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Uminho | 2013 Outubro de 2013 Diana Patrícia Andrade Vilas Boas Avaliação dos mecanismos de interação entre hospedeiro e fago em biofilmes Escola de Engenharia Diana Patrícia Andrade Vilas Boas Avaliação dos mecanismos de interação entre hospedeiro e fago em biofilmes

Escola de Engenharia Diana Patrícia Andrade Vilas Boas ...repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/28622/1/Tese... · Agradecimentos Agradecimentos Inicialmente gostava de agradecer

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Um

inho |

2013

Outubro de 2013

Diana Patrícia Andrade Vilas Boas

Avaliação dos mecanismos de interaçãoentre hospedeiro e fago em biofilmes

Escola de Engenharia

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Outubro de 2013

Dissertação de Mestrado

em Bioengenharia

Trabalho efetuado sob a orientação da

Professora Doutora Joana Azeredo

Co-Orientador: Doutor Nuno Azevedo

Co-Orientador: Doutora Ana Nicolau

Escola de Engenharia

Diana Patrícia Andrade Vilas Boas

Avaliação dos mecanismos de interaçãoentre hospedeiro e fago em biofilmes

DE ACORDO COM A LEGISLAÇÃO EM VIGOR, NÃO É PERMITIDA A REPRODUÇÃODE QUALQUER PARTE DESTA TESE Universidade do Minho, ___/___/______

Assinatura: ________________________________________________

Agradecimentos

Agradecimentos

Agradecimentos

Inicialmente gostava de agradecer a todas as pessoas que direta ou

indiretamente me ajudaram em todo o meu processo de aprendizagem e sucesso

durante toda realização desta dissertação. Em particular tenho que agradecer:

À minha orientadora Joana Azeredo, pelo apoio científico, simpatia, confiança,

dedicação e disponibilidade manifestada ao longo do trabalho. Aos meus co-

orientadores Nuno Azevedo e Ana Nicolau pela disponibilidade e ajuda durante este

processo.

Estou grata a todos os meus colegas de trabalho do Laboratório de

Microbiologia Aplicada II da Universidade do Minho pelo excelente ambiente de

trabalho. Leonel, Ana, Sónia, Franklin, Luís e Célia pelo grande apoio, realçando a

minha grande amiga Graça.

Ao grupo de Biotecnologia de Bacteriófagos, em particular ao Sílvio pela sua

“simpatia”, ao Hugo, Iolanda e Ana Henriques pela ajuda prestada durante o

desenvolvimento do meu trabalho.

Ao grupo “ganir” pela amizade, alegria e partilha de ideias, entre eles os meus

amigos de longa data Débora e Rui. Elisabete, Elísia, Vanessa, Pedro e Alexandra

pela amizade e carinho. Carla pela amizade e ajuda durante a realização do meu

trabalho e ao Mário, um amigo “enfadonho” mas sempre disponível para me ajudar

em tudo que necessitei. Vocês são espetaculares e grupo como o nosso não há.

A toda a minha família (Pai, Mãe, Irmão e Bernardo), os mais profundos

agradecimentos pelo grande carinho, compreensão, amor e motivação para nunca

desistir dos meus objetivos.

Sou grata a todos os amigos que fiz em Braga ao longo deste processo em

especial às minhas amigas Helena e Teresa, vocês terão sempre um lugar especial. Ao

meu namorado Tiago pelo carinho, força e compreensão na reta final do meu

percurso.

E por fim, mas não menos importante às minhas “co-co-orientadoras” Carina e

Sanna por serem as melhores “co-co’s” que alguém poderia ter. Obrigado pela ajuda

em todo o trabalho desenvolvido, amizade e disponibilidade para tudo o que

necessitei. Sem vocês esta conquista não teria acontecido.

Sumário/Abstract

Sumário Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter baumannii são duas bactérias

gram-negativas patogénicas altamente problemáticas em infeções hospitalares muito devido à

sua capacidade de aderir a variadíssimas superfícies e formar biofilmes que contribuem

bastante para o aumento da resistência aos agentes antimicrobianos, o que consequentemente

potencia infeções graves em pacientes. Apesar da terapia fágica ter vindo a ser referida como

uma estratégia alternativa no controlo de biofilmes, ainda há poucos estudos sobre a interação

de fagos com as respetivas bactérias hospedeiras em biofilme mistos.

Este trabalho descreve o efeito de fagos em biofilmes simples de A. baumannii AB1 e

biofilmes mistos formados por A. baumannii AB1 e P. aeruginosa PAO1. Para este fim,

foram desenvolvidos métodos de diferenciação das duas espécies no biofilme recorrendo à

técnica de FISH (do inglês, Fluorescent in situ hibridization). Para uma deteção multiplex de

bactérias e fagos foram desenhadas “in silico” sondas com base num novo ácido nucleico LNA (do inglês Locked Nucleic Acid), contudo só a sonda específica para a bactéria

P. aeruginosa foi sintetizada e aplicada ao estudo. O método de LNA FISH para a

identificação desta bactéria foi otimizado e testes laboratoriais em amostras de subespécies de

Pseudomonas confirmaram os valores teóricos previstos de especificidade e sensibilidade.

Os ensaios de infeção fágica contra biofilme simples de A. baumannii, mostraram que

os fagos são eficientes, mesmo usando uma razão de 1 fago para 1 célula hospedeira. Com

efeito, verificou-se uma redução de aproximadamente 2 log de células viáveis em biofilmes

de 24 h após 6 h de contacto com o fago. Contudo a eficácia dos fagos mostrou-se

significativamente superior contra células do biofilme raspado o que indica que a matriz do

biofilme constitui uma barreira para a eficiente atuação do fago.

Os biofilmes mistos mostraram uma predominância de P. aeruginosa em relação a A.

baumannii, mesmo quando P.aeruginosa é adicionada após colonização inicial por

A.baumannii. A aplicação de um cocktail formado por fagos específicos contra estas duas

espécies presentes em biofilme misto revelou uma redução de 2 log de P. aeruginosa e de

aproximadamente 1,5 log de A. baumannii após 6 h. No entanto, após 24 h de infeção, foi

possível observar, em todos os biofilmes estudados, um aumento de células viáveis podendo

este facto estar relacionado com a aquisição de resistência das bactérias aos respetivos fagos.

A técnica de LNA FISH demostrou ser eficiente na discriminação clara das

populações de biofilme misto, sendo um complemento na deteção / compreensão na interação

dos fagos com os seus hospedeiros em estruturas complexas como os biofilmes.

Em suma, este trabalho demonstrou o valor potencial dos fagos no controlo de

biofilmes, tornando-se no entanto necessário progredir na presente investigação, para se

definirem as condições ótimas de atuação dos fagos e as razões da diminuição da eficácia dos

fagos quando em contacto com o biofilme por períodos superiores a 6 h.

Abstract Pseudomonas aeruginosa and Acinetobacter baumannii are two pathogenic

gram-negative bacteria that are highly prevalent in hospital infections due to their natural

ability to adhere to surfaces and form biofilms. Cells in biofilms are more tolerant to

antimicrobial agents and this enhances serious infections in patients. Phage therapy has been

reported as an alternative strategy for biofilm control but the interaction of phages with the

respective bacteria in mixed biofilm in poorly understood.

The work described herein focuses on the effect of phages in single species of A.

baumannii biofilms and in mixed biofilms formed by A. baumannii AB1 and P. aeruginosa

PAO1. To this end, methods were developed for the differentiation of the two species in

biofilm using the FISH (Fluorescent in situ hibridization) technique. For multiplex detection

of bacteria and phage probes based on a novel nucleic acid LNA (Locked Nucleic Acid) were

designed "in-silic", but only the probe specific for the bacteria P. aeruginosa was synthesized

and applied to the study. The LNA FISH method was optimized, and laboratory testing on

representative strains from the Pseudomonas genus subspecies confirmed the predicted

theoretical values of specificity and sensitivity.

Phage infection of A. baumannii single biofilms shows that phages were efficient

even when a ratio of 1 phage to 1 host cell is used. Indeed, there was a reduction of 2 log in

viable cells of 24 h biofilms, after 6 h of contact with the phage. Furthermore, the efficiency

of phage was significantly higher against biofilm scraped cells indicating that the biofilm

matrix is hindering the efficient performance of the phage.

The composition of mixed biofilms revealed a predominance of P. aeruginosa

compared to that of A. baumannii... The application of a phage cocktail resulted in a reduction

of 2 log of P. aeruginosa and 1,5 log of A. baumannii after 6 h. Nevertheless, after 24 hours

of infection it was observed the increase of viable cells in all biofilms studied. This result can

be explained by the acquisition of resistance of the bacterial hosts towards the respective

phages.

The LNA FISH technique demonstrated to be efficient in the clear discrimination of

mixed biofilm populations, being a complement the detection / understanding the interaction

of phages with their hosts in complex structures such as biofilms.

Briefly, this study demonstrated the potential use of phages for biofilm control,

however become necessary to progress in this research, to define the optimal conditions of

phage infections and the reasons for the decreased effectiveness of phages when in contact

with the biofilm for periods longer than 6 h.

Índice

Índice

Índice

Lista de figuras, tabelas e siglas…………………………………………………….xv

Estrutura da tese……………………………………………………………………xxv

Capítulo 1 | Introdução Geral

1.1 Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter baumannii................................ 1

1.1.1 Pseudomonas aeruginosa .................................................................................... 1

1.1.2 Acinetobacter baumannii ..................................................................................... 3

1.2 Teoria da formação de biofilmes ................................................................ 4

1.2.1 Biofilmes formados por P. aeruginosa e A. baumannii....................................... 6

1.3 Bacteriófagos ................................................................................................ 7

1.3.1 Classificação ........................................................................................................ 7

1.3.2 Ciclo de vida ........................................................................................................ 9

1.3.3 Interações fago-biofilme .................................................................................... 11

1.4 Hibridação fluorescente in situ ................................................................. 13

1.4.1 Aplicação de mímicos de DNA à técnica de FISH ............................................ 14

1.4.2 Aplicação da técnica de FISH em biofilme ....................................................... 15

1.5 Referências .................................................................................................. 16

Capítulo 2 | Desenvolvimento de sondas de LNA para aplicação na técnica de

FISH

2.1 Materiais e métodos ................................................................................... 27

2.1.1 Desenho e avaliação das sondas ........................................................................ 27

2.1.2 Otimização das condições de hibridação para LNA FISH ................................ 29

Índice

2.2 Resultados e discussão ............................................................................... 31

2.2.1 Desenho e avaliação das sondas ........................................................................ 31

2.2.2 Otimização das condições de hibridação para LNA FISH ................................ 39

2.2.3 Otimização das condições de hibridação para LNA FISH .............................. 393

2.3 Referências .................................................................................................. 42

Capítulo 3 | Caracterização da infeção fágica de biofilmes de Acinetobacter

baumannii

3.1 Materiais e métodos ................................................................................... 47

3.1.1 Estirpes bacterianas, fagos e condições de crescimento .................................... 47

3.1.2 Curva de calibração densidade ótica vs células viáveis ..................................... 47

3.1.3 Curva de crescimento de A. baumannii ............................................................. 48

3.1.4 Produção e concentração do fago phiIBB-Aba1 ................................................ 48

3.1.5 Determinação da concentração do fago ............................................................. 49

3.1.6 Curva de Crescimento do fago (OSGC) ............................................................ 49

3.1.7 Formação de biofilme ........................................................................................ 50

3.1.8 Quantificação da biomassa total ........................................................................ 50

3.1.9 Infeção Fágica de Biofilmes .............................................................................. 50

3.1.10 Análise estatística .............................................................................................. 51

3.1.11 Análise das proteínas estruturais do fago .......................................................... 51

3.1.12 Preparação de amostras de biofilmes e análise microscópica ............................ 52

3.2 Resultados e Discussão .............................................................................. 53

3.2.1 Curva de calibração D.O. vs células viáveis e Curva de crescimento de

A. baumannii ................................................................................................................... 53

3.2.1 Formação e infeção de biofilme......................................................................... 54

3.2.2 Análise das proteínas estruturais do fago .......................................................... 59

3.2.3 Curva de Crescimento do fago (OSGC) ............................................................ 61

Índice

3.2.4 Conclusão .......................................................................................................... 61

3.3 Referências .................................................................................................. 62

Capítulo 4 | Caracterização dos biofilmes mistos e avaliação da eficácia de fagos

específicos para A. baumannii e P. aeruginosa

4.1 Materiais e métodos ................................................................................... 67

4.1.1 Estirpe bacteriana, bacteriófagos e condições de cultura ................................... 67

4.1.2 Formação de biofilmes mistos ........................................................................... 68

4.1.3 Infeção Fágica de Biofilmes mistos ................................................................... 68

4.1.4 Análise estatística .............................................................................................. 68

4.1.5 Aplicação de hibridação in situ fluorescente (FISH) em biofilme misto ........... 68

4.2 Resultados e Discussão .............................................................................. 69

4.2.1 Formação de biofilmes mistos ........................................................................... 69

4.2.2 Infeção fágica de biofilmes mistos .................................................................... 70

4.2.3 Conclusão .......................................................................................................... 77

4.3 Referências .................................................................................................. 78

Capítulo 5 | Conclusão final e sugestões de trabalho futuro

Conclusão final e sugestões de trabalho futuro ....................................................... 83

Anexos ......................................................................................................................... 87

Lista de Figuras, Tabelas e Siglas

xix

Lista de Figuras

Capítulo 1 | Introdução Geral

Figura 1.1 - Representação esquemática das diferentes fases de desenvolvimento do

biofilme bacteriano. Na primeira fase (1), as células bacterianas aderem à superfície.

De seguida, na segunda fase (2), as células aderem umas às outras. Na fase seguinte

(3), a maturação é atingida e inicia-se a formação do biofilme. Uma segunda etapa de

maturação é atingida na quarta fase (4) momento da formação do biofilme quando se

apresenta totalmente desenvolvido. Na fase de dispersão (5), células individuais

(células escuras na figura) desprendem-se a partir das microcolônias. Adaptado de 47. 5

Figura 1.2 - Morfologia dos fagos. Adaptado de 68. ..................................................... 8

Figura 1.3 - Ciclo de vida lítico e lisogénico; (A) O fago reconhece um recetor

específico no hospedeiro e injeta do seu material genético via esse recetor; (B)

Circularização do material genético do fago; (C, D, E e F) Produção de fagos

descendentes; (G) Lise da parede celular do hospedeiro e consequentemente

libertação de uma centena de novos fagos produzidos; (H) Integração do material

genético do fago no genoma do hospedeiro (profago); (I) Divisão celular do

hospedeiro; (J) Divisão celular do hospedeiro originando células descendentes com

profago. Adaptado de 72. .............................................................................................. 10

Figura 1.4 - Modelo de infeção fágica em biofilme. Fase 1: Transporte dos fagos

através da matriz do biofilme e dos canais de água por difusão e/ou convecção; Fase:

Ligação dos fagos às células hospedeiras e progressão de ciclo lítico; Fase 3:

Libertação dos fagos descendentes por lise do hospedeiro e infeção das células

vizinhas, causando redução de biomassa; Fase 4: Desintegração de porções do

biofilme e progressão do ciclo lítico em células planctónicas. Adaptado de 63. .......... 11

Figura 1.5 - Estrutura química de LNA, DNA, RNA, PNA e 2’-O-metil RNA

respetivamente. Adaptado de 92. .................................................................................. 14

xx

Capítulo 2 | Desenvolvimento de sondas de LNA para aplicação na técnica de

FISH

Figura 2.1 - Alinhamento das sequências de rRNA das espécies em estudo com as

sondas Psaer (A) e ACA (B) no ClustralW2. .............................................................. 33

Figura 2.2 - Análise CoreGenes3.0 das sequências genómicas dos fagos de

Acinetobacter e Pseudomonas. .................................................................................... 34

Figura 2.3 - Imagens de microscopia de epifluorescência de P. aeruginosa PAO1

aplicando a sonda de LNA/2-O-metil Pser. São apresentadas amostra com uma

temperatura de hibridação de 55 ºC (A); 57 ºC (B) e 59 ºC (C). ................................. 39

Figura 2.4 - Imagens de microscopia de epifluorescência para as estripes

P. aeruginosa ATCC 10145, P. fluorescence PF7a e A. baumannii AB1 após

hibridação com a sonda Psaer a 59 ºC. Nas colunas estão representados os filtro de

microscopia (FITC e TRITC) e nas linhas as espécies utilizadas. A experiência foi

realizada simultaneamente, e as imagens foram obtidas com tempos de exposição

iguais. ........................................................................................................................... 41

Capítulo 3 | Caracterização da infeção fágica de biofilmes de Acinetobacter

baumannii

Figura 3.1 – Curva de crescimento bacteriano de A. baumannii AB1. As barras de

erros representam o desvio padrão em relação à média. .............................................. 53

Figura 3.2 - Infeção de biofilmes formados durante 24 h de A. baumannii AB1 e

infetadas durante 6 h e 24 h com o fago phiIBB-Aba1. A) Número de células viáveis

antes e após da infeção fágica; B) Quantificação da biomassa usando CV antes e após

da infeção fágica; C) Número de fagos (PFU) presentes nos biofilmes (aderidos) e o

número de fagos libertados durante a infeção fágica (suspensos). D) Imagens de

microscopia de epifluorescência de biofilme de 30 h em superfícies de poliestireno; E)

Imagens de microscopia de epifluorescência de biofilme infetado durante 6 h em

superfícies de vidro; F) Imagens de microscopia de epifluorescência de biofilme de 48

xxi

h em superfícies de poliestireno; G) Imagens de microscopia de epifluorescência de

biofilme infetado durante 24 h em superfícies de poliestireno. As barras de erros

representam o desvio padrão em relação à média. ** p < 0,01 e *** p < 0,001. ....... 55

Figura 3.3 - Infeção de biofilmes formados durante 12 h de A. baumannii AB1 com o

fago phiIBB-Aba1. A) Número de células viáveis antes e após da infeção fágica; B)

Quantificação da biomassa usando CV antes e após da infeção fágica. As barras de

erros representam o desvio padrão em relação à média. *** p < 0,01. ....................... 57

Figura 3.4 - Número de células viáveis (CFU) e fagos (PFU) após raspagem de

biofilme de A. baumannii AB1 formados durante 24 h e posteriormente infetadas com

o fago phiIBB-Aba1. A) Número de células viáveis antes e após infeção fágica; B)

Número de fagos presentes nos biofilmes suspensos. As barras de erros representam o

desvio padrão em relação à média. *** p < 0,01. ........................................................ 58

Figura 3.5 - Imagem de placas fágicas do fago phiIBB-Aba1. ................................... 59

Figura 3.6 - Análise por SDS-PAGE de proteínas estruturais de A. baumannii dos

fagos phiIBB-Aba2 e phiIBB-Aba1 respetivamente. .................................................. 60

Figura 3.7 - Curva One-Step-Growth (OSG) para fago phiIBB-Aba1. As barras de

erros representam o desvio padrão em relação à média. .............................................. 61

Capítulo 4 | Caracterização dos biofilmes mistos e avaliação da eficácia de fagos

específicos para A. baumannii e P. aeruginosa

Figura 4.1 - Número de células viáveis presentes de P. aeruginosa PAO1 e

A. baumannii AB1 em biofilme misto de 24 h. As barras de erros representam o

desvio padrão em relação à média. *** p < 0,01. ........................................................ 69

Figura 4.2 - Número de células viáveis (CFU), biomassa total e fagos (PFU) de

P. aeruginosa PAO1 e A. baumannii AB1 em biofilmes mistos de 24 h após infeção

com os fagos phiIBB-Aba1 e phiIBB-PAP1 separadamente ou em cocktail durante 6 h

e 24 h. A) Número de células viáveis (CFU) nos biofilmes mistos de após 6 h de

infeção; B) Número de células viáveis (CFU) nos biofilmes mistos de após 24 h de

infeção fágica; C) Quantificação da biomassa utilizando CV; D) Número de fagos

xxii

(PFU) de P. aeruginosa phiIBB-PAP1 libertados pelo biofilme (suspensos) e

presentes no biofilme (aderidos); E) Número de fagos (PFU) de A. baumannii

phiIBB-Aba1 libertados pelo biofilme (suspensos) e presentes no biofilme (aderidos).

As barras de erros representam o desvio padrão em relação à média. ** p < 0,01 e

*** p < 0,001. .............................................................................................................. 71

Figura 4.3 - Número de células viáveis e biomassa total após infeção de biofilme

misto de P. aeruginosa PAO1 e A. baumannii AB1 de 24 h com o fago phiIBB-PAP1

e phiIBB-PAA2 separadamente. A) Número de células viáveis (CFU); B)

Quantificação da biomassa utilizando CV. As barras de erros representam o desvio

padrão em relação à média. * p < 0,05. ....................................................................... 74

Figura 4.4 - Imagens de microscopia de epifluorescência de biofilme misto de

P. aeruginosa PAO1 e A. baumannii AB1 usando a sonda Pser e o corante DAPI.

A) biofilme misto de 30 h ( controlo da infeção de 6 h)em superfície de poliestireno;

B) biofilme misto de 24 h infetado durante 6 h com o fago de P. aeruginosa (phiIBB-

PAA2) em superfície de poliestireno, C) biofilme misto de 24 h infetado durante 6 h

com os fagos de A. baumannii (phiIBB-Aba1) e P. aeruginosa (phiIBB-PAA2) em

superfície de poliestireno; D) biofilme misto de 24 h infetado durante 6 h com o fago

de A. baumannii (phiIBB-Aba1) em superfície de poliestireno. ................................. 75

Figura 4.5 - Formação de biofilmes mistos durante 24 h. Foram testadas duas

condições, uma em que se adicionaram ambas as espécies em simultâneo e outra em

que se formou durante 12 h um biofilme de A. baumannii Ab1 e posteriormente

P. aeruginosa PAO1 até perfazer 24 h. A) Número de células viáveis (CFU); B)

Quantificação da biomassa usando CV. As barras de erros representam o desvio

padrão em relação à média. ** p < 0,01. ..................................................................... 76

Figura 4.6 - Imagens de microscopia de epifluorescência com utilização da sonda

fluorescente Pser e o corante DAPI. A) Imagens de microscopia de epifluorescência

de biofilmes mistos durante 24 h com aplicação de ambas as espécies em simultâneo

em superfície de poliestireno; B) Imagens de microscopia de epifluorescência de

biofilmes mistos durante 24 h com uma formação inicial durante 12 h de um biofilme

de A. baumannii AB1 e posteriormente a adição de P. aeruginosa PAO1 até perfazer

24 h em superfície de vidro. ......................................................................................... 77

xxiii

Lista de Tabelas

Capítulo 1 | Introdução Geral

Tabela 1.1 - Classificação dos bacteriófagos. Adaptado de 63 ...................................... 8

Capítulo 2 | Desenvolvimento de sondas de LNA para aplicação na técnica de

FISH

Tabela 2.1 - Sondas descritas na literatura para P. aeruginosa e A. baumannii,

juntamente com algumas das suas características mais importantes ........................... 31

Tabela 2.2 - Avaliação da sensibilidade (S) e especificidade (E) das sondas descritas

na literatura .................................................................................................................. 32

Tabela 2.3 - Sequências possíveis param a sonda dos fagos phiIBB-Aba1 e

phiIBB-Aba2 e os seus parâmetros termodinâmicos. A sonda do fago phiIBB-PAA2

foi também incluída para comparação ......................................................................... 36

Tabela 2.4 - Tm para as sondas de LNA/2-O-metil para as bactérias e fagos ............ 37

Tabela 2.5 - Valores dos parâmetros termodinâmicos das sondas. Energia livre de

Gibbs (ΔG), entropia (ΔS), entalpia (ΔH) e teor em GC (GC) .................................... 38

Tabela 2.6 - Fluorocromos associados às sondas ........................................................ 38

Tabela 2.7 - Resultados do teste de especificidade e sensibilidade da sonda de Pser 40

xxiv

Lista de siglas

ATCC American Type Culture Collection

cdDNA Ácido desoxirribonucleico de cadeia dupla

cdRNA Ácido ribonucleico de cadeia dupla

CFU Colony Forming Unit

CLSM Confocal Laser Scanning Microscopy

csDNA Ácido desoxirribonucleico de cadeia simples

csRNA Ácido ribonucleico de cadeia simples

D.O. Densidade Óptica

DAPI 4',6-diamidino-2-phenylindole, dihydrochloride

DNA Ácido desoxirribonucleico

EPS Substâncias Poliméricas Extracelulares (“Extracellular Polymeric Substances”)

ICTV Comité Internacional de Taxonomia de Vírus

LB Luria-Bertani broth

MOI Multiplicity of Infection

pb Pares de bases

PEG Polietilenoglicol

PFU Plaque Forming Units

PIA Pseudomona isolation agar

RNA Ácido ribonucleico

rpm Rotação por minuto

SDS-PAGE Sodium Dodecyl Sulfate Polyacrylamide Gel Electrophoresis

TSB Tryptic Soy Broth

Estrutura da tese

Estrutura da tese

xxvii

Estrutura da tese

A tese encontra-se organizada em 5 capítulos.

O primeiro capítulo apresenta uma breve introdução teórica sobre biofilmes

bacterianos dando realce aos que são formados pelas bactérias A. baumannii e P.

aeruginosa , sobre bacteriófagos e a sua utilização no controlo de biofilmes, sobre a

evolução da tecnologia de FISH na identificação de microrganismos e o surgimento

de moléculas de LNA como sondas moleculares.

O capítulo 2 descreve o desenvolvimento de novas sondas de LNA para a

deteção de A. baumannii e P. aeruginosa e para os seus fagos específicos (phiIBB-

Aba2 e phiIBB-PAA2). Descreve também os resultados dos testes de sensibilidade,

especificidade e otimizações de hibridações para a sonda da bactéria P. aeruginosa.

Os capítulos 3 e 4 descrevem a aplicação dos bacteriófagos específicos em

biofilmes simples de A. baumannii (capítulo 3) e em biofilme mistos de A. baumannii

e P. aeruginosa (capítulo 4), conjuntamente com a aplicação da técnica de LNA FISH

nas diferentes condições testadas.

No último capítulo são descritas as principais conclusões deste trabalho e

sugerem-se também alguns temas para trabalhos futuros no âmbito dos biofilmes,

fagos e uso de sondas de LNA.

Capítulo 1

Introdução Geral

Introdução Geral

1

1 Introdução Geral

1.1 Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter

baumannii

1.1.1 Pseudomonas aeruginosa

P. aeruginosa é uma bactéria gram-negativa, aeróbia pertencente à família

Pseudomonadacea 1 que se apresenta sob a forma de bastonetes retos ou ligeiramente

curvos, isolados ou aos pares. O seu metabolismo é não-fermentativo, mas em certas

condições pode crescer na ausência de oxigénio caso possua nitrato disponível para ser

utilizado como aceitador de eletrões 2. P. aeruginosa apresenta poucas exigências para o

crescimento e grande versatilidade nutricional 3, tolerando variações das condições

físicas, resistência a altas concentrações de sais e pigmentos, anti-sépticos fracos e

muitos antibióticos comumente utilizados 4. Possui capacidade de crescer entre 5 ºC a

42°C, sendo a temperatura ideal 37°C. Tem um tamanho aproximado de 0,5 μm a

0,8 μm por 1,5 μm a 3,0 μm, um odor característico a fruta 5,4 e produz um pigmento

hidrossolúvel designado por piocianina que confere uma coloração esverdeada ao meio

de cultura 6. Este microrganismo é ubíquo, sendo encontrado no solo, água, vegetais e

matéria orgânica em decomposição e pode ser encontrado na natureza ligado a uma

superfície ou substrato (biofilme), como sob forma plantónica, movendo-se através de

flagelos polares 2.

P. aeruginosa é um patogénico oportunista, exibindo uma ampla variedade de

mecanismos de virulência, que podem originar diversas infeções 7. A infeção inicia-se

com a adesão bacteriana, seguindo-se a fixação e posteriormente a dispersão 8,9. As

fimbrias estendem-se a partir da superfície celular e promovem a adesão da bactéria aos

recetores presentes na superfície das células epiteliais do hospedeiro 8. Resíduos dos

recetores das células e a neuraminidade (que elimina o ácido siálico) facilitam a ligação

das fímbrias aos recetores 10,11. A expressão de exopolissacarídeo mucóide (ex. alginato)

funciona como mediador de aderência a superfícies epiteliais dos pulmões de pacientes

com fibrose cística e como mecanismos de defesa na formação de biofilmes 12–14.

Capítulo 1

2

Vários outros fatores extracelulares como a produção de elastases, protease

alcalina, fosfolipase C, exoenzima S, neuraminidase e exotoxinas facilitam o

rompimento da integridade epitelial do hospedeiro promovendo a invasão

bacteriana 15,16. Entre as proteases extracelulares, destacam-se a elastase e a protease

alcalina, que contribuem para a aderência e degradação de vários componentes do

sistema imune 17. A exotoxina A inibe a síntese protéica, efeitos citopáticos e interfere

nas funções celulares imunes do hospedeiro 18,19. A fosfolipase C tem a capacidade de

destruir a membrana citoplasmática e inativar as opsoninas. O lipolissacarídeo presente

na membrana externa da bactéria composto por lípido A, um núcleo oligosacarídeo

interno e externo ao qual se liga ao O-antigénio de banda A ou B permite a adesão

bacteriana mediando a entrada nas células eucarióticas 20,21.

Outra das propriedades importantes desta espécie é a capacidade de adesão a

superfícies e formação posterior de biofilmes que diminuem a ação de agentes

antimicrobianos. Na propagação da inflamação, há um grande risco de colonização de

outros locais devido à sua mobilidade 9. Para além disso, há um sistema de comunicação

entre as células denominado quorum sensing, em que pequenos compostos chamados

autoindutores são libertados pelas bactérias para o ambiente circundante e detetadas

pelas bactérias vizinhas que coordenam a expressão dos genes regulando a densidade

populacional 22.

A capacidade de P. aeruginosa de sobreviver em condições mínimas

nutricionais e a sua tolerância a uma variedade de condições físicas permite que este

organismo persista principalmente em ambientes hospitalares 23, sendo um importante

patogénico humano. Esta espécie aparece associada a infeções do trato respiratório,

fundamentalmente em doentes com fibrose cística, do trato urinário relacionadas com o

uso de cateteres urinários, da corrente sanguínea e dos locais que sofreram intervenção

cirúrgica (ex. locais de inserção de próteses ou que sofreram operação) 24. Pode assim

ser isolada a partir de uma variedade de fontes, como equipamentos de terapia

respiratória e cateteres e também, de pias, sabão, medicamentos e piscinas de

hidroterapia 25. Os pacientes com imunidade diminuta possuem um maior risco de

colonização por este microrganismo 26. Dados do Sistema Nacional de Vigilância

(EUA) de 1986 a 1998 indicam que P. aeruginosa é o quinto patogénico nosocomial

mais isolado, sendo responsável por 9 % de todas as infeções hospitalares nos Estados

Unidos 27,28. É também a segunda principal causa de pneumonia nosocomial (14 % a

Introdução Geral

3

16 %), a terceira causa mais comum de infeções do trato urinário (7 % a 11 %), o quarto

microrganismo mais isolado em infeções em local cirúrgico (8 %) e o sétimo

responsável por infeções na corrente sanguínea (2 % a 6 %) 23.

Fora do ambiente hospitalar, este microrganismo pode ser encontrado em

piscinas, banheiras de hidromassagens, soluções de lentes de contacto, humidificadores

de casa, solo e vegetais 23.

1.1.2 Acinetobacter baumannii

A. baumannii é uma bactéria gram-negativa pertencente à família

Moraxellaceae 29. É uma bactéria estritamente aeróbia, não-fermentadora, não-

fastidiosa, com motilidade, catalase positiva e oxidase-negativa 30. Durante a fase de

crescimento, a bactéria é um bacilo, com bastonetes até 2,5 μm de comprimento.

Durante a fase estacionária do crescimento bacteriano, as células tornam-se mais curtas

e arredondadas, assemelhando-se a pequenos cocos ao encolher para cerca de metade do

seu tamanho inicial e encontram-se em geral em pares ou em grupos densos de células

interligadas, possuindo as colónias uma cor esbranquiçada 30. Possui capacidade de

crescer a 37 ºC, apresentando requisitos mínimos nutricionais 31 e crescendo bem em

meios sólidos e em meios laboratoriais (ex. TSB, do inglês Tryptic Soy Broth) e

Luria-Bertani (LB)) 30,32. É um microrganismo ubíquo, de climas quentes e húmidos

que se adaptam a diferentes ambientes (água ou solo), encontrado frequentemente como

parasita em humanos ou em objetos inanimados 33,34.

A. baumannii é um agente patogénico oportunista e ao longo dos anos tem

demonstrado capacidade de adquirir resistências aos antibióticos 33,35. Apresenta vários

mecanismos de resistência como: enzimáticos, não enzimáticos e genéticos. Um dos

mecanismos de resistência enzimáticos está relacionado com a produção de enzimas no

meio intracelular da bactéria, nomeadamente as β-lactamases como as cefalosporinases,

que hidrolisam alterando a estrutura química dos antimicrobianos modificando assim a

sua atividade sobre o microrganismo 29. A permeabilidade da membrana externa é

alterada pela perda de proteínas (OMPs, do inglês Outer Membrane Proteins)

constituintes dos canais de porina no transporte de substâncias através da membrana

externa. A. baumannii tem poucas porinas em comparação com outras gram-negativas, o

que pode explicar, algumas das suas resistências à passagem dos antimicrobianos. Estas

Capítulo 1

4

alterações na membrana associadas à produção de β-lactamases conferem resistência

aos antibióticos β-lactâmicos 29. A alteração do local alvo aos antibióticos, como as

proteínas de ligação à penicilina (PBPs, do inglês Penicillin-Binding-Proteins), as

topoisomerases e as frações ribossómicas, provocam mutações nas células alvo

reduzindo a sua afinidade, diminuindo ou impedindo a ligação entre eles 29. A nível

genético, a resistência é conferida pela transferência horizontal através da troca de

plasmídeos, podendo ocorrer entre microrganismos da mesma espécie ou entre espécies

não correlacionadas. A. baumannii pode adquirir genes de resistência de outros

microrganismos ou desenvolver ao longo do tempo mutações, propiciando o

aparecimento de estirpes com capacidade de resistência antimicrobiana 34.

A. baumannii também possui a capacidade de formar biofilmes e permanecer em

ambientes propícios à sua colonização, como ambientes hospitalares 36. Acinetobacter é

um patogénico associado à pneumonia bacteriana, infeções do trato urinário, infeções de

feridas cirúrgicas e meningite. Os principais fatores de risco associados à colonização e

infeção de Acinetobacter são os procedimentos cirúrgicos, hospitalizações prévias e

procedimentos invasivos como ventilação mecânica, uso de cateter venoso central ou

cateteres urinários 37,38. A mortalidade hospitalar atribuída está compreendida entre 7,8

% a 23 %. Nas unidades de cuidados intensivos, este valor varia entre os 10 % - 43 % 38,39.

1.2 Teoria da formação de biofilmes

Atualmente, um biofilme é definido como uma associação de células

microbianas que formam uma pelicula multi-hidratada fixada a superfícies bióticas ou

abióticas, presa por uma complexa matriz extracelular de substâncias poliméricas

produzidas pelos microrganismos, fornecendo uma estratégia importante de

sobrevivência bacteriana 40,41. Na natureza, mais de 99 % dos microrganismos

(bactérias, algas, fungos e protozoários) formam biofilmes 42 e podem ser compostos

por uma população que se desenvolveu a partir de uma única espécie ou de uma

comunidade derivada de múltiplas espécies microbianas 43.

A primeira etapa de formação do biofilme inicia-se pela adesão dos

microrganismos à superfície. Quando as bactérias formam uma associação estável,

iniciam a divisão celular e formam micro-colonias que sintetizam a matriz polimérica

Introdução Geral

5

começando a desenvolver o biofilme 44,45. Uma vez estabelecido o biofilme, as

populações bacterianas a ele associadas podem desprender-se periodicamente,

colonizando novas superfícies e formando novos biofilmes em novos locais, causando

eventualmente infeções crónicas 46 (Figura 1.1).

Figura 1.1 - Representação esquemática das diferentes fases de desenvolvimento do biofilme

bacteriano. Na primeira fase (1), as células bacterianas aderem à superfície. De seguida, na segunda

fase (2), as células aderem umas às outras. Na fase seguinte (3), a maturação é atingida e inicia-se a

formação do biofilme. Uma segunda etapa de maturação é atingida na quarta fase (4) momento da

formação do biofilme quando se apresenta totalmente desenvolvido. Na fase de dispersão (5),

células individuais (células escuras na figura) desprendem-se a partir das microcolônias. Adaptado

de 47.

Ainda que cresçam mais lentamente que os microrganismos plantónicos, os

biofilmes são seguramente mais eficientes metabolicamente e conseguem utilizar de

uma forma mais extensiva todos os nutrientes existentes. Assim, pode-se considerar que

o potencial metabólico de um biofilme é bastante superior ao de uma comunidade

plantónica 48.

Devido a vários fatores, a composição dos biofilme varia entre os vários

microrganismos. Entre esses fatores destacam-se: o estado fisiológico dos

microrganismos, o ambiente físico e a superfície a que estão aderidos 43,49. Análises

estruturais têm demonstrado que 15 % do volume de biofilme é composto por células

incorporadas em 85 % de matriz extracelular 50. Esta matriz é apontada como

fundamental para a sobrevivência dos biofilmes 51. Grande parte dos compostos da

matriz são provenientes das secreções dos próprios organismos ou então resultantes de

restos celulares de microrganismos em decomposição, o que pode explicar a diferença

da composição dos biofilmes de organismo para organismo 51. Esta matriz é

Capítulo 1

6

essencialmente composta por: água (97 %), substâncias poliméricas extracelulares

contendo proteínas (incluindo enzimas) (1 % a 2 %), polissacarídeos (homo e

heteropolissacarídeos) (1 % a 2 %) e ácidos nucleicos (1 % a 2 %) 52. A matriz é um dos

grandes responsáveis pela resistência dos biofilmes pois age como barreira física,

protegendo as células para que não sejam arrastadas pelo fluxo de substâncias,

auxiliando a célula a resistir à diminuição e exaustão de nutrientes e de água, à presença

de biocidas e outros agentes antimicrobianos e a outras condições ambientais 44.

Na indústria, os biofilmes são responsáveis por graves perdas económicas

quando associados a problemas de corrosão, à perda de carga de fluidos em tubagens ou

a contaminações em produtos alimentares. No contexto clínico, os biofilmes contribuem

para a progressão de infeções associadas à colonização de dispositivos médicos

inseridos no corpo humano, mas também à colonização direta de tecidos 53.

1.2.1 Biofilmes formados por P. aeruginosa e A. baumannii

P. aeruginosa e A. baumannii são dois dos microrganismos comumente

encontrados em comunidades mistas de biofilmes em ambientes hospitalares. Ambas

são suscetíveis a antibióticos β-lactâmicos e a sua resistência a diversos antibióticos tem

crescido ao longo dos anos 54. Oliveira et al. 55.detetou em amostras do aspirado

traquial, 3,3 % e 20 % de A. baumannii e P. aeruginosa respetivamente num total de

30 pacientes internados nas unidades de terapia intensiva, concluindo que a presença

destes patogénicos serve como reservatório para microrganismos associados à

pneumonia nosocomial. Também Gil et al. 56 demostraram que A. baumannii e

P. aeruginosa estão entre as bactérias prevalentes envolvidas em infeções respiratórias

crónicas (45 %) e verificaram a existência de biofilmes (56 %) num total de 87 % dos

pacientes internados na unidade de terapia intensiva que necessitaram de ventilação

mecânica num período mínimo de 24 horas.

Storti 57demonstrou, num estudo com 118 pontas de cateteres intravenosos

centrais, que 34 estavam colonizadas. Dessas 34 pontas de cateteres colonizadas, foram

isolados 55 microrganismos, dos quais 10,9 % e 5,4 % eram A. baumannii e

P. aeruginosa, respetivamente. Também Storti et al. 58 num estudo anterior, tinha

observado que microrganismos isolados das superfícies de cateteres estavam

colonizadas com A. baumannii (14.3 %) e P. aeruginosa (21,4 %), e ainda que na

Introdução Geral

7

corrente sanguínea as amostras continham A. baumannii (18,2 %) e P. aeruginosa

(27,3 %), sugerindo que a presença de biofilmes nas superfícies dos cateteres podem

tornar-se num nicho de infeção na corrente sanguínea dos pacientes, causando graves

infeções bacterianas.

1.3 Bacteriófagos

Ao longo dos anos, os antibióticos foram a única forma de tratamento das

doenças infeciosas, limitando o crescimento de bactérias ou promovendo a sua

destruição. Contudo, devido à utilização inadequada destes medicamentos, as bactérias

adquiriram mecanismos de resistências contra os mesmos, sendo atualmente, segundo a

Organização Mundial de Saúde, uma das maiores ameaças à Saúde Pública. Devido a

esta problemática, ressurgiu um grande interesse pelos bacteriófagos (fagos), agentes

terapêuticos descobertos em 1915 pelo bacteriologista Inglês Frederick Twort e pelo

microbiologista franco-canadiano Félix d'Herelle 59.

Os fagos definem-se como vírus bacterianos que, afetam o metabolismo das

bactérias causando a sua morte 60,61. Sendo vírus, os fagos não possuem um

metabolismo próprio e para tal necessitam da maquinaria de biossíntese do respetivo

hospedeiro para que se possam replicar 62,63. Estima-se também que sejam os

organismos mais simples e abundantes na Terra, e que para cada célula bacteriana

existam dez partículas fágicas diferentes, 60 superando claramente as bactérias em todos

os ambientes estudados 64–66.

Para além de serem eficazes no combate a bactérias resistentes a antibióticos, os

fagos são também capazes de controlar de forma eficaz bactérias no estado séssil. Os

fagos apresentam uma toxicidade nula, uma vez que o seu principal constituinte são

ácidos nucleicos 67, apresentam-se assim como agentes terapêuticos muito promissores

no combate a biofilmes infeciosos 63.

1.3.1 Classificação

Há uma diversidade de fagos com formas, tamanhos, simetrias da cápside e

estruturas variadas. De acordo com o Comité Internacional de Taxonomia de Vírus

(ICTV, do inglês International Committee on Taxonomy of Viruses) os fagos podem ser

distinguidos com base na taxonomia e no tipo de ácidos nucleicos do seu genoma

(Tabela 1.1, Figura 1.2). Estima-se que 96 % de todos os fagos até hoje reportados

Capítulo 1

8

pertençam à ordem Caudovirales 63 que podem ser divididos em três famílias

(Podoviridae, Siphoviridae, Myoviridae) de acordo com as características da cauda.

Tabela 1.1 - Classificação dos bacteriófagos. Adaptado de 63

Família Características Ácido Nucleico

Corticoviridae Sem envelope; cápside icosaédrica dsDNA

Cystoviridae Com envelope; cápside icosaédrica dsRNA

Fuselloviridae Com envelope; pleomórfico; sem cápside dsDNA

Inoviridae Sem envelope; filamentoso ssDNA

Leviviridae Sem envelope; cápside icosaédrica ssRNA

Lipothrixviridae Com envelope; simetria helicoidal dsDNA

Microviridae Sem envelope; cápside icosaédrica ssDNA

Rudiviridae Sem envelope; simetria helicoidal dsDNA

Plasmaviridae Sem envelope; pleomórfico dsDNA

Podoviridae Sem envelope; cauda curta não contráctil dsDNA

Siphoviridae Sem envelope; cauda longa não contráctil dsDNA

Myoviridae Sem envelope; cauda contráctil dsDNA

Tectiviridae Sem envelope, cápside icosaédrica dsDNA

Figura 1.2 - Morfologia dos fagos. Adaptado de 68.

Introdução Geral

9

1.3.2 Ciclo de vida

No que diz respeito ao seu ciclo de vida, os bacteriófagos podem ser de dois

tipos: os fagos virulentos, que apresentam um ciclo de vida lítico e os fagos temperados,

que apresentam ciclo de vida lisogénico mas que, em determinadas condições, poderão

iniciar o ciclo lítico 69. A replicação fágica inicia-se por ligação do fago ao hospedeiro

através das suas fibras da cauda que se fixam a recetores específicos existentes na

superfície da bactéria (proteínas, carbohidratos, moléculas de lipopolissacarídeos e

flagelos) 60. A maioria dos fagos é altamente específica para os seus recetores e há

pouca ou nenhuma interação com recetores de estruturas ligeiramente diferentes 70. De

seguida, o seu material genético sob a forma de DNA (do inglês Deoxyribonucleic Acid)

ou RNA (do inglês Ribonucleic Acid) é introduzido no interior da célula. Os fagos

litícos (ex. tipo- T) são reproduzidos rapidamente, formando novas partículas virais no

interior do seu hospedeiro, terminando o ciclo de vida com a lise de bactérias mediada

pela produção das proteínas tardias (holina e endolisina), codificadas no genoma de

fagos de dsDNA. O número de novos fagos produzidos, depende do tipo de fago, da

espécie hospedeira e das condições de replicação, no entanto, estima-se que cada fago é

capaz de produzir cerca de 200 novos fagos por cada ciclo lítico 71. No ciclo de vida

lisogénico, o DNA viral, após atingir o citoplasma, integra-se no genoma bacteriano e

replica-se conjuntamente com este, passando para todas as células filhas durante a

divisão celular sem causar lise. Permanece assim num estado dormente como um

profago por períodos de tempo prolongados 60 e somente por ação de estímulos

externos, normalmente fatores de stress, poderá ocorrer o ciclo lítico 63 (Figura 1.3).

Capítulo 1

10

Figura 1.3 - Ciclo de vida lítico e lisogénico; (A) O fago reconhece um recetor específico no

hospedeiro e injeta do seu material genético via esse recetor; (B) Circularização do material

genético do fago; (C, D, E e F) Produção de fagos descendentes; (G) Lise da parede celular do

hospedeiro e consequentemente libertação de uma centena de novos fagos produzidos; (H)

Integração do material genético do fago no genoma do hospedeiro (profago); (I) Divisão celular do

hospedeiro; (J) Divisão celular do hospedeiro originando células descendentes com profago.

Adaptado de 72.

Kropinski, A. 73refere que os fagos temperados não devem ser utilizados na

terapia fágica, uma vez que podem integrar-se no genoma da bactéria e não causar a lise

celular, podendo mesmo potenciar a virulência das bactérias segundo um fenómeno

denominado “ conversão lisogénica”.

O maior interesse na terapia fágica assenta essencialmente na capacidade dos

fagos lizarem as células bacterianas, por esse facto, fagos filamentosos (ex. M13) não

terem interesse, uma vez que a expulsão do fago é realizada por mecanismos extrusão,

não causando a lise das células 74.

Introdução Geral

11

1.3.3 Interações fago-biofilme

A interação fago-biofilme é um processo complexo que depende de diversos

fatores. A estrutura e composição de um biofilme, bem como a fisiologia das células

que o compõem, limitam a infeção fágica 63.

Um dos maiores obstáculos na infeção fágica é a matriz do biofilme, uma vez

que é um reservatório de enzimas proteolíticas que conduzem à inativação do fago,

dificultando a sua passagem até às camadas mais profundas do biofilme 63.

Alguns fagos possuem a capacidade de produzir ou induzir a produção de

depolimerases que degradam polissacarídeos da matriz, facilitando a sua progressão no

biofilme através da matriz. Quando isto não acontece, os fagos penetram no interior do

biofilme através de canais de água que compõem a estrutura do biofilme 63.

Quando o fago é transportado através da matriz do biofilme e entra em contacto

com as bactérias, inicia uma ligação que se torna forte e irreversível, injetando o seu

material genético pela parede bacteriana e iniciando o seu ciclo lítico. Seguidamente os

fagos descendentes são libertados para o meio exterior 63 (Figura 1.4).

Figura 1.4 - Modelo de infeção fágica em biofilme. Fase 1: Transporte dos fagos através da matriz

do biofilme e dos canais de água por difusão e/ou convecção; Fase: Ligação dos fagos às células

hospedeiras e progressão de ciclo lítico; Fase 3: Libertação dos fagos descendentes por lise do

hospedeiro e infeção das células vizinhas, causando redução de biomassa; Fase 4: Desintegração de

porções do biofilme e progressão do ciclo lítico em células planctónicas. Adaptado de 63.

Capítulo 1

12

O estado fisiológico das células, também influencia a eficácia dos fagos uma vez

que células na fase exponencial entram mais rápida e eficazmente em lise do que as

células na fase estacionária. Como o biofilme é composto por células em diferentes

fases metabólicas e de crescimento, é expectável que a taxa de lise nos biofilmes seja

mais reduzida do que nas células plantónicas em fase exponencial 63. Outro fator

limitante é a presença de células mortas que faz diminuir o número de partículas virais

ativas 63.

Outro obstáculo na implementação da terapia fágica é o desenvolvimento de

resistência aos fagos por parte das bactérias 60,75. As bactérias podem tornar-se

resistentes aos fagos diminuindo ou eliminando a sensibilidade a estes, desenvolvendo

subpopulações com fenótipos estáveis e resistentes, com o intuito de se protegerem

contra a invasão de DNA estranho. Estes mecanismos podem ocorrer através de trocas

genética com outras bactérias, aquisição de plasmídeos, e conversão lisogénica 60,75.

Uma bactéria pode tornar-se resistente aos fagos também pela mutação ou perda de

recetores, mas esta questão pode não ser de todo benéfica para a bactéria, uma vez que o

recetor é um determinante de virulência, e a perda deste recetor irá diminuir

drasticamente a virulência das bactérias 60. Por vezes, após a injeção do genoma do fago

no hospedeiro pode também ocorrer a sua degradação pelas DNases bacterianas 60.

Finalmente, pode haver imunidade pela restrição-modificação das bactérias ou dos

plasmídeos, pois estes podem codificar enzimas de restrição que degradam o genoma do

fago 75.

Para tentar diminuir este fenómeno, tem sido sugerido a utilização de cocktails

fágicos de modo a alargar o espetro de ação, reduzindo o aparecimento de fenótipos

resistentes 76,77.

Se por um lado os fagos são bastante resistentes a fatores externos, por outro

lado, a viabilidade destes seres está comprometida quando presentes em condições

desfavoráveis. De entre os fatores que podem causar danos na estrutura do fago que

levam à inativação do mesmo, estão a temperatura, a salinidade e a acidez 78,79.

Introdução Geral

13

1.4 Hibridação fluorescente in situ

FISH (do inglês, Fluorescent in situ hibridization) é uma técnica molecular

utilizada na identificação de microrganismos 80. O método baseia-se na utilização de

sondas de ácidos nucleicos marcados com fluorescência que irão ligar-se

especificamente a determinadas regiões de RNA ribossomal (rRNA), devido ao seu

elevado número de cópias por célula 81. No caso das bactérias, o rRNA 16S e 23S são os

mais utilizados.

Dada a sua sensibilidade, especificidade e rapidez, a técnica de FISH tem sido

utilizada como uma ferramenta frequente tanto para o estudo da diversidade microbiana

em amostras ambientais, como também no diagnóstico de comunidades microbianas

que colonizam partes integrantes do tecido humano 82,83.

Este método assenta em quatro passos: fixação / permeabilização da amostra,

hibridação das sondas com as sequências alvo, lavagem para a remoção das sondas não

ligadas, e finalmente, observação das células fluorescentes ao microscópio de

fluorescência ou deteção por citometria de fluxo 82,83.

As sondas de ácidos nucleicos utilizadas na técnica de FISH têm geralmente

entre 15 a 30 nucleótidos de comprimento e estão ligados covalentemente a um

fluorocromo que confere assim fluorescência quando ocorre a hibridação. A hibridação

deve ocorrer numa câmara húmida, escura, e com uma temperatura geralmente

compreendida entre os 37 ºC e 60 ºC, por um período que pode variar entre os

30 minutos e várias horas 81.

A crescente necessidade de identificar simultaneamente várias espécies

microbianas, conduziu à utilização de fluorocromo diferentes que permitem discriminar

diferentes sondas e assim, distinguir diferentes populações. A utilização simultânea de

corantes não específicos (como o DAPI) permite ainda fazer a coloração simultânea da

população total, proporcionando uma combinação de cores que permite detetar

múltiplos alvos. Assim, a fluorescência dos diferentes fluorocromos deve ser claramente

distinta, de forma a criar um espectro único para cada espécie presente na população em

estudo 81,84.

Capítulo 1

14

1.4.1 Aplicação de mímicos de DNA à técnica de FISH

É conhecido que a natureza das sondas é um dos fatores que influencia o sucesso

da técnica de FISH, uma vez que a sua estabilidade e afinidade com as sequências

complementares influenciam o sucesso da hibridação 85. A técnica de FISH utiliza

tradicionalmente sondas de DNA 86, mas recentemente têm sido desenvolvidas novas

moléculas sintéticas, análogas ao DNA que permitem melhorar a performance do

método e encurtar substancialmente o procedimento de FISH 87,88.

Várias moléculas sintéticas têm surgido como alternativas promissoras na

aplicação da técnica de FISH. Alguns dos mímicos de DNA mais conhecidos incluem:

PNA (do inglês Peptide Nucleic Acid) 87, LNA 89, 2’-O-metil-(2’-OMe) RNA 90 e ácido

2’-desoxi-2´-fluoro-β-D-ribonucleico (2’-F RNA) 91 (Figura 1.5). O PNA tem sido o

mímico mais estudado e aplicado à técnica de FISH, existindo já uma panóplia de

sondas descritas para variadíssimos microrganismos 85.

Figura 1.5 - Estrutura química de LNA, DNA, RNA, PNA e 2’-O-metil RNA respetivamente.

Adaptado de 92.

O PNA foi sintetizado em 1991 por Nielson et al. 93 e possuía características de

hibridação superiores às sondas de oligonucleótidos de DNA então existentes. Estas

particularidades levaram à aplicação do PNA às técnicas de biologia molecular,

tornando os procedimentos de FISH mais robustos e rápidos.

Ao contrário do DNA que se baseia num “esqueleto” formado por pentoses e

grupos fosfato (carregados negativamente), a estrutura do PNA assenta num “esqueleto”

poliamida de carga neutra formado por unidades repetitivas de N-(2-aminoetil) glicina.

Esta estrutura confere-lhe uma maior estabilidade térmica (temperaturas de melting

(Tm) mais elevadas) 94 e permite que a hibridação seja realizada em concentrações

salinas mais baixas proporcionando um melhor acesso às sequências alvo.

Adicionalmente, devido à sua natureza sintética, estas moléculas são mais resistentes às

Introdução Geral

15

nucleases e protéases, e o seu caracter hidrofóbico permite que se difundam mais

facilmente na matriz de EPS (do inglês, Extracellular Polymeric Substances) dos

biofilmes 85.

Outros mímicos de DNA, apesar de pouco aplicados a FISH, apresentam

também um enorme potencial. Este é o caso do LNA. As molécula de LNA são

derivados do RNA que possuem o anel de ribose bloqueado numa conformação C3

'endo’, através de uma ligação extra entre o oxigénio na posição 2 e o carbono na

posição 4 da ribose (Figura 1.5) 95. A sua estrutura mais rígida aumenta a especificidade

de hibridação relativamente às sondas de DNA convencionais, o que permite diferenciar

melhor os alvos altamente homólogos 96.

Os nucleótidos de LNA também podem ser combinados com resíduos de DNA e

RNA (num processo comumente designada por síntese mista), o que permite um

controlo minucioso das temperaturas de hibridação e parâmetros termodinâmicos. Isto

reflete-se também num aumentando a especificidade de hibridação, e maior controlo no

desenho de abordagens multiplex 92,97,98.

Apesar de ainda pouco desenvolvida, já existem alguns estudos in vivo que

demostram a eficácia das sondas de LNA em aplicações terapêuticas 92,100. Existem

também alguns trabalhos, ainda que escassos, que aplicam estas sondas às técnicas de

FISH com bastante sucesso em ensaios in situ na expressão de miRNAs, na deteção

específica de células de leveduras, entre outros 100–103. Contudo, não são ainda

conhecidos estudos da técnica de LNA FISH em biofilmes.

1.4.2 Aplicação da técnica de FISH em biofilme

A técnica de FISH é uma ferramenta muito importante no estudo de biofilmes

uma vez que permite a compreensão e distribuição espacial das células. A sua aplicação

na caracterização in situ de populações em biofilme, tem facilitado a compreensão das

interações microbianas 104,105 contudo a estrutura do biofilme apresenta algumas

barreiras à aplicação de FISH.

A arquitetura dos biofilmes não permite uma análise quantitativa nem estrutural

de uma população abundante e complexa de microrganismos com recurso a técnicas

simples de microscopia. Contudo este problema pode ser ultrapassado com recurso à

utilização microscopia confocal de varrimento a laser (CLSM, do inglês Confocal Laser

Capítulo 1

16

Scanning Microscopy). CLSM é uma técnica capaz de produzir imagens nítidas e

precisas de amostras espessas 106, controlando a profundidade de campo. Permite

recolher séries de uma amostra em vários planos XY correspondentes a diferentes

profundidades, empilhando na vertical os planos e reconstruindo assim uma imagem

tridimensional da amostra 107.

Desta forma, a combinação de FISH e CLSM permite uma análise simultânea da

organização espacial de bactérias gram-negativas e gram-positivas, sem perturbar a

estrutura do biofilmes, fornecendo informações importantes sobre a organização e

interação dos microrganismos nestas estruturas 108.

1.5 Referências

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Capítulo 2

Desenvolvimento de sondas de LNA para aplicação na técnica de FISH

Desenvolvimento de sondas de LNA para aplicação na técnica de FISH

27

2 Desenvolvimento de sondas de LNA para aplicação na técnica de FISH

Este capítulo tem como principal objetivo a descrição do desenvolvimento de

sondas de LNA para as bactérias Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter baumannii e

respetivos fagos. Estas sondas serão posteriormente utilizadas na análise microscópica

dos biofilmes simples e mistos formados pelas bactérias anteriormente mencionadas.

Para além da avaliação em termos da diferenciação e distribuição das espécies, as

sondas específicas para a deteção dos fagos, permitirão, em trabalhos futuros, estudar a

infeção fágica neste tipo de estruturas.

Neste sentido, foi efetuado inicialmente o desenho e/ou avaliação teórica do

desempenho das diferentes sondas com recurso a ferramentas bioinformáticas. Alguns

parâmetros termodinâmicos foram também determinados. No âmbito do trabalho

desenvolvido, e uma vez que a aplicação de moléculas de LNA é muito recente em

FISH, apenas uma das sondas desenhadas foi sintetizada e testada laboratorialmente

para verificar o seu funcionamento, como prova de conceito.

2.1 Materiais e métodos

2.1.1 Desenho e avaliação das sondas

Avaliação teórica das sondas de P. aeruginosa e A. baumannii

Usando a base de dados probebase (http://www.microbial-

ecology.net/probebase/) foram identificadas sondas já descritas na literatura para

A. baumannii e P. aeruginosa .

Para a determinação da sensibilidade e especificidade das sondas que hibridam

na subunidade menor do rRNA (16S) foi usado o programa Probe Match

(http://www.microbial-ecology.net/probebase/default.asp?mode=probeset) e o browser

da base de dados de RNA ribossomal RDP II (do inglês Ribosomal Database Project)

(http://rdp.cme.msu.edu/hierarchy/hb_intro.jsp). Uma vez que a base de dados RDP II

não comtempla sequências para a subunidade maior (23S), para as sondas que hibridam

na região 23S usou-se o programa ProbeCheck (http://131.130.66.200/cgi-

bin/probecheck/content.pl?id=home) disponível no site ARB Silva.

Capítulo 2

28

A especificidade foi calculada através da fórmula nSs / (TnS) × 100, onde nSs

representa o número de não- A. baumannii que não reagem com a sonda e TnS é o total

de não-A. baumannii presentes na base de dados. A sensibilidade foi calculada como

Ss / (TSs) × 100, onde Ss representa o número de A. baumannii detetadas pela sonda e

TSs é o número total de estirpes A. baumannii presentes na base de dados 1. Os mesmos

cálculos foram efetuados para a bactéria P. aeruginosa , substituindo A. baumannii por

P. aeruginosa .

Desenho e avaliação das sondas dos fagos

Foi usada a base de dados do National Center for Biotechnology Information

(NCBI) (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/genomes/GenomesGroup.cgi?taxid=35237) para

recolher um número significante de genomas completos de fagos de A. baumannii e

P. aeruginosa . Seguidamente foi utilizado o programa CoreGenes3.0

(http://binf.gmu.edu:8080/CoreGenes3.0/) que realiza uma análise BLAST fornecendo

uma tabela de genes conservados entre os genomas analisados 2.

As sequências dos genes selecionados pelo CoreGene 3.0 foram alinhadas e

comparadas pelo programa ClustralW2 (http://www.ebi.ac.uk/Tools/msa/clustalw2/).

Dada a inexistência de regiões conservadas nos genes analisados, o genoma dos fagos

foram sequenciados e as sondas foram desenhadas para o mRNA (RNA mensageiro)

que codifica para a proteína que constituiu maioritariamente a cápside do fago (major

head protein).

Adaptação para LNA

As sondas para as bactérias e para os seus respetivos fagos foram modificadas

para sondas de LNA/2-O-metil, de acordo com o descrito em Søe et al.3. Com recurso

ao programa RNA Chemistry Laboratory

(http://rnachemlab.ibch.poznan.pl/calculator2.php) foram calculadas as temperaturas de

fusão (Tm, do inglês melting temperature) e os restantes parâmetros termodinâmico

para as diferentes sequências. Foram selecionas sequências com temperaturas de

melting semelhantes e com valores de energia livre de ligação (∆G) baixos 4.

Desenvolvimento de sondas de LNA para aplicação na técnica de FISH

29

2.1.2 Otimização das condições de hibridação para LNA FISH

Estirpes bacterianas e condições de cultura

As estirpes bacterianas utilizadas estão listadas na Tabela 2.7. Todas as estirpes

foram cultivadas em meio nutritivo Luria-Bertani (LB) (nzytech, Portugal) com

1,2 % (p/v) de ágar (Liofilchem, Itália). As bactérias foram crescidas a 37 ºC durante

16 h - 20 h, sendo repicadas a cada 24 h.

Hibridação in situ fluorescente (FISH)

Após a seleção das diferentes sondas, a sonda para a bactéria P. aeruginosa foi

sintetizada por uma empresa especializada (Ribotask, Dinamarca). Todos os

procedimentos da preparação e utilização das sondas foram realizados em condições de

baixa luminosidade com o intuito de evitar a ação negativa que a luz provoca na

integridade dos fluorocromos.

A alíquota original da sonda foi preparada à concentração de 100 µM em água

ultrapura estéril. Após a preparação da alíquota original, foram preparadas alíquotas de

stock a uma concentração de 4 μM, também em água ultrapura, alíquotas de uso foram

preparadas à concentração de 200 μM em solução de hibridação (20 mM Tris-HCl

(pH 7,2) (Biorad, Portugal), 0,01 % SDS (p/v) (Biorad), 900 mM NaCl (Panreac,

Espanha) e 30 % formamida (v/v) (Sigma, Portugal)).

Para aplicação da técnica FISH, foi utilizado o protocolo descrito em

Almeida et al. 5 com algumas alterações.

Na otimização do processo de hibridação, foram testadas diferentes temperaturas

de hibridação (55 ºC, 57 ºC e 59 ºC). Na análise experimental da especificidade e

sensibilidade da sonda, foram testadas várias estirpes listadas na Tabela 2.7.

Uma ansa de cultura fresca foi dissolvida em 1 ml de PBS. Foi colocado 20 µl

do inóculo anterior num poço da uma lâmina de microscopia adequada ao uso de

fluorescência (revestimento com epoxy, Marienfeld, Alemanha). Posteriormente a

lâmina foi colocada numa incubadora com temperatura entre 50 ºC a 60 ºC até secar o

inóculo.

De seguida, foram adicionados 30 µl de paraformaldeido a 4 % (v/v) (Sigma)

durante 10 min para promover a fixação celular. Seguidamente, o excesso foi removido

Capítulo 2

30

utilizando papel absorvente. Foram adicionados 30 µl de etanol 50 % (v/v) durante

10 min e depois, o excesso foi novamente removido.

Após a etapa de fixação, foram aplicados 20 µl da alíquota de uso da sonda. Foi

incluído para cada amostra um controlo negativo, sujeito às mesmas condições mas sem

adição de sonda na solução de hibridação. Cada poço foi coberto com lamela para

garantir que toda a amostra fique em contacto com a sonda. As lâminas foram colocadas

em placas de petri envolvidas em folha de alumínio, contendo papel adsorvente húmido,

e foram a incubar durante 1 h. A solução de lavagem (20 mM Tris-HCl (pH 7,2),

0,01 % SDS (v/v) e 900 mM NaCl) foi colocada em coplin-jars na estufa, junto com as

lâminas, para pré-aquecer.

No final da hibridação, as lamelas foram retiradas e as lâminas mergulhadas em

solução de lavagem durante 30 min para retirar o excesso de sondas 6. Após a lavagem,

as lâminas foram retiradas e secas durante 5 min na incubadora. No final, as lâminas

foram guardadas nas caixas de petri protegidas da luz e armazenadas a 4 ºC até à sua

observação.

Visualização microscópica

Os resultados da hibridação in situ foram analisados por microscopia de

epifluorescência com aplicação de uma gota de óleo de imersão não fluorescente

(Merck, EUA). O microscópio de epifluorescência Olympus BX51 (Olympus Portugal

SA, Porto, Portugal) possui 3 conjuntos de filtros (DAPI - 365-370/421, FITC - 470-

490/516 e TRITC - 530-550/591), objetivas a seco (10 ×, 20 ×, 40 × de ampliação) e de

imersão (60 ×, 100 × de ampliação), e uma câmara a cores para aquisição de imagem

(Olympus DP71). O software Cell-B (Olympus) foi utilizado para captação e tratamento

das imagens. Para a sonda da bactéria P. aeruginosa, o fluorocromo utilizado foi o

FAM que emite fluorescência na zona do verde utilizando-se por isso o filtro para FITC.

Desenvolvimento de sondas de LNA para aplicação na técnica de FISH

31

2.2 Resultados e discussão

2.2.1 Desenho e avaliação das sondas

Sondas para as bactérias P. aeruginosa e A. baumannii

Neste estudo foram avaliadas sondas que detetam especificamente as bactérias

A. baumannii e P. aeruginosa . Através da base de dados probebase foram pesquisadas

as sondas já descritas para estes dois microrganismos patogénicos. Foram identificadas

4 sondas, uma sonda de DNA para a região 16S do rRNA de A. baumannii e três sondas

para P. aeruginosa, das quais duas são de DNA (para as regiões 16S e 23S) e uma outra

de PNA para a região16S (Tabela 2.1).

Tabela 2.1 - Sondas descritas na literatura para P. aeruginosa e A. baumannii, juntamente com

algumas das suas características mais importantes

Microrganismo Sonda Sequência (5´-3´) Subunidade

rRNA Sonda Posição Referência

P. aeruginosa PseaerA GGTAACCGTCCCCCTTGC 16S DNA 1449 Hogardt et al.7

P. aeruginosa PseaerB TCTCGGCCTTGAAACCCC 23S DNA 1499 Hogardt et al.7

P. aeruginosa Psaer AACTTGCTGAACCAC 16S PNA 583 Malic et al.8

A. baumannii ACA ATCCTCTCCCATACTCTA 16S DNA 651 Wagner et al.9

Na avaliação teórica, as sequências das sondas de 16S foram comparadas, na

base de dados de rRNA 16S (RDP II), com um total de 200 062 sequências com mais de

1200 pares de bases (pb) e consideradas de boa qualidade. A sequência da sonda de 23S

de P. aeruginosa foi comparada, na base de dados de rRNA 23S (23S LSU, ARB

Silva), com um total de 28 681 sequências com mais de 1900 pb e consideradas

igualmente de boa qualidade.

De entre os parâmetros mais importantes no desempenho de uma sonda, os

valores da sensibilidade e especificidade são os mais informativos 6. A sensibilidade de

uma sonda mede a capacidade desta identificar corretamente a presença da bactéria

numa amostra, sendo inversamente proporcional à probabilidade de ocorrência de falsos

negativos. A especificidade mede a capacidade do teste excluir corretamente as

amostras não portadoras das bactérias para as quais foi concebida, sendo por isso

indicativa da probabilidade de ocorrência de falsos positivos.

Capítulo 2

32

Na Tabela 2.2 estão representados os valores de sensibilidade e especificidade

relativos a cada sonda, determinados com descrito no ponto 2.1.1.

Tabela 2.2 - Avaliação da sensibilidade (S) e especificidade (E) das sondas descritas na literatura

Microrganismo Sonda S (%) E (%)

P. aeruginosa PseaerA 48 99

P. aeruginosa PseaerB 64 99,7

P. aeruginosa Psaer 86 99

A. baumannii ACA 91 99

Com base nos valores apresentados pela Tabela 2.2, a sonda para P. aeruginosa

que apresentou valores mais satisfatórios foi a sonda Psaer com uma sensibilidade de

86 % e uma especificidade de 99 %. Quanto maior for o valor de sensibilidade, melhor

será o desempenho da sonda durante a hibridação.

Uma vez que a única sonda estudada de A. baumannii apresentou valores de

sensibilidade e especificidade satisfatórios (91 % e 99 %, respetivamente), esta foi

considerada uma sonda de boa qualidade.

Para além de assegurar uma elevada especificidade e sensibilidade das sondas, é

importante verificar se poderá ocorrer hibridação cruzada de cada uma das sondas com

a outra espécie a utilizar nos ensaios de biofilme misto. Além disso, é desejável que

exista mais que um mismatch (um nucleótico não emparelhado) entre a sonda e a

sequência não alvo, de forma a proporcional uma excelente descriminação das espécies.

Por este motivo, após a escolha das sondas, procedeu-se à verificação de analogia entre

as estirpes e as sondas (Figura 2.1), através do programa ClustralW2

(http://www.ebi.ac.uk/Tools/msa/clustalw2/), que permite o alinhamento e análise

múltipla de sequências conforme a sua semelhança.

Desenvolvimento de sondas de LNA para aplicação na técnica de FISH

33

Figura 2.1 - Alinhamento das sequências de rRNA das espécies em estudo com as sondas Psaer (A) e ACA (B) no ClustralW2.

Através da Figura 2.1, é possível verificar que a sonda de Acinetobacter não

apresentava complementaridade com a sequência de rRNA 16S de P. aeruginosa e vice-

versa. Na verdade, cada uma das sondas possui 3 mismatches para a sequência não-alvo,

o que indicia um elevado poder de discriminação sem necessidade de condições de

restringência extremas na etapa de hibridação.

Sondas para os fagos de P. aeruginosa e A. baumannii

A primeira abordagem no desenho das sondas para fagos, passou por tentar

encontrar regiões altamente conservadas nos diferentes genomas depositados nas bases

de dados. Esta abordagem iria permitir a utilização das sondas num grupo alargado de

fagos.

Na análise da base de dados do NCBI, foram identificados 49 genomas de fagos

de P. aeruginosa e 5 de A. baumannii. Dos 49 genomas de fagos de P. aeruginosa

foram escolhidos 5 completos e anotados, pertencentes à família Siphoviridae, família à

qual pertence o fago que será utilizado neste estudo. Foram também selecionados os

únicos 5 fagos de A. baumannii. Este conjunto de sequências foi depois utilizado para

identificar regiões genómicas altamente conservadas com recurso ao software

CoreGenes3.0. Após a introdução dos números de acesso dos fagos no programa foram

obtidos os genes das regiões mais conservadas (Figura 2.3).

Capítulo 2

34

Figura 2.2 - Análise CoreGenes3.0 das sequências genómicas dos fagos de Acinetobacter e

Pseudomonas.

Esta análise mostrou que os genes mais conservados para os fagos de

Pseudomonas são os que codificam para a proteína da cauda contráctil (tail protein).

Para Acinetobacter os genes mais conservados são os que codificam para a major

capsid protein. Estes resultados corroboram os dados descritos na bibliografia que

indicam estes genes como bastante conservados 10,11.

Após esta análise, as sequências destes genes forma recolhidas no NCBI e

alinhadas com recurso ao ClustralW2 para se identificar regiões conservadas. Procedeu-

se à identificação de regiões análogas entre os genes com um mínimo de 15 bp

e realizou-se uma pesquisa BLAST para avaliar a sua sensibilidade.

Em relação ao fago de Pseudomonas, as sequências dos genes que codificam

para a tail eram bastante distintas e não foi possível obter regiões conservadas com boa

sensibilidade. Contrariamente, as sequências que codificam para major capid protein de

Acinetobacter apresentaram varias regiões conservadas (como por

exemplo: 5´ ATGGGTATGGTACGTCGT 3´) que detetavam os cinco existentes.

Contudo, a análise morfológica do fago de A. baumannii que será utilizado neste estudo

mostrou que este pertence à família Podoviridae, enquanto os 5 fagos presentes na base

de dados são todos pertencentes à família Myoviridae.

Desenvolvimento de sondas de LNA para aplicação na técnica de FISH

35

Assim, a única estratégia possível no desenho das sondas passou por sequenciar

total ou parcialmente os genomas dos fagos em estudo, phiIBB-PAP1 (fago de

Pseudomonas) e phiIBB-Aba1 (fago de Acinetobacter), de forma a desenhar sondas

específicas para as suas sequências. Assim, optou-se por sequenciar o gene que codifica

para a major capsid protein, uma vez que, tal como mencionado anteriormente, está

descrita como muito conservada 10,11. Contudo, para o fago de Pseudomonas utilizado

neste estudo, phiIBB-PAP1, não foi possível obter a sequência que codifica a major

capsid protein. Portanto, um fago muito semelhante em termos de morfologia e espectro

de ação (fago phiIBB-PAA2) foi selecionado para o desenho da sonda e foi depois

usado nos ensaios de microscopia.

Após a obtenção das sequências dos genes da major capsid protein dos fagos

phiIBB-Aba1 (Acinetobacter) e phiIBB-PAA2 (Pseudomonas), foram realizadas

análises com recurso ao BLAST. Apesar de não ser necessário procurar regiões

conservadas, uma vez que a sequência exata do gene é conhecida, esta análise permitiu

escolher uma região que se mantenha noutros fagos de Acinetobacter ou Pseudomonas,

tentando assim obter uma maior abrangência para as sondas desenvolvidas.

Desta análise, foi possível verificar que o gene da major capsid protein do fago

phiIBB-PAA2 apresentava regiões análogas com os fagos LUZ24 e o PaP3, também

específicos para Pseudomonas. Os genes foram alinhados no ClustralW e escolhidas

sequências conservadas com 15 bp. Com uma nova análise BLAST destas sequências

verificou-se que uma das sequências permitia detetar 7 sequências de fagos para

Pseudomonas (AACAACGAGAAGTCC). Esta sequência foi então escolhida para o

desenho da sonda, e denominada de PGPseLO.

Para o fago de Acinetobacter (phiIBB-Aba1) a sequência do gene da

major capsid protein foi comparada com a sequência de um fago muito semelhante

(phiIBB-Aba2 – fago do grupo de investigação e não depositado na base de dados) com

recurso ao ClustralW e selecionadas regiões conservadas nos dois fagos.

Após uma análise BLAST das regiões selecionadas, foram obtidas 6 sequências

que detetavam somente os dois fagos em estudo. Para selecionar a sonda com as

melhores características, foram calculadas as temperaturas de melting e energias livres

de ligação (∆G) para duplexes DNA / DNA usando as metodologias de cálculo

empregadas nos estudos de SantaLucia et al. 12 (Tabela 2.3). Apesar das sondas

selecionadas serem ainda alvo de adaptação na LNA na próxima secção, e portanto

Capítulo 2

36

sujeitas a nova avaliação termodinâmica, esta comparação irá permitir selecionar uma

sonda com parâmetros termodinâmicos relativamente semelhantes aos da sonda para o

fago de Pseudomonas.

Tabela 2.3 - Sequências possíveis param a sonda dos fagos phiIBB-Aba1 e phiIBB-Aba2 e os seus

parâmetros termodinâmicos. A sonda do fago phiIBB-PAA2 foi também incluída para comparação

Fago Sequencia (5'-3') Tm (ºC) ΔG (Kcal/mol)

phiIBB-Aba1

e phiIBB-Aba2

ATGGCAGGTGCTAAT 45,4 -16,27

CGGTAGATACTCAGT 44,2 -16,04

AAAGCCCCAGCTTGG 52,2 -18,14

ATACGTTCTCAGCGT 46,6 -16,92

CCACGTTCTAAGTCT 46,8 -16,75

TACTCTATGTTCACT 36,4 -13,6

phiIBB-PAA2 AACAACGAGAAGTCC 46 -16,49

Comparando as Tm e ΔG da Tabela 2.3, a sequência que apresentava valores

aproximados à Tm (46 ºC) e ΔG (-16,49 Kcal / mol) da sonda de Pseudomona foi a

sequência 5´ATACGTTCTCAGCGT 3´, tendo sido então escolhida para o desenho da

sonda. A sonda foi posteriormente denominada PGAciLO.

As sondas, uma vez escolhidas, foram adaptadas para oligonucleótidos de LNA

e 2’-O-metil (Tabela 2.4). Esta combinação foi selecionada por estar descrito que

sondas compostas LNA+2’-O-metil, num rácio de 1:2, permitem obter desempenhos

superiores em termos de sensibilidade e rácio sinal/ruído de fundo aos das sondas

compostas unicamente por LNA 3.

Esta informação é particularmente importante para este estudo, uma vez que, no

caso dos fagos, se pretende detetar mRNA, uma molécula altamente instável e presente

em quantidades muito inferiores ao rRNA.

Um dos parâmetros físico-químicos e termodinâmicos mais importantes é a

afinidade. A afinidade de uma sonda para a sua sequência alvo é geralmente avaliada

pelos valores de energia livre de Gibbs (ΔG). Outro parâmetro importante na avaliação

de uma sonda é a temperatura de melting (Tm). Parâmetros como a entropia (ΔS) e a

entalpia (ΔH) são características importantes para o cálculo da Tm. Sabe-se que quanto

Desenvolvimento de sondas de LNA para aplicação na técnica de FISH

37

maior a Tm maior será a estabilidade térmica e afinidade da sonda 13. Assim, quanto

mais estável for a sonda de LNA, mais tolerante será às altas temperaturas.

Uma vez que o estudo assenta num estudo multiplex, é essencial que as sondas

apresentem Tm próximas. Assim, a primeira etapa foi calcular a Tm pelo programa

RNA Chemistry Laboratory (http://rnachemlab.ibch.poznan.pl/calculator2.php) e

verificou-se que a sonda ACA apresentava valores bastante elevados quando comparada

com as restantes sondas, assim a sonda ACA foi reduzida para 15 nucleótidos com a

finalidade de aproximar a Tm às restantes sondas, retirando os nucleótidos das

extremidades (Tabela 2.4). Esta redução do número de bases não comprometeu os

valores de sensibilidade e especificidade.

Tabela 2.4 - Tm para as sondas de LNA/2-O-metil para as bactérias e fagos

Microrganismo Sonda Sequência (5´-3´) Tm (ºC)

A. baumannii ACA lTmCmClTmCmTlCmCmClAmTmAlCmTmC 122,9

P. aeruginosa Psaer lAmAmClTmTmGlCmTmGlAmAmClCmAmC 113,9

Fago de A. baumannii

(phiIBB-Aba1) PGAciLO lAmTmAlCmGmTlTmCmTlCmAmGlCmGmT 112,3

Fago de P. aeruginosa

(phiIBB-PAA2) PGPseLO lAmAmClAmAmClGmAmGlAmAmGlTmCmC 111

Após esta análise, foram calculados os restantes parâmetros físico-químicos

utilizando o mesmo programa de cálculo (Tabela 2.5).

Capítulo 2

38

Tabela 2.5 - Valores dos parâmetros termodinâmicos das sondas. Energia livre de Gibbs (ΔG), entropia (ΔS), entalpia (ΔH) e teor em GC (GC)

Microrganismo Sonda ΔG (Kcal/mol) ΔS (Kcal/mol) ΔH

(Kcal/mol)

GC

(%)

A. baumannii ACA -35,89 -327 -137,3 53,3

P. aeruginosa Psaer -32,89 -328,9 -134,9 46,7

Fago de Acinetobacter

(phiIBB-Aba1) PGAciLO -22,47 -197,7 -83,8 46,6

Fago de Pseudomonas

(phiIBB-PAA2) PGPseLO -31,47 -323 -131,7 46,6

Os valores aproximados da Tm e ΔG total entre as sondas, é um bom indicativo

facilitando o processo de otimização durante o procedimento experimental multiplex.

De notar que apesar de existir uma pequena discrepância entre alguns dos valores, como

é o caso dos valores de ΔG, ΔS e ΔH da sonda PGPseLO, o seu acerto implicaria uma

descida da Tm, que não é desejável neste caso.

No final desta análise, foram escolhidos fluorocromos estáveis 14 com espetros

de emissão em diferentes canais, sem sobreposição ou com sobreposição mínima

(Tabela 2.6).

Tabela 2.6 - Fluorocromos associados às sondas

Sonda Fluorocromos Excitação (nm) Emissão (nm) Cor

ACA Cy5 650 670 Vermelho

Psaer FAM 492 518 Verde

PGAciLO Cy3 650 565 Laranja

PGPseLO

Desenvolvimento de sondas de LNA para aplicação na técnica de FISH

39

2.2.2 Otimização das condições de hibridação para LNA FISH

Para garantir uma boa aplicação das sondas na técnica de FISH, as condições de

hibridação e de lavagem devem estar entre os valores de temperatura, pH, força iónica e

formamida bem definidos, de modo a garantir que a sonda tenha acesso e hibridize com

sucesso a sequência alvo 6.

Quando cumpridos todos os requisitos teóricos no desenho de sondas, a variação

da temperatura é geralmente suficiente para maximizar o sinal de fluorescência obtido.

Assim, a otimização das condições de hibridação começou com o teste de temperaturas

de hibridação entre 55 ºC e 59 ºC (Figura 2.3).

Figura 2.3 - Imagens de microscopia de epifluorescência de P. aeruginosa PAO1 aplicando a sonda

de LNA/2-O-metil Pser. São apresentadas amostra com uma temperatura de hibridação de

55 ºC (A); 57 ºC (B) e 59 ºC (C).

Após análise microscópica, verificou-se que a temperatura que permitiu obter

um sinal mais forte e, simultaneamente, com menos ruído foi 59 ºC, sendo a

temperatura de hibridação aplicada nos trabalhos posteriores. Uma vez que o método de

hibridação foi otimizado, a especificidade e sensibilidade da sonda Pser foram testadas.

Procedeu-se assim, à aplicação da técnica de FISH em 12 estirpes de Pseudomonas,

3 espécies pertencentes à família Pseudomonadaceae e uma estirpe de Acinetobacter

(família Moraxellaceae). Na Tabela 2.7 estão representados os resultados do teste de

especificidade e sensibilidade da sonda Pser. Enquanto que na Figura 2.4 é possível

visualizar imagens de microscopia, usando os filtros verde e vermelho para algumas das

estirpes, alvo e não alvo, de forma a garantir que o sinal obtido é de facto o resultado da

hibridação bem-sucedida da sonda e não da autofluorescência, como da possível

interferência com as restantes sondas posteriormente aplicadas em multiplex.

Capítulo 2

40

Tabela 2.7 - Resultados do teste de especificidade e sensibilidade da sonda de Pser

Microrganismo Resultado

LNA FISH

P. aeruginosa PAO1 +

P. aeruginosa ATCC 10145 +

P. aeruginosa ATCC Wbpl +

P. aeruginosa ATCC M1 +

P. aeruginosa ATCC M3 +

P. aeruginosa ATCC M4 +

P. aeruginosa ATCC M5 +

P. aeruginosa ATCC M6 +

P. aeruginosa W2XKO +

P. aeruginosa PMKW +

Pseudomonas fluorescence (PF7a) -

Pseudomonas putida -

A. baumannii Aba1 -

Desenvolvimento de sondas de LNA para aplicação na técnica de FISH

41

FITC - 470-490/516

Filtro verde

TRITC - 530-550/591

Filtro vermelho

P.

ae

rug

ino

sa

AT

CC

10

14

5

P.

flu

resc

en

ce

PF

7a

A.

ba

um

an

nii

AB

1

Figura 2.4 - Imagens de microscopia de epifluorescência para as estripes P. aeruginosa ATCC

10145, P. fluorescence PF7a e A. baumannii AB1 após hibridação com a sonda Psaer a 59 ºC. Nas

colunas estão representados os filtro de microscopia (FITC e TRITC) e nas linhas as espécies

utilizadas. A experiência foi realizada simultaneamente, e as imagens foram obtidas com tempos de

exposição iguais.

Como apresentado pela Tabela 2.7, as estirpes de P. aeruginosa foram detetada

pela sonda Pser, e como seria de esperar, não foi observada nenhuma hibridação para as

outras espécies utilizadas reconhecendo apenas as sequências complementares

(Figura 2.4) 6.

Capítulo 2

42

2.2.3 Conclusão

Em suma é possível concluir que o processo de FISH utilizando a sonda de LNA

é um método sensível e especifico para a deteção da bactéria P.aeruginosa apresentando

uma temperatura ótima de hibridação de 59 ºC.

2.3 Referências

1. Almeida, C., Azevedo, N. F., Fernandes, R. M., Keevil, C. W. & Vieira, M. J. Fluorescence in situ hybridization method using a peptide nucleic acid probe for identification of Salmonella spp. in a broad spectrum of samples. Appl. Environ. Microbiol. 76, 4476–85 (2010).

2. Mahadevan, P., King, J. F. & Seto, D. CGUG: in silico proteome and genome parsing tool for the determination of “core” and unique genes in the analysis of genomes up to ca. 1.9 Mb. BMC Res. Notes 2, 168 (2009).

3. Søe, M. J., Møller, T., Dufva, M. & Holmstrøm, K. A sensitive alternative for microRNA in situ hybridizations using probes of 2’-O-methyl RNA + LNA. J. Histochem. Cytochem. 59, 661–72 (2011).

4. Igloi, G. L. Variability in the stability of DNA-peptide nucleic acid (PNA) single-base mismatched duplexes: real-time hybridization during affinity electrophoresis in PNA-containing gels. Proc. Natl. Acad. Sci. U. S. A. 95, 8562–7 (1998).

5. Almeida, C., Azevedo, N.F., Fernandes, Iversen, C., Fanning, S., R.M, Keevil, C.W., Vieira, J. V. Development and Amplication of a Novel Pepetide Nucleic Acid Probe for the Specific Detection of Cronobacter Genomospecies (Enterobacter sakasakii) in Powdered Infant Formula. Appl. Environ. Microbiol. 75, 2925–2930 (2009).

6. Cerqueira, L. et al. DNA mimics for the rapid identification of microorganisms by fluorescence in situ hybridization (FISH). Int. J. Mol. Sci. 9, 1944–60 (2008).

7. Hogardt, M. et al. Specific and rapid detection by fluorescent in situ hybridization of bacteria in clinical samples obtained from cystic fibrosis patients. J. Clin. Microbiol. 38, 818–25 (2000).

8. Malic, S. et al. Detection and identification of specific bacteria in wound biofilms using peptide nucleic acid fluorescent in situ hybridization (PNA FISH). Microbiology 155, 2603–11 (2009).

9. Wagner, M. et al. Development of an rRNA-targeted oligonucleotide probe specific for the genus Acinetobacter and its application for in situ monitoring in activated sludge. Appl. Environ. Microbiol. 60, 792–800 (1994).

Desenvolvimento de sondas de LNA para aplicação na técnica de FISH

43

10. Hambly, E. et al. A conserved genetic module that encodes the major virion components in both the coliphage T4 and the marine cyanophage S-PM2. Proc. Natl. Acad. Sci. U. S. A. 98, 11411–6 (2001).

11. Xu, J., Hendrix, R. W. & Duda, R. L. Conserved translational frameshift in dsDNA bacteriophage tail assembly genes. Mol. Cell 16, 11–21 (2004).

12. SantaLucia, J., Allawi, H. T. & Seneviratne, P. A. Improved nearest-neighbor parameters for predicting DNA duplex stability. Biochemistry 35, 3555–62 (1996).

13. Armitage, B. A. The impact of nucleic acid secondary structure on PNA hybridization. Drug Discov. Today 8, 222–8 (2003).

14. Gu, Q., Sivanandam, T. M. & Kim, C. A. Signal stability of Cy3 and Cy5 on antibody microarrays. Proteome Sci. 4, 21 (2006).

Capítulo 3

Caracterização da infeção fágica de biofilmes de Acinetobacter baumannii

Caracterização da infeção fágica de biofilmes de Acinetobacter baumannii

47

3 Caracterização da infeção fágica de biofilmes de Acinetobacter baumannii As infeções causadas por A. baumannii têm aumentado drasticamente nos últimos

anos muito devido à sua capacidade de formar biofilmes e à crescente resistência

deste microrganismo aos antimicrobianos convencionais. O uso de fagos como

alternativa preventiva e terapêutica tem sido descrito como uma solução promissora 1.

No trabalho descrito neste capítulo caracterizou-se a formação de biofilmes de

A. baumannii AB1 e avaliou-se a eficácia do fago philBB-Aba1 nos biofilmes

formados.

Nesta secção, encontram-se também descritas algumas das características não só

do fago acima mencionado mas também do fago phiIBB-Aba2 específico para o

hospedeiro A. baumannii AB2.

3.1 Materiais e métodos

3.1.1 Estirpes bacterianas, fagos e condições de crescimento

Neste estudo, utilizou-se a bactéria A. baumannii (isolado clínico AB1),

cultivada em meio nutritivo Luria-Bertani (LB) (nzytech, Portugal) em placas de petri

com meio sólido de LB (1,2 % (p/v) de agar (Liofilchem, Itália)), preparados de

acordo com as instruções do fabricante e devidamente esterilizados no autoclave a

120 ºC durante 15 min.

Os bacteriófagos utilizados neste estudo foram o philBB-Aba1 e o philBB-

Aba2, previamente isolados, pertencentes à coleção de fagos do grupo de

Biotecnologia de Bacteriófagos da Universidade do Minho.

3.1.2 Curva de calibração densidade ótica vs células viáveis

Uma vez que em todos os processos de infeção fágica é determinante saber

exatamente o número de células viáveis para estimar a multiplicidade de infeção

(do inglês Multiplicity of Infection (MOI) (razão entre o número de fagos / número de

células)) foi necessário realizar uma curva de calibração entre a Densidade Ótica

(D.O.) e o número de células viáveis existentes em biofilme. Para tal, uma suspensão

bacteriana foi diluída de forma a obterem-se suspensões celulares com D.O.620nm

compreendidas num intervalo de 0,1 a 1,4. Cada suspensão foi diluída e após

Capítulo 3

48

plaqueamento as placas de petri foram incubadas a 37 ºC para posterior determinação

do número de células viáveis existentes (CFU, do inglês Colony Forming Unit)

através da equação:

3.1.3 Curva de crescimento de A. baumannii

Para a curva de crescimento de A. baumannii (AB1), inoculou-se num matraz

de 100 ml, 50 ml de meio LB com um pré-inóculo crescido durante 16 h de forma a

perfazer uma D.O.620nm inicial de 0,1. A suspensão foi incubada (Biosan, Letónia) a

37 ºC com agitação (120 rpm) e foram retiradas amostras de 2 em 2 h durante um

período de 24 h. Para cada amostra efetuaram-se diluições seriadas (1:10) para a

determinação do número de células viáveis.

3.1.4 Produção e concentração do fago phiIBB-Aba1

A produção de fago foi efetuada de acordo com a técnica de dupla camada 2

usando placas de petri com meio sólido de LB às quais foram adicionados 200 µl de

suspensão bacteriana (crescida durante 16 h) e 3 ml de LB com 6 % (p/v) de agar

(top agar, 45 ºC). Deixou-se solidificar a camada de agar e de seguida adicionaram-se

uma gota (5 µl a 10 µl) de fago philBB-Aba1 que, com a ajuda de uma tira de papel

estéril, foi distribuída uniformemente pela superfície do top agar, de forma a garantir a

máxima cobertura (máximo de replicação) pelos fagos. Este procedimento foi repetido

em várias placas e incubadas durante 12 h a 16 h a 37 ºC. Seguidamente adicionou-se

a cada placa 3 ml a 5 ml de SM Buffer (5,8 gl-1 de NaCl (Panreac, Espanha), 2,0 gl-1

de MgSO4.7H2O (Panreac, Espanha) e 5 % do preparado 1M Tris-HCl (pH de 7,5)

(Biorad, Portugal)) e incubou-se durante 16 h a 4 ºC sob lenta agitação (80 rpm), para

permitir a passagem para a fase líquida para posterior concentração e purificação.

Resumidamente, após a recolha do SM Buffer contendo fagos, para matrazes

adicionou-se NaCl (0.584 g / 10 ml de solução) e após uma agitação lenta para

dissolução do NaCl incubou-se o matraz a 4 ºC (sob agitação lenta). Posteriormente,

centrifugou-se (Sigma, Portugal) a solução a 9500 × g, 10 min, 4 ºC, verteu-se o

sobrenadante para um novo matraz e adicionou-se o polietilenoglicol (PEG 8000,

Caracterização da infeção fágica de biofilmes de Acinetobacter baumannii

49

Fisher) a 10 % (p/v) 3. A solução foi incubada durante 16 h (4 ºC a 100 rpm) e

centrifugada (9500 × g, 10 min, 4 ºC). O pellet contendo os fagos foi resuspendido

num volume de 5-6 ml de SM Buffer e a esta solução adicionou-se clorofórmio (25 %

(v/v), Sigma), a solução foi bem homogeneizada no vortex durante 30 s. De seguida

procedeu-se à centrifugação (3000 × g, 15 min, 4 ºC), recolheu-se e filtrou-se

(0,2 µm) a fase aquosa superior contendo fago e este foi guardado a 4 ºC até à sua

utilização.

3.1.5 Determinação da concentração do fago

Para a determinação do número de placas fágicas, foi utilizado o método da

microgota 4, e para tal realizaram-se diluições sucessivas de 1:10 em microplacas de

96 poços (Orange Scientific, Bélgica) (20 µl de suspensão fágica em 180 µl de

tampão SM Buffer). Foram adicionados 20 µl de cada diluição do fago a 20 µl

suspensão bacteriana crescida durante 16 h, seguida de incubação de 10 min (37 ºC,

120 rpm). Após a incubação 20 µl de cada diluição foram plaqueadas em placas de

LB agar de 1,2 % (p/v) e as gotas deixadas secar antes de as placas de petri serem

colocadas, invertidas, na incubadora (16 h, 37 ºC). Posteriormente determinou-se o

número de fagos (tendo em conta a diluição que continha um número de placas

fágicas compreendida entre 3 a 30) segundo a equação:

3.1.6 Curva de Crescimento do fago (OSGC)

As curvas de crescimento do fago phiIBB-Aba1 (OSGC, do inglês One Step

Growth Curve) foram realizadas como descrito por Rahman et al. 5 mas com algumas

modificações. Resumidamente, culturas bacterianas na fase exponencial

(D.O.620nm: 0,5), foram centrifugadas 10 ml (7000 × g, 5 min, 4 ºC) e ressuspendidas

em 5 ml de meio LB. A esta suspensão foram adicionados 5 ml de solução de fago até

atingir uma MOI de 1 e deixou-se o fago adsorver ao hospedeiro durante 5 min a

37 ºC (120 rpm). A suspensão foi centrifugada (7000 × g, 5 min, 4ªC) e o pellet

ressuspenso em 10 ml de meio LB. A suspensão, contendo apenas os fagos

adsorvidos, foi incubada a 37 ºC (120 rpm) e foram retiradas 2 amostras a

Capítulo 3

50

determinados tempos durante a duração da experiência (1 h) para determinação do

número de fagos (3.1.5).

3.1.7 Formação de biofilme

Os biofilmes de A. baumannii foram formados no fundo de microplacas de 24

poços (Orange Scientific, Bélgica) contendo 1 ml de meio LB e 10 µl de suspensão

bacteriana a uma D.O.620nm de 1. As microplacas foram incubadas a 37 ºC, sob

agitação (120 rpm), durante diferentes tempos, tendo-se feito uma mudança de meio

após 24 h de formação de biofilme. Antes do plaqueamento das amostras, os poços

foram lavados duas vezes com NaCl (0,9 %) (v/v) para remover todas as células

plantónicas, de seguida foram raspados (com a ajuda de uma ponta amarela) para

desprender os biofilmes e foram efetuadas diluições seriadas (1:10) com NaCl em

microplacas de 96 poços. Gotas de 20 µl de cada diluição foram plaqueadas em placas

de petri contendo LB agar de 1,2 % (p/v). A determinação do número de células

viáveis existentes nos biofilmes foi realizada tal como descrita anteriormente (3.1.2) e

a biomassa total no biofilme quantificada pelo método de violeta cristal 6 (ver ponto

3.1.8), sendo que foram realizados 3 ensaios independentes.

3.1.8 Quantificação da biomassa total

Após a lavagem do biofilme (2 ×) com solução salina (0,9 % NaCl (v/v)),

adicionou-se 1ml de metanol (100 %, Fisher EUA) e deixou-se a placa durante 15

min. Após este período, o metanol foi retirado e a placa de 24 poços deixada a secar.

Seguidamente, adicionou-se 1ml de violeta cristal (1 % (v/v), Merck, EUA) a cada

poço e deixou-se a placa à temperatura ambiente durante 5 min. O cristal violeta foi

removido, os poços lavados com água e finalmente adicionou-se 1ml de ácido acético

(33 % (v/v), Fisher). Foi retirado um volume de 250 µl de cada poço que foi

transferido para uma microplaca de 96 poços e a absorvância lida num leitor de

ELISA (Bio-Tek, EUA) a 570 nm. Para cada experiência, foram realizados três

ensaios independentes.

3.1.9 Infeção Fágica de Biofilmes

Os biofilmes de A. baumannii, foram formados como descrito em 3.1.7, sob

condições dinâmicas (120 rpm, 37 ºC). Após o crescimento durante 12 h e/ou 24 h, o

Caracterização da infeção fágica de biofilmes de Acinetobacter baumannii

51

biofilme foi lavado tal como descrito no ponto 3.1.7 com NaCl 0,9 % (v/v) e

posteriormente adicionaram-se 900 µl de meio fresco de LB e 100 µl de fago de

forma a ter uma MOI de 1 sendo que no controlo a concentração de fago foi

substituída por 100 µl de SM Buffer. Após a adição de fago, as placas de 24 poços

foram a incubar (37 ºC, 120 rpm) e foram recolhidas amostras após 6 h de infeção em

biofilmes de 12 h e após 6 h e 24 h de infeção em biofilmes de 24 h. Para cada ensaio

foi efetuado um controlo. Foi também analisado o efeito do fago em biofilmes com a

matriz danificada e para tal, biofilmes de 24 h foram sujeitos a raspagem e posterior

infeção fágica.

As bactérias viáveis e os fagos presentes foram determinados pela contagem

de células viáveis e fagos tal como descrito no ponto 3.1.2 e 3.1.5, sendo realizados

3 ensaios independentes.

3.1.10 Análise estatística

Os resultados são apresentados como a média ± desvio padrão de pelo menos

duas repetições, utilizando o software Microsoft Office Excel como ferramenta de

análise.

Os resultados mais relevantes foram analisados pelo teste ANOVA aplicando o

modelo estatístico Tukey que compara várias condições em simultâneo. Uma

diferença foi considerada estatisticamente significativa quando p < 0,05. As análises

estatísticas foram realizadas utilizando o software GraphPad (San Diego, EUA).

3.1.11 Análise das proteínas estruturais do fago

As proteínas estruturais do fago foram analisadas usando a técnica de

SDS-PAGE 7, com algumas alterações. Para a preparação das proteínas do fago, 1ml

de fago concentrado foi precipitado por adição de acetona (4 % (v/v), Sigma) gelada.

As amostras foram centrifugadas (1600 × g, 20 min, 4 ºC), o sobrenadante foi

descartado e o pellet foi deixado a secar até toda a acetona estar evaporada 8.

Adicionou-se tampão de aplicação (2 ×) (Tris-HCl 125 mM (pH 6,8) (v/v), glicerol

(20 % (p/v), Biorad), β- mercaptoetanol (1 % (v/v), Sigma), azul de bromofenol

(0,01 % (p/v), Biorad) e SDS (4 % (p/v), Biorad)) às amostras e estas foram aquecidas

durante 5 min num banho a 100 ºC para desnaturar as proteínas e posteriormente

colocadas em gelo para arrefecer. Adicionaram-se 15 µl da amostra a cada poço de

Capítulo 3

52

géis de gradiente de policrilamida (Mini Precast Polyacrylamide Gel, Advansta,

California), tendo a eletroforese decorrido em 1× TGS (25 mM Tris), 192 mM glicina

(Sigma), e 91 % (p/v) SDS com pH 8,3), a 80 V durante 6 h a 7 h.

Após a eletroforese, os géis foram colocados em solução de fixação (etanol

(50 % (v/v) (Sigma)), ácido acético (12 % (v/v)); formaldeído (0,05 % (v/v) (Sigma))

e colocados sob agitação lenta durante aproximadamente 2 h. A solução foi descartada

e os géis foram colocados por duas vezes imersos em solução de lavagem (etanol

20 % (v/v)) durante 20 min. A solução foi removida e adicionou-se solução de

sensibilização (tiossulfato de sódio 0,02 % (p/v), Sigma) durante 2 min. A solução de

sensibilização foi retirada e foi adicionada água ultra pura (2 × 1 min). De seguida os

géis foram colocados numa solução de nitrato de prata 0,2 % (p/v), Sigma) e 0,076 %

(v/v) formaldeído durante 30 min. O nitrato de prata foi removido e os géis lavados

duas vezes com água ultra pura durante 10 seg. Posteriormente aos géis foi adicionada

a solução de revelação (0,05 % (v/v) formaldeído), carbonato de sódio (6 % (p/v),

Panreac)) e tiossulfato de sódio 0,0004 % (p/v)) até os géis revelarem a cor desejada.

Finalmente a reação foi parada com solução de paragem (ácido acético 12 % (v/v))

durante 1 min. O peso molecular das proteínas foi estimado com base na sequência

dos seus aminoácidos, utilizando os marcadores Kaleidoscope Prestained Standards

(Bio-Rad) e Low Molecular Weight Protein Marker (nzytech).

3.1.12 Preparação de amostras de biofilmes e análise

microscópica

As amostras de biofilme utilizadas para a análise microscópica foram

realizadas em superfícies de polistireno e de vidro sob as condições de crescimento,

infeção fágica e lavagem anteriormente descritas. Na formação de biofilmes em vidro,

superfícies de vidro com 2,5 × 2,5 cm2 foram introduzidos em microplacas de 6 poços

(Orange Scientific, Bélgica) seguindo o mesmo protocolo utilizado na superfície de

polistireno. O crescimento do biofilme em polistireno corresponde à sua formação no

fundo dos poços das microplacas.

Após a formação do biofilme ou infeção com fagos, procedeu-se à fixação das

amostras adicionando-se 1 ml de metanol (100 %) durante 20 min. Seguidamente foi

retirado o metanol e após estar totalmente seco, adicionaram-se 100 µl de

paraformaldeido a 4 % (v/v) (Sigma), solução essa que permaneceu em contacto

durante 10 min e no final foi removido e foram adicionados 100 µl de etanol 50 %

Caracterização da infeção fágica de biofilmes de Acinetobacter baumannii

53

(v/v). Após 10 min este foi removido e deixou-se secar à temperatura ambiente. Após

a fixação, as amostras de polistireno foram cortadas com um bisturi aquecido na

chama formando cupões com uma dimensão aproximada de 2,5 cm × 2,5 cm. No

final, as amostras (polistireno e vidro) foram colocadas em placas de petri envolvidas

em folha de alumínio, contendo papel adsorvente húmido no interior para evitar a

desidratação da amostra e armazenadas a 4 ºC. As amostras foram coradas, com 50 µl

de uma solução 1 µg/ml de 4',6-diamidino-2-fenilindole (DAPI, do inglês

4′,6-diamidino-2-phenylindole) (Sigma) durante 10 min. Seguidamente as lamelas

foram retiradas e deixadas a secar durante 5 min, coladas com verniz em lâmina de

microscopia para que seja possível a sua visualização no microscópio e armazenadas a

4 ºC até à sua observação.

3.2 Resultados e Discussão

3.2.1 Curva de calibração D.O. vs células viáveis e Curva de

crescimento de A. baumannii

Foi realizada uma curva de calibração entre a D.O.620 nm e o número de células

viáveis existentes (Anexo I), para que seja possível estimar a multiplicidade da

infeção (MOI) necessária para os ensaios de infeção fágica dos biofilmes.

Foi também caracterizado o crescimento de A. baumannii AB1 durante 24 h

(Figura 3.1).

Figura 3.1 – Curva de crescimento bacteriano de A. baumannii AB1. As barras de erros

representam o desvio padrão em relação à média.

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

0 5 10 15 20 25

D.O

. (62

0 n

m)

tempo (horas)

Capítulo 3

54

De acordo com os resultados obtidos a taxa específica de crescimento (µ) é de

0,14 h-1. A fase de crescimento exponencial dura em média 17 h, apresentando uma

fase estacionária já às 20 h.

3.2.1 Formação e infeção de biofilme

Biofilmes de A. baumannii AB1 foram formados em microplacas de

polistireno com e sem infeção. A caracterização dos respetivos biofilmes foi feita com

base na contagem de unidades formadoras de colónias (CFU) ( Figura 3.2 A) e

quantificação de biomassa pela colocação de violeta de cristal (CV) ( Figura 3.2 B).

Apesar desta estratégia de formação de biofilme em microplaca não ser a ideal pois

não mimetiza condições reais, esta é uma forma rápida, simples e funcional de

avaliação de diversos parâmetros durante a formação de biofilme.

Uma vez caracterizados os biofilmes (tempo 0 que corresponde a um biofilme

de 24 h sem infeção da Figura 3.2), o fago de A. baumannii (phiIBB-Aba1) foi

aplicado tendo a infeção prosseguido durante 6 h e 24 h (MOI de 1) sendo neste caso

também contabilizados os números de fagos presentes (PFU’s) ( Figura 3.2 C) e

foram também realizados ensaios de microscopia de epifluorescência, dos biofilmes

com e sem infeção corados com DAPI ( Figura 3.2 D a G).

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0h 6h 24h

DO

(5

70

nm

)

Tempo de infeção

B

sem infeção com infeção

* * *

1,E+00

1,E+02

1,E+04

1,E+06

1,E+08

1,E+10

0h 6h 24h

log(

CFU

/ cm

2 )

Tempo de infeção

A

sem infeção com infeção

* * * 10

8

6

4

2

0

Caracterização da infeção fágica de biofilmes de Acinetobacter baumannii

55

Figura 3.2 - Infeção de biofilmes formados durante 24 h de A. baumannii AB1 e infetadas

durante 6 h e 24 h com o fago phiIBB-Aba1. A) Número de células viáveis antes e após da infeção

fágica; B) Quantificação da biomassa usando CV antes e após da infeção fágica; C) Número de

fagos (PFU) presentes nos biofilmes (aderidos) e o número de fagos libertados durante a infeção

fágica (suspensos). D) Imagens de microscopia de epifluorescência de biofilme de 30 h em

superfícies de poliestireno; E) Imagens de microscopia de epifluorescência de biofilme infetado

durante 6 h em superfícies de vidro; F) Imagens de microscopia de epifluorescência de biofilme

de 48 h em superfícies de poliestireno; G) Imagens de microscopia de epifluorescência de biofilme

infetado durante 24 h em superfícies de poliestireno. As barras de erros representam o desvio

padrão em relação à média. ** p < 0,01 e *** p < 0,001.

1,E+00

1,E+02

1,E+04

1,E+06

1,E+08

1,E+10

0h 6h 24h

log

(PFU

/ m

l)

Tempo de infeção

C

fagos suspensos fagos aderidos

* * * * 10

8

6

4

2

0

Capítulo 3

56

Os controlos de A. baumannii AB1 realizados mostram que não há grandes

variações tanto no número de células viáveis como na quantidade de biomassa total (

Figura 3.2 A e B). O fago testado nos biofilmes formados durante 24 h causou uma

redução de aproximadamente 2 log de células viáveis após 6 h (p <0,0001) de infeção,

no entanto, verificou-se que após uma exposição mais prolongada do biofilme com o

fago, existia um aumento da quantidade de células viáveis no biofilme para valores

idênticos ao número de células iniciais (t 0), o que poderá indicar o aparecimento de

fenótipos resistentes ao fago, uma conclusão já evidenciada em vários trabalhos 9–11.

Em biofilmes mais maduros (infeção durante 24 h) é normal que o fago atue de uma

forma mais lenta, uma vez que há uma predominância de células na fase estacionária,

atrasando assim o processo de infeção e de lise celular que se caracteriza por uma

atividade reduzida dos fagos.

As imagens de microscopia de epifluorescência efetuadas após 6 h de

exposição do fago ao biofilme ( Figura 3.2 E) evidenciam uma redução considerável

de células viáveis sobre o substrato, contudo as imagens microscópicas da infeção

fágica decorridas durante 24 h ( Figura 3.2 G) não apoiam os dados de células viáveis

e biomassa (gráficos da Figura 3.2A e B). Este fato pode dever-se aos processos de

tratamento das amostras para análise em microscopia. A fixação da amostra e o

processo de lavagem são métodos agressivos para o biofilme, podendo proporcionar

uma libertação da células e consequentemente redução de biofilme.

Em relação ao número de fagos, há uma maior concentração na fase plantónica

do que aderida tanto ao biofilme como à superfície do poço. Numa análise ao número

de fagos aderidos verifica-se um número estatisticamente significativo de fagos às 6 h

(p < 0,001) mas que se mantem idêntico às 24 h. Contudo, observa-se que a

concentração de fagos após a infeção é superior à inicial indicando que o fago

reproduziu-se eficientemente. O fato de haver menos fagos aderidos do que suspensos

poderá indicar que à medida que os fagos reproduzidos são libertados estes passam

maioritariamente para a fase planctónica e provavelmente só aqueles que se ligam ao

hospedeiro permanecem imersos no biofilme 12. Assumindo que as bactérias

adquiriram resistência aos fagos, este fator pode explicar o facto do número de fagos

não ter aumentado após 24 h de infeção, possivelmente devido à alteração dos

recetores específicos à superfície do hospedeiro aos quais o fago se ligava 13.

Para avaliar a influência que pode ter a idade dos biofilmes no desempenho do

fago e eventualmente compreender o mecanismo que leva à redução da atividade dos

Caracterização da infeção fágica de biofilmes de Acinetobacter baumannii

57

fagos em biofilmes de 24 h, foram realizados os mesmos ensaios mas em biofilmes

com metade do período de formação (12 h) com uma infeção de 6 h (Figura 3.3).

Figura 3.3 - Infeção de biofilmes formados durante 12 h de A. baumannii AB1 com o fago

phiIBB-Aba1. A) Número de células viáveis antes e após da infeção fágica; B) Quantificação da

biomassa usando CV antes e após da infeção fágica. As barras de erros representam o desvio

padrão em relação à média. *** representam p < 0,01.

Comparando os biofilmes de 12 h e 24 h ( Figura 3.2 A e B e Figura 3.3) não

se observou uma diferença significativa e portanto, os restantes ensaios foram todos

executados tendo em conta um período de formação de biofilmes de 24 h. Este

resultado permitiu concluir que um biofilme com uma idade inferior a 24 h não

influencia o desempenho do fago, havendo outros fatores que o possam condicionar a

sua atividade, tal como a presença da matriz.

Com efeito, vários autores referem que a matriz é um dos principais fatores

que impede a atuação de fagos em biofilmes, devido às limitações difusionais por ela

impostas e à capacidade de reterem o fago por ligações químicas mais ou menos

fortes 1,14. Assim, para analisar se a eficácia dos fagos está a ser prejudicada pela

presença da matriz, realizou-se um estudo com biofilmes formados durante 24 h mas

com raspagem do biofilme antes da infeção. Esta raspagem danifica de alguma forma

a matriz do biofilme, dispersando os componentes da matriz e desta forma, permitindo

uma maior exposição das células do biofilme ao meio envolvente, uma vez que as

células ou aglomerados de células passem para uma faze planctónica (Figura 3.4).

1,E+00

1,E+02

1,E+04

1,E+06

1,E+08

1,E+10

0h 6h

log(

CFU

/ cm

)2

Tempo de infeção

A

sem infeção com infeção

* * * 10

8

6

4

2

0

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0h 6h

DO

(5

70

nm

)

Tempo de infeção

B

sem infeção com infeção

* * *

Capítulo 3

58

Figura 3.4 - Número de células viáveis (CFU) e fagos (PFU) após raspagem de biofilme de A.

baumannii AB1 formados durante 24 h e posteriormente infetadas com o fago phiIBB-Aba1. A)

Número de células viáveis antes e após infeção fágica; B) Número de fagos presentes nos

biofilmes suspensos. As barras de erros representam o desvio padrão em relação à média.

*** p < 0,01.

Este estudo demonstra que há uma significativa redução do número de células

viáveis às 6 h (p < 0,01) comparativamente com biofilmes não raspados; no entanto,

mais uma vez se observa um aumento de células viáveis após 24 h. Esta redução às

6 h pode ser explicada pela facilidade do contacto dos fagos com as bactérias ou

aglomerados na fase planctónica aumentando a probabilidade de um fago infetar uma

bactéria.

Apesar de as placas fágicas do fago phiIBB-Aba1 mostrarem um halo em

torno das mesmas (Figura 3.5), indicativo da presença de depolimerase associada ao

fago, não é muito funcional após uma exposição prolongada do fago (infeção de

24 h). Esta observação contraria o reportado por Hughes et al. 15, que observou que as

depolimerases são eficazes na remoção de grandes quantidades de matriz, uma vez

que degradam as substâncias poliméricas extracelulares que facilita o acesso do fago a

superfícies mais profundas do biofilme.

1,E+00

1,E+02

1,E+04

1,E+06

1,E+08

1,E+10

0h 6h 24h

log(

CFU

/ cm

2 )

Tempo de infeção

A

sem infeção com infeção

* * * 10

8

6

4

2

0

1,E+00

1,E+02

1,E+04

1,E+06

1,E+08

1,E+10

0h 6h 24h

log(

PFU

/ m

l)

Tempo de infeção

B

fagos suspensos

10

8

6

4

2

0

Caracterização da infeção fágica de biofilmes de Acinetobacter baumannii

59

Figura 3.5 - Imagem de placas fágicas do fago phiIBB-Aba1.

Verma et al.16 também demostrou a importância das depolimerases na

irradiação de biofilme colonizado por Klebsiella pneumonia , observando que após um

período de tempo reduzido, a aplicação de fagos portadores de depolimerase

causavam uma redução mais expressiva quando comparado com a aplicação

individual de fago sem depolimerases. Uma vez realçada a sua importância e a

reduzida existência de fagos portadores de depolimerases, investigadores têm

desenvolvido fagos geneticamente modificados para que estes sejam capazes de

produzir depolimerases e se tornem mais eficientes demostrando a importância da

biologia sintética 17.

3.2.2 Análise das proteínas estruturais do fago

Para caracterizar os fagos phiIBB-Aba1e phiIBB-Aba2, a sua composição

proteica foi analisada por SDS-PAGE. Este estudo permite observar o número de

proteínas estruturais que os fagos apresentam e assim avaliar as

diferenças/semelhanças dos seus perfis proteicos (Figura 3.6). Esta caracterização é

fundamental para identificar a família taxonómica dos fagos e para comprovar de que

se trata de fagos diferentes.

Capítulo 3

60

Figura 3.6 - Análise por SDS-PAGE de proteínas estruturais de A. baumannii dos fagos

phiIBB-Aba2 e phiIBB-Aba1 respetivamente.

É possível observar a presença de 7 bandas no fago phiIBB-Aba2 sendo que as

mais evidentes são as que apresentam um tamanho aproximado de 37 kDa e inferior à

última banda do marcador (> 7,6 kDa) para o fago phiIBB-Aba2, enquanto que para o

fago phiIBB-Aba1 a mais evidente é a banda de 37 kDa. As duas bandas mais

intensas poderão corresponder à major capsid protein que são sempre as mais visíveis

em géis de SDS-PAGE 18,19. Tanto o fago philBB-Aba1 como o philBB-Aba2

pertencem ambos à família Podoviridae 6 20 o que realmente se confirma nos géis

havendo um elevado grau de homologia.

Caracterização da infeção fágica de biofilmes de Acinetobacter baumannii

61

3.2.3 Curva de Crescimento do fago (OSGC)

Os parâmetros de crescimento do fago philBB-Aba1 foram avaliados (Figura

3.7).

Figura 3.7 - Curva One-Step-Growth (OSG) para fago phiIBB-Aba1. As barras de erros

representam o desvio padrão em relação à média.

O fago phiIBB-Aba1 apresenta um período de latência de 10 min, um período

de aumento fágico de 15 min e por cada célula infetada libertam-se 75,45 novas

partículas fágicas. Também se observa que durante esta experiência com duração de

apenas 60 min ocorre já um segundo ciclo de replicação do fago.

3.2.4 Conclusão

Neste estudo é possível concluir que o fago phiIBB-Aba1 apresenta

capacidade lítica muito semelhante contra biofilmes de 12 h e 24 h de

A. baumannii AB1 e que a raspagem do biofilme proporciona uma maior redução das

células viáveis.

Uma das maiores preocupações na utilização de fagos como agentes de

controlo de doenças infeciosas é a capacidade das bactérias desenvolverem

mecanismos de resistência aos fagos 10. Por outro lado, os fagos apresentam uma

grande propensão para sofrerem alterações genéticas e por isso são geneticamente

instáveis 11. No que respeita ao controlo de biofilmes, os fagos enfrentam um desafio

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+02

1,E+03

1,E+04

0 20 40 60

log

(PFU

po

r cé

lula

infe

tad

a)

Tempo (min)

4

3

2

1

0

Capítulo 3

62

acrescido devido à presença da matriz polimérica que poderá dificultar o acesso dos

fagos as células 21. Neste estudo é percetível que a aplicação de fagos por curtos

períodos de tempo apresenta uma maior eficiência na redução de biofilmes. Visto que

após 24 h de infeção não foi verificada qualquer redução nem aumento do biofilme

quando comparado com o seu controlo, coloca-se assim a hipótese de que uma

exposição prolongada do fago permita às bactérias desenvolver fenótipos resistentes

aos fagos, levando a uma proliferação das mesmas em biofilme. Também,

Pires et al. 22, verificou um aumento da quantidade de células após 24 h de tratamento

com o fago phiIBB-PAP21 sugerindo a possibilidade de resistência bacteriana em

relação ao fago.

A. baumannii apresenta-se muitas vezes em comunidades mistas, associado a

outras bactérias como é o caso da bactéria P. aeruginosa 23, também formadora de

biofilme. Neste sentido torna-se relevante o estudo da eficácia de cocktails fágicos no

controlo de biofilmes mistos como será demostrado no capítulo seguinte.

3.3 Referências

1. Melo, L., Sillankorva, S. & Azeredo, J. in Biofilmes Na Saúde, no Ambient. na Indústria. Uso bacteriófagos para o Control. biofilmes. (Nuno F. Azevedo, N. C.) Porto: Publindústria. 227–236 (2012).

2. Adams, M. H. Bacteriophages. Interscience, New York, N.Y.(1959).

3. Sambrook, J. & Russell, D. Molecular Cloning A Laboratory manual 3rd ed. (2001).

4. Mazzocco, A., Waddell, T.E., Lingohr, E. & Johnson, R. P. in Bacteriophages Methods Protoc. Isolation, Characterization and Interactions, 81–8 (2008).

5. Rahman, M., Kim, S., Kim, S. M., Seol, S. Y. & Kim, J. Characterization of induced Staphylococcus aureus bacteriophage SAP-26 and its anti-biofilm activity with rifampicin. Biofouling. 27, 1087–93 (2011).

6. Pires, D., Sillankorva, S., Faustino, A. & Azeredo, J. Use of newly isolated phages for control of Pseudomonas aeruginosa PAO1 and ATCC 10145 biofilms. Res. Microbiol. 162, 798–806 (2011).

7. Schägger, H. & von Jagow, G. Tricine-sodium dodecyl sulfate-polyacrylamide gel electrophoresis for the separation of proteins in the range from 1 to 100 kDa. Anal. Biochem. 166, 368–79 (1987).

Caracterização da infeção fágica de biofilmes de Acinetobacter baumannii

63

8. O’Flaherty, S. et al. Genome of Staphylococcal Phage K: a New Lineage of Myoviridae Infecting Gram-Positive Bacteria with a Low G+C Content. J. Bacteriol. 186, 2862–2871 (2004).

9. Soothill, J. S. Treatment of experimental infections of mice with bacteriophages. J. Med. Microbiol. 37, 258–61 (1992).

10. Buckling, A. & Rainey, P. B. Antagonistic coevolution between a bacterium and a bacteriophage. Proc. Biol. Sci. 269, 931–6 (2002).

11. Balakshina, V. V, Kulakov, L. A. & Boronin, A. M. Dynamics of the interaction between Pseudomonas aeruginosa bacteriophage phimF81 and host bacteria. Mikrobiologiia. 61, 1051–5 (1992).

12. Sillankorva, S., Neubauer, P. & Azeredo, J. Phage control of dual species biofilms of Pseudomonas fluorescens and Staphylococcus lentus. Biofouling. 26, 567–75 (2010).

13. Sillankorva, S., Oliveira, R., Vieira, M. J. & Azeredo, J. Real-time quantification of Pseudomonas fluorescens cell removal from glass surfaces due to bacteriophage varphiS1 application. J. Appl. Microbiol. 105, 196–202 (2008).

14. Hanlon, G. W., Denyer, S. P., Olliff, C. J. & Ibrahim, L. J. Reduction in exopolysaccharide viscosity as an aid to bacteriophage penetration through Pseudomonas aeruginosa biofilms. Appl. Environ. Microbiol. 67, 2746–53 (2001).

15. Hughes, K. A., Sutherland, I. W. & Jones, M. V. Biofilm susceptibility to bacteriophage attack: the role of phage-borne polysaccharide depolymerase. Microbiology. 144, 3039–47 (1998).

16. Verma, V., Harjai, K. & Chhibber, S. Structural changes induced by a lytic bacteriophage make ciprofloxacin effective against older biofilm of Klebsiella pneumoniae. Biofouling. 26, 729–37 (2010).

17. Lu, T. K. & Collins, J. J. Dispersing biofilms with engineered enzymatic bacteriophage. Proc. Natl. Acad. Sci. U. S. A. 104, 11197–202 (2007).

18. Lee, C.-N. et al. Lytic myophage Abp53 encodes several proteins similar to those encoded by host Acinetobacter baumannii and phage phiKO2. Appl. Environ. Microbiol. 77, 6755–62 (2011).

19. Lavigne, R. et al. The structural proteome of Pseudomonas aeruginosa bacteriophage phiKMV. Microbiology. 152, 529–34 (2006).

20. Lin, N.-T., Chiou, P.-Y., Chang, K.-C., Chen, L.-K. & Lai, M.-J. Isolation and characterization of phi AB2: a novel bacteriophage of Acinetobacter baumannii. Res. Microbiol. 161, 308–14 (2010).

Capítulo 3

64

21. Briandet, R. et al. Fluorescence correlation spectroscopy to study diffusion and reaction of bacteriophages inside biofilms. Appl. Environ. Microbiol. 74, 2135–43 (2008).

22. Pires, D. P., Sillankorva, S. & Azeredo, J. The use of bacteriophages for P. aeruginosa biofilm control. Port. chapter IEEE EMBS 1–4 (2011).

23. Navon-Venezia, S., Ben-Ami, R. & Carmeli, Y. Update on Pseudomonas aeruginosa and Acinetobacter baumannii infections in the healthcare setting. Curr. Opin. Infect. Dis. 18, 306–13 (2005).

Capítulo 4

Caracterização dos biofilmes mistos e avaliação da eficácia de fagos específicos para A. baumannii e P. aeruginosa

Caracterização dos biofilmes mistos e avaliação da eficácia de fagos específicos para A. baumannii e P. aeruginosa

67

4 Caracterização dos biofilmes mistos e avaliação da eficácia de fagos específicos para A. baumannii e P. aeruginosa

Vários estudos demonstram que as bactérias P. aeruginosa e A. baumannii são

frequentemente isoladas de feridas crónicas, ambientes hospitalares, etc 1–4. Contudo,

não há qualquer estudo de biofilmes mistos de P. aeruginosa e A. baumannii e muito

menos de ensaios de infeção com fagos, uma terapia alternativa aos atuais agentes

antimicrobianos 5.

Seguindo a mesma estrutura da secção anterior, nesta secção encontram-se

descritos os principais resultados sobre a avaliação do desempenho do fago de

Acinetobacter (philBB-Aba1) e dos fagos de Pseudomonas (philBB-PAP1 ou philBB-

PAA2) e também de um cocktail constituído por fagos para ambas as espécies

(philBB-Aba1 e philBB-PAP1) presentes nos biofilmes mistos.

4.1 Materiais e métodos

4.1.1 Estirpe bacteriana, bacteriófagos e condições de cultura

Neste estudo, utilizou-se a bactéria A. baumannii (isolado clínico AB1) e

P. aeruginosa (PAO1). As estirpes foram cultivadas em meio nutritivo Luria-Bertani

(LB) (nzytech, Portugal) LB ou em placas de petri com meio sólido de LB com 1,2 %

(p/v) de agar (Liofilchem, Itália), preparados de acordo com as instruções do fabricante

e devidamente esterilizados no autoclave a 120 ºC durante 15 min. Para as contagens do

número de células viáveis e de fagos de P. aeruginosa utilizou-se o meio seletivo

Pseudomona Isolation Agar (PIA, Sigma, Portugal) enquanto que no caso de

A. baumannii utilizou-se meio LB contendo o antibiótico ceftazidime (Sigma, Portugal)

(concentração inicial de 5 × 10-4 g.ml-1) de forma a inibir o crescimento de

P. aeruginosa .

Nos vários ensaios de biofilmes mistos os fagos utilizados foram: philBB-Aba1,

philBB-PAP1 e philBB-PAA2 que se encontram depositados na coleção de fagos do

Grupo de Biotecnologia de Bacteriófagos da Universidade do Minho.

Capítulo 4

68

4.1.2 Formação de biofilmes mistos

Os biofilmes mistos foram formados em microplacas de 24 poços (Orange

Scientific, Bélgica) contendo 990 µl de meio LB e 10 µl de cada suspensão bacteriana

crescida durante 16 h (37 ºC, sob agitação (120 rpm)) e diluída de forma a ter uma

D.O.620nm de 1 durante tempos variáveis, com mudança de meio após 24 h. Foram

também formados biofilmes mistos com adição de apenas A. baumannii AB1 durante as

primeiras 12 h (37 ºC, 120 rpm), seguida de duas lavagens e adição de meio fresco LB e

10 µl de P. aeruginosa PAO1 ficando a incubar durante 12 h nas mesmas condições.

A determinação do número de células em biofilme e quantificação de biomassa

foram realizadas como descrito no ponto 3.1.2 e 3.1.8 respetivamente.

4.1.3 Infeção Fágica de Biofilmes mistos

Os biofilmes mistos foram sujeitos a dois tipos de infeção fágica: infeção com

apenas um fago (phiBB-Aba1, phiBB-PAP1 ou phiBB-AA2) e infeção com um cocktail

contendo dois fago (phiBB-Aba1 e phiBB-PAP1). A metodologia de infeção fágica foi

realizada como descrita no ponto 3.1.9 no entanto aquando da aplicação do cocktail de

fagos, adicionou-se 50 µl de cada fago de forma a garantir uma MOI inicial no poço

de 1 para cada fago-hospedeiro.

4.1.4 Análise estatística

Esta análise foi efetuada como descrito no ponto 3.1.10 do capítulo anterior.

4.1.5 Aplicação de hibridação in situ fluorescente (FISH) em

biofilme misto

Para aplicação da técnica de FISH em estruturas de biofilme misto, o

procedimento aplicado foi semelhante ao descrito no ponto 2.1.2. Após a formação de

biofilmes mistos descritos anteriormente, foram realizadas as etapas de fixação descritas

no ponto 3.1.9. Seguidamente, foram aplicados 50 µl de alíquota de uso da sonda em

cada cupão. As amostras foram cobertas com lamelas e incubadas durante 1 h a 59 ºC.

De seguida as amostras foram mergulhadas em solução de lavagem durante 30 min. No

final as amostras ficaram em repouso até secarem. A composição das soluções foi a

descrita no ponto 2.1.2.

Caracterização dos biofilmes mistos e avaliação da eficácia de fagos específicos para A. baumannii e P. aeruginosa

69

No final, foi feita uma coloração da população total do biofilme com DAPI

como descrito no ponto 3.1.12.

4.2 Resultados e Discussão

4.2.1 Formação de biofilmes mistos

As bactérias P. aeruginosa PAO1 e A. baumannii AB1 foram usadas para

produzir biofilmes mistos. Foram formados biofilmes de 24 h que consequentemente

foram infetados durante 6 h e 24 h. As condições de crescimento de P. aeruginosa

foram realizadas tendo em conta os estudos realizados por Pires et al 5. Os ensaios de

formação e infeção fágica dos biofilmes mistos e as respetivas caracterizações dos

biofilmes foram realizados tal como nos ensaios com biofilmes de A. baumannii

descritos anteriormente (Capítulo 3).

Na primeira fase da caracterização de biofilmes mistos, quantificou-se o

crescimento bacteriano individualizado de P. aeruginosa e A. baumannii nos biofilmes

de 24 h (Figura 4.1).

Figura 4.1 - Número de células viáveis presentes de P. aeruginosa PAO1 e A. baumannii AB1 em

biofilme misto de 24 h. As barras de erros representam o desvio padrão em relação à média.

*** p < 0,01.

1,E+00

1,E+01

1,E+02

1,E+03

1,E+04

1,E+05

1,E+06

1,E+07

1,E+08

1,E+09

P.aeruginosa PAO1 A.baumannii AB1

log

(CFU

/ cm

2 )

* * *

9

8

7

6

5

4

3

2

1

0

P.aeruginosa PAO 1 A. baumannii AB1

Capítulo 4

70

Os resultados revelam que a proliferação de A. baumannii AB1 foi claramente

inibida (p < 0,01) pela presença de P. aeruginosa PAO1 (aproximadamente 5 log)

comparativamente aos ensaios mono-espécie de A. baumannii apresentados no

capítulo 3. Por outro lado, verificou-se também que ao contrário dos estudos de

Pires et al. 5, em que as placas de 24 poços com biofilmes de P. aeruginosa formados

durante 24 h apresentavam 6 × 10 8 CFU/cm2, verificou-se um decréscimo de 2 log de

células cultiváveis por parte desta bactéria nos biofilmes crescidos na presença de

A. baumannii AB1. Estudos anteriormente realizados em comunidades mistas,

compostas por duas espécies, revelam também comportamentos competitivos ou

cooperativos entre as espécies que compõem o biofilme 6,7.

Também alguns estudos de biofilmes mistos têm demostrado a inibição de

diferentes microrganismos quando crescidos conjuntamente com P. aeruginosa 8–11.

Cerqueira et al. 8 demostrou que P .aeruginosa persiste melhor dentro do biofilme

quando cresce juntamente com a bactéria E. coli. Pires et al. 11 verificou também que P.

aeruginosa inibe eficazmente a proliferação de biofilmes de C.albicans após 24 h e 48 h

de formação de biofilme misto quando comparada com os biofilmes isolados de

C. albicans.

4.2.2 Infeção fágica de biofilmes mistos

Uma vez estabelecidas as condições para a formação de biofilmes mistos, foram

realizados estudos da sua interação com os fagos para analisar o comportamento de

A. baumannii AB1 e P. aeruginosa PAO1. A infeção fágica foi realizada usando apenas

uma infeção simples com os fagos phiIBB-Aba1 ou phiIBB-PAP1 e em cocktail

composto por ambos. Os tempos de infeção decorreram durante 6 h e 24 h tendo-se

usado uma MOI de 1. Contabilizou-se o número total de células viáveis pelo método

CFU (Figuras 4.2 A e B), a biomassa total (Figura 4.2 C) e a replicação fágica pelo

número de fagos (PFU) aderidos ao biofilme e na fase planctónica (Figura 4.2 D e E).

Caracterização dos biofilmes mistos e avaliação da eficácia de fagos específicos para A. baumannii e P. aeruginosa

71

Figura 4.2 - Número de células viáveis (CFU), biomassa total e fagos (PFU) de P. aeruginosa PAO1

e A. baumannii AB1 em biofilmes mistos de 24 h após infeção com os fagos phiIBB-Aba1 e

1,E+00

1,E+03

1,E+06

1,E+09

sem infeção phiIBB-PAP1 phiIBB-Aba1 phiIBB-PAP1 e phiIBB-Aba1

log(

CFU

/ cm

2 )

A

P.aeruginosa PAO A.baumannii AB1

* * *

1

9

6

3

0

P.aeruginosa PAO 1 A. baumannii AB1

1,E+00

1,E+03

1,E+06

1,E+09

sem infeção phiIBB-PAP1 phiIBB-Aba1 phiIBB-PAP1 e phiIBB-Aba1

log(

CFU

/ cm

2 )

B

P.aeruginosa PAO A.baumannii AB1 1

9

6

3

0

P.aeruginosa PAO 1 A. baumannii AB1

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

6 h 24 h

DO

(5

70

nm

)

Tempo de infeção

C

sem infeção phiIBB-PAP1 phiIBB-Aba1 phiIBB-PAP1 e phiIBB-Aba1

* * * * *

* *

1,E+00

1,E+02

1,E+04

1,E+06

1,E+08

1,E+10

log(

PFU

/ m

l)

Tempo de infeção

D

phiIBB-PAP1 phiIBB-PAP1 e phiIBB-Aba1

10

8

6

4

2

0

1,E+00

1,E+04

1,E+08

log(

PFU

/ m

l)

Tempo de infeção

E

phiIBB-Aba1 phiIBB-PAP1 e phiIBB-Aba1

10

8

6

4

2

0

Capítulo 4

72

phiIBB-PAP1 separadamente ou em cocktail durante 6 h e 24 h. A) Número de células viáveis

(CFU) nos biofilmes mistos de após 6 h de infeção; B) Número de células viáveis (CFU) nos

biofilmes mistos de após 24 h de infeção fágica; C) Quantificação da biomassa utilizando CV; D)

Número de fagos (PFU) de P. aeruginosa phiIBB-PAP1 libertados pelo biofilme (suspensos) e

presentes no biofilme (aderidos); E) Número de fagos (PFU) de A. baumannii phiIBB-Aba1

libertados pelo biofilme (suspensos) e presentes no biofilme (aderidos). As barras de erros

representam o desvio padrão em relação à média. ** p < 0,01 e *** p < 0,001.

Em biofilmes infetados durante 6 h (Figura 4.2 A), os resultados revelam que

após infeção individual com o fago de P. aeruginosa phiIBB-PAP1, ocorreu uma

diminuição de células de P. aeruginosa de aproximadamente 2 log, e um aumento

mínimo de A. baumannii. A diminuição de P. aeruginosa era esperada, uma vez que o

fago é específico para este microrganismo.

Na infeção individual com o fago de A. baumannii phiIBB-Aba1 após 6 h

(Figura 4.2 A), a quantidade de células viáveis de P. aeruginosa permaneceu

semelhante às presentes nos controlos, demonstrando que a redução de A. baumannii

causada pelo seu fago não facilitou a propagação de P. aeruginosa . Por outro lado, o

fago não se mostrou muito eficaz no controlo de A. baumannii. Possivelmente, o

reduzido número de células viáveis de A. baumannii nos biofilmes mistos e a presença

de matriz polimérica produzida pela P. aeruginosa 12. reduziram a probabilidade de

contacto entre o fago e o seu hospedeiro.

A infeção individual com o fago phiIBB-PAP1 durante 24 h (Figura 4.2 B),

apresenta uma redução de 1 log de células de P. aeruginosa e um grande aumento de

A. baumannii, conseguindo aproximar-se ou mesmo ser ligeiramente superior aos

níveis populacionais de P. aeruginosa . Na infeção individual do fago phiIBB-Aba1, o

número de células de A. baumannii manteve-se nos níveis iniciais da infeção, o que

demonstra que a infeção fágica do fago phiIBB-Aba1 não permitiu a proliferação de

A. Baumannii; contudo a P. aeruginosa não beneficiou com esta ação, visto que os

seus valores são um pouco inferiores aos verificados em biofilme de 24 h de formação

e 24 h de infeção. Este facto pode estar relacionado com a libertação, para a fase

planctónica, das bactérias não suscetíveis ao fago, como verificado nos estudos de

Sillankorva et al. 13.

Após estes primeiros ensaios com infeção individual dos fagos, seguiu-se a

aplicação, durante 6 h, de um cocktail contendo os dois fagos específicos das duas

Caracterização dos biofilmes mistos e avaliação da eficácia de fagos específicos para A. baumannii e P. aeruginosa

73

bactérias presentes nos biofilmes mistos (Figura 4.2 A). Foi evidente que a aplicação

do cocktail foi mais eficaz comparada com a aplicação individual dos fagos, reduzindo

até 2 log de células de P. aeruginosa (significativo (p < 0,001)) e aproximadamente

1,5 log de A. baumannii após 6 h (não significativo (p > 0,05)) . Possivelmente, a

presença do fago phiIBB-PAP1 de P. aeruginosa reduziu o número populacional,

permitindo desta forma um maior contacto dos fagos phiIBB-Aba1 com o hospedeiro.

Outro fator pode estar ligado à capacidade do fago phiIBB-Aba1 excretar enzimas que

degradam as substâncias poliméricas extracelulares da matriz dos biofilmes,

facilitando o acesso de ambos os fagos a superfícies mais profundas do biofilme.

A aplicação do cocktail fágico durante 24 h (Figura 4.2 B) não apresentou as

mesmas vantagens quando comparadas na aplicação de biofilmes infetados durante

6 h. A redução da população de P. aeruginosa foi semelhante à aplicação individual

do fago phiIBB-PAP1 (p < 0,001); no entanto, a redução de células viáveis de

A. baumannii não foi tão significativa comparada com a aplicação individual do fago

phiIBB-Aba1 e observou-se um aumento de células em comparação com os biofilmes

no início da infeção (biofilme de 24 h). Assim, conclui-se que a aplicação de cocktail

fágico num período superior a 24 h não é uma forma eficaz de controlar biofilmes

mistos. Estes resultados podem estar relacionados, como referidos anteriormente no

capítulo anterior, com a resistência que as bactérias adquirem.

Estudo realizado por Pires et al.11, já referido anteriormente, demostrou que em

biofilme misto de P.aeruginosa e C.albicans, o número destas aumenta após a infeção

por fagos de P.aeruginosa , sugerindo que as células sobreviventes de P.aeruginosa

após o ataque do fago adquiriram alterações no seu fenótipo e exibiram uma

diminuição da capacidade de inibir o crescimento de biofilme de C.albicans.

Em geral, o fago phiIBB-PAP1 foi capaz de se reproduzir em todas as

condições, observando-se valores superiores de PFU’s após as 24 h de infeção

(Figura 4.2 D). A reprodução do fago phiBB-Aba1 foi muito reduzida e não se

conseguiram contabilizar fagos aderidos aos biofilmes após 24 h de infeção

(Figura 4.2 E). Este resultado deve-se à baixa concentração de A. baumannii existente

nos biofilmes mistos obtidos em que P. aeruginosa claramente predominava. A baixa

multiplicação celular e a dificuldade de acesso às bactérias alvo, inevitavelmente reduz

a reprodução fágica.

Como referido no capítulo anterior, para a análise estrutural do biofilme foram

desenhadas diferentes sondas para a bactérias e fagos, mas não foi possível obter a

Capítulo 4

74

sequência nucleotídica do gene alvo para o fago phiIBB-PAP1. Deste modo, a sonda

foi desenhada para um fago muito semelhante, o phiIBB-PAA2. Com o objetivo de

verificar a semelhança entre eles, foram realizados ensaios de infeção fágica de 6 h em

biofilmes de 24 h com este fago (Figura 4.3).

Figura 4.3 - Número de células viáveis e biomassa total após infeção de biofilme misto de

P. aeruginosa PAO1 e A. baumannii AB1 de 24 h com o fago phiIBB-PAP1 e phiIBB-PAA2

separadamente. A) Número de células viáveis (CFU); B) Quantificação da biomassa utilizando CV.

As barras de erros representam o desvio padrão em relação à média. * p < 0,05.

Como é possível verificar pela observação dos gráficos, os valores de redução de

biofilme são semelhantes. Podemos, portanto, concluir que a aplicação do fago phiIBB-

PAA2 não irá alterar os valores de cultivabilidade obtidos nos biofilmes mistos, uma

vez que estatisticamente são pouco significativos (p = 0,0294) Assim sendo, os estudos

de microscopia foram realizados utilizando o fago phiIBB-PAA2.

Para a análise estrutural do biofilme foi aplicada a sonda de LNA Psear,

especifica para P. aeruginosa (desenhada e avaliada no capítulo 2) através da técnica de

FISH. Esta técnica foi ainda combinada com a coloração por DAPI que permite a

visualização da população total dos biofilmes mistos. Os resultados foram analisados

através de microscopia de epifluorescência, e as imagens dos diferentes canais

sobrepostas (Figura 4.4).

1,E+00

1,E+02

1,E+04

1,E+06

1,E+08

1,E+10

log(

CFU

/ cm

2 )

Tempo de infeção

A

P.aeruginosa PAO A.baumannii AB1

*

1 P. aeruginosa PAO 1

A. baumannii AB1

10

8

6

4

2

0

1,E+00

1,E+02

1,E+04

1,E+06

1,E+08

1,E+10

0 h phiIBB-PAP1 e

phiIBB-PAA2

6 h phiIBB-PAP1

6 h phiIBB-PAA2

log(

PFU

/ m

l)

Tempo de infeção

B

suspesas aderidas

10

8

6

4

2

0

Caracterização dos biofilmes mistos e avaliação da eficácia de fagos específicos para A. baumannii e P. aeruginosa

75

Figura 4.4 - Imagens de microscopia de epifluorescência de biofilme misto de P. aeruginosa PAO1 e

A. baumannii AB1 usando a sonda Pser e o corante DAPI. A) biofilme misto de 30 h ( controlo da

infeção de 6 h)em superfície de poliestireno; B) biofilme misto de 24 h infetado durante 6 h com o

fago de P. aeruginosa (phiIBB-PAA2) em superfície de poliestireno, C) biofilme misto de 24 h

infetado durante 6 h com os fagos de A. baumannii (phiIBB-Aba1) e P. aeruginosa (phiIBB-PAA2)

em superfície de poliestireno; D) biofilme misto de 24 h infetado durante 6 h com o fago de

A. baumannii (phiIBB-Aba1) em superfície de poliestireno.

As imagens de epifluorescência (Figura 4.4) corroboram os resultados

anteriormente verificados (Figura 4.2 A e B). Da análise da Figura 4.4 A pode concluir-

se que que em biofilme misto de 30 h (controlo da infeção de 6 h) o número de células

de A. baumannii (corado com a cor azul, DAPI), é muito escasso quando comparado

número de células de P. aeruginosa . Verifica-se também uma redução muito

significativa do número de P. aeruginosa , e, consequentemente, uma exposição mais

visível de células de A. baumannii, após a infeção com fago phIBB-PAA2 por um

período de 6 h (Figura 4.4 B). Já na Figura 4.4 D, que apresenta a infeção de 6 h pelo

fago phiIBB-Aba1, apesar de não se verificar uma redução muito significativa na

população de A. baumannii, é notória uma redução significativa do biofilme total. Como

Capítulo 4

76

esperado, a aplicação do cocktail fágico durante 6 h, foi a mais eficiente verificando-se

uma redução do número de células (Figura 4.4 C).

Na tentativa da se encontrar uma explicação para a baixa colonização por parte

da A. baumannii, procedeu-se a um ensaio de biofilme misto com aplicação das

bactérias em diferentes tempos. Assim, foi formado um biofilme de 12 h de

A. baumannii, de forma a permitir uma pré-colonização por esta bactéria, e

posteriormente, foi adicionada a P. aeruginosa (Figura 4.5). Biofilmes mistos de 24 h

destas duas espécies, foram utilizados como controlo.

Figura 4.5 - Formação de biofilmes mistos durante 24 h. Foram testadas duas condições, uma em

que se adicionaram ambas as espécies em simultâneo e outra em que se formou durante 12 h um

biofilme de A. baumannii Ab1 e posteriormente P. aeruginosa PAO1 até perfazer 24 h. A) Número

de células viáveis (CFU); B) Quantificação da biomassa usando CV. As barras de erros

representam o desvio padrão em relação à média. ** p < 0,01.

Analisando os gráficos, é possível verificar uma maior presença (> 2 log) de

A. baumannii (p < 0,001) quando ocorre uma adição posterior de P. aeruginosa .

Contudo observa-se também um ligeiro aumento da população de P. aeruginosa o que

demonstra que esta estratégia beneficiou de forma eficaz a colonização dos biofilmes

mistos.

1,E+00

1,E+02

1,E+04

1,E+06

1,E+08

1,E+10

24 h 12/24 h

log(

CFU

/ cm

2 )

Tempo de formação de biofilme

A

P.aeruginosa PAO A.baumannii AB1

* * *

1

10

8

6

4

2

0

P. aeruginosa PAO 1 A. baumannii AB1

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

24 h 12/ 24 h

DO

(5

70

nm

)

Tempo de formação do biofilme

B

Caracterização dos biofilmes mistos e avaliação da eficácia de fagos específicos para A. baumannii e P. aeruginosa

77

Figura 4.6 - Imagens de microscopia de epifluorescência com utilização da sonda fluorescente Pser

e o corante DAPI. A) Imagens de microscopia de epifluorescência de biofilmes mistos durante 24 h

com aplicação de ambas as espécies em simultâneo em superfície de poliestireno; B) Imagens de

microscopia de epifluorescência de biofilmes mistos durante 24 h com uma formação inicial

durante 12 h de um biofilme de A. baumannii AB1 e posteriormente a adição de P. aeruginosa

PAO1 até perfazer 24 h em superfície de vidro.

A análise das imagens de microscopia (Figura 4.6 A e B), evidenciaram os

resultados anteriormente obtidos (Figura 4.5). É possível verificar um aumento de

A. baumannii (Figura 4.6 B), contudo é notório que P.aeruginosa continua a

predominar no biofilme misto, mesmo quando coloniza “à posteriori”.

4.2.3 Conclusão

Em suma, verificou-se que a bactéria A. baumannii apresenta um crescimento

em biofilme muito diferente quando co-habita o mesmo substrato com P. aeruginosa ,

apresentando uma contagem de células viáveis muito inferior em comparação com o

crescimento individual. Este trabalho experimental indica também que um único fago

aplicado a um biofilme misto de duas espécies pode atingir eficazmente o hospedeiro e

reduzir o número de células do biofilme. Além disso, a aplicação de um cocktail fágico

composto pelos fagos específicos para cada espécie bacteriana do biofilme diminui o

número de células num curto período de infeção (6 h) mais eficientemente quando

comparado com a aplicação individual dos fagos.

Estudos têm demostrado que a aplicação de um cocktail fágico apresenta

melhores resultados na erradicação de biofilme quando comparados com a aplicação

Capítulo 4

78

individual 14,15,sugerindo que os que os cocktails de fagos pode ser utilizados para

diminuir a resistência das bactérias 16,17.

Kelly et al.18 verificou também uma remoção de biofilme de Staphylococus

aureus Xen 29 muito satisfatória durante um tratamento de 48 h e 72 h com a aplicação

de um cocktail fágico do fago K com seis dos seus derivados.

No final deste estudo, fica demostrado que a presença de um outro

microrganismo durante o crescimento de biofilme misto de duas espécies pode afetar

negativamente o seu crescimento como também o posterior tratamento fágico. No

entanto, com uma boa seleção de diferentes fagos para cada hospedeiro e otimização das

condições da sua aplicação, deverá ser possível utilizar eficientemente os fagos no

controlo de biofilmes simples e mistos.

4.3 Referências

1. Oliveira, L., Carneiro, P., Fischer, R. & Tinoco, E. A Presença de Patógenos Respiratórios no Biofilme Bucal de Pacientes com Pneumonia Nosocomial. Rev. Bras. Ter. Intensiva 19, 428–33 (2007).

2. Gil, S. et al. Implications of endotracheal tube biofilm in ventilator-associated pneumonia response: a state of concept. Crit. Care 16, 93 (2012).

3. Storti, A. Colonização de cateteres venosos centrais por biofilme microbiano. Tese de mestrado. Univ. Estadual Pauista. Fac. Ciências Farmacêuticas. Câmpus Araraquara; 140 (2006).

4. Storti, A., Pizzolitto, A. & Pizzolitto, E. Detection of mixed microbial biofilms on central venous catheters removed from intensive care unit patients. Brazilian J. Microbiol. 36, 275–80 (2005).

5. Pires, D., Sillankorva, S., Faustino, A. & Azeredo, J. Use of newly isolated phages for control of Pseudomonas aeruginosa PAO1 and ATCC 10145 biofilms. Res. Microbiol. 162, 798–806 (2011).

6. Hansen, S. K., Rainey, P. B., Haagensen, J. A. J. & Molin, S. Evolution of species interactions in a biofilm community. Nature 445, 533–6 (2007).

7. Adam, B., Baillie, G. S. & Douglas, L. J. Mixed species biofilms of Candida albicans and Staphylococcus epidermidis. J. Med. Microbiol. 51, 344–9 (2002).

Caracterização dos biofilmes mistos e avaliação da eficácia de fagos específicos para A. baumannii e P. aeruginosa

79

8. Cerqueira, L., Oliveira, J. A., Nicolau, A., Azevedo, N. F. & Vieira, M. J. Biofilm formation with mixed cultures of Pseudomonas aeruginosa/Escherichia coli on silicone using artificial urine to mimic urinary catheters. Biofouling 29, 829–40 (2013).

9. Purschke, F. G., Hiller, E., Trick, I. & Rupp, S. Flexible survival strategies of Pseudomonas aeruginosa in biofilms result in increased fitness compared with Candida albicans. Mol. Cell. Proteomics 11, 1652–69 (2012).

10. Kuznetsova, M. V, Maslennikova, I. L., Karpunina, T. I., Nesterova, L. Y. & Demakov, V. A. Interactions of Pseudomonas aeruginosa in predominant biofilm or planktonic forms of existence in mixed culture with Escherichia coli in vitro. Can. J. Microbiol. 59, 604–10 (2013).

11. Pires, D. P. et al. Evaluation of the ability of C. albicans to form biofilm in the presence of phage-resistant phenotypes of P. aeruginosa . Biofouling (2013).

12. Hanlon, G. W., Denyer, S. P., Olliff, C. J. & Ibrahim, L. J. Reduction in exopolysaccharide viscosity as an aid to bacteriophage penetration through Pseudomonas aeruginosa biofilms. Appl. Environ. Microbiol. 67, 2746–53 (2001).

13. Sillankorva, S., Neubauer, P. & Azeredo, J. Phage control of dual species biofilms of Pseudomonas fluorescens and Staphylococcus lentus. Biofouling 26, 567–75 (2010).

14. Gu, J. et al. A method for generation phage cocktail with great therapeutic potential. PLoS One 7, e31698 (2012).

15. Chan, B. K. & Abedon, S. T. Phage therapy pharmacology phage cocktails. Adv. Appl. Microbiol. 78, 1–23 (2012).

16. Sulakvelidze, A. & Kutter, E. Bacteriophage therapy in humans, em Bacteriophages: Biology and Application (eds E. Kutter A. Sulakvelidze, CRC Press,. Boca Raton, FL, 381–436 (2005).

17. Barbosa, C., Venail, P., Holguin, A. V & Vives, M. J. Co-Evolutionary Dynamics of the Bacteria Vibrio sp. CV1 and Phages V1G, V1P1, and V1P2: Implications for Phage Therapy. Microb. Ecol. 66, 897–905 (2013).

18. Kelly, D., McAuliffe, O., Ross, R. P. & Coffey, A. Prevention of Staphylococcus aureus biofilm formation and reduction in established biofilm density using a combination of phage K and modified derivatives. Lett. Appl. Microbiol. 54, 286–91 (2012).

Capítulo 5

Conclusão final e sugestões de trabalho futuro

Conclusão final e sugestões de trabalho futuro

83

5 Conclusão final e sugestões de trabalho futuro

Este trabalho teve como objetivo o estudo dos mecanismos de interação entre

hospedeiro e fago em biofilmes simples de A. baumannii e mistos de A. baumannii e

P. aeruginosa . Para tal utilizaram-se dois fagos recentemente isolados pelo grupo de

Biotecnologia de Bacteriófagos do CEB (phiIBB-Aba1 e phiIBB-PAP1) que foram

caracterizados no âmbito do trabalho descrito nesta dissertação.

Para a caracterização da interacção fago hospedeiro em biofilme misto foi

necessário o desenvolvimento de sondas de LNA específicas para as espécies

bacterianas e fagos que permitiriam a visualização da estrutura e organização espacial

do biofilme. As sondas foram desenhadas e otimizadas “in silico”, contudo apenas a

sonda para a bactéria P. aeruginosa foi sintetizada. Isto deveu-se não só ao elevado

custo das moléculas de LNA, mas também ao considerável esforço experimental

requerido na otimização de procedimentos multiplex. Foi possível conceber as 4

sondas com parâmetros termodinâmicos semelhantes, tendo sido ainda possível

otimizar as condições de hibridização da sonda de LNA para P. aeruginosa, sonda

esta que posteriormente foi utilizada nos ensaios de microscopia apresentados nos

diferentes capítulos.

A interação dos fagos com os respetivos hospedeiros foi estudada em

biofilmes simples ou mistos (ambos aderidos à superfície das microplacas) e até

mesmo em biofilmes com a matriz danificada. Os resultados das experiências com

biofilmes simples de A. baumannii sujeitos à infeção fágica mostraram que se deu

uma redução significativa de células viáveis presentes nos biofilmes após curtos

tempos de tratamento. Esta redução tornou-se menos expressiva para tempos de

infeção mais longos. Apesar disso, foi ainda possível averiguar que a redução de

células do biofilme era mais significativa quando a matriz era danificada, o que realça

o papel da matriz na resistência dos biofilmes à infeção por fagos.

Em biofilmes mistos de A. baumannii e P. aeruginosa verificou-se que a

aplicação combinada dos fagos específicos de P. aeruginosa e de A. baumannii foi

mais eficiente em relação à sua aplicação individual, resultando numa redução ainda

mais significativa das células das diferentes espécies presentes no biofilme misto.

Contudo, mais uma vez, a redução foi mais pronunciada nas primeiras horas de

Capítulo 5

84

infeção fágica (6 h de infeção), podendo a aparente recuperação do biofilme ser

atribuída ao aparecimento de fenótipos resistentes aos fagos. Outro facto que poderá

estar na origem deste comportamento é o estado metabólico do hospedeiro. Na

realidade, é bem sabido que um biofilme é constituído por células em diferentes

estados fisiológicos, predominado, em biofilmes maduros, células em fase

estacionária, e que a taxa de lise celular resultante da infeção fágica em bactérias perto

da fase estacionária é muito reduzida. No entanto, parece claro que existem outros

fatores envolvidos na formação de biofilme que afetaram a eficácia dos fagos após

longos períodos de exposição que deverão ser estudados com mais pormenor.

Os resultados de contagem de células viáveis foram suportados pelas análises

de microscopia de epifluorescência utilizando a sonda de LNA desenhada e a técnica

de FISH. Os ensaios de FISH utilizando esta sonda de LNA mostraram claramente

uma boa capacidade de distinguir e localizar bactérias diferentes, em populações

mistas (com ou sem infeção fágica), com recurso à utilização simultânea de um

corante genérico como o DAPI.

Trabalhos futuros devem focar essencialmente nos fenómenos que estarão a

reduzir a eficácia da infeção fágica em biofilme. Assim, sugere-se que sejam

abordados os seguintes pontos:

- Desenvolvimento da aplicação multiplex das 4 sondas de LNA, já

desenvolvidas neste estudo, para identificar as populações do biofilme que estão

efetivamente a ser alvo da ação fágica. Para tal, a técnica de FISH deverá ser

combinada com microscopia confocal de forma a permitir uma avaliação espacial

tridimensional;

- Combinação de fagos, individuais ou em cocktail, acoplados a agentes

químicos, como detergentes, desinfetantes e antibióticos; que poderá resultar numa

melhor eficácia de erradicação de biofilmes em ambientes diversos, tais como na área

clínica em procedimentos cirúrgicos, procedimentos invasivos com ventilação

mecânica, uso de cateter venoso central ou cateteres urinários;

- Manipulação genética para construir fagos específicos para o reconhecimento

dos hospedeiros. Para tal, deverão ser alterados os seus genes responsáveis pela sua

especificidade;

- Aplicação de depolimerases, combinadas com fagos e / ou antibióticos,

poderá também ser uma boa abordagem em biofilme. Estas proteínas, capazes de

Conclusão final e sugestões de trabalho futuro

85

degradar a matriz do biofilme, deverão proporcionar uma redução significativa na

formação de biofilmes e também, causar alterações estruturais na matriz;

- Estudo detalhado dos mecanismos de resistência / susceptibilidade das

células de biofilme expostas aos fagos por longos períodos de tempo;

- Estudo de biofilmes mistos com mais de duas espécies, tendo em conta que,

em biofilmes reais, verificam-se comunidades ainda mais complexas;

- Uma outra estratégia com potencial poderá envolver a utilização de

endolisinas (enzimas líticas que degradam peptidoglicano das bactérias) que

possivelmente serão capazes de, sozinhas ou juntamente com os fagos, causar uma

redução mais significativa nas populações bacterianas do biofilme.

Anexos

Anexos

89

ANEXO I

Figura AI - Curva de calibração de A. baumannii AB1 entre a densidade otica (DO) e o número

de células viáveis (CFU/mL). A reta de calibração é a seguinte: Nºcélulas viáveis (CFU/ml) = 1 ×

109 × DO - 1 × 108. R2=0,9768.

1,E+00

2,E+08

4,E+08

6,E+08

8,E+08

1,E+09

1,E+09

1,E+09

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4

CFU

(ce

lula

s/m

L)

DO (620 nm)