128
ERGONOMIA

ERGONOMIA

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ERGONOMIA

ERGONOMIA

Page 2: ERGONOMIA

SUMÁRIO

Capítulo 1 - INTRODUÇÃO.............................................................................................................................. 51.1 - Introdução à Ergonomia ......................................................................................................................... 51.2 - Histórico................................................................................................................................................. 51.3 - Objetivos da Ergonomia......................................................................................................................... 61.4 - Modalidades de intervenção ergonômica ............................................................................................... 71.4.1 - Ergonomia de concepção .................................................................................................................... 71.4.2 - Ergonomia de correção........................................................................................................................ 71.4.3 - Ergonomia de mudança....................................................................................................................... 71.5 - Abordagem interdisciplinar da ergonomia ............................................................................................. 7

Capítulo 2 - ANÁLISE ERGONÔMICA DE SISTEMAS............................................................................... 92.1 - Introdução ............................................................................................................................................ 92.2 - Conceito de Sistema............................................................................................................................. 92.3 - Sistema Homem-Máquina.................................................................................................................. 102.4 - Características dos Sistemas............................................................................................................... 112.4.3 Considerações sobre a otimização de sistemas.................................................................................... 122.4.4 - Confiabilidade de Sistemas ............................................................................................................... 132.5 - Homem versus Máquina..................................................................................................................... 142.5.1 - O homem se distingue por:............................................................................................................... 142.5.2 - A máquina se distingue por:............................................................................................................ 142.6 Problemas de automação ........................................................................................................................ 15

Capítulo 3 - BIOMECÂNICA OCUPACIONAL ......................................................................................... 173.1 - Introdução .......................................................................................................................................... 173.2 - O Trabalho Muscular ......................................................................................................................... 173.3 - Posturas .............................................................................................................................................. 183.3.1 - Posturas do Corpo ............................................................................................................................. 193.3.2 - Registro da postura.......................................................................................................................... 203.3.3 - Recomendações para melhorar as tarefas e os postos de trabalho..................................................... 223.4 - Movimentos........................................................................................................................................ 233.5 - Levantamento e transporte de cargas ................................................................................................... 243.5.1 - Recomendações Para o Levantamento de Cargas............................................................................. 25Restrinja o número de tarefas que envolvam a carga manual....................................................................... 253.5.2 - Equação de NIOSH - National Institute of Occupational Safety and Health .................................. 273.5.3 - Recomendações Para o Transporte de Cargas................................................................................... 32

Capítulo 4 - ANTROPOMETRIA.................................................................................................................. 334.1 - Introdução ............................................................................................................................................ 334.2 - Padrões Internacionais de medidas antropométricas ............................................................................ 344.3 - Realização das medidas antropométricas ............................................................................................. 344.3.1 - Definição dos objetivos..................................................................................................................... 344.3.2 - Definição das medidas ...................................................................................................................... 354.3.3 - Escolha dos métodos de medida........................................................................................................ 354.3.4 - Seleção da amostra............................................................................................................................ 354.3.5 - Medições ........................................................................................................................................... 364.3.6 – Apresentação e análise dos resultados.............................................................................................. 364.6 - Antropometria: aplicações................................................................................................................. 384.6.1. - Espaço de trabalho ......................................................................................................................... 384.6.2. - Superfícies horizontais ................................................................................................................... 394.6.3. - Assento............................................................................................................................................ 42

Capítulo 5 - POSTO DE TRABALHO .......................................................................................................... 475.1 - Introdução .......................................................................................................................................... 475.2 - Enfoque tradicional do posto de trabalho........................................................................................... 475.3 - Enfoque ergonômico do posto de trabalho......................................................................................... 485.4 - Projeto do posto de trabalho................................................................................................................ 485.4.1 - Descrição da tarefa.......................................................................................................................... 495.4.2 - Descrição das ações......................................................................................................................... 49

Page 3: ERGONOMIA

5.5 - Arranjo físico do posto de trabalho .................................................................................................... 505.6 - Conceitos Básicos Relacionados ao Ser Humano e ao Arranjo Físico de Seu Local de Trabalho .....525.7 - Regras Básicas de Ergonomia na Organização do Arranjo Físico (Layout)....................................... 535.8 - A importância do espaço pessoal no trabalho.................................................................................... 555.9 - Dimensionamento do posto de trabalho ............................................................................................. 56

Capítulo 6 - DISPOSITIVOS DE INTERAÇÃO HOMEM-MÁQUINA: ...................................................... 57CONTROLES E MOSTRADORES .............................................................................................................. 57

6.1 - Introdução .......................................................................................................................................... 576.2 - Movimentos de controle..................................................................................................................... 576.3 - Controles ............................................................................................................................................ 596.3.1 - Classificação dos controles ............................................................................................................. 606.3.2 - Discriminação dos controles ........................................................................................................... 616.3.3 - Prevenção de acidentes com controles ............................................................................................ 646.4 - Mostradores........................................................................................................................................ 646.4.1 - Principais tipos de mostradores....................................................................................................... 646.4.2 - Desenho de mostradores.................................................................................................................. 666.4.3 - Localização de mostradores ............................................................................................................ 696.5 – Associação de controles e mostradores ............................................................................................... 716.5.1 - Compatibilidade espacial ................................................................................................................ 71

6.5.2 - Princípios a serem seguidos na associação de controles e mostradores ................................................ 726.5.3 - Sensibilidade do deslocamento ....................................................................................................... 73

Capítulo 7 - FATORES AMBIENTAIS......................................................................................................... 757.1 - Introdução .......................................................................................................................................... 757.2 - Temperatura, umidade e velocidade do vento ..................................................................................... 757.2.1 - Trabalho a altas e baixas temperaturas............................................................................................ 757.3 - Ruído.................................................................................................................................................. 777.3.1 - Surdez provocada pelo ruído........................................................................................................... 777.3.2 - Influência do ruído no desempenho ................................................................................................ 787.4 - Vibrações ........................................................................................................................................... 797.4.1 - Efeito das vibrações sobre o organismo .......................................................................................... 807.4.2 - Controle das vibrações .................................................................................................................... 827.5 - Iluminação.......................................................................................................................................... 837.5.1 - Efeitos fisiológicos da iluminação .................................................................................................. 837.5.2 - Planejamento da iluminação............................................................................................................ 857.6 - Cores .................................................................................................................................................. 867.6.1 - Características das cores.................................................................................................................. 867.6.2 - Planejamento das cores ................................................................................................................... 88

Capítulo 8 - ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO............................................................................ 918.1 - Introdução ............................................................................................................................................ 918.2 – Análise Ergonômica da Demanda ....................................................................................................... 918.2.1 - Dados que devem ser coletados pela análise da demanda................................................................. 918.3 - Análise Ergonômica da Tarefa............................................................................................................. 928.3.1 - Delimitação do sistema homem-tarefa .............................................................................................. 938.3.2 - Descrição das componentes do sistema homem-tarefa ..................................................................... 93

a) Dados a serem levantados referente ao homem............................................................................................ 948.3.3 - Avaliação das exigências do trabalho.............................................................................................. 968.4 - Identificação e detecção das síndromes ergonômicas .......................................................................... 97

ERGONOMIA.................................................................................................................................................. 99CAPÍTULO 9 - ARRANJO FÍSICO................................................................................................................ 99

9.1 - Introdução ............................................................................................................................................ 999.2 - Conceito de arranjo físico .................................................................................................................. 1009.3 - Como surge o problema do arranjo físico ......................................................................................... 1019.4 - A chave dos Problemas de Arranjo Físico ....................................................................................... 1019.5 - Objetivos do arranjo físico ................................................................................................................. 1029.6 - Princípios do arranjo físico .............................................................................................................. 1029.7 - Recomendações ao estudo do arranjo físico..................................................................................... 103

Page 4: ERGONOMIA

9.8 - Procedimentos para determinação do arranjo físico......................................................................... 1049.9 - Estudo do Problema ......................................................................................................................... 1059.10 - Concepção do Arranjo Físico ......................................................................................................... 1079.10.1 - Tipos básicos de arranjo físico .................................................................................................... 1079.10.2 - Estudo do Fluxo .......................................................................................................................... 1119.10.3 - Inter-relações não baseadas no fluxo de materiais ...................................................................... 1169.10.4 - Alternativas de arranjo físico ...................................................................................................... 1189.10.5 - Escolha da concepção do arranjo físico....................................................................................... 1189.11 - Projeto Detalhado do Arranjo Físico.............................................................................................. 1209.11.1 - Dimensionamento de Áreas.......................................................................................................... 1219.12 - Apresentação do estudo.................................................................................................................. 125

Referências Bibliográficas.............................................................................................................................. 128

Page 5: ERGONOMIA

5

ERGONOMIACapítulo 1 - INTRODUÇÃO

1.1 - Introdução à Ergonomia

Segundo WISNER, Ergonomia é o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao

homem e necessários para a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos que possam ser

utilizados com o máximo de conforto, de segurança e de eficácia.

Para a Ergonomics Research Society (Inglaterra), Ergonomia é o estudo do relacionamento

entre o homem e o seu trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente a aplicação dos

conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos desse

relacionamento.

Simplificadamente I. IIDA define Ergonomia como sendo o estudo da adaptação do

trabalho ao homem.

Trabalho no conceito ergonômico é considerado toda a situação em que ocorre o

relacionamento entre o homem e uma atividade a ser realizada. Isso envolve não somente máquinas,

equipamentos e ambiente físico, mas também os aspectos organizacionais de como esse trabalho é

programado e controlado para produzir os resultados desejados.

A Ergonomia parte do conhecimento do homem para fazer o projeto do trabalho, ajustando-

o às capacidades e limitações humanas.

1.2 - Histórico

De forma intuitiva, já se pratica a Ergonomia desde que existe o homem. As primeiras

armas e ferramentas conhecidas já eram adaptadas às pessoas. Mas foi a partir deste século que a

ergonomia realmente experimentou seu desenvolvimento.

Depois da primeira guerra mundial criou-se, na Inglaterra, uma comissão para investigar

sinais de fadiga em trabalhadores de indústrias. Esta deve ter sido a primeira pesquisa científica

sobre os problemas do homem no seu trabalho. Durante a segunda guerra mundial, houve um rápido

desenvolvimento técnico na área militar, sendo criados e construídos equipamentos e dispositivos

cada vez mais complexos, exigindo reações rápidas e alto nível de estresse. Com isso, o

desempenho destes sistemas ficou bem abaixo do esperado, os equipamentos e dispositivos foram

sub-utilizados.

A conclusão imediata foi que era necessário conhecer mais sobre o homem, suas

qualidades, habilidades e sobretudo, suas limitações, para poder otimizar o sistema. Pela primeira

vez, houve uma conjugação sistemática de esforços entre a tecnologia e as ciências humanas.

Fisiologistas, psicólogos, antropólogos, médicos e engenheiros trabalharam juntos para resolver os

problemas causados pela operação de equipamentos militares complexos. Os resultados desse

esforço interdisciplinar foram tão gratificantes, que foram aproveitados pela indústria, no pós-

guerra.

O interesse nesse novo ramo de conhecimento cresceu rapidamente, em especial na Europa

e nos Estados Unidos. Assim, em 1949, foi fundada, em Oxford na Inglaterra, a Ergonomics

Page 6: ERGONOMIA

6

Research Society, uma sociedade de cientistas, cujo objeto de estudos e pesquisa era o homem e seu

trabalho. Criaram então Ergonomia, como ciência do trabalho, de caráter interdisciplinar. O termo

Ergonomia, de origem grega (Ergon - trabalho; nomos - lei, regra, teoria), contudo, já tinha sido

cunhado antes, na Polônia, no século XIX. Em 1961 foi criada a International Ergonomics

Association (IEA ). Atualmente, ela representa as associações de ergonomia de quarenta diferentes

países, com um total de 15 mil sócios (No Brasil, a Associação Brasileira de Ergonomia foi fundada

em 1983 e também é filiada a IEA).

1.3 - Objetivos da Ergonomia

Os objetivos básicos da Ergonomia são:

- humanizar o trabalho;

- aumentar a produtividade.

Dentro desta visão, a Ergonomia é uma ciência de apoio a projetistas, planejadores,

organizadores, administradores, em atividades de projetos e avaliações (SELL, 1995).

Para realizar seus objetivos, a Ergonomia estuda diversos aspectos do comportamento

humano no trabalho e suas relações com fatores importantes para o projeto de sistemas de trabalho.

Portanto o estudo ergonômico envolve:

- o homem: analisando suas características físicas, fisiológicas, psicológicas e sociais; influência do

sexo, idade, treinamento e motivação;

- a máquina entendendo-se como sendo todas as ajudas materiais que o homem utiliza no seu

trabalho, englobando os equipamentos, ferramentas, mobiliário e instalações;

- o ambiente: estuda as características do ambiente físico que envolve o homem durante o trabalho,

como a temperatura, ruídos, vibrações, luz, cores gases e outros;

- as informações: refere-se as comunicações existentes entre os elementos de um sistema, a

transmissão de informações, o processamento e a tomada de decisões;

- a organização: é a conjugação dos elementos acima citados no sistema produtivo;

- as conseqüências do trabalho: questões de controles como tarefas de inspeção, estudo dos erros e

acidentes, além dos estudos sobre gastos energéticos, fadiga e “stress”.

Todos esses aspectos fazem com que a prática ergonômica seja caracterizada por (SELL,

1995):

- utilização de dados científicos sobre o homem;

- origem multidisciplinar desses dados;

- aplicação dos mesmos sobre o dispositivo técnico, sobre a organização do trabalho e

sobre a formação;

- perspectivas de uso destes dispositivos técnicos pela população de trabalhadores

disponíveis, dispensando uma seleção severa.

Então os objetivos práticos da ergonomia são:

- a segurança;

Page 7: ERGONOMIA

7

- a satisfação;

- o bem estar dos trabalhadores no seu relacionamento com sistemas produtivos.

Diante disso, eficiência não é o objetivo principal da ergonomia, porque ela, isoladamente,

pode significar sacrifício e sofrimento para os trabalhadores, o que é inaceitável do ponto de vista

ergonômico. Deve-se considera isso tanto na concepção de um produto como em um processo,

principais campos de atuação da ergonomia.

1.4 - Modalidades de intervenção ergonômica

- Ergonomia de concepção;

- Ergonomia de correção;

- Ergonomia de mudança.

1.4.1 - Ergonomia de concepção

Ocorre quando a contribuição ergonômica se faz durante a fase inicial de projeto do

produto, do sistema ou do ambiente. Permite agir precocemente, o que normalmente torna a ação

mais eficaz e a um custo baixo. Exige porém, maior conhecimento e experiência por parte dos

ergonomistas, porque as decisões são tomadas em cima de decisões hipotéticas.

1.4.2 - Ergonomia de correção

É aplicada em situações reais, já existentes, para resolver problemas que se refletem na

segurança, na fadiga excessiva, em doenças do trabalhador e na quantidade e qualidade da

produção.

1.4.3 - Ergonomia de mudança

Aproveita para melhorar as condições de trabalho por ocasião de mudanças no sistema em

estudo.

1.5 - Abordagem interdisciplinar da ergonomia

Todo o conhecimento sobre o homem, ambiente, processos, máquinas, relações pessoais,

são fontes de informações preciosas para o ergonomista. Portanto, deve-se consultar:

- médicos do trabalho;

- analistas do trabalho;

- psicólogos;

- engenheiros;

- desenhistas industriais;

- engenheiros de segurança;

- engenheiros de manutenção;

Page 8: ERGONOMIA

8

- programadores de produção;

- administradores;

- compradores.

Alguns conhecimentos em ergonomia foram convertidos em normas oficiais, com o

objetivo de estimular a aplicação dos mesmos. Estas se encontram nas normas ISO (International

Standardization Organization), nas normas européias EN da CEN (Comité Européen de

Normalisation), bem como nas normas nacionais, por exemplo, na norma ANSI (EUA) e BSI

(Inglaterra). Além disso, há normas específicas de ergonomia que são aplicadas em certas empresas

e setores industriais. No Brasil, há a Norma Regulamentadora NR 17 - Ergonomia, Portaria no

3.214, de 8.6.1978 do Ministério do Trabalho, modificada pela Portaria no 3751 de 23.11.1990 do

Ministério do Trabalho).

Page 9: ERGONOMIA

9

ERGONOMIA

Capítulo 2 - ANÁLISE ERGONÔMICA DE SISTEMAS

2.1 - Introdução

O projeto de qualquer tipo de máquina, equipamento ou produto não é uma atividade

isolada, mas destina-se a desenvolver certas funções e habilidades que complementem aquelas do

ser humano.

Essa atividade de projeto deve ser feita a partir de uma visão ampla, considerando todos os

elementos que influirão no desempenho da máquina, dentro do ambiente em que a mesma deverá

operar. A qualidade desse desempenho estará diretamente relacionada com o grau de adaptação da

mesma ao operador, ao sistema produtivo, à organização da produção, e até à cultura técnica da

região ou do país.

Alguns defensores da moderna tecnologia consideram que as máquinas podem substituir

indiscriminadamente os homens, mas isso nem sempre é possível e muitas vezes não é econômico,

pois, se não forem tomados os devidos cuidados, podem provocar o aparecimento de diversos

problemas.

Neste capítulo, trata-se de forma sucinta de um sistema denominado Homem-Máquina.

2.2 - Conceito de Sistema

A palavra sistema é muito utilizada atualmente com diversos sentidos. No nosso caso será

adotado um conceito que vem da biologia: “sistema é um conjunto de elementos (ou subsistemas)

que interagem entre si, com um objetivo comum e que evoluem no tempo”. Um sistema é

composto dos seguintes elementos:

a) fronteiras - são os limites de um sistema. Podem ter uma existência física, como a membrana de

uma célula ou parede de uma fábrica, ou ser apenas uma delimitação imaginária para efeito de

estudo, como a fronteira de uma posto de trabalho;

b) subsistemas - são os elementos que compõem o sistema;

c) entradas (inputs) - representam os insumos ou variáveis independentes do sistema.

d) saídas (outputs) - representam os produtos ou variáveis dependentes do sistema

e) processamento - são as atividades desenvolvidas pelos subsistemas que interagem entre si para

converter as entradas em saídas.

Um exemplo de sistema poderia ser uma fábrica onde entra matéria-prima (entrada) que

após uma série de transformações (processamento) em diversas operações (subsistemas) resulta no

produto final (saída). As fronteiras desse sistema coincidem com as paredes da própria fábrica. Se

desejarmos estudar uma operação em particular, por exemplo, a solda, podemos restringir o sistema,

colocando a fronteira em torno da operação. Assim, esse novo sistema seria composto dos

subsistemas: soldador e aparelho de solda. As entradas desse novo sistema seriam as peças a serem

soldadas e as saídas, as peças já soldadas. O processamento seria representado pela operação de

Page 10: ERGONOMIA

10

soldagem. Inversamente, se desejarmos estudar mais amplamente as atividades da fábrica, podemos

ampliar a fronteira do sistema a ser considerado, por exemplo, incluindo dentro da fronteira as

operações de transporte para a entrada de materiais e as operações de distribuição dos produtos para

a saída de materiais.

Figura 2.1 - Exemplo de um sistema produtivo. Qualquer parte desse sistema constitui um

subsistema.

(Itiro Iida, 1990)

2.3 - Sistema Homem-Máquina

O desenvolvimento das atividades em um processo estarão sempre dependentes da atuação

de um Sistema Integrado Homem-Máquina, que deverão funcionar harmoniosamente. Este sistema

é uma sucessão de informações que estimulam os sentidos, levando a decisões que resultam em

ações que, por sua vez, determinam novos estímulos, numa contínua realimentação.

Page 11: ERGONOMIA

11

Figura 2.2 - Representação esquemática das interações entre os elementos de um sistema homem-

máquina.

A figura anterior é uma representação esquemática das interações de um sistema homen-

máquina. O funcionamento desse sistema pode ser descrito sucintamente da seguinte forma. O

homem, para agir, precisa das informações que são fornecidas pela máquina, pelo estado ou

situação do trabalho, pelo ambiente e pelas instruções de trabalho. Essas informações chegam

através dos órgãos sensoriais, principalmente a visão, audição, tato e movimentos das juntas do

corpo através do senso cinestésico (que fornece informações sobre movimentos de partes do corpo,

sem exigir um acompanhamento visual), e são processadas no sistema nervoso central (cérebro e

medula espinhal), gerando uma decisão. Esta se converte em movimentos musculares, que agem

sobre a máquina por meio dos dispositivos de controle.

Um bom exemplo de um sistema homem-máquina é o sistema homem-automóvel. O

homem recebe informações do automóvel através dos instrumentos, ruído do motor e outros. O

campo de trabalho é constituído pela rua ou estrada, que também fornece diversas informações ao

homem. As informações sobre o ambiente são representadas pela paisagem, sinalização das

estradas, temperatura, iluminação externa e outras. Além disso, o homem pode receber instruções

do trajeto que deve executar, a velocidade máxima permitida, e assim por diante. Com todas essas

informações, ele dirige o automóvel atuando nos dispositivos de controle representados pelos

pedais, volante, câmbio, botões e outros comandos. Finalmente, a saída ou resultado do sistema é o

deslocamento do automóvel.

2.4 - Características dos Sistemas

Page 12: ERGONOMIA

12

2.4.1 - Sistemas abertos: sistemas em que depois de acionados por um usuário, este não mantém

mais controle sobre os mesmos. Ex: o arremesso de uma bola.

2.4.2 - Sistemas fechados: sistemas que possuem mecanismos de realimentação que permitem

introduzir correções para compensar desvios de origens diversas. São também conhecidos como

servosistemas ( sistemas de controle automático). Ex: um míssil.

Nos sistemas abertos há a necessidade de intervenções externas para se corrigir o

desempenho. Em sistemas fechados há mecanismos de auto-correção.

Os seres vivos geralmente são servosistemas. Os servosistemas possuem uma propriedade

denominada homeóstase, o que lhes permite modificar ou adaptar seu comportamento em vista de

eventos imprevistos. São capazes de manter um certo equilíbrio, eliminando a influência de fatores

estranhos. Ex: o controle da temperatura interno do corpo humano.

Os servosistemas possuem desempenho superior aos sistemas abertos. Suas características

podem ser introduzidas em sistemas organizacionais e em máquinas para a obtenção de melhoria de

desempenho. O que restringe o uso é o custo elevado que, dependendo da situação, pode não ser

viável economicamente.

O sistema homem-máquina pode ter características de um servosistema, desde que a máquina seja

projetada de modo a fornecer, continuamente, informações sobre seu desempenho, ao homem, e

tenha condições de reagir as ações humanas de controle.

2.4.3 Considerações sobre a otimização de sistemas

Em linguagem matemática, a solução ótima de um problema é aquela que maximiza ou

minimiza a função objetivo, dentro das restrições impostas a esse problema. Isso significa que a

solução ótima não existe de forma absoluta, mas para certos critérios (função objetivo) definidos,

tais como produção, lucros, custos ou acidentes.

Quando a solução ótima refere-se a um subsistema, corresponde a uma solução subótima

para o sistema maior, e esse fato merece uma certa atenção, conforme comenta-se a seguir.

Normalmente, o projeto de um sistema é dividido em partes, cada uma sob responsabilidade

de uma equipe. Se cada equipe procurar otimizar a sua parte, serão produzidas diversas soluções

subótimas. Entretanto quando essas soluções subótimas forem conjugadas entre si, dentro do

sistema global, não significa necessariamente que a solução global seja ótima. Fazendo uma

analogia, vamos supor que um carro seja projetado por duas equipes, uma fazendo o motor e outra o

chassi. A primeira pode ter desenvolvido um motor excepcional, com 200 HP de potência.

Entretanto, a segunda equipe desenvolveu um chassi que suporta somente 100 HP. Se o motor for

instalado, além de não haver um aproveitamento integral de sua potência, provavelmente criará

diversos problemas de transmissão, suspensão e outras partes, porque ela é uma solução subótima.

No caso, seria melhor um motor mais modesto, mas cuja potência fosse integralmente aproveitada.

Provavelmente isso teria acontecido, se uma única equipe tivesse desenvolvido o carro

integralmente, ou se, antes de começar o projeto, as especificações de cada parte tivessem sido

cuidadosamente definidas, em função do desempenho global do projeto.

Page 13: ERGONOMIA

13

A subotmização ocorre freqüentemente devido à consideração errônea das fronteiras do

sistema. Ou seja, a solução ótima é procurada dentro de um espaço limitado, inferior ao do sistema,

ou sobre julgamentos errados sobre a verdadeira fronteira do sistema. A fronteira nem sempre está

ligada à área física. Pode referir-se, por exemplo, aos aspectos organizacionais da produção ou ao

relacionamento humano entre os membros da equipe.

As subotimizações tendem a aumentar em grandes projetos, em que cada parte é entregue

para ser executada por diferentes equipes ou diferentes empresas. Nesse caso, só as especificações

bem elaboradas e a coordenação das atividades para que as mesmas sejam obedecidas, pode garantir

a otimização global do projeto.

Portanto, para se garantir a otimização global em grandes projetos, é necessário haver uma

organização e coordenação eficiente dos diversos subsistemas para se obter um bom desempenho

do sistema como um todo.

2.4.4 - Confiabilidade de Sistemas

Para os propósitos deste estudo considera-se confiabilidade de um sistema como sendo a

probabilidade deste obter um desempenho bem sucedido. Assim se a confiabilidade de uma

máquina for de 0,956 significa dizer que em 1.000 peças produzidas, 956 estariam dentro dos

padrões recomendados.

A confiabilidade de um sistema depende:

� do número de componentes ou de subsistemas;

� da confiabilidade de cada subsistema;

� das ligações entre os subsistemas que podem ser em série, paralelo ou mistas.

Confiabilidade de sistemas com ligações em série: Com ligações em série, o sistema só funciona

se todos os subsistemas funcionarem. A confiabilidade para esses sistemas pode ser expressa como:

Onde: Rss = R1 x R2 x .....x Rn

- Rss - confiabilidade de um sistema com ligações em série

- Rn - confiabilidade do subsistema n - n - número de

subsistemas

Confiabilidade de sistemas com ligações em paralelo - sistemas com ligações em paralelo

possuem mais de um subsistema para realizar a mesma função, ou seja, o sistema pode continuar

funcionando se um desses subsistemas parar. A confiabilidade pode ser expressa como:

Rsp = 1 – [(1 - R1) x (1 - R1) x .... x (1 - Rn)]

Onde:

- Rsp - confiabilidade de um sistema com ligações em paralelo

- Rn - confiabilidade do subsistema n

- n - número de subsistemas

Confiabilidade para sistemas com ligações mistas: esses sistemas apresentam tanto ligações em

série como em paralelo. A confiabilidade pode ser expressa como:

Rsm = Rss x Rsp

Page 14: ERGONOMIA

14

Onde:

- Rsm - confiabilidade de um sistema misto

- Rss - confiabilidade dos subsistemas ligados em série

- Rsp - confiabilidade dos subsistemas ligados em paralelo

2.5 - Homem versus Máquina

No sistema Homem-Máquina, ambos os componentes atuam tanto como processadores de

dados como controladores do processo, sendo superiores um ao outro em situações específicas. Para

o projeto de um sistema envolvendo homens e máquinas, caberá ao projetista decidir que funções

serão alocadas às máquinas e quais as que ficarão a cargo do operador humano. Em função disso

torna-se importante conhecer as características individuais de cada elemento, procurando identificar

suas vantagens e desvantagens.

2.5.1 - O homem se distingue por:

a. ter capacidade de decidir, julgando e resolvendo situações imprevistas;

b. ser capaz de resolver situações não codificadas, isto é, não se restringe ao previsível;

c. não requer programação, desenvolvendo seus próprios programas, à medida que se fazem

necessários;

d. ser sensível a extensa variedade de estímulos;

e. perceber modelos e generalizar a partir destes;

f. guardar grande quantidade de informações por longo período e recordar fatos relevantes em

momentos apropriados;

g. aplicar originalidade na resolução de problemas: soluções alternativas;

h. aproveitar experiências anteriores;

i. executar manipulações delicadas, quando da ocorrência de eventos inesperados

j. agir mesmo sob sobrecarga;

l. raciocinar indutivamente.

2.5.2 - A máquina se distingue por:

a. não estar sujeita á fadiga nem a fatores emocionais;

b. executar operações rotineiras, repetitivas ou muito precisas com maior confiabilidade, pois

podem ser programadas;

c. selecionar muito mais rapidamente as informações e os dados necessários;

d. memorizar, com exatidão, muito maior número de dados;

e. exercer uma grande quantidade de força regularmente e com precisão;

f. executar computações complexas rapidamente e com exatidão;

g. ser sensível a estímulos além da faixa de sensibilidade do homem (infravermelho, ondas de rádio,

etc.);

h. executar simultaneamente diversas atividades;

i. ser insensível a fatores estranhos;

Page 15: ERGONOMIA

15

j. repetir operações rápidas, contínuas, e precisamente da mesma maneira, sob longo período de

tempo;

l. operar em ambientes hostis ou até mesmo inóspitos ao homem.

Evidentemente a decisão de alocar funções para homens e máquinas não é simples, pois a

máquina ainda não é capaz de executar bem certas funções e, além disso, na empresa deve-se

considerar sempre o aspecto econômico.

Nos casos de operações perigosas em ambientes hostis ao homem, como o excesso de calor,

ruídos, poeiras, radiações, gases tóxicos, perigos de quedas, incêndios e explosões, as considerações

sobre segurança podem suplantar aquelas puramente econômicas e, então, a decisão a favor da

máquina parece ser evidente.

Em outros casos, pode ser que não hajam razões evidentes para se optar pelo homem ou

pela máquina, e, então, pode ser desejável estabelecer alguns critérios para alocação de funções

entre homem e máquina. Não existem critérios rígidos ou que sejam válidos em quaisquer

circunstâncias. O que existe são recomendações gerais de características operacionais em que o

desempenho do homem pode ser melhor que o das máquinas e vice-versa. De qualquer forma, essas

recomendações são válidas apenas como uma primeira aproximação, para uma definição inicial do

pré-projeto do sistema homem-máquina. Na prática muitas adaptações poderão ser necessárias.

Como orientação geral pode-se considerar que o homem tem a característica da

flexibilidade, mas não se pode esperar dele um desempenho de forma consistente (constante,

uniforme) enquanto a máquina tem a característica da consistência, contudo, sem flexibilidade.

2.6 Problemas de automação

Existe uma forte tendência, especialmente entre os projetistas que não tiveram formação em

ergonomia, de considerar a automação uma coisa boa, que deva ser adotada sem restrições, sempre

que possível. Entretanto, foram identificados pelo menos três problemas que resultam de

automações indiscriminadas, principalmente na operação de modernas aeronaves.

1) A automação não produz resultados imediatos. Há uma fase de instalação e ajuste do sistema,

que pode durar um longo tempo e durante o qual pode haver sobrecarga dos operadores e

aumento do risco de acidentes e até o descrédito do sistema.

2) A automação aumenta as necessidades de treinamento, principalmente quando o sistema

manual subsiste em paralelo e o operador precisa estar habilitado a usar os dois sistemas.

3) O operador fica menos ativo, e isso pode reduzir o seu nível de atenção, sendo incapaz de reagir

com presteza numa situação de emergência, quando é solicitado a reassumir os controles.

Para superar esses problemas, a filosofia de projeto que tem sido adotada modernamente é a da

alocação dinâmica, pela qual o próprio operador tem a capacidade de decidir se usa o processo

automático ou manual. Por exemplo, em aeronaves e navios existem pilotos automáticos que

podem ser ligados quando os mesmos atingem a velocidade de “cruzeiro”, e desligados, passando

ao comando manual nas partidas e chegadas. Existem ainda sistemas mais sofisticados, em que o

operador pode passar parte de suas funções para o controle automático assim que se sentir

sobrecarregado. Outros sistemas em desenvolvimento procuram antecipar essa sobrecarga através

Page 16: ERGONOMIA

16

de alguns sinais biológicos, como o ritmo cardíaco e as ondas cerebrais do piloto para, depois de um

certo limite, a própria máquina ir assumindo o comando para aliviar a sobrecarga do operador.

Pode-se chamar isso de uma alocação dinâmica em que o poder de decisão estaria com a máquina, e

não com o piloto.

Page 17: ERGONOMIA

17

ERGONOMIA

Capítulo 3 - BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

3.1 - Introdução

No estudo da biomecânica, as leis físicas da mecânica são aplicadas ao corpo humano.

A biomecânica ocupacional estuda as interações entre o trabalho e o homem sob o ponto de

vista dos movimentos músculo-esqueletais envolvidos, e as suas conseqüências. Analisa

basicamente a questão das posturas corporais no trabalho e a aplicação de forças.

Muitos produtos e postos de trabalho inadequados provocam tensões musculares, dores e

fadiga que, em certos casos, podem ser resolvidas com providências simples, como o aumento ou a

redução da altura da mesa ou da cadeira. Há situações em que a solução não é tão simples, por

envolver um conflito fundamental entre as necessidades humanas e as necessidades do trabalho.

Contudo, muitas vezes é possível encontrar soluções de compromisso, que embora não se

configurem em uma situação ideal de trabalho, pelo menos reduzem as exigências humanas ao nível

tolerável.

3.2 - O Trabalho Muscular

Os músculos são responsáveis por todos os movimentos do corpo. São eles que

transformam a energia química armazenada no corpo em contrações musculares, gerando assim

movimentos.

Os músculos do corpo humano classificam-se em três tipos: estriados ou esqueléticos, lisos

e do coração. Desses três tipos, os músculos estriados ou esqueléticos são aqueles que estão sob

controle consciente do homem, e é através deles que o organismo realiza trabalhos externos.

Portanto, apenas o estudo destes é de interesse para a ergonomia.

No interior dos músculos existem inúmeros vasos sangüíneos muito finos, cujos diâmetros

são da ordem de grandeza de um glóbulo vermelho (0,007 mm), chamados capilares. São através

dos capilares que o sangue transporta oxigênio até os músculos e retira os subprodutos do

metabolismo.

Quando um músculo está contraído, há um aumento de pressão interna, o que provoca um

estrangulamento dos capilares. Se esta contração atingir 60% da contração máxima do músculo o

sangue deixa de circular nos mesmos. Se a contração ficar entre 15 e 20% da contração máxima, o

sangue circula normalmente.

Um músculo sem circulação sangüínea se fadiga rapidamente, não sendo possível mantê-lo

contraído por mais de 1 ou 2 minutos. Se ao invés de manter o músculo contraído, ele for contraído

e relaxado alternadamente, o próprio músculo funciona como uma bomba sangüínea, ativando a

circulação nos capilares, fazendo com que o volume de sangue em circulação aumente em até 20

vezes, em relação à situação de repouso. Isso significa dizer que o músculo passa a receber mais

oxigênio, aumentando a sua resistência contra a fadiga.

Page 18: ERGONOMIA

18

Essas duas formas diferentes de solicitação muscular (contração contínua e contração

alternada) são utilizadas para classificar o trabalho muscular em duas formas distintas:

a) trabalho muscular estático: é aquele que exige contração contínua de alguns músculos, para

manter uma determinada posição. Ocorre, por exemplo, com os músculos dorsais e das pernas para

manter a posição de pé, músculos dos ombros e do pescoço para manter a cabeça inclinada para

frente, músculos da mão esquerda segurando a peça para martelar com a mão direita, entre outros.

O trabalho estático é altamente fatigante e, sempre que possível, deve ser evitado. Quando isso não

for possível, pode ser aliviado, permitindo mudanças de posturas, melhorando o posicionamento de

peças e ferramentas ou providenciando apoios para partes do corpo com o objetivo de reduzir as

contrações estáticas dos músculos. Também devem ser concedidas pausas de curta duração, mas

com elevada freqüência, para permitir relaxamento muscular e alívio da fadiga.

b) trabalho muscular dinâmico: é aquele que permite contrações e relaxamentos alternados dos

músculos, como na tarefa de martelar, serrar, girar um volante ou caminhar.

Figura 2.1 - O músculo opera em condições desfavoráveis de irrigação sangüínea

durante o trabalho estático, com a demanda superando o suprimento, enquanto há equilíbrio entre a

demanda e o suprimento durante o repouso e o trabalho dinâmico.

3.3 - Posturas

Posturas e movimentos têm grande importância na ergonomia. Tanto no trabalho como na

vida cotidiana, eles são determinados pelas tarefas e pelo posto de trabalho.

Para assumir uma postura ou realizar um movimento, são acionados diversos músculos,

ligamentos e articulações do corpo. Os músculos fornecem a força necessária para o corpo adotar

uma postura ou realizar um movimento. Os ligamentos desempenham uma função auxiliar. As

articulações permitem os deslocamentos de partes do corpo em relação as outras.

Posturas ou movimentos inadequados produzem tensões mecânicas nos músculos,

ligamentos e articulações, resultando em dores no pescoço, costas, ombros, punhos e outras partes

do sistema músculo-esquelético.

Page 19: ERGONOMIA

19

Alguns movimentos além de produzirem tensões mecânicas nos músculos e articulações,

apresentam um gasto energético que exige muito dos músculos, coração e pulmões.

3.3.1 - Posturas do Corpo

Trabalhando ou repousando, o corpo assume três posições básicas: deitada, sentada e de pé.

Em cada uma dessas posturas estão envolvidos esforços musculares para manter a posição relativa

de partes do corpo, que se distribuem da seguinte forma:

a) posição deitada: na posição deitada não há concentração de tensão em nenhuma parte do corpo.

O sangue flui livremente para todas as partes do corpo, contribuindo para eliminar os resíduos do

metabolismo e as toxinas dos músculos, provocadores da fadiga. O consumo energético assume o

valor mínimo, aproximando-se do metabolismo basal. É a posição mais recomendada para repouso

e recuperação da fadiga.

b) posição sentada: a posição sentada exige atividade muscular do dorso e do ventre para manter

esta posição. Praticamente todo o peso do corpo é suportado pela pele que cobre o osso ísquio, nas

nádegas. O consumo de energia é de 3 a 10% maior em relação à posição horizontal. A postura

ligeiramente inclinada para frente é mais natural e menos fatigante que aquela ereta. O assento

deve permitir mudanças freqüentes de postura, para retardar o aparecimento da fadiga.

c) posição de pé: a posição parada, em pé, é altamente fatigante porque exige muito trabalho

estático da musculatura envolvida para manter essa posição. O coração encontra maiores

resistências para bombear sangue para os extremos do corpo. As pessoas que executam trabalhos

dinâmicos em pé, geralmente apresentam menos fadiga que aquelas que permanecem estáticas ou

com pouca movimentação.

A posição sentada, em relação à posição de pé, apresenta ainda a vantagem de liberar os

braços e pés para tarefas produtivas, permitindo grande mobilidade desses membros e, além disso,

tem um ponto de referência relativamente fixo no assento. Na posição em pé, além da dificuldade

de usar os próprios pés para o trabalho, freqüentemente necessita-se do apoio das mãos e braços

para manter a postura e fica mais difícil manter um ponto de referência.

Muitas vezes, projetos inadequados de máquinas, assentos ou bancadas de trabalho obrigam

o trabalhador a usar posturas inadequadas. Se estas forem mantidas por um longo período de tempo,

podem provocar fortes dores localizadas naquele conjunto de músculos solicitados na conservação

dessas posturas, conforme pode ser visto na tabela abaixo.

Tabela 2.1 (IIDA) - Localização das dores no corpo, provocadas por posturas

inadequadas.

Postura Risco de dores

Em pé Pés e pernas (varizes)

Sentado sem encosto Músculos extensores do dorso

Assento muito alto Parte inferior das pernas, joelhos e pés

Assento muito baixo Dorso e pescoço

Braços esticados Ombros e braços

Pegas inadequadas em ferramentas Antebraços

Page 20: ERGONOMIA

20

d) inclinação da cabeça para frente: muitas vezes é necessário inclinar a cabeça para frente para

se ter uma melhor visão, como nos casos de pequenas montagens, inspeção de peças com pequenos

defeitos ou leitura difícil. Essas necessidades geralmente ocorrem quando: o assento é muito alto; a

mesa é muito baixa; a cadeira está longe do trabalho que deve ser fixado visualmente; há uma

necessidade específica, como no caso do microscópio. Essa postura provoca fadiga rápida nos

músculos do pescoço e do ombro, devido, principalmente, ao momento (no sentido da Física)

provocado pela cabeça, que tem um peso relativamente elevado (4 a 5 kgf).

As dores no pescoço começam a aparecer quando a inclinação da cabeça, em relação à

vertical, for maior que 30° (ver fig. 2.2, IIDA). Nesse caso, deve-se tomar providências para

restabelecer a postura vertical da cabeça, de preferência com até 20° de inclinação, fazendo-se

ajustes na altura da cadeira, mesa ou localização da peça. Se isso não for possível, o trabalho deve

ser programado de modo que a cabeça seja inclinada durante o menor tempo possível e seja

intercalado com pausas para relaxamento, com a cabeça voltando a sua posição vertical.

Figura 2.2 - Tempos médios para aparecimento de dores no pescoço, de acordo com a

inclinação da cabeça para frente (IDA, 1990).

3.3.2 - Registro da postura

Na prática durante uma jornada de trabalho, um trabalhador pode assumir centenas de

posturas diferentes. Em cada tipo de postura, um diferente conjunto da musculatura é acionado.

Muitas vezes, no comando de uma máquina, por exemplo, pode haver mudanças rápidas de uma

postura para outra. Entre as maiores dificuldades em analisar e corrigir más posturas no trabalho

está a identificação e registro das mesmas. Uma simples observação visual não é suficiente para se

analisar essas posturas detalhadamente. A descrição verbal não é prática, pois torna-se muito

prolixa e de difícil análise. Técnicas fotográficas também são falhas, porque fazem apenas registros

instantâneos sem dar informação da duração da postura e das forças envolvidas. Por esse motivo,

foram desenvolvidas técnicas para registro e análise de postura.

a) OWAS - Ovako Working Posture Analysing System: é um sistema prático de registro de

posturas proposto por três pesquisadores finlandeses (Karhu, Kansi e Kuorinka, 1977), que

trabalhavam em uma indústria siderúrgica. Através de análises fotográficas das principais posturas

encontradas na indústria pesada, encontraram 72 posturas típicas, que resultaram de diferentes

Page 21: ERGONOMIA

21

combinações das posições do dorso (4 posições típicas), braços (3 posições típicas) e pernas (7

posições típicas). Foi feita uma avaliação das diversas posturas quanto ao desconforto. Para isso foi

usado um manequim que podia ser colocado nas diversas posturas estudadas. Um grupo de 32

trabalhadores experientes fazia avaliações quanto ao desconforto de cada postura. Com base nas

avaliações as posturas foram classificadas nas seguintes categorias:

Classe 1 - postura normal, que dispensa cuidados, a não ser em casos excepcionais;

Classe 2 - postura que deve ser verificada durante a próxima revisão rotineira;

Classe 3 - postura que deve merecer atenção a curto prazo;

Classe 4 - postura que deve merecer atenção imediata.

A figura 2.3 mostra as posturas típicas do dorso, braços e pernas e um exemplo de como

codificar uma postura pelo sistema OWAS.

Figura 2.3 - Sistema OWAS para o registro da postura, cada postura é descrita por um

código de três dígitos, representando posições do dorso, braços e pernas, respectivamente.

b) Diagrama de Corlett e Manenica (1980): este diagrama divide o corpo humano em diversos

segmentos e com isso facilita a localização de áreas dolorosas após uma jornada de trabalho. O

diagrama está mostrado na figura 2.4:

Page 22: ERGONOMIA

22

Fig. 2.4 - Diagrama para indicar partes do corpo onde se localizam as dores provocadas por

problemas de postura (Corlett e Manenica, 1980) - retirado do Itiro Iida.

Tendo-se em mãos o diagrama adota-se o seguinte procedimento:

10) Ao final de um período de trabalho, entrevista-se os trabalhadores pedindo para apontarem as

regiões onde sentem dores;

20) A seguir pede-se para os mesmos avaliarem o grau de desconforto que sentem em cada um dos

segmentos indicados no diagrama. O índice de desconforto é classificado em 8 níveis: nível “0”

para extremamente confortável; nível “7” para extremamente desconfortável.

30) Identificar máquinas, equipamentos e locais de trabalho que apresentam maior gravidade, ou

seja, acima do terceiro nível e que merecem atenção imediata.

40) Dirigir os esforços para os pontos prioritários.

3.3.3 - Recomendações para melhorar as tarefas e os postos de trabalho

a) As articulações devem ocupar uma posição neutra

Para manter uma postura ou realizar um movimento, as articulações devem ser

conservadas, tanto quanto possível, na sua posição neutra. Nesta posição, os músculos e ligamentos

que se estendem entre as articulações são esticados o menos possível, ou seja, são tensionados ao

mínimo. Além disso, os músculos são capazes de liberar a força máxima, quando as articulações

estão na posição neutra. Exemplos de más posturas, onde as articulações não estão em posição

neutra: braços erguidos, perna levantada, cabeça abaixada e tronco inclinado.

b) Conserve pesos próximos ao corpo

Quanto mais o peso estiver afastado do corpo, mais os braços serão tensionados e o corpo

penderá para frente. Ao afastar-se a carga do corpo, aumenta-se o braço de alavanca e, em

conseqüência, o momento realizado por essa carga sobre o corpo. Isso além de solicitar mais as

articulações, aumenta as tensões sobre elas e os músculos e ainda desestabiliza o corpo.

c) Evite curvar-se para frente

Page 23: ERGONOMIA

23

A parte superior do corpo de um adulto, acima da cintura, pesa 40 kgf, em média. Quando

o tronco pende para frente, há contração dos músculos e dos ligamentos das costas para manter essa

posição. A tensão é maior na parte inferior do tronco, onde surgem dores.

d) Evite inclinar a cabeça

Não se deve esquecer que a cabeça de um adulto pesa de 4 a 5 kgf.

e) Evite torções do tronco

Posturas torcidas do tronco causam tensões indesejáveis nas vértebras. Os discos elásticos

que existem entre as vértebras são tensionados, e as articulações e músculos que existem nos dois

lados da coluna vertebral são submetidos a cargas assimétricas, que são prejudiciais.

d) Evite movimentos bruscos que produzem picos de tensão

Movimentos bruscos podem produzir alta tensão, de curta duração. Esse pico de tensão

resulta da aceleração do movimento. O levantamento de força deve ser feito gradualmente. É

necessário pré-aquecer a musculatura antes de fazer uma grande força. Os movimentos devem ter

um ritmo suave e contínuo.

e) Alterne posturas e movimentos

Nenhuma postura ou movimento repetitivo deve ser mantido por um longo período.

Posturas prolongadas e movimentos repetitivos são muito desgastantes, provocam fadiga muscular

localizada, gerando desconforto e queda do desempenho.

f) Restrinja a duração do esforço muscular contínuo

Quanto maior o esforço muscular, menor se torna o tempo suportável. A maioria das

pessoas não consegue manter o esforço muscular máximo além de alguns segundos. Com 50% do

esforço muscular máximo, o tempo suportável é de aproximadamente dois minutos.

g) Previna a exaustão muscular

A exaustão muscular deve ser evitada porque, se isso ocorrer, há uma demora de vários

minutos para a recuperação.

h) Pausas curtas e freqüentes são melhores

A fadiga muscular pode ser reduzida com diversas pausas curtas distribuídas ao longo da

jornada de trabalho. Isso é melhor que as pausas longas concedidas ao final da tarefa ou ao fim da

jornada.

3.4 - Movimentos

As forças humanas são resultados de contrações musculares. Algumas forças dependem de

apenas alguns músculos, enquanto outras exigem uma contração coordenada de diversos músculos,

principalmente se envolver combinações complexas de movimentos, como tração e rotação

simultâneas.

Características dos movimentos

Para fazer um determinado movimento, diversas combinações de contrações musculares

podem ser utilizadas, cada uma delas tendo diferentes características de velocidade, precisão e

Page 24: ERGONOMIA

24

movimento. Portanto, conforme a combinação de músculos que participem de um movimento, este

pode ter características e custos energéticos diferentes. Um operador experiente se fadiga menos

porque aprende a usar aquela combinação mais eficiente em cada caso, economizando as suas

energias.

- Força - Para grandes esforços deve-se usar, de preferência, a musculatura das pernas, que são

mais resistentes. Além disso, sempre se deve usar a gravidade e a quantidade de movimento (massa

x velocidade) a seu favor. Por exemplo, para suspender um peso de uma altura para outra, é

preferível usar uma roldana e exercer a força para baixo, pois assim se estará usando o peso do

próprio corpo para ajudar a suspender.

- Precisão - os movimentos de maior precisão são realizados com a ponta dos dedos. Se

envolvermos sucessivamente os movimentos do punho, cotovelo e ombro, aumentaremos a força,

com prejuízo da precisão. Isso pode ser observado em operações manuais altamente repetitivas.

Quando os dedos fatigam-se, há uma tendência de substituí-los pelos movimentos do punho,

cotovelo e ombros, com progressiva perda da precisão.

- Ritmo - os movimentos devem ser suaves, curvos e rítmicos. Acelerações ou desacelerações

bruscas, ou rápidas mudanças de direção são fatigantes, porque exigem maiores contrações

musculares.

Movimentos retos - o corpo, sendo constituído de alavancas que se movem em torno de

articulações, tem uma tendência natural para executar movimentos curvos. Portanto, os

movimentos retos são mais difíceis e imprecisos, pois exigem uma complexa integração de

movimentos de diversas juntas.

Terminações - os movimentos que exigem posicionamento precisos, com acompanhamento visual,

são difíceis e demorados. Sempre que possível esses movimentos devem ser terminados com um

posicionamento mecânico, como no caso da mão batendo contra um anteparo, ou botões e alavancas

que têm posições discretas de paradas.

3.5 - Levantamento e transporte de cargas

O manuseio de cargas pesadas tem sido uma das mais freqüentes causas de trauma dos

trabalhadores.

É necessário conhecer a capacidade humana máxima para levantar e transportar cargas, para

que as tarefas e as máquinas sejam corretamente dimensionadas dentro desses limites.

Há duas situações a considerar no levantamento de cargas. A primeira está relacionada com

a capacidade muscular para levantar a carga. A segunda com a capacidade energética do

trabalhador e a fadiga física, fatores influenciados pela duração do trabalho.

Para isso deve-se analisar:

- Resistência da coluna: a musculatura das costas é a que mais sofre com o levantamento de

pesos. A coluna vertebral é composta de discos superpostos, fazendo com que tenha pouca

resistência a forças que não tenham a direção do seu eixo. Portanto a carga sobre a coluna vertebral

deve atuar no sentido vertical.

Page 25: ERGONOMIA

25

- Capacidade de carga: a determinação da capacidade vertical de carga repetitiva é feita da

seguinte forma:

1o) determina-se a máxima carga que uma pessoa consegue levantar, flexionando as pernas e

mantendo o dorso reto, na vertical. Isso é conhecido como “capacidade de carga isométrica das

costas”;

2o) determina-se a carga recomendada para movimentos repetitivos que é de 50% do valor da “carga

isométrica máxima”.

Observações:

- A capacidade de carga varia consideravelmente conforme se usem as musculaturas das pernas,

braços ou dorso.

- As mulheres possuem aproximadamente metade da força dos homens para o levantamento de

pesos

- A capacidade de carga é influenciada ainda: pela posição da carga em relação ao corpo;

dimensões da carga; facilidade de manuseio.

3.5.1 - Recomendações Para o Levantamento de Cargas

Restrinja o número de tarefas que envolvam a carga manual

Os sistemas de produção devem ser projetados para uso de equipamentos mecânicos, a fim de evitar

o trabalho manual de levantamento de pesos. Porém, na especificação desses equipamentos deve-se

tomar os seguintes cuidados:

- Com os problemas de postura e movimento impostos por esse tipo de equipamento;

- O processo de mecanização pode criar problemas como ruídos, vibrações, monotonia e redução

dos contatos sociais.

Crie condições favoráveis para o levantamento de pesos

Se o levantamento manual de pesos (até 23 Kg) for inevitável, é necessário criar condições

favoráveis para essa tarefa, tais como:

- Manter a carga próxima do corpo (distância horizontal entre a mão e o tornozelo de cerca de 25

cm);

- A carga deve estar sobre uma bancada de 75 cm de altura, aproximadamente, antes de começar

o levantamento;

- Deve ser possível levantar o peso com as duas mãos;

- A carga deve ser provida de alças ou furos para encaixe dos dedos;

- Deve possibilitar a escolha da postura para o levantamento;

- O tronco não deve ficar torcido durante o levantamento;

- A freqüência do levantamento não deve ser superior a um por minuto;

- A duração do levantamento não deve ser maior que uma hora, e deve ser seguida de um período

de descanso (ou tarefas mais leves) de 120 por cento da duração da tarefa de levantamento.

Page 26: ERGONOMIA

26

Limite o levantamento de peso para 23 Kg no máximo

Somente se satisfeitas as condições acima descritas, uma pessoa pode levantar 23 Kg. Nos casos

práticos, quando não existem todas essas condições, o limite deve ser reduzido de acordo com a

Equação de NIOSH.

Use a Equação de NIOSH para estimar a carga máxima

O National Institute for Occupacional Safety and Health (Estados Unidos) patrocinou o

desenvolvimento de um critério para o levantamento manual de cargas. Este Instituto estabelece

para uma situação qualquer de trabalho manual de levantamento de cargas, um Limite de Peso

Recomendado (LPR). O LPR representa, para a situação de trabalho sob análise, o valor de peso

que mais de 90% dos homens e mais de 75% das mulheres conseguem levantar sem lesão. Uma vez

calculado o LPR deve-se compará-lo com o valor real da carga a ser erguida. Essa comparação é

feita através do Índice de Levantamento obtido pela divisão da carga a ser erguida pelo valor do

LPR. Se o valor de IL calculado for menor que a unidade tem-se um baixo risco de ocorrer lesões,

estando o trabalhador em uma condição segura. Para IL acima da unidade, aumenta-se a propensão

de acidentes, e acima de 2,0 essa probabilidade é crescente.

Resumindo:

IL = P P – Carga a ser erguida

LPR LPR - Limite de Peso Recomendado

Se IL < 1 - Baixo risco de ocorrer lesões, condição segura;

Para IL ≥ 1 - A partir desse valor a condição de levantamento de carga deixa-se de ser segura com

aumento crescente do risco de lesões a medida que aumenta o valor de IL.

Escolha um valor adequado para a carga unitária

O valor da carga unitária deve ser escolhido cuidadosamente. Não deve superar o valor encontrado

pela Equação de NIOSH, mas também não deve ser muito leve, pois estimularia o carregador a

pegar diversas embalagens, simultaneamente, e assim superar o valor permitido. Além disso, são

preferíveis cargas unitárias maiores com menores freqüências, do que cargas menores e mais

freqüentes, desde que não superem os valores calculados pela equação de NIOSH.

Os objetos devem ter alças para as mãos

Os objetos a serem carregados devem ter duas alças ou furos laterais para o encaixe dos dedos. A

carga deve ser segura com as duas mãos. O agarramento deve ser feito com a palma das mãos. As

pegas devem ser arredondadas (sem ângulos cortantes) e posicionadas de modo a evitar que as

cargas girem quando forem erguidas.

A carga deve ter uma forma correta

O tamanho da carga deve ser pequeno o suficiente para que possa ser mantida junto ao corpo. O

volume não deve ter protuberâncias ou cantos cortantes nem deve ser muito quente ou frio, a ponto

de dificultar o contato.

Page 27: ERGONOMIA

27

No caso de cargas especiais, como gases e líquidos perigosos, é necessário planejar a operação e

tomar cuidados especiais com a segurança. Quando a carga é desconhecida para a pessoa que vai

carregá-la, é necessário colocar uma etiqueta, informando o peso e os cuidados necessários para a

manipulação da mesma.

Use técnicas corretas para o levantamento de pesos

- Mantenha a coluna reta;

- Use preferencialmente a musculatura das pernas;

- Mantenha a carga o mais próximo possível do corpo;

- Procure manter cargas simétricas, usando as duas mãos;

- A carga deve estar a 40 cm do piso. Se estiver abaixo o levantamento deve ser feito em

duas etapas: primeiro coloque-a em uma plataforma; depois erga em definitivo;

- Antes de levantar um peso remova todos os obstáculos que possam atrapalhar o

movimento.

3.5.2 - Equação de NIOSH - National Institute of Occupational Safety and Health

Para este instituto, se o levantamento manual de pesos (até 23 kgf) for inevitável, é

necessário criar condições favoráveis para essa tarefa seja realizada. As condições recomendadas

são:

- manter a carga próxima do corpo (distância horizontal entre a mão e o tornozelo de cerca de 25

cm);

- o deslocamento vertical do peso não deve exceder 25 cm;

- deve ser possível segurar o peso com as duas mãos;

- a carga deve ser provida de alças ou furos para encaixe dos dedos;

- deve possibilitar a escolha da postura para o levantamento;

- a freqüência do levantamento não deve ser superior a um levantamento por minuto;

- a duração da atividade de levantamento não deve ser maior que uma hora, e deve ser seguida de

um período de descanso (ou tarefas mais leves) de 120 por cento da duração da tarefa de

levantamento.

Somente nas condições acima descritas, uma pessoa pode levantar 23 kgf. Nos casos

práticos, quando não existem todas essas condições, o limite deve ser reduzido.

O instituto NIOSH desenvolveu uma equação para determinar a carga máxima em

condições desfavoráveis.

Essa equação considera seis variáveis:

- dificuldade de manuseio (M);

- distância horizontal entre a carga e o corpo (H) (referência do corpo – linha do tornozelo);

- distância vertical da carga ao piso (V);

- freqüência do levantamento (F);

- deslocamento vertical da carga (D);

- rotação do tronco (A).

Page 28: ERGONOMIA

28

A figura 2.5 mostra a referência para a determinação dos fatores H, V, D e A.

Figura 2.5 – Medidas utilizadas na determinação dos fatores corretores da Equação de NIOSH

Ela supõe que o trabalhador pode escolher a própria postura e que a carga é segura com as

duas mãos. Assim, a carga máxima de 23 kgf é multiplicada por seis coeficientes, que representam

as variáveis acima:

Carga máxima = 23 kgf x CM x CH x CV x CF x CD x CA

CM – fator corretor da carga devido à dificuldade de manuseio

CH – fator corretor em função da distância horizontal da carga ao corpo

CV – fator corretor em função da distância vertical da carga ao piso

CF – fator corretor da carga em função da freqüência do levantamento

CD – fator corretor da carga para o deslocamento

CA – fator corretor relacionado com a rotação do tronco

Os valores para os coeficientes podem ser obtidos através dos gráficos e tabela a seguir.

Page 29: ERGONOMIA

29

Figura 2.6 – Gráficos para determinação dos coeficientes CD e CA

Page 30: ERGONOMIA

30

Figura 2.7 – Gráficos para determinação dos coeficientes CH e CV

Tabela 2.2 - Valores do fator Freqüência de Levantamento

Até 8 hs Até 2 hs Até 1 hFreqüência de

Levantamento

(vezes/minuto)

Vc<75cm Vc≥75cm Vc<75cm Vc≥75cm Vc<75cm Vc≥75cm

0,2 0,85 0,85 0,95 0,95 1,00 1,00

0,5 0,81 0,81 0,92 0,92 0,97 0,97

1 0,75 0,75 0,88 0,88 0,94 0,94

2 0,65 0,65 0,84 0,84 0,91 0,91

3 0,55 0,55 0,79 0,79 0,88 0,88

4 0,45 0,45 0,72 0,72 0,84 0,84

5 0,35 0,35 0,6 0,6 0,8 0,8

6 0,27 0,27 0,5 0,5 0,75 0,75

7 0,22 0,22 0,42 0,42 0,7 0,7

8 0,18 0,18 0,35 0,35 0,6 0,6

9 0 0,15 0,3 0,3 0,52 0,52

10 0 0,13 0,26 0,26 0,45 0,45

11 0 0 0 0,23 0,41 0,41

12 0 0 0 0,21 0,37 0,37

Page 31: ERGONOMIA

31

13 0 0 0 0 0 0,34

14 0 0 0 0 0 0,31

15 0 0 0 0 0 0,28

16 0 0 0 0 0 0

Figura 2.8 – Gráficos para determinação dos coeficientes CF em função de V

(para valores de V ≥ 75 cm e V< 75 cm

Pode-se concluir a partir da equação, dos gráficos e da tabela 2.2 é que nas situações

comuns de trabalho, o peso que pode ser levantado é muito menor que 23 Kg. Observa-se que para

se obter 23 Kg, todos os 6 multiplicadores têm que ser iguais a 1,0. Em função disso só pode se

afirmar que somente uma pessoa pode levantar até 23 Kg quando a carga estiver próxima do corpo,

quando for pega a uma altura de 75 cm, quando for elevada apenas 30 cm entre a sua origem e o seu

destino, quando a qualidade da pega for boa, quando for pega simetricamente e quando a

freqüência de levantamento for menor que uma vez a cada 5 minutos. Se qualquer um dos seis

fatores citados for diferente da unidade então o limite de peso recomendado não será mais de 23 Kg,

mas bem menor.

Quanto mais desfavoráveis forem essas condições, os valores desses coeficientes se

afastarão do valor 1,0 tendendo a zero. O valor de CV cresce até a altura de 75 cm, porque esta é a

posição mais conveniente para começar a levantar cargas.

Page 32: ERGONOMIA

32

3.5.3 - Recomendações Para o Transporte de Cargas

Durante o transporte a coluna vertebral deve ser mantida o máximo possível da vertical.

Recomenda-se os seguintes procedimentos:

a) Manter a carga na vertical. O centro de gravidade da carga deve passar o mais próximo possível

pelo eixo longitudinal (vertical) do corpo.

b) Manter a carga próxima do corpo;

c) Usar cargas simétricas;

d) Usar meios auxiliares para o transporte;

e) Trabalhar em equipe.

Page 33: ERGONOMIA

33

ERGONOMIA

Capítulo 4 - ANTROPOMETRIA

4.1 - Introdução

A antropometria é o estudo das medidas do corpo humano. As medidas humanas são

importantes na determinação dos aspectos relacionados ao ambiente de trabalho e sua influência no

desempenho de atividades. O problema prático com o qual a antropometria mais se defronta

está relacionado às diferentes dimensões das pessoas.

As medidas das pessoas dependem de uma série de fatores:

a) Tempo: Em função do desenvolvimento das populações verifica-se através de levantamentos que

há um crescimento das medidas da população com o tempo. Essas mudanças podem ser

ocasionadas por:

- alterações nos hábitos alimentares;

- alterações nas condições de saúde;

- prática de esportes.

Já se observou crescimento de até 8 cm na estatura média dos homens em apenas uma

década.

b) Idade: Durante as diversas fases da vida, o corpo das pessoas sofre mudanças de forma e

proporções. O crescimento estabiliza para as mulheres aos 18 anos e para os homens aos 20 anos.

Após os 35 anos, as medidas de comprimento tendem a diminuir e proporções tais como entre a

cabeça e o corpo mudam. Essas mudanças resultam dos seguintes aspectos:

- Cada parte do corpo tem uma velocidade diferente de crescimento;

- As diferenças entre as velocidades de crescimento fazem com que as proporções entre as diversas

partes do corpo sejam diferentes;

- Há diferenças individuais pronunciadas nas taxas anuais de crescimento, ou seja, algumas pessoas

crescem mais rapidamente do que outras. Nem sempre as pessoas que crescem mais rapidamente

atingem uma estatura final maior;

- Devido ao processo de envelhecimento, que se inicia de forma pronunciada a partir dos 50 anos,

o organismo vai perdendo gradativamente sua capacidade funcional e a estatura começa a declinar.

Os homens perdem 3 cm até os 80 anos e as mulheres 2,5 cm.

c) Sexo: Homens e mulheres apresentam diferenças antropométricas não apenas em dimensões, mas

também em proporções. Levantamentos estatísticos mostram que os homens de maior estatura são

25% mais altos que as mulheres de menor estatura. As mulheres com a mesma estatura dos homens

costumam ser mais gordas.

d) Etnias: Diversos estudos antropométricos realizados durante várias décadas comprovam a

influência da etnia nas medidas antropométricas.

e) Alimentação: o crescimento da população é mais acentuado quando povos subalimentados

passam a consumir maior quantidade de proteínas.

f) Clima: habitantes de regiões com clima quente em geral possuem o corpo mais fino e membros

superiores e inferiores mais longos; habitantes de regiões de clima frio, têm corpo mais cheio, mais

Page 34: ERGONOMIA

34

volumoso e arredondado. Em outras palavras os povos de clima quente têm corpo onde predomina a

dimensão linear, enquanto os de clima frio tendem para formas esféricas;

4.2 - Padrões Internacionais de medidas antropométricas

Até bem pouco tempo existia a preocupação em estabelecer padrões de medidas nacionais.

Com a internacionalização da economia esta tendência mudou e passou-se a raciocinar em um

universo mais amplo. Hoje na produção de produtos deve-se considerar que os mesmos podem ser

utilizados em 50 países diferentes, o que envolve diferenças étnicas, culturais e sociais.

Em função disso, atualmente há a preocupação do estabelecimento de padrões mundiais de

medidas. Entretanto, com essa abrangência, não existem medidas antropométricas confiáveis. A

maioria das medidas disponíveis é de militares, e apresentam as seguintes limitações:

- envolvem somente medidas de homens;

- são medidas para uma faixa etária entre 18 e 30 anos;

- critérios utilizados na seleção militar (altura, peso, etc.).

4.3 - Realização das medidas antropométricas

Sempre que possível e economicamente justificável, as medidas devem ser realizadas

diretamente tomando-se uma amostra significativa das pessoas que serão usuárias e consumidoras

do objeto a ser projetado. Ex: no projeto de carteiras escolares as pesquisas deveriam ser realizadas

com estudantes; no dimensionamento de cabinas de ônibus as pesquisas deveriam envolver os

motoristas de ônibus.

A execução das medidas compreende:

- definição dos objetivos; - definição das medidas;

- escolha dos métodos de medida; - seleção da amostra;

- execução das medições; - apresentação e análise dos resultados.

4.3.1 - Definição dos objetivos

A definição dos objetivos visa determinar onde e para quê serão utilizadas as medidas

antropométricas. A partir da definição dos objetivos das medidas, outras decisões serão tomadas e

que vão influir no modo como serão feitas as medidas. São decisões tais como:

- uso de antropometria estática, dinâmica ou funcional;

- variáveis a serem medidas;

- detalhamento ou precisão com que essas medidas serão realizadas.

Antropometria estática: é aquela que se refere ao corpo parado ou com poucos movimentos; é

aplicada a objetos sem partes móveis ou com pouco movimento;

Antropometria dinâmica: mede os alcances dos movimentos; os movimentos de cada uma das

partes do corpo são medidos mantendo-se o resto do corpo estático;

Antropometria funcional : na prática observa-se que cada parte do corpo não se move

isoladamente, mas há uma conjugação de diversos movimentos para executar uma dada função. A

Page 35: ERGONOMIA

35

antropometria funcional baseia-se em medidas obtidas pela observação do corpo como um todo

executando tarefas específicas.

4.3.2 - Definição das medidas

A definição das medidas envolve a descrição dos dois pontos entre os quais estas serão

tomadas. Uma descrição mais detalhada deve conter:

- a postura do corpo; - os instrumentos antropométricos a serem utilizados;

- técnica de medida a ser utilizada; - outras condições (com roupa, sem roupa, calçado, etc).

Em geral, cada medida a ser efetuada deve especificar claramente a sua localização, direção

e postura, conforme indicado a seguir:

localização: indica o ponto do corpo que é medido a partir de uma outra referência (piso, assento,

superfície vertical ou outro ponto do corpo);

direção: indica, por exemplo, se o comprimento do braço é medido na horizontal, vertical ou outra

posição;

postura: indica a posição do corpo (sentado, de pé ereto, relaxado).

Exemplo de definição precisa de uma medida antropométrica:

- Medida do comprimento ombro-cotovelo: medir a distância vertical entre o ombro,

acima da articulação do úmero com a escápula, até a parte inferior do cotovelo direito, usando um

antropômetro, com a pessoa sentada com o braço pendendo ao lado do corpo e o antebraço

estendendo-se horizontalmente.

4.3.3 - Escolha dos métodos de medida

Os métodos antropométricos de medidas classificam-se em diretos e indiretos.

Métodos diretos: envolvem leituras com instrumentos que entram em contato físico com o

organismo. São os casos de réguas, trenas, fitas métricas, esquadros, paquímetros, transferidores,

balanças, dinamômetros e outros instrumentos semelhantes.

Métodos indiretos: geralmente envolvem fotos do corpo ou partes dele contra uma malha

quadriculada. Uma variante dessa técnica é a de traçar o contorno da sombra projetada sobre um

anteparo transparente ou translúcido.

4.3.4 - Seleção da amostra

A amostra de sujeitos a serem medidos, deve ser representativa do universo onde serão

apresentados os resultados. Nessa escolha devem ser determinadas:

- as características biológicas ou inatas (sexo, biótipo e deficiências físicas);

- as características adquiridas pelo treinamento ou pela experiência no trabalho (profissão, esportes,

nível de renda e outros).

O tamanho da amostra (quantidade de sujeitos a serem medidos) varia de acordo com a

variabilidade da medida e da precisão que se deseja, e pode ser calculado estatisticamente. As

medidas adotadas pelas forças armadas nos EUA, por exemplo, são geralmente baseadas em

Page 36: ERGONOMIA

36

amostras de 3 a 5 mil sujeitos. Entretanto para a maioria das aplicações em ergonomia, em que não

se exigem graus de confiança superiores a 90 ou 95%, amostras de 30 a 50 sujeitos são suficientes.

4.3.5 - Medições

Para realizar as medidas torna-se conveniente:

- elaborar um roteiro para a tomada de medidas;

- confeccionar formulários e desenhos apropriados para suas anotações;

- realizar um treinamento prévio das pessoas que executarão as medidas, que compreenda:

� conhecimentos básicos de anatomia humana; � reconhecimento de postura;

� identificação dos pontos de medida; � uso correto de instrumentos de

medida;

� realização de um teste piloto.

O treinamento aplica-se principalmente para grandes amostras, onde muitos medidores

estarão envolvidos durante meses de trabalho.

4.3.6 – Apresentação e análise dos resultados

Geralmente os dados antropométricos para uso do projetista são apresentados na

forma gráfica ou na forma tabular. As tabelas costumam classificar os dados de acordo com o sexo

e por percentis.

Percentis indicam a porcentagem de indivíduos da população que possuem uma medida

antropométrica de um certo tamanho ou menor que este. A utilização de percentis é uma forma de

dividir uma distribuição normal desde o valor mínimo até o máximo, segundo uma seqüência

ordenada. Os percentis extremos, sejam máximos ou mínimos, apresentam pequena probabilidade

de incidência. Exemplo: O percentil 5 significa que 5% das pessoas do levantamento

antropométrico considerado têm medidas inferiores ou iguais às deste percentil, e que o restante

(95% das pessoas) têm medidas superiores as deste percentil.

Ao trabalhar com percentis deve-se considerar que:

- os percentis antropométricos, relacionados a uma medida, referem-se somente a ela;

- não existe o indivíduo cujas medidas pertençam a um único percentil.

Em outras palavras, um indivíduo que tenha a estatura no percentil 50, pode apresentar a

altura do joelho no percentil 40 e o valor para o comprimento da mão no percentil 60.

As medidas antropométricas geralmente seguem uma distribuição normal ou de Gauss. Esta

distribuição é representada por dois parâmetros: a média e o desvio padrão. Tendo-se o desvio

padrão da distribuição pode-

se calcular o intervalo de confiança para os percentis desejados, multiplicando-os pelos seguintes

coeficientes:

Tabela 4.1 - Coeficientes para cálculo do intervalo de confiança dos percentis desejados (NETO,

1977) PERCENTIS COEFICIENTE10,0 - 90,0 1,2825,0 - 95,0 1,6452,5 - 97,5 1,9601,0 - 99,0 2,3260,5 - 99,5 2,576

Page 37: ERGONOMIA

37

Exemplo: Considerando uma estatura média da população de 169,7 cm e desvio padrão de 7,5 cm,

qual o intervalo de medidas para a população para os percentis de 5% e 95%?

- Hm = 169,7 cm

- Altura para o percentil de 5%⇒ H5%= 169,7 - 7,5 x 1,645= 157,4 cm

- Altura para o percentil de 95%⇒ H95%= 169,7 + 7,5 x 1,645= 182 cm

- Conclusão: o universo do qual a amostra foi retirada, há uma possibilidade de 5% da população ter

estatura abaixo de 157,4 cm e de 5% acima de 182 cm. Em outras palavras, 90% da população

possui altura entre 157,4 cm e 182 cm.

4.4 - Uso de dados antropométricos

Naturalmente é mais rápido e mais econômico usar dados antropométricos já disponíveis na

bibliografia, do que fazer levantamentos antropométricos próprios. Mas antes de se utilizar este tipo

de solução, deve-se verificar certos fatores que influem nos resultados das medidas, tais como:

a) o país onde foram tomadas as medidas − há diferenças étnicas das medidas antropométricas,

principalmente nas proporções dos diferentes segmentos corporais;

b) tipo de atividade exercida pelas pessoas que foram medidas − deve-se tomar cuidado quando

as medidas se referem às forças armadas, devido ao critério de seleção e a faixa etária desses

elementos, que os diferenciam da população em geral:

c) faixa etária − as medidas variam continuamente com a idade;

d) época − as medidas antropométricas dos povos evoluem com o tempo;

e) condições especiais − referem-se às condições em que as medidas foram tomadas, se vestidas,

nuas, seminuas, com sapatos, descalças e assim por diante.

4.5 - Princípios para aplicação dos dados antropométricos

As medidas antropométricas geralmente são representadas pela média e desvio padrão. A média

corresponde simplesmente à média aritmética dessas medidas encontradas numa certa amostra de

pessoas. O desvio padrão representa o grau de variabilidade dessa medida dentro da amostra

escolhida. Esses parâmetros podem ser aplicados ao projeto da seguinte forma:1o Princípio - Projeto para o tipo médio: existem certos tipos de problemas cujos projetos podemser bem resolvidos, considerando a média dos valores antropométricos observados. Por exemplo,um banco de jardim feito para uma pessoa média vai causar menos incômodo para o público geral,do que aconteceria para um anão ou um gigante.

2o Princípio - Projeto para indivíduos extremos: existem certas circunstâncias nas quaisequipamentos feitos para pessoas médias não são satisfatórios. Por exemplo, se dimensionássemosuma saída de emergência para a pessoa média, no caso de um acidente, simplesmente 50% napopulação não conseguiria sair. Analogamente, construindo um painel de controle a uma distânciatal que o homem médio pudesse alcançar convenientemente, se dificultaria o acesso das pessoas

Page 38: ERGONOMIA

38

abaixo da média para operar o painel. Da mesma forma construindo uma escrivaninha embaixo daqual houvesse espaço para uma perna média, estaríamos causando graves incômodos às pessoascom pernas maiores que a média, se elas conseguissem sentar.

Assim, se existir algum fator limitativo no projeto (no sentido de que as pessoas acima ouabaixo de uma dada dimensão não estariam bem acomodadas), deve-se empregar como critério deprojeto aquele em que consiste em acomodar os casos extremos, o maior ou o menor, dependendodo fator limitativo do equipamento. Como, de um modo geral, não sabemos quais são as dimensõesdos usuários, devemos projetar o equipamento para acomodar uma grande porcentagem dapopulação, geralmente 95% dos casos e sabendo de antemão que não servirá para as poucas pessoasde um dos extremos.

Para utilizarmos esse princípio, é necessário saber qual será a variável limitadora. Porexemplo, se considerarmos o painel de controle, a variável limitadora é o comprimento de alcancedo braço. Assim, se quisermos englobar 95% da população, a distância ao painel não pode ser maiordo que 95% do comprimento dos braços.

A maioria dos produtos é dimensionada para acomodar até 95% da população, por umaquestão econômica. Acima disso, teríamos que aumentar muito o tamanho dos objetos, paraacomodar, relativamente, uma pequena faixa adicional da população.

3o Princípio - Projetos para faixas da população − alguns equipamentos podem ter certas medidasajustáveis para se acomodar melhor seus usuários. São por exemplo, os casos do assento doautomóvel, cadeiras de secretárias, ou cintos com furos. Esses equipamentos normalmente cobrem afaixa de 5 a 95% da população, porque, em geral, os problemas técnicos e econômicos envolvidospara abranger 100% da população, não compensam. Enquadra-se também nesse critério certosprodutos que apresentam tamanhos discretos, como numeração de roupas e calçados.

4o Princípio - Projeto para o indivíduo − utilizado no caso de produtos projetados especificamentepara um indivíduo. É o caso de aparelhos ortopédicos, roupas sob medidas ou pessoas que tenham opé maior que o tamanho 44 e que precisam encomendar os seus sapatos. Isso proporciona melhoradaptação entre o produto e o seu usuário, mas também é mais oneroso, do ponto de vista industrial,sendo aplicado só em casos de extrema necessidade, ou quando as conseqüências de uma falhapodem ser tão elevadas que as considerações de custo passam a ser de menor relevância. Sãoexemplos as roupas de astronautas e os carros de Fórmula 1.

Considerações sobre a aplicação dos critériosQuanto mais padronizado for o produto, menores são os seus custos de produção e de

estoques, o que significa dizer que é mais econômico aplicar o primeiro e/ou o segundo princípio.No caso em que há predominância de homens ou de mulheres, deve-se adotar, de

preferências as medidas do sexo predominante.

4.6 - Antropometria: aplicações

4.6.1. - Espaço de trabalho

Espaço de trabalho é um espaço imaginário, necessário para o organismo realizar os

movimentos requeridos por um trabalho.

Page 39: ERGONOMIA

39

Embora certos trabalhos exijam muitos deslocamentos de todo o corpo, na maioria das

ocupações da vida moderna as atividades são desempenhadas em espaços relativamente pequenos,

com o trabalhador em pé ou sentado, realizando movimentos maiores com os membros do que com

o corpo.

De uma forma geral, os seguintes fatores deverão ser considerados no dimensionamento do

espaço de trabalho:

a) Postura: fator que mais influi no dimensionamento do espaço de trabalho. Trabalhos que

exijam movimentos corporais mais amplos, deve-se fazer registros de antropometria dinâmica.

b) Tipo de atividade manual: Influencia nos limites do espaço de trabalho. Trabalhos que exijam

ações de agarramento com o centro das mãos, como no caso de alavancas ou registros, devem ficar

mais próximas do operador do que as tarefas que exijam a atuação apenas das pontas dos dedos,

como pressionar um botão.

c) Vestuário: O vestuário pode tanto aumentar o volume ocupado pelas pessoas, como limitar os

seus movimentos, portanto deve ser considerado ao se dimensionar o espaço de trabalho.

4.6.2. - Superfícies horizontais

As superfícies horizontais despertam um interesse particular em ergonomia, pois sobre elas

se realiza grande parte dos trabalhos de montagem, inspeção, serviços de escritório, entre outros.

a) Alcance sobre a mesa

A área de alcance ótimo sobre a mesa pode ser traçada, girando-se os antebraços em torno

dos cotovelos com os braços caídos normalmente. Estes descreverão um arco com raio de 35 a 45

cm. A parte central, situada em frente ao corpo, formada pela interseção dos dois arcos, será a área

ótima para se usar as duas mãos.

A área de alcance máximo é obtida fazendo-se girar os braços estendidos em torno do

ombro.

A faixa situada entre o alcance máximo e a área ótima deve ser usada para a colocação de

peças a serem usadas para tarefas menos freqüentes ou de menor precisão (como montagem, por

exemplo). Tarefas com muita freqüência e com exigência de precisão devem ser executadas na área

ótima.

Page 40: ERGONOMIA

40

Figura 4.1 - Áreas de alcances ótimo e máximo sobre a mesa, para a posição sentada

(Grandjean,1983)

b) Altura da mesa para trabalho sentado

As variáveis que influem na altura da mesa, para trabalho sentado são:

- a altura do cotovelo; - altura dos olhos;

- tipo de trabalho a ser executado.

Quando o trabalhador está sentado, a altura do cotovelo e dos olhos depende da altura do

assento. A altura do assento pode ser dimensionada usando-se a altura poplítea (parte inferior da

coxa). Somando a altura do assento (obtida pela altura poplítea) com a altura do cotovelo acima do

assento, se obtêm uma primeira aproximação para a altura da mesa.

A altura final da superfície de trabalho será definida pelo compromisso entre a melhor

altura para as mãos e a melhor posição para os olhos, que acaba determinando a postura da cabeça e

do tronco.

A altura correta das mãos e do foco visual depende da tarefa dimensões corporais e

preferências individuais. Muitas tarefas exigem acompanhamento visual dos movimentos manuais.

Em princípio uma superfície baixa é melhor, porque os braços não precisam ser erguidos e,

nesta posição é mais fácil aplicar forças. Por outro lado, as superfícies mais altas permitem uma

melhor visualização do trabalho, sem necessidade de curvar-se para frente.

Como orientação geral sugere-se as seguintes recomendações para a altura da superfície de

trabalho, considerando-se três situações de uso dos olhos e mãos:

Tabela 4.2 - Recomendações para a altura da superfície de trabalho para três situações de uso dos

olhos, mãos e braços para a posição sentada e em pé

Tipo de tarefa Altura da superfície de trabalho

Page 41: ERGONOMIA

41

Uso dos olhos: muito

Uso das mãos e braços: pouco

10 a 30 cm abaixo da altura dos olhos

Uso dos olhos: muito

Uso das mãos e braços: muito

0 a 15 cm acima da altura do cotovelo

Uso dos olhos: pouco

Uso das mãos e braços: muito

0 a 30 cm abaixo da altura do

cotovelo

Deve-se considerar ainda que:

- As mãos e o foco visual nem sempre estão na superfície da mesa ou da bancada. É necessário

considerar a altura ou espessura das peças, ferramentas ou acessórios em uso. Ex: no uso de

teclados, deve-se considerar que sua superfície de trabalho, situa-se 3 cm (medida no ponto médio)

acima da superfície da mesa.

- No caso de manipulação de peças de diferentes alturas, deve-se prever um faixa maior de ajuste

para a superfície de trabalho. De preferência, esse ajuste de altura deve ser facilmente regulável, a

partir da posição sentada.

Se a altura da superfície de trabalho não for ajustável, como no caso de máquinas, é melhor

dimensioná-la para o usuário mais alto. A altura do assento, então, é regulada para essa superfície.

Para os usuários mais baixos, deve ser providenciado um apoio para os pés, que não seja uma

simples barra, mas uma superfície ligeiramente inclinada, para permitir mudanças de postura. Esse

tipo de apoio também pode ser providenciado para trabalhos em escritórios, para facilitar a

mudança de postura durante a jornada, contribuindo para a redução da fadiga.

c) Altura da bancada para trabalho em pé

A altura da bancada para trabalho em pé depende:

- da altura do cotovelo, com a pessoa em pé;

- tipo de trabalho a ser executado.

Para trabalhos normais a altura da mesa deve ficar entre 5 a 10 cm abaixo da altura dos

cotovelos. Para trabalhos que exigem precisão deve-se usar uma superfície ligeiramente mais alta,

cerca de 5 cm acima da altura do cotovelo. Quando o trabalho é grosseiro, exigindo pressão e força,

deve-se usar superfícies mais baixas, até 30 cm abaixo da altura do cotovelo. Quando as medidas

antropométricas utilizadas, foram tomadas com o pé descalço, é necessário acrescentar 2 ou 3 cm,

referente a altura do solado.

Bancadas com altura fixa devem ser dimensionadas para o homem mais alto, prevendo-se

estrados para os homens mais baixos.

No caso de manipulação de objetos que tenham uma determinada altura, esta deve ser

descontada.

Page 42: ERGONOMIA

42

4.6.3. - Assento

Muitas pessoas na vida moderna chegam a passar mais de 20 horas nas posições sentada ou

deitada. Diz-se até que a espécie humana, homo-sapiens, já deixou de ser um animal ereto, homo

erectus, para se transformar no animal sentado, homo sedens.

Daí justifica-se o grande interesse da ergonomia pelos assentos. Análises de posturas são

encontradas desde 1743, quando ANDRY , “pai dos ortopedistas”, fez diversas recomendações para

corrigir posturas, na sua obra Orthopedia. As más posturas causam fadiga, dores lombares e

cãibras que, se não forem corrigidas, podem provocar anormalidades permanentes na coluna.

a) Suporte para o peso do tronco

Na posição sentada, o corpo entra em contato com o assento, praticamente só através da

estrutura óssea. Esse contato é feito por dois ossos de forma arredondada, situados na bacia,

chamados de tuberosidades isquiáticas. As tuberosidades são cobertas apenas por uma fina camada

de tecido muscular e uma pele grossa, adequada para suportar grandes pressões. Em apenas 25 cm2

de superfície da pele sob essas tuberosidades concentram-se 75% do peso total do corpo sentado.

Figura 4.2 - Estrutura dos ossos da bacia e tuberosidades isquiáticas

Atualmente as características recomendadas para assentos são: estofado, pouco espesso,

colocado sobre uma base rígida que não afunde com o peso do corpo. Essas características ajudam

a distribuir a pressão, além de proporcionar maior estabilidade ao corpo, contribuindo para a

redução do desconforto e da fadiga.

O material usado para revestir o assento deve ter característica anti-derrapante e ter

capacidade de dissipar o calor e umidade gerados pelo corpo, não sendo recomendados, plásticos

lisos e impermeáveis.

b) Princípios gerais sobre os assentos

Os princípios gerais sobre os assentos são derivados de diversos estudos anatômicos,

fisiológicos e clínicos dos movimentos de postura sentada, e estabelecem os principais pontos a

serem verificados no projeto e seleção de assentos. São eles:

1. Existe um assento mais adequado para cada tipo de função

Não existe um tipo ideal de assento para todas as ocasiões, mas aquele adequado para cada

tipo de tarefa. Logo o assento deve ser escolhido de acordo com a atividade. Para tarefas

específicas podem ser utilizadas cadeiras com certas particularidades.

Cadeiras com braços, por exemplo, podem ser usadas desde que estes não atrapalhem. Os

braços ajudam a suportar o peso do tronco e dos membros superiores e auxiliam nas mudanças de

Page 43: ERGONOMIA

43

posturas e servem como apoio na hora de se levantar. Devem ser curtos para permitir que a cadeira

possa aproximar-se da mesa.

Cadeiras com “rodinhas” podem ser úteis quando a atividade, embora sentada, exige

movimentação com freqüência em pequenos espaços. Porém, “rodinhas” não devem ser utilizadas

em atividades que possuem operações com pedais, pois provocam instabilidade.

2. As dimensões do assento devem ser adequadas às dimensões antropométricas do usuário

No caso, a dimensão antropométrica crítica é a altura poplítea (da parte inferior da coxa à

sola do pé), que determina a altura do assento. Os assentos cujas alturas sejam superiores ou

inferiores à altura poplítea não permitem um assentamento firme das tuberosidades isquiáticas, para

transmitir o peso do corpo sobre o assento. Podem provocar pressões sobre as coxas, que são

anatômica e fisiologicamente inadequadas para suportar o peso do corpo.

Em função disso, recomenda-se que a altura do assento seja regulável. A regulagem deve

ser feita em movimentos contínuos e suaves.

A largura do assento deve ser adequada à largura torácica do usuário.

O comprimento deve ser tal que a borda do assento fique pelo menos 2 cm afastada da parte

interna da perna

.

3. O assento deve permitir variações de postura

As freqüentes variações de postura servem para aliviar as pressões sobre os discos

vertebrais e as tensões dos músculos dorsais de sustentação, reduzindo-se a fadiga. Formas que

permitem poucos movimentos relativos “não são recomendadas”.

Para postos de trabalho em que as pessoas ficam muitas horas sentadas é recomendado

colocar apoio para os pés, com duas ou três alturas diferentes, para facilitar as mudanças de

posturas. Outra possibilidade é fazer o encosto móvel, para que a pessoa possa reclinar-se para trás

, periodicamente, a fim de aliviar a fadiga.

4. O encosto deve ajudar no relaxamento

Em geral, o encosto não é usado de forma continua durante toda a jornada de trabalho, mas

apenas de tempos em tempos, para relaxar.

Para desempenhar bem sua função, é importante um bom desenho do perfil do encosto.

O encosto deve propiciar apoio para a região lombar, na altura do abdome (mais

precisamente entre a 2a e 5a vértebras lombares). Além disso, como uma pessoa sentada apresenta

uma protuberância para trás na altura das nádegas e a curvatura da coluna varia bastante de pessoa

para pessoa, é necessário um espaço vazio de 10 a 20 cm entre o assento e o encosto. O encosto

deve ter uma altura de 30 cm, somando-se a isto o espaço vazio (entre 10 e 20 cm), a altura total

oscila entre 40 e 50 cm.

5. Assento e mesa formam um conjunto integrado

Page 44: ERGONOMIA

44

A altura do assento deve ser estudada em função da altura da mesa, de modo que a

superfície da mesa fique aproximadamente na altura do cotovelo da pessoa sentada. Os braços da

cadeira devem ficar aproximadamente à mesma altura ou pouco abaixo da superfície de trabalho

para dar apoio aos cotovelos. Entre o assento e a mesa deve haver espaço para acomodar os

membros inferiores . Esse espaço é importante para permitir uma postura adequada. A largura

mínima desse espaço é de 60 cm. A profundidade deve ser de, pelo menos 40 cm na parte superior

e 100 cm na parte inferior. A dimensão maior junto aos pés justifica-se pela necessidade de esticar

as pernas para frente, para variar a postura. Para acomodar as coxas é necessária uma altura mínima

de 20 cm entre assento e parte inferior da mesa. Essas dimensões estão mostradas na figura 4.3.

Figura 4.3 - Espaços necessários entre mesa e assento

c) Dimensionamento de assentos

A figura a seguir apresenta as dimensões básicas recomendadas para assentos, considerando

as posturas: ereta e relaxada. As dimensões são apresentadas com uma faixa de variação, tanto para

acomodar as diferenças de medidas antropométricas dos usuários, como para se adaptar ao tipo de

tarefa que será executada. Essas duas posturas, ereta e relaxada, não apresentam fronteiras rígidas

pois as pessoas que trabalham em posição ereta, freqüentemente adotam também posturas relaxadas

e vice-versa.

Page 45: ERGONOMIA

45

Figura 4.4 - Dimensões básicas recomendadas para assentos nas posturas: ereta e relaxadaGrandjean e Hüting (1977) observaram 378 pessoas trabalhando em um escritório e

constataram que em apenas 33% dos casos as pessoas mantêm a postura ereta, ocupando toda a áreado assento. No resto do tempo, as pessoas se sentam na borda do assento, inclinando-se para frenteou para trás, com contínuas mudanças de postura. Essas mudanças de postura são ainda maisfreqüentes se o assento for desconfortável ou inadequado para o trabalho, chegando a haver 83mudanças de postura por hora (Grieco, 1986), portanto, mais de uma mudança por minuto.

Figura 4.5 - Diferentes posições no assento em uma amostra de 378 empregados de um escritório

(Grandjean e Hutinger, 1977)

4.7 - Resumo das recomendações sobre antropometria1 - Na escolha dos dados antropométricos o projetista deve verificar a definição exata das medidas(especialmente os pontos iniciais e terminais) e as características da população em que a amostra foibaseada.

Page 46: ERGONOMIA

46

2 - As dimensões antropométricas podem variar de acordo com as etnias e com a época, tanto pelaevolução da população, como pela mudança das pessoas que exercem certas funções na sociedade.3. - Há influências econômicas nas medidas antropométricas. Trabalhadores de baixa qualificaçãopodem ser até 10 cm mais baixos em relação aos de melhor renda.4. Projetos feitos no exterior nem sempre se adaptam aos brasileiros, e essa diferença tende a sermaior no caso de projetos baseados em medidas antropométricas de mulheres.5. No uso de dados antropométricos, o projetista deve verificar qual é a tolerância aceitável paraacomodar as diferentes dimensões encontradas na população de usuários, e providenciar os ajustesestáticos, dinâmicos e funcionais.6. Os objetos e os espaços de trabalho podem ser dimensionados para a média da população (50%)ou um de seus extremos (5% ou 95%).7. Os objetos e os espaços de trabalho devem permitir uma acomodação de pelo menos 90% dapopulação de usuários. A acomodação dos extremos, acima desse percentil, pode não sereconomicamente justificável.8. O dimensionamento do posto de trabalho está intimamente relacionado com a postura e nenhumdeles pode ser considerado separadamente um do outro.9. Na decisão sobre o trabalho sentado ou de pé, devem ser considerados:- a localização dos controles, componentes e atividades;- a intensidade e as direções das forças a serem exercidas;- a freqüência do trabalho de pé ou sentado;- o espaço para acomodar as pernas, quando sentado.10. A altura da superfície de trabalho em pé depende do tipo de trabalho executado. Para a posiçãosentada, a altura da mesa deve ser dimensionada de forma integrada com o assento.11. O projeto do assento deve considerar:- a relação entre a altura do assento e do trabalho;- facilidade de sentar-se e levantar-se;- estabilidade do assento;- pequenos acolchoamentos do assento e do encosto.12. O assento confortável permite variações de postura. Dificuldades de movimentar-secontribuem para aumentar a fadiga. Muitas vezes é possível projetar o posto de trabalho parapermitir o trabalho sentado e de pé, alternadamente.

Page 47: ERGONOMIA

47

ERGONOMIA

Capítulo 5 - POSTO DE TRABALHO

5.1 - Introdução

O posto de trabalho pode ser considerado como a menor unidade produtiva, geralmente

envolvendo um homem e o seu local de trabalho. Uma fábrica ou um escritório, por exemplo,

seriam formados de um conjunto de postos de trabalho. Fazendo uma analogia biológica, um posto

de trabalho seria equivalente a uma célula, onde o homem é o seu núcleo. Um conjunto dessas

células constitui o tecido e o órgão, que são equivalentes a departamentos, fábricas ou escritórios.

O bom funcionamento de uma fábrica depende do bom funcionamento de cada um de seus

postos de trabalho.

5.2 - Enfoque tradicional do posto de trabalho

O enfoque tradicional baseia-se no estudo dos movimentos corporais necessários para a

execução de um trabalho e na medida do tempo gasto em cada um desses movimentos.

A seqüência dos movimentos necessários para executar uma tarefa é baseada em uma série

de princípios de economia de movimentos, e o melhor método é escolhido pelo critério do menor

tempo gasto.

O desenvolvimento do melhor método é feito geralmente em laboratório de métodos, onde

os diversos dispositivos, materiais e ferramentas são colocados em posições mais convenientes,

baseados em critérios empíricos e experiências pessoais do analista de métodos.

Esse processo abrange três etapas:

1- Desenvolvimento do método preferido, que envolve:

a) definir os objetivos da operação;

b) descrever alternativas de métodos para alcançar os objetivos;

c) testar essas alternativas;

d) selecionar a melhor

2- Preparação do método padrão

O método escolhido é registrado para ser convertido em padrão

3- Determinação do tempo padrão

Fazendo-se uso do método padrão, determina-se o tempo necessário para um operário

experiente executar o trabalho usando o método padrão.

Hoje admite-se que os resultados obtidos usando-se o enfoque tradicional nem sempre são

os mais eficazes. Um dos aspectos mais questionados é que seu uso leva a produzir métodos cada

vez mais simples e repetitivos. A curto prazo pode ser eficiente, principalmente para trabalhadores

pouco qualificados. Porém, como tende a concentrar a carga de trabalho sobre determinados

Page 48: ERGONOMIA

48

movimentos musculares, com o decorrer do uso, produz excessiva fadiga localizada, além da

monotonia. Isso contribui para reduzir a motivação, resultando em absenteísmo, alta rotatividade e

até doenças ocupacionais.

Esses fatores podem ser tão fortes, a ponto de neutralizar as vantagens proporcionadas pela

racionalização do posto de trabalho, usando-se os princípios de economia dos movimentos.

5.3 - Enfoque ergonômico do posto de trabalho

O enfoque ergonômico tende a desenvolver postos de trabalho que:

- reduzam as exigências biomecânicas;

- coloquem o operador em uma boa postura de trabalho;

- localizem os objetos dentro dos alcances dos movimentos corporais;

- propiciem facilidade de percepção de informações.

Em outras palavras, para o enfoque ergonômico, o posto de trabalho deve envolver o

operador como uma “vestimenta” bem adaptada, em que ele possa realizar o trabalho com:

- segurança; - conforto; - eficiência.

Diversos critérios podem ser adotados para avaliar a adequação de um posto de trabalho.

Entre eles se incluem:

- o tempo gasto na operação; - índice de erros e acidentes.

Contudo, o melhor critério do ponto de vista ergonômico, é:

- a postura; - o esforço físico exigido dos trabalhadores.

A partir deles, pode-se determinar os principais pontos de concentração de tensões, que

tendem a provocar dores nos músculos e tendões.

Uma dor aguda, localizada, é o primeiro alerta de que algo não está indo bem. Em alguns

casos com o passar dos dias, há uma adaptação do organismo: os músculos se alongam e se

fortalecem, provocando redução gradativa das dores. Contudo, se essa dor continuar, ou aumentar,

indica que essa adaptação não se processou, o que pode provocar inflamação dos músculos ou dos

tendões. Se não forem adequadamente tratadas, podem resultar em lesões permanentes. Isso ocorre

sobretudo quando há solicitações muito intensas, ou muito freqüentes, ou quando a postura do corpo

é inadequada.

A ênfase deste capítulo é o projeto de postos de trabalho considerando o enfoque

ergonômico.

5.4 - Projeto do posto de trabalho

A configuração do posto de trabalho deve arranjar os subsistemas e elementos necessários ao

seu funcionamento de tal forma que:

- A tarefa possa ser executada da forma desejada;

- As condições de trabalho sejam adequadas as pessoas.

Para a configuração do posto de trabalho, é necessário projetar muitos objetos, cujas

características devem ser definidas de forma a contribuir para a humanização do trabalho.

Page 49: ERGONOMIA

49

A primeira etapa do projeto de um posto de trabalho é fazer uma análise detalhada da tarefa.

Uma tarefa pode ser definida como sendo um conjunto de ações humanas que torna possível um

sistema atingir o seu objetivo. É o que faz funcionar o sistema para se atingir o objetivo pretendido.

Para questões de projeto, a análise da tarefa deverá iniciar o mais cedo possível, antes que

certos parâmetros do sistema sejam definidos e se torne difícil ou oneroso introduzir modificações

corretivas. Por exemplo, quando as máquinas , acessórios, mesas e cadeiras já foram compradas,

torna-se praticamente impossível modificar esses elementos, e o projeto se restringirá ao arranjo dos

mesmos. Se a análise tivesse partido antes, provavelmente contribuiria para uma seleção mais

adequada desses elementos, adaptando-os às necessidades da tarefa e do operador, o que produziria

um sistema homem-máquina mais integrado.

A análise da tarefa realiza-se em dois níveis. O primeiro, chamado de descrição da tarefa,

em um nível mais global e, o segundo, chamado de descrições das ações, em um nível mais

detalhado.

5.4.1 - Descrição da tarefa

A descrição da tarefa abrange os aspectos gerais da tarefa, envolvendo os seguintes tópicos:

a) objetivo: para que serve a tarefa; o que será executado ou produzido; em que quantidade e com

que qualidade.

b) Operador: que tipo de pessoa trabalhará no posto; se haverá predominância de homens ou

mulheres; graus de instrução e treinamento; experiência anterior; faixas etárias; habilidades

pessoais; dimensões antropométricas.

c) características técnicas: quais as máquinas ou conjunto de máquinas e materiais envolvidos; o

que será comprado de fornecedores externos e o que será produzido internamente; flexibilidade e

graus de adaptação das máquinas, equipamentos e materiais.

d) Aplicações: onde será usado o posto de trabalho; localização do posto dentro do sistema

produtivo; uso isolado ou integrado a uma linha de produção; sistemas de transporte de materiais e

de manutenção; quantos postos idênticos serão produzidos; qual é a duração prevista da tarefa

(meses, anos ou unidades de peças a produzir).

e) Condições operacionais: como vai trabalhar o operador; tipos de postura (sentado, em pé);

esforços físicos e condições desconfortáveis; riscos de acidentes; uso de equipamentos de proteção

individual;

f) Condições organizacionais: como será a organização do trabalho e as condições sociais:

horários, turnos, trabalho em grupo, chefia, alimentação, remuneração, carreira.

Naturalmente dependendo do tipo de tarefa, a descrição não precisará abranger todos esses

itens, pois certas características podem ser bem conhecidas.

5.4.2 - Descrição das ações

As ações devem ser descritas em um nível mais detalhado que a tarefa. Elas se concentram

mais nas características que influem no projeto da interface homem-máquina e se classificam em

informações e controles.

Page 50: ERGONOMIA

50

As informações referem-se as interações no nível sensorial do homem e os controles no

nível motor ou das atividades musculares.

Informações: canal sensorial envolvido (auditivo, visual, cinestésico); tipos de sinais;

características do sinais (intensidade, forma, freqüência, duração); tipos e características dos

dispositivos de informação (luzes, som, mostradores).

Controle: tipo de movimento corporal exigido; membros envolvidos no movimento; alcances

manuais; características dos instrumentos de controle (botões, alavancas, volantes, pedais).

5.5 - Arranjo físico do posto de trabalho

O arranjo físico (layout) é o estudo da distribuição espacial ou do posicionamento relativo

dos diversos elementos que compõe o posto de trabalho. Esse arranjo normalmente é baseado nos

seguintes critérios:

Importância: colocar o elemento mais importante em posição de destaque no posto de trabalho, de

modo que ele possa ser continuamente observado ou facilmente manejado. No automóvel, por

exemplo, o velocímetro e o volante ocupam essas posições de destaque.

Freqüência de uso: os componentes usados com maior freqüência são colocados em posição de

destaque ou de mais fácil manipulação.

Agrupamento funcional: os elementos de funções semelhantes entre si formam subgrupos que são

mantidos em blocos. Por exemplo, num painel de comando todos os dispositivos visuais podem ser

colocados na parte central.

Figura 5.1 - Arranjo funcional, com agrupamento de elementos de mesma função ou funções semelhantes

entre si.

Seqüência de uso: quando há uma ordem de operação a ser seguida ou ligações temporais entre os

elementos, a posição relativa dos mesmos no espaço deve seguir a mesma seqüência da operação.

Ou seja, aquele que deve ser acionado primeiro aparece em primeira posição e assim

sucessivamente.

Page 51: ERGONOMIA

51

Figura 5.2 - Arranjo pela seqüência de uso (relações de natureza temporal entre os elementos).

Intensidade de fluxo: os elementos entre os quais ocorre maior intensidade de fluxo, são colocadospróximos entre si. O fluxo é representado por uma determinada variável que deve ser escolhida emcada caso, podendo ser de materiais, movimentos ou informações.

Figura 5.3 - Arranjo proposto para a localização dos instrumentos de controle de um avião,

baseado nas intensidade de fluxo dos movimentos visuais entre eles. Os números e as larguras dos

traços indicam intensidade de fluxo (McCormick, 1970)

Ligações preferenciais: os elementos entre os quais ocorrem determinados tipos de ligações são

colocados próximos entre si. Ao contrário do critério anterior, que se baseava na intensidade de um

único tipo de fluxo, aqui pode haver diferenças qualitativas no fluxo, por exemplo, movimentos de

controle, informações visuais e informações auditivas.

Page 52: ERGONOMIA

52

Figura 5.4 - Arranjo proposto para os elementos de um painel de controle, pela análise das

ligações preferenciais entre os mesmos.

Uso dos critérios: observa-se que os três primeiros critérios apresentados (importância, freqüência

de uso e agrupamento funcional) referem-se à natureza dos elementos, enquanto os demais

(seqüência de uso, intensidade de fluxo e ligações preferenciais) referem-se às interações entre os

mesmos. Esses critérios não são mutuamente exclusivos entre si, podendo ser aplicados de forma

conjugada. No caso, por exemplo, de elementos numerosos (acima de dez) pode-se fazer uma

análise inicial pelas ligações preferenciais ou pela intensidade de fluxo, para se obter uma idéia

inicial do arranjo, que pode ser posteriormente melhorado pelo uso de outros critérios, como o da

importância ou da freqüência de uso.

5.6 - Conceitos Básicos Relacionados ao Ser Humano e ao Arranjo Físico de Seu Local de

Trabalho

a) O ser humano necessita de espaço para trabalhar. O espaço mínimo necessário é determinado

por diversos fatores:

- Pela área necessária para a movimentação do próprio corpo;

- Pela área necessária para movimentação em volta da máquina/equipamento;

- Pela necessidade de segurança, para se evitar o choque do corpo contra partes do

equipamento ou do mobiliário;

- Para não se sentir constrito; é bem conhecido que todo o ser humano tem o seu espaço

pessoal, uma área em torno da qual não se deve ter ninguém.

b) No entanto, o ser humano necessita de uma certa proximidade com outras pessoas. Estudos

psicofísicos indicam que, se por um lado a excessiva proximidade com outras pessoas traz

desconforto, a distância excessiva também é desconfortável. É claro, existem pessoas que preferem

trabalhar sozinhas, que se concentram melhor nestas circunstâncias, mas para trabalhos de pouca

exigência intelectual beneficia-se com a presença de outras pessoas num raio além da área pessoal,

mas próxima o suficiente para que se converse em altura normal.

c) Trabalho mental não combina com ruído alto, nem com calor, nem com odores. As pessoas têm

grandes prejuízos em atividades intelectuais quando o ruído ambiente está acima do nível de

conforto.

Page 53: ERGONOMIA

53

d) Trabalho com empenho visual não combina com ambiente escuro e nem com reflexos nos olhos.

Nestas circunstâncias serão acionados os mecanismos de adaptação visual, que resultarão em

fadiga.

e) É desejável que exista uma certa flexibilidade na postura, porém movimentação excessiva gera

fadiga. Grandes distâncias cansam. Mesmo pequenas distâncias, mas percorridas muitas vezes

durante o dia, podem cansar e levar à fadiga.

f) As pessoas se beneficiarão da racionalidade na organização da tarefa, de modo a economizar

movimentos e energia para as atividades produtivas. Os preceitos da Engenharia de Métodos visam

garantir essa racionalidade, com a conseqüente menor fadiga no trabalho.

g) As pessoas não se adaptam bem a trabalharem sendo observadas pelas costas. A supervisão

pelas costas costuma ser acompanhada de ansiedade e tensão; o mesmo se aplica à supervisão

oculta (escuta de telefonemas). Estudos psicofísicos costumam evidenciar que nesses casos, além

da ansiedade, o pessoal costuma criar códigos próprios de sinalização uns para os outros quanto aos

movimentos da supervisão.

h) Trabalhos com empenho intelectual são prejudicados por movimentação excessiva em frente à

pessoa, ou por conversa excessiva. Muitas pessoas têm dificuldade de concentração quando há

movimento de pessoas próximas de si. O mesmo se aplica ao ruído, especialmente o da

conversação. Este é um problema que se verifica muito em escritórios projetados de acordo com

uma concepção baseada em espaços abertos. Deve-se garantir um mínimo de privacidade para que

essas pessoas possam se concentrar adequadamente.

5.7 - Regras Básicas de Ergonomia na Organização do Arranjo Físico (Layout)

a) Deve-se prever espaços mínimos compatíveis com as necessidades das pessoas, segundo o tipo

de serviço. Há necessidade de prever espaços adequados em corredores principais, em corredores

secundários, em escritórios e junto das máquinas no chão da fábrica. Junto de um máquina, deve

haver a previsão de pelo menos os seguintes espaços:

- Espaço para a própria máquina; - Espaços para os movimentos da máquina

(processo);

- Espaço para manutenção ao redor da máquina; - Espaço para a prancheta;

- Para o acesso da peça (por onde ela vai entrar e por onde vai sair);

- Para refugos; - Dispositivos;

- Acessórios da máquina; - Para matéria prima e produtos acabados;

- Para movimentação das peças; - Espaço para iluminação;

- Espaço para peças incomuns, que exigem trabalhados em etapas;

- Cadeira ou dispositivo para trabalhar tanto sentado como em pé;

- área para acesso do operador.

Page 54: ERGONOMIA

54

b) Deve-se evitar grandes distâncias entre as pessoas, mesmo que exista espaço sobrando. A

interação entre as pessoas é importante, para finalidades sociais, de comunicação e eventualmente

até de segurança. Isso não quer dizer que as pessoas não possam trabalhar isoladas, mas nesses

casos deve-se prever formas de quebra do isolamento como, por exemplo, pela utilização de meios

eletrônicos de comunicação.

c) Deve-se reduzir ao mínimo a movimentação das pessoas. Embora seja desejável a flexibilidade

na postura, movimentação em excesso equivale a desperdício de energia em atividades que não

incorporam valor ao produto e que cansam. as áreas utilizadas por diversas pessoas devem ser

localizadas em posição central na oficina, no galpão ou na área de escritório.

d) Deve-se ajustar ao máximo o posicionamento das pessoas de acordo com o seu grau de

interdependência no trabalho. É especialmente importante avaliar a necessidade de comunicação

entre as diversas operações para, em função disto, situá-las em posição que facilite esta condição.

e) A área de trabalho deve ser organizada de tal forma que o produto tenha um fluxo crescente ao

longo da mesma, em uma direção, evitando-se ao máximo o retorno do mesmo no contrafluxo. As

linhas de produção, conforme planejadas e desenvolvidas ao longo de décadas, têm esta premissa de

funcionamento. O layout do tipo célula de produção, mais recente, geralmente tem essa

característica como básica, funcionando sob a forma de “U”, de tal forma que os trabalhadores

percebam a peça a ser trabalhada no interior da célula.

f) Ao planejar o layout, onde irão trabalhar pessoas, deve-se ter em mente as dimensões mínimas

necessárias para caber adequadamente as pessoas. Trata-se de uma recomendação óbvia, mas

freqüentemente desconsiderada. Na dúvida quanto o valor a considerar, a regra é considerar um

valor compatível com os indivíduos extremos; deve-se atentar para a posição de colocação dos

comandos e para as áreas de alcance, bem como as alturas de superfícies horizontais e assentos.

g) Deve-se tomar todos os cuidados para evitar que o corpo humano atinja partes de máquinas ao se

movimentar, ou que partes móveis de máquinas atinjam o ser humano ao se movimentarem. Cabe

aqui um estudo detalhado de segurança de cada máquina e suas partes móveis, bem como de suas

partes salientes, deve-se chamar a atenção para o fato de que as partes que se projetam para próximo

do trabalhador devem ser arredondadas e de preferencia de materiais não muito duros.

h) Garantir que o trabalho intelectual seja feito longe de ruas movimentadas e de máquinas

produtoras de ruído. Deve-se tomar cuidado especial com as oficinas mecânicas próximas de

escritórios de projetos, e no caso de ruas movimentadas deve-se providenciar vidros duplos a vácuo

para garantir o isolamento acústico.

i) Garantir que atividades intelectuais estejam bem afastadas de fontes de calor e odor. Na

inexistência de ar condicionado, garantir que esta atividade seja feita em áreas bem ventiladas,

evitando por exemplo, escritórios imediatamente abaixo de telhados, especialmente se a telha for de

amianto; na existência de ar condicionado, garantir que o nível de ruído do mesmo seja adequado,

devendo-se dar preferência a aparelhos em que a unidade condensadora (a mais ruidosa) esteja

afastada do ambiente de trabalho.

j) Posicionar os postos de trabalho com alto empenho visual mais próximos da luz natural. Visa

atender à maior demanda de iluminação nestas circunstâncias.

Page 55: ERGONOMIA

55

k) Estudar a posição do sol e sua variação ao longo do dia, de tal forma que a luz direta não atinja

nenhum posto de trabalho. Todo o local onde trabalhem pessoas deve ser preservado da luz direta

do sol. No caso de impossibilidade de se evitar a entrada do sol, devem ser providenciadas

persianas.

l) Manter sempre as áreas industriais bem demarcadas, de forma a preservar a organização e

respeitar os limites estabelecidos. Essa medida contribui para o desenvolvimento de um senso de

organização e limpeza na área.

m) Situar a mesa da supervisão em posição tal que os subordinados possam ver o supervisor. Visa

fundamentalmente evitar a supervisão pelas costas.

5.8 - A importância do espaço pessoal no trabalho

As pesquisas psicológicas, especialmente de Eysenk, têm mostrado a importância de a

pessoa ter seu espaço pessoal, aquela espécie de “pequeno mundo”, ao qual somente a pessoa tenha

acesso: em casa a gaveta que ninguém mexe, onde parece tudo bagunçado mas que o dono sabe

onde está cada coisa, o respeito a inviolabilidade da correspondência pessoal, a conta bancária

individual com privacidade, a distância mínima entre uma pessoa e outra, entre outros exemplos.

A previsão de um espaço pessoal do trabalhador pode ser um dos fatores que diferenciam o

trabalho em uma empresa, fazendo com que o trabalhador sinta-se como em “sua casa”. É

importante então se garantir algum espaço pessoal para o trabalhador.

Mas o que seria esse espaço pessoal para o trabalhador na empresa?O primeiro tipo de espaço pessoal é o espaço propriamente dito: a pessoa deve ter um

local de trabalho, uma mesa só dela, pelo menos uma gaveta em que possa colocar alguns objetosde uso pessoal (pasta dental, escova de dentes, talão de cheques, extratos bancários, retratospessoais, etc); para as mulheres, é necessário prever algum local para guardar a bolsa (não existemulher sem bolsa); no caso de trabalhadores de fábrica, há que se ter pelo menos o armárioindividual, onde se possa guardar de forma segura os objetos trazidos de casa; também nas linhas deprodução, especialmente em layouts apertados, há de se respeitar pelo menos a distância mínimaentre o trabalhador e outro.

Uma outra forma (mais sutil) de garantir o espaço pessoal nas organizações é através daliberdade para algum tipo de movimentação: a cobrança por tarefas é uma das principais formas, emvez de vigiar como a pessoa está executando a atividade, verifica-se mais os resultados finais. Háque se dar liberdade para algumas ações sociais, como um tempo no final do mês para a “festinha”de homenagem aos aniversariantes daquele mês, o tempo para a eventual, discussão de algunsassuntos pertinentes à condição social das pessoas, tudo isso, naturalmente, sem abrir mão dosresultados operacionais.

Algumas atitudes importantes para se respeitar o espaço pessoal dos trabalhadores:� Nunca mudar a pessoa de local de trabalho sem avisar-lhe previamente;� Nunca mudar os móveis de trabalho de uma pessoa sem avisar-lhe previamente;� Nunca ficar observando uma pessoa trabalhar, de frente ou pelas costas, sem avisá-la do motivodesta observação;� Possibilitar eventuais telefonemas particulares em horários de almoço e de pausas;

Page 56: ERGONOMIA

56

� Possibilitar arranjos especiais em seu local de trabalho, a seu gosto, evitando a padronizaçãoextrema;� Evitar a discussão do método de trabalho (exceto quando isso é necessário), atentando-se mais àcobrança do resultado;� Evitar a criação de formulários para toda e qualquer função;� Prever as situações em que a chefia deverá ser consultada para a decisão, deixando o trabalhadorjá treinado com a liberdade para adotar as demais soluções;� Evitar a colocação da sala da gerência num ponto alto do galpão, de onde o mesmo pode vertodos os postos de trabalho.

Para determinadas pessoas e em algumas culturas, essas atitudes poderão ser consideradasum exagero, mas certamente isso faz uma diferença importante no estado emocional das pessoas.Tomando-se essas ações dentro de um ambiente de conscientização das pessoas, ou seja, desde quenão sejam usadas como estímulo à anarquia e ao desrespeito hierárquico, certamente contribuirãopara a melhoria do ambiente de trabalho.

5.9 - Dimensionamento do posto de trabalhoO dimensionamento do posto de trabalho é uma etapa fundamental para o bom desempenho

da pessoa que ocupará este posto. É possível que essa pessoa passe várias horas ao dia, duranteanos, sentada ou de pé neste posto. Qualquer erro cometido neste dimensionamento pode, então,submetê-la a sofrimento por longos anos. Em algumas casos, quando o arranjo é de mobiliário e debancadas, a correção pode ser feita de forma relativamente simples e econômica. Por exemplo,cortando-se os pés da mesa ou da cadeira, ou providenciando-se calços ou estrados para aumentar aaltura. Em outros como no caso de cabina de comando ou painel de um centro de controleoperacional de um sistema complexo, torna-se praticamente impossível introduzir correções.

Diversos fatores devem ser considerados no dimensionamento do posto de trabalho, comopostura corporal adequada, movimentos corporais necessários, alcances dos movimentos,antropometria, iluminação necessária, ventilação, dimensões de equipamentos máquinas eferramentas, e interações com outros postos de trabalho e o ambiente externo. Tudo isso faz comque cada caso represente uma situação particular, exigindo um estudo específico. Em anexo,apresenta-se algumas recomendações para situações mais comuns. Deve-se contudo ter o devidocuidado ao utilizar tais dados pois fazem usos de dados antropométricos de populações européias,que nem sempre se adaptam à população nacional.

Page 57: ERGONOMIA

57

ERGONOMIA

Capítulo 6 - DISPOSITIVOS DE INTERAÇÃO HOMEM-MÁQUI NA:

CONTROLES E MOSTRADORES

6.1 - Introdução

No mundo moderno, um número cada vez maior de pessoas usa produtos e sistemas

complexos. Isso exige interações que consistem em receber informações, processá-las e agir em

função dessas e outras informações. Essas interações estão esquematicamente representadas na

figura 6.1. Nesse modelo, o homem recebe informações da máquina e atua sobre ela, acionando

algum dispositivo de controle

Figura 6.1 - Modelo mostrando as interações entre homem e a máquina

Este capítulo apresenta as características necessárias que as máquinas devem ter para que

possam ser mais facilmente operadas. Assim se reduzem os erros, a fadiga e os acidentes durante a

operação das mesmas.

De acordo com o princípio ergonômico que as máquinas devem ser um “prolongamento” do

homem, serão estudadas as características humanas para a transmissão de movimentos,

especialmente com o uso das mãos e braços.

6.2 - Movimentos de controle

Movimento de controle é aquele executado pelo corpo humano para transmitir alguma

forma de energia à máquina. Esses movimentos geralmente são executados com as mãos e com os

Page 58: ERGONOMIA

58

pés e podem ser desde um simples aperto de botão até movimentos mais complexos de perseguição

(como de vídeo games), alimentados continuamente por uma cadeia de ação-informação.

Adequação dos controles aos movimentos corporaisNa medida do possível, os movimentos de controle devem seguir aqueles movimentos

naturais e mais facilmente realizados pelo corpo humano.Os movimentos corporais no trabalho foram estudados exaustivamente pelo casal Frank e

Lilian Gilbreth , que formularam, empiricamente, 20 princípios de economia dos movimentos.Esses princípios foram posteriormente aperfeiçoados por Barnes (1977), que os transformou em 22princípios. Segundo esses princípios, as mãos devem realizar movimentos rítmicos, seguindotrajetórias curvas e contínuas, evitando-se paradas bruscas ou mudanças repentinas de direção. Seos controles envolverem movimentos com os dois braços, estes devem ser feitos em direçõesopostas e simétricas, executados simultaneamente.

Estereótipo popular Estereótipo popular é o movimento esperado pela maioria da população.Por exemplo, o estereótipo para “ligar” ou “aumentar” está associado a um movimento para adireita, no sentido horário. Discute-se muito se os estereótipos seriam naturais, ou seja, umacaracterística inata, que decorre do próprio organismo, ou se seriam adquiridos. Testes realizadoscom crianças de 5 anos, com aparelhos que elas nunca tinham visto antes, mostraram que 70% delasseguem o padrão “esperado”. Esse índice aumenta para 87% em adultos de 20 anos. Issodemonstra que há uma forte tendência natural para os movimentos compatíveis, que se acentua como aprendizado.

Os movimentos de controle que seguem o estereótipo popular são chamados decompatíveis. Inversamente, os que o contrariam, são chamados de incompatíveis. Diversaspesquisas realizadas mostram que os movimentos compatíveis são memorizados mais rapidamentee executados com maior confiabilidade. Isso levou muitos pesquisadores a investigar osestereótipos em diversas situações. Smith (1990) realizou uma pesquisa em 18 situações diferentes.Verifica-se que em alguns casos, como no movimento de botões, fechadura de caixa e movimentode uma alavanca, há uma nítida preferência das pessoas. Em outros casos, como nos movimentosde torneira de pia ou no arranjo do teclado de calculadora, isso não aparece claramente. Também severifica que a experiência anterior e o treinamento podem influir nos resultados. Demonstrou-setambém que as pessoas podem ser treinadas para fazer intencionalmente movimentosincompatíveis, mas o tempo gasto nesse treinamento é maior do que no caso dos movimentoscompatíveis. Além disso, numa situação de emergência ou de pânico, há uma forte tendência deretorno ao movimento compatível.

Portanto, os movimentos incompatíveis devem ser evitados, sempre que possível. No casoem que isso for impossível, é preferível que todos os movimentos sejam incompatíveis pois issoainda é menos danoso que uma mistura de alguns movimentos incompatíveis com outroscompatíveis, que tendem a causar confusão .

Destros e canhotos Os canhotos representam 10% da população. Apesar desse número não serdesprezível, o que se verifica na prática é que todos os produtos são projetados supondo as pessoas

Page 59: ERGONOMIA

59

destras. As pesquisas sobre os movimentos dos controles quase sempre são realizadas supondotambém que as pessoas são destras.

Dada a hipótese de que os estereótipos teriam causas naturais, anatômicas, os estereótipospara os canhotos deveriam ser opostos em relação aos destros, ou seja, o movimento esperado para“ligar” e “aumentar” seria no sentido anti-horário. Mas as experiências realizadas com canhotosnão comprovaram esta hipótese, ou seja, eles apresentaram os mesmos estereótipos dos destros.

Para um uso forçado da mão não-preferida, ou seja, a mão direita para os canhotos e mãoesquerda para os destros, verificou-se que os canhotos apresentam melhor desempenho. Isso éexplicado porque as pessoas canhotas são obrigadas a conviver no mundo dos destros e, de certaforma, são forçadas a desenvolver habilidades para usar a mão direita, que não é o caso dos destros.

6.3 - Controles

As pessoas podem transmitir suas idéias ou decisões à máquina, por meio de controles.

Controle é a ação transmitida pelo homem à máquina pelos movimentos musculares. Também se

denomina “controle” o elemento ou objeto pelo qual se materializa esta ação.

Os controles podem ser de diversos tipos, como:

- teclados, alavancas, botões, volantes, manivelas, entre outros.

Ao projetar controles deve-se considerar que os movimentos musculares têm características

diferentes de velocidade, precisão e força.

A ação de pega ou engate efetuada pelo homem sobre a máquina costuma-se designar por

manejo. Um controle que exige maior força deve ser acionado com a musculatura da perna ou dos

braços. Neste caso os dedos têm a função de prender o objeto, ficando relativamente estáticos

enquanto os movimentos estão sendo realizados pelo punho e braço. Esta situação caracteriza um

manejo grosseiro (ver fig. 6.7). Exemplos: serrar, martelar, capinar.

Já um controle que exige maior precisão, deve ser acionado com a ponta dos dedos.

Designa-se esta ação por manejo fino. No manejo fino os movimentos são transmitidos com a

ponta dos dedos, enquanto a palma da mão e o punho permanecem relativamente estáticos. Como

exemplos destes manejos tem-se: escrever com lápis ou caneta, enfiar a linha na agulha, ligar o

rádio (ver figura 6.7).

Força dos movimentos os movimentos de pega com a ponta dos dedos, tendo o dedo polegar

em oposição aos demais, permite transmitir uma força máxima de 10 Kg. Já para as pegas

Figura 6.2- Os dois tipos básicos demanejo

Page 60: ERGONOMIA

60

grosseiras do tipo empunhadura, com todos os dedos fechando-se em torno do objeto, a força pode

chegar a 40 Kg. Para levantar e abaixar peso com um braço, sem usar o peso do tronco, a força

máxima é de 27 Kg e para movimentos de empurrar e puxar (para frente e para trás) é de 55 Kg.

Para girar o antebraço, conseguem-se torques máximos de 66 Kg x cm para a direita e de 100 Kg x

cm para a esquerda, usando a mão direita. Entretanto, para fins operacionais, os valores

recomendados são de 14 Kg x cm e de 13 Kg x cm, respectivamente.

Movimento dos pés o movimento dos pés só serve para controles grosseiros. Embora a força

transmitida pelos pés possa alcançar valores elevados, especialmente para o operador sentado, ela

está restrita a poucas combinações de direção e sentido, e os movimentos são pouco precisos. Se o

mesmo for realizado com o operador de pé, tendem a desequilibrar o corpo. De qualquer forma,

tem a grande vantagem de liberar as mãos para outras tarefas que exijam mais precisão.

Tipicamente, são realizadas com os pés operações do tipo liga-desliga ou operações de fixação e

liberação de peças, no começo e fim das operações.

6.3.1 - Classificação dos controles

Os controles são classificados de acordo com:

- a forma; - a função.

Quanto à forma tem-se:

- os controles de forma geométrica; - os controles antropomorfos.

Controle geométrico o controle geométrico é aquele que se assemelha a uma figura geométrica

regular, como cilindros, esferas, cones, paralelepípedos e outras. Essas figuras, sendo um tanto

quanto diferentes da anatomia humana, apresentam relativamente pouca superfície de contato com

as mãos. Permite maiores variações de pega e, naturalmente, é menos prejudicado pelas variações

individuais das medidas antropométricas, mas tem a desvantagem de concentrar as tensões em

alguns pontos da mão e transmitir menos força. Portanto, o desenho geométrico, embora seja

menos eficiente, pode ser mais adequado quando não se exigem grandes forças. Nesse caso, devido

à sua maior flexibilidade de uso, pode resultar em trabalho menos fatigante para o operador.

Controle antropomorfo o desenho antropomorfo geralmente apresenta uma superfície irregular,

conformando-se com a anatomia da parte do organismo usada no manejo. Geralmente possuem

depressões ou saliências para o encaixe da palma da mão, dos dedos ou das pontas dos dedos. Por

esta razão, as formas antropomorfas são geralmente conhecidas como “anatômicas”. O desenho

antropomorfo apresenta maior superfície de contato, permite maior firmeza de pega, transmissão de

maiores forças, com concentração menor de tensões em relação ao manejo geométrico. Entretanto,

pode ser mais fatigante em um trabalho prolongado, pois limita a pega a uma ou duas posições.

Portanto, o desenho antropomorfo pode ser usado vantajosamente quando o trabalho é de curta

duração, quando a pega exige poucos movimentos relativos e quando a população de usuários

apresenta poucas variações nas medidas antropométricas. É o caso, por exemplo, de muletas e

espátulas.

Page 61: ERGONOMIA

61

Existe ainda um grande número de formas intermediárias entre o geométrico e o

antropomorfo, procurando combinar as vantagens de cada uma delas, ou seja, suavizando-se a

rigidez da pega antropomorfa, mas procurando-se aumentar a área de contato da pega geométrica.

Quanto à função os controles podem ser classificados em : discretos e contínuos.

Controle discreto o controle discreto é o que admite apenas algumas posições bem definidas,

não podendo assumir valores intermediários entre as mesmas. O controle discreto abrange as

seguintes categorias:

a) ativação: admite somente dois estados possíveis: sim/ não ou liga/desliga.

b) posicionamento: admite um número limitado de posições, como no caso do botão rotativo para

sintonizar a TV, ou o modo de operar uma máquina.

c) entrada de dados: conjunto de botões, como um teclado, que permite compor séries de letras

e/ou números. Exemplo: teclados de máquina de escrever e calculadoras.

Controle contínuo o controle contínuo é o que permite realizar uma infinidade de diferentes

ajustes. Pode ser subdividido nas seguintes categorias:

a) posicionamento quantitativo: quando se deseja fixar um determinado valor dentro de um

conjunto contínuo, como no caso do dial de um rádio.

b) movimento contínuo: quando serve para alterar continuamente o estado da máquina,

acompanhando a sua trajetória, como o volante de uma automóvel.

Para proceder uma correta seleção dos controles, deve-se considerar as características, em

termos de velocidade, precisão e força dos movimentos a serem transmitidos pelo operador. Para

cada situação, há um controle mais adequado. E, entre os controles do mesmo tipo, variações de

tamanho, resistência, textura outras características podem influir no seu desempenho. Para o

controle de ativação, por exemplo, o mais eficiente é o botão liga-desliga, se considerarmos a

velocidade, embora ele não apresente muita precisão, pois envolve mais o movimento balístico dos

braços do que o movimento dos dedos. De maneira geral, podemos dizer que a precisão vai

diminuindo quando se passa do movimento do dedo para as mãos, daí para os braços, ombros e o

corpo; mas a força desses movimentos aumenta na mesma seqüência.

6.3.2 - Discriminação dos controles

Muitos artifícios podem ser utilizados para se diferenciar os controles e facilitar a sua

correta identificação e operação, reduzindo-se o índice de acidentes. Um exemplo clássico é a

padronização dos controles adotada pela força aérea dos EUA, depois que se observaram 400

acidentes em apenas 22 meses, durante a II Guerra Mundial, devido à confusão entre os controles

do trem de pouso e dos “flapes” , principalmente em situações de emergência. Os controles foram

redesenhados para que pudessem ser identificados pelo tato, mesmo sem o acompanhamento visual.

Assim, os controles do trem de pouso têm a forma de pneu e são feitos de borracha, enquanto o

controle dos “flapes” (flap - dispositivo localizado na parte posterior e inferior da asa do avião

destinado a diminuir a velocidade do aparelho na aterragem) tem a forma de asa e é feito de

alumínio.

Page 62: ERGONOMIA

62

As principais variáveis utilizadas para facilitar as discriminações de controles são: forma,

tamanho, cores, textura, modo operacional, localização e letreiros.

Forma: a discriminação pela forma é aquela que ocorre apenas pelo tato. A seleção é feita

apresentando-se os controles aos pares a sujeitos com os olhos vendados, que devem dizer se os

mesmos são iguais ou diferentes, apenas pelo uso do tato. Nesses casos consegue-se chegar a 15

“botões”, que não são confundidos, uns com os outros.

Tamanho: a discriminação pelo tamanho (com a mesma forma) já é mais difícil do que pela forma.

Ela só funciona bem se os controles estiverem próximos entre si, para que possam ser comparados

visualmente. Nesse caso, as diferenças entre eles devem seguir uma progressão geométrica, com

incrementos mínimos de 20% em relação à anterior, para que possam ser discriminados. Exemplo:

diâmetros seguindo uma seqüência tal como 20 - 24 - 28,8 - 34,6 - 41,4.

Cores: o uso de cores pode ser um elemento importante para a discriminação de controles. Embora

o olho humano seja capaz de discriminar um grande número de cores, recomenda-se usar apenas

cinco cores para aplicação em controles: verde, vermelho, azul, amarelo e laranja. As cores ainda

podem ser associadas a determinados significados, como a verde para ligar a máquina e a vermelha

para desligar. A desvantagem é que exige acompanhamento visual e não funciona bem em locais

mal iluminados ou quando sujam facilmente, em elementos ou locais sujeitos a corrosão. Também

não teria efeito se fosse operado por pessoa daltônica.

Textura: a textura refere-se ao tipo de acabamento visual do controle. Experiências realizadas com

controles cilíndricos construídos de mesmo material demonstraram que é possível discriminar três

tipos de texturas: a superfície lisa, a superfície rugosa (recartilhada ou com pequenas estrias) e

aquelas com pequenos sulcos no sentido axial. A discriminação das mesmas, naturalmente, é

prejudicada quando o operador usa luvas, perante a sujeira e ao desgaste.

Modo operacional: cada tipo de controle pode ter um modo operacional diferente. Por exemplo,

alguns podem ser do tipo alavanca, outros do tipo puxar/empurrar e outros, ainda, do tipo

rotacional. Cada um só pode operar com determinados tipos de movimentos. No uso desse tipo de

controle, deve-se verificar a compatibilidade de seus movimentos com os estereótipos.

Localização: a localização dos controles supõe a sua identificação pelo senso cinestésico, sem

acompanhamento visual. É o que ocorre, por exemplo, com o motorista manejando o câmbio, com

a sua visão fixada no trânsito. Essa identificação exige um certo distanciamento entre os controles.

Testes realizados demonstraram que essa distância deve ser pelo menos 6,3 cm, para distâncias

verticais e de 10,2 cm, no mínimo, para aquelas horizontais, para que não sejam confundidas entre

si.

Page 63: ERGONOMIA

63

Além disso os controles não devem ser localizados fora da área de alcance normal dos

trabalhadores. Também não devem obstruir outros controles.

Convém lembrar que na localização de controles devem ser considerados aspectos tais

como:

- a importância do controle;

- a freqüência de uso;

- a seqüência da operação.

Letreiros: Os letreiros referem-se a colocação de palavras ou códigos numéricos nos controles.

Naturalmente, dessa forma, consegue-se discriminar uma grande quantidade de controles, sem

exigir treinamento especial. As salas de controle em centrais nucleares, por exemplo, têm paredes

inteiras com centenas de controles iguais, identificados apenas pelos letreiros. Esses letreiros

devem ser colocados acima do próprio controle, para que não sejam cobertas pelas mãos do

operador.

Para que o letreiro tenha legibilidade suficiente devem ser satisfeitas as seguintes

condições:

- espaço suficiente para colocação do letreiro; - luz suficiente para a leitura;

- tamanho adequado das letras; - uso de palavras com significados

conhecidos;

- uso de símbolos facilmente compreensíveis; - informação restrita ao significado do

controle;

Em função disso apresentam as seguintes desvantagens:

- exigir espaço adicional no painel para a colocação dos letreiros;

- exigir certo tempo para leitura;

- não funcionar no escuro;

- exigir operadores alfabetizados.

Combinação de códigos: naturalmente, essas diferentes maneiras de codificar os mostradores

podem ser combinadas entre si, facilitando-se a discriminação dos mesmos. Em casos críticos,

podem ser usados códigos redundantes, para melhorar essa discriminação, por exemplo, com a

diferenciação simultânea de formas e cores. Contudo, a diferenciação entre os controles não deve

ser exagerada, pois isso provoca confusão, além de dificultar a manutenção. Quando um controle

danificado não tiver um similar no estoque, há risco de ser substituído por um outro tipo, o que

aumenta o risco de erro na operação.

Page 64: ERGONOMIA

64

6.3.3 - Prevenção de acidentes com controles

Os controles cujos acionamentos acidentais ou inadvertidos podem produzir conseqüências

indesejáveis, devem ser cercados de certos cuidados especiais no projeto. Entre estes, destacam-se

os seguintes:

•••• Localização obedecendo a seqüência de uso: colocar os controles para serem acionados

seqüencialmente, dentro de uma determinada lógica de movimentos. Exemplo: ligar um conjunto

de interruptores da esquerda para a direita.

•••• Direção de acionamento: movimentar o controle na direção em que não possa ser movido por

forças acidentais do operador. Exemplo: botão que precisa ser puxado para ligar (não liga

acidentalmente com esbarrões).

•••• Rebaixos: encaixar os controles no painel, de forma que não apresentem saliências.

•••• Cobertura: proteger os controles por um anel ou uma caixa protetora ou colocá-los no interior

de caixas ou tampas.

•••• Guias: usar guias feitas na superfície do painel para fixar o controle numa determinada posição

o deslocamento é precedido de um movimento perpendicular ao mesmo, para destravá-lo.

•••• Batente: usar bordas para ajudar o operador a manter uma determinada posição.

•••• Resistências: dotar o controle de atrito ou inércia para anular a ação de pequenas forças

acidentais.

•••• Bloqueio: colocar um obstáculo, de modo que os controles só possam ser acionados quando

forem precedidos de uma operação de desbloqueio, como a remoção da tampa, retirada de um

cadeado ou a ligação da energia.

•••• Luzes: associar o controle a uma pequena lâmpada que se acende, indicando que está ativado.

6.4 - Mostradores

Mostradores são dispositivos de máquinas que fornecem informações ao operador humano,

para que este possa tomar decisões.

6.4.1 - Principais tipos de mostradores

Os mostradores se classificam basicamente em quantitativos e qualitativos e ambos podem

ser estáticos ou dinâmicos, conforme forneçam leituras fixas ou variáveis.

Mostradores quantitativos o mostrador quantitativo é usado quando a informação a ser

fornecida é de natureza quantitativa, ligada a alguma variável como, pressão, peso, comprimento,

temperatura, e assim por diante. Existem dois grandes subgrupos: os analógicos e os digitais. Os

mostradores analógicos apresentam um ponteiro ou uma escala móvel que segue uma evolução

análoga ao estado da máquina, como o velocímetro de um carro, assim como um barômetro

(pressão) ou dinamômetro (força). O mostrador digital é o que apresenta o estado da variável em

números.

Além desses tipos dinâmicos existem também mostradores quantitativos estáticos como a indicação

da altitude de uma localidade e a quilometragem de uma estrada.

Page 65: ERGONOMIA

65

a) Legibilidade em escalas quantitativas as escalas quantitativas são basicamente de três tipos:

- escala fixa com ponteiro móvel;

- escala móvel com ponteiro fixo;

- contadores digitais com algarismos móveis.

As pesquisas sobre legibilidade geralmente foram feitas com cinco tipos de mostradores

quantitativos: horizontais, verticais, circulares, semicirculares e de janela. Os quatro primeiros são

do tipo escala fixa e ponteiro móvel e o último, de escala móvel e ponteiro fixo. Em um

experimento realizado com 60 sujeitos que faziam leitura de 17 valores em cada um dos cinco

mostradores , para um tempo de exposição de 0,12 segundos, chegou-se aos seguintes resultados: o

de janela apresentou o menor índice de erros (0,5%) seguido na ordem pelo circular (11%), semi-

circular (16%), horizontal (28%) e vertical (35%).

Figura 6.3 - Quantidade de erros de leitura cometidos em cinco tipos de mostradores

Aumentando-se o tempo de exposição para 0,5 s (segundos), os melhores resultados são

obtidos com o mostrador horizontal, permanecendo para os demais a mesma ordem anterior.

Comparando somente as três formas básicas (horizontal, vertical e circular), o horizontal

continua sendo o melhor seguido pelo circular, ficando em último o vertical.

b) Leituras analógicas e digitais experiências realizadas em laboratórios, em condições

controladas demonstraram que os controladores digitais são superiores aos analógicos para leituras

quantitativas, tanto no tempo de leitura como na precisão das leituras. Isso pode ser explicado

porque para a leitura no contador, basta uma fixação visual, enquanto no dial (analógico) é

necessário, primeiro localizar o ponteiro, depois fazer as leituras das graduações mais próximas do

ponteiro e depois interpolar o valor para a posição indicada pelo ponteiro. Em resumo, a tarefa de

leitura do contador digital é mais simples.

Contudo, o contador digital não poderá ser utilizado na situação em que os números ficam

expostos em tempos inferiores a 1 segundo, pois dessa forma não será legível. Há de se considerar

também que os mostradores analógicos apresentam ainda uma função qualitativa, que os digitais

não fornecem.

Page 66: ERGONOMIA

66

Mostradores qualitativos os mostradores qualitativos apresentam indicações sobre valores

aproximados de uma variável, sobre sua tendência, variação de direção ou desvio em relação a um

determinado valor, quando não se necessita o valor exato da variável. É usado em controle de

processos, onde as variáveis como pressão, temperatura e fluxo devem ser mantidos dentro de uma

determinada faixa de operação, como é o caso do indicador de temperatura do motor do carro.

a) Legibilidade em escalas qualitativas as escalas qualitativas são usadas principalmente em

leituras de verificação, onde não é necessário conhecer o valor exato de uma variável, mas apenas

checar se ela permanece dentro de uma faixa de operação ou de segurança. Sempre que possível

deve ser usado código de cores nesses mostradores.

Figura 6.4 - Uso de código de cores em mostradores qualitativos

Para uso de cores em mostradores qualitativos deve-se tomar cuidado com a iluminação

local do ambiente, que pode provocar distorções. Quando essa ocorrência for previsível, o código

de cores pode ser substituído por figuras geométricas.

b) Associação com controles em situações onde ocorre a associação de mostradores com

controles deve-se seguir os princípios de compatibilidade dos movimentos e a sensibilidade dos

deslocamentos.

6.4.2 - Desenho de mostradores

a) Recomendações gerais:

- Utilizar preferencialmente os mostradores de ponteiro móvel e escala fixa;

- Para escalas muito extensas pode-se optar pela utilização de mostradores tipo janela, com

ponteiro fixo e escala móvel.

- Se a progressão numérica estiver relacionada com o aumento ou diminuição de uma variável

física usar uma escala reta, de preferência na horizontal.

- Para indicar grandezas semelhantes, não se deve colocar mais de um ponteiro na mesma escala;

com isso evita-se confusões na leitura.

- Em mostradores associados a controles, o controle deve estar relacionado com o movimento do

ponteiro e nunca com o da escala.

- Se houver necessidade de uma leitura de um valor numérico exato, são preferíveis os contadores

digitais.

Page 67: ERGONOMIA

67

- Os mostradores circulares são mais compactos e são recomendados principalmente para leituras

qualitativas.

- Ponteiros associados com o sentido de aumento de alguma variável devem deslocar-se para a

direita, para cima ou no sentido horário.

b) Marcação de escalas

Marcações são os traços que indicam as unidades das escalas. O menor intervalo entre

duas marcações sucessivas não deve ser inferior a 0,5 mm e o traço deve ter espessura de 0,1 mm,

no mínimo. Para que não seja necessário graduar todas as marcações, recomenda-se usar 3

tamanhos de marcações diferentes: maior, intermediária e menor. É recomendável que só as

marcações maiores sejam graduadas com números. Em alguns casos, as marcações intermediárias

também podem ser numeradas, mas desde que não prejudiquem a leitura.

c) Desenho de ponteiros

O desenho mais adequado para o ponteiro é o reto, com um pequeno chanfro de 30o nas

pontas, de modo que a largura da ponta seja semelhante à largura da marcação da escala. Deve

haver um pequeno vão entre o ponteiro e a marcação, para que não haja confusão entre eles.

Existem dois erros bastante comuns no desenho de escalas, que dentro do possível devem

ser evitados. O primeiro é a marcação que fica dentro da área de varredura do ponteiro, e este pode

esconder a graduação, dificultando a sua leitura. De preferência, a graduação deve ficar do lado

oposto ao do ponteiro. O outro erro é o de paralaxe, que aparece quando o ponteiro e a escala se

situam em planos diferentes. Nesse caso, a leitura deve ser feita na vertical. Para se evitar esse

problema a melhor solução é fazer um rebaixo na área de varredura do ponteiro ou um ressalto na

escala, de modo que o ponteiro e a escala fiquem no mesmo plano.

Figura 6.5 - Recomendações para o desenho de ponteiros de mostradores

d) Desenho de letras e números

Os tamanhos, proporções e cores usados em letras, números e símbolos influem na sua

legibilidade. As diversas pesquisas feitas sobre o assunto permitem fazer as seguintes

recomendações, para melhorar a legibilidade.

• Dimensões o tamanho de letras e números depende da distância de leitura. Em geral

recomenda-se que a altura de letras e números seja 1/200 da distância, em milímetros. Por

Page 68: ERGONOMIA

68

exemplo, se a distância de leitura for de 1 metro, a altura da letra deveria ser de 5 mm. Mais

especificamente, são recomendadas as seguintes dimensões para diferentes distâncias de leitura:

Tabela 6.1 - Alturas de letras de acordo com a distância de leitura

Distância de leitura Altura da letra (mm)

até 500 mm 2,5 mm

500 - 900 4,5

900 - 1800 9

1800 - 3600 18

3600 - 6000 30

• Proporções as proporções recomendadas são as seguintes:

- largura da letra 2/3 da altura

- espessura do traço 1/6 da altura

- distância entre letras 1/5 da altura

- distância entre palavras 2/3 da altura

- intervalo entre linhas 1/5 da altura

- altura da minúscula 2/3 da altura da maiúscula

Figura 6.6 - Proporções recomendadas em letras, para facilitar a legibilidade

• Tipos devem ser usados, de preferência, as letras maiúsculas, de traços simples e uniformes,

e algarismos de formas semelhantes

Figura 6.12 - Tipos de letras e algarismos recomendados para facilitar a legibilidade

Page 69: ERGONOMIA

69

• Cores Estudos sobre combinação de cores em mostradores revelaram que a melhor

legibilidade é a conseguida com o preto sobre o fundo branco.

• Símbolos o desenho de símbolos deve atender aos seguintes requisitos, sempre que possível:

a) contornos fortes - a figura deve ter contornos bem definidos, para atrair a atenção.

b) simplicidade - formas mais simples, despojadas de detalhes, são mais facilmente

percebidas.

c) figura fechada - as figuras “inteiras”, completas, são mais facilmente percebidas.

d) estabilidade de forma - a figura não deve permitir interpretações dúbias, como

acontece quando há confusão entre figura e o fundo.

e) simetria - a leitura será facilitada se a figura tiver simetria, na medida do possível

Figura 6.7 - Recomendações para o desenho de símbolos

6.4.3 - Localização de mostradores

A localização dos mostradores tem uma grande importância para facilitar a sua

visualização. Quando há diversos mostradores em um painel, estes devem ser agrupados de modo

que facilite a percepção do operador. Na medida do possível, o próprio arranjo espacial dos

mesmos deve sugerir uma associação com as variáveis que estão sendo controladas, de acordo com

os seguintes critérios gerais:

• importância - os mostradores mais importantes, e que devem ser continuamente observados,

devem ficar à frente do operador, no campo de mais fácil visualização.

Page 70: ERGONOMIA

70

• associação - no caso de mostradores associados a controles, ambos devem ser colocados na

mesma ordem ou mesmo tipo de arranjo espacial.

•••• seqüência - quando mostradores estiverem associados a operações seqüenciais, devem ser

colocados na mesma seqüência dessas operações.

• tipos e funções - em painéis mais complexos, com diversos tipos de mostradores, eles podem ser

agrupados por tipos ou funções que exercem.

Áreas de visão

Para a localização dos mostradores podem ser definidas três áreas preferenciais de acordo

com o campo de visão do ser humano:

Área 1: Visão estática. Os objetos situados dentro dessa área podem ser vistos continuamente,

praticamente sem nenhum movimento dos olhos. Situa-se na faixa abaixo da linha horizontal de

visão, até um ângulo de 30o e para os lados, com abertura lateral de 30o, conforme pode ser visto na

figura 6.8. Esse cone com 30o de abertura é conhecido como área ótima de visão.

Área 2: Movimento dos olhos. É a visão que se consegue, movimentando-se somente os olhos,

sem movimentar a cabeça. Situa-se até 25o acima da linha horizontal da visão e 35o abaixo da

mesma e, lateralmente, faz uma abertura de 80o portanto, 25o de cada lado, além da área de visão

ótima.

Área 3: Movimento da cabeça. No nível 3 situa-se o campo visual que se consegue atingir com o

movimento da cabeça. A cabeça consegue girar até 55o para a esquerda ou para a direita, inclinar-se

até 40o para frente e 50o para trás e inclinar-se 40o para a esquerda ou a direita, pendendo para um

dos ombros.

Figura 6.8 - Área de visão ótima e máxima

Na área 1 as inspeções visuais pedem ser feitas mais rapidamente e com pouco esforço. O

tempo necessário e o esforço crescem quando se passa da área 1 para a 2 e desta para a 3. Na área 1

podem ser feitas 2 inspeções simultaneamente, apenas com uma olhada. Isso significa que aí

podem ser colocados dois dispositivos visuais que requerem um acompanhamento contínuo. Na

Page 71: ERGONOMIA

71

área 2, os dispositivos ficam num campo de visão periférica. Nessa área, os olhos detectam os

movimentos grosseiros ou qualquer tipo de anormalidade, mas exige fixação visual posterior para a

percepção dos detalhes. Finalmente, na área 3, os objetos só podem ser percebidos quando houver

um movimento consciente da cabeça.

Em tarefas que exigem atenção contínua por um tempo prolongado, quando aparece a

fadiga, o operador tende a simplificar o seu trabalho. Ou seja, aqueles situados na área 3 passam a

ser menos observados e depois os da área 2, sendo que os da área 1 serão os últimos a serem

afetados.

Essa classificação em três áreas leva a recomendar que os dispositivos visuais também

sejam classificados em três categorias, de modo que aqueles de maior importância se situem na área

1, os de média importância na área 2 e aqueles de uso eventual, como os de emergência, na área 3.

6.5 – Associação de controles e mostradores

6.5.1 - Compatibilidade espacial

Entende-se por compatibilidade espacial a correspondência existente entre as posições

relativas dos controles e mostradores no espaço.

Experimentos realizados com fogões de 4 bocas (fig. 6.9), onde os mostradores eram

representados pelos queimadores, mostraram que os sujeitos não cometem erros quando há algum

tipo de correspondência espacial entre a posição dos botões e dos queimadores. Quando essa

correspondência deixa de existir os erros aparecem a taxas de 6 a 11%. Em outro teste,

perguntando-se a 200 sujeitos sobre as suas preferências entre os arranjos que não apresentavam

compatibilidade espacial, obteve-se como resultado que todos os arranjos foram mencionados com

freqüências semelhantes, demonstrando, pelo menos nesse caso, que não existe um estereótipo para

a compatibilidade espacial.

Page 72: ERGONOMIA

72

Figura 6.9 - Resultados dos testes de compatibilidade, em percentagens de erros no acionamento,

na associação entre botões e queimadores do fogão (Chapanis e Lindenbaum, 1959)

Quando a correspondência espacial entre mostradores e controles não fica evidente, há dois

artifícios que podem ser usados para se reduzir os erros. O primeiro é desenhar linhas no painel

ligando os controles aos respectivos mostradores e o segundo é o uso de um código de cores. Esses

dois artifícios para o caso onde há compatibilidade espacial não demonstraram eficiência, nem na

redução de erros e nem na redução dos tempos de reação. Entretanto, em arranjos incompatíveis

verificou-se que o uso de linhas reduziu os erros em até 95% e, os tempos de reação, em 40 %, com

o uso de cores.

6.5.2 - Princípios a serem seguidos na associação de controles e mostradores

No caso de controles associados a movimentos de mostradores, displays ou luzes de um

painel, o relacionamento entre eles é regido pelos seguintes princípios:

1o Princípio - os movimentos rotacionais de controle no sentido horário estão associados a

movimentos de mostradores “para cima” e “para a direita” (fig. 6.10).

2o Princípio - para movimentos de controles e mostradores situados em planos perpendiculares

entre si, adota-se uma analogia com o movimento de um “parafuso de rosca direita”. O movimento

do mostrador é representado pelo movimento da “ponta do parafuso”, e o movimento do controle

pelo da “cabeça do parafuso”. Sendo assim, girando-se o controle (cabeça) para a direita, o

mostrador (ponta) tende a afastar-se; girando-se o controle (cabeça) para a esquerda, o mostrador

(ponta) tende a aproximar-se (ver fig. 6.11).

3o Princípio - os controles e mostradores executam movimentos no mesmo sentido, no ponto mais

próximo entre ambos. Em outras palavras, é como se existisse uma engrenagem imaginária, de

Figura 6.10 - 1o princípio de relacionamento entrecontroles e mostradores

Figura 6.11 - 2o princípio de relacionamento entrecontroles e mostradores

Page 73: ERGONOMIA

73

modo que o movimento de um deles “arrastasse” o outro. Esse princípio se aplica também a

controles e mostradores situados em planos diferentes (fig. 6.12).

Em mostradores controlados por alavancas situados em planos diferentes, o relacionamento

entre ambos nem sempre segue padrões definidos.

6.5.3 - Sensibilidade do deslocamento

A sensibilidade do deslocamento é um outro aspecto que deve ser considerado no

relacionamento entre mostradores e controles. A sensibilidade é medida pela razão entre o

deslocamento do mostrador e do controle. Assim, se o deslocamento do mostrador é pequeno em

relação ao movimento do controle a sensibilidade é baixa e, inversamente, se o movimento do

mostrador for grande em relação ao movimento de controle, a sensibilidade é alta.

Em um movimento contínuo de controle, há dois tipos de ajustes. Um é o ajuste “grosso”,

quando o operador desloca o ponteiro até a vizinhança do seu objetivo e depois um outro tipo de

ajuste “fino” em que, finalmente o ponteiro é colocado na posição exata. Os controles de baixa

sensibilidade exigem maior tempo de deslocamento, mas são mais facilmente ajustados e, ao

contrário, controles de alta sensibilidade se deslocam rapidamente mas são mais difíceis de atingir

com precisão o objetivo (fig. 6.13).

Figura 6.6 - Sensibilidade dos movimentosde mostradores associados a movimentos decontroles

Figura 6.12 - 3o princípio de relacionamento entrecontroles e mostradores

Figura 6.13 - Sensibilidade dos movimentosde mostradores associados a movimentos decontroles

Page 74: ERGONOMIA

74

A escolha do tipo de sensibilidade a ser utilizada vai depender naturalmente do tipo de medida a ser

controlada. Há casos em que se usam deliberadamente baixas ou altas sensibilidades, conforme a

necessidade. Em outros casos pode-se buscar uma sensibilidade ótima, onde tanto o tempo de ajuste

grosso como o de ajuste fino sejam mínimos.

A facilidade ou dificuldade desses ajustes está relacionada também com a resistência e a

inércia dos movimentos envolvidos. Tanto a resistência como a inércia podem dificultar a

realização de movimentos, mas têm uma vantagem importante, pois evitam os acionamentos

acidentais e conservam os controles na posição desejada, principalmente nos casos em que os

mesmos estejam sujeitos a vibrações, como em rádios instalados em carros.

Page 75: ERGONOMIA

75

ERGONOMIACapítulo 7 - FATORES AMBIENTAIS

7.1 - Introdução

Uma grande fonte de tensão no trabalho são as condições ambientais desfavoráveis, como o

excesso de calor, ruídos e vibrações. Esses fatores causam desconforto, aumentam o risco de

acidentes e podem provocar danos consideráveis a saúde.

Para cada uma das variáveis ambientais há certas características que são mais prejudicais ao

trabalho. Cabe ao projetista conhecer essas limitações e, na medida do possível, devem ser

avaliados os possíveis danos ao desempenho e à saúde dos trabalhadores, para que seja adotada

aquela alternativa menos prejudicial, tomando-se todas as medidas preventivas cabíveis em cada

caso.Neste capítulo pretende-se discutir os aspectos de temperatura, ruídos, vibrações,

iluminação e cores nos locais de trabalho.

7.2 - Temperatura, umidade e velocidade do vento

A temperatura e a umidade ambiental influem diretamente no desempenho do trabalho

humano. Estudos realizados em laboratórios e na indústria comprovam essas influências, tanto

sobre a produtividade como sobre os riscos de acidentes.

A sensação térmica que sentimos depende não só da temperatura externa, mas também do

grau de umidade do ar e da velocidade do vento. Esses mecanismos influem na evaporação que

retira calor do corpo. Assim diferentes combinações dessas variáveis (temperatura, umidade, e

velocidade do vento) podem produzir a mesma sensação térmica.

A zona de conforto térmico é estabelecida tomando-se como referência a temperatura

efetiva. Temperatura efetiva é aquela que produz sensação equivalente de calor a uma temperatura

medida com o ar saturado (100% de umidade relativa) e praticamente parado (sem ventos). Ou seja,

uma temperatura efetiva de 25o C é aquela que mede 25o C com umidade de 100% e o ar parado.

Sendo assim a zona de conforto térmico é delimitada entre as temperaturas efetivas de 20 a 24 oC,

com umidade relativa de 40 a 60%, com uma velocidade do ar moderada, da ordem de 0,2 m/s. As

diferenças de temperatura presentes no mesmo ambiente não devem ser superiores a 4 oC. Essa

zona se refere ao organismo adaptado ao calor. Nos países temperados, durante o inverno, com o

organismo adaptado ao frio, essa zona de conforto situa-se entre 18 e 22 o C para a mesma taxa de

umidade e velocidade do vento.

7.2.1 - Trabalho a altas e baixas temperaturas

As zonas de conforto térmico correspondem a faixas relativamente estreitas de variações da

temperatura, umidade relativa e movimento do ar, considerando-se os valores dessas variáveis

normalmente existentes na natureza. As temperaturas no globo terrestre podem variar em até 100oC (de 50 graus negativos até 50 graus positivos) e a umidade relativa chega a 100% em dias

chuvosos ou nas proximidades do mar, baixando a 15% nos desertos. Embora não cheguem a esses

Page 76: ERGONOMIA

76

extremos, muitos trabalhadores, principalmente aqueles ao ar livre, são obrigados a conviver como

ambientes térmicos desfavoráveis.

a) trabalho a altas temperaturas quando o homem é obrigado a suportar altas temperaturas, o

seu rendimento cai. A velocidade do trabalho diminui, as pausas se tornam maiores e mais

freqüentes, o grau de concentração diminui, e a freqüência de erros e acidentes tende a aumentar

significativamente, principalmente a partir de 30 oC.

O organismo adapta-se ao trabalho no calor, com diversas transformações fisiológicas que

ocorrem durante duas semanas: há uma elevação da temperatura média do corpo, elevação do ritmo

cardíaco e aumento da capacidade de transpiração. Essa adaptação deverá ser feita gradualmente

em período de até 6 meses. Uma pessoa não adaptada ao clima quente (acima de 4O oC) e úmido

(acima de 80%), trabalhando durante 4 horas, terá a sua temperatura aumentada par 39 oC (o normal

é 37 oC), e o ritmo cardíaco subirá para 180 pulsações por minuto (no repouso a pulsação é 70/min),

eliminando 2 litros de suor. Essa pessoa ficará bastante incomodada e se sentirá exausta.

A capacidade de adaptação ao calor está diretamente relacionada com a capacidade de

produção de suor e todos os indivíduos, independentemente de sua origem étnica, podem

desenvolver essa capacidade, em maior ou menor grau.

Os magros e musculosos são os que melhor se adaptam ao trabalho sob calor intenso. As

mulheres e os homens obesos têm mais dificuldade nessa adaptação, porque a camada de gordura

que possuem sob a pele funciona como isolante, dificultando essa adaptação.

Junto com o suor, o organismo também perde sal, e isso altera a composição salina dos

tecidos, enquanto a quantidade de sal no sangue permanece quase constante. Essa variação do teor

salino nos tecidos tem pouca influência sobre o desempenho muscular, mas o sal atua sobre o

sistema nervoso como um calmante. A sua falta provoca estados de excitação. Se essa falta for

prolongada, podem surgir sintomas de cãibras musculares, que podem ser combatidas pela ingestão

de uma pequena quantidade de cloreto de sódio.

b) Trabalho a baixas temperaturas as baixas temperaturas, pelo menos nos níveis que

ocorrem no país, não causam nenhum inconveniente ao trabalho pesado, pois nesse caso, o

organismo estará atuando a favor do balanço térmico, produzindo mais calor pelo metabolismo.

Entretanto se a temperatura for muito baixa (abaixo de 15 oC) ou na presença de ventos fortes, o

trabalhador deverá usar uma vestimenta para proteger-se.

Um problema adicional ocorre quando a baixa temperatura é acompanhada de chuva.

Nesse caso, pode-se usar uma capa protetora, mas esta, por ser impermeável, também impede a

evaporação do suor, que já se processa lentamente devido ao ar saturado. Nestas condições, não

resta outra alternativa se não a de diminuir o ritmo de trabalho para controlar a produção de calor e,

assim, manter o equilíbrio térmico do organismo.

O frio abaixo de 15 oC diminui a concentração e reduz as capacidades para pensar e julgar.

Afeta também o controle muscular, reduzindo algumas habilidades motoras como a destreza e a

força. Se o frio afetar todo o corpo, o desempenho geral pode ser prejudicado, devido aos tremores.

Page 77: ERGONOMIA

77

Da mesma forma que no caso do trabalho sob calor intenso, o corpo também se adapta ao

frio intenso e, nesse caso, as mulheres e as pessoas obesas podem levar vantagem por terem

camadas isolantes de gordura sob a pele.

7.3 - Ruído

Existem diversas conceituações de ruído. Aquela mais usual é a que considera o ruído

como um “som indesejável”. Este é um conceito um tanto quanto subjetivo, pois um som pode ser

indesejável para uns mas pode não sê-lo para outros, ou mesmo para a mesma pessoa, em ocasiões

diferentes.

Uma outra definição, de natureza mais operacional, considera o ruído um “estímulo

auditivo que não contém informações úteis para a tarefa em execução”. Assim, o “bip” intencional

de uma máquina, ao final de um ciclo de operação, pode ser considerado útil ao operador, porque é

um aviso para ele iniciar um novo ciclo, mas o mesmo pode ser considerado um ruído pelo seu

vizinho, cuja atenção está concentrada em outra tarefa.

Fisicamente, o ruído é uma mistura complexa de diversas vibrações, medido em uma escala

logarítmica, em uma unidade chamada decibel (dB). O ouvido humano é capaz de perceber uma

grande faixa de intensidades sonoras, desde aquelas próximas de zero, até potências

10.000.000.000.000 (1013), equivalentes a 130 dB. Esse é o ruído correspondente ao do avião a

jato, e é praticamente o máximo que o ouvido humano pode suportar. Acima disso, situa-se o limiar

da percepção dolorosa, que pode produzir danos ao aparelho auditivo. A presença de ruídos elevados no ambiente de trabalho pode perturbar e, com o tempo,

acaba atrapalhando a audição. O primeiro sintoma é a dificuldade cada vez maior para entender afala em ambientes barulhentos (festas, bares). Isso provoca interferência nas comunicações eredução da concentração, que podem ocorrer com ruídos relativamente baixos.

7.3.1 - Surdez provocada pelo ruídoA conseqüência mais evidente do ruído é a surdez. Ela pode ser de duas naturezas: a surdez

de condução e a surdez nervosa.A surdez de condução resulta de uma redução da capacidade de transmitir as vibrações, a

partir do ouvido externo para o interno. Pode ser causada por diversos fatores, como acúmulo decera, infecção ou perfuração.

A surdez nervosa ocorre no ouvido interno e é devida á redução da sensibilidade das célulasnervosas. Essa insensibilidade ocorre principalmente nas faixas de maior freqüência, acima de1000 hertz. Essa perda audição para sons agudos, acima de 1000 hertz, pode ser devida à idade,sobretudo após os 40 anos. Nesse particular, os homens apresentam uma perda auditiva mais rápidaque as mulheres, principalmente na faixa de 2000 a 4000 Hz.

Quanto à duração a surdez pode ter um caráter temporário, reversível, ou pode serpermanente. Uma exposição diária, durante a jornada normal de trabalho (8h diárias), a um nívelelevado de ruído, sempre provoca algum tipo de surdez temporária, que pode desaparecer com odescanso diário. Contudo, dependendo de vários fatores como freqüência, intensidade e tempo deduração dessa exposição, pode ser que o descanso diário não seja suficiente para a recuperação e,

Page 78: ERGONOMIA

78

então, há um efeito cumulativo, e a surdez temporária se transforma em permanente, de caráterirreversível.

O tempo de exposição também um fator importante. Para ruídos de até 80 dB, otrabalhador pode se expor durante toda a jornada de trabalho sem nenhuma conseqüência grave.Contudo, acima desse nível, começam a surgir riscos para os trabalhadores expostos a ruídoscontínuos, principalmente na faixa de 2000 a 6000 Hz. Por exemplo, para ruídos de 4000 Hz com100 dB, o tempo de exposição contínua sem riscos é de apenas 7 minutos.

Figura 7.1 - Curvas de exposição máximas permitidas (em minutos) a ruídos contínuos, sem riscos

de surdez. A faixa mais prejudicial encontra-se entre 2000 e 4000 hertz.

7.3.2 - Influência do ruído no desempenhoOs ruídos intensos, acima de 90 dB, dificultam a comunicação verbal. As pessoas precisam

falar mais alto e prestar mais atenção, para serem compreendidas. Isso tudo faz aumentar a tensãopsicológica e o nível de atenção.

Os ruídos intensos tendem a prejudicar tarefas que exigem concentração mental e certastarefas que exigem atenção velocidade e precisão dos movimentos. Os resultados tendem a piorarapós duas horas de exposição. O ruído também produz aborrecimentos, devido a uma interrupçãoforçada da tarefa ou aquilo que as pessoas gostariam de estar fazendo, como conversar ou dormir, eisso provoca tensões e dores de cabeça.

Não é fácil caracterizar aquele ruído que mais perturba as pessoas. Isso depende de umasérie de fatores como freqüência, intensidade, duração, timbre, o nível máximo alcançado e,inclusive, o horário em que ocorre. Em geral, ruídos mais agudos são menos tolerados. Assim, aonível de 100 Hz, a pessoa pode suportar até 100 dB enquanto a 4000 Hz esse nível cai para 85 dB.

Em uma escola situada nos arredores de um aeroporto observou-se uma mudança decomportamento de professores e alunos nos dias de maior movimento dos aviões. Nesses dias, osalunos ficavam mais excitados, barulhentos e menos inclinados ao trabalho escolar. Os professoresdiminuíam o ritmo, sentiam-se irritados e cansados, tinham dores de cabeça e freqüentementeperdiam o controle sobre a disciplina na sala de aula.

Page 79: ERGONOMIA

79

a) Ruídos de curta duração em ruídos de curta duração (um ou dois minutos) observa-se umaqueda no rendimento, tanto no início como no final do período ruidoso. Isso significa que, logo noinício do ruído, o desempenho cai, mas se o ruído for mantido, o desempenho retorna ao nível queestava antes de começar o ruído. Quando o ruído cessa, há novamente uma queda no desempenho,que retorna ao nível normal após alguns segundos. Portanto, dentro de certos limites, parece quenão é propriamente o ruído, mas intermitência do mesmo que provoca alterações do desempenho.

b) Ruídos de longa duração para ruídos de longa duração (horas), na faixa de 70 a 90 dB, nãose observam mudanças significativas em experimentos realizados em laboratório, tanto em tarefasintelectuais como aquelas manuais. Para ruídos acima de 90 dB, o desempenho começa a cair. Emtarefas que exigem atenção, o número de erros aumenta significativamente. Contudo, o organismotem o poder de se adaptar a ambientes ruidosos.

Um experimento feito com dois grupos, submetidos, respectivamente, a ruídos de 70 e 100dB, mostrou-se que o segundo grupo apresentava um desempenho significativamente menor noprimeiro dia. Entretanto, no segundo dia, essa diferença já não era significativa, comprovando oefeito de adaptação ao ruído, do segundo grupo. A partir de 90 a 100 dB começam a haver reaçõesfisiológicas prejudiciais do organismo, que aumentam o stress e a fadiga. Notam-se diferençasindividuais aos efeitos do ruído, e as pessoas treinadas em uma tarefa sofrem menos influência emrelação aquelas sem treinamento.

c) Música ambiental a música de fundo tem sido recomendada com um meio de quebrar amonotonia e reduzir a fadiga, principalmente em situações de trabalho altamente repetitivo. Osdefensores da mesma dizem que ela melhora a atenção e a vigilância, e produzem sensações de bemestar, que melhoram o rendimento do trabalho e reduzem os índices de acidentes e de absenteísmo.Os trabalhadores em geral apreciam a música e a consideram agradável, principalmente se nãohouver mascaramento pelo ruído de fundo.

Contudo, alguns estudos demonstraram que a música tocada continuamente não produzesses efeitos desejados, perdendo efeito estimulador. Ela deve ser tocada, então, durante uma parteda jornada de trabalho, preferencialmente nos horários em que a fadiga manifesta-se com maiorintensidade. Esses estudos indicam que não é a música em si, mas é a mudança que ela provoca noambiente, quebrando a monotonia, que influi no desempenho. Notou-se também que o tipo demúsica, popular ou erudita, não faz diferença.

7.4 - Vibrações

Vibração é qualquer movimento que o corpo executa em torno de um ponto fixo. Esse

movimento pode ser regular, do tipo senoidal ou irregular, quando não segue nenhum padrão

determinado, como no sacolejar de um carro andando em uma estrada de terra.

A vibração é definida por três variáveis: a freqüência, medida em ciclos por segundo (Hz);

a intensidade do deslocamento (em cm ou mm) ou aceleração máxima sofrida pelo corpo, medida

em g (1g = 9,81 m x s-2). A terceira variável é a direção do movimento, definida por três eixos

triortogonais (x,y,z).

Page 80: ERGONOMIA

80

7.4.1 - Efeito das vibrações sobre o organismo

Os efeitos da vibração direta sobre o corpo humano podem ser extremamente graves,

podendo danificar permanentemente alguns órgãos do corpo humano.

A vibração pode afetar o corpo inteiro ou apenas parte dele, como as mãos e os braços. A

vibração do corpo inteiro ocorre quando há uma vibração dos pés (na posição em pé) ou do assento

(na posição sentada). Geralmente essas vibrações têm um sentido vertical, como ocorre com os

carros. As vibrações das mãos e braços ocorrem quando se usam ferramentas elétricas ou

pneumáticas, como as furadeiras.

Nos últimos anos, diversos pesquisadores têm coletado dados sobre os efeitos fisiológicos

das vibrações sobre o trabalhador, como perda de equilíbrio, falta de concentração e visão turva,

diminuindo a acuidade visual.

Em trabalhadores florestais que usam moto-serras, há uma degeneração gradativa do tecido

vascular e nervoso, causando perda da capacidade de manipular e do tato nas mãos, dificultando o

controle motor.

As vibrações são particularmente danosas ao organismo nas freqüências mais baixas, de 1 a

80 Hz. Elas provocam lesões nos ossos, juntas e tendões. A primeira publicação internacional que

estabeleceu limites de exposição a vibrações nessa faixa foi a ISO no 2631 de 1978, que apresentava

valores máximos de vibrações suportáveis para tempos de um minuto a 12 horas de exposição. As

recomendações abrangem três critérios de severidade:

1) limite de conforto, sem maior gravidade, como ocorre em veículos de transporte coletivo;

2) limite de fadiga, provocando redução na eficiência de trabalhadores, como em máquinas que

vibram;

3) limite de exposição, correspondendo ao limiar do risco à saúde. No sentido longitudinal (eixo

z, dos pés à cabeça, fig. 7.2) o corpo humano é mais sensível na faixa de 4 a 8 Hz, enquanto no

sentido transversal (eixos x e y, perpendiculares ao eixo z, fig. 7.3) o organismo é mais sensível nas

faixas de 1 a 2 Hz.

As freqüências intermediárias, de 30 a 200 Hz provocam doenças cardiovasculares, mesmo

com baixas amplitudes (1 mm) e, nas freqüências altas, acima de 300 Hz, o sintoma é de dores

agudas e distúrbios neurovasculares.Alguns desses sintomas são reversíveis. Após um longo período de descanso eles

podem reduzir-se, mas retornam rapidamente se o organismo for novamente exposto àsvibrações.

a) Freqüência de ressonância o organismo humano, sendo uma estrutura complexa, composta

de diversos ossos, articulações, músculos e órgãos, não reage uniformemente ao efeito das

vibrações. Cada parte do organismo pode tanto amortecer como amplificar as vibrações. Essas

amplificações ocorrem quando partes do corpo passam a vibrar na mesma freqüência e então

dizemos que entrou em ressonância.

Page 81: ERGONOMIA

81

Parte do Corpo Freqüência de

Ressonância (Hz)

Cabeça 20

Tronco 3

Membros Superiores 5

Coluna Vertebral 5

Coxa 9

Perna 5

Tabela 7.1 – Freqüências de ressonância para partes do corpo

O corpo inteiro é mais sensível na faixa de 4 a 8 Hz, particularmente à vibração de 5 Hz,

que corresponde à freqüência de ressonância na direção vertical (eixo z). Na direção horizontal e

lateral, as ressonâncias ocorrem à freqüências mais baixas, de 1 a 2 Hz.

Se considerarmos apenas as partes do corpo, cada uma tem diferentes freqüências de

ressonância. Assim, por exemplo, os ombros ressoam entre 20 e 30 Hz, e os olhos ressoam entre 60

e 80 Hz. Em geral, quanto maior for a massa do corpo, mais baixa será a sua freqüência de

ressonância.

Pode-se imaginar essas freqüências da seguinte forma: se um homem ficar de pé sobre uma

plataforma vibratória, que começa a vibrar lentamente e vai aumentar a sua freqüência, observa-se,

em cada instante, uma determinada parte do corpo vibrando com maior intensidade e, depois, com o

aumento progressivo da freqüência, essa parte pára, como se tivesse sido “desligada” da máquina e

uma outra parte começa a vibrar.

O conceito de freqüência de ressonância é importante, porque o organismo humano é mais

sensível às vibrações que tenham essas características. Fora das freqüências de ressonância, a

resistência do organismo às vibrações tende a aumentar. Portanto, no projeto de máquinas e

equipamentos, essa freqüências devem ser evitadas, na medida do possível, ou pelo menos

substituídas por outras freqüências menos prejudiciais.

b) Vibrações em meios de transporte praticamente todos os meios de transporte estão

sujeitos a vibrações. Aquelas de baixa freqüência (4 a 20 Hz) e acelerações de 0,06 a 0,09 g são

particularmente incômodas, causando náuseas e vômitos. As vibrações de freqüências muito

baixas, inferiores a 1 Hz, como aquelas provocadas por ondas do mar, também causam enjôos,

ânsias de vômito e indisposição geral.

As mulheres são mais sensíveis que os homens, assim como as crianças entre 1 a 12 anos de

idade. Entre adultos também há grandes diferenças individuais, sendo uns mais suscetíveis que

outros. Entretanto, o organismo humano também consegue criar resistência, quando for submetido

diversas vezes a esses movimentos. Em veículos ou navios, há uma redução dos sintomas, quando

Page 82: ERGONOMIA

82

a visão for fixada na paisagem distante ou na linha do horizonte, que permanecem relativamente

estáticos.

7.4.2 - Controle das vibrações

Uma vibração intensa transmitida por ferramentas manuais propaga-se pelas mãos, braços e

corpo do operador e pode causar dormência dos dedos e perda de coordenação motora. Inúmeras

máquinas utilizadas na indústria, como furadeiras elétricas, rebitadores, peneiras vibratórias e moto-

serras provocam enjôos, interferência na fala, confusão visual. A exposição continuada pode levar

a lesões da coluna vertebral, desordem gastrointestinal e perda do controle muscular de partes do

corpo. Existem diversas providências que o projetista pode adotar para reduzir o problema de

vibrações. Entre estas se incluem as seguintes (são válidas também para ruídos):

a) Eliminar a fonte a primeira providência em relação às vibrações é tentar reduzi-las junto à

fonte. Deve-se estudar particularmente as vibrações que provocam ressonâncias. Por exemplo,

numa britadeira manual, a vibração mais prejudicial, que provoca ressonância dos membros

superiores, é de 5 Hz. Esta, então, deveria ter prioridade de tratamento. Isso não quer dizer,

naturalmente, que outras vibrações não sejam prejudiciais, mas apenas que aquela é a mais

prejudicial nesse caso. Em outros casos, as vibrações também podem ser eliminadas por meio de

lubrificações e manutenções periódicas das máquinas e equipamentos, ou colocando-se calços de

borracha absorvedores de vibrações.

b) Isolar a fonte quando não for possível eliminar a fonte, esta pode ser isolada, para que o

trabalhador não entre em contato direto com ela. Esse isolamento pode ser feito pela distância,

afastando-se a fonte ou usando-se algum tipo de material isolante para enclausurar a fonte de

vibrações. Uma forma parcial de isolar é conseguida evitando-se as pegas muito apertadas, sempre

que não for necessário transmitir força para as ferramentas manuais.

c) Proteger o trabalhador se as providências anteriores não forem suficientes, pode-se

proteger o trabalhador individual com certos equipamentos como botas e luvas, que ajudam a

absorver as vibrações. No caso de ruídos, podem ser usados também os protetores auriculares.

Porém o uso desses equipamentos de proteção individual deve ser cuidadosamente considerado,

pois a maioria dos trabalhadores não gosta de usá-los e eles costumam ser eficientes apenas em

determinadas freqüências de vibrações.

d) Conceder pausas quando a vibração for contínua, devem ser programadas pausas (p. ex.,

10 minutos de descanso para cada hora de trabalho) para evitar a exposição contínua do trabalhador.

A freqüência e a duração dessas pausas vai depender naturalmente das características da vibração e

demais condições de trabalho. Essas pausas, se tiverem duração adequada, permitem uma

recuperação pelo menos parcial do organismo durante a jornada de trabalho, reduzindo o efeito

cumulativo das vibrações no organismo. Naturalmente, a recuperação maior vai se processar

durante o período normal de descanso, após a jornada de trabalho.

Page 83: ERGONOMIA

83

7.5 - Iluminação

Na vida moderna, pode-se dizer que o homem está praticamente “cercado” de luzes e cores

produzidas artificialmente, tanto no ambiente profissional, como no lar.

A lâmpada incandescente, inventada em 1878 por Thomas Edison (1847 - 1931), em pouco

mais de um século de existência, contribuiu como poucos inventos para aumentar a produtividade

humana, tendo acrescentado mais quatro horas diárias de vida ativa para a população mundial.

O correto planejamento da iluminação e das cores contribui para aumentar a satisfação no

trabalho, melhorar a produtividade e reduzir a fadiga e os acidentes.

7.5.1 - Efeitos fisiológicos da iluminação

O nível de iluminamento interfere diretamente no mecanismo fisiológico da visão e também

na musculatura que comanda os movimentos dos olhos.

A) Fatores que influem na discriminação visual

- Quantidade de luz o rendimento visual tende a crescer, a partir de 10 lux até cerca de 1000

lux, enquanto a fadiga visual se reduz nessa faixa. A partir desse ponto, os aumentos do

iluminamento não provocam melhorias sensíveis no rendimento, e a fadiga visual começa a

aumentar. Dessa forma, recomenda-se usar no máximo 2.000 lux. Em alguns casos excepcionais,

para montagens ou inspeções de peças pequenas e complicadas, pode-se chegar a 3.000 lux.

Existem diversas tabelas de níveis de iluminamento recomendadas para cada tipo de

ambiente, mas quase todas recaem nas faixas apresentadas na tabela 7.2.

TIPO

ILUMINAMENTO

RECOMENDADO

(lux)

EXEMPLOS DE

APLICAÇÃO

ILUMINAÇÃO GERAL

20 - 50 Iluminação mínima para corredores e almoxarifados e

estacionamentos

(LOCAIS DE POUCO

USO)

100 - 150 Escadas, corredores, banheiros, zonas de circulação,

depósitos e almoxarifados

ILUMINAÇÃO GERAL

200 - 300 Iluminação mínima de serviço. Fábricas com maquinaria

pesada. Iluminação geral de escritórios, hospitais,

restaurantes.

EM LOCAIS DE

400 - 600 Trabalhos manuais médios; oficinas em geral; montagem

de automóveis; indústria de confecções; leitura ocasional e

arquivo; sala de primeiros socorros

TRABALHO 1000* - 1500* Trabalhos manuais precisos; montagem de pequenas peças,

instrumentos de precisão e componentes eletrônicos;

trabalhos com revisão e desenhos detalhados.

ILUMINAÇÃO

LOCALIZADA

1500 - 2000 Trabalhos minuciosos e muito detalhados; manipulação de

peças pequenas e complicadas; trabalhos de relojoaria.

Page 84: ERGONOMIA

84

Tabela 7.2 - Níveis de iluminamento recomendados para algumas tarefas típicas

(*) pode ser combinado com a iluminação local

Tempo de exposição o tempo de exposição para que um objeto possa ser discriminado dependedo seu tamanho, contraste e nível de iluminação. Na maioria dos casos é suficiente o tempo de 1segundo para que haja uma boa discriminação. Se os objetos forem pequenos e o contraste forbaixo, o tempo necessário poderá crescer sensivelmente. Por exemplo, para objetos pequenos, se ocontraste for reduzido de 70 % para 50%, o tempo necessário aumentará em 4 vezes.Contraste entre figura e fundo a diferença de brilho entre a figura e fundo é chamada decontraste. Se não houver esse contraste, a figura ficará camuflada e não será visível, comoacontece, por exemplo, com o urso polar na neve ártica.Ofuscamento quando um objeto é mais brilhante que o fundo, ele é facilmente percebido, masse ocorrer o inverso, haverá uma redução da eficiência visual devido ao ofuscamento. Oofuscamento é produzido pela presença de luzes, janelas ou áreas excessivamente brilhantes emrelação ao nível geral do ambiente, ao qual o olho foi acostumado. Para acabar com o ofuscamento,a medida mais eficiente é eliminar a fonte de brilho do campo visual. Quando isso não for possível,como, por exemplo, se a fonte for uma janela, pode-se mudar a posição do trabalhador de forma queessa janela fique de lado ou de costas para ele. Outras medidas possíveis são as seguintes:- reduzir a fonte de brilho substituindo-se, por exemplo, uma lâmpada por um conjunto delâmpadas de intensidades menores, ou colocando-as longe dos olhos;- atuar sobre o ambiente, aumentando a luminosidade geral ou colocando anteparos entre a fonte debrilho e os olhos;- reduzir o brilho refletido usando-se lâmpadas de luz difusa ou eliminando-se superfícies refletorasno campo visual.

B) Fadiga visual

A fadiga visual é causada principalmente pelo esgotamento dos pequenos músculos ligados

ao globo ocular, responsáveis pela movimentação, fixação e focalização dos olhos. Raramente

refere-se à dificuldade de percepção. A fadiga visual provoca tensão e desconforto. Os olhos ficam

avermelhados, começam a lacrimejar, e a freqüência de piscar vai aumentando. Em grau mais

avançado a fadiga visual provoca dores de cabeça, náuseas, depressão e irritabilidade emocional.

A fadiga visual é decorrente das seguintes causas:

a) fixação de detalhes - objetos muito pequenos exigem grande esforço dos músculos dos olhos

para acomodação e convergência;

b) iluminação inadequada - a intensidade luminosa insuficiente ou errada, provoca brilhos e

ofuscamentos;

c) pouco contraste - quando há pouca diferença entre a figura e o fundo, porque ambos apresentam

cores ou formas semelhantes;

d) pouca definição - objetos e figuras com traços ou contornos confusos, como cópias mal feitas ou

manuscritos pouco legíveis;

e) objetos em movimento - os objetos em movimento exigem maior ação muscular para serem

focalizados, principalmente se forem pequenos, de baixo contraste e mal iluminados.

Page 85: ERGONOMIA

85

f) má postura - a má postura pode dificultar a leitura, por exemplo, quando há paralaxe em

instrumentos de medida.

7.5.2 - Planejamento da iluminação

A iluminação dos locais de trabalho deve ser cuidadosamente planejada desde as etapas

iniciais de projeto do edifício, fazendo-se aproveitamento adequado da luz natural e suplementando-

a com luz artificial, sempre que for necessário.

A claridade do ambiente é determinada não apenas pela intensidade da luz, mas também

pelas distâncias e pelo índice de reflexão das paredes, tetos, piso, máquinas e mobiliário.

Um bom sistema de iluminação, com o uso adequado de cores e a criação dos contrastes,

pode produzir um ambiente de fábrica ou escritório agradável, onde as pessoas trabalham

confortavelmente, com pouca fadiga, monotonia e acidentes, e produzem com maior eficiência.

A) Sistemas de iluminação

O sistema de iluminação, assim como a escolha do tipo de lâmpadas, luminárias e a

distribuição das mesmas depende das características do trabalho a ser executado. Existem

basicamente três tipos de sistemas de iluminação:

a) iluminação geral a iluminação geral se obtém pela colocação regular de luminárias em toda

a área, garantindo-se, assim, um nível uniforme de iluminamento sobre o plano horizontal.

b) iluminação localizada a iluminação localizada concentra maior intensidade de iluminamento

sobre a tarefa, enquanto o ambiente geral recebe menos luz, da ordem de 50% da primeira.

c) iluminação combinada - a iluminação geral é complementada com focos de luz localizados

sobre a tarefa, com intensidade de 3 a 10 vezes superior ao do ambiente geral, principalmente nos

seguintes casos:

- a tarefa exige iluminamento local acima de 1.000 lux;

- a tarefa exige luz dirigida para discriminar certas formas, texturas ou defeitos.

- existem obstáculos físicos que dificultam a propagação da iluminação geral.

d) posicionamento das luminárias as luminárias devem ser posicionadas de modo a evitar a

incidência da luz direta ou refletida sobre os olhos, para não provocar ofuscamentos. De

preferência devem se situar acima de 30o em relação à linha de visão (horizontal) e, se possível,

devem ser colocadas lateralmente ou atrás do trabalhador, para evitar a luz direta ou refletida nos

seus olhos. No caso da iluminação combinada, se houver necessidade de se colocar a luminária em

frente ao trabalhador, esta deve ser provida de um anteparo, para se evitar a incidência de luz direta

sobre os olhos.

B) Recomendações sobre iluminação

1. Sempre que possível, aproveitar a iluminação natural, evitando-se a incidência direta da luz solar

sobre superfícies envidraçadas.

Page 86: ERGONOMIA

86

2. As janelas devem ficar na altura das mesas e aquelas, de formatos mais altos na vertical, são

mais eficazes para uma penetração mais profunda da luz.

3. A distância da janela ao posto de trabalho não deve ser superior ao dobro da altura da janela,

para o aproveitamento da luz natural.

4. Para reduzir ofuscamentos:

- usar vários focos de luz, ao invés de um único;

- proteger os focos com luminárias ou anteparos, colocando um obstáculo entre a fonte e os olhos;

- aumentar o nível de iluminamento ambiental em torno da fonte de ofuscamento, para diminuir o

brilho;

- colocar as fontes de luz o mais longe possível da linha de visão;

- evitar superfícies refletoras, substituindo-as pelas superfícies difusoras.

5. Para postos de trabalhos onde se exigem maiores precisões, providenciar um foco de luz

adicional, que pode ter um brilho de 3 a 10 vezes superior ao do ambiente geral.

6. Usar cores claras nas paredes, tetos e outras superfícies, para reduzir a absorção da luz.

7. A luz da lâmpada fluorescente é intermitente e pode causar o efeito estroboscópio em motores

ou peças em movimento (se houver coincidência com a ciclagem de 60 hertz podem produzir

uma imagem estática), havendo riscos de provocar acidentes.

7.6 - Cores

A cor é uma resposta subjetiva a um estímulo luminoso que penetra nos olhos. O olho é um

instrumento integrador de estímulos. Ele nunca percebe um estímulo isolado, mas um conjunto de

estímulos simultâneos e complexos, que interagem entre si, formando uma imagem, que pode ter

características diferentes daqueles estímulos, quando considerados isoladamente.

7.6.1 - Características das cores

Do ponto de vista físico, as cores do espectro visível podem ser consideradas como ondas

eletromagnéticas na faixa de 400 a 750 nm (1 nm = 10-9 m), com as seguintes bandas dominantes:

- Azul: abaixo de 480 nm - Verde: 480 a 560 nm

- Amarelo: 590 a 630 nm - Laranja: 590 a 630 nm

- Vermelho: acima de 630 nm

A cor de um objeto é caracterizada pela absorção e reflexão seletiva das ondas luminosas

incidentes. A cor que enxergamos é aquela que foi refletida pelo objeto. Assim, um corpo negro ou

absorvedor ideal é aquele que absorve todos os comprimentos de onda e não reflete nada. Ao

contrário, o corpo branco é o que reflete tudo e não absorve nada.

Um objeto verde, por exemplo, significa que absorve todos os comprimentos de onda,

exceto aqueles em torno de 500 nm, que produzem a sensação de verde. Da mesma forma, um

objeto será vermelho se refletir somente aquelas ondas que se aproximem de 700 nm.

Quando nos referimos à cor de um objeto, geralmente subentendemos que o mesmo é visto

sob luz branca ou solar. Com outras luzes, como acontece com muitos tipos de lâmpadas

comerciais, as cores percebidas podem ser diferentes.

Page 87: ERGONOMIA

87

As denominadas cores primárias são aquelas que não podem ser produzidas a partir da

mistura de outras cores e, se elas forem misturadas entre si em proporções variáveis, produzem

todas as demais cores do espetro. Existem dois tipos de cores primárias: as da luz e as de corantes.

Cores primárias da luz: são o vermelho, o verde e o azul. As outras cores são obtidas

aditivamente. Cores primárias de corantes: são o amarelo, o magenta e o verde-azul. As outras

cores são obtidas subtrativamente. Cores complementares: além das cores primárias, cujas

misturas produzem as outras cores, existem também as cores complementares (de luzes) que se

anulam mutuamente, ou seja, cujas misturas produzem a branca. São representadas pelos seguintes

pares: vermelha verde-azul; amarela azul; verde magenta.

A legibilidade de cores depende do contraste e tende a aumentar com a adição de preto. Em

letreiros, só se deve usar cores puras nos títulos principais, com fundo mais claro. Os letreiros

longos podem ter a mesma cor do fundo, porém mais escuro, de modo que, quanto menor a letra,

maior deverá ser o conteúdo de preto. Em letreiros curtos pode-se usar uma cor complementar no

fundo, como a vermelha sobre o verde-azul e vice-versa. Diversos estudos experimentais realizados

sobre a visibilidade das cores apresentaram os seguintes resultados, em ordem decrescente:

1) azul sobre o branco; 2) preto sobre o amarelo;

3) verde sobre o branco; 4) preto sobre o branco;

5) verde sobre o vermelho; 6) vermelho sobre o amarelo;

7) vermelho sobre o branco; 8) laranja sobre o preto;

9) preto sobre o magenta; 10) laranja sobre o branco;

Por exemplo, em placas para carro, que deveriam ter uma boa legibilidade, a cor

recomendada seria o azul sobre fundo branco. A legibilidade depende ainda do tipo de letra e de

suas proporções. Outros fatores que influenciam a legibilidade é o nível de iluminação e o

movimento relativo entre a imagem e o espectador sendo, naturalmente, mais fácil identificar

objetos parados.

Existem também estudos que comprovam a influência das cores sobre o estado emocional,

sobre a produtividade e sobre a qualidade do trabalho.

O ser humano apresenta diversas reações a cores, que o podem deixar triste ou alegre,

calmo ou irritado. O vermelho, o laranja e o amarelo sugerem calor, enquanto o verde, o azul e o

verde-azul sugerem frio. Cores avermelhadas sugerem alegria e satisfação. O preto, quando usado

só, é depressivo e sugere melancolia. Essas características são muito utilizadas em marketing.

Assim, já houve casos em que uma simples mudança da cor em uma embalagem provocou aumento

de vendas em 1.000 %.

As cores possuem também diferentes simbologias, associações e superstições, que variam

de acordo com a região e a cultura. Por exemplo, a cor do luto no ocidente é preta, mas na china é

branca. Isso sugere que os fabricantes de produtos para exportação devem atentar para esses

detalhes.

Entre as associações normalmente feitas com as diversas cores, podemos destacar as

seguintes, a título de exemplos:

Page 88: ERGONOMIA

88

- vermelho: é cor quente, saliente, agressiva, estimulante e dinâmica até o enervamento. Sendo a

cor do fogo e sangue, é a cor mais importante para muitos povos, figurando quase sempre nas cores

das bandeiras. Associada ao verde, forma o par de cores complementares mais vibrante. Quando

aplicado em pequenas porções sobre o fundo verde, chega a produzir vibrações desagradáveis.

- Amarelo: cor luminosa e digna, evoca dominação, riqueza material e espiritual. Representando o

calor, energia e claridade, opõe-se à passividade e à frigidez do azul. Junto com o vermelho é

considerada cor “masculina”, enquanto o verde, o azul e o vileta são “femininas”.

- Verde: a cor verde é passiva, sugere imobilidade, alivia tensões e equilibra o sistema nervoso.

Não deixa acompanhar nem de alegria, nem de tristeza e nem de paixão. Medidas de tensões

nervosas e pressões sangüíneas comprovam a qualidade calmante do verde, justificando seu uso em

locais de repouso e mesas de jogo.

- Azul: é cor fria por excelência. É calmo, repousante e até mesmo um pouco sonífero. Sugere

indiferença, imprudência e passividade. Exerce apelo intelectual, simbolizando inteligência e

raciocínio, opondo-se ao apelo emocional do vermelho.

_ Laranja: cor muito quente, viva, acolhedora, saliente. Evoca o fogo, o sol, a luz e o calor.

Associa-se a propriedades do vermelho e amarelo que lhe dão origem. É cor psicologicamente ativa

e capaz de facilitar a digestão.

- Branco: cor da pureza, simbolizando a paz, nascimento e morte.

- Preto: é deprimente, evoca a sombra e o frio, o caos, o nada, o céu noturno, o mal, a angústia, a

tristeza, o inconsciente e a morte.

7.6.2 - Planejamento das cores

Um planejamento adequado do uso das cores no ambiente de trabalho, aplicando-se cores

claras em grandes superfícies, com contrastes adequados para identificar os diversos objetos,

associado a um planejamento adequado da iluminação, tem resultado em economia de até 30 % no

consumo de energia e aumentos de produtividade que chegam a 80 ou 90 %.

Existem diversas experiências comprovando a influência das cores no desempenho humano.

Por exemplo, numa fábrica de produtos fotográficos, o processo de fabricação exigia o uso de luzes

especiais. Diversos problemas disciplinares ocorridos na fábrica desapareceram assim que a luz

vermelha das salas foi substituída pela verde.

A pintura de uma forjaria em azul proporciona uma sensação de frescor, puramente

psicológica, apesar do calor reinante. Ao contrário, a sensação de frio em lavabos e vestiários pode

ser reduzida com o uso racional de cores quentes como o amarelo, o laranja e o vermelho.

Cores nas fábricas nas fábricas, em geral, são recomendadas as combinações de cores

apresentadas na tabela 7.3.

PAREDES MÁQUINAS

Cinza claro verde claro

bege creme verde azulado claro

Page 89: ERGONOMIA

89

ocre-amarelo fosco azul claro

Tabela 7.3 - Combinações de cores para utilizar em paredes e máquinas

Eventualmente, poderão ser utilizados dois ou mais graus de claridade para criar um

conjunto alegre e dinâmico.

O uso de cores deve ser cuidadosamente planejado, junto com a arquitetura e a iluminação,

de modo que o conjunto seja harmônico. As paredes, máquinas, equipamentos de transporte e até

utensílios e ferramentas individuais deverão seguir as cores planejadas. Nos pontos em que há

necessidade de maior visibilidade, pode-se aumentar o contraste de cores e o nível de iluminação.

Cores nos equipamentos naturalmente não convém pintar todo o equipamento de uma única

cor. Existem normas para pintar as partes móveis e perigosas de equipamentos e das tubulações. O

corpo principal deve ser pintado de uma cor clara, que descanse a vista, sendo recomendadas as

seguintes: verde claro, azul claro, verde-azulado claro, cinza claro. Cores foscas são melhores

que as cores brilhantes, pois as últimas produzem reflexos que prejudicam a visão e distraem o

trabalhador. Uma combinação adequada de cores, usada harmoniosamente, quebra a monotonia e

ajuda a obter concentração do trabalhador sobre determinadas partes do equipamento, ajudando a

reduzir acidentes. As cores bem dosadas também estimulam a manter o equipamento limpo.

A norma brasileira NB - 76/59 fixa as cores dos locais de trabalho para prevenção de

acidentes. Recomenda o uso de 8 cores de acordo com as seguintes aplicações:

- Vermelho: em equipamentos de combate a incêndio, como extintores, hidrantes, caixas de

alarme. Excepcionalmente pode indicar advertência e perigo, sob forma de luzes ou botões

interruptores de circuitos elétricos.

- Alaranjado: identifica as partes móveis e perigosas de máquinas e equipamentos, como polias,

engrenagens e tampas de caixas protetoras (pintar no lado interno, par ficar visível na posição

aberta).

- Amarelo: indica “cuidado” em escadas, vigas, partes salientes de estruturas, bordas perigosas,

equipamentos de transporte e de manipulação de material. Pode ser combinado com faixas ou

quadrados pretos quando houver necessidade de melhorar a visibilidade, como em pára-choques, ou

para delimitar locais de trabalho perigosos.

- Verde: cor usada pela segurança industrial para identificar equipamentos de primeiros socorros,

macas chuveiros de segurança, e quadros para exposição de cartazes sobre segurança.

- Azul: indica equipamentos fora de serviço, pontos de comando e partidas ou fontes de energia.

- Púrpura: é usado para indicar os perigos provenientes de radiações eletromagnéticas penetrantes

e de partículas nucleares.

- Branco: é usado para demarcar áreas de corredores e locais de armazenagem, localizações de

equipamentos de primeiros socorros, combate ao incêndio, coletores de resíduos e bebedouros.

- Preto: indica os coletores de resíduos.

Uma outra norma, a NB-54/57 fixa as cores para tubulações:

- Vermelho: combate ao incêndio. - Verde: água.

- Azul: ar comprimido. - Laranja: ácidos.

Page 90: ERGONOMIA

90

- Lilás: álcalis. _ Marrom: qualquer outro tipo de fluído.

- Cinza claro: vácuo. _ Cinza escuro: eletrodos.

_ Branco: vapor.

_ Preto: inflamáveis e combustíveis de alta viscosidade.

- Alumínio: gases liqüefeitos, inflamáveis e combustíveis de baixa viscosidade.

Existem diversos outros códigos de cores usados na indústria, por exemplo, para identificar

botijões de gás ou resistividades elétricas, mas não serão apresentados aqui por se tratarem de

aplicações específicas.

Page 91: ERGONOMIA

91

ERGONOMIACapítulo 8 - ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

8.1 - Introdução

A ergonomia fornece um conjunto de conhecimentos científicos sobre o homem e a

aplicação destes conhecimentos na concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos que o

homem utiliza na atividade de trabalho.

Entretanto, as situações de trabalho não são determinadas unicamente por critérios

ergonômicos. A organização do trabalho, a concepção de ferramentas e máquinas, a implantação de

sistemas de produção são, também, determinados por outros fatores, tanto técnicos como

econômicos e sociais. Em virtude desses outros fatores e até mesmo pela falta de conhecimento da

maioria da população sobre ergonomia, encontra-se, com freqüência, postos de trabalhos

- Ponto de partida ���� delimitação do objeto de estudo, definido a partir da formulação da

demanda

- Razões que levam à sua realização

� condições de trabalho � segurança do trabalho

� fabricação � dificuldade de recrutamento

� melhoria da qualidade � aumento da produtividade

- É fundamental estabelecer os objetivos a serem alcançados pelos mesmos

- Para desenvolver o trabalho dentro da realidade da situação de trabalho é preciso:

� conhecer a tecnologia utilizada

� conhecer a situação econômica

� levar em conta os fatores sociais: idade média, tempo de serviço e 1grau de

escolaridade

8.2 – Análise Ergonômica da Demanda

8.2.1 - Dados que devem ser coletados pela análise da demanda

Dados sobre a empresa

- setor de atividade - importância sócio econômica

- objetivos a curto, médio e longo prazos - tecnologia utilizada

- modo de gestão do pessoal - interações e inter-relações entre os

subsistemas

- estrutura e funcionamento do processo global de produção

Dados sobre a população envolvida

- efetivo - divisão por idade e por sexo

- tempo de serviço na empresa e no posto

Page 92: ERGONOMIA

92

- nível de formação - nível de qualificação

Dados sobre o posto de trabalho

- posição do posto dentro do sistema global de produção

- condições ambientais de trabalho

- condições organizacionais de trabalho

8.3 - Análise Ergonômica da Tarefa

A tarefa é um objetivo a ser atingido. Sua análise coincide com a análise das condições

dentro das quais o trabalhador desenvolve suas atividades de trabalho.

Para analisar a tarefa, ou as condições de trabalho, é conveniente distinguir três fases

distintas:

1a) delimitação do sistema homem-tarefa a ser analisado;

2a) descrever todos os elementos que compõem esse sistema, isto é, identificar os componentes do

sistema que condicionam as exigências de trabalho;

3a) Avaliar as exigências do trabalho.

Do ponto de vista ergonômico, uma situação de trabalho é um sistema complexo e

dinâmico, cujas entradas (as exigências de trabalho) determinam a atividade do trabalhador (os

comportamentos de trabalho) e, cujas saídas, resultam desta atividade (os resultados do trabalho).

Costuma-se em análise ergonômica trabalhar com sistemas homens-tarefas. Sistemas

homens-tarefas são sistemas mais ricos que os tradicionais sistemas h0mens-máquinas tradicionais,

na medida em que as tarefas compreendem não só as máquinas e suas manifestações (condições

técnicas de trabalho), mas também as condições organizacionais e ambientes de trabalho.

Segundo POYET (1990) pode-se considerar três diferentes níveis de tarefa:

- tarefa prescrita;

- tarefa induzida ou redefinida;

- tarefa realizada ou atualizada;

Tarefa prescrita

Trata-se do conjunto de objetivos, procedimentos, métodos e meios de trabalho, fixados

pela organização para os trabalhos. É o aspecto formal e oficial do trabalho, isto é, o que deve ser

feito e os meios colocados à disposição para a sua realização.

Tarefa induzida ou redefinida

É a representação que o trabalhador elabora da tarefa, a partir dos conhecimentos que ele

possui das diversas componentes do sistema. É o que o trabalhador pensa realizar. Pode-se fala,

neste caso, em tarefa real ou efetiva.

Tarefa realizada ou atualizada

Page 93: ERGONOMIA

93

Em função dos imprevistos e das condicionantes de trabalho, o trabalhador modifica a

tarefa induzida às especificidades da situação de trabalho, atualizando, assim, a sua representação

mental referente ao que deveria ser feito

A distinção da tarefa, em três níveis, é importante porque permite ao analista compreender

as distâncias, que normalmente existem, entre a definição formal e oficial daqueles que concebem o

trabalho e as representações deformadas que o trabalhador elabora a partir do seu entendimento.

8.3.1 - Delimitação do sistema homem-tarefa

A delimitação do sistema é composta em cinco etapas sucessivas:

a) Definição e concepção da missão do sistema: trata-se de determinar os objetivos do sistema

homem-tarefa a ser analisado.

b) Definição do perfil do sistema: deve-se realizar uma avaliação dos objetivos do sistema,

estabelecendo uma hierarquia entre eles;

c) Identificação e descrição das funções do sistema e dos sub-sistemas existentes e as ligações

funcionais;

d) Estabelecimento de normas: estabelecer critérios de performance funcional em itens como:

prazos, quantidade, qualidade, informações recíprocas;

e) Atribuição de funções aos homens e às máquinas.

Após estas fases, o sistema homem-tarefa estará delimitado e o posto de trabalho e suas

inter-relações definido.

Por outro lado, não se pode abordar de imediato todas as variáveis do sistema delimitado. É

preciso definir também, quais as variáveis que serão analisadas ou, ao menos, fixar uma prioridade

entre as diversas variáveis do sistema. Neste caso, deve-se procurar compreender como funciona o

sistema de produção delimitado.

8.3.2 - Descrição das componentes do sistema homem-tarefa

A descrição das componentes do sistema homen-tarefa é a identificação das exigências de

trabalho. Esta descrição tem dois objetivos principais:

1o) Aquisição de um conhecimento aprofundado a respeito da tarefa a ser analisada;

2o) Definição das diferentes componentes do sistema (materiais, organizacionais e ambientais) que

são pertinentes às funções do operador (ou operadores) do sistema.

A partir da descrição do sistema homem-tarefa pode-se:

- Tomar consciência do tipo de intervenção ergonômica a ser feita e as diversas áreas

envolvidas;

Page 94: ERGONOMIA

94

- Identificar os grandes processos que serão analisados de forma aprofundada na análise das

atividades;

- Preparar planos de enquête (questionários, entrevistas, levantamento de posturas,

deslocamentos);

- Prognosticar disfunções evidentes.

Em resumo pode-se identificar as exigências da situação de trabalho. Estas exigências poderão

ser sub-divididas em oito grandes categorias, permitindo identificar dados referentes:

a) ao homem; b) à máquina; c) às entradas; d) às saídas

e) às ações; f) às condições ambientais de trabalho;

g) ás condições organizacionais de trabalho.

a) Dados a serem levantados referente ao homem

- Operador (ou operadores) que intervem no posto (ou postos) e seu papel no sistema de

produção

- Formação e qualificação profissional

- Número de operadores trabalhando simultaneamente sobre cada posto

- Regras de divisão de tarefas ( quem faz o quê?)

- Números de trabalhadores trabalhando sucessivamente sobre cada posto e regras de

suscessão (horários, modos de alternância das equipes)

- Características da população: idade, sexo, forma de admissão, remuneração, estabilidade

no posto e na empresa, absenteísmo, rotatividade da mão de obra (turn-over), sindicalização,...

b) Dados a serem levantados referente à máquina

- Estrutura geral da máquina (ou máquinas)

- Dimensões características (croqui, foto, fluxograma de produção)

- Órgãos de comando da máquina

- Órgãos de sinalização da máquina

- Princípios de funcionamento da máquina (mecânico,hidráulico, pneumático, eletrônico,...)

- Problemas aparentes na máquina (ou máquinas)

- Aspectos críticos evidentes na máquina

c) Dados a serem levantados referente às ações

- As ações imprevistas ou não programadas

- Os principais gestos de trabalho realizados pelo operador

- As principais posturas de trabalho assumidas pelo operador

- Os principais deslocamentos realizados pelo operador

- As principais decisões a serem tomadas pelo operador

- As principais ações do operador sobre: a máquina, as entradas e as saídas

Page 95: ERGONOMIA

95

d) Dados a serem levantados referente ao ambiente de trabalho

- O espaço e os locais de trabalho

- O ambiente térmico (temperatura úmida e seca, umidade relativa do ar, velocidade do ar)

- O ambiente sonoro (pressão sonora, freqüência de emissão de ruído e tempo de exposição

ao ruído)

- O ambiente luminoso (pressão sonora, freqüência de emissão do ruído e tempo de

exposição ao ruído)

- O ambiente vibratório (freqüência das vibrações)

- O ambiente toxicológico (concentração de partículas e gases tóxicos)

e) Dados a serem levantados referentes às fontes de informações

- Levantamento dos diferentes sinais úteis ao(s) operador(es)

- Canais sensoriais envolvidos

- Elementos de suporte (cor, grafismo, letras)

- Freqüência e distribuição dos sinais

- Intensidade dos sinais luminosos e sonoros

- Dimensões dos sinais visuais (relação distância-formato)

- Discriminação de um mesmo tipo (sonoro por exemplo)

- Riscos do efeito de máscaras ou de interferências de sinais

- Dispersão espacial das fontes

- Exigência de sinais de advertência e de sistemas de interação

- Importância das diferenças de intensidade a serem percebidas

f) Dados a serem levantados referentes aos órgãos sensoriais

Visão

- Campo visual do operador e localização dos sinais- Tempo disponível para acomodação

visual

- Riscos de ofuscamento - Acuidade visual exigida pela tomada de

informação

- Sensibilidade às diferenças de luminâncias - Rapidez de percepção de sinais visuais

- Sensibilidade às diferenças de cores - Duração da solicitação do sistema visual

Audição

- Acuidade auditiva exigida - Riscos de problemas de audição devido a ruídos elevados

- Sensibilidade às comunicações verbais em meio ruidoso

- Sensibilidade às diferenças de caracteres de sons(freqüência, timbre, tempo de exposição)

f) Dados a serem levantados referentes aos dispositivos sinais-comandos

- Número e variedade de comandos da máquina

Page 96: ERGONOMIA

96

- Posição, distância relativa dos sinais e dos comandos associados

- Grau de precisão da ação do operador sobre o comando das máquinas

- Intervalo entre o aparecimento do sinal e o início da ação

- Rapidez e freqüência das ações realizadas pelo operador

- Grau de compatibilidade dos movimentos de diferentes comandos, manobrados seqüencialmente

ou simultaneamete

- Grau de realismo dos comandos

- Disposição relativa dos comandos e cronologia de sua utilização

- Grau de correspondência entre a forma dos comandos e suas funções

- Grau de coerência no sentido dos movimentos de comandos, que tenham similares

g) Dados a serem levantados referentes às características do operador

- Exigências antropométricas: posição dos comandos em relação às zonas de alcance das mãos e

dos pés

- Posturas ou gestos do operador susceptíveis de impedir a recepção de um sinal

- Membros do operador envolvidos pelos diferentes comandos da máquina

- Ações simultâneas das mãos e dos pés

- Grau de encadeamento dos gestos sucessivos

- Grau de conformidade dos deslocamentos dos comandos em relação aos estereótipos dos

operadores

- Grau de compatibilidade entre o efeito de uma ação sobre um comando percebido (ou imaginado)

pelo operador, e a codificação utilizada (forma, dimensão, cor) deste comando

h) Dados a serem levantados referentes às condições organizacionais do trabalho

Organização geral da empresa

- Estrutura funcional - Diretorias

- Departamentos - Divisões

- Serviços - Seções

- Postos de trabalho

Organização ao nível do posto

- Divisão de funções - Arranjo físico das máquinas e sistemas de produção

- Estrutura das comunicações - Métodos e procedimentos de trabalho

- Contrato de trabalho ( horários, equipes, modo de remuneração)

8.3.3 - Avaliação das exigências do trabalho

Exigências físicas de trabalho

- Avaliações referentes à tarefa e à situação

� esforços dinâmicos � esforços estáticos

- Avaliações referentes ao organismo humano

Page 97: ERGONOMIA

97

� posturas � movimentos

� gastos energéticos � as reações cardiovasculares (freqüência

cardíaca, pulsação)

Exigências ambientais

- Avaliações referentes ao ambiente luminoso

- Avaliações referentes ao ambiente térmico

- Avaliações referentes ao ambiente sonoro

8.4 - Identificação e detecção das síndromes ergonômicas

Para o estabelecimento do diagnóstico parte-se da identificação das síndromes as quais se

explicam no decorrer da análise do trabalho. Nesse sentido apresenta-se a seguir as principais

categorias de síndromes a serem identificadas e as modalidades de sua intervenção.

1) Erros Humanos - desvio em relação a uma norma preestabelecida ou resultado indesejado do

trabalho

O erro pode ser detectado em diferentes níveis:

- Erro na atividade individual do trabalho

- Erro na atividade coletiva de trabalho

- Erro no funcionamento do conjunto do sistema homem-tarefa

Alguns tipos de erros que podem ser detectados em diversas situações de trabalho:

- Manipulação de uma ferramenta de uma forma não prescrita

- Acionamento de um comando de forma intempestiva

- Modo operativo proibido pelas normas de segurança

- Omissão de uma operação prevista no processo

- Dosagem de produtos mas-formulados

- Leitura de aparelhos de medida de forma equivocada

- Leitura de desenho técnico de forma errônea

- Montagem de peças diversas de maneira não conforme

- Estabelecimento de uma trajetória de forma equivocada

O erro permite identificar o desvio em relação a norma, ou ao comportamento que leva a um

resultado negativo.

Duas condições são necessárias:

- Conhecer a norma

- Dispor de meios para acompanhar a execução do trabalho, ao menos nos seus aspectos

fundamentais

2) Incidentes Críticos - todo evento observável, numa situação de trabalho, que apresenta um

caráter anômalo em relação a um desenvolvimento habitual conhecido

Alguns tipos de incidentes críticos que podem ser detectados:

- Material - Ambiental

Page 98: ERGONOMIA

98

- Tarefa - Pessoal

3) Acidentes de Trabalho - todo evento observável, numa situação de trabalho, que afeta a

componente humano dos sistemas

4) Panes do sistema - todo evento observável que afeta a componente material do sistema

homem-tarefa. A pane se manifesta por uma interrupção do sistema

5) Defeitos de produção – desvios constatados ao nível do produto fabricado e do resultado

previsto do trabalho

Um procedimento sugerido para dar um tratamento aos defeitos consta dos seguintes itens:

- Identificar o defeito (atribuir um nome) - Descrever o defeito

- Determinar a(s) causa(s) possíveis do defeito - Prescrever uma ação corretiva

- Prescrever uma ação corretiva

6) Baixa produtividade – produtividade identifica o alcance de um certo nível de produção com a

garantia de um certo padrão de qualidade

Pode-se levantar este sintoma a partir de uma análise histórica do nível de produção e da sua

evolução no tempo

Deve-se observar os seguintes aspectos:

- Variações ocorridas no espaço de tempo considerado

- Possíveis causas da baixa produtividade

- As variáveis que determinam a baixa produtividade

Page 99: ERGONOMIA

99

ERGONOMIA

CAPÍTULO 9 - ARRANJO FÍSICO

9.1 - Introdução

Ao se iniciar o processo de implantação de uma indústria, um dos problemas fundamentais

a ser resolvido é a definição do local onde se instalará a indústria.

A localização da indústria pode ser analisada em duas etapas: a macrolocalização e a

microlocalização.

A macrolocalização é a etapa mais ampla pois visa definir a região onde deverá ser

implantada a indústria, levando em consideração fatores de ordem econômica e fatores de ordem

técnica.

Os fatores de ordem econômica são:

- matéria-prima; - mercado; - transporte;

- mão de obra; - planejamento estratégico da empresa.

Os fatores de ordem técnica são:

� água � comunicação � energia

� clima � resíduos � leis e impostos

Uma vez escolhida a região, parte-se para a escolha do local efetivo de implantação da

indústria, definindo-se assim sua microlocalização. Nesta etapa, prevalecerão os fatores técnicos.

Para tal, a fim de evitar que as condições inseguras surjam a partir das próprias características do

terreno, deve-se analisar uma série de fatores. As condições inseguras poderão ser provenientes de:

deslizamento de terra, deslizamento de pedras, riscos de inundação, dimensões insuficientes para

atender as expansões futuras, não existência de água potável, não existência de meios de

comunicação e de um sistema rodo-ferroviário, fluvial e aéreo, e de um sistema de esgoto sanitário,

etc.

Tendo especificado o local, a próxima etapa é definir o arranjo mais adequado de homens,

equipamentos e materiais sobre uma determinada área física, dispondo esses elementos de forma a

minimizar os transportes, eliminar os pontos críticos de produção e suprimir as demoras

desnecessárias entre as várias atividades.

Entra-se assim, na fase de elaboração do layout ou arranjo físico das instalações da

empresa. Nesta fase, estabelece-se a posição relativa entre as diversas áreas. Os modelos de fluxo e

as inter-relações entre as diversas áreas são visualizadas, tendo-se a noção clara do fluxo industrial,

desde a entrada das matérias-primas até a saída do produto. Depois, defini-se claramente a

localização de cada máquina, posto de trabalho.

As técnicas do arranjo físico permitem assegurar um entrosamento interno e um

funcionamento harmônico da empresa.

Page 100: ERGONOMIA

100

O arranjo físico é, portanto, uma das etapas finais, e só pode ser elaborado depois de

definida uma série de outros itens, entre os quais:

- tipo de produto; - volume de produção; - tipo de produção;

- tipo de equipamento produtivo; - outros.

O principal campo de ação do arranjo físico é internamente à empresa, definindo e

integrando os elementos produtivos. Não é somente uma disposição racional das máquinas mas

também, o estudo das condições humanas de trabalho (iluminação, ventilação, etc.), de corredores

eficientes, de como evitar controles desnecessários, de armários e bancadas ao lado das máquinas,

de qual meio de transporte vai ser utilizado para movimentação da peça.

Isto posto, percebe-se que o arranjo físico é, sobre tudo, um estudo das interações entre

homens e objetos em um ambiente de trabalho, relacionados pela função que cada um desempenha,

movimentação necessária e distribuição em um espaço físico.

Então basicamente o estudo do arranjo físico visa solucionar um problema: promover a

interação harmônica entre homens, atividades, e objetos em um espaço físico determinado. Estudar,

analisar e sugerir alternativas que podem levar a solução deste problema será o objetivo deste

estudo.

9.2 - Conceito de arranjo físico

Fazer o arranjo físico de uma área qualquer é planejar e integrar os caminhos dos

componentes de um produto ou serviço, a fim de obter o relacionamento mais eficiente e econômico

entre o pessoal, equipamentos e materiais.

O arranjo físico, portanto, é um estudo sistemático que procura a combinação mais

adequada das instalações que concorrem para a produção de um bem ou serviço, dentro de um

espaço disponível. Abrange o estudo de instalações existentes, ou em planejamento[ 1 ].

Procura harmonizar e integrar todos os itens que possibilitem uma atividade de trabalho, e

que envolve:

_ pessoas (direta ou indiretamente envolvidas com a atividade);

_ objetos (equipamento, máquinas, utensílios, material, mesas, etc.);

_ espaço ou áreas (de trabalho, de movimentação, de estocagem, de administração, etc...).

Para se obter a combinação mais adequada, é necessário estabelecer uma forma de medir a

eficiência das soluções encontradas. Mas a forma de medir, por sua vez será dependente da

importância relativa entre os requisitos a serem atendidos pelo arranjo físico. Supondo que os

requisitos estabelecidos sejam, por exemplo, segurança, condições ambientes, estética do conjunto,

e fluxo racional. Se pessoas diferentes forem designadas para planejar o arranjo físico, e estas

atribuírem importâncias diferentes para cada um destes requisitos, é bem provável que a solução

encontrada por ambos seja diferente. Logo o mesmo problema poderá ter soluções diferentes,

dependendo do critério adotado.

Page 101: ERGONOMIA

101

Logo, antes de se definir por determinada combinação, deve-se realizar um bom estudo,

pois embora inicialmente seus custos sejam mais elevados, na maioria das vezes rapidamente há o

retorno do investimento.

9.3 - Como surge o problema do arranjo físico

O arranjo físico é um problema dinâmico e pode surgir toda vez que ocorrer mudanças nos

membros da equação da produção:

Produção = administração (material + pessoal + equipamento + processo)

Qualquer alteração em um desses três elementos pode tornar inadequado um arranjo

existente, pois este foi planejado a partir de informações que já não correspondem mais a realidade.

Daí a importância de se contar com um bom sistema de informações, que forneça com antecedência

as alterações a serem executadas e contar com tempo para executar o estudo.

Entre os acontecimentos normais dentro da dinâmica de uma empresa que podem provocar

a necessidade de um reestudo do arranjo físico existente, destacam-se:

- Obsolescência das instalações existentes � novos produtos ou novos serviços, aquisição de

máquinas e equipamentos, avanço da tecnologia, necessidade de novas seções, melhoria dos

métodos de trabalho);

- Mudança no projeto do produto;

- Redução dos custos de produção � corte de pessoal e/ou paradas de equipamentos e diminuição

de movimentação de materiais;

- Melhoria das condições de trabalho e redução de acidentes em um ambiente de trabalho

inadequado provocado por ruído, temperaturas anormais e má iluminação, que reduzem o

rendimento do trabalhador;

- Variações na demanda; - Mudança do mercado de consumo;

- Manuseio excessivo; - Instalação de uma nova empresa.

Todos esses acontecimentos provocam mudanças nos membros da equação da produção o

que pode levar a necessidade de um novo estudo do arranjo existente. Essas causas podem ter os

seguintes efeitos:

- necessidade de promover pequenas alterações no arranjo físico existente;

- transferências para edifícios existentes ou ampliações;

- nova disposição do arranjo físico existente; - construção de uma fábrica nova.

9.4 - A chave dos Problemas de Arranjo Físico

Os problemas de arranjo físico geralmente recaem em dois elementos básicos que são:

produto e quantidade.

PRODUTO (ou material ou serviço): entende-se por produto o que é produzido ou feito

pela empresa ou área em questão, a matéria prima ou peças compradas, peças montadas,

mercadorias acabadas e/ou serviços prestados ou processados.

QUANTIDADE (ou volume): representa o quanto de cada item deve ser feito ou serviços

executados.

Page 102: ERGONOMIA

102

Esses elementos, direta ou indiretamente, são responsáveis por todas as características,

fatores e condições do planejamento. É importante, portanto, coletar os fatos, estimativas e

informações sobre esses dois elementos. Eles representam a chave da resolução dos problemas de

arranjo físico.

De posse das informações acerca do produto e da quantidade, devemos obter informações

sobre o roteiro (ou processo) segundo o qual o produto será fabricado ou o serviço será executado.

O roteiro representa o processo, suas operações, equipamentos e seqüência. Ele pode ser

definido através de listas de operações, cartas de processo, gráficos de fluxo, etc.

Os equipamentos e os postos de trabalho a serem utilizados dependem das operações de

transformação. Também a movimentação de materiais através das áreas depende do roteiro ou

seqüência de operações. Logo as operações envolvidas no roteiro ou processo e sua seqüência

tornam-se a chave do problema.

9.5 - Objetivos do arranjo físico

O objetivo geral de um bom arranjo físico é encontrar a combinação mais adequada

possível dos membros da equação da produção, o que determina a busca dos seguintes objetivos

específicos:

- aumentar a moral e a satisfação do trabalho pela melhoria das condições de trabalho;

- redução dos tempos mortos, ou operações que não agreguem valor ao produto;

- redução do material em processo através de um maior balanceamento da produção;

- melhor aproveitamento de espaço disponível; - maior utilização do equipamento;

- redução do tempo de manufatura; - redução dos custos indiretos;

- maior flexibilidade. - redução do manuseio;

- incrementar a produção;

9.6 - Princípios do arranjo físico

Para atingir os objetivos relacionados anteriormente, o arranjo físico se utiliza dos seguintes

princípios gerais, que devem ser obedecidos por todos os estudos. São eles:

- Princípio da Integração;

- Princípio da Mínima Distância;

- Princípio de Obediência ao Fluxo das Operações;

- Princípio do Uso das Três Dimensões;

- Princípio da Satisfação e Segurança;

- Princípio da flexibilidade;

Princípio da Integração

Os diversos elementos que interagem no arranjo (fatores diretos e indiretos ligados a

produção) devem estar harmoniosamente integrados, pois a falha em qualquer um deles pode

resultar em uma falha global. O sistema é análogo a uma corrente, cuja resistência é determinada

pelo seu elo mais fraco. Rompido este elo a corrente deixa de funcionar como unidade. O sistema

Page 103: ERGONOMIA

103

do arranjo físico deve ser considerado como uma unidade composta de uma série de elementos que

devem estar devidamente entrosados, visando a eficiência de produção do conjunto.

Princípio da Mínima Distância

O transporte nada acrescenta ao produto ou serviço, ao contrário, implica em maiores

custos. Sendo assim as distâncias devem ser reduzidas tanto quanto possível para evitar esforços

inúteis, confusões e custos maiores.

Princípio de Obediência ao Fluxo das Operações

As disposições das áreas e locais de trabalho devem obedecer às exigências das operações

de maneira que pessoas, materiais e equipamentos se movam em fluxo contínuo, organizado e de

acordo com a seqüência lógica do processo de manufatura ou serviço. Devem ser evitados

cruzamentos e retornos que causam interferência, congestionamentos. e interrupções. A imagem

ideal a ser conseguida é a do rio e seus afluentes.

Princípio do Uso das Três Dimensões

Se as três dimensões podem ser utilizadas, isto se traduzirá em um menor uso do espaço

global e ao mesmo tempo em um maior aproveitamento das instalações existentes. Em geral, os

itens a serem arranjados ocupam um certo volume, e não uma determinada área. Portanto, deve-se

pensar na utilização de porões, subsolos, transportes por monovias.

Princípio da Satisfação e Segurança

Quanto mais satisfação e segurança um arranjo físico proporcionar aos seus usuários, tanto

melhor ele será. Para isso deve proporcionar boas condições de trabalho e máxima redução de

riscos. Há fatores psicológicos que exercem influencia positiva no sentido de melhorar a moral e

disposição para o trabalho. Entre eles: cores, decoração, impressão de ordem, impressão de limpeza,

etc.

Princípio da Flexibilidade

Nas condições atuais, onde as mudanças de caráter tecnológico são cada vez mais

freqüentes, este princípio deve ser atentamente considerado pelas pessoas encarregadas do

planejamento do arranjo físico. São freqüentes e rápidas as necessidades de mudança do projeto do

produto, mudanças de métodos e sistemas de trabalho. A falta de atenção a essas mudanças pode

levar uma fábrica ao obsoletismo. No projeto do layout há de se considerar que as condições vão

mudar e que o mesmo deve ser fácil de mudar e de se adaptar as novas condições.

9.7 - Recomendações ao estudo do arranjo físico

� Planeje o todo e depois o detalhe.� Planeje o ideal e depois o prático.

� Planeje para o futuro. � Procure a idéia de todos.

Page 104: ERGONOMIA

104

� Utilize os melhores elementos de visualização (gráficos, tabelas, fluxogramas, plantas,

modelos bidimensionais e tridimensionais, etc.).

� Prepare para vender a idéia (apresentação, contato, boas relações humanas, psicologia

de vendas, etc.).

9.8 - Procedimentos para determinação do arranjo físico

Há algumas razões práticas pelas quais as decisões de arranjo físico são importantes na

maioria dos tipos de produção. São elas:

- Arranjo físico é freqüentemente uma atividade difícil e de longa duração devido as

dimensões físicas dos recursos de transformação movidos.

- O rearranjo físico de uma operação existente pode interromper seu funcionamento suave,

levando à insatisfação do cliente ou a perdas na produção.

- Se o arranjo físico (examinado a posteriori) está errado, pode levar a padrões de fluxo

excessivamente longos e confusos, estoque de materiais, filas de clientes formando-se ao longo da

operação, inconveniências para os clientes, tempos de processamento desnecessariamente longos,

operações inflexíveis, fluxos imprevisíveis e altos custos.

Com efeito, há uma dupla pressão para a decisão sobre o arranjo físico. A mudança de

arranjo físico pode ser de execução difícil e cara e, portanto, os gerentes de produção podem relutar

em fazê-la com freqüência. Ao mesmo tempo, eles não podem errar em sua decisão. A

conseqüência de qualquer mau julgamento na definição do arranjo físico terá um efeito considerável

de longo prazo na operação.

Projetar o arranjo físico de uma operação produtiva, assim como de qualquer atividade de

projeto, deve iniciar-se com uma análise sobre o que se pretende que o arranjo físico propicie. Neste

caso, são os objetivos estratégicos da produção que devem ser muito bem compreendidos.

Compreender os objetivos estratégicos da produção, entretanto, é apenas o ponto de partida do que

é um processo de múltiplos estágios que leva ao arranjo físico final da produção. Esse processo

pode ser comparado ao projeto de um produto materializado por um arranjo de pessoas e objetos em

um espaço físico determinado, que integrados através de atividades, executam o papel de uma

grande máquina destinada a produção de um bem ou de um serviço.

Desta forma, os procedimentos na elaboração de um layout podem ser baseados naqueles

especificados em metodologias de desenvolvimento de produtos disponíveis na bibliografia, como é

o caso da Metodologia de PAHL e BEITZ [3]. Tais procedimentos compreendem, em geral, 4

etapas conforme representado esquematicamente na figura 9.1.

ESTUDO DO PROBLEMA

CONCEPÇÃO DO ARRANJO DO ARRANJO FÍSICO

PROJETO DETALHADO DO ARRANJO FÍSICO

1a Fase

2a Fase

3a Fase

Page 105: ERGONOMIA

105

Figura 9.1 - Fluxograma com as etapas básicas de elaboração de um Arranjo Físico

9.9 - Estudo do Problema

Esta é a primeira e uma das mais importantes fases no projeto ou elaboração do layout, pois

é nela que o projetista ou o planejador do layout vai tomar pé da situação e isso envolve conhecer:

- O que vai ser feito? Será a elaboração do layout para uma nova empresa ou será apenas

um alteração do layout existente?

- Com que objetivos? Significa saber qual é a finalidade do trabalho a ser feito ou o que

motivou a decisão de realizar esse serviço. É melhorar as condições de trabalho? É incrementar a

produção? É melhorar o aproveitamento do espaço disponível? O responsável pela elaboração do

layout deve estar plenamente ciente dessas metas, para que a partir delas possa direcionar o

trabalho, principalmente porque no decorrer de sua realização provavelmente surgirão momentos

em que será necessário tomar decisões sobre questões conflitantes. Em tais momentos o pleno

domínio dos objetivos do trabalho orientarão na escolha da solução mais adequada.

Várias outras questões serão levantadas nesta fase, como por exemplo:

- O que vai ser arranjado? - Em que quantidade?

- Onde? - Quais os recursos disponíveis?

- Qual o tempo disponível?

É uma fase que se caracteriza por um exaustivo levantamento de informações acerca do

problema ou da tarefa a ser realizada. Sua importância vem do fato de que a partir desse conjunto

de dados e informações começa a se delinear os limites para as possíveis soluções. O resultado

desta fase pode ser desde o estabelecimento de requisitos a serem atendidos pelo futuro layout

podendo chegar até mesmo no estabelecimento de posicionamentos definitivos a serem cumpridos

pelo futuro layout, embora não seja este último o objetivo desta fase.

São inúmeros os itens sobre os quais há necessidade de se obter informações, mas de uma

maneira geral o alvo das atenções são: o produto, o processo, as pessoas, os objetos (máquinas,

equipamentos, dispositivos, ferramentas, móveis, acessórios, etc.) as instalações.

Conforme já colocado anteriormente, por produto entende-se o que é produzido ou

realizado pela empresa, podendo ser representado por um objeto ou por um serviço. Sobre o

produto é importante conhecer:

- Característica física: líquido, sólido, gasoso, ou é simplesmente um serviço;

- Forma de manuseio; - Volume ou tamanho;

- Peso; - Quantidade;

- Variedade; - Condições para armazenagem e acondicionamento;

- Cuidados especiais; - Outros.

IMPLANTAÇÃO4a Fase

Page 106: ERGONOMIA

106

Tão importante como o produto é o processo, ou seja, o conjunto das atividades

desenvolvidas e a seqüência de execução, que a partir dos elementos de entrada (matérias prima ou

informações) realizam o trabalho de transformação resultando nos elementos de saída (produtos ou

serviços).

Sobre o processo é importante conhecer:

- Tipo de processo; - Atividades;

- Seqüência de operações; - Inter-relações entre as atividades;

- Intensidade das inter-relações; - Tempo de cada atividade.

- Máquinas, equipamentos, ferramentas, dispositivos, acessórios e mobiliário envolvido;

- Pessoal envolvido (trabalhadores diretos, trabalhadores indiretos).

Essas informações possibilitam entre outras coisas:

- identificar as operações limites (início e fim do processo);

- indicar o posicionamento relativo mais adequado das atividades ou pelo menos os requisitos a

serem atendidos quanto isso (Ex: atividade 1 próxima das atividades 3 e 4; atividades 5 e 6 juntas;

etc.);

- sugerir uma indicação do tipo de arranjo a ser utilizado;

- estabelecer os requisitos de espaço para as diversas operações.

- estabelecer os requisitos quanto ao fluxo de materiais, informações e pessoas.

Como conseqüência disso, o porte das instalações ou o espaço necessário para as atividades

também já pode ser grosseiramente estimado ou pelo menos se estabelecer os requisitos a serem

atendidos.

É fundamental colher informações e sugestões de todas as pessoas que de alguma forma

estarão ou poderão estar envolvidas com o layout.

O término da fase de estudo do problema deve ser marcado pelo estabelecimento de uma

lista de requisitos que deve ser satisfeita pelo futuro layout.

Na elaboração desta lista, seria conveniente classificar os requisitos em obrigatórios e

desejáveis.

Requisitos obrigatórios, como o próprio nome sugere, seriam aquelas condições

absolutamente necessárias a serem cumpridas pelo futuro layout, ou seja, o seu não atendimento

determina a inadequação do layout e por conseqüência o seu descarte.

Requisitos desejáveis são condições que melhoram ou diferenciariam no sentido positivo o

futuro layout, mas que na impossibilidade de não serem atendidas não inviabilizam a proposta.

Em geral os requisitos obrigatórios servem para selecionar as soluções candidatas, enquanto

que os requisitos desejáveis auxiliam na escolha entre as candidatas. Em outras palavras a solução

escolhida para o layout deveria ser aquela que atenderia todos os requisitos obrigatórios e a que

melhor atenderia os requisitos desejáveis.

Com o estabelecimento da lista de requisitos pode-se partir para a próxima fase, a

Concepção do Layout.

Cabe ainda salientar que, dado ao elevado número de informações a serem colhidas no

estudo do problema, seria muito prudente, mesmo para os mais experientes profissionais que

Page 107: ERGONOMIA

107

trabalham com essa atividade, fazer uso de check lists ou listas de verificação, para assegurar que

detalhes importantes para o funcionamento do arranjo físico tenham sido considerados.

9.10 - Concepção do Arranjo Físico

Estando o problema adequadamente estudado, ou seja, uma vez se dispondo de informações

suficientes a respeito da abrangência do trabalho, passa-se então para 2a fase, a Concepção. O

objetivo desta fase é encontrar um configuração geral para o arranjo físico do processo produtivo

em estudo. Aqui ainda não tem a preocupação com especificação de detalhes, mas sim estabelecer

de forma geral o posicionamento dos principais elementos e do fluxo das operações.

A partir das informações obtidas na fase anterior, procura-se encontrar alternativas de

layout que solucionem o problema.

Entre as decisões a serem tomadas está a escolha do tipo de processo a ser adotado, que em

linhas gerais vai depender da relação volume e variedade. Depois que o tipo de processo foi

selecionado, deve-se definir o tipo básico de arranjo físico, ou seja, a forma geral do arranjo de

recursos produtivos da operação.

9.10.1 - Tipos básicos de arranjo físico

Há muitas maneiras de se arranjarem recursos produtivos de transformação, mas a maioria

dos arranjos físicos na prática deriva de quatro tipos básicos de arranjo físico. São eles:

A) arranjo posicional ou por posição fixa;

B) arranjo funcional, por processo, ou departamental;

C) arranjo de grupo ou celular;

D) arranjo linear ou por produto.

Essa divisão clássica atende principalmente a fins didáticos, pois, na prática, o que ocorre é

uma mistura deles, e , dificilmente, observa-se uma fábrica totalmente projetada utilizando um

único tipo de arranjo. A classificação desses tipos surge em função dos elementos que se

movimentam em uma estação de trabalho. Para que determinado arranjo funcione deve existir:

equipamentos, homem e materiais. É da movimentação desses três elementos que surgem os tipos

clássicos de arranjo físico.

A - Arranjo posicional ou por peça fixa

Situação em que o material ou recurso a ser transformado permanece imobilizado enquanto

pessoas, equipamentos, maquinaria e instalações (recursos transformadores) se movimentam ao seu

redor. A razão para isso é o fato do produto ou o sujeito do serviço serem muito grandes para serem

movidos, estarem em um estado muito delicado para serem movidos, ou ainda objetar-se a serem

movidos.

Page 108: ERGONOMIA

108

Figura 9.2 - Esquema básico de um Arranjo Físico Posicional

Sua aplicação se restringe principalmente a casos onde o material, ou o componente principal, é

difícil de ser movimentado, sendo mais fácil transportar equipamentos, homens e componentes até o

material imobilizado. É um tipo de layout utilizado quando o produto é artesanal, citando-se como

exemplos: a construção de barragens, rodovias, grandes turbinas, construção de navios e aeronaves.

B - Arranjo funcional, por processo, ou departamental

Arranjo utilizado quando as operações do mesmo tipo são agrupados no mesmo

departamento ou local de trabalho. É utilizado particularmente quando a tecnologia de execução

(recursos transformadores) tem caráter predominante sobre os outros fatores de produção. Neste

tipo de arranjo, processos similares (ou processos com necessidades similares) são localizados

juntos um dos outros. Ex: área de tornos; área de prensas; ferramentaria; área de fornos; área de

banhos. Isto significa que, quando produtos, informações ou clientes fluírem através da operação,

eles percorrerão um roteiro de processo a processo, de acordo com suas necessidades. Diferentes

produtos ou clientes terão necessidades diferentes e, portanto, percorrerão diferentes roteiros através

da operação. Por esta razão o padrão de fluxo na operação será bastante complexo. Exemplos de

arranjo físico por processo:

- em hospitais determinados processos tais como exames de raio X e exames laboratórios exigem

instalações especiais, também é freqüente a utilização de alas para pacientes que necessitam de

tratamentos específicos tais como bloco cirúrgico e UTI, etc.;

- montadoras de automóveis que utilizam o sistema de produção em massa;

- supermercado é um típico exemplo de arranjo departamental ou funcional; há uma separação

clara em setores de produtos de higiene e limpeza, setores de frutas e legumes, etc.;

- bibliotecas: setor de livros separados por assunto; setor de periódicos; salas de projeções; salas

de leituras, etc.

PRODUTO

COMPONENTES PRINCIPAIS

Equipamento

Ferramentas

Operário

Peças

Page 109: ERGONOMIA

109

Figura 9.3 - Modelo esquemático de um Arranjo Físico Funcional ou por Processo

C - Arranjo celular ou de grupo

Neste tipo de disposição as máquinas são arranjadas em grupos de células de tipos diversos,

destinadas a atender inteiramente a fabricação de uma família de peças. O que caracteriza cada

célula é ser um conjunto de máquinas voltada a produzir uma determinada família de peças, que

tem características semelhantes em termos geométricos ou de processo. Isto implica na

conveniência de operadores polivalentes, já que uma célula possui máquinas de características

diferentes. A célula em si pode ser arranjada por processo ou por produto.

Depois de serem processados na célula, os recursos transformados podem prosseguir para

outra célula. Esta disposição de máquinas tem as seguintes vantagens potencialmente comparando-

se principalmente com o arranjo físico funcional:

- redução do tempo de ajuste de máquina na mudança de lotes dentro da família, tornando

economicamente viável a produção de pequenos lotes.

- eliminação do transporte e de filas ao pé da máquina, reduzindo-se então estoques de segurança

intermediários;

- maior facilidade no planejamento e controle da produção, na medida em que o problema de

alocação de ordens de produção das máquinas é extremamente minimizado;

- redução dos defeitos, na medida em que num arranjo celular um trabalhador pode passar a peça

diretamente a outro e se houver defeito o próprio trabalhador devolverá a peça ao companheiro;

- redução de espaço.

Exemplos de arranjo celular: lancherias em supermercados; setor de artigos esportivos de

uma loja de departamentos.

SE

SE SE

SE

SE SE

TO

TO

TO

TO

TO

TO

FR

FR

FR

FR

FR

FR

RE RE

RE RE

RE RE

Page 110: ERGONOMIA

110

Figura 9.4 - Modelo esquemático de um Arranjo Celular ou de Grupo

D - Arranjo linear ou por produto

Arranjo utilizado quando as estações de trabalho obedecem a mesma seqüência de

operações por que passa o produto. A localização dos recursos transformadores (equipamentos,

instalações, pessoal) é feita obedecendo inteiramente a melhor conveniência do recurso que está

sendo transformado. O material passa por cada estação de trabalho até transformar-se em um

produto acabado. É o caso de linha de montagem de automóvel. A peça é produzida numa

determinada área, mas é o material que se movimenta para sofrer as operações. Também é adotado

nas indústrias de processo contínuo de produção (fábricas de adubo, cimento, etc.). O fluxo de

produtos, informações ou clientes é muito claro e previsível no arranjo físico por produto, o que faz

dele um arranjo muito fácil de controlar.

Figura 9.5 - Modelo esquemático de um Arranjo Linear ou por Produto

Em geral a escolha do tipo básico de arranjo físico a adotar não é direta até porque existem

as alternativas de escolha de arranjos mistos. A escolha da(s) alternativa(s) é fortemente

influenciada pelas características da relação volume e variedade da operação. O entendimento

correto das vantagens e desvantagens de cada um dos arranjos auxilia bastante a decisão da escolha.

Na tabela 9.1 estão apresentadas de forma resumida as vantagens e desvantagens de cada

um dos 4 tipos de arranjos básicos.

SE

TO

TO

RE

RE

FU

TO

TO

FU

FR

FR

FU

TO RE

FU RE

FU FR

MatériaPrima

TO TO TO TO ProdutoAcabado

Page 111: ERGONOMIA

111

Tabela 9.1 - Vantagens e desvantagens dos 4 tipos básicos de Arranjo FísicoArranjo Vantagens Desvantagens

Posicional

- Elevada flexibilidade em termos de tipo evariedade de produtos;- O produto ou cliente não é movimentado ouperturbado;- Alta variedade de tarefas para a mão de obra.

- Custos unitários muito altos;- A programação de espaço e de atividadespode ser complexa;- Pode significar muita movimentação deequipamentos e de mão de obra;

Processo

- Alta flexibilidade em termos de tipo evariedade de produtos;- Praticamente não é afetado em termos deinterrupção de etapas;- Facilidade em termos de supervisão de

equipamentos e instalações.

- Baixa utilização dos recursos;- Pode ter alto estoque em processo ou filasde clientes;- O fluxo pode ser complexo e difícil decontrolar.

Celular

_ Compatibiliza baixo custo com varie- daderelativamente alta;- Fluxo do produto na linha rápido;- O trabalho em grupo pode resultar em melhormotivação

- Dificuldade e custo de reconfigurar oarranjo atual;- Necessitar de capacidade adicional;- Pode reduzir níveis de utilização derecursos.

Produto - Baixos custos unitários para altos volumes;- Possibilita a utilização de equipamentosespecializados;- Fluxo regular de clientes e materiais.

- Baixa flexibilidade em termos de variedadede produtos;- Bastante susceptível a problemas deinterrupções por falhas do equipamento;- Trabalho pode ser repetitivo.

9.10.2 - Estudo do Fluxo

O fluxo de materiais, informações e clientes depende muito da configuração de arranjo

físico escolhida e a importância do fluxo para uma operação dependerá muito das características da

relação volume variedade. Quando o volume produzido é baixo e a variedade de produtos é alta, o

fluxo não é uma questão central. Por exemplo, em operações de manufatura de satélites de

comunicação, a maior probabilidade é a escolha de um arranjo posicional ou por peça fixa, porque

cada produto é diferente dos outros e porque produtos fluem através da operação com pouca

freqüência. Sob essas condições, simplesmente não vale a pena arranjar os recursos de forma a

minimizar o fluxo através da operação.

Com volumes maiores e variedade menor, o fluxo dos recursos transformados torna-se uma

questão mais importante que deve ser tratada pela decisão referente ao arranjo físico. Se a variedade

ainda é alta, entretanto, um arranjo definido completamente por fluxo torna-se difícil porque

produtos ou clientes terão diferentes padrões de fluxo. Por exemplo, na biblioteca do exemplo 3

dos anexos, os diferentes tipos de livros e os outros serviços serão arranjados de forma a tentar

minimizar a distância que seus clientes terão que percorrer. Como as necessidades de seus clientes

Page 112: ERGONOMIA

112

variam, o arranjo da biblioteca, quando muito, poderá satisfazer a maioria de seus clientes, ficando

uma minoria prejudicada nesse aspecto.

Se a variedade de produtos e serviços é menor, embora ainda alta, de forma que um grupo

de clientes com necessidades similares possa ser identificado, um arranjo celular torna-se mais

adequado, como na célula de artigos esportivos (exemplo 4 dos anexos). Já quando a variedade de

produtos e serviços é relativamente pequena, o fluxo de materiais, informações e clientes pode ser

regularizado através de um arranjo físico por produto, como no caso de uma montadora de veículos.

Esses exemplos mostram a influência da relação volume-variedade na escolha do tipo

básico de arranjo físico. A medida que a variedade de produtos e serviços se reduz aumenta a

possibilidade de se arranjar os recursos transformadores de acordo com o processamento, e

conforme o volume a ser produzido aumenta, também aumenta a decisão de se controlar o fluxo das

operações.

Em outras palavras, uma variedade muito alta de produtos com baixo volume de produção,

inviabiliza a organização de um fluxo regular e contínuo dos recursos transformadores. Reduzindo

a variedade de produtos e aumentando-se o volume de produção de cada produto a importância de

se considerar o fluxo aumenta, assim como aumenta a possibilidade de se organizar um arranjo

físico tendo um fluxo regular e contínuo. A figura 9.6 apresenta de forma gráfica a relação entre o

volume e variedade com o tipo de arranjo físico.

Volume

Baixo AltoFluxoIntermiten

te

Variedade

Alta

Baixa

Celular

Por produto

Por processo

Posicional

FluxoRegular

Figura 9.6

Relacionamento entre volume e

variedade com o tipo de arranjo

físico

Page 113: ERGONOMIA

113

A análise do fluxo é realizada para determinar-se a melhor seqüência de movimentação dos

materiais através das etapas exigidas pelo processo e também para determinar-se a intensidade ou

magnitude dos movimentos.

O fluxo deve permitir que o material se movimente progressivamente durante o processo,

sem retornos, sem desvios, sem cruzamentos.

Toda vez que a movimentação dos materiais for a parte preponderante do processo, a

análise do fluxo será a base do planejamento das instalações. Isto é valido principalmente quando

os materiais são volumosos ou pesados, ou em grande quantidade, ou ainda quando os custos de

transporte e movimentação sejam maiores que os custos de operação, armazenagem e inspeção.

Existem vários métodos para análise de fluxo. Os mais comuns são:

A) Gráfico de processo ou gráfico de fluxo;

B) Gráfico de processos múltiplos; C) Carta De-Para

A) Gráfico de processo ou gráfico de fluxo

Utilizando uma linguagem simbólica originalmente desenvolvida pelo casal Gilbreth

(posteriormente modificado pela ASME), apresenta o fluxo de operações ligando os símbolos

indicativos de cada atividade conforme sua seqüência lógica no processamento das operações.

Dessa forma podem ser diagramados qualquer fluxo de materiais. As convenções utilizadas são:

Figura 9.7 - Símbolos básicos usados no gráfico de processo

Para auxiliar na elaboração do gráfico, principalmente quando há montagens complexas, é

recomendável preparar um esboço do processo de fabricação de cada um dos componentes e da sua

seqüência de operação.

Tomando-se um produto ou serviço completo e desmembrando-o em peças e operações,

determina-se a forma como ele é realizado. Com isso pode ser realizado um gráfico com a

seqüência de suas operações para a análise de fluxo.

As convenções padronizadas são utilizadas por muitos, no entanto podem ser adaptadas a

cada caso a fim de se obter melhor visualização das etapas do processo em estudo.

Na análise de fluxo de materiais, além da seqüência dos movimentos é necessário estudar a

intensidade ou magnitude do fluxo de materiais e considerar os refugos, perdas e sobras. A análise

Operação

Transporte

Inspeção

Espera

Armazenagem

Page 114: ERGONOMIA

114

do fluxo de materiais inclui, portanto, tanto a seqüência quanto a intensidade ou magnitude do

movimento dos materiais. Ela é feita para coordenar as inter-relações entre operações ou

atividades. A magnitude do movimento (ou intensidade do fluxo) nos diversos roteiros ou

caminhos é uma medida que expressa a importância relativa de cada ramo do roteiro do processo e

da proximidade relativa entre as operações. Uma forma de representar a intensidade do fluxo e

colocar seu valor, em uma unidade apropriada, ao lado de cada linha de fluxo. As unidades de

medidas podem ser peso, volume, número de vagões, caixas, etc. O cálculo pode ser feito através

do número de peças em movimentação por período e o volume ou massa de cada uma delas.

B) Gráfico de processo múltiplos

Quando há três ou quatro produtos, deve ser feito um gráfico de processo para cada um

deles. Mas quando são vários produtos (até 10) é melhor usar o gráfico de processo múltiplos.

Este gráfico junta todos os produtos em uma única folha de papel.

A primeira coluna à esquerda é reservada para as operações e cada uma das outras colunas é

reservada para um dos produtos.

O roteiro de cada produto é traçado por meio de operações pré-identificadas. Com os

roteiros colocados lado a lado podemos fazer uma comparação dos fluxos de cada produto.

O objetivo de um bom arranjo é obter um fluxo progressivo com o mínimo de retornos e

aproximar ao máximo as operações entre as quais haja uma alta intensidade de fluxo. Isso pode ser

feito trocando-se a ordem entre as linhas horizontais (operações) do gráfico até obter-se a seqüência

mais adequada.

C) Carta De-Para

Quando os produtos componentes ou materiais em estudo são muito numerosos, a seleção

ou grupamento das atividades abre caminho para a Carta De-Para.

Nesta carta as operações, atividades e os centros de trabalho são listados na primeira linha e

na primeira coluna, obedecendo à mesma seqüência. Cada retângulo de interseção mostra o

movimento de uma operação para outra. Por exemplo partindo do gráfico de processos múltiplos

mostrado na figura 9.8 obtêm-se a carta De-Para da figura 9.9

Page 115: ERGONOMIA

115

Operação Peça ou

Produto A B C D E F

Cortar

Entalhar

Estirar

Furar

Dobrar

Aplainar

Figura 9.8 - Gráfico de processos múltiplos

PARA

DE

Cortar

1

Entalhar

2

Estirar

3

Furar

4

Dobrar

5

Aplainar

6

Cortar 1 ABC

3

EF

2

Entalhar 2 BD

2

AC

2

Estirar 3 BDE

F 4

C

1

Furar 4 CEF

3

A

1

Dobrar 5 BDE

3

Aplainar 6

Figura 9.9 - Carta De- Para

1

2

3

4

1

2

4

3

5

1

4

2

3

5

1

2

3

4

1

3

2

5

4

1

3

2

4

Page 116: ERGONOMIA

116

9.10.3 - Inter-relações não baseadas no fluxo de materiais

A consideração do fluxo isoladamente não é a melhor base para o planejamento das

instalações. Há varias razões para que o fluxo de materiais nem sempre seja considerado a base

única para o arranjo físico:

1) Os serviços de suporte devem se integrar ao fluxo de forma organizada. Há determinadas

atividades de suporte que obrigatoriamente devem ficar próximas a certas áreas produtivas;

2) Muitas vezes o fluxo de materiais não tem importância para o arranjo físico;

3) Em empresas de prestação de serviços, áreas de escritório ou oficinas de reparo e manutenção,

não existe um fluxo de material definido e constante;

4) Mesmo em operações que o fluxo seja relevante, podem existir outras operações de maior

importância. Por exemplo, o roteiro de operações pode indicar a seguinte seqüência: moldagem,

preparação, tratamento, submontagem, montagens e embalagens. Para atender ao fluxo de

materiais, o setor de tratamento deveria ser colocado entre a preparação e a submontagem. Mas o

tratamento é uma operação que deve atender às regras de higiene e segurança por suas

características ambientais e de processo. Ou seja, o setor de tratamento deveria ficar longe da área

de submontagem que envolve operações mais delicadas e de grande concentração de pessoal. O

efeito de fatores como este, ou mesmo a fatores relativos à distribuição de suprimentos, ao custo de

controle da qualidade, à contaminação do produto, entre outros, deve ser comparado com a

importância do fluxo de materiais e os ajustes devem ser feitos conforme as necessidades práticas.

Há, portanto, necessidade de se encontrar uma forma sistemática de integra os serviços de

suporte ao fluxo de materiais.

A melhor alternativa nesse sentido é a carta de interligações preferenciais. Esta carta é

uma matriz triangular onde representa-se o grau de proximidade e o tipo de inter-relação entre uma

certa atividade e cada uma das outras. Ela é uma das ferramentas mais práticas e efetivas para o

planejamento do layout. É a melhor maneira de integrar os serviços de apoio aos departamentos de

produção ou de planejar o arranjo de escritórios e áreas de serviço nas quais existe um pequeno

fluxo de materiais.

Para sua construção procede-se da seguinte forma, conforme pode ser acompanhado na

figura em anexo (figura 5.1 do Richard Muther): quando a linha descendente da atividade 1 cruza

com a linha ascendente da atividade 4, o losango resultante indica o relacionamento entre duas

atividades. Dessa forma existe um losango de interseção para cada par de atividades.

O objetivo básico da carta é mostrar quais as atividades devem ser localizadas próximas e

quais as que ficarão afastadas.

Cada losango é dividido em duas partes. A parte superior é reservada para classificar a

interligação segundo a seguinte escala de valores :

A - Absolutamente necessário; E - Muito importante ou especialmente importante;

I - Importante O - Pouco importante

U - Desprezível X - Indesejável

Page 117: ERGONOMIA

117

A classificação de um par de atividades segundo a proximidade terá mais significado,

entretanto, quando acompanhada pela “razão” desta proximidade. As razões deverão ser listadas e

codificadas para facilitar o preenchimento da carta. Isto é feito, colocando-se o código numérico da

razão na metade inferior dos losangos.

Uma determinada interligação poderá ser justificada por mais de uma razão. No losango

respectivo deverão constar os números correspondentes a cada uma das razões.

Desta forma, uma grande quantidade de informações é colocada numa única folha de papel

sem que se faça necessário escrever observações adicionais.

Qualquer que seja o projeto, as razões básicas para a determinação de grau de proximidade

são:

1. Fluxo de material 2. Necessidade de contato pessoal

3. Utilização de equipamentos comuns 4. Utilização de registros

semelhantes

5. Pessoal em comum 6. Supervisão ou controle

7. Freqüência de contatos 8. Urgência de serviço

9. Custo de distribuição de suprimentos 10. Utilização dos mesmos

suprimentos

11. Grau de utilização de formulários de comunicação

12. Desejos específicos da administração ou conveniências pessoais.

Na prática, poderão surgir outras razões além das citadas.

O registro das classificações pode ser feito a lápis ou outro recurso de escrita qualquer.

Mas como letras e símbolos se tornam confusos quando usados em grande quantidade, será

interessante utilizarmos um código de cores para a classificação.

Cada losango da carta será colorido segundo a convenção estabelecida. As convenções de

cores utilizadas são:

A - absolutamente necessário � vermelho

E - especialmente importante � amarelo

I - importante � verde

O - pouco importante � azul

U - desprezível � em branco

X - indesejável � marrom

Para facilitar a visualização, as cores são colocadas apenas na metade superior de cada

losango, já que cada cor representa um determinado grau de proximidade e não as razões.

Page 118: ERGONOMIA

118

9.10.4 - Alternativas de arranjo físico

Enquanto trabalha-se com cada uma das variantes do problema, sejam considerações sobre

o fluxo, a variedade, o volume de produção, os tipo básicos de arranjos, as possibilidades de

mudanças, entre outros fatores, diversas idéias sobre o arranjo físico vão surgindo. Cada uma dessas

idéias trará uma série de limitações práticas próprias. Por exemplo, em um determinado projeto de

arranjo físico poderíamos achar interessante a utilização de um sistema de transporte

completamente automatizado e sincronizado, mas as limitações práticas se opõem às vantagens de

tal sistema: o retorno do investimento, a grande dependência de um único tipo de equipamento, os

problemas de fluxo de material que o sistema pode causar e outras limitações similares.

A cada alternativa que surja haverá uma série de limitações práticas que devem ser pesadas.

À medida que compara-se os prós e os contras de cada uma delas, abandona-se as possibilidades

que se mostram fracas e continua-se somente com as alternativas aparentemente de valor prático.

Essas alternativas serão então incorporadas aos vários ajustes do diagrama de inter-relações

entre espaços, já que cada idéia auxiliará no desenvolvimento de um arranjo mais satisfatório.

Essencialmente este é um processo em que empenha-se em conseguir um arranjo das

atividades que propicie a melhor combinação de todas as limitações práticas.

A medida que trabalha-se com as possibilidades de arranjos e suas respectivas limitações

deve-se registrar cada solução alternativa. Ao final tem-se apenas um número relativamente

pequeno de alternativas. É muito raro chegar-se a um único arranjo. Pelo contrário, essas

alternativas podem ser em número de seis a oito. Deve-se realizar uma boa análise dessas

alternativas procurando reduzi-las a um número entre 2 e 5 soluções possíveis.

Definidas as soluções alternativas, o próximo passo é escolher aquela a ser adotada no

arranjo final.

9.10.5 - Escolha da concepção do arranjo físico

Nesta fase, parte-se das alternativas selecionadas na fase anterior para, a partir delas,

escolher a mais adequada para a configuração do arranjo final. Cada uma tem uma série de

vantagens e desvantagens, o problema é determinar qual das alternativas é a melhor.

Uma vez que o tipo básico de arranjo físico tenha sido escolhido, bem como a forma de

fluxo, o próximo passo é executar o seu projeto detalhado. Há, basicamente, três maneiras de se

realizar essa seleção. São elas:

A) Balanceamento das vantagens e desvantagens;

B) Avaliação da análise dos fatores;

C) Comparação e justificação de custos.

Antes de realizarmos a seleção, cada alternativa deve ser representada de maneira clara.

Isto significa que os planos alternativos devem receber um tratamento gráfico de bom nível (com

cópias satisfatórias), pois sabemos que outras pessoas, eventualmente participantes do processo de

seleção, podem não estar familiarizados com os códigos, símbolos e designações de atividades que

utilizamos no planejamento.

Page 119: ERGONOMIA

119

Cada plano ou alternativa deve ter um título ou uma breve descrição, suficientemente curta

para ser escrita no próprio plano e nas folhas de avaliação, o que ajuda a eliminar qualquer dúvida

durante e após a avaliação.

Mesmo nesta fase, ainda é possível realizar mudanças nos planos ou alternativas. É natural

durante a avaliação de alternativas de arranjos físicos surgir novas idéias. Em conseqüência,

freqüentemente termina-se com uma nova combinação de duas (ou até mais) alternativas ou com

uma ulterior modificação de uma delas, que muitas vezes é a que acaba sendo selecionada. Mas

quando isso acontecer, deve-se redesenhar ou preparar uma nova cópia do plano de arranjo físico de

modo que ele possa ser avaliado.

Conforme já dito, a avaliação das alternativas pode ser feita através dos métodos descritos a

seguir:

A) Balanceamento das vantagens e desvantagens

É o mais simples, consequentemente o mais utilizado, porém, o menos preciso. Lista-se as

vantagens e desvantagens de cada alternativas, avaliando-as segundo determinados critérios

julgados relevantes para o problema.

B) Avaliação da análise de fatores

Esse processo segue o procedimento, muito utilizado em engenharia, de dividir o problema

em seus elementos e analisar cada um deles separadamente. Basicamente o processo segue o

seguinte:

1 - Listar todos os fatores que são considerados importantes ou significativos na seleção do melhor

plano;

2 - Ponderar a importância relativa de cada um desses fatores em relação a cada um dos outros;

3 - Avaliar os planos alternativos seguindo um fator de cada vez;

4 - Reunir esses fatores avaliados e ponderados, e comparar o valor total dos diversos planos.

No estabelecimento dos fatores, um cuidado que se deve tomar é que eles sejam claramente

definidos e de fácil compreensão. Inconsistência e dúvidas neste ponto pode acarretar sérios

problemas mais tarde.

Uma lista de fatores ou considerações que aparecem mais comumente é apresentada a

seguir (não estão em ordem de importância):

- Facilidade para futuras expansões; - Adaptabilidade e versatilidade;

- Flexibilidade do arranjo físico; - Eficiência do fluxo de materiais;

- Eficiência no manuseio de materiais; - Eficiência da estocagem;

- Utilização do equipamento; - Segurança da fábrica;

- Qualidade do produto ou material; - Problemas de manutenção;

- Utilização de espaços; - Eficiência na integração dos serviços de suporte;

- Higiene e segurança; - Condições de trabalho e satisfação dos

trabalhadores;

- Relações com a comunidade e o público; valor promocional e imagem da organização;

- Utilização das condições naturais, construções e arredores;

- Compatibilidade com os planos a longo prazo da empresa.

Page 120: ERGONOMIA

120

- Integração com a estrutura organizacional da empresa;

- Possibilidade de satisfazer a capacidade produtiva;

- Facilidade de supervisão e controle;

O valor representativo de cada valor para a organização em geral é estabelecido pela alta

administração, e dentro de uma empresa adepta da filosofia da qualidade total, uma pesquisa junto

aos clientes do processo (externos e internos) é fundamental.

O método de análise dos fatores faz uma avaliação sistemática sem se basear em pontos de

vista subjetivos, sendo por conseguinte particularmente aplicável onde os custos de investimento ou

economias entre os planos não são precisos ou significativos. Este procedimento se adapta

especialmente para projetos onde as opiniões divergem muito em relação às considerações

econômicas.

Esta técnica possui benefícios psicológicos. Ela proporciona uma maneira conveniente e

organizada de envolver os que participarão da avaliação e os que deverão aprovar as despesas.

9.11 - Projeto Detalhado do Arranjo Físico

O projeto detalhado do arranjo físico é o ato de operacionalizar os princípios gerais

implícitos na escolha dos tipos básicos de arranjo físico.

As saídas do estágio de projeto detalhado de arranjo físico são:

- A localização física de todas as instalações, equipamentos, máquinas e pessoal que constituem os

centros de trabalho do processo da empresa;

- O espaço a ser alocado a cada centro de trabalho;

- As tarefas que serão executados por centro de trabalho.

No projeto detalhado do arranjo físico devem estar bem definidos quais os objetivos dessa

atividade. De certa forma os objetivos dependerão das circunstâncias específicas, mas há alguns

objetivos gerais que são relevantes para todas as operações:

� Segurança inerente - todos os processos que podem representar perigo, tanto para o trabalhador

como para os clientes, não devem ser acessíveis a pessoas não autorizadas. Saídas de incêndio

devem ser claramente sinalizadas com acesso desimpedido. Passagens devem ser claramente

marcadas e mantidas livres.

���� Extensão do fluxo - o fluxo de materiais, informações ou clientes deve ser canalizado pelo

arranjo físico de forma a atender os objetivos da operação. Em muitas operações, isso significa

minimizar as distâncias percorridas pelos recursos transformados. Uma exceção é o caso de

supermercados que na medida do possível procuram fazer com os clientes passem por determinados

produtos dentro da loja.

���� Clareza do fluxo - Todo o fluxo de materiais e clientes deve ser sinalizado de forma clara e

evidente para clientes e para a mão-de-obra. Por exemplo, operações de manufatura em geral têm

corredores muito claramente definidos e marcados. Operações de serviços em geral usam roteiros

sinalizados, como, por exemplo, alguns hospitais que usam faixas pintadas no chão com diferentes

cores para indicar o roteiro para os diferentes departamentos.

Page 121: ERGONOMIA

121

���� Conforto da equipe de trabalho - a equipe de trabalho deve ser alocada para locais distantes de

partes barulhentas ou desagradáveis da operação. O arranjo físico deve prover um ambiente de

trabalho bem ventilado, iluminado e, quando possível, agradável.

���� Coordenação gerencial - supervisão e coordenação devem ser facilitadas pela localização dos

trabalhadores e dispositivos de comunicação.

���� Acesso - todas as máquinas, equipamentos e instalações devem estar acessíveis para permitir

adequada limpeza e manutenção.

���� Uso do espaço - todos os arranjos físicos devem permitir uso adequado do espaço disponível da

operação (incluindo o espaço cúbico, assim como o espaço do piso). Isso em geral implica

minimizar o espaço utilizado para determinado propósito, mas às vezes pode significar criar uma

impressão de espaço luxuoso, como no lobby de entrada de hotéis de luxo.

���� Flexibilidade de longo prazo - o arranjo físico deve mudar periodicamente à medida que

houver mudanças nas necessidades operacionais da empresa. Um bom arranjo físico terá sido

concebido com as potenciais necessidades das futuras operações. Por exemplo, se é possível que a

demanda cresça para determinado produto ou serviço, será que o arranjo físico foi projetado de

modo a poder acomodar a futura expansão?

Tendo-se em conta tais objetivos, acrescidos ainda daqueles específicos ou particulares do

processo de cada empresa, as ações seguintes devem ser conduzidas no sentido de operacionalizar o

arranjo físico concebido.

9.11.1 - Dimensionamento de Áreas

O correto dimensionamento de áreas é um dos problemas mais trabalhosos com que se

defronta o homem do arranjo físico.

Dessa forma, algumas técnicas foram desenvolvidas procurando simplificar a sua obtenção.

Não são muito confiáveis, no entanto, quanto aos resultados que apresentam. Procura-se aqui

conceituar o problema de uma forma mais ampla.

O dimensionamento de áreas será estudado em vários níveis:

- dimensionamento da área do posto de trabalho;

- dimensionamento da área do conjunto de postos de trabalho;

- dimensionamento da área do centro de departamento;

- dimensionamento da área da fábrica;

A - Dimensionamento da área do posto de trabalho

O posto de trabalho é uma unidade em funcionamento independente da fábrica, ou, de outra

forma, é o equipamento (ou instalações), o operador, e todos os acessórios e espaço necessários ao

seu perfeito desempenho. É a menor unidade de produção da fábrica.

No dimensionamento do posto de trabalho deverão ser consideradas áreas para:

- os serviços da fábrica: iluminação, ventilação, aquecimento, água, ar comprimido, etc;

- o acesso dos meios de transporte e movimentação;- atendimento aos dispositivos legais.

- as matérias primas não processadas; - as peças processadas;

Page 122: ERGONOMIA

122

- os refugos, os cavacos, os resíduos, etc; - as ferramentas, dispositivos,

instrumentos, etc;

- o equipamento; - o processo; - o operador;

- o acesso dos operadores; - o acesso para manutenção;

Área para o equipamento - é a projeção estática do equipamento, o espaço necessário para o seu

posicionamento na fábrica. Compreende as dimensões volumétricas máxima do equipamento. Essas

dimensões podem ser obtidas através de:

- desenhos que acompanham o equipamento; - catálogos de fabricantes;

- medidas de máquinas semelhantes ou idêntica. - medidas diretas na máquina;

Área para o processo - é toda a área indispensável ao equipamento para que esse possa executar

perfeitamente e sem limitações as suas operações de processamento. Devem ser previstos espaços

para:

- alimentação das máquinas; - deslocamento de componentes;

- retirada de peças processadas; - colocação e retirada de dispositivos;

- preparação das máquinas;

O dimensionamento desta área deverá ser obtido a partir de:

- catálogos de fabricantes; - especificações técnicas;

- análise do processo; - análise da movimentação do material;

- análise da preparação da máquina;

As áreas para o equipamento e para o processo são registradas em planta, sendo a primeira

em linha cheia e a segunda em pontilhado. Esse registro denomina-se diagrama ou carta do

equipamento.

Área para o operador - área necessária para os deslocamentos e a movimentação do operador terá

para que, em conjunto com o equipamento, seja possível a execução das tarefas da operação. Há

três tipos de áreas para serem consideradas:

a) deslocamento do operador relativamente á máquina

Onde são consideradas as diferentes posições de trabalho do operador na operação e os

deslocamentos necessários para atingir essas diferentes posições. Essa área é obtida por:

- análise de movimentos dos membros envolvidos;

- tabelas de medidas antropométricas;

O registro desta área é efetuado sobrepondo-a sobre a carta do equipamento

b) movimento para realização do trabalho

Em cada posição deve-se estudar todos os movimentos efetuados pelo operador na

realização do trabalho, através da determinação dos deslocamentos dos membros envolvidos na

atividade. As áreas são obtidas então por análise de movimentos dos membros envolvidos e por

tabelas de medidas antropométricas.

Page 123: ERGONOMIA

123

Uma técnica que pode ser utilizada é o gráfico mão esquerda - mão direita. O registro desta

área é feito sobrepondo-a sobre à carta do operador e do equipamento.

c) outras

Tanto nos deslocamentos do operador como nos movimentos de seus membros devem ser

considerados os aspectos de segurança, plena liberdade de movimentação, necessidade e

dimensionamentos de assentos para operários, e alguns aspectos psicológicos envolvidos como

sensação de enclausuramento, de falta de segurança ou semelhantes. Esta área é obtida através de

análise de movimentos, de tabelas de medidas antropométricos, de observação e bom senso.

Pode se registrar essa área sobrepondo-a sobre as anteriores.

Área para acesso dos operadores - deve-se estudar como será feita a entrada e saída do operador

no posto de trabalho. Basicamente essa área deve permitir livre movimentação com segurança e

rapidez. Auxiliam na determinação desta área o estudo do deslocamento do operador e as tabelas de

medidas antropométricas. Esta área pode ser adicionada às áreas do operador e do equipamento.

Área para acesso da manutenção - a manutenção é uma atividade imprescindível em quase todos

os processos industriais. Logo, deve-se prever áreas para que os encarregados de executar essas

atividade possam acessá-la livremente. Deve-se prever as seguintes áreas para serviços regulares de

manutenção preventiva e para serviços de manutenção corretiva. Não se deve esquecer que os

componentes principais da máquina podem também exigir manutenção. Portanto, devem ser

analisadas as dimensões de mesas, dos eixos principais e as áreas principais para sua remoção.

Outro fato que também deve ser considerado é que a manutenção, freqüentemente, deve

agir com os equipamentos próximos em pleno funcionamento, e que esse trabalho não deve

interromper o ciclo normal dos equipamentos vizinhos, e nem a pessoa que estiver executando os

serviços estar sujeita a acidentes provocados pelo seu mau funcionamento. Esta área deve ser

sobreposta á carta do operador e do equipamento.

Área para acesso dos meios de transporte e movimentação - em um processo de produção

(industrial principalmente), é constante a retirada e colocação de peças para processamento. Deve-

se prever então que:

- há necessidade do transporte atingir o centro de produção;

- o transporte precisa retirar e colocar material.

Nesse caso, no dimensionamento de corredores deve estar previsto como será feita a carga e

descarga no posto de trabalho.

Área para matérias primas não processadas e para peças processadas - freqüentemente, a peça

é transportada em lotes e fica ao lado da máquina à espera do processamento. Deve-se, portanto,

reservar área para essa demora, e cuidar para que não haja interferência de áreas, o que iria

prejudicar o bom desempenho da operação. Este dimensionamento está estritamente relacionado

com a programação da produção. Sendo assim, deve-se prever as condições mais desfavoráveis para

Page 124: ERGONOMIA

124

que, se esta vier a ocorrer, não ocorra prejuízos ao posto de trabalho. Para realizar esse

dimensionamento, deve-se conhecer:

- o sistema de programação e entrega de materiais;- dimensão da matéria prima a ser

processada;

- método de armazenamento; - método de transporte;

Esta área deve ser superposta ás anteriores.

Área para refugos, cavacos, resíduos - os processos de usinagem com remoção de cavacos, bem

como determinadas operações industriais, produzem sobras de materiais que, muitas vezes, são de

volume significativo. Há necessidade, então, de se prever área específica destinada para tal fim. A

usinagem em tornos automáticos, as operações de prensa, plaina ou fresadora, o processamento do

vidro, as injetoras de plástico, alumínio ou latão, as fundições de ferro e aço, só para citar alguns

exemplos, produzem refugos, cavacos, tiras, aparas, sobras, canais, maçalotes, simultaneamente

com a produção de peças boas, e muitas vezes, o volume daqueles supera, em muito, o resultado

líquido da operação industrial. Para dimensionar esta área é necessário conhecer:

- sua forma física; - como é feita a coleta;

- como é feito o depósito; - dimensão do depósito;

- a liberação de sobras por período de tempo; - freqüência da coleta;

- a necessidade de processamento de um ou vários materiais diferentes e de sua separação;

- características especiais do material liberado, como por exemplo: temperatura, impregnação de

óleo, arestas cortantes, dimensões máximas e mínimas, fragilidade, etc.

Área para ferramentas, dispositivos, instrumentos - em geral a programação se encarrega do

transporte do ferramental necessário à operação, que é entregue no posto de trabalho juntamente

com a matéria prima a ser processada, utilizando dessa forma, a área já dimensionada para

materiais. Em algumas indústrias, porém, o ferramental é colocado ao lado da máquina, e o operário

é o responsável pela sua guarda e manutenção.

Não existem regras gerais de dimensionamento pois tudo depende da programação da

produção. Em função disso no seu dimensionamento deve-se conhecer:

- o sistema de programação e entrega do material; - número de peças do ferramental;

- método de armazenamento; - método de transporte.

Área para serviços de fábrica - o posto de trabalho pode exigir alguns serviços de fábrica como,

por exemplo, água, iluminação, aquecimento e ar comprimido. Essas áreas devem ser posicionadas

de forma que não prejudique o bom desempenho do posto de trabalho. Convém lembrar que esses

serviços estão em posição fixa em relação ao equipamento e que não podem ocupar áreas vitais para

o processamento e movimentação. Deve-se então:

- definir os serviços de fábrica que são necessários; - levantar suas dimensões;

- verificar como esses serviços são conduzidos ao posto de trabalho;

- verificar seu relacionamento com o posto de trabalho (iluminação por exemplo, como e onde

colocar).

Page 125: ERGONOMIA

125

Área para atendimento dos dispositivos legais

A análise do trabalho e o dimensionamento correto de área, conduzem a um projeto que

possibilita o desempenho da operação industrial com conforto e segurança. Dessa forma, como

decorrência, serão satisfeitos as determinações legais exigidas pela legislação. Com relação a

instalações, máquinas e equipamentos existem as seguintes regulamentações:

- Art. 188. Em nenhum local de trabalho poderá haver acúmulo de máquinas, materiais ou

produtos acabados, de tal forma que constitua risco de acidentes para os empregados.

- Art. 189. Deixar-se-á espaço suficiente para a circulação em torno das máquinas, a fim de

permitir seu livre funcionamento, ajuste, reparo e manuseio dos materiais e produtos acabados.

§ 1o. Entre as máquinas de qualquer local de trabalho, instalações ou pilhas de materiais,

deverá haver passagem livre, de pelo menos 0,80 m (oitenta centímetros), que será de 1,30 m (um

metro e trinta centímetros) quando entre partes móveis de máquinas.

§ 2o. A autoridade competente em segurança do trabalho poderá determinar que essas

dimensões sejam ampliadas quando assim o exigirem as características das máquinas e instalações

ou tipos de operações.

9.12 - Apresentação do estudo

A fase de apresentação do layout é, muitas vezes da maior importância, pois a aceitação da

proposta vai depender muito de sua venda, ou seja, da sua apresentação final. Também deve-se

considerar que a apresentação final do arranjo físico é com freqüência o único elemento a ser

observado e analisado pelos escalões superiores da empresa, que nem sempre se interessam pelas

etapas preliminares do estudo.Dessa forma, o planejador do arranjo físico deve procurar os

melhores elementos de visualização e que ressaltem a eficiência da solução adotada.

São quatro as formas básicas de apresentação de um estudo de arranjo físico:

A) Desenhos; B) Modelos bidimensionais ou templates

C) Modelos tridimensionais ou maquetes D) Programas computacionais ou softwares

A) Desenho

Por ser o método mais prático de arranjar e distribuir os espaços no planejamento do layout,

o desenho é a técnica de representação mais utilizada, mesmo em empresas que já estejam

plenamente equipadas para utilizar tamplates, maquetes ou softwares.

Apresentam a vantagem de ser um instrumento de fácil manuseio podendo ser usado, para

avaliações, no próprio local da instalação. Normalmente é utilizado para auxiliar nas análises de

possibilidades, antes da utilização ou alteração dos tamplates ou maquetes.

B) Modelos bidimensionais ou Templates

É o método de representação visual de arranjos físicos mais flexível e ajustável.

Constituem-se basicamente de modelos bidimensionais pré-impressos do equipamento, podendo ser

Page 126: ERGONOMIA

126

feitos em diversos graus de detalhamento. Diversos materiais podem ser utilizados para sua

confecção sendo os mais comuns a cartolina e o plástico.

C) Modelos Tridimensionais ou maquetes

São a forma mais clara de representação do arranjo físico, permitindo uma melhor

visualização espacial do conjunto. Os modelos são réplicas aproximadamente perfeitas do

equipamento, dos homens e do material. Um arranjo com modelos é bastante fácil de ser

visualizado por suas próprias características tridimensionais. A compreensão do projeto é bastante

rápida, especialmente para pessoas acostumadas a trabalhos em engenharia, que, em muitos casos,

serão responsáveis pela aprovação. Dessa forma, podem ser úteis para a explicação do arranjo para

fornecedores externos, para a alta administração, assim como para os operadores. Também são de

grande utilidade para instruir operadores e empregados em serviços de suporte sobre o

funcionamento do arranjo.

A grande aplicação das maquetes é na revisão, verificação e apresentação do arranjo para as

pessoas envolvidas. Assim a seqüência normalmente seguida pelo projetista é:

1o) Estudar as idéias sobre o arranjo por meio de desenhos ou croquis;

2o) Trabalhar com as alternativas com a utilização de templates;

3o) Preparar os modelos tridimensionais, assim que se decidir sobre a melhor alternativa, para rever

e checar o arranjo com as outras pessoas que participaram do plano.

Os modelos tridimensionais ou maquetes são usados, portanto , como complemento aos

templates e aos desenhos e não para substitui-los.

Um dos fatores que prejudicam o uso de maquetes são seu alto custo, o espaço necessário

para guardá-los, facilidade de quebra, entre outros. Em geral, as maquetes só se justificam

economicamente em instalações que requeiram alto investimento ou que envolvam problemas

relativos à altura, ou que introduzam novos processos ou produtos e principalmente, em função da

grande área, tenham um alto custo.

O uso de modelos tridimensionais se justifica em projetos que envolvam problemas com a

terceira dimensão, como complexos químicos ou fábricas que utilizam transporte elevado. Em

particular, quando o trabalho de engenharia é feito fora do local da instalação, indica-se a

montagem de um modelo tridimensional o mais completo possível, que fornecerá muito mais

informações do que uma planta. A tabela a seguir, mostra um resumo explicativo de quando utilizar

desenhos, templates e maquetes.

Page 127: ERGONOMIA

127

Tabela 9.2 - Tabela resumo para utilização de desenhos, templates e maquetes

GUIA PARA O USO DE DESENHOS, TEMPLATES E MAQUETES

1. Quando não houver tempo para obter templates e maquetes

2. No esboço das idéias iniciais

DESENHOS 3. Quando não se tiver experiência e o projeto não justificar o uso das outrastécnicas

4. Quando outras pessoas não pertencentes ao grupo estiverem participando

5. No refinamento do plano, para coleta de informações

1. No planejamento do layout detalhado de uma grande área ou em rearranjosrepetidos

TEMPLATES 2. Quando os templates forem facilmente disponíveis

3. Quando o projetista tiver experiência prévia em trabalhos com templates

4. Quando o projeto envolver muitas alternativas

1. Quando um dos problemas principais é o uso da terceira dimensão

2. Quando o projeto envolver novos processos, novos métodos ou procedimentos,ou um novo tipo de layout, bem diferente do utilizado

MAQUETES 3. Quando o projeto envolver um investimento muito grande ou quando o tempode vida for grande, especialmente quando o preço do terreno for alto.

4. Quando a revisão e análise do projeto por outras pessoas se tornaremimportante

5. Quando o arranjo envolver um número muito grande de pessoas, causandoproblemas e exigindo treinamento de empregados e supervisores

Page 128: ERGONOMIA

128

Referências Bibliográficas

[1] MUTHER, R. Planejamento do layout: sistema SLP. São Paulo: Editora Edgard Blücher,

1978.

[2] OLIVERIO, J. L. Produtos processos e instalações industriais. São Bernardo do Campo:

Editora Ivan Rossi.

[3] PAHL, G AND BEITZ, W. Engineering Design: a systematic approach; Springer-Verlag;

London, 1992.

[4} SLACK N. et alli Administração da Produção. São Paulo: Editora Atlas S.A , 1997.