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50 www.backstage.com.br INSTRUMENTOS Jorge Pescara é artista-solo exclusivo da Jazz Station Records e contrabaixista com Ithamara Koorax. É autor do livro Dicionário Brasileiro de Contrabaixo Elétrico SEIS N A coluna do mês passado abriu a possibilidade de uma continuação. Pois bem. Este mês entrevistamos um contrabaixista que em pouco mais de dez anos vem conquistando cada vez mais espaço no rol dos grandes nomes do instrumento. Estamos falando de André Neiva, endorsee dos baixos D´Alegria, o carioca da gema e das seis cordas graves ascido no Rio de Janeiro, capital fluminense, André Neiva ini- ciou seus estudos musicais no pi- ano clássico. Com aulas particulares dos oito aos doze anos, chegou a fazer qua- tro concertos ao piano, na sala Cecília Meireles. Aos quatorze anos recebeu um violão de presente de seu pai, instru- mento em que estudou até os dezesseis anos, quando resolveu, então, trocar pelo contrabaixo. Hoje com vinte anos de estrada, o nome André Neiva aparece nos créditos de mais de uma centena de discos, já que traba- lhou como produtor, arranjador e músico, ao lado de grandes nomes do meio artístico, tais como Gal Costa, João Bosco, Jorge Vercilo, Jorge Aragão, Baby do Brasil, Tim Maia, Airto Moreira, Flora Purim, Cama de Gato, Tunai, Léo Gandelman, Billy Cobham, Don Grusin, Victor Biglione, Neguinho da Beija-Flor, Dominguinhos do Estácio, Ricardo Silveira, Cristóvão Bastos, Moraes Moreira, Zé Ramalho, Alceu Maia (Choro Elétrico), Jorge Aragão, Blitz, Márcio Montarroyos, entre muitos outros. Tendo uma forte presença na música Gospel, Neiva gravou com mais de setenta artistas deste segmento, destacando entre eles Carlinhos Felix, Eyshila, Jossana Glessa, Cristina Mel, Mara Maravilha, Adilson Sil- va, Beto Byron, Graça e Paz, etc... Já em 2004, André Neiva lançou sua pri- meiro videoaula. O primeiro vídeo instru- cional brasileiro a ser filmado com simulador de película de filme e com um videoclipe de bônus. Dentre suas diversas atividades, André realiza, anualmente, mais de cin- ÉRAMOS SEIS

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Jorge Pescara é artista-solo exclusivo da Jazz

Station Records e contrabaixista com Ithamara

Koorax. É autor do livro Dicionário Brasileiro de

Contrabaixo Elétrico

SEISN

A coluna do mêspassado abriu apossibilidade de umacontinuação. Poisbem. Este mêsentrevistamos umcontrabaixista que empouco mais de dezanos vemconquistando cadavez mais espaço norol dos grandesnomes doinstrumento. Estamosfalando de AndréNeiva, endorsee dosbaixos D´Alegria, ocarioca da gema e dasseis cordas graves

ascido no Rio de Janeiro, capitalfluminense, André Neiva ini-ciou seus estudos musicais no pi-

ano clássico. Com aulas particulares dosoito aos doze anos, chegou a fazer qua-tro concertos ao piano, na sala CecíliaMeireles. Aos quatorze anos recebeuum violão de presente de seu pai, instru-mento em que estudou até os dezesseisanos, quando resolveu, então, trocarpelo contrabaixo.

Hoje com vinte anos de estrada, o nomeAndré Neiva aparece nos créditos de maisde uma centena de discos, já que traba-lhou como produtor, arranjador e músico,ao lado de grandes nomes do meio artístico,tais como Gal Costa, João Bosco, JorgeVercilo, Jorge Aragão, Baby do Brasil, TimMaia, Airto Moreira, Flora Purim, Camade Gato, Tunai, Léo Gandelman, BillyCobham, Don Grusin, Victor Biglione,Neguinho da Beija-Flor, Dominguinhos doEstácio, Ricardo Silveira, Cristóvão Bastos,Moraes Moreira, Zé Ramalho, Alceu Maia(Choro Elétrico), Jorge Aragão, Blitz,Márcio Montarroyos, entre muitos outros.

Tendo uma forte presença na músicaGospel, Neiva gravou com mais de setentaartistas deste segmento, destacando entreeles Carlinhos Felix, Eyshila, Jossana Glessa,Cristina Mel, Mara Maravilha, Adilson Sil-va, Beto Byron, Graça e Paz, etc...

Já em 2004, André Neiva lançou sua pri-meiro videoaula. O primeiro vídeo instru-cional brasileiro a ser filmado com simuladorde película de filme e com um videoclipe debônus. Dentre suas diversas atividades,André realiza, anualmente, mais de cin-

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qüenta workshops abrangendo tanto o terri-tório brasileiro quanto o exterior.

Agora em 2007, prepara-se para lan-çar seu primeiro CD solo e o DVD do gru-po fusion Cama de Gato, através de suaprópria produtora, a “Beckstudios e N Fil-mes”. André traz estreitas ligações com oícone do baixo elétrico Nico Assumpção,além de ser usuário confesso e incondicio-nal do contrabaixo elétrico de seis cordas(o badalado instrumento criado porAnthony Jackson nos anos 70 e extrema-mente divulgado, mundo afora, por NicoAssumpção e John Paticucci, além dopróprio Jackson e outros). André, que du-rante anos ficou conhecido por usar umbaixo Wood de seis cordas, mesmo instru-mento que Nico usou durante muitotempo, hoje está feliz divulgando um bai-xo D’Alegria modelo Dart NA signa-ture, ou seja, um instrumento construídosob suas especificações. Acompanhem

esta agradável entrevista, repleta de pon-tos interessantes e uma descrição comple-ta do contrabaixo André Neiva model.

Backstage – André, como foram seus

primeiros anos de estudos musicais e,

mais especificamente, no baixo elétrico?

Com quem você estudou e quais são suas

principais influências musicais?

André Neiva - Comecei a estudar bai-xo pegando uns toques com amigos,quando tinha 15 anos. Ouvia muito tam-bém e tentava tirar as linhas de baixo devárias músicas e de estilos diferentestambém. Passados cinco anos como au-todidata, tive o grande prazer de conhe-cer o Nico Assumpção, com o qual fizquatro aulas. Foram muito proveitosas eele me ensinou a estudar. Ele foi a minhaprincipal influência. Depois, continueicomo autodidata e estou assim até hoje.

Backstage – Após sua entrada no

mercado musical, quais foram suas

principais dificuldades? O que mais te

marcou ou você teve de “correr atrás”

no dia-a-dia da profissão?

André – As dificuldades são pertinen-tes a qualquer começo de carreira.Quando você se forma em uma faculda-de, pretende, normalmente, dois cami-

André traz estreitasligações com o íconedo baixo elétrico NicoAssumpção, além deser usuário confesso e

incondicional docontrabaixo elétrico de

seis cordas

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nhos: entrar numa multinacional, ounuma grande empresa, por exemplo, ouentão abrir seu próprio negócio. Na músi-ca é igual. No caso da multinacional, po-demos relacioná-la a um artista já famosoe sua empresa, a uma carreira solo. Am-bos os casos precisam de dedicação à pro-fissão. Você precisa ser conhecido e reco-nhecido pelos seus colegas de trabalho.Pessoalmente, não acho isso dificuldadee sim objetivo.

Backstage – Qual seu setup atual

para shows e para gravações?

André – Nos shows, uso um amplifica-dor Meteoro MB800 com uma caixa de4x10” e uma de 1x15”, também da Mete-oro. Nas gravações, uso apenas o instru-mento direto na mesa, geralmente pas-sando por um pré-amplificador (do pró-prio estúdio).

Backstage – Você se considera um

gearhead, ou seja, um músico totalmen-

te ligado e orientado no equipamento

que usa, ou é da “escola” que prega que

a sonoridade está no próprio músico?

André – Os equipamentos hoje emdia são realmente de ponta, mas penso,sim, que o som vem de dentro do músico.Você pensa primeiro no que quer ouvir edepois, reproduz esse som. Simples assim.

Backstage - Mudando de assunto,

você lançou há algum tempo atrás uma

vídeoaula. Quais são os assuntos abor-

dados neste vídeo? Conte-nos detalhes

da gravação...

André – Nesta videoaula procurei fa-lar de coisas que pudessem fazer ocontrabaixista tocar rápido, sem enrola-ção. Falo sobre sonoridade, sobre impro-visação, sobre grooves, frases e aindatem um videoclipe no final. Gostei mui-to de fazê-la, foi uma experiência novapara mim. Quem a produziu foi Maurí-cio Almeida, dono do Novo Estúdio.Com a experiência que aprendi comele, hoje, em minha produtora, estamoscom um projeto para lançar 10 vídeo-aulas de artistas de música instrumentalaqui do Rio de Janeiro.

Backstage – E sobre seu disco solo?

Há anos ouço falar nele, mas parece um

projeto muito a longo prazo (risos)...

André - Estou finalmente terminandoas gravações de meu CD solo. Realmentelevei muito tempo para fazê-lo, pois tenhouma autocrítica muito grande e isso aca-bou comprometendo o tempo de lança-mento do CD. Mas creio que esse ano sai.Se Deus quiser. (risos)

Backstage - Você estuda periodica-

mente? O que mais te toma tempo atu-

almente nos estudos? Em que exata-

mente você se foca nos estudos, groove,

improvisação, fraseado... Cite o seu

material de estudo atual.

André – Estudei muito e muitas horaspor dia. Hoje estudo, mas pensando maisdo que com o instrumento em mãos. Te-nho feito alguns testes de sonoridade,isso é a que tenho me dedicado ultima-mente, ao som.

Backstage – Por que a opção exclusi-

va do baixo de 6 cordas?

André – Tanto em gravações comoem shows, devemos ter o máximo de re-cursos para usar. Num baixo de 6 cordas,tenho o de 4 e o de 5 nele mesmo. Achoque por isso é que mais me identificocom esse instrumento.

Backstage – Qual é a sua opinião so-

bre a utilização no contrabaixo de efei-

tos, dispositivos estilísticos e técnicos

como o uso dos funk fingers, palheta,

plectro, slide, EBow e outras técnicas

como o touchstyle (two hand tapping),

as afinações alteradas dos instrumen-

tos, os baixos piccolo ou tenor, po r

exemplo, para a atual fase da música?

André – Gosto muito de coisas novas.Estou sempre atualizando meus conheci-mentos em relação a técnicas, sons, efei-tos, etc, mas acho que isso não deve ser orecurso principal. O músico tem que sa-ber tocar e tocar muito. Com o tipo demúsica que se tem hoje em dia, ficoumais fácil tocar. Com 3 ou 4 acordes vocêpode tocar mais de 50 músicas. Antiga-mente não era assim. A música que toca-va nas rádios populares eram mais difíceisde serem tocadas, por isso, o músico tinhaque saber música e saber de verdade.Hoje é mais fácil.

Backstage – Quais são, em sua opi-

nião, os verdadeiros caras?

André – Tenho e sempre vou terbaixistas que admiro muito. O NicoAssumpção é um deles. Aí vem JacoPastorius, Victor Wooten, André Gomes,Alberto Continentino e por aí vai. Temum que sempre vou tirar o chapéu que éo Liminha, pois esse é um baixista criadorde várias “linhas de ouro”, como ele mes-mo intitula, mas também como produtormusical. Simplesmente fantástico.

Backstage – Você vem de uma das

mais atuais linhagens de baixistas bra-

sileiros (se considerarmos a primeira

como sendo os anos 60 com o surgi-

mento de Capacete, Boneca, Luis Cha-

ves, etc, a segunda nos anos 70 com a

chegada de Luizão Maia, Sizão Macha-

do, Jamil Joanes, etc, a terceira nos

80 com Arthur Maia, Celso Pixinga,

Yuri Popoff, e Arismar do Espírito

Demais dados técnicos do DART AN:

- Largura da escala no capotraste: 52mm

- Espaçamento entre as cordas na

ponte: 17mm

- Alimentação: 9V

- Encordoamento Elixir modelo Nano-

web (.32/.45/.65/.85/.105/.130)

Dados Técnicos

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INSTRUMENTOS

e-mail para esta coluna:

[email protected]

Santo, a sua geração seria a próxima

junto com Chico Gomes, André Rodri-

gues, Geisan Varne e muitos outros...).

O que você pensa sobre o atual estágio

técnico e musical dos contrabaixistas

brasileiros, especificamente?

André – Temos ótimos baixistas em nos-so país. O Alberto é um deles que já chegoumaduro, digamos assim. A tendência éque venham mais e mais músicos que che-garão prontos por conta da globalização.Hoje é fácil ter acesso a materiais comovídeos, CDs, DVDs, internet, por exemplo.Creio que é, e sempre será uma evolução.

Backstage – E sobre a individualidade,

a voz (timbre, pegada, sotaque musical)

de cada um, os estilos próprios e particu-

lares que diferenciam os músicos reconhe-

cidos, daqueles que apesar de serem bons

tecnicamente, ficam escondidos na massa

geral por não terem estes predicados?

André – Acho que o músico deve buscarseu próprio som. Claro que no começo ésempre uma imitação, isso é muito normal.Mas, somos nada mais do que frutos de umconjunto de informações que buscamos.Quanto mais informação, mais chance dese criar um estilo próprio. Veja Djavan,quando o ouvimos cantar, sabemos que é elepor causa de suas inflexões, de seu timbre,de sua maneira de cantar. Então, devemosbuscar o mesmo em nossos instrumentos.

Backstage – Com quem gostaria de

trabalhar que ainda não teve chance?

André – Tive a oportunidade de tra-balhar com pessoas maravilhosas. Canto-res, músicos, produtores, etc. Agradeçomuito a Deus por ter me dado tantasoportunidades. Mas tem uma que é umsonho de consumo: a Sade. Essa paramim, sem dúvida, é um objetivo.

Backstage – Agora fale-nos sobre

seu estágio atual produzindo projetos

em seu estúdio...

André – Minha produtora juntocom o Sérgio, a Beckstudios e N filmes,está indo, graças a Deus, muito bem. Jáfizemos muitos trabalhos importantesno cenário brasileiro. Longas metra-gens como “Ojuara”, “Polaroide”, daL.C.Barreto, “Pro dia Nascer Feliz”,“Romeu e Julieta”, “Mistério de IrmaVap”, etc. Recentemente fizemos o“Xuxa Para Baixinhos”. Isso nos dáuma alegria muito grande, pois estamosproduzindo no Brasil. Não é para serfeliz? (risos). Atualmente estamos lan-çando o DVD do Cama de Gato, doqual faço parte como músico também.E por aí vai...

Backstage – Algum plano imediato?

E aproveite para deixar uma mensagem

final para os leitores da Backstage e os

que se espelham em baixistas como você

para evoluir musicalmente.

André - Procure fazer e se dedicar pro-fissionalmente ao que você gosta. O Bra-sil precisa ser mais vocacional.

Não temos perfil de país capitalista,somos sensíveis. Não deixem os gover-nantes iludirem vocês com a “Incul-tura”. A falta de cultura num país fazcom que eles governem soberanos semque nós possamos fazer nada, pois esta-remos “burros” para reagir. Vamos rea-gir e dizer não à música pobre, porqueela está fazendo o povo brasileiro ficarinculto. Diga não a isso. É urgente.Que Deus abençoe a todos. Fiquemcom Deus.

Com isso, fechamos a entrevista comAndré Neiva. Sigam-nos agora em al-guns detalhes do instrumento que leva aassinatura do contrabaixista.

Caros amigos, até a próxima edição.Paz Profunda.