizados e como estes evoluiram até os dias atuais.” (P2)

“Sim, muito importante. Principalmente para entender que a educação é o que é hoje, devido a

fatos acontecidos antes.” (P4)

“Muito importante. Foi um material muito bem apresentado e que apresentou uma pesquisa

muito bem feita.”(P6)

“Sim, acho que é importante saber pra fazer uma reflexão sobre o ensino. Isso pode ser

acrescentado.”(P8)

“Sim, pois irá agregar valor e senso histórico aos professores.” (P9)

“Sim, pois é importante um conhecimento mais aprofundado sobre a maneira da abordagem

do ensino de função exponencial em livros didáticos.” (P10)

Essas respostas indicam que o material pode contribuir muito para a formação de

professores e demais profissionais da área de educação, uma vez que valorizaram o

conhecimento histórico de um conteúdo e a relevância que se deve atribuir ao livro didático

em aspectos mais específicos do conteúdo.

Outra questão faz referência a algum ponto não contemplado que o participante

gostaria que fosse abordado. Apenas dois fizeram sugestões e, os demais, responderam que

não houve nenhum outro ponto que consideraram ser necessário além dos contemplados. As

sugestões dos que responderam sim foram:

“Como gosto muito de Geometria, gostaria de ver a evolução do ensino dela, mas entendo que

você teve que focar em um assunto e pesquisá-lo.”(P1)

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176

“Como os livros investigados não abordavam a aplicação do conteúdo no dia a dia

(quotidiano) e para a continuação dos estudos.”(P2)

Com relação aos aspectos do minicurso que foram considerados mais relevantes e o

por quê, ressaltamos:

“Gostei da análise de conteúdos que faziam parte de uma edição e em outra não, pois acho

isso importante de ser estudado, pois representa a importância desse ‘renovar e resgatar’ o que

foi deixado de lado.”(P1)

“O aspecto histórico, pois nos permite entender como foram as políticas públicas para a

educação no Brasil. O aspecto profissional em relação à formação do professor, pois traz um

entendimento das estratégias pedagógicas utilizadas no ensino de função exponencial.”(P2)

“Achei muito importante mostrar a diferença em cada uma das reformas, pois podemos

perceber as influências nos dias de hoje.”(P3)

“A pesquisa sobre a função exponencial e equação exponencial me chamou atenção sobre

épocas que foram abordadas as mesmas em livros didáticos. Essa visão da apresentação me

fez ter um olhar diferente e envolve a vontade de pesquisar para ter mais conhecimentos.”(P4)

“As observações onde um conteúdo era ensinado e depois substituído [no caso da função

exponencial]. O tipo de metodologia adotada em cada época.”(P5)

“A evolução do sistema educacional e a abordagem dada à Matemática [para funções e

equações exponenciais]. Esses aspectos foram importantes, pois deram-me um

posicionamento histórico.”(P6)

“Achei interessante ter mostrado como foi a mudança na forma de cobrança de exercícios

sobre o ensino de função/equação exponencial.”(P7)

Percebemos, nessas respostas, novamente, a valorização dos participantes do minicurso ao

conhecimento histórico não apenas ligado ao conteúdo, mas também às reformas de ensino

que ocorreram. Portanto, esse resgate do conhecimento traz contribuições importantes para a

formação docente.

Nas considerações finais, alguns participantes assinalaram que:

“Muito bom o estudo, gostaria de ter sido em um tempo maior para conhecermos mais do que

foi pesquisado.”(P1)

“A pesquisa é muito relevante, traz contribuições significativas para a formação de professores

e para a história do ensino de função exponencial.”(P2)

“Quero agradecer pela apresentação e pelo conhecimento que nos foi compartilhado e desejar

sucesso no seu produto educacional.”(P6)

“Acho que para melhorar o presente e o futuro é importante recorrer ao passado, buscando

uma reflexão sobre o que deu certo ou não. Assim, não se parte do zero e sim de uma base

mais sólida.”(P7)

“Gostei muito do minicurso, pois aprendi sobre a história do ensino de função exponencial,

pois não havia lido nada sobre esse assunto antes.”(P10)

Ao propor ao Professor Marcos Rocha, coordenador do Curso de Especialização, esse

minicurso, dissemos a ele que a nossa expectativa era mostrar aos alunos informações

importantes sobre o período de 1930-1980 na Educação Matemática no Brasil, tais como o

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177

método intuitivo e o movimento da Escola Nova, que foram tendências pedagógicas vividas, e

as reformas de ensino Francisco Campos, Gustavo Capanema, as leis 4.024/1961 e

5.692/1971 e o Movimento da Matemática Moderna. Notamos que a maioria dos participantes

não conheciam diversos aspectos abordados e pode ser um indício de que os Cursos de

Licenciatura em Matemática não tratam de temas relacionados à História da Educação

Matemática. Saímos felizes do minicurso por ter alcançado o objetivo proposto que foi a

divulgação da nossa pesquisa e um primeiro diagnóstico positivo da relevância do material

elaborado por nós e que poderá trazer acréscimos à formação docente.

Page 178: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

178

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa, conforme podemos constatar ao longo de toda a leitura dos capítulos

que a compõem, não tratou da história dos livros didáticos de Matemática no período 1930-

1980 e muito menos da história do ensino de Matemática no mesmo período. Foi realizada

uma análise, por meio de obras didáticas, das formas de abordagem de conteúdos específicos,

integrantes, até os dias de hoje, dos programas de ensino de Matemática escolar.

Alcançamos os nossos objetivos que foram verificar as influências das reformas de

ensino nos livros didáticos, descrevemos como a equação/função exponencial era apresentada

conceitualmente entre os anos de 1930 e 1980 nos livros selecionados, analisamos os

exercícios e problemas resolvidos e propostos e comparamos as obras dos autores de livros

didáticos de Matemática, avaliando o conteúdo equação/função exponencial.

Constatamos que houve modificações na forma de exposição da equação/função

exponencial, principalmente com o Movimento da Matemática Moderna (MMM).

A Educação Matemática brasileira, dentro do marco temporal estabelecido, passou por

importantes reformas educacionais e momentos, a exemplo do Movimento da Matemática

Moderna, que marcaram de forma contundente o ensino de Matemática. Foi assim que a

década de 1930 viveu a Reforma Francisco Campos. A Reforma Capanema, que foi

implantada em 1942, trouxe os Cursos Clássico e Científico. Na década de 50, surgiram as

portarias do Programa Mínimo. Em 1971, houve a promulgação da LDB n.o 5.692. Já o

Movimento da Matemática Moderna teve como um dos objetivos uma maior proximidade da

“Matemática do colégio” da “Matemática do ensino superior”.

Voltando agora o nosso olhar para o conteúdo equação/função exponencial, podemos

evidenciar que, apesar da presença do mesmo em obras anteriores à Reforma Francisco

Campos29

(1931), a sua obrigatoriedade nos programas ocorre a partir da publicação da

referida reforma. A apresentação da função exponencial se dá de uma forma elementar, pouco

detalhada, assim como a equação exponencial.

Os livros analisados da década de 1930 abordavam a função exponencial, trazendo

conceitos e definições sem demonstrações matemáticas e com poucos exemplos e exercícios

29

Podemos citar aqui a obra Álgebra Elementar, da Coleção FTD, editada em 1925. A função exponencial

aparece na página 289, no capítulo XXIII (Propriedade dos Logarithmos), juntamente com equação exponencial,

na página 292.

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179

resolvidos. Para as equações exponenciais, a abordagem teórica foi mais simples,

referenciando apenas a equação 𝑎𝑥 = 𝑏 com poucos exercícios propostos.

A Reforma Capanema (1942) propôs mudanças, criando os Colégios. Os programas

sofreram modificações e o conteúdo função exponencial deveria ser abordado no segundo

série do colegial no Curso Científico, juntamente com as equações exponenciais. A partir

desta reforma, o conteúdo deveria ser apresentado de uma forma mais completa e complexa

com ênfase em propriedades e demonstrações bem elaboradas.

Atendendo a forma mais elaborada, constatamos que nos livros da década de 1940, as

demonstrações de propriedades da função exponencial estiveram presentes.

O Programa Mínimo (1951) veio para simplificar o currículo do ensino secundário.

Em relação à Matemática, dos Cursos Clássico e Científico, os programas deveriam ser

trabalhados pelos professores, a partir de uma limitação do conteúdo, “abrindo mão” de

demonstrações que alguns consideravam como excessivas. A função exponencial não figurou

neste programa.

Nos livros analisados da década de 1950, verificamos que prevaleceu apenas a

equação exponencial com pouco suporte teórico. Eram dadas a definição e a classificação das

equações exponenciais com vários exercícios sempre do tipo resolver as equações.

Na década de 1960, o ensino presenciou a agitação trazida pelo Movimento da

Matemática Moderna, surgindo obras que exploravam as cores nas capas e nas figuras dos

textos. Nessa época, a Teoria dos Conjuntos tomou lugar em muitos livros, chamando de

volta a função exponencial, que passou a ser discutida de forma abstrata pelo uso da

simbologia que fazia parte do cotidiano dos adeptos do MMM. Além dos autores favoráveis

ao movimento, outros reeditaram suas obras, a exemplo de Ary Quintella, trazendo como

consequência duas formas distintas de apresentar o tema função/equação exponencial.

Para além de 1970, até 1980, a função/equação exponencial se fez presente nos livros,

mantendo o mesmo modo de apresentação, explorando as definições, o campo de validade da

função, os exercícios resolvidos.

Apesar de essa pesquisa não tratar da análise do livro didático como um todo e sim da

forma de abordagem de um conteúdo específico, através do índice dos livros analisados, foi

possível perceber que, no período de 1943 a 1951, houve uma estabilidade no rol de

conteúdos. Na fase de 1952 a 1961, com o estabelecimento do Programa Mínimo,

percebemos que, os livros analisados apresentam um padrão no que se refere à metodologia

de exposição dos conteúdos: comparece uma linguagem simples e direta, com a inserção de

exercícios resolvidos e propostos. Dentre os livros analisados a partir de 1950, o conteúdo

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180

equação exponencial é muito semelhante – e talvez, pudéssemos arriscar, para este tópico

específico, o aspecto de vulgata (CHERVEL, 1990).

Pode-se dizer que o Movimento da Matemática Moderna – MMM – deu uma

reviravolta na forma de apresentação dos temas e, de certa forma, trouxe mudanças

significativas para o ensino de Matemática. Essa constatação confirma a nossa hipótese

Feitas essas considerações, farei uso, mais uma vez, da primeira pessoa do singular

para destacar o meu sentimento como pesquisadora, após trilhar, por dois anos, sobre o tema

investigado e também evidenciar as possíveis mudanças que a realização dessa pesquisa já

trazem em meu desempenho profissional, dentro da sala de aula.

Desde o primeiro momento, havia a certeza de pesquisar um tópico da Matemática

escolar do ensino secundário ao longo de algumas décadas. A princípio, o conteúdo escolhido

para a pesquisa foi logaritmos. Eu e minha orientadora, Elenice Zuin, escrevemos um artigo

intitulado “A Concepção Aritmética do Logaritmo no livro dos Irmãos Reis, publicado no

final do Oitocentos”, que foi publicado na Revista de Matemática, Ensino e Cultura em 2015.

Assim, como acontece em vários trabalhos de pesquisa, mudamos a temática e, juntamente

com a minha orientadora, escolhemos a equação/função exponencial, porém mantendo o foco

na pesquisa sob o viés das disciplinas escolares.

O início do trabalho se deu através da realização de um estudo exploratório sobre a

história desses conteúdos escolares, caracterizando-o em livros didáticos publicados no

período proposto. O trabalho de Andre Chervel “História das disciplinas escolares: reflexões

sobre um campo de pesquisa”, o método de análise didática adotado por Miguel Picado

Alfaro em sua tese de doutorado e o artigo Análisis de Contenido en Textos Históricos de

Matemáticas de Miguel Picado e Luis Rico foram fundamentais para o trabalho.

O contato com livros antigos de Matemática trouxe uma experiência inédita. Apesar

de ter alguns deles em minha residência, mesmo antes do início do curso de mestrado e, por

algumas vezes, tê-los aberto e visto algumas páginas, foram momentos inovadores para mim,

pois passei a ver neles não apenas a exposição de conteúdos, mas também uma fonte histórica,

que nos faz viajar no tempo e, de certa forma, tentar perceber os momentos pelos quais passou

a escola no Brasil.

A realização do minicurso no Instituto Federal foi realmente gratificante, na medida

em que foi possível perceber que os participantes não detinham conhecimentos sobre a

História da Educação Matemática e muitas informações que repassei possibilitaram várias

discussões entre eles e, para alguns, ficou a pergunta “Será que o ensino de Matemática

melhorou ou piorou?”. Alguns foram adeptos ao sim e outros ao não, mas, o que sobressaiu

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181

foi a possibilidade de oferecer um tema que gerou, dentre estas, outras reflexões. Com

certeza, a História da Educação é uma fonte de temas ricos para discussão e reflexão sobre o

ensino-aprendizagem e, ao deixar o Campus do Instituto Federal, senti que estava realizada

com o meu trabalho por promover a divulgação de informações que faltam aos nossos

professores e que podem enriquecer o trabalho de muitos deles. Através do minicurso, pude

verificar que o produto educacional desenvolvido atendeu aos objetivos na medida em que os

participantes destacaram a importância do material elaborado.

Agora, na fase final deste trabalho, percebo a importância de se conhecer a forma pela

qual um conteúdo foi sendo trabalhado com o tempo e, como relatou um participante do

minicurso, o que temos hoje é o resultado de várias experiências vividas no passado, boas e

ruins, transformadoras ou não. Como professora de Matemática, estou convicta de que as

minhas aulas para o Ensino Médio já passam por um novo incremento, que é o de procurar

fazer com que meus alunos aprendam essa disciplina e passem a valorizar o conteúdo

histórico, seja de um conteúdo em particular ou da própria disciplina. Os Parâmetros

Curriculares Nacionais de Matemática trazem os seguintes dizeres que reforçam a nossa

concepção.

Em muitas situações, o recurso à História da Matemática pode esclarecer

idéias matemáticas que estão sendo construídas pelo aluno, especialmente

para dar respostas a alguns “porquês” e, desse modo, contribuir para a

constituição de um olhar mais crítico sobre os objetos de conhecimento

(BRASIL, 1997, p.34).

Ubiratan D’Ambrósio, com vasta experiência no ensino, revela que todo professor de

Matemática pode, sim, gerar interesse nas aulas e recomenda aos docentes em serviço

procurar a formação na área de História da Matemática, defendendo que:

[..] não é necessário que o professor seja um especialista para introduzir

história da matemática em seus cursos. Se em algum tema tem uma

informação ou curiosidade histórica, compartilhe com os alunos. Se sobre

outro tema ele sabe nada e não tem o que falar, não importa. Não é

necessário desenvolver um currículo, linear e organizado, de história da

matemática. Basta colocar aqui e ali algumas reflexões. Isto pode gerar

muito interesse nas aulas de matemática. Claro, o bom seria que o professor

tivesse uma noção da história da matemática e pudesse fazer um estudo mais

sistemático e por isso recomenda-se aos professores em serviço que

procurem essa formação. (D’AMBROSIO, 1996, p.13).

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182

Durante o meu curso de Licenciatura em Matemática, cursei disciplinas de História da

Educação, mas não havia tempo hábil para muitas discussões e estudos mais aprofundados.

No entanto, o desenvolvimento da pesquisa proporcionou-me preencher algumas lacunas e a

oportunidade de, daqui para frente, poder compartilhar com meus alunos e colegas

professores o que vivenciei e aprendi ao desenvolver essa pesquisa.

Como sugestão, para futuros trabalhos, deixo uma indagação que poderá ser objeto de

outras pesquisas:

Os livros didáticos atuais ainda conservam a mesma estrutura textual que aqueles do

período do Movimento da Matemática Moderna para os tópicos equação e função

exponencial?

Encerro essas considerações finais e espero que esse trabalho possa realmente

colaborar para a difusão, no meio acadêmico e profissional, do conhecimento da história de

um conteúdo escolar e trazer reflexões sobre os livros didáticos.

.

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2007. Disponível em: <www.sbembrasil.org.br/files/ix_enem/Minicurso/Trabalhos/MC26580

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VALENTE, Wagner Rodrigues. A Matemática escolar: perspectivas históricas. In:

CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, 2., 2004, Curitiba. Anais...

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VALENTE, Wagner Rodrigues. Euclides Roxo e a História da Educação Matemática no

Brasil. Unión: Revista Iberoamericana de Educatión Matemática, n. 1, p. 89-94, 2005.

VALENTE, Wagner Rodrigues. Euclides Roxo e a modernização do ensino da matemática

no Brasil. São Paulo: Biblioteca do Educador Matemático, Coleção SBEM, 2003.

VALENTE, Wagner Rodrigues. História da Educação Matemática: interrogações

metodológias. Revista Eletrônica de Educação Matemática, Florianópolis, v. 2, n. 1, p. 28-

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VALENTE, Wagner Rodrigues. Osvaldo Sangiorgi: um professor moderno. São Paulo:

Annablume, 2008.

VALENTE, Wagner Rodrigues. Uma história da matemática escolar no Brasil (1730 –

1930). 2. ed. São Paulo: Annablume, 2007.

VALENTE, Wagner Rodrigues. Uma história da Matemática escolar no Brasil (1730-

1930). 2. ed. São Paulo: Annablume, 2002.

VALENTE, Wagner Rodrigues.O nascimento da matemática do ginásio. São Paulo:

Annablume, 2004.

ZUIN, Elenice de Souza Lodron. Da régua e do compasso: as construções geométricas como

um saber escolar no Brasil. 2001. 206 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-

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ZUIN, Elenice de Souza Londron. Escola Nova e o ensino de Aritmética: direcionamento para

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NACIONAL DE PESQUISA EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 3., 2016,

São Mateus. Anais... São Mateus: UFES, 2016.

Page 190: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

190

APÊNDICE A

PONTÍFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

MESTRADO EM ENSINO DE MATEMÁTICA

Questionário

Minicurso

EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO BRASIL

(1930-1980)

PARTE I

I- Formação

( ) Licenciatura em Matemática em andamento. Iniciado em _____

( ) Licenciatura em Matemática. Ano de conclusão _____

( ) Outros cursos de graduação . Especificar: _______________________

( ) Especialização. Especificar: _________________________________

( ) Mestrado. Especificar: ______________________________________

( ) Doutorado. Especificar: _____________________________________

II- Tempo em que atua ou atuou como professor de Matemática: _____ anos

III- Segmento de ensino em que atua como docente:

( ) Anos iniciais do Ensino Fundamental : ( )1o ( ) 2

o ( )3

o ( ) 4

o ( ) 5

o

( ) Anos finais do Ensino Fundamental: ( )6o ( ) 7

o ( )8

o ( ) 9

o

( ) Ensino Médio: ( ) 1a ( ) 2

a ( ) 3

a

Prezado (a) Participante,

Este questionário é um dos instrumentos de coleta de dados da minha pesquisa de

Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática pela PUC Minas, que tem como

objetivo obter informações para um estudo sobre a História da Educação Matemática.

As informações obtidas terão um caráter confidencial e sua identidade será preservada.

Desde já agradeço a sua colaboração.

Rogeria Teixeira Urzêdo Queiroz

Page 191: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

191

( ) Curso Superior- Especificar curso(s) e disciplina(a)

IV - Tipo de escola que trabalha atualmente:

( ) Pública Estadual ( ) Pública Municipal ( ) Pública Federal

( ) Privada ( ) Outra. Qual? __________________________

PARTE II

1. O minicurso acrescentou informações que você desconhecia? ( ) Sim ( ) Não

Em caso afirmativo, descrevê-las.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2. O minicurso mudou sua visão sobre algum aspecto relativo:

- às correntes pedagógicas abordadas. ( ) Sim ( ) Não

- à legislação educacional. ( ) Sim ( ) Não

- à importância da história da Educação Matemática na formação docente. ( ) Sim ( ) Não

- a importância da análise dos livros didáticos. ( ) Sim ( ) Não

3. Você sugere alguma mudança para a condução do material desenvolvido? ( ) Sim ( )

Não

Em caso afirmativo, descrevê-las.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4. Você considera importante que esse material seja utilizado nos cursos de formação inicial e

continuada de professores de Matemática e áreas afins?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5. Há algum aspecto não contemplado que você gostaria que fosse abordado? ( ) Sim ( )

Não

Em caso afirmativo, descrevê-los.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Page 192: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

192

6. Qual (is) aspecto(s) do minicurso que você considerou mais relevante? Por quê?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7. Deixe aqui as suas considerações

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Page 193: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

193

APÊNDICE B

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Page 195: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática

EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL

EM LIVROS DIDÁTICOS DE

1930 A 1980:

apontamentos para formação inicial

e continuada de professores

de Matemática e áreas afins

ROGERIA TEIXEIRA URZÊDO QUEIROZ

ELENICE DE SOUZA LODRON ZUIN

Page 196: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

APRESENTAÇÃO

O material que ora apresentamos é parte integrante da pesquisa de dissertação de

Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e Matemática da Pontifícia Universidade

Católica de Minas Gerais e denomina-se “Equação/função exponencial em livros didáticos no

Brasil (1930-1980)”.

É nosso desejo que esses apontamentos possam contribuir para a formação inicial e

continuada dos professores de Matemática e áreas afins, de forma especial, na área de História

da Educação Matemática. A nossa atenção foi direcionada ao conteúdo equação/função

exponencial e o nosso intuito foi verificar a forma pela qual esse tópico foi abordado por

alguns autores de livros didáticos, dentro de um período predeterminado que abarcou a

reforma Francisco Campos, em 1931, até a lei 5692 de 1971, integrando o período a partir da

década de 1960, quando o ensino brasileiro vivenciou o denominado Movimento da

Matemática Moderna.

Como ponto de partida, faremos uma abordagem histórica das funções. Em seguida, as

reformas educacionais que ocorreram entre 1930 e 1980. Em relação aos textos didáticos

selecionados, analisamos o conteúdo proposto, da década de 1930 até a de 1970.

Foi realizado um recorte da análise dos livros didáticos, tomando cinco das quinze

obras selecionadas – apresentadas na dissertação – as quais julgamos representativas, para dar

um panorama dos conteúdos escolares equação e função exponencial a partir de um viés

histórico.

É nossa expectativa que esses apontamentos possam trazer informações

complementares, tanto para aqueles que estão em formação, a exemplo dos graduandos em

cursos de licenciatura, como para educadores que já fazem do seu dia a dia o prazer de levar o

conhecimento aos seus alunos.

As autoras

Page 197: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

SUMÁRIO

1. ASPECTOS HISTÓRICOS DAS FUNÇÕES EXPONENCIAIS ..................................... 197

2. REFORMAS DE ENSINO E PROPOSTAS EDUCACIONAIS ENTRE OS ANOS DE

1930 E 1980 ............................................................................................................................ 201

2.1 Método Intuitivo ........................................................................................................... 201

2.2 Movimento Escolanovista ............................................................................................ 203

2.3 A Reforma Francisco Campos ...................................................................................... 207

2.4 A Reforma Capanema .................................................................................................. 209

2.5 Programa Mínimo ......................................................................................................... 210

2.6 Lei n. 4024 e Lei n. 5692 .............................................................................................. 212

2.7 O Movimento da Matemática Moderna........................................................................ 213

3. EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL: LIVROS ANALISADOS ............................... 219

3.1. O Conteúdo Equação/Função Exponencial nos Livros Selecionados ......................... 222

3.1.1 Curso de Mathematica 4.o Anno, de Euclides Roxo, Cecil Thiré e Mello e Souza

(1938) ............................................................................................................................. 222

3.1.2 Curso de Matemática 2.o Livro Colegial, de Algacyr Munhoz Maeder (1949) .... 232

3.1.3 Curso de Matemática 1.o ano para os Cursos Clássico e Científico, de Thales

Mello Carvalho (1955) ................................................................................................... 238

3.1.4 Matemática Curso Colegial Moderno, de Scipione Di Pierro Netto, Luiz Mauro

Rocha e Ruy Madsen Barbosa (1967) ............................................................................ 244

3.1.5 Matemática 2o Grau 1

a Série, de Gelson Iezzi, Osvaldo Dolce, José Carlos

Teixeira, Nilson José Machado, Márcio Cintra Goulart, Luiz Roberto da Silveira Castro

e Antônio dos Santos Machado (1978). .......................................................................... 251

4. ÚLTIMAS PALAVRAS .................................................................................................... 259

5. REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 261

Page 198: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

197

1. ASPECTOS HISTÓRICOS DAS FUNÇÕES

EXPONENCIAIS

Como ponto de partida, realizamos um breve levantamento histórico sobre as funções

e de forma especial sobre as funções exponenciais. Chervel (1990) considera importante a

história de um conteúdo escolar quando se percebe a evolução do mesmo, as modificações

que ocorreram em um determinado período e o estabelecimento de um elo entre o seu ensino

e suas finalidades.

A descrição de uma disciplina não deveria então se limitar à apresentação

dos conteúdos de ensino, os quais são apenas meios utilizados para alcançar

um fim. Permanece o fato de que o estudo dos ensinos efetivamente

dispensados é a tarefa essencial do historiador das disciplinas. Cabe-lhe dar

uma descrição detalhada do ensino em cada uma de suas etapas, descrever a

evolução da didática, pesquisar as razões da mudança, revelar a coerência

interna dos diferentes procedimentos aos quais se apela, e estabelecer a

ligação entre o ensino dispensado e as finalidades que presidem a seu

exercício (CHERVEL, 1990, p.192).

Podemos dizer que a ideia de associar funções a algumas atividades do dia a dia não é

recente. É bem provável que, antes mesmo da existência dos números, o homem tenha

relacionado uma pedra para cada animal do seu rebanho e, assim, realizado uma

correspondência que hoje denominamos de biunívoca entre pedra e animal.

Na Babilônia, foram encontrados mais de meio milhão de tábuas ou tabletes de argila,

sendo 400 delas com conteúdos matemáticos, várias com problemas sobre relações entre

variáveis ou sobre relações entre números As tábuas, contendo problemas tratavam, por um

lado, de situações do cotidiano, envolvendo também conhecimentos em geometria

(ALVARENGA et al, 2014, p. 163). Eves (2007, p.61), afirma que a marca principal da

geometria babilônica é seu caráter algébrico e, perto do ano de 2000 a.C., a aritmética

babilônica já havia evoluído para uma álgebra mais desenvolvida. Esse mesmo autor ainda

conclui que os babilônios eram calculistas extremamente hábeis e eram “infatigáveis

construtores de tábuas” (EVES, 2007, p. 63), sendo a Plimpton 32230

(figura 1) a mais notável

delas, descoberta no sul do Iraque no início do século XX, pelo arqueólogo Edgar J. Banks,

com dimensões de 12.7 cm x 8.8 cm (MANSFIELD, 2017).

Existe grande significado e importância histórica do tablete Plimpton 322, escrita em

cuneiforme, no período Babilônico Antigo, entre 1900 e 1600 a. C., por termos a evidência

que, muito antes dos pitagóricos, sabia-se que, em um triângulo retângulo, o quadrado da

hipotenusa é igual a soma dos quadrados dos catetos. Os registros eram realizados na base 60

utilizados pelos babilônios.

30

O nome indica que se trata da tábua da coleção G. A. Plimpton, da Universidade de Colúmbia, catalogada sob

o número 322. (EVES, 2007, p.63).

Page 199: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

198

Figura 1- Plimpton 322 (Universidade de Colúmbia)

Fonte: https://terraeantiqvae.com/profiles/blogs/los-babilonios-se-adelantaron-en-mas-de-mil-anos-a-los-griegos-

en.

A figura 2 representa três colunas de caracteres, sendo as duas primeiras, da esquerda

para a direita, em notação sexagesimal.

Figura 2- Três colunas da Plimpton 322 reproduzida em notação sexagesimal e decimal, na terceira

coluna da direita

Fonte: https://terraeantiqvae.com/profiles/blogs/los-babilonios-se-adelantaron-en-mas-de-mil-anos-a-los-griegos-

en.

A coluna da extrema direita serve para numerar as linhas e os números das colunas

seguintes correspondem à hipotenusa e a um dos catetos de triângulos retângulos de lados

inteiros. Esse tablete é, então, um exemplo de relação entre números.

Page 200: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

199

Dos 400 tabletes de cunho matemático encontrados, cerca de metade envolvia tábuas

de multiplicação, tábuas de quadrados e cubos e mesmo tábuas de exponenciais, sendo essas

últimas provavelmente usadas, juntamente com a interpolação, com problemas de juros

compostos (EVES, 2007, p. 60).

Boyer (1996, p. 20) afirma também que os babilônios construíram tabelas de argila nas

quais constavam potências sucessivas de um dado número, aproximando-se muito das atuais

tabelas logarítmicas. Tabelas exponenciais ou logarítmicas, em que são dadas as dez primeiras

potências para diferentes bases 9, 16, 1, 40 e 3,45, foram encontradas.

Os egípcios construíram tabelas que, segundo Boyer, “apresentavam resultados de

investigação empírica, ou na melhor das hipóteses, generalizações que eram resultado da

indução incompleta de casos mais simples para casos mais complicados” (1996, p.7). Para

Silva (2014, p.25), a ideia entre dependência de variáveis, ainda que de forma empírica,

estava relacionada às necessidades diárias de cada povo. Sá et al. (2013, p.124) cita também o

povo árabe em seu método de formação de intervalos musicais, que era baseado na relação

algébrica do comprimento da corda no som fundamental.

Os antigos “matemáticos”, ainda que desenvolvessem temas relacionados à funções,

não utilizavam essa nomenclatura, até porque o termo só começou a ser utilizado no século

XVII.

Ao que tudo indica, a representação gráfica das funções surgiu em meados de 1360,

com Nicole Oresme (1323-1382), Bispo de Lisieux, que fez a seguinte indagação: “por que

não traçar uma figura ou gráfico da maneira pela qual variam as coisas?” (BOYER, 2008, p.

180). Oresme escreveu que tudo que é mensurável é imaginável na forma de quantidade

contínua e, assim, traçou um gráfico velocidade – tempo para um corpo que se move com

aceleração constante, marcando ao longo de uma reta horizontal pontos que representavam

instantes de tempo (ou longitudes) e para cada um desses instantes ele traçou,

perpendicularmente à reta de longitudes, um segmento de reta (latitude) cujo comprimento

representava a velocidade (BOYER, 2008).

A representação algébrica das funções foi desenvolvida a partir de Fermat e Descartes

e com o desenvolvimento da Álgebra, René Descartes apresentou um conceito de função.

François Viète (1540-1603) introduziu a primeira notação algébrica, iniciando um processo de

evolução da matemática através dos estudos embasados em parâmetros e variáveis (BRAGA,

2006, p. 18).

O termo “função” foi escrito em 1694 pelo filósofo alemão Gottfried Wilhelm

Leibnitz (1646-1716) e chamou função aos segmentos de retas obtidas por construção de

retas, correspondendo a um ponto fixo e a pontos de uma curva dada (OLIVEIRA, 1997, p.

19). A partir daí o conceito foi sendo desenvolvido por diversos outros matemáticos. A

expressão 𝑦 = 𝑓(𝑥) foi implantada por Leonhard Euler (1707-1783) no século XVII (EVES,

2007, p. 472). Euler foi um escritor magistral e, entre suas obras figuram com destaque:

“Introductio in Analysin Infinitorum”, “Instituitiones Calculi Differentiales” e “Instituitiones

Calculi Integralis” (EVES, 2007, p. 474). Boyer (2008, p. 305) esclarece ainda que:

Euler usava a letra e mais de uma dúzia de vezes para representar a base do

sistema de logaritmos naturais. O conceito por trás desse número era bem

conhecido desde a invenção dos logaritmos, mais de um século antes; no

Page 201: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

200

entanto nenhuma notação padronizada para ele se tornara comum. Numa

carta a Goldbach em 1731, Euler novamente usou a letra e para “aquele

número cujo logaritmo hiperbólico = 1”; apareceu impresso pela primeira

vez na Mechanica de Euler de 1736, livro em que a dinâmica de Newton é

apresentada pela primeira vez em forma analítica. Essa notação, sugerida

talvez pela primeira letra da palavra “exponencial” logo tornou-se padrão.

Há uma origem fictícia da função exponencial que é relatada da seguinte forma:

Um rei solicitou aos seus súditos que lhe inventassem um novo passatempo,

um jogo, que pudesse entreter. O melhor passatempo teria direito a realizar

qualquer desejo. Assim, um dos súditos forneceu-lhe o jogo de xadrez. O rei

ficou maravilhado, portanto cumpriu sua promessa. O súdito, autor do jogo,

fez seu pedido: “cada uma das 64 casas do tabuleiro do jogo de xadrez

devem ser preenchidas com moedas de ouro, seguindo as seguintes

condições: na primeira casa será colocada uma moeda e nas casas seguintes

o dobro da casa anterior.”. O total em ouro seria entregue a ele. E assim se

fez. Porém, para surpresa do rei, quando o tesoureiro do reino lhe apresentou

a conta final, pois apenas na última casa o total de moedas era 263

,

correspondente a aproximadamente 9.223.372.000.000.000.000. O valor

entregue ao inventor seria a soma de todas as moedas contidas em todas as

casas. Esse conto retrata a função exponencial y = 2x. (SILVA, 2014, p.28).

Há poucos registros sobre a origem da função exponencial, diferentemente da função

logarítmica. No entanto, procuramos relatar os tópicos que resgatam alguns pontos

importantes do seu surgimento.

Page 202: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

201

2. REFORMAS DE ENSINO E PROPOSTAS

EDUCACIONAIS ENTRE OS ANOS DE 1930 E 1980

Antes de dissertarmos sobre as principais reformas de ensino que ocorreram entre as

décadas de 1930 e 1980 dos Novecentos, daremos ênfase ao método de ensino-aprendizagem

denominado Método Intuitivo e sua relação com o movimento escolanovista, uma vez que foi

a partir da segunda década do século XX que o movimento da Escola Nova passou a ser

difundido no Brasil (ZUIN, 2016). Para Resende e Souza (2005), esse período representou

uma época importante para a educação, pois era entendida como uma via importante de

divulgação das ideias e propostas republicanas.

2.1 Método Intuitivo

Até o fim do século XIX, a escola ou pedagogia tradicional se fez presente de “modo

hegemônico”, segundo Silva (2012, p. 2). Nessa escola, a exposição de conteúdos era feita de

forma verbal pelo professor, sendo ele a autoridade máxima e a memorização era feita pela

repetição sem relação com o cotidiano. Silva destaca ainda como importantes características

dessa escola:

O aluno deve se empenhar para atingir êxito pelo próprio esforço. A

educação é entendida como processo externo. Neste contexto, prevalece a

transmissão de conhecimento, sendo a escola centrada numa formação moral

e intelectual. Dessa forma, é hierarquizada com normas rígidas de disciplina.

Em suma, se caracteriza pelo conteudismo, exercícios de fixação e

memorização (SILVA, 2012, p. 2).

A escola tradicional passa a ser questionada e, nas últimas décadas do século XIX,

muitos debates sobre o ensino apareceram (ZUIN, 2016). Nesse sentido, foram destaques as

discussões pedagógicas voltadas para um ensino diferente do que era praticado na escola

tradicional.

Já havia surgido, na Alemanha, no final do século XVIII, o denominado método

intuitivo que se baseava nas ideias do suíço Pestalozzi31

, tendo também sua origem histórica

associada ao empirismo clássico de Bacon (SILVA, 2012). No Brasil, os princípios do

Método Intuitivo foram propagados, principalmente, através do manual Primeiras Lições de

Coisas32

, figura 3, cujo autor era Norman Allison Calkins. A obra foi traduzida para o

português por Rui Barbosa. As Primeiras Lições de Coisas constituiu-se em um texto que

31

Johann Heinrich Pestalozzi (1746 –1827) era natural da Suiça e pensou o método de ensino intuitivo, contando

com os seus discípulos no trabalho de divulgação, tendo ganhado adeptos na Europa e Estados Unidos ao longo

do século XIX (ZUIN, 2016, p. 2). 32

Título original do livro: “Primary Object Lessons: training the senses and developing the faculties of chil-

dren; a manual of elementary instruction for parents and teachers”.

Page 203: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

202

colaborou para a difusão do método intuitivo no Brasil, assumindo importante função de

orientação dos professores (REMER; STENTZLER, 2009, p. 6338).

Figura 3- Capa do Manual Primeiras Lições de Coisas33

Fonte: http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/227357.

Calkins afirma, logo no início da obra, que há uma sequência a ser seguida para a

formação das ideias que resumimos no texto a seguir:

1. É pelos sentidos que nos advém o conhecimento do mundo material. Os

primeiros objetos onde se exercem as nossas faculdades são as coisas e os

fenômenos do mundo exterior. 2. A percepção é a primeira fase da

Inteligência [...]. 3. A existência de uma noção no espírito nasce da

percepção das semelhanças e diferenças entre os objetos. [...]. 4. Todas as

faculdades medram, e robustecem a poder de exercício adequado: correndo o

risco de se debilitarem, se as sobrecarregamos, ou se as aplicamos a matérias

que não estejam ao seu alcance. 5. Algumas das energias mentais são tão

ativas e quase tão vigorosas no menino, quanto no homem: tais a sensação, a

percepção, a observação, a comparação, a simples retentiva e a imaginação.

Outras não chegam ao seu desenvolvimento cabal, antes que a criança toque

o período da madureza. Entre estas estão a razão, a memória filosófica e a

generalização. 6. O mais natural e saudável incentivo para obter, entre as

33

Exemplar referente à 40ª edição americana (1884), disponível na biblioteca da Fundação Casa de Rui

Barbosa, no endereço eletrônico < http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/227357> Acessado em 30 de agosto

de 2017.

Page 204: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

203

crianças a atenção e a aquisição de conhecimento, é associar a recreação ao

ensino. [...]. 7. É do bom ensino o inspirar contentamento à infância [...]. 8.

Os hábitos de atenção firme são permanentes mananciais de educação

intelectual [...]. Mas o grande segrêdo, para fixar a atenção das crianças, esta

em aguçarlhes a curiosidade, e satisfazer-lhes o amor de atividade [...]. 9. O

processo natural de ensinar parte do simples para o complexo; do que se

sabe, para o que se ignora; dos fatos, para as causas; das coisas, para os

nomes; das idéias, para as palavras; dos princípios para as regras

(CALKINS, 1886/1950, p. 2-3).

De acordo com Rocha & Santos (2016, p. 6), podemos verificar que “os Princípios,

mesmo servindo de base para a educação das crianças, devem seguir etapas significativas para

que o conhecimento do mundo material seja adquirido a partir dos sentidos.”

Para Zuin (2016), a implementação do método intuitivo exigiu novos materiais

escolares e, sendo o Brasil um país de dimensões continentais, muitas escolas não seguiram os

princípios do método. No entanto, “a grande exaltação das lições de coisas, o livro de Calkins,

as Conferências pedagógicas de Professores na Corte, atingiram positivamente os docentes,

trazendo para a instrução infantil, mudanças significativas e, em muitos locais, o ensino

assentado nos princípios jesuíticos passaria a ser coisa do passado” (ZUIN, 2016, p.2).

Essa metodologia, alicerçada na educação dos sentidos, na intuição e na observação

das coisas, passando, assim, a ser adotada por vários professores, despertou a reflexão sobre o

ensino, ativando a busca por mudanças focadas em outras propostas de ensino/aprendizagem.

Esse despertar por melhorias nos métodos de ensino, trouxe à tona, a partir do final do século

XIX, “a busca pela superação da concepção tradicional” (SILVA, 2012, p. 3).

2.2 Movimento Escolanovista

A Escola Nova, na percepção de Zuin (2016), ganhou força a partir da segunda década

do século XX quando, então, vários estados brasileiros incluem na legislação, reformas para a

instrução. Esse modelo de Escola surge como proposta inovadora, contrária à Escola

Tradicional, onde o professor é o mediador da aprendizagem, proporcionando ao aluno a

oportunidade para a realização do seu desenvolvimento psicológico e de sua autorrealização,

pois o que anteriormente realizava o simples papel de ouvinte passivo, sem expressão, sem

luz (na própria etimologia da palavra aluno), agora seria um “agente ativo, criativo e

participativo no ensino aprendizagem” (SILVA, 2012, p.3).

Dessa forma, essa “nova” escola, nos dizeres de Zuin (2016), também denominada

Escola Ativa ou Escola Progressiva, trazia novos princípios que são descritos por Peres

(2002, p. 11-12):

Na autonomia dos educandos, na atividade espontânea, no auto-governo, na

experiência pessoal da criança, na liberdade, na criatividade, na

individualidade e nos métodos ativos. A escola Ativa seria, então, a escola

da espontaneidade, da expressão criadora, da liberdade. (...) Todo o

formalismo da escola e todas as práticas que estivessem à margem da vida

Page 205: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

204

deveriam ser banidas definitivamente dos meios educacionais (PERES,

2002, apud ZUIN 2016, p.3).

Figueira (2010, p.17) afirma que esse movimento, além de ser contrário ao

reducionismo intelectual por meio da memorização, criticava o Método Intuitivo por basear

suas atividades em práticas sensoriais rotineiras. Assim, “propunha uma escola mais livre e

formativa, centrada no desenvolvimento da experiência do aluno” (FIGUEIRA, 2010, p. 17).

Um dos principais representantes da Escola Nova foi John Dewey34

. Dewey

influenciou educadores de todo o mundo, incluindo brasileiros, com o método de ensino,

denominado por ele mesmo de experiência reflexiva, princípio unificador que auxiliaria os

educadores no ensino (FIGUEIRA, 2010). As duas principais obras de Dewey foram

publicadas no Brasil em 1930, com o título Como pensamos e, em 1936, Democracia e

Educação (FIGUEIRA, 2010, p. 17). Nessas publicações, o autor mostra que o pensamento

reflexivo se desenvolve através da curiosidade, isto é, através da possibilidade de estabelecer

novos contatos, buscando novos objetos. Instalam-se as situações-problemas que são a

apresentação de dificuldades que serão o incentivo para a busca de possíveis soluções a serem

experimentadas. Figueira (2010, p.18) notifica, ainda, que:

Nessas situações, a criança passa, por meio da observação direta dos sentidos

(percepção) ou de lembranças passadas de observações previamente feitas

por ela mesma ou por outra pessoa em outro momento (memória), a colher

fatos, isto é, dados (material a ser interpretado, considerado e explicado). A

posse destes dados lhe permite averiguar as condições nas quais se encontra

para, posteriormente, levantar sugestões sobre os cursos possíveis de ações

em busca de soluções. Para tanto, com os dados em mãos, passa, diante da

diversidade e da possível contradição que poderá existir entre os fatos e sua

relação com as sugestões, quando considerada a solução buscada, a escolher,

eliminar, ou conservar aqueles que sejam importantes como prova daquilo

que deseja alcançar, discernindo uns dos outros e atribuindo a eles valores e

juízos (FIGUEIRA, 2010, p. 17).

Percebemos, a partir daí, que o professor passa a exercer o papel de guia para o

aprendizado, oferecendo atividades que despertem o interesse do educando e, mais que isso, o

educando deve retirar algum significado para sua vida.

No Brasil, educadores da Escola Nova, dentre eles Anísio Teixeira, Fernando de

Azevedo e Lourenço Filho publicaram, em 1932, o Manifesto dos Pioneiros da Educação

Nova, motivados pela “esperança de democratizar e transformar a sociedade por meio da

escola pública, laica e pautada em um novo modelo pedagógico” (FIGUEIRA, 2010, p. 19).

Podemos extrair, logo das primeiras linhas desse manifesto, a preocupação dos educadores

que o idealizaram com a devida valorização a ser dada à Educação pelos que governavam a

nação:

Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e

gravidade ao da educação. Nem mesmo os de caráter econômico lhe podem

34

John Dewey (1859-1952) foi filósofo e pedagogo norte americano.

Page 206: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

205

disputar a primazia nos planos de reconstrução nacional. Pois, se a evolução

orgânica do sistema cultural de um país depende de suas condições

econômicas, é impossível desenvolver as forças econômicas ou de produção,

sem o preparo intensivo das forças culturais e o desenvolvimento das

aptidões à invenção e à iniciativa que são os fatores fundamentais do

acréscimo de riqueza de uma sociedade. (AZEVEDO et al.., 1984, p. 407).

O manifesto demonstra, de forma veemente, a função e obrigação do Estado em

oferecer uma Escola Pública de qualidade a todo cidadão quando relata:

Assentado o princípio do direito biológico de cada indivíduo à sua educação

integral, cabe evidentemente ao Estado a organização dos meios de o tornar

efetivo, por um plano geral de educação, de estrutura orgânica, que torne a

escola acessível, em todos os seus graus, aos cidadãos a quem a estrutura

social do país mantém em condições de inferioridade econômica para obter o

máximo de desenvolvimento de acordo com as suas aptidões vitais.

(AZEVEDO et al., 1984, p. 413).

Chega-se, dessa forma, ao princípio da escola para todos, única, independente da

condição social do cidadão.

O manifesto conclama também a favor de uma escola laica, gratuita e obrigatória:

A laicidade, gratuidade, obrigatoriedade e coeducação são outros tantos

princípios em que assenta a escola unificada e que decorrem tanto da

subordinação à finalidade biológica da educação de todos os fins particulares

e parciais (de classes, grupos ou crenças), como do reconhecimento do

direito biológico que cada ser humano tem à educação. A laicidade,

que coloca o ambiente escolar acima de crenças e disputas religiosas, alheio

a todo o dogmatismo sectário, subtrai o educando, respeitando-lhe a

integridade da personalidade em formação, à pressão perturbadora da escola

quando utilizada como instrumento de propaganda de seitas e doutrinas. A

gratuidade extensiva a todas as instituições oficiais de educação é um

princípio igualitário que torna a educação, em qualquer de seus graus,

acessível não a uma minoria, por um privilégio econômico, mas a todos os

cidadãos que tenham vontade e estejam em condições de recebê-la. Aliás o

Estado não pode tornar o ensino obrigatório, sem torná-lo gratuito. A

obrigatoriedade que, por falta de escolas, ainda não passou do papel, nem em

relação ao ensino primário, e se deve estender progressivamente até uma

idade conciliável com o trabalho produtor, isto é, até aos 18 anos, é mais

necessária ainda "na sociedade moderna em que o industrialismo e o desejo

de exploração humana sacrificam e violentam a criança e o jovem", cuja

educação é freqüentemente impedida ou mutilada pela ignorância dos pais

ou responsáveis e pelas contingências econômicas. (AZEVEDO et al.., 1984,

p. 413-414).

Page 207: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

206

Realmente, na Escola Nova, o aluno passa a ser o centro de convergência das atenções

dos gestores governamentais e dos professores. Consequentemente, os manuais de ensino

baseados no Método Intuitivo são criticados como instrumentos de apoio, pois se pensava não

ser aconselhável ter uma prática pedagógica padrão, frente às necessidades diferenciadas de

aluno por aluno (FIGUEIRA, 2010).

Segundo Figueira (2010), a divulgação do movimento da Escola Nova e suas

características se deu através do aparecimento de literatura especializada, de autores

brasileiros e estrangeiros após a publicação das reformas educacionais.

Valdemarin (2008, p. 20) aponta que os princípios escolanovistas divulgados

priorizaram “o estabelecimento das novas bases teóricas, descrevendo as iniciativas

metodológicas delas decorrentes, não descrevendo modelos de como ensinar, mas

asseverando a diversidade de possibilidades já implementadas”. O cuidado com a leitura dos

professores foi, dessa forma, o modo escolhido pelos escolanovistas para a divulgação dos

novos princípios. Citamos, aqui, o grande educador brasileiro Lourenço Filho35

, que também

organizou a Biblioteca da Educação36

que foi fonte de publicação de:

Eminentes catedráticos ligados aos problemas básicos da educação e do

ensino estão presentes nesta Série que se destina, não só a professores e

estudantes, mas também a quantos se interessam pelos problemas

fundamentais da Educação (LOURENÇO FILHO, 1978, contracapa).

.

Este mesmo educador escreveu a obra Introdução ao estudo da Escola Nova,

considerada uma das principais obras responsáveis pela divulgação de todas as correntes

renovadoras da educação. Este livro contou com várias edições, pois foi muito difundido no

período entre 1927 e 1979 e passou a ser uma referência acadêmica obrigatória, sobretudo nos

cursos de formação do Magistério e nas Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras.

(FIGUEIRA, 2010). Assim está escrito no Prólogo da Editora:

Este livro do Prof. Lourenço Filho foi pela primeira vez publicado no ano de

1929, pela Seção Editora da Companhia Melhoramentos de São Paulo, cuja

produção passou mais tarde a ser identificada com a rubrica “Edições

Melhoramento”. Embora constituísse volume de pequenas dimensões, estava

destinado a ter repercussão singular. De fato, em nosso país foi a primeira

obra pedagógica a despertar a atenção do grande público, como também a

primeira no gênero, de autor nacional, a circular em mais de uma versão no

estrangeiro (LOURENÇO FILHO, 1978, p. 9).

35

Manoel Bergström Lourenço Filho nasceu em 1897 e faleceu em 1970. Normalista pelas escolas normais de

Pirassununga e da Praça da República, formou-se também em Direito. Foi Diretor da Escola de Professores do

Distrito Federal e Diretor do INEP que, então, era denominado Instituto Nacional de Pedagogia. Publicou o livro

Introdução ao Estudo da Escola Nova que está entre as edições e tiragens de livros mais difundidos entre 1928 e

1979 (MONARCHA, 2010). 36

A Biblioteca da Educação foi uma coleção organizada por Lourenço Filho no período compreendido entre

1927 e 1940. No acervo existente no Centro de Referência para Pesquisa Histórica em Educação (Faculdade de

Ciências e Letras de Araraquara – UNESP) e também no acervo presente na Escola Estadual Dr. Álvaro Guião

(São Carlos – S.P.), podem ser encontradas vinte e nove obras publicadas por esta coleção. Foi um dispositivo

estratégico para a formação de professores nas décadas compreendidas entre 1927 e 1940 (OLIVEIRA, 2015, p.

18-19).

Page 208: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

207

2.3 A Reforma Francisco Campos

Na década de 1920, o Brasil vivia uma crise generalizada, fruto de uma recessão

econômica que se desencadeou pelas baixas no preço do café, principalmente. Os

investimentos estrangeiros no país, após a Primeira Guerra Mundial, foram reduzidos.

Simultaneamente, havia uma grave crise mundial. Dessa forma, até mesmo as elites da época

foram atingidas, vendo suas rendas reduzidas. Com essa insatisfação, instalou-se, em pouco

tempo, um risco à ordem vigente, pois havia a possibilidade de uma ruptura política que se

instaurou no momento em que o país se preparava para escolher o presidente no período de

1930 a 1934. Como candidatos, o paulista Júlio Prestes e o gaúcho Getúlio Vargas, pela

Aliança Liberal, apoiada pelo movimento tenentista. Com a vitória de Júlio Prestes, houve

denúncias de fraudes, desencadeando um processo revolucionário com o assassinato do vice

de Vargas, João Dantas. Dessa forma, o então presidente, Washington Luis, foi deposto e

assumiu, no dia 3 de fevereiro de 1930, Getúlio Vargas como chefe do Governo Provisório

(BRAICK, MOTA, 2007).

O então Governo Provisório instituiu o Ministério da Educação e da Saúde Pública

que já existira no início da República, porém, com curta duração. Na época, o primeiro

Ministro da Educação e Saúde Pública, Francisco Campos, instituiu seis decretos, efetivando

a chamada reforma que ficou conhecida como Reforma Francisco Campos:

Decreto n.o 19.850, de 11 de abril de 1931, que instituía o Conselho Nacional de

Educação.

Decreto n.o 19.851, de 11 de abril de 1931, que dispunha sobre a organização do

ensino superior no Brasil e abarca o regime universitário.

Decreto n.o 19.852, de 11 de abril de 1931, que dispõe sobre a organização da

Universidade do Rio de Janeiro.

Decreto n.o 19.890, de 18 de abril de 1931, que regulamentava a organização do

ensino secundário.

Decreto n.o 20.158, de 30 de junho de 1931, que organizava o ensino comercial,

fornece regulamentação à profissão de contador e fornece outras providências.

Decreto n.o 21.241, de 14 de abril de 1932, que consolidava as disposições sobre a

organização do Ensino secundário.

Na exposição de motivos que acompanhou o último decreto, Francisco Campos

ressaltou o caráter inovador da proposta elaborada, deixando claro, no decreto número 21241,

os objetivos que realmente deveriam nortear os rumos da educação no Brasil:

A finalidade exclusiva do ensino secundário não há de ser a matrícula nos

cursos superiores; o seu fim, pelo contrário, deve ser a formação do homem

para todos os grandes setores da atividade nacional, constituindo no seu

espírito todo um sistema de hábitos, atitudes e comportamento que o

habilitem a viver por si e tomar, em qualquer situação, as decisões mais

convenientes e mais seguras (BRASIL, 1932).

Romanelli (1980) afirma que:

Page 209: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

208

a Reforma Francisco Campos teve o mérito de dar organicidade ao ensino

secundário, estabelecendo definitivamente o currículo seriado, a frequência

obrigatória, dois ciclos, um fundamental e outro complementar, e a exigência

de habilitação neles para o ingresso no ensino superior. Além disso,

equiparou todos os colégios secundários oficiais ao Colégio Pedro II,

mediante a inspeção federal e deu a mesma oportunidade às escolas

particulares que se organizassem, segundo o decreto, e se submetessem à

mesma inspeção (ROMANELLI, 1980, p. 135).

Através da Reforma Francisco Campos, o ensino secundário ficou dividido em dois

ciclos, sendo um fundamental, de 5 anos, e o outro, complementar, de 2 anos. O ensino

fundamental ficou obrigatório para o ingresso em qualquer escola superior e, o segundo,

obrigatório em algumas escolas. Dessa forma, para esse ciclo complementar, foi efetuada uma

subdivisão que compreendia “um certo grau de especialização, conforme se tratasse de curso

preparatório para ingresso nas Faculdades de Direito, Ciências Médicas e Engenharia”.

(ROMANELLI, 1980, p. 135).

Para o Curso Complementar, objetiva-se a preparação para as Faculdades de Direito,

Faculdades de Medicina, Odontologia e Farmácia e Faculdades de Engenharia e Arquitetura.

O artigo quarto estabelece:

O curso complementar obrigatório para os candidatos à matrícula em

determinados institutos de ensino superior, será feito em dois anos de estudo

intensivo, com exercícios e trabalhos práticos individuais, e compreenderá as

seguintes disciplinas: Alemão ou Inglês, Latim, Literatura, Geografia,

Geofísica e Cosmografia, História da Civilização, Matemática, Física,

Química, História Natural, Biologia Geral, Higiene, Psicologia e Lógica,

Sociologia, Noções de Economia e Estatística, História da Filosofia e

Desenho (BRASIL, 1932).

Pode-se observar que o ciclo fundamental procurou fornecer uma formação básica

geral, enquanto, o complementar, buscou estruturar-se como um curso propedêutico

(ROMANELLI, 1980).

Quanto aos programas de Matemática e suas instruções pedagógicas, a Reforma

Campos, através de Euclides Roxo, implementa as inovações que vinham sendo realizadas de

forma paulatina no Colégio Pedro II, a partir de 1929, por iniciativa do próprio Roxo. As

instruções pedagógicas apresentavam como pontos-chave a aplicação do método heurístico, as

junções entre os pontos de vista aritmético, algébrico e geométrico, a inter-relação da

Matemática com outras disciplinas, tendo a noção de função como ideia central do ensino

(ALVAREZ, 2004, p. 30).

As orientações metodológicas da Reforma Francisco Campos para a disciplina

Matemática, segundo Alvarez (2004, p. 120):

[..] frisavam o uso da intuição, principalmente nas séries iniciais, primeira e

segunda. A exposição formal seria introduzida gradativamente. A princípio,

os conhecimentos deveriam ser adquiridos pela experimentação e percepção

Page 210: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

209

sensorial. O estudo da geometria deveria ser precedido por um curso

propedêutico de caráter intuitivo e experimental [...].

O método heurístico, também orientado pela reforma, destacava que o próprio aluno

fosse capaz de enunciar as regras e propriedades dos conceitos em estudo e isso seria possível

a partir da resolução de problemas pelo aluno. Esse método foi caracterizado na reforma da

seguinte maneira:

O ensino se fará, assim, pela solicitação constante da atividade do aluno

(método heurístico), de quem se procurará fazer um descobridor e não um

receptor passivo de conhecimentos. Daí a necessidade de se renunciar

completamente à prática de memorização sem raciocínio, ao enunciado

abusivo de definições e regras e ao estudo sistemático das demonstrações já

feitas. Ao invés disso, deve a matéria ser levada ao conhecimento do aluno

por meio da resolução de problemas e de questionários intimamente

coordenados. Assim os problemas não se devem limitar a exercícios dos

assuntos ensinados, mas cumpre sejam propostos como processo de orientar

a pesquisa de teoremas e de desenvolver a presteza na conclusão lógica.

(BICUDO, 1942, p. 157 apud ALVAREZ, 2004, p. 17).

A reforma propõe, então, que o conteúdo deve ser ensinado de forma que o ponto de

partida seja a intuição e o professor deveria conduzir as atividades de modo que o aluno

conseguisse, se possível, descobrir, por si só, as verdades matemáticas, deixando de ser um

mero receptor passivo de conhecimentos.

2.4 A Reforma Capanema

A 9 de abril de 1942, por iniciativa do então ministro de Getúlio Vargas, Gustavo

Capanema, era promulgada a denominada Lei Orgânica do Ensino Secundário, mediante o

Decreto-lei n. 4244. Na exposição de motivos, Gustavo Capanema assim se pronunciou:

É que o ensino secundário se destina à preparação das individualidades

condutoras, isto é, dos homens que deverão assumir as responsabilidades

maiores dentro da sociedade e da nação, dos homens portadores das

concepções e atitudes espirituais que é preciso infundir nas massas, que é

preciso tornar habituais entre o povo. Ele deve ser, por isto, um ensino

patriótico por excelência, e patriótico no sentido mais alto da palavra, isto é,

um ensino capaz de dar aos adolescentes a compreensão da continuidade

histórica da pátria, a compreensão dos problemas e das necessidades, da

missão e dos ideais da nação, e bem assim dos perigos que a acompanhem,

cerquem ou ameacem, um ensino capaz, além disto, de criar, no espírito das

gerações novas, a consciência da responsabilidade diante dos valores

maiores da pátria, a sua independência, a sua ordem, o seu destino.

(BRASIL, 1942).

O artigo 2o do capítulo terceiro do decreto-lei afirmava que o ensino secundário

passaria a ser ministrado em dois ciclos. O primeiro compreenderia um só curso: o curso

ginasial, enquanto, o segundo, dois cursos paralelos: clássico e científico. Para Romanelli

Page 211: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

210

(1980), estes dois últimos cursos não apresentavam, pelo currículo, nenhum caráter de

especialização. Na exposição de motivos do referido decreto, destacamos os seguintes dizeres:

Quanto aos dois cursos do segundo ciclo, o clássico e o científico, é de notar

que não constituem dois rumos diferentes da vida escolar, não são cursos

especializados, cada qual com uma finalidade adequada a determinado setor

dos estudos superiores. A diferença que há entre eles é que, no primeiro, a

formação intelectual dos alunos é marcada por um acentuado estudo das

letras antigas, ao passo que, no segundo, a maior acentuação cultural é

proveniente do estudo das ciências. Entretanto a conclusão tanto de um

quanto de outro dará direito ao ingresso em qualquer modalidade de curso do

ensino superior (Exposição de Motivos). (BRASIL, 1942, p. 3).

Com relação à Reforma Capanema, era evidente o caráter de cultura geral e

humanística dos currículos, mesmo no curso científico. Nos dizeres de Romanelli (1980, p.

158) “sobressaíam, nos dois níveis, uma preocupação excessivamente ideológica e ausência

de distinção substancial entre os dois cursos: o clássico e o científico”. Esta autora continua

comentando que “esse ensino não diversificado só tinha, na verdade, um objetivo: preparar

para o ingresso no ensino superior. Em função disso só podia existir como educação de

classe.” (ROMANELLI, 1980, p. 158).

Em abril de 1942, foi instituída uma comissão para a elaboração dos programas de

Matemática do curso ginasial. Essa mesma comissão organizou também os programas de

Matemática para os cursos clássico e científico (DASSIE, 2008).

2.5 Programa Mínimo

O denominado Programa Mínimo foi instituído através de duas portarias no ano de

1951. A primeira delas foi a Portaria n.o 966 de 2 de outubro de 1951 e a segunda, Portaria n.

o

1.054 de 14 de dezembro de 1951. Essas portarias foram o resultado de uma revisão dos

programas do Ensino Secundário feita por uma comissão, criada no início de 1951, mais

precisamente em 27 de fevereiro, data esta da Portaria n.o 456 que forneceu legalidade a essa

comissão, constituída por quatro membros: um professor da Faculdade Nacional de Filosofia,

um professor do Colégio Pedro II, um professor do Instituto de Educação de Distrito Federal e

um professor do Sindicato dos professores das escolas particulares (OLIVEIRA FILHO,

2013, p. 83). Foram publicados os Programas Mínimos de todas as disciplinas e as respectivas

instruções metodológicas.

Nessa época, era Ministro da Saúde e Educação Simões Filho que na Portaria 966 faz

referência à Portaria n.o 614, de 10 de maio de 1951, que dá a incumbência à Congregação do

Colégio Pedro II de elaborar os programas das diversas disciplinas do curso secundário.

Transcreve-se aqui os parágrafos 1.o e 2.

o da Portaria n.

o 966:

Art. 1.o Ficam aprovados os programas que a esta acompanham, para o

ensino de Português, Francês, Inglês, Latim, Grego, Espanhol, Geografia

Geral e do Brasil, Matemática, Ciências Físicas e Naturais, Desenho, Física,

Química, História Natural, Filosofia, História Geral e do Brasil, Economia

Doméstica e Trabalhos Manuais no ensino secundário.

Page 212: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

211

Art. 2.o Os programas aprovados pela presente portaria serão adotados por

todos os estabelecimentos de ensino secundário do país e entrarão em vigor

progressivamente, a começar do ano vindouro, pela primeira série ginasial e

colegial (BRASIL, 1951).

O Ministro da Educação e Saúde, Simões Filho, assim se pronunciou em uma

entrevista coletiva à imprensa:

A necessidade, por um lado, de aliviar os deveres escolares que

congestionam os atuais programas do Ensino Secundário, e, de outro,

atribuir maior elasticidade e rendimento à sua execução, tantas vezes

reclamada, quer pelos educadores, quer por alunos e seus pais, levou o

Ministério da Educação a estudar a conveniência de proceder a uma revisão

da matéria neles contida, de modo a possibilitar o desenvolvimento racional

de suas finalidades educativas (Ensino Secundário no Brasil. INEP, 1952, p.

515 apud MARQUES, 2005, p. 52).

Marques (2005), em seu trabalho, afirma que os anos 1950 foram marcados por um

aumento do número de estudantes no ensino secundário. Os conteúdos das disciplinas eram

demasiados, trazendo dificuldades no seu cumprimento. A simplificação dos programas seria

uma tentativa de minimizar esse problema. Essa alternativa adotada foi justificada pelo

próprio Ministro Simões Filho ao dizer:

O objetivo fundamental deste trabalho consistiu, pois, em eliminar dos

programas atualmente em vigor, os excessos aludidos, reduzindo a

prolixidade dos conhecimentos alinhados na estruturação de diversas

disciplinas, que tornava penosa a tarefa didática. Ao mesmo tempo,

verificava-se o flagrante desajustamento desses programas com o nível de

assimilação da população escolar, cujas faculdades intelectuais, ainda mal

desabrochadas, não a habilitavam a abranger a enorme soma de deveres e

atividades de aprendizagem oferecidas ao seu conhecimento (Ensino

Secundário no Brasil. INEP, 1952, p.515, apud MARQUES, 2005, p.52).

Pode-se dizer, após leitura da justificativa colocada, que houve uma preocupação em

se reduzir os conteúdos até então ministrados. Dessa forma, o termo Programa Mínimo

refere-se àquele que seria trabalhado por todas as instituições escolares e teriam, assim,

condições de executá-lo. Por outro lado, o artigo 4º da Portaria 966 revela outro objetivo do

programa mínimo:

Os programas das diversas disciplinas do curso secundário serão cumpridos

no Colégio Pedro II e nos demais estabelecimentos de ensino secundário do

país com desenvolvimento adequado às diversas regiões, tendo-se sempre

em vista as conveniências didáticas.

A interpretação que pode ser dada a esse artigo é que houve a possibilidade de serem

elaborados planos de desenvolvimento desse programa mínimo de acordo com as

especificidades de cada região.

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212

Durante a vigência do programa mínimo, o 2º ciclo do ensino secundário continuou a

ser chamado de Clássico e Científico, tendo perdurado no sistema educacional brasileiro até

1961, ano da LDB 4.024/61.

2.6 Lei n. 4024 e Lei n. 5692

A primeira lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira surgiu em 1961 e recebeu

o número 4024. As principais mudanças decorrentes dessa lei foram a possibilidade de acesso

ao nível superior para alunos egressos do ensino técnico e a criação do Conselho Federal de

Educação e dos Conselhos Estaduais. Porém, a estrutura tradicional do ensino foi mantida e o

sistema continuou a ser organizado segundo a legislação anterior e ficou da seguinte forma:

5. Ensino pré-primário, composto de escolas maternais e jardins de infância;

6. Ensino primário de 4 anos, com chance de ser acrescido de 2 anos mais, com

programa de artes aplicadas;

7. Ensino médio, subdividido em dois ciclos: o ginasial de 4 anos e o colegial de 3 anos,

ambos por sua vez compreendendo o ensino secundário e o ensino técnico;

8. Ensino superior.

A Lei 4024 apresentou como vantagem a não prescrição de um currículo fixo e rígido

para todo o território nacional, em cada ramo e nível. Para a quebra de rigidez e a

descentralização foi um progresso, pois houve a “possibilidade de os Estados e os

estabelecimentos anexarem disciplinas optativas ao currículo mínimo estabelecido pelo

Conselho Federal de Educação foi, sem dúvida, um progresso em matéria de legislação”

(ROMANELLI, 1980, p. 181).

A lei 5692 é de 11 de agosto de 1971 e fixou o objetivo geral da educação no nível

básico. Dentre as mudanças introduzidas pela lei, salienta-se a obrigatoriedade escolar para

oito anos, isto é, faixa etária que vai dos 7 aos 14 anos. Fez-se a junção do curso primário e do

curso ginasial em um só curso fundamental de oito anos. Houve a mudança da nomenclatura e

da periodização dos graus de ensino, de 1ª a 8ª séries, primeiro grau e o ensino médio passou

a se denominar 2º grau, cursado em três anos. Houve a eliminação do dualismo existente entre

escola secundária e escola técnica, pela criação de uma escola única de 1o e 2

o graus. Dessa

forma, a estrutura passou a ser a seguinte:

Ensino de 1o grau: com 8 anos de duração e uma carga horária de 720 horas

anuais.

Ensino de 2 o grau: com 3 ou 4 anos de duração e carga horária de 2200 horas,

para os cursos de 3 anos e 2900 horas para os cursos de 4 anos.

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213

2.7 O Movimento da Matemática Moderna

Em 1934, surgiu na França um grupo de matemáticos com o pseudônimo Nicolas

Bourbaki37

e acredita-se que, entre os membros originais, figuravam André Weil, Claude

Chevalley, Jean Dieudonné e Jean Delsart (EVES, 2007, p. 690). Esse grupo lançou os

Éléments de Bourbaki cujo primeiro volume foi editado em 1939 e o trigésimo primeiro, em

1965. O conjunto da obra institulou-se Les structures fundamentales de l’analyse que engloba

Teoria dos Conjuntos, Álgebra, Topologia geral, funções de variável real, espaços vetoriais

topológicos e integração (BOYER, 2008, p. 438). Para Boyer (2008, p. 438), a “apresentação

do assunto por Bourbaki é caracterizada por uma adesão sem concessões ao tratamento

axiomático e a uma forma secamente abstrata e geral que retrata claramente a estrutura

lógica”.

De acordo com Burigo (1988, p. 90), o grupo foi “responsável pela reconstrução do

edifício matemático que substituíra a divisão tradicional do conhecimento matemático em

ramos por categorias mais gerais”. Na construção do grupo, há três tipos de “estruturas-mãe”:

algébricas, de ordem e topológicas. A autora ainda afirma que:

Nas propostas para o secundário, a influência do trabalho de Bourbaki fazia-

se sentir na ênfase na unidade entre os ramos da matemática, no uso dos

conceitos unificadores, tais como os de conjunto e função e na introdução do

estudo das estruturas algébricas como grupos e anéis e dos espaços vetoriais

(BURIGO, 1988, p.90).

Eves (2007) salienta que:

Duas das características principais da matemática do século XX, a ênfase na

abstração e a preocupação crescente com a análise das estruturas e modelos

subjacentes chamaram a atenção, em meados do século, dos interessados em

ensino da matemática. Vários destes entenderam que seria oportuno adaptar

tais características ao ensino e, não demorou, formaram-se grupos

competentes e entusiastas empenhados em reformular e “modernizar” a

matemática escolar. Nascia a matemática moderna. (EVES, 2007, p. 690).

É necessário acrescentar que “Na origem, a expressão ‘matemática moderna’ ou

‘matemáticas modernas’ referia-se à evolução interna da própria disciplina, nos últimos 100

anos e em especial a partir do trabalho do grupo Bourbaki”. (BURIGO, 1988, p. 82). Este

grupo exerce influência significativa no MMM internacionalmente e, em particular, no Brasil

VALENTE et al, 2007, p.2).

Na década de 40, matemáticos pertencentes à liderança do grupo Bourbaki chegam ao

Brasil e são contratados pela Universidade de São Paulo. Aqui, influenciam e orientam os

responsáveis pelas cátedras, como também alguns jovens assistentes Dentre eles, destacam-se

37

Há algumas versões que ajudam a entender a origem do nome Bourbaki e uma dessas versões atribui o nome

em homenagem ao general Charles Denis Sauter Bourbaki que ganhou fama na Guerra Franco-Prussiana. Em

1862, rejeitou o trono da Grécia e, depois de uma campanha desastrosa, em 1871, foi obrigado a recuar até a

Suiça onde se exilou. Consta que há uma estátua em homenagem ao general em Nancy, França, onde se situa a

Universidade de Nancy, com a qual vários membros do grupo tiveram vínculos. Porém, essa versão deixa em

aberto a origem do nome “Nicolas” (EVES, 2007, p. 692).

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214

Osvaldo Sangiorgi, Jacy Monteiro, Omar Catunda, Benedito Castrucci, que na década de 60

iniciam e divulgam o MMM no Brasil (VALENTE et al, 2007, p. 2).

Dentre os matemáticos que aqui estiveram, podemos citar Jean Dieudonné38

, líder do

grupo.

No Brasil, na década de 50 do século XX, justamente na época em que o Ministério da

Educação fazia valer o Programa Mínimo, havia, na comunidade acadêmica, uma grande

insatisfação com o ensino de Matemática (SOARES, 2001). Dessa forma, houve a

necessidade de realização de encontros entre professores para que fosse possível a discussão

de temas relacionados ao ensino. No Brasil, foram realizados cinco congressos nacionais de

Ensino de Matemática, sendo o primeiro realizado em 1955 e, o último, em 1966.

O primeiro desses Congressos ocorreu na cidade de Salvador e foram discutidos, de

forma exclusiva, assuntos relacionados ao Ensino de Matemática, abordando temas tais como

programas, livros didáticos e formação de professores (LAVORENTE, 2008).

Nesse Congresso, foi aprovado o aumento da carga horária semanal de matemática no

curso secundário, para quatro horas, no curso ginasial e, para cinco horas, no colegial

(SOARES, 2001). Ainda, baseado em reformas anteriores, foi aprovado o seguinte programa

de ensino para o Curso Colegial (cinco horas semanais para o científico):

Quadro 1- Programa de ensino para o Curso Colegial

Primeira Série Segunda Série Terceira Série

Progressões

Números irracionais

Potências com expoentes

fracionários

Logaritmos (como operação)

Equações exponenciais

Trigonometria

Análise Combinatória

Binômio de Newton

Determinantes

Sistemas lineares

Geometria no espaço

Análise Matemática: (início)

Conceitos elementares de variável e de

função. Limite: primeiras noções sobre

derivadas e aplicações ao estudo da variação

de uma função. Estudo do trinômio do 2.o

grau.

Noções sobre números complexos

Polinômios e equações algébricas em geral

(pequena introdução)

Geometria Analítica: (início)

Estudo no plano até cônicas

Fonte Soares (2001).

Em 1957, na cidade de Porto Alegre, foi realizado o segundo Congresso que

apresentou também palestras referentes ao ensino primário e à formação de professores, ou

seja, se propôs a discutir a aprendizagem de Matemática nos diferentes níveis de ensino

(LAVORENTE, 2008). O tema “Matemática Moderna” foi citado, segundo Soares (2001), de

forma discreta por Ubiratan D`Ambrósio e por Osvaldo Sangiorgi. D’Ambrosio desenvolveu

a temática Considerações sobre o ensino atual de Matemática e Osvaldo Sangiorgi, levou

38

Jean Dieudonné. Matemático europeu, líder do grupo Bourbaki, também exerceu muita influência sobre a

educação matemática do Brasil. Na década de 1940, Dieudonné lecionou na Universidade de São Paulo. Mais

tarde, na década de 50, apresentou uma série de palestras no Brasil, relacionadas com o trabalho do grupo

Bourbaki. Uma vez que muitos matemáticos brasileiros haviam estudado com Dieudonné em suas visitas

anteriores, suas opiniões eram muito respeitadas e seu interesse em educação matemática gerou interesse similar

entre os seus ex-alunos. Isso sinalizou para os matemáticos da academia que era “respeitável” envolver-se com

educação matemática (BEATRIZ D’AMBRÓSIO, 1987, p. 84).

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215

uma discussão sobre Matemática clássica ou Matemática moderna, na elaboração dos

programas do ensino secundário?

O terceiro Congresso ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, em 1959, e objetivou

estudar os problemas relativos aos ensinos secundário e primário, comercial, industrial e

normal e problemas gerais relativos ao ensino de Matemática (SOARES, 2001). Como

decisões importantes desse congresso, podem-se citar:

Proposta ao Ministério da Educação de não conceder o registro de professor de

Matemática aos licenciados em outros cursos tais como pedagogia, Ciências

Sociais, História Natural e Química.

Criação de uma Revista de Matemática para o Ensino Médio.

Solicitar aos Departamentos de Matemática das Faculdades de Filosofia de todo o

país a criação de cursos de preparação à Matemática Moderna, tais como Teoria

dos Números, Lógica Matemática, Teoria dos Conjuntos e Álgebra Moderna, para

professores do Ensino Médio (SOARES, 2001, p. 85).

O quarto congresso foi realizado em 1962, em Belém do Pará, e tratou de forma mais

objetiva a introdução da Matemática Moderna no ensino secundário. Nesse congresso, houve

a participação de congressistas ligados ao GEEM - Grupo de Estudos do Ensino da

Matemática39

. Nesse evento, os membros do GEEM realizaram sete aulas-demonstração,

discorrendo sobre o tratamento moderno de certos tópicos de Matemática na escola

secundária, duas apresentações do desenvolvimento moderno de assuntos de Matemática e

três palestras que focaram a introdução da Matemática Moderna na escola secundária

(SOARES, 2001).

O Congresso de 1966 foi realizado na cidade de São José dos Campos, em São Paulo,

e contou com grande participação do GEEM, pois o grupo se encarregou de sua organização.

O tema desse quinto congresso foi Matemática Moderna na Escola Secundária, articulações

com o ensino primário e com o ensino universitário. Segundo Soares (2001), houve sessões de

estudo que foram distribuídas em três momentos:

Primeiro: problemas da Teoria dos Conjuntos e de Lógica Matemática aplicada ao

ensino.

Segundo: tópicos de Álgebra Moderna e Espaços Vetoriais.

Terceiro: problemas de tratamento moderno de Geometria e Lógica Matemática.

Segundo Pinto (2008), houve a apresentação de trabalhos no V Congresso que

mostraram que o Movimento da Matemática Moderna já estava difundido em escolas de

diferentes estados brasileiros, pois, graças ao GEEM, acelerou-se a difusão do movimento. A

convite do coordenador do grupo, Osvaldo Sangiorgi, foram a São Paulo, proferir palestras,

ilustres representantes estrangeiros e essas palestras atraíam professores de Matemática de

outras regiões do Brasil (PINTO, 2008). Em 1964, o GEEM expandiu sua ação para além do

estado de São Paulo, ministrando cursos de Matemática Moderna e, em 1970, era líder do

MMM no Brasil (SOARES, 2001).

39

O GEEM foi fundado em 1961, na Universidade Mackenzie, sob a presidência do Professor Osvaldo

Sangiorgi. A constituição e atuação deste grupo foram importantes para a implantação e divulgação do

Movimento da Matemática Moderna no Brasil. O grupo tinha como objetivos escrever livros textos, realizar

congressos, encontros, simpósios e cursos voltados à Matemática Moderna para professores (LIMA, 2006, p.

43).

Page 217: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

216

Evidencia-se a presença da Matemática Moderna nas provas de Exame de Admissão40

de 1964, aplicada em São Paulo, especificamente no Colégio Santa Cruz. Nesse exame, o

termo “prova” é substituído por “teste” e nesse teste há espaços para a resolução das questões

e espaços para as respostas (PINTO, 2005). Pode-se constatar o uso do termo “sentença”, das

opções F (falso) e V (verdadeiro) e alterações na forma de propor as questões com aspectos de

uma nova linguagem matemática. Em 1965-66, nas Escolas Primárias de São Paulo, houve

outro modelo de prova de Matemática Moderna com uma extensa questão sobre conjuntos o

que, para a autora, “evidencia o início, naquele momento, da adoção da Matemática Moderna

na escola primária paulista” (PINTO, 2005, p. 8). Em 1968, nos livros que preparavam os

alunos para os exames de admissão, o item 1, figura 4, é dedicado exclusivamente à noções

sobre conjuntos.

Figura 4- Conteúdos de Matemática a serem tratados no Programa de Admissão

Fonte: Azevedo et al. (1968).

Para Soares (2001),

No Brasil as propostas da Matemática Moderna encaixavam-se

perfeitamente na política de modernização econômica do governo da década

de 60. Vigorava no país a corrente pedagógica tecnicista que se consolidou

sustentada pela ideologia desenvolvimentista que defendia a industrialização

do país e privilegiava a formação técnica. Por conta desse interesse, o

governo abriu as portas para os técnicos americanos nos conhecidos acordos

MEC-USAID41

(SOARES, 2001, p.137).

Para Beatriz D’Ambrósio (1987), a Matemática Moderna foi um projeto idealizado em

países desenvolvidos e, posteriormente, aplicado em países do Terceiro Mundo. Soares (2001,

40

Os Exames de Admissão foram iniciados através do Decreto no 4.468, de 1

o de fevereiro de 1870, para os

ingressantes no Colégio Pedro II e regulamentados pelo Decreto no 981 de 8 de novembro de 1890.

Posteriormente, como parte da Reforma Francisco Campos, tornaram-se obrigatórios nas escolas públicas de

todo o país pelo Decreto n.o 19.890 de 18 de abril de 1931 (AKSENEN e MIGUEL, 2013, p.2).

41 O Acordo MEC-USAID foi assim denominado pela série de convênios assinados, a partir de 1964, entre o

MEC (Ministério da Educação) e a agência USAID (United States Agency for International Development). O

Acordo objetivou uma reforma em todos os níveis de ensino brasileiros, adotando-se para tanto, o modelo norte

americano, especialmente no ensino superior. Pelo papel estratégico deste nível, a reforma visava uma formação

técnica mais ajustada ao plano desenvolvimentista e econômico brasileiro, em consonância com a política norte-

americana para o país (FRANZON, 2015, p.3).

Page 218: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

217

p.137) ainda afirma que “os acordos assinados pelo Brasil (MEC – USAID) facilitaram a

entrada das ideias da Matemática Moderna que eram veiculadas nos Estados Unidos”.

As mudanças propostas Movimento da Matemática Moderna também apresentavam

como meta fazer com que o ensino da Matemática se tornasse mais “atraente” para o aluno,

ou seja, mais prazeroso. Soares (2001, p. 148) afirma que “o Movimento defendia a inclusão

de tópicos de Matemática estudados na Universidade no currículo do ensino secundário tais

como: álgebra moderna, topologia, transformações lineares, etc”.

Pierro Neto et al. (1967) assim escreveram:

Quando usamos a expressão “Moderna” para a Matemática atualmente

ensinada, muitos são levados a pensar que se trata da substituição, pura e

simples, dos assuntos tradicionais da aritmética, álgebra e geometria, por

uma matemática completamente diferente. Pelo contrário, o que se pretende

estudar é a mesma coisa, e alguns novos tópicos de maior importância para

as ciências modernas, através de uma linguagem mais fácil e precisa, capaz

de penetrar todos os ramos da matemática (PIERRO NETO et al.., 1967,

p.11).

Outra característica importante da Matemática Moderna foi a introdução dos

fundamentos de conjuntos, relações e suas propriedades. A linguagem dos conjuntos foi muito

enfatizada, valorizando muito a utilização de símbolos. A figura 5 mostra a simbologia,

utilizada no capítulo inicial, destinado à Teoria dos Conjuntos e Lógica Matemática.

Figura 5- Simbologia utilizada na teoria dos conjuntos e na lógica

Fonte: Pierro Neto et al.. (1967, p. 12).

Page 219: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

218

Para vários pesquisadores, a exemplo de Soares (2001), não houve tempo para que os

professores se preparassem para o novo modelo de ensino da Matemática. Para Soares (2001,

p. 149), “a Geometria foi abandonada, e os cálculos numéricos foram substituídos por

formalismos excessivos desvinculados da realidade”. Porém, Zuin (2001) aponta que as

construções geométricas e, consequentemente, o ensino de geometria, continuou em algumas

escolas nas aulas de Desenho Geométrico e mesmo, em determinadas situações, através da

disciplina Educação Artística, implantada com a LDB 5692/71.

Evidentemente, as críticas à “moderna matemática” foram muitas, não só no Brasil,

mas também nos Estados Unidos com a publicação da obra “O fracasso da Matemática

Moderna” do matemático Morris Kline que não aprovava a grande quantidade de simbolismos

e à excessiva valorização da Teoria dos Conjuntos. Soares (2001, p.149) ainda afirma que no

Brasil “os exageros cometidos em nome da Matemática Moderna são devidos principalmente

aos livros didáticos, publicados livremente e sem nenhuma fiscalização ou critério e também à

falta de formação adequada dos professores secundários.”

Não se pode negar, no entanto, que o Movimento da Matemática Moderna alterou a

estrutura do ensino da Matemática e, se não houve êxitos na sua implantação, é porque uma

renovação na maneira de ensinar demanda tempo e não é fácil de ser realizada. Chervel (1990,

p. 197) alerta que, de fato, “a instauração das disciplinas ou das reformas disciplinares é uma

operação de longa duração. O sucesso ou o fracasso de um procedimento didático não se

manifesta a não ser ao término da escolaridade do aluno”.

Para finalizar este capítulo, apresentamos a seguir uma linha do tempo (figura 6) na

qual citamos as reformas e os acontecimentos que tiveram impacto na educação brasileira

dentro no intervalo compreendido entre 1930 e 1980.

Figura 6- Esquema demonstrativo das datas das reformas de ensino e dos acontecimentos importantes no

período estudado

Fonte: Elaborado pelas autoras.

O apêndice A mostra um quadro resumo As Reformas de Ensino e as propostas

educacionais da década de 1930 a 1980

Page 220: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

219

3. EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL: LIVROS

ANALISADOS

Neste capítulo, trazemos cinco livros didáticos utilizados, com uma breve biografia

dos autores. Apresentamos alguns elementos da análise das obras, referente ao conteúdo

equação/função exponencial, destacando as abordagens realizadas ao descrever o conteúdo

citado, transpondo imagens das próprias obras.

Os livros selecionados para a análise foram os seguintes:

Curso de Mathematica 4.o Anno, de Euclides Roxo, Cecil Thiré e Mello e Souza

(1938);

Curso de Matemática 2.o Livro Colegial, de Algacyr Munhoz Maeder (1949);

Curso de Matemática 1.o ano para os Cursos Clássico e Científico, de Thales Mello

Carvalho (1955);

Matemática Curso Colegial Moderno, de Scipione Di Pierro Netto, Luiz Mauro Rocha

e Ruy Madsen Barbosa (1967);

Matemática 2o Grau 1

a Série, de Gelson Iezzi, Osvaldo Dolce, José Carlos Teixeira,

Nilson José Machado, Márcio Cintra Goulart, Luiz Roberto da Silveira Castro e

Antônio dos Santos Machado (1978).

A figura 7 mostra de forma esquemática as datas das publicações com as respectivas

capas destas obras.

Figura 7- Obras analisadas e as datas das publicações

Fonte: Elaborado pelas autoras.

O quadro 2, a seguir, mostra as características das obras analisadas.

Page 221: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

220

Quadro 2- Estrutura interna e externa das obras

ESTRUTURA

EXTERNA/INTERNA

ROXO et al

(1938)

MAEDER

(1949)

CARVALHO

(1955)

DI

PIERRO

NETTO et

al (1967)

IEZZI et

al.

(1978)

Tipo de capa Dura Dura Dura Flexível de

cor

vermelha

Flexível,

colorida

Índice

Sim, na última

página e sem

estar em ordem

alfabética.

Sim, nas

primeiras

páginas do

livro e sem

estar em

ordem

alfabética.

Final da obra Final da

obra

Início da

obra

Prefácio X - - X X

Bibliografia - - - - X

Dimensões (cm) 16 x 23 14 x 21 13 x 19 14,5 x 21 15 x 20,5

Número de páginas 409 415 316 267 325

Apresentação de

formulários

X - - - -

Referências históricas - - X X -

Exercícios de exemplo X X X - X

Exercícios propostos com

resposta

Sim e após o

enunciado

Sim e após

o

enunciado

Sim e com

respostas no

final da

proposição

dos

exercícios

Sim e com

respostas

no final do

enunciado

Sim e com

respostas

no final do

livro

Notas de rodapé X - X - -

Terminologia adotada

Linguagem

simples e direta.

Linguagem

simples e

direta.

Linguagem

simples e

clara com

assuntos

colocados em

ordem

crescente de

dificuldade

Linguagem

clara, o

autor utiliza

textos bem

explicativos

e ainda

utiliza o

Vocabulário

Exposição

teórica

com

utilização

de

simbologia

Capítulo destinado à

potenciação

- - X X X

Número de páginas

destinadas a função

exponencial

9 10 5 4 15

Número de páginas

destinadas a equação

exponencial

1/2 6 4 5 3

Porcentagem destinada à

função exponencial

2,2% 2,4% 1,5% 1,4% 4,6%

Porcentagem destinada à

equação exponencial

0,12%

1,4 %

1,2% 1,8% 0,9%

Aplicação da função

exponencial a outras áreas

_ _ _ _ X

Aplicação da equação

exponencial à outras áreas

_ _ _ _ _

Fonte: Dados da pesquisa

Page 222: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

221

Para a análise do conteúdo equação/função exponencial, tomamos como base

metodológica o trabalho desenvolvido por Picado y Rico (2011). Estes autores definiram

cinco fases para a pesquisa que foram consideradas neste trabalho:

Definição do problema, o campo e tipo de pesquisa e a definição de objetivos.

Nesta fase, incluem-se a seleção do tema, sua delimitação e o estabelecimento de um

marco teórico que o fundamente. Na seleção do tema devem ser considerados aspectos como

relevância, viabilidade, originalidade e interesse pessoal.

Busca, localização e seleção de livros didáticos.

É nesta fase que se levam em conta a busca, localização e seleção das fontes

documentais que possam proporcionar informações a respeito do tema da pesquisa.

Localizadas as fontes, é necessário classificá-las e selecioná-las com o objetivo de se evitar

repetição de informações. Nesta etapa, deve-se realizar a verificação da autenticidade das

fontes.

Análise dos livros didáticos.

Na fase de análise, consideramos três pontos importantes que são o autor, a estrutura

do texto e o conteúdo. Quanto ao autor, foram destacadas as informações pessoais e

profissionais, informando o nome, a profissão, o lugar de formação, vínculos com

matemáticos e obras publicadas. Com relação à estrutura do texto, relacionamos o ano, a

edição, a editora, finalidade e objetivos, organização do conteúdo, estilo de apresentação das

informações e as referências no texto.

Na análise do conteúdo, procuramos verificar de que forma o autor inicia o capítulo,

ou seja, se há ou não referências a conceitos fundamentais para o entendimento do que se

propõe e também quais são as estratégias propostas pelo autor para o ensino e aprendizagem,

identificando os sistemas de representação que, de modo geral, são em número de cinco:

textual, numérica, simbólica, tabular e gráfica. Também foi importante verificar se houve

referências históricas relativas ao conteúdo e se o autor aborda aplicações a outras áreas do

conhecimento.

Com relação à fenomenologia, procuraremos identificar os fenômenos naturais (se no

texto são apresentadas situações de natureza física, química, biológica ou de outras áreas, nas

quais a função exponencial pode ser aplicada) e fenômenos matemáticos (se o conteúdo

analisado se apresenta em um contexto de aplicação de uma ou várias operações aritméticas).

No caso da nossa pesquisa, faremos aqui, nesta fase, a análise do conteúdo que é tema

deste trabalho, analisando as formas utilizadas pelos autores selecionados para apresentá-lo.

Exposição dos resultados.

Nesta fase, serão mostrados todos os livros analisados, destacando as suas estruturas

externa e interna e destacando o conteúdo que é tema dessa pesquisa.

Interpretação dos dados.

Aqui nessa fase, procuraremos discutir, à luz da legislação vigente à época da

publicação, a metodologia utilizada pelo autor.

Nosso trabalho corresponde a uma investigação qualitativa-descritiva cujo objetivo

geral foi verificar, através de livros didáticos, as formas utilizadas por diversos autores para

apresentar um conteúdo específico de Matemática entre os anos de 1930 e 1980.

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222

Os marcos temporais, inicial e final, foram delimitados tendo em vista a Reforma

Francisco Campos, que trouxe modificações para o ensino com demarcação da união da

Álgebra, Geometria e Aritmética em uma só disciplina, denominada Matemática, e o período

no qual os autores se voltaram para as prescrições do MMM.

A primeira obra, de Roxo et al (1938), foi publicada na vigência da reforma

Francisco Campos. A segunda, de autoria de Algacyr Munhoz Maeder, editado em 1949, foi

lançada durante a reforma Gustavo Capanema. Na vigência do Programa Mínimo, analisamos

a obra de Thales Mello de Carvalho, de 1955. No período do Movimento da Matemática

Moderna, a obra de Scipione et al (1967) foi objeto da nossa análise e o livro Matemática de

Iezzi et al (1979). São 41 anos decorridos entre a primeira e a última obra analisada.

3.1. O Conteúdo Equação/Função Exponencial nos Livros Selecionados

3.1.1 Curso de Mathematica 4.o Anno, de Euclides Roxo, Cecil Thiré e

Mello e Souza (1938)

Os autores

Euclides de Medeiros Guimarães Roxo

Euclides Roxo nasceu em Aracaju, Sergipe, em 10 de dezembro de 1890 e faleceu no

Rio de Janeiro no dia 21 de dezembro de 1950. Em 1909, bacharelou-se no Colégio Pedro II,

tendo sido aprovado em 1915 em concurso para professor substituto de Matemática. Formou-

se em Engenharia pela Escola Politécnica do Rio De Janeiro em 1916. Em 1919 foi nomeado

catedrático do Colégio Pedro II e aí foi também examinador de Francês, Latim e Matemática.

Posteriormente, foi aprovado em concurso para catedrático do Instituto de Educação. No

Colégio Dom Pedro II foi diretor de 1925 a 1935, sendo diretor no externato de 1925 a 1930

e, no internato, de 1930 a 1935. No Ministério da Educação e Saúde, exerceu o cargo de

Diretor do Ensino Secundário no ano de 1937. Foi, também, membro do Conselho Diretor da

Associação Brasileira de Educação (ABE) de 1929 a 1931 e fez parte da comissão do ensino

secundário da mesma associação, fundada na 2.a Conferência da ABE, além de ter sido

presidente da Comissão Nacional do Livro Didático (VALENTE, 2003, p. 86-87).

Entre suas obras podemos citar:

Lições de Aritmética (1925).

Curso de Mathemática Elementar, 2 volumes (1.o volume: 1929; 2.

o volume:1930).

Curso de Mathemática, com Cecil Thiré e J. C. De Mello e Souza (5 volumes).

Matemática Ginasial – (4 volumes), publicado a partir de 1942, com outros autores

(Cecil Thiré e Mello e Souza).

Matemática Segundo Ciclo, com Roberto Peixoto, Haroldo Lisboa da Cunha e César

Dacorso Neto (3 volumes).

Matemática na Educação Secundária (1937).

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223

Unidades e Medidas (1941) (VALENTE, 2003, p. 87-88).

Júlio César de Mello e Souza

Mello e Souza, também conhecido pelo pseudônimo de Malba Tahan, nasceu em 06

de maio de 1895 na cidade do Rio de Janeiro e faleceu em Recife em 1974. Cursou o ensino

fundamental no Colégio Militar do Rio de Janeiro e o ensino médio no Colégio Pedro II,

sendo ambas essas instituições reconhecidas pela excelência de ensino. Em seguida, se

formou como professor na Escola Normal e como engenheiro na Escola Nacional de

Engenharia. Como professor, lecionou em várias escolas, inclusive no Colégio Pedro II e na

Escola Normal. Foi ainda catedrático na Escola Nacional de Belas Artes, na Faculdade

Nacional de Arquitetura e no Instituto de Educação do Rio de Janeiro. Publicou, em 1938, a

famosa obra O homem que calculava (FARIA, 2004).

Outros títulos de sua autoria:

Mathematica 1.o e 2.

o anno, em coautoria com Cecil Thiré (1931)

Curso de Mathemática, em coautoria com Cecil Thiré e Euclides Roxo (5 volumes).

Mathemática Ginasial – (4 volumes), publicado a partir de 1942, com outros autores

(Cecil Thiré e Euclides Roxo).

Geometria Analítica, 1.a e 2.

a partes

Tudo é fácil

Matemática fácil e atraente (ROXO; THIRÉ; MELLO e SOUZA, 1938).

Cecil Thiré

Cecil Thiré nasceu em Nova Lima, em maio de 1892 e faleceu no Rio de Janeiro em

novembro de 1963. Formou-se em Engenharia pela Universidade Mackenzie. Foi catedrático

em Matemática no Colégio Pedro II.

Destacamos algumas obras publicadas por este autor:

Mathematica 1.o e 2.

o anno, em coautoria com Mello e Souza (1931).

Curso de Mathemática, em coautoria com Mello e Souza e Euclides Roxo (5

volumes).

Mathemática Ginasial – (4 volumes), publicado a partir de 1942, em coautoria com

outros autores (Mello e Souza e Euclides Roxo).

Exercícios de Álgebra

Exercícios de Arithmética

Exercícios de Mathematica – 1.o e 2.

o annos (ROXO; THIRÉ; MELLO e SOUZA,

1938).

Estrutura editorial

É possível observar no livro em pauta que a capa e a folha de rosto são locais

exclusivos para a localização de elementos paratextuais (GENETTE, 2009). Na capa (figura

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224

8), encontramos o título da obra Curso de Mathemática e o subtítulo 4o anno e além desses,

destacam-se os nomes dos autores e a livraria que o editou.

Figura 8– Capa do livro Roxo, Thiré & Mello e Souza

Fonte: Roxo, Thiré e Mello e Souza (1938).

Na primeira folha interna, visualizamos os nomes dos autores e, no verso, o destaque

de algumas obras dos mesmos. Na contracapa, encontram-se dados bibliográficos, bem

resumidos, dos autores, o número da edição (4a Edição, 1938) e os endereços da livraria

responsável pela edição (Livraria Francisco Alves).

No prefácio, os autores revelam que a obra segue o programa oficial vigente e que se

preocuparam em ressaltar as aplicações práticas de Matemática:

Destinando-se este livro especialmente aos estudantes da 4.a serie do curso

secundario, tivemos ao elaborá-lo, a preoccupação de seguir pari passu o

programa official, distribuindo pelos diferentes capítulos toda a matéria

exigida.

Procurámos, sempre que foi possível, acompanhar os pontos estudados de

questões simples e problemas numericos que fizessem resaltar as multiplas

aplicações praticas da Mathematica (ROXO, THIRÉ & MELLO E SOUZA,

1938).

O prefácio da 4a edição, de 1938, é o mesmo da 3

a edição, de 1936, ou seja, em ambas

as edições o autor chama a atenção do leitor para a importante questão relativa às aplicações

práticas de Matemática.

Em relação aos elementos textuais, a obra é organizada em capítulos e cada capítulo é

apresentado em tópicos enumerados e essa indexação é interrompida entre os capítulos. Há

tópicos que trazem exercícios resolvidos e denominados de exemplo. Há poucos casos onde os

exercícios estão intercalados com o texto em um capítulo.

Page 226: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

225

Outro elemento textual que se destaca é o denominado formulário que está localizado

no final do livro, anterior ao índice geral, apresentado na última página. Os conteúdos

abordados seguem o programa oficial de acordo com a Reforma Francisco Campos.

Análise do conteúdo equação/função exponencial

O conteúdo função exponencial se encontra no capítulo VI com o título Funcção

exponencial logo após o capítulo correspondente às progressões geométricas que exige como

pré-requisito o conhecimento das propriedades das potências. O capítulo se inicia na página

70 e finaliza na página 78. Os autores apresentam no tópico 1 as Noções preliminares (figura

9), onde apresentam a igualdade

𝑝 = 𝑎𝑚

como se o aluno desconhecesse a operação de potenciação, uma vez que coloca no parágrafo

seguinte as denominações de p (potência), a (base) e m (expoente). A partir daí, supõe que a

base a é constante e que a potência e o expoente são variáveis. Com uma mudança de

nomenclatura, denominam o expoente por x e a potência por y e apresentam a igualdade

𝑦 = 𝑎𝑥, conceituando a função exponencial. São apresentadas nesse tópico duas notas de

rodapé, alertando para o caso do expoente permanecer constante e lembra que foi um assunto

estudado no 3o anno no livro Algebra.

Page 227: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

226

Figura 9- Noções preliminares

Fonte: Roxo, Thiré e Mello e Souza (1938, p. 70)

No tópico 2, se apresenta o Exemplo I, trabalhando com a função 𝑦 = 5𝑥, atribuindo

valores a x e calculando y.

No tópico 3 tem-se o caso de expoente commensuravel e afirma, pelo exemplo I, que o

expoente x pode receber um valor real qualquer nulo ou positivo. No exemplo II, é

apresentado o caso de um expoente positivo e diferente de 1, enquanto que, no exemplo III, o

caso do expoente positivo e menor que 1.A partir desses dois exemplos, os autores

apresentam o tópico 6 A funcção ax quando a é negativo. Neste ponto, os autores, evitando

demonstração longa, mostram de forma objetiva o número imaginário (figura 10):

Page 228: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

227

Figura 10- Apresentação da base negativa

Fonte: Roxo, Thiré e Mello e Souza (1938, p. 73).

Na página 74, os autores apresentam a seguinte conclusão: “Quando a base a é

negativa a funcção y = ax não é definida para qualquer valor real de x” (ROXO; THIRÉ;

MELLO e SOUZA, 1938, p.74).

O Exemplo IV ( figura 11), mostra esse caso com os possíveis valores de y, quais

sejam negativo, positivo ou imaginário.

Figura 11- Exemplo IV

Fonte: Roxo, Thiré e Mello e Souza (1938, p. 74).

A definição de função exponencial é apresentada no tópico 9 e, nesse momento, os

autores consideram a base como sendo um número positivo e diferente de 1 uma vez que já

Page 229: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

228

demonstraram que, no caso da base negativa, a função não é definida para todo valor real de

x. No tópico 10, são apresentados dois gráficos da função exponencial, considerando base

maior que 1 e menor que 1.

A seguir, os autores ilustram as curvas obtidas no tópico 10 em uma única figura

(figura 12) e enunciam as propriedades da curva exponencial:

Figura 12- Esboço dos gráficos de duas funções exponenciais de bases 2 e 1/2

Fonte: Roxo, Thiré e Mello e Souza (1938, p. 76).

1o) A curva, em qualquer dos casos, fica situada toda acima do eixo dos x,

pois a funcção ax é positiva para qualquer valor de x

2o) A curva exponencial passa sempre pelo ponto B de coordenadas 0 e 1.

3o) A partir do ponto B, no 1

o caso (a > 1), a curva sobe rapidamente acima

do semi-eixo positivo dos x e desce lentamente sobre o semi-eixo negativo

do qual se approxima indefinidamente, mas sem nunca attingil-o. O semi-

eixo negativo dos x é uma asymptota da curva y = ax (a > 1). No 2

o caso (a <

1), dá-se o inverso: a curva, a partir do ponto B, afasta-se cada vez mais do

semi-eixo negativo dos x e tem por asymptota o semi-eixo positivo das

abscissas (ROXO; THIRÉ; MELLO e SOUZA, 1938, p.76).

O tópico 13 (figura 13) mostra um feixe de curvas exponenciais, mas não fazem

referência a alterações do aspecto da curva quando se varia a base.

Page 230: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

229

Figura 13- Feixe de curvas

Fonte: Roxo, Thiré e Mello e Souza (1938, p. 77).

Citam seis propriedades da função exponencial que enumeramos:

I) Para qualquer valor de x a funcção ax é positiva.

II) Quando o valor de x se approxima de zero ax se aproxima de 1.

III) A funcção ax é continua para qualquer valor de x, isto é, attribuindo-se a

x um valor qualquer real e finito, ax terá um valor real, finito e bem

determinado.

IV) Ha um valor real de x e um só para o qual a funcção ax toma um valor

particular b positivo.

V) Si x crescer indefinidamente a funcção ax crescerá indefinidamente

quando a for maior que 1, e tenderá para zero quando a for menor que 1.

(...).

VI) Si x for negativo e crescer indefinidamente em valor absoluto, a funcção

ax tendera para zero quando a for maior que 1, e crescerá indefinidamente

quando a for menor que 1. (...). (ROXO; THIRÉ; MELLO e SOUZA,

1938, p.77-78).

Ao final do capítulo, são dispostos oito exercícios (figura 14).

Page 231: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

230

Figura 14- Exercícios propostos

Fonte: Roxo; Thiré; Mello e Souza (1938, p. 78).

Os exercícios propostos ao aluno, apresentado pelos autores, mostram que houve uma

tendência de explorar os conceitos apresentados no texto, antes da definição de função

exponencial. São exercícios que se assemelham aos exemplos I, II e III. Não há nos

Exercícios, caso em que a base é negativa. Relativamente à função exponencial propriamente

dita, há apenas o exercício 7 que explora a parte gráfica, sem exigir conhecimentos das

propriedades da função em questão. O exercício 8, apesar de referir-se a uma função que, por

definição difere da exponencial, tem objetivo semelhante ao 7 que é o traçado de gráfico.

Os autores não fazem nenhuma referência histórica e, também, não observamos

aplicações práticas do conteúdo, conforme anunciado no prefácio.

As equações exponenciais não são apresentadas dentro deste capítulo. Há, no capítulo

IX, Taboas de Logarithmos, no tópico 17 (figura 15) a demonstração apenas da resolução da

equação exponencial da forma 𝑎𝑥 = 𝑏. Não há a apresentação de nenhuma outra forma de

equação exponencial.

Figura 15- Equação exponencial

Fonte: Roxo; Thiré; Mello e Souza (1938, p. 129).

Page 232: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

231

Os exercícios são apresentados em número de 3, no final do capítulo e todos envolvem

a utilização de logaritmos (figura 16).

Figura 16- exercícios propostos sobre equações exponenciais

Fonte: Roxo, Thiré , Mello e Souza (1938, p. 132).

Sistemas de representação

No texto descrito, os autores lançam mão de formas de representação que poderemos

dizer serem de forma textual, simbólica, tabular, por meio de quadros, e gráfica.

Há uma predominância da representação verbal que é reforçada pela pequena

quantidade de exemplos, que são exercícios resolvidos, como complemento da teoria

apresentada. Identificamos quatro exemplos.

A representação simbólica se faz presente em todo o capítulo, seja na forma simbólica

de se apresentar a função exponencial, bem como na forma de discorrer sobre expoentes com

valores fracionários ou não.

Na representação tabular, verificam-se os quadros, os quais são explorados para

mostrar os resultados de exemplos (figura 11).

Os gráficos (figuras 12 e 13) complementam a visualização da variação da função

exponencial, considerando base maior e menor que 1.

Fenomenologia

Fenômenos naturais: Não são apresentadas situações físicas da natureza nas quais a

equação/função exponencial poderia ser verificada.

Fenômenos matemáticos: A resolução de uma equação exponencial ou a determinação da

variável y para possíveis valores de x sempre exige a aplicação de operações aritméticas, tais

como potenciação, radiciação e as operações fundamentais.

Análise da obra sob o ponto de vista da Reforma Francisco Campos

O livro em questão pode ser traduzido como um exemplo bem fiel das propostas

inovadoras estabelecidas pela reforma. O que se percebe, é que, ao se iniciar o estudo das

Page 233: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

232

funções exponenciais através das noções preliminares e, logo em seguida, propondo um

exemplo, adotando valores positivo, nulo e negativo para o expoente, inferimos que os autores

pretendem provocar a reflexão para conduzir à percepção de que, ao se reduzir o valor do

expoente, para a base positiva, colocada no exemplo, o valor da variável y decresce. Assim, os

autores vão conduzindo a apresentação do texto até culminar com a definição de função

exponencial. Nesse momento, de forma heurística, o aluno deverá ter concluído que a base

deverá ser positiva e diferente de 1. Então, é visível o emprego do método heurístico, uma vez

que o aluno é solicitado a participar, constantemente, do estudo proposto que, no nosso caso,

é equação/função exponencial.

3.1.2 Curso de Matemática 2.o Livro Colegial, de Algacyr Munhoz

Maeder (1949)

O autor

Algacyr Munhoz Maeder nasceu no dia 22 de abril de 1903, em Curitiba, Paraná, onde

fez seus primeiros estudos escolares, seguindo, posteriormente, para São Paulo, capital,

quando passou a estudar no Colégio São Bento. Retornando a Curitiba, graduou-se em

Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia da Universidade Federal do Paraná. Maeder

foi autor de livros didáticos de Matemática editados por duas editoras: Typographia João

Haupt e Cia. e Edições Melhoramentos (LONGEN, 2007). Publicou dezenove livros entre

1928 e 1962. Durante a sua vida, exerceu diversas funções, entre as quais, diretor do

Gymnasio Paranaense (atual Colégio Estadual do Paraná), de 1928 a 1930; prefeito de

Curitiba, em 1946; reitor da Universidade Federal do Paraná de 1971 a 1972; presidente da

Associação de Professores da Universidade Federal do Paraná e membro do Conselho Federal

de Educação, da Sociedade Paranaense de Matemática e da Sociedade Brasileira de Física.

Faleceu no dia 29 de dezembro de 1975 (LONGEN, 2007).

Entre outras obras publicadas por esse autor, podemos citar:

O conceito de número (These, 1927) – Concurso para Lente cathedrático de

Arithmetica e Algebra do Externato do Gymnasio Paranaense.

Resolução e Discussão das Equações do Primeiro e Segundo Gráos a uma Incognita

(These, 1927) - Concurso para Lente cathedrático de Arithmetica e Algebra do

Externato do Gymnasio Paranaense.

Algebra Elementar, 1.a parte e 2.

a parte.

Lições de Matemática, do 1.o ao 5.

o ano.

Curso de Matemática, Curso Ginasial, da 1.a a 4.

a série

Curso de Matemática, Ciclo Colegial, 1.o, 2.

o e 3.

o livros

Matemática, Curso Comercial Básico, da 1.a a 4.

a série (LONGEN, 2007).

Estrutura editorial

A obra a ser analisada, denominada “Curso de Matemática”, destinou-se ao ciclo

colegial e foi denominado de 2.o Livro. Trata-se da 3.

a edição, publicada em 1949, pela

Edições Melhoramentos, tendo como público-alvo estudantes do curso secundário do segundo

Page 234: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

233

ciclo, conforme a Reforma Capanema. As características da obra, no que concerne a capa

(figura 17) e folha de rosto são semelhantes ao livro de Roxo et al. (1945).

Figura 17- Capa do livro Curso de Matemática

Fonte: Maeder (1949).

A obra é apresentada em 25 capítulos, numerados em algarismos romanos. Não há

nenhuma referência histórica na obra. Os conteúdos são apresentados em tópicos com

numeração de 1 a 435, o que não traduz em uma característica desse autor, pois Roxo et al.

(1945) também assim o fizeram. Nas primeiras páginas, anteriores ao índice, o autor apresenta

os programas do ciclo colegial para os cursos científico e clássico, referentes à 2.a série.

O programa oficial coloca, de forma bem definida, as partes de Matemática: Álgebra

com quatro unidades; Geometria com uma unidade e Trigonometria com seis unidades. A

unidade I é destinada à função exponencial e podemos observar a colocação da função inversa

da exponencial, tratando-se da função logarítmica.

Quando fazemos a comparação entre esses dois programas, observamos algumas

diferenças e também semelhanças. De modo geral, o programa destinado ao ensino clássico

está presente naquele que corresponde ao ensino científico, porém, neste último, as

abordagens são mais completas. Em relação à Álgebra, as diferenças são constatadas no

aumento de conteúdos para o curso científico, com o acréscimo de duas unidades:

Determinantes e fracções contínuas. A função exponencial aparece no Curso Científico. A

Geometria é contemplada com o mesmo programa e, a Trigonometria, ganha no Curso

Científico as unidades de Transformações trigonométricas e Equações trigonométricas.

Análise do conteúdo equação/função exponencial

O autor apresenta a noção de função exponencial e de sua inversa no terceiro capítulo,

iniciando na página 36 e, finalizando na página 45. Nesse mesmo capítulo, o autor apresenta a

Page 235: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

234

função logarítmica, considerando o conceito de função inversa. Quanto às equações

exponenciais, o capítulo V as descreve, das páginas 69 a 74.

Não há, de forma inicial, nenhuma revisão ou referências a assuntos previamente

estudados e que servirão de suporte para o bom entendimento do capítulo.

A função exponencial é apresentada a partir do tópico 37, com uma definição, sem

referências a conceitos de domínio e imagem, relatando, apenas, que o “campo de existência”

é o conjunto dos números reais (figura 18). Faz-se referência à base simplesmente como um

número positivo qualquer, não excetuando a base igual a 1.

Figura 18- Definição de função exponencial apresentada

Fonte: Maeder (1949, p. 36).

O conteúdo é exposto, explorando os princípios e propriedades, sendo que, o tópico

38, apresenta o Princípio I: “As potências de expoente inteiro e positivo de um número maior

que 1 são maiores que 1 e crescem no mesmo sentido que o expoente, podendo tornar-se

menores que qualquer número prefixado”. (MAEDER, 1949, p. 36).

O autor faz uma demonstração detalhada desse princípio que envolve conceitos de

teoria dos números e desigualdades. Da mesma forma, no tópico 40, é apresentado o

Princípio II: “As potências de expoente inteiro e positivo de um número menor que 1 são

menores que 1 e variam em sentido contrário do expoente, podendo tornar-se menores que

qualquer número prefixado.” (MAEDER, 1949, p. 38). Novamente, o autor apresenta a

demonstração desse princípio com o mesmo rigor dado ao primeiro.

No tópico 42, são apresentadas quatro propriedades das funções exponenciais (figura

19). Na primeira, há a afirmação de que a função exponencial é sempre positiva, pois a base é

sempre também o é. Novamente, não excetua a base igual a 1. Na segunda, o autor escreve

que “para cada valor de x corresponde um valor determinado de y”, não fazendo referência ao

conceito de função bijetora. Na terceira propriedade, estabelece a condição para que a função

Page 236: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

235

seja crescente ou decrescente. Na quarta propriedade, estabelece que “a função exponencial é

contínua para qualquer valor de x”.

Figura 19- Propriedades da função exponencial

Fonte: Maeder (1949, p. 39).

As variações da função exponencial são apresentadas no tópico 43, considerando os

casos em que a base é maior que 1 e compreendida entre 0 e 1. Neste tópico, há, pela primeira

vez, a observação de que 0 < 𝑎 < 1, sendo 𝑎, a base, ou seja, 𝑎 deve ser diferente de 1. Essas

variações são apresentadas em dois quadros. O primeiro (figura 20) é para base maior que 1:

Figura 20- Variação da função exponencial para base maior que 1

Fonte: Maeder (1949, p. 42).

O segundo (figura 21) apresenta a variação para a base entre 0 e 1:

Page 237: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

236

Figura 21- Variação da função exponencial para base entre 0 e 1

Fonte: Maeder (1949, p. 43).

Na representação gráfica, há o exame de dois casos, considerando base maior que 1 e

base menor que 1 e o autor escreve: “Servindo-nos do sistema ortogonal de eixos

coordenados, vejamos o aspecto que adquire o gráfico no primeiro caso.” (MAEDER, 1949,

p. 42).

Para o primeiro caso, é representada a função 𝑦 = 2𝑥 e, no segundo, 𝑦 = (1/2)𝑥. São

dados apenas esses dois exemplos (figura 22). Não há exercícios de fixação. Não há

referências a nenhuma aplicação em outros ramos do conhecimento.

Figura 22- Gráficos da função exponencial: à esquerda, base maior que 1 e à direita, menor que 1

Fonte: Maeder (1949, p. 43-44).

Page 238: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

237

Não há, no desenvolvimento do tema, exemplos de exercícios resolvidos e nem

exercícios propostos sobre a função exponencial.

O conceito de função inversa comparece no tópico 46, como ponto de partida para a

apresentação da função logarítmica (figura 23). O autor segue a mesma sequência apresentada

por Roxo, Peixoto, Cunha e Netto (1945).

Figura 23- A definição de função logarítmica

Fonte: Maeder (1949, p. 45).

.

As equações exponenciais são abordadas no capítulo V, logo após todo o estudo de

logaritmos, intitulado Resolução de Algumas Equações Exponenciais. No tópico 72, é

apresentada a definição de equação exponencial que é seguida de um exemplo literal no

tópico 73. É apresentado um exercício resolvido, utilizando-se as propriedades dos

logaritmos. Há mais dois exemplos literais nos tópicos 74 e 76. As equações do tipo

𝑎𝑏𝑐.....𝑥

= 𝑚

são apresentadas como observação no tópico 75, sinalizando que são equações que poderão,

em alguns casos, serem resolvidas sem auxílio dos logaritmos. É dado o exemplo 32𝑥= 6561

que é resolvido.

No tópico 76, o autor mostra outro tipo de equação exponencial da forma:

𝑎2𝑥 + 𝑏𝑎𝑥 + 𝑐 = 0

sugerindo a substituição de variáveis, considerando 𝑎𝑥 = 𝑦

No tópico 77, há mais três exercícios resolvidos, seguidos dos propostos no tópico 78.

Esses últimos são em número de vinte e com enunciado “resolver as equações seguintes”. Os

exercícios de 1 a 7 são repetitivos, isto é, o autor muda apenas a base e o resultado da

potenciação e pede o expoente. De 8 a 13, há soma no expoente e no primeiro membro da

equação e são bem semelhantes. Os demais envolvem aplicações de logaritmos. Com os

exemplos resolvidos, o aluno consegue resolver esses exercícios propostos.

Sistemas de representação

No texto descrito, há uma predominância da representação verbal, não havendo

nenhum exemplo de exercício resolvido.

Page 239: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

238

A representação simbólica se faz presente em todo o capítulo, seja na forma de se

apresentar a função exponencial, bem como na forma de discorrer sobre expoentes com

valores fracionários ou não.

Na representação tabular, verificam-se os quadros que evidenciam a variação da

função (figuras 20 e 21).

Os gráficos são apresentados e complementam a visualização da variação da função

exponencial, considerando base maior e menor que 1.

Fenomenologia

Fenômenos naturais: Não são apresentadas situações físicas da natureza nas quais a

equação/função exponencial poderia ser verificada.

Fenômenos matemáticos: O autor utiliza operações aritméticas, tais como potenciação,

radiciação e as operações fundamentais para a resolução de equações exponenciais.

3.1.3 Curso de Matemática 1.o ano para os Cursos Clássico e Científico,

de Thales Mello Carvalho (1955)

O autor

Thales Mello de Carvalho nasceu em 1913 e faleceu em 1961 (GAERTNER;

BARALDI, 2014, p.34). Engenheiro Civil e Geógrafo pela Escola Politécnica da

Universidade Técnica Federal (atual Escola Politécnica da UFRJ). Foi professor de

Matemática do Ensino Secundário do Distrito Federal; catedrático de Metodologia do Cálculo

do Instituto de Educação do antigo Distrito Federal; Catedrático de Matemática Financeira da

Faculdade Nacional de Ciências Econômicas, professor de Matemática Geral e Financeira do

Curso de Aperfeiçoamento da Caixa Econômica do Rio de Janeiro e do Curso de Extensão do

Instituto de Resseguros do Brasil (CARVALHO, 1969, contra capa).

Outras obras publicadas por este autor:

Curiosidades Matemáticas;

Lições de Trigonometria Retilínea;

Lições de Matemática;

O número de ouro;

Sobre Alguns Ábacos de Alinhamento e sua Aplicação ao Cálculo da Taxa de

Anuidades (Tese);

Elementos de Matemática Comercial e Financeira;

Matemática para os Cursos Clássico e Científico (CARVALH0, 1969, contra capa).

Estrutura editorial

A obra corresponde à 9.a edição, para o 1.

o ano colegial, de 1955 e editada pela

Companhia Editora Nacional (figura 24).

Page 240: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

239

Figura 24- Capa do livro de autoria de Thales Mello de Carvalho (1955)

Fonte: Carvalho (1955).

Na folha de rosto, há o título da obra, o nome do autor, a informação de que está de

acordo com os novos programas, conforme portarias n.o 966, de 2 de outubro de 1951 e 1045

de 14 de dezembro de 1951.

Em relação aos elementos textuais, a obra é organizada em sete capítulos: Cálculo

Numérico Aproximado, Progressões, Logaritmos, Geometria Espacial e Secções Cônicas.

Cada unidade é apresentada em tópicos enumerados cuja numeração é reiniciada nos tópicos

seguintes.

Há exercícios com resolução e outros que são denominados Exercícios para resolver,

cujas respostas são encontradas ao final de cada enunciado.

Análise do conteúdo equação/função exponencial

O livro em questão trata da função exponencial, dentro do capítulo de logaritmos

(capítulo III) que é iniciado com uma abordagem sobre potências, evidenciando nos dois

primeiros tópicos, as potências de expoente inteiro e de expoente racional com oito

propriedades, demonstradas ao final do enunciado de cada uma. A exemplo de Dacorso Netto

(1944), já introduz o termo limite com o seu símbolo. Citamos essas propriedades:

I. Sendo a um número real absoluto e m um número natural, tem-se 𝑎𝑚 ><

1

ou 𝑎−𝑚 <>

1 conforme 𝑎 ><

1.

II. Sendo a e b números reais absolutos tais que 𝑎 > 𝑏, e r um número

racional positivo, tem-se 𝑎𝑟 > 𝑏𝑟 e 𝑎−𝑟 < 𝑏−𝑟.

III. Sendo a um número real absoluto e r um número real positivo, tem-se

𝑎𝑟 ><

1 ou 𝑎−𝑟 <>

1, conforme 𝑎 ><

1.

Page 241: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

240

IV. Sendo a um número real absoluto e r e r’ números racionais tais que

𝑟 > 𝑟′, tem-se 𝑎𝑟 ><

𝑎𝑟′ conforme seja 𝑎 ><

1.

V. Sejam a um número real absoluto e r um número racional. Se 𝑟 > 1, tem-

se 𝑎𝑟 ><

𝑎, conforme seja 𝑎 ><

1; se 𝑟 < 1, tem-se 𝑎𝑟 <>

𝑎, conforme seja 𝑎 ><

1.

VI. Sendo 𝑎 > 1 e s um número absoluto arbitrário, é possível escolher um

número racional absoluto r, tal que 𝑎𝑟 > 𝑠.

VII. Sendo 𝑎 < 1 e s um número absoluto arbitrário, é possível escolher um

número racional absoluto r, tal que 𝑎𝑟 < 𝑠.

VIII. Sendo 𝑎 > 1 é possível escolher um número racional absoluto r tal que

a diferença 𝑎𝑟 − 1 seja inferior a um número racional positivo ∝,

arbitrariamente escolhido (CARVALHO, 1955, p. 73-75).

São também apresentadas as potências de expoente real. A partir daí, é iniciada a

explanação sobre a função exponencial, que é apresentada de uma maneira simples através da

equação 𝑦 = 𝑎𝑥, na qual considera a um número real positivo, diferente de 1. O autor chama

a atenção do leitor, afirmando que o “símbolo 𝑎𝑥 representa uma determinação positiva de

𝑎𝑥” (CARVALHO, 1955, p. 76). A nota de rodapé esclarece o caso (figura 25).

Figura 25- Nota de rodapé, mostrando duas determinações: a negativa e a positiva

Fonte: Carvalho (1955, p. 76).

O autor aponta essa determinação positiva como sendo uma restrição, o que coloca a

curva representativa da função no semiplano situado acima do eixo dos x.

As funções são colocadas no texto, utilizando-se a terminologia Primeiro caso para o

caso da base maior que 1, expondo o gráfico e o Segundo caso, considerando a base menor

que 1 (figura 26). Na definição o autor já se referiu à base como sendo um número real

absoluto e diferente de 1.

Figura 26- Representação gráfica da função exponencial para os dois casos de valores da base

Fonte: Carvalho (1955, p. 77-78).

Page 242: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

241

Na observação do tópico 8, o autor leva até o leitor, um feixe de curvas exponenciais:

considerou duas base a e b, sendo 𝑎 > 𝑏 > 1 e que, portanto,

0 <1

𝑎<

1

𝑏< 1. Assim, apresenta o gráfico e sugere que a utilização do feixe de curvas para

um melhor entendimento das propriedades das potências que foram citadas (figura 27).

Figura 27- Feixe de curvas exponenciais para bases maiores e menores que 1

Fonte: Carvalho (1955, p. 79).

A função logarítmica é discutida pelo autor de uma forma clara quando mostra a

função logarítmica pela equação 𝑦 = log𝑎 𝑥, sendo a um número real absoluto, diferente de 0

e de 1 e deduz a igualdade 𝑥 = 𝑎𝑦 que define x como função exponencial de y. Observamos

que o autor não utiliza o termo direto função inversa, mas constrói a curva da função

logarítmica de uma forma distinta dos outros autores analisados (figura 28).

Page 243: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

242

Figura 28- Construção do gráfico da função logarítmica

Fonte: Carvalho (1955, p. 80).

As equações exponenciais são descritas no mesmo capítulo III (logaritmos) e no tópico

40, Preliminares, o autor expõe que “Equação exponencial é aquela que contém incógnita em

expoente” (CARVALHO, 1955, p. 101). Confirma que a mais simples é a da forma 𝑎𝑥 = 𝑏 e

propõe uma solução, utilizando, como recurso, os logaritmos. Nos tópicos de 31 a 45,

emprega, como recurso pedagógico, exercícios com resolução, levando ao conhecimento do

leitor não só a resolução, mas os tipos de equações exponenciais, normalmente apresentados

por outros autores: equação na qual os membros não são potências de mesma base, solução

por logaritmos; membros que são potências de mesma base e equações cujo primeiro membro

é uma soma de exponenciais de mesma base. As atividades são colocadas como exercícios

para resolver, no tópico 46, em um total de 15, e os demais com a proposição de Resolver a

equação. As respostas são colocadas ao final de cada enunciado (figuras 29 e 30).

Page 244: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

243

Figura 29- Exercícios para resolver de 1 a 9

Fonte: Carvalho (1955, p. 103).

Figura 30- Exercícios para resolver de 10 a 15

Fonte: Carvalho (1955, p. 103).

Todos os exercícios propostos são semelhantes aos exemplos resolvidos no texto,

sendo que os de números 4 e 5 envolvem aplicação de logaritmos. Todos os demais, como

sublinhado pelo autor “requer um pequeno artifício” (CARVALHO, 1955, p. 102). São

resoluções diretas e de caráter repetitivo.

Sistemas de representação

O autor faz uso de parágrafos explicativos sobre propriedades de potências e

demonstrações sem utilizar exemplos de exercícios resolvidos, ou seja, explorou bastante a

representação textual.

A representação simbólica se faz presente em todo o capítulo, seja na forma de se

apresentar a função exponencial, bem como na forma de discorrer sobre expoentes com

valores fracionários ou não.

Não houve representação por meio de quadros ou tabelas. A representação gráfica é

usada para as funções e, ao que parece, com o objetivo de fazer o aluno compreender

Page 245: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

244

intuitivamente as propriedades das potências que foram citadas: “Para uma compreensão mais

intuitiva das propriedades do n.o 3

42, sugerimos ao leitor interpretá-las à luz do gráfico da fig.

3” (CARVALHO, 1955, p. 78). A figura indicada pelo autor corresponde à figura 27 desse

trabalho.

Fenomenologia

Fenômenos naturais: Não são apresentadas situações físicas da natureza nas quais a

equação/função exponencial poderia ser verificada.

Fenômenos matemáticos: O autor utiliza operações aritméticas, tais como potenciação,

radiciação e as operações fundamentais para a determinação de potências e para a resolução

de equações exponenciais.

3.1.4 Matemática Curso Colegial Moderno, de Scipione Di Pierro Netto,

Luiz Mauro Rocha e Ruy Madsen Barbosa (1967)

Os autores

Scipione Di Pierro Netto

Scipione Di Pierro Netto (1926-2005) era doutor em Educação pela Universidade de

São Paulo – USP. No início de sua carreira, foi professor de Matemática na rede pública do

Estado de São Paulo, ingressando posteriormente, por concurso público, no Colégio de

Aplicação da USP. Lecionou em diversas instituições de Ensino Superior, entre elas a USP e

a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Teve participação no G.E.E.M. – Grupo de

Estudos do Ensino da Matemática, presidido por Osvaldo Sangiorgi. Scipione foi autor de

inúmeros livros didáticos de Matemática e começou a ter destaque nesse ofício no final da

década de 1960 (QUEIROZ; ZUIN, 2016, p. 8).

Algumas obras publicadas por este autor:

Matemática Para a Escola Moderna 4 volumes: 1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries do Curso Ginasial.

Matemática na Escola Renovada –1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries do Curso Ginasial.

Matemática Passo a Passo – 1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries do 1º grau.

Matemática na Escola Renovada –1º, 2º e 3º anos do Curso Colegial (coautora: Célia

Contin Goes).

Matemática – 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries do 1º grau (coautores: Magda Teresinha Angelo,

Edson do Carmo e Lilia Maria Faccio) (BROLEZZI; PINHEIRO, 2008, p. 3).

42

As propriedades do n.o 3 estão descritas nas página 46.

Page 246: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

245

Luiz Mauro Rocha

Foi professor de Cálculo Infinitesimal da FEI – Faculdade de Engenharia Industrial43

e

da FFCL da Fundação Santo André. Foi Instrutor de Cálculo Infinitesimal da Escola

Politécnica da USP e Ex-professor do Colégio Estadual de São Paulo (DI PIERRO NETO;

ROCHA; BARBOSA, 1967).

Ruy Madsen Barbosa

Doutor em Matemática pela Universidade Católica de Campinas. Livre docente de

Matemática da FFCL de Araraquara. Foi professor do ensino secundário oficial do estado de

São Paulo (DI PIERRO NETO; ROCHA; BARBOSA, 1967).

Estrutura Editorial

A obra corresponde ao volume 1, da 1.a edição, de 1967. Editada pelo Instituto

Brasileiro de Edições Pedagógicas.

O papel da capa (figura 31) é de papel flexível, semelhante a cartolina com layout

moderno.

Na parte superior da folha de rosto, dispõem-se os nomes dos autores e o título é

centralizado. Na parte inferior, o nome da editora, com endereço, telefones e caixa postal.

Quanto aos elementos textuais, os conteúdos estão dispostos em quatro partes, sendo

a primeira denominada FUNDAMENTOS, com dois capítulos. A segunda parte compreende

FUNÇÕES ELEMENTARES com três capítulos. A quarta parte, TRIGONOMETRIA com dois

capítulos e a quarta e última parte, GEOMETRIA com um capítulo. São, portanto, oito

capítulos, enumerados em algarismo romano.

Figura 31- Capa do livro Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967)

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967).

Na apresentação, os autores justificam a publicação, afirmando:

43

Criada pelo decreto n. 20.942 de 9/4/1946. No mesmo ano, em 22 de agosto, a FEI e outras faculdades

constituiram a PUC de São Paulo. A partir do final de 1971, desligou-se da PUC, voltando à condição de

instituição isolada de ensino superior (http://portal.fei.edu.br/pt-BR/fei/historia/Paginas/historia.aspx).

Page 247: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

246

A idéia da publicação de uma série colegial de “Matemática Moderna”, em

prosseguimento à “Matemática para a Escola Moderna”, do prof. Scipione

Di Pierro Neto, tomou forma e se concretizou durante o transcurso do V

Congresso de Ensino da Matemática, realizado em S. José dos Campos, no

Centro Técnico de Aeronáutica, em 1966. Naqueles dias, em contato com

professores de quase todos os Estados, sentimos bem de perto a angústia

com que os nossos colegas se referiam à dificuldade que encontravam para a

atualização do ensino da matemática no colégio, dada a inexistência, ao seu

alcance, de obras nacionais e estrangeiras (DI PIERRO NETO; ROCHA;

BARBOSA, 1967, apresentação).

Os autores também justificam a presença da primeira parte, adotando normas para a

redação dos três volumes:

1. Apresentar, no início do primeiro volume, um capítulo de

FUNDAMENTOS, destinado aos professôres ainda não iniciados na

“Matemática Moderna”, redigido em linguagem fácil e nível elementar – de

modo a que possa ser aprendido e ao mesmo tempo ensinado, no todo ou em

parte, aos alunos (DI PIERRO NETO; ROCHA; BARBOSA, 1967,

apresentação).

Os textos são desenvolvidos em tópicos enumerados em ordem crescente de 1 a 198.

Análise do conteúdo equação/função exponencial

A função exponencial inicia-se no capítulo V, tópico 68 com o título Potências com

expoente real.

Os autores fazem uso de textos bem explicativos e o fazem como se estivessem

conversando com o leitor, ao anunciar que “Nos capítulos anteriores, temo-nos referido

constantemente aos números reais, embora sem termos desenvolvido uma Teoria dos

Números Reais” (DI PIERRO NETO; ROCHA; BARBOSA, 1967, p. 123). No parágrafo

segundo, escrevem “Aceitamos que o leitor é possuidor de uma idéia intuitiva da natureza

desses números e que sabe utilizar as propriedades essenciais da adição multiplicação e

operações inversas: subtração e divisão” (DI PIERRO NETO; ROCHA; BARBOSA, 1967, p.

123).

Antes, então, do estudo da função exponencial, são feitos alguns comentários sobre a

operação de potenciação e a definição de potenciação de base real a e expoente inteiro

positivo n é feita, utilizando-se uma representação simbólica bem detalhada (figura 32).

Page 248: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

247

Figura 32- Definição de potenciação e a definição de potenciação de base real a e expoente inteiro positivo

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967, p. 123).

O autor define a aplicação φ como uma operação denominada potenciação. Esta é uma

forma não encontrada em outros autores.

As propriedades das potências são colocadas em destaque por meio de uma

representação por quadro (figura 33).

Figura 33- Propriedades das potências

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967, p. 124).

A extensão da definição da operação φ para expoentes zero e negativos é feita com a

utilização do símbolo para todo (∀) (figura 34).

Figura 34- Extensão da definição de φ

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967, p. 124).

A função injetora de domínio Z é obtida, fixando a base a, no caso 𝑎 = 2 e variando o

expoente x no conjunto Z. Os autores utilizam o quadro de valores para 𝑎 = 2. A função é

apresentada com a simbologia 𝜑 ∶ 𝑥 → 𝑦 = 2𝑥 , 𝑥 ∈ 𝑍 (figura 35).

Page 249: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

248

Figura 35- Valores de y para base igual a 2

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967, p. 125).

A representação gráfica dessa função é feita com uma linha contínua com a

observação de que não faz parte do gráfico (figura 36).

Figura 36- Representação gráfica da função injetora com domínio Z

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967, p. 125).

As representações gráficas para a base compreendida entre 0 e 1 e para a base menor

que 0 são também realizadas (figura 37).

Figura 37- Representações gráficas para base entre 0 e 1 e para base negativa

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967, p. 126).

Para a potência com expoente real, os autores apresentam a propriedade “Tôda

equação da forma 𝑥𝑛 = 𝑎 com a real não negativo e n natural, tem solução real” (DI PIERRO

NETO; ROCHA; BARBOSA, 1967, p. 126). As definições de potências com expoentes reais

são feitas para bases não negativas. São apresentadas novamente cinco propriedades para

quaisquer números reais a, b não negativos e quaisquer expoentes racionais (figura 38).

Page 250: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

249

Figura 38- Propriedades das potências para quaisquer expoentes racionais

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967, p. 127).

A representação gráfica da função 𝑦 = 2𝑥, para x racional é apresentada, considerando

valores de x iguais a 0, 1/2 e 1 (figura 39).

Figura 39- Representação gráfica dos pontos (x, ax) para valores de x iguais a 0, 1/2 e 1

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967, p. 129).

As propriedades das potências com expoente real, em número de cinco, são

apresentadas em um quadro (figura 40).

Figura 40- Propriedades das potências de expoente real

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967, p. 129).

Por último, no tópico 68, é apresentada a definição de função exponencial:

Page 251: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

250

Admitimos então que tôda função 𝑦 = 𝑎𝑥 com a real positivo e x real

qualquer, considerando para cada x o valor positivo da potência 𝑎𝑥, é

injetora e tem por gráfico uma curva contínua, do tipo indicado nos gráficos

anteriores, denominada curva exponencial (DI PIERRO NETO; ROCHA;

BARBOSA, 1967, p.130).

Com relação às propriedades da função exponencial, são apresentadas dez

propriedades, enumeradas em algarismos romanos, que tratam respectivamente, da

intersecção com o eixo y, do ponto de abscissa 1, do sinal de 𝑓(𝑥), das abscissas positivas e

negativas para base maior que 1, das abscissas positivas e negativas para base entre 0 e 1, da

monotonicidade para base maior que 1, da monotonicidade para base entre 0 e 1, da

aproximação do eixo horizontal para base maior que 1, da aproximação do eixo horizontal

para base entre 0 e 1 e da exponencial 𝑦 = 1𝑥.

É importante ressaltar aqui as duas propriedades também apresentadas como

características da função exponencial:

𝑓(𝑥1 + 𝑥2) = 𝑓(𝑥1). 𝑓(𝑥2) ou 𝑎𝑥1+𝑥2 = 𝑎𝑥1 . 𝑎𝑥2

[𝑓(𝑥1)]𝑥2 = 𝑓(𝑥1. 𝑥2) ou (𝑎𝑥1)𝑥2 = 𝑎𝑥1.𝑥2

A definição de equação exponencial é formalizada de uma forma que difere dos

autores já mencionados aqui, pois usam o termo sentença numérica aberta. Assim a definem:

“Equação exponencial é uma sentença numérica aberta, na variável real x, onde x figura em

expoentes” (DI PIERRO NETO; ROCHA; BARBOSA, 1967, p.133). Afirma que a equação

exponencial mais simples é a da forma ax = b, onde a e b são constantes positivas. São

apresentados dois exemplos de resolução. Outros tipos de equação que se reduzem a essa

forma são apresentadas em mais três exemplos.

A função logarítmica será apresentada no tópico 81 e, dessa forma, não foram

apresentados os casos de equações com resolução por meio das propriedades operatórias dos

logaritmos. Os exercícios para o aluno são encontrados no tópico 79 com a construção de

gráficos, aplicação das propriedades das potências e equações exponenciais para resolver (36

equações) em ordem crescente de complexidade, sendo a número 1 a equação 3𝑥 = 1/81 e a

de número 36, xx − x−x = 3(1 + x−x). As respostas estão no tópico 80.

A função logarítmica é apresentada como inversa da função exponencial geral

y = f(x) = ax no caso em que a base a é positiva e diferente de 1, utilizando a representação

simbólica (figura 41).

Page 252: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

251

Figura 41- Representação simbólica da função logarítmica

Fonte: Di Pierro Neto, Rocha e Barbosa (1967, p. 138).

Sistemas de representação

Os autores utilizam bastante à representação textual com conceitos, definições e

demonstrações de propriedades das potências.

A representação simbólica é bastante explorada por já se tratar de uma obra que coloca

para o leitor a linguagem da Matemática Moderna. Na representação tabular, verificam-se

quadros que ressaltam as propriedades das potências e tabelas são também utilizados pelos

autores e a apresentação de gráficos é feita com a utilização de linhas de grade o que já denota

um diferencial de apresentação dessa obra.

Fenomenologia

Fenômenos naturais: Não são apresentadas situações físicas da natureza nas quais a

equação/função exponencial poderia ser verificada.

Fenômenos matemáticos: A resolução de uma equação exponencial ou a determinação da

variável y para possíveis valores de x sempre exige a aplicação de operações aritméticas, tais

como potenciação, radiciação e as operações fundamentais.

3.1.5 Matemática 2o Grau 1

a Série, de Gelson Iezzi, Osvaldo Dolce, José

Carlos Teixeira, Nilson José Machado, Márcio Cintra Goulart, Luiz

Roberto da Silveira Castro e Antônio dos Santos Machado (1978)

Os autores

Não foram encontrados na bibliografia dados biográficos de alguns dos autores. Por

essa razão, citamos apenas Gelson Iezzi, Osvaldo Dolce e Nilson José Machado.

Gelson Iezzi

É formado em Engenharia Metalúrgica pela Escola Politécnica da Universidade de

São Paulo e Licenciatura em Matemática pelo Instituto de Matemática e Estatística da USP

(IEZZI et al., 2006).

Outros títulos de sua autoria:

Matemática Ciência e Aplicações, volumes 1, 2 e 3 em coautoria com Osvaldo Dolce,

David Degenszajn, Roberto Périgo e Nilze de Almeida.

Matemática conecte, volume único.

Page 253: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

252

Matemática e realidade para o ensino fundamental em coautoria com Osvaldo Dolce e

Antônio Machado44

.

(disponível em < https://www.livrariacultura.com.br/e/gelson-iezzi).

Osvaldo Dolce

Engenheiro Civil pela Escola Politécnica da USP e licenciado em Matemática pelo

Instituto de Matemática e Estatística da USP (IEZZI et al., 2006).

Outros títulos de sua autoria:

Matemática Ciência e Aplicações, volumes 1, 2 e 3 em co-autoria com Gelson Iezzi,

David Degenszajn, Roberto Périgo e Nilze de Almeida.

Matemática e realidade para o ensino fundamental em co-autoria com Gelson Iezzi e

Antônio Machado (IEZZI et al., 2006).

Nilson José Machado

Nasceu em Olinda, Pernambuco, em 1947. É licenciado em Matemática e doutor em

Filosofia da Educação pela Universidade de São Paulo, onde é professor desde 1972,

inicialmente no Instituto de Matemática e Estatística. Leciona na Faculdade de Educação

desde 1984, sendo atualmente professor titular. Publicou diversos livros didáticos e

paradidáticos para os três níveis de ensino (MACHADO, 2004, p.155).

Outros títulos de sua autoria:

Matemática e Realidade, 1987.

Matemática e Língua Materna, 1999.

Matemática e Educação, 2000.

Epistemologia e didática, 2000.

Educação: Projetos e Valores, 2004 (MACHADO, 2004, p.155).

Estrutura Editorial

A obra é destinada à primeira série do segundo grau e foi editado pela Atual Editora,

em 1978, sendo esta a sexta edição revisada (figura 42). A primeira edição foi de 1973. A

capa é de papel flexível com a palavra matemática escrita em vermelho e a imagem especular

no semiplano direito e também no inferior. Os nomes dos autores foram dispostos de forma a

produzir uma visualização piramidal.

44

Disponível em < https://www.livrariacultura.com.br/e/gelson-iezzi.

Page 254: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

253

Figura 42- Capa do livro

Fonte: Iezzi et al. (1978).

A folha de rosto tem como diferencial a informação do número de exemplos, de

exercícios resolvidos e exercícios propostos ao todo na obra, além dos nomes dos autores, o

público alvo que são alunos da 1.a série do 2.

o grau.

Os conteúdos abordados estão dispostos em 9 capítulos que são subdivididos em

tópicos. A função exponencial se encontra no capítulo 7, sendo o capítulo 1 destinado aos

conjuntos. No prefácio, os autores relatam sobre a metodologia utilizada na elaboração do

livro:

[...] procuramos chegar aos conceitos fundamentais através de exemplos,

muitas vezes não matemáticos, tentando tornar as definições as mais naturais

possíveis. Tivemos também a preocupação de apresentar sempre que

possível, os vínculos da Matemática com outras ciências, notadamente a

Física. A teoria apresenta-se em doses nunca muito grandes, seguidas de

exercícios que devem ser considerados parte integrante do texto. Procuramos

apresentar exercícios resolvidos e propostos compatíveis com a teoria dada e

o objetivo visado (IEZZI et al., 1978, prefácio).

Page 255: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

254

Análise do conteúdo equação/função exponencial

O capítulo 7 traz como ponto de partida a operação de potenciação, apresentando em

primeiro lugar a potência com expoente inteiro. É apresentado um quadro de definição e

denominando 𝑎𝑛 de potência de base a e expoente inteiro n (figura 43).

Figura 43- Definição de potência de expoente inteiro

Fonte: Iezzi et al. (1978, p.133).

Os exercícios para a aplicação da definição são propostos em seguida e em número de

7 com subitens, totalizando 47 potências a serem calculadas.

Outro quadro mostra as propriedades das potências com expoente inteiro (figura 44).

Figura 44- Propriedades das potências com expoente inteiro

Fonte: Iezzi et al. (1978, p.134).

Os exercícios propostos se apresentam como: Classificar em V (verdadeiro) ou F

(falso) e Simplificar as expressões.

No tópico seguinte são apresentados os radicais com suas propriedades em outro

quadro. Para o aluno, os exercícios são da forma: calcular, simplificar, Classificar em V

(verdadeiro) ou F (falso), resolver as equações em R.

Continuando com o texto, mostram as potências com expoente racional, com expoente

irracional e com expoente real para, assim, na página 139, mostrar as equações exponenciais.

Para as equações exponenciais, não há definição e tampouco a classificação das

equações. São resolvidos alguns exemplos que foram denominados de R.114 (por se tratar do

centésimo décimo quarto exercício resolvido), R.115 (dois exemplos) e R.116 (dois

exemplos). Os exercícios propostos são similares aos resolvidos e os enunciados são do tipo

resolver as equações exponenciais.

A comparação de potências, no tópico 7, é resumida em um quadro (figura 45).

Page 256: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

255

Figura 45- Comparação de potências

Fonte: Iezzi et al. (1978, p.142).

No tópico 8, tem-se a definição de função exponencial como sendo a função, definida

para todo x real, 𝑓(𝑥) = 𝑎𝑥 cujo domínio é R e conjunto imagem, 𝑅+∗ .

Os gráficos da função exponencial são ilustrados através de dois exemplos, utilizando

a base 2 e a base 1/2, acompanhados das tabelas de valores (𝑥, 𝑦) (figura 46). O plano

cartesiano apresenta linhas de grade a exemplo do que foi utilizado por Di Pierro Netto et al.

(1967).

Figura 46- Exemplo de gráfico da função exponencial

Fonte: Iezzi et al. (1978, p.143).

A partir dos exemplos, concluem que a curva está acima do eixo dos x. A curva corta o

eixo dos y no ponto de ordenada +1 e tem dois aspectos, conforma a base seja maior que 1 ou

ser um número compreendido entre 0 e 1.

Os exercícios resolvidos têm como enunciado, classificar as funções em crescentes ou

decrescentes. Trata-se do exercício R.117 com subitens de a a e.

O último tópico refere-se a inequações exponenciais e fornece mais dois exercícios

resolvidos.

Nos exercícios propostos, o aluno deverá esboçar gráficos de algumas funções

exponenciais, classificar as funções em crescente ou decrescente, resolver inequações

exponenciais e determinar o domínio de funções.

Page 257: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

256

Sistemas de representação

A representação textual é notada pelos textos elaborados, principalmente na parte

teórica para a descrição das potências. No que tange à função exponencial propriamente dita,

não se observa textos longos.

A representação simbólica foi destacada na utilização dos símbolos de menor que (< )

e maior que ( > ). Há pouco uso da simbologia própria para conjuntos.

Na representação tabular, verificam-se os quadros, os quais são explorados para

mostrar propriedades e comparações entre potências.

Os gráficos mostrados tiveram como finalidade a representação da variação das

funções exponenciais e não foram muitos, apenas quatro.

Fenomenologia

Fenômenos naturais: Apesar de Gelson Iezzi colocar em seu prefácio que iria fazer “os

vínculos da Matemática com outras ciências”, algo que seria muito pertinente para as

equações exponenciais, não são encontradas situações físicas ou químicas relacionadas ao

tema.

Fenômenos matemáticos: Verificado fenômenos matemáticos na aplicação de operações

aritméticas, tais como potenciação, radiciação e as operações fundamentais.

Complementando as análises dos livros citados, montamos alguns quadros que

permitem uma melhor visualização das abordagens feitas pelos autores analisados. O quadro 3

faz referência à função exponencial, mostrando a existência ou não de demonstrações de

princípios ou propriedades, de exercícios resolvidos e de exercícios propostos para o aluno,

enquanto o quadro 4 refere-se às equações exponenciais.

Quadro 3- Quadro para a função exponencial

Autores Demonstrações de

teoremas ou

princípios/propriedades

Exercícios resolvidos

ou exemplos/número

Exercícios

propostos/número

Roxo et al (1938) - 4 exemplos 8

Maeder (1949) X - -

Carvalho (1955) - - -

Di Pierro Netto et

al (1967)

- 8 exemplos 16

Iezzi et al (1978) - 10 exercícios

resolvidos

51

Fonte: Dados da pesquisa.

Page 258: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

257

Quadro 4- Quadro para equações exponenciais

Autores Demonstrações de

teoremas ou

princípios/propriedades

Exercícios resolvidos

ou exemplos/número

Exercícios

propostos/número

Roxo et al (1938) - - 3

Maeder (1949) - 8 exemplos 20

Carvalho (1955) - 5 exercícios resolvidos 15

Di Pierro Netto et

al (1967)

- 6 exemplos 36

Iezzi et al (1978) - 8 exercícios resolvidos 19 Fonte: Dados da pesquisa.

Outro ponto importante que deve ser evidenciado diz respeito à função logarítmica.

Alguns autores a apresentam juntamente com a função exponencial e apresentam um capítulo

separado, denominado de Logaritmos, apresentando as propriedades operatórias. O quadro 5

mostra essa disposição nas cinco obras analisadas.

Quadro 5- Quadro demonstrativo da apresentação da função logarítmica

Autores Função logarítmica Teoria dos

logaritmos

Equações

exponenciais

Aplicação

Roxo et al

(1938)

_ Capítulo VII No mesmo

capítulo

Juros

compostos

Maeder

(1949)

Mesmo capítulo da

função exponencial

Capítulo IV Capítulo V _

Carvalho

(1955)

Funções exponencial

e logarítmica

apresentadas no

mesmo capítulo.

Capítulo III, contendo

funções exponencial e

logarítmica.

Mesmo capítulo

(III)

_

Di Pierro

Netto et al

(1967)

Apresentada após a

função exponencial e

em partes separadas

do mesmo capítulo

_

Antes da função

logarítmica e

após a função

exponencial

_

Iezzi et al

(1978)

Capítulo separado

(Capítulo 8)

_

No mesmo

capítulo da

função

exponencial

Citação de

aplicações na

eletrônica

Fonte: Dados da pesquisa.

As duas últimas obras apresentam as equações exponenciais antes da função

logarítmica. Com relação ao modo de apresentação da função logarítmica, elaboramos o

quadro 6 que mostra a forma de abordagem do tema em cada uma das obras.

Page 259: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

258

Quadro 6- Apresentação da definição de função logarítmica

Autores

Definição da função

logarítmica a partir do

conceito de função inversa

Definição da função

logarítmica a partir do

conceito de logaritmos

Roxo et al (1938) X -

Maeder (1949) X -

Carvalho (1955) - X

Di Pierro Netto et al (1967) X -

Iezzi et al (1978) X - Fonte: Dados da pesquisa.

Page 260: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

259

4. ÚLTIMAS PALAVRAS

Esse trabalho destaca um tópico curricular da Matemática, por cinco décadas, a partir

do viés da História das Disciplinas Escolares, dentro da perspectiva de André Chervel (1990).

Procuramos dar enfoque nas transformações experimentadas pelo ensino de Matemática,

durante o período analisado relativamente às equações e funções exponenciais.

Os livros didáticos possibilitaram uma avaliação de como os referidos conteúdos

foram apresentados e oferecidos aos professores e alunos, ainda que não fossem tomados no

seu todo ou em parte nas salas de aula.

A Educação Matemática brasileira, dentro do marco temporal estabelecido, passou por

importantes reformas educacionais e momentos, a exemplo do Movimento da Matemática

Moderna, que marcaram de forma contundente o ensino de Matemática. Foi assim que a

década de 1930 viveu a Reforma Francisco Campos e a década de 1940, a Reforma

Capanema. Em 1951 foram implantadas as portarias do Programa Mínimo (966 e 1.054). A

Reforma Capanema trouxe os Cursos Clássico e Científico, que se estenderam por três

décadas, chegando até 1971, ano da promulgação da LDB n.o 5.692. Já o Movimento da

Matemática Moderna teve como um dos objetivos uma maior proximidade da “Matemática do

colégio” da “Matemática do ensino superior”. A escolha de cinco livros foi realizada de forma

que cada um deles pertencesse a uma das décadas e a uma das reformas, selecionando autores

que foram importantes na época.

Voltando agora o nosso olhar para o conteúdo equação/função exponencial, podemos

evidenciar que, apesar da presença do mesmo em obras anteriores à reforma Francisco

Campos, a sua obrigatoriedade nos programas se deu a partir da publicação dessa reforma.

Avaliamos que, naquele momento, a apresentação da função exponencial se dava de uma

forma elementar, pouco detalhada, assim como a equação exponencial.

A Reforma Capanema veio a seguir, propôs mudanças, criando os Colégios. Os

programas sofreram modificações e o conteúdo função exponencial passaria a ser abordado

no segundo ano colegial no Curso Científico, juntamente com as equações exponenciais. A

partir desta reforma, esses tópicos deveriam ser apresentados de uma forma mais aprofundada

com ênfase em propriedades e demonstrações.

O Programa Mínimo reduziu o currículo de Matemática dos Cursos Clássico e

Científico, fazendo com que os programas fossem trabalhados pelos professores, a partir de

uma limitação das informações, abrindo mão de demonstrações, que alguns consideravam

como excessivas. A função exponencial não figurou mais nos programas oficiais,

prevalecendo apenas a equação exponencial, com pouco suporte teórico e muitos exercícios,

com o enunciado tendo apenas o termo “resolva”.

Na década de 1960, o ensino presenciou a agitação trazida pelo Movimento da

Matemática Moderna – MMM, surgindo obras que exploravam as cores nas capas e nas

figuras dos textos. Nessa década, a Teoria dos Conjuntos tomou lugar de destaque em muitos

livros, chamando de volta a função exponencial, passando a ser discutida de forma abstrata

pelo uso da simbologia que fazia parte do cotidiano dos adeptos do MMM. Para além de 1970

até 1980, a função/equação exponencial se fazem presentes nos livros, mantendo o mesmo

Page 261: EQUAÇÃO/FUNÇÃO EXPONENCIAL EM LIVROS DIDÁTICOS NO …

260

modo de apresentação, explorando as definições, o campo de validade da função, os

exercícios resolvidos.

Apesar de não ter sido realizada uma análise dos livros didáticos na íntegra e, sim, da

forma de abordagem de tópicos específicos, através do índice dos mesmos, foi possível

perceber que, no período de 1943 a 1951, houve uma estabilidade no rol de conteúdos. Na

fase de 1952 a 1961, com o estabelecimento do Programa Mínimo, verificamos que os livros

analisados apresentavam um padrão no que se refere à metodologia de exposição dos

conteúdos: uma linguagem simples e direta, com a inserção de exercícios resolvidos e

propostos.

Pode-se dizer que o MMM deu uma reviravolta na forma de apresentação dos temas e,

de certa forma, trouxe mudanças significativas para o ensino de Matemática, principalmente

na ênfase dada à teoria dos conjuntos.

Finalmente, julgamos importante ressaltar que a equação/função exponencial esteve

presente em todos os livros analisados nesse presente trabalho, mesmo considerando todas as

reformas de ensino ocorridas, citando as de Francisco Campos e Gustavo Capanema, todas as

leis, decretos ou portarias, incluindo também o período em que o ensino vivenciou o

Movimento da Matemática Moderna. Evidentemente, houve alterações na forma de

apresentação, como já relatamos, sobretudo com a utilização de simbologismo no período do

MMM e também na disposição dos exercícios propostos e naqueles denominados de

exemplos ou exercícios resolvidos.

Foi possível perceber que as equações/funções exponenciais são abordadas nas obras

sem relatar a sua história e, sendo o livro didático o objeto de trabalho dos professores,

podemos inferir que, em muitos casos, o profissional do ensino também não julga ser

importante referenciar esses dados de origem do assunto.

O educador e matemático brasileiro Ubiratan D’Ambrósio, em seu artigo História da

Matemática e Educação, chama a atenção de todos os professores da disciplina ao sublinhar a

importância de se levar aos alunos alguma informação ou curiosidade histórica, pois isso

aguça o gosto e o interesse pelas aulas (D’AMBRÓSIO, 1996, p.13). É com essa visão que

reforçamos que os professores e também alunos dos cursos de Licenciatura procurem essa

formação, conhecendo as reformas de ensino ocorridas no Brasil, ampliando sua visão ao se

depararem com propostas de outros autores em outras décadas e, a partir daí, compreenderem

o ensino de Matemática que temos hoje. Dessa forma, os docentes em exercício poderão

constatar as diferentes abordagens do conteúdo equação/função exponencial, utilizadas por

autores que publicaram seus trabalhos em diferentes décadas.

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5. REFERÊNCIAS

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266

APÊNDICE A

QUADRO RESUMO

Alguns aspectos das Reformas de Ensino

e das propostas educacionais da década de 1930 a 1980

Método Intuitivo

- Metodologia, alicerçada na educação dos sentidos, na intuição e na observação das

coisas.

- Despertou a reflexão sobre o ensino, ativando a busca por mudanças focadas em

outras propostas de ensino/aprendizagem.

- A criança é observadora.

- Trouxe à tona, a partir do final do século XIX, “a busca pela superação da concepção

tradicional”.

Movimento Escolanovista

- Esse modelo de Escola surge como proposta inovadora, contrária à Escola

Tradicional.

- O professor como mediador da aprendizagem.

- O aluno , como um “agente ativo, criativo e participativo no processo de ensino-

aprendizagem

- O ensino centrado nos fatos e na experiência.

Reforma Francisco Campos (1931)

- Organizou o ensino secundário em dois ciclos: um fundamental de

5 anos e outro complementar, de 2 anos.

- Decretou frequência obrigatória.

- Estabeleceu o currículo seriado.

- Instruções Pedagógicas

• Método Heurístico - O aluno é descobridor e não um receptor.

• Renúncia à prática de memorização sem raciocínio

- Criação da disciplina Matemática

- Junção do ponto de vista aritmético, algébrico e geométrico.

-Inter-relação da Matemática com outras disciplinas, tendo a noção de função como

ideia central do ensino.

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267

A Reforma Capanema(1942)

- O Ensino Secundário se destina à preparação das individualidades condutoras, isto é,

dos homens que deverão assumir as responsabilidades maiores dentro da sociedade e

da nação.

- Ensino Secundário passaria a ser ministrado em dois ciclos:

O primeiro compreenderia um só curso: o curso ginasial - A formação

intelectual dos alunos.

O segundo, dois cursos paralelos: clássico e científico. A maior acentuação

cultural é proveniente do estudo das ciências.

Programa Mínimo (1951)

- Objetivo: Eliminar dos programas atualmente em vigor, os excessos aludidos,

reduzindo a prolixidade dos conhecimentos alinhados na estruturação de diversas

disciplinas, que tornava penosa a tarefa didática.

- O termo Programa Mínimo refere-se àquele que seria trabalhado por todas as

instituições escolares e teriam, assim, condições de executá-lo.

- Houve a possibilidade de serem elaborados planos de desenvolvimento desse

programa mínimo de acordo com as especificidades de cada região.

- Durante a vigência do programa mínimo, o 2º ciclo do ensino secundário continuou a

ser chamado de Clássico e Científico, tendo perdurado no sistema educacional

brasileiro até 1961, ano da LDB 4.024/61.

Lei n. 4024 (1961)

Deu possibilidade de acesso ao nível superior para alunos egressos do ensino técnico e

a criação do Conselho Federal de Educação e dos Conselhos Estaduais.

A estrutura tradicional do ensino foi mantida e o sistema continuou a ser organizado

segundo a legislação anterior

Deu a possibilidade de os Estados e os estabelecimentos anexarem disciplinas optativas

ao currículo mínimo estabelecido pelo Conselho Federal de Educação foi, sem

dúvida, um progresso em matéria de legislação

Estrutura do ensino

• Ensino pré-primário, composto de escolas maternais e jardins de infância.

• Ensino primário de 4 anos, com possibilidade de serem acrescidos mais 2 anos,

com programa de artes aplicadas.

• Ensino médio, subdividido em dois ciclos: o ginasial, de 4 anos, e, o colegial,

de 3 anos, ambos por sua vez compreendendo o ensino secundário e o ensino

técnico.

• Ensino superior

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268

Lei 5692 (1971)

- Fixou o objetivo geral da educação no nível básico.

- Obrigatoriedade escolar para oito anos (faixa etária que vai dos 7 aos 14 anos).

- Junção do curso primário e do curso ginasial em um só curso fundamental de oito

anos.

- Mudança da nomenclatura e da periodização dos graus de ensino, de 1ª a 8ª séries -

primeiro grau - e o ensino médio passou a se denominar 2º grau, ofertado em três anos.

- Obrigatoriedade da Educação Artística.

- O Desenho Geométrico se torna disciplina optativa da parte diversificada, no segundo

grau

Estrutura do ensino

Ensino de 1o grau: com 8 anos de duração. Passa a proporcionar a sondagem

vocacional e a iniciação para o trabalho.

• Ensino de 2 o grau: com 3 ou 4 anos de duração. Passa a constituir-se de um

nível de ensino cujo objetivo primordial é a habilitação profissional.

Movimento da Matemática Moderna

-Em meados do século XX, mais precisamente desde 1934, surgiu na França um grupo

de matemáticos conhecido como Nicolas Bourbaki, responsável pela reconstrução do

edifício matemático que substituíra a divisão tradicional do conhecimento matemático

em ramos por categorias mais gerais. Deram ênfase ao uso de conceitos unificadores

tais como o de conjunto e função.

- Aguns matemáticos pertencentes a esse grupo chegam ao Brasil na década de 40 e são

contratados pela USP e influenciam e orientam alguns matemáticos tais como Osvaldo

Sangiorgi e Benedito Castrucci que na década de 60 iniciam e divulgam o MMM no

Brasil.

- O GEEM foi fundado em 1961, na Universidade Mackenzie, sob a presidência do

Professor Osvaldo Sangiorgi. A constituição e atuação deste grupo foram importantes

para a implantação e divulgação do Movimento da Matemática Moderna no Brasil. O

grupo tinha como objetivos escrever livros textos, realizar congressos, encontros,

simpósios e cursos voltados à Matemática Moderna para professores

- Os professores e alunos, por meio dos livros didáticos, se viram com conteúdos com

muitos simbolismos e a presença da teoria dos conjuntos, noções de grupo e de

estruturas.

- A Geometria foi abandonada, e os cálculos numéricos foram substituídos por

formalismos excessivos desvinculados da realidade. Zuin (2001) aponta que as

construções geométricas e, consequentemente, o ensino de geometria, continuou em

algumas escolas nas aulas Desenho Geométrico e mesmo, em determinadas situações,

através da disciplina Educação Artística, implantada com a LDB 5692/71.

- O Movimento da Matemática Moderna alterou a estrutura do ensino da Matemática.