Click here to load reader
Upload
priscila-aristimunha
View
2.161
Download
1
Embed Size (px)
Citation preview
Por Henrique Lima Araujo
A Escola da Ponte: num canto da Europa, um ensino ousado e eficaz.
José Pacheco ficou conhecido em todo mundo e principalmente nos
meios acadêmicos por ser o homem que inovou os métodos de ensino em uma
escola de Portugal, a Escola da Ponte. Situada em Santo Tirso, uma pequena
cidade de um país da periferia europeia, a escola tornou-se famosa por seus
métodos idiossincráticos e sua originalidade, idealizados por Pacheco. Erguida
num distante 1976, a escola permanece integrada no sistema educacional
público português e cada vez colhendo mais seus resultados, que já somam 36
anos de atividades ininterruptas.
A escola não possui absolutamente nada de tradicional. Nada de séries,
salas de aulas, aprovações, reprovações, ciclos... Os alunos (de idades entre
cinco e 17 anos) se agrupam de acordo com os interesses em comum de
estudo e os professores funcionam mais como orientadores, sem serem
responsáveis por uma disciplina e conteúdos específicos. A “produção de
conhecimento” na Escola da Ponte é baseada integralmente em pesquisa –
semelhantes aos grupos de pesquisas existentes no nível superior. Os
professores têm a mesma formação que qualquer outro professor de uma
escola tradicional e a escola é legitimada pelo governo português. Isto é, um
aluno que estuda na Escola da Ponte não precisa estudar em nenhuma outra
escola.
Frequentemente, a Escola da Ponte recebe estudantes violentos ou com
alguma deficiência, pois esses estudantes têm dificuldades nas escolas
tradicionais. Pacheco considera um equívoco pensar que todos os seres
humanos – que são tão diferentes e possui tantas particularidades – têm o
mesmo ritmo de aprendizagem, determinado por um professor previamente.
Então esses alunos chegam quase como “expulsos” das escolas, por não
conseguirem se adaptar ao que o ensino tradicional pede. E não são raros os
casos que a adaptação é demorada: os alunos não sabem o que fazer,
esperam a ordem de um docente e matéria específicas no quadro.
Contratações de professores tradicionais também é um outro problema
enfrentado pela a escola: “Mas nós também, por vezes, temos que nos
adaptar. Em 2002 recebemos muitas crianças e professores novos, não
familiarizados com a nossa proposta (...)Passamos a conviver com mestres
que sabiam dar aula e estudantes que sabiam fazer cópias”, afirma Pacheco.
São três os valores fundamentais da Escola da Ponte: solidariedade,
liberdade e responsabilidade. A solidariedade vem muitas vezes dos próprios
alunos, que trocam aprendizado e conhecimento entre si num processo de
ajuda mútua; os alunos mais velhos, inclusive, são orientados a conduzirem os
estudantes mais novos em suas pesquisas. A liberdade aparece pela escolha
individual da temática a ser estudada e a responsabilidade é, além do estudo (o
estudante pode estudar o que quiser, mas tem que estudar) as tarefas simples,
mas essenciais para o bom funcionamento do ambiente escolar: a limpeza das
salas, o lugar correto para cada livro e cada mapa, a pontualidade, etc.
Existem três níveis na escola: Iniciação, Consolidação e
Aprofundamento. O primeiro é o nível das crianças, que aprendem regras de
convivência, além de autonomia e responsabilidade. Quando o aluno se sente
apto, passa para o segundo nível, que é aquele que busca integrar todo o
currículo obrigatório nacional do ensino fundamental, mas sempre com o
método de estudo independente. Já o terceiro, segue a linha do segundo,
porém agora com o currículo obrigatório do ensino médio em Portugal.
É claro que fugir dos parâmetros tradicionais não é simples. Muita “dor
de cabeça” a escola e José Pacheco já tiveram que enfrentar com o governo
português e com aquelas pessoas contrárias a novas maneiras de ensino.
Algumas vezes taxada de anarquista, a escola enfrentou em seu início uma
grande resistência ao modelo que propunha. Porém sempre teve o apoio dos
pais que matriculavam seus filhos: “Eles defendem a escola perante o governo.
Em 2004, os pais estiveram em conflito com o Ministério da Educação. Ao
longo desses anos, quiseram acabar com nosso projeto.”. Aliás, a relação com
os pais é intensa na Escola: são sempre convidados a participarem das
assembleias, além de acompanharem de perto o desenvolvimento acadêmico
dos filhos. Isso acontece porque uma das questões que José Pacheco se
deparou e que ergueram a Escola da Ponte foi a ausência dos pais: por que os
mesmos pais que vão a estádios e a missas não se interessam pela vida
escolar dos seus filhos? A resistência governamental com a escola também
diminuiu à medida que esta ganhou certo renome nos ambientes acadêmicos,
como uma proposta que fugia do tradicional e que mesmo assim (ou por isso
mesmo) havia dado certo.
A biblioteca é o principal espaço de convivência entre os estudantes.
Além disso, existem pequenos núcleos hexagonais onde os grupos de estudam
se reúnem e onde é possível realizar pesquisas individuais. Os núcleos são
separados por áreas, como história e geografia, matemática, línguas, etc. Os
alunos podem circular livremente por toda a escola, de modo que a arquitetura
é um aspecto importante no funcionamento e faz necessário destaca-la.
Atualmente no Brasil, duas escolas têm como inspiração a Escola da
Ponte de José Pacheco. Ambos estão em São Paulo. A primeira, Escola
Municipal Desembargador Amorim Lima, foi fundada em 2004; a segunda,
Escola Municipal Presidente Campos Sales, foi fundada em 2008. Mesmo com
suas diferenças, as duas escolas brasileiras têm como princípio o
desenvolvimento da autonomia e da liberdade de seus alunos por meio de
projetos de pesquisas.
Imagem de uma sala da Escola da Ponte. O senhor à direita da foto é José
Pacheco.
Disponível em: <http://uipi.com.br/colunas/2011/08/13/nota-dez-para-a-escola-
da-ponte-uma-escola-sem-muros/> Acesso em 08 de dezembro de 2012.
Referências:
Documentário “Fazer a Ponte”.
Entrevista José Pacheco em Revista Escola de Abril de 2004. Disponível
em:<http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-inicial/jose-pacheco-
escola-ponte-479055.shtml>. Acesso em 08 de dezembro de 2012.
HENRIQUE LIMA ARAUJO
DISCIPLINA DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
UFRGS
PROFESSORA SIMONE VALDETE DOS SANTOS