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ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO DOS TALUDES PARA A FUNDAÇÃO DO MURO DA BARRAGEM DE FOZ CÔA José Pinto Engenheiro Geotécnico, ex-diretor de obra da EXPLO, LDA. Resumo Em 27 de Outubro e 24 de Novembro de 1995, e 15 de Março de 1996, o autor deste artigo proferiu, respetivamente nas Delegações da Ordem dos Engenheiros de Coimbra, Lisboa e Porto, uma palestra composta por duas comunicações: “Túnel de Desvio da Barragem de Odeleite” e “Escavação para as Fundações da Barragem de Foz Côa”, na conferência organizada pela AP3E – Associação Portuguesa de Estudos e Engenharia de Explosivos, subordinada ao tema “Utilização de Explosivos e Controlo dos seus Efeitos”. O texto que aqui se apresenta é uma versão mais alargada do que foi transmitido na segunda comunicação dessa palestra. Pretende-se, desta forma, focar as características gerais do projeto, o processo de execução e as incidências mais significativas. 1. INTRODUÇÃO. Em 1994, o folheto informativo da EDP - Departamento de Informação e Relações Públicas designava o Aproveitamento Hidroelétrico de Foz Côa como «…um marco da capacidade realizadora dos portugueses». No rio Côa, próximo da confluência com o rio Douro iria ser erguida a maior barragem do País: 136 m de altura e mais de um milhão de metros cúbicos de betão. A construção do aproveitamento de Foz Côa foi adjudicada ao Consórcio Internacional Somague, MSF, Dumez e Agroman. Para a execução dos trabalhos de escavação e contenção dos taludes para a fundação do muro da barragem, o Consórcio para a empreitada geral elegeu a empresa EXPLO, LDA. como subempreiteiro especialista para esse trabalho específico. A subempreitada decorreu entre os anos de 1994 e 1995. Nesse período, o autor deste artigo representou a EXPLO, LDA. aos comandos da direção de obra, contribuindo com a sua competência técnica especializada. Apesar da forte contestação pública que o empreendimento sofreu com a divulgação nacional e internacional de vários achados arqueológico compostos por gravuras do paleolítico, que posteriormente levaria ao encerramento prematuro do projeto, certo é

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ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO DOS TALUDES PARA A FUNDAÇÃO DO MURO DA BARRAGEM DE FOZ CÔA

José Pinto Engenheiro Geotécnico, ex-diretor de obra da EXPLO, LDA.

Resumo

Em 27 de Outubro e 24 de Novembro de 1995, e 15 de Março de 1996, o autor deste artigo proferiu, respetivamente nas Delegações da Ordem dos Engenheiros de Coimbra, Lisboa e Porto, uma palestra composta por duas comunicações: “Túnel de Desvio da Barragem de Odeleite” e “Escavação para as Fundações da Barragem de Foz Côa”, na conferência organizada pela AP3E – Associação Portuguesa de Estudos e Engenharia de Explosivos, subordinada ao tema “Utilização de Explosivos e Controlo dos seus Efeitos”. O texto que aqui se apresenta é uma versão mais alargada do que foi transmitido na segunda comunicação dessa palestra. Pretende-se, desta forma, focar as características gerais do projeto, o processo de execução e as incidências mais significativas.

1. INTRODUÇÃO.

Em 1994, o folheto informativo da EDP - Departamento de Informação e Relações Públicas designava o Aproveitamento Hidroelétrico de Foz Côa como «…um marco da capacidade realizadora dos portugueses». No rio Côa, próximo da confluência com o rio Douro iria ser erguida a maior barragem do País: 136 m de altura e mais de um milhão de metros cúbicos de betão.

A construção do aproveitamento de Foz Côa foi adjudicada ao Consórcio Internacional Somague, MSF, Dumez e Agroman. Para a execução dos trabalhos de escavação e contenção dos taludes para a fundação do muro da barragem, o Consórcio para a empreitada geral elegeu a empresa EXPLO, LDA. como subempreiteiro especialista para esse trabalho específico.

A subempreitada decorreu entre os anos de 1994 e 1995. Nesse período, o autor deste artigo representou a EXPLO, LDA. aos comandos da direção de obra, contribuindo com a sua competência técnica especializada.

Apesar da forte contestação pública que o empreendimento sofreu com a divulgação nacional e internacional de vários achados arqueológico compostos por gravuras do paleolítico, que posteriormente levaria ao encerramento prematuro do projeto, certo é

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que a EXPLO, LDA. conseguiria, dentro do prazo programado, concluir integralmente a sua parte contratual.

2. BREVE DESCRIÇÃO DO PROJECTO.

A subempreitada de execução da escavação para a fundação do muro da barragem, estava inserida num projeto muito mais amplo (fig.1) onde se incluía os seguintes órgãos: - Galeria de acesso à central; - Central; - Poços dos grupos geradores (2); - Tomada de água; - Túneis de adução (2); - Galerias do difusor (2); - Restituição; - Descarregador de superfície; - Plataforma para o posto de transformação.

Fig. 1 A barragem de betão de dupla curvatura, se tivesse sido construída, teria uma altura máxima de 136 m à cota de coroamento 231, um desenvolvimento de 548 m e um

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volume total de 1.069.870 m3. Para o encaixe da fundação deste imponente muro de betão foram escavados pela EXPLO, LDA cerca de 416.000 m3 de material rochoso. 3. GEOLOGIA.

Em termos gerais, a escavação para a fundação do muro da barragem atravessou uma formação rochosa constituída por leitos alternantes de filádio, metagrauvaques e finos leitos de mármore inserida numa estrutura em anticlinal (fig. 2). As transformações que estão na génese destas rochas sedimentares, efetuadas sob tensões elevadas, deram origem também aos planos de xistosidade transversais ao vale, genericamente inclinados próximo da vertical para montante ou eram verticais. A estratificação apresentava-se inclinada a 50º para montante. O maciço rochoso na margem direita apresentou-se mais descomprimido e alterado do que na margem esquerda, tendo esta margem e o fundo do vale um maciço de boa qualidade geomecânica.

Fig. 2 4. CARACTERÍSTICAS E DIMENSÕES DA ESCAVAÇÃO.

Para efeitos do planeamento da subempreitada, a escavação do maciço rochoso para a fundação da barragem foi dividida em três zonas: margem direita, margem esquerda e fundo.

4.1 Margem direita.

A margem direita caracterizou-se pelo arranque da escavação à cota 160 e terminou na cota 112. Apresentou frentes de escavação com uma largura média de aproximadamente 61 m e comprimento que rondou os 60 m.

4.2 Margem esquerda.

A margem esquerda caracterizou-se pelo início da escavação à cota 200 e terminou à cota 112. Apresentou frentes de escavação com uma largura média de aproximadamente 42 m e comprimento de 24 m.

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4.3 Fundo.

A escavação do fundo da barragem iniciou-se na cota 112 e terminou na cota 95. A largura rondou os 41 m e o comprimento de 80 m a 180 m.

5. PROCESSO CONSTRUTIVO.

Para aceder às frentes de trabalho, era fator principal a abertura de acessos que permitisse a remoção dos escombros para as escombreiras e possibilitar o transporte de materiais e a circulação de equipamentos necessários para a atividade de contenção dos taludes da escavação.

5.1 Acessos.

O local de implantação da barragem estava situado numa zona topograficamente muito acidentada, apresentando paramentos verticais na margem esquerda e declives de 25º a 53º na margem direita. A necessidade de abertura de caminhos de acesso às sucessivas plataformas de trabalho, tanto na margem direita como na margem esquerda, obrigou, à partida, a uma análise cuidada das condições topográficas. Para melhor delinear o traçado dos caminhos, foi efetuado um levantamento topográfico de pontos notáveis do terreno que melhor representariam o percurso a tomar nas duas margens, desde as frentes de escavação até às escombreiras. De seguida foram simulados e projetados traçados tendo em conta as recomendações enunciadas no Manual de Movimento de Terras da VOLVO BM.

5.1.1 Margem direita.

Foi aberto um caminho único para o transporte do escombro resultante das escavações entre as cotas 160 e 95. Também parte do escombro oriundo da escavação da margem esquerda, entre as coras 142 e 112 teve a sua saída via este acesso. Com o arranque à cota 210, este caminho desbravado com buldozer CAT D8L chega à cota 140 mediante rampas com pendentes que oscilaram entre 10% e os 18,5%. Entre as cotas 180 e 150,5, numa extensão de 174 m, foi efetuado um rebaixo com recurso a explosivos.

5.1.2 Margem Esquerda. Na margem esquerda, em virtude do acidentado do terreno, foram executados dois caminhos no sentido montante-jusante:

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- Um, com cota de partida 190 e cota de chegada 179, numa extensão de 175 m. As pendentes oscilaram entre 5% e 9%; - Outro, com partida à cota 158 e cota de chegada à cota 156, numa extensão de 116 m. A pendente oscilou entre 2% e 5%. Os meios mecânicos utilizados foram um buldozer CAT D6D, uma escavadora de rotação total BENATI 3.35 e uma máquina de perfuração hidráulica Atlas Copco Roc 712.

5.1.3 Fundo. Foi executado um caminho da cota 140, na margem direita, até ao fundo do rio (cota 112), paralelamente a uma linha de água existente. Os primeiros 85 metros foram em perfil misto e o restante em aterro de forma a garantir as inclinações recomendadas. O acesso do fundo do rio ao fundo da escavação efetuou-se por meio de duas rampas consecutivas: - A primeira, localizada fora e a montante da escavação propriamente dita, cumpriu seguimento do aterro anteriormente referido. Com cota de partida 112 e cota de chegada 104, foi executada com recurso a explosivos ficando com uma largura de 8 m e uma pendente de 18%; - A segunda, localizada dentro da escavação, teve a cota de partida 104 e cota de chegada 95. Os meios mecânicos envolvidos na execução do caminho de acesso ao fundo do rio consistiram num buldozer CAT D6C, numa escavadora de rotação total DEMAG H30 e um Dumper VOLVO BM A30 6x6.

5.2 Escavação.

As escavações foram executadas segundo o método de desmonte por bancadas descendentes a níveis horizontais (fig.3). Conforme permitiram as dimensões de cada nível, adotou-se um desmonte parcial a meia largura, na direção paralela aos planos de estratificação, e o restante perpendicular.

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Fig.3

5.2.1 Margem direita e esquerda.

Na margem direita atingiu-se as sucessivas bancadas de trabalho, desde a cota 160, mediante rampas ascendentes e descendentes ligando ao caminho principal (escavação → escombreira) situado em flanco de encosta (fig. 4). No geral, as bancadas de trabalho da margem esquerda foram atingidas por análogo procedimento, mas ligando a vários caminhos principais de cota 179 e 156, como meio de vencer a forte e abrupta orografia do terreno.

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Fig. 4 5.2.2 Fundo.

Após a abertura do acesso em rampa entre as cotas 112 e 104 como referido em 5.1.3, procedeu-se à abertura de um “caixão” em toda a largura da escavação até à cota 104. O desmonte foi efetuado no sentido montante → jusante. Posteriormente a escavação desenvolveu-se em sentidos opostos e perpendicularmente ao eixo do rio. Igual processo foi utilizado para a escavação entre as cotas 104 e 95. Na fase final da escavação a rampa foi desmontada e removida em marcha atrás com a utilização de duas escavadoras giratórias de rotação total, Akerman EC420 e Demag H30.

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6. DIAGRAMA DE FOGO.

No dimensionamento dos diagramas de fogo teve-se em conta o tipo e a qualidade do maciço rochoso, a fracturação, o grau de alteração, a altura máxima de bancada admissível, o diâmetro da furação, para além de outros de fatores.

6.1 Desmonte do caixão central.

O diagrama de fogo que aqui se apresenta correspondeu ao modelo standard que foi ajustado consoante a qualidade do maciço rochoso existente nas frentes e nos patamares de trabalho.

Esquema do

Na fig. 6 pode-se observar as três fases da operação de carregamento de um furo: o carregamento da carga de fundo, o carregamento da carga de coluna e por fim o atacamento ou tamponamento do furo.

Carga de fundo Carga de coluna Tamponamento

a) b) c)

Fig. 6

Parâmetro unid

Afastamento 3 pol

Afastamento 3,00 m

Espaçamento 3,00 m

Comprimento do furo 8,50 m

Volume 65,70 m3

Carga de fundo 7,80 Kg

Carga de coluna 9,80 Kg

Carga específica 0,27 kg/m3

Carga por metro 2,07 kg/m

Fig. 5

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6.2 Pré-corte.

O dimensionamento dos parâmetros para a execução do pré-corte foi função da qualidade do maciço rochoso e do espaçamento entre as diaclases. O processo consistiu em carregar linha de furos de 3” de diâmetro (fig. 8a) espaçados de 65 cm, com pré cargas (fig. 8b) compostas por um cartucho de dinamite calibre 50x550 no fundo do furo, e cartuchos de explosivo pulverulento calibre 25x140 distribuídos e amarrados ao longo de um cordão detonante.

Parâmetro unid

Diâmetro do furo 3 pol

Inclinação 1/3

Comprimento do furo 8,60 m

Espaçamento 0,65 m

Carga/furo 2,60 kg

Carga/metro 0,15 kg/m

Fig. 7

Linha furos pré-corte Carregamento furos Canas dos furos do pré-corte

a) b) c) Fig. 8

7. EXPLOSIVO. Em face das características geomecânicas do maciço rochoso e das condições de permeabilidade, foram aplicados três classes de explosivo: - Explosivo gelatinoso: Gelamonite - Explosivo pulverulento: Amonite - Anfo: Amonóleo

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7.1 Explosivo utilizado.

No desmonte das bancadas, o explosivo utilizado para carga de fundo foi a Gelamonite 33 calibre 50x550, que também intercalou na carga de coluna com o Amonóleo a granel e nalguns casos com a Amonite 1 de calibre 50x550 (fig. 11), este último aplicado sobretudo quando o maciço rochoso apresentava propriedades mais resistentes justificando uma carga de coluna com maior velocidade de detonação e menor volume de gases (fig. 9 e 10). Para o pré-corte utilizou-se a Gelamonite 33 50x550 na carga de fundo, e na carga de coluna a Amonite 1 em cartuchos de calibre 25x140 como forma de proporcional a definição do plano do talude, minimizando dentro do possível a descompressão e uma eventual instabilização na envolvente da escavação.

Propriedades Unid Gelamonite 33 Amonite 1 Amonóleo

Densidade g/cm3 1,40 1,10 0,85 Energia específica Kj/Kg 1.151 1.086 1.178 Força %BG 85 77 75 Velocidade de detonação m/s 5.800 4.200 3.000 Volume de gases dm3/kg 869 911 972

Fig. 9

Fig. 10

800820840860880900920940960980

0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

7.000

Gelamonite Amonite 1 Amonóleo

Velocidade de detonação Volume de gases

Vol

ume

de g

ases

(dm

3/kg

)

Vel

ocid

ade

de d

eton

ação

(m/s

)

Propriedades do explosivoVelocidade de detonação versus Volumes de gases

Gelamonite Amonite Amonóleo

a) b) c)

Fig. 11

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7.2 Consumo de explosivos.

Para além dos consumos gerados percentualmente para os diferentes explosivos distribuídos como mostra o gráfico da fig. 12, foram aplicados 73.200 m de cordão detonante de 12 g/m e 9.200 detonadores elétricos de baixa insensibilidade com atraso de 30 ms.

Fig. 12

8. PRODUÇÃO DA ESCAVAÇÃO E VARIAÇÃO DAS CARGA ESPECÍFICA. O arranque da escavação iniciou-se em Junho de 1994 na frente de trabalho “Margem Direita”. As produções mensais obtidas na obra estão espelhadas no gráfico da fig. 13 e assinaladas no perfil da fig. 16. Verifica-se um crescimento nos primeiros meses até atingir o primeiro pico da produção em Setembro de 1994, com 45.465 m3. Posteriormente, devido à paralisação da escavação da frente “Margem Esquerda” para a construção de uma viga de contenção e ao baixo rendimento inerente ao arranque de uma nova frente de escavação, neste caso o “Fundo”, a produção decaiu para cerca de metade, atingindo o volume de 20.485 m3 em Novembro de 1994.

Gelamonite 50x55044,94%

Gelamonite 25x2000,16%

Amonite 50x5504,67%

Amonite 25x1401,40%

Amonóleo48,83%

Quantidades de explosivo consumido

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Fig. 13 Com as escavações a desenrolarem-se à velocidade de cruzeiro nas frentes “Margem Direita” e “Fundo”, conseguiu-se nova subida da produtividade mensal até atingir um segundo momento alto em Janeiro de 1995, com 41.490 m3. Com o fim dos trabalhos na Margem Direita, a produção ficou dependente da escavação na Margem Esquerda, que se reiniciou após a conclusão da viga de contenção (fig. 14 e 15), e de parte da frente “Fundo”.

Fig. 14 Fig. 15

A partir de Maio de 1995, como consequência da polémica gerada com as gravuras do paleolítico, o ritmo de trabalho abrandou passando de dois turnos para um turno, isto é, de 145 horas semanais passou para 45 horas, refletindo-se na baixa produtividade mensal.

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

0,40

05.000

10.00015.00020.00025.00030.00035.00040.00045.00050.000

Jun-

94

Ago-

94

Out

-94

Dez

-94

Fev-

95

Abr-

95

Jun-

95

Ago-

95

Volume Carga específica

Carg

a ep

ecífi

ca k

g/m

3

Vol

ume

(m3)

Volume mensal versus Carga específica

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9. EQUIPAMENTOS. 9.1 Perfuração, carga e transporte.

Os equipamentos de perfuração, carga e transporte foram dimensionados consoante as produções diárias pretendidas e as distâncias de transporte das frentes de escavação às escombreiras. Assim, por frente de trabalho, em termos médios, os equipamentos principais foram os seguintes:

Margem direita Margem esquerda Fundo Equipamento Qt Equipamento Qt Equipamento Qt

• Perfuração • Perfuração • Perfuração Roc 612 1 Roc 712 1 Roc 712 1 Tamrock 550 1 Roc 512 1 Tamrock 550 1 • Carga • Carga • Carga Akerman 420 1 Demag H35 1 Demag H30 1 Demag H30 1 Demag H35 1 • Transporte • Transporte • Transporte Dumper Volvo A30 2 Dumper Volvo A25 1 Dumper Volvo A30 2 Dumper Volvo A25 2 Dumper O&K Faun 2 Dumper Volvo A25 2 Dumper O&K Faun 2 Buldozer CAT D6D 1 Buldozer CATD6C 1 Buldozer CATD6C 1

Autotanque de água de 12.000 litros Autotanque de gasóleo de 12.000 litros

Fig. 17

Fig. 16

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9.2 Malha sol e betão projetado.

Os meios usados para a realização das atividades de tratamento dos taludes, foram dimensionados para fazer face à necessidade da execução da colocação da malha sol e da aplicação do betão projetado em duas frentes de trabalho simultâneas. Esses meios utilizados constam no quadro seguinte:

Equipamento Qt

Montacargas JCB Telescopic 525-4 1 Montacargas JCB 530-110 1 Compressor Atlas Copco XA210 1 Compressor Atlas Copco PR700 1 Autobetoneira Messersi 2 m3 1 Autobetoneira Merlo 2 m3 1 Máquina de projetar betão Aliva 252 1 Máquina de projetar betão Aliva 240 1

Fig. 18

10. MÃO-DE-OBRA.

De acordo com o planeamento da obra, já referido no item 4., foram dimensionadas equipas para cada frente de trabalho. Os meios humanos afetos às atividades de perfuração, desmonte, carga e transporte foram organizados conforme se apresenta no organograma da fig. 19. Para as atividades de colocação de malha-sol e aplicação de betão projetado foi formada uma equipa específica composta pelas seguintes categorias: - Operador de auto-betoneira; - Gunitador; - Ajudantes; - Aplicadores de malha sol.

Fig. 19

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11. CONSUMO DE FERRAMENTAS DE PERFURAÇÃO.

Sendo a atividade de perfuração uma atividade fundamental no desenvolvimento dos trabalhos contratados, tendo representatividade significativa nos custos do desmonte de rocha e na execução da pregagem e drenagem dos taludes, foi dada especial atenção ao controlo do consumo das várias ferramentas: bits, varas, uniões, encabadouros, etc.. Foram usados vários tipos de ferramentas tendo em conta a atividade a executar e a máquina de perfuração. Os bites, acessório de perfuração que promove o contacto com rocha fragmentando-a, eram afiados com fresas especiais, a intervalos pré definidos, para aumentar a sua longevidade. As varas, ferramenta que transmite a energia rotopercutiva do encabadouro ao bit, eram rodadas a intervalos definidos para aumentar a sua vida útil. Para os encabadouros, responsáveis pela transmissão da energia produzida pelo pistão do martelo hidráulico às varas, estava estabelecido um limite de trabalhabilidade a partir do qual deixava de ser funcional. Em face das premissas anteriormente estabelecidas, associadas com fatores de operação, fracturação e resistência do maciço rochoso, foi possível quantificar as seguintes médias para as vidas úteis das ferramentas de perfuração:

Ferramenta de perfuração

Metragem Ferramenta de

perfuração Metragem

Bit 48 mm 176,20 m Vara M/F T38 369,00 m Bit 2”1/2 493,40 m Vara M/M R32 110,00 m Bit 3” 1.141,30 m União T38 1.374,50 m Encabadouro 1.717,10 m União R32/T38 179,00 m Vara M/M T38 1.134,70 m Massa grafitada 845,90 m

Fig. 20

Os gráficos da fig. 21 permitem ver a variação da longevidade obtida mensalmente para as várias ferramentas de perfuração. Uma análise atenta permite verificar que foram registados picos muito elevados na longevidade em certas ferramentas. Poder-se-á admitir causas com origem diversa consoante o tipo de ferramenta: - Relativamente aos bites, a elevada longevidade registada em certos meses estará relacionada com a qualidade do maciço rochoso, isto é, mais brando e menos abrasivo.

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- Relativamente aos encabadouros, a elevada longevidade estará relacionada com a melhor qualidade do aço, eventualmente na melhor operacionalidade da máquina de perfuração e num maciço rochoso menos resistente. - A mesma análise poderá ser aplicada para as uniões T38. De forma contrária foram registados valores muito baixos na longevidade de certas ferramentas. No geral, os fatores que contribuíram para isso foram: a qualidade do aço de perfuração, a abrasividade do maciço rochoso, sobretudo no atravessamento dos leitos de mármore, o grau de fracturação e o encravamento da ferramenta de perfuração.

Fig. 21 O gráfico da fig. 22 representa a evolução mensal das metragens de perfuração efetuadas para as atividades de drenagem, pregagem e escavação. Á semelhança da

0

500

1000

1500

Jun-

94

Nov

-94

Abr

-95

Set-

95

Met

ros

Vida útil bits 2"1/2

01.0002.0003.0004.0005.000

Jun-

94

Out

-94

Fev-

95

Jun-

95

Out

-95

Met

ros

Vida útil bits 3"

0

1.000

2.000

3.000

4.000

Jun-

94

Nov

-94

Abr

-95

Set-

95

Met

ros

Vida útil Encabadouros

0

1.000

2.000

3.000

Jun-

94

Nov

-94

Abr

-95

Set-

95

Met

ros

Vida útil Varas M/MT38

0

500

1000

1500

Jun-

94

Nov

-94

Abr-

95

Set-

95

Met

ros

Vida útil Varas M/F T38

0

1000

2000

3000

Jun-

94

Out

-94

Fev-

95

Jun-

95

Out

-95

Met

ros

Vida útil Uniões T38

0500

100015002000

Jun-

94

Nov

-94

Abr

-95

Set-

95

Met

ros

Consumo Massa Grafitada

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Escavação e contenção dos taludes para a fundação do muro da Barragem de Foz Côa

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análise que foi feita no item 8., há a salientar o registo do abrandamento do ritmo da perfuração a partir de Maio de 1995 como consequência da decisão política de paralisação da obra associada aos achados arqueológicos nas margens do rio Côa.

Fig. 22

12. BETÃO PROJECTADO E MALHA SOL. A estabilização dos taludes estava integrada no ciclo de trabalho perfuração-desmonte-carga-transporte. O avanço da escavação por patamares não poderia ter lugar sem a conclusão das atividades de colocação de malha sol e do betão projetado. A mistura para o betão projetado era fabricada perto da frente de trabalho com autobetoneiras de 2 m3 de capacidade. O rendimento médio obtido para a atividade de projeção de betão foi 140,79 m2/dia para uma utilização do tempo disponível de 60,63%. Como consequência da irregularidade da superfície dos taludes, derivado do sistema de compartimentação do maciço rochoso, verificou-se que esta componente representava um acréscimo da área projetada e aplicação de malha sol de 1,53 por cada m2 de área plana. As figuras 23a) e 23b) reportam à medição por amostragem efetuada in situ para efeitos de avaliação do sobre consumo dos materiais aplicados, na contenção dos taludes de escavação. Acresce a esta componente do sobre consumo de betão as componentes por compactação e ricochete.

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

Jun-

94

Ago-

94

Out

-94

Dez

-94

Fev-

95

Abr-

95

Jun-

95

Ago-

95

Out

-95

Met

ros

Metragem de perfuração mensal

Escavação

Drenos

Pregagens

Total

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Esquema do sobre consumo, em área, de betão projetado e

malha sol resultante da irregularidade dos taludes Coeficientes obtidos de sobre consumo de betão projetado e

malha sol

a) b) Fig. 23

13. CONSIDERAÇÕES FINAIS.

A escavação para a fundação do muro da barragem não sendo uma atividade muito complexa, torna-se particularmente difícil se os meios humanos e equipamentos não estiverem perfeitamente dimensionados e disponíveis logo no início dos trabalhos. Ultrapassado este problema, a morfologia, o acidentado do terreno e as características do maciço rochoso são, neste tipo de obras, condicionantes importantes que têm que ser avaliadas previamente para que a obra alie a melhor execução técnica à

Aspeto final da Margem Direita Aspeto final da Margem Esquerda

Fig. 24 Fig.25

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Escavação e contenção dos taludes para a fundação do muro da Barragem de Foz Côa

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manutenção da segurança de pessoas e bens, como forma de obter os melhores resultados.

A quantidade de equipamentos é elevada para espaços de manobra muitas das vezes exíguos, sobretudo no arranque dos patamares de escavação. A gestão das frentes de obra por chefes de frente com experiência é uma mais-valia para a atingir uma boa produtividade e elevado nível de segurança.

Os rendimentos obtidos são exclusivos deste tipo de obras. O ritmo do trabalho não pode ser equiparado ao trabalho de escavação para uma via rodoviária ou de uma pedreira. O planeamento prévio do desenvolvimento das frentes de escavação, com a necessária avaliação e ponderação in loco das possíveis soluções, bem como o planeamento do traçado dos caminhos principais até às escombreiras, revelam-se fatores importantes para o sucesso da empreitada.

AGRADECIMENTOS

O autor agradece o convite gentilmente formulado pela AP3E – Associação Portuguesa de Estudos e Engenharia de Explosivos, para a apresentação de uma comunicação sobre a aplicação de explosivos em obras.

Especial agradecimento à gerência da EXPLO, LDA. pelo convite ao autor deste artigo em representar a empresa nas comunicações proferidas na Ordem dos Engenheiros de Coimbra, Porto e Lisboa, pelo apoio e pelas facilidades concedidas.

A todos os colaboradores que direta e indiretamente participaram na concretização do grande desafio – Subempreitada de Execução da Escavação para a Fundação do Muro da Barragem de Foz Côa, 2ª Fase, 1994/1995.

DOCUMENTOS DE REFERÊNCIA

EDP/DOEH, Direção Operacional Equipamento Hidráulico – Folheto informativo do Aproveitamento Hidroelétrico de Foz Côa. (1994).

Neiva, Cotelo – Estudo geológico-geotécnico para a Barragem de Foz Côa.

Pinto, J. M. Santos – Estudo para a escavação da 2ª fase na Barragem de Foz Côa. (1994/1995).