ESAB - Didática e Metodologia do Ensino Superior

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MDULO DE:

DIDTICA E METODOLOGIA DO ENSINO SUPERIOR

AUTORIA:

MARIZINHA COQUEIRO BORGES

Copyright 2011, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

Copyright 2008, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

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Mdulo de: Didtica e Metodologia do Ensino Superior Autoria: Marizinha Coqueiro Borges

Segunda edio: 2011

CITAO DE MARCAS NOTRIAS

Vrias marcas registradas so citadas no contedo deste Mdulo. Mais do que simplesmente listar esses nomes e informar quem possui seus direitos de explorao ou ainda imprimir logotipos, o autor declara estar utilizando tais nomes apenas para fins editoriais acadmicos. Declara ainda, que sua utilizao tem como objetivo, exclusivamente na aplicao Didtica, beneficiando e divulgando a marca do detentor, sem a inteno de infringir as regras bsicas de autenticidade de sua utilizao e direitos autorais. E por fim, declara estar utilizando parte de alguns circuitos eletrnicos, os quais foram analisados em pesquisas de laboratrio e de literaturas j editadas, que se encontram expostas ao comrcio livre editorial.

Todos os direitos desta edio reservados ESAB ESCOLA SUPERIOR ABERTA DO BRASIL LTDA http://www.esab.edu.br Av. Santa Leopoldina, n 840/07 Bairro Itaparica Vila Velha, ES CEP: 29102-040 Copyright 2011, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

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A

presentao

Este material apresenta um referencial terico sobre a Didtica e Metodologia do Ensino Superior, cujo objetivo apresentar a importncia do planejamento; da organizao da ao Didtica e o conhecimento das abordagens pedaggicas; assim como instrumentos eficazes para a construo de planos de ensino e projetos educacionais possibilitando-lhe assim, um fazer pedaggico capaz de impulsionar e motivar a busca por novos valores, novas aes e novas posturas educacionais. E tambm nosso desejo que este material venha acender o desejo eminente de pesquisar, ler e contextualizar novas prticas pedaggicas. Urge, pois lembrar, que o compromisso do educador reflete-se na sua corporeificao atitudinal e no seu comprometimento dialtico entre os pares educativos. Lembrando que ensinar e recordar ao outro que ele sabe tanto quanto voc. A emoo e o prazer que permeiam esta ao esto refletidos nas nossas conversas, ainda que on-line. Sua Educadora, Professora Marizinha Coqueiro Borges

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bjetivo

Possibilitar a compreenso de que o processo ensino-aprendizagem se d mediante s relaes e as possibilidades que a Didtica oferece para, auxiliar na construo das competncias necessrias a sua realizao. Propiciar a construo de um referencial terico que habite a tomada de posio crtica e reflexiva da realidade educacional. Desenvolver habilidades tcnicas de ensino, com vistas melhoria do desempenho docente. Trabalhar o planejamento e utilizao dos procedimentos de ensino e aprendizagem, em suas vrias modalidades.

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menta

O Papel social e educacional da Didtica. Perspectivas tericas e prticas da Didtica. O Professor e seu trabalho. O Planejamento Escolar. A organizao e o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem: os planos de aula e os programas de aprendizagem. Os objetivos de ensino, os contedos escolares as estratgias de ensino aprendizagem. As interaes em sala de aula: o papel dos professores e alunos.

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obre o Autor

Professora Marizinha Coqueiro Borges Mestrado em Educao pela Universidade So Marcos Ps-Graduao em: Administrao Escolar- Universidade Salgado de Oliveira Filho Psicopedagogia-Parceria UVV/Universidade Estcio de S Planejamento Educacional-Universidade Salgado de Oliveira Filho Superviso Escolar-Universidade Salgado de Oliveira Filho Legislao Educacional e Inspeo Escola-Instituto Superior de Educao e Cultura Ulysses Boyd Educao Infantil - Instituto Superior de Educao e Cultura Ulysses Boyd Educao Inclusiva - Instituto Superior de Educao e Cultura Ulysses Boyd Tecnologia Educacional Aplicada ao Ensino de 1 Grau pela Associao Brasileira de Tecnologia Educacional Graduao em Pedagogia com Especializao em Orientao EducacionalUniversidade Federal do Maranho Educadora dos cursos de graduao na rea pedaggica, professora de cursos de ps- graduao. Consultora educacional e palestrante motivacional e educacional.

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UMRIO

UNIDADE 1 .............................................................................................................................. 8 Tendncias Atuais no Desenvolvimento da Didtica ............................................................ 8 UNIDADE 2 ............................................................................................................................ 14 A Didtica e a Sua Relao com o Currculo, Metodologia Especfica, Procedimentos E Tcnicas De Ensino. ........................................................................................................... 14 UNIDADE 3 ............................................................................................................................ 18 DESENVOLVIMENTO HISTRICO DA DIDTICA E TENDNCIAS PEDAGGICAS ..... 18 UNIDADE 4 ............................................................................................................................ 21 Os Pensadores da Pedagogia ............................................................................................ 21 UNIDADE 5 ............................................................................................................................ 23 Tendncias Pedaggicas no Brasil e a Didtica ................................................................. 23 UNIDADE 6 ............................................................................................................................ 29 O Progresso das Tendncias Pedaggicas e a Didtica ................................................... 29 UNIDADE 7 ............................................................................................................................ 33 Processo Didtico na Concepo da Pedagogia Crtico-Social dos Contedos ................. 33 UNIDADE 8 ............................................................................................................................ 35 Aprendizagem: um processo de assimilao ...................................................................... 35 UNIDADE 9 ............................................................................................................................ 40 Caractersticas da Aprendizagem Escolar .......................................................................... 40 UNIDADE 10 .......................................................................................................................... 43 Dinmica do Processo de Ensino ....................................................................................... 43 UNIDADE 11 .......................................................................................................................... 48 Prtica Educativa e Sociedade ........................................................................................... 48 UNIDADE 12 .......................................................................................................................... 54 Educao Como Dialtica e Prxis Social .......................................................................... 54 UNIDADE 13 .......................................................................................................................... 59 O Processo Dd Ensino-Aprendizagem e seus Componentes Fundamentais ..................... 59 UNIDADE 14 .......................................................................................................................... 63Copyright 2008, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil 6

UNIDADE 15 .......................................................................................................................... 67 UNIDADE 16 .......................................................................................................................... 73 A Estrutura do Trabalho Docente ........................................................................................ 73 UNIDADE 17 .......................................................................................................................... 78 O Carter Educativo do Processo de Ensino e o Ensino Crtico ......................................... 78 UNIDADE 18 .......................................................................................................................... 82 Tendncias Terico-Metodolgicas de Ensino: as abordagens do processo...................... 82 UNIDADE 19 .......................................................................................................................... 87 UNIDADE 20 .......................................................................................................................... 94 Prtica Escolar: componentes bsicos................................................................................ 94 UNIDADE 21 ........................................................................................................................ 100 O Planejamento da Ao Didtico Pedaggica................................................................. 100 UNIDADE 22 ........................................................................................................................ 110 UNIDADE 23 ........................................................................................................................ 114 Educao, Didtica e Metodologia no Pensamento Pedaggico. ..................................... 114 UNIDADE 24 ........................................................................................................................ 117 Seleo e Organizao dos Contedos Curriculares. ....................................................... 117 UNIDADE 25 ........................................................................................................................ 122 Avaliao Educacional Escolar: Para Alm do Autoritarismo............................................ 122 UNIDADE 26 ........................................................................................................................ 129 Modalidades de Ensino-Aprendizagem ............................................................................. 129 UNIDADE 27 ........................................................................................................................ 141 O Papel do Professor: do contexto presencial ao virtual ................................................... 141 UNIDADE 28 ........................................................................................................................ 145 UNIDADE 29 ........................................................................................................................ 148 UNIDADE 30 ........................................................................................................................ 153 GLOSSRIO ........................................................................................................................ 156 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 157

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NIDADE

1Considerando que o Processo de Ensino - objeto de estudo da Didtica - no pode ser tratado como atividade restrita ao espao da sala de aula. O trabalho docente uma das modalidades especficas da prtica educativa mais ampla, que ocorre na sociedade.

Objetivo: Conhecer a Didtica como uma atividade pedaggica norteadora do fazer educacional.

Tendncias Atuais no Desenvolvimento da Didtica

Para compreender a importncia do Ensino na formao humana, preciso consider-lo no conjunto das tarefas educativas exigidas pela vida em sociedade. Segundo Libneo (2008), a cincia que investiga a teoria e a prtica da Educao nos seus vnculos com a prtica social global a Pedagogia. Sendo a Didtica uma disciplina que estuda os objetivos, os contedos, os meios e as condies do processo de ensino. Tendo em vista finalidades educacionais, que so sempre sociais, ela se fundamenta na Pedagogia, sendo assim, uma disciplina pedaggica. Ao estudar a Educao nos seus aspectos sociais, polticos, econmicos e psicolgicos, para descrever e explicar o fenmeno educativo, a Pedagogia recorre contribuio de outras cincias como a: Filosofia, Histria, Sociologia, Psicologia e a Economia. Esses estudos acabam por convergir na Didtica, uma vez que essa rene, em seu campo de conhecimentos, objetivos e modos de ao pedaggica na escola. Nesse conjunto de estudos indispensveis formao terica e prtica dos professores, a Didtica ocupa um lugar especial. Com efeito, a atividade principal do profissional do magistrio o Ensino; que consiste em dirigir, organizar, orientar e estimular a aprendizagem escolar dos alunos. em funo da conduo do processo de ensinar, de suas finalidades, modos e condies, que mobilizam os conhecimentos pedaggicos gerais e especficos.Copyright 2008, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil 8

A DIDTICA COMO ATIVIDADE PEDAGGICA ESCOLAR A Pedagogia investiga a natureza das finalidades da Educao como processo social, no seio de uma determinada sociedade, bem como as metodologias apropriadas para a formao dos indivduos tendo em vista o seu desenvolvimento humano para tarefas na vida em sociedade. Quando se fala das finalidades da Educao, no seio de uma determinada sociedade, se quer dizer que o entendimento dos objetivos, contedos e mtodos da educao se modificam conforme as concepes de homem e da sociedade que, em cada contexto econmico e social de um momento da Histria humana, caracterizam o modo de pensar, de agir e os interesses das classes e grupos sociais. A Pedagogia, portanto, sempre uma concepo da direo do processo educativo subordinado a uma concepo poltico-social. Sendo a Educao Escolar uma atividade social que, atravs de instituies prprias, visa assimilao dos conhecimentos e experincias humanas acumuladas no decorrer da histria, tendo em vista a formao dos indivduos enquanto ser social; cabe Pedagogia intervir nesse processo de assimilao, orientando-o para finalidades sociais e polticas e criando um conjunto de condies metodolgicas e organizativas para viabiliz-lo no mbito da escola. Nesse sentido, a Didtica assegura o fazer pedaggico na escola, em sua dimenso polticosocial e tcnica; sendo, por isso, uma disciplina eminentemente pedaggica. Definindo-se como mediadora escolar dos objetivos e contedos do ensino, a Didtica investiga as condies e formas que vigoram no ensino e, ao mesmo tempo, os fatores reais (sociais, polticos, culturais, psico sociais) condicionantes das relaes entre a docncia e a aprendizagem. Ou seja, destacando a instruo e o ensino como elementos primordiais do processo pedaggico escolar; traduz objetivos sociais e polticos em objetivos de ensino,

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seleciona e organiza os contedos e mtodos e, ao estabelecer as conexes entre ensino e aprendizagem, indica princpios e diretrizes que iro regular a ao didtica. Por outro lado, esse conjunto de tarefas no visa outra coisa seno o desenvolvimento fsico e intelectual dos alunos, com vista sua preparao para a vida social. Em outras palavras, o processo didtico de transmisso/assimilao de conhecimentos e habilidades tem como culminncia o desenvolvimento das capacidades cognoscitivas dos alunos, de modo que assimilem, ativa e independentemente, os conhecimentos sistematizados.

Jose

Carlos

Libneo:

Didtica

e

Didticas,

especficas

da

Pedagogia

e

Epistemologia. Este o relato de um colquio apresentado pelo autor Carlos Libneo. O Colquio chamou-se: O pensar, reflexo de cada educador. E o professor Libneo trouxe como tema para sua fala Didtica e Didticas, especficas da Pedagogia e Epistemologia. Esse tema diz respeito a dois interesses: o primeiro a questo das didticas especficas, ou seja, a Didtica de Qumica, Fsica, Geografia, Histria, etc... E o segundo a perspectiva de encontramos nos cursos de graduao a disciplina Didtica geral e tambm as didticas especificas. Pode-se dizer que esse tema est diretamente relacionado aos professores, tanto do Ensino Mdio quanto dos professores universitrios. O papel do professor formar sujeitos pensantes e no sujeitos slidos. Libneo ressaltou tambm que este tema tem ligao entre a Pedagogia e a Epistemologia. H anos era comum ouvir professores de licenciaturas afirmando que para ensinar qualquer matria bastava apenas conhecer o contedo, outros j dizem que para aprender basta colocar o aluno com a pesquisa e, nesse caso, as pessoas entendem que existe um processo de identidade entre o processo de ensino e o processo de iniciao cientfica.

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Por outro lado, a Pedagogia faz da Didtica, enquanto disciplina; algo normativo e prescritivo, que cuida de procedimentos didticos. Tudo isso leva um distanciamento entre o contedo das didticas e os contedos das didticas especficas. Nesse contexto, pode-se dizer que o que se v certa briga de brao, entre o professor da Didtica Especfica e os pedagogos, uma vez que os professores das didticas especficas afirmam que os pedagogos no conhecem o contedo especfico, enquanto os pedagogos afirmam que o necessrio conhecer o aluno, o papel do ensino, as condies materiais favorveis a aprendizagem, ou seja, isso vem ocasionando um dilema muito grande na formao desses professores. O fato que; preciso uma busca de integrao entre a Didtica e as didticas especficas. Assim, quais seriam os principais argumentos que justificam a integrao dessas didticas? E pode-se perceber que ambas as didticas possuem como objeto de estudo o mesmo tema ensino. E esse compreendido pelo contedo entre professor e aluno, que de certa forma terminam sintetizando o conhecimento. Ento, nessa perspectiva entende-se que a integrao dessas didticas o conhecimento. Portanto, o ensino diz respeito ao aspecto docente do conhecimento e, nas duas disciplinas, as formas de ensinar dizem respeito forma de compreender. Libneo diz que: nenhum professor de Didtica ou das didticas especficas pode ser um professor que se preze se no compreender que as formas de ensinar depende da forma de aprender. Um dos argumentos da Didtica que o ato de aprender torna o ser como ser pensante. Aprender ajudar o aluno a desenvolver seus prprios processos de pensamentos Para uma melhor compreenso dessa temtica Libneo trouxe a perspectiva da Teoria histrico-cultural, com fundamento em Vygotsky, e apresentou algumas premissas dessa teoria, tais como: Condicionamento histrico-social da formao humana; O papel histrico-cultural e coletivo do individuo, da formao, das funes mentais superiores, expresso pela mediao cultural no processo do conhecimento;Copyright 2008, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil 11

O ensino como apropriao das capacidades formada historicamente e objetivada na cultura material e espiritual (atividade externa); O papel central do ensino na formao do desenvolvimento mental pela interiorizao (atividade interna); A forma de desenvolvimento proximal; As importncias das relaes intersubjetivas nas atividades de ensino e

aprendizagem;

Nesse sentido, legitimo dizer que o conhecimento est relacionado com o resultado das aes mentais que implicitamente abarcam o conhecimento, ou seja, que, de modo geral, o pensar por conceitos significa dominar os processos mentais. Conforme preceitos de Libneo, o processo de ensino comea onde termina o processo de investigao, uma vez que o processo de investigao fundamental para o processo de ensino. Importa frisar que tais conceitos no so as mesmas coisas. Pode-se dizer que, quando o professor utiliza o processo de investigao para ensinar deve considerar o que se passa na mente de cada aluno, individualmente, e que seus questionamentos podem ser ou no os mesmos do cientista. Ou seja, um determinado contedo, passa a ser utilizado como contedo de conhecimento, depois que foi realizado uma pesquisa sob aquele determinado tema. a partir da, que se inicia o processo de ensino. No tocante Didtica, encontra-se o ensino que medeia: objetivos, contedos, mtodos e forma de organizao. A primeira caracterstica para uma boa didtica ajudar o aluno a interiorizar os modos de pensar, de raciocinar e de investigar, ou seja, nos cursos de Pedagogia, preciso aprender o bsico de cada contedo e, a partir da, metodologias. entra as

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Dessa forma, cada professor precisa estudar e organizar seus conceitos de forma que direcione seus alunos como seres pensantes. Faz-se necessrio saber qual o objeto de estudo de cada disciplina (Histria, Portugus, Matemtica, Geografia, etc.) e seus mtodos de investigao, para que se possa ajudar o aluno a pensar e, posteriormente, a investigar. A Didtica, ento, serve para ajudar os professores a se preparar, de forma competente, para formar alunos como sujeitos pensantes e crticos.

Lembrete: Procure ampliar seus saberes com a leitura do captulo I do livro; LIBANEO, Jos Carlos: Didtica. So Paulo: Cortez, 1994. Outra dica de leitura: MORIN, Edgar. A cabea bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

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OBJETIVO: Relacionar a Didtica com a adequao de metodologias e procedimentos de ensino, em relao ao currculo.

A Didtica e a Sua Relao com o Currculo, Metodologia Especfica, Procedimentos E Tcnicas De Ensino. A Instruo se refere ao processo e ao resultado da assimilao slida de conhecimentos sistematizados e ao desenvolvimento das capacidades cognitivas. O ncleo da instruo so os contedos das matrias. O Ensino consiste no planejamento, organizao, direo e avaliao da atividade didtica, concretizando as tarefas da instruo; o ensino inclui tanto o trabalho do professor (magistrio) como a direo da atividade de estudo dos alunos. Tanto a Instruo como o Ensino se modificam em decorrncia da sua necessria ligao com o desenvolvimento da sociedade e com as condies reais em que ocorre o trabalho docente. Nessa ligao, a Didtica se fundamenta para formular diretrizes orientadoras do processo de ensino. O currculo expressa os contedos da instruo, nas matrias de cada grau do processo de ensino. Em torno das matrias se desenvolve o processo de assimilao dos conhecimentos e habilidades. A metodologia compreende o estudo dos mtodos e o conjunto dos procedimentos de investigao das diferentes cincias, quanto aos seus fundamentos e validade, distinguindose das tcnicas que so a aplicao especfica dos mtodos. No campo da Didtica, h uma relao entre os mtodos prprios da cincia, que d suporte matria de ensino, e os mtodos de ensino.

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A metodologia pode ser geral (por ex., mtodos tradicionais, mtodos ativos, mtodos da descoberta, mtodo de soluo de problemas etc.) ou especfica, seja a que se refere aos procedimentos de ensino e estudo das disciplinas do currculo (Alfabetizao, Matemtica, Histria, etc.), seja a que se referem os setores da educao escolar ou extraescolar (Educao de Adultos, Educao Especial, Educao Sindical etc.). Tcnicas, recursos ou meios de ensino so complementos da metodologia, colocados disposio do professor para o enriquecimento do processo de ensino. Atualmente, a expresso tecnologia educacional adquiriu um sentido bem mais amplo, englobando tcnicas de ensino diversificadas, desde os recursos da informtica, dos meios de comunicao e os audiovisuais at os de instruo programada e de estudo individual e em grupos. A Didtica tem muitos pontos em comum com as metodologias especficas de ensino. Elas so as fontes da investigao didtica, ao lado da Psicologia da Educao e da Sociologia da Educao. Mas, ao se constituir como teoria da instruo e do ensino, abstrai das particularidades de cada matria para generalizar princpios e diretrizes para qualquer uma delas. Em sntese, so temas fundamentais da Didtica: os objetivos sociopolticos e pedaggicos da Educao Escolar, os contedos escolares, os princpios didticos, os mtodos de ensino e de aprendizagem, as formas organizativas do ensino, o uso e aplicao de tcnicas e recursos, o controle e a avaliao da aprendizagem.

O Objetivo de Estudo da Didtica: o processo de ensino Chama-se Didtica um corpo de conhecimentos sobre o ensino e que serve para garantir sua eficincia. O ideal da Didtica um ensino que produza uma transformao no aprendiz e que, mediante o aprendizado desses contedos, torne-se cada vez mais capacitado.

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Nesse sentido, contedos so aquisies por meio da aprendizagem que, no caso ideal, deveriam tornar-se permanentes. Na medida em que o ensino viabiliza as tarefas da instruo, ele contm a instruo. Podese, assim, delimitar como o objetivo da Didtica, o processo de ensino que, considerado no seu conjunto, inclui: os contedos dos programas e dos livros didticos, os mtodos e formas organizativas do ensino, as atividades do professor e dos alunos e as diretrizes que regulam e orientam esse processo. Porque estudar o processo de ensino? J foi visto que no suficiente dizer que os alunos precisam dominar os conhecimentos. necessrio dizer como faz-lo, isto , investigar objetivos e mtodos seguros e eficazes para a assimilao dos conhecimentos. Pode-se definir processo de ensino como uma sequncia de atividades do professor e dos alunos, tendo em vista a assimilao de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades, atravs dos quais os alunos aprimoram capacidades cognitivas (pensamento independente, observao, anlise-sntese e outras). A finalidade do processo de ensino proporcionar aos alunos os meios para que assimilem ativamente os conhecimentos, j que a natureza do trabalho docente mediao da relao cognoscitiva entre o aluno e as matrias de ensino. Isto quer dizer que o ensino transmisso de informaes e o meio de organizar a atividade de estudo dos alunos.

Dica: Faa uma pesquisa na bibliografia sugerida, procurando outras definies para os termos Educao e Ensino.

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Sugesto: ASSMANN, Hugo. Reencantar a educao: rumo sociedade aprendente. Petrpolis. RJ: Vozes, 2004. Captulo II QUE SIGNIFICA APRENDER.

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3A histria da Didtica esta ligada ao aparecimento do ensino - no decorrer do desenvolvimento da sociedade, da produo e das cincias - como atividades planejadas e intencionais dedicada instruo. Desde os primeiros tempos existem indcios de formas

Objetivo: Compreender a evoluo histrica da Didtica e seus expoentes mais importantes

DESENVOLVIMENTO HISTRICO DA DIDTICA E TENDNCIAS PEDAGGICAS

elementares de instruo e aprendizagem. Sabe-se, por exemplo, que nas comunidades primitivas os jovens passavam por um ritual de iniciao para ingressarem nas atividades do mundo adulto. Pode-se considerar essa atividade, como uma forma de ao pedaggica; embora ainda no esteja presente o "didtico" como forma estruturada de ensino. Na chamada Antiguidade Clssica (gregos e romanos) e no Perodo Medieval tambm se desenvolveram formas de ao pedaggica; em escolas, mosteiros, igrejas, universidades. Entretanto, at meados do sculo XVII no se pode falar de Didtica como teoria de ensino, que sistematize o pensamento didtico e os estudos cientficos das formas de ensinar. A formao da teoria Didtica para investigar as ligaes entre ensino e aprendizagem e suas leis, ocorrem no sculo XVII, quando Joo Ams Comnio (1592-1670), um pastor protestante, escreve a primeira obra clssica sobre Didtica, a Didacta Magna. Ele foi o primeiro educador a formular a ideia da difuso dos conhecimentos a todos e criar princpios e regras do ensino. Comnio desenvolveu ideias avanadas para a prtica educativa nas escolas. Em uma poca que surgiam novidades no campo da Filosofia e

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das Cincias e grandes transformaes nas tcnicas de produo, em contraposio s ideias conservadoras da nobreza e do clero. O sistema de produo capitalista, ainda incipiente, j influenciava a organizao da vida social, poltica e cultural. A Didtica de Comnio e seus princpios:

A finalidade da educao conduzir felicidade eterna com Deus, pois uma fora poderosa de regenerao da vida humana. Todos os homens merecem a sabedoria, a moralidade e a religio, porque todos, ao realizarem sua prpria natureza, realizam os desgnios de Deus. Portanto, a educao um direito natural de todos. Por ser parte da natureza, o homem deve ser educado de acordo com o seu desenvolvimento natural, isto , de acordo com as caractersticas e os mtodos de ensino correspondentes, de acordo com a ordem natural das coisas. A assimilao dos conhecimentos no se d instantaneamente, como se o aluno registrasse de forma mecnica na sua mente a informao do professor, como o reflexo num espelho. O ensino, ao invs disso, tem um papel decisivo percepo sensorial das coisas. Os conhecimentos devem ser adquiridos a partir da observao das coisas e dos fenmenos, utilizando e desenvolvendo sistematicamente os rgos dos sentidos. O mtodo intuitivo consiste, assim, da observao direta, pelos rgos dos sentidos, das coisas, para o registro das impresses na mente do aluno. Primeiramente as coisas, depois as palavras. Portanto, deve-se partir do conhecido para o desconhecido.

Apesar da grande novidade nessas ideias, principalmente quando um impulso ao surgimento de uma teoria do ensino, Comnio no escapou de algumas crenas usuais, da poca, sobre o ensino. Embora partindo da observao e da experincia sensorial, mantinha-

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se o carter transmissor do ensino; embora procurando adaptar o ensino s fases do desenvolvimento infantil, mantinha-se o mtodo nico e o ensino simultneo a todos. Entretanto, Comnio desempenhou uma influncia considervel, no somente porque se empenhou em desenvolver mtodos de instruo mais rpidos e eficientes, mas tambm porque desejava que todas as pessoas pudessem usufruir dos benefcios do conhecimento. Sabemos que, na histria, as ideias, principalmente quando so muito inovadoras para a poca, costumam demorar em terem efeito prtico. No sculo XVII e enquanto viveu Comnio, ainda predominaram prticas escolares da Idade Mdia: ensino intelectualista, verbalista e dogmtico, memorizao e repetio mecnica dos ensinamentos do professor. Nessas escolas no havia espaos para ideias prprias dos alunos, o ensino era separado da vida mesmo porque ainda era grande o poder da religio na vida social.

Dica de Leitura: PILETTI, Claudino. Didtica Geral. So Paulo: Editora tica, 23 edio, 2002.

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Objetivo: Proporcionar conhecimentos sobre a importncia e contribuio de alguns pensadores, para a prxis pedaggica, no panorama educacional

Os Pensadores da Pedagogia Intensas mudanas nas formas de produo provocaram um grande desenvolvimento da cincia e da cultura. Na medida em que a burguesia se fortalecia como classe social, disputando o poder econmico e poltico com a nobreza, crescia a necessidade de um ensino ligado s exigncias do mundo da produo e dos negcios e, ao mesmo tempo, que contemplasse o livre desenvolvimento das capacidades e interesses individuais. Nesse cenrio, as ideias de Comnio influenciaram muitos outros pedagogos. Um dos mais importantes foi Johann Friedrich Herbart (1766-1841), Pedagogo alemo que exerceu influncia na Didtica e na prtica docente. Foi, e continua sendo, inspirador da Pedagogia Conservadora e suas ideias precisam ser estudadas, devido a sua presena constante nas salas de aula brasileiras. Junto com uma formulao terica dos fins da educao e da Pedagogia como cincia, desenvolveu uma anlise do processo psicolgico-didtico de aquisio de conhecimentos, sob a direo do professor. Segundo Herbart, o fim da educao a moralidade, atingida atravs da instruo educativa. Educar o homem significa instru-lo para querer o bem, de modo que aprenda a comandar a si prprio. A principal tarefa da instruo introduzir ideias corretas na mente dos alunos. O professor um arquiteto da mente. Ele deve trazer ateno dos alunos as ideias que deseja que dominem suas mentes. Controlando os interesses dos alunos, o professor vai construindo uma massa de ideias na mente, que por sua vez vai favorecer a assimilao de ideias novas.Copyright 2008, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil 21

Herbart estava atrs da formulao de um mtodo nico de ensino, em conformidade com as leis psicolgicas do conhecimento. Estabeleceu quatro passos didticos: o primeiro seria a preparao e apresentao da matria nova, de forma clara e completa, que denominou o primeiro, a clareza; o segundo, as associaes entre as ideias antigas e as novas; o terceiro, a sistematizao dos conhecimentos, tendo em vista a generalizao; o quatro seria a aplicao, o uso dos conhecimentos adquiridos atravs de exerccios, que denominou de mtodo. Posteriormente, seus discpulos aprimoraram a proposta dos passos formais, reordenandoos em cinco: preparao, apresentao, da assimilao, generalizao e aplicao; frmula essa que ainda utilizada pela maioria dos professores. O sistema pedaggico de Herbart trouxe esclarecimentos para a organizao da prtica docente, como por exemplo: a necessidade de estruturao e ordenao do processo de ensino; a exigncia de compreenso dos assuntos estudados e no simplesmente memorizao e o significado educativo da disciplina na formao do carter. Entretanto, o Ensino entendido como repasse de ideias do professor para a cabea do aluno. Com isso, a aprendizagem se torna mecnica, automtica, associativa, e no mobilizando a atividade mental, a reflexo e o pensamento independente e criativo dos alunos. Essas ideias difundiram-se, demarcando as concepes pedaggicas conhecidas como Pedagogia Tradicional e Pedagogia Renovada.

Sugesto: Reflita sobre a ao educadora da personagem do filme O sorriso de Monalisa e construa um texto dissertativo, com no mnimo uma lauda, demonstrando seu pensar crtico e reflexivo sobre a prxis educativa.

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5Nos ltimos anos, diversos estudos tm sido dedicados Histria da Didtica no Brasil, suas relaes com as tendncias pedaggicas e investigao do seu campo de conhecimentos. Os autores, em geral, concordam em classificar as tendncias

Objetivo: Adquirir conhecimentos especficos sobre as principais tendncias pedaggicas adotadas no Brasil e suas aplicaes no processo ensino-aprendizagem.

Tendncias Pedaggicas no Brasil e a Didtica

pedaggicas em dois grupos: as de cunho liberal - Pedagogia Tradicional, Pedagogia Renovada e Tecnicismo Educacional; as de cunho progressista - Pedagogia Libertadora e Pedagogia Crtico-Social dos Contedos. Na Pedagogia Tradicional, a Didtica uma disciplina normativa, um conjunto de princpios e regras que regulam o ensino. A atividade de ensinar centrada no professor que expe e interpreta a matria. s vezes so utilizados meios como a apresentao de objetos, ilustraes, exemplos, mas o meio principal a palavra, a exposio oral. Supe-se que ouvindo e fazendo exerccios repetitivos, os alunos "gravam a matria para depois, reproduzi-la, seja atravs das interrogaes do professor, seja atravs das provas. Para isso, importante que o aluno "preste ateno", porque ouvindo facilita-se o registro do que se transmite, na memria. O aluno um recebedor da matria e sua tarefa decor-la. A matria de ensino tratada isoladamente, isto , desvinculada dos interesses dos alunos e dos problemas reais da sociedade e da vida. O mtodo dado pela lgica e sequncia da matria, o meio utilizado pelo professor para comunicar a matria e no dos alunos para aprend-la. ainda forte a presena dos mtodos intuitivos, que foram incorporados ao ensino tradicional. Baseiam-se na

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apresentao de dados sensveis, de modo que os alunos possam observ-los e formar imagens deles em sua mente. A Didtica tradicional tem resistido ao tempo, continua prevalecendo na prtica escolar. comum nas nossas escolas atribuir-se ao ensino a tarefa de mera transmisso de conhecimentos, sobrecarregar o aluno de conhecimentos que so decorados sem questionamento, darem somente exerccios repetitivos, impor externamente a disciplina e usar castigos. Trata-se de uma prtica escolar que empobrece at as boas intenes da Pedagogia Tradicional que pretendia, com seus mtodos, a transmisso da cultura geral, isto , das grandes descobertas da humanidade, e a formao do raciocnio, o treino da mente e da vontade. Os conhecimentos ficaram estereotipados, insossos, sem valor educativo vital, desprovidos de significados sociais, inteis para a formao das capacidades intelectuais e a compreenso crtica da realidade. O intento de formao mental, de desenvolvimento do raciocnio, ficou reduzido a prticas de memorizao. A Pedagogia Renovada inclui vrias correntes: a progressivista (que se baseia na teoria educacional de John Dewey), a no diretiva (principalmente inspirada em Carl Rogers), a ativista-espiritualista (de orientao catlica), a culturalista, a piagetiana, a montessoriana e outras. Todas, de alguma forma, esto ligadas ao movimento da Pedagogia Ativa, que surge no final do sculo XIX como contraposio Pedagogia Tradicional. A Didtica da Escola Nova ou Didtica Ativa entendida como "direo da aprendizagem", considerando o aluno como sujeito da aprendizagem. O que o professor tem a fazer colocar o aluno em condies propcias para que, partindo das suas necessidades e estimulando interesses, possa buscar por si mesmo conhecimentos e experincias. A ideia a de que o aluno aprende melhor o que faz por si prprio. No se trata apenas de aprender fazendo, no sentido de trabalho manual, aes de manipulao de objetos. Trata-se de colocar o aluno em situaes que seja24

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mobilizada a sua atividade global e que se manifesta em atividades intelectuais, atividade de criao, de expresso verbal, escrita, plstica. O centro da atividade escolar no o professor nem a matria, o aluno ativo e investigador. O professor incentiva, orienta, organiza as situaes de aprendizagem, adequando-as s capacidades de caractersticas individuais dos alunos. Por isso, a Didtica Ativa d grande importncia aos mtodos e tcnicas como o trabalho de grupo, atividades cooperativas, estudo individual, pesquisas, projetos, experimentaes etc.; bem como aos mtodos de reflexo e mtodo cientfico de descobrir conhecimentos. Tanto na organizao das experincias de aprendizagem como na seleo de mtodos, importa o processo de aprendizagem e no diretamente o ensino. O melhor mtodo aquele que atende s exigncias psicolgicas do aprender. Em sntese, a Didtica Ativa d menos ateno aos conhecimentos sistematizados, valorizando mais o processo da aprendizagem e os meios que possibilitam o desenvolvimento das capacidades e habilidades intelectuais dos alunos. Por isso, os adeptos da Escola Nova costumam dizer que o professor no ensina; antes, ajuda o aluno a aprender. Ou seja, a Didtica no a direo do ensino, a orientao da aprendizagem, uma vez que esta uma experincia prpria do aluno atravs da pesquisa, da investigao. Esse entendimento da Didtica tem muitos aspectos positivos, principalmente quando baseia a atividade escolar na atividade mental dos alunos, no estudo e na pesquisa, visando formao de um pensamento autnomo. Entretanto, raro encontrar professores que apliquem inteiramente o que prope a Didtica Ativa. Seja por falta de conhecimento aprofundado das bases tericas da Pedagogia Ativa; ou ainda: por falta de condies materiais, pelas exigncias de cumprimento do programa oficial e outras razes, o que fica so alguns mtodos e tcnicas. Assim, muito comum os professores utilizarem procedimentos e tcnicas como trabalho de grupo, estudo dirigido, discusses, estudo do meio, etc., sem levar em conta seu objetivo principal, ou seja, levar o aluno a pensar, a raciocinar cientificamente, a desenvolver suaCopyright 2008, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil 25

capacidade de reflexo e a independncia de pensamento. Com isso, na hora de comprovar os resultados do ensino e da aprendizagem, pedem matria decorada, da mesma forma que se faz no ensino tradicional. Em paralelo Didtica da Escola Nova, surge, a partir dos anos 50, a Didtica Moderna proposta por Lus Alves de Mattos. Seu livro Sumrio de Didtica Geral foi largamente utilizado durante muitos anos nos cursos de formao de professores e exerceu considervel influncia em muitos manuais de Didtica publicados posteriormente. Conforme sugerido anteriormente, a Didtica Moderna inspirada na Pedagogia da Cultura, corrente pedaggica de origem alem. Mattos identifica sua Didtica com as seguintes caractersticas: o aluno o fator pessoal decisivo na situao escolar. Em funo dele giram as atividades escolares, para orient-lo e incentiv-lo na sua educao e na sua aprendizagem; tendo em vista desenvolver-lhe a inteligncia e formar-lhe o carter e a personalidade. O professor o incentivador, orientador e controlador da aprendizagem organizando o ensino em funo das reais capacidades dos alunos e do desenvolvimento dos seus hbitos de estudo e reflexo. A matria e o contedo cultural da aprendizagem, o objeto ao qual se aplica o ato de aprender, onde se encontram os valores lgicos e sociais a serem assimilados pelos alunos; est a servio do aluno para formar suas estruturas mentais e, por isso, sua seleo, dosagem e apresentao vinculam-se s necessidades e capacidades reais dos alunos. O mtodo representa o conjunto dos procedimentos para assegurar a aprendizagem, isto , existe em funo da aprendizagem, razo pela qual, a par de estar condicionado pela natureza da matria, relaciona-se com a psicologia do aluno. Definindo a Didtica como disciplina normativa, tcnica de dirigir e orientar eficazmente a aprendizagem das matrias tendo em vista objetivos educativos, Mattos prope a teoria do ciclo docente, que o mtodo didtico em ao.

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O ciclo docente, abrangendo as fases de planejamento, orientao e controle da aprendizagem e suas subfases, definido como "o conjunto de atividades exercidas, em sucesso ou ciclicamente, pelo professor, para dirigir e orientar o processo de aprendizagem dos seus alunos, levando-o a bom termo". o mtodo em "ao". Quanto ao Tecnicismo Educacional, embora seja considerada como uma tendncia pedaggica inclui-se, em certo sentido, na Pedagogia Renovada. Desenvolveu-se no Brasil na dcada de 50, sombra do progressivismo ganhando nos anos 60 autonomia quando se constituiu especificamente como tendncia; inspirada na teoria behaviorista da aprendizagem e na abordagem sistmica do ensino. Esta orientao acabou sendo imposta s escolas pelos organismos oficiais ao longo de boa parte das duas dcadas seguintes, por ser compatvel com a orientao econmica, poltica e ideolgica do regime militar ento vigente. O sistema de instruo compe-se das seguintes etapas:

Objetivos: O arranjo mais simplificado dessa sequncia resultou na frmula: contedo, estratgias e avaliao. O professor um administrador e executor do planejamento, o meio de previsoCopyright 2008, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil 27

das aes a serem executadas e dos meios necessrios para se atingir os objetivos. Boa parte dos livros didticos em uso nas escolas elaborada com base na Tecnologia da Instruo.

Crise na Educao: Por qu? O papel da educao na humanizao. HAIDT, Regina Clia Cazaux. Curso de Didtica Geral. So Paulo: tica, 2006.

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6As tendncias de cunho progressista interessadas em propostas, pedaggicas voltadas para os interesses da maioria da populao, foram adquirindo maior solidez e sistematizao por volta dos anos 80. So tambm denominadas teorias criticas da educao. No que no

Objetivo: Apropriar-se dos conhecimentos e aplicabilidade didtico-pedaggica das tendncias progressistas.

O Progresso das Tendncias Pedaggicas e a Didtica

tenham existido antes esforos no sentido de formular propostas de Educao Popular. J no comeo do sculo XX formaram-se movimentos de renovao educacional, por iniciativa de militantes socialistas. Muitos dos integrantes do movimento dos pioneiros da Escola Nova tinham reais interesses em superar a educao elitista e discriminadora da poca. No incio dos anos 60 surgiram os movimentos de Educao de Adulto que geraram ideias pedaggicas e prticas educacionais de Educao Popular, configurando a tendncia que foi denominada de Pedagogia Libertadora. Na segunda metade da dcada de 70, com a incipiente modificao do quadro poltico repressivo em decorrncia de lutas sociais por maior democratizao da sociedade, tornouse possvel a discusso de questes educacionais e escolares, numa perspectiva de crtica poltica das instituies sociais do capitalismo. Muitos estudiosos e militantes polticos se interessaram apenas pela crtica e pela denncia do papel ideolgico e discriminador da escola na sociedade capitalista. Outros, no entanto, levando e conta essa crtica, preocuparam-se em formular propostas e desenvolver estudos no sentido de tornar possvel uma escola articulada com os interesses concretos do povo.Copyright 2008, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil 29

Entre essas tentativas destacam-se a Pedagogia Libertadora e a Pedagogia Crtico-Social dos contedos. A primeira retomou as propostas da Educao Popular dos anos 60, refundindo - se princpios e prticas em funo das possibilidades do seu emprego na educao formal em escolas pblicas, j que inicialmente tinham carter extraescolar, no oficial, e voltadas para o atendimento de clientela adulta. A segunda, inspirando-se no materialismo histrico dialtico, constituiu-se como movimento pedaggico interessado na Educao Popular, na valorizao da escola pblica e no trabalho do professor; no ensino de qualidade para o povo e, especificamente, na acentuao da importncia do domnio slido por parte de professores e alunos dos contedos cientficos do ensino como condio para a participao efetiva do povo nas lutas sociais (na poltica, na profisso, no sindicato, nos movimentos sociais e culturais). Trata-se de duas tendncias pedaggicas progressistas, propondo uma educao escolar crtica a servio das transformaes sociais e econmicas, ou seja, de superao das desigualdades sociais decorrentes das formas sociais capitalistas de organizao da sociedade. No entanto, diferem quanto a objetivos imediatos, meios e estratgias de atingir essas metas gerais comuns. A Pedagogia Libertadora no tem uma proposta explcita de Didtica e muitos dos seus seguidores, entendendo que toda didtica resumir-seia ao seu carter tecnicista, instrumental, meramente prescritivo, at recusam admitir o papel dessa disciplina na formao dos professores. No entanto h uma didtica implcita na orientao do trabalho escolar, pois, de alguma forma, o professor se pe diante de uma classe com a tarefa de orientar a aprendizagem dos alunos. A atividade escolar centrada na discusso de temas sociais e polticos; poder-se-ia falar de um ensino centrado na realidade social, em que professor e alunos analisam problemas e realidades do meio social, econmico e cultural, da comunidade local, com seus recursos e necessidades, tendo em vista a ao coletiva frente a esses problemas e realidades.

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Nesse processo, a Pedagogia Libertadora tem sido empregada com muito xito em vrios setores dos movimentos sociais, como sindicatos, associaes de bairro, comunidades religiosas. Parte desse xito se deve ao fato de ser utilizada entre adultos que vivenciam uma prtica poltica e onde o debate sobre a problemtica econmica, social e poltica pode ser aprofundado com a orientao de intelectuais comprometidos com os interesses populares. Para a Pedagogia Crtico-Social dos Contedos a escola pblica cumpre a sua funo social e poltica, assegurando a difuso dos conhecimentos sistematizados a todos, como condio para a efetiva participao do povo nas lutas sociais. Do ponto de vista didtico, o ensino consiste na mediao de objetivos-contedos-mtodos que assegure o encontro formativo entre os alunos e as matrias escolares, que o fator decisivo da aprendizagem. A Pedagogia Crtico-Social dos contedos atribui grande importncia Didtica, cujo objeto de estudo o processo de ensino nas suas relaes e ligaes com a aprendizagem. A ao de ensinar e aprender forma uma unidade, mas cada uma tem a sua especificidade. A Didtica tem como objetivo a direo do processo de ensinar, tendo em vista finalidades sociais, polticas e pedaggicas e, ainda, as condies e os meios formativos. Tal direo, entretanto, converge para promover autoatividade dos alunos, a aprendizagem. Com efeito, se a Pedagogia define fins e meios da prtica educativa, a partir dos seus vnculos com a dinmica da prtica social, os conhecimentos tericos e prticos da Didtica medeiam os vnculos entre o pedaggico e a docncia; fazem ligao entre o "para qu" (opes poltico-pedaggicas) e o "como da ao educativa escolar (a prtica docente). A Pedagogia Crtico-Social toma partido dos interesses majoritrios da sociedade, atribuindo instruo e ao ensino o papel de proporcionar aos alunos o domnio de contedos cientficos, os mtodos de estudo e habilidades e hbitos de raciocnio cientfico; de modo a irem formando a conscincia crtica face s realidades sociais e capacitando-se a assumir noCopyright 2008, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil 31

conjunto das lutas sociais a sua condio de agentes ativos de transformao da sociedade e de si prprios.

Dica de Leitura: LIBANEO, Jos Carlos. Didtica. So Paulo: Cortez, 1994. Cap. II

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Objetivo: Adquirir conhecimentos acerca da Pedagogia Critico-Social dos Contedos e sua relao com uma aprendizagem transformadora.

Processo Didtico na Concepo da Pedagogia Crtico-Social dos Contedos Ensino e aprendizagem A tarefa principal do professor garantir a unidade Didtica entre ensino e aprendizagem, atravs do processo de ensino. Ensino e aprendizagem so duas facetas de um mesmo processo. O professor planeja dirigir e controlar o processo de ensino, tendo em vista estimular e suscitar a atividade prpria dos alunos para a aprendizagem. Para compreender corretamente a dinmica desse processo necessrio analisar separadamente cada um dos seus componentes.

A aprendizagem A conduo do processo de ensino requer uma compreenso clara e segura do processo de aprendizagem. Consiste aprender, como as pessoas aprendem quais as condies externas e internas que influenciam. Em sentido geral, qualquer atividade humana praticada no ambiente em que se vive pode levar a uma aprendizagem. Jovens e adultos aprendem processos mais complexos de pensamento, aprendem uma profisso, discutem problemas e aprendem a fazer opes, etc. Pode-se distinguir a aprendizagem casual e a aprendizagem organizada. A aprendizagem casual quase sempre espontnea, surge naturalmente da interao entre as pessoas e com o ambiente em que vivem. Ou seja, pela convivncia social, pela observao de objetosCopyright 2008, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil 33

e acontecimentos, pelo contato com os meios de comunicao, leituras, conversas etc., as pessoas vo acumulando experincias, adquirindo conhecimentos, formando atitudes e convices. A aprendizagem organizada aquela que tem por finalidade especfica aprender determinados conhecimentos, habilidades, normas de convivncia social. Embora isso possa ocorrer em vrios lugares; na escola que so organizadas as condies especficas para a transmisso e assimilao de conhecimentos e habilidades. Esta organizao intencional, planejada e sistemtica das finalidades e condies da aprendizagem escolar tarefa especfica do ensino.

Dica de Leitura: RAYS, O. A. e LYRA, J.H.B. Elaborao de projetos de Aprendizagem. Joo Pessoa: UFPB - CE-DME, 1979. (mimeo)

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Objetivo: Conhecer os princpios do processo de assimilao mediados pela ao do professor.

Aprendizagem: um processo de assimilao

No processo de ensino so estabelecidos objetivos, contedos e mtodos, mas a assimilao deles consequncia da atividade mental dos alunos. Conhecimentos, habilidades, atitudes, modos de agir no so coisas fsicas que podem ser transferidas da cabea do professor para a cabea do aluno. A aprendizagem efetiva acontece quando, pela influncia do professor, so mobilizadas as atividades fsica e mental prprias dos alunos, no estudo das matrias. o que denomina-se de processo de assimilao ativa.

O Processo da assimilao ativa Entende-se por assimilao ativa ou apropriao de conhecimento e habilidades, o processo de percepo, compreenso e reflexo, e a aplicao que se desenvolve com os meios intelectuais, motivacionais e atitudinais do prprio aluno, sob a direo e orientao do professor. O processo de assimilao ativa um dos conceitos fundamentais da Teoria da Instruo e do Ensino. Permite entender que o ato de aprender um ato de conhecimento pelo qual se assimila mentalmente os fatos, fenmenos e relaes do mundo, da natureza e da

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sociedade, atravs do estudo das matrias de ensino. Nesse sentido, pode-se dizer que aprendizagem uma relao cognitiva entre o sujeito e os objetos de conhecimento. H uma atividade do sujeito em relao aos objetos de conhecimento para assimil-los; ao mesmo tempo, as propriedades do objeto atuam no sujeito, modificando e enriquecendo suas estruturas mentais. Por esse processo, formam-se conhecimentos e modos de atuao, pelos quais se aplica a compreenso da realidade, para transform-la, tendo em vista necessidades e interesses humanos e sociais. Para que se realize na escola o processo de assimilao ativa de novos conhecimentos e, por meio dele, o desenvolvimento das foras cognoscitivas dos alunos, preciso ao externa do professor, isto , o ensino e seus componentes: Objetivos, contedos, mtodos e formas organizativas. Em sntese, tm-se, nas situaes didticas, fatores externos e internos, mutuamente relacionados. O professor prope objetivos e contedos, tendo em conta as caractersticas dos alunos e de sua prtica de vida. Os alunos dispem meios que constituem o conjunto de suas capacidades cognoscitivas, tais como: percepo, motivao, compreenso, memria, ateno, atitudes e os conhecimentos j disponveis. Essas capacidades vo se desenvolvendo no decorrer da vida e do processo de ensino, pois podem ser aprendidas no processo de assimilao de conhecimentos.

Os nveis de aprendizagem Os meios internos pelos quais o organismo psicolgico aprende so bastante complexos. Esquematicamente, pode-se dizer que h dois nveis de aprendizagem humana: o reflexo e o cognitivo. O nvel reflexo se refere s sensaes pelas quais os processos de observao e percepo, das coisas, so desenvolvidos; alm das aes motoras (fsicas) no ambiente.36

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Essas aprendizagens so responsveis pela formao de hbitos sensoriomotores e so as que predominam na fase inicial do desenvolvimento da criana, como por exemplo: agarrar objetos, distinguir cores, formas e sons, andar etc.. Muitas delas so obtidas de forma automtica e inconsciente. Esse nvel de aprendizagem continua ocorrendo durante toda a vida humana. Entrelaado com o nvel reflexo, o nvel cognitivo se refere aprendizagem de determinados conhecimentos e operaes mentais, caracterizada pela apreenso consciente,

compreenso e generalizao das propriedades e relaes essenciais da realidade, bem como pela aquisio de modos de ao e aplicao referentes a essas propriedades e relaes. No nvel cognitivo, os indivduos aprendem tanto em contato direto com as coisas no ambiente quanto com as palavras, que designam coisas e fenmenos do ambiente. Isso significa que, como instrumentos da linguagem, as palavras constituem importante condio para a aprendizagem, pois formam a base dos conceitos com os quais o ser humano pode pensar.

Momentos interligados do processo de assimilao ativa Conforme visto, a primeira atividade frente a determinado objetivo de ensino, a observao sensorial das coisas. Propriedades, semelhanas e diferenas que as distinguem externamente. As situaes didticas devem ser organizadas para o aluno perceber ativamente o objeto de estudo, seja de forma direta (aes fsicas com as coisas do ambiente, ilustraes, demonstraes), seja de forma indireta, pelo uso das palavras. A transformao da percepo ativa para um nvel mais elevado de compreenso implica a atividade mental de tomar os objetos e fenmenos estudados, nas suas relaes com outros objetos e fenmenos, para ir formando ideias e conceitos mais claros e mais amplos. Trata-

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se de uma transformao e aprimoramento das primeiras percepes que, agora, passam pela anlise e sntese; pela abstrao, generalizao e sistematizao. Nesse processo, o aluno vai, gradativamente, se desprendendo da coisa concreta do ambiente para torn-la uma coisa pensada. A partir da, o aluno pode operar mentalmente, com os contedos assimilados. O processo de assimilao ativa culmina com a consolidao e aplicao. Deve-se alertar ainda, que nem sempre necessrio iniciar o processo de assimilao pela atividade preceptiva, material, concreta (manipular objetos, examinar, observar, representar graficamente objetos e fenmenos etc.). H situaes de ensino em que os alunos j possuem conceitos e operaes mentais, bastando aviv-los e record-los. Por isso, importante que o professor tenha perspiccia para captar as caractersticas especficas de cada situao. Na sala de aula, predomina a via indireta de ensino, ou seja, o professor e os alunos trabalham com conceitos j elaborados, com representaes verbais do professor, ou o texto do livro didtico. Embora deva ser empregada a experincia direta, sempre que possvel. Quaisquer que sejam os mtodos e modos de assimilao, a linguagem fundamental tanto para o professor, que explica os conceitos cientficos, quanto para o aluno; que os utiliza para formar suas ideias e noes. Os conceitos cientficos e o desenvolvimento dos instrumentos lingusticos do pensamento, assimilados com base na experincia sociocultural dos alunos, aperfeioam a comunicao, propiciam a habilidade de verbalizao e ampliam a capacidade de raciocinar.

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Dica de Leitura: RAYS, O. A. e LYRA, J.H.B. Elaborao de projetos de Aprendizagem. Joo Pessoa: UFPB - CE-DME, 1979. (mimeo)

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Objetivo: Conhecer as caractersticas envolvidas na dialtica; aprendizagem e ensino.

Caractersticas da Aprendizagem Escolar A aprendizagem escolar uma atividade planejada, intencional e dirigida, portanto,

no algo casual e espontneo. Aprendizagem e ensino formam uma unidade, mas no so atividades que se confundem uma com a outra. A atividade cognoscitiva do aluno a base e o fundamento do ensino, e esse d direo e perspectiva quela atividade por meio dos contedos, problemas, mtodos, procedimentos organizados pelo professor em situaes didticas especficas. b) O processo de assimilao de conhecimentos resulta da reflexo proporcionada pela

percepo prtico-sensorial e pelas aes mentais que caracterizam o pensamento. Todo conhecimento se baseia nos dados da realidade, que so o seu contedo. Por isso, as atividades de ensino somente fazem sentido quando suscitam a atividade mental dos alunos, de modo a saberem lidar com elas, atravs dos conhecimentos sistematizados que vo adquirindo. c) Na aprendizagem escolar h influncia de fatores afetivos e sociais, tais como os que

suscitam a motivao para o estudo, os que afetam as relaes professor-aluno, os que interferem nas disposies emocionais dos alunos para enfrentar as tarefas escolares, os que contribuem ou dificultam a formao de atitudes positivas dos alunos frente s suas capacidades e frente aos problemas e situaes da realidade e do processo de ensino e aprendizagem. d) Os contedos e as aes mentais que vo sendo formados dependem da organizao

lgica e psicolgica dos contedos estudados. A organizao lgica se refere sequnciaCopyright 2008, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil 40

progressiva dos conceitos, ideias, habilidades, em nvel crescente de complexidade. Organizao psicolgica se refere adequao ao nvel de desenvolvimento fsico e mental que, por sua vez, condicionado pelas caractersticas sociais e culturais dos alunos. A ideia de progressividade no desenvolvimento escolar se aplica tambm organizao das unidades didticas nas aulas. Os alunos aprendem tudo numa s aula, pois a aprendizagem um processo garantido. Entretanto, a slida aprendizagem decorre da consolidao de conhecimentos e mtodos de pensamento, sua aplicao em situaes de aula ou do dia a dia e, principalmente, da capacidade do aluno lidar, de modo independente e criativo, com os conhecimentos que assimilou. Tudo isso requer tempo e trabalho incessante do professor. e) A aprendizagem escolar tem um vnculo direto com o meio social. A consolidao do

conhecimento depende do vnculo: aprendizagem-meio social. Os professores devem estar preparados para buscar procedimentos didticos que ajudem os alunos a enfrentarem suas desvantagens, a adquirirem o desejo e o gosto pelos conhecimentos escolares, a elevar suas expectativas de um futuro melhor para si e sua classe social. Outro aspecto fundamental da aprendizagem a linguagem. A linguagem o veculo para a formao e expresso dos nossos pensamentos. As formas de linguagem expressam as condies sociais e culturais de vida das pessoas (modalidades de relacionamentos, costumes, crenas, modos de pensar sobre o mundo e a vida etc.). A combinao entre a linguagem do professor e linguagem dos alunos de extrema importncia, pois pela via da linguagem que os alunos podem assimilar os conhecimentos sistematizados. f) A aprendizagem escolar se vincula tambm com a motivao dos alunos, que indicam

os objetivos que procuram.

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A motivao intrnseca, quando se trata de objetivos internos como: a satisfao de necessidades orgnicas ou sociais, a curiosidade, a aspirao pelo conhecimento; j quando extrnseca, a ao do aluno estimulada de fora, como: as exigncias da escola, a expectativa de benefcios sociais que o estudo pode trazer; a estimulao da famlia, do professor ou dos demais colegas. A motivao intrnseca precisa ser apoiada, muito frequentemente, na motivao extrnseca; a fim de manter o interesse, a ateno e o envolvimento dos alunos no trabalho docente. g) O trabalho docente a atividade que d unidade ao binmio ensino-aprendizagem,

pelos processos de transmisso e assimilao ativa de conhecimentos, realizando a tarefa de mediao, na relao cognitiva entre o aluno e as matrias de estudo. Nessa concepo, a atividade do aluno consiste no enfrentamento da matria por suas prprias foras cognoscitivas, porm dirigida e orientada de fora pelo professor. A interrelao entre os dois momentos do processo de ensino transmisso e assimilao ativa supe a confrontao entre os contedos sistematizados (trazidos pelo professor) e a experincia sociocultural concreta dos alunos, isto , a experincia que trazem do seu meio social, conhecimentos que j dominam as motivaes e expectativas, a percepo que eles tm do contedo ensinado.

Dica de Leitura: VEIGA, Ilma. P. Alencastro (org.). Repensando a Didtica. Campinas: Papirus, 1998.

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Objetivo: Perceber os fundamentos do Ensino e sua correlao com o ato: ensinar e aprender.

Dinmica do Processo de Ensino O Ensino um meio fundamental do progresso intelectual dos alunos e o seu processo abrange a assimilao de conhecimentos, mas inclui outras tarefas. Para assegurar a assimilao ativa, o professor deve antecipar os objetivos de ensino, explicar a matria, instigar os conhecimentos pr-existentes; estimullos no desejo de conhecer o contedo novo. Deve transformar a matria em contedos significativos, compreensveis; saber detectar o nvel da capacidade cognoscitiva dos alunos; empregar os mtodos mais eficazes para ensinar; no para um aluno ideal, mas para os alunos concretos que ele tem sua frente. Assim, o processo de ensino uma atividade de mediao pela qual so providas as condies e os meios para os alunos se tornarem sujeitos ativos na assimilao dos conhecimentos.

O ensino tem trs funes inseparveis: a) Organizar os contedos para a sua transmisso, de forma que os alunos possam ter uma relao subjetiva com eles. Transmitir a matria, nesse sentido, traduzir didaticamente a matria para alunos determinados, com suas caractersticas sociais e culturais; nvel de preparo para enfrentar os contedos novos, levando em considerao os conhecimentos e experincias que trazem para a sala de aula.

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b) Ajuda - Ajudar os alunos a conhecerem as suas possibilidades de aprender, orientar suas dificuldades, indicar mtodos de estudo e atividades de forma que os levem a aprender de forma autnoma e independente. Dirigir e controlar a atividade docente para os objetivos da aprendizagem.

A atividade de ensino, por outro lado, est indissociavelmente ligado vida social mais ampla. Em sentido amplo, o ensino exerce a mediao entre o indivduo e a sociedade. Essa mediao significa tanto a explicitao dos objetivos de formao escolar frente s exigncias do contexto social, poltico e cultural de uma sociedade marcada pelo conflito de interesses entre os grupos sociais, quanto o entendimento de que o domnio de conhecimentos e habilidades um instrumento coadjuvante para a superao das condies de origem social dos alunos, seja pela melhoria das condies de vida, seja pela luta conjunta para a transformao social.

A unidade entre Ensino e Aprendizagem Pode-se sintetizar dizendo que a relao entre Ensino e Aprendizagem uma relao recproca na qual se destacam o papel dirigente, do professor e a atividade dos alunos. O Ensino visa estimular, dirigir, incentivar, impulsionar o processo de aprendizagem dos alunos. Conforme j abordado anteriormente, o Ensino tem um carter eminentemente pedaggico, ou seja, o de dar um rumo definido para o processo educacional que se realiza na escola. O Ensino tem a tarefa principal de assegurar a difuso e o domnio dos conhecimentos sistematizados legados pela humanidade. Da, a importncia da seleo e organizao do contedo de ensino e dos mtodos apropriados a serem trabalhados, num processo organizado na sala de aula.44

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A Aprendizagem a assimilao ativa de conhecimentos mentais, para compreend-los e aplic-los consciente e autonomamente. O Ensino s existe na relao com a Aprendizagem. A unidade entre Ensino e Aprendizagem fica comprometida quando o Ensino se caracteriza pela memorizao; quando o professor concentra na sua pessoa a exposio da matria, quando no suscita o desenvolvimento ativo dos alunos. Por outro lado, tambm se quebra a unidade quando os alunos so deixados sozinhos, com o pretexto de que o professor somente deve facilitar a aprendizagem e no ensinar. O Processo de Ensino tem o papel de impulsionar Aprendizagem e, muitas vezes, a precede.

Estrutura, Componentes e Dinmicas do Processo de Ensino. A Didtica, fazendo a mediao escolar de objetivos sociopolticos e pedaggicos, por sua vez orienta o trabalho docente tendo em vista a insero e atuao dos alunos nas diversas esferas da vida social: profissional, poltica, cultural etc. O processo didtico se explicita pela ao recproca de trs componentes - os contedos, o ensino e a aprendizagem - que operam em referncia a objetivos que expressam determinadas exigncias sociopolticas e pedaggicas e sob um conjunto de condies de uma situao didtica concreta (fatores sociais circundantes, organizao escolar, recursos materiais e didticos, nvel socioeconmico dos alunos, seu nvel de preparo de desenvolvimento mental, relaes professor/aluno etc.). Os contedos de ensino compreendem as matrias nas quais so sistematizados os conhecimentos, formando a base para a concretizao de objetivos. O Ensino a atividade do professor que compreende: organizao, seleo e explicao dos contedos; organizao das atividades de estudo dos alunos, encaminhando objetivos, mtodos, ou seja, formas e meios mais adequados; em funo da aprendizagem dos alunos.

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A Aprendizagem a atividade do aluno de assimilao de conhecimentos e habilidades. O processo didtico define a ao didtica e determina as condies e modalidades de direo do processo de ensinar; tendo em vista a preparao dos alunos para as tarefas sociais. O Processo de Ensino, efetivado pelo trabalho docente, constitui-se em um sistema articulado com os seguintes componentes: objetivos, contedos, mtodos (incluindo meios e formas organizativas) e condies. O professor dirige esse processo, cujo desenvolvimento se assegura na assimilao ativa de conhecimentos e habilidades e o desenvolvimento das capacidades cognoscitivas dos alunos. Esses componentes formam uma unidade, nenhum deles podendo ser considerado isoladamente. J os objetivos, correspondem aos contedos (conhecimentos, habilidades, hbitos) e aos mtodos para sua apropriao. Os contedos so selecionados de forma didaticamente assimilvel, portanto, implicam mtodos. Os mtodos, por sua vez, subordinam-se ao contedo de cada matria e ao mesmo tempo s caractersticas de aprendizagem dos alunos (conhecimentos e experincias que trazem suas expectativas, seu nvel de preparo para enfrentar a matria, etc.). Alm disso, o Ensino inseparvel das condies concretas de cada situao didtica; do meio sociocultural em que se localiza a escola, das atitudes do professor, dos materiais didticos disponveis, das condies de vida, conhecimentos, habilidades e atitudes dos alunos.

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Antes de dar continuidade aos seus estudos fundamental que voc acesse sua SALA DE AULA e faa a Atividade 1 no link ATIVIDADES.

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Objetivo: Desenvolver habilidades de compreenso e anlise sobre a prxis educativa e social.

Prtica Educativa e Sociedade O trabalho docente parte integrante do processo educativo mais global, atravs dos quais os membros da sociedade so preparados para a participao na vida social. A Educao um fenmeno social e universal, sendo uma atividade humana necessria existncia e funcionamento de todas as sociedades. Cada sociedade precisa cuidar da formao dos indivduos; auxiliar no desenvolvimento de suas capacidades fsicas e espirituais; prepar-los para a participao ativa e

transformadora, nas vrias instncias da vida social. No h sociedade sem prtica educativa nem prtica educativa sem sociedade. A prtica educativa no apenas uma exigncia da vida em sociedade, mas tambm o processo de prover os indivduos dos conhecimentos e experincias culturais que os tornam aptos a atuar no meio social e transform-lo em funo das necessidades econmicas, sociais e polticas da coletividade. Atravs da ao educativa o meio social exerce influncias sobre os indivduos e esses, ao assimilarem e recriarem essas influncias tornam-se capazes de estabelecer uma relao ativa e transformadora em relao ao meio social. Tais influncias se manifestam atravs de conhecimentos, experincias, valores, crenas, modo de agir, tcnicas e costumes acumulados por muitas geraes, transmitidos, assimilados e recriados pelas novas geraes.

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Em sentido amplo, a Educao compreende os processos formativos que ocorrem no meio social, nos quais os indivduos esto envolvidos de modo necessrio e inevitvel pelo simples fato de existirem socialmente; nesse sentido, a prtica educativa existe numa grande variedade de instituies e atividades sociais decorrentes da organizao econmica, poltica e legal de uma sociedade, da religio, dos costumes, das formas de convivncia humana. Em sentido estrito, a Educao ocorre em instituies especficas, escolares ou no, com finalidades explcitas de instruo e ensino mediante uma ao consciente, deliberada e planificada, embora sem separar-se daqueles processos formativos gerais. Os estudos que tratam das diversas modalidades de educao costumam caracterizar as influncias educativas como no intencionais e intencionais. A Educao no intencional refere-se s influncias do contexto social e do meio ambiente sobre os indivduos. Tais influncias, tambm denominadas de Educao Informal, correspondem a processos de aquisio de conhecimentos, experincias, ideias, valores, prticas, que no esto ligados especificamente a uma instituio e nem so intencionais e conscientes. So situaes e experincias, por assim dizer, casuais, espontneas, no organizadas, embora influam na formao humana. o caso, por exemplo, das formas econmicas e polticas de organizao da sociedade, das relaes humanas na famlia, no trabalho, na comunidade, dos grupos de convivncia humana, do clima sociocultural da sociedade. A educao intencional refere-se a influncias em que h intenes e objetivos definidos conscientemente, como o caso da educao escolar e extraescolar. H uma intencionalidade, uma conscincia por parte do educador quanto aos objetivos e tarefas que deve cumprir, seja ele o pai, o professor, ou adultos em geral. Esses, muitas vezes, invisveis atrs de um canal de televiso, do rdio, do cartaz de propaganda, do computador, etc. H mtodos, tcnicas, lugares e condies especficas prvias criadas, deliberadamente, para suscitar ideias, conhecimentos, valores, atitudes e comportamentos. So muitas as formas de educao intencional e, conforme o objetivo pretendido variam os meios. Pode-se falar de educao no formal, quando se trata de atividades educativas estruturadas fora do49

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sistema escolar convencional (como o caso de movimentos sociais organizados, dos meios de comunicao de massa, etc.) e da Educao Formal que se realiza nas escolas ou outras agncias de instruo e educao (igrejas, sindicatos, partidos, empresas); implicando aes de ensino com objetivos pedaggicos explcitos, sistematizao e procedimentos didticos. Cumpre acentuar, no entanto, que a educao propriamente escolar se destaca entre as demais formas de educao intencional; por ser suporte e requisito delas. Com efeito, a escolarizao bsica que possibilita aos indivduos aproveitar e interpretar, consciente e criticamente, outras influncias educativas. impossvel, na sociedade atual, com o progresso dos conhecimentos cientficos e tcnicos, e com o peso cada vez maior de outras influncias educativas (mormente os meios de comunicao de massa), a participao efetiva dos indivduos e grupos nas decises que permeiam a sociedade sem a educao intencional e sistematizada provida pela educao escolar. As formas que assume a prtica educativa sejam no intencionais ou intencionais, formais ou no formais, escolares ou extraescolares, se interpretam. O processo educativo, onde quer que se d, sempre contextualizado social e politicamente. H uma subordinao sociedade que lhe faz exigncias; determina objetivos e prov condies e meios de ao. A Educao um fenmeno social. Isso significa que ela parte integrante das relaes sociais, econmicas, polticas e culturais de uma determinada sociedade. Na sociedade a estrutura social se apresenta dividida em classes e grupos sociais com interesses distintos antagnicos; esse fato repercute tanto na organizao econmica quanto na poltica e na prtica educativa. Assim, as finalidades e meios da educao subordinam-se estrutura e dinmica das relaes entre as classes sociais, ou seja, so socialmente determinados. Que significa a expresso "a educao socialmente determinada"? Significa que a prtica educativa, e especialmente os objetivos e contedos do ensino e o trabalho docente, esto determinados por fins e exigncias sociais, polticas e ideolgicas.50

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Com efeito, a prtica educativa que ocorre em vrias instncias da sociedade assim como os conhecimentos da vida cotidiana, os fatos polticos e econmicos etc. - determinada por valores, normas e particularidades da estrutura social a que est subordinada. A estrutura social e as formas sociais pelas qual a sociedade se organiza so decorrentes do fato de que, desde o incio da sua existncia, os homens vivem em grupos; sua vida est na dependncia da vida de outros membros do grupo social, ou seja, a histria humana e a histria da sociedade se constituem e se desenvolvem na dinmica das relaes sociais. Este fato fundamental para se compreender que a organizao da sociedade, a existncia das classes sociais e o papel da educao esto implicados nas formas que as relaes sociais vo assumindo pela ao prtica concreta dos homens. As relaes vo passando por transformaes, criando novas necessidades, novas formas de organizao do trabalho e, especificamente, uma diviso do trabalho, conforme sexo, idade, ocupaes, de modo a existir uma diviso das atividades entre os envolvidos no processo de trabalho. Na histria da sociedade, nem sempre houve uma distribuio por igual dos produtos do trabalho, das terras e rendas. Com isso, vo surgindo nas relaes sociais as desigualdades, econmica e de classes. Nas formas primitivas de relaes sociais, os indivduos tinham igualdade e usufruto do trabalho comum e seu resultado. Entretanto nas etapas seguintes da histria da sociedade, cada vez mais se acentua a distribuio desigual dos indivduos em distintas atividades bem como do produto dessas atividades. A diviso do trabalho vai fazendo com que os indivduos passem a ocupar diferentes lugares na atividade produtiva. Na Sociedade Escravista os meios de trabalho e o prprio trabalhador (escravo) eram propriedades dos donos de terras; na Sociedade Feudal, os trabalhadores (servos) eram obrigados a trabalharem gratuitamente s terras dos senhores feudais ou a pagar-lhes tributos.51

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Sculos mais tarde, na Sociedade Capitalista, que prevalece at hoje, ocorreu uma diviso entre os proprietrios privados dos meios de produo (empresas, mquinas, bancos, instrumentos de trabalho, etc.) e os que vendem a sua fora de trabalho para obter os meios da sua subsistncia, os trabalhadores que vivem do salrio. As relaes sociais no Capitalismo so, assim, fortemente marcadas pela diviso da sociedade em classes, onde capitalistas e trabalhadores ocupam lugares opostos e antagnicos no processo de produo. A desigualdade entre os homens, que na origem uma desigualdade econmica no seio das relaes entre as classes sociais, determina no apenas as condies materiais de vida e de trabalho dos indivduos, mas tambm a diferenciao no acesso cultura espiritual, educao. Com efeito, a classe social dominante retm os meios de produo material como tambm os meios de produo cultural e da sua difuso, tendendo a coloc-la a servio dos seus interesses. Assim, a educao que os trabalhadores recebem visa principalmente prepar-los para trabalho fsico, para atitudes conformistas, devendo contentar-se com uma escolarizao deficiente. Alm disso, a maioria dominante dispe de meios de difundir a sua prpria concepo de mundo (ideias, valores, prticas sobre a vida, o trabalho, as relaes humanas, etc.) para justificar, ao seu modo, o sistema de relaes sociais que caracteriza a sociedade capitalista. Tais ideias, valores e prticas apresentados pela minoria dominante como representativos dos interesses de todas as classes sociais, so as que se costumam denominar de ideologia. O sistema educativo, incluindo as escolas, as igrejas, as agncias de formao profissionais, os meios de comunicao de massa, um meio privilegiado para o repasse da ideologia dominante. O campo especfico de atuao profissional e poltica do professor a escola, qual cabem tarefas de assegurar aos alunos um slido domnio de

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conhecimentos e habilidades, o desenvolvimento de suas capacidades intelectuais, de pensamento independente, crtico e criativo. Tais tarefas representam uma significativa contribuio para a formao de cidados ativos, criativos e crticos, capazes de participar nas lutas pela transformao social. Pode-se dizer que, quanto mais se diversificam as formas de educao extraescolar e quanto mais minoria dominante refina os meios de difuso da ideologia burguesa, tanto mais a educao escolar adquire importncia, principalmente para as classes trabalhadoras. V-se que a responsabilidade social da escola e dos professores muito grande, pois lhes cabe escolher qual concepo de vida e de sociedade deve ser traduzida considerao dos alunos e quais contedos e mtodos lhes propiciam o domnio dos conhecimentos e a capacidade de raciocnio, necessrios compreenso da realidade social e atividade prtica na profisso, na poltica, nos movimentos sociais. Tal como a Educao, tambm o Ensino determinado socialmente. Ao mesmo tempo em que cumpre objetivos e exigncias da sociedade, conforme interesses de grupos e classes sociais que a constituem, o Ensino cria condies metodolgicas e organizativas para o processo de transmisso e assimilao de conhecimentos e desenvolvimento das capacidades intelectuais e processos mentais dos alunos, tendo em vista o entendimento crtico dos problemas sociais.

Sugesto: Para sua reflexo e tomada de postura educacional assista ao filme Sociedade dos Poetas Mortos.

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12Como prxis social, a Educao uma ao que se desenvolve segundo a inteno especfica de uma classe social. Nesse pressuposto, a apropriao do saber uma inteno especfica da classe "que est na vanguarda em cada etapa histrica, a classe

Objetivo: Perceber a dialtica como influncia na prxis de uma ao educadora social.

Educao Como Dialtica e Prxis Social

efetivamente capaz de exercer a funo educativa". Sendo a inteno especfica, uma prxis; prpria de uma classe social e at da sociedade inteira, uma prxis social. Sendo seu objeto o saber, a prxis educativa cuida de realizar sua apropriao, e nisso est sua especificidade. A Pedagogia vem ento trabalhar sobre a questo de como se realiza a apropriao do saber pela sociedade, e a Didtica vem trabalhar sobre a questo do mtodo pelo qual se realiza a apropriao do saber pelas pessoas. Introduzindo o componente das classes sociais fundamentais e antagnicas pela aplicao do mtodo dialtico no campo da Educao e considerando a questo da ideologia nos seus limites reais, que fazem da educao uma prtica social, tm-se os elementos para finalmente propor a hiptese de trabalho, a seguir apresentada. na Didtica que se exerce a possibilidade de fazer da educao uma prtica social, progressista ou conservadora, pois atravs dos componentes didticos da ao educativa que se passa, ou no, a possibilidade que tem a classe de "vanguarda" para exercer a hegemonia na sociedade.

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Para aqueles que entendem ser de menor importncia o aspecto prtico das ideias progressistas, os aspectos aparentemente menores, que na Educao so os aspectos didticos, preciso repetir uma formulao de Jacques Rancire: "Sem teoria revolucionria no h prtica revolucionria. Mas separada da prtica revolucionria toda teoria revolucionria se transforma no seu contrrio". Na Educao, toda a rea j est tratando de ao. Porm os aspectos mais prticos, porque diretamente ligados prtica social onde as pessoas se encontram concretamente, compem a Didtica. Acredita-se, portanto, que pouco vale as formulaes terico-progressistas da Educao se no se encontrarem as formas de pratic-las, ainda que no seja possvel encontrar essas formas sem aquelas formulaes.

O Espao da Sala de Aula O espao da sala de aula no pode ser definido por suas caractersticas fsicas, j que um espao pleno de tenses. Nele se entrecruzam diferentes histrias de vida, de professores e alunos. , portanto, um espao de construo de conhecimentos e valores. Um espao vivo, onde podem ocorrer, ou no, relaes cooperativas, solidrias, de respeito mtuo. Ao entrar no espao da sala de aula, ao se encontrarem pela primeira vez, professores e alunos estabelecem relaes numa interao que devem estar permeada pelo dilogo e compreenso. O aluno chega sala de aula, cheio de expectativas e curiosidades e, tambm, com alguma apreenso sobre quem sero seus professores. Tambm, o professor, a despeito da sua experincia, entra na relao com o aluno impregnado de uma histria de vida prpria, uma

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experincia singular. Ele, tambm, recebe seus alunos, no incio do ano letivo cheio de expectativas. Encontram-se ainda, nesse espao, expectativas vindas das famlias dos alunos; em relao aos professores, ao diretor, ao resultado da ao pedaggica, s formas de avaliao. A direo da escola tambm est presente no espao da sala de aula, atravs de suas crenas, projetos e desejos sobre a atuao de professores e alunos. Enfim, no espao da sala de aula, cruzam-se pessoas nicas e singulares que interagem por certo perodo de tempo.

A Transformao de um Espao de Relaes Afetuosas e Harmnicas Reverter os altos ndices de evaso e repetncia no ambiente educacional, buscando o sucesso, na sua tarefa de ensinar a ler, escrever, calcular, interpretar e transformar o meio ambiente, os mundos do trabalho, da cultura e das linguagens que os expressam, o desafio da Educao, hoje. preciso defender e lutar por uma escola, de qualidade, para todos, comprometida com o desenvolvimento pleno (fsico, intelectual, socioafetivo, psicomotor) dos alunos, com uma identidade prpria, num tempo e espao em constante transformao. Para uma educao mais abrangente, os professores precisam descobrir respostas individuais para cada ambiente, para cada aluno. Cada situao escolar nica, com seus problemas, desafios, impasses e vitrias. fundamental, portanto, que cada professor tenha a possibilidade de refletir sobre as suas convices e desejos, relacionando-os sua prtica escolar. Aprofundando estas reflexes consigo mesmo, e com o seu grupo de alunos, o professor ir descobrir algumas de suas prprias respostas. Este processo, que contnuo e infinito, pressupe constantes transformaes e correes de rota, autocrtica e autoavaliao. Acredita-se que a construo de relaes afetuosas e56

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mais humanas, seja o resultado de um esforo coletivo de alunos, professores, famlias, funcionrios e direo. Todos precisam estar tambm preparados e disponveis para se avaliarem e a seus papis, individualmente e/ou em equipe, atualizando seus objetivos, discutindo alternativas, visando, sempre, a melhoria da qualidade de vida na instituio educacional. As dificuldades s podem ser vencidas com alianas e cumplicidade de todos os envolvidos no ambiente escolar que, como todo ambiente vivo, no deve se constituir em lugar de imobilismo, nem descrena. A comunidade escolar precisa estar presente nas decises coletivas para se apropriar afetivamente de seu destino como algo que tambm lhe pertence. importante que o ambiente educacional promova reunies e encontros, de forma sistemtica, nas quais a proposta pedaggica seja discutida com as famlias, e onde acordos que beneficiem os alunos sejam estabelecidos.

Sinta o Pulso e Planeje A interao entre classe e professor tem caractersticas muito prprias. Dependem de vrios fatores, como maturidade dos alunos, seu grau de informao, tamanho da turma e uma soma de caractersticas que pode ser chamada de personalidade da classe. Nem todos os alunos tm o mesmo comportamento. Mas em todas as classes h um tipo de atitude que predomina. As caractersticas mais comuns das turmas so: Rebelde: a turma em que os alunos geniosos do o tom, mesmo se estiverem em minoria. Costuma ser barulhenta, indisciplinada e pouco produtiva. Exige do professor firmeza, para impor a autoridade, pacincia e muita disponibilidade, para testar vrias tcnicas at encontrar um foco de interesse capaz de prender a ateno.Copyright 2008, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil 57

Acomodada: aquela turma tranquila que faz o que pedido, mas no sai do desempenho mdio e tem dificuldades quando se exige