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ESCLARECIMENTO...concluiu Bianca. A essa altura, tudo indicava que o assunto ia pegar fogo. Foi quando Catú começou a colocar os pingos nos i’s. - Olha só, as reuniões estão

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ESCLARECIMENTO

Esclareço aos leitores que a história contada em prosa nesse livro foibaseada em depoimentos espontâneos dados ao autor e autorizados pelasprotagonistas, acompanhadas sempre por responsáveis, em gravações deáudiotape e também ratificados pelas mesmas nos manuscritos originais,devidamente registrados e guardados em cofre forte bancário.

João Henrique Schiller

Direitos do Autor Registro nº. 100515

Livro 144 - Ficha 87BN - Biblioteca Nacional

Fotos da capa:Renato Neto

© 1995

Edição: 2008

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SONHOS DE PAQUITAS

Nos Bastidores do Xou

© De: JOÃO HENRIQUE SCHILLER

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SONHOS DE PAQUITA - TREZE ANOS

Na verdade, o livro tem quatorze anos de escrito e nunca mais saiude evidência. Bem mais que os quinze minutos de fama que muitos esperavam.

‘A verdade sempre reinará’ e ‘quem cala consente’ são ensinamentosantigos dos mais velhos que me criaram. Mesmo não se provando e nemmesmo se questionando explicitamente nenhuma linha do que foi publicado,alguns radicais extremistas, que por si só se resolvem, não acreditam no livro.Da boca para fora, é claro! Digo ‘da boca pra fora’ por simples observaçãodos últimos meses em que participo da comunidade do site de relacionamentosOrkut, ‘Paquitas: Mitos e Lendas’. O que mais rebate também é o que maiscita, e por conseguinte o que mais lê. É ele quem mais apóia, por tabela.

Mesmo me trazendo mais problemas do que imaginava, esse ‘livrolenda’ é um mito, literalmente. Jogo de palavras? Não. Pura realidade! Se oque nele escrevi é verdade ou ficção, não importa. O que vale é o que elerepresenta na vida de toda uma geração. A geração da Rainha, suas fiéisescudeiras Paquitas e seus fãs, que são talvez os mais importantes dessahistória, com ‘H’ de honestidade.

Um abraço respeitoso aos que dizem não acreditar, e um beijo nocoração dos que acreditam e que, da mesma forma, não deixaram de amardireta ou indiretamente:

Xuxa, Paquitas, Paquitos, Irmãs Metralhas, Praga, Dengue, Marlene,Angel, Lenice, Vivian, Jorginho, Berry, My Boy, Luisinho, Paulo Netto, AluísioAugusto, Walter Lacet, Mário Lúcio Vaz, Boni, Sullivan e Massadas, Russo,Helmar Sérgio, Vicente Burguer, Mikimba, Solano, Felipe, e muitos amigos ecompanheiros de trabalho (não tenho como lembrar de todos), que sempre

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exerceram, em seus variados níveis, profissionalismo com um fim comum: osucesso do programa Xou da Xuxa.

Espero que esse livro sirva de ponto de reflexão. De percepção, paraenxergarmos melhor a tênue linha que norteia o tão desejado sucesso televisivo.

Parabéns especiais ao Manoel Guimarães, que sempre intervém comseu modo ‘porra-louca’ para que a verdade prevaleça. Sem ele, esse materialnão estaria agora à disposição de todos. Obrigado, grande Manoel!

João Henrique Schiller

junho / 2008

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO 11

O INÍCIO 13

O PRIMEIRO PASSO 19

O PRIMEIRO BEIJO 29

NAS ÁGUAS DO SUCESSO 34

SER PAQUITA 36

TRAPALHADAS E ‘MICOS’ INTERNACIONAIS 40

MENSAGEM 45

JANTARES, CONVITES E FESTAS 47

A REUNIÃO 51

RELACIONAMENTO PROFISSIONAL 56

BATENDO PAPO 59

ANJO NAS TREVAS? 66

O LADO POSITIVO 68

O NOVO PROGRAMA E OS ‘CLIMAS’ 71

CIÚMES DE VOCÊ 73

A ÚLTIMA E CANSATIVA TURNÊ 75

OS SHOWS 85

OS NAMORADOS 90

FASE FINAL NA ÁRGENTINA 94

SONHOS, DECEPÇÕES E MOMENTOS ATUAIS 99

O POVO QUER SABER 118

O RESULTADO 166

AS PAQUITAS NO BRASIL 168

GLOSSÁRIO 170

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INTRODUÇÃO

Há nove anos fui escalado para editar um novo programa. Pela minhaexperiência em programas infantis do mestre Augusto César Vannucci, euiria editar um programa infantil diferente dos que iam ao ar na ‘casa’. Gravadoem estúdio, com participação de público e apresentado por uma ‘loirinha’ queestava incomodando a ‘Vênus Platinada’ (Rede Globo), com seu Ibope cadavez mais alto. E logo com a sua concorrente mais forte no momento, a TVManchete. Convite feito e aceito, parti ‘de mala e cuia’ para São Paulo, terraaté então totalmente desconhecida para mim. Mas, como sempre, eu adorodesafios. Fui conquistar essa nova aventura. Duas máquinas de videotape,centenas de fitas e muita ousadia. Assim nasceu (na época, muitodesorganizado) o Xou da Xuxa.

Parecíamos uma família unida e disposta a resolver nossasdeficiências. Xuxa tratava a todos nós com igualdade e, principalmente, commuito carinho. Marlene Mattos era a amiga de fé da ‘loirinha’, e participavada produção do programa.

Ainda me lembro bem do primeiro programa: Xuxa vestia saia e blusaverde e preta; o cenário era do Reinaldo Waisman, desenhista da equipe doMauricio de Souza, ‘pai’ da Mônica e do Cebolinha. Era meio tímido, assimcomo a Xuxa: loirinha, olhos azuis, dentes dianteiros ‘trepados’, nariz um poucomaior que o necessário, quase nenhuma criança no palco, mas já esbanjandotalento e pureza.

O tempo foi passando, o talento aumentando e a pureza acabando.

Com o abandono do diretor Paulo Neto, foi sugerido por mim aodiretor artístico Walter Lacet numa reunião de emergência que a Marleneassumisse a direção do programa, mesmo sem experiência, por ser muito

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íntima da Xuxa. Ela inicialmente recusou o convite por telefone, mas depoisaceitou, a pedido da própria Xuxa.

O programa foi apelando para a sensualidade de Xuxa e suasassistentes. Marlene Mattos se especializou em opinião pública, controlandoas crianças e, conseqüentemente, seus pais. Romperam-se todas as barreirase fronteiras, chegando a ser exibido em 22 paises, inclusive nos Estados Unidos.

Tornei-me diretor do programa em 1988, trabalhando nas gravaçõesexternas com os repórteres mirins Duda Little, Caíque Benigno e RaquelBatista. Ultimamente, dirigia quadros diversos com as ex-Paquitas AndréaVeiga, Andréa (Sorvetão) Faria, Louise Wichermann e as oito protagonistasdessa história: Ana Paula Almeida (Pituxita), Ana Paula Guimarães (Catú),Bianca Rinaldi (Xiquita), Cátia Paganote (Miúxa), Flávia Costa (Paquitita),Juliana Baroni (Catuxa), Priscilla Couto (Catuxita) e Roberta Cipriani(Xiquitita).

Embora sem voz, Xuxa bateu recordes com seus discos, que venderammilhões, massificados diariamente pela TV, deixando os pais sem qualquercondição de defesa.

Este livro não se destina a contar a história do Xou da Xuxa, mas deum pedaço dele. De um certo grupinho de igualmente ‘loiras’, tão sonhadorascomo qualquer um de nós, que numa determinada hora supostamente têm aoportunidade da suas vidas, que com o passar do tempo se transformou numparadoxo de oportunidades e decepção. Mas que serviu também, no mínimo,de incentivo de vida, quem sabe, artística.

Hoje, não sou mais um dos diretores do programa. E depois de noveanos de convívio (e, por que não dizer, nove anos de cumplicidade nos sonhosde um futuro melhor), sinto-me muito à vontade e muito orgulhoso de contarpara vocês os Sonhos de Paquitas.

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O INÍCIO

Tarde fria e chuvosa. Final de gravação externa para o quadro ‘Parou Ímpar’. Passamos o dia inteiro no Museu Imperial e na casa de SantosDumont em Petrópolis, cidade serrana a uma hora e meia de distância para ocentro do Rio de Janeiro de ônibus. Pela segunda vez nessa semana, AnaPaula ‘Catú’ me pergunta ansiosa:

- E aí?

- E aí o quê?

- Vamos fazer a peça ou não?

- Todas estão a fim, Catú?

- Nosso único pedido é segredo.

- Está bem então. Pode marcar um encontro.

Já dentro do ônibus a serviço da TV GLOBO, viajando de volta parao Teatro Fênix, comecei a pensar na seriedade da proposta, e ao mesmotempo nas revelações que elas poderiam fazer. Não foi difícil imaginar orebuliço que isso poderia causar. Mas que desafio gostoso!!!

Era uma quarta-feira, dia 31 de agosto de 1994, e o primeiro encontrofoi na casa da Catú às 19h30, com todos reunidos. Eu e as oito Paquitas, maistrês bicões: Seu Rui, paizão da pequenina Juliana; o representante esportivomasculino do grupo, o namorado da Cátia e, na época, atacante do Fluminense

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Djair; e, finalmente, o sempre sorridente, de bem com a vida e nosso anfitrião,Ricardo, maridão da não menos simpática Catú.

Porém, cientes da importância dessa primeira reunião, o trio resolveuassistir a um jogo de futebol na televisão do quarto do casal. Eram dois técnicosem potencial e um jogador fora do seu habitat, o gramado.

Todas me pareciam muito nervosas. Falavam umas com as outras,todas ao mesmo tempo, querendo lembrar as coisas mais importantes a dizer.Fiquei uns minutos observando aquela cena de improviso que elas estavamme proporcionando, antes de interrompê-las e falar: “Dá pra gente começar?”.

- Sim - respondeu Catú.

- Nós poderíamos começar falando da castração artística - dissePriscilla.

- A falta de liberdade é triste - criticou Roberta.

- É, mas nós crescemos muito como pessoas - rebateu Flávia.

- Também, a que preço? - perguntou Cátia.

- Ah, eu acho que valeu para a gente perder o medo de ser mulher -concluiu Bianca.

A essa altura, tudo indicava que o assunto ia pegar fogo. Foi quandoCatú começou a colocar os pingos nos i’s.

- Olha só, as reuniões estão começando hoje, vamos seguir em frente.É um compromisso muito importante. Se for preciso, vamos ensaiar aquimesmo, no play do meu prédio. Estou doida para ver essa peça pronta, emcartaz, fazendo sucesso.

Tudo bem, mas pelo que estou vendo isso vai dar em livro.

- Livro? - assustaram-se com a minha afirmação.

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Com essa possibilidade, as meninas procuraram relaxar, cada umaao seu modo. A maioria preferiu comer os diversos tira-gostos que foramservidos por Catú na mesinha de centro da sala, cercada por um sofá comPriscilla, Ana Paula Almeida e eu. À nossa direita, estavam Cátia, Bianca eFlávia, devidamente acomodadas em confortáveis almofadões. Em frente, dooutro lado da mesinha sortida de salgados e refrigerantes, estavam Roberta,Juliana e Catú.

- Não é melhor pedir uma pizza?

Inacreditável! Tanta comida e alguém ainda queria pedir uma pizza.

- Quando nós ficamos nervosas, danamos a comer. A Marlene temvontade de matar a gente. Mas depois de uma de suas muitas broncas, não hánada melhor do que comer uma coisinha.

Nesse momento, aparece na sala mais um bicão: Seu Paulo, pai daRobertinha.

- Vocês precisam de alguma coisa? - perguntou Seu Paulo.

- Tio, nós queremos uma pizza de calabresa com cebola.

- Está bem. Vou buscar uma pra vocês.

- Oba! - todas gostaram muito.

Por um momento, me vi como alvo principal dos olhares das meninas.Silêncio absoluto. Parecia-me que aguardavam uma palavra mágica que astirasse daquele nervosismo causado pelo medo do novo, do desconhecido. Asituação voltou ao normal graças à Roberta.

- Sabe aquela corrida? Aquela da gravação das ‘Olimpíadas dasPaquitas’ para o ‘Par ou Ímpar’. Deixou-me com os músculos das pernas...

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Aiii... (ela fala passando a mão nas pernas, fazendo cara de dor). Está tudoassim, óóó...

- Caramba! Como você se queimou.

- Você acha mesmo, Flávia? Estou muito vermelha?

- Passa uma pomada hidratante ou uma pra queimadura - recomendouCatú, a protetora de todas.

- Hipoglos é bom para isso. Muito bom! Bom mesmo! - completouCátia.

Elas sempre usaram essa pomada para tirar as olheiras causadaspelo pique de trabalho muito forte que lhes era imposto, com muito poucotempo de descanso na época de shows, gravações pelo Brasil e exterior.

- Olha só! Ontem eu vi no Jornal da Manchete o desmentido daquelamenina dos dólares falsos no Barra Shopping, que diziam ser Paquita - comentouFlávia.

A menina falada nunca foi Paquita. Ela foi ‘figurante’ dos Trapalhões,contracenou com o ator Conrado e trabalhou também no ‘Bolão do Faustão’.O assunto ia se desenvolvendo sem compromisso com nada. Era como seestivessémos ali para bater papo furado. Deixei rolar para ver até onde iriamchegar para se acalmar. Priscilla então comentou:

- Ontem eu fui ao shopping. Foi vergonhoso. Fica todo mundo olhando.Eu não vou mais não!

- Você abandonar o shopping? - perguntou Ana Paula, meiodesconfiada.

- Que abandonar nada. Isso só dura duas semanas - brincou Cátia.

- Tem gente no shopping falando que ela é Paquita, sabiam? Naadministração! Fiquei muito ‘P’ da vida.

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- Eu também fui ver aquele... Como se chama mesmo? ‘CidadeNacional’... - comentou a Cátia, meio perdida no assunto.

- ‘Cidade em Ação’ - arriscou Flávia.

Catú, a essa altura viajando num passeio pelos cinemas do Shopping,completamente alheia ao assunto original (os dólares falsos da também falsaPaquita dos Trapalhões que contracenou com o Conrado e com o ‘Bolão doFaustão’).

- Você já viu ‘Velocidade Máxima’? - dirigindo-se a Ana Paula.

- Já. Muito bom!

- Dizem que em ‘Velocidade Máxima’, você tem que acreditar emPapai Noel e no Coelhinho da Páscoa.

Cátia deu uma gargalhada nesse momento, enquanto Catú prosseguiu:

- Tem mesmo! No final, é uma mentirada só.

Nessa hora, ouviu-se a campainha da casa tocar.

- Dá licença, vou atender a porta... Gente! Chegou a nossa pizza! -gritou Juliana.

- Vai se servindo aí... Eu não acreditei! Falei assim: “Só falta o ônibusvoar”.

- É! Decepção!

- Ah, não vai contar a história, Roberta. Eu ainda não vi o filme -reclamou Priscilla.

- Decepção!

- Todo mundo sabe, o ônibus faz zzzap! - continuou Catú.

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- Decepção, hein cara? Gente, é a maior besteira - completou Roberta,com cara de abismada.

- Alguém quer gelo? Também tem pipoca, alguém vai querer?

- Nem me fale em pipoca - respondi.

“Pipoca” é uma musica gravada pela Xuxa no disco Sexto Sentido,mas fez parte da minha peca musical infantil O Noivado do Capitâo BarbaVerde, escrita há dois anos e que estava esperando patrocínio no meio detantos pacotes econômicos. Porém, foi oferecida a ela pelos músicos, perdendoseu ineditismo. Bom, isso é um outro assunto.

- Ai, gente! Eu estou nervosa - disse Roberta, franzindo a testa eroendo as unhas.

Bom, vocês já falaram a beça! Vamos tentar começar.

- De cebola com calabresa... Hummmm... Adoro cebola!

- Bianca, vem cá, minha filha. Vamos bater papo ou comer a merenda?

- Está gravando?

Está sempre gravando.

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O PRIMEIRO PASSO

Bianca, quando você resolveu ser Paquita? Você queria só ficar aolado da Xuxa?

- Em São Paulo, todo mundo disse assim: “Ah, você podia ser Paquita,ganhar dólares, fazer comerciais, etc.”. E com influência, você acaba querendo.Foram fazendo a minha cabeça. O que eu queria mesmo era fazer comerciais.Aí teve um dia que a minha mãe estava assistendo a Xuxa enquanto eu varriaa casa. Aliás, lá em casa só assistíamos a Xuxa. Na hora dos desenhos, nóstrocavamos para o SBT. No programa dela, eu só gostava dos desenhos daDisney. Nesse dia, teve o boato que ela estava grávida e eu queria ver abarriga dela como estava. Então minha mãe descobriu que ela estava querendouma Paquita paulista. “Bianca, sabe de uma coisa? Por que você não mandauma foto pra lá? Já pensou se você ganha? Trabalhar com a Xuxa!”. “Que éisso, mãe? Impossível! Pra entrar na Globo tem que ter um ‘padrinho’”.

- Até que nós não tivemos ‘padrinhos’... - interrompeu Roberta.

- Foi aí então que eu tomei coragem, tirei as fotos e entreguei naSunshine. Daí um tempo, eles me chamaram e disseram que eu tinha ficadoentre as quarenta escolhidas de mil inscritas. Viajei para o Rio e me torneiPaquita. Fiquei o primeiro mês com a Juliana, um pouco na casa de um, umpouco na casa de outro. Fiquei bastente tempo também na casa da TâniaCatavento, que na época era a mais próxima da Marlene e que sempre melevava de um lugar para o outro. Até que a minha mãe largou o emprego emSão Paulo e veio morar comigo no Rio, lá no Hotel Paissandu, durante umasemana, até conseguir um apart-hotel, também no Flamengo. Minha irmã iriavir para cá só no meio do ano, quando acabassem as férias, mas minha mãe

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não agüentou e acabou vindo antes. Ficamos um tempão nesse apart-hotel,até eu conseguir alugar um apartamento para a gente. Eu, minha mãe e minhairmã. Papai já faleceu há seis anos. Minha mãe não pode trabalhar, tem quecuidar da minha irmã, que tem doze anos, e das minhas coisas também.

- Eu sempre fui fã da Xuxa e fui algumas vezes participar da gravação- contou Priscilla. - Na primeira vez que participei, foi na brincadeira ‘Pinte oPalhaço’, em 1987. Eu estava lá atrás, pendurada naquela aranha, igual a umbicho do mato, quando a Louise me chamou pra participar da brincadeira. Daíem diante, eu sempre fui e participei de vários desfiles, ganhando todos. Nofinal do ano, no desfile final, eu já estava até participando de desfiles para OBicho Comeu (grife de roupas da Xuxa). Ficamos eu e uma menininha, que aXuxa deu um presente e se despediu. Enquanto isso, eu continuava desfilandode um lado para o outro. Acabando a gravação, a Xuxa virou e disse para aMarlene: “Marlene, essa menina é a que eu te falei pra fazer teste pra Paquita”.“Quantos anos você tem?”. “Nove”. Ela então marcou os testes comigo nodia 17 de dezembro de 1987. Entramos eu e a Tatiana para sermos Paquitas.

Ana Paula, você foi para o programa por causa da Xuxa ou pela TVGlobo?

- Eu vim foi por causa da Xuxa mesmo. Eu era, quero dizer, eu sou‘fanzoca’, quase doente. Tinha loucura pra estar perto dela, meu sonho eraver a Xuxa passar de carro pela minha rua. Eu realmente acreditava que umdia ela ia passar. Eu morava em Vista Alegre (subúrbio do Rio de Janeiro) epensava que, por ser suburbana, nunca iria conseguir chegar perto da Xuxa.

- Ana Paula e o suburbanismo dela... - interrompeu Roberta.

- Igual a mim. Lá em São Paulo, na minha casinha simples, eu pensavaque jamais chegaria aqui - continuou Bianca.

- Eu também. Saí de uma vila em Jacarepaguá. Agora, trabalho coma Xuxa e moro na Barra da Tijuca. Levo uma vida totalmente diferente daquelaque eu tinha - completou Priscilla.

- Ah, minha Macaé! - suspirou Catú. - Nós todas entramos para oprograma muito novas. As que entraram mais velhas foram a Bianca, comquinze, e eu, com treze.

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- Eu entrei brincando de Barbie - lembrou Priscilla.

- Eu estudava num colégio super forte e fazia aula particular. Pertodo dia do meu aniversário, a minha mãe chegou para mim e perguntou: “AnaPaula, o que você quer de aniversário?”. “Eu quero ir no Bicho Comeu”. Naépoca, só tinha uma loja da Bicho Comeu, na Praça Saens Peña (Tijuca, ZonaNorte do Rio de Janeiro), que era longe pra caramba da minha casa. “Querocomprar uma roupa igual a da Xuxa e quero passar o meu aniversário comose fosse o Xou da Xuxa”. Nisso, minha mãe foi comigo e compramos aroupa. Na minha casa, tinha uma escada, que eu desci vestida de Xuxa comose fosse o próprio Xou da Xuxa. Minha mãe tirou várias fotos. Já a minhairmã, que estava assistindo a televisão, me disse que a Xuxa estava precisandode meninas de nove a doze anos de idade para serem Paquitas. “Por quevocê não pega uma dessas fotos e manda para o programa?”. Eu mandeiuma carta com a foto para o programa, sem a minha mãe saber, porque comcerteza ela não teria deixado. Depois de dois meses, eu estava saindo para ocolégio e tocou o telefone: “Por favor, a Ana Paula”. “É ela”. “Você foiescolhida. Sua carta foi uma das escolhidas para vir fazer teste para o programada Xuxa”. Eu peguei o endereço da produção e fui falar para a minha mãe,que a princípio não me deixou ir. “Não, você não vai abandonar os estudos.Você está super forte com as aulas particulares. Você não vai!”. “Ah, mãe,vamos? Vamos ver como é que é lá. Às vezes, não é preciso abandonar osestudos”. Chegando lá, eu fiz aquela bateria de testes. Concorri com vintemeninas. Na época, achar o Teatro Fênix no Jardim Botânico era o fim domundo, longe pra caramba. Peguei mais de não sei quantos ônibus. Não seiquanto tempo depois, era o dia 6 de abril de 1988, a Marlene chegou para mime disse: “Ana Paula, amanhã você vem preparada, porque virá uma meninade São Paulo. Ela é a última concorrente, e virá até aqui só para isso. Traz asua família inteira para assistir, que amanhã vai ser o dia da escolha”. Aí foitodo mundo, a ‘cambada’ inteira da minha família. Eu fui pra maquiagem, e aAngel chegou perto de mim e começou a fazer perguntas, que eu fuiinocentemente respondendo. Perguntou meu nome todo, onde eu morava,etc. De repente, ela falou: “Que pena! É tarde e todos os seus familiares jáforam embora. Mas fica aí, você e sua mãe, até o final pra ver o que vai dar”.No último bloco do último programa, a Xuxa chegou e falou assim: “Gente, euqueria dizer que nós mentimos. Nós enganamos vocês. Falamos que viriauma menina de São Paulo e era tudo mentira. Ela concorreu com vinte meninase conseguiu passar todas, e agora é a nova Paquita, a Pituxita Ana Paula”.

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Nisso, eu vim desesperada, chorando pra caramba. Aí foi que surgiu o apelidoBonequinha. A Xuxa virou e falou: “Ela não é parecida com uma bonequinhachorando?”. A Louise veio e colocou o chapéu de Paquita na minha cabeça.

- Eu vim de Brasília para o Rio e fui assistir a uma gravação doprograma duas vezes - contou Cátia. - Na segunda vez, pedi para a Xiquitame deixar participar da brincadeira do desfile. Quando terminou a brincadeira,a Marlene me chamou no switch e me perguntou se eu não queria fazer testepara Paquita. Eu respondi que queria e fiquei fazendo teste por dez meses. AMarlene me disse que estava procurando uma menina com idade entre quinzee dezesseis anos. Na época, eu tinha treze anos. Aí eu continuei a freqüentaras gravações do programa. Até que numa festa de aniversário dela na Zoom,em São Conrado, a Xuxa pegou o microfone à meia-noite em ponto e falou:“A Marlene quer dar um presente hoje. A partir de agora, dia 27 de abril de1989, a Cátia é a Paquita Miúxa”. Ela entrou comigo, com o Cláudio, o Robsone o Gigio, que também estavam entrando para o programa. Uma semanadepois, a Xuxa confirmou tudo no programa.

- Eu curtia o programa lá em São Paulo - prosseguiu Juliana. - Nãoera fanática não, mas curtia. Até que um dia, cheguei do colégio e a Xuxaestava falando que queria uma Paquita paulista. Eu anotei o endereço, tipo debobeira. A minha intenção era mandar uma carta para a Sunshine, que era aempresa responsável pelas pretendentes paulistas, para tentar arrumar umtrabalho em alguma coisa parecida. Isso porque eu já participava de desfileslá em Limeira (interior paulista), mas achava que não tinha futuro. A minhameta era fazer desfiles e comerciais a nível profissional. Sem a minha mãesaber, eu e meu pai escrevemos uma carta e mandamos junto com umasfotografias do meu book. Passaram uns quatro meses, até que me ligaram daSunshine dizendo que eu estava entre as quarenta selecionadas de São Paulo.Marcaram uma data e fizeram milhares de testes, de onde foram escolhidascinco meninas para a final. Viajamos para o Rio de Janeiro e gravamos trêsprogramas com a Xuxa. Quando estávamos no último, eu fui escolhida paraser a Paquita paulista. Aí começou o meu problema. Eu adorei! Não esperavade jeito nenhum. Até aquele momento, eu estava curtindo a situação. Conhecero Rio, estar entre as cinco... Era tudo muito legal. Uma vitória! Eu levei umsusto quando a Xuxa falou: “Juliana”. As pessoas perguntavam o que euestava sentindo e eu nem sabia direito, estava muito assustada. Às duas horasda manhã, quando acabou a gravação, eu liguei para a minha casa e falei:“Pai, sou Paquita agora!”. Fui com o grupo para São Paulo e depois voltei

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sozinha. Fui ficando de casa em casa. Fiquei um pouco na casa da Xuxa, umpouco na casa da Letícia... Aliás, um bom tempo na casa da Letícia. Depois,conversando, resolvi que meu pai viria morar comigo. Para isso, ele teve quelargar minha irmã pequena, meu irmão também pequeno, minha mãe e oemprego dele, que estava numa época super boa. Ele estava ganhando muitodinheiro, estava super bem. Mas largou tudo e veio. Ainda não sei como elefez isso. Veio comigo por uma coisa que eu queria, e foi super ruim paragente. Eu tinha onze anos, e no primeiro ano longe da família foi um ‘baque’.Eu até fiquei doente, estava acostumada a ter hora para dormir, pra comer...Tem hora para tudo! De repente, eu venho para essa loucura, que não temhora para nada, não estudo, não faço nada. ‘Pirei’, ‘pirei’ mesmo. Perdi meusamigos de escola. Quando cheguei, sentia uma revolta de ter que ir à escoladaqui. Parecia um hospício! Em Limeira, era tudo rígido, tudo bonitinho. Quandoo diretor chegava na sala, todos se levantavam. Era tudo muito limpo. Erauma escola estadual super legal, com um ensino super bom. A escola daquiera particular e era uma ‘zona’, uma confusão. Deu um nó na minha cabeça.O primeiro ano foi deslumbramento. No segundo ano, comecei a me estruturar.Fui mais vezes à Limeira, me liguei mais a minha família. Se eu parasse parapensar: “Puxa, estou longe dos meus irmãos e da minha mãe”... Eu não melembro da minha irmã na fase de um pra dois anos, só me lembro dela depoisdos três anos. Tenho pena dessas coisas que eu perdi. Mas valeu a penaporque eu cresci muito, cresci pra caramba.

Agora é a sua vez, Catú! Conta aí, você saiu e voltou?

- Eu não era fã da Xuxa nem assistia ao programa dela, porque euestudava de manhã lá em Macaé. Mas não sei por que motivo eu sonhei comela no camarim. Nas férias escolares, eu vim para Niterói (RJ) ficar commeu pai, que é separado da minha mãe, quando meu irmão viu na televisão eme disse que a Xuxa estava precisando de uma nova Paquita e que eu deveriame inscrever. Depois de ele insistir bastante, eu achei que até podia ser. ARose, na época esposa do meu pai, trabalhava na Globo. Inclusive, ela não éminha mãe, mas sempre teve muito carinho comigo, sempre me deu forçapara tudo. Pedi a meu pai para ser Paquita, e ele então me perguntou: “O queé Paquita?”. “São as ajudantes da Xuxa. Trabalham no programa da Xuxa”.Ele me disse que iria ver o que podia fazer e falou com a Rose, que é amiga

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da Claudinha, secretária do Lacet, que por sua vez também é muito gentefina. Ela é minha ‘madrinha’. A Rose também é amiga do próprio WalterLacet (diretor artístico do programa). Eles disseram que a Marlene tinhacomentado com o Lacet que se ele tivesse uma menina para ser Paquita amandasse para fazer os testes. Chegando a produção, encontrei a Louisesentada no colo do pai dela, conversando com a Marlene. A produção erapintada de cor-de-rosa, uma bagunça! Isto em fevereiro de 1987 (oito mesesde programa no ar na Globo). Eu estava com um vestido preto, todo justinho,super queimada de praia, com o cabelo branco, dourado de sol. Cheguei meiosem graça para falar com a Marlene, pois eu só tinha doze anos de idade. Eela me disse: “É, eu gostei de você, mas você está muito mulher para a suaidade com esse vestido preto”. Naquela época, ela não gostava nem que aXuxa usasse roupa preta. “Você está muito mulher, venha aqui na terça-feira,que vai ter gravação. Mas traga umas roupinhas mais coloridas, mais alegrinhase mais infantis para você fazer um teste”. “Tá bom”, respondi. Saí e voltei naterça-feira. Me arrumei no camarim da Xuxa, e a primeira vez que a vi foiexatamente como a do meu sonho. Igual, a mesma coisa. Nossa!

Você se considera uma pessoa perceptiva?

- Muito! Eu sou muito. Eu fiquei no camarim super feliz, contente.Minha perna era toda loirinha, cabeludinha, e a Xuxa quando viu falou: “Ih,olha lá! Ela é igual a mim, toda cabeludinha, loirinha...”. Ela foi super gentilcomigo. Eu fiz o teste com as outras Paquitas me olhando de rabo de olho,com ciúmes porque eu tinha me arrumado no camarim da Xuxa. Fiz um mêsdireto de testes, e no final já não sabia se queria ser Paquita mesmo ou não,devido à não ser acostumada a ver aquele tipo de coisas que aconteciam lá.Aí, um dia, eu fui gravar e no terceiro programa já estava até pensando que aLuciana Vendramini era a vencedora e não eu. Tanto que antes de entrar nopalco eu a coloquei na minha frente. Mas a Xuxa me chamou e disse que euera a escolhida. Entrei no palco chorando muito, e ainda me recordo da imagemda Luciana se abaixando no canto da parede e chorando, toda ‘encolhidinha’.A Xuxa e a Marlene me elogiaram por minha emoção e sensibilidade, mefazendo chorar mais ainda. Fui acompanhada no choro pela Rose, que estavana primeira fila da platéia. Ela chorava muito, deixando o filho que estava aoseu lado, com cara de curioso, sem entender nada. A Luciana era experiente,linda de morrer. Eu tinha quase certeza que ela ia ganhar. Mas eu ganhei! Saí

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em 1989 e fui fazer um programa com a Louise na TV Rio, que não deucerto. Até que um dia em 1990, eu encontrei o Berry (coreógrafo da Xuxa)na rua e ele falou: “Pô, vamos até lá no programa, está todo mundo morrendode saudades”. Eu não sei se foi burrada ou inteligência ir ao programa. Fui ea Xuxa falou pra mim: “Puxa, o que você está fazendo?”. E eu respondi:“estou estudando inglês, talvez fazer intercâmbio”. Ela me disse “Faz espanhol.Segunda língua...”.

- Nada é por acaso - disse Roberta.

- Eu não me arrependo nem um pouco - continuou Catú. - Eu aprendimuito. A Xuxa chegou pra mim e disse assim: “Sabe o que é, Catú? Eu estouindo para o México e precisava levar uma Paquita. Só que as meninas estãomuito novinhas, não vão poder morar lá. E eu precisava de alguém que morasse,porque eu vou e volto. Mas você teria que ficar morando lá na minha casa, eeu só iria de vez em quando para gravar. Você está a fim?”. Respondi namesma hora: “Lógico, não estou fazendo nada. É lógico que estou a fim”.Como sempre, as coisas que falam que vão acontecer só acontecem bemdepois, isso quando acontecem. Eu cheguei para o meu pai e falei: “Pai, o quevocê acha? Vou até lá perguntar?”. Ele me respondeu que sim e eu fui.“Marlene, aquela proposta que vocês me fizeram para o México, mas oprograma não é mais para o México, é para Argentina, ainda está de pé?”“Lógico que ainda está de pé! Assim que comerçamos as gravações, entramosem contato contigo. Você ainda está fazendo espanhol?”. “Estou”. “Entãoestá bem”. Depois de algum tempo, fiquei sabendo que ela falou para todomundo que eu tinha pedido para voltar para o programa. Depois de meconvidar, eu é que fui pedir. Mas tudo bem, voltei. Voltei, mas com uma cabeçamais aberta. A ilusão que as meninas tinham, e que de repente eu voltava ater também, ainda tinha alguma força. Porque quando a gente vê, está fechadoali, fica ‘bitolado’. A gente aprende a não acreditar em nós mesmas. A primeiracoisa que a Marlene falou quando eu estive na produção foi: “Você foi umaboba! As meninas gravaram um disco, estão fazendo um filme, já compraramcarro, apartamento, isso e aquilo...”. Só que quando eu voltei, a realidade eraoutra. As meninas não tinham comprado nada. Estava tudo a mesma coisa dequando eu saí.

E você, Flávia?

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- Eu era fã da Xuxa e das Paquitas. Tinha quatorze anos e era muitotímida. Minha mãe é que me incentivava muito. Até que um dia, ela disse queeu estava com uma postura péssima e que tinha que fazer um curso demanequim. Ela me dava força em tudo, até escola de circo eu fiz durante trêsanos. Vieram os testes pra Paquitas. Eu me encantei e pensei: “É isso que euquero”. Fui tomando tino pra essas coisas com o tempo. Fui fazendo e vendoque não era bem por aí. Que eu não era murcha, quieta, na ‘minha’,introvertida... Que eu ia conseguir as coisas, que eu ia me realizar. Aí, quemestava dando um curso de manequim numa academia ao lado da minha casa?O Berry! Ele chegou pra mim e perguntou: “O que você acha de fazer umteste pra Paquita?”. Na época, era a maior coisa! Estava começando o sucessoda marca Paquita, e eu respondi que queria. Em casa, eu ficava: “Pô, quemáximo”. Eu nunca vou conseguir fazer o que elas fazem. Eu não sei dançar.Elas olham para câmera numa hora e já sabem quando tem que olhar paraoutra. E eu não sei nada disso. A minha mãe o tempo todo falava: “Flávia, vai,vai...”. Me empurrava. Eu ia ‘P’ da vida às vezes, mas ia.

Você então descobriu que existe uma luz em cima das câmeras, queacende mostrando para qual você tem que olhar?

- Foi! E a Catú me ajudou muito, me ensinou muito.

- A Catú é o maior barato - elogiou Roberta.

- A Catú é o contrário das outras mais velhas. Ela nos dá muito apoioem tudo - completou Ana Paula.

Catú é uma espécie de ‘mãezona’ para as meninas. Além de ser amais velha e experiente do grupo, ela sempre teve muito carinho e amizadepor todas. Enquanto as outras que saíram seguiram carreiras solo, ela continuoujunto às meninas, dando-lhes total apoio.

- Eu desenvolvi muito o meu lado criança também, entendeu? Nãoquis ficar “Ah, virei mulher...”.

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- A primeira vaga que ‘pintou’, estavam disputando a Letícia Spiller ea Cátia - lembrou Flávia. - Eu preferi ficar fora, e a Letícia ganhou. Depoisda Paquita paulista, que a Juliana venceu, veio a disputa da Paquita de todosos Estados. Tinha eu e outra menina do Rio, Bianca representando São Paulo,uma de Minas, uma do Espírito Santo e outra de Niterói (RJ). Ganhou aBianca. Fiquei desiludida! Desci as escadas do camarim chorando e pensando:“Está vendo? Puxa vida, não é isso! Marlene não gosta de mim”. Marlene foi,me chamou na produção e disse: “Se eu não gostasse de você, eu não techamaria para fazer teste. A próxima vaga que aparecer pode deixar que ésua. Se você quiser continuar vindo ao programa, você vem. Se não, vocêfica em casa e quando aparecer a vaga, você me liga e tudo está feito.”. Tudobem, eu já tinha feito os testes, tinha feito de tudo, não tinha mais nada afazer, era só ela ir com minha cara e falar: “Pronto! Você agora é Paquita”.Ou então não ir e falar: “Pô, desiste”. Eu continuei indo ao programa duranteuns dois ou três meses. Fui a um show das meninas para ver como é que era.Fui à Som Livre para testes de voz, acompanhei bem de perto o trabalhodelas, até que a Tatiana saiu e eu entrei no mesmo dia.

- Bom, o programa da Xuxa ‘rolava’, e eu nem assistia muito - revelouRoberta. - Preferia assistir ao Lupu Limpim Clapla Topo (programa comLucinha Lins e Cláudio Tovar, exibido entre 1986 e 1987). A minha primeiraparticipação na televisão foi nesse programa. Eu estava vestida de baiana, foimuito legal. Gravei em vídeo e depois de me ver achei que dava para tentaralgum dia. As pessoas mais chegadas disseram que eu deveria seguir a carreiraartística. Mas tive que ir morar em Curitiba por um tempo. Depois voltei amorar no Rio de Janeiro, e meu pai ia ser transferido novamente para Curitiba.Era meu aniversário e ele me concedeu um presente especial de despedidado Rio de Janeiro. Embora eu sempre fosse participar das gravações do Xouda Xuxa e adorasse a Xuxa, o que eu gostava mesmo era das Paquitas.Então, para variar eu pedi para ir pra gravação do programa pela última vez.Nós fomos e eu participei de quatro programas. Na gravação do primeiro, euparticipei do desfile e fui na nave junto com a Xuxa. Quando estávamos nanave, eu comecei a chorar. Chorei muito! Aí eu disse para ela que ia ter quemudar novamente para Curitiba, que eu a amava muito, que eu ia escreversempre para ela e que de vez em quando eu ia aparecer no programa...“Poxa, Roberta, logo agora que você ia ser Paquita? Logo agora que a Marlenete escolheu”. Eu fiquei quieta. Não falei nada e fui para casa. “Pai, a Xuxafalou que eu vou ser Paquita” “Roberta, é mentira! Que é isso, ela estavamentindo”. Eu pensei e falei que devia ser mentira mesmo. Nisso, minhas

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amigas me chamaram pra voltar para o programa e eu fui. Quando chegamoslá, eu participei novamente da brincadeira do desfile e ganhei de novo. AXuxa foi e disse que eu não poderia ganhar mais porque eu era hors concour.Aí eu comecei a chorar. Fiquei chateada e pensei: “Pô, a Xuxa sabe que euvou pra Curitiba e não me deixa ganhar”. Fiquei chorando lá no meu cantinho.Ela veio, me puxou pra perto e começou a desfilar comigo. Nós rolamos nochão e fizemos caras e bocas. No intervalo da gravação, a Marlene faloupelo alto-falante geral do Teatro Fênix: “Xuxa, eu quero a Roberta comoPaquita. Era ela que a gente estava procurando”. Aí eu dei aquela olhadasem rumo em volta, e a Marlene continuou: “Roberta, você quer ser Paquita?”.Eu não respondi na hora, e no final a Marlene voltou a me perguntar “Roberta,você quer ser Paquita?”. “Não, Marlene, eu não quero”. “Ué, por quê?”.“Não quero, porque meu pai foi transferido e a gente vai ter que mudar paraCuritiba. Eu não posso ficar aqui. Não posso ser Paquita”. “Espera que euvou falar com seu pai”. Ela chamou meu pai e disse: “Seu Paulo, o senhorquer que sua filha se torne uma Paquita?”. “Quero”. “Mas o senhor não vaipara Curitiba?”. “Vou, mas largo tudo! Para realizar o sonho da minha filha,eu largo tudo”. “Ah, então o pai da Roberta vai ficar sendo o sapo”, disse aMarlene, dirigindo-se às pessoas de sua platéia, e referindo-se à coreografianos shows da música do Sapo Pula-Pula (“Croc Croc”). Eu comecei a chorar.Como fui a primeira das ‘itas’ (Paquititas), teria que ser a Pituxita. Mas aMarlene queria que eu fosse a Catuxa II. A Xuxa disse que Catuxa II não.“Ela se parece com a Xiquita, vamos chamá-la de Xiquita II”. Ela ficou umtempo me chamando assim, até que resolveu que eu seria a primeira das‘itas’. Paquitita, que quer dizer Pequena Paquita. E assim eu me tornei aXiquitita, com onze anos de idade.

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O PRIMEIRO BEIJO

O primeiro beijo é, talvez para todos, um dos poucos momentos denossa vida que guardamos para sempre. Com as Paquitas não poderia serdiferente. Por isso, usei esse tema para ilustar a inocência de meninas emtempos de Paquitas.

- Ah, meu primeiro beijo foi demais!!!

Com uma cara de muita, mas muita saudade, um olhar desviado parao teto, mãos se espremendo, Ana Paula suplicou:

- Deixa eu contar?

Todas consentiram, balançando suas cabeças e se ajeitando em seuslugares. Silêncio total e olhares convergidos para ela, que começa a contar.

- Ainda me recordo bem. Minha maior dúvida era com relação àlíngua. Aliás, minha só não! Essa era a dúvida de quase todas as minhasamigas antes de darem seu primeiro beijo. O que eu deveria fazer com aminha língua? Colocar na boca do rapaz? Deixar na minha? E se ele colocara língua dele na minha boca, o que faço? Resolvi o impasse com a ajuda deuma amiga, que me ensinou a ‘treinar’ com uma uva, de preferência ‘moscatel’,bem grande. É simples, você dá uma mordidinha na uva e, segurando naponta dos dedos, começa a sugá-la, encostando a língua na uva. Assim é que

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acredita-se que seja o beijo de um príncipe. Doce, macio, úmido e,principalmente, puro e saudável, a ponto de ser inesquecível.

Depois de ter treinado muito, chegou o grande dia. Ela decidiu dar oseu primeiro beijo. Tratou de resolver logo um problema: o menino. Arranjouum colega, bonitinho é claro, para ‘ficar’, digo, namorar.

- Cara, foi muito legal. Ele estava mais nervoso do que eu, imaginesó! Não perdi tempo. Arrumei uma uva e pronto. Ficamos um tempão nosbeijando, com uma uva entre as duas bocas. Comemos uns dois cachos deuva. Foi o primeiro, o maior e o mais gostoso ‘beijo de uva’ que eu já dei naminha vida. Simplesmente demais!

- Ai, que melação. Por isso que você andou meio gordinha, não é? -soltou seu veneno Roberta. - Beijo de arrepiar deu mesmo a Cátia. Conta aí,vai!

- É, foi muito engraçado. Vou contar...

- Espera aí! Engraçado para você. Coitado do menino, não sabia nemo que estava acontecendo - continuou Roberta.

- Tudo bem, mas, você e a Priscilla sabiam de tudo.

- Sabe o que foi? Dois meninos bonitinhos a beça, que freqüentavamas gravações do programa, nos convidaram para irmos ao Tivoli Park, naLagoa - explicou Priscilla.

- Nós, ‘vírgula’! - rebateu Cátia.

Nesse momento, a Roberta, acalmando os ânimos só um ‘pouquinho’abalados, explicou:

- Eles tinham realmente convidado as três. Sabe como é? Tipo poreducação, sem saber a confusão que poderiam arrumar. Eu tinha o meu. Elasque teriam de decidir quem iria ficar com o outro menino. A Priscilla tinha queesperar duas amigas que queriam ir com ela ao passeio, sei lá, não me lembrobem, acho que moravam fora do Rio.

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Em pé: Tatiana, Xuxa, Ana Paula e Priscillla. Abaixadas: Bianca e Roberta

Bianca, Priscilla, Ana Paula e Xuxa

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- Moravam não, moram. Elas ainda não se mudaram, e muito menosmorreram.

- Eu acho melhor eu contar a história. Se vocês deixarem, é claro.Afinal, o beijo foi meu. Certo?

As meninas imediatamente ficaram em silêncio, o que era de seesperar. Disciplinadas como sempre quando o assunto é trabalho. O que erao caso naquele momento, por incrível que possa parecer.

- Bom, nós chegamos no Tivoli e foi aquela coisa, né? A Priscillaainda não tinha chegado com as amigas, a Roberta toda feliz com o cara queestava com ela. E eu suando frio cada vez que sentia vontade de atacar.Agora, vocês não vão acreditar! Eu tambem estava com medo da tal dalíngua.

- Está vendo? Não sou só eu não - gritou eufórica Ana Paula, comose estivesse tirando um peso da sua consciência.

- Cada vez que pensava na língua, inventava uma disputa entre osmeninos, para que eu e a Roberta pudessemos conversar. “E aí, vamos beijaros garotos ou não, pô?”. “Aqui em público não, né?”. “Se não fosse a língua,eu ‘tacava’ um beijo nele aqui mesmo”. “Cátia, esse papo de língua está mecheirando é a medo mesmo”. “Eu hein, medo do quê?”. “Do quê eu não sei,mas se demorar muito a Priscilla vai chegar, e aí...”. “E aí o quê? Estáquerendo dizer o quê? Você acha que ele está a fim dela? Ou é ela que estáa fim dele? Ah, não quero nem saber. Vamos para o Trem Fantasma, que comlíngua ou sem língua, no escurinho eu beijo”.

- Gente, vocês tinham que ver a cara dela. Parecia que tinha visto umfantasma. Pegou o menino pela mão quando eles saíram da auto-pista depoisde mais uma disputa e, sem explicar nada, saiu arrastando-o para o TremFantasma. Eu fui atrás para dar aquela força de amiga.

- Deixa de ser mentirosa, Roberta. Você estava com um fogo danado,isso sim.

- Cara, foi pior a emenda do que o soneto. Uma vez lá dentro, eu nemconseguia olhar para o lado. Fiquei parada como uma estátua, só sentindo umcalor danado e o cheiro do perfume do menino, que era ótimo. Enquanto isso,

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a Cátia no vagão de trás, quer dizer, acho eu, pois não tive coragem de olhare me arriscar a dar de cara com um olhar romântico que eu não pudesseresistir. Se isso acontecesse, o que eu ia fazer com a maldita língua?

- Nisso, chegamos ao final do Trem Fantasma e demos de cara coma Priscilla e suas amigas - prosseguiu Cátia. - Enquanto os rapazescumprimentavam-nas, perguntei a Roberta: “E aí, foi bom pra você?”. “Evocê, beijou lá dentro?”. “Não”. “E agora, o que você vai fazer?”. “Não voudeixar barato, não. Daqui ele só sai depois de me beijar. Dá licença, Priscilla”.Não foi assim que aconteceu, Roberta?

- Foi! - risos de todas.

- Foi sim - continuou Cátia. - Me deu uma loucura, peguei na mãodele e o puxei para dentro do Trem Fantasma, novamente pra uma voltadecisiva. As pessoas ficaram nos olhando sem entender nada. Mal o vagãodo trem começou a andar, o menino foi logo me agarrando e me beijando, semparar nem para respirar. Até a saída, onde todos nos esperavam curiosos.Saímos do brinquedo sem dar conta de ninguem. Corri em direção a ela,quase que em êxtase, gritando “Beijei! Beijei! Beijei!!!”. Roberta me abraçoue fomos embora juntas, deixando os meninos, a Priscilla e suas amigas sementender nada do que estava acontecendo. Foi muito legal.

- Calma aí, calma aí - interrompeu Roberta.

- O que foi?

- Você está esquecendo de contar a melhor parte. Está esquecendoque, quando você saiu, estava parecendo um palhaço de circo. Aliás, os doisestavam com as bocas completamente borradas daquele batom super vermelho,que eu não sei por que você passou antes.

- Passei sim. Só pra ficar mais bonita, ué! Não posso?

- Que coisa! Vê se pode? - disse Catú.

- Vê se pode o quê?

- Eu não me lembro do meu primeiro beijo. É mole?

Depois dessa afirmação da Catú, perguntei às outras sobre os seusbeijos. Todas lembravam-se, mas curiosamente acharam que essas duashistórias as representariam nesse ato único que é o primeiro beijo.

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NAS ÁGUAS DO SUCESSO

- Em Fortaleza, a Marlene entrou numa de testar nossa popularidade:“Meninas, vamos todas para a praia. Desçam com as camisetas, que eu querotestar a popularidade das Paquitas”. Fomos todas para a praia com a Marlenee os seguranças. Quando o povo viu a gente descendo a rua indo pra praia,correu em nossa direção e a Marlene gritou: “Não toquem nas minhas Paquitas!Não toquem nelas!”. Alguns fãs passavam as mãos nos nossos cabelos. “Tiremas mãos! Deixem as meninas”. Ela começou a ficar preocupada, mas resolveulevar a gente a praia assim mesmo. Chegando lá, nos disse para ficarmosdespreocupadas, que ela iria ficar de guarda tomando conta da gente. Fomospara a água, e o povo que estava saindo do colégio, com uniformes, pastas,mochilas, etc. entrou na água com roupa e tudo mais. “Magno, vá até lá etraga as meninas para fora”, ordenou a Marlene. Foi muito engraçado, oMagno (atual chefe da segurança) teve que dobrar a calça comprida e entrarna água acompanhado dos seguranças e da Marlene para tirar a gente domeio dos fãs - lembrou Bianca.

- Em Fortaleza, também num show das Paquitas sozinhas, resolvemospassear na praia - continuou Roberta. - Todas estávamos com roupas denoite, meio transparentes. Começamos a brincar de pique, jogando água unsnos outros, inclusive os seguranças. Mergulhamos e depois voltamos para ohotel encharcadas, com as roupas coladas nos corpos. Eu estava usando ummacaquinho branco, imagina? Foi muito gostoso, cara!

- Eu tinha doze anos, e nessa mesma praia estava ensinando para aAna Paula a brincadeira de fazer um coração na areia com um pauzinho,escrever o nosso nome e o nome de quem a gente estava a fim ou do namoradoe esperar a onda vir. Se ela apagasse o meu nome, era porque eu estava maisa fim do que ele; se apagasse os dois, era porque um estava a fim do outro. Se

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não apagasse nenhum, era porque não ia dar em nada. Fui ensinando a umapor uma e quando acabei, a Cátia veio e me jogou dentro da água. Enquantoisso, as outras gritavam que era sacanagem e entravam correndo na água,seguidas por seguranças e algumas pessoas da equipe. Já passava das onzehoras da noite - completou Juliana.

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SER PAQUITA

Ser Paquita es...

...ser parte de ese milenário sueño

que hoy se realiza: hacer feliz la vida.

Haber venido del Celestial Reino

a ser, con hermosura y simpatía,

figura angelical y compañia

de uma princesa cósmica en la Tierra,

que es arco-iris, arte y fantasía.

Princesa cuyo pueblo son los niños

y cuyo Rey es Dios, que en su camino,

le puso almas vibrantes de cariño,

y coronó de glória su destino

de ser un sol radiante de dulzura,

de magia, de energia, de ternura,

e de ser luna llena de pasiones,

romántica de sueños y emociones.

Y ser Paquita es, junto con ella,

ser en la Tierra una dorada estrella

que ilumina la fé, las ilusiones,

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Entrevista coletiva

Entrevista coletiva

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con música, color, baile, poesia;

Y hacer vibrar de amor los corazones

con infantilidad, con alegría.

Claudio Omar Rodrigues

Essa demonstração de amor por parte de um admirador argentinomostra o carinho que as meninas conquistaram nas suas viagens internacionais.Elas têm diversos fã-clubes por toda a América, graças ao amor e carismadelas.

E foi justamente viajando que começaram a passar necessidades quenunca poderiam pensar que fossem acontecer. Até nas viagens para aArgentina, elas sofreram com o descaso da Marlene (hoje o principal motivode disputas em processos trabalhistas com a Xuxa Produções). Depois decortar a única refeição que seus funcionários ‘ilegais’ brasileiros tinham direitono hotel (pois até a água e o telefonema para suas famílias era pago a parte),nenhum dos agentes de segurança as acompanhava até algum restaurante,que por acaso, em Buenos Aires, não ficavam perto do Hotel Regente, ondeestavam todos da equipe, muito cansados de gravar o dia inteiro, sem condiçõesde sair do hotel para nada. Com exceção da Xuxa, da Marlene e dosseguranças em serviço, que, logicamente, estavam na casa argentina da Xuxa,longe da ‘turma’.

Com isso, as meninas eram obrigadas até a esquentar sopa no ‘bidê’da suíte. Sopa esta levada do Brasil por elas. Os argentinos, que as adoram,assim como diversos jovens em todo o continente americano, e que assistiamao programa, jamais poderiam pensar que esse tipo de absurdo acontecesse.

As Gêmeas chegaram a levar uma máquina de esquentar, que usavamem cima da cama para derreter queijo. Todas comiam muito queijo derretidoe Alfajor (doce tradicional da Argentina), chegando a ficar inchadas. Depois,só broncas! Nas viagens nacionais, logo no início, iam de avião ou de‘Paquimóvel’, uma veraneio cedida pela Chevrollet para transportar as meninas.Há algum tempo, elas viajam de ônibus de carreira ou não viajam, pois o‘Paquimóvel’ primeiro serviu de transporte de carga da fazenda da Xuxa edepois desapareceu.

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Entrevista coletiva

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TRAPALHADAS E ‘MICOS’ INTERNACIONAIS

El Negrón foi uma passagem cômica dentro de várias acontecidasnas viagens de Xuxa e sua equipe pelo mundo afora. Cátia, sempre que pode,causou problemas ao Silvão, na época chefe da segurança da Xuxa, hoje umdos reclamantes judiciais trabalhistas contra a Xuxa Produções. Quem relatao episódio é a Bianca.

- Nós estavámos na Espanha ou em Porto Rico, eu não me recordobem. Só sei que foi no ano de 1990. Estavámos saindo do hotel numa limusine.Marlene, quatro Paquitas e Xuxa. Silvão sempre falava que a Cátia não gostavadele, porque ela sempre pegava no pé dele e todos nós sabíamos disso. Nahora que o carro começou a andar, a Marlene olhou para todos e disse: “Ué,está faltando alguém”. “Que é isso, não está faltando ninguém, imagina”.“Está faltando alguém”. Ela contou as Paquitas, a Xuxa, e, de repente, Cátiacomeçou a gritar: “Pare! Pare! Falta El Negrón! Pare! Pare!”. Nos danamosa rir sem parar, enquanto o motorista ficou sem saber o que estavaacontecendo. “Que passa? Que passa?”. Nós continuamos a rir, semconseguir explicar o que estava acontecendo para o motorista, que parou sementender nada. Nessa época, nós não sabíamos quase nada em espanhol.Quando olhamos para fora, vinha aquele negão de três metros de altura pordois de largura correndo atrás do carro. Ele tinha ido comprar um souvenirnas lojas do hotel. E nós, por incrível que pareça, tínhamos esquecido dele.

- Quando fomos a Miami (Estados Unidos) pela primeira vez, inclusivepara Xuxa, fomos eu (Roberta), Xiquita (Andrea Faria), Pituxa (Letícia Spiler)e a Pituxita (Ana Paula Almeida). Isso foi no final de 1989. Ficamos numhotel, que naquela época era dos mais luxuosos e que tinha uma dessasmáquinas de refrigerante da Pepsi, que só chegaram aqui há pouco tempo e epra gente era uma novidade. Nós nunca tínhamos ido a um lugar assim,

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Cátia, Priscilla e Juliana

Da esquerda para a direita: Cátia, Priscilla , Roberta e Juliana

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moderno. “Ai, gente, adorei essa máquina. Por favor, Magno, me dá setentae cinco centavos (U$ 0,75), que eu quero experimentar”. Aqui no Brasil nãoexistia essa onda de importados. Eu ainda tinha aquele meu ‘probleminha’ defalar com a língua presa. O Magno me deu o dinheiro e perguntou “Você vaiaonde?”. “Vou comprar uma Pepsi (com a língua presa)”. “Vamos lá, eu teajudo a pegar na máquina”. “Vamos embora”. Aí foi todo mundo pra máquinae eu perguntei pra ele como é que era. “Olha, você tem que fazer o seguinte:você pega o dinheiro, coloca na máquina e grita o nome do refrigerante quevocê quer”. Na época, eu queria o novíssimo Diet Pepsi. Estavam todosreunidos, camareira, faxineiro, etc. Eu coloquei a moedinha na máquina ecomecei a gritar: “Diet Pepsi” (com a língua ainda presa) várias vezes. OMagno então chegou para mim e disse que eu tinha que gritar mais alto,porque a máquina não estava me ouvindo. E eu, burra, ingênua, treze anos deidade, continuei: “Diet Pepsi! Diet Pepsi!”. Gritei ainda mais alto, na frentede todo mundo, foi um riso geral. O Magno continuou a me enganar, pedindopara eu falar mais alto ainda. Pensei então: “Vou tirar o Diet, porque possonão estar conseguindo falar direito por causa da minha língua presa”. “Pepsi!Pepsi”. “Mais alto”, disse o Magno. “Pepsiii! Pepsiii!”. “Espera aí, vou teajudar”, disse o Magno, se aproximando da máquina e, sem deixar que euprecebesse, apertou o botãozinho e ao mesmo tempo batendo com a mãonela, liberando a latinha de Pepsi. “Puxa, Magno, você conseguiu, hein?”“Pois é, Roberta, a máquina estava com defeito”. Fiquei toda feliz com aminha latinha. Até que a Ana Paula chegou na máquina, colocou moedinha eficou gritando: “Coca-Cola! Coca-Cola!”. E apertou o tal botão e pegou alatinha. Então eu cheguei para ela e perguntei: “Ana, por que você apertouessa paradinha?”. “Ué, para sair a latinha tem que apertar o botão”. “E porque você ficou gritando?”. “Ah, queria te imitar”. Eu não achei graça nenhuma,e não falei nada para a Xuxa nem pra mais ninguém. Depois, de volta para oBrasil, nós fomos para o Domingão do Faustão. E para minha surpresa, aXuxa contou ao vivo o meu mico para todos. Fiquei passada.

Em abril de 1991, as Paquitas mais novas viajaram para Los Angelespara o lançamento do disco em espanhol da Xuxa nos Estados Unidos. ForamRoberta, Juliana, Priscilla e Cátia. Todas com menos de quinze anos de idade.Receberam como presente um passeio à Disney, com o Berry controlando-aspara que não tirassem fotos. Uma noitada em uma boate no dia do aniversárioda Marlene e uma tarde de pichação com lápis piloto na famosa Calçada da

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Fama com a Xuxa. Já em Nova Iorque, foi a vez de desafiar as leis de trânsito.As meninas foram autorizadas a dirigir um dos carros da Xuxa.

De volta a Los Angeles, foi a vez do nosso fiel amigo, o Silvão, pagaro seu mico. Ao misturar inglês com portuquês, ele pediu em uma lanchonete“Tem milk?”. E foi prontamente servido com dez (ten) copos de leite, para agargalhada geral. Elas também foram fazer uma apresentação na entrega do

Disneylândia. Da esquerda para a direita: Berry, Silvão, Cátia, Juliana, Roberta e Priscilla

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prêmio Grammy, e a melhor parte do evento foi o traje da Marlene: ternosocial com gravata borboleta e gel no cabelo. Completamente de ‘vanguarda’para o tradicional prêmio norte-americano.

- Nós fomos a uma entrevista em Miami e não falávamos muito bemo espanhol. Era a segunda vez que a Xuxa ia para Miami, e nos disse que erapra respondermos com pequenas frases, tipo: “Mucho gusto”, “plazer”, etc.- contou Priscilla.

- Como nós não sabíamos falar coisa nenhuma, fiquei dentro do meuquarto só ensaiando, treinando ‘portunhol’: “Mucho gusto”, “mucho gusto”,“mucho gusto”... Quando chegou a hora da entrevista, todas riram de mim,dizendo que com ‘muito custo’ eu tinha aprendido ‘mucho gusto’. As meninascontaram para a Andrea Faria, que contou pra Xuxa, que contou pra todomundo, mais uma vez, no Domingão do Faustão - lembrou Cátia.

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MENSAGEM

Xuxa e Ana Paula Almeida

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Quarta-feira, 19 de outubro de 1994.

Fizemos nesse dia a leitura das primeiras páginas desse livro, sem apresença da Ana Paula Almeida. Ela não pode comparecer, pois tinha umcompromisso na sua igreja. Alguns de nós pensaram na possibilidade de queela estivesse com dúvidas. Ela estava bem mais próxima da Xuxa ultimamente,mas por outro lado estava se aproximando de Deus. Ela sempre me pareceua mais sonhadora de todas. Seus olhos sempre se encontraram distantesquando conversávamos, tanto de coisas boas quanto de ruins. Para seus olhos,o sonho continuava vivo e forte como um fogo eterno de amor. Talvez issotambém possa ser um efeito causado pela abertura espontânea do seu coraçãopara a religião, para Deus.

Tento compreendê-la, penso nas desilusões as quais poderíamospassar em conseqüência dessa ou de outra história qualquer que trate defatos reais, sem capa, sem qualquer tipo de compromisso a não ser a verdade.Mas na vida temos que ter coragem para agarrar as oportunidades, que semdúvida nenhuma nos são dadas por Deus.

As desilusões, os momentos difíceis poderão acontecer, mas serãopassageiros. Só nos restará a satisfação imensa de ter conseguido realizar osonho de ser livre, independente. Todavia, se nos intimidarmos, estaremosrenunciando ao que nosso Deus nos ofereceu. O dom sagrado de crescerexterna e internamente. Sem dúvida, nos arrependeremos e veremos que avida passou ao longe, levando consigo os nossos sonhos. E nós, sem nenhumaexplicação, vivemos os sonhos dos outros como se fossem os nossos.

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JANTARES, CONVITES E FESTAS

No final de 1993, na Argentina, aconteceu um curioso jantar na casada Xuxa, com a presença de convidados ilustres argentinos e do Brasil. Entreeles, estava a estrela da música latina Mercedes Sosa. Marlene ordenou àsmeninas que comparecessem vestindo calca Lee, camiseta e boné da Arisco.Elas estavam super cansadas, pois tinham gravado até tarde nos últimos dias,e queriam mesmo era ficar no hotel dormindo e descansando. Mas tinhamque obedecer e foram até a casa argentina da Xuxa .

- Foi muito engraçado. Nós ficamos desde as três horas da tarde atéas nove horas da noite do lado de fora da casa. Aliás, ficaram sete do lado defora, junto aos seguranças e aos repórteres. Somente a Juliana pode participar,junto à mesa com os convidados ‘finíssimos’, fazendo um contraste total comsua roupa de ‘plebéia’. Tivemos que disputar uma lingüiça com os segurançaspara comermos com pão. E tudo isso debaixo de um frio insuportável.Chegamos a tremer de frio e de fome. Além de estarmos do lado de fora dacasa, estava caindo uma garoa fina, e a grama toda molhada, nos obrigando adividir um banco de ferro, daqueles de jardim. E a gente ali, só babando comas bandejas cheias de comida, com aquele cheirinho… Os convidados só sedivertindo e comendo, e nós óóó!!!

- Teve um pãozinho com não sei o quê, que foi o bicho. Saímosavançando e ele acabou ‘rapidinho’ - lembrou Roberta.

- Eu sei que é falta de educação comer à mesa usando boné nacabeça. Pedi a Marlene para tirar e ela não deixou. Tive que comer vestidade calça Lee, camiseta e boné no meio de convidados ilustres, super bemvestidos, super educados - contou Juliana.

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- É, mas você se deu bem, pode comer paella na sala, na hora,fresquinha… Nós só comemos o resto, depois que todos tinham comidobastante - disse Bianca.

- Hummm, mas aquele pãozinho… - continuou viajando nos canapésa Roberta.

- Era pra todo mundo, sabia? E eu não comi - reclamou Ana Paula.

- Isso é verdade. Eu estava cochilando e escutei aquela coisa assim:“Pipoco, frango, chichonucci…”. Avançou todo mundo. “Dá um pedacinho,pelo amor de Deus” - disse Flávia, seguida de risos intensos de Ana Paula,

Menem: jantar em sua casa

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que não parou mais. - Quando chegaram as paellas para as meninas, trazidaspela Maria (governanta da Xuxa), a Marlene veio comer do lado de fora.

- Também... Não sabe comer churrasco à mesa com tanta gentefina, né? - apimentou Juliana, com mais risos desenfreados de Ana Paula.

- Gente, e aquele jantar na casa do Menem (presidente da Argentina)?Nesse dia a Xuxa nem veio falar com a gente - lembrou Bianca.

- Ela falou sim. “Oi, meninas”, e foi entrando. Nem parece quetrabalhamos com ela tantos anos. No programa, ela fala com todo mundo,inclusive o Marlboro (DJ), que nos adoramos, ele é uma gracinha de pessoa,mas entrou para o programa agora. Ela vai até ele e conversa. Já com agente é no máximo: “Oi, meninas” - criticou Roberta. - Numa gravação feitaem agosto de 1994, a Xuxa ficou olhando para fotos antigas com um certo arde desencanto. Ela olhava para a gente e olhava para as fotos com saudadedo nosso tempo de criança pequena. Numa viagem a Salvador (Bahia), elachegou para gente e falou: “Como vocês cresceram”. Não sabemos o motivoda decepção dela em relação a tomarmos o rumo de vida normal de cada servivo. Nós continuamos gostando muito dela. Também teve um dia que eu,Cátia e Ana Paula estavamos dentro do banheiro do camarim, quando ouviramuma voz familiar e foram ver quem era. Surpresas, demos de cara com aXuxa, que tinha ido ao camarim apenas para levar flores para as Gêmeas. Enós, nada! Pô, isso machuca a gente, cara! Quando nós entramos, era umdengo só por parte da Xuxa. A Marlene, embora grosseira como sempre,ligava para nossas casas convidando para passarmos uns dias com a Xuxa.Um dia, ela ligou para a Catú e falou: “E aí, Catú? É a Marlene”. “Oi, Marlene,tudo bem?”. “Você quer ir para a fazenda com a Xuxa?”. “Espera aí,Marlene…”. “Espera aí não! Eu estou querendo saber se você quer ir ounão”. “As meninas também vão estar lá?”. “Eu estou querendo saber sevocê vai ou não. Se elas vão estar lá, eu não sei”. “Não, não quero ir não. Euvou para Macaé ficar com a minha mãe”. “Está bem”. Desligou. Ela não quissaber de nada, como sempre sequer deu um ‘bom dia’. Foi seca e objetiva. Jáaconteceu algo parecido comigo. A Marlene ligou para a minha casa e falou:“Eu já liguei para a Priscilla e ela não sabe se vai, e você?”. “Olha, Marlene,eu não quero ir, porque vou passar o reveillon com meus pais. Eu já prometi aeles”.

- Engraçado é que quando ligou para mim, ela falou: “Eu hein, menina!Você fala muito, não sai do telefone. Estava falando com quem? O telefone

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da Roberta estava ocupado o tempo todo também. Você estava falando comela? Vocês conversam muito, hein? Você vai para Angra dos Reis com agente?”. “Sabe o que é? Eu prometi a minha mãe que vou passar com ela,não vou deixá-la aqui, sabe como é?” - contou Priscilla.

- Eu disse para a Marlene que iria passar as festas de fim de ano commeus pais, meu irmão e meus amigos, e com a Priscilla e os pais dela também.“É isso aí! Já tem tanto baba-ovo em volta da Xuxa que é melhor vocêsaproveitarem com seus amigos e com seus pais mesmo. Divirtam-se”. Elafala isso, mas é ela mesma quem chama as pessoas para ficarem em volta daXuxa, fazendo palhaçadas para ela se divertir. Ela não gosta de ver a Xuxasozinha para não ficar com a consciência pesada, pois ela sabe que éresponsável pela tristeza da Xuxa, deixando só quem lhe interessa chegarperto, não respeitando a liberdade da Xuxa de ter seus próprios amigos. Elafaz com que a Xuxa abdique de muitas coisas que ela gostaria de fazer navida. Foi uma desilusão para a Marlene quando ela percebeu que nós estávamosdando mais valor para a nossa família do que para aquela obrigação que onosso trabalho exigia, de estar sempre fazendo as vontades particulares dela.Até porque quando íamos às festas, elas só davam atenção para os mesmos.Fafi (Siqueira), Andréa Veiga, Gêmeas... E nós ficávamos juntas num cantoqualquer, sem atenção nenhuma. No sítio da Marlene, teve uma pessoa quepediu para a gente dançar para os convidados da festa. Nos negamos e essapessoa chegou para a gente e falou: “É por isso que a Marlene estádecepcionada com vocês. Ela disse que vocês não são mais as meninas queeram antigamente. E é por isso que as Gêmeas estão no lugar que estão. Elassabem fazer a Xuxa rir e chorar. Vocês cresceram, não sabem mais fazerisso” - continuou Roberta.

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A REUNIÃO

Posso afirmar, com absoluta certeza, que a reunião convocada porMarlene Mattos na sede da Xuxa Produções, na Barra da Tijuca, no início demarço de1994 foi até hoje o momento de pior lembrança para as meninas. Elafoi lembrada em praticamente todas as vezes que estivemos juntos, trabalhando.Mas o que certamente chamou a atenção para o quanto isso foi forte paraelas foi o relato feito por Flávia a mim, sozinhos, dentro do meu carro.

Eu estava dando uma carona para ela, visto que moramos próximosum do outro, e não pudemos atravessar o túnel Rebouças, que estava emmanutenção preventiva. Para quem não mora no Rio de Janeiro, issorepresenta para a nossa viagem uma perda de 100% de tempo a mais. Ouseja, de vinte minutos a duração da viagem passou para quarenta minutos.Ela, que normalmente é muito falante e alegre, estava completamenteemocionada, mostrando que essa reunião as tinha magoado profundamente.Como acredito que tudo na vida tem realmente um porquê, acho que pode tersido uma ajuda, embora com meios, a meu entender, pervessos e sempropósitos. Ajuda essa para que as meninas tomassem a atitude de chegarmais perto do público, que, por motivos alheios às suas vontades, estava ficandocada vez mais longe, devido à drástica diminuição de suas participações noprograma de televisão.

- Olha, João Henrique, foi muita sacanagem o que ela fez com agente. Parecia que estavámos num açougue e que éramos a carne, penduradasna vitrine para que ela nos analisasse e desse a sua opinião. “Essa é deprimeira, essa é de segunda...”. Ai, que droga. Não me conformo, fiquei ‘P’da vida.

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Depois de me contar o episodio com muita, mas muita indignaçãomesmo, Flávia ficou em casa e deixou na minha mente a preocupação sobreo tamanho do prejuízo nas cabeças das meninas. Também por esse motivo,em todas as reuniões (as nossas, é claro) discutimos sobre esse assunto, quedois meses depois já estava superado.

Era mais uma reunião com todas as Paquitas. Antes de começar,elas tentavam, com suposições, descobrir qual seria o assunto, pois Marlenenunca lhes adiantava o assunto a ser tratado. Mas, enfim, tinha chegado ahora. Alguém mandou que elas entrassem na sala da Marlene. Ela iria atendê-las.

- Ai, meu Deus, lá vem bronca - comentou Juliana.

- Hoje eu não estou muito a fim - disse Cátia.

- Que saudade da minha vidinha lá no interior - sussurou Juliana.

Ao entrar na sala elas cumprimentaram a Marlene em coro.

- Oi, Marlene, tudo bom?

- Tirem a roupa!

Silêncio total. Uma olha para a outra, sem entender direito o queestava acontecendo.

- A Xuxa não está muito satisfeita com vocês - continuou Marlene.

- A blusa também? - perguntou Catú, perplexa.

- A roupa toda! O que é? Vocês têm alguma coisa para esconder-me? Eu conheço todas as suas celulites.

- Não se trata disso - respondeu Bianca.

- Então andem logo com isso.

- Será que posso pelo menos fechar a porta? - perguntou Bianca.

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Marlene faz um gesto afirmativo com a cabeça e Bianca fechou aporta da sala, que até então estava totalmente aberta, com pessoas passandode um lado para o outro - o que parecia não importar muito a ela. Depois defechada a porta, quase que num gesto único, as oito tiraram toda a roupa,ficando algumas de calcinha e sutiã, outras só de calcinha por não estaremusando sutiã. Mas, com certeza, todas em estado de choque.

- Muito bem, agora virem de costas - sentenciou Marlene.

Todas estavam perfiladas. Ninguém tinha coragem de falar nada,sequer olhavam para a frente. Estavam todas de cabeças baixas, humilhadasao extremo. Nesse momento, tocou o telefone. “Poderia ser a salvação”,pensaram quase que ao mesmo tempo as meninas. Sem constrangimentoalgum, Marlene conversou ao telefone por alguns minutos, sem consentirsequer que suas mercadorias pudessem sentar. Ao término da ligaçãotelefônica, ordenou que todas se vestissem, exceto a Priscilla e a Ana Paula.Depois de mais um pouco de exame minucioso, ela determinou que as duasteriam uma semana para emagrecer, pois estavam fora do ‘padrão dePaquitas’.

- Eu já sabia que ia levar bronca, pois tinha engordado uns dez quilos.Mas mesmo assim, quando ela começou a falar, só pude mesmo chorar -lembrou Ana Paula.

- Qual é o problema de vocês? Se alguma de vocês está precisando,que procure um psicanalista ou vai ficar maluca - disse Marlene.

- Posso me vestir? - perguntou Priscilla.

- Sim. Mas não se esqueça de ir a um psicanalista pra não ficarmaluca.

Nessa mesma reunião, Marlene perguntou às meninas:

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- Quem é que tem namorado? Eu não admito que mulher sejasustentada por homem. Mulher tem que ser independente. Vocês não podemser iguais a mãe de vocês, gorda, com a barriga encostada num fogão, enquantoo pai de vocês fica comendo as garotinhas pela rua. Eles não querem nadacom suas mães porque elas dependem deles. Vocês querem trabalhar numaPakalolo aí da vida? O futuro de vocês é atrás de um balcão de uma lojinhaqualquer. Eu não queria nem por cinco segundos ter uma cara igual a devocês. Vocês são bonitinhas, mas têm um neurônio desse tamanho (fazendoreferência pequena com as mãos, ignorando que o neurônio não tem tamanho,mas sim quantidade).

- Ela chegou pra mim e falou coisas que eu nunca pensei que iriaouvir. Falou que eu estava pensando que era a Xuxa, mas que só existe umaXuxa. E que ela tinha informantes que lhe contaram isso. Eu falei que aspessoas que falaram isso para ela estavam mentindo, que eu nunca quis ser aXuxa, que eu sabia que ela era única. Nunca passou isso pela minha cabeça,ela estava totalmente enganada. Eu gosto muito da Xuxa, mas quero ser eumesma - contou Ana Paula.

Depois disso, ela chegou de uma em uma perguntando o que o seunamorado fazia da vida, onde morava, em que faculdade ele estudava e setinha boa posição financeira. Contradizendo-se na questão de dependênciafinanceira da mulher.

Ao ficar sabendo do namoro da Cátia com o Djair, e da vontade dosdois de se casarem, ela se fez de feliz e até anunciou o casamento durante umintervalo de gravação, em tom de brincadeira. Porém, logo depois, numareunião com a Lenice (secretária particular da Marlene), elas foram advertidassobre o incômodo sofrido pela Marlene com a ida constante de namorados aofinal da gravação para pegarem as meninas com carros importados, tipo umcerto Mitsubishi (carro do Djair).

Em outra ocasião, a própria Marlene disse para as meninas que aindanão tinham namorado para que arrumassem um namoradinho mais simples,mais discreto. Contradizendo-se mais uma vez, disse também que elas nãodeveriam ficar transando hoje com um, amanhã com outro. Essas duras (enão-verdadeiras) palavras chocaram e revoltaram ainda mais, fazendo-aslembrar de uma determinada viagem ao Paraguai em que foram Catú, Bianca,

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Ana Paula e Roberta. A Xuxa e a Ana Paula estavam bem maquiadas, já asoutras estavam pouco maquiadas. Era bem cedo ainda, o dia tinha acabadode clarear e todos estavam no micro-ônibus que os levaria ao avião na pistado aeroporto. A Roberta e a Bianca sentaram juntas, perto da Marlene, quandode repente ela olhou para as meninas e disse:

- Parece que vocês ‘deram’ a noite inteira! Vão se maquiar.

Uma semana depois, reuniram-se novamente na Xuxa Produções.Dessa vez, com a presença da Xuxa, que conversou com todas e declarouque não iria mais intervir a favor de ninguém, pois estava decepcionada.Somente algumas tiveram que tirar a roupa nessa reunião para o veredictofinal. Elas foram aprovadas e informadas de que fariam um comercial para aArisco. E para a surpresa geral, Marlene as tratou bem e rápido.

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RELACIONAMENTO PROFISSIONAL

- Nós não temos liberdade de mostrar nada. Somos um grupo e tudoque aparece de chance para gente é vetado pela Marlene. Não só por ela.Tem muita gente perto dela que não quer que a gente cresça. E não deixa ascoisas chegarem até ela. Às vezes também, a gente não se sente à vontadepara expor tudo aquilo que pensamos. De repente, temos a oportunidade, e nahora de mostrar, não mostramos. No começo, nós éramos crianças. Estávamos

As Gêmeas na Argentina em primeiro plano, com as Paquitas atrás dos cenários

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ali para fazer palhaçadas. Para que a Xuxa estivesse rindo o tempo todo, detudo que acontecesse a sua volta. Para que ela ficasse feliz. Depois, nósfomos crescendo, e elas foram vendo que nós não estávamos mais tãoengraçadinhas. Viramos mulheres de repente. Aí não servimos mais paraficar de ‘bobo da corte’ para ficar ali do lado da Xuxa, para ela ficar rindo,feliz o tempo inteiro. Hoje tem outras pessoas do lado dela fazendo palhaçadas,fazendo com que ela se divirta e passe o tempo quando não está trabalhando.Agora nós temos namorados, temos uma vida, casa para cuidar, temos família.Não temos muito a oferecer hoje em dia. Amadurecemos. Já passamos dafase do ‘he, he, he’. Nós não chegamos mais perto da Xuxa com a naturalidadede antes. Ela sempre diz: “Minha casa esta sempre aberta”, Mas não é maisa mesma coisa do início. Tem sempre alguém em cima, tomando conta, tirandonossa liberdade. Não conseguimos mais ficar as oito com a Xuxa paraconversar. E o pior de tudo, para nossa desilusão, é que a Xuxa não reage.Ela consente. Nós sentimos até que ela quer, às vezes, ficar sozinha, parabater papo tipo amiga mesmo. E esbarra no mesmo problema: ou é a Marleneou é alguém que não deixa. Nós adoramos as Gêmeas, não gostamos nuncade falar essas coisas, mas elas ficam na casa da Xuxa como se fosse na casadelas, como se fossem as donas. Abrem a geladeira, fazem de tudo e a gentefica ali, óóó... De repente, nós também vamos fazer e elas falam assim: “Nãofaz não. Não faz não. Olha a Maria chegando aí”.

Porque as Gêmeas têm essa liberdade e vocês não, se vocêsconhecem a Xuxa há mais tempo?

- O que acontece é o seguinte: elas largaram tudo, até a família, parase dedicar exclusivamente para a Xuxa. Chegaram a morar três meses nacasa dela. Elas têm outra cabeça, completamente diferente da nossa. Elasgostam de ser assim. Estão felizes. A Xuxa e a Marlene têm família e maisuma penca de amigos que elas também adoram. Vivem junto a eles, e nós nãoqueremos abdicar da nossa família para viver junto a elas

Pareceu-me nesse momento que as meninas tinham um problemaem relação a estar com a Xuxa ou estar com a família. Mas por esse tipo deindecisão? Seria um problema interior delas, ou teria uma influência externa?Após algumas perguntas, com muito jeito, descobri a causa: Marlene Mattos.

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Durante muito tempo, com conversas ora em grupo, ora individuais,Marlene sempre incitou as meninas a não ajudarem seus pais financeiramente.Tentou, sem sucesso, afastar os pais de suas filhas. Mas, em contrapartida,não lhes dava carinho, apoio e muito menos compreensão. Somente cobranças,broncas e desrespeito humano. Quem conhece pessoalmente Marlene Mattos,sabe que ela nunca respeitou o seu semelhante, sendo ele um bom profissionalou não. E, principalmente, se essa pessoa lhe traz, na sua concepção, perigopessoal ou profissional, agravando-se quando a comparação é Xuxa. Aí, nempensar em chegar perto. Ela simplesmente humilha e afasta. Não, ela nãoafasta, ela mantem, na maioria das vezes, perto. Para poder machucá-la melhor.

No caso das meninas, ela as colocou em décimo plano no programade televisão, bem abaixo dos novos súditos (You Can Dance), que por enquantonão oferecem perigo. Colocou-as em roupas ridículas, pois elas têm corposmuito bonitos e, principalmente, muito jovens. Até agora ainda não sei se aroupa é cópia do ‘Robocop’ ou das ‘Tartarugas Ninjas’. Mas que são horrorosase que só têm, aparentemente, um único intuito, eu sei: esconder do público asoutras atrações do Xou: as Paquitas; que cantam, dançam, são bonitas,profissionais e talvez, se deixarem, continuarão com a admiração do público,o qual sem manipulação de poder poderá ser testemunha do talento dessasadoráveis meninas.

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BATENDO PAPO

- Eu estava lembrando hoje daquela história do primeiro beijo - disseAna Paula. - Sabe, eu entrei para o programa com onze anos, sendo quecomecei a fazer os testes para Paquita com nove anos. E ainda não tinhadado o meu primeiro beijo, é claro. Aliás, foi bem depois. O verdadeiro, sem auva entre nossas bocas, foi com um menino que era meu vizinho lá em VistaAlegre. Ele era um gatinho, bem mais velho do que eu. Ele tinha dezesseteanos e eu tinha doze anos. Quem falou primeiro fui eu: “Você me ensina abeijar?”. “Você nunca deu um beijo?”. “Não”. Foi ótimo, me deu um beijo efoi demais. Quando terminamos, ele me disse: “Você estava brincando, nãoé?”. “Não, eu não tinha beijado ninguém”. “Você beija muito bem”. “Obrigada”,respondi, meio sem graça, meio orgulhosa com o elogio. Nós chegamos aficar um tempo namorando, tipo sério mesmo, mas depois acabou. Depoisque virei Paquita, ficou muito mais fácil arranjar um namorado, já dá paraescolher o melhor para mim. Na minha casa, os meus pais não mudaram omodo de me tratar, eles continuam do mesmo jeitinho, sempre muito cuidadososcomigo. Cada vez mais eles ficam felizes devido a eu ter conseguido o que euquis de uma forma legal, sem problemas maiores. Já a minha irmã mais velhaficava muito triste quando me via chorando por causa das humilhações queeu passava no programa. Ela me falou diversas vezes para eu largar de serPaquita, que não agüentava me ver daquele jeito. Ela também falava que seera isso que eu queria, tudo bem. Me dava apoio, mas não estava de acordo.Minha vida melhorou bastante. Eu morava no subúrbio do Rio em Vista Alegre.Hoje moro melhor, em Jacarepaguá. Dinheiro hoje é essa coisa que já falamos,estamos ganhando muito pouco. Mas já houve época em que nos ganhávamosum bom dinheirinho. Foi na época dos discos, shows, etc. Hoje, nós abrimosos olhos, mas naquela época não tinha maldade, não sabíamos o volume dedinheiro que estava rolando. Pra gente estava bom. Nos achávamos tudo

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uma maravilha com a Xuxa e a Marlene. Eu amadureci bem rápido, já estoudirigindo meu carro com dezessete anos de idade.

- O primeiro disco vendeu 800.000 (oitocentos mil) cópias, e a nossacomissão foi de 1% - interrompeu Roberta. - Esse dinheiro só dava paracomprar um carro 1986, e nós estávamos em 1990. Por isso discordo da AnaPaula quando ela disse que ganhamos um bom dinheiro com o disco.

- Os nossos pais sabiam o que estava acontecendo e nos ajudavamsuprindo as carências que tínhamos em relação as nossas até então ‘rainhas’- disse Catú. - Nós aprendemos muita coisa na porrada, mas pra mim foibom. Hoje, eu vejo meninas da minha idade com absolutamente nada na cabeça.Bobas, mas bobas mesmo. Lá em Macaé, tem gente que nem dá pra conversardireito. Eu amadureci muito em relação às minhas amigas. Eu estou comvinte e um anos e entrei para o Xou com treze anos, ainda muito criança,meio bobinha. As meninas da minha idade só querem saber da noite, de sedivertirem. E eu quero cuidar da minha casa, da minha carreira artística.Quero crescer como pessoa e como profissional. A Marlene nos deuresponsabilidade, mas nos desrespeitou como ser humano. Também sempredesrespeitou a nossa família. Ela nunca aceitou que nos déssemos dinheiropara os nossos pais. Puxa, como pode isso? Se foram eles que me sustentaramdurante toda a minha vida. Eu faço o que quiser com o meu dinheiro. Emboranão seja muito, ele é meu.

- Sabe, esse nome Paquita está totalmente queimado por aí - continuouFlávia. - Outro dia eu estava lendo um jornal quando dei de cara com umanúncio escrito ‘Juliana Paquita’. Era um comercial de massagista, daquelesque de massagista não tem nada. Não perdi tempo e liguei para a tal e pedipara falar com a Juliana. Na maior cara de pau, a mulher disse que era elamesma e que de fato era Paquita. Igual a esse já vi um montão de anúncio.‘Catuxita Paquita’, ‘Ana Paula Paquita’, etc. Eu fiquei ‘P’ da vida, e chegueia discutir com a mulher que estava se fazendo de Paquita pra atrair homens.É triste quando as pessoas fazem esse tipo de relação com o nosso nome sóporque fazemos parte da marca Paquita.

Não se sabe por que motivo a Marlene nunca se interessou em tomarprovidências contra o uso indevido do nome de suas protegidas.

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É, na minha opinião, a barra pesada é essa que estamos vivendoagora - afirmou Roberta. - As barras ruins são muito mais que as coisas boas.Quando eu me deito para dormir, sempre me vêm na cabeça só as coisasruins. As boas somem, desaparecem. Na nossa vida pessoal também existemcoisas ruins, mas são poucas em relação às boas. Na vida profissional dagente, acontece exatamente o contrário. Quando vem uma coisa boa, trazconsigo um montão de coisa ruim pra estragar a boa, que já é tão rara, tãopassageira. Nesses oito anos de trabalho, se colocarmos numa balança, vaipesar bastante o lado ruim. Que eu me lembre, de bom mesmo só me aconteceuo nosso disco de ouro. Se eu pudesse voltar no tempo, não passaria por issode novo de jeito nenhum. Mesmo sabendo que iria fazer sucesso, eu nãopassaria.

- Algumas de nós levavam uma vidinha tranqüila, pacata. Por isso,dizem não ter dúvidas de que topariam de novo ser Paquitas. Mas eu tambémlevava esse tipo de vida lá em Macaé, e já no início, antes mesmo de serPaquita, só de ver o que as meninas passavam, quando eu ia assistir asgravações a convite da Marlene, eu ficava com medo de encarar aquilo.Falava sempre pra minha mãe que não queria mais vir para o Rio, para oprograma. Queria ficar em Macaé, minha vidinha simples e saudável. Queriair à praia todos os dias com meus amigos, ser uma pessoa normal como asoutras. Até o concurso que eu ganhei para me tornar Paquita me trouxeproblemas. Para tentar se ‘dar bem’ houve fofocas, traições, mentiras, etc.Porém, a Marlene foi com a minha cara e me escolheu, talvez pela minhasimplicidade de menina do interior. Aí quando eu descobri a ilusão da televisão,a possibilidade do sucesso, não resisti e aceitei ser Paquita. Porém, tambémnão teria coragem de passar por tudo isso de novo. Quando, em reuniões coma Marlene, eu era, por acaso, elogiada por ela, quando as outras meninaseram humilhadas - e isso aconteceu algumas vezes, comprovando a predileçãoda Marlene por mim, - eu saía arrasada e ia pra casa chorando - contou Catú.

- As outras pessoas, no seu lugar, não fariam isso - apimentou AnaPaula Almeida.

- Estariam tranqüilas, cara - disse Flávia.

- Mas é que eu não penso só em mim - respondeu Catú. - Me preocupomuito com vocês.

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Em algumas ocasiões, as meninas chegaram a ficar com bronca daCatú. Essa é a especialidade da Marlene. Jogar as pessoas umas contra asoutras. Ela sempre fez isso, tanto com as meninas quanto com as outraspessoas que trabalham com ela. A Catú sempre me disse que não era ninguémsem as meninas, que elas eram um grupo unido e forte. A Marlene, porém,tentou seguidamente desestabilizar o grupo, para com isso poder manter oseu total domínio pessoal em cada umas das meninas.

- É verdade - prosseguiu Juliana. - Se na época que eu resolvi serPaquita tivesse conversado direito com meus pais ao invés de ficar indo paraaqui, para ali... Moro no Rio, moro em São Paulo. Não teria vindo ser Paquitade maneira nenhuma. Minha mãe? Minha mãe chorava e me pediadesesperada: “Volta pra casa, volta, filha, pelo amor de Deus, volta para Limeira.Isso não é ambiente para você, filha”. “Mãe, esse é um desafio que eu jácoloquei na minha cabeça, que vou até o final, vou até o meu limite”. Fui maisum pouco.

- Eu me lembro na gravação do primeiro programa Xuxa Park. ACatú ficou super arrasada, e ela foi até elogiada. Nós estávamos arrasadas,acabadas, e a Catú veio se desculpar com a gente com os olhos cheios d’água- contou Priscilla.

- Eu chorando por causa da Marlene, e a Catú veio pedir desculpas,cara - lembrou Flávia.

- Eu nunca me senti bem de ver a Marlene chegar e me elogiar,enquanto dava broncas nas outras meninas. Eu entendo o que a Robertafalou de coisas boas e más.

- Logo que eu entrei para o programa, nós fomos viajar ou para oChile ou para o Paraguai, não me lembro direito agora - continuou Bianca. -Foi a minha primeira viagem para fora do Brasil. Eu levei uma bronca enormeque não era minha. Foi o seguinte: tinha gente no hall do hotel querendo falarcom as Paquitas. Era um repórter do Chile. É, estou me lembrando, estávamosno Chile. Ninguém queria descer. Eu estava num quarto com a Letícia, que,por ser a mais velha, era a porta-voz do grupo. O telefone tocou e ela entãochegou para mim e disse que era a Ana Gouveia. Alguns instantes depois, aAna chegou no nosso quarto e disse: “Olha, tem um repórter do Jornal... nãosei de onde... querendo falar com vocês. Vocês vão descer, pode descerqualquer uma. É so pra dar uma palavrinha. A Letícia falou: “Ai!!!”. Estávamos

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muito cansadas, com sono e não queríamos descer. A Letícia disse que não iadescer. Então eu falei: “Eu cheguei agora, não sei falar espanhol, não sei falarnada, mas posso tentar se alguém descer comigo”. “Então tá, não precisanão. Eu vou ver se alguma Paquita vai descer comigo”. Ela falou na boa. Foibater no quarto da Cátia e da Ana Paula, e não sei quem desceu. Pra gente,não tinha problema nenhum até então. Ela não chegou pra gente e disse quetínhamos que descer. Ela disse que poderia ser qualquer uma e que iria chamaroutra Paquita. Se ela não conseguisse, nós iríamos descer com certeza. Depois,quando fomos ensaiar no quarto da Xuxa, a Marlene chegou pra gente edisse: “É, Ana Gouveia veio me falar que você e a Letícia não quiseramdescer para dar entrevista. Você está pensando que é quem, Bianca? Vocêacabou de entrar e já está com esse orgulho todo, com essa ‘metidês’ toda”.Ela veio com tudo, nunca ninguém me colocou o dedo na cara. Nem minhamãe fez isso comigo e a Marlene veio colocando aquele dedo na minha caradizendo: “Você está pensando o quê? No meu grupo não tem ninguémorgulhoso. Não tem ninguém metido, não. Você aqui tem que fazer o que eumando. Não é o que você quer, não”. “Ué, eu não fiz nada. Foi ela que falouque a gente...”. “Cala a boca! Não quero saber”. Isso, ela falando no meio deum montão de gente. Xuxa, Berry, Paquitas e mais algumas pessoas. Cara,nessa hora eu pensei: “Gente, o que é que eu estou fazendo aqui? Eu quero aminha mãe, quero voltar para São Paulo. Quero ir para a minha casa, queroficar na minha vidinha pacata, indo para o colégio, arrumando a casa de manhãpra minha mãe. Voltar pra minha ginástica olímpica, entendeu? O que euestou fazendo aqui? Nunca levei uma bronca, por que estou levando essa,sem culpa?”. Olha, eu chorei durante uma semana. Não conseguia olhar paraa cara dela, sabe? E ela até que tratava a gente bem, mas eu sempre lembravadaquilo. Numa semana inteira, eu fiquei de cara feia. Não conseguia acreditarnaquela bronca que eu tinha levado. Eu pensei muito em voltar para SãoPaulo, mas resolvi: “Não, eu não vou voltar. Eu tenho que superar isso, eutenho que passar por cima disso. Não vou deixar barato, não é porque eulevei essa bronca que eu vou desistir. Eu vou continuar”. Depois disso, erauma bronca atrás da outra. No final das contas, acabei me acostumando epassei a levar na brincadeira. Entrava por um ouvido e saía pelo outro, nemligava mais. Houve uma época em que a Marlene estava com mania desuspender a gente por qualquer motivo. O programa não estava animado, elasempre chegava no microfone geral e falava: “Roberta! Cátia!”. Mas dessavez foi diferente: “Bianca! Tatiana! Vão para casa que vocês não estãotrabalhando ‘porra’ nenhuma”. Eu olhei pra cara das outras meninas sem

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entender nada, pois eu estava toda suada, pingando de tanto trabalhar. Tinhapulado o tempo todo no programa, estava até sem voz. Fiquei indignada.Diversas vezes, quando eu chegava em casa podre, toda dolorida, minha mãetinha que esquentar água e colocar com sal grosso em uma bacia para eucolocar os pés, que doíam muito.

- Isso aconteceu ‘N’ vezes comigo, exatamente desse jeito. Eu todasuada cansada e ela gritando no microfone pra todo mundo ouvir que euestava suspensa por não estar trabalhando - completou Roberta.

- Uma vez, fomos suspensas Roberta, Cátia e eu. Estávamos chorandoquando a Roberta disse assim: “Ai, que droga, fui suspensa no lugar da AnaPaula”. Cheguei para ela e perguntei por que eu estava sendo suspensa. Emtom grosseiro como sempre, ela respondeu: “Porque vocês não estãotrabalhando”. “Que é isso, Marlene?”. “Sai daqui, vai embora, vai emboradaqui!”. Encontrei o Berry no corredor e ele me perguntou o que houve. “Pô,cara, eu fui suspensa por causa da Ana Paula. Ela não esta fazendo nada e euestou trabalhando pra caramba”. “Você está com inveja da Ana Paula”. “Eucom inveja? Que inveja da Ana Paula, Berry?”. “Só porque a menina faz tudoe você não faz nada”. Fiquei muito ‘P’ da vida. Falei que se era isso que elepensava, então eu ia ficar com ele pra gente ver como ela estava trabalhando.Logo depois, nós escutamos a Marlene falar no geral: “Ana Paula, se vocênão trabalhar vai ser a próxima suspensa” - contou Priscilla.

- Eu fiquei roxa de raiva - lembrou Roberta. - Depois o Berry veioaté mim e disse: “Roberta, o problema é o seguinte: a Marlene mandou pedirdesculpas porque não era para você ter sido suspensa”. “É, mas eu estoususpensa por dois programas e você ainda ficou contra mim”. Eu chorei tanto,foi horrível para mim. Mas não foi só isso. Em outra ocasião, nós estávamosensaiando com a Xuxa, e a Marlene chegou para a gente e falou: “Meninas,levem o chapéu para a gravação, não esqueçam”. Tudo bem. Eu e a AnaPaula esquecemos os chapéus, aí fomos e pedimos outros emprestados paraa Cunha. “Pelo amor de Deus, Cunha, empresta os chapéus pra gente, senãovamos levar uma bronca”. “Tudo bem, eu empresto pra vocês”. “Mas tem oseguinte, a Marlene não pode saber, está bem?” “Não, a Marlene não vaisaber”. A gente ficou no camarim e a Marlene foi até lá: “Eu quero saber qualfoi a Paquita que esqueceu o chapéu”. “Eu esqueci, Marlene”. “Quem mandouvocê esquecer o chapéu? Cadê a responsabilidade, Roberta?”. “Marlene, aminha mãe já está trazendo o chapéu”. “Não quero saber, você esqueceu,

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você vai buscá-lo”. “Marlene, não fui só eu quem esqueceu o chapéu”. “Eunão quero saber de mais nada”. E a Ana Paula lá quietinha.

Nesse momento, a Ana Paula fez menção que ‘sim’ com a cabeça,enquanto a Roberta continuou:

- “Marlene, não grite comigo”. “Eu grito, sim”. “Você não manda emmim”. “Minha filha, você está pensando o quê?”. “Ah, cala a boca, não encheo saco”. Ela me empurrou e eu disse: “Não me empurra, pô. Que droga”. “Sesua mãe não trouxer o chapéu, você está fora do programa”. “Tudo bem”.Algum tempo depois, a Marlene me chamou pelo alto-falante: “Roberta, vematé aqui no switch. Sua mãe está aqui com o chapéu”. Eu fui até lá e ela medeu o chapéu. “Olha aqui! Leva teu chapéu, pode gravar”. “Posso gravar?”“Pode”. “Está bem, obrigada”. Saí e fui gravar. Eu fiquei muito mal, cara!

- Ah Roberta, conta aquela vez na Argentina, você e a Letícia - pediuBianca

- Ai cara, eu fiquei revoltada com a Letícia. Eu estava trabalhando abeça e a Letícia lá, no cantinho dela. Eu pegando criança de um lado e dooutro quando de repente passou uma criança por mim e eu não conseguipegá-la. Só que a criança passou também perto da Letícia, e ela falou assimpra mim: “’PQP’, hein Roberta? Você não faz nada. Que “m...”. Eu vou falarcom a Marlene”. Ela foi saindo e as Gêmeas falaram pra mim: “Ih, Roberta,ela vai lá na Marlene”. “Pô Letícia, como não estou fazendo nada? Eu estouaqui. Você quer dez Robertas? Não dá, não”. Ela parou e começou a falaralto um monte de coisas. “Ih, não grita comigo não, Letícia”. “Eu vou falarcom a Marlene é agora”. “Vai não, vamos”. Nesse momento, eu fiquei ‘P’ davida e pensei: “O quê? Pô, Roberta, você vai voltar para o Rio de Janeiro,cara. E por causa dessa gorda?”. Não acreditei. Quando eu cheguei no switch,a Letícia estava reclamando com a Marlene. “Não sei o que, não sei o quemais”. Aí eu não agüentei. “Olha aqui, Letícia, ‘não sei o que e não sei o quemais’ é você, que não faz nada e fica colocando a culpa em mim, sua gorda!”.“Olha como você fala comigo, sua criança!”. “Criança é você, sua baleia, suagorda!”. “Você ainda ri, Marlene?”. E a Marlene assistindo a tudo dandorisadinhas de deboche. A Letícia queria a morte quando era chamada degorda. Eu virei para a Marlene e perguntei se ainda estava trabalhando ounão. Ela, na maior calma, respondeu que sim. “Viu? Sua gorda!!!”

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ANJO NAS TREVAS?

Marlene Mattos é no mínimo uma pessoa curiosa. Ela precisa a todomomento testar tudo o que estiver a seu redor: a popularidade das Paquitasnuma praia em Pernambuco ou até mesmo a reação das pessoas frente aseus atos ‘terroristas’. Numa gravação do programa da Argentina lá em BuenosAires, ela estava vestida com uma capa e botas e ficou andando de cara feiade um lado para outro encarando as pessoas, brasileiros e argentinos, que,obviamente, desviavam os olhares e se afastavam com um certo medo, vistoa sua fama internacional de grosserias.

Quando chegou ao Rio de Janeiro, ela comentou o fato rindoorgulhosamente com algumas pessoas, inclusive com as Paquitas, em tomarrogante, como se isso lhe alimentasse a alma, rejuvenescendo o seu poder.

Em algumas ocasiões, chego a pensar na possibilidade de que aMarlene sofra de um problema de dupla personalidade. Visto que todos osmais próximos dela sabem disso: ela age de duas formas completamentediferentes com todos, sejam próximos ou não. Em casa, trata com respeito esem discriminação todos que a procuram, seja qual for o motivo. Dá bonsconselhos, procura ajudar da melhor forma possível. Mas também é totalmentecapaz (já até se tornou um comportamento normal e característico dela) dedestratar, pisotear e humilhar por motivos fúteis ou não aquela mesma pessoaque ela acabou de ter carinho em sua casa. Esse comportameto se tornaainda mais freqüente e intenso na medida em que o número de pessoas nessemomento servindo de público aumenta. Ela adora uma platéia!

Talvez isso aconteca por insegurança. Ela é uma mulher sozinha, queveio do nada, batalhou muito e aproveitou a sorte que a vida lhe concedeu, nahora certa. Venceu numa empresa de grande porte, repleta de ‘cobras criadas’,com um dos melhores ‘produtos’ no mercado mundial: a Xuxa. Teve uma

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certa necessidade, no início, de impor respeito, pois comanda centenas depessoas que são, na maioria, homens. Trabalhou muito para conseguir tornarrealidade o sonho de algumas mulheres bonitas.

Enfrentou com firmeza, no seu modo de ver, todas as barreiraspreconceituosas impostas pela sociedade, ainda muito machista e, muitas vezes,racista. Conscientemente ou não, hoje ela se tornou uma dessas pessoas asquais ela combateu. E, embora seja dificil afirmar, acho que dentro daquelapele de lobo, que (penso) conheço há alguns anos, talvez exista um cordeiro.Selvagem, tímido, com vontade de conhecer a vida normal, simples, a qualtalvez não tenha mais tempo, pelo menos nessa vida.

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O LADO POSITIVO

Aconteceram várias situações em que a Marlene demonstrou ter umlado positivo: ora se preocupando com a saúde das meninas, ora cuidando dasegurança delas, e até mesmo lhes proporcionando lazer.

- Ela só não tem mais isso porque não se deixa demonstrar - disseBianca.

- Não se permite - completou Catú.

- Teve uma vez que nós estávamos controlando a fila de entrega depresentes para a Xuxa durante a gravação do programa. Chegou um cara donada me pedindo licença para passar de uma forma bruta. “Licença, licença”.“Não, meu senhor, agora a fila é para as crianças. O que o senhor deseja?Deseja que eu passe alguma coisa para a Xuxa?”. “Eu quero falar com aXuxa. Você sabe quem eu sou aqui dentro?”. “Não, eu não sei. Não sei quemvocê é, mas sei que você não é criança para estar nessa fila”. A Xuxa perguntouo que tinha acontecido e eu disse para ela. Enquanto isso, o cara se mandoue a Marlene chegou perto da gente perguntando o que houve. “A Biancaestava aqui e o cara falou isso, isso e aquilo”, respondeu a Xuxa. “Vamosatrás desse cara, Bianca”, disse a Marlene, me pegando pelas mãos e melevando atrás do tal cara. “Cadê o cara?”. “Ué, não sei, Marlene. Sumiu”.Fomos até a portaria do Teatro Fênix e ela agarrou o segurança e deu umabronca nele. “Cadê o cara? Como é que você deixa passar?”. Imagina aquelamulher pequenininha, baixinha, segurando pelo colarinho aquele homemenorme, com uma cara de quem não está gostando nada da bronca que elaestava dando nele - contou Bianca.

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- Ela sempre se preocupou muito com a segurança da gente. Umavez, a Louise foi ameaçada e estava sendo perseguida. Ela colocou umsegurança para acompanhá-la em todos os lugares que fosse - lembrou Catú.

- Eu me lembro de uma vez que já era umas onze e meia da noitequando o telefone tocou e disseram que iam me seqüestrar. Minha mãe achouque era uma brincadeira. Mas meia hora depois o homem voltou a ligar dizendoque não estava brincando e que ia mesmo me seqüestrar. Minha mãe ficounervosa com a ameaça e ligou pra Marlene, que imediatamente acionou oSilvão. Graças a Deus não me seqüestraram - continuou Cátia.

- No México, estávamos quatro Paquitas passeando abraçadas pelacalçada, sendo acompanhadas por Marlene e Xuxa - contou Bianca. - Nósestávamos felizes da vida, brincando de dar aqueles passinhos de pular duasvezes para cada lado, quando Marlene disse: “Meninas! Andem direito”. “Queé isso, Marlene? Deixa as meninas brincarem”, pediu a Xuxa. “É, é... Entãopodem ir”.

- Eu ainda morava em Vista Alegre quando a Xuxa foi na casa decada uma de nós para entregar o disco duplo de platina. Eu dormia cedo. Otelefone tocou e minha tia veio me acordar, toda nervosa, dizendo que era aXuxa. “Você estava dormindo, Ana?”, disse a Xuxa em seu telefone celularque estava com o sistema de viva-voz ligado, permitindo assim que se escutassea voz da Marlene, que estava ao seu lado. “Viu? Eu não te falei pra não ligar?Está incomodando a menina”. “Que incomodar, Xuxa, que é isso?”. “É queeu estou passando na frente da sua casa e queria te dar um ‘oi’. Por que vocêestá dormindo tão cedo?”. “Não te interessa, deixa a menina dormir, deixaela. Tem mais é que dormir cedo mesmo”, disse Marlene, preocupada comigo.Quando a Xuxa chegou lá em casa, eu já tinha tomado um banho e estavasaindo do banheiro enrolada numa toalha. Dei de cara com as duas segurandoo disco duplo de platina e dei um pulo de alegria. A toalha caiu e me abraceicom a Xuxa, super feliz, enquanto a Marlene tirava fotografias da gente. Elasficaram à vontade lá no subúrbio, na minha casa de Vista Alegre. A Marlenesentiu cheiro de comida e pediu para experimentar uns bolinhos que a minhatia estava fazendo na hora. Foi muito emocionante.

- Que coincidência - interrompeu Roberta, em risos. - Eu tambémestava de toalha quando ela chegou lá em casa. A toalha também caiu e aMarlene também tirou muitas fotos da gente.

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Foi um presente simples, mas que emocionou muito, deixando felizesas meninas, na época do Natal de 1990. Melhor dizendo, deixando quasetodas felizes, pois não visitaram a casa da Priscilla. Segundo elas, por falta detempo.

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O NOVO PROGRAMA E OS ‘CLIMAS’

- Quando fomos gravar o novo programa, não sabíamos nada do queteríamos que fazer. Ninguém se preocupou conosco. Perguntamos a váriaspessoas e não obtivemos resposta. Na hora de gravar, fizemos o que achamosque devíamos. Quando acabou o programa, não deu outra: reunião no camarimda Marlene e da Xuxa. Lá dentro, a Angel (Ângela Mattos, irmã da Marlene),que de anjo não tem nada e que fica no fone de comunicação do palco com aMarlene, falou pra Xuxa que nós só queríamos aparecer e não estavámosfazendo nada, não estávamos trabalhando direito. A Xuxa então falou quenão precisava da gente, que só precisava mesmo das crianças, que as Paquitasboas foram as antigas e que a gente não servia para nada, que nós estávamosali há oito anos e que não tínhamos aprendido nada. “A melhor Paquita hoje éa Catú, o resto é resto”, repetindo o que ela tinha afirmado na última reunião,deixando a Catú completamente sem graça perante as outras que estavamcansadas, pois já eram seis horas da manhã. Não nos contivemos e nosdebulhamos em lágrimas. Elas ainda disseram que nós não estávamos noclima do programa. Como se alguém tivesse nos passado alguma coisa sobreo programa. No show do Imperator (casa de shows no Rio), a Estela(coreógrafa de aeróbica) falou que iria deixar quatro Paquitas na frente equatro atrás, e que na apresentação do programa do Faustão seria o inverso,as quatro que ficaram atrás iriam ficar na frente. Quando chegou a hora doensaio geral para o show do Imperator, a Marlene disse para a Catú: “O quevocê está fazendo aí? Sai daí. Pra trás. Eu quero o pessoal da ‘malhaxão’ nafrente”.

- Em outra ocasião, num intervalo de gravação, a Cláudia Raia estavaensaiando para uma apresentação no programa e as meninas estavamobservando-a, quando chegou a Marlene e disse: “Olhem o corpo dela! Isso é

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que é corpo bonito! Vocês estão gordas! Vocês têm que ter vergonha docorpo de vocês. Olhem o corpo dela. Isso é que é corpo”, falou e saiu. Nãopode haver comparação do nosso corpo com o dela, que sempre se tratou,tem mais idade que a gente, já fez lipoaspiração na Inglaterra, tem uma granaboa para gastar, etc. Por diversas vezes, ficamos chateadas. Mas acabávamosnos divertindo com algumas situações, pois a Cláudia Raia ficava dançandoperto da gente, e a Marlene toda hora: “Está vendo? Isso é que é corpo!Vocês deviam ficar com vergonha do corpo de vocês”.

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CIUMES DE VOCÊ

Xuxa sempre demonstrou ter ciúmes das Paquitas com seu público.No penúltimo show do Olímpia, em São Paulo, num sábado, era aniversárioda Bianca, dia 15 de outubro de 1994. Xuxa, como de hábito, no final davauma mensagem para as pessoas. Quando ela começou a falar, o povo começoua cantar parabéns pra Bianca. Cantaram a primeira vez e ela não deu bola.Cantaram a segunda e ela também não deu bola. Quando cantaram a terceiravez, ela parou, olhou para o lado onde estavam as pessoas conhecidas e falou:“Gente, eu sei que é aniversário da Bianca. A gente já cantou parabéns ontem.Bianca, é pra você, Bianca”. Depois disso, ela continuou a falar suas coisas,sem dar parabéns a Bianca.

- Ela está acostumada a escutar nos shows: ‘Olê! Olê! Olê! Olá!Xuxa! Xuxa!’. De repente, ouve todo mundo gritar: ‘Olê! Olê! Olê! Olá!Bianca! Bianca!’. Não gostou muito não - analisou Bianca.

- Uma vez, os fãs levaram uma faixa enorme com palavras de carinhoe com os nomes de suas Paquitas preferidas: Ju e Flávia. A Xuxa simplesmentenão leu. Eu, que sou ‘cega’, vi a faixa logo na entrada do palco. Era a maiorfaixa do show - contou Catú.

- Tinha uma faixa que estava escrito ‘feliz aniversário, Bianca’. AXuxa virou para a Bianca e disse: “Ali, Bianca (apontando com o dedo). Ali,a faixa. É para você, viu?” - completou Cátia.

- Na Argentina, quando nós estávamos no auge, os nossos fãs semprelevavam faixa e recadinhos pra gente - lembrou Catú. - Até que um dia tinhaum monte de recadinhos pra mim, e a Xuxa quando viu aquilo tudo falou:

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“Isso aqui está virando o Xou da Catú”. Por essas e outras coisas é queultimamente ela não lia mais as nossas faixas.

- Eu adoro os meninos do You Can Dance. Mas quando tem umafaixinha sequer deles, a Xuxa lê para o público, chama os meninos lá nafrente, lê para eles. E ainda manda os meninos soltarem beijos e tudo mais.Eles são muito competentes, estão fazendo o maior sucesso, batalham pracaramba. Mas eu acho que as Paquitas merecem uma consideração - reclamouFlávia.

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A ÚLTIMA E CANSATIVA TURNÊ

A última turnê da Xuxa, realizada em São Paulo (no Olímpia), Goiâniae São Paulo novamente, com a participação das nossas Paquitas, foi cheia demomentos, no mínimo, curiosos. Houve de tombos homéricos das meninasaté a Xuxa cantando sem a sua saia. Isso mesmo! Sem a saia, só de meia,calcinha e blusa, para delírio da galera masculina.

As meninas foram e voltaram de ônibus para São Paulo depois deoito shows em dez dias.

- Os shows foram ótimos! Curtimos muito. Mas chegamos ao Riotodas quebradas, mortas de cansaço.

- Em Goiânia, quando cantamos a nossa música nova, a galera foi aodelírio - lembrou Priscilla.

- Em São Paulo também gostaram muito do nosso funk novo. E olhaque paulista não se liga muito em funk - completou Bianca.

- Nós estávamos super preocupadas com a coreografia - continuouPriscilla. - Decidimos que iríamos fazer uma surpresa para a Xuxa e para aMarlene. Eu falei com um professor de aeróbica amigo da Juliana que estudavafunk para fazer uma coreografia para a gente. E como elas não estão maisacreditando na gente profissionalmente, achamos que essa era uma boa‘brecha’ pra podermos mostrar um trabalho. Mas não deu certo, devido aosvários dias de ensaio que tivemos com a Xuxa. O professor fez a coreogafia,mas não deu tempo da gente ensaiar. O You Can Dance ficou então de fazera tal coreografia, misturada com uns passinhos que eles já tinham prontos.

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Em cima da hora, a Marlene pediu pra gente passar pra ela a parte que agente já sabia, e gostou muito do que viu.

- Só o Berry, naturalmente, não gostou. Achou muito ‘vulgar’. Isso énormal quando não é ele quem faz. Eu acho que é o seguinte: entrou nadança, é pra dançar. Entrou na chuva, é pra se molhar. Ou é funk ou não é.Ele queria pegar um passo normal e fazer um pouco diferente. Se a genteestá cantando funk, tem que dançar funk, tem que rebolar. E não fazer: ‘piê,sarciê, sei lá o quê’ - concluiu Flávia.

- O povo entrou em delírio com a gente dançando funk - lembrouBianca.

- Em São Paulo, existem muitas pessoas que a gente conhece. E porser perto do Rio, os nossos pais também querem aproveitar a oportunidade enos assistir em um show ao vivo. A Cida, que trabalha na Sunshine (empresaque promove os shows da Xuxa), disse pra gente escrever quantos convitesqueria, pra qualquer dos dias em que haveria os shows no Olímpia. Nósescrevemos, e esse papel foi parar nas mãos do Pedro, assessor da Marlene.E depois nas mãos da própria Marlene - disse Cátia.

- O Pedro veio com uma desculpa de que só tinha setenta convites eque a Marlene queria a presença de todos os ‘seguidores’ em todos os dias deshow - contou Flávia, em tom de revolta. - Conclusão: e os nossos parentes?As meninas que são de São Paulo, cheias de primos, parentes que nuncativeram a oportunidade de assistir a um show delas, só tiveram direito a doisingressos.

- Eu dei os meus para a Juliana - interrompeu Catú.

Foram sete shows em São Paulo. E as meninas só tiveram direito adois únicos convites cada uma.

- A minha mãe foi a São Paulo pra ver o show e disse que não ia ficarmendigando um convite, não! Ela pagou oitenta reais para me ver. Eu fiquei‘P’ da vida. “Mãe, eu não acredito que você pagou oitenta reais para ver asua filha de dezesseis anos fazendo um show”. “Minha filha, por você eupago quanto for necessário para ver o show” - contou Priscilla.

- Eu nunca assisti a um show da minha filha - lamentou o Seu Rui.

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- No segundo show (sábado), aconteceu o incidente com a saia daXuxa, que caiu no meio da musica “Lua de Cristal”. Na hora, nós nempensamos em nada. A saia caiu depois da Xuxa ficar um tempo dançando.De repente, fez ‘pruuu’ e caiu de uma vez só. Ficamos com a cara de bunda,uma olhando pra outra, esperando a reação da Xuxa, que continuou dançandoem cima da saia, tentando sair. A Catú e mais duas meninas tentaram tirar asaia, mas a Xuxa estava olhando para o lado da Bianca, que se aproximou econseguiu, depois de um tempo, pegar a saia no chão - lembrou Priscilla.

- Ela estava toda embolada com a saia no chão. Quando ela olhoupra mim, conseguiu se livrar. Então, eu peguei a saia e fiquei segurando umpouquinho, esperando que ela desse um sinal pra colocar ou não a saia nela.Ela simplesmente riu e se virou, continuando a dançar. Se ela quisesse, teriafeito um sinal ou teria me pedido baixinho: “Coloca”. Como ela não fez nada,eu entendi que não era para colocar a saia de volta e continuei a dançarnormalmente como ela. Talvez se fosse no início, quando nosso relacionamentoera melhor, eu teria entendido algo diferente. Mas, naquele momento, fiz oque achei certo - explicou Bianca. - Nós não sabemos mais como agir. Secolocássemos a saia, levaríamos bronca. Por não ter colocado, tambémlevamos uma bronca.

- Nossa instrução de palco é que se acontecer qualquer coisa anormale a Xuxa continuar a dançar, nós devemos continuar também. Se cair umchapéu, uma bota ou qualquer outra coisa, devemos deixar para o lado econtinuar o show - disse Juliana.

- Logo no início da primeira música, eu levei um tombão. Saí ‘catandocavaca’ e o show continuou. Show não pode parar - completou Priscilla.

- A Priscilla rolou igual a uma abóbora - lembrou Roberta.

- Eu tentei segurar pelo pullover que foi ficando na minha mão,enquanto a Priscilla foi continuando. Eu fiquei olhando e pensando: “O que éaquilo? Um avião? Uma melancia? Um jamelão? Não, é uma abóbora” -contou Catú.

- Não foi bem assim - corrigiu Priscilla, aos risos. - Eu não fui rolando.Fui ‘catando cavaca’. É diferente de abóbora. No final da música, o Pragaveio com a saia na mão e deu pra Xuxa. “Agora não adianta mais. Todospodem dizer que já me viram sem saia”. Ela vestiu a saia no palco com aajuda da Ana Paula e muita dificuldade. A saia era de lá pesada, toda desfiada.

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E tinha que dar diversas voltas com um cordão de couro ‘fininho’ para prendê-la ao corpo. Vestiu-se enquanto conversava com o público.

- Depois disso tudo, veio a música “Rir é o Melhor Remédio(Gargalhada)”. Eu estava de frente para ela, dançando. E ela me encarandocom a cara fechada de raiva, fazendo questão de mostrar para todos o queestava sentindo - lembrou Catú.

- Após o show, Xuxa continuou com a cara emburrada e disse que agente poderia ter feito alguma coisa. E que só tinha ficado chateada porquenão fizemos nada - continuou Roberta. - Eu fui comentar com as Gêmeas queestava me sentindo mal porque a minha calça tinha aberto durante o show ea Xuxa fechou para mim no meio da dança. No entanto, a saia dela tinhacaído e eu não tinha conseguido fazer nada naquele momento. Nãoconseguimos mais dançar direito por causa disso. A única que teve um contatodireto foi a Bianca, que ficou olho no olho com ela. Nós sempre soubemos oque ela queria dizer só pelo olhar. Nesse momento, a Bianca entendeu peloolhar que era para jogar a saia pra trás e jogou.

- Se ela pelo menos desviasse o olhar pra baixo, eu saberia que erapra colocar a saia nela - disse Bianca. - No dia seguinte, no show, a Xuxamudou completamente o modo de tratamento com a gente. Antes dascoreografias, ela sempre fazia uma brincadeira qualquer com uma de nós.Porém, depois da saia, ela nem olhava mais pra gente. Ela chegou nummomento qualquer do show, bateu com a mão nos chapéus da Catú e daRoberta e disse: “Quem quiser ser Paquita como elas”, virou para o público econtinuou a falar: “Tem que acreditar no seu sonho e lutar por ele”.

- Eu também fiquei aborrecida com tudo que tinha acontecido. Meutombo, a saia da Xuxa, o clima estranho que ficou entre ela e a gente. Tudoisso me deixou muito chateada e eu chorei no início do show - continuouPriscilla. - A Mariana (Gêmea) chegou perto de mim e perguntou: “Por quevocê está chorando?”. “Estou muito chateada com o que aconteceu. Aliás,estamos todas chateadas”. “É, vocês vacilaram. Tinham que ter dado umjeito de colocar a saia nela”.

- Pra gente, que estava no palco, ela estava com uma roupa que nãoera transparente como a imprensa divulgou. Era uma calça fina de cotton. AMarlene disse que nós trabalhamos há mais de oito anos com uma pessoa

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super profissional e que ainda não aprendemos a ser profissionais - disseBianca.

- Ela também disse que já estava mais do que passando da hora deaprendermos a ser profissionais e que por essas e outras é que ela perde otesão de trabalhar com a gente. “Vocês perderam mais uma chance na vidade vocês como Paquitas”. Disse isso tudo e ainda repetiu mais uma vez queo neurônio da gente era assim, óóó!!! (fazendo menção de tamanho com osdedos). Pequenino, não desenvolveu ainda. Ela acha que o neurônio dela é doseu próprio tamanho - completou Catú.

Na semana seguinte, já estava tudo esquecido. E o tratamento, emgeral, voltou ao normal após ter sido constatado que nem o figurinista tinhaculpa, pois a Xuxa fez questão de se vestir sozinha, mesmo sendo uma roupacomplicada, toda transpassada, muito difícil de se vestir. Desta vez, não foipossível, como é de praxe para a Marlene, colocar a culpa nas pessoas quetrabalham para ela. Houve até uma declaração de amor na volta para o Rio.Xuxa chamou as oito Paquitas e disse que as amava. Elas então a abraçaramjuntas e receberam como resposta: “Ai, vocês me apertam muito. Vamos lá,voltando para o lugar”.

- Foi muito legal. Mas nós chegamos em Goiânia, super cansadas,pegamos o aviao às cinco da manhã (do dia 10 de outubro de 1994), semdormir, depois de fazermos três shows em São Paulo nos dias 7, 8 e 9 - disseJuliana, continuando o assunto da turnê.

- Fomos só com o necessário. Viajamos num jatinho com as Gêmease com tudo que tínhamos em somente três malas, pois não era pra gente irdireto de São Paulo para Goiânia. Era pra gente voltar para o Rio de ônibuspra pegar nossas coisas, mas inventaram que a gente tinha que visitar a fábricada Arisco em Goiânia, antes do show - contou Catú.

- Ficamos o dia inteiro no hotel sem fazer nada - reclamou Juliana.

- Foi um tédio! Estava um forno, quente pra caramba - completouCatú.

- Na terça-feira (dia 11), nós fomos visitar a porcaria da fábrica daArisco.

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- Porcaria nada! A fábrica é enorme.

- Ah, é enorme, mas foi um saco.

- O pessoal da Arisco disse pra gente que sempre mandavam cestasde produtos, as quais nunca recebemos - revelou Priscilla.

- Não foi nem que eles tenham falado. A gente, na verdade, começoubrincando: “Vê se vocês mandam cesta de Natal esse ano pra gente”. Aíentão, eles falaram que sempre mandavam alguma coisa pra gente durante oano todo. Só que nunca recebemos nada- explicou Catú. - Quando chegamosde volta ao hotel, super cansadas e com fome, tivemos que descer para tirarumas fotos ao lado da Xuxa com algumas crianças. Só que antes a gente teveque esperar a Xuxa comer primeiro pra depois descer. Depois das fotos,tivemos que subir para o ensaio, que só terminou de uma hora da manhã, coma gente morrendo de fome. Na quarta-feira (dia 12) de manhã, fomos todaspara a piscina com biquinis emprestados. Aliás, três compraram e cincopediram emprestados. À noite, fizemos um show maravilhoso. Todo mundogostou muito. Fizemos o maior sucesso rebolando com o nosso funk novo. Opovo delirou com a gente. Não dormimos essa noite, porque tínhamos queestar às três da manhã no saguão do hotel pra fechar a nossa conta, que levouduas horas pra terminar, mesmo existindo um funcionário da Xuxa Produçõessó para isso. Nós tivemos que ficar aguardando. E, por incrível que possaparecer, ainda conseguiram errar tudo. Depois disso, fomos para o aeroportoe embarcamos às cinco e meia da manhã, depois de pagarmos até mesmo pornossas tentativas de ligações para o Rio feitas a cobrar. Isso mesmo, até semcompletarmos as ligações tivemos que pagar por elas. Viajamos para SãoPaulo sem descansar por um minuto sequer que fosse. Lá, nos esperavampara mais três shows.

Elas chegaram às nove horas da manhã num hotel em São Paulo,onde tinham sido reservados dois quartos triplos e um duplo pra acomodartodas. Por simples economia, barata, da Xuxa Produções.

- Sem ter dormido nem um pouquinho - continuou Juliana. - Tudo quea gente mais queria era cair na cama e descansar. Imagine só!

- Nós tinhamos que fazer um show no mesmo dia às oito horas danoite - lembrou Catú. - E com isso, só poderíamos dormir no máximo até as

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duas horas da tarde, pois às cinco e meia da tarde deveríamos já estar prontaspara o show.

- Quando eu abri a porta do quarto, só encontrei uma cama de casal.Uma cama de casal para três meninas dormirem? Ah não! Chamei a camareirae pedi que ela trouxesse um colchão pelo menos. Ela então me trouxe umcolchonete bem fininho, daqueles que dobram, tipo de acampamento - disseJuliana.

- Ah, eu tenho que contar como a Juliana falou com a camareira. Eue a Catú estávamos ‘P’ da vida, e a Juliana na maior calma no telefone: “Tia,tudo bom? Aqui é a Juliana falando. Tia, sabe o que é? Bom, então…Falou…Um beijão… Tchau”. “Pô Juliana, que droga”. A gente doida pra dormir e elana maior calma. Quando a camareira trouxe o colchonete fininho, ela ponderou:“Não, gente, está bom, gente” - lembrou Flávia, entre risos.

- As meninas foram solidárias comigo, ninguém dormiu enquanto nãochegou meu colchonete - finalizou Juliana

- No meu quarto estavam a Ana Paula e a Priscilla - prosseguiuRoberta. - Apesar de muito cansadas, ainda tivemos que ajudar a camareiraa arrumar os nossos quartos, que estavam sem a devida arrumação praacomodarem três pessoas. Foi então que eu dei uma idéia: “Que tal a gentetirar essa cama e chegar para o lado e facilitar o trabalho da camareira?”. Asmeninas entreolharam-se e disseram que não iriam. Mas eu as convenci a meajudarem. Nós estávamos tão cansadas que elas não conseguiram arrastar ocolchão da cama. Era muito pesado. Deixaram tudo pra mim. Arrastei a‘meleca’ do colchão sozinha. E a camareira nada de vir. Eu e a Juliana ficamosesperando as nossas malas, que ainda não tinham subido. Enquanto isso, aAna Paula babava e roncava, morgada, em sono profundo na cama que estava‘arrumadézima’. Na outra cama, também morgada, estava a Priscilla, semtravesseiro, sem colcha, sem nada! No colchão puro. Eu andava de um ladopara o outro do corredor, nervosa com a demora da minha mala. De repente,apareceu um cara com um ‘bagagito’ cheio de malas. “Minha mala!”, griteino corredor indo ao encontro dele. Mas a minha mala não estava lá. “Moço,pelo amor de Deus, onde está minha mala?”. “Deve estar no décimo andar”.E lá foi a Robertinha para o décimo andar. “Segurança, cadê a minha mala?”.“Está no outro hotel”. “Meu Deus, o que é que eu faço?”. “Liga pra Cida, queela resolve”. “Ah, Léo, liga pra mim?”. “Está bom, eu ligo”. Desci e a camareiraainda não tinha chegado. “Meninas, pelo amor de Deus, parem de dormir”.

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- A Roberta falava assim: “Vamos acordar,vamos acordar”. E a genteparadinha, quetinha, sem responder nada. “Não adianta fingir que estãodormindo não. Vamos embora, vamos acordar” - completou Priscilla, àsgargalhadas.

- Você estava dormindo tanto que até se lembra do que ela falou -brincou Catú, com mais risos.

- Mas eu não estava dormindo - desmentiu Priscilla. - Eu estava eracom muita dor de barriga. Por isso que estava deitada naquele colchão duro,sem travesseiro, sem nada. A Ana Paula estava dormindo e eu estava escutandotudo que ela falava.

- Estava acordada, mas não me deu nenhuma resposta - disse Roberta.

- Estava cheia de dor, cara!

- Eu gritei para elas acordarem. Era uma falta de consideração euficar acordada, cansada, sozinha, esperando a mala. ‘P’ da vida! Quandofinalmente eu consegui me deitar, pedi para as meninas apagarem a luz nointerruptor que ficava ao lado delas. A Ana Paula nem me respondeu, e aPriscilla só levantou a mão apontando pra parede dizendo: “Pra apagar a luzé ali, óóó!”.

- Peraí, Roberta. Eu fui tentar apagar a luz e acendi uma porção delâmpadas que estavam apagadas.

- Não, de jeito nenhum. Você nem tentou.

- Tentei sim, não vem não!

- Ah tá, eu só sei que tive que levantar e ir até o outro lado do quartopra apagar as luzes. Apaguei e voltei pra minha cama no escuro. Quando eufui me deitar, eu estava tão cansada que me joguei de corpo e alma na cama.Bati com toda a força com o joelho num ferro da cama. Doeu tanto, mastanto, que fui dormir chorando. Aí a Ana Paula acordou e disse: “O que tem?O que foi?”. Não agüentei. Saí da cama, fui até o interruptor, acendi a luz doquarto de novo, virei pra Ana Paula e disse: “Pô, caraca, ou entra ou sai dessequarto, ‘meleca’”. Apaguei a luz de novo e me deitei. A Ana Paula não dissenada e também foi se deitar no canto dela, enquanto a Priscilla, sem mais nemmenos, começou a rir só porque eu estava machucada.

- Você riu também, cara - lembrou Priscilla.

- Só porque você começou a rir primeiro. Mas eu fui dormir chorando.

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- Nós estávamos muito cansadas mesmo. Ainda no saguão do hotel,esperando a entrega das chaves, olhei para o lado e vi a Catú encostada nobalcão como se estivesse esperando a chave. Mas só que ela estava dormindoem pé, de óculos, com aquela cara de bêbada de sono - completou Flávia,com risos de todas.

- A minha sorte foi que eu estava de óculos escuros. O cara darecepção ficou parado, sem falar nada, na minha frente, esperando que eudissesse alguma coisa. Mas no máximo eu iria roncar ali na frente dele. Foimuito engraçado - disse Catú.

- Bom, foi uma confusão danada esse tal aniversário da Bianca emSão Paulo. Um entra e sai do quarto, nós nos escondemos dentro do armário.A Roberta ficou o tempo todo sacaneando. A Bianca veio até nosso quarto, eeu e a Flávia tivemos que simular uma briga - contou Juliana.

- Duas artistas - completou Cátia.

- Foi assim: “vamos brigar” - continuou Juliana. - Eu cheguei e falei:“Bianca, foi mal, não abri a porta porque eu estava no banheiro e ela estavano telefone, pra variar! Desculpando-me pela demora. “Pô, Juliana, você nãotem educação, não? Não vê que eu estou no telefone e você discutindo comigo”,reclamou a Flávia. “Você sabia que eu estava no banheiro. Por que não atendeua porta?”. “Está maluca?”. “Não estou te entendendo”. “Eu tenho culpa devocê estar no banheiro?”. “Não agüento mais isso! Pô, gente, que stress!Como é que eu ia abrir a porta?”. “Vem aqui fora pra você ver só”. “Ah, euestou stressada”. “Eu também estou stressada, e daí?”. Aí, depois disso deumeia-noite, a Bianca soube da armação, adorou, chorou, etc.

O Pedro Cler comprou uma torta pra Bianca e algumas pessoas daequipe festejaram o aniversário no saguão do hotel, depois das meninas teremsaído e dançado numa boate.

- Foi tanta comemoração que, sinceramente, eu nem senti falta daMarlene e da Xuxa. As meninas me completaram - disse Bianca.

- Eu fui dormir arrasada. Tinha ocorrido uma guerra de bolo, e euestava sozinha no saguão com um pedaço de bolo e com o Pedro. Pensei: “Eusei que a Bianca adora bolo, então vou levar esse pedaço pra ela”. Quandoeu cheguei no apartamento dela, toda feliz, falei: “Bi, olha o que eu trouxe pra

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você”. “Legal”. Ela pegou o bolo e ‘tum!’. Jogou na minha cara. Eu saíresmungando, às seis horas da manhã, com um bolo na cara e a Cátia atrásde mim: “Jo tomei tchujo!” (falando em portunhol). “Eu não quero saber.Lavei meu cabelo agora”. Fiquei desesperada, sem saber o que fazer com omeu cabelo todo melado pra me apresentar no show no dia seguinte - contouCatú.

- Lá no saguão, a Cátia já tinha aprontado. Na hora em que eu fuiapagar as velinhas do bolo, ela me ‘tacou’ o bolo na cara, com as velinhas queainda não tinham apagado e tudo - continuou Bianca.

A bagunça foi generalizada na comemoração do saguão do hotel.Até os seguranças ficaram cheios de bolo. O único problema era quem iriapagar para as roupas serem lavadas, o que não custa barato em se tratandode um hotel.

No show em Belo Horizonte, distante algumas centenas dequilômetros do Rio de Janeiro, as meninas viajaram durante horas em ônibusde carreira. Chegaram na rodoviária, enquanto algumas centenas de fãs asaguardavam no aeroporto local.

Uma vergonha para as assistentes diretas do fenômeno Xuxa. Umaeconomia para os olhos ‘cifrados’ da personagem Marlene Mattos.

Numa viagem a passeio, seria até admissível o meio de transporterodoviário, pois haveria tempo após a chegada para um descanso antes dadiversão. Mas no caso das meninas, a viagem era de trabalho, sem tempo pranada além dos ensaios e do shows.

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OS SHOWS

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Nós não temos dinheiro pra nada. Fizemos esse montão de shows eficamos sem nada. Ela sabe que não somos ‘filhinhas de papai’. Ralamos pracaramba - reclamou Catú.

- Com o dinheiro dos shows, só deu pra pagar o meu aluguel(apartamento simples em Copacabana), fazer umas comprinhas nosupermercado e comprar essa ‘sandalhinha’ que estou usando. Compensa? -perguntou Bianca, revoltada.

- A Xuxa compra um apartamento dos bons a cada show, que, porenquanto, serão treze até o fim do ano (1994). Nós não compramos nem umcarro simples, só pra andar, com o dinheiro recebido por todos os showsjuntos. E cá entre nós, ela sem as Paquitas no palco do show não dá - concluiuCatú.

Além de ganhar pouco dinheiro pelo trabalho stressante das turnêsmilionárias do Xou da Xuxa, as meninas tiveram que conviver com a pressãodemasiada da Marlene, que quase sempre causou muita indignação das pessoasque as amam.

- O Djair sempre ficou com muita vontade de bater na Marlene -disse Cátia.

- Todos os namorados ficam - concluiu Roberta.

Fora as grosserias desnecessárias, Marlene nunca respeitou um horáriocerto de trabalho. A qualquer hora do dia ou da noite, ela as convocava semnenhum aviso prévio. Muitas vezes desmanchando os programas de lazer dasmeninas.

- Na última reunião da gente (para o livro), o Ricardo veio me pegare fomos ao cinema - lembrou Catú. - Na saída, nós fomos no Mercado ZonaSul 24 horas comprar ingredientes pra fazer uma comida pra gente. Desdecedo, ele estava com vontade de comer estrogonofe, mas tinha que ser domeu. O que eu faço ele adora. Compramos tudo e chegamos às quinze prauma da manhã em casa, cheios de fome, quando o telefone tocou e ele atendeu.Eu já estava começando a preparar as coisas. Até estava rolando aquela

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musiquinha de final de noite. Mas a ligação era pra mim: “Alô, quem é?”.“Por onde você andava, menina?”. “Hammm?”. “Estou te ligando desde asnove horas da noite”. “Ué, como é que eu vou saber?”. “As meninas estão naCasa Rosa (casa da Xuxa no Rio) ensaiando desde nove e meia”. Aí quepercebi que era a Marlene. “Seu namorado está aí?”. “Está”. “Vocês têmcarro?”. “Temos”. “Ele pode te levar na Casa Rosa? Você sabe chegar lá?”.“Sei”. “Pode ir?”. “Posso. Tudo bem”. Fomos até lá ensaiar para o lançamentodo disco da Xuxa na Argentina e voltamos às quatro e meia da manhã comfome. Mas eu fiz o estrognofe pra ele, ‘tadinho’!

- Ué, não tinha comida pra vocês lá não? - perguntou o Seu Rui, queestava presente na nossa reunião.

- Não. O Ricardo com fome fica super mal-humorado. Mas ele seguroua barra legal. Às vezes, após o ensaio elas pedem uma pizza por telefone.Mas já era muito tarde, quase de manhã. Resolvemos comer em casa.

- Por isso que quando eu estou de folga com o meu namorado nósdesligamos o telefone para não sermos pertubados - disse Bianca.

- Parece até praga! Sei lá, é de lei. Sempre que combino qualquercoisa legal, tipo uma viagem pra Limeira pra ver meu namorado, toca o telefonecom uma invenção dessas de última hora - reclamou Juliana.

- Eu nunca falei nada da minha vida pessoal para a Marlene - contouCatú. - Nosso relacionamento sempre foi profissional. Até que um dia euresolvi apresentar o Ricardo para elas. Bom, vou contar do início: eu brigueicom meu pai por causa de ciúmes dele em relação ao meu namorado. Eusempre fui muito agarrada com o meu pai, mas descobri que o Ricardo é oamor da minha vida e resolvi viver intensamente esse amor. Meu pai nãoaceitou a nossa união. Com isso, a Marlene, de vez em quando, passou a meperguntar da minha vida pessoal, se estava tudo bem. Foram falar com elaque eu tinha saído da casa dos meus pais para morar com o Ricardo. Elasempre se meteu na vida da Letícia e das outras, mas na minha vida era aprimeira vez. Ela jogou uns ‘verdes’ tipo: “Hum, agora é uma moça casada,tem que saber cozinhar”. Ela falava meio em tom de brincadeira, respeitando.Não ia direto ao assunto. Até que teve uma comemoração de aniversário daXuxa na boate Hippopotamus (no Rio de Janeiro), e eu recebi um convitepara duas pessoas. Resolvi então levar o Ricardo, que nunca ia comigo paraessas coisas com o pessoal do meu trabalho, pra ver se oficializava o nossorelacionamento. Nós chegamos depois de todo mundo, porque o Ricardo estava

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em aula importante, não podia faltar e também não queria chegar sozinho nafesta. Na hora que chegamos na boate, as Gêmeas nos olharam surpresas edepois olharam pra Marlene, que imediatamente olhou pra gente. Nóscontinuamos a andar em direção a Xuxa, que estava no meio da pistadançando. Fomos interceptados pela Marlene, que entrou na nossa frente.Com aquele jeitão dela, levantou o rosto, fez cara de séria, olhou pra mim efalou: “Oi, Catú. Tudo bom?”. “Oi, Marlene. Tudo bom. Esse é o Ricardo,meu namorado”. Ela virou para ele, fez uma cara de soberania e esticou amão. Ele, por sua vez, a cumprimentou com um aperto de mão e fez a mesmacara que ela tinha feito. Foi engraçado, ela toda metida apertar a mão dele,crente que ia intimidá-lo. Mas ele não, ele pagou com a mesma moeda e eumorri de rir naquela noite. As Gêmeas, que estavam de longe prestando atençãoa tudo que estava acontecendo, me disseram que realmente foi muitoengraçada essa situação.

- Em outra ocasião - continuou Roberta. - Num show no interior deMinas Gerais, minha mala extraviou e eu tive que fazer o show com o macacãoda Xuxa Pruduções / Paquitas. Depois da primeira música, a Letícia faloupara o público o porquê de eu estar de macacão. A galera bateu palmas econtinuou o show. Na música “Fada Madrinha”, na qual somos apresentadasuma a uma, quando chegou a minha vez, tenho que levantar a perna. E nessahora, o meu macacão rasgou de fora a fora, bem na frente e sem que eupercebesse. Continuei dançando toda empolgada com a recepção. Me lembrobem. Na hora que estava cantando “É tão bom…”, quando percebi que osgarotos da primeira fila diziam: “Ai, gostosaaaaaaa!”, eu, sem perceber nada,dançava, mandava beijinhos, levantando e abrindo a perna. Quando descobrique estava com um rasgo, mostrando a minha calcinha, me acabei de chorarno palco mesmo. Todo mundo me olhando e eu desesperada mesmo. Saí dopalco, costuraram meu macacão e voltei para terminar o show.

O meu primeiro show das Paquitas foi em 1990, lá em Itu (São Paulo).Quando nós entramos no palco, que era muito pequeno, dentro de um ginásio,eu tropecei e fui me apoiar num pano preto que estava tampando só o final dopalco. Foi um tombo só! Me deu um branco, e acordei no meio de uma músicaque era cantada pela Roberta. Voltando para o palco, percebi que as meninasestavam dançando e olhando, me procurando. A Lenice veio até mim eperguntou: “Onde você estava, menina?”. “Como? Pô, eu caí do palco eninguém viu?”. Fui entrando para o palco toda de lado, ‘capengando’, com a

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roupa toda torda torta. E as meninas dançando e olhando espantadas paramim. Hoje é engraçado lembrar - lembrou Bianca.

- Engraçado mesmo de lembrar foi um show no interior de São Paulo.A Letícia era quem falava com o público, quem comandava o show. Nósfalávamos muito pouco. E nesse show, a Letícia e umas das meninas tinhamcompromisso com a Xuxa em outra viagem à Espanha. Quem fez o show dasPaquitas foram a Juliana, Flávia, Priscilla, Cátia e eu. Lenice nos pediuconcentração total, pois estavam faltando meninas e nós tínhamos que dividira tarefa de falar com o público. Fomos pensando em ser o melhor show dagente, pra abrir os nossos caminhos independentes. O cara do local que estavaapresentando o show falou: “E agora com vocês… as PAQUITAS!!!”. APriscilla era a primeira da fila e entrou correndo. Tropeçou e ‘explodiu’ nochão. Caiu e todo mundo gritou: “Ohhh!!!”. Eu pensei comigo: “A gentecomeçou bem. A gente comecou muito bem, cara”. Cantamos mais duasmúsicas e a Priscilla levou uma ‘balada’ na cara. ‘Tacaram’ uma bala, quepegou bem na cara. Eu estava dançando. Quando olhei pra Priscilla, ela estavasangrando. Fiquei olhando desesperada pra ela, que quando percebeu saiu dopalco chorando muito. Pensei comigo novamente: “Gente, que show é esse?”.No final do show, nós fomos apresentadas numa passarela na frente do palco.Chamaram o meu nome: “Xiquitita!”. Lá fui eu, toda sorridente. Abri a pernae ‘pá’! Caí no chão. Eu enfiei o boné na cara e saí me despedindo,envergonhada. Depois houve vários shows em que Paquitas despencaram nochão - concluiu Roberta.

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OS NAMORADOS

- Eu conheci o Djair numa festa de aniversário do Gaúcho (na época,jogador do Flamengo-RJ), e nos conhecemos só de “oi”. Algum tempo depois,ele começou a freqüentar as gravações do Xou da Xuxa, acompanhado daSiegrid e do Vavá (jogador de futebol). Ele só ia pra assistir o programamesmo. Até o dia em que eu estava com a minha irmã saindo do Resumo daÓpera e encontramos a Siegrid, o Djair e outras pessoas sentadas no GatoPardo (restaurante anexo à boate Resumo da Ópera). Me aproximei e faleicom todo mundo por igual. Depois de um tempo conversando, a Siegrid meconvidou pra sair de vez em quando com a turma. Trocamos algunstelefonemas e um dia então comecei a sair todas as noites com eles. Nessaépoca, a Carla, minha irmã, era que estava afim dele. Eu dava a maior força:“Ah, ele é muito bonito. Eu vou dar um beijo na boca dele”. “Vai sim, Carla,agarra ele agora”. E nada, não rolava nada. Ele é até hoje muito tímido e ficasempre na dele quando conhece uma pessoa nova. Nessa época, ele já estavajogando no América (RJ) e saía sempre com o René, que também jogava noclube. Até que um dia eu decidi ficar com ele. Embora ele não desse bola praninguém, fui dando em cima dele, até que fomos ao um restaurante japonês, oKotobuki de Botafogo. E eu, que não bebo nunca, bebi uma garrafa e umadose de saquê. Fiquei sem condições de mais nada. Me levaram pra casa edormi, apaguei. No dia seguinte, me contaram que eu tinha ‘escancarado’.Tinha dito que o amava, que queria dar um beijo na boca dele, etc. Me lembrobem da data, 2 de abril de 1993. Íamos eu, o Djair, a Carla e a Siegrid naMikonos. Mas antes passamos no karaokê do restaurante do Castrinho. Minhairmã tem mania de cantar. Todo mundo começou a botar pilha em nós dois.Eu já estava começando a ficar ‘passada’. Ele não fazia nada, não agia! Nahora que saímos, ele se ‘invocou’ com um ‘viado’. E comigo nada! Fomospara o Mikonos, e eu decidi fazer um ‘pouquinho’ de ciúmes pra ele, só pra

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ver qual era. Quando cansei disso, fui até a mesa e ele me perguntou: “Possote dar um beijo?”. “Demorô!”. Pronto, ficamos namorados, noivos, apaixonadose estamos pensando em casamento. Ele é meu primeiro namorado e ia voltara jogar fora do país, mas resolveu ficar comigo. Foi jogar no Internacional dePorto Alegre (RS), e depois foi transferido pra pertinho, no Fluminense doRio. A cada dia gosto mais dele - contou Cátia.

- Eu sempre me enrolei toda com os meus pais por conta do meuprimeiro namorado, o Bruninho - relatou Roberta. - Tinha que sair escondidacom ele, armar encontros secretos, etc. Eu chorava direto, dizendo para osmeus pais que o amava, mas não adiantava. Eles não gostavam dele. Numdia, nos encontramos na casa de uma amiga minha que mora aqui na minhaesquina. Estávamos muito bem, até que a minha mãe resolveu ir até lá. Quandoela chegou, eu estava ‘remando’, toda molhada com água mineral, me fazendode cansada de fazer exercícios. “Oi, mãe”. “Vamos pra casa, Roberta?”.“Ah, mãe, vou ficar mais um pouco”. “Você está aqui desde as sete horas danoite. Já são onze horas”. “Só mais um pouquinho, vai”. “Chega de fazerexercício! Vamos embora”. Continuei a pedir para ficar, até ela desconfiar:“Pra onde dá aquela porta?”. “Ué, pra lugar nenhum”, respondeu minha amiga.“Tem que dar pra algum lugar. Pra onde?”. “Que é isso, tia? Essa aí é oquarto do meu tio, e ele não gosta que ninguém entre. Até levou as chaves”.“E não tem uma chave reserva?”. “Que é isso, mãe? Dá um tempo”. Ela foiembora protestando, e no dia seguinte ela foi até uma sessão espírita e voltoudizendo que o ‘santo’ tinha dito que tinha uma pessoa que eu não gostavadebaixo do mesmo teto que eu na noite anterior. Me deixou sem alternativa,tive que dizer a verdade para ela. Eu tinha estado todo o tempo namorando oBruninho, e na hora que ela chegou, ele e mais uns colegas estavam trancadosnaquele ‘quarto do tio’. Como só poderia acontecer, por meus pais nãogostarem dele, nós não pudemos namorar. Mas, toda vez que dou de caracom ele, o meu coração bate forte.

- Quando a Roberta falou do Bruninho, eu me lembrei da festa deaniversário da Tatiana, que eu estava a fim do amigo dele, skatista, que estudavana Voluntários (Botafogo-RJ), o Miltinho. Lindo, maravilhoso! Comecei adançar e beijei um amigo surfista, o Tatuí. Eu beijava o menino com um olhofechado e o outro no Miltinho. De repente, parei tudo e disse a ele que estavaa fim mesmo era do Miltinho. Ele foi embora e eu fiquei com o Miltinho. E aRoberta, que estava com um shortinho mínimo e uma blusa transparente,ficou com o Bruninho. Foi demais! - contou Flávia

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- Eu fiquei meio triste quando acabei com o Marcelinho (Recarey). Emais triste ainda quando ele começou a namorar com a Bianca. - revelouPriscilla. - Estava meio descontrolada, e a Marlene pagou uns dias no SPASeason, do Reni Archer Morgado. No início, eu me senti meio rejeitada, poistodos eram gordos em relação a mim. Eu ficava mais alegre quando chegavao final de semana e iam vários meninos pra jogar bola no campo do SPA. Erauma maravilha. Eu já estava cansada de ver gordos na minha frente. Aspessoas do SPA viviam me contando histórias do Reni, porque ele era isso,aquilo, assim, assado, etc. Fiquei curiosa, mas também procupada, pois eletinha uma namorada já há quatro anos. Ele era muito dedicado a ela. O paidele me pediu uma foto e disse que eu tinha que conhecer o Reni. Até que umdia, eu saí da massagem com um short ‘curtézimo’, ‘queimadona’ e ‘loirérrima’.Dei de cara com o Reni, aquele menino de sunga, ‘queimadão’, de olho azul,com uma bola de volley na mão. ‘Ma-ra-vi-lho-so’! Eu pensei: “Não acredito,cara! Não estou acreditando”. Passaram-se alguns dias, eu já estava‘magrézima’, trancada no meu quarto, assistindo na televisão o nosso filme‘Lua de Cristal’, no Festival de Férias, quando a menina da recepção meligou: “Priscilla, vem aqui agora. Você tem que ver uma coisa”. Relutei umpouco, mas fui. Quando cheguei na recepção, fiquei pálida, com a boca roxa,tremendo de cima a baixo. Nunca tremi tanto na minha vida. Ele estava sentado,vendo o filme e gostando! Peguei uma revista, enfiei na cara e sentei ao ladodele pensando: “Ah, eu quero esse menino pra mim, ele é maravilhoso!”.Puxei assunto com a menina que estava do meu outro lado. Perguntei a elaonde ela ia passar o carnaval, ele então se meteu e me perguntou: “Priscilla,onde você vai passar o carnaval?”. “Eu vou passar o carnaval no Rio”. “Vamosaté a piscina conversar?”. Fomos para a piscina. O pessoal do SPA veio e mechamou para lanchar. Sabe como é? Num SPA, tem hora certa pra tudo.Sinceramente, era pra eu estar com fome naquela hora? É claro que não!Mas ele me chamou pra ‘dar o exemplo’. Lanchamos e ficamos de cincohoras da tarde às oito horas da noite contando nossas vidas um para o outro.Veio então outra menina e nos interrompeu novamente, pedindo para verminhas fotos. Pô, toda hora aparecia alguém e nos interrompia. Eu já nãoagüentava mais, estava ‘P’ da vida. Ele me pediu pra ir junto, e fomos ver astais das fotos. Fiquei toda sem graça. Mas ele disse que o pai dele tinhamostrado umas fotos minhas e ele tinha adorado. Peguei então as fotos emostrei a ele, que simplesmente ‘babou’. “Dá essa foto pra mim?”. “Pra quê,cara? Eu não vou te dar essa foto, não vai ser legal”. “Ah, dá pra mim”. “Nãovou te dar não, cara! Não vou te dar não”. Eu não dei a foto pra ele e ainda

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fiquei ‘P’ da vida com a insistência. Tocou o telefone nos avisando que era ahora do jantar. “Já vou jantar, estou descendo”, disse. “Eu já tomei seu tempodemais, vou embora. Você não quer comer agora? Ainda está de biquini ecanga”. Na hora de se despedir, ele me deu um beijo. O maior beijão... eutinha que ficar vinte dias e acabei ficando mais oito dias no SPA por contadele. O amor é lindo, não é?

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FASE FINAL NA ARGENTINA

Desmotivação e cansaço das Paquitas

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Todos os dias que passaram na Argentina, as meninas tiveram queacordar às onze horas da manhã pra tomar um banho e sair do hotel ao meio-dia para gravar os programas El Xou de Xuxa até as quatro horas da manhã.Elas chegavam muito cansadas de volta ao hotel, que era de terceira categoria,localizado em área tipo o centro do Rio de Janeiro.

- Era horrível - reclamou Catú. - Às quatro horas da manhã, supercansadas, tínhamos que aturar barulhos diversos. Ora nosso quarto ficava aolado do elevador, que por sua vez fazia um barulho ensurdecedor a cada vezque subia ou descia; ora ficava de frente pra rua, que tinha um movimentonoturno intenso e um ponto de ônibus bem em frente; ora éramos incomodadaspelo pessoal que estava nos quartos em cima dos nossos, quase semprebêbados, que ficavam pulando nas camas de mola, fazendo aquela farra, commuito barulho e muito falatório super alto. Imagina isso tudo tendo que acordaràs onze horas da manhã pra gravar de novo. Antes, nós ficávamos em hotéisde cinco estrelas. A partir do meio de 1992 em diante, passamos a ficar emhotéis de meia estrela no máximo. Íamos dormir com fome, pois ninguémqueria nos acompanhar a um restaurante na rua às quatro horas da manhã.Visto que nossa diária não dava para comermos no hotel, nossa única opçãoera dormimos com fome e no dia seguinte acordar e ir direto para a gravação,sem ter tempo para o almoço. Nossas refeições eram salsichas que levávamosdo Brasil. E no hotel, as colocávamos em saquinhos plásticos e cozinhávamosna água da torneira quente do banheiro. Durante o dia na gravação, comíamossanduíches e biscoitos Alfajor. Devido a esse descontrole alimentar e biológico,engordamos e ficamos com olheiras enormes e completamentes stressadas eacabadas.

- Teve uma vez numa tarde... - disse Bianca.

- Era um dia de folga - complementou Juliana.

- É, era dia de folga, e alguém falou: “Vamos sair? Vamos sair pracomer”. Estávamos todas cansadas, umas estavam querendo sair, outras não.

- Mas todo mundo estava morrendo de fome. Já deviam ser umasquatrou ou cinco horas da tarde - interrompeu Juliana.

- É, estávamos morrendo de fome. Estavam Flávia, Juliana e Biancaquerendo sair para ir ao McDonald’s pra comer um sanduíche - contou AnaPaula.

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- Mas não tinha ninguém pra sair com a gente - disse Bianca. - Todosos seguranças e toda a equipe tinham saído para um jogo de futebol com umchurrasco. Sempre ficava um segurança pra sair com a gente, nós nuncasaíamos sozinhas. Porém, nesse dia até o segurança que deveria ficar com agente não ficou.

- Era o dia do Magno. Mas ao invés de ficar com a gente, ele foicomer churrasco e jogar futebol - contou Juliana, aborrecida.

- Enfim, trocamos de roupa e fomos pra rua comer - concluiu Bianca.

- Nós recebíamos uma diária de quinze dólares, que só dava pracomprar um ‘PF’ (prato feito) no bar da Telefe (canal 11 da Argentina), queera galinha com macarrão ou arroz e feijão, que custava sete dólares. Comosempre estávamos com fome, apenas comíamos besteiras e sanduíches. Devez em quando, nos arriscávamos e fazíamos uma refeição de ‘PF’ no ‘pésujo’ - relatou Catú.

- A Bianca desceu pelo hall do hotel me levando pelo braço de umlado e a Flávia do outro - lembrou Juliana. - Chegamos para os fãs que estavamna portaria e pedimos: “Gente, pelo amor de Deus, não sigam a gente. Se umsegurança ver um bolo de gente andando na rua e com a gente no meio, podedar alguma confusão. Então fiquem aqui, por favor”. Aí, eles foram e seguirama gente de longe.

- Primeiro, nós fomos até a esquina e: “Ah que bom, não veio ninguém”Nós sozinhas em Buenos Aires, era demais! De repente, escutamos um‘zumzumzum’. Quando a gente olhou pra trás, tinha um bando de fãs: “Julianae Flávia, não olhem pra trás. Ninguém vai dar autógrafo. Se der pra um, todosvão querer também”. Continuamos andando até o McDonald’s. Ao chegarmoslá, fizemos o nosso pedido e os argentinos também, na maior festa - explicouBianca.

- Tivemos que explicar tudo de novo pra eles, que não era pra seguira gente e tal. Saímos todos do McDonald’s, com nossos sanduíches e comnossos fãs, quando se aproximou um fã homem mais velho e disse pra gente:“Eu posso dar um conselho pra vocês? Nunca mais façam isso. Não saiamsozinhas, vocês têm que tomar cuidado com esse povo, têm que cuidar daintegridade de vocês”. Nisso, veio um grupo de fãs correndo em nossa direção,levamos aquele susto, pra nos dizer que tínhamos que voltar correndo para ohotel, porque a equipe tinha chegado do futebol/churrasco. Isso às sete horasda noite. Voltamos ‘rapidinho’, mas felizes por ter tomado essa atitude de não

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Jantar ‘pé sujo’ na Argentina

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ficarmos com fome, presas no hotel o dia inteiro enquanto todos se divertiamfora. As outras meninas que ficaram nos perguntaram como tinha sido e nosdisseram que ainda estavam com fome. Dissemos que tinha sido ótimo, quenossos fãs nos respeitaram numa boa. Toda a equipe resolveu então queiríamos jantar no Pizza Hut. Fomos todas dessa vez. Lá chegando, o Magnochegou pra mim cheio de pose e disse que estava sabendo das três Paquitasque tinham saído sozinhas. Então eu respondi: “Saímos. Não tinha nenhumsegurança no hotel e estávamos com fome. Saímos sim!”. “Vocês não podemfazer isso. Quando não tiver segurança no hotel, vocês não podem sair”.“Nós não podíamos sair e vocês também não deveriam ter ido para o churrascoe nos deixado sozinhas”. “Eu vou comunicar a Marlene”. “Então tá, vamosjuntos falar com ela”, disse a Bianca. Eu disse pra ele, ainda no Pizza Hut:“Liga agora, porque quem vai falar com ela sou eu. Eu falo por você o queaconteceu. Liga, liga agora pra ela”. Aí ele ficou quietinho e saiu - relatouJuliana, indignada.

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SONHOS, DECEPÇÕES E MOMENTOS ATUAIS

- Meu sonho é ser atriz. Ser atriz mesmo - disse Priscilla.

- A Roberta estava falando de ser atriz de novela. Mas você já viuatriz de novela não estando na novela fazer sucesso? - lembrou Cátia.

- Não, Cátia, a gente faz por amor - respondeu Priscilla.

- Depende da atriz - rebateu Flávia.

- A pessoa realmente só faz sucesso quando está na novela - continuouCátia.

- Concordo! Tem muito ator super bom que quando não está na novelaa gente nem lembra que ele existe - disse Roberta.

- Eu já acho que o teatro é que é uma verdadeira escola. Tem muitoator ótimo no teatro, inclusive que faz novelas - completou Flávia.

- Novela é uma coisa fria. Traz sucesso, mas é fria. Já no teatro,você está ali, em contato direto com o público. É muito mais gostoso - aindaCátia.

- Ser uma artista completa é como a Roberta falou. Fazer desfiles,teatro, novela, capa de revistas, etc. - comentou Priscilla. - É isso mesmo queeu quero, ser tudo ao mesmo tempo. Falou?

- Eu gostaria de fazer novela, capa de revista e quem sabe trabalharfora como modelo fotográfico, porque eu não tenho altura para ser manequim.Fora isso, vida de artista não dura muito. Temos que aproveitar. Acho que voufazer mesmo Psicologia - continuou Bianca.

- Tem que se dedicar o dia inteiro - disse Catú. - Tipo a CláudiaAbreu. Ela arrasa!

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- Qualquer coisa que você queira, você tem que ralar, se dedicarmuito - afirmou Ana Paula.

- Depois de se dedicar, o resultado sempre vem numa boa. Semprecompensa. Tudo na vida é assim - completou Juliana.

- Minha vida mudou pra melhor. Mas às vezes eu penso: “Será queeu não deveria ter ficado lá e explorado outros campos? E não poderia estarmelhor?”. Foi melhor pra todo mundo. Não no lado financeiro, mas a gentecresceu muito. Na nossa idade, nós aprendemos coisas pra caramba. Coisasboas e más - disse Bianca.

- Eu chego lá em Limeira pra conversar com meus amigos deantigamente e não consigo mais. O papo não bate mais, sabe? - relatou Juliana.

- Eu não consigo mais conversar com uma garota de dezesseis anosdo meu colégio - completou Priscilla.

- O papo é diferente. Não dá mais - concordou Flávia.

- Eu sofri muito numa época com isso. Me afastei das minhas amigas,fiquei completamente isolada. Primeiro, eu tive que mudar pra cá. Passei anão ter mais tanto contato com elas. Quando chegava lá e entrava na rodinhade conversa, não entendia nada do que elas falavam, não tinha mais afinidade,era uma coisa meio fria já. Eu sofri muito com isso - continuou Juliana.

E a que vocês atribuem esse fenômeno?

- Nós achamos que foi a responsabilidade do trabalho que mudoumuito a gente. Marlene nos cobrava muito. Mas é lógico que se nós nãoquiséssemos, não iríamos corresponder. Partiu muito da gente estar comdisposição pra fazer aquilo tudo. Nunca uma menina passaria aquilo tudo quepassamos com nove, dez, onde, doze, treze anos. Sei lá, era muitaresponsabilidade pra idade. Eu com nove anos tinha mais era que estudar,acordar cedo, viajar, sei lá - respondeu Priscilla.

- Acordava cedo, ia ao colégio, voltava, fazia almoço. Tinha aquelavidinha normal da idade - recordou Bianca.

- Aquela vidinha era o bicho, era ótima. - disse Roberta. - Praia,amigos, passeios…

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- Eu vivia na praia em Macaé - lembrou Catú.

- Eu tinha cursinho de inglês, natação, balé - completou Flávia.

- A minha vidinha era uma ‘diliça’, pô - continuou Roberta.

- A minha também era maravilhosa lá em Jacarepaguá - disse Cátia.

- Quando eu era criança, minha família tinha uma situação financeiramelhor que a de hoje. Tínhamos casa de praia, apartamento, carro do ano,etc. Até que meu pai ficou desempregado e perdeu tudo. Mas hoje estamosbem - recordou Flávia.

- Eu comecei no Xou ainda muito jovem. Com tudo que eu já passseide ruim na minha vida pessoal, hoje eu posso dizer que tenho uma vida legal,muito legal. Antes da separação dos meus pais, o dinheiro que eu ganhava erasó meu. Depois quando o meu pai abandonou a gente, eu só tinha treze anosde idade e passei a sustentar a minha casa. Eu tenho muito orgulho de terconseguido sustentar a ‘barra’ na hora em que meu pai faltou. Hoje minhamãe está trabalhando e nós vivemos numa boa - continuou Priscilla.

- Eu não posso avaliar se minha vida melhorou ou piorou. Eu moravaem Brasília e vim para o Rio de Janeiro quando virei Paquita. São dois lugarescompletamente diferentes. Aqui, mesmo com meu pai trabalhando, eu tiveque ajudar a sustentar a minha casa, pois ele não ganhava muito - disse Cátia.

- Eu sou fanzoca da Xuxa e tenho um sonho: continuar no meioartístico. Ser apresentadora ou atriz. Sei que tenho que trabalhar mais essemeu lado. Também tenho vontade de realizar outro sonho, que é fazer Medicina.Mas em primeiro lugar está a carreira artística - contou Ana Paula.

- Eu quero muito vencer! Todas nós estamos passando por uma fasemuito difícil de transição. Então, o que vier de novo pra gente vai ser umamotivação muito importante. Ser atriz eu quero muito! Já fizemos um filme,que eu achei muito legal. Mas eu quero contato com o público. Teatro, show,essas coisas - afirmou Juliana.

- Esse negócio de contato com o público é realmente muito legal. Eufiz a peça Rapunzel, que só acabou porque os produtores, que eram de SãoPaulo, começaram a dar ‘cano’ em todo mundo. Não pagavam a ninguém. Apeça era um sucesso, foi uma pena. Eu aprendi a me virar, me guiar sozinha,fazer tudo sozinha. O que não acontece na televisão. A gente chega pragravar e já está tudo no lugar, tudo pronto. É tudo muito fácil - disse Catú.

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E como vocês vivem?

- Ultimamente, Paquita não vive. Sobrevive - afirmou Roberta.

- É verdade - continuou Bianca. - Todo o dinheiro que eu conseguijuntar com viagens, shows, etc. só deu pra mobiliar o nosso apartamentoalugado de dois quartos. Nós não podemos falar isso em relação ao saláriomínimo, mas nós somos obrigadas a viver num padrão alto. Nós temos queaparecer sempre bem vestidas, com o corpo bem cuidado, etc. Os amigosacham que nós ganhamos, no mínimo, quinze mil dólares por mês cada uma.Nem em um ano de trabalho ganhamos isso.

- Quando eu fui com elas (Xuxa e Marlene) para os Estados Unidostrabalhar no programa de lá, saí daqui com uma promessa de salário - lembrouCatú. - Mas quando chegamos aqui de volta, Marlene falou na minha caraque não ia pagar. Isso é falta de respeito pelo meu trabalho. Sabe o que eutinha feito? Tinha comprado um carrinho, vendido o meu velho e financiado orestante contando com o dinheiro ‘prometido’ pelo meu trabalho, já realizadohá um ano e meio, e pago somente uma parte. Falei para a Marlene queestava precisando receber o restante para pagar o saldo devedor do meucarro, e ela me respondeu: “Olha, Catú, os caras lá dos Estados Unidos nãome pagaram o restante e eu não vou tirar do dinheiro da Xuxa para te pagar”.Aí eu fiquei desesperada. Fui pra Macaé vender um terreno que minha mãeme ajudou a comprar pra eu poder pagar o carro. Graças a Deus, Deus émuito bom comigo, eu consegui pagar.

- Pô, cara, nós não temos dinheiro nem pra trocar de carro - disseRoberta.

- Eu tenho um Chevette velho. É bonito? - reclamou Cátia.

- Nesse dia, eu entrei chorando no camarim querendo sair do progra-ma - continuou Catú. - Troquei minha roupa e fui pra casa. Quando chegueiem casa, falei para o Ricardo: “Vamos embora agora, vamos pra Macaé. Eunão quero ver essa mulher na minha frente”.

- Eu vou tentar de tudo. Se um dia não der certo por algum motivo, euvou fazer uma faculdade legal, tipo Jornalismo. Vou estudar pra caramba -contou Juliana.

- Eu também já tentei Jornalismo - comentou Catú.

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- Sabe, pintou essa vontade de fazer Jornalismo na ‘Agendinha’, comvocê, João Henrique - continuou Juliana.

- É, eu também - disse Flávia.

- A Marlene disse que só tínhamos os rostinhos bonitos e nada nacabeça. Por isso, ficávamos nervosas nas gravações - revelou Catú.

- Também, a gente chegava e ela dizia que era um teste - completouFlávia.

- Você teve a maior paciência com a gente. E mesmo ela dizendo queera um teste, ficou bom e todas as ‘Agendinhas’ foram ao ar. Quando a gentechegava, ela às vezes vinha cheia de elogios. Ou cheia de broncas, dizendoque tinha que ser diferente. Mas quando começávamos a gravar, você passavao que devíamos fazer, completamente diferente, mas com carinho etranqüilidade. O resultado final ficava ótimo - continuou Catú. - Que futuroteremos no programa? Só estamos queimando o nosso filme com aquela roupaque nos deixa com a bunda quadrada.

Marlene se inspirou no ‘Robocop’ ou nas ‘Tartarugas Ninjas’?

- É proposital! - afirmou Juliana.

- Há dois anos, as pessoas vêem a gente com roupa de enchimento.Por quê? É pra queimar a imagem da gente? É triste. Eu vejo todo mundo alimalhando, todos bonitos. E a gente lá, escondidas, como um bando de ferradurasde trás - continuouFlávia.

- Sabe o que acontece? A gente fica complexada, começa a parar demalhar, começa a comer isso, comer aquilo e que se dane. Ficamos cheias deangústia - explicou Cátia.

- Nenhuma de nós se sente realizada. Outro dia, fomos as oito gravaro programa e estávamos muito tristes - afirmou Catú.

- Completamente desmotivadas - completou Flávia.

- Com aquela roupa ridícula.

- A gente ali, atrás de todo mundo, só levando bronca. Tudo o que agente faz está errado.

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Qual era a sua idade quando foi trabalhar com a Xuxa?

- Estava com quartorze anos - disse Catú.

- Eu e a Roberta já passamos por várias coisas. Sempre que aconteciaalguma coisa e alguém ia sair do programa, éramos eu e Roberta ou eu,Roberta e Tatiana - lembrou Cátia.

- Éramos sempre nós três, sempre injustiçadas - completou Roberta.

- Depois, quando entrou a Flávia, éramos eu, Roberta e Flávia. Nóssempre ficávamos pra segundo plano. Não fazíamos nada, não viajávamos. Equando fazíamos, nunca aparecia - retornou Cátia.

- Quando nós fomos gravar o primeiro disco, a Marlene disse que sóiriam gravar quatro Paquitas - continuou Roberta. - Mas fomos as sete (naépoca, a Catú tinha saído). Fizemos teste no estúdio. Tinha uma música (“UmAno Sem Você”), e eu era meio fanha, tinha problema de dicção e não tinhacomo eu cantar sozinha. A Marlene colocou as sete no disco, usando algumascomo coro, mas excluiu a Priscilla, a Cátia e eu da contra-capa. No segundodisco, ela colocou praticamente uma ou duas meninas cantando em cadamúsica. Ela chamou minha mãe e meu pai para assistirem o ensaio na SomLivre. Disse que eu cantava muito bem, mas tinha que melhorar minha dicçãopara cantar uma música sozinha. Por isso, entrei em uma aula deFonoaudiologia, que normalmente levaria três anos, mas eu só tinha quinzedias. A Cátia cantou uma música com a Louise, a Juliana cantou outra com aLetícia. E sobraram três comigo para fazer um coro. Tínhamos que cantar:“Um, dois, três…”. E alguém cantou: “Um, dois, tlês…”. Adivinha quemlevou a culpa? Eu! E não tinha sido eu. Ela me arrasou, foi a maior decepçãopara mim e para meus pais. Por ironia, essa música (“Batatinha Frita”) foi amais elogiada do disco.

- Comigo foi um pouco diferente. No primeiro disco, a Marlene elogioua mim e a Priscilla, e prometeu que nós duas iríamos cantar uma música paraa Xuxa (“Fada Loira”) - contou Juliana.

- Depois disso, ela aprovou uma outra música (“Patinho Feio”) praeu e a Roberta gravarmos - completou Priscilla. - Mas no final, nos tomou edeu para a Angel gravar. Todos os nossos fãs nos perguntam quais foram osmelhores momentos, e nós não sabemos responder. De repente, nósesquecemos, pois curtimos na hora. E depois, ‘porrada’, esquecemos. Não

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curtimos um décimo do que as pessoas pensam que curtimos. Quando nosperguntam, não sabemos o que responder e dizemos que foram todos. Nossorelacionamento com a Xuxa e a Marlene hoje é hipócrita.

- Se colocarmos qualidades versus defeitos, temos mais defeitos doque qualidades - definiu Roberta.

- Pô, Roberta, todos acham que somos ‘irmãzinhas’. É mentira. Massomos mais unidas entre nós do que com elas. Temos que nos dar bem, temque haver harmonia, estamos no mesmo barco - continuou Bianca.

- Brigas sempre rolam. Não sérias. Eu já briguei com a Juliana sério,mas depois passou - revelou Roberta.

- É impossível não brigar - afirmou Bianca.

- Existem outras sérias - prosseguiu Catú. - Eu nunca briguei sério.Juliana e Priscilla tiveam várias brigas simples, mas também houve as sérias.No início, as meninas se dividiam em grupos e às vezes tinham brigas sérias,porém sem um motivo aparentemente forte. Em 1993, brigaram no saguão dohotel em São Paulo (estavam à disposição da Grendene). Priscilla era nervosae Juliana muito calma. O namorado da Juliana estava em Foz do Iguaçu. Elaestava comentando que ele tinha ligado. Priscilla disse então que não tinha aobrigação de saber. Foi o suficiente para começarem a discutir. Juliana disseque tinha nascido em ‘berço de ouro’ e a Priscilla não. Recebeu como respostaum “eu não nasci no chão”. E, por incrível que possa parecer, hoje elas tambémdiscutiram o tempo todo sobre esse tal ‘berço de ouro’. Voltando à brigaoriginal, elas ficaram sem se falar durante o dia inteiro. Depois tentaramconversar e continuaram a discutir. Hoje chegaram à conclusão final de querealmente era uma discussão completamente inútil, sem o menor fundamento.

- “Não quero dizer dinheiro, Pri”. “Ah, então você está dizendo queeu não tenho educação?”. “Eu não quis dizer isso”. Fizemos as pazes no final,mas não podemos sequer ver um berço que começamos a discutir - disseJuliana.

- É mesmo. Na gravação da ‘Agendinha’ no museu Imperial dePetrópolis, tinha um berço e começamos a discutir novamente - lembrouPriscilla, com risos.

- Nós fomos a Brasília fazer um show, que por sinal estava com casacheia. Era na época do primeito disco. A Letícia comandava e, segundo ela,os shows sempre eram imperfeitos. Todas deveriam ficar em filas, e para ela

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não ficavam. No meio do show, ela me deu uma bronca: “Pô, Ana Paulachega pra lá”. Eu estava certa. Daí sou muito manteiga derretida mesmo,comecei a chorar no meio do palco. E o público começou a gritar: “Nãochora! Não chora!”. Aí, a Lenice pediu para eu sair do palco. E no final doshow, pedi desculpa para o público e disse que estava muito emocionada.Quando estávamos de volta ao camarim, a Lenice chegou a chamar a atençãoda Letícia, que retrucou: “Ela está é se fazendo de ‘coitadinha’”.

- Eu e a Roberta realmente passamos muitas coisas juntas, cara. Nósviajamos com um amigo pra Juiz de Fora, em Minas Gerais. E eu encontreivárias calcinhas da Roberta. Uma vermelha com um coração de rendinha nafrente, uma branca de florzinha preta e uma toda branca - recordou Cátia.

- Detalhe: ‘limpíssimas’ - interrompeu Roberta.

- “Lava, lava, lava, esfrega, esfrega, esfrega. Hummmmm…”. Eu asachei dentro do quarto do menino. Com uma câmera de vídeo, registrei tudo.Pomadinha japonesa, fotos da Roberta de biquini... Na agenda, ele escreviaque estava bem com a Roberta, mas que tinha chegado a chata da Cátia eestragado tudo. Achamos uma mala em cima do armário, com segredo etudo. Dentro, nós achamos fotos da Roberta dançando lambada. Mostramospra todo mundo, inclusive para nossas mães. Depois pegamos as fitas e demospra ele junto com as calcinhas - continuou Cátia.

- Eu nunca namorei com ele. Somos amigos até hoje - disse Roberta.

- Nós recebemos muitos presentes de fãs. Presentes bons e ruins. Opior presente que recebi de um fã foi uma carta obscena, em que ele perguntavase eu queria casar com ele e se eu ainda era virgem. Foi uma carta horrível,fiquei até deprimida. Uma mulher na Argentina viu o passado da gente emoutras encarnações. Eu fui canonizada sete vezes - contou Juliana.

- Eu não fui irmã de ninguém. Morri no Titanic - disse Roberta.

- Eu morri tuberculosa com lepra! É mole? - concluiu Bianca.

Que ilusões e sonhos eram esses do começo que as decepcionaramtanto?

- Nós hoje caímos na realidade. Entramos no Xou da Xuxa acreditandonuma fantasia, meio sonhando. Agora nós abrimos os olhos e começamos a

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ver o mundo, a ver como são as coisas, como é a verdade fora do Xou.Tínhamos uma imagem diferente. Completamente diferente.

Que imagem era essa?

- A televisão. A televisão começou fazendo com que nos tornássemosfãs, admiradoras daquela ‘Fada Madrinha’ e seu mundo encantado. No início,a Marlene fazia questão de passar essa falsa imagem. Ela fazia o maiorclima, a maior imagem de sonho, tinha o maior xodó. Agora? Agora é poucocaso.

“Você não e nada”, “sua gorda”, “olha a celulite”, “vocês não sãonada sem mim” e “não enche o meu saco” são alguns dos ‘elogios’ da ‘todapoderosa’

.

- Meu pai sempre me avisou e sempre me deu muito apoio. “Vai comcalma, as coisas não são bem assim. Você tem casa, tem família. Cuidado”.Era o nosso sonho. Nossa vontade era estar bem perto, de trabalhar com aXuxa, de nos realizarmos. No início, nós íamos nos despedir da Xuxa e daMarlene, que depois das gravações ficavam no camarim de duas a três horas.Sempre! Era de lei. Tínhamos que nos despedir das duas por puro prazer.Hoje, não estão nem aí pra gente. Às vezes, a Marlene passa por nós e écomo se não estivessemos ali. Nós falamos “tchau” e ela nem “tchau”responde. Tem dias em que chegamos para a gravação, não falamos com aXuxa, gravamos o tempo todo do lado dela, vamos embora no final e sequerfalamos com ela. Não falamos nada mesmo - disse Catú.

E ela não procura falar com vocês?

- Não, não fala nada - responderam em coro.

- Nós aprendemos isso com elas. Por que uma pessoa passa na suafrente, não fala “bom dia”, não fala nada, nem te olha? Mas a Marlene semprecobrou da gente: “Vocês têm que ter educação, têm que ter respeito pelas

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pessoas. Vocês têm que ter isso, vocês têm que ter aquilo...”. No entanto, elanão age assim conosco. Não respeita nem a nossa família. É horrível você terque falar “bom dia” e saber que não vai receber resposta. Ainda mais vindode pessoas que você venera e acredita. Nossos pais iam ao programa e aMarlene às vezes falava: “Bom dia, como vai, tudo bem?”, e às vezes sequerolhava para eles. Nos shows era pior ainda. Eles não ganhavam nem convites.Se quisessem, tinham que pagar para assistir aos shows com suas filhas menoresde idade. Ela chegou ao cúmulo de proibir a entrada dos pais no camarim dasfilhas para cuprimentá-las. Nessa época, ela começou a dar conselhos paranão ajudarmos nas nossas casas com dinheiro, que tinha que ser só nosso,que não deveríamos escutar os nossos pais. Uma pessoa da produção chegoue disse: “Roberta, você tem que deixar de ser boba, deixar de pagar o aluguele largar o seu pai”. Como posso largar o meu pai, se foram ele e minha mãeque deram tudo pra mim até agora? Essa pessoa tem peso, e muito! É deconfiança dela, e ela não tem muitas como pensa que tem. Meu pai largoutudo, deixou de ir pra Curitiba só pra realizar o meu sonho. Ela sabe disso. Sóporque agora eu estou ganhando e ele não está, eu vou abandoná-lo? Ésacanagem a pessoa falar isso pra mim, pô! Ele abriu mão do emprego dele,ia ter casa própria lá em Curitiba. Ia ter vida boa e deixou tudo por mim. Euamo meu pai.

- Imagina só, eu comecei no programa com nove anos de idade eagora estou com dezesseis. Praticamente passei minha infância, indo praadolescência, ali, cara! Entendeu? É lógico que eu amei estar ali, mas a gentetem a nossa família, né? - questionou Priscilla.

- Sobre o que você falou de ‘grande ilusão’, além de ter essa coisa de‘fantasia’, de televisão ser aquilo que ninguém imagina, só mesmo quemtrabalha sabe, nós todas entramos ainda muito crianças - continuou Flávia.Fomos crescendo, virando adolescentes. E é na adolescência que a gentedesperta pra vida, aprende um monte de coisas. Nós aprendemos muito, masde uma forma brusca, de repente. E é por isso que a gente fica meio assim,duras. Além da transformação de crianças para adolescentes, que é umacoisa difícil, adolescente sempre leva na cara pra aprender da vida e aindaacontece esse monte de coisas. Então é por isso que decidimos hoje ir contratudo. Para os nossos fãs ficarem sabendo que é muito duro, muito difícil e nãodá pra ganhar a grana que pensam que nós ganhamos não. Antes desse.

- Na época do disco das Paquitas, nós tínhamos que levar uma vidadiferente. Antes, nós saíamos na rua e todo mundo nos reconhecia. Não

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podíamos mais ir a festinhas. Isso porque tinha show todo final de semana.Os nossos amigos estavam descobrindo um monte de coisas diferentes, e agente nada, só ali no trabalho, ali na ‘porrada’. Aturando broncas enormes.Menina de treze anos de idade sendo chamada de ‘putinha’, chamada de nãosei o quê, puxa! O tempo todo assim - contou Ana Paula.

- Quando eu levava as primeiras broncas nos testes, eu chegava emMacaé e dizia pra minha mãe que não queria mais, que queria ficar em Macaémesmo - completou Catú.

- Broncas nos testes? - perguntou Ana Paula.

- É. Na primeira viagem que a gente fez, eu peguei carona com oMagno e com o Reinaldo. Meu pai não tinha carro nessa época. Aí, eu chegueiao aeroporto atrasada (eles estavam atrasados). A Marlene não fez por menos,chegou na minha cara - eu estava com treze anos na época - e falou: “Olhaaqui, garota! Na minha equipe ninguém atrasa, não. Da proxima vez você táfora, hein?”. E eu nem era Paquita ainda. Cheguei para o Reinaldo e falei:“Nossa! Como ela é má”. Imagine só, uma menina de treze anos falando isso,que ingenuidade. Aí eu falava: “Mãe, eu não quero voltar mais não”. “O quevocês estavam pensando que poderia ser o trabalho de vocês?”. O que todamenina pensa. Que vai ser uma maravilha estar o tempo todo ao lado daXuxa - respondeu Catú.

- Aliás, é o que as pessoas pensam até hoje. Que somos super bemtratadas, que somos como filhas dela. Enganam-se - desmentiu Juliana.

- As coisas ruins foram bem maiores! - completou Flávia.

- As coisas boas foram só no início, quando ainda éramos muitocrianças - continuou Cátia. - A Marlene se preocupava com a gente. Agora,ela está se ‘lixando’.

- Sabe, se acontecer alguma coisa agora com a gente, a preocupaçãoserá com o nome da Xuxa, e não conosco - completou Roberta.

E a Xuxa pensa igual à Marlene?

- Um dia, a Marlene chegou pra gente e disse: “Eu não queria teresses rostinhos bonitinhos nem por cinco segundos”. A mesma coisa que elafaz com a gente, ela faz com a Xuxa. Humilha. Para ela, nós somos corpos.

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A Xuxa aceitou isso e fez uma ‘capa’, que não deixa ninguém chegar fundo.Quando, em raras ocasiões, conseguimos conversar com ela, ou ela foge ouchega alguém e não a deixa ser a pessoa normal que era antes. Mas ela estáde acordo, o que é pior! Ela é totalmente manipulada. Xuxa é 30% ela e 70%Marlene.

E você, Cátia? Qual o seu sonho, além de casar e ter filhos?

- Você quer casar mesmo, Cátia? - perguntou Roberta.

- Eu quero, cara! Quero ter filhos também.

Você não tem vontade de seguir a carreira artística?

- Eu até tinha, mas acho que agora eu tenho que viver mais a minhavida. Porque eu acho também que estou numa fase de ver o que vai acontecer,o que vai ser da minha vida primeiro, pra depois eu realmente decidir se queroser uma cantora ou uma atriz, ou quem sabe fazer uma faculdade. Não sei,quero ver o que vai acontecer agora, porque a gente não teve a chance defazer nada fora, a não ser o Xou da Xuxa. A gente realmente não sabe o queé fazer outra coisa. A gente até pensa que sabe, mas não sabe, porque nuncafez. Eu não posso falar: “Ah, quero ser uma apresentadora de televisão”. Eununca fui. A Xuxa é uma apresentadora de televisão, mas a gente é o quê?Paquitas que dançam com a Xuxa?

- É, mas ela nunca tinha sido uma apresentadora até experimentar edar certo - completou Catú.

- Calma, eu não falei isso. Eu posso dizer que sou uma cantora, poisa gente já gravou um disco - complementou Cátia.

- Dois! - corrigiu Priscilla.

- Ah, um e meio, porque o segundo não foi tão assim não - risos detodas.

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Mas você não quer mais nada? Nem estar na televisão? O que vocêquer agora?

- Eu quero é curtir minha vida um pouco.

Você está meio de saco cheio não?

Marlene e Xuxa

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- É, ela está meio decepcionada. Também... - disse Roberta.

- Ela está de saco cheio da Xuxa e da Marlene. A Cátia mudou muito,muito mesmo - completou Priscilla.

- Sabe o que é? A Marlene virou pra gente e falou: “Vocês vão gravarum disco”. Todo mundo ficou empolgado.

- Isso desde o mês de janeiro - acrescentou Priscilla.

- Viraram pra mim e falaram assim: “Por que você não ficou feliz?”.E eu respondi: “Porque isso não vai dar em nada. Não vai dar certo, cara”.Eu já estou decepcionada. Qualquer coisa que a Marlene falar, eu só vouacreditar quando estiver acontecendo. Quando eu tiver visto. Igual a SãoTomé.

Xuxa e Marlene

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Então me responda: eu já sei que você está ‘por aqui’, mas querosaber o que você está esperando desses nossos encontros?

- Olha, eu estou esperando que isso dê certo.

- Que você não se decepcione - completou Catú.

- Que eu não me decepcione mais uma vez - ratificou Cátia.

- Que não fique só na conversa - disse Bianca.

Você acha que esse livro pode vir a ser o último suspiro para vocês?

- De repente, sim. Isso pode mudar o meu rumo. Eu estou a fim decasar e ter filhos. Mas também seguir uma carreira. Não tenho mais saco praser Paquita.

- Ser Paquita é uma coisa incerta - definiu Roberta.

- Ninguém está mais a fim, na verdade, entendeu?

- Nós não sabemos o dia de amanhã. Não sabemos o que vai passarna cabeça da Xuxa e da Marlene.

- Não é que eu tenha que casar amanhã. É a melhor opção hoje.

- O Djair é o maior barato. Se dá bem com a família dela. A tratasuper legal - disse Catú.

- No momento, é o que ela tem de bom: a família e o namorado. Bemdiferente de ficar levando bronca - descreveu Flávia.

- É isso aí! Eu não quero estragar isso. Mas, de repente, esse livropode mudar tudo. Posso conciliar minha vida artística com a minha vidaparticular.

E você, Roberta? Qual o seu sonho agora?

- Agora? Ah, eu quero ser atriz. Quero trabalhar na televisão.

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- A Roberta quer trabalhar na Escolinha (do Professor Raimundo,programa de humor de Chico Anysio) - brincou Flávia.

- Não, eu quero é fazer novelas, fazer comerciais, etc.

E a Escolinha?

- Ah, se desse, não é? Eu toparia. Adoro comédia.

É, eu acho o maior barato.

- Também quero fazer muita capa de revista, muito comercial, muitanovela. Mas sem a Marlene. Quero ser independente. Ela impõe muita coisa,muita disputa. É uma Paquita contra outra.

Explique como é essa disputa.

- É uma coisa muito chata.

- A pior época de nossas vidas foi a dos Estados Unidos - interrompeuCatú. - Ela coloca uma pra fazer as coisas mais importantes e deixa as outrassem fazer nada naquele momento. E deixa todas sem graça, com vergonha,umas achando errado das outras. Sem a menor explicação. É horrível!

- Pra mim, o maior clima de pressão foi realmente viajar pra fazer oprograma dos Estados Unidos. Eu já não estava agüentando mais. Quando oSérgio, professor meu, da Catú e da Ana Paula, chegava lá em casa, euestava chorando e ele falava: “Priscilla, calma, não adianta ficar assim”. E eunervosa, naquele clima, chorava a aula inteira e pensava: “Amanhã vai ser oteste, não vai ser a semana que vem não! Quem será escolhida para ir aosEstados Unidos?”. Aí ficava aquele ‘tititi’, aquele boato, sabe como é? “Não,que ‘fulaninho’ vai... não, vão três, vão duas, não sei o quê”.

- É assim que as pessoas ficam. Colocando uma contra a outra. E agente sem saber de nada - explicou Bianca.

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- Eu falava assim: “Não vejo a hora disso tudo acabar. Ver logo quemvai e quem não vai para os Estados Unidos”. Se eu não for, beleza; se for,maravilha. Entendeu? O que eu queria era sair daquela pressão - continuouPriscilla.

- O pior de tudo foi no final a Marlene mandar um memorando prasoito, e naquele memorando colocar o nome de cada uma e falar o porquê deuma ir e o porquê de outra não ir. Porque a outra era mais ou menos, ouporque era meio termo. Ela ter dado aquele memorando pra gente com onome de todas e ainda distribuir para funcionários da produção inteira, pratodo mundo saber o porquê que umas iam viajar e outras não, é muitahumilhação, não? - reclamou Catú.

- Como todos os memorandos delas, não é, cara? - completou Flávia.

- Como todos os outros, ela falava que uma tinha peito grande, outraera baixinha. Dava suspensão porque achava que uma tava gorda…

- Todas nós já tivemos uma fase de falar: “Ah, eu não quero mais serPaquita!” - revelou Priscilla.

- Uma não! Algumas fases - complementou Cátia.

- Esse trabalho é uma coisa que a gente ama. A gente gosta muito defazer. Mas cara, tem horas que a gente chega em casa e diz assim: “Cara,não estou acreditando no que está acontecendo comigo e com as meninas”.Por mais que a gente ame, simplesmente não dá - disse Flávia.

- Cada teste que a gente faz... Por exemplo, no teste da ‘Agendinha’,que você (João) dirigiu a gente, a Marlene chegou pra mim e disse: “Bianca,quero ver o que você tem nessa cabeça a não ser uma carinha bonita”. Issofalando daquele jeito áspero de superioridade. Acabando com a concentraçãoda gente.

- Quando eu fui fazer esse teste, ela me chamou no camarim daXuxa e me mandou ler o texto todo para ela. Depois de ter lido, ela me disse:“Está bom. Catú. Vamos gravar, mas e só um teste”. Pronto! Do jeito que elafalou foi o suficiente pra eu entrar tremendo no estúdio.

- Ela sabe desestruturar a gente. Ela sempre faz a gente se sentir ococô do cavalo do bandido. Quando nós fomos gravar a primeira vez oprograma Xuxa Park, nós não sabíamos de nada, se iríamos dançar, cantar,tomar conta de criança, nada. Não sabíamos de nada. Fomos com cara e

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coragem. Quando chegou no final da gravação, a Marlene nos chamou edisse: “Quero todas no camarim”. Ela simplesmente chegou e humilhou agente: “Eu não preciso de vocês!”. Angel ajudou falando: “Marlene, dá umjeito nas meninas, que elas querem aparecer mais do que trabalhar”. Aí aMarlene falou pra gente: “Paquitas, ano que vem (1995) vocês não fazemmais parte de nada relacionado à marca Xuxa. Vão procurar fazer umafaculdade, casar, fazer qualquer coisa fora da Globo”. Ela pensa que as pessoasda Globo vão compar a briga dela. Mas todos sabem quem ela é. A maiorianão gosta dela lá dentro - contou Flávia.

- A primeira vez que eu levei uma bronca daquelas bem grandes foinuma viagem para o Nordeste, acho que foi pra Fortaleza. Todo mundo pegavanossas malas. Nós deixávamos no corredor e as pessoas da equipe nosajudavam. Só que nesse dia atrasou tudo. A saída do elevador dava pra praiae todos já tinham descido, não tinha ficado ninguém. Só faltavam as Paquitase o Berry. E ninguém pode levar as nossas malas. Quando o elevador abriu,estávamos nós e um montão de malas, quando demos de cara com a Marlene.E ela falou: “Vocês estão pensando o quê? Que aqui tem empregado pra todomundo? Por que vocês não desceram as malas? Profissional não tem babá!”.Eu fiquei sem entender nada. Ninguém avisou que teríamos que descer asmalas, que eram muitas. Pensei: “Por que ela está fazendo isso comigo?”. Naépoca do primeiro disco, ela nos tratava como rainhas. Agora, como cachorras.Nem os comerciais que fazemos ela nos paga. O comercial da Copa do Mundoda Arisco, praticamente não recebemos nada - revelou Bianca.

Nada?

- Nada - responderam juntas.

- Ai, que ódio. Ela disse que nos pagaria extra-contrato tudo quefosse fora das coisas normais, inclusive em relação a Arisco - disse Bianca.

- Nosso contrato com a Arisco, segundo Marlene, seria pra usar amarca no corpo onde quer que fôssemos. Só isso - esclareceu Juliana.

- É, mas a Xuxa recebeu uma pequena fortuna pelo ‘serviço extra’.

- É muita sacanagem!

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- Pior é que renovamos de boca agora, e não recebemos nada alémde promessas da Marlene para o final de ano. Será que vamos receber algumacoisa?

- Nós temos é um saco cheio de memorandos de broncas recebidose recordações de humilhações feitas por Marlene, por Angel e pela própriaXuxa.

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O POVO QUER SABER

- Eu reuní aqui algumas perguntas curiosas que pessoas me fizeram.Inclusive a primeira é do meu pai - disse Roberta.

Que bom. Eu também reuní algumas perguntas do povo para vocês.

- Por que nós continuamos a ser Paquitas, passando por todos essesproblemas? O que nos prende?

- Na minha opinião, é a Xuxa. O que realmente me prende ao programaé a Xuxa - disse Ana Paula.

- O que me prende é saber que cada momento eu estou aprendendoe sendo forte de passar por isso tudo e ser digna. Estar ali, orgulhosa, sabendoque eu estou sendo profissional. Se ela não está sendo comigo, eu pelo menosestou sendo com ela. Estou crescendo e aprendendo - descreveu Catú.

Quase todas as meninas concordaram com as palavras da Catú, querealmente refletiram a força do grupo nesse momento.

- O que nos segura também são as promessas que nos fazem. Nósentão ficamos com medo, de repente, de sair e perder uma boa oportunidade.Por exemplo: quando a Catú saiu, nós gravamos um disco que fez sucesso, eo programa dela em outra televisão não. Se ela tivesse ficado, teria gravadocom a gente - continuou Roberta.

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- Não saí de São Paulo à toa. Eu vim para o Rio de Janeiro com umobjetivo: vencer na vida. Então, eu acredito que tudo isso que estamos passandovai servir de base para o futuro - contou Bianca.

O que vocês sentem quando pisam num palco?

- Eu acho que sou importante. A gente dá valor ao que a gente é, noque representamos para as pessoas. Nós vemos o quanto somos importantespara as pessoas que foram ali para curtir a gente - respondeu Ana Paula.

- Quando eu piso no palco, vejo que meus olhos estão cheios delágrimas e que eu estou toda arrepiada. Eu agradeço muito a Deus por estarali, por estar merecendo aquilo - completou Catú.

- Eu não entro no palco sem antes me benzer. Quando eu estou lá,esqueço de todos os meus problemas. Esqueço de tudo, tudo mesmo. É amaior adrenalina - revelou Priscilla.

- Nós recebemos muita energia positiva - disse Bianca.

O que vocês mais gostaram de fazer no trabalho de Paquita?

- Pra mim, particularmente, o mais gostoso é fazer shows - disseRoberta.

- Ah, pra mim tudo é bom quando está indo bem. Show, televisão,cantar, dançar, etc. - continuou Bianca. - Mas, no momento, o que está sendomais válido pra mim é nossa reunião, nosso trabalho aqui nesse livro, juntas.Fora isso, eu gosto de fazer show.

- O mais válido pra mim é escutar uma criança dizer: “Eu teamo” - respondeu Catú.

- Um dia, a Xuxa chegou pra mim e falou que eu tinha perdido todo obrilho no meu olhar, por causa de certas coisas que eu estava passando naminha vida. E que eu só ia encontrar de novo quando uma criança chegassepra mim e falasse uma coisa assim, tipo que me amava. Que tinha queencontrar isso de novo. Aí, quando uma criança pegou no meu cabelo no

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programa, eu me lembro até hoje, eu estava sentadinha, ao lado do negócio deágua do cenário. Estava meio triste, no maior baixo astral. Essa criança chegoue falou: “Eu te amo tanto!”. Chorei junto com a criança. Ela chorou e meperguntou por que eu estava triste. Então eu respondi que não estava maistriste. Na mesma hora eu me transformei. Fiquei muito feliz, porque eu fiqueicom aquele olhar daquela criança que não merecia ficar triste gravado naminha memória - contou Priscilla.

- Isso me faz lembrar de um show que eu estava com muita febre eachei que não ia dar pra entrar. Mas quando escutei todo mundo gritando onosso nome: “Paquitas! Paquitas!”, deu um negócio dentro de mim, que euentrei no palco, estava todo mundo olhando, mandando beijinhos, tinha umamenina chorando. Quando eu olhei para aquilo, passou uma coisa aqui dentrodo meu peito, que saiu tudo. Tudo que tinha de ruim saiu naquela hora. Eucomecei a chorar, acabou minha febre, acabou tudo. Eu fiquei ótima - relatouBianca, emocionada.

O que representam para vocês os seus fãs?

- Tudo. Acho que mais do que tudo, cara! - respondeu Priscilla.

- Eu acho que representam o puro sentimento. O que eles têm quefalar, eles falam mesmo. Eles olham dentro dos nossos olhos e falam: “É isso,é aquilo…” - descreveu Ana Paula.

- Eles são um dos motivos que fazem a gente continuar, ir prafrente - disse Catú.

E a Xuxa? O que representa para vocês?

- Não sei, cara! Às vezes é aquela coisa de amiga, mas só nosmomentos que conseguimos ficar com ela, que não são muitos. Sei lá, ali nopalco. No fundo, ela tem mesmo uma coisa meio mágica, que puxa a gentesem que a gente nem perceba - disse Catú.

- Ela não transmite uma pureza pra gente? - perguntou Ana Paula.

- Transmite - respondeu Catú. - Transmite. De verdade, mesmo!

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- Eu sempre adorei a Xuxa. Eu quis ser Paquita por causa dela. Achoque ela é uma pessoa super legal, super linda, que passa uma coisa incrívelpra gente. Não dá pra explicar com palavras - contou Flávia.

- É difícil pra gente falar o que a Xuxa representa. É pouco se agente falar que é apaixonada por ela, que ela é uma gracinha de pessoa, etc.Eu acho que isso é pouco, entendeu? - continuou Priscilla.

- Se me perguntarem: “O que você mais gosta na Xuxa?” ou “Porque ela é bonita?”... Não dá pra responder - afirmou Bianca.

- É uma coisa mágica - ratificou Catú.

- Ela tem uma coisa, uma luz que não dá pra descrever - disse AnaPaula

É realmente impressionante e inexplicável o fenômeno Xuxa quandoestá no palco. Ela irradia uma luz muito forte, que contagia a todos que estãopor perto. Olhando pra ela por diversas vezes, me conflitei. Ora sente-semedo, ora respeito, ora admiração, ora paixão. Seu semblante sempre ficoufixo e mudo, fazendo com que tivéssemos nossas dúvidas sobre seuspensamentos ocultos na dureza de seu olhar.

E A Marlene? O que ela representa pra vocês?

- Ah, eu ia falar uma palavra tão feia agora - respondeu Roberta.

- Não, não, não! Deixa que eu falo - interrompeu Juliana, com risosem geral.

- Eu acho que ela é super profissional. Sei lá, eu não sei o que voufalar mais da Marlene não - continuou Roberta. Mais risos.

- Eu posso falar? - pediu Priscilla. - Eu acho que a Marlene, por maisque tenha feito a gente passar por isso tudo, os memorandos humilhantes queela sempre mandou pra gente, as broncas, etc. Nós também aprendemosmuito com ela. Eu pelo menos aprendi muito.

- Eu acho que a gente aprendeu a ter responsabilidade. A genteaprendeu a ser profissional - completou Ana Paula.

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- É lógico que cada uma de nós já tinha um pouco de cada umadessas coisas. Não se coloca essas coisas dentro das pessoas à força. Ela sódesenvolveu - observou Priscilla.

- Ela fez com que nós despertássemos - complementou Flávia.

- No fundo, a própria rigidez dela foi legal pra gente - reconheceuRoberta.

- E ela foi importante pra todas nós. Em certos momentos, ela foimuito legal, deu conselhos, conversou. Isso a gente não pode negar. Masultimamente, ela está muito grossa, muito rude, fala coisas que não tinhanecessidade de falar. Foi injusta. Muitas vezes, ela se contradisse a ponto deeu pensar que esta força que ela mostra ter me parece ser exatamente ooposto. Às vezes, ela é tão fraca que tenta mostrar essa ‘força’. Quando nósoito tentamos conversar com ela sobre a Arisco, em todos os momentos elatentou não olhar pra gente nos olhos. Ela é uma pessoa sensível, que põe umamáscara de ‘durona’ e peita todo mundo pra ninguém a atingir - afirmouCatú.

- É verdade. Uma vez, eu vi a Marlene na cama dela, e parecia atéque era uma criancinha frágil. Por que ela coloca aquela fantasia? Aquelabanca toda? Por que ela faz tudo aquilo? A pessoa que é mesmo forte nãoprecisa fazer isso - contou Juliana.

- No show de Porto Alegre, as crianças chamavam pelo nome dela.Ela queria dar um “tchau”. Mas não, se reprimiu - lembrou Priscilla.

- Ela ficou olhando pra ver se alguém estava vendo. Quando ela viuque eu estava olhando pra ela prestando atenção pra ver o que ela ia fazer,ela virou pra criança e disse: “Menina, dá um tempo. Desce daí”. Ela só fezisso porque viu que eu estava olhando. Se ela não tivesse me visto, talvez elafalasse direito com a criança. Ela é uma mulher muito inteligente, muitoprofissional. É aquele ditado: “Quem não tem competência, não se estabelece”.A mulher é competente pra caramba. Tanto que está aí, cheia de grana, cheiade moral. Mas espera aí, ela não é dona do mundo, nem a dona da verdade,não! Agora, as pessoas fazem com que ela se sinta assim. Por isso que elaage desse jeito com todo mundo - completou Flávia.

- Ela é profissional pra certas coisas. Pra outras, não. Ela nuncasentou com a gente e falou: “Olha, nesse show você vai fazer isso, você vaiganhar isso”. Com ela, é: “vai fazer isso, e pronto, acabou”. Não diz mais

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nada. Se não tiver bom, vai embora. Isso eu não acho ser profissional - criticouCatú.

- Fora ela só dar valor pras pessoas que não merecem. Quem merece,ela despreza - continuou Priscilla.

- Quando eu comecei a namorar o Marcelo (ex-Paquito), me falaramque de jeito nenhum podia haver namoro de Paquitas e Paquitos, que seriammandados embora, etc. - lembrou Bianca. - Depois de um tempão namorandoescondido, a Xuxa veio falar comigo: “Que legal que vocês estão namorando,né? Você já falou com a Marlene?”. “Não, Xuxa, ainda não. Sabe como é,me disseram umas coisas, que eu ainda não tive coragem de falar com ela”.“Que nada, vai lá. Você tem que chegar e falar pra ela”. No show da Xuxaem Belo Horizonte, estávamos na sauna eu, o Marcelo, a Xuxa e não melembro mais quem. A Xuxa fez pressão pra eu falar com a Marlene, e nósdois fomos até o quarto dela. Quando lá chegamos, eu disse que queria falarcom ela: “O que é? Veio me dizer que está namorando?”. “É. Como é quevocê sabe?”. “Você não sabe que tenho meus informantes?”. “Exatamentepor isso que eu vim até aqui falar com você, antes que alguém viesse e contassede uma forma errada”. Aí ela mudou completamente e me mostrou um ladoque eu nunca tinha visto. Ficamos conversando durante horas, e quando íamossair, ela virou para o Marcelo e falou: “Cuida muito bem dessa menina, hein?”.Eu chorei pra caramba. Aquilo me impressionou. Eu nunca tinha pensado queexistia esse lado dela. No dia seguinte, cheguei perto da Xuxa e contei o quetinha acontecido. Ela então virou e disse: “Está vendo, Marlene? Você mostraesse lado pras pessoas e você não é nada desse bicho de sete cabeças”.Quando a Xuxa falou isso pra Marlene, ela quase chorou. Ficou muitoemocionada. Eu fiquei abraçada com ela, dando aquela força. Tem vezes queestá todo mundo rindo e ela fica se prendendo, fica rindo de lado, tentandodisfarçar. Ela não se permite. Todo mundo tem um lado bom e ruim. De unstempos pra cá, a Marlene só está usando o lado ruim, rude. Ela está muitoamarga.

- Na época em que eu entrei, fiquei mais admirada com a Marlene doque com a Xuxa, acredita? Ela me ‘paparicava’ tanto. Me colocava no colo,me dizia que se eu tivesse algum problema, falasse com ela - disse Juliana.

- Uh!!! Uh!!! Uh!!! - brincou Roberta, arrancando risadas.

- Ela fez isso com todas nós no início. Eu tinha nove anos de idade enão ficava com as outras Paquitas no mesmo quarto nas viagens. Ficava com

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a Dona Alda (mãe da Xuxa) ou com a Rita (Xuxa Produções). Ela tinhapreocupação devido à minha idade - contou Priscilla.

- No show de Porto Alegre (Natal de 1993), antes da gente entrar nopalco, fazia muito calor. E ela quase que nos obrigou a beber água para nãohaver perigo de desidratação - concluiu Catú.

Como vocês são tratadas pelas pessoas da produção que trabalhamcom vocês?

- Eu sinto que há uma diferença de tratamento com a gente por partedas pessoas. Eu falo com todo mundo igualmente. As pessoas reclamamcomigo sobre o estrelismo de algumas meninas - respondeu Priscilla.

- Existe muita falsidade na produção. Do mesmo jeito que falam demim pras outras, também falam delas pra mim - revelou Catú.

- Teve uma época em que nós estávamos viajando para o exterior eas pessoas ficavam naquela: “Só vai quem não estiver com o nome nocaderninho”. Aí era só acontecer qualquer coisinha... Tipo, a Cátia ria alto, eugritava, etc. Pronto, seu nome estava no caderninho. Pra quê isso? Por queas pessoas da produção ficavam fazendo essas coisas? Deixar a gente, comtreze anos de idade, nervosas - questionou Roberta.

- E quando chega no final do ano, sempre dizem que quatro vão sermandadas embora, que a Xuxa só vai ficar com quatro Paquitas - completouPriscilla..

- Eu não passei por esse tipo de pressão. Talvez por não ter maistanta ligação com elas - contou Catú.

- Em compensação, tem muita gente boa, a maioria, que nos tratasuper bem. Sempre perguntam como estão as coisas pra gente - considerouRoberta.

- São poucos. Mas quando levam bronca da Marlene, eles vêm diretocom ‘cavalices’ descontar na gente - continuou Priscilla.

Por que os pais de vocês permitiam a presença de vocês no programa,sabendo disso tudo?

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- Meus pais disseram que não interferiram por eu estar naquela ilu-são toda. Certamente não ia querer sair. E se melhorasse? Os pais iriam levartoda a culpa. Disseram também que tinham que me deixar resolver tudo,porque na vida é caindo que se levanta, é abrindo o olho que se enxerga.Também não poderiam decidir por mim, pois era a minha vida, o meu trabalho.Quem tinha que decidir sobre a minha carreira era eu - respondeu Roberta.

- Eu ontem conversei direito com minha mãe. Sobre o livro, etc. Elaestava meio ‘aérea’ com o que estava acontecendo. Quando eu expliquei, elame deu a maior força, me apoiou e achou o maior barato essaidéia - testemunhou Priscilla.

Na verdade, todos os pais confiam muito nas meninas e as apoiamem suas decisões para que assim elas não se decepcionem mais ainda com avida. Somando-se o fato de que eles também enfraquecem e se iludem com osucesso de suas filhas ao lado do mito Xuxa

Vocês são felizes profissionalmente?

- Eu sou. Eu sou feliz de trabalhar perto do sucesso que é a Xuxa, defazer parte dessa coisa. Toda vez que entro no palco ao lado dela, eu agradeçopor estar ali. Eu já falei isso com a Xuxa várias vezes. Mesmo levando nacabeça, eu agradeço - disse Catú.

- Eu também me sinto feliz - continuou Roberta. - Meu sonho eratrabalhar ao lado da Xuxa e eu consegui. Essa é a parte boa de ser Paquita:trabalhar ao lado dela. Mas às vezes eu fico desesperada de não conseguir,depois de oito anos de trabalho, comprar uma coisa que estou a fim. Aí mebate uma infelicidade e eu penso: “Você não quis ser Paquita? Então pronto”.

- Era o meu sonho também. E eu sou mais feliz ainda por terconseguido realizar o meu sonho - prosseguiu Cátia. - Eu me sinto feliz deestar segurando essa ‘barra’ toda de cabeça erguida. Por mais que eu leve nacabeça essa carga toda, eu me sinto feliz e penso: “Pô, eu sou uma vencedora,cara. Estou lutando de cabeça erguida nessa batalha toda, que me magoa,que me está machucando. Dói o meu peito, dói o meu coração, mas eu estoulá”. Eu estaria muito infeliz se não tivesse conseguido.

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- É verdade, somos todas vencedoras - afirmou Roberta.

- Meu pai e minha mãe já falaram que se eu quisesse sair do programaeles me dariam todo o apoio. Minha mãe não sabe como eu agüento. Ela dizque se estivesse no meu lugar já teria desistido. Isso é uma coisa que meengrandece pra caramba, entende? Me traz satisfação. Embora não queiradizer que eu me sinta feliz, eu estou feliz comigo, com quem eu sou, e nãocom a vida profissional que eu levo - contou Flávia.

- Eles dizem que não agüentariam porque já sofreram demais - disseJuliana. - Estão velhos, já aprenderam muito, e nós ainda estamos começandoa aprender.

- Na vida, o que os pais mais amam são os filhos. Nós somos a coisamais importante pra eles. Como também quando tivermos nossos filhos, vaiacontecer a mesma coisa - definiu Cátia.

- Se nossos pais pudessem, escolheriam o namorado pra gente,escolheriam até as nossas amizades. Mas não podem. Por quê? Porque primeiroa gente tem que quebrar a cabeça. Pra aprender direito - continuou Roberta.

- Um dia, meu pai chegou pra mim e disse: “Você não acha que essacoisa sua e do Ricardo... Vocês estão se martirizando. Vocês estão seconsumindo”. “Pai, eu não quero saber se está certo ou errado. Eu nuncaexperimentei isso e quero experimentar agora. Se eu quebrar a cabeça, pelomenos eu sei que quebrei por uma coisa que eu sempre quis: lutar por esseamor”. Nós moramos há dois anos juntos e namoramos há quatro anos. Aprendimuita coisa com o Ricardo - relatou Catú.

- Eles não deixam de sofrer junto com a gente. Todos, sem exceção,sofrem por nossa causa - completou Ana Paula.

Como vivem?

- Eu vivo bem - respondeu Flávia.

- Eu vivo super bem - completou Cátia.

- Ah, a gente vai empurrando com a barriga, não é? - afirmou Bianca.

- Dinheiro é isso mesmo. Nós vamos empurrando bem mal com abarriga. Agora, no lance da amizade, nós ficamos com um pé na frente e

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outro atrás, porque como somos pessoas famosas. Se aproximam da gentepor ‘N’ motivos. Mas, no fundo, conseguimos arrumar amizades super legais,super importantes na nossa vida - disse Roberta.

- Nós aprendemos até com pessoas que se aproximam por interesse.Seja num olhar ou num gesto, em alguma coisa nós aprendemos - continuouCatú.

- Eu acho que eu vivo super bem, porque apesar de todas asdificuldades que passamos, nós não deixamos de dar muito valor a nossafamília - prosseguiu Ana Paula. - E isso ajuda para que tenhamos mais forçae cada vez mais estrutura para agüentar essas amizades falsas e tudo issoque estamos falando. Acho que a nossa estrutura maior é a nossa família, quea gente nunca abandonou.

Quais são os seus sonhos?

- Um príncipe encantado pra cada uma, um carro do ano e umapartamento - brincou Flávia.

- Pra mim, só falta um sonho, que é o mesmo do meu pai: terminar deconstruir uma casa - contou Cátia.

As meninas brincaram bastante, e no final chegaram a uma conclusão:o que falta mesmo pra elas é a realização profissional.

Catú quer ser atriz. Priscilla não quer nada a não ser atriz. Ana Paulaou faz faculdade de medicina ou também quer ser atriz, estudar bastante paraser uma das boas e arrebentar. Cátia tem vontade de casar, ter filhos, ter umcarro. Mas não tem um sonho, pois tudo que ela quer é possivel no momento.Juliana está numa fase de transição e não sabe o que realmente quer. Robertadiz que seu maior sonho também é ser atriz. Flávia diz que realmente temmuitas vontades, mas que seu maior e verdadeiro sonho já foi realizado: serPaquita.

- É, pensando bem, o meu maior sonho já foi realizado, que era conhecera Xuxa - reavaliou Ana Paula.

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- Eu não sei bem se é um sonho ou uma vontade, mas eu sempre meimaginei fazendo uma novela, encenando num palco de teatro, em capas derevistas. Sonho em me realizar profissionalmente no meio artístico e ter umacasa própria. Ah, uma casa própria… - disse Bianca

Essa forte atração pelo sucesso, pela televisão e pelo símbolo maiorda fantasia dessas meninas (a Xuxa) foi o principal motivo da gravidade dasdecepções sofridas por elas.

- Eu tive sorte, porque nunca misturei a vida profissional com a pessoal.Eu trabalhava ali, trabalhava e ia embora. Nunca me misturei muito, por issonunca me decepcionei. Me magoei, mas como não entro esperando por nadae não saio deixando de esperar, eu simplesmente saio e vou embora - relatouCatú.

- Eu me decepcionei com várias pessoas - declarou Ana Paula.

- Eu não me decepcionei só com a Xuxa, mas com todo mundo. Atécom as Paquitas eu me decepcionei - revelou Roberta.

- Eu também. Quem poderia imaginar que ia escutar isso dela (Xuxa):“Eu não preciso de você”? - completou Flávia.

Como é a convivência com a Xuxa?

- Nós não temos mais contato com ela fora do trabalho. É legal quandoela pára pra conversar, pra fazer perguntas pessoais. Mas é meio‘transformer’. Do mesmo jeito que ela pára e fala, ela esvazia a cara e sai.Aí a gente vê que não existe mais nada. Nós já estávamos decepcionadascom ela, mas teve um dia que nos marcou. Nós tínhamos ido até a casa delapra ensaiar e ela tentou ler um livro com a gente, que era “O Presente Precioso”(de Spencer N. Johnson), e começou a falar do Ayrton (Senna). Coisas pessoaisdela. Começou a se abrir. Nós sentíamos que naquele momento ela estava àvontade mesmo. Mas chegou a Marlene e disse pra gente ir embora, queestava muito tarde. Cortou o barato da gente. Esse dia nos marcou muito, eachamos que nunca íamos esquecer esse negócio de ‘presente precioso’. Ao

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mesmo tempo que estamos perto da Xuxa, ela está longe da gente. Ela estáperto do nossos olhos, mas longe do coração.

O livro “O Presente Precioso” nos ensina a não misturar passado efuturo com o que o presente está nos oferecendo. Se nos preocuparmos demaiscom o que fizemos ou com o que nós poderemos fazer, esquecemos o quepoderemos fazer naquele momento. Nosso glorioso herói Ayrton Senna nãoconseguiu fazer com que a Xuxa, que era a pessoa que ele estava amandoloucamente, enxergasse isso. Ele chegou ao ponto, devido a sua paixão, dedriblar a segurança e se fantasiar de um grande presente, com direito a laçode fita e tudo. Foi até o apartamento dela em Nova Iorque e a pediu emcasamento. Pensando no ‘futuro artístico’ que teria que abrir mão para ficarcom o seu, certamente, ‘príncipe encantado’, ela disse “não”. E simplesmentedeixou passar o seu ‘presente precioso’. Fato que lamenta e mexe com elaaté hoje, com certeza.

- A Xuxa é uma coisa mágica. Tem dias que você tem vontade defalar alguma coisa pra ela e tem medo, não chega perto. Você chega pertodela e ‘tum!’, não precisa dizer nada. Com um olhar, ela te diz tudo. Não épreciso mais do que isso. Basta uma olhadela e pronto, está tudo entendido.Tem dias que temos a vontade de chegar para ela e dizer que estamos realmenteprecisando dela. Precisamos ter uma conversa tipo: “Pô, Xuxa, tem um caraaí que eu estou apaixonada... Me dá uma ajuda”. Ao mesmo tempo quequeremos que isso aconteça, nós pensamos: “Ah, eu não vou falar. De repente,eu vou chegar lá, vou começar a falar e ela me dá uma bronca. Eu estava emSalvador (Bahia). De repente, me deu vontade de comprar aquela cocadinhabaiana, não é? Xuxa gosta muito dessa cocadinha. Eu trouxe algumas e faleipara as Gêmeas que eu tinha trazido para dar de presente de aniversário paraa Xuxa junto com um cartão. Elas me disseram que se fossem eu, nãomandariam as cocadinhas pra ela. Que a Xuxa não estava comendo doce,não! Que ela não iria nem ligar e que também ela nunca lia os cartões mandadospra ela. Depois disso, quem iria mandar uma coisa pra Xuxa? Elas passam odia inteiro com ela. Sabem tudo que acontece. Deve ter alguma razão prafalarem essas coisas. Sempre que mandamos algum cartão pra ela, este nãochega às suas mãos. Não é lido. Sempre acaba misturando com o materialmandado por fãs, que ela nem sempre lê - contou Catú.

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Todas as vezes que as meninas conseguiram que seus cartõesagradecidos chegassem à Xuxa, foi dando um jeitinho para entregá-lapessoalmente. Isso acontecendo, Xuxa as agradecia por muito tempo. E durantealguns dias, as tratava com a maior delicadeza e com muito carinho.

- A Xuxa só pode mesmo é trabalhar. Ela não pode, de repente, vir anossa casa, nos visitar, como qualquer outra pessoa normal. Não deixam queela se solte, que ela seja ela mesma.

Como é o relacionamento profissional entre vocês e a Xuxa?

- Geralmente quando vamos gravar ela não fala com a gente. Quandofala é: “Olha, gente, vocês têm que fazer a coreografia direito no show. Vocêsnão vão ficar discutindo em cima do palco, né?” - respondeu Roberta.

- É raro ela chegar e falar tipo: “Oi, tudo bem?”. Hoje em dia, ela sósabe olhar as nossas fotografias de criança e dizer que está com saudadesdaquele tempo. Ela se mostra decepcionada por a gente ter crescido, tervirado mulher. Nós éramos bonitinhas e novinhas. Agora que crescemos,perdemos a graça - completou Priscilla.

E com a Marlene?

- Com a Marlene, o nosso relacionamento sempre foi unicamenteprofissional. Ela sempre exigiu tudo e nunca deu nada. Ela exige educação,falar baixo, respeito, disciplina… Exige essas coisas todas, mas não faz nada.Sabe aquele pai, coitado, que não consegue ser nada e que quer que o filhoseja? É assim que ela é com a gente. Se não formos o que ela gostaria de ser,não seremos nada.

O que gostariam de mudar na Xuxa?

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- Eu não mudaria nada. Já é tão difícil mudar alguma coisa em mim,quanto mais mudar nos outros. Todo mundo tem suas qualidades e seusdefeitos. Nós temos que aprender a conviver com isso. Não podemos agradara todos - disse Catú.

E no programa?

- O que eu gostaria de mudar no programa? A nossa roupa, a nossaparticipação que está muito fraca. No Xou da Xuxa, nós participávamos detudo. Agora, quase não aparecemos no vídeo - respondeu Roberta.

Para quais funcionários que fazem parte da equipe vocês dariam umprêmio?

- As Paquitas - respondeu Bianca. - Daria mesmo! Nós daríamos umprêmio ao Dengue. Um tremendo profissional, super gente boa. Aos contra-regras e ao pessoal que desmonta os cenários. Trabalham pra caramba esempre nos tratam super bem. O programa não acontece sem a união dessesprofissionais. Todos merecem um prêmio, sem tirar nem por.

E para quais funcionários vocês dariam um ‘trofeu abacaxi’?

- A Lenice sempre pegou no meu pé - contou Roberta. - Só chegaperto pra me criticar, criticar…

- O Berry também, cara! Eu o conheço há um tempão. É um caramaneiro e tudo mais. Foi ele que me chamou para o programa. Mas o troféuabacaxi vai pra ele quando resolveu entrar pra o time das ‘travecas’ - disseFlávia, com risos em geral.

Quais os seus ídolos?

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- Meu Pai, minha mãe e meu irmão. Eu amo o meu irmão. E Deustambém - respondeu Roberta.

- Meu ídolo é Deus - respondeu Ana Paula, com bastante convicção.Bianca deu a mesma resposta.

- Eu não tenho um ídolo. Gosto de algumas pessoas, mas não tenhoum ídolo - disse Flávia.

- Meus ídolos são meus pais - afirmou Juliana.

- Minha mãe, é óbvio - apontou Priscilla.

- Eu gosto muito de muitas pessoas, mas não tenho um ídolo - contouCátia.

- A minha mãe - respondeu firme Catú.

Religião?

- Eu sou Cristã - respondeu Ana Paula.

- Católica - Roberta e Bianca.

- Espírita - Cátia.

- Messiânica - Catú.

- Eu acredito em Deus - Flávia.

- Católica. Antigamente eu ia todo domingo para a missa, e agoranão. Hoje, tenho livrinhos de missas que eu rezo todas as noites. Tenho o meutercinho que fica do lado da minha cama - contou Priscilla.

- Eu sou batizada na Igreja Católica, mas não sou praticante - disseJuliana.

Signos?

- Priscilla - Sagitário.

- Ana Paula - Aquário.

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- Cátia, Roberta e Flávia - Peixes.

- Juliana - Áries.

- Bianca - Libra.

- Catú - Câncer.

Para que time de futebol torcem?

- Priscilla, Ana Paula e Cátia - Vasco da Gama.

- Juliana - Corinthians.

- Roberta, Flávia e Catú - Flamengo.

- Bianca - São Paulo.

Escola de Samba?

- Bianca, Cátia e Ana Paula - Mangueira.

- Roberta, Priscilla, Flávia, Juliana e Catú - Beija-Flor.

O que traz mais saudades de antes de se tornarem Paquitas?

- A pureza das coisas - disse Catú.

- Eu sinto muita saudade é de desfilar - continuou Cátia.

- Subir em goiabeira pra comer goiaba verdinha - lembrou Ana Paula.

- Eu também adorava subir em mangueira pra comer manga com sal.Hum, eu adorava manga verde com sal - completou Cátia.

- Goiaba verde com limão e sal é muito bom - exclamou Catú.

- As viagens que eu fazia com meus pais me trazem a maior saudade.Nós viajávamos pelo Brasil todo. Tenho a maior saudade - lembrou Roberta.

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- Concordo com a Catú. Sinto saudade da pureza, da inocência.Gostaria de um dia voltar a fazer ginástica olímpica como antigamente - disseBianca.

- Eu também gostaria de praticar esporte que fazia antes - completouRoberta.

- Sinto saudades das minhas coisas de menina. Brincar de bonecascom minhas amigas, ir ao colégio brincar na hora do recreio - continuou Flávia.

- Eu tenho saudades da união da minha família - disse Priscilla.

- Eu também! A minha mãe está com meus irmãos lá em Limeira, eeu e meu pai estamos aqui no Rio sozinhos - contou Juliana.

- Essas separações de vocês são amigáveis. A dos meus pais não -completou Priscilla.

O que nunca gostariam de ser?

- Lixeira ou sabonete de quartel - respondeu Cátia, soltando o risogeral.

- A Marlene falou que não gostaria de ter o meu rosto nem por cincominutos. Nem eu o dela! - disse Catú, com firmeza.

- Eu não queria ser um cavalo. Todo mundo subir e me fazer passearcom alguém nas costas, eu acho horrível - afirmou Bianca.

- Todo trabalho na vida, de uma certa forma, é honesto. Mas o que eununca gostaria de ser é prostituta - disse Flávia, apoiada por umas e discutida(de brincadeira, é lógico) por algumas.

Vocês gostariam de estar no lugar da Xuxa?

- Não - responderam todas, com firmeza.

Por quê?

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- Porque ela tem tudo e não tem nada - respondeu seca Juliana.

- Exatamente! - concordou Flávia.

- Ela é feliz e não é feliz. É isso e não é isso - completou Priscilla,com o apoio das demais.

Estudam?

- Somente eu e a Juliana estamos estudando.

- É, eu e a Priscilla estamos no segundo ano do segundo grau - disseJuliana.

- As demais terminaram e não fizeram mais nada - contou Roberta,em tom de desapontamento.

Os pais participam das suas vidas profissionais?

- Participam por trás, de longe, em casa. Porque se meterem o nariz,cabeças rolam - respondeu Roberta.

- É isso aí. Essa é a resposta de todo mundo - afirmou Ana Paula.

O primeiro beijo foi com quantos anos de idade?

- Flávia, Ana Paula e Bianca - doze anos.

- Priscilla - treze anos.

- Cátia, Juliana e Roberta - quartorze anos.

- Catú - continua não lembrando do primeiro beijo.

O que mais atrapalha no trabalho?

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- A estrutura negativa e os falsos amigos - respondeu Flávia.

- O que me atrapalha é o meu mau humor. Se eu estou chateada ouse tem alguma coisa me imcomodando, me irritando, não vou render legal,entendeu? Por exemplo: quando a Marlene fica enchendo o saco, quando elamanda a gente por roupas feias, quando fica chamando a gente de porcaria.Nunca vou render a mesma coisa que eu rendo normalmente. Ninguém gostade ser rebaixado, sabendo que está fazendo uma coisa legal - disse Catú.Todas concordaram com a sua posição.

Quando perguntadas se queriam se casar na Igreja, todas responderamque querem se casar, mas não importa muito a forma de casamento, se vaiser na Igreja, num cartório ou num jardim. O importante é que se casem poramor e sejam felizes para sempre.

Quantos filhos gostariam de ter?

- Catú - um casal, ou talvez três.

- Flávia - um casal.

- Juliana - um casal.

- Roberta - três.

- Ana Paula - gêmeos.

- Bianca - um casal de gêmeos.

- Cátia - gêmeos.

- Priscilla - três, sendo dois homens e uma mulher.

O que mudaria no seu corpo?

- Cátia - Meu nariz.

- Roberta - Minha altura.

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- Flávia - Meus seios. Eu aumentava. E meu bumbum. Dava umaacertadinha, trocava meus dentes, que são curtinhos. E gostaria de ter cabelosmais fortes.

- Priscilla - Eu diminuiria meus seios, minha barriga e as minhas coxas.Deixaria meu bumbum, que é excelente. Também gostaria de ter cabelosmais fortes.

- Catú - Tiraria minhas olheiras. Aumentaria a minha altura e davauma empinada no meu bumbum.

- Bianca - Eu queria mais altura e que meu cabelo enrolasse de novo.Tiraria um pouquinho do meu nariz e tiraria minha barriga.

- Juliana - Eu queria mais altura e menos rugas.

- Ana Paula - Eu gostaria de ter cabelos super armados, tipo cabelãode atriz americana.

Quando perguntadas se são louras naturais, todas responderam quenão. É uma exigência do programa?

- Em parte sim, em parte não. Ninguém nos obriga, mas é dado aentender que é melhor sermos louras.

- Quando eu entrei para o programa, o meu cabelo mudava de corsempre. Era de acordo com o sol que eu pegava. Mas na maioria do ano, euficava com o cabelo bem louro. Quando estávamos em Los Angeles, a Marlenee a Xuxa me pediram para clarear os meus cabelos - lembrou Catú.

- Comigo foi diferente. Em fevereiro de 1990, a Xuxa me levou praAngra dos Reis pra passar o final de semana. Quando chegamos lá, ela, comtodo o jeitinho, me perguntou se não era melhor eu clarear meus cabelos ‘sóum pouquinho’. Ela me deu um conselho. E eu, ‘fanzoca’, disse: “Vamos!”.Ela colocou muita água oxigenada no meu cabelo, e ele ficou todo branco, umhorror! - afirmou Juliana.

- Em 1987, eu estava com a Xuxa em Porto Alegre, no sítio do carada Grendene. Ela estava clareando os cabelos das meninas, (Catú, Louise,Andrea Veiga e Andrea Faria). Aí, a Xuxa virou pra mim e disse: “Roberta,vamos clarear esse cabelo, suas mechas vão ficar mais douradas ainda”. Eu

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tinha onze anos, e disse: “Tudo bem”. Resultado: meu cabelo também ficoutodo branco.

- Só o meu não ficou muito branco - completou Catú.

- Eu fui fazendo luzes, luzes, luzes e fiquei loura como as outras.Quase todas tinham o cabelo cor de mel. Só a Cátia e a Flávia chegaram aostestes preparadas, com os cabelos louros - concluiu Priscilla.

Quase todas tinham os cabelos cor de mel. Só a Cátia e a Flávia jáchegaram aos testes preparadas, com os cabelos ‘louros’.

- Eu sempre fui muito clara, e com o tempo meus cabelos foramescurecendo. Então eu comecei a clareá-los. Primeiro na praia e depois comluzes também - explicou Flávia.

- Eu fui para o sítio da Xuxa e ela me disse: “Vamos clarear essescabelos?”. “Vamos”, respondi com firmeza, pois eu já estava querendo mesmo.De um tempo pra cá, devido aos problemas com o cabelo da Roberta, quequase caíram por causa da pinturas, Xuxa ficou meio preocupada e disse pragente dar um tempo e parar de pintar os cabelos um pouco. Deixá-los na cornatural - contou Bianca.

Vocês se sentem exploradas?

- Muito! - respondeu Roberta rapidamente. - Não é brincadeira, não.Muito! Pela Marlene.

- Eu não tenho vergonha de dizer. - completou Priscilla. - Eu tenho évergonha de ser.

Como são feitos os seus contratos?

- De boca. Sempre foram de boca. A Marlene é quem decide, depoisdiz o que quer pra gente. Eu estava pensando sobre isso noutro dias, e pensei:

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“Sair da Xuxa e fazer comercial pra ela, eu não vou fazer”. E acho sujeira sealguém fizer - respondeu Roberta, com muita convicção.

Uma mensagem para as futuras Paquitas (nesta época, não existianada de concreto sobre a substituição do grupo).

- Que futuras? - se espantou a maioria.

- Eu acho que vai ter sim - respondeu Priscilla.

- Bom, se as futuras não forem algumas das atuais - disse Catú,maliciosamente. - Eu espero que elas acordem. Mesmo que sejam umas denós, eu espero que acordem pra vida. A vida não se resume a ser Paquita,não. Nós ficamos presas o dia inteiro naquele Teatro Fênix, de duas da tardeaté as duas da manhã. Nós não aprendemos nada, não crescemos ‘na cabeça’.Ficamos bitoladas em coisas fúteis, só.

- Eu desejo muita sorte pra elas, muito sucesso. No que precisarem,pode contar comigo - continuou Roberta.

- Se precisarem de mim, eu estou aqui numa boa, entendeu? Eu tenhocerteza de que as novas Paquitas vão ler esse livro e vão se cuidar. Vãosaber a verdade. E não vão ser aquela cabecinha ‘tapadinha’ que nós fomos,entendeu? - afirmou Priscilla.

É muito difícil saber o que está se passando na cabeça de qualqueruma das meninas. Elas mudam de idéia constantemente. Foi assim queaprenderam a viver.

Quando perguntadas se já namoram o namorado de outra Paquita,apenas a Bianca que namorava um ex-namorado da Priscilla.

O que os namorados de vocês pensam a respeito das Paquitas?

- O meu namorado curte muito o meu trabalho - disse Roberta. - Masele fica decepcionado por eu ser tão explorada.

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- O meu admira o meu trabalho. E acha que a Marlene não éprofissional com a gente - completou Bianca.

- O Ricardo dá a maior força pra nós trabalharmos juntas. Ele achaque unidas somos uma força - respondeu Catú.

- Eu dou força ao que ela decidir. Vou estar sempre do lado dela paradar o meu apoio - afirmou o Djair, namorado da Cátia, que estava presente nareunião.

Vocês já namoraram algum fã?

- Eu namorei um fã da Letícia - confessou Flávia, entre risos. - Noinício, eu não sabia que ele era fã dela, e eu nem Paquita era ainda. Foi noprimeiro disco das Paquitas. Nessa época, eu seguia as meninas por ondeelas iam. Eu achei ele bonitinho e fiquei paquerando. Só depois que nóscomeçamos a namorar que eu descobri que ele era fã da Letícia.

- Eu namorei um amigo da Tatiana. Foi o meu primeiro beijo - contouCátia.

As outras nunca namoraram um fã, mas não se importariam se issoacontecesse.

Qual o objetivo desse livro?

- Um ponto final de uma trajetória e o início de uma nova vida.

Acham-se tolhidas de sua liberdade pessoal?

- Aqui no Brasil. nem tanto. Mas na Argentina o bicho pega. Ondenós vamos, os fãs vão atrás. É ótimo, gostamos muito.

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Vocês se acham bonitas?

- Eu não me acho - respondeu Priscilla.

Por quê?

- Eu me acho uma pessoa simpática, sabe? Não me importa a belezaexterior, o que vale mesmo é a beleza interior. Eu me acho mais bonita pordentro do que por fora.

- Eu me acho bonita. Porque se eu não me achar bonita, se eu nãome mirar no espelho e pensar: “Eu estou me sentindo bem, não só bonitafisicamente, mas bem internamente” - disse Bianca.

- Eu acho que esse negócio de se achar bonita, porque se não osoutros não vão achar, é uma coisa meio suspeita, meio confusa. Não é bempor aí. Tem gente que se acha o fim, entendeu? E as pessoas continuambabando e falando: “Você é linda, maravilhosa, isso e aquilo”. Às vezes, eume olho no espelho e penso: “Pô, hoje eu estou bonitinha” - completou Flávia.

- Tem dias que eu acordo parecendo o cão chupando manga - dissePriscilla.

- Eu também - concordou Flávia.

- Comigo, tem dias que me olho no espelho e pareço normal. Mastem dias que me olho e estou ridícula. “Nossa, por que eu nasci?” - finalizouCátia

As respostas das outras se dividiram nessas opiniões. Todas têm seusdias de “bonitinha”, seus dias de “normal” e seus dias de “bruxa”. Porém,todas adoram ser elogiadas. Quando isso acontece, não importa em que diaestão. Automaticamente esse dia passa a ser o dia “bonitinha”. Como nãopoderia deixar de acontecer, visto que são mulheres, meninas, bonitas efamosas.

Que mensagem mandariam para a Xuxa?

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- Ela deveria viver mais a vida dela - respondeu Cátia. - E não só emfunção da Marlene.

- Eu desejaria que ela trabalhasse mais o lado interior - disse AnaPaula.

- Eu queria que ela acordasse para a vida, entendeu? Começasse atrabalhar os verdadeiros sonhos dela, que são casar, ter filhos, correr atrás, selibertar um pouco. Parar de ser submissa. Viver a vida dela. Falar o que elapensa. Ter consideração. Tudo que a Marlene fala pra ela é o certo. Àsvezes, ela deixa a opinião dela de lado pra colocar a da Marlene em primeirolugar. Ela sabe o que é bom pra ela, mais do que a Marlene, mais do que todomundo - completou Flávia.

- Liberdade, felicidade. Eu estou com a Flávia - afirmou Priscilla.

- Eu queria dizer que todas nós a amamos muito - falou Roberta.

- Ela é uma pessoa que a gente quer ver super bem - continuouPriscilla. - A gente quer que ela se realize como mulher. Ela trabalha pracaramba e merece ser feliz.

- Se ela faz isso tudo é porque ela quer. Então, de repente, umamensagem pra ela: parar um dia, sozinha e tentar refletir toda a vida dela ever o que é melhor, se gosta de viver assim. Estou com ela e desejo felicidades,pois nós a amamos. Eu jamais seria feliz assim. Mas se ela é, o problema édela. Nós não podemos ter certeza se ela é feliz ou infeliz. Um dia, eu estavafora do programa, fui visitá-la e ela falou pra mim: “Pô, não agüento mais aMarlene me enchendo o saco. Estou super infeliz”. Se ela estivesse mesmo,ela daria um ‘basta’, como estamos fazendo agora” - respondeu Catú.

Eu também não entendo. As meninas têm muito mais a perder do queela. Se ela quiser dar um ‘basta’ agora, não vai perder nada. Ela vai continuarsendo a Xuxa.

- Ela já se acostumou com isso - disse Ana Paula.

- Já começou errado. Vai ser difícil mudar agora - completou Bianca.

- É tipo assim: eu, por exemplo, hoje em dia não consigo mais viversem o Ricardo - contou Catú. - Virou uma dependência. É que nem ela. Ela

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não deve conseguir se ver sem a Marlene. Por mais que ela a maltrate, façaisso ou aquilo, a Marlene é a família da Xuxa. Elas se amam tanto que podemficar com raiva uma da outra, que não se separam.

Sem dúvidas é muito estranho. Como tudo nos bastidores do Xou,não existe uma explicação palpável, ou pelo menos convincente. A relaçãodoentia continua através do tempo. E o que é pior, formando seguidores.

O sucesso é uma realidade ou uma ilusão?

- Ilusão - respondeu firme Cátia. - Ao mesmo tempo em que vocêestá lá em cima, você pode ficar lá embaixo.

- Sabe qual é a realidade? É o que está dentro de você - continuouCatú. - Concordo com o que a Cátia disse, e acho que você só não podemudar a sua essência.

- Nós devemos nos apegar às coisas mais concretas da vida: o amor,a família... Os sentimentos pra mim são concretos. Agora, sucesso, dinheiro efama, tudo isso é passageiro. É ilusão. A gente vai deixar tudo isso aqui naterra, para o bicho comer tudo - afirmou Juliana.

- Eu concordo com a Juliana. Acho que o sucesso é uma ilusão.Porque, tipo aquele cantor, o Netinho. Vamos supor que ele se chame Severino.Ninguém gosta do Severino, mas todo mundo gosta do Netinho. Mesma coisacom as Paquitas. Muita gente não gosta da Ana Paula Guimarães, aquela quemora com o Ricardo, que faz ginástica. Gosta é da Catú, entendeu? Eu achoque o sucesso é uma ilusão por isso - acrescentou Flávia.

O que vocês acham das Gêmeas?

- Super alto astral. Super gente, boa sabe? - disse Roberta. - Quandoa gente está triste, elas vêm e conversam com a gente. Tentam animar eapoiar a gente.

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- Elas são super preocupadas. A Mariana é mais fechada, ela se abrecom quem acha que deve. Já a Roberta é mais ingênua, se abre com todomundo. Mas são iguais na sensibilidade - contou Catú.

Pessoalmente, as Gêmeas são amadas por todas as meninas. Porém,profissionalmente, elas não gostam da proteção dada às Gêmeas pela Xuxa,em contrapartida com o desprezo dado as Paquitas.

E o You Can Dance?

- Eles são um amor…

- São super gente boa. São super preocupados com a gente.

- Um dia estávamos eu, Flávia e eles no avião, quando disseram: “Pô,não agüentamos mais. Não podemos mais sair na rua agora, porque a genteestá super famoso”. Aí o Fly virou para a Flávia e disse: “Puxa, Flávia, eu jádei a idéia pra Marlene. Queria tanto que vocês dançassem com a gente láembaixo. Eu quero ensinar passos pra vocês. Eu quero que fique You CanDance, Xuxa e as Paquitas”. Não é todo mundo que pensa assim no meioartístico - afirmou Roberta.

- São pessoas humildes, simples, humanas, que batalham muito etiveram uma oportunidade legal. Eles tiveram uma oportunidade legal nesseprograma novo e nós não. Mas não é por causa disso que a gente vai malharos caras e cair em cima deles. Tem gente que pensa que nós temos raivadeles, mas não é verdade. Eles são pessoas muito legais - completou Catú.

- O Fly chegou pra mim um dia e falou: “Puxa, se alguém chegar pravocês e falar alguma coisa de mal da gente, olha, não é nada disso. As pessoasadoram fazer fofocas só porque a gente está aparecendo mais um pouco. Dizpara as meninas que a gente quer o bem de vocês” - contou Cátia.

E, como não podia ser diferente, a Letícia Spiller?

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- É uma pessoa que merece onde estar hoje e que quando esse livrofor lançado ela vai estar muito melhor. Bem lá em cima. Fazendo o maiorsucesso. É merecido. Ela está chegando onde ela quer porque ela foi atrás.Nós também só vamos conseguir se levarmos nosso projeto adiante. Nãopodemos desistir. Temos que correr atrás.

Como se sentiram após o Xou da Xuxa ter saído do ar?

- Muito mal! Muito mal mesmo - foi a primeira resposta do grupo.

- No dia em que a gente gravou o último programa, eu não acreditei.Parecia que a gente estava sonhando. Depois, quando terminou tudo, eu senteino palco e fiquei olhando. E me veio imagem de quando eu entrei até os diasde hoje. Eu pensei: “Puxa, nunca mais eu vou ver isso aqui”. Posso ver naArgentina, mas no Brasil nunca mais. A Xuxa descendo daquela nave, que eutanto gosto. Nunca mais o meu sonho se tornou realidade e acabou. Depoisque acabou o programa, que a Marlene mandou apagar as luzes, foi que eucaí na real. Fiquei olhando para o cenário. Aí que eu vi que tinha acabado deverdade o meu sonho. Eu chorei muito, senti de verdade. Foi muito triste, paratodas nós, o final do bom e velho Xou da Xuxa - recordou Priscilla.

O que vocês acham dos programas fora do Brasil?

- Além de convivermos com pessoas diferentes, com costumesdiferentes dos nossos, nós aprendemos a nos comunicar. No começo, nãosabíamos a língua deles. Mesmo assim nós aprendemos. Eu aprendi pracaramba, gostei muito - respondeu Ana Paula.

- Eu também. Principalmente na Argentina. Dos programas lá defora, é o que eu tenho mais carinho - acrescentou Juliana.

- Em cada lugar, foi uma experiência diferente Na Argentina, foi ocarinho do público. Acho que foi um dos maiores que a gente já teve - disseCatú.

- Foi o maior - insistiu Juliana, apoiada pela Cátia.

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- O carinho deles é tão grande que eu acho que a gente nunca vaiesquecer a Argentina - continuou Catú, emocionada. - Já os outros, valerampela experiência. Na Espanha, nos Estados Unidos, a gente não pode usar oimproviso. A gente não pode fazer o que os outros fazem, como aqui. A gentenão pode, de repente, limpar o palco, arrumar o cenário junto com o contra-regra. O que acontece é que eles têm muita tecnologia, mas não sabem usar.Enquanto que aqui, a gente tem muita criatividade, mas não tem a tecnologiaque eles têm.

Quem substituiria a Xuxa para vocês?

- Ninguém - responderam em coro.

- Não, não é só a Xuxa. Eu acho que todo mundo é insubstituível.Cada um é cada um, e cada qual é cada qual - explicou Catú.

- Qualquer um pode ser apresentador de televisão. Mas Xuxa é Xuxa.Chacrinha continua sendo Chacrinha. E por aí vai - finalizou Ana Paula.

Já tomaram algum ‘porre’? Onde e como foi?

- Eu nunca tomei um porre - respondeu Ana Paula.

- O meu primeiro porre foi com a Roberta - contou Cátia.

- E o meu foi com a Cátia - completou Roberta.

- Foi o seguinte: eu e a Roberta tomamos umas batidas de coco noOsvaldo (Barra da Tijuca-RJ). A gente estava com o Bruno Macarrão, minhairmã e a Romila. Tomamos umas cinco garrafas.

- Foram três - corrigiu Roberta. - A gente tomou duas e sobrou uma.

- É, foram três. Aí a gente ficou andando de carro pelo Joá, Barra,por aí, até...

- Doidonas, né? A gente bebeu, bebeu... E a Cátia virou pra mim edisse pra eu dormir na casa dela, porque a minha mãe e o meu pai são superrigorosos com horário.

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- Isso foi em 1990 - concluiu Cátia.

Vocês estavam festejando o quê?

- Nada! Estávamos bebendo só de ‘onda’. Então eu liguei para omeu pai e avisei: “Pai, eu vou dormir na casa da Cátia”. Só que os meus paisnunca foram de deixar eu dormir na casa dos outros. A minha voz ao telefoneestava meio estranha, e ele percebeu: “Roberta! Você bebeu! Sua voz estámuito estranha. Vem dormir em casa”. “Não, pai. Eu não bebi”. Falei com avoz arrastando. Nisso, a Cátia foi falar com ele, mas ela também estava‘mal’, e piorou mais ainda. Tive que ir pra casa. Quando cheguei, meu pai eminha mãe estavam na varanda me esperando. Eu saí do carro, me ajoelheina calçada (morava no primeiro andar) e fiquei pedindo: “Por favor, pai. Deixaeu dormir na casa da Cátia. Por favor, pai. Deixa?”. Ele ficou uma fera e medisse: “Sobe agora, que você bebeu! Sobe agora!”. Aí, a Carla virou pra mime disse: “Roberta, toma uma pastilha para o seu pai não perceber”. Eu pensei:“beleza”. Subi pra casa com a pastilha na boca, e quando abri a porta, vireipara o meu pai e disse: “Pô, pai, sacanagem”. “Você bebeu!”. “Não, pai, eunão bebi”. “Deixa eu sentir o seu bafo”. Eu fui e soltei um bafo de pastilha nacara dele. “É, você não bebeu não. Ah, então vai dormir”. Eu fui dormir, maso meu irmão... “Ela bebeu sim, pai. Deixa de ser burro. Ela está com pastilhade hortelã na boca”. Aí eu ‘aloprei’. Eu ‘aloprei’! Fui pra cama da minha mãee comecei a pular, pular, pular até cair pra trás. Minha mãe me olhou e disse:“Ela bebeu. Com certeza, ela bebeu”.

- Eu não sou de beber muito assim, sabe? - continuou Priscilla. Masuma vez, saímos eu, a Roberta e a Cátia com uma galera. A gente estava na‘dieta do líquido’. Todo mundo pediu pizza, e a gente assim, não é? Sentindo ocheirinho da pizza, sem poder comer. “A gente não vai comer! A gente nãopode comer”, pensávamos. De repente, a Cátia sugeriu: “Vamos pedir algumacoisa pra beber”. “Uma Sangria”. “Pequena ou grande?”. “Grande! Tem queser grande”, definiu Cátia. “Vamos na pequena, gente”, eu disse, tentandocontrolar as meninas, senão... Pedimos a Sangria. Eu bebi um pouquinho. Asmeninas falavam: “Bebe, vai, Priscilla. Bebe mais um pouquinho”. E eu bebi.Qual era o bar mesmo, Roberta?

- Caneco 70 (Ipanema - RJ).

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- Nós saímos do bar e fomos andar na praia.

- O meu irmão também estava com a gente.

- É, o irmão da Roberta e uma galera. Toda hora, a Roberta queriafazer xixi. Fez na praia, fez na cruzada... Na cruzada! É mole? A graça dissotudo foi quando a gente chegou em casa. Já era ‘tardão’ e a gente foi dormir,não é?

- Detalhe: elas foram dormir na minha casa e a gente estava super‘louquinha’ - descreveu Roberta.

- A gente ria muito, mas daquele jeito de ‘bebum’. Super escandalosa.A mãe da Roberta arrumando a cama e a gente lá, só rindo. Nós nos deitamose falamos: “Cara, a noite foi maravilhosa! Foi muito maneira a noite. E aSangria? Hein, Roberta? Que máximo! Foi ‘bonzão’ beber. Pô, a gente nãocomeu a pizza, mas a gente bebeu! Pelo menos a gente não quebrou a nossa‘dieta de líquidos’. Sangria é muito bom!”. Aí, a porta do quarto abriu, eentraram a mãe e o pai da Roberta: “Quer dizer que Sangria é muito bom, nãoé, meninas?”, com aquele olhar de repreensão.

- Aí, meu amigo, caímos nós três na risada: “quáquáquáquá” - disseRoberta.

- A gente não estava acostumada a beber nada. Um pouquinho que agente bebeu, não parou mais de rir - continuou Priscilla.

- O meu foi na época da Louise - lembrou Catú. - Estávamos eu,Louise, Angel, Andréa Veiga, o Guto, que é filho do Jorge Adib, diretor daApoio (mershandising da Globo), a Leda (também da Apoio) e mais umagalera na Zoom, em São Conrado (RJ). Eu e a Louise começamos a bebervodka russa. Colocamos muita vodka russa pra dentro. A gente tinha umshow no dia seguinte em São Paulo de ônibus, e tinha que estar às cinco horasda manhã em frente a casa da Dona Alda, na Lagoa (RJ). E a gente lá,bebendo, bebendo, bebendo! Quando viemos embora, só falamos bobeira:que a gente queria ter o nariz da Xuxa, o nariz da Valéria Monteiro... Quandochegamos na casa da Angel, no Jardim Botânico, as duas estavam muitodoidas. Uma batia na outra, vomitando uma em cima da outra, cara! O Berryestava dormindo num canto do apartamento e acordou falando em ‘portunhol’:“Meninasss... Essst é uma falllta de ressspeito meninasss... Io estoiiidorminnndo... Temosss que ir para casssa de Dona Alllda...”. E a gente:“Ah, Berry, não enche o saco!”. E bêbadas. A Lurdinha levou café amargo

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pra gente no banheiro, e nós continuamos brigando e vomitando em cima daoutra. A gente melhorou um pouquinho e foi lá pra casa da Dona Alda. Quandochegamos, a Marlene falava e ficávamos eu e a Louise olhando pra ela comar de riso forçado. E a Marlene não entendeu nada. Depois, quando entramosno ônibus pra São Paulo, dormimos a viagem inteira sem sequer mudar deposição. O pessoal desceu, comeu, voltou para o ônibus. E a gente lá, sóbabando e dormindo.

- Eu não me lembro em que ano foi, mas me lembro que foi emPiracicaba (SP). Acho que foi no início de 1990. Estávamos eu e minha prima.Eu só tenho essa prima que é da minha idade, as outras são todas menores.Por isso, a gente se ama muito. Nós somos assim, idênticas. Bom, aí a genteestava na casa de uma outra prima dela e tinha cerveja e vinho ‘cabeção’.Sabem aqueles vinhos meio assim? Eu sei que fiquei brava, porque tinha umgaroto que eu queria ficar, e daí nesse dia ele ficou com outra menina, que jáfalou que era namorada dele. Eu fiquei muito brava e resolvi: “Quer saber deuma coisa? Eu vou é beber!”. Eu nunca tinha bebido. “Mas, se a a minha mãebebe, por que eu não posso beber? Vou ver como é esse tal de porre que todomundo fala”, pensei. Eu comecei tomando cerveja... Cerveja... Aí tinha umagarrafa de vinho. Eu já estava meio ‘grogue’. Passei a mão na garrafa devinho e misturei tudo. Quando a minha prima me viu naquele estado: “Por quevocê está fazendo isso? O que a gente vai falar pra sua mãe agora?”, dandotapas no meu rosto. “Sua mãe nunca mais vai deixar você vir pra Piracicaba”.“Eu não quero nem saber”, respondi, completamente bêbada. No final, euqueria ir embora pra casa de moto. Eu sei que a casa ficava numa ladeira, arua não era calçada e tinha chovido. Quando fomos sair, a moto virou e eu caíno barro e fiquei lá, esparramada no barro, achando o máximo, rindo ebrincando. Minha prima veio, me catou de jeito pela orelha e me levou para ocarro. Eu fui chorando e falando: “Ah, Dani, não briga comigo, cara. Vocêsabe que eu te amo”. “Não quero saber”. Me levou e me ‘tacou’ embaixo dochuveiro, frio, gelado, com roupa e tudo. Eu só lembro de uma coisa: de terpassado a mão na parede e ter deslizado suave. No dia seguinte, quando euacordei e vi, perguntei: “O que é isso?”. “Foi você ontem, cheia de barro,passando a mão na parede”. Aí eu comecei a lembrar que quase tinha morridoafogada embaixo do chuveiro. Eu não conseguia me controlar e pedia pra ela:“Me tira daqui! Me tira daqui!”. E ela do meu lado, não é? Olhando pra minhacara, e eu: “Ai, socorro! Socorro!”, não conseguia sair de lá. O resto eu nãome lembro de mais nada. No dia seguinte, era Natal, tinha aquela ceia armadapara o almoço. A avó dela chamou a gente pra almoçar, e eu enjoada e com

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a cabeça doendo, que eu não conseguia nem mexer. Aí tiveram vários porresdepois desse. Foi legal pra caramba - contou Bianca.

- A única coisa que eu tenho pra declarar é uma garrafa de JohnnyWalker que eu tomei quase inteira e por pouco não entrei em coma alcoólico.Eu tinha quatorze anos e estava com meu namorado na sala da minha casa, emeu pai e minha mãe estavam no quarto. Quase até tive que tomar glicose naveia - lembrou Flávia.

- Hummmm... Com seu namorado em casa? Aí teve! - maliciouRoberta.

- Peraí, Roberta, não teve nada. Não aconteceu nada mesmo. Nóssó bebemos. Meus pais e minha irmã estavam em casa com a gente. Bom,ele bebeu a primeira dose e me fez beber a segunda. Eu já fiquei meio alterada,nunca tinha bebido, e whisky é uma bebida forte demais. Aí, quando eu fuipegar a terceira pra ele, fui bebendo, bebendo, peguei a garrafa e óóó! Nogargalo! Fui tomando no gargalo.

- E aí? ‘Créu’ no menino? - perguntou Roberta.

- Que ‘créu’ que nada. Meu namorado no início ficou rindo. Masquando eu comecei a passar mal, ele até chorou. Vomitei a casa toda, passeimuito mal.

- O que o teu pai e a tua mãe pensaram disso tudo? - perguntou aPriscilla, curiosa.

- Acharam o cúmulo. Mas, o que eles vão fazer?

- Eu não namorava o Djair ainda. Já estava querendo namorar, masele NÃO SE DECIDIA - gritou Cátia, para que o Djair, que estava perto,escutasse. - Ele não movia nem um palitinho de dente. Até que um dia, saímoseu, ele, a minha irmã e mais uma pessoa. A gente foi pra um resaurantejaponês. Nisso que fomos, pedimos saquê. Eu tomei simplesmente uma garrafae uma dose daquela ‘bebidinha’. Eu sei que desci a escada e não vi maisnada. Só me lembro de partes: eu vomitando dentro do carro do Djair, umTempra ‘novinho’, que ele tinha acabado de comprar naquele dia. E eu nãonamorava ele ainda, hein? Lembro dessa cena e de outra que me colocaramsentada no chão da garagem de uma amiga da gente, a Siegrid, e que minhamão foi escorregando devagar, da minha perna para o chão. Eles pegaramuma mangueira e ‘tacaram’ água em cima de mim. Depois me contaram que

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eu gritava para o Djair: “Eu vou te dar um beijo na sua booocaaa... Eu teamo... Vem cá que eu vou te agarrarrrrr!!!”.

- Cátia taraaadaaa... - brincou Roberta.

- Elas também me disseram que depois que saímos do restaurante etudo mais, eles pararam no Stop Shop (loja de conveniência, dia e noite emposto de gasolina), e me deixaram sentada no carro. Quando foram abrir aporta, eu caí do carro, ‘prabrarará’.

- Cátia, faz o som aí de novo, que eu achei o máximo - pediu Priscilla.

- ‘Prabrarará’.

- Pô, o máximo aí... - disse Priscilla, satisfeita.

- Depois disso, eles me levaram pra casa. Mas eu também me lembrode outra cena em que o Gérson me segurava por baixo dos braços e meempurrava pra água. No dia seguinte, acordei toda mal e não me lembrava denada. Mas em compensação, no outro dia o Djair saiu e ‘ficou’ co-mi-go!

Você venceu o rapaz pela boca, não é, Cátia? Ele não agüentou maisver você vomitando no carro dele.

- Amor de vômito, onde bate fica - completou Catú, brincando.

Bom, uma coisa quase todas as meninas têm em comum nos porres:a Cátia está quase sempre presente com seu bom humor para apóia-las.

- O meu foi sério. Eu estava na minha época hippie. ‘Paz e AmorCAL’, entenderam? CAL, da Casa de Artes Laranjeiras (risos). Eu faziateatro, e tinha o Mama Rosa (restaurante) na frente. Depois do teatro, ogrupo todo desceu e foi tomar chope. A gente entrou e disse que era só umchopinho. Desce um, dois, três, quatro... Começamos a cantar, com o nossoamigo Mosquito acompanhando no violão. Enquanto isso, um General quemorava ao lado do restaurante reclamava do barulho que a gente estavafazendo. Não deu outra, fomos expulsos com violão e tudo do restaurante. Eo General chamou a polícia. Tem um amigo meu em Macaé, que nessa época

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tinha sofrido um acidente, e como a gente era ‘cabeça’, não é? Saímos dorestaurante e resolvemos fazer uma corrente energética na frente do prédioao lado do restaurante. Aquele grupo todo do teatro de mãos dadas, pedindopelo nosso amigo que ia ficar paraplégico. No meio da corrente, estava todomundo ‘doido’, rezando em frente ao prédio, rodando e tal... Quando terminoua corrente, resolvemos ir para os bares do Baixo Gávea (RJ). Entrou o grupointeiro em um ônibus e fomos. O nosso amigo continuou tocando violão dentrodo ônibus e cantando “Te Amo Espanhola”. A gente se ajoelhava no chão doônibus e saía cantando para os outros passageiros: “Te amo, espanhola... Teamo espanhola...”. Descemos no Baixo Gávea, cantando e dançando. Depoisdisso nós fomos pra casa, mas passamos primeiro numa loja AM/PM(conveniência, dia e noite), porque a gente estava morrendo de fome. Só queeu estava muito doida e fui pegando tudo que via pela frente. Biscoito, sorvete,pão de queijo, tudo - contou Catú.

- Tinha dinheiro? - perguntou Cátia.

- Tinha, lógico. Também, sou doida, mas não tanto. Quando fui pagar,eu coloquei as coisas no caixa, e enquanto a mulher estava pegando, eu esbarreie joguei um pacote no chão. Só que na hora que eu fui me abaixar pra pegaro pacote, caí com o nariz no vidro. Quebrei o vidro do AM/PM. Imagina só, oAM/PM, que tem aquela camerazinha gravando tudo que acontece, e eu láassim, de quatro, com o nariz saindo sangue e o vidro quebrado. Nunca maisvoltei naquele lugar. Lá na Rainha Elizabeth (Copacabana - RJ). Meu irmãosaiu correndo, todo mundo foi junto e eu fiquei lá. Veio um médico na hora, eenquanto ele me examinava com uma lanterninha, eu falava que estava tudobem. “Eu ‘tô’ bem!!!”. É o dia que eu tenho mais vergonha na minha vida deexistir, gente! Foi o pior dia da minha vida. Já em casa, eu fui comer umsorvete. A colher caiu no chão e eu caí com o nariz no chão de novo. Depoisdesse dia, nunca mais.

- Uma vez, saímos eu e o Marcelo (o primeiro, pois ela namorou doisMarcelos), o Cláudio (Paquito) e a namorada dele. Sempre que podíamos,saíamos os quatro juntos. Fomos até a boate Vamp (RJ). Quando chegamoslá, a boate estava vazia. Os meninos ficaram bebendo e conversando. Euentão falei pra Luísa: “Vamos beber um pouquinho?”. “Vamos”. Pronto,ficamos eu e a Luísa pedindo toda hora: “Traz um vinho... Me traz outrovinho, por favor”. Entre um gole e outro, nós conversamos um montão defofocas e de coisas engraçadas. De repente, quando eu parei pra ver, disse:“Luísa, a boate está cheia! Está lotada! Não tinha ninguém aqui! Como é que

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pode isso?”. Demos algumas risadas e percebemos que tínhamos tomadoquatro garrafas de vinho. “Ah, Bianca, me ajuda a ir ao banheiro, que eu achoque vou vomitar”. “O que é isso? Vomitar por quê?”. “Nossa, você estáagüentando ficar aí bem?”. “Eu estou ótima. Vamos lá”. ‘Blammm!’. Fuilevantar e levei o maior tombo, caí sentada. Levantei-me, levei-a até o banheiroe ela vomitou. Depois foi a minha vez de ir vomitar e a dela de me acompanhar.Ficamos nesse revezamento horas, uma ajudando a outra. Até que resolvemosir embora, porque estávamos passando muito mal. No meio do caminho, oMarcelo ficava falando: “Acorda, presta a atenção, não fica assim... Calma,calma!”. Isso me balançando, sem saber como cuidar, não é? Quando passamosem frente ao restaurante perto do canal, eu falei: “Pára! Pára esse carro, queeu vou vomitar agora”. Eles não queriam parar o carro e eu só sei que abri aporta e ‘bléééé’, vomitei tudo pra fora do carro. Me cataram e me puxarampra dentro. Eu e a Luísa ríamos a beça, e eles brigando pra caramba com agente. Aí eu fui pra casa dele, não é? Eu tinha que ligar pra minha mãe e elanão sabia disso. Aqui no Rio foi o meu primeiro porre. Falei: “Cara, como éque eu vou falar pra minha mãe que estou mal? Ela nunca vai entender”.“Mãe?”. “O que foi, minha filha”, percebendo a diferença na voz. “Nada não,mãe. Eu vou dormir aqui na casa do Marcelo, está bem?”. “O que foi, Bianca?O que você está sentindo?”. “‘Peraí’, mãe”. ‘Blééé’! E fui para o banheiro.Aí ela foi falar com o Marcelo. “O que você fez com a minha filha? O quevocê deu pra ela? O que aconteceu?”. “Não, Glória, não é nada. Todas asPaquitas já beberam. O que tem de mais? Um dia, a Bi tinha que passar porisso na vida. É um porre, nada mais que isso”. “Traz essa menina pra casaagora, que você não sabe cuidar dela”. “Quem disse que eu não sei cuidar?”.E ‘blábláblá’. Ele ficou discutindo com a minha mãe enquanto eu pedia praele me ajudar no banheiro. Depois disso, eu fui falar com ela. “Vem pra casaagora, menina. Vem pra casa, que você está muito mal”. Aí eu fui pra casa.Cheguei aqui rindo, rindo a beça. Minha mãe colocou a mão em mim e viuque eu estava gelada. Mandou-me para o chuveiro e eu fui, gelada, gelada.Quando voltei: “Eu quero deitar, porque não estou agüentando mais”. Eu estavapassando mal, muito mal. Minha mãe queria até levar-me para um hospital. Eeu só falava: “Eu quero o Marcelo... Eu quero o Marcelo... Fica aqui do meulado”. E ele ficou o tempo todo do meu lado. E eu deitada na cama, rindo pracaramba. No outro dia, eu acordei o ‘ó do borogodó’.

- Teve um... - lembrou Roberta. - Eu estava triste aquele dia, estavamuito mal. Aí umas amigas minhas de Belo Horizonte vieram para o Rio eforam dormir lá em casa. “Vamos sair?”. “Vamos”. “Pra onde?” “Ah, vamos

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dar uma volta. Vamor ver o que a gente vai fazer. No meio do caminho, agente decide”. Tudo bem, saímos. Eu estava triste porque tinha brigado como meu namorado. Aí eu virei e falei assim: “Ah gente, vamos beber umpouquinho pra gente ficar mais animada”. “Vamos?”. Aí a gente foi lá noOsvaldo. Eu bebi um copinho e meio de batida de côco. Fiquei assim, normal.Fomos então encontrar com uns amigos nossos de Belo Horizonte também,que estavam no Mostarda. No caminho, passamos na casa de uma amiga daminha amiga de Belo Horizonte e bebemos um pouquinho de whisky. Querdizer, misturamos whisky com batida de côco. Eu já estava assim, totalmentealegre. Fomos então para o Mostarda e encontramos com o pessoal. Eu estavahiper alegre, com uma saia minúscula, toda ‘assanhadinha’, toda metida. Osmeninos falaram assim: “Roberta, toma um pouquinho de champagne, tomaaí”. “Não, gente, eu não posso beber não... Não posso beber não! Vou chegarem casa e os meus pais vão brigar comigo. Não posso beber”. “Não, Roberta,pode beber”, falaram ao mesmo tempo a Fernanda e a Daniela. “Nós vamosdormir na sua casa mesmo, bebe que não tem problema nenhum”. “Entãoestá bem, vou beber”. Bebi sozinha. Fiquei sentada, com uma taça dechampagne na mão e bebendo. De repente, eu estava parada assim e a taçacaiu da minha mão do meu lado. Quando eu vi que a taça caiu, eu pensei: “Ih,estou mal. Não estou legal”. E todo mundo falando: “Roberta, você não estálegal. Pára de beber, calma”. Eu estava mal, mas mesmo assim fomos paraoutra discoteca. Não conseguimos entrar, e eu fui até um orelhão (telefonepúblico) pra ligar para o meu namorado às três horas da manhã. “Roberta,pelo amor de Deus, não faz isso. A mãe do garoto vai acordar. Meu Deus docéu! Roberta, não faz isso”. “Não, eu vou ligar”. “Vamos pra casa”. Fui praminha casa. Tirei a roupa, dormi pelada! Quer dizer, só de calcinha, no meiode duas meninas. Antes de amanhecer, eu acordei e fui para o quarto daminha mãe dormir. Às nove horas da manhã, tive que levantar para fazerdepilação. No meio da tal depilação, a mulher lá trabalhando e eu tremendo.Não era de frio, era o efeito do álcool ainda no meu corpo. Os meus pais nãosabiam que eu tinha bebido, pois quando nós chegamos eles estavam dormindo.Eu tomei um banho frio, muito frio mesmo, daquele bem gelado. E fui fazer asminhas unhas. Aí bebi, bebi, bebi, bebi muita água. Minha mãe então meperguntou: “Roberta, você bebeu?” “Não, mãe. Estou bem, estou bem”.Enquanto a manicure trabalhava, eu tremia. E minha mãe, desconfiada:“Roberta, você está bem?”. “Ah, mãe, estou passando muito mal, mãe. Eubebi ontem à noite, mãe”. “Eu já falei pra você não beber! Você não aprendeque quando chega no dia seguinte você fica assim. Meu Deus do céu! Eu vou

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falar com seu pai, porque não está certo!”. “Puxa, mãe, desculpa”, continuandoa fazer as unhas. Só fui melhorar às cinco horas da tarde.

- Seu pai ‘está-está’ sabendo? - perguntou, só um pouquinho gago, oSeu Rui.

- Está sim. Agora o meu pai está sabendo.

- Não ‘do-do’ porre. Que ‘pa-pagou’ a conta.

- Mas não fui eu que paguei - risos.

- Aí é que está o perigo. Quem pagou a conta? - perguntou o SeuPaulo, sob risos e aplausos.

- Tio, te garanto que se tivesse sido eu, meu pai iria brigar. Não por euter bebido, mas por ter gasto dinheiro.

A Catú nos disse que em certa ocasião, ela acordou mal e fingiu estarpassando bem para que sua mãe não percebesse que ela tinha bebido. Parasua surpresa, a mãe dela é que a tinha socorrido de noite, tirando inclusive assuas roupas antes de dormir.

Podemos eleger a Cátia como a expert no assunto. Isso devido àssuas diversas participações no porre alheio. Como conselheira, colocamossem dúvida nenhuma a Roberta, que domina perfeitamente o ‘dia seguinte’.

Já a Juliana, que nunca tomou um porre na sua vida, ficou nos devendouma historinha.

Como são os fãs dos outros países?

- Eles são maravilhosos, preocupados, ligam sempre pra gente.Mandam cartas e até vêm ao Brasil pra ver a gente. Vão na portaria da nossacasa e levam presentes. Até em Limeira, no interior de São Paulo, na casa daJuliana eles chegaram, vindos da Argentina. E olha que não é fácil achar acasa dela. Eles são uma gracinha com todas nós.

O que vocês acham da morte e da vida?

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- A minha noção de vida é que a cada dia a gente aprende mais. Avida surpreende a gente a cada dia. Nós vamos aprendendo cada vez mais.Vamos acreditando em mais coisas, vamos desacreditando em outras e a vidaestá aí pra nos mostrar. A vida é a realidade. A morte é uma coisa que realmentea gente não conhece. Só podemos aprender se morrermos. Ninguém até hojevoltou da morte pra dizer alguma coisa pra gente. Dizem várias coisas: que éuma luz, que é um portão, cada um fala de uma maneira. Mas ninguém saberealmente o que é a morte. Falam muito em reencarnação, mas ninguém selembra o que foi nas vidas passadas - respondeu Cátia.

- Eu acredito que haja vida após a morte - continuou Priscilla. - Aindamais agora, que estou me aprofundando nessa coisa de esoterismo. Eu estouacreditando muito na vida após a morte. Antigamente eu tinha medo, porquenão acreditava. Hoje, estou muito mais tranqüila.

- No fundo, eu também acredito que existe vida após a morte, queexiste um outro mundo, que lá é melhor. Mas como eu posso ter certeza? Euacredito, mas não tenho certeza, porque eu não conheço - completou Cátia.

- Morte! Nós somos meio egoístas quando se fala em morte. Falouem morte, pensamos logo em sofrimento, não é? Eu acho que é um sofrimentomuito grande para as pessoas que ficam. Pra pessoa que vai, de repente, eunão sei. Pode ser um alívio, um desprendimento. Ninguém está preparadopara a morte. Vida! A vida é uma eterna escola, em que se aprende a cadasegundo, cada minuto, cada dia. A gente está aqui conversando há duas horas,e eu estou aprendendo há duas horas - disse Juliana.

- Eu sempre acreditei em vida após a morte. Tenho medo da morte.Falo sobre morte com a maior naturalidade, mas tenho medo de um dia morrer,sabe? Eu não sei o que vou passar, entendeu? Por isso que eu tenho medo.Quanto à vida, eu concordo com a Juliana. Vivendo e aprendendo - afirmouRoberta.

- A gente não vive se preparando para morrer. Mas sabemos quevamos morrer um dia. A vida está aí pra ser vivida, pra ser muito bemaproveitada em todos os momentos que ela oferece pra gente. A morte! Eutenho medo, mas às vezes paro pra pensar: “Puxa vida, todo mundo fala quequando a gente morre, encontra todas as outras pessoas que fizeram parte danossa vida e que estão em algum lugar que a gente não sabe onde”. Então, oque às vezes me tranqüiliza é pensar que vou encontrar certas pessoas que jáestão em outro mundo, outro lugar, se for isso! Mas e se não existir nada

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disso? Eu vou deitar e vou morrer. Vai ser um acidente? Será que vou sentirdor? Será que não vou? Será que vou sentir saudades das pessoas? Comovou resolver? - complementou Juliana.

- Eu tenho medo é de acabar tudo. Não só o corpo, mas a alma, amente, os pensamentos, os sentimentos, voz, acabar tudo. Acabou tudo! Nãoexiste mais! Nunca mais vou existir! Isso não é estranho? - perguntou Catú.

Quando começamos a falar sobe outras possibilidades de vida, tam-bém pensamos em outras formas de vida. No que é o Universo, onde estamosrealmente, a que viemos, o que somos e para onde iremos.

- Eu morria de medo quando era criança de ver no Fantástico ou noJornal Nacional aquelas reportagens: “A camada de ozônio está acabando...O mundo vai acabar no ano 2000” - revelou Catú. - De repente, dsseram queo mundo ia acabar no outro dia. Gente! Eu não dormi a noite inteira commedo de morrer. Eu era tão medrosa que não deixava a minha irmã dormirantes de mim. Ela cochilava e eu a acordava com medo de ladrão: “AnaCláudia! Ana Cláudia! Acorda, por favor! Eu não dormi ainda! Não dorme,tem ladrão aqui”. Eu achava que alguém ia subir pelas paredes para assaltara gente. Que o prédio inteiro onde nós estávamos e onde morava a minha avóestava cercado por ladrões, que iam subir pela escada, entrar no meu quartoe me pegar.

- Sabe o que essas coisas me faziam pensar quando eu era pequena?Todo mundo falava que o mundo ia acabar em água, que o mar ia subir. Euentão fiquei imaginando que se eu colocasse uma ‘boinha’... Bóia não afunda,não é? Então, eu vou ficar dentro da bóia. A água vai subindo e eu vou juntocom a água. Não vou morrer nunca.

E a fome?

- Eu nem pensava nisso. O meu desespero era a água subir, cobrirtudo e eu não conseguir subir junto. E aí?

- Admito que concordo com tudo o que as meninas falaram em relaçãoà vida - afirmou Ana Paula. - Agora, em relação à morte, eu penso, na minha

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cabeça, que a gente vai encontrar todas as pessoas que a gente sempre quisencontrar. Pessoas que a gente nunca esperava ver de novo, a gente vai ver.Eu acredito nisso. Então para mim a morte não se torna uma coisa tão ruim.Mas eu não acredito em reencarnação.

- Não estou entendendo - interrompeu Catú, com dúvidas. - Eu nãoestou te entendendo. Você não acredita em reencarnação. Então, como vocêvai encontrar as outras pessoas depois que morrer?

- Não sei se vai ser no céu... Você imagina só! Se todo mundo quemorresse fosse para o céu e não reencarnasse, não ia ser fácil, não! Superlotação, na certa.

- Ia estar caindo gente aqui embaixo - completou Catú.

- Cuidado... ‘Pou’! Cuidado... ‘Pá’ - brincou Priscilla.

- Eu não vejo essa coisa de céu e inferno. Comigo não tem essenegócio - disse Ana Paula.

Você acredita na existência da alma, do espírito?

- Lógico!

Se existe espírito, existe o estudo, que é o espiritualismo.

- Eu sei disso.

- Eu acredito em reencarnação - prosseguiu Flávia. - Eu acho quetanto vida quanto morte são passageiras. A vida é uma passagem pela Terrae a morte é uma passagem por um outro lugar que eu não sei, entendeu? Eusei que a vida se passa na Terra e que eu estou viva. Estou vivendo e tal.Agora, a morte eu não sei.

- E você não tem medo dessa passagem? - perguntou Catú.

- Tenho! É claro que tenho. Eu sou meio parecida com a Bianca.Tenho medo para onde e como que eu vou.

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- É, eu tenho medo de sofrer. Da violência! Minha avó morreu, euacho, feliz. Ela ficou andando no corredor da casa de um lado para o outro echegou perto do meu pai, que era a pessoa que ela mais amava, seu filhoúnico, e disse que estava sentindo uma ‘dorzinha’ aqui no peito. Caiu desmaiadanos braços dele e morreu - contou Catú.

Vocês já tiveram que se apresentar passando mal?

- Já! - responderam todas.

- Eu já gravei com pontos (cirúrgicos) na boca. Eu tinha extraído odente ciso e estava com uma dor danada - contou Roberta.

- Isso tendo que pular o tempo todo - completou Priscilla. - Eu quandoextraí o meu não fui à gravação. Já estava doente em casa. Imagine lá,pulando.

- Eu também já gravei com um furúnculo embaixo do braço - continuouRoberta. - Era um furúnculo enorme.

- A Roberta quando tem um furúnculo ,é daqueles que não se consegueabaixar o braço - disse Catú.

- Muito grande mesmo! E na época, a gente tinha que ficar agitandobandeiras. Eu agitei a bandeira com furúnculo e tudo. Agora, teve tambémum furúnculo que apareceu na minha virilha, lá na Argentina, que eu nãoconseguia nem andar direito. A Marlene não deixou eu gravar e chamou umaambulância com médicos para me tratar. Já num show que fizemos emRecife (PÉ), estava muito calor. O lugar era fechado, sem ventilação nenhuma,hiper lotado. Tinha até um ventilador no palco. Nós fizemos o show comjaquetas abertas, com bustiê por baixo. A Marlene toda hora tirava uma ecolocava toalha molhada em cima. Molhava a nossa roupa toda com águamolhada, super preocupada com a gente. Ela falava: “Se vocês não estiveremse sentindo bem, saiam do palco. Pelo amor de Deus! Eu não quero isso”.

- Quando eu tinha dez anos, fiz uma chegada de Papai Noel todaempolgada. Eu tinha comido camarão e sou alérgica. Quando terminou oshow, debaixo do sol forte de meio-dia, a Xuxa e a Marlene ficaram meolhando, enquanto as outras pessoas ficaram falando que eu estava comrubéola. A Xuxa virou e disse: “Já que vocês estão falando que ela está com

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rubéola, saiam de perto que eu cuido dela”. Na mesma hora, elas ligarampara o Dr. Ricardo (médico da Xuxa) e ficaram perto de mim até viajarempara o outro show. Chamaram inclusive a Roberta para ficar no meu lugar.Eu fiquei três dias deformada de alergia - relatou Priscilla.

- Eu abri o meu queixo na Argentina. Tive muita ajuda da Biancanessa hora, e num instantinho eu estava no aeroporto voltando para o Brasil.A Xuxa ligou pra minha mãe, super preocupada, e disse que, qualquer coisa,era pra minha mãe me levar para o Dr. Ivo Pitangui - contou Ana Paula.

- A primeira vez que eu fui fazer um show foi em São Paulo. AJuliana estava comigo. Era uma turnê e a Marlene ficou com medo da gentenão agüentar o pique. No intervalo da gente, durante a apresentação doscantores convidados, eu estava num cantinho descansando um pouco. Foi atélogo depois da música “Canja de Galinha”, que tem uma coreografia puxada,a gente não pára um instante sequer. A Marlene chegou pra mim e disse:“Bianca! Você está passando mal? Está passando mal?”. “Não, Marlene, eunão estou passando mal, não”. “Menina, você está passando mal sim! O queaconteceu, menina?”. “Eu estou legal, Marlene”. “Você não quer sair dopalco? Vai sair sim, Bianca! Vai descansar um pouquinho. Eu não vou deixarvocê fazer isso não”. “Não, eu não estou passando mal. Eu quero continuarno show. Eu quero ficar, eu estou agüentando”. “Então está bom. Mas sevocê estivar passando mal, vem logo falar comigo”. “Está bem, Marlene”.Ela então pegou na minha mão, deu um beijo e me disse: “Vai!” - lembrouBianca.

Vocês têm muita dificuldade para manter o corpo em forma?

- A gente tem dificuldade de manter o corpo pelas pressões que aspessoas exercem sobre a gente - disse Bianca.

- Eu sou sempre acusada de estar gorda - continuou Priscilla. - Entãoeu já coloquei isso na minha cabeça. Não adianta eu emagrecer dez quilos,que eu vou sempre achar que estou gorda.

- Eu já tive anorexia nervosa por causa das cobranças que as pessoasfazem com a gente - revelou Catú. - Às vezes não conseguimos emagrecer,mesmo que não comamos nada. As pessoas ficam nos olhando de lado, decara feia, fazendo pouco caso, falando mal, na maior discriminação. Não há

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quem consiga emagrecer com uma pressão dessas. Se me derem paz deespírito, fico numa boa.

- Quando eu fico nervosa, sob pressão, ‘dano’ a comer tudo o queestiver na minha frente - contou Bianca.

Por incrível que possa parecer, a única Paquita que faz uma atividadepara manter a forma é a Priscilla, que mesmo tendo um dos corpos maisbonitos do grupo é a que sofreu mais pressão psicológica sobre a ‘formaespecial’ que seu corpo deveria ter. Priscilla pratica capoeira com o competenteMestre Boneco.

Contem uma experiência positiva com um fã.

- A minha foi aquela dos fãs argentinos que encontraram a minhacasa em Limeira, lá no interior de São Paulo - relembrou Juliana.

- A Wilane era fã do programa, e hoje é super amiga minha - disseCátia.

- As amizades que eu fiz - continuou Flávia.

- As minhas amigas de Belo Horizonte, que eram fãs e sempre meconvidavam para ir pra casa delas e eu não ia. Até que depois da Cátia terido, eu também fui e passei um reveillon. Depois passei o Carnaval. Enfim,quase todo o ano de 1993 eu passei com elas. Adoro a Fernanda e a Daniela.Agora também pintou uma ‘maluquete’, a Paulinha. Ela é muito legal - contouRoberta.

- Eu tive duas experiências positivas com fãs. Numa delas, um meninoargentino veio até o Brasil. Ele chegou pra mim, eu até levei um susto quandovi. Me deu um anel que ele tinha pego da mãe, de ouro italiano, cheio debrilhantes, e me disse que queria ficar noivo comigo naquele dia. Aquilo erameio esquisito, mas achei a experiência ótima. Na outra, uma fã que hoje éminha melhor amiga, amigona mesmo, a Renata - disse Ana Paula.

- Tem um fã na Argentina, o nome dele é Luís, que sempre ficou meolhando de longe. Ele nunca se aproximou de mim, nunca invadiu a minhaprivacidade. Ele sabia que eu tinha um namorado, sabia de tudo da minha

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vida. Levava quase sempre presentes pra mim no hotel. Mas deixava narecepção, nunca esperava que eu aparecesse pra pegar. Me respeitava.Quando queria me dar uma flor, ele pedia pra alguém do programa entregar.Quando a gente chegava no aeroporto da Argentina, ele ia de táxi até o hotelpendurado na janela, como fazem os argentinos. No meu aniversário, ele veioaté o Brasil e me deu um presente: uma caixa de maquiagem daquelas quesão super caras e um relógio de família que foi do bisavô dele, depois passoupara o pai, passou pra ele e agora é meu. Nós nunca nos falamos pessoalmente,mas ele conversava com as outras pessoas que me falaram que ele é supergente boa. Também teve um fã que sempre me seguia na Argentina gritandoo meu nome: “Catúúú... Catúúú...”. Um dia, ele chegou no programa comduas alianças e disse pra Xuxa que queria casar comigo. Ela fez uma cerimôniasimulada, colocamos as alianças e ele me disse que gostava muito de mim eque era uma brincadeira, pois ele sabia que eu tinha um namorado e que porisso me respeitava. Eu achei super legal ele não misturar as coisas, Catú comAna Paula Guimarães.

- O Bidú, meu cachorro, é a minha experiência positiva. Ele foi dadopor um fã - concluiu Bianca.

E uma negativa?

- Ter namorado um fã e tomado noção de que é impossível ter umrelacionamento mais sério com um fã - refletiu Flávia. - Eles namoram onosso sucesso e não a gente. Foi a maior sujeira o que ele fez. Eu tinhaterminado o namoro e ele não se conformou, e começou a cantar a Nana(Nanashara, filha dos cantores Pepeu Gomes e Baby Consuelo). Ela na épocaera bobinha e se apaixonou por ele. Aí o que ele fez? Ligou pra mim e tentouconversar sobre a Nana. Eu então disse que era muito criança ainda pra ele.Mal sabia que ele estava gravando a conversa. Depois ele picotou a gravaçãotoda e montou uma outra história totalmente invertida, como se eu tivessefalado super mal dela. Levou pra ela e disse que era uma ‘prova de amor’.Hoje em dia, sou muito amigo dela.

E como é o nome do ‘PC’ do amor?

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- Frederico, Frederico Alexandre M... - respondeu Flávia.

- Foi com minhas ‘amigas’. Estavam comigo e se decepcionaramcom a minha escolha, pois elas também queriam ser Paquitas - contou Roberta,voltando ao assunto das negativas.

- Uma vez, dois garotos de Piracicaba foram até Limeira - lembrouJuliana. - Estava chovendo e os dois sentados, com um violão na mão, comuma garrafa com um líquido estranho. Aliás, os dois eram super estranhos, eeu não podia imaginar que eles tinham ido até lá só pra me ver. Eles ficaramna calçada em frente da minha casa no lado de cima da rua, sentados nachuva de cabeça baixa. E toda hora eles olhavam pra minha casa. Meu paientão ligou pra nossa vizinha do lado e perguntou: “Esses caras são parentesda Angélica, que mora na frente da nossa casa?”. “Não, não são não. Mas euvou fazer o seguinte: eu vou até lá na rua e vou conversar com eles, ver porque eles vieram pra cá”. Eles foram, encontraram com a Angélica eperguntaram o que os garotos estavam fazendo em Limeira. Eles responderamque tinham vindo pra me conhecer e que um deles queria falar comigopessoalmente. Eram dois adolescentes. Meu pai então ficou aborrecido eperguntou: “Pô, por que vocês não falaram logo que vieram por causa daJuliana?”, já meio nervoso por causa da cara e dos gestos dos garotos, queestavam completamente drogados. No final das contas, meu pai ficou com dódos dois caras e mandou que eu fosse falar com eles. Fui até a esquina ondeeles estavam, e quando o garoto me viu ficou com cara de bobo. Veio eencostou a cabeça no meu ombro, ficou parado e disse: “Puxa, não era assimque eu queria te conhecer. Não era assim! Eu fiz um plano, mas estragueitudo! Eu estraguei tudo!”. Ele estava muito mal, estava com os olhossobressaltados, roxos, meio azuis. Eles estava pra lá de Bagdá. À noite, omenino me ligou chorando e disse: “Desculpa, pelo amor de Deus me desculpa.Eu gosto demais de você”.

- Um garoto que vivia ligando lá pra casa, vivia me perseguindo.Nessa época, eu sentia que tinha alguém me seguindo, mas nunca conseguiver nada nem ninguém. Até que um dia, meu pai percebeu que tinha umMonza na frente da minha casa, que segundo o porteiro ficou parado até ahora em que eu entrei em casa. Todos os dias de madrugada, ele ligava e diziaque iria se matar porque eu não escrevia pra ele, porque eu não correspondia...Isso apertando o gatilho do revólver no telefone e também dizendo que ia mepegar antes de se matar. Meu pai ficou super preocupado, porque isso eratodos os dias. Um dia, eu estava dentro do ônibus vindo do colégio, e um

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garoto correu atrás de mim, tentando subir com ele andando. Mas nãoconseguiu, para meu alívio, porque eu tenho certeza que era ele. Depois deum tempo, ele parou - lembrou Catú.

- Eu odeio fofoca entre fãs tentando ser um melhor do que o outropara agradar o seu ídolo, colocando às vezes umas Paquitas contra asoutras - afirmou Bianca.

- Em 1989, eu sempre ia e voltava de ônibus para o colégio - contouRoberta. - Morava no Humaitá e estudava no Jardim Botânico. Uma vez, eu,Priscilla, Cátia e Ana Paula fomos ao Tivoli Park e conhecemos umpessoalzinho. E tinha um menino que nós quatro achávamos super bonitinho.Até que um dia, eu estava vindo do colégio de ônibus e quem entrou? Issomesmo, o menino. Ele se sentou perto de mim e não parou de me olhar. Eu fuificando nervosa, ficando nervosa. Chegou o meu ponto e ele desceu do ônibusjunto comigo. Eu fiquei mais nervosa ainda. O rosto dele não me era estranho,mas eu não conhecia o cara. Entrei na minha rua e ele entrou junto. Quandocheguei na entrada do meu prédio, o portão estava fechado e ele parou atrásde mim. “Meu Deus”, pensei. Balancei o portão e ele se abriu. Já estavadentro do prédio, quando o garoto me chamou: “Psiu! Roberta”. “O que foi?”.“Você não me conhece não?”. “Conheço mais ou menos. Mas por que vocême seguiu?”. “Não, porque eu quero marcar um encontro contigo. Eu querosair contigo”. “Que é isso, menino? Eu nem te conheço direito. Como é quevocê quer sair comigo assim?”. Ele começou a me elogiar, e eu disse: “Entãotá, tudo bem”. “Me dá o seu felefone?”. “Não tenho telefone não”. “Masvamos combinar de sair”. “Fica pra próxima, valeu?”. Saí e fui embora. Fiqueimuito nervosa aquele dia.

O que vocês aprenderam nesses anos de trabalho com a Xuxa?

- A gente aprendeu a ser responsável, ser disciplinada, ser pontualnos compromissos, lidar com crianças, etc. - disse Ana Paula.

- De tudo um pouco - completou Bianca.

- Eu aprendi a ser mais forte. Eu era uma pessoa muito frágil. Leveitanto na cabeça que aprendi a ser mais ‘durona’. Mas acho que ainda soufraca pra algumas coisas - contou Roberta.

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- Eu também me sinto fortalecida. Eu hoje tenho noção de palco,apresentação ao vivo, música, colocação para as câmeras, etc. - afirmouJuliana.

- Eu aprendi a me respeitar e a ter disciplina - resumiu Bianca.

- Aprendi muito de muitas coisas. Mas as três coisas que eu maisaprendi foram ser uma pessoa muito forte, muito determinada e muitoesforçada - completou Flávia.

- Confiar na gente - concluiu Catú, com o apoio das demais Paquitas.

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O RESULTADO

Em dezembro de 1994, a Marlene resolveu, após não gostar daatuação das meninas num comercial, substituir quatro das oito Paquitas. Abriuinscrições e fez testes, falou pra imprensa que as meninas estavam gordas evelhas (Juliana Baroni, com dezesseis anos, estava velha e foi substituída poruma menina também de dezesseis anos de idade). Ela não conversou nadacom as meninas. Nem ao menos disse quem seriam as quatro demitidas. Foiuma eternidade, até que um dia um telegrama de uma desconhecida comduas páginas de denúncias sobre nossas reuniões, com conversas completadase pedindo para a Marlene ter cuidado na hora da escolha, para não cometeruma injustiça.

Estávamos denunciados e condenados sem defesa.

Depois da demissão coletiva das meninas e do meu afastamento dadireção do programa em janeiro de 1995, nossos caminhos tomaram rumosdiferentes. Devido à pressão interna da Marlene, o grupo se dispersou. Masembora separadas, estão seguindo suas tendências profissionais.

Ana Paula Guimarães (Catú), Roberta Cipriani e Bianca Rinaldi foramcursar a Oficina de Atores da Globo, e estão gravando um disco juntas.Formaram o grupo Three Dance, e se apresentam em shows da Xuxa.

Bianca também trocou de namorado. Está agora com um colega daOficina.

Juliana Baroni, para mim a mais talentosa do grupo, também andoupela Oficina. Passou num teste e vai, sem dúvidas, esbanjar talento na novelaHistória de Amor, da TV Globo.

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Ana Paula Almeida acabou se transformando na ‘namorada doRomário’, e está em acertos para apresentar um novo programa na CNT-RJ.

Flávia Costa está tentando gravar um disco solo. Ela, que possui amelhor voz do grupo, está gravando comerciais e posando para revistas.

Cátia e Priscilla voltaram para o convívio de Marlene e Xuxa, indo atodos os eventos com as ex-patroas, que, para pagar atrasados, exigiram aassinatura de um contrato as proibindo de falar mal da Xuxa Produções ou deuma delas a que título fosse, com pena de rescisão e multa.

Eu continuo trabalhando para a TV Globo, que, até então, não tinhaconhecimento desses fatos. Torcendo pelo sucesso das meninas. Pedindo aDeus para que nenhuma das minhas três filhas necessite passar por esse tipode desilusão para alcançar seus sonhos. E que esse livro sirva de utilidadepública para que as pessoas reflitam sobre os verdadeiros valores das coisasque nos rodeiam direta ou indiretamente.

Lugar de estudantes uniformizadas é nas salas de aula, e não emexibição pública.

Espero que as Paquitas - Nova Geração consigam escapar das coisasruins, não façam parte de delírios ‘rodriguianos’ nem sirvam de piada (setegatinhas). E que possam realmente curtir, como devem, os seus SONHOSDE PAQUITAS.

F I M

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AS PAQUITAS NO BRASIL

PRIMEIRA GERAÇÃO

Andréa Veiga (Paca/Paquita) 1985 a 1988

Andréia Faria (Xiquita Sorvetão) 1986 a 1990

Louise Wischermann (Pituxa Alemã) 1986 a 1989

Ana Paula Guimarães (Catuxa) 1987 a 1989

SEGUNDA GERAÇÃO

Roberta Cipriani (Xiquitita Surfista) 1987 a 1995

Priscilla Couto (Catuxita Top Model) 1987 a 1995

Tatiana Maranhão (Paquitita Loura) 1987 a 1990

Anna Paula Almeida (Pituxita Bonequinha) 1988 a 1995

Letícia Spiller (Pituxa Pastel) 1989 a 1992

Cátia Paganote (Miuxa Bruxa) 1989 a 1995

Juliana Baroni (Catuxa Jujuba) 1990 a 1995

Bianca Rinaldi (Xiquita Bibi) 1990 a 1995

Flávia Fernandes (Paquitita Pluft) 1990 a 1995

Ana Paula Guimarães (Catú) 1992 a 1995

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NOVA GERAÇÃO

Andrezza Cruz (Dezza) 1995 a 1999

Bárbara Borges (Babunitona) 1995 a 1999

Caren Daniella (Chaveirinho) 1995 a 1999

Diane Dantas (Lady Dy/Pupila) 1995 a 1998

Giselle Delaia (Luz Queimados) 1995 a 1999

Graziella Schmitt (Modelão/Grazi) 1995 a 1999

Vanessa Amaral (Flashdance) 1995 a 1999

PAQUITAS 2000

Daiane Amêndola (Docinho) 1999 a 2002

Gabriella Ferreira (Paquita Perua) 1999 a 2002

Joana Mineiro 1999 a 2002

Lana Rodes 1999 a 2002

Letícia Barros 1999 a 2002

Monique Alfradique 1999 a 2002

Stephanie Gulin 1999 a 2002

Thalita Ribeiro (Thata Bonequinha) 1999 a 2002

Fonte: Comunidade ‘Paquitas: Mitos e Lendas’, do Orkut

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GLOSSÁRIO DAS PAQUITAS

Abaixo, segue uma lista de alguns citados neste livro e outrosenvolvidos no universo das Paquitas.

Aluísio Augusto: diretor de operações

Angel (Ângela) Mattos: irmã de Marlene, produtora do programa e cantora

Augusto César Vannuci: diretor

Berry (Oswaldo Berry): coreógrafo

Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho): produtor

Bruninho: ex-namorado da Roberta

Caíque Benigno (Faustinho): repórter mirim

Catuxito ou Yu (Yuri): Paquito

Chico Anysio: humorista

Cláudia Abreu: atriz

Cláudia Raia: atriz

Claudinho (Cláudio Heinrich): Paquito

Cláudio Tovar: apresentador

Conrado: ator, cantor e marido da Andréa Faria

Cunha: figurinista

Dengue (Roberto Berttini): assistente de palco

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Djair: ex-jogador de futebol. Foi casado com a Cátia

Dona Alda: mãe da Xuxa

Doutor Ricardo: médico da Xuxa

Duda Little: repórter mirim

Estela: coreógrafa de aeróbica

Fafi Siqueira: atriz e humorista

Faustão (Fausto Silva): apresentador

Fly (Wagner Pereira): integrante do You Can Dance

Gêmeas ou Irmãs Metralhas (Mariana e Roberta Richards): ajudantesde palco

Gigio (Egon Júnior): Paquito

Helmar Sérgio: diretor de imagens

Jorginho: editor de imagens

Kadu (Carlos Eduardo): integrante do You Can Dance

Kall (Carlos Augusto): integrante do You Can Dance

Lenice: secretária de Marlene Mattos

Luciana Vendramini: modelo e atriz. Participou da seleção para Paquita

Lucinha Lins: apresentadora, atriz e cantora

Lurdinha: irmã de Marlene Mattos, enfermeira do programa

Magno: chefe de segurança

Marcelo Faustini: Paquito

Marcelo Paranhos: diretor de produção

Maria: governanta da Xuxa

Mário Lúcio Vaz: diretor artístico

Marlene Mattos: empresária e diretora

Marlboro: DJ

Michael Sullivan: cantor e compositor

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My Boy: sonoplasta

Paulo Massadas: compositor

Paulo Netto: diretor

Praga (Armando Moraes): assistente de palco

Raquel Batista: repórter mirim

Reinaldo Waisman: cenarista e desenhista da equipe de Maurício de Souza

Ricardo: marido da Catú

Rob (Robson Barros): Paquito

Russo (Antônio Pedro de Souza Silva): assistente de palco

Samuca (Samuel): contra-regra

Seu Paulo: pai da Roberta

Seu Rui: pai da Juliana

Shirley Miranda: modelo e atriz. Participou da seleção para Paquita

Silvão: chefe de segurança

Tom (Wellington Alves): integrante do You Can Dance

Valéria Monteiro: jornalista e apresentadora

Vicente Burguer: diretor

Walter Lacet: diretor artístico do programa

Xandi ou Xiquito (Alexandre Canhoni): Paquito

Xuxa (Maria da Graça Meneghel): apresentadora

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