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As redes sociais: entre o sim (+) e o não () A Rede da Revolta Entrevista à advogada Margarida Garcia, sobre o "Façase Justiça"

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Edição nº20Fevereiro/Março 201 1

As redes sociais: entre o sim (+) e o não (­)

A Rede da RevoltaEntrevista à advogada Margarida Garcia, sobre o"Faça­se Justiça"

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Ruben Gomes

Boas! Em mais um

mês deste novo

ano de 2011 , a

equipa do ESAC-

TO, o jornal da

nossa escola,

decidiu preparar-vos, uma edi-

ção especialmente dedicada à temática das redes sociais.

Além das redes sociais serem o tema do concurso de jor-

nais escolares, patrocinado pelo jornal Público, são um te-

ma que deve ser desenvolvido, pois as redes sociais têm

um papel de grande importância na actual sociedade.

À medida que o tempo passa, as redes sociais influem cada vezmais as nossas vidas, as diversas sociedades mundiais, chegandoaté ser utilizadas para desencadear revoluções, como por exemplotestemunham os países árabes, em que já vários regimes foramderrubados e outros estão ameaçados, seguindo também o mesmocaminho. É curioso pensar qual o porquê deste fenómeno … ­ ofacto de as redes sociais serem um espelho da sociedade, das (des)igualdades dos indivíduos, que nela mostram a sua revolta, tal co­mo é desenvolvido no artigo de Diogo Mendes.E como nem de só coisas boas é feita a vida, nesta edição apresen­tamos um lado mais negro das redes sociais, que têm presenciadocrimes de abuso de privacidade, como nos leva a reflectir o artigodo nosso mais recente elemento da equipa ESACTO, Mário Lopes(“Redes Sociais: Benção ou Maldição?).Quem também explora o lado mais negativo das redes sociais, é oprojecto do “Faça­se Justiça”, em que uma série de jovens no âm­bito da Área de Projecto da Escola Secundária de Albufeira, com acolaboração da professora Emília Oliveira, construíram um projec­to dinâmico, que debate­se em torno de um abuso em redes soci­ais. A eles, a equipa do jornal ESACTO regista os seusagradecimentos, pela dedicação e empenho que disponibilizaramna colaboração com da presente edição do jornal ESACTO.Muita honra teve também em contar com o depoimento experienteda Sra. Dra. advogada Margarida Garcia, que na magnitude da suaexperiência, expôs­nos numa perspectiva mais ampla do sistemajurídico, particularmente na temática dos crimes relacionados comas redes sociais.Para termos uma maior percepção da opinião das pessoas sobre asredes sociais, incentivo a leitura do “Prós e Contras” de AdrianoPereira, que recolheu de diversas pessoas uma série de opiniões ar­gumentativas diversificadas acerca do uso das redes sociais; ou en­tão o Vox Alumni, que inquiriu uma série de jovens da ESA sobreos usos e a importância que as redes sociais têm para as suas vi­das.Em suma, a equipa do jornal ESACTO apela à utilização das redessociais, (pois são mecanismos facilitadores da comunicação), por­que no entanto são úteis para a sociedade e nós próprios, utilizar­no­las como instrumento de serviço dos nossos interesses, tal co­mo muito bem fizeram os jovens do nosso país que se organizarame protestaram em prol de um futuro melhor, mais oportunista dosjovens da “Geração à Rasca”.

Vox alumni

Rúben GomesNo último mês, a equipa do jornalESACTO, realizou junto da co­

munidade escolar da Escola Secundá­ria de Albufeira, um questionário sobreredes sociais, através do qual se procu­rava analisar a influência que estas têmsobre a vida do dia­a­dia das pessoas.A quase totalidade dos inquiridos per­tence ao grupo "alunos".À primeira pergunta, que questionavase estava ou não inscrito em alguma re­de social, das 50 pessoas inquiridas, 45responderam que sim, sendo que ape­nas os restantes 5 responderam quenão. O universo dos que usam as redessociais é bastante alargado.Entre aqueles que pertenciam a algumarede social, 80% responderam perten­cer ao Facebook, 40% ao Youtube,36% ao Hi5. As outras redes como oTwitter, o Myspace, o Orkut, o4chan, o Blogster, o Tumblr, o devian­tART, entre outras, não obtiveram maisdo que 10% de seguidores. Entre osutilizadores inquiridos, os facebookerssão os mais populares, seguindo a ten­dência do mundo inteiro.Como navegam os nossos inquiridos?Possuem um avatar? Apenas 20% daspessoas disseram que sim.Acerca da frequência com que utilizamas redes sociais, quase um terço utilizaas redes sociais mais que uma vez pordia, mais de um terço utiliza uma vezpor dia, e muito poucos utilizam umavez por semana, ou menos que isso.Por isso, os fãs das redes sociais sãomemso fãs, fieis seguidores desse tipode comunicação.Como curiosidade, o ESACTO quistestar o conhecimento que os utilizado­

editorial

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In ESAres têm do universo global em que co­municam diariamente. Perguntou entãosobre números de utlizadores, ou se sa­beriam quantos pertencem a algumasdas principais redes sociais. Sobre oFacebook, cerca de 60% acertou nos600 milhões de seguidores (dados daWikipedia). Sobre o Myspace, 48 %das pessoas inquirdas responderamcorrectamente (100 milhões). Quantoao Twitter, 52% acertou nos 190 mi­lhões). Não vai mal, a cultura dos nos­sos jovens.Questionados acerca dos motivos queos levam a utilizar as redes sociais,18% admitem que utilizam as redes so­ciais para postar textos/fotos e vídeos,16% para comentar fotos e eventos, ou­tros14% para espreitar a vida dos ou­tros, outros 14% para jogar, 10% parainformação, outros 10% para exibicio­nismo, 8% para namorar. Podemos con­cluir que o maior uso das redes sociaisé de cunho pessoal e de entretenimento.A busca de informação nem é muito

pertinente no quadro das percentagens.Sobre para qual dos usos consideramser o mais comum, 18% consideramque as pessoas utilizam as redes sociaiscom a intenção de espreitar a vida dosoutros, 12% para comentar fotos eeventos, para exibicionismo, para na­morar, para jogar e para informação; esó 8% para postar textos/fotos e vídeos.Continuamos com a mesma tendência:a percepção acompanha o tipo de usoque os utilizadores inquiridos fazemdas redes sociais.Na última questão, em que foi pedidoaos inquiridos que sintetizassem a suaperspectiva sobre as redes sociais numapalavra ou expressão, muitas e variadasforam as respostas. Exemplos: “Aut­ch!”, “Desperdício”, “Cool”, “Loucu­ra”, “Exagero”, “Aceitável”, “Droga”,“Hobby”, “Aniquilação”, “Marcante”,“Diversão”.Em conclusão, em relação ao nossouniverso de inqiridos, sobretudo alunosda ESA, percebe­se que vivemos numacultura dominada pelas redes sociais,que são utilizadas para fins muito ego­cêntricos e a opinião sobre as mesmasvai desde a mais entusiasta à mais ne­gativa. É a Geração "em rede".

Redes Sociais

600

190

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André Coutinho

Estamos ligadosEu e o resto do mundo.Esse mundo conhece­meSem qualquer sentimento profundo.Estamos ligados.Não por sentimentos,Não por ideais,Mas por simples momentos.Momentos inexistentesCaracterizados por pedidos electróni­cos.“Recebeu um novo pedido de amiza­de”,Um novo amigo em segundos sónicos.Um amigo que não conheço.Não sei quem é, nunca o vi.Eu cuido de mim,E ele cuida de si.Partilho fotos de situações minhasE de outros, um diário da minha vida.Quem se interessa que se conecte,A existência passa a ser lida.Namoros platónicosCompostos por dados.Desperto­te com um “Toque”E vêm “Gostos” por todos os lados.Comentários, vídeos,Interesses, aplicações.Quantas pessoas conheces?Eu conheço milhões.É a minha rede social,Com milhões de conhecidos,Mas apenas com uma mãoEu conto os meus amigos.

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Diogo Mendes

Egipto, 06 de Junho de 2010. Kha­led Mohamed Saeed, um jovem de

28 anos começou o seu dia como outroqualquer da sua vida; acordou, levan­tou­se e saiu para ir para o cibercafé àfrente da sua casa. Só que esse dia nãoera como outro qualquer. Entraram doishomens pertencentes à polícia secretaegípcia, pedindo­lhe documentação, eprenderam­no. Khaled tentou resistir, eos polícias utilizaram violência para le­vá­lo para o carro, matando­o no pro­cesso, deixando­o desfigurado. Apolícia alega que Khaled sufocou a en­golir um pacote de haxixe, mas, paraterror do mundo, foram postadas no Fa­cebook fotografias do seu corpo mutila­do, num página chamada “We Are AllKhaled Said”, que foi criada para aler­tar para a brutalidade policial no Egip­to. Essa página, essas fotografias,levaram à revolta conta o regime deHosni Mubarak, que começou no dia 25de Janeiro de 2011, marcado no Twittercom uma ‘hashtag’.4

Todos sabemos onde estas revoltas fo­ram parar; Hosni renunciou ao poder, arevolta passou para a Líbia, Argélia,Marrocos, Iémen, Arábia Saudita, etc.,com auto­imolações (sim, as pessoaspegam fogo a si próprias), protestos,pedidos de reformas nos governos, tran­sição de poderes, rebeliões… Estes paí­ses têm em comum serem de culturaárabe, mas também têm todos regimescom ditadores no poder.E se, por acaso, esta revolta chega àChina, uma das maiores potências eco­nómicas mundiais? Que repercussões, anível mundial, pode ter uma revoltadeste tipo, nesse país, de que dependemmetade dos países, incluindo Portugal?Se já nos vemos aflitos por causa da Lí­bia, onde vamos buscar o petróleo, co­mo será com a China? Ora olha paraqualquer coisa que tenhas em ti, equipa­mentos electrónicos incluídos. Agora,quantos deles dizem ‘Made in China’?As guerras civis causadas por armas sãoviolentas, sim, mas pior que as guerras

com armas são as guerras de ideias. Asideias são como vírus. Resistentes. Al­tamente contagiosas. A mais pequenasemente de ideia pode crescer. Crescertanto que pode definir­nos. E se as idei-as são sementes, os campos de culturasão as redes sociais. Milhares de opi­niões, páginas, grupos com ideias radi­cais de mudança, e muitas delas jápostas em prática.Poderão as redes sociais vir a tornar­seuma arma contra regimes, por exem­plo? Chegaremos ao extremo de vivervidas ligadas a um teclado, conectado aum computador, este conectado a umarede imensa de computadores?E se algum dia, essas redes sociais pas­sam a ter um líder, que decide o que sefaz dentro dessas vidas ligadas, e aspessoas se quiserem revoltar? A revoltairá às ruas, ou lutaremos dentro de com­putadores, como em Tron? Não sei sequero ver esse mundo …

por dentro

Todos os dias ouvimos por aí, nos jornais, na televisão, na Internet, notícias sobre asrevoltas no mundo árabe, levadas a cabo pelo povo contra os seus líderes. Mas, de ondesurgiu tudo isto?

A Rede da Revolta

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Olga D.

No fundo, todos nós, cidadãos doséculo XXI, pertencemos à “Gera­

ção à Rasca”. Os idosos, já inactivos,vivem de miseráveis reformas, que nãocompensam a décima parte daquilo quetrabalharam em vida. Os adultos, andamà procura de emprego ­­ mesmo tendoqualificações, surgem dificuldades emencontrar uma vaga de acordo com assuas habilidades.Contudo, o mais preocupante e alar­mante, são, sem dúvida, os jovens.Cheios de força de vontade de estudarpara ter uma vida de qualidade, saemdas universidades graduados, mas ape­sar disso, com poucas possibilidades deencontrar um cargo que corresponda aocurso que tiraram.Foi contra estas e outras limitações quese insurgiram quatro jovens portuguesesna rede do Facebook. Pode­se dizer queoptaram pelo caminho mais fácil, poisesta rede conta com 600 milhões de uti­lizadores em todo o mundo. O seu ob­jectivo era fazer sentir que é preciso

fazer algo de modo a alertar para a dete­rioração das condições de trabalho e daeducação em Portugal. Desta forma, oprotesto “Geração à Rasca”, com inicia­tivas puramente populares, foi convoca­do inicialmente para Lisboa e Porto –cidades onde, sem dúvida, a manifesta­ção iria contar com a maior adesão e im­pacto. Através da Internet, a ideologiaalastrou­se de tal forma, que já contavacom a cooperação de 11 cidades portu­guesas. O site oficial (http://geracaoen­rascada.wordpress.com/) dizia : “Amanifestação é para que idades? Dos 7ao 77, digo eu. Embora convocada porjovens, o apelo à participação abarca to­dos os que, de uma forma apartidária,laica e pacífica se queiram manifestar.”E realmente, manifestaram­se! 11 mi­lhões de Facebookers confirmaram a suaparticipação no movimento, 100 mil deportugueses no Porto, 200 mil de portu­gueses a caminho do Rossio em Lisboa,centenas de manifestantes em Viseu, to­dos a lutar pela mesma causa, a eviden­

ciar os problemas da precaridade deemprego, da falta de oportunidades nomercado, a necessidade do reforço dademocracia participativa, na tentativade apelar ao Governo português que“Portugal necessita mudanças!”E realmente necessita! Não só Portugal,mas todo o mundo, arreigado do espíri­to de capitalismo financeiro, que sufo­cou as ideologias de um liberalismodemocrático para bem da nação, e ele­vou o bem individual. É preciso daratenção ao futuro do nosso país, aos jo­vens que poderão dar muito para modi­ficar esta realidade decadente.A facilidade de demonstrar as ideias,os protestos e o desdém pela vida quecusta ser vivida, é cada vez maior. A re­de mundial da Internet e as redes soci­ais, são SOCIAIS mesmo por isso, porserem o espelho da Nação, do Povo,que tenta por todos os meios fazer che­gar a sua voz aos governantes dos seuspaíses.

por dentro

Jovens facebookersdenunciam-se:“Geraçãoà Rasca”

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Emília Oliveira, professora

Desde que, em 1989, Tim Berners­Lee inventou a internet, tiveram

início um conjunto de transformações,nas sociedades, consubstanciadas naforma como passámos a comunicar, aaceder à informação ou, mesmo, comonos divertimos e ocupamos o nossotempo livre.Antes do aparecimento da Internet, ascomunicações de massas estavam res­tringidas aos jornais, rádio, televisão etelefones. Além disso, o acesso à infor­mação dependia da capacidade paracomprar jornais e revistas, da existênciade uma boa biblioteca em casa ou dadeslocação a bibliotecas públicas ou es­colares, o que pouco contribuía para asua democratização, gerando grandesdesigualdades sociais. Também, a for­ma como ocupávamos o nosso tempolivre era diferente, passava mais pelocontacto directo com familiares e ami­gos, brincava­se na rua, conversava­se àmesa, passeava­se ao ar livre.Com ela, podemos utilizar o correioelectrónico, podemos discutir os maisvariados assuntos com pessoas que po­demos até não conhecer (muitas quenão iremos nunca conhecer pessoal­mente), podemos aceder a uma grandequantidade de informação sobre os maisdiversos assuntos e encontrar novas for­mas de divertimento. No entanto, o re­curso a esta panóplia defuncionalidades empurra os internautas,muitas vezes, para um constante isola­mento, confinados ao seu casulo: o seuquarto. Atribui­se, por isso, à internet aresponsabilidade pela construção de in­divíduos mais individualistas, vivendo,por vezes, num forte isolamento social,pelo enfraquecimento dos laços familia­

por dentro

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Os jovens e a internet

res e da comunicação entre os seusmembros.Importa, no entanto, assumir que a In­ternet, em si, não é boa nem má. Tudodepende do tipo de utilização que se fazdela, do tempo que a sua utilização ocu­pa nas nossas vidas e dos riscos a quenos expomos, consciente ou inconscien­temente.As reacções das crianças aos riscos on­line parecem passar por um espectroalargado de respostas, entre ignorar oproblema, verificar a fiabilidade do sí­tio virtual ou denunciá­lo online, co­mentar com um amigo ou (raramente)com um dos pais, ou ainda, nalguns ca­sos, agravar o problema pelo reenvio aoutros ou por uma resposta hostil.Em geral, as competências online dascrianças aumentam com a idade. Inclu­em, na maioria dos casos, a sua habili­dade em se protegerem de riscos. Estahabilidade é fundamental para que omundo virtual possa ser seguro, o que écomplicado de acontecer, uma vez queesta faixa etária se caracteriza por umagrande atracção pelo risco e pelo desa­fio dos limites impostos.

"Espalhado pelo mundo, existe um apaixonado caso de amor entre crianças e computadores. Trabalheicom crianças em África, na Ásia e na América, em cidades e subúrbios, em quintas e no mato. (...) ricas epobres, com filhos de pais letrados e analfabetos. (...) vi o mesmo brilho nos olhos, o mesmo desejo dese apropriarem dessa coisa. Não se limitando a desejá-lo, parecia que lá no fundo já sabiam que lhespertencia. Sabiam que o podiam dominarmais facilmente e mais naturalmente do que os seus pais.Sabem que pertencem à geração dos computadores".

"A Família em Rede", de Seymour Papert

­ Estabelecer regras de privacidadepara o site: muitos jovens desconhe­cem que são eles que têm de estabe­lecer as regras de privacidade; epensam que a sua página só estáacessível aos amigos que acrescenta­ram.­ Não fornecer informações pessoais

(nome completo, local onde vive, es­cola que frequenta ou endereço, as­sim como conta do Messenger).Deste modo, garante que não se tor­na presa fácil para um predador.­ Não colocar fotografias pessoais:

estudos mostram que jovens adoles­centes colocam fotografias em posessensuais ou mesmo provocantes, co­mo forma de chamar a atenção.­ Não acrescentar alguém desco­

nhecido à lista de amigos: na prática,o risco inclui a possibilidade dessapessoa poder colocar qualquer co­mentário (desagradável ou desapro­priado) na página.­ Recusar encontros com desconhe­cidos: jovens marcam encontros compessoas que conheceram nos sites deredes sociais; aliás, referem que omotivo para pertencerem à rede éexactamente o de conhecerem pesso­as. Ir ter com alguém que não sabe­mos ao certo quem é, pode acarretarsérios riscos.

Conselhos a um jovemin-

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por dentro

Ali@dos às Redes Sociais

Stephanie Santos

Especulações e opiniões negativasacerca das páginas online é que

não faltam, mas a verdade é que “meiomundo” já utiliza as ditas redes sociais.Mas afinal, quais as vantagens da suautilização?Nos tempos de hoje, as redes sociaispermitem fazer algo com muito maisfrequência do que os nossos telemó­veis/telefones permitem.As vantagens são diversas: conhecerpessoas novas, criar amizade com pes­soas nossas conhecidas mas com asquais não estabelecemos uma relaçãosocial, e até mesmo comunicar comamigos e/ou familiares que estejam lon­ge, e com quem não podemos estabele­cer contacto todos os dias, portelemóvel.Já ficou convencido? Ainda não?!Então veja agora três extraordináriasnotícias que começaram mal, mas aca­baram bem (graças ao Facebook).“ Passados 12 anos, depois de ter perdi­do a sua filha, de 10 anos, nas enxurra­das de Venezuela, num dos estadosmais afectados pelos temporais – Esta­

do de Vargas – uma mãe portuguesa en­contra a sua filha através de uma páginade perfil no Facebook.”“ Em 1995, uma jovem americana foiseparada da mãe pelo próprio pai, apósa separação do casal. A mãe da menina,durante anos e anos, não teve quaisquernotícias da filha e do ex­marido. Apóstodos esses anos, a senhora encontrou operfil da filha no Facebook.”“Após um divórcio mal resolvido entreum casal inglês, em que a mãe ficoucom a custódia do seu filho de 2 anos eo pai com direito a visitas regulares,houve um dia em que o ex­marido deAvril Grube – mãe do menino desapare­cido – não apareceu mais com a crian­ça. Durante imenso tempo, Avril e suairmã tudo fizeram para que encontras­sem o seu filho e respectivo sobrinho.Vinte e sete anos mais tarde, Beryl (tiado desaparecido) encontrou a página deperfil do seu sobrinho no Facebook.”A vida não é só redes sociais, mas épossível recuperar a vida através delas.

Com o objectivo de conhecer melhoros usos, riscos e segurança online dascrianças europeias a ““EEUU KKiiddss OOnnlli­i­nnee”” realizou um estudo, junto de cri­anças e jovens entre os 9 e os 16 anoscujos resultados foram divulgadospor ocasião do Dia Europeu da Segu­rança na Internet, assinalado a 8 deFevereiro.Este estudo veio mostrar que as cri­anças têm muitas actividades online,potencialmente benéficas: usam a in­ternet para o trabalho escolar (85%);jogam (83%); vêem clips de vídeo(76%); e trocam mensagens instantâ­neas (62%). São menos as que publi­cam imagens (39%) ou que partilhammensagens (31%), as que usam umawebcam (31%), sites de partilha deficheiros (16%) ou blogues (11%).Sabe­se que 59% das crianças dos 9aos 16 anos têm um perfil numa redesocial – incluindo 26% com 9 ou 10anos, 49% dos que têm 11 ou 12anos, 73% dos de 13 ou 14 anos e82% dos 15 ou 16 anos.Indica, ainda, que mmeettaaddee ddooss aaddoollees­s­cceenntteess ppoorrttuugguueesseess jjáá rreessppoonnddeeuu oouuccoonnttaaccttoouu uumm eessttrraannhhoo oonn­­lliinnee oouuaattrraavvééss ddee ssiitteess ddee rreeddeess ssoocciiaaiiss,, uummaappeerrcceennttaaggeemm lliiggeeiirraammeennttee ssuuppeerriioorr ààmmééddiiaa eeuurrooppeeiiaa..Mais de metade dos jovens (58%) pu­blica fotografias e vídeos de si pró­prios e dos amigos em sites de redessociais e 20% fornece dados pessoais,como moradas de residência e mos­tra, ainda, que 41% partilha os seusendereços electrónicos e de mensa­gens instantâneas.Segundo o estudo, 61% dos jovensnavegam na internet sem qualquer su­pervisão paternal e quase metade dospais (45%) tem conhecimentos «par­cos» ou «quase nulos» das temáticasligadas à web.

Um estudo:as crianças e a web

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Beatriz Canteiro

A ideia da criação do Grupo de Es­tudantes da Escola Secundária,

iniciou­se no 9º Campo de Trabalhopara Jovens da Amnistia Internacional,no Espaço Multiusos de Albufeira, de30 Outubro a 2 de Novembro de 2008.No final do evento, a professora PaulaMadeira aceitou coordenar comigo ogrupo, que foi formalmente aprovado a13 de Dezembro de 2008.

A ideia chave do grupo é implemen­tar na comunidade escolar e nos jovensuma cultura pelos direitos humanos,promover a dignidade humana, e mos­trar a violação dos direitos humanos nomundo. O grupo pode ser constituídopor: alunos, professores e funcionários;realizando debates, colóquios, promo­vendo a acção da Amnistia Internacio­nal na Escola Secundária de Albufeirae na comunidade escolar.No dia 10 de Dezembro de 2008, oGrupo desenvolveu várias actividadespara a comemoração do Dia da Decla­ração Universal dos Direitos Humanos:Maratona de Cartas: 600 petições(2008), 324 (2009). “ Dá vida à cha­ma”­ O desenho do logótipo da Amnis­tia Internacional, a vela da esperança,com a participação de 60 voluntários.(Dezembro 2008).Já realizámos várias actividades: “7º e

8º aniversário do Campo de Detenção

da Base Naval dos Estados Unidos emGuantánamo” (sessões de esclarecimen­to, visualização do filme “ A Caminhode Guantánamo”; cartas de apoio aosprisioneiros). Comemorações: 27 de Ja­neiro – Dia Internacional em Memóriadas Vítimas do Holocausto; 6 de Feve­reiro – Dia Internacional da TolerânciaZero à Mutilação Genital Feminina(MGF, publicação de vários folhetos); 8de Março­ Exposição das Mulheres Ac­tivistas, cartas de apelos; 21 de Março ­Dia Internacional Contra a Discrimina­ção ­­ entre outras actividades, que po­dem ver no nosso blogue(http://grupodaesaai.blogspot.com), fa­cebook (http://www.facebook.com/ho­me.php#!/grupoalbufeira.amnistia),Twitter (http://twitter.com/GrupoESA­AI) e no site da Amnistia InternacionalPortugal (www.amnistia­internacio­nal.pt).Na escola temos também um espaço devitrine com várias informações dasCampanhas, novas actividades, entreoutros temas, junto à biblioteca.De momento somos 4 membros, e al­guns voluntários e necessitamos demais activistas para conseguirmos todosjuntos lutar pelos direitos humanos. Po­dem­se inscrever através do email: gru­[email protected]

Amnistia Internacional:o que é?É um movimento mundial de pessoasvoluntárias que trabalham de forma nãoremunerada pela DEFESA DOS DI­REITOS HUMANOS.A Visão e a MissãoA visão da AI é a de um mundo em quecada pessoa desfruta de todos os Direi­tos humanos consagrados na Declara­ção Universal dos Direitos Humanos enoutros padrões internacionais de Di­reitos Humanos. A missão da AI consis­te na investigação e acção destinadas àprevenção e a acabar com:­Os graves abusos à integridade física emental;. A violação da liberdade de consciên­cia;· A opressão à liberdade de expressão,

a não discriminação, mas sim, dentrodo contexto de uma promoção de todosos direitos Humanos.A Amnistia age junto de:

· Governos;· Organizações intergovernamentais;· Grupos Políticos Armados;· Empresas e Agentes não Estatais;

·Acções Urgentes ( dando infor­mação de pessoas que precisam de aju­da).· Pressiona os governos em aconteci­

mentos públicos, manifestações, reco­lha de fundos, contactos com governos.Campos de Acção

Violência doméstica; violações sexuais;discriminação nas suas várias formas(no emprego, devido ao status social, àorientação sexual); tráfico para explora­ção sexual e como trabalho escravo;mortes “de honra”; ataques com ácido;mutilação genital feminina; liberdadepara todos os prisioneiros de consciên­cia; abolição da pena de morte; erradi­cação da tortura; fim das execuçõesextrajudiciais e dos “desaparecimen­tos”; fim dos abusos cometidos contraos direitos humanos pelos grupos arma­dos; direitos para os refugiados e outrosmigrantes; acabar com o uso de crian­ças soldado; proteger o direito interna­cional e os activistas de DireitosHumanos; acabar com todos os tipos dediscriminação.

do outro lado da escola

Amnistia na ESA.Quem somos?

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para reflectir

Adriano Pereira

A favor:1­ Com o acesso facilitado ao mundovirtual, hoje em dia é raro haver umapessoa que não possua uma ou maiscontas em redes sociais.Em princípio, as redes sociais têm comoobjectivo agrupar horizontalmente umconjunto de pessoas ou organizaçõesque partilham valores e objectivos co­muns. Deste modo, torna­se bastantemais fácil a partilha de informação, co­nhecimentos, interesses e esforços. Oacesso à informação torna­se mais rápi­do, permitindo que esta seja debatidacom pessoas que tenham os mesmos in­teresses mesmo que não pertençam aonosso grupo real de conhecimentos/ami­zades. Outra vantagem é a resposta em­penhada da comunidade para quaisquerdúvidas que surjam por parte de ummembro.Mais recentemente as redes sociais, de­vido à sua popularidade, têm apresenta­do outras vantagens ou oportunidades,quer para empresas quer para divulga­ção pessoal. Em termos de empresas,aproxima­as dos clientes, uma vez queexistem regularmente milhões de utili­zadores, dando uma imagem actual àempresa. É também um modo fácil ebarato de divulgar produtos, marcas eafins, recebendo ao mesmo tempo o fe­edback dos clientes.Em termos pessoais, as redes sociaispermitem dar­nos a conhecer ao mundopor divulgação do curriculum, servindotambém como uma ferramenta para pro­curar oportunidades de emprego; permi­tem­nos encontrar velhos amigos ecolegas, potenciando a comunicação nogeral com qualquer indivíduo.Até no ensino as redes sociais são usa­das, pois permitem ao aluno ter um pa­pel mais activo na aprendizagem, maior

colaboração e partilha de ideias comcolegas e professores e uma maior mo­tivação, por o seu trabalho ser visto pormilhares de pessoas. As redes sociaishoje são sociedades onde cada indiví­duo é semelhante ao outro, e todos têmas mesmas ferramentas para comunicar,passar uma mensagem, promover algo,divulgar causas, etc. (Sophie Gomes)2­ A maioria das pessoas reconhecerá

estas duas palavras, mesmo nunca ten­do utilizado ou sequer visto nenhumadas plataformas. O Facebook e o Twit­ter andam na boca do mundo, mas, ape­sar de parecer que vieram para ficar, averdade pode ser outra. A internet émuito dinâmica e os utilizadores far­tam­se depressa. A história mostrou­nosque estas popularidades não passam demodas. Ao fim de alguns anos surgeuma alternativa que consegue cativar os

utilizadores e convencê­los a migrar,deixando estes sites uma mera sombrado que já foram. Os números regem osvencedores, e neste campo, o Facebo­ok tem estatísticas astronómicas.Como se pode ver, existe muito poten­cial numa rede deste tipo, pois é utili­zada por milhões de utilizadores,constantemente online. Um bom uso éo marketing. Cada vez mais é impor­

tantes as empresas terem algum tipode presença nas redes sociais. Estarpróximo dos utilizadores, ouvir o fe­edback deles e dar uma imagem maishumana à própria empresa contribuimuito para o sucesso da mesma. Tam­bém permite fazer chegar novidadesem primeira mão aos clientes e de umaforma bastante natural e fácil. (JoãoSilva)

Prós &Contras

Recolhemos opiniões diversas sobre o uso de redes sociais no nossoquotidiano, o efeito que elas têm na sociedade e como nos afectam.

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para reflectir

Contra:1­ As redes sociais são inevitáveis nodesenvolvimentoem que vivemos; masquestiono se o seu uso será viável eadequado para todos. Vejamos: para nosinscrevermos nas redes sociais tdamosinformações de contacto; errado, por­que no Facebook, Twitter, os visitantespodem ou não ser de confiança; o génioque teve esta ideia, pensou nisto? não,porque se pensasse arranjaria uma for­ma de ocultar informações dos desco­nhecidos. E será que podemos confiarem toda a gente que conhecemos na in­ternet sem a conhecer na vida real? Pelomenos, antes de adicionar amigos noFacebook, devíamos conhecê­los cara acara. Imaginem a mente ingénua queque decide conhecer cara a cara um cer­to amigo do Facebook e acaba por che­gar à chocante conclusão que conheceulá um mentiroso em quem não podeconfiar e acontece algo terrível comorapto ou violação. Cuidado com o perfilque estes malandros mostram no Face­book. Não aprovo o uso de redes soci­ais, porque costumo criar e desenvolverconhecimentos e amizades à moda anti­ga, cara a cara; e também devido aosriscos que as redes sociais possuem. Es­tas devem ser apenas utilizadas poraqueles que têm maturidade suficientepara reconhecer os riscos que correm aoenvolverem­se nisso. Mas reconheçoque é mais uma fase inevitável do de­senvolvimento social em que nos en­contramos.2­ Eu não tenho uma página de Facebo­ok porque não tiro fotografias quandovou à praia. Ou sair à noite. Ou à casade banho. Eu não tenho Facebook por­que não quero tratar de uma quinta vir­tual. Ou de uma verdadeira, já queperguntam. Eu não tenho Facebook por­que não preciso de uma página de inter­net para saber que a humanidade éparva, dá erros ortográficos e é poucointeressante. Bastam­me os resultadoseleitorais. Eu não tenho Facebook por­que para ver mulheres despidas vou sairà noite para o Cais do Sodré e entro emestabelecimentos com pouca luz ambi­ente. Ou leio os anúncios centrais dosclassificados do Correio da Manhã. Eeu não tenho Facebook, principalmentee mais importante, porque a minha mãetem. Uma pessoa só arranja uma página

Mário Lopes

A internet abre as portas dainformação global: ler os jornais

do mundo tocando apenas umas teclas,aceder a um sem número de enciclopé­dias, etc.As redes sociais são ferramentas destemundo e de uma incontestável actuali­dade; revolucionaram a forma como aspessoas gerem a vida online. Masimporta frisar que redes sociais existemdesde o início da humanidade, seaceitarmos que o homem é um ser soci­al.Já Aristóteles no séc. III AC o afirmava,e já os homens das cavernas que viviamem comunidades pequenas, por contada sobrevivência, se uniam em torno deum objectivo comum; a principaldiferença entre a antiguidade e hoje é ocolapso do tempo e espaço.As maiores redes sociais apresentamnúmeros impressionantes de milhões deusuários no MySpace, Facebook,Windows Live Spaces, Haboo,Frindster, Orkut, entre inúmeros outros.

No entanto, quando uma porta comoesta se abre, é natural que algumas coi­sas negativas por ela entrem. Alguns,do “contra”, afirmam que as redessociais estão ameaçando a vida do serhumano, tornando­o menos humano,mesmo proporcionando a ilusão de quevai comunicando melhor, mas narealidade está a isolá­lo das interacçõeshumanas reais.Entre os defensores ferozes afirma­seque as redes sociais como Twitter, Hi5 eFacebook têm gerado mais comunica­ção, especialmente entre as pessoas quepodem ter dificuldades em se encontrarno mundo real, por causa de grandedistâncias e diferenças sociais.

É visível que muitas pessoasembrenham neste mundo e chega aaltura que não o distinguem do mundoreal, é patente a diminuição de convívioreal, e algumas pessoas se tornamreféns da vida virtual.Agora responda, caro leitor, as redessociais são uma bênção ou umamaldição?

Fenómeno ou maldição?

numa rede social para fazer uma detrês coisas: arranjar sexo, arranjar se­xo ou controlar os filhos, a ver se elesandam a arranjar sexo. Um aviso paratodos os utilizadores de “Facebook”:se não têm amigos na vida real, nãovale a pena fingir que têm na internet.As relações de amizade pelo Facebo­ok estão a tornar­se nas conversas de

elevador do mundo cibernético. Vazias,rápidas e normalmente desagradáveispara um dos lados. E os amigos de Fa­cebook são os novos amigos imaginári­os. A verdade é que o “Facebook” nãoé mais que o “Hi5” depois de perder avirgindade: já não está tão desesperado,mas continua com más companhias.(António Santos)

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In ESA

Make me want to believe theunrealBeatriz Pires

Make me want to believe the unrealMake me want to flyMake my head spin ‘roundMake my heart beat tonight.Make me worth the waitMake me believe in the skyMake me say I’m prettyMake me say I’m gladMake it betterMake it worseMake me dream in black and whiteWhen in dreams I don’t cryMake me want to thinkMake me want to feelMake me strongSo I stand tallMake the broken record stopMake the music play rightLet me want to singLet me survive

I lustração: Joana Rodrigues

Palavras, vós soisA essência de um povoMinha língua, que amo,Como aos poetas que louvoPeço-vos, oh seres superiores,

Não me tirem esta herançaPois Portugal sem portuguêsÉ um país sem esperançaSei que a língua que todos falamEstá em constante mutaçãoPalavras mudam outras criam­seMas são nacionais no coraçãoNão me tirem o que me defineO que me dá gosto e prazerA raiz da minha menteA fonte do meu poderSou português, orgulhosoE com orgulho digo “acção”Não mudo a minha escritaE não vos entrego a razão.

Novo AcordoOrtográfico

InterligadoDiogo Amaral

Ontem fiz um amigoE outro amigo desamiguei,Fui até longe, viajei,E perdi­me, destemido.E repeti-lo hoje consigo,

Se quiser, me aventurarei!E sem medo, partireiÀ busca do desconhecido.E em tais notícias boas,Com que esqueço todas as guerras,Isto espero que se dignifique:Seis biliões de pessoas,Milhões e milhões de terras,À distância dum mero clique.

Fenómeno ou maldição?

Envia exemplos da tua criaçãopara eessaaccttoo@@eessaa..pptt: poesia,ilustração, narrativa, música,foto, pintura.Inspira-te, investe no original!O ESACTO publica.

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Na primeira pessoa

Margarida F. Garcia(advogada), sobre o crimede violação da privacida-de

É frequente a ocorrência de crimesde invasão de privacidade?Como introdução ao tema que escolhe­ram para o programa Faça­se Justiça, éimportante salientar que o Direito à Pri­vacidade é um direito fundamental doCidadão e, como tal, constitucional­mente consagrado no artigo 26.º daConstituição da República Portuguesa.Infelizmente, e cada vez mais, ocorremsituações que podem configurar crimesde invasão de privacidade. O desenvol­vimento dos meios de comunicação esobretudo o acesso à internet potenciameste tipo de crimes. Com efeito, um usomenos correcto das redes sociais, blogsetc., potencia a verificação destes tiposde crime.Todavia, tal não significa necessaria­

Na edição especial para a Semana Faça-se Justiça, o ESACTO convidou para uma entrevista a advogadarepresentante do escritório Abreu Advogados, de Lisboa, que presta apoio ao projecto. O tema dasperguntas aqui propostas é o crime de violação de privacidade e manipulação de dados pessoais, maisconcretamente o que ocorre no processo de julgamento e como ocorre o mesmo, não deixando para trása pena que costuma ser aplicada ao culpado destes processos e à gravidade que este crime tem naordem social.

mente que ocorram, por um lado, maisqueixas em Tribunal (as vítimas po­dem preferir não recorrer à via judici­al) e, por outro, mais condenações porestes crimes, tendo em conta que se ocrime for praticado com recurso ameios informáticos a prova a realizar écomplicada e extremamente técnica.Para termos uma ideia, no Código Pe­nal estão previstos diversos tipos decrime, como por exemplo, abuso dedireito à imagem, ofensa ao bom no­me, violação de correspondência, notratamento de dados pessoais em con­dições ilegais, etc.Poderá clarificar os efeitos que estescrimes de invasão de privacidadetêm sobre as vítimas?Os crimes de invasão de privacidadetêm um cariz comum de devassa da vi­da privada. Ora, naturalmente que de­pendendo da gravidade da violaçãoque esteja em causa, tipicamente estadevassa tem um efeito psicológico ne­fasto sobre a pessoa que é objecto docrime. Tornar um facto que pertence àesfera da vida privada da pessoa para a

esfera pública da vida de alguém afectasobremaneira o quotidiano. Aliás, sepensarmos que a revelação de determi­nado facto pode atingir a escala mundi­al, podemos ter ideia do impacto que talviolação terá moralmente na vítima.Já alguma vez representou a vítimaou o arguido em crimes desta nature-za?Directamente nunca representei uma ví­tima nem um arguido. Todavia, no es­critório existem diversos casos destanatureza.Para continuarmos a entrevista e paraque esta tenha utilidade e interesse, voureportar­me a um caso em que repre­sentávamos a vítima e em que o argui­do era acusado de ter praticado o crimede violação de correspondência (previs­to nos artigos 192.º, 193.º e 194.º doCódigo Penal).Este processo – à semelhança de muitosprocessos crimes desta natureza – ter­minou por acordo. O arguido apresen­tou um pedido de desculpa formal aoqueixoso (vítima que, no âmbito doprocesso, apresentou a queixa­crime

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Margarida F. Garcia(advogada), sobre o crimede violação da privacida-de

em causa), tendo pago uma indemniza­ção por danos morais.Quando participa nestes processoscomo costuma ser o teor da senten-ça? A favor da vítima ou do arguido?Por que razão?Desde logo, a sentença é proferida nolivre arbítrio do Juiz, o que significaque, mediante a prova produzida, oJuiz tem total liberdade para ponderar edecidir. Podemos apontar uma tendên­cia para que as decisões sejam favorá­veis à vítima.Normalmente como é que o arguidocostuma agir quando é acusado deum crime de infracção de dados pes-soais (como se defende?)?O arguido tem duas formas de se de­fender: ou confessa o crime (o que fun­ciona como atenuante da pena quevenha a ser aplicada) ou poderá contes­tar a acusação, apresentando e reque­rendo as provas que julgue necessáriaspara demonstrar inocência.E a vítima, qual é a sua atitude nojulgamento de um caso semelhante?Pela delicadeza do assunto, neste tipo

de crimes contra a privacidade da víti­ma é habitual que se requeira que a au­diência decorra à porta fechada.Durante todo o processo e sobretudodurante a realização da audiência dejulgamento, em que, por regra, todos osintervenientes estão presentes, a vítimasofre sempre em termos morais. Nãonos podemos esquecer que estão a serdiscutidos aspectos íntimos e pessoais.Qual costuma ser a pena aplicada aoarguido caso ele perca o caso?A pena aplicada depende do tipo de cri­me que especificamente esteja em cau­sa.No que respeita ao crime Devassa daVida Privada (artigos 192º e 193.º doCódigo Penal), está em causa uma mol­dura penal de pena de prisão até 1 anoou pena de multa até 240 dias, e se pra­ticar o crime com recurso a meios in­formáticos, pena de prisão até 2 anosou com pena de multa até 240 dias.A fixação da pena em concreto dentrodas balizas da moldura penal varia con­soante as particularidades do caso con­creto. Como já dissemos, a confissão

do arguido pode conduzir à aplicaçãode uma pena mais leve.Será também importante referir que aLei de Protecção de Dados (Lei 67/98de 26 de Outubro) prevê a aplicação deinfracções e crimes, assumindo nestecaso relevância a entidade reguladoraComissão Nacional de Protecção deDados (www.cnpd.pt).Qual é o grau de gravidade deste tipode crimes, na sua opinião?Os crimes contra a reserva da vida pri­vada revelam uma gravidade preocu­pante e cada vez maior. Uma sociedadecada vez mais informatizada propicia aocorrência de excessos de intromissãona vida de terceiros e que podem serqualificados como crime. Actualmente,facilmente uma violação da esfera pri­vada é difundida a uma escala mundial– veja­se a facilidade com que se divul­gam conteúdos em sites como o YouTube ou nas diversas redes sociais (Fa­cebook, etc.).Eu e outros colegas estamos envolvi-dos no projecto nacional “Faça-seJustiça” que pretende sensibilizar os

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jovens para a necessidade de umautilização responsável da Internet,nomeadamente no que respeita à pu-blicitação dos dados pessoais, e deoutros casos como violência no na-moro, bullying, etc. Gostaríamos desaber o que a senhora advogada achadeste projecto e, se puder, dar-nosum conselho.O programa Faça­se Justiça é umaoportunidade para alertar a consciênciacívica das pessoas em geral e sobretudodos alunos participantes, para aspectosda conduta que devemos ter na vida emsociedade. Permite ainda que se tenhacontacto como o que a Lei prevê, bemcomo que se converse sobre questõesmorais importantes. Através do progra­ma são, assim, debatidas situações ”tí­picas” em que não nos podemosesquecer dos direitos das outras pesso­as. Isto permite um acesso à informa­ção que, à partida, estaria vedado nestafase da vossa vida, consistindo numpasso importante para o desenvolvi­mento e formação de todos os partici­pantes, saindo todos a ganhar com oFaça­se Justiça.Uma última nota apenas para vos daros parabéns pela iniciativa de participa­rem no programa, por realizarem estaentrevista e terem um jornal vosso. Es­pero que a entrevista tenha sido útil eaproveito para desejar o maior sucessopara a vida profissional de todos e,quem sabe se um dia, não serão tam­bém Advogados!

O Programa "Faça­se Justiça" nasceude um desafio lançado pela FórumEstudante e dinamizado na ESA por umgrupo de alunos do 12º D, no âmbito daÁrea de Projecto.Visando promover a educação cívicapara a Justiça e para o Direito e aconsciência cívica, a semana “Faça­seJustiça”, decorreu entre 21 e 25 deMarço. Entre as diversas actividades,destacamos as sessões sobre Amnistia

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Internacional, a simulação de umaassembleia das Nações Unidas e asimulação de um “julgamento” decrime violação da privacidade emRedes Sociais. A próxima edição doESActo continuará adar destaque aesta problemática do crimerelacionado com as redes sociaisdigitais.

Programa da Semana"Faça-se Justiça"

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José Fernando Carvalho

(professor de Filosofia)

As inúmeras teorias políticas que atéhoje foram criadas têm como pano

de fundo o valor ético da justiça. Inúmerosfilósofos, ideólogos, pensadores religiosose investigadores ligados às ciências soci­ais, definiram as condições que tornariampossível construir uma sociedade harmoni­osa, que respeitasse simultaneamente o va­lor absoluto de cada indivíduo e osdiferentes graus de mérito dos seus mem­bros. Agrada­me particularmente a teoriado filósofo norte­americano John Rawls,desenvolvida no seu livro "Uma Teoria daJustiça". Porque valoriza de igual modo aliberdade e a igualdade. Concilia a defesados direitos e liberdades individuais (noque segue as ideias de pensadores liberaismais antigos, como John Locke, Montes­quieu, Adam Smith, entre outros), e a pro­moção de medidas (delineadas econcretizadas, em primeiro lugar, pelasinstituições do Estado) que diminuam adesigualdade no acesso às diversas posi­ções e cargos sociais, e redistribuam, deuma forma justa, as riquezas e bens gera­dos pela vida em comum, tendo em contaas necessidades diferenciadas dos váriosgrupos sociais. Na obra Uma Teoria dajustiça, John Rawls apela a que construa­mos uma sociedade na qual cada indivíduopossa criar e seguir um estilo de vida pró­prio (reconhecendo igual direito aos ou­tros) e, simultaneamente, beneficiar decondições materiais e educacionais que lhepermitam lutar, em igualdade de circuns­tâncias, pelas melhores posições sociais.Rawls recupera também o conceito de de­sobediência civil (que John Locke já haviaproposto, na sua obra Tratado sobre o go­verno civil, escrita no século dezassete), oqual consiste no direito que os cidadãostêm de desobedecer às leis do governo(que supostamente os deveria representar),quando essas leis violem claramente as li­berdades e direitos sociais dos governa­dos. Contudo, quem desobedeça à lei deveaceitar as punições associadas (caso con­

trário, seria abalado o fundamento dalei jurídica e da vida social – o poder delegislar concedido aos governantes pelopovo). O direito à indignação e à con­testação deve exercer­se com persistên­cia, de forma pacífica, e apresentandoideias, programas de acção (contestar,sem propor soluções equilibradas, éuma mera descarga da energia de revol­ta).Exemplo, quando um governo (está aacontecer nos países europeus), cria su­cessivamente leis que põem em causa odireito ao trabalho, tornando­o um bemprecário, ou quando aflige de impostosa classe média e os mais desfavoreci­dos, mas não revela a mesma determi­nação no combate à fuga de impostos ede capitais efectuada pelos donos do di­nheiro e especuladores financeiros, nãomerecerá tal actuação um repúdio vee­mente por parte da população?! – Claroque sim! E temo, embora não o deseje,que a contestação social suba de tom amuito curto prazo e possa adquirir con­tornos de violência, face ao agravamen­to flagrante das condições de vida daspopulações. A miséria e a descrença nofuturo são dinamite. Contudo, quero di­zer­vos, vós que sois alunos e jovens,que não basta protestar e dirigir a ener­gia de revolta contra os grupos de po­der; também é necessário que formeisgrupos de reflexão e de acção, que pen­

seis em formas construtivas de inter­vir nas vossas comunidades, em vezde ficardes à espera da mão bondosado Estado. Os próximos anos som­brios trarão uma mudança de costu­mes, muito menos conforto, e umdespertar gradual para a importânciade apostardes todas as fichas naaquisição de conhecimentos, com­petências técnicas e intelectuais, há­bitos de trabalho e desenvolvimentoda criatividade (vencer esta criseexige o uso da imaginação social,para além, no plano ético, do exercí­cio da responsabilidade solidária).Vivemos num mundo global muitocomplexo, excessivamente povoadoe com recursos limitados; no entan­to, todos querem gozar o mais varia­do leque de prazeres, o que exigedinheiro. Uma das respostas maiseficazes à crise actual talvez seja ca­da um de nós cultivar prazeres sim­ples, saudáveis e baratos, tais comopraticar desporto, contactar com anatureza, ler, escrever, aprender atocar um instrumento, praticar yoga,etc., ou ainda, cada um estar atentoao dom que possui e esforçar­se pordesenvolvê­lo. Deves lutar contra ainjustiça que vem de fora. E devesmudar a tua forma de viver, tam­bém.

para reflectir

A propósito da teoriada justiça de John Rawls

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Rede social:Um refúgio para a vida

Beatriz Canteiro

Muitas razões podem levar umacriança ou um adolescente a re­

fugiar­se no mundo das redes sociais.Medos, frustrações, até a rejeição deum namorado ou namorada, podem le­var a uma busca social, em que as pes­soas necessitam de criar um mundo queconsigam controlar, como se uma pes­soa conseguisse ser facilmente esqueci­da apagando o seu registo do grupo deamigos criados nessa rede.Esse refúgio pode levar um adolescentea deixar­se levar por conversas que temnalguma rede social, basta encontrar al­guém que, por exemplo, se faça passarpor pessoa da mesma idade, dar oapoio que ela necessita e é muito fácil

cair na armadilha, combinando encon­tros com desconhecidos que, quando sedescobre, afinal são adultos. Adultoscapazes de lhe fazer mal de alguma for­ma.Já todos ouvimos relatos sobre este as­sunto, na televisão ou em jornais, e fi­camos sempre chocados, pensamoscomo será possível uma pessoa cair nu­ma armadilha destas? Não teria descon­fiado logo? O problema é que nemsempre é fácil. Basta vestirmos a pelede uma criança de 12 anos, um pré­ado­lescente, que pensa por exemplo queum namoro mal sucedido é o fim domundo. E pensarmos o que faríamos seum desconhecido nos viesse consolar,

acreditando sempre que se trata de umapessoa da nossa idade.Este problema parte de um princípio:deverá haver um ambiente familiar fa­vorável, um pai ou uma mãe ausentes(ou até mesmo ambos) podem causaruma carência de afecto nos adolescen­tes, pois a adolescência é talvez das fa­ses mais complicadas da vida. É precisohaver um interesse pela parte dos pais,um controlo saudável. Ter conhecimen­to daquilo que os filhos fazem é meiocaminho andado para eles se sentiremmelhor consigo próprios.

para reflectir

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PSJ

Uma bala, uma granada, dinamite, napalme outras coisas do género podem ter revo­lucionado o mundo, é que aleijam muito, ematam. Mas como é que se mede a forçade uma revolução? Pelas mortes que pro­voca? Pelo medo? Ou pelas mentes quemolda? Uma ideologia que se transmita,não por força das armas, mas antes, pelamanipulação, mostra­se mais forte quequalquer bala, granada, bomba, e por aí afora. A civilização evoluiu de modo a sa­ber distinguir uma das formas de revoluci­onar o mundo e, talvez, a condená­la – noseu uso manipulativo – mas ignorou a ou­tra, e é a maior vítima da influência, dasideias que o círculo mediático que nosmolha como a água da chuva inglesa, doqual não conseguimos (facilmente) espa­car, e secar.E, por isso, habituámo­nos aolhar para as coisas através de uma únicabancada aonde o teatro está a ser feito, eum longo pano vermelho cobre parte dopalco.A partir de Outubro de 2006, a Wikileakscomeçou a furar – ínfimos buracos – nestelongo, espesso, e temeroso pano verme­lho, e consegue fazer esses furos estaremacessíveis para todo o mundo, talvez amaior arma criada pelo Homem não tenhasido a bomba nuclear, mas sim a Internet,tudo, à distância de um clique, e a consci­ência, à distância do compreendimento, eda objectividade.Organizado por dissidentes, jornalistas, epor outros nos Estados Unidos, na Europa

e um pouco no resto do mundo, atrás docarismático publicador, jornalista e in­formático australiano, Julian Assange, oWikileaks tem como objectivo primárioo de não só expôr a opressão e a viola­ção de Liberdades como nos paísesasiáticos e no ex­bloco soviético, mascomo também de criar nos países consi­derados “democraticamente legítimos”Governos Abertos – aonde a informa­ção do Estado carece de qualquer restri­ção para qualquer cidadão que se queiraacedê­la, de qualquer tipo de informa­ção! este conceito de governo, criadopelo Iluminismo Europeu é tido comouma pedra basilar para a formação desociedades democráticas, as mais justaspossíveis.Haverá alguma coisa que os governosnos tentam esconder? Atrás da imagemde honestidade e firmeza, haverá algu­ma coisa, suja, cuja nódoa, mesmo cui­dadosamente lavada e escondida possapôr em causa a confiança que temos pe­la legitimidade do Estado? É o que oWikileaks tem feito, puxado a roupa su­ja para fora e mostrar estas nódoas aomundo.Entre o que as maiores nações tentamesconder, parte disso, tem sido publica­do, no site da Wikileaks (e em difundi­do para dezenas de sites­cópia)encontram­se informações militaresconfidenciais norte­americanas relati­vas à guerras do Médio Oriente ,tais co­

mo o Bombardeamento de Bagdadeem 12 de Julho de 2007 – aondesurgiu a questão a matança indiscri­minada pelos EUA aos inocentes(entre os quais, dois jornalistas); e,recentemente, em Novembro de2010, libertou uma enorme colectâ­nea de comunicação diplomáticanorte­americana, o que levou aquestionar a segurança nos sistemasde armazenamento de informaçãoconfidencial nesse país.Uma questão levanta­se àcerca davulnerabilidade dos países que oWikileaks expõs, mas a segurançade um país consistirá unicamenteem esconder factos dos seus cida­dãos? Será a nossa ignorância o me­lhor meio para a nossa segurança? AWikileaks pensa que não, e assimvai continuar, a descobrir qualquerpodre que possa tornar público, e...publicá­lo.É uma mudança dos tempos, aondeos Estados estão ser despidos do seusecretismo, e aonde os outros têmganho, à distância de um clique, averdade por atrás do pano. Talvezseja o que o símbolo desta organiza­ção queira expressar, o mundo, apósa filtragem pela ampulheta, não seráo mesmo. Talvez mais claro?

para reflectir

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Arrancá-lo, senão, pelomenos furá-lo.

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Independentemente de tudo o quepossam ter lido, ouvido ou mesmo

antecipado sobre "A Rede Social", es­te não é um filme sobre o Facebook.A Rede Social narra a vida caótica deum nerd informático de Harvard queconstrói um site de relacionamentosque mudou decididamente a formacomo comunicamos. A palavra Face­book faz hoje parte do léxico diáriode pelo menos 500 milhões de utiliza­dores do site de Mark Zuckerberg, co­mo extensão das suas vidaspessoais.Além disso, também duranteo seu desenrolar, duas disputas legaisbilionárias que Mark Zuckerbeg so­freu, primeiro acusado de plágio pelos

“A Rede Social”gémeos Winklevoss e posteriormentepelo amigo brasileiro Eduardo Saverinque queria o reconhecimento como co­fundador do site.Jesse Eisenberg mostra­se a escolhaperfeita para viver Zuckerberg, com asua aparência nerd e de pouca habilida­de em se relacionar com outras pesso­as. Justin Timberlake vive o criador doNapster, Sean Parker com bastanteenergia, e apesar de ser apresentado noargumento como um oportunista, so­mos levados a gostar do jovem devidoao óptimo trabalho do actor/cantor;aliás, ele surge como uma espécie deherói para o protagonista, mas quemmerece o principal destaque no filme é

o grandalhão Armie Hammer que inter­preta os gémeos Winklevoss e AndrewGarfield que tem um arco dramáticomenor, no entanto, muito bem aprovei­tado pelo actor. Fincher volta à velhaforma depois do problemático Benja­min Button dirigindo o filme de manei­ra comedida, mas sem abrir mão dabeleza estética sempre presente nosseus trabalhos.Ao fim e ao cabo, A Rede Social é semdúvida o filme mais consistente e rele­vante do ano, e sem trocadilhos, repre­senta o perfil da nossa geração.Contudo, é um grande filme sobre coi­sas muito mais universais do que o Fa­cebook.

FICHA TÉCNICATítulo Original: The SocialNetworkDirector: David FincherElenco: Jesse Eisenberg,Andrew Garfield, RashidaJones, Brenda Song, JustinTimberlake, John Getz, DakotaJohnson, Mark Saul, BrianPalermoArgumento: Aaron Sorkin(baseado no livro de BemMezrich)Género: Drama

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para ver

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Neste espaço do ESACTO damos a conhecer à Comunidade Escolar os projectos dos alunos do 12º ano,na disciplina de Área de Projecto. Tem, como móbil, dar maior projecção aos objectivos que os nossoscolegas se propõem alcançar. Nesta edição focamos os projectos das turmas 12ºB e C.

Geologia do mel

Joana RussoMarisa JorgeNicolae SirbuTania BritoEste projecto vai relacionar a disciplinade Geologia e de Biologia com aapicultura: irão ser recolhidas amostrasde mel que serão analisadas paraperceber se a flora influencia o mel e sepor sua vez esta é influenciada pelageologia do local. Para analisar asamostras de mel irão ser feitaspreparações definitivas para que faciliteo visionamento futuro das amostras,pois pretende­se levar este projecto aoCongresso Nacional Cientistas em Ac­ção.As células estaminais

Inês DiasJéssica SoaresJéssica PimentaMárcia PaisTrata­se de um projecto sobre ascélulas estaminais, que, dada a suacomplexidade a nível científico, iráconter uma grande parte de pesquisa einvestigação. Pretende­se contribuirpara um conhecimento mais profundo eum progresso na divulgação da suapotencial aplicação e, também, dasquestões éticas e morais associadas. Oresultado do trabalho, caso possuaqualidade suficiente, poderá serintegrado no concurso Viagem aoFuturo com as Células Estaminais".

por dentro

ESA ecológica

Ana CabritaAna SilvestreBernardo Barroso

Joana GuerreiroO projecto tem como objectivossensibilizar todos aqueles quecontribuem, intervêm na nossa escola,para causas tão importantes como aseparação de resíduos e a eficáciaenergética. Para tal vão ser propostaspequenas acções (como o uso dos doislados das folhas nas impressõesfotocópias, optar pela luz natural aoinvés da artificial nas salas, etc.) eestratégias para minimizar os custos eos impactos ambientais daescola.Pretende­se contribuir para quea ESAlbufeira se torne numa escolamais ecológica e eficiente (a partir dosrecursos já existentes); e que as acçõesprevistas sirvam de exemplo para opresente e para o futuro. Espera­sesobretudo educar e tornar o dia­a­diade cada um mais consciente.Problemática da produção econsumo do óleo alimentar

Nadine MessiasRita PrimorRoxane Von HauwaertTetyana VoznyukEste projecto basear­se­á no estudo daprodução, consumo e destino final doóleo alimentar. É imprescindível ter anoção da origem e dos processos pelosquais passam as matérias­primas até setornarem produto de consumo. Devido

ESA envolvida

ao consumo exorbitante deste alimento,a quantidade dos resíduos aumentou,tendo isto causado um problema a nívelmundial acerca do destino final maisviável e menos prejudicial para oambiente do óleo usado, mantendo,assim, a sustentabilidade do planeta.Comer bem, sentir bem

Alexandra MartinsAlison PrataEste projecto tem como tema a

alimentação saudável, sendo o seuobjectivo consciencializar os alunos eoutros elementos da comunidade escolarda ESAlbufeira relativamente aoshábitos alimentares equilibrados. Serãodesenvolvidas várias actividades dentroda escola ao longo do 2º Período quevisam a promoção de uma alimentaçãomais cuidada no ambiente escolar. Asalunas estão a articular com um outrogrupo de trabalho do 12º A que tambémse encontra a trabalhar o mesmo tema.

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O ESACTO apoia a divulgação deprojectos e actividadesdesenvolvidas por alunos.Originais ... ainda melhor!Participa, envia as tuassugestões para eessaaccttoo@@eessaa..pptt

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Museu Geológico da ESAJessica AmaroPaulo ConceiçãoTânia Carmo

Tatiana MartinsO projecto pretende dar um contributopara o início da construção do MuseuGeológico da ESAlbufeira, consistindoem criar um espaço próprio dedicado àGeologia do país. Este projecto baseia­se na recolha de amostras de rochasexistentes em diferentes zonascaracterísticas de Portugal para depoisas organizar por tempo geológico, emcolunas litostratigráficas sintéticas,com o objectivo de dar a conhecer aosalunos a geologia de Portugal, no geral,e do Algarve, em particular. Maispormenorizadamente, os alunostambém vão estudar a geologia doAlgarve e construir um kit com asrochas predominantes desta zona.A realização deste projecto visa oenriquecimento de materiaisdisponíveis na escola na área da

geologia, de modo a despertar interessesobre este tema nos alunos desta e deoutras escolas do país. Pretende­se queeste projecto esteja inserido ou façaparte de outros projectos a nível deescola como o da Rocha Amiga, doPrémio Fundação Ilídio Pinho e doPrograma A Empresa da JuniorAchievment.Olhos de Água descobrir parados seus bens usufruirLaryssa BarbaraRicardo CorreiaVanessa GonçalvesO projecto em questão surgiu porquedevido ao pouco conhecimento que asociedade tem relativamente à Biologiae Geologia de locais como os Olhos deÁgua, do desaproveitamento dabiodiversidade e geodiversidadeexistente. Após a recolha de informaçãosobre o local, pretende­se a construçãode painéis, cartazes, panfletos e outrosmeios de divulgação, que poderão serutilizados por turistas, alunos e outrosinteressados, de modo a conhecermelhor a riqueza natural dos Olhos deÁgua. Este trabalho está inserido noprojecto em colaboração com a CâmaraMinicipal de Albufeira – 1º Roteiro deEspaço Educativos de Albufeira.

Os 25 anos da ESAlbufeiraretratado no passado, presente efuturoAnacristina HahnDavid Cabrita

Izadeine PereiraO projecto baseia­se na comemoraçãodos vinte e cinco anos da EscolaSecundária de Albufeira. Vai­seconsolidar o passado, o presente e ofuturo da escola num trabalho depesquisa (entrevistas e recortes deimprensa) de forma a conseguirconstruir a identidade física e históricado estabelecimento. Sem comprometero passado, vai­se utilizar as nossasperspectivas do presente para que decerta forma se possa conseguir traçaruma escola do futuro numa perspectivade auto­sustentabilidade a nívelenergético e de alguns recursos como aágua. No final toda a informação seráreunida em suporte digital de modo apoder ser uma referência do passado,

os projectos do 12º B+ ESA envolvida

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Em destaque na próxima edição do ESActo:

Um olhar sobre a educação no ensino superior por João Rafael

A experiência dos alunos no Parlamento dos Jovens

Considerações acerca da palestra sobre Padre António Vieira

Não percas!

In ESAlbufeira

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In ESAlbufeira

Esa Envolvida

ESA Virtual

ESA Virtual é um projecto dinamizadopelos alunos: André Tinoco, AndreiaSaraiva, David Lopes, Filipa Correia eMafalda Paixão da turma C do 12º anoe que tem como principal objectivo adivulgação do espaço escolar em meioinformático através de um clique,directamente relacionado com oaniversário dos 25 anos da escolasecundária de albufeira, ESA Virtualpretende ser uma das memórias criadasem que se pode percorrer este espaçono ano lectivo 2010/2011,imortalizando­o ao longo do tempo.

ESA renovável em pontopequeno

O nosso projecto "ESA Renovável emponto pequeno", consiste na realizaçãoduma maqueta da ESA, a qual vaiconter as energias renováveis quedeveriamexistirnumaescola,para esta ser mais ecológica, tentandoimaginar como seria a nossa escaladaqui a 25 anos.A maqueta vai ter uma escalaaproximada a 1:150 de todos os locais eobjectos pertencentes à mesma, ondeiremos incluir as energias renováveis,tais como a energia eólica, energia solare a biomassa.

Projecto Dynamis

O nosso projecto consiste emconstruir uma réplica de um carroantigo que irá representar os 25anos da Escola Secundária deAlbufeira. Este carro irá adoptar umdesign de um carro antigo mastemos como objectivo juntar todo oseu aspecto “clássico” com a maisrecente tecnologia. O nosso carroirá ser telecomandado à distância,irá transmitir imagens em temporeal para o computador (através deuma micro câmara), entre outrasinovações.

os projectos do 12º C

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In ESAlbufeira

Catarina Rodrigues, Formadora do CNO

De todas as leituras que tenho feito, decidi partilhar convoscouma que é para mim uma referência a que voltorecorrentemente. Trata­se da obra Ética para um Jovem (Éticapara Amador, no original) do filósofo espanhol FernandoSavater. Savater escreveu este livro para o seu filho, Amador,que tinha na época quinze anos.Ética para um Jovem não é um manual de ética, não pensemque vão encontrar nele soluções para as grandes questõeséticas universais ou para dilemas morais. Pelo contrário, estaobra é anti­pedagógica, aliás, como todo o exercício filosóficodeve ser: “O seu objectivo não é fabricar cidadãos bempensantes (nem muito menos que não pensem), mas estimularo desenvolvimento de livres­pensadores”. É este o convite doautor: Ousemos pensar! Porque a maioridade da razão só sealcança quando cada um de nós faz um uso livre e próprio dasua razão. Este apelo é actual e urgente: não deixemos queoutros pensem e decidam por nós…Neste livro o autor partilha connosco um percurso reflexivoque nos introduz a questões que todos colocamos, obrigando­nos a desconstruir por nós mesmos as pequenas hipocrisiasque nos vão servindo de desculpa para não sermos melhorespessoas.A grande questão ética: “O que devo fazer?” é aqui esmiuçadanuma abordagem acessível e linguagem simples. Aborda,entre outras, questões como a da liberdade, daresponsabilidade, do dever, da mentira, do valor daHumanidade e do amor.Mostra­nos que no meio de todas as normas e leis, deveres eobrigações, há um espaço de liberdade individual. Mais, essaliberdade não é opcional: somos livres e não podemos deixarde o ser, mesmo que o queiramos. Porque “quem éresponsável é consciente do real da sua liberdade”.Novamente surge a questão “o que devo fazer?” – E o quedevo fazer para quê? – Para ter uma vida humanamente boa.A resposta encontrá­la­á cada um por si. Mas talvez a encontremais facilmente se aceitar embarcar na viagem desta leitura.Este livro, tal como o tema que aborda, não tem idade, nemcaduca com o passar do tempo. É próprio para jovens queprocuram um caminho e para adultos que se esforçam por nãoperder o rumo. Porque ajuda à reflexão, para que na lufa­lufado dia­a­dia não percamos a perspectiva do que realmente éimportante: o que devo fazer para ter uma vida humanamenteboa.O desafio ético é o desafio da liberdade: Ousemos pensar,ousemos ser livres... Boa leitura!

Ética paraum Jovem

Masterclassesem Física dePartículas

A 7.ª edição das Masterclasses em Física de Partículas,que decorreu no dia 16 de Março, nas instalações da

UAlg, tem o objectivo de dar a conhecer aos alunos do ensi­no secundário a área de física de partículas e os institutos eas universidades onde é disponibilizada.É uma iniciativa organizada pelo Laboratório de Instrumen­tação e Física Experimental de Partículas, LIP, em colabora­ção com instituições do ensino superior e apoio da AgênciaCiência Viva.Com o lema «Ser cientista por um dia... Com as mãos naspartículas!», este evento internacional decorre no âmbito doInternational Particle Physics Outreach Group. As activida­des abrangem um total de 115 locais, em 20 países europeuse nos Estados Unidos, na África do Sul, no Brasil e em Isra­el, contando com a participação de aproximadamente 6000estudantes do ensino secundário.O intenso programa permitiu dar a conhecer aos jovens o ci­clo típico da actividade de um cientista: aprendizagem, ex­perimentação, discussão e apresentação de resultados,incluindo a auto­avaliação.Houve palestras de actualização sobre a física de partículase o Universo, uma sessão de trabalho com cientistas da Uni­versidade do Algarve e do LIP, videoconferências sessões deperguntas e respostas moderadas por um cientista localizadono European Organization for Nuclear Research.Na edição deste ano, a ESA esteve representada por um gru­po de alunos dos 11º e 12º anos, que tudo fizeram para dig­nificar o nome da instituição, bem como o trabalhodesenvolvido pelos professores.

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para ler

PSJ

A7 de Novembro de 1913 nasceu,de origem algo humilde, Albert

Camus, um elemento marcante na Filo­sofia no século XX, desenvolvendo asua linha de pensamento na sua vastagaleria de obras, que se extendem desdeas peças dramáticas, ensaios, e roman­ces, que valeu a Camus, em 1957, oNobel de Literatura, pelo seu contribu­to, pelo seu agudo olhar ao mundo. Em1942, foi publicado O Estrangeiro.É­nos possível, actualmente, vivermosuns com os outros, sem grande receiode assassinatos, canibalismo, sermosenterrados vivos por pura diversãoalheia, e outras quimeras que se possamimaginar (ora, inventem). Assim conse­guimos fazer porque fomos ensinados aagir correctamente, a distinguir bem domal – pelo menos os bens e os malespúblicos – é curioso, este caminho,aquela chapadinha por roubarmos doci­nhos à socapa, por metermos a mão nascalcinhas, e as ovações de regogizo,quando fazemos alguma coisa certinha.E assim crescemos, a maioria de nós,sem magoar (muito) ninguém, e esta­mos preparados para preparar os futurosseres humanozinhos, para o benefícioda espécie e, claro, para a eternidade dacivilização. Será esse processo perfeito?Meursault, um francês argelino, envol­ve­se com uma colega de trabalho (se­jemos claros, sexo), bebe vinho àgrande (e à francesa) com o seu vizi­

nho, vai à praia, aprecia a coisas bo­as da vida, diverte­se a um olharalheio ao ambiente. Estará algo deerrado nessa conjectura hedonística?Ah! pois! escassos dias antes, Meur­sault teve que ir a um funeral, daprópria mãe! Pergunta­se, como po­derá este homem, órfão, desfrutar dosexo, do álcool, das areias da Argéliaquando a figura que lhe deu à luzacaba de se transformar em algoinerte, sujeito, com o seu caixão, aoselementos? Meursault é, por isso, umestrangeiro, um estrangeiro na suaprópria sociedade que o incompreen­de, e que, com essa incompreensão ocensura, talvez numa tentativa de opuxar à razão,razão colectiva, claro.No entanto, alguma censura servirá aum homem que não se expressa nofuneral da própria mãe. Meursaul, talcomo Camus disse, arrisca­se a sermorto pela sociedade que não o com­preende.Uma obra que aborda entre outros te­mas, o Absurdismo, um exploraçãodo ilógico, que choca, a olhar educa­do, publicamente.Camus morreu em1960, de acidente de viação. Ironica­mente, se tivesse dado uso ao bilhetede comboio que foi encontrado noseu bolso, talvez ainda nos sobrevi­vesse. O relógio de bolso dele parouà hora do acidente, 13:55.

[geraçãomusical]

Diogo Mendes

Amúsica de intervenção está de volta.Não, não voltámos aos anos 70, nem o Ze­ca Afonso se levantou da sua campa.Para compreender o fenómeno da músicade intervenção dos novos anos 10, não te­mos de recuar até aos tempos do regimeditatorial.Pegando um pouco no tema do mês passa­do, em que abordei o movimento under­ground em Portugal, parece que umadessas bandas que eram relativamente co­nhecidas, começaram movimentos revolu­cionários.Os Deolinda, com um tema chamado “Par­va Que Sou”, começaram o movimento daGeração ‘À Rasca’. A sua letra aborda te­mas como o desemprego a nível dos jo­vens que vivem às custas da família, eabriu os olhos da juventude.Mais recentemente, outro grupo que atéentão era pouco conhecido, ganhou o Fes­tival da Canção. Os Homens da Luta jun­taram­se ao movimento da Geração, eandam pelo país nas manifestações, quetem tido grande aderência.Isto tudo, para vos mostrar que a músicatem o poder de mover montanhas. Doisgrupos, duas canções, e foi tudo o que bas­tou para fazer mexer o país e mobilizar aforça mais poderosa nele: nós. Nós, os jo­vens. O futuro.Quem sabe se um dia, se isto mudar, nãoseremos nós a fazer música capaz de pôrem movimento uma revolução…

As mui trágicas mortes da AbsurdezO Estrangeiro, de Camus

para ouvir

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Ficha Técnica:Propriedade: Escola Secundária de Albufeira,Clube de Jornalismo, Jornal ESActo

Rua das Ecolas, 8200-1 47 AlbufeiraTel: 289 586779 Fax: 289586872 [email protected]

Redacção: Olga Dryuchenko, Adriana Calado, Diogo Mendes, RubenGomes, Diogo Martins, Pusheng Ji, Beatriz Canteiro, AdrianoPerreira, André Coutinho, Mónica Oliveira.

Colaboradores neste nº: José Fernando Carvalho, Emíl ia Oliveira.Design Gráfico: Curso Profissional Técnico de Design GráficoPaginação: Xadreque JoaquimEdição de de Fotografia: Diogo Mendes, Diogo Martins, Mónica OliveiraImpressão e Montagem: ESA/ David MarquesSupervisão: Maria de Jesus PintoReprodução: Lurdes Santos (assistente operacional)

Com qual te identificas? ...

para descobrir