ERGONOMIA 1-28

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  • Ergonomiaconceitos e aplicaes

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  • Dedicamos este livro aos nossosalunos e aos profissionais quefazem uso desta metodologiaem seus trabalhos de Ergonomia.

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  • Anamaria de Moraes & Cludia MontAlvo

    Ergonomiaconceitos e aplicaes

    3a edio, revista, atualizada e ampliada

    iUsErRio de Janeiro

    2003

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  • Catalogao na fonte do Departamento Nacional do Livro

    M827e

    Moraes, Anamaria de.

    Ergonomia: conceitos e aplicaes / Anamaria de Moraes, Cludia Mont-

    Alvo - Rio de Janeiro: 2AB, 2000 (2a. edio, ampliada).

    136 p. : il.; 14,5 cm x 21 cm. - (Srie Oficina)

    ISBN 85-86695-05-X.

    Inclui bibliografia.

    1. Design. 2. Ergonomia. 3. Desenho industrial.

    4. Sistemas homem-mquina. I. MontAlvo, Cludia. II. Ttulo. III. Srie.

    CDD- 620.82

    Ficha Catalogrfica

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  • Sumrio

    Capitulo 1 - Ergonomia: Origens, Definies e Desenvolvimento .................. 71.1. Introduo ....................................................................................................... 71.2. Origens da Ergonomia ......................................................................................... 71.3. O batismo da Ergonomia ...................................................................................... 91.4. A Ergonomia e os novos conflitos homem x mquina .................................................... 101.5. Definies de Ergonomia ...................................................................................... 111.6. Uma proposta de definio ................................................................................... 121.7. nfases da Ergonomia ......................................................................................... 16

    Capitulo 2 - 0 sistema homem-tarefa-mquina ............................................. 212.1. Uma definio de sistema .................................................................................... 212.2. Outra definio de sistema ................................................................................... 222.3. Do sistema homem-mquina ao sistema homem-homem-tarefa-mquina ........................... 222.4. Conceituao de sistema homem-mquina ................................................................ 232.5. Caracterizao dos sistemas homens-mquinas .......................................................... 252.6. O enfoque centrado no usurio .............................................................................. 272.7. As atividades da tarefa como definidoras das interaes no sistema homem-mquina .......... 28

    Capitulo 3 - Cargas e custos humanos do trabalho ................................... 293.1. Introduo ....................................................................................................... 293.2. Cargas de trabalho ............................................................................................. 303.3. Periculosidade, insalubridade e penosidade do trabalho ................................................ 33

    Capitulo 4 - Mtodos e tcnicas da interveno ergonomizadora ................ 354.1. Principais tipos de pesquisas usadas pela Ergonomia ................................................... 354.2. Mtodos de pesquisa descritiva ............................................................................. 374.3. Mtodos da engenharia ....................................................................................... 45

    Capitulo 5 - Etapas e fases da interveno ergonomizadora ....................... 475.1. Apreciao ergonmica ....................................................................................... 475.2. Diagnose ergonmica .......................................................................................... 475.3. Projetao ergonmica ....................................................................................... 485.4. Avaliao, validao e/ou testes ergonmicos ............................................................ 485.5. Detalhamento ergonmico e otimizao ................................................................... 48

    Capitulo 6 - Sistematizao do sistema homem-tarefa-mquina ...................... 536.1. Modelos do sistema ............................................................................................ 536.2. Expanso do sistema ..................................................................... ............................. 556.3. Hierarquia dos sistemas ...................................................................................... 556.4. Posio paralela e em srie dos sistemas ................................................................. 576.5. Ambiente do sistema .......................................................................................... 576.6. Requisitos, componentes, restries ....................................................................... 646.7. Recursos, entradas, sadas, produtos, produo, medidas de rendimento .......................... 666.8. Administrao e controle de sistemas ..................................................................... 696.9. Alguns conceitos para modelagem do sistema homem-tarefa-mquina .............................. 706.10. Modelos do sistema operando .............................................................................. 72

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  • Capitulo 7 - Problematizao do sistema homem-tarefa-mquina ................. 77

    7.1. Introduo ....................................................................................................... 77

    7.2. Categorizao e Taxionomia dos Problemas Ergonmicos do Sistema Homem-Tarefa-Mquina . 80

    7.3. Disfunes Sistmicas do Sistema Homem-Tarefa-Mquina ............................................. 82

    7.4. Da Problematizao ao Parecer Ergonmico ............................................................. 84

    Capitulo 8 - Parecer Ergonmico ....................................................... 85

    8.1. Introduo ....................................................................................................... 85

    8.2. A formulao do problema .................................................................................... 858.3. A priorizao e consolidao do problema ................................................................ 858.4. Referencial Terico ............................................................................................. 878.5. Predies ........................................................................................................ 878.6. As sugestes preliminares de melhoria .................................................................... 87

    8.7. O quadro do parecer ergonmico: formulao do problema e sugestes preliminares de melhoria 87

    8.7. Concluso ......................................................................................................... 88

    Capitulo 9 - Trabalho, Tarefa, Atividades .............................................. 899.1. Introduo ....................................................................................................... 899.2. Tarefa: objetivos, meios, interaes ....................................................................... 909.3. Trabalho prescrito e trabalho real .......................................................................... 919.4. Condutas operatrias, atividades ........................................................................... 929.5. Tarefa: requisitos, ambiente, comportamento ........................................................... 939.6. Processo de anlise da tarefa ................................................................................ 949.7. Tomada de informaes, acionamentos, comunicaes, regulaes, cognio ...................... 969.8. Meta e atividades do sistema homem-tarefa-mquina ................................................. 969.9. Anlise da tarefa e projeto ................................................................................... 979.10. Uma assuno .................................................................................................. 98

    Capitulo 10 - Diagnose Ergonmica .................................................................... 10110.1. Introduo ...................................................................................................... 10110.2. A anlise da tarefa ............................................................................................ 10110.3. Detalhamento das atividades da tarefa .................................................................. 103

    10.4. Diagnstico Ergonmico ..................................................................................... 107

    Capitulo 11 - Projetao Ergonmica ................................................................. 109

    11.1. Introduo ...................................................................................................... 109

    11.2. Seleo de Alternativas de Configurao ................................................................. 109

    Capitulo 12 - Um Exemplo de Interveno Ergonomizadora:Trabalho em Linhas de Embalagens de Indstria de Alimentos .............................. 115

    12.1. Introduo ...................................................................................................... 115

    12.2. O problema ..................................................................................................... 11512.3. Apreciao ergonmica do sistema homem-tarefa-mquina ......................................... 11612.4. Diagnose ergonmica ........................................................................................ 127Projetao Ergonmica ............................................................................................. 133

    Capitulo 13 - Guisa de Concluso .................................................... 139

    Referncias Bibliogrficas ...................................................................... 140

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  • Ergonomia:

    Origens, Definies e Desenvolvimento

    1.1. Introduo

    Desde civilizaes antigas, o homem sempre buscou melhorar as ferramentas,os instrumentos e os utenslios que usa na sua vida cotidiana. Existem exemplos deempunhaduras de foices, datadas de sculos atrs, que demonstram a preocupaoem adequar a forma da pega s caractersticas da mo humana, de modo a propiciarmais conforto durante sua utilizao.

    Enquanto a produo se dava de modo artesanal, era possvel obter formasteis, funcionais e ergonmicas sem excessivos requisitos projetuais. No entanto, aproduo em srie - em larga escala ou mesmo, em poucas unidades - impossibilitatcnica e economicamente a compatibilizao e a adequao de produtos a partirdo uso e de adaptaes sucessivas.

    Paradoxalmente, a evoluo tecnol6gica, com suas maravilhosasmquinas voadoras, informacionais e inteligentes, exigiu e enfatizou anecessidade de conhecer o homem. Depois de contnuos avanos em engenharia,onde o homem se adaptou, mal ou bem, s condies impostas pelosmaquinismos, evidenciou-se que os fatores humanos so primordiais. Maisainda, em sistemas complexos, onde parte das funes classicamenteexecutadas pelos homens pode ser alocada s mquinas, uma incorretaadequao s capacidades humanas pode invalidar a confiabilidade de toda osistema. Assim, faz-se necessrio conhecer a priori os fatores determinantes damelhor adaptao de produtos, mquinas, equipamentos, trabalho e ambiente,aos usurios, operadores, operrios, indivduos.

    A Ergonomia se constituiu a partir da reunio de psiclogos, fisilogos eengenheiros. A psicologia e a fisiologia so as duas principais cincias que fornecemaos ergonomistas referncias sobre o funcionamento fsico, psquico e cognitivo dohomem. O desempenho do homem no trabalho cada vez mais complexo e aErgonomia ampliou progressivamente o campo de seus fundamentos cientficos. Ainteligncia artificial, a semitica, a antropologia e a sociologia passaram a fazerparte do acervo de conhecimentos do ergonomista.

    1.2. Origens da Ergonomia

    Durante a II Guerra Mundial, o impulso acelerativo das mudanastecnolgicas - avies cada vez mais velozes e radares para detectar avies inimigos,submarinos e sonares -colocam o homem em situaes de extrema presso ambiental,fsica e psicolgica. Exacerbam-se as incompatibilidades entre o humano e o

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    tecnolgico, j que os equipamentos militares exigem dos operadores decisesrpidas e execuo de atividades novas em condies crticas, que implicamquantidade de informaes, novidade, complexidade e riscos de decises queenvolvem possibilidade de erros fatais. Ressaltam-se, ento, as incompatibilidadesentre o progresso humano e o progresso tcnico.

    Como diz Chapanis (1959):Uma importante lio de engenharia, proveniente da II Guerra Mundial, que as mquinas no lutam sozinhas. A guerra solicitou e produziumaquinismos novos e complexos, porm, geralmente, essas inovaes nofaziam o que se esperava delas. Tal ocorria porque excediam ou no seadaptavam s caractersticas e capacidades humanas. Por exemplo, o radarfoi chamado olho da armada, mas o radar no v. Por mais rpido e precisoque seja, ser quase intil, se o operador no puder interpretar as informaesapresentadas na tela e decidir a tempo. Similarmente, um avio de caa,por mais veloz e eficaz que seja, ser um fracasso se o piloto no pudervo-lo com rapidez, segurana e eficincia.Cabe ao homem avaliar a informao, decidir e agir. Por se desconsiderarem

    os fatores humanos, resultam falhas dos sistemas. O projeto de engenharia eficaz,mas o desempenho no eficiente. Buscam-se explicaes e a soluo mais fcil afirmar que a culpa do homem - o erro humano, a falha humana, o ato inseguro.Acusar o homem de negligncia, descaso, desobedincia ou ignorncia, no entanto,no resolve o problema.

    A falha humana propicia perdas para o sistema: avies atingidos pelos inimigose que no cumprem a sua misso de bombardear os alvos programados, ou cidadesinteiras expostas a ataques por no se detectarem a tempo as informaes sobreviolaes do espao areo.

    Difcil selecionar o homem que no erre, principalmente quando senecessitam mais e mais pilotos para conduzir os modernos bombardeiros. A urgnciae a preciso de renovar os efetivos - pilotos de guerra morrem em combate e h quese renovar a frota e a equipe -tambm impossibilitam intensificar e prolongar otreinamento para corrigir as deficincias da seleo.

    Avies custam caro. Conquistar a confiana da populao civil fundamental para o esforo de guerra. Existe uma interface no sistemahomem-mquina cujos aspectos tcnicos devem-se considerar no momentodo projeto h que se adaptar as mquinas s caractersticas fsicas,cognitivas e psquicas do homem.

    Engenheiros juntaram-se aos psic1ogos e fisilogos para adequaroperacionalmente equipamentos, ambiente e tarefas aos aspectosneuro-psico1gicos da percepo sensorial (viso, audio e tato), aos limitespsicolgicos de memria, ateno e processamento de informaes, as caractersticascognitivas de seleo de informaes, resoluo de problemas e tomada de decises,

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    a capacidade fisiolgica de esforo, adaptao ao frio ou ao calor, e de resistncia smudanas de presso, temperatura e biorritmo.

    Nasce a Ergonomia!

    1.3. O batismo da Ergonomia

    O termo Ergonomia utilizado pela primeira vez, como campo do saberespecfico, com objeto prprio e objetivos particulares, pelo psiclogo ingls K. F.Hywell Muffel no dia 8 de julho de 1949, quando pesquisadores resolveram formaruma sociedade para o estudo dos seres humanos no seu ambiente de trabalho - a ErgonomicResearch Society (Pheasant 1997). Nesta data, em Oxford, criou-se a primeirasociedade de Ergonomia, que congregava psiclogos, fisiologistas e engenheirosingleses - pesquisadores interessados nas questes relacionadas adaptao dotrabalho ao homem.

    Num sentido amplo, todavia, o termo trabalho aplica-se a qualquer atividadehumana com o propsito, particularmente se ela envolve algum grau de experinciaou esforo. Ao definir Ergonomia em relao ao trabalho humano, em geral utiliza-sea palavra trabalho com este significado.

    Buscava-se um termo de fcil traduo para outros idiomas, que permitissederivao de outras palavras - ergonomista, ergonmico, etc. - e que no implicasseque uma disciplina fosse mais importante que outra. O neologismo ergonomia,compreende os termos gregos ergo (trabalho) e nomos (normas, regras). Entretanto, aetimologia do vocbulo no define, precisamente, o objeto desta disciplina. A origemdo termo ergonomia, no entanto, remonta a 1857, quando o polons W. Jastrzebowskideu como titulo para uma de suas obras Esboo da Ergonomia ou cincia do trabalhobaseada nas verdadeiras avaliaes das cincias da natureza. Define-se ento a Ergonomiacomo a cincia de utilizao das foras e das capacidades humanas.

    O termo ergonomia utilizado nos pases europeus, incluindo a Gr-Bretanha. J nos Estados Unidos e Canad, as expresses que mais se aproximamso: human factors (fatores humanos), human factors engineering (engenharia dosfatores humanos), engineering psychology (esta expresso poderia ser traduzida porergopsicologia), man-machine engineering (engenharia homem-mquina) e humanperformance engineering (engenharia do desempenho humano). Embora seja possvelfazer distines entre os termos Ergonomia e Fatores Humanos (Montmollin &Bainbridge, 1984), existe uma tendncia para a adoo do termo Ergonomia -este empregado em todo o mundo, exceto nos Estados Unidos e Canad. Mesmoassim, recentemente, a Human Factors Society - Associao Americana deErgonomia - realiza consulta junto aos seus associados para a incorporao dotermo Ergonomia na sua denominao oficial (Laughery, 1992), passando entoa ser denominada Human Factors and Ergonomics Society. No Brasil, adotou-se ouso do termo Ergonomia, consolidado com a difuso dos primeiros livros aqui

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    escritos: lida & Wierzzbicki, Ergonomia (1968); Verdussen, Ergonomia: aracionalizao humanizada do trabalho (1978).

    1.4. A Ergonomia e os novos conflitos homem x mquina

    A partir dos anos 1980, a Ergonomia participa da renovao produzida pelaInformtica, j que, mais uma vez, a preocupao com os fatores humanos noacompanhou pari passu o progresso tecnolgico. Assim como se enfatizava apenas ofuncionamento eficaz durante o projeto de mquinas energizadas a vapor, a eletricidadee a petrleo, com a microeletrnica o mesmo acontece. O projeto de computadores,a implantao de centros de processamento de dados, a gerao de sistemas deinformao, de multimdias, de hipertextos e de programas aplicativos contemplamprincipalmente o funcionamento - a capacidade e velocidade dos componentes, aconservao, a manuteno das mquinas, a rapidez no uso. A interao entre asmquinas e os seus usurios raramente foi uma considerao a priori - e, no caso dainformatizao, nada mudou. Da a importncia da Ergonomia.

    A informatizao de postos de trabalho gera, nas diversas atividadesprofissionais, mudanas profundas nos hbitos, nas atitudes e nos esquemasoperatrios. As melhorias resultantes da implantao de computadores exigiramo aumento do nvel cultural dos trabalhadores e resultaram na mudana dasaspiraes destes em relao ao trabalho e na modificao da sua viso sobre ascondies de trabalho.

    A atividade de entrada intensiva de dados, por exemplo, se caracteriza poruma descentralizao horizontal, acompanhada de um aumento de trabalhorepetitivo. Ocorre, ento, uma desqualificao do trabalho ocasionada peloparcelamento da tarefa, pela falta de significado da informao tratada, por umaespecializao restrita dos operadores.

    Os corolrios so, por um lado, uma sobrecarga pela intensificao do ritmo detrabalho e, por outro, uma subcarga pela monotonia. Nas duas situaes, incrementam-seas possibilidades de erro e de problemas fsicos e psquicos para o operador.

    A automatizao de sistemas produtivos, como as indstrias de processo -qumica, cimento etc. - cria situaes de trabalho onde o operador responsvel pelocontrole e regulao do sistema permanece isolado e deve manter uma constantevigilncia por muitas horas, seja durante o dia ou a noite. Cabe a este operadoracompanhar o bom andamento do processo de fabricao e intervir com rapidez emcaso de incidentes. Este tipo de tarefa, embora aparentemente no implique qualqueresforo do operador, ocasiona altos nveis de tenso para o homem. Os incidentes ouacidentes so raros, mas quando ocorrem so de larga proporo e acarretam sriosriscos para o sistema e para os prprios operadores. So muitas as informaes aselecionar, as variveis a interpretar e vrias as possibilidades de soluo. Tudo emmuito pouco tempo e envolvendo decises que so sempre urgentes.

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    Parafraseando Chapanis (1959), j em 1998, podemos dizer que umaimportante lio de engenharia, proveniente das catstrofes, que as mquinas nocontrolam sozinhas. A automao solicitou e produziu maquinismos novos ecomplexos. Porm, geralmente, essas inovaes no fazem o que se espera delas. Talocorre porque excedem ou no se adaptam s caractersticas e capacidades humanas.Por exemplo, o computador foi chamado sistema inteligente, mas o computador nopensa. Por mais rpido e preciso que seja, ser quase intil, se o operador no puderinterpretar as informaes apresentadas na tela e decidir a tempo. Similarmente,um sistema de controle, por mais informatizado e eficaz que seja, ser um fracassose o controlador no puder monitor-lo e regul-lo com rapidez, segurana e eficincia.

    1.5. Definies da Ergonomia

    A nica e especifica tecnologia da Ergonomia a tecnologia da interfacehomem-sistema. A Ergonomia como cincia trata de desenvolverconhecimentos sobre as capacidades, limites e outras caractersticas dodesempenho humano e que se relacionam com o projeto de interfaces, entreindivduos e outros componentes do sistema. Como prtica, a Ergonomiacompreende a aplicao de tecnologia da interface homem-sistema a projetoou modificaes de sistemas para aumentar a segurana, conforto e eficinciado sistema e da qualidade de vida.No momento, esta tecnologia nica e especial possui pelo menos quatrocomponentes principais identificveis que, do mais antigo ao mais recente,so os seguintes: tecnologia da interface homem-mquina ou Ergonomia dehardware; tecnologia da interface homem-ambiente ou Ergonomia ambiental;tecnologia da interface usurio-sistema ou Ergonomia de software e tecnologiada interface organizao-mquina ou macroergonomia (Hendrick, 1991 ).A Ergonomia, tambm conhecida como human factors, uma disciplinacientfica que trata da interao entre os homens e a tecnologia. A Ergonomiaintegra o conhecimento proveniente das cincias humanas para adaptartarefas, sistemas, produtos e ambientes s habilidades e limitaes fsicas ementais das pessoas (Karwowski, 1996).Ergonomia um corpo de conhecimentos sobre as habilidades humanas,limitaes humanas e outras caractersticas humanas que so relevantespara o design.Projeto ergonmico a aplicao da informao ergonmica ao design deferramentas, mquinas, sistemas, tarefas, trabalhos e ambientes para o usohumano seguro, confortvel e efetivo.A palavra significante nestas definies design, porque ela nos separa dedisciplinas puramente acadmicas como antropologia. fisiologia e psicologia(Chapanis, 1994).

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    Segundo Pheasant (1997), a abordagem ergonmica em relao ao designpode ser resumida como:

    O principio do design centrado no usurio - Se um objeto, um sistema ou umambiente projetado para o uso humano, ento seu design deve se basear nascaractersticas fsicas e mentais do seu usurio humano. O objetivo alcanara melhor integrao possvel entre o produto e seus usurios, no contextoda tarefa (trabalho) que deve ser desempenhada. Em outras palavras:Ergonomia a cincia que objetiva adaptar o trabalho ao trabalhador e oproduto ao usurio.Para Meister (1998),O aspecto singular que particulariza a Ergonomia - e que faz dela umadisciplina especfica - a interseo do domnio comportamental com atecnologia fsica, principalmente o design de equipamentos. Eu sei de muitosespecialistas em Ergonomia que a consideram como uma forma de psicologia,mas eu contesto esta assuno veementemente - ela deslegitima aErgonomia. A psicologia no trata da tecnologia, a engenharia no se interessapelo comportamento humano, a no ser quando a Ergonomia exige. O focoprincipal da Ergonomia o desenvolvimento de sistemas, que a traduodos princpios comportamentais para o design de sistemas fsicos.

    1.6. Uma proposta de definio

    Com o objetivo de englobar estes aspectos e explicitar o campo de atuaoda Ergonomia, assim como seus objetivos, prope-se, a partir de Moraes & Soares(1989), a seguinte definio:

    Conceitua-se a Ergonomia como tecnologia projetual das comunicaes entrehomens e mquinas, trabalho e ambiente.

    De acordo com a classificao de Mario Bunge para tecnologia, aErgonomia atua tanto como teoria tecnolgica substantiva quanto como teoriatecnolgica operativa.

    Como teoria tecnolgica substantiva, a Ergonomia busca, atravs depesquisas descritivas e experimentais, sobre limiares, limites e capacidadeshumanas (a partir de dados da fisiologia, da neurofisiologia, da psicofisiologia, dapsicologia, da psicopatologia, da biomecnica - primacialmente aplicadas aotrabalho -, bem como da anatomia e da antropometria), fornecer bases racionais eempricas para adaptar ao homem bens de consumo e de capital, meios e mtodosde trabalho, planejamento, programao e controle e processos de produo,sistemas de informao.

    Como teoria tecnolgica operativa, a Ergonomia objetiva, atravs da ao,resolver os problemas da relao entre homem, mquina, equipamentos, ferramentas,programao do trabalho, instrues e informaes, solucionando os conflitos entre

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    o humano e o tecnolgico, entre a inteligncia natural e a inteligncia artificial nossistemas homens-mquinas* .

    Tais conflitos se expressam atravs de custos humanos do trabalho para ooperador - fadiga, doenas profissionais, leses temporrias ou permanentes,mutilaes, mortes - e de acidentes, incidentes, erros excessivos, paradas nocontroladas, lentido e outros problemas de desempenho, assim como danificao em conservao de mquinas e equipamentos, que acarretam decrscimos naproduo, desperdcio de matrias-primas, baixa qualidade dos produtos - o queacaba por comprometer a produtividade e a qualidade do sistema homens-mquinas.

    Com base nos enfoques sistmico e informacional, a Ergonomia comotecnologia operativa trata de definir para projetos de produtos, estaes de trabalho,sistemas de controle, sistemas de informao, dilogos computadorizados,organizao do trabalho, operacionalizao da tarefa e programas instrucionais osseguintes parmetros: interfaciais, instrumentais, informacionais, acionais,comunicacionais, cognitivos, movimentacionais, espaciais/arquiteturais,fsico-ambientais, qumico-ambientais, securitrios, operacionais, organizacionais,instrucionais, urbanos e psicossociais.

    interfaciais: configurao, morfologia, arranjo fsico, dimenses, alcancesde mquinas, equipamentos, consoles, bancadas, painis e mobilirios; instrumentais: configurao, conformao, arranjo fsico e topologia,priorizao, ordenao, padronizao, compatibilizao e consistncia,painis de superviso (sinpticos, mostradores) e/ou comandos;

    * Segundo Montmollin(1971),as comunicaes entre o homem e a mquina

    definem o trabalho a partir de Couffignal (1966), conforme os conceitos da

    ciberntica define-se mquina como um mecanismo fisico objetivado, que visa a

    substituir o homem na execuo de uma ao. A partir de McCormick & Sanders

    (1982), Murrell (1965) e Shackel (1974), pode-se afirmar que, quando se diz que

    o homem funciona como parte de um sistema homem-mquina o conceito comum

    de mquina demasiadamentee restritivo.

    Conforme as referncias da ciberntica e para esses autores, ergonomistas, a

    palavra mquina significa, ento, tudo aquilo que compreende virtualmente qualquer

    tipo de objeto fisico, artefato, aparato, dispositivo, equipamento, utenslio, meio

    de trabalho, qualquer mecanismo fisico objetivado com o qual o individuo executa

    alguma atividade. com um dado propsito.

    Nessa acepo, o lpis com o qual escrevemos, a raquete com que jogamos, a p

    com a qual cultivamos o jardim, a enxada, o martelo e o serrote, o balde de massa

    e a p do pedreiro so to mquinas quanto o carro ou a bicicleta que dirigimos, o

    torno mecnico, a serra eltrica manual, a correia transportadora, o painel de

    controle de uma refinaria, o console de monitorao de uma usina, uma rgua de

    clculos. uma calculadora, um computador.

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  • 14 ergonomia: conceitos e aplicaes - iUsEr, 2003

    informacionais: visibilidade, legibilidade, compreensabilidade equantidade de informao, priorizao e ordenao, padronizao,compatibilizao e consistncia, componentes signicos - caracteresalfanumricos e smbolos iconogrficos -, de sistemas de sinalizao desegurana ou de orientao, de painis sinpticos, telas de monitores devdeo e mostradores, de manuais operacionais e apoios instrucionais; acionais: configurao, conformao, apreensibilidade, dimenses,movimentao e resistncia de comandos manuais e pediosos; comunicacionais: articulao e padronizao de mensagens verbaispor alto-falantes, microfones e telefonia; qualidade de equipamentos decomunicao oral; cognitivos: compreensabilidade, consistncia da lgica de codificao erepresentao. compatibilizao de repertrios, significao das mensagens;processamento de informaes, coerncia dos estmulos, das instrues edas aes e decises envolvidas na tarefa, compatibilidade entre a quantidadede informaes, complexidade e/ou riscos envolvidos na tarefa; qualificao,competncia e proficincia do operador; movimentacionais: limites de peso para levantamento e transportemanual de cargas segundo a distncia horizontal da carga em relao regiolombar da coluna vertebral, o curso vertical do levantamento ou abaixamentoda carga, a conformao da carga, a freqncia de manipulao da carga; espaciais/arquiteturais - aerao, insolao e iluminao natural doambiente; isolamento acstico e trmico; reas de circulao e layout deinstalao das estaes de trabalho; ambincia grfica, cores doambiente e dos elementos arquiteturais; fsico-ambientais: iluminao, rudo, temperatura, vibrao, radiao,presso, dentro dos limites da higiene e segurana do trabalho, e considerandoas especificidades da tarefa;

    Conforme Meister & Rabideau (1965), como sistema homem-mquina

    compreendem-se situaes diferentes:

    a combinao homem + utensilios; o posto de trabalho (o dia de um homem +

    uma mquina);

    o sistema homens-mquinas - um conjunto de elementos humanos e no humanos

    submetidos a interaes (como, por exemplo, a torre de controle de um aeroporto,

    uma central de controle operacional de uma usina, as rotativas de impresso e os

    operadores encarregados de manipul-la e de manuteni-la, a sala de operao com

    o paciente, o cirurgio, sua equipe, instrumentadores, enfermeiros, aparatos e

    equipamentos).

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    qumico-ambientais: toxicidade, vapores e aerodispersides; agentesbiolgicos (microorganismos: bactrias, fungos e vrus), que respeitem padresde assepsia, higiene e sade; securitrios - controle de riscos e acidentes, pela manuteno de mquinase equipamentos, pela utilizao de dispositivos de proteo coletiva e, emltimo caso, pelo uso de equipamentos de proteo individual adequados,pela superviso constante da instalao dos dutos, alarmes e da plantaindustrial em geral; operacionais: programao da tarefa, interaes formais e informais, ritmo,repetitividade, autonomia, pausas, superviso, preciso e tolerncia dasatividades da tarefa, controles de qualidade, dimensionamento de equipes; organizacionais: parcelamento, isolamento, participao, gesto,avaliao, jornada, horrio, turnos e escala de trabalho, seleo e treinamentopara o trabalho; instrucionais: programas de treinamento, procedimentos de execuoda tarefa; reciclagens e avaliaes; urbanos: planejamento e projeto do espao da cidade, sinalizao urbanae de transporte; terminais rodovirios, ferrovirios e metrovirios; reas decirculao e integrao, reas de repouso e de lazer; psicossociais: conflitos entre indivduos e grupos sociais; dificuldadesde comunicaes e interaes interpessoais; falta de opes dedescontrao e lazer.O objeto da Ergonomia, seja qual for a sua linha de atuao, ou as estratgias

    e os mtodos que utiliza, o homem no seu trabalho trabalhando, realizando a suatarefa cotidiana, executando as suas atividades do dia-a-dia. Esse trabalho real econcreto compreende o trabalhador, o operador, o manutenedor, o instrutor ou ousurio no seu local de trabalho, enquanto executa sua tarefa, com mquinas,ferramentas, equipamentos e meios de trabalho. Num determinado ambiente fsicoe arquitetural, com seus chefes e supervisores, colegas de trabalho e companheirosde equipe, e mais as interaes e comunicaes formais e informais, num determinadoquadro econmico-social, ideolgico e poltico.

    A Ergonomia partilha o seu objetivo geral - melhorar as condies especficasdo trabalho humano - com a higiene e a segurana do trabalho. Os organizadores dotrabalho tambm estudam o trabalho real para determinar procedimentos maisracionais e formas mais produtivas de efetuar a tarefa. Variam as nfases, asestratgias, alguns mtodos e tcnicas. Imprescindvel se faz enfatizar que aErgonomia orienta-se prioritariamente para a aplicao.

    Cumpre ressaltar que a singularidade da Ergonomia est justamente nasua praxis, que integra o estudo das caractersticas fsicas e psquicas dohomem, as avaliaes tecnolgicas do sistema produtivo, a anlise da tarefa,

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    com a apreciao, o diagnstico, a projetao, a avaliao e a implantao desistemas homens-tarefas-mquinas. O ergonomista junto com engenheiros,arquitetos, desenhistas industriais, analistas e programadores de sistema,organizadores do trabalho, prope mudanas e inovaes, sempre a partir devariveis fisiolgicas, psicolgicas e cognitivas humanas e segundo critrios queprivilegiam o ser humano.

    O atendimento aos requisitos ergonmicos possibilita maximizar o conforto,a satisfao e o bem-estar, garantir a segurana, minimizar constrangimentos, custoshumanos e carga cognitiva, psquica e fsica do operador e/ou do usurio e otimizaro desempenho da tarefa, o rendimento do trabalho e a produtividade do sistemahomem-mquina.

    Finalmente, cabe asseverar que a Ergonomia tem como centro focal de seuslevantamentos, anlises, pareceres, diagnsticos, recomendaes, proposies eavaliaes, o homem como ser integral. A vocao principal da Ergonomia recuperaro sentido antropolgico do trabalho, gerar o conhecimento atuante e reformador queimpede a alienao do trabalhador, valorizar o trabalho como agir humano atravsdo qual o homem se transforma e transforma a sociedade, como livre expresso daatividade criadora, como superao dos limites da natureza pela espcie humana.

    1.7. nfases da Ergonomia

    Impossvel conceituar Ergonomia e contextualiz-la sem desnudar as linhasde interveno existentes. Atualmente, a Ergonomia apresenta dois enfoques bemcaractersticos, segundo o tipo de abordagem do homem no trabalho: o enfoqueamericano e o enfoque europeu.

    De acordo com Montmollin (1986), a linha europia privilegia as atividadesdo operador, priorizando o entendimento da tarefa, os mecanismos de seleo deinformaes, de resoluo de problemas, de tomadas de deciso. Tudo se inicia com aobservao do trabalho, em condies reais. Em seguida, tem-se a verbalizao dotrabalho executado pelos prprios operadores especificamente nele envolvidos econsidera-se a aprendizagem da tarefa e a competncia do trabalhador.

    Os ergonomistas americanos, por seu lado, preocupam-se, principalmente, com osaspectos fsicos da interface homem-mquina (anatmicos, antropomtricos, fisiolgicose sensoriais), objetivando dimensionar a estao de trabalho, facilitar a discriminao deinformaes dos mostradores e a manipulao dos controles. Para tanto, realizam simulaesem laboratrios (onde medem alcances, esforos, discriminao visual, rapidez de resposta),mantendo constantes algumas variveis - homens com dimenses extremas (5o e 95o

    percentis), acuidade visual, nvel de instruo etc.Ao se estudar, por exemplo, o trabalho em terminais de vdeo, o enfoque

    americano contempla as dimenses do mobilirio; alcances, conformao do teclado;radiao e cor da tela.; altura, espessura e desenho dos caracteres alfanumricos;

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    visibilidade e compreensibilidade dos smbolos iconogrficos; iluminao, rudo etemperatura ambiente. Os europeus enfatizam os aspectos semnticos e cognitivosda informao que aparece na tela, seu tratamento mais do que a apresentao, ocontedo do trabalho, a percepo dos dados c as decises implicadas.

    Ainda de acordo com Montmollin (1986), temos que o primeiro enfoque, omais antigo e, hoje em dia, o mais americano, considera a Ergonomia como a utilizaodas cincias para melhorar as condies do trabalho humano. A anatomia e a fisiologiapermitem conceber cadeiras, telas e horrios mais adaptados ao organismo humano,enquanto a psicologia e a semitica possibilitam definir uma melhor apresentaodas informaes. O ergonomista orienta-se, prioritariamente, para a concepo dedispositivos tcnicos: mquinas, utenslios, postos de trabalho, telas, impressos,programas etc.

    O ergonomista desta corrente considera as caractersticas gerais do homemem geral, a mquina humana, para adaptar melhor as mquinas e os dispositivostcnicos a este homem. A concepo clssica de sistemas homem-mquina, onde aanlise ergonmica privilegia a interface entre os componentes materiais e oscomponentes (ou fatores) humanos.

    Seguem-se as caractersticas da mquina humana que, segundo o autor, osergonomistas praticantes dessa linha consideram:

    as caractersticas antropomtricas: alturas, comprimentos e largurasde diferentes segmentos corporais;as caractersticas ligadas ao esforo muscular: estudam-se ascontraes musculares, diretamente (por eletromiografia), pelo consumo deoxignio e pelo ritmo cardaco; as caractersticas ligadas influncia do ambiente fsico: ocalor e o frio, a poeira, os agentes txicos, o rudo, as vibraes e, maisrecentemente, as aceleraes bruscas - estes so domnios onde a Ergonomiase identifica com a medicina do trabalho; as caractersticas psicofisiolgicas: o olho e o desempenho visual,o ouvido e o desempenho auditivo, em diversas condies - viso noturna,audio em locais ruidosos; mas tambm o olfato, o tato, e os tempos dereao. Devem-se juntar s caractersticas relacionadas a sensao, como ascitadas acima, os fenmenos do sistema nervoso central como a percepodo visual (limiar de discriminao de diferentes formas, por exemplo) ou,como a partir dos anos 1950 e 1960, a ateno e a vigilncia (deteco desinais raros e aleatrios); as caractersticas dos ritmos circadianos (que regulam a atividadebiolgica durante as 24 horas do dia), alternncia viglia-sono, em particular,e a influncia de suas perturbaes (devidas ao trabalho em equipesalternantes, por exemplo) sobre o sono, e, mais genericamente, sobre a sade.

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    Paralelamente ao estudo das caractersticas citadas, estudam-se os efeitosdo envelhecimento, em particular os efeitos fisiolgicos e psicofisiolgicos. Osergonomistas dessa corrente reuniram uma massa considervel de dados sobre amquina humana e, em particular, sobre seus limites.

    Ainda segundo Montmollin (1986), a segunda corrente da Ergonomia, maisrecente e mais francesa, a considera como o estudo especfico do trabalho humano com oobjetivo de melhor-lo. Sem pretender constituir-se em cincia do trabalhocompletamente autnoma, ela reivindica, no entanto, a autonomia de seus mtodos.Sob este aspecto, ela constitui indubitavelmente mais uma tecnologia do que umacincia. Essa Ergonomia enfatiza o conjunto da situao de trabalho do trabalhador,em detrimento do estudo de cadeiras e telas, tomadas isoladamente. Nestaperspectiva, no se podem realmente explicar e diminuir a fadiga e o erro, a no serque se analise detalhadamente a tarefa especfica do operador e a maneira particularcomo ele a realiza, considerando as singularidades existentes. Pode-se descobrir,assim - para citar apenas um exemplo simples, que, se a cadeira penosa, ou porque as informaes que aparecem na tela se apresentam de tal forma queimpedem o operador de tirar os olhos do monitor, mesmo por pequenos perodos, oque implica uma postura rgida.

    O ergonomista desta linha orienta-se essencialmente em direo organizao do trabalho: quem faz o que e (sobretudo) como o faz, e se poderiafaz-lo melhor. Isto implica, menos freqentemente, uma modificao dodispositivo tcnico e, mais usualmente, dos procedimentos de trabalho, daatividade e das competncias dos trabalhadores. Este enfoque concebe a Ergonomiano como a aplicao de conhecimentos gerais sobre o organismo humano naconcepo de mquinas. Trata de priorizar a atividade dos operadores especficosao realizar suas tarefas particulares.

    A Ergonomia francesa. muito mais psicolgica e mesmo cognitiva do queantropomtrica ou fisiolgica, no resolve - cumpre repetir - os mesmos problemasque a Ergonomia americana. Ela visa menos diretamente a concepo de mquinaspelos projetistas do que a interveno sobre os prprios locais da produo. naoficina, na sala de comando, no escritrio e no servio de mtodos que intervm esteergonomista, a fim de melhorar localmente o trabalho, quer dizer, a interao entreo operador e sua tarefa.

    O ergonomista francs no se preocupa em levantar uma lista de caractersticasgerais da atividade do operador humano. O olho por toda parte o mesmo, mas noo olhar. O centro de gravidade das pesquisas em Ergonomia se desloca: no mais acoleta de dados confiveis sobre os fatores humanos em laboratrio, mas a anliseem campo das modalidades especficas da atividade do operador na situao realexistente. As publicaes e os manuais tratam de privilegiar os mtodos de anlise dotrabalho, os modelos e as teorias que os justificam. O contraste surpreendente:

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    apenas uma ou duas pginas sobre anlise do trabalho nos manuais clssicos, enquantona literatura europia (e sobretudo francesa) este o tema principal.

    Esta Ergonomia da atividade humana, esta Ergonomia de interao entredois tipos de processos, - o do operador e o da mquina, torna evidente uma gravefraqueza, se nos colocamos do ponto de vista da Ergonomia clssica: ela no permiteestabelecer catlogos de dados gerais utilizveis diretamente para a concepo dedispositivos tcnicos. Ela est muito centrada sobre a singularidade dos episdiosdo trabalho de um operador especfico que ela observa longamente, para podertransfer-los a outras situaes, mesmo aparentemente similares. Por outro lado,pode-se retrucar que a Ergonomia clssica deixa de ser til onde os responsveispela produo necessitam atualmente de maior nmero de conselhos: as situaescrticas em que as competncias dos operadores (e no somente seu conforto e suaviso) permitem evitar as catstrofes.

    A oposio entre uma Ergonomia de componentes humanos (a melhor traduoda americana human factors, na acepo francfona) e uma Ergonomia da atividadehumana um fato. No entanto, se uma sntese improvvel, uma articulao possvel. No h contradio entre conceber uma cadeira confortvel e uma telabem contrastada para o operador diante de seu terminal de computador e, por outrolado, buscar saber como este operador compreende as mensagens que aparecemsobre a tela. No excludente propor um desenho de um mostrador que permita apercepo exata de uma medida e saber por que num determinado momento daexecuo das operaes o operador olha para um ou para outro mostrador. Cabeconsiderar o olho e olhar.

    As duas Ergonomias no so contraditrias, mas complementares. Emprincpio, o mesmo ergonomista pode ser chamado, em funo das circunstncias(ou seja, em funo dos interlocutores, dos decisores e dos financiamentos), paracolaborar com um engenheiro na concepo de uma mquina-ferramenta ou, comum outro engenheiro, na implantao de um sistema informatizado. Na prtica. noentanto, os ergonomistas se especializaram de tal modo que os manuais, apenasexcepcionalmente, tratam dos dois enfoques.

    Meister (1985) acredita que a Ergonomia (human factors) seja uma disciplinadistintamente diferente - embora muito influenciada pela psicologia e pelaengenharia, entre outras. Os problemas ergonmicos exigem solues especficas.As reas particulares de interesse, como carga de trabalho ou interaohomem-computador, podem ser um ramo de pesquisa da Ergonomia, mas a Ergonomia mais do que a soma de suas partes. Alm das suas reas especificas de interesse,ela tem suas prprias necessidades de pesquisa, que se orientam em torno do conceitode sistema e de desenvolvimento e operao de sistemas.

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    O Sistema homem-tarefa-mquina

    2.1. Uma definio de sistema

    De acordo com Meister (1997), um conceito crtico sem o qual a Ergonomiano pode ser entendida. O conceito de sistema j era utilizado por outras disciplinas,antes da Ergonomia utiliz-lo. Sua aplicao na ergonomia possibilitou odesenvolvimento de uma estrutura conceitual formal. No contexto da Ergonomia, oconceito de sistema significa que o desempenho humano no trabalho s pode sercorretamente conceituado em termos do todo organizado e que, para o desempenhodo trabalho, este todo organizado o sistema homem-mquina.

    Para Reis et alii (1980), tal definio ainda guarda certo grau de generalidade.Cabe adicionar algo que, poderamos dizer, seriam requisitos para qualquer entidadesensu lato ser considerada um sistema:

    1) conjunto de partes interagentes: implica que a modificao emuma ou mais resulta em alterao em pelo menos uma outra parte do todo.2) segundo um plano ou princpio: envolve o conceito de organizao.Sabendo que em tudo no nosso universo h uma tendncia catamorfose, aidia de organizao, inerente ao sistema, procura ir contra esta tendncia,no sentido de um equilbrio ou do desenvolvimento, a anamorfose.3) atingir um determinado fim: a interao entre as partes visa a umdeterminado fim. (...) Enfatiza-se aqui o sentido teleolgico, isto , derelacionamento das partes com um fim, ou objetivo.Explicitam-se, assim, os seguintes conceitos: sinergia: ato ou esforo coordenado de vrios rgos na realizao de umafuno, associao simultnea de vrios fatores que contribuem para umaao coordenada; holismo: tendncia que se supe seja prpria do universo de sintetizarunidades em totalidades organizadas; teleologia: estudo da finalidade, estudo dos fins humanos, doutrina queconsidera o mundo como um sistema de relaes entre meios e fins - daabordagem de sistemas; anamorfose: corresponde mudana no estado de um sistema tendendoao desenvolvimento, organizao crescente - evoluo contnua, sem etapasdescontnuas ou saltos. A situao inversa a catamorfose.Esta idia de todo - holstico, sinergtico e teleolgico - a base da filosofia

    de sistemas que a utiliza nos mais diversos campos do conhecimento.

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    2.2. Outra definio de sistema

    Uma definio comumente aceita para sistema, segundo Schoderbek (1990) que um sistema um conjunto de objetos junto com as relaes entre osobjetos e entre seus atributos relacionados uns com os outros e com o ambientedeles de modo a formar um todo.

    Por conjunto entende-se qualquer coleo bem definida de elementos ouobjetos contidos dentro de um quadro / marco / referencial de discurso. Tal significaque deve ser possvel afirmar com segurana se um determinado objeto ou smbolopertence ao conjunto.

    Objetos so os elementos do sistema . Do ponto de vista esttico, os objetosde um sistema seriam as partes que formam o sistema. Entretanto, a partir da visofuncional, os objetos do sistema so as funes bsicas desempenhadas pelas partesdo sistema. Importam, portanto, no as partes em si mas sim as funes das partes.

    2.3. Do sistema homem-mquina ao sistemahomem-homem-tarefa-mquina

    A noo do sistema homem-mquina sempre se apresentou como um dosconceitos bsicos da Ergonomia, ao enfocar a interao do homem (ser humano)com utenslios, equipamentos, mquinas e ambientes. Quando a comunicaohomem-mquina passou a privilegiar a cognio em vez da percepo, os antigosmodelos foram revistos e atualizados.

    A partir da evoluo dos modelos do sistema homem-mquina, introduzem-se novos paradigmas, enfatizam-se as questes cognitivas e de convergncia nacomunicao e da primazia do homem. Prope-se, ento, o modelo sistema homem-tarefa-mquina.

    Deste modo, explicita-se a pertinncia da modelagem das comunicaeshomem-mquina, como forma de garantir a considerao das variveis que propiciama qualidade e evitam os rudos na comunicao.

    Como afirma Chapanis (1972), em quaisquer sistemas de equipamentosutilizam-se ou envolvem-se pessoas, pois os sistemas de equipamentos so sempreelaborados com algum objetivo humano:

    eles existem para atender a determinada necessidade humana; eles so planejados e construdos pelo ser humano; so criaturas humanas que os manejam, supervisionando-os, alimentando-os, observando-lhes o funcionamento e cuidando de sua manuteno.Os sistemas no substituem as vlvulas, os transistores ou as lmpadas que

    queimam, nem soldam suas conexes. Tais incumbncias so responsabilidadesdos homens. Logo, pode-se afirmar que todos os sistemas de equipamentos sosistemas homem-mquina - embora varie enormemente a intensidade com que ossistemas homem-mquina envolvem os operadores humanos.

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    O sistema de sinais de trnsito que regula o fluxo de veculos de qualquergrande cidade funciona independentemente de operadores humanos. Depois que seinstalam os sinais e seus mecanismos reguladores, os sinais passam a acender e aapagar, automaticamente. Em sistemas desse tipo, o papel do homem de projetista,construtor, implantador e manutenidor.

    O automvel um bom exemplo de sistema altamente complexo, em que ooperador desempenha ativo papel de comando e intervm diretamente no sistema acada momento. Um automvel pode andar durante algum tempo sem motorista, mas,para servir ao seu propsito bsico, como veculo para transportar algo ou algum de umponto a outro, a atuao constante de um motorista absolutamente indispensvel.

    Atualmente, falam-se maravilhas da automao e sonha-se com o dia emque as mquinas possam fazer tudo sozinhas. O fato que muitos sistemasautomticos tm que utilizar sempre o homem, seja de uma forma ou de outra. Naverdade, as pessoas se enganam freqentemente a respeito do montante de trabalhoque os operadores humanos executam em sistemas automticos. Embora a proporode homens seja bem menor em sistemas automticos do que em unidades mecnicas,h operadores trabalhando e participando ativamente da manipulao e do controledos sistemas automatizados.

    2.4. Conceituao de sistema homem-mquina

    A Ergonomia lida com sistemas homens-mquinas, ou seja, com sistemasem que ao menos um elemento um homem com uma certa funo.

    Algumas definies:A partir de Meister & Rabideau (1965), tem-se que: Miller (1954), descreve o sistema homem-mquina como consistindo dehomens e mquinas somados aos processos pelos quais eles interagem dentrode um ambiente; Fitts (1959) define um sistema homem-mquina como uma montagemde elementos, que esto engajados no cumprimento de alguns propsitoscomuns, e so unidos por uma rede de fluxos de informaes comuns, estandoa sada do sistema em funo no somente das caractersticas dos elementos,mas tambm das suas interaes e interrelaes; Shapero e Bates (1959) descrevem o seu conceito de sistema em termosdo que eles chamam de componentes do sistema, consistindo de mecanismos(equipamentos), componentes operacionais humanos (pessoal), disposies(instalaes) e integradores;Em Montmollin (1971) aparece:Um sistema homens-mquinas uma organizao cujos componentes sohomens e mquinas que trabalham conjuntamente para alcanar um fimcomum e esto unidos entre si por uma rede de comunicaes.

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    Meister (1976) declara que Morgan et alii (1963) preferem dizer que qualquer grupo de homens e mquinas que operam como uma unidade paraconduzir uma tarefa ou tarefas determinadas.

    Para McCormick (1980),Pode-se definir um sistema homens-mquinas como uma combinaooperatria de um ou mais homens com um ou mais componentes, queinteratuam para fornecer, a partir de elementos dados (input), certos resultados,considerando as limitaes impostas por um ambiente dado.Neste quadro de referncia, o conceito comum de mquina, como se viu

    anteriormente, muito restrito.Mquina compreende virtualmente qualquer tipo de objeto fsico,dispositivo, equipamento, facilidade, coisa, ou seja l o que for que as pessoasusam para realizar alguma atividade que objetiva alcanar algum propsitodesejado ou para desempenhar alguma funo. (...)A natureza essencial do envolvimento das pessoas nos sistemas refere-se aum papel ativo, interagindo com o sistema para realizar a funo para a qualo sistema foi projetado. (McCormick & Sanders, 1982)De acordo com Meister (1976), o sistema homem-mquina essencialmente

    um conceito baseado em certas suposies; uma abstrao e no uma configuraofsica ou um tipo de organizao. basicamente uma estrutura para a anlise desistemas:

    O sistema um conceito porque est organizado em torno de transformaes(de entradas a sadas, de estmulos a respostas) que so invisveis; tudo quese v so os produtos destas transformaes. Aquilo que encontrado dentro dosistema, como o comportamento humano em geral, pode ser deduzido somentepelas entradas antecedentes e pelas conseqentes sadas. A natureza daconstruo do sistema sugerida pelas vrias maneiras nas quais ele foi definido.O elemento comum de todas as definies do SHM o conceito de serproposital. Uma vez que o SHM uma criao artificial, as suascaractersticas dependem do propsito do seu criador. (...) O anlogo dopropsito humano o requisito do sistema a partir do qual podem-se deduzir,logicamente: a configurao do sistema, as suas funes e as suas operaes.Conforme Grandjean (1988), Um sistema homem-mquina significa que o

    homem e a mquina tm uma relao recproca um com o outro.Num artigo (1974) para a Organizao Mundial de Sade, Singleton (apud

    Grandjean, 1988) menciona que a mquina capaz de alta velocidade e grandepreciso, alm de ser capaz de muita fora, e que o homem vagaroso, libera somentepequenas quantidades de energia, mas, por outro lado, muito mais flexvel eadaptvel. Homem e mquina podem se combinar para formar um sistema, desdeque se utilizem suas respectivas qualidades.

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    Nos sistemas homens-mquinas, cabe enfatizar a interao entre os homense as mquinas. A Ergonomia no estuda o homem isolado nem a mquina isolada.Esta interao se d atravs das comunicaes entre o homem e mquina e seexpressa a partir das atividades da tarefa. Mais ainda: a partir do enfoque sistmico,e com a viso do sistema homem-mquina como um sistema aberto, o ergonomistaconsidera as injunes da tecnologia, do quadro socioeconmico e da maturidadesindical. A reside sua originalidade, assim como a origem da sua eficincia - oergonomista estuda o trabalho numa perspectiva centrada no sistema (no sistemahomem-tarefa-mquina) e sempre destaca os requisitos humanos de segurana,conforto e bem-estar.

    Kroemer & Grandjean (1997), atualizam a expresso sistema homem-mquinae declaram que um sistema ser humano-mquina significa que o ser humano e amquina tm relaes recprocas um com o outro.

    2.5. Caracterizao dos sistemas homens-mquinas

    Embora estas definies possam parecer muito genricas e pouco precisas,elas sugerem certas caractersticas comuns aos sistemas. A partir de Meister &Rabideau (1965), tem-se que:

    1) As mquinas so necessrias para se atingir os objetivos do sistema .Existem, claro, outros sistemas (biolgico, fsico, matemtico, social etc.)que utilizam poucas ou nenhuma mquina. A diferena bsica do sistemahomem-mquina para os outros sistemas que nos SHM as mquinas sousadas pelos homens como o meio necessrio para modificar o ambiente ouatingir um objetivo, enquanto nos outros sistemas o uso de mquinas circunstancial ou inexistente. Cabe ainda mencionar que qualquer organizaodo homem que envolve o extensivo uso de equipamentos ou mquinas (porexemplo, um escritrio de contabilidade, um hospital ou uma fbrica) podeser considerada um sistema homem-mquina.

    2) Tanto homens quanto mquinas so necessrios para o desempenho dosistema. No existe sistema completamente automtico ou completamentemanual; mesmo nos sistemas conhecidos como completamente automticos (comoos que podem ser encontrados em refinarias de produtos qumicos), homens sonecessrios para a realizao de tarefas diretivas, de monitorao, de controle, deregulao e de manuteno. Nas sociedades primitivas, ou mesmo em certoscanteiros da construo civil, onde o trabalho manual amplamente realizado,alguns instrumentos so sempre utilizados.

    3) A relao homem-mquina direcionada para um objetivo, um propsito.Como o sistema uma criao do homem, ele existe para realizar alguma coisa, paraafetar alguma coisa. Um sistema completamente sem propsito seria, na melhordas hipteses, uma inveno sem sentido prtico.

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    4) O objetivo do sistema efetuar mudanas ambientais a curto, mdio e/oulongo prazos. O sistema funciona de maneira a modificar o seu ambiente externo (oupara modificar as suas relaes com o seu ambiente) e o seu prprio ambiente interno,quando ocorrem disfunes, ou para cumprir instrues de manuteno preventiva.

    5) O sistema possui tanto um ambiente interno quanto um externo. bvioque um sistema no pode ser conceituado sem a definio do seu ambiente, poiseste diferencia as coisas que so do sistema daquelas que no so. A definiodaquilo que constitui um ambiente para um sistema em particular depende de queobjetos devem ou no ser considerados como parte do sistema. A demarcao entreo sistema e o seu ambiente externo, no entanto, pode apresentar dificuldades. Osistema tambm considerado como tendo um ambiente interno constitudo peloscomponentes que fazem parte do sistema. Em relao ao sistema como um todo, osequipamentos individuais, as fiaes interconectadas e os operadores deequipamentos constituem o ambiente interno do sistema.

    Acorde Meister (1989), a Ergonomia busca entender e explicar comodeterminadas varveis afetam o desempenho humano no trabalho. Deste modo, aErgonomia diferencia-se de outras cincias a partir da sua nfase sobre o trabalho.

    O objetivo da Ergonomia otimizar o desempenho dos sistemas e melhorartanto a eficincia humana quanto a do sistema, a partir da modificao da interfaceentre o operador e os equipamentos. A Ergonomia, certamente, preocupa-se com oindivduo, mas tambm com a entidade da qual o indivduo faz parte. Deve-seconsiderar, de fato, o bem estar do indivduo - um malogro pressionar o operadorexcessivamente, ignorar sua motivao natural ou colocar em perigo sua segurana- mas esta preocupao no deve superar a considerao dos propsitos e requisitosdo sistema do qual o trabalhador participa. Os partidrios da qualidade de vida notrabalho podem questionar esta nfase, mas a assuno que se o sistema que incluio homem como um elemento essencial tem um bom desempenho, o homem sercontemplado. O oposto tambm verdadeiro: se o homem no est satisfeito, osistema no pode funcionar com eficincia.

    2.6. O enfoque centrado no usurio

    Para Oborne (1995), a nfase da Ergonomia moderna tem sido investigar ooperador e o ambiente como parceiros dentro do sistema de trabalho como umatotalidade, mais do que examinar em mnimos detalhes os componentes queconstituem qualquer loop homem-mquina. A Ergonomia tradicional - a da primeiragerao - buscava considerar aspectos do trabalho, alm do enfoque botes emostradores, alm do painel, tratando do sistema homem-mquina. Deste modo.considerava-se a interao entre o operador e o ambiente. Embora a Ergonomiamoderna, centrada na pessoa, argumente que, para uma operao eficiente dosistema, indivduos e seus sistemas de trabalho devem operar em harmonia, o

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    pensamento contemporneo sugere que mesmo esta abordagem apresenta falhas.Argumentos recentes propem a tese de que o operador e o sistema no so parceirosiguais no trabalho. Consider-los assim, na verdade. denigre de alguma forma ocomponente mais importante do sistema - a pessoa - e a reduz ao nvel de umcomponente inanimado. Desta forma, a moderna viso da Ergonomia, centrada napessoa, argumenta que a pessoa que controla o sistema, que o opera, que dirige o seucurso e monitora as suas atividades. Ao fazer isso, o operador quem tem metas edesejos e quem pode mudar o sistema atravs de habilidades e caprichos. Resulta,naturalmente, que para o sistema ser efetivo ele deve ser projetado a partir do pontode vista do operador e no da perspectiva de uma simbiose operador/mquina. Emresumo, o conceito homem-mquina tradicional muito simplista para abarcar aoperao de modernos sistemas de trabalho que requerem que as pessoas sejam oelemento central.

    Eason (1991, apud Oborne, 1995), ao discutir o domnio da interao homem-computador, declara que o ponto de vista bsico homem-mquina como uma formade conversao entre diferentes espcies de participantes prejudica a ricacomplexidade da interao. Eason assinala que, no mundo real, ns interagimoscom mquinas no meramente para trocar mensagens, mas para nos incumbir detarefas complexas. A interao homem-mquina tem um significado que est exteriore acima daquele que pode ser expresso por simples e diretas anlises das partes doscomponentes. Este significado introduzido no sistema pelo operador, pela naturezada tarefa e pelos seus resultados.

    Wisner (1989, apud Oborne, 1995), considera este ponto de vista dentro dodomnio da Ergonomia. Ele argumenta que o que especifico Ergonomia, assimcomo psicologia, que ela deve considerar mais do que as especficas propriedadesdo homem. A Ergonomia deve preferivelmente tentar entender como o homem usasuas prprias propriedades em termos de uma histria, sua prpria histria e a daHumanidade, a parte da Humanidade a qual ele pertence. Anseios e desejosindividuais, motivos e experincias so trazidos para a situao de trabalho e devemser entendidos quando se considera a adaptao. Fatores como background social ecultura desempenham um papel importante.

    A Ergonomia centrada na pessoa portanto considera a interao comocontrolada e conduzida pelo operador. No desenrolar destas interaes, as pessoastrazem para o sistema um conjunto de fraquezas e qualidades inerentes (incluindoexperincias. expectativa, motivao e assim por diante). Em geral, taiscaractersticas sero para o bem do sistema, a partir de critrios como eficincia esegurana. mas algumas vezes elas incluiro a variabilidade, a falibilidade e talvezmesmo caprichos, que podem conduzir a erros e ineficincias.

    Em muitos aspectos, o enfoque tradicional e a perspectiva centrada no usuriopodem ser vistas como variaes em nfases quanto ao componente mais importante

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    do sistema. A viso tradicional enfatiza o homem como subordinado ao sistema. Aviso centrada na pessoa concentra-se no indivduo como o nico controlador dosistema. Ao assumir tal posio, contudo, o enfoque centrado na pessoa no abandonao ideal de criar um ambiente de trabalho que se adapte s habilidades e requisitosdo operador humano.

    2.7. As atividades da tarefa como definidorasdas interaes no sistema homem-mquina

    Objetivando explicitar os nveis de enfoque e a interao entre as diferenteszonas de relacionamento, construiu-se - a partir de Moraes (1992) - um modelo em quese procura sintetizar os modelos citados anteriormente - modelo sistmico, expansionista,comportamental e informacional. Cumpre observar os seguintes aspectos:

    o enfoque centrado na pessoa com o destaque do humano; o processamento da informao, a resoluo de problemas e a tomada dedecises, envolvendo: as funes de deteco e discriminao de sinais docomportamento baseado em habilidades; as funes de identificao einterpretao de signos, do comportamento baseado em regras e as funesde smbolos, do comportamento baseado no conhecimento; as atividades da tarefa como expresso da interao entre os dispositivosde informao e os mecanismos receptores humanos e entre os mecanismosefetores humanos e os dispositivos de controle do ambiente compreendemtomadas de informao, manipulaes acionais, comunicaes,deslocamentos e assunes posturais; o expansionismo do modelo, no qual o sistema homem-mquina - pode serum posto de trabalho, uma seo de fbrica, uma diviso ou uma empresa -sofre as influncias de um ambiente fsico / espacial / natural e de umambiente organizacional, gerencial e social; a eficincia ergonmica, que, alm de considerar as entradas e sadas dosistema, privilegia como critrio a economia do homem, atravs daminimizao dos custos humanos do trabalho.

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