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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ERIC MONTEIRO DE MEDEIROS FINANCIANDO A CONCORRÊNCIA: UMA PROPOSTA DE EFETIVAÇÃO E PROMOÇÃO DA LIVRE CONCORRÊNCIA MEDIANTE A TRIBUTAÇÃO E A INTERVENÇÃO ESTATAL NATAL/RN - 2016

ERIC MONTEIRO DE MEDEIROS FINANCIANDO A … · intervenÇÃo estatal natal/rn - 2016 . eric monteiro de medeiros financiando a concorrÊncia: uma proposta de efetivaÇÃo e

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

    ERIC MONTEIRO DE MEDEIROS

    FINANCIANDO A CONCORRNCIA: UMA PROPOSTA DE EFETIVAO E

    PROMOO DA LIVRE CONCORRNCIA MEDIANTE A TRIBUTAO E A

    INTERVENO ESTATAL

    NATAL/RN - 2016

  • ERIC MONTEIRO DE MEDEIROS

    FINANCIANDO A CONCORRNCIA: UMA PROPOSTA DE EFETIVAO E

    PROMOO DA LIVRE CONCORRNCIA MEDIANTE A TRIBUTAO E A

    INTERVENO ESTATAL

    Dissertao apresentada como requisito de

    concluso do Mestrado em Direito pela

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

    Orientador: Prof. Dr. Otaclio dos Santos Silveira

    Neto.

    NATAL/RN - 2016

  • Catalogao da Publicao na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

    Medeiros, Eric Monteiro de. Financiando a concorrncia: uma proposta de efetivao e promoo da

    livre concorrncia mediante a tributao e a interveno estatal / Eric Monteiro de Medeiros. - Natal, RN, 2016.

    203f. Orientador: Prof. Dr. Otaclio dos Santos Silveira Neto.

    Dissertao (Mestrado em Direito) - Universidade Federal do Rio Grande

    do Norte. Centro de Cincias Sociais Aplicadas. Programa de Ps-graduao em Direito.

    1. Direito antitruste Dissertao. 2. Livre concorrncia - Dissertao. 3. Direito constitucional Dissertao. 4. Funo social - Dissertao. 5. Justia social - Dissertao. I. Silveira Neto, Otaclio dos Santos. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Ttulo.

    RN/BS/CCSA CDU 346.546.4

  • Dedico o presente trabalho a meus pais, meus maiores investidores.

  • AGRADECIMENTO

    Primeiramente, agradeo a Deus, logo em seguida aos meus pais, pelos

    ensinamentos e educao iniciais, bem como pelo apoio e incentivo.

    Agradeo tambm aos professores, em especial ao orientador, que, alm

    de me apresentar para o Direito Econmico e Antitruste em muito colaborou para

    minha aprendizagem e pesquisa jurdicas.

  • "Freedom has a thousand charms to show, That slaves, howe'er contented, never know".

    SEN, Amartya.

  • RESUMO

    O Direito Antitruste contemporneo, da forma como se originou e se desenvolveu ao

    longo dos ltimos anos, apresenta uma compreenso de sistema normativo que serve

    para promover o desenvolvimento socioeconmico, sobretudo pela gerao de

    competitividade, a qual vai promover a eficincia, inovao e bem-estar do

    consumidor, alm de melhorar os nveis de liberdade, igualdade, democracia e justia.

    Suas ampliao e efetivao no Brasil se revelam importantes, justamente pela

    constatao dos baixos ndices brasileiros de competitividade e liberdades

    econmicas e com a pretenso de proporcionar a percepo desses benefcios, o que

    perpassa pela consolidao da funo e da justia sociais inerentes ao Princpio da

    Livre Concorrncia, do papel da interveno estatal nessa exigncia, especialmente

    mediante as atividades da agncia concorrencial, e pela necessidade de financiar,

    fomentar e induzir essas ampliao e efetivao, o que se prope por intermdio da

    criao de uma nova Contribuio de Interveno sobre o Domnio Econmico.

    Palavras-chave: Direito Antitruste. Livre Concorrncia. Funo e Justia Sociais.

    Regulao e autoridade concorrencial. CADE. Contribuio de Interveno sobre o

    Domnio Econmico.

  • ABSTRACT

    The current Antitrust Law, under its origin and last years development shape, presents

    a normative system comprehension to promote social and economic development,

    especially by generating competition, which promotes efficiency, innovation,

    consumers welfare, besides the improve on liberty, equality, democracy and justice

    levels. Its extension and effectiveness in Brazil are important, precisely under the

    finding of the low Brazilian competitiveness and economic freedom indexes, and the

    willing to allow these benefits by socials role and justice consolidation attached to the

    Free Competition principle, the Estate intervention role to this requirement, especially

    throughout the antitrust enforcement authority activities, and the necessity to fund,

    foment and induce these extension and effectiveness, which it is proposed by the

    creation of a new Tax Contribution of Economic Domain Intervention.

    Keywords: Antitrust Law. Free competition. Socials Role and Justice. Antitrust

    Regulation and Enforcement Authority. CADE. Tax Contribution of Economic Domain

    Intervention.

  • LISTA DE ABREVIAES E SIGLAS

    ANATEL Agncia Nacional de Telecomunicaes

    ANEEL Agncia Nacional de Energia Eltrica

    ANP Agncia Nacional do Petrleo

    Art. Artigo

    BEPS Base Erosion and Profit Shifting

    CADE Conselho Administrativo de Defesa Econmica

    Ce Critrio Espacial

    CF Constituio Federal

    CIDE Contribuio de Interveno sobre o Domnio Econmico

    Cm Critrio Material

    Cq Critrio Quantitativo

    Cs Critrio Subjetivo

    Ct Critrio Temporal

    DRU Desvinculao de Receita da Unio

    FTC Federal Trade Commission

    FUNTTEL Fundo para o Desenvolvimento Tecnolgico das Telecomunicaes

    FUST Fundo de Universalizao dos Servios de Telecomunicaes

    GATT - Acordo Geral de Tarifas e Comrcio

    INOVAR-AUTO Programa de Incentivo Inovao Tecnolgica e Adensamento da

    Cadeia Produtiva de Veculos Automotores

    N - Nmero

  • OCDE Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico

    OMC Organizao Mundial do Comrcio

    RMIT Regra-Matriz de Incidncia tributria

    SMC Agreement on Subsidies and Countervailing Measures

    STF Supremo Tribunal Federal

    UNCTAD Conferncia das Naes Unidas sobre o Comrcio e Desenvolvimento

    US United States

    V. Versus

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ................................................................................................. 1

    2 ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DO DIREITO ANTITRUSTE: A

    IMPORTNCIA DA LIVRE CONCORRNCIA E SUA RELAO COM

    DESENVOLVIMENTO SOCIOECONMICO ............................................................. 9

    ORIGEM E DESENVOLVIMENTO: O COMMON LAW E A CULTURA CONTRA

    AS RESTRIES MERCANTIS ................................................................................. 9

    O PENSAMENTO ANTITRUSTE NAS ACADEMIAS: CINCIAS JURDICAS,

    CINCIAS ECONMICAS E FILOSOFIAS ............................................................... 13

    OS BENEFCIOS DA COMPETITIVIDADE E DA CONCORRNCIA............. 25

    BREVE INTRODUO AO DIREITO ANTITRUSTE BRASILEIRO ............... 36

    CONCLUSO PARCIAL ................................................................................. 38

    3 FUNO SOCIAL DA LIVRE CONCORRNCIA E SUA PROMOO:

    INTERVENO ESTATAL ....................................................................................... 40

    O PRINCPIO DA LIVRE CONCORRNCIA: A LEITURA CORRIQUEIRA ... 40

    FUNO SOCIAL E JUSTIA SOCIAL: VALORES DO SISTEMA

    CONSTITUCIONAL ................................................................................................... 44

    LIVRE CONCORRNCIA: LIBERDADE E IGUALDADE; COMPROMISSO

    SOCIAL; DESENVOLVIMENTO SOCIOECONMICO............................................. 53

    3.3.1 Liberdade como Meio e Fim ......................................................................... 53

    3.3.2 Liberdade Individual, Compromisso Social, Cooperao e Interveno

    Estatal....................................................................................................................... 58

    3.3.3 Competitividade (Liberdade e Igualdade) como elemento promotor do

    Desenvolvimento Socioeconmico ....................................................................... 63

  • CONCRETISMO: INSTRUMENTO E MTODO HERMENUTICOS DE

    VERIFICAO E EXTRAO DO CONTEDO E ALCANCE DA LIVRE

    CONCORRNCIA E SUA FEIO SOCIAL ............................................................. 66

    CONCLUSO PARCIAL ................................................................................. 76

    4 REGULAES SETORIAL E CONCORRENCIAL: HISTRICO,

    DESENVOLVIMENTO, DICOTOMIA E COMPLEMENTARIDADE. ......................... 79

    REGULAO SETORIAL X REGULAO CONCORRENCIAL ................... 88

    COMPLEMENTARIDADE E DILOGO ........................................................ 103

    CONCLUSO PARCIAL ............................................................................... 107

    5 FINANCIANDO A CONCORRNCIA: UMA PROPOSTA DE EFETIVAO E

    PROMOO DA LIVRE CONCORRNCIA MEDIANTE A TRIBUTAO E A

    INTERVENO ESTATAL ..................................................................................... 110

    ATIVIDADES DO CADE E OS NVEIS CONCORRENCIAIS

    BRASILEIROS ........................................................................................................ 110

    ORAMENTO .............................................................................................. 119

    5.2.1 Taxas............................................................................................................ 122

    5.2.1.1Classe tributria, Conceito, Caractersticas e Regra-Matriz de Incidncia

    tributria .................................................................................................................. 123

    5.2.1.1.1Servio Pblico e seus critrios material e

    subjetivo. ................................................................................................................ 128

    5.2.1.1.2Poder de Polcia e seus critrios material e

    subjetivo. ................................................................................................................ 130

    5.2.1.2Quantificao das taxas: valor prefixado, suas ineficincia e

    inadequao. ........................................................................................................... 133

  • 5.2.2 Multas .......................................................................................................... 137

    5.2.2.1Quantificao da multa: (i)legitimidade e escassez de parmetros

    objetivos. ................................................................................................................. 139

    5.2.2.2Carncia de benefcios advindos da aplicao de multa e confuso com a

    reparao dos danos pelas prticas antitrustes ...................................................... 141

    PROPOSIO: CONTRIBUIO DE INTERVENO SOBRE O DOMNIO

    ECONMICO PARA O DIREITO ANTITRUSTE .................................................... 144

    5.3.1 Classe tributria, Conceito, RMIT, Caractersticas e Finalidade da CIDE: a

    adequao constitucional da proposta ............................................................... 145

    5.3.1.1Critrio Material ............................................................................................ 147

    5.3.1.2Critrio Espacial ........................................................................................... 150

    5.3.1.3Critrio Temporal .......................................................................................... 150

    5.3.1.4Critrio Subjetivo .......................................................................................... 151

    5.3.1.4.1Sujeito ativo e competncia

    constitucional ........................................................................................................ 151

    5.3.1.4.2Sujeito passivo e correlao

    material................................................................................................................... 152

    5.3.1.5Critrio Quantitativo ...................................................................................... 155

    5.3.1.6Demais caractersticas: a vinculao da receita e da

    despesa ................................................................................................................... 157

    5.3.2 Induo de Comportamento, Neutralidade Tributria, Igualdade e Art. 146-

    A da Constituio Federal .................................................................................... 160

    5.3.3 Aumento de receita..................................................................................... 166

  • 5.3.4 Justificativa e conformao do aumento da carga tributria e atual

    contexto econmico brasileiro. ........................................................................... 167

    6 CONCLUSO FINAL ................................................................................... 170

    7 REFERNCIAS ............................................................................................ 174

    8 ANEXOS ....................................................................................................... 184

    LENINCIAS E EFEITOS CRIMINAIS NOS ESTADOS UNIDOS ................ 184

    DIREITO ANTITRUSTE NO BRASIL: ACORDOS DE LENINCIA E

    PROCESSOS CORRELATOS ................................................................................ 185

    NDICES DE INOVAO GLOBAL .............................................................. 187

    QUALIDADE DE INOVAO ....................................................................... 188

    FUNDAO HERITAGE E NDICES DE LIBERDADE ................................ 189

    CLASSIFICAO DAS ESPCIES TRIBUTRIAS ..................................... 191

  • 1

    1 INTRODUO

    O presente trabalho se origina de reflexes e buscas de solues e

    medidas que galguem a promoo do desenvolvimento socioeconmico, da eficincia

    e do aprimoramento dos valores de liberdade, justia, democracia, cujo resultado se

    deu na Livre Concorrncia.

    Prestando-se a analisar uma forma de implementao e efetivao da livre

    concorrncia no Brasil, a partir da reflexo a ela pertinente e suas importncia e funo

    em prol do desenvolvimento socioeconmico, o presente trabalho apresenta uma

    forma de efetivao do Direito Antitruste, mediante uma interveno estatal, sobretudo

    por intermdio da proposta de criao de uma contribuio para o financiamento do

    fortalecimento do CADE.

    Com o objetivo de demonstrar a possibilidade tcnico-jurdica de o Estado,

    por meio da interveno sobre o domnio econmico, efetivar a funo social no

    exerccio da livre concorrncia, por ser fator determinante na promoo do

    desenvolvimento do pas, precipuamente, por estabilizar e equilibrar o mercado e

    combater os efeitos nocivos de prticas e condutas contrrias aos ditames

    constitucionais, bem como proporcionar uma srie de benefcios oriundos de um

    ambiente competitivo, a presente dissertao de mestrado ser realizada mediante

    pesquisa legislativa, bibliogrfica e documental, com objetivos-alvo terico-

    descritivos-analticos.

    Para isso, o autor se lastrear em pesquisas e leituras amplas sobre o tema

    proposto, utilizando-se da doutrina interdisciplinar nacional e internacional, de

    esforos hermenuticos e reflexes crticas para melhor compreenso da

    instrumentalizao e do processo de interveno sobre o domnio econmico no

    exerccio da livre concorrncia, bem como das caractersticas tributrias correlatas e

    que se fizerem necessrias.

    A investigao aqui posta utiliza o mtodo investigativo na doutrina e na

    jurisprudncia, bem como anlises hermenuticas para dar suporte aos argumentos

    que defende, como tambm conta com uma representatividade do Direito Norte

  • 2

    Americano advindo de uma pesquisa feita na Faculdade de Direito da Universidade

    Fordham (Nova Iorque-EUA).

    Na primeira parte deste trabalho, a partir de um reporte histrico do Direito

    Antitruste contemporneo desde seu grmen, sobretudo no Direito Norte Americano,

    o que leva para o ano de 1711, bem antes da comum referncia ao Sherman Act.

    Essa verificao histria demonstra o importante papel da sistemtica do Common

    Law, tendo sido determinante na edificao de uma cultura e preocupaes acerca da

    fluidez mercadolgica e o combate s restries mercantis e concorrenciais, o que,

    inclusive, fazia parte da pauta de debates polticos dos candidatos presidncia dos

    Estados Unidos, com destaque para o pleito de 1912.

    Seus desenvolvimento e florescimento demonstraram uma srie de valores

    enraizados e pressupostos, partindo da Doutrina Anci, a Constitucionalizao do

    Direito Antitruste, as Escolas de Chicago e Yale, o Movimento Ps-Chicago e a

    participao do Poder Judicirio, que ajudaram na identificao de seus objetivos e a

    justificao de sua prpria existncia, cuja funo se dava para uma tutela amplssima,

    seja para proteger o consumidor, o mercado ou os prprios agentes econmicos.

    Nesse percurso, o Direito Antitruste se associou, em muito, s demais

    reas de conhecimento, em especial, s cincias econmicas, juntos, conseguiram

    verificar que a competitividade um dos maiores fatores de impulso econmica e

    produtiva, que proporciona eficincia em suas mais variadas acepes , bem-estar

    do consumidor, inovao, bem como melhora os nveis de liberdade, democracia,

    igualdade e justia.

    Nessa interdisciplinaridade, vrias foram as teorias que se prestaram a

    assentar posicionamentos associativos e aditivos, dentre as quais a Teoria da

    Informao, a Teoria das Instituies, a Teoria da Liberdade como Desenvolvimento,

    mediante o trabalho de grandes pensadores que, inclusive, chegaram a ganhar a

    honra mxima do Prmio Nobel.

    No Brasil, o desenvolvimento do Direito Antitruste foi muito peculiar, a

    merecer destaque especial, inclusive para melhores elucidaes no curso do trabalho,

    mas, na primeira parte, j se consegue perceber a necessidade de aperfeioamento

    do Direito Antitruste, sobretudo em seus nveis de amplitude e efetividade.

  • 3

    Na segunda parte do presente trabalho, faz-se uma anlise quanto

    compreenso mais genrica, difundida e corriqueira acerca do que significa o Princpio

    da Livre Concorrncia para, primeiramente, verificar a necessidade de

    aprofundamento e desenvolvimento.

    Ento, prostra-se a uma anlise de respaldo filosfico acerca da prpria

    funo do Direito em prol da sociedade, pois, esta uma unio de pessoas que vivem

    em harmonia coletiva e equilbrio. Para o devido alcance dessa harmonia e equilbrio

    necessria a instituio de regras de convivncia regulamentares e restritivas, sob

    pena de se permitir todas e quaisquer condutas, quer sejam positivas, quer sejam

    negativas para o grupo e seus membros, o que no se tem como interessante para a

    perpetuao da coletividade.

    Nesse contexto, o filsofo Rousseau imaginou o Estado como entidade

    representativa do corpo social, constituda pelo chamado Contrato Social, no qual

    cada membro da sociedade se comprometeria a limitar suas liberdades em benefcio

    da coletividade, conferindo ao Estado poderes para gesto e administrao do grupo

    so, como tambm poderes de atuao para o caso de descumprimento individual.

    Noutras palavras, ao compor um grupo de pessoas, o indivduo abre mo

    de parte de seus direitos e liberdades para possibilitar a convivncia harmnica e

    equilibrada, remanescendo aqueles direitos e liberdades cujos exerccios no sejam

    prejudiciais aos demais membros e/ou ao grupo como um todo, em tese.

    No curso da histria, os direitos individuais se desenvolveram por geraes

    ou dimenses, a partir do contexto no qual estavam inseridos e a necessidade

    decorrente de sua promoo.

    A primeira gerao promoveu a liberdade, com os direitos civis e polticos,

    contra o Estado opressor; a segunda gerao tratou da igualdade, buscando garantir

    direitos sociais, isonmicos a todos, precipuamente o direito ao trabalho e os direitos

    prestacionais; e, por fim, a terceira gerao, ainda em curso, que promove o direito

    fraternidade, com os direitos difusos e coletivos, em especial no presente trabalho, o

    direito ao desenvolvimento, pois seus reflexos atingem a toda a sociedade e um

    interesse de todos que haja um progresso nacional.

  • 4

    Com a promulgao da Constituio Federal de 1988 da Repblica

    Federativa do Brasil, o ordenamento jurdico ptrio inaugurou uma nova perspectiva e

    sistematizao dos direitos, modificando a dinmica da relao que havia entre eles

    e inserindo uma nova hermenutica sobre os direitos e garantias clssicos, aps

    passar 03 anos de maturao do texto constitucional e seu contedo.

    Nesse cenrio, enalteceu-se a chamada funo social e justia social,

    novos vetores e diretrizes constitucionais, tanto verdade, que a Carta Magna atual

    chamada de Constituio Social, justamente porque destaca e fortalece esses

    valores e vetores em todo seu contedo.

    O resultado disso, preliminarmente, o chamando dirigismo constitucional

    que passa a exigir uma constitucionalizao de diversos institutos, tais como,

    exemplificativamente, a propriedade, o contrato e a economia, pois estes, alm de

    servir para o particular, tm que servir socialmente tambm. Alm de recair sobre as

    condutas individuais tambm, como por exemplo, o abuso de poder econmico. A

    propsito, essa evoluo do constitucionalismo tambm refletida nos direitos civis,

    quando se constata a mitigao do individualismo em prol da sociedade, com a

    reduo das liberdades individuais antes exacerbadas para uma confluncia de seu

    exerccio positivo para o grupo, a partir do princpio da socialidade, presente no atual

    Cdigo Civil, que enseja a funo social dos contratos e dirigismo contratual, como

    tambm a funo social da empresa, por exemplo.

    Essas funo e justia sociais consistem na busca pelo Estado de

    funcionalismo benfico ao grupo. o aspecto teleolgico inserido amplamente no

    ordenamento jurdico como objetivo-fim, passando a adquirir, dessa forma, um vis

    interpretativo no ordenamento jurdico, precipuamente, e um vis norteador das

    atividades estatais, em primeiro lugar, e das atividades individuais em segundo lugar.

    Quer dizer, um direito de eficcia vertical, na relao entre Estado x

    Indivduo, como tambm de eficcia horizontal, na relao entre Indivduo x Indivduo,

    ainda que de maneira indireta e mediante normas.

    Assim sendo, exige-se das atividades uma serventia positiva coletividade,

    uma gerao de efeitos positivos ou a no gerao de efeitos negativos, por atos

    praticados e do prprio patrimnio, seja mediante servios, emprego ou utilizao da

  • 5

    propriedade, uma vez que, estando ausente, retira-se o interesse pblico de sua

    perpetuao, por contrariar ao alicerce no objetivo republicano de se construir uma

    sociedade livre, justa e igualitria e na justia social da ordem econmica, contexto no

    qual foi inserida a livre concorrncia, numa ntida evoluo dos direitos coletivos e

    conformadores das liberdades individuais, pois, a partir dela, pretende-se diversas

    garantias, tanto a liberdade como a igualdade, alm da prpria melhoria do mercado.

    Essa discusso se faz pertinente pela deciso constitucional de 1988 na

    qual o Estado no seria mais agente econmico direto, reconhecimento, inclusive, de

    seu fracasso e/ou dificuldades de produzir economicamente enquanto tem que reger

    a poltica, prestar os servios pblicos essenciais etc. Isso o fez entregar a atividade

    econmica para o setor privado, ficando para si apenas a regulamentao e a

    interveno econmica.

    Diante disso, a Constituio precisava, concomitantemente, garantir a livre

    concorrncia e a livre iniciativa, para que o setor privado atue e produza de forma

    positiva. Contudo, como o Texto Constitucional pautado, como dito alhures, nas

    funo e justia sociais, e a economia tem essa serventia social e coletiva, pois dela

    se espera proveitos positivos, que, da livre concorrncia, tambm se visualiza funo

    e justia sociais, que so justamente a finalidade que a economia tinha antes de ser

    entregue aos particulares.

    Noutras palavras, no porque o Estado deixar de ser agente econmico

    direto que a economia deixa de ter funo e justia sociais e a finalidade de gerar um

    benefcio coletivo. E , precisamente por entregar a atividade econmica para o setor

    privado, que a Constituio passa a dispor acerca da livre concorrncia, que deve,

    necessariamente, manter a mesma finalidade que a economia sempre teve, ou seja,

    a livre concorrncia tem que se coadunar com as funo e justia sociais.

    Para essa compreenso necessria a utilizao da hermenutica

    constitucional, suas tcnicas e teorias, para compreender o alcance e o contedo dos

    institutos jurdicos, quer sejam constitucionais ou infraconstitucionais, como tambm

    os direitos e garantias, para que tudo seja colocado num ambiente de harmonizao,

    conformao e sistematizao.

  • 6

    No obstante, a livre concorrncia, por ser valor, princpio e postulado com

    alto grau de abstrao e indeterminao, necessita dessa harmonizao,

    conformao e sistematizao com a Constituio Federal e seus valores, sobretudo,

    as funo e justia sociais, ainda que j decorra do prprio texto constitucional, no

    pode se dissipar da unidade.

    Portanto, primeiramente, imprescindvel compreender o que viria a ser a

    livre concorrncia, sob o enfoque filosfico, perpassando por sua perspectiva meio e

    fim, entrelaando-a com as funo e justia sociais para, ao fim, visualiz-la como

    elemento promotor do desenvolvimento socioeconmico, a partir da doutrina de

    Amartya Sen.

    Logo aps, tentar-se- estabelecer o alcance e o contedo da livre

    concorrncia sob a perspectiva jurdica, em consonncia com as diretrizes e valores

    apregoados pela Constituio Federal vigente, sobretudo, as funo e justia sociais,

    o que se far, no exaustivamente, mediante a utilizao da corrente Concretista

    encontrada, sobretudo, na Teoria Estruturante do Direito de autoria de Friedrich

    Mller.

    Nesse aspecto, ser apontado que a finalidade social ou a busca do

    benefcio coletivo uma constante no ordenamento jurdico, de modo que a livre

    concorrncia deve se coadunar com a funo e justia sociais como forma de

    promover o desenvolvimento socioeconmico.

    Na terceira parte do presente trabalho, adentra-se na discusso

    interveno estatal em prol da livre concorrncia. Numa economia na qual o Estado

    tem uma interveno mediante regulao, o Direito Antitruste pode ser aplicado tanto

    a partir de um rgo prprio, como o CADE, como qualquer outra agncia reguladora

    setorial, ou seja, ele compreende uma feio descentralizada.

    O Direito Antitruste Norte Americano, a partir de seus precedentes,

    enfrentou a possibilidade de concentrao da livre concorrncia apenas no rgo que

    lhe prprio, ou permitir que o rgo regulador setorial o faa oportunidade na qual

    o primeiro no poder faz-lo , e uma opo mista, que permite ambos os rgos de

    tratar da livre concorrncia, do que resultou numa srie de doutrinas de interessante

    anlise.

  • 7

    Ademais, parte da doutrina Norte Americana desde de 1970 defende e

    comprova a maior efetividade do Direito e da Agncia Concorrencial nas intervenes

    econmicas. As regulaes setoriais exigem mais e constantes atualizaes para se

    adequarem s prticas mais modernas que as atividades econmicas empreendem.

    Enquanto que o Direito Antitruste, de maneira geral, j possui uma incidncia mais

    genrica e transversal que vai permitir aplicao constante sobre todas as atividades

    econmicas, independente do segmento.

    Muito embora o Direito Antitruste Norte Americano no tenha qualquer

    forma de aplicao no ordenamento brasileiro, essas reflexes dicotmicas se fazem

    muito interessantes para o desenvolvimento da relao entre regulao setorial e

    regulao concorrencial, pois, como se depreende, a bem da verdade, ambas as

    regulaes, seja setorial seja concorrencial vo refletir pontos positivos e negativos.

    Ao contrrio da regulao setorial, a concorrencial no consegue lidar com

    questes intimamente especficas e tcnicas de determinados mercados, o que pode

    lhes impedir de enfrentar analises quanto ao preo, por exemplo. Enquanto que a

    regulao concorrencial tem uma incidncia mais transversal a correr menos riscos

    de captura, em tese.

    Dessa forma, essas duas feies regulatrias apresentam caractersticas

    que tornam interessantes um dilogo e a atuao complementar como uma forma

    mais adequada, eficiente e necessria de interao e existncia de ambas as feies

    regulatrias com vista a maximizar a positividade de cada qual, bem como reduzir

    suas fraquezas e fragilidades.

    Na quarta e ltima parte do presente trabalho, considerando todo o suporte

    terico precedente, apresenta-se uma proposta que se acredita proporcionar a

    efetivao da livre concorrncia no Brasil e trazendo todos seus benefcios, mediante

    a necessria interveno do Estado, qual seja, a ampliao e a efetividade do Direito

    Antitruste, sobretudo mediante e atuao do CADE. Contudo, quanto mais complexas,

    elaboradas e amplas forem suas atividades, mais recursos financeiros iro exigir.

    Acreditando que o CADE no possui os recursos necessrio para adotar

    uma postura mais proativa, ampliada e efetiva e considerando as funes

    arrecadadoras e indutoras da tributao, interessante a criao de uma Contribuio

  • 8

    de Interveno sobre o domnio econmico para, juntamente com as taxas que j lhes

    so prprias, permitir o aumento de suas receitas.

    A partir da proposta de criao e cobrana de um novo tributo, necessrio

    enfrentar o crivo de constitucionalidade e adequao de todos os critrios e quesitos

    necessrios para se realizar a atividade tributante, bem como do instrumento

    escolhido. Do que ser percorrido a Regra-Matriz de Incidncia Tributria da CIDE em

    tese e adstrita proposta, dando ateno especial para as questes de induo de

    comportamento e vinculao de receita que se pressupe ao se mencionar a ideia de

    Contribuio, bem como outras questes que se fazem necessrias, tais quais, a

    efetividade do objetivo arrecadatrio e a conformao do aumento da carga tributria,

    especialmente considerando o atual contexto econmico. Para, ao fim, tentar traar

    consideraes finais.

  • 9

    2 ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DO DIREITO ANTITRUSTE: A

    IMPORTNCIA DA LIVRE CONCORRNCIA E SUA RELAO COM

    DESENVOLVIMENTO SOCIOECONMICO

    ORIGEM E DESENVOLVIMENTO: O COMMON LAW E A CULTURA CONTRA

    AS RESTRIES MERCANTIS

    Os registros histricos apontam que a primeira lei contempornea do

    Direito Antitruste adveio no Canad, o chamado Act for the Prevention and

    Suppression of Combinations formed in restraints of trade, em 1889. Muito embora

    se saiba que, em tempos idos, tambm h registros jurdicos de prticas

    anticoncorrenciais que ensejaram a produo de normas antitruste pelo Imperador

    Romano Zeno, em 483 a. C., proibindo monoplios, arranjos e acordos de preo, bem

    como um julgamento de um tribunal ingls em 1603 (Darcy v. Allin) para invalidar

    monoplio do jogo de cartas1.

    No obstante, foi nos Estados Unidos que o Direito Antitruste e seu

    desenvolvimento ganharam destaque. E foi l de onde se inspirou para a edificao

    do sistema brasileiro.

    A despeito da vasta doutrina apontar a origem do Direito Antitruste

    Americano como sendo o Sherman Act de 18902, sabe-se hoje que seu grmen foi o

    prprio sistema Common Law e sua produo jurisprudencial. Os problemas

    envolvendo a restrio mercantil em detrimento da livre concorrncia foi

    primeiramente solucionado pelo Poder Judicirio.

    Uma investigao mais apurada3 demonstra que o progenitor ancio da

    doutrina na qual a restrio mercantil uma limitao da concorrncia, que deu origem

    ao Direito Antitruste, remonta ao ano de 1711 com o julgamento Mitchel v. Reynolds4.

    Logo, tal precedente se tornou o Leading Case para a produo jurisprudencial

    1 AGUILLAR, Fernando Herren. Direito econmico: do direito nacional ou supranacional. 4 ed. So Paulo: Atlas,

    2014. p. 261

    2 15 US Code

    3 COLLIN, Thomas J.; Antitrust common law: restrictive covenants and reasonableness. Akron Law Review. Vol

    24:3. 1990-1991. P. 480-481

    4 1 P. Wms. 181, 24 E.R. 347 (Q.B. 1711)

  • 10

    subsequente, vindo a ser citada por casos levado Suprema Corte Norte Americana,

    como Oregon Steam Navigation Company v. Winsor5, Gibbs v. Consolidated Gas

    Company6, e Fowle v. Park7, antes mesmo da promulgao da lei Sherman Act.

    Portanto, constata-se que, na verdade, o embrio do Direito Antitruste

    Norte Americano foi justamente sua cultura, que desde tempos idos j detinha

    compreenso mercadolgica suficiente e se preocupava com a fluidez mercantil.

    Inclusive, possvel verificar tal embrio inserido na prpria Carta Magna

    dos Estados Unidos de 1787 que, na chamada Commerce Clause (artigo I, seo 8,

    clausula 3)8, j fazia aluso ao poder de regular as atividades mercantis,

    compreendendo a importncia e a necessidade dessa fluidez mercantil e j inseria

    normatividade alusiva atuao estatal nesse aspecto.

    Foi com todo esse suporte pressuposto que surgiu a primeira legislao

    Antitruste no Direito Norte Americano, o Sherman Act de 1890, colocando as

    disposies num patamar mais elevado, de garantia bsica do sistema econmico em

    si e garantia fundamental do cidado9.

    A partir do Sherman Act, o Direito Antitruste Norte Americano, agora

    formalizado em lei, foi se desenvolvendo com mais dinamismo e sempre em busca de

    atualizao para fazer frente s mais modernas tcnicas mercantis que pudessem

    gerar as restries comerciais que o sistema visava a combater.

    Ora, num mercado em que se preza pela no restrio mercantil, razovel

    que as prticas comerciais se desenvolvam com maior naturalidade e agilidade. Logo,

    o Direito Antitruste tem que possuir uma postura de renovao constante. O que de

    fato aconteceu nos Estados Unidos.

    5 87 U.S. (20 Wall) 64 (1873)

    6 130 U.S. 396 (1889)

    7 131 U.S. 88 (1889)

    8 Constituio dos Estados Unidos da Amrica: The Congress shall have power To regulate Commerce with

    foreign Nations, and among the several States, and with the Indian Tribes.

    9 SALOMO FILHO, Calixto. Regulao da atividade econmica (princpios e fundamentos jurdicos). 2 Ed.,

    revista e ampliada. So Paulo: Malheiros, 2008. P. 137

  • 11

    No curso da histria, cuidou-se em inserir previses que legais que

    contemplassem, alm do combate ao monoplio e formao de cartis (Sherman

    Act), outras disciplinas que propiciassem: uma agncia prpria para fiscalizao e

    combate de condutas anticompetitivas (Federal Trade Commission Act, 1914); o

    controle posterior de fuses e aquisies (Clayton Antitrust Law, 1914), o controle de

    discriminao de preo (Robinson-Pactan Act, 1936); o controle de verticalizao e

    formao de conglomerados (Celler-Kefauver Act, 1950); o controle prvio de fuses

    e aquisies (Hart-Scott-Rodino Antitrust Improvements Act, 1976); a

    extraterritorialidade do sistema antitruste Norte Americano (Foreign trade antitrust

    improvement act of 1982); o agravamento das penalidades e sujeies do sistema

    antitruste (Antitrust Criminal Penalty Enhancement and Reform Act, 2004), dentre

    outras10.

    Como se no bastasse, a sistemtica Norte Americana permite a

    convivncia harmnica e paralela entre leis federais e estaduais11, de modo que, em

    adio s leis exemplificadas acima, ainda h as leis estaduais que versam sobre

    antitruste nos 50 Estados Americanos. Isso viabiliza uma maior plenitude e

    completude do sistema antitruste, alm de inserir vrios partcipes, sobretudo de

    controle e fiscalizao, quer sejam agentes de controle federal, quer sejam agentes

    estaduais.

    Ademais, inclusive em correlao com sua origem, muito do

    desenvolvimento do Direito Antitruste se deu tambm no seio do Poder Judicirio,

    mediante os vrios precedentes erigidos pelas Cortes. A partir dos casos que lhes

    foram apresentados, com as mais variadas caractersticas, nuances prticas e em

    altos e profundos nveis de complexidade, exigia-se um posicionamento, uma soluo,

    as quais transcendiam os limites prprio do Direito e faziam uso, tambm, das cincias

    econmicas, principalmente, o Direito Antitruste nos Estados Unidos se engrandeceu

    muito.

    Essa sistemtica de uma pluralidade de instrumentos normativos

    implementados e aprimorados no curso do tempo, quando interpretada em unidade,

    10 15 US Code

    11 California v. ARC America Corp., 490 U.S. 93 (1989)

  • 12

    demonstram que o mago mais nuclear do Direito Antitruste a garantia do equilbrio

    das relaes econmicas, o que vai exigir impulsos de reequilbrio a cada vez que um

    patamar mnimo de harmonia no se revele satisfeito12.

    Alis, a partir disso possvel ver tambm que a prpria cultura e a

    preocupao que deram azo criao do Direito Antitruste nos Estados Unidos

    evoluiu, disseminou e se incutiu de tal maneira na sociedade que as prticas

    anticompetitivas so de extrema averso social, associadas desonestidade,

    ganncia, cobia e ao prejuzo coletivo imensurvel13.

    Inclusive, a preocupao com a competitividade econmica e o Direito

    Antitruste eram pauta dos debates polticos. DANIEL CRANE nos conta que, na

    corrida presidencial de 1912, os quatro candidatos, Theodore Roosevelt (Partido

    Republicano), Eugene Debs (Partido Socialista), William Howard Talf (Partido

    Republicano) e Woodrow Wilson (Partido Democrata), incluam em seus debates e

    agendas polticas a importncia de uma economia competitiva e a necessidade de um

    arranjo institucional que melhor proporcionasse isso14.

    Uma preocupao levantada por Wilson em 1912 viria a ser comprovada e

    efetivada anos depois, na dcada de 70, que foi justamente a manuteno da

    eficincia e da competitividade advindas pela abertura econmica competio

    estrangeira. Isso causaria uma reduo dos preos muito menor do que um

    fortalecimento da agncia antitruste15.

    Por fim, independentemente da posio que cada candidato adotou, havia

    o denominador comum quanto necessidade de interveno estatal para o combate

    12 Nesse sentido, fica a lio de CALIXTO: "O centro da garantia est no equilbrio das relaes econmicas por

    ela proporcionado". SALOMO FILHO, Calixto. Regulao da atividade econmica (princpios e fundamentos

    jurdicos). 2 Ed., revista e ampliada. So Paulo: Malheiros, 2008. P. 137.

    13 A esse respeito fica a seguinte reflexo: participation in a cartel is viewed in the US as a property crime, akin

    to burglary or larceny, and it is properly treated accordingly. Like other serious crimes, cartel are never socially

    desirable. WERDEN, Gregory J.; HAMMOND, Scott D.; BARNETT, Belinda A.; Deterrence and Detection of

    Cartels: Using All the Tools and Sanctions. Department of Justice. The 26th Annual National Institute on White

    Collar Crime. March 1, 2012. P. 2

    14 CRANE, Daniel A,. All I really need to know about antitrust I learned in 1912. Iowa law Review. Vol. 100:2025.

    2015. P. 2028

    15 CRANE, Daniel A,. All I really need to know about antitrust I learned in 1912. Iowa law Review. Vol. 100:2025.

    2015. P. 2034

  • 13

    s prticas anticompetitivas16, o que exigia o relacionamento entre concorrncia e

    regulao como ncleo das questes econmicas17-18.

    De todo modo, as preocupaes com eficincia econmica,

    competitividade, restrio de mercado e Direito Antitruste j se faziam presentes no

    contexto poltico Norte Americano desde pelo menos 1912, enraizando-se e trazendo

    tona questes importantes tanto quanto ao Direito Antitruste quanto regulao

    econmica que persistem at os dias atuais19.

    O PENSAMENTO ANTITRUSTE NAS ACADEMIAS: CINCIAS JURDICAS,

    CINCIAS ECONMICAS E FILOSOFIAS

    A livre concorrncia, em consubstanciao e desenvolvimento tanto

    conjunto quanto paralelo entre as cincias jurdicas e econmicas, sob os olhos de

    hoje, podem ser sintetizadas nas doutrinas com maior destaque. A Anci,

    Constitucionalizao, Escola de Chicago, de Yale e o Movimento Ps-Chicago, que

    cuidaram em apontar suas preocupaes motrizes, os benefcios alcanados e

    proporcionados em compasso com a livre concorrncia e suas implementao,

    efetivao e aprimoramento.

    A bem da verdade, as doutrinas tiveram influncia e suporte

    imprescindveis das cincias econmicas, cujas pesquisas tambm lograram o

    recebimento do Prmio Nobel de Economia, nos Sculos XX e XXI, alm de auxiliarem

    16 CRANE, Daniel A,. All I really need to know about antitrust I learned in 1912. Iowa law Review. Vol. 100:2025.

    2015. P. 2036

    17 CRANE, Daniel A,. All I really need to know about antitrust I learned in 1912. Iowa law Review. Vol. 100:2025.

    2015. P. 2037

    18 Esse relacionamento ser enfrentado um prximo captulo.

    19 Em concluso de seu artigo, CRANE sintetiza a mentalidade e preocupao acerca da importncia da Regulao

    e do prprio Direito Antitruste no meio poltico em tempos pretrito, muito embora tenha diminudo no decorrer

    da histria essas mesmas questes e debates permanecem atuais: "1912 was a magnificent year for antitrust because

    its prime contestants posed and debated so eloquently the foundational questions about a competition law system

    and its regulatory alternatives. Antitrust has diminished dramatically in political salience since that time;

    candidates for higher office pay it precious little attention. However, the set of questions posed and debated in

    1912 persist to this day. Natural experimentation over the last century has given us more data with which to debate

    the questions, but no better framing of the questions". CRANE, Daniel A,. All I really need to know about antitrust

    I learned in 1912. Iowa law Review. Vol. 100:2025. 2015. P. 2038

  • 14

    numa percepo emprica acerca da importncia da livre concorrncia para o

    desenvolvimento socioeconmico, dando suporte tanto para o desenvolvimento da

    legislao quanto da doutrina20.

    Primeiramente, a doutrina anci, como j dito alhures, foi o grmen do

    Direito Antitruste Norte Americano construdo pelo sistema Common Law. Partindo de

    uma difundida cultura preocupada com o fluxo das transaes e as restries de

    mercado que representavam mitigao concorrncia e, consequentemente,

    prpria livre iniciativa.

    Essa doutrina permaneceu como o substrato do entendimento antitruste,

    inclusive no Poder Judicirio Norte Americano, e consistia, em sntese, na ideia de

    harmonizar as vrias liberdades, em especial o exerccio da livre iniciativa e a

    liberdade contratual, que, por vezes, podiam vir a colidir com o exerccio de outro titular

    e, dessa forma, ultrapassar o exerccio legtimo da liberdade individual. Assim, era

    necessrio analisar, num juzo de razoabilidade, a ento denominada Rule of Reason,

    se as restries mercantis eram (i)legtimas, logo, (no) podiam ser admitidas, ento

    (no) estariam submissas incidncia da lei antitruste21.

    Mais adiante, em meados das dcadas de 40 e 50, a doutrina que se

    desenvolvia no Estados Unidos era chamada de Constitucionalizao do Direito

    Antitruste. Um grande diferencial deste movimento foi a menor influncia sofrida pelas

    cincias econmicas para se ater com mais foco nas nuances jusfilosficas de cunho

    nitidamente constitucional, especialmente quanto aos valores de igualdade e

    liberdade, bem como suas implicaes, a partir do sentimento de um vazio no

    20 Na verdade, as cincias econmicas tiveram e ainda tm importante influncia no desenvolvimento do Direito

    Antitruste, como destaca KAPLOW e SHAPIRO: Having surveyed several key economic underpinnings of

    antitrust policy and applied the lessons to the core features of existing regimes, we have seen that economics has

    had a tremendous influence on the law, but also that there is still much unfinished business for economists and

    lawyers alike. () we have noted that modern antitrust law in the United Statesand to a substantial degree in

    the European Unionis aimed in large part at economic objectives and heavily employs economic tools in

    achieving them. KAPLOW, Louis; SHAPIRO, Carl. Antitrust. Working Paper 12867

    http://www.nber.org/papers/w12867 P. 130

    21 COLLIN, Thomas J.. Antitrust common law: restrictive covenants and reasonableness. Akron Law Review. Vol

    24:3. 1990-1991. P. 550

  • 15

    substrato jusfilosfico havido nas ideias de anlise concorrencial e competio sem a

    preocupao com os ideais de coletividade/cooperao22.

    Aqui, defendia-se a ideia de regulao econmica como uma engenharia

    social que deve pressupor uma configurao constitucional para a criao de polticas,

    inclusive as polticas antitruste23, o que levaria a no s proteger o indivduo contra o

    poder coercitivo do Estado, mas tambm a resgat-lo de uma situao de dominncia

    social em prol da preservao da sociedade24.

    Essa construo deveria influenciar a hermenutica e a produo jurdicas

    erigidas no Direito Antitruste, especialmente aquelas tidas sobre o Sherman Act, por

    incluir consideraes constitucionais a respeito da preservao da dignidade, da

    liberdade e da igualdade dos indivduos, preocupaes muitos mais amplas e

    elaboradas do que aquelas eficincia, organizao e distribuio das cincias

    econmicas25.

    Acreditava-se, pois, que seria muito mais atrativo e flexvel no combate ao

    monoplio a ideia de constitucionalizao dos centros de poder econmico privado. A

    partir disso se garantiria uma proteo isonmica que ofertaria a igualdade perante a

    lei sob o ponto de vista mercadolgico e de exerccio da livre iniciativa , sobretudo

    porque a liberdade no era mais vista apenas numa relao indivduo-Estado, mas

    tambm indivduo-indivduo, na qual no podia um se sobrepor aos outros,

    especialmente o detentor de maior poder econmico. Assim, buscava-se instituir uma

    orientao positiva como condies necessrias para aproveitar e gozar dos frutos da

    organizao social de maneira plena e igual26.

    A viso de proteo isonmica viabilizava uma satisfao maior de

    constitucionalizao e seus objetivos, bem como oferecia uma arquitetura mais

    compreensiva quanto aos padres de gerncia dos problemas econmicos antitruste

    do que as teorias econmicas davam. Entretanto, as Cortes no utilizaram claramente

    22 WILSON, Richard B.; Antitrust policy and constitutional theory. 46 Cornell L. Q. 505 1960-1961. P. 506-507

    23 WILSON, Richard B.; Antitrust policy and constitutional theory. 46 Cornell L. Q. 505 1960-1961. P. 510

    24 WILSON, Richard B.; Antitrust policy and constitutional theory. 46 Cornell L. Q. 505 1960-1961. P. 514-515.

    25 WILSON, Richard B.; Antitrust policy and constitutional theory. 46 Cornell L. Q. 505 1960-1961. P. 518

    26 WILSON, Richard B.; Antitrust policy and constitutional theory. 46 Cornell L. Q. 505 1960-1961. P. 527

  • 16

    tais dogmticas para articular a igualdade como fundamento do Direito Antitruste27.

    Um dos poucos precedentes que o fez foi FTC v. Morton Salt Co28.

    O ncleo central da ideal de isonomia constitucional Norte Americana, seja

    advinda da clusula de proteo individual, da quinta emenda, da clusula de

    comrcio ou da primeira emenda, traz o conceito de razoabilidade na oferta de

    privilgios ou na imposio de restries oriundas de decises particulares ou

    pblicas. Tudo assente na premissa basilar de que os iguais devem ser tratados

    iguais29.

    Assim, a constitucionalizao do Direito Antitruste apresentava e defendia

    uma racionalidade mais satisfatria sob o ponto de visto jusfilosfico e constitucional

    do que as orientaes econmicas. A constitucionalizao da ideia de igualdade

    apresentava uma rota que interliga os extremos do individualismo e do coletivismo e

    as implicaes de uma competio imperfeita. Alm disso, era uma frmula que partia

    da prpria Constituio30 e tentou inserir novas perspectivas aos juzos e anlises

    econmicas31. Contudo, a fora dos argumentos econmicos foi maior e mais

    convincente, sendo, portanto, mais acolhida pelas Cortes.

    Nesse sentido, floresceu a Escola de Chicago, em meados da dcada de

    70, envolvida num contexto econmico problemtico. Primeiramente, a recuperao

    econmica ps-guerra vivida na Alemanha e no Japo permitiu uma produo forte e

    a entrada de produtivos altamente competitivos em preo e qualidade no mercado

    Norte Americano32. Havia, tambm, a crise do petrleo oriunda da cartelizao dos

    grandes produtores mundiais, que resultou no aumento vertiginoso dos preos do

    27 WILSON, Richard B.; Antitrust policy and constitutional theory. 46 Cornell L. Q. 505 1960-1961. P. 527-528

    28 334 US 37 (1948)

    29 WILSON, Richard B.; Antitrust policy and constitutional theory. 46 Cornell L. Q. 505 1960-1961. P. 528

    30 WILSON, Richard B.; Antitrust policy and constitutional theory. 46 Cornell L. Q. 505 1960-1961. P. 531

    31 Ao final de seu artigo, RICHARD WILSON cita uma frase sintetizadora e muito esclarecedora de EUGENE

    ROSTOW, para quem uma economia deve ser julgada pelo que agrega riqueza da nao... Alm desse objetivo,

    julgamento deve medir seus efeitos sobre os homens, poltica, e sobre os valores e cultura da sociedade. [traduo

    livre] WILSON, Richard B.; Antitrust policy and constitutional theory. 46 Cornell L. Q. 505 1960-1961. P. 531

    32 SALOMO FILHO, Calixto. Regulao da atividade econmica (princpios e fundamentos jurdicos). 2 Ed.,

    revista e ampliada. So Paulo: Malheiros, 2008. P. 138

  • 17

    petrleo e trouxe vrias consequncias negativas para os mais variados mercados e

    segmentos produtivos e de consumidores.

    Portanto, viu-se a necessidade de melhorar as qualidades do mercado

    Norte Americano, sobretudo quanto eficincia e competitividade, tanto para fazer

    frente aos produtos importados quanto para oferecer opes e inovaes que se

    coadunassem com as novas realidades e necessidades da vida cotidiana e

    promovessem o bem-estar do consumidor. Essa reflexo foi buscar respaldo no

    Direito Antitruste33.

    Nesse cenrio, a Escola de Chicago encontrou na eficincia34 uma forma

    de garantir a competitividade mercantil como tambm o bem-estar do consumidor e,

    por conseguinte, o bem-estar social, sedimentando tais atributos como o suporte e o

    objetivo para pensar e desenvolver o Direito Antitruste35.

    Apesar de no ser necessariamente da Escola de Chicago, o pensamento

    quanto importncia do consumidor, a busca por seu bem-estar e seu papel na

    economia influenciaram outros economistas. Em meio a esse contexto, advindo da

    Escola Clssica Austraca, LUDWIG VON MISES, defendia a sociedade vista a partir

    do consumidor. Na verdade, para ele, as relaes de consumo eram quem ditavam o

    caminhar econmico, a prevalncia ou a falncia de determinados modelos

    produtivos, influenciavam os valores financeiros de tudo, dos produtos e servios at

    da prpria mo-de-obra36. Mas para tanto, era necessria a liberdade.

    33 Nesse sentido, destaca-se o registro histrico de CRANE que verificou de maneira associativa o

    desenvolvimento do pensamento do Direito Antitruste junto aos acontecimentos havidos poca bem como os

    valores que refletiam: "In the post-War Era, the rise of the free trade movement allowed testing of the claim

    advanced by Wilson that the trust problem was largely a function of trade barriers. The Chicago School arose at a

    time when foreign competition was flooding the U.S. market as never before. Its generally laisse faire policy

    recommendations for antitrust resonated with realities that many markets were becoming intensely more

    competitive as a result of foreign entry". CRANE, Daniel A,. All I really need to know about antitrust I learned

    in 1912. Iowa law Review. Vol. 100:2025. 2015. P. 2037

    34 SAMPAIO, Patrcia Regina Pinheiro. Regulao e concorrncia: a atuao do CADE em setores de

    infraestrutura. So Paulo: Saraiva, 2013. P. 42

    35 SALOMO FILHO, Calixto. Regulao da atividade econmica (princpios e fundamentos jurdicos). 2 Ed.,

    revista e ampliada. So Paulo: Malheiros, 2008. P. 138

    36 "MISES, Ludwig von. As seis lies. 7 ed. Traduo de Maria Luiza Borges. So Paulo, Instituto Ludwig von

    Mises Brasil, 2009. P. 29

  • 18

    Contempornea Escola de Chicago, havia tambm a Escola de Yale. A

    primeira, considerada mais positiva, centrava-se muito na ideia de eficincia como

    fator de promoo do bem-estar. Contudo, a segunda, criticando a impossibilidade de

    se ater e se prender tanto ao critrio de eficincia e a no adequao total de tal juzo

    para promover o bem-estar, defendia a insero de outras variveis nos juzos de

    bem-estar, como, por exemplo, a felicidade37.

    Entretanto, a Escola de Chicago foi muito mais difundida que a Escola de

    Yale, pois, ao fim, conseguiu demonstrar que a busca pela eficincia uma importante

    contribuio econmica para a prpria justia distributiva. Alm disso, a insero do

    juzo e a avaliao de custo-benefcio no implica compulsoriamente em se deixar de

    lado outros valores, pois ela consegue conviver bem com as polticas redistributivas e

    as ideias de justia38.

    Posteriormente, viu-se o surgimento do movimento Ps-Chicago, que trazia

    uma preocupao quanto proteo da concorrncia em si como o mago central do

    Direito Antitruste. Aqui, defende-se que a concorrncia gera competitividade e ambas

    so fatores imprescindveis para a preservao das prprias liberdades econmica e

    de iniciativa39.

    FOX sintetiza e narrar os trabalhos de JOSEPH BRODLEY, quem defendeu

    que, mediante uma mistura de eficincia econmica promovida pela competitividade,

    que o Direito Antitruste poderia alcanar seu objetivo econmico de incrementar o

    bem-estar social e do consumidor. Para ele, o chamado bem-estar antitruste se

    suporta pelo trip eficincia, bem-estar do consumidor e rivalidade. S assim, o Direito

    37 SAMPAIO, Patrcia Regina Pinheiro. Regulao e concorrncia: a atuao do CADE em setores de

    infraestrutura. So Paulo: Saraiva, 2013. 43-44

    38 SAMPAIO, Patrcia Regina Pinheiro. Regulao e concorrncia: a atuao do CADE em setores de

    infraestrutura. So Paulo: Saraiva, 2013. P. 43

    39 Nesse sentido, j traando as diretrizes iniciais do movimento Ps-Chicago, o Ministro da Suprema Corte dos

    Estados Unidos disse: Antitrust laws are the Magna Carta of free enterprise. They are as important to the

    preservation of economic freedom and our free-enterprise system as the Bill of Rights is to the protection of our

    fundamental personal freedoms. US Supreme Court Justice Thurgood Marshall in US v. Topco Associates, Inc.,

    405 U.S. 596, 610 (1972). De igual sentir, atualmente, AREEDA e HOVENKAMP sintetizaram muito bem essa

    ideia do foco sobre a competitividade que se compreende do Direito Antitruste: Today it seems clear that the

    general goal of the antitrust laws is to promote competition as the economist understands that term. Thus we say

    that the principal objective of antitrust policy is to maximize consumer welfare by encouraging firms to behave

    competitively. AREEDA, Philip E.; HOVENKAMP, Herbert.. Antitrust law: an analysis of antitrust principles

    and their application (2013) 100, p. 4

  • 19

    Antitruste poderia perseguir metas alm da dinmica e da progressividade

    econmicas para alcanar, tambm, questes sociais no econmicas40.

    Para BRODLEY, h trs tipos de eficincia: a produtiva, a alocativa e a

    dinmica (inovadora), sendo esta ltima a mais importante por beneficiar as outras

    duas41. Alm disso, ele tenta firma uma definio para a ideia de bem-estar do

    consumidor, pois discorda da associao disso com eficincia e com interesse

    superior. Para ele, o termo representa benefcios quantitativos e qualitativos,

    harmonizados com um interesse social geral entrelaado com a eficincia gerada e

    promotora da inovao42.

    BRODLEY apontou que a rivalidade que gera a competitividade o novo

    paradigma Ps-Chicago43. A partir do trabalho de MICHAEL PORTER, BRODLEY

    enfatizou que fuses e alianas so tendncias que asseguram a mediocridade44.

    Para ele, a perda de rivalidade domstica como uma raiz seca que vagorosamente

    corri as vantagens da competitividade e reduz o ritmo da inovao e de dinamismo45.

    BRODLEY disse, ainda, que o Direito Antitruste que no promove a

    rivalidade uma tolice, pois, apenas a competitividade gerada pela rivalidade que

    vai proporcionar o bem-estar antitruste46. Por fim, como FOX narra, BRODLEY

    conseguiu contornar a ideia negativa de rivalidade no contexto antitruste para associ-

    la com vetor de eficincia dinmica47.

    Como dito anteriormente, o desenvolvimento das doutrinas Antitruste se fez

    paralelamente nos campos do saber jurdico e econmico, um dando suporte ao outro.

    Nessa equao, essas cincias juntas demonstram que outras caractersticas que

    40 FOX, Eleanor M.; Antitrust welfare - the Brodley synthesis. 90 B.U. L. Rev. 1375 2010. P. 1377-1378

    41 FOX, Eleanor M.; Antitrust welfare - the Brodley synthesis. 90 B.U. L. Rev. 1375 2010. P. 1378

    42 FOX, Eleanor M.; Antitrust welfare - the Brodley synthesis. 90 B.U. L. Rev. 1375 2010. P. 1378

    43 FOX, Eleanor M.; Antitrust welfare - the Brodley synthesis. 90 B.U. L. Rev. 1375 2010. P. 1378-1379

    44 FOX, Eleanor M.; Antitrust welfare - the Brodley synthesis. 90 B.U. L. Rev. 1375 2010. P. 1379

    45 FOX, Eleanor M.; Antitrust welfare - the Brodley synthesis. 90 B.U. L. Rev. 1375 2010. P. 1379

    46 FOX, Eleanor M.; Antitrust welfare - the Brodley synthesis. 90 B.U. L. Rev. 1375 2010. P. 1380-1381

    47 FOX, Eleanor M.; Antitrust welfare - the Brodley synthesis. 90 B.U. L. Rev. 1375 2010. P. 1383

  • 20

    ajudam a fortalecer ainda mais o Direito Antitruste so a informao, a instituio, a

    liberdade, a democracia e a justia.

    No que diz respeito informao, ressaltam-se os trabalhos de AKERLOF,

    a partir de suas pesquisas, ele constatou um problema envolvendo a assimetria da

    informao no mercado, sobretudo no tocante qualidade das mercadorias e

    servios, o que pode levar, inclusive, ao desaparecimento do prprio segmento, em

    face das incertezas geradas e os malefcios decorrentes48.

    Para ele, o melhor instrumento de contra-ataque dessa assimetria a

    presena de instituies49, que vo atuar em prol de garantias, especialmente das

    informaes de quantidade, qualidade e correspondncia de preo, para dar suporte

    ao fluxo mercadolgico.

    Em associao a essa linha de raciocnio, h tambm os trabalhos de

    STIGLITZ e SPENCE. O primeiro trabalhou a sistematizao da ideia da economia da

    informao e a importncia que a informao tem nas transaes mercantis50; e o

    segundo discutiu as formas pelas quais se transmite informao e a consequente

    reduo das assimetrias decorrente dessa difuso51. Os trs autores compartilharam

    o Prmio Nobel de Economia de 2001.

    Portanto, a informao circunstncia importante que vai proporcionar

    cenrio benfico s transaes comerciais, logo, combate as restries mercantis,

    bem como subsidia garantias ao consumidor, dando-lhe condies de discernir o que

    realmente est adquirindo, quantitativa e qualitativamente, e se o preo condizente

    48 SALOMO FILHO, Calixto. A paralisia do antitruste. In: GABAN, Eduardo Molan e OLIVEIRA

    DOMINGUES, Juliana (coord.). Estudos de direito econmico e economia de concorrncia. 1 Ed. 2 Reimpr.

    Curitiba: Juru, 2012. P. 17

    49 AKERLOF, George A.; The Market for "Lemons": Quality Uncertainty and the Market Mechanism. The

    Quarterly Journal of Economics, Vol. 84, No. 3. (Aug., 1970). P. 499.

    50 SALOMO FILHO, Calixto. A paralisia do antitruste. In: GABAN, Eduardo Molan e OLIVEIRA

    DOMINGUES, Juliana (coord.). Estudos de direito econmico e economia de concorrncia. 1 Ed. 2 Reimpr.

    Curitiba: Juru, 2012. P. 17

    51 SALOMO FILHO, Calixto. A paralisia do antitruste. In: GABAN, Eduardo Molan e OLIVEIRA

    DOMINGUES, Juliana (coord.). Estudos de direito econmico e economia de concorrncia. 1 Ed. 2 Reimpr.

    Curitiba: Juru, 2012. P. 17

  • 21

    ou se h sobrepreo injustificado , bem como teria cincia da oferta, logo, d bem-

    estar aos consumidores.

    Em consonncia com a economia da informao, HAYEK defendia a ideia

    de conhecimento econmico52. Nesse sentido, segundo a narrativa de CALIXTO, o

    conhecimento seria o fator a partir do qual se conferiria proteo ao consumidor,

    mormente a descoberta das utilidades dos produtos e das opes existentes no

    mercado. Assim a concorrncia, sob essa perspectiva, o nico fenmeno que

    permitir o conhecimento no ambiente mercadolgico, servindo, principalmente ao

    consumidor, mas tambm aos prprios concorrentes53, que vo se dimensionar e

    ajustar as caractersticas e peculiaridades de cada ambiente econmico.

    Quanto s instituies, destacam-se os trabalhos de DOUGLASS C.

    NORTH. Sob a narrativa econmica de PAULO GALA, as instituies vo combater

    as incertezas e os custos de transao54 e vo proporcionar um contexto que viabiliza

    uma abertura para as novas organizaes, ou seja, as instituies constroem um

    ambiente favorvel efetivao do exerccio da livre concorrncia pelos outros

    titulares e maximiza a democracia55.

    J sob a narrativa econmica de FIANI, as instituies de NORTH so

    vetores garantidores da democracia e da liberdade. Justamente por reduzir os custos

    de transao, reduz-se, tambm, os custos de transao inerentes democracia,

    favorecendo o aumento das transaes democrticas, especialmente nos processos

    de deciso que envolvem eleitores, parlamentares e burocratas, alm de reduzir a

    ignorncia e aumentar as percepes subjetivas dos processos democrticos56.

    52 Segundo relata CALIXTO, para HAYEK, o conhecimento econmico , por sua natureza, prtico, e o melhor

    conhecimento adquirido individualmente, atravs do processo de escolha, isto , atravs da efetiva existncia de

    concorrncia". SALOMO FILHO, Calixto. Regulao da atividade econmica (princpios e fundamentos

    jurdicos). 2 Ed., revista e ampliada. So Paulo: Malheiros, 2008. P. 38

    53 SALOMO FILHO, Calixto. Regulao da atividade econmica (princpios e fundamentos jurdicos). 2 Ed.,

    revista e ampliada. So Paulo: Malheiros, 2008. P. 39-41.

    54 GALA, Paulo. A teoria institucional de Douglass North - Revista de Economia Poltica, vol. 23, n 2 (90), abril-

    junho/2003. P. 100

    55 GALA, Paulo. A teoria institucional de Douglass North - Revista de Economia Poltica, vol. 23, n 2 (90), abril-

    junho/2003. P. 101

    56 FIANI, Ronaldo. Crescimento econmico e liberdades - a economia poltica de Douglass North. Economia e

    Sociedade, Campinas, v. 11, n. 1 (18), p. 45-62, jan./jun. 2002. P. 60

  • 22

    Ademais, a partir do momento em que as instituies garantem direitos,

    especialmente propriedade e liberdade, reduz-se os custos transacionais

    econmicos a proporcionar um incentivo para o desenvolvimento, mediante a

    ampliao, tambm, do universo de escolhas e da oferta de ferramentas para se

    tomarem escolhas timas57.

    Agora, sob a narrativa jurdica de BOHRER e SCORZA, v-se a grande

    ascenso das teorias neoinstitucionalistas58, nas quais se destaca NORTH, quem

    atribuiu especial importncia da concorrncia como componente fundamental para o

    desenvolvimento econmico e a evoluo das instituies, as quais vo se utilizar da

    concorrncia e do desenvolvimento para aument-los59.

    Na leitura que BOHRER e SCORZA fizeram de NORTH, ficou claro que as

    instituies amoldam a interao humana e tm como funo reduzir as incertezas e

    estabilizar as estruturas60 e vo atuar de forma a influenciar na construo e da

    definio das possibilidades de escolha que, com o vetor de informao, induzem a

    participao dos agentes nas atividades econmicas61. Ou seja, a concorrncia uma

    garantia institucional mnima62.

    57 FIANI, Ronaldo. Crescimento econmico e liberdades - a economia poltica de Douglass North. Economia e

    Sociedade, Campinas, v. 11, n. 1 (18), p. 45-62, jan./jun. 2002. P. 61

    58 BOHRER, Carolina Pancotto; SCORZA, Flavio Augusto Trevisan. Instituies, concorrncia e comrcio

    internacional: criando competitividade para o desenvolvimento. In: GABAN, Eduardo Molan; OLIVEIRA

    DOMINGUES, Juliana (coord.). Estudos de direito econmico e economia de concorrncia. 1 Ed. 2 Reimpr.

    Curitiba: Juru, 2012. P. 243

    59 BOHRER, Carolina Pancotto; SCORZA, Flavio Augusto Trevisan. Instituies, concorrncia e comrcio

    internacional: criando competitividade para o desenvolvimento. In: GABAN, Eduardo Molan; OLIVEIRA

    DOMINGUES, Juliana (coord.). Estudos de direito econmico e economia de concorrncia. 1 Ed. 2 Reimpr.

    Curitiba: Juru, 2012. P. 244

    60 BOHRER, Carolina Pancotto; SCORZA, Flavio Augusto Trevisan. Instituies, concorrncia e comrcio

    internacional: criando competitividade para o desenvolvimento. In: GABAN, Eduardo Molan; OLIVEIRA

    DOMINGUES, Juliana (coord.). Estudos de direito econmico e economia de concorrncia. 1 Ed. 2 Reimpr.

    Curitiba: Juru, 2012. P. 244.

    61 BOHRER, Carolina Pancotto; SCORZA, Flavio Augusto Trevisan. Instituies, concorrncia e comrcio

    internacional: criando competitividade para o desenvolvimento. In: GABAN, Eduardo Molan; OLIVEIRA

    DOMINGUES, Juliana (coord.). Estudos de direito econmico e economia de concorrncia. 1 Ed. 2 Reimpr.

    Curitiba: Juru, 2012. P. 245

    62 SALOMO FILHO, Calixto. Regulao da atividade econmica (princpios e fundamentos jurdicos). 2 Ed.,

    revista e ampliada. So Paulo: Malheiros, 2008. P. 158

  • 23

    As instituies podem atingir vrios nveis de eficincias, mensurados pelas

    condies de realizao da garantia maior ou menor de direitos. Portanto, cada

    sociedade tem suas prprias formataes institucionais e nveis de eficincia

    estabelecidos e almejados63 a impossibilitar ou tornar inapropriadas comparaes

    rpidas e superficiais.

    De todo modo, esses dois autores apontam que, a partir de NORTH, a livre

    concorrncia oferece ntidos e robustos benefcios institucionais. A competitividade

    fator fundamental para um processo contnuo de desenvolvimento econmico,

    mormente o incentivo s mais variadas formas de inovao (mtodos produtivos,

    produtos, servios, formas de distribuio etc.), como tambm um incentivo entrada

    de novos agentes econmicos. Tal ambiente promove a competitividade, aumenta a

    eficincia sistmica e efetiva o desenvolvimento socioeconmico64.

    Por outro lado, a carncia da livre concorrncia e das instituies gera uma

    srie de prejuzos, tanto competitividade quanto inovao. Num ambiente de

    monoplio, no h incentivos para qualquer tipo de inovao e ainda se chega ao

    ponto de subverso da prpria lei da oferta e demanda, logo, apenas os monopolistas

    percebem benefcios em detrimento do consumidor65.

    E mais, a competitividade e a inovao geradas pela livre concorrncia vo

    exigir tambm um ritmo evolutivo das prprias instituies, como por exemplo, a

    regulao setorial que vai ter que acompanhar novidades tecnolgicas dos nichos que

    regem, como se viu na segunda metade do Sculo XX e comeo do Sculo XXI66.

    63 BOHRER, Carolina Pancotto; SCORZA, Flavio Augusto Trevisan. Instituies, concorrncia e comrcio

    internacional: criando competitividade para o desenvolvimento. In: GABAN, Eduardo Molan; OLIVEIRA

    DOMINGUES, Juliana (coord.). Estudos de direito econmico e economia de concorrncia. 1 Ed. 2 Reimpr.

    Curitiba: Juru, 2012. P. 249.

    64 BOHRER, Carolina Pancotto; SCORZA, Flavio Augusto Trevisan. Instituies, concorrncia e comrcio

    internacional: criando competitividade para o desenvolvimento. In: GABAN, Eduardo Molan; OLIVEIRA

    DOMINGUES, Juliana (coord.). Estudos de direito econmico e economia de concorrncia. 1 Ed. 2 Reimpr.

    Curitiba: Juru, 2012. P. 251

    65 BOHRER, Carolina Pancotto; SCORZA, Flavio Augusto Trevisan. Instituies, concorrncia e comrcio

    internacional: criando competitividade para o desenvolvimento. In: GABAN, Eduardo Molan; OLIVEIRA

    DOMINGUES, Juliana (coord.). Estudos de direito econmico e economia de concorrncia. 1 Ed. 2 Reimpr.

    Curitiba: Juru, 2012. P. 251

    66 BOHRER, Carolina Pancotto; SCORZA, Flavio Augusto Trevisan. Instituies, concorrncia e comrcio

    internacional: criando competitividade para o desenvolvimento. In: GABAN, Eduardo Molan; OLIVEIRA

  • 24

    Por fim, a concluso de NORTH foi que o chamado Path Dependence vai

    alm da criao da matriz das instituies e seu desenvolvimento as instituies de

    ontem que criam o cenrio orgnico e econmico de hoje , h, na verdade, um

    emaranhando de instituies independentes que, alm de permitir que organizaes

    e ambientes econmicos aflorem, vai permitir, tambm, as oportunidades67.

    Em se tratando de oportunidades, destacam-se os trabalhos de AMARTYA

    SEN. Para ele, o desenvolvimento requer a remoo das privaes das liberdades, o

    que implica dizer oferecer reais oportunidades68. O leque de oportunidades um

    reflexo da moldura das instituies e das liberdades instrumentais que aos sujeitos

    so oferecidos em determinado sistema normativo69. Sejam oportunidades para a

    participao das decises pblicas (democracia)70, sejam como o leque de opes de

    exerccio das liberdades individuais (plenas, inadequadas, insuficientes ou

    inexistentes)71, ambos vo refletir as chances que a pessoa tem para levar uma vida

    boa e viver numa situao de bem-estar como tambm vo servir de substrato para

    compreender as influencias causais que prejudicam as oportunidades72.

    Sendo assim, SEN vai demonstrar que a negao das oportunidades pode

    ser uma privao de liberdade, dentre as quais as liberdades de iniciativa e poltica,

    mediante restries arbitrrias73, como por exemplo, prticas anticompetitivas, como

    tambm, a participao das tomadas de decises pblicas ou falta de acesso

    isonmico aos servios pblicos.

    DOMINGUES, Juliana (coord.). Estudos de direito econmico e economia de concorrncia.1 Ed. 2 Reimpr.

    Curitiba: Juru, 2012. P. 253

    67 NORTH, Douglass C.; Institutions. The Journal of Economic Perspectives, Vol. 5, No. 1. (Winter, 1991), p.

    109.

    68 SEN, Amartya Kumar. Desenvolvimento como Liberdade. Traduo Laura Teixeira Motta. So Paulo:

    Companhia das Letras, 2000. P. 18

    69 SEN, Amartya Kumar. Desenvolvimento como Liberdade. Traduo Laura Teixeira Motta. So Paulo:

    Companhia das Letras, 2000. P. 25

    70 SEN, Amartya Kumar. Desenvolvimento como Liberdade. Traduo Laura Teixeira Motta. So Paulo:

    Companhia das Letras, 2000. P. 31

    71 SEN, Amartya Kumar. Desenvolvimento como Liberdade. Traduo Laura Teixeira Motta. So Paulo:

    Companhia das Letras, 2000. P. 31

    72 SEN, Amartya Kumar. Desenvolvimento como Liberdade. Traduo Laura Teixeira Motta. So Paulo:

    Companhia das Letras, 2000. P. 40.

    73 SEN, Amartya Kumar. Desenvolvimento como Liberdade. Traduo Laura Teixeira Motta. So Paulo:

    Companhia das Letras, 2000. P. 41.

  • 25

    Por isso, SEN defende que a oportunidade o instrumento que proporciona

    a liberdade individual, a qual subsidia o aprimoramento pessoal e coletivo, quando o

    exerccio singular feito de modo socialmente adequado, apropriado e eficaz74. De

    igual modo, SEN v a democracia tanto como instrumento criador de um conjunto de

    oportunidades quanto um vetor sobre o uso das oportunidades por ela criadas75.

    Noutra obra, SEN defende que mais liberdade proporciona mais

    oportunidade e quanto mais oportunidades mais se consegue buscar a satisfao

    daquilo que cada pessoa valoriza76. Por isso, para ele, a oportunidade vista sob as

    perspectivas da igualdade e justia, mediante os aspectos de processo e capacidade.

    Ele entende ser necessrio haver oportunidades reais para a realizao de

    funcionamentos valiosos, o que seria a formalizao das liberdades que vem a chamar

    de capacidade, mas vai exigir tambm um procedimento para implementao e

    efetivao, bem como decises livres e conscientes77. Um aprofundamento maior na

    obra de AMARTYA SEN ser feito no prximo captulo.

    Diante disso, entende-se que a oportunidade um fator intrnseco

    liberdade, democracia e justia. Para o Direito Antitruste, quando se defende a

    competitividade e a efetivao da livre concorrncia, quer-se maximizar as liberdades

    de iniciativa e contrato de forma harmnica entre seus titulares, em doses equivalentes

    para cada qual, proibindo e coibindo excessos, mas compelindo um exerccio

    republicano, logo justo e democrtico.

    OS BENEFCIOS DA COMPETITIVIDADE E DA CONCORRNCIA

    Tomando como base todo esse suporte terico, constata-se que a

    importncia da livre concorrncia e das instituies no s para a performance

    74 SEN, Amartya Kumar. Desenvolvimento como Liberdade. Traduo Laura Teixeira Motta. So Paulo:

    Companhia das Letras, 2000. P. 46

    75 SEN, Amartya Kumar. Desenvolvimento como Liberdade. Traduo Laura Teixeira Motta. So Paulo:

    Companhia das Letras, 2000. P. 182

    76 SEN, Amartya Kumar. A Ideia de Justia. Traduo Ricardo Doninelli Mendes e Denise Bottmann. So Paulo:

    Schwarcz, 2009. P. 228

    77 SEN, Amartya Kumar. A Ideia de Justia. Traduo Ricardo Doninelli Mendes e Denise Bottmann. So Paulo:

    Schwarcz, 2009. P. 353

  • 26

    econmica, mas tambm para outros segmentos, a exigir instituies de natureza

    poltica e social, alm daquelas propriamente econmicas78.

    Portanto, o que se v que o movimento Ps-Chicago no superou ou se

    ops s ideias defendidas pela Escola de Chicago, mas tratou de implement-las e

    atualiz-las, mediante a insero dos fatores informao, instituio e competitividade,

    aliada importncia da liberdade, da igualdade, da democracia e da justia, as quais

    resultam tanto na proteo e no bem-estar do consumidor, quanto no desenvolvimento

    socioeconmico que preza pela eficincia e pelo dinamismo.

    Dessa forma, o Direito Antitruste comprovadamente um instrumento que

    proporciona benefcios sociedade em vrias perspectivas. Um dos grandes nomes

    associados Escola de Chicago e ao Direito Econmico RICHARD ALLEN

    POSNER. Em um de seus mais de 300 artigos, ele demonstra o custo social (negativo)

    gerado pelas atividades em monoplio, mormente a transferncia da riqueza do

    consumidor para os detentores do poder econmico abusivo79, a reduo da

    competitividade causada pelo monoplio80, o surgimento da perda pelo peso morto

    (deadweight loss)81 e a ineficincia (x-inefficiency)82. O que o leva a defender a

    utilizao do Direito Antitruste para combater todas essas negatividades e promover

    a competitividade, pois, apesar de representar um custo social e um custo transacional

    em si, menor e melhor do que a existncia de prticas anticompetitivas83.

    78 FIANI, Ronaldo. Crescimento econmico e liberdades - a economia poltica de Douglass North. Economia e

    Sociedade, Campinas, v. 11, n. 1 (18), p. 45-62, jan./jun. 2002. P. 61

    79 POSNER, Richard A.; The social cost of monopoly and regulation. Working paper n 55. Center for economic

    analysis of human behavior and social institutions. National Bureau of Economic Research. Inc.. New York,

    September 1974. P. 1-3, 20 e 24.

    80 POSNER, Richard A.; The social cost of monopoly and regulation. Working paper n 55. Center for economic

    analysis of human behavior and social institutions. National Bureau of Economic Research. Inc.. New York,

    September 1974. P. 20

    81 POSNER, Richard A.; The social cost of monopoly and regulation. Working paper n 55. Center for economic

    analysis of human behavior and social institutions. National Bureau of Economic Research. Inc.. New York,

    September 1974. P. 20

    82 POSNER, Richard A.; The social cost of monopoly and regulation. Working paper n 55. Center for economic

    analysis of human behavior and social institutions. National Bureau of Economic Research. Inc.. New York,

    September 1974. P. 26-27

    83 POSNER, Richard A.; The social cost of monopoly and regulation. Working paper n 55. Center for economic

    analysis of human behavior and social institutions. National Bureau of Economic Research. Inc.. New York,

    September 1974. P. 30.

  • 27

    No obstante, ALAN DEVLIN comprova que o Direito Antitruste uma

    ferramenta muito poderosa em tempos de crise econmica, especialmente quando a

    regulao setorial no se consegue ajustar para fazer frente s novas prticas

    mercadolgicas de maneira adequada e em tempo hbil suficiente. Segundo o referido

    autor, o Direito Antitruste se revela aplicvel e constante mesmo diante das inovaes

    ocorridas, pois as formataes econmicas, em regra e de maneira geral,

    permanecer-se-o enquadrveis aos conceitos antitruste84.

    Nesse mesmo sentido, ainda na dcada de 70, RICHARD POSNER, em

    outro de seus artigos, analisa as teorias de regulao econmica para concluir que

    nem a tradicional teoria do interesse pblico ou a teoria da regulao econmica so

    satisfatrias85. Ele defende, ao fim, a melhor adequao e efetividade do Direito

    Antitruste e refora esse mesmo entendimento em tempos atuais, especialmente

    diante da economia digital que se desenvolve com muita celeridade, no sendo

    devidamente acompanhada pela regulao setorial86.

    Em trabalho de referncia tanto jurdica quanto econmica, LOUIS

    KAPLOW e CARL SHAPIRO apontam e demonstram empiricamente os malefcios

    que prticas anticompetitivas resultam, tais como o aumento do preo decorrente da

    formao de cartis87, bem como o aumento dos preos decorrente das fuses

    horizontais e formao de conglomerados88, a prtica de preos predatrios pelos

    monoplios89, alm da consequente reduo da concorrncia do setor90.

    Um dos principais efeitos dessas prticas a subverso da primeira lei do

    mercado, a lei da oferta e demanda, mormente o conluio instaurado passa a gerir

    84 DEVLIN, Alan. Antitrust in an era of market failure. Harvard Journal of Law and Public Policy. Vol. 33. N 02.

    85 POSNER, Richard A.; Theories of economic regulation. Working paper n 41. Center for economic analysis of

    human behavior and social institutions. National Bureau of Economic Research. Inc.. New York, May 1974, p. 37.

    86 POSNER, Richard A.; Antitrust in the new economy. 68 Antitrust L.J. 925 2000-2001. P. 19

    87 KAPLOW, Louis; SHAPIRO, Carl. Antitrust. Working paper 12867. http://www.nber.org/papers/w12867. P.

    59

    88 KAPLOW, Louis; SHAPIRO, Carl. Antitrust. Working paper 12867. http://www.nber.org/papers/w12867. P.

    77.

    89 KAPLOW, Louis; SHAPIRO, Carl. Antitrust. Working paper 12867. http://www.nber.org/papers/w12867. P.

    113

    90 KAPLOW, Louis; SHAPIRO, Carl. Antitrust. Working paper 12867. http://www.nber.org/papers/w12867. P.

    81.

    http://www.nber.org/papers/w12867http://www.nber.org/papers/w12867http://www.nber.org/papers/w12867http://www.nber.org/papers/w12867

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    arbitrariamente a produo e a distribuio, bem como o respectivo preo, impedindo

    que novos agentes possam tentar ingressar no mercado com uma nova equao

    financeira.

    O referido trabalho ainda enfrenta o suposto argumento de eficincia

    trazido como argumento de justificao das fuses. Para eles, muitas vezes as

    propostas de fuses se utilizam de estudos robustos que tentam demonstrar uma

    suposta eficincia advinda da formao do conglomerado. Contudo, se no for

    verdadeiramente analisado, acaba por legitimar a formao de conglomerados que

    vo aumentar apenas preos arbitrariamente sem capacidade alguma de inserir

    qualquer eficincia91.

    Portanto, os KAPLOW e SHAPIRO demonstram que essas prticas apenas

    reduzem a competitividade dos segmentos e mercado, bem como das prprias

    liberdades de iniciativa e contratual92.

    Com efeito, verifica-se uma srie de benefcios advindos do Direito

    Antitruste e da efetivao da livre concorrncia, tais como a estabilizao, o equilbrio

    e a correspondncia de preos. Nem eles so alterados discricionariamente mediante

    decises unilaterais abusivas dos cartis ou monoplios, nem eles deixam de refletir

    o real valor do que representam, so preos enquadrados num patamar justo.

    Ademais, favorece-se e se estimula a inovao tecnolgica. A disputa pelo

    consumidor faz com que os agentes econmicos desenvolvam novas tecnolgicas

    para angariar maiores fatias do mercado, seja mediante a oferta de produtos mais

    inovadores, mais eficientes, seja por produtos que satisfaam mais os anseios

    pessoais e detalhistas do consumidor.

    E isso gera uma maior fluidez mercadolgica, aumentando a eficincia

    (produtiva, distributiva, alocativa e dinmica) e reduzindo os custos (de transao e

    91 KAPLOW, Louis; SHAPIRO, Carl. Antitrust. Working paper 12867. http://www.nber.org/papers/w12867. P.

    83

    92 KAPLOW, Louis; SHAPIRO, Carl. Antitrust. Working paper 12867. http://www.nber.org/papers/w12867. P.

    121.

    http://www.nber.org/papers/w12867http://www.nber.org/papers/w12867

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    de produo), criando um cenrio de maior pujana mercantil a dar suporte a um

    desenvolvimento socioeconmico.

    Por fim, implementa-se um melhor cenrio de acesso e informao em prol

    do consumidor que vai, justamente com todas as caractersticas anteriores, enaltecer

    suas liberdades, bem como as liberdades do prprio mercado, quanto iniciativa,

    concorrncia e ao contrato.

    E precisamente nesse contexto que ALBERT FOER discute os objetivos

    do Direito Antitruste. Segundo sua pesquisa, h um leque variado de finalidades a que

    o sistema antitruste se preza, dentre as quais a adequao/conformao de um

    enquadramento da economia conforme os valores da sociedade (objetivo poltico)93;

    fazer mais a partir do menos (eficincia produtiva) e melhorar a distribuio (eficincia

    alocativa)94; e fazer a torta economia como um todo crescer (eficincia dinmica)95.

    Para, ao fim, concluir que, na verdade, esses objetivos so todos secundrios, pois o

    foco principal instituir a competitividade como princpio regente bsico da economia,

    a partir do que se conseguir galgar os objetivos que entende por secundrio96.

    Assim, em sntese, v-se que o Direito Antitruste, sob o prisma

    propedutico, tutela a liberdade (econmica, contratual, iniciativa e concorrncia), a

    democracia, a igualdade, a justia, protegendo no s o consumidor, mas tambm,

    93 FOER, Albert A.; The goals of antitrust: Thoughts on consumer welfare in the US. MARSDEN, Philip.

    Handbook of research in trans-Atlantic antitrust. 2007. P. 574-575

    94 FOER, Albert A.; The goals of antitrust: Thoughts on consumer welfare in the US. Philip Marsden. Handbook

    of research in trans-Atlantic antitrust. 2007. P. 575-576

    95 FOER, Albert A.; The goals of antitrust: Thoughts on consumer welfare in the US. Philip Marsden. Handbook

    of research in trans-Atlantic antitrust. 2007. P. 576-577

    96 A reflexo conclusiva de FOER de um brilhantismo sem comparaes, veja-se: "I would say that there is only

    one primary goal of antitrust, namely a market-based economic system in which competition should be the ruling

    principle so long as it creates a reasonable balance of certain specified outcomes, which constitute the secondary

    goals: stimulation and opportunity for innovation and growth; efficient production and allocation of resources;

    competition-determined prices for consumers; a reasonable range of choices for all participants in the market; and

    a set of guiding rules make decisions within the system. I would admit that sometimes these desired outcomes will

    clash and that there are no lasting algorithms for setting priorities in such instances. Human judgment (primarily

    that of law enforcers and courts, egged on by the critiques of learned commentators) will simply have to sort things

    out on a case-by-case basis. Dependent upon the strength of the evidence that happens to be available, and informed

    by best economic analyses and legal argumentation of the day. A science? No. More or an art form that goes by

    the name, common law". FOER, Albert A.; The goals of antitrust: Thoughts on consumer welfare in the US. Philip

    Marsden. Handbook of research in trans-Atlantic antitrust. 2007. P. 586

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    indiretamente, o prprio competidor97, objetivando o desenvolvimento

    socioeconmico, do que se conclui que protege, tambm, o mercado e a sociedade.

    Alm disso, o Direito Antitruste um instrumento fortssimo para o combate

    corrupo. JOSH GOODMAN verificou vrias tendncias de convergncia e

    paralelismo entre o sistema antitruste de combate a prticas anticompetitivas e o

    sistema de combate corrupo. Segundo aponta, possvel combinar ambos os

    sistemas nos mesmos casos de persecuo, o que o leva a crer e defender que as

    prticas antitruste e anticorrupo se beneficiam muito de um intercmbio de