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Este um tempo de crise. Sob a falsa promessa do progresso e do desenvolvimento, o capitalismo se espalhou atravs de todos os continentes, como um vrus carregando misria e explorao. A histria do capital a histria da violncia, da opresso, de submisso humana e ambiental a condio de consumo e mercadoria. tambm a histria de crises em que este sistema demonstrou a sua capacidade para transformar-se e reconstruir-se, para desenvolver novas formas de explorao e acumulao, sustentado pela dominao tecnolgica e ideolgica.

Nas dcadas recentes, o capital assumiu sua configurao mais perversa e destrutiva. Sob a hegemonia do capital financeiro, a concentrao de renda acentuou-se assim como a desigualdade econmica entre classes, regies e pases. O Trabalho desumanizado e se torna mais precarizado. Fugindo de regies empobrecidas pelas crises, milhes de migrantes em busca de trabalho so alvos da superexplorao, xenofobia e intolerncia.

O Estado propriedade e refm deste sistema que, ao mesmo tempo, incapaz de representar as demandas e ansiedades da maior parte da populao. As foras armadas imperialistas invadem naes, submetendo povos inteiros aos interesses dos bares do mercado mundial, muitas vezes aliados com as elites locais. A democracia no rima com o capital. Quando julga necessrio, a burguesia no pensa duas vezes em desrespeitar a vontade popular e derrubar governos democraticamente eleitos. Enquanto os meios de comunicao omitem qualquer possibilidade de resistncia e criminalizam aqueles que no se submetem a lgica do mercado sobre a vida. Eles expressam e transmitem os valores de competio e individualidade.

Entre estas muitas crises, talvez a mais grave e perigosa delas seja a crise ambiental. A Me-Terra incapaz de sustentar por muito tempo a destruio sem limites de seus recursos naturais, que ocorre em um nvel nunca imaginado na histria da humanidade. A contaminao das guas, florestas, do ar e do solo causado pelo envenenamento do agronegcio, pela extrao parasita dos recursos naturais e a incessante emisso de gases txicos disparou uma bomba-relgio. Depois de extinguir inmeras espcies e destruir de forma irreversvel diversos ecossitemas, o Capital agora ameaa a prpria existncia humana.

So tempos de crises. Mas so tempos de esperana. Em todos momentos de crises, a classe trabalhadora construiu as plataformas e ferramentas necessrias para combater a explorao, a injustia e a opresso. Reivindicamos esta experincia histrica da classe trabalhadora e inspirados pelo projeto humano de emancipao, nos encontramos neste seminrio para estudar, debater e confrontar os dilemas da humanidade. No somos todos. Ns somos parte. Parte dos trabalhadores, dos indignados e oprimidos. Somos parte de muitas ferramentas partidos, sindicatos, movimentos, organizaes. Somos de todos os genros e todas etnias. Somos de muitos locais e naes, mas no temos fronteiras, porque nossa ptria a humanidade.

O que nos une o compromisso com o princpio que nenhuma propriedade ou lucro pode estar acima da vida de qualquer ser humanos. E a convicao de que o Socialismo representa o mais profundo anseio da classe trabalhadora pela emancipao humana.

Ainda h um longo caminho que precisamos caminhar para avanar para a construo das novas formas que o Socialismo dever assumir neste sculo. Para construi-lo, necessrio que ele se transforme em mobilizaes de massas e em lutas dirias em todas as suas dimenses na poltica, educao, relaes de gnero, a superao do patriarcado, em uma nova cultura, comunicao, repensando as noes de progresso e desenvolvimento baseados numa nova relao com a natureza, como nos ensina o conceito de bem viver. Por essa razo, necessrio superarmos a fragmentao, compreender as diferentes formas que a classe trabalhadora assume, respeitar e manter as ferramentas de luta e organizao que construmos, mas ao mesmo tempo construir novas formas de organizao e luta, onde todos participem e sintam-se presentes, respeitando a pluralidade e a diversidade, porque so elas que nos aproximam. Mais do que nunca, a alternativa entre socialismo e barbrie atual. E uma vez mais verdadeira e urgente a convico: Trabalhadores e trabalhadoras do mundo, uni-vos!

Guararema, Escola Nacional Florestan Fernandes, 31 de julho de 2015